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expediente
revista OLD #número 54
equipe editorial direção de arte texto e entrevista
Felipe Abreu e Paula Hayasaki Tábata Gerbasi Angelo José da Silva, Felipe Abreu, Laura Del Rey e Paula Hayasaki
capa fotografias
Pan Alves Elisa Murcia Artengo, Felipe Gabriel, Max Fonseca, Pan Alves, Yusuke Yamatani
entrevista email facebook
Luisa Dörr revista.old@gmail.com www.facebook.com/revistaold
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tumblr
www.revistaold.tumblr.com
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índice
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livros nair benedicto exposição
pan alves por tfólio
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elisa murcia artengo por tfólio
felipe gabriel por tfólio
luisa dörr entrevista
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yusuke yamatani por tfólio
max fonseca por tfólio
reflexões coluna
carta ao leitor
Acabou de passar o Carnaval de 2016. Decidimos, por conta dele, atrasar por uma semana o lançamento desta edição, para que você pudesse aproveitar a folia sem o medo de perder o lançamento da nossa segunda edição de 2016. Neste número temos uma seleção de fotógrafos brasileiros, uma espanhola e um japonês. Ótimas fotografias das mais variadas partes do mundo. Em Fevereiro cobrimos uma série de temas. Pan Alves, capa deste mês, trabalha a relação entre corpo e natureza, com uma visão especialmente atenta ao corpo feminino. Elisa Murcia apresenta sua experiência vivendo em um novo país, buscando maneiras de lidar artisticamente com este seu “exílio”.
Nosso terceiro ensaio, de Felipe Gabriel, é uma viagem pela intimidade do fotógrafo e de sua namorada, durante toda sua gravidez. Yusuke Yamatani mergulha no universo underground de Osaka no Japão, com um preto e branco potente e intuitivo. Encerrando a revista, dando adeus ao carnaval e à edição de Fevereiro, está o ensaio de Max Fonseca, feito nas festas de carnaval de Luanda. A entrevista desta edição é especial para a OLD. Luisa Dörr foi capa da revista em 2014 e agora volta como entrevistada, contando sobre a evolução acelerada de sua carreira. Aproveite!
por Felipe Abreu
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livros
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UN UNIVERSO PEQUEÑO de Antonio Xoubanova
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fotografia contemporânea se mostra, em muitos momentos, como uma arte extremamente conceitual em que se busca traduzir ideias cada vez mais complexas em imagens. Antonio Xoubanova, fotógrafo espanhol, publicou seu livro Casa de Campo, muito próximo de uma fotografia documental mais tradicional, em 2013 pela MACK. Em 2015 o mesmo fotógrafo buscou estender ao máximo o limite temporal da fotografia. Em seu novo livro, Xoubanova apresenta um longa metragem de 2,5 segundos, composto de 250 imagens, feitas entre 10 metros lineares de rua e calçada. Neste novo projeto, o autor discute como representamos o tempo na fotografia e em nossas vidas, explorando até o último limite o conteúdo temporal de cada fotografia.
Disponível no site da editora Ca L’isidret valor R$250 464 páginas 6
livros
E V ERYB O DY NE EDS GOOD NEI G H BOURS de Arnau Blanch
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verybody Needs Good Neighbours é um livro duro, cru e direto, seguindo a tradição espanhola dos bens sucedidos Karma e XYXX, por exemplo. Neste projeto, Arnau Blanch explora sua cidade natal: um povoado de 3.000 habitantes rodeado por um aeroporto, um sistema de estradas e de linhas de trem. O livro se apresenta então como uma viagem espacial por este curioso espaço, o relevando de uma maneira detalhista e ao mesmo tempo elusiva. O livro é super bem produzido e conta com design de Eloi Gimeno, um dos destaques do atual cenário espanhol. Um dos pontos interessantes, além das marcantes fotografias, é a maneira com que a edição busca trabalhar o som, algo sempre presente em um ambiente com tantos carros, trens e caminhões.
Disponível no site da Editora RM valor R$ 125 148 páginas 7
exposição
8 Detalhe de fotografia de Nair Banedicto.
NAIR BENEDICTO: 40 ANOS DE ARTE E POLÍTICA Casa da Imagem recebe importante retrospectiva da fotógrafa, que trabalha diversos temas políticos e sociais ao longo de 40 anos de trajetória
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á vezes em que uma tragédia material congela a produção de um artista. A perda de parte de seu acervo, por exemplo, pode causar dor inimaginável a quem o produziu, parando sua produção até a recuperação - ao menos psicológica - dessa perda. Nair Benedicto não se abalou quando um cano estourou e inundou seu acervo em 2014. Dessa perda, criou arte. Os cromos molhados ficaram borrados, com manchas rosas e roxas, dando um aspecto fantástico às fotografias de seu primeiro contato com as tribos indígenas do Xingu.
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É com esta transformação visual que a mostra Por Debaixo do Pano começa. É com essa nova e ainda mais potente construção visual que entramos neste caminho pelos quarenta anos de produção visual da Nair Benedicto. A mostra cobre os principais temas da trajetória da fotógrafa, o contato com populações indígenas, a violência contra a mulher e o forró paulistano são alguns deles, principalmente com material inédito, buscado durante pesquisa de três anos do curador Diógenes Moura no acervo de Nair. O posicionamento político é parte
intrínseca à obra de Nair Benedicto. Seu trabalho tem um conteúdo muito mais que estético, ele convida o espectador a refletir sobre temas complexos e marcantes da história brasileira. A mostra na Casa da Imagem é uma merecida homenagem a um rico trabalho fotográfico, de uma das grandes fotógrafas brasileiras.
A Casa da Imagem fica na R. Roberto Simonsen, 136, no centro de São Paulo. A mostra Por Debaixo do Pano segue em cartaz até 20 de Março.`
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PAN ALVES
A língua dos pássaros
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an Alves buscou na palavra o motor inicial para a produção deste ensaio. Uma série de retratos íntimos e delicados, de um mundo quase fantástico, próprio de cada fotografado e da fotógrafa, criando uma pequena mitologia individual, com uma sempre presente conexão com a natureza. Com esse processo, Pan revela um pouco de si e de seus retratados em cada imagem, nos convidando para ir cada vez mais fundo neste mundo recém criado.
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pan alves
Eu gosto muito do natural, do minimalista, eu busco a interação dessa
Pan, nos conte sobre seu começo na fotografia. Bom, desde criança eu era a fotógrafa da família, fotografava tudo que acontecia e sempre davam a câmera na minha mão. Quando eu cresci fiz um curso técnico onde aprendi a fotografar com película e a direcionar melhor o olhar.
pássaros- a secura da minha boca se deve à dureza de sua carne.” Começou através dessa poesia que na época meu namorado havia escrito, eu fui e comprei um filme e fiz umas fotos dele. Foi aí que nasceu o projeto, da poesia para a fotografia, soa meio brega, mas foi isso.
Quanto os personagens participam da construção das imagens? Você já tem elas em mente antes de produzir as fotografias?
Depois veio a faculdade. Durante esse período de estudo eu não conseguia encontrar a minha identidade na fotografia. Foi um processo longo até chegar aqui.
Como você busca trabalhar a natureza e o corpo em suas fotografias? Eu gosto muito do natural, do minimalista, eu busco a interação dessa natureza no corpo. Mesmo em casa, ou em situações mais urbanas, a ideia é a busca, e da beleza simplória que todos nós temos, assim como a a sensibilidade e as pequenas coisas.
No começo eu fotografei pessoas que tinham uma relação de intimidade comigo, foi mais fácil de conduzir as fotos, mas eu sempre busco entrar no ritmo da pessoa, eu levo até ela um elemento, como um punhado de galhos por exemplo, então eu vou guiando a pessoa a entrar na onda do que está acontecendo, eu gosto de
Como se deu o processo de criação da série A Língua dos pássaros? “Que se afine os lábios à língua dos
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natureza no corpo.
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criar uma cena e quero que o modelo vivencie. Quanto de você está presente em cada uma dessas fotografias? Acredito estar muito presente, eu acho mesmo que eu me fotógrafo nos outros, porque eu coloco muito dos meus sentimentos nessas fotos. Mas é fundamental que se crie uma sintonia grande entre a pessoa e eu, de modo que os modelos também encontrem expressões íntimas na fotografia. Eu levo uma intenção e surge um momento, isso é incrível.
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ELISA MURCIA ARTENGO Pasajes del Exilio
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assajes del Exilio foi a maneira que Elisa Murcia Artengo encontrou para lidar com uma nova realidade em sua vida. Depois de vinte cinco anos, ela se mudaria para um novo país, uma nova realidade. A série explora esse conflito buscando símbolos que evoquem seu país de origem, a geografia de seu novo país e gestos melancólicos, um toque da inevitável saudade de casa.
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Elisa, como começou seu interesse pela fotografia? Começou, como em outros tantos casos, por coincidência. Quando eu e minha irmã éramos adolescentes nossos pais buscavam formas de incentivar nosso interesse e motivação pela música, esportes, artes e desenvolver nossa curiosidade pela mundo que nos rodeava. No final dos anos noventa, me lembro perfeitamente do dia em que meu pai nos ofereceu duas de suas câmeras fotográficas, uma para cada filha. Escolhi a mais antiga e mais bonita, uma Asahi Pentax “Spotmatic F” com uma lente 50mm. Desde que a peguei, não parei de fotografar. Em casa sempre me disseram que se você não sabe algo, deve perguntar. Agora, pensan-
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do, quando meu pai me deu aquela câmera, estava me dando um instrumento para questionar e entender o mundo. Na realidade, por mais que eu tenha começado a fazer fotografias de maneira autodidata no final dos anos 90, foi só na metade da faculdade de Belas Artes em Barcelona, em 2006, que comecei verdadeiramente a desenvolver projetos fotográficos propriamente ditos. Nos conte um pouco sobre a criação de Pasajes del Exilio. O ensaio nasceu em um momento importante da minha vida. Um momento em que tento mental e emocionalmente compreender e fixar a ideia de que vivo e vou me instalar
É um ensaio que evoca um processo inacabado - que é minha obra - e, forçosamente, o futuro acaba com a última fotografia. definitivamente fora do país em que nasci. À partir daí, me questiono sobre a experiência de viver no exterior, o conceito de exílio e de pátria. Tudo isso, logicamente, se transporta à minha obra. Faz três anos que vivo na Suíça, país pequeno no qual a fronteira está muito presente, tanto na geografia como nas conversas de seus habitantes. Uma grande parte dessa fronteira está limitada por altas montanhas, paisagens muito apreciadas por todos. Quando, em várias ocasiões, subi perto dessas majestosas montanhas, não dei conta de ver a beleza da pai-
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sagem, só senti uma força terrível, que me fazia pensar o quão longe estava o mar. Assim, a montanha representa o exílio e o mar o meu lugar de origem. “De la imposibilidad de olvidar el mar” representa o disparador da série “Pasajes del Exilio”. A primeira me ajudou a compreender onde estou e de onde venho; a montanha versus o mar. A segunda série nasce de uma parada no caminho para se perguntar o que significa morar no exílio e permanecer em lugares que seriam de passagem. Esta ideia me levou a buscar em meu arquivo imagens que simbolizem a minha obra e que formem parte destes caminhos que passam por uma terra estranha que ao final acaba formando parte do lugar impreciso em que um habita: o mundo. É por isso que algumas
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fotografias foram feitas na Espanha, meu país natal, e outras na França, Suíça e outros países, durante muitas viagens. Não importa a localização precisa em que foram feitas as fotografias, o importante é que são caminhos intermináveis que me levam a lugares conhecidos ou por descobrir.
série, já que é um ensaio que evoca um processo inacabado - que é minha obra - e, forçosamente, o futuro acaba com a última fotografia.
Com Pasajes del Exilio você quer falar do passado, do presente ou do futuro? Pormais que não queira falar diretamente de um período concreto, os três tempos estão evocados de uma maneira ou outra. O passado e o presente aparecem em todos os projetos, já que escolhi fotografias mais antigas ou mais recentes do meu arquivo e porque o ensaio é uma ação que dura no presente, é algo que ainda está acontecendo. O futuro se desenha até o final da
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FELIPE GABRIEL Meandros
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elipe Gabriel começou sua trajetória fotográfica com o olhar voltado para a rua, para a realidade cotidiana que envolve a todos em uma grande cidade. No meio do caminho, seu olhar mudou, se voltou para dentro, para a sua intimidade e a de seu namorada. Sua gravidez se tornou o ponto central de seu olhar fotográfico por cerca de um ano, construindo um diário íntimo da surgimento e desenvolvimento de uma nova vida e da grande mudança de sua outras.
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O que estava para nascer Felipe, nos conte sobre seu começo na fotografia. Comecei na fotografia como uma forma de me expressar diante do momento que estava vivendo. Tinha 23, estudava publicidade e trabalhava como atendente em um cursinho desde os meus 18 anos. Neste local de trabalho tive um contato com uma região de SP com cotidiano e ambientes que não havia vivenciado. Entrava cedo, abria o cursinho e antes dos alunos entrarem fazia recortes das principais noticias do jornal para colocar no mural - da Folha e do Estado, com isso lia bastante os jornais. Adorava ver as fotos e anotar o nome dos fotógrafos para depois pesquisar. Paralelo a isso, fazia aula
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de desenho e história da arte em um ateliê incrível que ficava na rua do trabalho, falávamos muito sobre luz e sombra. Até que num determinado momento percebi que era preciso pensar mais em fotografia, procurei cursos, fiz vários. A fotografia de rua me encantava, vivia com a câmera pronta, adorava fotografar meu translado de Itaquera até Pinheiros - onde trabalhava. Acabei pedindo demissão e transferi a faculdade de publicidade para o curso de fotografia, conheci muita gente bacana que me incentivou seguir como fotógrafo. Fui indicado para um primeiro trabalho em fotografia e então não parei mais.
era mais um afluente, uma ramificação de um rio. Como foi o processo de criação do ensaio Meandros? O Meandros começou bem despretensiosamente, estava fotografando menos na rua e começando a pensar mais sobre intimidade, passei a clicar o relacionamento com minha namorada que inesperadamente ficou grávida. Neste período não parei de fotografá-la, foi quase 1 ano de clique, tenho um diário disso. No decorrer percebi a importância da água nesse processo, a forma como o corpo da mulher se molda para receber outro corpo e como minha vida e vida dela
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estavam se moldando e mudando de curso. Também percebi a necessidade de me colocar como mulher nesse processo intrínseco e exclusivamente feminino estabelecendo a relação dos rios com a terra e da gestação com o corpo. Como você buscou criar associações entre sua personagem e os espaços que você fotografou? Os espaços vem como uma forma de pontuar, um respiro que faz com que o espectador associe as imagens, são texturas e situações que conversam, a representação de um rio, as raízes irrigadas de uma margem, o corpo, a expansão da pele. O que estava para nascer era mais um afluente, uma ramificação de um rio.
Qual a importância de produzir essa série para te ajudar a compreender ou lidar com a situação que você estava vivendo? Foi muito interessante me colocar dentro desse processo, investigar um momento muito íntimo da mulher, uma possibilidade de estreitar mais minha relação com o universo feminino e também tentar compreender essa mudança de curso que nossas vidas estavam tomando. Como você busca trazer quem vê a série para dentro da sua história? O tema é algo universal - inerente ao ser - isso já ajuda a estabelecer uma relação com o espectador. Apresento uma atmosfera coerente e linear que se desenvolve ao longo da série.
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LUISA DĂ–RR OLD entrevista
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Luisa Dörr foi capa da OLD Nº 38 e agora volta à revista como entrevistada desta edição. O trabalho de Luisa lida muito bem com a figura feminina e com questões ligadas ao lado humano do crescimento e transformação urbana. Desde sua primeira passagem pela OLD, Luisa ganhou grande destaque, em especial com seu trabalho Maísa, premiado pela LensCulture e pela PDN. Neste mês, Luisa participa de um programa de mentoria da agência VII, no Peru. São com essas novidades e novos trabalhos em mente que Laura Del Rey partiu para a conversa. Por que retratos? Ultimamente andam me perguntando muito isso. Não tenho uma resposta clara, na verdade, é apenas a minha maneira de contar histórias. Você pode falar um pouco sobre o seu
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projeto Woman Topography? Como escolhe as mulheres que fotografa e como se relaciona com elas para chegar aos retratos que faz? Topografia significa descrever, descrição de um lugar. É a ciência que estuda todos os acidentes geográficos, definindo a sua situação e localização na Terra. Estou interessada na topografia das faces, em rostos femininos de forma espiritual e na cultura por trás destes traços. Nos dois últimos anos, viajei bastante por questões de trabalho. Durante estas viagens, tive o privilégio de conhecer novas culturas e observar novos rostos. Me encantei e, diante disso, aproveitei o Instagram, ferramenta da qual gosto muito, para retratar mulheres que passavam pelo meu caminho de maneira topográfica. Para chegar nas pessoas, normalmente começo através de amigos - mas nem sempre é assim. Às vezes
acontece naturalmente, por estar em um lugar, ver alguém e ir conversar com esta pessoa. Além do Woman Topography, você tem diversos projetos em que se relaciona intimamente com mulheres, como o Maysa, o Young Miss Brazil e o My Place. O que você acha que pode estar buscando com essa recorrência do tema feminino? Esta recorrência feminina está conectada com fatos que ocorreram na minha vida. Meu pai sempre foi muito ausente, então meu exemplo sempre foi minha mãe. Mas não é apenas isso, vai muito além. Eu acho que, às vezes, as coisas simplesmente acontecem. My Place foi o meu primeiro trabalho, no qual retrato meninas da minha cidade natal [Lajeado, no interior do Rio Grande do Sul], onde muitas meninas sonham em ser
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modelos. Young Miss Brazil foi uma atribuição para a Folha de São Paulo, na qual acabei conhecendo a Maysa, que culminou neste projeto que desenvolvo há um ano e meio. Como você vê a presença da mulher na fotografia atualmente? Melhor. Ainda vai levar um tempo para equilibrar. São necessárias mulheres na fotografia, temos outra maneira de fotografar. Outros pontos comuns que noto nos textos dos seus trabalhos são um certo olhar para o futuro e uma busca de retratar a intimidade. Como você enxerga o futuro e a intimidade? E como acha que procura isso nas fotografias? Não se trata apenas de documentar e compartilhar perspectivas através de histórias - ou de estar em lugares que nunca estive. Para mim, trata-se de estar perto do que estou interessada, na intimidade e identidade.
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Você foi selecionada para participar do Mentor Program da VII. Como está sendo esse processo? A propósito, na VII foram selecionadas três mulheres entre as cinco pessoas do Mentor Program. Mas se você olhar o site da agência, por exemplo, verá mais homens. Isso não significa que estão interessados no sexo, e sim na fotografia. Começamos a trabalhar no início de janeiro e vou ficar por dois anos na agência. Meu mentor é o Sarker Protick, um fotógrafo de Bangladesh que admiro muito. Durante este período, Sarker vai me ajudar em projetos e a agência em trabalhos e galerias. Até hoje, eu venho permanecendo no mundo dos “fotógrafos amadores”. Eu tenho vários projetos em andamento, recebi alguns reconhecimentos durante o ano passado, principalmente nos meios de comunicação social (ganhei o Lens Culture Emerging Talent e o PDN Emerging Talent), mas eu nunca tive a oportunidade de trabalhar
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ou estudar com o jornalismo profissional no campo documental. Então, é muito importante estar na VII, para entender melhor o meu trabalho, a profissão e, acima de tudo, definir a direção que eu devo seguir. Para mim, a fotografia não é uma finalidade em si, mas uma forma de contar histórias com conteúdo crítico, social ou cultural, em que eu possa construir e me tornar uma pessoa mais aberta, compreensiva e, felizmente, com um diálogo crítico com a sociedade. É um modo de vida. Às vezes, torna-se difícil continuar. Nem sempre há dinheiro para projetos, ou energia. Eu acredito que este programa pode me dar a autoestima que eu preciso para continuar fazendo o que eu sinto que é certo. Desde a sua formação no Rio Grande do Sul, você já viajou e publicou muito, teve diversas exposições, seleções e experiências. Além deste agora, quais outros momentos ou aprendizados até
aqui consideraria especiais? Não tem mais nem menos. Tudo que vivi e aprendi acrescentou algo em mim. A Índia em 2014 foi bastante intensa, quando ajudei a desenvolver o festival Goa Photo e também trabalhei na Escola Learn For Life dando aulas para crianças carentes. Também fizemos uma aventura de moto pelo Himalaia indiano, onde desenvolvi com Navin [amigo de lá] o projeto Like a Yak On the Beach. Eu e o Frank [marido de Luisa] nos acidentamos com moto no sul da Índia, onde praticamente fomos presos (risos). Desta viagem tenho mil histórias… Depois fomos para Hong Kong, e me senti no futuro. Quando voltei para o Brasil, trabalhei com o Alex Majoli [fotógrafo da Magnum] no projeto Word Cup Brazil, para a agência deles. Em 2015, passamos um mês na Armênia fazendo um trabalho sobre o genocídio armênio para o Fórum Against Genocide. Depois moramos um tempo em uma praia
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da Espanha e comecei a trabalhar para o El País. Fiz um trabalho no Círculo Polar Ártico na Noruega - a coisa mais linda que já vi. Agora estamos no Peru, desenvolvendo projetos. Nos momentos que estou em São Paulo, costumo trabalhar para a Folha, fazendo retratos. Temos uma vida nômade, econômica, por isso é possível viajar tanto - ainda mais lidando com fotografia, que você sabe que paga mal. Acho que desde que virei freelancer, em 2014, minha vida melhorou muito. É instável, mas gosto de me arriscar. Me permite viver mais, e esta liberdade não tem preço. As pessoas deveriam se arriscar mais. Você ainda tem bastante ligação com o Rio Grande do Sul? Acompanha a fotografia que se faz por lá? Não tenho muita ligação, infelizmente, mas tenho amigos muito talento-
sos, felizmente. Tiago Coelho é um fotógrafo documental que admiro muito. Participamos juntos da Bienal de Fotografia PHOTOQUAI, em Paris, ano passado. Além disso, gosto muito do trabalho da Roberta Santana, que agora vive em Berlim. O Leo Caobeli é outra pessoa que gosto de acompanhar. Como são os seus dias? Uma bela pergunta. Não separo os dias da semana dos finais de semana, nem trabalho de dias de folga. Não tenho fotos todos os dias, logicamente, mas faço algo em relação à fotografia todos os dias: respondendo e-mails, pesquisando sobre o que anda sendo feito, escrevendo meus projetos, lendo notícias... me informando, basicamente. O ato de fotografar é o que menos dura. Todo o processo por trás é o que leva mais
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tempo. Aqui em Lima, estou aprendendo a surfar, mas sou um completo desastre (risos). O que você anda lendo, escutando, assistindo? Estava lendo uma novela romântica de um escritor inglês, chamada Me Before You [Como Eu Era Antes de Você]. Fiquei apaixonada e li em três dias. Te aconselho, Laura. Agora estou lendo Os Anjos Bons da Nossa Natureza, de Steven Pinker, que estuda como a violência tem diminuído ao longo do tempo, apesar de ser ampliada pelo noticiário e a mídia social. A última série que assisti foi Fargo: humor negro, drama, crime. A fotografia é muito boa. Também indicaria Breaking Bad, que já é “antiga”, mas gostei muito de como a trama vai mudando. Outra boa que andei assistindo é Mr. Robot. Trata de Elliot,
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A fotografia não é uma finalidade em si, mas uma forma de contar histórias com conteúdo crítico, social ou cultural, em que eu possa construir e me tornar uma pessoa mais aberta, compreensiva e, felizmente, com um diálogo crítico com a sociedade.
um jovem programador que trabalha como engenheiro de segurança virtual durante o dia e como hacker vigilante durante a noite. E ontem assisti O Regresso, do Alejandro Iñárritu, escrito por Mark L.
tenho três personagens. Este projeto requer tempo. Além disso, quero viajar para o nordeste, para fotografar os anões, e tenho uma ideia de um projeto que gostaria de fazer no Rio antes das Olimpíadas.
Quais os próximos planos? Voltarei para o Brasil em março. Pretendo dar continuidade ao projeto da Maysa. Estou começando um trabalho sobre ricos, onde retrato os ricos e as suas coleções. Até o momento
por Laura Del Rey
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YUSUKE YAMATANI Tsugi No Yoru E
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cultura underground é o grande motor na obra de Yusuke Yamatani. Suas imagens buscam o que há de mais cru, áspero e potente na natureza humana. Honrando a tradição dos mestres da fotografia japonesa de rua, Yamatani nos apresenta um mundo caótico, complexo e envolvente, em uma noite que não termina, em festas que se tornam outras festas em um sem fim de experiências e fotografias marcantes.
(e.g. (C) Yusuke Yamatani, Courtesy of Yuka Tsuruno Gallery)
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Yusuke, como começou seu interesse pela fotografia? Toco em bandas desde a minha adolescência. Com 22 anos decidi que queria fazer algo que pudesse alcançar sozinho, sem precisar estar dentro de um grupo. Então comecei a fotografar com a câmera que a minha namorada tinha na época. Depois disso, consegui um trabalho em um estúdio comercial em Tóquio. Isso não estava me satisfazendo, então deixei o emprego e viajei pelo Japão para aprender sobre fotografia. Acabei chegando em Nagasaki e um grupo de fotógrafos amadores da região me ensinou grandes técnicas de laboratório e me apresentaram a Shomei Tomatsu. Tomatsu viu cerca de 20 fotografias
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minhas e me disse para tirar pelo menos 500 fotografias por semana. Eu fazia contatos das 500 fotografias e visitava Tomatsu todas as semanas durante três meses. Ele olhava cada fotografia com muito cuidado e escolhia algumas. As imagens que ele selecionava eram muitas vezes diferentes das que eu imaginava. Ele não tinha interesse nas imagens que eu tinha planejado, ele escolhia sempre as mais intuitivas. Ele não falava muito sobre o porquê de escolher aquelas fotografias, mas as conversas com ele me fizeram pensar na natureza acidental da fotografia e das decisões envolvidas neste processo. A experiência com Tomatsu me fez decidir buscar uma fotografia instantânea, de rua. Depois disso, me
Quero filtrar o que encontro até chegar em valores atemporais para a humanidade ou pelo menos descobrir se existe algo assim. mudei para Osaka e completei uma de minhas primeiras séries: Tsugi no yoru e (Em direção à próxima noite). Nos conte um pouco sobre a criação de Tsugi no yoru e. Depois do meu encontro com Tomatsu, deixei Nagasaki para encarar a fotografia direta. Viajei pela Europa em busca dessa fotografia, mas percebi que o Japão era o lugar ideal para a minha fotografia. Eu queria algo local - o que excluiu Tóquio por seu tamanho - e Osaka e parecia perfeita, tanto pela sua singularidade como pelo seu tamanho. Queria também
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fotografar coisas que estavam acontecendo no cotidiano. Música foi minha grande paixão antes da fotografia e ela ainda tem um grande papel no meu dia a dia. Queria voltar para os locais em que tocava todas as semanas, mas agora com uma câmera. Falei com um dos membros da minha última banda e comecei a dividir apartamento com ele em Osaka. Nós saímos todas as noites e assim consegui produzir minha série em 2010. O caos tem um papel importante na sua criação fotográfica? Eu cresci em uma “cidade de neve”. Durante o inverno tudo fica branco, coberto pela neve. Eu diria que é um estado de caos puro e eu gostaria de senti-lo o tempo todo. A razão pela qual eu gosto de mudar sempre de um lugar para o outro é porque
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sempre quero ter uma mente nova e aberta. É natural para o ser humano reconstruir toda sua vida e experiência quando muda para um lugar novo. Me tornei um adulto no começo dos anos 2000, mas o que eu gostava sempre estava no passado. Às vezes esqueço de que geração eu faço parte. Acho que vem dai a minha busca por encontrar algo atemporal. Na minha fotografia quero filtrar o que encontro até chegar em valores atemporais para a humanidade ou pelo menos descobrir se existe algo assim. Você vê este ensaio como um diário pessoal? Ele seria uma representação visual de uma cultura underground? O vejo como os dois. Aparentemente eu prefiro culturas minoritárias. Gosto de lugares locais nas ruas ou no metrô nos quais eu possa sentir
a tensão, a expressão única de cada espaço. Cresci em um momento de cultura universal, em que tudo é igual, mas minha vida sempre foi envolta por música e estilo de rua. Todos meus pensamentos, maneira de vestir e afins são inspirados pela música. Eu mudei muito e agora sou mais tolerante com muitas coisas, mas meu núcleo central continua coerente com o que construí em minha adolescência.A fotografia é a melhor maneira de registrar uma experiência pessoal e buscar que outros simpatizem com ela. Na minha expressão fotográfica não há nenhuma imagem de shows ou de rampas de skate porque não me interesso pelo momento em que alguém está tentando mostrar o melhor de si. O grande magnetismo da fotografia é corta este tipo de experiências exageradas.
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ax Fonseca apresenta em Nos Braços da Alegria o carnaval de Luanda. A série se concentra nos personagens que constroem a festa, sua irreverência e seu ritmo constante. Nessas fotografias, Max encontra uma série de conexões com a cultura baiana, com seu carnaval e com suas origens. Assim, as imagens falam de um evento, de seus personagens, mas, principalmente, das culturas do Brasil e de Angola.
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Foi divertido, intuitivo e a empatia Max, como começou seu interesse pela fotografia? Antes de conhecer a fotografia, eu já adorava criar imagens através dos poemas. Na minha poesia, cada verso era um fragmento que, em geral, formava uma cena e contava uma história. Quando a fotografia me ocorreu, em 2009, na faculdade de Jornalismo, descobri o caminho inverso: ver a cena por inteira e depois ir clicando os versos. Apaixonei por esta forma de narrar. De lá pra cá, vem sendo minha principalmente ferramenta de expressão artística; o caminho da minha voz. Nos conte sobre o processo de produção de Nos Braços da Alegria. Fiz esta série em fevereiro de 2015. Na
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altura, eu morava em Luanda há dois anos, mas ainda não conhecia o carnaval de lá. Por ser baiano, o carnaval sempre foi uma referência cultural muito forte para mim, uma espécie de assunto familiar. Tive curiosidade para entender como seria essa folia num país africano e decidi ir fotografar. Quando cheguei, foi como visitar nossas origens. É óbvio que há uma peculiaridade muito forte no carnaval angolano, sua cultura, seu comportamento, seu cotidiano estão ali, traduzidos em músicas, danças e alegorias. Contudo, existem também tantas semelhanças com o jeito de ser, de celebrar do brasileiro –e penso que em especial dos baianos-, que os reconhecimentos são inevitáveis. Não só do carnaval, mas de outras
me guiou. Aquilo que mexia comigo foi registrado. festas populares também. Como você buscou dar destaque a cenas e personagens específicos dentro desta multidão de oportunidades visuais? Na hora, minha preocupação era em viver aquela verdade, em ser parte da situação. Foi divertido, intuitivo e a empatia me guiou. Aquilo que mexia comigo foi registrado. Eu cliquei de tudo um pouco e só depois fui fazer um recorte mais minucioso para construir uma narrativa, que fizesse sentido e aproximasse as pessoas dessa minha experiência, mas uma
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coisa ficou decidida desde o início: eu estava muito mais interessado nos sentimentos, do que no evento momesco. Como você buscou construir a narrativa da série? Você buscou uma história mais fechada ou mais livre? Eu optei por tentar traduzir, através de cenas e personagens, os temas centrais do carnaval de Luanda; os ápices do que vi. Eu começo num contraste de ordem/direção e termino na ternura, passando em lugares de euforia, de dança, de transe, de alegoria. Cada personagem carrega em si um punhado de referenciais simbólicos e alguns se repetem para dar ênfase à mensagem.
mentos para um meio estático como a fotografia? O carnaval é uma profusão de cores, de personagens, de publicidades, de distrações. Ao chegar, minha primeira decisão foi ser uma série em preto e branco, justamente para trazer atenção e harmonia aos gestos, à emoção do momento. Esta série que apresento à OLD é uma versão mais enxuta da série maior (cujo objetivo é lançar um fotolivro), mas já busquei evidenciar uma espécie de “coreografia” gestual que registrei e que acredito traduzir esse movimento de esplendor que vivenciei. Tentem sentir comigo.
Quais ferramentas você usou para traduzir um evento tão cheio de movi-
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SOBRE FOTOGRAFIAS, AFETOS E MEMÓRIAS
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foto que acompanha este texto faz parte de uma série de quatro imagens e aconteceu em 12 de outubro de 2008. Foi um presente que fiz para meus pais no dia de suas bodas de ouro. Carrega, a imagem física, uma quase infinita teia de relações, afetos e memórias, para além do registro. A câmara que usei foi uma Rollei 2.8F que, antes de ser minha, era utilizada pelo fotógrafo da cidade onde
Angelo José da Silva é professor de sociologia na Universidade Federal do Paraná e fotógrafo. Suas pesquisas mais recentes focam o espaço urbano e o grafite.
meus pais viviam e onde cresci e já não vivo mais. Interior do estado de São Paulo, Brasil. O “seu” Dema era o fotógrafo de casamentos. A cópia da foto foi feita em papel fibra pelo meu amigo Humberto. Algumas pessoas dizem que somos irmãos gêmeos separados no nascimento. Alguns dias atrás, começos de fevereiro, minha irmã Kátia, minha esposa Analu e eu trouxemos meus pais para viver mais perto de nós. Era necessário. Meu pai, Olympio, nos disse do alto do sofá onde estava sentado “obrigado por nos tirar daqui. Começaremos uma nova vida.” No dia seguinte à nossa chegada, 2 de fevereiro, minha mãe ida, cumpriu 92 anos. O “seu” Olympio segue
com seus 93. Retirados do interior profundo para começar uma vida nova. Escolhi essa foto para trazer comigo como uma espécie de recordação do lugar, da casa, dos amigos. Ela cumpre também o papel de acalmar meu espírito, minhas memórias, meus afetos, os lugares, as pessoas. Esse pedaço de papel funciona como uma ponte entre o passado, o presente, o futuro. Permite uma transcendência para o dentro e o fora de mim. Para se “começar uma nova vida”. No dia 12 de outubro de 2018, se estivermos por aqui, vou fazer mais uma foto deles na festa de sessenta anos de casamento dos meus pais.
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Retirados do interior profundo para começar uma vida nova. Escolhi essa foto para trazer comigo como uma espécie de recordação do lugar, da casa, dos amigos. 119
MANDE SEU PORTFร LIO revista.old@gmail.com Fotografia do ensaio Terceira, de Guilherme Tosetto. Ensaio completo na OLD Nยบ 55.