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expediente
revista OLD #número 59
equipe editorial direção de arte texto e entrevista
Felipe Abreu e Paula Hayasaki Tábata Gerbasi Angelo José da Silva, Felipe Abreu e Paula Hayasaki
capa fotografias
Ale Ruaro Ale Ruaro, Camila Domingues, Ceci Gervaso, Fernando Banzi e Tuany Lima
entrevista email facebook
Rogério Reis revista.old@gmail.com www.facebook.com/revistaold
@revista_old
tumblr
www.revistaold.tumblr.com
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índice
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livros garagem automática exposição
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ceci gervaso por tfólio
rogério reis entrevista
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camila domingues por tfólio
tuany lima por tfólio
reflexões coluna
carta ao leitor
Começamos mais um semestre de vida com nossa edição Nº 59. Ale Ruaro assina a capa e abre as atividades desta edição com o ensaio Friction, uma busca pelo limiar de corpos e espaços, em imagens de profunda tensão. Enquanto Ale se concentra em tensões íntimas, Fernando Banzi apresenta sua visão sobre a ação da polícia nos protestos do MPL em São Paulo, no ano passado. São trípticos que criam uma visão cinematográfica do exagerado – e constantemente violento – contingente policial que costuma acompanhar este tipo de demonstração pública. Ceci Gervaso se afasta de temas políticos dos trabalhos que vinham abrem esta edição e encontra na
união da performance com a fotografia o motor para sua criação visual. Em Agente Inmobiliario a fotógrafa argentina explora espaços em apartamentos e casa vazias, trazendo seu corpo como elemento de disrupção neste ambientes. No segundo bloco de portfolios, Camila Domingues e Tuany Lima abordam a relação da produção de imagens com a tecnologia nos trabalhos Sem Título e Áurea. No meio destes trabalhos apresentamos uma bela entrevista com Rogério Reis, que conta sobre sua produção visual e seu recente e premiado trabalho Ninguém é de Ninguém. Aproveite!
por Felipe Abreu
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livros
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BR MOTELS de Alexandre Furcolin e Jazzie Moyssiadis
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lexandre Furcolina e Jazzie Moyssiadis fizeram uma road trip entre São Paulo e Minas Gerais. A viagem, com rota em formato de coração, tinha por objetivo passar pelo máximo possível de motéis de beira de estrada. Deste projeto, realizado durante a residência da Feira Plana, nasceu BR MOTELS, uma viagem de cores e flashes pelo kitsch tradicional dos motéis de beira de estrada brasileiros. Longe de focar no sexo, o que seria o mais óbvio dentro deste tema, a dupla busca associações formais entre formas e cores, escapando de uma narrativa forçada e encontrando um caminho próprio e original dentro deste impressionante universo. O livro tem um acabamento primoroso, que dá ainda mais qualidade ao projeto.
Disponível no site da Livraria Madalena valor R$75 120 páginas 6
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SEEING THINGS de Joel Meyerowitz
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oel Meyerowitz encarou de frente a tarefa de criar uma introdução visual fotográfica para crianças. Abordando trabalhos de grandes nomes da fotografia, Seeing Things: A Kid’s Guide to Looking at Photographs aborda como fotógrafos transformam o ordinário em algo incrível. Mais um livro do brilhante universo de livros de fotografia para crianças que tem se construído nos últimos anos, vale mencionar os esforços de Jason Fulford e Broomberg & Chanarin, Seeing Things é uma incrível introdução ao mundo fotográfico, trazendo imagens de mestres da fotografia, com análise simples e precisas, que enriquecerão o universo teórico-visual de qualquer fotógrafo.
Disponível no site da Aperture valor R$70 80 páginas 7
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OS ESQUELETOS DOS PRÉDIOS DE SÃO PAULO Felipe Russo volta seu olhar para o interior dos edifícios garagem no centro da capital e revela um mundo curioso e sombrio.
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elipe Russo tem uma relação especial com a região central de São Paulo. Seu marcante ensaio Centro explorou uma região restrita da cidade, buscando detalhes, espaços e esculturas urbanas que contassem a história da região tão peculiar da cidade. O resultado são imagens de uma calma e potência incríveis, que se tornaram a assinatura visual na produção visual do fotógrafo. Em seu novo trabalho, Felipe mantém esta abordagem, mas agora volta seu olhar para o interior dos edifícios garagem que se espalham pelo centro da capital. Os prédios,
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construídos para resolver o problema de estacionamento nos anos 70, tem uma estrutura completamente automatizada, criando gigantes de concentro com máquinas que transportam máquinas. Garagem Automática busca, segundo o fotógrafo, o que há de similar em todos estes prédios, buscando construir um mapa de estrutura comuns destes espaços tão curiosos. A grande mudança em relação a Centro é que deixamos de buscar elementos conhecidos, tateando por um espaço que habita nosso léxico e passamos a descobrir estruturas quase ininteli-
gíveis, que criam uma espécie de futuro pós-apocalíptico dominado por máquinas low tech no centro de São Paulo. Vale apontar que, além da exposição de Russo, a Casa da Imagem também recebe mostra de Tuca Vieira, se apresentando com um polo do que há de melhor na fotografia em São Paulo pelos próximos meses.
A Casa da Imagem fica na R. Roberto Símonsen, 136 B e a exposição Garagem Automática fica em cartaz até 16 de Outubro.
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ALE RUARO Friction
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m Friction, Ale Ruaro explora as conexões e desejos humanos de uma maneira intensa, escura e marcante. Ao registrar este corpos e espaços, Ale constrói uma atmosfera que é o mesmo tempo pesada e convidativa, mostrando um mundo que é misterioso para muitos, mas no qual o fotógrafo se sente completamente à vontade. O corpo é o principal assunto na produção visual de Ale Ruaro, suas variadas formas de expressão e transformação inspiram o fotógrafo a produzir imagens cada vez mais marcantes e potentes, como as que vemos no ensaio apresentado na OLD.
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A forma de eu lutar contra o machisAle, como começou seu interesse pela fotografia? Aos 7 anos de idade, em 1983 fiz minha primeira grande viagem, fui para Amazônia com meu pai, no Rio Solimões ele me entregou uma Kodak Instamatic 126 e eu registrei a viagem. Aos 14 anos de idade estudei desenho, depois cartoon, teatro, iluminação cênica, cinema e aí começou o meu amor pela fotografia aos 19 anos de idade. Nos conte sobre o desenvolvimento de Friction. Friction é um ensaio que faço uma compilação dos temas que fotografo, dos lugares onde ando. Você tem uma ligação forte com te-
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mas ligados ao corpo e ao underground. Como surgiram estes interesses? Fotografei várias coisas durante minha carreira, mas sempre busquei minha veia, em 2011 consegui olhar para dentro e vi no meu passado muito preconceito, convivência com um ambiente machista, traições e aí encontrei meu tema, a documentação das mais diversas formas de o ser humano se expressar e interagir com o corpo. A forma de eu lutar contra o machismo, estupro, quebrar o tabu dos fetiches é com a minha fotografia. A série caminha do corpo à paisagem abstrata. Como se deu essa decisão narrativa? Tento fazer um retrato antropológi-
mo, estupro, quebrar o tabu dos fetiches é com a minha fotografia. co, após conhecer um pouco a pessoa que vou fotografar eu lhe pergunto um lugar que ela se sinta segura, ou o oposto, para ter no conjunto um misto de tranquilidade e tensão, que é como vejo tudo. Daí nascem as locações, sempre pensadas para cada pessoa, cito algumas: avenidas movimentadas de capitais como São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, na beira mar do Leme no Rio de Janeiro praias de Santa catariana às 4hs da manhã, Dark Room, prostíbulos, hotéis baratos, apartamentos em bairros nobres de São Paulo, Curitiba, etc...
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Como você buscou seus personagens e situações? A estrutura da série estava pré-planejada ou foi construída ao longo da produções de imagens? A série é uma desconstrução de um trabalho gigantesco de mais de 150 retratados, um trabalho que começou com os amigos em uma série chamada Naked Friends, onde hoje eu fotografo não só amigos, mas também amigos de amigos, formando uma rede bem grande, quase 5 anos documentando o Sado Masoquismo no Brasil, não deixando de fora a prostituição. Essa desconstrução acontece o tempo inteiro editando ensaios a partir dessa produção.
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FERNANDO BANZI Ostensivo
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s protestos que tomaram o Brasil entre 2013 e 2014 deixaram uma série de marcas, em especial uma tensão cada vez mais profunda com a PM. Em 2015, Fernando Banzi acompanhou os 7 atos do Movimento Passe Livre e construiu uma visão cinematográfica, interna e dura do comportamento da polícia militar durante as manifestações. As imagens apresentadas são diretas e fortes, transmitindo visualmente a atmosfera encarada pelos manifestantes no ano de 2015.
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Esse segundo momento, Fernando, como começou seu interesse pela fotografia? No período da adolescência, muito por influência do skate. Eu sempre li revistas e assisti a vídeos sobre o esporte... andando o gosto e a curiosidade sobre essas imagens foi crescendo e aos poucos fui colocando a “mão na massa”. Quando eu era menor gostava de desenhar personagens da Turma da Mônica e acho que esse primeiro interesse por desenho também foi abrindo portas de interesse que, de certo modo, me conduziram para a fotografia. Em casa, meus pais tinham uma câmera reservada para os “momentos kodak” e, mais tarde, ela veio a ser um presente do meu pai, uma Yashica compacta.
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os conte sobre a criação de OstensiN vo. Ostensivo vem dá observação das manifestações, do de dentro pra fora, do querer olhar pelo muro. Em 2013 quando houve as explosões nas ruas, com o início do Movimento Passe Livre, que naquele momento queriam barrar o aumento da tarifa de ônibus. Foi notória a sensação de que a polícia militar não estava preparada para conter o contingente de manifestantes, mesmo equiparada de armamento bélico, parecia que havia um despreparo enorme, houve muitos casos de agressão contra manifestantes, fotojornalistas e jornalistas. Em 2015, ano que produzi o ensaio, eu acompanhei todos os 7 setes atos do Movimento Passe Livre que mais
gerou, por vezes uma certa sensação de insegurança. uma vez foi as ruas contra a tarifa de ônibus. Desta vez observei um preparo maior (não quero dizer menos violento) mais estratégico, organizado, e muito mais ostensivo da parte da policia militar. Esse segundo momento, gerou, por vezes uma certa sensação de insegurança. Sabe quando você adentra a uma fortaleza? tive a sensação de que a ostensividade na verdade trouxe muito mais uma sensação de insegurança e vulnerabilidade do que de proteção. O tempo de construção do ensaio foi algo extremamente significativo. Tive uma longa pausa entre a feitura
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das fotos e meu reencontro com elas. Quando comecei a mexer no material e observar o que eu havia documentado é que pude compreender a forma ostensiva e estratégica como polícia militar age em manifestações. Me questionei inúmeras vezes sobre o armamento tecnológico, como câmeras fotográficas, filmadoras, carros blindados e armamentos de fogo pesado utilizado pela polícia. Qual a razão de todo esse aparato? é para conter uma manifestação? agora um ponto de vista, eu vejo uma manifestação pacífica e organizada. Desse questionamento e dessa nova ótica de observar o policiamento militar, desencadeia a narrativa do ensaio. Porque você optou pelos trípticos? Como esta decisão auxilia na construção da narrativa da série?
As escolhas pela construção do díptico e trípticos se deu muito pela narrativa dos tons de cinza. Pela própria ostensividade da imagem, colocando elas em trios, você consegue ampliar seu campo visual. Considerei também a simetria. As composições visam a ideia de uma única imagem com fragmentos distintos numa mesma cidade e refletindo o mesmo comportamento ostensivo. São fotografias realizadas em dias diferentes mas que mesmo assim se convergem e repetem imageticamente a etimologia da palavra ostensivo.
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CECI GERVASO Agente Inmobiliaro
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eci Gervaso teve a fotografia presente em sua vida desde sua infância. Sempre ou filmando ou fotografando, ela construiu um gosto pela área e aos poucos encontrou seu estilo visual. Em Agente Inmobiliario, Ceci apresenta uma delicada união entre fotografia e performance, transformando sua relação com os locais visitados e dando novo sentido a ambientes, até então, vazios, esperando por uma ocupação humana.
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Sem pensar, começo a me despir, coCeci, como começou seu interesse pela fotografia? Não me lembro exatamente nem quando nem como, mas posso dizer com certeza o porquê. Meu pai se dedicou à medicina, mas seu grande hobby sempre foi a fotografia e a filmagem. Desde que tenho lembrança sempre houve em minha casa uma filmadora e várias máquinas fotográficas. Ele e minha mãe sempre foram muito criativos, minha mãe pela pintura e meu pai pela imagem, sendo também cirurgião plástico. Assim, creio que meu interesse pela fotografia surge graças e através deles. Anos mais tarde, depois da morte de meu pai em 1994, comecei a fotografar mais do que filmar. De repente me vi em todos os lugares com uma câme-
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ra analógica em minhas mãos. Todos sabiam que eu ia tirar fotos, antes quase ninguém fotografava, diferente de hoje em dia, e eu sempre estava com a câmera no bolso. Logo chegou o digital e minha cabeça explodiu. Depois disso não vejo nenhuma pausa no meu desejo de fotografar, mas já estava cansada de fazer fotos nas reuniões de amigos e festas, agora só fotografava quando encontrava a foto perfeita, que tinha pensado e realizava por completo. Quando percebi que poderia viver da fotografia fui a Barcelona para continuar estudando em 2009, com 24 anos. Lá fiz vários cursos e workshops, me especializando e buscando a direção em que queria seguir e o que me fazia feliz em fotografar. Meu interesse
loco o timer na câmera, faço o foco e aperto o botão. pela fotografia começou em algum dia do passado e segue presente, com suas mutações de estilo, cor, temática, etc. mas latente todos os dias. Tudo o que vejo, as viagens que faço, onde vivo, tudo isso me inspira. Nos conte sobre a criação de Agente Inmobiliario. Durante meu primeiro ano e meio morando em Barcelona trabalhei para uma imobiliária como fotógrafa, registrando apartamentos que estavam para alugar ou vender. Um dia qualquer me entregaram um molho de chaves de mais um apartamento,
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entro e começo meu ritual: armando o tripé, a câmera e as luzes. Quando cheguei no banheiro principal fiquei muda ao ver o estilo e a organização do cômodo. Não tinha ninguém e não tinha quem fotografar ali. Sem pensar, começo a me despir, coloco o timer na câmera, faço o foco e aperto o botão. Corri até a banheira e entrei, sem pensar muito bem como, levanto minhas pernas, coloco os braços sobre a cabeça e sai a foto. Devo ter feito mais ou menos dez fotografias com este processo e amei o resultado. Assim começou uma série de autorretratos neste apartamento vazios. Agora trabalhar na imobiliária era mais divertido. Muitos desses autorretratos foram feitos nestes apartamentos que me enviavam para fotografar, mas depois de um tempo comecei a pedir casas de ami-
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gos emprestadas, para fazer fotos lá também. Agente Inmobiliario foi um jogo, uma etapa da minha vida, um começo de criar primeiro a foto em minha cabeça e depois atrás da lente. O estético começou a primar. Foi um desejo de me observar, de gostar do meu corpo, de algo feito por mim e para mim. Gostei do resultado e o apresentei para várias pessoas que também gostaram e comecei a fazer retratos de outras pessoas neste formato, para que elas gostassem de se ver também, chegar a este mesmo resultado. Ao criar Agente Inmobiliario com este conjunto de autorretratos, a ideia era que o espectador se sentisse como um espião, em flagrante, escondido, vendo a privacidade alheia, sem chegar ao voyeurismo, mas com um toque dele.
Como você buscou construir relações entre personagem e espaço? Simetria, estética. Logo que um espaço me chama a atenção já imagino como inserir o corpo ali. No começo as imagens saiam sem pensar. Sabia exatamente como me colocar neste novo espaço. Buscava harmonia em sua totalidade, beleza, atração, sensualidade. Talvez por isso os corpos nus ou seminus. O corpo sem intervenção, assim como é. Rigidez na postura, na maioria das vezes, como em um fotografa de filme. Busquei espaços nos quais o corpo e ele se completavam em todos os sentidos. Agradáveis de ver e que, ao ver a foto, te fizessem pensar na pessoa no quadro e no espaço apresentado, criando uma história particular em sua cabeça.
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Rogério Reis traz uma produção visual potente desde os anos 70. Com um caráter jornalístico muito preciso, sempre ligado a questões sociais e políticas, sua fotografia já recebeu destaque em diversos momentos de sua trajetória. Recentemente, seu ensaio Ninguém é de Ninguém foi lançado como livro e vem recebendo uma série de comentários dos mais positivos. Conversamos com Rogério por e-mail para conhecer mais de sua trajetória e de seus novos projetos. Rogério, você tem uma produção constante em fotografia desde os anos 70, com estéticas bastante distintas. Você vê seu trabalho dividido em blocos ou como uma linha contínua? Com relação à minha produção, sempre tive dificuldades com uniformidades estéticas. Com o tempo essa possível deficiência foi virando a meu
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favor na forma de liberdades para trocar de estratégias entre um trabalho e outro. Meu processo imersivo é urbano, muitas vezes na cidade em que vivo. Fazer residência artística na própria cidade é um desafio constante de disciplina e concentração. A minha linha contínua talvez seja a linha da vida onde os trabalhos ocorrem por etapas. Como venho do fotojornalismo, as vezes sinto que trabalho notícias fora do contexto jornalístico. Você destaca Surfistas de Trem, de 1988, como seu primeiro grande trabalho fotográfico. Como foi a experiência de produzir esta série? Surfistas de Trem do Ramal de Japeri foi produzido no ambiente da F4, um grupo de fotógrafos que buscava auto-suficiência na produção e distribuição das fotografias durante e após a ditadura. Nessa série dividi
as ações com Mayra, minha mulher e o fotógrafo Ricardo Azoury: Mayra cuidava da produção e segurança, Ricardo operava Fujichrome e eu Tri-x da Kodak. Os Surfistas eram a pauta transgressora do momento no final dos anos 80, a grande façanha dos meninos da periferia que não tinham condições sociais e financeiras para surfar em Ipanema. O ramal de Japeri era mais poderoso porque o risco aumentava, já que as composições não tinham calhas de segurança na parte externa do teto. Entre idas e vindas à Japeri montamos uma relação de confiança com os caras e isso possibilitou algumas ações no eixo da Central do Brasil. A diferença entre o surfista e o fotógrafo no trem é que enquanto o surfista seguia de frente o fotógrafo viajava de costas. Nesse caso obedecíamos ao comando do surfista mais próximo que nos
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alertava sobre a aproximação de curvas, postes e viadutos ao longo da via. Em caso de aproximação da polícia o trem parava e a ordem era sumir. Já em Na Lona, de 1987-2001, seu olhar se volta para o retrato, de maneira mais consciente e posada. Como se deu essa mudança? Quais os pontos marcantes e dificuldades em produzir trabalhos tão distintos? Como já falei uniformidade estética não é o meu forte. No projeto dos retratos Na Lona foram necessários 3 anos de vivência do carnaval no Sambódromo para tomar a decisão de virar de costas para a cena midiática, cronometrada e até certo ponto previsível dos desfiles das escolas de Samba. Esse gesto me abriu reciprocidades e cumplicidades com os foliões de rua do final dos anos 80. Nessa série produzida ao longo de 16
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carnavais tive, nos 4 primeiros anos, a boa parceria do também fotógrafo Zeka Araújo que dividia comigo estratégias e fotografava em cores. Com o tempo a Lona foi virando um conhecido espaço performático que era procurado pelos foliões. Costumo dizer que aprendi a fazer retratos na rua interagindo com sonhos e desejos. Nesse momento os jornais abriam pouco ou nenhum espaço para as manifestações do carnaval fora do Sambódromo e a possibilidade de publicar ensaios como esse na imprensa era reduzida. Como afirmo na apresentação do livro dedicado a essa série “A Lona é cortina entre o excesso e o que de fato quero ver”. Nesse processo reconheço as influências que tive vendo o trabalho da grande fotógrafa americana Diane Arbus na sua busca pelos excluídos e também do poderoso Irving Penn
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que fotografou tribos africanas utilizando uma lona como fundo. Ninguém é de Ninguém é seu projeto mais recente que vem ganhando grande destaque. Você pode nos contar um pouco sobre a produção desta série? Ninguém é de Ninguém, foi mostrado na forma de exposição, no Rio, Paraty, Paris, Atlanta e a próxima será em 9 de agosto no Museu de Belas Artes de Buenos Aires com curadoria de Elda Harrington. Nas mídias digitais, na forma de ensaio, tive boa acolhida no The Guardian, Time (Light Box), Lens Culture e 6 páginas impressas na revista Courrier International, além de uma inserção na edição especial America Latina da revista L’Insensé. Nesse projeto fotografei com teleobjetiva sempre aos domingos de alto verão, com praias repletas de banhistas no Rio. Trata-se
de uma crônica de comportamento com humor através de flagrantes não consentidos de frequentadores da praia. Para isso criei a figura do Paparazzo dos Anônimos que busca estar presente sem ser notado. Ao longo dessa experiência na areia da praia fui montando uma cartilha de dicas práticas (*) para que eu pudesse ler como alerta para as futuras investidas na praia. As tarjas foram colocadas posteriormente sobre as imagens como fez László Moholy-Nagy na foto The Olly and Dolly Sisters em 1925 e mais recentemente o americano John Baldessari. No meu caso, quis “proteger” as pessoas fotografadas nos seus direitos de imagem. A contrapartida dessa “proteção” da identidade individual das pessoas do ponto de vista de uma reflexão mais profunda é que um indivíduo com venda nos olhos perde o poder de revidar o olhar, de
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produzir semelhanças e correspondências. (*) Cartilha para tirar fotos espontâneas nas praias do Rio. 1.Para você não ter que dar explicações de toda ordem, mantenha-se em movimento, seja discreto, use o foco automático e dê preferência às fotos horizontais. A rotação dos braços para o formato vertical chama a atenção e denuncia o clique. 2.Seja tolerante com os banhistas, vendedores e policiais. Eles desconhecem suas motivações artísticas. 3.Caso você seja procurado por rapazes ou meninas atraídos pela sua teleobjetiva, é porque desejam fama e sucesso. Eles pensam que você é um paparazzi de celebridades, facilitador de sonhos. 4.Atenção redobrada com os fora da
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lei. Não são identificáveis, são agressivos e podem chegar às vias de fato. Nesse caso, delete as fotos diante deles. Eles acreditam que você é fiscal da prefeitura ou colabora com a polícia. 5.Não conte com a ação preventiva da Guarda Municipal e da Polícia Militar para questões simples de cidadania, como fila do banheiro público, etc. Diante das praias cheias, eles estão preocupados com a possibilidade de distúrbios. 6.Caso não tenha um amigo salvavidas, desista de subir na plataforma de observação dos postos de salvamento. O ângulo é excelente e seguro para tomadas panorâmicas, mas a burocracia da Defesa Civil é infernal. 7.Caso você perceba que está sendo observado por um suspeito, gesticule simulando uma comunicação por si-
nais à distância. Pode funcionar. 8.Tenha sempre em mente a frase do Banksy, artista de rua inglês, sobre suas ações no espaço público: “É sempre mais fácil conseguir perdão do que permissão”. 9.Uma das maneiras de proteger a identidade das pessoas fotografadas é aplicar figuras geométricas sobre as faces. Isso pode produzir um diálogo estético, curioso e irônico. Para isso você encontra sugestões poéticas nas obras do húngaro László Moholy-Nagy e do americano John Baldessari. Boa sorte. Recentemente o Olhavê publicou, em parceria com as Edições de Janeiro, o livro Ninguém é de Ninguém. Como foi o processo? O que te fez decidir publicar esta série como livro? O livro muitas vezes é o caminho na-
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tural das fotos. O interesse do editor Alexandre Belém do OLHAVÊ foi decisivo já que ele atua de forma sistemática no circuito dos fotolivros. A coedição da Edições de Janeiro com a Ana Cecília Impellizieri viabilizou a distribuição em livrarias, revisão, divulgação e estocagem. O processo de seleção das fotos para se chegar a uma narrativa final foi do Alexandre com a minha participação e concepção do design foi obra da Yana Parente. Quais foram os principais desafios para traduzir o trabalho para o formato livro? A sequência e a seleção de imagens mudaram muito? A sequencia de imagens de um livro deve ser diferente de uma revista, exposição, site, projeção ou portfólio impresso. Cada proposta merece um
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A contrapartida dessa “proteção” da identidade individual das pessoas do ponto de vista de uma reflexão mais profunda é que um indivíduo com venda nos olhos perde o poder de revidar o olhar, de produzir semelhanças e correspondências.
estudo de caso próprio para obter melhor adequação de espaço/tempo e assim gerar melhor fluidez. A presença na forma de diálogo de um interlocutor de confiança dando opiniões a cada etapa é fundamental já que o fotógrafo muitas vezes está envolvido emocionalmente com o trabalho e pode se arrepender mais facilmente no futuro das suas decisões solitárias. Acho importante, quando possível, a presença do fotógrafo na gráfica junto ao produtor gráfico aprovando os
testes e ajustes de impressão do livro. Nessa hora muitos acertos ainda podem ser feitos.
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CAMILA DOMINGUES Sem Título
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amila Domingues discute em seu trabalho a complexa questão que é produzir nova imagens em um mundo já tão saturado de fotografias. Nesta série, Camila apresenta, lado a lado, uma imagem produzida por ela e uma seleção de resultados encontrados usando a dita fotografia como fonte de uma busca por imagens na internet. O resultado final traz à tona o modo de organização destes sistemas de busca, a saturação de certos temas visuais e as possíveis associações formais derivadas deste sistema de produção.
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Não interferi de nenhuma forma nas Camila, como começou seu interesse pela fotografia? Toda a minha infância foi muito fotografada, principalmente por uma Yashica antiga do meu avô. Durante a faculdade de Jornalismo, encontrei essa máquina servindo de objeto de decoração na casa de um tio. Peguei para mim e a coloquei na ativa. Foi meu primeiro contato consciente com a fotografia. Logo comecei a participar das atividades fotográficas da faculdade e, consequentemente, me aproximei do fotojornalismo. Nos conte sobre a produção desta série. A motivação inicial da série é discutir e questionar a atual capacidade de organização das imagens na internet.
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A série é um exercício de experimentação que relaciona minha própria produção fotográfica com o universo saturado de imagens disponíveis na rede. Já havia tido contato com diversos artistas que trabalhavam com esse tema, mas minha intenção era questionar a validade desses bancos de dados. Para tanto, confrontei imagens que eu havia publicado no meu perfil público no Instagram com os resultados obtidos no Google Imagens. Selecionei fotografias minhas capturadas em locais públicos, e algumas vezes turísticos, o que teoricamente facilitaria o encontro pelo sistema do Google. Não interferi de nenhuma forma nas buscas, utilizando sempre os primeiros resultados que apare-
buscas, utilizando sempre os primeiros resultados que apareciam ciam em comparação a minha imagem. O que mais te chamou a atenção na “curadoria” de imagens do Google? O que me alarmou desde a primeira busca foi a incapacidade do Google de encontrar imagens dos locais que eu havia fotografado. Na fotografia do Auditório Ibirapuera, por exemplo, em que o ângulo é um pouco incomum em relação aos registros normalmente produzidos do local, o resultado foi ao extremo: não há qualquer referencia ao objeto original, como ocorreu em outras buscas
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da série. Esse foi o ponto de partida para o questionamento da inteligência artificial da ferramenta, que se detém a formas e cores mas não consegue alcançar um entendimento visual complexo. A relação com a tecnologia e com a produção massiva de imagens digitais é um dos principais pontos da sua produção? Como esta realidade influencia sua produção visual? A produção desse trabalho foi um ponto de partida para esse meu interesse no tema. Inevitavelmente meus projetos se relacionam de alguma forma com a produção massiva de imagens e a apropriação de fotografias disponíveis na internet. Mas eu não tenho como intenção centralizar minha produção na questão tecnológica, e sim trabalhar sob diferentes
aspectos a ideia de espaço de conflito, tema recorrente em meus trabalhos. Você também tem um trabalho como editora na Beira – movida editorial. Como este trabalho transforma sua produção como fotógrafa? A Beira surgiu como um espaço de reflexão e troca de conhecimento. Somos um coletivo editorial que pensa soluções para trabalhos fotográficos – de outros fotógrafos e nossos, especialmente. A Beira tem me permitido pensar mais a fundo sobre todos os aspectos do meu trabalho fotográfico, do conceito à plataforma, entendendo os caminhos de produção, distribuição e consumo da fotografia.
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uany é fotógrafa e designer gráfica e está ligada desde muito jovem à fotografia. Em Áurea, Tuany consegue unir suas áreas de atuação para discutir o uso abusivo do Photoshop no corpo feminino, especialmente no jovem. O ensaio aponta os pedidos de manipulação de recebidos por Tuany e suas anotações, criando uma divertida e absurda listagem das mudanças digitais que os corpos femininos se sujeitam constantemente.
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A minha intenção desde o início Tuany, como começou seu interesse pela fotografia? A fotografia surgiu na minha vida muito cedo, quando eu tinha uns 13, 14 anos. Era uma forma de eu ver e interpretar a vida, os objetos e as pessoas de uma forma diferente e particular. Mais adiante, em consequência dessa “paixão”, ficou um pouco fácil direcionar a minha carreira profissional em que optei pela publicidade e pelo design gráfico. Nos conte sobre a criação de Áurea. Áurea surgiu com a minha inconformidade pelos excessos de procedimentos estéticos obtidos hoje, de forma simples, até mesmo banal, por meninas muito jovens. Consegui, a partir do projeto, juntar todas as
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minhas paixões (e profissões, hehe), que é a fotografia e o design gráfico, construindo esse cenário um tanto perturbador da obsessão pela busca da perfeição, o que é exagerado e muitas vezes desnecessário. Como foi o processo de desenvolvimento da estética desta série? Qual a importância dos textos na construção do argumento de Áurea? Depois de muitas discussões e orientações de com dois fotógrafos artistas que admiro muito (Tiago Coelho e Marco A.F) e que, para mim, foram fundamentais, tanto em auxiliar na execução do projeto, quanto na questão motivacional, fui tendo ideias de como eu achei que deveria ser o projeto. A partir daí, com ferra-
era mostrar os absurdos estéticos dos tempos atuais mentas e conhecimentos do design, pude pensar e construir a estética do projeto de forma coerente ao que eu estava propondo, apropriando as fotos originais juntamente com as “intervenções” que as meninas pediam nas fotos, com a própria letra delas. Como você buscou construir a narrativa desta série? Eu participava de um grupo de estudos de fotografia fantástico, onde a gente levava os projetos e discutia durante as aulas. Foi onde surgiu, de fato “Áurea”, do jeito que é hoje. A minha intenção desde o início era
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mostrar os absurdos estéticos dos tempos atuais, de forma fácil, rápida e sem se comprometer com a realidade, buscando sempre a perfeição “física”, no caso de Áurea, somente com meninas, que ainda é o público em sua totalidade mais vaidoso e preocupado com a aparência, estética, moda... tudo nos minuciosamente. Áurea veio com um desejo de protestar quanto a esses exageros. Você vê a fotografia digital como um dos principais fatores desta busca por uma beleza irreal? Como fotógrafos podem mudar ou trabalhar com este paradigma em suas produções? A fotografia digital sem dúvidas facilitou e muito essa busca. Hoje não somente em câmeras, mas em celulares, agregada aos softwares de edição e aplicativos para smartphones facil-
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mente adquiridos de forma gratuita, em segundos você emagrece muitos quilos, a sua pele está perfeita, seu nariz retinho, seus dentes brancos. Claro que esses aplicativos surgiram sob demanda, mas também impulsionam o absurdo estético e nesse caso não somente de meninas, pois já vi homens, senhoras usando. Talvez esse seja o ponto de partida para as pessoas procurarem clínicas de cirurgia plástica e partirem para um sacrifício maior. Eu acredito que essa mentalidade de ajustes e busca pela perfeição venha de casa, como no caso de Áurea, vem desde muito cedo, pois tratam-se de meninas muito jovens. Conheço muitos fotógrafos, e eu sou uma delas, que se comprometem com a verdade em suas fotografias comerciais. Isso tudo é uma questão
de conversa, de troca, de interpretação e entendimento. Excluí até então a fotografia publicitária, em que a fotografia sem edição é apenas um produto bruto, que não serve. Às vezes chego à conclusão de que estamos num mundo onde a busca de referências não é mais segmentada. As pessoas não entendem que a fotografia de moda, por exemplo, é para tal fim, publicitária é para outro... tudo se mistura. É essa busca por exageros. Mas isso eu noto que, devagar, está mudando, muitas empresas, até mesmo de moda, estão batendo na tecla da conscientização de alguma forma, pois estão enxergando esses exageros por ora gerados por elas mesmas.
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otografar é alinhar cabeça, olho e coração. Temos aqui uma tradução livre da frase de Henri Cartier-Bresson presente no texto The mind’s eye. Recorte preciso, alinhamento certeiro, como um disparo. Mais uma viagem se aproxima e retornam as dúvidas: uma câmara ou duas? Médio formato ou pequeno? Filme colorido ou preto e branco? Ou faço todas as fotos no celular e pronto? Ah, e ainda posso pensar por algum tempo sobre as
Angelo José da Silva é professor de sociologia na Universidade Federal do Paraná e fotógrafo. Suas pesquisas mais recentes focam o espaço urbano e o grafite.
lentes que vou levar, os filtros etc... Por que estas questões se repetem para muitos fotógrafos? Um amigo, fotógrafo das antigas como eu, levava duas câmaras e algumas lentes. E, claro, uma das câmaras tinha filme colorido, cromo, enquanto que a outra estava carregado com o bom e velho Tri-X. Agora, o João fotografa com uma médio formato digital e enfrenta outros “dilemas” do tipo sair para fotografar com amigos, para que não roubem seu equipamento... Coisas da contemporaneidade. Afinal, por que estas questões se colocam? Vamos então refletir juntos sobre essas dúvidas. Mais atentos a própria natureza da questão e menos ocupados com as “soluções” do “problema”. A frase de
Cartier-Bresson que anotamos acima nos dá uma pista... Um daqueles três elementos, às vezes, tenta se sobrepor aos demais. E, enquanto eles não chegam a um acordo a gente não consegue resolver o dilema. Olha só... A resposta, ou solução, talvez seja outra pergunta: com qual parte você quer fotografar mais dessa vez? Creio que ao buscarmos um caminho de expressão temos que fazer escolhas, recortes, que dizem a nós e aos outros qual é o momento que atravessamos. Buscamos equilíbrio, desequilíbrio, buscamos dizer algo ao outro e estabelecer conexões. Enquanto isso, preciso fazer minha escolha porque a viagem da vez vai começar em breve.
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A resposta, ou solução, talvez seja outra pergunta: com qual parte você quer fotografar mais dessa vez? 95
MANDE SEU PORTFÓLIO revista.old@gmail.com Fotografia da série Pequenas Mortes, de Fernanda Vallois. Ensaio completo na OLD Nº 60.