OLD Nº 62

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expediente

revista OLD #número 62

equipe editorial direção de arte texto e entrevista

Felipe Abreu e Paula Hayasaki Tábata Gerbasi Angelo José da Silva, Felipe Abreu e Paula Hayasaki

capa fotografias

Rita Puig-Serra Costa Anna Paola Guerra, Bruna Elida, Hudson Rodrigues, Marília Araújo e Rita Puig-Serra Costa

entrevista email facebook

Jörg Colberg revista.old@gmail.com www.facebook.com/revistaold

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índice

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livros arte ofício / artifício exposição

rita puig-serra por tfólio

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hudson rodrigues por tfólio

marília araújo por tfólio

jörg colberg entrevista

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anna paola guerra por tfólio

bruna elida por tfólio

reflexões coluna



carta ao leitor

O universo dos fotolivros tem sido um dos meus grandes interesses nos últimos anos e, por consequência, um dos grande focos da OLD. Este rico espaço de criação permite uma série de construções antes difíceis no mundo das exposições e outros formatos mais tradicionais. Neste mês apresentamos - além de dois finalistas da premiação no Paris Photo - o ensaio Where Mimosa Bloom, de Rita Puig-Serra Costa, uma linda publicação lançada pela Editions du Lic. A série é a capa da nossa edição de número 62 e Rita conta bastante sobre seu processo de criação em uma atenciosa entrevista. Mais adiante nesta edição você lerá uma riquíssima conversa com o escritor e professor Jörg Colberg, um

dos grandes críticos e pesquisador de fotolivros na atualidade. Jörg gentilmente compartilha parte de seu conhecimento conosco, abrindo uma série de discussões que pretendemos aprofundar. Além destes criadores focados no universo dos impressos também temos projetos sobre a vida urbana em São Paulo e na China e dois trabalhos que lidam com interessantes abordagens formais na fotografia, mantendo a pluralidade que é marca na OLD. Aproveite nossa nova edição e conheça todas essas ricas possibilidades na fotografia.

por Felipe Abreu

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livros

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THE EPIC LOVE STORY OF A WARRIOR de Peter Puklus Continuamos comentando os livros indicados ao Photobook Awards de 2016. Começamos com Peter Puklus e passamos ao ganhador na próxima página. The Epic Love Story of a Warrior é uma jornada fantástica pela história da Europa do início do século XX até os dias de hoje. A narrativa do livro acompanha um movimento de migração de um protagonista imaginário, que migra do Este para o Oeste, acompanhando as grandes mudanças políticas e econômicas do período. A obra de Peter Puklus tem uma estrutura complexa e um visual impressionante, muito diferente de uma possível recomposição histórica, opção mais óbvia para investigação visual. Segundo o autor, o livro deve ser encarado com um romance, ser consumido aos poucos, deixando que os capítulos marquem o leitor, antes dele voltar para consumir o próximo.  Disponível no site da SPBH valor R$160 468 páginas 6


livros

LYBIAN SUGAR de Michael Christopher Brown

Libyan Sugar é, curiosamente, o primeiro fotolivro de Michael Christopher Brown, fotógrafo da Magnum, de grande destaque mundial. Podemos dizer, também, que Brown já começou sua trajetória editorial com o pé direito, ganhando o Photobook Awards de melhor livro de estreia no Paris Photo deste ano. O livro, publicado pela Twin Palms, apresenta a trajetória de Brown durante a revolução na Líbia em 2011. Organizado como uma road trip, Libyan Sugar apresenta o desejo do fotógrafo de estar cada vez mais perto, mais inserido no conflito, para assim tentar entendê-lo e tentar entender melhor a si mesmo. O livro, de mais de 400 páginas, tem fotografias, trocas de e-mails e textos do diário do fotógrafo, construindo um panorama bastante completo desta profundamente marcante experiência.  Disponível no site da Twin Palms valor R$ 250 412 páginas 7


exposição

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O MUNDO EM CORES DE GERMAN LORCA Mostra de fotografias no SESC Bom Retiro revela as incursões do fotógrafo German Lorca na fotografia colorida e outras experimentações técnicas

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erman Lorca é conhecido pela sua fotografia em preto e branco, baseada em uma crônica urbana de um Brasil em profunda transformação. Além da fotografia, Lorca também é conhecido pela sua vitalidade e interessante constante em produzir e discutir fotografia. A mostra no SESC Bom Retiro mostra um recorte baseado nesta segunda característica, apresentado as experimentações de Lorca com técnicas variadas na fotografia e na produção de imagens coloridas. Com curadoria de Eder Chiodetto, Arte Ofício / Artifício reúne cerca de 60 fotografias pro-

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duzidas durante a extensa carreira de German Lorca. Dentro da proposta criada por Chiodetto, a mostra se divide em três grandes grupos, com imagens experimentais, publicitárias e dezesseis fotografias coloridas, uma raridade na obra do fotógrafo de 94 anos. Destaca-se na produção apresentada no SESC o desejo de Lorca de apresentar sua visão, especialmente sobre a cidade de São Paulo, através da experimentação técnica em fotografia. Percebe-se um interesse do fotógrafo em lidar com duplas exposições, espelhos e repetições, criando

uma visão mais lúdica e fantástica do ambiente urbano. Muito distante do registro direto da vida urbana, mas igualmente potente, o recorte da nova mostra de Lorca apresenta a capacidade do autor de transitar entre diversas linhas da fotografia, com uma vitalidade que se vê presente até hoje no fotógrafo, no auge dos seus noventa e quatro anos. 

O SESC Bom Retiro fica na Al. Nothmannn, 185. A mostra Arte Ofício / Artifício segue em cartaz até o dia 26 de Fevereiro.


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RITA PUIG-SERRA COSTA Where Mimosa Bloom

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here Mimosa Bloom é uma delicada homenagem à memória da mãe de Rita. O trabalho é organizado com fotografias de objetos, retratos e imagens de arquivo. O projeto já foi publicado como livro, pela Editions du Lic, e apresentamos um recorte da série nas páginas da OLD. Where Mimosa Bloom, referência à árvore favorita da mãe de Rita, é uma viagem sensorial pela memória coletiva de pessoas próximas à personagem que inspira a série, falecida em 2008. Dessa forma, o projeto de Rita mostra uma profunda delicadeza e atenção, guiado pelo amor de uma filha por sua mãe.



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rita puig-serra costa

Rita, como começou seu interesse pela fotografia? Sempre fui das letras, dos livros e de escrever. Estudei Humanidades e logo fiz uma pós-graduação em Literatura Comparada. Com o passar dos anos, já estava envolvida com o mundo editorial e comecei a sair com o Dani. Ele tinha feito Direito e naquele momento começava a estudar fotografia no IFC. Por ajudá-lo com os trabalhos, dividir seu dia-adia na escola, acompanhá-lo em sessões fotográficas, revelar filmes em casa, comecei a me aproximar da fotografia. Comecei a sentir uma curiosidade enorme, ao mesmo tempo em que minha sensibilidade ia se focando cada vez mais em direção à imagem. Comecei a fazer alguns cursos

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e, junto com Dani, decidimos fazer um projeto sobre minha mãe: Where Mimosa Bloom. Nos conte um pouco sobre a criação de Where Mimosa Bloom. Minha mãe faleceu faz oito anos e eu sempre quis fazer algo sobre ela. Um livro, eu pensava. Ela adorava livros e adorava que eu escrevesse e sempre me dizia que eu tinha que fazer um livro. Assim, pensei que com todas as coisas dela que tenho guardadas poderia fazer um catálogo dos seus objetos. Começamos a fotografar os objetos, mas senti que isto seria muito frio e que além de todos estes objetos, já que minha ideia era manter sua memória, faltava o mais importante, que eram seus amigos, fami-

Pedia que pensassem nela, que dedicassem alguns minutos para pensar no que gostariam de dizer a ela e durante este tempo fazíamos a foto. liares e pessoas mais queridas. Falei com todos e além de pedir que me emprestassem objetos que os fizessem lembrar de minha mãe, também fiz retratos de todos. Foi um processo muito bonito: pedia que pensassem nela, que dedicassem alguns minutos para pensar no que gostariam de dizer a ela e durante este tempo fazíamos a foto. Enquanto fazia o projeto, estava estudando fotografia no El Observatorio e na escola insistiam que eu deveria estar no projeto, que ainda não o viam completo. Então comecei a fazer fotos que de alguma maneira explicavam como eu me sen-


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tia em relação à minha mãe e à perda, como a foto do pássaro ou a que eu estou com um xale na cabeça, seu último presente para mim, depois de voltar de uma viagem a Sevilha. Ao final incorporamos as fotos e documentos de arquivo que fui encontrando enquanto esvaziava caixas e, que de alguma maneira, tem indícios da minha mãe e sinto que ajudam a torná-la ainda mais presente no livro. Seu trabalho lida com imagens contemporâneas e de arquivo. Como você buscou organizar estas duas fontes de material? A edição do material foi bastante intuitiva. Eu tinha quatro tipologias de imagens (objetos, retratos, fotos mais pessoais e arquivo), todas as fotos remetendo ao mesmo, que é minha mãe. Além disso, não há uma histó-

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ria para narrar, na qual encontramos um início, um meio e um fim, eu que eu quero transmitir é um sentimento, um mood. Fomos colocando uma imagem depois da outra, tentando manter um equilíbrio tanto estético como dramático e que o flow da narrativa fosse profundo e sossegado. No final das contas estamos falando de algo muito intenso, mas de uma forma serena e isso é que sempre buscamos trazer. Where Mimosa Bloom foi publicado por Editions du Lic. Como foi o processo de produção do livro? O que mais te marcou nesta experiência? Foi uma surpresa enorme que uma editora como EDL tenha se interessado em publicar o livro, não esperávamos isso de maneira nenhuma. Não consideramos a opção de enviá-lo a editoras até que em uma reunião do

Photobook Club de Barcelona Rafael Arocha nos perguntou se tínhamos buscado por uma editora e nos passou uma grande lista de editoras que poderiam receber o boneco. Fizemos um vídeo, o enviamos e a EDL respondeu rapidamente. Queriam publicar o livro e o queriam publicar imediatamente. Foi tudo muito rápido: fizemos algumas pequenas mudanças no boneco, trocamos o títulos e repensamos a capa e contracapa. Nos deram muita liberdade para tomar decisões e respeitaram tudo que decidimos. 

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HUDSON RODRIGUES Noturnos

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udson Rodrigues apresenta nesta edição da OLD um recorte da sua produção de fotografia de rua. A série Noturnos explora a noite paulistana, seus personagens e suas idiossincrasias, criando uma espiral de bebidas, dança e luzes. As imagens de Hudson tem a potência e a visceralidade típicas da nova geração de fotógrafos de rua que tem se destacado no país, dando um novo fôlego a este importante gênero dentro da história da fotografia.



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hudson rodrigues

Hudson, como começou seu interesse pela fotografia? Começou na adolescência, não pela fotografia primeiramente, mas sim em observar as coisas e, enxergar como eu levava a minha vida e as coisas que me rodiavam. Nesse processo de observação foi que eu pensei, porque não fotografar, na verdade acho que eu já fotografava só que as imagens ficavam na minha mente apenas pra mim, queria mostrar como as coisas aconteciam ao meu redor. Nos conte um pouco sobre a série que você apresenta nesta edição da OLD. Noturnos começou naturalmente,

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Os personagem da noite me interessam, vejo poesia noturna - misturada com loucuras, delírios e amores ácidos. sempre fui da noite - durante muito tempo era a noite que eu tinha para fotografar já que eu trabalhava durante o dia de segunda a sábado. Os personagem da noite me interessam, vejo poesia noturna - misturada com loucuras, delírios e amores ácidos. A noites as pessoas estão mais sensíveis ao amor e ao ódio e mais propicias a mostrar os dois lados. Qual sua principal inspiração para fotografar na rua? O que te motiva? Os seres humanos me inspiram e me motivam cada um com seu jeito, até o


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que se acha normal já entendo como um louco na sua própria “normalidade”. Saiu de casa e não sei o que vou encontrar isso é mágico, apenas tento ficar o máximo aberto as experiencias que o acaso pode proporcionar.

Que lado da cidade você deseja mostrar com as suas fotografias? O meu lado. 

Você vê a rua como uma fonte de inspiração sem fim? Vejo sim, existe várias formas de ver a rua, o jeito que eu vejo a rua muda conforme meu estado de espirito, como eu estou me sentindo no dia. Hoje vejo as pessoas esquecendo de tentar enxerga-las elas mesmas na rua, sempre enxergando o que seu olhos vêm, os meus olhos me enganam o que eu sinto também.

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hina é o resultado do amadurecimento e da pesquisa de Marília Araújo em fotografia. O encontro desta estética na fotografia de rua vem de um período de experimentação em diversas áreas da produção de imagens fotográficas. Assim, essa exploração deste território desconhecido e seus personagens é a maneira com que Marília encontrou de retratar sua vivência do outro lado do mundo. Uma visão que se concentra no cotidiano e nas pequenas histórias escondidas nos detalhes da vida urbana.



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marília araújo

São todos elementos que Marília, como começou seu interesse pela fotografia? Primeiramente, fora Temer. O interesse por fotografia foi despertado e construído aos poucos. Desde o amadorismo de um registro de viagem até se concretizar profissionalmente. Em 2008 fui estudar espanhol na Colômbia. E a viagem despertou, ainda que de forma espontânea, o interesse pelo registro. Vivências, experiências excitantes, contato com outra cultura. Gostar de fotografar eu sempre gostei, mas era um interesse que é comum à todos. Da recordação, como um registro da memória. Meu pai tinha isso também. Não quero levar pro lado familiar e clichê, ninguém me induziu para esse lado. Mas me

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lembro bem dele ter esse interesse de comprar maquinas fotográficas, filmes, revelar e organizar as fotos nos álbuns de família. Claro que nada profissional, mas como lembranças da vida. Em 2011, cursava História e fui fazer intercâmbio de um semestre na Argentina. Tinha perdido o interesse no meu curso e sentia necessidade de criar e tentar explorar um lado mais artístico. Quando voltei ao Brasil dei início no curso de fotografia e o fiz, simultaneamente, ao de História. Foi quando eu realmente comecei a estudar e adentrar nesse universo fotográfico. Processo de criação do ensaio China. O processo foi um amadurecimen-

vão induzir o olhar e tentar despertar as emoções. to de várias outras fases que passei dentro da fotografia. Desde que comecei a estudar fotografia e entender as diferentes linguagens e vertentes, como por exemplo: casamento, parto, gastronomia, fotojornalismo etc, sempre tive dificuldade de saber em qual desses perfis me encaixava. Minhas fotografias nas ruas sempre foram mais abstratas, buscando captar arquitetura, trabalhar sombra e luz, texturas, de uma forma mais subjetiva. Sem trazer um recorte da realidade ou do que acontecia ao meu redor. As pessoas nunca eram o foco principal das minhas imagens.


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Quando fui morar em São Paulo, em 2014, dei uma pausa na fotografia. Me angustiou o fato de parar de fotografar, mas, de certa forma, me fez amadurecer e buscar outras vertentes, como fotografia de rua. Conheci fotógrafos incríveis e SP me proporcionou isso. Quando estava na China, em 2015, foi a concretização desse processo. A criação desse trabalho é justamente isso, é retratar essas vivências de rua, o movimento, o indivíduo como sujeito da foto, trazer essa composição. Sentir a cidade e tentar entender seu comportamento e o cotidiano. O resultado desse movimento não se resume apenas ao ato fotográfico, mas também na edição. Trabalhando as cores, o contraste, as sombras e texturas, buscando uma atmosfera do real. São todos elementos que vão induzir o olhar e tentar

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despertar as emoções. Tentar fazer com que o expectador consiga sentir aquele ambiente e até imaginar o cheiro daquele lugar. O que mais te marcou durante a criação deste trabalho? A China é um país que sofreu rápidas transformações em tão pouco tempo e isso se reflete claramente na sociedade atual. Acredito que a fotografia tem um poder de deslocar o espectador para aquele ambiente, mesmo que de forma imagética. A experiência desse projeto tenta captar e sentir esse reflexos sociais e como se manifestam nas ruas das cidades. É buscar a beleza peculiar que nos rodeia e que muitas vezes nos passa despercebida. É ressignificar o que está perto. É importante refletir sobre seus pró-

prios dilemas dentro do processo de construção, até transformá-lo num resultado atraente. A imagem fotográfica é carregada de significações sociais, sendo apenas um fragmento do real. E esse significados vão muito além da própria imagem. 

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entrevista

Jörg Colberg é um professor e escritor radicado nos Estados Unidos. Ele escreve o blog Conscientious Photography Magazine desde 2002 e é professor no mestrado em fotografia na faculdade de Hartford, um dos programas mais interessantes na área. Nesta entrevista por e-mail conversamos sobre sua produção, sua visão sobre fotografia e os possíveis ensinamentos para fotógrafos interessados em projetos autorais e na criação de fotolivros. Jörg, nos conte um pouco sobre a sua história. Como você se interessou pela fotografia? Essa é a parte mais sem graça, então vou ser rápido. Minha formação é em astrofísica (computação cosmológica). Por mais que a área seja relacionada à fotografia em seu sentido mais básico (tanto em termos de ótica e o tipo de eletrônicos que são usa-

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dos em câmeras digitais), em estágios variados, eu trabalhei com aspectos relacionados à imagem, ou como membro de um grupo de pesquisa sobre interferometria ótica e processamento digital de imagem ou como estudante de pós-graduação criando imagens através de sistemas complexos de simulações em computadores. Meu interesse na fotografia “de verdade” se desenvolveu mais tarde, quando comprei minha primeira câmera e me diverti tirando fotos com ela. Você escreve o blog Conscientious Photography Magazine faz cerca de quatorze anos. Como este projeto começou? Quais são seus principais objetivos com ele? Eu escrevo blogs e uma variedade de outros formatos desde o final dos anos noventa. Estive em todos os

tipos de plataformas, a maioria delas já esquecidas (alguém se lembra do LiveJournal?). Eventualmente eu percebi que, para ter controle total, eu precisava criar meu próprio blog, usando software sobre o qual tivesse controle e independente de um site maior (que poderia simplesmente desaparecer – alguém se lembra do MySpace?). Em 2002 eu admirava o trabalha de alguns blogueiros como James Luckett. Eu queria seguir basicamente nesta mesma linha. Eu também estava procurando por fotografia online e, naquele tempo, era muito difícil encontrar recursos de fácil acesso. Por conta disso, o que deveria ser um blog mais geral (com categorias como “cultura”, “política”, e “fotografia”) rapidamente passou a se dedicar somente à fotografia. O nome do blog, Conscientious, reflete as ideias mais amplas, originárias do

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blog; não é um bom nome para um site sobre fotografia por uma série de razões (a primeira delas é que a maioria das pessoas tem dificuldade de escrever corretamente a palavra), mas depois de o site já estar razoavelmente estabelecido não parecia uma boa ideia mudar de nome. Depois de um certo tempo eu mudei o nome para Conscientious Photography Magazine, o que também não é um ótimo nome, mas pode ser abreviado para CPhMag.com. Meus objetivos para o site tem evoluído, o que pode ser uma maneira generosa de dizer que eu nunca tive um grande plano para ele. Meus planos incluíram a criação uma espécie de banco de dados da fotografia (até 2010, mais ou menos) e depois disso o plano se transformou em manter um site com foco em textos de profundidade sobre fotografia – basicamente tudo que não é comen-

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tado por outros tipos de site (pense no Twitter, por exemplo). O objetivo não é convencer as pessoas de que eu estou certo, mas sim fornecer acesso crítico à fotografia, baseado em opiniões bastante específicas. Essas opiniões podem ser contestáveis, mas elas são expressadas claramente porque eu acredito que outras formas de crítica (como uma simples descrição) são deficientes (como James Elkins discute em What Happened to Art Criticism, seu aprofundamento nesta opinião pode variar por boas razões). Você dá bastante espaço para a discussão sobre fotolivros no Conscientious. Você acredita que este é o principal tópico ou área de interesse na fotografia nos dias de hoje? Eu não tenho a menor condição de decidir o que é o principal tópico ou área de interesse na fotografia. Se nos

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basearmos nos números, com certeza Facebook e Instagram são. Com isso dito, eu costumava frequentar muito galerias de fotografia em Nova Iorque, até cerca de 2008 quando chegou a grande recessão. Houve uma mudança perceptível no que a maioria das galerias oferecia, com o pior apresentado ficando abaixo do que já era um mercado dominado por trabalhos de qualidade artística questionável. Comecei a me perguntar porque eu deveria me dar o trabalho de olhar para mercadorias decorativas para pessoas ricas. As galerias podem estar voltando a ser mais ousadas nos últimos anos, mas meu foco de interesse mudou para o fotolivro. Muito se fala sobre fotolivros hoje em dia, por uma série de motivos. Eu acredito que, como forma de apresentar fotografia, fotolivros oferecem uma série de vantagens e, ao mesmo tem-

po, não substituem a fotografia na parede. Eu posso ficar em casa, sem sair, e o carteiro me trará fotolivros feitos ao redor do mundo. Deixando de lado questões ligadas à produção e distribuição, fotógrafos parecem estar mais engajados em explorar ideias narrativas e de storytelling de maneira impressa. Fotografias não são ferramentas simples para a construção de uma história, mas há uma série de maneiras de fazer isso funcionar e a novas abordagens sendo usadas o tempo todo. Eu acho isso muito interessante e excitante. Você desenvolveu um sistema de avaliação para fotolivros. Por que você acredita que é importante avaliar esta produção? Bom, você lê a resenha de um vinil em alguma lugar e vai ter uma nota, seja em estrelas ou em números. No


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mundo da música, ninguém tem problemas com isso. No mundo da fotografia, por outro lado, as pessoas acham estranho se alguém ousa ser minimamente crítico. Meu principal objetivo era criar algo que unisse todas as minhas resenhas. Em outras palavras, haveria algo que seria igual para todos os livros, permitindo que o leitor fizesse comparações. Minha abordagem em relação à escrita de resenhas pode variar um bocado, mas, ao mesmo tempo, o sistema de notas me fornece uma série de critérios para abordar cada livro da mesma maneira, pelo menos em alguns aspectos. Conversando com uma série de pessoas, havia algumas questões que sempre apareciam. As pessoas sempre falavam sobre um livro ter fotos demais ou ser bem ou mal impresso. Foi natural ter esses aspectos como parte deste sistema de avaliação – assim, eles são abordados

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em todos os livros, com os números falando destes aspectos, sem eu ter que me preocupar em escrever sobre eles. Você escreveu um ensaio bastante interessante sobre narrativa na fotografia. Você acredita que a edição e a criação de narrativas são os principais objetivos da fotografia contemporânea? Novamente, não cabe a mim decidir isso. Não tenho problemas com quaisquer sejam os objetivos de um fotógrafo com suas imagens. Eu gosto de olhar para fotografias em uma parede da mesma maneira com que gosto de ver uma narrativa inteligente, bem desenvolvida em um fotolivro. Esse ensaio foi escrito basicamente porque eu acredito que muitos fotógrafos não entendem muito bem o que é uma narrativa fotográfica.

Outro texto bastante interessante no Conscientious é “Why does it always have to be about something?” Você sente que os fotógrafos em geral ainda estão muito preocupados em contar uma história, se mantendo presos a uma tradição documental? Existe narrativa ou storytelling e muitos fotógrafos estão interessados nisso. Estes fotógrafos não precisam estar necessariamente trabalhando em um contexto documental. Há maneiras de se construir histórias fotográficas que estão muito mais próximas da poesia, como por exemplo quando uma história é elíptica. Fotógrafos documentais muitas vezes, mas não sempre, trabalham com uma ideia mais tradicional de storytelling, na qual o texto faz a maioria do trabalho pesado. Isso funciona muito bem, mas é diferente de contar apenas com imagens. Uma não é melhor do que a outra, tudo depende de qual

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é o objetivo final do trabalho. Este texto surgiu de um questionamento diferente, na verdade. Em parte estava relacionado ao fato de eu ser professor, o que abordaremos com mais detalhes na próxima pergunta. Rapidamente, quando você dá aula é comum se concentrar em “sobre o que é” uma fotografia. Na minha experiência, escolas preferem abordagens baseadas em projetos e estes são “sobre” alguma coisa. Ao mesmo tempo, nós esperamos que os fotógrafos falem sobre seus trabalhos segundo este ponto de vista. Agora, o que isto significa para pessoas que “apenas” trabalham com imagens únicas, por exemplo? Também, se o foco se concentra muito no “sobre”, é muito tentador resolver esta questão primeiro e simplesmente fazer as fotografias que encaixem no conceito criado, levando às vezes a projetos simples, quase editoriais.

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Você é professor na Hartford Art School. Quais são os principais desafios de ser professor em um programa de pósgraduação em fotografia? O que você aprende com o contato com os novos projetos e dificuldades dos seus alunos? As pessoas costumam dizer que a ideia de ensinar arte é um oximoro. Como você pode ensinar uma forma de expressão criativa? O desafio é fazer isso funcionar. Parte da solução é simples e direta: como um fotógrafo, você deve conhecer seu meio de trabalho de uma forma técnica e intelectual. Você deve saber como produzir uma fotografia bem exposta e você deve conhecer a sua tradição. Depois disso, tudo fica bem mais complicado. Assim como dizer para alguém “seja espontâneo” e pessoa tem que ser espontânea (não funciona tão bem), o mesmo acontece ao dizer para alguém que “seja criativo”.

Não há uma receita para isso, além de trabalhar neste sentido. Em outras palavras, você tem que produzir muito e encará-lo de maneira crítica, aprendendo como é uma boa fotografia, porque o que você achou que estava na fotografia não está, etc. A ideia geral é sempre a mesma, mas é claro que, como indivíduos, somos todos um pouco diferentes, então encontrar a maneira correta de ajudar cada aluno é parte do desafio. Considerando que, para mim, ensinar é tentar ajudar cada aluno a alcançar objetivos específicos, eu acabo aprendendo bastante sobre como me relaciono com a fotografia. Uma coisa é gostar de uma fotografia, mas é outra completamente diferente falar dela para uma audiência de uma maneira que faça sentido para uma audiência. Falar sobre fotografias ou fotolivros me ajuda a entendê-los melhor – ou perceber que estou completamente


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errado. Em relação às dificuldades dos alunos, a questão é outra, porque o desafio é ajudá-los a lidar com elas, a superá-las fotograficamente (que é a única maneira de fazê-lo). Não tenho certeza se sempre aprendo algo durante este processo, mas claramente a ideia de dar aulas não é necessariamente de que o professor aprenda algo sempre. Quando um aluno tem sucesso e realiza bons projetos, isso pode me ensinar como ajudar outro aluno ou pelo menos como abordar as questões levantadas. Não existem fórmulas e é importante para mim manter isso em mente, especialmente conforme o tempo passa. Não quero me tornar o tipo de professor que sempre repete as mesmas coisas em sala de aula. Você lançou recentemente Understanding Photobooks: the Form and Content of the Photographic Book. Nos

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conte um pouco sobre o processo de criação deste livro. Em algum momento de 2014 a Focal Press entrou em contato comigo e perguntou se eu já tinha pensado em escrever um livro. Eu já tinha, em vários momentos, mas nenhuma das tentativas anteriores tinha chegado em algum lugar. Eu tinha uma ideia para um novo site que, por algum motivo, não estava decolando. Ao mesmo tempo, eu estava trabalhando fotolivros com meus alunos: um requisito da pós-graduação do programa em que eu dou aula é a realização de um fotolivro completo (boneco). Além disso, eu já estava vendo fotolivros constantemente para o CPhMag. com. Então pareceu natural sugerir um livro sobre como fazer um fotolivro. Enquanto existem vários livros sobre taxonomias de fotolivros (Parr/ Badger, etc.), havia uma escassez de livros sobre todos os detalhes que

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são necessários para sua produção. Eu sabia que havia uma série de ideias estranhas por aí, seja sobre o que publishers realmente fazem ou sobre o uso de computadores, design, etc. Então me pareceu natural propor um livro sobre isso, unindo todos estes aspectos. Depois de uma revisão, o publisher aceitou e passei o último trimestre de 2014 e todo o ano de 2015 escrevendo o livro. Estou acostumado a escrever, então a criação do livro foi bastante simples. A maioria dos capítulos não foi difícil de escrever, com a exceção do capítulo sobre conceitos e especialmente o capítulo sobre edição e sequenciamento. Como alguém escreve sobre edição e sequenciamento? É possível, mas é muito difícil. Na minha proposta, eu tinha planejado 12.000 palavras e terminei com 50% mais. Tentar descrever o processo de uma maneira que não seja simplesmente

teórica, dando indicações claras, foi muito difícil. Mas eu consegui. Estou muito contente com este capítulo especialmente, mesmo que ele pudesse ser ainda mais longo. Espero que ele deve a muitos fotógrafos uma série de indicações para encarar esta tarefa complicada (que costuma ficar cada vez menos complicada, conforme você pratica). Quais são os principais tópicos que uma pessoa precisa entender para criar um bom fotolivro? Eles estão descritos no meu livro. Você precisa entender sobre o mercado editorial em geral e o que isto significa (especialmente se você pensa em auto-publicar seu livro). Você precisa saber sobre o processo de criar um conceito para o seu livro, em outras palavras, como tomar decisões inteligentes para que o livro faça o que ele se propõe a fazer. Há a ques-


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tão da edição e sequência. Também há o design e a produção. A maioria destes tópicos, se não todos, devem ser bastante colaborativos. Minha recomendação número um para fotógrafos é não tentar fazer coisas para as quais eles não foram treinados (o que costuma ser o caso pelo menos para design e produção). Encontre ajuda! A ideia não é necessariamente ter quinze pares de olhos avaliando o trabalho e o editando, mas pelo menos uma outra pessoa de confiança deveria estar lá. Um designer deve estar presente para ajudar na resolução de problemas ou desafios. A maioria dos fotógrafos simplesmente tem uma noção terrível do que é bom design – é fácil ver o que é bom design, mas se você não for um expert, é muito difícil produzi-lo. Uma pessoa responsável pela produção também deve estar presente para a prepara-

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ção dos arquivos, para a correção de cor e separação para impressão. Infelizmente, a febre da auto-publicação, combinado com o fato que você pode comprar InDesign e achar que você é um designer, deu a muitas pessoas a ideia de que fazer um livro sozinho é uma boa ideia. Geralmente não é nem um pouco. Além disso, muitos fotógrafos acham que eles deveriam determinar cada aspecto do seu livro. Você não pode fazer microgestão de um livro até que ele fique bom. Por conta destes dois aspectos, há muitos livros ruins circulando por aí. Qual é, na sua opinião, a melhor maneira de ensinar alguém como criar um projeto ou livro fotográfico bem executado? Há alguma didática que você costume empregar neste processo? Esta é uma questão enorme. O pro-

grama no qual eu dou aula dura dois anos e mais um verão e muitas pessoas sentem que elas precisam de ainda mais tempo. Como eu poderia dar uma resposta para cobrir tudo isso? Com isso dito, acredito que podem haver algumas “regras” ou coisas para pensar neste momento de criação. Primeiro, pense com calma sobre a ideia de “sucesso”. O que isso significa? Se por “sucesso” você que dizer ser famoso ou ter um livro que venda como água, você provavelmente está encarando o processo com prioridades erradas. É claro que é um ótimo sucesso de se ter, mas ele deve chegar como um presente, não como um objetivo. Como objetivo isto é contraproducente e, francamente, irreal. Um objetivo completamente diferente e muito melhor seria definir “sucesso” como realizar um projeto (ou livro) de maneira minuciosa do início

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ao fim. O projeto pode não ter sucesso em termos de como as pessoas o veem, mas, inevitavelmente, vai ajudar o fotógrafo a alcançar um nível mais alto de criação. Em segundo lugar, introspecção crítica é essencial para um projeto (ou livro). Todos temos uma ideia sobre o que produzimos, mas estas ideias aguentam o escrutínio crítico? Em outras palavras, essas ideias sobrevivem quando estamos sendo completamente honestos? O que nós pensamos que está nas fotografias está realmente lá? Pergunte-se: como isso pode ficar melhor? Ao mesmo tempo, em terceiro lugar, não fique polindo o trabalho infinitamente. Encontre o momento certo para encerrar o trabalho. Obviamente, tudo pode ser sempre um pouco melhor, mas você realmente ganha algo ao tentar melhorar um projeto

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Todos temos uma ideia sobre o que produzimos, mas estas ideias aguentam o escrutínio crítico? Em outras palavras, essas ideias sobrevivem quando estamos sendo completamente honestos?

que já está essencialmente encerrado? Eu sou conhecido na pós-graduação como o cara que fala para os alunos quando os projetos estão prontos e muitos vezes eles contestam essa afirmação. Não gosto de ser a pessoa que fala “eu te avisei” um ano depois, mas, infelizmente, eu acabo sendo esta pessoa. Projetos nunca estão realmente prontos ou terminados, ele são abandonados, para que seus criadores possam seguir em frente e crescer.

Finalmente, receba feedback aberto e honesto de um pequeno grupo de pessoas de confiança. Não pergunte aos seus pais ou companheiro. Também não pergunte para cem pessoas, porque não se faz arte por comitê. Decida o que você quer, mas se permita ser vigorosamente desafiado. Permita que o seu pensamento evolua. 


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ANNA PAOLA GUERRA Sem Título

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nna Paola Guerra tem um interesse que abarca as mais variadas áreas da criação visual. Da fotografia ela aprecia a mobilidade e o silêncio, algo que se percebe claramente nas imagens que ela produz. Anna não trabalha em séries, mas sim em um fluxo de constante produção visual. Na OLD, Anna apresenta uma recorte de sua produção, um passeio entre texturas, formas e cores, unidas por semelhanças formais. Uniões estas que são criadas pelo inesperado e pelo instinto, pontos centrais na criação de Anna Paola Guerra.



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anna paola guerra

Anna, como começou seu interesse pela fotografia? Não posso precisar como e quando começou, mas a fotografia sempre foi um interesse em meio a muitos outros. Quase tudo me interessa. Conexões entre ideias, áreas aparentemente díspares, sistemas de discursos diferentes. Aprecio hibridismos. O que me agrada na prática fotográfica é sua mobilidade e seu silêncio. Nos conte um pouco sobre seu processo criativo, sobre a organização do seu trabalho. Parece que tudo se passa entre o vivenciado e o inventado; entre o propósito, o instinto e o inesperado. Em algum momento não muito palpável

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Não existe a priori uma hierarquia de valor ou eleição do que é importante. Todas as coisas possuem um potencial para capturar, afetar. o inesperado fulgura. As coisas que fotografo, neste processo, são ativas, acenam e capturam; interferem e participam nesta via de dois sentidos. Qual o papel do banal na sua produção visual? Que tipos de objetos/cenas te instigam a fotografar? O que tem a capacidade de me afetar não posso chamar de banal. Não existe a priori uma hierarquia de valor ou eleição do que é importante. Todas as coisas possuem um potencial para capturar, afetar. A fotografia é uma via de mão-dupla. A câmera é mera


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ferramenta-interface. Você trabalha em um fluxo contínuo de produção de imagens. Você produz pensando em um grande tema ou cria com uma abordagem mais livre? Os processos criativos não são contínuos. Existem momentos de rarefação, outros prolíficos e uma relação de dependência entre eles. Não penso em grandes temas, mas tenho algumas zonas de interesse em um determinado momento que podem me levar a outras inesperadas.

Penso mais em eventos abertos com múltiplas possibilidades de leitura. A fotografia é um testemunho de uma aparição, registro silencioso do que passou, passa e continua. Entre. 

De que maneira você acredita que os objetos apresentados contam uma história através da sua fotografia? Não me preocupo com histórias a serem contadas, com sentido definido, narrativas com começo, meio e fim.

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BRUNA ELIDA Hiatos

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iatos é o processo de transformação de um arquivo, uma visita às imagens produzidas durante um relacionamento de quatro anos que acabara de terminar. À partir deste universo de imagens vernaculares foi construída uma nova narrativa, uma história de exploração de busca de entendimento desta recente separação. Desta nova visão surgem espaços vazios, pequenos rastros que sobreviveram deste mundo recém desfeito. Hiatos é uma forma de dar novo significado à memória de um pedaço da vida de Bruna Elida, uma forma de encerrar uma etapa e marcar o começo da seguinte.



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bruna elida

Foi preciso transformar as fotograBruna, como começou sua relação com a fotografia? Desde criança, gostava de escrever e contar histórias. Na adolescência, decidi cursar jornalismo. Durante a faculdade, me decepcionei com aquele curso que defendia a objetividade e imparcialidade a todo o custo. Foi na primeira cadeira de fotografia que realmente me encontrei. Era um dos poucos momentos em que tínhamos liberdade para criar e transparecer todas as nossas subjetividades. Fui aluna da Jacqueline Joner, uma professora bastante inspiradora. Nos conte um pouco sobre o desenvolvimento de Hiatos. Em geral, meus trabalhos partem de vivências pessoais e refletem o pro-

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cesso de construção de tudo aquilo que sou. Foi através desse viés autobiográfico que começou a produção de Hiatos. O rompimento de um relacionamento de quatro anos e a saída de meu ex-companheiro de casa, fizeram com que eu sentisse a necessidade de produzir algo para marcar essa partida. Paralelo a isso, estava refletindo bastante sobre o uso de arquivos na fotografia contemporânea. Resolvi recorrer ao arquivo fotográfico pessoal que registrava esses anos de relacionamento. Fiz uma seleção com diversos tipos de fotografias, retratos dele, retratos nossos, lugares pelos quais havíamos passado, a nossa casa. Obviamente aquelas fotografias contavam outra história, conforme

fias, para que pudessem representar o vazio e a ausência da partida. reflete Funtcuberta em “O Beijo de Judas”, as fotografias pessoais, em geral, só incluem “situações agradáveis entendidas como exceções da cotidianidade: ritos, celebrações, viagens, férias etc. Fotografamos para reforçar a felicidade desses momentos.”. Naturalmente, minha seleção registrava os momentos alegres da vida a dois. Eram fotografias coloridas, cheias de vida. Foi preciso transformá-las, para que pudessem representar o vazio e a ausência da partida. Passei elas para preto-e-branco e aumentei os níveis de exposição até chegar a uma superexposição que fi-


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zesse com que alguns traços das imagens desaparecessem. As imagens obtidas ainda não estavam como eu queria. Sentia que talvez precisasse apagar mais elas, mas ainda não sabia como. De que maneira você buscou representar a ausência em suas fotos? Logo que comecei a realizar Hiatos, sabia que a ausência deveria ser representada através de apagamentos. Após a primeira tentativa através da superexposição, imprimi as imagens em uma impressora caseira para mostrar no Grupo de Estudos em Fotografia, ministrado pelo Marco A. F. e pelo Tiago Coelho, e pensar novas possibilidades para a série. Para minha surpresa, o toner dessa impressora estava terminando. Sempre estive atenta ao acaso duran-

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te a realização dos meus trabalhos. Quando vi a primeira foto ser impressa dessa forma, tive a certeza de que era aquele efeito de apagamento que estava buscando. Aquelas impressões passaram a ser os originais. Usei o scanner para reproduzi-las. Acredito que esse processo de apagamento potencializa a ressignificação das imagens, tornando-as quase não-imagens, uma imagem que já foi, mas já não é mais, e mantém resquícios de uma ausência-presente. Uma nova imagem surge nessa fusão de passado e presente, ressaltando que as imagens podem estar em constante transformação, assim como a vida.

As fotografias que compõem a série Hiatos não foram clicadas para esse fim. Então, como são um apanhado do meu arquivo, ainda que mostrassem um pouco do meu olhar, não tinham uma unidade estética. Essa unidade foi criada através daquilo que desde o início eu chamei de estética do desaparecimento, e que é uma mistura do tratamento das imagens com o acaso que se deu no processo de impressão. 

Você aborda seus temas de uma maneira delicada e subjetiva na série. Como você buscou construir esta estética?

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OS RETRATOS E O TEMPO

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aio de casa caminhando e alcanço meu destino. Passo pelos portões de entrada e observo. Logo, um enterro, pessoas rezando, a prostituta que virou milagreira, santa jamais. Ah, Madalena! As senhoras confabulando, sabiás e joãos de barro, gatos que dessa vez eu não vi, a oferenda nos portões laterais, ruínas. Percebi o cemitério como uma fotografia velha que dispara flashes de memória, congela o tempo, acentuando contrastes, alegrias, tristezas,

Angelo José da Silva é professor de sociologia na Universidade Federal do Paraná e fotógrafo. Suas pesquisas mais recentes focam o espaço urbano e o grafite.

saudades. Talvez porque tenha nascido no dia dos mortos a existência de cemitérios sempre me causou fortes emoções, desde o medo dos desconhecidos até uma estranha sensação de intimidade. Fotografar no interior desses espaços especulares das cidades me devolve a sensação de fotografar nas ruas. O que nos aguarda depois daquela esquina? Fotografar os ausentes ou fotografias ausentes que deixaram apenas sua moldura em negativo na parede lapidar tem um poder evocativo fantástico. O cemitério é um lugar calmo, tranquilo e as fotos das pessoas ali enterradas parecem desfrutar dessa paz romana. Alimentam o espaço da nossa imaginação, afinal, porque sorriam tão docemente, talvez tenham partido antes

do necessário, deixando e levando traços daquilo que nos faz humanos. Olho para aquele pequeno quadro e sinto que a imagem ali encerrada me é familiar. O sorriso, os olhos, o cabelo encaracolado. Memória borrada, quase um lapso, assim meio esquisito. A linha da imaginação sustenta a criatividade, a criação de uma rede que acolhe sentimentos intensos, temores, aflições. Assim como a vida, tudo está por um fio. Produzir imagens, às vezes, nos dá essa sensação de que nunca vamos esquecer nada, tudo está ali guardado. Do outro lado do muro, a moçada treina suas habilidades na pista de skate. Mais um dia lindo de céu azul. 

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coluna

reflexões

Fotografar no interior desses espaços especulares das cidades me devolve a sensação de fotografar nas ruas. O que nos aguarda depois daquela esquina? 121


MANDE SEU PORTFÓLIO revista.old@gmail.com Fotografia da série Sereias, de Fernando Oliveira e Sérgio Carvalho. Ensaio completo na OLD Nº 63.








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