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expediente
revista OLD
#número 66 - edição especial de aniversário
equipe editorial direção de arte texto e entrevista
Felipe Abreu e Paula Hayasaki Tábata Gerbasi Angelo José da Silva, Felipe Abreu, Laura Del Rey e Paula Hayasaki
capa fotografias
Irmina Walczak & Sávio Freire Anna Mascarenhas, Dani Pujalte & Rita PuigSerra Costa, Daniela Pinheiro, Fabrício Bambratti e Irmina Walczak & Sávio Freire
entrevista email facebook
Peter Puklus revista.old@gmail.com www.facebook.com/revistaold
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índice
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livros conversas exposição
estar especial
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irmina walczak & sávio freire por tfólio
dani pujalte & rita puig-serra por tfólio
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fabrício bambratti por tfólio
peter puklus entrevista
anna mascarenhas por tfólio
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daniela pinheiro por tfólio
reflexões coluna
carta ao leitor
Estou muito orgulhoso desta edição da OLD. Não só por comemorarmos nosso sexto aniversário, mas principalmente pela qualidade dos trabalhos apresentados. Os cinco ensaios apresentados nesta edição são da mais alta qualidade, cada um com objetivos e abordagens próprias, trazendo um rico panorama das possibilidades técnicas e narrativas da fotografia. A entrevista deste mês também é, aliás, motivo de alegria para a equipe da OLD. Pudemos conversar com Peter Puklus, um dos destaques de um novo cenário de produção fotográfica na europa, cada vez mais integrado com outras áreas da produção artística, sempre buscando expandir os limites da imagem fotográfica.
Com este time - fora os livros e a exposição incríveis que comentamos nas páginas a seguir - criamos uma edição super completa, que representa muito bem os objetivos da OLD em mais um ano de vida que começa: trazer o melhor da fotografia contemporânea do Brasil e do mundo para nossos leitores, sempre buscando novas linguagens, trabalhos arriscados e cada vez mais complexos. Aproveite esta edição, mergulhe nos trabalhos e espere que você fique tão contente como eu estou após ler esta nova edição da OLD.
por Felipe Abreu
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livros
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PICTURES FROM HOME de Larry Sultan
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arry Sultan é um dos nomes essenciais da fotografia norte-americana. Sua produção transita muito bem entre diversos ramos da fotografia, passando pela apropriação, a fotografia documental e a construção conceitual de imagens fotográficas. Em Pictures From Home, Sultan dedica seu olhar ao registro do envelhecimento de seus país ao longo de toda uma década. O livro conta com textos, imagens de arquivo, stills de filmes caseiros além da produção fotográfica do autor. Pictures From Home foi lançado originalmente em 1992, recebendo grande destaque. Em Abril deste ano, a editora britânica MACK lança uma nova edição, colocando de volta em circulação mais um grande clássico da fotografia contemporânea.
Disponível no site da MACK valor R$150 196 páginas 6
livros
MISSÃO FRANCESA de André Penteado
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issão Francesa é o segundo volume da série Rastros, Traços e Vestígios, proposta por André Penteado com a intenção de revisitar importantes momentos da história brasileira ocorridos antes da disseminação da fotografia. Precedido pelo já aclamado Cabanagem, Missão Francesa apresenta as marcas deixadas pela expedição que tinha por objetivo instaurar a academia de artes no Rio de Janeiro. Alternam-se retratos, espaços e as pequenas marcas de decadência física de uma iniciativa proposta há 200 anos. O novo livro segue com a potência visual e estrutura próxima de Cabanagem, o que promete um grande resultado. A Editora Madalena, que publica o livro, está realizando uma pré-venda do projeto, que deve ser lançado no final deste mês.
Em pré-venda no site da Ed. Madalena valor R$100 nº de páginas não informado 7
exposição
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CONVERSAS ENTRE CLÁSSICOS DA FOTOGRAFIA O Instituto Tomie Ohtake recebe a mostra Conversas, baseada em fotografias da coleção do Bank of America, e traz uma série de mestres da fotografia para São Paulo.
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a mesma sala estão obras de Robert Frank, William Eggleston, Stephen Shore, Bernd e Hilla Becher, Hiroshi Sugimoto e muito outros. Tudo isso em São Paulo. Parece um pouco difícil de acreditar, mas é a mais pura verdade. A mostra Conversas – Fotografias da Coleção Bank of America Merrill Lynch divide o segundo andar do Instituto Tomie Ohtake com a mostra de Yoko Ono e torna o instituto o ponto das grandes exposições deste mês. As conversas propostas pelo time curatorial para este grupo de mestres
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da fotografia se tornam claras na primeira sala da mostra. Há um interesse de apresentar as transformações históricas sofridas pela fotografia em seus quase duzentos anos de história, tanto em ternos técnicos quanto temáticos. Pequenos agrupamentos são criados, unindo trabalhos por sua visualidade ou período histórico, aproximando obras de uma maneira orgânica e que facilita o caminhar pela mostra. Impressiona a qualidade da coleção do Bank of America. Neste recorte já estão imagens essenciais da história da fotografia e, só se pode imaginar,
que outras preciosidades estão guardadas nos cofres do banco. O que mais impressiona é a possibilidade de conhecer obras que a maioria dos fotógrafos só teve a chance de ver na tela do computador. Chega a ser emocionante poder se aproximar de cada uma destas fotografias icônicas, entender opções de impressão, tamanho, composição e mais.
A mostra Conversas segue em cartaz no segundo andar do Instituto Tomie Ohtake até 11 de Junho, na Av. Faria Lima, 201, em São Paulo.
especial
ESTAR: PALAVRA E IMAGEM Existe uma distância mínima para o foco entre o objeto e a palavra? Quanto mais o projeto trata sobre “apagamentos”, ou vazios, mais eu sinto nele uma grande quantidade de palavras.
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xercícios de fotografia envolvem palavras: “A partir de um álbum de família encontrado em uma feira de antiguidades, com cartões postais e seus textos, monte uma nova sequência narrativa para as imagens”. Exercícios de escrita envolvem fotografias: “Escreva um ou dos parágrafos inspirando-se na imagem mostrada”. * O trabalho Still Water (The River Thames, for example), da artista Roni
Horn. São fotografias do rio Tâmisa, em diversos trechos de seu percurso e épocas do ano. A artista coloca, sobre as imagens impressas, pequenos números, e, abaixo, notas de rodapé –que podem ser uma observação sobre o rio, comentários bastante engraçados ou trechos de poemas do T. S. Eliot (tudo envolvido em água). Exemplos: Did you find the torso? What is this? Is this white water? Black water is just the idea of water. When you say water, what do you
Rony Horn / Fotografia de Ron Amztutz
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mean? When you say water, are you talking about the weather or yourself? Em algumas montagens, Roni inclui textos sobre acidentes de carro e suicídios envolvendo o Tâmisa (o desaparecimento chamando palavras). * Existe uma distância mínima para o foco entre o objeto e a palavra? * Quanto mais o projeto trata sobre “apagamentos”, ou vazios, mais eu sinto nele uma grande quantidade de palavras. * Os livros organizados pelo Festival de Valparaíso, que convida um artista por ano para reler a mítica publicação Valparaíso, de Sergio Larrain, sob o mesmo título, a mesma tipografia e até tamanho, se não me engano.
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O original foi editado pela Hazan, em 1991, com fotografias de Sergio e texto de Pablo Neruda. E então há a versão que reconta o clássico substituindo as fotografias por textos de moradores locais (Valparaíso: fotografias relatadas); narrações orais transcritas – que podem ser ouvidas no CD ao final do livro. E a versão do brasileiro Pio Figueroa, fotografiasterremoto junto a uma carta: “Juntei poesias, Sergio – a sua e a de outros –, peguei o que encontrei de bom. Fiz uma coleção de coisas, um museíto, como me ensinastes a imaginar a organização das coisas com sentido”. * Os haicais, muito comumente ensinados como um instante fotográfico. O haicai ideal, como orienta a tradição japonesa, e sua conduta: não deve evidenciar um ego – um eu, um escri-
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John Gossage, ao final de uma entrevista dada a Jess Rightor; deve conter referência a alguma estação do ano (ou transformação na paisagem); deve ter três linhas, com funções específicas (etc)… e geralmente só possui um verbo, na linha final (a parte que explicitaria o sentido de instante – um instante irrepetível e ao mesmo tempo não demasiado singular; um instante que poderia ser há cem anos, ou amanhã). * Ainda sobre Valparaíso, a frase de Nicolás Wormull, fotógrafo e curador da editora do Festival, ao final de seu livro fotográfico Stay: I try to remain in the present, but it’s often too late. * Suposição: um livro de fotografias que siga os rastros das palavras, como faz Paul Graham com o pote de ouro em Does yellow run forever?. Ou Tiago Coelho, em Balneário Alegria,
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thand em 2010 (25 anos após a publicação de The Pond, relembrando o livro). “Você quer acrescentar mais alguma coisa?” “Sou alto e bonito”.
com a onipresente fábrica de celulose de Guaíba. John Gossage, em The Pond, e a natureza cuja fronteira com a cidade (o humano) já está borrada. * John Gossage, ao final de uma entrevista dada a Jess Righthand em 2010 (25 anos após a publicação de The Pond, relembrando o livro). “Você quer acrescentar mais alguma coisa?” “Sou alto e bonito”. * O costume de se dizer que “fotojornalista não fala bem, por isso fotografa”. E Robert Capa, instantes antes de saltar do avião de guerra: “Eu
me levantei, certifiquei-me de que as câmeras estavam bem presas em minhas pernas e que meu frasco de scotch estava no bolso do peito, em cima do coração. Tínhamos ainda 15 minutos antes do salto. Comecei a repensar toda a minha vida. Foi como um filme em que o projetor enlouqueceu e vi e senti tudo o que comi, o que fiz, e cheguei ao final em 12 minutos exatos. Estava me sentindo muito vazio, e ainda faltavam três minutos”. * O mutirão de voluntários, na Espanha, que se juntou para acrescentar mulheres fotógrafas na Wikipedia
Tiago Coelho - Balneรกrio Alegria
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Sergio Larrain
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(iniciativa do Género y Figura). * Estes títulos: Vencidos (Fernanda Vallois); Animals that saw me (Ed Panar); Perto do rio tenho sete anos (André Gardenberg, citando Manoel de Barros); Le nom qui efface la couleur (Israel Ariño, “O nome que apaga a cor”). * O jornal/revista DÚO, que une ensaio fotográfico e ensaio literário de dois artistas. Em uma das edições mais interessantes, a escritora Isabel Navarro e o fotógrafo Pablo Chacón (do coletivo NoPhoto) trabalharam sobre os acidentes de trânsito. * Para encerrar, poemas. Primeiro, Julia de Souza (Cartão-postal): amiga / aqui as nuvens se curvam no / limite do redondo, é terrível amiga / o azul se dobra no ponto de fuga / amiga é lindo daqui do alto / do globo juro,
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olha a fotografia / aqui amiga estamos tão em cima / que daqui dá medo amiga / de ver o céu terminar. E, mais arriscado de “classificar como fotográfico”, um José Paulo Paes (Dúvida), tão derradeiro que ainda nem havia sido transcrito pelo autor (estava apenas gravado em voz, em seu aparelho de registrar ideias, e foi recuperado após seu falecimento). Para voltar ao desaparecimento, e por ser uma das minhas imagens-palavra prediletas: “Não há nada mais triste / que um cão em guarda / ao cadáver do seu dono. // Eu não tenho cão. Será que ainda estou vivo?”
por Laura Del Rey
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IRMINA WALCZAK & SÁVIO FREIRE Retratos pra Yayá
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rmina e Sávio registram a vida de sua família de uma maneira incrivelmente tocante e bela. A liberdade e a fantasia na infância de seus dois filhos transparece nas imagens apresentadas em Retratos pra Yayá. Além disso, a dupla tem clara a intenção de criar uma memória visual de uma infância especial para seus filhos. Este trabalho não é feito para os outros, mas sim para o casal de filhos, que cresce em frente as lentes de seus pais. Um trabalho delicado, muito bem executado e com uma visão super precisa das relações entre fotógrafo e fotografado.
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Como foi desenvolvido o projeto Retratos para Yayá? Com a chegada da Yasmin, nosso contato com a fotografia se intensificou. Isso ocorreu de forma natural e bem comum aos recém pais. De início registrávamos cada mudança, cada “primeira vez” como se fosse por obsessão, por medo de logo não lembrarmos de nada disso, ou seja, a efemeridade e, por consequência, a memória sempre foram o motor e o objetivo, respectivamente, deste registro. Com o passar do tempo, conseguimos nos distanciar de um olhar puramente parental e a ideia do projeto amadureceu: passamos dos óbvios registros do fazer para umas tentativas de capturar o ser. Nosso interesse desde então tem sido a
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maneira dela estar no mundo, o jeito como lida com as emoções e com o próprio corpo, a relação que estabelece com a natureza, com os outros, com momentos marcantes como a chegada do irmão. Essa nova perspectiva diminuiu a quantidade das imagens produzidas. Começamos a nos relacionar de forma mais intensa com cada imagem. Este ensaio acaba de ser lançado como livro. Como se deu este processo? O que foi mais marcante no processo de criação/produção do livro? Em algum momento, no meio do projeto, começamos a compartilhar as imagens nas redes sociais. Logo as pessoas vinham contando histórias de sua infância vivida com os pés des-
Incluir cenas da nossa intimidade exigia de nós certo desapego, uma aceitação maior de nós mesmos e das dinâmicas que regem nosso dia-dia. calços no chão ou então desabafavam seus desejos e dificuldades em oferecer mais liberdade e tempo aos seus filhos. Entendemos que o que estava em questão era a mensagem que as fotos passavam e que simplesmente refletiam nosso modo de vida, ou melhor, a caminhada que buscamos trilhar – a da infância livre, tratada com devidos respeito e carinho e que visa autonomia e autoconfiança da criança. Assim que percebemos esta relação, este reconhecer-se do outro em nossas imagens, pensamos reuni-las em livro com o desejo que ele fosse um convite à reflexão a respeito da
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infância oferecida e possível nos dias de hoje. Levando em consideração a identificação que as pessoas demonstravam, decidimos arriscar a publicação do livro de forma independente, por meio do financiamento coletivo. A campanha funcionou, antes de tudo, como uma pré-venda do livro. Foram mais de 300 apoiadores que contribuíram no período de 50 dias. Sabendo do volume de trabalho que uma campanha demanda, bem como em busca de um olhar distanciado, afetivamente desapegado, decidimos convidar um diretor de arte para desenvolver o projeto gráfico. Edu Hirama e Mariana Simonetti foram os que toparam o desafio. O mais marcante desse processo de parceria foi encontrar o equilíbrio entre o desejo - o saber o que se quer e do que não se pode abrir mão - e o entregar - o
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desapegar do que somente imaginamos ser indispensável e confiar no trabalho do outro, no seu processo criativo, sempre tão particular. Conseguir essa balança, mantendo uma paz interna, foi a maior dificuldade e o maior aprendizado ao mesmo tempo no que tange ao processo de criação.
si. Cada imagem produzida era uma oportunidade de perceber-se, com isso vinha a possibilidade de refletir a respeito das coisas, dos comportamentos e então atentarse a alguma questão que chamou nossa atenção. Foi um processo de auto-conhecimento em nível individual e familiar.
As fotografias do ensaio são bastante íntimas, do dia a dia da sua família. Como a produção destas imagens alterou a dinâmica da família de vocês? Nosso intuito foi transpassar a fronteira entre o público e o privado. Incluir cenas da nossa intimidade exigia de nós certo desapego, uma aceitação maior de nós mesmos e das dinâmicas que regem nosso dia-dia. Foi um movimento constante de vai-e-vem feito de fotografar e de olhar para
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DANI PUJALTE & RITA PUIG-SERRA COSTA Good Luck With The Future
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ani e Rita estão nas páginas da OLD pela segunda vez. No ano passado, Rita apresentou seu trabalho Where Mimosa Bloom, que contou com a participação de Dani em sua produção. Agora, a dupla apresenta seu novo trabalho, que lida com a sensação de incerteza ligada ao futuro. São imagens com um potencial poético muito forte, com uma produção visual que já leva a marca clara de quem a realiza. Este trabalho, recentemente finalizado, foi apresentado como livro e exposição na Espanha e na França.
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Dani, Rita, nos contem sobre o processo de criação de Good Luck With The Future. Eu (Dani) estava em um momento bastante para baixo na minha vida. Nesta momento Rita e eu éramos um casal e, depois de falar muito sobre esta situação, decidimos nos aprofundar neste problema e trabalhar com o conceito de incerteza. Nos pareceu um desafio trabalhar com imagens em torno de algo tão abstrato e intangível como um sentimento. Quando tínhamos claro sobre o que queríamos trabalhar, tivemos a ideia de realizar o projeto durante uma viagem. Nos colocar em primeira pessoa, dentro do trabalho, em um cenário sem destino fixo, no qual cada uma das decisões que tomás-
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semos nos levaria a um lugar desconhecido foi uma das características principais em relação à maneira com que trabalhamos. Quando voltamos a Barcelona aconteceu um momento chave para o projeto: nossa separação. A única certeza que tínhamos desde o início era de estar juntos e no meio do caminho isso desmoronou. A partir daí nosso projeto foi forçado a se transformar. Seguimos falando do mesmo, mas nossa experiência pessoal passou a ter mais protagonismo, já que era um exemplo claro de como as coisas mudam sem que você espere. Faz um ano que demos por terminado o processo de produção de imagens e desde então nosso trabalho passou a ser selecionar e editar o que se tornou a
Nos pareceu um desafio trabalhar com imagens em torno de algo tão abstrato e intangível como um sentimento. publicação. Tínhamos muito material e o processo foi bastante complexo, principalmente pelo nosso nível de envolvimento. Temos que agradecer a todas as pessoas que nos ajudaram no processo, mas principalmente a Pol Pérez, nosso designer, que trabalhou conosco durante quase um ano e meio. Quais foram os principais desafios em transpor o trabalho para o formato de livro? A verdade é que transmitir nossa mensagem, tanto em formato de livro como de exposição, foi algo um tanto
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complexo. Com o tempo que passou desde que iniciamos o projeto até o momento de expô-lo e publicá-lo as coisas mudaram muito: nossa relação, nós mesmo, os que nos rodeia, como vemos o futuro, entre muitas outras coisas. Em relação a realizar o projeto em formato de livro, algo que nos ajudou durante todo o processo foi o esquema do Future Light Cone. Nele o tempo corre pela linha reta pelo eixo do cone que vai desde o Past Light Cone atravessando o plano especial e escapando pelo Future Light Cone. Escolhemos este esquema de Albert Eistein para explicar a teoria da relatividade considerando a sua importância para explicar e representar o acaso. Por outro lado, tudo o que aconteceu durante este tempo fez com que a publicação chegasse em seu formato final. Ela tam-
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bém passou por várias transformações, claro, fizemos 33 versões! Para dar um exemplo, desde o começo Pol e eu tínhamos certeza que a capa tinha que ser preta, mas Rita nunca esteve 100% convencida. Foi somente um dia antes de ir para a gráfica que percebemos (graças a Albert!) a possibilidade de fazer duas capas, uma branca e uma preta, que enfatizam a ideia de dualidade. Quais são as vantagens e os desafios de se produzir um trabalho artístico em dupla? Este é o segundo projeto de longo prazo que realizamos juntos (o primeiro foi Where Mimosa Bloom) e além das vantagens evidentes como ter o dobro de ideias, o dobro de material, apoiar-se em alguém em momentos difíceis, repartir tarefas,
gosto de trabalhar com a Rita porque vemos a vida de uma maneira muito parecida, coisas diferentes nos atraem e temos maneiras de fotografar diferentes. Por isso acredito que é interessante trabalharmos juntos já que o resultado fica com algumas coisas parecidas, mas também é mais rico, complexo e profundo. Em relação às desvantagens, como dizia anteriormente, vemos as coisas de uma maneira bastante parecida, mas muitas vezes não é assim e entrarmos em um acordo pode ser difícil. Pergunte ao Pol (de Affaire, designer do livro) o que ele acha e se voltaria a trabalhar em uma projeto feito por dois fotógrafos.
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FABRÍCIO BRAMBATTI My Sweet Paradise
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ada foto é uma pancada. No nariz ou na boca do estômago, daquelas que tiram o ar até o formigar da dor chegar. Este parece ser o objetivo fotográfico de Fabrício Brambatti. Não há respiro, não há pausa, é porrada atrás de porrada. Quem vive em um destes imensos centros urbanos sabe que muitos dias a vida é assim mesmo, te atacando por todos os lados. Assim, My Sweet Paradise se torna uma visão crua, direta e visceral desta megalópole que aos poucos engole tudo e todos que passam por ela.
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Fabricio, como começou seu interesse pela fotografia? Não sei dizer ao certo, eu fotografo a menos de 4 anos. Antes disso eu fotografava mais pra registrar as coisas, viagens principalmente, mas ganhei interesse em usar a fotografia como ferramenta de narrativa. Eu acho que a fotografia me ajudou a resolver um dilema artístico que sempre tive. O mundo ja tem coisas de mais sendo criadas, acho que gosto da ideia de observar melhor as coisas que ja existem. Nos conte sobre a produção de My Sweet Paradise. Esse é um trabalho do dia a dia, sempre saio com minha câmera pra fazer
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qualquer coisa na rua, almoçar, ir ao mercado, no banco, qualquer saída de casa pode render alguma foto, e assim vou completando o projeto. Raras vezes saio de madrugada pra fotografar ou vou em busca de alguma foto específica. Normalmente são as fotos que esbarram comigo no dia a dia mesmo. Esta série foi premiada pelo Lensculture no ano passado. Como este reconhecimento impactou sua produção? Qual a importância de ter o trabalho reconhecido desta forma? Foi uma grande surpresa ganhar esse prêmio, até imaginava que podia ser finalista ou coisa do tipo, mas ganhar me surpreende até hoje. Na pratica
O mundo ja tem coisas de mais sendo criadas, acho que gosto da ideia de observar melhor as coisas que ja existem. não mudou muito a vida, ganhei uma certa visibilidade, e isso é bom, quanto mais gente vende as fotos melhor, mas pra mim o melhor foi receber o tapinha nas costas e saber que estou no caminho certo! Isso é importante pra mim, sinto que não estou sozinho. Você faz parte do coletivo Angústia. Quais as vantagens e desvantagens de trabalhar em grupo? Quais são os projetos atuais do coletivo? Não somos um coletivo, somos uma agência de fotografia. Raramente trabalhamos em conjunto, mas discu-
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timos e vivemos a fotografia juntos. Contar com a crítica de outros fotógrafos joga o trabalho lá em cima. A gente tem um livro editado com fotos de São Paulo mas ele tá guardado esperando o momento certo.
rem da forma que achem melhor o seu trabalho. Estamos trabalhando pra ser um espaço de exposições, publicar livros, dar cursos e atender tudo que a esfera da fotografia pode proporcionar.
Vi em uma entrevista que a fotografia, de certa forma, arruinou sua vida, te deixando sempre endividado. Esse conflito interno te estimula a produzir cada vez mais? Esse conflito me estimulou a criar a Angústia, que é uma agencia de fotografia que foi criada pra ajudar os fotógrafos a desenvolverem seus projetos artísticos. Ver trabalhos consistentes morrerem porque você não conhece galerias ou editores é triste. A nossa ideia é dar independência pros nossos fotógrafos para desenvolve-
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Peter Puklus é um dos grandes destaques de uma nova geração de fotógrafos e artistas visuais europeus. Seu trabalho foi selecionado pela FOAM em 2013, pela Unseen Photo Fair em 2015 e em 2016 seu fotolivro The Epic Love Story of a Warrior foi um dos finalistas do Aperture / Paris Photo Photobook Awards. Conversamos com Peter por email, trazendo suas reflexões sobre sua produção, possibilidades narrativas em fotografia e uma visão multidisciplinar da fotografia contemporânea. Peter, você estudou fotografia e design de novas mídias, em Budapest e em Paris. Como surgiu seu interesse neste campo? Como estes estudos influenciaram a sua produção visual? Minha primeira memória ligada à fotografia é de quando tinha 9 ou 10 anos de idade e minha família pre-
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parava uma excursão para escalar a montanha Schneeberg na Áustria e, no dia anterior, eu encontrei a antiga Exa 1b da Alemanha Oriental de meu pai e, de alguma maneira, consegui abrir a câmera, tirar o filme e o levei orgulhoso para o meu pai. Então ele me explicou como funcionava uma câmera e meu deu um novo rolo de filme. Nos próximos dias eu fotografei as vacas na grama verde e o céu azul... Eu acabei estudando fotografia na Universidade Moholy-Nagy de Arte e Design (MOME) em Budapest, na qual me formei em 2005. Depois disso recebi uma bolsa de pós-graduação do governo francês para fazer meu mestrado em novas mídias na Escola Nacional Superior de Criação Industrial (ENSCI) em Paris, na qual fui apresentado à multidisciplinariedade e uso livre de diferentes mídias. Os dois períodos de estudo me
ensinaram muito sobre como usar a fotografia clássica e como deixá-la para trás. Os filmes da nouvelle vague francesa e italiana que assistia quando era adolescente também tem sua parcela de culpa. Eles me fizeram amar a imagem, a composição, o personagem e a história. Seu trabalho está profundamente relacionado a outras áreas da criação artística, como performance, escultura e pintura. Como esta abordagem multifacetada surgiu? Depois dos meus estudos na ENSCI, voltei para Budapest para fazer meu DLA (uma espécie de doutorado artístico) na MOME e meu programa artístico começou a se desenvolver com exposições, publicações, etc. Obviamente eu estava pensando muito sobre minha prática artística e em um dado momento percebi que o
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que mais me interessava era a mensagem, não o suporte. Na minha opinião, não faz muita diferença como o trabalho foi criado, quais materiais foram usados, mas sim o que ele quer dizer e se faz isso de uma maneira interessante. Com este pensamento em mente comecei a deixar o quadrado fotográfico de lado e me voltei, parcialmente, para o desenho, a pintura, o vídeo e trabalhos tridimensionais. Você viajou muito na sua vida, da Europa Oriental para a Ocidental e, mais recentemente, para os EUA. Como esta movimentação influencia sua criação fotográfica? Minhas viagens são sempre muito importantes para mim, elas me ajudam a respirar ar fresco e me deixam ver coisas fora da zona de conforto na qual você pode facilmente cair graças à rotina. Às vezes minhas viagens
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estão diretamente conectadas com o início de um novo projeto, principalmente pela influência que elas trazem à minha vida. Você já publicou 3 fotolivros. Como este formato ajuda a transmitir a mensagem do seu trabalho? O fotolivro é um suporte definitivo e permanente. Você não pode atualizá-lo mudando a sequência ou a maneira com que você o apresenta. Isso me coloca uma certa pressão para sempre pensar o que significará o trabalho terminado. É sempre bom ter livros perto de mim, para ver como os projetos foram desenvolvidos, além de servir como uma grande ferramenta para curadores e colecionadores. Eles também me ajudam a começar a pensar no projeto seguinte porque, quando eu tenho meu fotolivro terminado em mãos, eu
tenho certeza de que aquele projeto está terminado. Storytelling tem um papel importante na minha prática – de alguma forma se tornou natural começar a trabalhar com livros. Por um lado, é um suporte bastante democrático, que me ajuda a promover e distribuir minha mensagem e, por outro lado, elas se mantém conosco, você não precisa de eletricidade, internet ou uma tela para acessá-los. E eles tem um cheiro ótimo! Você lançou The Epic Love Story Of A Warrior recentemente. Nos conte sobre a criação e produção deste livro. O livro foi publicado pela SPBH Editions em Setembro de 2016, com direção de arte de Tankboys e foi impresso em Veneza, na Itália. Eu trabalhei no conceito, na seleção e sequência ao lado de Bruno Ceschel, publisher, e de Claudia Küssel ex-curadora da
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FOAM. Foi um processo longo, às vezes difícil, mas muito prazeroso no final. A ideia original do projeto nasceu entre 2009 e 2010 e eu fiz sua primeira fotografia alguns anos depois. No início, era como um projeto paralelo porque precisava me concentrar em ‘Handbook to the Stars’, mas depois de um tempo ele emergiu e começou a ganhar atenção. Conheci Bruno no Unseen Festival em Amsterdam em 2013 e começamos a conversar sobre a ideia do livro. Precisei de mais três anos para terminar o projeto e finalmente começar a trabalhar no livro. The Warrior tem uma estrutura e narrativa complexas. Como você buscou organizar o conteúdo do livro, seu conceito, narrativa, sequência? O principal campo de inspiração para o livro é a história imaginária de uma família vivendo entre a Europa
Central e Oriental durante o século XX. O livro é dividido em quatro diferentes sessões, marcadas com conflitos e mudanças políticas ocorridas durante o período na Europa. Dentro destas sessões há histórias mais curtas e mais longas, contadas usando a estética e a capacidade narrativa da fotografia, da sequência e do layout. Além disso, há histórias que atravessam o livro inteiro. Mas estas estão principalmente baseadas em referências visuais, conexões e a capacidade da mente de cada leitor. Quais são os desafios de expressar ideias complexas através de imagens? Gosto de brincar com a mente e o pensamento de quem vê meus livros, mas também confio neles quando proponho mensagens de várias camadas que me dão liberdade para produzir. Às vezes isso não funcio-
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na nem um pouco e às vezes encaixa perfeitamente. O truque talvez comece a funcionar quando o leitor abandona seu pensamento racional e começa a associar livremente o material visual apresentado e as histórias por trás dele. Esta abordagem requer um certo nível de envolvimento, o que pressupõe tempo e atenção, algo que quase não temos. The Warrior não é um livro que você vai entender de primeira. É por isso que o marca páginas preto foi adicionado ao livro: assim como em um romance, é um sinal para que o leitor pare em um certo momento, guarde o livro e continue sua leitura em outro momento. Qual o papel do leitor em explorar a narrativa de The Warrior? Quanto é dado e quanto precisa ser descoberto? Eu espero que o leitor descubra algo em seu primeiro contato com
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The Warrior não é um livro que você vai entender de primeira. É por isso que o marca páginas preto foi adicionado ao livro: assim como em um romance, é um sinal para que o leitor pare em um certo momento, guarde o livro e continue sua leitura em outro momento.
as minhas imagens ou mesmo algum tempo depois disto. Mas o mais importante: não é um jogo. Há uma história contada nas capacidades deste suporte e espero que os leitores se engajem com ela. Você trabalhar com ideias e imagens similares através de diferentes séries. Você vê divisões no seu trabalho? É tudo um grande projeto? Bom, basicamente sou eu, mas eu realmente não sei. Há similaridades,
mas também há diferenças. Provavelmente há uma mensagem importante que quer transparecer, de todas as formas possíveis. Para você, há um limite para a narrativa na fotografia? Obviamente o suporte tem certos limites, mas é um grande desafio tentar expandir estes limites. Há maneiras clássicas de se contar histórias com fotografias que são ótimas, mas é ainda melhor superá-las.
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ANNA MASCARENHAS LAVA
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AVA é uma viagem analógica pela Itália. A sensação de descoberta é flagrante na maioria das imagens. Anna Mascarenhas registra este período em um país que é o seu, mas ao mesmo tempo não é, criando uma narrativa entre personagens e símbolos, com alguma pitada de humor e ironia. As imagens da série, todas verticais, convocam a criação de duplas entre elas, construindo novas relações e narrativas entre imagens, tornando o ensaio cada vez mais rico e complexo.
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Acho que tudo acaba sendo um Anna, como começou seu interesse pela fotografia? Desde pequena eu tive um contato com a fotografia. Meus pais tinham uma analógica point-and-shoot e eu com uns 9 anos registrava minhas experiências de criança. Também tinham uma câmera VHS, eu costumava gravar em cima dos meus videos de bebê - o que deixava minha mãe furiosa. Gravava histórias em que meus amigos atuavam, curtas sobre o meu gato. No final as fitas se tornavam colagens, mesclando diferentes momentos da minha vida. Depois, com as câmeras digitais, eu me tornei aquela pessoa da turma que leva a câmera pra todos os lugares e registra todos os momentos insistentemente. Tenho um HD inteiro dedicado à es-
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ses registros, ainda penso em fazer algum projeto com esse material. Mesmo assim, optei por cursar jornalismo - pensava em me tornar uma fotógrafa de guerra, ainda não descartei a ideia totalmente. A faculdade me frustrou bastante e acabei voltando a pensar na fotografia, no video, como uma espécie de profissão. Mas não gosto de me definir como fotógrafa. A fotografia é e sempre foi um escape pra mim, um jeito de eu me expressar inconscientemente, deixar sentimentos que eu nem entendo prevalecerem. Quando penso na fotografia como uma carreira ou algo do tipo, acabo interrompendo essa conexão e meu processo criativo se perde de alguma maneira.
pouco premeditado, mesmo que não intencionalmente. Nos conte sobre a produção de LAVA. Produzi essa serie na Itália, numa viagem com minha mãe e minha irmã ao sul do país. Passamos um mês lá, no processo da cidadania italiana, e levei minha câmera analógica na intenção de registrar essa imersão. É engraçado pensar que sou cidadã de dois países agora, sinto que conheço os dois muito mal. Viajei menos do que eu gostaria pelo Brasil, apesar de viver aqui a vida toda, e acredito que tenho um conhecimento muito limitado do que é realmente ser brasileiro. E o mesmo acontece na Itália. No fundo eu me sinto uma espécie
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de turista nesses dois lugares e acredito que essa ideia de distanciamento, de testemunho, transpareceu nas fotos. Eu estava passando por um desses momentos de desconstrução do processo criativo, que citei ali em cima, então foi tudo muito delicado emocionalmente. Estar munida de uma câmera analógica, precisando esperar pelo resultado final para ver o que eu estava produzindo ali, foi especialmente importante pra mim. Minha geração é muito ansiosa pelo momento, dificilmente se permite aprofundar em imersões muito longas, você sente uma obrigação de produzir e divulgar simultaneamente. E estar diante de situações e lugares tão antigos, tão carregados de vivência humana, me fez refletir muito sobre a vida no geral. Visitar Pompéia, por exemplo, foi uma experiên-
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cia transformadora. Como é seu processo de produção fotográfica? Você costuma sair com temas pré-definidos na cabeça ou fotografa mais livremente? Não sei muito bem como responder essa pergunta. Acredito que, mesmo quando fotografamos livremente, estamos registrando cenas, enquadrando lugares e momentos, de acordo com uma necessidade do nosso inconsciente. Acho que tudo acaba sendo um pouco premeditado, mesmo que não intencionalmente.
nha linguagem fotográfica e passei a aceitar certas particularidades sobre mim e meu processo criativo. Quais são os temas que mais te motivam a fotografar? O ser humano é o único tema possível. Mesmo quando fotografo a natureza, é como se eu buscasse algum tipo de identificação, de rastro, qualquer coisa de humano e emocional no que estou enquadrando. Mesmo o abstrato é fatalmente humano demais.
Você passou por um período de estudos na Espanha. Como esta experiência mudou sua maneira de fotografar? Estudar na Espanha por quase um ano foi uma experiência legal. Criei uma consciência maior sobre a mi-
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DANIELA PINHEIRO Tasogare
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pesquisa artística de Daniela Pinheiro está muito ligada a processos artesanais de fotografia. Em Tasogare, seu trabalho de conclusão de curso no SENAC, Daniela utilizou a técnica dusting on para registrar o butô, importante elemento da tradição cultural japonesa. O resultado visual cria imagens etéreas, que unem personagem, espaço e suporte, criando uma construção muito mais complexa do que um simples registro visual de um evento. A poética visual de Daniela Pinheiro é clara e marcante, nos convidando a mergulhar cada vez mais fundo em sua produção visual.
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Nos conte sobre a produção de Tasogare. Tasogare faz parte do meu trabalho de conclusão do Bacharelado de Fotografia no SENAC. Quando comecei este trabalho buscava uma poética visual voltada para o processo de criação. Escolhi dar continuidade a uma pesquisa que havia iniciado em 2009, quando registrava o gesto dos corpos dos japoneses e seu caminhar pelo bairro Liberdade, mas, para Tasogare, não queria somente documentar esses corpos, buscava uma proximidade, uma relação. Surgiu então a ideia de pesquisar algumas manifestações culturais japonesas, entre elas o butô. O corpo que dança butô é um corpo em um processo inacabado; que nos leva a
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navegar em outra temporalidade, em outras formas de vida, ao expor invisibilidades e fragilidades através de sua sombra. Acompanhei o butô, através do contato com a dançarina e performer Emilie Sugai. Comecei o trabalho com ela, gravando, fotografando e só depois percebi que deveria trabalhar com essas imagens com o processo artesanal de fotografia, dusting on, uma vez que havia contrastes entre o branco e o preto e, principalmente, porque me interessava ter uma experiência com a desaceleração dos meus gestos, na busca de os correlacionar com as marcas do butô. Trabalhar com o dusting on é um processo que exige persistência e calma, o movimento precisa ser mínimo como no butô. A cada ida ao
Trabalhar com o dusting on é um processo que exige persistência e calma, o movimento precisa ser mínimo como no butô. laboratório, uma nova preparação da emulsão, um novo olhar. Quando comecei o trabalho buscava a perfeição das imagens nos vidros, mas as primeiras imagens ficaram com as marcas de meus gestos, o que me causou um desconforto enorme. Ao longo do processo fui descobrindo que buscava para compor a minha narrativa justamente o contrário do que inicialmente havia me desestabilizado: transferir para a superfície do vidro, as marcas, um desfazer das camadas do corpo da dançarina de butô, e de certa forma, do meu também.
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Você tem um interesse especial por técnicas e processos artesanais em fotografia. Como começou esta pesquisa? Foi com o fotógrafo e professor Kenji Ota que comecei a estudar e experimentar os processos históricos de fotografia do século XIX. Com o trabalho Tasogare aprofundei-me na pesquisa com o dusting on. As imagens da dançaria de butô Emile Sugai pediam-me um outro tempo; que o dusting on proporcionava. Estar acompanhada de um orientador como o Kenji era uma oportunidade para experimentar e conhecer mais a fundo esse processo. Diante dos procedimentos do fazer fotográfico através do processos artesanais é possível perceber que a fotografia é um campo aberto experimental, capaz de produzir novos discursos visuais
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por meio do contato com a materialidade. Depois de Tasogare busquei aperfeiçoamento nesses processos artesanais freqüentando cursos especializados. Atualmente, minha pesquisa está focada no processo histórico de fotografia chamado cianótipo. Dentro da sua produção, o quanto a técnica delimita o tema que será abordado nas imagens? Nesses dias questionava-me justamente sobre isso ao olhar as imagens em cianótipo que estou produzindo para a pesquisa no Mestrado em Artes Visuais, na Unicamp. Logo de início pensei em trabalhar somente com esta técnica , mas depois de olhar, fazer e refazer e passar um tempo junto das imagens, me questiono e abro a possibilidade de misturar outra técnica ali. As imagens aos poucos vão
conversando com você. É no processo criativo que você vai entendendo o que elas estão dizendo. Debaixo da imagem tem sempre algo para ouvir, escutar e perceber. Isso leva um tempo ... e este tempo é o mais impressionante para mim. É o que me instiga e o que me move em minha criação.
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FOTOGRAFIA E FELICIDADE
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ma parte significativa deste pensar sobre a fotografia foi inspirada pelo catálogo de uma exposição no Rio de Janeiro, em maio de 2007, dez anos atrás, portanto. O evento ocorreu no âmbito do FotoRio com a parceria da Maison Européenne de la Photographie – Paris. Este texto pode ser considerado como a celebração de um aniversário e, por que não, dois. O título escolhido para aquela exposição foi Instantâneos da Felicidade,
Angelo José da Silva é professor de sociologia na Universidade Federal do Paraná e fotógrafo. Suas pesquisas mais recentes focam o espaço urbano e o grafite.
por si só evocativo. As imagens ali reunidas retratavam aqueles momentos de profunda e intensa paz, harmonia, amor, esperança, felicidade. Folheei o catálogo apreciando cada imagem e deixando que a magia própria de toda fotografia e especialmente a presente naquelas tomasse conta da minha imaginação. Senti aquela imagem descrita por D. Juan, o bruxo dos escritos antropológicos de Carlos Castañeda, de parar o tempo. Você se prepara, pratica, adquire um saber e uma experiência, se entrega de corpo e alma. Alcança parar o tempo e pode observar o que está acontecendo ao redor, fora e dentro. Pura magia. Talvez essa imagem narrada por D. Juan e escrita por Castañeda, com intenções mágicas e
não fotográficas, seja a mais bela das descrições da fotografia que conheço. Olhando para o catálogo diante de mim, foi como se eu tivesse parado o tempo. Pude sentir esse prazer, simultaneamente fugaz e duradouro, superficial de pele e profundo de coração, de deixar-se atravessar pela beleza da vida. Pensei, então, como a fotografia pode ser um instante de uma paixão. Como se, enlaçados com ela, nós parássemos o tempo e pudéssemos desfrutar cada ponto de vista, cada mirada, com uma plenitude transcendente. Justamente ali, naquele instante infinito, vivo, vivente de uma fração de segundo latente, revelado, mágico, real, apaixonante e apaixonado.
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Pude sentir esse prazer, simultaneamente fugaz e duradouro, superficial de pele e profundo de coração, de deixar-se atravessar pela beleza da vida. 121
MANDE SEU PORTFÓLIO revista.old@gmail.com Fotografia da série Meninas, de Thays Bittar. Ensaio completo na OLD Nº 67.
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stage from whic
Since 2011, URB
TOTAL PRIZ
€ 4,
+ INTERNATIO + PUBLICATIO + OTHER PRIZ
MAIN PRIZE
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Awards looks for talent and quality both among professional and amateur photographers, offering them an international
ch to get noticed. The highest placing photos in the competition will take part in series of ”travelling” photography exhibits.
BAN exhibits were held in Italy, Germany, Poland, Hungary, Latvia, Slovenia, Croatia, Cyprus, Ukraine and Colombia.
ZE VALUE
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2 SECTIONS ABOUT URBAN PHOTOGRAPHY » SECTION #01
THEMED PHOTOS
7 thematic areas: Street Photography / Architecture / Social City / Urban Art / Transport / Green Life / Visions
» SECTION #02
PROJECTS & PORTFOLIOS
For sets of photos with Urban Photography subject: thematic portfolios, photojournalism and storyboards (sequences of images that tell a story)
ww.urbanphotoawards.com