Revista Old Número 08 - Março de 2012 Equipe Editorial - Felipe Abreu e Paula Hayasaki Marketing - Eduarda Galvão Direção de Arte - Felipe Abreu Texto e Entrevista - Felipe Abreu Capa - Bruno Mancinelle Fotografias Bruno Mancinelle http://www.brunomancinelle.com Daniel Von www.flickr.com/danielvon Entrevista Alexandre Belém Parceiros:
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Bruno Mancinelle Portfolio
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Alexandre BelĂŠm Entrevista
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Daniel Von Portfolio
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Passou o carnaval e, ao contrário do que dizem, já faz tempo que o ano começou pra OLD. Já tivemos edição impressa, vídeo na Mostra e tudo indica que esse vai ser um ano muito bom e muito diferente pra OLD. Quando as coisas forem acontecendo a gente vai contando pra vocês! Neste oitavo número da OLD temos uma predominância do preto e branco, com os portfolios de Bruno Mancinelle e Daniel Von. O Bruno apresenta a sua visão de uma Havana que é quase pós-socialista. Vemos em suas fotos as marcas desse período, imagéticas como só elas. O trabalho do Daniel também apresenta um contexto urbano, porém muito mais próximo do nosso. Ele fala sobre grafismo e movimento, de uma forma muito original e cativante.
A nossa entrevista é com o Alexandre Belém. Fotógrafo, blogueiro, curador e, principalmente, uma das grandes mentes pensantes por trás do desenvolvimento e divulgação da fotografia brasileira. Foi um papo muito bom, que abordou temas que preocupam muito a OLD desde seu início, como curadoria em fotografia, edição e a divulgação de novos talentos fotográficos. Foi um encontro de ideias muito produtivo e fascinante. Agora, para tudo e corre ler!
Felipe Abreu
Carnival procession
Bruno Mancinelle Havana OLD 05
Bruno Mancinelle vem documentando diversos pontos culturais da América Latina. Já passou por Paraguai, Terra do Fogo e apresenta na OLD seu ensaio feito em Cuba, sempre dando um viés social às suas imagens. Como foi a experiência de viajar até Cuba e produzir este ensaio? Cuba sempre me despertou um grande interesse, acho que não só meu mas de
muitos fotógrafos. Depois de viajar por um tempo pela América Latina decidi ir para Cuba. Fiz alguns contatos e fui meio que na louca. Chegando lá procurei conversar com as pessoas e conhecer o dia-a dia delas. Foi um dos melhores lugares que já fotografei, uma cultura totalmente diferente, parece que você volta no tempo, andando nas ruas com os carros antigos, com um povo sorridente e acolhedor que ao mesmo tempo sofre com as limitações que o socialismo traz.
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Ultimamente tenho me deparado com duas teorias sobre o registro de culturas que não a nossa: tentar descobrir o máximo sobre essa nova cultura e só depois fotografar ou clicar conforme você constrói suas impressões sobre o que você está presenciando. Você concorda com uma dessas teorias ou pensa de outra maneira? Acho que pesquisar sobre a cultura antes de fotografar é importante e te ajuda a documentar coisas mais específicas. Mas no caso de Cuba, eu fui construindo minhas impressões enquanto conversava com as pessoas e presenciava o dia-a-dia delas, sentado à mesa, fumando charuto, assistindo aos jogos. Situações cotidianas que te revelam muito da vida dos cubanos.
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Quais foram suas influências para produzir estas imagens? Fiz muita pesquisa, mas o que me mais me chamou atenção foi o trabalho do Izan Petterle sobre Cuba. Dois dias antes de viajar, liguei pra ele e perguntei como foi a viagem dele para Cuba. Conversamos e ele me deu algumas sugestões do que eu poderia fazer. Cuba é um lugar de cores muito fortes, muito densas. Como foi escolher pelo PB para este ensaio? Esta escolha não foi difícil, tenho optado pelo preto e branco em meus trabalhos. Eu me sinto melhor em trabalhar dessa forma, apesar de Cuba ser repleta de cores eu já fazia a fotografia pensando no preto e branco.
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Como você percebeu a presença do socialismo em Cuba? Como isso influenciou a produção das suas imagens?
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Quando cheguei em Cuba, fiquei hospedado na casa de uma família de cubanos ao invés de dormir em hotel, com isso pude participar do seu dia-a-dia, ouvir suas histórias e ver como o socialismo afeta suas vidas. Pude ver as marcas do socialismo nas pinturas nas paredes, no medo de falar sobre política, e na falta de liberdade que o socialismo impõe. Percebi que muitas pessoas não gostam de viver debaixo deste sistema.
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OLD entrevista Alexandre BelĂŠm
Alexandre Belém é um dos mais respeitados críticos e divulgadores da nova fotografia brasileira. Ele comanda o blog Olhavê, participa dos principais encontros de fotografia no Brasil, além de atuar como curador para diversos espaços. Belém falou de tudo isso e mais um pouco em sua entrevista para a OLD. Você tem um trabalho muito forte de OLD crítica e divulgação da produção fotográ19 fica brasileira. Como começou esse projeto? Quando surgiu seu interesse pela crítica? O blog começa, em 2007, como um canal para eu compartilhar tudo o que via na web. Era meio que o meu Facebook + Twitter da época. Foi assim que ele cresceu e se tornou referência. Basicamente, pouca foto e mais informação e conteúdo sobre fotografia. Naturalmente, poucos meses depois do blog
no ar, já senti uma vontade de conhecer mais e comecei a cascavilhar a “produção” e entrevistar fotógrafos. O Olhavê conta com 28 entrevistas que me orgulham muito. Em 2009, precisava de um local mais adequado para ensaios fotográficos e criei o Perspectiva. Este projeto, toco junto com a minha esposa Georgia Quintas que faz a curadoria e as críticas. Sobre a crítica, é um processo natural do trabalho. Como está acontecendo com curadorias de exposições e eventos. É fruto do trabalho e do processo criativo. Tenho uma formação totalmente baseada no fotojornalismo diário de redação e frilas para publicações. O blog fez surgir uma coisa que me atrai muito atualmente: escrever. O trabalho que faço no Sobre Imagens congrega tudo isso que venho trabalhando nos últimos anos: pesquisa + edição + escrever. O Olhavê é um dos blogs de fotografia
mais bem conceituados do Brasil. E o mais interessante é que você está sempre criando novos projetos dentro desta estrutura. De onde vem essa inquietação? O que mantém você e, consequentemente o blog, curiosos e funcionando? O Olhavê, e tudo o que ele trouxe para a minha vida, trabalha com uma característica bem distinta do “Fotógrafo”. A vaidade, individualismo e ego – que são inerentes ao Fotógrafo – vão para o ralo. Então, gosto de compartilhar, divulgar, escoar. A inquietação nasce desta vontade. O trabalho é insano e solitário. Desde sempre, fiz tudo sozinho sem suporte financeiro de publicidade, entidades ou editais. Faço nas horas vagas dos outros trabalhos que geram renda para manter a “vida prática”. Porém, a felicidade de ver e sentir os resultados são absurdamente mais gratificantes do que qualquer pagamento. A
projeção que fizemos no Paraty em Foco foi linda e emocionante. Gerou uma energia entre os envolvidos e no evento que, sem exageros, é um dos pontos altos da história do blog. Recentemente, numa palestra no SENAC em São Paulo, para o Bacharelado de Fotografia, uma aluna pediu a palavra. Ela falou que acompanha o blog desde 2009 e que ele faz parte da formação dela. Nada é mais gratificante do que isso.
O trabalho é insano e solitário. Desde sempre fiz tudo sozinho e sem suporte financeiro. Porém, a felicidade de ver e sentir os resultados são absurdamente mais gratificantes do que qualquer pagamento
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Você participa e ajuda a organizar muitos eventos fotográficos, como o Paraty em Foco e o Foto em Pauta. Qual a importância de estar presente nestes eventos? E qual a importância, para a nossa fotografia, de manter esses eventos ocorrendo, vivos e pulsantes? Os festivais de fotografia são um dos maiores geradores e formadores de público da fotografia brasileira atualmente. É o momento de aprender, trocar ideias, “se mostrar” e pensar mais. Com o Paraty, tenho uma relação engraçada. Sempre quis ir e ficava acompanhando de longe. Tentei ir em 2008, mas não rolou. Com tudo o que aconteceu com o Olhavê, fui em 2009 participando de três mesas e editando a Blogosfera Fotográfica (o blog do PEF 2009). Meio que a vida aprontou uma surpresa e me fez pular etapas. Em 2011, eu e Georgia, tivemos uma participação bem legal e
apresentamos a projeção. Tiradentes já é uma caso bem diferente e que envolveu outro festival. Em Porto Alegre, no FesFotoPoa de 2009, eu e Eugênio Sávio nos aproximamos bastante e a conversa fluiu para o que é hoje. Desde a primeira edição, eu e Georgia, concebemos e fazemos a curadoria do Ciclo de Ideias. O Ciclo é a grade de palestras do evento. Este ano, também fiz a curadoria da exposição do fotojornalista Mauricio Lima. OLD Acabamos de conceber a curadoria para o 1º 22 Encontro Pensamento e Reflexão na Fotografia – Por que pensamos a Fotografia?. O evento acontecerá no MIS/SP em maio. O Sobre Imagens está vinculado ao site da Veja, do qual você foi editor de fotografia nos últimos dois anos. Como você vê a atual situação do fotojornalismo na web? Como era o uso da imagem dentro de um veículo conservador como é a Veja?
Gosto de pensar no fotojornalismo como linguagem, abordagem, área de atuação. A web é só um canal de escoamento. Canal que se torna o mais interessante como espaço para publicar. Não temos páginas de jornais ou revistas suficientes. Mas temos os sites e blogs. Qual foi melhor lugar para acompanhar a Primavera Árabe? Sites do NYT, TIME, VEJA.com. É aí onde entra a figura do editor. As OLD agências de hard-news querem jogar o mais 23 rápido possível as fotos na rede para vender. Vem muita “besteira” e cabe ao editor saber escolher o melhor material. A pressa não combina com qualidade... Mesmo na internet. Fui editor de fotografia do site da VEJA entre 2010 e 2011. Entrei para um cargo que não existia e fez parte da reformulação do site. Mesmo agregado à revista, o site tem autonomia, redação e pautas distintas. Havia setores híbridos e pautas trianguladas, mas no dia a dia, o site corria a sua vida
própria. Neste sentido, a edição fotográfica era totalmente livre. Gozei de total liberdade onde o principal era: foto boa na home do site e nas galerias. Para isso, ficava mais de dez horas por dia com os olhos no monitor e editando material de cinco agências internacionais (AP, AFP, EFE, REUTERS e Getty Images) e quatro nacionais (Folhapress, AE, Agência O Globo e Futurapress). Além de outras agências para material mais frio. Eventualmente, produzíamos pautas próprias. Em vários acontecimentos, as galerias de imagens eram o carro-chefe dos pageviews do site, como por exemplo na invasão do Morro do Alemão e as chuvas no Rio. Esta prioridade pela “boa imagem” no site reverberou na revista como um todo e as nossas galerias eram sempre vistas pelo pessoal da VEJA como fonte de fotos para a edição da semana.
Você foi curador do Clube de Colecionadores de Fotografia do Mamam de Recife em 2011 e criou recentemente o projeto Escoando Imagens no Olhavê, divulgando a produção de novos fotógrafos. Como você desenvolve seus processos de curadoria? Como encontra novos fotógrafos? Como você desenvolve a sua visão pessoal dentro destas seleções de imagem? Desde 2009 que todo o processo criativo do Olhavê é em conjunto com a minha esposa, Georgia Quintas. Por sinal, o outro braço do Olhavê é o site Extraquadro (só com textos dela). O Clube do Mamam e o Escoando imagens, fazemos juntos. Bem, chega muita coisa para nós e gostamos disso. Também, ficamos de olho nas leituras de portfólio que fazemos e estamos sempre ligados. O Escoando imagens: a pessoa manda para o blog e estamos convidando também. Gostaria de ressaltar as projeções
que fizemos e que nos dá muita alegria. Basicamente, as projeções e a nova seção é via edital no blog e escolhemos levando em consideração o tema, narrativa, poética, edição, subjetividade, estética, boas imagens (sempre), coerência, etc.
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Daniel Von Portfolio Daniel Von apresenta na OLD uma seleção de imagens urbanas, com composições OLD baseadas em grafismos e movimentos. 25 Um trabalho original, que dialoga com diversos caminhos da fotografia. Suas fotografias falam de cidade, de cotidiano. Qual a importância destes elementos dentro da sua produção? Tais elementos tem tom de descoberta. Sou de uma geração que nasceu presa, seja pelos muros do condomínio ou na diversão fácil do videogame. Para mim, a fotografia
cotidiana veio como um processo de descobrimento, experimentar o mundo lá de fora. Tenho grande interesse pela estética padronizada (talvez repetitiva) das grandes cidades, falam muito sobre nosso modo de vida atual. Você acredita que fotografar em PB realça estas questões? Acredito que o PB além de realçar a forma dos objetos e favorecer os grafismos, também é mais objetivo para se transmitir uma mensagem. Penso que muitas vezes a cor pode ser uma distração, sendo mais
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atrativa do que o motivo. Muitas das minhas referencias fotográficas são da velha guarda do filme, talvez por isso me identifique mais com essa forma de expressão. Você parece estar sempre buscando ângulos inusitados para suas fotografias. Como você aborda os temas que fotografa? Novos pontos de vista são essenciais para uma fotografia criativa. Acredito que todo esforço é válido por uma boa imagem, subir em muros... deitar no chão... entrar na água.... Muitas vezes me surpreendo com a transformação dos objetos quando percebidos de pontos de vista incomuns. De que maneira você busca deixar estes temas, personagens, objetos “com a sua cara”?
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Acredito que seria muito presunçoso dizer que possuo um estilo próprio de fotografar, tenho muito pouca experiência para isso, mas acredito que quando fotografo o processo de criativo flui naturalmente, sem se limitar a um estilo determinado. Mas de qualquer forma, elementos em meu trabalho que poderiam ser definidos como estilo, seriam a busca por padrões gráficos e constante atenção na luz do ambiente e como ela influencia/molda o motivo. Você constrói grafismos muito interessantes em suas imagens. Como funciona esta busca? Que influências você tem neste tipo de produção? Acredito que a parte mais importante neste processo é a calma. Parar para VER e perceber as formas, os desenhos que elas formam quando observadas de outros ângulos e
principalmente como a luz “conversa” com esses elementos na composição, gerando resultados interessantes. Existem alguns fotógrafos que me inspiram nesta busca pela padrão gráfico, como por exemplo André Kertész, Arno Rafael Minkkinen, Cássio Vasconcellos, etc. Interpreto os padrões gráficos repetidos como algo peculiar da contemporaneidade, da sociedade indústria. Em meu trabalho, busco inserir a figura humana quebrando estes padrões, para lembrar-nos que não somos engrenagens.
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Mardi Gras in a restaurant in Bayern, the waiters are wearing masks. M端nchen, Germany,