VOL 01 - DISPOSITIVOS COLETIVOS - Felipe C. Gonzalez (TCC)

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Dispositivos coletivos como instrumentos de convergĂŞncia social estudo de caso da favela Canal das Tachas (TerreirĂŁo)

Volume

01

autor

Felipe Chaves Gonzalez orientador

Carlos Eduardo Spencer

DAU PUC-Rio


“(...) uma coisa é o lugar físico, outra coisa é o lugar para o projeto. E o lugar não é nenhum ponto de partida, mas é um ponto de chegada. Perceber o que é o lugar é já fazer o projeto.”

SIZA, Álvaro


Volume

01 Reconhecimento



Volume 01 Reconhecimento

01 O seguinte capítulo pretende utilizar o estudo do local, deste entrevistas, visitas à campo, diagnósitcos urbanos e pesquisas para a elaboração de um conteúdo informativo sobres as relações existentes atualmente no recorte de estudo, entre Terreirão e o Recreio dos Bandeirantes. O documento pretende fomentar outras propostas para a área, servindo de base informativa para a elaboração de projetos que visem a ampliação das dinâmicas locais.

autor Felipe Chaves Gonzalez orientador Carlos Eduardo Spencer

Trabalho de Conclusão de Curso Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU) PUC-Rio Rio de Janeiro, 2016



Volume 01 Coletivo - 08 Comunidade - 10 A região - 12 Interfaces urbanas - 27 Reconhecimento local - 33 Território ilha - 46 Vias locais - 50 Situações Notáveis - 62 Aproximação - 76 -


Coletivo a coletividade como instrumento social

O projeto pretende melhorar e ampliar as dinâmicas existentes no espaço urbanocoletivo do Terreirão e sua relação com o território onde está inserido. O estímulo do uso do espaço público deve vir acompanhado de elementos que incentivem relações e consequentemente promovam a coletividade, o espírito comunitário e a ideia de pertencimento ao local.

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Equipamentos coletivos estrategicamente posicionados, serviriam as necessidades comunitárias por meio de espaços públicos que abrigam um programa heterogêneo. Seria portanto, moldado a partir das carências locais, com a finalidade de torná-lo um exemplo para futuros agentes multiplicadores entenderem a coletividade como grande aliada à integração social.

ocoletivo coletivo


“Our subject, then, is not architecture, but built environment. It is innately familiar. Anew, we observe what always has been with us not to discover, much less to invent, but to recognize.”

HABRAKEN, N.J.. Structure of Ordinary

Dispositivos coletivos como instrumentos de convergência social

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Comunidade conjunto de individuos com determinada característica comum, inserido em grupo ou sociedade maior que não partilha suas caracterísitcas (Dicionário Houaiss)

O projeto, como dito anteriormente, contempla a exploração dos espaços informais de uso coletivo. Para tanto, o estudo de autores como N. John Habraken, Sergio Magalhães e Jane Jacobs foi essencial para um embasamento teórico e sensitivo sobre o espaço público e a comunidade informal. Jacobs discorre sobre a cidade e a importância de seus espaços públicos, não só para as pessoas mas para toda a vida do entorno e sua segurança, demonstrando que esses espaços precisam de usos. Devem ser atrativos às pessoas, para que estas atribuam utilidade

aos espaços. Quando se pensa nessas características dentro da comunidade, é possível identificar que os moradores já contam com uma experiência de uso do local de uma forma diferente dos grandes centros urbanos, com um maior uso de suas ruas, calçadas e seus espaços públicos. Quando se incentiva o uso desses locais com dispositivos coletivos, ganham-se tanto funções específicas pré-determinadas, quanto espaços abertos à apropriação e às possibilidades de usos escolhidas pela comunidade, estimulando a movimentação e prosperidade do local

Paraisópolis - São Paulo

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comunidade


de uma forma mais segura e confortável. Com o crescimento das metrópoles, há consequentemente o crescimento das favelas e comunidades, como é o caso de Paraisópolis em São Paulo, sendo hoje um local de elaboração de diversos planos que visam a ampliação dos espaços cívicos, a fim de propiciar uma melhor forma de interação entre os moradores da área. Outro exemplo é o do morro Santa Marta no Rio de Janeiro, onde a partir de um simples tratamento de fachada com o projeto “Tudo de cor para você”, trouxe vitalidade e uma

sensação de pertencimento para os moradores , que se sentem parte de um local vivo e convidativo, trazendo uma sensação maior de segurança a todos. É possível concluir portanto que a exploração dos espaços coletivos ao máximo é favorável não somente aos moradores das comunidades, mas ao entorno, à cidade, ao promover maiores interações interpessoais.

Santa Marta - Rio de Janeiro

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A região ciclos de transformações sociais, culturais e econômicas que moldaram o local

A análise da evolução do Terreirão e da região que ele está inserido, como primeiro movimento projetual, foi essencial para a compreensão do perfil dos moradores locais. Foi possibilitada uma maior clareza em relação às transformações ao longo do tempo e como elas interferiram na formatação da comunidade

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Localizado no bairro do Recreio dos Bandeirantes, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, o Terreirão tem sua história conectada diretamente ao crescimento vertiginoso do bairro. Desde o domínio da atividade agrícola até tornar-se um dos bairros que mais cresceu nos últimos anos no Rio de Janeiro, a rápida ascensão do Recreio é claramente refletido no desenvolvimento do Terreirão.

a região


Fotos antigas Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes (1940-60)

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imagem A

imagem B

1940 Atividade agrícola

Nos primeiros anos de sua formação, a região que atualmente é conhecida por Terreirão ou Favela do Canal das Tachas, se encontrava numa situação de isolamento urbano e precariedade. As oportunidades de trabalho em geral eram vinculadas às atividades agrícolas (imagem A), e atraiam um grande número de agricultores de Minas Gerais e do Espírito Santo à procura de emprego nas granjas da região (imagem B).

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A convivência cotidiana impulsionada pelas condições geográficas e urbanas da região (comunidade pequena, moradias próximas, atividade econômica comum, local isolado e de difícil acesso) intensificavam a necessidade de interação entre os moradores locais, o que permitiu um entendimento de que era necessário trabalhar em conjunto para obter melhores condições de vida.

a região


1940

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imagem C

1960 Início dos loteamentos

A primeira transformação sócio-econômico-cultural se deu através do crescimento e aparecimento gradual de prédios na região, o que começou a atrair a classe média. A partir de então o local passou a ser visto como um ator permanente e independente no território, deixando de ser considerado uma mera extensão das granjas locais (imagem C). Com o fim das granjas e o início dos loteamentos na região, o aparecimento de novas perspectivas de trabalho provocou mudanças na realidade local.

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A partir da substituição gradativa da pequena agricultura pela construção civil, o local deixa de ser o destino de agricultores mineiros ou capixabas para se tornar um pólo atrativo de nordestinos que vinham à cidade procurando emprego na construção. A população então se dividia em interesses. Aqueles ainda conectados ao modo de vida agrícola, viviam de pequenas plantações e criações de galinha para subsistência, enquanto outros, principalmente os mais jovens, começaram a se inserir nas obras da região, o que se intensificou daquele momento em diante.

a região


1960

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imagem D

1990 Interesse imobiliário

Desde seu surgimento, o Terreirão sempre esteve sob grande influência do Recreio dos Bandeirantes. Assim sendo, a comunidade também foi fruto da especulação imobiliária, se tornando um local atrativo para classe média. Além das transformações urbanas que a região estava passando, o local também era visto como uma boa oportunidade de investimento por conta do baixo custo (imagem D), pelo fato de estar próximo à praia da Macumba.

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A especulação imobiliária se intensificou nos anos 90, após a realização do Projeto Favela Bairro no Terreirão. O projeto teve um grande impacto econômico e social ao urbanizar e implementar infraestrutura básica no local. No entanto, as carências do projeto são constatadas anos depois uma vez que a infraestrutura planejada para aquela população já é insuficiente após o crescimento populacional.

a região


1990

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imagem E

2012 Valorização local

Neste ano, foi visto um avanço do território formal sobre o informal, se iniciou uma construção de um prédio de 11 andares dentro dos perímetros da Favela Canal das Tachas (segundo Ofício GP No 239/CMRJ em 16 de Junho de 2014, ato omitido por Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro na época). A presença de vazios no Recreio dos Bandeirantes é visível inclusive nos nos dias atuais e cada vez mais a especulação imobiliária avança sobre estes terrenos desocupados com torres residenciais de uso privado, cercadas e distanciadas da rua, mantendo pouca, senão nenhuma relação com

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o meio urbano em que são inseridos,de certa forma carimbados em sequência pelo mercado imobiliário. Estes vazios são de extremo interesse, tanto à especulação (imagem E) quanto à própria comunidade, uma vez que eles representam um respiro em relação à pressão imobiliária e o território uniforme e monótono do Recreio. O uso coletivo destes vazios pode ser de benefício de ambas as partes envolvidas, tanto do território formal quanto informal. Por estarem posicionadas, em sua maior parte, na fronteira da favela com o bairro regular, podem ser utilizados como ambientes de estimulação das dinâmicas sociais da região.

a região


2012

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imagem F

2017 Plano coletivo

Visando uma ocupação coletiva do território que proporcione uma dinamização das relações existentes entre a comunidade e o bairro, além de criar novas situações de ampliação das conexões sociais. Como plano de ocupação urbana para o local, são propostas situações que estimulem um uso contínuo do espaço público e operem em diferentes escalas de relação com o pedestre. Através de diferentes aproximações ao local, através de visitas a campo, entrevista com a AMCT (Associação de

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Moradores do Canal das Tachas) e diagnósticos urbanos, o projeto pretende primeiramente eliminar carências imediatas na escala local, que além de mais rápidas e baratas, são ações de impacto local imediato em um local com menores recursos que o entorno em que está inserido (imagem F). A partir de então maiores intervenções na escala de equipamentos urbanos atuariam como dispositivos âncoras ocupando os vazios remanescentes nas bordas do território informal.

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2017

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figura G

2030 Conexão comunitária

Uma vez consolidades, as estruturas de intervenção serviriam de exemplo para a multiplicação de incentivos coletivos ao longo do bairro, ao dinamizar um contexto urbano pouco atrativo para o pedestre (Recreio dos Bandeirantes). A partir dos dispositivos coletivos implementados nos vazios urbanas nas bordas do Terreirão com o Recreio, seria possível expandir essa rede comunitária para o resto do bairro, extrapolando as fronteiras

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entre formal e informal (imagem G) tanto do ponto de vista urbanísitico quanto social, ao promover elocais de encontro que possam ser apropriados pelo contexto existente. Por fim, nos anos seguintes seria possível aguardar por novas dinâmicas locais mais acessíveis e interativas, aonde o termo “comunidade” não seria utilizado somente para citar a favela local, mas para caracterizar todo o conjunto de moradores do Recreio e do Terreirão como um agrupamento social heterogêneo.

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2030

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Interfaces urbanas uma análise sobre as relações entre Terreirão e Recreio

Suas singularidades urbanas tornam o Terreirão uma forte centralidade na região em que está inserido. Ao longo dos anos se demonstrou um território propício à formação de uma comunidade forte e resiliente. O local se destaca também pela sua morfologia urbana diversificada, seu território plano e sua heterogeneidade dos usos do solo.

Diferente de seu entorno modernista planejado a partir de uma visão determinista e pragmática, a comunidade apresenta características particulares desenvolvidas ao longo de anos de informalidade. A partir de então, maior vitalidade e interações interpessoais no meio urbano são promovidas. O território se torna então mais intenso e vivido pelos seus moradores.

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Cardiograma urbano A diversidade de usos, território heterogêneo e meio urbano mais favorável ao pedestre são características que evidenciam a comunidade em relação ao seu entorno.

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interfaces urbanas


Monotonia envolvente Inserido no território regular e monótono do Recreio dos Bandeirantes, fruto do projeto modernista que privilegiava a separação dos usos e ignorava a interação entre eles, o Terreirão é radicalmente distinto do seu envolvente, se destacando de forma positiva.

Território pulsante A diversidade de usos, território heterogêneo e meio urbano mais favorável ao pedestre são características que evidenciam a comunidade em relação ao seu entorno.

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Tipologias urbanas Recreio dos Bandeirantes

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interfaces urbanas


Tipologias urbanas Favela Canal das Tachas ou TerreirĂŁo

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“If we want to reinvent cities in the twenty-first century, this means returning to the roots, linking urban planning with comunity initiatives in order to learn from each other.�

NOWAK, Wolfgang. entrevista livro Handmade Urbanism

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reconhecimento local


Reconhecimento local registro analítico-fotográfico

A investigação se inicia a partir da aproximação à comunidade e sua relação com o bairro em que está localizada. Através de registros de observações e contatos com os moradores, o objetivo foi estabelecer um vínculo entre o plano urbano e iniciativas coletivas, visando atender demandas locais e gerar uma maior interação social na região e comunitárias. O reconhecimento do local através de observações de como as pessoas usam, ocupam e transformam o espaço, são fundamentais uma vez que o projeto pretende

entender o lugar não só para minimizar as carências mas também reforçar as potências já existentes, construídas pela própria comunidade. A partir de observações e de uma coleta de dados foi possível identificar cinco tipologias viárias, demonstrando uma grande diversidade na comunidade. Alguns tópicos de análise como usos do solo, intensidade de fluxos, volume de movimentação de veículos e presença de vegetação, foram considerados com o propósito de distinguir os eixos viários da região e entender como a população está ocupando o local.

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O bairro O Recreio dos Bandeirantes, um dos bairros que mais cresce e se valoriza no Rio de Janeiro, possui duas vias arteriais principais, a Avenida das Américas, que conecta a Barra da Tijuca à Guaratiba, e a Avenida Lúcio Costa, paralela à praia. Ao longo do bairro, existem vias de menor porte que permitem uma melhor distribuição da circulação interna, direcionando os fluxos de veículos. O Terreirão, por sua vez, está localizado entre as vias arteriais da região (Avenida das Américas e Avenida Lúcio Costa) enquanto é atravessado por uma via de distribuição local, a Avenida Guiomar Novaes. Bem localizada em relação à rede de transportes públicos, a comunidade do Terreirão é uma forte centralidade no local, funcionando como um pólo convergente em um bairro monótono e monofuncional.

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reconhecimento local






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Situação urbana O Terreirão,, devido às suas singularidades urbanas e, centralizado da forma que está inseirod no Recreio dos Bandeirantes, é objeto de grande valor ao bairro. Localizada a 7 quadras da praia da macumba (700 metros) e à mesma distância da Avenidas das Américas, é o centro geométrico entre os dois eixos de maior fluxo da região. Além disso, possui um dos principais trechos de conurbação urbana do bairro, pois é seccionado por uma das principais vias de distribuição do bairro, a Av. Guiomar Novaes, que está na rota de diversas linhas de onibus do Recreio dos Bandeirantes. Em contra-partida e, de certa forma mostrando seu caráter único e atípico, o Terreirão, neste mesmo ponto de concentração de fluxos, possui um fluxo menos intenso através de uma via de caráter mais orgânico e sinuoso, que atua como espinha dorsal da comunidade, direcionando seus fluxos por meio de diversos capilares distribuídos ao longo do eixo principal.

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reconhecimento local


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Formação urbana A partir da sobreposição da análise histórica de mapas aerofotogramétricos com fatos históricos de pesquisas*1, entrevistas e visitas ao local, foi possível entender um pouco melhor o porque da atual composição urbana do Terreirão. Segundo dados do SABREN RJ (Sistema de Assentamento de Baixa Renda), o início da formação da comunidade se deu pelo morro do Rangel, à Sudoeste do seu perímetro atual. Inicialmente por mineiros e capixabas, atraídos pela atividade agrícola, a ocupação se deu em direção oposta ao loteamento do bairro, encarando de frente o empreendimento formal do mercado especulativo. É possível estipular hipóteses de que, muito por conta das condições adversas, enfrentadas pela comunidade durante o seu desenvolvimento, a sua diversidade urbana é tão diversa. original e incomum. No mapa ao lado estão representados os setores do recorte entre Terreirão e Recreio, o que facilita materializar de forma gráfica os resultados da construção do meio urbano. Por exemplo, no setor nordeste da comunidade, justamente aonde se encontra a interface do crescimento do bairro com seus loteamentos formais e o tecido de resistência do meio informal, resiliente no local. Não por coincidência, o mesmo trecho possui o maior adensamento da comunidade. Por outro lado, na mesma interface foi onde se estabeleceu o eixo de maior força e caráter do Terreirão. A Rua Arquiteto, centro de comércio popular da região, atrai todos os dias diversas pessoas de bairros adjacentes ao Recreio, se tornando um local de grande valor à comunidade e ao bairro como interaces de convergência econômico-social. Fatores como este e outros foram trabalhados ao longo do projeto a fim de estabelecer intervenções de caráter local e portanto, de maior e mais fácil absorção social.

*1 DA COSTA, Marcelo Henrique. História dos antigos: memórias de moradores do Terreirão

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Legenda condomínios fechados equipamentos residencial serviços vazios urbanos equipamentos de lazer públicos equipamentos de lazer particulares maior densidade

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Território ilha cenários de avanço, estabilidade, resistência e novas perspectivas

A partir do estudo das transformações ocorridas na região ao longo dos anos, foi possível perceber o caráter de resistência que o Terreirão apresenta perante o bairro em que está inserido, Recreio dos Bandeirantes, uma clara situação de força e firmeza do território informal. A comunidade em toda sua formação e desenvolvimento ultrapassava suas dificuldades internamente, o que formou uma identidade específica do local, que devido à sua passividade e terreno plano, é utilizado intensamente pelo público externo.

formal 46

Como um território ilha mergulhado na formalidade, o Terreirão apesar de apresentar pontos notáveis, como a Rua do Arquiteto (via de comércio popular), ainda tem muitos vazios urbanos a serem explorados. A ocupação destes terrenos com estruturas e atividades coletivas promove a interação social e a ativação do espaço público, além de delimitar o avanço da formalidade, como o exemplo real do edifício de onze andares construído em 2012 dentro dos limites do Terreirão (exemplo página 19).

informal

O TERRITÓRIO “ILHA”


01. Formal x Informal

02. VAZIOS URBANOS

O Terreirão como uma ilha da informalidade no meio do território formal do Recreio do Bandeirantes.

Com alguns vazios urbanos, o Terreirão ainda se encontra em formação e desenvolvimento.

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03. PRESSÃO EXTERNA

04. ESPAÇOS COLETIVOS

Alvo da especulação imobiliária, a comunidade vê alguns casos de avanço do território formal sobre o informal.

A proposta da ocupação destes vazios remanescentes é de criar espaços de convergência social.

05. REDE DINÂMICA

06. POROSIDADE SOCIAL

As intervenções dinamizariam as redes de atividades existentes aumentando a utilização do espaço urbano.

A intensidade das novas conexões sociais no território aumentaria a permeabilidade social local.

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Complexo Canal das Tachas Favela Canal das Tachas (Terreirão) + Vila Amizade

AEIS área de especial interesse social (1996)

93.209 m2

5.986 habitantes

1.998 domicílios fomte: SABREN RJ

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O TERRITÓRIO “ILHA”


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Vias locais diagnóstico fotogrático de movimentação e uso do espaço público na comunidade

O estudo seguinte foi necessário para localizar algumas situações notáveis durante o território informal e, de certa forma, apontar alguns padrões dessa informalidade.

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Através de fotos ao longo dos quatro principais eixos viários da comunidade, a documentação exibe aspectos urbanos impossíveis de serem expressos por palavras ou peças gráficas que não a fotografia.

vias locais


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Av. Guiomar Novaes

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A avenida, como mencionada diversas vezes anteriormente, é um eixo de distribuição do bairro que, até o encontro da comunidade possui uma largura dimensionada para ser compartilhada com bicicletas (entre fotos 1 e 4). No entanto, ao chegar no Terreirão, comprimida pelo território informal (fotos

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5 e 6), cria uma das principais conurbações urbanas do bairro. Influenciado tanto pela grande concentração comercial do local, proveniente da comunidade, quanto pelas diversas linhas de onibus que atravessam a avenida, neste verdadeiro nó urbano é possível ver uma intensa interação entre as interfaces sociais formais e informais e, portanto, de importante papel conectivo e único na região.

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R. Arquiteto

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A Rua Arquiteto é o principal eixo de comércio popular da região. Após esta breve definição é possível elaborar melhor o porque do recente título de “Novo Saara” pela Veja Rio em 2012, A rua, em seu trecho de maior concentração comercial (entre fotos 4 e 5), ao norte é composto por grandes armazéns de único pavimento subdivididos em lojas, ao sul prédios de 1 à 4 pavimentos tem embasamento comercial e, em algumas situações depósitos

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nos andares superiores. No trecho à sudoeste da Avenida Guiomar Novaes uma grande concentração de oficinas de carros ocupam o início da rua, enquanto mais adiante (fotos 2 e 3) existe uma pequena vila decorrente de um projeto social feito no local. No seu trecho final (foto 1), predominantemente residencial, ainda é possivel identificar, através de bares e cabelereiros, resquícios da concentração comercial de outros setores da rua.

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R. Esperança

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“O terreirão era um lugar logo ali descendo a rua esperança número 1. Lá, tinha um espaço, um terreno baldio, onde as crianças que chegavam pra brincar diziam: vamos brincar no terreirão?” Marlúcia 60 anos, moradora Terreirão)*1 Desde o início da formação da comunidada, a rua apresenta uma forte identificação local com o Terreirão. Seu fluxo é realizado principalmente pelos moradores locais e, durante o percurso da via é possível identificar alguns focos comerciais (fotos 1, 2, 3 e 4) como bares, pequenos mercados, cabelereiros,

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entre outros. A rua, curiosamente, possui um trecho estreito (foto 5 e 6) e sem saída (foto 6) , apesar de apresentar diversos capilares ao longo do seu eixo, que distribuem as circulações para as vias paralelas (R. Arquiteto e Av. Canal das Tachas). Definitivamente uma a Rua Esperança transmite as veradeiras relações interpessoais da comunidade e que deve ser objeto de estudo para as intervenções na comunidade, a fim de ampliar o espaço urbano coletivo local. *1 DA COSTA, Marcelo Henrique. História dos antigos: memórias de moradores do Terreirão

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Av. Canal das Tachas

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A Avenida do Canal das Tachas além de dar nome à comunidade (nome registrado Favela Canal das Tachas) é um trecho de caráter singular no local. Claramente setorizada em dois trechos em dois setores, esta borda da favela pode ser diviidida em duas tipologias, aonde através do canal estabelece tanto relações urbanas (trecho leste - fotos 4, 5 e 6), quanto mais naturais (trecho oeste - fotos 1, 2 e 3) com sua margem oposta. O canal é um importante vetor natural do local, uma vez que

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através dele é possível conectar o corredor verde das lagoas da região. Além disso, por meio dele a fauna local de pequenos peixes e jacarés-do-papo-amarelo, também encontra passagem para outros ambientes naturais. O escritório EMBYÁ Paisagens e Ecossistemas, já produziu um projeto para a FMP (Faixa Marginal de Proteção) do local, aonde citou a grande área verde adjacente ao local para ser ocupada como possívell parque para um futuro da comunidade.

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Situações notáveis cenários de destaque no espaço público urbano

A identificação das então chamadas “situações notáveis” segue o diagnóstico fotográfico uma vez que a partir das visitas realizadas para o mapeamento do local foram observadas algumas cenários que se destacam no espaço público urbano do local. A seguir são expostas cinco situações do contexto local que transmitem características tanto positivas quanto negativas, servindo de forma de estudo

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para a definição de propostas imediatas e de rápica execução, atuando nesta escala tática como primeira forma de aproximação interventiva ao local. Procurou-se explorar um caso de cada eixo viário da região, de forma a demonstra de uma maneira geral as situações de apropriação do espaço urbano tanto pela comunidade quanto pelos usuários externos.

situações notáveis


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Interseção Av. Guiomar Novaes com Av. Canal das Tachas A via de mão dupla é o principal ponto de conexão não só do Recreio com o Terreirão como do Recreio com o restante da cidade do Rio de Janeiro. Não à toa, é uma região extremamente comercial, com tráfego intenso de carros, ônibus e pessoas, tanto de dia quanto de noite.

“...a Guiomar Novaes é um grande problema, porque chegando no final dela ela afunila e carros param ali, as motos do outro lado e quando isso acontece os ônibus não passam e para o transito até as Américas” Nivaldo Lins (vice-presidente AMCT)

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situações notáveis


Importante ponto de convergência de fluxos pela importância na conexão entre a Av. das Américas e a praia, além da grande concentração de bares e comércio. O estacionamento de carros ao longo da via se torna um obstáculo à mobilidade, uma vez que a via possui um fluxo intenso, além de um afunilamento para o atravessamento do canal

Utilização imprópria do espaço público como depósito para o mercado

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Trecho R. Arquiteto Predominantemente comercial, a Rua do Arquiteto possui um tráfego intenso de automóveis principalmente aos finais de semana quando o comércio é mais movimentado. O espaço entre carros e pessoas não é definido, tornando a região um tanto quanto caótica.

“...a Rua do Arquiteto passou a ser uma rua estritamente comercial, ela até tem alguns moradores. A gente ja tentou viabilizar um estudo ali para ver se criamos um calçadão, mas ai tem moradores e ai tem a historia do carro do morador que não tem onde deixar e quer deixar em frente a sua casa” Nivaldo Lins (vice-presidente AMCT)

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situações notáveis


Importante eixo comercial. É aonde se localiza a maioria das lojas da comunidade além de atrair um público externo.

O passeio é utilizado como uma extensão do espaço interno das lojas.

Durante toda a sua extensão, a via possui mão única e uma faixa para estacionamento. Pedestres dividem as ruas com carros devido à falta de espaço nas calçadas.

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Trecho R. Esperança Morfologicamente distinta do entorno pela sua forma sinuosa, é a rua com menor tráfego de veículos na comunidade e se conecta com as outras ruas através de passagens estreitas ao longo do seu percurso.

“Um grave problema que nós temos aqui são os postes de luz, a maioria ainda de madeira no meio da rua e às vezes tombado em cima de uma casa. Os postes que são de madeira já estão com a base apodrecida e tem uns dois ou três que já estão com a fiação caída em cima da casa.” Nivaldo Lins (vice-presidente AMCT)

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situações notáveis


Estacionamento irregular de veículos sobre o passeio.

Pequenas deformações no curso da rua proporcionam espaços de grande potencial.

O poste de luz é um obstáculo à circulação.

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Trecho Av. Canal das Tachas Possui pouca atividade comercial ainda que seja bem movimentada pela relação urbana estabelecida com o outro lado do canal. A rua ainda apresenta trechos não pavimentados e sem guarda-corpo, representando um perigo à comunidade, devido à presença de jacarés no canal.

“...a Guiomar Novaes é um grande problema, porque chegando no final dela ela afunila e carros param ali, as motos do outro lado e quando isso acontece os ônibus não passam e para o transito até as Américas” Nivaldo Lins (vice-presidente AMCT)

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situações notáveis


O espaço interno de bares é utilizado como um local de encontro dos moradores.

Concentração vegetativa ao final da via sendo utilizada como sombreamento para carros estacionados.

Conexões precárias ao longo do canal.

Grande parte dos trechos da rua não possuem pavimentação e meio-fio para circulação de pessoas. Estacionamento intenso de veículos ao longo da margem do canal.

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Trecho Av. Canal das Tachas Seria estritamente residencial não fosse poucos pontos comerciais no seu começo e fim. Durante todo o seu percurso há uma grande concentração de entulho e lixo ao longo da via, demonstrando o descaso com o meio urbano.

“...a Guiomar Novaes é um grande problema, porque chegando no final dela ela afunila e carros param ali, as motos do outro lado e quando isso acontece os ônibus não passam e para o transito até as Américas” Nivaldo Lins (vice-presidente AMCT)

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situações notáveis


O poste de luz é um obstáculo à circulação. Estacionamento irregular de veículos sobre o passeio.

Varal de roupas improvisado Grande concentração de materiais de obras, entulho e lixo ao longo do passeio, impossibilitando o uso do mesmo pelos pedestres.

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situações notáveis


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Aproximação relatos de moradores e o contato com a AMCT (Associação de Moradores do Canal das Taxas)

A investigação se inicia por meio da aproximação à comunidade, através de registros de observações e contatos com os moradores, a fim de estabelecer um vínculo entre o plano urbano e iniciativas comunitárias. O reconhecimento do local através

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de observações de como as pessoas usam, ocupam e transformam o espaço, são fundamentais uma vez que o projeto pretende entender o lugar não só para minimizar as carências mas também reforçar as potências já existentes, construídas pela comunidade.

Aproximação


Reunião de moradores fonte: facebook - página AMCT (Associação de Moradores do Canal das Taxas) Dispositivos coletivos como instrumentos de convergência social

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AMCT (Associação de Moradores do Canal das Taxas) A sua criação foi fruto da união entre os habitantes locais em busca por melhores condições de vida em uma época que a comunidade se encontrava isolada e sem amparo público. Portanto, neste sentido, a associação foi vista como a melhor alternativa para uma primeira aproximação, em um momento que a comunidade já recebe apoio público do governo mas ainda apresenta dificuldades a serem trabalhadas.

Assim sendo, a busca por uma entrevista com os responsáveis pela associação dos moradores se tornou uma ferramenta fundamental para entender melhor o funcionamento da área e de como as pessoas usam a comunidade, relatando desde os problemas encontrados poreles até as soluções realizadas pelos mesmos.

Aproximação AMCT O trecho seguinte da pesquisa irá examinar as carências locais a partir de um paralelo entre a análise observatória do local e as entrevistas realizadas com o presidente e vicepresidente.

Francisco Franco (presidente AMCT)

NIvaldo Lins (vice-presidente AMCT)

O trecho seguinte da pesquisa irá examinar as carências locais a partir de um paralelo entre a análise observatória do local e as entrevistas realizadas com o presidente e vicepresidente.

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Aproximação


“O terreirão era um lugar logo ali descendo a Rua Esperança número 1. Lá, tinha um espaço, um terreno baldio, onde as crianças que chegavam pra brincar diziam: vamos brincar no terreirão?”

Marlúcia (moradora do Terreirão) trecho retirado da pesquisa “História dos antigos: memórias de moradores do Terreirão”

“A rua do arquiteto passou a ser uma rua estritamente comercial, mas ainda tem alguns moradores. A gente ja tentou viabilizar um estudo ali para ver se criamos um calçadão (...) um calcadao que você poderia usar durante a semana e final de semana (...)” Nivaldo Lins (vice-presidente AMCT) “O que acontece aqui, um dos grandes problemas é essa questão do aluguel. Porque a pessoa vem aqui morar três, quatro meses, então ela não tem aquilo como “seu”, o apreço por aquilo.” Nivaldo Lins (vice-presidente AMCT)

“...antes, a minha casa era de teto de amianto, muito quente e pequena. Eu ficava aqui na calçada a tarde toda, tomando uma cervejinha e fritava uma carninha. Aí, vinha a vizinha dali (aponta para um lado) e de lá (aponta para outro)e ficávamos de papo até altas horas”

Maria Aparecida, 71 anos (moradora do Terreirão) trecho retirado da pesquisa “História dos antigos: memórias de moradores do Terreirão”

“É muito material de construção, as pessoas constroem e jogam em qualquer lugar. A maior dificuldade da nossa comunidade atualmente é a conscientização” Franciso Franco (presidente AMCT) Dispositivos coletivos como instrumentos de convergência social

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Desenho de via de pedestre Intervenção de caráter de desenho urbano em um dos pontos de maior concentração de fluxos de pedestres e automóveis na região, pois é aonde se localiza o comércio popular da comunidade, que atrai diversos usuários.

Recuperação das quadras poliesportivas A recuperação das quadras deve se dar através de um equipamento multifuncional que promova a melhor utilização e dinamização do espaço atual.

Projeto Embyá - Paisagens & Ecossistemas (Faixa Marginal de Proteção Canal das Taxas) Projeto existente do escritório de paisagismo para as margens do canal com extensão à este terreno vazio através de uma proposta de parque.

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Aproximação


Reorganização da rede elétrica A presença de muitos postes de madeira podres na região assinalada foi fator primordial para a reorganização elétrica da rua, começando neste ponto e se extendendo por toda a R. Esperança.

Tratamento da margem do canal Plano de pontes sobre o canal As conexões sobre o canal hoje em dia são muito precárias e em alguns pontos ineficientes. A proposta de novas conexões pretende auxiliar nos fluxos entre uma margem e outra do Canal das Tachas.

O trecho selecionado para o tipo se intervenção se dá pela desorganização espacial encontrada no local, uma vez que em uma rua sem calçada nem pavimentação os pedestres se dividem com carros em movimento, estacionados, além de trechos sem guarda-corpo no canal.

Dispositivos coletivos como instrumentos de convergência social

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Estratégias de ação A proposta do projeto inicia com um ato de reconhecimento do território da favela, identificando os pontos notáveis do local, desde suas potencialidades até suas carências. Através de operações em soluções pontuais que auxiliem na melhoria da vitalidade do espaço urbano da comunidade. Portanto, a implantação de dispositivos coletivos pretende explorar espaços

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que abriguem situações já existentes e promovam novos usos e cenários de relações interpessoais. As intervenções pretendem servir como um exemplo local ao promover um desenvolvimento dos moradores, tornando-os agentes multiplicadores atuantes no processo de fortalecimento dos vínculos sociais.

Aproximação



Trabalho de ConclusĂŁo de Curso Departamento de Arquitetura e Urbanismo PUC-Rio Rio de Janeiro, 2016

DAU PUC-Rio


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