Entrevista

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| ENTREVISTA | com VICTOR HERDEIRO

Custos e assistĂŞncia t 1Ă˜T HSBEVBEP FN %JSFJUP EB .FEJDJOB GPJ BENJOJTUSBEPS EP )PTQJUBM *OGBOUF % 1FESP EJSFUPS EP 4FSWJĂŽP EF "QSPWJTJPOBNFOUP F )PUFMFJSP EP )PTQJUBM (FSBM EF 4BOUP "OUĂ˜OJP t 1FSUFODF Ă‹ EJSFĂŽĂ?P EB "TTPDJBĂŽĂ?P EF "ENJOJTUSBEPSFT )PTQJUBMBSFT 1PSUVHVFTFT F FTUĂˆ OP #PBSE EB &VSPQFBO "TTPDJBUJPO PG )PTQJUBM .BOBHFST

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omo conseguir o equilĂ­brio financeiro e oferecer assistĂŞncia com qualidade e eficiĂŞncia Ă população? Essa serĂĄ a temĂĄtica do Congresso Internacional de Serviços de SaĂşde-CISS 2016, promovido pela Hospitalar Feira+FĂłrum em SĂŁo Paulo, nos dias 18 e 19 de maio. Victor Herdeiro, docente em Direito e Administrador Hospitalar pela Escola Nacional de SaĂşde PĂşblica – ENSP de Portugal, ĂŠ um dos palestrantes internacionais confirmados. Ele conta, com exclusividade Ă Revista Melhores PrĂĄticas alguns assuntos que serĂŁo apresentados no evento.

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Em maio, o senhor estarå no Brasil para um evento sobre Economia na Saúde. Poderia antecipar o que serå discutido? Abordarei a questão do financiamento por DRGs (Diagnosis-related group) e financiamento per capita em contraposição ao modelo existente no Brasil, o fee for service, que Ê alicerçado na quantidade de produção. E qual a sua anålise sobre esses modelos de pagamento, considerando tambÊm uma nova modalidade chamada de pagamento combinado? A grande desvantagem do fee for service Ê que estå baseado em um sistema que oferece aos prestadores um cheque em branco. Quem decide quanto gastar sabe que haverå cobertura financeira para as suas decisþes.

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Jå o DRG, amplamente adotado pelos sistemas públicos de saúde europeus, estå baseado em um sistema de classificação de doentes. Os Diagnosis Related Groups-DRGs, ou Grupos de Diagnósticos Homogêneos (GDH), surgiram como uma via de introdução do pagamento por episódio de doença no sistema hospitalar. Ao se pagar um montante correspondente a todo o episódio de internação (e não pagamentos separados pelos ser viços prestados durante esse episódio), cria-se alguma pressão para que os prestadores exerçam controle sobre os seus custos, de forma a não ultrapassarem os preços estabelecidos naquela classificação. O pagamento combinado se baseia na condição de saúde do paciente. Isso me parece um sistema ambicioso e por isso positivo, mas ainda com


muito pouca maturidade. Necessita de aperfeiçoamento, sobretudo no que diz respeito à definição do que é a “condição de saúde do paciente” e em que consiste o “ciclo de cuidado completo”. Qual a forma de financiamento da saúde em Portugal? Como funciona o sistema de saúde português? Nós temos um Serviço Nacional de Saúde (SNS) desde 1979, universal e financiado pelo Estado. Há também uma taxa simbólica que chamamos de taxa moderadora, que os cidadãos pagam ao utilizar um serviço. Em média, 50% da população portuguesa é isenta dessa taxa, são idosos, crianças, doentes crônicos ou pessoas que possuem renda muito baixa. Já os hospitais, a maioria públicos, têm na gestão uma característica singular em que a unidade é responsável por atender determinado território (população) e oferecer cuidados primários. Por exemplo, eu dirijo a unidade de Matosinhos, onde temos um hospital e um centro de saúde de atenção primária. Sobre o financiamento, o hospital contratualiza com a Administração Central do Sistema de Saúde – ACSS (instituição ligada ao Ministério da Saúde) o volume de produção e, dessa forma, é gerado o orçamento para aquele hospital. Juntamente com essa contratualização, há as metas de indicadores que o hospital deve atingir durante o contrato, os chamados KPIs (Key Performance Indicator). Há KPI de segurança, qualidade e, também, de eficiência econômica. É importante ressaltar que o financiamento é feito de forma per capita, ou seja, cada unidade tem seu território populacional de atendimento, e isso é considerado no orçamento. Essa é uma forma muito inovadora de gerir

a saúde, temos exemplos na Espanha, Reino Unido e em vários países da Europa. Podemos afirmar que o SNS é um sistema sustentável? As questões do envelhecimento e da compra de medicamentos inovadores são enormes desafios. A população portuguesa está cada vez mais velha, ou seja, no futuro teremos ainda mais idosos para tratar. A questão da inovação terapêutica também é um desafio. Em geral, novos medicamentos que possuem evidência de eficácia são caríssimos. Esses são desafios que o SNS tem pela frente. Tem que ter muito critério na hora de decidir as prioridades do serviço de saúde, quais as inovações devem receber mais investimentos e quais áreas ficarão com a menor parcela do orçamento. Em contrapartida, o SNS tem como premissa investir na prevenção. Se eu tenho um centro de saúde de cuidados primários anexado ao hospital, é fato que vou gastar menos com hospitalização a partir do momento em que evito que as pessoas fiquem doentes na minha área de atuação. O Sr. citou que os hospitais têm metas para cumprir. O que acontece se a unidade de saúde não atingir os indicadores combinados na contratualização? O hospital ou centro de saúde sofre uma penalização. Para se ter uma ideia, a unidade de saúde de Matosinhos tem um orçamento, grosso modo, de 100 milhões de euros. As metas que nós temos de cumprir equivale a 10% desse orçamento e, se não as atingir mos, teremos penalizações financeiras. Lembrando que não são somente as metas de qualidade assistencial, mas também as de eficiência econômico-financeira.

Tem que ter muito critério na hora de decidir as prioridades do serviço de saúde, quais as inovações devem receber maiores investimentos e quais áreas ficarão com a menor parcela do orçamento

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Como o gestor acompanha a evolução do atendimento e o cumprimento das metas? O sistema de contratualização Ê feito em cascata numa lógica year-to-date. Hå a contratualização externa dos serviços, entre o MinistÊrio da Saúde e os hospitais, e a contratualização interna, dos hospitais com seus vårios departamentos. O year-to-date vai monitorar as duas formas de contratualização. Por exemplo, se eu contratei 1.200 consultas no ano, daria uma mÊdia de 100 consultas por mês; o year-to-date monitorarå se estou dentro ou fora da curva mês a mês. O sistema sinaliza por cores (verde, amarelo e vermelho) a evolução de cada indicador, e o gestor tem o controle de cada departamento envolvido, como o MinistÊrio tem o controle de cada unidade. Hå diversos modelos de gestão bemsucedidos na saúde privada. O que o Sr. destacaria que poderia ser aplicado na administração pública? Em meados de 2003/2004, implementei a metodologia Lean no Departamento de Aquisição e Logística do Hospital Geral de Santo António. O impacto foi imediato e reduziu substancialmente o volume de materiais estocados. Para se ter uma ideia, fazíamos estoque para 70 dias e passamos para 18 com o Lean. O custo com insumos foi reduzido, e o dinheiro economizado pôde migrar para outras åreas do hospital. Essa Ê uma metodologia que pode ser aplicada em vårias åreas de um hospital, e a gestão pública ganharia com a redução de custos, agilidade dos processos e qualidade na entrega dos serviços.

No site da unidade Matosinhos, hĂĄ um aviso que diz “O acesso a saĂşde vai mudarâ€?. O que pode nos adiantar sobre essa novidade? Desenvolvemos um aplicativo em que os clientes poderĂŁo agendar e desmarcar consultas, pagar as taxas moderadoras, ter acesso ao tempo de espera dos atendimentos de urgĂŞncia e resultados de exames, entre outros serviços. TambĂŠm haverĂĄ um QRCode no qual o prĂłprio cliente pode dar o “alertaâ€? que chegou Ă unidade para realizar a consulta, sem ter a necessidade de interagir com a recepção, e o mĂŠdico recebe a mensagem de que o paciente chegou. O objetivo ĂŠ facilitar o acesso e oferecer outras formas de interação com o sistema.

O sistema sinaliza a evolução de cada indicador, e o gestor tem o controle de cada departamento envolvido, como o MinistÊrio tem o controle de cada unidade

CISS 2016 – ECONOMIA DA SAÚDE Alguns assuntos que serão abordados: t $PNP &TUBEPT 6OJEPT &TQBOIB F 'SBOÎB FTU�P DPOTFHVJOEP JOUFHSBS P EJSFJUP Ë TBÞEF F P BTQFDUP FDPOÙNJDP t %FCBUF EF UFNBT NBDSPFDPOÙNJDPT F NJDSPFDPOÙNJDPT t #VTDB EF FýDJ�ODJB EB HFTU�P EPT TJTUFNBT QÞCMJDPT F QSJWBEPT EPT TFSWJÎPT IPTQJUBMBSFT EBT VOJEBEFT BTTJTUFODJBJT F EPT QSPýTTJPOBJT N�EJDPT RVF BUVBN OB PQFSBÎ�P EFTUFT TJTUFNBT

INFORMAÇÕES EM: XXX IPTQJUBMBS DPN QU GPSVN DPOHSFTTP DJTT WJTJUBOUF

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