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QUANDO O RESULTADO CLÍNICO NÃO É TUDO Projeto piloto de hospitais brasileiros quer medir impactos do tratamento na qualidade de vida do paciente 1PS 'FMJQF $ÏTBS
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ur ante sua par ticipação por videoconferência no 3º Conahp Congresso Nacional de Hospitais Privados, Robert Kaplan, membro sênior e professor emérito de Desenvolvimento de Lideranças e Administração de Empresas da Harvard Business School, provocou: “Estamos envolvendo o paciente nas decisões que envolvem o próprio cuidado?”. Na opinião do especialista, um paciente bem informado sobre as diferentes possibilidades de tratamento e suas respectivas consequências pode surpreender ao optar por um tratamento menos efetivo, mas que lhe permita mais
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qualidade de vida. “Temos que entregar o que importa para os pacientes”, concorda Luiz Felipe Gonçalves, diretor técnico e superintendente médico assistencial do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre. Para Kaplan, para se atingir essa qualidade no “valor entregue” é preciso mensurar os resultados clínicos e não clínicos.
RESULTADOS CLÍNICOS Ele explica a excelência na mensuração de resultados clínicos a partir do traballho que vem sendo desenvolvido por um centro de oncologia na Alemanha. Fundado há 20 anos, o centro é uma Unidade de Prática Integrada especializada em câncer de próstata, com nove cirurgiões e 33 enfermeiros. Para cada paciente há um registro de histórico clínico que continua a ser alimentado mesmo depois da alta. “Após 2 ou 3 anos, o paciente recebe uma ligaçãopara
responder sobre sua condição geral de saúde. Após 5 anos, é convidado a retornar para uma avaliação física. O resultado são 90% de respostas nas pesquisas pós-cirúrgicas. Já há dados compilados de cerca de 20 mil pacientes”, conta o professor. A cada seis meses, a equipe de cirurgia se reúne, discute os resultados processados e define estratégias. “O poder real desse processo é usar o resultado para o aprendizado e melhoria e para identificar e transferir as melhores práticas. Isso é de um poder imensurável e, infelizmente, muito mal usado no sistema de saúde”, destaca Kaplan. Outra grande vantagem é a construção de indicadores sólidos, com larga vantagem quando comparados aos do sistema de saúde da Alemanha para esse tipo de câncer.
RESULTADOS NÃO CLÍNICOS Ainda tomando como fio condutor o tratamento do câncer de próstata, o nível de satisfação do paciente poderia ser abaixo do esperado, mesmo se o resultado clínico fosse favorável, se, por exemplo, ele passasse a ter dificuldades para urinar ou ter relações sexuais. Uma das mais conhecidas metodologias para mensurar a qualidade de vida do paciente após o ciclo de cuidado se dá pela aplicação de questionários, os chamados Patient Reported Outcomes Measurement (PROM) ou Patient Reported Outcomes (PRO). A ideia é submeter o questionário ao paciente no pré-operatório ou antes do tratamento medicamentoso, e depois nas consultas de retorno, para saber como ele está desenvolvendo as atividades do dia a dia após a cirurgia.
As perguntas abaixo são um exemplo do que é importante saber do paciente: t $PNP FTUÈ TVB EJTQPTJÎÍP QBSB TVBT atividades diárias? t $PN RVBM GSFRVÐODJB WPDÐ SFBMJ[B BUJWJEBEF física? t $PNP FTUÈ TFV DPOUBUP TPDJBM t $PNP FTUÈ TVB WJEB TFYVBM t $PNP BOEB TFV EFTFNQFOIP OP USBCBMIP “A dificuldade de aplicar esse tipo de
questionário é que há necessidade de manter regularmente o contato com o paciente. Tem que ter uma estrutura dedicada de pessoal, com questionários e protocolos, para poder fazer isso de forma eficiente e adequada”, comenta Luiz Felipe Gonçalves. De acordo com o superintendente, o projeto para esse tipo de desfecho no Hospital Mãe de Deus está em nível de planejamento. O objetivo da instituição é implantar a mensuração na Oncologia e, posteriormente, na linha de tratamento do AVC.
CASO PRÁTICO HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ O Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC), em São Paulo, começou um projeto piloto de PROM em pacientes submetidos a cirurgia bariátrica. Trata-se de um projeto pioneiro no Brasil. Inicialmente, o médico atende o paciente e traça metas de cuidados que irão influenciar seu plano terapêutico. Na consulta, é detalhado ao paciente o “que vai acontecer”, “como é que ele tem que se recuperar”, “que tipo de dor ele pode sofrer” e “que atitude ele deve ter”. “O mais importante para o paciente é saber em quanto tempo voltará ao trabalho, se terá dor, se acordará durante a anestesia, são questões que refletem a visão dele”, afirma Mauro Medeiros Borges, superintendente médico do hospital. “O foco do atendimento é o paciente. Então nada mais justo que um indicador que leve em consideração o que importa para ele. Essa é a essência”, complementa. Dando continuidade ao processo, são ainda aplicados dois questionários, desenvolvidos pela Faculdade de Saúde Pública do Estado de São Paulo. O primeiro, dias antes da cirurgia com questões relacionadas a qualidade de vida. O segundo é aplicado um ano após a realização do procedimento. “É também possível aplicar este método para avaliar o impacto de um tratamento por quimioterapia em casos de câncer”, explica
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Ă?caro Boszczowski, mĂŠdico coordenador do projeto piloto. A previsĂŁo ĂŠ que os primeiros resultados sejam publicados atĂŠ o final de 2016. “NĂłs estamos estudando a metodologia hĂĄ alguns anos. É uma coisa recente, nĂłs fomos em 2006-
2007 para Boston e, ano passado, visitamos o St Thomas Hospital e vimos como funciona no sistema de saúde inglês, o NHS. A ideia Ê aplicar o PROM em outras especialidades dentro do hospital�, conclui Borges.
PARA SABER MAIS SOBRE O PROM “COMO A EXPERIĂŠNCIA É A PERCEPĂ‡ĂƒO DO PACIENTE, VOCĂŠ TEM QUE ENTENDER COMO É A QUALIDADE DE VIDA DELE DIANTE DA PATOLOGIA E AVALIAR UM TEMPO DEPOIS DA INTERVENĂ‡ĂƒO, COMO ESTĂ A VIDA DELE DEPOIS DA CIRURGIAâ€?
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REFERĂŠNCIAS
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1. Natålia Fontes Caputo de Castro, Carlos Henrique Alves de Rezende, Tânia Maria da Silva Mendonça, Carlos Henrique Martins da Silva, RogÊrio de Melo Costa Pinto