[Relatório] Paisagem:Fronteira - OFÍCIO

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Curitiba, 29 de junho de 2009

Ofício 01/2009 Assunto: Relatório do projeto “Paisagem: Fronteira – pesquisa fotográfica contemporânea” contemplado pela Fundação Nacional de Artes – FUNARTE, através do Programa de Bolsas de Estímulo à Criação Artística – Fotografia

Prezado Senhor,

Sirvo-me do presente para apresentar o relatório de atividades artísticas realizadas até o presente momento. Afirmo até o presente momento, pois este projeto/pesquisa apoiado por esta instituição fomentadora da cultura em nosso país seguirá tendo continuidade. A pesquisa terá continuidade, ou desdobramentos. Os projetos dos desdobramentos, situações de apresentações do projeto, e das continuidades da pesquisa serão apresentados no Relatório. Também consta neste Relatório, além do material produzido durante a pesquisa, dos projetos que serão realizados, a apresentação das ex-posições/apresentações realizadas até o presente momento. O projeto tomou uma cara múltipla ao espalhar-se por diversos pontos. Partindo da experiência nas cidades do Chuí-BR e Chuy-URU, que são apenas uma cidade, não fosse a fronteira que as divide; num segundo momento a dificuldade para encontrar, com fotógrafos locais, material de acervo/arquivo fotográfico; e ainda das conversas durante, antes e depois, a experiência na fronteira com pessoas daquela localidade e com outros artistas/pesquisadores a pesquisa foi construindo seus próprios espaços de apresentação e circulação artísticos. A idéia de pensar o espaço da fronteira através de conceitos de mobilidade, fluidez e interação, somada a baixa, para não dizer nula, institucionalização cultural do lugar de pesquisa, bem como a invisibilidade sócio-cultural contribuiu para a construção de propostas/estratégias/táticas artísticas que buscam pensar este espaço da fronteira através da fotografia. A fotografia aqui, por situações encontradas no decorrer da pesquisa, é pensamento, antes da sua materialidade (cópia, revelação, impressão, ampliação). As situações que causaram este mote da pesquisa foram: o fato (abordado no interior do relatório)


de não haver mais os acervos dos primeiros e principais fotógrafos locais (Gordo Roberto e Carlos Ibarra); e constatar que alguns trabalhadores que freqüentam a fronteira há uns 15 anos, aproximadamente, não terem em seus locais de origem qualquer imagem/recordação do local visitado para trabalho (apresentado no interior do relatório). Estas situações experimentadas provocaram algumas situações de inserção social como uma “prestação de serviço”: os trabalhadores que não tinham fotografias/imagens foram fotografados em seus locais de trabalho e receberam estas fotografias; em outro momento houve a restauração de uma fotografia de parte da família de Nayf (era a única imagem da parte palestina de sua família – avô, pai e tios). Outro momento de construção desta pesquisa foi uma inserção na rádio local quando apresentei o projeto para a comunidade local. Assim sendo podemos citar algumas exposições/apresentações desta pesquisa: 1. “prestação de serviço”. Esta situação provocou na prática/produção artística uma orientação para o processo, pois mais do que materializar-se objetualmente, a proposição simplesmente acontece. Há a necessidade, para acontecer, de interação com a comunidade (caso dos vendedores de rede) que ao mesmo tempo em que participa da proposição é o público/audiência desta, e também co-autora no ato de criação/pensamento. Neste mesmo sentido o artista é co-autor e público da proposição. 2. “inserção na rádio”. O fator que causou o deslocamento até a rádio, esta como um espaço de apresentação/exposição do projeto/pesquisa, foi a ausência do acervo fotográfico do Carlos Ibarra e do Gordo Roberto, assim como a disponibilidade e acessibilidade do radialista Heber Alegre através de seu programa diário “sin preconceitos”. Além de já haver participado do programa apresentando o projeto “paisagem: fronteira” está programada uma entrevista para dia 21/07, com Carlos Ibarra, que falará sobre o seu acervo. Esta entrevista será uma exposição do/sobre seu acervo pessoal que foi perdido. 3. “apresentação”. Outro modo de apresentação/exposição/construção da pesquisa/projeto “paisagem: fronteira” é a sua literal apresentação do trabalho realizado até o momento em que é apresentado. A primeira apresentação/exposição ocorreu para um grupo de pesquisadores (professores e alunos) do curso de Artes Visuais da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC no dia 30 de abril de 2009. Esta exposição apresentou a pesquisa através de textos (todos apresentados neste relatório), mapas, livros e fotografias (todas apresentadas neste relatório, no DVD anexo). A exposição começou com a apresentação do projeto enviado à FUNARTE, passando pelo relato da experiência no Chuí(y), questões fotográficas, imagéticas, artísticas pensadas pela permanência no Chuí(y). Outra apresentação/exposição do projeto é a que ocorre


neste momento através da escritura, posteriormente da leitura deste próprio relatório. Há outras duas apresentações programadas: a primeira nos dias 22, 23 e 24 de julho de 2009 na Oficina (loja)fotográfica do Carlos Ibarra. Esta apresentação terá ainda uma conversa com o próprio Carlos Ibarra e uma oficina (curso) de fotografia e site-specific numa tentativa de dividir não apenas os resultados de um projeto artístico, mas um modo de pensar o trabalho. A outra apresentação já programada será na segunda quinzena de outubro/2009, no Núcleo de Estudos da Fotografia, Curitiba/Pr. 4. “Oficina do Ibarra”. Entre os dias 22, 23 e 24 de julho a oficina (loja) do Ibarra será, concomitante ao funcionamento normal da loja, um espaço para a apresentação/exposição do projeto/pesquisa “paisagem: fronteira”. A pesquisa será apresentada através de fotografias, conversas, vídeos e textos, além de uma oficina (curso) e uma entrevista com Carlos Ibarra (sua experiência com a fotografia, com a fronteira), e se possível com Heber Alegre. Essa oficina (curso) poderia ter ocorrido em meses anteriores, mas ocorre apenas agora, pois foi o tempo necessário para a interação e negociação com a comunidade. Nunca foi o propósito de este projeto chegar ao Chuí(y) com um projeto pronto, acabado, bastando o aluguel de um espaço institucional para convidar a comunidade para visitar a exposição/evento, e ainda estar na agenda de entretenimento da região. O propósito sempre foi o de criar possibilidades de colaboração, de conversas com a comunidade o que motivou optar por um projeto que fosse infiltrado/absorvido pela freqüência da comunidade. Ao invés de uma um espetáculo/entretenimento, apenas mais um acontecimento no cotidiano. 5. “relatório”. Quando a proposição artística existe pela própria experiência artística, neste caso a permanência no Chuí(y), prestação de serviço, inserção na rádio, apresentação a grupos, loja do Ibarra, o público/audiência é um público privilegiado, e muitas vezes o único. Num primeiro momento o público/audiência são os mesmos que participam da experiência artística, muitas vezes sendo também co-autores. Estes projetos, apesar de não trabalharem com grandes audiências, como os espetáculos, trazem para dentro dos trabalhos uma parte do público freqüentemente ausente das instituições de arte. A possibilidade de ser acessado por uma audiência ampliada, ou a possibilidade de uma maior circulação destas proposições artísticas, realiza-se através de publicações on-line, impressos, livros, ou relatórios como no caso deste projeto. Este relatório, portanto, não é apenas uma prestação de contas, mas uma forma de exposição/apresentação do projeto/pesquisa “paisagem: fronteira”. O relatório não é uma informação secundária sobre o projeto, mas uma informação primária, pois é parte constitutiva da proposição artística. É, por fim, mais uma forma de apresentação/exposição que torna pública a pesquisa artística que vem sendo realizada.


6. “publicação”. Este relatório, somado com a prestação de serviços, as inserções na radio, as apresentações, textos produzidos, vídeos produzidos durante a pesquisa, e fotografias produzidas também durante a pesquisa serão reorganizados para a possível publicação de um livro.

Estou encaminhando este ofício como parte do relatório contendo a apresentação/exposição de toda a pesquisa realizada até o presente momento, bem como suas publicizações (apresentação/exposição).

Atenciosamente,

Felipe Prando


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