Feneis Revista 26

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ANO V Nº 26 Outubro–Dezembro de 2005



palavra do presidente

FENEIS DIRETORIA Diretor-Presidente Antônio Mário Sousa Duarte Diretor Primeiro Vice-Presidente Marcelo Silva Lemos Diretor Segundo Vice-Presidente Antônio Carlos Cardoso Diretora Administrativa Flaviane Reis do Carmo Diretor Financeiro e de Planejamento Max Augusto Cardoso Heeren Diretora de Políticas Educacionais Marianne Rossi Stumpf DIRETORIAS REGIONAIS Rio de Janeiro – RJ Diretor Regional: Walcenir Souza Lima Porto Alegre – RS Diretor Regional: Wilson Miranda Diretora Regional Administrativa: Vânia Elizabeth Chiella Diretora Regional Financeira: Denise Kras Medeiros Teófilo Otoni – MG Diretor Regional: Luciano de Sousa Gomes Diretora Regional Administrativa: Sueli Ferreira da Silva Diretora Regional Financeira: Rosenilda Oliveira Santos Recife – PE Diretor Regional: Marcelo Batista Diretor Regional Administrativo: Benevando Magalhães Faria Diretor Regional Financeiro: César Augusto da Silva Machado Brasília – DF Diretor Regional: César Nunes Nogueira Diretor Regional Financeiro: Antônio Palhares Torres Ribeiro Belo Horizonte – MG Diretora Regional: Rosilene Fátima Costa Rodrigues Novaes Diretor Regional Financeiro: Antônio Campos de Abreu São Paulo – SP Diretor Regional: Neivaldo Augusto Zovico Diretor Regional Financeiro: Richard Van Den Bylaardt Curitiba Diretora Diretora Diretora

– PR Regional: Karin Lílian Strobel Regional Administrativa: Iraci Elzinha Bampi Suzin Regional Financeira: Márcia Eliza de Pol

Manaus – AM Diretor Regional: Marlon Jorge Silva de Azevedo Diretora Regional Financeira: Waldeth Pinto Matos Fortaleza - CE Diretor Regional: Willer Cysne Prado e Vasconcelos Diretora Regional Administrativa: Andréa Michiles Lemos Diretor Regional Financeiro: Joelisson José Maciel Ribeiro Florianópolis – SC Diretor Regional: Fábio Irineu da Silva Diretora Regional Administrativa: Idavania Maria de Souza Basso Diretor Regional Financeiro: Deonísio Schmitt CONSELHO FISCAL Efetivo 1º Membro Efetivo e Presidente – José Tadeu Raynal Rocha 2º Membro Efetivo e Secretário – Carlos Eduardo Coelho Sachetto 3º Membro Efetivo – Moisés Gazalé Suplentes 1º Membro Suplente – Luiz Dinarte Faria 2º Membro Suplente – Josélio Coelho CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Carlos Alberto Góes Sílvia Sabanovaite Betiza Pinto Botelho

Shirley Vilhalva Marcus Vinicius Calixto

EDITORIA Conselho Editorial Walcenir Souza Lima Flávia Mazzo Rita de Cássia Madeira Nádia Mello Secom – Setor de Comunicação Rita de Cássia Madeira

Editora e Jornalista responsável Nádia Mello (MT 19333) Diagramação Olga Rocha dos Santos

Estamos na reta final de mais um ano. Muitas conquistas marcaram 2005 e não foram poucos os momentos que expressaram a força da luta dos Surdos no Brasil. A comunidade surda brasileira em diversas regiões se mobilizou para contribuir com sugestões para a regulamentação da Libras, novos surdos tiveram acesso ao mercado de trabalho, os intérpretes se reuniram em busca de aprimoramento e reconhecimento profissional, e a Língua de Sinais, por meio de cursos realizados em todo o país, foi mais difundida na sociedade. No entanto, este ano mais do que nos anos anteriores o Dia do Surdo ganhou projeção nacionalmente, contando com eventos significativos no Rio de Janeiro e em vários Estados. O surdo teve também a oportunidade de, ao lado de outras áreas de deficiência, participar da Novela América, transmitida pela TV Globo (matéria de capa). E as conquistas não param por aí. Os planos para 2006 deverão seguir a mesma linha de trabalhos que tem nos acompanhado até os dias de hoje. A nossa visão de expansão inclui todos os esforços necessários para avanços cada vez maiores na área de Educação. Tanto é assim que, com esta preocupação e a fim de fazer valer a vontade do surdo, a Feneis mantém hoje uma Diretoria de Políticas Educacionais. Através dessa Diretoria temos conseguido estreitar laços com equipes do Governo e com profissionais ligados a este segmento em todo território brasileiro. Através de palestras ministradas em inúmeros eventos temos deixado claro também nosso posicionamento, que tem como base o documento “ A Educação que nós Surdos Queremos”. A própria Revista da Feneis , em edição especial, publicou diversos artigos que esclarecem a respeito da importância da Língua Brasileira de Sinais no ensino da pessoa surda. Seja em Língua de Sinais ou em Língua Portuguesa temos nos comunicado bem. Na Internet ou em nossas publicações não faltam informações sobre nossas ações. O desejo da Feneis é o de que todas as barreiras que impedem o fluir da comunicação com o surdo, a partir de um trabalho forte e unificado, possam ser gradativamente derrubadas. Esperamos, para isso, poder contar com todas as pessoas de boa-vontade e que acreditam na capacidade e força produtiva do surdo. Boa leitura, um feliz Natal e um próspero Ano Novo. Antonio Mário Sousa duarte Diretor-Presidente

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Perfil Cacau Mourão, destaque como bailarino surdo, enfrentou muitos desafios para realizar o sonho de dançar. Com o apoio da família e muita dedicação, ele se tornou um ícone e hoje ensina outras pessoas a fazer o mesmo. Página 11

Cultura Ronise Oliveira lançou o livro Meus Sentimentos em Folhas, no Instituto Nacional de Educação de Surdos, provando que o surdo é também capaz na arte de escrever. O livro, da Litteris Editora, é um lançamento que traduz de forma especial pensamentos e emoções da autora, que escreve poesias desde os 12 anos de idade. Página 26

Associações Em clima de muita festa, a Associação de Surdos de Colatina – Asurcol (ES) comemorou 10 anos de existência. Palestras, campeonatos e a apresentação de novos projetos marcaram a programação do evento. Página 29

Infantil Recebemos uma visita muito importante. Trata-se do menino William. Há um ano e meio, ele estuda no Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), no Rio de Janeiro. Seus pais dizem que ele tem desenvolvido muito bem e que está aprendendo com rapidez a Língua de Sinais. Página 31

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S U M Á R I O

CAPA: Dia do Surdo

A participação na novela América do bailarino Cacau Mourão e de um coral em Língua de Sinais, ensaiado pela Feneis, marcou de forma especial o mês de setembro, quando é comemorado o Dia do Surdo.

SUMÁRIO SUMÁRIO Cartas do leitor .......................................................6

Comunicando ........................................................ 7

De Surdo para Surdo .............................................. 9

Vencendo Barreiras ..............................................10

Dia do Surdo – Reportagem .................................13

Espaço Aberto – artigo ..........................................23

Internacional ........................................................27

Notícias Regionais ................................................27

Endereços .............................................................30

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cartas do leitor Dia do Surdo Gostaria de parabenizar a Feneis pelo evento realizado no dia 30 de setembro pelo Dia do Surdo. Sou aluna do curso de Libras da Feneis e foi a primeira vez que participei do evento. Gostei muito e achei muito bem organizado. O encerramento foi muito emocionante. Mais uma vez, parabéns! Mônica Marinho - RJ

Atendimento Odontológico ao surdo O meu primeiro contato com paciente surdo aconteceu há aproximadamente nove meses. Durante os meus nove anos de Odontologia (cinco anos de graduação e quatro de pós-graduação) ainda não havia tido essa experiência. Já na primeira consulta, aprendi que o termo “surdo-mudo” é um erro. E, a partir desse primeiro contato, algumas estratégias de comunicação foram criadas em meu consultório odontológico para que pudesse ser feito o atendimento. Criamos uma rotina específica para esses casos, pois esses pacientes são adultos e independentes. Para que haja a confirmação do paciente à consulta, enviamos mensagem (torpedo) pelo telefone celular, informando o horário marcado e aguardando a confirmação, que acontece da mesma forma ou por meio de fax. Quando o paciente toca o interfone, a recepcionista vai até a porta para abri-la, não utilizando interfone. Durante o atendimento odontológico removo a máscara do rosto diversas vezes para que a leitura labial seja feita. (...)

Dessa forma, o atendimento se torna simples e eficiente. Espero poder aprender muito mais nas próximas consultas e dar depoimento em outras situações. Elaine B. R. da Silva

Corrigindo Gostaria de parabenizar esta Federação pelo exemplar da Revista FENEIS nº 23 de julho/dezembro de 2004, pelo seu conteúdo, importante tanto para a pessoa surda quanto para profissionais que atuam na área. Ao ler resenha sobre a palestra que proferi no evento do dia 7 de outubro de 2004, sobre Educação dos Surdos no Brasil, pude constar no parágrafo transcrito adiante que falta uma explicação sobre a origem: “Um exemplo de seu empenho é que, há dois anos, ele tenta, junto ao MEC, criar uma faculdade para surdos na própria INES.” (4º parágrafo do texto) Esclareço que a idéia da Faculdade de Pedagogia Bilíngüe Português / Libras no INES já existia no Plano Gestor da diretoria Geral do INES, sua idealizadora, senhora Stny Basílio Fernandes dos Santos e quando fui convidado por ela para ocupar o cargo de Chefe de Gabinete em seu novo mandato, sua idéia veio ao encontro do que eu e Carlos Alberto Góes (amigo surdo) já vínhamos planejando, vindo a reforçar meu interesse em apoiá-la em seu mandato para Direção desta Instituição Federal de Ensino, no período de 2002/2006. Marcelo F. de Vasconcelos Cavalcanti

FENEIS Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos

Comunicando através da Libras 6 - Revista da FENEIS


comunicando

Encontro de Pais de Surdos O 1º Encontro de Pais de Surdos do Estado do Rio de Janeiro aconteceu no dia 1 de agosto, no auditório do Instituto Nacional de Educação de Surdos. O objetivo foi promover um amplo debate sobre a importância da família no desenvolvimento de indivíduos surdos em aspectos como educação, saúde, sexualidade, afetividade e sociabilidade.

A programação contou com conferências e mesas redondas, sobre os temas: Afinal o que é surdez?; Aspectos da relação familiar;Violência familiar; O início da atividade sexual, é preciso conversar, Meu filho usa drogas! E aí?; Os caminhos para conquista dos direitos da família; Como formar uma associação de pais; e Pré-requisitos para

O intérprete e a Libras em Aula Magna No dia 18 de outubro, no Anfiteatro da Universidade Estácio de Sá (Unesa) / Campus Rebouças, foi realizada a Aula Magna do primeiro Curso Tecnólogo de Formação do Intérprete na Língua Brasileira de Sinais da América Latina pela Unesa. A aula teve como tema A Profissão do Intérprete de Libras no Brasil: aspectos Profissional e Educacional, mi-

nistrado pela doutora Tanya Amara Felipe de Souza. O evento teve como objetivo não só celebrar a abertura do curso, mas também reunir e buscar parcerias com a comunidade surda, ouvinte e de especialistas da área, discutindo os desafios relativos à inclusão social dos surdos e a necessidade de qualificação dos profissionais intérpretes.

Orgulho Surdo A Passeata de Orgulho Surdo foi realizada em Copacabana, no dia 25 de setembro e já se tornou tradicional na comunidade surda carioca. Tanto é que ano passado reuniu cerca de 300 pessoas. A idéia dos organizadores foi mostrar que o surdo é uma pessoa feliz. Camisas foram vendidas com o tema da passeata, que contou com carro de som, faixas e bolas.

o sucesso no mercado de trabalho. Entre os conferencistas e palestrantes estiveram Cristina Simonek, Zigmund Leibovichi, Liborni Siqueira, Olga Passos, Gicélia Lombardo Pereira, Adriane Freitas de Sá, Margarida, Constancio, Rosária Maia, André de Botton, Esmeralda Stelling, Edna Gomes, Tany Mary e Lucieli Valim da Silva.

Libras nas Escolas A Prefeitura de Osasco (SP), em parceria com a Associação dos Surdos de Osasco, a Feneis e o Centro Comunitário de Osasco, vem desenvolvendo um projeto inédito no país. Por meio do programa Libras nas Escolas, alunos do Ensino Fundamental terão aulas de Libras como atividade extracurricular, como já ocorre com os cursos de inglês e xadrez. O trabalho é desenvolvido de forma experimental, desde maio, em cinco escolas da rede Municipal. Nesse período, seis instrutores e intérpretes de Sinais voluntários ensinaram Libras para 240 professores e 5.184 alunos ouvintes. O objetivo é estimular o convívio e a integração com surdos, fazendo com que as crianças levem o aprendizado para fora da escola e ampliando as chances de convivência com as pessoas deficientes de sua comunidade.

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Escola do Legislativo tem Libras A Escola do Legislativo, da Assembléia Legislativa de Rondônia, já realizou dois cursos básicos de Libras. Foram reunidos 30 estudantes, entre funcionários da própria Assembléia e servidores indicados por órgãos como cartórios de registros, Correios e Polícia Militar.

Os cursos foram aplicados pelo instrutor Kleber Uchoa. O interesse dos alunos por um trabalho mais aprofundado está fazendo com que a direção da Escola defina um projeto que melhor se encaixe nas opções de cursos oferecidos à comunidade. A im-

plantação das duas turmas de Libras foi gerada pela grande procura desse tipo de curso em Porto Velho. Esse trabalho objetiva oferecer meios de integração com a comunidade surda da capital, minimizando as barreiras de relacionamento.

O caminho da paz, com garantia de direitos A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Correios, Refinaria de Manguinhos, CEMASI, Governos Estadual e Municipal, Igrejas Evangélicas e Católicas, Creches, REDECCAP, Petrobrás, Associações, Dia do Talento e instituições par-

Equipe da Feneis divulgou trabalhos e atividades da Instituição durante o evento organizado pela Fiocruz

Blusas estampadas com a Língua de Sinais chamaram a atenção dos participantes

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ceiras estarão realizaram o “O Domingo da Paz, com garantia de direitos”. Foi um dia alegre, que contou com um ato ecumênico, atividades culturais, recreativas, e esportivas. Foi ainda uma oportu-

nidade para exercitar a cidadania . A Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis) esteve representada, divulgando suas atividades.


de surdo para surdo

Vanessa Vidal (21) conseguiu garantir um espaço de destaque no mundo virtual. A grife cearense Anne publicou o ensaio fotográfico da nova coleção “Viagem ao Oriente”, que foi protagonizada por Vanessa, na página de abertura do site da loja. Vanessa, além de ser instrutora de Língua de Sinais, é estudante universitária do curso de Ciências Contábeis, na Universidade de Fortaleza (Unifor) e também é modelo profissional. Nessa profissão, Vanessa já conseguiu fazer campanhas de lojas de ócu-

Setor de Comunicação Regional – Feneis-CE

Beleza surda conquista espaço na Internet los locais como as Óticas Boris, para lojas cearenses de vestuário íntimo, como a Esplanada, e outros estabelecimentos comerciais e empresariais da Cidade. A procura revela que Vanessa atende às exigências profissionais. Além de destacar os dotes físicos da mulher cearense, com

traços exóticos e estilo característico de quem mora em uma terra regada pelo Sol, a valorização das potencialidades de Vanessa revela uma série de vitórias para a comunidade surda local, que pode ver uma de suas próprias representantes, ocupando um lugar de destaque no tão concorrido cenário da moda, em que todas as modelos lutam para serem top’s. A loja ANNE disponibilizou partes do ensaio fotográfico Viagem ao Oriente, que podem ser conferidas acessando o endereço http:// www.anne.com.br.

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vencendo barreiras

Taguatinga Shopping se destaca no atendimento aos surdos Prestar um atendimento diferenciado e de qualidade. Esse é o objetivo do Taguatinga Shopping, no Distrito Federal, ao oferecer aos seus funcionários o curso de Língua Brasileira de Sinais (Libras). A formatura da primeira turma aconteceu no dia 21 de setembro e contou com um café-da-manhã e uma apresentação de dança. Ao todo, 30 funcionários à frente do atendimento participaram do curso. Para o supervisor de segurança, Daniel Souza, a iniciativa vai possibilitar que as pessoas surdas tenham um atendimento personalizado. “O segurança é a primeira referência do cliente no shopping. Com o curso, o nosso trabalho terá um diferencial e eles se sentirão mais confiantes”, conta. Os clientes surdos do Taguatinga Shopping já sentiram a diferença no atendimento. Messias Ramos é um deles. Ele e um amigo estavam no cinema, quando foram surpreendidos por um dos seguranças. “No início, eu pensei que ele iria me reprimir por alguma coisa. Mas depois percebi que ele queria, apenas, me perguntar se estava tudo bem. Quando o vi falando em lín10 - Revista da FENEIS

guas de sinais, não acreditei”, lembra Ramos, emocionado. Ele diz, ainda, que o shopping será o ponto de encontro de pessoas como ele. ”Saber que existe um lugar onde todas as pessoas estão capacitadas para nos atender, sem constrangimento e preconceito, vai atrair muitos surdos para o Taguatinga Shopping”, garante. O curso, ministrado pelo Senac/DF, começou no dia 1º de setembro, no Espaço Cultural do shopping, com duração de 30 horas. “Nesse período os alunos encenaram diversas situações vividas no shopping “, explica Alberto Rainha,instrutor de Libras do Senac/DF. Eliza Ferreira, superintendente do Taguatinga Shopping, disse que a idéia de capacitar os funcionários para atender esse público partiu de uma necessidade do shopping. “Muitos dos nossos clientes possuem deficiência auditiva. Porém, elas encontram enormes dificuldades em comprar algum produto ou mesmo solicitar alguma informação”, explica. A superintendente diz, ainda, que a iniciativa de promover o curso no shopping vai facilitar a inclusão social do grupo. “Queremos atendê-los

com qualidade. Com conhecimento, conscientização e persistência, encontraremos os caminhos para que as pessoas com necessidades especiais possam vencer as barreiras e ocupar seus espaços na sociedade de forma digna”, justificou, ressaltando que, além de funcionários capacitados em Libras, em breve o shopping vai contar com um telefone especial para surdos. O diretor do Senac, Luís Otávio Neves, parabeniza a iniciativa do shopping, pioneira no DF. “Temos certeza de que aqui, os clientes surdos receberão um tratamento de qualidade”, diz. Quem participou do curso agradece. “Essa é uma oportunidade que só o Taguatinga Shopping podia nos oferecer. A iniciativa toca o coração e nos enche de orgulho”, admite Tatiana Machado, chefe do Recursos Humanos. O Taguatinga Shopping será o primeiro shopping do Distrito Federal a proporcionar esse tipo de treinamento aos empregados. Matéria encaminhada por Messias Ramos Costa Assistente Administrativo – Emprego Especial SENAC Emprego Especial E-mail: messias.costa@senacdf.com.br


perfil

Dança e estilo em passos silenciosos Cacau Mourão, nasceu em São Luis do Maranhão. Seus pais descobriram que ele era surdo quando tinha 5 anos de idade. A mãe achava estranho o fato de ele dançar e até aquela idade não falar. Então o levou a vários especialistas da área médica, sendo que alguns não encontravam problemas e outros chegaram até a diagnosticar deficiência mental. Foi uma médica alemã neurologista, da cidade de Teresina(PI), quem diagnosticou a deficiência auditiva. A princípio, seus pais ficaram chocados com a noticia. Afinal, o filho que gostava tanto de dançar era surdo. Mas, dentro das possibilidades, fizeram de tudo para prestar a melhor assistência à criança, colocando-o em tratamento fonoaudiológico intensivo e dando muito amor. Nessa época, alguns profissionais não aconselharam aos pais de Cacau o uso da Língua de Sinais, dizendo que isso provavelmente impediria o seu progresso na fala. “Meus pais sempre me deixaram muito à vontade,

“EU CONSIDERO QUE SER SURDO É ALGO NORMAL, NUNCA ME SENTI DIFERENTE, ME ACEITO DO JEITO QUE SOU.

EU

PENSO QUE TENHO

MEUS VALORES, UMA PROFISSÃO E VIGOR PARA LUTAR POR MEUS OBJETIVOS.

SOU

UMA PESSOA NORMAL,

APENAS NÃO ESCUTO.

SOU

FELIZ ASSIM”

pois, involuntariamente eu fazia gestos para me expressar. Eles nunca me inibiram”, conta Cacau. Não estudou em colégio especial, embora não enten-

desse nada em aula. “ A maior parte do meu aprendizado se deu através da leitura dos livros didáticos e também do apoio das anotações dos colegas de classe. Sempre me esforcei nos estudos para não ser reprovado”, disse. “Eu considero que ser Surdo é algo normal, nunca me senti diferente, me aceito do jeito que sou. Eu penso que tenho meus valores, uma profissão e vigor para lutar por meus objetivos. Sou uma pessoa normal, apenas não escuto. Sou feliz assim. Não tenho outra forma para me definir”, enfatiza. Certa vez, ao comentar com um amigo dançarino que gostaria de saber o que dizem as letras das músicas que ele dança, ele respondeu que a maneira de dançar de Cacau era a própria compreensão e expressão da letra. “Mesmo depois disso, que me deixou envaidecido, sempre procurei conhecer as letras das músicas que danço”, declarou. A dança “Um dia, numa festa na casa de minha avó, com mú-

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sica ao vivo, eu estava diante da televisão que apresentava um grupo de dançarinos. A vibração do som forte dos batuques do lado de fora fez com que eu associasse uma coisa com a outra e sentisse uma emoção diferente. Comecei a imitar os movimentos e não parei mais.” Com 13 anos ganhou uma bolsa de estudos em uma academia de aeróbica, depois foi convidado pelo grupo folclórico Cacuriá de Dona Teté para trabalhar nas festas de São João. Percorria várias cidades do interior. Estudou com bolsas das melhores academias de dança em São Luis. Fez balé clássico, jazz, dança popular, etc. Acabou se formando como bailarino profissional e trabalhando em vários eventos e teatro, como a ex-Cia Ópera Brasil, dirigido por Fernando Bicudo; ex-Cia de dança Popular Cacuriá de D. Teté (uma companhia famosa de dança popular); Grupo Jazz Livre, e outros. Recebeu convite em 1998 de Fábio de Mello (coreógrafo e diretor) para vir ao Rio de Janeiro. Aceitou o convite, ganhou várias bolsas de estudo de dança das melhores academias do Rio de Janeiro, como a Casa de Dança Carlinhos de Jesus, Daral Achcar (balé clássico) e outros. No Rio de Janeiro, teve a oportunidade de conhecer Nelson Pimenta (professor e primeiro ator profissional surdo do Brasil), que é amigo do Fábio de Mello. “ Eu não sa12 - Revista da FENEIS

bia nada de Língua de Sinais e da cultura dos surdos quando o conheci. Eu era oralizado e tinha convivência com ouvintes. Através dele, conheci a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e me apaixonei. A partir daí, comecei a estudar e pesquisar tudo sobre a cultura dos surdos. Com o tempo, descobri que a Língua de Sinais é a língua materna dos

“UM DIA, NUMA FESTA NA CASA DE MINHA AVÓ, COM MÚSICA AO VIVO, EU ESTAVA DIANTE DA TELEVISÃO QUE APRESENTAVA UM GRUPO DE DANÇARINOS.

A VIBRAÇÃO

DO SOM FORTE

DOS BATUQUES DO LADO DE FORA FEZ COM QUE EU ASSOCIASSE UMA COISA COM A OUTRA E SENTISSE UMA EMOÇÃO DIFERENTE.

COMECEI A IMITAR OS MOVIMENTOS E NÃO PAREI MAIS”

surdos. Foi como se estivesse nascido de novo, mas no mundo dos surdos. É uma comunicação que se vê, ou seja, ideal para quem não escuta. Esse é o meu mundo, me identifico muito com essa Língua. Cacau ainda faz parte da Cia de Dança Carlinhos de Jesus, já realizou vários trabalhos com dança em programas da Globo, eventos de São Paulo, Portugal, Perú e outros.

Participou, com Nelson Pimenta, do teatro apresentado em Congresso Latino Americano Bilíngüe dos Surdos em Porto Alegre, em 1999 ; do 1º Encontro de Arte e Cultura Surda, realizado no Centro Cultural de São Paulo – CCSP, com o apoio da LSB Vìdeo, Studio Marco Velasquez, Editora Regional e Prefeitura da Cidade de São Paulo; de eventos em diversos Estados, como Recife e Curitiba, e palestras e Workshop em encontros organizados pela Feneis, Apada e escolas dos surdos. Foi coreógrafo do Espetáculo “Antigona” e “O Cordel Encantado” e do Teatro Brasileiro do Surdo. Atualmente, está no 6º período do curso de Educação Física, na Faculdade Universo, em Niterói, com o apoio de interprete de Libras em sala de aula. É professor de dança de salão na Vila Olímpica Carlos Cartilhos, em Ramos; é professor de dança, faz estágio de Educação Física (recreação) e é instrutor de Língua de Sinais no núcleo de PPD - Programa Esporte para Pessoas Portadores de Deficiências, em São Cristóvão. Além de permanecer na Academia de Dança Carlinhos de Jesus, Cacau faz parte como bailarino, coreógrafo e ator da peça “Nelson 6 ao vivo”, show de cultura surda com poesia, piada e história de surdos e ouvintes, com Nelson Pimenta e Direção de Luiz Carlos Freitas (site: http:// w w w. l s b v i d e o . c o m . b r / sobre_lsb/show_nelson.htm.


dia do surdo - reportagem

Mais informação e conscientização no Dia dos Surdos Feneis-RJ comemora data com palestras de profissionais e novidades tecnológicas Da redação

Organizadores, funcionários, intérpretes da Feneis comemoram sucesso do evento ao lado do presidente Antônio Mário (no centro)

O Dia dos Surdos foi comemorado pela Feneis-RJ através de um ciclo de palestras que tem como tema central “Comunicação com o Surdo: caminhos para a Acessibilidade”. Com o objetivo de criar um espaço de discussão a partir da análise das

conquistas e desafios propostos em diferentes áreas da comunicação, e apresentar novidades tecnológicas que favorecem o dia-a-dia dos surdos, além de conscientizá-los de seus direitos, o evento reuniu no dia 30 de setembro cerca de 500 partici-

pantes no auditório do Senai, na Tijuca. O encontro contou com a presença de representantes de diversas empresas e instituições que realizam trabalhos e serviços voltados à população surda, como a Drei Marc, empresa de

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Antônio Mário, o terceiro, da direita para a esquerda, ao lado dos intérpretes do Rio de Janeiro

legendagem e a Telemar, que desenvolveu um “telefone inteligente”, e profissionais que prestam atendimento na área, como fonoaudiólogos, psicólogos e professores. Após a execução do Hino Nacional em Libras, o diretorpresidente da Feneis, Antônio Mário Duarte, abriu o evento, falando sobre o Dia do Surdo e a Feneis. Em seguida, o diretor regional da Feneis de São Paulo, Neivaldo Zovico, palestrou sobre “Telefonia e Tecnologia – De mãos dadas com o surdo”. A maior parte das palestras da manhã foram voltadas para a área da tecnologia, com produtos que facilitam a vida do surdo, em especial, o celular. Foram apresentados o Telefone Inteligente da Telemar e o serviço de Atendimento Direto aos Surdos, desenvolvido pela empresa de telefonia Claro. Ainda antes do almoço, Cláudia Maia, coordenadora de projetos da Escola Gente falou sobre “A importância da Acessibilidade na Comunicação e o consultor

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Daniel de Oliveira, sobre “Celular e Libras – união possível”. Andréa Giovanella, subcoordenadora do setor de informática da Feneis-RJ palestrou sobre a Inclusão Digital para pessoas surdas, contando sobre sua experiência como professora da turma de informática para alunos surdos da Feneis, há 15 anos. Segundo Andréia, com a inclusão digital e a internet, qualquer deficiente tem acesso às informações que antes talvez

Antônio Mário explica sobre a Feneis e o Dia do Surdo

não tivessem. As aulas são dadas em Libras e a linguagem específica da informática é apresentada. Durante todo o dia, não faltaram incentivos e despertamento para o fato de que os surdos têm o direito e devem exercê-lo, de se comunicarem em sua língua principal, a Libras, mas sem deixar de buscar a oralização, como uma segunda língua. Em sua palestra “Comunicação Oral e Libras, a fonoaudióloga

O auditório doSenai esteve lotado durante as programações


O representante da Vivo sorteou um aparelho de telefone com nova tecnologia para surdos

Fernanda Milward explicou os processos de comunicação e o bilingüismo para os surdos (Libras e português, como primeira e segunda línguas respectivamente). Na parte da tarde, mais voltada para a área da comunicação, Marcelo Camargo falou sobre o sistema de Closed Caption implementado pela empresa Drei Marc, sua consicência e fi-

A dupla de danãrinos deixou a platéia admirada

losofia. De acordo com ele, a Drei Marc está pronta para trabalhar a serviço de toda a sociedade e em especial, da comunidade surda, lutando ainda pela conscientização social de todas as empresas. O intérprete de Libras também teve seu espaço no evento, com a palestra “Intérprete de Libras, quem é esse profissional”, ministrada por Emeli Marques, mestre em Lingüística Aplicada. Ela contou um pouco da história da interpretação e suas origens, a partir da necessidade de interpretação simultânea no julgamento dos nazistas no pós-guerra, e falou sobre as dificuldades enfrentadas por aqueles que desejam profissionalizar-se. Emeli ainda lembrou como a fundação da Feneis deu espaço e visibilidade a este profissional na sociedade. “Esse dia é uma data importante, pois é marcado pela fundação da Feneis e por tudo o mais que ela já conquistou desde então. Que deste espaço e de documentos que sejam criados a partir deste evento possa

ser favorecida a vida do intérprete, que ainda não tem sua profissão reconhecida”. A diretora da Feneis-RJ, Marianne Stumpf, participou do evento falando sobre “Experiências Comunicativas em Língua de Sinais no Brasil e no Mundo”. “A Libras significa independência e está ligada à identidade do surdo”, defendeu ela, que também é surda. Segundo Marianne, a tecnologia da informação e principalmente a internet, fortaleceram a comunicação, gerando um crescimento da Libras. “Em todos os países e também no Brasil, está havendo uma maior comunicação dos surdos. Porém, no Brasil os surdos ainda encontram dificuldades de entendimento em postos de saúde e hospitais, enquanto na França, eles têm uma vida normal devido à obrigatoriedade da presença de intérpretes nesses locais”, contou. Marianne falou ainda sobre os sites europeus que trazem diversas informações em Língua de Sinais e sobre as perspecti-

Cacau Mourão e Suzan Rameri com o presidente da Feneis, Antônio Mário

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Neivaldo Zovilo: tecnologia de mãos dadas com o surdo

vas na área de comunicação. “A tecnologia está mudando a comunicação. Ela não é só para os surdos, mas também para os ouvintes. As pessoas devem ter coragem e vontade de aprender a fazer uso dela”, concluiu. A rede de televisão TVE Brasil, responsável pelo noticiário “Jornal Visual” voltado para a população surda, esteve presente ao evento através de seu gerente de jornalismo Carlos Absalão, que falou sobre “A Emissora Pública e a Inclusão da Pessoa Portadora de Deficiência”. De acordo com Carlos, a TVE é a primeira emissora a ter um programa em Libras e este só foi possível depois de uma parceria com a Feneis. O “Jornal Visual” traz matérias sobre educação, cultura, informações atuais e entretenimento, embora seu conteúdo seja quase todo aproveitado dos outros telejornais da emissora. Absalão passou um VT apresentando o programa para aqueles que ainda não conheciam. Fechando o ciclo de palestras, a psicóloga Rita Hassib, em sua palestra “Exercendo o Direi-

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As esquetes em Librar, apresentadas pelo Grupo de Teatro Brasileiro de Surdos, animou os presentes

to de se comunicar em Libras”, contou sua experiência como mãe de surdo. “Vivo no meu cotidiano essa questão da comunicação com o surdo. O fundamental é que haja a comunicação, independente da linguagem utilizada para isso. Se o surdo não tiver o direito de se comunicar, terá sua vida emocional abalada. Temos que valorizar sua comunicação e estimular a sua linguagem, lhe dando desde pequeno a oportunidade para expressar o que sente”, incentivou, dizendo ainda

que os surdos têm o direito a uma educação que valorize sua identidade de surdo e estimule e respeite sua língua natural, a Libras. O evento foi encerrado com as apresentações do grupo Teatro Brasileiro de Surdos, com 20 anos de existência, que encenou uma série de esquetes em Libras, e do bailarino surdo Cacau Mourão. Houve ainda a execução do Hino Nacional coreografado e um momento de agradecimentos aos profissionais presentes e palestrantes.

Emeli Marques faou sobre o profissional intérprete de Libras


dia do surdo – reportagem

Dia do Surdo é comemorado em todo o Brasil O Dia do Surdo, festejado tradicionalmente no dia 26 de setembro, foi lembrado em várias regiões com mobilizações e atividades diversificadas Da Redação

Acre No estado do Acre, foi realizada passeata com início no Parque da Maternidade até a Concha Acústica, reunindo centenas de pessoas. O evento foi realizado pelo Centro de apoio ao Surdo CAS-AC/ Centro Estadual de Educação Surdos. A comemoração é uma forma de lembrar o cumprimento da Lei Nº 1.487 de janeiro de 2003, que institui a Língua Brasileira de Sinais – Libras naquele Estado. Em seu artigo 5º reconhece que o dia 26 de setembro como Dia Estadual de Luta pelos Direitos de Cidadania das Pessoas com Surdez. Além disso, aconteceu a III Mostra Cultural de Libras com a interpretação do Hino Acreano em Língua de Sinais, a distribuição do Alfabeto Manual e a apresentação do Grupo de Teatro e Dança CIA do Silêncio. Os participantes também conheceram um

Passeata em Pernambuco lembrou direito dos surdos

pouco mais das “ Necessidades da Comunidade Surda e seu Direitos”, através da conselheira de administração da Feneis, Shirley Vilhalva, responsável por ministrar uma palestra com este tema.

Pernambuco Já em Pernambuco, a data teve um tom de protesto com

a realização da IV passeata de surdos, promovida pelo Escritório Regional da Feneis. O ato reuniu cerca de 300 pessoas pelas ruas do centro de Recife, munidas de apito e faixas nas mãos. O objetivo foi reivindicar a regulamentação da Lei .º 10.048, de 08 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às

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pessoas com deficiência. O protesto serviu também para lembrar que, somente nas escolas públicas de Pernambuco freqüentam, atualmente, 2 mil alunos surdos.

Teófilo Otoni, MG Os surdos de Teóflo Otoni participaram do tradicional desfile de 7 de setembro. Foram convidadas 42 escola, instituições e associações de surdos. Desfilaram o time masculino de futsal e o feminino de vôlei. Tiveram destaque as faixas de agradecimento ao apoio da Associação dos Surdos de Teófilo Otono e cartazes que reivindicavam intérpretes em escolas particulares, hospitais e repartições públicas. Foram dadas explicações a respeito da Libras, da Feneis e da Asto. Estiveram presentes todas as autoridades da cidade.

São Paulo

Como parte das comemorações do Dia do Surdo, a Feneis em Teófilo Otoni participou do desfile de 7 de Setembro, marcando presença e defendendo seus direitos

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São Paulo não ficou de fora desta festa ao realizar o 1º ato Público com o Tema “Cadê nossos Direitos, no Masp. Participaram do evento a Associação Trabalhista de Defesa dos Direitos e Interesse das Pessoas com deficiência (ATRADEF), o Espaço Mulheres D.A/Surdas do Estado de São Paulo (EMDAS/SP), a Associação Surdos de São Paulo, a Pastoral dos Deficientes Auditivos de Moema, a Associação dos Deficientes Auditivos da Zona Leste (ADAZL) e a Feneis. Já a Escola Especial para Crianças Surdas, da Funda-


ção de Rotarianos de São Paulo, fez questão de não passar o dia em branco. Em celebração a data, realizou o Encontro Comemorativo do Dia do Surdo, com direito a apresentação de peças teatrais, piadas, dança, todos realizados pela comunidade surda. Em Araçatuba, também em São Paulo, o Dia Nacional do Surdo, teve participação especial de crianças s.urdas das escolas estaduais da região. O Centro Universitário Toledo (Unitoledo) inovou, oferecendo uma oficina de brinquedo, onde crianças aprenderam a confeccionar brinquedos com sucatas e materiais recicláveis. Além disso, houve a apresentação de um coral da Pastoral dos Surdos de Araçatuba.

Distrito Federal

Na Praça de Buriti, a Feneis, ao lado de outras instituições que atuam em prol dos surdos, organizou um manifesto

Em Brasília, o dia também foi marcado por protestos. A forte chuva não atrapalhou os planos das instituições que trabalham com surdos e todas levaram representantes na Caminhada dos Surdos, que aconteceu ao redor do Palácio do Buriti, Sede do governo do Distrito Federal. A data também foi marcada por reivindicações, onde as lideranças surdas pediram às autoridades acesso às informações do governo veiculadas na TV e adaptação da UnB (Universidade de Brasília – federal) para receber os surdos, a partir do vestibular. Cerca de 300 pessoas compareceram ao evento.

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Mato Grosso do Sul

Em Santa Catarina, protestos marcaram a data.

Santa Catarina

pedir as autoridades políticas e empresários que nos ajudem e aos parlamentares que se lembrem, quando elaborarem suas leis, de nos beneficiar, pois somos ainda muito discriminados e desrespeitados na sociedade em geral: somos eficientes e não deficientes”, lembrou o presidente da Associação.

O Centro Estadual de Atendimento ao Audiocomunicação (CEADA) e o Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS), em Campo Grande, MS, fizeram questão de marcar a data com apresentação do Coral do Ceada e do Projeto Universo Sonoro, relato de experiências, oficinas de Língua de Sinais e depoimentos históricos e políticos de surdos sul-matogrossenses. Pelo CAS, foram expostos materiais pedagógicos confeccionados pelos instrutores do órgão. A data, marcada pela lembrança de lutas históricas por melhores condições de vida, trabalho, saúde, dignidade e, principalmente, cidadania, foi legalizada através da Lei municipal nº 3.755, de 2000.

No sul do país, em Santa Catarina, houve ato público realizado no Centro de Florianópolis. A concentração aconteceu na praça Tancredo Neves, onde também foi entregue documento às autoridades presentes. Na cidade satélite de Santa Maria, no Distrito Federal, a abertura oficial desta data foi brindada com muita cultura e lazer. O Colégio 215 foi palco das comemorações, que tiveram a frente o presidente da Associação dos Surdos de Santa Maria, Paulo Humberto e sua esposa Ivone de Alencar, intérprete do Projeto Semear. “A festa foi um grande sucesso e esperamos realizar outros eventos nesta moCrianças surdas participam de movimentos em São Paulo pelo Dia do Surdo dalidade. Quero 20 - Revista da FENEIS


dia do surdo – reportagem

Surdos na América Ao lado de outras áreas de deficiência, surdos participaram de novela da TV Globo Nádia Mello

Dudu braga e o coral de surdos que se apresentou na novela Améica

Característica peculiar da escritora Glória Perez em novelas de sua autoria, a abordagem de questões sociais relevantes esteve presente também em “América”, contribuindo para uma sociedade mais justa e consciente. O valor do espaço aberto para novas conquistas aos portadores de deficiência por meio do personagem Jatobá, interpretado por Marcos Frota, foi reconheci-

do por parlamentares, entidades representativas desse segmento e comunidades brasileiras fora do país ligadas à luta pelos direitos do deficiente no Brasil. A exemplo de trabalhos anteriores, a autora de América misturou aos personagens vividos pelos atores do elenco pessoas comuns, vítimas da exclusão social e principais fontes de inspiração da autora para abordar a questão da deficiência.

Além dos deficientes visuais Gabrielzinho do Irajá e Duda Emerick, as participações especiais no quadro “ É preciso Saber Viver”, apresentado por Dudu Braga, abriram uma porta para todas as áreas de deficiência. Foram entrevistados no decorrer na novela diversos deficientes, que falaram sobre suas dificuldades, desafios e capacidade de produção.

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Resgate da cidadania O resgate da cidadania da pessoa portadora de deficiência fez parte do contexto que envolveu Jatobá, que teve destaque porque possuía uma vida ativa na sociedade, refletida nas suas relações de amor, profissional e social. “Apesar da deficiência, o personagem criado por Glória Perez passava ao telespectador sua capacidade de se relacionar e enfrentar os desafios como qualquer outra pessoa. O Jatobá marcou de forma especial a minha vida”, comentou o ator Marcos Frota após a gravação do encerramento do programa. Para a pequena Bruna Marquezine, que interpretou uma criança cega, “as pessoas precisam aprender a respeitar os deficientes, inclusive os surdos”. Ela fez questão de destacar que sabe um pouco da Língua de Sinais e considera muito importante a sua divulgação. A força que caracterizou os personagens cegos da novela foi identificada facilmente nas experiências reais relatadas por outras áreas de deficiência no decorrer da própria trama. Uma delas foi a do dançarino surdo Cacau Mourão, que esteve progra-

A autora da novela América, Glória Perez, e o diretor regional da Feneis/RJ, Walcenir Souza Lima

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Com o ator Marcos Frota, os surdos que participaram do encerramento do programa É Preciso Saber Viver

“APESAR

DA DEFICIÊNCIA,

O PERSONAGEM CRIADO POR

GLÓRIA PEREZ

PASSAVA

AO TELESPECTADOR SUA CAPACIDADE DE SE RELACIONAR E ENFRENTAR OS DESAFIOS COMO QUALQUER OUTRA PESSOA.

O JATOBÁ

MARCOU DE

FORMA ESPECIAL A MINHA VIDA”

MARCOS FROTA – ATOR ma que foi ao ar nos capítulos finais da novela. Na ocasião, ele contou um pouco da sua história como bailarino, desafios e conquistas, destacando a importância da Língua Brasileira de Sinais (Libras) para a vida e integração da comunidade surda. Além da entrevista, Cacau teve também espaço em outra cena, se apresentando com a parceira de dança Suzan Ranieri.

A presença de Cacau na novela coincidiu com as comemorações do Dia do Surdo, lembrado no dia 26 de setembro em todo o país. No encerramento, uma outra surpresa esperava a comunidade surda. Na festa de encerramento do programa de Dudu Braga, um coral de surdos indicado e ensaiado pela Feneis, sob a orientação do ator surdo Nelson Pimenta e de Lanúcia Quintanilha, do Teatro Brasileiro de Surdos (TSB), entoou por meio da Língua de Sinais, a música-tema É preciso Saber Viver, de Roberto Carlos. Dudu Braga ressaltou que o trabalho da autora de América abriu uma porta para outros do mesmo nível, ao falar sobre a possibilidade de um programa para deficientes. Quem concorda com a necessidade é Ethel Rosenfeld, liderrança bastante ativa da comunidade de deficientes visuais no Brasil e que fez parte da equipe de apoio ao programa apresentado por Dudu Braga.


espaço aberto

As dificuldades de inclusão dos Surdos Brasileiros e dos Intérpretes de LIBRAS nas Universidades Públicas Publicado no dia 18 de outubro de 2005 – AdUFRJ SEÇÃO SINDICAL DOS DOCENTES DA UFRJ www.adufrj.org.br Myrna Salerno

Este é um depoimento que objetiva comentar um pouco sobre as dificuldades dos Surdos brasileiros já formados em Lingüística e outras áreas, que trabalham em Universidades Brasileiras Públicas ou não, Escolas Municipais, Estaduais ou Federais do Ensino Fundamental e Médio, que necessitam de intérpretes capacitados em Língua Brasileira de Sinais (Libras) durante as aulas. O objetivo deste artigo não é somente falar da falta de intérpretes de Língua de Sinais no Brasil, mas também ressaltar a reclamação dos Surdos Brasileiros, que não conseguem entrar nas Universidades Públicas, devido à dificuldade que possuem em relação à Língua Portuguesa, que é a segunda língua dos surdos, já que a primeira língua dos Surdos é a Libras. No passado, as escolas de ou para Surdos (públicas) eram precárias e durante muitos anos a sociedade brasileira ouvinte proibiu o uso da Língua de Sinais aqui no Brasil. Somente no ano de 2002, com muita luta e esforço, a Língua de Sinais foi

reconhecida como Língua oficial dos Surdos, através da Lei 10.436. Apesar de ter conseguido essa vitória, ainda há muitas metas a serem atingidas em escolas e universidades públicas para que se tenham professores Surdos Mestres ou Doutores, também para que se tenham Intérpretes de Libras, assim como professores bilíngües, para atuarem em salas de aula em todas as áreas, para que o surdo sinta tranqüilidade em seus estudos. Outra preocupação é a falta de Escolas de Surdos, que diminuem a cada dia devido às metas do MEC e à Globalização que defenderam a Educação Inclusiva, que tem como objetivo incluir o surdo em escolas regulares por um período de 10 anos. A prioridade do governo atual é garantir a educação gratuita e obrigatória. A Inclusão na rede oficial de ensino objetiva colocar as crianças surdas nas mesmas condições de ensino que as ouvintes. O único problema foi o aparecimento dessa política sem preparo, o que fez com que o MEC fizesse uma parce-

ria com a Feneis, para a elaboração dos cursos de Capacitação dos Instrutores Surdos e a Capacitação dos Intérpretes de Libras. No entanto, a formação dos intérpretes e o número de Instrutores Surdos para atender a necessidade ainda são insuficientes. A minha pergunta é: as escolas de surdos vão continuar a diminuir? Professores, pesquisadores ouvintes e Universidades deveriam procurar as Associações de Surdos do seu próprio município ou estado, pois elas (as associações) devem estar abertas para trabalhar em parceria com os profissionais e vice-versa. Os profissionais precisam dar oportunidades aos Surdos, pois eles podem ser seus colaboradores em pesquisas e projetos. Abrir espaços para as associações de surdos pode contribuir para desenvolver a cultura e identidade Surda. Percebe-se também que no momento parece que tudo ficou pior que antes; tem-se a impressão de que a sociedade brasileira ouvinte voltou a defender o “Oralismo”. Apare-

Revista da FENEIS - 23


cem muitas reportagens nos jornais e TV sobre “Os portadores de necessidades educativas especiais” (todas as deficiências). Existem surdos que não aceitam o termo “Deficiente Auditivo” escolhido pelos profissionais da área de saúde. “Deficientes Auditivos” são pessoas que não convivem com os Surdos, pessoas que perderam a audição leve ou moderadamente e ouvem um pouco, falando ou escrevendo bem o português e não usam ou não querem usar a Libras. No momento, são poucos os Surdos que sabem as duas línguas, por isso, somente 1% de Surdos consegue entrar nas Universidades Públicas. Desta maneira, pouco adiantou a presença dos Intérpretes de Libras nos vestibulares. Cheguei a conclusão de que o que falta, e é fundamental para o Surdo, é “entender” as questões da Língua Portuguesa. Existe uma lei que obriga a inclusão de 5% de portadores de todas as deficiências nas escolas, universidades e também no mercado profissional. Mas sabemos que os deficientes físicos conseguem mais, por serem pessoas ouvintes e dominarem o português. Somente barreiras arquitetônicas impedem sua entrada nas universidades ou empresas. Há uma incompreensão por parte da comunidade Surda a respeito da inclusão de ouvintes na futura Faculdade do Instituto Nacional de Educação dos Surdos

24 - Revista da FENEIS

(Ines), no Rio de Janeiro, por esta ser a primeira escola federal de Surdos. No próximo ano, em 2006, terá início o curso de pedagogia. A profa. Stny Basílio, diretora do INES, comentou, em março de 2005, que 50% das vagas vão para os Surdos e 50% para os ouvintes. Já que existem tantos cursos de pedagogia em universidades públicas para pessoas ouvintes, eu pergunto: por que pessoas ouvintes desejam entrar em faculdade de Surdos? Nós Surdos sofremos durante anos para conseguirmos apenas 1% das vagas nas universidades públicas, e agora que existe uma para surdos, querem colocar 50% de alunos ouvintes? Isso é justo? Isso é uma vergonha! A Comunidade Surda se revolta também com o fato de existirem cotas para negros e mulatos. Apesar de a maioria deles ser de uma classe social mais baixa, e por causa disso terem uma formação escolar mais fraca, eles têm a vantagem de falar a Língua Portuguesa. Quanto a nós, que não falamos a Língua Portuguesa, e, sim, Libras, como ficamos? Onde estão os nossos direitos? Gostaria de lembrar que no dia 26 de setembro é o dia especial para a comunidade Surda, em que comemoramos o “dia dos Surdos”, toda luta por nossos direitos e cidadania. Se a sociedade brasileira ouvinte e o MEC tivessem reconhecido verdadeiramente o valor da Libras e da Cultura Surda Bra-

sileira, tivessem incentivado a presença dos Intérpretes de Língua de Sinais, já estaríamos bem avançados e desenvolvidos como os Surdos de outros países, que reconhecem a Língua de Sinais como língua natural das pessoas Surdas. Há muitos anos lutamos pela oficialização da Libras, mas pouco avançamos. Não estamos satisfeitos com a falta de organização e de preparo da sociedade brasileira ouvinte, das Universidades Públicas e do MEC. Na maioria das vezes os intérpretes de Libras têm somente o Ensino Médio, pois não existe ainda a Formação dos Intérpretes de Libras em níveis superiores nas Universidades Públicas. Aproveito também para relatar um pouco sobre a minha vinda ao Rio em 199. Não medi esforços e sacrifícios ao me mudar para o Rio de Janeiro, deixando minha família, para atender ao convite para participar da equipe de pesquisadores do Projeto Estudos da Libras, Aquisição de Linguagem e Aplicação na Educação da Faculdade de Letras da UFRJ. Nesse mesmo ano, comecei a ministrar Curso de Extensão Língua Brasileira de Sinais (nível I), pela Diretoria Adjunta de Extensão e Cultura da Faculdade de Letras da UFRJ. Paralelamente, ingressei no meu primeiro Curso de Especialização na Faculdade de Letras da UFRJ, intitulado Contribuição da Lingüística para a


Problemática Linguagem e Surdez, concluindo-o em 1992. Percebi que não havia intérprete de Libras para atuar nas aulas. Mesmo assim, dei prosseguimento, recebendo auxílio de meus colegas que conhecem um pouco de Língua de Sinais. Em 1994, o meu interesse pelos estudos lingüísticos aumentou e, atendendo a minha necessidade de conhecer mais o português, resolvi fazer um outro curso de especialização na Faculdade de Letras da UFRJ, intitulado Lingüística Aplicada ao Ensino de Português, concluído em 1995. Naquela ocasião, contei com a colaboração da colega de curso Emeli Costa Leite, que fez a interpretação (português/Libras) de quase todas as aulas. De 1996 até hoje não pude mais continuar meus estudos devido às dificuldades que tenho com a minha segunda língua, ou seja, com a Língua Portuguesa e também a Língua Inglesa. Esse fato dificulta muitíssimo o acompanhamento das aulas e também a participação em Fóruns, Encontros, Congressos, e discussões existentes nas Universidades. Além disso, sentia dificultades também no acompanhamento das reuniões do departamento de Lingüística, em que eu também sou “docente”, a única professora auxiliar IV, em disciplina optativa, no ensino da graduação da Faculdade de Letras e da Faculdade de Fonoaudiologia e as demais.

Muitas vezes paguei do meu próprio bolso intérpretes da Feneis para me atenderem e também contei com auxílio de meus alunos do curso de Libras I, que possuíam um pouco de conhecimento para interpretar e para me ajudar em atividades relacionadas às minhas aulas inaugurais nos cursos de Libras do ensino de graduação. É fundamental a presença de um intérprete de Libras nessas aulas, para que sejam alcançados os objetivos e metas nesses cursos , sem dúvidas e malentendidos conseqüentes de problemas de comunicação. Apesar de todas essas dificuldades, sempre obtive êxito em meus cursos na UFRJ. Uma justificativa para o meu interesse pelo mestrado em Lingüística da Língua Brasileira de Sinais - Libras, do Departamento de Lingüística da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é a de que esse curso é muito importante para a minha formação acadêmica. No momento, a UFRJ não possui os conhecimentos da Língua Brasileira de Sinais (Libras), apesar de ter uma pesquisadora de Lingüística de Língua de Sinais, a professora e doutora Lucinda Ferreira Brito. Hoje em dia, por motivos particulares, a pesquisa sobre Linguagem e Surdez está parada. Antes, como aluna, eu era colaboradora de outros colegas que já se formaram no Mestrado ou Doutorado, ajudando em suas pesquisas. Com isso, também tive ex-

periências de estudos lingüísticos em Libras. Agora, falta abrir espaços para Surdos nas Universidades Públicas e também para Intérpretes de Libras, que são fundamentais para o sucesso dos alunos da Faculdade de Letras e de outras áreas. É necessário haver cursos de Pós-Graduação, cursos da Língua Portuguesa para os Surdos ( L2 ) e a Língua Inglesa para os Surdos ( L3 ), curso para a formação dos Intérpretes de Libras e a continuidade das pesquisas no projeto: Estudos da Libras, Aquisição de Linguagem e Aplicação na Educação do Laboratório da Linguagem e Surdez, da Faculdade de Letras da UFRJ. CONSIDERAÇÕES FINAIS O depoimento pessoal descrito serve de alerta, pois tenho certeza de que num futuro muito próximo, a Universidade Federal do Rio de Janeiro e outras Universidades brasileiras garantirão o direito de alunos ou funcionários surdos às vagas nas Universidades Públicas e com a presença dos Intérpretes de Libras em todas as áreas desejadas. Até quando os Surdos brasileiros vão esperar pela garantia do direito à Libras e aos serviços de Intérpretes? É um absurdso o que reivindicamos? Queremos respostas e ações. * Profa. de LIBRAS (Estrutura da Língua Brasileira de Sinais) Faculdade de Letras - UFRJ - RJ

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cultura

“Meus sentimentos em folhas” O livro de poesias é realização de um sonho para a autora Nádia Mélo

Cerca de cem pessoas, entre jornalistas, amigos e representantes de entidades ligadas à área de surdez, estiveram presentes ao lançamento do livro “Meus Sentimentos em Folhas”, de autoria de Ronise Oliveira, no dia 8 de dezembro, na biblioteca no Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines). O lançamento é da Litteris Editora, que recentemente produziu O Som das Palavras, uma coletânea de textos de escritores surdos. Depois de alguns agradecimentos especiais à família, amigos e professores que fizeram parte de sua vida, Ronise falou sobre a iniciativa de escrever e o significado disso para a sua vida. Disse que o livro surgiu a partir de um desejo muito forte de passar seus sentimentos para uma folha de papel. “Sentia que era feliz, mas ao mesmo tempo me sentia só. Foi a forma que eu encontrei de mostrar a todas as pessoas os meus sentimentos. Pode ser que aquele que não tenha o dom de escrever poesias tenha outro dom. Cada um tem uma história diferente a ser contada. O importante é que o surdo saiba transmitir isso”. Esbanjando felicidade pela conquista, Ronise disse ainda que aos 11 anos já sonhava em escrever um livro e apesar das dificuldades que surgiram no decorrer dos anos ela não desistiu. Ao falar aos convidados contou que muitas vezes não

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Alegria da autora ao mostrar o livro

Ronise Oliveir aem noite autógrafos

No lançamento, Shirley Vilhalva e Flávia lêem as poesias de Ronise

Max Heren diretor financeiros e de planejamento da Feneis recebe o livro com a dedicatóoria

teve dinheiro para comprar um livro e lia muitos gibis. Mas mesmo com poucas oportunidades de ler pôde perceber a importância da leitura. Na ocasião, ela declamou a poesia que deu nome ao livro, “Meus sentimentos em folhas”. Shirley Vilhalva, que é do Conselho de Administração da Feneis e também escritora, disse ter ficado surpresa e muito feliz com o lançamento do livro de Ronise. “Da mesma forma que estamos vendo hoje, poderemos ver outros surdos escrevendo no futuro no Brasil”, acredita. Também estiveram homenageando a autora com uma palavra especial, o Chefe do Gabinete do Ines,

Marcelo Cavalcanti; Artur Rodrigues, representando a Litteris Editora e Nelson Pimenta, do Teatro Brasileiro de Surdos. De acordo com o editor Artur Rodrigues, o Ronise tem um estilo próprio de escrever e seu livro possui uma importância muito especial porque mostra mais uma vez que o surdo é capaz. “É um trabalho muito bonito, um projeto realizado para surdos e ouvintes”, disse. Segundo ele, a Editora tem investido no escritor surdo porque acredita em seu potencial e os resultados têm sido excelentes. De 9 a 12 de março de 2006, Ronise Oliveira estará na bienal Internacional em São Paulo.


internacional

Juventude surda de Portugal O IV Congresso Nacional da Juventude Surda de Portugal, em meados deste ano, teve como tema A Juventude Surda da Europa. O evento reuniu dois delegados de cada associação portuguesa, num total de 31 jovens. Durante o congresso os jovens puderam assistir a uma conferência sobre A Importância da Constituição Européia. Era visível a preocupação dos jovens surdos com o seu futuro, pois se é verdade que a Constituição Européia

proclama respeito e igualdade, também é verdade que persistem os atos discriminatórios para com as pessoas surdas. A Juventude surda também apelou para a necessidade de serem garantidos os direitos de todos os cidadãos portugueses. Nos workshops os congressistas debateram os seguintes temas: Educação das Crianças e Jovens Surdos , Os Surdolímpicos, A legenda na televisão , Aplicação da Lei , Equipamentos Sociais e o Pa-

pel da Federação Portuguesa das Associações de Surdos. Outra reivindicação proposta pelo congresso é o reconhecimento das datas significativas para Comunidade Surda, pois por meio delas haveria uma sensibilização e aproximação com a comunidade ouvinte. Algumas delas são: Dia Internacional da Língua Gestual, 25 de fevereiro; Dia Nacional dos Surdos, 24 se setembro; Dia Europeu da Língua Gestual, dia 6 de dezembro; entre outras.

notícias regionais

Políticas Educacionais para Surdos A Feneis promoveu no dia 10 de outubro, o I Encontro Estadual Sobre Políticas Educacionais para Surdos, no Auditório Dante Barone, em Porto Alegre (RS). O objetivo foi à entrega aos gestores da Secretaria de Educação, do Conselho Estadual de Educação, do Ministério da Educação e nos Municípios,

por meio das coordenadorias de Educação e das Secretarias Municipais de Educação, o documento que reproduz a política para educação de surdos no Estado. Durante o evento foi realizada uma caminhada simbólica na Praça da Matriz – Praça dos Três Poderes, para a entrega do documento no

Palácio do Governo, que contou com a presença de grupos das comunidades escolares, carregando faixas e cartazes com reivindicações. Também foi feita a apresentação do Projeto Libras é Legal, pelo representante do Núcleo de Educação e Difusão da Libras – NEDILS.

Revista da FENEIS - 27


notícias regionais

II Seminário Paranaense de Surdos O II Seminário Paranaense de Surdos aconteceu de 11 a 14 de novembro, em Faxina do Céu (PR). Esse evento pioneiro é organizado pela SEED/DEE, em parceria com a Federação Nacional de Educação e Integração Nacional dos Surdos / Feneis. Paralelo ao seminário ocorreu a II Mostra de Arte de Surdos do Paraná para a divulgação dos trabalhos de artistas surdos paranaenses. Durante o seminário foram debatidos aspectos lingüísticos e culturais das comunidades surdas brasileiras, visando à proposição de políticas públicas para inclusão social e escolar das pessoas surdas. Também aconteceram apresentações culturais com grupos representando escolas e instituições do Paraná e outros Estados. A Língua Oficial do evento foi a de Sinais (Libras), havendo tradução para o português apenas nas palestras, que tiveram os seguintes temas: Surdos: vestígios culturais na História, Ética na Comunidade Surda; A Comunicação do Surdocego, Sexualidade, Telefônica e Tecnologia para Sur-

dos; A arte de contar histórias; e Movimentos surdos: cidadania e inclusão social. Os palestrantes foram Karin Lilian Strobel – Feneis/PR, Rosani Suzin - Feneis/ PR, Grupo Brasil, Paulo A. de Bulhões – INES/RJ, Neivaldo Zovico - Feneis/SP, Fabiano Souto – Ulbras/RS e Marcelo Lemos - Feneis/RS. Os participantes puderam optar por três das seguintes oficinas: Teatro e Expressão Corporal, Poesia em Libras, Imagem e Pensamento em Libras, Será que o meu filho Surdo pode aprender? E como pais, o que devemos fazer?, Narração de Histórias em Libras, Sexualidade, Ética e Jogos e Brincadeiras em Libras. Os responsáveis pelas ofcinas foram: Nelson Pimenta / RJ, Fernanda Machado – INES/ RJ, Rosane Grasse – Apada Nietrói/RJ, Leandro Patrício / PR, Rita Maestrini / PR, Fabiano Souto Ulbra/RS, Paulo André Bulhões/RJ, Rosani Suzin – Feneis/Pr; Irene Stock, Vilmar Fernando Carvalho, Antônio M. da Silva e Vanderléia Maria Castoldi – Projeto Libras é Legal / PR.

Libras no Amazonas No segundo semestre deste ano, o jornal O Estado do Amazonas (AM) publicou uma matéria sobre o reconhecimento da Libras como meio legal de comunicação e expressão no Brasil, desde 2002, com base na Lei Federal 10.436. Nessa reportagem, o diretor regional da Feneis, Marlon Jorge Silva de Azevedo, destacou a importância dessa lei para os surdos, pois, por meio dela, a Libras será incluída nos currículos dos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, facilitando o aprendizado das pessoas surdas. “Também teríamos intérpretes em órgãos públicos, escolas e bancos, facilitando a comunicação nesses lugares”, declarou Marlon.

Acessibilidade: Passaporte para a Cidadania Foi realizado em Brasília, no dia 19 de outubro, o Seminário em Videoconferência – Acessibilidade: Passaporte para a Cidadania, no Auditório do Interlegis, Senado Federal. O evento foi desenvolvido durante a Semana de Valorização da Pessoa com Deficiência e contou com a presença de diversas autoridades fede-

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rais e civis. Antônio Campos representou a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis) e palestrou sobre perspectivas para pessoas com deficiência auditiva. No período da tarde foram debatidas questões sobre o universo do trabalho nas diversas re-

alidades e perspectivas para pessoas com deficiência mental, auditiva e física, como também a inclusão digital e Políticas Públicas e Acessibilidade, buscando caminhos para a igualdade. A assembléias legislativas dos Estados e Municípios participaram das discussões por meio de videoconferência.


associações

ASURCOL comemora 10 anos

A Associação de Surdos de Colatina – Asurcol (ES) comemorou o seu 10º aniversário nos dias 14 e 15 de outubro. Durante as comemorações foi realizada uma missa em Ação de Graças e houve momentos de confraternização, campeonato de Futsal masculino e um baile. Estiveram presentes nas festividades os representantes das Associações de Surdos de Vitória, Cariacica, Vila Velha e Cachoeira de Itapemirim. O presidente da Federação Desportiva dos Surdos do Espírito Santo, Anderson da Silva Araújo, também prestigiou o evento. Ele lembrou a importância de se incentivar a formação de instrutores e intérpretes, como também a divulgação e conscientização das pessoas a respeito da cultura dos surdos. A Asurcol foi fundada no dia 30 de setembro de 1995. Organizada pelos próprios surdos, hoje a Associação promove atividades esportivas e de educação, participa de campeonatos em outros Estados e oferece aulas de informática para surdos. Crisangelis Manfres, presi-

dente da Asurcol, agradeceu a presença de todos os presentes no evento e destacou que um dos futuros desafios da associação é um projeto para formação e capacitação de instrutores. Colaborou Renato Tadeu

DIVINÓPOLIS divulga site Está no ar a home page da Associação dos Surdos de Divinópolis – ASD (MG). No site é possível obter diversos tipos de informação, entre elas como fazer doações e se tornar sócio, além de notícias ligadas à surdez, eventos, lazer, poesias e muito mais. Acesse o endereço eletrônico www.assurdiv. com.br e conheça as atividades promovidas pela ASD, que completou em outubro 15 anos. Mais informações pelo telefone (37) 3213-486 ou pelo email assurdiv@yahoo.com.

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endereços

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infantil

De olho no pequeno

William Este é William Facciiola, filho de Adenilson e Carina Facciola. Ele é surdo e tem 3 anos. Muito levado e esperto, gosta de brincar e é um menino muito querido por seus coleguinhas. William adora guloseimas, como pizzas, doces, balas e pirulitos. Sua maior distração é assistir desenhos na TV e não resiste a uma praia. Tem paixão pelo avô paterno, com quem está sempre nos finais

de semana. Há um ano e meio, ele estuda no Instituto Nacional de Educação de Surdos (Inês), no Rio de Janeiro. Seus pais dizem que ele tem desenvolvido muito bem e que tem aprendido com rapidez a Língua de Sinais. Eles também pretendem fazer o curso de Libras para terem uma comunicação

plena com seu pequeno William. Parabéns ao casal Adenilson e Carina por se preocuparem em aprender a Libras e assim participarem plenamente do crescimento físico e intelectual do pequeno Willam! Colaborou Rita Lobato

Revista da FENEIS - 31



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