Feneis Revista 33

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ANO VII • Nº 33 • julho-setembro de 2007

ISSN 1981-4615



palavra do presidente

FENEIS ISSN 1981-4615 DIRETORIA Diretor-Presidente Antônio Mário Sousa Duarte Diretor Primeiro Vice-Presidente Marcelo Silva Lemos Diretor Segundo Vice-Presidente Shirley Vilhalva Diretora Administrativa Márcia Eliza de Pol Diretor Financeiro e de Planejamento Max Augusto Cardoso Heeren Diretora de Políticas Educacionais Marianne Rossi Stumpf DIRETORIAS REGIONAIS Rio de Janeiro – RJ Diretor Regional: Walcenir Souza Lima Porto Alegre – RS Diretor Regional: Ricardo Morand Góes Diretora Regional Administrativa: Vânia Elizabeth Chiella Diretora Regional Financeira: Denise Kras Medeiros Teófilo Otoni – MG Diretor Regional: Luciano de Sousa Gomes Diretora Regional Administrativa: Sueli Ferreira da Silva Diretora Regional Financeira: Rosenilda Oliveira Santos Recife – PE Diretor Regional: Nelson do Rego Valença Júnior Diretor Regional Administrativo: Sueli Cristina dos Santos Diretor Regional Financeiro: Thereza de Fátima Araújo Fragoso Brasília – DF Diretor Regional: Messias Ramos Costa Diretora Regional Administrativa: Edeilce Aparecida Santos Buzar Diretor Regional Financeiro: Amarildo João Espíndola Belo Horizonte – MG Diretora Regional: Rosilene Fátima Costa Rodrigues Novaes Diretor Regional Financeiro: Antônio Campos de Abreu São Paulo – SP Diretor Regional: Neivaldo Augusto Zovico Diretora Regional Administrativa: Neiva de Aquino Albres Diretor Regional Financeiro: Richard Van Den Bylaardt Curitiba – PR Diretora Regional: Karin Lílian Strobel Diretora Regional Administrativa: Iraci Elzinha Bampi Suzin Diretor Regional Financeiro: Angelo Ize Manaus – AM Diretor Regional: Marlon Jorge Silva de Azevedo Diretora Regional Financeira: Waldeth Pinto Matos Fortaleza - CE Diretora Regional: Maria Maísa Farias Jordão Diretora Regional Administrativa: Mariana Farias Lima Diretor Regional Financeiro: Rafael Nogueira Machado Florianópolis – SC Diretor Regional: Luciano Amorim Diretora Regional Administrativa: Idavania Maria de Souza Basso Diretor Regional Financeiro: Patrícia Matos Leal CONSELHO FISCAL Efetivo 1º Membro Efetivo e Presidente – José Tadeu Raynal Rocha 2º Membro Efetivo e Secretário – Carlos Eduardo Coelho Sachetto 3º Membro Efetivo – Vago Suplentes 1º Membro suplente – Luiz dinarte Farias 2º membro suplente- Antônio Carlos Cardoso 3º membro suplente- Clara Ramos Pedroza CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Carlos Alberto Góes Sílvia Sabanovaite Betiza Pinto Botelho

José Onofre de Souza Marcus Vinicius Calixto

EDITORIA Conselho Editorial Karin Liljan Strobel Shirley Vilhalva Ana Regina e Souza Campello Gladis Perlin Nádia Mello S

Editora e Jornalista responsável Nádia Mello (MT 19333) Capa e Diagramação Olga Rocha dos Santos

Espaço Acadêmico na Revista da Feneis A Revista da FENEIS, que circula no final de cada trimestre, publica este mês uma série de matérias que evidenciam mais uma vez os resultados positivos que temos tido nas mais diversas áreas que envolvem a pessoa surda. Nossa preocupação é manter todos os surdos e também os leitores que compartilham dos mesmos ideais, bem informados sobre as conquistas dos Surdos brasileiros. Mas o que queremos destacar mesmo é a nova proposta da Revista, que está recebendo todo o apoio da diretoria da Feneis, inclusive o meu enquanto presidente. O novo Conselho Editorial sugeriu que a Revista fosse dividida em duas partes. A primeira, com a divulgação de notícias; e a segunda, com artigos especiais, que possam dar suporte ao estudante universitário e pesquisadores com temáticas importantes sobre acessibilidade, cultura surda, pedagogia, metodologia, a interpretação da Libras, entre outras. Além disso, o novo projeto da Revista inclui artigos de muitos profissionais sobre o ensino da Libras e discussões a respeito de políticas educacionais. As sugestões foram muito bem acolhidas pela atual direção. Em valorização à nova perspectiva universitária que se abre à pessoa surda, após a regulamentação da Lei que oficializou a Libras, a nova seção, intitulada Espaço Acadêmico, faz parte da Revista da Feneis desde a sua edição anterior. Que todos possam fazer um bom proveito do material divulgado. No que se refere às novidades, você poderá ler ainda na Revista da FENEIS notícias sobre o projeto Libras é Legal. Esse trabalho vem obtendo cada vez mais reconhecimento e projeção. Duas Oficinas abertas foram realizadas ao longo desse ano pelo Projeto Libras é Legal, em Belo Horizonte e em São Paulo (Página 12). A representatividade da FENEIS também está sendo cada vez mais reconhecida. Podemos observar isso através das nossas participações em diversos Conselhos que apóiam a luta na área de deficiência e atuam junto aos órgãos públicos. A FENEIS está com assento, por exemplo, no Conselho Estadual para Política de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Cepde), que atua junto ao governo do Estado do Rio de Janeiro. No que tange ao mercado de trabalho, este mês destacamos a parceria com o Instituto de Reabilitação do Brasil, IRB, que emprega surdos através da Feneis. A idéia é estar sempre destacando as empresas que apostam no potencial da pessoa surda. Boa leitura. 26 de Setembro - Na próxima edição, estaremos divulgando a cobertura das festividades em torno do Dia do Surdo Antônio Mário Sousa Duarte Diretor-Presidente

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Notícias Feneis e Cepde

A Feneis participou pela primeira vez do processo de eleição do Conselho Estadual para Política de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Cepde), tendo sido eleitos para representar os surdos Walcenir Souza Lima (diretor regional da Feneis-Rio), como titular, e Valéria Cristina Fantésia de Abreu (psicóloga da Feneis), como suplente. Página 9

Internacional Brasileiros no Acampamento Mundial de Jovens Surdos

A FENEIS-RS participou do 4º acampamento mundial de jovens surdos de 7 a 13 de Julho, em Segovia, Espanha. O objetivo do evento foi reunir jovens surdos de todo o mundo para compartilhar as experiências, enviar e receber informações, valorizar a Língua de Sinais e o espaço para os jovens surdos na liderança, na comunidade e na política. Página 11

Educação Libras é Legal

Duas Oficinas abertas foram realizadas ao longo desse ano pelo Projeto Libras é Legal, sendo a primeira em Belo Horizonte e a outra em São Paulo. Ambas contaram com a parceria das Feneis paulista e mineira. Página 12

Mercado de Trabalho O emprego para o surdo no IRB

Em entrevista à Revista da FENEIS, a coordenadora de Administração de Recursos Humanos do Instituto de Reabilitação do Brasil (IRB), Selma Ramalho Moreira, que há sete anos está nesse cargo, nos falou um pouco da realidade desses profissionais no IRB. Destacou os resultados obtidos a partir do bom desempenho da pessoa surda. Na entrevista, Selma ainda comenta a respeito de outros programas sociais. Página 13

Mercado de Trabalho Fiocruz conclui nível de Libras

A parceria da Feneis e a Fiocruz envolve diretamente a atividade profissional do surdo na instituição, que acontece há mais de 10 anos. Este ano aconteceu o I Curso de Língua Brasileira de Sinais (Libras), onde foram treinados todos que atuam nã área de Recursos Humanos da Fiocruz. Página 13

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S U M Á R I O

CAPA:

O projeto Índio Surdo no Brasil visa à capacitação de profissionais que atuam na educação escolar indígena, produção de material didático de orientação para professores e demais segmentos nas línguas indígenas, registro da Língua de Sinais específica e capacitar o aluno índio surdo em Língua Brasileira de Sinais (Libras). A FENEIS esteve nas aldeias do Mato Grosso do Sul e Acre, pesquisando a existência de índio surdo bem como a sua forma de comunicação. Leia mais nas páginas 21 e 22

SUMÁRIO SUMÁRIO Palavra do Presidente .............................................3 Cartas ao Leitor ...................................................... 6 Comunicando ........................................................ 7 Notícias Regionais ..................................................9 Escritórios Regionais .............................................14 Espaço Acadêmico ...............................................30 Feneis pelo Brasil .................................................30 Infantil ..................................................................31

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cartas do leitor É possível assistir televisão em família? Há uns dois anos, tive a oportunidade de assistir em programas da TV Globo, reportagens sobre deficiência física, onde foram abordadas diversas situações de pessoas que usam cadeiras de rodas, enfrentam dificuldades para subir em ônibus, trafegar pelas calçadas, falar em orelhões, entrar em repartições públicas, cinemas, escolas, lojas e etc. Na novela América, exibida também pela TV Globo, a autora abordava com muita propriedade as dificuldades do deficiente visual. Todas estas abordagens são muito louváveis e devem ser aplaudidas de pé, pois todos temos o direito de “viver bem” neste nosso maravilhoso planeta que o Criador projetou para nós. Anníbal G. Pereira Filho

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Parabéns pela Revista Trabalho com surdos no interior de São Paulo e a revista tem sido muito útil para nós. Gostei muito de ler a reportagem publicada na última revista sobre os 20 anos da Feneis. Deus abençoe toda a equipe. Gilmara Silva – Taubaté - SP

Revista da Feneis Parabéns pela Revista da Feneis. Ela tem ajudado muito nos meus trabalhos aqui no interior de São Paulo com os surdos. Gosto de saber o que acontece com os surdos em nível de Brasil, sobre seus direitos e conquistas. Além disso, a Revista traz sempre artigos muito bons sobre assuntos pertinentes á realidade dos surdos. Ana Paula da M. Silva – Taubaté – SP


comunicando

TSB recebe homenagem da Câmara Municipal Carioca O Teatro Brasileiro de Surdos (TBS) recebeu uma Moção da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Na homenagem foi enfatizado o desafio enfrentado pelo TSB de “aliar as alegrias propor-

cionadas pelo teatro à defesa dos direitos dos surdos a educação e acesso à informação por meio da Língua de Sinais, desde a sua fundação em 2005”.

Projeto de Lei propõe ensino de Libras e Braille A Comissão de Educação e Cultura do Senado aprovou um projeto de lei que obriga as escolas públicas e particulares a oferecerem aos alunos portadores de deficiência, disciplinas que garantam uma comunicação perfeita dentro de sala de aula. Para isso, esses estudantes devem

aprender sistemas como o Braillee e Língua Brasileira de Sinais (Libras). Propostas como essa cumprem a Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana, que determina que as crianças surdas e cegas tenham acesso à educação a partir da própria língua.

Projeto obriga legendas em filmes e peças de teatro Tramita na Câmara Municipal de Belo Horizonte o Projeto de Lei 256/07, do deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG), que obriga a exibição de filmes e peças teatrais com legendas. A proposta também vale para produções nacionais. Estariam fora da obrigatoriedade filmes de divulgação musical, peças publicitárias, filmes de curta-metragem e obras exibidas em caráter não co-

mercial ou em festivais e mostras competitivas. Os cinemas que exibirem a mesma obra em mais de uma sala poderão limitar a cópia legendada a uma delas. Ainda segundo a proposta, se não forem utilizadas legendas, deve-se oferecer a interpretação do texto correspondente em linguagem compreensível às pessoas com deficiência auditiva.

Mídia Legal realizada na Alerj Ao lado de outros deficientes, a Feneis-Rio, através de seu diretor regional, Walcenir Souza, participou da palestra Mídia Legal realizada na Alerj, no dia 3 de setembro. Neste encontro, a jornalista Cláudia Werneck, da Escola de Gente, falou a respeito da comunicação para o surdo. Na ocasião, ela desta-

cou a importância da Feneis na difusão da Libras. A psicóloga da Feneis, Valéria Fantésia de Abreu, que também esteve presente, expôs sobre a questão da regulamentação da profissão, que, através de concursos e contratações, pode ajudar muito o surdo em todos os lugares.

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comunicando

Santa Catarina realiza exame Prolibras A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) é a primeira instituição pública de ensino superior a ser credenciada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para realizar o Prolibras. O Ministério da Educação realizará anualmente, até 2016, o Exame Nacional para Certificação de Proficiência em Libras e para Certificação de Proficiência em Tradução e Interpretação

da Libras (Prolibras). A partir de 2008, outras instituições de ensino superior poderão se habilitar, com base nos critérios a serem definidos pelo Inep/MEC, responsável pelo exame. O Decreto nº 5.626/05 determina que por dez anos, o MEC promova o exame de forma a certificar a proficiência de pessoas surdas ou ouvintes, com escolaridade de nível médio ou superior, com fluência no uso e competência no ensino de Li-

bras, bem como certificar a proficiência de pessoas ouvintes com competência para os serviços de tradução e interpretação de Libras/Português/Libras. Pelo decreto, as pessoas que obtiverem a certificação de proficiência em Libras estarão capacitadas para o ensino de Libras e as que obtiverem a certificação de proficiência em tradução e interpretação poderão promover a acessibilidade de alunos surdos.

notícias

Feneis recebe certificado da Prefeitura A Feneis tem marcado presença em órgão de representação junto ao governo em diversas esferas. No dia 21 de setembro, Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência,a Secretaria Municipal do Trabalho e Emprego, através do Centro Integrado de Assistência do Deficiente, concedeu à Feneis, e a outras entidades que atuam ao lado do deficiente, um certificado. A homenagem, reconhece a Feneis como entidade que desenvolve atividade na área de capacitação e profissionalização de pessoas com deficiência, e certifica a importância de sua atuação para o fortalecimento do sistema municipal da emprega-

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bilidade de pessoas com deficiência. Segundo o diretor regional Walcenir Souza, que participou da cerimônia ao lado da psicóloga da Feneis Eliane Gonçalves, atos como esse são resultados da luta

da Feneis, que sempre procurou defender e orientar o surdo para que tenham uma vida social melhor. Durante o evento, foi criada a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPD). Leda Azevedo, que está à frente da nova Secretaria, destacou o desempenho da Feneis na parceria com a Funlar de Vila Isabel e Campo Grande, onde há surdos trabalhando nas áreas de limpeza e manutenção. Agora, ao lado da Federação, está sendo organizando um curso de Libras para capacitar os profissionais da Rede de Restaurantes e Hotéis do município para o atendimento ao surdo.


notícias

Participações em conselhos e órgãos ligados à área de deficiência aumentam representatividade da Feneis Nádia Mello Fotos: N. Pinto

Na ocasião, pouco antes de declarar empossados os conselheiros, a secretária estadual elogiou a formação do Conselho. “Que este órgão seja o único representante dos interesses das pessoas deficientes. Parabéns ao Cepde, que dá poder ao poder público para implementar a política estadual para os portadores de deficiência”, disse. Segundo o diretor Benedita da Silva e prepresentantes de segmentos sociais e da área de deficiência dão regional da Feneis, posse aos novos conselheiros Walcenir Souza, ter um Assento no Cepde léria Cristina Fantésia de Abreu assento neste Conselho foi muiA Federação Nacional de (psicóloga da Feneis), como su- to significativo porque estamos Educação e Integração dos Sur- plente. mos próxima da luta de outras dos (Feneis) participou pela priA solenidade de posse acon- áreas de deficiência. “Só dessa meira vez do processo de elei- teceu no dia 6 de setembro, reu- forma nós poderemos conquisção do Conselho Estadual para nindo diversos representantes de tar outros direitos”, ressalta. EnPolítica de Integração da Pessoa entidades ligadas à áreas de de- tre outras conquistas Walcenir Portadora de Deficiência ficiência, parlamentares compro- destacou o mercado de trabalho, (Cepde), tendo sido eleitos para metidos com a causa do defici- que hoje está mais aberto para o representar os surdos Walcenir ente e a secretária estadual de deficiente de uma forma geral. Souza Lima (diretor regional da direitos humanos e assistência No entanto, disse que o maior Feneis-Rio), como titular, e Va- social, Benedita da Silva. objetivo é o de representar as rei-

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vindicações do surdo. Para a psicóloga da Feneis, através do Cepde, que representa a pessoa portadora de deficiência junto ao Estado, ficará mais fácil para os surdos levarem seus projetos e propostas, fiscalizarem ações envolvendo o deficiente e acompanham. Dentro da área de surdez, a Feneis foi eleita em primeiro lugar para a representação no Cepde, que é composto da seguinte forma: 13 secretarias do Estado (governamentais) e 15 representantes da sociedade civil (não governamentais). No dia 12 de setembro ocorreu a eleição da Diretoria-executiva do Cepde para o biênio 2007-2008, tendo alcançado vitória a chapa de Domingues Serafina Coelho Rocha, reeleita para presidência, e Valéria de Oliveira Silva, eleita para a vice-presidência. Na ocasião, a representante da Feneis Valéria Fantésia,

Dança de salão com casal com Síndrome de Down fez parte da probramação

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participou da Comissão de eleição como secretária.

Conselho Municipal de Assistência Social A Feneis também está representada no Conselho Municipal de Assistência Social através da profissional Gesenir Rodrigues, que atua no setor de Recursos Humanos da entidade. A Federação, que antes tinha representatividade apenas como suplente agora está como titular. O Conselho é um órgão paritário e de discussão política. Segundo Gesenir, a eleição, ocor-

rida em 27 de agosto, foi importante por colocar a Feneis num espaço de luta ocupado por representantes da sociedade civil e do governo. O órgão é responsável pela fiscalização do cumprimento do que prevê a lei normatiza e regulamenta o prestador de serviço de natureza pública e privada no campo da assistência social. Para a assistente social Gesenir, a representação da Feneis neste Conselho é reflexo do olhar mais voltado para a política e a interlocução com as demais lutas no campo da assistência.


internacional

Brasileiros participam do Acampamento Mundial de Jovens Surdos

O evento reuniu jovens de todo o mundo para troca de experiências Brasileiros estiveram ao lado de representantes de vários países

O 4º acampamento mundial de jovens surdos (WFDYS - 4th WFD YOUTH CAMP 2007) aconteceu de 7 a 13 de Julho, em Segovia, Espanha. A WFDYS e a COC incentivam as Associação Nacional dos Surdos a fazerem doações a países em desenvolvimento para que eles também possam participar do evento. O objetivo do Encontrofoi reunir jovens surdos de todo o mundo para compartilhar as experiências, trocar informações, valorizar a Língua de Sinais e o espaço para os jovens surdos na

liderança, na comunidade e na política. O Acampamento Mundial foi uma experiência única para os brasileiros Alexandre Couto e Renata Heinzelmann, que, diferentemente dos representantes dos outros países, não contaram com o apoio do governo. O Acampamento Mundial de Jovens Surdos da WFDYS acontece a cada quatro anos juntamente com o Congresso Mundial da WFD. Graças à cooperação com a WFDYS, estiveram reunidos 122 jovens surdos de 41 países diferentes, em um albergue da juventude, localizado numa região muito agradável da Provín-

cia de Segóvia. Além do treinamento para organização de atividades de lazer, os jovens foram estimulados para o trabalho em conjunto, a fim de que sejam compartilhadas as suas experiências. Além disso, outra preocupação do evento foi fazer com que os jovens surdos fiquem cientes de sua capacidade de tornarem-se reais protagonistas de seu futuro. Através do tema Juventude e Política a organização do evento espera que os jovens surdos possam decidir, criar e desempenhar práticas políticas, ter acesso à educação, emprego e treinamento; acesso à comunicação e informação; liberdade de expressão em Língua de Sinais; oportunidades igualitárias e participação cidadã. “Todos esses são direitos a serem reivindicados, e o 4° Acampamento Mundial de Jovens Surdos da WFDYS é o melhor local e momento para fazê-lo”, conclui os organizadores.

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escritóriosregionais

Libras é Legal Gramática da Libras desenvolve oficina aberta em SP e BH Duas Oficinas abertas foram realizadas ao longo desse ano pelo Projeto Libras é Legal, sendo a primeira em Belo Horizonte e a outra em São Paulo. Ambas contaram com a parceria das Feneis paulista e mineira. Em BH o evento aconteceu em meados deste ano, no auditório da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMIG), contando com a participação de 60 pessoas entre surdos, educadores, empresários e colaboradores. Na ocasião, os participantes testemunharam sobre os seus relacionamentos familiares e com o mercado de trabalho. Também foram apresentadas, pelo Diretor Regional da Federação dos Surdos de Minas Gerais, Antônio Campos de Abreu, e pelo Coordenador do CELES-MG, Paulo Henrique Passos Santiago, as atividades realizadas pela FENEIS-BH. A receptividade ao Projeto foi bastante positiva, ficando proposto um novo evento, só que agora de capacitação, previsto para o mês de novembro, com data a ser confirmada. Na capital paulista, a Oficina Aberta foi desenvolvida no Auditório do Centro Universitário Assunção (UNIFAI), no mês de setembro. Participaram pessoas surdas, pais, educadores, empresários, colaboradores e interessados que tiveram a chance de conhecer o Kit Libras é Legal.

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No mês de agosto a FeneisDF realizou o Mini-curso Gramática da Libras, I Encontro de Instrutores de Libras e Aniversário da FENEIS/DF. O mini-curso foi ministrado pela autora do livro Libras em Contexto, a lingüistaTanya A. Felipe. Os participantes receberam uma camiseta e o livro Idéias, gentilmente cedido pelo Ministério da Educação, com o in-

tuito de ensinar português para alunos surdos. O I Encontro de Instrutores de Libras e Aniversário da FENEIS/DF contou com a presença dos seguintes preletores: Messias Ramos Costa, Tanya Felipe, Falk Soares e Edeilce Buzar. Na ocasião, aconteceram homenagens, apresentações culturais e sorteios de brindes.


mercado de trabalho

O IRB e o emprego ao surdo Nádia Mello

O INSTITUTO DO

DE

REABILITAÇÃO

BRASIL, IRB,

MANTÉM UMA

PARCERIA COM A

FENEIS PARA

O EMPREGO DO SURDO DESDE

1999. NA OCASIÃO, O IRB COMEMORAVA

EM

60

ANOS.

RÁPIDA ENTREVISTA COM A COORDENADORA DE

ADMINISTRAÇÃO

DE

RECURSOS

HUMANOS, SELMA RAMALHO MOREIRA, QUE HÁ

SETE ANOS

Os surdos atuan em diversos setores da empresa

ESTÁ NESSE CARGO, ELA NOS FALOU UM POUCO DA REALIDADE DESSES PROFISSIONAIS NO

DESTACOU

IRB.

AS ATIVIDADES

EM QUE ESTÃO ENVOLVIDOS E OS RESULTADOS OBTIDOS A PARTIR DO BOM DESEMPENHO DA PESSOA SURDA.

NA

ENTREVISTA,

SELMA

AINDA

Revista da Feneis - Quantos surdos estão prestando serviço no IRB? Que cargos ocupam? Selma Ramalho - Atualmente, 33 pessoas surdas prestam serviço na empresa, atuando como assistentes administrativos, digitadores, higienizadores e analistas de sistemas.

COMENTA A RESPEITO DE OUTROS PROGRAMAS SOCIAIS.

LEIA A SEGUIR.

RF - Como tem sido a experiência de trabalho com a Feneis? Selma - A experiência com a contratação dessa mão-de-

obra tem sido muito gratificante, principalmente pelo grande alcance social desse tipo de projeto. RF - O IRB desenvolve algum projeto ou programa com os surdos? Selma: Não existem projetos ou programas específicos para os surdos. Esses, assim como os demais terceirizados, participam dos eventos internos programados pela empresa na área de saú-

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notícias regionais de (acompanhando o calendário anual do Ministério da Saúde), de prevenção de acidentes, de voluntariado etc.

como intérprete, repassando aos surdos as orientações necessárias para o desempeRF – Como vem sendo o relaci- nho de suas atrionamento com os demais buições e para o prestadores e com os emprega- conhecimento de dos do quadro próprio do IRB? seus direitos e deSelma: Apesar de apenas um veres, contribuinpequeno grupo de empregados do do assim para Concentração e boa produtividade em serviço IRB-Brasil ter participado do cur- uma rápida inteso da Língua Brasileira de Sinais gração do grupo à (Libras), que é utilizada pela mai- empresa. oria dos surdos contratados, a barEm maio de reira da linguagem não impede 2006, foi contraque o relacionamento seja o me- tado um novo lhor possível. Para que o relacio- preposto, formanamento entre ouvintes e surdos do em Psicologia, pudesse acontecer sem maiores com grande expeproblemas, na ocasião da implan- riência na atuatação do projeto, a Feneis realizou ção com deficienreunião com supervisores e de- tes auditivos e Durante o trabalho, o surdo é orientado mais empregados que teriam con- atribuições que tato direto com os surdos sobre o não se limitam à intermediação RF – Também existem parcerias universo dessas pessoas, suas e/ou interpretação nas mais di- com outras áreas de deficiência? potencialidades e limitações. Ou- versas situações, profissionais e Selma: Não. Existem outros tro fator relevante foi ter entre os pessoais dos surdos. Mais do que dois programas sociais, desenprestadores contratados um ou- facilitar as relações interpessoais, volvidos de acordo com legislavinte que atuava como sua atuação visa à contribuição ção específica. O primeiro deles preposto (elo entre o surdo, o para a criação de uma cultura é o Programa de Estágio de IRB e a Feneis) e principalmente empresarial que viabilize a inclu- Complementação Educacional, são social do deficiente. que proporciona experiência prática e complementação de RF - Existe a possibilida- ensino para formação profissiode de ingresso dos sur- nal de estudantes de 2º grau técdos nos quadros de car- nico e 3º grau em áreas compareira do IRB? tíveis da empresa. O outro é o Selma: O ingresso Programa de Aprendizagem Pronos quadros de carreira fissional, que tem como público da empresa se dá exclu- jovens com 16 ou 17 anos em sivamente por concurso situação de risco social, exercenpúblico que, quando re- do atividades que lhes possibilializado, obedece a le- tem aprendizagem e desenvolvigislação em vigor quan- mento funcional, compatíveis com a sua condição de adolesOs profissionais contratados através da Feneis to à reserva de vagas cente. estão bem adaptados ao ambiente de trabalho para deficientes.

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mercado de trabalho

Feneis orienta Supermercado no trabalho com os surdos O Supermercado Mundial possui em seu quadro de pessoal 70 surdos contratados. No total são 230 deficientes, entre eles físicos e visuais, que atuam em 18 lojas e em diversas funções. Desde 2002 a empresa tem investido na capacidade desse tipo de trabalhador. O projeto, que começou com 10 pessoas, numa experiência piloto, foi ampliado em 2004, com a contratação de mais 120 pessoas. Hoje, além dos já efetivados, há a expectativa para mais 60 portadores de deficiência. Em agosto, a empresa procurou a Feneis em busca de orientação com relação ao trabalho com a Pessoa Surda. Segundo a coordenadora dos Projetos Sociais da empresa, Laura Negro de La Pisa, o contato com a Feneis surgiu para que os que se relacionam com as auxiliares de Recursos Humanos da Empresa pudessem conhecer as oportunidades que a Feneis oferece, com o objetivo de um aperfeiçoamento e uma melhor comunicação com os surdos. “O Supermercado Mundial muito antes da Lei de Cotas já tinha em seu quadro de pessoal deficientes. O próprio presidente da empresa é um deficiente físico, que está à frente do cargo há 40 anos”, comenta. Para atender à solicitação da empresa, a Feneis/RJ organizou uma palestra no dia 17 de agosto para 20 empregados do Supermercado, que atuam direta-

Fotos: N. Pinto

Grupo do Mundial que assistiu a palestra Coordenadora de Projetos Sociais do Mundial ladeada...

mente com os profissionais surdos. Conduzida pela gerente Flávia Mazzo e pela sua assessora, Rita Lobato, o evento teve início com um filme a respeito das atividades da Feneis. A programação incluiu também explicações a respeito dos motivos que podem causar surdez, e da necessidade do acompanhamento à criança surda, dos testes e dos exames adequados para constatação da surdez. A ocasião foi oportuna ainda para destacar a importância da Libras na vida do surdo desde a sua infância. O grupo foi bem participativo, expondo sobre as suas dificuldades e também sobre as experiências ao lado dos surdos. Houve oportunidade ainda de maior conhecimento da história do surdo no Brasil e no Mundo. Foram abordadas as fases de oralismo e comunicação total, até chegar ao bilingüismo, e o significado cada momento desse para o surdo brasileiro. Teve destaque na palestra a oficialização e regulamentação da Lín-

...por Flávia Mazzo e Rita Lobato

gua Brasileira de Sinais, que abriu caminho para avanços como o ProLibras. Outra questão apresentada pela Feneis foi a inserção do surdo profissionalmente e suas necessidades no ambiente de trabalho. Nesse sentido, foi orientada a utilização de recursos visuais em dinâmicas especiais, e o esforço para um dia-a-dia marcado através de diálogos em Língua de Sinais. Quanto às avaliações da empresa houve a sugestão de que fossem feitas diretamente ou através de questionários com uma linguagem apropriada, mais simples para o surdo. O último assunto tratado com o grupo foi sobre da fundação da Feneis, seu desenvolvimento e seu papel hoje, detalhando objetivos e áreas de atuação.

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mercado de trabalho

Fiocruz conclui nível I de Libras A parceria da Feneis e demonstrou-se também a Fiocruz envolve diretabastante surpresa e satismente a atividade profisfeita com a participação sional do surdo na instiexpressiva no Curso de tuição, que acontece há Libras promovido na insmais de 10 anos. Este ano tituição. aconteceu o I Curso de O coordenador de proLíngua Brasileira de Sinais gramas sociais do Direh, (Libras), onde foram treiJorge da Hora, disse estar nados representantes de bastante animado com os todos os Recursos Humaresultados, especialmente nos da Fiocruz. A inciativa com a possibilidade de partiu da coordenação de abertura de novas frentes programas sociais da Primeira turma a concluir o curso de Libras na Fiocruz de trabalho para os surdos Direh, que tem à frente em outros estados, divulJorge da Hora. O resultado disso trabalho da Feneis com os sur- gada durante o evento. foi a conclusão do nível I do dos nas unidades do Campus e Para Norma Vieira, coordenaCurso Libras pela primeira tur- do Instituto Fernandes Figueira dora do Curso de Libras, foi (IFF). Queremos alcançar outras muito prazeroso atuar dentro de ma. A cerimônia da entrega dos unidades fora do Rio de Janeiro, um projeto que vai proporcionar certificados foi na própria como Salvador, Recife, Belo Ho- uma integração maior entre surFiocruz, em agosto. Além dos rizonte, Manaus e Brasília”, dis- dos e ouvintes. A previsão para representantes da Fiocruz, esti- se ao falar da importância da am- o próximo curso, segundo ela, é veram presentes o coordenador pliação desse projeto. Lúcia Cruz 2008. do Celes/RJ, Fernando de Miranda Valverde, e a profissional da área de Recursos Humanos da Feneis, Eliane Gonçalves, que expuseram respectivamente sobre o trabalho da Feneis na área de cursos e a responsabilidade da entidade na questão da No Dia Nacioinserção do surdo no mercado nal de Vacinação de trabalho. contra a PoliomiDurante o evento, foi menci- elite (paralisia inonado a possibilidade de desen- fantil), foram vacivolver um curso de nível avan- nadas 3.208 criçado e continuar com o curso anças no campus básico, que poderá ser aberto da Fiocruz em para a comunidade. A chefe do Manguinhos, no Departamento de Desenvolvi- Rio de Janeiro. mento de Recursos Humanos, Em sua 14ª ediLúcia Cruz, que compareceu à ção, o evento cerimônia, disse também que a Fiocruz pra Você Equipe da Feneis no “Fiocruz pra você” parceria com a Feneis, através do transforma a insticontrato para a inserção do tra- tuição no maior balhador surdo na instituição, posto de vacinação do país no um stand durante o evento, dipoderá ser estendida a outras dia da campanha. vulgando a Libras e seus mateunidades da Fiocruz. “ Temos o A Feneis esteve presente com riais didáticos.

Feneis na campanha de vacinação

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Tanya A. Felipe*

E

m vários países, o poder público, instituições nãogovernamentais, sociedade civil organizada, comunidades surdas e iniciativas pessoais vêm trabalhando para conseguirmos uma sociedade mais justa para todos, onde os Surdos possam realmente ter acessibilidade para se sentirem verdadeiramente incluídos. Em 1991, a Resolução 45/91 da Organização das Nações Unidas - ONU destaca uma Sociedade para Todos e coloca o ano 2010 como sendo o limite para que as mudanças necessárias ocorram, assim terá que haver: aceitação das diferenças individuais; valorização da diversidade humana; destaque e importância do pertencer, do conviver, da cooperação, da contribuição que gerarão vidas comunitárias mais justas. Em 1992, o Programa Mundial de Ações Relativas às Pessoas com Deficiência propôs que a própria sociedade mude para que as pessoas com deficiência possam ter seus direitos respeitados. A partir de 1994, com a Declaração de Salamanca (UNESCO) sobre necessidades educativas especiais, acirrou o debate sobre “Sociedade Inclusiva” que é conceituada como aquela sociedade para todos, ou seja, é a

sociedade que deve se adaptar às pessoas e não as pessoas à sociedade, por isso, nessa sociedade inclusiva, o Sistema Escolar deverá ser também baseado em uma escola integradora, que respeitando as diferenças, trabalha pela eqüidade, ou seja, possibilita a qualidade de acordo com das necessidades educacionais específicas. Em 1995, continuando nessa perspectiva de uma sociedade para todos, na Declaração de Copenhague sobre Desenvolvimento Social e no Programa de Ação da Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social, a ONU afirma que “Sociedade inclusiva precisa ser baseada no respeito de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, diversidade cultural e religiosa, justiça social e as necessidades especiais de grupos vulneráveis e marginalizados, participação democrática e a vigência do direito”. (1995:9) Em 1996, nas Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para Pessoas com Deficiência, a ONU institui que todas as pessoas com necessidades especiais “devem receber o apoio que necessitam dentro das estruturas comuns de educação, saúde, emprego e serviços sociais” (Nações Unidas, 1996 §26). O termo “equiparação de

oportunidades” significa o processo através do qual os diversos sistemas da Sociedade e ambiente, tais como serviços, atividades, informações e documentação, são tornados disponíveis para todos, particularmente para pessoas com deficiência. (Nações Unidas, 1996 § 24) A partir de então, as escolas brasileiras começaram a fomentar o discurso da Inclusão e, segundo depoimentos de professores, em vários estados, em nome dela, estão simplesmente jogando o surdos nas classes regulares. “Entretanto, a simples inclusão de alunos com deficiências em salas de aulas do ensino regular não resulta em benefícios de aprendizagem” Stainback (1999: 22). Em 1996, a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência realizou uma Câmara Técnica, que resultou no documento “Resultado da Sistematização dos Trabalhos da Câmara Técnica sobre o Surdo e a Língua de Sinais”, quando se consubstanciou propostas e sugestões dos participantes de todo o Brasil, ouvintes e surdos, a título de subsídios para a legalização da Língua Brasileira de Sinais – Libras - no País e a caracterização da profissão de intérprete.

Revista da FENEIS - 17

Espaço Acadêmico

Acessibilidade: direito dos Surdos


Espaço Acadêmico

Esse documento foi publicado e distribuído para os estados brasileiros e enviado para subsidiar o Projeto de Lei para a Oficialização da Libras em âmbito nacional. Sob este olhar nas diferenças, as identidades surdas (Gladis, 1998) se transpareceram como uma “construção histórica e social, efeito de conflitos sociais, ancoradas em práticas de significação e de representação compartilhadas entre surdos” e ouvintes. Assim, as pressões das organizações não-governamentais de surdos e ouvintes, das escolas e de políticos culminaram com a homologação, pelo Presidente da República, da Libras, como língua oficial dos Surdos (Lei No. 10.436, de 24 de abril de 2002) e, em dezembro de 2005, foi homologado o Decreto 5.656 que regulamentou essa lei. Seguindo essa trajetória de lutas e conquistas, tendo participado também da Câmara Técnica sobre acessibilidade da pessoa portadora de necessidades especiais, que deu subsídios para que, em dezembro de 2000, fosse decretada e sancionada a LEI No 10.098, os surdos puderam ter seus direitos de cidadania respeitados, uma vez que essa Lei estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência. Nessa Lei, em seu Artigo 2o, acessibilidade é definida como sendo a possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, entre outras coisas, dos sistemas e meios de comunicação. Bar-

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reira na comunicação é definida como qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de comunicação ou de massa. No seu Capítulo IV, Da acessibilidade nos edifícios públicos ou de uso coletivo, no Artigo 12, está decretado que “os locais de espetáculos, conferências, aulas e outros de natureza similar deverão dispor de espaços reservados para pessoas que utilizam cadeiras de rodas, e de lugares específicos para pessoas com deficiência auditiva e visual”. No Capítulo VII- Da acessibilidade nos sistemas de comunicação e sinalização, no Artigo 18, estabelece que “O poder Público implementará a formação de profissionais intérpretes de ... Língua de Sinais ... para facilitar qualquer tipo de comunicação direta...” e que “os serviços de radiodifusão e de sons e imagem adotarão plano de medidas técnicas com o objetivo de permitir o uso da linguagem de sinais ou outra subtitulação, para garantir o direito de acesso à informação às pessoas portadoras de deficiência auditiva”, Artigo 19. Portanto, acessibilidade para os Surdos é poder aprender sua língua pelo processo natural, desde sua infância, o que evitará que tenham uma defasagem lingüística, como acontece com a maioria deles; é poder ter acesso à legenda na mídia; é ter intérprete em fórum e eventos; é ter o direito de estudar as especificidades lingüísticas dessa língua na escola; é poder

utilizá-la como instrumento de arte, através do teatro e da literatura, é ter a Libras como língua de instrução na escola e não ter apenas um intérprete que repassa informações de um professor, uma vez que, como Gadotti (1989) afirma, “a tarefa da educação” está “ essencialmente ligada à formação da consciência crítica. Quero dizer que identificaremos educar com conscientizar. O papel da conscientização de que nos fala Paulo Freire é essa decifração do mundo, dificultada pela ideologia; é esse “ir além das aparências”, atrás das máscaras e das ilusões, pagando o preço da crítica, da luta, da busca, da transgressão, da desobediência, enfim, da libertação”.(Freire, 1995 e 2000)

Referências bibiográficas CORDE (1996) Câmara Técnica “O Surdo e a Língua de Sinais”- Resultado da Sistematização dos Trabalhos. Brasília: Ministério da Justiça/ Secretaria dos Direitos da Cidadania/ CORDE FREIRE, P. (1995) À sombra desta mangueira. São Paulo: Olho D’Água (2000) Pedagogia da Autonomia - saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra – Coleção Leitura. 15ª. Edição GADOTTI, M. (1989) Educação e poder: introdução à pedagogia do conflito. São Paulo: Cortez. 9ª. Edição GLADIS (1998) Identidade Surdas e Inclusão. Anais do Seminário Surdez, Cidadania e educação: Refletindo sobre os Processos de Exclusão e Inclusão. Rio de Janeiro: INES, Divisão de estudos e Pesquisas. Páginas: 112-123 STAINBACK, S e STAINBACK, W. ( 1999) Inclusão –Um guia para educadores. Porto Alegre: Artmed

*Prof. Titular da UPE; Coordenadora do Programa Nacional Interiorizando a Libras (MEC/SEESP/FNDE-Feneis); Consultora do Celes-Feneis. E-mail: tafelipe@uol.com.br


Deonisio Schmitt (Mestrando em educação UFSC) Karin Lílian Strobel (Doutoranda em educação UFSC) Shirley Vilhalva (mestranda em lingüística UFSC)

A

inda é conveniente comentar sobre a cultura nestes tempos de globalização, ainda mais relacionando à pedagogia e educação? Nossa resposta é sim, pois é apresentação destes questionamentos que nos desafiam a refletir, principalmente na educação de surdos. Em educação de surdos surge a pergunta: Qual o conceito da cultura surda? Porque temos de nos preocuparmos com a pedagogia surda? É importante termos currículo surdo nas escolas? Asseguramos que hoje existem diferentes fontes ‘vai-e-vem’ das variações dos conceitos de cultura, que estão presentes nas escolas, e também de sujeitos com identidades culturais diferentes no mesmo espaço. Isso é o que nos faz comentar sobre esta tão comentada pedagogia surda. Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo, a fim de se torná-lo acessível e habitável ajustando-os às suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas2 e das ‘almas’ das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as idéias, as crenças, os costumes e os hábitos de povo surdo. (STROBEL, 2007, p.6)

Para educação dos surdos que se dá em outros espaços culturais que os dos não-surdos, recorremos aos campos de Estudos Culturais. Pois, através desse campo é que ampliamos a nossa compreensão da pedagogia cultural, isto é, pedagogia surda, e de seu papel na prática pedagógica dentro e fora do espaço escolar. O texto proposto para ensaiarmos aqui concretiza a intenção de contribuimos com uma reflexão sobre os planejamentos de ensino como estratégia de política cultural e as ideologias educacionais que perpassam no discurso político-educacional de nossos dias. Ao interpretar o texto vimos que a política da transformação abre os espaços dentro da pedagogia cultural. Por exemplo: o professor entra em sala de aula e tenta aplicar a teoria proposta, mas ele se depara com as diferenças de identidades culturais de cada aluno e então para colocar em prática o seu ensino. O professor passa por um processo de transformação, elaborando estratégias e respeitando os artefatos “Segundo constatamos em diversos autores em campos de Estudos Culturais, o conceito ‘artefatos’ não se refere apenas a materialismos culturais, mas àquilo que na cultu-

ra constitui produções do sujeito que tem seu próprio modo de ser, ver, entender e transformar o mundo.“ (STROBEL, 2007 p.7). Como podemos preparar o sujeito surdo para ser um cidadão na sociedade se a escola não respeita diferença cultural deles? Este questionamento auxilia na compreensão de diferentes contextos da história de surdos em que se dão as diásporas, as lutas, os conflitos culturais e diferentes identidades analisandoos com a base nos Estudos Surdos5 onde podemos buscar a realidade cultural do nosso tempo. Infelizmente as maiorias das escolas seguem espaço não preparado para estas diferenças culturais, como é o caso nas inclusões de alunos surdos em escolas ouvintes, e se depara com dificuldades de adaptação e com problemas de subjetividades. Isso porque nestas escolas não compartilham suas identidades culturais. O ideal é compartilhar as experiências das escolas culturais de diferentes espaços para que possam ter continuidade e ampliação da pedagogia cultural. Por exemplo: em Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, o curso LETRAS/LIBRAS

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Espaço Acadêmico

O surgimento das pedagogias surdas


Espaço Acadêmico

aceita prova em Língua de Sinais e, com isto, as outras universidades poderão aceitar. Isso entre outros artefatos culturais, é exemplo da interculturalidade que vai moldando as nossas maneiras de ser e de viver. A função social da cultura, da escola, os papéis dos professores em contextos de mudanças fazem com que eles vão se adaptando às nossas necessidades culturais, aos nossos desejos, aos nossos relacionamentos, aos nossos ‘eus’ privado e público. Enfim, vão modelando nossas subjetividades e construindo as identidades deste andamento. O problema é que existem muitas tentativas de reformulações educacionais culturais sem a participação de seus sujeitos culturais autênticos. Por exemplo, há muitas escolas de surdos que se preocupam em educar os surdos usando currículo próprio de ouvintes, elas alegam que respeitam a cultura e a Língua de Sinais, mas na pratica, infelizmente, não as usam. Entretanto, isto demonstra que alguns aspectos da reformulação da educação cultural ainda não é realidade para o povo surdo, pois a sociedade ainda vê os surdos como ‘deficientes’ e ‘anormais’. Os líderes surdos e membros do povo surdo estão querendo reconhecimento e fortalecimento de suas identidades surdas. Eles próprios não se sentem como deficientes e, sim, como um grupo lingüístico e culturalmente diferente das pessoas ouvintes, fazendo com que se opõem às tentativas de imposição na participação de cultura ouvinte na prática pedagógica dos surdos.

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E assim fica o desafio de repensarmos o projeto educacional dos surdos brasileiros diante das alterações sociais que estamos atravessando, de modo a fazer enxergar de frente as realidades das diferenças culturais. Nessa reconstrução da pedagogia surda, faz-se necessário também a redefinição do papel do governo, dos familiares, dos professores e da escola face às diferenças culturais. Através do esboço sobre as práticas discursivas de diversos povos culturais, assim como o povo negro, o povo índio, o povo alemão, o povo surdo e outros, é que foi possível desvendar o quanto há uma forte ligação com as relações de transmissão de saberes, conhecimentos. Assim surgiu a pedagogia cultural. A criança surda faz parte da cultura surda, do povo surdo, e tem câmbio com a cultura do povo ouvinte. Esta criança surda apresentará uma socialização satisfatória e integrar-se-á ao povo ouvinte, somente se tiver desenvolvido uma identidade cultural com o seu povo; se isto não ocorrer não se integrará em nenhum dos contextos, terá sérios problemas de subjetividade e lingüístico. A autora Costa comenta bastante sobre campos de Estudos Culturais pelo fato da identidade ocupar um lugar tão relevante nesta teoria que está relacionado às grandes mudanças nas visões das representações sociais em relação aos ‘povos diferentes’, fazendo com que tenham rupturas das pedagogias tradicionais para valorizar mais a pedagogia cultural. Assim, escreve ela: “(...) para olhar para a educação escolar e o currículo,

estamos compondo uma certa representação de realidade e dirigindo condutas, produzindo determinados tipos de subjetividades e identidades, sintonizados com a realidade que as palavras compõem” (Costa. 2005, p.118) Até o currículo também está em processo de transformação. Por exemplo, na educação de surdos nos currículos tradicionais não havia espaço para respeitar a cultura de alunos surdos. Mais recentemente, os currículos passaram a introduzir a Língua de Sinais, história de surdos, literatura surda e outros. Estes artefatos culturais não devem ser considerados apenas como entretenimento, mas,, sim, um importante espaço educacional que faz formar pedagogia surda, currículo surdo e outros que colaboram na constituição de identidades culturais sadias de sujeitos surdos. Os povos surdos através dos movimentos sociais vêm contribuindo para que haja um novo olhar no processo histórico, com conquistas como a inserção do currículo surdo, a valorização da Língua de Sinais e pedagogia surda nos espaços educacionais!

Referências Bibliográficas COSTA, Marisa W. Estudos culturais e educação – um panorama. SILVEIRA, Rosa Maria (org.) Cultura, Poder e Educação, um debate sobre estudos Culturais em Educação. Canoas: ULBRA, 2005. FLEURI, Reinaldo Matias. Educação Intercultural: mediações necessárias . DP&A, RJ: 2003. CORAZZA, Sandra Mara: Planejamento de ensino como estratégia de política cultural In MOREIRA Antonio Flávio (Org) Currículo: Questões atuais. Campinas, SP. Papirus, 2005. STROBEL, Karin Lílian. As imagens do outro sobre a cultura surda, (em prelo) UFSC - SC, 2007.


iniciativa de entregar as metas para realização do Projeto Índio Surdo no Brasil para o MEC, durante um encontro com a Técnica Edeilce Buzar e Kátia Barbosa, surgiu de um trabalho realizado pelo CAS/SED/MS e CAS/AC. Isso aconteceu depois da solicitação e empenho da FENEIS, que realizou visita nas aldeias e iniciou um levantamento da existência de índios surdos nas escolas indígenas nas aldeias de Mato Grosso do Sul e Acre. O projeto visa capacitar profissionais que atuam na educação escolar indígena, produzir material didático de orientação para professores e demais segmentos nas línguas indígenas, registrar a Língua de Sinais es-

pecífica do tronco lingüístico e capacitar o aluno índio surdo em Libras (Língua Brasileira de Sinais).A pedagoga surda, Shirley Vilhalva, que está estudando Mestrado em Lingüística na UFSC, expõe a necessidade de estar nas aldeias e orientar os professores da escola indígena para fazer levantamento de existência de índio surdo, bem como realizar um estudo da cultura indígena para registrar a Língua de Sinais local usada para comunicação entre o índio surdo, familiares e comunidade da aldeia em que vive. Como exemplo desse trabalho temos a pedagoga mestranda da UFSC, Marisa Giroletti, pesquisadora e atuando na educação com os alunos índios surdos em Xan-

Espaço Acadêmico Shirley Vilhalva*

Arquivo SEMED/Dourados/MS

Metas para realização do projeto Índio Surdo no Brasil A

xere – SC e que no momento está realizando uma pesquisa com os alunos índios surdos Kaingang em aldeia no RS relata: “...os sinais são tantos que não estou tendo tempo de registrar tudo... vai ficar muito interessante...”. Com essa experiência acreditamos que a educação dos Índios Surdos estará em pauta urgente. O trabalho proposto será realizado com base nos sinais já usados pelos índios Surdos e comunidade na comunicação, que serão registrados em fotos, vídeos e desenhos. A partir desses registros, será elaborado material para facilitar a comunicação dos professores com o aluno índio surdo.

Revista da FENEIS - 21


Espaço Acadêmico

Metas para realização do Projeto Índio Surdo no Brasil Situação atual:

Atualmente o Projeto Índio Surdo está em articulação com SEESP e SECAD através do contato com a Professora Kátia Barbosa, para que possamos realizar capacitação pelo FNDE. Há necessidade de continuar as atividades com empenho de identificar a existência dos alunos Índios surdos nas escolas indígenas, trabalho do Projeto Índio Surdo ocorre com uma Intérprete de Libras. Oferecemos assessoria para os municípios que tem interesse de implementar o Projeto, sendo que existem Comunidades em que os Índios Surdos estão fora da escolas indígenas.

Metas para 2007:

Metas para 2007: Elaborar um Projeto Nacional para atendimento ao Índio Surdo no Brasil; Realização de uma reunião com os parceiros (MEC /SEESP/ SECAD), FENEIS FUNAI,FUNASA. IES e demais órgãos que atuam com Pesquisas com as comunidades indígenas) Captação de recursos para atender as escolas indígenas que estão situadas nos municípios brasileiro. Contato e articulação com as SEMEDs – Secretarias Municipal de Educação, para visitas técnicas nas reservas indígenas, onde estão localizadas as Escolas Indígenas; Reunião com as lideranças indígenas para autorização da implementação do Projeto de Atendimento ao Índio Surdo nas escolas locais. Articulação constante com o MEC e SEE para conhecimento das propostas do Projeto Índio Surdo levantadas com a liderança indígena local; Capacitação de docentes/ profissionais que estão atuando com aluno índio surdo. Capacitação de Surdos adultos para atuarem como monitores do aluno índio surdo que está na escola e que está fora. Confecção de material didático de orientação para professores e demais segmentos na língua indígena. Registro da Língua de Sinais específico do tronco lingüístico. Capacitação de aluno surdo em Libras. Solicitação de empenhos, junto aos órgãos competentes para aquisição de materiais tecnológicos para registro do Projeto Índio Surdo, conforme a proposta dentro da Pedagogia Indígena e Pedagogia Surda. Promoção do I Encontro Nacional de Índios Surdos (participação de professores e índios surdos)

Necessidades: MEC precisa criar uma equipe de Assessoria com as áreas antropológica, lingüística e pedagógica para atendimento ao Índio Surdos no Brasil. Colaboradora e reponsável pelo Projeto Indio Surdo no CAS/MS: Suliane Kelly Aguirre – Intérprete de Libras – e-mail contato: shivi323@hotmail.com (MSN)

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Marília Moraes Manhães

E

xistem dois termos usados na prática da interpretação: Modalidade Consecutiva e a Modalidade simultânea. Na modalidade consecutiva, o intérprete escuta um longo trecho de discurso, toma notas e, após a conclusão de um trecho significativo ou de discurso inteiro, assume a palavra e repete todo o discurso na língua-alvo. A interpretação consecutiva é bastante utilizada em pequenos grupos. Nesta modalidade se desenvolvem técnicas fundamentais para o desempenho da simultânea, tais como a capacidade de compreensão e análise do discurso de partida. A outra é Modalidade Simultânea. Nessa modalidade, os intérpretes se posicionam de forma a permitir a visão do surdo no momento em que recebe o discurso do orador. Ao processar a mensagem, expressam na língua de chegada, a Língua de Sinais. A interpretação simultânea não ocorre simultaneamente à fala original. O intérprete necessita de um espaço de tempo para processar a informação recebida e reorganizar sua forma de expressão.

A formação do intérprete ao longo dos anos Os primeiros intérpretes de línguas orais foram “formados”

na prática pelo método”sink or swin”, expressão em inglês que significa literalmente “afogue-se ou nade”. Esta Expressão nos faz lembrar de igual modo a formação do intérprete de Libras, assim como a Língua de Sinais

“ ASSIM COMO SINAIS

A

LÍNGUA DE

NASCEU NA

NECESSIDADE DOS SURDOS SE COMUNICAREM, O INTÉRPRETE SURGE DA NECESSIDADE DOS SURDOS ENTRAREM PARA O MUNDO COMUNICATIVO DOS OUVINTES E VICE-VERSA.”

nasceu na necessidade dos surdos se comunicarem, o intérprete surge da necessidade dos surdos entrarem para o mundo comunicativo dos ouvintes e viceversa. O pré-requisito para formação do tradutor e intérprete é o domínio das línguas de trabalho. Chamamos de línguas de trabalho neste contexto, o Português e a Língua de Sinais.

A necessidade de sistematizar os estudos sobre a prática da interpretação Procurei basear este texto na teorização, buscando o ato de traduzir e interpretar em três estágios da teoria de Seleskovitch e Lederer, (1995): o primeiro estágio é a percepção auditiva e visual de um enunciado lingüístico portador de significado. Ou seja, a apreensão da Libras e compreensão da mensagem por meio de complementos cognitivos, que segundo Lederer, (1990), são: contexto verbal, contexto situacional e contexto cognitivo. Segundo estágio: a desverbalização, que é o processo de interpretação que envolve a percepção de idéias, ou sentido expresso no discurso. O terceiro estágio consiste na reverbalização, ou seja, é a nova feição dada à mensagem já compreendida, que deverá atender os dois critérios básicos: a mensagem original deve ser completa, provida de todos os detalhes e deve refletir as características da língua de chegada. Ao se interpretar do Português para a Libras, por exemplo, a mensagem de chegada deverá parecer ter sido produzida originalmente em Libras, sem traços que denotem sua origem no Português, ou seja, sem o português sinalizado.

Revista da FENEIS - 23

Espaço Acadêmico

Prática da Interpretação Libras/ Português


Espaço Acadêmico

Características básicas de um intérprete de Língua de Sinai É um profissional que permite que uma determinada mensagem cruze a “barreira lingüística” da comunicação entre as comunidades surdas e ouvintes. É necessário para isso: Dominar plenamente os dois idiomas envolvidos no ato de interpretar. Procurar manter-se atualizado no desenvolvimento das áreas de conhecimento com as quais trabalhe, buscando assessoria de especialistas da área, quando for preciso. Ter o pleno domínio da forma de expressão de ambos os idiomas. O intérprete terá de ter maior domínio das línguas de partida e de chegada, do assunto, da cultura-fonte e da cultura-alvo. Ser capaz de concentrar-se no que está ouvindo, a fim de processar a informação imediatamente e expressá-la na língua alvo. O intérprete de Língua de Sinais terá que ter a capacidade de compreensão de idéias, pois são as idéias que teremos de interpretar, e não somente os sinais isolados. A ênfase será no significado e não nos sinais. O intérprete deverá manter um nível de concentração total, e por essa razão necessitarão trabalhar em duplas e se revezam com intervalos de 20 a 30 minutos. Entre os preceitos éticos a serem observados pelos intérpretes estão: confiabilidade; imparcialidade; discrição; distância profissional e fidelidade. Com toda inovação nas po-

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líticas educacionais, houve um grande acesso dos intérpretes na educação, através de sua inserção nas unidades escolares. Para tanto, o intérprete precisa buscar sua qualificação profissional sendo necessário investir na especialização. É necessária uma revisão constante de seu papel nos diferentes níveis de atuação, por estar sendo bastante requisitado sua atuação. É importante ressaltar algumas atitudes anti-éticas que prejudicam o processo de ensino e aprendizagem no ambiente escolar: Tutorar os alunos (em quaisquer circunstâncias); acompanhar os alunos; disciplinar os alunos; realizar atividades gerais extra-classes. Sabemos da existência de inúmeros fatores físicos e ambientais que atrapalham o desempenho do interprete, baseada nas observações feitas em salas de aulas, que gostaria de considerar: primeiro, a questão da iluminação, uma vez que aulas utilizando os recursos de vídeo, retroprojetor, slaid não contam às vezes com uma estrutura adequada para a presença do intérprete. Ocorrem também o mau uso da voz por parte do professor; a falta de adequação de um espaço para o intérprete que favoreçam a visibilidade de maneira que não ocorra “ruído visual”. O intérprete nunca substituirá o professor em sala de aula. O professor é a figura que tem autoridade absoluta. Considerando as questões éticas, os intérpretes devem manter-se neutros e garantirem o direito dos alunos de manter as informações confidenciais. Em sala de aula o intérprete é apenas um dos elementos que garantirá a acessibi-

lidade. O intérprete redirecionar os questionamentos dos alunos ao professor, caracterizando o seu papel na intermediação. É importante observar os intervalos de uma aula para outra que garantam ao intérprete descansar, permitindo uma melhor performance e evitando problemas de saúde. O código de ética prevê que o intérprete seja discreto e mantenha sigilo, não faça comentários, não compartilhe informações que foram travadas durante sua atuação. Procurei dar alguns subsídios para a atualização do intérprete de Língua de Sinais em sua atuação na prática de interpretação da Libras para o Português e dicas para a sua atuação em sala de aula novo campo de atuação profissional para os intérpretes de Línguas de Sinais.

Bibliografia FRESHBERG, Nancy. Interpreting na Introducition. Revised. Edition, 1990. SEE; PROGRAMA NACIONAL DE APOIO À EDUCAÇÃO DE SURDOS. O tradutor e intérprete de língua de Sinais e língua portuguesa. Brasília: MEC; SEESP, 2002. COKELY, D. Interpretation: A Sociolinguistic Model. Linstok Press. 1992a. FERREIRA, Brito L. Por uma gramática das línguas de sinais. Tempo Brasileiro. UFRJ. Rio de Janeiro, 1995. PAGURA, Reynaldo. Conference interpreting interfaces with written translation and implications for interpreter and translator training. Delta, 2003, vol. 19, no.spe, p.109236.ISSN 0102-4450. Curso de Extensão – Capacitação de profissionais que atuam como Tradutores/ Intérpretes de Libras-Português; Ano 2006

*Pedagoga especializada em Psicopedagogia e extensão em Neuropsicologia, e professora substituta/Intérprete de Libras da UFRJ E-mails: mariliamoraes@ig.com.br; marilia@missoesnacionais.org.br


Um relato de experiência do trabalho com surdos no município de Vila Velha no Estado do Espírito Santo Lucyenne Matos da Costa1

H

istoricamente, os surdos têm tido seus projetos de educação recusados. Seus movimentos e sua língua relegadas à marginalidade. Nunca se “ouviu”, no sentido mais filosófico possível da palavra, o que a comunidade surda tem a dizer sobre seus anseios e propostas, ficando sempre à margem do processo, construindo estratégias de sobrevivência para resistir e persistir ao processo que se auto-denomina educativo. Este viver em fronteiras entre o ser surdo e ser normalizado, traz a este povo, a necessidade de sempre negociar seus espaços educativos a fim de não serem colonizados tanto culturalmente quanto lingüisticamente pelos ouvintes, demarcando territórios e fronteiras. A política que vem sendo pensada no município de Vila Velha, no Estado do Espírito Santo, questiona justamente o conceito de inclusão instituído, propondo outro jeito de incluir esse sujeito no processo educativo. Já que suas discussões estão no âmbito da edu-

cação especial, precisamos pensar nesta ordem do discur-

“NA IDÉIA DE UMA PROPOSTA DE POLÍTICA CONSTRUÍDA TENDO COMO BASE A

PEDAGOGIA SURDA,

OS

DISCURSOS CORRENTES SÃO EMBASADAS NOS MOVIMENTOS SURDOS.

E

A

PRÁTICA PEDAGÓGICA TEM COMO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL UMA PROPOSTA BILÍNGÜE ONDE A LÍNGUA DE INSTRUÇÃO É A

LIBRAS

E O

PORTUGUÊS

ESCRITO GANHA O STATUS DE SEGUNDA LÍNGUA”

so onde vamos falar sobre surdos e seus projetos. Na idéia de uma proposta de

política construída tendo como base a Pedagogia Surda, os discursos correntes são embasadas nos movimentos surdos. E a prática pedagógica tem como princípio fundamental uma proposta bilíngüe onde a língua de instrução é a Libras e o Português escrito ganha o status de segunda língua. Contamos no município de Vila Velha, com as propostas educacionais dos narradores surdos, com a lei 10.436/2002, o decreto 5.626/2005 e leis orgânicas municipais como base para a construção de políticas educacionais para os alunos surdos em consonância com as políticas lingüísticas que vêm se instituindo no nosso país em relação à LIBRAS. A política educacional é baseada na diferença surda, fazendo com que o movimento histórico relacionado às lutas cotidianas dos surdos façam parte desse lugar. O Núcleo de Educação Especial através da equipe de educação de surdos, vem trabalhando no sentido de construir uma política que atenda as demandas das narrativas surdas em

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Espaço Acadêmico

A Construção de uma Educação Surda Municipal


Espaço Acadêmico

todos os processos. Desde as discussões iniciais, quando princípios foram definidos, objetivos e metas, e a reunião com a comunidade surda onde tais concepções foram corroboradas, segue abaixo os dados colhidos em visitas às escolas de Vila Velha e a partir delas, as sugestões de ações propostas para o município. O objetivo geral é construir uma educação que vise à inclusão do aluno surdo através da estruturação de uma política lingüística que assegure o uso da Libras, respeitando a experiência visual do surdo no seu processo de aprendizagem, proporcionando a este aluno o acesso e a permanência no sistema de ensino pelo fomento de classes bilíngües. Para atingir esse objetivo, o município vem atuando com sistema de escola-pólo onde os surdos da rede municipal são matriculados e têm acesso a uma pedagogia bilíngüe: Libras, língua de instrução e o português escrito como segunda língua. Na Educação Infantil e nos primeiros anos do Ensino Fundamental e na Educação de Jovens e Adultos surdos, contamos com sala regular com a Libras como língua de instrução com professores surdos e ouvintes bilíngües. Já nos últimos anos do Ensino Fundamental, contamos com salas regulares mistas com o intérprete e com o português como segunda língua, sendo oferecido em outro espaço pelo professor bilíngüe. Vale ressaltar o trabalho com a família e a formação continuada dos professores e da comunidade surda e comunidade escolar.

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Estamos neste momento, construindo um currículo, levando em conta a diferença surda no processo de escolarização na escolha dos conteúdos. Na disciplina de História, por exemplo, estamos trabalhando a própria história de vida do aluno surdo, levando em conta sobre quando ficou surdo e a consti-

“O OBJETIVO

GERAL É

CONSTRUIR UMA EDUCAÇÃO QUE VISE À INCLUSÃO DO ALUNO SURDO ATRAVÉS DA ESTRUTURAÇÃO DE UMA POLÍTICA LINGÜÍSTICA QUE ASSEGURE O USO DA

LIBRAS,

RESPEITANDO A EXPERIÊNCIA VISUAL DO SURDO NO SEU PROCESSO DE APRENDIZAGEM, PROPORCIONANDO A ESTE ALUNO O ACESSO E A PERMANÊNCIA NO SISTEMA DE ENSINO PELO FOMENTO DE CLASSES BILÍNGÜES”

tuição familiar que é surda e que é ouvinte, garantindo assim a construção de uma identidade surda. E também trabalhamos, além de todos os conteúdos necessários do currículo, a história da comunidade surda capixaba. Isso porque mesmo que as crianças surdas não tenham passado pela fase da su-

pressão dos sinais, precisam compreender o momento histórico que estão vivendo. A Língua de Sinais hoje é um direito porque foi uma conquista social dos surdos. Isso garante uma visão crítica e posicionada pela causa surda. O português como segunda língua é também trabalhado com os alunos de 5ª a 8ª séries. No horário de português e inglês, os alunos em outro espaço possuem aulas de português como segunda língua com o professor bilíngüe capacitado. O currículo dessa disciplina também está em construção. Para trabalhar no município, contamos na equipe de educação de surdos, com cinco professores bilíngües, três intérpretes educacionais e uma professora surda. Todos efetivados em seis meses de atuação. Como meta para o próximo ano, é contratar mais professores surdos para capacitações diversas para os professores da rede, a fim de disseminar todo um trabalho pedagógico efetivo. Muito temos a fazer e muito já foi feito. Ainda estamos com seis meses de existência, mas na luta por uma inclusão bilíngüe. Há pesquisas a serem feitas, resistências a serem vencidas e lutas a serem travadas. Tudo isso faz parte da política de constituição de uma educação surda no município de Vila Velha. Mestre em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professora Bilíngüe e intérprete de Língua de Sinais. Parte da equipe de coordenação do trabalho com surdos no município de Vila Velha no estado do Espírito Santo. E-mail: luczarina@yahoo.com.br


Silvana Aguiar dos Santos1 • Josiane Aguiar dos Santos2

Nos últimos anos os intérpretes de Língua Brasileira de Sinais são contratados de formas diversas, dependendo do espaço para o qual prestam seus serviços. Nas universidades particulares e públicas, alguns são contratados pela CLT como intérpretes de Língua de Sinais; outros, mesmo sendo pela CLT, são registrados como auxiliares administrativos3. Há também os professores substitutos, mas atuando como intérpretes de Língua de Sinais, por meio da lei 8.745/93. Assim, temos várias situações para exemplificar esta complexa relação de trabalho. Um dos argumentos fortemente desenvolvidos pelos órgãos do governo é de que a profissão ainda não é regulamentada, sendo complicado ajustar a contratação desse profissional no quadro funcional da instituição. O discurso que impera, em especial nas instituições de ensino superior particulares, é de que o custo para remuneração dos ILS4 compromete os lucros adquiridos por essas universidades. Algumas instituições alegam que é necessário aumentar as mensalidades para dar conta

da inclusão desse profissional, isto é, desconhecem completa-

“HÁ

TAMBÉM OS

PROFESSORES SUBSTITUTOS, MAS ATUANDO COMO INTÉRPRETES DE

LÍNGUA

DE

SINAIS, POR MEIO DA LEI 8.745/93. ASSIM, TEMOS VÁRIAS SITUAÇÕES PARA EXEMPLIFICAR ESTA COMPLEXA RELAÇÃO DE TRABALHO.

UM

DOS ARGUMENTOS FORTEMENTE DESENVOLVIDOS PELOS ÓRGÃOS DO GOVERNO É DE QUE A PROFISSÃO AINDA NÃO É REGULAMENTADA, SENDO COMPLICADO AJUSTAR A CONTRATAÇÃO DESSE PROFISSIONAL NO QUADRO FUNCIONAL DA INSTITUIÇÃO”

mente a lei de acessibilidade (10.098/00), a Portaria 3284/03 que substituiu a Portaria 1679/

99, a lei de Libras (10.436/02), assim como o decreto 5626/05 que asseguram a necessidade do ILS sem custo adicional para a pessoa surda e, que as instituições devem promover a acessibilidade. Em alguns casos, sabemos de situações em que foi necessário acionar o Ministério Público Federal para que os direitos das pessoas surdas fossem assegurados, isto é, para que disponibilizassem intérpretes de Língua de Sinais. Nas universidades públicas, há a contratação como professores substitutos (contrato temporário por dois anos), que atuam enquanto ILS. No final desses dois anos, após ter adquirido vasta experiência na área de interpretação/tradução, por conta da lei, esse profissional é desligado da instituição para não criar vínculo empregatício. Há ainda aqueles profissionais que atuam pela terceirização (prestação de serviços via Feneis) ou como free-lance em eventos, seminários e outros espaços que requerem o serviço de interpretação. É fato que, em todas essas formas de contratação, a remuneração desse profissional

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Espaço Acadêmico

Questões emergentes sobre a contratação dos intérpretes de Língua Brasileira de Sinais.


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ainda é muito baixa. No entanto, podemos visualizar que todo esse processo é moroso por parte das universidades para agilizar a contratação efetiva por meio de concursos públicos, assim como, por outro lado, falta articulação da parte dos ILS para reivindicar seus direitos trabalhistas junto às autoridades competentes. SILVA (2001) define profissional como o entendido ou versado na arte, mas em amplo sentido entende-se aquele que exerce uma profissão e que dela faz seu meio de vida. Não será, pois, um amador, um curioso acerca de certa arte ou ofício, mas que vive dela ou dela tira seu sustento. É por esta falta de estabilidade financeira que muitos ILS acabam por desistir da função, pois não são assegurados os direitos mínimos para sua atuação enquanto profissionais da área. Por isso, buscamos no direito do trabalho algumas discussões que nos esclarecem como os ILS podem se beneficiar dessa área para tornar mais justa sua contratação nos espaços que requerem seus serviços. O direito do trabalho tende a realização de um valor: a justiça social. Não é o único meio de consecução, mas é uma das formas pela quais um conjunto de medidas que envolvem técnicas econômicas de melhor distribuição de riquezas, técnicas políticas de organização de convivência dos homens e do Estado e técnicas jurídicas destinadas a garantir a liberdade do ser humano, dimensionando-a num sentido social, visa atingir a justiça social. O trabalhador tem seus direitos assegurados na legislação, o que falta é a revisão e compre-

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ensão destes pela maior parte da sociedade. Os ILS são profissionais que dedicam grande parte de seu tempo à busca de atualidades em sua área. Então, tudo é uma questão de conscientização, negociação e mobilização política para tornar legitima a sociedade, essa ação. A relação entre os intérpretes e as empresas deve passar pela ques-

“OS ILS E OS SURDOS NECESSITAM ESFORÇAR-SE PARA CONSTRUÍREM RELAÇÕES PROFISSIONAIS E QUE AS MESMAS SEJAM RESPEITADAS NO MOMENTO DA INTERPRETAÇÃO

...

ESTAMOS EM OUTROS TEMPOS, QUE NOS FORÇAM A PENSAR CRITÉRIOS TRABALHISTAS E TAMBÉM A PRÓPRIA CONCEPÇÃO ACERCA DO PROFISSIONAL, PARA SOLIDIFICARMOS A ATUAÇÃO DOS

ILS“

tão do contrato trabalhista e há teorias que nos mostram como essa relação se efetiva. É urgente, para nosso grupo, compreender como se processa essa relação e a necessidade de conhecermos nossos direitos, assim como ter clareza dos contratos de trabalho que nos são apresentados. MARTINS (1999) considera “que a relação entre empregado e empregador é um contrato, por depender da vontade das partes para sua formação. Na

maioria dos contratos de trabalho temos um pacto de adesão. O empregado adere às cláusulas especificadas pelo empregador no contrato, sem discuti-las, no caso da teoria contratualista. A anticontratualista sustenta que o trabalhador incorpora-se à empresa, a partir do momento em que passa a trabalhar para o empregador. Não haveria autonomia de vontade na discussão do conteúdo do contrato de trabalho. A empresa, por ser uma instituição, impõe regras aos trabalhadores, como ocorre com o Estado em relação ao funcionário público”. Mas antes de discutirmos esse conhecimento jurídico, há outras inquietações e dentre elas está a concepção do que significa profissional. Assim, nos perguntamos quais são os critérios que definem o ser profissional, já que esse assunto é pouco discutido para essa categoria. E quando analisamos essas questões, percebemos a diversidade de compreensões para este fato. Para LIMA (2006), os critérios para atuação dos ILS se estendem em conhecer as técnicas de interpretação, conhecer o mercado de trabalho e suas demandas, saber trabalhar em equipe e manter atualizados conhecimentos gerais e, principalmente, conhecimentos lingüísticos sobre língua portuguesa e Língua de Sinais, assim conviver harmonicamente com a comunidade surda, respeitando suas organizações e lideranças e reconhecer suas limitações e habilidades. Sem dúvida, esses elementos devem ser critérios determinantes para a atuação profissional, mas outros precisam ser acrescidos a essa lista, pois não se pode confundir a contratação


te desse saber formal que os constituiria e certificaria enquanto ILS. Essa inversão acontece, também, porque nas universidades, por meio dos cursos de tradução ou letras, até o presente momento, não há um espaço legitimado para a formação desses profissionais. Consideramos, também para essa situação, que além da questão financeira, os

“MUITO

HÁ QUE SER FEITO,

REVISADO E PROPOSTO AOS ÓRGÃOS COMPETENTES EM RELAÇÃO À SITUAÇÃO ATUAL QUE OS

ILS TÊM

ENFRENTADO E AS ALTERAÇÕES DESSE QUADRO DEVEM PARTIR, PRINCIPALMENTE, DESTA CATEGORIA QUE TEM CONSTRUÍDO SUA HISTÓRIA ARDUAMENTE“

critérios que definem o ser profissional ILS estão fortemente atrelados às reivindicações surdas, ou seja, estar inserido nas discussões sobre cultura, identidades, domínio da Língua de Sinais e da Língua Portuguesa, das formas de representar os surdos, do respeito ao código de ética entre outros elementos. Sem dúvida nenhuma, esses elementos são fundamentais para a atuação dos ILS, mas a discussão precisa ser ampliada para que seja assegurada aos profissionais desta área, condição de trabalho adequada à função que exercem, como por exemplo, questões de saúde (em

decorrência do excesso de trabalho) entre outros fatores. Para finalizar, partimos da tesede que o decreto 5626/05 em seu capítulo V, traz muitas respostas para os problemas que mencionamos nesta reflexão, como por exemplo, formação dos tradutores e intérpretes de Língua Brasileira de Sinais por meio de curso superior, exame de proficiência (Prolibras), além da inclusão desses profissionais em instituições federais de ensino, conforme artigo 19. Mas muito há que ser feito, revisado e proposto aos órgãos competentes em relação à situação atual que os ILS têm enfrentado e as alterações desse quadro devem partir, principalmente, desta categoria que tem construído sua história arduamente para colaborar com a sociedade, a cada dia, na busca pela profissionalização e na necessidade de que os direitos trabalhistas sejam assegurados para o grupo.

Bibliografia COSTA, Marisa V.C. O magistério na política cultural. 1ed. Canoas: ULBRA, 2006. LIMA, Elcivanni.S. Discurso e identidade: um olhar crítico sobre a atuação do(a) intérprete de Libras na educação superior. Dissertação de Mestrado: Universidade de Brasília, 2006. MARTINS, S. Síntese de Direito do Trabalho- Curitiba. JM Editora, 1999. SILVA, P. Vocabulário Jurídico-18ª edição. Rio de Janeiro, Editora Forense, 2001. 1

Intérprete de Língua de Sinais na Universidade do Sul de Santa Catarina e na Universidade Federal de Santa Catarina. Acadêmica do curso de Direito na Universidade do Vale do Itajaí. 2 Intérprete de Língua de Sinais

Este texto tem como base a contratação registrada no estado de Santa Catarina.

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com questões de ordem subjetiva, escolhendo quem é o “melhor” profissional por valores pessoais de afinidades e de amizades. Os ILS e os surdos necessitam esforçar-se para construírem relações profissionais e que as mesmas sejam respeitadas no momento da interpretação. Podemos atribuir essas conseqüências atuais, da dificuldade do distanciamento profissional, aos resquícios históricos em que as pessoas surdas nunca foram convidadas a pensar esse assunto e eram entendidas como subalternas a esse processo. Mas estamos em outros tempos, que nos forçam a pensar critérios trabalhistas e também a própria concepção acerca do profissional, para solidificarmos a atuação dos ILS. Não basta receber financeiramente o pagamento devido à atuação, pois a questão salarial não sustenta os quesitos para permanecer enquanto intérprete. COSTA (2006) afirma que a “concepção de profissional emerge, assim, baseada na autoridade social – aceitação social da legitimidade das definições estabelecidas por um grupo de especialistas – e na “autoridade cultural” – poder de estabelecer os parâmetros de tais definições. (...) as profissões conquistam o reconhecimento de sua competência social na medida em que se utilizam da linguagem formal da ciência e a transformam em linguagem pública.” No caso dos ILS, há a inversão daquilo que a autora menciona acima. Essa inversão acontece porque o reconhecimento profissional parte, primeiramente, na maioria dos ILS, da prática da sua atuação, para em um segundo momento, tomarem par-


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infantil

Alegria nos primeiros passos

Paloma é filha de surdos. Seus pais, Célio de Souza Pereira e Érika Ferreira de Bastos, a criam com muito amor e cuidado. Não falta carinho na hora de falar da menina Paloma: “ Ela não é chorona e come muito bem, inclusive frutas e legumes”, contam. Muito esperta, Paloma, que ainda não completou

um ano, se comunica até com os olhos. É bem expressiva e não parava um minuto enquanto era fotografada. Ela já está quase dando os seus primeiros passos. Com certeza vai aprender muito rápido a Língua de Sinais !!!

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Kit do professor livro e DVD

As novas edições de 2007 estão revisadas, ampliadas e mais ilustradas.Todos os ouvintes e surdos que forem aprovados no exame do ProLibras poderão adquirir o Livro/ DVDs do Professor para ministrar o Curso Básico de Libras nas universidades e em outras instituições.

Este ano, o MEC comprou mil exemplares do Livro/DVD do Estudante e mil exemplares do livros/DVDs do professor para distribuir para as universidades, já que a Libras será disciplina obrigatória e esse será o material utilizado pelos Instrutores/Professores nessa disciplina. Adquira também os seu material didático para o ensino da Libras!

Kit do aluno livro e DVD

Os interessados deverão depositar o valor total da compra no Banco do Brasil, agência 3010-4, c/c 30450-6. Posteriormente deverá ser enviado para a FENEIS o comprovante de depósito para a FENEIS/RJ, via fax ou correio, com a relação do material desejado. O endereço da Feneis é Rua Major Ávila, 379, Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, Cep 20511-140, tel (021) 2567-4880, fax (021) 2284-7462. A cada livro solicitado deverá ser acrescentada a quantia de R$ 5 (cinco reais) referente às despesas de correio pelo envio do material registrado. 32 - Revista da FENEIS


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