Feneis Revista 40

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É

com muita alegria que chegamos à 40ª edição da Revista da Feneis, que coincide também com os oito anos de aprovação da Lei n° 10.436, que reconhece a Libras no Brasil. Há cerca de dez anos, a publicação histórica da entidade vem cumprindo o seu papel de informar a sociedade e estimular a reflexão sobre educação, cultura, identidade e outros temas relacionados aos surdos. Nessa edição de comemoração, inauguramos uma nova fase da revista, com a reformulação do layout e da linha editorial. As informações mais pontuais e corriqueiras continuam a ser permanentemente publicadas no site da Feneis e a revista passa a se dedicar a reportagens temáticas e dossiês mais aprofundados. Depois de algumas publicações polêmicas sobre os surdos na mídia, nesse número da revista optamos por trazer à tona essa discussão. A matéria principal trata de alguns episódios recentes de preconceito ou desinformação sobre os surdos na imprensa brasileira e especialistas fazem uma análise sobre o assunto. Trazemos também uma reportagem sobre as possíveis implicações geradas pelas propostas aprovadas na Conferência Nacional de Educação para a escola de surdos. Merece destaque o movimento dos jovens surdos, que trabalha por todo o país com o objetivo de discutir o papel da juventude surda e estimular as lideranças. A revista e o site da Feneis fazem parte das estratégias de sensibilização da sociedade e dos órgãos públicos sobre as questões dos surdos. Nesses dois anos de mandato trabalhamos para informar um número cada vez maior de pessoas, além de buscarmos o apoio governamental para as nossas ações. Representamos os interesses dos surdos usuários de Libras junto ao governo. Lutamos pelos nossos direitos nas várias conferências municipais, estaduais e

nacionais de educação, assistência social, trabalho, dentre outras. Descentralizamos a nossa atuação entre os escritórios regionais para que surdos de todo o país tenham contato com a Feneis, mesmo aqueles do interior dos estados. Neste ano, entramos em uma etapa de elaboração de projetos para conseguirmos desenvolver materiais didáticos e outras ações voltadas para os surdos. Nessa tarefa, são muito bem vindos os profissionais experientes na captação de recursos. Essas são ações da Feneis que estarão estampadas trimestralmente nas páginas da revista, juntamente com as reflexões mais aprofundadas sobre os surdos. Os leitores terão a oportunidade de conhecer mais sobre o nosso trabalho e sobre os temas mencionados acima.

Boa leitura!

Karin Strobel Presidente da Feneis

JUN-AGO | 2010 | REVISTA DA FENEIS | 03

PALAVRA DA PRESIDENTE

Nova revista, boas perspectivas


CARTA DO LEITOR

Recebemos a revista e gostamos muito dos artigos a respeito da educação e da cultura surda. Porém, sentimos falta de alguma reportagem sobre as ações que as empresas têm realizado para a acessibilidade de seus colaboradores surdos. Nós, da Chocolates Garoto, temos o prazer de compartilhar com vocês todas as nossas realizações, nas quais desenvolvemos um modelo de gestão pioneiro no estado do Espírito Santo, reconhecendo as reais capacidades, competências e habilidades dos nossos 102 colaboradores surdos. Fernanda Nogueira Tradutora e Intérprete de Libras Chocolates Garoto S.A.

ENDEREÇOS Feneis Matriz – Rio de Janeiro-RJ Rua Santa Sofia, 139 Bairro da Tijuca Cep: 20540-090 Tel: (21) 2567 4800 / 2567-4880 Fax: (21) 2284 7462 Tdd: (21) 2568 7176 Diretoria diretoriarj@feneis.org.br Secretaria feneisrj@feneis.org.br Setor de Comunicação comunicacaorj@feneis.org.br Celes (Centro de Estudos de Libras e Educação de Surdos) celesrj@feneis.org.br Departamento Pessoal dpessoalrj@feneis.org.br Contabilidade contabilidaderj@feneis.org.br Recurso Humanos humanosrj@feneis.org.br srhrj@feneis.org.br Intérpretes interpretesrj@feneis.org.br Almoxarifado materiaisrj@feneis.org.br Revista da Feneis revistadafeneis@yahoo.com.br Sede Antiga (Celes-RJ) Rua Major Ávila, 379 Bairro da Tijuca Rio de Janeiro – RJ Cep: 20511-140 Tel: (21) 3496-4880 Site: www.feneis.org.br ENDEREÇO DOS ESCRITÓRIOS REGIONAIS Amazonas Av. Jornalista Humberto Calderaro Filho, 903 - B Adrianópolis Manaus-AM Cep: 69057-021 Telefax: (92) 3642-4148 Ceará Av. Bezerra de Menezes, 549 Bairro São Gerardo Fortaleza - CE Cep: 60325-000 Telefax: (85) 3283 9126 feneisce@veloxmail.com.br

Distrito Federal SCS Qd 01 – Edifício Márcia Bloco L – sala 701 Brasília-DF Cep: 70300-500 Telefax: (61) 3224 1677 feneisdf@hotmail.com Minas Gerais Rua Albita, 144 Bairro Cruzeiro Belo Horizonte-MG Cep: 30310-160 Telefax: (31) 3225 0088 feneis@feneis.com.br Paraná Rua Alferes Poli, 1.910 Bairro Rebouças Curitiba - PR Cep: 80220-050 Telefax: (41) 3334 6577 feneis.pr@bol.com.br feneis.pr@hotmail.com Pernambuco Rua José de Alencar nº44 Ed. Ambassador - Sala 04 Bairro Boa Vista Recife - PE Cep: 50070-030 Telefax: (81) 3222-4958 feneispesurdos@hotmail.com feneispesurdos@ig.com.br Rio Grande do Sul Avenida Getúlio Vargas, 1181 Bairro Niterói Canoas – RS Cep: 92110-330 Estação do Trensurb: Niterói Tel: (51) 3321 4244 Fax: (51) 3321 4334 feneisrs@terra.com.br São Paulo Rua das Azaléas, 138 Bairro Mirandópolis São Paulo - SP Cep: 04049-010 Tel: (11) 2574-9148 Fax: (11) 5549-3798 feneis.sp@feneis.org.br

DIRETORIA Diretora-presidente Karin Lílian Strobel Primeiro vice-presidente Paulo André Martins de Bulhões Segundo vice-presidente José Arnor de Lima Junior Diretora administrativa Shirley Vilhalva Diretor financeiro e de planejamento Josélio Ricardo Nunes Coelho Diretora de políticas educacionais Patrícia Luiza Ferreira Rezende Secretário: Jorge Luiz Martins DIRETORIAS REGIONAIS Belo Horizonte - MG Diretor regional: Rodrigo Rocha Malta Diretor regional administrativo: Marcos Antônio de Sousa Diretor regional financeiro: Igor Valério Rodrigues Brasília – DF Diretor regional: Messias Ramos Costa Diretora regional administrativa: Edeilce Aparecida Santos Buzar Diretor regional financeiro: Amarildo João Espíndola Curitiba – PR Diretora regional: Elizanete Favaro Diretora regional administrativa: Iraci Elzinha Bampi Suzin Diretora regional financeiro: Márcia Eliza de Pol Fortaleza – CE Diretor regional: Francisco Sérvulo Gomes Diretora regional administrativa: Mariana Farias Lima Diretor regional financeiro: Rafael Nogueira Machado Manaus – AM Diretor regional: Marlon Jorge Silva de Azevedo Diretora regional financeira: Waldeth Pinto Matos Porto Alegre – RS Diretor regional: Marcelo Silva Lemos Diretora regional administrativa: Vânia Elizabeth Chiella Diretora regional financeira: Carilissa Dall’Alba Recife – PE Diretora regional: Patrícia Cardoso Diretora regional financeiro: Regilene Soares Dias Rio de Janeiro – RJ Diretor regional: Walcenir Souza Lima São Paulo – SP Diretora regional: Moryse Vanessa Saruta Diretora regional administrativa: Sueli Sakamoto Sabanovaite Diretora regional financeiro: Maria Fernanda Parreira Barros CONSELHO FISCAL Efetivo 1º Membro efetivo e presidente: Luiz Dinarte Farias 2º Membro efetivo e secretária: Ana Regina e Souza Campello 3º Membro efetivo: Antônio Carlos Cardoso Suplentes 1º Membro suplente: Ricardo Morand Góes 2º Membro suplente: Daniel Antônio Passos 3º Membro suplente: Benedito Andrade Neto CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Fernando de Miranda Valverde José Onofre de Souza Max Augusto Cardoso Heeren Sueli da Silva Brito Flores EXPEDIENTE Revista da Feneis ISSN 1981-4615 Editora-chefe Regiane Lucas – Mtb 9.815 Textos Regiane Lucas– Mtb 9.815 Diogo Madeira – Mtb 7.035 Assessoria de Comunicação Rita Lobato – Matriz Assessor de imprensa Diogo Madeira Projeto Gráfico e Diagramação Thaís Magalhães Abreu Impressão Editora Rona


SUMÁRIO

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EDUCAÇÃO

CAPA

Episódios polêmicos como o caso do médico que chamou os surdos de “párias da sociedade” no programa Mais Você, da Rede Globo são o matérial de análise dos especialistas em mídia e cultura surda. Veja como são construídos os discursos sobre os surdos nos meios de comunicação na reportagem de capa.

Conferência Nacional de Educação rejeita proposta que prevê a liberdade dos pais escolherem entre a escola inclusiva e a escola de surdos. Conheça o posicionamento do MEC e dos delegados surdos que estiveram no evento.

Arquivo pessoal

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SEÇÕES

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JOVENS SURDOS

O movimento de jovens surdos brasileiro luta por uma juventude surda mais consciente e participativa. Por meio de encontros regionais e nacionais, eles promovem palestras com muita discontração, mas sem perder o objetivo de formar lideranças e despertar a autoestima dos jovens surdos.

Palavra da Presidente Carta do leitor Biblioteca Curtas Capa Internacional Mercado de Trabalho De surdo para surdo Jovens Surdos Educação Feneis pelo país Espaço acadêmico

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BIBLIOTECA

Novo Deit-Libras: Dicionário Enciclopédico IlustradoTrilíngue da Língua de Sinais Brasileira Autores: Fernando César Capovilla, Walkiria Duarte Raphael e Aline Cristina L. Mauricio Editora: Edusp Ano: 2010 Preço: R$ 220,00 Onde comprar: www.edusp.com.br O mundo dos sinais em dois volumes. O Novo Deit-Libras lançado em 2010 traz 14 mil verbetes em português, 9.824 sinais em Libras e 56 mil verbetes em inglês. A obra é uma versão ampliada e atualizada do Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue de Libras, lançado em 2001 e ganhador do prêmio Jabuti em 2002. Tanto a primeira quanto a segunda versão são fruto do trabalho de mais de 200 colaboradores durante 20 anos, inclusive pessoas surdas que contribuíram com o levantamento e pesquisa dos sinais.A nova versão, além de trazer o dobro do número de sinais, conta com a classificação gramatical dos verbetes, descrição da forma e dos significados dos sinais, exemplos de uso e ilustrações gráficas. O trabalho foi desenvolvido com base na neurociência cognitiva.

Surdos & Inclusão Educacional Autora: Neiva de Aquino Albres Editora: Arara Azul Ano: 2010 Número de páginas: 240 Preço: R$ 35,00 Onde comprar: www.editora-arara-azul.com.br Como a escola pode se preparar para receber um aluno surdo? Basta incluir a Libras no currículo? Movida por essas indagações, Neiva Aquino traz em seu livro reflexões sobre a heterogeneidade dos surdos nas escolas e sobre os meios de escolarizar essas pessoas. Segundo a autora, a inclusão e a acessibilidade dos surdos à educação não se resumem à inserção em escolas de ouvintes e à presença de intérpretes de Libras. Adaptações de materiais e de estratégias em sala de aula, formação continuada e outras ações são necessárias para o sucesso da educação dos surdos. Dividido por períodos de ensino, o livro Surdos & Inclusão Educacional traz essas e outras sugestões práticas que podem ajudar os profissionais da educação na tarefa da inclusão.

SURDOS: Educação, Direito e Cidadania Autor: Edmarcius Carvalho Novaes Editora: WAK Editora Ano: 2010 Número de páginas: 183 Preço: De 29,00 por 26,00 no site da editora Onde comprar: www.wakeditora.com.br Uma imersão nos aspectos jurídicos que cercam as pessoas surdas. Assim pode ser definido o livro SURDOS: Educação, Direito e Cidadania. Com ênfase no princípio constitucional da dignidade humana garantido pela Constituição Federal Brasileira, Edmarcius Carvalho discorre sobre os direitos das pessoas surdas na seara da saúde, educação e trabalho. Traça uma análise da realidade dos surdos brasileiros em relação à conquista de direitos e aos aparatos legais necessários para a efetivação da cidadania.Temas como igualdade e diferença, bilingüismo e ações afirmativas também são tratados na obra. 06 | REVISTA DA FENEIS | JUN-AGO | 2010


Profissão de tradutor e intérprete de Libras pode ser regulamentada A regulamentação da profissão dos tradutores e intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (Libras) está perto de se tornar realidade. Tramita na Comissão de Assuntos Sociais do Senado o Projeto de Lei nº 4.673/2004, da deputada federal Maria do Rosário, que propõe a regulamentação da profissão. Depois de ser aprovado pela Câmara dos Deputados em dezembro de 2009, o projeto de lei foi encaminhado para o senado e teve parecer favorável do relator da proposta, o senador Cristóvão Buarque. A comissão vai avaliar o projeto, emitir um parecer e, em seguida, submeter à votação do Senado. Caso seja aprovado, o projeto segue para a presidência da república para ser sancionado. Se for regulamentada, a profissão passará a exigir formação específica em tradução e interpretação de Libras, realizada por meio de curso superior, técnico ou de extensão universitária. Cursos de formação continuada oferecidos por instituições credenciadas pelas secretarias de educação também serão aceitos.

Carros nacionais sem impostos para surdos Em breve os surdos brasileiros podem ter a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na compra de carros nacionais. A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal aprovou no dia quatro de maio a extensão do benefício às pessoas surdas e com deficiência auditiva. Desde 2003, a Lei nº 8.989 concede a isenção para pessoas com deficiência física, visual ou mental, além de autistas. Os surdos ficavam fora da abrangência da lei. O projeto deve seguir diretamente para a análise da Câmara dos Deputados, caso não haja recurso para sua votação no Plenário do Senado. Não há data definida para a aprovação definitiva do projeto. Caso seja acatado o beneficio, os surdos poderão ter até 12% de desconto na compra de carros nacionais de passeio.

35º aniversário da Associação dos Surdos de Goiânia Para comemorar os 35 anos de fundação, a ASG está organizando uma grande festa. As solenidades do Jubileu de Coral da associação começam no dia 24 de julho com uma carreata, culto ecumênico e entrega dos diplomas de homenagem aos sócios mais antigos. Já o torneio esportivo e o baile serão realizados no dia 31 de julho. Tradicionalmente conhecida por realizar grandes eventos, a ASG espera receber em Goiânia cerca de 700 pessoas de todo o país. Os interessados em participar do baile já podem fazer as suas reservas pelo site da associação. Os ingressos vão de R$ 25 a R$ 40, com buffet completo já incluído. Mais informações e a programação completa no site www.asgoiania.org.br. JUN-AGO | 2010 | REVISTA DA FENEIS | 07


CAPA

Os surdos e a mídia Preconceito, espetáculo e desinformação marcam coberturas jornalísticas e programas de variedades |Por Regiane Lucas Párias da sociedade”. Foi com essas palavras que o médico especialista em implante coclear Ricardo Bento se referiu aos surdos no programa Mais Você da apresentadora Ana Maria Braga, veiculado na Rede Globo (ver box). A polêmica entrevista é apenas um dos muitos equívocos que a mídia brasileira comete ao falar sobre os surdos. Frequentemente a língua de sinais é chamada de linguagem ou gesto e os surdos são chamados de mudos ou deficientes. Entrevistas são realizadas com intérpretes de Libras ou com professores e pais, excluindo a presença dos surdos com fonte de informação. O jogador de vôlei de praia surdo Alexandre Couto conta que, durante uma entrevista para o Globo Esporte em Porto Alegre o repórter dispensou a presença do intérprete de Libras e exigiu que o atleta desse o depoimento oralmente. Alexandre explica que ele e o parceiro surdo, Toribio Malagodi, resistiram até o fim. A produção da emissora resolveu cancelar a gravação e o treinador apoiou a decisão dos jogadores. “Eu e meu parceiro sentimos que houve preconceito. Foi uma discriminação enorme e a repórter acusou a intérprete de promover uma lavagem cerebral em nós. Não é que seja proibido falar, mas devemos respeito aos surdos de todo o Brasil e precisamos mostrar a importância da Libras”, conta Alexandre em um relato enviado para o grupo de discussões on line SurdosBR. Segundo a professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Adriana Thoma, a presença dos surdos na mídia reflete um jogo de forças entre duas representações: uma clínica e uma cultural. No primeiro caso, os surdos estão associados à ideia de cura e de normalização. Um padrão de vida é escolhido para ser valorizado, no caso, o padrão daqueles que ouvem e se comunicam oralmente. Assim, os surdos são mostrados na mídia como aqueles que devem seguir esse modelo. São os casos das curas milagrosas, dos surdos que falam perfeitamente e daqueles que nem parecem surdos. Esse seria também o caso dos atletas do vôlei de praia se a reportagem tivesse sido feita. 08 | REVISTA DA FENEIS | JUN-AGO | 2010

Em sua tese de doutorado, Adriana analisou oito filmes da década de 80 e 90 que possuíam como tema principal os surdos. Na pesquisa, eram recorrentes as tentativas de normalização. “A educação estava, na maioria das vezes, vinculada à perspectiva da fala. Era recorrente também a abordagem da surdez como falta, como objeto a ser corrigido e como ausência de comunicação. A isso nós nomeamos de metáfora do silêncio”, conta a pesquisadora. A segunda forma de representação, explica a professora, seria aquela que aborda a língua de sinais e valoriza a diferença e a cultura dos surdos. Para ela, o discurso médico ainda é predominante na mídia, embora tenha havido avanços perceptíveis nos últimos 20 anos. “Vivemos um momento de ambigüidade. Ao mesmo tempo em que as lutas dos surdos ganham força e visibilidade, o discurso clínico da normalização dos surdos ainda resiste”, explica a professora. Para ela, o reconhecimento da língua de sinais se deve muito mais às lutas dos surdos e às leis do que ao meios de comunicação brasileiros. Entretanto, Adriana Thoma acredita que o movimento dos surdos precisa se organizar para contrapor os estereótipos tanto da mídia quanto da sociedade. “As lutas dos surdos estão desarticuladas porque a maioria deles está ocupada com o ensino de Libras. Essa demanda traz uma desarticulação”, afirma Adriana. Ela explica também que há muita desinformação nos meios de comunicação. Muitas vezes, não é especificado que o implante coclear não funciona para todos e que surdo não é mudo, por exemplo. Além disso, Thoma acredita que os conteúdos publicados pelos meios de comunicação nada mais são do que ideias que circulam no senso comum. “As representações que estão na cultura são fruto de formações discursivas que não têm um ponto de origem, não são homogêneas. É verdade que vemos mais intérpretes na televisão, mas os surdos ainda são vistos como personagens exóticos e a surdez está sempre ligada a uma cura”, explica Adriana.


Na edição de março deste ano, a Revista Época trouxe uma reportagem irreverente sobre termos politicamente corretos. Na lista de palavras que podem significar uma grande ofensa estão: gordo, negro, pobre, favela e surdo. Uma tabela mostra que o correto seria: portador de sobrepeso, afrodescendente, menos favorecido, comunidade e deficiente auditivo. O objetivo da reportagem era mostrar que algumas palavras estão ganhando conotação negativa com o passar do tempo e que hoje em dia a idéia de vigiar a língua é cada vez mais constante. O pecado da matéria foi apenas um: o desconhecimento de que há uma luta histórica dos surdos para que a terminologia deficiente seja definitivamente abandonada. A pesquisadora Patrícia Rezende explica que a palavra carrega um sentido de inferioridade e incapacidade. “São olhares que determinam um modo de ver os sujeitos surdos, como deficientes de audição. É como se houvesse uma invenção da anormalidade, explica Patrícia. Na redação de jornalismo da Rede Minas, emissora educativa e cultural mantida pelo governo do estado de Minas Gerais, a convenção é de que os editores utilizem os termos deficiente visual, físico ou auditivo. Segundo o editor do jornal diário Paulo César, essa foi uma convenção estabelecida entre os colegas de profissão, nas reuniões de pauta. O jornalista não esclareceu os motivos que orientaram essa definição.

Renato Rocha Miranda/TV Globo

Manual de redação: termos politicamente corretos

Land Vieira, na novela Cama de Gato, fazia o papel de Tarcísio, jovem pianista que estava perdendo a audição.

Novela Cama de Gato: tensão nos bastidores A pesquisa de doutorado de Patrícia Rezende, pela Universidade Federal de Santa Catarina, concorda que a tensão presente na mídia mencionada pela professora Adriana Thoma é reflexo de valores já existentes em sociedade. A tese é fruto de uma investigação sobre os discursos relacionados ao implante coclear. O caso da novela Cama de Gato, da Rede Globo, foi um dos exemplos abordados na pesquisa. Um dos personagens da trama, Tarcísio, representado pelo ator Land Vieira, era um jovem que estava perdendo a audição. Em carta aos autores da novela, os médicos especialistas no implante coclear pediam apoio para a divulgação da tecnologia, pois consideravam “um retrocesso o uso da Libras na novela”. A reação dos lingüistas pesquisadores da língua de sinais foi imediata. Envia-

ram um manifesto à emissora explicando o valor da Libras e a seriedade das pesquisas nessa área, tanto no Brasil quanto no exterior. Na carta, é mencionado que há pesquisas e programas em outros países que recomendam o bilinguismo para as crianças implantadas que fazem uso da língua de sinais e da língua oral. A pesquisadora surda Patrícia Rezende acredita que a desvalorização da Língua de Sinais presente nos discursos da classe médica é a principal responsável pela rejeição dos surdos à nova tecnologia. “Por que não poderíamos vivenciar esta realidade do bilingüismo para crianças implantadas no Brasil? Não é de admirar que os surdos militantes sejam resistentes ao implante coclear em crianças surdas, pois essa prática genocida e subalterniza as línguas de sinais e as culturas surdas”, comenta Patrícia em sua tese.

A maioria das reportagens e dos programas mencionados nessa matéria encontra-se disponível nos sites dos próprios veículos de comunicação.


^ Declaração polemica No dia 19 de maio de 2009, o programa Mais Você, da Rede Globo, trouxe uma reportagem sobre os benefícios do implante coclear com entrevistas a pacientes adultos e crianças. Em seguida a apresentadora conversou, no estúdio ao vivo, com o médico Ricardo Bento, que também é professor da Universidade de São Paulo. Durante a entrevista, o médico afirma que a Libras e a leitura labial não favorecem a socialização: “isso para a vida normal das pessoas é difícil, porque se você vai na padaria comprar um pão ninguém vai falar com você”. Durante o diálogo, Ana Maria pergunta ao otorrino o valor do implante. Ana Maria Braga: Setenta mil reais?! É caro! Ricardo Bento: A relação custo benefício desse aparelho é maior do que a de um marcapasso cardíaco, por exemplo, porque você vai sociabilizar uma criança que ia ficar a vida inteira dependendo de alguém. Não ia ter sua profissão e não ia poder estudar. Ana Maria Braga: Claro! Não aprende a falar. Ricardo Bento: Praticamente um pária da sociedade. Ana Maria Braga: Nossa, salva a vida! Depois de inúmeras reclamações da comunidade surda e de especialistas que consideraram o comentário uma ofensa, além de uma denúncia de preconceito ao Ministério Público formalizada pela Feneis, a apresentadora se retratou ao vivo cerca de um mês depois. Além de se desculpar em nome do programa e do médico, Ana Maria Braga também se comprometeu a abrir espaço para explorar melhor a questão. Atualmente tramita no Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (Conade) uma proposta de levar o assunto ao Conselho Regional de Medicina. Segundo a diretora administrativa da Feneis e representante dos surdos no Conade Shirley Vilhalva: “o Conade está tomando frente do assunto dentro dos tramites jurídicos e pretende contemplar a questão através de um diálogo maior não só com o médico, mas sim com vários profissionais junto ao Conselho Regional de Medicina”. A próxima reunião do conselho está marcada para início de junho em Brasília. A Revista da Feneis entrou em contato com a Rede Globo para saber se isso realmente aconteceu e se há alguma previsão de que o programa Mais Você faça reportagens sobre os surdos e a língua de sinais. Perguntamos também se na época do ocorrido a produção possuía conhecimentos sobre os surdos e o modo de vida independente que levavam. Por fim, perguntamos sobre o que os levou a publicar reportagens sobre o assunto. 10 | REVISTA DA FENEIS | JUN-AGO | 2010

A emissora enviou uma nota comentando o assunto (box). Já a assessoria de imprensa do Mais Você enviou informações sobre o perfil do programa, que, com freqüência, mostra histórias de superação não só de surdos, mas de outras pessoas. Isso depende do grau de novidade do assunto. Como exemplo, a assessoria mencionou uma reportagem publicada em 2008 sobre uma surda cega que aprendeu a dançar tango e outra exibida em junho de 2009 sobre o surf adaptado. Nessa última, dentre as várias entrevistas com pessoas com deficiência, em uma delas o repórter apresenta o surdo Yuri Sandro da seguinte maneira: “o Yuri já nasceu surdo e mudo porque a mãe dele teve rubéola durante a gravidez”. Quem concede a entrevista é o intérprete de Libras e irmão de Yuri, Felipe Silva, que explica que o surf ajudou muito o irmão, “que antes era uma criança hiperativa por causa da surdez”. Depois da reportagem, a apresentadora Ana Maria Braga convidou alguns integrantes do projeto de surf adaptado para um bate-papo no estúdio, em um momento emocionante do programa. A superação foi a tônica da conversa, que foi traduzida pelo mesmo intérprete da matéria. Ao contrário da reportagem, no estúdio o jovem Yuri, de 14 anos foi entrevistado, se apresentou com o sinal, falou sobre a língua de sinais e sobre modos de comunicação. Ora ele, ora o intérprete respondiam as perguntas da apresentadora. Surdo, deficiente, deficiência, linguagem de sinais e língua de sinais foram termos utilizados na conversa.


Zé Paulo Cardeal /TV Globo

Ativação do implante ao vivo: espetáculo da vida Pela primeira vez e de forma inédita foi apresentada ao vivo, durante um programa de televisão, uma ativação do aparelho de implante coclear. A equipe do Grupo de Implante Coclear do Hospital das Clínicas da USP ativou uma prótese de implante coclear na paciente Ana Maria Assumpção, que havia perdido a audição há quinze anos. Junto com a novidade, muitas questões foram esclarecidas tais como a diferença de surdo e mudo e quem pode e quem não pode fazer o implante. Foi dito também que há pessoas que optam pela comunicação em Libras. A cena foi emocionante não só para ela, que ouvia os primeiros sons depois de muito tempo, como também para quem assistia. “Eu estou ouvindo tudo, só que é um som novo”, dizia Ana Maria. Segundo o jornalista e doutorando em Comunicação Social Diógenes Lycarião, da Universidade Federal de Minas Gerais, os mecanismos de espetacularização da mídia comercial são recursos utilizados para ganhar audiência na guerra da concorrência pela atenção do público. “Se a mídia gosta de fatos, ela gosta mais ainda quando esses se convertem em histórias e em dramas. Por papel dramático se entende, nesse caso, ações desempenhadas pelo indivíduo que possam lhe identificar como um vilão, herói ou vítima, por exemplo. No caso da reportagem do Faustão parece claro que Ana Maria é interpretada como uma vítima do “problema” da surdez”, explica o especialista.

Segundo Diógenes, o programa traz muito mais do que o conteúdo informativo. “É preciso também contar uma história e ter um personagem para contar e encenar um drama. Há uma vítima da surdez e, ao vivo, essa vítima recebe a redenção. Com esta vem o choro e uma cena capaz de emocionar a quem assiste, de motivar a audiência a não mudar de canal”, afirma o pesquisador. Outro modo de compreender o espetáculo midiático, explica Lycarião, diz respeito àquilo que aparece para a audiência como atípico, incomum ou extraordinário. A matéria prima do espetáculo é a capacidade que um evento tem de despertar comentário público e de animar as conversações informais da vida cotidiana. “Quanto mais imprevisível e surpreendente for esse evento, maior será a sua capacidade de se fazer presente na mídia. É daí que se faz tão comum a exploração pela mídia do incomum, do extraordinário, do inusitado”, explica o doutorando.

Xvdfsdfs/TV Globo

Declaração da Rede Globo enviada ` Revista da Feneis a O ‘Mais Você’ é um programa de informação e entretenimento. Traz sempre temas da atualidade, valorizando a comunidade e conscientizando os telespectadores com suas reportagens especiais. Em uma de suas pautas, convidou em 19 de maio de 2009 o Dr. Ricardo Bento para falar sobre um serviço oferecido pelo SUS que pode beneficiar deficientes auditivos. Como especialista no assunto, o médico apresentou sua visão sobre um dos tratamentos oferecidos a este público. As opiniões dele são de responsabilidade dele. De qualquer forma, o programa voltou com o tema no dia 22 de junho justamente para corrigir, de nossa parte, qualquer mal entendido eventualmente gerado pela entrevista, além de agradecer o alerta feito pela Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos. Central Globo de Comunicação (CGCOM)


INTERNACIONAL

Da França para o Brasil

Pesquisa sobre acessibilidade e educação traz surdas francesas ao Brasil

A

s diferenças culturais entre Brasil e França não se restringem à língua e aos costumes. Em relação ao universo dos surdos, as metodologias educacionais e as tecnologias de acessibilidade são bastante diferentes. Com o objetivo de conhecer essa realidade na América do Sul, três surdas francesas estiveram no Brasil e na Argentina entre os meses de fevereiro e abril. A viagem faz parte do projeto Mille Mains dans un Monde, que em português significa “mil mãos em um mundo”. O projeto foi criado pela designer gráfica Jessica Boroy, pela educadora Pauline Stroesser e pela relações públicas Marlène Varnerin. A partir de visitas a países de todo o mundo, elas pretendem fazer um levantamento da situação educacional dos surdos e das tecnologias de acessibilidade. A ideia é explorar diferentes línguas de sinais, culturas surdas e estilos de vida. As pesquisadoras decidiram começar pela América do Sul, pois acreditam que mundialmente há poucas informações sobre esses países, embora muitos deles tenham políticas avançadas para os surdos. A proposta inicial era visitar, em três meses, quatro países. Terremotos no Chile e chuvas intensas no Peru na época da viagem fizeram com que o roteiro se restringisse ao Brasil e à Argentina. “Nos passos de crianças surdas na América do Sul” foi o nome dado a essa primeira etapa. A viagem começou pelo Rio de Janeiro e percorreu as principais cidades brasileiras: São Paulo, Salvador, Recife, Florianópolis, Porto Alegre, Caxias do Sul e Fortaleza. Na Argentina, as pesquisas começaram em Buenos Aires passando por Rosário e Córdoba. No Brasil as francesas visitaram os vários escritórios regionais da Feneis para coletarem informações, conhecerem os projetos e registrarem as experiências. Em São Paulo, por exemplo, estiveram reunidas com o coordenador nacional de acessibilidade para surdos da Feneis, Neivaldo Zovico e com o assessor da regional Eduardo, onde receberam material informativo, cartilhas e revistas da Feneis. Em cada parada as pesquisadoras visitavam também as escolas de surdos, como o Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines) no Rio de Janeiro, o Instituto Rio Branco em São Paulo e a Escola Helen Keller em Caxias do Sul. Outras experiências brasi12 | REVISTA DA FENEIS | JUNHO | 2010

leiras como o Fotolibras em Recife, o curso de Letras Libras em Florianópolis e o grupo paulista de arte Corpos Sinalizantes também foram conhecidas. Além disso, vale destacar a visita à Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Governo do Estado de São Paulo e as entrevistas feitas às principais lideranças surdas brasileiras. Estão na grande lista as professoras da Universidade Federal de Santa Catarina Marianne Stumpf e Ana Regina Campello, a ex-miss Ceará Vanessa Vidal, o coordenador nacional dos jovens surdos da Feneis Rodrigo Machado, dentre outros. No blog do projeto, Marlene Varnerin deixou a seguinte mensagem que faz um balanço da viagem: “essa aventura da descoberta de crianças surdas no Brasil e na Argentina foi também a descoberta de diferentes países, de outras culturas e de um povo generoso e simpático. Havia um forte sentimento de unidade entre os visitante, os surdos, as escolas e as associações. Esperamos ter sido uma oportunidade para o intercâmbio e para abrirmos novos horizontes para as crianças e adultos surdos”.

O projeto Criado em 2008, o projeto Mil mãos em um mundo busca registrar experiências de educação e acessibilidade em todo o mundo. Os registros são feitos por meio de filmagens, fotografias e anotações em que surdos e profissionais da área relatam suas experiências e contam suas histórias cotidianas. Depois de coletar o material, as pesquisadoras pretendem prepará-lo para apresentar aos franceses. As imagens de tom informativo e realista serão reunidas em exposições fotográficas,


Arquivo pessoal de Neivaldo Zovico

oportunidade onde serão feitas apresentações sobre as organizações e associações de surdos francesas. Além disso, serão organizadas conferências e debates com os parceiros do projeto, incluindo palestras de pessoas brasileiras que participaram da pesquisa. Por fim, pretende-se produzir um diário de viagem ilustrado. Atualmente, o site do projeto já funciona como uma plataforma de intercâmbio entre as experiências brasileira e francesa. O objetivo é enfatizar esse trabalho de troca de experiências pela internet. As viajantes também registraram suas visitas em um blog, que funciona como diário de bordo. “Mil mãos em um mundo” era originalmente o nome do projeto de Pauline Stroesser. Nessa primeira experiência foi realizada uma viagem de estudos à Bolívia em 2008. Somando os talentos individuais das integrantes do grupo, o projeto ganhou uma perspectiva artístico-educacional com os registros em fotos e realização de exposições e palestras. A preocupação do futuro das crianças surdas na França e no resto do mundo é a síntese de todo o projeto.

O assessor da Feneis de São Paulo Eduardo, Jessica Boroy, Neivaldo Zovico e Pauline Stroesser .

Brasil e França Durante a viagem, foram identificadas semelhanças e diferenças entre a educação dos surdos e a acessibilidade no Brasil e na França. O Brasil, por exemplo, é signatário da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2006. Já a França não aderiu ao documento. O telefone para surdos, no Brasil, pode ser encontrado em vários locais públicos, enquanto na França esse meio de comunicação é restrito às residências. As organizações de surdos estão lutando para que essa ferramenta de acessibilidade se torne pública e para que sejam criados centros telefônicos de intermediação para a comunicação entre surdos, com transmissão via vídeo e com intérpretes. Quanto às legendas, elas são aplicadas principalmente nos programas eleitorais. Site do projeto: www.millemainsdansunmonde.com Diário de bordo: www.millemains-blog.com

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MERCADO DE TRABALHO

O doce lado da diversidade Tradicional empresa brasileira de chocolates desenvolve política inclusiva e emprega mais de cem surdos |Por Regiane Lucas

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onversar em Libras com os colegas de trabalho surdos e ouvintes é uma prática comum para o operador de máquinas Marcos Pereira Claudiano. Sempre que participa de reuniões, palestras e treinamentos na empresa onde trabalha, ele tem à disposição um intérprete de Libras. Para ter acesso às informações dos murais da fábrica, Marcos conta com a adaptação dos conteúdos para os leitores surdos, usuários do português como segunda língua. Ele é um dos 102 funcionários surdos da Chocolates Garoto, tradicional empresa brasileira localizada na cidade de Vila Velha, no Espírito Santo. Marcos explica que a interação com os colegas ouvintes por meio da Língua de Sinais favorece o constante aprendizado na empresa. “Eu me sinto à vontade no local de trabalho porque posso usar a língua de sinais com os meus colegas ouvintes. Somos motivados a nos comunicarmos em Libras e há o reconhecimento da nossa língua em todos os espaços e entre todos os colaboradores, independente da hierarquia”, comenta Marcos, um dos funcionários surdos mais antigos da empresa, contratado em 1995. Há quase 20 anos a Chocolates Garoto investe na inclusão de pessoas surdas e com deficiência. Segundo o coordenador de recursos humanos, Benedito Carlos Amador, a proposta vai além do cumprimento das cotas previstas em lei, já que atualmente o número de surdos e pessoas com deficiência contratados ultrapassa o limite estipulado pela legislação. A empresa trabalha com a perspectiva de que a internali-

zação da diversidade traz um crescimento para todos. “A Chocolates Garoto acredita que sua força reside nas pessoas e estimula o reconhecimento e o respeito à diversidade humana. Essa postura demonstra, na prática, que a valorização do ser humano e de suas características, sejam físicas, de credo, raça, etnia ou gênero, contribui para o desenvolvimento social e cultural da organização”, esclarece o coordenador. No caso dos surdos, Benedito Amador explica que o trabalho de inclusão começa desde o recrutamento que é feito em parceria com órgãos representantes de pessoas com deficiência e de surdos. Durante todo o processo de contratação e permanência na empresa, os colaboradores surdos contam com a presença do tradutor-intérprete de Libras, que faz parte do quadro de funcionários. Além de interpretar os treinamentos e palestras, ele também é o responsável por adaptar os formulários, manuais e glossários. Todas as cartilhas de treinamentos de qualidade, segurança, manuseio de novos equipamentos e primeiros socorros são transcritas por meio do sistema da notação. Os textos dos materiais são organizados em tópicos e códigos de maneira compreensível aos surdos que lêem o português como segunda língua. A Garoto também disponibiliza um TTS (Terminal Telefônico para Surdos) e publicações em Libras para os seus colaboradores. Segundo o coordenador do recursos humanos, os salários, benefícios, planos de carreira e as chances de crescimento profissional são equiparados aos dos trabalhadores ouvintes.


Inclusão sem paternalismo Segundo a tradutora e intérprete da Chocolates Garoto Fernanda Nogueira, na área corporativa, muito mais do que em outras áreas, os surdos são avaliados sem paternalismo, com as mesmas exigências feitas aos outros funcionários. Ela observa que, em geral, no mercado de trabalho as empresas estão preocupadas apenas em preencher as cotas. “Ao garantir a acessibilidade comunicacional e criar ações de incentivam o respeito à diferença, a Garoto oferece meios para os surdos crescerem profissionalmente. Esse modelo de gestão é interessante porque dá condições para o colaborador ter um bom rendimento e se desenvolver”, comenta a profissional. Para Fernanda, a presença já está naturalizada dentro da empresa. A visão equivocada do intérprete de Libras como alguém que ajuda ou promove uma caridade também está bem distante da realidade da Garoto. “Aqui não existe essa visão paternalista. O intérprete está ali para intermediar palestras e treinamentos, além de sensibilizar os colaboradores com orientações sobre cultura e identidade surdas. Os gestores têm a consciência de que precisam do profissional para o sucesso coletivo do trabalho”, explica Fernanda Nogueira. Além da contratação do intérprete, a Garoto também oferece curso básico de Libras para os coordenadores e de português para os surdos. “O objetivo é promover uma maior autonomia tanto para os gestores quanto para os surdos, para que eles possam se comunicar diretamente entre si em situações mais corriqueiras”, detalha a intérprete.

Depois de ficar 30 anos fora da escola, a auxiliar de produção surda Maria Georgina Guimarães, de 50 anos, decidiu voltar a estudar. Desde 2009 ela freqüenta as aulas do ensino fundamental da Educação de Jovens e Adultos (EJA), voltado para os funcionários surdos da Chocolates Garoto. Com metodologia específica e aulas em Libras, o projeto conta hoje com 37 alunos divididos em três turmas. A iniciativa da empresa tem como objetivo fazer com que os seus funcionários tenham a chance de concluir o ensino fundamental e médio. As aulas são gratuitas e o aluno paga apenas pelo material didático. Maria Georgina conta que quando soube do EJA aceitou de imediato a oportunidade de voltar para a escola. “Quando eu era jovem estudei no Instituto Nacional de Educação dos Surdos, o Ines. Depois de tantos anos tive a chance de ter aulas em Libras novamente com o EJA. Isso marca muito. Como utiliza a minha língua, o contato é mais efetivo e o conteúdo tem mais resultado. Sinto que estou aprendendo e me desenvolvendo”, comemora a funcionária. Ela conta que o horário das aulas, realizadas depois do trabalho, e a localização perto da empresa são fatores que motivam ainda mais. “Mesmo que seja cansativo eu não vou desistir, principalmente agora que tenho aulas em língua de sinais”, explica Georgina. O operador de máquinas Marcos Claudiano também está investindo nos estudos. Ele cursa Sistemas de Informação e acredita que a faculdade o auxilia a aprender mais metodologias dentro da área industrial, setor em que atua na Garoto. “Caso apareçam boas oportunidades de crescimento na empresa, quero estar preparado e o curso superior me dá boas condições para isso. Penso que posso chegar a um bom nível de escolaridade e não quero estacionar, quero continuar a crescer. Estou muito realizado”, afirma Marcos. Assessoria de Comunicação - Chocolates Garoto

Atualmente os surdos ocupam os cargos de auxiliar de produção, higienizador de produção, auxiliar de armazenagem e distribuição e operador de máquina.

DA LINHA DE PRODUÇÃO PARA A SALA DE AULA

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Priscilla Cavalcante: superação e coragem

“Escolhi Di profis a dignidade, a

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eu nome é Priscilla Fonseca Cavalcante, sou surda, tenho 23 anos, vivo no Rio de Janeiro e já concluí dois cursos superiores: Direito e Pedagogia. Agora, estou prestes a terminar outra faculdade, a de Letras Libras (Língua Brasileira de Sinais). Nasci surda, sendo a surdez ocasionada por uma anoxia (ausência de oxigenação no cérebro). Considerome uma pessoa bilíngüe por usar duas línguas: a Libras e a Língua Portuguesa. Sei que qualquer barreira pode ser vencida. Apresento esse relato para dividir essas conquistas com a comunidade surda brasileira.

Minha escolha Escolhi Direito porque achei que seria uma forma de ajudar a comunidade surda. A minha mãe também me deu um empurrãozinho e disse que eu devia mudar a história dos surdos mostrando que somos capazes. Na verdade, eu queria fazer medicina, porém, me disseram que eu não podia. A maioria das pessoas ainda continua não acreditando na competência dos surdos. Então, escolhi Direito porque é uma profissão que busca a dignidade, a justiça e a igualdade. Acredito que os surdos necessitam de alguém que esclareça questões legais para eles. Agora enfrento o desafio de prestar a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Também terminei, neste ano, o curso de Pedagogia pelo departamento de Ensino Superior do Instituto Nacional de Educação de Surdos – Ines, no Rio de Janeiro. O curso bilíngüe é pioneiro na América Latina e eu fiz parte da primeira turma. No momento, estou cursando a graduação à distância de Letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina. O polo onde eu assisto às aulas também fica no Ines. Atualmente sou instrutora de Libras concursada pela prefeitura de Angra dos Reis, no


estado do Rio de Janeiro, e trabalho numa escola municipal de educação de surdos.

Superação A minha principal superação foi, sem dúvida, terminar a faculdade de Direito, em 2009. Sinceramente, em toda a minha vida, nunca tive dificuldades de viver no mundo dos ouvintes, mas quando ingressei na faculdade, comecei a ter a dificuldade de acompanhar as aulas, pois os professores eram completamente diferentes daqueles do colégio em que estudei. Quando eu estava na faculdade de Direito foi um sofrimento intenso porque não tive intérprete e porque não fui reconhecida como surda. Ou seja, na faculdade eles não sabiam o que fazer comigo. Quase larguei o curso, mas soube que havia ganhado uma bolsa integral do ProUni e por isso meus pais me motivaram a continuar estudando. O meu pai me ajudava com a explicação dos conteúdos que eu gravava durante as aulas. Depois que comecei a fazer as gravações minhas notas ficaram melhores. Essa estratégia era a única solução para que eu pudesse me informar e aprender melhor. No último ano acadêmico resolvi contratar uma intérprete de Libras por causa da monografia e da prova oral da OAB. A partir daquele momento tudo ficou mais claro para mim. Passei a participar ativamente das aulas e a explorar o conteúdo com perguntas. Confesso que foi uma experiência maravilhosa. Imaginem! No momento de receber o diploma, foi uma sensação diferente. Uma mistura de medo, devaneios, emoções fortíssimas, vitória e conquista para a comunidade surda. O diploma também é do meu pai, pois ele se empenhou bastante durante boa parte da minha faculdade ao estudar comigo enquanto escutava todas as aulas que eu gravava. Logo após ter um acidente vascular cerebral, meu pai disse que ia

DE SURDO PARA SUDO

reito porque é uma são que busca justiça e a igualdade” ficar vivo para me ver formar.

Infância Minha infância foi ótima e tive o apoio dos meus pais, mesmo depois de descobrirem a minha surdez quando eu tinha dois anos de idade. Eles foram buscar informações no Ines. A minha mãe fez o curso de Linguagem de Sinais (em 1988 se chamava assim) para estabelecer uma comunicação mínima adequada a mim e depois o meu pai aderiu à ideia de se comunicar em Libras comigo. Comecei a ter contato com os surdos nessa mesma época, aos dois anos de idade, quando entrei no Ines. Ou seja, estou na comunidade surda há 21 anos. Meus pais continuaram me apoiando, principalmente a minha mãe que sempre me encorajava a brigar por algo que não ia dar certo. Ela me dizia: nunca tenha medo, nunca revide quando te disserem “não”. O surdo pode fazer muita coisa. Gostaria de agradecer aos instrutores Fernando Valverde e Lúcia Severo por terem explicado a mim e aos meus pais como é o mundo dos surdos e as experiências que eles tiveram. Relato concedido ao jornalista Diogo Madeira, que transcreveu e editou o texto.

“Somos guerreiros surdos. Lutamos com garra. Nunca desistam dos seus sonhos. Nunca deixem as pessoas os subestimarem!” Priscilla Cavalcante


JOVENS SURDOS

Movimento dos jovens surdos mobiliza o país

|Por Diogo Madeira e Regiane Lucas

Quando falamos sobre a juventude, a primeira imagem que nos vem à cabeça é a de pessoas que só pensam no presente e vivem a vida inconsequentemente. Para quem é do movimento de jovens surdos brasileiros, esse imaginário está bem fora de moda. São jovens que se reúnem para discutir sobre mercado de trabalho, esporte, cultura e identidade. São jovens que podem fazer a diferença no futuro dos surdos. O movimento começou com o surdo Rodrigo Machado. Depois de passar quatro meses na Dinamarca e visitar alguns países europeus, ele percebeu que lá existiam movimentos de jovens surdos com organizações independentes. Em 2006, o jovem de 22 anos na época participou do I Encontro dos Jovens Surdos do Conesul, realizado na Argentina. Com o encontro argentino, ele sentiu a urgência de começar algo no Brasil. “Presenciei várias experiências internacionais e eu não podia aceitar que nós, jovens surdos brasileiros, não estivéssemos mobilizados. Corremos contra o tempo e no mesmo ano realizamos o I Encontro dos

Jovens Surdos do Rio Grande do Sul, em Capão da Canoa”, conta Rodrigo, que atualmente é o coordenador nacional de jovens surdos da Feneis. O ponto alto foi a realização do primeiro encontro nacional, em São Paulo, em 2008. Segundo Rodrigo, o movimento busca despertar nos jovens o espírito de liderança na comunidade surda, o sentido de ser surdo e o sentimento de que são capazes de realizar grandes ações. “Observei que as lideranças surdas são, em geral, de mais idade. Precisamos mostrar para os jovens que eles são capazes de trabalhar juntamente com esses surdos e se tornarem referência, explica. Neste ano já foram realizados três encontros regionais e o nacional está previsto para novembro. Rodrigo comemora o avanço do movimento, mas revela uma preocupação: “percebo que a região norte ainda não se mobilizou. Acredito que devemos dar mais ênfase no trabalho com esses jovens”.

Belo Horizonte-MG 12 a 15 de novembro de 2010 www.jovenssurdos.org.br/enjs/2

II Encontro Nacional de Jovens Surdos

Já estão abertas as inscrições para o II Encontro Nacional de Jovens Surdos. Com o tema “A valorização da comunidade surda e do sujeito surdo”, o evento disponibilizará 150 vagas destinadas a todos os estados. A coordenadora da comissão organizadora Rosely Lucas explica que o tema foi escolhido pela comissão com o objetivo de mostrar o valor da comunidade surda e das associações, que atualmente têm sofrido muitas perdas. As inscrições devem ser feitas pelo site. Os interessados devem também enviar uma comprovação de que participam de alguma associação ou escola de surdos. Além das palestras, a programação promete ter festa mineira, gincanas e passeios turísticos.


II Encontro de Jovens Surdos do Nordeste

Foi com a luz de um farol de carro que a comissão organizadora do evento terminou os últimos preparativos. Uma chuva forte fez com que a energia acabasse na sede da Associação dos Surdos de Pernambuco bem às vésperas do evento. Mas isso não foi motivo de desânimo. O encontro foi um sucesso e contou com 64 participantes de todos os nove estados do Nordeste. Com o tema “Liderança e Execução – Todos no mesmo compasso para melhorar a vida social do Jovem Surdo”, o evento trouxe palestras sobre a independência dos surdos, empreendedorismo, educação e mercado de trabalho. Para o coordenador da comissão organizadora Marcelo Amorim, o segundo encontro complementou o primeiro. “Antes os jovens adquiriram experiências sobre a formação de lideranças surdas. Agora, com palestrantes já experientes nas suas áreas, a proposta foi mostrar como eles chegaram onde estão e com isso ensinar aos jovens como agir. Esse encontro mostrou que somos capazes de agir e liderar ao mesmo tempo, desde que haja oportunidade”, explica Marcelo. Já a integrante da comissão Alicyary Queiroz conta que as palestras e as brincadeiras foram importantes para incentivarem o empoderamento dos surdos e a sua independência na sociedade.

Arquivo pessoal de Marcelo Amorim

Moreno-PE 6 a 9 de maio de 2010


IV Encontro de Jovens Surdos do Rio Grande do Sul Santa Rosa- RS 15 a 17 de janeiro de 2010

Diogo Madeira

O calor escaldante não impediu que os jovens surdos gaúchos participassem do evento. Realizado no Alto do Parque, um espaço com belas paisagens e atividades ecológicas, o encontro teve como objetivo conscientizar os futuros líderes da política surda. Uma das ideias inovadoras surgidas nos debates foi a criação de um evento para adolescentes surdos de 12 até 18 anos, para antecipar o trabalho de conscientização. Foram disponibilizados alojamento e acampamento para os participantes. A programação trouxe palestras, uma visita à casa da Xuxa e passeios pela cidade. No último dia foi feita uma votação para escolher a sede do próximo encontro, sendo eleita a cidade de Novo Hamburgo. A coordenadora da comissão organizadora, Kelly Kleuse, para manter a tradição, passou o troféu ao responsável por planejar o próximo evento, Rogério Demari. “Eu assumi a coordenação porque me preocupo em estimular os jovens surdos da minha cidade a ganharem experiências vindas de outras cidades”, conta Kelly. Os participantes rejeitaram a ideia de realizar o encontro de dois em dois anos, pois acreditam que se for anual dá mais motivação aos jovens surdos.

Acampamento de Aventureiros Surdos Lageado Grande-RS 7 a 9 de maio de 2010 O calor da fogueira foi o grande companheiro dos 14 aventureiros surdos que participaram do acampamento. O frio da cidade de Lageado não foi suficiente para desanimar os participantes, que fizeram trilhas, gincanas e brincadeiras durante os três dias. Uma palestra sobre esportes radicais também fez parte da programação. Segundo a organizadora Cláudia Hayakawa, além de trocarem experiências e conhecerem novas pessoas, os surdos puderam também ter contato com a natureza. “Os participantes fizeram atividades que exigiam não só coragem, mas também disponibilidade para ajudar o outro, trabalhar em equipe, enfrentar desafios e superar situações problema”, explica.

A paulista Cláudia Hayakawa, integrante da comissão organizadora do acampamento, enfrenta o frio gaúcho. Arquivo pessoal de Cláudia Hayakawa


Tese de doutorado aborda o implante coclear do ponto de vista cultural Arquivo pessoal de Patrícia Rezende

Um outro olhar sobre o implante coclear. Diferente das discussões médicas sobre a cirurgia que promete o milagre da audição, a tese de Patrícia Luiza Rezende traz uma abordagem cultural sobre o assunto. Defendida em 26 de abril pela Universidade Federal de Santa Catarina, a pesquisa intitulada “Implante coclear na constituição dos sujeitos surdos” traz uma análise dos discursos de médicos, fonoaudiólogos, vereadores, mães de crianças implantadas e da mídia sobre o implante. Sob orientação de Ronice Quadros e co-orientação de Maura Lopes, a tese concluiu que há um discurso predominante que valoriza a normalização dos sujeitos surdos, que defende o implante como melhoria da qualidade de vida e desvaloriza a língua de sinais e a cultura surda. “É por isso que os surdos têm resistência ao implante coclear. Se os discursos médicos incluíssem a valorização do bilingüismo talvez essa resistência não fosse tão grande”, defende Patrícia. Na Europa e nos Estados Unidos, explica a pesquisadora, os surdos implantados aceitam a língua de sinais e o bilingüismo. A pesquisadora se mostra preocupada com a força do discurso médico, que pode levar a sociedade a acreditar que ele é verdadeiro. “Não podemos ignorar o desenvolvimento das novas tecnologias, mas também não podemos deixar que elas se tornem um impedimento para o bilingüismo dos surdos”, afirma. Durante a defesa, foi destacada pela banca examinadora a originalidade do trabalho e a relevância de apresentá-lo para os profissionais de saúde. A defesa foi transmitida por videoconferência.

Formação de intérpretes de Libras é tema de dissertação de mestrado “O papel de professores Surdos e Ouvintes na formação do tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais”. Esse foi o tema da dissertação de mestrado da surda Elomena Barbosa, defendida no dia 24 de fevereiro pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Sob orientação da professora Cristina Broglia, a pesquisa investigou a prática da interpretação a partir de filmagens realizadas em 2008 e 2009 no curso superior de Formação Específica de Intérpretes de Libras, da mesma universidade. As análises focalizaram as atividades de prática, o debate gerado entre docentes e alunos na observação dos vídeos e o papel dos professores surdos e ouvintes nas discussões. Uma das conclusões mostra que os cursos de formação devem contar com a presença de docentes surdos e ouvintes, pois traz para o espaço formativo as tensões entre as condições surdo/ouvinte e entre a produArquivo pessoal de Elomena Barbosa ção de sentidos em Libras e na Língua Portuguesa. Além disso, a pesquisa apresenta um método de trabalho de formação de intérpretes que busca estimular o trânsito entre as duas línguas. Segundo Elomena, a pesquisa contribui com as pesquisas em educação dos surdos já que a presença do intérprete de Libras na sala de aula é garantida por lei. “A comunidade surda tem, desde a implantação das políticas de inclusão, argumentado sobre o processo excludente decorrente dessas, em função da nossa diferença lingüística. No entanto, a inclusão é um fato e temos que lidar com ela. A única forma de minimizar os prejuízos para o aluno surdo é garantir a presença de bons intérpretes de Libras”, explica a mestre. JUN-AGO| 2010 | REVISTA DA FENEIS | 21


EDUCAÇÃO

^ Conferencia Nacional de Educação rejeita proposta que apoia a escola de surdos A primeira Conferência Nacional de Educação (Conae) levou a Brasília cerca de três mil pessoas de todos os estados e uma pluralidade de opiniões sobre qual a melhor educação para o povo brasileiro. Juntamente com o poder público, delegados e observadores buscaram definir propostas que pudessem servir de base para a elaboração do Plano Nacional de Educação (PNE), documento que vai reger o sistema de ensino pelos próximos dez anos. Na opinião dos surdos usuários da Língua de Sinais sobre a conferência, a regra da maioria não se mostrou a mais democrática. Das onze propostas defendidas pelos representantes da comunidade surda, apenas três foram aprovadas. Realizada entre os dias 28 de março e primeiro de abril deste ano, a conferência é fruto da reunião de propostas discutidas e aprovadas em etapas estaduais e municipais, onde delegados os foram eleitos. Aquelas relacionadas à educação dos surdos tiveram origem principalmente na conferência da cidade de São Paulo e foram alvo de ampla discussão, que polarizou, de um lado, adeptos da escola inclusiva e de outro defensores da escola de surdos. Em geral, as propostas defendidas pelos representantes da comunidade surda visavam a manutenção e criação de escolas bilíngües para surdos (ver box). Segundo o delegado Neivaldo Zovico, houve um forte lobbie das entidades favoráveis à escola inclusiva, perspectiva também apoiada pelo governo. Ele explica que a conferência foi dividida em seis subtemas e que as propostas sobre os surdos entraram no eixo seis “Justiça social, educação e trabalho: inclusão, diversidade e igualdade”. “Durante a fase de discussão interna ao eixo seis fizemos um acordo de que todos votariamos a favor das propostas apresentadas pelos diferentes grupos – negros, quilombolas, Movimento dos Sem Terra, dentre outros. Partimos do princípio de que ninguém conhece melhor a realidade do que aqueles que a vivenciam”, relata o delegado, que também é professor. No momento da votação, sete propostas foram totalmente rejeitadas, três aprovadas com 50% e uma obteve 30%. Neivaldo argumenta que os dirigentes governistas manipularam o grupo. “Nas nossas costas, depois de sairmos da plenária, os participantes do eixo seis foram chamados para uma reunião com representantes do Governo Federal e de ONG’s conveniadas ao Ministério da Educação (MEC). Eles os convenceram 22 | REVISTA DA FENEIS | JUN-AGO | 2010

|Por Regiane Lucas a votar contra as propostas destacadas pelo grupo de surdos, acusando nossas ideias de segregacionistas. Os únicos movimentos que nos apoiaram até o fim foram a Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) e a Educação do Campo”, explica Neivaldo. Segundo a diretora de políticas educacionais especiais do MEC, Martinha Claret Dutra, não houve acordos e lobbies. Todas as opiniões receberam atenção e foram levadas para a discussão, tanto que muitas dessas propostas dos surdos foram acatadas. “A conferência é um espaço democrático e o resultado foi fruto do debate. A maioria da plenária reconheceu que há um princípio da educação inclusiva a ser seguido e que votar pela escola de surdos é ir contra esse princípio. Além disso, não há ONG ligada ao ministério. Muitos delegados são ligados a entidades e movimentos, mas todo o contingente fez parte do debate. Ao MEC coube apresentar argumentos em defesa das orientações do governo e das políticas educacionais vigentes”, rebate a diretora. Ao final da plenária os 12 representantes da comunidade surda apresentaram uma moção de defesa das escolas de surdos. O documento tem o objetivo de registrar e formalizar aquelas demandas rejeitadas pela plenária. O texto final da moção defende a continuidade das escolas de surdos, da educação infantil até as séries finais da educação básica. Nos casos onde não houver escolas de surdos, defendese que haja o atendimento dos alunos em classes de surdos e, no último caso, em cidades onde o número de surdos é pequeno, que existam espaços de compartilhamento da língua de sinais e de demais aspectos culturais. A moção defende também a formação específica de professores de surdos com conteúdos como aspectos lingüísticos, históricos e culturais da comunidade surda. Por fim, busca garantir o ingresso de surdocegos e surdos com outras deficiências associadas nas escolas ou classes de surdos e a presença de professor assistente, de instrutor mediador e de guiaintérprete, de acordo com a necessidade do aluno. Para o delegado Neivaldo Zovico: “a conferência deveria ser um espaço democrático, mas infelizmente foi uma ditadura. Não conseguimos fazer valer nosso direito por causa da manipulação dos dirigentes que não conhecem a nossa cultura, a língua de sinais e a identidade surda do Brasil e do mundo”.


Escola de surdos x escola inclusiva Dois projetos diferentes de educação para os surdos estavam em discussão na Conae: a escola regular com garantia de acesso e permanência para surdos, chamada escola inclusiva, e a escola de surdos, com educação bilíngüe e metodologias próprias de ensino. Segundo a professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ronice Quadros, a melhor escola para educar os surdos é aquela que propicia um ambiente linguístico em que a Libras e a Língua Portuguesa compartilham espaços e onde os conteúdos sejam acessíveis visualmente. “Uma boa escola para surdos é aquela em que a Libras vai ser a língua de instrução dos conhecimentos escolares e a Língua Portuguesa vai ser ensinada como segunda língua. É aquela em que as pessoas sejam bilíngues e usam tanto uma como a outra língua, de acordo com quem estiver conversando. É aquela que vai garantir o encontro entre surdos para estes vivenciarem sua cultura. Essa escola que descrevo pode ser uma escola bilíngue de surdos e pode ser uma escola bilíngue pública. Vai depender de se criar um espaço que faça uma educação bilíngüe”, defende a professora. De acordo com a diretora de políticas educacionais especiais do MEC, Martinha Claret, o Ministério não concorda com o princípio de que a educação bilíngüe é favorecida no espaço segregado. “Ao contrário, a pluralidade humana precisa estar na escola e esta precisa, cada dia mais, ter diferentes ferramentas pedagógicas que sejam capazes de desenvolver a educação plural”. Perguntada sobre a importância das escolas de surdos para a valorização da cultura e da identidade surdas, a diretora respondeu que “do ponto de vista da educação inclusiva, o MEC não acredita que a condição sensorial institua uma cultura. As pessoas surdas estão na comunidade, na sociedade e compõe a cultura brasileira. Nós entendemos que não existe cultura surda e que esse é um princípio segregacionista. As pessoas não podem ser agrupadas nas escolas de surdos porque são surdas. Elas são diversas. Precisamos valorizar a diversidade humana”. Segundo a professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e palestrante no Conae, Rosângela Gavioli, há campos de tensão e disputa entre os dois modelos, porém ambos ainda precisam ser amplamente debatidos pela sociedade brasileira. A professora acredita serem incipientes os estudos que avaliam ambas as formas de atendimento ao surdo e que indiquem, com segurança, os prós e contras de cada uma. Além disso, ela aponta alguns problemas nas duas

propostas: “por um lado, em muitos casos não está disponibilizado o atendimento educacional especializado que permita a esses alunos o acesso ao ensino de Libras e em Libras, ao português como segunda língua e ao intérprete. Por outro lado, não é verdade que todas as escolas que atendem exclusivamente os surdos, ainda denominadas em muitos locais como escolas especiais, sejam bilíngües”, explica a professora, que também representou as entidades acadêmicas da conferência.

Resumo das propostas aprovadas *Garantir a oferta de atendimento educacional à criança surda, do nascimento aos três anos, propiciando a imersão em língua de sinais como primeira língua; *Oficializar a profissão de tradutor-intérprete de Libras e de guia intérprete para surdos e cegos e garantir a presença desses profissionais nas escolas e instituições de ensino superior; *Garantir que a formulação e a execução da política linguística sejam realizadas com a participação dos educadores surdos e demais lideranças da comunidade surda.

Resumo das propostas rejeitadas *Garantir às famílias e aos surdos o direito de optar pela modalidade de ensino, garantindo o acesso à educação bilíngüe; *Garantir e ampliar o atendimento de serviços de intervenção precoce em crianças de até três anos; *Garantir o contato dos alunos surdos com professores surdos, oportunizando sua identificação linguística e cultural; *Consolidar o ensino de Libras nos cursos de formação de professores, incluindo temáticas como artes, literatura, gramática da língua de sinais e história dos movimentos surdos. Incluir esse temas também nos currículos das escolas de surdos e nas escolas com alunos surdos incluídos; *Incentivar e apoiar financeiramente a criação do curso de graduação em Pedagogia Bilíngüe; *Inserir prova de proficiência em Libras nos concursos e em outros processos seletivos para professores que atuarão com alunos surdos.

Confira no próximo número uma matéria especial sobre bilinguismo, Língua de Sinais, identidade, cultura e educação de surdos, em resposta ao posicionamento do MEC. Envie suas opiniões e artigos científicos para a Revista da Feneis: revistadafeneis@yahoo.com.br


FENEIS PELO PAÍS

Novos endereços da Feneis no Rio Grande do Sul e em São Paulo Para comemorar os 15 anos de aniversário, em maio deste ano o escritório regional da Feneis do Rio Grande do Sul ganhou uma nova sede. Localizado na cidade de Canoas, que fica a 13 km da capital gaúcha, o novo escritório conta com um amplo espaço de 220 m² que abrigará os vários setores da regional como a administração e o Celes (Centro de Estudos em Libras e Educação de Surdos), além dos cursos de Libras. Segundo a diretora administrativa Vânia Chiella, a mudança foi fundamental para que o escritório voltasse a ser referência para a comunidade surda e para a sociedade gaúcha: “temos vários projetos que estavam esperando para serem colocados em prática. Com a nova sede, vamos iniciá-los imediatamente, com mais eficácia e sem dificuldades”, destaca. A atual sede está localizada nas imediações da BR 116, no bairro Niterói, a aproximadamente 100 metros da estação de metrô Trensurb. Questionada se a distância de Porto Alegre não prejudicaria a atuação da Feneis na região, Vânia garantiu que isso não significa um problema sério. Ela ressaltou que a atual posição da Feneis é muito útil geograficamente porque beneficia as comunidades surdas de Canoas, Esteio, São Leopoldo e Novo Hamburgo. O acesso é mais fácil, pois são cidades vizinhas de Canoas. A grande expectativa é de que, a partir de agora, o atendimento da regional passe a ser mais eficiente. Até fevereiro deste ano o escritório funcionava em Porto Alegre. O escritório de São Paulo também ganhou uma nova sede. O espaço antigo, com duas salas, já não comportava as atividades da regional, que teve aumento considerável por causa da criação de cursos e novas parcerias. Desde março a Feneis ocupa um imóvel com nove salas no bairro Mirandópolis. Localizado próximo ao metrô, o espaço é acessível também para cadeirantes.

Comemorações do Dia do Trabalhador no Rio de Janeiro Representantes da matriz da Feneis, no Rio de Janeiro, participaram das comemorações do Dia do Trabalhador promovidas pela Associação dos Servidores da Fundação Oswaldo Cruz (ASFOC). A confraternização, aberta a todos os funcionários da fundação, foi 24 | REVISTA DA FENEIS | JUN-AGO | 2010

realizada no dia 14 de maio. Dentre os representantes da Feneis, participaram do evento o diretor regional Walcenir Souza Lima, o gestor administrativo Leonardo Pessanha e a psicóloga do recurso humanos Eliane Sousa. A parceria entre Feneis e Fiocruz existe há 15 anos. Atualmente, 159 colaboradores surdos trabalham na empresa.

Parceria entre Serpro e Feneis A matriz da Feneis acaba de ganhar um telecentro com 22 computadores. A iniciativa é uma parceria com a Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), empresa pública vinculada ao Ministério da Fazenda. O telecentro é apenas um dos itens previstos no acordo. Serão feitas as traduções de vários cursos, apostilas e manuais para a Língua Brasileira de Sinais. O primeiro curso que está sendo traduzido é o de Manutenção de Redes. Em breve também estarão disponíveis conteúdos sobre os softwares Gimp e BrOffice. O objetivo é transformar esses cursos em aulas à distância. Além disso, estão no plano cursos de Libras para os funcionários do Serpro e a criação de um dicionário de Português/Libras que será disponibilizado na internet com acesso livre. A produção do dicionário será feita de maneira colaborativa, com a participação aberta a internautas para que enviem sinais regionais.

Assembleia da Feneis apresenta relatório anual e aprova balanço Foi realizada no dia 27 de março, em Belo Horizonte, a Assembléia Geral Ordinária da Feneis, com o objetivo de apresentar a prestação de contas e o relatório de atividades das regionais e da matriz referentes ao ano de 2009. Foram relatadas as atividades de cada escritório, tais como cursos, eventos e empregabilidade. Apesar das dificuldades financeiras sofridas pela entidade nos últimos anos, o balanço financeiro foi aprovado pelo Conselho Fiscal. Durante a reunião, a presidente do conselho Ana Regina Souza e Campello aprovou o balanço e sugeriu alguns procedimentos administrativos que possam facilitar a realização da prestação de contas. Além disso, por sugestão do diretor financeiro e de planejamento Josélio Ricardo Coelho, ficou decidido que será feito um balanço patrimonial mais detalhado em todas as regionais.


Arquivo pessoal de Neivaldo Zovico

Feneis participa da terceira maior feira inclusiva do mundo

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Teatro em Língua de Sinais reúne surdos na Reatech Arquivo pessoal de Juliano Salomon da esq. para a dir. o intérprete de Libras Juliano Salomon, a diretora regional da Feneis São Paulo Morise Saruta, a diretora administrativa da Feneis Shirley Vilhalva e o coordenador de acessibilidade da Feneis Neivaldo Zovico Arquivo pessoal de Neivaldo Zovico

ais de 160 estandes com as mais diversas tecnologias de acessibilidade, 19 seminários com dezenas de palestras sobre surdos e pessoas com deficiência, shows inclusivos e uma visitação de cerca de 45 mil pessoas. Essa é uma pequena amostra da nona edição da Reatech, Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade, realizada entre os dias 15 e 18 de abril deste ano, em São Paulo. O Centro de Exposições Imigrantes, com aproximadamente 22 mil m², ficou lotado durante os quatro dias. A Feneis, com o apoio da empresa Phonefacil, montou um estande com material de divulgação sobre cultura, identidade e educação dos surdos. Outras 14 entidades, dentre elas associações, escolas e empresas de surdos, também estavam presentes com seus estandes. Duas palestras sobre surdos merecem destaque. O coordenador nacional de acessibilidade para surdos da Feneis Neivaldo Zovico falou sobre o tema “Acessibilidade de comunicação para surdos e deficientes auditivos”. Já o presidente da Associação dos Surdos de São Paulo, Paulo Vieira, apresentou a palestra “Surdos nos esportes”. Vale a pena destacar o lançamento de dois livros sobre surdos: “A verdadeira beleza”, autobiografia da modelo surda Vanessa Vidal e “Surdos & Inclusão Educacional”, da professora Neiva Aquino. Ambos tiveram momento para autógrafos. Os surdos escultores, artesãos e artistas plásticos também fizeram uma exposição de suas obras no evento. Calcula-se que cerca de cinco mil surdos estiveram na feira. É a sexta vez que a Feneis participa da Reatech e, segundo o coordenador de acessibilidade, Neivaldo Zovico, a cada ano os surdos, profissionais da área e familiares se fazem mais presentes. “É importante ter um espaço na feira para mostrarmos à sociedade que as demandas dos surdos são diferentes das demandas de cadeirantes e cegos. No discurso da inclusão, muitas vezes somo colocados no mesmo grupo e não temos a nossa comunicação reconhecida”. Ele explica também que os resultados da divulgação feita no evento podem ser percebidos pelo aumento no número de pessoas que procuram cursos de Libras e no número de filiadas, além de um reconhecimento maior da figura dos intérpretes.

A modelo surda Vanessa Vidal autografa a sua biografia


|Cláudio Henrique Nunes Mourão¹

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ESPAÇO ACADEMICO

Ensinando Educação Física para surdos

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esolvi realizar este projeto de pesquisa do qual trago aqui um recorte, por minha experiência universitária, cotidiana e com base nos exemplos e vivências em três universidades em que estudei. Todas as instituições de ensino me ensinaram práticas diferentes daquelas que eu vivencio. Na maioria das vezes, elas não possuem nenhuma relação com a comunidade surda. Entendo, como profissional de Educação Física, que é importante incentivar os futuros profissionais da área a trabalharem com as diferenças, mais especificamente, com as pessoas surdas, entendendo a sua cultura. A proposta da pesquisa mais ampla foi a realização de entrevistas com alunos surdos de Ensino Médio, procurando identificar aprendizados e experiências nas aulas de Educação Física. Entrevistamos professores de escolas de surdos para conhecer o conteúdo aprendido por eles na universidade sobre os surdos. Entretanto, o objetivo principal do artigo é o de examinar o papel do conhecimento de Língua de Sinais por parte dos professores de Educação Física de duas escolas de surdos e a influência do domínio da Libras na interação com os alunos surdos e no desenvolvimento das atividades docentes. Trago algumas contribuições atuais e informações sobre “ser surdo”, “educação de surdo”, “língua de sinais” e “educação física para surdos”, quatro temas que considero importantes para a compreensão do artigo.

Educação física para surdos Antigamente, o trabalho do profissional de Educação Física com surdos era dificultado pela falta de comunicação e os alunos se limitavam a copiar o professor sem entender por que e para que estavam fazendo aquele exercício físico. Dominando uma Língua de Sinais específica para a Educação Física, o profissional facilita a interação surdo-ouvinte e assim promove a verdadeira dinâmica de ensino-aprendizagem com seus alunos surdos. A questão é que na formação universitária os alunos aprendem a Educação de Surdos apenas do ponto de vista da educação clínica. Se trabalhassem na escola de surdos, esses alunos estariam preparados para dar aula? Na escola inclusiva, se há um aluno surdo, os professores sabem como lidar com eles? Penso que é 26 | REVISTA DA FENEIS | JUN-AGO | 2010

necessário atualizar o currículo acadêmico de acordo com as novas pesquisas dos Estudos Surdos. É comum perceber que os professores, ao trabalharem com surdos, descobrem que a prática é diferente daquilo que aprenderam nas universidades. Quadros (2003, p. 84) traz um relato sobre a prática docente inclusiva com alunos surdos: No começo foi muito difícil, eu não conhecia nada sobre “necessidades especiais” que alguns alunos possuem, não sabia o que era Língua de Sinais Brasileira, Braille... Com a primeira turma foi uma “jogação” em vez de “inclusão” (...). Comecei a “correr” atrás de embasamento teórico, comecei a buscar especialização na área da surdez. Nessa procura em fazer o melhor por meu aluno, comecei a concluir (com muita tristeza) que estava fazendo o pior. Hoje, trabalhando 10 anos com alunos surdos, posso afirmar que a inclusão leva os surdos à evasão escolar ou à reprovação constante. Faz com que o surdo se sinta “menor” diante dos outros. (...) (Depoimento da Professora Mari Luci Mantelli). (sic)

Realização da pesquisa e resultados Realizamos uma pesquisa qualitativa, apropriada para medir tanto opiniões, atitudes e preferências quanto comportamentos (Gil, 1996). A pesquisa se desenvolveu através de entrevistas com a) dois professores de Educação Física, um surdo e outro ouvinte, que trabalham em diferentes escolas de surdos de Porto Alegre e b) quatro alunos surdos do Ensino Médio, dois rapazes e duas moças, da região da Grande Porto Alegre, alunos do professor A. Somente dois alunos estudaram do jardim ao Ensino Médio na mesma escola. As entrevistas foram filmadas e transcritas. Para manter e preservar o anonimato, nomeamos os participantes como aluno A, aluno B, aluno C e aluno D, bem como professor A e professor B. Com relação às entrevistas com alunos surdos e professores de Educação Física obtivemos os seguintes dados: O aluno A afirma que participa de esportes em vários locais dentro e fora da escola. No local onde estuda, o professor é ouvinte e está aprendendo Libras por meio de alunos surdos que o ensinam durante as aulas. Ao perguntarmos sobre o tempo de aprendizado destinado ao esporte para os alunos, ele respondeu que os próprios estudantes acabam tendo que ensinar Libras para melhorar a comunicação com o professor e para poderem aprender melhor os esportes. Antes


de conhecer o professor, na escola, o aluno esperava que ele já dominasse a Libras, mas descobriu que, na verdade, o professor sabia bem pouco. Ele explicou também que freqüentemente os alunos pedem ao professor que se comunique mais por meio da Libras. O aluno B relata apenas uma troca de professor: o antigo possuía experiência com surdos, enquanto o atual sabe pouco de Libras e não tem conhecimento da cultura surda ou de Educação de Surdos. O aluno C não pratica esportes fora da escola. Ele acredita que o professor precisa melhorar a comunicação em Libras, mas não demonstrou grande preocupação sobre a comunicação com o docente, porque não gosta muito de Educação Física. Mesmo assim, acha que o professor precisa melhorar a Língua de Sinais. Realmente é difícil encontrar professores de Educação Física que saibam a Língua de Sinais. Atualmente, o número de alunos surdos do curso de Educação Física está crescendo, o que torna possível que surjam mais oportunidades de trabalho para profissionais que utilizam a Libras como forma de comunicação. Quanto ao aluno D, o caso dele foi diferente dos outros entrevistados, pois ele é oralizado. Ele explica que o professor sabe Libras e que eles se comunicam bem. Entretanto, no final da entrevista ele pontuou que o docente realmente precisa melhorar a língua de sinais para se comunicar melhor com os colegas surdos. Com relação aos dados obtidos nas entrevistas com os professores: O Professor A é ouvinte graduado em Educação Física, mas explica que não foi preparado para dar aula na Educação de Surdos. Ele aprendeu Libras voluntariamente na observação de alunos surdos e com a colaboração dos mesmos. Apenas adaptou suas estratégias didáticas à Libras, mas o ensino é o mesmo. No caso desse profissional, indagamos se é comum o professor pedir aos alunos para o ensinarem Libras? Isso não significa um tempo perdido de aula de Educação Física em detrimento da comunicação? O professor B é graduado, mas conta que também não foi preparado para dar aula na Educação de Surdos. Por ser surdo, ele conta que possui experiência de comunicação com outros surdos e conhecimento sobre a cultura. Ensina atividades de Educação Física com estratégias de aprendizagem específicas para esses alunos. Ele próprio teve aula de Educação Física na Escola de Surdos, com um professor sem experiência. A partir dessa vivência, hoje ele procura evitar práticas de ensino que não utilize os mesmos meios de comunicação com os alunos.

Análise das entrevistas Identifica-se claramente o amplo problema que existe na Educação de Surdos: a comunicação entre os professores e alunos. Todos os estudantes entrevistados responderam que o professor A precisa melhorar a Libras. Essas respostas coincidem com a resposta do professor, que afirmou que possui pouco domínio da língua. Ele explica que, se o aluno sinaliza rápido, ele não consegue captar. A diferença entre os dois professores está na comunicação. O professor B é surdo e não tem problema na interação com alunos surdos. Vemos com freqüência que em algumas escolas os professores ouvintes reduzem os conteúdos mais complexos a serem trabalhados com alunos surdos, simplificando a matéria. Isso acontece ou por terem pouco conhecimento de Libras ou por acharem ser difícil explicar o conteúdo em outra língua.

“no futebol há palavras como impedimento, pênalti e escanteio. Indago se, em geral, os surdos sabem o nome dessas regras. Acredito que as aulas de Educação Física devem conter mais do que a prática de exercícios. Deve-se também ensinar as palavras relacionadas ao esporte e os sinais correspondentes”. Sá (2006, p. 292), em sua pesquisa na qual analisou os professores que trabalham na Educação de Surdos, faz um questionamento importante: “Mesmo que um professor não saiba a língua de sinais, com amor e dedicação ele pode desenvolver um bom trabalho na educação dos surdos?”. As respostas dadas (transcritas na íntegra), por dez pessoas foram de que: . Concordo. Todo trabalho feito com amor e dedicação é bem feito... . Com toda certeza!... . Concordo. Tudo vai da dedicação, do interesse e da boa vontade. . Concordo, a mímica e a encenação ajudam JUN-AGO | 2010 | REVISTA DA FENEIS | 27


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ESPAÇO ACADEMICO

muito o professor. . Poucos professores dominam a língua de sinais, mas muitos são os que trabalham por amor, com dedicação e interesse em ajudá-los. . Concordo. Não conheço tudo sobre a linguagem dos sinais, mas eu conheço alguns sinais importantes... E apenas uma resposta é discordante: . Discordo totalmente. Amor e dedicação ajudam, mas o professor precisa ter conhecimentos técnicos e estar em busca de aprender mais. Na prática, o aluno acaba sendo prejudicado. A pesquisadora mostrou que a maioria dos professores acredita que o amor e a dedicação são mais importantes do que a comunicação. Diante dessa observação pergunto: como os alunos surdos podem desenvolver o aprendizado? Só o amor e a dedicação são suficientes? Acredito que os professores precisam buscar mais conhecimento de Libras, ter contato com os surdos e participar de eventos sobre o assunto. Dentre os dados coletados, merece destaque também uma resposta do aluno B, que demonstrou interesse em aprender palavras relacionadas ao esporte. Por exemplo, no futebol há palavras como impedimento, pênalti e escanteio. Indago se, em geral, os surdos sabem o nome dessas regras. Acredito que as aulas de Educação Física devem conter mais do que a prática de exercícios. Deve-se também ensinar as palavras relacionadas ao esporte e os sinais correspondentes. Ao praticarem esportes fora da escola, os surdos podem se deparar com a necessidade de saberem, por exemplo, o sinal de “impedimento”. É possível que o surdo não entenda ou desconheça a palavra. Provavelmente ele responderá a algum ouvinte que queira saber o sinal que não há correspondente. Mas existe o sinal de “impedimento”. Então, amor e dedicação ajudaram a ensinar a palavra e o sinal de “impedimento”? Os dois professores A e B mostraram semelhanças na formação que receberam na faculdade de Educação Física. Eles relataram que a faculdade não os ensinou como trabalhar com surdos. Por exemplo, se precisam apitar uma partida de futebol, como acontece quando há surdos? Existe uma outra forma de apitar. Outro exemplo de adaptação esportiva é o do nadador surdo africano, Terence Parkin, que participou da Olimpíada de Sidney, em 2000, e ganhou a medalha de prata nos 200 metros. A organização da competição colocou uma luz que piscava sempre que houvesse a largada. Sabemos que os surdos não podem ser excluídos por falta de audição. Sendo assim, os ouvintes, como professores, precisam conhecer como 28 | REVISTA DA FENEIS | JUN-AGO | 2010

são os surdos nos esportes para não os excluir. Além disso, será que eles percebem que os surdos possuem uma cultura específica e uma história nos esportes? Será que eles sabem da existência do Comité International des Sports des Sourds (CISS)? Se professor não consegue se comunicar com os alunos, como pode fazer suas avaliações durante as aulas?

“Será que eles sabem da existência do Comité International des Sports des Sourds (CISS)? Se o professor não consegue se comunicar com os alunos, como pode fazer suas avaliações durante as aulas?” Vilhalva (2004, p. 1) mostra como trabalhar com alunos surdos: Não é suficiente conhecer a Língua Brasileira de Sinais para poder atuar eficazmente na escola com o aluno Surdo. É também necessário conhecer a Cultura Surda através da participação e vivência na comunidade Surda, aceitação da diferença e paciência para inteirar-se nela.

Provavelmente o professor A começou a trabalhar sem saber como são os surdos. Não houve sequer um processo de aprendizagem durante a faculdade de Educação Física. Acredita-se que houve um acesso a informações sobre a partir de uma visão clínica da surdez, que trata o surdo como deficiente auditivo, com ênfase na importância de aprender por meio de leitura labial e com prótese auditiva.

Avaliação perceptiva de fatores inerentes à prática de Educação Física Depois das entrevistas realizamos a aplicação de um questionário denominado “Avaliação perceptiva de fatores inerentes à prática da aula de Educação Física”. Neste instrumento, professores e alunos atribuíram notas de zero a dez a vários tópicos sobre as aulas. Para todos os alunos, o ponto de destaque foi o “relacionamento com os colegas”. Acreditamos que isso acontece por terem a mesma língua, identidade e cultura, tendo o esporte como espaço onde há comu-


nicação sem barreiras. Com relação à opinião dos alunos sobre o professor, o grau de conhecimento sobre surdos e o nível de comunicação em Libras houve uma variação de quatro a oito pontos. Sobre os “conteúdos de fácil entendimento na aula”, os pontos foram baixos, entre três e sete, refletindo o possível problema de comunicação, que dificulta o acesso aos conteúdos. Góes (2000, p. 4142) afirma que algumas pessoas ouvintes que trabalham na Educação de Surdos usam “Libras misturada ao português”:

(...) Os interlocutores ouvintes apresentam grande heterogeneidade na capacidade de usar a língua de sinais, mas geralmente constroem, nos diálogos, formas híbridas de linguagem, compostas de elementos das duas línguas, em enunciados subordinados às regras da língua majoritária, além de se apoiarem em vários recursos gestuais. Ocorre, então, uma certa diluição dos sinais numa gestalt de realizações lingüísticas, que interfere na aquisição em processo e na compreensão de que se trata de uma língua, distinta da língua oral.

Como a autora indica, muitas vezes o professor utiliza o português sinalizado e por isso os alunos não entendem o conteúdo. No tópico “relacionamento com o professor”, dois alunos indicam baixa pontuação: dois e três. Um outro aluno classificou com pontuação seis e outro com pontuação nove. Pelas observações feitas e enfatizadas nas entrevistas, talvez o problema da comunicação seja uma barreira no relacionamento com o professor. Na questão da “motivação na aula de Educação Física” a pontuação também foi variável. O aluno B, que mencionou o desinteresse nas aulas de Educação Física, atribuiu quatro pontos. Os outros deram entre sete e dez pontos, que são os que gostam da Educação Física e a consideram uma aula motivadora. Quanto à aplicação do mesmo questionário para os professores, obteve-se seguinte resultado. Notase que os dois professores indicam o mesmo grau de “conhecimento sobre Educação de Surdos”, atribuindo nove pontos, lembrando que um é ouvinte e outro é surdo. Geralmente a pessoa ouvinte tem menos conhecimento da Educação de Surdos do que a própria pessoa surda, pois esta tem uma vivência própria do que é ser surdo. Esse conhecimento não é adquirido somente na escola. Há muitos outros elementos para serem conhecidos. O professor B, que é surdo, assume que possui conhecimento sobre Educação de Surdos, mas que ainda precisa se atualizar, por motivos como as mudanças freqüentes na educação, tecnologias e outros. É difícil que o professor ouvinte alcance

o mesmo domínio de conhecimentos sobre a Educação de Surdos. Em relação ao “domínio de Libras”; “comunicação em Libras” e “facilidade no uso da Libras”, o professor A indica sua pontuação em oito. Para a nossa surpresa, ele identifica que a Libras não é tão difícil de ser aprendida. Já o professor B atribuiu dez pontos para essas questões. A resposta é óbvia, já que a Libras é a sua língua, a qual ele tem domínio desde adolescente, quando a aprendeu aos 12 anos. Mais uma vez, os dois professores atribuem a mesma pontuação de nove pontos no tópico “alunos compreendem a comunicação em Libras”. Essa avaliação dos professores, principalmente do professor A, não condiz com a avaliação feita pelos alunos com relação à comunicação, mostrando claramente uma divergência entre as percepções do professor e dos alunos. Na questão “alunos compreendem a aula de Educação Física”, o professor A atribuiu dez pontos e o outro nove, gerando divergências. O aluno B afirma que: “o professor sabe pouco de Libras e na maioria das vezes só aponta. Eu só copio o que ele pede, mas não aprendo nada”. Será que alunos só “copiam”? Não é possível identificar se, de fato, o professor percebeu a compreensão dos alunos nas aulas. Vilhalva (2004, p. 2) explica que: O professor ouvinte deverá ficar atento, pois tudo em seu comportamento há uma explicação de construção dialógica quanto a questão de língua, cultura e participação real na educação escolar conforme as exigências.

Uma última questão é o “relacionamento entre os alunos”. O professor A atribuiu menos pontos a esse item do que professor B. É possível que professor B avalie dessa maneira porque, sendo surdo, tem experiência e sabe como acontece quando os surdos se encontram com outros surdos. Sabe que há a tendência de surgir interação devido à identificação, à comunicação por meio da mesma língua e à existência de uma cultura em comum. Esse resultado coincide também com a avaliação dos alunos surdos, que declararam uma pontuação maior sobre o relacionamento entre os colegas.

Conclusão e Sugestões Como conclusão, a pesquisa mostrou a importância da relação entre professores de Educação Física e alunos surdos e da comunicação entre eles. JUN-AGO | 2010 | REVISTA DA FENEIS | 29


No decorrer da minha vida acadêmica, não contei com professores que explicavam sobre o mundo dos surdos. Acredito na importância de haver uma disciplina, em todos os cursos da universidade, sobre Educação de Surdos, para que os graduandos possam conhecer o básico e se prepararem para dar aula de Educação Física se forem professores nas Escolas de Surdos. Acredito também que as escolas de surdos devem exigir que o professor tenha conhecimento específico ou especialização na área. O mesmo vale para os concursos públicos. Para trabalhar na Educação de Surdos deve ser exigido que o candidato comprove seus conhecimentos em Libras ou na Educação de Surdos como pré-requisito para a aprovação. Considero esse fator de fundamental importância no processo de educação, podendo influenciar na aprendizagem dos alunos surdos. Conforme exemplificado pelo aluno B, o desinteresse pela aula de Educação Física surgiu exatamente por causa da não comunicação com o professor. Lunardi (1998, p.85) fala sobre a importância da presença do professor surdo na escola: Nesse sentido, a presença do professor surdo na escola representa muito mais que modelo de linguagem e identidade: ele é um articulador do senso de cidadania que se estabelece num processo de relação social. Essa relação acontece entre professores surdos e alunos surdos, porque essa troca social de conhecimentos se reproduz através da língua de sinais.

Sugere-se que a presente pesquisa tenha continuidade em outras escolas de surdos, com o objetivo de verificar como é a comunicação entre professores e alunos surdos. Essa pesquisa é uma primeira tentativa de traçar um perfil de professor de Educação Física na Educação de Surdos. A análise das entrevistas dos dois professores e dos quatro alunos, apesar de serem restritas, contribui para uma discussão sobre as relações entre a escola, o uso de Libras, a cultura surda e os prejuízos que o domínio insuficiente de uma língua pode ter para os surdos. Há também a necessidade de analisar o curso Educação Física nas Universidades, se eles apresentam algum conteúdo sobre os surdos que extrapole a visão clínica. O ideal é que houvesse um preparo didático e pedagógico com ênfase na Educação de Surdos, possibilitando aos futuros profissionais saírem melhor preparados para atender esse segmento significativo da população.

“A análise das entrevistas dos dois professores e dos quatro alunos, apesar de serem restritas, contribui para uma discussão sobre as relações entre a escola, o uso de Libras, a cultura surda e os prejuízos que o domínio insuficiente de uma língua pode ter para os surdos.” ¹Mestrando em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), graduando do curso à distância de Letras Libras/Licenciatura da Universidade Federal de Santa Catarina e graduado em Educação Física pelo Centro Universitário Metodista (IPA). E-mail: cacaumourao@yahoo.com.br.

^ Referencias bibliográficas GIL, Antônio C. Como elaborar projetos de Pesquisa. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1996. GOÉS, Maria Cecília R. de. Com quem as crianças surdas dialogam em sinais? In: LACERDA, Cristina B.F. de; GÓES, Maria Cecília R. de (orgs.) Surdez – processos educativos e subjetividade. São Paulo: Editora Lovise, 2000. LUNARDI, Márcia. Educação de surdos e currículo: um campo de lutas e conflitos. (Dissertação de mestrado). Porto Alegre: UFRGS/FACED/PPGEDU, 1998. QUADROS, Ronice Muller. Situando as diferenças implicadas na educação de surdos: Inclusão/Exclusão. Ponto de Vista: Revista de Educação e Processos Inclusivos. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, n.05, p. 001 – 231, 2003. SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, poder e educação de surdos. São Paulo: Paulinas, 2006. VILHALVA, Shirley. Pedagogia Surda por Shirley Vilhalva. Site: http://www.editora-arara-azul.com.br/ Artigos.php. Petrópolis/RJ, 2004.


QUE FOME!!

Por Giselle Nogueira

RR GR

A estudante surda Giselle Nogueira é mineira de Belo Horizonte e estuda no último ano do ensino médio. Se dedica diariamente aos desenhos e pretende seguir carreira na área de artes visuais. GR RR !

FIM

Essa seção está aberta para a publicação dos talentos da cultura surda. Envie o seu trabalho para revistadafeneis@yahoo.com.br.


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