ONDE FOI MORAR BARTร ?
diรกlogos entre arquitetura e literatura
Onde foi morar Bartô?
diálogos entre arquitetura e literatura
volume II
f a u u s p tfg jun/2016 fernanda schelp lopes orientação: luís antônio jorge
O DIÁLOGO
t o r n a v a
s e g r e g o ,
o
a l c a n ç a r
p e c a d o
e
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pleno azul sobre a
b i c i c l e t a
“A t r a v e s s a r d o
inf inito e
p a d r e ,
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ao
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inf inito
“ Do tomate exalava um gosto de cera, f lor, reza e terra. Sempre engoli minha fatia por inteiro. Descia garganta abaixo arranhando as cordas, d e s a f i a n d o a s p a l av r a s , e s fo l a n d o o p e r c u r s o . Libertava-me dela na primeira colherada�
“A cidade sustentava-se por seus ares de domingo. Aparentemente
l
e
se alicerçava sobre secretos
r
d
a,
su...ssu...rros.
As casas dormiam no colo de um mentiroso
si...lêncio.
Havia, contudo, as fres...tas das janelas por onde se perscrutava o vizinho. As intimidades eram
so...pradas
de ouvido em ouvido e alteradas de boca em boca [...]
Uma cidade afetuosamente cruel”
“É preciso muito bem esquecer para experimentar a alegria de novamente lembrar-se. Tantos pedaços de nós dormem num canto da memória que a memória chega a esquecer-se deles.
E a palavra - basta uma só palavra - é flecha para sangrar o abstrato morto.
Há, contudo, dores que a palavra não esgota ao dizê-las”
“Um raso rio cortava ao meio minha cidade.
As águas opacas corriam sorrindo pelas cócegas dos pequenos peixes, marinheiros à mercê da correnteza. A cidade partidade me fazia, sempre, um morador do outro lado. Não havia opção: em qualquer lugar eu estaria em outra margem. Sem escolha, eu vivia o avesso por habitar a outra orla. Havia uma pequena ponte de madeira amarrando os dois pedaços, não como a exata costura dos alfaiates. Eu caminhava de cá sem me esbarrar em
para lá,
outra pátria”
“Não sei o intinerário do sonho naquela noite. Nada mais me incomodava:
o tomate, o bife, o álcool. Só em- balava-me o porão do
sobrado da casa, onde nos amavamos,
sobre chão de terra
e sob céu de tábuas
c o r r i d a s .
Talvez tenha sonhado com
girassóis, sem conhecê-los. Sabia apenas que
eram f lores exageradas, cresciam sem medo”
superfície da minha pele” “No amor, meu corpo delatou a presença da alma, que veio morar na
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chuv a
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“Um sonho fora do sono persistia em mim. Nasci afogado por ele: o de desvendar o mar.
em sua grandeza,
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em sua salmoura,
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desafogado onde nem eu me sabia .
em suas o nd as,
Eu só desconfiava o mar por ouvir dizer. Numa infância sem surpresas, cercado pelas montanhas,
o mar escondia-se depois de muito pensamento”
“Depois, ele cuspia o vidro moĂdo e o chĂŁo parecia ladrilhado com pedrinhas de brilhante.
Era bonito, mas meu amor não passava por ali�
CRESCIA sem raízes.
Desprendia-se fácil do
chão.
Ao ignorar a origem
d e s c o s t u r o u o futuro.
Seus olhos
a t r a v e s s a v a m as coisas e
v a z a v a m no depois [...].
D e s e n r a i z a d a ,
jamais perdeu a direção, sem, contudo, encontrar um destino seguro”
“Na margem -entre rendas de areias- as palavras eram meu barco.
Com elas atravessaria as ondas, venceria as calmarias, aportaria
em outras terras. Se era meu barco, eram também meus remos.
Com elas cortava as águas, f lutuava sobre marés e me via em poesia”