Onde foi morar Bartô? TFG1_Fernanda Schelp | Orientação: Luis Antônio Jorge

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ONDE FOI MORAR BARTÔ?



f a u u s p tfg1 nov/2015 fernanda schelp lopes orientação: luís antônio jorge



SUMÁRIO

1. o início

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tema motivações

2. o estudo livro base

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| vermelho amargo

outros livros | por parte de pai

|o olho de vidro do meu avô

|contos e poemas

3. primeiros ensaios

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as personagens | a cidade | a casa | as ações

4. próximos passos

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o projeto

5. referências

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6. bibliografia

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1. O INÍCIO


casa do av么 escreve nas paredes

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casa dos pais

casa do av么 olho de vidro

casa do pai e da madrasta


ONDE FOI MORAR BARTÔ?

Bartolomeu viveu de mudança. Filho de pai caminhoneiro passou a infância pingando de cidade em cidade, de cuidados em cuidados. Os pais do pai, os pais da mãe, a mãe, a madrasta, os irmãos, durante anos se revezaram no seu dia-a-dia. Mas chegou a hora de partir, e agora, onde foi morar Bartô?

<diagrama das casas de Bartolomeu. Mapa-múndi Catalão (1450) | Mapa de Gervais de Tilbury (1236) Mapa Orbis Terrarum | Mapa de Olaus Magnus (1490-1557)

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TEMA

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Uma boa literatura descreve o espaço sem usar medidas e sem nos apresentar uma planta ou corte de suas construções. É através da descrição das sensações, das cores, da luz e de suas texturas que criamos em nossa imaginação os espaços das personagens. Pensando nisso, a literatura será a base para criar neste trabalho final, o espaço que será representado. Para isso, foi escolhido o livro “Vermelho amargo” do escritor Bartolomeu Campos de Queirós, uma obra que retrata momentos da infância de um pequeno garoto e de sua família após a perda de sua mãe. Bartolomeu cria histórias com lindas imagens, com cheiros intensos, com luz, com textura e doçura. É considerado um escritor


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infanto-juvenil, mas como sempre fez questão de ressaltar, ele não escreve para crianças ou para adultos. Ele simplesmente escreve. Talvez por escrever tanto sobre a fase da infância é que seus livros tenham encantado as crianças em especial. “Vermelho amargo” é um dos livros autobiográficos do autor e nos apresenta fragmentos de outros personagens presentes na vida do pequeno Bartolomeu. O fascíno aumenta quando vemos que a obra do escritor começa a se entrelaçar, e seus livros se complementam, contando cada vez um pouco mais sobre estas personagens. Com isso, além de “Vermelho amargo”, outros livros do autor foram usados como base para este trabalho, como: “Por parte de pai”, que narra a relação de cumplicidade de Bartolomeu com seu avô


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que escrevia nas paredes; “O olho de vidro do meu avô” que nos conta um pouco da relação silenciosa do pequeno garoto com o pai de sua mãe, que só via metade do mundo; e “Contos e poemas para ler na escola” uma compilação de textos de Bartolomeu, selecionados por Ninfa Parreiras, que nos traz um pouco mais sobre a história e a memória do escritor. Em “Vermelho amargo”, um menino nos conta sobre a sua infância em uma pequena cidade de Minas Gerais. Ao iniciar a leitura, entramos no universo do pequeno garoto, um universo de saudade pela mãe que se foi, da busca pelo afeto do pai embebido em álcool, de carinho com os cinco irmãos que dividem a mesa e da amarga relação com a fatia do tomate que toda a refeição é servida


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por sua madrasta. Com o passar do tempo e com a partida dos irmãos, a fatia vai ficando mais espessa e cada vez mais intragável. Bartolomeu é o último dos irmãos a partir e sem se despedir, segue seu caminho. E então fica a pergunta: PARA ONDE FOI BARTÔ? É esta pergunta que este trabalho tentará responder.


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NOTA: O título dos livros de Bartolomeu Campos de Queirós serão abreviados nas citações. “Vermelho Amargo” - V.A. “Por parte de pai” - P.P.P “O olho de vidro do meu avô” - O.V.M.A “Bartolomeu Campos de Queirós. Contos e Poemas para ler na escola” - C.P


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MOTIVAÇÕES

A arquitetura do morar sempre me intrigou. A força e o afeto das pessoas com o seu abrigo criam espaços singulares e permitem inúmeras maneiras de morar. Buscando entender esta relação, como ela é criada e seus desdobramentos em eventos do passado (memória) e da construção de um novo espaço, optei por trabalhar no meu último trabalho da faculdade de arquitetura com um projeto de habitação. Além disso, algo que sempre me interessou durante a faculdade, foi a representação dos projetos apresentados. Os primeiros foram feitos á mão em grandes pranchetas, e depois, os softwares mais variados entraram em cena para reproduzir os desenhos com mais rapidez e possibilidades. Porém, ao final destes anos, em um questionamento so-

<Trabalho desenvolvido na FAUUSP no ano primeiro ano da faculdade, em 2010. Projeto para a disciplina de Ergonomia. Desenhos feitos à mão de uma casa cubo, com dimensões de 4mx4mx4m.

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VIVENDAS DUPLEX

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PLANTA TIPO 1_ primero piso

PLANTA TIPO 2_ primero piso

PLANTA TIPO 1_ segundo piso

PLANTA TIPO 2_ segundo piso

MADRID ENTRETRAMAS

| VIVIENDAS EN BATAN

alzado

UND:FRECHILLA PROF: FRECHILLA

FERNANDA SCHELP LOPES


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bre a minha produção, me perguntei: como é o meu traço? E definitivamente ainda não o encontrei. Os desenhos se homogeneizaram em uma linguagem universal produzidas pelos softwares e um pouco da minha identidade. Pensando em reencontrar o meu desenho, e me observar projetando, quis buscar algo que me inspirasse a ir além da concepção de espaços, e que me ajudasse a imagina-los com força e expressão. Para isso, nada melhor do que a literatura. Na literatura, assim como no sonho, não há limites do real ou do possível, criamos rapidamente espaços incríveis, diferentes, e que muitas vezes não seguem uma certa lógica, tudo pode. E na arquitetura, será que tudo

<Trabalho desenvolvido durante o intercâambio na Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Madrid no ano de 2013. Projeto de habitações duplex e em torres. Desenhos feitos no AutoCad e no Illustrator.


20 PLANTA SALA DE ESTAR COCINA \ COMEDOR 1:100

PLANTA HABITACIONES 1:100


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pode? Quando temos o compromisso com a construção de um projeto, temos que nos atentar para inúmeros fatores que viabilizam, ou não, a nossa obra. Porém, quando não temos o compromisso com a construção real, quando estamos exercitando o nosso projetar, será que não podemos questionar um pouco mais os nossos limites? Será que não podemos buscar criar espaços diferentes ou até mesmo fantasiosos? Eu acredito que sim, que podemos e que é durante a faculdade que devemos explorar essas possibilidades. Agora, neste trabalho final de graduação, vejo a minha última chance de me permitir a não ter compromissos com o real ou com o possível. Aqui, tudo pode.

<Trabalho desenvolvido durante o intercâambio na Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Madrid no ano de 2013. Projeto de uma casas escalonadas. Desenhos feitos no AutoCad e no Illustrator.


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2. O ESTUDO


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LIVRO BASE | VERMELHO AMARGO

A primeira aproximação com a obra de Bartolomeu Campos de Queirós foi através do livro “Vermelho Amargo”. Publicado em 2011 pela editora COSAC NAIFY. É um dos últimos trabalhos do escritor, que faleceu em 2012. A escolha deste livro se deu pelo encantamento imediato causado pela escrita de Bartolomeu. Primeiramente, o foco da busca pelo livro era encontrar uma personagem que tivesse uma forte relação com o espaço do morar, e que descrevesse o espaço de tal maneira que possibilitasse o estudo para a representação do mesmo. Porém, a escolha por “Vermelho Amargo” se deu mais pela maneira como é escrito, do que pelo assunto tratado no livro. A maneira como o autor nos leva a criar imagens com cheiros e textura,

<Vermelho amargo Bartolomeu Campos de Queirós | 1944-2012 COSAC NAIFY | 2011

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inspirou o aprofundamento da vida das personagens do livro e de seus espaços. O autor inicia o livro com o seguinte escrito: “Foi preciso deitar o vermelho sobre o papel branco para bem aliviar seu amargor”. Assim, ele nos dá uma prévia do que será o livro, carregado de dor, saudade e amargor. O livro nos mostra um narrador em primeira pessoa que vive com seu pai, seus cinco irmãos e sua madrasta, em Minas Gerais. Não há uma seqüência linear nesta narrativa, o garoto nos conta pequenos trechos de suas memória sem ordem e a única presença do tempo nos é dada pela partida dos irmãos, um a um. Sua mãe partiu em uma manhã de maio, e o menino sente, durante todo o livro, um misto


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de amor, dor e saudade. Narra-nos com intensidade cada um desses sentimentos ao discorrer sobre suas memórias. A escrita de Bartolomeu explode, é certeira, cheia e forte. Põe-nos para imaginar esse mundo de espaços, (de)sabores e texturas com as imagens ricas descritas. “Queria, sempre, desaparecer com um circo, mas circo não havia. Veio um dia. Armaram na praça central da cidade, com aroma de pipoca e cor de amora. Minha mãe me levou. De mãos dadas penetramos sob a lona quente, numa tarde quente. Naquela noite me deitei, dobrei os joelhos e armei meu circo com o lençol alvejado da cama. Debaixo da lona me dividi em três: me sonhei equilibrando no arame, me


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imaginei girando no globo da morte e me incendiando ao cuspir fogo. Meu irmão não se interessava pelo circo, mas achava o vidro macio” (V.A p. 17). Neste trecho citado, sentimos um espaço de aconchego com a presença de sua mãe, e de fantasia quando embaixo dos lençóis. O menino vai e volta em seus pensamentos e nos relata diferentes memórias em um único trecho. O que nos permite caminhar com ele em seus desvaneios, construindo com ele o seu imaginar. Além de nos narrar uma de suas memórias ao lado de sua mãe, Barlotomeu nos introduz um novo fato: a maneira como a perda de sua mãe foi sentida por seu irmão, que desenvolveu uma adoração por comer vidro.


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“Depois, ele cuspia o vidro moído e o chão parecia ladrilhado com pedrinhas de brilhante. Era bonito, mas meu amor não passava por ali” (V.A p. 41). E durante o livro, ao descrever seus irmãos ele relata como cada um lidou com a dor: um comia vidro; outra irmã passava o dia costurando ponto cruz; outra deixou de falar e passou a miar como seu gato; e ele, assim como seus irmãos, lidou com a dor guardando as palavras, passou a escrever. O pequeno narrador descrevia os espaços de sua casa carregados pela ausência da mãe, que podia ser sentida em todos os cômodos: “Os cômodos sombrios da casa -antes bem-aventurança primavera- abriga-


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vam passageiros sem linhas do horizonte. Se fora o lugar da mãe, hoje ventilava obstinado exílio” (V.A p. 9).

“Em tudo sua ausência estava presente. Sobre a fruteira da mesa da sala de jantar, na janela em que se debruçava nas tardes, na gota de água que pinga-


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va da torneira, no anil que clareava os lençóis, ela se anunciava” V.A (p. 20). Nos intervalos entre os relatos das memórias carregadas de saudade do pequeno garoto, as refeições aparecem como momentos de puro sofrimento. A madrasta servia todo o dia a mesma comida: arroz, feijão, carne, uma verdura e coroando todo o prato, uma fina fatia de tomate. Quando ainda eram em oito (pai, madrasta e seis filhos), um tomate dava para uma refeição. A fatia, fina, transparente, gelada, descia de maneira áspera pela garganta do menino. O tomate, segundo ele, era adubado pelo ciúmes da madrasta. “O pai, amparado pela prateleira da cozinha, com suor desinfetando o ar, tamanho o cheiro do álcool, reparava


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na fome dos fihos. Enxergava o manejo da faca desafiando o tomate e, por certo, nos pensava devorados pelo vento ou tempestade, segundo decretava a nova mulher. Todos os dias - cotidianamente - havia tomate para o almoço [...]. Eu desconhecia se era mais importante o tomate ou o ritual de cortá-lo. As fatias delgadas escreviam um ódio e só aqueles que se sentem intrusos ao amor podem tragar” (V.A p. 10). Mas o momento das refeições é narrado de maneira completamente oposta quando eram feitas por sua mãe. “Antes, minha mãe, com muito afago, fatiava o tomate em cruz, adivinhando os gomos que os olhos não desvenda-


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vam, mas a imaginação alcançava. Isso, depois de banhá-los em água pura e enxugá-los em pano de prato alvejado, puxando seu brilho para o lado do sol. Cortador em cruzes eles se transfiguravam em pequenas embarcações ancoradas na baía da travessa. E barqueiros eram as sementes, vestidas em resina de limo e brilho. Pousado sobre a língua, o pequeno barco suscitava um gosto de palavra por dizer-se. Há, sim, outras palavras mais doces que o açúcar” (V.A p. 14).


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O tomate, que cortado por sua mãe, o fazia imaginar, agora, cortado por sua madrasta era sem graça, fino e amargo. Para o menino, sua mãe “fazia a fantasia virar verdade” e sua madrasta, era fria, assim como a faca que usava para degolar os tomates. Com a partida dos irmãos as fatias passam a ficar cada vez mais grossas. Quando sobram apenas o menino, seu pai e sua madrasta, um tomate serve para duas refeições. A cada despedida me perguntei: como esta família se senta a mesa?


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O menino -em um misto de tristeza e alegria-, nos descreve sua partida: “Dobrei - entre contentamento e tristeza - as poucas e mudas roupas. Nunca soube por que as lágrimas se negam a serem doces quando convocadas pela alegria. Sempre chorei salgado, talvez pelo peso da carne morta” (V.A p. 64). O menino não soube o que se passou com seu pai e sua madrasta após sua partida, arrumou suas coisas e partiu sem nos dizer para onde e sem se despedir de ninguém.


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OUTROS LIVROS | Por parte de pai

O livro nos apresenta com doçura a relação de cumplicidade de um neto com seu avô, em uma casa carregada de memórias e afetos. Bartolomeu é um menino que vive com seus avôs paternos na rua da Paciência, em uma pequena cidade de Minas Gerais. Seu avô tirou a sorte grande na loteria e nunca mais trabalhou, tendo como passatempo escrever nas paredes da casa. Em todas as paredes, sobre tudo. “Todo acontecimento da cidade, da casa, da casa do vizinho, meu avô escrevia nas paredes. Quem casou, morreu, fugiu, caiu, matou, traiu, comprou, juntou, chegou, partiu. Coisas simples como a agulha perdida no buraco do

<Por parte de pai Bartolomeu Campos de Queirós | 1944-2012 RHJ | 1995

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assoalho, ele escrevia(...) As paredes eram o caderno do meu avô” (P.P.P p. 10). “A Alice nos visitou ás 14 horas do dia 3 de outubro de 1949 e trouxe recomendações da irmã Júlia e do filho Zé Maria, lá de Brumado” (P.P.P p. 11). A relação de Bartolomeu com seu avô, Joaquim, é narrada com muito encanto. Os dois se entendem no silêncio, que é quebrado apenas por Maria, a avó do menino que adorava conversar e resmugar. “Meu avô apreciava o meu jeito de dizer tudo a ele, no pé do ouvido, escondido. Pelas suas respostas, meu avô não entendia muito bem o meu cochi-


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cho e me pedia para contar de novo. Ele devia confundir segredo com beijo, eu suspeitava. Minha alegria era quando Maria dizia estar eu grudado no Joaquim, como unha e carne” (P.P.P p. 33). O espaço da casa é de grande significado nesta obra, pois grande parte das lembranças narradas ocorrem na casa. O menino nos descreve com detalhes. “Adquiriu esta casa com tantas janelas e porta abrindo direto pra rua, com três degraus. Por causa do catecismo apelidei os degraus de Pai, Filho e Espírito Santo. Cada vez, ao sair ou entrar, eu pensava na Santíssima Trindade” (P.P.P p. 8).


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“Joaquim quase não saía. Usava todas as janelas da casa, apreciando os quatro cantos do mundo, sempre surpreso, descobrindo uma nova cor, um novo vento, uma nova lembrança” (P.P.P p. 25). As janelas aparecem com bastante frequência nas obras de Bartolomeu. Ora para descrever as casas que o menino vive, ora para descrever o outro lado, a rua e o contato com os vizinhos. Os livros de Bartolomeu, são imensamente ricos. Em sua linguagem, imagens criadas e sensações descritas. São obras concluidas e não é preciso ler mais do autor para se encantar com um de seus livros. Porém, meu encantamento aumentou ainda mais quan-


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do pude conhecer mais dos personagens “de um livro” em “outro livro”. Em “Vermelho Amargo”, por exemplo, o menino não dá nome para sua madrasta, não nos narra muito sua relação com ela, e sim, com o tomate cortado por ela. Mas em “Por parte de Pai”, Bartolomeu nos conta um pouco mais dessa relação, e nos apresenta Conceição. “Quando mais tarde Conceição me chateava, eu gritava: tem vergonha de galinha, e ela virava mais madrasta ainda” (P.P.P p. 33). “Lembro-me de quando vi o meu pai dar um beijo na Conceição, perto do guarda-comida, na cozinha. Era um armário com tela igual prisão. As comidas ficavam presas e os mosquitos


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livres do lado de fora. Foi um beijo depressa e assustado” (P.P.P p. 32). O mesmo acontece quando Bartolomeu conta mais sobre seu avô materno, inclusive a maneira como ele morreu, informação essa que ele deixa no ar no seu livro “O olho de vidro do meu avô”, e quando nos conta mais sobre a relação de carinho que tinha com seu irmão mais velho, que é bastante citado em “Vermelho Amargo”. “Minha mãe deixou o olho de vidro de seu pai. Ela guardava o olhar fixo com tanto zelo e agora estava sem dono. Minha mãe ia gostar de Jeremias quase tanto quanto gostava de seu pai. Meu avô morreu por amor e seu corpo foi encontrado dias depois, na hora do


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crepúsculo. O olho de vidro indicou a origem dos restos” (P.P.P p. 32). “O medo me apanhava. Carregava comigo um sentimento de ser órfão. Meu irmão mais velho desconfiava, e me levava para ficar com ele durante o banho e afirmava ser ele o meu segundo pai. Mas meu irmão só aparecia de vez em quando, entre uma viagem e outra, ja ajudando a família” (P.P.P p. 37). Em “Vermelho Amargo”, o menino nos conta pouco sobre seu pai que sofre com o alcoolismo. Mas em “Por parte de pai”, Bartolomeu nos ajuda a entender um pouco mais deste pai, que não era apenas distante e indiferente. Demonstrava, da sua maneira, o afeto por seus filhos.


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“Em casa de meu pai, todas as noites, eu resmungava pedindo água. Era uma sede com hora marcada [...]. Meu pai se levantava a ia até a minha cama. Fechava a mão em forma de copo, levantava a minha cabeça com a outra, e fazia gute-gute. Eu bebia a sua mentira e dormia feliz. Não, meu pai não economizava água. Ele era mão-aberta e nunca chegava, agora em raras viagens, sem pequenos presentes. Ele os esquecia sobre a mesa e ficava distraído, esperando elogios” (P.P.P p. 53). Esse cruzamento de informações nos meios das memórias de Bartolomeu enriquece as personagens, já tão ricas, desta história e nos permite conhecê-los em diferentes contextos.


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E como em “Vermelho Amargo”, “Por parte de pai” termina com o menino partindo para um nova casa, sem se despedir. “Meu pai chegou no meio da tarde, vestido de desânimo. Encostou o caminhão em frente da casa. Enrolei minhas poucas coisas sem deixar os cadernos e as cartilhas já decoradas. Esqueci de mim mesmo, debaixo do travesseiro, a caixa de lápis de cor. Passei os olhos pelas paredes conferindo as páginas e minha memória. Eu sabia cada pedaço, cada margem, cada entrelinha desse livro. Esperei um pouco pelo meu avô, perdido entre as sombras do cafezal e ele não veio. Não liguei importância. Ele havia me desejado boa viagem ontem, me contando sobre o tempo. Vi


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minha avó pela fresta da porta de seu quarto. Alheia a tudo, há muito ela já havia despedido de todos. Prendi as lágrimas na porta dos olhos para meu pai não ler o meu medo. Assentei-me na boleia, do lado do meu pai, em silêncio” (P.P.P p. 73).


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OUTROS LIVROS | O olho de vidro do meu avô

O livro narra as memórias da infância de Bartolomeu na casa de seus avós maternos, na pequena cidade de Bom Destino. Seu avô, que tem um olho de vidro vê o mundo com o olho direito, e com o esquerdo, o vê ainda melhor através da imaginação. A relação do neto com seu avô é carregada de afeto, mas de maneira silenciosa, quase que emudecida. “Era de vidro o seu olho esquerdo. De vidro azul-claro e parecia envernizado por uma eterna noite. Meu avô via a vida pela metade, eu cismava, sem fazer meias perguntas. Tudo para ele se resumia em um meio-mundo. Mas via a vida por inteiro, eu sabia” (O.V.M.A p. 5).

<O olho de vidro do meu avô Bartolomeu Campos de Queirós | 1944-2012 Moderna | 2004

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O menino, tentava adivinhar o que e como o avô via com o olho de vidro. Ele, através da sua imaginação, nos leva também a indagar os mistérios deste olhar. E por não dar voz a este avô, que seria o único a nos responder o que vê, o texto de Bartolomeu fica em aberto para inúmeras interpretações, sofrendo uma nova leitura a cada leitor. Uma característica recorrente na obra de Bartolomeu, que podemos observar também em “Vermelho amargo” e “Por parte de pai” é a não presença de ordem cronológica na narração das memórias do pequeno garoto, uma construção própria da nossa memória que vai e vem em fatos aparentemente desconexos. Bartolomeu durante o livro destaca sempre a


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imensidão do olhar de seu avô. Primeiro, porque seu olho não podia ver, mas podia imaginar, o que aumentavam suas possibilidades. E além disso, o garoto via o mar nos olhos de vidro. E por ser mar, este olho era muita coisa. Era vasto, era brilhante, era grande, era cheio. “Meu avô imaginava sempre, eu acreditava. Vencia as horas lerdas deixando o mundo invadi-lo por inteiro. Ele hospedava essa visita sem espanto. Saboreava o mundo com a antiga fome. O que o seu olho de vidro não via, ele fantasiava. E inventava bonito, pois eram da cor do mar os seus olhos. E todo mar é belo por ser grande demais. Tudo cabe dentro da sua imensidão: viagens, sonhos, partidas,


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chegadas, mergulhos e afogamentos” (O.V.M.A p.6). O neto e o avô não dialogavam muito. Durante suas memórias, o silêncio é um elemento marcante desta relação. Mas com ele, também estava o afeto. O pequeno Bartolomeu, não chegou a morar com seus avôs maternos. Ele passava pequenos períodos com os dois, que segundo ele, o cuidavam com contidos carinhos. “Guardava uma secreta ternura pelo silêncio. Com ele aprendi que no silêncio cabe tudo. O silêncio decifra todos os labirintos. Não existe um só ruído que o silêncio não escute” (O.V.M.A p. 10)


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“Esse sossego se prolongava por grandes horas. Eu buscava adivinhar as terras que meu avô desvendava, as mãos que ele apertava, os oceanos que atravessava, o coração em que se deitava. Mas todo o meu esforço se tornava pequeno diante de tanto segredo e suspiro. Então meu carinho abraçava meu avô sem necessitar de mãos. Estávamos envolvidos de emudecimento” (O.V.M.A p.11). A maneira extremamente poética como o menino imagina o olhar deste avô nos faz viajar em imaginação. O tempo todo nos coloca para ver através deste vidro, e fechar os nossos olhos que veem para vermos de olhos fechados até onde conseguimos enxergar.


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“Não ter um olho é ver duas vezes. Com um olho você vê o raso e com o outro mergulha o fundo” (O.V.M.A p.12) Neste livro, conhecemos mais de algumas personagens que aparecem nos outros livros do autor. Ficamos sabendo o nome da mãe de Bartolomeu, Maria. “Maria era minha mãe. Mesmo vigiada se casou com meu pai, contrariando meu avô [...]. Viveram felizes um curto tempo. Minha mãe nos deixou cedo. Partiu contrariada numa segunda-feira [...]. Ela estava com 33 anos, idade de Cristo quando crucificado. Lembro-me de que quando sua dor era maior que a cruz, ela se assentava na cama, entre lençóis e brancura, e se punha a


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cantar” (O.V.M.A p.19). Sua avó, Lavínia, que segundo seu neto era “alva como as nuvens, macia como as nuvens”, também tem um espaço afetuoso na memória de Bartolomeu. É lindo quando descreve o momento delicado de cumplicidade que vivia com a mãe de sua mãe. “Quando a imensa solidão pesava sobre minha avó, eu me assentava ao seu lado, segurando sua mão, sem dizer nada. Toda palavra seria inútil. Ela correspondia meu carinho com mais carinho” (O.V.M.A p.31). Lavínia durante todas as tardes se assentava à porta da casa, esperando seu marido que como todos sabiam, se encontrava com ou-


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tra paixão. Esperava por ele todos os dias enquanto bordava. Até que um dia, bordou, bordou, bordou e seu marido não mais voltou. Durante muitos meses a família ficou sem resposta de onde estaria Sebastião, até que chegaram informações de pequenos vestígios encontrados, entre eles, seu olho de vidro. Sebastião morreu em uma de suas saídas, não deixando “herança a não ser sua história”. Para Bartolomeu, restou o seu olho de vidro e todas as perguntas de tudo o que aquele olho viu, e tudo o que ele não viu.


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OUTROS LIVROS | Contos e poemas. Para ler na escola

O livro traz contos e poemas escritos por Bartolomeu. Muitos dos escritos são inéditos e ajudam a entender um pouco mais sobre o escritor e suas memórias. A seleção de textos foi feita por Ninfa Parreiras e em sua apresentação sobre o livro ela elucida um pouco de onde vem todo esse encantamento gerado pela escrita de Bartolomeu. “Por que será que seu texto, narrado em primeira pessoa, desperta o interesse daqueles que lidam com o diálogo, o palco e as pessoas? Bartolomeu dava voz e vida aos seres inanimados: uma parede, um tomate, um caderno de escrever. Além disso, criou histórias tão ricas em imagens que vemos as cenas, sentimos os cheiros, ouvimos os ruídos e apalpamos as texturas daqui-

< Bartolomeu Campos de Queirós. Contos e poemas para ler na escola Bartolomeu Campos de Queirós | 1944-2012 (Seleção de Ninfa Parreiras) Objetiva | 2014

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lo que é descrito. Sua prosa é feita de uma profusão de fotos em diferentes dimensões e sentidos. Ele conjuga a polissemia em sua produção literária” (Ninfa Parreira .2014. p11). Em muitos de seus textos presentes neste livro, Bartolomeu nos conta sobre sua infância e sua família. A escrita é um pouco diferente da encontrada nos outros livros do autor, já que aqui ele aparece menos disfarçado atrás de uma personagem. Aqui não temos um menino contando sobre as memórias de sua infância, e sim, um homem revivendo alguns momentos do passado, sobre sua vida e ofício. Assim, o escritor nessa narrativa não se usa de tantas metáforas. É algo mais informal, como uma conversa. É inevitável, então, encontrar nesses relatos, um pouco sobre as


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personagens da vida de Bartolomeu já descritas em outros livros do autor. “Eu tinha um avô por parte de pai chamado Joaquim Queiróz. Fui criado por ele durante certo tempo. Era seu neto preferido [...]. Era pensador, vivia na janela olhando o povo passar e observando a cidade, e escrevia nas paredes da casa tudo o que acontecia [...]. E foi nessas paredes que aprendi a ler. O meu primeiro livro foi a parede da casa do meu avô” (C.P p.17). “Meu avô por parte de mãe chamava-se Sebastião Brasileiro Fidélis Campos. Era homeopata e tinha um olho de vidro. Aquilo me intrigava muito: como ele tinha um olho de vidro? Para


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que servia? Ele era um cara mais sério, mais reflexivo. Andava só de terno branco de linho” (C.P p.18). Quando Bartolomeu descreve seus parentes nos diferentes livros, passamos a conhece-los em diferentes perspectivas. Seu pai, que em “Vermelho amargo” nos parece um homem distante e indiferente, ganha certa graça quando Bartolomeu descreve a admiração que sentia por ele. “No entando, na infância, escola me dava um medo danado. Porque minha mãe dizia que eu tinha que estudar muito, muito tempo, assistir às aulas, ser bom aluno, para nunca ser igual ao meu pai. E o que eu mais queria era ser igual a ele. Então, tinha um medo


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danado de a escola roubar de mim a vontade de ser meu pai” (C.P p.20). E sua mãe, sempre presente em suas memórias, aqui é descrita com o mesmo carinho de antes, mas Bartolomeu não usa tantas metáforas para descrevê-la. São memórias mais diretas. “Minha mãe - eu disse que falaria dela, isso talvez por um livro que ando terminando - possuía uma certa irreverência. Em dias difíceis, quando a carne já era cara, ela fritava ovo e colocava sobre o arroz branco cercado de chuchu verdinho e couve. Ela dizia: se você misturar a gema no arroz ele vira ouro e você poderá construir a bandeira do Brasil” (C.P p. 38).


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A escolha pela leitura de “Contos e Poemas” se deu para conhecer mais o autor, do que sobre as personagens da sua vida. Nestes escritos, Bartolomeu nos conta sobre sua relação com a literatura, sobre seu amor à escrita e seu encantamento com a fantasia. É uma maneira de entender melhor um escritor que me fascinou com a sua maneira de escrever, capaz de produzir em mim tantas imagens e sensações. E é por falar sobre a fantasia e a força da nossa inventividade na infância, que os livros de Bartolomeu foram escolhidos como base deste trabalho final. O escritor me inspirou a imaginar e a criar, além de me convidar para reviver a minha memória, as minhas casas da infância, o meu olhar da infância e o meu criar da infância. E com nessa busca que se-


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guirei este trabalho. “Ao fantasiar, experimento a liberdade [...]. Fantasiar é o exercício de indagar sobre o meu tamanho para concluir, sempre, que minha inquietação diante da finitude não reside horizontes [...]. E só no trabalho criador encontro lugar para fazer da fantasia matéria primordial de meu ofício” (C.P p.69). “Acredito que na infância somos mais densos, mais inteiros, mais completos. Convivemos com a fantasia, a liberdade, a espontaneidade, a inventividade, sem saber os seus nomes” (C.P p 70). “Como me é impossível ser novamente criança, construo um texto com mi-


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nhas lembranças de quando estive lá. Preservo na memória meus espantos, meus sustos, minhas tristezas, meus encantamentos diante de um mundo inteiro ainda por conhecer” (C.P p71). “Não quero nunca fazer literatura para criança. Quero uma literatura pela minha criança, pela infância que resiste em mim” (C.P p.40)


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3. PRIMEIROS ENSAIOS


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< Pai

Madrasta >

< Sebastião | Mãe >

< irmão +velho

|

irmã > +velha

< irmã +nova

|

irmã > gato


AS PERSONAGENS

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Os primeiros ensaios sobre as personagens foi feito com um estudo inicial sobre uma possĂ­vel paleta de cores para cada um.

<para cada personagem foi feito um pequeno folheto, com a paleta de cada um e na parte interna, a justificativa de cada cor escolhida e trechos dos escritos de Bartolomeu que foram usados de base para estas escolhas.


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Avó

Avô

(Lavínia)

olho de vidro (Sebastião)

Mãe (Maria)

Irmã mais velha

Menino

borda ponto cruz

(Bartolomeu)

Irmão mais velho come vidro


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Avó

Avô que escreve

(Maria)

nas paredes (Joaquim)

Pai

Madrasta Conceição

Irmã

Irmã mais nova

proprietária do gato

sem raízes

Irmão

< ^ não são todas as personagens que foram nomeadas por Bartolomeu. Os nomes foram aparecendo com a leitura dos vários livros.


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A CIDADE

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Como seria a cidade de Bartô? Em um primeiro esboço, seria uma cidade marcada mais pelos seus vazios do que pelo cheio. A presença dos vizinhos é um elemento importante, e por isso, esse primeiro ensaio se baseou no desenho dessas janelas, que ora são os olhos de Bartolomeu, ora são os olhos que olham para Bartolomeu. “Uma música desafinava a cidade. Impossível interditar o ruído que arranhava os ouvidos. A vizinha da rua direita não nos permitia o silêncio. O silêncio, ela repetia, é casa para os fantasmas. Depois de abandonada pelo marido -que viajou sem bilhete de retorno- abraçou com as pernas o violoncelo” (V.A p. 18).


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“A cidade sustentava-se por seus ares de domingo. Aparentemente lerda, se alicerçava sobre secretos sussuros. As casas dormiam no colo de um mentiroso silêncio. Havia, contudo, as frestas das janelas por onde se perscrutava o vizinho. Atrás das portas se escutavam assombros que se supunham segredos. E todas as vidas se viam apregoadas em tom de confidências. As intimidades eram sopradas de ouvido em ouvido e alteradas de boca em boca. Mentiras sobre mentiras. O orvalho, ao cair manso, não refrescava as invejas. Uma cidade afetuosamente cruel” (V.A p. 15)


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A CASA

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O rio é um elemento importante nas memórias do garoto. Por isso, antes de saber como seria esta casa, imagino-a com um rio que a corta. “Um raso rio cortava ao meio minha cidade. (…) A cidade partida me fazia, sempre, um morador do outro lado. Não havia opção: em qualquer lugar eu estaria em outra margem. Sem escolha, eu vivia o avesso por habitar a outra orla. Havia uma pequena ponte de madeira amarrando os dois pedaços, não como a exata costura das alfaiates. Eu caminhava de lá pra cá, sem me esbarrar em outra pátria” (V.A p. 17).

<primeiros croquis sobre a casa de Bartô, com a forte presença do rio para a configuração dos espaços e divisão de usos.


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AS AÇÕES

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As ações mais citadas nas memórias de Bartolomeu foram relacionadas às personagens, para conseguir entender melhor o que cada uma representava na rotina do pequeno garoto. Pretende-se posteriormente, associar as ações aos espaços da casa de Bartô


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4. PRÓXIMOS PASSOS


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O PROJETO

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A principio, a idéia que tinha da casa de Bartolomeu estava se dando através de desenhos de arquitetura, como plantas e cortes. Porém, senti uma certa limitação nesta linguagem, e não estava sendo capaz de ir além da concepção convencional dos espaços. Estava sentindo que todo o estudo e que me serviu de inspiração para fantasiar e imaginar, estavam se reduzindo em um desenho burocrático. Pensando nisso, o foco deste projeto será o de criar CENAS, e não plantas e cortes dos espaços. Serão estudados os ambientes em separado, partindo de dentro deles para depois compôr o todo.

<estudo inicial da disposição dos espaços da casa de Bartô. Os cômodos, desenhados em corte, estão empilhados, com diferentes tamanhos e cores para demostrar a importância de uma singularidade para cada um desses espaços. A “ligação” entre esses espaços ainda é bastante abstrata, se é que vão de fato existir.


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5. REFERENCIAS


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REFERÊNCIAS

As imagens selecionadas para este capítulo serviaram de referência em diferentes etapas do processo deste trabalho. A princípio, estudei sobre a história do desenho arquitetônico, me baseando principalmente no livro de Jorge Sainz, El dibujo de Arquitectura: Teoria e historia de un lenguaje gráfico. Isto me levou a olhar a produção de alguns arquitetos, principalmente de seus croquis. E os que mais me encantaram foram os desenhos de Aldo Rossi; pela força e beleza de suas cores, e de Lina Bo Bardi; por desenhar a vida de seus espaço e o seu uso, e não apenas suas formas. No meio desta pesquisa me deparei com muitas ilustrações belissimas, que chamaram a minha atenção por muitos motivos.

<Aldo Rossi <Lina Bo Bardi

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<John Walsom < Yakov Chernikhov ^ Powers Bowman <Lebbeus Woods ˆ Aldo Crusher ^Marta Vilarinho


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Algumas me atrairam pelas suas cores, outras pela fantasia representada e outras pela simples beleza de seus traços. Aqui, selecionei algumas dessas imagens que me serviram de referência.

<Superestudio < Diego Fagundes


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6. BIBLIOGRAFIA


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BIBLIOGRAFIA

QUEIRÓS, Bartolomeu Campos. Vermelho Amargo. São Paulo. Cosac Naify, 2011. QUEIRÓS, Bartolomeu Campos. Por parte de pai: Belo Horizonte: RHJ Editora, 1995. QUEIRÓS, Bartolomeu Campos. O olho de vidro do meu avô. São Paulo. Editora Moderna, 2004. QUEIRÓS, Bartolomeu Campos. Bartolomeu Campos de Queirós. Contos e Poemas para ler na escola. Rio de janeiro. Editora Objetiva, 2014. SAINZ, Jorge. El dibujo de Arquitectura: Teoria e historia de un lenguaje gráfico. Editora Nerea, Madrid, 1990

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テ。ALOS, Iテアaki. La buena vida. Barcelona. Editora Gustavo Gili, 2000


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