ANO 1 • Nº 2 - OUTUBRO / NOVEMBRO / DEZEMBRO DE 2017
Citricultura x greening: o panorama atual da cultura diante do maior desafio das últimas décadas
DNA de raça: como um pecuarista de Colina conseguiu dar mais qualidade à já consagrada casta Senepol
Cana: o retorno triunfante da técnica que proporciona canavial mais sadio e longevo
EDITORIAL A 2° Edição da revista Safra Rica “Cultive Essa Ideia”, apresenta artigos em destaque do setor do Agronegócio que traz ao agricultor informações que contribua para o seu negócio. Escolhemos alguns textos com as principais pragas do setor citrícola, cereais e canavieira orientados por profissionais especializados que propõem alternativas para o controle às pragas e doenças do segmento, proporcionado melhores soluções para o manejo. A publicação traz ainda matérias diversas, entre elas: plantio de cana por Meiosi e o controle genético na criação de gado raça Senepol. A Safra Rica tem como propósito o compromisso de buscar para o produtor os melhores resultados para o sucesso do seu negócio, proporcionando sempre soluções para uma Safra Rica
Revista Safra Rica | Outubro / Novembro / Dezembro 2017 Edição nº 2 | Ano 1 | Exemplares: 1.000 Expediente Reginaldo A. Baraldi e Valeria B. Baraldi – Sócios proprietários Gerente Comercial: Rui Moraes Filho Conselho Editorial Alessandra Moraes Lima Marines Trevisan Projeto visual e editoração: CopyGraph Reportagens: André Campos
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MATRIZ – MONTE AZUL PAULISTA Endereço : Rua Benjamin Constant, 278 - Centro Telefone: (17) 3361-1589 - (17) 3361-4407 e-mail: comercial@safrarrica.com.br FILIAL OLÍMPIA Endereço: Av. Mário Vieira Marcondes, 261 - Centro Telefone: (17) 3280-5456 e-mail: olimpia@safrarrica.com.br FILIAL CATANDUVA Endereço: Rua Olímpia, 855 - Vila Guzzo Telefone:(17) 3522-5400 e-mail: catanduva@safrarrica.com.br FILIAL SÃO JOSÉ DO RIO PRETO Endereço: Av. America, 771 - Vila Diniz Telefone: (17) 3235-1710 - (17) 3235-1711 e-mail: riopreto@safrarrica.com.br FILIAL SÃO JOAQUIM DA BARRA Av. Marginal Esquerda, 3540 – Distrito Industrial Telefone: (16) 3818.1541 - (16) 3811.8898 e-mail: sjbarra@safrarrica.com.br
ÍNDICE
PECUÁRIA Fertilização in Vitro melhora ainda mais a raça Senepol Página 06
Página 08
CANA Fique atento à cigarrinha-das-raízes
GRÃOS Controle de percevejos na cultura de soja
Página 11
MANEJO O retorno triunfante da meiosi na implantação do canavial Página 13
CITROS Biopower aumenta o potencial das plantas Página 16
Alerta contra o greening: o que o citricultor tem de fazer para combater a doença mais devastadora da citricultura
Página 18 5
PECUÁRIA
Controle genético
oferece melhor produtividade Pecuarista fala sobre técnica que permite mais rendimento na pecuária e como lidou com os desafios da atividade para se manter competitivo O Brasil é o país líder na criação de gado da raça Senepol, casta que vem ganhando cada vez mais o respeito de pecuaristas de todo o mundo. A Senepol 3M, comandada pela família Felício, de Colina, interior de São Paulo, é uma das responsáveis por difundir a raça. Há quatro anos, o patriarca Marcelo de Almeida Felício iniciou a atividade e se apaixonou desde então. Uma das razões disso, é que a qualidade do Senepol é indiscutível para o mercado de gado de corte: alta precocidade, excelente produção de carne, característica mocho (sem chifre) e docilidade. A raça é originária do Caribe e foi iniciada em 1918, chegando ao Brasil só em 1995, com as primeiras amostras de sêmen. Depois, em 2000, veio o primeiro lote com os melhores animais dos EUA – a partir daí, a criação do Senepol cresceu e hoje fez do país uma referência mundial no assunto. Hoje, a Senepol 3M é comandada por duas gerações da família Felício. Marcelo é um dos quatro gestores do empreendimento, junto dos filhos Marcelo Filho, Maurício e Murilo. Melhoria genética O que vem conferindo mais qualidade atualmente à produção da raça é a moderna técnica de transferência de embriões por meio de Fertilização in Vitro, ou FIV, como é
conhecida entre os pesquisadores. Segundo o engenheiro agrônomo Marcelo de Almeida Felício Filho, graças a essa técnica, é possível que o agropecuarista tenha mais otimização e redução de custos para criação do gado de corte. Em outras palavras, ela possibilita que o produtor tenha um ganho genético mais qualitativo, controlando as características dos animais que nascem. Marcelo Filho, que é agropecuarista e atua na produção de genética Senepol P.O. (Puro de Origem), descobriu na FIV o seu melhor aliado para se manter competitivo em um mercado cujo potencial é imenso no país. A técnica oferece a possibilidade para que o pecuarista tenha no mercado um produto final com mais qualidade e que confira competitividade para sua sobrevivência, mesmo diante da crise. A técnica oferece o caminho da seleção e do melhoramento genético, encurtado em pelo menos três gerações ou cerca de 10 anos de seleção, permitindo rápidos saltos na produção e na qualidade do gado para o corte. “Graças à FIV é possível fazer acasalamentos mais direcionados, otimizar o uso de cada dose de sêmen, multiplicar com maior frequência um determinado animal, aumentar o ganho genético. Ou seja, é possível
produzir mais, com menos”, afirma Marcelo. Planejamento Para uma Transferência de Embriões por meio da FIV é preciso se atentar ao planejamento. Marcelo explica. “Realizar um protocolo bem rigoroso: é preciso de grande organização e empenho nisso”. O engenheiro e pecuarista enumera as atividades: “Primeiramente, precisam ser avaliadas as receptoras (barrigas de aluguel) que receberão os embriões. Essas receptoras são sincronizadas através do uso de hormônios para todas estarem aptas a receberem os embriões no mesmo dia. No nono dia, após o início deste protocolo nas receptoras, é realizada a aspiração dos oocitos das doadoras Senepol P.O.. Com isso, são produzidos os embriões através da FIV, no laboratório, e depois de 7 dias são transferidos para as barrigas de aluguel. Essas receptoras só servirão para ter a gestação e amamentar o bezerro P.O..A genética será toda da doadora que produziu o embrião”, ensina. Família no campo Além de pecuarista, Marcelo também é fornecedor de cana-deaçúcar nos municípios de Colina, Orindiúva e Fronteira, no Estado de Minas Gerais, e produtor de borracha
por meio do cultivo da seringueira. Aos 26 anos, junto dos irmãos e do pai, ele assumiu a arriscada tarefa de ser competitivo em mercados que vivem a crise financeira. Para isso, é preciso empenho, dedicação e também conhecimento para buscar técnicas que possam reduzir os custos, oferecendo um resultado mais otimizado e mantendo a eficiência. A responsabilidade de se manter no mercado, com sucesso, é ainda maior quando a empresa comandada é uma herança que vem de gerações. Seu pai, Marcelo, herdou a atividade do seu avô, Mário. Mas a agricultura remete a antes disso. “Viemos de uma família do campo, criada na fazenda. Desde os meus bisavós que eram ligados ao meio rural”. Marcelo conta que o pai herdou as atividades de agropecuária de seu avô, Mário de Felício, e desde então fez questão que o empreendimento ficasse entre a família. “Meu pai sempre nos preparou para chegar o momento em que seria nossa a responsabilidade administrar o negócio e tomar as decisões. Desde
criança, estamos ligados na fazenda e “pegando amor” no que fazemos”. Para lidar com os desafios, Marcelo é prático. “Seja em qual cultura for, estamos em um momento que precisamos aumentar a produtividade e diminuir os custos de produção. Nem sempre o produtor rural tem a sua atividade remunerada no valor que deveria ser. Mas, temos sempre que buscar maior produtividade, porque de nada adianta também ter preços bons
se não conseguirmos alcançar uma produção mínima”, finaliza. Marcelo Filho também não se esquece de agradecer aos pais, em especial à mãe Lenir A. Bernardes de Almeida Felício (in memoriam). “Agradeço a meu pai e minha saudosa mãe por ter ensinado, a mim e aos meus irmãos, os princípios da vida e tudo o que sabemos e somos hoje. Sei que ensinar também faz parte do processo de sucessão familiar”, finalizou.
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GRÃOS
A importância do manejo de percevejos na cultura de soja O agro ecossistema utilizado nos mais de 33 milhões de hectares de soja do Brasil, apresenta várias características favoráveis à multiplicação de pragas, pois prevalece um sistema de produção em que a soja é a principal cultura a se estabelecer na grande maioria das áreas, podendo ser rotacionada ou não, sendo após a colheita, estabelecendo uma cultura de cobertura ou mesmo ficando em “pousio”, mas com algumas plantas daninhas presentes na maioria dos casos. Desta forma, existem hospedeiros para as pragas durante o ano todo e aliado a outros fatores como condições climáticas favoráveis, de altas temperaturas e de inverno ameno, que tornam-se ideais para a multiplicação dos insetos.Atualmente na cultura da soja, os percevejos fitofágos se destacam como a principal praga. Este aspecto tem levado os técnicos a analisar melhor todos os aspectos de manejo, haja visto os grandes prejuízos ou mesmo o aumento no custo de produção. Dentre as espécies, o percevejo-marrom, Euschistusheros (Heteroptera: Pentatomidae), apresenta ampla distribuição nas lavouras da região do Cerrado. Outras espécies de percevejos estão associadas ao agroecossistema como o percevejo barriga-verde (Dichelops spp.), o percevejo edessa (Edessa meditabunda) e o percevejo verde-pequeno (Piezodorusguildinii), apresentando altas infestações em
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alguns casos. Estas espécies de pragas apresentam ciclo em torno de 30 a 40 dias, podendo passar por períodos de diapausa na falta de alimento, e geram em torno de 40 a 90 indivíduos por fêmea. Durante uma safra de soja podemos ter normalmente até três gerações na cultura, dependendo o ciclo do cultivar e outros fatores. Após a colheita da soja estes indivíduos podem migrar para culturas adjacentes e mesmo a culturas que venham na sequência, levando a grandes prejuízos. Em sistemas onde encontramos soja e milho da segunda safra, tem se
Eng. Agr. Dr. Germison Tomquelski Pesquisador da Fundação Chapadão
encontrado grandes prejuízos, levando até 50% de quebra na produtividade do milho. Um dos fatores primordiais para o sucesso do manejo desta praga é a amostragem. Esta operação é a base do sucesso, haja visto que a praga apresenta distribuição desuniforme nas lavouras. A infestação se inicia normalmente com pontos de maior concentração nos talhões, podendo levar a erros no levantamento (Figura). Algumas áreas com refúgios próximos, ou mesmo migrações de talhões mais velhos para os mais novos, podem ser o início da infestação e problemas.
Dispersão de percevejos em talhão de soja Pontos vermelhos: índices de percevejos maiores que dois indivíduos por metro. Pontos verdes-escuros: o indivíduo Fundação Chapadão 2012
Os percevejos, de modo geral, apresentam preferência pelas vagens na cultura da soja. Em outras culturas como o algodoeiro, preferem as maçãs em início de formação ou mesmo já formadas. Em milho, os pontos de crescimento das plantas (Dichelops sp.) e outras culturas, na sua maioria, os grãos em formação são o alvo destas pragas. Na cultura da soja, no início da formação das vagens, os percevejos se concentram nestas partes, tanto ninfas quanto adultos. Em alguns casos, são encontrados somente 10% da população total presente na planta. Estes percevejos succionam a seiva nos ramos, hastes e vagens. Ao sugarem podem injetar toxinas que provocam a “retenção foliar”, ou seja, as folhas não caem normalmente e dificultam a colheita mecânica. Desse modo, são responsáveis por redução no rendimento e qualidade dos grãos e sementes, em consequência das picadas. Os grãos atacados ficam menores, enrugados, chochos e tornam-se mais escuros. Outro fator importante a destacar são os prejuízos ao processo da armazenagem, onde grãos com altas quantidades do ataque da praga levam a quebras, e neste caso as tradings descontam na entrada do produto para o armazém. Produtores que contam com silos em suas fazendas devem estar monitorando este fator, haja visto casos de prejuízos na ordem de 3%, quando a massa é armazenada por mais de 3 meses (soja atacada). No Manejo Integrado de Pragas com melhor conhecimento da praga e boa amostragem, tende a suportar as estratégias de controle
desta importante praga. Com o advento das plantas geneticamente modificadas, o produtor não pode descuidar do monitoramento. Com a soja Bt algumas áreas tem apresentando infestações no desenvolvimento vegetativo, necessitando diminuir esta infestação para que não ocorra “explosões populacionais” e dificultem o manejo, haja visto que grande parte dos
materiais-cultivares tem apresentado um período vegetativo menor comparado ao passado. Diversos são os inseticidas no mercado, mas a grande diferença está no manejo adotado pelo produtor, que pode fazer a diferença, melhorando a sua rentabilidade final. Por hora o produtor está vencendo a batalha contra os percevejos, mas a guerra ainda não acabou.
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CANA
Cana: como controlar a cigarrinha-das-raízes Período de chuvas torna condições favoráveis para surgimento da praga que pode reduzir em até 80% do rendimento produtivo A chuva que aconteceu no final de setembro era por muitos aguardada, pois dela dependem uma série de atividades que o agricultor realiza ao longo da sua jornada. As chuvas propiciam condições favoráveis para ocorrência e aumento da infestação das principais pragas da cana no campo, por exemplo, a cigarrinha-das-raízes. Nesse período, o agricultor começa a se preocupar com uma série de fatores relacionados ao controle dessa praga, como: em qual momento devo controlar a praga? Qual produto vou utilizar? Qual a tecnologia de aplicação mais adequada? A cigarrinha-das-raízes é uma das principais pragas da cultura da cana devido à área de ocorrência e o potencial de perda. Canaviais atacados pela praga podem reduzir em até 80% sua produtividade além da queda de qualidade da matéria-prima e consequentemente o valor recebido pela tonelada de cana entregue na usina. O controle eficiente da cigarrinhadas-raízes depende de uma série de fatores como a época de aplicação, modalidade de aplicação, época de corte do canavial, variedade cultivada, produto utilizado, etc. O controle da cigarrinha-das-raízes deve ocorrer na primeira geração da praga no campo, o que normalmente ocorre entre outubro e novembro. Os adultos da primeira geração colocam predominantemente ovos normais enquanto as gerações seguintes já iniciam a postura de ovos diapaúsicos. Desse modo, quando controlamos a praga na primeira geração evitamos o enriquecimento do banco de ovos
diapaúsicos no solo, reduzimos a pressão de infestação da segunda e terceira geração no campo e também reduzimos a convivência do cultivo com a praga e consequentemente alcançamos maiores produtividades e um controle mais eficiente. Outro aspecto importante que deve ser levado em consideração para um manejo eficiente dessa praga é a época de colheita do canavial. É sabido que os canaviais colhidos em início de safra são mais tolerantes ao ataque da praga que os canaviais colhidos no meio e final de safra, isso se deve a maior capacidade de suportar o ataque da praga dos canaviais de inicio de safra em função da maior quantidade de biomassa acumulada no momento em que a praga inicia da sua infestação no campo. Mais recentemente, um novo fator que interfere no manejo da praga foi inserido na recomendação para um manejo mais eficiente: a variedade cultivada. Trabalho realizado com 29 variedades cultivadas no Brasil demonstrou que as variedades têm tolerâncias ao ataque da praga muito diferente entre si. A combinação entre época de corte e variedade cultivada possui diferentes potenciais de perda devido ao ataque da praga e por isso devemos adotar diferentes estratégias de controle para cada situação.
Antonio Soares - Consultor de Desenvolvimento de Mercado
Em função de novos conhecimentos acumulados sobre o manejo da praga nos últimos anos, desenvolvemos a Matriz de Curbix para o manejo de cigarrinha-das-raízes onde propomos um manejo customizado para cada agricultor utilizando para isso a época de corte e a variedade cultivada na propriedade visando alcançar um manejo mais eficiente da praga e aumentar a produtividade. Caso você tenha interesse em construir a Matriz de Curbix para sua propriedade entre em contato com a equipe da Safra Rica!
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A FORÇA DO CAMPO
MANEJO
Retorno
triunfante
Engenheiro agrônomo Ricardo Del’Arco explica a técnica de plantio de cana por meio da meiosi que oferece mais competitividade ao produtor: canavial sadio e longevo
Abandonada há algum tempo, a técnica de meiosi ressurge como a principal técnica de implantação do canavial para produtores de cana que querem persistir no concorrente meio produtivo. A meiosi deixou de ser aplicada pelos produtores de cana desde que a necessidade de mecanização – e, naturalmente, os avanços tecnológicos que vieram dela – se impôs aos produtores.
Adotada pelo setor produtivo como o método de plantio que tem o melhor custo benefício, ela teve um retorno triunfante devido à difusão de informações sobre sua técnica. Graças a produtores e empresários como Ricardo Ducati Del’Arco, sócioempresário da RR Agrícola, empresa do setor canavieiro localizada em Monte Azul Paulista. Por meio da empresa, Ricardo e o irmão, Renato, plantaram 1.700
hectares de cana por meio da meiosi. A experiência e o sucesso que o método de plantio teve como resultado, fizeram do empresário e produtor um grande entusiasta da meiosi. Hoje, Ricardo Del’Arco difunde essas informações para produtores dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás com palestras que levam de forma bem didática os benefícios do método. O principal deles, como aponta em
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MANEJO
devem ser utilizadas com precisão. A partir dela, com a MPB, temos um canavial altamente produtivo e mais longevo, com mais idades de cortes, podendo chegar até 10 cortes. A implantação de um canavial é um processo caro. Quanto mais se demora para a implantação, o custo é menor a cada ano.
entrevista que você pode ler a seguir, é, além de prática, oferecer uma redução de custos em mão-de-obra anualmente, quando houver o replantio utilizando a técnica com as “linhas mães”. Além disso, é necessário – antes de coloca-la em prática, muito estudo, conhecimento de área e tecnologia de GPS para ser utilizada de maneira racional. Confira em entrevista. Revista Safra Rica: Por que a meiosi passou a ser uma técnica importante para o setor canavieiro? Ricardo Ducati Del’Arco: Para que o produtor tenha sucesso em sua produção– não dependendo apenas do preço do açúcar e do etanol, ele precisa fazer muito bem a sua parte, que é produzir com custo menor. É aí que entra a meiosi, sistema de implantação das ruas mães com mudas pré-brotadas, selecionadas, e que reduz em torno de 30% a 40% o custo operacional em relação à maneira convencional de implantação do canavial. Não tenho dúvidas em afirmar que, combinada ao uso da muda pré-brotada (MPB), ela garante mais sanidade e longevidade à plantação e, mais uma vez vale lembrar, com uma redução de custos bastante significativa ao produtor. A meiosi é a principal ferramenta do produtor diante da crise que o setor enfrenta? O setor produtivo de cana passou por dificuldades acentuadas. As tecnologias que foram surgindo ajudaram a enfrentá-la com a diminuição do custo. A meiosi é antiga, foi deixada de lado porque ninguém se preocupava com um canavial com muda sadia. Na época, havia uma oferta muito grande de mudas, com custo mais barato. Porém, hoje, com a crise, tivemos que fazer uma “seleção natural” para ter um canavial mais produtivo com menor custo. Com a meiosi, isso se tornou possível, porque a muda é selecionada, livre de doenças e algumas até livre de pragas.
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Tanto o pequeno quanto médio produtor pode fazê-la, ou é um método aplicado apenas para as grandes empresas produtoras? De forma alguma. É aconselhável para o pequeno até o grande produtor – ela pode ser feita pelo processo de plantio manual, em que há trabalhadores que fazem por matracas, até pela implantação mecanizada.
Ricardo Ducati Del’Arco, sócio diretor da RR Agrícola
Qual a importância da muda prébrotada (MPB) neste processo? É grande: o canavial terá mais sanidade e longevidade com a combinação das duas coisas. Muitas vezes a muda já recebe um tratamento nos viveiros, diante sua saída, tornando-se livre da broca, por exemplo, até ser transplantada no próximo ano no plantio definitivo do canavial. A combinação reduz o custo de mão-de-obra quando se implantará o canavial definitivo através das linhas mães em torno de 30% a 40%. Todo mundo está procurando isso: canavial sadio, com mais anos de corte, com menor custo para implantação. Como a meiosi pode ser aplicada: manual ou plantio mecanizado? Ela pode ser aplicada com parte do plantio mecanizado e parte manual: quando pequenos e médios produtores plantam por meio de “matracas”. Hoje, a meiosi é o grande trunfo do setor – uma das ferramentas que
Como deve ser feito o planejamento para a implantação do canavial por meio da meiosi? Primeiro: o produtor tem de se informar, com propriedade, sobre o que vem a ser a meiosi. Depois, tem de escolher a área utilizada. No último corte ou área de reforma, ele tem de eliminar a cana, com a soqueira, por causa da praga, de julho até setembro. Nesse momento é implantada a meiosi. Mas o método tem de ser iniciado no escritório, porque tem de ser feito com precisão. Você planta uma rua e pula dez, então, cada rua plantada tem de ter o mesmo espaçamento exato para implantar as dez ruas. É preciso de um trator com GPS (ter um ou alugar), porque você vai utilizar aquele mapa que você fez no escritório para fazer a meiosi. Com todos estes anos de experiência, quais as observações que tem a fazer sobre a técnica? É uma redução significativa no custo, um canavial altamente produtivo, porque temos mudas com sanidade e longevidade. Com tudo isso, o produtor faz sua parte bem, independente do preço das commodities de açúcar ou de álcool. Um dos segredos para se manter competitivo e sobreviver no mercado é, com certeza, a redução de custos que a meiosi oferece!
GRÃOS
CITROS
Biopower Gold em citros aumentando o potencial das plantas Eng. Agro. Dra. Ana C.C.N. Alves – Gerente de Produtos Bioestimulantes, Grupo Vittia/ Samaritá
A cada dia, é maior o desafio de alcançar uma boa produtividade em citricultura: doenças, pragas, manejo de custos... Uma forma de alcançar esta produtividade (dentro de uma boa relação custo x benefício) é utilizar melhor aquilo que a natureza já nos oferece - e evitar qualquer perda. Especialmente perdas daquilo que irá garantir o número de frutos na área: flores e frutos. Nesse sentido, o Biopower Gold se oferece como uma opção para aumentar o potencial produtivo das plantas cítricas de forma natural. O produto contém substâncias que atuam no metabolismo da planta (chamadas sinais pré-hormonais), de forma que esta recebe uma mensagem e, a partir desta, organiza-se para se desenvolver melhor, apresentar mais uniformidade de florada e desenvolvimento de frutos, ter a habilidade de perder menos flores e frutos jovens e maior tolerância aos estresses que passará durante seu ciclo, como a restrição de água. Esta melhor tolerância ao estresse ocorre não apenas por maior desenvolvimento radicular (como ocorre com a aplicação de reguladores sintéticos) ou a produção natural de citocininas (hormônio envolvido na retenção de flores), mas também pela capacidade de induzir a planta a se preparar para um estresse. Esse “preparo” antecipado à adversidade é uma característica do Biopower Gold, por conter extrato de Ascophyllumnodosum e outros aditivos orgânicos que protegem as principais estruturas produtivas das células (cloroplastos, mitocôndrias e outras organelas). A aplicação destes sinais que levam a planta a fazer seus hormônios
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naturais traz alguns benefícios em relação a aplicação dos “hormônios” em si (reguladores vegetais), como a citocinina, auxina, giberilina ou outros. Primeiramente por respeitar quais e a quantidade de fito hormônio que a planta suporta produzir, responder e está “precisando” a cada momento do seu desenvolvimento – e estes variam muito a cada fase. Ou seja, respeita o metabolismo natural da planta, otimizando-o. Outro fator interessante é que o produto é sistêmico, podendo ser aplicado através da fer tirrigação ou dirigido ao solo, o que confere praticidade e maior segurança ao produtor no caso de uma falha de aplicação, diferentemente de um produto que atua na folha ou estrutura aonde foi aplicado, como a maioria dos reguladores vegetais. Muitos aspectos práticos da aplicação de biofer tilizantes ainda são pouco discutidos – e estes podem trabalhar por um benefício ainda maior! Por exemplo, aplicação do Biopower
Gold pode otimizar a utilização de alguns nutrientes pela planta, como cálcio e magnésio, pela formação de complexos orgânicos. O momento de aplicação também pode auxiliar no melhor benefício. Primeiramente porque uso de duas ou mais aplicações gera melhores produtividades, por manter a planta “em aler ta” (bioativada) por mais vezes no seu ciclo. Encontrar o momento cer to de aplicação (fase fenológica) também tem alto impacto na resposta da planta, ou seja, o ideal é fazer com que a aplicação coincida com o momento que a planta tem maior disposição para elevar seu metabolismo. Esses “momentos de maior disposição” estão listados na tabela abaixo. Conhecer estes momentos auxilia na melhor tomada de decisão por propriedade ou mesmo talhão. Em resumo, são vários os benefícios do uso do Biopower Gold na citricultura e cabe a nós como produtores e/ou técnicos conhece-los e explora-los.
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CITROS
Greening Pesquisador do Fundecitrus fala sobre a devastadora doença que atinge os pomares brasileiros
Desde o início do século, quando foi descoberto, o greening se transformou em um problema devastador para os pomares brasileiros. A doença é considerada a mais severa da citricultura, na atualidade, e demanda esforço e empenho do setor produtivo para tentar contê-la. Uma vez que as plantas são infectadas, não há mais cura e a possibilidade de expansão pelo pomar é muito grande. Ela é transmitida pelo psilídeo Diaphorinacitri, pequeno inseto que mede entre dois e três milímetros e, quando suga a seiva da planta doente para se alimentar, serve como transmissor da bactéria que causa a doença. O Fundo da Defesa da Citricultura (Fundecitrus) é um dos órgãos brasileiros pioneiros no combate à doença no país, realizando estudos fitossanitários e difundindo conhecimento para o combate ao greening. Em entrevista, o pesquisador Renato Beozzo Bassanezi alerta o produtor e explica qual o panorama atual da doença no país. Em que estágio se encontra o greening no Brasil? Quais as regiões mais afetadas? O greening foi relatado pela primeira vez no Brasil em 2004, no estado de São Paulo, e hoje se encontra em todas as regiões produtoras de citros do estado. Também se encontra nos estados de Minas Gerais e Paraná. Em 2017, segundo levantamento amostral realizado pelo Fundecitrus,
Renato Beozzo Bassanezi, pesquisador do Fundecitrus
o parque citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste de Minas Gerais apresentam 16,73% da laranjeiras (cerca de 32 milhões de árvores) com sintomas da doença, sendo metade deste número com sintomas iniciais. No parque, as regiões mais afetadas são as regiões centrais (Limeira, Brotas, Porto Ferreira, Duartina e Matão), sendo as regiões do norte, noroeste e sudoeste as menos afetadas. Desde que a doença se proliferou pelos pomares, o país avançou em relação ao seu combate? Hoje, o Estado de São Paulo tem sido referência mundial no controle
dessa doença, baseado no uso de mudas sadias produzidas em viveiros telados desde 2003, controle intensivo do inseto vetor (o psilídeo Diaphorinacitri) e a eliminação das plantas doentes. O grande avanço no combate ao greening foi incluir o manejo regional do vetor e das plantas doentes, isto é, o controle conjunto e coordenado por parte de todos os produtores de uma determinada região, e também o controle externo à propriedade no programa de controle da doença. Observou-se que fazer todo o controle somente dentro da propriedade não evita totalmente o aparecimento de novas plantas contaminadas, e que se as ações de
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CITROS
controle forem tomadas no entorno da propriedade (em propriedades comerciais e não comerciais, em plantas de quintais rurais e urbanos próximos das propriedades comerciais), a eficiência de controle é significativamente aumentada (manejo regional). Como tem sido o comportamento do setor produtivo diante da realidade? O setor produtivo está bastante preocupado com a doença, que nos últimos anos dizimou a produção de citros nos Estados Unidos, nosso principal concorrente na produção de laranja, e que também tem causado
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a saída de produtores do negócio. Porém, o sucesso no controle desta doença representa uma grande oportunidade para a citricultura brasileira se consolidar como líder e referência mundial. Entre os produtores, há três tipos de reações: aqueles que seguem com rigor as recomendações de controle da doença (controle do vetor e erradicação de plantas doentes); aqueles que controlam o psilídeo mas não erradicam as plantas doentes depois de determinada incidência da doença e idade das plantas; e aqueles que não realizam o controle. Estes dois últimos grupos têm uma visão mais de curto prazo, porque
em poucos anos verão a queda de produção dos seus pomares e terão que iniciar tudo novamente com novos plantios. Quais as recomendações para os citricultores? Não existe uma única só medida de controle para a doença. É necessário um manejo integrado, usando várias medidas resumidas nos 10 mandamentos de controle do greening, que são: planejamento dos novos plantios, preparando-os para enfrentar a doença e minimizar seus danos; plantio de mudas sadias produzidas em viveiros telados e certificados; boas práticas culturais
para acelerar o crescimento das plantas e sua entrada em produção; inspeção para detecção de plantas doentes e erradicação das plantas com sintomas da doença pelos menos 4 vezes ao ano; monitoramento do psilídeo com armadilhas adesivas amarelas na periferia da propriedade e controle rigoroso do inseto para não permitir que ele se alimente nas brotações novas e nem se reproduza. Como se deve realizar o controle do psilídeo? O controle do vetor inicia-se antes do plantio com a aplicação de inseticidas sistêmicos nas mudas, continua no campo com a aplicação de inseticidas sistêmicos 3 a 4 vezes ao ano no período das chuvas e aplicação de inseticidas foliares, alternando diferentes grupos químicos, de acordo com a captura de psilídeos e fluxo vegetativo. Em pomares acima de 3 anos, somente se aplica inseticidas foliares.Maior atenção deve-se dar à faixa de borda dos pomares, que compreende os primeiros 100 a 200m a partir da divisa do pomar, onde se concentra a maior parte dos psilídeos e plantas doentes. Nesta faixa, a frequência de pulverizações deve ser maior; participar do manejo regional do psilídeo por meio de pulverizações conjuntas e coordenadas indicadas pelo Alerta Fitossanitário do Fundecitrus e da eliminação regional de plantas doentes; parceria com os vizinhos para as aplicações de inseticidas em plantas de citros de pomares comerciais e não comerciais, eliminação de plantas doentes ao redor da propriedade ou liberação de Tamarixiaradiata em pomares e plantas não comerciais que não recebem o controle recomendado. Produtores que têm seguido estas recomendações têm conseguido
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CITROS
manter a incidência anual da doença abaixo de 2%. Quais transformações a doença provocou no manejo da citricultura? Com um risco maior, o citricultor teve que ser cada vez mais informado, tecnificado e profissional. Ele tem não apenas que controlar a doença dentro do seu pomar, mas também agir em parceria com seus vizinhos, o que exige uma mudança de comportamento. Os novos pomares passaram a ser melhor planejados e os projetos de plantios reduziram sua longevidade (hoje não se fala mais em um pomar durar 30 ou 40 anos, já se fala em projetos para 12 ou 15 anos). Com isso, tem se buscado cada vez mais acelerar e aumentar a produtividade dos pomares com uso de adubação, irrigação, adensamento e melhores
combinações de copa e portaenxerto. Aumentou-se a frequência de aplicações de inseticidas, porém com melhor tecnologia de aplicação e doses adequadas de produtos. Quais os impactos financeiros para os produtores? O maior impacto do greening é a perda de plantas e de produtividade, além da redução da vida econômica dos pomares afetados. Somente no estado de São Paulo, estima-se que, de 2005 a 2016, mais de 46 milhões de laranjeiras tenham sido erradicadas por causa da doença. O segundo impacto financeiro é o aumento dos custos de produção para se controlar a doença com as operações de inspeção de plantas e erradicação de plantas doentes, monitoramento da população do
psilídeo e aplicação de inseticidas para seu controle. Estima-se que o custo de produção tenha aumentado de 5 a 15%. O país está preparado para lidar com o greening? Os citricultores do parque citrícola de São Paulo e sul do Triângulo Mineiro contam com instituições de pesquisa e transferência de tecnologia como o Fundecitrus para apoiar e dirigir os citricultores para o manejo adequado da doença, tanto dentro como fora do pomar. Todo conhecimento gerado pela pesquisa nacional e internacional para o manejo do greening é imediatamente transmitido aos citricultores do cinturão citrícola paulista e mineiro e também de outros estados.
Alerta fitossanitário O Fundecitrus também disponibilizou uma ferramenta online para que o citricultor monitore a população de psilídeo perto de seu pomar. Por meio do link http://www.fundecitrus.com.br/alerta-fitossanitario, o produtor pode ter acesso ao instrumento que verifica a presença da praga em mais de 138 mil hectares de citros, por meio de 18 mil armadilhas georreferenciadas e serve de base para o manejo regional do HLB. A modernização do sistema teve como base sugestões de citricultores que participam de grupos de manejo regional. Uma das novidades é que o programa passa a ser disponível na versão mobile para smartphones e tablets, facilitando o gerenciamento das informações pelo produtor.
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SÃO JOSÉ DO RIO PRETO