Projeto São Paulo

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Monumento à Independência Pça. do Monumento - Ipiranga São Paulo, SP, Fone 11 3396 6047 Aberto de terça a domingo, das 9h às 17h Visita orientada. Entrada franca. visitação 23 de janeiro a 9 de maio de 2010 www.museudacidade.sp.gov.br

Projeto apoiado pelo Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura - Programa de Ação Cultural de 2009 Realização:

Apoio:

Imagem Eduardo S. Barbosa

PROJETO SÃO PAULO Fernando Piola


Projeto São Paulo Arquitetura e urbanismo são meios para a constituição de uma cidade em diferentes instâncias. Muito além de se prestarem estritamente ao pragmatismo da vida urbana, projetos arquitetônicos são capazes de forjar a história e a identidade de uma cidade. Lança-se mão da significação simbólica de planos urbanísticos e projetos arquitetônicos a fim de atribuir à cidade adjetivos e, dessa forma, conferir-lhe a imagem desejada. Uma metrópole como São Paulo se vale desse recurso exponencialmente para fomentar seu prestígio e assim fazer representar seu poder. Em meio ao caos do crescimento de São Paulo, tentou-se, em sua história recente, seguidamente dar estrutura à sua desorganização urbana. Almejaram-se eixos como forma de não apenas organizar seu espaço como de dar-lhe imponência. Na imensidão de seu território, somam-se tentativas de projetos regeneradores e organizadores, assim como projetos de monumentos e memoriais que nunca foram cumpridos na sua totalidade. Um cuidadoso trabalho de seleção e monumentalização de fatos e instituições é formalizado nestes projetos que ao fim, em sua maioria, não são levados a cabo. No interior das urnas aqui apresentadas, projetos de monumentos nunca realizados ou incompletos atestam o insucesso de propostas para São Paulo. Projetos dizem respeito ao futuro e, como indica o próprio sentido do termo, pretendem lançar algo. Da mesma forma, é da natureza do mármore e do monumento dignificar e promover à posteridade aquilo que representam. Nesse sentido, é contraditório e

frustrante que já seja falência aquilo que deveria significar um devir promissor. Estas urnas de mármore encerram solenemente o futuro não cumprido e, em um sentido mais amplo, funcionam como um busto alegórico de uma cidade não realizada. Ao projeto de se conceber a identidade de São Paulo, alia-se o projeto de construção de sua história. Marcos são edificados na tentativa de nos alinharmos com uma história que originalmente não vivemos. Neste cenário, vivemos um tempo paulista, entre uma catedral gótica eloqüente, que dignifica o marco zero de todo o estado, e um Pátio do Colégio colonial erguido nos anos 70. Do Campos Elíseos, o Champs Élysées paulistano, a Alphaville, a arquitetura cenográfica da cidade forja uma história que se presta a ser compartilhada com a européia ou a norte-americana. O mapeamento da cidade feito pelo guia de ruas pode também ser entendido como uma ficção. Sua função transcende ao aparente objetivo de exclusivamente localizar endereços e definir caminhos. Ao excluírem aquilo que é periférico, os guias oferecem ao paulistano uma cidade inventada, ideal. Aqui, entre os arquivos de mármore, o guia de bolso de São Paulo vazio é a própria imagem de uma cidade excludente e que não se percebe. Através da lente de aumento da edição, estes guias de bolso enfatizam justamente o que é tido como constrangedor, configurando-se assim em uma caricatura da cidade. Neste e em outros trabalhos expostos, o residual torna-se todo o seu conteúdo, impedindo-nos de ignorá-lo.

Propondo-se que enigma seja o anagrama da palavra imagem é compreensível que a projeção da identidade de um objeto tão abrangente como a cidade seja na mesma medida uma imagem complexa e enigmática. Do mesmo modo, Projeto São Paulo é, assim como tais projetos para constituição da identidade, tempo e espaço de São Paulo, mais um projeto que vislumbra entender a cidade. E dessa forma, é oportuno que a memória destes projetos seja aqui consultada: em um monumento mausoléu. Enfim, aposta-se que a dinâmica das obras instaladas nessa câmara seja capaz de potencializar a operação de desconstrução desta exposição, cujo conteúdo crítico não anula seu posicionamento verdadeiro de tentar compreender e homenagear a cidade em que vivemos no mês de seu aniversário. Fernando Piola


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