O Estado Novo de São Paulo jul./dez. 2009 vol 5/6

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Estado’ ensurado ‘Estado’ ‘Estado’ ‘Estado’ ‘Estado’ ‘Estado’ é‘Estado’ censurado no caso éécensurado éécensurado é‘Estado’ censurado censurado éSarney censurado censurado no caso éno censurado no no no Sarney no caso no caso caso caso caso caso Sarney Sarne Sarn Sarn Sarn no Sa

minaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvairecorrer sembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvairecorrer sembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvairecorrer Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvairecorr Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvairec Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvairec Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvaire Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvair Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvair Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalva Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornal Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilho

aSarney, honra da família sentação, sentação, afilho avogados honra honra da da família família sentação, sentação, sentação, sentação, asentação, sentação, sentação, honra sentação, aa honra da honra asentação, aafilho ahonra família honra honra honra ada da honra família da família da da adafamília honra família da família família família família querem sentação, a honra da família vogados deDácio Fernando querem vogados vogados de de Fernando Fernando querem querem vogados vogados vogados devogados vogados vogados Fernando vogados de de Fernando Fernando de de de vogados de Fernando querem Fernando Fernando de Fernando Fernando querem querem de querem Fernando querem querem querem querem querem vogados deda Fernando do dopor Fernando Fernando Sarney, filho filho do por do Fernando do por por do do do do por Fernando por Fernando por do por Fernando Sarney, por Fernando Fernando Fernando do Fernando Sarney, por Sarney, filho Sarney, Fernando Sarney, Sarney, Sarney, filho Sarney, filho filho filho filho filho Sarney, filho do por Fernando Sarney, mbargador mbargador DácioVieiViei-O desembargador Opor Odesembargador desembargador Osentação, OOO desembargador desembargador desembargador desembargador O desembargador Dácio O desembargador Dácio VieiDácio Dácio Dácio Dácio Dácio VieiVieiDácio VieiVieiVieiVieiDácio VieiVieiO desembargador Dácio VieiSarney foi ferida. Manuel AlSarney Sarney foi foi ferida. ferida. Manuel Manuel AlSarney Sarney Sarney foidas Sarney Sarney ferida. Sarney Sarney foi Sarney foiferida. foi ferida. Manuel foi foi foi Sarney ferida. ferida. ferida. foi ferida. Manuel Manuel ferida. AlManuel foi Manuel Manuel Manuel ferida. AlManuel Al-AlAlAlManuel Al- Al- das con- Sarney foi ferida. Manuel Almpedir de ade publicação das conimpedir impedir ado apublicação publicação das das conconimpedir impedir impedir a impedir publicação impedir impedir impedir aimpedir aJustiça publicação publicação aaapublicação aimpedir publicação das publicação publicação ado publicação condas das aAlpublicação das condas condas das condas conconconconconimpedir aAlpublicação dopresidente presidente do do Senado, Senado, José José do presidente do presidente presidente do do do presidente presidente do presidente do presidente presidente do doSenado, presidente Senado, do do José do do Senado, Senado, Senado, do Senado, José Senado, José José José José José Senado, José José do presidente do Senado, José Tribunal ribunal Justiça Justiçado do ra,do do ra, Tribunal ra,do ra, do ra, ra, ra, Tribunal do Tribunal do ra, do do de Tribunal Tribunal Tribunal do Tribunal Justiça ra, Tribunal de de doJustiça de Justiça de do Tribunal de de Justiça Justiça Justiça de Justiça do Justiça do de do do do do Justiça do doSenado, ra, dodo Tribunal de ceu Afonso Ferreira, advogaceu ceu Afonso Afonso Ferreira, Ferreira, advogaadvogaceugravadas Afonso ceu ceu ceu Afonso ceu Afonso ceu Ferreira, ceu Afonso ceu Afonso Afonso Afonso Afonso Ferreira, ceu advogaFerreira, Ferreira, Ferreira, Ferreira, Afonso Ferreira, advogaadvogaadvogaFerreira, advogaadvogaadvogaadvogaadvoga-gravadas ceu Afonso Ferreira, advogatelefônicas gravadas versas telefônicas telefônicas gravadas gravadas versas versas versas telefônicas versas versas versas telefônicas versas telefônicas telefônicas telefônicas telefônicas telefônicas gravadas versas gravadas gravadas telefônicas gravadas gravadas gravadas gravadas gravadas versas telefônicas Sarney Sarney (PMDB-AP). 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EsDistrito Federal, proibiu o telefônicas Esdo dotado Estado, disse que ocom jordo do do do Estado, Estado, disse disse que ojudicial ojudicial jorjordo––uma do Estado, do do do do do do do Estado, do do disse do do Estado, Estado, Estado, do Estado, que do Estado, disse disse do odisse disse disse jorque disse Estado, que disse que oque oque que jorjoroque disse oojorojorjorjoro que jor- ojudicial jor- – uma do do Estado, disse que o jorcom autorização judicial –impõe uma com autorização autorização judicial judicial –R$ –uma uma com autorização com com com autorização com com autorização com autorização com autorização autorização judicial autorização autorização com judicial judicial –que autorização uma judicial judicial ––judicial uma uma –multa –uma uma judicial uma –do uma –Estado, uma com autorização impõe multa multa de de R$ R$ 150 150 mil mil para para impõe impõe multa impõe impõe impõe impõe impõe de multa multa impõe R$ multa multa multa 150 multa de de impõe multa R$ mil R$ de de de 150 de para R$ 150 R$ R$ multa de mil 150 mil 150 150 R$ 150 para mil para mil 150 mil de mil para R$ para mil para para 150 para mil para impõe de R$ 150 mil para epublicar publicar reportagens reportagens tado de tado tado publicar tado tado tado de tado de publicar de publicar de reportagens de publicar publicar publicar de publicar tado publicar reportagens reportagens dereportagens reportagens reportagens publicar reportagens reportagens reportagens tado de publicar reportagens nal vai recorrer por entender nal nal vai vai recorrer recorrer por por entender entender nal nal nal recorrer vai nal vai nal nal nal recorrer vai recorrer vai nal vai vai por recorrer recorrer vai recorrer recorrer entender nal recorrer por por vai por entender por entender por recorrer por entender por entender entender entender entender por entender nal vai recorrer entender delas revela envolvimento de delas delas revela revela envolvimento envolvimento de de delas revela delas delas delas delas delas delas revela envolvimento revela delas revela revela revela revela envolvimento envolvimento delas revela envolvimento envolvimento envolvimento revela de envolvimento de envolvimento devai de de de de de de delas revela envolvimento de cada cada reportagem. reportagem. 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Renan lidera resistência à renúncia Renan Renanlidera lideraresistência resistência Renan Renan Renan Renan Renan Renan Renan lidera àRenan àrenúncia renúncia lidera lidera Renan lidera lidera resistência lidera lidera lidera resistência resistência lidera resistência resistência resistência resistência resistência àresistên renún ààren re ààààr

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ma macomemora‘caminhocerto’ comemora‘caminhocerto’ Obama Obama Obama Obama Obama Obama Obama comemora‘caminhocerto’ Obama comemora‘caminhocerto’ comemora‘caminhocerto’ Obamacomemora‘caminhocerto’ comemora‘caminhocerto’ comemora‘caminhocerto’ comemora‘caminhocerto’ comemora‘caminhocerto’ comemora‘caminhocerto’ Obamacomemora‘caminhocerto’

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OassessordeSegurançaNacional da Casa Branca, James Jones, virá ao Brasil na segunda-feira. A visita já estava agendada, mas ganhou maiorrelevoporcausadacrise das bases americanas na

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Enviado de Obama quer explicar bases na Colômbia

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Justiça Enviado Enviado Justiça Justiça Justiça Justiça Justiça Justiça Justiça de de Justiça de dede de de dedeEnviado deEnviado Enviado Enviado Enviado Enviado Enviado Enviado deEnviado de dede de de Justiça dede de de SP Obama Obama SP mantém SP SP SP SP SP mantém mantém SP mantém mantém mantém quer mantém quer SP mantém mantém Obama Obama Obama Obama Obama Obama Obama Obama quer Obama quer quer quer quer quer quer SP quer mantém quer restrição explicar explicar restrição restrição restrição restrição restrição restrição restrição bases restrição bases explicar explicar explicar explicar explicar explicar explicar explicar bases explicar bases bases bases bases bases restrição bases bases bases aos na na aos aos fretados Colômbia aos Colômbia aos aos aos fretados fretados aos fretados fretados fretados fretados aos fretados fretados na Colômbia na nana na na Colômbia na Colômbia na Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia na Colômbia aos fretados

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tiça tiçade de mantém mantém trição rição fretados fretados

doistrimestres anteriores, comoresultado dos planos de estímulo econômico do governo americano.OpresidenteBarack Obama, embora cauteloso, festejou: “A economia caminha na direção certa”. ● PÁG. B1

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doistrimestres anteriores, anteriores, coco-encolheu doistrimestres doistrimestres doistrimestres doistrimestres doistrimestres doistrimestres doistrimestres doistrimestres anteriores, anteriores, anteriores, anteriores, anteriores, coanteriores, anteriores, anteriores, coco-anteriores, cocococo-cocodos os EUA EUAencolheu encolheu1% 1%O doistrimestres PIB Odos OPIB PIB OO EUA OO PIB dos PIB PIB dos PIB O encolheu dos PIB EUA dos EUA dos dos O EUA dos EUA EUA encolheu PIB EUA encolheu EUA 1% encolheu dos encolheu encolheu encolheu EUA 1% 1% 1% 1% encolheu 1% 1% 1% 1% doistrimestres O PIB dos EUA encolheu 1% moresultado dos dos planos planos dede esesmoresultado moresultado moresultado moresultado moresultado moresultado moresultado dos moresultado planos dos dos moresultado planos dos de planos dos dos dos esplanos planos dos planos planos de de planos esesde dos de de de esesplanos esesde es-trimestre de es- deste undo ndo trimestre trimestredeste destenomoresultado segundo no no segundo no segundo no no no trimestre segundo segundo no segundo segundo segundo trimestre trimestre notrimestre deste trimestre segundo trimestre trimestre trimestre deste deste deste trimestre deste deste deste deste deste no segundo tímulo tímulo econômico econômico do do governo governo tímulo tímulo econômico tímulo tímulo tímulo tímulo tímulo econômico econômico tímulo econômico econômico do econômico econômico tímulo governo econômico do dogoverno econômico governo do do do do governo governo governo do governo do governocom igual omparação comparaçãocom comigual igualano naano comparação ano ano na ano na ano ano comparação comparação na ano na na na comparação comparação comparação na comparação com ano comparação igual na com com comparação com igual com com igual com igual com igual igual igual igual com igual ano nagoverno comparação americano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraodede2008. 2008.AAprevisão previsãoperíodo período período deperíodo período período 2008. período de período de2008. A de 2008. de de previsão de período 2008. 2008. 2008. de 2008. AA2008. previsão previsão AA de AA previsão previsão previsão 2008. previsão A previsão A previsão período de 2008. A previsão ckObama, Obama, embora embora cauteloso, cauteloso, ck ck ck Obama, Obama, ck embora ck ck ck Obama, Obama, ck Obama, Obama, embora cauteloso, ck embora embora embora embora Obama, cauteloso, embora cauteloso, cauteloso, cauteloso, cauteloso, cauteloso, embora cauteloso, cauteloso, nomistas omistas era eraque queoorere-deck economistas de deeconomistas de economistas de de de economistas economistas economistas de economistas era economistas que de era era economistas o era reque que era era era que oera que oque que rereoObama, que ooreoera rerereo que reoObama, re-embora de economistas era que o refestejou: festejou: “A “A economia economia camifestejou: festejou: festejou: festejou: festejou: festejou: festejou: economia festejou: “A “A economia “A economia “A festejou: “A “Aeconomia camieconomia “A economia economia economia cami“A camicamieconomia camicamicamicami-1,5%. cami-O número ngisse gisse 1,5%. 1,5%.OOnúmero númerocuo atingisse cuo cuocuo atingisse cuo atingisse cuo cuo 1,5%. atingisse cuo atingisse atingisse atingisse atingisse O1,5%. 1,5%. cuo número 1,5%. 1,5%. atingisse 1,5%. O 1,5%. Ocaminúmero número 1,5%. OOOO número número número número O1,5%. número O“A número cuo atingisse nha nhana nadireção direção certa”. certa”. na nha direção nha nha na nha na nha nha direção direção na certa”. nha na na na direção direção direção direção nacerta”. nha certa”. direção certa”. na certa”. certa”. certa”. direção certa”. melhora elhora em emrelação relaçãoaos aosindica melhora indica indica indica indica indica indica melhora melhora em indica melhora melhora melhora relação melhora indica em melhora em em relação aos em em em melhora relação relação relação em relação aos aos relação em aos aos aos aos relação aos aos indica melhora em relação aos ●relação ● PÁG. PÁG. B1 B1nha ● PÁG. B1 ● ●●certa”. PÁG. PÁG. PÁG. ●●● PÁG. B1 ● B1 B1 PÁG. PÁG. PÁG. ●B1 PÁG. B1 B1 B1 B1 ● PÁG. B1



O Estado Novo de S達o Paulo julho/dezembro 2011 Org. Fernando Piola vol. V



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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

1 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00* ANO 132. Nº 42990

EDIÇÃO DE 0H15

estadão.com.br

Beckett e Keaton Sai em DVD o curioso encontro do dramaturgo com o comediante

Divirta-se Férias felizes Confira dicas para entreter as crianças

Esportes

Messi é só mais um. Argentina diz que jogará ‘como equipe’ na estreia na Copa América. Pág. E6

Banda larga popular começa a ser oferecida em outubro Acordo do governo com operadoras de telefonia prevê assinatura mensal de R$ 35, para serviço fixo ou móvel As empresas de telefonia começarão a oferecer, a partir do início de outubro, serviçodeacessorápidoàinternetapreço baixo para os consumidores. O compromisso para efetivar o Plano Nacional de Banda Larga, uma das promessas decampanhadapresidenteDilmaRous-

seff,foiassinado onteme anunciadopeloministro PauloBernardo(Comunicações). A assinatura mensal de R$ 35 é o preço que será cobrado pelas empresas, independentementedeo serviço disponível ser de banda larga fixa ou móvel. Bernardo disse que o usuário não estará

NATACHA PISARENKO/AP

Caderno2

BAPTISTÃO/AE

MAGNUS OPUS

SEXTA-FEIRA

obrigadoacontrataroutrosserviços,como uma linha de telefone fixo, para ter acesso à banda larga popular. Os serviços, porém, terão um limite para baixar arquivos da internet (download), que variam de acordo com a proposta de cada empresa. ECONOMIA / PÁG. B1

● Exigência

de velocidade

As operadoras se comprometeram no acordo a garantir 30% da velocidade contratada nos horários de pico, contra 10% hoje. ECONOMIA / PÁG. B1

CELSO JUNIOR/AE

Na TV, Chávez admite ter tirado tumor cancerígeno Em meio a especulações sobre seu estado de saúde, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse ontem, em discurso na TV, ter retirado um tumor cancerígenonumasegundaoperaçãoemCuba.Segundo ele, após a primeira cirurgia, no dia10,pararetiradadeumabscessopélvico,os médicos encontraram células cancerígenas. O procedimento, afirmou, foi um “sucesso”. INTERNACIONAL / PÁG. A12

Grupo francês quer a parte de Abilio no Pão de Açúcar Depois de anunciar aumento de participaçãono Pão deAçúcar, oCasino volta a contra-atacar. A rede colombiana devarejo Éxito, controlada pelo grupo francês, anunciou que fará oferta pública de ações para levantar US$ 1,4 bilhão. Partedodinheiropode serusadanumacontraproposta pela parte de Abilio Diniz no Pão de Açúcar, que negocia fusão com o Carrefour. ECONOMIA / PÁG. B13

Dólar vai a R$ 1,56, menor valor desde 99

Suprapartidário

Em evento em homenagem a seus 80 anos, em Brasília, o ex-presidente Fernando Henrique se diz ‘muito feliz’ com o reconhecimento de Dilma, e petistas trocam ‘herança maldita’ por legado positivo. NACIONAL / PÁG. A8

Federal do Rio decide acabar com vestibular e adotar Enem A Universidade Federal do Rio de Janeiro vai acabar com o vestibular para ingresso na instituição. O Conselho Universitário aprovou adesão total ao

Enem. Além disso, 30% das vagas serão preenchidas por egressos do ensinopúblico, desdeque arendapercapita familiar seja de R$ 545. VIDA / PÁG. A16

Pode cair o processo contra Strauss-Kahn Investigadores apontam contradições da camareira que acusa Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor-geral do FMI, deestupro,oquedeveprovocarumareviravolta no caso. INTERNACIONAL / PÁG. A15

DORA KRAMER Lei forte e carne fraca Impossível que Cabral desconheça o que é correto e o que é incorreto, conveniente ou inconveniente na conduta de um agente público.

NICHOLAS D. KRISTOF Nem Líbia, nem Síria No último mês, a capital mundial dos crimes contra a humanidade deve ter sido o Sudão, com sua sangrenta campanha de limpeza étnica.

NELSON MOTTA Perdidos no ciberespaço Só com seus currículos e experiência na área, a maioria dos 37 ministros não conseguiria emprego em qualquer empresa privada séria.

NACIONAL / PÁG. A6

VISÃO GLOBAL / PÁG. A14

NACIONAL / PÁG. A8

ALLAN TANNENBAUM/REUTERS – 6/6/2011

O dólar caiu ontem pelo quarto dia seguido e fechou o mês de junho e o primeiro semestre do ano valendo R$ 1,5610. É a menor cotação desde 19 de janeiro de 1999, quando o regime cambial sofreu mudança. ECONOMIA / PÁG. B5

Fifa adia anúncio do local da abertura da Copa ESPORTES / PÁG. E1

Maikon Leite estreia com gol e Palmeiras vence Réu. Strauss-Kahn volta à corte

Tempo na capital

22˚ Máx. 11˚ Mín.

Chuva no fim do dia

HOJE: 180 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 700 DIAS. PÁG. A11

ESPORTES / PÁG. E3

NOTAS & INFORMAÇÕES

O governo na vitrine O governo decidiu investir sua reputação na fusão dos grupos Pão de Açúcar e Carrefour. PÁG. A3


A2 Espaço aberto %HermesFileInfo:A-2:20110701:

O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 1 DE JULHO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

Muito mais alimentos, sem reduzir a pobreza ✽ ●

WASHINGTON NOVAES

N

a reunião em que foi eleito diretorgeraldaOrganizaçãoparaaAlimentação e a Agricultura (FAO), da ONU,hápoucosdias,oex-ministro brasileiro José Graziano da Silva assegurou – com sua experiência de gestor do programa de combate à fome entre nós – que estaseráasuaprioridade:enfrentar esse problema no mundo, para que até 2015 o número de carentes de alimentos no planeta, hojeemtornode1bilhão,sereduza à metade. “É o desafio do nosso tempo”, disse na ocasião o exsecretário-geraldaONUKofiAnnan,lembrandoqueumdoscomplicadoresdessaquestão,“oprotecionismo dos ricos” à sua produção de alimentos, só tem aumentado. E isso quando a própriaFAOalertaqueospreçosdessesprodutos continuarão asubir nos próximos dez anos. E que a produção precisará crescer 70% até 2050, para alimentar os 9,2 bilhões de pessoas que estarão no mundo nessa época. Não é a única preocupação de Annan. Ele alertou também para os crescentes compra e arrendamento de terras em outros países por especuladores e fundos dealtoriscodepaísesindustrializados. Só em 2009 foi comprada na África uma área equivalente ao território da França (FAO, 27/6). São movimentos decorrentes das incertezas econômicas do mundo, com investidores buscandogarantiasreais,nomomentoemqueospapéisfinanceiroschegampertodeUS$600trilhões, para um produto bruto mundial na casa dos US$ 60 trilhões anuais. E no momento em que Nouriel Roubini, um dos pouquíssimos economistas a preveracrisede2008-2009,alerta(Estado, 23/6)para oforte aumento do“risco de umaparada e um duplo mergulho em economias avançadas”, em seguida a altas pronunciadas nos preços dealimentos,petróleoecommodities, que fazem “ressurgir o espectro da inflação”. Em reunião do G-20, nos mesmosdias,opresidentedaFrança, Nicolas Sarkozy, afirmou que os mercados agrícolas, “os menos transparentes”, vão se transformando, “sem regras, em loteria, na qual a sorte sorri para os mais cínicos”. Por isso mesmo, o Brasil declarou seu apoio aum Sistema de Informações dos Mercados Agrícolas, administrado pela FAO,quepossacoibirmovimentos indesejáveis nessa área. Mas não aceita um mecanismo de estabilização de preços agrícolas. Para o ministro da Agricultura brasileiro, o único caminho para

isso é “aumentar a produção”. Tudo acontece num cenário paradoxal. Um relatório da própria FAO – Perdas globais de alimentos e desperdício de comida – assegura (11/5) que um terço dos alimentos produzidos no mundo, cerca de 1,3 bilhão de toneladas anuais, se perde ou é desperdiçado.São670milhõesdetoneladas nos países industrializados e 630 milhões nos demais. Os consumidores ricos,diz o documento, desperdiçam 222 milhões de toneladas de frutas e hortaliças – tanto quanto toda a produção de alimentos na África. Isso quer dizer um desperdício per capita de 95 a 115 quilos anuaisnosEUAenaEuropa.Nessa mesma hora, lembra o Banco Mundial, com a crise no Oriente Médio e na África, o preço dos alimentos ali já subiu 36%. Mas o que se fará? Estender a

Não se consegue sair de perto do número terrível de 1 bilhão de famintos no planeta

maisde R$ 150 bilhões anuais pagosemjurosabancoseinvestidores em papéis da dívida. Nãohádúvidade quejásomos osegundomaiorprodutordealimentos no mundo, atrás apenas dos EUA. E o Ministério da Agricultura espera aumentar a produção em 23% em uma década. Mas, como observa o ex-ministro Rubens Ricupero (Folha de S.Paulo, 26/6), esse desenvolvimento só se sustentará se formos capazes de encontrar soluções para “os desafios do meio ambiente”.Parajustificarapreocupação lembra ele números citados pelo também ex-ministro José Carlos Carvalho: “No Vale do Rio Doce, um hectare sustentava 2,8 cabeças de gado; hoje, mal chega a 0,6”. E assim vamos no mundo dos paradoxos. A produção de alimentoscresce,sobemospreços, “commodities” transformamse em garantia para investimentos, juntamente com a compra de terras em países mais pobres. Mas não se consegue sair de perto do número terrível de 1 bilhão de famintos no planeta, 40% da humanidade vivendo abaixo da linha da pobreza. A China caminhandoparasetornargrandepotência, mas Xangai, sua cidade mais populosa (acima de 20 milhões de habitantes), baixando legislação para proibir que cada famíliatenhamaisdeumcachorro – a política do “cachorro único” (ainda assim, mais de 5 milhões de cachorros; de quanto se precisará para alimentá-los?).

todoomundoopadrãodeconsumo de alimentos já vigente nos países mais ricos? E como? Há quase duas décadas o Programa dasNaçõesUnidasparaoDesenvolvimento(Pnud)chamaaatenção: para isso seriam necessários mais dois ou três planetas como aTerra. Lester Brown, diretor do Earth Policy Institute, acha (New Scientist, 5/2) que a “bolha de alimentos” vai tornando insustentável a situação da água e da terra. Na Índia, 175 milhões de ✽ pessoas são alimentadas com JORNALISTA grãos produzidos com água reti- E-MAIL: WLRNOVAES@UOL.COM.BR rada em maior quantidade que a reposta. Na China são 130 milhões. Segundo Brown, metadedapopulaçãomundial SINAIS PARTICULARES já vive em países com escassez deágua–“eestanoitemais219 mil pessoas se terão acrescentado à população mundial” (mais de 80 milhões por ano). Trazendo para o Brasil a questão do combate à fome, que será preciso fazer? SegundooIBGE,10milhõesdebrasileiros vivem com até R$ 39 por mês; 4,8 milhões moram em domicílios sem renda alguma; aotodo,apopulaçãode “miseráveis” chega a 16,2 milhões (equivalenteàpopulaçãototal do Chile); abaixo da linha da pobreza – R$ 70 por mês – estão 8,5% dos 190 milhões de habitantes; 5,7 milhões vivem com R$ 40 a R$ 70 por mês; só no Estado de São Paulo são 1.084.402 “miseráveis”. O governo federal pretende investir R$ 20 bilhões para enfrentaroproblema,dosquaisR$16 bilhões do Bolsa-Família (que é a única renda de 88% dos 13 milhões de beneficiários). Maisumavez,pode-secompaParalelos e meridianos: até 24/7 rar esse investimento com os

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

O que faz a diferença ✽ ●

JOÃO MELLÃO NETO

P

rezada dona Dilma Rousseff, esta não é a primeira carta que lhe escrevo e não há de ser a última. Comecei a escrever para a senhora ainda quando era, por assim dizer, a primeira-ministradoentãopresidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mais precisamente, quando elemanifestou odesejodefazêla sua sucessora. A senhora achaqueécoisapessoal?Deforma alguma! Eu tenho escrito a todos os presidentes da República, há décadas. Essa é uma forma de levar a eles as verdades que os seus áulicos se abstêm de lhes transmitir. Euemuitosmaistemosojeriza ao seu partido e a tudo aquilo que representa. Sinceramente, achamosqueamaioriadosseus correligionários – ao menos aqueles que gozam de algum provento ou benesse pública – é hipócrita. Eles estão no poder e insistem em fazer um discurso oposicionista, condoreiro e arrebatado. Quando é que eles vão acordar? Ou melhor, quando é que nós vamos acordar? Para mim, sinceramente, não há nenhuma diferença entre corruptosdeesquerdaecorruptos de direita; entre homicidas de um lado ou de outro. Por que o Cesare Battisti haveriadesermelhordoqueoJorge Rafael Videla? Ambos transgrediramasregrasmaiselemen-

LOREDANO

tares de uma sociedade civilizada. Só que o primeiro, alegando ter agido em nome de uma causa justa, está livre e solto no Brasil. Já o segundo cumpre prisão perpétua na Argentina. Teria Videla tido melhor sorte se tivesse fugido para cá? Não há nada de novo nisso. Juan Domingo Perón, desde meados da década de 1940, já agia assim. E até hoje o partido dele elege presidentes – e presidentas – da República platina. SejacomHugo Chávez(Venezuela), Evo Morales (Bolívia) ou Rafael Correa (Equador), o fato é que esse discurso populista de esquerda se vem alastrando como uma praga pelo nosso continente. Essa gente fala em igualdade enquanto só dá guarida aos seus. Eles tacham os seus opositoresde fascistas,mas praticamomaisescancarado corpo-

Naquilo em que Lula pecou por excesso, Dilma hoje corre o risco de ser marcada pela escassez rativismo. É aquela velha história: para nós, tudo; para os outros, o rigor da lei. E temos de ficar precavidos. Quem fala em liberdade é visto como de direita. Os da esquerda preferem falar em libertação. Estes últimos são arrogantes porque entendem que todos os seuseventuaismalfeitosnãopassam de “acidentes de percurso”. Os fins justificam os meios. Tudo se perdoa quando a causa é a justa. Afinal, eles acreditam ser os únicos e legítimos porta-vozes dos mais humildes. Quem está com a razão? Provavelmente nenhum. Masnãolheestouescrevendo por isso. Embora eu não tenha apoiado a sua candidatura a presidente da República, entendo que todos nós, brasileiros, devemos torcer paraqueo seu governodê certo. Até porque o pior que pode acontecer é o seu antecessor voltar. Temos notado, nestes seus primeiros seis meses de governo, a sua opção por uma menor exposição pública. Nasraras vezesem queapareceu, mostrou-se reservada e comedida. Aqui, na planície, eu posso garantir-lhe que o seu comportamento recatado lhe tem assegurado o apoio de gente que a senhora nem imagina. São pessoas que lhe negaram os seus votos por entenderem que o seu governo seria uma continuação do de seu mentor. E adotaria o mesmo estilo falastrão e bravateiro de se comunicar. Quantos despautérios, meu Deus! E os seus acólitos aindapretendiam,poucotem-

po atrás, criar uma nova língua portuguesa.Feitasobmedidapara o jeito especial de ele falar. Nesse sentido, o início de sua gestãosetemreveladoumaagradável surpresa. O que se teme, agora, é o contrário. Naquilo em que Lula pecou por excesso, a senhora, agora, corre o risco de ser marcada pela escassez. Estou falando de decisão e atitude. Já residi aí, pertinho de onde a senhora está, no Planalto Central.Entre as coisas que aprendi, uma das principais é que, diante das situações críticas, é melhor tomar uma decisão errada do que não tomar decisão nenhuma.Erro dáparacorrigir;indecisão, não. A senhora se lembra dos anos 1970?Poisnaquelaépoca,nosEstados Unidos, havia um presidente que ganhou a fama de ser indeciso, Jimmy Carter. Ele não conseguiu ser reconduzido ao cargo porque – na ânsia de encontrar as melhores soluções – quandosedecidiajáeratardedemais. Acabou sendo substituído por um ex-ator de cinema, Ronald Reagan. Os eleitores sabiamqueestetinhamenoscultura, mas o escolheram por demonstrar mais convicção. Dona Dilma, deixe de se ocupardasmiudezasda administração. Existem por aí muitos profissionais capacitados para cuidar disso. Ninguém precisa de uma presidente que seja apenas eficiente. O que se espera da senhora, agora, é liderança. E para tanto é preciso empunhar uma bandeira,sair dastrincheiras e mostrar o caminho. A senhora há de saber que os maiores oradores da Antiguidade foram Demóstenes, em Atenas, e Cícero, em Roma. Mas, provavelmente, desconhece qual era a maior diferença entre eles. Plutarco, historiador, biógrafo e ensaísta grego, comparou os dois, estudou a vida e a personalidade de ambos e não chegou a grandes conclusões. Cícero era mais culto e experiente, porque havia ocupado diversos cargos públicos. Quanto ao ateniense, o registro é de que o seu discurso era mais veemente. Quem, com grande perspicácia, veio a observar o que, de fato, os distinguia foi John F. Kennedy: “Quando, no Senado romano,Cícerodiscursava,as pessoascomentavam:‘Comoele fala bem!’”. Já com Demóstenes as reações eram outras. Após a sua fala, na Ágora,as multidões bradavam: “Marchemos!”. ✽ JORNALISTA, FOI DEPUTADO, SECRETÁRIO E MINISTRO DE ESTADO E-MAIL: J.MELLAO@UOL.COM.BR BLOG: WWW.BLOGDOMELLAO.COM.BR

Fórum dos Leitores PÃO DE AÇÚCAR Pimentel no olho dos outros...

O ministro Fernando Pimentel defendeu o apoio do BNDES ao Pão de Açúcar: “Como ele (o setor financeiro privado) não faz isso, o BNDES tem de atuar”. Não cabe ao setor financeiro privado adquirir ações de uma empresa, como o BNDES pretende – por determinação do Banco Central, bancos privados tiveram de se desfazer de participações acionárias. Mas supondo que não houvesse esse obstáculo, restam dois outros fatores impeditivos. Em primeiro lugar, a dificuldade de financiamentos a longo prazo, por não haver liquidez para papéis bancários de prazo compatível. Em segundo, o setor privado não dispõe das generosas “injeções” de recursos do Tesouro – financiadas pelo contribuinte. Quanto à potencial “invasão” dos produtos brasileiros, pela

porta assim aberta, nas prateleiras dos hipermercados mundo afora, até o momento a parceria com o Casino não produziu efeitos de monta. Um assento, hipotético, no Conselho de Administração da matriz do Carrefour produzirá? Emitir ruídos é fácil. ALEXANDRU SOLOMON alex191243@gmail.com São Paulo

Dinheiro público, sim

Quando é que o BNDES e o BNDESPar foram privatizados, para o governo ficar dizendo que o empréstimo de R$ 4,5 bilhões ao Pão de Açúcar não é dinheiro público? É dinheiro público, sim! Qual a origem dos recursos do BNDES? Parem com isso. Respeitem os ouvidos do povo. Acham que todos são cegos? PANAYOTIS POULIS ppoulis46@gmail.com Rio de Janeiro

Acham-nos tolos!

Pão de Açúcar e Carrefour: onde está a lógica do investimento público de R$ 4,5 bilhões para concentrar a venda de arroz e feijão? Que falta de seriedade com o nosso dinheiro, presidente! HONYLDO R. PEREIRA PINTO honyldo@temfoto.com.br Ribeirão Preto

Felicidade

Com tantos bilhões assim, vale o slogan: “O Pão de Açúcar é lugar de gente feliz”. Que o diga o sr. Abílio Diniz... JOSÉ EDUARDO ZAMBON ELIAS zambonelias@estadao.com.br Marília

Pot de Sucre

Dom Paulo Evaristo Arns salvou

o sr. Abílio Diniz dos sequestradores, em 1989. Agora, para o segundo salvamento, foi convocada a presidente Dilma Rousseff. Será o bondinho da alegria, só que esqueceram de combinar com o Casino. JOSÉ FRANCISCO PERES FRANÇA josefranciscof@uol.com.br Espírito Santo do Pinhal

Fusão bem-vinda

É natural que um ministro do PT aprove a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour sob as bênçãos do BNDES. Quanto maiores os oligopólios, maiores as contribuições de campanha para o partido. E no fim quem paga tudo é o povo, quer na forma de impostos, quer na forma de preços. E há gente que ainda acha que esse partido tem DNA socialista... HERMÍNIO SILVA JÚNIOR hsilvajr@terra.com.br São Paulo

PT Vladimir Palmeira

Mais um dos fundadores do PT se retira por não concordar com os “rumos” depreciativos que o partido está tomando. Vladimir Palmeira não aguentou a decepção na volta triunfante do “tesoureiro” Delúbio Soares às hostes dos petistas. Pelo andar da carruagem, só sobrarão os aloprados no “Partido dos Trabalhadores”. A conferir. LEILA E. LEITÃO São Paulo

CENSURA 700 dias!

Não consigo acreditar que após mais de 25 anos do fim da ditadura o jornal O Estado de S. Paulo esteja há 700 dias sob censura. O Supremo Tribunal Federal julga que a marcha pela liberali-

zação da maconha não pode ser proibida por causa da liberdade de expressão. Mas o Estadão, sim, pode ser censurado?! Este caso mostra como a nossa Justiça é cega. ROBERTO SARAIVA ROMERA robertosaraivabr@gmail.com São Bernardo do Campo

ESCLARECIMENTO Dia do Orgulho Hetero

Em que pese o respeito que tenho pelo Estado e pelo jornalista, a reportagem Dia do Orgulho Hetero paralisa 27 projetos para São Paulo (23/6) não corresponde em sua totalidade à verdade dos fatos. Primeiro: o projeto x-tudo não foi votado a pedido do líder do governo por não ter acordo. Segundo: em 22/6 havia três sessões convocadas para votar 26 projetos dos vereadores. A discussão do Dia do Hetero só obstruiu uma sessão. As outras


O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 1 DE JULHO DE 2011

Nacional A11

Cruz Vermelha alerta para violência contra mídia Em evento da Abraji, entidade mostra números que apontam aumento das mortes de jornalistas em coberturas de guerras recentes, como a do Iraque Isadora Peron

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha está preocupado com o aumento da violência contra a imprensa em conflitos armados. “Morreu mais jornalista na Guerra do Iraque do que nos 20 anos de Vietnã”, disse Sandra Lefcovich, assessoradecomunicaçãodaentidade. O alerta foi feito ontem, em SãoPaulo, no6.º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela AssociaçãoBrasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Segundo dados da organização Repórteres sem Fronteiras, desde o início da guerra no Iraque,em 2003, morreram 230jornalistas. No Vietnã, entre 1955 e 1975, 63 profissionais de imprensa perderam a vida. Ciente dessa situação, a Cruz Vermelha mantém uma linha direta para jornalistas em missões perigosas, que pode ser acionada pelos meios de comunicação quandooprofissionalestiver desaparecido ou ferido. O correspondente do Estado em Paris, Andrei Netto, também participou da conferência. Net-

to, que ficou oito dias preso quando estava na Líbia cobrindo as rebeliões contra o ditador Muamar Kadafi, em março, afirmou: “O mais seguro é não partir”. Mas, segundo ele, no momento em que o repórter decide deixararedação, há algumasmedidasbásicas quepodemseradotadas para garantir a segurança. Ojornalistasugeriu,porexemplo, participar de cursos de treinamento promovidos por órgãoscomoaprópriaCruzVermelha,oExércitoBrasileiroeoCentro Argentino de Treinamento Conjunto para Operações de

Paz (Caecopaz). “Esses cursos ensinam comportamentos que se tornam reflexos em momentos de estresse. Eles são uma boa oportunidade para aprender sobre os riscos inerentes a áreas de conflito”, explicou. Alémdisso,Nettodisseser importante ter noções de primeiros-socorros, levar colete à prova de bala e capacete, e manter contato constante com os editores e familiares, para que eles tenham condições de acompanhar os passos do jornalista, mesmo que à distância. Na volta para casa, Netto destacou a necessidadedeapoiopsicológico, por conta do estresse pós-traumático que decorrem dessas situações. “Ninguém está preparado para ser preso e pensar 24 horas por dia que vai morrer.” Netto destacou ainda que jornalistas não correm riscos apenas ao cobrir guerras em países estrangeiros,mastambémemfavelas e conflitos agrários dentro do Brasil. “Regiões de conflito não são apenas áreas remotas do mundo, elas podem estar do lado da nossa casa.” Homenagem. O Congresso da

Abraji começou ontem e segue até amanhã. Hoje, às 11h, o jornalista Rosental Calmon Alves, diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, será homenageado em sessão solene. À tarde, o diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, fala sobre o novo projeto gráfico do jornal Estado, lançado em março de 2010.

‘Estado’ está sob censura há 700 dias Desde29dejaneirode2010,oEstado aguarda definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar informações sobre a

AYRTON VIGNOLA/AE

Preparo. Curso ajuda a enfrentar situações tensas, diz Netto

PROGRAMAÇÃO Hoje

9h: Investigação em Brasília: caminhos e descaminhos do dinheiro público

11h: Sessão solene: homenagem a Rosental Calmon Alves

11h: Investigação em esportes: conluios da Fifa e do COI

14h: Novos projetos gráficos

ESPECIAL PARA O ESTADO

Depois de dez dias foragido, o prefeito de Senador Pompeu (CE), Antônio Teixeira Oliveira (PT), está preso em uma das celas do quartel do Corpo de Bombeiros em Fortaleza. O anúncio da prisão foi feito na manhã de ontem, pela Secretaria de SegurançaPúblicaeDefesadaCidadania do Ceará. Além do prefeito, mais 35 pessoas estão envolvidas em um esquema de corrupção que teria desviado mais de R$ 3 milhões da Prefeitura de Senador Pompeu,segundoinvestigaçãodoMi-

11h: Lei de Acesso a Informações Públicas no Brasil: Mapa de Acesso 2011

16h: Acesso a Informações Públicas: exemplos que vêm de fora

14h: Cobertura política em Brasília: a era dos escândalos

16h: O jornalismo e os tablets: quando a forma é conteúdo

16h: O futuro do jornalismo investigativo

Operação Boi Barrica, pela qual a PolíciaFederal investigou a atuaçãodoempresárioFernandoSarney.A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, JoséSarney(PMDB-AP), ojornal foiproibidopeloTribunaldeJustiça do Distrito Federal (TJ-DF), em julho de 2009, de noticiar fatos relativos à operação da PF. No dia 18 de dezembro de

2009, Fernando Sarney entrou com pedido de desistência da ação contra o jornal, mas o Estado não aceitou. No dia 29 de janeiro de 2010, o advogado ManuelAlceuAffonsoFerreiraapresentou ao TJ-DF manifestação em nome do jornal sustentando apreferênciapeloprosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado.

Preso prefeito que fugiu em ônibus com mais 35 Lauriberto Braga / FORTALEZA

Amanhã

9h: WikiLeaks: Impactos dos vazamentos para o jornalismo investigativo

nistérioPúblicoEstadual.O processo aponta fraudes em licitações para a realização de obras fantasmas(construçãoerecuperação de estradas, criação de calçamentoemviasurbanasereformas em escolas e unidades de saúde entre 2007 e 2009). Oliveira foi afastado da prefeitura pelo desembargador Darival Bezerra Primo e teve sua prisão preventiva decretada em 21 de junho. O petista é acusado de formação de quadrilha, peculato,lavagemdedinheiro efalsidade ideológica, além de ocultação de bens, direitos e valores. Dos36mandados de prisãoex-

pedidospelaJustiça,apenasquatro foram cumpridos até agora. Estão presos, além do prefeito, o vice-prefeito Luis Flávio Mendes de Carvalho, um radialista e um funcionário de uma empresa. Estão foragidos secretários municipais, empresários e funcionários de cinco empresas arroladas no processo. Ônibus. Oliveira estava foragidodesde23dejunho,quandodeixouacidadeemumônibusalugado, levando os outros 35 suspeitosdecorrupção.Diante dasacusações, o PT instaurou uma comissão de ética para avaliar a expulsão do prefeito. A Ordem dos AdvogadosdoBrasil (OAB) também estuda uma punição, pois, ao assumir a prefeitura, Oliveira deveria ter pedido licença da entidade, mas não o fez.


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

2 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00* ANO 132. Nº 42991

estadão.com.br

EDIÇÃO DE 0H15

SÁBADO Sabático

● Augusto

de Campos

Oswald é um solitário pensador original. PÁG. S4

Antropofagia O impacto de Oswald em todas as dimensões

● Zé Celso

No teatro de Oswald, nos descobrimos nus. PÁG. S5

Estadinho

C2+música

Carisma animal Um guia sobre os pinguins, que estão sempre em cartaz

RINGO

No Brasil, o baterista quer provar que é mais que um cara de sorte

A vez de

FRANK POLICH/REUTERS

BNDES admite deixar fusão no varejo Pressionado, banco diz que só discutirá injeção de até R$ 4,5 bi no negócio entre Pão de Açúcar e Carrefour se sócios se entenderem O BNDES ameaça abandonar a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour se não houver acordo entre Abilio Diniz e seu sócio, o grupo francês Casino. É uma estratégia de saída do banco estatal, que vem sendo criticado por ter se comprometido a analisar um aporte de

Esportes

Cesar Cielo é flagrado em antidoping

até R$ 4,5 bilhões na fusão. Ontem e anteontem, o BNDES divulgou duas notas à imprensa dizendo que o apoio aoprojetosebaseianapremissado“entendimento amigável entre os atores privados”. Os dois lados envolvidos na disputa estão fazendo pressão no ban-

co. Ontem, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, se reuniu com Abilio, preocupado com o possível recuo. Aoaceitar avaliarafusão entreo Pão de Açúcare os ativos do Carrefour no Brasil, o BNDES foi envolvido em uma disputa societária. ECONOMIA / PÁG. B20

ABILIO DINIZ

Colunista

DONO DO PÃO DE AÇÚCAR

✽ Celso Ming ●

O episódio escracha a atual promiscuidade entre interesses públicos e privados. ECONOMIA / PÁG. B2

Justiça de NY solta Strauss-Kahn Promotoria descobre que suposta vítima de estupro mentiu e caso perde força

LUCAS JACKSON/REUTERS

“Estou sendo muito criticado, mas acredito que a fusão será boa para o País e para os brasileiros”

Chávez mostra de Cuba que ainda manda Roberto Lameirinhas ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

O nadador Cesar Cielo foi flagrado emexame antidopingpor usodediurético que mascara substâncias dopantes. Ele foi apenas advertido pela confederação brasileira de natação, mas a federação internacional pode exigir punição maior. PÁGS. E1 a E3

Em mais uma tentativa de demonstrar queadoençadeHugoChávez,queadmitiu ter câncer, não provocou um vácuo de poder, o governo venezuelano pôs no ar ontem uma reunião ministerial liderada pelo presidente, direto de Havana. Mas o mistério sobre seu retorno ao país e sobre o tipo de tumor preocupa aliados. INTERNACIONAL / PÁG. A21

Censo com lupa

Texto de Serra a tucanos critica herança do PT

BRASIL EM DETALHES EPITACIO PESSOA/AE

Documentoelaboradopeloex-governador José Serra e apresentado por ele ao Conselho Político do PSDB afirma que o governo Dilma Rousseff é incompetente e autoritário. O PT, diz ele, deixou uma “herança maldita”. O texto não contou com o aval de todos os integrantes do conselho. NACIONAL / PÁG. A4

Pipa. Menino na Vila Eduardo

Reviravolta. Strauss-Kahn deixa tribunal de Nova York depois de ter sido liberado da prisão domiciliar

O IBGE agora oferece dados do Censo por quarteirões. Na Vila Eduardo, em SP, 52% têm menos de 12 anos. METRÓPOLE /PÁGS. C1, C3 e C4

A Justiça de Nova York livrou da prisão domiciliaroex-diretordoFMIDominique Strauss-Kahn, acusado de ter estupradouma camareiranumhotel. Apromotoria descobriu que a acusadora al-

Só banda larga móvel deve custar R$ 35 ECONOMIA / PÁG. B1

terou o depoimento referente aos momentos seguintes ao incidente e enfraqueceu seu testemunho. Admitindo que a camareira “cometeu alguns erros”, seu advogado disse que “isso não

LOURDES SOLA A herança de Lula A piora nas condições de governabilidade política vem do presidencialismo de coalizão, que é parte do legado do governo Lula.

PAUL KRUGMAN No limite O fracasso em elevar o teto da dívida obrigaria os EUA a fazer cortes numa escala que tornaria insignificante a austeridade imposta à Grécia.

SERGIO AUGUSTO Paris não tem mesmo fim Mal saído do novo filme de Woody Allen, três outros guias literários me levaram até ela, em menos de uma semana.

ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2

ECONOMIA / PÁG. B15

SABÁTICO / PÁG. S2

significa que ela não tenha sido vítima de estupro”. Strauss-Kahn quer disputar as primárias do Partido Socialista para as eleições presidenciais da França em 2012. INTERNACIONAL / PÁG. A12

Tempo na capital 23˚ Máx. Tempo instável, 13˚ Mín. com chuva 130 PÁGINAS (28 DE CLASSIFICADOS) * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 701 DIAS. PÁG. A9

Câmara de SP aprova isenção para o Corinthians ESPORTES / PÁG. E4

NOTAS & INFORMAÇÕES

Governo e BNDES recuam A presidente parece haver percebido mais claramente o perigo de se envolver na fusão no varejo. PÁG. A3


A8 Nacional %HermesFileInfo:A-8:20110702:

O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 2 DE JULHO DE 2011

Relatório do MP aponta caixa 2 de 11 candidatos

JOSE PATRICIO/AE–12/4/2011

Planilha de agência de publicidade que atende Prefeitura de Campinas traz nomes e valores, divididos nas categorias ‘com nota’ e ‘sem nota’ Fausto Macedo

Relatório de inteligência do Ministério Público Estadual em Campinas aponta suposto caixa 2 de campanha de pelo menos 11 políticos que nas eleições de 2010 se candidataram a deputado estadual ou federal. Um dos nomes citados no documentoé o do deputadoestadual Gérson Bittencourt (PT), ex-secretário de Transportes da gestão Marta Suplicy (2001-2004) e do governo Dr. Hélio (PDT), prefeito de Campinas. Por ordem do juiz Nelson Augusto Bernardes de Souza, da 3.ª Vara Criminal de Campinas, os dados serão encaminhadas ao Tribunal Regional Eleitoral e à ProcuradoriaRegional Eleitoral. A essência do relatório é uma planilha de contabilidade em papel timbrado de uma agência de publicidade e editora que mantém contratos com a prefeitura e com a Sanasa, companhia de saneamento deCampinas. A planilha traz nomes e valores, distribuídos em duas categorias: “com nota” e “sem nota”. Ela foi apreendida no dia 20 de maiopelaCorregedoriadaPolícia CivilnaresidênciadeCarlosHenriquePinto,ex-secretáriodeSegurança de Campinas, que se candi-

datou a uma cadeira na Câmara, mas não se elegeu. Também foram encontrados R$ 32 mil em dinheiro na casa do investigado. Carlos Henrique é homem de confiança de Dr. Hélio e um dos alvos da devassa que a promotoria executa na administração do pedetista. Em junho, ele ficou preso quatro dias. “O documento (planilha) retrata possíveis despesas de campanhas de alguns candidatos a deputado (federal e estadual), que concorreram nas eleições em 2010, que não foram informadas à Justiça Eleitoral, o que evidencia eventuais irregularidades eleitorais”, assinala o relatório. Conduta ilícita. Os promotores

do Gaeco, braço do Ministério Públicoquecombatecrimeorganizado e corrupção, suspeitam que as campanhas foram “possivelmente custeadas através de recursos não contabilizados, o que pode configurar grave con-

● Movimentação

A contabilidade paralela indica movimentação total de R$ 717.003 – R$ 386.234 mil com emissão de nota e R$ 330.769 mil sem nota (despesas de campanha não declaradas).

duta ilícita”. A força-tarefa da promotoria destaca que a planilha aponta relação de políticos – alguns são vereadores em Campinas, outros ocupam cargos no secretariadodeDr.Hélio–quecontrataram os serviços da agência e por eles fizeram pagamentos que não teriam sido contabilizados. “Ocorre que nessa lista surgem valores pagos à agência acompanhados e desacompanhados de notas”, aponta a promotoria. O relatório cita outros nomes: o ex-vereador e atual secretário de Urbanismo de Campinas, Luis Yabiku (PDT); os vereadoresLeonicedaPaz(PDT)evereadorThiagoFerrari(PMDB);osecretário de Trabalho e Renda do município Sebastião Arcanjo, o Tiãozinho (PT); e um ex-viceprefeitodeBragançaPaulista,conhecido por Joca. Os promotores confrontaram os valores declarados pelos políticos ao TRE e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com os valores lançados na planilha. “Pelo mapeamentoconcluímosquevários desses candidatos tiveram despesas de campanha não indicadasàJustiça eleitoralo quedemonstra utilização de dinheiro não contabilizado, ou prática do chamado caixa 2”, argumenta o Ministério Público.

Investigação . O deputado do PT, Gérson Bittencourt, é citado em relatório da promotoria

Citados negam irregularidades na campanha ● O deputado estadual Gerson

Bittencourt (PT) rechaçou “qualquer possibilidade de caixa 2” na campanha. Por meio da assessoria de imprensa, ele disse que não teve acesso aos documentos da promotoria. Segundo o deputado, “a Arte Brasil prestou serviço

de campanha no valor de R$ 242.433,00 distribuídos em 18 notas fiscais e as informações são públicas, constam do site do TRE”. Bittencourt disse que nenhum investigado participou da coordenação de sua campanha, “nem na comunicação, nem nas finanças, portanto, não tinham qualquer atribuição para produção de materiais ou pagamento”. Bittencourt afirmou que sua prestação de contas foi aprovada pelo Ministério Público Eleitoral

Eike defende Cabral e diz não ver problemas em ceder jato Empresário alega que seu grupo empresta aviões a amigos e funcionários: ‘Se fosse ilegal, eu jamais faria’ Sergio Torres / RIO

O empresário Eike Batista, dono dogrupoEBX,saiuontememdefesa do governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), que passapelapiorcrisedosseusquatro anos e meio de mandato. Eike classificou como “perfeito” e “maravilhoso” o projeto do peemedebista de criar um código de éticaqueregule asrelaçõesentre governantes e o empresariado. A proposta foi apresentada na

quarta-feira, dez dias após Cabral usar um jato particular do empresário para viajar à Bahia, onde iria participar dos festejos de aniversário de Fernando Cavendish, dono da Delta Construções. Eike emprestou sua frota ao governador em pelo menos mais uma ocasião: em 2009, quando Cabral e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, foram para a Dinamarcadefenderacandidatura da cidade à sede da Olimpíada. Eike definiu o grupo empresarial que controla como “diferenciado”,poiscedeseusjatosaamigos e funcionários. Ele confirmoutambémquefezdoaçõespara campanhas deCabral e de “vários” outros políticos que elegeram-se governadores em 2010. “Se as pessoas não têm recur-

sos, se você acredita na linha de conduta que esse governador vai fazer,eufaço”, afirmou oempresário, após participar de solenidade na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro. “Que se estabeleça esse código de conduta. O governador falou, é isso aí. É o que tem que fazer. Vamos respeitar o código. A genterespeitaas regrasdojogo”,disse o empresário. O fato de emprestar um jato para o governador não significa, para Eike, que haja um comprometimentodoEstadoembeneficiá-lo em suas atividades empresariais. “Se fosse ilegal, eu jamais faria. Não é”, disse ele, para quem suas doações “são para a cidade”.“UPPs(UnidadesdePolícia Pacificadora, principal progra-

ma de segurança pública do governo Cabral), Lagoa (Rodrigo de Freitas, que Eike banca a despoluição). Meus Deus, eu faço isso por todos vocês. Vocês moram no Rio? Eu dou porque acredito na democracia. Vocês acreditam na democracia?”, disse, questionando os jornalistas. Acidente. As relações entre Ei-

ke e Cabral foram expostas há duas semanas, quando o empresário emprestou seu jato para o governador ir à Bahia. O peemedebista foi com o filho Marco Antonioeanamorada dele,Mariana Noleto, participar dos festejos de aniversáriodotambémempresário Fernando Cavendish. A queda de um helicóptero que servia ao grupo provocou a morte de

Confete corintiano

LULA VAI VIRAR ENREDO DE CARNAVAL Torcedor fanático do Corinthians, ex-presidente será tema da Gaviões para o desfile de 2012 Daiene Cardoso

A

pós ganhar biografia,virartemadehistória em quadrinhos, aparecer como personagem do desenho animado South Park e ver sua vida contada na tela do cinema, o ex-presidente Luiz InácioLula da Silvaserá homenageado agora pelo carnaval de SãoPaulo.Ocorintianofanático foi escolhido pela Gaviões da Fiel como tema de seu desfile de 2012. A escola de samba paulistana anunciou ontem o enredo com título provisório “Verás que o filho fiel não foge à luta. Lula, o retrato de uma nação!”. Com a aprovação de Lula, a agremiação discutiu durante três meses com assessores do ex-presidente a proposta de homenagem. Segundo a escola,outrosdoistemasforamcogitados,masLulafoioescolhidopelasuaidentidadehistóricacomoCorinthianseavarie-

dadedeabordagensqueoscarnavalescos Delmo Moraes, Igor Carneiro e Fábio Lima terão para explorar na avenida. A ideia, de acordo com a escola, é homenagear o personagem que representao povobrasileiro,onordestino sofrido e sua identificação com o “time do povo”. A Gaviões pretendeusaraliteraturadecordel para contar a vida de Lula. Em nota, a escola afirma que não pretende fazer uma “panfletagem político-partidária” no sambódromodoAnhembi.“Aintenção desse enredo é prestar uma homenagem ao povo brasileiro,aosertanejosofridoe,especialmente, ao corintiano.” Paracontar essahistória, o povo brasileiro será o protagonista eopersonagemcentralseráo corintiano, metalúrgico e ex-presidente do Brasil. “Criando essa identidade, o enredo contará a história de lutas e vitórias da nação brasileira”, diz a nota. Neste ano, Lula declinou na última hora do convite para desfilarpelaTomMaior,quehomena-

CELSO JUNIOR/AE–27/7/2010

Fiel. Lula com camisa do time do qual é torcedor fanático geou São Bernardo do Campo. A expectativaéque,sendoogrande homenageadodaGaviõesdaFiel, ele não decepcione os corintianos que verão o desfile da escola. A popularidade de Lula costu-

ma render dividendos no mundo pop. Em 1995, uma frase do ex-presidente se transformou na música Luiz Inácio (300 picaretas), do Paralamas do Sucesso. Eleito “o cara” pelo presidente americano Barack Obama, acabou virando “ponta” em um episódio do South Park, em 2009, no qual fazia parte de uma comissão formada pelos principais chefes de Estado do mundo para livrar a Terradainvasãodeumbandido intergaláctico. Em 2010, o cineasta Fábio Barreto lançou Lula, o Filho do Brasil para contar suatrajetóriadesdeainfância pobre em Pernambuco atésetornarlíderdosmetalúrgicos do ABC. No ano passado, a editora Sarandi lançou a coleção História do Brasil em Quadrinhos, cujoprimeirovolumeaborda a história do ex-presidente.

Mariana, de Jordana Kfuri, mulherdeCavendish,edofilhodela. A Delta recebeu mais de R$ 1 ● Doações

EIKE BATISTA

EMPRESÁRIO, DONO DO GRUPO EBX

“Se as pessoas não têm recursos, se você acredita na linha de conduta que esse governador vai fazer, eu faço” “Se fosse ilegal, eu jamais faria. Minhas doações são para a cidade. “UPPs, Lagoa. Eu faço isso por todos vocês. Vocês moram no Rio? Eu dou porque acredito na democracia. Vocês acreditam na democracia?”

e pelo TRE “sem qualquer ressalva”. “Todos os materiais foram registrados e pagos conforme a legislação eleitoral.” O criminalista Marcelo Martins de Oliveira, que defende Carlos Henrique, foi taxativo. “Não tem nada de caixa 2. É uma planilha da Arte Brasil que pretendia receber por serviços. O Carlos não reconhece a dívida e questiona a agência para que informe precisamente sobre os serviços. A campanha foi transparente.”/ F.M.

bilhão em contratos na gestão Cabral e o grupo EBX obteve R$ 79,2 milhões de benefícios fiscais no mesmo período. O caso está sendo investigado pelo Ministério Público do Rio. Licitação. Ontem, o governo doRioabriu aspropostasda concorrência pública para a contratação de empresa que vai prestar serviçosdeassessoriadeimprensa e relações públicas para a administração. Apenas duas empresascompareceram.AFSBComunicações, que já cuida da conta do Palácio Guanabara, e a Companhia de Notícias (CDN). O valor máximo no edital era de R$ 18 milhões para um ano de contrato. As propostas vão passar por análise técnica e não há prazo para a conclusão do certame. Não foram divulgados os valores oferecidos pelas empresas. / COLABOROU ALFREDO JUNQUEIRA

Estado de Itamar é grave, diz hospital Marcela Gonsalves

BoletimmédicodivulgadoontempeloHospitalAlbertEinstein, em São Paulo, informou queoestadodesaúdedosenador e ex-presidente Itamar Franco (PPS-MG) é grave. O político, que completou 81 anos na terça-feira, está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desde 21 de maio, para tratamento de leucemia, e teve diagnosticada uma pneumonia. O tratamento dessa doença estásendofeito comcorticosteroides em doses altas. O senador encontra-se sob ventilaçãomecânica,combaixofluxo de oxigênio. Ao ser internado no Centro de Oncologia e Hematologia do Albert Einstein, Itamar foi submetido a tratamento de quimioterapia. Apesar da piora do estado de saúde por causa da pneumonia, o exame de medula óssea utilizado para avaliararespostaaotratamento do câncer mostrou remissão completa da doença, segundo o boletim médico.

‘Estado’ está sob censura há 701 dias Desde29dejaneirode2010,oEstado aguarda definição judicial sobreo processo que o impede de divulgarinformaçõessobreaOperaçãoBoiBarrica, pela qualaPolícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em julho de 2009, de noticiar fatos relativos à operação da PF. Em 18 de dezembro de 2009, Fernando Sarney desistiu da ação, mas o Estado não aceitou. Em29 de janeiro de 2010, o jornal manifestou preferência pelo prosseguimento da ação, a fim de que tenha o mérito julgado.


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

ANO 132. Nº 42992 EDIÇÃO DE 0H15

3 DE JULHO DE 2011 R$ 5,00*

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DOMINGO ITAMAR FRANCO ★ 1930

✝ 2011

O FIADOR DO REAL Faleceu ontem de manhã, em São Paulo (SP), o ex-presidente Itamar Franco, vítima de leucemia. Em seu mandato, Itamar deu início à estabilidade econômica do País, pondo fim à hiperinflação, com o lançamento do Plano Real. NACIONAL / PÁGS. A12 e A13

“Dirigente do País em um momento crucial da nossa história, Itamar nos deixa uma trajetória exemplar de honradez pública”

FHC

DILMA ROUSSEFF

EX - PRESIDENTE

EX - PRESIDENTE

“Se não fosse o apoio de Itamar não seria possível fazer o Plano Real”

LULA

“Foi um grande democrata, com uma vida pública dedicada ao Brasil”

PRESIDENTE

EDU GARCIA/AE–30/8/1989

Empresa de senador leva R$ 57 milhões da Petrobrás sem licitação Prestadora de serviços de Eunício Oliveira atuou no pré-sal da Bacia de Campos Uma empresa do senador Eunício Oliveira(PMDB-CE) assinou sem licitação contratos que somam R$ 57 milhões com a Petrobrás para atuar na Bacia de Campos, região do pré-sal, informa o repórter Leandro Colon. Documentos da estatal mostram que foram feitos, de

fevereiro de 2010 a junho de 2011, oito contratos com a Manchester Serviços, empresa contratada para fornecer mão de obra à estatal. A Manchester doou R$ 400 mil para a campanha do senador . A Petrobrás nega irregularidade. Oliveira não quis comentar. NACIONAL / PÁG. A4

● Cai a cúpula

dosTransportes

Quatro integrantes da direção do Ministério dos Transportes foram afastados ontem após revelação de suposto esquema de propina. NACIONAL / PÁG. A7

Entrevista Fernando Henrique Cardoso

‘Covas era meu candidato’

Ex-presidente ainda diz que agiu certo ao ficar neutro na campanha de Serra. Págs. A10 e A11 ● FHC ESCREVE ‘A SOMA E O RESTO’. PÁG. A2 SOBRE AS INSTITUIÇÕES

“O arcabouço da democracia no País está montado. Mas a alma, não” SOBRE A ECONOMIA

“Não adianta bater bumbo porque a economia cresceu e só” JONNE RORIZ/AE

Chávez doente agrava crise na Venezuela

ALEX SILVA/AE

Se a fusão entre a operação brasileira do Carrefour e o Grupo Pão de Açúcar for concretizada, as gigantes do varejo terão 69% das vendas do setor no Estado de São Paulo, concentrando no maior mercado consumidor do País o dobro doqueterãonacionalmente.“Aconcentração não será tão grande”, disse o controlador do Pão de Açúcar, Abilio Diniz, ao Estado. ECONOMIA / PÁGS. B1, B3 a B5

Roberto Lameirinhas ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

Revolta carcerária que se arrasta há quaseummês,racionamentodeenergia, violência urbana. Esses são alguns dos problemas dos venezuelanosaprofundadoscomaincertezasobre a saúde do presidente Hugo Chávez. INTERNACIONAL / PÁGS. A14 a A16

Congresso perde força no Brasil, mostra estudo

C2DOMINGO DESEJO PROIBIDO

ALIÁS

Dono de terra explora brecha no Código

● Relação entre

psicanálise e criação inspira mostra com 93 obras de Louise Bourgeois que chega ao Brasil

Fusão pode dominar 69% do varejo de SP

VIDA / PÁG. A24

Brasil no ataque

Seleção estreia hoje contra a Venezuela na Copa América e espera faturar o 3º título consecutivo na competição. ESPORTES / PÁGS. E1 e E2

MAC MARGOLIS A Venezuela sem Chávez Chávez talvez retorne, mas a perspectiva de sua ausência ou eventual incapacidade já joga o país num beco de poder de saídas difíceis.

DANIEL GARDNER Mao, Confúcio e Louis Vuitton Ultimamente, Mao Tsé-tung, ConfúcioeLouisVuittonandamseesbarrando no palco mais conhecido da China, a Praça da Paz Celestial.

JOÃO UBALDO RIBEIRO Vida de escritor Tem quem ache que os escritores só falam difícil, uma proparoxítona para abrir, uma mesóclise para dar classe e um tetrassílabo para arrematar.

INTERNACIONAL / PÁG. A14

VISÃO GLOBAL / PÁG. A16

C2 DOMINGO / PÁG. D4

Tempo na capital 19˚ Máx. Domingo chuvoso 14˚ Mín. e frio 212 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁG. A3 TIRAGEM: 303.623 EXEMPLARES

ESTADO SOB CENSURA HÁ 702 DIAS. PÁG. A9

Região dos Jardins é a que mais consome água METRÓPOLE / PÁG. C1

NOTAS & INFORMAÇÕES

Governo sanfona Dilma governa por ensaio e erro, e o seu governo é parecido com uma sanfona. PÁG. A3


%HermesFileInfo:A-9:20110703:

O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 3 DE JULHO DE 2011

Acesso a papéis sigilosos é sinônimo de poder, diz Unesco Lucas de Abreu Maia

A discussão em torno do sigilo eterno de documentos não leva em consideração que muitos políticos já têm acesso a esses textos, afirmou ontem Guilherme Canelas, representante do setor de comunicação e informação da Unesco no Brasil. “Muitos dos indivíduos que defendem o sigilo eterno já puderam acessar esses documentos”, disse, em debate sobre a Lei de Acesso à Informação no 6.º Congresso de Jornalismo Investigativoda Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). “Informação é poder e quem viu os documentos tem mais poder que os outros cidadãos.” A Lei de Acesso à Informação está em tramitação no Senado. A Casadebateosigilodedocumentos do governo classificados como ultrassecretos. O projeto aprovado pela Câmara estabelece o sigilo por 25 anos, renováveis por mais 25. Mas o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) defendem que o prazo possa ser renovado indefinidamente.

‘Estado’ está sob censura há 702 dias Desde29dejaneirode2010,oEstado aguarda definição judicial sobreo processo que o impede de divulgarinformaçõessobreaOperaçãoBoiBarrica, pela qualaPolícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em julho de 2009, de noticiar fatos relativos à operação da PF. Em 18 de dezembro de 2009, Fernando Sarney desistiu da ação, mas o Estado não aceitou. Em29 dejaneiro de2010, o jornal manifestou preferência pelo prosseguimento da ação, a fim de que tenha o mérito julgado.

Para Canela, a aprovação da normapeloSenado“é sóocomeço”. “A lei precisa ser implementada, e isso não vai acontecer sem investimentos concretos nessa área”, opinou. A regulamentação do acesso a dados públicos também é cru-

cial para o acompanhamento dos gastos do governo pela imprensa.Emdebatesobreafiscalização dos recursos públicos, os jornalistas Marta Salomon, do Estado, e Matheus Leitão, da Folha de S.Paulo, destacaram o papeldemecanismoscomooSis-

temadeAdministraçãoFinanceira (Siafi), do governo federal, e do Siga Brasil, no site do Senado, no trabalho do repórter. Marta apontou as obras de infraestruturaparaaCopadoMundo de 2014 como um possível foco de corrupção a ser acompa-

nhado pela imprensa. “O orçamento atual é estimado em R$ 24,2bilhões,masoprópriogoverno já admite que deve gastar R$ 33 bilhões”, afirmou. “São valores que inspiram atenção.” A jornalista ressaltou a parceria com os órgãos de controle,

Nacional A9

comoMinistérioPúblicoeTribunal de Contas da União (TCU), nacoberturadosgastosdogoverno. “O TCU tem um corpo técnico muito bom, e o Ministério Público tem um grupo de procuradores só para verificar as obras da copa.” “Nós (jornalistas) somos só os mensageiros para informar a sociedade sobre a doença da corrupção”, disse Leitão.

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Limão............................................... 3858-6405 Morumbi Shop-Lj Mundo................. 5181-7777 Plaza Sul Shop ................................. .2105-7600 Praça da Árvore ................................2577-0507 Pte. Rasa-Hiper Negreiros................2046-2668 São Miguel Hiper d’Avó .................... 2058-1662 Shopping D&D..................................3043-9347 Shopping D....................................... 3313-8340 Shopping Paulista ............................3286-0500 Socorro-Extra Fiesta.........................5524-9222 SP Market Shop ............................... .2103-1900 Tatuapé-Apucarana.......................... 2093-2093 West Plaza Shop ................................2117-2888 Grande São Paulo: Diadema Shop ..................................4057-8600 Guarulhos-Poli.................................. 2475-0321 Mogi das Cruzes-Centro ...................4798-2220

Mogi-Extra Mogilar..........................4790-2050 Osasco-Continental Shop................ .3716-3300 Osasco-Super Shop...........................3653-5300 S.B.Campo-Prestes Maia ..................4330-0966 S.B.Campo-Rudge Ramos................. 4362-1502 Sto. André-ABC Plaza Shop...............4979-5006 Sto. André-Rua das Figueiras ........... 4432-3288 Suzano Shop. ...................................2148-4600 Taboão da Serra-Hiper d´Avó............ 4138-8070 São Paulo Interior: Araras-Leme.....................................3554-7800 Atibaia.............................................. 2427-6597 Birigui ...............................................3211-2050 Bragança Paulista.............................4034-3020 Campinas-Shop. Prado.....................3276-3680 Campinas-Taquaral ..........................3254-3046 Campo Limpo Shop. .........................5513-8484

Caraguá Praia Shop ..........................3882-2004 Guarujá-La Plage.............................. 3347-7000 Itatiba .............................................. 4524-5536 Ituverava .......................................... 3839-1210 Jundiaí Paineiras Shop .....................3395-3688 Jundiaí.............................................. 4521-9288 Mogi Guaçu.......................................3818-6993 Mogi Mirim.......................................3814-6060 Piracicaba.........................................3433-9066 Poá....................................................4639-2000 Porto Ferreira ...................................3585-6551 Praia Grande-Litoral Plaza ...............3491-8000 Ribeirão Preto - Campos Elíseos.......3610-9948 Ribeirão Preto-Extra Hiper...............3442-8766 Ribeirão Preto-Novo Shop................2101-6400 Ribeirão Preto-Ribeirão Shopping ...4009-1403 Ribeirão Preto-Santa Úrsula ............2102-9646

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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

Segunda-feira 4 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00*

ANO 132. Nº 42993 EDIÇÃO DE 0H15

estadão.com.br

Caderno2

Metrópole

Link

Casamento perfeito Seriados de TV faturam com histórias de sucesso no cinema. Pág. D1

Férias Sobra gente e falta lugar para passeio de trem que sai da Luz. Pág. C6

Redes sociais Google lança o ‘Plus’ e chama Facebook para a briga por mais interação

FABRÍCIO MOTA/DIVULGAÇÃO

MARCOS DE PAULA/AE

Previdência faz plano para cortar déficit pela metade Propostatransfereacontadasisençõesfiscaisconcedidas por ministérios, aliviando orçamento da Pasta O déficit da Previdência pode ser reduzido à metade se for aprovado projeto de lei que desconcentra as contas do setor, devolvendo a cada ministério o rombo das renúncias de receita hoje contabilizadas no Ministério da Previdência, informa Lu Aiko Otta. O plano,criadopelo Ministério daPrevidência,aindavaisersubmetidoaoCongresso e retira da Pasta um impacto de perdão fiscal que de janeiro a maio somou

R$ 8,9 bilhões. O saldo negativo das contas previdenciárias no período foi de R$ 17,8 bilhões. O buraco das isenções ocorre em áreas como Educação, Saúde e até no Ministério da Fazenda. Embuscadecompetitividade, aFazendaliberouempresasdeagronegócioexportador do repasse de R$ 1,1 bilhão ao INSS. Na Educação, o corte de impostos para entidades filantrópicas foi de R$ 3 bilhões. ECONOMIA / PÁG. B1 Unanimidade. Velório de Itamar Franco reuniu Lula, Sarney, Temer, Collor e políticos de vários partidos

Escândalo pode derrubar ministro dos Transportes

Para WikiLeaks, EUA promovem a censura

O envolvimento da cúpula do MinistériodosTransportesem supostoesquema de propina enfraqueceu o ministro Alfredo Nascimento, que pode perder o cargo. No sábado, quatro de seus principais auxiliares já foram afastados. NACIONAL / PÁG. A4

“OsEstadosUnidospromovemaprivatização da censura”, disse o portavoz do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, em entrevista a Renato Cruz, ao citar os problemas que o site enfrenta,como bloqueio de doações via cartão de crédito. NACIONAL / PÁG. A9

Corpo de Itamar será cremado hoje Váriospolíticos,entre elesosex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Collor de Mello e José Sarney, compareceram ontem, em Juiz de Fora (MG), ao velório do senador Itamar Franco. A presidente Dilma Rousseff

Esportes

Brasil joga mal e só empata com a Venezuela

Confusão. Robinho e Daniel Alves se enroscam na briga pela posse de bola

Na estreia pela Copa América, a seleção brasileira não passou de um empate sem gols com a Venezuela, em LaPlata,Argentina.OesquemaofensivomontadopelotécnicoManoMenezes fracassou. / PÁGS. E1 a E3 Feminino. Marta fez dois gols e o Brasil bateu a Noruega por 3 a 0 no Mundial. / PÁG. E4

deve ir hoje a Belo Horizonte (MG), onde ocorrerá a cerimônia de cremação. Itamar Franco, presidente da Repúblicade1992a1994,morreunosábado, aos 81 anos, em São Paulo, vítima de leucemia. NACIONAL / PÁG. A8

Skinheads atacam grupo e são presos em São Paulo METRÓPOLE / PÁG. C1

Chávez promove militares em busca de apoio INTERNACIONAL / PÁG. A10

Gregos vão às ruas protestar por democracia ECONOMIA / PÁG. B8

Djokovic derrota Nadal e conquista Wimbledon ESPORTES / PÁG. E8

Despedida

‘PEDI UM PAR DE TÊNIS. ELE ME DEU’ Primeiro na fila do velório, Adão de Assis Ferreira, 47 anos, quis fazer a última homenagem a Itamar Franco porque, quando tinha 10 anos, o expresidente deu a ele o seu primeiro par de tênis. NACIONAL / PÁG. A8

Morre o poeta Mário Chamie O poeta Mário Chamie, de 78 anos, faleceuontem,emSãoPaulo.Mesmodebilitado,vinhaescrevendopoemasquereuniria em livro. CADERNO 2 / PÁG. D8

Negócios

Abilio quis rediscutir acordo com Casino

ALEX SILVA/AE

GERHARD SPÖRL Obama muda o rumo A Casa Branca percebeu que não dá para manter a guerra no Afeganistão com os EUA em crise econômica. Obama dá prioridade à reconstrução.

CARLOS ALBERTO SARDENBERG Uso do dinheiro público Parque Augusta, numa das regiões mais valorizadas da capital, é um caso exemplar de socialização de custos e privatização de benefícios.

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO Procura-se maquinista A locomotiva paulista está ficando para trás. Enquanto outras metrópoles pisam no acelerador da renda, São Paulo roda com freio de mão puxado.

INTERNACIONAL / PÁG. A12

ECONOMIA / PÁG. B2

NACIONAL / PÁG. A7

Tempo na capital com 14˚ Máx. Frio chuva de 7˚ Mín. manhã HOJE: 64 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 703 DIAS. PÁG. A9

NOTAS & INFORMAÇÕES

Itamar, um político singular Nenhum outro presidente fez tanto, em tão pouco tempo, e sem violar a democracia. PÁGINA A3


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 4 DE JULHO DE 2011

Nacional A9

ENTREVISTA Kristinn Hrafnsson, Porta-voz do WikiLeaks

‘Enfrentamos a privatização da censura’ EPITACIO PESSOA/AE

Representante do site afirma que o governo dos EUA quer sufocá-los pressionando grandes empresas e nos tribunais Renato Cruz

No ano passado, o WikiLeaks foi presença constante na imprensa mundial, revelando informações confidenciais sobre as guerras do Afeganistão e do Iraque, sobre a prisão de Guantánamo e sobre mensagens de serviço diplomático dos Estados Unidos. Neste ano, a vida do WikiLeaks não está fácil. Seu fundador, Julian Assange, sofre processo de extradição do Reino Unido para a Suécia, onde é acusado de crimes sexuais. A Mastercard e a Visa bloquearam as doações ao site desde o fim de 2010. Além disso, o sistema de submissão de documentos ao WikiLeaks está fora do ar, depois de ter sido sabotado por um ex-funcionário. “Somos fortes o bastante para resistir a isso, porque a opinião pública está do nosso lado”, disse ao Estado Kristinn Hrafnsson, porta-voz do WikiLeaks. Ele acusa os Estados Unidos de estarem promovendo uma “privatização da censura”, ao pressionar grandes empresas a agirem contra o WikiLeaks. O jornalista islandês fez ontem uma apresentação na Pública, agência de jornalismo investigativo sem fins lucrativos, em São Paulo. A seguir, trechos da entrevista. ● O que aconteceu neste ano, que vocês têm publicado menos?

Três coisas estão nos desacelerando e causando problemas. A primeira, é claro, é o caso de extradição que Julian Assange, nosso editor-chefe, está enfrentando. Neste momento, ele se encontra em prisão domiciliar por vários meses, com liberdade limitada. Isso nos torna mais lentos de alguma forma. Em segundo lugar, sofremos ataques muito sérios de gigantes financeiros. Em dezembro do ano passado, a Visa e a Mastercard decidiram fechar o canal de doações que eram nossa única fonte de recursos. Isso nos prejudicou financeiramente. Não temos os recursos que esperamos para expandir nossa atuação. Além disso, estamos sob constante ameaça de ações legais do governo americano, que tenta construir um caso contra nós, com base na lei antiespionagem. Existe um grande júri trabalhando nesse caso em Alexandria, Virginia. Falando de tecnologia, nosso sistema de submissão de documentos foi sabotado por um ex-colaborador. Vamos levar algum tempo para reprogramá-lo. Por sermos uma organização pequena, decidimos que não é uma prioridade. Seria injusto para os informantes, se recebêssemos material sem conseguir trabalhar direito. Temos de ter certeza de que não existe traço de informação que possa levar ao informante. ● O que estão fazendo para resolver esses problemas?

Anunciamos na sexta-feira à noite que demandamos da Visa e da Mastercard que reabram o canal de doações. Se não fizerem isso, tomaremos medidas legais. Levaremos uma reclamação à corte europeia sobre o abuso sério da posição dominante que eles têm na Europa. Juntas, a Visa e a Mastercard detêm 96% do mercado, o que é uma violação muito séria do

‘Estado’ está sob censura há 703 dias Desde29dejaneirode2010,oEstado aguarda definição judicial sobreoprocessoqueoimpedede divulgar informações sobre a

lhando dentro das regras da comunidade jornalística. Temos acesso a um conhecimento muito importante e, pela natureza competitiva do ambiente da mídia, com um certo grau de exclusividade, é possível conseguir um compromisso mais forte de recursos maiores, em termos jornalísticos. Nossa prioridade, e nosso compromisso com as fontes, é oferecer a informação para o maior número possível de pessoas. Procuramos maneiras de fazer isso. Mas isso não quer dizer que agiremos sempre dessa forma. Quero trabalhar mais no espírito da nova mídia, e temos feito isso. A Pública (agência sem fins lucrativos) é um exemplo disso. ● O sr. vê o WikiLeaks como uma resposta a essa transição do jornalismo impresso para os novos meios?

Mudança. Hrafnsson considera o WikiLeaks um reflexo da transição do jornal impresso para os novos meios de comunicação Tratado Europeu, artigos 101 e 102. Se a Comissão Europeia decidir que existe um desrespeito ao tratado, isso pode levar a uma multa de 2% a 10% do faturamento total das empresas. ● Os governos tentam estrangulá-los financeiramente e nos tribunais?

Com certeza. Estamos brigando, de um lado, com a única superpotência do mundo e os maiores gigantes financeiros, de outro. Sabemos que pessoas importantes do governo americano têm ligado para empresas, agindo basicamente para nos bloquear. Isso é público. Joe Lieberman (presidente do Comitê de Segurança Interna do Senado Americano) teve contato de seu escritório com a Amazon, que hospedava nosso material, para que deixasse de fazêlo. Tenho certeza de que a mesma coisa se aplica a outras companhias. O que está acontecendo é, basicamente, a privatização da censura. O governo coloca uma pressão forte para que esses gigantes poderosos ajam. ● Qual foi o impacto do WikiLeaks no jornalismo?

Foi extraordinário. No ano passado, quando passamos a publicar este material muito importante do Departamento de Estado (dos Estados Unidos) e do Pentágono, começamos a trabalhar com jornalistas que passaram a reconhecer a importância desse conceito. Também houve hostilidade, uma resistência em admitir que fazemos parte da comunidade jornalística. Mas, de-

QUEM É

vagar e gradualmente, isso está mudando. O impacto que vimos foi a aceitação da ideia de que é possível criar uma plataforma segura para informantes anônimos submeterem material para ser divulgado ao público geral. Muitos grupos de mídia estão criando suas próprias plataformas e também estamos vendo o surgimento de outros sites guiados pelos mesmos princípios. Um colega meu contou mais de 20, como BalkanLeaks e OpenLeaks. Existem vários.

thing Bank, na Islândia, meu país, e o caso de corrupção e assassinatos ilegais pelo governo queniano, que foram analisados pelo WikiLeaks em colaboração com a mídia tradicional. Fazemos jornalismo, em grande colaboração com os meios estabe-

lecidos. ● Há quem critique a colaboração entre o WikiLeaks e os meios estabelecidos, dizendo que a informação deveria ser divulgada diretamente ao público.

Estamos basicamente traba-

De alguma forma, sim. É um reflexo disso. Não é segredo que o jornalismo investigativo está declinando em todo o mundo, nos últimos dez anos, por falta de recursos e de profissionais. Ao mesmo tempo, os governos têm aumentado o nível de sigilo, principalmente depois do 11 de setembro. As empresas também estão crescendo em tamanho, e em paralelo a isso vemos uma privatização de atividades públicas. Antes, o que era público e aberto está sendo colocado sob domínio do setor privado, que não é guiado pelos mesmos princípios de informação livre e pública. Diante desse cenário, o WikiLeaks é uma ideia que chegou no momento certo. De certa forma, é um reflexo dessa situação.

● E o que mudou para as empresas jornalísticas?

Estamos colocando pressão nos grupos de mídia estabelecidos para que eles trabalhem juntos, mais do que antes. Foi espetacular, em outubro do ano passado, quando tivemos a colaboração de nove grupos de mídia, incluindo o WikiLeaks. Estamos falando sobre o New York Times, o Guardian, Der Spiegel na Alemanha, El País na Espanha, Le Monde na França, o Bureau of Investigative Journalism e o Channel 4 no Reino Unido e a Al Jazeera. Foi uma aliança que nunca houve na história. Ter todos esses grupos de mídia trabalhando no mesmo projeto, compartilhando descobertas e recursos entre eles, é extraordinário. Esse é o espírito que lançamos e que será um modelo para o futuro. Porque mesmo os grandes grupos de mídia do mundo são pequenos quando comparados às organizações que precisam ser monitoradas e levadas a prestar contas. Se os grupos de mídia trabalharem em conjunto no jornalismo investigativo, conseguiremos um ótimo resultado.

✽ Jornalista investigativo islandês, Kristinn Hrafnsson trabalhou para a RÚV, televisão estatal de seu país, onde produziu reportagens sobre o colapso do Kaupthing Bank, com base em documentos divulgados pelo WikiLeaks. Tornou-se porta-voz da organização em meados do ano passado, depois de seu contrato com a TV não ser renovado.

● O sr. disse que o WikiLeaks é um grupo de mídia. Mas vocês são um grupo jornalístico ou uma fonte para jornalistas?

Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal (PF) investigou a atuaçãodoempresárioFernando Sarney. A pedido do empresário, queéfilhodopresidentedoSenado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal deJustiçadoDistritoFederal(TJDF), em julho de 2009, de noticiarnovosfatosrelativosàoperação da PF.

No dia 18 de dezembro de 2009, Fernando Sarney entrou com pedido de desistência da ação contra o jornal, mas o Estado não aceitou. No dia 29 de janeiro de 2010, apresentou ao TJ-DF manifestação em que sustenta a preferência do jornal pelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado.

Somos editores. Temos acesso a informações. Desde o ano passado, e o WikiLeaks existe desde 2006, o aspecto de análise do material e a decisão de publicação do material é feito dentro do WikiLeaks. É o caso de assuntos muito importantes, como o caso do colapso do Kaup-

Central de Atendimento BB 4004 0001 ou 0800 729 0001 • SAC 0800 729 0722 • Ouvidoria BB 0800 729 5678 Deciente Auditivo ou de Fala 0800 729 0088 ou acesse bb.com.br


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

FABIO MOTTA/AE

Terça-feira 5 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00*

Caderno2

Viagem

Yamandu maduro Mafuá traz dez temas próprios do violonista

Dolce vita Em Capri e na Sardenha, os dias passam devagar

Casino diz que não abrirá mão de controle do Pão de Açúcar Grupo francês, que assume comando da rede brasileira em 2012, reiterou ao BNDES discordar de fusão O presidente do grupo varejista francês Casino, Jean-Charles Naouri, defenderá de maneira “intransigente” seu direito de assumir o controle do Pão de Açúcar em 2012. O executivo deixou isso claro em reunião com Luciano Coutinho, presidente do BNDES, ontem. Sócio de Abilio Diniz desde 1999, o Casino resiste à fusão

entreaCompanhiaBrasileiradeDistribuição, dona do Pão de Açúcar, e as operaçõesdoCarrefournoPaís.Coutinho reiterou a Naouri que o apoio do BNDES depende de acordo entre os sócios. O banco se comprometeu a injetar até R$ 4,5 bilhões na empresa resultante da fusão, se o negócio for concretizado. ECONOMIA / PÁGS. B1, B3 e B4

Grupo recorre a órgão internacional ● O Casino entrou ontem com um se-

gundo pedido de arbitragem contra o

estadão.com.br

ANO 132. Nº 42994 EDIÇÃO DE 1H

Pão de Açúcar na Câmara Internacional de Comércio, em Paris. O objetivo da medida, que serve como instrumento de pressão, é impedir o sócio brasileiro de discutir internamente a fusão com o Carrefour. ECONOMIA / PÁG. B3

WILSON PEDROSA/AE

Honras de Estado A presidente Dilma Rousseff conversa com Fernando Henrique Cardoso, ao lado de Aécio Neves e José Serra, no velório de Itamar Franco. Cerca de 4,5 mil pessoas foram ao Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. O corpo do ex-presidente, morto aos 81 anos, foi cremado ontem.

Metrópole

Basílica. Mosteiro de São Bento será restaurado.Pág.C10

Ministro fica, mas Dilma usa crise para trocar equipe de Lula A presidente Dilma Rousseff manteve Alfredo Nascimento no Ministério dos Transportes, dois dias após a divulgação de supostas irregularidades na pasta. Dilma usou a crise para, no fim de semana, demitir Luiz Antonio Pagot e José Francisco das Neves, subordinados a Nascimento. Eles estavam no governo desde a gestão Lula. A Controladoria-GeraldaUniãoanuncioupente-finonas obras dosTransportes. Aárea já é alvo de 168 processos. NACIONAL / PÁG. A4 ● PF vê irregularidade em ferrovia

A Polícia Federal e o Ministério Público investigam superfaturamento de R$ 48 milhões em trecho da Ferrovia NorteSul, de responsabilidade da Valec. O prejuízo passaria de R$ 71 milhões, em valores atualizados. NACIONAL / PÁG. A6

Governo pagou R$ 14,4 mi por internação de pacientes mortos Auditoria do Tribunal de Contas da União(TCU) mostraqueogoverno gastouR$14,4milhõesparacustearinternações e procedimentos de alta complexidade em pacientes do Sistema Único de Saúde que já estavam mortos. Foram 9 mil casos de pagamentos indevidos entrejunhode2007eabrilde2010.Aestratégia teria sido adotada pelos hospitais para driblar o limite de reembolso mensal fixado pelo governo. VIDA / PÁG. A16

NACIONAL / PÁG. A9

Chávez volta e inicia mudança de gabinete

ARIANA CUBILLOS/AP

O presidente Hugo Chávez voltou à Venezuela após um mês em tratamento de câncer em Cuba, relata o enviado especial Roberto Lameirinhas. O vice Elías Jaua anunciou reunião para reorganizar o gabinete. INTERNACIONAL / PÁG. A10

Discurso. Chávez e as filhas no palácio: ‘Ganharemos esta batalha’

ILAN GOLDFAJN Excesso de endividamento O excesso de dívidas contamina a recuperação global, mas uma amortização muito acelerada pode levar a depressão e deflação, piorando tudo.

KELLY MOORE Os Bálcãs e a Líbia Para que a Líbia não seja condenada a um destino semelhante ao da Bósnia, será preciso muito mais do que os ataques aéreos da Otan.

LUIZ ZANIN Paciência Parece bastante prematuro já ir esquentando o óleo na frigideira destinada a Mano Menezes. Falta o Brasil funcionar como orquestra.

ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2

VISÃO GLOBAL / PÁG. A14

ESPORTES / PÁG. E2

Medicamento antifumo eleva risco cardíaco

Após empate, Mano deve tirar Robinho do time

Champix, remédio antifumo mais usado no mundo, está ligado a um aumento de 72% no risco de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral ou outros problemas cardiovasculares, afirma estudo. VIDA / PÁG. A15

INTERNACIONAL / PÁG. A12

Tempo na capital seco 18˚ Máx. Ar polar traz 6˚ Mín. mais frio HOJE: 68 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 704 DIAS. PÁG. A8

ESPORTES / PÁG. E1

Escritora vai processar Strauss-Kahn por assédio Câmara aumenta salário de Kassab e secretários METRÓPOLE / PÁG. C1

NOTAS & INFORMAÇÕES

A presidente se maculou Decisão de manter Nascimento imprimiu à sua passagem pelo Planalto indelével marca negativa. PÁG. A3


A8 Nacional %HermesFileInfo:A-8:20110705:

O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 5 DE JULHO DE 2011

PMDB tenta mensurar impacto de crise no Rio De olho nas eleições de 2012, partido encomenda pesquisa para avaliar o nível de conhecimento dos eleitores sobre os episódios envolvendo Cabral Bruno Boghossian / RIO

OPMDB fluminense encomendou uma pesquisa para medir o impacto eleitoral das crises enfrentadas pelo governador Sérgio Cabral no último mês. Entre sexta-feira e domingo, uma empresa contratada pelo partido vai às ruas para per-

guntar à população se Cabral ultrapassou limites éticos ao viajar no jato particular de Eike Batista e ao participar da festa de aniversário do dono da empreiteira Delta, que tem contratos de R$ 1 bilhão com seu governo. Há50perguntas noquestionário, elaborado pelo instituto de

Busca por miseráveis no campo começa por Bahia e Minas DIDA SAMPAIO/AE-6/1/2011

Um em cada 4 pessoas que recebem menos de R$ 70 por dia vive em área rural; ação faz parte do Brasil sem Miséria Roldão Arruda

O governo federal deve iniciar pelo interior dos Estados da Bahia e de Minas Gerais a busca de famílias de pequenos proprietários rurais que ainda vivem em situação de miséria, com renda de até R$ 70 por pessoa. A localização das famílias e sua inclusão emprogramasde estímuloàprodução rural é uma das prioridades do programa Brasil Sem Miséria, lançado em maio. De acordo com números que orientam o programa, do total de 16,2 milhõesdepessoasnamiséria,4milhões estão na zona rural. No final desta semana começa no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) a seleção das empresas de assistência rural que irão trabalhar na busca nos chamados territórios da cidadania de Irecê e Velho Chico, na Bahia, e Serra Geral, em Minas.A inclusão produtiva,defendidapelapresidenteDilmaRousseff, tem um duplo objetivo no caso dos pequenos proprietários rurais que estão sendo procurados agora: melhorar as suas

‘Estado’ está sob censura há 704 dias Desde29dejaneirode2010,oEstado aguarda definição judicial sobreo processoque oimpede de divulgar informações sobre a Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sar-

Teste. Estado é que deve ir atrás dos pobres, diz Tereza condições de vida, com geração de renda, e aumentar a produção de alimentos no País. Para o governo é mais importanteestimularaprodução defamílias já instaladas na terra do que investir em novos assentamentos.Emsuasdeclaraçõespúblicas,o ministroAfonseFlorence (MDA) tem feito insistentes referências ao grande números de assentamentos no governo doex-presidenteLuiz InácioLula da Silva, numa indicação que o ritmo vai diminuir, para que se cuide melhor de quem já foi assentado. “Do conjunto de 900 mil famílias assentadas no Bra-

ney. A pedido do empresário, queéfilhodopresidentedoSenado, José Sarney (PMDBAP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em julho de 2009, de noticiar a operação. No dia 18 de dezembro de 2009,FernandoSarneyentrou com pedido de desistência da ação, mas o Estado não aceitou. Em janeiro de 2010, apresentou ao TJ-DF manifestação pelo prosseguimento da ação, a fim de ter seu mérito julgado.

pesquisaseaprovadopelodiretório regional do partido. Pelo menos 15 itens avaliarão as relações entre Cabral e os empresários. As eleições municipais de 2012sãoapreocupação imediata das lideranças do PMDB do Rio, poisCabraléconsideradoumcabo eleitoral implacável no Estado. Os dirigentes peemedebis-

sil, 600 mil ganharam o lote no governo Lula”, afirma. Propostas. Essa política é uma

das razões não declaradas dos atritosrecentescomoMovimento dos Sem-Terra. Líderes da organização acusam o Planalto de ter paralisado a reforma agrária. O governo ainda está recebendoaspropostasdas empresas interessadasnaprestação deserviçosdeassistênciatécnicanosterritórios da cidadania. Elas deverão desenvolver programas com duraçãode17meses,comaestruturadeumtécnicodenívelsuperior e outros dez de nível médio para cada grupo de 800 famílias. Com posse de cadastros já existentes de programas de transferência de renda e de apoio à agricultura familiar, os técnicos tentarão localizar as propriedades com maior carência. Após um diagnóstico inicial daquela unidade e das suas relações com a região, será apresentado à família um plano de reestruturação produtiva. Além do dinheirodoBolsaFamília,aspessoas poderão contar com verbas de fomento para a produção e a comercialização de alimentos. “Para continuar recebendo parcelas das verbas de fomento, osprodutoresterãoquedemonstrar que investiram na melhoria daprodutividadeequeestãotendo resultados”, diz Florence. Aação nazonaruralé acompanhada com atenção pela ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello. É um dos primeiros testes para o que ela considera o diferencial do programa Brasil Sem Miséria, que é a busca dasfamíliasmiseráveis.“Nãovamos mais esperar que os pobres corram atrás do Estado”, diz ela.

CORREÇÃO

A reportagem Dez parlamentares têm empresas de consultoria, publicada no último dia 25 de junho, informou erroneamente que Tião Viana é proprietário da Ambiente Engenharia e Consultoria. A empresa é, na verdade, do senador Jorge Viana (PTAC), irmão de Tião, atual governador do Acre.

tas acreditam que a imagem do governadornãofoiarranhadapelos dois episódios, mas adotam uma posição de “cautela” para traçar as estratégias da legenda no próximo ano. O partido quer saber qual o nível de conhecimento dos eleitores em relação ao envolvimento de Cabral com os empresários, além de sua opinião sobre a conduta do governador. A pesquisa também pedirá aos eleitores que avaliem a atitude do governador durante os protestos dos bombeiros do Estado, que ocuparam o quartel-central da corporação no dia 3 dejunho e foram presos, por ordem de Cabral. Na ocasião, o governador chamou os manifestantes de “vândalos” e “irresponsáveis”, mas admitiu que estava errado semanas depois.

Impacto. Avaliações periódicas são feitas pelo PMDB para medir a popularidade do governador, mas o partido decidiu criar um questionário qualitativo depois das crises. O partido do governador avaliaque osdoiscasosnãoprovocaram impacto em sua imagem, mas a oposição tenta ampliar as investigações sobre o episódio. O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) deve entrar hoje com uma representação no Mi● Código Cabral

Dezoito dias após ir a festa na Bahia em avião do empresário Eike Batista, o governador do Rio institui hoje Código de Conduta que veda ao servidor “receber presente, transporte, hospedagem”.

nistério Público Federal para que sejam apuradas as denúncias de que as famílias de Cabral e Cavendish teriam viajado a Nassau, nas Bahamas, a bordo do jato de Eike Batista. Segundo o jornal O Globo, a aeronave de Eike ficou a disposição do governador por uma semana, em dezembro do ano passado. O avião teria transportado a primeira-dama Adriana Ancelmo e dois filhos do casal, além da mulher de Cavendish, Jordana, um de seus filhos e três babás. Dias depois, o jato ainda teria retornado ao Rio para transportar Cabral até a ilha. O governo do Estado informou que Cabral “já falou sobre o assunto” e que não se manifestariasobreasinformações publicadas ontem. A EBX também não comentou o caso.


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

Quarta-feira 6 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00*

Caderno2

Adubo garantido Agricultores antecipam compra de insumos para a safra de verão

Luzes para o Masp Fachada ganhará iluminação LED para destacar arquitetura

Medida vale por 30 dias; afastado, diretor do Dnit anuncia que está de férias bramento da crise causada pela divulgação de supostas irregularidades na pasta. No fim de semana, o governo anunciou o afastamento de Luiz Antonio Pagot(Dnit)eJosé dasNeves(Valec).Mas Pagotpediuférias.Para o lugardele, Dilma quer um petista. NACIONAL / PÁG. A4

● Segundo

mandato

A presidente Dilma Rousseff levantou ontem, pela primeira vez, a possibilidade de disputar a reeleição em 2014. NACIONAL / PÁG. A6

THIAGO TEIXEIRA/AE

BRIAN GRATWICKE

Agrícola

Após denúncias, Dilma manda Transportes suspender licitações A presidente Dilma Rousseff determinou ao ministro Alfredo Nascimento (Transportes) a suspensão por 30 dias das licitações do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Engenharia, Construções e Ferrovias(Valec).Amedidaéumdesdo-

estadão.com.br

ANO 132. Nº 42995 EDIÇÃO DE 23H15

Planeta

Exagero. Previsão de extinção de espécies é revista. Pág. A16

RUY MESQUITA Diretor

Musa na Flip Pola Oloixarac causou furor na Argentina. Pág. D9

Governo fala em medidas para o câmbio e dólar sobe

Presidente do Casino diz que fusão é ‘expropriação’

Depois de seis dias seguidos de baixa e de chegar ao menor nível desde janeiro de 1999, a cotação do dólar subiu 0,77% ontem, para R$ 1,565. Durante o dia, o ministro Guido Mantega (Fazenda) voltou a afirmar que a valorização do real preocupa e deu a entender que o governo adotará medidas para tentar conter a queda da moeda americana no País. Analistas alertam, porém, que a tendência para a taxa de câmbio é, na pior das hipóteses, de estabilidade em torno dos valores atuais. ECONOMIA / PÁG. B1

O presidente do grupo varejista francês Casino, Jean-Charles Naouri, classificou de “expropriação” de sua empresa a fusão entre o Pão de Açúcar, seu sócio noBrasil, como Carrefour.Ementrevista ao Estado,Naouri acusou o empresárioAbilioDinizdetraiçãoedemanipulação. “Quando investi em 1999, o Grupo Pão de Açúcar era um negócio medíocre”, atacou. Para Abilio, Naouri “falta com a verdade” e reage de forma “truculenta” à proposta de fusão, que, disse, vai gerar “extraordinários benefícios” a todos os acionistas. ECONOMIA / PÁG. B16

WEBER SIAN/A CIDADE

Confronto durante retirada de favela Policiais durante desocupação de favela em Ribeirão Preto: acionada após cerca de 700 moradores bloquearem o local para impedir a demolição das casas, a PM usou balas de borracha e bombas de efeito moral. Houve feridos, sem gravidade.

Câmara amplia vagas para apadrinhados A Câmara aprovou o aumento das indicações de apadrinhados políticos dos líderes partidários e reduziu as vagas dos órgãos técnicos da Casa. A mudança é para compensar os partidos que tiveram suas bancadas reduzidas nas eleições, como o PMDB. Os salários vão de R$ 2,6 mil a R$ 12 mil. NACIONAL / PÁG. A7

Esportes

ELE SOFRE COM A FALTA DE PONTARIA

METRÓPOLE / PÁG. C5

A Exame da OAB tem 90 escolas sem nenhum estudante aprovado

O abatimento no Imposto de Renda de parte dos gastos com previdência eplanos de saúdede empregadosdomésticos foi aprovado pela Câmara até 2014. ECONOMIA / PÁG. B6

Das 610 escolas de Direito que participaram do último exame da Ordem dos Advogados do Brasil, 90 não aprovaram nenhum estudante. O Estado de

A. PATRIOTA E H. TIMERMAN 20 anos de cooperação A experiência argentino-brasileira na promoção da transparência e da confiança mútua na área nuclear serve de fonte de inspiração para outras regiões.

ROLF KUNTZ A armadilha Seis meses após a posse, Dilma continua enrolada em escândalos criados por ministros comprometidos muito menos com ela do que com Lula.

ROBERTO DAMATTA O ‘ex’ Não é fácil ser presidente numa sociedade cujo credo oscila entre leis e pessoas como solução para seus problemas. Figuras como Itamar e FHC são raras.

ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2

ECONOMIA / PÁG. B6

CADERNO 2 / PÁG. D12

SãoPaulotem17delas,todasparticulares. A USP e a Unesp aprovaram mais da metade dos bacharéis que fizeram a prova em 2010. VIDA / PÁG. A15

De longe, Chávez abre festa da independência INTERNACIONAL / PÁG. A10

Distração ameaça 56% dos motoristas

ALEX SILVA/AE

INSS de doméstico será abatido de IR

falta de pontaria do ataque da seleção não é um problema apenas do técnico Mano Menezes. Nos treinos da equipe na Argentina, o roupeiro RogélsonBarreto(foto)édosquemaistrabalham.Encarregado de pegar as bolas que saem do gramado, ele já tevede irbuscálas até no campo de golfe do hotel. PÁG. E2

METRÓPOLE / PÁG. C4

Tempo na capital entre 18˚ Máx. Sol nuvens 9˚ Mín. e frio HOJE: 66 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 705 DIAS. PÁG. A8

NOTAS & INFORMAÇÕES

O regresso do caudilho Nem Chávez sabe quando, se e em que medida recobrará as condições de governar. PÁG. A3


A8 Nacional %HermesFileInfo:A-8:20110706:

O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 6 DE JULHO DE 2011

Dilma manterá Gurgel como procurador Mandato termina no próximo dia 22, mas recondução do atual chefe do Ministério Público Federal deve ocorrer ainda nesta semana CELSO JUNIOR/AE–22/2/2010

Rui Nogueira / BRASÍLIA

A presidente Dilma Rousseff vai manter Roberto Gurgel no comando da Procuradoria-Geral da República (PGR). A recondução deve ser feita ainda nesta semana. Gurgel está na chefia do Ministério Público Federal desde julho de 2009, e o mandato atual termina no próximo dia 22. Naconsulta feitapela Associação Nacional do Procuradores da República (ANPR), Gurgel foi o mais votado, seguido dos nomes dos subprocuradores Rodrigo Janot Monteiro de Barros e Ela Wiecko Volkmer de Castilo. Os nomes mais votados pela categoria foram levados ao Palácio do Planalto pelo presidente da ANPR, Antonio Carlos Bigonha. A lista tríplice é uma tradição eserve de consulta parao Planalto. Mas, apesar de a presidente não ser obrigada a escolher o nome do procurador-geral entre os mais votados da categoria, essa tem sido a praxe. Nos oito anos do governo passado, o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu os procuradores levando em conta o mais votado da lista – Antonio Fernando de Souza e Cláudio Fonteles. Depois da indicação da presidente, o nome de Roberto Gurgel ainda tem de ser aprovado pela maioria absoluta dos membros doSenado paraque arecon-

Aprovação. Depois da indicação da presidente, o nome de Roberto Gurgel ainda tem de ser aprovado pelo Senado dução ao cargo seja efetivada. Antes de assumir o comando do Ministério Público, Gurgel foi vice-procurador-geral da Repú-

ALTOS E BAIXOS DO PROCURADOR-GERAL

blica de 2004 a 2009. Decisões. Gurgel marcou seu

primeiro mandato com quatro

decisões importantes: 1) defendeu no Supremo Tribunal Federal (STF) a condenação do exministro Antonio Palocci por

nistro da Fazenda do primeiro mandato do governo Lula (2003-2006); 2) o arquivamento, no mês passado, de um pedido de abertura de inquérito para de novo investigar Palocci, então ministro-chefe da Casa Civil, desta vez no governo Dilma; 3) o arquivamento de um pedido de inquérito contra o vicepresidente da República, Michel Temer (PMDB-SP); e 4) a abertura de inquérito contra a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), flagrada em vídeo recebendo dinheiro de Durval Barbosa, o delator do esquema que ficou conhecido como “mensalão do DEM” no Distrito Federal. O vídeo foi mostrado em primeira mão pelo portal estadão.com.br. Uma decisão aguardada é a denúncia do esquema do “mensalão do DEM”, que tinha na liderança o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (ex-DEM). O inquérito mãe (n.º 650) vai completar dois anos em setembro próximo, mas Gurgel ainda não ofereceu adenúncia do esquema.Por conta desse escândalo, o procurador-geral pediu intervenção no governo do Distrito Federal, mas teve o pedido negado pela maioria dos ministros do STF.

violação de sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa – violação que aconteceu em2006, quando Palocci era mi-

Palocci

Enriquecimento

Portos

Mensalão do DEM

Defendeu no STF a condenação do ex-ministro no caso do caseiro

Mandou arquivar pedido de abertura Exclusão do nome do vice-presidente de inquérito para apurar a multiplica- Michel Temer de inquérito sobre suposto ção do patrimônio de Palocci esquema de propina no porto de Santos

Quase 2 anos após abertura de inquérito contra José Roberto Arruda, não há denúncia ANDRE DUSEK/AE–6/5/2010

Em meio a crise, Cabral lança código de ética Governador institui novas regras para servidores públicos do Rio, mas fiscalização será feita pelo próprio governo Pedro Dantas / RIO

Depois das revelações de viagens com a família em um avião emprestado pelo empresário Eike Batista e da amizade com o empreiteiro Fernando Cavendish,ogovernadordo Rio,Sérgio Cabral (PMDB), instituiu ontem oCódigode Conduta eo Sistema de Gestão Ética do Poder Executivo Estadual, inspirados na regras federais. As novas condutas proíbem presentes, transporte, hospedagens e convites para eventos sociais. Também limitam a R$ 400 o valor de brindes entregues aos agentes públicos. Na composição da Comissão de Ética da Alta Administração, responsável por fiscalizar o pri-

O QUE DIZEM OS CÓDIGOS DE CONDUTA DA ALTA ADMINISTRAÇÃO Finalidade

Favores

Federal: além da declaração de bens e rendas, a autoridade deve prestar informações sobre sua situação patrimonial que possa suscitar conflito com o interesse público, indicando o modo pelo

qual irá evitá-lo. As alterações relevantes deverão ser comunicadas à Comissão de Ética Pública. Estadual: o agente público prestará à Comissão de Ética da Alta Administração informações sobre sua situação patrimonial e de rendas que, real ou potencialmente, possa suscitar conflito com o interesse público. Será informada à comissão a participação acionária do agente público em empresa privada que mantenha qualquer tipo de relacionamento com órgão ou entidade da administração pública, de qualquer esfera de Poder ou governo.

meiroescalão,ogovernadorcontarácomtrês secretáriosdeEstado, o procurador-geral e o representante da Defensoria Pública do Estado. Todos indicados por ele.“Comesta composição,ocó-

digo perde a respeitabilidade. Os integrantes não podem fazer parte do governo, pois precisam de isenção para avaliar as situações de conflitos de interesses ou empecilhos legais. No caso da

ComissãodeÉticaPúblicadogoverno federal, todas as pessoas quea integramnãopossuem cargos no governo”, afirmou o diretor executivo da ONG Transparência Brasil, Claudio Abramo.

Federal: minimizar a possibilidade de conflito entre o interesse privado e o dever funcional das autoridades públicas. Estadual: evitar a ocorrência de situações que possam suscitar conflitos entre o interesse privado e as atribuições públicas. ●

Bens

Federal: a autoridade pública não poderá receber salário ou remuneração de fonte privada em desacordo com a lei, nem receber transporte, hospedagem ou favores de particulares de forma a permitir situação que possa gerar dúvida sobre a sua improbidade ou honorabilidade. Estadual: é vedado ao agente público receber presente, transporte, hospedagem, compensação ou quaisquer favores, assim como aceitar convites para almoços, jantares, festas e outros eventos sociais.

Para especialistas, Marina levará consigo votos que trouxe ao PV Para José Álvaro Moisés, partido mostra rigidez ao ser incapaz de absorver uma liderança com o perfil da ex-senadora Isadora Peron

Quando concorreu à Presidênciada RepúblicapeloPVnaseleições do ano passado, Marina Silva conquistou o voto de quase 20 milhões de eleitores. Hoje, prestes a deixar a legenda, especialistasouvidospeloEstadoobservam que, provavelmente,

quem perderá com a saída da exsenadora será o partido. “O PV vai perder os eleitores que a Marina conseguiu agregar nas eleições de 2010. Os votos não foram por causa das propostas do PV, foram por causa das qualidades pessoais dela”, afirma José Álvaro Moisés, professor de ciência política da USP. Para Moisés, o PV mostra uma enorme rigidez ao ser incapaz de absorver uma nova liderança com o perfil de Marina: “Jovem, mulher,deumaregiãomenosdesenvolvida do País”. “Ela tem uma série de características que poderia agregar voto ao partido,

mas eles não foram capazes de negociar para mantê-la.” O cientista político Leonardo Barreto foi mais duro ao criticar a legenda. Segundo ele, o PV é umaficção política, pois não tem um padrão de correligionários. “Isso fica evidente quando vemos que, de um lado, o partido tem um político liberal, como o Fernando Gabeira e, de outro, um conservador, de uma família oligárquica, como o Zequinha Sarney.” De acordo com Barreto, a exsenadora mostrou que tem um posicionamento incompatível com as práticas políticas tradicionais, não só no que diz respeito a uma agenda verde, mas também em questões éticas. “Hoje, nãoháumalegendacomascaracterísticas que ela mostrou ter.” Novo partido. Na opinião de

Geraldo Tadeu Monteiro, presi-

Ele ponderou que, apesar de as viagens do governador em um avião emprestado não ter causados prejuízos aos cofres públicos, Cabral deveria tomar medidas para impedir que o fato se repetisse. Diretor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense, o sociólogo Marcus Ianoni avaliou que a criação e composição do código foi centralizada e faltou debate público sobre o assunto. “Nada contra o Executivo fiscalizarse a si mesmo, mas, nesse caso, o mais indicado seria que a comissão fosse composta por pessoas externas ao Poder Executivo, pessoas de reputação ilibada da sociedade civil”, opinou. Eleelogiou,porém,aquarentena que o funcionário público terá que cumprir depois que deixar o cargo e disse que “a princípio” as infrações podem levar a punição de qualquer integrante do Executivo, inclusive o governador. O novo código destina-se ao governador, ao vice-governador e aos secretários e subsecretários, presidentes, vice-presiden-

JF DIORIO/AE

Despedida. Saída de Marina deve ser anunciada amanhã dente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), criar um novo partido seria a opção mais correta neste momento para o grupo de Marina, mas também a mais difícil. “Eles vão ter que fazer umlongo trabalhode mobilização, coletar assinaturas, constituir diretórios estaduais e municipais...”, observa. Monteirolembraaindaquenenhum político tem controle absoluto sobre os votos que conquistou em pleitos passados. Se-

gundo ele, os 20 milhões de votosrecebidosporMarinaforam um capital que ela adquiriu numa circunstância específica,duranteumaeleiçãopolarizada, na qual ela se ofereceu como terceira via. “Será que ela mantém esses votos?Énaturalquetodopolítico sente em cima da votação na última eleição, mas isso não significa que nas próximasvaiconseguiralcançar esse número”, diz Monteiro.

tes, diretores e conselheiros de agências estaduais, autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista. Já o Sistema de Gestão da Ética fiscalizará todos os servidores doExecutivo.AComissãodeÉtica Pública também será formada por cinco pessoas indicadas pelo governador. Crise. A ideia do Código de

Condutafoiapresentada porCabral como resposta à crise política instalada após a revelação de suas relações pessoais com Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, e Eike Batista, do grupo EBX. O governador usou o jato do empresário para ir à Bahia participar dos festejos de aniversário do empreiteiro. O caso veio à tonaapós aqueda de um helicóptero que servia a parentes de Cabral e Cavendish, no dia 18 de junho. A Delta recebeu mais de R$ 1 bilhão em contratos na gestão Cabral e o grupo EBX obteve R$ 79,2 milhões em benefícios fiscais.Ocasoestásendoinvestigado pelo Ministério Público.

‘Estado’ está sob censura há 705 dias Desde 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda definição judicialsobre o processoque o impede de divulgar informações sobre a Operação Boi Barrica, pela qualaPolíciaFederal (PF)investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em julho de 2009, de noticiar novos fatos relativos à operação da PF. No dia 18 de dezembro de 2009, Fernando Sarney entrou com pedido de desistência da ação contra o jornal, mas o Estado não aceitou. No dia 29 de janeiro de 2010, apresentouao TJ-DF manifestação em que sustenta a preferênciado jornalpelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado.


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ALEX SILVA/AE

Quinta-feira 7 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00*

RUY MESQUITA Diretor

ANO 132. Nº 42996 EDIÇÃO DE

Paladar

Caderno2

Porquinho especial Criado solto nos bosques toscanos, o cinta senese dá ótimos embutidos

Drama japonês Corações Sujos, de Vicente Amorim, abre 4º Festival de Paulínia

estadão.com.br

0h15

Metrópole

WILTON JUNIOR/AE

JULIO MESQUITA 1891 - 1927

Flip. O crítico Antonio Candido diz que há 20 anos não lê nada novo. Pág. C8

Denúncias derrubam mais um ministro do governo Dilma Alfredo Nascimento deixa Transportes e secretário executivo assume interinamente; baixa é a 3ª em seis meses Cincodiasapósoiníciodacrise,oministro Alfredo Nascimento (Transportes) entregou sua carta de demissão. Além de novas denúncias, a situação tornouse insustentável quando a presidente Dilma Rousseff convocou um técnico para discutir com ela assuntos da pasta, preterindo o então ministro. O cargo será ocupado interinamente por Paulo Sérgio Passos, que estava como secretá-

rio executivo. O PR, partido de Nascimento, negocia para que um “político” assuma o ministério. A baixa de ontemé a terceira de um ministro em pouco maisdeseismeses degoverno.Aprimeira foi Antonio Palocci (Casa Civil), após denúncias de enriquecimento suspeito. Três dias depois, o comando da coordenação política passou de Luiz Sérgio para Ideli Salvatti. NACIONAL / PÁG. A4

Análise ✽ Dora Kramer ●

Montanha-russa Dilmateriatudoparagovernarcomtranquilidade. Em 6 meses, há crises demais e governo de menos. NACIONAL / PÁG. A6

● Irritação

com Carvalho

A presidente Dilma Rousseff desautorizou o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que tentou dar uma aparência de normalidade ao pedido de férias do diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, afastado após denúncias. NACIONAL / PÁG. A8

ROB SCHUMACHER/AP

Tsunami de areia em Phoenix Uma forte tempestade de areia atingiu a região de Phoenix, nos EUA, na noite de anteontem. Uma capa de terra cobriu a cidade. A areia, que deixou o ar quase irrespirável, paralisou o tráfego de aviões, derrubou árvores e interrompeu o abastecimento de energia.

Estoques de carros sobem e montadora dá férias coletivas A indústria automobilística fechou o semestre com recorde de vendas – 1,73 milhãodeveículos–,mascomeçaasepreocupar com o alto estoque nos pátios das fábricas e revendas. No fim de junho, havia 342 mil carros à espera de compradores, o equivalente a 33 dias de vendas, próximo da margem considerada crítica, de 35 dias. Algumas empresas diminuirão a produção. A Fiat dará férias coletivas na fábrica da Argentina e cogita pararade Betim(MG). ECONOMIA/ PÁG. B1

Senado aprova regras de licitações para a Copa Numavitóriadogoverno,oSenadoaprovou ontem por 46 votos a 18 a Medida Provisória 527, que institui o Regime Diferenciado de Contratações para as obrasda Copade 2014eda Olimpíadade 2016. O texto mantém o sigilo dos preços das obras na licitação, mas garante o acesso pleno aos órgãos de fiscalização. A oposição prepara recurso ao Supremo Tribunal Federal. NACIONAL / PÁG. A10

Cultura tem a menor audiência da história

INTERNACIONAL / PÁG. A15

Relatório da TV Cultura revela que a audiênciaéamaisbaixajáregistrada,informa Jotabê Medeiros. A direção argumenta que todas as emissoras tiveram queda no período. NACIONAL / PÁG. A11

Ladrões atacam na Marginal Pinheiros

Choque de aviões da FAB mata 4 militares METRÓPOLE / PÁG. C7

Cielo pode ficar 6 meses suspenso

Em dois dias, três motoristas foram vítima de ladrões que colocaram pedras na pista para danificar veículos e assaltar, entre as Pontes do Jaguaré e Cidade Jardim. METRÓPOLE / PÁG. C1

Governo britânico quer investigar grampos INTERNACIONAL / PÁG. A12

A Federação Internacional de Natação defende seis meses de suspensão para o nadador Cesar Cielo por doping.Ele ficaria fora doMundial, mas não da Olimpíada. ESPORTES / PÁG. E1

CELSO MING O ataque às agências As agências de classificação de risco vêm apresentando comportamento desastroso, mas exigir que façam o jogo dos dirigentes é outro equívoco.

CHRISTOPH SCHULT Alicerce da UE é abalado A Dinamarca decidiu, por conta própria, criar postos de controle em suas fronteiras, fato sério que faz parte de uma tendência.

VERISSIMO A exceção do momento A habilidade de Neymar é enorme porque precisa compensar a falta de altura e a falta de tronco. É uma anomalia sobre duas pernas. Finas.

ECONOMIA / PÁG. B2

VISÃO GLOBAL / PÁG. A14

CADERNO 2 / PÁG. D14

JF DIORIO/AE

Mais uma vitória O Corinthians de Paulinho bateu o Vasco por 2 a 1 e o São Paulo perdeu do Flamengo por 1 a 0. PÁG. E3

Tempo na capital frio e 18˚ Máx. Sol, névoa de 10˚ Mín. manhã HOJE: 92 PÁGINAS (18 DE CLASSIFICADOS) * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 706 DIAS. PÁG. A9

NOTAS & INFORMAÇÕES

Piora o cenário mundial A situação na Europa ficou mais assustadora e a China pode ter de avançar com menor velocidade. PÁG. A3


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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 7 DE JULHO DE 2011

TRE considera legal doação de concessionária Para a corte, empresa que explora extração de petróleo ou gás pode colaborar com campanhas Fausto Macedo

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo rejeitou os primeiros pedidos de investigação judicial contra políticoseleitos em 2010que recebe-

Procuradoria vai recorrer da decisão no TSE A Procuradoria Regional Eleitoral já ingressou com recursos ordinários perante o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A procuradoria pede a reforma dos acórdãos do Tribunal Regional Eleitoral “para que seja reconhecida a arrecadação e os gastos ilícitos praticados ao longo das campanhas (da deputada Aline Corrêa e do senador Aloysio Nunes)”. OsprocuradoreseleitoraisPedro Barbosa Pereira Neto e André de Carvalho Ramos destacam que a UTC Engenharia atua na área de exploração de petróleo e gás natural, “atividade de exclusiva titularidade da União, que pode ser delegada por meio de concessão ou permissão”. Eles citam julgamento do TRE do Rio Grande do Sul, que reconheceu a UTC como fonte vedada. “A interpretação literal dos dispositivos legais que informam o direito eleitoral mostrase a forma menos adequada à proteçãodosbens jurídicostutelados por tais normas, além de revelar apego demasiado à letra posta em detrimento de seus valores e finalidades, bem como distanciamento injustificável do PoderJudiciáriodosanseios efatos ocorridos no seio da sociedade”, assinalam. A procuradoria argumenta que o TRE paulista já reconheceu como fonte vedada, em feito anterior, uma outra empresa de engenharia, concessionária de exploração e produção de petróleo e gás natural. “Embora (a UTC)nãosejaconcessionária de serviço público, existe relação de dependência com o poder público”, sustenta o Ministério Público Eleitoral. / F.M.

‘Estado’ está sob censura há 706 dias Desde 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda definição judicialsobre o processo que o impede de divulgar informações sobre a Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal (PF) investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em julho de 2009, de noticiar novos fatos relativos à operação da PF. No dia 18 de dezembro de 2009, Fernando Sarney entrou com pedido de desistência da ação contra o jornal, mas o Estado não aceitou. No dia 29 de janeiro de 2010, apresentou ao TJ-DF manifestação em que sustenta a preferênciado jornal pelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado.

ram doações de empresas e entidades consideradas pelo Ministério Público Eleitoral como fontes vedadas. Em votação unânime, o TRE rechaçou a tese de captação ilícita de recursos e de violação do artigo

30-A da Lei 9.504/97 (Lei das Eleições). Os acórdãos refutam a tese de ilegalidade em repasses para as campanhas da deputada Aline Corrêa (PP-SP) e do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDBSP). A Procuradoria Eleitoral ajuizouemjaneiro17representações relacionadas a doações da UTC Engenharia S/A e da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisas (Interfarma). “Eunão esperava decisão diferente do TRE”, declarou Aloysio Nunes. “Essas questões já tinham sido suscitadas pelos técnicosdo tribunal quandodo exameda prestação de contasda minhacampanha.Éimportante observar que o TRE aprovou por unanimidade minhas contas, sem nenhuma ressalva. Estive sempre muito tranquilo com relação ao julgamento.”

BETO BARATA/ AE–27/4/2011

Nacional A9

tendência é que a corte decida pela legalidade da doação. O TRE asseverou, nos julgamentos já ocorridos, que a UTC não é concessionária ou permissionária de serviço público e “consequentemente não ostenta condição de fonte vedada”. A campanha de Aline Correa arrecadou R$ 2,35 milhões – a UTC doou R$ 213 mil. Explicação. “A exploração de

Decisão. Tribunal aprovou contas de Aloysio Nunes Ferreira OsprocuradoreseleitoraisPedro Barbosa Pereira Neto e André de Carvalho Ramos enquadraram a UTC como concessionária de serviço público (exploração de petróleo) e a Interfarma como entidade de classe. En-

tre os citados está o governador Geraldo Alckmin (PSDB), “que por intermédio do comitê financeiro recebeu R$ 700 mil da UTC”. O pedido sobre Alckmin ainda não entrou na pauta do TRE. A

petróleo e gás natural é hipótese deatividade econômica, não serviço público e, portanto, trata-se de concessão de exploração de bem público e não concessão de serviço público”, anotou o juiz Moreira de Carvalho. “O TRE encerra as dúvidas e reafirma que a arrecadação e os gastos de minha campanha foram rigorosamente dentro da lei”, ressaltou Aline.


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

8 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00* ANO 132.

RUY MESQUITA Diretor

EDIÇÃO DE 0H15

Nº 42997

estadão.com.br

Divirta-se Dia da redonda Selecionamos alguns endereços para você comemorar o Dia da Pizza

JAIRO GOLDFLUS

SEXTA-FEIRA Dilemas. Fabio Assunção volta ao teatro com Adultérios. PÁG. D11

Caderno2 Lenny Kravitz ressurge Cantor lança disco e diz que se ‘reconstruiu’ para não enlouquecer DANIEL TEIXEIRA/AE

Tragédia sob a terra na zona sul Uma grávida de 18 anos e um menino de 3 morreram num deslizamento de terra que soterrou casas na Favela Mata Virgem, em SP. A Prefeitura realizava obras no local.

Inflação recua menos que o esperado e juro deve subir O recuo nos preços dos combustíveis e dos alimentos resultou em forte desaceleração da inflação oficial, medida pelo IPCA,masosaumentosnosetordeserviços pressionam o índice. O IPCA passou de 0,47% em maio para 0,15% em junho, acimadoesperado.Oresultadode12meses (6,71%) se distancia do teto da meta (4,5%) e leva o mercado a aumentar projeção de juros. ECONOMIA / PÁGS. B1 e B3

METRÓPOLE /

● Menor

PÁG. C1

O Tesouro captou US$ 500 milhões no mercado internacional com o custo mais baixo da história. ECONOMIA / PÁG. B6

Procurador pede ao Supremo condenação de 37 no mensalão

Blairo resiste a convite para o Ministério dos Transportes

Entre eles está o ex-ministro José Dirceu; único com pedido de absolvição é o petista Luiz Gushiken Um dia após ter sido indicado para um segundo mandato de procurador-geral da República, Roberto Gurgel pediu ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) que condene 37 dos 38 réus do processo do mensalão, informa a repórter Mariângela Gallucci. Para Gurgel, só não existem provas contra o ex-ministro da Comunicação Luiz

Gushiken e, portanto, ele deve ser absolvido. O esquema do mensalão foi o principal escândalo do governo Luiz Inácio Lula da Silva e envolveu autoridades, como o então ministro-chefe daCasaCivil,JoséDirceu.Asinvestigações começaram em 2005. Dos 38 réus doprocesso,22respondemporformação de quadrilha. NACIONAL / PÁG. A4

JOSÉ ROBERTO LEAL DE CARVALHO CRIMINALISTA

“Eu acreditava na exclusão de Luiz Gushiken porque nunca houve nenhum relacionamento dele com os fatos”

ALIK KEPLICZ/AP

Esportes

Brasil vai à semi

São Paulo tira Carpegiani

Seleção eliminou os EUA na Liga Mundial de vôlei; adversário na semifinal sai hoje. / PÁG. E5

O treinador não resistiu a três derrotas seguidas – a última delas para o Flamengo.DorivalJúnior,doAtléticoMG, é o nome preferido da diretoria. Cuca também é cotado. Na rodada de ontem, o Palmeiras empatou por 1 a 1 com o América-MG. PÁGS. E1 e E4

FERNANDO GABEIRA Estradas do subdesenvolvimento Essa política de alianças não tem futuro. O caso do Ministério dos Transportes mostra como ela é um entrave ao desenvolvimento.

DORA KRAMER Um jeito no fisiologismo A aprovação das regras para a Copa e a manutenção do PR nos Transportes dizem quase tudo sobre a promiscuidade entre Executivo e Legislativo.

TIMOTHY GARTON ASH Sobre a França e os EUA O caso de Strauss-Kahn ilustra a profunda diferença entre as atitudes de franceses e americanos em relação à privacidade e à reputação.

ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2

NACIONAL / PÁG. A6

VISÃO GLOBAL / PÁG. A12

Aloprados no Senado ● O Senado votará na próxima

semana convite para o petista Expedito Veloso depor no esquema dos aloprados. NACIONAL / PÁG. A4

taxa

OsenadorBlairoMaggi(PR-MT),principal aposta da presidente Dilma Rousseff para substituir Alfredo Nascimento nos Transportes, disse a líderes do partido que“nãoestá interessado”em assumir a pasta. Nem o Planalto nem o PR tomaramainformaçãocomo definitiva.Ogoverno vinha acompanhando a pasta, após receber reclamação de que comitê criado para monitorar obras estaria cobrando propina. NACIONAL / PÁGS. A6 e A7

Marina deixa o PV e critica partidos

Escândalo de escuta ilegal fecha tabloide britânico

A ex-senadora Marina Silva anunciou ontem sua desfiliação do PV com ataques à estrutura partidária do País. “Os partidos se transformaramemmáquinasobcecadaspelopoder em si”, disse. NACIONAL / PÁG. A9

VIDA / PÁG. A15

Tempo na capital

18˚ Máx. 7˚ Mín.

Sol e diminuição de nuvens

HOJE: 178 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 707 DIAS. PÁG. A9

INTERNACIONAL / PÁG. A10

Anvisa quer reduzir quantidade de iodo no sal Cadela encontra bebê abandonado em SP METRÓPOLE / PÁG. C5

NOTAS & INFORMAÇÕES

Dilma diante da alcateia Ao esperar que Alfredo Nascimento se enforcasse nas próprias cordas, ela foi criticada por aliados. PÁG. A3


%HermesFileInfo:A-9:20110708:

O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 8 DE JULHO DE 2011

Nacional A9

Marina deixa PV e ataca todas as siglas Ex-senadora sai da legenda 2 anos após filiação para disputar Presidência e diz que partidos viraram ‘máquinas obcecadas pelo poder’ EVELSON DE FREITAS / AE

Roldão Arruda

No mesmo dia em que o governo enfrentava uma nova crise decorrente das alianças e barganhas políticas que tem feito, a ex-senadora Marina Silva anunciou ontem sua desfiliação do PV com ataques à estruturapartidáriadoPaís.“Aexperiência no PV serviu para sentiraté quepontoosistemapolítico brasileiro está empedernido e sem capacidade de abrirse para sua própria renovação”,afirmou.Paraela,ospartidostornaram-se“máquinasobcecadaspelo poder emsi ecada vez mais distantes do mandato de serviço que estão obrigados a prestar à população”. Noato público de desligamento,emSãoPaulo,váriosintegrantesdo núcleopolíticoqueingressou com Marina no PV também anunciaram sua desfiliação. Entre eles os empresários Guilher-

Movimento. O que anunciaram

Desfiliação. Além de Marina, Leal também se desligou do PV meLeal,quedisputouaVice-Presidência, e Ricardo Young, que foi candidato a senador. Os apoiadores da ex-senadora com cargos parlamentares devem continuar no partido. É o

Para auditor, democracia só funciona com informação Rafael Moraes Moura/ BRASÍLIA

A adoção de uma lei de acesso à informação no Brasil enfrentará desafios e resistências devido a uma cultura da própria burocracia estatal, avaliam especialistas estrangeiros reunidos em Brasília para discutir as políticas na área. “Servidores públicos são conhecidos como os que criam mais barreiras para a divulgação de informações. Eles precisam entender que os arquivos são de posse do público, não deles próprios”, afirmou o auditor sênior do Arquivo Nacional da Escócia,

qualsaiucom 19,6milhões de votos, em terceiro lugar. Ela e seu grupo não pretendem criar agora um novo partido político.

Hugh Hagen, durante o Seminário Internacional Acesso à Informação – Desafios de Implantação, promovido pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). “A mudança de cultura não é fácil.AprópriaEscóciavemresistindo a essa mudança, mas é preciso lutar”, disse ele. No encontro, Miriam Nisbet, do Departamento dos Serviços de Informações do Governo dos EUA, a informaçãoéa“moeda” dasdemocracias. “Se você não tem um ci-

caso do deputado Alfredo Sirkis (RJ), que se afastará apenas a direção do PV do Rio e de outros cargos da estrutura partidária. Marina deixa o PV nove meses o primeiro turno da eleição da

dadão informado, sua democracia não funcionará”, definiu ele. A Lei de Acesso à Informação foi encaminhada pelo Planalto ao Congresso em 2009. Aprovada na Câmara, tramita agora no Senado. Um de seus pontos de divergência é a limitação à renovação do sigilo de documentos – os classificados como ultrassecretos seriam divulgados em, no máximo, 50 anos. A liberdade de consultaincluiaindapossibilidade de acesso a dados atuais do governo, como gastos e salários. ApresidenteDilmaRousseffchegou a cogitar sancionar a lei em 3 demaio,DiaMundialdaLiberdade de Imprensa. Modelo americano. “Estamos

aprendendo com as experiências bem sucedidas. O Brasil não

ontem foi a criação de um movimento suprapartidário, que poderá se chamar Verdes e Cidadania. Deve agregar políticos de diferentes partidos e organizações identificadas com as propostas de crescimento sustentável. O objetivo segundo Marina é agregar pessoas pelas ideias. “Não é hora de ser pragmática, é hora de ser ‘sonhática’”, brincou. O mais provável é que o movimento desemboque na criação de um partido em 2013, após as eleiçõesmunicipais.Em2012,Marinaeseugrupoapoiarãocandidatos com os quais tenham afinidade política, não importando a cor dalegenda.“Se,naeleiçãomunicipal, o PV tiver candidatos afinados com o movimento, nós va-

vai inventar a roda”, disse a diretora de prevenção da corrupção da CGU, Vânia Vieira. “Queremos chegar a um modelo consolidado como o dos EUAeodoMéxico”,acrescentou. Um dos desafios para democratizar a informação é que as burocracias não nasceram transparentes, observou María Elena Pérez,do Instituto Federal de Acesso à Informação (IFAL) do México. “Quem tem informação tem poder e não quer compartir. A transparência dói e o direito de acesso à informação incomoda. No caso mexicano, esse direito não foi resultado da lucidez e sim consequência de todo o um movimento social, que culminou na aprovação legislativa”, concluiu.

mosapoiá-lo.Mastambémpodemos apoiar uma candidatura do PP que tenha identidade com o projeto sustentável”, disse Sirkis. A característica mais forte do atopúblicoquemarcouodesligamento de Marina e de seu grupo doPV foi acrítica à atual estrutura partidária do País. “Os partidos estão perdendo a importância, porque perderam a alma e o sentido de suas propostas”, disse o empresário Oded Grajew, que apoiou e participou da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e depois acabou distanciando-se do governo. “O PV e maioria dos partidos se divorciaram do conjunto da sociedade”, afirmou Young. Em resposta às críticas à sigla, a direção da executiva nacional do PV divulgou ontem uma nota na qual afirma que as críticas sobre falta de democracia interna constituem uma “falsa polêmica artificialmente inflada”.

‘Estado’ está sob censura há 707 dias Desde 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda definição judicialsobre o processo que o impede de divulgar informações so-

CRONOLOGIA

Curta temporada 1988 a 2002

Carreira no Acre Pelo PT, ela é eleita vereadora, deputada e senadora

2003 a 13/5/2008

No ministério Ministra do Meio Ambiente de Lula, fica 5 anos no posto

Agosto de 2009

Do PT ao PV Deixa o PT, filia-se ao PV (em 11 de agosto) e prepara a candidatura à Presidência

7/7/2011

Adeus ao PV Desliga-se dos verdes para criar grupo suprapartidário

bre a Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal (PF) investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em julho de 2009, de noticiar novos fatos relativos à operação da PF. No dia 18 de dezembro de 2009, Fernando Sarney entrou com pedido de desistência da ação contra o jornal, mas o Estado não aceitou. No dia 29 de janeiro de 2010, apresentou ao TJ-DF manifestação em que sustenta a preferênciado jornal pelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado.


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

9 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00* ANO 132. Nº 42998

EDIÇÃO DE 0H15

estadão.com.br

SÁBADO Sabático

C2+música

A escrita e o País João Ubaldo, atração de hoje da Flip, faz reflexão sobre sua obra

Cuba-Brasil Pianistas Chucho Valdés e Omar Sosa tocam com brasileiros

Boulevard

Esportes

Prático. Acessórios facilitam o dia a dia na cozinha. Pág. C8

Teste para seleção Brasil enfrenta o algoz Paraguai pela Copa América

FABIO MOTTA/AE

ANDRE LESSA/AE

Procurador vê agressão à democracia no mensalão Na denúncia ao STF, Roberto Gurgel afirma que consciência de eleitos foi corrompida por dinheiro ● Derrota de

Lula, diz oposição

Líderes avaliam que a denúncia do procurador ajuda a desmontar tese do ex-presidente de que o mensalão não existiu. NACIONAL / PÁG. A8

ex-ministro comandou esquema para “subornar” parlamentares em troca de apoio político e era o chefe da quadrilha. Ontem, Gurgel esclareceu que quer a condenação de 36 dos 38 réus do processo. NACIONAL / PÁGS. A6 a A8

CHRIS O'MEARA/AP

Fim de uma era Com quatro tripulantes a bordo, o Atlantis foi lançado ontem em Cabo Canaveral, na Flórida, na última viagem da era dos ônibus espaciais dos EUA. A partir de agora, os americanos dependerão dos russos para ir ao espaço.

Metalúrgicos voltam às ruas

Milhares de trabalhadores de montadoras e de outras empresas do ABC paulista ocuparam ontem de manhã uma faixa da Via Anchieta, em São Bernardo, em protesto contra o aumento das importações. ECONOMIA / PÁG. B4

Blairo recusa ministério e PR admite Passos

Gol compra Webjet por R$ 311 milhões

Cade negocia suspensão da marca Perdigão

O senador Blairo Maggi (PR-MT) recusou o convite de Dilma Rousseff paraassumir o Ministério dos Transportes. Com a decisão, volta ao topo da lista o nome do ministro interino, Paulo Sérgio Passos. O PR já admite acatar a escolha. NACIONAL / PÁG. A4

A Gol anunciou ontem a compra da Webjet por R$ 96 milhões em uma transação que, incluindo dívidas, chega a R$ 310,7 milhões. Juntas, as duas ficaram com uma fatia de 40,55% do mercado em maio. A TAM deteve 44,43%. ECONOMIA / PÁG. B19

Nas negociações para tentar aprovar a fusão de Sadia e Perdigão, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a Brasil Foods discutem a suspensão temporária da marca Perdigão nossegmentosemqueexistemaiorconcentração demercado. ECONOMIA /PÁG. B1

BC atua no câmbio para valorizar dólar

VIDA / PÁG. A26

WILTON JUNIOR/AE

NadenúnciaentregueaoSupremoTribunal Federal, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, diz que o mensalãoafrontouademocraciabrasileira,reconquistada com o fim da ditadura (1964-1985). “No momento em que a consciência do representante eleito pelo povo é corrompida em razão do recebimento de dinheiro, a basedoregime democráticoé irremediavelmente ameaçada”, escreveu. Nas alegações enviadas ao STF, Gurgel também fez graves acusações contra José Dirceu. Segundo o procurador, o

● A despedida

da elegância

O compositor Billy Blanco morreu ontem no Rio, aos 87 anos.

O Banco Central anunciou a redução em um terço do limite para que os bancos façam apostas na alta do real. A restrição já havia sido adotada no início do ano. NACIONAL / PÁG. A13

GILLES LAPOUGE Um novo Estado do zero A Terra contará hoje com um novo Estado, o Sudão do Sul, pobre como Jó, desértico, carente de tudo e habitado por 80% de analfabetos.

DOM ODILO P. SCHERER Ecologia e antropologia A Igreja vê com preocupação a crescente distorção sobre a identidade sexual. Antes de ser uma questão moral, é um problema antropológico.

M. KOGAN E G. KOGAN Política pública absurda A venda para o setor privado de um quarteirão inteiro no Itaim-Bibi, em São Paulo, está na contramão do bom senso praticado em todo o mundo.

INTERNACIONAL / PÁG. A18

ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2

METRÓPOLE / PÁG. C5

C2+MÚSICA / PÁG. D7

Plano de saúde sobe 7,69%, mais que a inflação VIDA / PÁG. A26

Ex-porta-voz de Cameron é preso por escutas INTERNACIONAL / PÁG. A14

Tempo na capital com frio 20˚ Máx. Sol, e nevoeiro 4˚ Mín. de manhã 126 PÁGINAS (32 DE CLASSIFICADOS) * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 708 DIAS. PÁG. A9

NOTAS & INFORMAÇÕES

A desmoralização da ‘farsa’ de Lula Agora, a “farsa” do mensalão volta a ser exposta em sua inteireza. PÁG. A3


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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 9 DE JULHO DE 2011

ENTREVISTA Mukelani Dimba, vice-diretor do Centro de Democracia Aberta da África do Sul

Na África do Sul, Lei de Acesso ainda tem falhas CELSO JUNIOR/AE

Um dos palestrantes de seminário sobre acesso à informação, Dimba diz que 60% dos pedidos em seu país não são respondidos

● Existe no país algum tipo de agência que determine o que pode ou não ser divulgado?

Lisandra Paraguassu / BRASÍLIA

A África do Sul aprovou há 11 anos lei que garante o acesso à informação pública, mas tem problemas para pôr em prática o que está no papel, a ponto de 60% dos pedidos não serem respondidos, informa o vice-diretor do Centro de Democracia Aberta da África do Sul, Mukelani Dimba. Ele foi um dos palestrantes do Seminário Internacional sobre Acesso à Informação, encerrado ontem em Brasília. ● Qual é o saldo da lei aprovada na África do Sul em 2000?

O governo sul-africano se orgulha de ter tornado disponível muita informação. Pode-se considerar uma verdade, levandose em conta o trabalho do Serviço de Comunicação e Informação do governo de estabelecer cerca de 200 centros comunitá-

‘Estado’ está sob censura há 708 dias Desde 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda definição judicialsobre o processoque o impede de divulgar informações so-

estimativa é que cerca de 60% dos pedidos enviados ao governo não são respondidos. Felizmente, o Judiciário, na maioria dos casos, tem ordenado a liberação das informações retidas.

Não. Cada departamento, ministério ou agência governamental é responsável pela decisão de liberar ou não suas informações. ● As informações são tornadas públicas na internet?

Dimba. ‘Uma excelente lei no papel, mas há fraquezas’ rios de informação e distribuir mais de 1milhão de cópias por ano do Vuk’uzenzele – um boletim com várias informações sobre as operações do governo. Mas o governo ainda luta para tornar disponíveis informações em resposta a pedidos formais nos termos do Ato de Promoção ao Acesso à Informação. A

bre a Operação Boi Barrica, pela qualaPolíciaFederal (PF)investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em julho de 2009, de noticiar novos fatos relativos à operação da PF.

Não. Na maioria dos casos as pessoas precisam fazer pedidos formais. É possível encontrar os nomes das empresas que receberam licenças de mineração no site do Departamento de Recursos Minerais, mas não detalhes dessas licenças. ● Algo precisa ser mudado?

A África do Sul tem uma excelente lei no papel, mas há fraquezas em sua aplicação. Isso porque a lei não prevê um mecanismo que cuida de seu efetivo cumprimento, como, por exemplo, um ombudsman.

No dia 18 de dezembro de 2009, Fernando Sarney entrou com pedido de desistência da ação contra o jornal, mas o Estado não aceitou. No dia 29 de janeiro de 2010, apresentouao TJ-DF manifestação em que sustenta a preferênciado jornalpelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado.

Nacional A9


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

ANO 132. Nº 42999 EDIÇÃO DE 23H15

10 DE JULHO DE 2011 R$ 5,00*

estadão.com.br

DOMINGO TV

Mais drama JOÃO MIGUEL JÚNIOR

Versão de O Astro com Rodrigo Lombardi está mais explosiva

C2DOMINGO Classificados

Daniel Radcliffe revê sua trajetória de dez anos à frente da série de filmes de Harry Potter

11.578

ofertas

81 págs.

Documentos revelam fraude em licitação de R$300 mi da Petrobrás Empresa de senador do PMDB fez acordo com concorrentes para ganhar contrato DocumentoseimagensobtidospeloEstado mostram que a Petrobrás e uma empresa do senador e tesoureiro do PMDB, Eunício Oliveira (CE), fraudaram este ano uma licitação de R$ 300 milhões na Bacia de Campos, região de exploração do pré-sal no Rio, informa o repórter Leandro Colon. A Manches-

A despedida do bruxo

ter Serviços Ltda., cujo dono é Eunício, soube com antecedência, de dentro da Petrobrás,darelaçãodeseusconcorrentes na disputa por um contrato na área deconsultoriasegestãoempresarial.De posse das informações, a Manchester procurou as empresas e fez acordo para ganhar o contrato. NACIONAL / PÁG. A4

● Estatal nega conhecer acerto

A Petrobrás diz que não soube de reunião entre concorrentes: “A licitação foi realizada em meio eletrônico, com entrega das propostas por computador.” NACIONAL / PÁG. A4

Palestinos temem onda de violência

País pode não cumprir meta de alfabetização

Um em cada dez brasileiros mora em apartamento

Com 9,6% da população acima de 15 anos sem saber ler nem escrever, o Brasil terá de dobrar o ritmo de queda do analfabetismo para cumprir a meta assumida na ONU de chegar a 6,7% em 2015. Se o País repetir o desempenho da última década, a meta só será alcançada em 2020. Para Mozart Neves Ramos, do movimento Todos pela Educação, um fator que contribui para os altos índices de analfabetismo é um desânimo da população adulta que mora no campo em voltar à escola. VIDA / PÁG. A23

Umrecorte inédito do Censo Demográfico 2010 feito pelo Estado mostra que cidades pequenas e médias são hoje os principais motores da verticalização do País. O número de apartamentos da Região Norte cresceu em um ritmo 3,5 vezes maior que no resto do Brasil. Hoje, um em cada dez brasileiros mora em prédios. METRÓPOLE / PÁGS. C1 e C3

RODRIGO BUENDIA/AFP

Símbolo da nova estratégia da luta palestina por um Estado, a vila de Bil’ in vive a expectativa do pedido de reconhecimento da soberania a ser apresentadoàONUemsetembro,relata o enviado especial à Cisjordânia, Roberto Simon. Teme-se que, em caso de rejeição, haja uma “terceira intifada”. INTERNACIONAL / PÁG. A12

PAC é alvo de quase 11 mil processos Desde 2007, quando foi lançado, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) acumula 10.619 ações judiciais e administrativas, segundo a AdvocaciaGeral da União. A maioria delas envolve desapropriações– atéjunho eram4.493. A lista de processos, que vem crescendo, inclui ainda denúncias de irregularidades. ECONOMIA / PÁGS. B1 e B4

‘Pagamos até pelo que é de graça’, alerta escritor

Paradoxo

ELA SÓ PODE ‘DIRIGIR’ AVIÃO

ALIÁS

Motorista bate Porsche a 150 km/h e mata 1

H

anadi Zakariya al-Hindi, de 33 anos, pilota o avião dopríncipedaArábiaSaudita. Mas, como todas as mulheres do seu país, não pode dirigir carros. INTERNACIONAL / PÁG. A13

● Caderno lança projeto na 3ª-feira. PÁG. C7

METRÓPOLE / PÁG. C6

Alívio no fim

Depois de levar virada do Paraguai, Brasil escapa de vexame e consegue o empate, com um gol de Fred, aos 44 minutos do segundo tempo. ESPORTES / PÁG. E1

DORA KRAMER Algo se move Grupo de senadores peemedebistas começou a se organizar numa espécie de rebelião pacífica para impedir que José Sarney eleja o sucessor.

HUMBERTO WERNECK Longa vida Dona Alzira ficou alarmada ao ouvir que, com os avanços da medicina, vamos poder viver até os 150 anos: o que fazer com tanto ano pela frente?

MAC MARGOLIS Separados pelo poder Políticos da América Latina já lançaram mão de tudo na corrida ao poder. Mas na Guatemala há o inédito “divórcio de conveniência”.

NACIONAL / PÁG. A6

METRÓPOLE / PÁG. C10

INTERNACIONAL / PÁG. A19

Tempo na capital e 23˚ Máx. Sol frio de 6˚ Mín. manhã 210 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁG. A3 TIRAGEM: 303.430 EXEMPLARES

ESTADO SOB CENSURA HÁ 709 DIAS. PÁG. A11

Berlusconi é condenado a pagar R$ 1,2 bilhão INTERNACIONAL / PÁG. A21

NOTAS & INFORMAÇÕES

A DRU e o déficit de seriedade A gestão financeira do governo é em boa parte baseada em expedientes e disfarces. PÁG. A3


%HermesFileInfo:A-11:20110710:

O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 10 DE JULHO DE 2011

Vice do Rio desapropria imóvel de cunhada

FABIO MOTTA/AE

Como interino, Pezão teria pago 56% mais que o valor de mercado, diz reportagem de Época; ele alega que assinou sem saber de quem era a casa RIO

O vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), assinou um decreto que desapropriou por R$ 470 mil uma casa que pertencia ao cunhadode suamulher. Segundo reportagem da revista Época, Pezão autorizou a compra do imóvel em Barra do Piraí,

no sul fluminense, para a construção de uma nova sede da Procuradoria-Geral do Estado (PGE) no município. A quantia paga pelo governo seria 56% maior que o valor de mercado do imóvel. O decreto foi assinado no dia 29 de janeiro de 2010, quando o governador Sérgio Cabral estava em Londres para uma visita às

obras dos Jogos Olímpicos de 2012. Pezão autorizou que a PGE desapropriasseacasacomurgência–oquepermitiuqueoprocesso corresse na Justiça em menos de seis meses. De acordo com a revista, o valor pago pelo governo supera o preço de imóveis semelhantes na região, oferecidos por R$ 300 mil. Pezão afirmou ontem que

Defesa. Pezão afirma que procuradoria escolheu o imóvel “não sabia” que a casa pertencia ao concunhado e que a procuradoriafoia responsável pelaescolha do imóvel. Ele disse ainda que manteria a desapropriação

mesmo se soubesse que a família de sua mulher seria beneficiada com a transação. “Eu assinaria, pois foiaPGE quefez todoo processo e as avaliações. Foram fei-

tas quatro pesquisas de mercado, e uma comissão viu os imóveis e selecionou este”, afirmou. Segundo a revista, a sede da Procuradoria-Geral do Estado em Barra do Piraí funcionava na mesmarua, emumespaço alugado. O órgão passou a procurar outro local para realizar suas atividades e encontrou o imóvel do concunhado de Pezão, “julgado o mais adequado e com bom preço”. Os proprietários pediram R$520 milpelo imóvel, masaceitaram uma contraproposta de R$ 470 mil. O vice-governador julgaquenão houvesuperfaturamento na desapropriação, pois a rua do imóvel é “uma das mais nobres” da cidade. Pezão foi prefeito de Piraí e é considerado importante cabo eleitoral do governador no interiordoEstadoeprovávelcandidato à sucessão de Cabral em 2014.

Neudo pega 16 anos de prisão por ‘gafanhotos’ AJustiça Federalcondenouo exgovernador de Roraima Neudo Campos (PP) a 16 anos de prisão por crimes de peculato-desvio “emcontinuidadedelitiva”eformação de quadrilha. Neudo é apontado pela Procuradoria da Repúblicacomomentor e operador do esquema “gafanhotos” – suposto desvio de R$ 70 milhões dos cofres públicos por meio da inclusãonafolhasalarialdeservidores fantasmas. A sentença é do juiz Helder Girão Barreto, da 1.ª Vara Federal em Porto Velho. É a segunda condenação imposta ao ex-governador nos últimostrêsmeses.Emabril, aJustiça já havia aplicado pena também de 16 anos a Neudo em outra ação relativa ao mesmo golpe dosgafanhotos.Neudofoigovernador duas vezes (1994-2002). Ele poderá apelar em liberdade. O juiz se convenceu de que “no exercício do cargo de governador, e abusando dos poderes que detinha, (Neudo) instituiu quadrilha para crimes contra a administraçãopública”.Aprocuradoria sustenta que por ordem de Neudo recursos de convênios federais eram transferidos para a conta destinada ao pagamento deservidores públicos, inclusive gafanhotos,paraposteriordistribuição a afilhados políticos. “É uma condenação absolutamente injusta, eu não roubei”, reagiu Neudo. “O incrível é que esse juiz (Barreto) é meu inimigo. Ele me persegue desde que era juiz estadual. Vou recorrer até o fim. Nas últimas eleições para governador ganhei em primeiroturno,masnosegundogastaramcaminhõesdedinheiropara me vencer.” / FAUSTO MACEDO

RESULTADO DO ÚLTIMO EXAME DA OAB COMPROVA: FMU E SUA COIRMÃ UNICEUB 2º LUGAR EM APROVAÇÃO NO BRASIL O Complexo Educacional FMU e sua coirmã UniCeub destacam o excelente resultado obtido pelas suas respectivas Faculdades de Direito no último Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), divulgado no início do mês corrente. Na classificação geral, o Complexo Educacional FMU – composto pelas Faculdades Metropolitanas Unidas de São Paulo e sua coirmã UniCeub de Brasília – foi a Instituição que aprovou o segundo maior número de candidatos em todo o Brasil, dentre mais de 700 cursos de Direito. Parabenizamos a todos os alunos e professores pelo empenho e dedicação na construção diária de uma instituição de Ensino Superior que é referência na Educação Jurídica de nosso País.

‘Estado’ está sob censura há 709 dias Desde 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda definição judicialsobre o processoque o impede de divulgar informações sobre a Operação Boi Barrica, pela qualaPolíciaFederal (PF)investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em julho de 2009, de noticiar novos fatos relativos à operação da PF. No dia 18 de dezembro de 2009, Fernando Sarney entrou com pedido de desistência da ação contra o jornal, mas o Estado não aceitou. No dia 29 de janeiro de 2010, apresentouao TJ-DF manifestação em que sustenta a preferênciado jornalpelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado.

São Paulo, 10 de julho de 2011. Professor Edevaldo Alves da Silva Presidente do Complexo Educacional FMU Vice-presidente do UniCeub de Brasília

Nacional A11


%HermesFileInfo:A-1:20110711:

JULIO MESQUITA 1891 - 1927

Segunda-feira 11 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00*

Metrópole Nada de preguiça Academias investem em novidades como o balé fitness. Pág. C6

RUY MESQUITA Diretor

ANO 132. Nº 43000 EDIÇÃO DE 0H15

Negócios

Novo bilionário. Como Seripieri Jr. ergueu o império de R$ 4 bilhões da Qualicorp

CLAYTON DE SOUZA/AE

Empresa diz ter alertado Petrobrás sobre fraude

estadão.com.br

Caderno2

Causa. David Byrne, em defesa da bicicleta.

Oswald revisto Na Flip, encerrada ontem, lado visionário do escritor é destacado

Pág. D4

WILTON JUNIOR/AE

Esportes

MARCIO JOSE SANCHEZ/AP

Estatalteriasidoinformadadepropostadecompanhia do senador Eunício Oliveira para burlar licitação A direção da Seebla Engenharia afirmou ontem ao Estado ter alertado a Petrobrás no dia 11 de maio sobre o assédioda empresaManchester Serviços Ltda, que pertence ao senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), para fazer um acerto numa licitação de R$ 300 milhões na Bacia de Campos, região de exploração do pré-sal no Rio. Na edição de ontem, o Estado revelou que a empresa do senador soube com antecedênciadarelaçãodeconcorrenteseosprocuroupara propor umacordo para burlar a licitação e ganhar o contrato. O diretor da ouvidoria da Seebla,MiltonRodriguesJúnior, disse que relatou à Petrobrás “chantagem”

● Estatal e senador negam fraude

A Petrobrás “rechaça com veemência as insinuações de favorecimento” na licitação. Em nota, o senador Eunício Oliveira disse desafiar “que alguém apresente prova” de sua interferência em concorrências. NACIONAL / PÁG. A4

e “ameaça de retaliação” pela Manchesterantes da licitação, ocorrida em 31 de março. O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) defendeu que o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União (TCU) investiguem a negociação. NACIONAL / PÁG. A4

Haddad admite disputar Prefeitura de SP em 2012 Oministro Fernando Haddad(Educação) disse em entrevista a Lisandra Paraguassu e Rui Nogueira que seu nome “está efetivamente sendo discutido” no PT como possível candidato paradisputaraPrefeituradeSãoPaulo

em2012.“Tenhoapreçoporessemovimento”, afirmou ele, que citou a senadora Marta Suplicy e o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia)comopetistasquepodemreivindicar a candidatura. NACIONAL / PÁG. A6

Jogada ensaiada. Abby Wambach marca o 2º gol das americanas a instantes do fim da partida contra o Brasil

Americanas eliminam Brasil da Copa A seleção brasileira feminina de futebol perdeu ontem para os Estados Unidos e foi eliminada da Copa da Alemanha. No segundo tempo da prorrogação, vencendo por 2 a 1, de virada, o Brasil

levou o gol de empate. A decisão foi para os pênaltis e o time de Marta e companhia perdeu por 5 a 3. As americanas enfrentam a França, na quarta-feira, nas semifinais do Mundial. PÁG. E5

Campeonato Brasileiro

3 a 0. Dinei e Maurício Ramos, na goleada do Palmeiras sobre o Santos

Corinthians na ponta ● O Corinthians venceu o AtléticoGOpor1a0,goldeWillian,eseconsolidou na liderança, com 22 pontos.O Flamengo é o segundo. PÁGS. E1 a E3

Vôlei. A seleção russa derrotou o Brasil na final da Liga Mundial. Na Polônia, o time europeu venceu o jogo por 3 sets a 2, quebrando a hegemonia brasileira. PÁG. E8

Prancheta do PVC

Times em construção Osargentinossópensamemcopiar o modelo do Barcelona. Como o time deManoMenezes,elestêmumaequipe em formação. PÁG. E5

JOSE PATRICIO/AE

Salários sobem 10% em um ano e pressionam a inflação O forte aquecimento do mercado de trabalho deve pressionar a inflação no segundosemestre. Emumano, ossalários iniciais de contratação na indústria subiram 12%. Na média da economia, a alta foi de 10%. Nos próximos

meses, categorias importantes devem se mobilizar por novos reajustes. Para especialistas,oBancoCentralterá dificuldade para impedir que a inflação ultrapasse o teto da meta prevista para este ano, de 6,5%. ECONOMIA / PÁG. B1

Nova Marginal custa 75% mais que o previsto

EUA cortam ajuda militar ao Paquistão

UE tenta blindar Itália, novo alvo da crise

Atualização no convênio entre a Prefeitura de São Paulo e o governo do Estado elevou o custo da ampliação da Marginal do Tietê para R$ 1,75 bilhão. METRÓPOLE / PÁG. C1

A Casa Branca vai cortar o envio de US$ 800 milhões, do total de US$ 2 bilhões anuais, para as forças armadas paquistanesas,agravandoarelaçãoentre os países. INTERNACIONAL / PÁG. A15

NACIONAL / PÁG. A7

Tempo na capital

RAUL VELLOSO Fusões e fusões No protegido setor de serviços, a falta de competição externa recomenda maior atenção da política de defesa econômica.

DAMIEN CAVE EUA mais distantes Mudanças inesperadas ocorridas no México tornam mais atraente não sair do país.

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO ‘Deslulização’ do governo Em semanas, Lula perdeu dois ministros na Esplanada e um amigo no Senado por ação direta de Dilma Rousseff.

ECONOMIA / PÁG. B2

VISÃO GLOBAL / PÁG. A14

NACIONAL / PÁG. A6

e 26˚ Máx. Sol temperatura 11˚ Mín. em elevação HOJE: 80 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 710 DIAS. PÁG. A9

ECONOMIA / PÁG. E8

Romário tem habilitação apreendida em blitz Como é feita a investigação dos crimes digitais LINK

NOTAS & INFORMAÇÕES

Só falta o etanol Se o mercado americano se abrir, os brasileiros serão incapazes de se beneficiar da abertura. PÁG. A3


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 11 DE JULHO DE 2011

Projeto reduz poderes de corregedor do MP Proposta levada à Assembleia pelo procurador-geral de Justiça transfere para uma comissão o direito de conduzir processos contra promotores Fausto Macedo Fernando Gallo

Chegou ao fim a era dos superpoderes do corregedor-geral do Ministério Público de São Paulo. Por meio do projeto 41/11, enviado à Assembleia, o procurador-geral de Justiça, Fernando Grella Vieira, propõe alteração de dispositivos

Comissão traz mudanças no rito disciplinar Todo o rito administrativo disciplinar no Ministério Público de São Paulo será modificado a partir da criação da Comissão Processante Permanente. Caberá ao colegiado promover a instrução do processo, fase que compreende a colheita de provas. O corregedor-geral vai atuar como promotor,ou acusador,noâmbito da comissão. E o investigado poderá se defender. Como nos processos criminais perante a Justiça comum. A apuração poderá culminar com remoção compulsória e disponibilidade “por interesse público” de promotores e procuradores.Nessashipótesesaatribuição de deflagração dos processos foi preservada ao procurador-geral de Justiça, no caso de remoção compulsória, e ao corregedor, em ambas as situações. Os integrantes da comissão processante terão impedimento temporárioparaexercíciode outras funções após o término do mandato. FernandoGrellaVieira,procurador-geral, afirmou que as alterações não terão impacto financeirona instituição.“Não haverá aumento de despesa, porque poderemos aproveitar a estrutura administrativa e a funcional.” Ele destaca que o corregedor, sem prejuízo de sua atribuição de fiscalização da atividade funcionaldospromotoreseprocuradores,vaiexercerafunçãoacusatóriacomexclusividadenoâmbito do processo disciplinar. Ojulgamentocontinuaráacargo do procurador-geral, que tem poderes para impor até as sanções mais pesadas, como demissão ou cassação de aposentadoria. Internamente, a proposta é elogiada. “É sensato e constitucional”, assinalou um promotor queinvestigaimprobidade ecorrupção. “Esse formato está de acordo com a Constituição, que manda separar a posição do acusador da posição do julgador. Não se pode acusar e julgar, isso é inadmissível.” F.M. e F.G.

‘Estado’ está sob censura há 710 dias Desde 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda definição judicialsobre o processoque o impede de divulgar informações sobre a Operação Boi Barrica, pela qualaPolíciaFederal (PF)investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em julho de 2009, de noticiar novos fatos relativos à operação da PF. No dia 18 de dezembro de 2009, Fernando Sarney entrou com pedido de desistência da ação contra o jornal, mas o Estado não aceitou. No dia 29 de janeiro de 2010, apresentouao TJ-DF manifestação em que sustenta a preferênciado jornalpelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado.

da Lei Complementar Estadual 734/93 (Lei Orgânica do MP do Estado) para reorganizar as funções da Corregedoria Geral. Essencialmente,aproposta tira das mãos do xerife da instituição o acúmulo de funções que lhe permitem tudo, investigar, acusar e julgar promotores. “O objetivo é mesmo afastar a

concentraçãodepoderesdocorregedor-geral”, disse Grella. “O projeto separa as funções de instrução e julgamento do corregedor, implanta o sistema acusatório e tira tudo que é inquisitivo.” Oanteprojetofoiaprovadopelo Órgão Especial do Colégio de Procuradores de Justiça. O modelo em vigor há 18 anos mantém o corregedor acima do bem

e do mal porque a ele confere a plena supremacia na condução de apurações contra promotores e procuradores – ele instaura o processo, ele preside o processo, ele julga. Grella destaca que a Lei Orgânica do MP paulista, no capítulo do regime disciplinar, confere aocorregedor opoderdeiniciativa, a instrução e o julgamento do processo disciplinar aberto contra promotor, sobretudo quandoaplicadasassançõesdecensura, advertência e suspensão até 90 dias. O projeto limita a ação do corregedor. “O sistema atual não privilegia o princípio acusatório”, alerta o procurador-geral. Aconduçãodosprocessosficará sob responsabilidade de Comissão Processante Permanente, que será criada como braço auxiliar do Ministério Público.

● Reorganização

FERNANDO GRELLA VIEIRA

PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA

“O projeto separa as funções de corregedor, implanta o sistema acusatório e tira tudo que é inquisitivo. O sistema atual não privilegia o princípio acusatório”

Na prática, o corregedor abrirá uma sindicância e, com base nela, poderá instaurar o processo. Os autos serão encaminhados à comissão que terá atribuição para propor ao procuradorgeralimposiçãodepenaouabsolvição. Dependendo da decisão do chefe da instituição, caberá recursoaoÓrgãoEspecialdoColégio de Procuradores.

Nacional A9

Fernando Grella pede que o projetotramite em regime deurgência porque a Procuradoria Geral da República estuda ir ao Supremo Tribunal Federal com ação direta de inconstitucionalidade do trecho da Lei Orgânica que confere ao corregedor poderes extraordinários. A comissão processante será formada por 5 procuradores, commandatodedoisanos,admitida uma recondução. Grella disse que o projeto foi elaborado a partir de um caso em que o ConselhoNacionaldoMinistérioPúblico(CNMP) cassousançãoimposta a um promotor pelo corregedor do Ministério Público. O CNMP encaminhou cópia dos autos ao procurador-geral da República para eventual ação de inconstitucionalidade contra ospoderesilimitadosdocorregedor-geral do MP estadual.


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

Terça-feira 12 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00*

Vilão castigado Gabriel Braga Nunes fala do destino de Léo

Viagem Miami diferente O mar continua lindo, mas a região tem mais a oferecer

BRUNA TIUSSU/AE

RENATO ROCHA MIRANDA

Caderno2

estadão.com.br

ANO 132. Nº 43001 EDIÇÃO DE 1H

No jantar. Alejandro Fernandez negocia vinhos

Onde são fechados os megacontratos em SP. Pág. C11

PAULO LIEBERT/AE

MP denuncia 3 por acidente da TAM Ex-diretora da Anac e dois funcionários da empresa são acusados de expor a perigo o Airbus, causando o acidente e a morte de 199 pessoas ÀsvésperasdoquartoaniversáriodatragédiadoAirbusA320,oMinistérioPúblico Federal apresentou ontem denúncia criminal contra três pessoas, informam Fausto Macedo e Marcelo Godoy.

Sãoelas Denise Abreu,então diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac),AlbertoFajerman,naépocavicepresidentedeOperaçõesdaTAM,eMarcoAurélioCastro,entãodiretordeSegu-

rança de Voo da empresa. O procurador Rodrigo De Grandis os acusa de terem exposto a perigo o Airbus, causando o acidente e a morte de 199 pessoas. O criminalista Antonio Claudio Mariz de

Oliveira, defensor dos funcionários da TAM, recebeu a denúncia “com estupefação”. “Por que ela e não o presidente da Anac?”, questionou Roberto Podval, que defende Denise. METRÓPOLE / PÁG. C1

Crise atinge a Itália e bolsas caem no mundo

Sírios atacam embaixada dos EUA Simpatizantes do presidente Bashar Assad invadiram a embaixada dos EUA (foto) e atacaram a representação francesa em Damasco. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse que o líder sírio “não é indispensável”. Os ataques foram motivados pela visita dos embaixadores de EUA e França a Hama para acompanhar protestos contra Assad. Não há registro de feridos.

de especulações sobre a estabilidade do governo de Silvio Berlusconi cresceuapósumnovoescândalodecorrupção, agora envolvendo o ministro da Economia, Giulio Tremonti, autor do planode austeridade aprovadoemprimeiravotaçãonaquinta-feira.Preocupada, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, telefonou a Berlusconi para pedirqueaItália adoteo planode rigor o quanto antes. ECONOMIA / PÁG. B10

TCU investiga empresa de senador

Dilma efetiva ministro e age contra crise

O Tribunal de Contas da União abriu processo para investigar os contratos da Manchester Serviço Ltda., do senador Eunício Oliveira (PMDB), com a Petrobrás. O PPS pediu à Procuradoria-Geral da República que Eunício seja investigado. Ele alega não ter responsabilidade pela gestão da empresa. NACIONAL / PÁG. A8

O ministro interino dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, foi efetivado no cargo pela presidente Dilma Rousseff.Adecisão nãoagradaà bancadade deputados,masDilma jáprovidenciou um encontro no Alvorada para acalmar os aliados e não deixar que a crise do PR contamine a base governista. NACIONAL / PÁG. A4

“Denise Abreu expôs a perigo aeronaves mediante culpa consistente na modalidade imprudência”

SHUKUMAKU SYRIAN NEWS/AP

Escândalo faz crescer temor sobre estabilidade do país; Bovespa atinge o nível mais baixo em um ano Depois da Grécia, da Irlanda e de Portugal, ontem foi a vez de a Itália levar pânico aos investidores, em mais um capítulo da crise das dívidas soberanas que atinge a União Europeia. Em todo o continente, as bolsas de valores operaram no vermelho – em Milão, o índice caiu 3,96% e em Lisboa, 4,28% – e houve reflexos fora da Europa. No Brasil, a Bovespa caiu 2,1%, para o menor nível em mais de um ano. A onda

TRECHO DA DENÚNCIA DO PROCURADOR

INTERNACIONAL /

ANDRES STAPFF/REUTERS

Argentina, enfim, vence

PÁG. A12

Fusão no varejo não deve ter BNDES ECONOMIA / PÁG. B16

Messi joga bem, time bate a Costa Rica (3 a 0) e vai à segunda fase da Copa América.

Inadimplência tem maior alta em 9 anos

ESPORTES / PÁG. E1

ECONOMIA / PÁG. B7

JOSÉ PAULO KUPFER Barbas de molho A economia brasileira pode estar vivendo a velha e incômoda situação de ver o pêndulo começar a virar para o outro lado.

HILLARY CLINTON Uma esperança Décadas de guerra no Sudão deixaram desconfiança e desafios significativos, mas os Estados Unidos e o mundo estão dispostos a ajudar.

ARNALDO JABOR Modernos ou eternos Não estou aguentando mais a celebração dos fragmentos, das irrelevâncias como portas de percepção para novas visões do mundo.

ECONOMIA / PÁG. B9

VISÃO GLOBAL / PÁG. A12

CADERNO 2 / PÁG. D10

Após fracasso, governo divide nova licitação do trem-bala O governo não recebeu ontem nenhuma proposta para o leilão do trem-bala – que ocorreria no dia 29 –, planejado para ligar Campinas, São Paulo e Rio.

Tempo na capital forte 27˚ Máx. Sol e ar 12˚ Mín. seco HOJE: 92 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 711 DIAS. PÁG. A11

Diante do fracasso, a licitação será divididaem duas partespara tentartornar o projeto mais atrativo. A obra está orçada em R$ 33 bilhões. ECONOMIA / PÁG. B1

NOTAS & INFORMAÇÕES

A Itália é a bola da vez Se a Itália for empurrada para o buraco, a crise mudará de patamar. PÁGINA. A3


O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 12 DE JULHO DE 2011

Nacional A11

PT quer consenso em SP até dezembro Depois do anúncio de que o ministro Fernando Haddad pretende concorrer à Prefeitura de São Paulo, partido quer antecipar indicação Iuri Pitta

Com pelo menos cinco nomes colocados como pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo, seria natural imaginar uma intensa disputa interna no PT paulistano para a definição de um nome. Pois o que se nota é o contrário. Tanto apoiadores do ministro da Educação, Fernando Haddad – que disse ao Estado querer ser o candidato da sigla em 2012 – quanto os grupos dos demais pré-candidatos pregam união nessa escolha. Por ora, a palavra de ordem no PT é consenso. “O desafio que se coloca ao partido é criar instrumentos para construir uma unidade”, disse o presidente do diretório paulis-

ta,deputadoestadualEdinhoSilva. O vereador Antonio Donato, presidente do diretório municipal, segue a mesma linha. “Vamos trabalhar para chegarmos a um nome de consenso. O ministro é mais um bom nome que se soma aos outros já colocados.” Além de Haddad, já anunciaram publicamente a disposição de concorrer à Prefeitura a senadora e ex-prefeita Marta Suplicy e os deputados Carlos Zarattini e Jilmar Tatto. O também ministroAloizio Mercadante,derrotado na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes no ano passado, também está no páreo, ainda quenãotenha feito nenhumadeclaração pública nesse sentido. Ontem, Marta disse ser “normal que as pessoas se colo-

EPITACIO PESSOA/AE–24/5/2011

to embrionário”. “Antes de dezembro isso não se resolve.” Haddad tem a seu favor o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defende umnome inédito como candidatodoPT aprefeito e,depreferência, sem a realização de prévias. É o que também quer Zarattini, outro estreante na disputa. “Temoscondiçõesdeconstruir consenso no partido.” Prévias. Hoje, a avaliação no

Desafio. Edinho: tarefa do PT é ‘construir a unidade’ quem” na disputa interna. “É absolutamente democrático”, afirmou a senadora. Para ela, no entanto, esse debate ainda é “mui-

PT é que, na falta de um consenso, o principal beneficiado seria Mercadante. O ministro, no entanto,não colocaráseunome publicamente antes de consultar Lula e a presidente Dilma Rousseff.Ainterlocutores,Mercadante disse que dificilmente fará is-

so antes de setembro. Alguns fatores explicam o favoritismo de Mercadante em uma eventual votação interna. Marta perdeu parte de sua força na campanha ao Senado do ano passado, ao bater de frente com alguns de seus principais aliados.TattoeZarattinisãodeputados não só com boa votação na eleição passada, mas de força interna dentro do partido. Haddad é quem mais precisaria buscar as bases da sigla. “É uma crítica um tanto injusta. O ministro já esteve em assembleias, encontrou a bancada estadual e vai conversar com os vereadoresecomasbasesdopartido”, disse o deputado estadual Simão Pedro. / COLABOROU

PARA LEMBRAR Fernando Haddad é mais conhecido pela atuação no MEC, mas conhece por dentro a Prefeitura paulistana. Entre 2001 e 2003, o economista foi chefe de gabinete da Secretaria de Finanças da gestão Marta Suplicy, comandada por João Sayad. Na prática, Haddad era o executor das políticas fiscais e tributárias – ou seja, passaram por ele tanto o saneamento da Prefeitura após a gestão Celso Pitta como a criação de taxas que acabaram custando a reeleição de Marta. / I.P.

GUSTAVO URIBE

PTB entra com ação contra PSD e quer perícia de assinaturas THIAGO TEIXEIRA/AE–7/7/2011

Reportagem do ‘Estado’ revelou que empregados de uma fábrica no interior foram ‘convocados’ a apoiar o novo partido Fabio Leite

OpresidentedoPTBpaulista,deputadoestadualCamposMachado, entrou ontem com uma representaçãonaProcuradoriaRegional Eleitoral (PRE) pedindo investigação sobre a coleta de apoio para a criação do PSD dentro de uma fábrica em Ibitinga, no interior do Estado. No sábado, o Estado revelou quefuncionáriosda AndrezaEnxovais foram convocados pelo donoaassinaralistadonovopartido do prefeito Gilberto Kassab (ex-DEM).Um empregadodisse que colegas assinaram o documentosem saber doque setratava. Outro afirmou que em um dosturnosaspessoasforamobrigadas a levar o título de eleitor, necessário para a adesão. “Trata-se,efetivamente, de fatosgravíssimos. Além da evidente coação moral, exercida pelo dono da empresa e seus diretores contra os empregados, praticamente obrigando-os a assinar a lista ou ficha de adesão para criaçãodeumnovopartido,estamos diante de um caso típico de fraude, que o resultado obtido tem a sua origem em atos ilícitos”, afirmou Campos Machado. O petebista lidera a cruzada de opositores de Kassab contra a criação doPSD. Emjunho, ele e o DEM entraram com representação no Ministério Público Estadualpara quesejam investigadas irregularidades no recolhimento de assinaturas da nova legenda por servidores da Prefeitura deSãoPaulo. Machado alega que o PSD foi incorporado ao PTB

MPF quer ação contra acusados de tortura Para procuradoria, decisão de juíza que rejeitou processo contra três policiais contém ‘erro de fato’

Corregedor apoia projeto que reorganiza setor

Fausto Macedo

● O corregedor-geral do Ministé-

O Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo recorreu da decisão em que a juíza Diana Brunstein,da7.ªVaraFederalCível,rejeitouação civilpúblicapara afastamento imediato e a perdadoscargosoudasaposentadorias de três delegados da Polícia Civil. Eles teriam participado de torturas,abusosexual,desaparecimentos e homicídios, “a serviço e nas dependências de órgãos daUnião”,duranteoregimemilitar (1964-1985). A ação foi proposta em agosto de 2010. Em março passado, segundo a Procuradoria da Repú-

rio Público de São Paulo, Nelson Gonzaga, disse ontem que a reorganização da corregedoria, prevista no projeto 41/11, vai permitir ao setor que desempenhe com maior eficácia as funções de orientação e fiscalização das promotorias. Gonzaga declarou apoio irrestrito ao projeto, envia-

do à Assembleia pelo procuradorgeral de Justiça, Fernando Grella Vieira. A proposta, aprovada pelo Órgão Especial do Colégio de Procuradores, põe fim à concentração de poderes do corregedor – separa as funções de instrução e julgamento do corregedor, implanta o sistema acusatório e acaba com o sistema inquisitivo. Uma comissão processante permanente vai tocar os processos. O texto foi elaborado pelas assessorias da corregedoria e da Procuradoria-Geral. “A corregedoria vai ficar com maior disponibilida-

de de tempo para desempenhar suas funções nos termos da Lei Orgânica do MP, ou seja, as atividades precípuas de fazer vistorias nas promotorias”, assinalou o corregedor. “As correições são precedidas sempre de divulgação para que os interessados possam comparecer para eventuais reclamações e sugestões, Pela concentração de esforços nos feitos administrativos essa atuação ficava prejudicada. Agora teremos a proposta e depois o acompanhamento dos processos na comissão processante.” / F.M.

blica,ajuíza, ao rejeitar opedido, baseou-se na validade da Lei de Anistia e considerou que a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) ainda não havia se pronunciado sobre o tema. O MPF apresentou embargos

declaratórios, recurso perante a própria juíza do caso, sob alegação de que a sentença trazia “erro de fato” uma vez que a corte já havia decidido sobre a questão, em novembro de 2010. Agora, o MPF entrou com recurso de ape-

lação. A ação pede responsabilização dos delegados Laertes Calandra, David dos Santos Araújo eDirceuGravina,alémdacondenação à reparação por danos moraiscoletivoserestituiçãodas indenizações pagas pela União.

SegundooMPF,ajuízadecidiu que não cabe à Justiça Federaldeprimeirainstânciadiscutirquestõesdedireitointernacional.AprocuradoraEugênia Augusta Gonzaga destaca: “Os órgãos do sistema de Justiça brasileiro não podem recusar a sentença condenatória da Corte Interamericana sob a alegação de prevalência do direito constitucional interno,poiséestemesmodireito constitucional que vinculou o Estado à autoridade do tribunal internacional”. Os três delegados negam prática de tortura e indignamse com as acusações. O criminalista Paulo Esteves, que defendeosdelegados,écategórico. “Nenhum deles admite ter participado de tortura. Todos negam. Eles cumpriram suas obrigações funcionais. Jamais exorbitaram de suas atividades, nunca cometeram abusos, muito menos tortura. Não há prova material contra eles, no terreno da prova não há nada.”

Corrida. Partido de Kassab precisa de 490 mil adesões em2003eacusaoprefeitopaulistano de “apropriação indébita”. Ele sugere ainda uma perícia em todas as assinaturas coletadas. ‘Gentileza’. O dono da fábrica,

Manoel Roberto Alves Lopes, disse que a coleta foi uma “gentileza” ao irmão do deputado Guilherme Campos, seu cliente em Campinas, mas negou que tenha obrigado os funcionários a assinar. Segundo ele, foram coletadas cerca de 300 assinaturas entre os 2 mil empregados. Escolhido líder do PSD na Câmara dos Deputados, Guilherme Campos admitiu ter pedido ajuda a fornecedores da empresa da família, mas atribui a denúncia de pressão sobre os funcionários da Andreza Enxovais à “fofocade interior”.Umdos prérequisitos para o grupo de Kassabcriaro PSD atempodelançar candidato em 2012 é coletar 490 mil assinaturas emao menos nove Estados até outubro. Para o procurador regional eleitoral,PedroBarbosa Neto,se ficar comprovado que os funcionários foram obrigados a subscreveralista doPSD,as assinaturas podem perder a validade. “Tudo depende do contexto.”

‘Estado’ está sob censura há 711 dias Desde29 dejaneirode 2010,oEstado aguarda definição judicial sobre o processo que o impede de divulgarinformaçõessobreaOperação Boi Barrica, pela qual a PF investigou o empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado,JoséSarney(PMDB-AP), ojornalfoiproibidopeloTribunal de Justiça do Distrito Federal, em julho de 2009, de noticiar novos fatos relativos à operação da PF. No dia 18 de dezembro de 2009, Fernando Sarney entrou com pedido de desistência da ação contra o jornal, mas o Estado não aceitou. No dia 29 de janeiro de 2010, apresentou ao TJDF manifestação em que sustenta a preferência do jornal pelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado.


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Quarta-feira 13 DE JULHO DE 2011

RUY MESQUITA Diretor

R$ 3,00* ANO 132. Nº 43002 EDIÇÃO DE 0H15

Gênios. Mané Garrincha, Pelé e Didi no traço de Ique

estadão.com.br

Caderno2

Esportes

Artistas da bola Gigantes do Futebol Brasileiro reúne perfis de 21 craques

Hora de decidir Contra Equador, o Brasil, de Pato, faz quase uma final

ALEX SILVA/AE

JULIO MESQUITA 1891 - 1927

CLAYTON DE SOUZA/AE

Sem o BNDES, Pão de Açúcar suspende fusão com Carrefour

A Fifa definiu que o estádio do Corinthians,emItaquera,seráopalcodaaberturada CopadoMundo de2014. A informação foi antecipada ontem pela coluna Direto da Fonte no estadão.com.br. Tanto o clube quanto a Confederação BrasileiradeFutebol(CBF)jáforamnotificados da decisão. A entidade presididaporJosephBlatteraguardavaadefiniçãoeaapresentaçãodasgarantiasfinanceiras do projeto, o que foi feito na segunda-feira. Um aspecto, porém, ainda preocupa: falta a assinatura do contrato entre o Corinthians e a Odebrecht, encarregada da obra. ESPORTES / PÁG. E4

Com o veto do sócio francês, investidores reunidos por Abilio Diniz suspenderam ‘temporariamente’ a proposta Investidores liderados pelo empresárioAbilioDiniz suspenderam “temporariamente” as negociações para a fusão do Pão de Açúcar com a operação brasileira do Carrefour. A desistência foi motivada pelo veto do Casino – sócio francês do Pão de Açúcar – após reunião em Paris. O Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também anunciou que não financiaria a fusão, com aporte de

até R$ 4,5 bilhões. Em 2005, o Casino pagouUS$1 bilhãoparaassumiro controle do Pão de Açúcar em 2012. Diniz, porém, vem tentando uma saída desde 2010 para se manter à frente do negócio. A operação com o Carrefour seria uma maneira de mudar o jogo de forças, mas o Casino definiu a fusão como “contrária aos interesses” dos acionistaseabriuprocessosdearbitragem internacional. ECONOMIA / PÁG. B15

Um em cada três carros no País será importado

Auxiliares de Dilma já falam em manter diretor no Dnit Planalto avalia que se precipitou ao afastar Luiz Pagot DIDA SAMPAIO/AE

Radar multa mais em SP

Viatura da CET para sobre faixa de pedestre com o sinal vermelho em SP: radares que detectam esse tipo de infração já flagraram 6.231 motoristas. METRÓPOLE / PÁG. C4

Explicações. Pagot (à esq., com Blairo Maggi) depôs ontem no Senado

MP pedirá 12 anos de prisão no caso TAM

OPlanaltoavaliaquefoiprecipitadoao tirar Luiz Antonio Pagot da diretoriageraldoDepartamentoNacionaldeInfraestrutura de Transportes (Dnit) apósdenúnciasdeirregularidades.Procura agora uma saída honrosa para o caso.Emboraconsideradadifícil,apermanência de Pagot tem sido cogitada

O Ministério Público Federal pedirá a condenação a 12 anos de prisão da ex-diretora da Anac Denise Abreu e de dois dirigentes da TAM – Alberto Fajerman e Marco Aurélio Castro –, sobaacusaçãodeprovocara tragédia com o Airbus A320, que matou 199 pessoas em 2007. METRÓPOLE / PÁG. C5

pelabasealiada.EmdepoimentonoSenado, Pagot poupou o ministro Paulo Bernardo, mas deixou o governo em posiçãodifícilaoamarrarodestinodos diretores do Dnit ao seu. Já o novo ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, prometeu mudanças nas regrasdelicitação. NACIONAL / PÁGS. A4 a A8

Fifa confirma abertura da Copa em Itaquera

DORA KRAMER O bônus da prova Se não demitir Luiz Antonio Pagot, a presidente Dilma Rousseff reconhece que estava errada, que foi injusta e precipitada – para não dizer leviana.

ROBERTO DAMATTA A questão dos limites Se o republicanismo da Revolução Francesa se funda na igualdade perante a lei, o estilo brasileiro de exercer o poder é aristocrático e hierárquico.

A. CHARAI E J. BRAUDE O modelo do Marrocos Referendo constitucional pode levar o país a assumir papel de líder regional.

NACIONAL / PÁG. A6

CADERNO 2 / PÁG. D10

VISÃO GLOBAL / PÁG. A16

Gasto de Cabral com publicidade cresce 116% NACIONAL / PÁG. A8

INSS vai pagar revisão a 117 mil aposentados ECONOMIA / PÁG. B7

Marcas Perdigão e Batavo serão suspensas ECONOMIA / PÁG. B18

Tempo na capital e 27˚ Máx. Sol baixa 13˚ Mín. umidade HOJE: 72 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 712 DIAS. PÁG. A10

A importação de carros em 2011 vai ser a maiordahistóriadaindústriaautomobilística do País. A participação nas vendas, que era de 5% em 2005, deve chegar aos23%,segundoaAnfavea.Paraanalistas, porém, os importados deverão responderpor quase um terçodo mercado, ou 1 milhão de veículos. Com o câmbio sobrevalorizado, metalúrgicos temem pelos empregos e montadoras reivindicam do governo medidas para melhorar a competitividade. ECONOMIA / PÁG. B1

Prefeitura de SP vai cobrar 394 mil IPTUs atrasados A Prefeitura de São Paulo prepara cerco aosdevedoresdeR$45bilhõesemimpostos. Cem imóveis cujos donos devem IPTUhámaisde20anoseestãonadívida ativa do município serão leiloados. Outros394mil receberãoavisodecobrança. Desses, 236 mil vão receber o boleto até 1.º de agosto. METRÓPOLE / PÁG. C1

NOTAS & INFORMAÇÕES

O nebuloso desfecho da crise Como ficará a presidente se surgir algo que exponha o novo ministro pessoalmente? PÁG. A3


A10 Nacional %HermesFileInfo:A-10:20110713:

O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 13 DE JULHO DE 2011

Petrobrás assinou contrato com empresa de senador Leandro Colon / BRASÍLIA

A Petrobrás já assinou o contrato com a Manchester Serviços Ltda., fruto de uma licitação de R$ 300 milhões fraudada em março deste ano. A estatal não havia dado essa informação ao Estado até ontem. Por escrito, após três dias de questionamento, informou

que o contrato foi assinado em 1.º de julho. A Manchester pertence ao senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. OEstado revelouno domingo queaempresasoubecomantecedência a relação de seus adversários na licitação e os procurou paranegociar umacordo. Um di-

retor da Manchester reuniu-se por mais de três horas com uma concorrente, a Seebla Engenharia,em 30 de março,umdia antes da abertura das propostas. A Petrobrás confirmou que, na licitação, não revelou o orçamento estimado do contrato às sete empresas que participaram da disputa. “A estimativa não é divulgada em nenhum momento, pois poderia balizar outras licitações e ferir os interesses comerciais da companhia.” Ou seja, o sigilo do orçamento, como quer o governo nas licitações da Copa do Mundo, não impede o

o nosso shopping

conluio entre empresas. A relaçãodeconcorrentesvazoue houvereuniões antesdalicitação da Petrobrás para discutir valores – a estatal nega haver fraudes no processo e disse que nunca foi alertada a respeito, rebatendo informação da Seebla Engenharia. Eunício afirmou que está afastado da gestão da empresa desde 1998 e que, por isso, não tem relação com as negociações da Manchester. O senador é dono de 50% da empresa, que doou R$ 400 mil à campanha dele em 2010.

‘Estado’ está sob censura há 712 dias Desde29 dejaneirode 2010,oEstado aguarda definição judicial sobre o processo que o impede de divulgarinformaçõessobreaOperação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filhodopresidentedoSenado,José

Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em julho de 2009,denoticiarnovosfatosrelativos à operação da PF. No dia 18 de dezembro de 2009, Fernando Sarney entrou na Justiça com pedido de desistência da ação contra o jornal, masoEstadonãoaceitou.Nodia 29de janeiro de 2010, o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira apresentou ao tribunal manifestaçãoemquesustentaapreferência do jornal pelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado.

600 mil pe na 2ª região mais

Concepção artística da Praça de Alimentação

ABL 25.500m2 em 70.000m2 de terreno 5 âncoras 139 lojas satélite 6 megalojas 5 salas de cinema 1.300 vagas de estacionamento Concepção artística do Mall


%HermesFileInfo:A-1:20110714:

JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

Quinta-feira 14 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00*

estadão.com.br

ANO 132. Nº 43003 EDIÇÃO DE 1H

MARCOS DE PAULA/AE

No MAM. A produção dos anos de formação de Candido Portinari.

De bem com o tempo Com shows em São Paulo, Jorge Mautner celebra seus 70 anos

PÁG. D12

Paladar Além do fish & chips Os chefs por trás da nova cozinha inglesa

FELIPE RAU/AE

Caderno2

Cade reduz exigências e aprova fusão Sadia-Perdigão Apesar de suspensão parcial de marcas e obrigação de vender ativos, Brasil Foods mantém 87% do faturamento A Brasil Foods conseguiu aprovar ontemno Conselho Administrativo de DefesaEconômica(Cade)afusãoentreSadia e Perdigão e manter 87% do faturamento líquido de R$ 22,7 bilhões e 78% das vendas no mercado interno. A BRF terádevenderativosesuspenderasmarcas Perdigão e Batavo em algumas cate-

gorias de produtos. Não será obrigada, porém, a negociar com um único comprador. Cinco pretendentes já rondam o espólio. Ontem, as ações da empresa tiveram alta de 9,77%. O acordo foi comemorado por executivos da BRF, que durante mais de dois anos negociaram no Cade e, ao final, conseguiram derru-

bar o voto contrário do relator Carlos Ragazzo. Para analistas de mercado, o desfecho foi melhor que o esperado. “Foi umaaprovação maisbranda”, disse Cauê Pinheiro, analista da SLW. Para órgãos de defesa do consumidor, a decisão vai limitar o poder de escolha do consumidor. ECONOMIA / PÁGS. B1 e B3

● Carrefour

avalia novo projeto

Após fracassar a negociação de fusão com o Pão de Açúcar, o Carrefour dá sinais de que procura uma nova saída para a sua operação no Brasil. ECONOMIA / PÁG. B12

ALEX SILVA/AE

Esportes

Pato e Neymar levam Brasil às quartas Com dois gols de Pato e dois de Neymar, o Brasil venceu ontem o Equador por 4 a 2, se classificou em primeiro no grupoB evaipegar oParaguaino domingopelas quartasde finalda CopaAmérica. Caicedo marcou os dois gols do Equador, em falhas do goleiro Julio Cesar. A classificação do Brasil adiou de domingo para quarta-feira três jogos do Campeonato Brasileiro. PÁGS. E1, E3 e E4

O Congresso aprovou a Lei de DiretrizesOrçamentáriascommecanismosparaimpedir aampliação dosgastos públicos. Além de cumprir a meta de superávit primário, o governo terá de obter o déficit nominal zero até 2014. A equipe econômicadeve recomendarovetodessespontos.ALDOtambémprevêreajuste acima da inflação de benefícios de aposentados do INSS. ECONOMIA / PÁG. B4

Ministro dos Transportes já pede volta de licitações Recém-empossado, o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, já querrevogar a suspensão por 30 diasdas licitações, projetos e obras do ministério determinada há uma semana pela presidente Dilma Rousseff para que fosse feito pente-fino nos gastos da pasta. EmaudiêncianaCâmara,Passosprometeu, segundo parlamentares, fazer o que estiver ao alcance para que o ritmo das obras seja retomado. NACIONAL / PÁG. A4

Estádio de Itaquera será sede da Copa A Fifa confirmou que a arena de Itaquera será o palco paulista na Copa de 2014, mas ainda não definiu onde ocorrerá o jogo de abertura. PÁG. E2

LDO passa no Congresso com travas a gasto público

● Pagot

A festa. Alexandre Pato comemora o gol que abriu o placar ontem em Córdoba, seu primeiro na Copa América

Após três minutos de voo, avião cai e mata 16 no Recife

OTAVIO DE SOUZA/AP

Atentados em Mumbai matam 21 e ferem 141

SP SECRETA

E

Doistripulantes e14passageirosmorreram na queda de um bimotor ontem num terreno de Boa Viagem, no Recife. O voo da Noar, que faria a rota RecifeNatal-Mossoró, caiu pouco mais de três minutos após decolar. Há indícios de falha técnica. METRÓPOLE / PÁGS. C1 e C3

Destroços. Peritos trabalham na área onde o bimotor caiu e pegou fogo

JOSÉ SERRA Um trem alucinado O projeto do trem-bala entre São Paulo e Rio poderia ser usado em cursos de administração pública como exemplo do que não se deve fazer.

EUGÊNIO BUCCI Globalização da ética O fim do tabloide inglês deixou claro: a credibilidade dos órgãos jornalísticos não é assunto doméstico. Ela floresce e sucumbe na arena global.

VERISSIMO Chafurdando Os tabloides são armas na mal disfarçada luta de classes que tem sido a história da Inglaterra desde os primeiros barões.

ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2

ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2

CADERNO 2 / PÁG. D12

está fora, avisa Dilma

Dilma Rousseff disse a ministros que Luiz Antonio Pagot não voltará ao comando do Dnit. Já o vice Michel Temer defendeu que se espere o fim das férias para decidir. NACIONAL / PÁGS. A7 e A8

les estão em pontos como o Hospital das Clínicas, o Teatro Municipal e o quartel da Rota. Os túneis que cruzam o subsolo de São Paulo ajudam a contar a trajetória dessas instituições. METRÓPOLE / PÁG. C10

INTERNACIONAL / PÁG. A14

Agência de risco ameaça baixar nota dos EUA ECONOMIA / PÁG. B7

Chávez diz que passará por quimioterapia INTERNACIONAL / PÁG. A22

Tempo na capital seco e 27˚ Máx. Ar tempo 13˚ Mín. firme HOJE:100 PÁGINAS(20DECLASSIFICADOS) * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 713 DIAS. PÁG. A13

NOTAS & INFORMAÇÕES

A tristeza da presidente As máfias políticas que Lula cevou para eleger Dilma são as mesmas que agora a deixam triste. PÁG. A3


Nacional A13

%HermesFileInfo:A-13:20110714:

O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 14 DE JULHO DE 2011

Deputados ‘fichas-sujas’ tomam posse

Foto ilustra tiva

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Eduardo Bresciani / BRASÍLIA

Três deputados eleitos em 2010 que tinham sido barrados pela Lei da Ficha Limpa tomaram posse na Câmara na tarde de ontem. João Pizzolatti (PP-SC), Janete Capiberibe (PSB-AP) e Magda Moffato (PTB-GO) tiveram sua posse acelerada depois que a Câmara decidiu acabar com um processo interno antes de cumprir as decisões judiciais sobre o caso. O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a Lei da Ficha Limpa não tem validade para as eleições de 2010. Com isso, os votos de quem foi barrado pela lei estão sendo validados e alguns têm ganho o direito a tomar posse. Até agora, antes de cumprir as decisões judiciais, a Câmaraabriaum processointerno dando “direito” ao deputado que vai sair de apresentar uma espécie de defesa. Um ato aprovadoontem determinaque atroca passará a ser automática assim que chegar um comunicado da Justiça. Além dos três deputados fichas-sujas, outro parlamentar foi beneficiado e assumiu ontem. Nilson Leitão (PSDB-MT) não foienquadrado na lei, mas se beneficiou porque os votos de Willian Dias (PTB-MT) foram validadoselevaramaumaalteração no coeficiente eleitoral do Estado. Com isso, o tucano Nilson Leitão fica com a vaga de Ságuas Moraes (PT-MT).

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‘Estado’ está sob censura há 713 dias Desde29dejaneirode2010,oEstado aguarda definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar informações sobre a Operação Boi Barrica, pela qual a PolíciaFederal investigou a atuaçãodoempresárioFernandoSarney.A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, JoséSarney (PMDB-AP), ojornal foiproibidopeloTribunaldeJustiça do Distrito Federal, em julho de 2009, de noticiar novos fatos relativos à operação da PF. No dia 18 de dezembro de 2009, Fernando Sarney entrou na Justiça com pedido de desistênciadaação, masoEstado não aceitou. No dia 29 de janeiro de 2010, o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira apresentou ao tribunal manifestação em nome dojornalsustentandoapreferência pelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado.

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%HermesFileInfo:A-1:20110715:

JULIO MESQUITA 1891 - 1927

15 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00* ANO 132. Nº 43004

RUY MESQUITA Diretor

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EDIÇÃO DE 0H15

SEXTA-FEIRA Metrópole Descobertas em São Vicente peças de 1580. Pág. C10

Divirta-se

Caderno2

Tudo sobre Harry Antes de assistir ao novo filme, leia nossa retrospectiva

Como se fosse o único No CD que chega dia 20, Chico inspira-se em temas como o amadurecimento

NILTON FUKUDA/AE

● Lauro

Lisboa Garcia

A força das letras ● João Marcello

Bôscoli

O craque cresce quando a torcida provoca ● Sérgio

Ricardo

Seu novo disco dispensa análises

MARCOS DE PAULA/AE

Mulher de diretor do Dnit já ganhou R$18 milhões em obras Construtora venceu licitações para recuperar rodovias federais em Roraima entre 2006 e 2011 Leandro Colon / BRASÍLIA

A Construtora Araújo Ltda., da mulher de José Henrique Sadok de Sá, diretor executivo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), tem contratos que somam pelo menos R$ 18 milhões para obras em ro-

dovias federais entre 2006 e 2011, todas vinculadas a convênios com o órgão. Sadok acumula o cargo de diretor-geral interino do Dnit em substituição a Luiz Antônio Pagot, em férias após ameaça de ser afastado em meio ao escândalo de corrupção nos Transportes. A construtoradeAnaPaulaBatistaAraújo,mulher

de Sadok de Sá, cuida de obras nas rodovias BR-174, BR-432 e BR-433, todas em Roraima e vinculadas a convênioscom o Dnit. Os contratos tiveram aditivos, que aumentam prazos e valores. Sadok de Sá disse que os contratos são com o governo de Roraima e foram realizados por meio de licitação. NACIONAL / PÁG. A4

JOSÉ H. SADOK DE SÁ

DIRETOR-GERAL INTERINO DO DNIT

“Ela (Ana Paula) não está ganhando porque eu sou o diretor executivo. Não vou poder proibir uma empresa de exercer o seu direito”

CLAUDIO SANTANA/AFP

Estudantes voltam às ruas no Chile Policial prende estudante em Santiago, onde milhares voltaram às ruas para pedir mais subsídios para a educação pública: na frente do palácio presidencial, a manifestação foi contida com gás lacrimogêneo e jatos de água.

Lula ataca mídia e sugere mais 4 anos para Dilma Em evento da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Goiânia, o ex-presidente Lula sugeriu que sua sucessora, Dilma Rousseff, concorra à reeleição em 2014 e voltou a criticar a imprensa. “Saí há seis meses do governo e eles não saemdo meu pé”, afirmou Lula, acusandojornalistasdecriaremsupostadiscórdia entre ele e Dilma. O Planalto não endossou as críticas. NACIONAL / PÁG. A8

EUA também investigam Murdoch O escândalo das escutas ilegais na GrãBretanha chegou aos Estados Unidos. O FBI (polícia federal americana) abriu uma investigação para saber se o News Corp., grupo comandado por Rupert Murdoch,grampeouostelefonesdevítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001. Na semana que vem, Murdoch vai aoParlamento britânicofalar dos grampos. INTERNACIONAL / PÁG. A10

LEONARDO SOARES/AE

INTERNACIONAL / PÁG. A14

Corinthians dispara Na oitava vitória em nove jogos, o time bateu o Internacional por 1 a 0 e abriu seis pontos sobre o Flamengo, vice-líder do Brasileiro.

Na rede. Willian, quinto gol no Brasileiro

ESPORTES / PÁG. E1

Chávez vai tratar câncer no Brasil

Caso TRT-SP: União recupera R$ 55 milhões

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, aceitou a oferta de sua colega brasileira, Dilma Rousseff, para se tratardocâncernoHospital Sírio-Libanês,em SP. INTERNACIONAL /PÁG. A14

Fisco cria ‘viciados’ em parcelar dívidas

Tempo na capital

NACIONAL / PÁG. A6

ECONOMIA / PÁG. B1

Lazer na penumbra Quatro dos principais parques de São Paulo (na foto, o da Juventude) têm pouca iluminação. METRÓPOLE / PÁG. C1

JF DIORIO/AE

CELSO MING O impasse dos EUA A quebra dos EUA parece improvável, mas a elevação do teto da dívida não soluciona a rápida deterioração das condições fiscais do país.

DORA KRAMER A mão que afaga Dilma precisa com urgência arrumar um jeito de driblar as crises com propaganda mais eficaz. O PT está com saudade do modo de Lula.

EDUARDO MALUF Pés no chão Todos cobramos Alexandre Pato como alguém muito acima da média, quase gênio. Exageramos. Pato nunca chegou a esse degrau na carreira.

ECONOMIA / PÁG. B2

NACIONAL / PÁG. A6

ESPORTES / PÁG. E2

26˚ Máx. 12˚ Mín.

Sol, com ar seco e poluído

HOJE: 184 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 714 DIAS. PÁG. A8

NOTAS & INFORMAÇÕES

Uma LDO mal-arrumada Há boas novidades na LDO, mas o conjunto é uma colcha de retalhos mal costurados. PÁG. A3


A8 Nacional %HermesFileInfo:A-8:20110715:

O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 15 DE JULHO DE 2011

NELSON MOTTA

Escravos de branco

S

e país rico é país sem miséria e em Cuba não há miséria, como assegura Fidel, então Cuba é mais rica do que o

Brasil? Lá vem ele de novo com essa chatice de Cuba, que é de absoluta irrele-

vância internacional sob qualquer ponto de vista, quando há assuntos muito mais interessantes por aqui, onde em uma década 40 milhões de pessoas entraram para a classe C. São quatro Cubas, onde todo mundo é pobre, menos os corruptos e a nomenclatura do

partido, que levam vida de ricos. Devoaoamoràdramaturgia eàcomédia esta obsessão por Cuba, o ideal de justiça e fraternidade de minha geração nos anos 60. Vimos o sonho começar em Sierra Maestra, acreditamos que os jovens heróis românticos criariam um

socialismo tropical, com alegria e liberdade, que não seria como o dos cuecões soviéticos, com sua rigidez comunista e sua falta de sol e de humor. E ao longo de 50 anos, vimos como o sonho se tornou um pesadelo. Mas que história! Que personagens ! Quantas lágrimas e gargalhadas ! As bravatas, as grandes farsas fidelescas, os discursos de oito horas, as marchas monumentais, as mentiras revolucionáriastransformadasemhistóriaoficial, é tudo tão trágico e cômico que supera qualquer ficção de Vargas Llosa ou Garcia Marquez. Um dos últimos mitos a ruir é a excelência da saúde pública cubana. Cada vez mais, saúde é verba, como dizem em Brasília – equipamentos e remédios de últimageraçãosãocaríssimos.Aboafor-

mação dos médicos e o seu patriotismo não bastam quando faltam até anestésicos e analgésicos nos hospitais, faltam chapas de raio X e seringas descartáveis, os doentes tem que levar seus lençóis de casa. A solução revolucionária para os médicos ociosos pela falta de recursos e equipamentos foi despachá-los para a Venezuela, onde 30 mil doutores cubanos trabalham nos programas populares chavistas. A Venezuela paga salários de mercado – mas ao governodeCuba,querepassaaosmédicos uma merreca. Vivem em alojamentos miseráveis, sem passaportes para não desertar, e suas famílias são ameaçadas na ilha. Quem diria, o sonho do socialismotropical acabou na estatização da escravatura.

Lula ataca mídia e dá mais 4 anos a Dilma Ex-presidente sugere a reeleição da petista e diz que imprensa desconhece realidade do governo; Planalto não endossa teor das críticas

ANTONIO CRUZ/ABR

Rubens Santos ESPECIAL PARA O ESTADO / GOIÂNIA

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem a gestão de sua sucessora, Dilma Rousseff, e chegou a sugerir que a presidente concorra à reeleição em 2014. Como de costume, Lula também criticou a imprensa e afirmou que a oposição trabalha pelo fracasso da atual gestão. Asdeclaraçõesforamfeitasdurante evento da União Nacional dosEstudantes(UNE),emGoiânia. Lula negou ter divergências com Dilma. Ele preferiu imputar à imprensa uma suposta discórdia entre eles: “Saí há seis meses do governo e eles (a imprensa) não saem do meu pé”, afirmou. “Primeiro, eles tentaram mostrar uma divergência entre eu e a Dilma. Não precisa ser nenhum especialista para saber qual a diferença. Depois perceberam que não havia divergência”, disse, arrancando risos da plateia. “Quando fui a Brasília para tirar fotos com os senadores, disseram que ela (Dilma) era fraca”, afirmou. “E o babaca que escreveu isso, se já tivesse sentado com a Dilma por dez minutos, iria saber que ela pode ter todos os defeitos do mundo, menos ser fraca.” Oex-presidentetambémcriticou a imprensa por divulgar informações sobre o patrocínio da Petrobrás, no valor de R$ 4 milhões, ao evento dos estudantes: “Aquelejornal(OGlobo),decaráter nacional, não sai do Rio de Janeiro”, disse Lula. “Vai na baixada Fluminense que você não acha ele”, ironizou. “E os grandes (jornais) de São Paulo quase não chegam no ABC.” À vontade, Lula evitou temas espinhosos, como a denúncia do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, apresentada ao Supremo na semana passada e segundo a qual o mensalão, escândalo da gestão do ex-presidente, foi uma atentado à democracia brasileira. Sobre a performance de Dilma, ele afirmou: “A presidente vai fazer mais e melhor do que nós fizemos. Ela vai inaugurar atéo finaldo mandato, digo, desteprimeiromandato, obviamente, mais 200 escolas técnicas”. Durante o encontro dos estudantes,Lula disse estarsentindo a ausência do ex-vice-presiden-

Paixão por palanque. Lula, com o presidente da UNE, Augusto Chagas, e o ministro Haddad: ‘Há quanto tempo não faço um discursinho, queria matar a vontade’ te José Alencar, morto neste ano, e da presidenta Dilma ao seu lado no evento: “Acho que foiumequívoco(elanãoestarpresente)”, disse ele. “A gente ia dizer: nunca antes na história do Brasil uma presidenta, mulher, tinha participado de um encontro da UNE.” Alémde participardocongresso da UNE, Lula se reuniu com dirigentesdoPTedoPMDBgoiano para ampliar uma parceria visando às disputas eleitorais pela Prefeitura de Goiânia, no ano que vem. Oposição. Sobre a atuação da

oposição, o ex-presidente rebateu críticas e novamente foi ao ataque. “Estão torcendo para a

● No

pé do ‘ex’

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA

“Saí há 6 meses do governo e eles (a imprensa) não saem do meu pé”

Chalita diz que não teme ações de suplentes do PSB Pelo Twitter, deputado se defendeu de acusações e afirmou que não usou a TV do metrô para fazer propaganda irregular Daiene Cardoso AGÊNCIA ESTADO

Ameaçado por dois suplentes do PSB de ter seu mandato cassado pelaJustiçaEleitoralporinfidelidadepartidária,odeputadofederal Gabriel Chalita (PMDB-SP) disse estar tranquilo e confiante

de que as demandas não vão prosperar. “Com relação às notícias de que dois suplentes pediram o meu mandato, fiquem tranquilos, confio na Justiça”, afirmou o deputado no Twitter. O deputado deixou o PSB em maio para se filiar ao PMDB, quando também anunciou sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo. “Faço da política um exercício de sinceridade. Não compactuo com máscaras, mentiras, negociatas. Tive quase 600 mil votos. Tenho honrado esses votoscommuitotrabalho”,desabafou aos 102 mil seguidores.

inflação voltar”, disse. Para Lula, seu governo deixou uma “herança bendita”. “Chegou a se falar em herança maldita”, disse. “É que eles (a imprensa) não reconhecem que o povo não quer mais intermediário entre eles e a informação.” Segundo Lula, os questionamentos sobre seu legado além denãoserem reaisestãopermeados de preconceitos sociais. “Os que governam para um terço da população estão incomodados em ver os pobres andando de avião”, criticou. “Tem gente que seincomodavendopobreandandodecarronovoporqueelesadoram ver um pobre andando de Brasília, ou de Chevette com o para-choque arrastando. Essa gente não está acostumada a ver um progresso.” Afirmações como essas levantaram a plateia. O ex-presidente começou o discurso confessando-se“apaixonado”pormicrofones. “Não via a hora de falar perto de um microfone outra vez”, disse. “Há quanto tempo não faço um discursinho.”

Marco Aurélio Ubiali e Marcelinho Carioca, suplentes do PSB, reivindicam o mandato de Chalita no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Eles argumentam que a saída de Chalita do PSB não teve justa causa, caracterizando-se assim infidelidade partidária. Ubiali teve seu pedido de liminar negado pela presidente em exercício do TSE, a ministra Nancy Andrighi. Marcelinho também recorreu ao TSE, mas seu pedido ainda não foi julgado. Mensagens. Chalita aprovei-

tou a rede de microblogs para se

● Mudança

A troca de partido é permitida em casos de fusão ou criação de siglas, mudança substancial ou desvio do programa partidário, ou grave discriminação pessoal

‘Haddad vai entrar para a História’, diz o ex-presidente ● Em campanha nos bastidores

para emplacar o ministro da Educação, Fernando Haddad, como candidato do PT à Prefeitura de São Paulo em 2012, o ex-presidente Lula fez elogios explícitos ao colega durante palestra no 52º Congresso Nacional UNE. Lula afirmou que “Hadad vai entrar para História, como o ministro que mais fez para a educação e para os estudantes do Brasil”. Apesar dos elogios e aplausos, Haddad evitou dar entrevistas. De acordo com petistas de Goiás, o ministro prefere evitar o Mudança de tom. Para auxilia-

res diretos da presidente Dilma, as declarações de Lula contra a imprensa não têm o mesmo tom e teor dos discursos públicos

defender da acusação de que teria usado a TV Minuto, que controlaaprogramaçãoveiculada nos vagões do metrô de São Paulo, para fazer campanha. Segundo o deputado, a editora do livro Gentileza pediu autorização para usar frases de seu livro e que ele não viu nenhum mal nisso. “A editora pediu minha autorização para que usassem as frases. Disse que era uma campanha pela gentileza em grandes cidades e eu autorizei. Não recebi nenhuma remuneração”, justificou. Os vídeos com mensagens de autoajuda de Chalita foram suspensos após reportagem do jornal Folha de S.Paulo. “Esse livro, Gentileza, já vendeumaisde300mil exemplares. Daqui a pouco dirão que vender livro também é propaganda para eleição”, reclamou Chalita.

tema diante da indefinição do PT sobre a candidatura. Para o ex-presidente, a gestão de Haddad abriu oportunidades aos estudantes carentes e sem acesso às universidades com o Prouni. “Nós queríamos mais gente em salas de aula. Mas tem um tipo de gente que criticava, dizendo: 'esse tal de Lula dando bolsa de estudo pra pobre?’”, provocou Lula, aplaudido de pé por mais de 2 mil estudantes. Lula e Haddad se emocionaram com o depoimento de Vanessa Castilho, 32 anos, aluna de medicina na Uninove (SP), filha de um pedreiro e uma dona de casa. “Quem não se emociona com isso tem de ser diretor do BC (Banco Central), não trabalhar na Educação", disse Haddad.

que o Planalto vem mantendo hoje. Em seus pronunciamentos em Brasília e nas viagens pelo País, Dilma faz questão de cumprimentar os “senhores e as se-

‘Estado’ está sob censura há 714 dias Desde o dia 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar informações a respeito da Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sarney.

nhoras jornalistas”. Um ministro do atual governo e que também participou da gestão Lula disse ao Estado que o Planalto “comemora” o clima de “distensão” que Dilma conseguiu estabelecer na relação com a imprensa e mesmo a oposição. “O mais importante é que esse novoclima é bom para ogoverno e o País”, afirmou a fonte. Duranteasduasprincipaiscrises políticas do governo, que resultaram nas demissões dos ministrosAntonioPalocci(CasaCivil) e Alfredo Nascimento (Transportes), Dilma não culpou jornalistas pelos problemas. Em seu governo, Lula usava a estratégiadecriticaraimprensapara reduzir o impacto das crises e apostava nos discursos inflamados para solucionar os impasses. Embora faça discursos carregados de gentileza, a presidente, porém, dá demonstrações claras de não aturar o trabalho dos repórteres que cobrem o governo, observam auxiliares diretos. Ela não costuma, por exemplo, conversar com os jornalistas.

A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em 31 de julho de 2009, de publicar quaisquer informações relacionadas àquela operação realizada pela Polícia Federal. No dia 18 de dezembro do mesmo ano, Fernando Sarney entrou na Justiça com um pedido de desistência da ação movida contra o jornal, mas o Estado não aceitou. No dia 29 de janeiro de 2010, o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira apresentou ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal manifestação em nome do jornal sustentando a preferência pelo prosseguimento daquela ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado. Até hoje o Estado aguarda uma manifestação.


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

16 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00* ANO 132. Nº 43005

EDIÇÃO DE 0H15

estadão.com.br

SÁBADO Metrópole

Estrela. Stevie Wonder foi anunciado ontem pelo Rock in Rio. Pág. C7

C2+música

Sabático

Rock do Norte Bandas de Amapá e Roraima vêm conquistando fãs

Ficção americana Teju Cole fala ao Estado sobre seu elogiado romance

REBECCA COOK/REUTERS – 14/6/2005

TIAGO SANTANA/AE

Dilma afasta diretor executivo do Dnit após novas denúncias ‘Estado’ revelou que a mulher de José Sadok teve R$ 18 mi em contratos de obras O diretor executivo do Departamento NacionaldeInfraestruturadeTransportes (Dnit), José Henrique Sadok de Sá, foiafastadoporordemdapresidenteDilma Rousseff. Ele responderá a processo administrativo disciplinar, que pode resultar em demissão. A decisão foi tomadaapósoEstadoterreveladoqueaCons-

trutora Araújo Ltda., de Ana Paula Batista Araújo, mulher dele, ganhou contratosnovalor de pelomenos R$ 18milhões para tocar obras em rodovias. Sadok vinharespondendointerinamentepeladireção-geral do órgão, no lugar de Luiz AntonioPagot,eéosextodirigentevarrido pela crise no setor. NACIONAL / PÁG. A4

● Licitações liberadas

Depois de suspender as licitações para obras em estradas por 30 dias, o governo decidiu liberá-las à medida que os processos forem sendo avaliados. NACIONAL / PÁG. A6

Clima. Lula beija militante em congresso da União Geral dos Trabalhadores

Para Lula, Haddad é ‘adequado’ O ex-presidente tornou público seu apoioàcandidaturadoministroFernando Haddad (Educação) para a PrefeituradeSãoPaulo.“Achoqueocompanhei-

WERTHER SANTANA/AE

Ônibus sem controle mata 3 Um ônibus desgovernado bateu de frente com duas motos, matou três pessoas e feriu outra ontem na Avenida Cupecê, em Cidade Ademar, zona sul de São Paulo; o motorista disse ter perdido o controle após falha no sistema de travamento de seu banco.

Sob pressão, Obama dá ultimato ao Congresso Pressionado pela China e pelas agências de classificação de risco, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deu ao Congresso prazo de 36 horas para um acordo sobre a elevação do teto da dívida pública e a redução de quase um terço de seu valor em dez anos. ECONOMIA / PÁGS. B1, B3 e B4 ● Crise reflete na Bovespa

A indefinição sobre a dívida dos EUA e a crise econômica na Europa levaram a Bovespa a ter sua segunda pior semana no ano, com queda acumulada de 3,31%. ECONOMIA / PÁG. B12

METRÓPOLE / PÁG. C6

Cai migração entre regiões do Brasil, aponta IBGE Entre 2000 e 2009, houve queda de 37,5%nonúmerodepessoasquemigraram de um Estado para outro, segundo o IBGE. Rio e São Paulo deixaram de

ro Haddad é adequado”, afirmou. Depois, minimizou: “Acho que ele está na disputa. Agora, quem vai decidir são os delegados do PT”. NACIONAL / PÁG. A7

ser “importadores” e passaram a “exportar” moradores. Já o Espírito Santo despontoucomofocodeatraçãodenovos habitantes. NACIONAL / PÁG. A8

Tragédia da TAM: 3 são processados

Chávez vai a Cuba para quimioterapia

A Justiça Federal abriu processo criminal contra a ex-diretora da Anac Denise Abreu e dois ex-diretores da TAM pelo acidente que matou 199 pessoas em 2007. METRÓPOLE / PÁG. C5

Grampos derrubam executivo de jornal

SERGIO AUGUSTO Nunca estamos bem A hipocondria, em si, é uma doença, mas, assim como os paranoicos também têm inimigos, os hipocondríacos também têm doenças.

DAVID ROTHKOPF Nova relação Os Estados Unidos precisam reconhecer que o Brasil já é uma potência global.

CELSO MING Bancos postos à prova Os testes de estresse mostraram que a saúde dos bancos europeus não parece tão boa. É mais uma fonte de pressão sobre os governos.

SABÁTICO / PÁG. S2

VISÃO GLOBAL / PÁG. A18

ECONOMIA / PÁG. B2

Maresias tem 2 novos barracos por semana

INTERNACIONAL / PÁG. A18

INTERNACIONAL / PÁG. A14

Tempo na capital e baixa 28˚ Máx. Calor umidade 12˚ Mín. à tarde 122 PÁGINAS (30 DE CLASSIFICADOS) * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 715 DIAS. PÁG. A11

Num dos mais belos pontos do litoral norte de São Paulo, ocupação clandestina de terrenos cresce rapidamente e avança pelo Parque Estadual da Serra do Mar. METRÓPOLE / PÁG. C1

NOTAS & INFORMAÇÕES

Murdoch sentiu o golpe O escândalo britânico mostra que se deve, de fato, punir os delitos da imprensa de esgoto. PÁG. A3


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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 16 DE JULHO DE 2011

EUA devem criar órgão especial para o Brasil Para ex-embaixadora, Departamento de Estado americano precisa reforçar laços com Planalto e formular escritório voltado aos brasileiros Denise Chrispim Marin CORRESPONDENTE WASHINGTON

A saída de Arturo Valenzuela da área de Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado dos EUA, amanhã, deve abrir a chance de criação de um escritório especial para o Brasil no órgão comandante da diplomacia americana. A perspectiva dessa mudança depatamardosassuntosbrasileiros no governo americano foi apontada ontem pela ex-embaixadora dos Estados Unidos em Brasília Donna Hrinak e por Julia Sweig, diretora do Council on Foreign Relations. Para ambas, se faz necessária uma maior formalização das relações entre os dois países e o entendimento, por parte do governo dos EUA, de que o Brasil não se resume apenas a um líder regional. AsponderaçõesdeDonnaeJulia surgiram na sequência da divulgação do estudo “EUA Devem Desenvolver uma Parceria

‘Estado’ está sob censura há 715 dias Desde o dia 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar informações a respeito da Operação

Madura e Forte com o Brasil”, elaborado pelo Council on Foreign Relations (CRF), entidade respeitada em Washington e influente no Departamento de Estado e na Casa Branca. As duas especialistas em Brasiltomaramparte da formulação doestudo. Para Hrinak, a criação desse escritório concentrado no Brasil seria um “sinal importante”paraenfatizararelevânciadada aos EUA a essa relação bilateral. Da mesma forma como o apoioaoingressodoPaísaoConselho de Segurança como membro permanente - também recomendado pelo estudo. “Éacoisa certaafazer, quesig● Diálogo

DONNA HRINAK

EX-EMBAIXADORA DOS EUA NO PAÍS

“Mais importante é haver maior institucionalização das relações entre os dois países. É preciso elevar o padrão desse diálogo”

Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em 31 de julho de 2009, de publicar quaisquer informações relacionadas àquela operação realizada pela Polícia Federal. No dia 18 de dezembro do mesmo ano, Fernando Sarney

nificariaumamudançanacapacidade de os dois países se entenderem e dialogarem”, afirmou Julia Sweig. “Mais importante é haver maior institucionalização das relações entre os dois países. Aindahámuitasconversas informaisentreosministroseasautoridades. É preciso elevar o padrão desse diálogo”, completou Donna Hrinak. As especialistas em Brasil desviaram-seda qualificaçãoda presidente Dilma Rousseff como uma governante fraca. Para Julia Sweig, Dilma está claramente mais voltada para a agenda doméstica, lidando ainda com a demissão de dois de seus principais ministros por causa de escândalos, com os desafios macroeconômicos e com as obras de infraestrutura para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Para Donna Hrinak, mais do que agir como mediador dos EUA com os países latino-americanos, o Brasil de Dilma atuará como exemplo vivo sobre como elevar o padrão de vida da população.

entrou na Justiça com um pedido de desistência da ação movida contra o jornal, mas o Estado não aceitou. No dia 29 de janeiro de 2010, o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira apresentou ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal manifestação em nome do jornal sustentando a preferência pelo prosseguimento daquela ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado. Até hoje o Estado aguarda uma manifestação.

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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

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Tribos urbanas

O

Levantamento de ONG revela que a Grande São Paulo tem 54 etnias indígenas

PAULO LIEBERT/AE

Classificados

Trilhos. Historiador Richard White questiona o interesse de países como o Brasil pelo trem-bala

JR TOKAI/REUTERS

aliás

PARA ANUNCIAR: (11) 3855 2001

Estoques crescem e levam indústrias a antecipar férias Em nove setores subiu o porcentual de empresas com encalhe; comércio reduz pedidos e oferece promoções O descompasso entre o ritmo de produção das fábricas e as vendas do varejo provocou um aumento dos estoques em setores importantes, como carros, embalagens e até alimentos, informa a repórterMárciaDeChiara.Pelosegun-

do mês seguido, a fatia de empresas com estoques excessivos aumentou em junho e atingiu 5,3%, segundo a Fundação Getúlio Vargas. De 14 setores pesquisados, em 9 cresceu o porcentual de companhias que declararam ter esto-

ques acima do normal na comparação com maio. Com encalhe crescente, indústrias iniciaram o mês dando férias ou cortando hora extra. O comércio também reduziu os pedidos e oferece promoções. ECONOMIA / PÁGS. B1 e B3

JOSÉ RICARDO COELHO

EMPRESÁRIO DO SETOR DE PLÁSTICOS

“Todo mundo está com estoque porque o crescimento do PIB vai ser menor”

JUAN MABROMATA/AFP

Governo abre brecha para aparelhamento nos Correios Mudança feita pelo governo no estatuto dos Correios permite ao PT aparelhar cargos de chefia da estatal, relatam Rui Nogueira e Leandro Colon. O partido, que comanda a empresa, poderá levar funcionários de carreira de outros órgãos para vagas estratégicas. Antes, as funçõessópodiamserocupadasporconcursados da estatal. NACIONAL / PÁG. A4

Dilma acerta saída de petista do Dnit ● Na esteira da crise nos Transportes, a

presidente Dilma Rousseff já determinou ao ministro Paulo Passos que afaste mais dois dirigentes – o petista Hideraldo Caron (Dnit) e Felipe Sanches, presidente interino da Valec. NACIONAL / PÁG. A7

Entrevista

Brasil negocia ação diplomática junto à Síria O goleiro Muslera levou o Uruguai à semifinal da Copa América ontem ao defender o pênalti cobrado por Tevez, tirando a anfitriã Argentina da competição. O próximo adversário será o Peru. ESPORTES / PÁG. E2

Para resolver crise, Obama pede ‘sacrifício compartilhado’

Chávez delega poder ao vice pela 1ª vez

Falta funcionário em unidades de conservação

evitar calote da dívida. Obama reafirmou o compromisso de cortar despesasnaáreasocial.“Éprecisoumsacrifício compartilhado.” ECONOMIA/ PÁG. B13

Antes de partir para Cuba, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, delegou ontem, pela primeira vez desde que assumiu, parte de seus poderes ao vice. INTERNACIONAL / PÁG. A18

São Paulo tem 10 mil km de estradas esburacadas

JOÃO UBALDO RIBEIRO Estão querendo enganar quem? Tantos estádios a construir, aeroportos a reformar... Tanto o que surrupiar já dando sopa aí e esse pessoal perdendo tempo em formalidades.

SERGIO FAUSTO Vizinhos inquietos Eles querem saber se o protagonismo do Brasil na América do Sul se traduzirá em liderança e se ela será positiva para a região em seu conjunto.

MAC MARGOLIS O chavismo perde a cabeça Hugo Chávez não está bem. Não me refiro ao câncer. É que ele acaba de receber um puxão de orelha de Noam Chomsky.

C2 DOMINGO / PÁG. D4

ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2

INTERNACIONAL / PÁG. A18

O presidente dos EUA, Barack Obama, apelou ontem à oposição republicana e reforçou ultimato para que o Congresso apresente um plano para

VIDA / PÁG. A22

ANTONIO PATRIOTA CHANCELER

“Não existe país que esteja acima do bem e do mal”

METRÓPOLE / PÁGS. C4 e C5

Tempo na capital 29˚ Máx. Tempo firme e 15˚ Mín. calor 210 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁG. A3 TIRAGEM: 303.327 EXEMPLARES

ESTADO SOB CENSURA HÁ 716 DIAS. PÁG. A8

NOTAS & INFORMAÇÕES

O risco dos bancos europeus O risco de uma nova quebradeira bancária é um dos terrores dos governos da Europa. PÁG. A3

ED FERREIRA/AE

Uruguai elimina a Argentina

Oministro dasRelações Exteriores,Antonio Patriota, disse em entrevista ao Estado que o Brasil, ao lado da Índia e daÁfricado Sul,pretendefazerumagestão diplomática junto à Síria, contra a violência e a favor de reformas eleitorais. Segundo ele, os direitos humanos não podem ser tratados como política dos mais fortes. INTERNACIONAL / PÁG. A16


A8 Nacional %HermesFileInfo:A-8:20110717:

O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 17 DE JULHO DE 2011

Lula recorre a FHC para montar memorial

JOEDSON ALVES/AE–1/1/2003

Instituto que petista quer criar será em SP e vai ter acervo sobre ditadura e redemocratização Roldão Arruda

Animosidade entre petistas e tucanos diminui na era Dilma cito que marcou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao antecessor, Fernando Henrique Cardoso, dá sinais de recuos cada vez mais acentuados na gestão Dilma Rousseff. Além dos elogios da presidente na passagem dos 80 anos do tucano, representantes das duas partes têm conversado com frequência sobre temas políticos de interesse nacional – e com conclusões convergentes, como em relação à criação da Comissão da Verdade e ao sigilo sobre documentos oficiais históricos. / R.A.

falou de maneira entusiasmada do sistemade organização de documentos adotado no instituto e que demorou quase cinco anos para ficar pronto. O que mais chamou a atenção dos aliados do petista foi a capacidade de produçãode estudos, seminários e debates do Instituto FHC. Em outra vertente, além desse diálogo envolvendo as duas principais referências políticas no recente processo de consolidação da democracia brasileira, já está praticamente acertado que o Memorial da Democracia

GUSTAVO MIRANDA/AGENCIA O GLOBO–28/5/1987

● O clima de antagonismo explí-

FERNANDO PEREIRA/AJB– 18/10/2004

Planejado inicialmente para abrigar o acervo dos dois mandatos presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva e contar a história do primeiro governo petista no País, o memorial que o Instituto Cidadania planeja erguer nos próximos anos começa a ganhar contornos mais precisos – e ambiciosos. Curiosamente, representantes de Lula visitaram recentemente o Instituto Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo, e conversaram com o ex-presidente tucano – a quem Lula atacou sucessivas vezes quando presidente, apesar de terem atuado juntos pela redemocratização do País. O objetivo foi conhecer a estrutura daquela entidade, tanto do ponto de vista da organização do acervo quanto da estrutura jurídica. Já está praticamente acertado que o Memorial da Democracia, nome ainda provisório da instituição que abrigará o acervo de Lula, deve abranger a história dos movimentos e das lutas sociais desde a Proclamação da República, com ênfase na resistência à ditadura militar – especialmente o fim dos anos 70, quando Lula aparece na cena política do País como líder sindical dos metalúrgicos do ABC e se aproxima de FHC. Ao receber os interlocutores de Lula, o ex-presidente tucano

Momentos de unidade. Em 2003, FHC transmite a faixa presidencial para Lula; em 1978, o líder sindical Lula visita o então candidato ao Senado pelo MDB, Fernando Henrique; em 1987, na Constituinte, os dois juntos no ‘cafezinho’ do Congresso não será instalado em São Bernardo do Campo, na região metropolitana da capital paulista. Contrariando as expectativas das lideranças sindicais e petistas daquela cidade, o endereço deveráser algum edifício no centro de São Paulo, na região da Nova Luz. Vocação. A escolha estaria liga-

da à vocação da região para se tornar um polo de museus e casas de cultura. Por ali já funcionam a Sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfô-

nica de São Paulo (cujo conselho de administração é presidido porFernando Henrique),aPinacoteca do Estado e o Museu da Língua Portuguesa. Também estásendoerguidona regiãoofuturo Teatro de Dança. Nas conversas com assessores, Lula tem solicitado com insistênciaqueomemorialdêatenção aos espaços interativos, destinados a oferecer aos visitantes a sensação de participação nos eventos históricos. O modelo mais citado é o do Museu do Futebol, realizado pela Fundação

Roberto Marinho, com exposiçõesprojetadasporDanielaThomas e Felipe Tassari. Emumadesuassalasmaisconcorridas, o visitante parece estar no meio de uma torcida num estádio repleto. Outra referência é o Museu da Língua Portuguesa. Doações. A forma jurídica da fu-

tura instituição ainda está sendo analisada. Já se sabe que aceitará colaborações de empresas e pessoas, a exemplo do que acontece comoInstituto FernandoHenrique Cardoso, uma sociedade ci-

Nos EUA, ex-presidentes mantêm programas humanitários Fundações recebem doações de pessoas físicas e jurídicas e valores podem ser destinados diretamente aos projetos Gustavo Chacra CORRESPONDENTE / NOVA YORK

As fundações de ex-presidentes dos Estados Unidos são operadas mediante doações realizadas por empresas ou mesmo pessoas físicas com quantias que variam

de menos de US$ 100 a dezenas demilhõesdedólares.Omontante adquirido por esses centros também pode ser investido por meio de fundos próprios ou de terceiros, aumentando os valores disponíveis para programas ao redor do mundo. Para doar dinheiro para a Fundação Clinton, por exemplo, é preciso atender a alguns requisitos.DesdequeHillaryClintonassumiuocargodesecretáriadeEstado, o marido, Bill, passou a tomar mais cuidado com doações vindas de países e organizações

estrangeirasquepudessemdealgumaformainfluenciarodesempenho das funções da mulher. As doações a essas organizações também podem ser mantidas anônimas, se o doador assim desejar. As informações sobre elestampoucosãorepassadasparaterceiros.Odinheirodoadopode ser gasto diretamente em um programa específico dessas entidades. Mas a Fundação Clinton dizqueseusfuncionáriossãopreparadosparadeterminarondeseria melhor aplicar as quantias. Segundoasleisamericanas,es-

sas doações podem ser deduzidas do imposto de renda. Do total doado, na Fundação de Clinton, cerca de 2,7% é gasto com a administração e outros gastos nãoligadosaprogramashumanitários ou de pesquisa. A Fundação do ex-presidente Jimmy Carter aconselha que as doações sejam feitas por meio de cartão de crédito ou transferência bancária “porque ajuda a ver para onde o dinheiro está indo”, segundo o site da organização. Há um incentivo também para doações menores, a partir de

JOHN GRESS/REUTERS–30/6/2011

Clinton. Doador é orientado a eleger melhor destinação

vil sem fins lucrativos. Segundo informações do site oficial da instituição, “as atividades ligadas ao tratamento técnico do acervo presidente Fernando Henrique Cardoso e às suas atividades têm recebido recursos captados ao amparo da Lei Rouanet”. No caso do Memorial da Democracia, Lula também gostaria de associá-lo a alguma instituição de ensino universitário, segundoamigosdopetista.Estudase até a participação de centrais sindicais em sua estrutura.

US$ 25, que podem ser feitas na própria internet. Conforme dados da organização, 92,9% do dinheiro foi gasto com programas, 2,9% com administraçãoeorestanteparaarrecadação de fundos. Essa é uma preocupação de Carter, Clinton e de todas as outras fundações ligadas a ex-presidentes. Todos buscam frisar que não querem obter lucros com seus projetos. Ossitesdessasfundaçõestambém são organizados para facilitareincentivardoaçãodedinheiro, com todas as explicações necessárias, incluindo as jurídicas. A Fundação e Biblioteca Regan, por exemplo, tem um link bem grande indicando “doe agora”.

‘Estado’ está sob censura há 716 dias Desde o dia 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar informações a respeito da Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em 31 de julho de 2009, de publicar informações sobre aquela operação da PF No dia 18 de dezembro do mesmo ano, Fernando Sarney pediu desistência da ação mas o Estado não aceitou. Em 29 de janeiro de 2010, o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira apresentou ao TJ-DF manifestação em nome do jornal sustentando preferência pelo prosseguimento daquela ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado. Até hoje o Estado aguarda uma manifestação.


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

Segunda-feira

18 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00*

RUY MESQUITA Diretor

ALINE ARRUDA

Metrópole

Link

Natural descolado Chefs buscam romper estigma hippie. Pág. C6

A nova rede Google+ quer ser o centro da vida social na web. Pág. L2

estadão.com.br

ANO 132. Nº 43007 EDIÇÃO DE 23H15

Caderno2

O Capital. Obra de Karl Marx é adaptada para o cinema em filme de nove horas e meia.

Tradição italiana Rodrigo Santoro vive o drama de um filho em Meu País

PÁG. D10

PAULO LIEBERT/AE

Dnit e Valec têm contratos com empresas suspeitas

Esportes

Brasil perde 4 pênaltis e é eliminado ALEX SILVA/AE

Casal é dono de duas firmas que fecharam negócios de R$ 31 milhões com órgãos dos Transportes Diretores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Valec Engenharia montaram um esquema com duas empresas acusadas de usar documentos falsos em contratos, informa o repórter Leandro Colon. Os negócios totalizam R$ 31 milhões, dos quais R$ 13 milhões sem licitação. As empresas Alvorada e Tech Mix fornecem funcionários em áreas estratégicas, incluindo obras do PAC. O dono da Tech Mix é marido da proprietária da Alvorada, que mudou de atividade um dia antes da liberação de verba. Os documentos do Dnit foram assinados pelo então

● Empresa

nega problemas

O proprietário da Tech Mix, Luiz Carlos da Cunha, negou irregularidades no contrato com o Dnit e disse não haver ligação com acertos da empresa de sua mulher. NACIONAL / PÁG. A4

diretor-geralLuiz AntônioPagot,epelodiretorexecutivo, JoséHenriqueSadok, afastados após denúncias de irregularidades no Ministério dos Transportes. Os contratos da Valec foram respaldadospelodiretor Antonio Felipe Sanchez Costa. NACIONAL / PÁG. A4 Bolas fora. Robinho (ao centro) nem chegou a bater; seleção nunca deixara de marcar em disputa por penalidades

Com escutas, cai o chefe da Scotland Yard

Múltis do País repatriam mais recursos

Apósserrelacionadoaocasodegramposdojornal inglêsNewsoftheWorld, o comissário-chefe da Scotland Yard Paul Stephenson pediu demissão. O escândalo levou a ex-diretora do tablóide de Murdoch, Rebekah Brooks, a ser detida. Ela foi solta depois de pagar fiança. INTERNACIONAL / PÁG. A8

Acompanhando o movimento geral de atração de capitais pelo Brasil, as multinacionais do País estão enviando maciçamente recursos de suas filiais para as matrizes. De janeiro a maio,eles atingiramUS$16,5bi,mais de cinco vezes o registrado em igual período de 2010. ECONOMIA / PÁG. B1

Entrevista MAIOR RIGOR NO FISCO O secretário da Receita, Carlos Barreto, diz que empresa terá de comprovar dificuldade para parcelar dívida. ECONOMIA / PÁG. B6

“Vamos considerar a capacidade de pagamento”

JOHANNES EISELE/AFP

No primeiro teste oficial, o Brasil do técnico Mano Menezes deu adeus à Copa América após perder para o Paraguai nos pênaltis. Os paraguaios erraram a primeira cobrança. No tempo regulamentar, o placar ficou em zero a zero. PÁGS. E1 a E3

MANO MENEZES TÉCNICO

“Dois atletas nossos reclamaram. No local do pé de apoio, a grama estava alta"

Futebol feminino. Japão bate os EUA e leva Copa do Mundo. PÁG. E8

Negócios A TODO VAPOR Depoisdeter afusãoaprovadapeloCade,a BrasilFoods acelera para integrar Sadia e Perdigão.

Análises ✽ Antero Greco ● Fim de namoro

A bola está com Mano. Ele precisa usar a decepção na Copa América para criar o time de 2014. Ou vai ou racha. PÁG. E2 ✽ Prancheta do PVC ● O preço foi alto

Campeonato Brasileiro. O São Paulo venceu o Inter (3 a 0). PÁG. E5

Não dá para dizer que uma seleção que jogou quatro vezes e só venceu o Equador tenha feito bom papel. PÁG. E3

Crise americana pode ser pior que a de 2008

EUA deixam de ensinar letra de mão

ECONOMIA / PÁG. B13

Com frio e poluição, internações sobem 62% METRÓPOLE / PÁG. C1

Com as novas tecnologias, o ensino da letracursivafoiconsideradoultrapassado e será opcional nos Estados Unidos. No Brasil, o uso da letra de mão tem perdido relevância na escola. VIDA / PÁG. A14

ED FERREIRA/AE

JOSÉ DE SOUZA MARTINS O prazer da doença Ainda é forte entre nós fazer da doença um pretexto da renovação ritual dos laços sociais, apesar de a sociedade ter mudado muito.

CHRISTIAN NEEF A internet contra o ditador Manifestantes vão às ruas da BieloRússia pedir a saída do ditador Lukashenko. Usuários da internet, usam maneiras criativas para protestar.

JOSÉ ROBERTO TOLEDO Vindas e voltas Imigrar menos é tendência nacional. Cada vez mais nativos moram onde nasceram. Entre as exceções estão os paulistas em Santa Catarina.

METRÓPOLE / PÁG. C6

VISÃO GLOBAL / PÁG. A10

NACIONAL / PÁG. A6

Tempo na capital fria 26˚ Máx. Frente traz chuva 14˚ Mín. à tarde HOJE: 64 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 717 DIAS. PÁG. A7

NOTAS & INFORMAÇÕES

Mensagem a Obama Estudo sustenta que os EUA devem desenvolver parceria madura e forte com o Brasil. PÁGINA A3


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 18 DE JULHO DE 2011

Ação contra Ustra põe anistia em novo debate

CALDAS NOVAS O maior destino de águas quentes do mundo e em 10x sem juros.

Audiência de testemunhas da morte de Luiz Eduardo Merlino, em 1971, reacende polêmica em relação a violações de direitos humanos na ditadura Roldão Arruda

A audiência do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) na qual devem ser ouvidas as testemunhas da tortura e morte do jornalista Luiz Eduardo Merlino, marcada para o dia 27, reacendeu os debates sobre a anistia a agentes do Estado brasileiro acusados de violações de direitos humanos no período da ditadura militar. Na ação cível, movida pela família do jornalista, o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra é responsabilizado pela morte, ocorrida em julho de 1971 em São Paulo. O assunto tem sido tratado com destaque por organizações de direitos humanos e também porgruposdemilitares reformadosque,na internet, defendemo golpe de 1964 e as ações que desencadeou. Logo após a audiência, no dia 30, será realizado um ato público em São Paulo para lembrar os 40 anos da morte do jornalista. A expectativa é de que a ação leve à primeira condenação de um militar acusado de tortura. Em 2008, quando Ustra recorreu ao TJ contra a família, teve

‘Estado’ está sob censura há 717 dias Desde o dia 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda definição judicial sobre o processo que

PARA LEMBRAR A primeira versão da carta Bode Expiatório, do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, foi divulgada em 2009, após reportagem publicada pelo Estado que relacionava seu nome ao caso de outros três mortos e desaparecidos políticos na ditadura. Desde então, tem sido atualizada. No texto, Ustra defende o golpe de 1964 e diz que é vítima de “graúdos derrotados e ressentidos” que “estão no poder”. Também afirma que arriscou a vida lutando por “liberdade” e “democracia”. Para a família de Merlino, Ustra foi o responsável pelas torturas a que o jornalista foi submetido por 24 horas, até morrer.

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sob o argumento de que os agentes do Estado também foram beneficiados pela Lei de Anistia de 1979. Essa interpretação da lei foiratificadaem2010peloSupremo Tribunal Federal (STF). Uma das testemunhas convocadas pela família para depor no dia 27 é o ex-ministro Paulo Vannuchi, que chefiou durante quase oito anos a pasta de Direitos Humanos. Ele disse ao Estado que deverá comparecer.

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Testemunhas. Merlino era mi-

seu pedido negado. Não é a primeira vez que o coronel do Exército, condecorado com as medalhas do Pacificado e do Mérito Militar, é acusado. Umaoutraação,decarátercriminal, foi arquivada pela Justiça

litante do Partido Operário de Esquerda (POC) e, segundo o livro Direito à Memória e à Verdade, editado pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, morreu sob tortura, dois dias após sua prisão, ocorrida no dia 17 de julho de 1971. Outros prisioneiros teriam presenciaram a violência, nas dependências do Destacamento de OperaçõeseInformações e Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), então sob o comando de Ustra. Na carta que vem divulgando emsua defesa, denominada Bode Expiatório, Ustra afirma que Merlino morreu atropelado quando tentava fugir.

o impede de divulgar informações a respeito da Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em

31 de julho de 2009, de publicar informações sobre a operação. Em 18 de dezembro de 2009, Fernando Sarney pediu desistência da ação, mas o Estado não aceitou.Em29dejaneirode2010, apresentou ao TJ-DF manifestaçãosustentandopreferência pelo prosseguimento da ação, a fim de que tenha o mérito julgado.

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(1) Exceto para partos e doenças preexistentes – PRC 398, conforme regras vigentes na época da contratação. É necessário que o titular do contrato esteja associado a uma das entidades de classe participantes do Projeto de Adesão da Amil. (2) Valores referentes aos planos Blue 300, Medial 100 e Dix 100, de 0 a 18 anos, acomodação em quarto coletivo. (3) Não inclui o plano médico, somente o custo por beneficiário do plano odontológico. Contratação e permanência somente com o plano médico junto. Preços e promoção de redução de carência (PRC 398) válidos até 31 de agosto de 2011 e somente para contratação no Estado de São Paulo.

Nacional A7


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

Terça-feira 19 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00*

ANO 132. Nº 43008 EDIÇÃO DE 23H15

Viagem

Caderno2

Trilha sonora Confira dicas para conhecer cidades ligadas ao rock

Cotidiano nobre Mostra exibe fotos raras da família real brasileira. Pág. D7

FARRELL/AE

estadão.com.br

Metrópole

Ao ar livre. Músicos poderão tocar nas ruas de SP. Pág. C10

INSTITUTO MOREIRA SALLES

ANTONIO SCORZA/AFP

Dilma vai contra grupo de Lula e tira diretor do Dnit Saída de Pagot é decidida apesar da pressão de ministros ligados a Lula, como o secretário-geral da Presidência A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais)foiencarregadapelapresidente Dilma Rousseff de anunciar que o diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, não retornarámaisaocargo,emmeioaescândalo de corrupção. O vice Michel Temer e ministros ligados ao ex-presidente Lula defendiam a permanência de Pagot. Em reunião no Planalto, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Ge-

Laudo com indício de fraude Documento assinado por apadrinhado de Valdemar Costa Neto facilitou contrato no Dnit. NACIONAL / PÁG. A8

ral da Presidência) quis introduzir na conversa a necessidade de manter Pagot. Dilma disse que, se fosse para trazê-lo de volta, teria de reconduzir outros seis demitidos. NACIONAL / PÁG. A4

Crise da dívida de Europa e EUA volta a derrubar bolsas As principais bolsas do mundo voltaram a fechar em baixa, devido às preocupações com a crise da dívida na Europa e nos EUA. Houve queda de 3,06% em Milão, de 2,04% em Paris e

de 1,55% em Londres e Frankfurt. A baixa teve relação com as análises sobre o teste de estresse realizado pela AutoridadeBancáriaEuropeia,que reprovou oito bancos. ECONOMIA / PÁG. B1

Mano garante

Por escutas, Scotland Yard fica sem o vice

Mano Menezes após entrevista na qual disse que ‘o Brasil não vai chegar em 2014 cambaleando’; Elano contou que ‘ninguém dormiu’ após eliminação. ESPORTES / PÁGS. E1 e E2

MARCOS DE PAULA/AE

O escândalo de escutas telefônicas ilegais fez a segunda vítima no alto escalão da polícia britânica. John Yates, vice-chefe da Scotland Yard, pediu demissão. O caso ganhou tom de mistério com a morte do jornalista Sean Hoare, que denunciou o envolvimento de seus chefes nos grampos do jornal News of the World. A polícia não relaciona a morte ao caso dos grampos. INTERNACIONAL / PÁG. A10

Roubo no hotel de luxo

LARRY FLINT O povo versus Murdoch Com o escândalo Watergate, surgiu uma geração de repórteres lutando por um jornalismo honesto. Rupert Murdoch vai na direção contrária.

CELSO MING Roscas espanadas O teste de estresse nos bancos europeus foi outra demonstração de falta de vontade política de enfrentar a vida como ela é.

MIGUEL JORGE O futuro na educação Reverter o quadro de resultados ruins na educação dependerá, principalmente, da implementação de políticas públicas duradouras e eficazes.

VISÃO GLOBAL / PÁG. A11

ECONOMIA / PÁG. B2

ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2

Um dos 15 hóspedes assaltados deixa o Hotel Santa Teresa, no Rio. O local ficou famoso por ter hospedado Amy Winehouse no início do ano. METRÓPOLE / PÁG. C4

Justiça barra negócio em nome da Copa

Governo faz plano para País ter mais médicos

A Justiça mandou suspender um acordo que o governador Agnelo Queiroz (PT) quer fechar com construtoras do Distrito Federal. Ele pretende transformar área de 85 mil metros quadrados, em região tombada, numaquadradehotéis eflats.Avaliado em R$ 700 milhões, o terreno foi oferecidoaomercadoimobiliáriopara financiaras obras do estádioMané Garrincha. ESPORTES / PÁG.E4

METRÓPOLE / PÁG. C1

Tempo na capital e 18˚ Máx. Nuvens um pouco 12˚ Mín. de frio HOJE: 68 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 718 DIAS. PÁG. A9

VIDA / PÁG. A14

Por semana, 2 bebês são deixados para adoção Presidente do Chile troca oito ministros INTERNACIONAL / PÁG. A12

Venezuela agora lidera em reserva de petróleo ECONOMIA / PÁG. B4

NOTAS & INFORMAÇÕES

Incerteza nos EUA Barack Obama e os líderes democratas tentam evitar o calote e um mergulho na recessão. PÁG. A3


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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 19 DE JULHO DE 2011

Nacional A9

Oposição denuncia novo escândalo em Campinas Empresa de genro do ex-secretário de Comunicação do prefeito Dr. Hélio foi contratada para prestar serviços de R$ 1 milhão no Natal e no carnaval Fausto Macedo

Depois das denúncias sobre fraudes em contratos da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa) que levaram ao pedido de prisão de sua mulher, Rosey Nassim, e de parte de seu secretariado, o prefeito de Campinas, Dr. Hélio (PDT), está às voltas com outro escândalo em sua gestão, agora envolvendo gastos de R$ 1 milhão com a decoração de rua do Natal de 2010 e instalação de equipamentos do carnaval de 2011 na cidade. Investigaçãorealizadapelovereador Artur Orsi (PSDB), que naCâmara Municipal pedeacassação do prefeito, aponta suposto favorecimento à Normandie Comunicação, do empresário Hugney Ferreira, genro de FranciscodeLagos,que foisecretário de Comunicação de Dr. Hélio. Apontadopelo Ministério Públicocomoumdosprincipaisenvolvidos no esquema Sanasa, Lagos teve sua prisão requerida duas vezes este ano. Orsi protocolou ontem representação no Gaeco – braço da promotoria que rastreia corrupção na administração pública – para abertura de procedimento sobre“atentadocontraosprincípios da moralidade, impessoali-

Juiz impõe fiança de R$ 10,9 milhões a empresário

ro, a Normandie foi contratada pela Serviços Técnicos Gerais (Setec)paraaprestaçãode serviços de montagem e desmontagemde 56tendase placasmetálicas para serem utilizadas pelos permissionáriosnocarnavalpromovido pela prefeitura. O vereador destaca que a Normandie foi contratada por três órgãos distintos da administração – Secretaria de Serviços Públicos,Coordenadoria deComunicação e Setec –, “porém todos com a finalidade de prestação de serviços em eventos relacionadoscomaCoordenadoria deCo-

Campos Machado, depois que o deputado federal Gabriel Chalita declinou do convite petebista para ingressar no PMDB. Opresidente daseccionalpaulista da OAB afirma que a candidatura é para valer, apesar das desconfianças de que seja um

des de Souza, da 3ª Vara Criminal de Campinas, impôs fiança de R$ 10,9 milhões ao empresário José Carlos Cepera, suposto mentor do esquema de fraudes em Campinas e em outros dez municípios paulistas. É a maior fiança já fixada no País desde que entrou em vigor a Lei 12.403/11, que permite medidas cautelares alternativas à prisão. O valor, equivalente a US$ 6,9 milhões, é superior à fiança que a Justiça de Nova York aplicou ao ex-diretor-geral do FMI Dominique Strauss-Kahn, para responder em liberdade a processo por suposto estupro. Cepera, réu por lavagem de dinheiro e quadrilha, teve a prisão

decretada em setembro. A lei prevê fiança de 10 a 200 salários mínimos para crimes com pena superior a 4 anos, como lavagem. O valor pode ser aumentado em até mil vezes. O juiz aumentou em 100. Ele impôs a Cepera proibição de sair da cidade onde mora sem autorização, entrega do passaporte e permanência na residência todos os dias entre 20 horas e 6 horas e nos dias de folga. “É com alegria que recebo a notícia da fixação de fiança embora em patamar visivelmente excessivo”, disse o criminalista Alberto Zacharias Toron, defensor de Cepera. “No rumoroso caso do ex-diretor do FMI a fiança não excedeu 1 milhão de dólares. Para um empresário nacional fixarse quase dez vezes aquele valor mostra exorbitância. Vou conversar com meu cliente e ver qual passo deve ser seguido.” / F.M.

cópia da certidão de casamento do empresário com uma filha de Lagos. “Esse pessoal é destemido”, diz Orsi. “Em pelo menos dois eventos comandados pela secretaria de Lagos, decorações do Natal de 2010 e no carnaval de 2011, a empresa de seu genro foi vencedora em processos lici-

tatórios e passou a contratar com o município.” O advogado Hugo Leonardo, que defende Lagos, não se manifestou sobre a nova acusação contra o ex-secretário de Comunicação.Orientadoporseuadvogado, Lagos também não se pronunciou.

ções a respeito da Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em 31 de julho de 2009, de publicar informações sobre a operação.

Em 18 de dezembro de 2009, FernandoSarneypediudesistência da ação, mas o Estado não aceitou. Em 29 de janeiro de 2010, o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira apresentou ao TJ-DF manifestação em nome do jornal sustentando preferência pelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha o mérito julgado.

● O juiz Nelson Augusto Bernar-

Tendas. Já em 2011, em feverei-

D’Urso lança candidatura pelo PTB OPTB paulistavaifiliar nopróximo dia 6 o presidente da OABSP, Luiz Flávio Borges D’Urso, quedeveserocandidatodopartido para a Prefeitura de São Paulo em 2012. D’Urso entrou na mira do presidente do PTB-SP, deputado

ESTEVAM SCUOTEGUAZZA/AAN-9/9/2009

dade e legalidade”. O vereador pesquisou publicação de 11de dezembro no Diário Oficial do município na qual a prefeitura, por meio da Secretaria de Serviços Públicos, contratou a Normandie para prestar serviços de “instalação e remoção de iluminação natalina em prédios públicos e históricos, com fornecimento de material”, ao preço de R$ 500 mil. Outro procedimento, da Coordenadoria de Comunicação, garantiu a contratação da mesma empresa para a “confecção de peças artesanais natalinas”, pelo valor de R$ 250 mil, segundo publicação de 21 de dezembro.

Suspeita. Lagos, o ex-secretário: genro teria sido favorecido municação, sob o comando de Lagos”. Na ocasião em que a empresa do genro foi contratada, Lagos exerciaocargo desecretário municipal de Comunicação – ele foi titular da pasta de janeiro de 2005amaiode2011.SegundoOr-

blefedeCampos Machadopara tentar vender mais caro um eventual apoio a outra chapa. “Eu não desistiria de uma candidatura à presidência do Conselho Federal da OAB para um blefe ou para um ensaio. Esse passo é muito importante para o nosso grupo político e para a minha vida”, afirmou. / FERNANDO GALLO

si, o dono da Normandie, Hugney Ferreira, “já foi funcionário da prefeitura, subordinado a Lagos na Coordenadoria de Comunicação”. Ferreira ocupou cargo em comissão de assessor especial na secretaria. Certidão. O vereador anexou

‘Estado’ está sob censura há 718 dias Desde o dia 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar informa-


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

Quarta-feira

RUY MESQUITA Diretor

20 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00*

ANO 132. Nº 43009 EDIÇÃO DE 0H15

Caderno2

estadão.com.br

Agrícola

Todos os Miles Davis Exposição mostra as fases do músico que foi do bebop ao fusion

Carros ‘exóticos’ reinam na periferia de SP.Pág.C10

Boi com lavoura Em MT, produtores aderem à integração lavoura-pecuária TIAGO QUEIROZ/AE

China dribla barreiras do Brasil por meio da Argentina

‘Faxina’ nos Transportes derruba mais sete e continua Em meio a escândalo de corrupção 14 foram afastados, a maioria ligada ao PR; outros ainda devem cair A “faxina” no Ministério dos Transportes continuou ontem. Foram demitidos quatro funcionários do ministério e dois do Departamento Nacional de InfraestruturadeTransportes(Dnit).Oficialmente 13 funcionários foram afastados desde a revelação do esquema de

corrupção dentro dos Transportes. Ontem à noite, o Estado confirmou a demissão de mais um assessor. A maioria dosdemitidosévinculadaaosecretáriogeral do PR, Valdemar da Costa Neto, e ao ex-ministro Alfredo Nascimento, que foi afastado duas semanas atrás e

assumiu a presidência do partido – o PR controla a pasta no rateio do poder ministerial. A expectativa é que, entre hoje e sexta, mais demissões sejam anunciadas,incluindoadodiretor deInfraestrutura Rodoviária do Dnit, o petista Hideraldo Luiz Caron. NACIONAL / PÁG. A4

● ‘República de Mogi’ se mexe

Amigos de Valdemar da Costa Neto oriundos de seu reduto eleitoral, Mogi das Cruzes, tentam preservar o poder do padrinho. NACIONAL / PÁG. A8

‘Envergonhado’, Murdoch nega ter culpa em escândalo

AFP

UE discute três saídas para a crise grega

RUPERT MURDOCH

● Dirigentes da União Europeia se reú-

PROPRIETÁRIO DA NEWS CORP.

Pastelão. Imagem de TV mostra instante em que manifestante tenta atingir Murdoch com espuma de barbear

Perícia confirma que Allende cometeu suicídio

Argentina

EVITA PERÓN VIRA DESENHO

M

ulherdeJuanDomingoPerón e tratada como “defensora do trabalhador”, Evita – morta em1952,aos33anos–teráavidaretratada em Eva da Argentina. O filme estreia em outubro,dias antesda eleição presidencial. INTERNACIONAL / PÁG. A14

Nova proposta para dívida anima Obama O presidente dos EUA, Barack Obama, deu apoio ao plano de um grupo de seis senadores republicanos e democratas para superar o impasse sobre a dívida pública. O projeto prevê alta de US$ 1 trilhãonaarrecadação ecortede US$3,7 trilhões nos próximos dez anos. “Não temos mais tempo para gestos simbólicos”, disse Obama. ECONOMIA / PÁG. B9

O magnata Rupert Murdoch testemunhou no Parlamento britânico sobre o escândalo de violação de sigilo telefôniconojornalNewsofTheWorld.Oempresáriodisseestar“profundamenteenvergonhado” pelas denúncias, mas se negou a assumir a responsabilidade pelos grampos que atingiram cerca de 4 mil pessoas. Um manifestante tentou acertar espuma de barbear em Murdoch e sujou seu terno. INTERNACIONAL / PÁG. A12

“Desculpas não mudam o que aconteceu, mas queria que as vítimas soubessem o quanto sinto por tudo isso”

A China usa a Argentina para burlar as medidasdoBrasilparaproteger aindústria da invasão de produtos chineses, informaIuriDantas.DadosdoMinistériodoDesenvolvimento,IndústriaeComércioExteriormostramqueaexportação de algumas mercadorias da China pela Argentina disparou, e esses produtos estariam entrando no Brasil como se fossem argentinos. ECONOMIA / PÁG. B1

Épico. Com patrocínio estatal, longa também terá imagens de época

PETER WILSON Divisão venezuelana Uma coisa que a doença do presidente Hugo Chávez sublinhou é a profundidade da divisão do país.

TUTTY VASQUES A presidente e o magnata Quanto mais Dilma Rousseff e Rupert Murdoch cortam a própria carne, mais a crise volta como recidiva maligna em doente terminal.

DORA KRAMER O julgamento do PT O PT teme as consequências eleitorais do julgamento do mensalão. Ao perdoar mensaleiros, o partido devia saber que cedo ou tarde pagaria o preço.

VISÃO GLOBAL / PÁG. A14

METRÓPOLE / PÁG. C10

NACIONAL / PÁG. A8

Perícia realizada por chilenos e estrangeirosconfirmouqueo ex-presidente do Chile Salvador Allende se suicidou durante o golpe de Estado comandado por Augusto Pinochet, em 11 de setembro de 1973. O relatório é resultado de investigação abertaemjaneiro. INTERNACIONAL/ PÁG. A15

Tempo na capital forte, 28˚ Máx. Sol névoa de 15˚ Mín. manhã HOJE: 76 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 719 DIAS. PÁG. A9

nem amanhã para debater três saídas para a Grécia: recompra da dívida, com garantias, rolagem da dívida e taxação do setor financeiro. ECONOMIA / PÁG. B12

Multa em faixas de pedestre começa dia 8 METRÓPOLE / PÁG. C1

Estudo liga tintura de cabelo a leucemia infantil VIDA / PÁG. A16

Rio planeja unidade do Hospital Albert Einstein VIDA / PÁG. A17

NOTAS & INFORMAÇÕES

Um recado europeu ao Brasil A diplomacia comercial brasileira enfrenta as consequências de uma série de opções erradas. PÁG. A3


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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 20 DE JULHO DE 2011

Nacional A9

CGU constata onda de irregularidades em MS

DIARIO REGIONAL

Superintendente do Dnit no Estado é o ex-governador Marcelo Miranda, filiado ao PR e no cargo desde 2007, por indicação de Zeca do PT João Naves de Oliveira ESPECIAL PARA O ESTADO CAMPO GRANDE

Execução de serviços com qualidade deficiente, superfaturamento e inexistência ou inadequação de estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental da obra. Essas são algumas das irregularidades encontradas na execução de serviços sob a responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) de Mato Grosso do Sul. A constatação foi feita por umaequipedeperitosdaControladoria-Geral da União (CGU) em seis obras de rodovias federais que cortam o Estado, em novembro do ano passado. Agora foram definidos prazos para fa-

zer as correções e o Ministério Público Federal se prontificou a acompanhar os trabalhos. O mesmo órgão também cobra do Dnit outras providências. Este ano, o Tribunal de Contas da União (TCU) também apontou problemas em obras de recuperação em 50 quilômetros da BR-163: fiscalização ou supervisão deficiente ou omissa nas obras; execução de serviços com qualidade deficiente e ● Acampamentos

O Dnit-MS também foi cobrado pelo Ministério Público a tomar medidas para dar maior segurança a índios e sem-terra que moram nas margens das estradas federais. Há casos frequentes de atropelamento com mortes.

projeto executivo deficiente ou desatualizado. O mesmo tipo de problema foi apontado nos serviços efetuados na BR-267, num trecho inicial de 62 quilômetros da rodovia. Correções. “O Dnit-MS não

tem nenhuma questão na Justiça, por irregularidades em obras”, defende-se o superintendente do Dnit-MS, Marcelo Miranda Soares. “Estamos providenciando todas as correções solicitadas pela CGU e pelo Ministério Público. As obras prosseguem normalmente, sem interrupção.” Ex-governador e ex-senador, Marcelo Miranda está no cargo desde 2007, por indicação do exgovernador Zeca do PT. Ele tenta, no entanto, amenizar esse vínculo. “Não sou um apadri-

Desvio de rota. TCU apontou problemas em obras de recuperação da rodovia BR-163 nhado. Tenho o apoio de toda a classe política, sem exceção partidária.” Miranda foi peemedebista, passou pelo PL, pelo PDT e agora é filiado ao PR. A superintendência do Dnit em Mato Grosso doSul é o primeiro cargo público que ele ocupa desde que deixou

o governo do Estado em 1990. As obras em estradas federais que ocorreram durante sua gestão no Dnit consumiram até agora pouco mais de R$ 2 bilhões. “Nosso orçamento do ano passado foi de R$ 570 milhões. Este ano baixou um pouco, caiu para R$ 270 milhões”, afirma.

Ele admite que as rodovias federais no Estado “ainda não estão em condições satisfatórias”. “Faltam duplicações, terceira faixa e outras melhorias”, explica. “Teremos obras para mais dois ou três anos para chegarmos perto do ideal, trabalhando bem o orçamento.”

Ex-diretor do Dnit-RN deve ser denunciado por fraudar licitação Sobrinho de deputado do PR, Gledson Maia foi um dos suspeitos presos durante a Operação Via Ápia da PF, em 2010 Anna Ruth Dantas ESPECIAL PARA O ESTADO NATAL

O Ministério Público Federal doRioGrande doNorte está preparando uma denúncia contra Gledson Maia, que atuava como diretor doDepartamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) no Estado. Gledson foi um dos suspeitos presos durante a Operação Via Ápia, da Polícia Federal, deflagrada em novembro do ano passado, que investigou uma suposta fraude no Dnit. Gledson é sobrinho do deputado João Maia (PR-RN) e do deputado distrital Agaciel Maia (PTC). A investigação da Operação Via Ápia, que identificou uma quadrilha atuando em fraudes e superfaturamento de processos licitatórios no Dnit, resultou em um inquérito com mais de 20 volumes. Os documentos foram repassados agora para o procurador da República

PARA LEMBRAR Não é a primeira vez que a família Maia se envolve em escândalos políticos. Em 2009, o então diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, foi protagonista do escândalo dos atos secretos na Casa. Agaciel respondeu a processo administrativo e também foi investigado pelo Ministério Público.

‘Estado’ está sob censura há 719 dias Desde o dia 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar infor-

Ronaldo Pinheiro, que deve apresentar a denúncia à Justiça Federal. Além de Gledson, foram presos o diretor-geral do Dnit no Estado, Fernando Rocha Silveira, também indicado de João Maia, e outras quatro pessoas . Os suspeitos são acusados de desviar cerca de R$ 2 milhões das obras de duplicação da BR-101, no trecho entre a cidade de Arez até a divisa com a Paraíba.

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Flagrante. A investigação da

Polícia Federal no Dnit do Rio Grande do Norte resultou ainda em outro inquérito, que também tem como réu Gledson Maia, além do empresário Túlio Gabriel de Carvalho Beltrão Filho. Os dois foram presos pela Polícia Federal em um estacionamento de uma churrascaria na zona sul de Natal. No momento da autuação, Gledson estava recebendo R$ 58.950,00 do empresário. Com o dinheiro também foi apreendida uma lista com nomes de empresas e valores, que estava em poder do sobrinho do deputado do PR. A denúncia – feita pelo Ministério Público Federal e já recebida pela Justiça Federal – indica que Gledson recebia propina da empresa Arteleste Construções, que pertence ao pai de Túlio Gabriel e tem contrato com o Dnit. O processo agora aguarda despacho do juiz Mário Jambo, da 2.ª Vara Federal. Ele analisará as defesas prévias apresentadaspelos réus, que pedem absolvição sumária. No despacho o magistrado terá duas alternativas: acolher o pedido de absolvição sumária ou continuar com o processo e já marcar as audiências para ouvir réus e testemunhas.

mações a respeito da Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em 31 de julho de 2009, de publicar informações sobre a operação. Em 18 de dezembro de 2009, Fernando Sarney pediu desistência da ação, mas o Estado não aceitou. Em 29 de janeiro de 2010, o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira apresentou ao TJ-DF manifestação em nome do jornal sustentando preferência pelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha o mérito julgado.

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RUY MESQUITA Diretor

Paladar Vá de confit Tente fazer, é fácil. Só não pode ter medo de gordura

SP banca custo para estádio do Corinthians abrir Copa Alckmin financiará ampliação da arena exigida pela Fifa; para governo, ‘exposição da cidade’ justifica decisão ANDRE LESSA/AE

Dilma vê respaldo para continuar com ‘limpeza’ Assessores do governo dizem que, apesar das queixas de aliados, a presidente DilmaRousseffmanteráoestilo“rigoroso” e a “faxina” nos ministérios, sempre que surgirem denúncias relevantes. Ela dádemonstraçõesdequenãovaicontrariar a opinião pública e vê sintonia entre seu governo e manifestações divulgadas na imprensa. A presidente e sua equipe dizem que foi possível manter a marca da “austeridade” durante a “limpa” nos transportes, com 16 afastamentos ou demissões. NACIONAL / PÁG. A4 ● A mansão de Pagot

Em Cuiabá, Luiz Pagot, diretor afastado do Dnit, está construindo uma casa avaliada por corretores em R$ 2,5 milhões. Para ele, vale R$ 700 mil. NACIONAL / PÁG. A9 ANDRE DUSEK/AE

Festa. O ministro Orlando Silva (esq.), Kassab, Alckmin e o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, na assinatura da isenção fiscal para o estádio

Cameron diz que errou ao nomear assessor O premiê britânico, David Cameron, disseestararrependidodetercontratado Andy Coulson como porta-voz. Ex-editor do News of the World, Coulson está envolvido no escândalo dos grampos. INTERNACIONAL / PÁG. A12

do a Odebrecht, que não incluiu esse item no orçamento de R$ 820 milhões para o estádio, os lugares extras não custarão menos de R$ 70 milhões. “Teremos um grande retorno com a exposição positiva” de São Paulo, justificou o secretário de Planejamento, Emanuel Fernandes. ESPORTES / PÁGS. E1 e E3

MARCOS DE PAULA/AE

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) vai bancar, com dinheiro público, a diferença de 20 mil assentos no futuro estádio do Corinthians, de 48 mil para 68 mil, para que ele possa ser sede da abertura da Copa de 2014. A ampliação será feita com uma estrutura que será retirada depois do evento. Segun-

Líder vence mais uma Corinthians, de Liedson, fez 2 a 0 no Botafogo. Palmeiras e Flamengo empataram. ESPORTES / PÁGS. E4 e E5

FERNANDO REINACH Por que fumar emagrece Até recentemente, a explicação era emocional. Agora, cientistas descobriram como a nicotina afeta os neurônios que controlam o apetite.

DEMÉTRIO MAGNOLI A profecia do euro Fiadores tácitos do presidente do Banco Central Europeu, Angela Merkel e Sarkozy desmancham, fio a fio, o frágil trançado da União Europeia.

VIDA / PÁG. A20

ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2

● Para

lembrar

GERALDO ALCKMIN GOVERNADOR DE SP, EM 2010

“Não tem sentido colocar dinheiro público em estádios. Deve ser privado”

Colunista ✽ Wagner Vilaron ●

Antes de ir atrás de Tevez, o Corinthians ofereceu R$ 120 milhões por Neymar. ESPORTES / PÁG. E2

Juro sobe mais 0,25 ponto, mas BC indica freio

Uso de apostila cresce na rede municipal

O Comitê de Política Monetária do Banco Central elevou o juro básico em0,25ponto porcentual,para 12,5% ao ano. Mas o BC sinalizou que o processo de aperto monetário pode ser interrompido. ECONOMIA / PÁG. B4

INTERNACIONAL / PÁG. A17

THOMAS L. FRIEDMAN Crise e choque de gerações Os que se tornam adultos hoje é que pagarão as contas das extravagâncias dos pais. VISÃO GLOBAL / PÁG. A14

VIDA / PÁG. A18

Síria proíbe viagem de embaixadores pelo país Chico faz pocket show ao vivo na internet METRÓPOLE / PÁG. C8

Tempo na capital com 27˚ Máx. Sol aumento 17˚ Mín. de nuvens HOJE:134 PÁGINAS (18 DE CLASSIFICADOS) * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 720 DIAS. PÁG. A8

Pivô. Pagot chega a hotel de Brasília

Em SP, prima de secretário lucra em sua gestão Uma empresa de uma prima do secretário municipal de Transportes, Marcelo Cardinale Branco, quadruplicou o valor de seus contratos com a Prefeitura entre 2006, ano em que Branco entrou na Prefeitura, e 2010. METRÓPOLE / PÁG. C1

NOTAS & INFORMAÇÕES

A faxina não pode parar Qualquer outra atitude será percebida como um recuo desmoralizante da presidente. PÁG. A3


A8 Nacional %HermesFileInfo:A-8:20110721:

O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 21 DE JULHO DE 2011

Influência do PR nos Transportes atingiu até TCU O ministro Augusto Nardes deixou de relatar os gastos em obras rodoviárias após a chegada de seu irmão Cajar Nardes ao Dnit Vannildo Mendes / BRASÍLIA

O esquema de controle e direcionamento do dinheiro público nas obras do Ministério dos Transportes montado pelo PR tem pontes com o Congresso e com o Tribunal de Contas da União (TCU). No TCU, o esquema criou um constrangimento para o ministro Augusto Nardes, relator dos gastos em obras rodoviárias, com a nomeação do irmão dele, Cajar Nardes, em 2008, para gerência de projetos do DepartamentoNacionaldeInfraestrutura de Transportes (Dnit). Cajar foi secretário de Estado no Mato Grosso até 2005, junto com o diretor-geral afastado do Dnit Luiz Antônio Pagot, no segundo mandato do governador Blairo Maggi, hoje senador pelo PR. Foi Pagot quem convidou Cajar para o cargo. A chegada de Cajar ao Dnit obrigou o órgão de controle de contas a repassar os processos deAugustoNardespara Raimun-

do Carreiro, um ministro fiel aos senadores. Carreiro chegou ao TCU em 2007, com o apoio do atual presidente do Congresso, o senador José Sarney (PMDB-AP). Irmão do senador Magno Malta (PR-ES), Maurício Pereira Malta foi guindado à posição de chefe da Assessoria Parlamentar do Dnit em 2007 – três anos depois do irmão ser eleito para o Senado. Naterça-feira passada, Magno Malta, líder do PR, não participoudasabatinadodiretorafastado do Dnit Luiz Antonio Pagot na Comissão de Infraestrutura. Mandou dizer que estava “com dores lombares” e que havia pedido ao senador Clésio Andrade (PR-MG), que é presidente da Confederação Nacional dos Transportes(CNT), parasubstituí-lo. Os senadores não costumam desperdiçar esses momentos de exposição aos holofotes, onde passam horas fazendo perguntas diante das câmaras das emissoras de televisão.

Prefeitura, Itaú e Trident promovem mais um dia de Rock in Rio.

MaurícioMalta cuidadosinteresses dos parlamentares ligados às obras financiadas com dinheiro do Orçamento e presta contas do trabalho a uma bancada de 40 deputados e 6 senadores do PR. Em nota enviada ao Estado, ele negou que faça lobby em favor dos parlamentares do PR e disse que sua ação é institucional, “junto a todos os partidos”. A principal função, descreveu, é “dar vazão às demandas do Dnit juntoaosparlamentares”.Acrescentou que “não tem envolvimento com a área técnica ou de licitações” da autarquia. Impedido. Em 2008, quando

Cajar Nardes foi para o Dnit, o TCU relatava um processo atrás do outro sobre obras de infraestrutura tocadas pela União – algumasdelasfaziampartedoPrograma de Aceleração do Crescimento (PAC) –, aplicando multa e descrevendo irregularidades que iam de superfaturamento a descontrolenaconcessãodeadi-

INFLUÊNCIA DO CONGRESSO NO DNIT

Magno Malta

Maurício Malta

Senador pelo PR-ES, emplacou o irmão Maurício Malta no Dnit e aliados em outras áreas do setor. Pilota a exploração das obras do ministério no eixo sul

Comanda a Assessoria Parlamentar do Dnit. Apontado como lobista do PR e do irmão na definição de projetos e contratação de empresas para tocar obras no órgão

Augusto Nardes

Cajar Nardes

Ex-deputado pelo PP, aliado do governo, hoje é ministro do TCU. Declarou-se impedido de atuar em todos os processos do Dnit submetidos à gestão do irmão

Foi secretário do governo de Blairo Maggi, hoje senador pelo PR e o interlocutor do partido com Dilma. Nomeado gerente de projetos do Dnit em 2008

tivos. Por trás da ação do tribunal estava justamente o relator de contas rodoviárias, Augusto Nardes. Coma posse doirmão no Dnit, o ministro se declarou impedido de fiscalizar ou participar do julgamento de obras do órgão. O correto, afirmou uma fonte do Planalto, era o Dnit não ter chamado para um cargo do órgão um empresário que tinha um irmão no TCU – por conta disso, o governo avalia agora que a escolha da Cajar Nardes foi proposi-

tal. Emrespostaenviadaàreportagem do Estado pela assessoria do Dnit, via e-mail, Cajar negou quetenhafeitotráficodeinfluência ou causado constrangimento ao irmão ou ao TCU com sua ida para a autarquia. Ele disse que, como gerente de projetos, “não se envolve com execução de obras diretamente”. EmboraresidaemBrasília,Cajar, que é gaúcho de Santo Ângelo, foi escolhido presidente do PR no Rio Grande do Sul, onde o

ENTREVISTA

JAMIROQUAI

KE$HA JOSS STONE

Augusto Nardes, ministro do TCU e ex-deputado

‘Sempre agi com independência’ O ministro Augusto Nardes, presidente em exercício do TCU, afirmou que a nomeação do seu irmão, Carjar Nardes, como gerente de projetos do Dnit, não lhe trouxe constrangimento nem dano à imagem ou à ação fiscalizadora do órgão. Ele disse ao Estado que se declarou impedido de atuar em todos os processos da autarquia relacionados com a atividade do irmão, tão logo ele tomou posse no cargo. Explicou que o tribunal alterou a composição para o biênio 2009/2010, passando a relatoria das contas do Dnit para o colega Raimundo Carreiro, que foi secretário-geral da Mesa do Senado. Afirmou ainda que sempre atuou “com plena independência e autonomia”.

● Em quantos e em quais processos o sr. deixou de atuar por conta desse impedimento?

Assim que soube, em meados de 2008, da nomeação do meu irmão para o cargo em comissão de gerente de Projetos no Dnit, vinculado à área administrativa da entidade, declareime impedido de atuar em todos os processos da autarquia que tratassem da sua gestão, vale dizer, processos de índole administrativa. Nesse sentido, foi promovida a alteração, no tribunal, da relatoria das contas do Dnit, que passaram, então, já para o biênio 2009/2010, a ser da responsabilidade do ministro Raimundo Carreiro. ● Mas o fato causou danos à ima-

QUEM É ✽ Gaúcho de Santo Ângelo, Augusto Nardes começou a carreira política em 1973, como vereador, pelo extinto Arena. Desde então, foi deputado estadual pelo PDS, deputado federal pelo PPR, depois pelo PPB e pelo PP. Renunciou ao cargo em 2005 para assumir o cargo no TCU.

gem e limitou a ação fiscalizadora do tribunal.

Não houve nenhum dano à imagem do TCU ou limitação à sua ação fiscalizadora. Primeiro, porque a declaração de impedimento é uma providência comum, prevista no Código de Processo Civil, a ser adotada por qualquer magistrado em situações similares, e que corriqueiramente é vista no âmbito do próprio Judiciário, inclusive nas Cortes superiores e neste Tribunal de Contas. Segundo, porque o outro relator designa-

Funcionários do Dnit no RS vão expor sucateamento do órgão

FALTAM DOIS DIAS

PARA A VENDA DE INGRESSOS PARA O DIA 29/09 R O C K I N R I O . C O M . B R

entrega este sonho.

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Nomeações. Principal cacique do partido, o deputado federal e atual secretário geral do PR, Valdemar Costa Neto (SP), nomeou a maioria dos dirigentes do ministério dos Transportes e órgãos coligados. Só o Dnit, tem um orçamento anual de mais de R$15bilhões.Oslobbiesdopartido eram encaminhados à Coordenadoria Geral de Cadastro e Licitações. A coordenadoria é subordinada ao diretor executivo do Dnit, José Henrique Sadok, afastado após reportagem do Estado revelar que sua mulher ganhara contratos de pelo menos R$ 18,9 milhões para tocar obras rodoviárias em Roraima. A influência do senador Magno Malta se estende também à Diretoria de Infraestrutura Ferroviária, onde emplacou Geraldo Lourenço de Souza Neto. Procurado em seu gabinete emBrasília e no Espírito Santo, o senador Magno Malta não retornou as ligações nem respondeu às mensagens de e-mails enviadas desde ontem. No gabinete, a informação é que ele está em viagem pelo interior do Espírito Santo e não pode ser localizado. Magno está sumido desde a eclosão das denúnciasno Ministériodos Transportes.

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partido está se estruturando fortemente, o que dá uma mostra de sua importância no grupo. O partido não tem deputados no Estado, mas se organiza rápido no interior. Desde o início do ano, ele vinha se desdobrando em visitas a cidades como Bagé e Estrela, onde firmou alianças e prometeu obras. A expansão do PR vinha se dando também no Paraná e Santa Catarina.

HERMÍNIO NUNES/DIARIO CATARINENSE

Terceirização de serviços na autarquia foi criticada durante assembleia por facilitar indicação de apadrinhados políticos Elder Ogliari / PORTO ALEGRE

Funcionários do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit)no Rio Grande do Sul decidiram, durante assembleia realizada ontem, promover uma série de manifestações públicas para expor o sucateamento e as terceirizações da autarquia. “Uma comissão de mobilização vai definir iniciativas como exposição de faixas e atos públicos nos próximos dias”, relata Luís Ribeiro, representante do Sindicato dos Servidores Federais entre os servidores do Dnit gaúcho. “Também podemos discutir a possibilidade de uma greve nacional no dia 1.º de agosto”, completa,destacandoqueo problema não é específico do Estado, mas nacional.

Atribuições. Dnit faz remoção de terra na BR-101 em SC Segundo avaliação dos servidores, a terceirização facilita o apadrinhamentopolíticoedeveria ser substituída pelos concursos públicos. Ribeiro lembra que, quando criado, em 2002, o Dnit previa ter 4,8 mil servidores concursados. Hoje o número fica próximo de 2,7 mil. No Rio Grande do Sul a autarquia tem 130 servidores para a superintendência e oito unida-

des locais. Ribeiro diz que há regiões com apenas dois funcionários para controlar quatro balanças que controlam o peso de caminhões. “Em casos assim, a terceirização não resolve, porque somente agentes de trânsito concursados podem aplicar multas por excesso de peso”, destaca, apontando uma das causas de deterioração das rodovias.

do certamente analisou e relatou os processos com o mesmo zelo, eficiência e competência com que tratamos todo e qualquer assunto analisado por esta Casa. Prova disso são as matérias veiculadas diariamente pela imprensa, as quais, em sua quase totalidade, citam o trabalho de fiscalização e as determinações e recomendações feitas pelo TCU no que se refere ao uso de recursos públicos, inclusive no Dnit. ● Diante da onda de denúncias no Dnit, o que o sr. aconselha ao seu irmão e à diretoria do órgão para restaurar a moralidade?

Questões relacionadas à política de gestão interna dos órgãos e entidades vinculados a outros poderes são problemas que devem ser resolvidos interna corporis. Como integrante de um órgão de controle, defendo que deve haver toda e qualquer apuração dos fatos noticiados. Sempre atuei com plena independência e autonomia quanto aos processos que tenho relatado.

‘Estado’ está sob censura há 720 dias Desde o dia 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar informações a respeito da Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal (PF) investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em 31 de julho de 2009, de publicar informações sobre a operação. No dia 18 de dezembro de 2009, Fernando Sarney entrou na Justiça com um pedido de desistência da ação movida contra o jornal, mas o Estado não aceitou. Em 29 de janeiro de 2010, o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira apresentou ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal manifestação em nome do jornal sustentando preferência pelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha o mérito julgado.


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

22 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00* ANO 132. Nº 43011

EDIÇÃO DE 0H15

estadão.com.br

SEXTA-FEIRA PHILIP SCOTT ANDREWS/NYT

Caderno2 ‘Tenho mais liberdade’ Joss Stone, que vem ao Rock in Rio, fala ao Estado do novo CD

Divirta-se

Vida

Atlantis. Último ônibus espacial pousa nos EUA. Pág. A18

As atrações dos museus, além das exposições

UE anuncia socorro de € 158 bilhões para a Grécia Chefes de Estado e de governo da União Europeia anunciaram um novo socorro àGrécia,de €158 bilhões. Entreasmedidas está um aporte de € 109 bilhões em recursos do Fundo Europeude EstabilidadeFinanceira e do FMI, que se soma a um corte na dívida de € 37 bilhões até 2014,pelacontribuição diretaevoluntá-

ria dos credores. O pacote se completa com € 12 bilhões, usados na recompra deobrigaçõesgregas. Em 30anos,acontribuição do setor privado será de € 135 bilhões. Essas medidas tendem a ser consideradas um “default seletivo” da Grécia, ou seja, um calote parcial das dívidas. ECONOMIA / PÁGS. B1 e B4

Análise

✽ Celso Ming ● Destavez,asautoridadesdaáreadoeuro encaminharam com mais consequência uma solução para a crise grega. PÁG. B2

Obama vai à oposição ● Em mais um esforço para evitar a

declaração de default pelo governo dos Estados Unidos em 3 de agosto, o

presidente Barack Obama iniciou diálogo com o líder republicano John Boehner. O objetivo é obter uma rápida tramitação de eventual acordo no Congresso. ECONOMIA / PÁG. B5

PATRICK B. KRAEMER/EFE

Dnit libera R$ 30 milhões para aliado petista no RS Diretor do órgão, também petista, aprova contrato que financia construção de casas para sem-terra Contrariando pareceres da Advocacia Geral da União (AGU), o diretor de InfraestruturaRodoviáriadoDepartamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Hideraldo Caron, orientou a aprovação de contrato de R$ 30 milhões com a prefeitura de Canoas (RS), comandada por Jairo Jorge (PT). O convênio não é para melhorar estradas, e sim para construir 599 casas para 2 mil sem-terra que ocupam terreno próximo à construção da BR-448, informa Leandro Colon. Essafoijustamente umadasirregularidades apontadas pela AGU. Outro pare-

● Prejuízo

de R$ 420 milhões

O TCU apontou indícios de perda de R$ 420 milhões na Valec, estatal que comanda obras em ferrovias. A compra de materiais em duas ferrovias do PAC foi suspensa. NACIONAL / PÁG. A7

cer indica manobra para liberar recursos.Um anoemeiodepoisdaassinatura do contrato, o projeto ainda não saiu do papel. Por meio de nota, o Dnit argumenta que teve aval do Ministério do Planejamento. NACIONAL / PÁG. A4

Para mochileiros TIAGO QUEIROZ/AE

Em cinco anos, número de hospedarias para jovens viajantes quadruplicou em São Paulo. PÁG. C8

Liberado para nadar

Aliviado, Cesar Cielo treina em Xangai, na China, para o Mundial de Desportos Aquáticos. A Corte Arbitral do Esporte decidiu apenas advertir o nadador, que tivera resultado positivo em exame antidoping. ESPORTES / PÁG. E1

Kassab defende seu secretário

Equador prende por injúria ao presidente

Prefeito diz que sabia que uma prima do secretário Marcelo Cardinale Branco (Transportes) tinha mais de R$ 60 milhões em contratos com a Prefeitura de SP. METRÓPOLE / PÁG. C1

SP terá 500 radares ‘dedo-duro’ até 2012

Tempo na capital

MILTON HATOUM Um encontro em Caiena Em 1990, numa cela em Caiena, li uma palavra escrita por um preso: liberté. Talvez ela ainda seja legível nesse lugar arruinado da história.

DORA KRAMER Roncos da reação Os partidos aliados ainda esperam para ver se a faxina é um espasmo e passa ou se a regra é para valer, para todos e por tempo indeterminado.

FERNANDO GABEIRA Em torno da indignação É um problema não se indignar com a corrupção que mata e aniquila sonhos. Mas também é um problema indignar-se e ficar de mãos vazias.

CADERNO 2 / PÁG. D10

NACIONAL / PÁG. A6

ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2

INTERNACIONAL / PÁG. A14

METRÓPOLE / PÁG. C5

20˚ Máx. 15˚ Mín.

Chuva e temperatura em baixa

HOJE: 178 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 721 DIAS. PÁG. A9

Cirurgia bariátrica polêmica é vetada O Conselho Federal de Medicina vetou a técnica de cirurgia de redução do estômago contra obesidade e diabete. O apresentador Fausto Silva se submeteu à operação experimental. VIDA / PÁG. A18

NOTAS & INFORMAÇÕES

Festa cara para o contribuinte O futuro estádio do Corinthians será pago em grande parte pelos contribuintes. PÁG. A3


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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 22 DE JULHO DE 2011

Ex-procurador do DF e promotora viram réus

Nacional A9 ED FERREIRA/AE

TRF decide que Leonardo Bandarra, Deborah Guerner e o marido dela, Jorge Guerner, responderão por tentativa de extorsão contra ex-governador Arruda Mariângela Gallucci / BRASÍLIA

Desembargadores do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1.ª Região, sediado em Brasília, decidiram ontem abrir um processo criminal contra a promotora Deborah Guerner, o marido dela, o empresário Jorge Guerner, e o ex-procurador de Justiça do Distrito Federal Leonardo Bandarra por suspeitas de que eles teriam tentado extorquir o ex-governador José Roberto Arruda (DEM à época, atualmente sem partido). De acordo com a denúncia aceita pela Corte Especial do TRF, eles e outros três réus teriam participado de um esquema para tentar coagir Arruda a pagar R$ 2 milhões. Em troca, não seria divulgado um vídeo no qual ele aparecia recebendo dinheiro do delator do esquema do mensalão do Distrito Federal, Durval Barbosa. Além dos Guerner e de Bandarra, tornaram-se réus no processo Durval Barbosa, o pivô do escândalo do esquemaqueficouconhecidocomo Mensalão do DEM, o engenheiro Marcelo Carvalho e a servidora Claudia Marques. Um dos pontos altos do julgamento foi a própria Deborah Guerner. No início da sessão, ela gritou no plenário, atrapalhan-

● Certeza

MÔNICA SIFUENTES DESEMBARGADORA DO TRF

“Estou convicta de que todos os denunciados, cada um na medida de sua culpabilidade, se não estão diretamente envolvidos, têm, no mínimo, pelo menos, explicações a dar sobre o que foi narrado na peça acusatória”

do os desembargadores e foi repreendida pelo presidente do Tribunal,Olindo Menezes. Duas horas depois, Deborah deixou a sala acompanhada do marido e de um dos advogados do casal. A promotora afirmou que seu marido estava passando mal e disse que ele tinha sofrido um princípio de Acidente Vascular Cerebral (AVC) nos últimos dias. Enquanto o grupo se deslocava para o departamento médico, que fica em outro prédio do TRF, Deborah demonstrou nervosismo. “Eu sei que ele vai morrer de tanta injustiça”, disse. Em seguida, na rua que separa osdoisprédiosdoTRF,elacomeçou a cair lentamente, dando a impressão de ter desmaiado. A promotora foi carregada para o

posto médico. Um advogado do casalcomunicouqueosdois ficariam em observação no departamento médico do tribunal. Ela, por causa do desmaio. Ele, por causa de um problema de pressão arterial. Provas. No julgamento, a rela-

tora Mônica Sifuentes apresentouimagensgravadaspelocircuito interno da residência dos Guerners para provar as suspeitas de crime. A desembargadora concluiu que existem indícios de delito e, por esse motivo, a denúncia deveria ser recebida e um processo criminal deveria ser aberto. “Estou convicta de que todos os denunciados, cada umnamedidadesuaculpabilidade, se não estão diretamente envolvidos, têm, no mínimo, pelo menos, explicações a dar sobre o que foi narrado na peça acusatória”, disse. Essa não é a primeira derrota de Deborah no TRF. Em junho, os desembargadores concluíram que a promotora não tem insanidade mental e, portanto, pode responder por supostos crimes. Junto com o marido, ela ficoupresa poroitodias naSuperintendência da Polícia Federal sob a acusação de tentar atrapalhar o processo, simulando um suposto estado de insanidade mental.

Desmaio. Deborah deixa o departamento médico do TRF, após passar mal durante audiência

PARA LEMBRAR

Caso derrubou governador O esquema que ficou conhecido como ‘mensalão do DEM’ foi revelado em 2009 pelo exsecretário de Relações Institucionais do governo do Distrito Federal Durval Barbosa, mediante acordo de delação premiada. Segundo seu relato,

entre 2000 e 2010, teriam sido desviados cerca de R$ 4,2 bilhões dos cofres públicos do governo da capital federal. O esquema envolvia 5 empresas e 14 autoridades, entre as quais o então governador José Roberto Arruda (na época filiado ao DEM), secretários de seu governo e quatro deputados. Os integrantes são acusados de fraude em licitações e superfatu-

Ministério Público pede prisão de prefeito de Taubaté Procuradoria Eleitoral diz que Peixoto, acusado de oferecer vantagens a eleitores em 2008, estaria se ocultando da Justiça Fausto Macedo

A Procuradoria Regional Eleitoral requereu a prisão preventiva do prefeito de Taubaté (SP), RobertoPeixoto (PMDB),que estariaseocultando paranãosercitadoem investigação naqualé acusado por corrupção eleitoral. No

pedido ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o procurador Pedro Barbosa Pereira Neto argumentaque o peemedebista dificulta “a instrução criminal e a aplicação da lei”. Peixoto é alvo da Operação Urupês,daPolíciaFederal.Em21 de junho ele e a mulher, Luciana Flores, foram presos por ordem do Tribunal Regional Federal da 3.ª Região (TRF3). Após 3 dias de custódia em celas da PF o casal foilibertadoemdecisãodoSuperior Tribunal de Justiça (STJ). O inquérito da PF aponta suposto envolvimento do peeme-

debista em um esquema de corrupção, desvio de verbas federais destinadas a programas de ensino e saúde e lavagem de dinheiro. Paralelamente à devassa que a PF promove na gestão Peixoto, ●

Entrave

Para o procurador eleitoral Pedro Pereira Neto, o prefeito “tem deliberadamente atrasado o início da instrução criminal com evidente intenção de tumultuar a aplicação da lei penal”.

ele é investigado por crime eleitoral. Na campanha de 2008 ele teria conquistado votos por meio de promessas de vantagens a eleitores. Segundo a procuradoria, ele seguidamenteseesquiva da citação para apresentar sua defesa. Certidão do oficial de Justiça Lauro Mazzi Neto juntada aos autos comunica sobre “diversas diligências infrutíferas” para localizar o prefeito. Na residência de Peixoto, o oficial foi informado de “que o prefeito não poderia ser encontrado, pois andava sumido em

razão das coisas que andavam falando por aí”. No gabinete do Palácio do Bom Conselho, sede do executivo municipal, a secretária, Lívia, disse ao oficial “que o prefeito é difícil de ser encontrado”. O oficial destacou que foi atrás do prefeito até na Câmara Municipal. “Tentei intimar o prefeito, o que não foi possível, ante a imensa quantidade de jornalistas que o cercavam no local, e quando fui me apresentar ao prefeito, dizendo ser oficial de Justiça, rapidamente se desvencilhou de todos e se dirigiu a seu

ramento de preços para extrair propinas que foram destinadas a gastos pessoais, enriquecimento ilícito e financiamento de campanha. Em um vídeo, Arruda apareceu recebendo R$ 50 mil de Barbosa. Ele alegou que o dinheiro teria sido usado na compra de panetones para a distribuição no Natal para a população carente.

carro,cercado de assessores, impossibilitando minha chegada.” “O pedido de prisão é descabido”, reagiu Adair Loredo, secretário de Governo de Taubaté. “O prefeito está na cidade trabalhando normalmente. Não está se ocultando. Hoje (ontem) eu despachei com ele o dia inteiro. O prefeito tem residência fixa, mora no centro há mais de 20 anos. O oficial de Justiça foi uma única vez na casa do prefeito. Tinha a alternativa de marcar a citação por hora certa e não o fez.” Loredoinformou que os advogados do prefeito, Erich Castilhos e Roberta Peixoto, já entregaram petição nos autos dando Roberto Peixoto como citado formalmente.

Instituto FHC lança site de debates na web O Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) lançou ontem um site de debates políticos na internet. Chamado de Observador Político (www.observadorpolítico.org.br), a iniciativa pretende ser um fórum de debates de assuntos de interesse do País. “(O site) é abrigado no iFHC, mas tem uma gestão independente.E issoéfundamental.Não é,rigorosamente,umaferramenta do PSDB”, afirmou Xico Graziano, ex-secretário estadual de MeioAmbienteeumdoscoordenadores do projeto, que conta com uma equipe técnica de cinco pessoas no iFHC, além de dezenas de colaboradores. Entre os chamados “observadores”, que contribuem com o site, estão o professor de ciência política Paulo Sergio Pinheiro, o cientistapolíticoBolívarLamounier, o jornalista Rodrigo Mesquita e o ex-secretário Nacional de Justiça, Pedro Abramovay. Em um vídeo postado no site, FHC destacou o papel da internet para mobilizar os cidadãos. “Há um momento em se que diz: ‘Basta, chega’. E é aí que a internet joga um papel grande.” “Não dá mais para alguém dar uma ordem. Alguém vai dar uma ordem sempre. Mas não é isso que vai mudar o mundo. Mudançadomundodependedemudança de comportamento, e todos querem participar”, disse FHC. Nasemanapassada,oex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançouositedoInstitutoCidadania (www.icidadania.org).

‘Estado’ está sob censura há 721 dias Desde o dia 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda uma definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar informações a respeito da Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em 31 de julho de 2009, de publicar informações sobre aquela operação da Polícia Federal. No dia 18 de dezembro do mesmo ano, Fernando Sarney pediu desistência da ação, mas o Estado não aceitou. Em 29 de janeiro de 2010, o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira apresentou ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal manifestação em nome do jornal sustentando preferência pelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado. Até hoje o Estado aguarda uma manifestação.


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

23 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00* ANO 132. Nº 43012

EDIÇÃO DE 23H30

estadão.com.br

Adilson, de novo Confiante, técnico estreia no São Paulo

Boulevard

MARCIO FERNANDES/AE

Esportes

EPITACIO PESSOA/AE

SÁBADO Sustentável Brinquedousa até energiasolar. Pág. C6

Sabático Sem teorias Para o Nobel V. S. Naipaul, escrever é recusar fórmulas CHRIS ISON/REUTERS

Atentados terroristas na Noruega matam mais de 80 Ataques ocorreram no centro de Oslo e em um acampamento; suspeita-se de grupo extremista local Dois atentados colocaram ontem a Noruega no mapa do terrorismo global. Em Oslo, uma explosão no prédio onde trabalha o premiê Jens Stoltenberg matou sete pessoas. Uma hora e meia depois, a ação mais sangrenta: um atira-

dor fuzilou ao menos 80 pessoas em um encontro juvenil do partido do premiê na Ilha de Utoya, a 40 quilômetros da capital. Segundo a polícia, um homem vestido de policial, usando um fuzil automático, abriu fogo aleatoria-

mente contra a multidão. Autoridades confirmaram que também encontraram explosivos espalhados pela ilha. A polícia informou que o atirador foi preso. Ele foi identificado como Anders Behring Breivik, norueguês de 32 anos.

Isso aumentou a suspeita de que o ataque tenha sido obra de uma organização extremista local, ou mesmo uma operaçãodeumhomemsó,porqueBreivik teria sido visto na capital antes da explosão. INTERNACIONAL / PÁGS. A14 e A16

Negociação com oposição fracassa e crise nos EUA piora Fracassaram as negociações entre a Casa Branca e o republicano John Boehner sobre um acordo para evitar o não pagamento da dívida dos EUA em agosto. O desfechoirritouBarackObama.Opresidente dos EUA disse que os republicanos terão de “assumir a responsabilidade” caso o governo deixe de fazer pagamentos federais. ECONOMIA / PÁG. B6

HOLM MORTEN/EFE

Economia faz ‘pouso suave’, afirma Dilma A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que a economia brasileira está fazendo um “pouso suave”. Para ela, uma política com foco de curto prazo contra a inflação teria efeito “danoso” e épreciso preservaro crescimento.“Não queremos inflação sob controle com crescimento zero”, disse em conversa com jornalistas. ECONOMIA / PÁGS. B1 e B3

Presidente vai tirar ‘todos’ no Dnit e na Valec

Terrorismo. Equipes de socorro atendem um homem ferido na explosão em um prédio do governo em Oslo, o primeiro dos dois atentados

Paulistano viaja para obter passaporte

Ministro da Justiça libera acesso a arquivo para caça a torturadores

Com fila de espera de até três meses para tirar o passaporte em São Paulo, paulistanostêm viajado paracidades comoCampinas ePiracicabaparaobter o documento. METRÓPOLE / PÁG. C1

O Ministério da Justiça liberou o acesso ao Arquivo Nacional para 12 representantes de perseguidos políticos e familiares de mortos e desaparecidos

PAUL KRUGMAN A Depressão Menor As elites políticas dos dois lados do Atlântico escangalham a resposta ao trauma econômico, ignorando todas as lições da história.

MAUREEN DOWD Legado de poder No Parlamento, Murdoch lembrou seu pai, a quem procurou vingar no establishment britânico.

SÉRGIO TELLES Kafka, Derrida e a lei Qualquer cidadão se apercebe do quão leniente a lei fica ao se aproximar dos poderosos. Se é que se aproxima.

ECONOMIA / PÁG. B6

VISÃO GLOBAL / PÁG. A18

C2+MÚSICA / PÁG. D14

na ditadura. Segundo o governo, eles procuram identificar torturadores e assassinos. O objetivo está explícito na portaria. NACIONAL / PÁG. A10

DispostaacontinuarafaxinanosTransportes,apresidente DilmaRousseffdisse que afastará “todos os dirigentes” do Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit) e da Valec, empresa que cuida das ferrovias: “Todos sairão, independentemente de endereços partidários”. NACIONAL / PÁG. A4

População asiática no Brasil cresce 173%

Radicais vetam ajuda a famintos na Somália

Em dez anos, o número de residentes no País que se declararam de cor ou raça amarela passou de 1,322 milhãopara 2,084milhões,informa Luciana Nunes Leal. VIDA / PÁG. A20

Equador: mídia protesta com páginas em branco

Tempo na capital nublado 19˚ Máx. Dia e frio. Chove 13˚ Mín. fraco 120 PÁGINAS (28 DE CLASSIFICADOS) * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 722 DIAS. PÁG. A8

INTERNACIONAL / PÁG. A18

INTERNACIONAL / PÁG. A16

NOTAS & INFORMAÇÕES

Façanha ditatorial no Equador A Justiça é uma extensão do cada vez mais nítido autoritarismo chavista de Correa. PÁG. A3


A8 Nacional %HermesFileInfo:A-8:20110723:

O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 23 DE JULHO DE 2011

Senado aluga carros por R$ 1,7 mi/ano

Casa avalia que manutenção de frota própria fica mais cara; edital propunha valor global de R$ 5,9 milhões, mas ofertas puxaram preço para baixo FOTOS: IVALDO CAVALCANTE/HOJE EM DIA

Eduardo Bresciani / BRASÍLIA

O Senado pagará R$ 1,7 milhão pelo aluguel de carros para os 81 senadores pelo período de um ano. O pregão foi realizado ontem e contou com a presença de 36 empresas. Está aberto agora o prazo para recursos das empresas derrotadas. O valor inicial proposto pelo Senado era de R$ 5,9 milhões anuais. No edital, a Casa estava disposta a pagar até R$ 6,1 mil por mês pelo aluguel de cada carro, que deve ter potência mínima de 140 cavalos, motor 2.0, quatro portas, ar-condicionado, air bags, entre outras exigências. As ofertas das empresas, porém, puxaram o valor para baixo. Na primeira rodada, com as propostas em envelopes fechados, foram selecionadas as empresas com as quatro melhores ofertas para a realização de um leilão em busca do menor preço. Entre as selecionadas, a proposta mais alta já era de R$ 2,8 mil mensais para o aluguel de cada unidade. Desclassificação. Ao fim do

leilão,o valor da proposta vencedora ficou em R$ 1.770,00 por veículo/mês. A empresa que apresentou essa proposta, porém, foi desclassificada. A Giro Locadora de Veículos foi reprovada pela equipe técnica do Senado no quesito capacidade financeira. Segunda colocada, a empresa Rosário Locadora de Veículos

Motociclista sobe rampa do Planalto e acaba preso

Numa motocicleta vermelha, um homem subiu ontem a rampa do Palácio do Planalto. Antes de atingir a vidraça da portaria, jogou a moto no espelho d'água. Mesmo

sem o veículo, continuou correndo em direção à entrada do Planalto, quando foi agarrado e preso pelos seguranças da Presidência. Depois, foi encaminhado a uma dele-

gacia de polícia. No governo de José Sarney, um motorista entrou com um ônibus no Planalto. Já no de Fernando Collor, um homem tentou subir a rampa num jipe. Foi

LEONENCIO NOSSA

Ltda, que tem o nome fantasia de Connecta, cobriu a proposta da concorrente e foi considerada apta. A Connecta tem 14 anos de atividade, possui 600 veículos e atende a outros órgãos pú-

blicos, como Ministério de Ciência e Tecnologia e governo do Distrito Federal. A Giro anunciou que vai recorrer de sua desclassificação, enquanto outros concorrentes

questionaram a capacidade técnica da Connecta de alugar carros executivos nos moldes que o Senado deseja.

nado para alugar carros para os senadores é que a manutenção de frota própria representa um custo maior. De acordo com o primeiro-secretário, Cícero Lucena (PSDB-PB), somente com

uma oficina terceirizada que presta serviços para a Casa os gastos são de R$ 360 mil mensais.Com o aluguel, essa responsabilidade passa a ser do fornecedor.

Economia. A justificativa do Se-

Mais 3 listas do PSD incluem mortos e preso Cartórios eleitorais de São Paulo detectaram as supostas fraudes nos abaixo-assinados de apoio à sigla de Kassab

Procurador pede rigor no processo de criação de partidos

Fabio Leite / JORNAL DA TARDE

● A Procuradoria Regional Eleito-

Pelo menos seis eleitores paulistanosque já morreram e um sétimo que está preso foram apresentados como apoiadores nas listas pela criação do PSD, partido em processo de articulação comandado pelo prefeito de São Paulo,GilbertoKassab.Assupostas fraudes foram constatadas emtrês cartórioseleitoraisdacapitalpaulistaeestão sendo encaminhadas ao Ministério Público Eleitoral (MPF) e à Polícia Federal (PF), que já investigam outras denúncias de irregularidades na coleta de assinaturas da nova legenda. No cartório da Vila Prudente, zona leste da cidade, foram flagrados em uma lista entregue na semanapassada,com 975 assinaturas, os nomes de três eleitores que constam como falecidos no cadastro eleitoral. “Fizemos umaconferência combase naassinatura do caderno de votação e descobrimos três casos que, no

ral em São Paulo recomendou ontem aos promotores que atuam em todas as zonas eleitorais do Estado que “zelem pela efetiva análise cartorial da idoneidade das listas de apoiadores de novos partidos, sem prejuízo de propositura de impugnação ou de outras medidas cabíveis, inclusive de natureza penal”. O documento é subscrito pelo procurador André de Carvalho Ramos, motivado por supostas irregularidades nas listas de eleitores que apoiam o processo de formação do PSD. Ele observou que na hipótese de assinaturas falsas pode se caracterizar o deli-

to de falsidade (artigo 350 do Código Eleitoral). O Tribunal Regional Eleitoral acolheu mandado de segurança do PSD e suspendeu os efeitos da ordem da 326ª Zona Eleitoral que havia interrompido o processo de reconhecimento de apoiadores da legenda. “Ainda que a irregularidade tenha sido verificada em relação às assinaturas de dez eleitores, tal fato não pode impedir a expedição da certidão relativa aos dois apoiadores em situação regular”, ponderou o juiz Paulo Galizia. “Não há tentativa de fraude, de burlar a Justiça Eleitoral”, reage o advogado Arnaldo Malheiros, autor do mandado de segurança ao TRE. “O partido não pode responder por essas assinaturas, não sabe quem assinou ou quem as colheu. A lei dispõe que o cartório eleitoral deve fazer a verificação.” / FAUSTO MACEDO

cadastro, os eleitores aparecem como mortos”, relatou a chefe substituta do cartório, Lívia Maria Carvalho. O caso foi levado ao promotor daZonaEleitoraldeVilaPrudente, Antonio Carlos Gasparini, que disse aguardar o retorno do

juiz Pedro Yukio Kodama das férias,na segunda-feira,para saber oencaminhamento dainvestigação.Segundoaassessoriadopromotor,os casosdevem ser incorporadosaosinquéritosjáinstalados pela PF e pela promotoria eleitoral.

Na Capela da Socorro, zona sul da cidade, um funcionário do cartório relatou à reportagem ter constatado a assinatura de um eleitor morto e de outro que está preso. Outrosdoiscasosde“apoiadores” do PSD que já morreram fo-

Ao contrário dos trabalhadoresbrasileirosemgeral,osministros do STF têm dois meses de férias por ano, fora feriados e recessos. As férias deles no meio do ano começaram no dia 1.º de julho.Mas aassessoriadeToffoli confirmou que ele saiu antecipadamente de férias e prestigiou o enlace ocorrido em 21 de junho.

meiode suaassessoriaquepagou pelos deslocamentos aéreos. Mas não disse se arcou com as despesas hoteleiras. “Foiumaviagemdecaráterestritamente particular e o ministro não vai se pronunciar sobrequestões pessoais”, justificoua assessoriadeToffoli. Podvalatuoucomo advogadoem processosde granderepercussão nacional, como o assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT) e a morte da menina Isabella Nardoni. A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) defendeu o ministro. “O ministro Toffollicomocidadãoeserhumanotemtodoodireitodecultivar laços de afeto e amizade comaspessoasemereceanossa solidariedade”, afirmou o presidente da Ajufe, Gabriel Wedy. / MARIÂNGELA GALLUCCI

Toffoli falta a sessão do Supremo para ir a casamento na Itália Ministro perdeu quatro sessões em junho para ir a festa do Roberto Podval, advogado que atuou no caso Celso Daniel BRASÍLIA

O ministro José Antonio Dias Toffoli,doSupremoTribunalFederal (STF), faltou a quatro sessões de julgamento na corte no fimdejunhoparaassistiraocasamento na Itália do advogado Ro-

THIAGO TEIXEIRA/AE-7/7/2011

berto Podval, um dos principais criminalistas do País. No período, Toffoli não participou de pelo menos uma votação importante – na qual o tribunaladmitiuafixaçãodeavisoprévio proporcional ao tempo de serviço do trabalhador em caso de demissão. De acordo com informaçõesdoSTF,oministroestava na ocasião “ausente justificadamente”. A assessoria de Toffoli disse que ele comunicou a ausência num ofício encaminhado ao presidente do Supremo, Cezar Peluso.

Despesas. De acordo com reportagemojornalFolha deS.Paulo, as despesas com a viagem de convidados foram pagas pelo noivo. Toffoli informou por ● Per brindare

Realizado num hotel de luxo da Ilha de Capri, o casamento teve como atração um show do cantor Pepino di Capri, famoso por músicas como Champagne, Roberta, Dio Come ti Amo e Sapore di Sale.

Meta. Kassab quer registro a tempo de disputar eleição de 2012 ram identificados no cartório da Vila Matilde, na zona leste. Ambos também foram encaminhadosà PF eaos juízesdas respectivas zonas eleitorais. No cartório da Lapa, na zona oestede SãoPaulo, umfuncionário contou à reportagem haver

‘Estado’ está sob censura há 722 dias Desde o dia 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda uma definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar informações a respeito da Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal investi-

aí que a segurança mandou construir os espelhos d’água, para aumentar a proteção contra ataques de pessoas motorizadas. /

casos em que, de uma lista de 100 nomes, 80 são descartados por erros de informação. Os problemasmais frequentessãodiferençasentre a assinaturado título de eleitor e a da lista do PSD, domicílio ou zona eleitoral não correspondente ou ainda ausência do nome da mãe ou do pai, exigências da legislação. Procedimento. A intenção dos líderes do PSD é conseguir o registro do novo partido no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a tempo de disputar a eleição municipalde2012.Paraisso,alegendadeveserreconhecidapelaJustiça Eleitoral até outubro – os candidatos devem ter um ano de filiação à sigla pela qual pretendem concorrer. A criação de um partido, pela lei, exige apoio de 482 mil eleitores em pelo menos nove Estados. Desde o mês passado, porém, o PSD se vê envolvido em uma série de denúncias sobre falsificações das assinaturas e inclusãode eleitores mortos nos abaixo-assinados. Já há investigaçõesem andamento emSão Paulo, Santa Catarina, no Amazonas e no Paraná. Na quinta-feira, a Folha de S. Paulo mostrou que uma perícia, feita a pedido do jornal, havia constatado falsificações em listas feitas no Rio e em São Paulo. Em resposta à nova denúncia, Kassab afirmou que cabe à Justiça conferir a autenticidade das assinaturas reunidas para a criação do PSD. Simpatizantes da sigladisseramsuspeitardesabotagem na coleta de assinaturas.

gou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em 31 de julho de 2009, de publicar informações sobre aquela operação da Polícia Federal. No dia 18 de dezembro do mesmo ano, o empresário Fernando Sarney pediu desistência da ação, mas o Estado não aceitou. Em 29 de janeiro de 2010, o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira apresentou ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal manifestação em nome do jornal sustentando preferência pelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado. Até hoje o Estado aguarda uma manifestação.


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

ANO 132. Nº 43013 EDIÇÃO DE 23H15

24 DE JULHO DE 2011 R$ 5,00*

estadão.com.br

DOMINGO AMY WINEHOUSE ★ 1983 ✝ 2011

A DIVA DIZ ADEUS AOS 27 Famosa pelo talento e pelas controvérsias, entre elas o abuso de drogas, a cantora inglesa foi encontrada morta ontem, em seu flat. A polícia não vai se manifestar sobre a causa até o resultado da autópsia. A notícia comoveu os fãs, informa de Londres a correspondente Daniela Milanese. INTERNACIONAL/ PÁGS. A14 E A15

“Amy tinha rara intuição como cantora e compositora. Estou devastado pelo desaparecimento precoce de tamanho talento” TONY BENNET CANTOR

Ela criou sua noção de eternidade Jotabê Medeiros

Amy resistiu à cartilha do show biz, este é o seu maior legado. Tornou-se um corpo estranho numa fábrica de corpos iguais. PÁG. A14

MICHAEL NAGLE/NYT

Expansão de universidades federais tem 53 obras paradas Empreiteiras abandonam construção de instalações em 20 instituições; MEC reclama da legislação OMinistério daEducação temhoje quase 2 milhões de metros quadrados em obras nas universidades federais. A expansãoerenovaçãodasinstituições,porém, está com 53 obras paradas em 20 diferentes universidades. São moradias

estudantis, laboratórios e salas de aula que ainda não estão prontas. O ministério diz que construtoras e empreiteiras responsáveis pelas obras abandonaram canteiros,faliram ouficaramsem recursos para cumprir seus compromissos.

O ministro Fernando Haddad (Educação) reclama das dificuldades que o governo e as instituições têm para cancelar os contratos quando há abandono dasobras.“Alegislaçãoémuitodesfavorável ao setor público.” VIDA / PÁG. A23

R$ 11,6 milhões

foi o quanto uma empreiteira recebeu por obras não concluídas

‘Faxina’ mira braços do Dnit nos Estados Depois de completar a “faxina” no Ministério dos Transportes, o governo federal pretende fazer um trabalho semelhante nas superintendências estaduais do Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit). Em todo o País, o Dnit tem 23 superintendências,epelomenos15apresentamproblemas como corrupção, superfaturamento de obras, fraude em licitações e tráfico de influência. NACIONAL / PÁG. A4

Com 92 mortos, Noruega tenta entender ataque

JAN JOHANNESSEN/AFP

Andrei Netto ENVIADO ESPECIAL / OSLO

Autoridadesnorueguesasacusamo fundamentalista cristão Anders Behring Breivik pela explosão que matou sete pessoas em Oslo e pelo assassinato de 85pessoas na Ilha deUtoya, anteontem. Há 30 feridos. Após interrogatório, ontem, a polícia ainda não sabia se Breivik agiu sozinho. INTERNACIONAL / PÁG. A12 Análise ✽ William MacLean ●

Europa pode estar diante de ameaça paramilitar INTERNACIONAL / PÁG. A12

Comoção. Noruegueses homenageiam vítimas do atentado; o rei Harald, a rainha Sonja e o premiê Jens Stoltenberg receberam parentes dos mortos

Encargo trabalhista já é um terço dos custos com mão de obra Estudo da Fiesp mostra que os encargos sobre a folha de salários no Brasil já correspondem a 32,4% dos custos com mão de obra na indústria. Trata-

se do valor mais alto de toda a amostra,superioràmédiados34paísesestudados (21,4%). Na Europa, o peso é de apenas 25%. ECONOMIA / PÁGS. B1 e B4

Corinthians quer igualar recorde de vitórias ESPORTES / PÁG. E4

Crescimento de jornais é liderado pelo ‘Estado’ ECONOMIA / PÁG. B12

ROBERTO ROMANO Segredo e bandalheira A luta pela transparência, que muitos fingem conduzir, não passa de “bravata”. O segredo embaralha interesses privados e assuntos de governo.

DORA KRAMER Vícios de origem O PSD não se livrará facilmente da imagem de um partido que surge marcado pelos vícios de sempre. Nesse sentido, já nasce velho.

HUMBERTO WERNECK GPS antigafes Seria útil criar um serviço que nos permita saber, sem indagações, como anda a movimentação amorosa ou conjugal de amigos e conhecidos.

ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2

NACIONAL / PÁG. A6

METRÓPOLE / PÁG. C10

País tem 7 milhões de pessoas solitárias Pela primeira vez o número de pessoas morando sozinhas superou o das famílias com 5 integrantes. Hoje, os domicílios com um morador já são 12,2% do total. METRÓPOLE / PÁG. C1

Tempo na capital e 22˚ Máx. Sol chuva 12˚ Mín. fraca 216 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁG. A3 TIRAGEM: 303.435 EXEMPLARES

ESTADO SOB CENSURA HÁ 723 DIAS. PÁG. A9

aliás,

RUPERT MURDOCH CONTRA A FÚRIA Para o comentarista americano Dan Balz, as relações entre políticos e jornalistas ingleses são contaminadas.

NOTAS & INFORMAÇÕES

O bloco do euro continua E poderá continuar desfilando com 17 integrantes se a Grécia aproveitar e vencer a crise. PÁG. A3


A2 Espaço aberto %HermesFileInfo:A-2:20110724:

O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 24 DE JULHO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

Segredo e bandalheira ✽ ●

ROBERTO ROMANO

O

Brasil é o país da corrupção e do segredo, lados da vida nacional que impedem qualquer confiançanasinstituições.Osoperadores do Estado, sobretudo com o “privilégio de foro”, desobedecem às regras basilares da fé pública.Oroubodosrecursoscoletivos é respondido, entre nós, com perseguição à imprensa, compra de movimentos sociais, sigilo no financiamento de obras. Sem consciência histórica, os nossos políticos e partidos retomam séculos de tirania. A prudência mínima aconselha ligar a censura (o caso do jornal O Estado de S. Paulo é prova) e o segredo que encobre as piores ilicitudes cometidas à sombra do poder. Como disse alguém, “o dia pertence à opinião pública. Nele, os segredos são espancados e os governantes não podem usar o beleguim que realiza o serviço sujo ‘sob ordem superior’. A noite aninha o segredo, covarde razão de Estado”. Os séculos 19 e 20 reuniram censura e hábitos políticos corrompidos,acomeçar pelo Império de Napoleão I, que espalhou o terror e a guerra com base nas imunidades do Poder Executivo. O fascismo, o nazismo e o stalinismoexibiramoexatocontrário da transparência e do respeito à cidadania. Hannah Arendtafirmaqueavidatotalitária significa a reunião de “sociedadessecretasestabelecidaspublicamente”.Hitlerassumiu,para a sua quadrilha, os princípios dassociedadessecretas.Elepromulgou algumas regras simples em 1939: ● Ninguém, sem necessidade de ser informado, deve receber informação; ● ninguém deve saber mais do que o necessário; ● e ninguém deve saber algo anteriormente ao necessário. Segundo Norberto Bobbio, não lido no Congresso Nacional e nos demais palácios de Brasília, “o governo democrático (...) desenvolveasuaprópriaatividade sob os olhos de todos porque todos os cidadãos devem formar uma opinião livre sobre as decisões tomadas em seu nome. De outro modo, qual razão os levaria periodicamente às urnas e em quais bases poderiam expressar o seu voto de consentimento ou recusa? (...) O poder oculto não transforma a democracia, perverte-a. Não a golpeia com maior ou menor gravidade em um de seus órgãos essenciais, mas a assassina” (O Poder Mascarado). Quem abre os jornais brasilei-

ros “antigos” percebe o caminho dos que hoje defendem mistérios nas contas públicas e não têmcoragemdeabrirarquivosditatoriais. A luta pela transparência, que muitos fingiam conduzir,nãopassoumesmode“bravata”.Osegredoembaralhainteresses de grupos privados e assuntosdegoverno,comonocasoAntônio Palocci e no recente episódio no Ministério dos Transportes. Ele ameaça as formas democráticas: nele, os administradores governamentais exasperam aspectos ilegítimos das políticas no setor público. Entramos no paradoxo:opúblicoédefinidofora do público e se torna opaco. O segredo, de fato, manifesta-se em todos os coletivos humanos, das igrejas às seitas, dos Estados aos partidos, dos advogados aos juízes, das corporações aos clubes esportivos, da imprensa aos

Não passou mesmo de ‘bravata’ a luta pela transparência, que muitos fingiam conduzir

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

No ranking das falcatruas mais” (com bênçãos de alguns magistrados) tanto o disfarce no manejo das contas públicas quanto a censura à imprensa. Oligarcas manhosos de partidos fisiológicos estão bem no retrato do controle oficial secreto e corrupto. Eles se acostumaram adobraraespinhadiantedospoderosos porque tal hábito lhes permite corroer as franquias dos “cidadãos comuns”. Presos aos favores, vendem a preço vil a dignidade pública na bacia das almas dos Ministérios. Mas cobram caro, das pessoas livres, a crítica aos seus desmandos. A sua técnica de aliciamento usa os laços do “é dando que se recebe”, que lhes propicia o controle das informações. Só pode chegar ao público o que eles autorizam. Os coronéis estão mais vivos do que nunca, na pretensa República brasileira. Já os que, antes de chegar aos postos de autoridade, sempre criticaram os donos do poder, embora queiram exibir uma face polida e bela, escondem (nas paredesescurasdoscorredorespalacianos) uma repulsiva adesão à bandalheira. A sua figura efetiva?AcarantonhadeDorianGray ou a estátua de Glauco, imagem divina que, por causa das muitas trapaças do tempo, se transformou em bestial. Nada mais desprezíveldoqueopaladinodaéticaque,por“realismo”,agecomo secretário de práticas contrárias à transparência no manejo dos recursos públicos.

gabinetesdacensura,doslaboratórios e bibliotecas universitários às fábricas, dos bancos às obrasdecaridade.Masvalerepetir a suspeita de Adam Smith: “Comoépossíveldeterminar,segundoregras,opontoexatoapartir do qual um delicado sentido de justiça ruma para o escrúpulo fraco e frívolo da consciência? Quando o segredo e a reserva começam a caminhar para a dissimulação?” (Teoria dos Sentimen- ✽ FILÓSOFO, PROFESSOR DE ÉTICA tos Morais, 1759.) A prudência define a passa- E FILOSOFIA NA UNIVERSIDADE gem da prática correta do sigilo ESTADUAL DE CAMPINAS para uma outra, em que o poder (UNICAMP), É AUTOR, ENTRE abusivo e tirânico se manifesta. OUTROS LIVROS, DE 'O CALDEIRÃO O pensamento ético sempre se DE MEDEIA' (PERSPECTIVA) opõe ao sigilo, salvo em situações de guerra. Segundo Bentham,apublicidadeé“a lei mais apropriada para ga- SINAIS PARTICULARES rantir a confiança pública”. Osegredo,pensa ele,“éinstrumento de conspiração; ele não deve, portanto, ser o sistema de um governo normal.(...)Todademocraciaconsideradesejávelapublicidade, seguindo a premissa fundamental de que todas as pessoas deveriam conhecer os eventos e circunstâncias que lhes interessam, visto que esta é a condição sem a qual elas não podem contribuir nas decisões sobre elas mesmas”. Os democratas ou republicanos autênticos devem se acautelar contra o segredo,pois eleseinstalanaraiz do poder ditatorial e dos golpesdeEstado.Nãoadmira que os nossos políticos, herdeirosdecostumesdefinidosnosporõesdeduasdiDiego Forlán e Roque Santa Cruz taduras, considerem “nor-

✽ ●

GAUDÊNCIO TORQUATO

A

corrupçãonoBrasilaumentouporque passou a ter mais controles ou passou a ter mais controles porque aumentou? A resposta não provoca tantas dúvidas quanto o teorema do biscoito encaixado naquele intrigante comercial de TV de meados dos anos 80: “Vende mais porque é fresquinhoouéfresquinhoporque vende mais?”. A profusão de casos de corrupção, que se espraiampelosespaçosmidiáticos, não deixa dúvidas: para 64%dosbrasileiros,apragaalargou-se. Se a questão é posta para autoridades, a resposta é outra: nunca a corrupção foi tão combatida como hoje e, graças aos mecanismos de controle, tem diminuído. Sua visibilidade é grande porque o momento é de muita transparência. Nenhum governo aceita a pecha de compactuar com as teias de corrupção que se formam nos porões da administração pública. A transparência e a faxina em frentes ministeriais, com o desligamentodepessoasenvolvidas em denúncias de corrupção,nos moldes quea presidente Dilma Rousseff adota (já demitiu 16 do Ministério dos Transportes), ajudam o governo a caminhar na via da moralização,massugeremqueaadministração federal é como um imenso queijo suíço, exibindo buracos por todos os lados. Aobservaçãoapontaparaaseguinte hipótese: os buracos escondem ilícitos em graus varia-

dos. Entendida como comportamentodeautoridadesquesedesviam das normas a fim de servir a interessesparticulares,acorrupção revela a existência de frágil institucionalização política. Demandasexógenassuperpõem-se aos papéis institucionais, envolvendo, quase sempre, a troca de favorpolíticopor riqueza econômica. Mas há os que trocam dinheiro por poder político. Qualquer que seja o caso, vende-se algopúblicoporumganhoparticular. É evidente que tal moldura pode ser estreitada ou alargada nas carpintarias dos governos. Como é sabido, estes trabalham com uma das mãos no balcão da política. Governantes compõem as estruturas da máquina com quadros e perfis que lhes deram apoioecomeleschegaramaopoder.Aíselocalizaoprimeirorolamentodaengrenagemdisfuncio-

Há quem calcule que o Produto Nacional Bruto da Corrupção alcance a metade do nosso PIB

nal. Parcela substantiva dos corpos funcionais age de acordo cominteressesgrupais(atendendo a demandas de partidos que integram) ou mesmo individuais. Vale lembrar que a política, de missão cívica, povoada por cidadãos escolhidos para representaracoletividade,setransformou em profissão. Como tal, arregimenta quadros atraídos pelo escopo da acumulação material. O Estado moderno contribui, sim, para a expansão da corrupção, na esteira da criação de fontes de riqueza e poder, ascensão de grupos, surgimento de novas classes, estruturação de fontes de recursos e expansão de possibilidades. Os surtos de modernização social e econômica implicam mudanças profundas na vida política. Daí se inferir que a corrupLEO MARTINS ção, aqui, na Europa ou nos EUA, era bem menor há um século. Os campos de ação erammenoselásticos.Ainstituição política tradicional, por sua vez, incorpora hoje outros valores. Tornou-se banalizada. A administração de coisas materiais assumiu o lugar de ideários. As doutrinas murcharam, as utopias feneceram. E assim os círculos dos negócios inundaram o universo político. Sob esse pano de fundo, a resposta à questão inicial não deixa dúvidas:acorrupçãoexpande-senarazãodiretadamodernizaçãodoEstado.Interessante é observar que os sistemas de controle também se multiplicaram. Entrenós,osconjuntosformados para apurar e mapear desvios – Ministério Públi-

co, Tribunais de Contas da União e dos Estados, AdvocaciaGeral da União (AGU), Controladoria-Geral da União, Polícia Federal, etc. – têm sido atentos e proativos. Dispomos também deumconjuntodeagênciasreguladoras, cuja função precípua é estabelecer diretrizes para atuação dos núcleos que cuidam de serviços públicos essenciais. Não raro, porém, tais mecanismos são impregnados de molas politiqueiras (nomes indicados por partidos) que abrem os dutos da ilicitude. Aduz-se que, ao usar ferramentas tecnológicas nas planilhas dos contratos, corruptos e corruptores acabam saindo do foco das lupas e estendendo seu império em plena era da transparência. Há outros fatores que incrementam acorrupção. A burocracia, por exemplo. Estudo da Fiespapontou acarga burocrática como fator negativo para a competitividadenacional,calculando que gera um custo anual de R$ 46,3 bilhões. E, como se sabe, ela é jeitinho de espertos e oportunistas para engabelar não só os incautos, mas os precavidos.Comocobrademuitascabeças,acorrupçãoreinventa-se,esconde-se,parareapareceremlocais inapropriados, como os sagrados espaços destinados aos serviços de populações carentes – hospitais, maternidades, escolas, creches, quadras esportivas – , ou na aquisição de produtos básicos (remédios, merenda escolar,cestasdealimentos).Évergonhosa a constatação da AGU de que 70% das verbas desviadas no País são das áreas de saúde e educação. A rapinagem chega às raias do absurdo. Aos desvios de verbas destinadas a crianças e doentes soma-se o roubo de recursos para as cidades devastadas por desastres naturais, como as da região de Teresópolis (RJ). As cenas de encostas, bairros,casaseruasdestruídas,arrematandodepoimentosdequeforam destinados milhões de reais quenunca chegaram àquele destino, coroam a imagem da corrupção desbragada que consome as energias nacionais. Não por acaso o Brasil abriga, segundopesquisadaTransparênciaInternacional, 26% do dinheiro movimentado pela corrupção no mundo. Mas a própria ONG reconhece que esse índice pode chegar aos 43%. Há quem calcule que o Produto Nacional Bruto da Corrupção alcance metade do nosso PIB, hoje em torno de R$ 3,67trilhões.Difícilapuraraquantia exata. Mas tudo indica que o Brasilnãofariafeionumcampeonato mundial de falcatruas. ✽ JORNALISTA, É PROFESSOR TITULAR DA USP, CONSULTOR POLÍTICO E DE COMUNICAÇÃO TWITTER: @GAUDTORQUATO

Fórum dos Leitores TERROR Ataques na Noruega

Tenham sido por fanatismo islâmico ou extremismo de direita, os atentados que vitimaram dezenas de pessoas na Noruega são lamentáveis. E, infelizmente, são um risco iminente até em países como o Brasil, cuja estrutura de segurança pública é precária. SÉRGIO ECKERMANN PASSOS sepassos@yahoo.com.br Porto Feliz

MORDAÇA A Justiça de Correa

Lamentável a decisão da Justiça equatoriana de condenar a três anos de prisão e ao pagamento de US$ 40 milhões os editores de um jornal que fez críticas ao presidente Rafael Correa. É o tipo de decisão que fere e ameaça a democracia e a liberdade de expres-

são no Equador. Correa deveria aprender a suportar as críticas dos opositores ao seu governo, e não usar o Judiciário para amordaçar a imprensa e a oposição. RENATO KHAIR renatokhair@uol.com.br São Paulo

Abaixo do Equador

No Equador, jornal chama o presidente de ditador e é punido com multa e prisão de editores. Aqui, no Brasil, o Estado está sob censura há 723 dias porque denunciou uma organização corrupta consolidada na ditadura, que a Justiça não sabe julgar ou tem medo de decidir. De um lado, um jornal que sempre defendeu a liberdade e, do outro lado, gente com passado medonho e desgraçado para o Brasil. JOSÉ FRANCISCO PERES FRANÇA josefranciscof@uol.com.br Espírito Santo do Pinhal

CORRUPÇÃO Cheiro de limpeza no ar

A presidente Dilma dá sinais de ser sensível à justa indignação da opinião pública ante essa desbragada corrupção no Ministério dos Transportes. Demonstra com isso respeito ao povo brasileiro e um avanço grande em relação à postura do antecessor, que encarava atos ilícitos com naturalidade desde que o beneficiassem. A mudança é animadora e poderá criar padrão ético mais condizente com um país que se pretende desenvolvido. Surpreendente é verificar que, quanto maior é o seu empenho higienizador, mais exposta fica a roubalheira antes acobertada e impune da era Lula. Começa-se até a sentir um cheirinho de limpeza no ar. Oxalá a presidente prossiga com esse apreço feminino pela ordem, pois viver em casa bem cuidada é outra coisa, as donas

de casa que o digam! Somos mais da metade dos eleitores e as primeiras a valorizar o acesso de melhor qualidade à saúde, educação, saneamento, habitação e segurança para nossa família. Sentimos na pele quando o dinheiro da corrupção é desviado para outros fins que não esses e valorizamos mais a honestidade aliada à eficiência do que o carisma, que, por si só, não resolve os problemas que afetam a vida dos que mais perdem com a corrupção. ELIANA FRANÇA LEME efleme@terra.com.br São Paulo

Faxina da esperança

Antes de eleito, o ocupante anterior do Palácio do Planalto durante anos só falava em eliminar a corrupção, mas, uma vez no poder, eliminou opositores e encheu de dinheiro público as burras de seus vassalos. Ele é mestre

em varrer a sujeira para debaixo do tapete. Com muita satisfação, estamos assistindo a uma verdadeira faxina, jogando no lixo boa parte da imundície dos palácios de Brasília, inclusive a da “criadagem”. Parabéns, presidente Dilma, os brasileiros agradecem e aplaudem o seu trabalho. Esperamos que continue, pois não queremos retroceder aos tempos do último casal. JOÃO HENRIQUE RIEDER rieder@uol.com.br São Paulo

Interesses contrariados

Aplausos

Vamos lá, presidente Dilma, receba milhões de aplausos do povo brasileiro dando um chega pra lá no “cara” antes que seja tarde, uma vez que o sujeito poderá tentar estragar tanto o seu governo como a sua reeleição. ALBERTO NUNES albertonunes77@hotmail.com Itapevi

‘Summa cum laude’

Dilma vem contrariando o grupo de Lula. Então, de duas uma: ou pula fora do barco petista ou afunda com ele. A presidente há de escolher a alternativa certa se quiser ser candidata à reeleição.

Parabéns, Dilma! Vá em frente, que tem mais gente em outros escaninhos dos demais Ministérios. E atenção: o seu trabalho será concluído com louvor se esses corruptos forem punidos e devolverem o que roubaram do povo brasileiro. CPI neles já!

ARIOVALDO BATISTA arioba06@hotmail.com São Bernardo do Campo

WALTER ALBUQUERQUE waarp@hotmail.com São Paulo


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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 24 DE JULHO DE 2011

Governo cede e crê em aprovação de projeto Vista como prioridade por Dilma, criação da Comissão da Verdade exigiu costura política nos bastidores; para familiares, concessões foram excessivas Roldão Arruda

Na área de direitos humanos, a criação da Comissão da Verdade é considerada a batalha mais decisiva do governo da presidente Dilma Rousseff. Já foram consumidos pelo menos três meses de intensa negociação na costura do acordo que deve resultar na aprovação, logo após o fim do recesso parlamentar, do projeto de lei da comissão, destinada a apurar casos de violações de direitos humanos ocorridos no período da ditadura militar. Os ministros Nelson Jobim, da Defesa, Maria do Rosário, de DireitosHumanos,eJoséEduardo Cardozo, da Justiça, foram mobilizadospelapresidente DilmaRousseffpara vencerasresistências em torno da proposta e convencer os líderes partidários eaprová-lo pormeio deum acordo. Isso significa que tramitará nos moldes do rito de urgência, sem passar pelas diferentes comissões parlamentares. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também participou da negociação, representado por José Gregori e Paulo SérgioPinheiro. Coubeaos tucanos convencer o DEM a participar do acordo. Os democratas aceitaram,massó depois deconsultar Jobim e certificar-se de que ele não tinha mais resistências ao texto. Nos bastidores, o ex-deputado José Genoino (PTSP), amigo e assessor do ministro da Defesa, esteve presente em quase todos os momentos. O projeto costurado e à espera de aprovação atende às necessidadesdapresidenteDilmaRousseff, que considera a instalação da comissão uma das prioridades de seu governo. Ele está longe, porém, das propostas iniciais. O governo cedeu muito maisdoqueosfamiliaresdemortos e desaparecidos e organizaçõesdedefesadosdireitoshumanosgostariam–eestásendocriticado por isso. Em primeiro lugar foi deixada de lado a proposta inicial de uma comissão que tratasse também de justiça, isto é, da punição dos

responsáveis pelas violações. A tarefa da comissão, composta porseterepresentantesdasociedade brasileira, a serem indicados pela presidente, será a de esclarecer os fatos. Ogovernotambém aceitoudilatar o período a ser investigado comissão. Na proposta inicial, a comissão trataria apenas de fatos ocorridos durante o período

da ditadura militar. No texto que pode ser aprovado agora o marco inicial é 1946 - ano em que são realizadas as primeiras eleições após a ditadura Vargas. Ogovernoaceitouaindaapossibilidade de serem examinados na comissão episódios da resistênciaarmada àditadura,taiscomo o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, em

Nacional A9 DIDA SAMPAIO/AE-16/6/2010

1969; o atentado no aeroporto Guararapes de Recife (1966), no qual morreram duas pessoas; o caso do soldado Mário Kozel Filho, de 18 anos, morto durante um atentado contra a sede do 2.º Exército em São Paulo, em 1968; a execução do empresário Henning Boilesen, em São Paulo, em 1971;e outros.Integrantesdogoverno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do atual governo poderão ser chamados para dar depoimentos. Nas tentativas de convencer setores mais resistentes à negociação, Genoino e o ex-ministro PauloVannuchi (embora forado governo) usaram o argumento de que a esquerda não venceu a ditadura sozinha. Alinhou-se a uma ampla coalizão de forças, no meio da qual a questão da puniçãoàsviolações dedireitos humanos é controversa.

Ponte. Genoino ajudou a articular o projeto junto às oposições

RECORDE EM APROVAÇÕES NOS VESTIBULARES 2011 PRIMEIROS LUGARES

APROVAÇÕES

EM SÃO PAULO (Capital e Interior)

Aluna do Colégio Integrado Objetivo, em São Paulo [...] De manhã, frequentava as aulas regulares do terceiro ano do ensino médio e, à tarde, aproveitava as atividades extras da escola, como plantão de dúvidas e aulas de redação.

Marcela, que tem só 16 anos, prestou vestibular para medicina e entrou em nove universidades. Isso mesmo, nove! Entre elas, a USP, a UNICAMP, a UNESP, a UNIFESP e a Federal do Rio. Escolheu a USP.

(G1/ Globo.com _ 9-2-2011)

(Fantástico/ TV Globo _ 13-2-2011)

“... a dica principal, além da dedicação, é prestar bastante atenção no que os professores dizem, porque eles dão muitas dicas das matérias que caem...”

“Praticamente, todo final de semana, eu estava lá (no Objetivo), fazendo simulado [...] As minhas amigas de fora, principalmente as do balé, falavam: ‘Nossa, Marcela, não acredito que você está na escola (Objetivo) de novo! Você não sai daí. Agora é a sua casa?’”

(Marcela Malheiro Santos, Hoje em dia, TV Record _ 14-2-2011)

(Marcela Malheiro Santos, Hoje em dia, TV Record _ 14-2-2011)

Marcela Malheiro Santos provou que a dedicação aos estudos e a boa orientação dos professores podem resultar na felicidade de poder escolher entre nove cursos de medicina nas melhores universidades brasileiras. Uma aprovação como essa é um fato extraordinário, inesquecível, histórico.

‘Estado’ está sob censura há 723 dias Desde o dia 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda uma definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar informações a respeito da Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em 31 de julho de 2009, de publicar informações sobre aquela operação da Polícia Federal. No dia 18 de dezembro do mesmo ano, Fernando Sarney pediu desistência da ação, mas o Estado não aceitou. Em 29 de janeiro de 2010, o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira apresentou ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal manifestação em nome do jornal sustentando preferência pelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado. Até hoje o Estado aguarda uma manifestação.

MEDICINA

1.218 APROVAÇÕES

ADMINISTRAÇÃO

AGRONOMIA

2.915 685 APROVAÇÕES

APROVAÇÕES

I M E S E D O T S AGO

ARQUITETURA

886

ENGENHARIA

5.411 APROVAÇÕES

CIÊNCIAS CONTÁBEIS

CIÊNCIAS ECONÔMICAS

DIREITO

3.651 APROVAÇÕES

COMPUTAÇÃO

815 1.061 875

FARMÁCIA E BIOQUÍMICA

935

FISIOTERAPIA

976

APROVAÇÕES

APROVAÇÕES

APROVAÇÕES

APROVAÇÕES

ODONTOLOGIA

PSICOLOGIA

PUBLICIDADE

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

VETERINÁRIA

APROVAÇÕES

APROVAÇÕES

APROVAÇÕES

APROVAÇÕES

APROVAÇÕES

APROVAÇÕES

JORNALISMO

APROVAÇÕES

954 1.016 1.115 1.263 692

752

APROVAÇÕES

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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

Segunda-feira 25 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00*

EDIÇÃO DE 0H15

ANO 132. Nº 43014

estadão.com.br

Caderno2

Metrópole

Link

No vigor dos 50 Veterano do hip-hop, Public Enemy fez show memorável. Pág. D10

Estilo ‘Miss Sunshine’ Ana Clara foi uma das vencedoras do concurso Miss Brasil Mini . Pág. C6

Wi-fi para todos? Ativistas defendem os ‘roteadores livres’. Mas a prática traz riscos OCTÁVIO D`AVILA

LEONARDO SOARES/AE

EUA ainda buscam saída para a crise da dívida

Esportes

Em casa, Corinthians perde a primeira ERNESTO RODRIGUES/AE

Líder republicano propõe elevação de teto do débito e Obama convoca democratas, mas acordo não sai Oimpasseentrerepublicanose democratas nos EUA aprofundou-se no fim de semana e tornou mais difícil o consenso entre os dois partidos para a aprovação no Congresso da elevação do teto da dívida americana. O prazo termina em 2 de agosto. Ontem, os dois lados mostravam-se firmes em suas posições. Um novo confronto

emergiu com a proposta apresentada pelo republicano John Boehner,presidenteda Câmara,depermitiroaumento de apenas US$ 1 trilhão no teto da dívida pública – hoje de US$ 14,3 trilhões. O presidente Barack Obama fez reunião de emergência com seus líderes no Congresso, mas não houve consenso. ECONOMIA / PÁGS. B1 e B3

Lula trabalha contra prévias no PT para 2012

Atirador planejou ataque durante 18 meses na Noruega

O ex-presidente Lula é contra a realização de prévias no PT para escolher candidatos às eleições municipais de 2012. Lula avalia que o modelo com voto dos filiados deixa sequelas na disputa.EmSãoPaulo,oex-presidente apoia o ministro da Educação, Fernando Haddad. NACIONAL / PÁG. A4

Osataquesterroristasna Noruegaforam planejados por 18 meses pelo extremista Andres Breivik. Ele organizou um manifesto de 1.500 páginas que prega o fundamentalismo católico e teria membros em outros países. O número de mortos subiu ontem para 93. INTERNACIONAL / PÁGS. A9 e A10

Agências são alvo de 2.209 processos

‘Era questão de tempo’, diz mãe de Winehouse

Estreia infeliz. Renan lamenta: goleiro corintiano foi surpreendido por um chute de Wallyson, da intermediária Após sete vitórias seguidas, o Corinthians perdeu a primeira no Brasileiro, na 11.ª rodada: 1 a 0 para o Cruzeiro, no Pacaembu. O time, no

entanto, é líder do campeonato, seis pontos à frente do São Paulo. No Rio, o Palmeiras foi derrotado pelo Fluminense (1 a 0). PÁGS. E1 a E4

STEFAN WERMUTH/REUTERS

Copa América. O Uruguai deu show, venceu o Paraguai por 3 a 0, em Buenos Aires, e conquistou seu 15.º título da Copa América. PÁG. E5

O que fazer depois de vender a sua empresa NEGÓCIOS

No ‘ladeirão’ do Morumbi, um assalto a cada dois dias METRÓPOLE / PÁG. C1

Criadas para intermediar conflitos, as agências reguladoras viraram alvo de numerosas ações. Na maior parte dos casos, elas são movidas por consumidores insatisfeitos com a qualidade dos serviços públicos e essenciais. O número de processos judiciais aumentou em 45% nos últimos três anos. ECONOMIA / PÁG. B13

A mãe da cantora Amy Winehouse afirmou que a morte da filha, ocorrida no sábado, era “questão de tempo”. Em entrevista ao jornal Daily Mirror, Janis Winehouse contou que estevecom Amy na sexta-feira e ela “parecia desorientada”. Um vizinho disse ter ouvido gritos no apartamento da cantora. INTERNACIONAL / PÁG. A12 e CADERNO 2 / PÁG. D7

Luto. Fã deixa flores em frente ao apartamento da cantora, em Londres

NICHOLAS KRISTOF Falta educação Os EUA bancam escolas no Afeganistão, mas reduzem os orçamentos escolares internos.

CARLOS A. SARDENBERG Do bolso do povo Mesmo que a abertura da Copa não aconteça no estádio do Corinthians, time já garantiu uma arena financiada ou paga com dinheiro público.

LÚCIA GUIMARÃES Reflexões no calor Obsessão com mídia social faz com que o primeiro impulso, ao visitar as cataratas do Niagara, seja postar a imagem e não apreciar o espetáculo.

VISÃO GLOBAL / PÁG. A13

ECONOMIA / PÁG. B2

CADERNO 2 / PÁG. D10

Empresas vão poder explorar biodiversidade VIDA / PÁG. A14

Tempo na capital e 24˚ Máx. Sol poucas 11˚ Mín. nuvens HOJE: 66 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 724 DIAS. PÁG. A7

Cresce o uso do cartão de crédito e do cheque especial ECONOMIA / PÁG. B7

NOTAS & INFORMAÇÕES

Titulares e pernas quebradas Como jogador que está no banco, como diz, Lula torce para a titular Dilma quebrar a perna. PÁG. A3


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 25 DE JULHO DE 2011

Oposição insiste em ouvir Passos no recesso Líder do PSDB na Câmara afirma que vai cobrar do presidente do Senado, José Sarney, decisão sobre convocação do ministro dos Transportes Marta Salomon Iuri Dantas / BRASÍLIA

A convocação do ministro dos Transportes,Paulo Sérgio Passos, ao Congresso será tema da oposição na última semana do recesso parlamentar. O líder do PSDB na Câmara, deputadoDuarte Nogueira (SP), autor de um requerimento de convocação de Passos, insistirá para que a comissão representativa do Congresso vote o pedido. Aconvocaçãodoministroprecisa contar com o apoio da terça parte dos 8 senadores e 17 deputados que integram a comissão. Registrado na terça-feira da semana passada, o requerimento foi recebido com indiferença pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). “O afastamento do ex-ministroeoutros 17 integrantesdoministério não pode encerrar o caso. O ministro Paulo Sérgio Passos ficou de fazer a faxina nos Transportes e é preciso saber se ele vai usar a vassoura para varrer a si mesmo”, disse ontem

‘Estado’ está sob censura há 724 dias Desde o dia 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda uma definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar informações a respeito da Operação Boi Barrica, pela

Duarte Nogueira, que cobrará hoje de Sarney a convocação de Passos. “Há indícios grandes de que as irregularidades não foram sanadas e o ministro não convenceude que não esteve envolvido”, completou. Suspeitas de irregularidades em contratos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), e da Valec, estatal responsável pelas ferrovias, provocaram as demissões e a suspensão de novos contratos. Atéagora,oministérionãoanunciou o que fará para prevenir novas irregularidades, como a profusão de aditivos contratuais que elevam os valores gastos. O líder do governo na Câmara, Candido Vaccarezza (PT-SP), ● Desconfiança

DUARTE NOGUEIRA

LÍDER DO PSDB NA CÂMARA (SP)

“Há indícios de que as irregularidades não foram sanadas e Passos não convenceu de que não esteve envolvido”

qual a Polícia Federal (PF) investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DE), em 31 de julho de 2009, de publicar informações novas sobre aquela operação. No dia 18 de dezembro do

ironizou a manobra da oposição de convocar o ministro no recessoparlamentar.“Nãovoumobilizar ninguém da base”, ironizou. Vaccarezza também minimizou a ameaça de congressistas da oposição deabrir umaComissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os Transportes. Segundo ele, a oposição promete investigações desde fevereiro, sem nunca conseguir o número de votos suficientes para iniciar o procedimento. A decisão da presidente Dilma Rousseff de demitir dirigentes do Dnit e da Valec não deve criar problemas na coalizão governista,segundoVaccarezza.“Apresidente tomou medidas duras no tempocerto”,afirmou.Atésemana passada, o número de afastados chegou a 18, incluindo o exministro Alfredo Nascimento (PR). Segundo Vaccarezza, o objetivo da “faxina” é esclarecer suspeitas e não atacar o PR, que comanda o setor desde o governo Lula. “O PR é um grande aliado. Uma coisa é o indivíduo que é responsável por um ato. O partido não pode ser culpado.”

mesmo ano, Fernando Sarney pediu desistência da ação, mas o Estado não aceitou. Em 29 de janeiro de 2010, o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira apresentou ao TJ-DF manifestação em nome do jornal em que sustenta a preferência pelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado. Até hoje o Estado aguarda uma manifestação sobre o caso.

Nacional A7


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

Terça-feira 26 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00* Rap metal. O Limp Bizkit faz show hoje em São Paulo. PÁG. D8

Em SP, taxa de homicídios é a menor em 46 anos

ANO 132. Nº 43015 EDIÇÃO DE 0H15

estadão.com.br

Caderno2

.edu

Viagem

Opinião de autor Aguinaldo Silva critica exageros nas novelas

Procura-se mecenas Poli-USP lança fundo para atrair doações privadas

Londres-2012 A capital inglesa já está em clima de Olimpíada

Norueguês diz que não agiu sozinho JON-ARE BERG-JACOBSEN/AFP

Dados do semestre na capital mostram, porém, que casos de roubo seguido de morte cresceram 12% A cidade de São Paulo registrou no primeiro semestre deste ano 8,3 homicídios por 100 mil habitantes, a menor taxa de assassinatos desde 1965. SegundodadosdaSecretariadeSegurançaPúblicadivulgadosontem,foramregistrados entre janeiro e junho 470 assassinatos na capital, 28% a menos do que o primeiro semestre do ano passado. Apesar da queda histórica nos assassinatos,oscasosde latrocínio(roubo seguido de morte) registraram alta de 12% na capital. Foram 46 ocorrências no primeiro semestre. No Estado,

● Queda

no Estado é de 12,2%

A taxa paulista caiu para 9,6 casos por 100 mil habitantes. A média brasileira é de 25 por 100 mil. METRÓPOLE / PÁG. C1

o crescimento foi de 20%, e 161 pessoas morreram durante os roubos. Para o delegado-geral Marcos Carneiro de Lima, a alta pode estar vinculada ao rouboaveículos,outro crimecom tendência de alta no Estado (10%) e na capital (7,5%). METRÓPOLE / PÁG. C1

Dólar cai para R$ 1,543, a menor cotação desde 1999 O dólar caiu ontem 0,77% e fechou a R$ 1,543, a menor cotação desde 18 de janeiro de1999, quando o entãogoverno deFHC liberouo mercado cambial.

Os investidores se sentiram estimulados a apostar na valorização do real, diante da batalha do governo para combater a inflação. ECONOMIA / PÁG. B5

PATRICK B. KRAEMER/EFE

Sorriso. O terrorista Anders Behring Breivik deixa tribunal em carro da polícia após audiência sobre seu caso Duas células terroristas teriam auxiliado o norueguês Anders Behring Breivik a realizar os atentados de sexta-feira na Noruega. A afirmação de que não agiu

sozinhofoifeitapelo próprioautorconfesso dos ataques em seu primeiro depoimento à Justiça, informa o enviado especial Andrei Netto. Sobre sua ação,

Breivik disse que queria salvar a Europa do islamismo e do marxismo. A polícia norueguesa reviu o número de mortos – de 93 para 76. INTERNACIONAL / PÁG. A11

Maluf aluga prédio para ministério

Seleção de Mano tem seis novidades para amistoso

Exame em Amy Winehouse é inconclusivo

ESPORTES / PÁG. E1

Obama faz novo apelo, mas oposição endurece ECONOMIA / PÁGS. B1 e B3

Pressão e ouro

Após caso de doping, Cielo chora ao ganhar o ouro nos 50 m borboleta no Mundial de Xangai. ESPORTES / PÁG. E4

Uma empresa do deputado Paulo Maluf recebe cerca de R$ 1,3 milhão porano doMinistério daFazendapelo aluguel do prédio da Procuradoria da Fazenda Nacional, em São Paulo. O Tribunal de Contas da União cita Maluf emrelatório no qual defende o fim dos negócios entre parlamentares e o governo. NACIONAL / PÁG. A4

Chávez afirma que vai ficar no poder até 2031

Tempo na capital e 25˚ Máx. Sol tempo 12˚ Mín. firme

ARNALDO JABOR O que está por vir Passeando hoje pela felicidade consumista de Nova York, penso na alegria ingênua de Ipanema em 31 de março de 1964.

RUBENS BARBOSA Foco na América Latina O Brasil não está aproveitando o bom momento por que passa a economia da região para ampliar sua presença econômica e comercial.

ROSS DOUTHAT Monstro da direita O caso da Noruega não obriga os conservadores a abrir mão das suas convicções.

CADERNO 2 / PÁG. D8

ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2

VISÃO GLOBAL / PÁG. A12

INTERNACIONAL / PÁG. A15

Diretor-geral do Dnit pede demissão e ataca governo NACIONAL / PÁG. A8

HOJE: 88 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 725 DIAS. PÁG. A10

A autópsia realizada ontem no corpo de Amy Winehouse não conseguiu determinar o que matou a cantora britânica. Fontes da Scotland Yard dizem que novos exames toxicológicos serão feitos e que o resultado sairá num prazo de duas a quatro semanas. O funeral ocorrerá hoje em Londres, segundo os preceitos judaicos. INTERNACIONAL / PÁG. A14

NOTAS & INFORMAÇÕES

Custos, empregos e competição Os custos trabalhistas são apenas um dos problemas do produtor brasileiro frente à concorrência. PÁG. A3


A10 Nacional %HermesFileInfo:A-10:20110726:

O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 26 DE JULHO DE 2011

Senado livra Requião em caso de ameaça a repórter Para advogados da Casa, intimidação a jornalista e atitude de tomar-lhe o gravador não configuraram falta de decoro; Sarney manda arquivar denúncia Rosa Costa / BRASÍLIA

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) não sofrerá nenhuma advertência por ter arrancado um gravador das mãos de um repórter, confiscado a fita e ameaçado bater no profissional, durante entrevista, no cafezinho do Senado, em abril deste ano. Parecer da advocacia do Senado entendeu que não configurou falta de decoro parlamentar a ameaçadeagressãofísicafeitapelasenador.Odocumento,assinado pelos advogados Fernando Cunha e Hugo Souto Kalil e endossado pelo advogado-geral Alberto Cascais, considerou a reação do senador paranaense ade-

quada ao mandato parlamentar. O episódio ocorreu em 25 de abrildesteano.Duranteentrevista, Requião reagiu enfurecido a uma pergunta do repórter Victor Boyadjian, da Rádio Bandeirantes,sobresuaaposentadoriavitalícia como ex-governador do Paraná. De dedo em riste, perguntou:“Vocêquerapanhar”?Emseguida, tomou o gravador das mãos de Boyadjian. Nomesmodia,entrounoTwitter e se vangloriou do episódio: “Acabo de ficar com o gravador de um provocador engraçadinho. Numa boa, vou deletá-lo”. De fato, mais tarde o aparelho foi devolvido ao repórter, com agravação apagada. Paraosadvogados,contudo,es-

FABIO RODRIGUES POZZEBOM/ABR–26/4/2011

Feliz. Requião apoiou parecer: ‘Queria que dissessem o quê?’

Advogado defende Toffoli e diz que pagou hotel para 200 amigos Ministro do STF foi criticado por ter ido a casamento na Itália com despesa de hospedagem paga por Roberto Podval O criminalista Roberto Podval declarou ontem que “não há impedimentolegal”nofatodeoministro José Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter ido a seu casamento na Itália com despesas de hotel pagas por ele. “Não paguei apenas para ele

(Toffoli), mas para outros 200 amigosqueconvidei.Aúnica coisa que paguei foi o hotel. Todo mundo, não apenas o ministro, teve direito a dois dias de hotel.” Podval casou-se em 21 de junho na Ilha de Capri. A cerimônia ocorreu no Capri Palace. “Não éabsurdo convidar alguém que é meu amigo muito antes de virarministro.Nósnosconhecemos há mais de 20 anos, Obviamente, meus amigos são do meio ao qual pertenço, o mundo jurídico. As pessoas de meu convívio são advogados, promoto-

res, juízes, ministros. Quem me conhece sabe que não faço enem seifazerlobby.Seriaabsurdo acreditar que convidei o ministro com interesse em alguma causa.” O advogado informou que duas demandas em que atua como defensor perante o STF foramdistribuídasparaToffoli.Uma é relativaa habeascorpusparaumaempresária,condenada em ação sobre evasão de divisas. “O Toffoli indeferiu o pedido. O outro caso é um agravo, não tem decisão de mérito. É muito pequeno imaginar que um ministro de quem sou amigo e comparece à festa de meu casamento vai julgar a meu favor por isso.” / FAUSTO MACEDO

Vice-prefeito assume sob ameaças em MS João Naves de Oliveira ESPECIAL PARA O ESTADO CAMPO GRANDE

Fundador da cidade Alcinópolis, no extremo norte de Mato Grosso do Sul, o vice-prefeito Alcino Carneiro (PDT) assumiu ontem a chefia do Executivo municipal temendo ser assassinado. Protegido por uma escolta de policiais militares, ele disse que pretende exercer o mandato por apenas 30 dias, até o titular Manoel Nunes (PR) ser liberado da prisão provisória que cumpre na capital Campo Grande. Nunes foi preso no último dia 20. Ele é suspeito de ser o mandante do assassinato, em outubro do ano passado, do filho de Alcino Carneiro, o então presi-

se episódio foi irrelevante. Em vez de sugerir ao senador que se contenhaapartirdeagora,oparecerironizaainiciativadoSindicato dos Jornalistas, que pediu providências ao presidente do Senado,JoséSarney(PMDB-AP),contra as agressões de Requião. Para a advocacia do Senado, o sindicato não tem legitimidade para deflagrar processo administrativo disciplinar contra um parlamentar e Requião não infringiu normas de conduta de um senador. “Principalmente porque tais deveres são demonstrados por umconjuntodeatosdo exercício do mandato e não por fato isolado”, concluiu o relatório. Com tal parecer, Sarney determinou o arquivamento da ação.

dente da Câmara Municipal, Carlos Antônio Carneiro (PDT). O crime ocorreu após o vereador acusar os colegas de corrupção em denúncia apresentadanoMinistérioPúblico Estadual, conforme consta no inquérito policial. Nomesmodiadoassassinato do filho, Alcino levantou suspeitas contra o prefeito, que acabou preso preventivamente.“Estou sendo ameaçado de morte desde o dia do assassinato do meu filho. Isso não vai me intimidar. Vou fazer tudo que for possível para levar os corruptos desta cidade às barras dos tribunais”, afirmou Alcindo. Tambémestãopresososvereadores Valter Roniz (PR), Valdeci Lima (PSDB) e Enio Queiroz (PR). O advogado do prefeito afastado e dos outros presos, Jeferson dos Santos Amorim, disse que vai pedir um habeas corpus em favor de Nunes.

Requião gostou do desfecho. “Você queria que eles dissessem o quê? Eu respondi às perguntas atéqueeleveiodarumadeengraçadinho”, afirmou, reiterando que não tem por que falar de sua aposentadoria vitalícia de ex-governador, hoje extinta. Reincidente. Requião é reinci-

dente em reações truculentas com jornalistas. Como governador, fez campanha publicitária contraveículosdeimprensa,xingou jornalistas e chegou a agredir um repórter em Centenário do Sul (PR), em 2004. Na ocasião, torceu o dedo de um jornalistaque insistia em uma pergunta e só parou diante do protesto de outros repórteres.

‘Estado’ está sob censura há 725 dias Desde29dejaneirode2010,oEstado aguarda definição judicial sobreo processo que o impede de divulgar informações a respeito da Operação Boi Barrica, pela qualaPolíciaFederalinvestigoua atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, queéfilhodopresidentedoSenado,JoséSarney(PMDB-AP),ojornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em 31 de julho de 2009, de publicar informações sobre a operação. Em 18 de dezembro de 2009, Fernando Sarney pediu desistência da ação, mas o Estado não aceitou.Em29dejaneirode2010, apresentou ao TJ-DF manifestaçãosustentandopreferência pelo prosseguimento da ação, a fim de que tenha o mérito julgado.


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Quarta-feira 27 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00*

RUY MESQUITA Diretor

ANO 132. Nº 43016 EDIÇÃO DE 0H15

estadão.com.br LOREDANO

JULIO MESQUITA 1891 - 1927

Agrícola

Caderno2

Verde.com Ativismo ambiental ganha adesão de internautas como Natália Garcia

Adubo na medida Preço alto faz produtor adotar uso racional de fertilizante

Nelson centenário Escritor completaria 100 anos em 2012, mas comemoração começa já

SERGIO NEVES/AE

Planeta

Entrada de dólares dispara e moeda cai para R$ 1,536 Fluxo teve saldo positivo de US$ 11 bilhões em julho; investimento estrangeiro direto soma US$ 32,5 bilhões Os investidores voltaram a inundar de dólares o mercado brasileiro. Depois da queda de ingressos em junho, a entrada damoeda superou asaídaemquase US$ 11 bilhões nas primeiras três semanas de julho. O resultado foi sentido ontem no mercado de câmbio, com a moeda americana registrando a quinta queda

consecutiva frente ao real e fechando a R$ 1,536, o menor valor registrado desde 15 de janeiro de 1999. No início do dia, a moeda chegou a ser negociada a R$ 1,52, o que fez com que o Banco Central atuasse comprando dólar. A principalrazão portrás dacontínua desvalorizaçãododólaréaapreensão dosinvesti-

dores em relação às negociações sobre a dívida nos EUA. Além disso, a entrada de investimentos estrangeiros diretos atingiu no primeiro semestre a marca de US$ 32,5 bilhões, a mais alta desde 1947. O desempenho cobriu com folga o déficit de US$ 25,5 bilhões das contas externas. ECONOMIA / PÁGS. B1, B3 E B4

● Governo adotará medidas

O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que haverá novas medidas para tentar conter a desvalorização do dólar. “Não vamos deixar a guerra cambial nos derrotar.” ECONOMIA / PÁG. B4

Auditor indica falhas no órgão que faz o Enem

Norueguês pode ser réu por crime contra a humanidade O autor confesso dos atentados da Noruega, que deixaram 76 mortos no dia 22, é provavelmente demente, segundo seu advogado. A análise não muda os planos da Justiça, que planeja processar Anders Behring Breivik por crimes contra a humanidade, informa o enviado especial Andrei Netto. Assim, a pena máxima pode subir de 21 para 30 anos de detenção. INTERNACIONAL / PÁG. A10

ANTHONY CHARLTON/AFP

SANG TAN/AP

Auditoria da Controladoria-Geral da União diz que o Inep, órgão responsável pelo Enem, dispensa licitações sem respaldo legal. Além disso, sua área de tecnologia da informação não está preparada para lidar com possíveis situações de risco, como o vazamento de dados dos alunosinscritos.OMinistériodaEducação negou irregularidades e disse ter providenciado mapeamento dos riscos de segurança. VIDA / PÁG. A14

A despedida de Amy

ESTADÃO / PME

Menina imita a cantora, que foi cremada. INTERNACIONAL / PÁG. A13

O NATAL JÁ COMEÇOU

Santos de Neymar pega o Fla de Ronaldinho hoje

P

ESPORTES / PÁG. E1

Transportes é ministério que mais gasta no PAC NACIONAL / PÁG. A4

DANIEL TEIXEIRA/AE

equenos e médios empresários devem planejar desde já a data, levando em conta o novo cenário brasileiro. Thereza Dib, fabricante de bonecos, já iniciou a produção dos pedidos fechados.

SP testará pedágio por quilômetro rodado METRÓPOLE / PÁG. C1

Contagem regressiva

Inscrição no Estádio Olímpico de Londres informa que falta um ano para a abertura da Olimpíada; 90% das obras estão prontas. ESPORTES / PÁG. E6

ROLF KUNTZ A inundação continua O governo acena com medidas para conter a valorização do real, enquanto uma enxurrada de dólares leva o poder de competição da indústria.

DORA KRAMER Lá se vão os anéis Sem ação criminal, os 18 demitidos na “faxina” no Ministério dos Transportes poderão alegar no futuro que nada se provou contra eles.

ANTERO GRECO Tudo pela Copa O torneio nem começou e já mexe com nossa rotina. Primeiro, no bolso. Agora, na locomoção, com o aeroporto fechado para o sorteio no Rio.

ECONOMIA / PÁG. B8

NACIONAL / PÁG. A6

ESPORTES / PÁG. E2

Estreia hoje o site www.estadaopme.com.br

Tempo na capital com 26˚ Máx. Sol aumento 13˚ Mín. de nuvens HOJE: 94 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 726 DIAS. PÁG. A8

Novas regras para plano de saúde entram em vigor VIDA / PÁG. A17

NOTAS & INFORMAÇÕES

Roubar, não pode mais Dilma indica que o mau hábito de passar a mão na cabeça de corruptos faz parte do passado. PÁG. A3


A8 Nacional %HermesFileInfo:A-8:20110727:

O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 27 DE JULHO DE 2011

Ustra usa anistia para ancorar julgamento Defesa arrola ex-presidente Sarney na lista das testemunhas do coronel que comandou DOI-Codi; assessores disseram que ele não comparecerá CLAYTON DE SOUZA/AE–12/8/2008

Roldão Arruda

A defesa do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra no processo em que ele é responsabilizado pela morte do jornalista Luiz Carlos Merlino, ocorrida em 1971, pretende transformar o caso em mais um debate sobre o alcance da Lei da Anistia. Foi esse o motivo da citação do ex-presidente José Sarney na lista das testemunhas de defesa do coronel, que comandou a sede paulista do DOI-Codi entre 1969 e 1973. De acordo com as acusações feitas pela família Merlino, o jornalista morreu naquela dependência do Exército após ter sido torturado. A primeira audiência para ouvir as testemunhas de acusação está marcada para hoje à tarde, na 20.ª Vara Cível da Justiça de São Paulo. A data para ouvirosnomesarrolados peladefesa ainda não foi marcada. “Não queremos que o senador Sarney fale sobre as ações do coronel, que ele nem conhece, mas sobrea Lei da Anistia que ele ajudou a aprovar no Congresso em 1979”,dizoadvogadoPauloEsteves, que atua na defesa do coronel. “Ele sabe que a lei beneficiou os dois lados.” A estratégia pode não dar certo.Ontem,emBrasília,aassessoria de Sarney, atual presidente doSenado, informou que ele não pretende atender à solicitação da defesa. Segundo os assessores, ele foi apenas um entre muitos parlamentares de diferentes tendências políticas a votar a lei. Associação incômoda. De acordo com a mesma fonte, o senadorvênaatitudedadefesaapenas uma tentativa de protelar umadefiniçãosobreocaso.Também se comenta que o senador não teria nada a ganhar com a associaçãodeseunomeaumepisódioenvolvendotorturasaopositoresdoregimemilitar.Naépoca da morte de Merlino, Sarney

TESTEMUNHAS

● Não

PAULO VANNUCHI

JOSÉ SARNEY

O ex-ministro Paulo Vannuchi, que chefiou durante quase oito anos a pasta de Direitos Humanos no governo Luiz Inácio Lula da Silva, diz ter presenciado parte dos fatos que teriam resultado na morte de Luiz Eduardo Merlino. Vannuchi ficou preso nas dependências do DOI-Codi na mesma época que o jornalista e assegura tê-lo visto quando era removido de uma sala para outra.

O coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra quer trazer para o centro do debate a questão da anistia, que teria beneficiado também os agentes de Estado acusados de violações de direitos humanos. Para isso arrolou como testemunhas de defesa nomes de políticos que aprovaram a Lei da Anistia de 1979. Um dos mais influentes e conhecidos é o do senador e ex-presidente da República José Sarney.

na mesma época em que Merlino e que chegou a vê-lo. A ação movida pela família Merlino é por danos morais. Se a Justiça aceitar, isso implicará pagamento de indenização. O objetivo principal, porém, seria o esclarecimento da verdade e a responsabilização das pessoas envolvidas. Essa é a segunda ação movida pela família – a primeira foi extinta em 2008. Ustra aparece com destaque pelo fato ser o comandante do DOI-Codi, que, segundo ex-presos políticos, era um centro de torturas. “O dinheiro de uma possível indenização é a última coisa que nos interessa”, disse ontem Angela Mendes de Almeida, de 72 anos. Ela era companheira de

Merlino na época em que ele foi morto e é uma das autoras da ação, ao lado de Regina Maria Merlino Dias, irmã dele. Os advogados que atuam a favor da família são Fábio Konder Comparato e Claudinei de Mello. Na defesa do coronel, Paulo EstevesvaiargumentarqueMerlino não morreu no DOI-Codi, mas atropelado. “Isso consta de um inquérito da Justiça Militar. O jornalista foi levado para ajudarnaidentificaçãodeoutrosmilitantes,tentoufugirefoiatropelado”, disse ele ao Estado. Militantes de direitos humanos pretendem realizar uma manifestação diante do Fórum João Mendes, onde serão ouvidas as testemunhas, hoje à tarde.

EX-MINISTRO DA SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS

Manifestação. Cartazes no julgamento de 2008 mostram foto de Merlino e pedem justiça

PARA ENTENDER

Jornalista foi preso em 1971 O jornalista Luiz Eduardo Merlino era militante do Partido Comunista Operário (POC) quando foi preso em 1971 e levado para as dependências do DOI-Codi em São Paulo. Segundo outros prisioneiros

políticos, ele foi torturado durante dois dias, até sua morte. O DOI-Codi era uma dependência do Exército, chefiado na época pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, hoje na reserva. Isso faz com que ele apareça como responsável por essa e por outras mortes. O coronel nega a existência de tortura no DOI-Codi e diz

que Merlino, que havia trabalhado no Jornal da Tarde, morreu atropelado ao tentar fugir. Essa não é a primeira vez em que o coronel é acusado. Para seu advogado, Paulo Esteves, qualquer tentativa de responsabilizá-lo tende a dar em nada, porque ele também teria sido beneficiado pela Lei da Anistia, de 1979.

fazia parte da Arena, o partido de sustentação política da ditadura. Isso não significa, segundo pessoas próximas a ele, que te-

nha apoiado atos de violência. Entre os nomes citados pela acusação encontra-se o de Paulo Vannuchi, ex-ministro de Direi-

tos Humanos no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele deverá dizer na audiência de hoje que esteve preso no DOI-Codi

Justiça diz que houve corrupção em obra da gestão de Maluf e Pitta Conclusão, referente à construção da Avenida Água Espraiada, consta de sentença que condenou assessora financeira

‘Essa decisão é uma triste injustiça’, diz criminalista

Fausto Macedo

● “Essa decisão é uma triste in-

Ao condenar a bancária Rachelle Abadi a 6 anos de reclusão por crime de lavagem de dinheiro, a Justiça Federal concluiu que houve corrupção nas obras da Avenida Água Espraiada, na zona Sul de São Paulo, durante a gestão dos ex-prefeitos Paulo Maluf (1993-1996) e Celso Pitta (1997-2000). A sentença é do juiz federal Marcio Ferro Catapani, da 2.ª Vara Federal Criminal em São Paulo. Segundo o Ministério Público Federal, Catapani acolheu a denúncia sobre “esquema de corrupção montado na Prefeitura de São Paulo na gestão do prefeito Maluf, durante as obras de canalização do córrego da Água Espraiada e construção da avenida”. A obra, concluí-

● Confirmado

justiça”, declarou o criminalista Arnaldo Malheiros Filho, que defende Rachelle Abadi. “Essa senhora é uma bancária de longa carreira num conglomerado familiar, que conheceu Celso Pitta na condição de diretor financeiro de

uma grande empresa nacional, a Eucatex. O valor de US$ 1 milhão não seria desproporcional na rescisão do contrato de um executivo desse porte.” Segundo Malheiros, “até então, nem pela imprensa ela ouvira falar que Celso Pitta poderia estar desviando dinheiro da administração, o que aliás sequer foi provado”. O ex-prefeito Paulo Maluf sempre rechaçou ilegalidades na obra da Água Espraiada. Ontem, ele não foi localizado para falar sobre o caso. / F.M.

da em 2000, custou R$ 796 milhões. A corrupção foi o crime antecedente ao de lavagem. Pitta morreu em 2009. Maluf não é réu no processo – nem poderia ser, uma vez que detém prerrogativa de foro perante o Supremo Tribunal Federal (STF) em matéria penal. Mas sua administração é citada na ação. Rachelle prestava assessoria financeira a Pitta. A Procuradoria da República sustenta que ela cuidava de contas no ex-

terior, “além de abrir e fechar empresas e movimentar o dinheiro entre as empresas e contas do ex-prefeito”. Pitta teria enviado valores para Nova York, Suíça e Guernsey (Comunidade Britânica), “por meio de sofisticados esquemas financeiros, recursos provenientes de corrupção na realização de obras públicas durante os quatro anos em que ficou à frente da Secretaria de Finanças (1993-1996) e durante o manda-

LULUDI/AE-30/3/1997

Avenida. Obra começou com Maluf e foi concluída por Pitta to de prefeito, notadamente recursos derivados da construção da Avenida Água Espraiada”. O juiz destacou que “há provas nos autos da prática desse delito (corrupção), em grau suficiente para um feito no qual se apura a lavagem de ativos”. “O desvio de recursos se dava por meio da subcontratação, pela Mendes Junior (construtora), de outras pessoas jurídicas para supostamente prestarem serviços relacionados à execu-

ção da obra pública”, assinala a sentença. “A Empresa Municipal de Urbanização atestava que os serviços haviam sido prestados, apesar de não o terem, e pagava à Mendes Junior, que repassava os valores subcontratados. Estes destinavam os recursos a contas correntes de ‘laranjas’ ou efetuavam saques em dinheiro, muitas vezes os recursos tinham como destino o exterior.”

Juiz de processo de casal morto no PA é alvo de protesto Carlos Mendes ESPECIAL PARA O ESTADO / BELÉM

Entidades ligadas à luta pela terranoParáestãopedindo oafastamento do juiz Murilo Lemos Simão Santos Leão, responsável pelo processo que apura a morte do casal de ambientalistas José

Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo. As entidades se dizem insatisfeitas com as decisões do juiz que, segundo elas, teriam “contribuído” para a fuga dos três suspeitos pelo crime, ocorrido no dia 23 de maio, em Nova Ipixuna (PA). Antes de a polícia divulgar as

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conclusões das investigações, na semana passada, o juiz negou por três vezes a prisão preventiva dos acusados. O inquérito apontouofazendeiroJoséRodrigues Moreira como mandante docrimeeLindojonsonSilvaRocha e Alberto Lopes do Nascimento como executores. SegundoentidadescomoaComissão Pastoral da Terra (CPT) e Federação dos Trabalhadores na Agricultura, “nenhum deles foi preso graças às decisões do juiz, que teria contribuído para que os acusados fugissem da região”. Mesmo que as preventi-

vas agora sejam decretadas, na avaliaçãodas entidades serádifícil prender os assassinos. Elas também criticam o fato de o juiz ter decretado o sigilo dasinvestigaçõessemqueodelegado que presidia o inquérito ou o Ministério Público tenham solicitado.Issonão ocorreu em outros crimes de grande repercussão, como o massacre de Eldorado dos Carajás e o assassinato da missionária Dorothy Stang. “O segredo de Justiça é uma forma de manter os familiares, asentidadeseasociedadedistante das informações”, acusam.

Defesa. O juiz disse que ainda

nãorecebeuqualquercomunicado oficial pedindo seu afastamento. Ontem, ele divulgou nota comentando o caso. Afirmou que indeferiu o primeiro pedido deprisão, mas concedeu mandado de busca e apreensão. O sigilo processual, de acordo com o juiz,foidecretadopara“nãofrustrar a diligência policial”. O segundo pedido negado foi amparado pelo mesmo motivo. O juiz disse que, antes de concluir o inquérito policial, o delegado formulou pedido de prisão preventiva contra os três acusa-

confirmado

PRESIDENTE DO SENADO (PMDB-AP)

‘Estado’ está sob censura há 726 dias Desde o dia 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda uma definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar informações a respeito da Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em 31 de julho de 2009, de publicar informações sobre aquela operação da Polícia Federal. No dia 18 de dezembro do mesmo ano, Fernando Sarney pediu desistência da ação, mas o Estado não aceitou. Em 29 de janeiro de 2010, o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira apresentou ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal manifestação em nome do jornal sustentando preferência pelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado. Até hoje o Estado aguarda uma manifestação.

dos. Ele observou que o Ministério Público solicitou que a políciafizesse novasdiligências. Feito isso, os autos do processo foram para o MP e ainda se encontramempoderdapromotoriapara oferecimento da denúncia. Para o juiz, o fato de a polícia ter tornado público os nomes e fotos dos indiciados o obrigou a suspender o sigilo do processo. “O segredo de Justiça também era necessário para possibilitar a oportunasegregaçãocautelardaqueles cuja liberdade poderia comprometer a ordem pública.”


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Governo faz maior intervenção no câmbio edólartemaltade1,35% Pacote para o mercado futuro vai taxar e controlar apostas na valorização do real Em sua mais agressiva ação contra a alta do real, o governo decidiu controlarasapostasnaquedadodólarnomercado futuro – que ontem atingiram US$ 22,8 bilhões, quase todas feitas por estrangeiros – e acenou com novas

medidas. Haverá cobrança de 1% de IOF para quem apostar mais de US$ 10 milhões no real, e operações com derivativos fora da bolsa terão de ser registradas. O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola aponta “desespe-

estadão.com.br

ro”. “Isso tende a reduzir a liquidez aqui e aumentar no exterior.” Já para Alexandre Tombini (BC), “a economia sai mais forte”. O dólar fechou a R$ 1,559, com alta de 1,35%, a maior em um ano. ECONOMIA / PÁGS. B1 e B3 a B5

Maioria dos brasileiros é contra união gay, diz Ibope

Londres exclui diplomatas líbios e chama rebeldes

Pesquisa feita pelo Ibope Inteligência revela que 55% dos brasileiros são contrários à decisão do Supremo TribunalFederalqueautorizaauniãoestável entre pessoas do mesmo sexo, informa José Roberto de Toledo. Mas o tema divide a população: 52% das mulheres são a favor enquanto 63% dos homens são contra. Foram ouvidas 2 mil pessoas e as opiniões variam muito em função da religião, idade e escolaridade. VIDA / PÁG. A16

A chancelaria britânica ordenou ontem aimediataexpulsãodetodocorpodiplomáticodoregimedaLíbiaqueaindapermanecia na Grã-Bretanha. A embaixada que representava a ditadura de Muamar Kadafi será ocupada por um emissário do Conselho Nacional de Transição, que congrega as várias facções da oposição líbia. Londres desbloqueou US$150 milhões – acumulados por Kadafi em bancos britânicos – para repassá-los aos insurgentes. INTERNACIONAL/ PÁG. A12

JF DIORIO/AE

Um jogo de encher os olhos: 5a4

Noruega

MÃE E FILHO SOBREVIVEM AO TERROR

Ronaldinho comemora o segundo de seus três gols na vitória do Flamengo sobre o Santos na Vila, o jogo mais espetacular do Brasileiro até aqui. O Santos chegou a fazer 3 a 0, mas permitiu o empate. Depois, fez 4 a 3, mas o Fla virou. O São Paulo bateu o Coritiba (4 a 3) e o Palmeiras venceu o Figueirense (1 a 0)

E

m meio ao drama dos noruegueses que perderam amigos e parentes nos atentados da semana passada, o caso de Gina Lund é único. Ela escapou da explosão do carro-bomba em Oslo. Horas depois, seu filho, Knut, que estava na Ilha de Utoya, sobreviveu à fúria do terrorista Anders Breivik. Durante o tiroteio, ele falou com a família por SMS. INTERNACIONAL / PÁG. A12

Casal abandona três filhos em veleiro no Rio METRÓPOLE / PÁG. C8

ESPORTES / PÁG. E4

Dois brasileiros são achados mortos no Peru METRÓPOLE / PÁG. C6

Carvalho diz que fazer prévias no PT para 2012 seria ‘desastre’ Oministroda Secretaria-Geralda Presidência, Gilberto Carvalho, disse que “seria um desastre” o PT fazer prévias paraaescolha docandidato àPrefeitu-

NILTON FUKUDA/AE

Nova Marginal

ra deSão Paulo. Carvalho cobrou“maturidade política” do PT no momento em que o partido começa a debater as alianças para 2012. NACIONAL / PÁG. A4

FERNANDO REINACH A origem dos líderes Modelos matemáticos demonstram que líderes podem ser selecionados independentemente de inteligência. Basta ser mais turrão que a média.

DAVID BROOKS O Congresso lidera A aparição de Obama teve uma profunda consequência inesperada: uniu os membros do Congresso.

EUGÊNIO BUCCI O desvio de informações Os sites do Ministério dos Transportes e do Dnit não trazem uma única linha sobre os processos que realmente interessam ao público.

VIDA / PÁG. A18

VISÃO GLOBAL / PÁG. A14

ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2

Tema era Copa; Blatter só fala de corrupção

Inauguração de ponte encerra obras da Nova Marginal do Tietê, que custou 75% mais.

ESPORTES / PÁG. E1

METRÓPOLE / PÁG. C1

ECONOMIA / PÁG. B19

Tempo na capital forte. 26˚ Máx. Sol Nevoeiro 13˚ Mín. de manhã HOJE:216PÁGINAS (18DE CLASSIFICADOS) * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 727 DIAS. PÁG. A8

Brasileiro é insatisfeito com carro, diz pesquisa

NOTAS & INFORMAÇÕES

A visita de Cristina O comércio, principal fonte de controvérsias entre Brasil e Argentina, está fora da pauta. PÁG. A3


A8 Nacional %HermesFileInfo:A-8:20110728:

O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 28 DE JULHO DE 2011

Valdemar sempre mira área financeira

Hábil no bastidor, secretário-geral do PR articulava para pôr nome de sua confiança em diretorias da Valec e do Dnit que detêm ‘chave do cofre’ PABLO VALADARES/AE-18/12/2007

Christiane Samarco / BRASÍLIA

As indicações feitas pelo secretário-geral do PR, deputado Valdemar Costa Neto (SP), revelam que a chave do cofre está sempre em sua mira. Operador político que negocia as posições do partido no Executivo e hábil no bastidor, ele articulava, reposicionava pessoas e manobrava para atingir seu objetivo: plantar um nome seu na Diretoria Administrativa e Financeira da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. e também na do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Para a cúpula do PR, a Valec sempre foi um “consórcio” Valdemar-Sarney, operado no governo Lula pela dupla conhecida como Juquinha e Chiquinho. Valdemar tinha Joaquim Francisco das Neves, o Juquinha, como diretor-presidente. Ao empresário Fernando Sarney – filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) – era creditada a indicação de Francisco Elísio Lacerda, o Chiquinho, paradiretoradministrativoefinanceiro da empresa, com o aval de Valdemar. Já sob o governo Dilma, quando o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento ficou mais dócil ao PR – que o manteve noposto–emaispróximodeValdemar,osecretário-geral dopartido fez um remanejamento para tomar conta da Diretoria Financeira. Mas tudo sem degolar o homem de Sarney. Chiquinho foi deslocado para a Diretoria de Planejamento, abrindo espaço para que Valdemar entregasse o controle do cofre a uma pessoa de sua confiança pessoal: Antonio Felipe Sanchez de Costa. Um dirigente do PR diz que o resultado dessa operação é que, hoje, Valdemar tem o controle da Valec. Com a saída de Juqui-

Crise em ministério derruba mais um e chega a 19 demitidos

Bastidores: Christiane Samarco

Cifras dividem a briga pelo poder na Valec e no Dnit

● O diretor de Infraestrutura

Ferroviária e diretor interino de Administração e Finanças do Dnit, Geraldo Lourenço de Souza Neto, pediu demissão ontem. Agora resta apenas um diretor do órgão no cargo, Jony Marcos do Valle Lopes, que comanda a área de Planejamento. Lourenço é o 19º a deixar o governo após a revelação do esquema de corrupção nos Transportes. Era indicado do senador Magno Malta (PR-ES), com quem acertou a demissão pela manhã. Geraldo foi avisado de que não seria poupado da “faxina” da presidente Dilma Rousseff no setor. Preferiu pedir para sair antes de ser demitido. O Estado mostrou ontem que Lourenço é réu em ação penal no Tocantins, acusado de corrupção passiva e falsidade ideológica. / LEANDRO COLON

nha, demitido por ordem da presidente Dilma Rousseff, quem responde interinamente pela Valec é Antonio Felipe Sanchez de Costa, homem de Valdemar. Segundo a assessoria de imprensa do PR, no entanto, o nome de Antonio Felipe “não constadas indicações formuladas pelodeputadoValdemarCostaNeto”. Mas um dos principais colaboradoresdoparlamentaradmite que, na prática, tudo passava porele. “Nacondição desecretário-geral do partido, Valdemar é o avalista compulsório de todas as indicações políticas do PR”, afirma o assessor. ‘Faxina’. Movimentação seme-

lhante à da Valec também estava em curso no Dnit, mas dessa vez

A

Influência. Para cúpula do PR, a Valec era um ‘consórcio’ Valdemar-Sarney a “faxina” presidencial andou mais rápido e abortou a operação do secretário-geral do PR. Em maio, o antigo chefe de gabinetede Nascimento, Mauro Barbosa, enviou ao Senado mensagem indicando outro apadrinhado de Valdemar para assumir a Diretoria Administrativa e Financeira do Dnit. A indicação de Augusto César Barbosa de Souza para diretor do Dnit estava na pauta da Comissão de Infraestrutura do Senado, mas como seu nome não chegou a ser apreciado antes do recessoparlamentarDilmainterveio. Determinou que a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, enviasse mensagem ao Senado nasemanapassada,“desindicando” Augusto César.

Na reabertura dos trabalhos do Senado, Sarney deverá ler e, em seguida, deferir a mensagem que retira essa indicação. Como não houve manifestação da Comissão de Infraestrutura, o plenário não precisará ser ouvido. Bastará o deferimento do presidente do Senado para pôr um ponto final na investida do PR. Diferentementedo Dnit, onde todos os diretores têm de passar por sabatina no Senado e dependem de aprovação pelo plenário, as indicações políticas para a Valec independem do crivo dos senadores. No caso do ex-diretor da empresa, por exemplo, bastaram a vontade de Valdemar e o apoio do deputado Milton Monti (PR-SP) para emplacar Juquinha na presidência.

Voto de Jobim em Serra era sabido, diz Temer Vice-presidente afirma que Dilma havia sido informada pelo ministro e lembra divisão do PMDB na eleição de 2010 Daiene Cardoso AGÊNCIA ESTADO

O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), minimizou ontem as declarações do ministro da Defesa, o também peemedebistaNelsonJobim,querevelou ter votado no tucano José Serra,adversário deDilmaRousseff na sucessão presidencial de

2010. De acordo com Temer, a revelação não coloca em risco o cargode Jobim. “Afranqueza dele não altera a posição dele no governo”, garantiu. Jobim,quefoiministro daJustiçano governoFernandoHenrique Cardoso, contou sobre sua escolha em entrevista publicada ontempelojornalFolhade S.Paulo. “Eu votei no Serra.” Ontem, durante a inauguração da Ponte Governador Orestes Quércia, em São Paulo, Temercontouquenãosesurpreendeu com as declarações. “O Jobim é muito franco. Ele disse uma coisa verdadeira, que ele já havia me contado e que já havia

dito à presidente Dilma Rousseff.Ele éum quadro muito valoroso do PMDB e faz um trabalho excepcionalnoMinistériodaDefesa”, enfatizou. Temer lembrou a divisão interna do partido durante a campanha presidencial de 2010. Em alguns Estados, como São Paulo, o PMDB apoiou o candidato do PSDB e, em outros, como no Rio, esteve no palanque de Dilma. “Nem todos os peemedebistas votaramnachapa”, reforçou. Segundo ele, a importância de Jobim no governo supera o fato de ele ter votado contra a orientação do PMDB nacional. “A grandemaioriavotounachapaDilma-

Temer. Outros tiveram dificuldades, mas foram compreendidos”, disse. Superada as divergências internas, o vice-presidente disse que o PMDB vive agora um momento diferente da época do exgovernador Orestes Quércia, um dos líderes peemedebistas que mais resistiu à coligação com o PT de Dilma Rousseff. “Hoje o PMDB é um partido unidíssimo”, frisou. Crise nos Transportes. Indagado se a “faxina” realizada no Ministério dos Transportes poderia se estender a outros ministérios, inclusive nos da cota do

● Solução

Juquinha foi acolhido na presidência do diretório do PR de Goiás, que foi tirada de Sandro Mabel, quando este decidiu disputar a presidência da Câmara.

briga pelos postos de poder na Valec e no Dnit é uma só, mas os propósitosdaocupaçãopolíticadestas duas vedetes do Ministério dos Transportes são diversos, passando do atacado ao varejo no jogo partidário e eleitoral. Dona de contratos milionários de grandes obras ferroviárias, a Valec pode ser útil na operação política das cúpulas dos partidos, empenhadas em financiar a legenda e fazer caixa para as próximas eleições. Já o Dnit, comsuasobrasrodoviáriasdecifrasmaismodestas,torna-seinstrumentoeficaznaoperação da política mais miúda, municipalista. Adespeitodascaracterísticassingularesde cada estatal, um dirigente do PR diz que o Dnit acaba convertido em instrumento mais amplo de ação política. Tanto que, segundo ele, nove em cada dez deputados nem tomam conhecimento do nome do presidente da Valec, enquanto dez entre dez parlamentares do partido sabem quem comanda o Dnit. Além de grandes estradas federais, o Dnit fazobrassimples,comorestauraçãodepassarelas, reparo em estrada, contorno rodoviário. Além de atenderem mais de perto a demanda das bases eleitorais, são obras mais baratas e, portanto, acessíveis não só à cúpula dirigente, mas também ao chamado baixo clero das bancadas no Congresso. Obras de ferrovias interessam a um público mais restrito de deputados, mas vêm chamando a atenção do Tribunal de Contas da União (TCU). Tal como revelou o Estado na semana passada, em meio à crise no comando dos Transportes, o TCU identificou indícios de prejuízo de R$ 420 milhões aos cofres públicos na Valec. Só nas obras ferroviárias em trechos da Norte-Sul e Oeste-Leste, a equipe técnica do TCU apontou a existência de estimativa de sobrepreço de 44,71% na compra antecipada de materiais que deverão ser usados apenas na parte final da construção dos trechos das duas ferrovias.

PMDB, Temer seguiu na mesma linha da presidente Dilma: “Todosos partidostêmde sesubmeter aos regimes normais de controle, porque o governo tem de prestarcontas à sociedade brasileira”. “A fiscalização há de ser normal a todos os partidos que integram o governo”, afirmou. De acordo com o vice-presidente,não está descartada apossibilidade de novas mudanças nosTransportes.“Evidentemente que o ministro (Paulo Sérgio Passos) continuará verificando se houve desajustamentos lá e, se houver desajustamentos, tomará as providências”, avaliou. No entanto, Temer acredita que as principais mudanças já foram feitas. “Acho que, a essa altura, é retomar o rumo normal do Ministério dos Transportes.”

Memória HELENA GRECO ✽1916 – 2011

Morre Helena Greco, ícone da luta por anistia Foi uma das principais ativistas por direitos humanos

M

orreuontem,emBelo Horizonte, Helena Greco, de 95 anos, um dos ícones da luta pelos direitos humanos no País. Dona Helena Greco, como ficou conhecida por sua militância contra a ditadura, foi a primeiravereadoradacapitalmineira, eleita em 1982, e uma das fundadoras do PT. A causa da morte não foi divulgada, mas amigos da família disseram que ela estava com pneumonia. Helena chamou atenção pela primeira vez quando, aos 61

PEDRO VILELA/LIGHT PRESS-20/8/2009

Helena. Fundadora do PT anos, num congresso da União Nacional de Estudantes (UNE), em Belo Horizonte, tomou o microfone para condenar a repressão militar. Era 1977, ano em que

ajudou a fundar o Movimento Feminino pela Anistia-MG. Tambémcriou, em1978,o Comitê Brasileiro de AnistiaMG. Em pouco tempo, a mulherquedeixouacasaemfrente do 12.º Batalhão de Infantaria para engrossar o protesto noDiretórioAcadêmicodaFaculdade de Medicina da UFMG se tornaria, ao lado de Terezinha Zerbini, em São Paulo, uma das principais damas da luta pela anistia. Frei Betto, companheiro de militância, lamentou a morte de Helena. “Foi uma pessoa que ajudou a reconstruir e a consolidar a democracia no País.Elanãotinhamedodenada.”Notadodiretóriomineiro do PT destacou: “Helena é um exemplo de vida e de luta nacional e internacionalmente”. Nascida em Abaeté (MG), Helena era formada em FarmáciapelaUniversidadeFederal de Minas Gerais (UFMG), profissão que nunca exerceu. Deixa três filhos, entre eles a historiadora Heloísa Greco. O enterro será as 11 horas de hoje,noCemitérioParquedaColina, em Belo Horizonte. / ALINE RESKALLA, ESPECIAL PARA O ESTADO

MARCOS DE PAULA/AE

Histórico. Jobim foi ministro da Justiça no governo FHC

‘Estado’ está sob censura há 727 dias Desde o dia 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda uma definição judicialsobreoprocessoqueoimpede de divulgar informações a respeitodaOperaçãoBoi Barrica, pelaqualaPolíciaFederalinvestigou a atuação do empresário FernandoSarney.Apedidodoempresário,que éfilhodopresidentedo Senado, José Sarney (PMDBAP),ojornalfoiproibidopeloTribunaldeJustiçadoDistritoFederal (TJ-DF), em 31 de julho de 2009,depublicarinformaçõessobre aquela operação da PF. Nodia18dedezembrodomesmo ano, Fernando Sarney pediu desistência da ação, mas o Estado não aceitou. Em 29 de janeiro de 2010, o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira apresentou ao TJ-DF manifestação sustentandopreferênciapeloprosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado. O Estado aguarda manifestação.


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

29 DE JULHO DE 2011 R$ 3,00* ANO 132. NÂş 43018

EDIĂ‡ĂƒO DE 0H15

estadĂŁo.com.br

SEXTA-FEIRA Divirta-se No Atelier da Alegria, material reciclado vira arte. PĂĄg. C10

Paladar Cozinha do Brasil

Nem parece SP Um roteiro pelos quarteirþes da Aclimação

Começa hoje o maior evento da gastronomia brasileira. Påg. C10

TIAGO QUEIROZ/AE

LEONARDO SOARES/AE

Brasileiros comem muito e mal, mostra IBGE O brasileiro nĂŁo abre mĂŁo do feijĂŁo com arroz e tem carne no prato, mas combina o trivial com uma alimentação de alto Ă­ndice calĂłrico e baixo teor nutritivo. E ainda abusa do sal e do açúcar. É o que revela a AnĂĄlise do Consumo Alimentar

Pessoal no Brasil, realizada pela primeira vez pelo IBGE. Segundo a pesquisa, apenas um entre dez brasileiros come os 400 gramas por dia de frutas, verduras e legumes recomendados pelo MinistĂŠrio da SaĂşde. VIDA / PĂ G. A16

Colunista

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Desaceleração faz BC acenar com fim da alta dos juros Ata do Copom diz que as medidas para conter a inflação terĂŁo impacto acentuado; mercado duvida O Banco Central sinalizou que o ciclo de alta dos juros pode ter chegado ao fim diante de um quadro “mais favorĂĄvelâ€? para a inflação no curto prazo, da desaceleração econĂ´mica em curso e das incertezas “crescentesâ€? sobre o rit-

mo de recuperação global. A ata da reunião do Comitê de Política Monetåria (Copom), divulgada ontem, diz que as medidas jå tomadas para controle dos preços e do crÊdito vão ter impacto mais acentuado nos próximos meses.

Economistas não entenderam a mensagem desse jeito e apostam que o Copom só vai cumprir sua tarefa de entregar a inflação na meta em 2013. Fontes do governo,entretanto, consideraramexagerada essa avaliação. ECONOMIA / Pà G. B1

â—? DĂłlar volta a se valorizar

Desde que o governo agiu no câmbio, na quarta, a moeda subiu 2% e fechou a R$ 1,569. ECONOMIA / Pà G. B4

TIAGO QUEIROZ/AE

âœ˝ IgnĂĄcio de Loyola BrandĂŁo â—? Fritando linguiça na banha de porco Pobres tĂŞm o sentido aguçado para comida, com um impacto jamais esquecido. A cozinha de uma ĂŠpoca em que nada havia no Brasil. Matava-se frango na hora. Era corriqueiro. O politicamente correto nĂŁo existia. CADERNO 2 / PĂ G. D8

País lidera expansão global do setor aÊreo Com taxa de 19% ao ano, o Brasil tem a maior expansão do setor aÊreo no mundo,à frentede China, �ndia,EUAe Europa.AAssociaçãoInternacionaldeTransporteAÊreo (Iata),porÊm,alertaquepara evitar paralisia do setor e continuar crescendo, o País deve se organizar e investir pesadamente. ECONOMIA / Pà G. B14

Internação de menor drogado tem aval jurĂ­dico ParecerdaProcuradoria Geraldo MunicĂ­pio deu aval jurĂ­dico para a adoção da internação compulsĂłria de meninos de rua usuĂĄrios de droga em SĂŁo Paulo. A decisĂŁo depende agora do prefeito Gilberto Kassab. METRĂ“POLE / PĂ G. C1

Novo presidente do Peru toma posse e copia Lula INTERNACIONAL / PĂ G. A15

Fifa se exime no uso de verba pĂşblica em sorteio ESPORTES / PĂ G. E1

Avenida Pompeia Ă s escuras: blecaute atingiu 700 mil pessoas nas zonas sul e oeste da capital paulista e paralisou a Linha 4 do MetrĂ´; Eletropaulo diz que pane causou o apagĂŁo, o segundo em pouco mais de um mĂŞs. METRĂ“POLE / PĂ G. C3

STEPHEN S. ROACH Leiam os låbios da China Os chineses perderam a confiança no governo americano. E a China não Ê uma espectadora inocente da corrida dos EUA para o abismo.

DAVID CARR ImpÊrio estilhaçado O Rupert Murdoch como conhecemos hå tanto tempo estå morto.

ECONOMIA / PĂ G. B7

VISĂƒO GLOBAL / PĂ G. A14

FARRELL/AE

Mais um apagĂŁo

NELSON MOTTA Sindicato dos estudantes Se o futuro do Brasil estå nas mãos dos estudantes e quem os representa Ê a UNE, então Ê bom começar a pensar em um plano B. NACIONAL / Pà G. A10

Tempo na capital

27Ëš MĂĄx. 13Ëš MĂ­n.

Sol forte, calor e ar seco

HOJE: 178 PĂ GINAS * VER TABELA NA PĂ GINA A3

ESTADO SOB CENSURA HĂ 728 DIAS. PĂ G. A8

Honda anuncia recall de 102 mil carros Civic ECONOMIA / PĂ G. B14

NOTAS & INFORMAÇÕES

O novo pacote cambial As novas medidas podem funcionar em carĂĄter emergencial, mas o governo tem de fazer sua parte. PĂ G. A3


A8 Nacional %HermesFileInfo:A-8:20110729:

O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 29 DE JULHO DE 2011

DORA KRAMER ✽ ●

E-mail: dora.kramer@grupoestado.com.br Twitter: @DoraKramer

Um boné na soleira

I

ntrigante a conduta do ministro da Defesa, Nelson Jobim: está no governo, é governo, mas não disfarça sua insatisfação com a parte que lhe coube no latifúndio do governo Dilma Rousseff. Quando se aventa a hipótese de que esteja com vontade de sair, diz que não há nada a não ser mal-entendidos, mas, não demora, faz de novo algum gesto de evidente sinal de desconforto. E aqui não se trata das críticas duras que Jobim faz ao governo nas reuniõesinternas doPMDB,porquenessa seara está na companhia da maioria dos ministros do partido. Tomemosapenas o queo ministro da Defesa diz em público.

Aparentemente sem a menor necessidade,eporissoéqueosmovimentoscausamestranhezaesuscitamdúvidassobre o intuito do ministro. Ainda mais tratando-sede umhomem afeto aexercícios de lógica, que nada faz sem que tenha em mente a tese, a antítese e a síntese. Qualopapel,por exemplo,queprocuradesempenhar quandoafirma emsolenidade de homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que uma das melhores características dele era saber se relacionar bem com subordinados, “sem nunca levantar a voz”? Falou por iniciativa própria sem que a ocasião lhe oferecesse contexto para tal, a não ser o propagado hábito da presidente Dilma de se dirigir a subalternos justamente levantando a voz.

Na época Jobim cuidou de explicar apenas uma parte do discurso. Aquele em que citava Nelson Rodrigues para dizer que no governo de FH os idiotas eram discretos, mas hoje “perderam a modéstia”. Alegou se referir a jornalistas.Masaquelaoutrapartesobreotrata-

Adepto do raciocínio lógico, Jobim nada faz sem ter em mente começo, meio e fim mento de governantes com subordinados ficou no ar, à disposição da óbvia ilação comparativa. Mas, tudo bem, passou. Até que em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo Jobim discorre sobre o já sabido: que vo-

tou em José Serra na última eleição. Nada demais, em tese. O voto é livre, abre a posição quem quer. Mas, como diria petista de triste memória, determinados tipos de transparêncianão denotam inteligência. No caso de Jobim, não se pode falar em insuficiência mental. Sobra-lhe. Então para que trazer o assunto à baila, se poderia simplesmente invocar o sigilo constitucional do voto e seguir em frente? Não, fez questão de reafirmar uma posição que sabidamente provocaria reações no PT e criaria um inútil mal-estar para o vice-presidente da República,representante dopartido de Jobim em governo a que aceitou servir como ministro da Defesa. Por que passar o recibo da infidelidade partidária? Para exercitar a transparência é que não foi. Oqueparece mesmoé queJobimestá comobonépenduradonasoleiradaporta, testando a capacidade de resistência da presidente diante de insolências em série. Quem é quem. Houve um tempo em que o Palácio do Planalto dispunha de um sistema de triagem de biografias de indicados para cargos na administração pública.Funcionava, ouera para funcio-

nar, no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência. Nunca mais se falou nisso. Mas, agora, quando a presidente Dilma Rousseffdizquevaiimpor afichalimpacomo pré-requisitoparaos substitutos dos demitidos do Ministério dos Transportes, valeria a retomada daprática do examedevidas pregressas antes de o governo oficializar nomeações. Para todos, os novos e os atuais ocupantes de postos na Esplanada, palácio e adjacências. Por etapas. A pesquisa que mostra

55%dapopulaçãocontraauniãoestável entre pessoas do mesmo sexo pode até parecer um dissenso em relação à decisão do Supremo Tribunal, mas, se a gente olhar direito não necessariamente. Além de um tanto recente na pauta nacional,oassunto aindanãofoidevida e completamente compreendido: boaparte dosquesão contra semanifestamnaverdadecontráriosaocasamento gay, tema que não está (ainda) em questão no Congresso ou na Justiça. Para uma opinião pública tidacomoconservadora,55%éumporcentual baixo.

Alvo de Dilma, transportes frustram meta do PAC Balanço semestral aponta problemas no setor, como licitação do trem-bala e obras que deixaram de ser executadas ou concluídas no prazo estabelecido VALÉRIA GONÇALVEZ/AE–14/8/2009

Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

Sob a faxina da presidente Dilma Rousseff, a área de transportes deixou de cumprir metas importantes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O balanço sobre a evolução do programa nos primeiros seis meses do novo governo será divulgado hoje. A frustração mais conhecida ocorreu no projeto do trem de alta velocidade, cujo leilão deveria ter sido feito em 29 de abril, segundo meta estabelecida no 11.º balanço do PAC, divulgado no final de 2010. A licitação foi adiada para julho. Nenhum concorrente apareceu, o que levou o governo a mudar a modelagem da concessão, que agora prevê dois leilões. O primeiro está programado para fevereiro de 2012. Na Ferrovia Norte-Sul, outro projeto caro ao governo, os trechos que ligam Palmas (TO) a Anápolis (GO) – de cerca de 800 quilômetros – deveriam ter sido concluídos até o dia 30 de abril. Mas, segundo informa a Valec, responsável pela obra, não estão totalmente prontos. Há um segmento em Goiás, ligando Santa Izabel a Uruaçu, cuja execução está na casa dos 80%. Os trabalhos foram atrasados por causa das chuvas, explica a estatal. Essa parte da ferro-

OBJETIVOS NÃO CUMPRIDOS Metas do último balanço do PAC que não foram atingidas AÇÕES

META

O QUE ACONTECEU

Realizar a primeira etapa

Recebimento das propostas

Primeiro, o leilão foi adiado

do leilão para a construção

dos interessados até 12 de abril para julho, e agora está previsto

do trem-bala

e leilão em 29 de abril

para fevereiro do ano que vem

Reiniciar obras na pista

Até 30 de março

A Infraero pretende retomar

do Aeroporto de Guarulhos Concluir o trecho da Ferrovia

as obras em 8 de agosto Até 30 de abril

trecho mais atrasado está

Palmas (TO) a Uruaçu (GO)

com execução de 80%

Concluir as obras entre

Até 28 de fevereiro

Ribeirão e Palmares na

para a conclusão das obras

Enviar o projeto de lei ao

Até 28 de janeiro

OPalácio do Planalto confirmou o nome do engenheiro Miguel Masellacomosecretárioexecutivo do Ministério dos Transportes. É o primeiro nome anunciado para a cúpula do ministério, que passa por uma faxina determinada pela presidente Dilma Rousseff em decorrência das de-

Não foi enviado

Congresso da usina hidrelétrica Tabajara (RO)

Paradas. Obras no Aeroporto de Guarulhos foram interrompidas a pedido das empresas aéreas

via, chamada lote 4, é alvo de investigação da Polícia Federal e do Ministério Público devido a suspeita de superfaturamento. A crise na área dos transportes pode provocar atrasos no futuro também.Porcausada decisão de suspender novas licitações, a Valec, por exemplo, está atrasada na contratação da empresa que fará estudos para o projeto do prolongamento da Norte-Sul no trecho paulista, entre a cidade de Panorama e o porto do rio Grande.

Linha Masculina Social e Esportiva.

são devido à superlotação e à aproximação da Copa do Mundo,osaeroportostambémdeixaram de cumprir prazos estipulados em dezembro passado. Em Guarulhos (SP), por exemplo, as obras na pista, interrompidas a pedido das empresas aéreas, deveriam ter sido retomadas até o dia 30 de março. Isso não ocorreu. A Infraero informou que os trabalhos serão iniciados no dia 8 de agosto, após o período de férias, e a previsão é que a obra

● O assessor especial da Presi-

núncias de corrupção. Secretário de Gestão de Programas da pasta, Masella já estava ocupando interinamente o cargo desde o início da crise, que provocou até agora a queda de 19 pessoas, entre elas o ex-ministro Alfredo Nascimento. A escolha foi feita pelo ministroPauloSérgioPassos, dequem Masella é homem de confiança, e aprovada por Dilma. Egresso do extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), Masella, segundo o ministério e o Planalto, preenche os requisitos de perfil técnico e ficha limpa exigidos por Dilma na escolha dos novos quadros da

Calçados Giannini

Aeroportos. Sob grande pres-

Marco Aurélio diz não haver ‘caça às bruxas’ no PR

Fotos ilustrativas

Vannildo Mendes / BRASÍLIA

Não acabou e não há previsão

BR-101 em Pernambuco

Ministro define primeiro nome da nova cúpula da pasta Paulo Passos indicou como seu secretário executivo Miguel Masella, hoje secretário de Gestão de Programas

A obra não está pronta. O

Norte-Sul que vai ligar

Modelo Argentino

seja concluída na primeira quinzena de dezembro. O governo pretendia instalar um “puxadinho”, ou Módulo Operacional Provisório (MOP) no aeroporto de Macapá até o dia 31 de janeiro. No entanto, a Infraero enfrenta problemas. Já foramrealizados dois leilõeseletrônicos,masnãoapareceraminteressados. A estatal tentou contratar empresas diretamente. De 16 empresas consultadas, só trêsapresentarampropostas,pelo menos 16% acima do preço

“tentar desestabilizar a aliança política”. Marco Aurélio rejeitou também o termo "faxina". “Não é uma faxina no PR. É uma limpeza que se fez em um ministério, em particular, em função de denúncias concretas. Não é nenhuma ação contra os partidos”, disse. E avisou: “Se houver problemas em qualquer partido ou em particular com o meu partido, o PT, eles serão averiguados sob critérios bastante republicanos". / TÂNIA MONTEIRO, ENVIADA

dência, Marco Aurélio Garcia, declarou ontem que “não há processo de caça às bruxas” no PR por causa das demissões realizadas no Ministério dos Transportes. Em Lima, onde acompanhou a presidente Dilma Rousseff à posse do presidente peruano Ollanta Humala, ele disse que esta interpretação tem por objetivo

ESPECIAL A LIMA

área. Na próxima semana, será anunciado o novo diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit), em substituição a Luiz AntônioPagot, quepediu demissão na segunda-feira. Em consequência da limpeza, várias diretorias do Dnit e da Valec (estatal que cuida do setor ferroviário) estão acéfalas. Isso preocupa o governo porque há risco de paralisação de obras e emperramento da máquina administrativa da pasta, responsávelpor48%doorçamentodoPro-

grama de Aceleração do Crescimento (PAC). O Planalto informou que a escolha está sendo conduzida com cautela e discrição, nome a nome, mas já está praticamente fechada. Formadoemengenharia civil pela USP, Masella entrou no serviço público em 1973, aprovadoem concursode técnico de planejamento. A convitedePassos,estánoministériodesde2006,játendopassado pela função de secretário executivo em 2007.

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que o governo pretende pagar. Na área do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) não está pronta, por exemplo, a obra na BR-101 entre Igarassu e a divisa com a Paraíba. A obra deveria ter sido entregue até 30 de março. Também o trecho entre Ribeirão e Palmares, na BR-101, não ficou pronto.A obraera prometidapara 28 de fevereiro. O governo federal pretendia assinarumcontratocomogoverno de São Paulo, até o dia 15 de

dezembro do ano passado, para elaborar um estudo sobre alternativas para o Ferroanel, outra obra do PAC. Esse contrato só foi assinado no dia 17 de junho, segundoinformoua AgênciaNacional de Transportes Terrestres (ANTT). A agência não concluiu o relatório consolidando estudos existentes e o relatório parcial ambiental da obra, ambos previstos para 31 de março. Oprojetodelei parapermitir a obra da usina Tabajara (RO) ainda nãofoi enviadoao Congresso.

‘Estado’ está sob censura há 728 dias

Paulo Preto nega desvio de R$ 4 mi do PSDB

Desde o dia 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda uma definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar informações a respeito da Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF),em31dejulhode2009,de publicar informações sobre aquela operação da PF. No dia 18 de dezembro do mesmo ano, Fernando Sarney pediu desistência da ação, mas o Estado não aceitou. Em 29 de janeiro de 2010, o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira apresentou ao TJ-DF manifestação em nome do jornal sustentando a preferência pelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado. O Estado aguarda manifestação.

Em depoimento de 2 horas e meia aoMinistério Público Estadual, ontem, o engenheiro e exdiretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, negou que tenha sumido com R$ 4 milhões destinados ao financiamento da campanha eleitoral do PSDB em 2010. Ele assinou um termo de compromisso por meio do qual abre mão espontaneamente de seu sigilo bancário e fiscal relativo ao período que interessar à investigação. Paulo Preto é alvo da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social em inquérito que apura denúncias de tráfico de influência, improbidade, enriquecimento ilícito e desvio de recursos públicos. O procedimento, aberto por requisição da bancada do PT na Assembleia, corre sob segredo. O ex-diretor da Dersa informou que está processando por crime contra a honra todos os que lhe atribuíram o desvio de R$ 4 milhões. Algumas ações já ganhou. Ele foi à audiência acompanhado de seu advogado, José Luís Oliveira Lima, e respondeu a todas as perguntas da promotoria. “Tendo em vista que o procedimento é sigiloso não posso me manifestar”, afirmou o advogado. / FAUSTO MACEDO


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

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No reino azul Agora em filme, as novas aventuras dos smurfs

Palavra do editor Luiz Schwarcz fala dos planos para a Companhia das Letras

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Estadinho

Urbanas. Bicicletas estão mais adaptadas à cidade. Pág. C8

FABIO MOTTA/AE

Vai começar a Copa

Orlando Silva (ministro do Esporte) e Ricardo Teixeira (presidente da CBF), no local do sorteio das Eliminatórias, hoje, no Rio; Dilma Rousseff vai para marcar posição de que a Copa é do Brasil, não da Fifa. ESPORTES / PÁG. E1

Crise nos EUA reduz efeito de medidas cambiais e dólar cai Moeda americana recua para R$ 1,553, dois dias depois da tentativa do governo de conter a valorização do real Duroudoisdiasoefeitodas açõesadotadas para conter a valorização cambial. Após a alta acumulada de 2,15% na quarta e na quinta-feira, o dólar voltou a fechar em baixa ontem. A queda foi de 1,02%, fechando a R$ 1,553. As medidas querestringem operaçõescom derivativos cambiais anunciadas no meio da se-

mana sucumbiram ao cenário externo, com dúvidas dos investidores em relação à crise da dívida dos EUA. Ontem, os republicanos conseguiram aprovar projeto de lei para aumentar o teto da dívida americana. A vitória da oposição,porém, tevevidacurta,pois o projeto foi vetado no Senado, onde a maioria

é democrata. Mesmo assim, a aprovação na Câmara é um passo à frente nas empacadas negociações. O presidente Barack Obama passou o dia na busca de consenso para um acordo, cujo prazo é 2 de agosto. “Acabou o tempo de colocar o partido na frente de tudo”, apelou, no Twitter. ECONOMIA / PÁGS. B1, B3, B5 e B6

Religiosos do Egito vão às ruas protestar

MOHAMED OMAR/EFE

● PIB

americano decepciona

Sob a ameaça dos efeitos de uma grave crise da dívida, o PIB dos EUA cresceu apenas 1,3% no segundo trimestre, 0,5 ponto porcentual abaixo do previsto. ECONOMIA / PÁG. B3

Vítima de sequestro é jogada no Rio Pinheiros METRÓPOLE / PÁG. C4

Companhia diz não ter explicação para apagão

Em meio à cisão entre os grupos que derrubaram a ditaduraegípcia, em fevereiro, milhares de integrantes de facções islâmicas tomaram as ruas do Cairo em uma demonstração de força contramedidasparaconteropoderdosreligiosos no país. INTERNACIONAL / PÁG. A16

De volta. Ativistas fazem manifestação na Praça Tahrir, no Cairo

INTERNACIONAL / PÁG. A22

MARCOS CAETANO E assim caminha o futebol Um jogo como Santos x Flamengo vem nos fazer recordar o verdadeiro sentido desse esporte que tanto nos maltrata, mas que tanto amamos.

SÉRGIO AUGUSTO A arte de ficar à toa Milan Kundera lamenta a perda do hábito de curtir a lentidão. Para Camus, são os ociosos que transformam o mundo.

MARCELO RUBENS PAIVA O Nobel brasileiro Talvez o Nobel não tenha importância alguma. Ou nós, brasileiros, que somos incompreendidos pela investigação racional dominante.

Tempo na capital aumento 26˚ Máx. Sol, de nuvens e 15˚ Mín. chuva

ESPORTES / PÁG. E2

SABÁTICO / PÁG. S2

C2 + MÚSICA / PÁG. D12

METRÓPOLE / PÁG. C6

Renuncia a alta cúpula militar da Turquia

112 PÁGINAS (26 DE CLASSIFICADOS) * VER TABELA NA PÁGINA A3

ESTADO SOB CENSURA HÁ 729 DIAS. PÁG. A13

Pilotos do voo 447 falharam no acidente, diz relatório Relatório divulgado ontem por autoridades francesas informa que a tripulação do voo 447 da Air France – que caiu no Oceano Atlântico em 31 de maio de 2009, matando as 228 pessoas a bordo – errou ao fazer o avião ganhar altitude, causando a queda três minutos depois. Segundo o documento, no entanto, é impossível dizer se houve avaliação equivocada da tripulação, imperícia (por falta de treinamento) ou negligência. Ou todos os fatores juntos. Sondas fizeram indicações erradas de velocidade por vários momentos, antes de voltar a funcionar. METRÓPOLE / PÁGS. C1 e C3

Empresa de deputado e Dnit têm contratos de R$ 286,9 mi O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) pagou R$ 286,9 milhões, entre 2004 e 2010, a uma empresa de Djalma Diniz (PPS), então deputadoestadualde Minas. PelaConstituição, a administração pública não pode contratar empresas de deputados. O Dnit diz que a firma venceu licitação e que seu responsável não é o ex-deputado, mas o filho dele. NACIONAL / PÁG. A4

C2+música

NEY, 70 ANOS Ele não quer saber de tributos: quer é cantar, atuar e dirigir. PÁG. D6

NOTAS & INFORMAÇÕES

O ‘PAC’ que funciona O Programa de Aceleração da Corrupção é mais bem-sucedido do que o original. PÁG. A3

FABIO MOTTA/AE

AMANHÃ


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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 30 DE JULHO DE 2011

Nacional A13

Trabalho escravo atinge 16 Estados

Lista semestral de empregadores autuados pelo governo tem 48 novos nomes e inclui 2 prefeitos; Pará lidera a relação, com 62 casos Isadora Peron

O Ministério do Trabalho divulgou ontem a lista de empregadores autuados por exploração de trabalho escravo. Quarenta e oito pessoas foram incluídas no cadastro e 15 tiveram o nome retirado do documento. No total, a lista de trabalho escravo tem 251 empregadores, espalhados por 16 Estados diferentes. Segundo o site Repórter Brasil, dois dos novos integrantes da lista são mandatários municipais:JoséRolim Filho(PV), mais conhecido como Zito Rolim, é prefeito eleito de Codó (MA); e Vicente Pereira De Souza Neto

(PR) está à frente da Prefeitura de Toledo (MG). Essecadastroéatualizadoacada seis meses. Em dezembro do ano passado, 220 pessoas foram autuadas por manterem trabalhadores em condições análogas à escravidão. “As fiscalizações continuam ocorrendo;háinclusão defiscalizações que ocorreram em 2010, o que demonstra maior agilidade do Ministério do Trabalho e Empregoemanalisar os autosde infração, impor multas e analisar recursos. Talvez a baixa reinserção da lista seja a prova de que o cadastro é viável e importante, uma forma que tem dado resultado”, afirmou o chefe da

Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo, Guilherme Moreira. Segundo Moreira, as principais causas da manutenção do nome no cadastro são a não quitação das multas, a reincidência na prática do ilícito e ações em trâmite no Poder Judiciário. Aqueles que pagarem todas as pendências e não voltarem a cometerocrimeestarãoaptosadeixar o cadastro após um prazo de dois anos. Desde 2003, uma portaria do governo federal impede a concessão de empréstimos de instituições bancárias públicas a infratores que estejam envolvidos com a prática de trabalho escravo.

Regiões. Hoje, a maioria dos casosde exploração de trabalhadores ocorre no meio rural, principalmente nas Regiões Norte e Centro-Oeste. O Estado com maior ocorrência é o Pará, onde 62 empregadoresforamautuados.Emumaúnica fazenda, no município de Cumaru do Norte, a 749 Km de Belém, 154 trabalhadores foram libertados.O donoda propriedade, Adenilson Rodrigues da Silva, frequenta a lista do ministério desde dezembro de 2004. O segundo Estado na lista de ocorrências de trabalho escravo é Mato Grosso (25 autuações), seguido por Goiás, com 23 empregadores multados.

No Estado de São Paulo, houve apenas uma ocorrência. Em julho deste ano, um empregador da zona rural de Mogi Mirim, a 160 km da capital, foi autuado e 10 trabalhadores, resgatados. O Código Penal brasileiro caracteriza como trabalho escravo qualquerpessoaqueseja submetida ajornadas exaustivas ouque seja proibida de se locomover em razão de dívida contraída com o empregador. Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), trabalho escravo é “a coerção de uma pessoa para realizar certos tipos de trabalho e a imposição de uma penalidade caso esse trabalho não seja feito”.

Juiz decreta prisão de acusados pela morte de casal no Pará Decisão foi tomada depois que movimentos sociais pediram que magistrado fosse afastado do processo Carlos Mendes ESPECIAL PARA O ESTADO / BELÉM

O juiz Murilo Lemos Simão, da comarca de Marabá (PA), decretou na quinta-feira a prisão preventivadostrêsacusadosdamortedocasaldeambientalistasJosé Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo. No início da semana, entidades ligadas à luta pela terra no Pará haviam pedido o afastamento do juiz do processo. Representantes de movimentossociais,comoaComissãoPas-

caso, a fim de esclarecer as dúvidas iniciais que pairavam sobre a autoria do crime”. Os três acusados, o fazendeiro José Rodrigues Moreira, que seria o mandante do crime, o irmão dele, Lindojonson Silva Rocha, e Alberto Lopes do Nascimento, o Neguinho, tiveram suas fotos espalhadas por várias delegacias do interior do Pará e em Estados vizinhos. O relatório do Ministério Público aponta que os executores do crime agiram mediante emboscada, sem possibilitar defesa às vítimas, ficaram escondidos na mata próximo de uma ponte, atiraram nas vítimas, e “retiraram a golpe de instrumento cortante a orelha de José Cláudio, agindo, assim, de forma cruel”. Segundo o Ministério Públi-

● Justificativa

MURILO LEMOS SIMÃO

JUIZ DA COMARCA DE MARABÁ, NO PARÁ

“O delegado responsável pelo inquérito investigou melhor o caso, a fim de esclarecer as dúvidas iniciais que pairavam sobre a autoria do crime”

toral da Terra (CPT), alegaram que o juiz contribuiu para a fuga dossuspeitos,poisnegoutrêspedidos de prisão preventiva solicitados durante a investigação. De acordo com o juiz, o decretodeprisãosófoifeitoagoraporque “o delegado responsável pelo inquérito investigou melhor o

PORTO SEGURO Nunca foi tão barato viajar.

251

empregadores estão na lista elaborada pelo ministério

48

pessoas foram incluídas no cadastro desta vez

15

saíram da lista

1

caso foi registrado em São Paulo

‘Estado’ está sob censura há 729 dias

TARSO SARRAF–26/5/2011

Desdeodia29 dejaneirode2010, o Estado aguarda definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar informações da Operação Boi Barrica, pela qual a PolíciaFederalinvestigouaatuaçãodoempresárioFernandoSarney. A pedido do empresário, queéfilhodopresidentedoSenado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em 31 de julho de 2009, de publicar informações sobre aquela operação da PF. Nodia18dedezembrodomesmo ano, Fernando Sarney pediu desistência da ação, mas o Estado não aceitou e apresentou manifestaçãosustentandoapreferência pelo prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado.

Crime. Casal, morto a tiros, foi sepultado dia 26 de maio co, o motivo do crime seria a disputa por um lote de terra no assentamento Praialta Piranheira, em Nova Ipixuna, onde o casal morava. Na semana passada, a polícia do Pará indiciou os três suspeitos por duplo homicídio triplamente qualificado pela morte do

casal, ocorrida em maio. Eles estão foragidos e, se forem condenados, podem pegar, no mínimo, 30 anos de prisão cada um. José Cláudio e Maria foram mortos no dia 24 de maio, numa estrada próxima ao assentamento.

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Especialistas buscam a raiz da loucura de Breivik, o terrorista norueguĂŞs

Planeta

No triângulo dos corais Diversidade marinha na IndonÊsia estå muito acima dos padrþes. Påg. A28

PaĂ­s nĂŁo pode ‘ficar para trĂĄs’ na guerra cambial, diz Mantega Ao ‘Estado’, ministro diz que ĂŠ preferĂ­vel defender a indĂşstria a usar o câmbio para combater a inflação OministrodaFazenda,GuidoMantega,afirma que a recente intervenção no câmbio temcomoobjetivogarantiracompetitividade da indĂşstria nacional. Segundo o ministro,ogovernonĂŁovaideixarorealsefortalecer para combater a inflação, como defen-

demalgunseconomistas.“OdĂłlaraR$1,20 iacolaborartremendamente,masaĂ­ acabavacomaindĂşstrianacionalâ€?, disseoministro, em entrevista ao Estado. Para Mantega,“estĂĄtodomundobrigandopelosmercadosâ€?eumadasestratĂŠgiasdospaĂ­sesĂŠmani-

pular o câmbio. “NĂŁo podemos ficar para trĂĄs nessa brincadeira.â€? Mantega demonstraaindapreocupaçãocomacrisenosEUA. â€œĂ‰ bom que eles resolvam logo essa situação,queestĂĄcausandoinquietaçãonomundotodo.â€? ECONOMIA / PĂ GS. B4 e B5

GUIDO MANTEGA MINISTRO DA FAZENDA

“Se o bom senso nĂŁo prevalecer, eles vĂŁo acelerar a decadĂŞncia americanaâ€?

Especial Copa 2014

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França encara a Espanha nas Eliminatórias

Com a presença da presidente Dilma Rousseff e de dirigentes da Fifa, alÊm de vårios ex-atletas e jovens jogadores do Brasil, o sorteio das Eliminatórias do Mundial de 2014, no Rio, foi um evento frio e confuso, que só despertou suspense na definição do grupo da França. No fim, a campeã do mundo de 1998 conheceu seu adversårio mais poderoso: a Espanha. Anålise

âœ˝ Cristina Padiglione â—? PĂ G. X6

Sem empolgação. Plateia no auditório montado na Marina da Glória aparentava desânimo durante festa da Fifa

Plano Plurianual de SP prevĂŞ duas novas linhas de metrĂ´

EmpresĂĄrios vĂŁo Ă s compras na China

Palmeiras vence o AtlĂŠtico-MG por 3 a 2

rio em volta da capital. Essas sĂŁo algumas das metas do governo paulista atĂŠ 2015, com previsĂŁo de gastos de R$ 1 trilhĂŁo. METRĂ“POLE / PĂ G. C1

Com o dólar em baixa, as federaçþes de indústria organizam caravanas de empresårios brasileiros para a China em busca de måquinas, insumos e produtosacabados. ECONOMIA/ Pà G. B1

Agência Estado lança Broadcast 24 horas

HUMBERTO WERNECK O fim da escrita de mão Onde essa gente estå com a cabeça?, pergunta dona Alzira. Se fossem acabar apenas com os garranchos... O que vai ser dos cadernos de receitas?

MAC MARGOLIS O equilíbrio difícil O novo presidente do Peru, Ollanta Humala, assume um país em franca expansão econômica, mas ansioso por mudanças.

TIMOTHY GARTON ASH Pensamentos perigosos Caso na Noruega mostra que temos de elevar ao mĂĄximo a capacidade da internet para abrir mentes e diminuir ao mĂ­nimo sua tendĂŞncia a fechĂĄ-las.

Tempo na capital

METRĂ“POLE / PĂ G. C8

INTERNACIONAL / PĂ G. A21

VISĂƒO GLOBAL / PĂ G. A18

Projetar duas novas linhas de metrô, ampliar em 37 mil as vagas em presídios, construir 42 unidades da Fundação Casa e completar o anel ferroviå-

SOB CENSURA â—? HĂĄ dois anos o Estado estĂĄ sob mordaça judicial. Caderno especial explica o caso.

Sob pressão, Senado dos EUA vota plano para contornar crise O Senado americano, de maioria democrata, planeja votar na tarde de hoje uma nova proposta para elevar o teto da dívida dos Estados Unidos. Ontem, em votação simbólica,o planofoi derrotado na Câmara, dominada pelos republicanos, por 246 votos a 173. Se não houver um acordo atÊ terça-feira, os EUA poderão declarar a suspensão de pagamentos,pela primeiravez na história. INTERNACIONAL / Pà GS. A24 e A25

â—?

Os gols da festa ficaram no Twitter

Especial

DIDA SAMPAIO/AE

ESPORTES / PĂ G. E1

ECONOMIA / PĂ G. B12

23Ëš MĂĄx. 14Ëš MĂ­n. Chuva a qualquer hora 232 PĂ GINAS * VER TABELA NA PĂ GINA A3 TIRAGEM: 378.547 EXEMPLARES

Obras do Dnit superam custo em R$ 2,6 bi Obrasemandamentoadministradaspelo Departamento Nacional de Infraestruturade Transportesjå tiveram acrÊscimos de preços de R$ 2,6 bilhþes. Dos contratos, 14% têm aditivos acima do limite legal, de 25% do preço inicial. Segundo o Dnit, a maioria dos aditivos de maisde 25%atinge apenas serviços continuados, como manutenção de rodovias. NACIONAL / Pà G. A8

NOTAS & INFORMAÇÕES

A censura se eterniza Uma questĂŁo de princĂ­pio e uma anomalia institucional mantĂŞm este jornal sob censura hĂĄ dois anos. PĂ G. A3


A2 Espaço aberto %HermesFileInfo:A-2:20110731:

O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 31 DE JULHO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

Um socialismo por inventar ✽ ●

LUIZ SÉRGIO HENRIQUES

Q

ue a estrutura do mundo está atravessada por iniquidades entre indivíduos, regiões e nações, eis um fato autoevidente.Eque,comaglobalização–aqual,nasuaformapresente, poderia ser chamada provocadoramente como um “comunismo dos capitalistas” –, tenhamos entrado numa fase de extraordinário dinamismo, que complica a capacidade de compreender e agir com clarividência, eis um outro dado a desafiar a imaginação e as categorias com que nos habituamos a pensar as coisas. Digo isso a propósito das expectativasdepositadasna virada à esquerda que, pela via eleitoral,apartir daprimeiravitóriade HugoChávez,em1998,caracterizaram o quadro latino-americano,emespecialospaísesquebuscaram radicalizar a incorporação social e a superação do caráter excludente dos seus Estados nacionais. Enquadram-se nesse casoospaísesque têm afirmado, comretóricamuitasvezesincandescente, processos “bolivarianos”demudançainterna eunificaçãodo“Sul”domundoemchave anti-imperialista e terceiromundista. Num certo momento, antes dassublevações domundo árabe contra os respectivos despotismos e da instalação da crise no coraçãodospaísescentrais,pareciaresidir só na América Latina o motor da mudança num sentido antineoliberal e, mais do que isso, anticapitalista. A Venezuela, por exemplo, não só fazia ecoar umagônicoslogancalcado narevolução cubana – “Socialismo, pátria ou morte” –, mas também nosprometia umoriginal“socialismo do século 21”. Nessa promessa haveria uma novidade atraente. Talvez a retomada de algo como o projeto Allende, tragicamente derrotado no mundo de opções estreitas da guerra fria, mas que agora seria viávelnocontextodeumarevigoradademocraciavenezuelana,depois da sua derrocada “partidocrática” nas décadas finais do século passado. Os “de baixo”, enfim,pressionariamporsuaincorporação ao Estado, forçando a ampliaçãodesteúltimoereivindicando a diminuição das desigualdades e da insegurança econômica. Sem abdicar – pois nisso estariaocernedanovidade–dasliberdades formais, da livre competição partidária e da independência dos Poderes republicanos definidos constitucionalmente. Depois de mais de uma década deregime, nem o mais desatento

observador à esquerda deveria negar-seaexaminarostraçosdecisivos daquela experiência. O imponderável–adoençadomandatário – fez-se presente com a indiferença típica da natureza aos projetos humanos e, ao fazêlo, lançou luz direta sobre aspectos que cabe considerar como próprios do velho socialismo do século 20 e que, aliás, levaram à sua ruína. Entre eles, em primeirolugar, aextrema concentração depoderesnoExecutivo–nodirigente máximo – em detrimento do Legislativo, hoje fortemente limitado, apesar do pluralismo restaurado com a presença mais recente das oposições, e de um Judiciário intimidado, beirando a irrelevância. À luz da experiência, não convém desprezar autores de convicções democráticas (ou “democrático-burguesas”,paraevo-

Modelo bolivariano de Chávez move-se numa zona cinzenta de crescente arbítrio car o catecismo da falecida URSS), como, a título de exemplo, Javier Corrales e Michael Penfold. Em recente livro sobre a economia política da revolução bolivariana (Dragon in the Tropics, da Brookings Institution), eles destacam a natureza “híbrida” do regime: nem plenamente democrático nem desabridamenteautocrático.Movendo-se numa zona cinzenta de crescentearbítrio,emquemetodicamente se desmantelam os mecanismos de freios e contrapesos, o regime conseguiu mostrar-se eleitoralmente competitivo, vencendo a maioria das disputas e dos referendos a partir da Constituinte bolivariana. Uma “autocracia eleitoral”, dizem os autores, ainda que nas eleições legislativas de 2010 só a manipulação dos distritos tenha impedido que a maioria oposicionista se traduzisse em maioria de cadeiras. O“hibridismo”do regimeresponderia por uma possível fragilidadedasconquistassociais,ancoradas no boom petrolífero e no manejodiscricionáriodosrecursos da empresa estatal, ao que parece,institucionalmentedebilitada e operacionalmente esgotada. E, no aspecto político, um particularacentodeveriaserposto nos problemas advindos da obtenção do direito indefinido à reeleição presidencial, rompendo com tradição latino-americana mais do que secular de limitaçãodosmandatos,acomeçarpela Argentina de Rosas e o México da Revolução de 1910. Até um intelectual muito próximo de Chávez, como Noam Chomsky, parece ter dado passos no sentido de enfrentar o tema democrático no país boliva-

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

O poder pelo poder riano. A propósito de um caso particular – a prisão da juíza Maria Lourdes Afiuni em condições deploráveis, ela mesma às voltas com um câncer –, Chomsky escreveu carta aberta ao presidenteChávez,associando-seàspreocupaçõesdoCarrCenterparaPolíticas de Direitos Humanos, da Universidade Harvard. (No momento, a juíza está em prisão domiciliar, e seria proveitoso que entidades brasileiras da magistratura democrática se manifestassem a respeito desse e de outros problemas que têm passado em brancas nuvens.) Nãosó.ParaChomsky,conforme entrevista transcrita no respeitado jornal londrino The Observer, a concentração de poder sósejustificariaemsituaçõesextremas e temporárias, como guerrascivisouconflitosinternacionais de grandes proporções. Fora daí, tal concentração equivaleriaaescancararportasparao caudilhismo, essa particular patologia latino-americana. Feito este balanço sumário, uma conclusão é possível: quem nãoseconformacomainjustiçae vênademocraciapolíticanãoum obstáculo,masoinstrumentoprivilegiadodelutacontraessamesma injustiça – além, obviamente, de um valor em si –, tem algumas razões para desconfiar de que o socialismo do século 21 está rigorosamente por ser inventado. ✽ TRADUTOR E ENSAÍSTA, É UM DOS ORGANIZADORES DAS OBRAS DE GRAMSCI EM PORTUGUÊS SITE: WWW.GRAMSCI.ORG

✽ ●

GAUDÊNCIO TORQUATO

O

momento vivido pelos EUA, um dos mais tensos de sua contemporaneidade política, é fértil em simbolismos, não apenas pela possibilidade de a maior democracia do planeta vir a dar um calote nos credores externos (coisa ainda inimaginável), mas porque põe no centro do debate a missão dos atores políticos no seio das democracias modernas. Impressiona o fato de os Partidos RepublicanoeDemocrata,deixandodelado o papel desempenhado pelo paísnatexturadasnações,parecerem inclinados a continuar uma luta esganiçada pelo poder e a depositar na cesta do lixo a célebre lição de John Kennedy: “Não pergunte o que a América pode fazer por você, mas o que você pode fazer pela América”. Mesmoquesechegueaumacordo sobre o limite da dívida do governo federal (aumento além de US$ 14,3 trilhões), a crise aponta para o ocaso de uma era, na qual a representação política, ante a ameaça de catástrofe, esquecia divergências partidáriase se davaas mãos pela salvaguardadobemcomum.Ospartidos já não acendem aquela chamadecivismoquetantomaravilhou Alexis de Tocqueville, há 180 anos, quando o jovem advogado de 26 anos foi enviado pela

SINAIS PARTICULARES LOREDANO

Dois anos de mordaça

Françaparaestudarosistemapenitenciário estadunidense. Descrevia ele, na obra A Democracia na América: “Os grandes partidossãoinstrumentosquese ligammaisaprincípiosqueasuas consequências, às generalidades que aos casos particulares, às ideias e não aos homens”. A quedadebraçoentreasduasestruturas que se revezam no poder e o duelo verbal entre o presidente Barack Obama e o presidente da Câmara,JohnBoehner,mostram que a balança dos pesos e contrapesosestáquebrada.Apolíticarefunda-se sob a égide do salve-se quem puder. O altruísmo, valor tão enaltecido pela democracia norte-americana, cede lugar ao pragmatismo; o fervor social esfria,bastaveraavaliaçãonegativa queapopulaçãoconfereaopresidente Obama,aos dois partidos e aos líderes. Sob essa teia de ten-

Políticas de longo prazo, nem pensar. O Brasil é o território do ‘aqui e agora’ sões,osEUAingressamnasegundadécadadoséculo21comaimagemdeliderançanopaineldasdemocracias planetárias em franco processodedeclínio. Quaisas razõesparatalmudançadeparadigma? A principal causa aponta paraaalteraçãodafisionomiapolítica na sociedade pós-industrial. A política deixa de ser missão para se tornar profissão, desvio que ocorre na esteira do desvanecimentodasideologias.Ademais,o motoreconômico,principalmente na moldura da globalização, passou a movimentar a máquina política, como se aduz dos atuais embates que se travam nos EUA e na Europa. Ideários e escopos doutrinários perdem substância. Tornam-se apêndices da economia.Éestaquetornaviávelaeficácia de governos. Dito isto, cabe indagar: como essa “nuvem de disfunção” (é assim que alguns analistas veem a crisenorte-americana) afetapaíses como o Brasil? Ora, o fio desserolojáchegouaténóshámuito tempo. Ou o Brasil não tem nada quever coma práticadaintransigência, do impasse político e da polarizaçãoentresituaçãoeoposição? A lupa sobre nosso modelomostra que, poraqui, apolítica não dá trégua aos competidores. Aganapelopoderétãodesmesurada que os climas eleitorais se intercambiam. O panorama da eleiçãoseguinteédivisadotãologo a paisagem anterior acomoda os eleitos em seus cargos. Não há interstício entre uma urna e outra.Quemnãoenxerga,porexemplo,queoteatrodopleitode2012 já está montado?Ou que o palanque das eleições gerais de 2014 já passouaserusadoporummatreiro cabo eleitoral disposto a energizar o País? A presidente Dilma

nem bem completa sete meses e umalistadepré-candidatosjáestá pronta para disputar o seu lugar.Nosespaçosgovernativosde todas as instâncias, programas e projetos, mesmo os mais abrangentes, comportam ações de cunho eleitoreiro. Políticas de longo prazo, nem pensar. O Brasiléoterritóriodo“aquieagora”, fato que motiva o megaempresário Jorge Gerdau a fazer o alerta sobre, por exemplo, nossa política cambial: “Se é só pela visão financeira, do fluxo de capital, nós poderíamos deixar como está, porqueasituaçãoécômodaacurto prazo. Mas, numa visão estratégica de longo prazo, é preciso terpolíticasde desenvolvimento industrial, ter emprego de qualidade e não depender apenas de commodities e do minério”. Aausênciadeestratégiadelongo prazo deriva da efervescência eleitoral que impregna o ânimo dos conjuntos. Como nos EUA, por aqui não se abre espaço para abuscadeconsensoentreblocos de um lado e de outro a respeito detemáticasrelevantes.A disputaobedeceaumalógicaqueThomas Hobbes cunhou de política de golpes preventivos: A teme que B ataque e decide atacar primeiro,masB,temendoisso,quer seantecipar,fazendoqueA,pressentindo o golpe, tente reagir, e assim por diante. O ataque não abriga armas de destruição ideológica (até porque as ideologias estão no fundo do baú), mas movimentos táticos. Como se sabe, asclivagenspartidáriasdopassado, originadas em antagonismos declasses,perdemsentidonofluxo da expansão econômica e do consequente ingresso de parcelasdasmargenssociaisnocentro da pirâmide. Todas as siglas se assemelham e seus lemas, antes ancorados em escopos de cunho ideológico, agora ganham um uníssono eco: o poder pelo poder. O vezo socializante com que certasorganizaçõestentamselar suas identidades não se deve a uma convicção ideológica, mas às bolsas e aos pacotes destinados a colocar o pão na mesa das massas carentes. Nem mesmo nosso sistema de coalizãopartidáriaresisteà“política de emboscadas” que as entidades procuram engendrar para ganhar mais fatias de poder. Cada uma parece cobiçar o espaço da outra. A polis é um detalhe. As alianças, formadas ao sabor das circunstâncias eleitorais, não são firmadas sob a crença em ideários cívicos. O que há é um jogode conveniências.O contrato de hoje pode se desfazer amanhã. A cada dia, a seiva política escorre pelo ralo. ✽ JORNALISTA, É PROFESSOR TITULAR DA USP, CONSULTOR POLÍTICO E DE COMUNICAÇÃO TWITTER: @GAUDTORQUATO

Fórum dos Leitores CENSURA Dois anos

É demais! O Estadão “velho de guerra” ainda sob censura, já há 730 dias. Isso é uma verdade exposta para que todo o público sinta a apatia do Supremo Tribunal Federal sobre o caso. Formulo uma indagação: estarão também sob censura os srs. ministros? ANTONIO CARLOS DELFIM acdelfim@hotmail.com Presidente Prudente

Julgamento do mérito

Há 730 dias o jornal O Estado de S. Paulo continua sob censura, proibido de publicar notícias referentes à Operação Boi Barrica e ao envolvimento de Fernando Sarney. Por causa dessa decisão da Justiça estamos desinformados, perdemos o nosso direito à informação por causa da pró-

pria Justiça, que nos deveria garanti-lo. Se nenhuma instituição brasileira é a guardiã da Constituição, que garante a liberdade de imprensa, a quem recorrer, ao povo nas ruas? O que será que ocupa tanto assim os juízes para não julgarem o mérito da ação? A população quer saber, srs. juízes! ALBERTO NUNES albertonunes77@hotmail.com Itapevi

Celeridade processual

Quando é que vai valer para o Estadão o princípio da celeridade processual, previsto na Constituição da República? Seu artigo 5.º, no inciso LXXVIII, diz o seguinte: “A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. OSWALDO TREVISAN, professor de Direito Constitucional

oswaldotrevisan@gmail.com Cornélio Procópio (PR)

Ato de força

O Estado está sob censura há 730 dias sem que se julgue o mérito da matéria. O absurdo da situação revolta os seus leitores. Por isso gostaria de saber se fatos relativos à Operação Boi Barrica – ou seja, à atuação do empresário Fernando Sarney, filho dileto de José Sarney, presidente do Senado – poderiam ser relatados por pessoas que têm conhecimento das operações proibidas de ser citadas pelo jornal. Ou melhor, se tais fatos poderiam ser expostos, ou denunciados (se for o caso), e encaminhados para publicação no Fórum dos Leitores. Acredito ser possível, pois quem está sob censura é o Estado, e não os seus leitores, que têm o direito constitucional de levar ao conhecimento do público tudo o que sa-

bem e desejam contar, seja neste Fórum, seja na forma de matéria paga. Creio ser esse o caminho para arrombarmos as porteiras dessa violência contra o País, que tem a sua democracia manchada quando são atingidos os poderosos do momento. Lendo no jornal os fatos narrados por leitores, quem sabe, assim, os membros do Judiciário se apressem, pondo fim a esse ato de força que humilha e desonra o Brasil. DOMINGOS PEROCCO NETTO dperocco@ig.com.br Itatiba

Precedentes perigosos

Imaginemos os perigosos precedentes que essa decisão sobre a censura ao Estadão pode trazer para um país onde a democracia ainda engatinha. Lembremo-nos sempre – e não nos esqueçamos jamais! – dos livros queimados em Berlim. Lembremo-nos sem-

pre das valiosas conquistas democráticas. Lutemos pelas liberdades duramente conquistadas, inclusive as de expressão e de manifestação do pensamento. Lutemos para que a Constituição federal seja cumprida! ALEXANDRE PONTIERI apontieri@yahoo.com Brasília

LULA E A MÍDIA Propaganda oficial

Já que a imprensa séria não se vende, Lula, mais uma vez, defendeu a ideia de que se joguem rios de dinheiro em publicidade do governo, para se contrapor às notícias ruins, que, segundo ele, têm mais espaço na mídia. E chegou a declarar que o povo acaba sabendo apenas o que os outros querem que ele saiba. Mas faltou dizer: “E não apenas o que nós queremos que ele saiba”. Esta é a síntese, desde que Lula assumiu

o poder: entupir o povo com a imagem idealizada de um grande governo, que não se vai importar se a imprensa noticiar exatamente o contrário. Que se dane a ética! Que importa se é mentira? O que interessa é o que está plantado na cabeça do povo. Nisso ele tem razão. Apesar dos enormes escândalos em seus dois governos, ele conseguiu passar incólume por eles com astronômicos índices de aprovação popular. RONALDO GOMES FERRAZ ronferraz@globo.com Rio de Janeiro

Culpa da imprensa...

Lula insiste em culpar a imprensa pelos escândalos que brotam como “nunca antes neste país”. Por que a mídia lhe dá tanta cobertura? EMIDIO DIAS CARVALHO dias.carvalho@uol.com.br São Paulo


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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 31 DE JULHO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Editor-Chefe de Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

A censura se eterniza Uma questão de princípio e uma anomalia institucional aparentemente insanável mantêm este jornal sob censura há dois anos. Em 31 de julho de 2009, o Estado foi proibido de publicar notícias baseadas nas investigações da Polícia Federal sobre denúncias de ilícitos praticados pelo empresário maranhense Fernando Sarney, o filho do ex-presidente da República José Sarney, que toca os negócios do clã. As apurações da operação chamada Boi Barrica levaram ao indiciamento do empresário por lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha e falsidade ideológica. A decisão de amordaçar o jornal foi tomada, a pedido do investigado, pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF).

Ex-consultor do Senado, ele é amigo do presidente da Casa, José Sarney. Em 18 de dezembro de 2009, o primogênito do senador desistiu da ação. Se o Estado concordasse, ela seria arquivada. Mas isso não impediria o empresário de voltar à carga, com outro pedido idêntico de censura, se o jornal publicasse novas reportagens sobre o inquérito, o que fatalmente faria, quanto mais não fosse, com o material de que já dispunha. Havia ainda outro fator, mais importante, para a recusa: a questão de princípio mencionada na abertura deste editorial. Tratava-se – e continua a se tratar – do imperativo de obter da Justiça um pronunciamento definitivo sobre a aberração da censura prévia, que viola a Constituição, ao atentar contra a liberdade de imprensa e o direito à informação no País. No seu artigo 220 a Carta sustenta que “a manifestação do pensa-

mento (consagrada no artigo 5.º), a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição” e proíbe “toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”. A evidente intenção dos constituintes, passados apenas três anos do fim da ditadura militar de 1964, era erguer as mais sólidas barreiras possíveis contra iniciativas liberticidas da parte dos poderosos de turno. Aos redatores da Carta decerto não ocorreu que servidores públicos togados da ordem democrática brasileira poderiam, eles próprios, travar o livre curso da informação de interesse público. Era clamoroso o interesse público, no caso de uma gravação da Polícia Federal, autorizada pela Justiça e reproduzida por este jornal, em que o senador e Fernando Sarney acertam a nomeação do namorado da filha dele para um cargo no Sena-

O crédito habitacional

C

om recursos das cadernetas de poupança, foram financiados, no primeiro semestre deste ano, a mutuários e construtores, 236 mil imóveis no valor de R$ 37 bilhões. Bancos e construtoras já procuram novos mecanismos de captação de recursos para manter o volume de financiamentos e depender menos das cadernetas. O ritmo de concessão dos empréstimos e das vendas de imóveis em São Paulo, embora menor que o de 2010, continua muito acelerado. Entre os primeiros semestres de 2010 e 2011, o volume de crédito aumentou 55%, e o número de unidades financiadas, 26%. Comparando junho com junho, o número de unidades financiadas aumentou 14% e o crédito, 48%. Entre 2009 e 2010, o crescimento foi aparentemente maior – 65% nos empréstimos e 39% no número de unidades – mas isso se deve à recessão de 2009. Os indicadores de vendas do Secovi confirmam a expansão do setor. Nos primeiros cinco meses do ano, o número de lançamentos na capital superou o de igual período de 2010. A velocidade das vendas, medida pela relação entre a oferta do imóvel e a sua venda, atingiu 12,5% ao mês, contra a média histórica de 8% a 9%. O setor imobiliário beneficiase de uma conjuntura favorável – aumento do emprego formal e da renda, além da confiança dos trabalhadores na manutenção dos empregos.

Hora de protestar

Está na hora de os brasileiros começarem a protestar contra a administração petista, responsável por vários escândalos que agridem a ética e os nossos valores democráticos – sendo o mais grave e escandaloso o conhecido mensalão. Estamos vivendo uma grande crise ética. O dinheiro do contribuinte – que deveria ser empregado na educação, na saúde, na melhoria de estradas, portos e aeroportos, que estão sucateados, com graves consequências para a sociedade – vai para o bolso dos que atuam no governo, com a certeza da impunidade. Onde estão os nossos representantes no Congresso Nacional, para impedirem tanta desfaçatez? Onde está o PMDB de Ulysses Guimarães? Estão traindo o povo brasileiro, representando tão somente os interesses desse (des)governo e se locupletando.

Com regras estáveis, os problemas do setor passaram a ser de natureza operacional, como as dificuldades das construtoras para contratar mão de obra e os atrasos na entrega dos imóveis vendidos na planta. Fazem parte do passado as infindáveis pendências judiciais, envolvendo centenas de milhares de mutuários, em torno do cálculo das prestações. Hoje, a inadimplência é baixíssima – apenas 1,2%, nos contratos garantidos por alienação fiduciária – e está em queda, segundo dados do Banco Central e dos bancos privados. Isso ajuda a explicar por que os bancos

Dados preliminares indicam que o ritmo do crédito à casa própria continua muito forte financiaram 470 mil imóveis nos últimos 12 meses, um recorde histórico. Mas, com o aumento do preço real dos imóveis, as pessoas físicas tendem a ser mais cautelosas na tomada de empréstimos imobiliários. Em média, estima-se que 45% dos empréstimos concedidos pelos bancos neste ano foram tomados pelos construtores e 55%, por mutuários – a relação habitual é de 40% e 60%. As construtoras, que até aqui evitavam se endividar, parecem mais propensas a tomar empréstimos. Para manter o ritmo de expansão, ou as construtoras levantam recursos no mercado de capitais, via colocação de ações ou venda de recebíveis a companhias de securitiza-

JOSÉ WILSON DE LIMA COSTA jwlcosta@bol.com.br São Paulo

CRISE AMERICANA Papel pintado

Lá por 2006, nas páginas do Estadão, o sr. Paul Krugman alertava que os dólares dos títulos da dívida pública que o governo dos EUA estava vendendo à China, ao Brasil, aos emergentes, etc., eram apenas papel pintado, que tinha o mesmo valor do dinheiro de brinquedo daquele joguinho de crianças chamado Banco Imobiliário. Isso, dito dois anos antes do início da crise, foi visto como alarmismo. Agora parece que em 2 de agosto a profecia de Krugman se realizará. E o Brasil do PT terá acumulado papel pintado como nunca antes “neçe” país. LUIZ HENRIQUE PENCHIARI luiz_penchiari@hotmail.com Vinhedo

do. À época, por sinal, o Estado revelou a nomeação de apaniguados na Casa mediante mais de 300 atos secretos. O escândalo derrubou o seu diretor-geral Agaciel Maia, apadrinhado de Sarney e, como ele, pessoa das relações do desembargador Dácio Vieira – cuja imparcialidade não viria a ser reconhecida por seus próprios pares. O juiz entendeu, como pleiteava Fernando, que a divulgação de elementos de um processo protegido pelo segredo de justiça violava a privacidade e manchava a reputação do acusado, protegidas pela Constituição. Mas não é assim. Em primeiro lugar, o direito à informação prevalece sobre o direito à privacidade. Este preserva a vida particular dos cidadãos, mas não os atos eventualmente praticados em prejuízo dos cofres públicos. Esses, a sociedade tem o inviolável direito de conhecer. A imprensa, de mais a mais, não pode ser responsabilizada

por quebra de sigilos de justiça. Se os “donos” dos segredos os repassam a jornalistas, eles podem – ou melhor, devem – compartilhá-los com o público. Se a informação se revelar falsa, o órgão de comunicação responderá por isso. O que é inadmissível é o amordaçamento. “Não há no Brasil”, diz o ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal, “norma ou lei que chancele poder de censura à magistratura”. E há a lentidão da Justiça – a mencionada anomalia institucional. Há 14 meses, para se ter ideia, se espera que um ministro do Superior Tribunal de Justiça decida qual o foro adequado para o processo contra o Estado: a Justiça do Maranhão ou instância equivalente no Distrito Federal. E a Constituição é aviltada a cada edição deste jornal sem notícias sobre o que levou o filho do presidente do Senado a se tornar um caso de polícia.

A CUT contra o resto ção e fundos de investimento, ou levantam empréstimos nos bancos. Para os bancos, os empréstimos às construtoras têm a vantagem do retorno mais rápido, pois entre o lançamento e a entrega de um projeto imobiliário costumam transcorrer dois a três anos. Já as operações com pessoas físicas têm prazos médios superiores a 10 anos. É boa a oferta de crédito para a habitação na maioria das instituições financeiras, salvo naquelas em que os recursos das cadernetas já se aproximam do esgotamento. No primeiro semestre, com a alta dos juros, não entraram recursos novos nas cadernetas. O aumento de 3,3% nos saldos das cadernetas deveu-se basicamente ao lançamento de juros e da TR nas contas dos aplicadores. Para evitar o risco de escassez de recursos das cadernetas – que, estima-se, deverá ocorrer entre 2012 e 2013 –, os bancos propõem ao governo a criação de letras financeiras imobiliárias – papéis garantidos pelos bancos e pelos imóveis, semelhantes aos covered bonds, muito utilizados pelos bancos europeus para tomar recursos na crise de 2008. Os bancos acreditam que serão insuficientes as demais modalidades de captação, como os CertificadosdeRecebíveisImobiliários e os fundos imobiliários. Os emissores desses papéis discordam. O mais importante é acelerar as decisões sobreacaptação,paraevitarturbulências num mercado que tem mostrado enorme vitalidade.

“Que democracia é essa que cala a imprensa em benefício dos poderosos? Será contágio do vizinho venezuelano, amigo da corte tupiniquim?” TURÍBIO LIBERATTO / SÃO CAETANO DO SUL, SOBRE OS DOIS ANOS DE CENSURA AO ‘ESTADÃO’ turibioliberatto@hotmail.com

“Delenda censura! Monstro horrendo, informe, ingente (apud Virgílio, ‘Eneida’)” JAIR GOMES COELHO / VASSOURAS (RJ), IDEM jairgcoelho@gmail.com

T

endo perdido o acesso privilegiado ao Palácio do Planalto que tinha no governo Lula – até agora, a presidente Dilma Rousseff não recebeu seu presidente, Artur Henrique da Silva, para uma audiência exclusiva –, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) parece estar perdendo também o foco de sua atuação. Passou a atirar para todos os lados, querendo participar de todas as decisões importantes do governo, da reforma tributária à mudança do regime de operação dos aeroportos. Enquanto endurece seu discurso político, demonstra desatenção com as questões que afetam diretamente a vida dos trabalhadores, e vai ficando isolada dentro do movimento sindical. A direção da CUT queixa-se de não ser ouvida pelo governo, mas, quando tem oportunidade de se manifestar, dá sinais de não entender patavina dos problemas de cuja solução pretende participar, nem o impacto que a demora dessa solução tem sobre a vida das pessoas afetadas por eles, o que inclui os filiados às entidades sindicais que diz representar. Em entrevista ao jornal Valor, o presidente da CUT disse que, enquanto discute determinados temas com o secretáriogeral da Presidência da República, Gilberto Carvalho – designado pela presidente para os contatos com os movimentos sociais –, decisões são tomadas sem que ele seja ouvido. “Se for esperar acabar aquele tema em discussão na Secretaria-Geral

para entrar no outro tema, o assunto já foi resolvido dentro do governo”, disse. “Um exemplo: aeroporto.” Trata-se,de fato, de um ótimo exemplo do papel desempenhado até há pouco pelo governo e ainda agora pela CUT. A incapacidade do governo de enfrentar o problema da precariedade do sistema aeroportuário e da necessidade de sua modernização e expansão para atender a uma demanda que cresce exponencialmente já provocou situações dramáticas. O caos nos aeroportos observado nos últimos anos foi a demonstração mais nítida da incompetência

Posta para escanteio a entidade lamenta não poder dar palpite nas decisões de governo dogovernoparaproverumserviço adequado. A rapidez do crescimento do movimento nos aeroportos não diminuiu. “O mercado doméstico brasileiro é o que mais cresce no mundo”, apontou o relatório mensal da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) divulgado há pouco em Genebra. Entre janeiro e junho, o número de passageiros transportados no mercado doméstico cresceu 19% em relação ao primeirosemestrede2010, índice quase cinco vezes maior do que o crescimento do mercado mundial, de 4%. Sem reformas profundas na gestão dos aeroportos, seriam cada vez maiores os riscos de repetição, e com frequência cada vez maior, do caos aéreo, com-

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Senado dos EUA barra acordo da dívida

901

Impasse no Congresso norte-americano agrava crise da dívida federal e do déficit orçamentário ● “A economia americana está em frangalhos e dizem que o Brasil só cresce por causa do crescimento econômico mundial." JULIO LOPES

● “Obama vai protagonizar o primeiro calote da dívida soberana do governo dos EUA em toda a história,” ROBERTO FREITAS

HÁ 730 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Com o déficit crescendo, é matematicamente impossível retroceder, a menos que cortes dolorosos sejam feitos.” ED ANTONIO

prometendototalmenteacredibilidadedasautoridadesresponsáveis pelo sistema antes mesmo da realização dos grandes eventos internacionais previstos para os próximos anos. Emmaio,finalmente,o governoDilmatomouadecisãocorreta de transferir para o empreendedor privado a tarefa de fazer aquilo que o setor público, sobretudo a Infraero, não conseguiu fazer nos últimos anos, isto é, ampliar e tornar mais eficiente o sistema. O modelo para a concessãoda expansãoeda operação dos principais aeroportos doPaís– inicialmente,serãoprivatizadosos aeroportos deGuarulhos, Viracopos e Brasília – ainda não foi concluído e, para concluí-lo, o governo tem ouvido as partes interessadas. Umadessaspartes, poisaconcessão envolve questões trabalhistas, é o movimento sindical. Da reunião promovida pela Secretaria-Geral e pela Secretaria da Aviação Civil com sindicalistas,paradiscutiraquestãotrabalhista, Artur Henrique saiu ameaçandorecorreràJustiçacaso o governo insista em transferirparaosetor privadoocontrole da empresa que ampliará e operaráessesaeroportos–questãosobre a qual não tem credenciais para opinar. Pretendendo meter o bedelho nas grandes questões nacionais – deixando de lado as principais questões trabalhistas para outras centrais sindicais, que se mobilizampararealizarumatoconjunto em agosto –, a CUT ignora os interesses dos brasileiros, que precisam de aeroportos eficientes, os quais o sistema atual não conseguiu oferecer.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital: 3959-8500 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


H1

O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 31 DE JULHO DE 2011

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ESPECIAL

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SOB CENSURA

Desejo de censura Eugênio Bucci analisa o culto dos poderosos ao controle prévio da imprensa. PAGs. 7 a 9

DIDA SAMPAIO/AE

Dois anos de mordaça Desde 31 de julho de 2009 o Estado está impedido, por decisão judicial, de publicar reportagens que envolvam Fernando Sarney, filho do presidente do Senado

Sol na praça. Estátua que representa a Justiça em fim de tarde, na Praça dos Três Poderes, em Brasília

N

um País onde a liberdade de imprensa está garantida na Constituição, o Estado completa hoje dois anos submetido à censura judicial. A medida atende a pedido do empresário Fernando Sarney – filho do presidente do Senado, José Sarney –, alvo central da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investiga irregularidades, tráfico de in-

fluência e corrupção em ministérios e estatais. A decisão judicial contra o Estado partiu do juiz do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, Dácio Vieira, para quem o direito à privacidade prevaleceu sobre a liberdade de expressão – visão que não é compactuada por muitos no próprio Judiciário. Este caderno relata a cruzada do jornal nesses 730 dias para recorrer da decisão e reflete ainda o

debate – no Judiciário e na mídia – sobre a liberdade de imprensa. Uma das principais vitórias foi o afastamento do juiz – amigo da família Sarney – do caso, por suspeição. No caminho, o Estado rejeitou a desistência da ação, pelo empresário, preferindo aguardar, dos tribunais superiores – Supremo e STJ –, uma sentença definitiva que reponha a liberdade de informar, um pilar da democracia.


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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 31 DE JULHO DE 2011

sob censura

A longa luta pelo direito de informar Sob censura por decisĂŁo do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, o ‘Estado’ trava hĂĄ dois anos uma batalha jurĂ­dica para garantir o direito de decidir por si o que pode publicar; jornal aguarda sentenças definitivas dos dois tribunais superiores

H

É inacreditĂĄvel e inaceitĂĄvel essa situação de um jornal estar hĂĄ dois anos proibido pela Justiça de publicar informaçþes sobre determinado assunto, quando a Constituição brasileira ĂŠ absolutamente clara no sentido de que ĂŠ vedado qualquer tipo de censura, sob qualquer argumentoâ€?

oje faz dois anos que o Estado estĂĄ sob censura judicial. Foram 730 ediçþes que chegaram ao leitor proibidas, por um juiz do Distrito Federal, de veicular informaçþes sobre atividades do empresĂĄrio Fernando Sarney, filho do senador JosĂŠ Sarney, presidente do Senado. Informaçþes, cabe lembrar, que constam em relatĂłrios da PolĂ­cia Federal sobre a chamada Operação Boi Barrica, depois denominada Faktor. Num PaĂ­s regido, hĂĄ duas dĂŠcadas, por uma Constituição que protege solidamente a liberdade de imprensa, a medida, que atinge tambĂŠm seu portal na internet, continha uma ironia – a de vir Ă luz trĂŞs meses depois de o Supremo Tribunal Federal, em memorĂĄvel decisĂŁo, ter sepultado a Lei de Imprensa do regime militar, um entulho jurĂ­dico de 1967 que sobrevivia como corpo estranho numa sociedade livre e democrĂĄtica. Do acĂłrdĂŁo que a extinguiu vale extrair a lição definitiva do ministro Carlos Ayres Brito: “NĂŁo hĂĄ liberdade de imprensa pela metade ou sob as tenazes da censura prĂŠvia,

inclusive a procedente do Poder JudiciĂĄrio.â€? Nas 10 pĂĄginas deste caderno especial o Estado relembra esses 730 dias de luta contra uma sentença que considera equivocada e que pesa sobre a liberdade de imprensa de todos os jornais do PaĂ­s. TambĂŠm explica didaticamente (ver ao lado) o sentido de sua cruzada e a razĂŁo de levar o caso adiante mesmo depois da meiadesistĂŞncia do autor da ação. Abre espaço para as avaliaçþes de seu advogado nesse processo, Manuel Alceu Affonso Ferreira, e do ministro Carlos Ayres Brito, do Supremo Tribunal Federal – que se tem notabilizado por suas posiçþes em defesa da liberdade de expressĂŁo. O processo estĂĄ, desde maio de 2010, nas mĂŁos do ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça. Da parte do STF, o jornal aguarda tambĂŠm que julgue o mĂŠrito da ação e o prĂłprio sentido da censura judicial. Que os dois informem, ao PaĂ­s, que nĂŁo hĂĄ na lei norma alguma que permita a um juiz impor censura, de qualquer tipo, a um ĂłrgĂŁo de imprensa.

Contagem vai para a pĂĄgina A3 â—? A partir da edição deste cader-

no especial, o Estado passa a registrar a contagem diĂĄria do tempo da censura judicial que o atinge na seção FĂłrum dos Leitores, na pĂĄgina A3. Os interessados em conhecer o caso com mais detalhes – a origem e os desdobramentos jurĂ­dicos – podem acessar o endereço www.estadao.com.br/censura

estadĂŁo.com.br Entenda detalhes do caso. estadĂŁo.com.br/censura

CRONOLOGIA DO CASO

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JUDITH BRITO, PRESIDENTE DA ASSOCIAĂ‡ĂƒO NACIONAL DE JORNAIS

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WILTON JUNIOR/AE-28/8/2010

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O ESTADO DE S. PAULO

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DOMINGO, 31 DE JULHO DE 2011

ENTENDA A BATALHA JUDICIAL DO ‘ESTADO’ � Por que o ‘Estado’ foi censurado?

â—? Em que lei se baseou o juiz para censurar o jornal?

ca, ideológica e artística�.

Foi uma ordem do desembargador Dåcio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Ele atendeu ao pedido do empresårio Fernando Sarney, que queria impedir o jornal de publicar notícias sobre ele e sua família. As informaçþes, dizia ele, eram de uma operação da Polícia Federal que corria em segredo de Justiça.

No direito de Fernando Ă privacidade familiar. Esse direito estĂĄ no art. 5.Âş (inciso X) da Constituição, que considera “inviolĂĄveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoasâ€?.

â—? A liberdade de imprensa deve prevalecer sobre o direito Ă privacidade?

â—? Que operação era essa?

A PF apurava, na Operação Boi Barrica (depois denominada Faktor),esquemas supostamente ilegais dos quais participava Fernando Sarney. Segundo a polícia, ele se valia do poder de seu pai, JosÊ Sarney, presidente do Senado, para influir em contratos e preenchimento de cargos em ministÊrios e estatais. Na mesma Êpoca, junho de 2009, o jornal denunciou a existência de mais de 300 atos secretos no Senado, que tambÊm criavam cargos de forma ilegal. As notícias acabaram se cruzando. No dia 22 dejulhode2009,oEstadopublicou uma gravação da PF que trazia um diålogo entre o senador e seu filho. Os dois articulavam a nomeaçãode HenriqueDiasBernardes,namoradodafilhadeFernando, para um cargo no Senado.

â—? O que estĂĄ errado na decisĂŁo?

O Estado entende que a interpretação do juiz foi equivocada. A proteção da privacidade, em lei, limita-se Ă vida particular do cidadĂŁo. NĂŁo vale quando se trata de atos de interesse pĂşblico. Naquele episĂłdio estava sendo tramada uma ilegalidade – ignorar as regras do Senado para preenchimento de vagas. â—? Haveria outras razĂľes alĂŠm dessa?

HĂĄ uma outra, atĂŠ mais importante. O juiz ignorou o inciso IV do art. 5.Âş e todo o art. 220 da Constituição. O inciso diz que â€œĂŠ livre a manifestação do pensamento e a informaçãoâ€?. O art. 220 determina que “a manifestação do pensamento, a criação, a expressĂŁo e a informação, sob qualquer forma, processo ou veiculo nĂŁo sofrerĂŁo qualquer restriçãoâ€?. No seu parĂĄgrafo 2.Âş ele diz, com toda clareza, que â€œĂŠ vedada toda e qualquer censura de natureza polĂ­ti-

Esse ĂŠ o entendimento dos mais renomados juristas do PaĂ­s. A liberdade de imprensa e o direito de criticar autoridades e denunciar crimes e corrupção sĂŁo tidos como valores maiores, pilares fundamentais das democracias. A norma consagrada ĂŠ que a imprensa ĂŠ livre para publicar e, depois, responde na Justiça por denĂşncias injustas. Mas serĂĄ sempre uma cobrança a posteriori. â—? O que ĂŠ censura judicial?

É a que resulta da decisĂŁo de um juiz com base numa interpretação das leis. Difere da censura direta e autoritĂĄria, imposta pelas ditaduras. No caso do Estado, o juiz determinou que ele pagarĂĄ multa de R$ 150 mil a cada transgressĂŁo praticada. â—? A investigação da PF corria em segredo de Justiça. O que ĂŠ isso?

É um recurso que o juiz adota para impedir que os dados de um processo sejam divulgados (ver mais na påg. H6). � Por que o jornal ignorou esse

segredo e divulgou a Operação Boi Barrica?

Por entender, tambĂŠm, que o segredo de Justiça nĂŁo pode, de forma alguma, prevalecer sobre a liberdade de imprensa. Cabe ao juiz, ou ao advogado de um processo, manter uma informação em sigilo. Se ela vazou, o jornalista tem plena liberdade para publicĂĄ-la. â—? De que modo o jornal se defen-

deu no processo?

Primeiro, recorreu, no prĂłprio TJ do Distrito Federal, contra a decisĂŁo de DĂĄcio Vieira. Este derrubou o recurso. O jornal entrou tambĂŠm com mandado de segurança alegando a suspeição – visto que DĂĄcio era amigo pessoal dos Sarney. AlĂŠm disso, apresentou reclamação no Supremo Tribunal Federal, especificamente para derrubar a censura. Conseguiu que o juiz fosse trocado, mas a reclamação, no STF, foi negada. Por 6 votos a 3, o Supremo nĂŁo aceitou o argumento do jornal para anular a decisĂŁo de DĂĄcio Vieira, aprovada pelo TJ-DF. No entanto, na sentença o STF nĂŁo julgou o mĂŠrito da ação – a constitucionalidade, em si, da censura baixada sobre o jornal. â—? O empresĂĄrio desistiu do processo. Por que o jornal recusou e levou o caso adiante?

Havia duas razĂľes. Primeiro, o

Especial H3

empresĂĄrio sĂł pediu desistĂŞncia daquele processo especĂ­fico, mas nĂŁo o fez da forma prevista em lei. Assim, estaria em condiçþes de abrir novo processo, e conseguir nova ordem de censura. Cabe lembrar que ele continuou litigando contra o Estado. â—? Qual a segunda razĂŁo?

O Estado entendeu – e entende atÊ hoje – que o que estava em jogo não era só o seu direito de publicar denúncias. Era a própria existência da censura judicial, uma anomalia que vem crescendo na vida brasileira. O que o jornal espera Ê que o Supremo julgue o mÊrito e derrube a censura. Isso criarå uma jurisprudência para orientar tribunais de todo o País em casos semelhantes.

É incrĂ­vel que o presidente do STF, ministro Cezar Peluso, atĂŠ agora nĂŁo tenha se sentido na obrigação, como chefe do Poder JudiciĂĄrio, de determinar, por dever de ofĂ­cio, a correição desse processo e seu julgamento, para restabelecimento pleno da normalidade constitucional, hĂĄ dois anos vĂ­tima de uma violação inadmissĂ­velâ€?

â—? Qual ĂŠ, no momento, a situação do processo?

No STJ, ele estå nas mãos do relator Benedito Gonçalves desde maio de 2010. O ministro deve decidir se a competência para julgar o recurso do Estado Ê do TJ do DF ou do maranhense. O STJ poderia, ainda, desconhecer do pedido do empresårio e encerrar o processo. Caso ele não analise a questão da censura, o Supremo pode julgar o mÊrito da decisão e, eventualmente, derrubar a censura.

Laços. Festa de casamento em Brasília, em junho de 2009: ao lado de JosÊ Sarney, o juiz Dåcio Vieira (primeiro à esq.), sua mulher Angela, a mulher de Agaciel, Sanzia, Agaciel Maia e Renan Calheiros

MAURĂ?CIO AZĂŠDO, PRESIDENTE DA ASSOCIAĂ‡ĂƒO BRASILEIRA DE IMPRENSA

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EstadĂŁo no iPad: histĂłria completa da censura e da luta para derrubĂĄ-la

ABI/ DIVULGAĂ‡ĂƒO

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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 31 DE JULHO DE 2011

sob censura

Entrevistas

Advogado

Manuel Alceu Affonso Ferreira

✽ Como advogado de ‘O Estado de S.Paulo’, representa o jornal no processo para derrubar a censura

Dois anos sem julgar e manter, sob todos os aspectos, um jornal sob censura, demonstra, de um lado, o lamentável problema da morosidade da Justiça brasileira; de outro, a incompreensão que ainda persiste sobre o papel fiscalizador dos meios de comunicação em uma sociedade livre”

WERTHER SANTANA/AE

‘CENSURA JUDICIAL É FENÔMENO CRESCENTE’ Gabriel Manzano

Advogado lamenta que alguns juízes tenham assumido o papel de decretar um ‘psiu’ ao noticiário

A

OPHIR CAVALCANTE, PRESIDENTE DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL

censura judicial “é um fenômeno crescente” na imprensa brasileira, adverte o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira, que defende o Estado na luta para derrubar a censura que o atinge há dois anos. Numa comparação com o passado, quando o jornal enfrentou duros desafios para informar, ele adverte: “Não são mais os agentes do Executivo, ou os esbirros policiais, que decretam um ‘psiu’ ao noticiário e à livre opinião”. Em nossos dias, diz, “alguns equivocados juízes é que resolveram assumir esse lastimável papel”. Neste balanço de dois anos de peregrinação por tribunais, ele esclarece os dois pontos vitais da questão. Primeiro, que uma informação, se é de interesse público, deve prevalecer sobre o direito à privacidade. Segundo, que o direito de informar é intocável. Se houver eventuais abusos, o jornal que responda judicialmente. “Nunca a censura anterior à publicação, mas somente a solução indenizatória posterior à divulgação.”

De fato, a censura judicial é fenômeno crescente. Não são mais os agentes do Executivo, ou os esbirros policiais, que decretam um “psiu” ao noticiário e à livre opinião fazendo com que sejam substituídos – como o Estado vivenciou no passado que pensávamos morto e sepultado – pelos Lusíadas, pelas receitas culinárias ou pelo anúncio da Rádio Eldorado (“Agora é Samba”). Hoje, alguns equivocados juízes é que resolveram assumir esse lastimável papel, esquecidos de que no eventual confronto entre a liberdade jornalística e os direitos individuais da personalidade, a solução razoável e proporcional se acha no interesse público amparado pela informação. Ou seja, presente esse interesse – como ele indiscutivelmente se acha no caso Sarney –, ele e nenhum outro será o fator dominante, cedendo-lhe lugar à vontade egocêntrica do atingido. E, no caso das figuras notórias, notadamente dos políticos ou administradores públicos, isso ainda se torna mais claro e perceptível.

● Qual o seu balanço desses dois

e do STF na definição da sentença?

anos de luta para derrubar a censura ao ‘Estado’?

Melhor seria que a Justiça pudesse ser mais pronta e célere, principalmente quando se acham em disputa as liberdades públicas fundamentais, uma delas a de imprensa. O STF, por maioria, já debateu a censura que se abate sobre o jornal, preferindo, a meu ver erradamente, relegar a discussão de mérito para o futuro, quando algum outro recurso nosso ali chegasse. Quanto ao STJ, aguardamos o julgamento do recurso especial distribuído ao ministro Benedito Gonçalves.

Em boa parte sinto-me um pouco frustrado por não ter conseguido até o momento livrar o jornal da censura. Todavia, a um só tempo, confortado por algumas vitórias episódicas e igualmente certo de que, ao final de todas essas peripécias forenses, a liberdade de informação prevalecerá, goste ou não o adversário. ● Que vitórias foram essas?

Destaco a decisão do juiz de primeira instância, Daniel Felipe Machado, que recusou o pedido liminar de censura, assim como o voto do relator, desembargador Waldir Leôncio Lopes Jr., que decretou a suspeição do desembargador Dácio Vieira, do TJ-DF. Depois, o acórdão do STJ que condenou o suspeito ao pagamento das custas do incidente. E também o apoio jurídico, sob a forma de um parecer, dos professores Ives Gandra da Silva Martins e Arnold Wald.

RAIMUNDO PACCO /AE

● O sr. está otimista quanto ao futuro do caso?

Por tudo quanto li e ouvi no longo curso desse processo, estou convencido de que muitas autoridades judiciárias do Distrito Federal e dos tribunais superiores são sensíveis às agruras censórias do Estado. No STF, por exemplo, emocionaram-me as manifestações favoráveis dos ministros Ayres Britto, Celso de Mello e Cármen Lúcia, quando acolheram a reclamação que apresentamos contra o acórdão do TJ-DF. Infelizmente, prevaleceu o voto do relator, ministro Cézar Peluso, que, acompanhado pelo então presidente, Gilmar Mendes, recusou conhecimento à reclamação sem enfrentar o mérito do litígio. ● A censura judicial é um fenômeno

em ascensão na vida brasileira?

● A que atribui tanta demora do STJ

● O empresário Fernando Sarney

decidiu, tempos atrás, desistir do processo. Por que o jornal recusou?

A simples desistência requerida por Fernando Sarney, ainda que viesse a ser judicialmente homologada, segundo o Código de Processo Civil não o impediria de, a qualquer momento, propor nova ação contra o Estado, buscando tolher de novo o noticiário que lhe dissesse respeito. Por isso, exigimos que, ao invés de apenas desistir, ele renunciasse ao suposto direito invocado. Isso sim redundaria em uma decisão judicial de mérito – e apenas nessa hipótese a eventual nova ação ficaria inviabilizada. Mas, acima de toda essa justificativa jurídica, há algo ainda mais sério. O jornal não está apenas atuando por interesse próprio. Os seus leitores têm direito às informações que o jornal detém, mas foi impedido de publicar. Se é assim, como poderia o Estado abdicar de um direito que não é somente dele próprio, mas por igual do seu leitorado? ● O que se pode esperar, ao se adotar esse caminho de buscar uma jurisprudência no assunto?

O Estado fez muito bem em manter viva a lembrança da censura que sofre. Toda e qualquer questão vinculada à liberdade de imprensa

“Nunca a censura anterior à publicação, mas somente a solução indenizatória posterior à divulgação” “Figure-se a hipótese de um presidente da República que seja cocainômano. O vício enquadra-se na sua esfera privada. Mas essa intimidade é relevantíssima ao exercício das suas funções – o interesse público legitimaria a divulgação da reportagem”

é essencial à cidadania. Rui Barbosa ensinava que “a Constituição proibiu a censura irrestritamente, radicalmente, inflexivelmente”. A atual censura é medida de força lesiva ao Estado Democrático de Direito. E aquilo que a torna mais grave é o fato de sua imposição se dar pelo poder estatal do qual menos poderia se esperar uma ordem censória: o Judiciário. ● Sendo a liberdade de expressão tão claramente definida na Constituição, como explicar que haja juízes relativizando esse direito a ponto de, na prática, reintroduzir a censura?

O grande entrave é que alguns, diante de certas regras da legislação ordinária, às mesmas não dedicam uma leitura constitucional. Veja-se, para ilustrar, aquilo que no artigo 21 do Código Civil autoriza o juiz a, em nome da inviolabilidade da vida privada, impedir a notícia atentatória à privacidade. Ora, a leitura constitucional desse dispositivo obrigaria ao entendimento de que a “privacidade” tutelada pelo Código Civil não abrange qualquer tipo de privacidade, mas tão somente aquela irrelevante para o interesse coletivo. Figure-se a hipótese de um presidente da República que seja cocainômano. O vício enquadra-se, não há dúvida, na sua esfera privada. Mas essa intimidade, pelo cargo que ocupa, é relevantíssima ao exercício das suas funções – o interesse público envolvido legitimaria a divulgação da reportagem. Há mais: no mesmo preceito em que qualificou de inviolável a privacidade, a Constituição apontou o remédio aplicável sempre que essa inviolabilidade venha a ser desrespeitada, ou seja, “a indenização pelo dano material ou material decorrente de sua violação” (art. 5.º, X). Noutras palavras, nunca a censura anterior à publicação, mas somente a solução indenizatória posterior à divulgação.


O ESTADO DE S. PAULO

Ministro do Supremo Tribunal Federal

Carlos Ayres Britto

✽ Foi nomeado ministro do STF em junho de 2003. É vice-presidente da Corte desde abril de 2010

DIDA SAMPAIO/AE

‘NÃO HÁ LIBERDADE DE IMPRENSA PELA METADE’ Ministro afirma que censura prévia da imprensa é inconstitucional: ‘A imprensa tem de ter precedência’

● O STF derrubou a Lei de Imprensa em 2009. Quais foram os pontos principais da decisão?

O STF não deixou pedra sobre pedra da Lei de Imprensa. Não podia salvar nada. Tudo tinha de cair de uma só vez. O Supremo disse que a lei como um todo não foi recebida pela Constituição de 1988. Dissemos que havia incompatibilidade material insuperável entre a Lei de Imprensa e a Constituição. Porque há um entrelace de comandos na Lei de Imprensa que contamina todos os seus dispositivos. Há um tipo de relação de imprensa que não pode ser objeto de lei. O que diga respeito ao conteúdo da liberdade e à duração do exercício da liberdade não pode ser objeto de lei. É uma relação central ou elementarmente de imprensa. Só as relações laterais ou perifericamente de imprensa podem ser objeto de lei, como indenização, direito de resposta, regulação de faixa etária para audiência de certos espetáculos públicos e programas de rádio e TV. ● Frequentemente ocorrem choques entre o direito à liberdade de imprensa e o direito das pessoas à intimidade. Como resolver?

A Constituição tem dois blocos de relações jurídicas fundamentais, de liberdades fundamentais. O primeiro bloco estabelece o direito à manifestação do pensamento, à liberdade de expressão (artística, in-

telectual, científica e comunicacional) e o direito à informação. É o direito de você informar, o direito de se informar e o direito de ser informado. O segundo bloco é constituído pelo direito à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem. ● Quando ocorre um choque entre esses direitos, qual deve prevalecer?

O que acontece historicamente com esses dois blocos? Eles se encontram, se atritam, se antagonizam. Esses dois blocos têm a vocação para a fricção. Quando a sociedade é autoritária ou não civilizada em termos democráticos, essa sociedade sacrifica o bloco do direito à informação em prol do bloco do direito à intimidade. A consequência disso é a censura prévia. Se você disser que o segundo bloco (do direito à intimidade) tem precedência, matou a imprensa. Não tem como. Se você disser que o primeiro bloco (direito à liberdade de imprensa) tem precedência, o responsável por eventual abuso ou notícia inverídica vai responder (na Justiça, por exemplo, a uma ação de indenização). Não é pelo temor do abuso que se vai proibir o uso. É inevitável que aqui ou ali um jornalista incorra em abuso ou erro. Mas não há liberdade de imprensa pela metade. Pela metade, é um arremedo. É dar com uma mão e tomar com a outra. ● O sr. defende que a liberdade de imprensa é absoluta e plena.

Alguns ministros disseram para mim: não há direitos absolutos. Eu respondi: essa história de que não há direito absoluto é um mantra. Eu listei vários direitos absolutos. O direito de um brasileiro nato não ser extraditado é um direito absoluto. ● Então, a censura prévia da imprensa é inconstitucional?

É inconstitucional. Quem quer que seja pode dizer o que quer que seja. A imprensa tem de ter precedência. Se ela não tiver precedência, o que vai acontecer? Censura prévia. Eu fiz um estudo sobre os que estudaram a liberdade de imprensa, como John Milton, Tocqueville, Rui Barbosa, Thomas Jefferson. A conclusão a que se chega é: ou você diz que há dois blocos e a precedência é da liberdade de imprensa ou não há liberdade de imprensa. Se você quiser conferir precedência à honra, à intimidade, não há liberdade de imprensa. ● Como acabar com esses casos de censura prévia à imprensa?

De certa forma é compreensível que a nova ordem constitucional em matéria de liberdade de imprensa seja aqui e ali negada por alguns julgadores mais aferrados à cultura antiga. É da natureza humana esse apego a fórmulas passadas porque não são raras as pessoas que experimentam extrema dificuldade para enterrar ideias mortas. Elas vão buscar formol em quantidade nas prateleiras do seu espíri-

CELSO SCHRÖDER, PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS “Liberdade de imprensa e democracia se enlaçam umbilicalmente. Cortar esse cordão umbilical é matar as duas: a imprensa e a democracia” “Quando a sociedade é autoritária ou não civilizada em termos democráticos, essa sociedade sacrifica o bloco do direito à informação em prol do bloco do direito à intimidade. A consequência disso é a censura prévia”

to conservador. É natural isso. Porém, com o tempo, a nova ordem constitucional vai removendo obstáculos e se implantando em definitivo. Até porque comprovadamente liberdade de imprensa e democracia se enlaçam umbilicalmente. Cortar esse cordão umbilical é matar as duas: a imprensa e a democracia. ● O sr. considera necessária a edição de uma lei para regulamentar pontos específicos, como o direito de resposta?

Enquanto não houver lei a Constituição opera por si e contém parâmetros para orientar o juiz nos casos concretos. O que está acontecendo com a imprensa – infelizmente, depois que ganhou a sua plena liberdade – é a síndrome da insustentável leveza do ser, relatada no livro de Milan Kundera. No livro de Kundera, o que a mulher queria era se livrar do homem, mas ela temia pela reação dele. Ela conseguiu a liberdade. E qual a consequência? Ela estava mal, incomodada por estar bem. Quando você se livra dos problemas você paradoxalmente começa a se sentir mal. O que é insustentável é a leveza. Você se habituou ao masoquismo, gostou de sofrer. A imprensa vive nesse momento de transição, entre a decisão do Supremo e a formação de uma nova cultura jurisprudencial. A imprensa está vivendo um momento de inquietação que corresponde à síndrome da insustentável leveza do ser. A imprensa, ao invés de curtir a liberdade, está aturdida com a liberdade. As coisas vão se ajustar. É no tranco da carroça que as abóboras se ajeitam. Estamos formando uma nova cultura em termos de liberdade de imprensa. Mas a nova cultura deve caminhar no rumo que o Supremo traçou. Os obstáculos eventuais serão removidos à luz da decisão do Supremo.

DIDA SAMPAIO/AE

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A extinção da Lei de Imprensa autoritária, do período da ditadura, mas sem deixar nada no lugar, criou um vazio jurídico muito perigoso e que está levando o Judiciário a enquadrar as ações jornalísticas no crime comum. E aí cria-se um mundo que conhecemos: um Judiciário que judicializa a vida pública brasileira”

Mariângela Gallucci / BRASÍLIA

vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, afirma que a censura prévia à imprensa desrespeita totalmente a Constituição. Para ele, o direito à liberdade de imprensa deve prevalecer sobre direitos como intimidade e vida privada. “Quem quer que seja pode dizer o que quer que seja. A imprensa tem de ter precedência. Se ela não tiver precedência, o que vai acontecer? Censura prévia”, afirma o ministro do STF. “Quando a sociedade é autoritária ou não civilizada em termos democráticos, sacrifica o bloco do direito à informação em prol do bloco do direito à intimidade”, acrescenta Ayres Britto, para concluir: “Se você quiser conferir precedência à honra, à intimidade, não há liberdade de imprensa”. Relator no Supremo da ação que resultou na derrubada da Lei de Imprensa, em abril de 2009, Ayres Britto reconhece que há setores do Judiciário que ainda impõem a censura prévia. No entanto, ele acredita que isso vai mudar: “É da natureza humana esse apego a fórmulas passadas porque não são raras as pessoas que experimentam extrema dificuldade para enterrar ideias mortas. Elas vão buscar formol em quantidade nas prateleiras do seu espírito conservador”. A seguir, a entrevista concedida por ele à reportagem do Estado na última segunda-feira na sede do STF em Brasília.

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DOMINGO, 31 DE JULHO DE 2011


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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 31 DE JULHO DE 2011

sob censura

Segredo é só do juiz Manter sigilo é tarefa dos magistrados. Papel do jornalista é divulgar, dizem juristas Fausto Macedo

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guardiãodosegredo de Justiça é o magistrado que o decreta”, afirma o criminalistaAntonio Claudio Mariz de Oliveira. “A regra é a publicidade dos atos processuais que poderá ser quebradaem casosnecessários à defesada intimidadeou dointeresse público, como reza a Constituição. Nessas hipóteses o acesso ao processo fica restrito às partes e aos seus advogados, cumprindo ao juiz exercer fiscalização sobre essa restrição. No entanto, se o segredo processual tiver sido de alguma forma violado e as informações chegarem ao conhecimento do jornalista este estará, na minha opinião, absolutamente legitimado a transmiti-la.” Outros notáveis da advocacia pensamda mesmaforma.“A imprensa é livre para noticiar aquilo que entenda que é de interesse público, desde evidentemente que a informação seja verda-

Vivemos um certo vácuo legislatório. O problema todo é que por um lado há um princípio claro da Constituição que impede qualquer forma de censura; por outro lado, existem argumentos que também podem ser respaldados na Constituição e que podem garantir direito à privacidade, além da questão do sigilo processual em determinados casos”

deira”, pondera Sérgio Rosenthal.“Realmente,cabe àsautoridades incumbidas da investigação e da persecução penal zelar pelo sigilo das informações. O que nós temos visto nesses últimos anos é que informações têm sido vazadas por aqueles que deveriam preservar o sigilo. Acho absurdo querer criminalizar a conduta do jornalista. Pior aindaéquandoalegamqueinformações seriam vazadas pela defesa, o que é absolutamente ridículo na medida em que nenhum defensor tem interesse em que a intimidade de seus clientes seja exibida em rede nacional.” “Não há nenhuma obrigação legal de o jornalista ou do veículo para o qual ele trabalha resguardar o segredo, uma vez obtido acesso à informação”, assinala o promotor de Justiça Vidal Serrano Nunes Júnior, doutor em Direito Constitucional pela PUC São Paulo. “Qualquer lei que vier a estabelecer essa obrigaçãoéinconstitucional.Ainformação jornalística é essencial à opiniãopúblicalivre,pressupos-

to do sistema democrático.” Serrano destaca que “o dever de sigilo é imposto legalmente àqueles apontados como detentores do dever legal de preservalo, não só juízes, Ministério Públicoedelegados, comotambém os serventuários da Justiça”. A advogada Dora Cavalcanti considera que “a imprensa tem a obrigação de publicar aquilo que chega ao seu conhecimento”. Para ela, “o grande problema é a divulgação de escutas, porque se isso chegou ao jornalista já ocorreu a violação”. O promotor de Justiça Silvio Antonio Marques disse que “é evidente que quem tem que zelar pelo sigilo de documentos é a autoridade pública que os detém”. “De fato, muitos políticos têm interesse em que esses documentos comprometedores não sejam divulgados”, anota. Para o desembargador Paulo Dimas de Bellis Mascaretti, do TribunaldeJustiça deSãoPaulo, “o agente público é que tem a obrigaçãodeguardarosegredo”. “DecretadoosegredodeJusti-

ça, os únicos profissionais que podem ter acesso às informações protegidas pelo sigilo são osadvogados daparte,eventualmente o Ministério Público se funcionarnacausa,o juizeaprópria parte”, argumenta Luiz Flávio Borges D’Urso, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo. Discordância. Há também no meio jurídico os que defendema punição do jornalista. “Quando seretira umainformação doambiente sigiloso que foi imposto a um processo por decisão judicialpratica-se umatosemelhante a retirar uma coisa da casa de seuproprietário”,comparaocriminalista Arnaldo Malheiros Filho. “Quem divulga essa informação,especialmentesefuncionário público, comete o crime de violação de sigilo. Quem a adquire ou recebe e veicula pratica umaespéciede ‘receptaçãointelectual’ que não é, mas deveria ser punida também. Na verdade quemassimage estátirandoproveito do produto de um crime.”

Deveres. Mariz de Oliveira: ‘Não há nenhuma obrigação legal do jornalista ou veículo para o qual ele trabalha de resguardar o segredo’

FERNANDO LATTMANWELTMAN, CIENTISTA POLÍTICO

ENTREVISTA

Fernando O. Paulino, Coord. do Fórum de Direito de Acesso à Informação

‘Censura togada’ bloqueia o interesse público Especialista acredita que caso do ‘Estado’ pode criar uma jurisprudência que sirva para todos os veículos de comunicação Lucas de Abreu Maia

Um dos coordenadores do Fórum de Direito de Acesso à Informações Públicas, Fernando Oliveira Paulino considera importante que o Estado tenha mantido o andamento do processo da censura imposta desde 2009. Para ele, é fundamental “uma jurisprudência que sirva para todos os veículos”.

DIVULGAÇÃO

● O sr. acha que a liberdade de expressão e de imprensa são direitos consolidados no Brasil?

A sociedade brasileira tem percebido a importância da defesa da liberdade de expressão como

um instrumento para a consolidação da democracia. Tal percepção tem encontrado eco sobretudo no que se refere à compreensão da internet como um território livre de restrições prévias, mas ainda carece de aplicação em relação a restrições impostas por membros do Judiciário à atuação da mídia e ao baixo grau de diversidade no conteúdo de emissoras abertas de rádio e TV.

guns especialistas chamam de “censura togada” na qual juízes bloqueiam a veiculação de informações que são de interesse público e proselitismo religioso que se aproxima de discurso dogmático e demagógico. ● Como interpretar a censura ao ‘Estado’ em um contexto democrático?

Considero importante que o jornal tenha mantido o andamen● Quais são as principais ameato do processo para que o Judiças aos direitos democráticos? ciário avalie o mérito das deciExistem algumas tarefas penden- sões de primeira instância. A detes à liberdade de expressão no cisão na Suprema Corte é imBrasil. Uma delas se relaciona portante para que seja criada ao coronelismo eletrônico e ao uma jurisprudência que sirva paralelismo político com a forte para todos os veículos de comupressão e presença de parlamen- nicação. tares em concessões radiofônicas. Estudo recente demonstra ● A censura judicial tem repreque 21% dos senadores e 10% sentado uma das principais fondos deputados são concessioná- tes de coerção à imprensa. Como rios de emissoras de rádio e TV. combatê-la? Ademais, tem havido o que al- Num regime democrático sem-

pre haverá uma necessária compatibilização entre os direitos de personalidade e a liberdade de expressão. Contudo, assuntos que alcancem efeitos na vida em sociedade, baseados em recursos ou contratos públicos, devem ter mais condições de alcançar visibilidade do que os temas restritos à intimidade das pessoas comuns. Para que a transparência passe a ser um princípio exercido com mais vigor é fundamental que o projeto de lei sobre Direito de Acesso à Informações Públicas seja votado e implementado. ● Se o texto da lei for aprovado como está, quais devem ser as novas bandeiras defendidas por quem busca transparência?

Os interessados no tema devem fiscalizar e estimular cada órgão público para que ofereça suas informações online e com celeridade. É essencial mostrar que o Direito de Acesso não é tema exclusivo de jornalistas e historiadores. Na maior parte dos países, a aprovação da lei de acesso a informações públicas possibilitou investimentos nacionais e internacionais. Às vésperas de dois eventos esportivos internacionais como a Copa do Mundo e a Olimpíada, é essencial que a lei entre em vigor no Brasil.

Paulino. Preocupação com coronelismo eletrônico


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O ESTADO DE S. PAULO

Artigo

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ser tocado pelo Estado, por seus tentáculos físicos ou por sua linguagem. Isso significa que a liberdade gera fenômenos dos quais a lei não sabe o nome. Pretender instalar uma instância estatal bem aí, no caminho que liga formação da opinião e da vontade à expressão pública do pensamento, pretender fincar nesse ponto uma espécie de pedágio sob controle da autoridade, é como pretender que o ser humano se submeta a uma lobotomia política que vai aliená-lo da expressão de si em favor da expressão do poder. Isso tudo, que deveria ser simples e óbvio há pelo menos 150 anos, soa como heresia aos ouvidos do poder no Estado brasileiro. Tanto assim que existe, até hoje, entre as nossas autoridades, esse intenso desejo de censura, que é tanto mais arraigado quanto mais encontra complacência e mesmo apoio na sociedade. A ferramenta capaz de censurar – desde que revestida de alguma polidez – transmite à nossa gente a ilusão (tanática) de segurança. Essa força não tem lógica democrática, já se sabe, mas tem o seu imenso coração brasileiro. Enquanto esse traço persistir, a modernidade não será entre nós uma realidade material. A nossa censura é mais velha que a nossa imprensa

Recuperemos os princípios democráticos, aqueles mais elementares. A livre atividade jornalística é menos onerosa para a integridade física e moral dos cidadãos do que qualquer sistema que prometa enquadrá-la e controlá-la. Não há na história política moderna um único exemplo de intervenção estatal na imprensa que tenha favorecido a verdade, o direito à informação e o respeito à pessoa humana. Todas as tentativas de cercear a circulação de informações e de ideais – tentativas, é bom lembrar, que sempre são perpetradas em nome de propósitos elevados e humanitários – acarretaram danos muito maiores do que aqueles que qualquer reportagem caluniosa poderia produzir. Por isso é que se diz, com acerto, que os custos da liberdade de imprensa – e ela impõe custos sérios, às vezes dolorosos – são incomparavelmente menores do que os custos do cerceamento à liberdade de imprensa. A imprensa livre é tão essencial à democracia quanto o direito de voto, universal e secreto, a alternância no poder e a impessoalidade na gestão pública. Talvez seja ainda mais essencial, pois precede os demais. A despeito disso, ainda somos uma sociedade que gosta de saber que a vigilância anda por perto. Nisso, exatamente nisso, repousa a inversão de valores e de hábitos que nos conforta e ao mesmo tempo nos desconcerta. Um dos equívocos frequentes nesse campo é supor que apenas a imprensa boa, justa, equilibrada e bem comportada teria direito à liberdade. Essa crença nunca teve fundamento. A liberdade não é uma láurea escolar que, ao final do ano letivo, é conferida aos alunos que se comportaram direitinho. Lembremos que, nos Estados Unidos, quando a célebre Primeira Emenda foi aprovada, em 1791, vetando a elaboração de qualquer lei contra a liberdade de expressão, a imprensa estava longe de se pautar pela objetividade, pelo equilíbrio, pelos bons modos ou pela veracidade. Os jornais eram, no mais das vezes, instrumentos de contendas partidárias sanguinolentas, quase sempre selvagens. Eles só se tornaram noticiosos, informativos, comprometidos com os fatos e com o direito à informação do cidadão a partir de mudanças editoriais que começaram a ganhar corpo na primeira metade do século 19. A liberdade de expressão foi conquistada não para o noticiário virtuoso, mas para o debate das ideias, mesmo que fosse um debate virulento. A liber- †

Especial H7

O sigilo judicial é, em princípio, uma justificativa legítima para restrição do acesso e disseminação de determinadas informações. Quando se trata de assuntos de relevante interesse público, impedir a publicação corresponde à prática de censura, com a violação não apenas da liberdade de imprensa, mas do direito à informação de todos nós” PAULA MARTINS, DIRETORA DA ONG ARTIGO 19

JONNE RORIZ/AE-28/9/2009

O desejo de censura

pois, se uma mentira for publicada, o mentiroso arcará com as consequências. Será acionado judicialmente. Mas, em princípio, ele tem o direito de resolver o que publica e o que deixa de publicar, com total autonomia – e, dentro desse direito, reside a possibilidade prática de que ele publique uma informação falsa. Não é o desejável, mas, que pode acontecer, pode. A mentalidade segundo a qual o controle prévio Em forma de um risco permanente, aí está uma parcela do ajuda o debate público virou doutrina oficial preço que pagamos para viver sob o regime de liberdade. “Mas... e se alguém resolver ✽ ● devassar a intimidade da miforça, que impõe a cada um e à EUGÊNIO nha família, isso também pocoletividade uma renúncia à liBUCCI de?” berdade em nome do conforto Outra vez, a resposta iria dide quem governa, a vertente de zer que, num ambiente demodireita fala em nome dos bons á um gosto que vem de costumes, da decência, da discicrático, o risco existe. Aqui, longe na vida brasilei- plina e da hierarquia tradicionatambém, pelas regras do Estara: o gosto de mandar líssima. Se todo mundo quiser do de Direito, o agressor será os de baixo calarem a boca. A falar ao mesmo tempo, ela avichamado a responder pelos autoridade pátria se sente sa, isso aqui não vai funcionar, a abusos e poderá ser condenado mais segura quando tem ao al- “pouca vergonha” vai prevalecivil e criminalmente. Mas será cance da mão esse instrumen- cer. Por isso, o Estado, sempre chamado a posteriori, apenas a to cortante e bem pesado, esse ele, precisa pôr ordem na gritaposteriori. Na democracia, não facão material e plúmbeo cha- ria, precisa nomear uns poucos há como impor, previamente, mado censura. um filtro estatal entre a formapara falar em nome dos muitos É bem verdade que, em toda que serão calados. ção de um pensamento do cidaparte, os governantes dificuldão livre e a sua expressão púA essa altura, o leitor já percetam o trabalho dos repórteres e beu: olhando os regimes autoriblica. desqualificam os críticos. No tários do século 20, no Brasil e É nesse ponto que a tradicioBrasil, porém, há uma conside- no mundo, houve (e há) muito nal autoridade pátria se enfurerável desinibição nessa maté- da face “direita” nas tiranias dice: “Mas quem vai nos proteger ria. Mais que isso: a mentalida- tas “de esquerda”, do mesmo dos jornalistas?” de segundo a qual o controle modo que houve (e há) compoComeça a brotar, aí, o desejo prévio ajuda o debate público nentes da face “esquerda” nas ardente de interceptar o jornavirou doutrina oficial. Uma vez tiranias de direita. Nada de tão lista antes que ele cometa uma instalados no poder, persona- surpreendente: o que uma e oualeivosia. gens vindos da direita ou da es- tra abominam é a liberdade; o Demoremo-nos um pouco querda, tanto faz, irmanam-se que almejam é promover apemais nessa pergunta: “Quem é na defesa de formas variadas nas a sua própria narrativa, sufoque vai nos proteger?” Ela se de prevenção contra os males cando o resto. Por um caminho ampara na certeza atávica de causados pela imprensa. “O ve- ou por outro, as duas faces acaque há mais perigo na imprevito é apenas para os casos extre- bam chegando ao mesmo resulsibilidade da palavra do que na mos”, concedem os mais cor- tado: a prescrição da divergênviolência do ato que a reprime. diais. Todos parecem muito li- cia, do pensamento, da informaEla prefere a ordem do facão à berais, a não ser nas ocasiões ção independente, da expressão ordem do diálogo. Em síntese, críticas. Quando interpelados, autoral, da criaela prefere uma ordem que os cultores dessa mentalidade ção artística, da não funciona mais. O deseesgazeada, que aprendeu a se pesquisa – e da jo de censura vive de uma alimentar da supressão even- imprensa. ilusão tanática. O facão que tual da voz alheia, apressam-se ela idolatra já não nos resolNo Brasil, bem a enaltecer o princípio da liber- mais que em ouve, apenas nos atrasa. Sodade de imprensa. Estufam o tros países, a permente a liberdade de impeito, cerram os punhos e pro- manência dessa prensa protege os cidadãos clamam as maravilhas do jorna- mentalidade não contra os excessos da liberlismo. Em seguida, com a cir- é apenas um fadade de imprensa. Quanto cunspecção de quem tem juízo tor de distorção maior e mais efetiva ela for, de sobra, escudam-se numa conjuntural no para mais vozes e para mais providencial oração adversati- d e b a t e públicos, mais protegida esdas va. “A liberdade de imprensa é ideias. Aqui, ela tará a sociedade – estará sagrada, mas...” protegida contra os abusos inviabiliza a conIsso mesmo: mas. Liberdade, solidação históridos jornalistas e, principalmas. Nada no plano dos direi- ca da ordem demente, contra o abuso de tos é absoluto, eles dizem, em mocrática. Mais poder dos governantes. tom conciliador – e como dizer que uma distorÉ fato notório que jorque “nenhum direito é absolu- ção conjuntural, ela constitui ● Sob veto nais cometem calúnias e, muito” é mais ou menos como di- um anacronismo persistente. A Capa do Esta- tas vezes, esses crimes enconzer que “tudo é relativo”, nin- mentalidade autoritária mate- do de 1º de tram abrigo e recompensa na guém há de brigar por isso. Des- rializa uma força que nos pren- agosto de impunidade. Isso, contudo, se modo, o argumento adversa- de ao passado, à colônia e ao 2009 informa não deve justificar a adoção sistivo de que o poder não apenas atraso. Ao asfixiar a imprensa li- a mordaça que temática do controle prévio, a pode, mas deve impor limites vre, ela preserva a cultura do pa- se iniciava e cargo de autoridades judiciais ao direito à informação sai forta- trimonialismo, a opacidade na até hoje impe- ou administrativas, como se o lecido, ganha espaço, desenvol- gestão pública, o mandonismo, de o jornal de monitoramento da imprensa tura, como se fosse a própria re- o clientelismo e as formas mais informar sobre pela máquina estatal constituísserva do bom senso. ancestrais de corrupção. Para o caso Sarney se uma solução mais rápida, Tanto à esquerda como à di- ela, um ambiente em que cada mais prática e menos burocrátireita, fique bem claro. Quando um tem o direito de expressar o ca. A solução aqui não passa, procura cooptar a esquerda, a que bem entende, do modo que nem longe, pelo argumento de velha mentalidade reencarnada bem quiser, é o fim do mundo – autoridade. Aliás, não passa em metamorfoses ambulantes do seu mundo. Acontece que, nem mesmo pelo ato de autorilança mão de bordões contra para a consolidação da nossa dedade, qualquer que seja essa au“as elites”. Acusa os grandes mocracia, é fundamental que toridade. veículos jornalísticos de dete- seu velho mundo acabe. A lei e a Justiça – bem como o rem muito mais poder que os siEstado, de modo geral – têm o tes quase anônimos, menores, Só a liberdade seu papel sobre os efeitos do desses que qualquer pessoa nos protege exercício da liberdade de impõe no ar. Nesse discurso, a li- Aos olhos retrógrados, a liberprensa, mas não interferem berdade de imprensa é descrita dade de imprensa é um filme nem devem interferir no núcomo se fosse um privilégio, de terror, um falatório desorgacleo dessa liberdade ou no seu uma regalia para poucos, uma li- nizado e terrivelmente ameaçaexercício. Em termos mais direcenciosidade para endinheira- dor. Isso de qualquer jornal, setos: cabe à lei e à Justiça estabedos que acham que podem pu- ja ele grande ou pequeno, imlecer procedimentos que assepresso ou eletrônico, bom ou blicar o que bem entendem. gurem agilidade e efetividade Nesse ponto, vem o pulo da ruim, justo ou injusto, de bom nas responsabilizações dos culonça: se a imprensa livre é o lu- gosto ou de gosto duvidoso, ter pados por abusos – mas não caxo dos patrões, cuidemos logo o direito de levar a público o be a elas tocar no uso. O camide cerceá-la por meio do Esta- que julgar relevante, isso tem o nho que vai da formulação do do, que afinal de contas age em aspecto de um motim que supensamento à expressão públinome de todos. A liberdade de biu dos infernos para campear ca desse pensamento não pode imprensa é sagrada, mas – sem- a superfície da Terra. E sem peestar ao alcance do gesto da aupre o “mas” – o conforto da au- dir licença às autoridades. toridade. Diante disso, a velha mentalitoridade é mais sagrado ainda. É precisamente no leito desExiste também a face “de di- dade, tentando legitimar o arbíse caminho que mora aquilo reita” da mesma mentalidade trio, pergunta, sobressaltada: que costumamos chamar de li“Então se alguém quiser pu(que é invariavelmente a mesberdade de expressão. A palama, só muda o figurino). Se a blicar uma mentira, pode publivra liberdade designa o que, na primeira vocifera contra as “eli- car?” vida dos indivíduos, reside Mas o que para ela é um filme tes”, essa outra vem para silenalém do Estado e do poder políciar as massas – desgovernadas, de terror para a democracia é tico. Nessa perspectiva, liberdafalantes, crentes de que têm di- apenas a normalidade – a única de é o que está fora da esfera reito de se manifestar assim, normalidade possível. Pelos câdo poder. Ela não se realiza apesem pedir a autorização dos de nones democráticos, a resposta nas no espaço autorizado pela cima. Enquanto o autoritaris- é: sim, pode sim. Pode acontelei, ou posto por força de lei, mo em roupagem de ativismo cer de uma mentira sair impresmas principalmente no espaço social receita o igualitarismo à sa num jornal. Claro que, deque se situa além do que pode

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DOMINGO, 31 DE JULHO DE 2011


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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 31 DE JULHO DE 2011

sob censura Artigo (continuação)

Antes, ficava claro que a censura aos cidadãos, ditada pela polícia, era uma ofensiva do poder ditatorial. A censura a O Estado de S. Paulo é um triste momento em que a Justiça recusa a democracia e se alia aos velhos cacoetes da ditadura. Tudo aí se mistura, ninguém pode ignorar o poder do presidente Sarney”

● Do início

Quando, em setembro de 1808, a Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro diário a ser feito em terra brasileira, saiu do prelo, a engrenagem censória já havia se instalado por aqui

DIDA SAMPAIO/AE

MIRO TEIXEIRA, DEPUTADO (PDT-RJ) AUTOR DA AÇÃO AO STF PELA INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI DE IMPRENSA

dade não nasceu como um prêmio para o jornalismo cavalheiresco, mas como garantia para que o pensamento se expressasse, certo ou errado. A mesma coisa se observa na história da França. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, afirmou, em seu artigo 11: “A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem.” Sabese que, na Paris revolucionária, proliferavam os jornaizinhos artesanais, os “devezenquandários” que disputavam as opiniões do povo. Eram tantas publicações quantas eram as correntes doutrinárias. Quase não se falava, naqueles tempos, de jornalismo imparcial, ponderado, comprometido com o leitor. Atenção para isso: nos EUA e na França foi a conquista da liberdade que propiciou as condições para o desenvolvimento do que hoje chamamos de jornalismo de qualidade; não foi o jornalismo de qualidade que conquistou a liberdade. Passemos então ao caso brasileiro. Se na França e nos Estados Unidos as rupturas que instauraram a democracia principiaram por afirmar a liberdade, dando amparo à instituição da imprensa, o Brasil seguiu um curso bem diferente, marcado pelas inversões que até hoje nos definem. Não cabe aqui uma digressão histórica mais longa, mas uns poucos registros não podem ser omitidos. Vamos a eles. Entre nós, o Estado se formou numa transição negociada, cujo DNA trazia o apreço pelos andamentos lentos, graduais e seguros. É nessa transição que podemos verificar o modo pelo qual as inversões de valores – e das sequências

históricas – foram marcantes. Para esclarecê-la, tenhamos em mente uma frase do professor Luís Milanesi, que a registrou numa obra singela, um livro de bolso, O Que é Biblioteca (Editora Brasiliense, 1983): “A imprensa no Brasil nasceu depois da censura”. Ele tem razão. Entre a censura da velha ordem absolutista e a imprensa livre que prenunciaria a nova ordem democrática, não houve, no nosso caso, a abolição formal e material das formas de controle do poder sobre a informação e a expressão do pensamento. Essa abolição só viria em ritmo arrastado e essencialmente tardio. É sabido que d. João, ao fugir de Napoleão em 1808, trouxe para o Rio de Janeiro uma tipografia completa. Trouxe, mais que isso, o próprio aparelho de Estado, que fez implantar, como se fosse tipografia, na cidade do Rio de Janeiro. Acontece que, até aquele ano, o Brasil não era mais que uma colônia – e, sendo colônia, não tinha permissão para imprimir ou comercializar livremente qualquer publicação. Por isso, para organizar a nova era da sociedade carioca, a corte portuguesa, além das impressoras e do Estado, também trouxe consigo, em 1808, o expediente da censura. Mais exatamente, trouxe as três censuras que vigiam em Lisboa. Duas eram ligadas à Igreja Católica – Santo Ofício e Ordinário – e a terceira se vinculava ao poder civil, o Desembargo do Paço. Assim, quando, em setembro de 1808, a Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro diário a ser confeccionado emterrabrasileira, saiudoprelo, a engrenagem censória já se instalara por aqui. A propósito, a Gazeta era o diário oficial da Coroa. Não era propriamente um órgão de imprensa. As primeiras li-

nhas do jornalismo brasileiro de verdade, digno desse nome, nasceram poucos meses antes, na cidade de Londres. O mensário Correio Braziliense, dirigido pelo brasileiro Hipólito José da Costa (1774-1823), foi lançado em junho de 1808. Era redigido sem nenhuma censura, mas bem longe daqui. Sua circulação, entretanto, logo encontraria barreiras no Brasil. Alberto Dines e Isabel Lustosa recuperam essa história na edição comemorativa que organizaram em memória dos 200 anos do Correio para a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, em 2008. Hoje sabemos que, entre 1808 e 1822, circularam aqui 175 números do jornal editado por Hipólito da Costa. Mas, já em 1809, a Coroa vetou a entrada da publicação no Brasil. A proibição ao Correio era branda, porosa, nada rígida. Consta que, por baixo do tapete, d. João, leitor de Hipólito, financiou secretamente o jornalista brasileiro instalado na Inglaterra. A mesma Coroa que o proibia ajudava a bancá-lo. Esse fato – que aparece em vários autores, como Lilia Moritz Schwarcz, em Dom João Carioca: a corte portuguesa chega ao Brasil (Companhia das Letras, 2007, p. 35), e é mencionado, com boa base bibliográfica, em 1808, de Laurentino Gomes (Editora Planeta, 2007, p. 135) – vem realçar ainda mais as ambiguidades luso-brasileiras quando se trata de imprensa e de censura. Desde d. João, a autoridade por aqui imagina poder sustentar e silenciar a imprensa como quem regula a intensidade da chama de uma lamparina. Os censores que faziam ‘críticas construtivas’

É evidente que as ambiguidades do poder em relação à imprensa não são um monopólio lusitano. Elas são um traço geral do absolutismo – um traço que foi se esvanecendo à medida que a máquina estatal se democratizava e se arejava, com base no princípio da impessoalidade. Mas em toda parte houve censores, não apenas em Portugal ou no Brasil. Não apenas isso: os censores eram vistos como responsáveis por uma função rotineira, necessária e até respeitável. Em Ética, jornalismo e nova mídia (Editora Jorge Zahar, 2009, p. 45), o jornalista Caio Tulio Costa registra que Tobias Peucer, autor da primeira tese acadêmica sobre jornalismo – De relationibus novellis (Os relatos jornalísticos), defendida na Universidade de Leipzig, em 1690 –, defende a censura sem a menor hesitação: “É por isso que em algumas cidades se estabeleceu com uma prudente decisão que não seja permitido imprimir periódicos sem que estes tenham sido aprovados pela censura.” O historiador Robert Darnton, em um artigo na edição digital da Revista Brasileira de Ciências Sociais, O Significado Cultural da Censura, dá outros detalhes: “A censura não é sempre, e nem é em todos os lugares, um esforço constante para suprimir a liberdade de expressão. Para melhor ou para pior (em geral para pior), está ligada a sistemas de cultura e de comunicação. Sua história é um registro de conflito e acomodação num terreno sempre em mutação. Tem seus momentos de tragédia e de heroísmo, é claro, mas geralmente acontece em áreas nebulosas e obscuras, onde a ortodoxia se esbate em heresia e rascunhos fixam-se como textos impressos. Parte da história da censura leva à Bastilha ou ao Goulag, mas a maior parte pertence à zona crítica do controle cultural, onde o censor se torna um colaborador do autor e o autor um cúmplice do censor. Precisamos explorar essa zona para entendê-la; e, quando tivermos encontrado um caminho por entre essas brenhas, conseguiremos ter uma nova visão de eminentes monumentos como a Areopagítica e o Artigo Primeiro da Bill of Rights.” Não é por acaso que Darnton se refere à Areopagítica. O célebre discurso do poeta e publicista inglês John Milton ao Parlamento em Londres, em 1644, defendendo o princípio de que nin-

guém deveria ter de pedir autorização oficial para publicar um livro, inscreve um marco divisor na história das ideias. Ele funda o princípio de que, para imprimir, para publicar, para veicular uma opinião, não é necessária a licença do Estado. Darnton, ao lembrar o prestígio de que desfrutavam os censores, deixa ainda mais destacadas a ousadia e a magnitude da Areopagítica. Mesmo depois de John Milton, até pelo menos o final do século 18, o controle do poder público sobre o que podia ser noticiado não suscitava questionamentos. Ofilósofo Jürgen Habermas tambémtratadissoemMudançaestrutural da esfera pública (Editora Tempo Brasileiro, 1984, p. 36): “Ainda em março de 1769, um decreto sobre a imprensa baixado pelo governo vienense testemunha o estilo dessa práxis: ‘Para que os redatores dos jornais possam saber que espécies de decretos, dispositivos e outras coisas que ocorrem são adequadas para o público, essas notícias serão reunidas a cada semana pelos funcionários públicos e fornecidas aos jornalistas’.” O poder se incumbia de reger a circulação de notícias. Na mais pacata normalidade. Mas, entre nós, isso foi – isso veio – mais longe. A convivência afável, mais que pacífica, entre censura e criação literária encontrou terreno fértil na terra brasileira, passou pelo século 19 e se estendeu com folga até o século 20 – quando, em outros países, os fundamentos democráticos já estavam bem assentados. Em tese de doutoramento defendida em 2010 na Faculdade de Direito da UnB (Universidade de Brasília), José Eduardo Elias Romão apresentou um minucioso levantamento da história da censura no Brasil. Durante o Império, ela “foi exercida como uma forma de aprimorar a expressão artística e potencializar seu caráter pedagógico”. Tanto que, no Conservatório Dramático Brasileiro, entre 1862 e 1864, trabalhou como censor um jovem de pouco mais de 20 anos, chamado Machado de Assis. Até pelo menos a segunda metade do século 20, a boa convivência persistiu. Romão localizou documentos – reproduzidos na tese – que comprovam a postura colaborativa de dirigentes de redes de televisão com a Divisão de Censura e Diversões Públicas. Já no governo de José Sarney – após término oficial da ditadura –, sofremos a proibição do filme Je vous salue, Marie, de Jean-Luc Godard,que não pôde ser exibido no circuito comercial. Hoje, mesmo depois da promulgação da nova Constituição, em 1988, que afirmou ser “livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença” (artigo 5.º, inciso IX), e que vedou “toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística” (artigo 220, § 2º), a mentalidade censória resiste. A censura judicial contra O Estado de S. Paulo, que pesa sobre o jornal há exatos dois anos, está aí como prova disso. Não apenas ela. Devemos falar em censuras judiciais, assim mesmo, no plural. Dezenas de veículos sofreram com ela. Mesmo assim, os protestos, quando acontecem, são amenos. Vivemos uma espécie de banalização da mordaça togada, que vai se convertendo em uma rotina – incômoda, é verdade, mas, ainda assim, uma rotina. Novamente, o desejo de censura, que aparece como sintoma tanático nos de cima, encontra respaldo na passividade dos de baixo. Não deveríamos nos dobrar a isso. A censura judicial é uma violência injustificada, que nos aprisiona ao atraso. Não por acaso, ela quase sempre atende a reclamações de políticos ou de parentes de políticos. É uma violência a serviço do poder. Lembremos que o Estado se viu silenciado, como se sabe, em razão de um pedido do empresário Fernando Sarney, investigado pela Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, cujo processo corria sob sigilo de Justiça. O empresário pediu a proteção do que

chamou de privacidade familiar, que correria o risco de ser devassada pelas reportagens. De fato, naqueles dias, as investigações dos jornalistas Rosa Costa, Leandro Colon e Rodrigo Rangel vinham revelando os atos secretos do Senado, que distribuíam benefícios não publicados no Diário Oficial, além de detalhes da Operação Boi Barrica. No dia 31 de julho de 2009, Fernando Sarney conseguiu o que queria. A censura foi estabelecida. Os parlamentares, em lugar de tomar a iniciativa de prestar contas ao eleitor e repudiar a mordaça, passaram a investir contra os jornalistas.

● Século 18

Habermas cita decreto de 1769 do governo vienense sobre controle da imprensa: “Para que os redatores dos jornais possam saber que espécies de decretos, dispositivos e outras coisas que ocorrem são adequadas para o público, essas notícias serão reunidas a cada semana pelos funcionários públicos e fornecidas aos jornalistas”

● Vetado

No governo de José Sarney, após o término oficial da ditadura, foi proibida a exibição do filme Je vous salue, Marie (1985), de Jean-Luc Goddard, nas salas do circuito comercial do País

A ira censória dos homens públicos

Ainda no início de 2009, diante das reportagens que já desnudavam a obscenidade dos atos secretos no Senado, os políticos iniciaram sua campanha orquestrada contra a imprensa. Em mais de uma ocasião, o presidente do Senado assumiu a vanguarda dos ataques. No dia 12 de março de 2009, ele declarou que o Senado era o “boi de piranha” dos jornalistas. No segundo semestre, quando já estava demonstrado que não havia “boi de piranha”, mas Boi Barrica, com o Estado já sob veto, Sarney declarou que “a mídia” se convertera em “inimiga das instituições representativas” (frase que apareceu na primeira página de O Estado de S. Paulo do dia 16 de setembro de 2009). Para ele, o Senado dos atos secretos seria o guardião do interesse público – os repórteres, por sua vez, seriam os vilões. Difícil encontrar uma inversão de valores mais explícita. Até 1984, José Sarney sempre apoiou a ditadura militar, cujo partido, a Arena (Aliança Renovadora Nacional), ele presidiu. Em 2009, contrariado por manchetes sóbrias, de jornais que cumpriam dignamente seu papel, lançou mão de jargões esquerdistas para, no fundo, apregoar a velha sanha obscurantista. Com uma iro-

nia estapafúrdia: ao acusar “a mídia” de modo tão generalizante, ele atingia os negócios de sua própria família, cuja fortuna vem da mídia maranhense (rádio, televisão e jornal). Outros se somaram à causa de Sarney, outros o defenderam aos berros, mas deixemos isso de lado. Uma passagem, porém, não pode ser esquecida. Para carregar ainda mais o ambiente, no final daquele ano, o então presidente do STF, Gilmar Mendes, durante uma sessão de julgamento no órgão máximo do Judiciário brasileiro, pronunciou o inacreditável. Mendes comparou o caso da injustificada censura prévia contra o Estado ao episódio da Escola Base, de 1994 (conforme documento ou Estado de 11 de dezembro de 2009): “Se tivesse havido naquele caso (o da Escola Base, de 1994) uma intervenção judicial, infelizmente não houve, que tivesse impedido aquele delegado, mancomunado com órgão de imprensa, de divulgar aquele fato, aquela estrutura toda escolar e familiar teria sido preservada. E não foi.” Então é isso? Ele sugere que estaríamos bem se a censura judicial já existisse em 1994. Como mesmo? Para começar, a comparação não procede. São casos inteiramente distintos. Em 1994, uma pequena escola do bairro da Aclimação, na cidade de São Paulo, foi vítima de um in-


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O ESTADO DE S. PAULO

pre por meios lícitos. Se forem bem-sucedidos, os mesmos repórteres têm o dever de avaliar a pertinência de publicá-lo e, se decidirem publicar, sabem que se expõem ao risco de, a posteriori, serem chamados à Justiça. Mas, uma vez de posse de informações relevantes e de interesse público, o dever que lhes cabe é o de avaliar se não é o caso de publicá-las o quanto antes. Um acórdão sem medo da liberdade

● Ponto final

No dia 6 de novembro de 2009, o Diário de Justiça trouxe acórdão do ministro Carlos Ayres Britto, a quem coube dar a redação final à decisão do Supremo Tribunal Federal que sepultou de vez a Lei de Imprensa, do regime militar

Por tudo isso, nenhum poder de Estado pode interpor um filtro, uma instância intermediária entre as redações e a opinião pública. A existência desse filtro confina a democracia e apequena a sociedade. Essa lógica democrática, ainda bem, encontrou eco dentro do próprio Supremo Tribunal Federal. Ela está exposta com brilho num documento histórico do próprio STF. No dia 6 de novembro de 2009, o Diário deJustiçatrouxeoacórdãoredigido pelo ministro Carlos Ayres Britto, a quem coube dar a redaçãofinalà decisão da corte que sepultou de vez a antiga Lei de Imprensa (Lei Federal nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967). Nesse acórdão, a decisão que o Supremo tomara em abril, confirmando que a Constituição Federal de 1988 não dava recepção à Lei de Impren-

Segredo de Justiça é da Justiça. Não dos jornalistas

Há ainda outra alegação em favor da censura togada contra o Estado: a de que a investigação sobre as operações de Fernando Sarney, por tramitar em sigilo de Justiça, não poderia ser objeto do noticiário. A alegação é traiçoeira. Em princípio, tem um quê de sensata – uma vez que um processo sob sigilo de Justiça está sob sigilo exatamente porque não pode ser tornado público –, mas nos induz a erros. Para não cair nessa armadilha, é preciso desmontá-la. A imprensa, por definição, não pode ser posta como responsável por guardar sigilos que são da Justiça ou de qualquer outro poder. Parece um contrassenso, mas é assim mesmo que funciona: a imprensa é essencial à sociedade justamente porque, não sendo governada pelos Poderes do Estado, pode se empenhar, com independência, por descobrir o que, no âmbito desses Poderes, é guardado a sete chaves. É por isso – e só por isso – que ela é tão indispensável à democracia. É só por isso que ela é capaz de fiscalizar o poder. Pense bem o leitor: para que uma sociedade precisa de jornais livres se não para revelar segredos de interesse público? E o que é uma notícia se não um segredo revelado? Eis aí o núcleo da missão da imprensa: investigar e fiscalizar o poder, informando o cidadão. É nesse sentido que ela não ameaça, mas, ao contrário, dá sustentação à ordem democrática. Dá sustentação à paz social. Portanto, nada contra os segredos de Estado, mais comuns no Poder Executivo. Nada contra o sigilo de Justiça, próprio do Judiciário. Os segredos de-

vem ser respeitados por todos. Como regra. Devem ser também respeitados por jornalistas. Mas a função de guardá-los é das autoridades encarregadas. No caso do sigilo de Justiça, a função de guardá-lo cabe aos juízes, não aos repórteres. Quando o segredo de Justiça oculta dados de flagrante interesse público, os repórteres têm, sim, o dever de tentar desvendá-lo, sem-

● Erro

Em 1994, a imprensa brasileira publicou reportagens responsabilizando donos e funcionários da Escola Base por abuso sexual de crianças, a partir de declarações do delegado do caso, nunca provadas.

sa, ganhou um texto lapidar. Sobre a ilusão da censura prévia, o documento não deixa a mínima dúvida: “O pensamento crítico é parte integrante da informação plena e fidedigna. O possível conteúdo socialmente útil da obra compensa eventuais excessos de estilo e da própria verve do autor. O exercício concreto da liberdade de imprensa assegura ao jornalista o direito de expender críticas a qualquer pessoa, ainda que em tom áspero ou contundente, especialmente contra as autoridades e os agentes do Estado. A crítica jornalística, pela sua relação de inerência com o interesse público, não é aprioristicamente suscetível de censura, mesmo que legislativa ou judicialmente intentada.” Rejeitando a tese de que o Estado possa se interpor entre o cidadão e a informação que ele tem o direito de conhecer, Ayres Britto ensina: “Não há liberdade de imprensa pela metade ou sob as tenazes da censura prévia, inclusive a procedente do Poder Judiciário, sob pena de se resvalar para o espaço inconstitucional da prestidigitação jurídica.” (...) “O corpo normativo da Constituição brasileira sinonimiza liberdade de informação jornalística e liberdade de imprensa, rechaçante de qualquer censura prévia a um direito que é signo e penhor da mais encarecida dignidade da pessoa humana, assim como do mais evoluído estado de civilização.” Aos que creem que a “honra” – pessoal ou familiar – pode servir de justificativa para a restrição da liberdade, ele mostra que a instituição da imprensa precede “as relações de intimidade, de vida privada, imagem e honra”: “As relações de imprensa e as relações de intimidade, vida privada, imagem e honra são de mútua excludência, no sentido de que as primeiras se antecipam, no tempo, às segundas; ou seja, antes de tudo prevalecem as relações de imprensa como superiores bens jurídicos e natural forma de controle social sobre o poder do Estado, sobrevindo as demais rela-

ções como eventual responsabilização ou consequência do pleno gozo das primeiras.” Antes que alguém se levante a protestar, dizendo que, por esse raciocínio, o jornalista permanecerá sempre impune, mesmo depois de proferir barbaridades, é bom lembrar que a lei assegura e deve assegurar aos ofendidos os canais para que reclamem, em juízo, pelos danos que julgam ter sofrido. A responsabilização do jornalista, contudo, como já foi observado neste artigo, deve acontecer a posteriori. Ayres Britto vai além: “Primeiramente, assegura-se o gozo dos sobredireitos de personalidade em que se traduz a ‘livre’ e ‘plena’ manifestação do pensamento, da criação e da informação. Somente depois é que se passa a cobrar do titular de tais situações jurídicas ativas um eventual desrespeito a direitos constitucionais alheios, ainda que também densificadores da personalidade humana.” A Justiça, quando tarda, falha

Quem deseja a censura não teme apenas a liberdade do outro – teme a sua própria. Teme o Estado de Direito. Toda obstrução imposta pelo Estado para bloquear o acesso do cidadão à informação que ele tem o direito de receber é contrária ao Estado de Direito. Não tenhamos mais dúvida sobre o conceito de censura – e chamemos de censura o que é censura. Ela se caracteriza pela ação da autoridade estatal com o objetivo de, por um lado, interceptar a informação a que o cidadão tem direito e, de outro, impedir ainda que parcialmente a expressão do pensamento ou da criação artística, científica e intelectual. O censor só pode existir como deformidade da ordem legal: ele é o agente encarregado de ver o noticiário antes do cidadão, é alguém acima do cidadão, alguém com poder para decidir se o cidadão poderá ter acesso àquela notícia ou não. É verdade que, processualmente, a censura também se caracteriza por não admitir recurso. Por isso, alguns dizem que a censura judicial não é censura, pois admite recurso legal. Cuidado. Não é bem assim. Em matéria de imprensa, um recurso que demande um tempo maior do que o tempo da maturação da notícia é o mesmo que um não-recurso. Nesse sentido, mesmo quando formalmente admite alguma forma de apelação, como no caso da censura judicial, o veto da autoridade estatal pode ser, na prática, um veto contra o qual não caberá recurso algum, uma vez que o tempo necessário para o julgamento do recurso ultrapassará o tempo de permanência do direito específico àquela informação embargada. Se, durante esse prazo, a informação em questão perder sua relevância, a censura terá se caracterizado também por ser uma decisão arbitrária – e irrecorrível. Foi precisamente isso o que se deu com O Estado de S. Paulo. A censura que o silenciou persiste há dois anos. Não houve jeito. A Justiça, quando tarda, falha. A censura reduz todo cidadão a pessoa de segunda classe, à qual não é dado saber o que a autoridade estatal sabe. Aí, em lugar de tutelar direitos e bens jurídicos, o Estado passa a tutelar a própria liberdade da pessoa. Entra em cena o cidadão pajeado, inferiorizado e infantilizado, rebaixado em seu estatuto de sujeito de direito. Não pode haver tergiversação: as medidas judiciais que retiram por antecipação determinados assuntos da pauta do jornal atendem a todos os requisitos da mais elementar definição de censura. O mais preocupante, nos dias que correm, é que essas medidas não são espasmos isolados. O expediente da censura judicial ainda está aí. Não vitimou apenas o leitor do Estado. Feriu também, como já foi dito, os direitos de leitores de pequenos blogs pelo interior do País, assim como do leitor do Diário do

Grande ABC. O instrumento da censura togada, motivada quase sempre por interesses políticos, alcança publicações de todos os tamanhos e de todas as orientações ideológicas. Ela pesa contra todos nós, acima de todas as nossas diferenças. Combater mais essa forma de censura não é apenas uma bandeira do liberalismo. Combatê-la não é simplesmente uma reivindicação das empresas de comunicação. Combatê-la, hoje, é um dever cívico de qualquer cidadão, independentemente de preferências partidárias ou de ideários individuais. Superar esse anacronismo, que ainda encontra lugar em pequenos setores do Judiciário, é urgente e necessário tanto para um diário como O Estado de S. Paulo como para todos os pequenos blogs jornalísticos e para toda a cidadania. Para os movimentos sociais que se mobilizam pela democracia nos meios de comunicação, poucos temas deveriam ser mais prioritários. Alguns, desinformados, argumentam que a “censura privatizada” faz mais estragos no Brasil do que a censura judicial. Estão equivocados – e não é difícil demonstrar que estão equivocados. É verdade que a privatização da censura é algo que pode ocorrer de verdade – e ocorre. Basta que um grupo econômico desfrute da condição de monopolista da comunicação social – em especial no setor da radiodifusão – em uma dada região, para que ele adquira o poder – real ou apenas virtual – de bloquear o ingresso de determinadas pautas no debate público. Esse tipo de distorção, que já aconteceu e por vezes ainda acontece em regiões brasileiras, mesmo após o término da ditadura militar, pode dar ensejo ao exercício da censura por mãos privadas, normalmente sob o comando remoto de interesses instalados no Estado ou de interesses de oligarquias que mantêm relações promíscuas com o Estado. No entanto, à medida que avançam as tecnologias da era digital, com as redes interconectadas arejando a esfera pública, as possibilidades de eficácia da censura privada se enfraquece (a propósito, a própria censura judicial, ela também, sai enfraquecida, pois outros veículos acabam noticiando o que ela tenta impedir num único jornal). Por um caminho ou por outro, a pluralidade de vozes acaba alcançando o debate público, de tal sorte que, embora em tese ainda possamos falar de distorções como a privatização da censura, é cada vez menor a chance de que essa distorção resulte em censura efetiva. Ao mesmo tempo, a existência da possibilidade de censura privada, efetiva ou não, eficaz ou não, jamais deveria servir de salvo-conduto para uma autoridade tentar sufocar a livre comunicação na sociedade. Uma violência jamais deveria compensar a outra. Uma violência não deveria encorajar a outra. Para democratas de todas as orientações ideológicas, é tempo de refletir sobre as razões dissimuladas pelas quais ainda prospera o desejo de censura. Enquanto esse fantasma não for compreendido e deixado para trás, a democracia entre nós seguirá padecendo de gargalos primitivos. O espaço público sofrerá com isso, não duvidemos. Todos nós sofreremos. Enquanto houver lugar para o facão da censura, ficarão um pouco mais travadas, sombrias e submissas as dobraduras imperceptíveis da mentalidade brasileira.

✽ JORNALISTA, É PROFESSOR DA ECA-USP E DA ESPM

Especial H9

É uma faca de dois gumes. De um lado, o ativismo do Judiciário pode cobrir vácuos deixados pelo Legislativo. De outro lado, esse ativismo corre realmente o risco de, a pretexto de defender direitos individuais, acabar realmente prejudicando o coletivo. No caso da censura à imprensa, a situação claramente é uma restrição, sobretudo quando a Justiça não é rápida”

JOSÉ MURILO DE CARVALHO, HISTORIADOR E MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

AGDALENA GUTIERREZ/IFHC/DIVULGACAO

quérito policial espalhafatoso. Sem checar devidamente as ilações da autoridade policial encarregada das investigações, alguns órgãos de imprensa destruíram a reputação dos donos da instituição. Foi um desastre – e, desde então, o caso da Escola Base virou matéria obrigatória nos cursos de jornalismo. Já o noticiário de 2009 sobre a Operação Boi Barrica não pecou por prejulgamentos, por invasão de intimidade, e muito menos por destruição da honra de inocentes. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Mas esse não é o maior problema da declaração de Gilmar Mendes. O maior problema é o clamor que ela levanta pela censura. Para ele, os erros da imprensa no Brasil têm origem na falta de tutela: se os magistrados tomassem conta dos repórteres e dos editores, as falhas jornalísticas cessariam. E mais: “A estrutura familiar estaria preservada”! Será? Durante a ditadura militar, as arbitrariedades praticadas pelas autoridades policiais não eram sequer noticiadas e, nem por isso, famílias inteiras deixaram de ser destroçadas. Não foi por excesso de reportagens, mas exatamente por escassez, que a tirania promoveu tantos estragos contra a família brasileira. A imprensa não agrava, mas previne o arbítrio, ainda que cometa erros – como efetivamente cometeu no caso da Escola Base. A mais alta corte do nosso País deveria ser a primeira a nos ensinar essas lições.

DOMINGO, 31 DE JULHO DE 2011


‘‘ H10 Especial %HermesFileInfo:H-10:20110731:

O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 31 DE JULHO DE 2011

sob censura

Em dois anos, 17 casos de censura judicial no País Uma única decisão proibiu 84 veículos do Tocantins de noticiar uma investigação

hia também registrou um caso de censura judicial por suposta violação de segredo de Justiça por parte da rádio Liderança FM (de Jaguarari, a 409 km de Salvador). A emissora foi proibida de veicular notícias sobre o prefeito da cidade, Antônio Ferreira do Nascimento (PT), acusado de compra de votos. Diante da repercussão negativa da decisão judicial, a Associação dos Magistrados da Bahia (Amab) negou que a ação pudesse ser encarada como censura e afirmou que a mordaça visa garantir “o segredo de Justiça” no caso.

O Estado com o maior número de decisões judiciais contra a imprensa, contudo, é o Paraná. Nos últimos dois anos, ao menos dois blogs – Prosa e Política, de Fábio Pannunzio, e Blog do Esmael, de Esmael Morais – foram proibidos de veicular textos sobre políticos do Estado. Em setembro do ano passado, o então candidato ao governo paranaense, Beto Richa (PSDB), conseguiu que a Justiça suspendesse a divulgação de trêspesquisas de intenção de voto – feitas por Datafolha, Ibope, e Vox Populi. Embora a censura judicial represente um novo e forte obstáculo ao exercício do jornalismo no Brasil, o levantamento do Estado indica que outros fatores também ameaçam a liberdade de imprensa no País. No período analisado, foram registrados ao menos 17 casos de violência física contra jornalistas e cinco processos que, emboranãopedissemacensura deveículos de comunicação, visavam coibir o trabalho dos repórteres.

CASO 2 ❙ Tocantins

CASO 3 ❙ Bahia

CASO 4 ❙ S.J. Rio Preto

No dia 24 de fevereiro de 2010, o Diário do Grande ABC foi proibido de publicar reportagens que relacionassem o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), ao descarte de carteiras escolares. A censura só foi derrubada em dezembro.

Em setembro de 2010, liminar do TRE (foto) proibiu 84 veículos de divulgar notícias sobre investigação do Ministério Público envolvendo o ex-governador Carlos Gaguim (PMDB) em um esquema de fraudes em licitações.

Em março deste ano, o juiz da comarca de Jaguarari (BA) (foto) proibiu a rádio Liderança FM de divulgar informações sobre o processo movido contra o prefeito da cidade, Antônio Ferreira do Nascimento (PT), acusado de compra de votos.

Em junho, a PF fez várias prisões (foto) e indiciou o jornalista Allan de Abreu, do Diário da Região, por divulgar a operação Tamburutaca, que corria em segredo de Justiça e investigava um esquema de corrupção em Rio Preto.

ARI PALETA/DGABC

ADILVAN NOGUEIRA /JORNAL DO TOCANTINS

TRIBUNA DA BAHIA

Nos últimos dois anos, desde quefoidecretadaamordaçacontra o Estado, houve no Brasil ao menos mais 17 casos de censura judicial a veículos de comunicação, de acordo com dados da Associação Nacional de Jornais (ANJ), da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). Em sua maioria, a censura atinge jornais ou blogs de jornalistas na internet. Embora em muitos casos as sentenças ou liminares responsáveis pela mordaça tenham sido derrubadas em instâncias superiores, os veículos foram temporariamenteproibidosdedivulgar informações ou tiveram sua circulação restringida. A decisão de maior alcance ocorreu em setembro de 2010, quando84veículosdecomunicação do Tocantins – entre jornais, revistas, sites, emissoras de rádios e de TV – foram proibidos de divulgar notícias sobre uma

investigaçãodoMinistérioPúblico envolvendo o ex-governador do Estado e então candidato à reeleição Carlos Gaguim (PMDB) em um suposto esquemadefraudesemlicitações.Posteriormente, o próprio Gaguim solicitou a suspensão da liminar. Em fevereiro de 2011, um ofício encaminhado pela Polícia Federalao SuperiorTribunal deJustiça (STJ) revelou que a censura pode ter sido comprada. O caso está sendo investigado. Em São Paulo, ao menos outros dois veículos, além do Estado, sofreram recentemente com a censura judicial. O Diário do Grande ABC ficou proibido, entre fevereiro e dezembro de 2010, de divulgar informações sobre o suposto descarte, pela prefeitura de São Bernardo do Campo, de carteiras escolares em bom estado de uso. No interior, o Diário da Região, deSão JosédoRio Preto,responde desde 2009 a seis processos que tentam impedir o jornal de veicular reportagens sobre supostas irregularidades na Câma-

CASO 1 ❙ ABC

Lucas de Abreu Maia

Um dos fundamentos de uma democracia forte é a liberdade de imprensa. Pelo que sei sobre o caso do ‘Estado’, havia base factual para as denúncias. Acho (a censura) um déficit democrático. O Judiciário deveria proteger mais a imprensa e tomar o lado do cidadão, não o lado do político”

ra de vereadores da cidade. Em junho deste ano, o repórter do Diário da Região, Alan de Abreu, foi indiciado pela Polícia Federal,apedido doMinistérioPúblico, por violar o segredo de Justiça ao divulgar dados de escutas telefônicasdaOperaçãoTamburutaca, que investiga um suposto esquema de corrupção para driblarleistrabalhistascomopagamento de propina. Outros casos. Em março, a Ba-

GREGORY MICHENER, CIENTISTA POLÍTICO CANADENSE GUILHERME BAFFI /DIÁRIO DA REGIÃO

Artigo

O desafio da censura na América Latina Ao usar os recursos do Estado para silenciar as críticas, líderes eleitos democraticamente debilitam as instituições democráticas

✽ ●

CARLOS LAURIA

O

medo da violência do crime organizado, a limitação imposta por decisões judiciais de cunho político e as restrições decorrentes da utilização arbitrária de recursos estatais produziram um aumento substancial do grau de censura entre os jornalistas e os veículos de comunicação na América Latina. Em algumas regiões do México, onde o narcotráfico disputa território com as autoridades, a imprensa se encontra em estado de franca vulnerabilidade. Assassinatos, desaparecimentos, atentados a bomba, sequestros, ataqueseameaçasdetodotipoestão devastandoaimprensamexicana no país sacudido pela violência. Sem as garantias mínimas para o exercício de sua função, repórteres e publicações recorrem à censura com frequência cada vez maior.Consequentemente,o debatesobretemas deinteressepú-

Na Argentina, ‘Clarín’ enfrenta cruzada do governo Kirchner Ariel Palacios

FABIO MOTTA/AE-20/7/2011

CORRESPONDENTE / BUENOS AIRES

Jornais e canais de TV argentinostêmenfrentadoescutatelefônicadejornalistas,cortedapublicidadeoficialnosmeiosdecomunicação não alinhados ao governo, piquetes de sindicatos aliadosdeCristinaKirchnernaspor-

tas das gráficas dos jornais para impedir a saída de exemplares, além de blitze injustificadas da Afip,a Receita Federalargentina. Entretodososmeiosdecomunicação não alinhados, o governoKirchnerescolheucomoprincipal alvo o jornal Clarín, que entre 2003 e 2008 havia sido seu aliado. Segundo o governo, o jor-

blico fica truncado, a sociedade desinformadaea saúdeda democracia se deteriora. Em Honduras, foram assassinados 12 jornalistas desde março de 2010, numa onda de violência sem precedentes contra a imprensa que se agravapelafaltadereação dasautoridades e pela impunidade. Mas a violência não é o único fator que fomenta um clima propício à censura. A crescente intolerância das autoridades do Equador às críticas a sua gestão expressas na mídia levou o governo do presidente Rafael Caldera a adotar medidas que tendema promoveraautocensura. A recente sentença contra o jornal El Universo – três de seus diretores e o editor de opinião condenados a três anos de prisão eaopagamentodemultasemum total de US$ 40 milhões – marcou um grave retrocesso para a liberdade de expressão. O presidente Correa está utilizando leis

nal, com ruralistas e empresários, está por trás de suposta “tentativa” de golpe de Estado. Nestor Kirchner – considerado até sua morte, em outubro passado, o verdadeiro poder no governo da mulher – desencadeou uma campanha para convencer a opinião pública de que a dona do jornal, Ernestina Herrera de Noble, era protagonista do sequestro de bebês de desaparecidos da ditadura. Seus filhos adotivos, Marcela e Felipe, segundo o governo, eram filhos de

obsoletas para calar a imprensa que critica sua gestão. Na Venezuela, a campanha de assédio sistemático movida pelo governo do presidente Hugo Chávez contra a imprensa privada levou a uma revogação de licençasderádioetelevisãoeàperseguição de jornalistas críticos, em um clima de forte intimidação cujo objetivo é a repressão da dissensão. Ao utilizar de forma arbitrária os recursos do Estado para silenciar as críticas e controlar o fluxo das informações, líderes escolhidos democraticamente – como os presidentes Chávez e Correa – estão debilitando as instituições democráticas. E suas campanhas de desprestígio contra os críticos visam a minimizar a influência da imprensa. ✽ JORNALISTA, COORDENADOR PARA A AMÉRICA LATINA DO COMITÊ PARA PROTEÇÃO DOS JORNALISTAS, NY

casais torturados e assassinados pelo regime militar. Exames de DNA, no entanto, finalmente comprovaramque osirmãosNobles – nascidos oficialmente entre março e julho de 1976 – não são os bebês sequestrados. Enquantoosmeiosdecomunicação críticos sofrem pressões, aliados de Cristina Kirchner começaramacomprarcanaisdeTV, jornais e rádios. A oposição diz que o governo está fortalecendo sua própria estrutura de comunicação com empresários aliados.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 1 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Editor-Chefe de Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

PAC continua devagar Pelo menos uma boa notícia foi apresentada no primeiro balanço do PAC 2, o Programa de Aceleração do Crescimento preparado para o governo da presidente Dilma Rousseff. A novidade é subproduto do escândalo no Ministério dos Transportes, mas a decisão valerá para licitações de obras de todos os setores. As concorrências serão baseadas em projetos executivos e não mais em projetos sumários, como ocorreu durante anos. O objetivo é limitar o recurso a aditivos contratuais com mudanças de prazos, de preços e até do alcance de cada projeto. Entre 2007 e 2011, os aditivos em contratos celebrados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) chegaram a R$ 3,7 bilhões, 9,1% do valor total contratado, segundo infor-

mou o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. Dentro da lei, no entanto, os acréscimos poderiam ter chegado a 25%, comentou o ministro. Ele esqueceu de comentar se as licitações e contratos estavam dentro do espírito da lei. Parece haver no governo alguma dúvida a respeito do assunto: todas as licitações do setor de transportes foram suspensas no fim de junho, por determinação da presidente, e projetos em licitação ou mesmo já licitados estão sujeitos à revisão. Também estas informações são mencionadas no documento sobre o PAC. A promessa de moralização e de maior vigilância dos contratos foi a única novidade importante apresentada no balanço pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Ela manteve o tom mais otimista – quase triunfal – de sua antecessora na gerência do PAC, a ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff. Na gestão

anterior, segundo ela, o PAC ajudou a cumprir os objetivos de investimento, crescimento econômico e geração de empregos fixados em 2007. O exagero é evidente: a execução dos projetos foi sempre muito deficiente. Uma boa indicação desse mau desempenho é a execução do chamado PAC orçamentário, aquele dependente do Orçamento-Geral da União: dos R$ 96,4 bilhões autorizados para os quatro anos, só foram desembolsados R$ 58,7 bilhões, 60,9% do total. Mais de metade dos desembolsos (54,7%) foi feita com restos a pagar, sobras de um exercício para o outro. A maior parte dos pagamentos feitos neste ano, na execução do PAC orçamentário, teve a mesma fonte, como já foi mostrado no dia 4 de julho numa análise baseada em números do Siafi, o sistema de informação financeira mantido pelo governo. A análise foi divulgada pela organi-

zação Contas Abertas e diverge do relatório oficial divulgado na sextafeira. Quanto ao crescimento econômico entre 2007 e 2010, é obviamente atribuível à expansão do mercado interno, aos investimentos privados e à elevação das exportações. O governo foi, sobretudo, um entrave, exceto pela transferência de renda a milhões de famílias pobres e à elevação real do salário mínimo. O investimento das estatais dependeu quase exclusivamente da Petrobrás e esse quadro pouco deve ter mudado neste ano. No material divulgado na sexta-feira, os números são agrupados ou detalhados de acordo com o interesse do governo. Será necessário um exame mais trabalhoso antes de uma avaliação completa dos dados. No entanto, mesmo o discurso otimista apresentado pela ministra do Planejamento foi insuficiente para disfarçar certos pormenores nada

auspiciosos. Segundo o documento, só 74% dos investimentos previstos deverão ser concluídos até 2014. Serão terminadas mais tarde, entre outras obras, a Hidrelétrica de Belo Monte, o complexo petroquímico do Rio de Janeiro e a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste. Embora montados para transmitir uma visão otimista, os quadros do relatório são pouco animadores. Segundo o documento, a “execução global” do programa, no primeiro semestre, alcançou o valor de R$ 86,4 bilhões. Desse total, R$ 35 bilhões corresponderam a financiamentos habitacionais. Outros R$ 3 bilhões são do programa Minha Casa, Minha Vida. Somados estes dois, chega-se ao equivalente a 44% do total “executado” em seis meses. É bom financiar habitação, mas eliminar gargalos de infraestrutura é outra coisa. O PAC continua muito devagar. Que tal uma faxina para acelerar?

O CNJ e a impunidade dos juízes

Sistema elétrico precário

Conselho Nacional de Justiça (CNJ) tomou mais uma decisão moralizadora para acabar com a impunidade de magistrados envolvidos em irregularidades. Desta vez, o órgão responsável pelo controle do Poder Judiciário baixou resolução fixando em cinco anos o prazo de prescrição para a abertura de processos disciplinares, contados a partir do momento em que os tribunais tomaram conhecimento dos fatos. Cerca de 3,5 mil procedimentos administrativos tramitam no CNJ. Desse total, 630 tratam de problemas disciplinares envolvendo magistrados. Entre abril de 2008 e dezembro de 2010, segundo balanço publicado pelo jornal Valor, o CNJ determinou a aposentadoria compulsória de 21 magistrados,colocou6 emdisponibilidade, aprovou 15 afastamentos cautelares e 2 remoções compulsórias e censurou 1 – num total de 45 condenações. A punição administrativa de juízes envolvidos em irregularidades é função das Corregedorias Judiciais. Mas, interpretando de forma excessivamente corporativa a legislação em vigor, muitas delas adotaram prazos muito curtos para a realização de sindicâncias e prescrição paraaabertura deprocessos administrativos. “Alguns tribunais vinham aplicando uma prescrição de 180 dias, com base em interpretações frouxas dasnormasanteriores(àresolução baixada pelo CNJ). Como esseperíodonãoésuficientepa-

ouco importa para o cidadão comum saber se, desta vez, o problema foi causado pela empresa distribuidora ou pela empresa de transmissão da energia consumida em São Paulo. O que importa, e o irrita, é constatar que o fornecimento de energia é interrompido com frequência cada vez maior, numa evidência de que as autoridades e as empresas concessionárias não estão conseguindo estancar o processo de deterioração dos serviços. Cada vez mais pessoas ficam sem luz, embora por períodos menores, sem que se vislumbre melhoria do abastecimento no futuro próximo. Por falta de investimentos, é possível que a situação ainda piore antes de começar a melhorar, se daqui para a frente os investimentos forem feitos na velocidade e no volume necessários. Os danos são extensos. O apagão que afetou a capital na quinta-feira deixou sem energia cerca de 700 mil unidades consumidoras – isto é, residências e empresas conectadas à rede de distribuição – em dezenas de bairros nas zonas sul e oeste. Não foram 700 mil pessoas afetadas. Só nas “unidades consumidoras” vivem de 2,5 milhões a 3 milhões de pessoas, admitindo-se a média de 4 pessoas por habitação, que ficaram sem luz das 19h06 até, em muitos casos, as 21 horas. Centenas de milhares de pessoas que deixavam seus locais de trabalho – muitas ficaram presas em elevadores – tiveram de enfrentar a escuridão das

O

Os barões e os viscondes

“Quem furta pouco é ladrão/ quem furta muito é barão/ quem mais furta e esconde/ passa de barão a visconde” (versos anônimos divulgados no Rio depois da instalação da Corte portuguesa no Brasil, em 1808). Graças à imprensa, os brasileiros que leem jornais – e são poucos, infelizmente – ficam a par da roubalheira que toma conta do País, de dinheiro público, dos impostos que pagamos. É pena que só tomemos conhecimento de alguns barões. Dos viscondes ninguém fica sabendo. DANIEL ALVES GRANGEIRO dafegran@uol.com.br São Paulo

Dnit

Essas pessoas que dilapidam o erário não veem que são responsáveis por acidentes fatais? Não

ra investigar, julgar e punir um magistrado, 90% dos casos acabavamprescritose,portanto,arquivados”,dizRicardo Chimenti, juiz auxiliar da Corregedoria Nacional de Justiça. O problema foi constatado pelas inspeções do órgão, especialmente no Norte e Nordeste. A partir daí, o CNJ promoveu reuniões com os corregedores dos tribunais para uniformizar os procedimentos de investigação,julgamentoepuniçãoadministrativa de juízes e modernizar a legislação – a começar pela Resolução n.º 30, que foi baixada pelo órgão há quatro anos. Segundo os corregedores, essa

Abertura de processos disciplinares contra juízes tem agora prazo maior para prescrever resolução continha dispositivos obscuros e deixava várias questões em aberto – como a forma de intimação do juiz, os prazos para as diferentes etapas de investigações e as regras para a atuação dos corregedores –, propiciando com isso interpretações discrepantes. Além de unificar mecanismos de investigação e aumentar significativamenteoprazodeprescrição,com oobjetivode daraos corregedores o tempo suficiente de que necessitam para abrir sindicâncias,coletarprovas,instruir processos e julgá-los, a nova resolução obriga as Corregedorias Judiciais a comunicar ao CNJ todas as decisões de arquivamento, instauração e julgamento de procedimentos administrativos. As novas regras se

lhes dói na consciência usufruir de um dinheiro manchado, retirado dos impostos que pagamos? CARMINE MAGLIO NETO carminemaglio@yahoo.com.br São Paulo

‘BANHO’ DE RIO Cadê a polícia?

Não bastassem os repetidos arrastões na Marginal do Pinheiros (e fora dela também!), agora temos de suportar a crueldade de bandidos que jogam uma vítima no rio! Cadê o prometido reforço no policiamento? É incompreensível a sonolência do governo Alckmin, enquanto a população fica desperta, assustada e indefesa, à espera do próximo crime. Profunda decepção com esse governo e sua incapacidade de responder às necessidades da população. RENATO REA GOLDSCHMIDT reagold@gmail.com São Paulo

aplicamaosjuízes,desembargadores e ministros das Justiças Federal, Trabalhista, Militar e estaduais. Os únicos magistrados que não estão sujeitos à Resolução n.º 135 são os ministros da mais alta Corte do País – o Supremo Tribunal Federal. Como era de esperar, as entidades da magistratura receberammal asnovasiniciativasmoralizadoras do CNJ, alegando que o órgão continua extrapolando de suas prerrogativas e tratando de matérias que só poderiam ser disciplinadas por leis aprovadas pelo Congresso. É o caso da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que já impetrou um recurso no Supremo, pedindo a declaração deinconstitucionalidade da Resolução n.º 135. “O CNJ deveria cumprir a Lei Orgânica da Magistratura Nacional e não criar uma nova regra sobre processo administrativo disciplinar”, afirma o juiz Júlio dell’Orto, secretáriodeDireitosePrerrogativasdaAMB.AAssociaçãoNacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) e a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) também criticaram a nova resolução do CNJ, alegando que ela pode comprometer a independência do juiz. “Não queremos um magistrado que tenha receio de julgar um empresário ou um político poderoso porque poderia perder seu cargo por decisão administrativa, diz o presidente da Ajufe, Gabriel Wedy. É preciso notar, no entanto, que o direito de defesa dos juízes acusados de envolvimento com irregularidades não foi afetado pela resolução do CNJ.

“Eleição 2014: Dilma só quererá se o patrão deixar...” LUCIANO HARARY / SÃO PAULO, SOBRE A DECLARAÇÃO DE LULA DE QUE A PRESIDENTE SOMENTE NÃO SERÁ CANDIDATA À REELEIÇÃO SE NÃO QUISER lharary@hotmail.com

“Um gigante de joelhos?” LUIGI VERCESI / BOTUCATU, SOBRE A CRISE DA DÍVIDA DOS ESTADOS UNIDOS luver44@terra.com.br

P

ruas, a confusão no trânsito causada pelo desligamento dos semáforos e até a paralisação da Linha 4 do Metrô. Do modo como as concessionárias têm explicado as razões do blecaute, os problemas parecem prosaicos. Desta vez, como justificou a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep), foi uma “ocorrência” em uma das barras da Subestação Milton Fornasaro, no Jaguaré, que provocou uma ação de proteção do sistema, da qual resultou o desligamento de toda a subestação e, em consequência, a suspensão do fornecimento da ener-

‘Apagões’ frequentes continuam irritando os consumidores de energia elétrica gia para a empresa AES Eletropaulo, que a distribui para sua rede de consumidores. Só neste ano, este é pelo menos o terceiro problema grave na rede da Cteep. Em fevereiro, falhas na Subestação Bandeirantes, na Marginal do Pinheiros, deixaram sem luz 2,5 milhões de pessoas. Na ocasião, a empresa explicou que a queda de um disjuntor de um dos três transformadores levou ao desligamento da subestação. O mesmo problema fora registrado na mesma subestação em 2008. Em março, cerca de 15 cidades do noroeste do Estado ficaram sem energia por problemas numa subestação da Cteep, causados, segundo a empresa, por um objeto metálico que provocou um

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Mantega defende medidas no câmbio

975

Ao ‘Estado’, ministro diz que prefere defender a indústria a usar o câmbio para controlar a inflação ● “O gigantesco excedente de dólares no Brasil deve-se principalmente aos generosos juros pagos pelo brasileiro.” RUI TAVARES DA FONSECA

● “Sem ajuste fiscal, os juros não baixam. E, com os juros mais altos do mundo, os dólares vão jorrar no mercado.” ALBERTO SCARANO

HÁ 731 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “O câmbio livre e flutuante é uma falácia, pois o governo vem intervindo faz muito tempo.” JOSÉ OSNIR VIEIRA VAZ

curto-circuito. A empresa deveria ter mecanismos de prevenção de problemas como esses, se eles são tão simples. Razão tem o secretário de Energia do Estado de São Paulo, José Aníbal, ao reagir com irritação a justificativas como essas de que as concessionárias vêm lançando mão sempre que ocorrem problemas em suas redes. “O sistema de proteção dessa subestação deve estar velho, carente de investimentos”, disse o secretário, em entrevista à rádio Estadão ESPN, na qual comentou o blecaute de quinta-feira em São Paulo. O secretário informou que o governo de São Paulo vai solicitar à Agência Nacional de Energia Elétrica a aplicação de “multa fortíssima” à Cteep. A multa temsidoorecurso maisfrequente utilizado pelos órgãos públicos encarregados de fiscalizar os serviços prestados pelas concessionárias de energia elétrica. Em junho, a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo aplicou multa de R$ 26,7 milhões à AES Eletropaulo por problemas de fornecimento de energia entre 2009 e maio de 2010. Há pouco, aplicou nova multa, de R$ 4,84 milhões, pelo apagão ocorrido no início de junho. As multas são necessárias, mas, para o consumidor, melhor seria se as concessionárias colocassem em prática os planos de investimentos que se comprometeram a executar paramelhorareampliarseus serviços, e se os órgãos fiscalizadores cobrassem com mais eficácia a execução desses planos.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital: 3959-8500 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


A2 Espaço aberto %HermesFileInfo:A-2:20110802:

O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 2 DE AGOSTO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

A defesa no sentimento nacional ✽ ●

MARIO CESAR FLORES

R

essalvado o restrito mundo profissional da defesa, nos últimos decênios nosso sistema militar vem sendo lembrado principalmente na síndrome da insegurança pública e (se tanto) no cenário da criminalidade transnacional fronteiriça,problemasdenatureza basicamente policial, embora tambémmilitar,noslimitesdefinidos em legislação. Nas pesquisas de opinião as Forças Armadas são bem hierarquizadas no quesitoconfiabilidade.Entretanto,trata-sedeconfiabilidaderelacionada mais à correção ética num universo público visto como venal do que como instrumento de defesa, preocupação ausente. Praticamente não existe no Brasil interesse político e societário pela defesa nacional. A Estratégia Nacional de Defesa (END), aprovada em dezembro de 2008, é um documento abrangente, aberto ao conhecimentopúblico,sobreadefesaem seus vários aspectos interativos, militares e civis. Pode e deve ser aperfeiçoada – como certamente será–,masjáéumpassopositivo, despercebido pela opinião públicaepelouniversopolítico.Vigente há mais de dois anos, qual foi até agora a sua repercussão no Congresso Nacional? Não houve, ao menos em nível que chamasse a atenção da mídia e, por intermédio da mídia, provocasse a da sociedade, em particular, da intelligentzia nacional. Essa apatia preocupa, porque numa democracia a construção de poder militar eficiente, em coerência comoPaísesuainserçãointernacional, não éviável nacontramão do sentimento nacional, principalmente de sua representação política. Depende da aceitação política e societária de que fraqueza,pacifismoautistaejurisdicismo utópico não são virtudes absolutas, não garantem em quaisquer circunstâncias o progresso em tranquilidade. A falta de interesse decorre de quatro razões. Primeira: o preconceito gerado pelas interveniências militares na vida nacional, tema superado, mas ainda influente em segmentos do sectarismo anacrônico. Segunda: no sistema militar não há espaço para a cultura clientelista e patrimonialista – o que reduz ainda mais o já precário interesse dos políticos brasileiros pautado nessa cultura. Terceira: a defesa nacional não gera votos, tanto assim que nadiscussãopolíticaotemamilitar praticamente se limita ao que afeta o humor eleitoral cor-

porativo (salário, por exemplo). E quarta: a mais que centenária ausência de ameaça clássica emqueoBrasil tivessevividopapelprotagônicoouaomenossignificativo (na 2.ª Guerra Mundial fomos atores coadjuvantes). Depois de Rio Branco, que via espaço para o poder militar, a políticabrasileiranãootemenfatizado – propensão insegura no incerto maior prazo, porque poder militar moderno não se improvisa ao se manifestar sua necessidade. Solução emergencial ao estilo “voluntários da Pátria” mal armados e mal preparados, da Guerra do Paraguai, seria hoje catastrófica; lembremos a esse respeito nosso despreparo na entrada na 2.ª Guerra Mundial, que compulsou à dependência tutelar dos EUA. Curiosamente, o ministro do Exterior não está explicitado no rol de ministros

Configuração do sistema militar é problema profissional, mas a sua moldura é política responsáveis pela formulação da END; a ser real a ausência, é, no mínimo, instigante! O sentido desta última razão estásintetizadonofinaldessafrase de professor universitário, proferida com tranquila convicção no coffee break de seminário numauniversidade:“Realmente os militares ganham pouco, mas por que pagar-lhes mais se não precisamos deles?”! Remuneração à parte, sem espaço neste artigo,aafirmação“nãoprecisamos deles” é preocupante. Sintoma emblemático do descaso:na votação doOrçamentoa outorga ou a negação de recursos independem de seus efeitos na defesa nacional. Não se pode pretenderdoCongressoatenção detalhada, mas os recursos são concedidos ou negados à revelia daqueles efeitos, embora na democracia o Congresso também seja responsável pela defesa. Na conciliação do preparo militar com as limitações orçamentárias – compreensíveis, errado é atuaremnobojodaapatiarefletidanocorteabstrato,tantonatramitação congressual como na liberação pelo Executivo –, o orçamento da defesa precisa ser estruturado com a visão que assegure continuidade aos projetos prioritários,emgerallongosecaros. Esse quesito não tem sido atendido, exigindo ajustagens que tumultuam o preparo militar e prejudicam o desenvolvimento tecnológico de interesse da defesa e a continuidade da indústria de defesa, insustentável sem demanda segura. Não havendo trauma de risco que a precipite dramaticamente,aelevaçãodasensibilidadenacional sobre defesa é processo culturalqueseestenderáporlon-

gotempo.Oprocessodeveesclarecer por que, como e quanto a dimensão estratégica do poder continua atuante no século 21, deve contextualizar a segurança do Brasil nasua região e no mundo, sem arroubos ufanistas, mas também sem escapismos utópicos como se o mundo vivesse a paz kantiana, embora Hobbes continue vivo nele... Na medida emque ocorra a elevação,a defesa nacional passará a assunto de mérito, vista com responsabilidade e menos sujeita a mudanças radicais com as eleições porque é assunto de Estado, transcende os governos. Será resgatada da apatia e exercerá seu papel de respaldo ao progresso em tranquilidade e à interação do Brasilcomomundo,cujasturbulênciaspedematenção,sem exageros, mas prudente. Voltando à END: embora de fato um primeiro passo positivo, falta-lheoavaldosentimentonacional, dependente do interesse político e societário pela defesa, sobretudo do político, hoje em claro déficit. A configuração do sistema militar é problema profissional, interno ao Ministério daDefesa,massuamolduraépolítica. A dúvida que permeia as agendas nacionais dos países relevantes em todo o mundo, sobreosistemamilitarquerespondeàsvulnerabilidadeseaosinteresses do País nas circunstânciasdoséculo21,nãoteráresposta consistente sem aquele aval. ✽ ALMIRANTE DE ESQUADRA (REFORMADO)

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

Acordo na beirada ✽ ●

ILAN GOLDFAJN

O

bama e os republicanos chegaram a um acordo à beira do abismo. O calote estava próximo. No mínimo, será necessário interromper serviços fundamentais da economia americana para pagar o serviço da dívida. A visão predominante é que eratudo desnecessário,frutode uma política partidária insana. Mas exageros e desfechos dramáticos à parte, não compartilho essa opinião. O debate fiscal nos EUA é legitimo e essencial. Não deve surpreender a falta de consenso sobre profundos cortes de gastos ou a volta dos impostos: tarefa difícil após a mais grave crise financeira internacional e com desemprego ainda recorde. Mas a dívida alta tem de ser recolocada numa trajetóriasustentável.Estamosacostumados a assistir a debates fiscaisdesesperadoseemocionantes nos Parlamentos apenas quando forçados por credores járecusandorolaradívidadogoverno. O caso da Grécia é o exemplo mais recente desse fenômeno. Nos EUA não há problema com o financiamento da dívida. No fundo, os problemas nosEUAenaEuropasãodamesmanaturezafiscal,masemestágios de degradação distintos. Nosúltimostempostemosassistidoaturbulênciasnasecono-

SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS

Barack Obama

mias maduras. Parece, mas não é coincidência, que as crises estão ocorrendo em paralelo. Tanto nosEUAcomonaEuropa,osproblemas fiscais ficaram mais evidentes depois da crise. O crescimento potencial está sendo reavaliado e a viabilidade de manter atrajetóriadosgastos,questionada. A crise mostrou que havia uma percepção mais otimista do futuro do que possível. O estouro da “bolha”, visto a posteriori, é um sintoma dessa percepção equivocada. A solução é adaptarseàrealidade.Paraevitarpromover cortes profundos no meio da recessão é necessário pensar o ajuste no médio e no longo prazos. Alguns países, como Grécia, Portugal e Irlanda (e mesmo Espanhae Itália)não têm mais esse luxo: o seu ajuste de médio e de longoprazos virou de curtíssimo prazo. E mesmo assim, em al-

Legado da crise de 2008 são décadas de ajuste e redução das dívidas públicas (e privadas) gunscasos,comoo da Grécia,será necessária a reestruturação da dívida. Outros países ainda têm oluxodeajustesaolongodotempo, como Alemanha, EUA, França e Japão, mas precisam começar a atuar já nos seus planos. Nos EUA, o Congresso habitualmente autoriza o aumento dotetodadívida,quecrescesempre nominalmente, mesmo que como proporção do PIB não fosseocaso.Nasituaçãoatual,adiscussão do teto veio a reboque do problema fiscal. O acordo na 24.ª hora prevê aumento do teto da dívida em US$ 2,1 trilhões (sendo US$ 900 bilhões neste ano e US$ 400 bilhões imediatamente) em troca de cortes de US$ 2,5 trilhões nos próximos dezanos.Masdequeformaocorrerão esses cortes? Há um debate legítimo na sociedadesobrecomoresolveradifícil questão fiscal e o excesso de endividamento. Os democratas querem evitar cortes de programas sociais (preferem aumento de impostos para empresas e para os mais ricos) e os republicanos querem corte de gastos mais profundos, evitando aumento de impostos. No acordo, a composição de cortes de US$ 1 trilhão já está delimitada e envolve gastos militares, entre outros. Os gastos militares voltaram a crescer após os atentados de 11 desetembrode 2001,comavolta dosuportedapopulaçãoàsintervenções militares. O impasse fiscal só parece ter chegado ao fim adiando-se o debate dos cortes de U$ 2,5 trilhões restantes para uma segunda etapa. As elevações adicionais da dívida (US$ 1,2 trilhão) ficam condicionadasaessanegociação.Serãomeseseanosdifíceisdenego-

ciaçãopara decidir onde serãoos cortes, inclusive sobre a previdência social e assistência médica aos mais velhos, e sobre uma possível reforma tributária (aumento de impostos). Éclaroquequestõespuramentepolíticasestavamobscurecendo o debate. Os republicanos tinhaminteresseemadiaressedebate fiscal (ou antecipar os cortes de gastos) para o ano que vem, no meio das eleições, para prejudicar a imagem de Barack Obama. Era tudo o que ele queriaevitar.Enquantoisso,apopulação mais moderada e independente irritava-se com ambos os partidos, o que, em última instância, os empurrava para a mesa de negociação. Não obstante o acordo, as agências de classificação de risco ainda podem rebaixar a nota dos EUA por considerarem os cortes de gastos insuficientes. O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês) estima que a dívida líquida vá atingir quase 85% do PIB nos próximos anos. Há duas lições para o Brasil. Primeiro, é importante perceber a mudança de curso na economia global. As economias maduras deixarão de ter seu dinamismodeoutroranofuturopróximo. É um período em que excesso de velocidade (nos gastos públicos, por exemplo) pode levar a derrapagens sérias. Segundo, temos aqui nosso própriodebatefiscal,querequer atenção,antesdesermosempurrados para o ajuste forçado. A dinâmica da dívida, que em suas épocas era a questão central, hoje dá lugar ao debate sobre os ajustes fiscais necessários para permitir juros menores, câmbio menosapreciadoeespaçomaior parainvestimentospúblicoeprivado, tão necessários ao desenvolvimentofuturo.Temosavançado pouco num projeto fiscal de médio e de longo prazos nessa direção. Europa de um lado, EUA do outro. É triste constatar que ainda estamos vivendo os tremores financeiros após o “terremoto” da crise financeira de 2008. O legadodacrisesãodécadasdeajuste e redução das dívidas públicas (e privadas). Melhor pensar em formas de ajuste que antecedam o ajuste forçado. Isso vale para o Brasil, que fez um ajuste fiscal no passado quando necessário, masque precisaprojetar um plano de médio e de longo prazos para permitir queda da inflação, dos juros e do câmbio e um crescimento potencial maior. Nos EUA, o timing da crise fiscal foi autoimposto,oque,apesardetudo, foi melhor que ajustar sob pressão dos credores. ✽ ECONOMISTA-CHEFE DO ITAÚ UNIBANCO E SÓCIO DO ITAÚ BBA

Fórum dos Leitores CENSURA, DOIS ANOS Patrulhamento e mordaça

Continuamos solidários a esse jornal e à imprensa do País, pelo abominável processo de censura infligido contra O Estado de S. Paulo, no transcurso do seu segundo aniversário, à espera de deliberação que, tristemente, dormita no STF, no planalto de Brasília. Trata-se de lamentável descaso. Realidade que nos provoca maliciosas indagações sobre as íntimas relações do Parlamento nacional com a mais alta Corte da Justiça do País, conforme assistimos, contrariando a postura da Justiça preconizada pelo paladino de todas as liberdades, Ruy Barbosa. Permaneçamos vigilantes às investidas contra os direitos fundamentais do cidadão e às solertes conspirações para o patrulhamento e a mordaça nas redações e na web, em pauta nos escaninhos do aparelhamento oficial.

NEY DE ARARIPE SUCUPIRA ney.sucupira@uol.com.br São Paulo

Mérito sem julgamento

Finalmente o Estadão publicou um caderno denunciando com detalhes a inconstitucional censura que vem sofrendo, imposta pelo Poder Judiciário, que em princípio deveria ser o responsável pelo cumprimento da Constituição. Lamentavelmente, é incompreensível que o jornal não possa publicar uma verdade, pois até hoje, por dever de ofício, nenhum magistrado decidiu o mérito dessa execrável censura. ROBERTO BANHARA D. CARDOSO rbdc@terra.com.br São Paulo

Afronto à ética

O desembargador que determi-

nou a censura ao Estadão, afrontando a Constituição em favorecimento de um indivíduo e impossibilitando toda a comunidade brasileira de tomar conhecimento de tudo o que lhe é imputado, se pertencesse à minha categoria profissional, eu proporia uma advertência a ele ou punição mais severa por afrontar a ética profissional.

parece filme de faroeste americano, acaba por falta de personagens, todos morrem, só ficam o Lulla e a Dilma. Nem se ouve falar em devolução ao erário de toda a dinheirama roubada. A Justiça deveria ser rápida não só em julgar a liberdade de um jornal informar, mas também em estancar a sangria dos cofres públicos.

SEBASTIÃO HETEM sebahetem@ig.com.br Taiuva

CECILIA CENTURION ceciliacenturion@globo.com São Paulo

Faroeste

CORRUPÇÃO Governo Dilma

Brilhante o editorial A censura se eterniza (31/7, A3). Repudio toda e qualquer forma de censura. Mas o que eles querem é mordaça para a publicação e liberdade para as ações de assalto aos cofres públicos. Lulla da Silva tem ataques cada vez que um dos seus é apanhado. E dona Dilma, em vez de governar, só consegue apagar incêndios. Esse governo

Todo mundo sabe da corrupção generalizada que existe no governo e a presidente Dilma só toma alguma providência quando a imprensa denuncia, caso contrário, nada faz. Uma pergunta que não quer calar: quem se omite, finge que não percebe para agradar a aliados ou se cala não é cúmplice dessa corrupção?

MARCELO GUIMARÃES SANTOS m454@bol.com.br Santos

Faxina

Vendo a faxina de dona Dilma, começando no Ministério dos Transportes, felicito-a e me preocupo: não podemos esquecer a relação do PT com os prefeitos assassinados Toninho de Campinas e Celso Daniel, de Santo André. CARLOS R. GOMES FERNANDES crgfernandes@uol.com.br Ourinhos

Faxina?

Faxina fazia minha saudosa mamãe, era poeira pra todo lado. Essa faxina no Dnit está estranha, porque o dono da vassoura é o atual ministro, que era assessor do anterior, e até agora não apareceu uma poeirinha (dinheiro rou-

bado) sequer. Que faxina é essa? ARCANGELO SFORCIN FILHO arcangelosforcin@gmail.com São Paulo

COPA DO MUNDO 2014 Legado

Pensar no “legado da Copa”, como disse o constrangido Jérome Valcke, é exatamente o que estamos tentando fazer. Por ter dinheiro público e os valores investidos em estradas e aeroportos serem muito maiores do que em estádios é que devemos ficar mais de olho ainda. Estamos cansados de ver escândalos e mais escândalos e não temos garantia alguma de que não haverá superfaturamento nas obras de estádios, estradas e aeroportos para a Copa. Mr. Valcke, futebol não é religião e dinheiro público não é capim. ROBERTO SARAIVA ROMERA robertosaraivabr@gmail.com São Bernardo do Campo


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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 2 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Editor-Chefe de Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

O acordo contra o calote A comemoração do acordo para evitar o calote do Tesouro americano, devedor de US$ 14,3 trilhões, acabou em poucas horas. O otimismo foi varrido por uma sucessão de notícias sobre desaceleração econômica na Europa e na China, desconfiança em relação aos bancos italianos e redução do índice de atividade da indústria dos Estados Unidos. Além disso, dúvidas sobre a aprovação do acordo sobre a dívida e o corte de gastos federais espalharam-se rapidamente. A extrema-direita republicana ainda poderia rebelar-se contra os líderes partidários e negar apoio ao plano acertado no domingo à noite com o governo. Ao fechar o acordo com a oposição, no domingo à noite, o presidente Barack Obama já dispunha pelo

menos do esboço de um plano de contingência – uma seleção de credores preferenciais, para o caso de ser preciso adiar alguns pagamentos. Mas o governo teria de negociar até o último instante para evitar o calote e, se possível, afastar o risco de uma nova negociação em 2012, ano de eleição presidencial. O entendimento alcançado no domingo atendeu aos dois objetivos da Casa Branca. Concordou-se em ampliar o limite de endividamento com o acréscimo de US$ 2,1 trilhões. Esse número foi calculado para eliminar o problema até 2013, tornando dispensável uma nova discussão no período eleitoral. Como contrapartida foi combinado um programa de corte de gastos. Os dois lados concordaram em realizar um ajuste orçamentário de US$ 1 trilhão em 1o anos, por meio do corte de gastos discricionários, aplicados tanto aos programas da defesa quanto a outros itens. Além disso, re-

solveu-se formar um comitê bipartidário para estudar e propor um ajuste adicional de US$ 1,5 trilhão. Para essa parte da arrumação fiscal se concordou em discutir a redução de gastos sociais e uma reposição de impostos cortados por Bush. O acordo foi fechado no domingo à noite, portanto, sem solução para os pontos mais importantes das diferenças entre governo e oposição. Os dois lados aceitaram deixar para mais tarde questões politicamente cruciais, como a natureza dos cortes, o futuro de programas como os de ajuda a famílias pobres e a estudantes e a revisão dos impostos. O presidente Barack Obama gastou muita retórica nas últimas semanas defendendo a preservação de certos programas de interesse das classes média e pobre e a eliminação de benefícios fiscais a certos grupos de empresas, como as petrolíferas, e aos contribuintes de alta renda. Benefícios

A chacina do Ramadã

R

amadã, o mês sagrado dos muçulmanos, começou ontem na Síria com novos atos de violência do regime de Bashar al-Assad contra civis desarmados na cidade de Hama, de cerca de 800 mil habitantes – onde, há 29 anos, as forças do ditador Hafez Assad, pai do atual, exterminaram mais de 10 mil moradores para esmagar um levante islâmico. “A história se repete, a história se repete”, clamava ao celular um ativista entrevistado por jornalistas ocidentais baseados em países vizinhos. O massacre de 1982 foi provavelmente o pior da história recente no Oriente Médio, que não é bem um oásis de paz, liberdade e direitos humanos. No domingo, forças de segurança e as temíveis tropas paramilitares Shabibiha (fantasmas), apoiadas por blindados e artilharia pesada, entraram em Hama e dispararam a torto e direito, matando perto de 80 pessoas. Outras 60, aproximadamente, foram abatidas em diversos pontos do país. Os ataques recomeçaram ontem cedo, quando os fiéis voltavam das suas orações matinais nas mesquitas da cidade. Para Damasco, os protestos populares contra a tirania, que irromperam em meados de março, seriam protagonizados por “gangues armadas”, a serviço de uma imaginária conspiração de fundamentalistas e “potências estrangeiras”. A chacina do Ramadã não surpreendeu os opositores do regime. Eles próprios haviam

ESCLARECIMENTO Secretaria da Segurança

Sobre a carta ‘Banho’ de rio (1.º/8), do leitor sr. Renato Goldschmidt, esclarecemos que a Polícia Militar reforçou policiamento nas Marginais, que agora são patrulhadas por 280 policiais – 160 do CPTran e 120 das unidades territoriais –, em 48 motos e 10 viaturas de quatro rodas. A população pode colaborar com a polícia com informações pelos telefones 190 (Emergência) e 181 (Denúncia) ou em boletins de ocorrência. Até o final do ano, o Estado receberá reforço de mais 4 mil policiais, além dos 2.332 que se formaram em março. Por investir este ano R$ 12 bilhões em segurança pública, São Paulo tem reduzido seguidamente a criminalidade, com destaque para a queda de 73% dos homicídios dolosos, desde 1999. ENIO LUCCIOLA, Assessoria de Imprensa da SSP do Estado

anunciado uma escalada de manifestações noturnas de rua, depois do jejum diário no período. O que chama a atenção nesta fase de recrudescimento das atrocidades é a aparente coesão política do regime para continuar abatendo os cidadãos. Antes do domingo sangrento em Hamas, 1.634 sírios teriam sido mortos, segundo o movimento insurgente Avaaz. O grupo contabiliza 2.918 desaparecidos e 26 mil detidos, dos quais 12.617 continuam presos. Cerca de 10 mil pessoas conseguiram fugir para a Turquia. Fala-se cada vez mais em deserções de soldados – e há ima-

A posição estratégica da Síria no Oriente Médio garante a impunidade do seu ditador gens de recrutas confraternizando com ativistas. Mas, pelo pouco que se sabe dos bastidores do poder nesse país de 22,5 milhões de habitantes, fechado a jornalistas e observadores internacionais, a elite militar permanece leal ao clã Assad, cujo titular herdou o poder ditatorial há 11 anos. Uns e outros, assim como as famílias políticas que controlam o partido oficial Baath, dono do país há quase meio século, a plutocracia comercial e o mandarinato da burocracia civil, pertencem à seita alauita ou a grupos cristãos a eles associados. Chega a ser surpreendente a capacidade de resistência das forças democráticas à impiedosa repressão de que têm sido alvo – e, mais ainda, a sua teimo-

egoncalves@sp.gov.br São Paulo

VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO Leniência

Na madrugada do último sábado, a menos de 500 metros do local do atropelamento fatal de Vítor Gurman, novamente um veículo desgovernado invadiu uma calçada. Desta vez na Rua Morás, travessa da Rua Natingui, onde Vítor foi atingido. Pessoas transitavam nas proximidades. Tivessem sido atingidas, certamente haveria mortos e feridos. Felizmente, a única vítima foi o meu veículo, que ficou severamente danificado. Até quando assistiremos a fatos como esses? Basta de leniência com os delitos cometidos com um carro nas mãos! Minha solidariedade à família Gurman. SERGIO FAUSTO sergio.fausto@ifhc.org.br São Paulo

como esses, fortemente concentradores de renda e de riqueza, foram concedidos a partir do governo do presidente Ronald Reagan e ampliados, nas décadas seguintes, principalmente por iniciativa republicana. O assunto permanece aberto. De toda forma, no acordo de domingo à noite a oposição conseguiu pelo menos evitar qualquer menção a aumentos de encargos tributários para o grande capital e para o contribuinte rico. Objetivamente, a ala mais conservadora do Partido Republicano teria pouquíssimos motivos para se opor ao acordo. Ainda assim, houve quem criticasse o entendimento da noite anterior por ainda manter o “governo grande”. Os democratas poderiam manifestar decepção pelo motivo oposto. Os dois lados haviam combinado elevar o teto da dívida e cortar despesas em 10 anos, mas haviam posto de lado uma questão essencial para a econo-

mia no curto prazo: a possibilidade de gastos adicionais, neste momento, para estimular a atividade e a criação de empregos. Sem esses gastos, a recuperação da economia americana, já muito lenta, será mais difícil neste e no próximo ano. Isso poderá custar muito, em termos políticos, para o presidente Barack Obama. Falta ver se ele ainda terá algum espaço para promover investimentos e outros gastos federais destinados a dar algum impulso aos negócios. Na falta de estímulos fiscais, o Federal Reserve, o banco central americano, provavelmente precisará intervir e promover mais uma rodada de afrouxamento monetário. Será a pior solução para o Brasil e outros países já inundados pelo excesso de dólares. Os congressistas teriam, se quisessem, muitos detalhes para ponderar no momento de votação do acordo do dia anterior.

Aliando-se ao ‘inimigo’ chinês sia. O que se passa na Síria, em escala e duração, não se compara aos levantes na Tunísia e no Egito, onde vicejou a chamada Primavera Árabe e onde os militares se recusaram a chacinar os civis, levando à ruína os respectivos regimes ditatoriais. Tampouco o caso sírio se compara ao da Líbia, cujo autocrata Muamar Kadafi não perdeu de todo o apoio popular e resiste a mais de quatro meses de bombardeios ocidentais. Diferentemente de Kadafi, também, Assad não é anátema para ditadores árabes como os da Arábia Saudita. Eles endossaram a resolução do Conselho de Segurança (CS) da ONU que deu origem à intervenção armada da Otan na Líbia, mas até dias atrás ainda relutavam em concordar com a adoção de sanções severas a Damasco. O próprio presidente dos EUA, Barack Obama, cumpre o ritual de denunciar Assad a cada surto repressivo, mas não foi a ponto de demandar a sua destituição. A importância estratégica da Síria noOrienteMédioexcluideantemão qualquer ato capaz de mergulhar o país numa conflagração deconsequênciasimprevisíveis. De todo modo, os EUA e a União Europeia vêm tentando em vão arrancar do CS ao menos uma condenação formal do regimesírio.Enfrentamodesinteresse da Rússia, da China e de três dos seus membros não permanentes: Brasil, Índia e África doSul.Aposiçãobrasileira,criticadaduramente pelaAnistia Internacional, é incoerente com a decisão de condenar o Irã na ONU por violação dos direitos humanos.

“Dois anos? É o cúmulo!” ROBERTO TWIASCHOR / SÃO PAULO, SOBRE A CENSURA AO ‘ESTADÃO’ rtwiaschor@uol.com.br

“No 31 de julho, nada a comemorar, só a lastimar”

C

om a sobrevivência de suas empresas cada vez mais ameaçada pela concorrência desleal, e não raro predatória, dos similares vindos da China, empresários brasileiros estão buscando alianças com o “inimigo” chinês. Cresce o número de dirigentes de empresas nacionais que, para reduzir custos e ganhar condições de enfrentar a competição com os importados da Ásia, estão se abastecendo de máquinas e insumos chineses, mais baratos do que os similares produzidos aqui. E fazem isso com o apoio, e até o estímulo, de entidades empresariais como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que têm criticado duramente as práticas comerciais desleais da China e a ineficácia das medidas eventualmente tomadas pelo governo brasileiro para proteger a produção doméstica. Em entrevista ao jornal Valor, o presidente da CNI, Robson Andrade,afirmou que o Brasil precisa apressar as medidas para fortalecer a produção industrial, como o aumento da severidade das punições ao dumping e a importações irregulares, sobretudo da China. Mas a CNIestáentreasprincipaisentidades empresariais que vêm organizandocaravanasde dirigentesdeempresasbrasileirasdediversos portes para fazer compras na China, como mostrou o Estado (31/7), em reportagem de Raquel Landim. Não há contradição entre o que o presidente da CNI diz e o que a entidade faz. Nos dois ca-

sos, o que se pretende é assegurar à indústria brasileira condições de enfrentar a concorrência externa cada vez mais acirrada e, no momento, agravada pela desvalorização do dólar, que reduz o preço em reais dos produtos importados. Também nos dois casos está implícita uma séria advertência ao governo: nas condições atuais, para muitas indústrias é melhor importar do que produzir internamente. Alguns números mostram o ritmo em que cresce o interesse dos brasileiros por insumos, componentesemáquinaschinesas para baratear os custos ope-

Industriais brasileiros buscam máquinas e insumos chineses para sobreviver à competição racionais. De 2009 a 2010, o número de vistos a brasileiros que vão à China para fazer negócios passou de 7.467 para 11.724, um aumento de 57% (os dados referem-seao períodojaneiro-outubrode cadaano).Muitosempresários brasileiros, no entanto, viajam à China para negócios, mas com vistos de turista. Outro dado que sugere o aumento das compras diretas feitas por empresários brasileiros defornecedoreschineses éonúmero de empresas que pedem registro como importadoras. Neste ano, o País deve ganhar 5 mil novos importadores, um aumento recorde. Além de empresas comerciais, também as industriais passam a importar para substituir máquinas ou insumos nacionais e compram até

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Após sorteio, Fifa volta atenções a SP

1.166

MARIA DO CARMO ZAFFALON LEME CARDOSO / BAURU, IDEM mdokrmo@hotmail.com

Entidade dá dicas de que tanto a abertura do Mundial quanto o congresso técnico serão na capital

“A censura impede a voz, mas não anula o espírito”

● “Vergonha! Quem em pleno juízo vai querer bancar com o dinheiro do povo de São Paulo a abertura da Copa do Mundo?”

A. FERNANDES / SÃO PAULO, IDEM standyball@hotmail.com

DAVID TROMBELLI

● “Esta é a maior palhaçada esportiva do século.” VAGNER RICCIARDI

HÁ 732 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Quando os membros da Fifa visitaram São Paulo, viram que ela é a melhor cidade brasileira em infraestrutura para sediar a abertura e os jogos e não poderia ficar de fora.” EDSON REIS

mesmo produtos finais, para revender no País, como forma de reduzir custos e aumentar sua margem de lucro, observou o vice-presidente da Associação de ComércioExterior doBrasil,José Augusto de Castro. Em alguns segmentos da indústria, os números são preocupantes. Dos 72 fabricantes de válvulasindustriaisfiliados àAssociação Brasileira da Indústria de Máquinas, 80% declararam que 100% do que vendem são produtos importados. Há seis anos, o índice era de 40%. Não há como produzir internamente em condições de competir com o importado. O aumento das importações pelas empresas industriais certamenteresulta emcorte de empregos no Brasil. Os efeitos perniciosos dessas importações sobre o mercado de trabalho da indústria, no entanto, ainda não são nítidos. O crescimento da produção industrial, ainda que em ritmo menos acelerado do que ano passado, continua a abrir postos de trabalho, o que ajuda a disfarçar o problema. Mas o crescente interesse dos industriais brasileiros por produtos chineses deixa claro que, se o País não enfrentar a questãoda perda de competitividade da economia, os prejuízos econômicos e sociais serão muito maiores e mais duradouros. O câmbio é um dos responsáveis poressa perda, maséum problema conjuntural. Há outros, estruturais,queprecisamserencaradoscomseriedade pelogoverno e pela sociedade, como o alto custo dos tributos, da mão de obra e dos financiamentos para os investimentos.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital: 3959-8500 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 3 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Editor-Chefe de Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Pacote industrial decepciona Corajoso, ousado e audaz foram os adjetivos impropriamente escolhidos pelo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, para qualificar a política industrial lançada nessa terça-feira pela presidente Dilma Rousseff. Bem ao contrário, a política industrial anunciada pela presidente Dilma Rousseff é caracterizada principalmente pela timidez das medidas fiscais, algumas provisórias e até em regime de teste. O pacote inclui políticas de apoio setorial já testadas e já reprovadas em outras circunstâncias, como a concessão de benefícios ao setor automobilístico em troca de investimentos, inovação tecnológica e geração de empregos. Além de tudo, o chamado Plano Brasil Maior tem um forte viés defensivo, embora o

real desafio para o produtor nacional seja competir em todos os mercados. Enfrentar o concorrente estrangeiro no mercado interno é apenas uma parte do problema – agravada pela forte perda de competitividade num cenário global especialmente desfavorável. A desoneração da folha de pagamentos foi apresentada como experiência piloto por tempo limitado – até dezembro de 2012 – e beneficiará poucos setores. O material divulgado pelo Palácio do Planalto e pelo Ministério do Desenvolvimento menciona somente as indústrias de confecções, calçados, móveis e software. Os quatro segmentos foram escolhidos como representativos dos setores com uso intensivo de mão de obra. Como contrapartida, será cobrada uma contribuição sobre o faturamento, com alíquota “a partir de 1,5% de acordo com o setor”. O governo se absteve de maiores esclarecimentos. Se hou-

ver perdas para a Previdência, o Tesouro cuidará da compensação. A timidez é ostensiva em todo o pacote. A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) cobrado nas compras de máquinas e equipamentos, materiais de construção, caminhões e veículos comerciais leves será estendida por 12 meses. Ou seja, um incentivo já em vigor será simplesmente prorrogado, sem se tornar um componente de uma política industrial de longo prazo. Mas também isso é facilmente explicável: política industrial ou de competitividade, no Brasil, é força de expressão. A desoneração de exportações, tal como apresentada, é quase uma brincadeira. O governo promete apressar o pagamento de créditos devidos a exportadores e acumulados há vários anos. Essa dívida equivale a uns R$ 24 bilhões e as empresas têm levado até cinco anos para receber o dinheiro – quando conseguem vencer os

obstáculos burocráticos. Em outras palavras, cumprir a obrigação de pagar dívidas virou item de política industrial. As novas bondades incluirão “maior agilidade” no atendimento aos 116 maiores exportadores. Mas o pacote inclui um mimo adicional – a restituição de 0,5% do valor da exportação de manufaturados a empresas até agora sem direito à recuperação de impostos pagos em etapas anteriores da produção. A presidente da República poderá elevar a alíquota a até 4%. O benefício, avisa o governo, é compatível com as normas internacionais. O aviso é feito, obviamente, porque o governo se julga exposto à contestação. As medidas para o setor automobilístico “ainda estão em estudo”, segundo a informação oficial, mas a indústria deverá atender a certas condições para merecer o benefício. Políticas desse tipo já foram tentadas e resultaram mais em privilégios do que

em benefícios para o País. O resto é pr0messa de crédito por meio de bancos oficiais. Nos últimos anos, os bancos oficiais foram usados amplamente para beneficiar empresas estatais e grandes companhias privadas escolhidas arbitrariamente. A política defensiva inclui medidas normais de política comercial, até agora mal aplicadas por incompetência administrativa. Trata-se, mais uma vez, de cumprir a obrigação. Além disso, será concedida preferência de preço de até 25% a empresas brasileiras, em certas concorrências. Muito melhor e mais seguro para todos seria adotar uma efetiva política de competitividade – algo mais sério que o Plano Brasil Maior. Mas isso envolveria mudanças fiscais para valer – com redução da gastança – e melhor aplicação do dinheiro público. Tudo isso está fora de cogitação.

Programas ‘esquecidos’

O que pode vir depois do acordo

medida que entra na rotina, o governo da presidente Dilma Rousseff começa a deixar de lado projetos demagógicos concebidos pelo governo anterior para favorecê-la na disputa eleitoral de 2010. O último projeto “esquecido” é o programa “Educação e Qualificação para Comunidades Extrativistas”, elaborado pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas e pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), com o aval pessoal do presidente Lula. Também chamado de “Saberes da Floresta” e financiado com recursos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o projeto se destina a atender a população ribeirinha das 89 Reservas Extrativistas e de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia e sua trajetória é mais um exemplo de como a educação tem sido gerida. Com alto número de analfabetos, 60 mil famílias vivem nas reservas da exploração de seringais, da colheita de castanhas e da agricultura de subsistência. O objetivo da SAE era desenvolver estratégias e ações voltadas para o ensino de crianças e jovens que moram na área, onde a rede pública só mantém escolas até a 4.ª série do ensino fundamental. Para continuar os estudos, os jovens têm de se mudar para as cidades. Essa mudança gera dois graves problemas. O primeiro é o esvaziamento das comunidades, onde só permanecem velhos, mulheres e crianças. O se-

rápida aprovação pelo Senado, por tranquila maioria de 74 votos a 26, e a imediata sanção pelo presidente Barack Obama do projeto que permite a elevação da dívida americana de US$ 14,3 trilhões e impõe cortes nos gastos do governo nos próximos anos sepultam o fantasma do calote do Tesouro dos Estados Unidos, dão algum fôlego político ao atual ocupante da Casa Branca – pois adiam discussões cruciais sobre gastos públicos para 2013, depois da próxima eleição presidencial – e proporcionam algum alívio no mercado financeiro. Mas deixam dúvidas e incertezas que podem realimentar novas turbulências na economia mundial, com impacto relevante sobre os países em desenvolvimento. Apesar de o projeto ter resultado de um acordo entre os Partidos Republicano e Democrata, sua arrastada negociação entre o governo e a oposição, que empurrou a votação para a data-limite fixada em lei – se o projeto não fosse aprovado até ontem, a partir de hoje o Tesouro teria de selecionar os pagamentos que poderia fazer, o que implicaria deixar de honrar outros compromissos –, prejudicou a imagem dos congressistas e do presidente Obama e não deixou nenhuma das partes inteiramente satisfeita. Na verdade, a votação na Câmara dos Representantes, que aprovou o projeto na noite de segunda-feira, revelou uma clara divisão na base de apoio de Obama, pois 95 deputados de-

À

boa parte dos brasileiros acha normal “comprar” uma carteira de habilitação para si e para seus filhos, comprar ingressos de cambistas, não respeitar os lugares marcados nas praças esportivas e adquirir DVDs e programas piratas. Há não muito houve um cancelamento geral das carteiras de estudante porque o número de documentos falsos era proibitivo e começava a pôr em risco a saúde financeira dos cinemas e teatros. Ou seja, a corrupção é democrática e muito bem aceita. Ser corrupto independe do valor monetário. É corrupto quem paga para passar num exame de habilitação de motorista ou quem superfatura uma obra para ganhar por fora. A eleição de políticos corruptos só vai terminar quando ética e honestidade voltarem a ser valores fundamentais no seio da sociedade. E isso depende de muita educação e de amplo movimento dos que se sentem incomodados com o atual estado de coisas.

gundo problema está na dificuldade que esses jovens têm para se adaptar à vida urbana. Com uma vida até então inteiramente voltada à família e à natureza, os rapazes começam a beber e a se envolver em brigas, enquanto as meninas são atraídas pela prostituição. Dos que completam o ensino básico, poucos retornam à comunidade – e, quando o fazem, trazem hábitos que levam à desagregação de suas famílias. Além de ignorar a gravidade desses problemas, o programa “Educação e Qualificação para Comunidades Extrativistas” se destaca pelo simplismo de

Projetos aloprados do governo anterior vão sendo discretamente engavetados suas propostas e pelo uso abusivo de jargões políticos – um vício dos movimentos sociais e do PT. Em seu documento de apresentação, por exemplo, o programa se propunha a elaborar “produtos síntese” – entre eles a construção de uma “política de educação na floresta” que expresse a visão que as populações extrativistas têm sobre educação e profissionalização. “Nós temos que ter uma educação diferenciada, onde o meu filho saiba que tem, hoje, uma condição de vida mais favorável por causa de toda uma luta que houve, dos que enfrentaram o sistema de governo e as situações que existiam, para poder trazer a qualidade de vida. Ele precisa se tornar parte e continuar carregando essa

SIDNEY GLINA glinas@terra.com.br São Paulo

SISTEMA ELÉTRICO Em curto-circuito

Tem razão o editorial Sistema elétrico precário (1.º/8, A3): pouco importa ao cidadão a origem do problema, o que se quer é solução. No estágio em que estão as coisas, não se pode mais contemporizar com multas ou apelos ao Procon. O governo tem de mostrar a sua autoridade e intervir com medidas extremas, como a cassação de concessões, para em seguida partir para um estudo sério de reestruturação do setor elétrico brasileiro. Ante a indiferença das concessionárias às sucessivas “ocorrências” no “sistema”, é o mínimo que se espera. NILSON OTÁVIO DE OLIVEIRA noo@uol.com.br São Paulo

bandeira; senão, essa bandeira, daqui uns dias, vai deixar de existir, porque você não dá valor às coisas que você não conhece – você precisa conhecer para dar valor”, diz Manuel Cunha, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas. Entre outras “prioridades”, o projeto repetia recomendações do 1.º Encontro Nacional de Seringueiros da Amazônia, realizado em 1985, como “a divulgação de histórias, poesias, músicas, receitas e objetos fabricados por seringueiros” e a inclusão na merenda escolar de “produtos oferecidos pela região”. Ele também propunha um elenco de dez princípios – quase todos tautológicos. Um deles afirmava que “a criança precisa saber que é parte da vida na floresta e nas águas”. Outro enfatizava que “as pessoasda florestaestão conectadas e que não é possível desplugá-las”. Em matéria de “encaminhamentos”, o projeto tecia considerações óbvias sobre qualidade da educação e capacitação docente e propunha a busca de “apoio financeiro direto” da União. Custa crer que uma iniciativa tão simplória e demagógica comoessatenhaconsumidorecursos humanos do governo e dinheiro do Pnud – além de ter sido anunciada espalhafatosamente pela rede pública de comunicação do governo Lula. Agora a presidente Dilma Rousseff faz a coisa certa, engavetando – com a devida discrição – programas que jamais deveriam ter sido apresentados como projetos de governo.

“Companhia Nacional de Apoio à Bandalheira” DAVID NETO / SÃO PAULO, SOBRE A CONAB drdavidneto@uol.com.br

Uma pessoa sem condições morais de se manter num Ministério também não deveria tê-las para assumir uma cadeira no Senado” MARCO ANTONIO MARTIGNONI / SÃO PAULO, SOBRE O EX-MINISTRO DOS TRANSPORTES mmartignoni@ig.com.br

A

mocratas votaram a favor e 95, contra. Foi a bancada republicana, com 174 votos a favor e 66 contra, que assegurou a aprovação do acordo. Mesmo assim, os dois lados tentam obter dividendos políticos desse episódio desgastante para os EUA e para o mundo. Para o senador republicano Lamar Alexander, a votação marcou uma mudança de comportamento na discussão da política fiscal americana, antes marcada por “gastos, gastos, gastos” e agora baseada em “cortes, cortes, cortes”. É o tipo de discurso que faz o gosto dos membros do Tea Party, a ala ra-

Senado americano sepulta o ‘zumbi’ do calote do Tesouro, que pode reviver em 2013 dical do Partido Republicano – que moveu uma intransigente e irresponsável cruzada contra o governo Obama, sem levar em conta as consequências para o papel dos EUA como locomotiva da economia mundial. Mas o que cortar? Isso não foi definido com clareza, o que deu espaço para o presidente Barack Obama também tentar capitalizar-se politicamente com o acordo. “Não podemos buscar o equilíbrio orçamentário impondo os custos sobre os ombros das pessoas que já foram castigadas pela recessão”, disse Obama logo depois da aprovação do acordo no Senado. Um plano equilibrado para a redução do déficit no longo prazo deve incluir uma reforma tributária para que os ricos

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Dívida dos EUA: Obama sanciona lei

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Projeto que eleva o limite da dívida do país foi aprovado pelo Senado e sancionado pelo presidente ● “Bem, agora Obama vai ter um respiro por uns seis meses, mas logo vai começar o sufoco novamente.” JOSÉ ROBERTO FERREIRA

● “O mundo não acabou, apenas está mudando.” PAULO JORGE

HÁ 733 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Até que enfim. Chega de irresponsabilidade quando a economia mundial está baseada na sensatez de líderes políticos. Não haveria outra saída.” BRUNO GARCIA

“paguem sua cota justa de impostos”, acrescentou. As duas declarações resumem a divisão entre republicanos, que querem cortes de gastos, e o governo democrata, que quer a reposição de impostos cortados por Bush. Essa questão não foi resolvida. Toda a discussão se deu sobre um cenário econômico nada animador. O PIB americano cresceu apenas 0,4% no primeiro trimestre e 1,3% no segundo. O desemprego continua alto, em 9,2%. A expansão da indústria perdeu vigor em julho. Desde a crise global iniciada em 2008, recursos públicos têm sido injetados na economia americana para evitar a redução mais intensa da atividade econômica. O ajuste fiscal americano, seja por meio de cortes de gastos ou de aumento de impostos (ou de ambos), fará o papel contrário, ou seja, tenderáareduziraatividadeeconômica. Pode ser pouca coisa. Mas, para uma economia que quasenãocresce,qualquerredução pode levar à estagnação. Dessemodo, maior importância terá a atuação do Federal Reserve, o banco central americano, para evitar a desaceleração mais acelerada da atividade econômica, pois entre seus objetivos está o de preservar o emprego. Isso resultará na manutenção de juros em níveis muitos baixos, com impacto negativo sobre a cotação do dólar. Ou seja, os dólares continuarão fluindo com intensidade para outros países, como o Brasil, que já enfrenta dificuldades com o excesso de entrada da moeda americana.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 4 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Editor-Chefe de Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Uma jornada republicana O senador Alfredo Nascimento teve os seus 15 minutos de glória – vá lá a palavra – ao subir à tribuna, 27 dias depois de ser obrigado a deixar o Ministério dos Transportes, para dar o show de indignação de todo político alvejado pela revelação de ilícitos. No caso, a denúncia de contratos superfaturados e cobrança de propinas em benefício do PR que Nascimento preside e que controlava a pasta. Dedo em riste, conforme a expressão corporal dos injustiçados, o notório político amazonense se disse “julgado e condenado sem que pudesse me defender” e acusou a presidente Dilma Rousseff de não lhe ter dado o apoio que prometera quando rebentou a crise. Aproveitou para assinalar que estava licenciado do Ministério, no ano

eleitoral de 2010, quando, na gestão do secretário executivo (e atual titular) Paulo Passos, os gastos do PAC no setor saltaram de R$ 58 bilhões para R$ 72 bilhões. Ao voltar ao cargo, teria informado a presidente do que escolheu chamar de “descontrole”. Mas não foi pela dupla insinuação – contra o substituto e sobre o eventual elo entre a campanha presidencial e o “descontrole” – que ele ganhou as manchetes. Foi graças ao achado de criar uma versão particular da canção de Waldick Soriano Eu não sou cachorro, não. Reagindo com o necessário ardor à faxina empreendida por Dilma nos Transportes, que até o começo da semana já derrubara 27 servidores da área, exclamou: “Eu não sou lixo, meu partido não é lixo, nós somos homens honrados”. O PR está representado no Congresso Nacional por 47 políticos assim qualificados. Pouco depois da fala de Nascimento, os 7 com assento

no Senado, decerto para fazer jus à designação, anunciaram o seu desligamento do bloco que faz parte da maioria governista na Casa, integrado pelo PT, PSB, PC do B, PRB e PDT, e liderado pelo petista Humberto Costa. No mesmo tom de ira justa do titular da legenda, o seu líder no Senado, o exuberante Magno Malta, atribuiu a saída do bloco à “execração pública de inocentes que estão sendo arrastados para o esgoto porque alguns estão se fazendo de paladinos da moralidade”. Mas, na mesma veia republicana do nome da agremiação, anunciou que “daremos apenas apoio crítico” ao governo. Ou seja, o preço aumentou. E, além disso, se bem se entendem as palavras do seu colega Blairo Maggi – “Daqui para a frente deixa-se livre quem tem mais afinidade com a matéria” –, cada membro da confraria dos homens honrados terá liberdade de praticar o preço que lhe convier.

A qualidade da água

M

uita água, mas de qualidade cada vez pior, sobretudo nas proximidades dos grandes centros urbanos, o que coloca em risco o abastecimento futuro das maiores cidades do País. Essa ameaça, embora real, nem sempre é percebida pela população e por autoridades, por causa dos números auspiciosos sobre a extensão dos sistemas públicos de abastecimento de água, que atendem mais de 90% dos domicílios. Os investimentos em saneamento básico aumentaram nos últimos anos, mas, para afastar o risco de desabastecimento, será necessário ampliá-los ainda mais. Estas são algumas conclusões do Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil – Informe 2011, elaborado pela Agência Nacional de Águas (ANA) com o objetivo de apresentar a situação da água no Brasil sob vários aspectos, como disponibilidade, qualidade e gestão de recursos hídricos. Trata-se da segunda edição desse trabalho, com dados de 2009 (a primeira edição foi lançada no ano passado, com dados de 2008), coletados em 1.747 pontos. Quando combinados com outro estudo realizado pela ANA – o Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água, lançado em março último –, os números do Informe 2011 compõem um quadro preocupante da disponibilidade e do uso dos recursos hídricos no País. Cruzando essa disponibilidade

Passeatas e transtornos

Novamente a Paulista virou palco de passeatas que nada produzem de bom à população, mas acarretam transtornos terríveis ao trânsito nesta complicada cidade. Se ao menos as centrais sindicais organizassem algo para mobilizar a população contra a roubalheira descarada do dinheiro público, até daria para relevar, mas nesse assunto essas “lideranças” não se querem envolver. Por que será? ADEMAR MONTEIRO DE MORAES ammoraes57@hotmail.com São Paulo

FORÇAS ARMADAS Queda de aeronave da FAB

Esse acidente aéreo em Santa Catarina apenas confirma o escrito pelo almirante Mario Cesar Flores em seu artigo A defesa no sentimento nacional (2/8, A2). Triste

com as condições de produção e distribuição de água, o Atlas conclui que, se grandes investimentos não forem feitos nos sistemas em operação e no desenvolvimento de novos, 55% dos municípios poderão enfrentar o problema de escassez de água. A lista inclui as maiores cidades do País, como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre e Brasília. Nelas vivem 125 milhões de pessoas, o que corresponde a mais de 70% da população urbana do País. De sua parte, o Informe 2011 deixa claro que a qualidade das águas é muito pior nas regiões

Um duplo desafio é o que o poder público enfrenta na gestão dos recursos hídricos de grande concentração populacional, justamente as que mais necessidades terão no futuro, o que torna o problema ainda mais dramático. O Brasil dispõe de 12% da oferta de água do planeta, mas apenas 4% dos recursos hídricos do País são considerados de qualidade ótima, um índice bem inferior aos 10% constatados no informe de conjuntura anterior da ANA. De acordo com o Informe 2011, 71% dos recursos são considerados de boa qualidade, número que parece indicar uma situação confortável para o País. Mas grande parte desses recursos está em regiões pouco ocupadas, sobretudo a Amazônia. Quanto à água que a população mais utiliza, a qualidade é

ainda é constatar no mesmo texto o pensamento no meio acadêmico – que espero minoritário –, como o de um professor que durante coffee break de seminário numa universidade proferiu, com tranquila convicção: “Realmente os militares ganham pouco, mas por que pagar-lhes mais se não precisamos deles?”. Espero que o Brasil nunca necessite dos serviços das nossas Forças Armadas, pois não tenho nenhuma dúvida de que se isso for necessário os primeiros a exigi-los serão esses mesmos que têm o seu mundinho voltado para o próprio umbigo. Afinal, como continuarão a viver de bolsas mantidas pelo contribuinte? Para eles, os mortos – e suas consequências para familiares e instituições que os formaram e mantiveram – se tornam somente passado e números. Com a palavra a sra. presidenta. ADILSON MENCARINI adilsonmencarini@uol.com.br Guarulhos

Como diria o velho Marx, “a cada um segundo as suas necessidades”. Rememoram-se os melhores momentos da jornada republicana da segunda-feira porque contêm os ingredientes dessa geleia indigesta que a presidente da República não podia ignorar que lhe seria servida se desse certo o plano do patrono Lula de fazê-la sua sucessora. Ao longo de julho, ela conquistou a opinião pública com a sua pronta resposta às denúncias da esbórnia nos Transportes. Mas até os companheiros – se não o próprio Lula, de viva voz – já a advertiram para a inconveniência de ser a palmatória do mundo político de que depende. É o que parece explicar a sua decisão de não mais se pautar “por medidas midiáticas” em face da corrupção. Ministros na berlinda devem se explicar no Congresso. Foi o que tocou ao titular peemedebista da Agricultura, Wagner Rossi, ligado ao vice-presidente

Michel Temer. Depois de perder a boca na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) por autorizar um pagamento indevido, Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá, também do PMDB, acusou Rossi de ser mais corrupto que o pessoal dos Transportes. No dia em que Nascimento roubou a cena no Senado, a caciquia da legenda decidiu que o problema dos Jucás não era político, porém familiar, e que não há problema algum com Rossi. Como prova de que os costumes da política brasileira não correm perigo de melhorar, o registro se completa com a reflexão do presidente do Senado, José Sarney, sobre o episódio. “Parentes no governo”, ensinou, “sempre criam problemas, ou para o governo, ou para o parente.” Como se ele tivesse aprendido essa verdade olhando o entorno – e não por alentada experiência própria.

Novos temores nos mercados baixa e vem piorando. Um quarto da água dos rios, lagoas e mananciais do País é de qualidade péssima, ruim ou regular. No estudo anterior da ANA, 20% dos recursos hídricos tiveram essas classificações. Os pontos que apresentam qualidade de água péssima e ruim se encontravam, na maioria, nas proximidades das regiões metropolitanas, e o grande responsável pela degradação dos recursos hídricos nesses pontos é o lançamento de esgoto sem tratamento. O Rio Tietê é um dos que têm pior classificação no estudo da ANA, o que era previsível. O que surpreende é a inclusão, entre os rios com qualidade de água ruim e péssima, do Iguaçu, que corta o Parque Nacional do Iguaçu, e do Guandu Mirim, no Rio de Janeiro, também situado numa área de conservação, a Área de Proteção Ambiental do Rio Guandu. A universalização do abastecimento de água por rede pública e, em particular, o atendimento da demanda futura nas grandes cidades estão exigindo a ampliação das unidades de captação e tratamento e, em muitas regiões – inclusive a Grande São Paulo –, a busca de novas fontes de captação que, como mostra a ANA, estão cada vez mais contaminadas. Por isso, é duplo o desafio do poder público na gestão dos recursos hídricos do País: ampliar os sistemas de coleta e, sobretudo,detratamento adequado do esgoto urbano, ao mesmo tempo que investe em sistemas de captação, tratamento e distribuição de água.

“Para ex-ministro, o PR não é lixo. Para seus dirigentes e apaniguados, é luxo...” VIDAL DOS SANTOS / SÃO PAULO, SOBRE O DISCURSO DE ALFREDO NASCIMENTO NA VOLTA AO SENADO vidal.santos@yahoo.com.br

“Só realiza ou autoriza passeatas na Paulista em dias úteis quem não tem respeito pelo paulistano” JORGE A. NURKIN / SÃO PAULO, SOBRE A MANIFESTAÇÃO DE ONTEM jorge.nurkin@gmail.com

P

assado o temor do calote americano, uma nova onda de preocupações se espalha pelos mercados, atinge o Brasil e põe o governo em alerta, como deixou claro a presidente Dilma Rousseff ao lançar o Plano Brasil Maior. Ela previu “um longo período de tensão” na economia mundial e novos problemas cambiais causados pelo excesso de dinheiro emitido nos países mais desenvolvidos. Mas o cenário global é mais complexo e mais assustador. Inclui o risco de nova fase de estagnação nos EUA e em vários países do mundo rico e de mais um surto de problemas financeiros na zona do euro. Na terça-feira os governos da Itália e da Espanha tiveram de pagar juros excepcionalmente altos – 6,13% e 6,28% – para rolar seus títulos no mercado. Diante da nova turbulência, o primeiro-ministro espanhol, José Luís Zapatero, adiou as férias de verão. Seu colega italiano Silvio Berlusconi apressou-se a marcar para o dia seguinte um discurso no Parlamento. Na quarta-feira de manhã, o ministro da Economia da Itália, Giulio Tremonti, reuniu-se em Luxemburgo com o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, para uma conversa sobre os problemas da zona do euro. O Eurogrupo reúne os ministros de Economia e Finanças da união monetária. A notícia do encontro “produtivo” foi seguida por uma valorização de ações de bancos de toda a Europa, depois de vários dias de baixas.

O alívio trazido pelo novo pacote de socorro à Grécia durou pouco e foi logo substituído por temores mais fortes em relação à dívida soberana de duas economias consideradas até há pouco tempo mais sólidas que a grega – a portuguesa e a irlandesa. As dúvidas – ou especulações – quanto à segurança dos papéis da Itália e da Espanha tendem a contaminar a credibilidade de outros devedores. Como consequência, já se comenta nos mercados a possibilidade de novas compras de títulos públicos pelo Banco Central Europeu (BCE). Desde maio de 2010, quando os governos

A superação do risco de calote americano não melhorou o clima tenso na economia mundial se mobilizaram para a primeira ajuda à Grécia, o BCE comprou € 78 bilhões em papéis gregos, portugueses e irlandeses, agora muito desvalorizados. Governos locais da Hungria pediram um ano de carência para suas dívidas em francos suíços, uma das moedas mais valorizadas nos últimos tempos. Diante da turbulência, aumentaram as apostas de que o BCE e o Banco da Inglaterra manterão os juros, nas reuniões que farão hoje. Na zona do euro, a melhor notícia da semana veio do varejo. As vendas de junho foram 0,9% maiores que as de maio. Mas a informação completa é menos animadora. O resultado de junho ainda foi 0,4% inferior ao de um ano antes. Além disso, a queda

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Celular é proibido em bancos de São Paulo

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Lei também foi aprovada neste ano em outras duas cidades paulistas e nos Estados de MG, RJ e CE ● “Nem na escola respeitam a proibição ao uso dos celulares. Quem dirá em bancos...” MARIA LUIZA ARENA

● “É muito mais fácil proibir de usar celular em bancos do que combater a bandidagem.” DENISE ARNOLDI

HÁ 734 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Agência bancária não é posto telefônico para conversar no celular. Liga depois, faz de conta que você está dirigindo.” VERA REGINA CINTRA ROLIM

de abril para maio foi revista de 1,1% para 1,3%. Na maior parte da zona do euro os sinais vitais continuam muito fracos. Nos EUA, o Departamento do Trabalho deverá divulgar amanhã um dos indicadores mais esperados de cada mês – a evolução do emprego nas atividades urbanas. Na quarta-feira, a ADP, uma gigante processadora de folhas de pagamento, informou a criação de 114 mil empregos pelo setor privado, em julho, número superior ao previsto por vários economistas do mercado financeiro – 100 mil. Mas, segundo a consultoria Challenger, Gray & Christmas, o número de cortes planejados pelasempresas privadas chegou a 66.414 no mês passado, 60% maisdoqueemjunho.Osuspense continuará até saírem os dadosoficiais. Osúltimos disponíveisindicamque9,2%dedesemprego foi do setor rural. Sejam quais forem os novos números, as perspectivas são de recuperação mais lenta e mais difícil da economia americana. Seo ajusteorçamentáriodepender só de cortes de gastos, sem aumento de impostos para ricos e grandes empresas, a crise será longa e penosa para milhões de famílias.Porisso ogoverno continua batalhando politicamente para conseguir pelo menos a reduçãodasisençõesfiscaisconcedidasaoscontribuintesmaispoderosos. Uma estagnação mais longanasmaioreseconomiascapitalistas comprometerá o comércio internacional, aumentaráasdistorções nos fluxos decapitais e terá um enorme custo para os países emergentes e em desenvolvimento.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 5 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Editor-Chefe de Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Notas & Informações

Quinta-feira negra Como se fosse uma nova quinta-feira negra, os mercados financeiros de todo o mundo viveram ontem um dia de pânico excepcionalmente descontrolado. Nenhum novo desastre havia ocorrido nos países do mundo rico atolados na dívida pública e muito próximos da insolvência. Tudo se passou como se a percepção do perigo se houvesse aguçado de um dia para outro e todas as bolsas mergulharam, de repente, num salve-se quem puder. De manhã, especuladores correram em busca do ouro, levando a sua cotação ao recorde de US$ 1.684,90 por onça-troy. Horas depois o preço recuou, porque os investidores foram forçados a vender o metal para cobrir margens e enfrentar perdas nos mercados de ações. Talvez nenhum outro episódio sin-

tetize tão bem quanto esse a experiência de medo e desordem em um único dia. As tentativas do Banco Central Europeu (BCE) de socorrer os bancos e aliviar a pressão sobre alguns países foram insuficientes para restabelecer a calma. Dois dias antes o mundo havia escapado de um calote do Tesouro americano – mas não do risco de uma nova e penosa retração econômica dos Estados Unidos. Em seguida, a insegurança em relação à economia americana somou-se ao renovado e intensificado temor diante das dificuldades fiscais da Itália e da Espanha, países grandes demais para ser socorridos pelo Fundo Europeu de Estabilização Financeira. Na manhã desta quinta-feira o BCE e o Banco da Inglaterra anunciaram a manutenção dos juros básicos em 1,5% e 0,5%, respectivamente. Além disso, o Banco da Inglaterra decidiu prosseguir no programa de compra

de títulos no valor de £ 200 bilhões. A novidade mais importante foi a nova intervenção do BCE, leiloando empréstimos a instituições financeiras e absorvendo bônus da Irlanda e de Portugal. As intervenções foram inúteis. Ações de bancos caíram em todas as grandes bolsas europeias. Os papéis do Barclays caíram 7,7%. Os do Lloyd’s, 10%. Os do Commerzbank, 6,1%. A lista de perdas foi longa. No fechamento, os índices das bolsas europeias haviam caído entre 3,23% (Milão) e 3,9% (Paris). O Dow Jones, da Bolsa de Nova York, recuou 4,31%. O pânico estendeu-se aos mercados de commodities, por causa das perspectivas de recessão. Em Nova York, no começo da tarde, os contratos futuros de petróleo eram negociados com queda de 3,99%. O temor dos investidores era alimentado tanto pelas dificuldades fiscais das grandes economias endividadas – a começar pela americana – co-

mo pela sucessão de más notícias sobre o emprego e o consumo nos Estados Unidos e na Europa. Notícias de problemas continuavam chegando também do Japão, onde o governo havia anunciado novas medidas contra a valorização do iene, uma grave ameaça a uma economia muito dependente das exportações. Mas ninguém poderia esperar, depois dos desastres naturais deste ano, uma contribuição japonesa para a recuperação mundial. Desde a superação da primeira fase da crise, o mundo nunca esteve tão perto de um segundo mergulho na recessão, profetizado mais de uma vez por economistas conhecidos por suas avaliações pessimistas. Até agora essa hipótese foi descartada em todas as projeções divulgadas pelas grandes instituições financeiras multilaterais. Mas os fatores de risco se avolumam e o grau de cooperação entre as grandes potências capitalistas – Estados

Audiência pública no TST

Em nome do chefe

eguindo o exemplo do Supremo Tribunal Federal (STF), o Tribunal Superior do Trabalho (TST) decidiu promover audiências públicas para dar publicidade aos casos mais polêmicos em julgamento, com grandes implicações sociais, econômicas e políticas. A primeira audiência pública do STF foi realizado em 2007, quando a Suprema Corte – pressionada por entidades religiosas, por um lado, e por associações científicas e movimentos sociais, por outro – iniciou a discussão sobre pesquisas com célula-tronco. Ao convocar para os dias 4 e 5 de outubro a primeira audiência pública de sua história, o TST elegeu a terceirização como o tema dos debates. Até o momento, a direção do TST informou que pretende discutir apenas o trabalho terceirizado nos setores financeiro, de tecnologia de informação e de telefonia, de onde emanam milhares de ações judiciais que tramitam na primeira e na segunda instâncias da Justiça Trabalhista. Mas, entre concessionárias de serviços básicos, entidades de classe, sindicatos, advogados e juízes trabalhistas, há a expectativa de que o presidente da Corte, ministro João Oreste Dalazen, também acabe incluindo o setor de energia elétrica. Além de convocar o ministro do Trabalho, o advogado-geral da União, o procurador-geral do Trabalho e o presidente do Conselho Federal da OAB para participarem da audiência pú-

m reunião com dirigentes petistas no último fim de semana, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, na aparente tentativa de tranquilizar os aliados que andam com a pulga atrás da orelha por causa da faxina no Ministério dos Transportes, garantiu que o governo não tem a intenção de promover uma “caça às bruxas”, mas, sim, “um clima de ir para cima, de cobrar sempre que houver algum tipo de erro”. Traduzindo: se a mídia apresenta denúncias consistentes o governo não pode deixar de tomar providências para coibir a corrupção, a ladroagem, ou melhor, para corrigir “algum tipo de erro” e dar uma satisfação à opinião pública. O erro, como se vê, não é cometer delitos, mas deixar-se apanhar com a boca na botija. Uma vez que Gilbertinho, como é carinhosamente chamado pela companheirada, é o seu mais fiel escudeiro e permaneceu no Palácio do Planalto exatamente para o leva e traz que interessa ao chefão, conclui-se que suas declarações traduzem exatamente o que o ex-presidente pensa a respeito dos escândalos de corrupção que têm abalado os primeiros meses do governo Dilma Rousseff. Nenhuma novidade para quem conhece a história do mensalão. A grande novidade é a crescente visibilidade de Gilberto Carvalho, depois de oito anos de discretíssima atuação, dentro do palácio, como secretário do então presidente. Sua liga-

S

desfavor dos negros), quando lhe couber encontrar uma adequada forma de fazer cumprido o que está exigido no artigo 206, inciso I, da Constituição federal de 1988, quanto às condições de igualdade para o acesso ao sistema oficial de ensino.

blica, o TST vai permitir que os interessados em assistir, intervir nos debates e apresentar contribuições técnicas, pareceres jurídicos e análises econômicas possam se inscrever pela internet. E, para balizar as discussões, a Corte escolheu 200 ações trabalhistas que discutem se empresas prestadoras de serviços – como 0s call centers das concessionárias de telefonia, por exemplo – podem ou não terceirizar os empregados que atuam nas atividades-fim. Atualmente, a Justiça do Trabalho admite apenas a terceirização dos trabalhadores das atividades-meio – como os que

Terceirização será debatida em audiência pública no TST no início do próximo mês atuam nos serviços de limpeza e segurança, por exemplo. Mas as entidades de classe questionam esse entendimento. Várias empresas de energia e telefonia já recorreram ao Supremo, pedindo a concessão de liminares para terceirizar os trabalhadores das atividades-fim. A matéria é tão polêmica que a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica contratou um estudo econômico da LCA e Associados – empresa de consultoria que pertence ao economista Luciano Coutinho, atual presidente do BNDES – e dois pareceres jurídicos, um de autoria de Carlos Mário Velloso, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, e outro de autoria de Arnaldo Lopes Sussekind, ex-ministro

VALENTINO APARECIDO DE ANDRADE, juiz de Direito valentinoandrade@uol.com.br São Paulo

mente, contrariando o princípio de igualdade da Constituição, é uma receita para o desastre, seja para facilitar acesso à universidade ou outro. Será que usar critérios mais objetivos, como a condição econômica, não são a melhor maneira de lidar com isso? Das soluções possíveis, faz sentido importar uma dos EUA? Será que nossas sociedades são tão parecidas assim? Acho que não.

O risco invisível

RENATO GENTILE ROCHA rerocha65@gmail.com São Paulo

Entendo as boas intenções dos defensores de cotas. Não acredito que vivamos numa sociedade que superou o preconceito, baseado nos mais diferentes aspectos: origem, condição econômica, gênero e orientação sexual, religião, idade, educação formal e muitos outros. Ainda assim, instituir “tribunais raciais” com base em regras obscuras (?), de maneira e por pessoas orientadas politica-

ANIVERSÁRIO DE OBAMA Envelhecimento precoce

Barack Obama completou ontem 50 anos de idade. Ter poder deve ser muito bom, haja vista o furor com que é buscado. Mas é implacável com o ser humano. LUIZ NUSBAUM lnusbaum@uol.com.br São Paulo

do Trabalho e da Previdência, ex-ministro do Tribunal Superior do Trabalho e único membro sobrevivente da comissão de juristas que criou a Consolidação das Leis do Trabalho, há quase 70 anos. Segundo eles, a terceirização dos trabalhadores das atividades-fim aumenta a eficiência, reduz custos e permite a expansão da produção de bens e serviços. Alegando que a terceirização acarreta a precarização do trabalho e suprime direitos sociais, a Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações já anunciou que irá se opor a essa tese. Na audiência pública que o TST promoverá, as discussões nãoselimitarãoaaspectostécnico-jurídicos. As questões legais serão debatidas juntamente com questões econômicas e políticas, permitindo aos ministros da Corte ouvir diretamente aopiniãodaquelesqueserãoafetados por seus julgamentos. Esse é o momento em que todos os setores interessados, se não se deixaremlevarpeladefesadeinteressescorporativosepeloproselitismo ideológico, poderão chamar a atenção dos ministros do TST para particularidades queelesnãocostumamlevarem conta em seus votos. Comomuitasaçõestrabalhistasrelativasaotrabalhoterceirizado podem envolver questões complexas e a magistratura tem uma formação genérica, a primeira audiência pública do TST pode ajudar a evitar sentenças e acórdãos tecnicamente equivocados, aumentando assim a certeza jurídica nas relações entre o capital e o trabalho.

“Quem é o próximo?” ROBERT HALLER / SÃO PAULO, SOBRE A ANUNCIADA DEMISSÃO DO MINISTRO NELSON JOBIM robelisa1@terra.com.br

“Ideli não é fraca, não! Quando é que vão começar as denúncias de irregularidades no Ministério da Pesca?” LUIZ HENRIQUE PENCHIARI / VINHEDO, IDEM luiz_penchiari@hotmail.com

E

Unidos, Europa e Japão – é muito mais baixo, neste momento, do que nas primeiras fases da recessão iniciada em 2008. O mercado brasileiro também foi abalado pela onda de pânico. Nesta quinta-feira, o Ibovespa oscilou durante o dia todo em território muito negativo, com recuo sempre maior que 4%, e acabou caindo 5,72%. Nenhuma outra grande bolsa teve um desempenho tão ruim. O governo reconhece a gravidade do quadro internacional. O Brasil, segundo as autoridades, está preparado para qualquer novo impacto. Seria preferível um pouco mais de preocupação. O governo terá pouco espaço em suas contas para uma política anticíclica, porque o orçamento está muito comprometido com despesas improdutivas e as pressões inflacionárias ainda são consideráveis. Faltou preparação para enfrentar uma nova fase de turbulência.

ção a Lula é tão estreita e íntima, que seria natural imaginar que ele permaneceria fisicamente perto do chefe qualquer que fosse o destino deste depois de dois mandatos. Mas Gilbertinho permaneceu no Palácio, instalado em sala próxima à da nova presidente, onde tem cumprido, cada vez com maior desenvoltura, o papel de olhos, ouvidos e voz daquele que deixou de ser, mas, de fato, continua se comportando como o supremo mandachuva. Na verdade, Gilberto Carvalho foi imposto a Dilma pelo patrono de ambos, no quadro do compreensível esquema que orientou a

A crescente visibilidade do fiel escudeiro de Lula não parece casual nem deve ser esporádica montagem da primeira equipe de seu governo. Ou seja, a sucessora aceitaria, por dever de lealdade, algumas “sugestões” do retirante. Como resultado desse peculiar arranjo, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República sente-se à vontade para manifestar opiniões que, claramente, se opõem ao que pensa aquela que oficialmente é sua chefe. Essa é uma evidência que se vem deliberadamente revelando nos contatos informais do ministro-secretário com repórteres que cobrem o Palácio do Planalto e com outros jornalistas que têm acesso a seu gabinete. E cada vez menos os recados de Gilberto Carvalho são protegidos pelo off the record. Dias atrás,

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Dilma demite Jobim após ler entrevista

1.314

Presidente leu íntegra de texto da revista ‘Piauí’ em que o ministro da Defesa tece críticas ao governo ● “Tanto faz o que ele diz, já não acredito em ninguém mesmo. Ainda mais vindo de Brasília.” FERNANDA LEMOS

● “Parabéns ao ex-ministro pela transparência, inclusive sobre os detalhes sórdidos do poder!” GUSTAVO JACCOTTET

HÁ 735 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Ainda bem que existem os que falam a verdade e assumem o que fazem!” LETICIA PASSARELLI

quando Dilma já havia deixado claro que pretendia afastar todososenvolvidos nas denúncias de corrupção nos Transportes, inclusive o diretor-geral do Dnit,GilbertoCarvalhomanifestou de forma igualmente clara aos jornalistas a convicção de que pelo menos a demissão do notório Luiz Antonio Pagot deveriaser empurradacom a barriga até que o indigitado retornasse das férias que havia solicitado exatamenteparase colocartemporariamente a salvo de punição. Dilma não cedeu à pressão e Pagot, que havia ameaçado sair atirando se sua demissão fosse confirmada, acabou regressando mais cedo das férias e pedindo ele próprio para sair – pelo menos por enquanto, com a arma no coldre. Essa desenvoltura sem precedentes de Gilberto Carvalho se manifesta também em questões relativasaoPT.Repetindoemalto e bom som o que seu chefe tem defendido no partido – com a clara intenção de ficar livre paraindicarnomesdesuapreferência, como Fernando Haddad em São Paulo – o secretário-geral da Presidência condenou publicamentearealizaçãodepréviasparaaescolhadoscandidatospetistas à sucessão municipal do próximo ano. Com o contraditório argumento de que o partido não pode “pôr os projetos pessoais acima dos coletivos”, garantiu que a realização de prévias seria, agora, “um desastre” para o PT. Ocomportamento, em assuntos do governo, do colaborador que teve de aceitar certamente nãodeixaapresidentesatisfeita. Mas ela sabe que esse é um sapo que precisa engolir.

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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 6 DE AGOSTO DE 2011

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Plinio Villares Musetti

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Uma escolha infeliz Nelson Jobim fez por merecer a decisão da presidente Dilma Rousseff de exigir que se demitisse do Ministério da Defesa, para não obrigá-la a demitilo. Na pasta desde 2007, foi mantido a pedido de seu admirador Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma atendeu ao pedido, mas confinou o apadrinhado ao seu cantão, sem ser chamado para opinar sobre questões políticas e jurídicas alheias à sua área, como Lula fazia a três por quatro, nutrindo as ambições políticas do ministro. Foi além, o ex-presidente, em suas mesuras ao seu protegido, ao manobrar para que chegasse ao comando do PMDB a fim de que o partido o indicasse para vice de Dilma. Dado esse retrospecto, não será difícil de imaginar o ressentimento de Jobim com a perda de prestígio no

Planalto, certamente agravado pelos cortes no orçamento militar que atingiram duramente os projetos de reequipamento das Três Forças e pelas diferenças entre ele e a presidente sobre a questão dos guerrilheiros desaparecidos no Araguaia, entre outros motivos para frustração. A frustração foi o que decerto o levou a dar vazão ao que o seu temperamento tem de mais criticável – a pesporrência que leva à insopitável incontinência verbal a que ele se entregou com frequência ao longo da carreira política, sempre se retratando em seguida. Desta vez a retratação pública não evitou o que parece ser o fim dessa carreira. Jobim já tinha sido no mínimo indelicado com a presidente da República, à qual devia obediência e respeito, ao insinuar que “os idiotas” se aboletaram no governo e ao tornar público que na última eleição votara no amigo tucano José Serra. Tudo isso ela

ouviu em silêncio. O que definitivamente não poderia admitir, sob pena de desmoralização, foi a entrevista do ministro à revista Piauí. Menos pelas grosserias com que se referiu às colegas Ideli Salvatti e Gleisi Hoffman, do que pela versão que deu a uma conversa com a presidente sobre a nomeação do petista José Genoino para assessorá-lo na Defesa. Perguntado sobre a utilidade do exdeputado na função, ele respondeu: “Quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu”. Feita a coisa certa, ato contínuo a presidente fez o seu contrário. Na ânsia de encerrar rapidamente mais este episódio infeliz do seu breve governo, escolheu o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim para o lugar de Jobim, sem dedicar algum tempo à avaliação dos problemas que poderá criar para o seu governo na pasta da Defesa. Se tivesse feito isso poderia ver o que salta à vista de todo

estudioso da era Lula, ou seja, que nem as Forças Armadas mereciam isso depois de ser comandadas pelo primeiro civil que se fizera respeitar por elas nem o País merecia isso depois de Jobim ter sido o primeiro na pasta a consolidar os instrumentos legais, políticos e administrativos que asseguram a subordinação da esfera militar ao poder civil. Julguem-se como se queiram todas as demais atitudes de Jobim, nisso ele foi exemplar. Eis que é sucedido pelo homem errado no lugar errado. Primeiro, Dilma errou por entregar a Defesa a quem passou os últimos oito anos – com o entusiasmado aval de Lula – impondo um viés ideológico bolivariano à diplomacia brasileira, com a agravante de ter sido um fracasso total. O apoio ao Irã de Ahmadinejad, a identificação com a Cuba dos irmãos Castro e a confraternização com a Venezuela de Hugo Chávez configuraram uma política que “contrariou

princípios e valores” das Forças Armadas, na avaliação de oficiais-generais da ativa ouvidos por este jornal sob a condição de anonimato. Em segundo lugar, Dilma errou por nomear um egresso do Itamaraty para cuidar dos assuntos militares, aparentemente alheia à verdade elementar de que a função do soldado começa quando se esgota a do negociador. A guerra pode ser a continuação da política por outros meios, mas há um abismo entre a mentalidade de um general e a de um diplomata. As duas áreas cruciais do Estado devem se articular nas circunstâncias necessárias. Mas as culturas profissionais inerentes a uma e a outra são distintas, quando não, distantes. Essa questão de fundo continuaria a existir fosse o escolhido de Dilma um ex-chanceler que tivesse se pautado pelo interesse nacional como o interpretam os militares. Com um ideólogo, então, é brincar com fogo.

Explosiva falta de investimentos

Tapinha na mão de Assad

ntre janeiro de 2010 e julho de 2011 ocorreram 28 explosões de bueiros no Rio. Em apenas 18 dias, no mês passado, houve 6 explosões. Em 29 de junho de 2010, dois turistas norte-americanos ficaram gravemente feridos quando a tampa de um bueiro na esquina das Rua República do Chile e Avenida Nossa Senhora de Copacabana foi para os ares. As explosões decorrem da falta de manutenção de equipamentos subterrâneos, sobretudo das redes de gás da Companhia Estadual de Gás (CEG) e das tubulações por onde passam os cabos elétricos da Light, mas só no mês passado a Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor assinou Termos de Ajuste de Conduta (TAC) com a Light e a CEG, que pagarão multa de R$ 100 mil por explosão que resulte em morte, lesão corporal ou dano ao patrimônio público ou privado. A Light, privatizada em 1996, tem uma rede subterrânea de 5.700 km no Rio e pouco investiu nos últimos 30 anos. A CEG pertence a um grupo espanhol e também investiu menos do que o necessário nos seus 4.000 km de dutos, dos quais 5% são de ferro – e enferrujam. As redes subterrâneas são compartilhadas com concessionárias de telecomunicações, água e esgoto. Além das intervenções necessárias, há casos de depredação da infraestrutura, alagamento, entupimento ou obstrução de bueiros e tampas.

tibieza da comunidade internacional diante das atrocidades do ditador sírio Bashar Assad contra a população civil, na escalada repressiva para esmagar o movimento de massa pelo fim do seu regime despótico, ficou escancarada na quarta-feira. Enquanto o Conselho de Segurança (CS) da ONU aprovava, depois de quatro meses de negociações, uma desdentada “declaração presidencial” condenando suavemente Damasco pela violência que já provocou mais de 1.600 mortes, em Hama, no centro da Síria, tanques, blindados e atiradores de elite das forças de segurança abriam fogo contra tudo que se movesse e moradias suspeitas de abrigar “gangues armadas”, como a ditadura se refere aos insurgentes. Hama – onde em 1982 o ditador Hafez Assad, pai do atual, matou pelo menos 10 mil habitantes para acabar com um levante islâmico – tornou-se o epicentro das manifestações pela democratização do país, desencadeadas há cerca de cinco meses, na esteira dos movimentos populares que apearam os ditadores da Tunísia e do Egito. Depois de uma fracassada tentativa do regime de domar a cidade, os ativistas dela se apoderaram, erguendo barricadas em torno da Praça Assi, o equivalente sírio à Praça Tahrir do Cairo, onde por semanas a fio centenas de milhares de pessoas se reuniam para exigir a saída do tirano Hosni Mubarak. No último domingo, véspe-

E

Curriculum vitae

Jobim defendia o País com patriotismo, Amorim defendeu a “democracia” do Irã, da Venezuela e da Bolívia – quando justificou a invasão da Petrobrás por Evo Morales como ato de soberania daquele país. Atrás dessa escolha há nitidamente as digitais de Marco Aurélio top-top Garcia e Lula, já reunindo o velho time para 2014. Lula, como sempre, antecipando-se. Mais prejuízos à vista. Aguardem. PETER CAZALE pcazale@uol.com.br São Paulo

‘TUTTY HUMOR’ Dia do Orgulho Hétero

Sou leitor assíduo desse jornal, que aprendi a admirar e respeitar desde a minha juventude, sobretudo pela sobriedade, elegância e lucidez na cobertura dos assun-

Uma das causas mais frequentes de explosão é o vazamento de gás da CEG. Uma bituca de cigarro ou uma fagulha elétrica podem provocar uma explosão, como a que levantou uma tampa de duas toneladas a quatro metros de altura, em abril, destruindo um táxi. Mas, até há pouco, a CEG negava a responsabilidade pelos vazamentos de gás. O presidente da CEG, Bruno Armbrust, diz que só neste ano 165 danos aos dutos da empresa foram causados por terceiros. A CEG só assinou o TAC depois de a Light ter admitido as próprias falhas. Segundo reportagem do jor-

Ex-diretor da Aneel admite que política da agência gerou atrasos na manutenção nal Valor, o secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos do Rio, Carlos Osório, afirmou: “Temos uma concessionáriadedistribuiçãodeenergia elétrica com problemas e uma concessionária de distribuição de gás canalizado também com problemas”. Mas os poderes públicos não mostraram responsabilidade: o subsolonãoécompletamentemapeado pela prefeitura e o cromatógrafo, que identifica a origem do gás encontrado após as explosões, pertence à CEG – que assim se obriga a produzir provas contra ela própria. O Rio é um dos sete Estados que não assinaram convênio de fiscalização com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Por isso, a Aneel também não assinou

tos de interesse público. Em geral, a coluna de Tutty Vasques é uma brisa diária de bom humor em meio à aridez natural do noticiário - afinal, o que é notícia nem sempre nos deixa alegres. Por isso fiquei surpreso com a agressividade do famoso humorista ao falar do projeto de lei que cria o Dia do Orgulho Hétero, que procuro discutir em alto nível e apresentei para levantar a discussão sobre os privilégios e os excessos praticados pelos gays. Respeito a figura humana do gay e, ainda que o jornalista que assina sob o pseudônimo de Tutty Vasques considere que tenho ideia de jerico, sou um ser humano e é como tal que raciocino. Todos têm o direito de discordar do que penso e expresso, mas bom seria se não faltassem a ninguém respeito e compostura no debate, que deve manter-se sempre em nível elevado. CARLOS APOLINARIO, vereador apolinariosp@gmail.com São Paulo

convêniocomaAgênciaReguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro (Agenersa), acusada de não ter independência em relação ao governo carioca. A Agenersa multou a CEG em R$ 16,5 milhões, em 60 processos abertos desde 2007, mas só recebeu R$ 2 milhões. A Light admitiu que opera, desde2009,acimadasuacapacidade nominal. “Senão, era apagão”, disse seu presidente, Jerson Kelman, ex-diretor-geral da Aneel. Mas parte da culpa pela falta de investimentos – da Lightedasdemaisconcessionárias, em todo o País, caso da Eletropaulo e da CTEEP, em São Paulo – é atribuída por Kelman à política de modicidade tarifária do governo federal. “Como regulador, proibi investimentos”, disse ele. Kelman explicou que as empresas de eletricidade pedem licença à Aneel para investir e depois transferem para as tarifas os investimentos autorizados. E a Aneel não autorizava os investimentos, que provocariam aumentonastarifaseiriam contraapolíticademodicidadetarifáriadogoverno.Osinvestimentos eram vistos pelo regulador como pressuposto básico da concessão: as concessionárias não deixariam de investir, pois neste caso não ofereceriam um bom serviço. Mas, para manter a “modicidade tarifária”, os investimentos não foram feitos. Kelman admite que errou. A confissão de Kelman não pode ser ignorada quando a falta de investimentos provoca prejuízos e, sobretudo, ameaça a integridade física das pessoas.

“No governo do PT quem fala a verdade merece castigo” MARIA REGINA ALVES BARBOSA / SÃO PAULO, SOBRE A DEMISSÃO DE NELSON JOBIM mre_barbosa@hotmail.com

“No devido tempo Lulla mandará Dilma ‘não querer’ ser candidata” ALVARO SALVI / SANTO ANDRÉ, SOBRE A ELEIÇÃO DE 2014 alvarosalvi@hotmail.com

A

ra do início do Ramadã, Assad ordenou uma ofensiva militar que deixou algo como 80 mortos em Hama e mais 60 em outras localidades. O recrudescimento da repressão obrigou o Conselho de Segurança a tomar uma atitude. As chancelarias de países-membros como a Rússia e o Brasil, que, ao lado da China, Índia e África do Sul, se opõem à adoção de sanções contra o governo sírio e seus hierarcas, manifestaram-se pela primeira vez em termos duros contra a selvageria de Damasco. O Itamaraty se disse indignado. O seu similar russo falou em “atos inacei-

Comunidade mundial encara com leniência a escalada repressiva do governo da Síria táveis”. De todos os integrantes do CS, salvo o Líbano, a Rússia é a mais fiel parceira da Síria. O que explica por que, apesar do novo tom, tenha se empenhado em aguar a resposta aos ultrajes de Assad. Moscou trabalhou para que o CS produzisse não mais do que a inócua declaração presidencial. A alternativa, uma resolução condenatória abrindo caminho a medidas punitivas, como desejavam os EUA e os aliados europeus, seria rejeitada por russos e chineses, membros do CS com poder de veto. Mas, se a declaração era o limite do possível, nada justifica a aberrante equiparação entre repressores e reprimidos incluída no texto, com apoio do Brasil. Ao instar “todas as partes”

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Prefeitura do Rio vai monitorar bueiros

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Empresa contratada inspecionará 10 mil por mês. Explosões na cidade motivaram a medida ● “Será que, em vez de monitorar os bueiros, não seria melhor refazer ou melhorar as instalações elétricas?” ADRIANA CORASSA RODRIGUES

● “Surgiu então uma nova profissão no Rio? Fiscal de Bueiro. Aonde chegamos.” ANGELA PUGLIESE GARCIA

HÁ 736 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Medida correta que deveria ser desnecessária. A fiscalização tem de ser da concessionária.” ANDRÉ RAJA

a agir com moderação e evitar represálias, o documento acrescenta “incluindo ataques a instituições estatais”. A equivalência entre protestos civis de rua contra uma ditadura e o seu sangrento revide foi uma vitória política para Damasco. A suave crítica do CS, um tapinha na mão de Assad, pelo menos rompe o imobilismo da ONU e cria um precedente. Quanto mais perdurar o impasse na Síria, maiores serão as pressões por uma réplica mais dura do Conselho. Ciente disso, o regime quer acabar com a oposição o quanto antes e a qualquer preço. Segundo rumores, Assad estaria sendocriticado no seu círculo íntimo por não radicalizar a repressão de vez. A violência militar-policial contra o povo só galvanizou a insurgência e isolou o regime. Por isso, Assadtentaoutrosmétodos.Enquanto suas tropas massacravam os opositores em Hama, seu regime anunciavaaabertura do sistema político, permitindo o multipartidarismo. Mas ele já foi longe demais e ninguémacreditaquefaçareformas liberalizantes para valer, apesardeterdiantedesioexemplo egípcio. O ataque a Hama coincidiu com uma cena nunca antes vista no mundo árabe: um ditador deposto ir a julgamento pelos crimes cometidos (com o toque dramático de ser levado ao tribunal de maca, dentro de uma jaula). A sina de Hosni Mubarak, se estimula os combatentes da liberdade na Síria, decerto fará Assad pensar no que poderásuceder-lhese nãoosesmagar – ou fugir para o exterior enquanto é tempo.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital: 3959-8500 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 7 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Editor-Chefe de Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

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Notas & Informações

O Brasil e a turbulência global O Brasil está pronto para enfrentar turbulências mais fortes no mercado internacional, garantem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini. Se isso dependesse apenas do otimismo oficial, os brasileiros poderiam ficar tranquilos. Não é hora, no entanto, para relaxar. Se Estados Unidos e Europa afundarem numa segunda recessão, todo o resto do mundo pagará um preço muito alto. O comércio internacional será afetado, a concorrência nos mercados será muito mais dura e, se a economia chinesa perder impulso, os exportadores de produtos básicos, como o Brasil, terão muita dificuldade para faturar com as vendas externas. As empresas terão menos acesso ao financiamento internacional e a dis-

puta pelo crédito interno será mais dura e as pequenas e médias companhias serão prejudicadas, como já foram na crise financeira de 2008-2009. Mas é justo ressaltar pelo menos um detalhe positivo. Desta vez, nenhuma autoridade teve a imprudência de usar a palavra “marolinha” para descrever a possível consequência de uma piora do quadro internacional. O Brasil tem a seu favor, para começar, um bom nível de reservas em moeda estrangeira. Entre o fim de julho e o dia 3 de agosto as reservas subiram de US$ 346,1 bilhões para US$ 348,5 bilhões. Se houver uma alteração brusca nos fluxos de capitais, por enquanto favoráveis ao País, será possível enfrentar a nova situação sem grande abalo imediato. Há alguma gordura para ser queimada. Quem defendeu a acumulação de reservas tem esse argumento a seu favor.

Mas há pontos vulneráveis nas contas externas. De janeiro a julho, o valor das exportações – US$ 140,5 bilhões – foi 31,5% maior que o de um ano antes. Mas isso resultou principalmente do aumento das cotações dos produtos básicos e semimanufaturados, classificáveis, de modo geral, como commodities. Os preços da soja foram 31,7% maiores que os de janeiro a julho do ano passado; os do suco de laranja, 69,2%; os do açúcar em bruto, 35,3%; os do minério de ferro, 23,3%; e os dos semimanufaturados de ferro e aço, 23,5%. Estes são apenas alguns exemplos. Essas cotações dependeram basicamente do vigor econômico de vários países do Extremo Oriente. O Brasil conseguiu na Ásia 29,2% de sua receita comercial. A China, mercado individual mais importante, pagou 17,4% dos dólares faturados pelos exportadores brasileiros. Se a economia desses países enfra-

quecer, o Brasil terá dificuldade para aumentar – e talvez para manter – seus ganhos com as vendas ao exterior. Isso dependerá também da evolução do câmbio. A situação ficará um pouco melhor se o dólar se valorizar, mas é arriscado apostar nisso. Se o Federal Reserve, o banco central americano, voltar a emitir grandes volumes de moeda para estimular a economia, o dólar voltará a inundar os mercados e seu valor tenderá a cair, prejudicando a indústria de vários países, incluída a brasileira. Se a economia mundial se enfraquecer e o governo brasileiro insistir em estimular a demanda interna, o mercado continuará muito dependente da importação de artigos de consumo e de bens intermediários destinados à fabricação de produtos finais. A situação das contas externas ficará mais precária. Ao mesmo tempo, as condições de financiamento poderão tornar-se me-

nos favoráveis. O Brasil deverá chegar ao fim deste ano com um déficit em conta corrente superior a US$ 50 bilhões. Diante da perspectiva de piora do cenário externo, o governo deveria dar mais atenção a esse ponto. Não se pode esperar nenhum resultado importante do arremedo de política industrial anunciado na terça-feira passada. No plano fiscal, o governo terá pouca folga para adotar novas medidas anticíclicas, porque o orçamento, já muito rígido, estará em 2012 mais comprometido com gastos salariais e previdenciários. Além disso, as obras da Copa de 2014 estão atrasadas e será necessário apressar vários projetos para se evitar um vexame. O governo enviará ao Congresso, no fim do mês, a nova proposta orçamentária. Se tiverem juízo, as autoridades tentarão preservar o máximo espaço de manobra para um ano difícil.

Juiz não faz política fiscal

IOF é pau para toda obra

o julgar um recurso impetrado pelo Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de Belo Horizonte, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu – por 9 votos contra 1 – que o Poder Judiciário não tem competência legal para mudar as Tabelas do Imposto de Renda, a pretexto de ajustar o poder aquisitivo dos salários dos trabalhadores aos índices de inflação. O processo estava em tramitação há oito anos e a decisão tranquilizou as autoridades fiscais, que há muito tempo estão mobilizadas para evitar as tentativas de reindexação da economia por vias judiciais. Um dos fatores responsáveis pelo sucesso do Plano Real foi a desindexação da economia, com o fim da aplicação automática da correção monetária sobre os salários. Até então, os valores de referência para indexação dos tributos e para as deduções e as alíquotas do Imposto de Renda eram calculados pela Ufir. No final de 1995, a Lei n.º 9.250 determinou a conversão dos valores antes expressos em Ufir para reais – e, a partir daí, as autoridades econômicas deixaram de corrigir anualmente as Tabelas do Imposto de Renda, alegando que, com o restabelecimento da estabilidade monetária, não havia mais justificativa para a mudança. Mas, apesar da estabilidade do real, os índices de inflação registrados nos anos seguintes – mesmo sendo baixos – acabaram levando os contri-

governo encontrou no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) um instrumento maleável de política econômica e o tem utilizado para os mais diversos fins. As autoridades já lançaram mão do tributo para taxar aplicações financeiras externas no País, operações com derivativos e compras de turistas brasileiros no exterior com cartões de crédito. Agora, o IOF também passa a incidir, à razão de 3% ao ano (0,0082% ao dia), sobre o pagamento de contas pessoais ou de empresas feito com cartões de crédito. O objetivo declarado é conter o crédito. De fato, ao pagar uma conta de luz, por exemplo, com cartão de crédito, o cliente tem até o dia de vencimento previsto para que o débito caia na sua conta corrente, prazo que pode chegar a 30 dias, e ainda tem a possibilidade de parcelar a fatura, pagando apenas 20% do total. Nessa altura, é impossível avaliar o impacto da medida, mas, de alguma maneira, ela deve concorrer para atenuar a expansão do crédito. O grande risco é de que, ampliando a incidência do IOF sem nenhuma restrição legal, como vem fazendo, o governo acabe estendendo o tributo a outras operações feitas com dinheiro de plástico, elevando ainda mais a pesadíssima carga tributária sobre os brasileiros. O Ato Declaratório Interpretativo n.º 40, da Secretaria da Receita Federal, que instituiu a cobrança, é sucinto. Diz apenas

A

LUIZ RES ERDEI gzero@zipmail.com.br Osasco

MORDAÇA ‘Estadão’ sob censura

Dois anos e uma semana de censura jurídica é como cozinhar um sapo em banho-maria. Coloque o batráquio diretamente na água quente e ele salta fora, mas se for esquentando a água aos poucos ele morrerá como se estivesse anestesiado. Assim estamos nós em razão da demora do julgamento da questão em pauta. A restrição ao direito à informação jornalística faz com que não percebamos as falcatruas de alguns homens públicos e com isso os vamos mantendo no poder estatal para dirigir nossos destinos, dando-lhes as solenes homenagens. Quando se precisar reagir aos vilipêndios ao erário, não mais teremos forças para tal e aí só nos res-

buintes que antes se inseriam na faixa de isenção do Imposto de Renda a serem tributados. Já os trabalhadores de nível médio passaram a ser enquadrados nas alíquotas mais elevadas por causa dos reajustes concedidos na data-base de cada categoria. Alegando que a inflação corrói o poder de compra dos salários e que a manutenção das Tabelas do Imposto de Renda provocava um significativo aumento da carga tributária, os sindicatos se mobilizaram para tentar obter a correção dos salários nas negociações dos dissídios coletivos.

STF decide que normas da Receita Federal não podem ser mudadas por liminares judiciais Como as empresas – com o apoio do governo – não concederam a reposição automática da inflação, para evitar a reindexação da economia, as lideranças trabalhistas bateram nas portas da Justiça Federal, questionando a decisão da Receita Federal de não atualizar as Tabelas do Imposto de Renda. Muitos juízes federais de primeira e de segunda instâncias acolheram os recursos, concedendo liminares ou determinando mudanças nos valores das Tabelas do Imposto de Renda. Para alguns setores da magistratura, a não atualização das tabelas foi um expediente utilizado pela Receita Federal para aumentar a arrecadação do Imposto de Renda sem depender da aprovação de uma lei especí-

ta a agonia da morte sob um mar de ignorância e padecimentos. O normal é ser normal, agora, ignorar por uma imposição autoritária é primeiro matar a alma e depois o brasileiro no seu todo. JAIME VIANNA jaimevianna@terra.com.br São Paulo

BNDES Esclarecimento

Diferentemente do que afirma o editorial Audiência pública no TST (5/8, A3), a empresa de consultoria LCA e Associados não pertence ao professor Luciano Coutinho. O presidente do BNDES não tem nenhuma ligação com a referida consultoria desde 2007, ano em que assumiu a presidência do banco. FÁBIO KERCHE, assessor da presidência do BNDES fkerche@bndes.gov.br Brasília

fica pelo Congresso, como determina a Constituição. Esse argumento foi retomado pelo ministro Marco Aurélio de Mello – o único a votar a favor dos sindicatos trabalhistas, no julgamento do Supremo. “Quem não era contribuinte, pelo congelamento, passou a ser. Com o congelamento das faixas de enquadramento do contribuinte, justamente os menos afortunados, que tiveram reajuste de salário, passaram a ser apenados com a incidência do Imposto de Renda”, disse ele. Em sua defesa, os procuradores da União afirmaram que a competência para atualizar as Tabelas do Imposto de Renda com base na inflação é da Receita Federal, o órgão responsável pela política fiscal. Eles também lembraram que as decisões proferidas pelas instâncias inferiores do Poder Judiciário em matéria tributária, acolhendo as demandas dos sindicatos trabalhistas, foram muito além do plano técnicojurídico. Ao determinar mudanças nas Tabelas do Imposto de Renda, em vez de se prender aos aspectos formais do litígio, os juízes exorbitaram, interferindo no mérito da política fiscal e disseminandocomissoincertezajurídica entre os contribuintes. Oargumentofoi acatadopelo STF, cujos ministros – com exceção de Marco Aurélio de Mello – afirmaram que magistrado não faz política fiscal. Com essa decisão, a Corte cumpriu sua função constitucional, restabelecendoacerteza jurídicae lembrando aos juízes os limites de sua atuação.

“Celso Amorim está aí para desmentir Tiririca: pior do está fica. Parabéns, Dilma!” RENATO JOSE ALDECOA / SOCORRO, SOBRE O NOVO MINISTRO DA DEFESA renatoaldecoa@yahoo.com.br

“Provérbio (releitura): os censores calam e o arauto passa” A. FERNANDES / SÃO PAULO, SOBRE OS DOIS ANOS E UMA SEMANA DE MORDAÇA standyball@hotmail.com

O

que passa a estar sujeita ao pagamento do IOF “a utilização do cartão de crédito para pagamento de contas utilizando a função crédito, referida na Resolução n.º 3.919, de 25 de novembro de 2010”. Essa resolução do Banco Central (BC) dispõe sobre a cobrança de tarifas por serviços prestados pelas instituições financeiras, que podem ser pagos com cartões, entre eles o pagamento de contas (água, luz, telefone, gás, tributos, boletos de cobrança, etc.). O pagamento de condomínio não é mencionado pelo BC, mas consta do noticiário. Seria conveniente, portanto, que a

O governo parece ter percebido que pode usar o IOF como se fosse o imposto do cheque Receita Federal especificasse quais as contas sobre as quais o IOF pode ser cobrado. Fica desde logo claro que o imposto não incide sobre pagamentos com cartões de crédito nas compras no comércio varejista em geral, mesmo que não sejam pagas à vista ou debitadas de uma vez só. Se essas operações fossem sujeitas à tributação, os consumidores seriam incentivados a usar cheques prédatados, como forma de evitar o ônus desse imposto. Vale notar que a medida da Receita fala especificamente em cartões que têm a função de crédito. O uso, portanto, desses cartões para saque, de acordo com as disponibilidades de cada cliente, ou para pagamento à vista de qualquer ti-

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Dilma: País está forte para enfrentar crise

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“Hoje, nós temos 70% a mais de reservas internacionais; US$ 348 bilhões”, disse a presidente ● “Blá-blá-blá, dona Dilma. Enxugue os gastos públicos e agite a reforma tributária que talvez haja uma luz no fim do túnel.” ZUZU DELLOKi

● “Comecem cobrando atitudes de seus representantes, desde vereadores até a presidente da República.” LUIZ CARLOS

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POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Não adianta só ter dinheiro em caixa, tem de investir em segurança, saúde, educação e nas estradas: coisas básicas.” JULIO SZYMANSKI

po de conta não é afetado. É possível, no entanto, que, em vista das desconfianças que a tributação sobre cartões de crédito pode criar, as instituições financeiras venham a dar mais ênfase ao uso de cartões de débito, pelos quais as despesas do cliente são imediatamente lançadas em sua conta. Segundo a Receita, havia umadisparidadenorecolhimento desse tributo. Alguns bancos já vinham recolhendo o IOF em operaçõescomcartões decrédito para pagamento de contas, e outros não. Era necessário, portanto, um esclarecimento, agora feito, cabendo a cada instituiçãofinanceiradecidirserepassará ou não o eventual custo adicional para os seus clientes, de acordo com seus critérios de cobranças de tarifas, obedecendo aos parâmetros fixados pelo BC. Embora a finalidade não seja exatamente esta, segundo o governo, a nova cobrança do IOF concorrerá para elevar a arrecadação. Não há dados que permitamumcálculodareceitaadicional auferida pelo Tesouro com o tributo este ano. Contudo, dado o amplo arco de manejo da cobrançadoIOFdequesetemvalido as autoridades, a receita proporcionada por esse imposto em 2011 deverá ser substancialmente mais elevada do que a do ano passado, compensando, pelo menos em parte, os subsídios que o governo tem concedido. Sob o ponto de vista do equilíbrio das finanças públicas, isso é bom. Mas, em vista da experiência do passado, a sociedade deve se manter em guarda para evitar queoIOFacabese transformando numa nova versão da CPMF.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 8 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Editor-Chefe de Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Os escolhidos do governo À decepção que o anúncio do pacote de apoio à indústria causou, pela timidez do conjunto e pela indefinição das regras e da amplitude de muitas de suas medidas, agora se soma a surpresa com a medida provisória e as novas decisões que fazem parte do Plano Brasil Maior, como o governo o denominou. Um programa financiado com recursos públicos, que já cumpriu seu papel e por isso tinha data para acabar, será prorrogado por mais um ano e ampliado. Setores industriais que gozam de benefícios especiais desde a chegada do PT ao governo serão novamente agraciados com vantagens fiscais, mesmo que continuem a apresentar excelente desempenho no que se refere à produção, vendas e geração de emprego. Já o enfrentamento do real de-

safio da indústria, que é o aumento de sua capacidade de competir globalmente, continua a aguardar medidas concretas. Embora venha afirmando que faz um severo ajuste de suas contas, o governo decidiu aumentar os empréstimos do Tesouro Nacional ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para que este amplie os financiamentos que concede a juros subsidiados, e prorrogar por mais 12 meses o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que oferece financiamentos em condições ainda mais favoráveis. Criado em 2008 para evitar que os investimentos sofressem maior redução por causa da crise global, o PSI deveria terminar neste ano. Os resultados da economia brasileira em 2010, quando o PIB cresceu 7,5% e o volume de investimentos teve aumento recorde de 21,8%, não dei-

xam dúvidas de que, se tinha um papel a desempenhar, o PSI o fez bem. Mesmo assim, ele será mantido e, além disso, o BNDES voltará a financiar capital de giro, como fez durante a crise. No momento em que a expansão do crédito e o aquecimento da demanda continuam a pressionar os preços, empurrando a inflação para muito perto do limite superior da meta inflacionária, a ampliação da oferta de financiamentos com juros fortemente subsidiados tornará os problemas ainda mais agudos. O BNDES dispõe de um enorme poder financeiro, que, se bem utilizado, pode impulsionar de maneira notável a expansão e a modernização do sistema produtivo nacional, dando-lhe melhores condições para competir globalmente. Esse poder, porém, também lhe permite escolher setores ou grupos aos quais concederá prioridade, e essa escolha

nem sempre pode ser coincidente com os interesses do País. Que sentido tem, por exemplo, o financiamento do BNDES a empresas brasileiras para aquisições no exterior, se o efeito mais positivo da operação for a geração de empregos em outros países, não no Brasil, como já ocorreu, ou apenas a recomposição do grupo controlador da nova empresa? O governo do PT, desde o seu início, também tem feito escolhas pelo menos polêmicas, como, por exemplo, a da indústria automobilística, na qual surgiu, no fim da década de 1970, o novo sindicalismo que, em seguida, deu base para a criação do PT. Estabeleceu-se, então, entre essa indústria e sindicalistas e dirigentes petistas, uma aliança que continua forte. No anúncio do Plano Brasil Maior, o governo falou em “política de incentivo à produção nacional” para o setor automobilístico. Sabese agora que é um belo incentivo.

As montadoras instaladas no País, todas multinacionais, terão direito ao mais longo dos benefícios tributários do pacote industrial. A medida provisória editada pelo governo reduz o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para as empresas que elevarem o conteúdo nacional em seus veículos, aumentarem os investimentos e produzirem veículos inovadores. Em outras isenções ou reduções tributárias, boa parte dos ganhos foi transferida para os consumidores. Desta vez, os ganhos irão integralmente para as empresas. É difícil entender as razões desse benefício, pois, como diria o ex-presidente Lula, nunca antes na história deste país as montadoras venderam tantos carros nos sete primeiros meses do ano como venderam em 2011. Foram 2,03 milhões de unidades, 8,6% mais do que em igual período de 2010. Ainda assim precisam de benefícios tributários?

Mais planos para os transportes

O IOF sobre investimentos

região metropolitana de São Paulo deverá ganhar mais duas linhas de metrô. Uma delas, na capital, ligará a Lapa, na zona oeste, à região da Avenida Faria Lima e do bairro de Moema. A outra ultrapassará as fronteiras entre municípios e ligará a Avenida Jornalista Roberto Marinho, na zona sul, a Guarulhos. O projeto das novas linhas consta do Plano Plurianual (PPA) para o período de 2012-2015 que o Executivo enviará à Assembleia Legislativa ainda neste mês. Dele constam também outras linhas que deveriam ter sido entregues entre 2008 e este ano de 2011, mas que sofreram atrasos ou nem sequer foram iniciadas. Das duas primeiras fases da Linha 4-Amarela, só uma será entregue e o prolongamento da Linha 5-Lilás até a Chácara Klabin também ficou na promessa, assim como a Linha 13-Jade da CPTM, o chamado Trem de Guarulhos. Tão importante quanto planejar o futuro é realizar o que já foi proposto, caso contrário os planos plurianuais irão, a cada período, ficando mais recheados de projetos não executados. Como bem disse a urbanista Ermínia Maricatto em entrevista ao Estado, no Brasil ninguém respeita planejamento. “Tem plano sem obra e obra sem plano”, afirmou. A necessidade de investir em transporte público de massa, em especial no metrô, é indiscutível, uma vez que a malha viária não tem mais como su-

om o objetivo de conter o fluxo de dólares para o País e segurar a expansão do crédito, o governo decretou no fim de março a cobrança de 6% de IOF sobre empréstimos com prazo de até 720 dias, tomados por empresas brasileiras no exterior. A medida, porém, não se aplicava aos empréstimos intercompanhias, os quais, pela metodologia utilizada pelo Banco Central (BC), são considerados investimentos estrangeiros diretos (IED) e assim contabilizados no balanço de pagamentos. O acelerado crescimento de operações de empréstimos de matrizes para filiais, que alcançaram US$ 6,650 bilhões no primeiro semestre de 2011, quase 80% do total ingressado em 2010 (US$ 8,321 bilhões), fez o governo mudar de orientação. Na semana passada, os empréstimos com prazo de dois anos de multinacionais para suas subsidiárias no Brasil também ficaram sujeitos a recolhimento de 6% de IOF. Com isso, o Fisco fecha uma brecha, mas os efeitos da medida, como as demais que têm sido tomadas pelo governo no mercado de câmbio de modo geral, são incertos, podendo ou não influir no fluxo de recursos externos para o País. O fato é que as multinacionais aqui instaladas são levadas a buscar financiamento no exterior a juros baixíssimos, em um mercado com ampla liquidez, evitando recorrer a empréstimos no mercado interno a custo muito pesado, e têm mais fa-

A

mento de Precatórios. O TJ-SP não tem poupado esforços para que os pagamentos sejam efetuados o mais rápido possível. Desde outubro o TJ-SP libera todos os meses lotes de pagamento de precatórios relacionados à Fazenda do Estado atendendo a duas listas separadas: uma, pela ordem crescente de precatórios (do menor para o maior) e a outra, determinada pela ordem cronológica dos credores, na qual são liberados os valores relativos às prioridades, que beneficiam idosos e portadores de doenças graves. O TJ já superou R$ 1,2 bilhão de liberações, que beneficiaram 10.586 credores preferenciais e 13.085 outros. O volume de pagamentos comprova o esforço e a eficiência do tribunal. Contudo a moratória constitucional, é importante relembrar, envolve a quitação integral dos precatórios em 15 anos, e não prontamente, como seria o desejo da Justiça paulista. ROSANGELA SANCHES, diretora

portar uma frota que continua a crescer rapidamente. Na página de abertura do portal do PPA 2012-2015, o governo paulista declara sua intenção de estabelecer, por meio desse plano, “a igualdade de oportunidades, com condições sociais mais equilibradas e a geração de empregos, posicionando o Estado como centro financeiro e logístico continental e como o grande referencial de negócios empresariais do Hemisfério Sul”. Essa é a vocação de São Paulo, mas para torná-la realidade é urgente a melhoria do setor de transporte público, o que exige o cumprimento

A criação da Autoridade Metropolitana de Transportes é peça-chave nesses planos das metas fixadas para ele, no menor prazo possível. Entre as diretrizes estratégicas do PPA 2012-2015 está a que atribui ao Estado o papel de integrador do desenvolvimento regional e metropolitano. Para isso, é fundamental a criação da Autoridade Metropolitana de Transporte (AMT). Com autonomia administrativa e financeira, esse órgão conduziria a política de transporte metropolitano de passageiros com mais agilidade, integrando os esforços dos municípios, do Estado e da União. Ele teria como objetivo desestimular e reduzir o transporte individual, oferecendo transporte coletivo de qualidade. Metrópoles dos países ricos,

como Londres, Nova York, Madri e Barcelona, já adotaram essa medida e a rapidez com que resolvem seus problemas de mobilidade é, em grande parte, resultado disso. A implantação da AMT exige a criação de um consórcio, composto por Estado e municípios dispostos a aderir. Há um ano, o prefeito de São Caetano do Sul, José Auricchio Júnior, se reuniu com o então secretário dos Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, e propôs a elaboração de um projeto para promover a racionalização e a integração dos meios de transportes que atendem o município. Seria um plano piloto para a futura AMT e teriacomoum deseus objetivos principais integrar o transporte local à rede metropolitana. Em setembro, ao inaugurar a Estação Tamanduateí do metrô, da Linha 2-Verde e da Linha 10-Turquesa da CPTM, que beneficiou milhões de passageiros que se deslocam entre o ABCeasregiõesdaAvenidaPaulistaePinheiros,nacapital,ogovernador do Estado lembrou que a entrega da obra significava o início da implantação da AMT. O projeto reuniu trem, metrô e três linhas de ônibus intermunicipais que atendem os principaiseixos dedeslocamentos em São Caetano. Deláparacá,noentanto,muito pouco se avançou na implantação desse órgão que poderia trazer a contribuição dos municípios da região metropolitana para a tarefa de construção do metrô,queisoladamenteoEstado não consegue realizar com a rapidez necessária.

de Comunicação Social rosangelasanches@tjsp.jus.br São Paulo

“Está caindo mais ministro do que técnico de futebol”

Imóveis prejudicados

PEDRO OCTAVIO BEGALLI / PEDREIRA, SOBRE A DEMISSÃO DE NELSON JOBIM begalli.pedro@hotmail.com

Com relação à carta do leitor sr. Cyro Queiroz Fiuza (Desonestidade, 30/7), o Metrô esclarece que a construção da Linha 4-Amarela (Vila Sônia-Luz) registrou 1.046 interferências com imóveis, assim solucionadas: 716 foram reparados pelo Consórcio Via Amarela, contratado para a construção dessa linha, 287 foram indenizados pelo mesmo consórcio, 23 estão com ações na Justiça, 8 foram cobertos por seguradora, 5 estão em obras, 5 estão em processo de indenização, 1 está em negociação para indenização e 1 está com vistoria a realizar. MÁRCIO KERR MARTINS, assessor de Imprensa omaeda@metrosp.com.br São Paulo

“E, como alguns técnicos de futebol, a presidente preencheu mal a vaga...” E. PARENTE RAMOS FILHO / SÃO PAULO, SOBRE O NOVO MINISTRO DA DEFESA e.parenterf@gmail.com

C

cilidade de obter recursos em instituições estrangeiras do que as empresas de capital brasileiro. E não estando sujeitas à tributação pelo IOF, as múltis poderiam aplicar os recursos obtidos em renda fixa ou no mercado de ações, auferindo grandes lucros. Pode-se argumentar que os financiamentos obtidos pelas subsidiárias de empresas estrangeiras por intermédio de suas matrizes podem realmente destinar-se, no todo ou em parte, a investimentos e que são contabilizados como empréstimos intercompanhias apenas por conveniências inter-

Empréstimos externos de matriz para filial brasileira são agora taxados pelo IOF nas. Mas são crescentes as suspeitas no governo de que há empresas que têm procurado driblar a cobrança de IOF disfarçando como IED os empréstimos intercompanhias. De fato, o volume de IED, que alcançou US$ 32,477 bilhões no primeiro semestre deste ano, 55% a mais que no mesmo período de 2010, levanta essa suspeita. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, determinou a criação de um grupo de trabalho para monitorar o ingresso de IED. Todavia, é importante não esquecer que o Brasil, como outros emergentes, se tornou muito atraente para os investidores internacionais, dado o lento crescimento das economias dos países mais desenvolvidos. Há um nítido interesse

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Celso Amorim garante continuidade

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Futuro ministro da Defesa diz que não pretende mudar linha de atuação do antecessor, Nelson Jobim ● “Parabéns, presidente Dilma, ótima escolha!” ANTONIO LOPES

● “Celso Amorim já chega ao governo com o título de ministro mais bem remunerado. Um total de R$ 42.700 mensais.” LAURO JARDIM

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● “Amorim não se encontra habilitado a reinventar a roda. O Ministério da Defesa, dada sua complexidade, exige mais que um ex-ministro das Relações Exteriores lambão.” AUREO TORRES DE OLIVEIRA JUNIOR

não só por aplicações puramente financeiras, mas também pelas oportunidades de negócios no País, levando à instalação de novas empresas, ao aumento da participação estrangeira no capital de companhias em operação ou a investimentos na ampliação ou modernização de instalações. Visto sob essa luz, o volume de IED não é tão espantoso como pode parecer. Quanto à metodologia seguida pelo BC, pela qual os empréstimos intercompanhias são classificados como investimentosestrangeirosdiretos,elasegueospadrõesinternacionais, e é oportuno assinalar queissonãovinhacausandoproblemas. Estes surgiram em razão da torrente de dólares para o Brasil que não dá sinais de se abater. Como de praxe, o BC contabiliza como investimentos diretos, além dos empréstimos de matrizes para filiais, os recursos que ingressam no País para participação no capital de empresas,aportesessesquepermanecem isentos de tributação pelo IOF. Esta última rubrica, por sinal, apresentou um saldo positivo de US$ 25,827 bilhões noprimeirosemestre,valor bastante superior ao total de empréstimos intercompanhias. Em última análise, a medida tomada pela Receita proporciona equidade de tratamento entreasempresas sediadas no Brasil e no exterior no tocante à tomada de empréstimos externos. A expectativa é de que a tributação não acarrete uma queda brusca dos investimentos estrangeiros de que o Brasil precisa para manter-se na rota do crescimento.

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 9 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Notas & Informações

Nos EUA, política rebaixada Pela primeira vez na história uma agência de classificação de risco tomou a decisão de rebaixar o governo e a oposição dos Estados Unidos por sua incapacidade política de cuidar dos interesses de longo prazo do país. “De maneira geral, o rebaixamento reflete nossa visão de que a efetividade, a estabilidade e a previsibilidade da formulação de políticas nos Estados Unidos, assim como as instituições políticas, se enfraqueceram, em um momento de desafios fiscais e econômicos, além do que antecipávamos quando atribuímos a perspectiva negativa para o rating em 18 de abril de 2011”, informou a Standard & Poor’s (S&P) em nota distribuída nessa segunda-feira. Nem as instituições, portanto, ficaram imunes à avaliação negativa

anunciada na sexta-feira, quando o país perdeu a classificação máxima, AAA, e recebeu a nota AA+. Muitos analistas, incluído o ex-presidente do Banco Central (BC) Gustavo Loyola, criticaram a iniciativa da S&P. Loyola, no entanto, foi além da questão econômica e discutiu o ponto mais importante do comunicado da agência – a crise política americana. Apesar dos problemas, argumentou o economista, a democracia funciona e está apenas passando por uma “transição pré-eleitoral”. Nos dias anteriores, outros comentários haviam ressaltado o caráter democrático do acordo entre governo e oposição. O presidente Obama, no entanto, se mostra menos complacente em sua avaliação do jogo político. Em rápido pronunciamento, nessa segunda-feira, ele se referiu à longa disputa em torno do déficit público e do endividamento do Tesouro:

“Não precisamos de uma agência de classificação para nos dizer que o impasse em Washington nos últimos meses não foi construtivo, para dizer o mínimo”. Na mesma fala, o presidente aproveitou a homenagem aos militares mortos no Afeganistão, no fim de semana, para lembrar a importância da ação conjunta e da disposição de pôr as diferenças de lado, em certos momentos, em benefício do país. O secretário do Tesouro, Timothy Geithner, havia criticado tecnicamente a decisão da S&P, atribuindo à agência uma “surpreendente falta de conhecimento da matemática básica do orçamento fiscal dos EUA”. O governo havia alertado a agência para um erro em seus cálculos sobre o programa de redução do déficit, mas a decisão de rebaixar a classificação do país foi mantida. O acordo, segundo os classificadores, era insuficiente para garantir o ajuste

das contas públicas. Obama tomou um caminho diverso em seu pronunciamento. Em vez de criticar a agência, referiu-se ao rebaixamento como um sinal de alerta: a reclassificação do crédito americano, segundo ele, deve suscitar “um novo senso de urgência” quanto à necessidade de solução dos problemas orçamentários. Aproveitou para defender a extensão do auxílio desemprego e do corte de impostos para assalariados e para tocar mais uma vez na proposta de reforma tributária, isto é, de eliminação dos benefícios para os contribuintes mais poderosos. Em todo o mundo os mercados de ações e de produtos básicos continuaram em baixa, muito mais acelerada a partir do rebaixamento dos Estados Unidos pela S&P. As outras duas maiores agências, a Moody’s e a Fitch, provavelmente evitarão, pelo menos por algum tempo, reclassificar o crédito americano.

Diante de um surto de pânico até mais intenso que o da quinta-feira passada, o Banco Central Europeu ampliou suas intervenções, comprou títulos públicos italianos e espanhóis e com isso atenuou as pressões sobre os dois governos. Ministros dos Grupos dos 7 e dos 20 anunciaram a disposição de agir para conter a crise, numa tentativa de reeditar o clima de cooperação de 2008-2009, quando o estouro da bolha financeira abalou a economia mundial. Mas o desafio é diferente, porque o núcleo da crise se deslocou dos bancos e de outras instituições financeiras para os governos altamente endividados. A solução envolve questões políticas muito mais complicadas, como comprovam o impasse americano e a reação até violenta às duras medidas de ajuste anunciadas por vários governos europeus. O jogo agora é outro.

Um velho estilo em ação

O escândalo na Agricultura

uando foram iniciadas, em 2007, as obras de transposição das águas do Rio São Francisco para o semiárido nordestino, Lula previa inaugurar, ainda no seu mandato, o Eixo Leste de um dos dois canais de escoamento, numa extensão de 400 km. Não só o ex-presidente não pôde incluir essa façanha nas suas grandes obras, mas há risco de que nem mesmo a presidente Dilma Rousseff possa dar por concluída essa parte do projeto, o mais caro do PAC. Balanço recente do Ministério da Integração Nacional indica que os primeiros testes do trecho inicial do Eixo Leste só poderão ser realizados nos últimos meses de 2014. Isso se tudo correr de acordo com o cronograma, se as licitações forem realizadas nos prazos previstos, se a licença ambiental for renovada e se não faltarem verbas. Tudo isso faz do projeto de transposição do São Francisco um dos melhores exemplos de falta de planejamento e má gestão de recursos públicos na história recente do País. A obra está praticamente paralisada. Na última sexta-feira (5/8), a presidente Dilma Rousseff disse que a transposição não está parada, mas admitiu, em seguida, que “algumas parcelas” estão com obras interrompidas. Segundo o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, 5 dos 14 lotes em que a construção foi dividida estão hoje à espera de uma negociação para aumento dos preços dos contratos por meio

primeira reação pública da presidente Dilma Rousseff às denúncias de grossa corrupção no Ministério dos Transportes foi a de dar um voto de confiança ao seu titular Alfredo Nascimento, a ponto de lhe atribuir o comando das investigações dos malfeitos. Dois dias depois, quando se revelou que o patrimônio de uma empresa do filho de Nascimento havia crescido inimagináveis 86.500% em dois anos, a presidente deu o dito pelo não dito. Ou, nas palavras do já ex-ministro, ao depor no Congresso, retirou-lhe o apoio prometido. A história – ou, pelo menos, a sua primeira parte – se repete. No domingo, um dia depois de a revista Veja noticiar que um influente lobista aboletado noMinistériodaAgricultura,Júlio Fróes, teria uma gravação na qual o secretário executivo da pasta, Milton Ortolan, exigiria 10% de propina para renovar o contrato de uma gráfica com o órgão, o Planalto informou que a presidente “reitera sua confiança”noministroWagnerRossi, que está tomando “todas as providências necessárias”. A essa altura, Ortolan, que se declara amigode Rossi há 25 anos efoi seu chefe de gabinete, havia se demitido, embora protestando inocência. O ministro também soltara uma nota dizendo não ter a menor ideia de quem era Fróes, o lobista. Na semana anterior, Rossi já tinha sido colocado na berlinda por um ex-diretor financeiro da Conab,OscarJucáNeto,demiti-

Q

Brasil. Procedendo assim tudo funcionará bem. Mas na administração do País predominam interesses pessoais e políticos, sobrepujando todos os princípios básicos do bom administrador. Daí nossos líderes ricos, enquanto o País carente vive em situação caótica, com elementares obrigações governamentais funcionando precariamente (saúde, educação, transportes, segurança, saneamento...). Embora a carga tributária seja de Primeiro Mundo, a contrapartida é de Terceiro...

de aditivos; 2 estão pendentes de licitação e outros 2 estão sendo tocados, mas em ritmo lento. O Ministério elevou agora o custo total da obra para R$ 6,8 bilhões, R$ 1,8 bilhão a mais do que o originalmente previsto, o que não teria ainda passado pelo crivo da alta cúpula do governo. Apesar do que tanto se fala sobre a necessidade de projetos executivos para obras públicas – isto é, projetos que cumprem todos os requisitos técnicos para sua execução –, a polêmica transposição das águas do São Francisco continua sendo conduzida no estilo

A atabalhoada decisão sobre a transposição do Rio São Francisco dá em desperdícios e atrasos tradicional da administração pública brasileira, em cima do joelho. Ao discriminar os gastos para dar andamento à construção, que seria retomada a partir de setembro, o ministro Bezerra disse que R$ 771 milhões serão destinados a aditivos aos contratos, além de R$ 282 milhões de reajustes de contratos assinados em 2006. A isso se somam R$ 180 milhões para renovação da licença ambiental. O que é muito estranho, uma vez que o governo já desembolsou R$ 170 milhões para licenciamento ambiental. Ainda assim, os gastos mencionados não perfazem o valor adicional de R$ 1,8 bilhão. A diferença, segundo ainda o Ministério, é contabilizada como

CORRUPÇÃO Apuração de denúncias

Na Europa temem rebaixamento em cadeia, no Brasil não temem nem rebaixamento nem cadeia.

Ao governante incumbe determinar a apuração de denúncias direcionadas a Ministérios ou outros órgãos da administração pública direta e indireta. No caso do Ministério da Agricultura, a confiabilidade no ministro Wagner Rossi não deve impedir que as denúncias feitas sobre irregularidades no Ministério sejam apuradas pelo TCU e pela Polícia Federal. Na realidade, ninguém deve ou pode estar acima da lei, mesmo que integre a base aliada do governo, porque a moralidade na condução da coisa pública é que vai determinar a credibilidade do governo perante a população. A omissão e o descaso do governo, como ocorria no anterior, geram dúvidas perfeitamente evitáveis.

SERGIO S. DE OLIVEIRA ssoliveira@netsite.com.br Monte Santo de Minas (MG)

JOSÉ CARLOS DE C. CARNEIRO carneirojc@ig.com.br Rio Claro

HUMBERTO SCHUWARTZ SOARES hs-soares@uol.com.br Vila Velha (ES)

Rebaixamento de títulos

um aumento de 20% a 30% do custo previsto para os lotes 5 e 8, ainda não licitados, relativos a estações de bombeamento para o Eixo Norte e à construção de barragens. A explicação é que, como os projetos não foram detalhados, houve erro na projeção de custos. O ministro Fernando Bezerra considera que o aumento de 36% no custo final “é compatível com os reajustes de preços da construção civil”, embora não mencione nenhum índice ou estudo em abono de sua afirmação. Na realidade, tem-se a impressão de que a obra de transposiçãodoSãoFrancisco vaicomeçardenovo, embora o governo já tenha gastado R$ 2,4 bilhões em sua construção e já tenha comprometido mais R$ 1,3 bilhão. Como estudos técnicos têmdemonstrado,ocustooriginal excedia em muito os benefícios do projeto, que, se e quando for concluído, beneficiará apenas 5% do semiárido. Mas mesmo os opositores da transposição consideram que as obras já avançaram a tal ponto que seria um desperdício não lhes dar continuidade. E, pelas pressõespolíticas quea iniciativadesencadearia,oredimensionamentodo projetotambémestá fora de discussão. De qualquer forma, espera-se que o governo, que diz lutar para introduzir no setor público padrões de gestão comparáveis aosdainiciativaprivada,incumba um grupo de técnicos de reexaminar os custos do projeto de transposição do Rio São Francisco, tratando as estimativas doMinistérioda IntegraçãoNacional apenas como referência.

“E agora a tal marolinha chega aqui. Chamem o homem, elle é o cara” JOSÉ ROBERTO PALMA / SÃO PAULO, SOBRE A CRISE GLOBAL palmapai@ig.com.br

“A única bolsa que não cai é a Bolsa-Família, que continua dando muitos dividendos políticos para o ‘cara’ e companhia” ALBERTO BASTOS CARDOSO DE CARVALHO / SÃO PAULO, IDEM albcc@ig.com.br

A

do por mandar pagar uma fatura de R$ 8 milhões a uma empresa fantasma. Irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá, ele afirmou que “só tem bandido” na pasta e na Conab. Rossi foi se explicar a uma comissão da Câmara – conforme instrução da presidente a todos os ministrosemsituaçãosimilar –,onde foi tratado na palma da mão pelos correligionários do PMDB, parceiros da base aliada e até parlamentares da oposição. Mas, à parte a confiança de Dilma, as coisas mudaram de figura para o apadrinhado do dirigente da sigla e vice-presidente, Michel Temer.

Até aqui, os fatos vão na mesma direção dos que envolveram o ministro dos Transportes Em primeiro lugar, o relato da Veja não ficou na acusação de Fróes. Fala dos espaços de que ele dispunha, fazendo lembrar o poderexercido nos Transportes por um pseudosservidor que agiaamandododeputadoValdemar Costa Neto, um dos chefões do PR que controlavam a pasta. Entre outros feitos, Fróes chegou a redigir o equivalente à minuta de um contrato de R$ 9 milhões com a Fundação São Paulo, presidida por ele mesmo e mantenedora da PUC paulista. Rossi autorizou a contrataçãoatoquede caixa.Depois, testemunhasteriamvistoFróesdistribuindo pastas com dinheiro aos que o ajudaram no contrato. Além disso, segundo a Folha de S.Paulo e O Globo, Rossi – que dirigia a Conab havia três

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Crise financeira não nos ameaça, diz Dilma

871

‘É a segunda vez que a crise afeta o mundo e pela segunda vez o Brasil não treme’, afirmou a presidente ● “É como tsunami. A primeira onda é ruim, mas a segunda costuma ser pior. A ‘marolinha’ pode virar um ‘marolão’.” LEO TORRES

● “É isso aí, presidente. Mãos à obra.” ED OLIVEIRA

HÁ 739 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “A crise afeta todos, infelizmente, e o governo desconversa para dar aquela falsa sensação de tranquilidade, tanto aos investidores quanto aos consumidores internos.” BRUNO LOPES

anosquandofoipromovidoaministro por Lula em março de 2010 – transformou numa sesmaria peemedebista, com vagas para o PTB e o PT, o organismo com um orçamento da ordem de R$ 2,8 bilhões. Nos seus cabides estão pendurados um filho do senador alagoano Renan Calheiros,umneto dosenador cearense Mauro Benevides, um sobrinho do falecido político paulista Orestes Quércia e a ex-mulherdolíderdopartidonaCâmara,HenriqueAlves. Rossi,oriundo do quercismo, voltará a depor no Congresso amanhã, destaveznaComissão deAgricultura do Senado. Mas,enquantonãosematerializar o espectro que ronda todas as autoridades na mira da imprensa – um letal “fato novo” –, ele tem as costas quentes. A sua quedanãointeressanemàpresidente nem aos sócios da coalizão governista, a começar do PT.ParaDilma,umcoisaéafrontaroPR–eaindaassim,mordendoeassoprando–,outraéprovocar o PMDB de Michel Temer, unido como nunca esteve, cujos 78 deputados e 20 senadores fazem da sigla a maior força do Congresso. O PT, por sua vez, tem um motivo capital para não criar marola. É o fundamentado temor de que, à primeira denúncia que espocar contra um companheiro,osaliadosdarãoàoposição as assinaturas para a CPI sobre escândalos que o governo barrou no caso do PR. “É perigoso dar um tratamento isonômico a situações diferentes”, teoriza o senador petista Walter Pinheiro. Mas o deixadisso deixa Dilma cada vez mais debilitada diante da tigrada.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 10 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Editor-Chefe de Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Um dia quase normal O fim do mundo pareceu um pouco mais distante, ontem, quando um ambiente de calma e de aparente normalidade substituiu o pânico e o salvese quem puder nos mercados financeiros. As bolsas da Europa refletiram essa melhora de humor desde cedo. À tarde, como se esperava, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) anunciou a decisão de manter os juros básicos entre zero e 0,25% pelo menos até meados de 2013 e de adotar as medidas necessárias para estimular o crédito. Mas apresentou uma avaliação mais pessimista que as anteriores da situação econômica e, além disso, a decisão sobre os juros foi tomada por 7 a 3. A Bolsa de Nova York oscilou, ameaçou cair e acabou fechando com os índices em forte alta – Dow Jones, 3,98%;

Nasdaq, 5,29%; e S&P, 4,75%. Mas a evolução dos mercados, na maior parte do dia, foi bem diferente da observada nos dias anteriores. Uma nova onda de pessimismo se havia espalhado pelo mundo na semana passada, apesar do acordo para elevação do teto do endividamento público americano. O movimento converteu-se num estouro de manada nessa segunda-feira, depois do rebaixamento do crédito soberano dos Estados Unidos pela agência de classificação Standard & Poor’s. Um dia depois, como se as preocupações houvessem diminuído magicamente, as ações voltaram a valorizar-se na maior parte das bolsas europeias, assim como os preços dos produtos agrícolas e dos metais. A reanimação dos mercados pode ser explicável, em parte, como reação ao pessimismo excessivo dos dias anteriores. Mas nenhuma grande mudança havia ocorrido no cenário das

principais economias. Os investidores continuavam comprando os papéis do Tesouro americano em troca de juros muito baixos. Mas nem isso era realmente novidade. Como era sabido, o rebaixamento por uma agência de classificação seria insuficiente para afastar os compradores daqueles títulos públicos, até por falta de alternativa. Na prática, a dívida pública americana continua sendo AAA. Mas também os dados negativos seguiam inalterados. Governo e oposição, aparentemente, continuavam ainda longe de uma solução razoável para o problema fiscal de longo prazo. Permanece o risco de um ajuste com efeito recessivo no curto prazo. Só o prolongamento de uma política monetária frouxa, com juros muito baixos e novas emissões de dinheiro, poderia atenuar esse efeito. A manutenção dessa política foi confirmada pelo Fed às 15h30 de Brasília, mas faltou a promessa explícita

Selvageria em Londres

A

onda de saques, depredações e incêndios que se propagou desde o fim da semana por uma dezena de bairros londrinos e se reproduziu em cidades inglesas como Liverpool e Birmingham, superou o surto de violência que rebentou em 1981 no subúrbio de Brixton, no sul da capital. Aquele, segundo um relatório oficial, foi essencialmente “uma explosão de ira e ressentimento de jovens negros contra a polícia”. Apesar do muito que mudou em 30 anos nas relações entre a polícia e a ampla população afro-caribenha da periferia da metrópole, os barris de pólvora desses lugares nunca foram removidos. As más condições de vida da grande maioria dos seus habitantes, o ócio provocado pelo desemprego, ou melhor, pelo escasso acesso ao mercado de trabalho para as novas gerações; os cortes em programas de promoção social a eles destinados, fazendo-os engrossar a infantaria do tráfico e a formar predadoras gangues juvenis; o culto da brutalidade e a permanente sedução exercida pelo vasto arsenal de bens de consumo em um dos mais prósperos centros comerciais do mundo – tudo, enfim, como que esperava um catalisador para irromper em cenas de barbárie. E, novamente, um incidente policial proporcionou o pretexto. Na quinta-feira, a polícia matou com um tiro no peito um morador negro de Tottenham, no extremo norte de Londres – Mark Duggan –, ao

davais que ultrapassam até continentes. E o pior: aqui a dose de maldade será bem maior, pois os atores – políticos e poderosos – são brasileiros e da pior espécie, podendo nos deixar literalmente pelados, em todos os sentidos. LOURIVAL GERALDO MOREIRA logmoreira@yahoo.com.br Botucatu

Sinuca de bico

Lendo o Davi e Golias de Fernando Henrique Cardoso, fica claro o dilema da presidente: como eliminar o chefe-pai com uma funda e uma pedra? HELENA RODARTE C. VALENTE helenacv@uol.com.br Rio de Janeiro

CONDEPHAAT Esclarecimento

A respeito da matéria Órgãos vi-

tentar prendê-lo dentro de um táxi. Aos 29 anos, pai de quatro filhos, ele era acusado de atos de violência armada e tráfico de entorpecentes. Vizinhos e amigos dizem que não se tratava de um criminoso, mas de um pacífico homem de família. Ainda não se sabe exatamente por que ele foi abatido. Segundo a versão oficial, Duggan teria reagido à bala à abordagem da polícia, mas o único projétil achado no local era de uma arma da polícia. Deu-se o inevitável, nas circunstâncias. Depois de as autoridades se recusarem a dar explicações aos parentes de

A onda de violência pôs fogo na capital inglesa em meio às férias dos governantes Duggan, o que começou com uma vigília pacífica em Tottenham se converteu em explosão de selvageria e se espalhou por bairros distantes entre si dos dois lados do Tâmisa. Comunicando-se pelo Twitter, Facebook e pelo sistema de mensagens do BlackBerry, que garante o anonimato, as gangues insuflaram ataques a viaturas e veículos particulares, depredações, incêndios de prédios, assaltos a transeuntes e rapina de estabelecimentos comerciais. Ontem morreu uma pessoa baleada, não se sabe por quem, no bairro de Croydon. Mais de 500 suspeitos de vandalismo foram presos e mais de uma centena de inquéritos abertos. Porém, no geral, os 6 mil policiais nas ruas não

ram arma contra especulação e desorganização, publicada no caderno Metrópole de 5/8, gostaria de situar as minhas declarações, que acabaram com um sentido diferente ao serem utilizadas em outro contexto. O que fiz questão de dizer ao repórter é que São Paulo, como todas as cidades, precisa definir como quer crescer e se desenvolver, sendo que o crescimento tem limites e o desenvolvimento exige qualidade. Só quando a cidade restabelecer o seu processo de planejamento, por meio do plano diretor, e quando começar a pensar em seu futuro para 20 anos, é que podemos esperar que o tombamento deixe de ser avocado como o último bastião da proteção da História e da cultura da cidade. Mas é importante frisar que isso não torna o pedido de estudo de tombamento menos legítimo. FERNANDA BANDEIRA DE MELLO, presidente do Condephaat São Paulo

de uma terceira rodada de “afrouxamento quantitativo”, isto é, de um programa de compra de títulos públicos em circulação no mercado. Em Nova York, o mercado reagiu a essa indefinição devolvendo parte dos ganhos acumulados, mas depois voltou a subir. A Bovespa acompanhou esse movimento. A nota oficial deixou aberta, pelo menos, a possibilidade de novas intervenções no mercado de títulos, com novas injeções de dinheiro no sistema de crédito. O recurso mais ou menos generoso a esse tipo de política dependerá, provavelmente, da fórmula de ajuste fiscal a ser combinada, proximamente, pelo governo do presidente Barack Obama e a oposição. Se houver margem para expansão do gasto federal, a política monetária poderá ser menos expansionista. Mas, se a negociação entre os partidos for muito prolongada, o Fed será certamente forçado a adotar por

sua conta uma política compensatória, para evitar um novo mergulho na recessão. Na Europa, as autoridades avançaram na aplicação das políticas combinadas no último fim de semana. O Banco Central Europeu (BCE) voltou a comprar bônus da Itália e da Espanha, para evitar a ampliação da crise das dívidas soberanas e sustentar o euro. Mas o ouro e o franco suíço continuaram em alta. Na China, principal motor da economia mundial, surgem novos sinais de desaceleração. Mas, apesar de alguma perda de impulso, a produção industrial de julho ainda foi 14% superior à de um ano antes. O governo continua prometendo frear a atividade por causa da inflação. É uma promessa pouco interessante para o Brasil, porque a prosperidade chinesa ajuda a manter elevados os preços das commodities e disso tem dependido a receita comercial brasileira.

O novo PT de sempre acudiram a população desesperada que fez mais de 20 mil chamados de socorro. As técnicas de controle de distúrbios de que a polícia britânica se gabadenadaserviram–isso,quandoseensaiou adotá-las.Ospoliciais mal davam contadeseproteger a si mesmos e aos bombeiros. A descoordenação entre o comandoe atropa ficou evidente. E o governo estava em férias: o primeiro-ministro, David Cameron, a ministra do Interior, TheresaMay,eoprefeitolondrino, Boris Johnson, desfrutavam todos do verão no exterior; o Parlamento, em recesso. Voltaram correndo,segundafeira, para uma Londres indignada com a evaporação da defesa da ordem pública, em meio à aflição dos comerciantes em busca de seguranças privados. Ainda assim, a ministra do Interior, perguntada se ao menos a polícia poderia usar canhões de água contra as hordas – já que ela excluíra a hipótese de chamar o Exército – disse, com fleuma estarrecedora: “Na GrãBretanha não policiamos mediante o uso de canhões de água. Na Grã-Bretanha policiamos mediante o consentimento das comunidades”. Depois de se reunir com o comitê de emergência, o premiê Cameron convocou para amanhã uma sessão extraordinária do Parlamento e anunciou um reforço de 10 mil policiais nas ruas. “Quem tem idade para cometer esses crimes”, advertiu, “tem idade para ser punido.” Os aterrorizados londrinos decerto preferiam que esses crimes, em primeiro lugar, fossem reprimidos.

“Malandro (eles, lá em cima) é malandro, Mané (nós, cá embaixo) é Mané! Quantos dias vão permanecer presos?” ALBERTO FUTURO / SÃO PAULO, SOBRE AS 38 PRISÕES NO MINISTÉRIO DO TURISMO carlos_futuro@viscondeitaborai.com.br

“Se as notas forem atribuídas com honestidade e competência, haverá uma reprovação generalizada” LUIGI VERCESI / BOTUCATU, SOBRE AS AGÊNCIAS DE RISCO luver44@terra.com.br

“O

PT sempre foi muito cioso na defesa da aplicação correta dos recursos públicos e do combate à corrupção.” Essa afirmação do presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, deputado Ruy Falcão, em declarações à TV Estadão, é um espanto. Na entrevista concedida para dar conta das decisões da reunião do diretório nacional do partido realizada no último dia 5 no Rio de Janeiro, a frase de efeito de Falcão é coerente com o discurso que vem sendo feito pelos petistas desde a fundação do partido, há mais de 30 anos. E foi com esse discurso que o lulopetismo chegou ao poder em 2002. Mas a realidade que transparece depois de dois mandatos presidenciais consecutivos, e se apresenta hoje como uma verdadeira herança maldita para a presidente Dilma Rousseff, é que o PT no poder, em nome de uma capciosa governabilidade, rebaixou ao nível do mais baixo fisiologismo o jogo político e a arquitetura do arco de alianças que desde a ascensão de Lula dá apoio ao governo. O resultado está, diariamente, no noticiário: uma sucessão sem fim de denúncias de corrupção nos mais altos escalões da máquina administrativa e uma inevitável “faxina” que, pelo andar da carruagem, não poderá ficar restrita ao Ministério dos Transportes. A afirmação de Ruy Falcão é, portanto, apenas retórica. O mesmo tom, aliás, permeia todo o documen-

to do diretório nacional do PT, numa clara tentativa de resgatar a imagem de partido “ideológico” que se dissipou ao longo de dois mandatos presidenciais marcados pelo pragmatismo nas alianças políticas. Como no plano nacional a situação política é delicada, o documento preferiu dar ênfase às questões internacionais. Sob o título geral O Brasil frente à crise atual do capitalismo: novos desafios, a primeira parte do documento se dedica a questões menos incômodas do que as sucessivas crises que o governo petista tem enfrentado. “A crise internacional – que é o subtítulo

O PT precisa é de um marco regulatório para a corrupção no partido e não para a imprensa dessa primeira parte – está associada ao ideário e ao programa neoliberal”, cujos defensores são “setores da oposição, da mídia e dos setores do grande capital, especialmente o financeiro”. Nenhuma referência, é claro, ao fato de toda a política econômico da administração petista ter-se baseado nos mesmos fundamentos “neoliberais” que promoveram o fim da inflação e a estabilidade econômica nos governos Itamar e FHC. O foco, com o maniqueísmo de sempre, está no combate ao Mal, com extrapolações que desviam as atenções para bem longe da realidade brasileira: “O PT expressa sua solidariedade aos jovens, aos trabalhadores, aos migrantes e a todos os

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PF prende 35 no Ministério do Turismo

1.630

Emendas da deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP) favoreceram o Ibrasi nos contratos com a pasta ● “Todos nós deveríamos apoiar as ações contra a corrupção. Não importa o partido político. É uma questão de bem público.” ANTONIO SILVEIRA

● “O País está podre! Dividido em ‘cotas’ por políticos corruptos e o povo pagando cada vez mais impostos.” FÁBIO CAMARGO

HÁ 740 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Parece-nos um problema insolúvel a questão da corrupção institucionalizada.” CARLOS GAMA

setores que combatem o neoliberalismo e repudia o nacionalismo de extrema direita, que mostrou sua verdadeira face no atentado ocorrido recentemente na Noruega”. Em sua segunda parte, o documento petista desembarca, finalmente, no País. E, desde logo, deixa claro a que vem: “O programa de desenvolvimento do País levado a efeito pelo governo Lula projetou o Brasil no mundo, na medida em que se constituiu em alternativa efetivaàs políticas neoliberais”. Evai em frente mencionando as medidas “necessárias à ampliação das condições de financiamento do Estado”; diz que “parte do processo de democratização do Estado brasileiro depende, em grande medida, da realização da Reforma Política” – que não detalha – e sinaliza que o “controle social” da mídia ainda é meta a ser atingida: “Vem aí, neste segundo semestre, o debate sobre o novo marco regulatório dos meios de comunicação. Para o PT e para os movimentos sociais, a democratização dos meios de comunicação no País é temarelevanteeumobjetivocomum com os esforços de elaboraçãodogovernoLula eosresultadosda I Conferência Nacional de Comunicação”. Finalmente, nas duas últimas de suas 201 linhas, o documento faz rápida menção aos escândalos de corrupção que o governo petista enfrenta no momento: “ODiretórioNacionaldoPTmanifesta,porfim, seuapoioàsmedidasqueogovernoDilma–dando continuidade ao que fazia o governo Lula – adota contra a corrupção”. E basta.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 11 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

O ‘momento’ não pesou A prisão do secretário executivo do Ministério do Turismo, Frederico Silva da Costa, do seu antecessor Mário Augusto Moysés e do ex-deputado federal Colbert Martins, nomeado para uma secretaria da pasta – na leva de 35 suspeitos de fraudes capturados na terça-feira pela Polícia Federal (PF) – era tudo o que a presidente Dilma Rousseff não precisava nesta hora de crises acumuladas com os partidos da coalizão de governo, nascidas da faxina no Ministério dos Transportes e do escândalo seguinte, na Agricultura. Assim como o ministro do Turismo, Pedro Novais, o seu segundo, Frederico da Costa, e o secretário Martins pertencem ao PMDB e foram indicados a Dilma pelos sobas do partido. Já o petista Moysés é ligado de há muito à sena-

dora Marta Suplicy, que o levou para a pasta quando a comandava, no segundo governo Lula. Mas, para o País, a Operação Voucher da PF, resultado de uma investigação ordenada pelo Ministério Público e respaldada pelo Judiciário sobre desvio de recursos em convênios do Turismo com uma ONG do Amapá, foi uma grande notícia. Pelo fato em si e, principalmente, porque a ação policial não foi freada a pretexto de que “este não é o momento”. Nem o diretor executivo da PF, Paulo de Tarso Teixeira, nem o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a quem o órgão se subordina, muito menos a Justiça Federal do Amapá, que decretou as prisões (38 ao todo) fizeram ou deixaram de fazer algo que travasse os devidos trâmites do inquérito, em nome da conveniência política da presidente da República. Segundo se diz no Planalto, o ministro Cardozo, que decerto sabia da in-

vestigação, só avisou a chefe da execução dos mandados judiciais na undécima hora, pouco antes do início da espetaculosa operação que mobilizou cerca de 200 agentes – e, ainda assim, sem entrar em detalhes. Isso jamais aconteceria no governo Lula. Não fosse pelo clima de acrimônia entre os políticos e a presidente que os teria deixado ao deus-dará – não só em matéria de verbas e cargos, mas sobretudo pelo seu aparente descaso com os efeitos da maré de denúncias de corrupção que lhes sobe pelos pés – o caso do Turismo teria um impacto menor. Afinal, o maranhense Novais, da cota do PMDB no governo, decerto nem sabia onde fica a pasta que lhe tocaria chefiar este ano, quando a fraude começou a germinar, em 2009. É um filme que a população já cansou de ver: um político (no caso, a deputada Fátima Pelaes, do PMDB amapaense) apresenta duas emendas ao Orçamento, desti-

A corrupção na Justiça

E

laborado com base nas inspeções feitas pela Corregedoria Nacional de Justiça e divulgado pelo jornal Valor, o relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre as irregularidades cometidas pela magistratura nas diferentes instâncias e braços especializados do Judiciário mostra que a instituição pouco difere do Executivo em matéria de apropriaçãoindébitaemalversaçãodedinheiropúblico,demordomia, nepotismo e fisiologismo,decorrupção,enfim. Asmaracutaias são tantas que é praticamente impossível identificar o tribunal com os problemas mais graves. Emquasetodos,oscorregedores do CNJ constataram centenasdecasosdedesviodeconduta, fraude e estelionato, tais como negociação de sentenças, venda de liminares, manipulação na distribuição de processos,grilagemdeterras,favorecimento na liberação de precatórios, contratos ilegais e malversação de dinheiro público. No Pará, o CNJ detectou a contrataçãode bufês para festas deconfraternizaçãodejuízespagascomdinheirodocontribuinte.NoEspíritoSanto,foramdescobertos a contratação de um serviço de degustação de cafés finos e o pagamento de 13.º salário a servidores judiciais exonerados. Na Paraíba e em Pernambuco, foram encontradas associações de mulheres de desembargadores explorando serviços de estacionamento em fóruns. Ainda em Pernambuco, o

mais selvagem tem o capitalismo com o que de mais sórdido tem a ditadura comunista, para enfim conseguir satisfazer o espírito consumista dos chineses, esfomeado por mais de oito décadas, e também domar “o tigre de papel” do Ocidente. Domar é uma palavra suave para o que pode acontecer com a economia ocidental por obra da China. Mas como será que os intelectuais e ideólogos da esquerda dialeticamente explicam o comunismo da China? Certamente, com o usual espírito pragmatista. MARA MONTEZUMA ASSAF montezuma.scriba@gmail.com São Paulo

FIDI Esclarecimento

Em relação à matéria Exame é pago, mas não é feito (9/8), a Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem

CNJ constatou 384 servidores contratados sem concurso público – quase todos lotados nos gabinetes dos desembargadores.NoCeará, o Tribunalde Justiçafoiaindamaislonge,contratando advogados para ajudar os desembargadoresaprolatarsentenças.NoMaranhão,7dos9juízesque atuavam nas varas cíveis de São Luís foram afastados, depois de terem sido acusados de favorecer quadrilhas especializadas em golpes contra bancos. Entre as entidades ligadas a magistrados que gerenciam recursos da corporação e serviços na Justiça, as situações mais críticasforamencontradasnosTri-

Corregedoria Nacional de Justiça apura, e CNJ divulga, um quadro que chega a ser alarmante bunais de Justiça da Bahia e de MatoGrosso enoDistritoFederal, onde foi desmontado um esquema fraudulento de obtenção de empréstimos bancários criado pela Associação dos Juízes Federais da 1.ª Região. Em alguns Estados do Nordeste, a Justiça local negociou com a Assembleia Legislativa a aprovaçãodevantagens funcionaisque haviam sido proibidas pelo CNJ. Em Alagoas, foi constatado o pagamento em dobro para um cidadão que recebia como contratado por uma empresa terceirizada para prestar serviços no mesmo tribunal em que atuava como servidor. O balanço das fiscalizações feitas pela Corregedoria Nacional de Justiça é uma resposta aos setores da magistratura que

(Fidi) esclarece que é incorreta a informação de que tenha sido “remunerada” por exames não realizados. A relação que a organização social (OS) mantém com a Prefeitura não tem caráter comercial nem corresponde a uma prestação de serviços. Cuida-se, diversamente, de uma parceria em que valores são repassados pela Prefeitura para serem aplicados na gestão global dos serviços de diagnóstico por imagem, não constituindo contraprestação por serviços específicos. Eventuais sobras financeiras são obrigatoriamente aplicadas na execução do próprio contrato ou devolvidas aos cofres públicos, jamais podendo ser apropriadas pela OS. Esse fato é comprovado pelas prestações de contas periódicas, que atestam a destinação dada a cada centavo repassado pela Prefeitura. VICTOR LUIS DA SILVA, assessor de Imprensa victorsramos@yahoo.com São Paulo

nando R$ 9 milhões ao custeio de convênios entre o Turismo e um certo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi) para treinar 1,9 mil futuros trabalhadores do setor no Estado. A partir de uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), apura-se que o Ibrasi desviou cerca de R$ 3 milhões de um contrato no valor de R$ 4,4 milhões. O então secretário executivo da pasta, Mário Moysés, assinou o primeiro convênio com o tal do Ibrasi, cujos cabeças apresentaram documentos falsos para se qualificar. (Na casa de seu diretor Luiz Gustavo Machado, a PF achou R$ 610 mil em dinheiro.) O convênio seguinte, de 2010, foi assinado pelo atual secretário, Frederico da Costa, à época responsável pela área de programas de desenvolvimento do turismo, encargo atual do ex-deputado baiano Colbert Martins. Nesses dois anos, o

Ibrasi recebeu R$ 14 milhões do governo. Teixeira, o delegado da PF, sustenta serem “robustas” as evidências de envolvimento deles com o esquema fraudulento. Se está certo, a Justiça dirá. O episódio, de qualquer modo, confirma a desalentada certeza da opinião pública de que “se gritar, ‘pega ladrão’, não fica um, meu irmão”, como no samba de Bezerra da Silva. E propaga entre os políticos atordoados com a ameaça à impunidade a pergunta “Onde é que isso vai parar?”. Só lhes resta culpar a presidente ou acusar o Judiciário de “abuso de autoridade”, como fez o líder petista na Câmara, Cândido Vaccarezza, pois onde já se viu mandar prender figuras tão notáveis? Nem pensar em ir à raiz do problema: os incentivos de Lula, por ação ou omissão, à montagem de uma rede de quadrilhas na administração federal como decerto nunca antes se viu na história deste país.

Tempo de turbulência mais se opuseram à criação do CNJ, há seis anos. Esses setores alegavam que o controle externo do Judiciário comprometeria a independência da instituição e que as inspeções do CNJ seriam desnecessárias, pois repetiriamoquejávinhasendofeito pelas corregedorias judiciais. A profusão de irregularidades constatadas pela Corregedoria Nacional de Justiça evidenciou a inépcia das corregedorias, em cujoâmbitoointeressecorporativo costuma prevalecer sobre o interesse público. Por isso, é no mínimo discutível a tese do presidente do STF, Cezar Peluso, de que o CNJ não pode substituir o trabalho das corregedorias e de que juízes acusados de desvio de conduta devem ser investigados sob sigilo, para que sua dignidade seja preservada. “Se o réu a gente tem de tratar bem, por que os juízes têm de sofrer um processo de exposição pública maior que os outros? Se a punição foi aplicada de um modo reservado, apurada sem estardalhaço, o que interessa para a sociedade?”, disse Peluso ao Valor. Além de se esquecer de que juízes exercem função pública e de que não estão acima dos demais brasileiros, ao enfatizar a importância das corregedorias judiciais,opresidentedoSTFrelega para segundo plano a triste tradiçãodeincompetênciaecorporativismo que as caracteriza. Se fossem isentas e eficientes, o controle externo da Justiça não teria sido criado e os casos de corrupçãonão teriam atingidoo nívelalarmante evidenciado pelo balanço da Corregedoria Nacional de Justiça.

“A cada dia que passa, mais se confirma a grande mentira do PT: não rouba e não deixa roubar” VIDAL DOS SANTOS / SÃO PAULO, SOBRE A CORRUPÇÃO NO GOVERNO vidal.santos@yahoo.com.br

“A declaração de Ruy Falcão à TV Estadão faz parte do repertório de ‘piadas de salão’” RICARDO MARIN / OSASCO, SOBRE ‘O NOVO PT DE SEMPRE’ (10/8, A3) s1estudio@ig.com.br

A

turbulência voltou com força aos mercados financeiros, alimentada por boatos sobre rebaixamento da França, expectativas de perdas de grandes bancos e renovadas preocupações com a evolução da economia americana. O presidente Sarkozy interrompeu as férias e voltou a Paris para discutir novas medidas de ajuste orçamentário, num esforço para deter as especulações. As principais agências de classificação mantêm a nota AAA para a dívida francesa e ontem mesmo a Standard & Poor’s (S&P) elogiou as ações do governo para reduzir o déficit. Além disso, o Banco Central Europeu (BCE) comprou títulos da Itália e da Espanha pela terceira vez, em mais uma tentativa de acalmar os mercados. Mas todas as grandes bolsas da Europa fecharam o pregão em baixa – de 3,05% em Londres, 5,13% em Frankfurt, 5,45% em Paris, 5,49% em Madri e 6,65% em Milão. Enquanto isso, os índices de Nova York despencavam. Tudo parece dar razão a quem prevê pelo menos mais dois anos de sérias dificuldades, como os diretores do Fed americano e o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega. Um dia antes os grandes mercados, incluído o brasileiro, haviam encerrado os trabalhos com os índices em alta. Na manhã de quarta-feira o otimismo parecia persistir nas bolsas europeias, mas em poucas horas o panorama se alterou, com novos boatos sobre a reclassifica-

ção da França. Poderia ser a segunda grande economia – depois da americana – a perder o triplo A da dívida soberana. O ambiente de pessimismo foi reforçado com novas notícias sobre a troca de títulos gregos. Parte dos papéis seria substituída por bônus com vencimentos além de 2020 – prazo maior que o anteriormente previsto. Os bancos franceses são os mais expostos à dívida grega, com créditos equivalentes a US$ 56,7 bilhões, segundo o Banco de Compensações Internacionais (BIS), de Basileia. Em segundo lugar aparecem os alemães, com carteiras corres-

Já se preveem pelo menos mais dois anos de situação de riscos no mundo financeiro pondentes a US$ 33,97 bilhões. Grandes instituições francesas calculam perdas de 21% nas trocas dos papéis gregos. Diante da perspectiva de perdas, investidores derrubaram os valores das ações de bancos de vários países, com os franceses puxando a queda geral. Várias semanas depois de aprovado o segundo pacote de ajuda à Grécia, o país continua contaminando a Europa. Os investidores ainda digerem os detalhes da substituição de títulos pelos bancos e avaliam o provável custo da operação. Os mercados europeus continuam de certa forma reciclando velhos problemas, como o da Grécia, e acrescentando alguma novidades ao rol das preocupações. Nas últimas se-

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Em SP, polícia multa a distância nas rodovias

1.518

Aparelhos detectam infrações como dirigir pelo acostamento ou ultrapassar pela direita ● “Parece uma boa medida. Existe muito abuso por parte de maus motoristas. Basta andar direito e não será multado.” SERGIO SPINOLA

● “Muito boa essa ação. Pena que a finalidade maior é arrecadar e não educar.” ABRAÃO LINCOLN SALES BASTOS

HÁ 741 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Os governos deveriam investir em tecnologias para combater maus motoristas, sem medo de reclamação da população.” TETSUO SHIMURA

manas houve um surto de especulações contra duas grandes economias, a espanhola e a italiana. Os bancos da Itália continuaram sob forte pressão especulativa nos últimos dias. Mas a maior novidade foi a inclusão da França entre os países sujeitos a rebaixamento pelas agências de classificação de risco. Operadores do mercado citaram entre os fatores de preocupação a perspectiva de a dívida pública francesa se aproximar de 90% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013. Mas isso deve ser conversa fiada. A dívida poderá chegar a 97,3% do PIB no fim deste ano, segundo projeção divulgada em junho pelo BIS. A média da zona do euro foi estimada em 95,6%. Não houve sinal de pânico, naquela ocasião. Em Nova York, o analista de crédito Nicholas Swan, da S&P, elogiouemteleconferênciaogoverno francês e comparou-o favoravelmente com o americano. De passagem, reafirmou a ameaça de novo rebaixamento da dívida americana, nos próximos dois anos, se a situação fiscal se deteriorar ou se o ambiente político piorar. Nessa altura, as cotações na Bolsa de Nova Yorkjá estavam em quedaacelerada. A Bovespa resistia. Horasdepois,opresidenteBarack Obama se reuniria com o presidente do Fed, Ben Bernanke, e com o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, para discutir a crise. Durante o dia, só um país foi reclassificado: a Fitch rebaixou o Chipre de Apara BBB com perspectiva negativa. A economia global deve ter ficado um pouco mais segura.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 12 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

No limiar do descontrole A sucessão de escândalos de corrupção no governo federal parece estar levando a presidente Dilma Rousseff ao limiar do descontrole. Segundo o noticiário de ontem, ao tomar conhecimento da prisão, pela Polícia Federal (PF), dos envolvidos na Operação Voucher, que apura irregularidades no Ministério do Turismo, Dilma demonstrou “grande irritação”. De acordo com fontes palacianas, classificou de “acinte” o fato de os detidos terem sido algemados, reclamou “furiosa” por estar sendo a toda hora surpreendida por operações da PF que lhe criam problemas políticos e cobrou satisfações do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a quem a PF é subordinada. É fácil entender que a chefe de governo perca a paciência ao se dar

conta das proporções em que o aparelho estatal que herdou está contaminado pelo fisiologismo que seu antecessor institucionalizou. É igualmente compreensível sua aflição diante da grave ameaça que a denúncia e a repressão dos arrastões nos ministérios representam para a estabilidade da base de sustentação de seu governo. Afinal, hoje está mais do que evidente que o que manteve em pé essa construção, meticulosamente edificada ao longo de oito anos, foi a tolerância com os gambás introduzidos nos galinheiros. Mas a ênfase com que a presidente passou a manifestar sua contrariedade com esses espetáculos pode dar margem à interpretação de que está tomando as dores dos denunciados, em vez de manter a atitude de isenção e respeito ao funcionamento das instituições que sua alta investidura exige. À chefe do governo não cabe “enquadrar” a PF, como têm su-

gerido, ou mesmo exigido, colaboradores e aliados. A polícia existe para investigar delitos e reprimir a ação de criminosos, colocando-os à disposição da Justiça. E deve agir de acordo com normas de procedimento que, se infringidas, sujeitam os responsáveis pelas infringências, por sua vez, a investigação, julgamento e, se for o caso, punições cabíveis. Não cabe, portanto, a altas autoridades palacianas, classificar de “exageradas” ou “atabalhoadas” as ações da PF que lhes criam problemas políticos. Nem ao líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, declarar que “houve abuso de poder do Judiciário e do Ministério Público”. Até agora a presidente Dilma Rousseff vinha se comportando publicamente com exemplar sobriedade diante das repetidas denúncias de corrupção, apoiando a necessária “faxina” nos setores da administração comprometidos com a bandalheira.

E essa atitude tem sido respaldada pela opinião pública, como demonstram as pesquisas. Mas a sua reação diante do mais recente capítulo de uma sucessão de escândalos como nunca se viu antes na história deste país, parece revelar que se está tornando irresistível a pressão daqueles que, tanto no governo como na base aliada, não admitem senão a maneira lulopetista de governar. Pressionada por todos os lados e preocupada, principalmente, com o tensionamento das relações entre governo e PT, de um lado, e PMDB, do outro, Dilma recorreu a quem entende do assunto para se aconselhar. Em reunião com Lula em São Paulo, na terça-feira, foi orientada a “repactuar” a aliança com o maior partido da base aliada, cujos interesses estão sendo afetados pelos escândalos nos Ministérios da Agricultura e do Turismo. Resta saber o que Lula entende por “repactuar”.

Depois da porteira arrombada, parece impossível conter a catadupa de denúncias na mídia e as ações policiais contra o arrastão na administração pública, em especial na federal. É uma simples questão de se colher o que foi plantado durante oito anos. Trata-se, é claro, de uma lavoura que não foi inventada por Lula e pelo PT, que na verdade criaram fama denunciando pragas. O lulopetismo apenas aperfeiçoou métodos de semeadura e colheita. E o PMDB é o segundo maior beneficiário de toda essa criatividade. Na hora em que esses benefícios se transformam em constrangimento, “repactuar” a aliança parece significar a promessa do impossível ao parceiro: acabar com as denúncias e com as operações policiais e com a repercussão de tudo isso na mídia. Dá para entender, portanto, a irritação da presidente. E lamentar que ela esteja dirigida na direção errada.

Mais apoio aos pequenos

Preparação para a crise

esultados de acordo fechado pelo governo com a Frente Parlamentar Mista das Micro e Pequenas Empresas, a correção em 50% dos limites para o enquadramento das empresas no regime tributário especial do Simples Nacional e outros benefícios anunciados pelo Palácio do Planalto poderão ser aprovados com certa rapidez pelo Congresso, para que possam vigorar em 2012. Na solenidade em que o acordo foi formalizado, a presidente Dilma Rousseff referiu-se ao lema “pense primeiro nos pequenos”, segundo ela comum em alguns países europeus e que se aplica ao Brasil. “Quando pensamos primeiro nos pequenos, pensamos num mundo em que várias pessoas têm oportunidade”, justificou. As regras para a entrada no Simples não mudaram desde que o regime passou a vigorar, em julho de 2007. O congelamento dos limites para o enquadramento nos benefícios desse regime condenou empresas interessadas em gozar das vantagens oferecidas a manter seu faturamento dentro dos valores fixados, impedindo seu crescimento; outras puderam crescer, mas, mesmo mantendo seus resultados abaixo do limite máximo permitido, viam reduzidos os benefícios quando passavam para a faixa de alíquota mais alta. O acordo – a ser incorporado ao texto do Projeto de Lei Complementar 591/10 que atualiza a Lei Geral da Micro e

Brasil passará pela nova turbulência internacional sem recessão, promete a presidente Dilma Rousseff. Mas, para isso, acrescenta, é preciso, desde já, cuidar com “responsabilidade e maturidade” das contas públicas. Será preciso, segundo ela, examinar com muita cautela cada projeto com potencial para aumento de gastos. A recomendação foi feita aos líderes da base governista, em reunião quarta-feira no Palácio do Planalto. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já havia ressaltado a importância da cooperação dos Três Poderes, deixando clara a sua discordância quanto à elevação de salários defendida pela cúpula do Judiciário. Falta conferir se parlamentares e juízes vão colaborar para uma gestão fiscal mais austera e mais eficiente. A experiência autoriza algum ceticismo, reforçado, neste momento, pela reação da base aliada à limpeza iniciada em alguns Ministérios. Mas o discurso do Executivo é sensato. Até para adotar ações compensatórias, com aceleração de alguns investimentos e corte de alguns impostos, será bom o governo dispor de alguma folga para realocação de verbas. Se houver cuidado na condução da despesa, o Banco Central (BC) poderá com maior segurança baixar os juros e tomar medidas para a expansão do crédito. No Brasil, a política monetária foi a primeira frente de reação à crise, nos meses finais de 2008. O BC forneceu dinheiro aos bancos e ao mesmo

R

Irritação

O ex pede à atual presidente que não irrite o PMDB. Dá para imaginar o tamanho do rabo preso do ex? Essa é a magnífica herança que o País está herdando após oito anos de corrupção, loteamento de cargos e de Ministérios, para atender à megalomania e à fixação pelo poder. Ainda falta muita faxina a ser feita. Haja produtos de limpeza! M. HELENA BORGES MARTINS m.helena.martins@uol.com.br São Paulo

Distração

Entre faxinas, escândalos, e prisões fajutas, vão nos distraindo para que não pensemos na crise econômica que vem por aí... VICTOR GERMANO PEREIRA victorgermano@uol.com.br São Paulo

Pequena Empresa e que tramita no Congresso desde o ano passado – elimina esses problemas e estimula mais empresas a aderir ao regime. O Sebrae calcula que a correção dos limites de enquadramento no Simples e na classificação de microempreendedor individual beneficiará 3,9 milhões de micro e pequenas empresas e 1,4 milhão de empreendedores individuais já cadastrados. Com as novas regras, mais empresas e empreendedores poderão optar pelo regime especial. As mudanças acertadas pelo governo e pela Frente Parlamentar estabelecem que as alí-

Enquadramento no Simples Nacional pode ter limite ampliado a partir do ano que vem quotas serão de 4% para as microempresas com faturamento de até R$ 360 mil (o limite atual é de R$ 240 mil), de 9,12% para empresas com faturamento de até R$ 1,8 milhão (o limite atual é de R$ 1,2 milhão) e de 11,61% para as que faturarem até R$ 3,6 milhões por ano (o limite atual é de R$ 2,4 milhões). Para o microempreendedor individual, o limite passará de R$ 36 mil para R$ 60 mil. Além da correção dos limites de enquadramento no Simples, o acordo permitirá que as empresas em débito com a União parcelem o valor em até 60 vezes. Outro benefício a essas empresas será a exclusão do valor exportado pelas micro e pequenas empresas do

PRONATEC Alerta

O artigo Ensino técnico, longe dos erros do passado (10/8, A2), de Otaviano Helene e Lighia Horodynski-Matsushigue, retrata um alerta preciso contra tais erros, que deve ser contemplado na implantação do Pronatec. Não basta encher de alunos escolas privadas de baixa qualidade, utilizando recursos públicos, como tem ocorrido com o ProUni e o Fies, sem contrapor a ideia de que um investimento maior na escola pública resultará num profissional de melhor qualidade, que poderá contribuir no enfrentamento dos nossos grandes desafios, sobretudo os tecnológicos, para que sejam superados em curto prazo. JOSÉ ROBERTO CARDOSO, diretor da Escola Politécnica da USP jose.cardoso@poli.usp.br São Paulo

cálculo do faturamento bruto anual, utilizado para a fixação da alíquota tributária. Também deverá ser facilitado o processo de encerramento das atividades das microempresas e suspensa a necessidade de declaração anual do Simples. O governo estima que as mudanças implicarão renúncia fiscal de R$ 4,84 bilhões por ano, mas o ministro Guido Mantega observou que essa redução na receita poderá ser compensada pelo aumento da arrecadação futura em decorrência da expansão dos negócios das empresas enquadradas no regime. A presidente Dilma Rousseff chegou a anunciar que o governo lançará uma política de microcrédito, para apoiar a atividade das microempresas e dos microempreendedores individuais das áreas urbanas (os pequenos agricultores já contam com apoio do Pronaf), mas não apresentou nenhum prazo para isso. De concreto, a presidente enviou ao Congresso mensagem sugerindo a criação de uma secretaria, com status de Ministério (o 39.º!), voltada para a microepequenaempresa. A intenção é acelerar o exame do projeto que ela enviou ao Congresso em março e ainda aguarda parecer na Comissão deDesenvolvimento da Câmara. É possível que, para acelerar seu exame a proposta de criação da secretaria seja incorporada ao Projeto 591/10. Ao justificar a sugestão, Dilma ressalvou: “Não queremos diminuir a importância dos demais segmentos; queremos é ter um novo olhar para os menores”.

“Bela herança, hein, cidadão Lula?” ROBERT HALLER / SÃO PAULO, SOBRE A CORRUPÇÃO NO GOVERNO robelisa1@terra.com.br

“Coalizão: leia-se coalixão” SINCLAIR ROCHA / SÃO PAULO, SOBRE OS PARTIDOS DA BASE sinclairmalu@uol.com.br

“Uma Voucher por dia traz muita alegria!” OMAR EL SEOUD / SÃO PAULO, SOBRE A OPERAÇÃO DA PF elseoud@iq.usp.br

O

tempo garantiu a oferta de dólares necessários ao financiamento do comércio exterior. Medidas fiscais, algumas muito discutíveis, completaram a política antirrecessiva. O governo – espera-se – deve ter aprendido o suficiente para repetir só a melhor parte das ações adotadas em 2008 e 2009. É preocupante, por exemplo, ouvir o presidente da Caixa Econômica, Jorge Heredia, prometendo reeditar o desempenho daquele período. Os bancos estatais devem estar prontos, sim, para aumentar a concessão de empréstimos, se houver retração do crédito for-

O alívio tributário de 2008/2009 ajudou, mas a política de crédito dos bancos oficiais foi ruim necido pelas entidades privadas. As instituições públicas, no entanto, privilegiaram as companhias estatais e alguns grandes grupos privados. Mesmo o dinheiro do Programa de Sustentação do Investimento, fornecido pelo Tesouro por meio do BNDES, foi aplicado dessa forma. Até junho deste ano, R$ 127,2 bilhões, 65,7% do dinheiro fornecido pelo Tesouro a partir de 2009, foram destinados a grandes clientes. Isso inclui um repasse de R$ 25 bilhões à Petrobrás em julho de 2009. Sem essa parcela, as grandes ficam com 60%. Além disso, bancos federais foram usados nos últimos dois anos para socorrer alguns grandes grupos metidos em dificuldades mais por problemas ad-

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Menina de 11 anos é indiciada em Londres

1.648

Perfil de acusados por distúrbios surpreende britânicos, que atribuíam saques a desempregados ● “Quanto mais a tecnologia avança, mais a humanidade regride. Isso é fato!” RICARDO SILVA

● “A Inglaterra está muito certa! Se tem idade para cometer vandalismo, tem idade para responder por eles.” CARLOS LOPES

HÁ 742 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “A barbárie é contagiante! Isto se explica facilmente: é muito mais fácil depredar ou destruir do que zelar por algo.” HAL PO

ministrativos do que por efeito da crise internacional. A essas distorções ainda se acrescentou o envolvimento do BNDES com grupos industriais escolhidos a partir de critérios ainda mal explicados. Ficou clara somente a disposição de conceder apoio federal a algumas empresas selecionadas para serem “campeãs”. Autoridades tentam desmentir essa orientação, mas os fatos são indisfarçáveis. Políticas anticíclicas são muito diferentes da mera distribuição derecursosparaestatais edebenefícios para grupos eleitos como favoritos. A redução de impostos e a expansão do crédito ao consumidor foram os componentes mais eficazes da ação anticrise a partir de 2008. O governo poderiaobteresseresultado, eprovavelmente até melhor, sem a distribuiçãodefavoresesemorápidoaumento dos gastoscompessoal e com outras despesas de baixa produtividade. Comopartedanova açãoanticrise,oministrodaFazendapropõe também uma cooperação maior entre os países da Unasul. Émuitomaisfácilproduzirretórica sobre isso do que preparar açõesefetivas.Nenhumpaís sulamericano deixará de comprar da China para importar do Brasilnemdeimpor barreiras aprodutos brasileiros, se julgar conveniente. É preciso, sim, avançar na integração, mas sem fantasias. Enquanto isso, o governo fará um bom trabalho se enfrentardefatoos problemasde competitividade da economia. Um bom começo seria pensar em algomaissérioqueorecém-lançado Plano Brasil Maior.

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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 13 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

PPresidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

A base desensarilha as armas Depois que o então presidente Lula, escaldado pela sucessão de inquéritos parlamentares sobre o mensalão, trouxe para o regaço do poder o PMDB e outros menos votados, pagando-lhes parceladamente as gratificações devidas, o Congresso amansou o bastante para não impedi-lo de fazer “o melhor governo da história brasileira”, como não se cansaria de apregoar com o costumeiro desdém pelos fatos. A sucessora Dilma Rousseff herdou a agigantada base lulista, mas não aprendeu com o seu mentor a jogar o jogo dos parceiros. Desafeita, por temperamento e formação, aos tapinhas nas costas, abraços apertados, risos afrouxados, conversas sobre futebol e piadas impublicáveis com que Lula, o encantador de serpentes, lu-

brificava cuidadosamente o seu rentável relacionamento com os políticos, e decerto por encarar de maneira diferente da do antecessor os misteres da função presidencial, Dilma só conseguiu agastar os aliados. Delegou formalmente a interlocução política a um opaco deputado, Luiz Sérgio, sem traquejo para o ofício e sem meios efetivos de aplacar os apetites da base, enquanto o titular da Casa Civil, Antonio Palocci, com quem o pessoal realmente queria se entender, nem aos seus telefonemas respondia. Caído Palocci em desgraça, e removido para a Pesca o obscuro Luiz Sérgio, a presidente deu a entender à tigrada que daí para a frente tudo seria diferente, com a servidão de cuidar de suas demandas atribuída à senadora petista Ideli Salvatti. Só que, além de Ideli se revelar “fraquinha”, na impiedosa avaliação do então ministro da Defesa, Nelson Jo-

bim, duas situações novas ajudaram a turvar a atmosfera entre o Planalto e o Congresso. A primeira, naturalmente, foi a varrição no Ministério dos Transportes, que Lula havia transformado em quintal do PR. As denúncias que se seguiram, na Agricultura e no Turismo apropriados pelo PMDB, agravaram o azedume dos políticos a ponto de eles passarem a alardear o seu desgosto com a presidente. A segunda situação foi a crescente convicção do governo de que a crise internacional exige uma política de controle de gastos tida como incompatível, também, com a liberação sem peias dos recursos para as emendas parlamentares. Poucos exemplos podem retratar tão fielmente o divórcio entre as preocupações dominantes dos dois lados da Praça dos Três Poderes como, numa ponta, um alerta de Dilma e, na outra, uma queixa literalmente paroquial de um deputado. Reunida com o enxundioso Conse-

lho Político do governo, a presidente considerou “gravíssimo” o quadro externo. O que levou o líder do PTB na Câmara, o goiano Jovair Arantes, a comentar que “Paris e Londres estão a mais de 7 mil quilômetros da minha cidade”, que precisa de obras. Não é que ao tempo de Lula o dinheiro para as emendas jorrasse com a presteza desejada pelos seus autores. Mas o peso de sua popularidade, a sua aptidão para passar a mão na cabeça dos políticos e a certeza deles de que seriam recompensados os mantinham na linha. Não sendo Dilma um Lula, não contando com interlocutores capazes de suprir as suas carências no departamento do diálogo e tendo os políticos farejado sangue, começaram as represálias e as chantagens. Na quintafeira, não foi a oposição, mas um bloco informal de 200 deputados da base que impediu a votação de um projeto de decreto legislativo de rotina, co-

mo quem avisa que isso é apenas uma amostra da disposição de enquadrar a presidente. No clima “gelado e com cerração” que o titular da Câmara, Marco Maia, identificou na Casa, estalaram advertências de uma eventual adesão de setores governistas à CPI da Corrupção que a oposição quer criar. No desensarilhar das armas, ouviram-se ameaças como a de obstruir a prorrogação até 2015 do dispositivo que permite ao governo manejar como queira 20% do Orçamento e que expira no fim do ano; e a de aprovar duas emendas constitucionais que são anátema para o Planalto – a que cria um piso salarial para as polícias e os bombeiros no País e a que fixa um porcentual mínimo de gastos com a saúde. Embora prometa dar um tratamento espartano ao Orçamento de 2012, o governo já indicou aos aliados que vai afrouxar os cordões da bolsa. Que remédio?

Empreendedorismo no campo

Mais rigor na defesa comercial

ma agropecuária próspera não é constituída apenas de agroindústrias modernas, capazes de produzir grandes quantidades de alimentos, fibras e carnes, para atender plenamente às necessidades do mercado interno, gerando excedentes exportáveis, que, no Brasil, tanto têm concorrido para a obtenção de superávits comerciais. Depende também de pequenos agricultores dedicados à produção de hortigranjeiros indispensáveis à mesa. E o Brasil, não obstante o avanço da soja, do café, do milho e da cana-de-açúcar, não tem tido problemas de abastecimento de legumes, hortaliças e frutas, graças à iniciativa de milhares de pequenos produtores, espalhados pelo País. O que se procura agora é modernizar esse setor, que, mesmo quando organizado em cooperativas, não atua geralmente como empresa, não agrega valor ao que produz e é muitas vezes prejudicado por intermediários na venda ao mercado. Reverter essa situação é o objetivo do Projeto de Desenvolvimento Sustentável – Microbacias II – Acesso ao Mercado, do governo do Estado de São Paulo e que conta com financiamento de US$ 45 milhões do Banco Mundial (Bird). A primeira fase do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas, encerrada em 2008 e que também contou com apoio do Bird, deu maior ênfase à preservação dos recursos naturais, sobretudo quanto ao trato do so-

om a inédita proibição do ingresso no País de ímãs fabricados na China, mas exportados por uma empresa de Taiwan, que utilizava falsa documentação de comprovação de origem do produto, o Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC) inicia uma nova etapa do combate a uma prática utilizada por exportadores chineses para burlar as medidas antidumping decididas pelo governo brasileiro. Logo depois de impostas as sanções por práticas desleais de comércio a determinados produtos originários da China, as exportações desses mesmos produtos a partir de outros países – asiáticos e latino-americanos, inclusive parceiros do Brasil no Mercosul – aumentaram de maneira anormal, o que tem levado empresários brasileiros de um número cada vez maior de setores industriais a denunciar ao governo essa prática, conhecida como triangulação. A proibição da entrada no País de ímãs de ferrite procedente de Taiwan foi determinada em portaria da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do MDIC e se aplica às exportações de uma única empresa, em cujas operações o Departamento de Negociações Internacionais da Secex constatou fraudes. O valor exportado por essa empresa é pequeno, representando apenas 1,5% do total de US$ 7,7 milhões que o Brasil importou em ímãs de ferrite em 2010. Mas a medida tem significado especial, pois é a primeira

U

sendo até brandos demais para eliminar esse bando de ratos deixados pela administração anterior. Que continue a faxina! JOSÉ R. DOS SANTOS VIEIRA joseroberto@hidrostudio.com.br São Paulo

Azia

O ex-presidente falastrão, quando no exercício da Presidência, afirmou que não lia jornais porque lhe davam azia. A podridão do seu governo exala mau cheiro até hoje, causando não só azia, mas náuseas de tanta safadeza. Até quando, só Deus sabe. ARY MARINO FILHO arymarino@gmail.com Garça

TÚNEL Santos-Guarujá

O nosso Estadão anunciou na

lo e conservação de água, sendo atendidas 70 mil famílias. Na fase que agora se inicia, o que se procura, segundo João Brunelli, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral da Secretaria da Agricultura, é incentivar a atitude empreendedora por parte dos pequenos produtores rurais. “O agricultor precisa aprender a vender”, comenta. “Muitas vezes, ele sabe produzir bem, mas acaba deixando que outros agreguem valor a seu produto.” Muito ilustrativo é o caso da Cooperativa do Chuchu, de Amparo, fundada há dez anos, que hoje comercializa 3 mil to-

Projeto do governo do Estado com ajuda do Bird para gerar espírito de empreendedor rural neladas do produto por ano, além de 36 itens, entre os quais hortaliças, frutas e legumes, segundo informa o Suplemento Agrícola deste jornal (10/8). A maior parte é adquirida pelas prefeituras dos municípios de Amparo e de Monte Alegre do Sul, e é destinada à merenda escolar. A Cooperativa agora planejaaconstruçãodeumapequenaunidadeparaprocessare embalar a produção, de modo a poder alargar seu mercado, abrangendo toda a região de Campinas. Para isso, postula o apoio do Microbacias II. Pouco conhecido fora do meio rural, o programa não visa a implantar novos empreendimentos ou a socorrer sítios ou fazendas em dificuldades. Seu objetivo central é promover o

edição desta sexta-feira: Túnel vai ligar Santos ao Guarujá em dois minutos (C1). Alguém acredita? Eu não acredito. Nem em dois minutos, nem em tempo algum. Por quê? Porque esse tipo de obra vem sendo anunciado há mais de cinco décadas (como o próprio Estadão nos informa). E olha que tenho a maior admiração pelo nosso governador, Geraldo Alckmin. CLÁUDIO AMARAL clamaral@uol.com.br São Paulo

13 DE AGOSTO Cada qual no seu galho

Neste emblemático 13 do agourento agosto, o ditador Fidel Castro faz 85 anos em liberdade e o povo cubano, 52 na prisão ou no exílio. MOACYR CASTRO jequitis@uol.com.br Ribeirão Preto

desenvolvimento rural sustentável no Estado, ampliando as oportunidades de emprego e a inclusão social, mas a partir de iniciativas de negócios já existentes e que tenham projetos viáveis de expansão. No início, serão selecionados 25 projetos que procurem agregar valor à produçãorural.Oprogramaainda está no estágio inicial, com prazo até o dia 19 para a inscrição dos projetos que queiram beneficiar-se dele. O número de projetos contemplados com financiamentos deve se elevar a 50 em 2012 e a 75 em cada ano seguinte até 2015. O programa pode financiar até 80% do custo de um projeto (até o limite de R$ 800 mil, cada um), mas não tem um cunho assistencialista. A Cooperativa do Chuchu, por exemplo, pretende aplicar R$ 1 milhão na construção de um galpão para processamento da produção, o que poderá trazer um incremento de 20% a 30% na renda dos seus associados. Já a Cooperativa dos Produtores Rurais entre SerraseÁguas,deBragançaPaulista, que reúne 83 agricultores, pretende comprar equipamentosmóveiseumgalpãoparaprocessamento de 450 toneladas das frutas e hortaliças que produz, montando uma miniagroindústria em sua sede, a fim de auferir mais lucros. O produtor de morangos e legumes em Socorro Sidney Barrel sintetiza o avanço que se estábuscando:“Oprodutorprecisaaprenderaenxergarseunegócio como empresário e perceber as oportunidades do mercado”, o que concorrerá inclusive para fixar o homem no campo.

“Só falta agora a presidenta também ter azia quando ler os jornais” EDUARDO HENRY MOREIRA / GUARUJÁ, SOBRE AS AÇÕES DA PF CONTRA CORRUPÇÃO NO GOVERNO henrymoreira@uol.com.br

“O PMDB é maior em tudo, por que não pode ser o maior em corrupção? Basta mexer no vespeiro” IZABEL AVALLONE / SÃO PAULO, IDEM izabelavallone@yahoo.com.br

C

punição desse tipo adotada pelo governo, que anunciou a extensão de suas investigações para todas as exportações originárias de Taiwan e também para as operações suspeitas de outros países. Isso será feito mesmo que os demais exportadores não tenham sido citados pela empresa brasileira que, considerando-se prejudicada pela concorrência desleal dos produtos chineses, solicitou a investigação do governo. “As medidas de combate à fraude de origem marcam uma inflexão na política de defesa comercial, uma vez que o MDIC está indo além do que

Punição imposta pela Secex pode ser sinal de menor leniência na área comercial externa foi pedido pela indústria, ao estender a suspensão de importação para outras origens”, disse o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, ao comentar a punição imposta pela Secex. A titular da Secex, Tatiana Lacerda Prazeres, disse ao jornal Valor que a proibição da entrada de ímãs originários de Taiwan “é um avanço, um passo além das medidas que adotávamos até agora”. Era necessária, de fato, a adoção de sanções mais eficazes de defesa comercial, como vinham reclamandocominsistênciacrescente empresários de diferentes setores. A lentidão das investigações e, sobretudo, da aplicação de punições mais efetivas para conterapráticacadavezmaisfrequente da triangulação por ex-

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Aldo Rebelo lança candidatura a ministro

1.692

Deputado entra na corrida pela vaga no TCU aberta pelo pedido de aposentadoria de Ubiratan Aguiar ● “Agora a brincadeira ficou séria. Sem luz no fim do túnel.” PAULO CARDOSO

● “Assim, Aldo não precisará mais se preocupar com eleições, o cargo é vitalício. Será que Rebelo possui as qualidades necessárias para ocupar uma cadeira no TCU?” ALUISIO DE OLIVEIRA BRAGA

HÁ 743 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Esse cargo deveria ser preenchido unicamente por concurso público, já que é o cargo mais desejado por qualquer político.” CARLOS ROBERTO MARCEU

portadoreschinesesjápreocupava esses empresários prejudicados pela concorrência desleal. Um caso antigo é o das exportações de calçados chineses por outros países, como Malásia, Cingapura, Vietnã e Hong Kong, para evitar a sobretaxa imposta pelo governo brasileiro ao produto originário da China. Após a punição, diminuíram as importações da China e aumentaram, praticamentenamesmaproporção, as dos demais países. Em junho, o ministro Fernando Pimentel anunciou a decisão do governo de abrir um processo deinvestigação das exportações de calçados chineses. Emmaio,ogoverno confirmaraoiníciodainvestigaçãodapráticadetriangulaçãonasexportaçõesdecobertoresdefibrasintética fabricados na China, tendo como alvo da investigação dois parceiros do Brasil no Mercosul, Uruguai e Paraguai. O aumento das exportações a partir dosdoissóciosmenoresdoMercosul coincide com as fases do processo antidumping iniciado pelo governo brasileiro contra os cobertores chineses. Em julho, o Estado mostrou que também a Argentina pode estar sendo utilizada pela China para a prática de triangulação. Além de calçados, ímãs e cobertores,outrosprodutoschineses podem estar entrando no Brasil por meios fraudulentos. Queixam-se dessa prática ilegal fabricantes brasileiros de altofalantes, de escova de cabelo e de armações de óculos. À medida que o governo intensificar as investigações, mais produtos chineses poderão sofrer a punição agora aplicada aos ímãs.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital: 3959-8500 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 14 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Pior do que ingenuidade Antes de viajar para Damasco, representando o Brasil na missão conjunta com a Índia e a África do Sul para exortar o governo sírio a parar com o que chamou de “violência desproporcional contra manifestantes desarmados” e a efetivar as reformas prometidas pelo ditador Bashar Assad, o subsecretário das Relações Exteriores para o Oriente Médio, Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, disse que o Itamaraty “não é ingênuo” e o Brasil “não é Poliana”. Ele queria deixar claro, com isso, que a diplomacia brasileira não nutria esperanças infundadas sobre as intenções de Assad em face do movimento pela democratização do país que completa cinco meses esta semana e contabiliza mais de 2 mil ativistas mortos pelas forças de segurança e o Exército.

No entanto, depois do que se divulgou do encontro dos enviados de médio escalão dos três países, que formam o grupo Ibas, com o chanceler sírio Walid Muallem e da imprevista audiência de meia hora que lhes concedeu o ditador em pessoa, numa aparente transgressão do protocolo destinada a mostrar aos seus e ao mundo que o regime não está isolado – como está, e cada vez mais –, é de perguntar se ainda não é pior do que ingênuo o comportamento do Brasil na tragédia síria. A ida a Damasco, em nome da discutível premissa de que o diálogo é sempre mais eficaz do que pressões políticas, boicotes econômicos e sanções diplomáticas para resolver conflitos, ainda quando se trate de um conflito entre opressores e oprimidos, foi tardia e se revelou uma gritante irrelevância – exceto por ter levado conforto a uma ditadura equiparando sua violência na repressão à dos reprimidos.

Tardia porque Bashar não esperou a aparição do Brasil e dos seus parceiros para fazer promessas que o retrospecto indica que ele não tem a menor intenção de cumprir – “democracia pluripartidária” com eleições livres até o fim do ano e reforma constitucional nos primeiros meses de 2012. Tardia ainda porque a missão trilateral foi precedida pela decisão da Arábia Saudita e seus vizinhos de retirar seus embaixadores de Damasco e pela não menos inédita condenação da Liga Árabe às brutalidades do regime. E tardia, por fim, por ocorrer quando se adensam os sinais de fraturas na coalizão de interesses clânicos, sectários, políticos, militares e econômicos que sustentam há 40 anos o poder do partido único Baath e do estado policial criado pelo pai de Bashar, o facinoroso Hafez Assad. Aconteça o que acontecer doravante na Síria, os dias de Bashar estão contados, o que não significa

que serão poucos. Mas o chanceler Antonio Patriota defende o indefensável status quo no país, sob a alegação de que “alternativas ao governo atual podem ser mais problemáticas”, como os remédios – comparou – que matam o paciente. Até parece que o Brasil tem autoridade moral para prescrevê-los e escolher a dosagem. O que teve, isso sim, foi a deplorável oportunidade de confortar a tirania síria, ao permitir-lhe que explorasse à farta as reuniões em Damasco para fins de propaganda, o que o Itamaraty tinha a obrigação de prever. Enfim, a ação diplomática foi de uma irrelevância a toda prova porque não produziu nada de concreto – a não ser mais uma derrota para o Itamaraty – nem chamou a atenção internacional. Seria diferente se, numa hipótese poliana, Brasil, Índia e África do Sul arrancassem de Bashar o que não conseguiu a tíbia “declaração presiden-

O retorno em busca de trabalho

As punições da ANP

balanço de pagamentos mostra em que medida a retração das economias dos países desenvolvidos tem afetado milhares de brasileiros que emigraram. O Itamaraty ainda não concluiu um levantamento sobre o número de compatriotas que vivem hoje no exterior, mas as chamadas transferências unilaterais que contabilizam as remessas para o País de brasileiros que trabalham no exterior foram de US$ 1,522 bilhão no primeiro semestre deste ano, um recuo de 45,4% em relação ao mesmo período de 2010 (US$ 2,788 bilhões). Essa é uma consequência direta do encolhimento do mercado de trabalho para os emigrantes, que reduz ou impossibilita a transferência de parte dos seus rendimentos para as famílias no Brasil. A crise de crédito de 2008/2009 afetou os emigrantes e, com a estagnação subsequente da economia dos países industrializados, aumenta o movimento de retorno de milhares de pessoas que foram buscar melhores oportunidades lá fora. Como mostrou reportagem do Estado (7/8), com foco apenas nos países da Europa e no Japão,sem seestender aosEstados Unidos, onde também é muito grande a colônia de brasileiros, está havendo uma reversão de um movimento migratório que teve grande impulso a partir da “década perdida de 1980”. O Itamaraty – que nos últimos anos tem dedicado especial atenção à diáspora brasilei-

ode ser de mais de R$ 30 milhões a primeira multa aplicada pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a uma empresa petrolífera – no caso, a Petrobrás – por descumprimento da exigência de conteúdo nacional na fase exploratória dos blocos arrematados entre 2003 e 2004. À medida que o trabalho de fiscalização da agência avançar, outras multas poderão ser aplicadas à estatal e mais empresas poderão ser punidas pelo mesmo motivo, o que poderá gerar uma disputa administrativa e até jurídica de duração imprevisível. Bandeira da campanha eleitoral de 2002 do ex-presidente Lula, a contratação no Brasil de equipamentos para a indústria do petróleo sempre foi polêmica. A obrigatoriedade de aquisição no País de determinada porcentagem dos equipamentos petrolíferos pode ser um importante instrumento de estímulo ao desenvolvimento da indústria brasileira, mas também pode gerar distorções e ineficiência. Os produtores locais defendem a medida, que lhes assegura um mercado imenso, sobretudo se os programas de exploração do pré-sal avançarem no ritmo previsto pelo governo. As petroleiras, porém, temem que a exigência lhes limite a possibilidade de escolha de fornecedor, em termos de competência tecnológica, capacidade de produção e preços, o que poderá resultar em atrasos, problemas operacionais e aumento de custos. Diversas empresas petrolífe-

O

ce-presidente, há perfeita harmonia entre o governo e o PMDB. Tradução: não se salva ninguém! FLAVIO MARCUS JULIANO opegapulhas@terra.com.br São Paulo

O Leste Europeu e o Brasil

A queda do Muro de Berlim, em 1989, simbolizou a derrocada do comunismo nos países do Leste Europeu, então sob controle da Rússia. E onde entra o Brasil nessa história? Muitos dos nossos esquerdistas, hoje ocupando cargos de relevo na administração pública, na juventude se preocuparam mais com movimentos estudantis ou sindicais, passeatas e outras atividades de cunho político do que em se preparar profissionalmente. Com a ascensão do PT e outros partidos da esquerda a governos municipais, estaduais e à Presidência da República, esses esquerdistas mudaram de ca-

ra– chegouaelaborar umacartilha para ajudar o regresso ao Paísde cidadãos que ficaram até mesmosem dinheiropara pagar a passagem de volta. Nesse caso, se não contarem comaajudadegovernosdospaíses hospedeiros ou se não obtiveremauxílio deparenteseamigos por intermédio do Itamaraty, esses emigrantes têm de recorrerà OrganizaçãoInternacional de Migrações (OIM) para cobrir suas despesas com o retorno à pátria. Em Portugal, por exemplo, 315 brasileiros tiveram suas passagens compradas pela entidade em 2009, número que saltou para 562 em

O encolhimento das economias dos países ricos traz de volta emigrantes brasileiros 2010 e que se mantém elevado este ano. Estes são casos extremos, mas o fato é que uma parcela cada vez maior dos mais de 800 mil brasileiros que estão na Europa está voltando ao País por não encontrar trabalho. A exceção são os estudantes. Naturalmente, quanto mais alto o desemprego em um país, maior é a dificuldade para estrangeiros obterem colocação, mesmo em setoresqueexigembaixaqualificação. Na Espanha, enquanto a taxa de desemprego para os naturais do país é de 20%, ela sobe para 35% em se tratando de trabalhadores estrangeiros. Não é diferente a situação na Irlanda, que, na virada do milênio, exibia aeconomiaemmaisrápidocrescimento de toda a União Euro-

ra, passaram a usar terno e gravata e a circular nas altas rodas sociais. Acobertados pelo manto de sua missão em prol dos “mais necessitados”, trataram de enriquecer, através de caminhos pouco éticos. Combinado com seu despreparo (incompetência), isso se vem manifestando nos atrasos, erros, desmandos e majoração de custos na maioria dos projetos sob sua responsabilidade (PAC, Copa e tantos outros). Em consequência, estamos sendo inundados por escândalos de toda natureza. Imaginem, então, se o Brasil não tivesse uma imprensa “quase livre” para denunciar tais mazelas e escândalos e grande parte de sua economia nas mãos de empreendedores privados para pagar as contas... Estaríamos, com certeza, trilhando os caminhos dos países acima citados. Ou de Cuba. Deu para entender? CHRISTIAN MOTH NIELSEN cnielsen@uol.com.br São Paulo

peia (UE). Em Gort, no Oeste daquele país, os brasileiros chegaram a constituir 40% de uma população de mais de 4 mil pessoas. Hoje, essa participação caiu para 25% e tende a diminuir ainda mais. O Japão também deixou de ser a meca dos nisseis e de seus descendentes. Até 2008, viviam etrabalhavam no Japão cerca de 320 mil decasséguis de origem brasileira. O número, hoje, não passa de 260 mil. Não é de estranhar que muitos brasileiros tenham se enraizadoempaísesestrangeiros,ondeseusfilhosestãosendoeducados e que estão decididos a permanecer,apesardasatuaisvicissitudes. E sempre haverá quem, por motivo, decida refazer a vida em país estrangeiro. Mas, na medida em que a economia nacional exiba um crescimento mais acelerado, a evasão de brasileiros tende a refluir. Para as contas externas do Brasil, a queda nas remessas de emigrantes não representa problema, em face do ingresso excepcional de recursos externos. De outro lado, o País pode ganharmuitocomareabsorçãopelo mercado interno de brasileiroscom experiênciade trabalho no exterior. São pessoas geralmentecomespíritoempreendedor, que adquiriram ou aperfeiçoaram conhecimentos profissionais e que já dominam razoavelmente línguas estrangeiras. Emumafasedeescassezde mão de obra em muitos setores, será muitoútilseoMinistériodoTrabalho, como já se cogita, instituir um programa para facilitar a reinserção desses cidadãos no mercado de trabalho no País.

“Haverá censura da Polícia Federal?” LUIGI VERCESI / BOTUCATU, SOBRE DILMA ENQUADRAR A PF luver44@terra.com.br

“Presidenta Dilma, não confunda PF com PT...” VIDAL DOS SANTOS / SÃO PAULO, SOBRE A PRISÃO DE CORRUPTOS vidal.santos@yahoo.com.br

“Ampla, total e irrestrita!” OSCAR ROLIM JÚNIOR / ITAPEVA, SOBRE A FAXINA NO GOVERNO rolimadvogado@ibest.com.br

P

cial” do Conselho de Segurança da ONU, na semana passada: para começar, a revogação imediata do bloqueio ao ingresso de jornalistas estrangeiros no país e a suspensão incondicional dos ataques a civis – que, acaba-se de saber, chegaram a ponto de incluir o uso de baterias antiaéreas contra a população da cidade insurgente de Hama. Pelo menos o chanceler turco Ahmet Davutoglu, que na terça-feira se reuniu durante seis horas com Bashar, não exatamente para ouvir divagações sobre as origens da contestação “armada” ao seu governo, como os diplomatas do Ibas, foi firme o suficiente para dele exigir o fim da repressão em 48 horas. Mas Ancara conta – e Brasília faz fútil expressão corporal de contar. Além disso, países como a Turquia e a Arábia Saudita têm robustas razões estratégicas para querer amoldar aos seus interesses o futuro da Síria. E o Brasil?

ras que arremataram blocos nos leilões organizados pela ANP já enfrentaram problemas para o cumprimento do índice de conteúdo local na fase de exploração, especialmente na contratação de alguns serviços, como de perfuração e sísmica, por falta de fornecedores capazes de atender às especificações de seus projetos e por causa do preço, até 20% superior ao similar estrangeiro. Na semana passada, reconhecendo que a Petrobrás já foi notificada da multa pela ANP, o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, considerou a punição “injusta”, mas evitou criticar pu-

A Agência e a Petrobrás em queda de braço a respeito do ‘conteúdo local’ na exploração blicamente a agência, afirmando que a empresa decidiu questionar a medida na esfera administrativa. Se necessário, poderá recorrer à Justiça. De acordo com Gabrielli, a multa foi aplicada sobre procedimentos que eram permitidos quando os blocos foram leiloados. Na época, não havia a exigência de certificação do conteúdo local na fase exploratória por empresa independente de auditoria: a empresa de petróleo declarava o porcentual de conteúdo local e comprovava por meio de nota fiscal e declaração do fornecedor. A partir de 2005, além da certificação do índice por empresa independente, o governo passou a exigir o porcentual mínimo de 37% e máximo de 55% na

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Dilma: vazamento de fotos é ‘inaceitável’

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Presidente condenou a exposição dos acusados de irregularidades no Ministério do Turismo ● “Inaceitável? Então aceitável é tudo isso que eles fazem, sempre fizeram e continuarão a fazer, ou seja, roubar?” LUCI ALVES

● “Gostei das fotos e acho que deveriam fazer parte da norma. Se todo crime do colarinho-branco tivesse fotos divulgadas assim, quem sabe os fraudadores tomariam vergonha na cara.” GUSTAVO BRUNSON HÁ 744 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

fase de exploração em águas profundas (mais de 400 metros de profundidade), dependendo do item. Curiosamente, na época em que a mudança foi feita pelo governo, a secretária de Petróleo do Ministério de Minas e Energia era Maria das Graças Foster, que atualmente ocupa a diretoria de Energia e Gás da Petrobrás. Na contestação da multa, a Petrobrás alega que as novas regras só se aplicam aos blocos arrematados depois de 2005. Há informações de que a área técnica da ANP já se manifestou contrária ao recurso, que agora será examinado pela diretoria da agência. O governo, porém, adverte que a punição pode atingir um valor muito maior. O valor deverá ser corrigido com base no IGPM, a medida oficial da inflação calculada pelo IBGE. A primeira multa abrange a fiscalização apenas da fase exploratória dos campos arrematados em 2003 e 2004, na quinta e na sexta rodadas de licitações. Se a fiscalização incluir a fase de produção, e constatar novas irregularidades no cumprimento da meta de conteúdo local, a multa poderá alcançar até 60% do valor do investimento no campo de petróleo. Como o problema da falta de fornecedor atinge toda a indústria petrolífera, outras empresas que não apresentaram o índice de conteúdo local poderão ser multadas. A ANP fiscaliza blocos arrematados pelas estrangeiras Shell, Maersk, Sonangol Starfish, Partex e Petrogal e as brasileiras Petro Synergy, Quantra e Aurizônia.

● “Presos pobres não são alvos da mesma preocupação.” MARCOS HADDAD

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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 15 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação

Notas e Informações A3

Administração e Negócios

Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Jogo duplo no orçamento O governo pretende jogar para duas plateias no próximo ano – a do mercado financeiro, interessado nas contas públicas, e a do eleitorado, mais atento ao crescimento econômico e à preservação de empregos. Não basta dispor de US$ 350 bilhões de reservas e de uma razoável posição de caixa para usar em caso de necessidade. Esse colchão de segurança pode ser muito útil, mas será preciso mais que isso para uma travessia segura da turbulência prevista no mercado global. A presidente Dilma Rousseff promete enfrentar a crise sem levar o País à recessão. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, anuncia um orçamento sóbrio, mas sem cortes nos programas de combate à pobreza e nos investimentos mais importantes. O Executivo e seus líde-

res no Parlamento precisarão de algo mais que habilidade técnica para executar esse plano de jogo. Terão de mostrar muito mais competência política do que mostraram até agora. A proposta orçamentária para 2012 será enviada ao Congresso até o fim do mês. Enquanto o documento é elaborado, a presidente procura pacificar aliados à beira de uma revolta. São parlamentares incomodados com a limpeza em três Ministérios e empenhados em conseguir a liberação de verbas para suas emendas. Se for proposto um orçamento sóbrio, a primeira e mais importante linha de resistência será formada por uma base fisiológica e sem compromisso com os objetivos mais sérios do governo. Mas o próprio Executivo terá de olhar com menor complacência o seu desempenho, se quiser de fato estabelecer uma agenda prudente para o próximo ano. Segundo a ministra

do Planejamento, o governo brasileiro – ao contrário dos governos do mundo rico – já fez a lição de casa, com o corte de gastos de R$ 50 bilhões anunciado no começo do ano. A ministra seria mais convincente se deixasse de lado essa história. Boa parte daquela operação foi mero corte de vento, como foi mostrado na época. Além disso, o resultado fiscal obtido neste ano, até agora, resultou basicamente do aumento da receita. Nenhum esforço importante de contenção e de racionalização de despesas foi realizado. Será muito mais complicado combinar no próximo ano uma política austera com a manutenção dos programas sociais e dos investimentos mais importantes. Já se pode prever um grande aumento de gastos com a Previdência, com a assistência social e, provavelmente, com o seguro-desemprego, principalmente por causa do aumento do salário mínimo. O mi-

O álcool da Petrobrás

A

té 2015, segundo o presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, a estatal poderá se tornar a maior produtora de álcool do País. Cabe indagar se se trata da mais recente prova da vocação expansionista do Estado em áreas tradicionalmente ocupadas pelo setor privado ou se há outras justificativas para essa política. O interesse pelo álcool foi divulgado com o novo Plano de Negócios para 2011-2015, que marcou o enquadramento da empresa nas regras do Ministério da Fazenda, definindo um volume de investimentos inferior ao desejado pela Petrobrás. O interesse da Petrobrás pelo álcool não é recente – há um ano, ao divulgar o Plano de Negócios 2010-2014, Gabrielli anunciou investimentos de US$ 3,5 bilhões em produção, logística e comercialização de biocombustíveis, US$ 1 bilhão a mais do que no plano anterior. Também em 2010 a estatal firmou acordos com a Açúcar Guarani, do grupo francês Tereos, e com o grupo nacional São Martinho, um dos maiores produtores, para produzir álcool. A Petrobrás explicou, no ano passado, que o propósito era se associar a produtores privados, sem intenção de deter posição majoritária nas parcerias. O objetivo inicial era produzir 2,6 bilhões de litros de etanol no prazo de quatro anos, até alcançar entre 4% e 5% da produção nacional de álcool, em 2014. Os planos ora divulgados são bem mais ambiciosos.

cil crer no ser humano. EDMÉA RAMOS DA SILVA paulameia@terra.com.br São Paulo

Fichas sujas

Renova a minha esperança saber que, em meio a tanta imundície, há um suspiro de injustiça que mostra que nas próximas eleições será muito difícil achar uma ficha limpa. ANDREIA MARIA DE SOUZA VIEIRA andreiasouzavieira_5@hotmail.com Assis

PODER JUDICIÁRIO Desvios

A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) manifesta estranheza e perplexidade ante o relatório divulgado no editorial A corrupção na Justiça (11/8, A3). Embora reconheça o papel reser-

Até 2015, segundo Gabrielli, a Petrobrás pretende investir US$ 4,1 bilhões em biocombustíveis – o grosso destina-se à produção e à logística do etanol – e chegar a, pelo menos, 12% da produção nacional total. Já não se exclui, pois, a possibilidade de a empresa conquistar o primeiro lugar entre os produtores. As declarações de Gabrielli põem por terra a ideia de que a Petrobrás entraria num mercado sem o propósito de comandá-lo, mas como mera parceira, como se parcerias entre desiguais fossem equitativas. O mercado brasileiro de açú-

O aumento da produção de álcool pela Petrobrás não prejudicaria a de petróleo e o refino? car e álcool está, hoje, desbalanceado – a demanda supera a oferta e os preços são muito elevados. E nada indica que esta situação venha a se modificar nos próximos s anos. Como o álcool anidro é misturado à gasolina, a Petrobrás tem interesse direto na produção do etanol, que é um dos componentes da sua estrutura de custos. Hoje, a estatal é grande importadora de gasolina e tem prejuízo na operação, ao vender no mercado interno a gasolina a preços inferiores aos pagos na importação. Quanto mais álcool tiver, maior será a flexibilidade da Petrobrás – ou do governo que a controla – para atuar no mercado de combustíveis. Os preços do álcool, além disso, não es-

vado ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de controlar a legalidade dos atos administrativos do Poder Judiciário, a AMB considera que fazer um levantamento e levá-lo à imprensa, exibindo um mapa da corrupção para acusar o Judiciário, é ofender, de forma genérica, todos os juízes brasileiros. Não há dúvidas de que a magistratura é imprescindível à consolidação dos valores democráticos e sociais e presta relevantes serviços à democracia e à sociedade brasileira. Porém, se há desvios, devem ser apurados e os responsáveis, punidos, respeitando sempre o direito à ampla defesa, ao contraditório e ao princípio de presunção de não culpabilidade. Dedo apontado contra irregularidades não julgadas em definitivo pelo CNJ, muito menos pelo Supremo, é uma violação que fragiliza o Estado de Direito. NELSON CALANDRA, presidente jornalismoamb@gmail.com Brasília

nistro da Fazenda, Guido Mantega, comprometeu-se há meses com uma elevação na faixa de 13% a 14%. Qualquer recuo será muito difícil. Além disso, haverá pressões por novo aumento para o funcionalismo. Os salários do setor público já subiram muito nos últimos oito anos e isso tem sido lembrado pelos ministros. Mas o governo terá de ser muito firme para enfrentar a cobrança dos servidores. Eles pretenderão no mínimo a reposição da perda inflacionária. Mas os problemas já começaram antes desse embate, porque os chefes do Judiciário já apresentaram sua reivindicação de aumento. O Executivo terá um pouco mais de liberdade para administrar as verbas, no próximo ano, se conseguir manter a desvinculação de recursos orçamentários, em vigor há vários anos. Para isso, precisará conseguir a aprovação de uma nova emenda constitucional. Também isso envol-

verá negociações difíceis. Se der tudo certo – uma hipótese muito otimista –, o governo poderá combinar uma política de solidez fiscal com a execução de investimentos importantes. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está, evidentemente, atrasado, embora o Executivo afirme o contrário. Nenhum lance retórico ou de propaganda poderá evitar, no entanto, as consequências do atraso das obras para a Copa de 2014. Para pôr essas obras em dia, o governo precisará tanto de capacidade gerencial quanto de boas condições financeiras – tudo isso num ambiente econômico provavelmente desfavorável. Se faltar o componente de austeridade, haverá menos espaço para a redução de juros, hoje dada como quase certa por muitos analistas. Ou os juros cairão por decisão política e o jogo será conduzido com maior dose de risco.

Ameaça ao programa anticrack tão sujeitos ao controle direto do governo federal. Do ponto de vista da Petrobrás, portanto, aumentar os investimentos em álcool pode ser interessante, se houver recursos disponíveis no orçamento da companhia. Mas não parece ser este o caso. Perdida a batalha com o Planalto para aumentar o volume quinquenal de investimentos de US$ 224 bilhões para US$ 270 bilhões, a Petrobrás terá de vender ativos para manter as aplicações prioritárias. Mas a produção de etanol não é uma atividade que deva ser exercida pelo Estado ou suas empresas. O que falta no setor não são investidores privados, mas uma política bem definida, que garanta o abastecimento do combustível com a formação de estoques reguladores. Se os preços do álcool mantiverem-se elevados, como são agora, o aumento dos investimentos privados será inevitável. Salvo, note-se, se o Estado interferir, reduzindo artificialmente as margens dos produtores privados, num setor onde há centenas de produtores. O aumento da participação da Petrobrás na produção de álcool poderá, portanto, ter efeito contrário ao que, supõe-se, seja o pretendido pelo governo – aumentar a oferta do produto e propiciar redução de preços, ainda que a longo prazo. O que pode ser bom para a Petrobrás não é, necessariamente, bom para o Brasil. Não há por que a estatal almejar a liderança do mercado de álcool no País.

“Enquanto Lula sugere que PT e PMDB repactuem a coalizão, nós, brasileiros comuns, pagamos o ‘pacto’ com a corrupção” CLODOMIR DE JESUS REDONDO / ARAÇOIABA DA SERRA, SOBRE A ‘GOVERNABILIDADE’ clodoredondo@bol.com.br

“Tão certo quanto 10-7=4, se Marta pagar o pato, Haddad pega os peixe...” A. FERNANDES / SÃO PAULO, SOBRE A ARITMÉTICA ELEITORAL standyball@hotmail.com

S

eguindo a trilha aberta pela prefeitura do Rio de Janeiro, que passou a promover a internação compulsória de moradores de rua – inclusive menores de idade – viciados em crack, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou que o governo federal poderá ajudar financeiramente os Estados e municípios que adotarem a mesma estratégia. Em São Paulo, a Secretaria de Negócios Jurídicos da Prefeitura divulgou, há duas semanas, um parecer técnico que dá a base jurídica para a implementação dessa política, por parte das Secretarias Municipais da Saúde e de Assistência Social. Preparado pela ProcuradoriaGeral do Município, o parecer afirma que toxicômanos são considerados civilmente incapazes pela legislação em vigor, podendo assim ser levados à avaliação de um psiquiatra mesmo contra a vontade, desde que haja avaliação clínica prévia e autorização da Justiça. O parecer também afirma que crianças e adolescentes viciados não têm capacidade para decidir o que querem fazer. O argumento do ministro da Saúde é idêntico. Segundo Padilha, os viciados em crack, nos casos de dependência extrema, perdem o discernimento. “A internação clínica compulsória é ação de proteção à vida, desde que haja profissionais de saúde e de assistência social e após avaliação individual dos dependentes”, diz ele. O problema é que, enquanto no Rio de Janeiro e em São Paulo as duas prefeituras mobiliza-

ram-se institucionalmente para adotar essa estratégia, procurando agir de comum acordo com o Ministério Público e com os juízes das Varas da Infância e Juventude, em Brasília o ministro da Saúde não tem apoio nem mesmo na pasta que chefia. Subordinado a ele, o Departamento de Saúde Mental não chegou a um consenso sobre sua proposta. E esta, além disso, tem a oposição frontal da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad). Em entrevista concedida há três meses, quando anunciou a conclusão de uma pesquisa nacional sobre o consumo de dro-

Internação compulsória de viciados suscita divergências e sofre por falta de verbas federais gas feita pela Senad, em colaboração com a Fiocruz e a Universidade de Princeton, a secretária Paulina Duarte afirmou que não há “epidemia de crack” e classificou como “pedagogia do terror” as campanhas institucionais contra o consumo de entorpecentes. “O que se tem no imaginário popular é que o Brasil está tomado pelo crack. Não há um exército de zumbis consumindo num só lugar, mas pequenas ‘cenas de uso’. No levantamento, vimos pequenas cracolândias móveis, que migram em busca de melhores condições de sobrevivência. Combatem-se essas ‘cenas’ com atendimento na rua, não com abordagem higienista, de recolher usuários”, disse Paulina. A divergência entre o minis-

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Ir de ônibus do Brasil ao Peru leva 96 horas

807

A mais longa linha de ônibus da América do Sul tem 5.917 km e une São Paulo a Lima ● “Deve ser uma aventura bem legal. Mas pelo preço, de R$ 468 só pela ida, é melhor ir de avião.” GERSON TEIXEIRA

● “Realmente é uma boa viagem para testar a sua paciência e conhecer melhor os Andes.” EMERSON SANTOS

HÁ 745 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Obras inacabadas são características negativas de nosso continente e governantes.” MARIA SALETE DA SILVA AUGUSTO

tro da Saúde e a chefe da Senad é só um dos aspectos da questão da internação compulsória de moradores de rua viciados. Outro aspecto envolve o financiamento dessa política. Embora a presidente Dilma Rousseff tenha afirmado durante a campanha eleitoral que o combate à droga seria uma das prioridades de sua gestão, desde sua posse o governo cortou pela metade as verbas previstas para o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack. Em audiência pública realizada recentemente no Congresso, a secretária Paulina Duarte deixou claro que, com o dinheiro à disposição, não conseguirá cumprir compromissos firmados no ano passado pelo governo do presidente Lula. Desde então, dirigentes do Conselho Federal de Medicina (CFM) acusam Dilma de ser “incoerente com compromissos assumidos durante a campanha” e afirmam que o corte das verbas federais mostra que ela jamais teria considerado o combate às drogas prioritário. Integrante da Comissão de Assuntos Sociais do CFM, o médico Ricardo Paiva diz que há um déficit de 7,5 mil leitos para atendimento de pacientes dependentes de crack que estão em fase de desintoxicação. “Existem atualmente 2,5 mil leitos e o próprio Ministério da Saúde afirma serem necessários 10 mil”, afirma Paiva. Com o abandono das promessas de campanha e as divergências entre ministros com relação a questões importantes, o governo Dilma aos poucos vai pecando pela falta de ações coerentes em áreas essenciais, como saúde e segurança.

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 16 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Não basta cortar os juros Não é tão fácil baixar os juros, teria dito a presidente Dilma Rousseff, na semana passada, numa reação às pressões de empresários, sindicalistas e políticos empenhados em conseguir um afrouxamento da política monetária. Com o agravamento da crise internacional, a campanha se intensificou, reforçada pela voz de alguns analistas. Baixar o custo do dinheiro – este é o argumento – ajudará a manter saudável a economia brasileira, se o mundo rico entrar em nova recessão. Também no governo há quem defenda esse ponto de vista. O recuo da inflação nos últimos dois meses também é lembrado para justificar essa medida. Mas a presidente da República tem-se mostrado cautelosa e empenhada em avançar no esforço para consolidar as contas públi-

cas. Não basta cortar os juros sem cuidar do lado fiscal. Não há nenhum coro, no entanto, a favor de um tratamento prudente do gasto público. Empresários e seus porta-vozes tocam no assunto de vez em quando, sem muita insistência. Tampouco há notícia de alguma campanha contra subsídios custeados pelo Tesouro. Nem mesmo tem havido protestos contra a concessão de favores a grupos selecionados para ser campeões. O silêncio é ainda mais profundo nos meios sindicais e políticos, quando se trata de combater o uso imprudente ou mesmo criminoso do dinheiro público. Alguma voz se levanta, ocasionalmente, mas ninguém se dispõe a combater com seriedade e empenho as emendas de interesse pessoal ou paroquial e as propostas de aumento de gastos. Há no Congresso pelo menos 19 dessas propostas em diferentes etapas de tramita-

ção. Quase todas tratam da remuneração de servidores, propondo reajustes, enquadramento funcional, instituição de gratificações, criação de pisos, etc. Uma das mais perigosas – já aprovada na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados – proporciona um ajuste de 56% ao pessoal do Judiciário. Um projeto desse tipo tem repercussões diretas e indiretas, porque desencadeia reivindicações em todos os níveis da administração. Ao mesmo tempo, o Executivo se empenha em conseguir a prorrogação, mais uma vez, da Desvinculação de Receitas da União (DRU). Esse dispositivo tinha um alcance muito maior em sua forma original. Com o tempo, a desvinculação foi limitada, mas o governo ainda tem interesse em mantê-la. Quanto menos as verbas forem amarradas a determinadas aplica-

ções e transferências, mais o governo poderá usá-las de acordo com as prioridades do momento. Em tese, é mais fácil conferir racionalidade a um orçamento mais flexível. Há muito tempo se reconhece a rigidez do orçamento como um grave problema para a administração fiscal no Brasil. Mas o Executivo terá dificuldade para conseguir a nova prorrogação da DRU. Sua base parlamentar, tão ampla quando fisiológica, tem pouco ou nenhum interesse na racionalização orçamentária. A presidente e sua equipe econômica terão muita dificuldade para montar para 2012 um orçamento adequado a uma situação de crise internacional. Os problemas já são consideráveis, mesmo sem novos compromissos com gastos improdutivos. Benefícios concedidos ao funcionalismo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda afetam as contas, porque alguns dos ajustes foram planeja-

dos para vigorar gradualmente. Neste ano, mesmo sem novos aumentos, a folha salarial supera a de 2010. A elevação continuará em 2012. Sem a garantia de uma efetiva contenção de gastos, a redução de juros será arriscada. Basear essa decisão nos últimos dados da inflação pode ser muito precipitado, porque a demanda continua vigorosa, como se vê pela expansão do comércio interno e também das importações. O gasto público é um componente importante dessa demanda. O corte de R$ 50 bilhões alardeado pelo governo pouco representa, na prática, em termos de estabilização econômica. A presidente Dilma Rousseff parece conhecer o roteiro mais seguro, mas terá dificuldade para segui-lo, por causa da baixa qualidade de seu apoio parlamentar. O BC cometerá um erro perigoso, se cortar os juros antes de assegurado um avanço na área fiscal.

O cerco ao comércio ilegal

A consagração de Cristina

inalmente, está sendo fechado o cerco ao comércio ilegal que durante anos ocupou muitas ruas e praças da capital paulista e resistiu a várias tentativas do poder público de coibir suas atividades. O primeiro passo decisivo para isso foi a criação no final de 2009 da Operação Delegada, na qual policiais militares (PMs) participam do combate aos camelôs em horário de folga, recebendo para isso um adicional pago pela Prefeitura. O segundo foi a recente intensificação das operações da ForçaTarefa de combate a produtos pirateados e contrabandeados. A Operação Delegada cresceu demais, estendendo-se a outros setores – como o meio ambiente (combate a invasões de áreas de proteção ambiental) e saúde (atuação de bombeiros no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - Samu) –, o que exige a participação de 4 mil PMs. Esse “bico oficial”, só aceitável em caráter excepcional, passou dos limites e sua incorporação de fato ao salário de grande número de PMs cria um problema sério, porque tende a ser visto como forma de compensar os seus baixos salários. Um problema que a Prefeitura e o governo do Estado têm de resolver o quanto antes, fazendo a Operação Delegada voltar a seus objetivos e dimensões originais. Dentro desses parâmetros, ela produziu excelentes resultados e sua ação é fundamental para que eles sejam preservados e ampliados.

popularidade da presidente Cristina Kirchner numa Argentina cuja economia cresce a 8% e o consumo dispara é a principal, mas não a única, explicação para o seu triunfo nas primárias de domingo para a Casa Rosada, governos provinciais e Congresso. Além do recém-readquirido bem-estar de parcela ponderável da população e da liderança pessoal cada vez mais expressiva da viúva do seu antecessor Néstor – embora ela não pare de criar oportunidades para explorar em benefício próprio a sua memória –, a fragmentação e a inexistência de líderes respeitáveis da oposição ao kirchnerismo contribuíram para uma vitória que parece antecipar o resultado da eleição presidencial de 23 de outubro. Sintomaticamente também, nada menos de 78% dos cerca de 29 milhões de argentinos aptos a votar compareceram anteontem à estreia do peculiar sistema de prévias instituído pelo governo Cristina em 2009. Diferentemente dos Estados Unidos – onde surgiu o mecanismo de consultas aos cidadãos registrados como eleitores de um ou outro partido para a seleção dos aspirantes às convenções propriamente ditas –, na Argentina as legendas ficaram obrigadas a submeter ao eleitorado inteiro seus précandidatos. Justificou-se a inovação como uma forma de permitir que o povo participe das decisões partidárias, reduzindo o poder das suas oligarquias. No entanto, a votação de an-

F

tos dos flagrados em desvios de conduta/fraudes e corrupção, achando que isso “afronta a dignidade humana”. Pergunto a eles se fraudadores e ladrões têm dignidade a ser preservada. ADIB HANNA adib.hanna@bol.com.br São Paulo

Descamisados

Interessante a reportagem sobre a crise gerada após a Operação Voucher no Amapá. Realmente, os corruptos sem camisa não ficaram bem na foto. Eles estão acostumados a colarinhos brancos. JULIO CESAR GALLI julio.galli@hotmail.com Jaboticabal

PREVIDÊNCIA Mudança na aposentadoria

Previdência Social e Ministério da

Os paulistanos podem circular de novo, com toda liberdade, por ruas, praças e viadutos de várias regiões da cidade, muito tempo ocupadas por milhares de camelôs. Os índices de criminalidade nesses locais – em especial os referentes a roubos e furtos – tiveram forte queda. Mas sempre esteve muito claro, para todos os que se debruçaram sobre esse problema, que um ataque direto e continuado às fontes de suprimento do comércio ilegal é fundamental para evitar que os camelôs, expulsos daqueles locais, retomem cedo ou tarde suas atividades em outras re-

O ataque a suas fontes de suprimento é fundamental no combate aos camelôs giões. Sem isso, os camelódromos apenas mudam de lugar. Daí a importância daquela Força-Tarefa, criada em 2002, no governo Marta Suplicy, com a participação da Guarda Civil Metropolitana, fiscais da Prefeitura, Polícias Civil, Militar e Federal, Ministério Público Estadual e Receita Federal. Seus sucessores mantiveram e aperfeiçoaram a Força, que hoje conta também com a participação das Secretarias Municipais das Subprefeituras e da Saúde (por meio da Vigilância Sanitária), da Secretaria Estadual da Fazenda e do Conselho Nacional de Combate à Pirataria do Ministério da Justiça. As operações realizadas pela Força-Tarefa sempre produziram bons resultados. O ponto

Fazenda estudam mudanças na aposentadoria do setor privado (INSS). O tempo mínimo de contribuição para requerer o benefício passaria de 35 para 42 anos para homens e de 30 para 37 para mulheres. E os políticos? Vai passar de oito (aposentadoria integral) para quantos anos? Com a palavra os mentores da ideia! JOSÉ CARLOS ALVES jcalves@jcalves.net São Paulo

DIPLOMACIA Relações inadequadas

Será que Dilma não sente nada quando o ditador Bashar Assad, da Síria (paparicada pelo Itamaraty), utiliza navios de guerra para atacar o seu próprio povo em Latakia, matando 19 pessoas, neste domingo? ADEMIR VALEZI adevale@gmail.com São Paulo

fraco dessa iniciativa era o caráter esporádico dessas ações, apesar de se saber desde o início que a continuidade era essencial para evitar que os estoques de produtos ilegais apreendidos fossem repostos, e tudo recomeçasse. Finalmente, isto vem sendo feito desde dezembro do ano passado, no âmbito do programa Cidade Livre da Pirataria, em parceria com o Ministério da Justiça. Segundo a Secretaria Municipal de Segurança Urbana, já foram realizadas 18 operações, que resultaram na apreensão de 25 milhões de produtos ilegais – pirateados, falsificados ou contrabandeados – e a identificação de 93 estrangeiros ligados a essas atividades e sua notificação pela Polícia Federal para deixarem o País. Os alvos da mais recente operação, realizada no final de julho, foram o Shopping Mirage e a Galeria 960, na região da Rua 25 de Março, que, além de seu movimento normal de produtos irregulares, absorveram boa parte dos que eram vendidos pelos camelôs expulsos daquela área. Das 160 lojas vistoriadas, 114 vendiam mercadorias ilegais. Foram apreendidos 152 mil produtos pirateados ou contrabandeados, principalmente relógios, bolsas, roupas e tênis. O fato de ter sido apreendida tão grande quantidade de produtos, oito meses depois da intensificação das operações, mostra a força desse tipo de atividade ilegal e deixa clara, mais uma vez, a necessidade de a Força-Tarefa agir de forma permanente.

“Roubos e desvios impedem benefícios para aposentados” ROBERTO TWIASCHOR / SÃO PAULO, SOBRE VETO DE DILMA rtwiaschor@uol.com.br

“Mais uma ‘vitória’ da nossa diplomacia!” HELEO POHLMANN BRAGA / RIBEIRÃO PRETO, SOBRE A NOTÍCIA DE QUE A SÍRIA USA A MARINHA CONTRA OPOSITORES heleo.braga@hotmail.com

A

teontem acabou equivalendo a um primeiro turno antecipado da sucessão, dado que as dez agremiações participantes já tinham escolhido, cada qual, um único nome para disputar a presidência. Decerto esse foi o efeito desejado pela reforma eleitoral destinada a matar no nascedouro possíveis dissidências do esquema de poder do então casal K no bloco peronista chamado Frente pela Vitória, evitando assim a repetição dos confrontos internos que antecederam o pleito de 2007. E o resultado praticamente assegura que Cristina será reeleita já na primeira rodada, com maior

Cristina se consagra como a estrela singular em redor da qual gravita a política argentina porcentual de votos, quem sabe, do que da outra vez. As regras eleitorais argentinas, adotadas em 1994, dispensam a realização de um novo escrutínio quando, na disputa inicial, o candidato mais votado ou tiver alcançado 40% dos sufrágios, se a sua vantagem sobre o segundo for pelo menos de 10 pontos porcentuais, ou 45%, em qualquer hipótese. Há quatro anos, em vez de concorrer a segundo mandato consecutivo, o presidente Kirchner lançou Cristina para que ela mantivesse em família a Casa Rosada – e ele voltaria em 2011. A primeira metade do plano deu certo: com 45,2% dos votos ela liquidou a fatura de saída. Domingo, a viúva arrebanhou 50,07%, com 97% das urnas

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Google quer barrar crescimento da Apple

875

Compra da divisão de celulares da Motorola dará novos contornos ao mercado de smartphones ● “A aquisição vai fustigar a Apple, é claro, mas parece mais uma precaução contra a investida da MS/Nokia que ocorrerá nos próximos meses.” PAULO ANDRADE

● “Quem sabe a qualidade da Motorola melhore agora, não é?” MAYTHÊ RIBEIRO

HÁ 746 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “E o Google continua com seu plano no bom e velho estilo ‘Pink e Cérebro’ para dominar o mundo!” FABIO CARLOS DA SILVA

apuradas. Prova da irrelevância a que se deixaram relegar os partidos de oposição ao populismo kirchnerista, pela desorientação, mediocridade e autofagia dos seus dirigentes, nenhum dos dois maiores rivais da presidente – Ricardo Alfonsín, filho do falecido ex-presidente Raúl, do bloco União pelo Desenvolvimento Social, liderado pelo Partido Radical, e Eduardo Duhalde, antecessor de Néstor Kirchner, do bloco Frente Popular, encabeçado pelo Partido Justicialista, do peronismo ortodoxo – conseguiu nem sequer 13%. Ficaram virtualmente empatados na casa de 12,1%. O candidato alternativo Hermes Binner, da Frente Ampla Progressista, constituída pelo Partido Socialista, obteve 10,2%. Chamou ainda a atenção o fato de Cristina ter dado a volta por cima em Buenos Aires, Santa Fe e Córdoba, onde há pouco os seus candidatos a cargos majoritários foram surrados. O eleitorado separou as coisas. Mesmo na capital, onde não somou mais que 30% dos sufrágios, ante 22% de Duhalde, ela venceu em 12 das suas 15 comunas administrativas. Na Província de Buenos Aires, então, amealhou mais de 54% dos sufrágios. Segura de si o suficiente para afastar do seu entorno imediato os pezzonovanti da mafiosa máquina sindical peronista – já não bastasse ter feito do competente ministro da Economia, o empresário Amado Boudou,seu candidato avice –,Cristina se consagra como a estrela singular ao redor da qual gravita a política argentina.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital: 3959-8500 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 17 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Oportuna profissão de fé No tom certo, ressaltando que “temos excelentes motivos para confiar nas nossas instituições”, a presidente Dilma Rousseff disse o que precisava ser dito para desarmar o falso dilema sobre a ordem das prioridades entre o combate à corrupção e a escolha dos meios empregados pelas autoridades policiais no cumprimento de ordens de prisão de possíveis corruptos. O pano de fundo dessa injustificada antinomia foram os escândalos que espocaram no Ministério dos Transportes, levando ao inédito afastamento de uma vintena de servidores da pasta enfeudada pelo PR, e em seguida na Agricultura em posse do PMDB – embora sem nenhum efeito equiparável até o momento. As denúncias em rápida sequência e o descontentamento indisfarçado

de não poucos membros da base parlamentar do governo com a faxina nos Transportes ordenada pela presidente prepararam o terreno para duas reações antagônicas como que à espera de um motivo para se exprimir. O estopim acabou sendo uma razzia também sem precedentes da Polícia Federal (PF). Acionada pela Justiça Federal do Amapá, por sua vez provocada pelo Ministério Público, a PF prendeu e transportou para Macapá, praticamente de uma só tacada, 35 acusados de envolvimento em falcatruas no Ministério do Turismo. Entre eles, como se sabe, o secretário executivo da pasta, Frederico Silva da Costa, afilhado de caciques peemedebistas; o seu antecessor petista Mário Augusto Moysés, que foi chefe de gabinete da então titular do setor no governo Lula, a senadora Marta Suplicy; e o ex-deputado federal Colbert Martins, outro membro do PMDB, que dirige a Secretaria de Pro-

gramas do Ministério. Eles foram fotografados com as mãos algemadas no embarque para o Amapá, o que provocou uma polêmica sobre uma prática humilhante, por isso mesmo limitada pelo Supremo Tribunal Federal a casos extremos e que se supunha abandonada pela PF. Pior ainda do que essa sensacionalista demonstração de serviço foram as fotos vazadas dias depois para um jornal de Macapá e reproduzidas em todo o País, mostrando um punhado de detidos sem camisa, enquanto seguravam ao peito placas com os seus nomes. Dessa vez nem os federais ousaram sair em defesa do que na gíria policial se chama “escracho” – o aviltamento de presos a pretexto de sua identificação formal. A presidente considerou o vazamento “inaceitável”. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, falou em “grave violação”. O Conselho Nacional de

Justiça determinou uma investigação sobre o episódio. Muito provavelmente, no entanto, não faltaram brasileiros, fartos até a medula da corrupção enraizada na administração pública e na política nacional, que condescenderam, quando não se regozijaram com o tratamento infligido a mais esses presumíveis bandalhos. No outro extremo, numa escrachada expressão de autodefesa, um certo número de políticos governistas, em clima de “ora, onde já se viu?”, usou os condenáveis abusos da Polícia Federal para verberar esse começo de devassa nos usos e costumes de seus apadrinhados ou cúmplices. O que os move, evidentemente, não é a preocupação com a agressão aos direitos da pessoa, mas o intento de pressionar o Planalto para pôr fim ao “moralismo” de que teria sido acometido. Pode-se presumir, portanto, que não tenham ficado satisfeitos com a

manifestação da presidente, aproveitando a solenidade de recondução ao cargo do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, na segundafeira. Sim, ela afirmou que fará tudo o que estiver ao seu alcance “para coibir abusos, excessos e afrontas à dignidade de qualquer cidadão que venha a ser investigado”. Mas afirmou também, com igual ênfase, que “onde ocorrerem malfeitos, iremos combater com firmeza, utilizando todos os instrumentos de investigação de que o governo dispõe e sempre contando com a atuação isenta do Ministério Público, com a eficiência da Polícia e com o poder de decisão do Judiciário”. O vigor das instituições, em última análise, é o que corruptores e corruptos mais temem. Especialmente, como disse Dilma, “uma Justiça eficaz, célere, mas sóbria e democrática, senhora da razão e incontestável nas suas atitudes e providências”.

Um governo para o euro

A execução da juíza Patrícia

zona do euro precisa de mais governança e de mais articulação entre as economias dos paísesmembros, segundo a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Reunidos em Paris, os dois propuseram a criação de um governo econômico para a união monetária, formado pelos 17 chefes de governo, comandado pelo atual presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, e com reuniões pelo menos duas vezes por ano. Foi a proposta política mais audaciosa desde a eclosão da crise das dívidas soberanas, no começo do ano passado. Mas essa ideia é também um desdobramento quase inevitável da adoção da moeda única. Uma união monetária não poderá funcionar por muito tempo se cada governo seguir uma política orçamentária própria, sem objetivos compartilhados. Isso sempre foi reconhecido, mas só agora se apresenta uma proposta formal de governança comum. Merkel e Sarkozy defenderam também a adoção, a partir de setembro, de um imposto sobre operações financeiras para conter a especulação. Opuseram-se, no entanto, à criação de um eurobônus, um título garantido por todos os governos da união monetária. A rejeição era prevista. A emissão daqueles bônus seria mais uma forma de repartir a responsabilidade e os custos do endividamento público excessivo de alguns países. Uma ideia desse tipo se-

execução a tiros da magistrada fluminense Patrícia Acioli, titular da 4.ª Vara Criminal de São Gonçalo, foi o terceiro assassinato de juízes brasileiros ocorridos neste início do século 21. Dois outros ocorreram em 2003. No primeiro, a vítima foi o corregedor dos presídios de Presidente Prudente, Antonio José Machado Dias, que tinha a responsabilidade de julgar os pedidos de liberação e transferência de presos da penitenciária de segurança máxima de Presidente Bernardes, onde a cúpula do PCC cumpria pena. No segundo, a vítima foi o juiz Alexandre Martins de Castro Filho, da 5.ª Vara de Execuções de Vitória, que integrava uma força-tarefa que investigava a ligação de políticos – inclusive dois ex-governadores – com o crime organizado. Nos três atentados, o objetivo dos mandantes foi o mesmo: a intimidação de magistrados inflexíveis com o crime organizado. A estratégia intimidativa não é nova e tem sido utilizada pelo narcotráfico no México, na Colômbia e na Bolívia, depois de ter sido empregada durante décadas pela máfia italiana, que, em 1992, matou os juízes Giovani Falcone e Paolo Borselino. A diferença é que, na Itália, a firme reação da magistratura – que não se deixou intimidar – levou à Operação Mãos Limpas, resultando na prisão de centenas de mafiosos, políticos e empresários. No Brasil, as respostas têm sido mais retóricas do que de ordem prática: nem a

A

ram demora na recomposição do sistema. HÉRCIO JOSÉ RAMOS BRANDÃO, superintendente de Relações Institucionais da Aneel danielbastos@aneel.gov.br Brasília

DIPLOMACIA Lobo em pele de bobo

Concordo com o editorial Pior do que ingenuidade (14/8, A3). A atitude do Itamaraty no início do governo Dilma Rousseff parecia mostrar que este seria diferente do governo anterior, mas aos poucos se mostrou igualzinho e até pior, porque de tempos em tempos se mostra como lobo em pele de bobo, que pela ilusão de um assento no Conselho de Segurança da ONU se envolve em conflitos com os quais não tem a menor relação. Se Lula teve o “acordo” fajuto com Ahmadinejad, Dilma teve o aceno

ria amplamente rejeitada pela opinião pública alemã. Os países da zona do euro só tiveram até agora um importante instrumento comum de política econômica: o Banco Central Europeu (BCE). Desde o ano passado, a grave situação fiscal de vários países da união monetária confirmou a necessidade crucial de maior articulação das políticas orçamentárias. Até agora, o combate à crise tem dependido essencialmente de um fundo comum de estabilização financeira, do auxílio do FMI e da ação do BCE, empenhado nas últimas semanas

A moeda comum requer mais que o BCE. Merkel e Sarkozy propõem mais um instrumento em comprar papéis emitidos por vários Tesouros da região – € 22 bilhões só na semana passada. O banco voltou ontem às compras, concentrandose, desta vez, em títulos italianos e espanhóis. Itália e Espanha, a terceira e a quarta maiores economias da zona do euro, entraram recentemente na mira dos especuladores. Mas a grande novidade foi a pressão, na semana passada, contra bancos franceses, muito comprometidos com países altamente endividados. Ontem, depois de alguns dias de calma, os mercados europeus voltaram a fechar com desvalorização das ações. Dados divulgados pela manhã mostraram o enfraquecimento geral das economias da União

dissimulado a Assad.

Europeia. Na zona do euro, o PIB do segundo trimestre superou por 0,2% o do primeiro trimestre e por 1,7% o de igual período do ano anterior. A Alemanha, maior economia da Europa, perdeu impulso. Entre abril e junho, produziu apenas 0,1% mais que nos três meses anteriores. França, Espanha e Portugal também apresentaram resultados fracos. Alemanha e França vinham funcionando como locomotivas da zona do euro. Se a economia americana também continuar derrapando, os maiores e mais desenvolvidos mercados do Ocidente permanecerão estagnados por longo tempo. As perspectivas poderão melhorar, no entanto, se o presidente Barack Obama conseguir apoio para aumentar o imposto pago pelos muito ricos. Nesse caso, ele terá espaço fiscal para novos gastosepoderácombinaroajuste orçamentário de longo prazo com algum estímulo ao crescimento. A grande novidade em relação a esse ponto foi o apoio do bilionário Warren Buffett à elevação do imposto proposta por Obama. As inovações propostas por Merkel e Sarkozy – incluída uma regra de ouro, o compromisso geral com o equilíbrio orçamentário–sóproduzirãoefeitos a médio e a longo prazos, se forem adotadas. De imediato, só medidas fiscais audaciosas, combinadas com planos confiáveis de ajuste ao longo de vários anos, poderão eliminar a estagnação. Se isso falhar, e se a China e outros emergentes perderem vigor, os próximos anos serão muito ruins.

ROBERTO SARAIVA ROMERA robertosaraivabr@gmail.com São Bernardo do Campo

“Ganho real em 2012 para aposentado não pode. Dinheiro para roubalheira em ministério pode?”

TÚNEL Santos-Guarujá

ODILON OTÁVIO DOS SANTOS / MARÍLIA, SOBRE O VETO DE DILMA

Manifestamos nossa satisfação em saber que o túnel que vai unir Santos ao Guarujá recebeu o nome de Francisco Prestes Maia, prefeito emérito de São Paulo por duas vezes (12/8, C1). Enviamos ao governador Geraldo Alckmin os cumprimentos e votos de que o projeto se torne realidade. A Baixada Santista terá uma nova via de grande importância para o seu desenvolvimento e o fomento do turismo, conforme o urbanista planejou em 1947, quando idealizou a primeira ligação seca entre as duas cidades. FAMÍLIA PRESTES MAIA decoljs@globo.com São Paulo

“Sacrificar aposentados sempre foi a maneira mais fácil e covarde de ‘cortar gastos’...” LAERT PINTO BARBOSA / SÃO PAULO, IDEM laert_barbosa@ig.com.br

A

polícia persegue e prende os bandidos que ameaçam juízes nem estes recebem eficaz proteção policial, nas condições e pelo tempo que for necessário. Enquanto bandidos cumprem as ameaças, as autoridades não cumprem as promessas de lhes dar o devido combate. E não dar aos juízes a proteção de que necessitam para aplicar a legislação penal de modo exemplar é dar vantagens ao crime organizado. Parentes e colegas de trabalho da juíza Patrícia lembram que, apesar de ela vir sendo ameaçada de morte há vários anos, por ter mandado para pe-

O crime, que é também uma afronta a todo o Judiciário, não pode ficar impune nitenciárias de segurança máxima mais de 60 policiais corruptos, chefes de milícia e banqueiros do bicho da Baixada Fluminense, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) não deu a ela a proteção devida. Em 2003, ela passou a andar com uma escolta policial de seis homens. Mas, nos anos seguintes, como disse o ex-namorado da magistrada ao jornal O Globo, “a escoltafoireduzidaparaquatrohomens, depois para três, até não restar nenhum”. As explicações da cúpula do TJRJ sobre a redução da escolta da juíza Patrícia e de sua posterior suspensão não são convincentes. Alguns desembargadores afirmaram que ela não teria requisitado a continuidade do esquema de segurança, o que é

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Itaquerão tem oferta de R$ 300 milhões

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Banco privado oferece quantia para dar nome ao futuro estádio do Corinthians por 15 ou até 20 anos ● “Banco privado, é? Cheirinho de lavagem de dinheiro no ar...” WNEDEL CASTANHO

● “Eu sugiro o nome ‘Invejão’, pois muitos são-paulinos não estão dormindo direito até hoje.” FERNANDO GONÇALVES

HÁ 747 DIAS

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● “É triste saber que querem investir esse dinheiro todo num estádio de futebol. Não seria mais decente aplicar em hospitais, escolas, policiamento?” CLODOALDO PORTELLA CÍCORI

desmentido pela família. Outros alegaram que ela não aceitou a proposta de transferência para varas mais “amenas” – o que significaria ceder à chantagem do crime organizado. O assassinato de juízes criminais é uma afronta ao poder constituído e à independência doPoder Judiciário e uma agressão ao Estado de Direito, disseram os dirigentes de todas as entidadesdemagistradoseoministro Cezar Peluso, presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça. Segundoesseórgão,há69magistrados ameaçados de morte no Brasil, dos quais 42 dispõem de carrosblindadosedeescoltapolicial e 13 vivem em situação de risco. O mais conhecido dos juízes ameaçados é Odilon de Oliveira, da 3.ª Vara Criminal Federal de Campo Grande (MS), especializada em crimes financeiros. Desde que serviu em Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai, onde condenou 114 criminosos entre junho de 2004 e julho de 2005, tendo ordenado o sequestro de 600 veículos, 18 aviões,86fazendas,50casase30 apartamentos do crime organizado, Oliveira é protegido dia e noite,inclusivedentrodesuacasa, de onde sai apenas para ir ao fórum. Quando estão em jogo as vidas de magistrados que enfrentam o crime organizado com coragem e as autoridades falham em dar-lhes a devida proteção, é a ordem institucional que passa aserameaçada.Aidentificaçãoe consequente punição dos assassinos da juíza Patricia Acioli devem ser tratadas como prioridade máxima pelo poder público.

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QUINTA-FEIRA, 18 DE AGOSTO DE 2011

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Plinio Villares Musetti

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Notas & Informações

Dilma segue a Lei de Johnson Quando vieram lhe pedir a cabeça do todo-poderoso chefe do FBI, J. Edgar Hoover, porque mandara espionar os líderes do movimento pelos direitos civis, sem respeitar nem o reverendo Martin Luther King, o presidente Lyndon Johnson, que governou os Estados Unidos de 1963 a 1969, rejeitou a ideia com um argumento que se tornaria um marco do pragmatismo político, quanto mais não fosse pela forma que o desbocado texano encontrou para se expressar. “É melhor ter o Hoover dentro da nossa tenda, urinando para fora”, ensinou, “do que tê-lo fora, urinando para dentro”. A presidente Dilma Rousseff pode, ou não, conhecer a história – e decerto não usaria tais termos em circunstâncias similares. Mas, aconselhada

pelo expoente do pragmatismo na política brasileira, o seu antecessor Lula da Silva, a presidente aplicou a Lei de Johnson para recompor as suas relações com os partidos aliados, a começar pelo mais forte deles, o PMDB do vice Michel Temer, com seus 80 senadores e 20 deputados. Reunida na segunda-feira à noite com a cúpula da sigla e a do PT – a “espinha dorsal do governo”, como disse –, Dilma parecia o seu patrono. Enquanto os convivas sorviam um alentador caldo verde, anunciou o descongelamento imediato de R$ 1 bilhão para as emendas parlamentares da base, prometeu evitar novos atritos, manifestou “confiança” no peemedebista Pedro Novais, titular da escrachada pasta do Turismo, e considerou nada menos do que “exemplar” a conduta do colega dele na Agricultura, Wagner Rossi, outro correligionário alcançado por denúncias de corrupção. (No dia seguinte, exsu-

dando felicidade, ele desfilaria pela repartição com os braços erguidos e os punhos cerrados, repetindo, pateticamente: “Estou firme, estou firme”. Em menos de 24 horas viu-se obrigado a deixar o governo.) Não menos exultante, também por motivos pessoais, como não poderia deixar de ser, ficou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves, que vinha reclamando do frio na tenda dilmista. A reunião, entoou, representou um “novo marco”. Pudera: a anfitriã chancelou o acordo pelo qual o PT ficou de ceder ao PMDB, ou seja, a Alves, a presidência da Casa em 2013. Era o que ele mais queria para se sentir reconfortado e pronto para fazer o equivalente ao que o americano Johnson queria que o indócil Hoover fizesse “para fora”. E Dilma, que imaginara ingenuamente que bastaria um encontro daqueles por semestre, vai fazer um por mês – sem deixar de fora nenhuma legenda aliada.

Poderá, quem sabe, convidar até os senadores do PR que divergiram da decisão do seu presidente, o ex-ministro Alfredo Nascimento, de retirar o partido da coalizão, em represália à limpeza ética que o apeou e aos seus apaniguados dos Transportes. O capixaba Magno Malta, por exemplo, anunciou que não tem a menor intenção de sair da base. O seu irmão Maurício, a propósito, usufrui de uma boquinha no famigerado Dnit. Outro perrepista dissidente, o mineiro Clésio Andrade, tem um afilhado na superintendência local do órgão. A rigor, não havia motivo para ansiedade: o PR não pediu a ninguém que se demitisse; apenas que deixasse os cargos “à disposição”. O pano de fundo da conversão de Dilma ao pragmatismo lulista combina dois tons. Um é a ficha que enfim caiu: a base não pertence à presidente; é uma aquisição do seu mentor, cedida a ela em comodato e sujeita a pa-

nes se não for administrada como os seus membros foram acostumados a esperar. O outro tom são as circunstâncias: Dilma precisa de votos no Congresso não apenas para a “governabilidade”, em abstrato, mas para aprovar medidas que poupariam o País do contágio da crise externa e derrubar aquelas que, no seu entender, tenham efeito oposto. Nessa conjuntura, a higiene johnsoniana na tenda é tida como crucial pela presidente. Não se trata, portanto, daquela que seria propiciada pela dedetização dos inumeráveis focos de corrupção no seu interior. Talvez Dilma já não reaja a novas denúncias da imprensa como reagiu no caso dos Transportes. Segundo uma versão, no ágape com o esfaimado PMDB, ela teria considerado “sectarista” (sic) a cobertura dos escândalos. No sentido que conta, é mesmo. Cabe à imprensa, de fato, distinguir o bem do mal – e escolher entre um lado e outro.

A ligação Santos-Guarujá

Novas regras para a TV paga

ligação “seca” – isto é, sem o uso de embarcações – entre Santos e Guarujá não será mais por ponte, mas por um túnel pré-moldado com 900 metros de extensão, a ser assentado a 40 metros de profundidade e que será construído pelo governo do Estado a um custo hoje estimado em R$ 1,3 bilhão, como anunciou o governador Geraldo Alckmin na semana passada. É uma boa notícia. Mas a história dessa ligação, essencial para melhorar as condições de operação do Porto de Santos e facilitar o tráfego entre as duas cidades, recomenda que ela seja avaliada com alguma cautela. Esta é apenas a mais recente decisão, que pode ser revogada e substituída por outra, completamente diferente, daqui a pouco. A ligação seca entre Santos e Guarujá é um exemplo acabado de certo tipo de comportamento político e administrativo comum no País, marcado pelo anúncio de promessas para agradar ao eleitorado, mas de muito difícil execução, por questões técnicas, financeiras ou ambas. Essa prática pode resultar em ganhos eleitorais para políticos, mas deixa os cidadãos em longa e geralmente inútil espera. Incluída no Plano Regional para Santos elaborado há cerca de 70 anos pelo engenheiro Prestes Maia, a obra nunca teve sua importância e a necessidade de sua execução com urgência questionadas pelos administradores públicos de dife-

abertura total do mercado de televisão paga para as operadoras de telefonia, o fim das restrições ao capital estrangeiro e a unificação das regras para todas as modalidades de serviços de TV por assinatura são alguns dos pontos importantes da nova lei para o setor aprovada pelo Congresso e que agora aguarda sanção da presidente Dilma Rousseff. São mudanças que, por estimularem a competição no setor, podem resultar em mais opções, melhores serviços e preços mais baixos para os usuários. Estas são as novidades mais positivas da nova legislação para a TV paga, resultante da aprovação do Projeto de Lei complementar n.º 116, que, por seu caráter polêmico, tramitou durante quatro anos no Congresso. Há outras que, por representarem risco de reintrodução da censura prévia e de aumento da ingerência governamental na programação das emissoras, poderão ser contestadas na Justiça – parlamentares da oposição já anunciam que farão isso. Sejam ou não derrubados pelo Judiciário, esses pontos, e especialmente suas consequências práticas, precisarão ser observados com atenção pela sociedade. A lei amplia o poder regulador – e, teme-se, controlador – da Agência Nacional do Cinema (Ancine) sobre a programação das emissoras e sobre o conteúdo dos programas. Além disso, impõe um sistema de cotas para proteger a produção nacional. Desse modo, a Anci-

A

tá sendo feita internamente. MAURÍCIO LIMA mapeli@uol.com.br São Paulo

PETROBRÁS Aparelhamento

‘Toda decisão na Petrobrás é política’, diz seu presidente (17/8, A1). Para isso serve o aparelhamento político das estatais. O interesse do PT prevalece sobre o da empresa ou o do País.

rentes instâncias, mas também nunca saiu do papel. Para se apresentar bem ao eleitorado, governantes e candidatos a governantes alternaram as propostas para essa ligação, ora por cima – por ponte –, ora por baixo – por túnel, inclusive a última, que acaba de ser apresentada como a definitiva. A interligação mais eficaz entre as duas margens do Porto de Santos – uma na cidade de Santos, na Ilha de São Vicente, e outra no Guarujá, na Ilha de Santo Amaro – é apontada há várias décadas como vital para a dinamização do maior porto da América Latina. Atualmen-

Já se prometeu ponte. Agora se promete túnel. O que se espera é que a ligação seja de fato feita te, o percurso por terra de uma margem à outra é de cerca de 40 quilômetros. Nos últimos 18 meses, foram apresentados dois projetos de ponte entre Santos e Guarujá. Uma delas, reproduzida em maquete que o então governador José Serra descerrou na região, seria estaiada e construída na região onde operam as balsas – que serão mantidas. Outra, apresentada no início deste ano pela concessionária do Sistema Anchieta-Imigrantes, a Ecovias, teria 4.580 metros de extensão, ligando o cais do Saboó, em Santos, e a Rodovia Cônego Domênico Rangoni (Piaçaguera-Guarujá), na Ilha do Barnabé. Ao escolher o túnel como solução, o governo Alckmin apon-

Decisões políticas

É bom que os investidores da Petrobrás saibam disso e caiam fora enquanto é tempo. M. CRISTINA ROCHA AZEVEDO crisrochazevedo@hotmail.com Florianópolis

Práxis de governar

Mas é claro que todas as decisões são políticas, como diz Gabrielli. A PeTrobrás hoje pertence ao PT!

O gargalo do pré-sal não está nos equipamentos, mas na garganta dos dirigentes do Brasil nestes mais de oito anos de governo. Está na empáfia irresponsável com que vêm anunciando uma esperança que se encontra a mais de 7 mil metros de profundidade, alimentando ilusões mentirosas, como é da práxis deste modelo lulopetista de governar. Muito pior que isso, pretendem continuar!

BEATRIZ CAMPOS beatriz.campos@uol.com.br São Paulo

EUGÊNIO JOSÉ ALATI eugeniojosealati@yahoo.com.br Campinas

ALBERTO FUTURO carlos_futuro@viscondeitaborai.com.br São Paulo

Propriedade particular

tou diversas restrições técnicas às pontes, onde quer que elas fossem construídas. Para permitir a passagem de grandes embarcações, como as que estarão em condições de operar em Santos depois da conclusão das obras de dragagem do canal do porto, a ponte deveria ter grande altura em relação ao nível do mar, o que exigiria rampas íngremes nas duas extremidades, impedindo a operação de caminhões de grande porte. Além disso, sendo muito altas, as pontes poderiam prejudicar as operações da Base Aérea de Santos e limitar sua expansão no futuro. Sãoargumentosque,seprocedentes, deveriam ter sido levados em conta quando da elaboraçãodeoutrosprojetos depontes para a região. Quanto à construção do túnel, o governo aponta diversas vantagens, como suas dimensões suficientes para comportar o tráfego de pedestres (a travessiaa pé poderia ser feitaem 8 minutos), bicicletas, automóveis, caminhões e o futuro Veículo Leve de Transportes (VLT) – cuja implantação foi também anunciada por Alckmin, a um custo inicial de R$ 660 milhões para a ligação Porto-São Vicente. A tecnologia a ser utilizada na obra é inédita no Brasil, o que pode resultar em dificuldades na construção, e o tipo de túnel, segundo o governo, diminuirá o tempo de viagem, a necessidadedetransporte públicoeocusto. Tudo isso só será comprovado – ou não – se, desta vez, afinal, sair a esperada ligação entre Santos e Guarujá.

“Limpar o chiqueiro ou alimentar os porcos, eis a questão” JORGE MANUEL DE OLIVEIRA / GUARULHOS, SOBRE A FAXINA VERSUS ‘GOVERNABILIDADE’ jmoliv11@hotmail.com

“E Wagner Rossi não sabia de nada? É mesmo? Nem o padrinho Michel Temer?” FABIO MELLO FONTES / SANTOS, SOBRE O PEDIDO DE DEMISSÃO DO MINISTRO DA AGRICULTURA fmfontes@globo.com

A

ne “ficará com a faca e o queijo na mão para decidir o que o consumidor vai assistir”, advertiu o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). O Brasil dispõe de três modalidades de TV por assinatura – a cabo, por satélite (DTH, da sigla em inglês Direct-to-Home) e por micro-ondas (MMDS, de Microwave Multipoint Distribution Services) –, cada uma com regras próprias. As empresas telefônicas já podiam oferecer serviços por satélite ou por micro-ondas, mas estavam impedidas de usar cabo. O congelamento das regras para a TV a cabo praticamente

A Ancine pode se transformar num monstro regulador, com grande poder de censura limitou a expansão desse serviço, que hoje atende apenas 262 dos 5.564 municípios brasileiros. Como a demanda por serviços de TV por assinatura não parou de crescer, a lacuna foi preenchida pela TV por satélite, cujo número de assinantes superou o de TV a cabo em abril deste ano. Mesmo assim, a TV paga atende hoje apenas 36,6 milhões de pessoas, ou menos de 20% da população brasileira, de acordo com dados de junho da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o que dá ideia do imenso potencial de crescimento do setor. A entrada das telefônicas no serviço de TV a cabo ampliará muito a área que poderá ser atendida rapidamente com esse serviço, que será oferecido

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Desvios no Turismo não serão rastreados

1.348

Segundo os responsáveis, dificilmente será possível comprovar o destino dos R$ 4 mi repassados ao Ibrasi ● “Até agora, o único punido foi justamente o servidor que denunciou o esquema.” ANSELMO NOGUEIRA

● “Aqui, ser corrupto é sinônimo de sucesso e prosperidade.” RICARDO LAZZARINI

HÁ 748 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Não nos surpreende esse desfecho (impunidade). Por que não perguntam ao povo se concordam em deixar todo esse dinheiro nas mãos desses bandidos?” HAMILTON DE OLIVEIRA

com outros dois – o de telefonia fixa e o de internet de alta velocidade, o que atende ao interesse do governo em ampliar rapidamente o alcance do Plano Nacional de Banda Larga. “Com certeza haverá disputas por clientes, e isso reverterá em preço e qualidade”, prevê o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. A Associação Brasileira de Telecomunicações calcula que as novas regras permitirão investimentos de até R$ 144 bilhões até 2020 para universalizar o acesso à internet de alta velocidade. Já a fixação de um número mínimo de horas por semana para a apresentação – em horário nobre, por todas as emissoras, inclusive os canais estrangeiros – de programa de conteúdo nacional produzido no País representa forte ingerência na programação das emissoras. A atribuição à Ancine da tarefa de fiscalizar o cumprimento dessas regras dá ao órgão poder para definir o que é horário nobre e conteúdo nacional. Ela terá poderes para punir canais quenãoobedeceremsuasdefinições e decisões. Daí pode surgir um monstro regulatório com grande poder de censura. Não se trata de condenar o estímulo à produção nacional – que poderá receber até R$ 300 milhões anuais, correspondentesa10%daarrecadaçãodoFundo de Fiscalização das Telecomunicações–,masde alertarpara o risco de a imposição de cotassemanaisparaaexibiçãodessa produção resultar em perda de qualidade e relevância, com danos para o assinante que paga por esse tipo de serviço.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital: 3959-8500 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 19 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Quem demitiu o ministro? Só atribuindo à presidente Dilma Rousseff insuspeitados poderes maquiavélicos, no sentido comum do termo, é que se poderia acreditar que ela tramou por debaixo dos panos a queda do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, para afastar do seu governo a crescente sombra de mais um escândalo de corrupção. Na realidade, a presidente tinha todos os motivos – descontada a ética pública – para manter na pasta o veterano político peemedebista, unha e carne do vice Michel Temer, o dirigente de facto da agremiação. Afinal, o seu reiterado endosso ao colaborador que ela chegou a considerar “exemplar” enriqueceu o cardápio da reunião de congraçamento com a cúpula do partido, na presença de expoentes do PT, segunda-feira à

noite, menos de 48 horas antes de Rossi escrever as 940 palavras de sua prolixa carta de demissão. O atestado de confiança no ministro – praticamente coincidindo, por sinal, com o início das investigações da Polícia Federal (PF) sobre as revelações da imprensa de corrupção no seu setor – completava as juras de aproximação com o PMDB, que deixaram encantados os interlocutores da presidente. Segundo Temer, que acompanhou o velho amigo na entrega do cargo, Dilma pediu-lhe com insistência que mudasse de ideia. Não há por que duvidar da sinceridade do apelo. O que teria se passado, então? Basicamente, correm duas versões para a decisão de Rossi. A mais difundida é que ele não aguentou o tranco quando, já não bastasse a entrada da PF no caso, o Correio Braziliense noticiou que usava o jatinho de uma empresa de Ribeirão Preto, seu reduto eleitoral,

credenciada pela Agricultura, na primeira gestão Rossi, a produzir vacinas contra a aftosa. O “fato novo” que assombra todos os enredados em acusações de ilícitos provou mais uma vez ser a gota d’água, ao reforçar as pressões da família, que já vinha sendo hostilizada em razão das denúncias, para que largasse a pasta. A segunda versão, de que se fala à boca pequena e que não contradiz necessariamente a anterior, sustenta que as partes interessadas passaram a recear que o escândalo na Agricultura, além de outros que Rossi teria em seu passivo, quando dirigiu as Docas em São Paulo, também por indicação de Temer, poderiam respingar no vicepresidente. A acreditar nessa hipótese, Temer não teria ficado nem um pouco surpreso com o ato de Rossi, se é que não o induziu a isso. O registro das avaliações importa por dois motivos. De um lado, contribui para

dissociar Dilma da renúncia, ainda que lhe convenha que a parcela da opinião pública que só lê as manchetes acredite realmente que ela mandou embora quatro ministros em oito meses para moralizar o governo. De outro lado, porque, apesar da alegação de Rossi de que as suspeitas contra ele foram plantadas por “um político brasileiro” interessado em prejudicar o PMDB em São Paulo – a alusão ao tucano José Serra é óbvia –, comprova o vigor da imprensa livre no País e das instituições de defesa do interesse público, no caso, a Polícia Federal. Bem que a presidente disse dias atrás ter “excelentes motivos” para confiar nelas. Politicamente, a demissão não parece tê-la prejudicado junto à base parlamentar que ela enfim começou a cercar de cuidados. Tão logo Rossi se foi, a presidente fez saber a Temer que a vaga seria de quem quer que o PMDB indicasse. A banca-

da federal escolheu o líder do governo no Congresso, por sinal nomeado não faz muito, deputado Mendes Ribeiro. Ele foi o único peemedebista no Rio Grande do Sul a mergulhar na campanha presidencial de Dilma. A sua ida para a Agricultura trará de volta à Câmara um veterano quadro da sigla no Estado, Eliseu Padilha, suplente de Ribeiro (e desafeto do grão-petista gaúcho Tarso Genro). Para Dilma não deixa de ser um bom negócio, apesar da turbulência. Rossi, afinal, era o homem de Temer no governo. Ribeiro tem atrás de si uma bancada de 80 deputados, menor apenas que a do PT e que tanto vinha reclamando da desatenção da presidente. Para o País, enfim, a saída de Rossi é uma evidente boa notícia. Nada do que ele disse em resposta às acusações de que foi alvo restaurou o que antes pudesse ter de autoridade moral para seguir ministro.

O ensino de matemática

Descompasso na economia

matemática continua sendo a disciplina do currículo básico com os índices de aproveitamento mais baixos nas avaliações institucionais. No Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) de 2010, por exemplo, 44% dos alunos da 3.ª série do ensino médio tiveram desempenho insuficiente na matéria. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que avalia o desempenho em leitura, matemática e ciências de jovens de 15 anos, coloca o Brasil nas últimas posições, num ranking de 65 países. Quatro em cada 10 jovens brasileiros nessa faixa etária não sabem multiplicar. Divulgado esta semana, o levantamento mais recente da situação do ensino de matemática no País foi elaborado pelo Insper (antigo Ibmec) com base nas notas do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica de 2005, 2007 e 2009, e do Exame Nacional do Ensino Médio de 2008. Entre outras conclusões, a pesquisa aponta um paradoxo: os Estados com as notas mais baixas em matemática nas avaliações do MEC são os que apresentam maior número de estudantes interessados em seguir a carreira docente no campo das ciências exatas. E o que os leva a fazer essa opção é a baixa concorrência nas licenciaturas dessa área, pois as notas exigidas para ingresso são inferiores às das áreas mais disputadas. Para as pesquisadoras Maria

e algum freio foi aplicado à economia brasileira, seu efeito é muito mais forte na produção industrial do que na demanda de consumo. A renda dos consumidores continua em alta, o nível de emprego é elevado e ainda há crédito disponível para quem deseja ir às compras. Não surpreende, portanto, o resultado da nova pesquisa divulgada nesta quintafeira pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O indicador de intenção de consumo das famílias cresceu 2,5% de julho para agosto. O movimento no varejo deve continuar bom neste semestre, disse o economista Bruno Fernandes ao apresentar o relatório à imprensa. É preciso levar em conta esse dado, quando se avaliam as novas estimativas de expansão do PIB. O indicador de atividade produzido pelo Banco Central (BC) caiu 0,26% de junho para julho. Essa queda, a primeira desde o fim de 2008, foi interpretada como mais um sinal de esfriamento da economia brasileira, tendência já observada em meses anteriores. Esse é mais um argumento para quem defende a interrupção da alta de juros ou até uma redução a partir de setembro. Mas, antes de pensar em afrouxamento da política monetária, convém olhar com cautela o quadro geral da economia. Há uma sensível diferença entre as condições da oferta e as da demanda interna. Vários segmentos da indústria enfrentam dificuldade para competir

A

Contrapeso

Dona Luiza, não entre nessa, não. A ideia nem é de dona Dilma, mas de algum dos seus assediadores, que aparecem com ideais mirabolantes tentando desviar a atenção do povo e da mídia das falcatruas no governo, apresentando um nome de peso para contrapor ao prato da balança da desonestidade. Siga fazendo o que a senhora faz de melhor: inovar, investir, gerar empregos, renda e recolher impostos. É a melhor forma de o empresário contribuir para a Nação. MANOEL BRAGA manoelbraga@mecpar.com Matão

Convite para não ser aceito

Prezada sra. Luiza Trajano, esse, com certeza, é um convite que não deve ser aceito. Sei que não tenho nada com isso, mas... A se-

Cristina Gramani e Cintia Scrich, responsáveis pelo levantamento do Insper, isso vem gerando um círculo vicioso que vai piorar a má qualidade do ensino de matemática no País. Isso porque esses estudantes vão se tornar docentes na área em que apresentaram as maiores dificuldades de aprendizagem. Como no ensino básico não tiveram um bom conhecimento dos rudimentos da matemática, eles não conseguiram aprender – e, portanto, não conseguirão ensinar – as questões mais complexas. “Piauí e Sergipe são grandes exemplos dessa relação preocu-

Como se inicia o círculo vicioso: o aluno que menos sabe será o professor da matéria pante: registram altos números de inscritos e ingressantes nos vestibulares para formação de professores em ciências exatas e, ao mesmo tempo, têm desempenhos baixos em matemática”, diz Cristina Gramani. Na Universidade Federal de Sergipe, por exemplo, só 20% dos alunos do 1.º ano do curso de matemática passam para o 2.º ano aprovados em todas as disciplinas. O problema é antigo e preocupante, pois a má qualidade do ensino de matemática é um dos fatores que vêm limitando a formação de engenheiros em número suficiente para atender às necessidades da economia nacional. Em 2008, os cursos de engenharia ofereceram 239 mil vagas, mas só foram

nhora é empreendedora, não política. Políticos não são empreendedores, são políticos, apenas isso. JOSÉ PIACSEK NETO bubapiacsek@yahoo.com.br Avanhandava

PETROBRÁS Estatal ou privada?

Foi espantoso ouvir de seu presidente que as decisões da empresa são políticas e o mesmo ocorre nos demais países que exploram petróleo. Pode até ser verdade, mas lá são outros políticos. Aqui, infelizmente, as decisões políticas visam só interesses pessoais e/ou de grupos, não da Nação ou dos acionistas, incluídos os que aplicaram o seu FGTS na empresa. Afinal, a Petrobrás é uma empresa estatal ou privada? Será que a Vale seguirá o mesmo destino? FÁBIO DUARTE DE ARAÚJO fabionyube@visualbyte.com.br São Paulo

preenchidas 140 mil. Ou seja, não faltam vagas nas universidades – faltam, sim, vestibulandos com conhecimento mínimo de matemática. O País forma cerca de 47 mil engenheiros por ano, ante 650 mil, na China, e 220 mil, na Índia. A estimativa é de que o Brasil tenha hoje apenas 59 mil professores formados em matemática – um número muito aquém da necessidade da rede de ensino básico. Além disso, no ensino fundamental o docente das séries iniciais tem formação em pedagogia, carecendo de formação específica em matemática. E, segundo os pedagogos, isso não é suficiente para que saiba ensinar uma disciplina bastante técnica. As séries iniciais do ensino básico são fundamentais para que os alunos aprendam a ler números, a compreender as quatro operações aritméticas e a aplicá-las no cotidiano. As deficiências nas séries iniciais comprometem assim todo o aprendizado do aluno no ensino básico. Durante décadas, imaginouse que o baixo rendimento dos estudantes nesta disciplina decorria do método com que ela era ensinada. Valorizando a memorização de tabuada e a repetição de fórmulas, esse método não mostra aos estudantes como a matemática ajuda a raciocinar de forma lógica e objetiva. A pesquisa do Insper mostrou que o problema do baixo rendimento dos alunos em matemática não decorre só da falta de métodos de ensino mais modernos, mas também do baixo número de docentes capazes de dominar a disciplina.

“Com a bandalheira deixada por Lula, Dilma (coitada!) vai precisar de pelo menos três mandatos para dedetizar a Esplanada dos Ministérios e outros terrenos baldios” LUIZ BARRICHELO / PIRACICABA, SOBRE A CORRUPÇÃO NO GOVERNO legbarri@uol.com.br

“Novo nome da gatunagem é complô. Ah, ah, ah!” CECILIA CENTURION / SÃO PAULO, SOBRE AS ALEGAÇÕES DE ROSSI ceciliacenturion@globo.com

S

tanto no exterior quanto no mercado interno. A crise internacional e a forte valorização do câmbio ampliam as desvantagens do produtor brasileiro – impostos excessivos, custos logísticos muito altos, etc. – diante de seus concorrentes de fora. Esses fatores têm afetado a produção nacional muito mais que as medidas adotadas pelas autoridades monetárias e financeiras. Do lado fiscal, a política de austeridade anunciada no começo do ano pouco afetou a expansão do gasto público. O esforço de ajuste econômico sobrou quase totalmente para o BC. Até agora, o efeito desse es-

Consumidores mantêm disposição de comprar, enquanto a indústria enfrenta dificuldades forço foi muito limitado. Até agora a criação de emprego foi suficiente para garantir uma boa elevação de renda para os trabalhadores. No primeiro semestre, 84,4% das negociações entre patrões e empregados terminaram com elevação real do salário. Foi um pouco menos que nos primeiros seis meses de 2010, quando 86,7% das negociações propiciaram ganho real para os assalariados. Esses números foram levantados pelo Dieese. A tendência para bons acordos para os trabalhadores deve manter-se na segunda metade do ano, segundo o coordenador de Relações Sindicais da instituição, José Silvestre Prado de Oliveira. Categorias poderosas – petroleiros, bancá-

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Mendes Ribeiro vai assumir Agricultura

1.271

Presidente teria acolhido indicação do PMDB. Escolha de Mendes reabre vaga de líder no Congresso ● “Por essa troca desenfreada de membros do governo, verificase que Dilma não se preparou para ser presidente.” MIGUEL DINIZ

● “Mulher de fibra e eficaz, Dilma está se tornando uma grande estadista, respeitada por seus opositores.” FLAVIO ANDRADE

HÁ 749 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “A lei deveria exigir pelo menos dez anos de experiência na área para assumir o cargo.” PETER BIONDI

rios e metalúrgicos – devem negociar acordos neste semestre e suas conquistas deverão balizar as demandas salariais de outros grupos. O comportamento dos consumidores dependerá em boa parte desses acordos. Disso dependerão também a evolução dos preços internos e o equilíbrio das contas externas. A inflação recuou nos últimos meses, mas parece ter batido no fundo do poço e a expectativa, agora, é de uma nova fase de elevação de preços. A intensidade da alta será determinada principalmentepeladisposição dasfamílias e pelo ritmo de gastos do governo. Se o dólar continuar muito barato, parte importante dessa demanda será coberta com importações. Segundo o discurso oficial, o vigor e o tamanho do mercado interno permitirão ao Brasil atravessar sem recessão a nova fase da crise internacional. Esse otimismo é só parcialmente justificável. Para garantir um pouso suave e seguro, o governo deveria de fato conter seus gastos e proporcionar à indústria um apoio mais efetivo e mais pronto que aquele prometido no fraquíssimo Plano Brasil Maior. Sem isso, o risco de um pouso acidentado será considerável. O desajusteentreademandainterna e as condições de produção daindústriapoderácriarproblemas tanto nos preços quanto nas contas externas. Se isso ocorrer, o governo terá dificuldade para enfrentá-los e a presidente Dilma Rousseff gastará parte importantede seu mandato corrigindo os efeitos da imprudência cometida neste ano.

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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 20 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Aliança contra a miséria O cálculo de interesses é inseparável da ação política, quando não o seu mais potente motor. Ali onde deixou de ser conduzida predominantemente pelo confronto ideológico, a atividade tende a se pautar, para a imensa maioria dos seus praticantes, pela busca de ganhos que pavimentem o caminho ao que, afinal, conta acima de tudo nas democracias: a conquista do voto popular. Em tese, portanto, nada a objetar à permanente preocupação dos políticos com o custo-benefício eleitoral de suas decisões. O problema, evidentemente, são os meios a que recorrem para acumular vitórias na vida pública e os esquemas de que se valem para aliciar parcelas do eleitorado suficientes para lhes conferir poder. Embora me-

nos frequentemente do que seria de desejar, às vezes as artimanhas dos políticos para a promoção dos seus interesses acabam se traduzindo em atos e situações de genuíno benefício para a sociedade – e não apenas para os mais aptos entre os grupos de pressão que nela competem pelos diversos tipos de recursos que o Estado pode proporcionar. Dessa perspectiva, teve literalmente tudo para ser bem recebido pelos brasileiros o evento da quinta-feira no Palácio dos Bandeirantes, que reuniu a presidente petista Dilma Rousseff com os quatro governadores do Sudeste, na companhia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, convidado pelo anfitrião tucano Geraldo Alckmin para o lançamento do programa Brasil Sem Miséria na região, em regime de parceria. De fato, como disse Dilma, resumindo com propriedade o espírito da ocasião, “o Brasil sonhado por todos nós pode

ser diferente em muitos aspectos. Porém estou certa de que ele é semelhante nas questões fundamentais”. Uma delas, evidentemente, é o imperativo de impedir que as diferenças de aspirações e os conflitos políticos delas decorrentes desbaratem a civilidade política. O ex-presidente Lula, por exemplo, passou boa parte de seu governo, sobretudo depois do escândalo do mensalão e quanto mais se aproximava a temporada sucessória, pregando o oposto. O Brasil por ele descrito era um país polarizado entre “o povo pobre” e as “elites egoístas”, cujas respectivas posições diante das questões fundamentais não poderiam ter, por definição, nenhuma semelhança. O mentor de Dilma, que assumiu dizendo ter recebido uma “herança maldita”, deve ter ficado assombrado quando ela reconheceu que os êxitos do governo Fernando Henrique, em especial no combate à inflação,

foram o que permitiu ao sucessor desenvolver os seus celebrados programas sociais. Além de fazer justiça ao tucano, a forma carinhosa como desde então o vem tratando – como se tornou a ver ainda agora nos Bandeirantes – decerto é uma fonte de azia para Lula. Tanto que, repetindo a indelicadeza de não aparecer no Planalto para o almoço com o americano Barack Obama, ele recusou o convite de Alckmin para o encontro de anteontem. Não foi o único. O ex-governador José Serra, crítico do Brasil Sem Miséria e rival de Alckmin, fez o mesmo. Na contramão da linha seguida pelo antecessor no campo das políticas públicas, Alckmin pontilhou estes seus oito primeiros meses de mandato com uma série de iniciativas afinadas com as do governo federal, copiando algumas delas. “Ultrapassamos o período de disputas”, afirmou, dirigindo-se à presidente.

A contratação de concursados

Os riscos do pré-sal

ecente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) deve contribuir para a moralização dos concursos públicos no País. Em um julgamento que tem efeito vinculante vertical, ou seja, aplica-se a todos os casos do gênero em todas as instâncias, o STF entendeu que os aprovados em concursos públicos, dentro do número de vagas estabelecido no edital, têm direito à nomeação pelos órgãos da administração direta ou indireta que os promoveram. A decisão, que transforma uma expectativa de direito em direito líquido e certo, vem fazer justiça a inúmeros cidadãos que passaram em concursos, mas deixaram de ser nomeados por displicência, má-fé ou injunções políticas para os cargos aos quais se candidataram em concurso público. A decisão tem também a vantagem de aliviar a pressão sobre a Justiça, na qual tramitam milhares de ações de candidatos aprovados em concurso para vagas especificadas e que não foram aproveitados, apesar de julgamentos a seu favor até mesmo pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Mas a principal consequência da decisão é que os órgãos públicos deverão, de ora em diante, realizar concursos somente quando forem estritamente necessários para suprir vagas efetivamente existentes, em vez de trabalhar com base em estimativas muitas vezes infladas, como vinha ocorrendo. O STF foi provocado por um

e tudo der certo, daqui a nove anos o pré-sal estará produzindo 2,7 milhões de barris por dia, volume correspondente ao que a Petrobrás produz hoje, 54 anos depois de sua criação, e que só foi alcançado porque sua produção cresce ao ritmo de 10% ao ano desde o início da década de 1980. Seria algo como cinco décadas e meia em menos de uma, se confirmada a previsão feita pelo presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, ao participar do seminário Os Novos Desafios do Pré-Sal promovido pelo Grupo Estado e pelo Instituto FernandBraudeldeEconomiaMundial na terça-feira. Tantos, porém, foram os obstáculos ao êxito do projeto apontados por outros participantes do seminário que a previsão deve ser vista com muita cautela. O risco mais evidente decorre da magnitude do empreendimento, que ficou clara na série de artigos do diretor do Instituto Fernand Braudel, Norman Gall, publicada pelo Estado no primeiro semestre, e poderá exigir investimentos agora estimados em cerca de US$ 1 trilhão. Haverádisponibilidadederecursos, mas eles dependerão da viabilidade econômica dos campos do pré-sal, como advertiu o analista do BTG Pactual Gustavo Gattass, um dos participantes do seminário. Como exemplo das incertezas que marcam as atividadesdepesquisaeexploração de petróleo, comprometendo a rentabilidade do investimento, Gattass citou o Campo de Golfinho, que deveria alcan-

R

Presos e presos...

Advogados, juízes e o ministro da Justiça consideraram as imagens dos presos por surrupiarem verbas públicas ofensivas à dignidade humana. Que Deus os proteja de tomar conhecimento das condições dos presos acusados de furto de “bolsa de feira”. Por que só se preocupam com criminosos de colarinho branco? E a galera? PEDRO VARGAS pv_pedrovargas@yahoo.com.br Marília

Injustiça e desabuso

Um absurdo as declarações do ministro do STF Marco Aurélio e do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos defendendo como abuso e humilhação a publicação das fotos dos crápulas que meteram a mão na grana do Ministério do Turismo. Eles só es-

recurso extraordinário interposto pelo Estado de Mato Grosso, que questionava a obrigação da administração pública de nomear candidatos aprovados para o cargo de agente auxiliar de perícia da Polícia Civil. O governo daquele Estado terá agora de dar posse aos habilitados pelas provas a que foram submetidos. Quanto à existência ou não de verbas específicas para tanto, a presunção é que elas constem do orçamento, condição essencial para que seja determinada a realização de concurso público. Ocorre, no entanto, que frequentemente as verbas

Decisão do STF define normas mais rígidas para a contratação de concursados destinadas a esse fim são remanejadas pelos governos, razão pela qual eles deixam de admitir concursados em seus quadros permanentes. Há também os casos em que, as vagas realmente existem, mas foram preenchidas por funcionários interinos, que, incapazes de passar pelas provas de seleção, pressionam para continuar em seus cargos, contando com apadrinhamento político. O STF não se pronunciou sobre o prazo de validade dos concursos públicos, geralmente de dois anos depois de divulgada a lista dos aprovados. Pode perfeitamente acontecer que um novo gestor público chegue à conclusão de que os concursos anteriormente marcados para preenchimento de

queceram que os verdadeiros abuso e humilhação são as imagens do descaso de centenas de coitados nos hospitais públicos jogados em macas pelos corredores por falta de leitos, e até mesmo no chão, cujos médicos e enfermeiros são as latrinas e os ratos que os rodeiam. Sem falar nas escolas! Tudo isso causado por desvios de dinheiro público, que poderia ter sido investido com toda a justiça e desabuso nessas áreas. Concordo com o ministro Marco Aurélio quando disse que o Brasil está sangrando. Realmente, o Brasil está sangrando nos hospitais públicos, nas escolas, dentro das casas, nas favelas e nas prisões por falta de investimento em saúde, educação, segurança, moradia, etc. Enfim, até a juíza Patrícia Acioli, por falta de segurança, sangrou até a morte, com 21 tiros deferidos contra ela. VALDY CALLADO valdypinto@hotmail.com São Paulo

vagas se tornaram desnecessários em consequência de medidas de racionalização administrativa ou de economia de recursos. Em casos como esses, advogados especializados aconselham os concursados que suspeitarem de que podem vir a ser prejudicados a entrar com uma mandado de segurança preventivo até 120 dias antes do término do prazo de validade do concurso, pleiteando uma liminar capaz de garantir a nomeação. Isso significa que a decisão do STF, apesar da amplitude de sua aplicação, não deve eliminar inteiramente as ações desse tipo na Justiça, embora deva reduzi-las consideravelmente. De qualquer forma, a decisão do Supremo impõe ao poder público a adoção de critérios rigorosos antes de decidir pela abertura de concursos. Em primeiro lugar, as vagas de cargos burocráticos ou técnicos não deveriam ser ocupadas, em hipótese alguma, por interinos, o que, aliás, contraria disposições constitucionais. Isso se aplica também às empresas estatais, como, por exemplo, a Petrobrás. Espera-se que o julgamento do STF surta efeito na contenção das despesas de pessoal no setor público, de acordo com umapolíticafirme de austeridade fiscal. Significativamente, o Ministério do Planejamento congelouarealizaçãodeconcursos em órgãos sob o seu controle. O número de nomeações autorizadas por aquela pasta, por sinal, foi 90% menor no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2010.

“A diferença entre ladrão comum e político ladrão é que o segundo recebe salário de governo para roubar” LAÉRCIO ZANINI / GARÇA, SOBRE A CORRUPÇÃO arsene@uol.com.br

“Não gostam de algemas, mas gostam de boa vida, bom divã e de dinheiro do contribuinte...” ALBERTO NUNES / ITAPEVI, SOBRE A PRISÃO DE CORRUPTOS albertonunes77@hotmail.com

S

çar a produção de 300 mil barris/ dia, mas hoje produz apenas 10% disso. É claro que os resultados de cada campo só serão conhecidos quando eles estiverem operando. Se a produtividade dos poços do pré-sal for alta, o custo de produção por barril poderá ser pouco superior a US$ 30, o que assegurará excelente margem de lucro. Mas, se for baixa, o custo poderá superar US$ 70 o barril, reduzindo dramaticamente o retorno do investimento – o que afastará futuros investidores. Outro problema que ameaça a execução do programa do pré-

São muitos os obstáculos ao êxito do programa de exploração do petróleo sal no ritmo previsto pela Petrobrás já afeta os projetos atuais e se agravará à medida que outros projetos avançarem. Gabrielli admitiu, em entrevista ao Estado, que a falta de equipamentos – já encomendados, mas cuja entrega no prazo está ameaçada pelos gargalos das indústrias – pode comprometer os investimentos da empresa programados para este ano, e que, no Plano de Negócios aprovado no mês passado, foram reduzidos dos R$ 93 bilhões inicialmente projetados para R$ 84,7 bilhões. Se seguidas à risca as regras de conteúdo nacional dos equipamentos a serem empregados na exploração do pré-sal, a demanda da Petrobrás por sondas de perfuração, plataformas de produçãoe barcos de apoio eprodu-

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‘Show do Itaquerão’ pode parar na TV

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Futuro estádio do Corinthians pode virar atração de programa do canal Discovery Channel ● “É um documentário em que as etapas da construção são filmadas e editadas posteriormente.” MARCO ALBERTIN

PEDRO ARRUDA POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Em vez do programa ser ‘Megaconstruções’, não seria melhor ‘Megasuperfaturamento’?” ALVARO CALLEJON EXPOSITO

ção dificilmente será atendida. Mesmo que o seja, há a questão docusto: a indústrianacional terá condições de produzir a um custo compatível com a média internacional ou a Petrobrás terá de arcar com gastos adicionais apenas para atender à exigência de conteúdo nacional? OanalistaGustavoGattassobservou que, para atingir a produção prevista, a Petrobrás terá de instalar 54 novos sistemas de produção até 2020, mas o ritmo da indústria local e a falta de espaçosparafazeraintegração das plataformas no País, para cumprir a exigência de conteúdo nacional,poderão retardaro projeto. Gattass sugeriu que, para reduzir o impacto dessa exigência nas encomendas para o pré-sal, aPetrobrás encomende no exterior os equipamentos para o desenvolvimentodasáreasadquiridasnosleilõesdaAgênciaNacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), pois, paraessasáreas, nãohá aexigência de nacionalização. ReforçandoootimismodeGabrielli sobre o potencial do présal, a diretora da ANP Magda Chambriard disse que, numa projeção conservadora, o volume de reservas equivalentes de petróleo dessa área pode alcançar 50 bilhões de barris, ou 3,5 vezestodasasreservasprovadas do País, de 14 bilhões de barris, incluindo as do pré-sal. Tudo isso, no entanto, só começará a se tornar riqueza real para os brasileiros quando forem resolvidos os grandes problemas técnicos, financeiros e estruturais, muitos apontados no seminário e para os quais ainda não foi encontrada solução.

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

● “Sou são-paulino e não tenho simpatia pelo Corinthians. Mas eles estão fazendo tudo certinho, quer gostem ou não.”

HÁ 750 DIAS

“Isso se deve ao seu patriotismo, generosidade e espírito conciliador.” O grupo de Serra atribui o dilmismo de Alckmin à expectativa de recursos da União para programas que o ajudariam a se reeleger em 2014. De modo parecido, Dilma estaria interessada em estender a mão ao PSDB não apenas em nome do “grande pacto republicano e pluripartidário” para levar adiante a “faxina contra a miséria”, como declarou, mas também para manter a oposição no Congresso em fogo brando – já não lhe bastassem as atribulações com a base aliada. Mas os cálculos dos políticos envolvidos não mudam o essencial: a necessidade de engajar os Estados no combate à pobreza extrema (renda familiar mensal per capita abaixo de R$ 70). Mesmo em São Paulo, 1 milhão de pessoas vivem assim. No Sudeste todo, são mais de 2,7 milhões. A causa justifica o entendimento.

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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 21 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Dedicação exclusiva a 2014 Fazendo política 24 horas por dia, segundo suas próprias palavras, o expresidente Lula da Silva esteve na última quarta-feira em Belo Horizonte para um almoço com lideranças petistas onde, mais uma vez, deixou claro – não expressamente por palavras, mas pelas mesmas óbvias conclusões a que levam sempre texto e contexto de suas declarações – que é candidatíssimo à Presidência da República em 2014. Com seu habitual verbo solto, o chefão do PT classificou de “imbecilidade” as especulações sobre sucessão presidencial mais de três anos antes do pleito. E insistiu no chavão ardiloso: “Em 2014, eu não sei da oposição, mas o governo, o Brasil, já têm candidato, que é a Dilma Rousseff. Eu vou dizer pela última vez: a Dilma só não será candidata se ela não quiser”.

Mandam as conveniências que Lula fique repetindo o chavão – e pouco se lhe dá se as pessoas acreditem ou não. Afinal, uma eventual candidatura de Dilma a um segundo mandato está, pelo menos por enquanto, muito longe de depender da vontade dela. E, apesar de todo o jogo de cena, é de uma clareza cristalina que a lógica do pragmático e ambicioso “Lula 24 horas” aponta na direção de sua recondução ao Palácio do Planalto a partir de 2015, para, quem sabe, mais oito anos de proezas nunca antes vistas na história deste país. E – dado fundamental – esta é também a lógica do PT&Associados, cujo projeto de desfrute do poder por longo prazo não permitirá arriscar com quem quer que seja numa eleição que, ao que tudo parece indicar hoje, seriam favas contadas para Lula. Em se tratando de política, tudo pode acontecer até o momento da definição da candidatura gover-

nista. Até mesmo Dilma conquistar uma popularidade que torne sua própria candidatura, além de natural, inevitável. Mas não é para isso que Lula está trabalhando. Como explicar, por exemplo, a declaração do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, de que a candidatura do PT em 2014 será definida “em conversa entre Lula e a presidente Dilma Rousseff”? Quer dizer que até para um ministro do atual governo a candidatura da presidente à reeleição não é ponto pacífico? Com que propósito um político experiente como Paulo Bernardo teria fugido da declaração protocolar que dele se podia esperar para acenar com a possibilidade de Dilma não ser candidata outra vez? Interpelado em Belo Horizonte sobre essa declaração de Bernardo, Lula saiu pela tangente, partindo para o ataque a um de seus alvos preferenciais, que até então não tinha entrado na conversa: “Pri-

meiro, é inaceitável um tucano como o Serra dizer que sou candidato em 2014”. Depois, passou a elogiar Dilma, “que vai fazer um governo extraordinário” e “só não será candidata se não quiser”. Foi lá que disse que falar de sucessão agora, mais de três anos antes da eleição, é “imbecilidade”, no que está absolutamente certo. Para qualquer cidadão comum, que não é político profissional, de fato é. Mas não para o ex-presidente, que jamais desceu do palanque, antes ou depois de ter sido eleito em 2002. Instalado no Palácio do Planalto, uma de suas primeiras providências foi transformar o projeto de campanha Fome Zero em Bolsa-Família, politizando e tornando a iniciativa muito mais eficiente em termos eleitorais, com a inclusão das prefeituras no processo de distribuição dos recursos aos necessitados, o que acabou lhe custando o afastamento de conhecidos colaborado-

res mais idealistas. Mas, na ocasião, o então ministro José Dirceu teria dito que o Bolsa-Família traria “milhões de votos” que garantiriam a reeleição de Lula, segundo testemunho do exfundador do PT Hélio Bicudo prestado à TV Estadão no ano passado. Foi um lance decisivo que permitiu a Lula superar, em 2005, os percalços do “mensalão” e reeleger-se um ano depois. Ainda na primeira metade de seu segundo mandato, em janeiro de 2007, quando lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Lula colocou sua então ministra-chefe da Casa Civil à frente da iniciativa, com a clara intenção de prepará-la como candidata a sua própria sucessão quase quatro anos depois. Agora, a pouco mais de três anos do próximo pleito presidencial, Lula não quer nem ouvir falar, em público, das eleições de 2014. Por enquanto, é trabalhar nos bastidores, 24 horas por dia.

Novas confusões com o Enem

Um bilionário consciente

sucessão de trapalhadas com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) continua sendo a demonstração mais exemplar da inépcia administrativa que tomou conta do Ministério da Educação (MEC), na gestão do ministro Fernando Haddad. Em 2009, o vazamento das questões obrigou o órgão a adiar a prova, o que acarretou prejuízo para os cofres públicos e prejudicou o cronograma de muitas instituições universitárias, uma vez que os resultados do Enem contam pontos para os vestibulares. Na edição de 2010, houve problemas com a licitação para a escolha da gráfica, 21 mil cadernos de perguntas e o cabeçalho da folha de respostas foram impressos com erros, o sistema de informática do MEC não foi planejado para atender o número de candidatos inscritos e a Justiça chegou a conceder liminares cancelando o exame, o que obrigou o governo a recorrer às pressas ao Tribunal Regional Federal, para não adiá-lo. Este ano, procurando evitar problemas judiciais com a licitação dos órgãos encarregados de preparar e aplicar o Enem, o MEC propôs a transformação do Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe), vinculado à Universidade de Brasília, em empresa pública e decidiu contratá-lo, sem licitação, para aplicar o próximo teste. O Cespe foi criado para preparar os vestibulares da UnB e, com o tempo, passou a implementar projetos de avaliação educa-

osse outro o autor do artigo Parem de paparicar os superricos, publicado segunda-feira pelo jornal The New York Times e no qual se pede que os congressistas de Washington aprovem uma lei que tribute mais severamente os muito ricos, para repartir melhor os sacrifícios que o enfrentamento da crise fiscal dos EstadosUnidosimporá aos americanos, talvez o texto tivesse sido desprezadocomomaisumasimplória manifestação de algum fracassado ou ignorado por sua irrelevância. Poderia ter servido tambémcomopretextopara outra das estridentes manifestações do grupo ultrarradical Tea Party, contrário a qualquer tipo de aumento de imposto e que vem determinandoo comportamento do Partido Republicano na oposição às medidas propostas pelo governo democrata de Barack Obama para enfrentar a crise. Sendo, porém, seu autor um dos maiores bilionários da história contemporânea, o megainvestidor Warren Buffett, e seusargumentosimpressionantes, o artigo ganhou destaque mundial. E com toda a razão. Com exemplos pessoais e dadossobre a tributação por faixas de renda ao longo de duas décadas,Buffettmostraqueosamericanos super-ricos, que basicamente vivem da renda de suas aplicações financeiras, pagam proporcionalmente menos impostos do que pagavam na década de 1990 e muito menos, ainda, do que pagam hoje os trabalhadores,quevivemdeseussalários. “Enquanto os pobres e as

A

OLIMPÍADA DE LONDRES Torben Grael

O brasileiro está saturado dos escândalos dos nossos políticos e nos ministérios. Mas muito mais escandaloso é o nosso maior medalhista, Torben Grael, ficar fora dos Jogos Olímpicos de Londres por falta de patrocínio (escandaloso do ponto de vista humano, não pecuniário). O que está fazendo o ministério responsável pelo esporte? Cuidando de se precaver de eventuais denúncias de roubalheira? Um banco fez uma proposta de R$ 300 milhões para pôr o seu nome no Itaquerão, por interesse midiático (duvidoso, já que quem não é corintiano vai mudar de banco). Será que um dos nossos bilionários não se vai motivar para evitar esse vexame, pois esperar algo do governo parece utópico? No ensejo, gostaria de saber o que aconteceu com o criminoso que provocou a amputação da

cional e a promover concursos para carreiras da administração pública. Para as autoridades educacionais, a transformação do Cespe no Centro Brasileiro de Seleção e de Promoção de Eventos – uma espécie de “Concursobrás”– evitaria a realização de licitações e a escolha de empresas sem experiência em matéria de avaliação de ensino. Para firmar o acordo com o MEC, a UnB pediu que o Cespe continuasse gozando de imunidade tributária, mesmo sendo convertido em empresa estatal. O pedido foi aceito, o acordo foi firmado, as pro-

Empresa foi contratada sem licitação a um custo três vezes maior que o do último Enem vidências jurídicas e legislativas foram tomadas e, como estava planejado, o Cespe – em consórcio com a Cesgranrio – foi contratado sem licitação para preparar o Enem de 2011, a um custo de R$ 372,5 milhões. Esse valor é três vezes superior ao que foi gasto pelo MEC no último Enem, que custou R$ 128,5 milhões. A diferença é tão grande que o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a suspensão do pagamento, até que o órgão se manifeste sobre a “adequação dos valores”. O MEC alegou que a elevação dos gastos com o Enem se deve ao fato de que o teste passará a ser realizado duas vezes por ano. Mesmo assim, o relator, ministro José Jorge, considerou o aumento

perna de Lars Grael, irmão de Torben. Provavelmente, curtindo o Mar do Caribe no seu iate! JACQUES PENNEWAERT jacques.pennewaert@terra.com.br São Paulo

COPA 2014 Contagem regressiva

Faltam 3 anos, 12 estádios, 1 seleção, 30 hotéis, 14 aeroportos, 120 mil km de rodovias, 2 mil km de metrô, 6 trens-bala, 115 favelas pacificadas, 33 mil soldados preparados, 2 mil restaurantes, 150 mil motoristas de táxi falando inglês e espanhol, 20 mil km de esgoto, 50 milhões de m3 de água despoluída, a recuperação da Floresta Amazônica, do Pantanal e da Mata Atlântica. Falta também 1 presidente da República e vergonha na cara do povo brasileiro. MARIA ELOIZA ROCHA SAEZ m.eloiza@gmail.com Curitiba

injustificável. Ele também criticou as manobras jurídicas do MEC para justificar a contratação do Cespe sem licitação e lembrou que a controladoria do TCU já havia advertido as autoridades educacionais para que não voltassem a recorrer a “subterfúgios legais” para autorizar a dispensa de licitação. Em resposta, Haddad afirmou que os gastos do Enem equivalem “à metade do custo de qualquer vestibular”, que só o consórcio Cespe/Cesgranrio está apto a preparar o exame e que espera de Jorge uma “abertura ao diálogo”. Na realidade, o problema não é de falta de diálogo entre os dois ministros, mas da pretensão do MEC de agir ao arrepio dalei ede tentar,por viasindiretas, abrir caminho para a estatização do setor de preparação de concursos. Afinal, gozando das vantagens das empresas estatais, com o privilégio de preferência na venda de serviços ao MEC, e dos benefícios tributários de uma fundação educacional, a “Concursobrás” pode açambarcar o mercado, pondo fim à concorrência entre as fundações surgidas nos meios universitários e que atuam na mesma área do Cespe. Quando os planos para o próximo Enem foram anunciados, há alguns meses, especialistas alegaram que o MEC estaria maisumavez cometendotrapalhadas administrativas, acabando com o que ainda resta de credibilidade dos mecanismos de avaliação. A suspensão do pagamentodocontratodoCespe,determinada pelo TCU, mostra a procedência das críticas.

“O centro político continua vazio. Mas cercado de corruptos por todos os lados” A. FERNANDES / SÃO PAULO, SOBRE A CRÍTICA DO ‘CARA’ À ARTICULAÇÃO POLÍTICA standyball@hotmail.com

“Perguntar não ofende: quem é o número um?” MARA FONSECA CHIARELLI / MOGI-GUAÇU, SOBRE OS PITACOS DO EX NO GOVERNO DILMA mara.chiarelli@ig.com.br

F

classes médias lutam por nós no Afeganistão, e enquanto a maioria dos americanos luta para fechar as contas do mês, nós megarricos continuamos com extraordinárias isenções fiscais”, comparou. Buffett expõe sua situação para mostrar os desvios do sistema tributário americano. Em 2010, ele recolheu de tributos – Imposto de Renda e contribuição previdenciária – US$ 6.938.744, uma fortuna para a grande maioria da população, mas que, no seu caso, representou meros 17,4% da renda tributável. É uma alíquota mais baixa do que a que incidiu sobre o ren-

Buffett apoia o plano de Obama de dividir sacrifícios, tributando mais os mais ricos dimento de cada uma da 20 pessoasque trabalhamno seu escritório na empresa Berkshire Hathaway, cujo rendimento certamente foi inferior ao seu, mas que, na média, pagou de impostos 36% de sua renda. Os muito ricos têm meios para reduzir a tributação, como a declaração de “lucro diferido”, comalíquotade15%, ouaaplicação no mercado futuro de ações, comalíquotatambémde15%sobre até 60% da aplicação. Se o rendimento for do trabalho, a tributaçãoserá maispesada. Enquanto os megarricos pagam 15% sobreamaior parte dosseus ganhos e recolhem muito pouco para o sistema previdenciário, osassalariadostêmsuarendataxada com alíquotas de 15% a 25% e ainda recolhem uma pesada

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Prefeito de Campinas tem mandato cassado

1.207

Câmara da cidade afastou Dr. Hélio após denúncias de corrupção. Defesa deve levar o caso à Justiça ● “Parabéns, vereadores de Campinas. Rua para os corruptos e cadeia para todos eles.” RICARDO REZENDE

● “Cassado, preso e com os bens confiscados para devolver o que roubou do erário! Chega de meia punição.” ZELIA ANGELIM

HÁ 751 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Se essa moda pega hein! O que ia ter de prefeito e ex-prefeitos enrolados...” WELLINGTON TELLES

contribuição previdenciária. Buffett calcula que a tributação sobre os 400 americanos mais ricos diminuiu de 29,2% dos rendimentos em 1992, para 21,5% no ano passado. Nesse período, seu rendimento cresceu 437%, passando de US$ 16,9 bilhões para US$ 90,9 bilhões. Para justificar tanta generosidade com quem não precisa, se diziaqueimpostos altosprejudicamageraçãode empregos.Buffett contra-argumenta com números: entre 1980 e 2000, quando os impostos sobre os ricos eram mais pesados, foram abertos quase 40 milhões de empregos.“Vocêssabemoque veiodepois: impostos menores e menos criação de empregos.” Ele lembra, com ironia, que, depois detanto temponomercado, ainda está para ver um investidor “fugir de um investimento por causa do imposto”. Isso não aconteceu nem entre 1975 e 1977,quandoaalíquotasobreganhos de capital era de 39,9%. O queele queré dinheiro, eimposto não o assusta, afirma. Buffett quer influenciar as decisões do Congresso, sobretudo as dos 12 membros da comissão que terá a responsabilidade de elaborar um plano para cortar o déficit público americano em US$1,5trilhão. Elesediz disposto a pagar sua parte no ajuste e que muitos de seus amigos multibilionários também, pois já foram paparicados demais pelo Congresso. “Chegou a hora de o governo agir com seriedade na questão do compartilhamento dos sacrifícios.” Para isso, porém, é bom não esquecer, o governo terá de enfrentar e derrotar o radicalismo do Tea Party.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 22 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Notas & Informações

O dilema de Dilma Pressionada para gastar, mas ainda repetindo o discurso da seriedade, a presidente Dilma Rousseff parece indecisa entre seguir o exemplo de seu antecessor e adotar uma política de prudência e responsabilidade ante o recrudescimento da crise da economia global. O primeiro caminho é o da gastança com objetivo principalmente eleitoral. A ordem, nesse caso, é atender os aliados e investir o dinheiro público na caça ao voto. A outra escolha é politicamente mais complicada, porque requer firmeza na ação e compromisso com objetivos nacionais de longo prazo. A piora do quadro internacional, com o risco muito próximo de uma nova recessão na Europa e nos Estados Unidos, torna a decisão especialmente dramática. O discurso da seriedade foi adota-

do antes da posse e repetido nos primeiros meses de governo. A presidente Dilma Rousseff começou o mandato anunciando um corte de R$ 50 bilhões nas despesas orçamentárias. O corte seria em parte uma ficção contábil, como ficou logo claro, mas, de toda forma, certos gastos foram contidos por algum tempo. As promessas de seriedade foram repetidas. Há poucos dias a presidente vetou vários dispositivos do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias. Eliminou, por exemplo, o compromisso de aumento real das aposentadorias superiores a um salário mínimo. Além disso, o Executivo tenta conseguir a prorrogação, mais uma vez, da Desvinculação de Receitas Orçamentárias (DRU). Mas a presidente Dilma Rousseff tem cedido a certas pressões e tem ouvido conselhos para seguir a política da gastança eleitoreira. A resistência da base aliada à faxina ministerial

parece tê-la convencido a dar mais atenção àqueles conselhos. O governo havia anunciado, no primeiro semestre, a intenção de anular boa parte do estoque de restos a pagar. Seria um passo para livrar as contas de um monte de entulhos. Também havia indicado a intenção de ir muito devagar na liberação de verbas para as emendas parlamentares. Mas a presidente parece haver recuado. A curtíssimo prazo devem sair R$ 1 bilhão para emendas, com verbas deste ano, e R$ 450 milhões de restos acumulados. Faltam detalhes sobre os passos seguintes, mas é razoável prever novas liberações até o fim do ano. Na hipótese mais otimista, a presidente Dilma Rousseff está simplesmente agindo de acordo com circunstâncias políticas difíceis. Ela tenta reagrupar as forças para os próximos embates no Congresso. Mas há motivos para se pensar numa hipótese pior – a de uma adesão mais am-

pla aos padrões seguidos nos oito anos anteriores. O governo se dispõe a realizar em 2012 um esforço fiscal menor que o deste ano, segundo fonte ministerial citada, sem identificação, no jornal Valor. Mas o esforço realizado neste ano foi mínimo. Até agora, o superávit primário, dinheiro posto de lado para pagamento de juros, foi produzido muito mais pela arrecadação crescente do que pela contenção de gastos. De janeiro a julho, o governo central arrecadou 14% mais que no mesmo período de 2010, descontada a inflação. O aumento nominal foi de 21,3%. O crescimento da receita poderá ser menor no próximo ano, se a economia perder impulso, mas o valor ainda será maior que o deste ano. Despesas obrigatórias, no entanto, crescerão sensivelmente. Já está previsto um aumento ao funcionalismo concedido no governo anterior. Esse reajus-

te é escalonado. Também crescerão de forma considerável as despesas da Previdência, especialmente se o aumento do salário mínimo ficar na faixa de 13% a 14%, como admitiu há meses o ministro da Fazenda. Segundo a fonte citada pelo jornal, o governo deverá no próximo ano descontar da meta de superávit primário o total investido no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O compromisso com a meta cheia, portanto, será mais uma vez abandonado. Se esse for o roteiro, pode-se prever para 2012 uma programação financeira ainda menos flexível que a deste ano, inflada e fortemente contaminada pela campanha das eleições municipais. Gastança irresponsável e improdutiva é muito diferente de política anticíclica. Diante do risco de uma recessão internacional, o quadro brasileiro é preocupante, especialmente se houver um afrouxamento prematuro da política monetária.

A resistência dos servidores

Mais universidades federais

acordo a que a base governista que se manteve fiel ao governo – pois uma parte dela estava disposta a não seguir as orientações do Planalto – teve de recorrer para evitar a derrota na primeira comissão técnica da Câmara que examina o projeto de criação da previdência complementar do servidor mostra como continua difícil mudar o regime de aposentadorias do setor público. A derrota nessa votação retardaria ainda mais a mudança. Prevista na reforma previdenciária aprovada em 2003, a criação da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal (Funpresp) foi proposta pelo governo em 2007, mas o projeto ficou parado na Câmara. Recentemente, a presidente Dilma Rousseff instruiu o ministro da Previdência a negociar com a base governista o exame do projeto, pois a instituição do novo regime previdenciário para o setor público federal é considerada essencial para o ajuste fiscal de longo prazo. Os números não deixam dúvidas quanto à necessidade de uma efetiva reforma do regime previdenciário do servidor federal. O déficit do regime dos funcionários da União é bem maior do que o do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), que atende todos os trabalhadores do setor privado, e cresce ao ritmo de 10% ao ano. Em 2010, de acordo com dados do Ministério da Previdência, o déficit do regi-

má qualidade do ensino fundamental e médio sempre foi um dos principais gargalos do sistema educacional, como mostram as avaliações promovidas regularmente pelas autoridades e, mais que estas, o desempenho vexatório dos estudantes brasileiros em testes internacionais de avaliação de conhecimento, sempre nas últimas colocações. Mesmo assim, mantendo a política de seu antecessor, a presidente Dilma Rousseff optou por converter a expansão do ensino superior em prioridade de seu governo, criando mais quatro universidades federais – uma no Ceará, duas na Bahia e uma no Pará. As quatro novas instituições contarão com 17 campi, dos quais5serãooriundosdodesdobramento de universidades federais já existentes. Em seus dois mandatos, o governo do presidente Lula criou 14 universidades – 10 voltadas para a interiorização do ensino superior públicoe4parapromoveraintegração regional e internacional. Comisso,aredeuniversitáriafederal dobrou a oferta de vagas. Eram 109,2 mil, em 2003, e chegaram a 222,4 mil, em 2010. O número de professores passou de 40,8 mil para 63,1 mil e o número de servidores pulou de 85 mil para 105 mil. Aojustificar aexpansãodo ensino superior, Dilma entoou a mesma ladainha de Lula. “Com a ampliação de vagas gratuitas e o atendimento a regiões onde haviavaziodeoferta,vamos ampliar o acesso à educação e esti-

O

OAB-SP Eleições

Diante das notas publicadas pela coluna Direto da Fonte em 13/8, esclareço: recentemente circularam informações sobre suposta aliança política que resultaria no lançamento de uma chapa unindo situação e uma das vertentes da oposição nas próximas eleições da OAB-SP, como se houvesse tratativas concretas (com cogitação de nomes) a esse respeito. O que ocorreu é que temos sido insistentemente procurados por integrantes de chapas derrotadas nos três últimos pleitos na entidade, que buscam aproximação política, fato natural num processo democrático como o vivenciado na nossa seccional da OAB. Nada mais se deu do que essas tentativas. Tendo em vista notícias que não correspondem exatamente ao sucedido, até com improcedentes declarações de desapontamen-

me próprio, que beneficia 950 mil servidores aposentados, alcançou R$ 51,2 bilhões, enquanto o do RGPS, que beneficia 28 milhões de aposentados, foi de R$ 42,9 bilhões. Ou seja, cada funcionário aposentado custa R$ 53.895 por ano para o contribuinte – pois o déficit é coberto pelo Tesouro –, enquanto o do regime geral custa R$ 1.532. O objetivo da reforma é estabelecer um mínimo de equidade entre os servidores públicos e os trabalhadores do setor privado. O valor dos proventos de aposentadoria e pensões do servidor será limitado ao máximo dos benefícios pagos pelo

Sem mudar o regime de aposentadorias não haverá o equilíbrio das contas públicas RGPS, hoje de R$ 3.689,66. Para obter valor superior a esse, o servidor deverá aderir à Funpresp, um sistema de previdência complementar baseado no regime de contribuição definida, como o que existe para o setor privado. Um dos pontos que causavam grande discussão era a instituição de regimes especiais para diferentes carreiras, como a de magistrado. O projeto do governo estende o novo regime a todos os servidores federais civis, titulares de cargos efetivos da União, autarquias e fundações, inclusive membros do Poder Judiciário, do Ministério Público e do TCU. Para não ferir direitos adquiridos,oprojetoemexamenoCongresso estabelece que as novas

to e frustração, convém levar ao conhecimento da classe a correta versão dos fatos, lembrando que aliança política é como casamento: para ser válida e legítima pressupõe consentimento e aquiescência das duas partes. Não se sustentam, portanto, as afirmações que circularam nem lamúrias que falam de decepção e desconsideração, pois política de classe se faz com plena liberdade de escolha, dentro do mais puro sentimento democrático, focando os interesses maiores da advocacia. LUIZ FLÁVIO BORGES D’URSO, presidente da OAB-SP SSilveira@oabsp.org.br São Paulo

N. da R. – As notas publicadas pela coluna relatavam conversas em curso para o possível lançamento de chapa única. Quando o presidente da OAB-SP, Luiz Flávio Borges D’Urso, informou que lançaria seu próprio candidato, a coluna também publicou.

regras vigorarão obrigatoriamente apenas para os servidores que ingressarem no serviço público após a vigência da nova lei. Os que estiverem desempenhando suas funções poderão, voluntariamente, se transferir do regime atual para o novo. Essas regras foram mantidas pelo relator do projeto na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara, deputado Silvio Costa (PTB-PE). Certo de que o interesse do governo no projeto seria respaldado pelos deputados da base governista da Comissão, o relator chegou a ler seu relatório na sessão de quartafeira passada. Mas, num ambiente tumultuado pela grande presença de servidores e pelo interesse de alguns deputados em agradar à plateia, o relator, que também é presidente da Comissão, acertou com as lideranças governistas o adiamento da votação. Costa estimava que, se o texto fosse votado, teria 13 votos a favor e 13 contra. “Nós corríamos o risco de perder, e quando digo ‘nós’ é o País”, disse, depois de acertado o adiamento da votação. “O Brasil ia perder, por conta de alguns demagogos que fazem o jogo do corporativismo.” Enquantoo proclamado interesse do governo no projeto de criação da previdência complementardosservidoresse mantiver apenas no terreno da retórica, sem resultados práticos na sua tramitação no Congresso, o tema certamente continuará a alimentar a demagogia dos que estão preocupados apenas com votos, não com o País.

“Se em sete meses três ministros expiaram seus ‘pecados’, em quatro anos quantos serão os ‘penitentes’?” ALBERTO LEMOS / SÃO PAULO, SOBRE A CORRUPÇÃO NO GOVERNO diegoseixas@hotmail.com

“Presidente, não seria mais prático demitir todo o Ministério de uma vez e recomeçar do zero?” LUCIANO HARARY / SÃO PAULO, SOBRE A FAXINA ÉTICA lharary@hotmail.com

A

mularodesenvolvimento regional.Adistribuiçãodasnovasunidades será um poderoso instrumento de redução das desigualdades”, disse Dilma, em evento no Palácio do Planalto. “Relembro aqui o que muitas vezes disse Lula nesta sala. Estamos fazendo, em poucos anos, o que não foi feito nos últimos 100 anos”, afirmou. Trata-se de um exagero e de uma inverdade. Durante seu governo,Lulafoiacusadodemultiplicar o número de universidades federais mais com objetivos políticos e eleiçoeiros do que com base em critérios técnicos e pedagógicos. Para tentar evi-

O problema do ensino está nos níveis básico e médio, mas criam-se mais universidades tar que essas críticas também fossem dirigidas a Dilma, o ministro da Educação, Fernando Haddad,enfatizouque “oscritériosparaaimplantação(dasquatro novas universidades) foram técnicos e visam a reparar uma injustiça histórica cometida ao longo de tantas décadas que estamos tentando superar”. Esses argumentos podem até sersinceros,masosnúmeros revelamqueaconversãodaexpansãodoensinosuperioremprioridade está longe de assegurar a redução das desigualdades econômicas e sociais. Levantamento feito pelo Estado com base em dados da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) mostra que, em 5 das 14 universidades criadas por

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Segundo homem de Kadafi foi para a Itália

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Ministro da Defesa italiana afirma que Abdel-Salam Jalloud passou primeiro pela Tunísia ● “Fugir não é bem o termo para isso, já que há décadas os dois países são aliados.” HILSON MERGULHÃO BRECKENFELD FILHO

● “Vamos ver se eles vão fazer alarde para que ele seja julgado, quanto fizeram para que Battisti fosse extraditado do Brasil.” RONALDO PADOVANI

HÁ 752 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Se vem para o Brasil ganha anistia, CPF, RG e pode até se candidatar a cargo político! Afinal o Brasil é o país do tudo pode!” EDUARDO LEITE

Lula, há mais alunos ricos que pobres; em 8, a porcentagem de alunos brancos é maior do que a médianacional;e,em 9,o número de alunos que se declararam pretos é menor do que a média. Em algumas dessas instituições, a proporção de estudantes ricos chega a 84% do corpo discente, evidenciando o aumento das desigualdades sociais. Alémdeconsumirperdulariamente recursos que poderiam ser mais bem aplicados para se elevar a qualidade do ensino básico, a expansão das universidades federais, como já dissemos em outras oportunidades, está sendo conduzida de modo inepto e açodado. Algumas das novas instituições têm altas taxas de ociosidade, o que mostra que sua criação não era necessária. Outras enfrentam dificuldades para encontrar professores com a qualificação necessária para compor o quadro docente. E há ainda aquelas que, por terem sido inauguradas às pressas, além de não disporem de laboratórios, bibliotecas e equipamentos de informática, apresentam altas taxas de evasão. As autoridades educacionais alegam que esses problemas são passageiros, mas o eixo da questão é outro. Ao investir na meta errada, o governo continua promovendo um enorme desperdício de dinheiro e potencial humano, enquanto a rede pública do ensino básico – onde 50% dos jovens de 15 anos não estão matriculadosemcursoscompatíveiscomsuaidade–nãoconsegue dar aos alunos uma formação de qualidade, capaz de lhes asseguraraemancipaçãoprofissional, econômica e social.

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 23 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

PPresidente

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Lambança nos projetos O Brasil desperdiça bilhões de reais todo ano com projetos malfeitos, investimentos com preços inflados e atrasos na execução de obras importantes para a economia nacional. Não dá para verificar se o maior ralo do orçamento federal é a incompetência, o desleixo ou a corrupção, mas não há dúvida de que qualquer dos três fatores causa perdas enormes ao País. Reportagem publicada ontem no Estado mostra que, entre 2008 e 2010, foram formalizados 3 mil aditivos a 2,2 mil contratos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), um dos principais focos das irregularidades encontradas na faxina recentemente iniciada pela presidente Dilma Rousseff. Aditivos são frequentes em contratos governamentais com empreiteiras e em-

presas prestadoras de serviços. O resultado é quase sempre ruim, porque a alteração geralmente envolve alongamento de prazo e elevação de custo. A reportagem citada, de Renée Pereira, mostrou exemplos de obras do setor de transportes com vários aditivos e grandes aumentos de custos. Levantamentos semelhantes em outros setores provavelmente mostrariam condições muito parecidas de execução de contratos, como indicam as advertências divulgadas com frequência pelos órgãos de controle do setor público. Mesmo sem corrupção e sem grave negligência na gestão de recursos públicos – hipóteses muito otimistas e audaciosas –, restaria certamente a incompetência na elaboração de projetos e na estimativa de custos. Seis aditivos ao contrato de obras de recuperação da BR-282, em Santa Catarina, acrescentaram um ano ao prazo e 72% ao custo dos serviços. Este

é apenas um dos vários exemplos mencionados na reportagem. Mesmo em obras de tipo rotineiro, como as de manutenção ou de construção de uma passarela, pode haver grande número de mudanças contratuais – 11 aditivos, num dos projetos citados. O governo tem feito licitações sem dispor de projetos suficientemente detalhados para permitir uma avaliação segura de prazos e custos. Como alterações de contratos são rotineiras – e a lei admite aumento de preços de até 25% –, empresários entram nas concorrências dispostos a dar lances audaciosos. Isso é confirmado por gente do ramo. Segundo o presidente da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas, Luciano Amadio Filho, citado na reportagem, os empreiteiros jogam com a segurança de conseguir aumentar os preços durante a execução da obra. Podem, por exemplo, apontar mu-

danças necessárias porque o tipo de solo exige uma fundação mais cara que a prevista no projeto inicial. Seja por incompetência, corrupção ou desleixo, ou por uma combinação de todos esses fatores, a elaboração de projetos é deficiente e o compromisso com prazos e custos é quase nulo em boa parte da administração. O que explica as ações cada vez mais frequentes do Tribunal de Contas da União (TCU), apontando falhas formais nos projetos levados à licitação. Durante anos, no entanto, a reação mais comum no Palácio do Planalto foi contestar os órgãos de controle e acusá-los de prejudicar a execução de obras públicas importantes. A reação mais comum do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi de crítica ao TCU. Se levasse a sério o planejamento e a gestão do investimento público, teria cobrado de seus ministros maior cuidado na ela-

boração de projetos. Mas suas atitudes sempre indicaram maior atenção ao jogo partidário e eleitoral do que à qualidade técnica e à respeitabilidade da administração. Aparelhar e lotear a máquina sempre foi mais importante, em seu governo, do que elevar o padrão dos serviços. Exemplos conhecidos de contratos do Ministério do Turismo indicam outra mina de irregularidades e de incompetência gerencial para quem quiser iniciar uma investigação. Há sinais de problemas semelhantes em vários Ministérios envolvidos nas obras para a Copa de 2014. Relatórios do TCU apontam indícios de sobrepreço, irregularidades contratuais, atrasos e outros problemas em obras de estádios, aeroportos e outros investimentos necessários aos jogos. A lambança já é parte de um dia a dia cada vez mais custoso para os brasileiros.

Novo prazo para a PDVSA

O regime de Kadafi agoniza

epois de ter aceitado complacentemente os seguidos desrespeitos por parte de sua sócia venezuelana PDVSA ao acordo para a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, a Petrobrás agora anuncia um novo compromisso, em termos “irrevogáveis e irretratáveis”: ou sua parceira cumpre a parte que lhe cabe na sociedade ou terá de se retirar dela. Espera-se que, desta vez, o compromisso seja cumprido. Fruto da demagogia terceiromundista do ex-presidente Lula, que pretendia estabelecer uma “aliança estratégica” do Brasil com a Venezuela do caudilho populista Hugo Chávez, o acordo firmado em 2005 para a construção da refinaria previa que a Petrobrás arcaria com 60% dos custos e a PDVSA, com os restantes 40%. Mas, com cerca de 40% das obras já executadas, a PDVSA ainda não entrou com nenhum centavo, apesar das muitas reuniões e acertos entre as partes nos últimos anos. Esperava-se que, diante de tantas protelações, a Petrobrás anunciasse em meados de julho sua decisão de, como faz desde o início, tocar sozinha até seu final essa obra necessária para o atendimento da crescente demanda interna de derivados de petróleo. O que se decidiu, na ocasião, porém, foi empurrar o problema com a barriga. Agora, outra oportunidade está sendo oferecida à PDVSA para manter a parceria,

o fim e ao cabo, foi a “Força Aérea Rebelde” o fator singular mais importante que levou ao leito de morte a ditadura de 42 anos de Muamar Kadafi na Líbia, depois de seis meses de vaivém e incertezas no confronto entre governo e insurgência – o mais sangrento do gênero na crônica da Primavera Árabe. O termo entre aspas, naturalmente, designa a aviação mobilizada pelos países-membros da Otan, a aliança ocidental, quando, por sua iniciativa, o Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas estabeleceu uma zona de exclusão no espaço aéreo do país norte-africano, em meados de março passado. A decisão – que se seguiu à imposição de sanções ao regime de Trípoli pela brutal repressão aos protestos inspirados nas revoltas da Tunísia e do Egito, a oeste e a leste do país – foi motivada pela ameaça de Kadafi de promover um banho de sangue em Benghazi, quando retomasse o que havia se transformado no reduto da rebelião. A resolução do CS autorizou o uso de “todas as medidas necessárias”, exceto uma invasão, para proteger os civis da fúria homicida do tirano desafiado. Na realidade, o texto legitimou a atuação coordenada entre a aviação estrangeira e a heterogênea coalizão de forças insurgentes, incluindo tribos hostis àquelas leais a Kadafi, radicais islâmicos, jovens laicos sintonizados com o mundo e remanescentes da antiga oposição até então reduzida ao silêncio,

D

Anna Hazare

Lendo sobre o que Anna Hazare está fazendo na Índia contra a corrupção, eu me pergunto quantos Hazares seriam necessários para ajudar a dona Dilma na faxina que ela precisa fazer para se livrar da herança maldita e governar com “menas” corrupção, que tanto proliferou no governo do Lula. CARLOS R. GOMES FERNANDES crgfernandes@uol.com.br Ourinhos

RODOANEL Armadilha

O Rodoanel Mário Covas, que nasceu para desafogar nossa metrópole, tornou-se num pesadelo de trânsito. Hoje é uma armadilha, pois, uma vez entrando nele, não há alternativas de escape ao trânsito parado. Na sexta-feira, como de costume, o congestiona-

com a concessão de novo prazo para que, afinal, ela faça o que já deveria ter feito há muito tempo ou saia do negócio O novo compromisso assumido pela estatal venezuelana, com as tais condições “irrevogáveis”, prevê que, até 30 de setembro, ela terá de apresentar as garantias ao BNDES para assumir sua parte, correspondente a R$ 3,6 bilhões (40% do total) da dívida de R$ 9 bilhões já contraída para a execução da obra. Se as garantias forem aceitas, a PDVSA deverá depositar o valor, em favor da Petrobrás, até o dia 30 de novembro. Além disso, até essa data, a es-

A estatal venezuelana ainda não entrou com o dinheiro que lhe corresponde na parceria tatal venezuelana terá também de depositar 40% do total já investido diretamente por sua parceira brasileira. Não será fácil para a PDVSA cumprir sua parte na obra. Ela está envolvida num escândalo de apropriação indébita do equivalente a quase US$ 500 milhões do fundo de pensão de seus empregados. O dinheiro teria sido aplicado numa pirâmide financeira semelhante à que levou à condenação do financista americano Bernard Madoff a 150 anos de prisão. A PDVSA foi transformada por Chávez na principal fonte de recursos para seus programas de cunho populista, que vão de investimentos nas áreas de saúde e educação, até artes e competições esportivas inter-

mento estendia-se por mais de 15 km em direção ao litoral, entre as Rodovias Anhanguera e Régis Bittencourt. Levou-se perto de duas hora para percorrer esse trecho! O motivo desse diário congestionamento? A ganância e o amadorismo do governo estadual. Explico-me: o pedágio situado antes da Régis é subdimensionado, não dá vazão ao número de veículos e provoca esse congestionamento todos os dias. Às sextas acentuase, dado o natural maior movimento. Sr. governador Alckmin, votei no senhor e, se não acreditar no relato acima, sobrevoe o Rodoanel na próxima sexta. Garanto que mais um megacongestionamento estará esperando pelo senhor. Desative esse pedágio, ou transfira-o para local mais adequado, pois hoje ele nada mais é que um torniquete dessa moderna e importante obra viária! JÚLIO CRUZ LIMA NETO juliocruzlima@uol.com.br São Paulo

nacionais, passando por importação de alimentos e ajuda financeira para Cuba. Em razão de seu intenso uso político e da má gestão, seus resultados econômico-financeiros são cada vez piores. A sociedade com a Petrobrás prevê que a refinaria em construção em Pernambuco deverá processar 220 mil barris por dia, sendo 50% de óleo pesado da Bacia de Campos e o restante proveniente da Venezuela. Uma tentativa anterior de cooperação entre as duas empresas, para a exploração de petróleo do Campo de Carabobo, na Bacia do Orinoco, foi abandonada pela Petrobrás, que considerou o investimento inviável. Quanto à Refinaria Abreu e Lima, o interesse brasileiro é prioritário. Ela é uma das prioridades no plano da Petrobrás para o aumento de sua capacidade de refino até 2020. A empresa estima que, se novas refinarias não entrarem em operação nos próximos nove anos, o Brasil será obrigado a importar 40% da gasolina que consome (hoje, importa 5%). “Seria uma tragédia ficarmos altamente dependentes do exterior”, disse ao Estado o diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa. Pelas consequências danosas dessaparceria– frutodeumgesto demagógico de Lula, cuja utilidade financeira e importância estratégica nunca foram comprovadas–e dasseguidas protelações da PDVSA, ela já deveria ter sidoabandonada pela Petrobrás, que tem recursos para fazersozinhao queprecisaser feito para não prejudicar o País.

“Dilma está usando espanador, mas é caso de limpa-fossa” FERNANDO DE MATTOS BARRETTO / SÃO PAULO, SOBRE A FAXINA MINISTERIAL fmbar@terra.com.br

“Sem gritar ‘pega ladrão’ os políticos estão em polvorosa. Imagine se gritarem!” MILTON BULACH / CAMPINAS, IDEM mbulach@gmail.com

A

agrupados sob a tenda do recém-criado Conselho Nacional de Transição. Em cerca de 7.500 operações, os aviões de combate, sobretudo franceses e britânicos, apoiados por 15 belonaves enviadas ao Mediterrâneo, não só dificultaram a contraofensiva do regime, cortando as suas linhas, como dizimaram sistematicamente os arsenais de Kadafi, que ele havia adquirido no Ocidente depois de se livrar da pecha de “cachorro louco”, quando, em 2003, renegou o terrorismo e renunciou ao seu programa atômico, em seguida à derrubada de Saddam Hussein no Iraque.

O fim da ditadura está próximo. O problema é que não se sabe o que virá em seu lugar Enfim, a tomada de grandes áreas de Trípoli, no domingo, foi precedida de mais um bombardeio da fortaleza de Bab alAzizia, o bunker de Kadafi – desta vez praticamente definindo o destino do déspota. Durante os combates em Trípoli, três dos filhos de Kadafi foram capturados pelos insurgentes. Já na semana anterior, intensificou-se o êxodo dos últimos dos seus fiéis, imitando os seus camaradas mais previdentes que se passaram para o outro lado quando as bombas da Otan começaram a cair. Nada foi tão eloquente nessa reta final como a fuga para o Egito do chefe dos tenebrosos serviços de segurança do ditador, Nasser al-Mabrouk Abdullah, com a família inteira. Mas, se a avia-

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Receita fixa preço mínimo para cigarros

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Em novembro, maços não deverão custar menos do que R$ 3,00. Até 2015, valor mínimo será R$ 4,50 ● “Ainda está barato. Em lugares fora do Brasil, o cigarro é caríssimo. Quase US$ 10.” THIAGO SMITH

● “Pode começar com R$ 25,00 até chegar a R$ 50,00.” VANDERLEI SANTOS RIBEIRO

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POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Mais dinheiro no bolso dos políticos! Mais impostos não vão fazer ninguém deixar de fumar! O correto seria investir em políticas públicas antitabagistas!” IVAN DOMINGUEZ

ção ocidental impediu que o psicocrata líbio massacrasse o seu povo como vem fazendo com os sírios o frio Bashar Assad – e, afinal, definisse o curso do conflito –, ela obviamente nada poderá fazer se (ou quando) as facções oposicionistas começarem a se engalfinhar pelos despojos do poder. A não ser na gestão profissional do setor de petróleo, que mantém em pé esse desértico país de 6,5 milhões de habitantes e 1,760 milhão de quilômetros quadrados, Kadafi levou ao extremo o clássico dito “O Estado sou eu”: as instituições são caricatas; a burocracia, corrupta e opressiva; as leis, flutuantes; e a Constituição, inexistente. Não há um aparato administrativo digno do nome a continuarfuncionandosobnovadireção.Doladorebelde,oquetransborda de entusiasmo escasseia em matéria de coerência e de lideranças reconhecidas. Há poucas semanas, depois do assassínio, atribuído a fundamentalistas, do comandante militar da insurgência, general Abdel Fatah Younis, o corpo dirigente do movimento foi dissolvido. Porta-vozes da oposição já falam emeleições livres,sob asupervisão da ONU, daqui a oito meses. Garantem que a capital líbia não será uma segunda Bagdá depois da queda de Saddam, com uma orgia de saques e matanças. Mas nãosesabeseanovaordemestará disposta a cooptar a legião de colaboradoresde Kadafiparareconstruir o governo e prevenir uma guerra civil. No Iraque, o banimento da velha elite militar e dos filiados ao partido oficial Baath custou anos de violência.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 24 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Ministro está vendo ‘sangue’ E depois ainda dizem que a classe política é um espelho da sociedade. Pode ser em alguma outra sociedade, mas, definitivamente, não aqui. Os brasileiros comuns temos nossa cota de defeitos e maus costumes, porém a grande maioria dos políticos é outra coisa. E que coisa! Pode-se estender o braço mantendo os olhos fechados e, com toda a probabilidade, se agarrará um exemplo do que a política faz com as pessoas – ou do que são as pessoas que fazem da política o seu negócio. O assunto em pauta, no momento, é o deputado federal Mário Sílvio Mendes Negromonte, que se licenciou do seu quinto mandato consecutivo para assumir o Ministério das Cidades. Pernambucano de nascimento, fez carreira na Bahia, primeiro no

PMDB, depois no PSDB e, por fim, no PP – cuja bancada o indicou para a pasta, e a presidente Dilma Rousseff aquiesceu, embora preferisse ter mantido o também pepista Márcio Fortes. Pois bem. Na semana passada, pelo menos 28 dos 41 membros da representação do partido na Câmara exigiram a cabeça do líder Nelson Meurer e a sua substituição pelo colega Aguinaldo Ribeiro. Até aí nada de mais, ainda que eles tenham ido muito além do que os deputados peemedebistas, descontentes, por sua vez, com o seu líder Henrique Eduardo Alves, a quem acusam de não ouvi-los e de não batalhar por seus pleitos para a nomeação de apaniguados para cargos sabe-se lá em que escalão no governo. Trata-se, aliás, de uma engraçada repetição das queixas que o mesmo Alves não se cansava de fazer à presidente Dilma até receber dela o afago por que arfava: o aval à aspiração de ser o can-

didato da base ao comando da Câmara em 2013. No PP, as reclamações contra Meurer não eram diferentes, com a peculiaridade, porém, de que o dono da cabeça reclamada e Negromonte são aliados próximos. Pior ainda, segundo a revista Veja, ele teria oferecido um mensalinho de R$ 30 mil aos insatisfeitos para que deixassem Meurer no lugar. Por seu intermédio, o ministro manteria o controle da bancada, em detrimento da facção alinhada com o ex Márcio Fortes. Naturalmente, ele negou e ainda contou que a presidente, com quem esteve no fim da semana, o teria aconselhado a não fazer o que fez Wagner Rossi na Agricultura. Não propriamente na sua gestão, mas ao demitir-se em razão de denúncias da imprensa. “Não dê importância a essas matérias”, teria dito Dilma. Pode ser, mas o que se ouve no Planalto é que, se ele continuar rolando

A orgia campineira

A

os casos de corrupção, no plano federal, que resultaram em inédita sucessão de demissões de ministros de Estado, acrescenta-se ao noticiário político-policial a cassação do mandato do prefeito de Campinas, Hélio de Oliveira Santos (PDT). Na madrugada do último sábado, ele perdeu o mandato por decisão praticamente unânime da Câmara Municipal (32 votos contra 1). Mas essa decisão já estava destinada a se tornar inútil como medida saneadora, porque os próprios vereadores já haviam se articulado para garantir a posse do vice-prefeito, Demétrio Vilagra (PT), um dos protagonistas do escândalo que causou a queda do prefeito e que é acusado pelo Ministério Público pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção passiva e fraudes em licitações. Em Campinas, como se vê, não houve uma crise político-partidária e, sim, o desbaratamento de uma verdadeira quadrilha de malfeitores que tomou conta da administração de um dos maiores e mais importantes municípios paulistas. Dr. Hélio, como é conhecido o prefeito cassado, estava em seu segundo mandato à frente do Executivo municipal de Campinas. As denúncias de irregularidades em sua administração começaram a tomar corpo meses atrás, envolvendo especialmente os assessores que trouxera de Mato Grosso, seu Estado natal, e sua mulher e chefe de gabinete, Rosely Nas-

e investiga qualquer indício de irregularidade, mas as acusações vagas e sem formalização do sr. Xico Graziano em nada contribuem para a melhoria dos serviços prestados pelo Incra à população. CRISTINA SATO, assessora de Comunicação Social do Incra-SP cristina.sato@spo.incra.gov.br São Paulo

Segurança pública

Com relação às cartas Descaso, do sr. Francisco Martins Borges, e Solução, do sr. Mario Silvio Nusbaum, esclarecemos que o policiamento foi reforçado para evitar a repetição de crimes em restaurantes, caixas eletrônicos e outros. A polícia prendeu nove adultos e apreendeu dois adolescentes que participaram de roubos a restaurantes da Vila Madalena e em Pinheiros. Sempre que presenciar alguma situação suspeita, a população deve comunicar o fato à po-

sim Jorge Santos, acusada de comandar um esquema de recolhimento de propina na prefeitura. Apesar de dispor de uma ampla base parlamentar, formada por nove partidos (PDT, PT, PMDB, PC do B, PSD, PPS, PTB, PRP e PSC), o clamor popular diante do escândalo acabou tornando impossível impedir a formação, em 23 de maio, de uma Comissão Processante na Câmara Municipal. Era o reflexo da decisão tomada dias antes pelo Ministério Público de solicitar a prisão temporária de 20 empresários e agentes públicos envolvidos em corrupção e

Em Campinas houve o desbaratamento de uma quadrilha, não uma crise político-partidária fraudes em licitações em contratos de serviços de empresas terceirizadas na Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa). Foram presas onze pessoas. Outras nove foram consideradas foragidas, entre elas o viceprefeito Demétrio Vilagra e os secretários municipais Carlos Henrique Pinto e Francisco de Lagos. Dias depois, ao regressar de uma viagem de férias na Espanha, Vilagra foi detido pela polícia no aeroporto. A primeira-dama e chefe de gabinete do prefeito, também investigada pelo Ministério Público, obteve um habeas corpus preventivo. O pedido de cassação do prefeito, levado a voto pela primeira vez cerca de um mês depois, foi derrotado por 16 vo-

lícia pelo telefone 190. As viaturas policiais poderão chegar rapidamente ao local e impedir a prática de delitos. O governo do Estado tem aumentado o patamar de investimentos na área de segurança pública, ao contrário do que afirma o sr. Borges. A melhor forma de comprovar a prioridade dada à segurança é constatar que o orçamento da Secretaria da Segurança Pública cresceu seis vezes, de R$ 2 bilhões para R$ 11,9 bilhões, de 1997 a 2011. Um aumento real de 495%, acima da inflação de 133% no período, medida pelo IPCA. Com esses recursos e 130 mil policiais, São Paulo reduziu em 73% os homicídios, desde 1999. Reconhecemos, contudo, que o combate à criminalidade é dinâmico e impõe constantes desafios às forças de segurança. ENIO LUCCIOLA, Assessoria de Imprensa da Secretaria da Segurança Pública do Estado egoncalves@sp.gov.br São Paulo

na lama com os companheiros de partido, poderá perder a pasta, mesmo se não se confirmar a informação da oferta de propina. De todo modo – e eis por que Negromonte se tornou o nome do dia no departamento de baixarias políticas –, na segundafeira ele deitou falação numa entrevista a uma rádio baiana. Em dado momento, comentando a desavença na bancada pepista, declarou textualmente o seguinte: “Lamento muito que exista uma briga interna. Fica um falando mal da vida do outro. Isso ainda vai terminar em sangue e é muito ruim”. Talvez o fato de haver integrado a CPI do Extermínio no Nordeste, em 2003, o tenha ensinado que é muito ruim quando algo termina em sangue. Perto disso, nem vale a pena comentar o seu argumento, na mesma entrevista, de que o fato de ser nordestino pode ter contribuído para a imprensa incluí-lo na “campanha pa-

ra a retirada de ministros”. No caso dele, a retirada será uma consequência natural menos das denúncias de que é alvo do que da perda do apoio da bancada. De mais a mais, a julgar pelo que dizem os seus desafetos, quem manda de fato nas Cidades é a ministra do Planejamento, Míriam Belchior. Um ministro de Estado prever que uma disputa partidária na qual está envolvido pode acabar em sangue, mesmo – como se espera – em sentido metafórico, é um instantâneo de uma espécie de mentalidade que infelizmente está longe da extinção na política brasileira. Ou, para sermos mais exatos, na competição corsária pelo butim dos recursos públicos. Porque, no fundo de tudo, é do que se trata. Não está aí o presidente do Senado, José Sarney, achando a coisa mais legítima do mundo fazer turismo na sua sesmaria a bordo de um helicóptero da PM maranhense?

Novas promessas de Mantega tos contra 15 e 2 abstenções, já que era necessário quórum qualificado de 17 votos para aprovação. Finalmente, na madrugada do último sábado, depois de 44 horas de discussão, os vereadores decidiram decretar a cassação do mandato do Dr. Hélio. O vice-prefeito Vilagra, apesar das acusações a que responde, se disse “preparado para assumir o cargo de prefeito em prol da cidade”. Pedido de formação de uma Comissão Processante, que poderia cassar o mandato de Vilagra – completando o saneamento –, solicitada pelo presidente do diretório municipal do PSOL, não foi aprovado. As bancadas do PDT edoPTencarregaram-sede bloquear a medida moralizadora. Na segunda-feira, já garantida a sua posse pela companheirada, mas ainda vice-prefeito – o Diário Oficial do município aindanão publicarao atode cassação de Oliveira Santos –, o petistaVilagra,como semprepouco preocupado com as formalidades,foi à prefeitura, instalouse no gabinete do prefeito e, depois de instruir sua assessoria a informar que ele se considerava “prefeito a ser empossado”, despachou normalmente com trêssecretários municipais e recebeu vários vereadores. Na manhã de ontem, Demétrio Vilagra assumiu o cargo de prefeito, em solenidade na Câmara Municipal. Pelo andar da carruagem, apesar da medida aparentemente saneadora do afastamento do prefeito Hélio de Oliveira Santos, nem as moscas devem mudar na orgia campineira.

“Agora que Battisti conseguiu seus documentos, será que Kadafi já desembarcou no Galeão?” RICARDO MARIN / OSASCO, SOBRE O TERRORISTA ITALIANO ‘QUASE BRASILEIRO’ E O DITADOR LÍBIO s1estudio@ig.com.br

“Viva a psicologia infantil da tolerância e da liberação!” SERGIO S. DE OLIVEIRA / MONTE SANTO DE MINAS (MG), SOBRE MENORES DE 12 ANOS FAZENDO ARRASTÕES ssoliveira@netsite.com.br

É

hora de estimular a economia, mais com o corte de juros do que com o gasto público, diz o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele defendeu essa política em depoimento no Senado, ontem. Aderiu, assim, a um velho discurso de economistas da academia e do setor privado, como ele mesmo reconheceu. A única novidade, por enquanto apenas promissora, tem sido sua defesa insistente da consolidação fiscal. É preciso, afirmou, diferenciar o Brasil de outros países, mostrando a solidez de suas contas públicas. A promessa merece aplausos, mas falta o governo provar com atos sua disposição de seguir uma política prudente e assim abrir espaço para uma política monetária mais branda. O Brasil, segundo o ministro, já tem condições para mudar a composição da política econômica, dando mais ênfase ao estímulo monetário e menos ao fiscal. Houve uma referência implícita, nessa passagem, à ação adotada durante a crise de 2008-2009, quando o governo aumentou os gastos, transferiu recursos para o BNDES e cortou tributos cobrados de alguns setores. Essa política expansionista, no entanto, durou muito mais do que a crise. Os cortes de impostos foram eliminados, mas os gastos continuaram crescendo e as transferências do Tesouro para o BNDES foram mantidas. De nenhum modo foi adotada, de fato, a política de consolidação mencionada

pelo ministro da Fazenda. Neste ano, até julho, o governo federal arrecadou 14% mais do que um ano antes, descontada a inflação. Graças a isso, mais do que a qualquer economia, o superávit primário, o dinheiro separado para o pagamento de juros, tem sido o dobro do obtido em 2010. Segundo o ministro, a meta fiscal será de novo alcançada no próximo ano, sem afrouxamento da política orçamentária. Não haverá, portanto, o relaxamento admitido na semana passada por uma fonte governamental. Mas o cumprimento da meta será dificulta-

Ele acerta ao defender consolidação fiscal para redução de juros. Só falta adotar essa política do, já se sabe, por aumentos de gastos e pelas desonerações fiscais previstas na política industrial anunciada no começo do mês. “Mas com certeza as contas fecham”, disse o ministro, “e não há perda de controle.” Não há, portanto, nenhuma nova medida de austeridade fiscal nos planos do governo, mas apenas uma vaga promessa de contenção das despesas de custeio. O ceticismo em relação a essa e a outras promessas de seriedade é justificado amplamente pela experiência e ainda reforçado, neste momento, pela perspectiva de novas pressões por gastos por causa das eleições municipais de 2012. Segundo o ministro, é tempo de cortar os custos da dívida pública. O Brasil gasta com os

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Lula tenta tirar Marta da disputa em SP

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Ex-presidente trabalha para que senadora desista da Prefeitura em prol do ministro Fernando Haddad ● “Sou a favor. Haddad para a Prefeitura de São Paulo. Um nome que fará a diferença. E acredito que será um bom prefeito.” JURANILSON SANTOS

● “Se considerarmos que o PT não tem a mesma força em SP, Marta ou Haddad, um ou outro não iria adiantar em nada.” NATAN SILVA

HÁ 754 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “A melhor opção seria o ex-presidente se comportar como tal, descer do palanque e deixar o País em paz.” JANSEN SANTOS

juros da dívida cerca de R$ 200 bilhões por ano, soma correspondente a 6% do PIB. Se for possível podar o equivalente a 2% do PIB, o déficit nominal, isto é, o déficit global das contas do governo será eliminado. Mas isso dependerá da redução dos juros básicos pelo Banco Central (BC). Também esse argumento é velho e tem sido usado por alguns analistas das contas públicas. Para aceitar esse raciocínio seria necessário, no entanto,acreditarnadisposiçãodogoverno de controlar seus gastos primários, com a contenção do custeio e uma seleção criteriosa dos investimentos e dos subsídios. Mas admitir essa hipótese, neste momento, seria uma demonstração de ingenuidade. Se o governo conseguir qualquer folga em suas contas, o resultado mais provável será um aumento de gastos e não um desequilíbrio menor. A dívida e os juros são consequências da gastança,nãoocontrário.Seriamuito bom, de fato, se o BC pudesse reduzir os juros. Isso facilitaria os negócios e ajudaria o País a crescer. Também seria bom se o País pudesse gastarmenoscom adívidapública, mas a mudança, neste caso, só seria significativa se o uso do dinheiropúblicofossemaisprudente e racional. Sem esta condição, a vantagem para o País seria limitada e dentro de algum tempo a dívida voltaria a ser um problema. Em princípio, o endividamento só é justificávelpara financiardespesasdestinadasafortaleceraeconomia.Nãotemsidoesseocritério dominante no País.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 24 DE AGOSTO DE 2011

Nacional A11

Profissionais exigem combate à censura judicial e rejeitam controle do Estado Participantes de conferência na Câmara sobre liberdade de imprensa defenderam, em nome da democracia, fim de vetos à livre expressão João Domingos / BRASÍLIA

A censura judicial aos meios de comunicação, como a que foi imposta ao Estado e já dura 754 dias, as ameaças às redes sociais na internet e todo tipo de veto à livre expressão têm de ser combatidos em nome da liberdade e da democracia. Essa foi a conclusão de palestrantes e debatedores da 6.ª Conferência Legislativa sobre Liberdade de Imprensa, realizada ontem, na Câmara dos Deputados. A promoção foi do Instituto Palavra Aberta. Para o jornalista Eugênio Bucci, especialista em liberdade de expressão,“ademocraciasóexistequando,afavordoscidadãos,o Estadorenunciaàtentaçãodeinterferirsobreaformação,amanifestação e o trânsito das opiniões e das informações”. Na avaliação de Bucci, contudo, o Brasil está longe dessa compreensão. “Na nossa cultura política a brutalidade do Estado se manifesta na falta de cerimônia com que as autoridades atacam a imprensa. Essa mentalidade, além do monopólio da força, pretende

ter o monopólio da opinião”, prosseguiu ele, logo depois de se referir ao sociólogo e economista alemão Max Weber (1864-1920), na clássica passagem em que cita o líder bolchevique León Trotsky (1879-1940): “Todo Estado se funda na força”. EssavocaçãoautoritáriadoEstado brasileiro, segundo Bucci, cria uma incorrigível tentação a querer tomar conta dos jornalistas. “Por isso, o tema da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa continua na ordem do dia em nosso país.” Ele admitiu quehouveavanços,masamentalidade autoritária persiste, manifestando-se a toda hora. O diretor de conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, abordou de forma mais específica a censura ao jornal. “No início ● Opinião

EUGENIO BUCCI

Jornalista e colunista do Estado

“A democracia só existe quando o Estado renuncia à tentação de interferir sobre as informações”

Para Gabeira, até site que prega ódio deve ser livre O ex-deputado e jornalista Fernando Gabeira afirmou que os blogs ligados a grandes jornais e publicações têm mais credibilidade, porque se preocupam em

apurarainformaçãoe ouviro outro lado. “Um terço dos gastos das empresas vem da apuração. São elas que se preocupam em pôr alguém do lado de dentro do

do processo (que impede o jornal de publicar informações sobre a Operação Boi Barrica), nós discutimos muito na Redação se era mesmocensurapréviaouseestávamos ali chateando os leitores com uma questão só nossa.” Logo veio a conclusão de que se tratava de censura e essa forma de coerçãonãopoderiasertolerada. “Não poder publicar algo não tem outro nome a não ser restrição, mordaça – se é que a palavra censuraprecisadeumcertocomplemento”, resumiu Gandour. Ele afirmou que a sociedade precisa aprender a conviver entre liberdades e não entre controles. Na avaliação de Gandour, a censuraaoEstadolevantouoantagonismo entre o juiz e o repórter. O repórter trabalha tentando antecipar a notícia na temperatura jornalística; o juiz tem seu ofício e seu método a posteriori. “Não pode dizer: ‘Te proíbo, em nome da lei, de editar o que eu estou imaginando que você vai editar’. É coerção. O único porto seguro é a liberdade plena.” A deputada Manuela D’Ávila (PC do B-RS) disse que o Estado não deve apenas renunciar à sua

muro da fortaleza do Muamar Kadafi”,disseojornalista,durante a 6.ª Conferência sobre Liberdade de Imprensa, na Câmara. Gabeira defendeu ainda a manutenção de todos os sites existentes, até dos que pregam a disseminação do ódio e das ofensas porque, segundo ele, não cabe ao Estado interferir na liberdade de expressão,mesmo queo conteú-

ED FERREIRA/AE

Crítica. Bucci apontou ‘brutalidade na falta de cerimônia com que autoridades atacam imprensa’ condição de garantidor da liberdade de expressão. Mas propiciar que essa liberdade exista. O jornalista Fernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo, criticou a falta de transparência so-

bre a publicidade do governo. “Jornais pequenos que dependem dessa publicidade jamais vão publicar notícias contrárias ao governo. É uma forma de censura.”ParaTaísGasparian,advo-

gadadaFolha deS. Paulo,acensura judicial é muito pior do que a imposta durante o regime militar. Assustador, segundo ela, é o poder político que há por trás da censura ao Estado.

do possa ser motivo de questionamentos. As maiores vítimas desses espaços de ódio na internetsãoosjudeus,migrantesehomossexuais,disseGabeira.Elecitou estudo da Fundação Simon Wiesenthal, que identificou 31 mil sites de ódio no mundo. Quanto à censura, Gabeira contou que durante o governo de José Sarney (1985-1990) o en-

tão ministro da Justiça, Fernando Lyra, o informou de que teria de censurar o filme Je Vous Salue Marie, do francês Jean Luc Godard. “O Fernando Lyra me disse que Sarney determinou a censura ao filme por ordem da mãe, dona Kiola.” De acordo com Gabeira, Lyra relatou a conversa de Sarney: “Se não censurarmos o filme, minha mãe disse que não

me deixa mais entrar em casa.” A assessoria de Sarney informou que a censura ocorreu por outromotivo.Segundoaassessoria, pressionado pela Igreja e com a justificativa de ser católico, Sarney viu-se sem alternativa. O filme retrata a vida de Nossa Senhora nos tempos atuais. Ela é uma frentista de posto de gasolina. / J.D.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 25 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Desoneração desastrada O governo terá de consertar o Plano Brasil Maior, o arremedo de política industrial lançado no dia 2 de agosto, se quiser preservar sua parte mais inovadora – a desoneração da folha de pagamentos de quatro setores: confecções, calçados, móveis e software. A mudança pode produzir o oposto do efeito prometido, aumentando os custos de várias dessas empresas. Menos de um mês depois do lançamento, representantes da indústria tiveram de pedir a revisão do plano ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. Pelo esquema proposto, empresas ficariam livres da contribuição patronal para a Previdência. Em contrapartida, os fabricantes de roupas, sapatos e móveis pagariam 1,5% sobre o faturamento. Os produ-

tores de software deveriam recolher 2,5%. A troca deixaria produtores brasileiros em situação mais desvantajosa do que a que já enfrentam diante dos concorrentes estrangeiros. “Com 1,5% não há desoneração efetiva”, disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, Aguinaldo Diniz Filho. Poderá haver algum ganho, segundo ele, se a alíquota ficar próxima de 0,8%. Também o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, criticou o plano. De acordo com estudos citados por ele, não haverá benefícios para os setores de móveis e de confecções. Para os fabricantes de calçados, “muito pouco”. Só empresários do setor de tecnologia da informação, segundo apurou o Estado, estão satisfeitos com o esquema elaborado pelo governo. Nesse setor não haverá perda para o governo nem para as empresas, segundo o presiden-

te da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, Antonio Gil. A insatisfação de três dos quatro setores selecionados para a experiência piloto de desoneração – seria este o sentido da etapa inicial – confirma plenamente uma das principais críticas formuladas quando o Plano Brasil Maior foi apresentado. O esquema proposto para a desoneração da folha de salários foi improvisado. Não houve estudos sobre as condições efetivas dos setores escolhidos. O governo elaborou as medidas sem conhecer os arranjos produtivos de cada setor nem as diferenças entre empresas de cada um dos quatro segmentos. Ficou evidente a improvisação. Seria mais fácil aceitar e desculpar soluções apressadas numa situação diferente, se o governo tivesse de reagir a um desastre natural, por exemplo, ou a uma piora repentina das condi-

ções econômicas. Não houve nada parecido. As autoridades começaram a prometer uma política industrial pouco depois da posse da presidente Dilma Rousseff. Teria de ser um conjunto de medidas para elevar a competitividade do produtor nacional. Se houvesse algum empenho, seria apresentado um plano mais ambicioso e mais eficaz do que aquele formulado na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A nova política foi prometida para o segundo trimestre. Foi necessária uma espera mais longa, por causa das divergências entre os técnicos do Ministério do Desenvolvimento e os da Fazenda. Qualquer plano de competitividade, num país como o Brasil, só seria sério se incluísse amplas medidas de alívio tributário. O pessoal da Receita Federal acabou ganhando a parada e só concordou com mudanças tributá-

rias muito limitadas. O Plano Brasil Maior só é grande no nome. Para começar, foi apresentado no dia 2 de agosto porque a presidente Dilma Rousseff se opôs a um novo adiamento. Segundo o dialeto de Brasília, o governo precisava com urgência de uma “agenda positiva”. A timidez foi a grande marca do plano finalmente lançado. O governo decidiu prorrogar certos benefícios fiscais e financeiros e prometeu cumprir com mais decência algumas obrigações, pagando em prazo menor créditos tributários devidos à indústria. Novidade, mesmo, quase nenhuma. Alteração tributária para valer, nem pensar. A proposta mais audaciosa foi a da experiência piloto com a redução do encargo previdenciário para alguns setores – e nem isso deu certo. A presidente preocupou-se com a data de lançamento do plano. Deveria ter-se preocupado também com a qualidade.

A primeira privatização

A formatura de Dilma

arcado por acirrada disputa, que elevou o ágio para 229%, o leilão de outorga à iniciativa privada do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, em Natal, simboliza o início de um processo de ampliação e modernização do sistema aeroportuário brasileiro com a participação de capital particular, que deveria ter começado há muito mais tempo. O caos aéreo que infernizou a vida dos passageiros, a incapacidade da Infraero de manter em condições adequadas as mais de 60 unidades que controla e a ameaça real de o sistema não conseguir atender ao aumento da demanda nos próximos anos não deixavam dúvidas de que, do jeito que estava, não se podia continuar. O governo demorou para entender as dimensões do problema e reconhecer o despreparo da Infraero para resolvê-lo, e só há pouco anunciou que três dos principais aeroportos do País – os de Cumbica, em Guarulhos; Viracopos, em Campinas; e Juscelino Kubitschek, em Brasília – serão concedidos a operadoras particulares. Ressalve-se, porém, que, mesmo quando o governo toma a decisão correta, suas consequências nem sempre são imediatas. O caso do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, em Natal, é um exemplo disso. Sua construção foi decidida no início da década de 1990, algumas obras foram realizadas em 1995, mas o projeto não avançou. No início de 2008, no

esta de congraçamento é o nome convencional para o jantar oferecido anteontem pela caciquia do PMDB à presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Jaburu, residência oficial do seu vice e presidente do partido, Michel Temer. Nas circunstâncias, porém, seria mais adequado falar em festa de formatura. Dilma, que passou pelo menos a primeira metade destes seus oito meses no Planalto de costas para o partido, como que se recusando a encarar o entorno de sua nova condição, enfim se diplomou com distinção e louvor no curso intensivo de pragmatismo político ministrado pelo mestre da disciplina, seu tutor Luiz Inácio Lula da Silva. Uma semana antes, ela completou a graduação, ao dissertar sobre a “espinha dorsal do governo” para a banca de peemedebistas e petistas que a encarnavam. Prometeu respeitar os contratos políticos entre as duas legendas, intensificar os contatos com as respectivas lideranças parlamentares e descongelar as verbas para as emendas de seus liderados. Manifestou confiança nos abalados ministros do Turismo, Pedro Novais, e da Agricultura, Wagner Rossi – condecorando este último com o adjetivo “exemplar”. No dia seguinte, quando ele renunciou, não houve no PMDB quem debitasse a sua queda à presidente. Quanto mais não fosse, o vice testemunhara os seus apelos para que ele reconsiderasse a decisão – e não fez mal nenhum pa-

M

formação de quadrilha dos integrantes do mensalão do governo Lula, considerado o maior escândalo moral e financeiro da História do Brasil. E sem se ter conhecimento de que o ministro do STF Joaquim Barbosa tenha concluído o relatório, o que favoreceria os quadrilheiros com a prescrição desse crime que abalou o País. JOSÉ WILSON DE LIMA COSTA jwlcosta@bol.com.br São Paulo

EDUCAÇÃO ‘O ensino de matemática’

Fiquei muito chocado com as constatações do editorial de 19/8 (A3) e achei que iam jorrar protestos indignados contra o descrito círculo vicioso, em que o pior aluno se torna professor de matemática. Mas não houve nenhum. De onde, então, esperar as há muito tempo vencidas medidas corretivas, se ninguém se interessa pe-

governo Lula, o aeroporto foi incluído no Programa Nacional de Desestatização, mas sua efetiva transferência para a iniciativa privada só se concluiu três anos e meio depois. O ágio oferecido pelo consórcio vencedor do leilão – que elevou o preço final para R$ 170 milhões, mais do triplo do valor mínimo de R$ 51,7 milhões fixado pelo governo – e o número de lances apresentados pelas empresas que permaneceram na disputa (quase 90) podem ser interpretados como demonstração do grande interesse do investidor pela conclusão das obras e operação do ae-

Acirrada disputa marcou o primeiro leilão de privatização de aeroportos roporto potiguar. Mas, para compensar o ágio, o consórcio vencedor terá de alcançar um retorno elevado de seu investimento. “É acima de 6% de ganho real”, disse o representante da Engevix no consórcio vencedor – denominado Inframérica –, José Antunes Sobrinho. “Estamos absolutamente confortáveis com o ágio que estamos pagando.” No consórcio, a Engevix é sócia, em partes iguais, da argentina Corporación América, que controla a Aeropuertos Argentina 2000, detentora da concessão de 33 aeroportos no país vizinho, incluindo os de Ezeiza e Aeroparque, em Buenos Aires. O sócio argentino opera terminais em outros países, como Peru, Uruguai, Equador e Ar-

los males maiores? Como governos entram e saem com aprovação de até 80%, com a educação em sabido constante declínio? Como e com que combater corrupção, crimes, miséria, pobreza, se educação que merece o nome quase inexiste? Faxinas podem ajudar na área política, se houver punição. Mas resolver problemas básicos, mesmo, só mediante educação. O País, por acaso, não dispõe de exímios professores? Pode dispor, sim. Mas quem se quer dar ao trabalho árduo do ensino por um salário miserável e nivelado para baixo por poderosos sindicatos irresponsáveis? Em vez de combater a miséria, o governo devia entrar no combate aos salários miseráveis para pessoas capacitadas. Reinventar a meritocracia no ensino público e privado. Mas falta o indispensável primeiro passinho: interessar-se. GERHARD FINK gerhardfink@uol.com.br Atibaia

mênia, mas sua história recente na Argentina é marcada por dificuldades para honrar compromissos. Atraso no pagamento de royalties, não cumprimento dos cronogramas de obras e renegociações de contratos com o governo são algumas das dificuldades da Corporación América lembradas pela imprensa. O presidente da Anac, Marcelo Guaranys, admitiu que o consórcio pode ter dificuldades para pagar o elevado ágio, mas observou que há mecanismos contratuais, como multas, execução de garantias e até a retomada da concessão, para evitar calotes. Para o governo, o êxito do leilão do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante é um prenúncio do que deverá acontecer com os leilões, marcados para 22 de dezembro, dos três principais aeroportos brasileiros. São, porém, situações muito distintas, a começar pelo porte dos aeroportos a serem privatizados. O fato de Cumbica, Viracopos e Juscelino Kubitschek já estarememoperaçãotambém constitui uma diferença notável, poisassegurarendaimediatapara a empresa vencedora, ao contráriodoaeroportodoRioGrandedoNorte,quedeveráser concluído em 2014. Mas os poderes excessivos que o governo deu à Infraero no novo modelo poderão afugentar investidores. A Infraero deterá até 49% do capital da empresa vencedora e dirigirá a autoridade aeroportuária, que atuarácomo“síndico”dosprincipais aeroportos, mas cujo papel ainda não está claro.

“Só no Brasil ministro voa de carona e não sabe quem é o dono da aeronave. Conte outra lorota, sr. Paulo Bernardo” MILTON A. ZONNO / UBERLÂNDIA (MG), SOBRE OS JATINHOS milton.zonno@suecia.com.br

“Após 15 meses na gaveta, o incompetente declarou-se incompetente para julgar o caso. Pobre País, em que a Justiça tarda e falha” JOSÉ EDUARDO VICTOR / JAÚ, SOBRE A CENSURA AO ‘ESTADÃO’ je.victor@estadao.com.br

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ra o prestígio de Dilma ela não perder ocasião de lastimar a saída de Rossi. O jantar no Jaburu foi só alegria. Todos ali estavam cientes de que ela despira o uniforme de faxineira. Novais fica, fizera saber a presidente, salvo decisão em contrário de seus correligionários. O apadrinhado do presidente do Senado, José Sarney, e do líder peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves, começa a ser visto como um fardo por setores da bancada, ecoando as desavenças entre eles e o próprio Alves. É a pequena política de costume, mas a distância de Dilma. O

Dilma diploma-se com louvor no curso de pragmatismo político ministrado por Lula destino do ministro mais recentemente acusado de malfeitorias, o das Cidades, Mário Negroponte, também dependerá da bancada de seu partido, o PP. Ela destituiu o líder Nelson Meurer, aliado de Negromonte, e diversos de seus membros querem de novo na pasta o antecessor Márcio Fortes. Enquanto a presidente tira o avental, o companheiro Jaques Wagner, o governador da Bahia de quem o PP é o principal arrimo no Estado, veste a camisa da complacência. Erigir o combate à corrupção em bandeira do governo, disse ele na terçafeira em um almoço com empresários de São Paulo, seria um “desserviço” ao País. Afinal, “não estamos em um patamar que assuste, e no mundo

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Peão deixa bezerro paralítico e é suspenso

1.239

Segundo relatório, competidor do rodeio de Barretos realizou manobra irregular; animal foi sacrificado ● “Rodeios têm de acabar! Não vejo graça/utilidade/cultura em algo que faz tão mal a animais.” KAREN NEGRÃO

● “Pelo fim dos rodeios e touradas. Desde quando maltratar animais e, muitas vezes, sacrificar é cultura e tradição?” DAVID QUOS

HÁ 755 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Espero que vocês que estão comovidos sejam vegetarianos. Porque (senão) aí vai ser o que eu chamo de hipocrisia!” ISABELA KOHUTEK

todo há esse problema”. E pensar que ele sonha com a Presidência da República. Mas o importante agora não é o patamar da convivência do petista com a bandalha, mas o que acha que Dilma acabou de fazer. Segundo ele, foi um “ajuste de conduta”, depois de ela avaliar o resultado presumivelmente adverso da devassa no Ministério dos Transportes, que custou a saída do PR da base governista. Isso significa que será preciso muitíssimo mais do que denúncias da imprensa para abalar o desvelo da presidente com o primeiro time dos seus colaboradores – embora a palavra desvelo não seja a mais apropriada para descrever o modo como os trata pessoalmente. Decerto os brasileiros preferiam que ela exercesse a sua afamada severidade em defesa da ética no governo, como se supôs que continuaria a fazer depois da varredura no valhacouto do Dnit. Mas, se continuasse, seria prova de que não tinha conseguido captar os ensinamentos de mestre Lula. E ela os captou, “capítulo e versículo”, como dizem os americanos. “Ao lado do PMDB, me sinto em casa”, exultou a presidente diante de uma centena de peemedebistas (e um punhado de petistas) convidados pelo vice Temer, relatou o blogueiro Josias de Souza, da Folha de S.Paulo. “Vamos” – ela e o PMDB, evidentemente – “entregar um paísaindamelhordoquerecebemos.” Uma pena Lula não ter assistidodecorpopresenteàexibição de sua pupila. Ninguém mais do que ele merecia estar lá.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 26 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

PPresidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Derivativo da China? A economia brasileira depende cada vez mais da parceria comercial com a China e das políticas formuladas em Pequim. Mais que isso: o comércio bilateral segue o velho padrão NorteSul, com o lado mais fraco fornecendo matérias-primas em troca de produtos manufaturados. Essa descrição, familiar aos brasileiros atentos à evolução da economia global, já é assunto de comentários e de análises no mercado financeiro. A relação entre os dois países – com referência ao padrão do comércio – foi tema de um relatório do Banco Nomura, de Nova York, ligado a um dos maiores conglomerados financeiros do mundo, com sede no Japão. Também nesta semana, um artigo apresentado no site da Forbes foi aberto com a sugestiva pergunta: é o

Brasil um derivativo da China? Preços de derivativos, lembrou o autor, dependem do valor de outro ativo – neste caso, a economia chinesa. Se essa economia fraquejar e seu apetite por matérias-primas diminuir, quais serão as consequências para os brasileiros? A China é hoje a principal fonte de receita comercial para o Brasil. No ano passado, o País ganhou US$ 30,8 bilhões com as vendas ao mercado chinês, 15,2% do valor total das exportações. O comércio com os Estados Unidos, em outros tempos o comprador mais importante, proporcionou US$ 19,5 bilhões, 9,6% do total faturado. A China ficou em segundo lugar como fornecedor do mercado brasileiro, com 14,1% do valor vendido ao País. Os Estados Unidos mantiveram o primeiro lugar, com participação de 15%. Mas a diferença entre o comércio com os Estados Unidos e o intercâm-

bio com a China vai muito além dos valores totais. A relação com os chineses de fato reproduz o padrão Norte-Sul, embora os dois países sejam classificados como emergentes. A China vende ao Brasil quase exclusivamente produtos manufaturados. Parte das vendas é de peças e componentes para a indústria brasileira. Isso resulta em deslocamento de empresas nacionais, incapazes de competir com produtores chineses favorecidos pelo câmbio desvalorizado e por mecanismos obscuros de formação de preços. Em contrapartida, as vendas brasileiras à China são, predominantemente, de produtos básicos. Em 2010, apenas 4,5% das exportações brasileiras para o mercado chinês corresponderam a bens manufaturados. Somados os bens intermediários, o total chegou a 16,3%. O comércio com os Estados Unidos é muito mais diversificado. No

ano passado, 51,6% das exportações brasileiras para o mercado americano foram de produtos manufaturados. Com os bens intermediários, o total dos industrializados alcançou 68,1%. O intercâmbio do Brasil com a maior e mais desenvolvida economia do mundo há muito tempo deixou de ser regido pelo tradicional padrão de bens primários em troca de bens manufaturados. A relação Norte-Sul, de estilo quase colonial, ocorre no comércio com a China, país emergente escolhido como “parceiro estratégico”. Também o comércio com a União Europeia é mais equilibrado quanto à composição. Em 2010, as vendas de manufaturados ao mercado europeu equivaleram a 35,7% das exportações brasileiras para o bloco. A parcela de industrializados (com inclusão dos semielaborados) chegou a 40,6%. A União Europeia absorveu 21,4% das vendas brasileiras. A parti-

cipação da América Latina e do Caribe foi maior – 23,8%, também com alta proporção de manufaturados (78,4%) e industrializados (82,1%). A diversificação de mercados, uma tendência tradicional do comércio brasileiro, é uma boa política. A ampliação do comércio com a China e com outros parceiros do Oriente foi um desdobramento dessa política. Mas esse acerto foi acompanhado de um erro grave: a partir de 2003, o governo desperdiçou as possibilidades de acordos com os Estados Unidos e com a Europa – no primeiro caso, por miopia ideológica. Isso deixou espaço à China e a outras economias empenhadas em conquistar mercados por todos os meios. Com isso, o Brasil se tornou mais dependente – e de forma perigosa – da política de Pequim, da prosperidade chinesa e dos preços das commodities. Todos esses fatores estão fora do controle dos brasileiros.

Preservação da Serra do Mar

Mais trabalhadores estrangeiros

nde havia barracos, estão surgindo grandes clareiras repletas de entulho, na Mata Atlântica, às margens da Rodovia Anchieta. Trata-se da segunda fase do Programa de Recuperação Socioambiental da Serra do Mar. Nos últimos quatro meses, famílias que ocupavam 1.579 barracos situados em áreas de risco nas cotas 400 e 200 foram removidas para conjuntos habitacionais. Novos bairros estão sendo construídos na Baixada Santista e no ABC para abrigá-las. Em Cubatão, por exemplo, estão sendo erguidas 3,5 mil moradias. O fim dos chamados bairros-cota é importante para a conservação, o uso sustentável e a recuperação ambiental do Parque Estadual da Serra do Mar. Serão beneficiadas 7.760 famílias moradoras de área de proteção, seja com a remoção para locais seguros – 5.350 delas estão em áreas de risco ou de preservação –, seja com a reurbanização de partes dos bairros. Até 2016, no lugar das clareiras surgirá o Jardim Botânico de Cubatão, um viveiro metropolitano para a produção de mudas nativas. Além de construir novos conjuntos habitacionais, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) urbanizará os bairros-cota 95/100, 200, Pinhal do Miranda e Fabril. As 2,5 mil famílias que permanecerão nas áreas consolidadas serão beneficiadas por redes de água, esgoto e drenagem, abertura de ruas,

os últimos cinco anos, o número de estrangeiros autorizados a trabalhar no Brasil aumentou mais de 140%. Esse fluxo cada vez mais forte de trabalhadores estrangeiros, predominantemente com formação superior e muitos originários dos países industrializados, tem um lado positivo, pois resulta em transferência de conhecimentos para os profissionais e para as empresas nacionais, e mostra o dinamismo da economia brasileira em comparação com as dos países mais ricos. Mas reflete também o problema já detectado por muitas empresas, o da escassez de mão de obra qualificada, que, se não for logo encarado com eficiência pelo governo, se agravará, caso a economia brasileira continue a crescer mais do que as do mundo rico e os investimentos públicos e privados sejam realizados de acordo com os cronogramas anunciados. Especialmente depois da crise global de 2008, o Brasil se tornou um mercado atraente e com muitas oportunidades para profissionais que, em seus países de origem, enfrentam dificuldades para encontrar trabalho. Além de capital externo, os grandes projetos de investimentos, já em execução ou previstos para setores essenciais da economia, como energia e infraestrutura, e as perspectivas de crescimento da economia brasileira atraem também trabalhadores do exterior em número crescente. No primeiro semestre deste

O

VIOLÊNCIA Insuportável

O assalto à casa de Salim Curiati mostra que a violência em São Paulo chegou a níveis insuportáveis. O deputado e a esposa foram agredidos e ameaçados com armas de fogo. Todos os dias ocorrem casos semelhantes na zonas sul e oeste da cidade. Nossas casas são verdadeiros bunkers, com muros altos, cercas elétricas, alarmes, cães ferozes e seguranças. O descaso de nossas autoridades é criminoso. Preocupam-se com a Copa, em subsidiar a construção de estádios de futebol, em proibir o consumo de cigarros em bares e restaurantes que são assaltados, em criar partidinhos políticos de quinta categoria e em nomear apaniguados para participar do butim do dinheiro público. De que adianta querermos ser a quinta economia do mundo se a sociedade é refém de bandidos?

calçadas, pavimentação e a construção de escolas e postos de saúde, além de policiamento e serviços de iluminação, telefone e coleta de lixo. Os proprietários receberão a escritura definitiva do imóvel. Ao planejar a construção dos conjuntos habitacionais em Cubatão, Baixada Santista e ABC para abrigar aquela população, o governo do Estado levou em conta o perfil socioeconômico dos moradores, com o objetivo de oferecer opções de emprego e estudo para todos, em condições que permitam que as famílias permaneçam unidas. O Programa de Recuperação

O fim dos bairros-cota facilitará a recuperação ambiental do Parque da Serra do Mar Socioambiental da Serra do Mar foi uma das prioridades do ex-governador José Serra assim que assumiu o Palácio dos Bandeirantes, em 2007. Ele defendia a necessidade de fazer ali grandes investimentos, porque, a seu ver, ou a região se tornava uma área rica ou se transformava em uma nova Linha Vermelha – referência à via expressa que liga os municípios do Rio e São João do Meriti, atravessando a cidade de Duque de Caxias. A via foi palco de crimes que chocaram o País nos últimos anos. O programa foi logo iniciado. Em abril daquele ano, foi decretado o congelamento das ocupações irregulares e uma equipe de 130 policiais militares e agentes ambientais foi en-

LEÃO MACHADO NETO lneto@uol.com.br São Paulo

LIVROS EM RISCO Saldões e doações

O Sabático de 20/8 trouxe a notícia de que 2 milhões de livros “encalhados” de uma editora no Rio de Janeiro correm o risco de ser destruídos por problemas como custo de estocagem. Alegam dificuldades burocráticas para doar e fazer saldões. O que é isso?! Certamente, como eu, milhares de pessoas aguardam para comprar livros quando estiverem ao alcance de nossa renda. Saldões são necessários e bem-vindos! Doações a milhares de bibliotecas públicas, também. Inacreditável é cogitar de transformar milhões de livros em aparas de papel! EDUARDO BRITTO britto@znnalinha.com.br São Paulo

carregada de patrulhar o Parque Estadual da Serra do Mar para evitar novas invasões. Técnicos da CDHU cadastraram as famílias e os imóveis que estavam nas áreas de preservação e de risco. O governo enfrentou vários obstáculos, desde a resistência dos moradores a deixar o local e atritos com políticos da região até a falta de recursos financeiros. Por isso, o projeto seguiu lentamente até o ano passado, quando o então governador Alberto Goldman assinou contrato de empréstimo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento de US$ 162,45milhõesparainvestimentosnaregião.Comascontrapartidas do Tesouro Estadual, de US$ 248,54 milhões, e do governo federal, no valor de US$ 54,08milhões,ecomaCompensação Ambiental, de US$ 5,08 milhões,ovalor totaldoinvestimento é de US$ 470,15 milhões. Este é um dos mais importantesprojetosderevitalizaçãoambiental em andamento no País. O Parque Estadual da Serra do Mar é a maior unidade de conservação da Mata Atlântica. Hoje, restam apenas 8% dela, mas ainda assim a Mata Atlântica influencia a vida de grande parte dapopulaçãobrasileira.Seusremanescentes em vários Estados regulam o fluxo dos mananciais, asseguram a fertilidade do solo, influenciam o clima e protegem as encostas das serras. O programa do governo paulista, além de preservar uma área de grande importância, também contribui para a solução de problema social criado naquele trecho da Serra do Mar.

“Este país está podre ou só agora as falcatruas estão aflorando? Nesta toada, não sobra governo até o fim da ano” ULYSSES FERNANDES NUNES JUNIOR / SÃO PAULO, SOBRE A CORRUPÇÃO GENERALIZADA ulyssesfn@terra.com.br

“A terceira mulher mais influente do mundo é a Dilma ou o Lula?” RICARDO MARIN / OSASCO, SOBRE QUEM MANDA DE FATO NO GOVERNO DO BRASIL s1estudio@ig.com.br

N

ano, 26.545 estrangeiros obtiveram autorização do Ministério do Trabalho – exigência formal indispensável – para trabalhar no País. É um número 19,4% maior do que o de autorizações concedidas no primeiro semestre de 2010 e 143,7% maior do que o de igual período de 2006. No futuro próximo, o fluxo deverá ser ainda mais forte. “Como nos países de origem a situação econômica está muito difícil, a chegada de novos trabalhadores internacionais tende a aumentar nos próximos anos”, previu o professor da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São

Escassez de mão de obra qualificada é também consequência da crise do sistema educacional Paulo Celso Grisi, em entrevista ao Estado (21/8). Dos estrangeiros autorizados a trabalhar no País no primeiro semestre deste ano, 53% têm nível superior. Eles são atraídos por trabalhos na área de engenharia, especialmente nos segmentos relacionados aos projetos de exploração do petróleo do pré-sal. Também a construção civil vem recebendo grande número de trabalhadores estrangeiros com formação superior.Regiõesquenãoatraíam estrangeiros registram em 2011 forte aumento da entrada dessesprofissionais,mas,emnúmeros absolutos, a Região Sudeste continua sendo o destino preferido da maioria deles. Muitos desses profissionais vêm para o Brasil transferidos

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Escolas de SP terão merenda vegetariana

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Proposta de cardápio para alunos da rede municipal deve ser implantada uma vez por semana ● “Será que agora estão tomando consciência?” SANDRA CASTRISCHER

● “Quer dizer, então, que, se uma criança não gosta de comida vegetariana, ela é obrigada a comer? É o mesmo que forçar uma criança vegetariana a comer carne.” LIVIA SANTO

HÁ 756 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “É um bom passo em favor do meio ambiente e mostra às crianças que há alternativas à carne.” DANIELA KISSLING

temporariamente de seus locais de origem para a montagem de equipamentose treinamentode trabalhadores locais que se responsabilizarão pela operação e manutenção desses bens. Outros, porém, vêm suprir a carência no mercado brasileiro de profissionais com conhecimentos técnicos em determinadasáreas,entreasquaisoempresariadoindustrialeempresasespecializadasem gestão derecursos humanos lembram as de engenharia fina, biotecnologia e geologia,além dossegmentos ligados à exploração de petróleo. Estudodivulgado em abrilpelaConfederaçãoNacional da Indústria (CNI) mostrou que 69% das 1.616 empresas consultadas afirmaram ter dificuldades para preencher as vagas de trabalhador qualificado. Na construção civil, 89% das empresas relataram problemas para a contrataçãode profissionaiscom qualificação. A escassez não é só de engenheiros. Faltam também técnicos, operadores e até profissionais de nível básico. No setor privado, projetos de novas unidades ou de ampliação e modernização das já existentes poderão ser prejudicados por essa escassez. Grandes obras nas áreas de infraestrutura – como usinas hidrelétricas, portos, aeroportos e rodovias – ou para a realização da Copa do Mundo de 2014 igualmente correm risco de atraso ou até de paralisação pelo mesmo problema. Essa é mais uma consequênciadoatrasodoBrasilnamudança de seu sistema educacional, incapaz de preparar adequadamente a população.

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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 27 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Notas & Informações

Bernanke não promete nada A maior economia do mundo, emperrada e à beira de uma nova recessão, precisa com urgência de novos estímulos fiscais para ganhar dinamismo e voltar ao trilho do crescimento. Em outras palavras, foi esta a mensagem do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, em seu esperado discurso de sexta-feira, na reunião anual de autoridades monetárias em Jackson Hole, Wyoming. A promoção de um crescimento forte e de longa duração está fora do alcance da política monetária, segundo Bernanke. Sem descartar a hipótese de alguma nova medida na área da moeda e do crédito, ele deixou muito clara, no entanto, a importância primordial de outro tipo de ação – uma provável combinação de gastos públicos e incentivos

tributários, tudo isso acoplado a um plano de ajuste de longo prazo. Sem mencionar o nome do presidente Barack Obama, ele apoiou o tipo de política defendido pela Casa Branca na recente negociação sobre a dívida pública e rejeitado pela oposição. A solução depende, portanto, de um acerto do Executivo com o Congresso, e não do Federal Reserve. O discurso foi pronunciado num momento especialmente dramático. Horas antes, o governo havia anunciado a revisão dos dados econômicos do segundo trimestre. Pelos novos cálculos, a economia cresceu em ritmo equivalente a 1% ao ano. A estimativa anterior, já preocupante, havia indicado uma expansão de 1,3%. O desemprego, como foi lembrado no discurso, tem-se mantido pouco acima de 9%, sem perspectiva de redução relevante nos próximos meses.

Bernanke mencionou algumas melhoras ocorridas nos últimos dois anos, desde o ponto mais fundo da recessão, mas descreveu a atual crise como mais persistente que as anteriores. A produção americana permanece abaixo do nível atingido antes da crise. A construção imobiliária, um importante fator de recuperação em outras fases difíceis, continua estagnada. Além disso, as pequenas empresas têm dificuldades em obter crédito e as famílias, que tiveram suas finanças abaladas nos últimos anos, evitam pedir novos empréstimos. Durante toda a semana houve enorme expectativa em relação ao pronunciamento de Bernanke. Ele poderia anunciar – esta era uma das hipóteses – uma nova fase de afrouxamento monetário, com o lançamento de mais uma enxurrada de dólares no mercado. Quem esperava uma promessa desse tipo ficou decepcionado. Qualquer decisão sobre novas

medidas só será tomada, segundo ele, com base em novas informações. A análise dos novos dados, adiantou Bernanke, será especialmente cuidadosa: a próxima reunião do comitê de política monetária do Fed, em setembro, deverá durar dois dias, 20 e 21, em vez de um. É difícil imaginar, neste momento, para que os diretores do Fed anunciariam uma nova fase de afrouxamento monetário, com novas emissões de dólares. Neste momento, os bancos americanos mantêm no Fed reservas excedentes de US$ 1,6 trilhão – acima daquelas mantidas obrigatoriamente. Se não têm aplicação para esse dinheiro, para que precisarão de mais dólares? Mais dólares no mercado seriam provavelmente dirigidos para a especulação com produtos básicos e para mercados emergentes, aumentando a sobrevalorização de moedas como o real e agravando os problemas comerciais do Brasil e de

outros países. Bernanke limitou-se a reafirmar a provável manutenção de juros muito baixos – entre zero e 0,25% ao ano – por muito tempo, talvez até meados de 2013. Ao mesmo tempo, reiterou a expectativa de melhor desempenho da economia americana a partir deste semestre, mas não de uma recuperação suficiente para criação de muitos empregos. Enquanto isso, a crise prossegue no resto do mundo rico. Na Europa, a grande novidade da semana foi o anúncio pelo governo francês de um plano de ajuste, com aumento de impostos e corte de gastos. O governo italiano já havia lançado um plano de austeridade até mais severo. Se essas iniciativas servirem para acalmar os mercados, já produzirão um bom resultado. Mas nem isso é certo e as perspectivas de crescimento, na Europa e também no Japão, permanecem nada animadoras.

Estados arrecadam mais

A falta de foco na educação

umento da renda média da população – que estimula o consumo –, investimentos públicos e privados – que dinamizam suas economias e lhes permitem crescer mais depressa do que o resto do País – e maior eficiência da máquina arrecadadora – que assegura aumento mais rápido de sua receita tributária –, entre outros fatores, estão tornando os Estados mais pobres e menos desenvolvidos do País cada vez menos dependentes das transferências de recursos da União. É uma transformação lenta, mas importante, pois, quanto menor a dependência financeira, mais autonomia e independência política terão os governos estaduais em relação ao governo federal. Nos últimos oito anos, 14 das 27 unidades da Federação aumentaram a arrecadação de tributos estaduais de tal maneira que reduziram a participação das transferências da União na composição de sua receita total, como mostrou reportagem de Daniel Bramatti publicada no Estado (21/8). O Estado do Acre destaca-se entreessas14 unidadesfederativas. As receitas próprias anuais do governo acriano no período 2003-2010 aumentaram 186% em termos reais, na comparação com a média dos oito anos anteriores a esse período. Já as transferênciascorrentes,sobretudode recursosda União,cresceram bem menos, apenas 55%. Trata-se de um caso exemplar. Estatísticas do IBGE mostram que, no período

avanço das técnicas de avaliação escolar adotadas no País propiciou, nos últimos anos, o surgimento de mecanismos inéditos para avaliar a capacidade de ensino das escolas e o nível de aprendizado de seus alunos. Um desses novos mecanismos é a Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização), aplicada pela primeira vez no início do ano a 6 mil alunos de 262 escolas municipais, estaduais e particulares de todas as capitais dos Estados. A prova de leitura e matemática foi feita com questões de múltipla escolha. Na de redação, o aluno tinha de escrever uma carta a um amigo, comentando as férias. Realizada pela Fundação Cesgranrio, pelo Instituto Paulo Montenegro e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais em parceria com o Todos pela Educação – um movimento criado há quatro anos pela iniciativa privada –, a Prova ABC avalia o nível de alfabetização dos alunos do 3.º ano do ensino fundamental. E seus resultados comprovam mais uma vez a má qualidade do sistema educacional. Segundo a Prova ABC, 44% dos alunos avaliados não têm os conhecimentos necessários em leitura; 46,6%, em escrita; e 57%, em matemática. Ou seja, metade das crianças que concluíram o 3.º ano do ensino fundamental não aprendeu o mínimo esperado para esse nível de ensino. Isso significa que, aos 8 anos,

A

mesmos radares não multam os caminhões e ônibus (por quê?). Assim, vemos que o governo paulista está realmente preocupado é com a arrecadação de multas, não com a segurança nas rodovias. Paradoxal essa questão... Já é hora de o nosso governador refletir muito a esse respeito, pois nós, usuários, queremos segurança, e não radares em nossas estradas. VALTER BANHARA GUISARD vbguisard@terra.com.br Taubaté

VIOLÊNCIA Menores

Acabei de ler um livro que, corajosamente, se expõe a ser “politicamente incorreto”, o que me fez criar ânimo para manifestar minha opinião sobre menores que praticam ilegalidades. Muitos anos atrás, de mudança para Salvador, comentei que o tal “estatuto do menor” criaria a oportuni-

2002-2008, o PIB do Acre cresceu 44,1% em volume, o que o colocou em quarto lugar entre os Estados que mais cresceram no período. Com a economia crescendo mais depressa, aumentaram também as receitas próprias do Estado. Nove Estados ainda arrecadam menos do que recebem de transferências da União. Mas, com uma exceção (Alagoas), no período 2003-2010 (governo Lula), a dependência desses Estados diminuiu, embora lentamente, em relação à observada no período 1995-2002 (governo Fernando Henrique). O Estado mais dependente continua sen-

Diminui a dependência dos Estados mais pobres das transferências da União do o Amapá, que arrecada apenas o equivalente a 23% do que recebe da União. Mesmo o Acre, que vem ganhando autonomia financeira de maneira expressiva, ainda é fortementedependente:arrecada só o equivalente a 30% das transferênciasquerecebedogoverno federal (no governo Fernando Henrique Cardoso arrecadava bem menos, apenas 19%). No outro extremo, São Paulo, o Estado mais desenvolvido do País, continua o menos dependente das transferências. Sua receita própria equivale a mais de 8 vezes o que recebe de transferências da União. Entre os fatores apontados para a relativa melhora da situação financeira dos Estados menos desenvolvidos está o au-

dade de menores de idade praticarem crimes sem serem punidos. Quase fui linchado! Hoje vejo os tais “menores de 12 anos” portando-se como feras, com a certeza da impunidade. Pergunto: qual a porcentagem desses pequenos criminosos em relação ao universo de moradores menores de idade da Cidade Tiradentes, em São Paulo, e que têm comportamento exemplar, apesar de suas dificuldades? Certamente não será representativa. Isso desconsiderando os menores usados pelos criminosos “de maior”, que os fazem assumir até assassinatos. Creio que certos estão os juízes ingleses que, nos recentes casos de vandalismo em Londres, condenaram menores de idade, afirmando que, se foram capazes de cometer delitos como aqueles, seriam capazes também de responder legalmente por eles. HELEO POHLMANN BRAGA heleo.braga@hotmail.com Ribeirão Preto

mento da renda da população, sobretudo a mais pobre. “Houve um deslocamento maior de recursospara essasregiões, graçasaprogramassociaise,principalmente, à política salarial”, observou o economista Amir Khair, que foi secretário das Finanças do Município de São Paulo na gestão da prefeita Luiza Erundina (1989-2003). Nos Estados mais pobres, é maior a porcentagem das pessoas que ganham o salário mínimo. Na maioria dos Estados das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a renda per capita aumentou mais de 20% entre 2000 e 2010, de acordo com dados do IBGE. Já nos Estados do Sudeste e do Sul, exceto Santa Catarina, o aumento foi inferior a 19%. Como consequência do aumento da renda – e também de investimentos públicos, especialmente em infraestrutura, e privados, sobretudo na área de consumo –, economias regionais que estavam estagnadas passaram a crescer rapidamente.Entre2002e2008,porexemplo, o PIB da Região Norte aumentou39,8%;odoCentro-Oeste, 34%; e o da Região Nordeste, 31,5%%. Já o PIB das regiões maisdesenvolvidascresceumenos: o da Sudeste aumentou 27,3% e o da Região Sul, 21,2%. Outro fator, apontado pelo economista José Roberto Afonso, é o aumento da eficiência, que nos Estados com estrutura administrativa mais precária produz resultados notáveis. “Houve investimento maciço em modernização da máquina arrecadadora em todos os Estados”, lembrou.

“27 de agosto será lembrado como o Dia da Vergonha na história do STF?!” ROBERTO TWIASCHOR / SÃO PAULO, SOBRE A PRESCRIÇÃO DA FORMAÇÃO DE QUADRILHA NO PROCESSO DO MENSALÃO rtwiaschor@uol.com.br

“Os capitães da areia transformaram-se em capitães do asfalto” EDWARD BRUNIERI / SÃO PAULO, SOBRE OS ARRASTÕES COMETIDOS POR MENORES patricia@epimaster.com.br

O

essas crianças não entendem para que serve a pontuação ou o humor expresso em um texto nem conseguem identificar o tema de uma narrativa e as características dos personagens de uma história. Também não sabem ler horas e minutos em relógios digitais, não conhecem as quatro operações aritméticas e não sabem fazer cálculos que envolvem notas e moedas – como o troco em uma compra. E são incapazes de reconhecer centímetros como medida de comprimento. Além disso, os resultados da Prova ABC confirmam o que já se sabia, isto é, que o rendimen-

O problema não está no acesso à universidade, mas na má-formação nos níveis básico e médio to dos alunos da 3.ª série do ensino fundamental tende a ser maior nas escolas privadas do que nas escolas públicas e a qualidade do ensino da rede escolar das regiões mais desenvolvidas, como a Sul e a Sudeste, é melhor do que a das escolas das Regiões Norte e Nordeste. Para os pedagogos, os anos de alfabetização são decisivos para a formação dos estudantes no ensino básico e superior. Quanto melhor for o desempenho dos estudantes nas primeiras séries do ensino fundamental, maior será sua capacidade de aprendizagem no futuro – e a principal conclusão da Prova ABC é que o alcance dessas premissas óbvias até hoje não foi compreendido pelas autoridades educacionais.

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Lula articula aliança com Chalita para 2012

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Ex-presidente quer apoio mútuo entre candidatos do PT e PMDB se os dois disputarem 2º turno em SP ● “Chalita já mereceu meu respeito. Parecia uma liderança jovem e idealista. Mas já está nos conchavos da ‘velha política’.” VALDIR OLIVA

● “Os dois ‘candidatos’ não possuem chance em SP. Quanto a Lula, parece que sua ganância é estar sempre perto do poder.” DOUGLAS BITU

HÁ 757 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “O Chalita se finge de religioso, mas não passa de lobo travestido de cordeiro.” SAULO RIBEIRO

Tanto que, em vez de dar prioridade à elevação da qualidade do ensino infantil, fundamental e médio, o governo federal continua insistindo em agitar bandeiras mais vistosas, como o lançamento de novas universidades públicas – algumas criadas com base em critérios de marketing político, como as voltadas para o ensino da cultura afro-brasileira, e outras para atender a pedidos dos partidos da “base”. A exemplo dos demais indicadores educacionais, que se concentram nas últimas séries do ensino fundamental, a Prova ABC, voltada para as primeiras séries desse ciclo, atesta a incapacidade do governo de fixar prioridades. “Se o Brasil tivesse apostadoemeducação deforma maciça, inclusiva e sistemática, teríamos dado, anos antes, os passos necessários para que o nosso país tivesse pleno uso de seus potenciais econômicos e para que nossa população tivesse acesso a um padrão de conhecimento e, portanto, a um padrão de vida mais elevado”, disse recentemente a presidente Dilma, no evento em que anunciou a criação de mais quatro universidades federais. Além de comprovar os erros já cometidos pelo governo, essas palavras ajudam a entender por que o Brasil continua perdendo a corrida educacional. O quea ProvaABC mostraé que os problemas da educação não estão no acesso ao ensino superior, mas na formação deficiente proporcionada nos níveis infantil e fundamental. É isso que Dilma e seu ministro da Educação ainda não perceberam.

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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 28 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

PPresidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Uma lei que deu certo Os resultados da aplicação da Lei de Recuperação de Empresas, que entrou em vigor em 2005, substituindo a Lei de Falências e Concordatas de 1945, surpreendem até seus mais ardorosos defensores. Apesar do número de falências ainda ser maior do que o de recuperações, o balanço mostra que a Lei de Recuperação das Empresas vem cumprindo seu papel de assegurar a continuidade dos negócios de empresas em dificuldades, preservando empregos. A lei funcionou de maneira particularmente eficaz entre 2007 e 2008, durante a crise financeira que levou ao fechamento de bancos de investimento e comerciais, instituições hipotecárias e seguradoras, em todo o mundo. Em 2009, o número de recuperações bateu recorde no Brasil: fo-

ram 492 pedidos deferidos pela Justiça, segundo levantamento promovido pela Serasa Experian, a pedido do jornal Valor. A Região Sudeste, onde funcionam varas especializadas em direito falimentar e uma câmara com desembargadores encarregados de julgar recursos impetrados contra as decisões de primeira instância, concentra o maior número de pedidos de recuperação. No Nordeste, só o Ceará criou varas especializadas em direito falimentar, mas a Lei de Recuperação de Empresas vem sendo cada vez mais aplicada na região por juízes de varas cíveis. Apesar de ainda não haver registro de recuperação já concluída no Nordeste, há vários processos em andamento. Os juízes de vara cível podem não ter formação específica sobre o tema, que exige conhecimentos de direito, economia, finanças, administração e marketing. No en-

tanto, têm a exata noção da importância da Lei de Recuperação de Empresas para a economia da região e, assim, vêm baseando suas decisões na jurisprudência firmada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Editada quando o País ainda não havia se industrializado, a antiga Lei de Falências e Concordatas proporcionava poucas oportunidades para empresas em dificuldades sobreviverem. Decretada a pedido de empresas já insolventes, a concordata permitia a continuidade de suas atividades em caráter precário, num processo que, a não ser nos raros casos em que o devedor contasse com o apoio de seus credores, só prolongava a agonia do empreendimento. Já a falência significava a destruição quase imediata de ativos e fechamento de postos de trabalho e eram comuns os casos de credores de importâncias relativamente pequenas que preferiam pedir na Justiça o encerramen-

to do empreendimento a negociar o recebimento dos valores a que tinham direito. Inspirada no direito comercial americano, a Lei de Recuperação de Empresas é mais adequada a um ambiente econômico moderno – entre outros motivos, porque oferece prazos mais flexíveis para o pagamento dos débitos das companhias em dificuldades financeiras. A lei inovou ao conceder à empresa insolvente a possibilidade de propor um plano de saneamento judicial, com prazo de duração de até 15 anos, criando uma alternativa para a concordata. Para os fornecedores de insumos e suprimentos, isso ajuda a preservar seus mercados. Para os empregados, a recuperação torna possível, além da manutenção do emprego, o recebimento de salários atrasados. E, para as empresas, a recuperação lhes dá liberdade para cortar custos, fechar unidades improdutivas, desenvolver no-

vos produtos e fortalecer as marcas mais conhecidas. A trajetória da Lei de Recuperação de Empresas mostra como o País só tem a ganhar quando as lideranças políticas se revelam capazes de colocar o interesse público acima de seus interesses políticos. O projeto foi preparado por Fernando Henrique Cardoso, em sua passagem pelo Ministério da Fazenda, e enviado ao Congresso em 1993, sofrendo na época oposição dos bancos e do PT. Mas, quando Lula ascendeu ao poder, seu ministro da Fazenda, Antonio Palocci, se empenhou por sua aprovação, consciente de que a reforma da legislação falimentar era essencial para a estabilidade macroeconômica. Alguns juristas criticam pontos específicos da Lei de Recuperação das Empresas. Mas todos concordam que ela tem sido decisiva para que o Brasil possa continuar ampliando sua base produtiva.

Para destravar o microcrédito

Investimentos no exterior

ais dinheiro e a custo bem mais baixo são dois importantes fatores que podem impulsionar o programa de empréstimos para capital de giro e investimentos de empreendedores individuais, inclusive os informais, e microempresas com faturamento de até R$ 120 mil por ano. O Crescer – Programa Nacional de Microcrédito, anunciado pela presidente Dilma Rousseff, é mais uma tentativa do governo de destravar o microcrédito, para o qual certamente há demanda, mas cujo atendimento enfrenta várias dificuldades. A primeira versão desse programa sob o governo do PT foi criada em 2004, mas, desde seu início, vem apresentado resultados pífios, por causa do desinteresse dos bancos privados em oferecer esse tipo de financiamento e do custo das operações para o tomador do empréstimo. Para tentar contornar esses dois obstáculos, o governo Dilma decidiu utilizar prioritariamente os bancos oficiais na fase inicial do Crescer e reduzir drasticamente os juros do microcrédito produtivo. Eles cairão de 60% para 8% ao ano. Também será reduzida a taxa de abertura de crédito de 3% para 1% do valor da operação, que pode ser de, no máximo, R$ 15 mil por cliente. A única certeza, por enquanto, é que essas mudanças implicarão custos para o contribuinte, pois a redução dos juros na proporção anunciada (87%) envolve subsídio. O governo edi-

internacionalização crescente da economia brasileira não é comprovada apenas pela entrada recorde de investimentos estrangeiros diretos (IED) no País, que alcançaram US$ 38,44 bilhões de janeiro a julho, equivalentes a 79% do total ingressado em 2010 (US$ 48,43 bilhões). Igualmente impressionante é o aumento de investimentos brasileiros no exterior. Segundo o Banco Central (BC), os investimentos de pessoas jurídicas e físicas em mercados externos vêm crescendo aceleradamente, tendo atingido US$ 10,53 bilhões nos primeiros sete meses deste ano, o que representa 91% da soma em todo o ano de 2010 (US$ 11,518 bilhões). A persistir essa tendência, estimase que os ativos de brasileiros no exterior podem se aproximar de US$ 300 bilhões ao fim deste ano, sem nenhum exagero. Como revelou há pouco a pesquisa Capitais Brasileiros no Exterior (CBE), realizada pelo BC, os ativos totais de empresas e pessoas físicas brasileiras fora do País chegaram a US$ 274,6 bilhões em 2010, apresentando um crescimento de 23% diante de 2009. Isso resulta, na maior parte, de investimentos que um número já significativo de empresas nacionais tem feito em países estrangeiros para expandir-se e poder defender-se dos desafios da globalização. De fato, a pesquisa mostra que, do total de ativos em 2010, US$ 189,2bilhões foram investimentos brasileiros diretos (IBD) – originários principal-

M

que estão fazendo pelo País... Pobre Brasil, tão rico e tão pobre ao mesmo tempo! LINO ANDRÉ VOTTA ALVES lvottaalves@gmail.com Campinas

‘O QUE SEI DE LULA’ Contraponto

O livro de José Nêumanne Pinto com o título acima poderá ser um contraponto e colaborar para a consciência crítica diante de uma prática implantada em nosso país de verdadeiro culto da personalidade pelas camadas menos favorecidas – sob os ângulos material e educacional – de nossa população, induzidas por discursos massacrantes da linguagem, repletos de metáforas de botequim e comparações futebolísticas, exsurgindo o guia genial, oriundo da fábrica, como o grande salvador da Pátria. Essa maioria do povo brasileiro sempre anseia por

tou uma medida provisória que autoriza o Tesouro a conceder esse subsídio, cujo valor poderá alcançar R$ 500 milhões por ano. O programa lançado em 2004 estabeleceu que os bancos devem aplicar pelo menos 2% dos depósitos à vista em operações de microcrédito. Se não o fizerem, devem recolher o valor correspondente ao Banco Central, sem remuneração. Por causa do alto custo das operações, muitas instituições preferem deixar o dinheiro no BC. Assim, o crédito para os microempreendedores individuais continuou travado. Em

Governo quer estimular o crédito para as microempresas com dinheiro farto e barato julho, o volume de microcrédito deveria chegar a R$ 3,15 bilhões, mas as operações somaram apenas R$ 1 bilhão. Dos quatro bancos públicos habilitados a conceder microcrédito, o Banco do Brasil e o Banco do Nordeste emprestam mais do que o mínimo exigido. O Banco do Brasil, por exemplo, deveria emprestar pelo menos R$ 1,1 bilhão, mas suas operações nessa linha já somam R$ 1,2 bilhão. A exigibilidade para o Banco do Nordeste é de empréstimos mínimos de R$ 346 milhões, mas ele já empresta R$ 857 milhões. Já a Caixa e o Banco da Amazônia deverão melhorar seu desempenho. A exigibilidade para a Caixa é de R$ 400 milhões, mas suas operações alcançam

R$ 350 milhões; o Banco da Amazônia emprestou apenas R$ 2,5 milhões da meta de R$ 11 milhões. O microcrédito tem papel importante no desenvolvimento dos pequenos empreendimentos individuais e, por isso, na melhoria da renda desses empreendedores e de suas famílias. Pode ser o caminho para boa parte dos brasileiros beneficiados pelos programas de transferência de renda do governo obterem renda regular suficiente que lhes permita sair desses programas. A meta do governo é incluir 730 mil novos clientes no programa do microcrédito entre setembro – quando os bancos oficiais estiverem em condições de operar sob as novas regras – e o fim do ano. Então, a carteira ativa de microcrédito dos quatro bancos públicos poderá ser R$ 650 milhões maior que a atual. Espera-se que, até dezembro de 2013, o total alcance R$ 2,9 bilhões. A presidente Dilma Rousseff disse esperar que a entrada dos bancos públicos no programa estimule as instituições privadas a segui-los. Mas a participação dos bancos privados continua incerta. O secretário adjuntode Política Econômica doMinistério da Fazenda, Gilson Bittencourt,admitiuque,com aredução abrupta dos juros, sem que se conheçam as regras para opagamentodossubsídios,apenas os bancos públicos realizarão essas operações – e o farão por decisão do governo, não necessariamente em razão de critérios técnicos, como fazem os bancos privados.

um líder e pouco se dá por uma governança racional, moderna e compartilhada entre especialistas no trato da coisa pública.

“Nossos políticos estão exultantes? Que futuro terão esses brasileiros?”

AMADEU R. GARRIDO DE PAULA amadeugarridoadv@uol.com.br São Paulo

LUIGI VERCESI / BOTUCATU, SOBRE METADE DOS ALUNOS DE 8 ANOS DE IDADE NÃO APRENDER O MÍNIMO luver44@terra.com.br

Apenas...

Assisti no YouTube a uma entrevista de Nêumanne, de quem sou leitor assíduo, sobre o seu livro O que Sei de Lula. Cumprimento-o pela brilhante e corajosa exposição, na qual, ao final, declara que a obra contém apenas o que pode comprovar sobre “noço guia”. Por isso o título do livro omite a palavra “tudo”, que o leitor sr. James F. S. Cook (26/8) sugeriu devesse constar. Aliás, esta é (apenas), a meu ver, a parte mais contundente de toda a entrevista. ANTONIO C. GOMES DA SILVA acarlosgs@uol.com.br São Paulo

“Canudo: ao final do curso lullopetista de analfabetização, as crianças recebem o cabresto de futuro eleitor” A. FERNANDES / SÃO PAULO, IDEM standyball@hotmail.com

A

mente de grandes empresas privadas e estatais –, mais de três vezes o estoque registrado em 2001 (US$ 49,7 bilhões). Do total,US$ 169,lbilhões foram relativos à participação direta de brasileiros no capital de empresas no exterior. Essa evolução tem efeitos sobre o setor financeiro, sobre o comércio exterior esobre aprópria cadeiaprodutiva, cada vez mais ligada ao mercado externo. Pode representar também vantagens para as contas externas, com o progressivo aumento das receitas provenientes de lucros e dividendos, item em que o Brasil é altamente deficitário.

Empresas e pessoas físicas brasileiras investem cada vez mais no exterior Se os estrangeiros procuram o País para aplicações em renda fixa e em ações, há também uma considerável contrapartida de brasileiros que buscam rendimentos financeiros no exterior. Segundo a pesquisa, os investimentos brasileiros em carteira (bolsa de valores e renda fixa) somaram US$ 37,6 bilhões ao fim de 2010. Para o mercado de ações, foram US$ 14,7 bilhões, dosquais US$ 6,5bilhões aplicados em Brazilian Depositary Receipts (BDR), ou seja, papéis de empresas brasileiras negociados no exterior. A valorização do real e a crise imobiliária, particularmente nos EUA, também influenciam ofluxodeinvestimentosparafora. Como noticiou a Bloomberg, nos 12 meses findos em março

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Foto de Jobs teria sido manipulada

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Divulgada na sexta pelo site TMZ, foto do pai da Apple pode ter sido mexida para realçar seu mau estado ● “Falta ética em boa parte deste tipo de publicação. Seus donos deveriam responder por invasão de privacidade.” LUA BELA

● “Chega a doer só de pensar que um gênio assim também tem todas as fraquezas de um homem normal...” WILLIAM SILVA

HÁ 758 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Espero, de verdade, que seja uma imagem alterada e que ainda lhe sobre muitos anos de vida digna.” CADU LOPES

de2011,os brasileirosforam responsáveis por 9% dos negócios imobiliários na área de Miami, aparecendo em primeiro lugar entreoscompradoresestrangeiros. Segundo investidores ouvidospor aquelaagência,o mercado imobiliário nos EUA se tornou muito atraente para os brasileiros, tanto por causa do real forte como porque as ofertas são baratas em comparação com os preços dos imóveis no Brasil.Tais operaçõessão classificadaspeloBCcomo“outrosinvestimentos”, que totalizam US$ 47 bilhões, incluindo empréstimos feitos daqui para fora. Há ainda depósitos de US$ 26,9 bilhões, feitos em moedas estrangeiras. Chama ainda a atenção o fato de ser a Áustria o país que mais recebe investimentos brasileiros no exterior, com participação de 21,9%. Grande parte dos recursos que vão para o exterior se destina a paraísos fiscais. A Áustria, contudo, deixou a “lista cinzenta” de países que tributam minimamente a renda, a partirdesetembrode2009, tendoassinado 12 convênios detroca de informações fiscais. É possível, portanto, que a pesquisa do BC reflita, em boa parte, uma situação anterior. Seja como for, os paraísos fiscais se destacam como importante destino dos recursos aplicados fora do País, vindo, depoisda Áustria, as Ilhas Cayman (17,4%), as Ilhas Virgens Britânicas (8,7%) e as Bahamas (7,3%). A pesquisa, é claro, trata apenas de valores registrados pelo BC, transferidos para o exterior de acordo com a legislação em vigor.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 29 DE AGOSTO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

Jânio – bastidores do golpe ✽ ●

ARY RIBEIRO

À

épocarepórterdeste jornal e da Rádio Eldorado, incumbido da cobertura do Palácio do Planalto, pude acompanhar muito de perto os sete meses do governo Jânio Quadros e levar a rádio a ser a primeira emissora do País a noticiar a renúncia, que a ligação de alguns fatosleva acrerqueforaplanejada ainda na campanha eleitoral. Começo por lembrar os acontecimentos. No dia 25 de agosto de 1961, chegara cedo ao Palácio do Planalto, como sempre, pois Jânio costumava iniciar o dia de trabalho por volta das 7h30 – e frequentemente já expedindo os seus famosos bilhetinhos com ordens ou indagações dirigidas a seus ministros. O País vivia dias tensos. Na véspera, à noite, o governador da Guanabara, Carlos Lacerda, denunciara, pela televisão, haver sido sondado para apoiar supostatentativadegolpe.Eleacabara de voltar de Brasília, onde sofrera o constrangimento do episódio da mala: convidado a hospedar-se no Palácio da Alvorada, quando voltou, à noite, depois de conversações com a cúpulajanista,encontrouasuamala do lado de fora do portão. Jânio, àquela hora do dia 25, passava em revista tropas na Esplanada dos Ministérios, pois era o Dia do Soldado. Comecei a percorrer alguns gabinetes. O de José Aparecido de Oliveira, secretário particular do presidente, habitualmente aberto e ponto de encontro de jornalistas e políticos, estava estranhamente fechado. Ao sair para almoçar, encontrei-me no elevador com o colega e amigo Edísio Gomes de Matos, do Jornal do Brasil. Falei-lhe do clima esquisito que percebera nos gabinetes: portas fechadas,fisionomiascarregadas,ninguém falando nada. Mal entrara em meu apartamento, o telefone tocou. Era o Edísio: “Volta que o Jânio renunciou”. Estupefato, voltei. E ele me contou:ouvira, através da porta, José Aparecido falando da renúncia, pelo telefone. Avisei a Rádio Eldorado, que deixou pronta a notícia, porque a divulgação de “boatos” estava proibida. Quando, às 15 horas, o secretáriodeimprensa,CarlosCastello Branco, reuniu os jornalistas credenciados e começou a ler o comunicado,eu estavaao seu lado com o telefone ligado para a sucursal do Estadão em Brasília e esta com a rádio, que então soltou a notícia. Naquele tempo as comunicações não eram como hoje...

Muita gente acreditou, e por bastante tempo, que aquele fora ato tresloucado, de momento, talvez fruto de bebedeira da noite anterior. Hoje não há dúvida de que se tratou de tentativa de inusitado golpe de Estado – de iniciativa do próprio governante. O que não se sabe é que muito provavelmente havia sido arquitetado desde a campanha eleitoral. Quando candidato, ele fizera uma espécie de teste: renunciara à candidatura, voltando atrás depois de difíceis entendimentos com a cúpula udenista – e com outro candidato a vice, o mineiro Milton Campos, no lugar do sergipano Leandro Maciel, ambos da UDN. Um dos principais motivos da crise interna na campanha eleitoral, porém, não fora afastado. Ocomitê janistacontinuouesti-

Ele arquitetou o seu plano meticulosamente (ou paranoicamente) já na campanha eleitoral

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

Democracia e moralidade controle da situação. Estando, porém, do outro lado do mundo –numaépocaemqueascomunicações eram difíceis –, haveria tempo para apelos e mobilização pela volta de Jânio ao cargo, com poderes ampliados. Jâniofoialém:procurou intrigar mais Jango com seus opositores.José Aparecidomostravanos, a mim e ao Edísio, relatórios confidenciais que Jango enviava da China, repletos de elogios a Mao Tsé-tung e a outros líderes comunistas. Esses fatos estariam a demonstrar que Jânio arquitetou o seu plano meticulosamente (ou paranoicamente). Deixou Brasília numa sexta-feira, pela manhã,masacomunicaçãoàimprensa e ao Parlamento só foi feitalápelo meioda tarde, quando o Congresso Nacional deveria estar quase vazio. Dessa forma a renúncia só iria ser discutida na segunda-feira – Jânio imaginava que teria de ser levada à deliberação em plenário –, havendotempo,assim,paraarticulaçõesemobilizaçãoporsuavolta ao poder. O presidente do Congresso, senador Auro de Moura Andrade, no entanto, frustrou o plano. Convocou imediatamente sessão conjunta do Congresso, anunciou a renúncia como “ato unilateral de vontade”, insuscetível de ser discutido ou posto em deliberação, e deu posse ao sucessorconstitucionalpresentenoPaís,opresidentedaCâmara, deputado Ranieri Mazzilli. Com isso se consumou a renúncia, que resultaria, mais tarde, na derrubada de João Goulart e em 20 anos de regime militar.

mulando a chapa clandestina Jan-Jan (Jânio e Jango). Naquele tempo se votava separadamente para presidente e vice. Eu mesmo, como um dos anônimos colaboradores da campanha janista, fui incumbido de redigir pequenos textos em prol da chapa Jan-Jan, os quais eram panfletados sem identificação de origem. Jânio não precisava de Jango para se eleger. Henrique Teixeira Lott, candidato do PSD-PTB, erahomemsemcarisma,semafinidadecomapolítica,candidatura difícil de ser carregada e que não contava sequer com efetivo ✽ apoiodoentãopresidenteJusce- JORNALISTA lino Kubitschek. Tanto que Jânio, eleito com 5,6 milhões de votos, quase a metade do eleitorado, te- SINAIS PARTICULARES ve 2 milhões de votos a mais que o general Lott. Porque,então,esforçarse para eleger Jango? Porque se o vice fosse Milton Campos o golpe da renúncia não teria efeito. Ele assumiria o cargo normalmente, sem traumas. Era homem de bem, respeitado até mesmo pelos adversários. Ao contrário de Jango, que, tido como aliadodesindicalistasecomunistas, tinha contra si feroz oposição de empresários e militares. Jânio,poucoantesdarenúncia, teve ainda a cautela de tirar Jango do País, enviando-o à China como chefe de uma missão empresarial, pois se estivesse no Brasil poderia assumir a Presidência, nomear imediatamente um minisAnderson Silva tro da Guerra e ganhar o

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DENIS LERRER ROSENFIELD

A

democracia caracteriza-se por ter regras que asseguramapluralidade de opiniões. Toda tentativa de coibir a liberdade de imprensaedeexpressãodemodo geral acaba por tornar inviável essa pluralidade, que é sua condição mesma de existência. O Brasil tem convivido, nestesúltimosanos,comuma série de iniciativas que têm como objetivo cercear essa liberdade. O caso do Estadão é o mais notório, pois continua sob censura, decretada por decisão judicial. O País, no entanto, tem crescidoprecisamenteporterumaimprensa livre, capaz de denunciar todos os desmandos e descalabrosnotratamentodacoisa pública. O atual governo já mudou vários ministros e a cúpula de diversas pastas ministeriais graças à sensibilidade da opiniãopública,queerigiuamoralidadena políticaemprincípio da vida republicana. E sua condição é a liberdade de imprensa. O caminho, contudo, não temsido fácil.Nogovernoanterior presenciamos diversas iniciativas, mediante audiências públicas e conferências nacionais, como as de Comunicação e Cultura, que tinham como propósito um controle do conteúdo jornalístico sob o manto de uma suposta “democratização dos meios de comunicação”. No caso, a democratização, numa deturpação evidentedoseusentido,teriao significado de controle desses mes-

mosmeios decomunicação.Note-se o papel desempenhado por audiências públicas e conferências nacionais para, em nome da democracia, restringir uma condição própria de sua existência, que é a liberdade de imprensa e de expressão. Tudoindicaqueo atualgoverno está agora trilhando umnovo caminho,distinguindoamodernizaçãoda legislaçãodosetor de comunicações, uma regulação que se faz necessária pelo avançotecnológico dasúltimas décadas e o controle de conteúdo. Não esqueçamos que a legislação atual, ou melhor, as várias legislações datam dos anos 70 do século passado, quando a internet nem existia. Nossas regras do setor são anteriores à revolução digital. Entretanto, muito menos atençãoédadaaumacaracteriza-

Imposições do governo podem tornar inviável a pluralidade das noções de bem

ção igualmente importante, a de que a democracia se define pela pluralidade de valores, pela coexistência, em seu seio, de várias noções do bem. Um bem maior, apenas, se situa acima de todos osdemais: o de que apluralidade de bens é um princípio que deve ser assegurado, sob pena de que as escolhas individuais de bens se tornem inviáveis. A liberdade de escolha é um valor que não é, nem pode ser, objeto de uma decisão “democrática”. Um dos pressupostos de uma sociedade democrática é o de quecadacidadão possa escolher livremente o que considera melhor para si, sem que o Estado lhe imponha um padrão decomportamento.A pluralidade de bens situa-se na perspectiva da escolha individual, e não num suLEO MARTINS posto bem que seria imposto pelo Estado. A condição da cidadania é que o indivíduo não seja servo, ainda que a servidão possa terumaaparênciavoluntária. A contraposição que se estabelece aqui é entre o exercício da pluralidade de bens, pelos cidadãos que escolhem livremente, eumaformadepoderestatalqueprocuraimpor acada um o que considera o bem coletivo. Neste último caso, o bem supostamente coletivo terminariausurpandoprogressivamente o bem individual. O terreno é muitas vezes pantanoso, as fronteirasaparecemcomodedifícil delimitação, pois, dependendo do que esteja em questão, se dá ou não a

aquiescência dos indivíduos a um bem estatalmente imposto. Quando o governo, por exemplo, estabelece regras que ditam como deve ser o comportamentoindividualrelativoàsaúde,podeacontecerqueaspessoasaceitem de bom grado tal diretriz, semse dar conta de que ela invade o que deveria ser uma prerrogativa estritamente pessoal. Ocorre aqui um processo semelhantecomaliberdadedeimprensaedosmeiosdecomunicação, a saber: a existência de audiências públicas, ou até eventualmente de conferências, tendo como objetivo regulamentar o comportamento individual. A iniciativa, no entanto, é mais insidiosa, pois feita em nome do bem dos indivíduos. Alguns caem na armadilha, muito frequentemente,porquecompartilham algumas dessas iniciativas,comocertasopçõesparticulares relativas ao que cada um entendeporbem,ouporsuasaúde, mais especificamente. A imposição estatal do bem pode ser, então, percebida como se fosse fruto de uma escolha individual. Aqui reside o perigo. Há,porassim dizer, umacoincidência entre uma ideia individualeumacertainiciativagovernamental. A imposição surge disfarçada de moralidade. O valor moral é o seu disfarce. Acontece,porém,queessacoincidência é ilusória, pois o “bem” compartilhado tem um fundamento distinto: um provém da esfera estatal e outro, da liberdade de escolha individual. Dito de outra maneira, uma sucessão de imposiçõesgovernamentais,cada uma em acordo com certas ideias de comportamentos individuais, pode acabar tornando a pluralidade das noções de bem inviável. O pressuposto de ambas é completamente distinto, mesmo que isso apareça sob a formaaparentementedemocrática e legal da audiência pública. A opinião pública é mais naturalmente propensa a se insurgir contra restrições à liberdade de imprensa e de expressão do que contra restrições governamentaisqueimpõemcondutasquanto ao que cada um considera o seu próprio bem. O problema, porém, é da mesma natureza. O risco consiste precisamente em que as fronteiras entre a democracia e a moralidade começam a se apagar, com o Estado se elevando à posição daqueleque sabe o que é melhor para o cidadão. E também está em que o Estado se coloque como uma potência moral, destituindo os cidadãos de sua capacidade de discriminar racionalmente o que é melhor para si. ✽ PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Fórum dos Leitores CORRUPÇÃO ‘Turisprudência’

Constatamos a ocorrência de uso crescente de jatinhos particulares por autoridades bem situadas no ranking do pudê. Outros preferem helicópteros da PM. O mais engraçado é acharem tudo isso natural, quando conseguem lembrar-se dos fatos. Firmou-se uma verdadeira “turisprudência”! ALEXANDRU SOLOMON alex101243@gmail.com São Paulo

Benesses

O governo dá Bolsa-Família para os pobres ficarem quietos e assim poder encher a mala-família dos corruptos. Sugestão de leitura para os políticos de Brasília: Sermão do bom ladrão ou da audácia, do padre Antônio Vieira. Mas penso que não se interessarão.

LOURDES MIGLIAVACCA lourdesmigliavacca@yahoo.com São Paulo

Público x privado

Tem toda a razão o senador Aécio Neves (PSDB-MG) ao denunciar o governo do PT por misturar o público com o privado, lembrando de certa forma o velho regime comunista, que nada tinha de comunismo e concentrava o poder em meia dúzia de dirigentes burocratas e corruptos que roubavam o dinheiro do povo. CARLOS YOSHIKAZU TAKAOKA cy.takaoka@hotmail.com São Paulo

Faxina da miséria

Francamente, presidente Dilma! Qualquer um sabe que a faxina da corrupção é o pressuposto lógico, fundamental da faxina da pobre-

za. Só para lembrar aos aluninhos do jardim de infância: corrupção faz o dinheiro público ficar em poder de quadrilhas, quando deveria custear educação, saneamento, saúde e segurança para todos os cidadãos, ajudando a acabar com a miséria. Não é elementar? JOEL SAMWAYS NETO joelsamways@uol.com.br Curitiba

EDUCAÇÃO Tragédia anunciada

Fato mais que sabido é a falta de tecnólogos e profissionais de nível superior, como engenheiros, para alavancar o desenvolvimento do Brasil e consolidar conquistas de mercado e sociais. E também que é trágica a qualidade do ensino, haja vista o resultado da Prova ABC, divulgado pelo MEC. E ainda seguram o pagamento do piso salarial, reles R$ 1.187 por 40 horas, para os professores...

LUIZ NUSBAUM lnusbaum@uol.com.br São Paulo

Decadência

A quem interessa manter esse modelo de ensino fundamental que vemos em todas as regiões do País? Aos políticos, claro. Com a produção, segundo a professora Gladys Rocha (UFMG), de crianças escolarizadas, mas analfabetas, estamos criando, dentre outras coisas não menos importantes, eleitores de baixo nível e que só serão úteis para eleger políticos como temos hoje Brasil afora. JOÃO BATISTA PIOVAN jb@reunidaspiovan.com.br Osasco

MENORES INFRATORES Escola do crime

Temos hoje um quadro deplorá-

vel das condições de vida dos menores no Brasil: crianças portando armas, promovendo arrastões e até assassinatos. Superlotada, a Fundação Casa não cumpre as suas finalidades, sendo, na verdade, uma escola para formação de bandidos. E de quem é a culpa? Não é preciso pensar muito para responder. Sempre achei que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e quem o criou são os responsáveis por esta situação caótica. Graças a esse infeliz estatuto, os pais não podem educar os seus filhos corretamente, nem sequer aplicar um corretivo, como nos tempos dos meus pais, perdendo totalmente a autoridade e o respeito. Minha conclusão é que o ECA é um fracasso e, portanto, deveria, no mínimo, ser atualizado para tentar melhorar esta realidade, pois ainda não causou todo o mal de que é capaz. JOSÉ MENDES josemendesca@ig.com.br Votorantim

Formação de marginais

O que podemos esperar enquanto a polícia estiver de mãos atadas e a Justiça não pugnar por novas leis, já, para coibir a formação de quadrilhas infantis que agem pela cidade, livres e impunes por terem total amparo das arcaicas leis vigentes no País? Enquanto isso, o sistema vai permitindo a formação de novos marginais. ANGELO TONELLI angelotonelli@yahoo.com.br São Paulo

Gerações perdidas

Só resolveremos nossos problemas com menores de idade quando, abandonando a prática da didática hipócrita, reconhecermos definitivamente nossa falência como sociedade e poder público. Urge inaugurar programas educacionais e sociais menos empíricos.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 29 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

PPresidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

A regulamentação do lobby O novo ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, que ocupou o lugar de Wagner Rossi, que pediu demissão depois de escândalos cujo estopim foram as atividades de um lobista, não recua da posição que assumiu ao apresentar projeto de resolução (n.º 14/2011) regulamentando a atuação de lobbies ou grupos de pressão na Câmara dos Deputados. Como disse Mendes Ribeiro, “lobista é uma coisa, ladrão é outra”. De fato, há no Brasil uma grande confusão entre o que é tráfico de influência e a defesa no Legislativo ou no Executivo, de forma transparente, de interesses legítimos de entidades privadas ou grupos representativos da sociedade, como é comum nos regimes democráticos. Não há melhor exemplo do que o dos EUA, onde o lobby é legalmente

reconhecido desde 1946. Pela lei americana, os lobbies devem ser registrados no Congresso e/ou nos órgãos do Executivo, especificando quem os contratou, onde vão atuar e com a obrigação de prestar contas, a cada três meses, dos valores recebidos. O descumprimento dessas normas pode resultar em multa ou em até cinco anos de cadeia, nos casos mais graves. É de US$ 250 o valor máximo de um presente ou mimo que os lobistas americanos podem oferecer a congressistas ou altos funcionários. O projeto de resolução de Mendes Ribeiro não chega a tanto. Ele prevê que seja feita uma alteração no regimento da Câmara, prevendo que pessoas jurídicas de direito privado possam requerer à mesa diretora da Casa credenciamento para acompanhamento de matérias legislativas e prestação de esclarecimentos e informações técnicas às comissões, às lideranças, aos deputados e aos órgãos

de assessoramento. O projeto de resolução estipula também que cada agente privado indique um representante, que será responsável por todas as informações que prestar ou opiniões que emitir. Não são previstas, porém, sanções para aqueles lobistas que não pedirem credenciamento e forem muito além de prestar à Câmara “subsídios de caráter técnico, documental, informativo ou instrutivo”. Mendes Ribeiro preferiu, em seu projeto, que a regulamentação tivesse caráter regimental e ficasse limitada à Câmara dos Deputados. Seu objetivo foi evitar o que ocorreu com o projeto de lei do mesmo teor, de autoria do ex-senador Marco Maciel, que foi aprovado pelo Senado, mas rejeitado pela Câmara, que entendeu que cada Casa do Congresso deveria estabelecer suas normas a respeito do lobby. Bem mais abrangente é o projeto

de lei (PL 1202/07, apresentado pelo deputado Carlos Zarattini (PT-SP), que regulamenta a atividade de lobby não só no Legislativo, mas também no Executivo. A medida não se estenderia ao Judiciário, uma vez que as causas que examina e julga são defendidas por advogados. Por esse entendimento, os lobistas no Congresso e nos órgãos do governo advogariam, com transparência, em nome das entidades e grupos que os contrataram. Desde a promulgação da Constituição diversos projetos foram apresentados para que o lobby seja reconhecido como uma atividade legítima e legal. Nenhum prosperou. Aparentemente, a maioria dos congressistas prefere que essa atividade seja exercida à socapa, o que facilita enormemente a ação de indivíduos inescrupulosos. Pode ser que a situação mude. O Conselho de Transparência da Controladoria-Geral da União (CGU)

também elaborou uma proposta de regulamentação do lobby, agora em exame pela Casa Civil. Pode ser que a proposta da CGU, que segue a linha do projeto de Zarattini, tenha chances de se converter em norma jurídica. Não se espera que as regras sejam rígidas como as americanas, mas é essencial que não deixe de especificar em que local, seja no Legislativo, seja em órgãos do governo, será exercida a atividade de lobby. De certo a regulamentação do lobby não dará perfeita transparência às relações entre representantes de interesses privados e o Congresso e o governo. Mesmo nos EUA, estima-se que grande número dos lobistas em ação não é registrado. Mas o reconhecimento de uma atividade que pode ser legítima e que tem hoje uma péssima imagem no Brasil pode contribuir para o aperfeiçoamento de nossos costumes políticos.

O Ideb na porta das escolas

Nova liderança no etanol

esde junho, tramita no Congresso projeto de lei que obriga as escolas da rede pública a afixar, na porta de entrada e em local visível, uma placa de um metro quadrado comunicando sua colocação no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A ideia é exibir para os pais dos alunos a qualidade do estabelecimento em que seus filhos estão matriculados e estimular as famílias a cobrar melhoria do ensino. A medida já foi adotada no Estado de Goiás e em algumas capitais, como Rio de Janeiro e Teresina. Mas em várias regiões, entre elas São Paulo, a ideia não tem avançado por causa da oposição corporativa e política de entidades de professores. Segundo essas entidades, as avaliações escolares são técnicas e os pais de alunos não saberiam o que significam, exatamente, as notas do Ideb. Para essas entidades, as notas das escolas refletem o nível econômico dos alunos e o nível de escolaridade de suas famílias – por isso, a exibição da classificação do Ideb na porta dos estabelecimentos de ensino dos bairros pobres seria uma forma de discriminação social. O projeto é de autoria do deputado Edmar Arruda (PSCPT). Mas a ideia partiu do economista Gustavo Ioschpe, fundador do Compromisso Todos pela Educação e membro dos conselhos do Instituto Ayrton Senna, da Fundação Iochpe, do Instituto Ecofuturo (Gru-

e dependesse apenas dos planos do governo do PT e dos discursos do expresidente Lula, o Brasil deveria ser há muito tempo o principal fornecedor de etanol para os Estados Unidos. Na realidade, porém, o Brasil passou a grande importador do produto americano. E, justamente por causa do aumento das importações brasileiras, os EUA devem tornar-se, neste ano, o maior exportador mundial de etanol. Dois relatórios divulgados nos últimos dias por instituições dos EUA – uma associação de produtores de combustível de fontes renováveis e o Departamento de Energia – mostram que, neste ano, as exportações de etanol americano poderão alcançar de 1,9 bilhão a 2 bilhões de litros, superando pela primeira vez as vendas externas do produto brasileiro, que devem totalizar de 1,2 bilhão a 1,6 bilhão de litros. Embora tenham problemas para abastecer o mercado doméstico, os produtores brasileiros precisam manter as exportações para cumprir contratos firmados com seus clientes. Há uma ironia nessa mudança no comércio mundial de etanol. Ela ocorre no momento em que o mercado que mais arduamente o ex-presidente Lula tentou conquistar para o produto brasileiro começa a se abrir para o etanol estrangeiro – mas o Brasil não pode aproveitar essa oportunidade, pois não produz o suficiente nem para abastecer o mercado interno, daí a necessidade de impor-

D

SERGIO S. DE OLIVEIRA marisanatali@netsite.com.br Monte Santo de Minas (MG)

TRANSPORTES Trem São Paulo-Jundiaí

Qualquer iniciativa para melhorar o transporte público exclui os menos favorecidos. A passagem do trem expresso São Paulo-Jundiaí vai custar, no mínimo, quatro vezes mais que o valor atual – que ainda dá direito a circular no metrô. Ou seja, enquanto o expresso circula, o pobre fica olhando. ELEONORA JUNQUEIRA FRANCO eleonora.f@hotmail.com Jundiaí

Vasp

O dia 23/8 foi mais um muito triste para os vaspianos: ver a destruição da Vasp, seus aviões canibalizados, abandonados, sucateados,

po Suzano) e da Fundação Padre Anchieta. Criado em 2007 e divulgado a cada dois anos, o Ideb tem por objetivo aferir a qualidade das escolas públicas. O próximo Ideb vai avaliá-las ainda este ano e será divulgado em 2012. O índiceé calculado apartir dedados sobre aprovação obtidos no Censo Escolar e das médias de desempenho na Prova Brasil e no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). A Prova Brasil é um exame nacionaldeportuguêsematemática aplicado às 4.ª e 8.ª séries de escolas públicas de ensino fundamental duas vezes por ano.

Políticos e sindicalistas não querem que a avaliação do Ideb seja afixada nas escolas Tempor finalidadeavaliarcomparativamente o rendimento dos alunos e a capacidade das escolas de ensinar no início e no final de cada período letivo. Já o Saeb avalia, por amostragem, alunos da 4.ª série e da 8.ª série do ensino fundamental e do 3.º ano do ensino médio, em matemática (com foco na resolução de problemas) e em português (com foco em leitura), de escolas públicas e particulares. Com base nas informações do Saeb e da Prova Brasil, os municípios, os Estados e a União podem definir ações para melhorar a qualidade do ensino, promovendo a correção de distorções e dirigindo recursos técnicos e financeiros para áreas consideradas prioritárias. Os resultados do Ideb são di-

sendo cortados para serem vendidos como ferro-velho. A cada corte, cortava-se um pedaço da história dessa grande empresa que por anos honrou São Paulo e o Brasil. E cortava-se um pedaço da vida profissional e pessoal de cada um dos seus funcionários. Muitos já se foram. Outros estão aí, trabalhando em outras empresas aéreas ou sem trabalhar, e esperam receber os pagamentos atrasados e as rescisões. E os responsáveis onde estão? Em Brasília, protegidos pelos “amigos” políticos e por advogados caríssimos que lutam na Justiça para que os Canhedos não sejam responsabilizados pela falência da Vasp. Atualmente estão a ponto de obter uma grande vitória, com a ajuda da Justiça: recuperar a Fazenda Piratininga, que foi a leilão para pagamento de dívidas trabalhistas. A todos os colegas, meu abraço carinhoso. SILVIA LINO DOS SANTOS slalinosantos@gmail.com São Paulo

vulgados pelo site do Ministério da Educação e podem ser acessados por qualquer pessoa. A meta do Plano de DesenvolvimentodaEducaçãoparaoperíodo de 2011 a 2020, que também tramita no Congresso, é que o Idebatinja onível 6 (numaescala de zero a 10) até o final da década. Esse é o índice mínimo considerado aceitável pelos 34 países da OCDE. Atualmente, o índice médio das escolas brasileiras, no último ano do ensino fundamental, é 4. Para muitos especialistas, a oposição de determinados setores docentes ao projeto não se justifica. Em primeiro lugar, se as avaliações do MEC são públicas, não faz sentido impedir a maior divulgação de seus resultados, por meio de placas nas escolas. Em segundo lugar, mesmo que pais e mães não consigam entender as classificações doIdeb, elesirão comparar a avaliação da escola de seus filhos com as de outras escolas na mesma região. Há mesmo, entre os defensores do projeto, quem proponha que os municípiospassem amandarcartas para as famílias, informando os índices de todas as escolas do município. A colocação de uma placa com a nota do Ideb na porta das escolas não resolverá, por si só, o problema do baixo aproveitamentodos alunos da rede pública. Mas a iniciativa é importante, uma vez que estimula os pais a refletirem sobre a qualidade das escolas de seus filhos e a se mobilizar para pressionar as autoridades educacionais a tomar providências para melhorar o ensino.

“Usar avião de plano de saúde para ir à reunião do PT?! Vai entender isso...” CÍCERO SONSIM / NOVA LONDRINA (PR), SOBRE O PRESIDENTE DA CÂMARA, DEPUTADO MARCO MAIA c-sonsim@bol.com.br

“Paulo Bernardo, Gleisi Hoffmann, Mário Negromonte... Meus Deus!” GILBERTO LIMA JUNQUEIRA / RIBEIRÃO PRETO, SOBRE MINISTROS E CORRUPÇÃO glima@keynet.com.br

S

tação. Neste ano, o Brasil deve importar 1,6 bilhão de litros de etanol, mais do que a importação recorde de 1995 (1,4 bilhão de litros). O governo não parece preocupado com essas mudanças. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, minimizou o impacto da quebra da safra de cana-de-açúcar da Região CentroSul, cuja produção foi afetada pelas chuvas intensas de 2009, pela seca de 2010 e pelas geadas de 2011. “Houve uma pequena quebra de safra, conjuntural, episódica, e que acontece sazonalmente com todos os produtos do mundo”, disse o

EUA não só produzem mais, como se tornaram exportadores de etanol para o Brasil ministro na sexta-feira passada, durante a inauguração de uma destilaria em Colina, no interior de São Paulo. O descompasso entre a demanda e a produção, que tem forçado a importação de etanol em volumes crescentes, também é visto como uma situação natural pelo governo. “Importamos etanol suficiente para manter o mercado abastecido, e a garantia que o governo pode dar é que não haverá falta do produto nas bombas”, completou Lobão. Considerados pelo governo brasileiro como ineficazes – por utilizarem o milho subsidiado como matéria-prima para a produçãodoálcool,de qualidadeinferior do ponto de vista ambiental ao etanol produzido a partir

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Blatter prefere Rio para abertura da Copa

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Presidente da Fifa acredita que Rio seja a cidade adequada para receber a cerimônia em 2014 ● “Até que enfim a Fifa está abrindo os olhos. São Paulo não tem a mínima condição de abrir um evento como esse.” LUIZ CARLOS VOLPANI

● “Os caras querem a abertura da Copa, mas não têm capacidade para manter em funcionamento perfeito um bondinho?” GERSON GALLO

HÁ 759 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “De todas as sedes em construção, parece-me que a do Rio é a menos problemática, onde não há picuinhas políticas.” JORGE SOUZA

da cana –, os produtores americanos ficarão muito satisfeitos com a disposição das autoridades de assegurar a normalidade do abastecimento interno por meio da importação. Para o governo, o aumento da importação é uma questão passageira. O ministro citou medidas já anunciadas para o aumento da produção em ritmo suficienteparaasseguraro abastecimento interno e o crescimento das exportações, considerandoas suficientes para afastar o risco de crise futura. Uma dessas medidas é a imposição, à Petrobrás, do aumento de sua participação na produção de etanol. Se os planos do governo e da estatal forem executados de acordo com o cronograma, em 2015 a fatia da Petrobrás na produção doméstica poderá alcançar 12% (atualmente, é de 5%). Lobão citou também a existênciadelinhasde financiamento disponíveis no BNDES e no BancodoBrasilparainvestimentos em canaviais. Não deixou de citar também a criação de um estoqueregulador docombustível, medida citada por produtores e economistas do setor como indispensável para evitar a escassez e os movimentos bruscos do preço do etanol para o consumidor. Mas é preciso que esse estoque deixe de ser apenas um plano. O que a sucessão de problemas de abastecimento doméstico e, agora, as mudanças no comércio de etanol deixam claro é que de nada adianta promover o produtobrasileirosenão estiverem asseguradas as condições necessárias para o crescimento contínuo da produção.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital: 3959-8500 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 30 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

PPresidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Bons modos no orçamento Diante do risco de nova turbulência internacional, o governo decidiu como precaução adicionar R$ 10 bilhões à meta de superávit primário deste ano, anunciou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Para 2012, segundo ele, a ideia é cumprir a meta integralmente – sem desconto – e conter a expansão do custeio, mas sem cortar o gasto social nem o investimento. Na manhã de ontem, a presidente Dilma Rousseff apresentou o plano a líderes da base parlamentar e pediu ajuda para aprovação das medidas – como faria, num país diferente, um chefe de governo cercado de partidários menos fisiológicos. Mas ela precisava realizar esse ato de fé. O primeiro desafio será mudar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2011, para elevar de R$ 117,8 para R$ 127,8 bi-

lhões a meta de superávit primário, o dinheiro separado para os juros e a amortização da dívida pública. A segunda tarefa será conseguir a aprovação de um orçamento moderado para 2012. Se a presidente de fato estiver empenhada em alcançar esses objetivos, terá de conseguir de seu partido e dos aliados um apoio raramente obtido nos primeiros oito meses de mandato. Será um resultado especialmente notável, porque a intenção do governo, nesse caso, é conter a gastança – uma bandeira impopular no Congresso e quase nunca empunhada pelos petistas e seus companheiros de jornada. Seria um exagero, no entanto, descrever o plano da presidente como um arrocho. Nenhum sacrifício será necessário para a elevação do resultado primário deste ano e o cumprimento da meta “cheia”, em 2012, será apenas uma demonstração elementar de decoro político

e administrativo. Não se pretende, como deixou claro o ministro, cortar despesas, mas simplesmente limitar o aumento do custeio. A melhora do resultado fiscal, neste ano, será muito fácil. O setor público já alcançou cerca de 80% do superávit primário programado para 2011. Isso se deve principalmente à enorme elevação da receita, como já foi mostrado muitas vezes, e não a algum esforço especial de austeridade. É animador, no entanto, ver o governo reconhecer as condições muito favoráveis da arrecadação e propor o acréscimo de R$ 10 bilhões ao superávit destinado ao serviço da dívida. Esse acréscimo será realizado, segundo o plano, só pelo governo central. Sua meta será elevada de cerca de R$ 81 bilhões para R$ 91 bilhões. Não será necessário convocar Estados, municípios e estatais para o “esforço” adicional.

Mas a contenção do aumento do custeio será com certeza muito limitada em 2012. O governo já está comprometido com aumentos concedidos ao funcionalismo na gestão anterior. Parte desses aumentos entrará na folha a partir do próximo ano. Além disso, a nova elevação do salário mínimo – na faixa de 13% a 14%, segundo promessa do ministro da Fazenda – afetará as despesas da Previdência Social. Além disso, estão em negociação aumentos salariais para algumas categorias e servidores. Uma verdadeira política de austeridade iria mais longe, mesmo sem corte dos programas sociais mais importantes e sem redução do investimento custeado pelo Tesouro. Uma política mais austera cortaria ou eliminaria, por exemplo, as transferências de recursos para os bancos estatais. São subsídios de utilidade muito discutível, tanto econômica quanto socialmente.

Ameaça à faxina na Polícia Civil

Um poço sem fundo

esde 2009, quando foi transferida por decreto do então governador José Serra do âmbito da Delegacia-Geral da Polícia Civil para o gabinete do secretário de Segurança Pública, a Corregedoria da Polícia Civil intensificou seu trabalho de investigação dos desvios de conduta de maus policiais e o resultado é que nos últimos três anos, em comparação com o mesmo período anterior, aumentou em 60% o número de policiais demitidos pela prática de irregularidades. Foram 290 delegados de polícia, investigadores, escrivães e carcereiros expulsos da Polícia Civil de São Paulo desde 2009, num trabalho de saneamento que só tem sido possível porque, ao contrário do que ocorria na época em que estavam subordinados à DelegaciaGeral, os corregedores estão agora livres do constrangimento e do receio naturais de investigar autoridades superiores – isso quando não deparavam com a cabal proibição de promover investigações que feriam os interesses dos poderosos da Polícia. Com a vinculação da Corregedoria diretamente ao gabinete de um secretário de Segurança reconhecidamente rigoroso em questões disciplinares, esses problemas desapareceram e os resultados não demoraram a surgir. Na semana passada, um projeto de autoria do deputado Campos Machado (PTB), destinado a restabelecer a subordinação da Corregedoria à Delegacia-Geral, foi derrotado em pri-

analogia com a tranca em porta arrombada é inevitável diante da notícia de que a ControladoriaGeral da União (CGU) só agora tomou a iniciativa de alertar o Gabinete da presidente Dilma Rousseff para a responsabilidade de cada Ministério pela escolha de ONGs com as quais o setor público firmará convênios. No ano eleitoral de 2010, o erário transferiu para as chamadas entidades privadas sem fins lucrativos nada menos de R$ 10 bilhões, ponto culminante de uma escalada que atravessou o segundo mandato inteiro do presidente Lula. Agora, neste ano de contenção, foram R$ 3,5 bilhões até julho. A indicação dessas entidades por parlamentares que conseguem emplacar as suas emendas ao Orçamento é o ingrediente talvez mais importante da corrupção endêmica que promove o desvio rotineiro de tais dispêndios. A contaminação da administração federal por esses esquemas ficou mais do que evidenciada na fieira de escândalos trazidos à tona nos últimos meses, porém não é nenhuma novidade para quem vive de fazer negócios com a máquina pública ou para os burocratas que assistem impassíveis à perpetuação dos ilícitos – quando não se acumpliciam, eles mesmos, com o crime continuado. Mas, ao registrar a medida da CGU, pode-se contrapor ao ditado da tranca e da porta aquele que ensina que antes tarde do que nunca. Isso por-

D

meira votação na Assembleia Legislativa e não foi votado no dia seguinte por falta de quórum. Se prevalecer o bom senso e o espírito público entre os deputados, a matéria não voltará à pauta, uma vez que seu objetivo, óbvio e indecoroso, é devolver à chefia da Polícia Civil o comando sobre quem investiga, entre outras coisas, seus próprios atos. O deputado Campos Machado, da base aliada do governo tucano em São Paulo, tem fortes ligações com a Polícia Civil, da qual se apresenta, em seu site oficial, como “eterno amigo”, e patrocinou o escandaloso proje-

Os bons resultados do saneamento na área e as resistências partidas da Assembleia Legislativa to, argumentando que a transferência da Corregedoria para o gabinete do secretário é inconstitucional, uma vez que foi feita por decreto do governador e não por lei. Por detrás desse argumento formal há um amplo leque de razões, que vão desde o desconforto dos maus policiais com o rigor do trabalho saneador dos corregedores, até a insatisfação generalizada dos policiais civis com os salários que recebem. E tem também peso importante o corporativismo: muitos policiais civis se sentem diminuídos com o fato de a Corregedoria da Polícia Militar (PM) permanecer subordinada ao comando da PM, enquanto a deles responde ao secretário. Da mesma forma que não lhes agrada o fato de o severo secre-

ESTRADAS PAULISTAS Polícia Rodoviária

lícia Rodoviária de São Paulo. Radar não multa ladrão de carro, pneus carecas, ausência de freios, faróis, lanternas, documentação, embriaguez ao volante, etc. Aquela que já foi a mais respeitada polícia nas décadas de 1960, 1970 e 1980, hoje não passa de mera observadora de radares em sala fechada. Quando muito, para “marcar presença”, coloca veículos da corporação estacionados no acostamento ou no canteiro central das rodovias, sem nenhuma autoridade por perto! Blitz, nem pensar. O mesmo ocorre com as balanças rodoviárias. Apesar de viajar com frequência, nunca vi uma funcionando. Quanto ao não parar e multar ônibus e caminhões, a constatação vem de décadas. Não é à toa que, quando aparece alguma notícia sobre a ação da Polícia Rodoviária, ela se refere sempre à federal, nunca à estadual.

Concordo plenamente com as observações de um leitor sobre a Po-

FREDERICO FONTOURA LEINZ fleinz@terra.com.br São Paulo

tra o milhão” e os cifrões parecem ter falado mais alto em seus pensamentos. Assim é a política brasileira hoje em dia. Ter poder é sinônimo de distribuir cargos e ministérios – e, em geral, para pessoas desqualificadas na área. O nepotismo é visto como normal. Notícias delatando falcatruas são frequentes na mídia. Assim era também a política no passado. A diferença é que hoje há uma profusão de câmeras e imagens inimaginável naquela época. Aparentemente, 50 anos depois, a vassoura de Jânio está nas mãos de Dilma. Como está escrito em Eclesiastes, “nada é novo debaixo do sol...” PAULO E. PALMA BERALDO paulo.eduardo10@hotmail.com Bauru

tário de Segurança ser egresso das fileiras da PM paulista. A até agora frustrada tramitação na Assembleia desse projeto de lei que visa a reprimir o combate às transgressões de policiais civis mobilizou também a bancada oposicionista do PT na Assembleia Legislativa, que sob o comando de seu líder, Ennio Tatto, e do presidente estadual da legenda, deputado Edinho Silva, deu 11 dos 24 votos favoráveis registrados na votação da semana passada. Frustrada essa tentativa de criar problemas para o governo tucano e diante da repercussão negativa dos acontecimentos, Edinho Silva encaminhou nota oficial à revista Veja, que denunciara a manobra, pretendendo “corrigir” as informações: o PT dá “total apoio ao mérito das mudanças provocadas pelo atual secretáriodeSegurançaPúblicadoEstado de São Paulo, Antônio Ferreira Pinto”, mas não concorda “com o vício de iniciativa”, pois “o Executivo jamais poderia criar um órgão público sem a aprovação do Legislativo”. Quer dizer: o PT apoia o combate às irregularidades policiais, mas, a pretexto de uma formalidade que não revela nenhuma intenção de corrigir, pretende anular o instrumento que deu eficiência à Corregedoria. Apesar da pressão do deputado Campos Machado, seu tradicional aliado, o governador Geraldo Alckmin manifestou irrestrito apoio à subordinação da Corregedoria da Polícia Civil ao gabinete do secretário de Segurança. Só falta agora a Assembleia Legislativa encerrar definitivamente o assunto.

“O verdadeiro ópio do povo é a ignorância” MARIA CRISTINA ROCHA AZEVEDO / FLORIANÓPOLIS, SOBRE OS PÉSSIMOS RESULTADOS NA EDUCAÇÃO crisrochazevedo@hotmail.com

“Até quando o interesse político próprio se sobreporá ao interesse de todos, para o bem comum?” MARIA DO CARMO ZAFFALON LEME CARDOSO / BAURU, SOBRE OS ‘DESPACHOS’ DE JOSÉ DIRCEU NUM HOTEL DE BRASÍLIA mdokrmo@hotmail.com

A

Depois, a conversa de conter o custeio para elevar o investimento é enganadora. O governo central só não investe mais porque não consegue elaborar projetos adequados e executá-los. Os desembolsos ficam sempre muito abaixo do valor autorizado para cada exercício. A isso se acrescenta um fato bem conhecido: parte do dinheiro vai para projetos definidos em emendas parlamentares de interesse clientelístico, quando não para entidades fantasmas ou para obras ou compras superfaturadas. De toda forma, o compromisso do governo com um pouco mais de controle orçamentário é bem-vindo e pode ser o começo, talvez, de alguma mudança mais ampla. Mas é preciso que esse lance não sirva de pretexto para uma redução dos juros básicos antes da hora. Se isso ocorrer, a credibilidade do Banco Central irá pelo ralo, com péssimas consequências para a economia.

que não deixa de ser um alento ouvir o titular do órgão, ministro Jorge Hage, ressaltar que nada obriga um Ministério a seguir a indicação dos autores de emendas parlamentares no momento de tratar com os parceiros dos respectivos convênios. Mais ainda, “se a entidade não atender aos critérios definidos pela legislação, o Ministério não pode destinar o dinheiro”, adverte Hage. Não pode, mas destina, como demonstra a desalentadora crônica recente dos escândalos. Um exemplo de manual foi o caso que motivou a Operação Voucher, da Polícia Federal

A responsabilidade de cada Ministério pelos convênios com ONGs começa a ser revelada (PF). Emendas apresentadas pela deputada Fátima Pelaes, do PMDB do Amapá, destinaram R$ 9 milhões para o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Infraestrutura Sustentável (Ibrasi) – criado pouco antes da assinatura de um convênio com o Ministério do Turismo. Os serviços previstos não foram prestados. Segundo depoimentos colhidos pela PF, parte do dinheiro teria sido embolsada pela deputada. “Existem centenas de casos semelhantes apurados pela Controladoria e encaminhados à PF”, relatou Hage ao Estado. Eletemuma teseque,setivesse um mínimo de chance de se transformar em realidade, decerto provocaria um levante no Congresso. Para ele, os parla-

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Apenas 8% dos presos frequentam escola

801

Desde junho, presos brasileiros têm direito a reduzir um dia da sua pena a cada 3 dedicados ao estudo ● “Acho que poderia aumentar as penas e tirar benefícios que eles têm melhores que os nossos!” LUIZ FERNANDO OLIVEIRA

● “Talvez educá-los seria uma das maneiras para que eles possam ter uma possibilidade de sair com uma vida nova.” EVERSON MENEZES

HÁ 760 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Está mais fácil viver na cadeia do que ser livre. Estudo, trabalho, comida, etc. E o povo bancando.” MARIA ADRIANA CANUTO CONCEIÇÃO

mentares têm coisas mais nobres a fazer do que ser “encaminhadores de verbas de caráter paroquial para as suas bases”. Hage assinala que diz isso “sem entrar no campo do ilícito, em entidades fantasmas, constituídas no mês anterior ao convênio, sem nenhum currículo”. Não podendo acabar com as emendas, o governo pode filtrálas – e não apenas para segurar gastos. Ao fim e ao cabo, deve seguir a orientação da CGU na escolha dos conveniados. Sintomaticamente, no entanto,Lulavetouem2007dispositivodaLeideDiretrizesOrçamentáriasqueexigia queasorganizações fossem selecionadas em licitação. Depois da canetada, isso ficou opcional. Em 2009, Lula vetou outra exigência: a da apresentação de documentação daReceitaFederalpelos interessadosem seconveniar comogoverno, para comprovar que não são entidades fantasmas. Para onde quer que se olhe, as parcerias exalam problemas. Na Conab, estatal ligada ao Ministério da Agricultura, com 10 mil ações na Justiça e um passivo judicial de R$ 1,7 bilhão, os resultadosda contrataçãodeescritóriosparticularesdeadvocacia deixaram “estarrecido” o procurador-geral da empresa Rui Magalhães Piscitelli, como disse ao Globo. A terceirização dosserviçosjurídicos,porexemplo,teria provocado perdas propositais em processos. No papel de interventor na Conab, escolhido pelo titular da AdvocaciaGeral da União, Luís Inácio Adams, ele notificou a CGU das irregularidades. É um poço sem fundo.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 31 DE AGOSTO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

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Notas & Informações

BC sob pressão política Sob forte pressão para baixar os juros, o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciará no começo da noite se já está preparado para afrouxar a política anti-inflacionária e, se a resposta for positiva, se continua empenhado em conduzir a inflação à meta de 4,5% até o fim de 2012. Os preços voltaram a subir, depois de um recuo no meio do ano. Além disso, o aumento acumulado em 12 meses continua bem acima da meta oficial e fora da margem de tolerância. Esse é o aspecto técnico do problema. Se os juros caírem antes da hora, a correção do erro poderá ser muito custosa. Mas há também um aspecto político. Diante das evidentes pressões do Executivo, são inevitáveis as dúvidas sobre quem manda no Banco Central (BC): resta algo, afinal, da

autonomia de fato exercida até 2010? As duas questões são delicadas e tornam-se especialmente importantes neste momento. Há graves incertezas no front econômico, por causa da estagnação e dos problemas fiscais nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. Se o banco central americano jogar mais dólares no mercado, poderá haver mais especulação no mercado de matérias-primas e novas altas de preços, pelo menos enquanto a demanda chinesa continuar aquecida. É difícil, neste momento, avaliar com alguma segurança os próximos impactos da crise internacional na economia brasileira. Também há fatores internos de insegurança, tanto econômicos quanto políticos. Apesar da anunciada intenção de economizar R$ 10 bilhões adicionais neste ano, o Executivo continua sujeito a pressões de um Congresso gastador e ficará em posição mais vulnerável em 2012, por causa

das eleições municipais. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem chamado a atenção para sinais de esfriamento da economia brasileira. São comprovações, segundo ele, do acerto da política oficial. Com a redução do crescimento para algo entre 4% e 4,5% neste ano, o risco de inflação diminui e criam-se condições para a queda dos juros básicos. O quadro se completa com o plano de contenção do aumento de gastos. Mas a cena econômica é mais complexa e menos tranquilizadora do que indica o ministro. A produção industrial de fato perde impulso, embora continue em expansão. Em julho, o Indicador de Nível de Atividade (INA) da indústria paulista foi 0,3%, maior do que em junho, descontados os fatores sazonais. Foi a menor variação para um mês de julho desde 2006, como observou o diretor do Departamento de Economia da Fede-

ração das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Francini. Mas seria preciso acentuar também outro dado: a ocupação da capacidade instalada subiu de 82,2% para 82,7% e se manteve elevada. Além disso, a demanda interna continua forte e os indicadores de consumo permanecem muito bons. No primeiro semestre as vendas no varejo foram 9,2% maiores que as de um ano antes. O poder de compra tem sido sustentado tanto pelo crédito quanto pelos aumentos salariais. Mais de 80% dos acordos concluídos pelos sindicatos na primeira metade do ano proporcionaram ajustes acima da inflação. Até o mês passado os empréstimos continuaram em expansão, embora em ritmo mais moderado. Não se pode avaliar corretamente a evolução da economia nacional sem levar em conta esse contraste: a demanda permanece vigorosa, en-

quanto a produção industrial perde impulso. A demanda interna será ainda alimentada pela expansão do gasto público neste e no próximo ano, porque a intenção do governo, segundo o ministro da Fazenda, é apenas limitar o aumento do custeio, sem impedir, no entanto, a expansão da despesa total. A breve deflação do meio do ano acabou. O Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) subiu 0,44% em agosto, puxado, de novo, pelos preços por atacado. Os preços das matérias-primas brutas aumentaram 1,51%. O IGP-M, com alta de 8% em 12 meses, deverá realimentar os aluguéis e outros preços indexados. O IPCA-15, versão do índice oficial medido entre 14 de julho e 12 de agosto, subiu 0,27%, o dobro da taxa do mês anterior. O acumulado em 12 meses chegou a 7,1%, muito acima do limite de tolerância, de 6,5%. Será hora de afrouxar a política de juros?

A primeira Aglomeração Urbana Um novo rito para as MPs

S

ete municípios integram a recémcriada Aglomeração Urbana de Jundiaí, a primeira do Estado de São Paulo. Na quarta-feira da semana passada, o governador Geraldo Alckmin sancionou o Projeto de Lei Complementar que cria esse instrumento de gestão regional e articulação de políticas públicas. São Paulo começa, assim, a reconhecer o papel das cidades médias como protagonistas no desenvolvimento de projetos de uso do solo, transporte e sistemas viários, habitação, saneamento básico e meio ambiente. Além de Jundiaí, fazem parte da Aglomeração Urbana os municípios de Cabreúva, Campo Limpo Paulista, Itupeva, Jarinu, Louveira e Várzea Paulista, que somam 700 mil habitantes. Conforme o Índice Paulista de Responsabilidade Social, Jundiaí faz parte do grupo de municípios mais ricos e com bons indicadores sociais. Classifica-se em quarto lugar no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal entre as cidades paulistas e em 14.º lugar, se considerados todos os municípios brasileiros. Estreitos laços de ordem funcional e socioeconômica entre Jundiaí e seus vizinhos foram mantidos ao longo do tempo. Campo Limpo Paulista, Itupeva, Louveira e Várzea Paulista foram distritos de Jundiaí e, embora emancipados, o processo de conurbação há muito diluiu as fronteiras. Jundiaí se situa no entroncamento rodoferroviário entre a capital e Campinas e conta

CORRUPÇÃO Maracutaiando

Ao negar ser meta de seu governo a faxina com foco na corrupção, dizer que não se demite nem se faz escala de demissão todos os dias e que seu governo não é a Roma antiga, Dilma mostrou-se passiva ante os corruptos e aproveitadores do erário para continuarem maracutaiando livremente no Planalto, porque nenhum bicho-papão os ameaçará. Enquanto isso, o casal de ministros e o presidente da Câmara poderão voar serenamente, tal qual uma borboleta pousando de flor em flor...

com boa infraestrutura. A Aglomeração Urbana tem economia estruturada, um setor de serviços bem desenvolvido e comércio atacadista de abrangência nacional. Mas suas características ambientais – complexo de serras e de reservatórios – exigem planejamento integrado e ações conjuntas para o desenvolvimento econômico e social equilibrado. Com 96% de sua população vivendo nas cidades, essa aglomeração tem como um de seus principais desafios a mobilidade urbana. Grande parte de sua população em idade economicamente ativa se movimen-

O moderno conceito de Aglomeração Urbana ajuda a coordenar as gestões dos municípios ta entre as cidades da Aglomeração Urbana para o trabalho, estudos, compras e lazer. Por isso, é de fundamental importância o anúncio feito pelo governador Geraldo Alckmin a respeito da construção do Expresso Jundiaí, trem que ligará o município à capital em um percurso de 45 km, a ser feito em 25 minutos. As obras deverão ser iniciadas em fins de 2013. As linhas de ônibus intermunicipais que operam entre os sete municípios passarão a ser gerenciadas e fiscalizadas pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), que já começou a estudar medidas destinadas a melhorar a manutenção e a conservação da frota, com vistas a uma

ao desfecho de certos acontecimentos em seu Ministério. Que tal, então, tentar-se alguma alternativa suave, diplomática, palatável ao gosto presidencial? Há muitas: ações profiláticas, limpeza, lavagem, despejo, higienização, derrubada, desinfecção, roçada, pulverização, vassourada, varrição... ALBERTO LEMOS diegoseixas@hotmail.com São Paulo

Ficha suja

Alternativas palatáveis

A sociedade brasileira quis a Lei da Ficha Limpa, mas o STF, de forma burocrática, achando-a não prioritária, não aceitou que ela vigorasse já em 2010. Portanto, os corruptos continuam a roubar o dinheiro público sem problemas. Pior, a nossa Justiça não consegue punir ninguém.

Lemos nos jornais que Dilma não gostou do termo faxina, aplicado

ANTONIO DE SOUZA D’AGRELLA antoniodagrella@yahoo.com.br São Paulo

VICENTE MUNIZ BARRETO dabmunizbarreto@hotmail.com Cruzeiro

operação mais eficaz. A criação da Aglomeração Urbana de Jundiaí é o primeiro passo para a formação de redes regionais de cidades que compõem a macrometrópole de São Paulo. Um estudo realizado pela Emplasa e pela Fundação Seade constatou que um conjunto de 153 cidades, num raio de 200 quilômetros da capital, abriga 72% da população e 82% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. É a quarta macrometrópole do planeta, ficando atrás apenas de Tóquio, Mombai e Cidade do México. O alto índice de urbanização dessaregiãodeixaevidenteanecessidade de articular políticas deintegraçãoparafacilitaroplanejamento, o financiamento e a execução dos projetos destinados a assegurar desde a mobilidade até a saúde pública. OgovernodoEstado estáempenhado nessa questão. Em junho,AlckminsancionouoProjeto de Lei Complementar que reorganizouaRegiãoMetropolitana de São Paulo. Há 15 dias, a Assembleia Legislativa aprovouoprojeto quecria aAglomeração Urbana de Jundiaí e a lei foi sancionada em tempo recorde. Os próximos passos serão a criação da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e a Aglomeração Urbana de Piracicaba. Com esse instrumento de gestão mais avançado, o governo estadual ajuda os municípiosa vencer os desafiosimpostospela descentralização administrativa: a falta de recursos – humanos, financeiros e tecnológicos – e a dificuldade de resolver problemas que ultrapassam seus limites.

“Alguém teria a capacidade de apurar a dimensão do ralo que existe no Senado?” LUIZ CARLOS TIESSI / JACAREZINHO (PR), SOBRE OS SUPERSALÁRIOS NA CASA tiessilc@hotmail.com

“Com tantas denúncias, há gente rezando por um ‘apagão’ que providencialmente desligue o ventilador” CARLOS DELPHIM NOGUEIRA DA GAMA NETO / SANTOS, SOBRE A CORRUPÇÃO NO GOVERNO carlosgama@conjeituras.com.br

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odo governo necessita de instrumentos legislativos para dar conta de situações excepcionais ou de matérias de suma gravidade a exigir pronta resposta do poder público. O problema raramente se coloca sob o parlamentarismo. Nesse sistema, ao contrário do que se imagina, o Executivo é hegemônico pelo simples fato de ser, ele próprio, resultante da conformação partidária do Congresso determinada pelas urnas. De posse da maioria das cadeiras, o primeiro-ministro impõe naturalmente a sua vontade, a menos que contrarie de tal forma o seu partido a ponto de ser destituído por um voto de desconfiança – uma rara eventualidade. Já no presidencialismo, os governos de turno não detêm necessariamente o controle do Legislativo. Nos Estados Unidos, por exemplo, as eleições de meio de mandato do ano passado privaram o presidente Barack Obama da maioria na Câmara dos Representantes, o que o obrigou, como se viu há pouco, a capitular perante a oposição na questão do limite do teto da dívida pública. Por isso mesmo, o sistema dá ao titular do Executivo a prerrogativa de baixar decretos que produzam efeitos imediatos, sobre assuntos que não podem esperar a tramitação parlamentar. Ainda no caso americano, a pretexto de defender o país do terrorismo, o governo Bush expandiu o poder da Casa Branca à revelia do Capitólio a níveis perigosamente próximos dos de

um regime autoritário. No Brasil, a Constituição de 1988, marcada pela experiência histórica da ditadura militar extinta havia apenas três anos, pendeu para a descentralização das decisões, inibindo a tendência natural do Executivo de concentrar poderes e de depender o menos possível dos humores dos políticos. Nem por isso a Carta deixou de prover o Planalto de meios para agir com relativa autonomia em assuntos de “relevância e urgência”, como consta do texto que criou as medidas provisórias (MP), assim chamadas por produzir efeitos imediatos, porém sujei-

Mais uma tentativa de eliminar o abusivo emprego de medidas provisórias para tudo tas à aprovação, mais adiante, do Legislativo – quando consideradas admissíveis. Na prática, o instituto foi degradado por sucessivos governos em um mecanismo de submissão do Congresso equivalente aos das democracias de fachada. Se o Parlamento não votasse uma MP no prazo constitucional, ela poderia ser reeditada ad aeternum; a exigência de que tratasse de questões relevantes e urgentes ficou no papel, na ausência de um filtro congressual que só deixasse passar aquelas que atendessem a tais requisitos; e, aberração das aberrações, umaMP poderiaconter quantos “contrabandos” (artigos referentes a temas sem relação com o motivo alegado para a medida) o governo quisesse. Em

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Fabiana Murer é ouro na Coreia do Sul

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No salto com vara, atleta conquista medalha inédita para o Brasil no Mundial de Atletismo ● “É o Brasil fazendo história em esporte que não é o futebol, já que este tem decepcionado tanto.” HENRIQUE SANTIAGO

● “Parabéns, Fabiana. Você é uma pessoa que merece essa conquista. Seu esforço é uma motivação para todos.” CARLOS CARVALHO

HÁ 761 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Você merece. Obrigada por trazer uma medalha, a primeira de ouro na nossa história no Mundial de Atletismo!” EDNA ENCINAS

2001, quando presidente da Câmara, o atual senador Aécio Neves, tentou suavizar as feições do Frankenstein, extinguindo as reedições e determinando o exame separado das MPs pelas duas Casas do Congresso, mas cometeu o grave erro de prever o travamento da pauta legislativaatéasmedidasseremapreciadas, depois de esgotado o prazo regimental. Com isso, o que restava de autonomia do Congresso foi para o espaço. Na semana passada, o mesmo Aéciorelatouoprojetodeemenda constitucional que procura eliminar os abusos no sistema das MPs. A proposta passou na terça-feira com o voto unânime dos 60 senadores presentes à sessão. Prevê prazos mais equitativos de tramitação nas duas Casas. Caberá às suas Comissões de Justiça se manifestar sobre a urgência e a relevância dos textos. E, finalmente, nenhuma MP poderá tratar de mais de um tema,fechando-seassimaindústria do contrabando legislativo. Por isso mesmo, sendo o que é a maioria dos políticos, teme-se pela sorte do projeto na Câmara.Diversosdelescriticamdaboca para fora a sujeição do Congresso ao Planalto, mas, desde que as suas demandas sejam atendidas, não se vexam de contribuir para o apequenamento da instituição. Nesse sentido, desalenta, masnãoespanta,areaçãodopresidente da Câmara, Marco Maia, do PT gaúcho, quando recebeu de uma comissão de 20 senadores o texto da emenda que a Casa aprovara pouco antes. “O governo”, perguntou, “está a favor ou contra?”

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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 1 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

O ato indecoroso da Câmara Primeiro, a boa notícia: a banda limpa da Câmara dos Deputados congrega 1/3 dos seus 513 membros. São os 166 deputados que, embora protegidos pelo escrutínio secreto, tiveram a decência de votar pela cassação da colega – no sentido puramente formal do termo – Jaqueline Roriz, do PMN do Distrito Federal(DF), filha do notório capo político local Joaquim Roriz. A notícia é boa porque até experientes observadores dos modos e costumes do Legislativo brasileiro calculavam que a bancada da decência seria muito mais rarefeita. Nada, nada, é um consolo. Agora, a constatação devastadora: Lula talvez tenha sido até generoso quando disse, em 1993, que havia no Congresso “uns 300 picaretas que defendem apenas seus próprios interes-

ses”. A julgar pelo desfecho da votação de anteontem, pode-se presumir que só na Câmara eles sejam ainda mais numerosos. São, antes de tudo, os 265 que absolveram a parlamentar filmada em 2006 recebendo dinheiro do pivô (e depois delator) do chamado mensalão do DEM, Durval Barbosa. A bolada se destinava ao caixa 2 da campanha de Jaqueline a um segundo mandato na Câmara Legislativa do DF. A cena foi divulgada em março último pelo portal do Estado. Aos 265 que não perderam mais essa oportunidade de induzir a opinião pública a perder as migalhas de respeito que ainda pudesse ter por seus representantes, somem-se os 20 que se abstiveram e os 62 que nem sequer compareceram à sessão. Dá um total de 347 deputados. Mesmo que um punhado deles possa oferecer desculpas aceitáveis para a abstenção ou a omissão, o número é acachapante. Não custa lembrar que,

em decisão aberta, o Conselho de Ética havia aprovado por 11 a 3 o pedido do PSOL de abertura de processo contra Jaqueline por quebra de decoro, para a sua subsequente expulsão da Casa. A rigor, os que preservaram o mandato da deputada agiram como quem faz um seguro para proteger a própria carreira. Afinal, mais dia, menos dia, podem surgir contra qualquer deles provas irrefutáveis de bandalheiras que tenham praticado antes de se aboletar no Legislativo federal, pondo em xeque o bem-bom de que desfrutam. A cassação de Jaqueline abriria um intolerável precedente. Criaria uma legítima jurisprudência política, segundo a qual o procedimento indecoroso é incompatível com o processo eleitoral e a atividade parlamentar, seja quando e em que circunstâncias haja ocorrido. Não se trata de refazer a história, como alegam desavergonhadamente os defensores

da impunidade. A razão é simples: os 100.051 eleitores do DF que em outubro passado marcaram na urna eletrônica o nome de Jaqueline não sabiam que ela recebera dinheiro sujo ao menos uma vez, no vasto esquema rorista de corrupção mantido pelo então governador José Roberto Arruda, do DEM. (A propósito, também ele foi flagrado embolsando R$ 50 mil do mesmo operador Durval Barbosa que financiou Jaqueline.) Ainda que 100.050 daqueles eleitores não dessem a mínima para o delito posteriormente evidenciado, bastaria um único caso de lesa-eleitor para tornar ilegítimo o mandato da deputada. Contesta-se a Lei da Ficha Limpa porque ela impede o registro da candidatura de políticos que tenham sido inculpados por fatos anteriores ao advento da medida saneadora. O argumento é que as leis só podem retroagir em benefício dos réus. Na rea-

lidade, porém, o passado de um candidato não pode conter transgressões ao princípio constitucional da moralidade na vida pública. Assim também na questão do decoro parlamentar. Trata-se de uma exigência que precede o momento em que o político põe os pés pela primeira vez numa Casa legislativa. Já para os deputados que seguraram a cadeira de Jaqueline Roriz, para garantir as deles em circunstâncias similares, é como se a integridade não fosse parte inamovível do caráter de cada qual. Teria uma espécie de prazo de validade às avessas e poderia, ou não, se manifestar conforme a circunscrição territorial em que se movem. Isso, em meio à aberração do voto secreto no Parlamento. Nesse sistema de valores virado de pontacabeça, nada mais natural do que a queixa de Jaqueline, antes da votação, de que a imprensa, ao expô-la, havia destruído a sua “honra”.

A crise das escolas técnicas

Assalto em nome da saúde

á duas semanas, a presidente Dilma Rousseff anunciou a criação de mais 208 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) – 88 com término de construção previsto para o segundo semestre do próximo ano e as unidades restantes com a promessa de serem inauguradas até o final de seu mandato, em 2014. Somando os novos estabelecimentos aos 354 já inaugurados, a rede federal de ensino técnico deverá atender cerca de 600 mil alunos, quando todas as unidades estiverem entregues. Ao fazer esse anúncio, Dilma reafirmou a promessa feita na campanha eleitoral de 2010, de expandir o ensino técnico federal, por meio do lançamento de novas escolas e pela ampliação do número de estudantes nos cursos técnicos a distância. As metas são ambiciosas, mas nada garante que o governo conseguirá cumpri-las, principalmente se levados em conta os problemas que os IFs e os Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets) vêm enfrentando ao longo deste ano. Como esses estabelecimentos não dispõem de docentes em número suficiente, cerca de 20 mil alunos ficaram sem aula durante mais de dois meses, no primeiro semestre. A falta de professores concursados de matemática, física, química e eletricidade comprometeu o cronograma do ano letivo e vem afetando a qualidade do ensino. E, desde o término das fé-

ais um assalto ao bolso do contribuinte é planejado em Brasília, com a tolerância, e até com algum estímulo, da presidente Dilma Rousseff. O pretexto é conseguir dinheiro para financiar os programas de saúde. Segundo o discurso oficial, faltam recursos para o governo cumprir as determinações da Emenda Constitucional n.º 29 – ou, mais precisamente, da regulamentação em exame na Câmara dos Deputados. Parlamentares aliados já decidiram votar esse projeto no fim de setembro. A presidente recomenda: se quiserem mesmo votar, arranjem uma fonte de financiamento. Sem isso, qualquer elevação da despesa será, segundo ela, um presente de grego. A Emenda n.º 29, aprovada em setembro de 2000, estabeleceu uma despesa mínima anual com ações e serviços públicos de saúde. Em cada exercício, até 2004, a União deveria destinar a essa área o montante do ano anterior corrigido pela variação nominal do PIB. Na ausência de regulamentação, a regra inicial continuaria em vigor a partir de 2005. Um projeto foi apresentado em 2008 no Senado. A proposta foi alterada na Câmara. Uma das mudanças mais importantes foi a inclusão, num substitutivo do deputado Pepe Vargas (PT-RS), de uma Contribuição Social para a Saúde (CSS), com as mesmas características da extinta Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira

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administração no setor. Aumentar recursos é abrir novos ralos, e o problema não será resolvido. Mas se a “presidenta” fechar a torneira do dinheiro para as ONGs (de reputação muito duvidosa), reduzir seu Ministério em, no mínimo, 40% e fizer uma grande redução dos cargos em comissão, parte significativa do problema será solucionada. Sem falar em trazer de volta aos cofres públicos a dinheirama surrupiada pela imoralidade de muitos políticos. Imposto novo? Ah, tenham santa paciência, ninguém aguenta mais! ADEMAR MONTEIRO DE MORAES ammoraes57@hotmail.com São Paulo

DORA KRAMER ‘Muita sede ao pote’

Ao dar eco à reportagem de capa da Veja desta semana, segundo a qual, acredite se quiser, eu estaria conspirando contra o governo Dil-

rias de julho, mais da metade dos IFs e dos Cefets não retomou, total ou parcialmente, as atividades didáticas previstas para o segundo semestre, por causa de uma greve de professores e servidores deflagrada por razões salariais e melhoria das condições de trabalho. Em alguns Estados, como a Paraíba, todos os IFs e Cefets estão parados. Pelo balanço do comando nacional de greve, em São Paulo, Goiás e Alagoas, 90% das atividades estariam suspensas. Além de reivindicar reajuste salarial, os docentes e servidores reclamam da falta de in-

Ampliar a rede de escolas técnicas é fácil, o problema é fazê-las funcionar como devem fraestrutura básica. Segundo eles, vários IFs e Cefets funcionam em edifícios precários, sem água e com frequente quedas de energia. Outras unidades não dispõem de laboratórios e insumos para pesquisas. “Criaram o instituto, mas não construíram estrutura alguma. Fomos colocados em prédios adaptados. Temos campi em funcionamentonomesmoespaço em que já existiu um albergue”, diz Nilton Coelho, presidente do Sindicato Nacional dosServidoresFederaisda EducaçãoBásica, ProfissionaleTecnológica (Sinasefe), no Estado de Alagoas. “A expansão da rede deescolastécnicasvalorizaoensino,masfaltaassistência”,afirma Rosane de Sá, coordenadora do Sinasefe em Goiás. “Precisa-

ma, Dora Kramer fecha os olhos para os crimes cometidos pela revista na apuração do caso. E não foram poucos: tentativa de invasão de domicílio do quarto de hotel onde eu estava hospedado, falsidade ideológica para tentar plantar na minha suíte documentos que não me pertenciam e violação de privacidade ao fotografar clandestinamente os corredores do hotel. Práticas que em muito lembram o recente escândalo do tabloide britânico News of the World e que, como bem disse Alberto Dines, reconduzem o jornalismo político à Era da Pedra Lascada. Não tenho o que esconder. Sou governista e, como cidadão brasileiro, militante político e dirigente partidário, tenho legitimidade de receber companheiros e amigos que ocupem ou não cargos públicos. JOSÉ DIRCEU, ex-ministro da Casa Civil rodrigoc@entrelinhas.net São Paulo

mosdemaisconcursos paraefetivar mais docentes”, diz o professor Laerte Moreira, que dirige a seção paulista da entidade. Para tentar acabar com greve, o governo anunciou um acordo entre os Ministérios do PlanejamentoedaEducaçãocomo Sindicato Nacional dos Docentes dasInstituiçõesdeEnsinoSuperior (Andes), comprometendose a reajustar os vencimentos da categoria em 4%. Mas os professores dos IFs e Cefets continuam reivindicando 14,67% de aumento, para compensar as perdas salariais dos últimos anos. No caso dos servidores, o problema é ainda mais difícil, pois não houve nem mesmo acordo que possibilitasse ao governo prever o aumento de despesa no orçamento de 2012. Os Ministérios da Educação e do Planejamento afirmam que os diretoresda Sinasefe suspenderamanegociaçãode“formaunilateral” e os acusam de terem optado pela continuidade da greve como forma de “manifestação de conflito”. Seja lá o que isso quer dizer, uma coisa é certa: o mesmo governo que promete expandir a rede federal de ensino técnico, inaugurando88 estabelecimentos no próximo ano e outros 120 até o final de 2014, não consegue fazer funcionar as escolas já existentes. Os problemas dos IFs e Cefets são fruto de mais uma decisão equivocada do governoLula,queestimulouacriação desenfreada de centros de educaçãotecnológicasem qualquer planejamento. E, infelizmente,nessecampoDilmaparece estar seguindo o exemplo de seu antecessor.

“Os nobres deputados federais enterraram de vez a Lei da Ficha Limpa. Será que teremos missa de sétimo dia?” MILTON BULACH / CAMPINAS, SOBRE A ABSOLVIÇÃO DE JAQUELINE RORIZ mbulach@gmail.com

“De onde menos se espera é que realmente não sai nada que preste!” LUIZ RESS ERDEI / OSASCO, IDEM gzero@zipmail.com.br

M

(CPMF), também conhecida como imposto do cheque. A alíquota seria bem menor, 0,1%, mas isso não eliminaria os principais defeitos desse tributo. É uma aberração ter de pagar uma contribuição sobre o valor do cheque (ou do saque) depois de ser onerado com os impostos já cobrados na compra de qualquer bem ou serviço. Além do mais, essa contribuição é cumulativa ao longo de toda a cadeia de circulação. A isso deve acrescentar-se um detalhe nada desprezível: instituído o tributo, sempre haverá o risco de aumentos da alíquota por meio de novas leis aprova-

O governo não precisa de mais dinheiro para a saúde. Mas precisa de melhor administração das facilmente por parlamentares empenhados em gastar. Alguns parlamentares fizeram declarações contrárias ao estabelecimento de qualquer novo tributo. Mas o governo, se quiser, saberá como conseguir apoio suficiente para instituir mais um tributo. Mas a campanha pela criação da CSS começa com força. O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), tomou a dianteira. “Precisamos”, disse, “ de uma fonte extra para a saúde. A CSS não está fora da mesa.” Mas o governo e seus aliados poderão negociar um novo projeto até dia 28, data prevista para votação. De qualquer forma, a ideia de um novo tributo dificilmente será descartada, embora se dis-

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Governo confirma mínimo de R$ 619,21

1.638

Valor proposto para 2012 é maior que o projetado pelo governo na LDO enviada ao Congresso em abril ● “Como assim? Não vão equiparar o salário ao dos ministros do Supremo?” FRANCIS FRANÇA

● “Se alguém conseguir pagar aluguel, luz, água, cesta básica, vestuário com R$ 620 me conta.” JEAN WARDE ROCHA

HÁ 762 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Ainda é pouco, mas qualquer reajuste é muito bem-vindo. Antes pouco do que nada.” FABIANA FUKASE

cutam algumas alternativas, como a destinação obrigatória de uma parte da renda do pré-sal para a política de saúde. De fato, o governo não precisa de recursos adicionais para o setor de saúde. A União já arrecada cerca de 24% do PIB. Descontadas as transferências a Estados e municípios, fica com cerca de 20%. A carga tributária total, incluídas as contas estaduais e municipais, fica em torno de 35% do PIB. É uma tributação muito maior que a de outras economias emergentes e superior à de vários países desenvolvidos. Em vez de recolhermaisdinheiro,éprecisomudar as práticas orçamentárias e os padrões administrativos em todos os níveis de governo. Além do mais, a arrecadação federal, nos últimos anos, cresceu mais que o PIB e nunca faltou dinheiroparaprogramaseprojetos. Qualquer novo imposto só favorecerá a gastança. Agestãoorçamentáriaéprejudicada por excesso de vinculações – a própria Emenda n.º 29 é um exemplo disso – e pelo desperdício, gerado pela ineficiênciaadministrativaepela corrupção. “Acho uma temeridade alguém achar que, aprovando um porcentual de gastos, vai resolver o problema da saúde”, disse a presidente na terça-feira. Ela está certa. Só falta agir de acordocomessa opiniãoetrabalhar por novos critérios de eficiência e de seriedade. Se tiver sucesso, vai realizar muito mais com o mesmo dinheiro. O mais difícil será conseguir apoio para isso. O primeiro obstáculo será a fome de poder e de dinheiro de seu partido.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 2 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Notas & Informações

O BC cede à pressão Com o corte de juros anunciado nesta quarta-feira, os diretores do Banco Central (BC) apagaram a imagem de autonomia da instituição, já muito embaçada nos últimos oito meses. Deixariam pelo menos uma dúvida razoável, a seu favor, se empurrassem a decisão para os dias 18 e 19 de outubro, datas previstas para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Até lá, teriam informações muito mais claras sobre a evolução da crise internacional, o esfriamento da economia brasileira e a tendência da inflação interna. Sobram razões, neste momento, para considerar precipitado o afrouxamento da política anti-inflacionária. Mas o fato mais grave é a perda de credibilidade do presidente do BC, Alexandre Tombini, e, de modo ge-

ral, da própria instituição. Formar expectativas é uma das funções mais importantes da autoridade monetária. Ninguém pode exercê-la de forma satisfatória, quando se perde a confiança do auditório. Se um alto funcionário aceita um rebaixamento de status, em nome de quem estará se dirigindo à sua plateia? O corte dos juros de 12,5% para 12% surpreendeu. A redução foi ampla e veio antes do momento considerado propício por renomados economistas. Esperava-se pelo menos algum esforço para manter as aparências, depois das pressões explícitas da presidente da República e de vários ministros. A decisão espantou principalmente quem ainda esperava um mínimo de prudência. A inflação voltou a subir, depois de uma breve trégua no meio do ano. O IPC-S, um índice de preços ao consumidor atualizado semanalmente pela Fundação Getúlio Vargas, subiu 0,4% em agos-

to e 4,17% no ano. O acumulado em 12 meses chegou a 7,1%, índice igual ao apurado para o IPCA-15 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na semana passada, economistas do mercado financeiro e de consultorias independentes ainda projetaram uma alta de 6,31% em 2011 para o IPCA, o indicador oficial. Para 2012 a estimativa ficou em 5,2%. Esses cálculos confirmam, no essencial, a tendência apontada pelo próprio Copom na ata de sua última reunião, em julho: inflação na meta, provavelmente só no primeiro semestre de 2013. Juros de 12,5% e câmbio de R$ 1,60 por dólar foram tomados como referências para essa projeção. Teria o BC renunciado à tarefa de levar a inflação ao centro do alvo até mesmo em 2013? Essa pergunta é justificável por mais de uma razão. A primeira é a própria evolução dos índices. Outro fator importante é o qua-

HC sob ameaça

E

stá pronto para ser votado pela Assembleia Legislativa de São Paulo projeto de lei complementar que, sob a justificativa correta de atender à necessidade de mais recursos para um hospital que se transformou em modelo de atendimento, cria uma aberração administrativa e institucionaliza um desvio ético no serviço público. Trata-se do projeto de lei complementar apresentado em 2006 pelo então governador Cláudio Lembo que, ao transformar em autarquia especial o Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP – uma das instituições hospitalares mais importantes do País e cujos serviços são reconhecidos internacionalmente por sua excepcional qualidade –, o autoriza a atender possuidores de planos de saúde, cobrando pelos serviços que prestar. Muitas mudanças foram feitas no texto original apresentado há cinco anos, mas seus pontos essenciais foram mantidos. O projeto assegura maior autonomia aos gestores, para que a instituição possa contratar com mais rapidez profissionais que conheçam as mudanças tecnológicas mais recentes e as modernas técnicas hospitalares, como lembrou ao Estado o membro do Conselho Deliberativo do HC José Octavio Auler Júnior. Mas permite ao HC a venda de serviços de pesquisa e assistência, por meio de fundações que o apoiam. O atendimento a planos de

pessoa. A minha, não. Não sou da mesma laia que ela. Ainda bem que no mesmo dia Fabiana Murer nos dignificou um pouco mais. E não ficamos por conta só de gente como a “nobre” deputada. M. APARECIDA F. FURTADO MENIN ninamenin@terra.com.br Vera Cruz

Vingança

Sossegue, Jaqueline Roriz, sua vingança não tarda. A imprensa que você ataca, continuando a devorar o que não existe, vai acabar morrendo de fome... CARLOS P. FERNANDES FILHO c-pacheco-filho@uol.com.br São Paulo

Clareza

Senhora, reescrevendo a sua frase corretamente: “Vivemos um período em que pseudorrepresen-

saúde e a cobrança pelos serviços do HC são justificados como necessários para assegurar mais recursos à instituição e, desse modo, capacitá-la a melhorar o atendimento a todos os pacientes, sobretudo os que são atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).É um argumento frágil. Hospitais privados ou geridos por organizações sociais (OS) por meio de contrato com instituições do Estado, que lhes asseguraautonomiaadministrativa e financeira, podem optar por atender tanto os pacientes protegidos pelo SUS como os particulareseosquetenhampla-

Hospital público não pode dar tratamentos diferentes para clientes pagantes ou do SUS nos de saúde, cobrando pelos serviçosque prestam (do governo, no caso do atendimento do SUS, ou diretamente do paciente ou de seus planos de saúde, nosdemais).Trata-sedeumaescolha legítima. Não se justifica, porém, que uma instituição pública – como é, atualmente, o caso do HC e continuará sendo, mesmo se transformado em autarquia especial, como proposto no projeto – passe a cobrar por serviços que,porsuanaturezainstitucional, deveria prestar gratuitamente. Também não se justifica que um hospital público adote dois sistemas de atendimento – ouutilize o regime da “porta dupla”, como é chamado –, um para o paciente a ser atendido gratuitamente e outro para aquele

tantes da população devoram a honra de sermos brasileiros”. JOSEPH DIESENDRUCK joediesen18@gmail.com São Paulo

A honra

A diferença entre uma pobre mendiga de rua e Jaqueline Roriz é que aquela tem a honra de pedir e esta pouco “se lixa” para a honra. ALBERTO NUNES albertonunes77@hotmail.com Itapevi

Honestidade

Honestidade não é uma roupa que se usa em determinadas ocasiões, por modismo ou conveniência. Ou se é ou não se é honesto, deputada, ou não. ROSSANA BAHARLIA rbah44@yahoo.com.br São Paulo

dro econômico interno. A produção industrial tem perdido impulso, mas a demanda continua vigorosa, sustentada pelo aumento real dos salários e pelo crédito ainda em expansão, embora em ritmo decrescente. Os acordos salariais deste semestre e o aumento do mínimo – 13,6%, segundo a proposta orçamentária – deverão manter o consumidor animado ainda por um bom tempo. O Copom emitiu uma nota muito mais longa do que as anteriores para explicar sua decisão. O texto realça as preocupações com a piora do quadro internacional e aponta o possível efeito deflacionário de uma nova retração econômica. Essa tendência, no entanto, ainda não é visível nos mercados. Há apenas uma curta referência à “moderação da atividade doméstica”. Mas o detalhe mais notável é a frase sobre a “revisão do cenário para a política fiscal”, uma profissão de fé na promessa de austerida-

de do governo. No mesmo dia, porém, o Executivo apresentava a proposta orçamentária para 2012 – um projeto expansionista, com estimativa de crescimento econômico de 5% e projeção de superávit primário menor que o deste ano. (Ver editorial abaixo.) Deve sair hoje o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre. Virá com sinais de contenção da atividade industrial, explicável em parte pela valorização do câmbio e pelo aumento de importações. Mas a demanda, como se verifica diariamente, continua firme e afetando os preços. Ao dobrar a espinha do BC, a presidente Dilma Rousseff rejeitou uma das poucas heranças benditas da era Lula – a autonomia de fato da autoridade monetária, que o ex-presidente fez questão de prestigiar mesmo às vésperas de eleições importantes para seus projetos de permanência do PT no poder.

Orçamento expansionista que, por algum meio, pagará pelos serviços que receber. Se o hospital é publico, é dever do poder público que o sustenta assegurar-lhe os recursosnecessários para seu funcionamento. O poder público não pode, sob a alegação de que os recursos são escassos – e, de fato, são –, repartir com particulares a tarefa de supri-los adequadamente. Na nova situação, de acordo com as justificativas oficiais, o HC terá mais recursos e, assim, poderá investir na melhoria e na ampliação de seus atendimentos, o que resultará em benefício para todos, sobretudo para os pacientes atendidos pelo SUS. Ou, como diz Auler Júnior, a “porta dupla” assegurará “tratamento de excelência” para todos. Também esse é um argumento questionável. Mantido como uma instituição pública, o HC não pode tratar diferentemente os cidadãos, mas é muito provávelqueissovenhaaocorrercaso oprojetosejaaprovadoecolocado em prática. A instituição da “portadupla”asseguroumaisrecursos para o Incor, mas, como mostrou reportagem publicada há algum tempo pelo Estado, criou duas classes de pacientes, uma, dos dependentes do SUS, e outra, dos clientes dos planos de saúde. Para quem está na primeira, a espera é de até 14 meses por alguns procedimentos; quem está na segunda tem atendimento imediato. Com a mudança, o HC “vai poder escolher quais casos vai atender”, advertiuaespecialistaemsaúdepública Lígia Bahia – e isso é inadmissível num hospital público.

“A imagem da deputada recebendo propina coloca-a no mesmo nível dos absolvedores” A. FERNANDES / SÃO PAULO, SOBRE JAQUELINE RORIZ standyball@hotmail.com

“Ao se justificar, alegando que em 2006 era uma cidadã comum, a deputada generalizou a corrupção pelo povo brasileiro” SERGIO S. DE OLIVEIRA / MONTE SANTO DE MINAS (MG), IDEM ssoliveira@netsite.com.br

P

rometer uma coisa e fazer outra muito diferente é caminho certo para o governo perder a confiança da sociedade e destruir a credibilidade de suas políticas. Mas foi o escolhido para a proposta do Orçamento de 2012, que a presidente Dilma Rousseff encaminhou ao Congresso na quartafeira. Ao aumentar os gastos mais do que as receitas e criar facilidades para o cumprimento da meta de superávit estabelecida na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a proposta contradiz promessas feitas e reiteradas nos últimos dias pelos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior, de que a política fiscal seria mais rigorosa pelo menos até o fim de 2012, para aliviar o peso da política monetária no combate às pressões inflacionárias. Além de fazer uma projeção otimista das receitas em 2012, o que dá mais folga para programar aumento de gastos em ano eleitoral, a proposta exclui o compromisso de cumprimento da meta cheia de R$ 139,8 bilhões para o superávit primário. Ao permitir que sejam excluídos da meta até R$ 25,6 bilhões dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), na prática ela reduz a exigência a R$ 114,2 bilhões. O abatimento dos investimentos do PAC causa estranheza porque, no início da semana, o ministro Guido Mantega havia anunciado a decisão de elevar em R$ 10 bilhões a meta de superávit para 2011 e

de manter, em 2012, uma política fiscal igualmente rigorosa. Se o governo está, de fato, empenhado em cumprir a meta cheia do superávit de 2012, como reiterou a ministra Miriam Belchior, certamente transmitiria maior confiança à sociedade se deixasse esse compromisso explícito na proposta. Ao criar a possibilidade de, na prática, não cumprir a meta, a proposta coloca em dúvida a sinceridade do governo nessa questão essencial para se avaliar a qualidade da política fiscal para o próximo ano. Difícil foi a tarefa da ministra Miriam Belchior de tentar

A peça contradiz as promessas e objetivos de austeridade fiscal que o governo proclamava explicar o inexplicável. A ministra reconheceu acontradição do governo,masdissequeapossibilidade de exclusão dos investimentos do PAC da meta “é apenaspara deixarumamargem para usar”, mas o uso “não está no horizonte”. Há outros pontos da proposta quecaracterizamoafrouxamentoda políticafiscal. Nossete primeiros meses de 2011, o governo conseguiu, como prometera, contero crescimentodas despesas, cuja expansão foi menor do que a da economia. No ano que vem,noentanto,asdespesasprimárias (que não incluem os juros e as amortizações da dívida pública) crescerão 15,9% em relação aos gastos previstos para 2011, enquanto o aumento previsto do PIB, em valores nomi-

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Aluno ganhará R$ 1,9 mil na Argentina

1.642

Será ‘prêmio’ a quem terminar ensino médio no país; medida busca diminuir repetência e evasão ● “Legal um incentivo, mas passar de ano, tirar notas boas e terminar os estudos são obrigações de qualquer estudante.” ELTON LISBOA

● “O que move o ser humano é o dinheiro, uma vez que vivemos em um mundo totalmente consumista e egocêntrico.” BRUNA PINIS SPITI

HÁ 763 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “De jeito nenhum! A nota já é vista como comércio: aluno só faz as tarefas por valer nota e não para aprender.” YANA RIBEIRO MAGALHÃES

nais,éde10,4%.Ouseja, ogoverno custará proporcionalmente mais para o contribuinte. É importante ressaltar que, para 2012, o governo previu um crescimento de 5% do PIB, uma estimativa mais otimista do que ade economistas do setor privado, de no máximo 4%, por causa dos temores de que a economia americana entre em recessão, afetando o desempenho da economia global. Com a estimativa decrescimento maior da economia, maior também se torna a projeção das receitas, o que abre espaçoparaaampliaçãodosgastos – que, mesmo assim, crescerão mais do que a arrecadação. Outro parâmetro utilizado na montagemdapropostadoOrçamentode 2012é a inflação, que o governo estima em 4,8%. Ou seja, nem o governo admite que a inflação será trazida para o centro da meta inflacionária definidapeloConselhoMonetárioNacional, de 4,5% no próximo ano. Observe-se,também,que,embora tenha feito reserva para o cumprimento da decisão do Supremo Tribunal Federal que determina o pagamento de todos os precatórios vencidos de uma só vez, a proposta não inclui outras despesas que surgirão em 2012, como os reajustes salariaisdecorrentesdareestruturação de carreiras e da fixação de novo teto para o setor público, além das compensações a serempagasaosEstadospeladesoneração das exportações decorrentes da Lei Kandir. É, por isso, uma proposta orçamentária pouco realista e que antecipa o afrouxamento da gestão fiscal em 2012 – ano eleitoral.

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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 3 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

O consumo continua forte Sustentado pelo aumento do emprego, pelos ganhos salariais e pela expansão do crédito, o consumo privado continuou crescendo mais que a oferta interna de bens e serviços no segundo trimestre, quando o Produto Interno Bruto (PIB) foi 0,8% maior que no primeiro, segundo o IBGE. No trimestre anterior, a economia havia crescido 1,2%. Entre abril e junho o consumo privado foi 1% maior que nos três meses anteriores e 5,5% superior ao de um ano antes. A expansão trimestral foi a 31.ª consecutiva. O descompasso entre a demanda dos consumidores e a oferta interna explica em boa parte a vigorosa e prolongada alta de preços, interrompida brevemente no meio do ano e agora retomada, como confirmam os últimos dados

de inflação. Também o consumo do governo – o custo dos serviços prestados pelas administrações federal, estadual e municipal – continuou em expansão, com aumento de 1,2% entre o primeiro trimestre e o segundo. Quando se examinam os novos dados gerais da economia brasileira, fica evidente, mais uma vez, a precipitação do Banco Central (BC) ao decidir o corte dos juros básicos. O esfriamento econômico, alegado pelo governo e pelo BC para justificar essa decisão, é apenas parcial. É muito mais sensível do lado da oferta interna de bens e serviços. O cenário é diferente do lado da demanda. O crescimento do consumo familiar foi maior no segundo trimestre do que no primeiro, quando havia ficado em 0,7%. E continua vigoroso, como indica, por exemplo, o número de veículos emplacados em agosto, 6,9% maior que o de julho e 4,7%

maior que o de um ano antes. Novos ganhos para os trabalhadores devem ocorrer no segundo semestre e já está garantido um aumento de 13,6% para o salário mínimo. Somados esses fatores a um orçamento expansionista para 2012, ano de eleições, como se pode apostar num arrefecimento da inflação? O próprio governo embutiu na proposta orçamentária uma previsão de crescimento econômico de 5%. A estimativa oficial para 2011 está em torno de 4%. O mercado prevê menos que 4%. O investimento em máquinas, equipamentos, imóveis e infraestrutura, no segundo trimestre, foi 1,7% maior que no primeiro. Essa expansão dependeu, em parte, da importação de bens de capital. O aumento das compras externas foi impulsionado tanto pelo consumo quanto pelo investimento. Do primeiro para o segundo trimestre a produção indus-

trial avançou 0,2%, mas esse resultado ligeiramente positivo dependeu essencialmente das atividades extrativas. A indústria de transformação, segundo o IBGE, ficou estagnada. Esses dados da produção fabril podem até parecer muito pessimistas. De toda forma, as informações parciais disponíveis até agora apontaram uma desaceleração. A perda de impulso resultou principalmente das condições de competitividade da indústria brasileira, prejudicada pela valorização do real – seus produtos ficaram mais caros que os estrangeiros. O câmbio muito valorizado se somou a outras desvantagens bem conhecidas e genericamente descritas como “custo Brasil”. A redução dos juros básicos, neste momento, não resolverá nenhum desses problemas. O problema da indústria não está no lado da demanda, mas na formação de custos, por causa de fatores como o excesso de

impostos, as deficiências da infraestrutura e o alto preço da energia. Se a demanda interna crescer com mais vigor, pressionará mais fortemente os preços e exigirá mais importações, oferecendo um mercado mais amplo aos produtores de fora. Juros básicos menores não tornarão muito mais fácil o investimento industrial, até porque a maior parte do financiamento de longo prazo é concedida em condições melhores que as do mercado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A criação de um mercado para títulos de longo prazo depende de vários outros fatores, incluída uma gestão austera e mais equilibrada das contas públicas. Por enquanto, só diretores do BC parecem acreditar nas promessas de austeridade. Até pagaram adiantado, cortando os juros antes da prometida contenção de gastos.

Concessão mais que onerosa

Dinheiro para ‘cartolas’

o auge da era da tecnologia da informação, em que avançados sistemas de gestão asseguram o controle total dos dados de cada departamento, seja do mundo corporativo, seja da administração pública, a Prefeitura da cidade mais desenvolvida do Brasil controlava “no olho” o pagamento da outorga onerosa. Esse instrumento é uma concessão, também conhecida como solo criado, feita pelo Município para que o proprietário de um imóvel possa construir acima do limite fixado pelo coeficiente de aproveitamento básico do terreno, mediante contrapartida financeira a ser paga para a Prefeitura. Sem nenhuma sofisticação que fosse além de uma autenticação falsa de pagamento, uma quadrilha “comprovou”, por quase duas décadas, o pagamento da concessão e, assim, conseguia os alvarás para as construções. Descoberta a fraude, apontada como uma das maiores da história da cidade, o prefeito Gilberto Kassab determinou o embargo de 22 empreendimentos de luxo. O prejuízo para os cofres públicos é estimado entre R$ 50 milhões e R$ 100 milhões. A outorga onerosa foi criada com o objetivo de recuperar parte dos investimentos realizados pela administração pública para suprir as demandas criadas pelos novos polos geradores de tráfego e de todo tipo de serviço público. Na capital, o instrumento sempre foi tema de polêmicas. Desde o iní-

maneira como foi firmado o convênio entre o Ministério do Esporte e o sindicato das associações de clube de futebol para o cadastramento das torcidas organizadas, a rapidez com que todo o dinheiro foi liberado, o fato de, oito meses depois, rigorosamente nada ter sido feito pelo contratado e, mesmo assim, o Ministério decidir que nada mudará, sob a justificativa de que tudo está dentro do que foi planejado, retratam o estilo de gestão do governo petista dos planos, projetos e dos recursos públicos destinados à realização da Copa de 2014. Neste caso, há uma descarada liberação de dinheiro do contribuinte em favor de uma entidade sem qualificação ou competência para executar o convênio, mas dirigida por conhecidos “cartolas” – alguns de representatividade questionada nos seus clubes –, cujo antigo prestígio parece encantar o governo. Sem licitação, e sem que o responsável pelos serviços tivesse apresentado documentação que comprovasse de maneira inequívoca sua qualificação para realizá-los, o Ministério do Esporte assinou, no dia 31 de dezembro de 2010 – último dia do segundo mandato do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, é conveniente lembrar –, convênio com o Sindicato Nacional das Associações de Futebol Profissional e suas Entidades Estaduais de Administração e Ligas (Sindafebol) para cadastrar as torcidas organizadas, como mostrou reporta-

N

ameaça (2/9. A3), o Hospital das Clínicas da FMUSP gostaria de esclarecer, em primeiro lugar, que jamais o presidente em exercício do Conselho Deliberativo, José Otávio Costa Auler Jr., disse, como afirma incorretamente o editorial, que “a porta dupla assegurará tratamento de excelência para todos”. O que foi dito é que no HC todos os pacientes, sejam do SUS ou conveniados, têm acesso aos mesmos tratamentos, equipe médica e equipamentos que o hospital oferece, sempre com a excelência que caracteriza o HC. E que isso permanecerá assim. Sobre a transformação do HC em autarquia especial, cabe ressaltar que ela tem como objetivo garantir maior autonomia na gestão de recursos humanos. Com isso será possível modernizar nossos serviços e processos de gestão, para que possamos oferecer sempre o melhor serviço possível à população. É fundamental esclarecer, mais uma vez, que o projeto vai

cio da cobrança da outorga, o governo municipal nunca conseguiu estabelecer uma correta correlação entre o benefício e as regras do plano diretor, das leis de uso do solo e do Estatuto das Cidades. A má aplicação da outorga onerosa acabou por permitir o surgimento de edificações que, além de comprometer a paisagem urbana, se transformaram em pontos geradores de tráfego em ruas sem condições de absorver aumento de trânsito, assim como de demanda por vagas de estacionamento e por transporte público. Na Avenida Faria Lima e nas redonde-

Durante quase 20 anos uma fraude muito primária sangrou os cofres da Prefeitura zas do Parque do Ibirapuera, por exemplo, são vários os empreendimentos apontados por urbanistas como exemplos de agressões ao meio ambiente e à ordem urbana. Tudo isso resulta da dificuldade de colocar em prática o instrumento que foi criado para estimular o adensamento construtivo de forma harmônica e para capitalizar recursos. Os investimentos realizados pelo poder público nessas áreas, porém, sempre foram muito superiores aos recursos proporcionados pela outorga. Dessa forma, o controle do uso do solo não tem favorecido, como deveria, o interesse coletivo. A fraude agora descoberta é mais uma comprovação desse descontrole. Além de autenti-

garantir a qualquer paciente, seja na modalidade pública ou não, acesso ao mesmo tratamento, uma vez que todos os cidadãos têm direito ao atendimento SUS. O HC-FMUSP reitera que sua vocação é e será sempre o atendimento gratuito à população, e o investimento permanente em ensino e pesquisa. VICTOR RAMOS, assessor de Imprensa do HC-FMUSP victorsramos@yahoo.com São Paulo

N. da R. – Em nada, rigorosamente, o missivista contesta o editorial citado. Apenas tenta dizer, com outras palavras, o que lá se diz – e que sua carta confirma. Se, como ele afirma, a vocação do HC-FMUSP “é e será sempre o atendimento gratuito à população”, que a reputada instituição hospitalar siga sua vocação e abandone a ideia da “porta dupla”, isto é, do atendimento pago pelo paciente, diretamente ou por intermédio de plano de saúde.

cações bancárias falsas de pagamentos não realizados, arquitetos, engenheiros, intermediários e donos de construtoras se valiam de outra manobra igualmente criminosa: usavam um valor muito abaixo do IPTU, base do cálculo da outorga onerosa, para fixar o total a ser pago ao Município. No caso de um prédio comercial da Avenida Faria Lima, a fraude permitiu que uma dívida de R$ 4 milhões que deveria ter sido paga em 1994 fosse quitada com meros R$ 184 mil. Além disso, intermediários que faziam a ponte entre o Município e donos de construtoras conseguiam que o pagamento fosse realizado por meio de títulos da dívida pública ou precatórios. Revelado o escândalo, a Prefeitura anunciou que reforçará a fiscalização da comprovação de pagamentos de obras antes daemissãodealvarás,providência elementar para quem administra dinheiro público. SegundoosecretáriodeHabitação, Ricardo Pereira Leite, os alvarás eram concedidos porque os documentos apresentados davam a impressão de que haviam sido pagos.“Nãosou especialistaem falsificação para detectar o que era efetivamente falso.” Nãoéprecisoqueasautoridadessejam especialistasemfalsificação – até porque não havia sofisticação nenhuma na ação da quadrilha –, mas apenas que façamrespeitaros procedimentos básicos da administração, que permitem verificar se os recursos indicados em guias apresentadas por empresas, como tendo sido pagas, entraram de fato nos cofres públicos.

“Esse 0,5 ponto porcentual vai custar caro, o governo nunca deu ponto sem nó. Vem aí a nova CPMF!” CONRADO DE PAULO / BRAGANÇA PAULISTA, SOBRE A REDUÇÃO DA TAXA DE JUROS conrado.paulo@uol.com.br

“Dona Dilma, o dinheiro desviado na corrupção governamental não pode ser a tal fonte de receita para a saúde que a senhora tanto pleiteia?” MYRIAN MACEDO / SÃO PAULO, CASO PARA UMA ‘GERENTONA’ myrian.macedo@uol.com.br

A

gem do Estado (31/8). O objetivo do cadastramento seriagarantirasegurança etranquilidade nos estádios durante a realização da Copa do Mundo e é parte do Projeto Torcida Legal. Esse projeto, lançado em 2009, surgiu das discussões entreos Ministérios daJustiça edo Esporte, o Conselho Nacional de Justiça, o Conselho Nacional dosProcuradores-Gerais doMinistério Público dos Estados e daUniãoeaConfederaçãoBrasileira de Futebol. Entre outros objetivos, ele pretende tipificar criminalmente condutas que prejudicam o futebol, combater a violência nos estádios e punir

Mais de R$ 6 milhões do Ministério do Esporte para um Sindicato que não cumpriu o contrato fraudes nos resultados. Uma das providências práticas previstas no projeto é o controle de acesso e o monitoramento dos torcedores, para que os infratores possam ser rapidamente identificados e punidos. Para isso, é necessário cadastrar as torcidas organizadas e todos os seus membros, que passariam a dispor de uma carteira de identificação a ser apresentada no momento da compra da entrada no estádio. O Sindafebol foi incumbido de fazer esse cadastramento. O convênio é estranho não apenas porque foi assinado sem prévia licitação. Desde o início, o processo deixou de seguir os ritos necessários para a garantia da lisura da contratação de serviços pelo setor público. Com base

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PIB cresce só 0,8% no 2º trimestre

1.869

Entre membros do Brics, PIB brasileiro só não cresceu menos, no período, que o da África do Sul ● “O governo exagerou na alta dos juros, o que resultou forte desaceleração da indústria, causando uma grande queda no crescimento do PIB.” FRANCISCO RIBEIRO

● “Sem incentivo fiscal fica difícil para a indústria ajudar.” ALBERTO YOUSSEF

HÁ 764 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Inaugura-se o princípio do fim. Em breve, teremos máquinas de remarcação de preços, férias coletivas, demissões, etc.” TETSUO SHIMURA

apenas em orçamentos e atestados de capacidade técnica apresentadospeloprópriointeressado, o Ministério do Esporte levou menos de dois meses para aprovar a celebração do contrato. Em abril, sem que nada tivesse sido feito, o Ministério liberoutodoodinheiroparaoSindafebol. Foram R$ 6,2 milhões. O presidente do Sindafebol e ex-presidente do Palmeiras, MustafáContursi,disseao Estado que advertiu o governo de que a entidade não tinha experiência nesse tipo de trabalho. Mas “estava à disposição do Ministério”, com o qual “tem vários entrosamentos”, citando entre estes o com o assessor especial de futebol da pasta, Alcino Reis. Esses “entrosamentos” devemserpoderosos,pois,mesmocomressalvasdesuaassessoria jurídica, o convênio foi rapidamenteaprovadopeloMinistério e assinado por seu secretário executivo, Waldemar Manoel Silva de Souza, e por Reis. E aonde foi parar o dinheiro? Contursi disse que está numa conta bancária controlada por ele.DissetambémqueoSindafebol está analisando se poderá cumprir o contrato no novo prazoquelhefoiconcedido.Aexplicação é no mínimo estranha. Se apresentoudocumentosassegurando que podia fazer o trabalhoerecebeuodinheiro,oSindafebol não tem de analisar nada. Tem de fazer rapidamente o que já deveria ter começado a fazer ou devolver o dinheiro, com as multas e os encargos devidos – e asresponsabilidadesdosfuncionáriosqueaprovaramaassinatura desse convênio têm de ser apuradas.

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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 4 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

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Plinio Villares Musetti

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Notas & Informações

Um verdadeiro espanto! “Esgoto a céu aberto, falta de professores e servidores, de salas de aula, de laboratórios, de segurança, de ônibus, de água, alunos trabalhando como funcionários, hospital veterinário fantasma.” Este é o retrato do câmpus da Unidade Acadêmica de Garanhuns (UAG), vinculada à Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRP), inaugurada com banda de música e foguetório pelo presidente Lula em 2005 e anunciada, como tantas outras obras que se inserem na célebre galeria das “nunca antes”, como “a primeira extensão universitária a ser instalada no País”, conforme está registrado no site da UFRP. De acordo com depoimentos de professores e alunos colhidos pela repórter Tânia Monteiro (Estado, 30/8), a unidade de Garanhuns, festivamente apresen-

tada pelo fogueteiro-mor como pioneira na interiorização do ensino superior do País, “está em coma profundo, na UTI, precisando de uma junta médica para salvá-la”. A visita da repórter ao câmpus da UAG, onde era ministrada aula inaugural do curso de Agronomia, se deu no mesmo momento em que, a cinco quilômetros dali, na Universidade Estadual de Pernambuco, a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Educação, Fernando Haddad, participavam de aula inaugural do curso de Medicina. Esta foi realizada em sessão solene, em instalações adequadas. Aquela, por falta de salas de aulas, deu-se num auditório improvisado. Um espanto! Em relação ao qual, como era de esperar, os estudantes não se mantiveram indiferentes: “A dificuldade é tão grande para entrar aqui”, ironizou o calouro Hugo Amadeu, “e, quando chegamos, vemos que a dificuldade será ainda maior pa-

ra sair aprendendo alguma coisa”. A UFRP tem cerca de 12 mil alunos – ou 14 mil, pois há controvérsia no site oficial –, mil professores, 900 técnicos e metas ambiciosas traduzidas numa linguagem retumbante: “Atividades voltadas para a busca intensa do conhecimento científico nas áreas de Ciências Agrárias, Humanas e Sociais, Biológicas, Exatas e da Terra, tanto para a evolução educacional e tecnológica do Estado quanto para atender a necessidades e anseios da sociedade”. É como se define a universidade que conferiu a Lula, bom conterrâneo, o título de Doutor Honoris Causa. Mas o que se vê nos campi revela uma realidade bem menos animadora. O professor Wallace Telino, presidente da Associação de Docentes da universidade, chama a atenção para a evasão de alunos e professores, o que se explicaria pelo fato de o governo estar “preocupado com o número de uni-

O balanço da Justiça

O

último balanço das atividades do Poder Judiciário, feito pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), revela que a instituição está longe de superar seus problemas estruturais. Apesar dos investimentos em informatização e digitalização de processos, criação de novas varas, expansão dos Juizados Especiais e contratação de mais juízes e servidores, os 91 tribunais do País permanecem lentos e ineficientes. Em 2010, as despesas de custeio e investimento das Justiças Estaduais, Federal e Trabalhista custaram aos cofres públicos R$ 41 bilhões – valor equivalente a 1,12% do Produto Interno Bruto (PIB), a 2% dos gastos da União e dos Estados e a R$ 212,37 por habitante. O montante foi 3,7% superior ao de 2009. Em 2010, o Poder Judiciário contava 16.804 magistrados, cerca de 3% a mais do que no ano anterior. No mesmo período, a média de juízes por 100 mil habitantes passou de 8,50 para 8,70. Tramitaram nos 91 tribunais, em 2010, 83,4 milhões de processos, dos quais 27 milhões – cerca de 32% do total – eram ações de execução fiscal. Calculada com base na divisão do número de processos novos e antigos pelo número de processos transitados em julgado, a taxa média de congestionamento da Justiça foi de 70%. Ou seja, de cada 100 ações, somente 30 foram julgadas em caráter definitivo. Na primeira instância, a taxa de congestio-

deveria. Corrupção é questão legal e moral, não política. LUCIANO HARARY lharary@hotmail.com São Paulo

Desagravo...

A respeito de o PT fazer desagravo a José Dirceu e rever o “controle da mídia”, lembro-me, e bem, da atitude do partido nos tempos de FHC, quando petistas que hoje se apresentam como paladinos da verdade ou acima dela – como José Dirceu, Rui Falcão e tantos outros – caluniavam sem dó nem piedade. Controle da mídia, então, nem pensar – isso no tempo de FHC... E agora voltam a discutir o controle dos meios jornalísticos?! Será desejo do PT ter seus membros praticando ilícitos financeiros, ou rapina da grana pública, e nada fazer, ou melhor, procurando enganar, iludir todos com mentiras de que

namento de execuções fiscais foi de 91% – de cada 100 ações, só 9 foram julgadas. Além disso, a política de metas de produtividade adotada pelo CNJ para descongestionar o Poder Judiciário também não trouxe os resultados esperados. Em 2010, a meta era concluir todos os processos em 1.º e 2.º graus e nos tribunais superiores, distribuídos até dezembro de 2006 e todas as ações trabalhistas, eleitorais e militares protocoladas até dezembro de 2007. Na média, só 50% da meta foi cumprida. Os porcentuais de cumprimento mais altos foram atingidos pelo Tribu-

A informatização e a criação de novas varas não conseguem reduzir o congestionamento nal Superior do Trabalho e pelo Superior Tribunal de Justiça e os mais baixos, pelas Justiças Estaduais. O balanço do Judiciário registra os mesmos problemas detectados desde que o CNJ passou a coordenar os levantamentos estatísticos da instituição em todo o País, a partir da metade da década de 2000. As únicas novidades estão no número de processos em tramitação – que aumentou apenas 0,6%, entre 2009 e 2010 – e no número de novas ações protocoladas na primeira instância das Justiças Estaduais, Federal e Trabalhista, que caiu de 25,5 milhões para 24,2 milhões. Em média, cada nova ação custou R$ 1.694, nas Justiças Estaduais e Federal, e R$ 3.200, na

não rouba e não deixa roubar (palavras de José pingos nos is Dirceu)? Haja (falta de) vergonha! EDIVELTON TADEU MENDES etm_mblm@ig.com.br São Paulo

Saudosismo inteligente

A parte esclarecida da população brasileira cultiva o saudosismo de dirigentes políticos com educação, cultura, visão de curto, médio e longo prazos, consciência dos problemas de infraestrutura do País, ética e probidade. Agora deverá canalizar energias na descoberta de quem reúne essas qualidades para governar o nosso país. O PT, desde a sua fundação, exibe a profunda “falta de qualificação” de filiados, e aí reside boa parte dos seus problemas. Em torno de 100%... FLAVIO MARCUS JULIANO opegapulhas@terra.com.br São Paulo

versidades, mas se esquece da qualidade”. É o que sugere o fato de que, apesar de se dedicar fortemente às ciências agrárias, a universidade não dispõe de “um único hectare para trabalho experimental”. Como consequência, os alunos de engenharia de alimentos, segundo eles mesmos revelam, estão prestes a concluir o curso sem uma aula prática sequer. Outro espanto. A situação dessa universidade federal, que seria cômica se não fosse trágica, é bem um exemplo de um modo de governar que valoriza, sobretudo, as aparências. Embora suas origens remontem a 1912, em sua configuração atual a UFRP é um produto típico da era Lula. Suas duas chamadas unidades acadêmicas, a de Garanhuns e a de Serra Talhada, foram inauguradas, respectivamente, em 2005 e 2007, criadas “a partir do programa de expansão e interiorização do Ensino Superior do Governo Fe-

deral”. O câmpus de Serra Talhada, como revelou reportagem do Estado publicada um mês atrás, é chamada pelos alunos de “museu de obras”, tantas as construções interrompidas. A UFRP, aliás, lidera, num levantamento feito pelo MEC, a lista de serviços paralisados em universidades federais. E essa situação se deve, segundo o próprio MEC – e, mais uma vez ainda, é um espanto! –, a problemas com as construtoras, que abandonaram os canteiros, faliram ou simplesmente demonstraram incapacidade na construção da obra. Quem contratou essa turma? Ouvido pela repórter do Estado, o diretor da unidade de Garanhuns, Marcelo Martins, reconheceu a existência dos muitos problemas dos quais professores e alunos se queixam. Mas garantiu que um “enorme esforço” está sendo feito para resolvê-los. Vai precisar de um pouco mais que isso.

Aos vencedores, os dinares Justiça do Trabalho. Embora o número de novos processos continue alto, os especialistas alegam que a queda de 3,9% é um indicativo de que os litígios judiciais – que vinham crescendo em progressão geométrica desde 1990, quando foram protocolados 5,1 milhões de novas ações – parecem ter chegado ao teto. A maioria desses processos – que congestionam os Juizados Especiais, criados para permitir a tramitação mais rápida dos litígios de baixo valor – envolve os chamados conflitos de massa, entre os quais se destacam as ações contra a Previdência Social, instituições financeiras e concessionárias de serviçosbásicos e as ações abertasporórgãosdeclasseeentidades corporativas para cobrar taxas e mensalidades atrasadas. Emmédia,ovalorqueessasentidades discutem é de R$ 1,5 mil e o custo das ações para o Judiciário é de R$ 4,5 mil. Parao presidentedoCNJ edo Supremo Tribunal Federal, ministro Cezar Peluso, enquanto distorções como essa não forem equacionadas, o Judiciário continuarácongestionadoelento.“Osnúmerossãopreocupantes”, afirma Peluso, depois de admitir que quase todos os 91 tribunais do País continuam em débitocomasociedade.Paraenfrentar o problema, o Congresso vem discutindo a reforma da legislação processual e o CNJ já encomendou ao Ipea um estudo para propor soluções para os problemas da Justiça Federal. Essas iniciativas são importantes, não há dúvida, mas demoram para dar resultado.

“O PT não rouba nem deixa roubar. Mas quando não há ninguém olhando...” A. FERNANDES / SÃO PAULO, SOBRE A CORRUPÇÃO E A FAXINA standyball@hotmail.com

“O PT quebrou a vassoura da ‘faxineira’?” HUMBERTO DE LUNA FREIRE FILHO / SÃO PAULO, IDEM hlffilho@gmail.com

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s líderes do Conselho Nacional de Transição (CNT), a organização rebelde líbia reconhecida por cerca de 70 países como legítima detentora do poder, ainda não puseram os pés na capital Trípoli, controlada por milícias locais. Mas, na quinta-feira, o seu presidente, Mustafa Abdel Jalil, e o primeiro-ministro Mahmoud Jibril foram recebidos calorosamente em Paris por 63 chefes de governo, chanceleres e dirigentes de uma dezena de entidades multilaterais, a começar da ONU. Nessa data escolhida para coincidir com o 42.º aniversário do golpe que levou ao poder o coronel Muamar Kadafi, os autointitulados “Amigos da Líbia”, encabeçados pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, deram os primeiros passos em apoio à reconstrução do país devastado por meio ano de combates cruentos e à construção de instituições democráticas prometida para muito breve pelo CNT. E ouviram de Jalil o compromisso com uma Líbia “tolerante, conciliadora e obediente à lei”. Hoje, mergulha cada vez mais na anarquia. Para as necessidades líbias mais urgentes, os países ocidentais aprovaram o descongelamento de US$ 15 bilhões dos ativos do regime de Kadafi confiscados na Europa e EUA, cujo total é estimado em até US$ 150 bilhões. Dias antes, aviões britânicos haviam transportado para a Líbia o equivalente

em dinares, a moeda nacional, a US$ 211 milhões – em cédulas recém-impressas, ainda com a efígie do ditador. Enquanto ele anunciava de seu esconderijo que incendiaria o país para “eliminar os traidores”, Sarkozy e Cameron comunicavam que os bombardeios da Otan, a aliança atlântica, prosseguirão “pelo tempo que for necessário”. Em março, o Conselho de Segurança da ONU, com a abstenção do Brasil e da Alemanha, autorizou a Otan a impôr uma zona de exclusão no espaço aéreo líbio para impedir o massacre com que Kadafi ameaçava a população de Benghazi tomada

Os ‘Amigos da Líbia’ mostram-se bem mais amigos do petróleo que possam explorar no país pelos insurgentes. O perigo era real, mas o engajamento do Ocidente, com o apoio do Catar e da Jordânia, só no papel, foi uma missão humanitária. As quase 8 mil incursões realizadas e a presença de “conselheiros militares” em território líbio destinaram-se a dar condições aos rebeldes de derrubar o tirano de Trípoli. O mandato da Otan expira no fim do mês. A batalha que já começou, porém, é outra – ou sempre foi, segundo os críticos da ação. Trata-se da disputa pela exploração do petróleo líbio, sem falar dos lucrativos negócios para a restauração da infraestrutura nacional em frangalhos. Antes da explosão da revolta contra a psicocracia de Kadafi, o país extraía 1,6 milhão de barris por

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Dilma: ‘Erros e acertos são meus e de Lula’

1.409

Em discurso, presidente negou divergências com Lula, que se disse fora do cenário de 2014 ● “O PT começou a rachar. Vemos Lula e Dilma sorrindo na foto, mas sabemos que não é bem assim.” JORGE SOUZA

● “Ainda que sejam 8 meses de governo, Dilma fez mais em relação à honestidade do que Lula em 8 anos.” SIDNEY DIAS BARBOSA

HÁ 765 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Será que Dilma está amarelando ou, simplesmente, jogando para a torcida? Tomara que seja a última hipótese.” CARLOS GILBERTO DIAS

dia (b/d). É apenas 2% da produção mundial, mas óleo de alta qualidade. É improvável que o futuro governo, a ser eleito no período de quatro a oito meses, na visão otimista do CNT, rompa os contratos firmados pelo velho regime. Mas a expansão do setor – o potencial é de 4 milhões de b/d – premiará os amigos da nova Líbia. AbdelJalil Mayouf, um executivo do petróleo líbio que aderiu aos rebeldes, foi explícito. “Não temos problemas com as companhias italianas, francesas e britânicas”, disse à agência Reuters. “Mas talvez tenhamos questões políticas com a Rússia, China e Brasil.” Só anteontem Moscou reconheceu o CNT. Pequim e Brasília, ainda não. A posição do Itamaraty é esperar a decisão da próxima Assembleia-Geral da ONU sobre quem falará pela Líbia. O Brasil, no que pode ser considerado uma descortesia para os promotores da reunião de Paris, se fez representar apenas pelo embaixador no Egito. A África do Sul, nem isso. A França desmentiu ter feito um acordo com os líbios para que a gigante nacional do petróleo, a Total, abocanhasse 35% do produto a ser extraído no país, como noticiou o jornal parisiense Libération. Mas o chanceler Alain Juppé não deixou por menos. Disse ser “justo e lógico” que os aliados dos rebeldes sejam recompensados por sua atuação. Afinal, “essa operação custa caro”, argumentou. De seu lado, o premiê Cameron garantiu que os interesses britânicos “não ficarão para trás”. Aos vencedores, os dinares.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 5 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

A carga tributária indireta O sistema tributário brasileiro é oneroso demais e afeta a competitividade do produto nacional não apenas por causa da existência de vários tributos, com diferentes bases de cálculo e alíquotas altas, mas também porque suas regras impõem custos adicionais aos contribuintes. A necessidade de recolhimento dos tributos devidos antes do recebimento do pagamento pela venda que gerou a tributação, por exemplo, tem um efeito nocivo sobre o fluxo de caixa de mais de 40% das empresas industriais. O prazo de que as indústrias dispõem para recolher o tributo é menor do que o prazo que muitas delas concedem a seus clientes para o pagamento do produto vendido. Embora esse descompasso tenha um alto cus-

to financeiro para as empresas, o ônus adicional não entra no cômputo da carga tributária brasileira – que é muito mais alta do que a de países com grau de desenvolvimento econômico comparável ao nosso, já equivale à de muitas economias ricas e continua a crescer. Se entrasse, a carga seria ainda maior. Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) com 594 empresas de diferentes portes constatou que, para 41,1% delas, o prazo médio para o recebimento pela venda é de 46 dias, mas os tributos que mais afetam seu fluxo de caixa – como as contribuições previdenciárias, o PIS e a Cofins, entre os tributos federais, e o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o principal tributo estadual – precisam ser recolhidos no prazo máximo de 40 dias. O descasamento de prazos aumenta as necessidades de capital de giro das empresas, o que lhes im-

põe maior custo financeiro. O tributo que mais pesa no fluxo de caixa de mais da metade das indústrias (53,1% das empresas consultadas) é o ICMS, pois, além de ser o que exige o maior recolhimento em valor, é também o que tem o menor prazo de pagamento. “Os tributos têm um peso grande sobre o faturamento”, observou o economista da CNI Mário Sérgio Carraro. Daí a importância de o governo rever os prazos para seu recolhimento, de modo a torná-los, no mínimo, igual ao prazo no qual as indústrias recebem o pagamento das vendas que geraram o tributo. Esta é mais uma das características nocivas do sistema tributário brasileiro. Outra, já bem conhecida dos contribuintes, pois lhes impõe um custo direto, é o aumento da carga tributária nos últimos 15 anos. De 28,4% do PIB brasileiro em 1995, a carga tributária já representa hoje mais de 34%

O BB na mira do Cade

O

Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) adotou uma decisão que pode ser controversa, mas que resulta em inequívoca proteção aos direitos do consumidor: determinou que o Banco do Brasil (BB) deve interromper imediatamente contratos de concessão de crédito consignado com cláusula de exclusividade. Atualmente, não só os órgãos da União, mas dezenas de prefeituras e 12 governos estaduais processam suas folhas de pagamento por meio do BB, por meio de convênios. Alegadamente, o BB se vale dessa circunstância para ter exclusividade na concessão de empréstimos com desconto em folha para funcionários que recebem salários por seu intermédio, o que configura concorrência desleal com outras instituições financeiras. O Cade deu 20 dias de prazo para o banco enviar-lhe cópias de todos os contratos com aquela cláusula firmados desde 2006, quando a prática teria começado. Se não obedecer à determinação, fica sujeito a uma multa diária de R$ 1 milhão. Os mutuários dos empréstimos em carteira têm agora a opção de quitar as operações ou transferi-las para outros bancos. Além disso, o Cade vai fazer uma investigação para apurar se há “abuso do poder econômico” por parte do Banco do Brasil. Com base no argumento de que o único órgão público competente para tomar decisões relativas ao sistema financeiro é

fe da Nação, a estrutura de interesses montada para sua eleição tolhe suas ações, por mais bemintencionada que Dilma esteja. FRANCISCO JOSÉ SIDOTI fransidoti@gmail.com São Paulo

Indignados

Em resposta à pergunta do leitor sr. Marco Antonio Martignoni (Mais uma decepção, 1.º/9) sobre o que podemos fazer, sugiro aos brasileiros a atitude dos indignados espanhóis, saindo em peso às ruas, sem bagunça ou quebradeira, demonstrando sua indignação por tanta desfaçatez e vergonhosa, deslavada, acintosa corrupção que anda solta em nosso país. E me pergunto: por que ninguém vem a público conclamar a sociedade para tal ato, como, em passado não muito distante, com as Diretas-Já? Pois quem cala consente e já está a passar do razoá-

o Banco Central (BC), a assessoria jurídica do BB diz não reconhecer a autoridade do Cade para proceder a uma investigação e tomará as “providências cabíveis” junto à Justiça. O BB tem todo o direito de recorrer, mas a questão vai além de uma simples discordância entre o órgão de defesa da concorrência e o banco estatal. Abre-se um novo capítulo na longa disputa entre o Cade e o Banco Central (BC) sobre as atribuições de cada um em se tratando de instituições financeiras, de modo geral. Já se firmou um consenso de que é da competência do BC a

O Cade quer que o Banco do Brasil deixe de impor exclusividade no crédito consignado regulamentação do sistema financeiro, de acordo com as resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN), bem como a fiscalização direta das instituições para apurar eventuais irregularidades operacionais e assegurar a correção e transparência de seus balanços. Cabe também ao BC a última palavra quanto a fusões e incorporações no sistema financeiro, embora a discussão sobre o tema, volta e meia, volte à tona. O que o Cade pretende mostrar agora é que tem um papel muito relevante na garantia da competitividade também no setor bancário. As operações de crédito consignado, que alcançam cerca de R$ 139,7 bilhões, são cobiçadas pelos bancos, uma vez que a inadimplência é

vel aceitarmos essa situação como meros espectadores. Acorda, Brasil! Que a população faça valer a sua cidadania e, com isso, demonstrar que o bem da Pátria está acima de qualquer interesse pessoal, exigindo do Poder Executivo ações concretas e enérgicas para um Brasil mais justo – e sem criação de mais impostos para os trabalhadores, já tão sacrificados. A quem interessaria a não faxina? JOSÉ LUIZ LOPES DOS SANTOS jllraposo@hotmail.com Águas de Lindoia

Total incoerência

Que país é este, onde o cidadão é multado por encostar o pneu de seu carro na faixa de pedestres e não consegue punir os deputados flagrados em pleno ato confesso de corrupção? CARLOS DE OLIVEIRA ÁVILA c.avila@modusoperantis.com.br São Paulo

de tudo o que o País produz. Essa carga registrou ligeira redução em 2009, ano em que, para reduzir o impacto da crise global sobre a economia brasileira, o governo ofereceu benefícios fiscais a diversos segmentos. Mas, com a vigorosa retomada da atividade econômica no ano passado, a carga tributária voltou a crescer. A maioria da população, porém, não percebe bem o peso dos impostos na sua vida cotidiana e muito menos os malefícios da tributação excessiva. O sistema tributário brasileiro tem características que dificultam essa percepção. Embora representem quase 40% do total arrecadado pelos três níveis de governo, os tributos indiretos, muitos cobrados em cascata, não são “visíveis” para a maioria da população, que não é informada adequadamente sobre o valor dos impostos que paga. Há, além do ônus financeiro do des-

compasso entre recolhimento do tributo e recebimento da venda, outros custos que o sistema tributário impõe à economia. Sua complexidade, a frequente mudança de suas regras e sua burocracia excessiva exigem das empresas a manutenção de grandes equipes para acompanhar as alterações da legislação e assegurar o cumprimento das obrigações tributárias. Pesquisas internacionais recentes constataram que, no Brasil, são consumidas cerca de 2.600 horas de trabalho por ano para o pagamento de tributos, enquanto nos países mais desenvolvidos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico gastam-se, em média, 216 horas por ano. Os gastos das empresas brasileiras com a burocracia tributária são estimados em cerca R$ 20 bilhões por ano. Também este é um custo do sistema tributário que não entra no cômputo da carga tributária.

Nova previdência estadual praticamente nula, sendo as prestações descontadas em folha, especialmente de funcionários públicos ou de empresas estatais, que contam com estabilidade no emprego, bem como de aposentados e pensionistas do INSS. Isso deveria resultar, em condições normais, na possibilidade de redução de juros para atrair maior clientela. Alega o Cade que, detendo R$ 47,9 bilhões de empréstimos nessa modalidade, mais de um terço do total, 80% para servidores públicos, o banco oficial vem cobrando juros mais elevados do que a média do mercado. Éverdadeque,emjaneirodeste ano, o BC proibiu os bancos de adotar medidas restritivas ou impeditivas de acesso por seusclientesaoperaçõesde crédito oferecidas por concorrentes. Isso seria aplicável ao créditoconsignado,masnãofoiesclarecidoseessas normastêm efeito retroativo. De qualquer forma, de acordo com o presidente do Cade, “se o BC estivesse atuando(para coibira irregularidade apontada), menores seriam nossas preocupações”. Além disso, o Cade alega que a legislaçãoemvigornãoprevêinterferênciadaautoridademonetária em defesa da concorrência no sistema financeiro. Cabe à Justiça a decisão final. Acima da disputa entre órgãos do governo, a sensatez manda dizer que a sociedade só tem a beneficiar-se se a economia de mercadonoBrasil funcionarcomo deve, em um ambiente de competição, sem excluir qualquer instituição financeira, pública ou privada.

“Mais R$ 7,7 bilhões para o povo brasileiro pagar?!”

S

ão Paulo pode tornar-se o primeiro Estado a adotar o sistema de previdência complementar para o funcionário público. Há dias, o governador Geraldo Alckmin encaminhou à Assembleia Legislativa projeto propondo a instituição do plano de previdência complementar para os servidores estaduais. Trata-se de medida necessária para reduzir as pressões futuras sobre as contas do governo e para equiparar os servidores admitidos após a criação do novo sistema aos trabalhadores segurados pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS), ou seja, pelo INSS. A previdência complementar no setor público foi prevista na reforma previdenciária de 2003 e já deveria ter sido instituída em todos os níveis de governo, mas ainda não existe nenhum plano em operação. Na área federal, só agora, por insistência do governo, começa a tramitar com mais rapidez o projeto de 2007 que cria a previdência complementar dos servidores civis. A reforma de 2003 estabeleceu que a União, os Estados e os municípios poderão fixar, como valor máximo das aposentadorias e pensões, o teto dos benefícios pagos pelo INSS. Hoje, esse teto é de R$ 3.691,34. Para isso, no entanto, os governos precisam instituir o regime de previdência complementar, “de caráter contributivo e solidário”, isto é, formado por contribuições do funcionário e do poder público que paga seus vencimentos.

Assim, os funcionários que participarem do fundo complementar terão direito a um benefício maior do que o teto do INSS. Os benefícios adicionais serão proporcionais à contribuição e aos rendimentos das aplicações feitas pelo fundo responsável pela administração dos recursos. Essas regras constituem a base do projeto do governo federal e também do projeto do governo de São Paulo. No caso paulista, o projeto cria a Fundação de Previdência Complementar do Estado de São Paulo, que terá a tarefa de administrar o sistema complementar e

Novos funcionários terão aposentadoria limitada pelo nível máximo do INSS poderá estender sua cobertura também a funcionários contratados pelo regime da Consolidação das Leis de Trabalho que ganharem acima do teto do benefício pago pelo INSS. O governador Geraldo Alckmin considera que o regime complementar de aposentadoria para o servidor estadual criará “um cenário de natureza fiscal muito positivo para o futuro, faz justiça sob o ponto de vista da previdência social, o País ganha poupança interna e se cria um cenário melhor”. A criação do novo regime, de fato, reduzirá os gastos futuros do governo com a aposentadoria dos servidores. Atualmente, os funcionários estaduais têm direito à aposentadoria integral, mesmo que não tenham

TEMA DO DIA

“Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito (Georg Christoph Lichtenberg)”

Encontro petista pede marco regulatório, mas se diz contrário à censura de conteúdo

J. S. DECOL / SÃO PAULO, SOBRE OS DEPUTADOS BRASILEIROS decoljs@globo.com

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CÍCERO SONSIM / NOVA LONDRINA (PR), SOBRE O AUMENTO DE SALÁRIOS PARA O JUDICIÁRIO c-sonsim@bol.com.br

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PT aprovará resolução para regular a mídia

830

● “Muitos desses políticos lutaram contra a ditadura e vergonhosamente querem trazê-la de volta, mas não vamos permitir.” ANA MARIA SILVA

● “O que eles querem mesmo é amordaçar a mídia para continuar a praticar a corrupção endêmica que indigna o Brasil.” IVO ANDRADE

HÁ 766 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Sim ao marco regulatório! Países exemplos da democracia têm seus controles e critérios para responsabilizar a calúnia.” FRANCISCO XAVIER ANDRADE

contribuído o bastante para assegurar esse benefício. Isso quer dizer que o sistema previdenciário estadual não tem recursos próprios suficientes para cobrir o valor dos benefícios que paga. A diferença é coberta com recursos do Tesouro estadual. Hoje, os gastos do governo de São Paulo com aposentadorias e pensões são de R$ 16 bilhões anuais, o que corresponde a 82% da folha de funcionários da ativa. Na justificativa do projeto, o secretário da Fazenda, Andrea Calabi,argumenta queasdespesas de custeio do regime de aposentadoria atual, “conforme apontam cálculos atuariais, em cerca de 20 anos serão duas vezes superiores ao custo da folha de pagamentos dos servidores ativos”. Os contribuintes – que na grande maioria contribuem para um regime previdenciário que não oferece benefícios tão generosos e ainda precisam pagar para assegurar o regime próprio dos funcionários – estariam,então,pagandoporumserviço que deixou de existir, em razão da aposentadoria dos servidores, o dobro que pagariam pelo serviço efetivamente prestado pelos servidores ativos. Seria uma situação insustentável. A nova regra não alterará a situação dos atuais funcionários, poissóserá aplicadaanovosservidores. E, desses, só os que ganharemacimadotetodobenefício do INSS participarão do sistemacomplementar.Mesmo assim, o fundo de pensão dos funcionáriosdisporáderecursosexpressivos, que, como observou o governador, ampliarão a poupança do Estado.

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A2 Espaço aberto %HermesFileInfo:A-2:20110906:

O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 6 DE SETEMBRO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

Feijão maravilha ✽ ●

XICO GRAZIANO

E

stá chegando o transgênicoverdeamarelo, maravilha da biotecnologianacional.Tratase de uma variedade de feijão resistente à virose. DesenvolvidopelaEmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),adescobertavaieconomizar agrotóxicos e favorecer os agricultores familiares. Golaço da moderna agronomia. Pelaprimeiravezumavariedade geneticamente modificada nasce exclusivamente em instituição pública. Segundo o agrônomo Francisco Aragão, um dos responsáveis pela pesquisa, os estudos na Embrapa demoraramtodauma década.Agoraresta aguardar a liberação do plantiocomercialdofeijãotransgênico, decisão a ser tomada nestes próximos dias pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). O agressivo vírus do mosaico dourado contamina as lavouras de feijão por meio da picada de um pequeno inseto, a famosa mosca branca. Seu controle químico é difícil e oneroso, exigindo seguidas pulverizações preventivascomdefensivos.Asperdas na safra, de 40% a 85%, seriam capazes de alimentar entre 9 milhões a 18 milhões de pessoas adultas. Pormeiodabiobalística,técnica de bombardeamento celular emlaboratório,oscientistasconseguiramintroduzirpartedematerial genético do vírus diretamentenogenomanucleardofeijoeiro. A mistura genética criou nos descendentes da planta uma capacidadeinerentederesistênciaàterríveldoença.Assim,pesadelo dos agricultores, majoritariamentefamiliares,quesededicam ao cultivo da leguminosa no Brasil, o mosaico dourado trombou com a ciência. Especialmente desenvolvido apósadescobertadoDNA,omelhoramentoclássicosemprealterou a carga genética das espécies por meio do cruzamento sexual. Na recombinação entre os cromossomos Y e X (masculino e feminino), aparecem variações que, se interessantes, se fixam nos descendestes após sucessivas gerações. A manga sem fiapo, o arroz agulhinha, o frango de granja, a celulose macia, a rosa graúda, tudo, plantas, grãos e raçasconhecidoshojenaagropecuária pouco se parecem com seus ancestrais. Diferentemente do melhoramento tradicional, na engenharia transgênica transfere-se carga genômica entre espécies distintas sexualmente. Genes são transplantados de um organis-

mo vivo para outro, interespécies, sem cruzamento. Por isso, quando foram anunciados, seus críticosos consideraram antinaturais, contra as leis divinas. A comida “Frankenstein”. Mas, por incrível que pareça, a transgeniafoicopiadadanatureza. Ela acabou descoberta, em 1972,quandooscientistasperceberamquecertosorganismosparasitas conseguiam transferir partes de seu germoplasma para plantas hospedeiras, fazendo-as produzir açúcares. Dez anos depoissurgiramosprimeirosorganismos,delaboratório,geneticamentemodificados: erambactérias produtoras de insulina humana. A ciência dera um passo fenomenal. E os diabéticos foram os primeiros a comemorar. Quandoosorganismosgeneticamente modificados começaram a ser anunciados, trouxe-

Transgênico nacional vai economizar agrotóxicos e favorecer o agricultor familiar ram,compreensivelmente,grande receio à sociedade. Em nome do princípio da precaução, típico da boa ciência, pregava-se umamoratóriadecincoanos paraseaquilatar,convenientemente, sua biossegurança. Cautela nunca é demais. Hoje, passados quase 15 anos de forte expansão em vários ecossistemas produtivos, e tendo sofrido todo tipo de ataque – científico, ideológico e religioso –, os transgênicos provam sua biossegurança.Osproblemasrelatadosempesquisassobreorganismosgeneticamentemodificados trazem questões difíceis, mas conhecidas, como resistência de variedades, alergenia, influência no ecossistema, escape genético. Inexiste milagre, tampouco maldade, na ciência. Inquestionavelmente, para desgosto dos fatalistas, nenhum desastre ecológico ocorreu e nunca ninguém faleceu por ingestão de organismo geneticamente modificado. Prova elementar de que os procedimentos metodológicos, aceitos universalmente, garantem a biossegurança da tecnologia. A ciência superou o medo. Por isso avança, em todo o mundo, a utilização de variedades transgênicas na agricultura. Em2000havia13paísesplantando-as numa área de 40 milhões de hectares. Passada uma década, o cultivo subiu para 148 milhões de hectares, em 29 países. O Brasil ocupa o segundo lugar do ranking mundial (25,4 milhões de hectares), abaixo dos Estados Unidos (66,8 milhões de hectares). A Suécia, rigorosa na política ambiental, tornou-se o primeiro país escandinavo a cultivar se-

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

A década perdida deles mentes transgênicas. O próximo deverá ser a Dinamarca, que aguarda a vinda da batata resistenteaovírusdarequeima,doença que causa perdas anuais de US$ 5 bilhões nas lavouras europeias.Filipinas,IndonésiaeVietnã, entre outras nações asiáticas, nutrem grandes expectativas para a chegada ao mercado do arroz dourado, há cerca de 20 anos em desenvolvimento, com elevado teor de betacaroteno. Ação decisiva no combate à desnutrição infantil. “Os números não mentem, mas os mentirosos fabricam números”. A frase, atribuída a Itamar Franco, aplica-se aos detratores do feijão transgênico. Contrários à sua liberação pela CTNBio, alardeiam perigos, jamais comprovados, que descreem da ciência. Inventam motivos, gritam surrados slogans contra a biotecnologia. Naverdade,otransgênicoverde-amarelo desenvolvido pela Embrapa quebrou o queixo daqueles que sempre acusaram a engenharia genética de servir às multinacionais e favorecer os grandesprodutores.Perderam o eixodo fácil discurso ideológico. Ao atacar a Embrapa, o ambientalismo retrógrado namora o vírus do mosaico dourado. Que ambos se cuidem. Vem aí o feijão maravilha, obra-prima da pesquisa nacional. ✽ AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO. E-MAIL: XICOGRAZIANO@TERRA.COM.BR

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ILAN GOLDFAJN

F

alar em “década perdida” para um latino-americano acimadecertaidade desperta amargas memórias. É o símbolo da década de 1980, em que problemas de dívidas acumuladas levaram à recessão e culminaram em hiperinflação. No processo, a renda concentrou-se e a pobreza aumentou. A perda de bem-estar atingiu o ápice. Imagino que falar em “ushinawareta juunen” tenha a mesma reação no japonês, que há décadas vê a sua economia estagnada. Pois estamos diante de mais “décadas perdidas”, agora nos EUAenaEuropa.A“décadaperdida”será“lostdecade”,“decennio perduto”, “décennie perdue”, entre outras línguas. A crise atual já leva quase quatro anos: a crise de 2011 é a mesma que começou em 2007-2008. Os problemas fiscais hoje têm raízes nos excessos anteriores à criseglobal,nasdívidasprivadas incorporadas para evitar a quebra de vários bancos e empresas e nos déficits públicos necessáriosparaevitararecessão.Oproblema nas economias maduras não é à parte no Brasil. O debate atual de política econômica no País depende da severidade e da longevidade da crise global. O processo é, de fato, longo. Envolve reduzir a dívida no de-

SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS

“Somalia”

correr de muitos anos. A ruptura com o passado – de excesso e de bolhas – levou os consumidores e as empresas a reduzirem suas dívidas,para seadaptarem auma nova e mais austera percepção de riqueza. Esse processo de reduzir as dívidas, denominado de “desalavancagem”, tem a triste característica de ser recessivo. Para pagar dívidas o consumidor precisa gastar menos e as firmas, investir menos. As vendas caem, a produção diminui e o desemprego aumenta. Oprocessoélongoporque não é fácil apertar o cinto. A decisão de reduzir é sempre mais penosa do que a de aumentar a dívida. Distribuirgastosebenessespode atéenvolver disputas, mas émais fácil do que administrar cortes. Em geral, não há consenso na sociedadesobreondecortar.Asreações são duras, grupos organi-

Serão anos de idas e vindas para a economia digerir o excesso de endividamento zam-se para evitar sofrer perdas. AsdisputasnoCongressodificultamapassagemdemedidasamargas. Se a situação é grave, crises na economia levam a medidas de ajuste, que perdem o sentido de urgênciaassimqueasituaçãodeixa de piorar. E o tempo passa. NosEUA,odebate sobreaelevação do teto da dívida evidenciou a falta de consenso sobre como administrar a austeridade (futura) para estabilizar a dívida. Democratas preferem aumento de impostos e republicanos, corte de gastos. Vai ser muito difícil aprovar um ajuste fiscal a toque de caixa. Serão anos de idasevindas, etempoparaaeconomia digerir o excesso de endividamento. Na Europa, o problema é equivalente,mas também pior. Explico:éequivalentepelanaturezafiscal que envolve reduzir a dívida, promover um ajuste fiscal e lidar como efeitorecessivodo processo. Mas é também pior porque seuestágioémaisagudo.Enquantonos EUA o problemahoje éencontrar meios para estabilizar a dívidanofuturo,emalgumaseconomias europeias ele é imediato: não se encontram mais compradorespararolaradívida. Eo calotesetornaiminente,amenosque o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou outros governos da Europa venham em resgate. É essa possibilidade de calote naEuropa quetorna o cenário de uma década de crescimento perdido ser considerado apenas... “moderado”.Aalternativamegapessimistaé aocorrência de uma “reestruturação”(nãopagamento) desordenada da dívida de um país, que leve ao pânico e à corrida nos mercados, com a desconfiança de que ocorra o mesmo

comoutras dívidas e/ou a quebra de algum banco como consequência das perdas. O exemplo de uma crise dessas seria a do Lehman Brothers (a memória vai sempre à crise imediatamente anterior), no final de 2008, que causou a maior recessão global desde 1929. Para o Brasil faz diferença se o futuronosreservaumcenáriode uma década perdida nas economias maduras ou de uma crise mais aguda à la Lehman Brothers. Um processo longo, não agudo, reserva apossibilidade de que tendências de médio prazo predominem na economia. Um cenárioagudocostumaserdominadopelafugadosativosderisco ebuscadeportosseguros,emgeral os conhecidos de antes. Um cenário de década(s) perdida(s), comcrescimento muito baixo nas economias maduras dos EUA e da Europa, reforça a busca no mundo pelo consumidor de última instância, aquele quevenhaasubstituiroamericanoeoeuropeu.Esseconsumidor está presente nas economias emergentes, principalmente nas populosas, que se estão engajando na economia global a passos acelerados. É o caso da China (que precisará redirecionar sua economia para dentro) e da Índia, mas também do Brasil. A produção no mundo terá um deslocamento em direção ao consumo dessas populações nas economias emergentes. Não o contrário. O tempo de os emergentes exportarem (para os países centrais) para crescer provavelmenteficouparatrás.Oinvestimento mundial provavelmente também será direcionado para os emergentes, em busca de retornos mais altos do que nos países de origem. Nummundoondeocapitaldeve fluir para as economias emergentes(rompendooparadoxoanterior de fluírem dos pobres para os ricos) para realocar o excesso de poupança (falta de consumo), as incipientes tendências atuais no Brasil podem durar alguns anos. Os fluxos de capital financiariamasnecessidadesdeinvestimento em alta e o crescimento saudável adiante. Mas os fluxos continuariam a exercer pressão sobre o câmbio (mantendo-o apreciado,masnãoalémdosvaloresatuais)eoBrasilcontinuariaa conviver com déficits em conta corrente por alguns anos. Enfim, estamos no mundo em mutação, onde o melhor cenário são movimentos lentos e difíceis para as economias avançadas. Continuo pensando no que mais acontece nesses processos longos de desalavancagem. Não sei ao certo, mas sei que duram pelo menos uma década perdida. ✽ ECONOMISTA-CHEFE DO ITAÚ UNIBANCO. É SÓCIO DO ITAÚ BBA

Fórum dos Leitores MORDAÇA E CORRUPÇÃO ‘Conspiração midiática’

Com o pomposo, mas oco, título “conspiração midiática”, deseja o PT, mais uma vez, arrolhar a imprensa, com o fim de impedir que as verdades sobre maracutaias e falcatruas na administração pública venham à tona. Mas o povo quer a continuidade do trabalho saneador da imprensa brasileira, e tal vontade precisa ser reconhecida pela presidente da República, que já demonstrou não estar de acordo com o projeto do PT, derivado, aliás, de pretensões do governo passado. A imprensa censurada é o passaporte para o trâmite livre da corrupção, o que agradaria sobremaneira a determinada classe de políticos (corruptos). Nós, leitores deste grande jornal, já nos fartamos de ver uma absurda censura por mais de dois anos... Sem dúvida, o povo deste país e as entidades produti-

vas e/ou culturais da Nação devem agir e combater o absurdo desejo do PT de direcionar e condicionar a imprensa do Brasil, colocando-a sob suas pretensões. Não, nunca, jamais! JOSÉ C. DE CARVALHO CARNEIRO carneirojc@ig.com.br Rio Claro

Ressurreição da censura

Como a imprensa tem sido ultimamente a única guardiã da moralidade, o PT quer ressuscitar a censura. O País não tem oposição atuante e eficiente e a única arma que resta ao povo é, atualmente, a imprensa livre. Sabe o PT que a presidente não poderá ignorar novos “flagrantes” de elementos de seu partido e aliados, “varrendo” os episódios para debaixo do tapete. Há uma circunstância eleitoral que não lhe permitirá proceder dessa maneira em novos casos e por muito tempo. Assim, acham

que é preciso criar uma lei que determine o que pode e o que não pode ser divulgado – e sob o controle do governo, é claro. FABIO FIGUEIREDO fafig3@terra.com.br São Paulo

Como...?!

Como assim, censura? Nosso voto vai para quem não escolhemos, nosso dinheiro vai para quem nos rouba, nossa opinião não vale nada. Deveríamos manifestar-nos. Como? Estamos cada vez mais despolitizados e, agora, absurdo dos absurdos, com a proposta de censura das maiores formas de expressão. O desenvolvimento das sociedades deveria darse com cultura, tecnologia, espírito construído com altos padrões morais e visão ampla. Como? RENATA OLIVA renataoliva54@uol.com.br São Paulo

Marco regulatório

O PT não quer censurar, só quer um “marco regulatório das comunicações”... Ora, senhores, chega de mistificação. Se não querem denúncias de corrupção, acabem com ela e não haverá mais o que denunciar! GILBERTO DIB gilberto@dib.com.br São Paulo

Dono do Brasil?

Em seu discurso de posse, em 1.º de janeiro, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, reafirmou o seu compromisso inegociável com a garantia plena das liberdades individuais, da liberdade de culto, de religião, de imprensa e de opinião. Mais de uma vez, em seu discurso, a presidente disse que preferia “o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras”. Na oca-

sião, Dilma parecia ter enterrado o famigerado PNDH-3, que tinha em seu bojo o controle da imprensa. O que o PT deseja é passar ao povo sua versão de mundo, com a desculpa de que a imprensa é tendenciosa e não mostra os fatos como eles são. Espera-se que os Poderes Legislativo e Judiciário não permitam que a censura se instale novamente neste país. A presidente disse também em seu discurso que seria rígida na defesa do interesse público e não compactuaria com o erro, o desvio e o malfeito. Segundo ela, a corrupção seria combatida permanentemente em seu governo. A presidente ainda nem chegou a um ano de governo e seu partido a fez voltar atrás no que prometeu. A corrupção segue sangrando os cofres públicos e a censura ronda as portas da democracia, que um dia pareceu sólida no País. Afinal, o que querem os petistas, transformar o Brasil numa ditadura, como a Venezuela? O

PT é dono do Brasil? O que têm os outros partidos a dizer? IZABEL AVALLONE izabelavallone@yahoo.com.br São Paulo

Retórica marrom

Para justificar as insistentes manobras no intento de calar, via regulamentações legais, quem desmascara as contínuas bandalheiras em que andam envolvidos o PT e seus aliados, Gilberto Carvalho, na condição de porta-voz do pensamento petista, em entrevista (4/9, A8) sutilmente insinua a existência de um “jornalismo marrom” por trás das denúncias de corrupção que nos envergonham perante o mundo. Na realidade, o que existe é uma “retórica marrom” – especialidade dos petistas e seus aliados – que eufemisticamente transforma o suborno institucionalizado em prática política corriqueira. Pobre do Bra-


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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 6 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação

Notas e Informações A3

Administração e Negócios

Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Controle, não: ‘democratização’ O 4.º Congresso do PT acabou cedendo à firmeza com que a presidente Dilma Rousseff, contrariando seu antecessor, tem repudiado a ideia de “controle social” da mídia, e rebaixou de “diretriz” partidária para mera “moção” convocatória o texto que agora é a posição oficial do partido a respeito do assunto. Ficou então combinado que não se fala mais em “controle social” da mídia, expressão politicamente inconveniente porque indissociável da ideia de censura, e os petistas passam a lutar pela “democratização” da imprensa. A nova palavra de ordem não quer dizer absolutamente nada – e até por isso é tão perigosa para a liberdade de imprensa quanto a anterior –, mas satisfaz as duas tendências que, dentro do PT, não se conformam com a

liberdade que os veículos de comunicação têm para denunciar as bandalheiras da companheirada no governo. São elas a ala minoritária, ideológica, de esquerda radical e totalitária, e por isso contrária por definição à liberdade de imprensa; e a ala majoritária, populista, pragmática, que sob o comando de Lula manda de fato no partido e está exclusivamente preocupada em se perpetuar no poder, e por isso tem horror a ver suas lambanças estampadas na mídia. O PT já não é mais o mesmo desde 2002, quando foi editada a Carta aos brasileiros, que pavimentou o caminho de Lula em direção ao Palácio do Planalto. Desde então, passou a dar por não dito tudo o que afirmara antes e colocou seu destino nas mãos habilidosas do grande manipulador das massas. Eleitoralmente deu certo. Mas é conveniente salvar as aparências. Assim, o lulopetismo aliouse às principais lideranças políticas,

financeiras, industriais, comerciais, da alta sociedade, etc., mas continua atacando as elites. Meteu a mão na massa para garantir a “governabilidade”, mas sustenta que o governo Lula se notabilizou pelo “combate implacável” à corrupção. Está fazendo o que pode, e bem, nas áreas econômica e social – se não forem levadas em conta as graves deficiências na educação e na saúde –, mas escancara a incompetência da máquina governamental partidariamente loteada para gerenciar projetos de infraestrutura. É a divulgação pela mídia dessas ambiguidades e contradições, e das muitas pilhagens do dinheiro público que não param de vir à luz, que incomoda terrivelmente os petistas, fisiológicos ou ideológicos. Daí a obsessão com o controle social – perdão, com a “democratização” dos meios de comunicação. O PT promove deliberada confusão entre os conceitos de marco regu-

latório e controle social das comunicações. O marco regulatório é um conjunto de disposições legais que disciplinam as atividades em áreas que dependem de concessão estatal, como a radiodifusão e a telecomunicação. O “controle social” é conceito em que está implícita não apenas a regulação da propriedade e do funcionamento, digamos, técnico, dos instrumentos de comunicação, mas sobretudo dos conteúdos veiculados. É pacífica a necessidade da modernização do marco regulatório das comunicações no País, defasado em relação aos avanços tecnológicos das últimas décadas. Mas a questão dos conteúdos diz respeito à liberdade de expressão e ao direito à informação, fundamentos de uma sociedade democrática e, nessa medida, intocáveis. Mas é claro, e fica mais uma vez evidenciado pelas conclusões de seu 4.º Congresso, que não é assim que pensa o PT.

Uma ideia mais clara da maneira peculiar como os petistas entendem o que seja liberdade de imprensa está explicitada nas declarações do presidente do partido, o ex-jornalista Ruy Falcão, em entrevista concedida durante o congresso. Visivelmente irritado com a insistência das perguntas sobre o assunto, Falcão foi particularmente infeliz: “Estou dizendo quinhentas vezes: não vamos controlar conteúdo, somos contra censura, contra versão única de fatos. E defendemos a livre expressão de pensamento, inclusive para que vocês possam claramente fazer as suas matérias sem qualquer tipo de injunção empresarial”. Para Falcão, portanto, os jornalistas, principalmente quando estão fazendo denúncias ou expondo fatos que não interessam ao governo, estão a serviço de interesses vis. Felizmente, o exercício do bom jornalismo não depende das garantias dadas pelo líder petista.

Aposentadorias atrasadas

Mais tensão nos mercados

um regime democrático, órgãos públicos tratam com respeito e consideração os cidadãos, que, afinal, pagam impostos para sustentar a estrutura dos Três Poderes da República. No Brasil, contudo, os contribuintes, principalmente quando se trata de recebimento de indenizações por desapropriações ou por infração a direitos adquiridos, se deparam com obstáculos burocráticos que exigem intermináveis demandas judiciais para reconhecimento do que lhes é devido. Em setembro do ano passado, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu como legítimos os direitos de revisão dos valores mensais pagos a 124 mil aposentados e pensionistas prejudicados pelas emendas 20/1998 e 41/2003, que alteraram o teto de aposentadoria, sem levar em conta os direitos daqueles que contribuíram com a cota máxima anteriormente estabelecida e que prevalecia entre abril de 2008 e dezembro de 2003. Eles também deveriam ser reembolsados pelos atrasados, segundo o STF. Só que, para obter essa reparação, cada aposentado ou pensionista deveria entrar com ação na Justiça, apesar de o processo julgado pelo STF ser considerado de “repercussão geral”. Na época, o governo prometeu fazer espontaneamente o reajuste para todos os prejudicados e pagar os valores em atraso. Como 2010 foi um ano

m surto de pessimismo varreu os mercados nessa segunda-feira, derrubando os preços de ações, o valor do euro e as cotações das matérias-primas, como se o mundo estivesse a um passo de mais um desastre financeiro. Más notícias sobre o desempenho econômico europeu somaram-se aos dados assustadores sobre o desemprego americano, divulgados na sexta-feira, e a rumores sobre rebaixamento da dívida italiana e de agravamento da situação do Tesouro grego, desde o ano passado à beira de um calote. A Bolsa de Frankfurt encerrou o pregão em queda de 5,28%. A de Milão caiu 4,83%. A de Paris, 4,73%. A de Londres, 3,58%. As bolsas americanas só foram poupadas por causa da comemoração do Dia do Trabalho nos EUA. A Bovespa foi arrastada pela onda de medo, enquanto o dólar subia no mercado brasileiro. A grande expectativa, agora, é em relação ao discurso do presidente Barack Obama previsto para quinta-feira. Ele deverá propor medidas para a criação de empregos, com novos investimentos em infraestrutura. O plano deve combinar ações imediatas de estímulo à economia com um programa de longo prazo para redução do endividamento federal. Se o presidente conseguir apoio para o aumento de gastos a curto prazo, os políticos americanos mandarão a todo o mundo um sinal animador. Se faltar esse apoio, crescerá o risco de uma nova recessão nos Estados Uni-

N

sil se, mais uma vez, a decisão final ficar nas mãos daqueles que o Lula chamou de “picaretas” (hoje seus aliados) e, há pouco, livraram pelo covarde voto secreto uma deputada infratora. ARNALDO A. FERREIRA FILHO amado1930@gmail.com São Paulo

Retrocesso

Está na hora de encarar a verdade: o PT de hoje representa grande ameaça ao Brasil. Assusta-me! ÊNIO DE ALENCAR PINTO enioap@gmail.com São Paulo

Diferença cromática

A bem da verdade, a diferença entre as reuniões dos militares na preparação do golpe de 1964 e a reunião do PT no fim de semana é apenas cromática. Os de ontem

eleitoral, esperava-se que isso acontecesse logo, mas tudo ficou na promessa. Somente agora o Ministério da Previdência Social tomou medidas para reparar as perdas dos aposentados. O INSS já está enviando cartas àqueles aposentados e pensionistas, avisando que, a partir de setembro, receberão seus proventos reajustados. Quanto aos atrasados, foram fixadas quatro datas para pagamento, entre outubro deste ano (para quem tem R$ 6 mil a receber) até janeiro de 2013 (para ressarcimento de quantias acima de R$ 19 mil).

Prejuízos a aposentados poderão começar a ser corrigidos a partir deste mês, segundo o INSS A Previdência fez a coisa certa. Milhares de ações perderão sentido, contribuindo para desafogar a Justiça. É evidente que aqueles aposentados que não concordarem em receber os atrasados em prazos relativamente dilatados poderão recorrer à Justiça e, eventualmente, receber o que lhes é devido antes das datas fixadas. Contudo, como sempre cabe recurso – e o INSS não deve descartar essa possibilidade – dificilmente os autores das ações receberão antes do prazo, dada a lentidão da Justiça brasileira. Acresce que, como as ações devem ser ajuizadas até cinco anos depois da decisão do STF, muitos desistirão de reivindicar seus direitos na Justiça, para não falar daqueles

pensavam em verde-oliva e os de hoje pensam em vermelho. Os objetivos finais são iguaizinhos. MAURÍCIO LIMA mapeli@uol.com.br São Paulo

Campanha contra campanha

O PT mostra as suas garras de agremiação stalinista ao convocar campanha para amordaçar a imprensa. Ao mesmo tempo, demonstra seu farisaísmo: quando era oposição, a palavra de ordem era imprensa absolutamente livre, para garantir a ética na política. Nem cora ao defender uma nova lei de imprensa, tão cara ao regime militar. Contra a campanha, outra, a exemplo da movimentação democrática no Largo de São Francisco, em São Paulo, durante a campanha da presidente Dilma. AMADEU R. GARRIDO DE PAULA amadeugarridoadv@uol.com.br São Paulo

que nem mesmo estão informados sobre essa possibilidade. O espaçamento dos prazos pela Previdência Social para acertar as contas dos atrasados é justificável, uma vez que o valor de um desembolso único seria muito elevado. Embora o déficit da Previdência venha sendo reduzido, em razão do aumento do volume de contribuições de novos trabalhadores registrados em carteira, ele ainda é muito elevado, tendo alcançado R$ 21,86 bilhões de janeiro a julho deste ano. Além disso, como o pagamento extra mensal junto com o atrasado beneficia uma parcela considerável de aposentados, o dinheirotenderiaairparaoconsumo, ainda muito aquecido. Há quem diga que o governo, com a recente medida do INSS, quis dar uma “compensação” aos inativos depois do veto da presidente Dilma Rousseff ao dispositivo na Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) que previa aumento real em 2012 para os aposentados que percebem mais de um salário mínimo por mês. Pode ser, mas o mais importante a ressaltar nesse caso é a força do exemplo. Há várias outrasquestõesrelativasaaposentadoriasemexame peloSTF,comoaquestãodasreaposentadorias, etc. O que se espera é que o governo considere como jurisprudência consolidada qualquer decisão que seja tomada por aquela Corte, aceitando e implementando imediatamente o que lhe couber, evitando assim que milhares de ações individuais sejam impetradas na Justiça Federal.

“Após mais de oito anos no governo federal, podemos afirmar que a sigla PT significa Partido dos Tiranos” MARA FONSECA CHIARELLI / MOGI-GUAÇU, SOBRE A MORDAÇA mara.chiarelli@ig.com.br

“Para o controle da mídia uma só palavra: covardia” JOSÉ PIACSEK NETO / AVANHANDAVA, IDEM bubapiacsek@yahoo.com.br

U

dos, com repercussões em dezenas de países. O novo surto de pessimismo ganhou força na semana passada. As negociações com o governo grego para a liberação de uma nova parcela de financiamento foram interrompidas pelos enviados do FMI, do Banco Central Europeu (BCE) e da Comissão Europeia. Houve divergências sobre como tratar o déficit fiscal. Na sexta-feira saiu nos Estados Unidos o levantamento mensal sobre o mercado de trabalho. Somadas admissões e demissões, nenhum emprego urbano foi criado em agosto. Continuaram de-

Enquanto cresce a onda de pessimismo, Obama prepara o anúncio de novo plano de estímulos socupados 9,1% dos trabalhadores. A notícia afetou imediatamente os mercados e continuou causando estragos na Ásia no começo desta semana. Ontem, o ministro da Economia da Itália, Giulio Tremonti, cancelou um compromisso no Norte do país, e correu para uma reunião ministerial em Roma. O mercado cobra do governo a versão definitiva de seu plano de arrumação fiscal, apresentado recentemente e já sujeito a mudanças. Ao mesmo tempo, avolumaram-se os rumores sobre rebaixamento da Itália pelas agências de análise de risco. A dívida italiana, informou a Moody’s nessa segundafeira, está sob revisão para possível rebaixamento. Em junho, a Standard & Poor’s havia adi-

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Marta lidera disputa para Prefeitura de SP

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Primeira pesquisa do Datafolha indica vantagem de 14 pontos em relação aos adversários ● “Não acredito que São Paulo vai colocar o PT na Prefeitura. É uma lástima!” MANOEL JUNIOR NUNES

● “Marta é o que chamo de ‘maluca benéfica’. Sua gestão teve mais acertos que erros. Foi uma revitalização geral da cidade.” MONICA CAMARGO NEVES

HÁ 767 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Não quero dizer que a defendo, mas o que outros possíveis candidatos têm melhor do que ela?” THIAGO SANTOS DO NASCIMENTO

cionado um sinal negativo à perspectiva da Itália. O custo do seguro contra calotes dos bancos e dos governos continua em alta na Europa. Enquanto isso, o BCE continua comprando títulos soberanos e fornecendo ajuda ao sistema financeiro. Na semana passada foram comprados papéis no valor de € 13,3 bilhões. Ontem o BCE voltou a intervir, comprando bônus da Itália e da Espanha, segundo informações em circulação no mercado. Na sexta-feira, os depósitos overnight dos bancos privados no BCE atingiram € 151,09 bilhões, um novo recorde. Os banqueiros preferem deixar o dinheiro nessa conta por causa das incertezasnomercado.Assim,osbancos deixam de financiar uns aos outros e todos se tornam mais dependentes da ajuda oficial. Os bancos europeus precisam deuma recapitalização de€ 200 bilhões, segundo estimativa do FMI. A Comissão Europeia recebeu mal essas estimativas. Segundo a Comissão, novos aportes aos bancos são desnecessários, agora. Mas dirigentes do setor financeiro são forçados a reconhecer a vulnerabilidade das instituições, quando avaliam, por exemplo, as carteiras de bônus soberanos. Muitos bancos seriam incapazes de absorverasperdas,secontabilizassem aqueles papéis pelo valor de mercado, admitiu o executivo-chefe do Deutsche Bank, JosefAckermann.Masumarecapitalização forçada é desnecessária, acrescentou. Esse tipo de conversa contribui certamente para o aumento da insegurança nos mercados.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 7 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Separando posições O “controle social” da mídia desejado pelo PT, agora disfarçado sob a pele de cordeiro da “democratização” das comunicações, é assunto encerrado no governo, graças à postura firme da presidente Dilma Rousseff, que já em seu discurso de posse sinalizou uma reviravolta de 180 graus na senda ameaçadora da liberdade de imprensa pela qual havia enveredado o governo anterior. Embora o presidente do PT tenha apresentado como resultado do 4.º Congresso do partido “uma resolução política de fôlego que traça perspectivas para o PT e para o nosso governo nos próximos anos”, o Palácio do Planalto deixou claro que não é bem assim. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, foi categórico em entrevista à repórter Vera Ro-

sa, do Estado: “É importante separar a posição do partido da posição do governo. O PT tem suas posições e o governo tem um programa”. Mais claro, impossível. Logo após o encerramento do congresso petista, fontes do Palácio do Planalto empenharam-se em confirmar aquilo que os dirigentes do PT fingiam não saber: Dilma Rousseff não quer nem ouvir falar de projetos que sugiram o controle – censura, em português claro – da imprensa. Ela tem reiterado que o único controle que admite é o controle remoto da televisão. Isso significa, concretamente, que o projeto do marco regulatório das comunicações apresentado com estardalhaço pelo governo Lula, depois da realização de uma festiva Conferência Nacional de Comunicação em 2010, está sendo revisto pelo Ministério das Comunicações. Garantem fontes do Planalto que Pau-

lo Bernardo recebeu recomendação expressa da chefe de governo para tomar cuidado com as “cascas de banana”, os contrabandos antidemocráticos inseridos no projeto pelos radicais que desfrutavam da simpatia e da proteção do ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência Franklin Martins, um dos principais ideólogos do “controle social” da mídia. Uma das preocupações do governo em relação à necessária modernização do marco regulatório das comunicações – questão que nada tem a ver com “controle social” da mídia – é acabar com a deliberada confusão que os petistas promovem entre as duas coisas. Por essa razão Dilma transferiu a responsabilidade de cuidar do assunto da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, onde o projeto tinha um tratamento marcadamente político, para o Ministério das Co-

municações, onde agora são as questões técnicas que ganham prioridade, embora muitas delas tenham conotações políticas, como, por exemplo, a questão da propriedade cruzada dos meios de comunicação. “Estamos fazendo a revisão do texto”, esclareceu Paulo Bernardo, “e a ideia é discutir com outros ministros. Acho que, antes de mandar ao Congresso, devemos submetê-lo (o texto) à consulta pública para deixar, entre aspas, o pau quebrar. Fazer o projeto de afogadilho pode nos levar a erros e aí a discussão ficará ainda mais apaixonada.” Louvável a intenção do ministro. Afinal, a “ampla discussão pública” do assunto propalada no governo Lula, quando houve, foi limitada pelo dirigismo ideológico. E a missão do ministro Paulo Bernardo é retirar do anteprojeto os seus vícios ideológicos. Por exemplo, assinalou ele, havia um ponto que colocava a liberda-

de de imprensa na linha de tiro. Tratava-se da criação de duas agências setoriais: “Uma para as telecomunicações e outra para fazer a regulação, por exemplo, do conteúdo de produção nacional. (...) Estamos achando dificuldade em separar as funções. A tendência, agora, é que seja uma única agência. Mas o projeto não trata de jornal nem revista ou internet. Trata de TV e rádio. O marco regulatório diz respeito à comunicação eletrônica”. Agora, está claro. A manifestação do ministro merece apenas um reparo importante. “Assim como a mídia pode criticar o PT, o PT pode criticar a mídia”, afirmou – o que é, certamente, um direito líquido e certo das partes. Mas o PT, convenhamos, não faz críticas. Vai muito além. O PT faz claras ameaças à mídia. Menos mal que a presidente Dilma Rousseff sabe separar “a posição do partido da posição do governo”.

Arqueologia e turismo no Piauí

Fiasco do Brasil Maior

s cientistas que instalaram a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), em São Raimundo Nonato, no sul do Piauí, a 530 km de Teresina, sonhavam com um centro de estudos para pesquisadores e ambientalistas, nacionais e estrangeiros, além de uma atração turística. A área, declarada patrimônio da humanidade pela Unesco em 1991, abrange dezenas de sítios arqueológicos e paleontológicos, incluindo pinturas rupestres assinalando a presença do homem nas Américas há mais de 30 mil anos. Segundo a cientista francobrasileira Niède Guidon, sendo aqueles sítios arqueológicos os mais importantes das Américas, o público que seria atraído para o local “seria A e AAA e existe hoje até lugar para um hotel de seis estrelas”. A realidade mostrou, porém, que não se pode implantar um polo dessa natureza com improvisações, como se tentou fazer em plena caatinga, numa das regiões mais pobres do País, quase desprovida de infraestrutura. O projeto turístico do Parque Nacional da Serra da Capivara tornou-se um exemplo de falta de planejamento e de desperdício de verbas públicas. Desde 2002, quando se decidiu construir um aeroporto em São Raimundo Nonato, um dos quatro municípios onde se localiza o Parque, a obra já consumiu R$ 25 milhões, ultrapassando em R$ 5 milhões o orça-

ontinua o desmonte do Plano Brasil Maior, um improvisado e mal concebido arremedo de política industrial apresentado no dia 2 de agosto pela presidente Dilma Rousseff e por sua equipe econômica. O governo anunciou a disposição de acabar com o incentivo fiscal às montadoras de veículos, por falta de entendimento quanto a contrapartidas de inovação, de agregação de conteúdo local e de eficiência energética. Parte das empresas simplesmente rejeita a ideia de pagar o preço imposto pelo governo em troca da redução do IPI. Faltou combinar com os fabricantes de automóveis, assim como faltou verificar detalhes importantes com empresas de outros setores contempladas na lista de benefícios. Ficou mais uma vez comprovado o despreparo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior para conceber e implantar uma política de modernização do sistema produtivo. Quanto ao Ministério da Fazenda, que também contribuiu para o grande fiasco, procedeu como se podia prever. Só apoiou o plano sob a condição de não perder receita e apresentou o mero pagamento dos créditos fiscais devidos a empresas como se fosse um benefício. Agora o governo se dispõe não só a abandonar a promessa de redução do IPI pago pelas montadoras, mas também a elevar o tributo para as empresas não enquadradas no regime automotivo em estudo. Levando-

O

Sectarismo

Segundo o cientista político Aldo Fornazieri (4/9, A9), “se o PT insistir em sectarismo, vai dar um passo para trás”. A pergunta que se faz: existe espaço para tanto? RONALD MARTINS DA CUNHA ronald.cunha@netsite.com.br Monte Santo de Minas (MG)

Controle da mídia

Os lulopetistas eram contra a ditadura porque ela não lhes permitia o acesso às chaves dos cofres públicos, como após o fim dos governos militares. O real motivo de serem contra a liberdade de imprensa é que estão contrariados com a exposição diária das falcatruas cometidas por eles e seus sócios, os partidos da base, que lhes dão azia. Tanto que a faxina nem bem começou e a “faxineira” já foi instruída a pará-la. E obedeceu.

mento inicial. Foi construída apenas uma pista de 1.650 metros que só serve para aviões de pequeno porte (a Anac só homologa pistas com 2.500 metros de extensão para grandes jatos). E só vez por outra pousa ali um avião. Quanto ao terminal, que do ar deveria apresentar a forma de uma capivara prenhe, como previa o projeto, é apenas uma carcaça de ferros retorcidos, concreto aos pedaços, tijolos amontoados, tocos de madeira e pregos enferrujados, sob os cuidados de um único funcionário, como relatou a reportagem de João Domingos no Es-

Improvisações e falta de planejamento num projeto que valorizaria a ciência brasileira tado de domingo. Aindaqueoaeroportoestivesse em condições de ser servido por uma linha aérea regular, seria indispensável que o local pudesse oferecer aos visitantes condiçõesdecentesdehospedagem. Na cidade de Coronel José Dias, de 4.541 habitantes, próximade duasdas principaisentradas do Parque, o governo do Estado do Piauí construiu nove quiosqueserealizouobrasdeurbanização de uma praça. Os quiosques,deixadosaoabandono, servemhoje debanheiro público, mesmo antes de concluídas as instalações sanitárias. Para erguer os quiosques, o governo do Estado gastou R$ 2,15 milhões, dos quais R$ 1,39 milhão com verba do Ministério do Turismo. O senador Wel-

MÁRIO A. DENTE dente28@gmail.com São Paulo

CENSURA Palavra de Dilma

Em nome da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Regional São Paulo, manifestamos grande preocupação com as notícias publicadas pelo Estadão sobre futuras censuras de mídia articuladas por fontes do governo. Lembramos que a própria presidente Dilma, no seu discurso de posse, declarou-se totalmente contra qualquer tipo de censura. E sua história foi de enfrentamento de uma ditadura que mantinha a imprensa muitas vezes sob chicote literal. Acreditamos que a primeira mulher presidente do Brasil não mude sua palavra. RODOLFO KONDER E JAMES AKEL jamesakel@estadao.com.br São Paulo

lingtonDias(PT-PI),queeragovernador do Estado quando as obras começaram, admite que se trata de “motivo de vergonha”. O atual governo piauiense promete cancelar o contrato e realizar nova licitação. Atribui-se o estado atual de coisas à liberação por etapas de verbas pelo governo federal, o que teria atrapalhado o andamento das obras. O diagnóstico do Tribunal de Contas da União (TCU) e a investigação da Polícia Federal apontam em outra direção. O dinheiro foi pingando a conta-gotas, é verdade, masobedecendosempreacritérioseleitorais,sem compromisso algum com o turismo. Para terminar o aeroporto, pelo menos, o deputado Paes Landim (PT-PI) patrocina uma emenda que destinaria mais R$ 8 milhões, que viriam dos restos a pagar do governo federal em 2009 e 2010. O terminal deveria passar depois à esfera federal. Como os contribuintes estão fartosdesaber,asobrasinacabadas são sempre as que drenam maisrecursos.Osgovernosestaduaisoumunicipais,propositalmente às vezes, deixam de concluí-las para carrear mais verbas e as empreiteiras aproveitam para pleitear aditivos. Para a administração federal, isso representa um dilema, pois, se as obras forem deixadas como estão, o que já foi gasto é inteiramente desperdiçado. De outro lado, concedendo mais recursos, só haverá a certeza de que a obra será levada a termo, caso haja fiscalização rigorosa, o que nem sempre – ou quase nunca – acontece. Basta ver o descalabro de São Raimundo Nonato.

“Com tantos escândalos, que tal criarmos o troféu Pau de Galinheiro?” JOSÉ LUIZ MARTIN / SÃO PAULO, SOBRE A CORRUPÇÃO NO GOVERNO jlmartin@estadao.com.br

“A corrupção não é um ‘privilégio’ do Brasil. Mas a impunidade nos pertence – e como!” FILIPE LUIZ RIBEIRO SOUSA / SÃO CARLOS, IDEM filipelrsousa@yahoo.com.br

C

se em conta as políticas industriais formuladas nos últimos anos, fica muito difícil apostar em qualquer novidade relevante para o fortalecimento da produção nacional e para a maior participação da indústria brasileira no mercado global. A má qualidade do Plano Brasil Maior ficou patente desde sua apresentação. Ainda assim, a iniciativa foi elogiada por dirigentes de entidades empresariais. Mas as críticas não tardaram a surgir. Empresários dos setores de confecção e de móveis logo criticaram o esquema para desoneração da folha de pagamentos. Algumas empre-

Um projeto de política industrial cheio de promessas confusas e objetivos vagos sas nada ganhariam se deixassem de recolher a contribuição previdenciária e passassem a pagar um tributo sobre o faturamento. Para outras, aumentaria o peso da tributação. Os autores do plano desconheciam o funcionamento dos setores “beneficiados”. No caso das montadoras, faltou discutir os objetivos e condições da redução do IPI. Faltou, também, examinar com mais cuidado o uso de partes e peças nacionais por fábricas instaladas no Brasil em épocas diferentes – algumas há décadas, outras há poucos anos. Há diferentes graus de nacionalização e, portanto, interesses divergentes, segundo reportagem no Estado dessa terça-feira. Além do mais, registra a re-

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Governo deve mudar incentivo a carro

1.490

Proposta é elevar IPI para carros que não se enquadrarem nas regras do novo regime automotivo ● “Mais uma desculpa esfarrapada para poder subir o imposto.” JOÃO FRANCELINO OLIVEIRA JUNIOR

● “Quanta estupidez do governo. Imposto não aumenta custo de produção nem afeta a margem de lucro da empresa. Só aumenta o preço para o consumidor e a arrecadação do governo.” FABIO NOGUEIRA

HÁ 768 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “O governo agora quer brincar de carrinho. Ah, que bom. Estava chato brincar de casinha.” PAULO MELLINGER

portagem, os autores do plano ficaram decepcionados porque as empresas não se dispuseram a repassar o benefício fiscal ao consumidor. Mas o problema básico e mais importante não está em nenhum desses detalhes. O governo se mostrou incapaz de fixar com clareza as condições essenciais para o crescimento industrial e para a criação de empregos. A política só produzirá resultados significativos se for destinada a aumentar o poder de competição das indústrias – em todos os setores. Nenhuma das vantagens fiscais oferecidas é uma efetiva desoneração. Nenhuma delas passou de um arremedo de alívio tributário. Para oferecer uma redução efetiva e tornar a tributação mais parecida com a dos países concorrentes, o governo teria de ser mais criativo e ousado e precisaria conter as próprias despesas. Mas, em vez disso, recentes promessas de austeridade foram logo desmentidas na proposta orçamentária para 2012.Outrasmedidasseriamimportantes para melhorar a competitividade, mas o governo federal nem sequer dispõe de um bom diagnóstico das principais desvantagens da indústria. Uma proteção mais eficiente contra a concorrência desleal é necessária. O governo promete avançosnessaárea.Masnãobasta defender o mercado nacional.O produtor brasileiro precisa ser capaz de competir em qualquer parte do mundo. Se não o for, até a defesa do mercado interno será insuficiente e acabaráderrotadapelocompetidor estrangeiro.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 8 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Ameaça de mais impostos Quinze governadores apoiam a criação de um tributo para financiar a saúde – mais precisamente, a recriação do velho imposto do cheque, também conhecido como Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), extinta em 2007. A presidente Dilma Rousseff procura ficar a distância, para evitar o custo político dessa iniciativa. Mas dificilmente recusará o presente, se governadores e parlamentares cuidarem de exumar aquele monstrengo tributário, com alíquota menor e com o nome de Contribuição Social para a Saúde (CSS) ou algo parecido. Tem-se conversado também sobre outras possibilidades. Algumas são politicamente complicadas e pelo menos uma é claramente fantasiosa neste momento. Uma alternativa com certeza

atraente para pessoas politicamente corretas seria o aumento de impostos sobre cigarros e bebidas alcoólicas. Mas para isso seria preciso enfrentar o lobby poderoso de grandes indústrias. Também se fala sobre uma possível taxação do jogo, mas o primeiro passo, não muito fácil, teria de ser no mínimo a liberação dos bingos. Finalmente, há quem proponha o uso de royalties obtidos com a exploração do pré-sal para o financiamento da saúde. Ninguém pode dizer com segurança quando estará disponível esse dinheiro nem quanto será arrecadado. A aventura do pré-sal apenas começou e ainda falta muito tempo para se iniciar a exploração desse petróleo em escala significativa. Se o financiamento da saúde for mesmo um problema urgente, como dizem tantos políticos, não se poderá resolvê-lo com royalties do pré-sal, um recurso por enquanto só existente na imaginação. O governo e seus aliados preci-

sam decidir: ou falam de urgência na saúde ou falam do pré-sal como solução. Não há como sustentar os dois discursos ao mesmo tempo. Dinheiro do pré-sal, se vier, será para reforçar orçamentos da União, dos Estados e dos municípios dentro de vários anos. Se o governo e seus aliados procuram uma solução de curto prazo, terão de pensar em algo diferente. Por isso é mantido o interesse na recriação da CPMF, embora a presidente Dilma Rousseff prefira não se envolver diretamente no assunto. Do ponto de vista do contribuinte, a questão importante é outra: o governo precisa mesmo de mais dinheiro para a saúde? E vale a pena acrescentar uma segunda pergunta: se a tributação aumentar, a administração federal será melhorada? Não pode haver dúvida quanto a esses pontos. Em primeiro lugar, o governo federal deveria abster-se de lançar novos encargos sobre o contri-

buinte antes de um esforço honesto e persistente para aumentar a própria competência. A administração federal arrecada muito, gasta mal, exige pouco de seus quadros e deixa muito dinheiro ir pelo ralo. Nem sequer consegue cuidar do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), essa colcha de retalhos agitada como grande símbolo da política nacional de desenvolvimento. Desde o lançamento desse programa até o ano passado, o Tesouro só pagou 60,9% dos valores previstos no orçamento. Neste ano, o PAC 2 mal começou a ser realizado, porque a maior parte dos desembolsos correspondeu à liquidação de restos a pagar. Na gestão da saúde a inépcia é igualmente espantosa. Dos R$ 5,09 bilhões previstos para investimento neste ano, o governo só pagou R$ 1,44 bilhão até o fim de agosto, segundo tabela divulgada pela organização Contas Abertas.

Seria fácil multiplicar os exemplos de gestão ineficiente. Facílimo, também, seria apontar as muitas bandalheiras praticadas com dinheiro público, a pulverização de verbas por meio de emendas parlamentares de má qualidade e o enorme desperdício perpetrado por meio de convênios. Antes de pedir mais dinheiro ao contribuinte, a presidente Dilma Rousseff deveria passar a limpo o funcionamento do próprio governo. Que tal começar com a leitura do site do Tribunal de Contas e com o exame de algum material da Controladoria-Geral da União? Lá está o repertório do que o governo não pode e não deve fazer, mas faz. A presidente prometeu mais de uma vez, logo depois de eleita e também por ocasião da posse, dar atenção especial à qualidade do gasto e aos padrões de gestão. O primeiro ano de governo é um bom momento para isso.

A Justiça e os pedidos absurdos

Israel desdenha um aliado

or causa do dinamismo e da heterogeneidade da sociedade brasileira, a introdução de novas leis é um processo complexo. Além de dar ensejo a pretensões muitas vezes exageradas e até abusivas, as mudanças do ordenamento podem propiciar maior sobrecarga de ações nos tribunais, provocando acirrados debates nos meios forenses e acadêmicos, até que os tribunais superiores firmem entendimento comum e uniformizem a jurisprudência. Isso aconteceu com a Constituição de 1988; com o Código de Defesa do Consumidor (CDC), de 1990; com o novo Código Civil, que entrou em vigor em 2002, depois de tramitar três décadas no Legislativo; e com várias outras leis no campo do direito penal e trabalhista. Como era inevitável, a estabilização das expectativas dos cidadãos e das empresas com relação ao alcance desses textos legais foi um processo demorado, que disseminou em seu início mais incerteza do que segurança jurídica. É à luz desse processo de progressivo ajuste de leis novas em uma sociedade dinâmica e heterogênea que se deve entender a preocupação da Justiça de pôr fim a pedidos infundados e abusivos, que costumam ser formulados após o advento de institutos jurídicos inovadores. É esse, por exemplo, o caso das ações de indenização por dano moral, que vêm crescendo em progressão geométrica. Só no Tribunal de

srael é, de longe, a maior potência militar do Oriente Médio e o único país da região a possuir armas atômicas – o que jamais confirmou nem desmentiu. Ainda assim, considera toda contestação ao tratamento que impõe aos palestinos, cujos territórios ocupa e coloniza desde a Guerra dos Seis Dias, há 44 anos, uma forma de “ameaça existencial” (como se refere, também, ao programa nuclear iraniano). Esse conceito podia ser aceito quando seis países árabes atacaram o então fraco Estado judeu, imediatamente após a sua criação, em 1948. Mas só significou algo real, pela última vez, um quarto de século depois, quando, não fosse o engajamento americano de última hora, Israel talvez levasse a pior na Guerra do Yom Kippur, contra outra coalizão árabe liderada pelo Egito e a Síria. A constante ameaça de seus vizinhos serviu de justificativa para Israel responder com extrema violência às intifadas palestinas, como ficaram conhecidos os levantes de 1987 e 2000 nos territórios ocupados, e aos mísseis lançados sobre o sul do país pelos extremistas do Hamas que controlam a Faixa de Gaza. A reação desproporcional da operação israelense “Chumbo derretido”, na virada de 2008 para 2009, matou mais de mil civis e produziu uma crise humanitária sem precedentes na área. Nem por isso, depois do armistício entre as partes, Israel afrouxou o bloqueio imposto ao exíguo território, condenado praticamente

P

Justiça do Rio de Janeiro, elas aumentaram 3.607%, entre 2005 e 2010. Para muitos juristas, esse aumento decorre do amadurecimento da sociedade e da consciência que os cidadãos passaram a ter de seus direitos. Nos últimos anos, contudo, os tribunais detectaram o risco de desvirtuamento da ideia de dano moral, dado o crescente número de processos impetrados por litigantes oportunistas. Consumidores inveterados de cigarros, por exemplo, passaram a acionar as empresas do setor de fumo, acusando-as de terem sido responsáveis

Muitas leis novas e maior noção de direitos adquiridos levam a pleitos disparatados por seu vício. Clientes de bancos passaram a pedir vultosas quantias a título de ressarcimento por terem sido parados nas portas giratórias das agências ou por terem tido cheques devolvidos por divergências com relação à assinatura. Em cidades atingidas por catástrofes naturais, como ocorreu este ano em Teresópolis e Nova Friburgo, moradores que não foram vítimas de deslizamentos e enchentes processaram o poder público e concessionárias de energia. Houve ainda quem processasse donos de pista de patinação no gelo, por ter sofrido queda provocada por imperícia e falta de habilidade. E há até casos de pessoas que entraram com pedido de indenização por danos morais

SUELI CARAMELLO ULIANO scaramellu@terra.com.br São Paulo

sobre a Abrasel como se os fatos descritos como “irregulares” tivessem ocorrido no presente. No entanto, trata-se de uma denúncia feita em 2007, tendo o TCU dado o assunto por encerrado após análise de 32 mil documentos. A entidade nem sequer foi convocada em instância superior para prestar esclarecimentos, o que comprova a ausência de envolvimento da associação com qualquer irregularidade.

ABRASEL Contestação

PAULO SOLMUCCI JÚNIOR, presidente executivo da Abrasel Nacional São Paulo

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) contesta veementemente a publicação da matéria Ação do Turismo para a Copa tem ONGs suspeitas (25/8). A abordagem foi tendenciosa e distorceu informações sobre a atuação dos ministros do Tribunal de Contas da União (TCU). A notícia lança suspeita

N. da R. – A investigação do TCU foi apresentada em relatório de 2009, fato que constou no primeiro parágrafo da matéria. O TCU informou que o processo não é todo público porque ainda não foi encerrado. A reportagem pediu ao próprio missivista, em conversa gravada, para ter acesso aos documentos, o que foi negado.

APOSENTADORIAS Cota máxima

Aponto um engano no editorial Aposentadorias atrasadas (6/9, A3). A cota máxima referida no texto prevaleceu entre abril de 1998 – e não de 2008 – e dezembro de 2003.

contra parentes, alegando terem sido agredidos verbalmente em discussões familiares. Para muitos juízes, esses litigantes estariam tentando se locupletar, obtendo “dinheiro fácil”. No Rio de Janeiro, o titular da 28.ª Vara Cível negou indenização de R$ 1,2 milhão a um ex-fumante, alegando que ele sabia o risco de sofrer doenças pulmonares quando passou a fumar. Na comarca de Pedregulho, em São Paulo, um juiz do Juizado Especial Cível e Criminal rejeitou o pedido de indenização de um cliente de banco atingido pelo travamento da porta giratória, alegando que ele “deveria se enclausurar em casa ou numa redoma de vidro, posto que viver semalgunsaborrecimentoséalgo impossível”. No caso do litigante que caiu na pista de patinação, o magistrado responsávelpelocasoabsolveuoproprietário, afirmando que tombos são inevitáveis nesse tipo de esporte e que a autora da ação “assumiu o risco de queda”, por não ter a menor experiência compatins.E,nocasodolitigante que processou os cunhados, oTribunaldeJustiçadeSãoPaulo entendeu que “o ordenamento jurídico não impõe aos familiares a obrigação de se amarem” e que, “em famílias numerosas, é comum que haja divergência no que diz respeito a visões de mundo e ânimos”. Decisões como essas mostram que os tribunais estão conscientes dos problemas de entendimento e dos riscos de abusos inerentes à entrada em vigor de leis mais modernas em nosso ordenamento jurídico.

“Em vez de querer controlar a mídia, o PT deveria controlar a voracidade dos seus por cargos e dinheiro da corrupção” IRACEMA M. OLIVEIRA / PRAIA GRANDE, SOBRE A MORDAÇA mandarino-oliveira@uol.com.br

“Para quem tem um enorme telhado de vidro, como o PT, o controle da mídia não é problema, é solução” LAURO PEREIRA ROQUE / SÃO PAULO, IDEM lauroroque@uol.com.br

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no mundo inteiro. Na prática, trata o 1,7 milhão de habitantes da Faixa como se cada um deles fosse um militante tentando obter armas do exterior. E tratou como se fossem os seus fornecedores os ativistas pró-Gaza embarcados em maio do ano passado na flotilha de seis navios capitaneada pelo Mavi Marmara, de bandeira turca, para desafiar o bloqueio. Em águas internacionais, comandosisraelensesabordaramaembarcação com violência, e com violência foram recebidos. Novecidadãosturcoseumamericano de ascendência turca foram mortos à bala – à queima-roupa,

Por falta de visão, Israel está a ponto de perder uma aliança estratégica no mundo muçulmano quando não pelas costas, como se viria a saber. Pelo menos um foi executado. O episódio pôs a pique a mais antiga, estratégica e lucrativa relação do Estado judeu com um país muçulmano. Por conta dos estreitos laços da Turquia com o Ocidente (o país é membro da Otan, a aliança atlântica) e por não ser árabe a suapopulação,sucessivosgovernos seculares turcos, além do seu influente establishment militar, aprovaram as parcerias com Israel. Mas, enquanto Israel continua o mesmo, a Turquia mudou. A invasão de Gaza implodiu as negociaçõesdepaz entre o Estado judeu e a Síria, intermediadas pelo primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan. O seu colega Binyamin Netanyahu

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Militares dão aval à Comissão da Verdade

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José Genoino, assessor especial da Defesa, disse ontem que comandantes concordaram com o projeto ● “Se o Brasil quer verdadeiramente crescer em democracia, essa é uma das primeiras coisas a fazer.” CARLOS GOMEZ PERIS

● “Aqui no Brasil nem tudo é perfeito, mas pelo menos vamos achar os culpados por crimes tão cruéis.” ANGÉLICA BONORA

HÁ 769 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Apesar das crueldades que aconteceram, isso é passado, deveriam se preocupar com assuntos atuais!” DANILO GONÇALVES

nem se deu ao trabalho de avisálo do ataque. Erdogan converteu esse revés para as ambições turcasde ocupar espaço próprio na cena global em oportunidade para assumir o patrocínio da causa palestina – o que lhe vale o apoioda esmagadoramaioria de seus compatriotas e a imagem de herói no mundo islâmico. No passado,aTurquiajamaispermitiria que uma embarcação de bandeira nacional participasse de um ato para ofender Israel. Tendo permitido, e tendo os israelenses respondido como de hábito, sem se preocupar com o efeito disso sobre uma preciosa relação bilateral, ela só poderia degringolar. No domingo, em seguida à divulgação de um relatório da ONU que – apesar de defender o bloqueio de Gaza – considerou “excessivaeirrazoável”aconduta das forças de Israel, e diante de nova recusa de Netanyahu de se desculpar com a Turquia, Erdogan deu 48 horas de prazo para o embaixador israelense deixar Ancara, rebaixou o contato diplomático entre os dois países a segundos-secretários e congelou o intercâmbio militar com o Estado judeu. Noaeroportode Istambul,turistas israelenses passaram a ser discriminados – e vice-versa em Tel-Aviv. A prepotência do governo de Israel é fora de série. AssessoresdeNetanyahurevelaramqueeleserecusou atéaemitir a “declaração apropriada de pesar” sugerida pela ONU (e tidapelaTurquiacomoinsuficiente) porque seria sinal de fraqueza. Essa mentalidade é que é a verdadeira “ameaça existencial” a Israel.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


A2 Espaço aberto %HermesFileInfo:A-2:20110909:

O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 9 DE SETEMBRO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

Quando cuidaremos das nossas torres? ✽ ●

WASHINGTON NOVAES

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a manhã de 11 de setembro de 2001 o autor destas linhas estava em Tefé, no Amazonas, preparandose para embarcar no porto rumo à Reserva de Mamirauá, lá pelas bandas dos Rios Japurá e Solimões, onde seriam gravadas cenas para um documentário da TV Cultura de São Paulo chamadoBiodiversidade: Primeiro Mundo é Aqui. Sentado na calçada em frente a um hotel, olhava enquanto a equipe carregava numa van os equipamentos de gravação. Até que o porteiro do hotel, correndo e batendo uma mão na outra, veio dizer, esbaforido: “UmaviãoderrubouomaiorprédiodeNovaYork.Estálá,natelevisão”.Defato,estava,deixandonos todos perplexos. Mas era preciso partir. As “voadeiras” quenoslevariampararam,entretanto, num posto flutuante de combustíveiseláhaviaumatelevisão que mostrava um segundo avião derrubando uma segunda torre. Porém não tínhamos como esperar uma explicação, seguimos adiante. Nos cinco dias seguintes, como em Mamirauá não havia televisão nem telefone, ficamos, todos a circundar a reserva, a ver só água e florestas, semnenhumanotícia,imaginando: será a terceira guerra mundial? Só no fim do quinto dia, num posto flutuante do Ibama, pudemos ver um noticiário de TV e entender o que acontecera. Já se sabia, nesse 2011, que o Brasil detinha entre 15% e 20% da biodiversidade mundial e que essa é a maior riqueza real, concreta, do planeta (medicamentos, alimentos, materiais). Já se lutava, em várias frentes, por umapolíticadeconservaçãoefetiva para o bioma. Passados dez anos, o cálculo que se faz é de que18%daflorestajátenhadesaparecido e que se chegar a 20% pode haver “uma inflexão”, como tem advertido o conceituadobiólogoThomasLovejoy(Folha de S.Paulo, 14/8): poderá haver mudanças fortes no regime dechuvas,afetandotambémMato Grosso, o sul do País, até a Argentina. Experiente, Lovejoy diz que não nos devemos preocupar com ameaças do exterior, porque o mais grave já está aqui: “A piorformadebiopiratariaéadestruição da floresta”. Muitas vozes se somam à dele. O professor Paulo Moutinho, da Universidade Federal do Pará, lembra que “as florestas tropicaissãooar-condicionadodoplaneta”(Eco21,julho2011).OInstitutoInternacionaldeEstudosEstratégicos alerta que “a miséria está transformando a Amazônia

numa das principais rotas dotráficointernacionaldearmasedrogas” (Estado, 1.º/9). O próprio secretário-geraldaONU,BanKimoon, se diz “muito preocupado” com o desmatamento, que “diz respeito a todos os países, é uma questão global”, até porque responde por 20% das emissões de gases que intensificam mudanças climáticas. E espera que esse seja um dos temas centrais daRio+20 (Estado,18/6). Sóque o desmatamento voltou a crescer:1.435quilômetrosquadrados de agosto de 2010 a maio de 2011 (mais 24%) e 6.081 km2 de florestas degradadas no mesmo período (mais 363%) – principalmente ao longo das principais rodovias, 65% em áreas privadas, 24% em assentamentos. Uma progressão que leva o prudente Financial Times (31/8) a dizer que “a Amazônia é um teste político

Fatores como energia, biodiversidade e água devem ser prioridade estratégica para o País para a presidente Dilma”. Resta saber em que termos. A própria presidente autorizou a redução da área de parques e reservas para permitir discutíveis obras de hidrelétricas na região – que nem sequer terão como principal mercado os Estados do bioma: só 3,2% da energia de Belo Monte será consumida pelosparaensese4,1%pelaAmazônia;70%ficaráparaconcessionárias de São Paulo e Minas, 14% para a Bahia (Diário do Pará, 31/8). Isto é, irá para linhões de transmissão,umaredequejáperde 17% e, segundo o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica, precisariaser praticamente toda trocada; foi implantada para resistiraventosdeaté80quilômetros por hora e hoje enfrenta o dobro (Geodireito, 2/9). E não é só. As pastagens respondem pela ocupação de 62% das áreas de desmatamento medidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Estado, 3/9). Mas o novo relatório sobre oCódigoFlorestal,emdiscussão no Congresso Nacional, continua a abrir o facilitário para desmatadores, inclusive de reservas legaisobrigatóriaseáreasdeproteção permanente – além de transferir para governos estaduais poder para legislar na área, facilitando as pressões locais de agropecuaristas e políticos. E tudo isso vai agravar a situação da Amazônia. Exatamente na hora em que novo estudo sobre a biodiversidade mundial aponta que ela tem mais que o dobro das espécies até agora apontadas(8,7milhões,pelomenos, quando se contabilizavam 3,1 milhões). Se a Amazônia tem umterçodabiodiversidadebrasi-

leira e esta corresponde a pelo menos15%dabiodiversidadeplanetária, a Amazônia terá quase 500 mil espécies. Quanto vale isso, lembrando, segundo Lovejoy, que só o comércio mundial de medicamentos derivados de plantas movimenta pelo menos US$ 250 bilhões anuais – e o Brasilnemsequerparticipadele,porque não destina verbas suficientes para pesquisas, como recomendaaSociedadeBrasileirapara o Progresso da Ciência? Não bastasse, num momento em que o mundo agoniza com a chamadacrisedaágua,cientistas descobrem a quatro quilômetros de profundidade, sob o Rio Amazonas, outro rio, que corre deoesteparalesteem6milquilômetrosedesembocapertodafoz do grande rio (Estado, 25/8). Seu fluxo, de 3 mil metros cúbicos por segundo, é maior que o do Rio São Francisco. Em pouco maisde20minutospoderiaabastecer com 350 litros (consumo diário) cada um dos 11,4 milhões de paulistanos. E isso num país que já tem quase 13% de toda a água superficial do planeta, fora a dos aquíferos subterrâneos. Biodiversidade, água, energia. Quandopassaremosadarprioridadeemnossopensamentopolítico e na estratégia a fatores como esses, principalmente quando as sucessivas crises financeirasmundiaisindicamqueomundoterádevalorizarrecursosconcretos, em lugar de papéis? ✽ JORNALISTA E-MAIL: WLRNOVAES@UOL.COM.BR

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

Manual de picaretagem intelectual ✽ ●

JOÃO MELLÃO NETO

A

ntesdeleresteartigo, sugiro ao leitor do Estadão que responda ao seguinte questionário.Vocêprecisadebaterempúblico e nãotem certezadavalidadedeseusargumentos? Você, com certeza, é o melhor executivo da empresa; mas por que as boas vagas sempreacabamsendoocupadaspor profissionaisquevocêjulgamenos capacitados? Suas ideias, é claro, são sempre as melhores; por que ninguém se interessa por elas? Embora seja frequente,vocêaindanãoseconformou em sempre passar por idiota? Você acredita, realmente, que ainda vai vencer na vida? Então este artigo foi feito para você. Preste muita atenção! Você não precisa se aprofundar na arte de argumentar. Muitos sábios, advogados e homens públicos já cuidaram disso por você.DesdeaGréciaantiga,berço da civilização ocidental – começandocomosfilósofossofistas e, depois, Sócrates, Platão e Aristóteles –, muitos dos grandes pensadores da humanidade se debruçaram sobre esse tema. Discutia-searespeitodelenaRepública e no Império Romano, em Bizâncio, na Europa medieval, na Renascença, no Novo Continenteeatéhojeseacumulam novos conhecimentos sobreoassunto.Pensadoresdaes-

SINAIS PARTICULARES LOREDANO

Semana da Pátria

tatura do filósofo alemão Arthur Schopenhauerchegaramaelaborar tratados sobre o tema. Há uma obra dele que merece ser lida e devidamente estudada. Foi publicada depois de sua morte e recebeu dos editores o sugestivo título Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão. As conclusões são alarmantes e desoladoras. Os bons argumentos não precisamserosmelhoresnemos mais verdadeiros. Bem apresentá-loséoquerealmenteimporta. O que cabe a você, aqui, é – de uma vez por todas – saber que os que sabem discursar melhor não são, necessariamente, os que sabemgovernarmelhor.Osmedíocres também têm vez. Não importa se seu produto é o melhor, o que importa é saber vendê-lo bem. Saiba, enfim que para vencer um debate o que menos você precisa é estar com a tese certa.

Os que sabem discursar melhor não são, necessariamente, os que sabem governar melhor 1.ª lição – Mesmo que esteja em dúvida, trate de ser convincente – se não der para convencer, confunda. Se mesmo assim não funcionar, encontre um ausente no qual pôr a culpa. 2.ª lição – Demonstre sempre certezadoqueestáfalando,mesmo quando já tenha percebido que sua proposta está errada. 3.ª lição – Decorre da segunda: ninguém segue um líder que se mostre em dúvida. 4.ª lição – Não se preocupe em responder a um argumento correto, é muito melhor dizer que seu oponente não tem autoridademoralparaafirmá-lo.Inversamente: uma boa ideia será sempreumaboaideia,independentemente de quem a tenha tido. 5.ªlição– Apresenteideiasque aparentem ser coerentes. As boas histórias só convencem a audiência se tiverem começo, meio e fim. Inversamente: não acredite em histórias perfeitas, geralmente elas são inventadas. Tenha sempre em mente que a realidade não produz enredos perfeitos. 6.ª lição – Para que ideias confusas sejam mais convincentes, você deve atribuí-las a alguém como Napoleão. Servem também Júlio César, Alexandre ou Abraham Lincoln. Ninguém se atreverá a desmenti-lo nem admitirá pouco saber sobre eles. Se acelebridade em questão já tiver falecido, nem mesmo ela poderá desmenti-lo. 7.ª lição – Os exemplos de que vocêsevalenãoprecisamserverdadeiros. Basta que eles sejam verossímeis. As lições são inúmeras. Mas, porenquanto,sãosuficientesessas sete. Você ainda acredita nas palavras e nas elaborações inte-

lectuais? Então, para terminar leia o que vem a seguir. Recordo-me de, muitos anos atrás, ter lido um livro sobre retórica no qual havia um belo exemplo de como tudo isso funciona. O autor resumiu a questão apresentando duas biografias,retratosfiéisdegrandesvultos da História. O primeiro era um beberrão contumaz. E, não bastasse, tabagista inveterado, mulherengo e dado a excessos alimentares. Não tinha hora de dormir nem de acordar. Era indisciplinado por natureza. Não gostava de ler relatórios,erateimoso,ranzinza e não aceitava as ideias de ninguém.Porcausadateimosia,perdeu diversas batalhas, foi afastado do comando, caiu em desgraça perante a imprensa em geral e a opinião pública o desprezou por mais de duas décadas. Voltou ao poder em razão de uma grave comoção popular. Podesedizerquetinhagrandedesprezo por seus subordinados e era cético quanto à capacidade de discernimento da humanidade. Já o segundo era praticamente ooposto.Nãoseconhecedelenenhumvíciooualgumtipo decostume reprovável. Não fumava, não bebia e se preocupava sempre em estar dentro do peso. Extremamentemetódicoedisciplinado, tinha obsessão pela pontualidade.Quandonãoestavatrabalhando, cuidava de ler e estudar.Desdepequenosentia-seimbuído de uma grande missão. A eladedicou todaasuajuventude. Para bem executá-la evitou até a prática sexual, só vindo a contrair matrimônio no fim da vida. Enquanto viveu, dedicou todo o seu tempo à sua causa. Morreu porcausadela.Esuamulhermorreu logo a seguir. Todos os que o conheceram afirmam que nunca deixou de ser um idealista. Em suasapariçõespúblicasdemonstrava ser enérgico e intransigente, mas em casa seu comportamentoeracordial.Seusfuncionários mais íntimos foram unânimesemafirmar queeracavalheiro, polido eafável no trato. Às vezes perdia a paciência, mas só quando se sentia injustiçado. Qual dos dois perfis é o que mais lhe agrada? Qual dos dois líderes você não vacilaria em acompanhar? Os dois líderes foram retratados com exatidão. Qual deles, a princípio, mais lhe desperta simpatia? A maioria das pessoas, provavelmente, terá escolhido o segundo. Pois as aparências, como sempre, enganam. O primeiro perfil é de Winston Churchill. E o segundo, de Adolf Hitler. ✽ JORNALISTA, FOI DEPUTADO FEDERAL, DEPUTADO ESTADUAL, SECRETÁRIO E MINISTRO DE ESTADO E-MAIL: J.MELLAO@UOL.COM.BR BLOG: WWW.BLOGDOMELLAO.COM.BR

Fórum dos Leitores CORRUPÇÃO E MORDAÇA Brasília dá o exemplo

Poucos dias depois da vergonhosa votação secreta dos deputados federais em que o corporativismo imperou sobre a ética, a população de Brasília deu o grande exemplo de revolta contra a corrupção, em passeata com mais de 30 mil participantes. Tomara que cidadãos de outras cidades sigam o exemplo e isso seja o princípio do resgate da ética no País, tão vilipendiada nos últimos anos, passando-se a mão na cabeça dos corruptos e corruptores. EDISON ROBERTO MORAIS ermorais@uol.com.br São Paulo

Foi só o começo

Tenho certeza que as manifestações contra políticos e empresários corruptos e corruptores a

que assistimos durante as comemorações do Dia da Independência nos serviram não só para acreditar que ainda há uma esperança, como também para dizer que esse foi só o começo. Felizmente, o povo brasileiro começou a levantar-se do berço esplêndido.

ção, segurança... Patriotismo é como andar de bicicleta, aprende-se uma vez e não se esquece mais. Já é hora de o Brasil ser amado pelos brasileiros, cobrando, no mínimo, honestidade dos políticos, pois mesmo sem roubar eles já são um peso para a Nação.

sa? Estaria a imprensa roubando dinheiro público? Por que não estabelecer um marco regulatório para membros do partido contra a contumaz e descarada corrupção na política? Faria muito mais sentido e o povo brasileiro agradeceria. De coração!

LEÔNIDAS MARQUES leo_vr@terra.com.br Volta Redonda (RJ)

LUIZ RESS ERDEI gzero@zipmail.com.br Osasco

HENNING DAUCH hedauch@terra.com.br Jundiaí

Exercício de cidadania

Mensalão do PT

Olhos vendados

As manifestações no Dia da Independência contra a corrupção e o desvio de recursos públicos como nunca antes neste país foram, sim, apenas o começo. Os brasileiros não precisam de feriados para mostrar a sua indignação, todos os dias, incluindo os fins de semana – em parques, avenidas, praças – servem para isso, ou seja, exercer o papel de cidadãos e cobrar das autoridades a aplicação dos altos impostos em saúde, educa-

Por favor, srs. ministros do STF, parem tudo e julguem o mensalão, para que o povo ainda acredite que vale a pena ser honesto!

Vivemos anos de ditadura militar com a censura barrando muitas coisas, algumas boas e outras horríveis. Estamos passando um momento ímpar na política, a corrupção aflora na mídia. Ficamos sabendo dos casos Lalau, PC Farias, mensalão e tantos outros. Agora querem vendar nossos olhos e pôr mordaça em nossos meios de comunicação. Viva ao artigo 5.º, inciso IX, da nossa Constituição!

ANA MARIA CARMELINI anacarmelini@carmelini.adv.br São Paulo

Marco regulatório

Por que no PT tanto se fala de um marco regulatório para a impren-

EDNAMÉRICO MINHOTO

stengetelhado@yahoo.com.br Campinas

PRÊMIO Cumprimentos

Parabéns ao Estadão por mais uma premiação, agora pelo excelente caderno Guerras Desconhecidas do Brasil, que, aliás, deveria ser transformado em livro, tal a importância do seu conteúdo. Pena que, apesar de tudo isso, o Estadão continue censurado pelos donos do Maranhão! JOSÉ MILTON GALINDO galindo52@hotmail.com Eldorado

ECONOMIA Isenção de PIS/Pasep

Os empresários que geram empregos têm de pagar PIS/Pasep e os tablets, que nos tiram empregos, terão isenção. Onde está a ló-

gica? E isso partindo de uma relatora de um partido comunista. Sinal dos tempos... CARLOS JOSÉ BENATTI cjbenatti@globo.com São Paulo

Benefícios para montadoras

As montadoras com fábricas no Brasil querem isenção de impostos e todo tipo de facilidades, mas não aceitam oferecer nenhuma contrapartida em qualidade, desenvolvimento ou preço. Ao mesmo tempo, reclamam da “invasão dos importados”, mas parecem esquecer que a esmagadora maioria das importações é de carros delas mesmas, em especial da Argentina e do México, de onde, aliás, vêm sem recolher Imposto de Importação, ao contrário dos chineses e coreanos; e que o País não exporta mais carros justamente por elas terem focado a produção aqui apenas em produ-


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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 9 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Uma ata ruim para o Copom O Banco Central (BC) continua devendo uma boa explicação para o corte de juros anunciado na semana passada. Os motivos para classificar essa decisão como um lance de alto risco são ainda tão fortes quanto na semana passada, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) baixou de 12,5% para 12% a Selic, a taxa referencial da economia brasileira. Divulgada ontem, a ata daquela reunião é decepcionante. A justificativa poderia não convencer, mas esperava-se pelo menos uma argumentação bem elaborada, talvez surpreendente. O longo arrazoado ficou longe disso e reforçou duas suspeitas: o BC passou a agir sob pressão política e o regime de metas de inflação está ameaçado. Se a política monetária continuar nesse rumo, o sistema de metas poderá ser

nominalmente mantido, mas sem relevância prática. A decisão do Copom foi baseada em três apostas: 1) a crise internacional, mais persistente e menos aguda que a de 2008-2009, causará uma desinflação e esse efeito será transmitido ao Brasil; 2) a demanda interna perderá vigor e deixará de alimentar a alta de preços; e 3) o governo vai cumprir as promessas de austeridade e as contas públicas serão um fator de ajuste da economia nacional. Nenhum argumento de peso foi apresentado a favor dessas expectativas. Ao contrário: o texto contém um bom número de razões para se manter o aperto monetário ainda por algum tempo. Não haveria grande perda para a economia se os juros fossem mantidos até se delinear mais claramente o quadro internacional. Mas uma redução precipitada pode ter um custo elevado, se as pressões inflacionárias forem mais persisten-

tes do que esperam os defensores do corte imediato da Selic. Dois dos cenários mencionados na ata – o de referência, construído pelo pessoal do BC, e o de mercado – indicam para 2011 inflação maior que a estimada em julho e, portanto, mais distante do centro da meta, de 4,5%. Nos dois casos, a inflação ficará “em torno” da meta em 2012 e assim continuará no primeiro semestre de 2013. Em outras palavras, inflação no centro da meta, no fim do próximo ano ou no começo do seguinte, ainda seria uma previsão muito otimista. Detalhe: no quadro de referência a taxa Selic é mantida em 12,5% e o dólar vale R$ 1,60. Só num terceiro cenário, chamado de alternativo, a crise internacional derruba os preços, impõe um freio à economia brasileira e permite conter a inflação interna mesmo com juros menores. Não há como desprezar essa possibilidade, mas também não há como

justificar a decisão de cortar os juros por conta de uma desinflação externa ainda hipotética. Além disso, o impacto da crise internacional no Brasil será equivalente a um quarto do observado em 2008-2009, segundo o tal cenário alternativo. A ata menciona várias vezes a forte demanda interna e o descompasso entre o seu crescimento e o da oferta. Menciona também o reduzido desemprego, a pequena folga no mercado de trabalho e a expansão da massa de salários como fatores de sustentação de uma forte demanda. Aquele descompasso, segundo o texto, envolve “riscos relevantes”, mas em seguida, sem nenhum argumento convincente, esses perigos são descritos como “decrescentes”. O texto contém apenas arremedos de argumentos. O nível do uso da capacidade instalada tem diminuído. Mas não convence usar essa referência, quando a utilização permanece acima de 80% e a va-

Instrumento mal utilizado

Precedente perigoso

ncorporadores poderão adquirir por R$ 2 bilhões, no mínimo, um total de 500 mil Certificados de Potencial Construtivo (Cepacs), que lhes darão o direito de construir 452 mil metros quadrados acima do permitido pela Lei de Zoneamento nos terrenos localizados na região da Avenida Brigadeiro Faria Lima. Esse é praticamente o mesmo volume de títulos negociados nos últimos dez anos nos leilões da Operação Urbana Consorciada Faria Lima. Para tornar isso possível, o prefeito Gilberto Kassab enviou à Câmara Municipal projeto de lei que descongela áreas disponíveis – e altamente valorizadas – nos bairros de Pinheiros e Itaim-Bibi. No último leilão realizado há pouco mais de um ano, cada Cepac foi comercializado a R$ 4 mil, valor considerado baixo para o entorno da Faria Lima. A intenção da Prefeitura é realizar a próxima venda de Certificados de Potencial Construtivo até o fim do ano. As operações urbanas surgiram como mecanismo destinado a revitalizar determinadas regiões das grandes cidades com recursos obtidos da iniciativa privada que, em contrapartida, pode construir além do limite legal. Determina o Estatuto das Cidades que as operações urbanas sejam atreladas ao Plano Diretor Estratégico e que a receita resultante dos leilões de Certificados de Potencial Construtivo vá para a melhoria da infraestrutura, dos sistemas de transporte e dos

irritação das diferentes instâncias e braços especializados do Poder Judiciário com o não atendimento de suas pretensões salariais, por parte dos governos estaduais e da União, pode levar alguns setores da magistratura a substituir a isenção pelo viés corporativo, nas sentenças e acórdãos das ações judiciais em que o Executivo é parte. Divulgada pelo site Consultor Jurídico, a amostra mais recente dessa tendência ocorreu na 3.ª Câmara do Tribunal de Justiçade São Paulo(TJSP),que condenou a Fazenda Estadual a indenizar em R$ 10 mil – a título de ressarcimento de danos materiais e morais – um advogado paulista, por causa da greve promovida em 2004 pelos serventuáriosjudiciais. Alegando que a suspensãodasatividadesda Justiça estadual o impediu de auferirrendimentosdapráticadaadvocacia, ele acusou o governo paulista de ter-se omitido, não remunerando adequadamente os serventuários judiciais, não tomando medidas para atender às demandas dos grevistas e não fornecendo apoio logístico aos advogados. A pretensão é absurda, uma vez que a greve dos servidores judiciais foi deflagrada contra o Judiciário,e nãocontra o Executivo. A responsabilidade pela política de remuneração dos serventuários é da cúpula da Justiça, e deve ter como base suas verbas orçamentárias. Ao Executivo cabe preparar o orçamento, com base nas estimativas de arrecadação e no princí-

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tos de baixa qualidade e baixo valor agregado. Presidente Dilma, estamos vendo o mercado de automóveis do Brasil se modernizar e ter preços mais justos por causa da concorrência, por favor, não nos leve de volta aos anos 80 e a seus produtos caros e obsoletos, que servem só para enriquecer poucas empresas estrangeiras! RENATO REA GOLDSCHMIDT reagold@gmail.com São Paulo

ESTRADAS Mogi-Bertioga

Em resposta à carta do leitor sr. Gilberto Scandiuzzi (27/8), o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) esclarece que, de acordo com a Diretoria Regional, responsável pela Rodovia Mogi-Bertioga (SP-098), não há carcaças de caminhões abandonadas no entorno da pista. O DER informa ainda que a sinalização na SP-098

equipamentos públicos do entorno. Entre 1950 e 2010, São Paulo passou de pouco mais de 2 milhões de habitantes para 11 milhões. Nos primeiros 20 anos desse período, a população cresceu mais de 170%. Na última década, porém, o crescimento foi pouco maior do que 2%. Em algumas regiões da cidade, o adensamento foi extremo e, em outras, a migração da atividade industrial provocou a degradação de vários bairros. As operações urbanas devem servir para recuperar essas áreas, ampliando e modernizando a infraestrutura

Cepacs são instrumentos de arrecadação, mas devem servir também à política urbana existente. A condução da Operação Urbana Faria Lima, a primeira a ser aprovada em São Paulo, sempre foi, porém, alvo de críticas de urbanistas e especialistas em mobilidade urbana por causa da diferença entre o que foi planejado e o que tem sido efetivamente executado. A área construída se multiplicou, os cofres da Prefeitura se encheram – a operação foi considerada um sucesso financeiro –, mas a população não recebeu as melhorias prometidas e continuou enfrentando os mesmos problemas dos bairros adensados descontroladamente. O trânsito na região da Faria Lima só piorou nos últimos anos e, por causa das deficiências do sistema de transporte

está de acordo com as normas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran). Ao longo da via estão indicados os locais onde é proibida e permitida a ultrapassagem (placa indicativa e faixas divisoras de fluxo). Vale ressaltar que todos os motoristas devem obedecer ao Código de Trânsito Brasileiro, que aponta que a ultrapassagem deverá ser feita pela esquerda, obedecida a sinalização regulamentar e as demais normas estabelecidas pelo código, exceto quando o veículo a ser ultrapassado estiver sinalizando o propósito de entrar à esquerda (artigo 29, inciso IX). O DER reforça a importância da prudência do motorista nas estradas, da obediência à legislação de trânsito, do respeito à sinalização da via e aos limites de velocidade e atenção às ultrapassagens e conversões. LARISSA HAACK, Assessoria de Imprensa transportes@transportes.sp.gov.br São Paulo

público, a maioria das pessoas é obrigada a enfrentar longas filas nos pontos de ônibus. Segundo o secretário municipal do Planejamento, Rubens Chammas, há metros quadrados sobrando na região, mas a Prefeitura não tem mais Cepacs para vender. Daí surgiu a ideia de descongelar estoques existentes nos bairros de Pinheiros e Itaim: “Não estamos criando metros a mais, apenas estamos criando mais Cepacs para vender o que já existe”. Isso indica que houve falhas no planejamento da Operação Urbana Faria Lima. Errou-se também na orientação dos investimentos realizados até agora. O principal deles foi no prolongamento da Avenida Faria Lima. Mas, infelizmente, este foi mais um projeto de obra viária executado isoladamente, sem considerar as necessidades do transporte público. Por tudo isso, liberar a construção de mais edifícios na região, como deseja a Prefeitura, sem um plano detalhado de obras para a revitalização dos bairros, poderá agravar os problemas existentes. Não há dúvida de que a capital paulista precisa de grandes investimentos na estrutura urbanaedequeaParceriaPúblicoPrivada é uma boa solução. Mas, para atingir esse objetivo, as operações urbanas não podem ser meros mecanismos de arrecadação ou de atendimento dos interesses do mercado imobiliário. Elas precisam ser fiéis a seu objetivo original, que é proporcionar melhorias para a população das áreas em que são executadas.

“Cabresto: pelegos não têm independência” A. FERNANDES / SÃO PAULO, SOBRE A AUSÊNCIA DA CUT, DA UNE E DO MST NOS PROTESTOS CONTRA A CORRUPÇÃO REALIZADOS EM 7 DE SETEMBRO standyball@hotmail.com

“O que o PT quer ou tem a esconder?” TANIA TAVARES / SÃO PAULO, SOBRE O ‘CONTROLE SOCIAL DA MÍDIA’ taniatma@hotmail.com

A

pio de equilíbrio entre receita e despesa, sendo a avaliação e a aprovação da proposta orçamentária matéria de competência do Legislativo. Mesmo assim, a 3.ª Câmara do TJSPacolheu a pretensão absurda, por 2 votos contra 1, sob a alegação de que o Executivo paulista teria desrespeitado o mandamento constitucional que determina revisão geral anualda remuneraçãodos servidores públicos. “Bastasse o Poder Executivo Estadual repassar a verba atinente ao reajuste dos servidores para que a greve não fosse deflagrada”, afirmou o relator do processo, desem-

Reivindicações salariais de juízes não podem ser transplantadas para sentenças judiciais bargador Barreto Fonseca. Além de acusar de omissão o governador à época, o desembargador apresentou outro argumento polêmico. Segundo Fonseca, os responsáveis pelo Executivo estadual deveriam ver “que lhes sai mais barato cumprir a Constituição da República e dar reajustes dignos, do que pretender entesourar às custas dos servidores”. A origem desse argumento, que vem sendo utilizado de forma cada vez mais recorrente pela magistratura, está na leitura equivocada da Constituição de 88. Ao contrário do que dizem os juízes, o inciso X do artigo 37 da Carta Magna não determina o reajuste anual obrigatório de saláriosdofuncionalismo público. Prevê apenas uma “revisão

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Palestina luta na ONU por reconhecimento

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Em carta, ANP conclamou líderes a se esforçarem para que o 'povo palestino alcance reivindicações' ● “Se as Nações Unidas quisessem, já teriam resolvido essa questão há muito tempo!” ALINE CASTRO

CARLOS LIEBERMAN POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Espero que dê certo. Tudo bem que Israel não respeita nenhuma resolução, mas já é um belo avanço.” EMIR HAMAN

geral anual” dos vencimentos dofuncionalismo– oque,obviamente,depende das disponibilidades do Tesouro. Revisão, como está nos dicionários, é sinônimode “nova leitura” ou “novo exame” – e não de obrigação. A decisão da 3.ª Câmara do TJSP não se baseou em fundamentos jurídicos para condenar a Fazenda paulista a pagar uma indenização por danos materiais e morais a um advogado e, sim,nosargumentos quetêm sido invocados pela cúpula do Judiciárioepelas entidades da magistratura para pedir aumento salarial e criticar os cortes orçamentáriospromovidospeloExecutivo para assegurar o equilíbrio das finanças públicas. Emsuasreivindicaçõescorporativas, a magistratura costuma lembrar que o Judiciário é um poder independente e autônomo – a exemplo do Executivo e do Legislativo. De fato, os Poderes são autônomos, em termos funcionais, e independentes, em termos políticos. No entanto, os juízes se esquecem de que o orçamento é único, o cofre é um só e a responsabilidade pela alocação orçamentária de todos os recursos que saem e detodo o dinheiro que entra é exclusiva do Executivo. Esse é um dado elementar nos Estados que consagram o princípio da tripartição dos Poderes. E essa é a lição que a Justiça – cuja média salarial sempre foi maior do que a do Executivo e a do Legislativo – deveria aprender, neste momento em que a União e os Estados vêm sendo obrigados a reajustar suas previsões de gastos e receitas.

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

● “Não existe a menor possibilidade de o Estado Palestino ser aprovado na ONU, pois os EUA já declararam que vão vetar.”

HÁ 770 DIAS

riação é marginal. Outro motivo de otimismo é “o processo de consolidação fiscal”. Esse ponto é mencionado várias vezes, como se os autores da ata ignorassem dois conjuntos de fatos evidentes: 1) a folga fiscal deste ano resulta de um enorme aumento real da arrecadação e só isso explica o aumento de R$ 10 bilhões no superávit primário programado; e 2) a proposta de Orçamento para 2012 é expansionista, o governo admite recorrer mais uma vez a um desconto contábil para cumprir a meta fiscal, há pressões por novos aumentos salariais e a gastança tende a crescer por causa das eleições municipais. Apesar de todos esses fatos, o Copom decidiu reduzir os juros agora, como se a mudança na gestão das contas públicas fosse um fato. Pagou adiantado numa demonstração notável de confiança ou foi pressionado a agir dessa forma? A ata não deslinda nenhuma das dúvidas vexatórias.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 10 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Paciência tem limite O brasileiro está começando a perder a paciência com a corrupção. As comemorações do 7 de Setembro ensejaram manifestações populares convocadas pelas redes sociais em várias capitais estaduais e no Distrito Federal, onde 25 mil pessoas desfilaram pacificamente pela Esplanada dos Ministérios proclamando palavras de ordem contra a corrupção e os corruptos. Em São Paulo, centenas de manifestantes ocuparam pela manhã a Avenida Paulista, com o mesmo propósito. A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) lançou na véspera e publicou na imprensa carioca, na quarta-feira, em página dupla, o Manifesto do empresariado brasileiro em favor da ética na política, em que afirma que o combate à corrupção “é

uma bandeira coletiva, que representa a aspiração de todo um país”. Na história recente do País, foi assim que começaram os grandes movimentos populares que, por exemplo, se transformaram, em 1984, na Campanha das Diretas e, em 1992, na mobilização dos jovens caras-pintadas, que fez eco ao clamor popular contra as maracutaias do governo do “caçador de marajás” e forçou o impeachment do presidente Fernando Collor. Agora, é perceptível a revolta latente da população contra os desmandos na administração pública, em todos os níveis. As manifestações do 7 de Setembro podem ser um indício de que esse sentimento começa a se generalizar e a se potencializar, ou seja, a procurar formas mais ativas e concretas de expressão. As razões por detrás dessa fermentação são óbvias e vão se acumulando: a indecorosa decisão dos deputa-

dos federais de absolver uma colega, Jaqueline Roriz, que tinha a cassação de mandato recomendada pela Comissão de Ética da Câmara por ter sido flagrada recebendo propina, dinheiro vivo, quando era candidata a deputada distrital em Brasília; a impressionante sucessão de denúncias na mídia e as investigações policiais sobre bandalheiras em órgãos da administração federal, que resultaram na demissão de pelo menos três ministros em curto prazo, graças à “faxina” da presidente Dilma Rousseff; mais recentemente, o movimento de governistas e do PT & companhia para minimizar a importância e a abrangência dessa mesma “faxina”, forte a ponto de constranger a própria chefe do governo a declarar que não é movida pela intenção de fazer uma devassa nos Ministérios, mas apenas pela obrigação de investigar e punir eventuais irregularidades.

Inspeção ambiental

C

om base em análise econômica e financeira realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da USP, a Prefeitura quer reduzir em 20% a taxa cobrada pela concessionária Controlar, responsável pela inspeção ambiental obrigatória dos veículos registrados na capital. A partir de outubro, o preço do serviço deve baixar de R$ 61,98 para R$ 49,30. Alterações feitas em contrato, que baratearam os custos da concessionária, estabelecidos há três anos, quando o programa de inspeção foi instalado, permitem essa diminuição, segundo técnicos da administração municipal. A medida pode levar um número maior de proprietários de veículos, principalmente dos mais antigos e poluentes, a submetê-los à inspeção. O programa de inspeção ambiental começou em 2008, vistoriando a frota a diesel, considerado o combustível mais poluente. Em 2009, toda a frota de motos foi incluída, além de uma parcela de automóveis registrados na capital entre 2003 e 2008. Desde 2010, todos os veículos a diesel, motos e automóveis têm de passar pela inspeção. Segundo dados da Controlar, mais de 5 milhões de veículos já fizeram essa vistoria. Conforme o contrato firmado com a Prefeitura, a meta para este ano é inspecionar 6,7 milhões de unidades, mas o diretor-presidente da empresa, Harald Peter Zwetkoff, admite que ela não será atingida. Em

ESTRADAS Mogi-Bertioga

Não concordo com a resposta do DER (9/9) à minha carta de 27/8. Não existe uma placa sequer, a não ser para ônibus e caminhões para que utilizem a pista da direita no trecho de serra. O que pedimos são placas de advertência aos motoristas desatentos – “Motorista, utilize a pista central só nas ultrapassagens. Isso salva vidas” –, pois a sinalização de solo não é suficiente. Quanto às carcaças, existem, sim, só que estão fora do ângulo de visão de quem trafega nesses trechos, que já estão até demarcados pela quantidade de acidentes ali ocorridos. Vai aqui mais uma sugestão, já que estamos às vésperas de mais uma temporada: estabelecer um horário para os caminhões descerem a serra. Eles ficam no início da serra esperando a balança fechar e depois descem em comboio. Isso

entrevista à rádio Estadão ESPN, ele afirmou que apenas 3,5 milhões de veículos deverão ser vistoriados neste ano. As altas tarifas e o reduzido número de centros de inspeção são apontados como causas principais da não adesão de grande parte dos motoristas. A Controlar instalou, nos últimos três anos, 32 postos de vistoria, metade do total previsto em contrato. Isto, segundo técnicos da Fipe, barateou os custos de operação da concessionária, o que deveria se refletir no valor da tarifa. O contrato original também previa um prazo de 10 anos para que toda a

Prefeitura quer reduzir preço pago pelo motorista pela inspeção ambiental obrigatória frota paulistana passasse pela vistoria. Uma alteração contratual reduziu esse prazo para três anos, o que aumentou os ganhos da Controlar. A empresa alega, porém, que teve de arcar com o aumento de encargos e impostos, como a alteração das alíquotas de PIS e Cofins. Além disso, assegura que o número de postos de vistoria existentes é suficiente, sendo prova disso a facilidade para agendar a inspeção. É certo que o serviço prestado pela Controlar é de boa qualidade. Do agendamento à vistoria, a empresa dá mostras de agilidade e qualidade no atendimento. O controle da emissão dos poluentes tirou do ar da capital, em três anos, poluição equi-

na hora de maior movimento. Os riscos de acidente são eminentes. E fica o convite para a fiscalização circular por lá após as 18 horas. GILBERTO SCANDIUZZI gilberto.carbosal@uol.com.br São Paulo

Duplicação da Raposo

Ao contrário do que diz a matéria Plano prevê duplicar Raposo até Cotia (7/9, C1), a Agência Reguladora de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp) não recebeu e por isso não estuda nenhum projeto para duplicação do trecho da SP-270 entre a capital e o município de Cotia. Esse trecho da Rodovia Raposo Tavares pertence ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER). A Artesp não foi procurada pela reportagem. EDUARDO REINA, Assessoria de Imprensa da Artesp eduardo.reina@artesp.sp.gov.br São Paulo

Essa tática diversionista, aparentemente motivada pelo receio de que a tal “faxina” acabe sendo debitada na conta do chefão Lula – afinal, os três ministros demitidos foram herdados de seu governo –, pode afrontar ainda mais a opinião pública, já indignada. Da mesma forma que as pesquisas de opinião demonstraram grande apoio à ação saneadora da presidente nos episódios das demissões dos ministros, poderão vir a revelar exatamente o oposto se em algum momento as pessoas começarem a achar que o Palácio do Planalto se tornou condescendente com a bandalheira. Por enquanto, aqueles que acham que deve continuar prevalecendo a cínica ideia de que não há nada de errado – ao contrário, são males necessários, e por isso toleráveis – num superfaturamento aqui, num desvio de verba ali ou num nepotis-

mo acolá podem contar com o fato de que, embora despontem os primeiros indícios de protestos, não existe ainda uma efetiva mobilização nacional contra a corrupção. As entidades representativas dos trabalhadores, sindicatos e centrais, por exemplo, bem como instituições como a UNE, decisiva na mobilização dos caras-pintadas de 1992, até o momento não parecem sensibilizadas com a questão. Algumas delas promoveram manifestações no 7 de Setembro, mas exclusivamente para enfatizar reivindicações corporativas. Ao tentar negar a evidência de que a corrupção é endêmica na administração federal e colocar panos quentes no combate à corrupção, os governistas podem estar dando um tiro no pé. A indignação popular, quando se agrava, geralmente se transforma numa bola de neve e fica incontrolável. Paciência tem limite.

Desrespeito ao Supremo valente à produzida por 1,3 milhão de carros, de acordo com estudo da Faculdade de Medicina da USP, divulgado em maio. Segundo esse trabalho, os veículos movidos a diesel respondem por 40% da poluição particulada, apesar de representarem menos de 10% da frota. A melhoria da qualidade do ar tem reflexo direto na saúde pública, considerando-se que 13% dos enfartes do miocárdio registrados são atribuídos à poluição. E cada real investido na melhoria do meio ambiente permite uma economia muito maior no setor de saúde. Um exemplodoexteriorconfirmaessa relação: em Dublin, cada libra gasta para substituir por gás o carvão usado no aquecimento das casas permitiu a redução de oitolibrasnosgastoscomsaúde. Em vez de entrarem numa disputa pelo preço da tarifa, a Prefeitura e a Controlar devem fortalecer sua parceria e tentar conscientizar os que ainda resistem a cumprir a lei a fazê-lo, principalmente os proprietários de carros mais antigos. Nesse grupo estão os proprietários de pelo menos 2 milhões de veículos que rodam pela cidade com documentação irregular. São carros que há anos não têm o licenciamento renovado, porque seus proprietários não conseguem pagar as taxas, impostos ou as multas acumuladas. Na maioria dos casos, também não fazem a manutenção adequada dos veículos, que por isso se transformam nas maiores fontes de emissão de poluentes da cidade. Levá-los, portanto, a aderir à inspeção é da maior importância.

“Aos poucos ficamos sabendo da ‘grande importância’ que o Brasil está despertando no restante do mundo...” ARIOVALDO BATISTA / SÃO BERNARDO DO CAMPO, SOBRE A CARTA DO EMBAIXADOR DOS EUA ACERCA DO GOVERNO LULA arioba06@hotmail.com

N

em mesmo a clara decisão tomada há pouco mais de três meses pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra incentivos fiscais concedidos por alguns Estados, desrespeitando a Constituição, foi suficiente para inibir a ação de governos firmemente empenhados em continuar a praticar a guerra fiscal, em prejuízo de todas as unidades federadas, inclusive as que a promovem, e do País. Em julgamento realizado no início de junho, o STF considerou inconstitucionais normas de seis Estados e do Distrito Federal, mas elas foram recriadas, parcial ou totalmente, e estão em plena vigência em quatro Estados. Antigas e toleradas, embora ilegais, essas práticas já desmoralizaram o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), criado para decidir sobre os incentivos concedidos pelos Estados, e agora desafiam o STF. Em julgamento de 14 ações diretas de inconstitucionalidade, o STF derrubou 23 normas estaduais criadas para favorecer empresas e atrair investimentos, à custa da arrecadação de outros Estados. A decisão foi então considerada essencial para acabar com a guerra fiscal entre os Estados, com uns concedendo isenções, reduções ou outras facilidades para os contribuintes do ICMS, em detrimento de outros. Desde 1975, qualquer benefício fiscal do ICMS concedido por um Estado precisa ter a aprovação unânime de todos os demais, em decisão formali-

zada pelo Confaz, organismo que reúne todos os secretários estaduais da Fazenda. Essa norma, instituída por lei complementar, foi mantida na Constituição de 1988 e continua em pleno vigor. No entanto, muitos Estados concederam benefícios sem a concordância dos demais. Ao julgar as 14 ações, o STF nada mais fez do que reafirmar a norma, isto é, que os benefícios como redução ou isenção do ICMS só podem ser concedidos após convênios entre todos os Estados e o Distrito Federal, celebrados no âmbito do Confaz. Sem isso, os benefícios são inconstitucionais.

Estados fazem a guerra fiscal em aberto desafio à decisão recente do Supremo Tribunal Apesar disso, quatro Estados voltaram a conceder incentivos fiscais sem a prévia concordância do Confaz, como mostrou o jornal Valor (5/9). Dois restabeleceram os benefícios derrubados pelo STF em junho e outros dois ampliaram vantagens consideradas inconstitucionais ou criaram outras, sem que os demais Estados tivessem sidoconsultadosetivessemconcordado explícita e formalmente com os incentivos. Por isso, eles são inconstitucionais, como já decidiu o STF em casos semelhantes. Espanta a rapidez com que se restabeleceu uma das normas derrubadas pelo STF. Em 30 de junho,sem quetivesse tidotempo de avaliar o impacto da decisão sobre suas finanças e sobre

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Preço de passagem aérea: queda recorde

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Valores cobrados de julho de 2010 a junho de 2011 são os mais baixos da série, iniciada em 2002

“E a farra continua...” VIRGÍLIO MELHADO PASSONI / JANDAIA DO SUL (PR), SOBRE A CORRUPÇÃO mmpassoni@gmail.com

● “Para vocês verem a tremenda margem de lucro que tinham antes e ainda têm!” FERNANDO GUARNIERI

● “Só se for para viajar a pé que as passagens estão baratas. Voos internacionais estão pela hora da morte.” IZABEL AVALLONE

HÁ 771 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Não adianta o preço da passagem cair e o serviço continuar sendo um dos piores do mundo.” JEFFERSON DE PAULA

as das empresas que haviam se beneficiado das medidas consideradas inconstitucionais, o governo de Mato Grosso do Sul criou o programa MS-Forte Indústria, que reduz em até 67% o ICMS,exatamentecomopermitia o programa MS-Empreendedor derrubado pelo STF menos de um mês antes. Só mudou o prazo para a empresa se beneficiar: no programa anterior, era de 5 anos; no novo, de 15 anos. No caso do Estado do Rio de Janeiro,oSTFderrubouodispositivoda leiestadual que, na prática, reduzia para 4% a alíquota do ICMS do querosene, que, então, deveria retornar a 16%. Por meio de dois decretos, um de julho e outro de agosto, o governo fluminense, primeiro, reduziu a alíquotapara 12% e, depois, concedeu,na prática, a isenção total do ICMS sobre o querosene. O governo do Espírito Santo criou, no mês passado, um programa que concede benefícios fiscais do ICMS para empresas que investirem em indústrias no Estado. Os benefícios serão maiores se os investimentos forem feitos em municípios com índicesdedesenvolvimentoeconômico e social mais baixos. Ainda em agosto, o governo do Pará – que também teve uma lei de incentivo fiscal declarada inconstitucional pelo STF – criou, por decreto, crédito do ICMS para o fornecimento de material de construção para o programa Nossa Casa. Tudo isso está sendo feito sem prévia aprovação do Confaz, ou seja, de modo flagrantemente inconstitucional. E ninguém está sendo impedido de fazer isso.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 11 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Notas & Informações

A ação mais antiga do Supremo O processo mais antigo à espera de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) já completou 52 anos de tramitação, há cerca de dois meses. Quando foi protocolado, em junho de 1959, o endereço da Corte não era a Praça dos Três Poderes, em Brasília, mas a Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro. O atual presidente do Supremo e relator da ação, ministro Cezar Peluso, tinha 16 anos de idade. O ministro mais moço, José Antonio Dias Toffoli, nem sequer havia nascido. Até o nome do País era outro: República dos Estados Unidos do Brasil. Com 12 volumes e 3 apensos, o processo tem 2.449 páginas – todas amareladas e muitas em processo de desintegração. Várias estão improvisadamente protegidas por sacos

plásticos, para não virarem pó. Pelas estimativas dos servidores da Casa, essa é, seguramente, a ação em tramitação no Supremo Tribunal Federal com maior número de ácaros por página. A ação foi proposta pelo então procurador-geral da República, Carlos Medeiros da Silva, contra o governo do Estado de Mato Grosso, que, naquele tempo, ainda não havia sido dividido. Para colonizar a região, o governo estadual havia doado a seis empresas lotes de terras públicas – hoje localizados em Mato Grosso do Sul –, com áreas superiores a dez mil hectares. O problema é que, pela Constituição de 1946, então em vigor, a doação não poderia ser feita sem prévia autorização do Senado. Como isso não ocorreu, o procurador-geral pediu a nulidade dos contratos. Em sua defesa, o governo mato-grossense alegou que não houve cessão das terras e que as seis empre-

sas, em troca do benefício recebido, se comprometeram a promover assentamentos de famílias de agricultores e pecuaristas e construir estradas, escolas, hospitais, olarias, serrarias e campos de aviação. Como mostra a excelente reportagem do jornal O Globo que inspirou este editorial, desde sua proposição, o processo já teve nove relatores. O primeiro foi o ministro Cândido Motta Filho, que se aposentou em 1967. O atual relator, ministro Cezar Peluso, assumiu o caso em junho de 2003 e, finalmente, concluiu seu voto e pretende incluí-lo numa das pautas de julgamento deste mês. A arrastada tramitação do processo se deve aos pedidos de diligências feitos pelos relatores que antecederam Peluso, para que fossem colhidos depoimentos de todas as pessoas que tinham comprado terras na região depois da doação. “Como achar esse povo?”, indaga Peluso.

Qualquer que seja a decisão que o Supremo vier a dar a este processo, ela não deverá ter maiores efeitos práticos – e esse é o aspecto mais surrealista do caso. Desde que as seis empresas beneficiadas pelo governo mato-grossense promoveram os primeiros assentamentos de pecuaristas e agricultores na região, há mais de cinco décadas, já foram registradas várias revendas de terrenos por ocupantes de boa-fé – e, mais importante ainda, foram erguidas cidades nas glebas doadas. Por isso, o resultado do julgamento será inócuo, uma vez que não se pode erradicar do mapa municípios de pequeno e médio portes nascidos de assentamentos irregulares. Como não podem tomar decisões contrárias ao que a Constituição de 46 determinava, os 11 ministros do Supremo serão formalmente obrigados a considerar inconstitucional a doação dos terrenos, feita em mea-

dos do século passado. Mas eles sabem que, objetivamente, não há como obrigar a União a despejar os ocupantes daqueles terrenos ocupados indevidamente e indenizar os atuais moradores das áreas que se encontram sub judice. Além dessa ação, o Supremo terá de julgar várias outras que também tramitam há décadas. Na lista dos processos mais antigos, que foram protocolados entre 1969 e 1981, quatro estavam sob responsabilidade da ministra Ellen Gracie. Como ela se aposentou sem apresentar seu parecer, essas ações serão enviadas a um novo relator. Dependendo do ritmo e da carga de trabalho do STF, esses processos podem bater o recorde de longevidade hoje detido pela ação proposta pelo procurador-geral da República há 52 anos. Esse é um retrato – que não se pode chamar de instantâneo – da Justiça brasileira.

Assaltos com explosivos

O acordo para o Ferroanel

s assaltos a caixas eletrônicos (ATMs, na sigla em inglês) dos bancos tornamse um dos mais sérios problemas de segurança pública no País. As quadrilhas, combatidas nas grandes metrópoles, preferem agora atuar no interior de vários Estados. Tornaram-se frequentes os ataques a ATMs localizadas em postos de gasolina, pontos de parada à margem de rodovias e até mesmo em áreas centrais de cidades menores. No Estado de São Paulo, é nítida a mudança de tática dos assaltantes. Levantamento feito pelo Estado, com base em dados do Serviço de Inteligência da Polícia Militar, mostra que o número de roubos e furtos de caixas eletrônicos, incluindo tentativas frustradas, foi de 494, de 1.º de janeiro a 17 de agosto, em todo o Estado, a maioria no interior. Em agosto (até o dia 17), foram 27 assaltos em municípios do interior, 6 na região metropolitana e apenas 2 na capital. Isso ocorre porque as áreas de comércio mais movimentadas da capital vêm sendo melhorpoliciadas, comaPMmonitorando os locais mais visados e os horários de atuação das quadrilhas. Por exemplo, quintafeira é o dia da semana em que ocorremmaisassaltos eoperíodo da manhã é o mais perigoso. ASecretariadaSegurançaPública tem agido com eficiência, desbaratandoquadrilhaseprendendopoliciaissuspeitos deenvolvimento com assaltantes. Ao todo, 13 policiais estão deti-

inda não existe projeto executivo, não está clara a participação financeira de cada parceiro, não se definiram esquemas de financiamento, nem há data para o início da obra. Mas, ainda que com muito atraso, o governo federal e o governo do Estado afinal chegaram a um acordo para a construção do Ferroanel de São Paulo. Agora se pode esperar que, dentro de algum tempo, o País conseguirá se livrar do que já se tornou seu maior gargalo ferroviário, que limita a expansão do transporte de passageiros na Grande São Paulo e o de carga para Santos. Trata-se de um passo essencial para tornar realidade uma obra que vem sendo estudada desde a década de 1990, mas que não saía do papel em razão de diversos problemas – entre os quais a indefinição da participação financeira de cada um, as dificuldades para a obtenção do licenciamento ambiental e as divergências entre os governos federal e paulista. Agora, “há um clima de entendimento” entre os dois níveis de governo, disse ao jornal Valor o diretor-geral da AgênciaNacionaldeTransportesTerrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo. Há pouco mais de um mês,ogovernadorGeraldoAlckmin havia anunciado que aguardavaosestudosdogovernofederal para o Ferroanel e garantira que “São Paulo vai ajudar” na execução da obra. Em junho, a parceria entre a União, por meio da ANTT, e o governo paulista havia sido formalizada por meio

O

dar o PSD e com asseclas debandar para a base alugada do governo federal, já começou a tomar aulas com os mestres do PT de como assaltar o erário. O País está bichado. HUMBERTO DE L. FREIRE FILHO hlffilho@gmail.com São Paulo

De cabo a rabo

O caso isolado de fraude em licitação na cidade de São Paulo, denunciado pelo Estadão, só vem confirmar o que acontece no Brasil de cabo a rabo, do menor ao maior município, estendendo-se a todos os governos estaduais e federais. E não fica só por aí, não. Para que haja corruptor é preciso haver o corrompido, que para fazer o ilícito precisa trabalhar com caixa 2, o que o transforma num sonegador. Não precisamos ser matemáticos para entender que pelo menos 50% do Brasil vi-

dos. Está faltando, contudo, um melhor controle e vigilância de pedreiras e obras que utilizam explosivos, roubados em grandesquantidades pelosarrombadores de caixas eletrônicos. Aí pode estar a raiz do problema. Osbandidosqueantesutilizavam pé de cabra, maçaricos ou outras ferramentas para esse tipo de furto, agora têm pressa e tudo é mais fácil com o uso de explosivos. Segundo o delegado-geral da Polícia de São Paulo,MarcosCarneirodeLima,esse foi um dos fatores que alimentaram o crescimento dos assaltos a ATMs. Segundo ele, esse tipo de ação era comum no

Maior controle de explosivos decerto reduzirá assaltos a caixas eletrônicos Nordeste há algum tempo, mas chegou rapidamente a São Paulo, tendo atingido o pico em maio deste ano. A lei exige que as empresas que utilizam materiais explosivos se registrem na Diretoria de Produtos Controlados do Exército. As empresas também devem solicitar autorização àquela diretoria para fazer pedidos a produtores nacionais ou para importação.Mascabe àsempresas credenciadas a guarda dos materiais, devendo qualquer desvio ser comunicado aos órgãos de segurança pública. As ocorrências de roubos e furtos de materiais explosivos registradas pelas polícias estaduais revelam um aumento absurdo.RelatóriodoExército, divulgado pelo jornal O Globo, dá

ve nas sombras e os outros 50% sustentam esses safados sem rosto, mas com os bolsos cheios de dinheiro roubado do povo! BEATRIZ CAMPOS beatriz.campos@uol.com.br São Paulo

DEZ ANOS DO 11/9 Justiça feita

Embora a morte do mentor dos ataques suicidas contra os EUA, Osama bin Laden, não traga de volta à vida todas as vítimas do World Trade Center nesse dia negro da História americana recente, a sede por justiça do governo e de seu povo prevaleceu. E o serviço de inteligência da Marinha americana, por intermédio da 6.ª tropa de elite dos Seals, eliminou o inimigo número um do mundo livre. Parabéns. PETER CAZALE pcazale@uol.com.br São Paulo

conta de que, no ano passado, 1,06 tonelada de emulsão de nitrato de amônia e de dinamite foi subtraída de pedreiras e de obras em execução nas estradas, volume 170% superior a 2009. Foram desviados também 11,7 quilômetros de cordel detonante, além de 568 espoletas. No Rio Grande do Sul foram furtados 373 kg de emulsões explosivas, sendo 273 kg de uma só vez em novembro de 2010, colocando em alerta toda a polícia gaúcha. Alagoas veio em segundo lugar, com furto de 300 kg. O informe do Exército não inclui cargas de explosivos roubados em rodovias e depois resgatadas. Nem sempre os ladrões tem o conhecimento necessário para manejar explosivos e a imperíciaocasionouo fracassodemuitos ataques. Algum tipo de treinamento militar ajuda os meliantes, e não admira que nesses assaltos estejam envolvidos alguns ex-militares. Não são raros os casos em que os assaltantesusamainternetparateracesso à técnica. Assim, parece lógico que, além das ações policiais que têm sido realizadas e das precauçõesque os bancos têm adotado – como o dispositivo que tinge as cédulas em caso de explosão da ATM – os órgãos de segurança dos Estados deveriam exigir das empreiteiras e empresas que exploram pedreirasou outras atividadesque empregam explosivos que reforcema segurançade seus depósitos desses materiais. As áreas externasdessesarmazéns deveriam igualmente ser mais bem policiadas.

“O grande legado da era Lula foi a oficialização da corrupção no País. O resto foi estar no lugar certo na hora certa” HEITOR PENTEADO DE MELLO PEIXOTO FILHO / SÃO PAULO, SOBRE A CARTA DO EMBAIXADOR DOS EUA VAZADA NO WIKILEAKS heitorpenteadomp@hotmail.com

“A sociedade tem a obrigação de reagir com firmeza contra o garrote vil” ANTONIO ACORSI / JUNDIAÍ, SOBRE A CENSURA toninho@belflex.com.br

A

da contratação do consórcio que definirá o modelo operacional do Ferroanel e estabelecerá as diretrizes para a transposição da Grande São Paulo. Sem esse acordo, não sairia do papel o projeto de um arco ferroviário contornando São Paulo, para retirar o tráfego dos pesados trens de carga dos trilhos que cortam a região central da capital e de outros municípios da Grande São Paulo. A injustificável demora dos governos para chegar a um entendimento sobre a obra reduzia de maneira notável a capacidade operacionalda empresa concessionária,aMRS Logística,e limi-

Construção do contorno retirará das ruas da capital, por dia, cerca de 5 mil caminhões tava a melhoria dos serviços de transporte de passageiros. Hoje, a concessionária – que obteveemleilãoodireitodeoperar a linha da antiga Rede Ferroviária Federal que atravessa a GrandeSão Paulo–só podeoperar emdois períodos, entre 9 e 15 horas e entre 21 e 3 horas, o que reduz a eficiência do transporte eoencarece. Alémdisso,aferrovia corta áreas densamente povoadas, o que reduz a velocidade dos trens, que, em alguns trechos, cai para 5 quilômetros por hora, tornando ainda mais caro o transporte. Nos demais horários, os trilhos são utilizados pelos trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Tanto a MRS como a CPTM têm planos de expansão de seus serviços, mas eles não

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Após 7 anos, Facebook passa Orkut no Brasil

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Rede social de Mark Zuckerberg tem 30,9 milhões de usuários no País, ou 68,2% dos internautas. Orkut fica com 29 milhões, ou 64%

● “A pergunta que não quer calar é se o Google+ vai pegar?” ANDRÉ CAMPOS

● “Finalmente. Isso pode fazer o Orkut pensar e fazer um serviço decente.” DEVANIL JÚNIOR

HÁ 772 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “É uma guerra fantástica: Google apostando no Plus, AOL querendo fusão com o Yahoo. Para mim deveriam parar e compartilhar tudo, assim a internet ganharia.” LEANDRO ALEXANDRINO

poderão sair do papel enquanto persistir esse gargalo. Das três opções que estavam sendo discutidas – a construção do Tramo Sul do Ferroanel, a abertura de um túnel de 2 a 3 quilômetros de extensão na região central de São Paulo (na Barra Funda, Luz e Brás) e a construção do Tramo Norte –, foi escolhida a última para o início das obras, mas com um novo traçado. Agora, esse tramo, de cerca de 60 quilômetros entre as estações de Jundiaí e Engenheiro Manoel Feio, em Itaquaquecetuba, acompanhará o traçado da alça norte do Rodoanel, de Perus até Itaquaquecetuba. A escolha do Tramo Norte exclui a construção do túnel na área central de São Paulo. Mas não está descartada a construção do Tramo Sul, que até o ano passado o governo de São Paulo considerava prioritário. Pela primeira vez desde que se iniciou a discussão do Ferroanel, a concessionária admite que pode participar financeiramente da obra. Hoje, apenas 80 mil de 2,5 milhões de contêineres que chegam anualmente ao Porto de Santos são transportados por trem. Com o Ferroanel, o volume pode chegar a 1,5 milhão de contêineres. Além disso, com a eliminação do gargalo ferroviário de São Paulo, o crescimento do transporte por trem poderá retirar das ruas da cidade 5 mil caminhões por dia. Não há justificativas para o fato de, diante dos problemas que o gargalo traz e das facilidades que sua eliminaçãopodeproduzir,asautoridades terem demorado tanto para chegar a um acordo.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 12 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Regime para a Copa na Justiça A iniciativa do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de recorrer, na sexta-feira, ao Supremo Tribunal Federal contra dispositivos a seu ver inconstitucionais do Regime Diferenciado de Contratação (RDC) – que criou um sistema especial de licitações para as obras relacionadas com a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 –, é coerente com as preocupações que vinha externando no âmbito do Ministério Público Federal. Ele teme que, em comparação com a Lei 8.666, que rege as concorrências públicas no País, o novo modelo propicie mais oportunidades para atos lesivos ao erário – bandalheiras, na linguagem popular. De autoria do governo, o projeto do RDC, concebido para acelerar os empreendimentos tidos como neces-

sários àqueles eventos esportivos de ressonância mundial, foi aprovado pelo Congresso em julho último e sancionado no mês seguinte pela presidente Dilma Rousseff. Imediatamente, o bloco de oposição, integrado pelo PSDB, DEM e PPS, pediu ao Supremo a derrogação da lei, sob o argumento de que ela reduz a transparência das contas do Executivo e pode facilitar a corrupção. Os receios não são infundados, mas tampouco se pode negar que, depois de a Câmara dos Deputados ter aperfeiçoado a proposta original, se fortaleceram as posições favoráveis ao regime especial. O principal alvo das críticas é a passagem que obriga o poder licitante a manter em sigilo o valor que presume adequado para cada obra. Na Lei de Licitações, a estimativa é sempre pública. Em meados do ano, quando as atenções se voltaram para o projeto – tardiamente, aliás, por ter chega-

do ao Congresso em 2009 –, advertiu-se que o sigilo dos orçamentos parecia se estender até aos órgãos oficiais de controle, a começar do Tribunal de Contas da União (TCU). Na tramitação da matéria, esse risco foi eliminado. E se ficou sabendo que a norma é recomendada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne uma trintena de nações, entre elas as mais ricas do mundo. A entidade entende que o segredo reduz o custo dos empreendimentos, ao estimular as empresas interessadas a oferecer preços mais baixos e ao impedir conluios entre elas. Outro ponto visado é o que dispensa os governos de exigir dos participantes das licitações a apresentação do respectivo projeto básico: os ganhadores que desenhem a obra e cuidem de executá-la no tempo devido. As empreiteiras, por sua vez, ficam desobrigadas de atestar sua ca-

pacidade técnica ao se candidatar: apenas a empresa escolhida terá de exibir prova de habilitação. Essas polêmicas inovações visam a acelerar o processo licitatório e a entrega do serviço, reduzindo – em tese – o gasto público. Enquanto o procurador-geral Roberto Gurgel adverte que “é preciso cuidar para que esses dispêndios estejam rigorosamente de acordo com os princípios consagrados na Constituição”, o que nem sempre estaria transparente no texto da lei, o presidente do TCU, ministro Benjamin Zymler, considera “excelente” na sua maior parte o regime especial. Em um recente debate ele se declarou “perplexo” com as críticas ao modelo, que seria um casuísmo para recuperar o tempo perdido na modernização da infraestrutura nacional, visando à Copa e aos Jogos do Rio de Janeiro, ao preço de afrouxar o controle sobre as empreitadas.

Não é esse, contesta Zymler, o espírito da nova lei. Ainda que não seja – o que, a rigor, só o futuro poderá dizer –, a coexistência de dois sistemas de licitação é no mínimo estranha. Se o RDC é tão mais conveniente do que a Lei 8.666, por que o governo não a substituiu de vez pelo formato alternativo? Além desse contrassenso, há uma questão prática no horizonte. Pela nova fórmula, cidades distantes até 350 quilômetros das sedes do Mundial podem tocar obras alegadamente relacionadas aos eventos. Mas alguns municípios, por insegurança jurídica, tenderiam a preferir a norma geral das licitações. Seria o caso da prefeitura do Rio de Janeiro, segundo o colunista do Globo Merval Pereira. Em suma, se o RDC não tivesse sido aprovado contra o relógio – para variar –, o Congresso poderia ter produzido uma lei com menos pontos duvidosos.

O arquivamento de inquéritos

Onde o Brasil é competitivo

ressionados a cumprir a meta 2 da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp) – estabelecida em conjunto pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Conselho Nacional de Justiça, Defensoria Pública, Ministério da Justiça e OAB –, que previa para este ano a conclusão dos 140 mil inquéritos sobre homicídios dolosos instaurados até dezembro de 2007, muitos promotores de Justiça optaram pela solução mais fácil. Em vez de sacudir a poeira de inquéritos que estavam esquecidos nos cartórios policiais, dando-lhes destino ou determinando novas diligências, os membros do Ministério Público determinaram o sumário arquivamento da grande maioria, para chegar a dezembro com as prateleiras vazias. Na pressa de mostrar serviço e reduzir a carga de trabalho, muitos promotores chegaram a utilizar um mesmo modelo de formulário, mudando apenas o nome das vítimas. Há, inclusive, casos de inquéritos que nem foram compulsados pelos promotores, para fundamentar a decisão pelo arquivamento. Com isso, laudos técnicos realizados por peritos dos Institutos Médicos Legais foram arquivados, provas coletadas pelos órgãos policiais foram descartadas, evidências foram ignoradas pelos promotores e muitos crimes antigos sem autoria definida deixaram de ser esclarecidos, reforçando com isso o sentimento de impunidade disseminado em amplos se-

o que depende da iniciativa privada, o Brasil é eficiente e ocupa um lugar confortável na classificação dos países mais competitivos promovida anualmente pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês). No que depende do setor público, porém, o Brasil vai mal e se classifica entre os 40 piores países, numa lista de 142. Em alguns itens é o pior de todos. O estudo da WEF baseia-se em 12 conjuntos de fatores, como as instituições, a disponibilidade e a qualidade da infraestrutura, o ambiente macroeconômico, os serviços de saúde e de educação, a eficiência do mercado, as condições do mercado de trabalho, o mercado financeiro, a capacidade tecnológica e a capacidade de inovação. No Brasil, seu trabalho conta com a colaboração do Movimento Brasil Competitivo e da Fundação Dom Cabral. O Brasil está entre os 40 ou 50 melhores países do mundo no que se refere a padrões das demonstrações financeiras das empresas e de proteção aos investidores, disponibilidade e qualidade dos serviços financeiros, disponibilidade de fornecedores locais, gastos das empresas com pesquisa e desenvolvimento e capacidade de inovação. Quanto ao tamanho do mercado interno, o Brasil ocupa o 10.º lugar. São esses alguns itens que impulsionam o País para melhores posições na classificação mundial de competitividade. Mas o Brasil vai muito mal

P

menos um pouquinho disso. JOÃO BATISTA PIOVAN jb@reunidaspiovan.com.br Osasco

Mensalão

O empresário alega que não pode ser condenado – tadinho! – se o ex-presidente, que seria um dos beneficiários do mensalão, não foi denunciado. Mas não disseram que o mensalão nunca existiu? Como é que agora haveria beneficiários? Quem está cometendo perjúrio? FLAVIO MARCUS JULIANO opegapulhas@terra.com.br São Paulo

Deboche

O câncer do Estado brasileiro é a corrupção. A metástase o espalha por todo o organismo e Lula, com suas atitudes de deboche

tores da sociedade. A estimativa é de que, em média, 80% dos inquéritos sobre homicídios dolosos foram arquivados sumariamente em todos os Ministérios Públicos estaduais. O maior número de arquivamentos ocorreu em Goiás, onde os promotores estaduais arquivaram 97% dos inquéritos. Em seguida vem o Estado do Rio de Janeiro, com 94% dos inquéritos arquivados. Em Pernambuco, o Ministério Público arquivou 85% dos inquéritos. Em São Paulo, foram arquivados 71% dos inquéritos. O menor porcentual foi registrado no Maranhão, on-

Para cumprir meta, Ministério Público arquiva número recorde de inquéritos criminais de, de cada 100 inquéritos, 86 resultaram em propositura de ação criminal, 13 foram arquivados e 1 ficou pendente. A Meta 2 da Enasp tem por objetivo coibir o homicídio, combater a impunidade, reforçar a segurança pública e reafirmar o primado do direito e da justiça. O arquivamento em massa dos inquéritos sobre homicídios dolosos instaurados até 2007, contudo, está mostrando uma outra realidade. Emsuagrandemaioria,essesinquéritos dizem respeito a vítimas que residiam em favelas e bairros violentos da periferia. Muitas tinham prontuário policial e vinham sendo ameaçadas por milícias e narcotraficantes. O arquivamento em massa dos inquéritos sobre homicídio

dos valores que constroem uma verdadeira nação, só agravou a cultura, que lamentavelmente se disseminou pelo povo. Mas agora que os acusados do mensalão o estão acusando não haverá como esconder que Lula enganou o povo. Ele merece muita vaia e muito ovo! GILBERTO DIB gilberto@dib.com.br São Paulo

CENSURA Infâmia

Não suporto mais, por indignação e vergonha, ler todos os dias a informação – embora agora, infelizmente, bem discreta – de que o maior jornal do País continua sob censura. Hoje tal ignomínia alcança 773 dias. Quando lerei o término dessa infâmia? LUIZ GONZAGA DE BEM lgdebem@hotmail.com Florianópolis

doloso é, portanto, mais uma prova da desigualdade no tratamento dado aos mortos pobres. Para os especialistas, a questão éaindamaisgrave.Levantamento do Núcleo de Estudos da Violência da USP revela que cerca de 40% dos assassinatos comunicados às delegacias paulistas nem mesmo se convertem em inquérito. E também nesses casosasvítimasmoravamemfavelas e bairros da periferia. “A Justiça não é igual para todos e as pessoas ficam descrentes”, diz o sociólogo Sérgio Adorno. “O arquivamento revela a deficiência do modelo de investigação”, afirma Renato Sérgio de Lima, doFórumBrasileirodeSegurança Pública, depois de criticar o arquivamento indiscriminado dos inquéritos. Emresposta às críticas,o procurador-geral da República e chefe do CNMP, Roberto Gurgel,atribuiuo problema aosgargalos da Justiça, mas reconheceu que os índices de arquivamento de inquéritos em alguns Estados são altos e defendeu a aplicação de sanções nos casos em que houve abuso por parte dos promotores. No Rio de Janeiro, o procurador-geral de Justiça, Cláudio Lopes, anunciou que irá avaliar se houve errosnos pedidosdearquivamento de casos de homicídio e adotar as medidas disciplinares. Evidentemente, Gurgel e Lopes estão cumprindo seu papel, defendendo o Ministério Público. Mas o balanço da Meta 2 deixa claro que, pelo menos até o momento, muitos promotores de Justiça não estão preocupados em reduzir o alto número de assassinatos não esclarecidos.

“Só cego não enxerga: o mensalão e as novas denúncias mostram com clareza que a corrupção foi a argamassa usada para perpetuar o poder de Lula” HELENA RODARTE C. VALENTE / RIO DE JANEIRO, SOBRE OS ESCÂNDALOS NO GOVERNO helenacv@uol.com.br

“A corrupção que vem de cima para baixo é irmã siamesa da violência que vai de baixo para cima” CONRADO DE PAULO / BRAGANÇA PAULISTA, IDEM conrado.paulo@uol.com.br

N

em outros pontos, especialmente os referentes ao governo. Ocupa a 104.ª posição na qualidade da infraestrutura (no item transporte aéreo, está no 122.º lugar), a 115.ª na qualidade do sistema educacional, a 127.ª na qualidade do ensino de matemática e de ciências, a 138.ª na quantidade de dias necessários para se abrir uma empresa, a 128.ª nas exigências para admitir e demitir trabalhador e a 136.ª no desperdício do dinheiro público. O Brasil é o pior país de todos os analisados pelo WEF no que se refere ao custo da regulação governamental e ao peso e abrangência dos impostos.

Melhora a posição do Brasil no índice de competitividade do Fórum Econômico São características da economia e das instituições brasileiras que preocupam os dirigentes de empresas ouvidos pelo WEF e deveriam preocupar mais os políticos e as autoridades do País. Apesar do ônus que o governo impõe à atividade econômica, o País vem evoluindo. Classificado na 53.ª posição no Índice de Competitividade Global divulgado pelo WEF na terça-feira, o País melhorou cinco posições em relação ao índice do ano passado. Nos últimos seis anos, subiu 13 posições. O diretor e economista do Centro para a Competitividade Global do WEF, Beñat BilbaoOsorio, observou que o Brasil vem melhorando a cada ano. Mesmo em itens em que está

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Egito, Turquia e Irã se unirão contra Israel

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A opinião é do embaixador brasileiro no Egito, que prevê investida de países contra o governo de Israel ● “Israel briga com árabes; árabes, com Israel e os verdadeiros causadores dos problemas ficam quietinhos vendendo armas.” PETER BIONDI

● “Ou Israel muda seus governantes ou realmente ficará isolado e prejudicando as relações dos EUA com o resto do mundo.” EROS JOSÉ ALONSO

HÁ 773 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Será que não seria a hora de Israel rever sua política externa e interna?” SÉRGIO TAVARES

malclassificado,eque representam um obstáculo para seu desenvolvimento, o País tem apresentado alguma evolução. Como consequência da crise dos países desenvolvidos – que mudou o polo de crescimento mundial, hoje mais dependente do desempenho dos países em desenvolvimento –, estreitouse a diferença de competitividade entre os países ricos e os pobres.Os EUA, por exemplo,vêm perdendo posições desde o início da crise global, há três anos. Hoje ocupam a quinta posição. Além do fraco desempenho da economiaamericana, tambémo ambiente político do país, marcado pela baixa confiabilidade dos políticos e pela ineficiência do governo, passou a preocupar osdirigentesempresariaisdetodo o mundo Em movimento contrário ao dosEUA,ospaíseslatino-americanos se destacaram na nova classificação do WEF. Como o Brasil, a Bolívia avançou cinco posições(estána103.ª).OMéxico pulou oito (para a 58.ª); o Peru, seis (para a 67.ª); e o Equador, quatro (para a 101.ª). “Aresistência (dospaíseslatino-americanos) à crise e a perspectiva de crescimento econômico vieram acompanhadas de aumento de competitividade”, observou o diretor do WEF. Mesmo assim, a classificação média desses países ainda é ruim e, para avançar, eles precisam fazer reformas. Na maioria deles,as instituições são frágeis, há insegurança, a infraestrutura éprecáriaeébaixa suacapacidade de inovação. “São mudanças difíceis, mas terão de ser feitas”, concluiu Bilbao-Osorio.

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 13 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Crise nos mercados sem rumo Enquanto os mercados enfrentavam mais um dia de pânico em todo o mundo, o presidente Barack Obama enviava ao Congresso dos Estados Unidos seu novo plano de recuperação da economia – investimentos e benefícios fiscais no valor de US$ 447 bilhões, projetados para criar empregos, incentivar o consumo, reativar a indústria e tornar o país mais eficiente. Horas antes de encaminhar o projeto, ele fez um minicomício num dos jardins da Casa Branca, defendendo seu plano perante um grande grupo de professores, veteranos, donos de pequenos negócios e outros possíveis beneficiários dos incentivos propostos pelo governo. O presidente está empenhado em mobilizar apoio em todo o país para pres-

sionar os congressistas e evitar o fracasso de mais essa iniciativa. Já na semana passada, líderes da oposição haviam prometido, em carta a Obama, examinar suas ideias com atenção. O site da Casa Branca registrava, até ontem à tarde, 53 manifestações de apoio ao projeto, com declarações de congressistas, governadores, prefeitos, grandes empresários, líderes de entidades empresariais e dirigentes de organizações sindicais, entre elas algumas das mais poderosas, como a United Steelworkers (do setor siderúrgico) e a AFL-CIO, a mais conhecida e mais tradicional central trabalhista do país. A negociação do projeto com os congressistas deverá ser complicada, mas a ampla mobilização de apoio pode ser um grande trunfo para o governo. De toda forma, a iniciativa de Obama foi o esforço mais importante e mais promissor, em vá-

rios meses, para impedir o agravamento da crise no mundo rico. Enquanto o presidente americano fazia seu minicomício na Casa Branca, as bolsas europeias iam ladeira abaixo, acompanhando as da Ásia, e mais uma jornada tensa começava em Nova York. O fim de semana havia passado sem se confirmar o rumor de um calote grego. Mas os mercados voltaram a funcionar, na segunda-feira, como se houvesse pouca dúvida quanto ao risco de um desastre iminente. Ações de bancos franceses, com carteiras cheias de títulos da Grécia e de outros países altamente endividados, despencaram. No domingo o governo grego havia anunciado um novo imposto sobre imóveis, para conter o crescente déficit público, mas a notícia produziu pouco ou nenhum efeito. Deu-se mais atenção, nos mercados, a um artigo do ministro da Economia da Alemanha, Philipp Roesler, publica-

A defesa comercial

A

Câmara de Comércio Exterior (Camex) tem tido um papel cada vez mais ativo no reforço da política de defesa comercial do governo. O órgão funciona na esfera do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), mas suas decisões finais são tomadas por um conselho deliberativo composto por sete ministros. Esse esquema, criado para proporcionar um melhor entrosamento na execução de uma política de comércio exterior acabou tornando as deliberações mais difíceis, em passado ainda recente, à falta de uma clara orientação superior. Isso parece estar mudando, desde que o governo passou a se preocupar com o aumento desmedido das importações, nesta fase de retração das economias dos países desenvolvidos, que buscam exportar tudo o que podem para sustentar o seu nível interno de atividade. A defesa é necessária, mas é recomendável agir com moderação para evitar que o País resvale para o protecionismo. Como mostram suas últimas resoluções, a Camex tem dado respostas rápidas às queixas de setores que se sentem prejudicados pela concorrência desleal de produtos importados. Na terça-feira da semana passada, o colegiado aprovou regras para aplicação de direitos antidumping com efeito retroativo e elevou para 35% a alíquota ad valorem para a importação de sete produtos. Medidasantidumpingdeefei-

truído o aeroporto de Vitória (ES). Essa ação, que está no Supremo, foi proposta desde 1948 e até hoje nada foi pago aos legítimos proprietários. ACHILLE APREA newplay1@terra.com.br Vitória

Justiça injusta

Que barbaridade, o processo mais antigo à espera de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) completou 52 anos! A Justiça vem capengando há quase um século. Nada do que vem sendo feito ameniza o trabalho dos abnegados juízes que se debruçam sobre processos e ainda precisam cumprir metas, em início de carreira. Verdadeiros peões da Justiça. O trabalho é insano e interminável. Também, depois de tantas brechas nas leis, fica aquela sensação de impunidade, que o cidadão brasileiro não se cansa

to retroativo são previstas pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Ocorre que os importadorestratamdeacumulargrandesestoquestodasasvezes que o governo anuncia o iníciodeinvestigações sobre apráticadedumping,quepodemculminar com a cobrança de sobretaxa sobre aquele produto que vinhasendocolocadonomercado interno a preço que configurava concorrência desleal. Assim, quando afinal é imposto, o gravamenãosurteoefeito desejado. Para evitar que isso ocorra, ficou agora estabelecido que asobretaxa podetervigênciaretroativadeaté 90dias antes deo

Camex tem dado resposta rápida aos setores que se sentem prejudicados governo decidir se se trata ou não de dumping. Como o prazo para o MDIC se pronunciar é de 120 dias, os importadores teriam um interregno de 30 dias para fazer estoques. Naturalmente, as autoridades estão cientes dessa possibilidade, mas partem da presunção de que o processo antidumping seja concluído rapidamente. A retroatividade pode pegar desprevenidos alguns importadores, uma vez que o governo já aplicou direitos antidumping em 81 casos, mais da metade deles sobre produtos chineses. Passaram agora a fazer parte desse grupo o sal grosso do Chile e tubos de aço-carbono da China (alíquota fixa de US$ 743 por tonelada). A Camex agiu com igual rigor

de ver. A polícia prende e a Justiça solta. Assim não há cristão que dê conta de tantos processos. Se o cidadão perde, recorre. Se ganha, a outra parte recorre. E a novela não tem fim. Isso sem contar com a bondade de alguns que, quando querem ganhar tempo, pedem vista do processo. LUCIANA LINS lucianavlins@gmail.com Campinas

Mensalão

Será que o julgamento do mensalão também vai demorar 52 anos, como outros processos que mofam no STF? Se a população deixar, com certeza – e, principalmente, com a bênção e as artimanhas de toda a “quadrilha”, que faz das tripas coração para ficar no poder outros tantos! BEATRIZ CAMPOS beatriz.campos@uol.com.br São Paulo

do no jornal Die Welt. “Para estabilizar o euro, não pode haver pensamentos proibidos no curto prazo, e isso inclui, se necessário, uma insolvência ordenada da Grécia, se os instrumentos necessários estiverem disponíveis”, afirmou o ministro. Jamais uma autoridade europeia falara com tanta clareza sobre a possibilidade de um calote grego. Já se havia proposto uma renegociação com os bancos, até agora sem muito sucesso, mas a frase do ministro alemão aponta para uma solução mais ampla e politicamente mais difícil. No entanto, esse talvez seja o caminho mais seguro e menos custoso para uma solução eficiente do problema grego. Uma nova missão de representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu (BCE) deve ir a Atenas provavelmente nesta quarta-feira. O novo imposto anunciado pelo governo pode

funcionar como a senha para a liberação de nova fatia da ajuda prometida à Grécia. Isso poderá resolver dificuldades imediatas, mas a estabilização da economia grega é um desafio imensamente mais complicado. Uma reestruturação coordenada, com perdas planejadas e adequadamente distribuídas, pode ser, afinal, o melhor, se não o único, meio de equacionar o problema, definir com clareza os custos e afastar de uma vez o risco de contágio. Uma solução desse tipo requer, no entanto, a ação de um político dotado de capacidade excepcional de liderança. Parece haver no mundo rico, neste momento, uma grave escassez de políticos dessa envergadura. O fiasco da reunião de ministros do Grupo dos 7 (G-7), no fim de semana, apenas confirmou a incapacidade dos governos de promover ações articuladas contra a crise.

O xis da questão do mensalão ao incluir na Lista de Exceção da Tarifa Externa Comum (Letec) – ou seja, da relação de produtos não sujeitos à redução progressiva de tarifas no âmbito do Mercosul – sete produtos: pneus, porcelanatos, aparelhos de ar-condicionado “split system” e seus condensadores, bicicletas, barcos a motor, rodas e eixos ferroviários. Sobre esses produtos incidiam alíquotas do imposto de importação entre 12% e 20% e, a partir de agora, todos passam a estar sujeitos a uma tarifa de 35%, a mais alta permitida pela OMC. Como o Brasil só tem direito a ter 100 itens na lista de exceção à TEC, a Camex, para não exceder esse número, retirou sete itens de produtos menos importados para dar lugar aos que agora passaram a estar sujeitos à maior taxação. A questão agora é saber em que medida isso concorrerá para a redução das importações. A imposição de altas tarifas não tem funcionado como barreira para importação de bens de consumo.Não há melhor exemplo que os automóveis fabricados no exterior, que já pagam uma tarifa de35%, mas cujas importações não param de subir, tendo alcançado US$ 6,250 bilhões de janeiro a julho deste ano – 47,25% a mais que no mesmo período de 2010 (US$ 4,244 bilhões). É duvidoso que, por causa da elevação de tarifas alfandegárias, deixem de ser importados pneus, bicicletas, etc., enquanto o consumo interno estiver aquecido,ocâmbiosobrevalorizado e as condições de crédito atraentes para o consumidor.

“Se a CPMF não conseguiu, não é criando outro imposto que se vai tirar a saúde da UTI” FILIPE LUIZ RIBEIRO SOUSA / SÃO CARLOS, SOBRE A AMEAÇA DE AUMENTO DA CARGA TRIBUTÁRIA filipelrsousa@yahoo.com.br

“Cuidado, Marcos Valério, podem fazer com você o que fizeram com Celso Daniel e Toninho do PT!” FABIO FIGUEIREDO / SÃO PAULO, SOBRE O MENSALÃO fafig3@terra.com.br

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om o término, na quinta-feira passada, do prazo para os réus do mensalão apresentarem suas alegações finais no processo aberto contra eles em 2007, que o STF deverá julgar no próximo ano, vieram a público os argumentos graças aos quais pretendem ser absolvidos os mais notórios protagonistas do escândalo de suborno de deputados federais para favorecer o presidente Lula, no seu primeiro mandato. É o caso dos integrantes do “núcleo principal da quadrilha”, conforme a denúncia formulada pelo então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza – e ratificada em sua quase totalidade pelo seu sucessor, Roberto Gurgel. Reconduzido pela presidente Dilma Rousseff para um novo período no cargo, Gurgel corroborou, por exemplo, a conclusão de Souza, segundo a qual o então ministro e depois deputado cassado José Dirceu foi o “chefe da quadrilha” que arquitetou e conduziu, a partir do PT, o esquema de compra de apoios ao governo Lula no Congresso Nacional. Dos 40 réus originais, um (o ex-deputado José Janene, do PP) faleceu, outro (o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira) foi excluído do processo em troca de prestação de serviços comunitários e dois foram exonerados, por falta de provas, pelo atual procurador: o ex-ministro Luiz Gushiken e um irmão do tesoureiro do PL, Antonio Lamas. Os advogados de Dirceu reiteraram, nas razões finais, que

inexiste no processo algo “que possa sequer sugerir” que o seu cliente interferisse ou mesmo estivesse a par do que se passava na administração ou com as finanças do partido do qual já tinha sido presidente, no período que esteve à frente da Casa Civil. “Todas as provas”, escreveram os criminalistas que o defendem, “mostram que (o ex-tesoureiro) Delúbio Soares atuava com independência”. Eles consideram “completamente descabida” a versão de que Dirceu tivesse qualquer vínculo com o publicitário Marcos Valério, tido como o operador do mensalão. Caberá ao

Defesa de mensaleiros leva à questão vital do escândalo: Lula foi cego, surdo e mudo? STF, a começar do relator da ação, ministro Joaquim Barbosa, acolher ou rejeitar à luz dos autos essas negativas aparentemente implausíveis. Se fossem ao menos verossímeis, o procurador-geral Gurgel não teria endossado com tamanha convicção o juízo do predecessor sobre o dirigente petista. É bem verdade que Delúbio chamou a si a responsabilidade exclusiva pelos negócios do partido com Marcos Valério. Mas é o que se espera de qualquer pezzonovante mafioso conhecedor do implacável código de conduta da organização. Já o então deputado e presidentedalegenda,JoséGenoino,tenta se distanciar dos suspeitos empréstimos tomados em 2003 por Delúbio no Banco Rural e no

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Edir Macedo é denunciado pelo MPF

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Acusações contra líder da Igreja Universal incluem lavagem de dinheiro e formação de quadrilha ● “Se o MPF denunciou é porque as provas são irrefutáveis, por isso a demora na apresentação da denúncia.” TONETTO BÓZZ DELONI

● “É triste ver pessoas que se dizem evangélicas sujarem a imagem de um povo que verdadeiramente é fiel.” ETORE MENEGATTO

HÁ 774 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Lamento apenas pelas pobres almas iludidas por uma falsa igreja. Os responsáveis precisam ser detidos.” CRISTIANA DOURADO

BMG, no valor de R$ 2,4 milhões, em benefício de companheiros e dos novos amigos do governo Lula. A defesa de Genoino, para quem os empréstimos se destinavam a “fazer frente ao verdadeiro caos financeiro vivenciado pelos diretórios regionais do PT”, afirma que ele assinou os papéis apenas “por condição estatutária”. Por esse inconvincente raciocínio, “a legalidade, a viabilidade e o cabimento das transações” não eram da alçada do titular do partido, sendo o seu autógrafo “requisito meramente formal para a execução do empréstimo”. Genoino, assim como Dirceu e Delúbio, foram denunciados por formação de quadrilha e corrupção ativa. Marcos Valério responde ainda porlavagemdedinheiro,peculato e evasão de divisas. O seu advogado pergunta comopodeo seucliente sercondenado por supostamente intermediar o financiamento do esquema, sem que estejam em julgamento “as condutas dos interessados no suporte político ‘comprado’ (presidente Lula, seus ministros e seu partido) e dos beneficiários financeiros (partidospolíticosdabasealiada)”.Assinala ser esse “um raríssimo caso de versão acusatória de crime” que deixa mandantes e beneficiários em segundo plano, “alguns, inclusive, de fora da imputação, embora mencionados na narrativa, como o próprio presidente Lula”. Esse sempre foi o xisda questão:atentativa deLula de fazer crer que ignorava o esquema por completo – cego, surdoemudocomo osmacaquinhos da metáfora.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 14 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação

Notas e Informações A3

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estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Parceria para o País Um bom negócio, dizem os americanos numa platitude bem formulada, só será um bom negócio quando for um bom negócio para todos os envolvidos no negócio. No caso das parcerias anunciadas ontem no Palácio dos Bandeirantes pela presidente Dilma Rousseff e o governador Geraldo Alckmin, pode-se ir além. O “negócio” beneficia não apenas os seus participantes diretos, mas também os entes federativos que eles encarnam, a União e o Estado de São Paulo, e ainda a economia nacional – desde que, naturalmente, saia do papel. Serão também benéficos para contingentes da população paulista a unificação do programa social do Estado com o Bolsa-Família, anunciada semanas atrás, e o futuro acordo pelo qual São Paulo complementará com

até R$ 20 mil por unidade o teto de financiamento do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, fixado em R$ 65 mil. Calcula-se que o acréscimo poderá favorecer pelo menos 70 mil famílias. Sem falar nas dificuldades por que passa o programa com o encarecimento dos lotes disponíveis para edificação – e que já não se distinguem pela abundância. Foi nos Bandeirantes, sintomaticamente, que Dilma lançou a versão do Brasil sem Miséria para a Região Sudeste, na presença dos quatro governadores da área – nenhum deles petista – e do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. (Dizem que auxiliares de Dilma sentem inveja do trato afável que ela lhe dispensa.) Já ontem, as iniciativas em pauta, que somam na ponta do lápis algo como R$ 72 bilhões, se referem a investimentos no eixo norte do Rodoanel, na Hidrovia Tietê-Paraná e para o iní-

cio do mais do que urgente projeto do Ferroanel, no entorno da capital, em estudos desde a década de 1990. Além disso – e de importância crucial para o governo paulista – foi levada à mesa a ampliação do limite do endividamento do Estado para R$ 17 bilhões, até 2013. O assunto vem sendo tratado por Alckmin com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Essas negociações todas têm sido possíveis porque os respectivos interlocutores deixaram de lado as filiações partidárias e, mais ainda, os ressentimentos que envenenam as relações entre o PSDB, carro-chefe da oposição ao Planalto, e o PT, aboletado no poder. Em contraste com esse clima de “quatro pedras em cada mão” com que se confrontam no Congresso, e não raro diante do nariz torcido de seus correligionários, Dilma e Alckmin desenvolvem uma relação civilizadíssima – e, presumivelmente, produtiva.

Discussão fora de foco

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relator, na Câmara, da Comissão Especial da Reforma Política, deputado Henrique Fontana (PT-RS), já havia provocado polêmica ao propor a criação de um Fundo de Financiamento de Campanhas Eleitorais (FFCE) encarregado, com exclusividade, de recolher e distribuir entre os partidos recursos públicos e doações de empresas privadas e pessoas físicas. Quando se imaginava que a ideia já era suficientemente ruim, o relator resolveu piorá-la, propondo que também empresas estatais possam contribuir para o tal fundo. Antes de mais nada, é preciso levar em conta que o funcionamento dos partidos políticos brasileiros já é financiado – além da contribuição de filiados – por um fundo partidário que distribui recursos públicos segundo critérios estabelecidos em lei. Bem ou mal, os partidos sobrevivem com esses recursos – e esta é quase a única razão pela qual muitos deles existem. Além disso, o Estado também subsidia a atividade partidária, principalmente em campanhas eleitorais, por meio da veiculação gratuita de propaganda na mídia eletrônica. O que está em jogo, pois, como o anteprojeto do FFCE explicita, é o financiamento daquilo que realmente custa caro: a caça ao voto. Mas a veiculação eletrônica de propaganda já está paga com dinheiro público – o que nenhum político cogita de mudar. Se com a reforma eleitoral

MARCELO DA ROCHA AZEVEDO marcelo@xelcon.com.br São Paulo

NOVA CPMF Nunca desiste

Sobre a matéria Dilma desiste de patrocinar novo imposto para a saúde (13/9, A1), permitam-me uma crítica: o governo nunca “desiste” de extrair mais recursos do cidadão, apenas suspende e transfere a ação para momento mais apropriado e menos exposto à opinião pública. Nunca desiste. OTTFRIED KELBERT okelbert@terra.com.br Capão Bonito

SÃO PAULO Sinos das igrejas

Em meio a tantas notícias sobre corrupção e outros crimes, parabéns ao Estadão pela reporta-

se pretende tornar mais transparente a relação dos partidos políticos e candidatos com os financiadores de campanhas e minimizar a influência do poder econômico nas eleições, está tudo errado no anteprojeto do FFCE. Primeiro, porque parte da premissa equivocada de que o financiamento público moraliza e propicia uma melhor distribuição de recursos entre os partidos, uma vez que atribui apenas ao Estado, via Justiça Eleitoral, o poder de recolher e a responsabilidade de distribuir esses recursos. Segundo, porque estabelece um procedimento incoerente com

A questão central é que as campanhas eleitorais são abusivamente caras no Brasil os objetivos que preconiza. O primeiro equívoco, recorrente no pensamento “esquerdista” que, por malícia ou sectarismo, as lideranças do PT ainda proclamam, é imaginar que o Estado, em sua infalibilidade, sabe sempre o que é melhor para a sociedade. E a tese de que se deve evitar a influência do poder econômico nos pleitos – correta por princípio – enfrenta contradição insanável quando o anteprojeto autoriza as contribuições privadas. Além disso, a mediação de tais contribuições pelo poder público iria contra a lógica das doações. As empresas privadas dão dinheiro diretamente para as campanhas eleitorais como investimento que, de alguma forma, esperam recuperar

gem sobre os sinos que voltam a repicar em São Paulo (13/9, C10), não só enfatizando o trabalho artesanal de seus restauradores, como também historiando o roteiro de outros tantos existentes na cidade. A propósito, vale relembrar o poeta Paulo Bomfim, no trecho do poema Oração à Cidade de São Paulo que diz: “Sinos do meu São Paulo, despertai/ aqueles que morreram em beleza!/ Bronzes da Sé, de São Bento,/ dos Remédios, São Gonçalo,/ oh! dobres de São Francisco,/ orações da Boa Morte,/ preces da Luz, evocai/ a saga de Manoel Preto,/ a febre de Fernão Dias,/ as lutas do Pai Pirá,/ os martírios do Anhanguera,/ as monções flutuando em sangue,/ o verde das descobertas,/ e os gibões que se encantaram/ na mata virgem do tempo!”. PEDRO PAULO PENNA TRINDADE, membro titular do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo pennatrindade@gmail.com São Paulo

Políticos que são (uma aprendiz, outro veterano), nem todos os motivos de cada qual para assim se conduzir brotam, imaculados, do compromisso com o interesse público. Mas os cálculos próprios ou partidários de conveniência são a última coisa que merece ser invocada nas circunstâncias. Porque, objetivamente, a parceria Dilma-Alckmin, além de significar uma decisão inteligente para ambos, propagará suas consequências para além do espaço federativo em que se manifesta. A expansão do Rodoanel e a implantação do Ferroanel são medidas que incidem diretamente sobre o mal-afamado “custo Brasil” que a arcaica infraestrutura cobra da economia nacional. Tamanhos são os nós logísticos que o Ferroanel deverá desatar que é um absurdo a obra tardar tanto. As travas ao transporte de passageiros na região metropolitana de São Paulo e de carga para o Porto de Santos re-

presentam o maior gargalo ferroviário do País. Para se ter ideia, o futuro arco de trilhos contornando a capital multiplicará por quase 20 vezes o atual número de contêineres despachados a Santos por via férrea (80 mil por ano, ante um total de 2,5 milhões). E 5 mil caminhões por dia deixarão de circular na cidade de São Paulo. Boa parte da demora em resgatar o Ferroanel deve ser debitada ao pensar pequeno e aos projetos eleitorais antagônicos do presidente Lula e do governador Serra, que contaminaram a discussão técnica do assunto, sobretudo no tocante ao financiamento da empreitada. Essas questões ainda terão de ser debulhadas, mas o essencial é que a decisão política de levá-la adiante foi tomada. E, melhor ainda, no bojo de um pacote de parcerias administrativas, o que reforça as suas chances de se concretizar.

Quadro desalentador mais adiante. Se ficam impedidas de investir nessa relação de troca, não há de ser o espírito público que as fará contribuir para o tal fundo gerido pelo governo. Assim, a conta acabaria a cargo dos eleitores. E essa seria, na verdade, a forma mais saudável e democrática de financiar partidos políticos – sem esquecer de que, indiretamente, todos os eleitores já pagam essa conta, na condição compulsória de contribuintes. A questão central que parece não haver interesse em discutir é que as campanhas eleitorais no Brasil são abusivamente caras, mesmo em comparação com as que se realizam nas nações ricas. É o resultado de a campanhaeleitoralter-setornado assunto de marqueteiro. Essaanomalia,estimuladapelodesinteresse da classe política na regulação eficiente e na fiscalização rigorosa do financiamento das campanhas, reclama correção drástica e urgente. Se os políticos e os partidos reclamam da falta de dinheiro para desenvolver suas suntuosas campanhas, que adaptem essas campanhas ao tamanho dos recursos de que podem dispor. A fórmula genuinamente democrática de financiamento de campanhas eleitorais exclui a participação do Estado – a quem cabe apenas o papel de reguladorefiscalizador–edascorporações privadas ou públicas. Afinal, empresas não votam. A responsabilidade deve ser, voluntariamente, do eleitor, principal interessado na escolha dos governantes. Como viabilizarissoéoquedeveriaestarsendo discutido.

“Do trilhão arrecadado, quantos bilhões foram para corrupção?” ROBERTO TWIASCHOR / SÃO PAULO, SOBRE O IMPOSTÔMETRO rtwiaschor@uol.com.br

“O ‘puxadinho’ seria para receber o A380? Bota deboche nisso!” SYLVIO GAMA / RIO DE JANEIRO, SOBRE AS OBRAS NO AEROPORTO DE CUMBICA sngama@gmail.com

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onfirmando o que já havia sido apontado pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica, os números do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) mostram que o Brasil continua com uma educação de péssima qualidade e desigual. Além de revelar que a participação das escolas públicas entre as melhores do País está em queda, o Enem de 2010 mostrou que a rede particular também teve um desempenho pior do que o esperado. Criado em 1999 para avaliar a qualidade do ensino médio, o Enem é uma prova voluntária que há dois anos foi convertida em mecanismo seletivo de universidades públicas e particulares, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Em 2010, o teste atraiu cerca de 4,6 milhões de concluintes do ensino médio de 23,9 mil escolas públicas e privadas localizadas em 1.689 cidades do País. A nota média dos estudantes foi de 553,73 pontos, numa escala de até mil. A nota considera o desempenho na redação e nas provas objetivas. No Enem de 2010, nada menos do que 8.926 escolas públicas – o equivalente a 75% da rede oficial – ficaram abaixo da média. Das 20 escolas com as maiores médias, 18 são particulares e somente 2 são públicas. As 20 escolas com as piores médias são públicas. Entre as mil escolas com as médias mais baixas, 995 são públicas e apenas 5 são privadas. Das mil escolas com as médias mais altas, 912

são particulares e 88 são públicas. No grupo de elite, que reúne as melhores escolas, o número de unidades da rede pública, proporcionalmente ao número de escolas da rede privada, caiu de 8,4% para 7,9%, entre 2009 e 2010. E as escolas da rede oficial que ficaram no topo são, na maioria, colégios de aplicação ligados a universidades federais, escolas técnicas e escolas mantidas por corporações militares. Ou seja, são estabelecimentos educacionais que têm poucas vagas e adotam um processo seletivo tão disputado quanto os vestibulares das

Os resultados do Enem de 2010 atestam a falência do ensino médio público mais conceituadas universidades. Nas demais unidades da rede pública, cuja grande maioria está a cargo dos Estados, não há exame para preenchimento das vagas. A rede pública atende cerca de 88% dos alunos do ensino médio. Segundo os especialistas, para alcançar o nível de formação de seus colegas da rede particular, os estudantes da rede oficial teriam de estudar mais dois anos, no mínimo. A maioria desses estudantes conclui o ensino médio com a formação que deveria ter ao deixar o ensino fundamental. Em resumo, os resultados do Enem de 2010 atestam a falência do ensino médio público. O ministro da Educação, Fernando Haddad, por diversas vezes

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Brics vão discutir ajuda a europeus

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Guido Mantega disse que países emergentes se reunirão para falar sobre uma forma de ajudar a UE ● “Os Brics estão podendo, hein? Tapa na cara de quem pensa que só os desenvolvidos têm vez.” OTÁVIO MENEZES

● “Não tem que ajudar. O Brasil ainda não é Primeiro Mundo e há muita miséria nas veredas dos nossos sertões.” VICTOR GUARDIA

HÁ 775 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Quem diria que viveríamos para ver isso. Estados Unidos e Europa com o pires na mão pedindo ajuda.” ALDO RODRIGO TROMLUÍ

afirmou que este é o principal gargalo do sistema educacional. Para muitos pedagogos, o ensino médio é a principal vítima da falta de continuidade de políticas educacionais e do costume dos governadores de usar a rede escolar oficial com propósitos eleiçoeiros. Frequentemente, para marcar sua gestão, o secretário interrompe os planos da gestão anterior e tenta implantar projetos novos, esquecendo-se do que é básico – boas condições de trabalho, salários dignos e boa relação entre alunos e professores. Com isso, as Secretarias Estaduais da Educação vão engavetando uma sucessão de planos muitas vezes irrealistas e mirabolantes,enquantoháescolas sem professores e funcionários de apoio e outras em que os docentes, além de desmotivados,sãoobrigadosatrabalharfora de sua área de formação. Já a queda na pontuação de escolas particulares tradicionais – especialmente em São Paulo – não causou maiores preocupações aos pedagogos. Segundo eles, como a USP e a Unicamp não levam em conta os resultados do Enem em seus exames vestibulares e como são poucas as opções de cursos oferecidos por universidades federaisemtodo oEstado, osmelhores alunos das escolas privadas não se interessam pela prova. As informações proporcionadas pelo Enem de 2010 mostram, assim, que a rede pública deensinomédiocontinua àderiva e que nem o governo federal nemos governosestaduaisparecem saber o que fazer para mudar esse quadro desalentador.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 15 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Política industrial ou lobby O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, escolheu o caminho errado – e um tanto estranho – para avançar no debate sobre o poder de competição da indústria brasileira. O governo, disse ele, deveria aumentar o imposto de importação de veículos estrangeiros e reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) pago pelos fabricantes em operação no País. O assunto, reconheceu, pertence à área do Ministério da Fazenda, mas, apesar desse detalhe, recomendou uma consideração cuidadosa de suas propostas. Um lobista profissional não teria sido mais enfático. Ele mencionou também a hipótese de maior taxação de importações de outros segmentos. Ser capaz de enfrentar o produtor estrangeiro é sem dúvida uma condição não só para a criação de pos-

tos de trabalho, mas também, em primeiro lugar, para defesa dos empregos já existentes. Mas não se resolvem problemas de competitividade apenas com tributação. Além disso, não é adequado, para dizer o mínimo, o ministro Lupi invadir publicamente, com reivindicações de setores empresariais, uma área administrada por colegas seus. Mais destoante, ainda, é a defesa de benefícios especiais para a indústria automobilística. A produção e as vendas do setor têm crescido neste ano menos velozmente que em 2010, mas, ainda assim, o desempenho das empresas tem sido claramente positivo. De janeiro a agosto foram produzidos 2,34 milhões de autoveículos, 4,4% mais que um ano antes. Os licenciamentos de veículos novos nacionais foram 2,2% mais numerosos que os de igual período de 2010. Foram licenciados 34,7% mais unidades importadas que entre janei-

ro e agosto do ano passado, mas esse número correspondeu a 22,4% do total de licenciamentos. A exportação das montadoras aumentou em quantidade e a receita em dólares foi 23,1% superior à de um ano antes, segundo a associação das indústrias. Além disso, o número de empregados aumentou 8,8% de agosto do ano passado até agosto de 2011. Enfim, até agora os acordos salariais proporcionaram ganho real aos trabalhadores e novos planos de investimento foram anunciados nos últimos dias. Sem dúvida, a concorrência internacional tem ficado mais dura, tanto pela retração de mercados quanto pelo aumento dos custos e pela valorização do real. Comerciantes se queixam de restrições ao crédito, em consequência de limitações impostas pelo Banco Central. Mas os mesmos problemas são enfrentados por empresas de outros setores.

Além do mais, alguns segmentos da indústria têm sido severamente prejudicados pela concorrência de produtores chineses. Esses fabricantes são favorecidos pelo câmbio manipulado, a formação de seus preços nem sempre é clara e, além disso, mercadorias chinesas sujeitas a barreiras têm chegado por meio de triangulações comerciais. Os Ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento têm procurado enfrentar alguns desses problemas. Isso é positivo. O governo pouco tem feito, no entanto, para melhorar de forma significativa e duradoura o poder de competição da maior parte dos produtores brasileiros. Algumas medidas previstas no Plano Brasil Maior, lançado em 2 de agosto, revelaram-se inadequadas. Outras, corrigem apenas parcialmente distorções fiscais, como a retenção absolutamente injustificável de créditos tributários. Impostos e contribuições inade-

quados a uma economia exposta à concorrência internacional continuam pesando sobre o investimento e sobre a produção. Outros fatores, como os problemas de logística e a escassez de financiamentos de longo prazo, poderiam alongar consideravelmente a lista das desvantagens. O descompasso entre as vendas do comércio varejista e a produção industrial é conhecido. De janeiro a julho o comércio vendeu 9% mais do que um ano antes. A produção nacional avançou muito menos. Em 18 de 20 setores pesquisados pelo IBGE, o crescimento das importações superou o aumento da produção nacional. Há um problema sério, portanto, e o governo deveria enfrentá-lo tendo em vista as condições de competição de toda a produção brasileira. Fazer lobby a favor deste ou daquele segmento é função de agentes privados, não de ministros ou de quaisquer outros funcionários.

O problema da Raposo Tavares

Outra promessa de Chávez

concessionária CCR enviou ao governo estadual proposta de duplicação do trecho de 20 quilômetros da Rodovia Raposo Tavares entre São Paulo e Cotia. Pelo projeto, a estrada terá seis faixas em cada pista – o dobro do número atual – e um monotrilho suspenso no canteiro central, para atender o transporte público. Para a integração da via com a Marginal do Pinheiros são previstos uma passagem de nível e um túnel, o que resolveria um dos principais gargalos de trânsito na região do Butantã. A CCR propõe investir R$ 1,5 bilhão nas obras de duplicação e receber em troca o aumento de dez anos do prazo de concessão da rodovia, que termina em 2023. Pedágio seria cobrado conforme a distância percorrida. A necessidade de melhorar o trânsito e o transporte público no trecho entre a capital e Cotia é inquestionável. A população de Cotia cresceu, na última década, 13,49%, acima da média nacional (12,3%). Passou de 148.987 habitantes, em 2000, para 201.023, no ano passado. Desse total, mais de 50 mil se concentram nos condomínios da Granja Viana, região responsável pelo grande aumento do trânsito nos 20 quilômetros da Raposo Tavares até São Paulo. A região se transformou, nos últimos anos, na bola da vez do mercado imobiliário. Além dos sofisticados condomínios verticais, a construção de moradias populares em Cotia e

om o telefonema de Hugo Chávez à presidente Dilma Rousseff na semana passada, para informar que a Petrobrás e sua estatal PDVSA chegaram a um acordo para a conclusão da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, o governo da Venezuela preserva por mais algum tempo a parceria entre as duas empresas. Mas o gesto de Chávez não garante que, afinal, a Venezuela arcará com suas responsabilidades financeiras nessa obra que deveria ser conjunta, mas está sendo inteiramente sustentada pela parte brasileira. Fruto de uma decisão política do ex-presidente Lula e sem respaldo em critérios técnicos e financeiros, a parceria por enquanto não passa de mera promessa chavista. Seis anos depois de firmado o contrato para a construção da refinaria, a PDVSA ainda não entrou com nenhum dinheiro. Como o acordo prevê que a PDVSA se responsabilizará por 40% dos custos, ela terá de desembolsar imediatamente US$ 3,6 bilhões para honrar sua parte naquilo que já foi gasto. Mas a PDVSA, desfalcada pelo governo bolivariano de Chávez, que a utiliza para sustentar programas sociais de caráter populista, dificilmente conseguirá cumprir sua parte. Enquanto o chavismo a obriga a gastar cada vez mais em empreendimentos que não são de sua especialidade nem fazem parte de seus objetivos, a PDVSA vai perdendo competência e eficiência naquilo que

A

Progresso

Avante, presidente Dilma. Deixe a rivalidade e a ambição de lado e abrace a melhora do nosso Estado, com a participação no Rodoanel, mostrando a sua capacidade e o seu desprendimento político, em prol do interesse do País. ANTONIO CARNIATO FILHO antoniocarniato@gmail.com Santa Rita do Passa Quatro

Grandeza política

Carapicuíba está sendo promovida pelo Programa Minha Casa, Minha Vida. E pelo menos sete grandes centros comerciais estão em construção na região, a maioria deles colada às margens da Raposo. Dados do Departamento de Estradas de Rodagem de São Paulo (DER) mostram que o número de veículos que percorrem diariamente o trecho Granja Viana-Capital aumentou 70% nos últimos cinco anos, passando de 108 mil para 182 mil. Entre 7 e 9 horas da manhã, somente a Avenida São Camilo, uma das principais vias da Granja Viana, despeja

É preciso encontrar soluções viáveis para a ampliação da mobilidade local mais de 2 mil carros na acanhada Raposo Tavares. O plano da CCR atende, portanto, aos interesses de boa parte dos moradores da região que trabalham em São Paulo, mas optaram por um bairro tranquilo para morar. É uma proposta que combina melhoria no transporte público – com o monotrilho – e maior facilidade para o trânsito de automóveis e ônibus. E o projeto do Ferroanel, que parece prestes a ser executado, também tiraria um grande número de caminhões da Raposo. Infelizmente, é enorme a distância entre esse projeto e a realidade. Nos últimos anos, foi autorizada a construção de grandes empreendimentos às margens da rodovia. Na região

Maturidade

Os encontros do planalto com a planície para parcerias são prova de maturidade suprapartidária e trazem à baila uma presidente que se revela a cada dia uma grata surpresa. Pra frente, Brasil! J. S. DECOL decoljs@globo.com São Paulo

Aviso de amigo

Ao chamar Alckmin de “parceiro excepcional”, Dilma demonstra que ainda podemos ter esperança de se fazer política neste país para benefício de todos, e não de apenas alguns. No governo anterior, o ego do ex-presidente não permitia esse tipo de grandeza.

Governador Alckmin, cuidado. Não existe almoço grátis. Os companheiros são insaciáveis, já se apoderaram do erário federal e agora querem atacar o segundo maior orçamento do País. Estão plantando. Não se deixe levar pelo canto da sereia. Mais trabalho e menos propaganda.

ALEXANDRE FUNCK afunck1@gmail.com Bragança Paulista

MANOEL BRAGA manoelbraga@mecpar.com Matão

do Butantã, na capital, condomínios verticais estão sendo erguidos a poucos metros das pistas; outros foram inaugurados recentemente, como um conjunto de seis torres ao lado do Shopping Center Raposo. Na área da Granja Viana, 800 escritórios deverão ser entregues até 2012 e um shopping abriu as portas em novembro. Tudo colado à rodovia. Qual o custo financeiro e político de uma intervenção como a daquele projeto, que chega tardiamente e só pode ser executada se houver desapropriação do que acabou de ser construído ou ainda está em construção? As prefeituras da região e o governo estadual têm de encontrar uma solução para ogrande problemade mobilidade ali existente. Os investimentos deveriam se voltar, prioritariamente, para o transporte de massa. A prefeituradeCotiaeoMetrôdesenvolveram o projeto de um sistema de monotrilho, que seguiria pela Raposo Tavares, começando na Estação Butantã, da Linha Amarela do Metrô, até o Terminal Rodoviário de Cotia, localizado dez quilômetros depois da Granja Viana. O custo da obra foi avaliado em R$ 2,25 bilhões. Ainda que houvesse áreas livres para a construção de novas faixas na rodovia, descolada de um grande projeto de transporte de massa e de carga, a obra propostapela CCR,apesardealgunsaspectospositivos,teriavida útil muito curta. O que a região metropolitana precisa é de transportepúblicocapazdeestimular as pessoas a deixar seus veículos em casa.

“Tuntuntum, cai mais um...” JORGE PEIXOTO FRISENE / SÃO PAULO, SOBRE PEDRO NOVAIS jpfrisene@zipmail.com.br

“O dinheiro será devolvido?” MARIA DO CARMO ZAFFALON LEME CARDOSO / BAURU, IDEM mdokrmo@hotmail.com

“Indicam as pessoas erradas e depois ninguém é culpado” OSCAR ROLIM JÚNIOR / ITAPEVA, SOBRE A QUEDA DE MINISTROS rolimadvogado@ibest.com.br

C

deve fazer. No refino de petróleo, por exemplo, ela está encolhendo. No ano passado, a produção de suas refinarias ficou na média de 970 mil barris por dia, 8,2% menos do que a média de 1998. Nesse período, suas exportações de produtos refinados caíram 38,8%, de 840 mil para 504 mil barris por dia. Em 2013, a empresa importará mais diesel do que exportará (até hoje, é exportadora líquida), para abastecer as usinas termoelétricas que entrarão em operação até aquele ano. Do ponto de vista financeiro, a PDVSA vem dependendo cada vez mais de dinheiro do Ban-

De onde Chávez tirará dinheiro para capitalizar a parceria entre a Petrobrás e a PDVSA? co Central (BC) venezuelano para manter suas operações. De acordo com estudos recentes, baseados em relatórios da política monetária, nos 18 meses encerrados em junho deste ano o BC injetou o equivalente a US$ 10 bilhões na estatal. Para isso, teve de emitir moeda, o que acabou tendo um efeito inflacionário importante. A inflação é a face mais visível da crise. Em agosto, a inflação oficial ficou em 2,2% e em 18% no acumulado do ano. Mas as projeções do mercado são de uma inflação já na casa dos 30%. Para contê-la, o governo de Chávez está intensificando o uso de um recurso ineficaz e altamente danoso para o funcionamento da economia: o controle de preços. A pretexto

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Aperto no crédito afeta venda de carros

1.033

De cada 100 empréstimos solicitados, apenas 38 receberam sinal verde dos bancos em agosto ● “As montadoras seguem fazendo pressão no governo. Seus lucros são exorbitantes e é o brasileiro quem paga a conta.” CÁSSIA FERREIRA

● “Nova classe média: nova de classe de endividados.” MARCIO MONTEIRO

HÁ 776 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “A nova classe média emergente, em breve, voltará a ser a nova classe de miseráveis abaixo da linha da pobreza. É apenas questão de tempo. Vejam o que aconteceu nos EUA.” ROBERTO VULCANO

de acabar com “a especulação e o monopólio”, Chávez baixou em julho a Lei de Custos e Preços Justos, que não passa do tabelamento ou congelamento. Como sempre ocorre quando o governo tenta controlar preços, produtos desaparecem das prateleiras. Escassez, mercado negro e a inevitável alta de preços são fenômenos já notados no comércio e devem tornar-se ainda mais frequentes à medida que a lei, por enquanto aplicada parcialmente, estiver em plena vigência. Outra obsessão chavista, o estatismo, também tem contribuído para tornar ainda mais agudos o problema da escassez e da alta dos preços. Empresas estatizadas nos últimos anos perderam eficiência, acumulam prejuízos, produzem cada vez menos, estão sendo obrigadas a cortar pessoal – contrariando frontalmente a promessa chavista de criar empregos – e precisam de recursos do Tesouro. No último semestre, mais 401 empresas sofreram algumaformadeintervençãoestatal. O efeito da estatização é desastroso, como mostra o exemploda Frutícola Campe, que,expropriada em 2007, produz apenas 13% do que produzia como empresa privada. A estatização, feita sob a bandeira do socialismo do século 21 prometido por Chávez, já custou mais de US$ 20 bilhões, dinheiro que poderia ter sido empregado em obras sociais e de estímulo ao crescimento, mas foi desperdiçado em empresas que, se tivessem continuado sob controle privado, estariam em situação muito melhor.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

E a faxina prossegue Mais um ministro está fora do governo em consequência de denúncias de irregularidades no trato da coisa pública. Com a demissão de Pedro Novais da pasta do Turismo, chega a quatro o número de ministros de Estado afastados pelo mesmo motivo em menos de nove meses do governo Dilma. É mais uma demonstração de que a presidente não está disposta a transigir com esse tipo de transgressão. Mas é também, mais uma vez, a prova eloquente do alto nível de contaminação dos escalões superiores da administração pública pelo vírus da deterioração moral. Como nunca antes neste país, a regra – que admite, é claro, honrosas exceções – é tratar a coisa pública como propriedade privada. Pedro Novais caiu por causa das denúncias publicadas na Folha de S.Pau-

lo de que, por sete anos, quando era deputado, manteve como governanta de seu apartamento a secretária parlamentar Doralice Bento de Souza, que recebia pela Câmara dos Deputados, e de que o motorista particular de sua mulher é um funcionário da Câmara, Adão dos Santos Pereira, irregularmente cedido pelo gabinete do deputado Francisco Escórcio (PMDB-MA), onde nunca trabalhou. Meses atrás, o ex-ministro já havia sido obrigado a prestar esclarecimentos sobre o fato de ter pago a conta de um motel com verba de representação parlamentar. Até onde se sabe, Pedro Novais não se locupletou com vultosos desvios de verbas públicas; não se beneficiou de robustos superfaturamentos em negócios da administração federal, não se envolveu, enfim, em grandes escândalos com o dinheiro do contribuinte, como aconteceu em episódios nos quais estão implicados ex-co-

legas de governo. Botar na conta da viúva os salários da governanta e do motorista da mulher, afinal, é um pecadilho insignificante diante, por exemplo, da montagem de um esquema milionário movido a recursos públicos para comprar o apoio de parlamentares, crime pelo qual é acusado o “chefe de quadrilha” – nas palavras do ex-procurador-geral da União Antonio Fernando de Souza – e ex-ministro José Dirceu. Nessa linha de raciocínio, poderá haver quem diga que não tem nada de mal um presidente da República em fim de mandato distribuir passaportes diplomáticos a parentes próximos, com a dócil colaboração de seu chanceler, ou mesmo, depois de ter passado a faixa à sucessora, aboletarse em aprazível propriedade da Marinha à beira-mar, para férias à custa dos cofres públicos. Tudo isso, na verdade, é sintomático do processo acelerado de deterioração dos valores

Mais juízes

H

á menos de um mês, a presidente Dilma Rousseff deixou claro que a União não tem disponibilidade financeira para atender a todas as pretensões do Poder Judiciário, em matéria de reajustes salariais e gastos de investimento e custeio, mas a instituição não para de ampliar suas propostas e reivindicações. Há uma semana, em sessão plenária fechada, a última instância da Justiça Federal começou a discutir a possibilidade de aumentar o número de ministros, com o objetivo de criar uma nova secção, dedicada a julgar questões previdenciárias e de consumo. O debate foi motivado por uma sugestão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). Alegando que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) está abarrotado de processos e seus integrantes não conseguem dar conta sequer dos pedidos de habeas corpus, que têm preferência regimental, Mello sugeriu a duplicação do quadro de magistrados da Corte, que passariam de 33 para 66. “Minha ideia partiu do caos. É só conversar com advogados para saber o que vem ocorrendo no STJ”, diz Marco Aurélio. Os especialistas em orçamento afirmam que, se essa proposta for acolhida, a folha de pagamento do STJ aumentará em mais de 70%. Como alguns ministros endossaram a sugestão do colega do STF e outros a consideraram exagerada, considerando

consolidadas instituições democráticas, o que, declaradamente, não é o escopo do governo da presidente Dilma. AMADEU R. GARRIDO DE PAULA amadeugarridoadv@uol.com.br São Paulo

Máfia do poder

Está cada vez mais claro que há envolvimento de personagens famosas de nossa política e do submundo das grandes negociatas na morte de Toninho e Celso Daniel, como bem levanta o artigo de José Nêumanne, que deve conhecer os fatos mais do que ninguém, apurados na feitura de seu novo livro sobre Lula. Aparentemente contando com a falta de memória do povo, os caciques petistas de então sempre se calam sobre o espinhoso assunto, mas fica claro, sem teorias conspiratórias, que, se as armas não estiveram em suas mãos, estava a deter-

morais e éticos na vida pública, fenômeno de que nenhuma nação está livre, mas que no Brasil se tem agravado alarmantemente nos últimos anos, no embalo dos exemplos que vêm de cima. Não é sem razão, portanto, que os setores mais sensíveis da sociedade brasileira, que não têm compromissos com os interesses político-partidários dominantes, começam a dar sinais de que não vão continuar aceitando passivamente a apropriação do Estado por trambiqueiros profissionais travestidos de políticos. Está na hora de os vigaristas instalados em altos postos da administração pública e nas cercanias do poder começarem a prestar atenção ao que gritaram as dezenas de milhares de pessoas que saíram à rua para protestar contra a corrupção, no 7 de Setembro. Outra providência saneadora que se impõe com urgência é não apenas punir os malfeitores que são pegos

com a boca na botija, mas também identificar e expor aqueles que estão por detrás dos infratores. Os padrinhos, para usar uma expressão cara aos mafiosos. No caso de Pedro Novais, sua indicação para o Ministério foi obra do deputado Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB na Câmara, em parceria com outro notório representante do coronelismo político, o senador José Sarney. Alves, que devia se sentir meio dono da pasta do Turismo, só não emplacou também o sucessor de Novais, cujo nome tinha na ponta da língua, porque o Palácio do Planalto se apressou em deixá-lo saber que assim também já era demais. Pé de chinelo, vá lá. Mas alguém com grossa ficha criminal, não. Para o posto foi outro afilhado de Sarney, cuja única credencial para ocupar o Ministério é ser fiel a seu padrinho. A faxina prossegue, mas assim não há o menor perigo de melhorar.

Atraso nas obras da Copa que bastaria a criação de apenas mais dez cargos para descongestionar o STJ, o presidente da Corte marcou uma sessão para a próxima semana, com o objetivo de retomar a discussão. A Constituição de 88 diz que o STJ deve ser integrado por 33 ministros, “no mínimo”. Considerada um dos mais luxuosos “palácios” do Judiciário, a sede do STJ foi inaugurada em 1995 com uma área destinada a abrigar 66 magistrados. Cada um dos 33 ministros ocupa um gabinete duplo. Uma semana depois que o STJ começou a debater a proposta de dobrar o número de

Não é hora de aumentar o número de ministros e de desembargadores dos tribunais federais ministros, o Conselho da Justiça Federal aprovou um anteprojeto de lei que amplia a composição dos cinco Tribunais Regionais Federais (TRFs), criando mais 144 cargos de desembargador. A justificativa é de que os cinco TRFs recebem cerca de 450 mil recursos por ano, em média, e haveria uma desproporção entre o número de juízes de primeira e de segunda instâncias, por causa da instalação de 230 novas varas federais, até 2014. Pela proposta do Conselho da Justiça Federal, que agora será remetida para o STJ e, em seguida, para o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o TRF da 1.ª Região deve receber mais 32 desembargadores; o TRF da 2.ª Região, 20; o TRF da 3.ª Região,

56; o TRF da 4.ª Região, 20; e o TRF da 5.ª Região, 16. Cada desembargador federal tem um automóvel à disposição, além de motoristas, seguranças, assessores e secretárias. A segunda e a terceira instâncias da Justiça Federal estão abarrotadas de recursos, como dizem os integrantes dos TRFs e do STJ. Contudo, eles se esquecem de que o número de novos processos nas Justiças Estaduais, Federal e Trabalhista vem caindo – foram 25,5 milhões, em 2008, e 24,2 milhões, em 2009, como foi divulgado pelo CNJ. Além disso, as últimasinovaçõesprocessuais– como a súmula vinculante, a cláusula impeditiva de recursos e o princípio da repercussão geral – continuam sendo implantadas e os resultados ainda não apareceram. Esses mecanismos têm por objetivo agilizar a tramitação das ações na primeira instância e reduzir o número de recursos impetrados na segunda instância. Como lembram os processualistas, a médio prazo a súmula vinculante e o princípioda repercussão geralreduzirão drasticamente os conflitos de massa – as ações que mais abarrotam os tribunais. Porisso, podenãofazer sentido a reivindicação de mais ministros e desembargadores, umavez que aprevisão é dequedadonúmero deaçõesnos escalões intermediários da magistratura. O mais sensato é esperar que as inovações da EC 45 comecem a dar resultados e, a partir daí, avaliar melhor as reais necessidades de ampliar a segunda e a terceira instâncias da Justiça Federal.

P

olíticos e cartolas do futebol não perdem oportunidade para fazer uma grande festa, na qual possam aparecer bem diante do público que criteriosamente escolhem para essas celebrações e, sobretudo, diante das câmeras de televisão. Hoje, eles terão mais uma dessas oportunidades. Faltam exatamente mil dias para o início da Copa do Mundo de 2014 e, por isso, haverá festas nas 12 cidades que sediarão os jogos. Autoridades de diferentes níveis, políticos em geral e dirigentes esportivos procurarão mostrar ao distinto público que os preparativos para o grande evento estão caminhando no passo adequado. No que interessa diretamente a eles, políticos e cartolas, de fato, as coisas começam a caminhar em passo um pouco menos defasado em relação ao que foi programado. Mas os brasileiros comuns, que trabalham e pagam impostos, não têm motivos para festejar, pois, naquilo que a Copa do Mundo poderá resultar em benefícios para a população em geral, quase nada foi feito até agora. Depois de muitas controvérsias, discussões, embargos por órgãos de fiscalização dos atos da administração pública ou pela Justiça, finalmente saíram do papel e estão em andamento as obras dos 12 estádios. São essas obras que, certamente, os organizadores da Copa apresentarão ao País como demonstração de que tudo caminha bem.

Na maioria dos casos, isso só foi possível com a mobilização de imensa quantidade de dinheiro público, por meio de participações e financiamentos oferecidos pelo BNDES. Mesmo assim, algumas das obras de estádios – entre elas as de São Paulo – não estarão prontas para a realização da Copa das Confederações em 2013, que, do ponto de vista da organização, é considerada um ensaio para a Copa do Mundo do ano seguinte. No entanto, as obras de infraestrutura urbana e de transportes, que interessam diretamente à população – e aos contribuintes,em particular,que ar-

Obras em estádios até que andam. As que beneficiarão o público em geral, não carãocom amaiorparte doscustos da realização da Copa no País –, estão muito atrasadas. Para justificar o gasto de dinheiro público em ações de apoio à Copa, o governo vem afirmando que as obras complementares – programadas para dar mais segurança e conforto aos turistas e jornalistas que virão ao País em grande número em 2014 e facilitar sua movimentação dentro das cidades que sediarão os jogos e entre elas – resultarão em benefícios para toda a população. Mas, enquanto os cartolas já têm alguns motivos para comemorar – e eles não precisam de muitos para fazer isso –, a população ainda espera. Quase quatro anos depois da escolha do Brasilpara sediar aCopa de2014

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minação de calar aqueles incômodos prefeitos. Na máfia as coisas se resolvem assim, como se sabe.

“Até quando José Sarney vai impor a sua vontade?”

ROBINSON DAMASCENO DOS REIS robinsondamasceno@superig.com.br Belo Horizonte

ROBERT HALLER / SÃO PAULO, SOBRE O NOVO MINISTRO DO TURISMO robelisa1@terra.com.br

TEMA DO DIA

“Os casos Toninho e Celso Daniel são ‘causos’ de um sistema judiciário perfeitamente aparelhado”

Até o final do mês, Luz e República funcionam em horário das 10 às 15 horas, de segunda a sábado

ARIOVALDO BATISTA / SÃO BERNARDO DO CAMPO, SOBRE O ASSASSINATO DOS PREFEITOS DE CAMPINAS E SANTO ANDRÉ arioba06@hotmail.com

● “Agora para ficar bom mesmo só falta triplicar o número de linhas de metrô e trem!”

IMIGRANTES Engavetamento

Segundo um engenheiro de segurança nas estradas, houve um grave erro de projeto na construção da Nova Imigrantes, o que fez a Artesp editar a Portaria n.º 11, proibindo a descida de caminhões por essa via. Desde o início das concessões de rodovias venho tentando denunciar esse fato, sem sucesso. E se esse engavetamento de ontem tivesse acontecido dentro dos túneis, onde existe o problema, teria morrido somente um, ou dezenas? ORIVALDO T. DE VASCONCELOS prof.tenorio@uol.com.br Monte Alto

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Metrô de SP inaugura duas novas estações

1.335

ANDERSON DE CASTRO

● “Já que o número de passageiros triplicou nos últimos 15 anos, se investissem esse valor, triplicariam linhas e trens.” ANDREA PECORARI

HÁ 777 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Se o metrô tivesse uma extensão maior, o número de passageiros por estação tenderia a ser menor.” ALEX ROCHA NEVES

e dois anos depois de definidas as12cidades-sede,64%de81empreendimentos definidos como essenciais para a realização da competição não saíram do papel. Isso, ressalve-se, está em relatório do próprio governo sobre as obras da Copa. Das 49 obras no setor de locomoção planejadas para as 12 cidades, só 9 foram iniciadas. São monotrilhos, metrôs, trens e corredores expressos, a um custo total de R$ 12,1 bilhões. O plano do governo prevê para São Paulo obras no total de R$ 2,86 bilhões, mas, até agora, não foi definido nenhum projeto. Quanto a aeroportos, há obras em apenas 8 das 13 cidades (as sedes dos jogos mais Campinas) por onde circularão os torcedores e os jornalistas. O plano do governo prevê obras em infraestrutura turística em sete portos, ao custo de R$ 898 milhões,maselastambémcontinuam no papel. Em maio, o governo anunciou queasobrasdetransportepúblico para a Copa que não fossem licitadas até o fim do ano seriam excluídas da lista e não receberiam tratamento prioritário. Mas,diantedoatrasocomprovado pelo relatório oficial, admite afrouxarosprazos.“Nãoérazoável retirar uma obra se a licitação passar de 2011, mas ela for feita em 12 meses. Se couber no prazo-limite (dezembro de 2013), será admitido um novo prazo”, disse o ministro do Esporte, Orlando Silva. Sem condições de fazer o que anuncia, o governo vai adiando prazos, aliviando condições e alegrando os cartolas. Enquanto isso, a população espera.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 17 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Lambança político-industrial O governo acaba de promover, sob o disfarce de política industrial, mais uma lambança a favor de grupos selecionados. Com o pretexto de proteger o setor automobilístico e o emprego do trabalhador brasileiro, o Executivo federal aumentou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e definiu condições para isenção das novas alíquotas. As condições beneficiam claramente uma parte das montadoras e criam, indiretamente, barreiras à importação de veículos e de componentes fabricados fora do Mercosul e do México. Ao estabelecer uma discriminação baseada em critério de conteúdo nacional, o governo se expõe a ser contestado na Organização Mundial do Comércio (OMC). O governo, segundo fontes ouvidas pela reportagem

do Estado, admite essa possibilidade, mas decidiu correr o risco. “O consumo dos brasileiros está sendo apropriado pelas importações”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo ele, é preocupante ver a indústria acumular estoques e dar férias coletivas aos funcionários. É conversa sem fundamento. O número de veículos nacionais licenciados até agosto foi 2,2% maior que o de um ano antes, segundo a associação das montadoras (Anfavea). A receita de exportações de veículos foi 17,3% superior à de janeiro-agosto de 2010. A das vendas externas de máquinas agrícolas, 52,1%. O licenciamento de veículos importados aumentou, de fato, e chegou a 22,4% do total de licenciados. Em todo o ano passado a proporção foi de 18,8%. Mas, com produção, venda e exportação em alta, poderia o governo ter apelado para medidas explícitas de proteção? Conseguiria provar

um surto de importação gravemente prejudicial para justificar as salvaguardas admitidas pela OMC? A resposta parece implícita na escolha do protecionismo disfarçado. Uma bem fundada suspeita de dumping poderia ter justificado, igualmente, uma ação defensiva. As autoridades preferiram outro caminho, com o pretexto, também discutível, de incentivar o desenvolvimento tecnológico. A ação adotada pelo Executivo favorece as indústrias em operação há mais tempo no Brasil e mais integradas na cadeia produtiva nacional. Na melhor hipótese, poderá induzir os demais fabricantes a elevar até 65% o conteúdo nacional de seus produtos. Mas isso não tornará a indústria mais competitiva. O investimento em tecnologia – pelo menos 0,5% da receita bruta, descontados os tributos incidentes sobre a venda – é uma das condições para a empresa se li-

vrar das novas alíquotas. Esse requisito será com certeza cumprido ou contornado com facilidade, graças, especialmente, à notável ineficiência dos fiscalizadores. Essa condição é obviamente um disfarce concebido para enfeitar uma decisão arbitrária e discriminatória, destinada basicamente à proteção de certos interesses particulares. A mera proteção, explícita ou disfarçada, nunca bastou e jamais bastará para tornar mais competitiva a produção de autopeças ou de veículos. As principais desvantagens desses e de outros segmentos da indústria são muito bem conhecidas – impostos, custos logísticos, entraves burocráticos, etc. – e não vale a pena repetir a longa lista. Nenhuma dessas desvantagens será sequer atenuada pelas novas medidas oficiais. Se o governo atacasse com seriedade esses problemas, todos os setores e toda a economia seriam beneficia-

dos. Mas favores especiais são a negação da seriedade. Não por acaso as novas providências foram aplaudidas pela diretoria da Anfavea, dominada pelas montadoras tradicionais, e pelo vice-presidente da Força Sindical. O presidente da Força é vinculado ao PDT, assim como o ministro do Trabalho, engajado na defesa dos novos benefícios antes do anúncio oficial. Os brasileiros já assistiram a esse tipo de jogo, vantajoso para poucos e custeado por muitos. Como sempre, é muito mais fácil entrar na fila dos pedintes de favores do que pressionar o governo para cortar o excesso de gastos, diminuir impostos e favorecer o investimento necessário à modernização do País. O presidente da associação da indústria elétrica e eletrônica já entrou na fila, depois de elogiar a decisão do governo. Política industrial digna desse nome é outra coisa.

O festival da ‘cultura canábica’

O turista comprador

decisão da reitoria da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo de suspender as atividades didáticas e administrativas na sexta-feira, para impedir a realização de um “festival da cultura canábica”, foi sensata e prudente. O evento, que seria animado por sete conjuntos musicais e contaria com a livre comercialização de bebidas alcoólicas, tinha 6,4 mil pessoas com presença já confirmada quando a decisão do reitor Dirceu de Mello foi anunciada. Mesmo assim, os estudantes se mobilizaram pela internet para tentar realizar a festa de promoção do consumo de maconha, afrontando a decisão do reitor, que é professor de direito penal e desembargador do Tribunal de Justiça. O diretor de um dos centros acadêmicos da PUC acusou Mello de querer “uma universidade sem festas”. Evidenciando que não sabia do que estava falando, outro estudante afirmou que o fechamento do câmpus configuraria uma violação do princípio da “liberdade universitária”. “Vamos do mesmo jeito e, se não abrirem, a gente invade”, ameaçou uma aluna, num arroubo de irresponsabilidade. A apologia do uso de entorpecentes e o consumo de drogas são crimes previstos pelo Código Penal, com penas de 3 a 6 meses de detenção e de 3 a 10 anos de prisão, respectivamente. A invasão de dependências universitárias, com quebra de cancelas e derrubada de portas, pode levar os estudantes a

turista brasileiro tornou-se muito bem-vindo nas lojas dos EUA. Está em terceiro lugar na lista dos maiores gastadores, abaixo de japoneses e britânicos e acima de alemães, franceses e sul-coreanos. Não é tão rico quanto seus concorrentes na corrida às compras, mas tem feito o possível para ajudar a recuperação do varejo norteamericano. Sua posição no rol dos grandes consumidores estrangeiros se tornou conhecida graças a um relatório do Departamento do Comércio dos EUA. Não há informação precisa a respeito de seus gastos em outros países, mas também devem ser apreciáveis. O turista brasileiro sempre foi um comprador entusiasmado, disposto a embarcar de volta com malas estufadas e uma porção de pacotes difíceis de acomodar no avião. Mas a figura desse consumidor nunca foi tão notória e tão celebrada quanto nos últimos tempos, graças a dois fatores: a forte valorização do real e o aumento do contingente em condições de viajar para o exterior. Alguns acharão estranho – e até censurável – brasileiros deixarem nos EUA, em média, US$ 5.918 por viagem, gastando mais que alemães, franceses e australianos. Afinal, o brasileiro de classe média, mesmo aquele com dinheiro suficiente para férias no exterior, tem quase sempre uma renda menor que a dos turistas da Europa ou dos países mais desenvolvidos da área do Pacífico. Mas é preci-

A

te pagamento de comissão em obras do governo. A ministra da Casa Civil do governo Lula desconhecia a bandalheira que ocorria. O Lula nada sabia do mensalão. Algum membro da quadrilha dos mensaleiros será preso. Ex-guerrilheiros gostam das Forças Armadas. O governo do PT não rouba e não deixa roubar. O Lula não mandou expulsar Paulo de Tarso Venceslau do PT. A morte de Celso Daniel e a de Toninho do PT serão esclarecidas. SÉRGIO BARBOSA sergiobarbosa@megasinal.com.br Batatais

TONINHO E CELSO DANIEL Conexões

Por que a PF não busca quem matou Toninho? (José Nêumanne, 14/9, A2). Alguém poderia responder-me se há alguma relação entre estes três episódios: Toninho do PT, Celso Daniel e a defesa in-

serem acionados civil e criminalmente – além de correrem o risco de serem expulsos e ficarem impedidos de obter registro profissional. No ato em que determinou o fechamento do câmpus da PUC, o reitor Dirceu de Mello afirmou que “as festas de sextafeira ganharam proporções inadmissíveis por conta do barulho, duração e uso não dissimulado de bebidas e entorpecentes, afora outras condutas reprováveis”. Infelizmente, esse problema não está surgindo pela primeira vez na PUC. Muitos estudantes de várias outras instituições de

O reitor da PUC fez o que se esperava de um dirigente universitário responsável ensino superior frequentam mais os bares do que as salas de aula. Nas sextas-feiras, em bairroscomoHigienópolis,Pacaembu, Perdizes, Vila Mariana e Bela Vista, magotes de alunos ocupam as calçadas e ruas das imediações de suas universidades, perturbandoa vizinhança e dificultando o trânsito. Em junho de 2010, a polícia realizou uma blitz nas Ruas Cesário Mota, Itambé, Maria Antonia e Piauí e prendeu em flagrante, por consumodedrogas, cercade20 alunos da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Dois fatores têm contribuindo para agravar esse problema. O primeiro é a expansão da internet, que levou à formação de redes sociais, permitindo a comunicaçãoemtemporealdemi-

transigente da não extradição do italiano Cesare Battisti? JOSÉ CARLOS L. PEREIRA PINTO São Paulo

Comissão da Verdade

Tenho uma sugestão para tentar resolver as dúvidas que pairam até hoje sobre a morte de Celso Daniel e Toninho do PT, acerca das quais, conforme lembrado por José Nêumanne, permanecem muitas dúvidas. As suspeitas são de que os crimes tenham sido políticos. As famílias dos prefeitos assassinados têm o direito a saber o que aconteceu. Sendo assim, sugiro que ambos os casos sejam entregues, para os devidos esclarecimentos, à Comissão da Verdade, proposta pelo governo federal justamente para esclarecer crimes desse tipo. SERGIO LOPES blackfeet@uol.com.br São Paulo

lhares depessoas. A informação sobre a confirmação de 6 mil participantesdo“festivaldacultura canábica” da PUC, por exemplo, foi feita pela rede social Facebook. Com 30,9 milhões de visitantes na internet, o Facebook é a rede social com maior audiência no País, seguida pelo Orkut, com 29 milhões de visitantes. O segundo fator é a leniência comqueasautoridadestêm tratado a apologia do uso de drogas. Nos últimos tempos, ela passou a ser feita de maneira provocativa, sob a forma de “marchas da maconha”. Para os participantes, elas são “atos em defesa da liberdade de expressão”. Na prática, isso não passa de jogo de palavras para esconder o que as marchas realmente são – pretextos para a promoção do consumo de drogas e para afrontar as leis e a autoridade constituída. Em maio deste ano, a Polícia Militar reprimiu a Marcha da Maconha em São Paulo, que fora proibida pela Justiça criminal, e acabou sendo criticada até pelo governador Geraldo Alckmin. Quanto maior é a tolerância com marchas e festivais canábicos, maior será o número de viciados e maior será o problema dacriminalidade.Crimeeentorpecentesestão interligadosefazem parte de uma rede que une traficantes e usuários. Por isso, enquanto líderes estudantis ingênuosepretensamentelibertários insistem em iniciativas que alegramoschefesdonarcotráfico, o reitor da PUC fez o que se podia esperar de um dirigente universitário consciente de suas responsabilidades.

“Não demora para termos o MSM – Movimento dos Sem-Ministério” A. FERNANDES / SÃO PAULO, SOBRE A QUEDA DE MINISTROS NO GOVERNO DILMA ROUSSEFF standyball@hotmail.com

“O inquérito do caso Erenice Guerra completa um ano, sem solução. E aí, Polícia Federal?” MARIA CRISTINA R. AZEVEDO / FLORIANÓPOLIS, SOBRE A EX-MINISTRA DA CASA CIVIL crisrochazevedo@hotmail.com

O

so levar em conta alguns fatores especiais, para entender essa diferença de comportamento. Não há nada de muito estranho, nem de reprovável, nesse turismo consumista. O turista brasileiro sempre foi um grande comprador, em primeiro lugar, porque o Brasil tem sido por muito tempo uma economia muito fechada. Continua sendo, mesmo depois da abertura do mercado a partir do início dos anos 90. Cidadãos de países mais abertos têm acesso muito mais fácil a uma variedade enorme de produtos. Além de estar disponíveis no comércio local, esses

O viajante brasileiro tem respeitáveis motivos para as compras no exterior produtos são quase sempre muito mais baratos do que no Brasil, onde a carga tributária sobre importados é tradicionalmente muito pesada. Aí estão, portanto, dois importantes fatores combinados: disponibilidade do bem e preço. Isso explica, por exemplo, a disposição de futuras mamães brasileiras de ir a Miami para comprar enxovais para bebês. Ou o entusiasmo das compradoras diante das prateleiras de cosméticos, não só muito mais baratos, mas também muito mais variados que os oferecidos nas lojas de São Paulo ou de qualquer outra grande cidade do Brasil. Produtos eletroeletrônicos têm múltiplos atrativos, porque neles se combinam a variedade, a novidade tecno-

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Aumento no IPI para carros pode ir à OMC

1.397

Representantes dos importadores estão revoltados com aumento, que consideram ‘inconstitucional’ ● “Acredito que o aumento tenha a intenção de proteger o setor industrial interno e aumentar a receita do segmento.” CARLOS ALBERTO CONCEIÇÃO JUNIOR

● “Quem tem dinheiro continuará comprando carro importado e os que não podem acabarão pagando mais caro pelo nacional.” ANGELO MENEZES

HÁ 778 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Ao tarifar os importados o governo assume publicamente a sua ineficiência na gestão da política econômica.” MIGUEL ZABOTINSKY

lógica e – naturalmente – o preço. De modo geral, qualidade também faz diferença para os compradores. Falta acrescentar, naturalmente, a diferença entre os custos de estada no exterior e os preços correntes em hotéis e restaurantes nas cidades turísticas brasileiras. A valorização do real, combinada com uma inflação interna bem acima da média dos países desenvolvidos, já seria uma explicação razoável para o turismo gastador dos brasileiros, mas o quadro, como se vê, é mais complexo e alguns de seus componentes – como os altos impostos de importação – estão presentes há muito tempo. Tudo isso remete, mais uma vez,aosbemconhecidos problemas da voracidade fiscal e da insuficiente competitividade da economia brasileira. Turistas – brasileiros, chilenos, alemães ou britânicos – sempre acharão algum produto atraente para comprar no exterior. Mas turistas de países subdesenvolvidos e pobres normalmente aproveitam as viagens para comprar bens inacessíveis em seus mercados. O Brasil não é tão subdesenvolvido nem tão pobre, mas suas instituições, seus costumesadministrativos e suatributação continuam sendo típicos de países muito mais atrasados. Quando os impostos, a administração pública, os investimentos em infraestrutura e o ambiente de negócios forem mais parecidos com aqueles encontrados nos países de razoávelgraudeindustrialização,oturista brasileiro de certo passará a agir como tantos outros em relação às compras no exterior.

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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

estadão.com.br

ANO 132. Nº 43069 EDIÇÃO DE 23H15

R$ 5,00*

18 DE SETEMBRO DE 2011

RUY MESQUITA Diretor

DOMINGO JOÃO MIGUEL JÚNIOR

TV

Vida que segue

Classificados

C2DOMINGO

86 páginas

O estadão.com.br perguntou a 650 fotógrafos de todo o mundo: qual imagem levaria se fosse passar 10 anos em Marte? Pág. D5

11.948 ofertas Autos. Salão de Frankfurt destaca os modelos compactos

Fernanda Vasconcellos volta do coma na nova novela das 6

Momento único

No ar. O tcheco Martin Stranka escolheu a foto ao lado pela ‘sensação infinita de liberdade’

Com isenção de impostos, petroleira importa até biquíni Regras frouxas desfiguraram regime aduaneiro e deixaram o mecanismo sem controle do Congresso e da Receita Petroleiras e prestadoras de serviços que atuam no País usaram brechas na legislação especial de tributação do setor de petróleo e gás para, nos últimos dez anos, importar artigos como biquínis, mesas de sinuca, selas de cavalo,

bijuterias e até papel higiênico sem pagar impostos, informa o repórter Iuri Dantas. Dados mostram que regras frouxasdesfiguraramo regimeaduaneiro especial conhecido como Repetro e deixaram o mecanismo livre do contro-

le do Congresso e da Receita Federal. Depois de identificar as falhas e brechas da atual legislação, a presidente Dilma Rousseff pretende reformular o mecanismo. As novas regras devem sair até o fim do ano. ECONOMIA / PÁGS. B1 e B3

R$ 47 bilhões

É a renúncia fiscal em tributos com o Repetro nos últimos dez anos

Crack se espalha pelo sertão do Nordeste

PAULO LIEBERT/AE

MÃE DE EX-USUÁRIO DE CRACK

A Anhanguera comprou a Uniban por R$ 510 milhões, revelam Karina Ninni e Renato Cruz. Com 400 mil alunos, universidade será a segunda maior do mundo. VIDA / PÁG. A23

CNJ reproduz vícios que tem de combater

Na ONU, Dilma defenderá pleito palestino

OLINDINA DA SILVA

Anhanguera fecha compra da Uniban

O Superior Tribunal de Justiça anulou provas colhidas pela Polícia Federal na operação que investigou parentes do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), por crimes como lavagem de dinheiro. Para o STJ, a polícia fez escutas telefônicas ilegais. As revelações do Estado sobre a investigação levaram aJustiçaa decretarcensuraaojornalem 2009, a pedido de Fernando Sarney, filho do senador. NACIONAL /PÁG. A4

Criado para combater maus hábitos do Judiciário, o Conselho Nacional de Justiçaelevouem60%asdespesascompassagens aéreas e em 21% os gastos com diárias, informa Felipe Recondo. Com festas e homenagens, o CNJ gastou R$ 685 mil este ano. NACIONAL / PÁG. A8

O crack avança por cidades de médio porte e comunidades rurais isoladas do Nordeste, relata Pablo Pereira. “O crack faz parte do cotidiano do sertão. E onde há drogas, há armas”, diz o capitão Marcondes Ferraz, da PMpernambucana. Emclínica derecuperação de Juazeiro (BA), já há mais viciados em crack que alcoólatras. METRÓPOLE / PÁGS. C8 e C9

“Ele começou na cachaça e, há 4 anos, entrou no crack. Ele me disse: ‘Mãe, me ajude. Não sou eu, mãe’”

STJ anula apuração da PF sobre clã Sarney

Anhangabaú radical

O Vale do Anhangabaú virou arena de esportes radicais ontem, no primeiro dia da Virada Esportiva, atraindo fãs de skate e das acrobacias do parkour. A Virada, com 2.500 atividades gratuitas espalhadas pela cidade, acaba às 19h de hoje. METRÓPOLE / PÁG. C7

Vale do Silício aposta na tecnologia limpa

Arqueologia

A VIDA DE LUZIO

ECONOMIA / PÁGS. B14 e B15

Estudo mostra que o paulista mais antigo de que se tem notícia viveu há 10 mil anos no Vale do Ribeira, caçava e caminhava sobre riachos, mas não gostava de peixe. VIDA / PÁG. A26

São Paulo goleia Ceará por 4 a 0 no Morumbi

A presidente Dilma Rousseff vai defenderoreconhecimentodoEstadopalestino no discurso que abrirá a Assembleia da ONU, na quarta-feira. Ela também pedirá mais espaço para as mulheres na política. INTERNACIONAL / PÁG. A14

aliás,

O LEVANTE Três cientistas políticos analisam a lenta e contraditória caminhada da democracia no mundo.

ESPORTES / PÁG. E4

CELSO LAFER 11/9, recordações e reflexões Passados dez anos, o 11 de Setembro foi mesmo o ponto de partida de uma alteração da ordem mundial e, até hoje, mina a primazia americana.

YOANI SÁNCHEZ A legitimidade do DNA O favoritismo genético é parte do sistema cubano. Quem não compartilha do DNA dos “líderes históricos” tem poucas oportunidades.

HUMBERTO WERNECK Como é que fica? Dona Alzira tem uma dúvida: se um padre deixa a batina, como fica a situação de quem teve o casamento celebrado por ele? Prescreve?

ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2

INTERNACIONAL / PÁG. A20

METRÓPOLE / PÁG. C10

Tempo na capital

26˚ Máx. 12˚ Mín. Sol e poucas nuvens 230 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁG. A3 TIRAGEM: 304.210 EXEMPLARES

NOTAS & INFORMAÇÕES

Europa ganha tempo O alívio pode estender-se por alguns dias, talvez semanas, com alguma sorte. PÁG. A3


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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 18 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Europa ganha tempo A Europa conseguiu ganhar mais tempo e evitar mais uma vez um desfecho calamitoso. Este é o saldo de mais uma semana de luta contra a crise que começou na Grécia. Governos e dirigentes de bancos centrais conseguiram também aliviar a tensão crescente no sistema bancário, afastando o temor de uma nova quebradeira no terceiro aniversário – 15 de setembro – da falência do Lehmann Brothers. O alívio em relação às dívidas soberanas e ao sistema financeiro pode estender-se por alguns dias, talvez semanas, com alguma sorte. Mas ninguém sabe quando virá a próxima onda de pânico nem se poderá ser mais forte e mais danosa que as anteriores. A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarko-

zy, conseguiram do primeiro-ministro grego, George Papandreou, mais uma promessa de arrumar as contas públicas de seu país e de executar o programa de reformas negociado com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas bastará a execução desse programa para se evitar o calote? Há quem duvide, mas, apesar disso, a conversa dos três governantes na quarta-feira foi recebida como um bom sinal nos mercados financeiros. Têm-se acumulado outros dados positivos. Os governos de Portugal e da Irlanda venceram as primeiras dificuldades políticas e avançam na execução de seus planos de ajuste. O FMI já avaliou favoravelmente o desempenho dos dois países. Programas de austeridade foram aprovados na Itália e na França e o governo espanhol tem-se mostrado comprometido com a pauta de reformas.

A agitação nos mercados tem sido atribuída, no entanto, não só à inquietação diante da situação grega e do endividamento público de alguns dos principais países da zona do euro, como a Itália. A especulação tem derrubado o valor de ações de grandes bancos detentores de papéis gregos e de outros países com alto endividamento público. As pressões concentraram-se nos bancos italianos durante algum tempo e se voltaram depois para os franceses. Dois destes foram rebaixados pela agência Moody’s. Mas os bancos enfrentam problemas também fora das bolsas de valores. Têm faltado financiamentos no mercado interbancário. Não só os investidores do mercado de ações mantêm os bancos sob suspeita. Há sinais de desconfiança também entre as instituições financeiras. O BCE conseguiu atenuar as dificuldades durante algum tempo, fornecendo aju-

As vaias para Haddad

U

ma semana depois de o Enem de 2010 ter mostrado uma acentuada queda no desempenho das 50 melhores escolas de São Paulo, a cidade na qual pretende candidatar-se a prefeito em 2012, o ministro da Educação, Fernando Haddad, foi vaiado na Faculdade de Educação da USP e se envolveu em bate-boca com estudantes que criticavam a situação de abandono de várias instituições federais de ensino superior. A expansão das universidades federais é uma das bandeiras que Haddad pretende usar em sua campanha eleitoral e os estudantes que o vaiaram eram, justamente, supostos beneficiários de sua política. Criadas com base mais em critérios de marketing político do que acadêmicos, tendo em vista a eleição presidencial de 2010, várias universidades federais foram inauguradas às pressas em instalações improvisadas, sem laboratórios e professores em número suficiente. Por isso, os grupos e facções estudantis que não se deixaram cooptar pelo governo federal – que converteu a UNE numa entidade chapa branca, por meio de generosos repasses financeiros – definiram uma pauta de reivindicações e um cronograma de protestos contra Haddad. Também acusam o ministro de não reivindicar um aumento mais expressivo do orçamento da educação. Nesta década, o País tem investido, anualmente, 5% do PIB em ensino. No Plano Na-

nalização, quando fazem fila as montadoras internacionais para se instalar no País. Por que, antes disso, S. Exa. não promoveu os cortes nos gastos públicos, a demissão de funcionários ineptos, a eliminação de obras faraônicas de fachada eleitoral, as propostas de criação de novos Estados, etc., etc., e, por fim, o combate à corrupção, que nos oferece sangria? Paciência tem limite, e este já está no fim! ALCIDES FERRARI NETO ferrari@afn.eng.br São Paulo

Voracidade fiscal

O governo federal não conhece limites em sua sede de arrecadar. Em abril dobrou o IOF sobre o crédito e triplicou o IOF sobre os gastos no exterior. Agora quintuplicou o IPI sobre os veículos importados. A continuar assim, um belo dia a carga tributária al-

cional de Educação, que tramita lentamente no Congresso, o governo propôs aumentar os investimentos para 7% do PIB. As organizações estudantis reivindicam 10%. Para tentar granjear a simpatia dos estudantes da USP, Haddad chegou a invocar, sem sucesso, sua condição de ex-líder estudantil. E ainda tentou comparar os gastos com educação dos governos Fernando Henrique e Lula. Segundo ele, o orçamento do MEC subiu de R$ 32,1bilhões para R$ 69,7 bilhões, nos seis anos em que está à frente da pasta. O problema da gestão Haddad, portan-

Protestos foram a reação natural de estudantes a uma gestão errática e demagógica to, não é de escassez de recursos, mas de falta de competência administrativa. Com o objetivo de mudar o foco do noticiário, que destacava o quadro desolador em que se encontra o ensino médio, revelado pelo último Enem, Haddad agora defende o aumento do tempo de permanência dos alunos na escola, seja ampliando de 200 para 220 o número de dias do ano letivo, seja elevando a carga horária diária. Pedagogos e dirigentes de escolas afirmaram que a ampliação da jornada diária é a medida mais recomendada para a melhoria de qualidade do ensino fundamental e médio, mas lembraram que ela é de difícil implementação, pois não houve investimento na melhoria

da infraestrutura da rede pública nem na mudança dos currículos. O ministro disse que já começou a discutir sua proposta com especialistas e secretários de educação, mas entidades do setor informaram que não foram procuradas para tratar do tema. Esta tem sido a característica da gestão de Haddad à frente do MEC. Ele agita bandeiras vistosas, que lhe permitem sonhar com voos políticos mais altos, mas que carecem de eficácia e desperdiçam recursos escassos em programas sem a necessária conexão entre si. O ministrojádefendeuademocratização do acesso ao ensino superior, sem tratar seriamente do ensino fundamental. Ele defendeupropostasirrealistas,como a adoção do tempo integral no ensino básico, quando deveria cuidar de questões fundamentais,comomelhoraraqualidade do ensino de português, matemática e ciências. Endossou a introdução de filosofia e sociologia no ensino médio, sem que o País disponha de professores dessas disciplinas em número suficiente. Estimulou a ampliação desenfreadadeescolas técnicas, sem que a rede já existente tivesse recursos suficientes para atender às despesas de custeio. E, ao tentar utilizar o Enem para unificar os vestibulares das universidades federais,desmoralizouessemecanismo de avaliação. A constrangedora vaia dos alunos da USP para Haddad não causa surpresa. Ela é a reação natural a uma gestão errática, demagógica e, principalmente, inepta.

“O governo quer incentivar a produção de ‘carroças’ nacionais?”

VICTOR MEYERFREUND vmey@live.com São Paulo

LUIGI VERCESI / BOTUCATU, SOBRE O AUMENTO DO IPI PARA CARROS IMPORTADOS luver44@terra.com.br

O nível muito elevado de corrupção no governo deixou o povo indignado e levou a uma Marcha Contra a Corrupção. Foi muito bom e mostrou que nós, brasileiros, não somos tão cordeirinhos quanto parecemos. Portanto, como o Impostômetro está cada vez mais incontrolável, em velocidade alucinante e é, com certeza, a fonte que alimenta essa corrupção desenfreada, torna-se urgente uma marcha nacional contra esse estelionato tributário. JOSÉ MENDES josemendesca@ig.com.br Votorantim

cialmente complexo por causa das dívidas soberanas – o caso grego é, de longe, o mais grave, mas não é único – e da dificuldade de articulação das políticas. Os problemas financeiros podem ser graves, mas as soluções têm sido dificultadas principalmente por fatores políticos. Nos Estados Unidos, a feroz disputa entre os partidos, mais de um ano antes da próxima eleição presidencial, impede ou atrasa a adoção de medidas eficientes para a criação de empregos e para um ajuste fiscal seguro a médio prazo. Na zona do euro, a crise expôs claramente a necessidade de uma articulação mais ampla – e mandatória – entre as políticas orçamentárias. Não basta um banco central comum para o bom funcionamento de uma união monetária. A coordenação fiscal é também necessária, mas como manter na linha 17 governos, se a sua cooperação depender apenas de promessas?

O reconhecimento da Palestina

cançará 100% do PIB e teremos apenas duas classes sociais: a dos governantes milionários e a dos contribuintes miseráveis.

Marcha contra os impostos

da a vários bancos. Mas a situação piorou nos últimos dias, quando começaram a escassear os financiamentos em dólares. Cinco grandes bancos centrais uniram-se para cuidar do problema – o Federal Reserve (Fed), dos Estados Unidos, o BCE e os bancos da Inglaterra, da Suíça e do Japão. Juntaramse para dar liquidez em dólar ao mercado financeiro e evitar um desastre parecido com o de 2008. Também naquela ocasião as autoridades monetárias das grandes economias conseguiram articular-se, mas só depois dos primeiros abalos. Todas essas ações, no entanto, são insuficientes para repor os países desenvolvidos no caminho do crescimento firme e sustentado. Os Estados Unidos dependem, para começar, da aprovação do novo plano de reativação econômica apresentado ao Congresso pelo presidente Barack Obama. Na Europa, o desafio é espe-

“Com esse aumento do IPI, é bem provável que a indústria nacional aproveite a brecha para aumentar os preços dos seus carros” ANGELO TONELLI / SÃO PAULO, IDEM angelotonelli@yahoo.com.br

A

anunciada iniciativa palestina de pedir à ONU reconhecimento pleno e filiação é tida pelos céticos como fútil ou temerária. Fútil, em primeiro lugar, porque os Estados Unidos já anunciaram que vetarão a proposta no Conselho de Segurança, por onde terá de passar. O máximo a que os palestinos poderiam aspirar é ser acolhidos na instituição como Estado não membro, em vez de meros observadores, o que depende do voto de 129 dos seus 193 integrantes, na Assembleia-Geral que começa na próxima semana. Esse eventual desfecho, segue o raciocínio, será apenas simbólico: nada mudará nos territórios palestinos que Israel ocupa há 44 anos nem na queda de braço entre a Autoridade Palestina (AP) do presidente Mahmoud Abbas e o governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. Afinal, se este peitou os EUA, único aliado incondicional do Estado judeu, recusandose a prorrogar o congelamento temporário dos assentamentos na Cisjordânia, como demandava o presidente Barack Obama para desemperrar as negociações de paz na região, não será mais um ato da ONU contrário a Israel que abalará a sua intransigência. Já os que consideram o passo palestino uma temeridade, quando não uma provocação, argumentam que, em represália, o Capitólio poderá cortar a ajuda americana de US$ 500 milhões anuais à Autoridade Palestina, o que representa 1/4 do seu orçamento. E Israel

poderá deixar de arrecadar impostos para a AP, além de taxar a importação de produtos dos territórios, levando ao colapso a economia local. Isso, sem falar no recrudescimento das violações dos direitos elementares de sua população. Pena que esses críticos não ofereçam nenhuma alternativa para restabelecer o processo de paz que Netanyahu sabotou no ano passado porque conduziria à criação de um Estado palestino viável dentro das fronteiras da Cisjordânia anteriores à guerra de 1967, com trocas de territórios entre as partes e o reconhecimento do di-

O reconhecimento da Palestina pela ONU pode romper o impasse no Oriente Médio reito de Israel de viver em paz e segurança. É a posição defendida pela ONU, os EUA, a União Europeia, a Rússia e a China. Em outubro do ano passado, Netanyahu declarou que as fronteiras de 1967 são “indefensáveis”. Desde então, fez duas exigências reveladoras da aversão da direita israelense a um efetivo Estado palestino: manutenção de tropas no compartilhado Vale do Jordão e aceitação de Israel como “Estado judeu”, embora 20% de sua população seja árabe. Israel nunca teve e talvez nunca venha a ter entre os palestinos um “parceiro para a paz” como Mahmoud Abbas. Mas Netanyahu nunca lhe deu nada para ao menos mitigar o legítimo sentimento de revolta

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Fifa pressiona Brasil na festa da Copa

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Entidade cobra agilidade do governo e garantias na Lei Geral do evento, assinada por Dilma ● “Mas quem fiscaliza a Fifa? Ela pode fazer sempre o que quer e impor! Será que o mundo é assim?” CARLOS ALVES

● “A Fifa tem de sair da indignação para a ação e acionar logo o plano B: arranjar outra sede para a Copa.” JOSÉ LUIZ POY VALVERDE

HÁ 779 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “A presidente Dilma deveria também pressionar o Congresso para criar a CPMF do esporte.” ROBERTO LEMES

e desespero de seu povo, enquanto não cessa de invocar que o Hamas, que controla a Faixa de Gaza – e verbera a “docilidade” da OLP chefiada por Abbas –, continua a pregar a destruição de Israel. O que o governo Netanyahu não vê é que desmoralizar o seu interlocutor tem o mesmo efeito que distribuir nos territórios ocupados fichas de inscrição no movimento extremista sustentado pelo Irã e abominado pelo Egito (mesmodepoisdaquedadoregime filoisraelense de Hosni Mubarak) e pela Arábia Saudita. Em 2002, por iniciativa saudita,aLigaÁrabeaprovouafórmula dos dois Estados com base nasfronteirasde1967comopontodepartidaparaofimdoconflito israelense-palestino – e a “normalização”dasrelaçõesentre Israel e os seus vizinhos. Israel fingiu que não ouviu. Agora que Abbas se prepara para pedir que uma Palestina implantada nesse mesmo território seja reconhecida como Estado pela ONU, Israel retruca que isso será um obstáculo à paz. Queria o quê?QueAbbascontinuasseimpassíveldiantedo colapso,induzido por Netanyahu, das negociações que Obama tentou patrocinar? Que ignorasse os ventos da primavera árabe? O governo israelense age como se o mundo não se movesse e o repúdio às suas políticas não se intensificasse, com a perenização do status quo nos territórios ocupados. Longe de ser fútil ou temerário, o reconhecimento do Estado da Palestina naONUpoderomperumimpasse intolerável – e dar a Israel a oportunidade de abrir os olhos.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 18 DE SETEMBRO DE 2011

Nacional

estadĂŁo.com.br @politica_estado. Acompanhe as Ăşltimas notĂ­cias pelo Twitter twitter.com/politica_estado

OPERAĂ‡ĂƒO BOI BARRICA. Ministros da 6ÂŞ Turma consideraram ilegais as interceptaçþes telefĂ´nicas dos envolvidos em supostas irregularidades; empresĂĄrio chegou a ser indiciado por lavagem de dinheiro, trĂĄfico de influĂŞncia e formação de quadrilha

STJ anula provas obtidas pela PF em investigação sobre filho de Sarney Mariângela Galucci/BRAS�LIA

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou as provas colhidas durante a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou suspeitas de crimes cometidos por integrantes da família do presidente do Senado, JosÊ Sarney (PMDB-AP). Os ministros da 6ª Turma do STJ consideraram ilegais interceptaçþes telefônicas feitas durante as investigaçþes. Revelaçþes sobre a Boi Barrica, feitas pelo Estado em 2009, levaram a Justiça a decretar censura ao jornal, acolhendo pedido do empresårio Fernando Sarney, filho do senador. Com a anulação das interceptaçþesficamcomprometidasoutras provas obtidas posteriormente, resultantes de quebras de sigilo bancårio e fiscal. Volta praticamenteà estacazeroaapuraçãodeuma supostaredede crimes cometidos pelo grupo a partir de um saque de R$ 2 milhþes em espÊcie às vÊsperas da eleição de 2006 e registrado como movimentaçãoatípicapeloConselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Na Êpoca, Roseana Sarney era candidata ao governo do Maranhão. Com as escutas e informaçþes sobre movimentação financeira, a PF abriu cinco inquÊritos e apontouindíciosdetråfico deinfluência no governo federal, formação de quadrilha, desvio e lavagem de dinheiro. Em julho de 2009, depois de seis horas de depoimento na Su-

DIDA SAMPAIO/AE

perintendência da PF em São Luís, o empresårio Fernando JosÊ Macieira Sarney, filho do presidente do Senado, chegou a ser indiciadopor lavagemde dinheiro, tråfico de influência e formação de quadrilha. Precedentes. O STJ tomou a

decisĂŁo ao analisar um pedido deJoĂŁoOdilonSoares, funcionĂĄriodo grupo Mirante de comunicação,quepertenceĂ famĂ­liaSarney. Soares tambĂŠm foi investigado na Operação Boi Barrica. Para conseguir anular as provas, o advogado Eduardo FerrĂŁo baseou-se em decisĂľes anteriores tomadas pelo STJ e pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em uma dessas decisĂľes recentes, o STJ anulou as provas da Operação Satiagraha, que investigou suspeitas de corrupção envolvendo o banqueiro Daniel Dantas, doOpportunity. NaocasiĂŁo, os ministros da 5ÂŞ Turma do tribunal concluĂ­ram que foi ilegal a participação de integrantesdaAgĂŞnciaNacionaldeInteligĂŞncia (Abin) nas investigaçþes. “Os precedentes do STF e do STJ entendem que as decisĂľes judiciaisqueautorizaminterceptação tĂŞm de ser rigorosamente fundamentadasâ€?, disse FerrĂŁo ao Estado. “O STJ falou q-ue estĂĄ nulo porque (a investigação) nĂŁo respeitoua Constituição Federal e a lei.â€? Devassa. Segundo o advogado,

as decisĂľes judiciais nĂŁo foram fundamentadas. “Eles nĂŁo indicavam quais eram as suspeitas. E as interceptaçþes foram prorro-

dos investigados. “As investigaçþesdevemprosseguir.Osinvestigados tĂŞm interesse em que as investigaçþes sejam realizadas e concluĂ­das.Mas deacordocoma leiâ€?, afirmou. “Os registros bancĂĄrios continuarĂŁo existindo. Os extratos estarĂŁo disponĂ­veis daqui a 10 ou 20 anos.â€? Procurador. Em junho, apĂłs o

Estaca zero. Acusaçþes contra Fernando Sarney nĂŁo valem gadas por 18 vezes. Foram 200 dias de bisbilhotagem, foi uma devassaâ€?, afirmou. FerrĂŁo tambĂŠm reclamou que a operação afetou pessoas que nĂŁo estavam sob investigação, como advogados e jornalistas. De acordo com ele, isso ocorreu

porque a Justiça Federal no Maranhãodecretouaquebradesigilodose-mailsdetodos osfuncionårios do grupo Mirante. O advogado sustentou que a anulação das provas não significa o fim das investigaçþes e, consequentemente, a impunidade

STJteranuladoprovasdaOperaçãoSatiagraha,o procurador-geral da RepĂşblica, Roberto Gurgel. criticou a Justiça. “A Justiça tem tido alguns excessos e tem colocado de lado, nĂŁo considerando com a devida importância, a necessidade da tutela penalâ€?, disse. “Claro que podemos aprimorar a legislação, podemos trabalhar para corrigir este ou aqueleequĂ­vocoquepossaaparecer nas investigaçþes, mas ĂŠ preciso tambĂŠm que o JudiciĂĄrio tenha, digamos assim, uma visĂŁo mais adequada ao enfrentamento da criminalidade, porque a sociedade clama por isso.â€? A mulher de Gurgel, Claudia Sampaio, ĂŠ quem cuida atualmente,noMinistĂŠrioPĂşblico Federal, da Operação Boi Barrica. Os dois nĂŁo foram encontrados ontem para comentar a decisĂŁo do STJ. AlĂŠm de ter anulado provas da Boi Barrica e da Satiagraha, o tribunal tornou sem efeito, no passado, investigaçþes das operaçþes Castelo de Areia e Diamante, tambĂŠm da PolĂ­cia Federal. Em todos os casos, o STJ concluiu que ocorreram irregularidades nas autorizaçþes de quebra de sigilo telefĂ´nico.

EpisĂłdio motivou censura judicial ao ‘Estado’ â—? A Operação Boi Barrica, cujas

provas o STJ anulou, foi a que levou o Tribunal de Justiça do DF a decretar, em 2009, a censura judicial contra o Estado – impedindo-o de divulgĂĄ-la. Informado da nova decisĂŁo do tribunal, que reconduz o processo ao ponto de partida, o advogado do jornal, Manuel Alceu Affonso Ferreira, disse que vai aguardar a citação para definir providĂŞncias. O Estado espera do STJ, ou do Supremo Tribunal Federal, uma decisĂŁo quanto ao mĂŠrito da censura que sofreu e que hoje completa 779 dias. O recurso pedindo sua revogação estĂĄ nas mĂŁos do ministro Benedito Gonçalves, que o recebeu quando o TJ-DF remeteu os autos ao STJ. A decisĂŁo de DĂĄcio Vieira atendia a um pedido do empresĂĄrio Fernando Sarney, para quem a ação da PF nĂŁo podia ser divulgada, visto que corria em segredo de justiça. Na ocasiĂŁo, Vieira, que nĂŁo esconde sua amizade com o presidente do Senado, JosĂŠ Sarney, acolheu recurso contra a decisĂŁo do juiz Daniel Felipe Machado, da 12.ÂŞ Vara CĂ­vel de BrasĂ­lia. Este havia derrubado a censura. Com a sentença, Vieira impĂ´s multa de R$ 150 mil para cada “ato de violaçãoâ€?, isto ĂŠ, para cada notĂ­cia publicada. / GABRIEL MANZANO

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2011

‘O caminho estĂĄ aberto para a impunidade’ Delegados da PF alegam que nenhuma missĂŁo ĂŠ executada sem aval da Justiça e fiscalização da procuradoria federal Delegados da PolĂ­cia Federal se declaram perplexos com a decisĂŁo do Superior Tribunal de Justiça(STJ),que mandouanular as provas da Operação Boi Barrica. Eles avaliam que o JudiciĂĄrio se curva ante investigados que detĂŞm poder polĂ­tico e econĂ´mico. Temem que outras operaçþes de grande envergadura tenham o mesmo fim. “A PF nĂŁo inventa, ela investiga nos termos da lei e sob severa fiscalizaçãoâ€?, disse o delegado Marcos LeĂ´ncio Sousa Ribeiro,diretor de AssuntosPar-

lamentaresdaAssociação Nacional dos Delegados da PF. “NoBrasilnĂŁo hĂĄinteresse em deixar investigarâ€?, afirma LeĂ´ncio. “As operaçþes da PF sĂŁo executadas sob duplo grau de controle, do MinistĂŠrio PĂşblico Federal, que ĂŠ o fiscal da lei, e do JudiciĂĄrio, que atua como garantidor de direitos. AĂ­ uma corte superior anula todo um processo pĂşblico com base em quĂŞ? Com base no ‘ah, nĂŁo concordo, a fundamentação do meu colega que decidiu em primeiro grau nĂŁo ĂŠ suficiente’. Nessa hora nĂŁo importa que os fatos sĂŁo pĂşblicos e notĂłrios e que nem sequer hĂĄ necessidade de se ficar buscando uma prova maior.â€? LeĂ´ncio considera “revoltanteâ€? ouvir crĂ­ticas de que a PF investiga mal. “O PaĂ­s nĂŁo pode

â—? Defesa

da PF

LEÔNCIO RIBEIRO

AMAURY PORTUGAL

“A PF nĂŁo inventa, ela investiga nos termos da lei e sob severa fiscalização, sob duplo grau de controle, da procuradoria e da Justiçaâ€?

“Trancamento da Boi Barrica ĂŠ temerĂĄrio. Vamos cansar. A PF faz a sua parte, mas o governo estĂĄ intimidado.â€?

DIRETOR DA ADPF

aceitar que uma operação seja anulada porque o tribunal nĂŁo concorda com a fundamentação do juiz de primeiro grau, ‘ah, quem tinha que ter autorizado nĂŁo era o juiz federal da 1.ÂŞ vara, a competĂŞnciaera dojuiz da2.ÂŞvara’. Isso atende a uma elite.â€? Para o delegado, “o Legislativo faz mal as leisâ€? e “a polĂ­cia trabalha com instrumentos le-

PRESIDENTE DO SINDICATO DOS DELEGADOS FEDERAIS EM SP

gais limitadĂ­ssimosâ€?. “As leis sĂŁo limitativas e restritivas, como a da interceptação telefĂ´nica. O pano de fundo ĂŠ o JudiciĂĄrio a serviço das elites.â€? Contaminação. Segundo LeĂ´ncio, as recentes decisĂľes do STJ, que jogaram na gaveta inquĂŠritos sobre grandes operaçþes, “vĂŁocontaminarvĂĄriasoutrasin-

vestigaçþesesob essemesmoargumentoâ€?. “O problema estĂĄ nos tribunais superiores: eu nĂŁo quero condenar, eu nĂŁo quero deixar condenar. Maquiavelicamente, setores da mĂ­dia atacam a PF e passam a imagem de polĂ­cia nazista, que nĂŁo respeita direitos e garantias fundamentais.â€? “APFinvestiga,apresentaprovas, mas tudo isso nĂŁo tem valor porque temos um Poder JudiciĂĄrio cuja cĂşpula ĂŠ comprometida com esse status que estĂĄ aĂ­. Chega uma turma de um tribunal superior, distante dos fatos, diz que isso tudo ĂŠ abuso, nĂŁo estĂĄ bemfundamentadoequealegislação nĂŁo permite que se faça isso ou aquilo. O Brasil estĂĄ nesse dilema. Essas decisĂľes tĂŞm carĂĄter ideolĂłgico, nĂŁo jurĂ­dico. A PF estĂĄ no meio dessa guerra. Um Brasil que compactua com a corrupção e um Brasil que quer ser passado a limpo.â€?

“APFrespeitaasdecisĂľesjudiciais, mas o trancamento da Boi Barrica ĂŠ temerĂĄrioâ€?, assevera Amaury Portugal, presidente do Sindicato dos Delegados Federais em SĂŁo Paulo. “Fica muito difĂ­cil para a PF trabalhar, primeiro as algemas que nĂŁo podem ser usadas no colarinho branco, depois as escutas.â€? ElenĂŁoaceitaorĂłtulodeilegalidade que o STJ cravou na Boi Barrica. “Como ilegal se tudo foi realizado com autorização da prĂłpria Justiça? O delegado que presidiuoinquĂŠritoda Boi Barrica nĂŁo ia fazer escuta se nĂŁo estivesseamparadoem decisĂŁojudicial. Qualquer passo o delegado temquecomunicaraojuiz,abrindo vista para o procurador.â€? Para Portugal, “as Ăşltimas decisĂľes judiciais sĂŁo estapafĂşrdiasâ€?. Ele faz um alerta. “Vamos cansar. O governo estĂĄ intimidado. A porta para a impunidade estĂĄ aberta.â€? / FAUSTO MACEDO


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 19 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Mais pobres no mundo rico Piores do que esperavam os economistas e o governo, os números sobre a redução da renda média das famílias americanas, e o consequente aumento do número de pobres no país, reforçam os temores de que a economia dos Estados Unidos poderá levar muito tempo para atingir um ritmo de crescimento capaz de melhorar a vida da população. É uma má notícia para todos, especialmente para o presidente democrata Barack Obama, que, além da queda da popularidade, enfrenta grandes dificuldades para fazer avançar no Congresso suas propostas para o enfrentamento da crise econômica. Mas, paradoxalmente, pode facilitar as ações da Casa Branca, na medida em que as evidências do impacto da crise sobre a vida de um nú-

mero cada vez maior de americanos forem capazes de reduzir as resistências da oposição republicana à adoção de providências urgentes. Dados divulgados pelo Escritório do Censo dos EUA mostram que, em 2010, a parcela de americanos vivendo abaixo da linha de pobreza atingiu seu maior nível desde 1993 – 15,1% da população – e, em números absolutos, foi o maior da história: 46,2 milhões de pessoas, bem mais do que os 43,6 milhões (14,3% da população) que viviam na pobreza em 2009. Para economistas e membros do governo, a recessão americana que se seguiu à crise global de 2008 terminou há pouco mais de um ano (em julho de 2010), mas as estatísticas do Censo dos EUA mostram que, para milhões de americanos, esse fato, se teve algum efeito em suas vidas, foi para pior. No ano em que a economia superou o pior da crise,

mais 2,6 milhões de pessoas se tornaram pobres. Na média, todos os americanos perderam renda no ano passado, na comparação com 2009. A renda familiar média no fim de 2010, de US$ 49.445 para uma família de quatro pessoas, foi 2,5% menor do que a de um ano antes. Em valores reais, a renda média de 2010 está US$ 6.000 abaixo da registrada em 2000. Nos EUA, são consideradas pobres as famílias de quatro pessoas com renda anual abaixo de US$ 22.113. É tentador comparar esse valor com os critérios utilizados no Brasil para a definição de pobreza. O limite americano equivale a cerca de R$ 38.000, ou a uma renda familiar mensal média de aproximadamente R$ 3.170, ou pouco mais de R$ 790 por pessoa. Esse valor é mais do que o quíntuplo do valor utilizado pelo governo brasileiro para definir pobreza. Mas, se forem considerados os custos com que

arcam os americanos para comer, estudar, vestir, locomover-se e, sobretudo, morar, entre outras despesas típicas de uma família e que são muito maiores do que no Brasil, a diferença ficará compreensível. Há um aspecto particularmente nocivo no aumento da pobreza nos EUA. O problema afeta mais agudamente os adultos jovens, que representam o futuro do mercado de trabalho. De 2007 até agora, o número de jovens adultos que, por falta de oportunidades de trabalho, continuam a morar com suas famílias aumentou 25%. Quando se considera não a renda familiar dividida pelo número de pessoas que moram com eles, mas sua renda individual, observa-se que 45% desses jovens ganham menos do que a linha de pobreza para um adulto sozinho. Na segunda-feira, o presidente Barack Obama apresentou ao Congresso seu plano de recuperação econô-

mica, com investimentos e benefícios fiscais que totalizam US$ 447 bilhões, para estimular o consumo, gerar empregos e reativar a produção industrial. Mas a bancada republicana ainda resiste a detalhes do plano, especialmente os que implicam aumento de impostos. É possível que os novos dados sobre a queda da renda média dos americanos no ano passado sensibilizem mais congressistas e facilitem a votação do plano de Obama. Mas, diante da feroz resistência da facção republicana radical Tea Party, às iniciativas de Obama para enfrentar a crise, a proposta pode perder consistência e transformar-se em novo pretexto para a oposição acusar o governo de responsável pela crise e de incompetente para conter seus efeitos sobre a economia e a vida dos americanos. Se isso acontecer, o que está ruim, ainda pode piorar, antes de começar a melhorar.

A previdência dos Estados

A proteção do Cerrado

déficit do regime de previdência dos Estados alcançou R$ 31 bilhões em 2010, com aumento de 15% em relação a 2009. Esses dados impressionam o contribuinte, que tem de arcar com a conta, mas ainda parecem insuficientes para preocupar os governos estaduais. Apesar do rápido crescimento do déficit previdenciário, que precisa ser contido para evitar o desequilíbrio estrutural de suas finanças, os governos não estão agindo para combatê-lo. Para isso, eles precisariam criar um fundo de previdência complementar que substitua o atual regime de benefício definido pelo regime de contribuição definida, como o que vigora para o trabalhador da iniciativa privada, mas muito poucos estão tentando fazer isso. Como mostrou reportagem de Edna Simão publicada no Estado (13/9), o crescimento dasdespesas dosgovernosestaduaiscomaprevidêncianosúltimos anos eleva seus gastos com pessoalecomprometesuacapacidade de investimento. Apenas cinco Estados arrecadam em contribuições previdenciárias pagas pelos servidores mais doquegastamcomaposentadorias e pensões. São, porém, casos excepcionais, o do mais novoEstadodaFederação(Tocantins) e de outros quatro antigos territórios elevados a Estado (Acre, Amapá, Rondônia e Roraima) que recebem verbas federais para cobertura de parte de suas despesas correntes. To-

crescente produção agropecuária do Cerrado tornou o Brasil um dos celeiros do mundo, mas 48,5% de sua mata nativa tinha desaparecido ao fim do ano passado, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Um dos desafios com os quais o Brasil se defronta é como conciliar o desenvolvimento do agronegócio com a preservação da biodiversidade do maior bioma do País, com 2,39 milhões de quilômetros quadrados, espalhados por 11 Estados e o Distrito Federal. É preciso também levar em conta que a demanda por terras na região é pressionada por novos núcleos urbanos que se formam, por cidades que crescem, por estradas que são abertas, etc. E tem havido no Cerrado exploração madeireira, quase sempre para a produção de carvão vegetal. O compromisso atual, estabelecido em lei, é de reduzir em 40% até 2020 o ritmo de desmatamento no Cerrado, tomando como base uma projeção para aquela data da destruição que ocorreria se nenhuma medida fosse tomada. A meta tem sido cumprida, afirmou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. A medição feita em 2008/2009 indicava que o Cerrado tinha perdido 7.637 km² de mata nativa, área reduzida em 15,3% em 2009/2010, quando foi de 6.439 km². Contudo, em comparação com a média de anos anteriores (14,2 mil km²), a redução foi de 54%. É uma boa notícia e, segundo técnicos do governo, o ritmo

O

do via internet, além de remeter a alguns organismos públicos, sem nenhum resultado efetivo. Radares em pontos fixos só servem para arrecadar dinheiro dos incautos, pois os que trafegam regularmente pelas vias sabem onde eles se localizam e evitam as multas, muitas vezes com freadas fortes, possibilitando acidentes. Os modernos túneis da pista descendente da Imigrantes (alguns com quilômetros de extensão) têm agora radares na entrada e na saída, quando deveriam tê-los a cada 50 ou 100 metros, no máximo. É comum assistir a “rachas” dentro dessas áreas e quando um acidente mais grave acontecer nem haverá forma rápida e segura de socorro. Ali dentro poderão padecer o filho ou o neto do padeiro, do juiz, do coronel e até, quem sabe, um parente do governador. Porque a morte é cega. CARLOS D. N. DA GAMA NETO carlosgama@croniquetas.com.br Santos

dososdemaispagammaisbenefíciosdoquearrecadamemcontribuições previdenciárias. ALeideResponsabilidadeFiscal (LRF) considera como gastos com pessoal todas as despesas com os servidores ativos e inativos e com pensões. Isso inclui remuneração básica, vantagens fixas e variáveis e outros adicionais, gratificações, horas extrasetambém osencargos sociais e as contribuições recolhidas pelo governo às entidades de aposentadoria. Pela LRF, os gastos com pessoal não podem ultrapassar 49% da receita corrente líquida (RCL). A lei também fixa um limite prudencial,

Sem sistemas de previdência complementar, déficit não será contido de 46,55% da receita líquida, e impõe ao governo estadual que oatingiranecessidadedeaplicação de medidas para evitar que se alcance o teto permitido. O impacto da crise mundial sobre a arrecadação tributária foi mais forte em 2009, mas, em 2010, muitos governos estaduaisaindaenfrentavamproblemas financeiros decorrentes do aumento mais lento de sua receita. Além disso, suas despesas com pessoal aumentaram mais depressa em razão de benefícios concedidos em ano eleitoral ou aprovados há mais tempo,mascujopagamentofoidividido em parcelas anuais. Assim, no primeiro quadrimestre de 2010, de 21 Estados cujas contas tinham sido avaliadas pela Secretaria do Tesouro Nacional,

Raposo Tavares

Sensacional o projeto apresentado ao governo estadual para resolver o gravíssimo problema da Rodovia Raposo Travada. Chance de ser implantado, zero. Chance de ser construído um puxadinho, 50%. Chance de um puxadinho com pedágio, 80%. Chance de ser instalado só o pedágio, 100%!

em 17 havia aumentado a relação entre gasto com pessoal e receita líquida. Tais problemas não deveriam mais afetar os resultados financeiros dos Estados em 2011. Mas,emparteporcausadocrescimentodosgastosprevidenciários,umdeles,quejáhaviaultrapassado o limite de gastos com pessoal, piorou seu desempenho no primeiro quadrimestre, e outros três superaram o limite prudencial da LRF. AParaíba, quesuperou olimite de gastos com pessoal em 2009 (49,54% da receita líquida), aumentou proporcionalmenteessasdespesasnoprimeiro quadrimestre de 2010 (para 52,87%)e asampliou aindamais em 2011 (para 53,36%, como mostrou o Estado). Cerca de um terço da despesa total com pessoal (de R$ 2,9 bilhões em 2010) é destinado a pagamento de benefícios previdenciários (R$ 1 bilhão). No ano passado, a previdênciadaParaíbatevedéficit de R$ 418,5 milhões. A situação do governo federal é muito pior do que a dos Estados, pois o regime próprio de previdência da União custou R$ 50bilhões em2010edeverácustar R$ 57 bilhões em 2011. Mas o governo federal tenta aprovar no Congresso a criação do fundo de previdência complementar para os novos servidores. O governo do Estado de São Paulo,cujodéficitprevidenciárioalcançou R$ 7,7 bilhões em 2010, apresentou à Assembleia proposta semelhante à do governo federal. A criação desses fundos não traz alívio financeiro imediato, mas terá efeitos positivos no longo prazo.

“Jogo duro esse para a presidente Dilma: segurar a inflação e acelerar o crescimento. Uma faca de dois gumes. Veremos!” ANTONIO CARNIATO FILHO / SANTA RITA DO PASSA QUATRO, SOBRE A POLÍTICA ECONÔMICA antoniocarniato@gmail.com

MARCOS NOGUEIRA DE SÁ marcos.sa@rac.com.br Cotia

“Sugestão de nome para o estádio do Corinthians: Kassabão. Ou Geraldão...”

Metroanel

SÉRGIO MÉDICI / ARARAQUARA, SOBRE O ITAQUERÃO somedici@uol.com.br

Estão todos errados no Primeiro Mundo, aqui é que estão certos: “Metrô não chega a aeroporto e nem adianta falar nisso”. E dá-lhe passageiros e carga para lá e para cá em nossas avenidas! FRANCISCO JOSÉ SIDOTI fransidoti@gmail.com São Paulo

A

de contenção da derrubada poderia ser acelerado. Em 2009, quando foi lançado o Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado, foi proposta uma diminuição de 60% do ritmo de desmatamento até 2020, mas essa taxa foi considerada muito ousada. Hoje não parece tanto assim. Isso se deve, em grande parte, ao monitoramento por satélite, que sofisticou a fiscalização, no dizer da ministra. De fato, de janeiro a agosto deste ano, o Ibama lavrou 517 autos de infração por destruição da flora do Cerrado, o que se con-

A preservação do Cerrado é tão importante para o País como a da Amazônia verteu em multas no valor de R$ 142,6 milhões em 140 municípios. O monitoramento indica que os Estados onde a área plantada de soja mais tem avançado são justamente aqueles onde mais se desmata o Cerrado, como o Maranhão (1.587 km²), o Piauí (979 km²) e o Tocantins (960 km²). O MMA prevê fiscalização em toda a cadeia produtiva, mas, aparentemente, só está agindo junto aos produtores rurais. O desmate se faz também em atendimento a uma demanda industrial. Embora haja compromisso das siderúrgicas de só utilizarem madeira de florestas plantadas, a queima de variedades nativas para obtenção de carvão vegetal – insumo para a produção de ferro gusa –

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PF critica anulação de grampos contra Sarney

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Delegados da Polícia Federal se declaram perplexos com a decisão do Superior Tribunal de Justiça ● “Simplesmente horrorosa essa atitude. Não temos ninguém em quem confiar. O povo brasileiro está só.” ANEVIO MORAES BUENO

● “Policiais federais, passem a investigar esses juízes, pois onde há fumaça há fogo.” OTÁVIO ROBERTO PAMPLONA

HÁ 780 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Parabéns ao delegado que fez essa denúncia. Na verdade, ele falou o que todo mundo já sabe, mas teve coragem.” ANTONIO AUGUSTO FIGUEIREDO SILVA

ainda está longe do fim. Além disso, o cultivo de eucalipto em grande escala muitas vezes substitui as matas, sem que seja reservada uma área de 35% das propriedades para as variedades nativas, como exige a lei. É verdade que o clima quente e a umidade muito baixa nos meses de inverno (de maio a setembro) tornam o Cerrado sujeito a incêndios espontâneos. Estes, porém, têm sido muito mais raros do que os resultantesdaaçãohumana,nãopoupando nem mesmo as áreas federais deconservação,nasquaisforam queimados 3.228 km² só este ano.A Polícia Federalatualmente investiga a origem criminosa de incêndios em quatro florestas nacionais. O mais grave, na Floresta Nacional de Brasília, consumiu4mildeseus9.351hectares, sendo mais afetada a área quecontinhao maiorvolumeremanescente da flora e da fauna do Cerrado. De acordo com Rômulo Mello, presidente da ICMBio, ficando a Floresta no entorno de Brasília,ondeasterrastêmvalorsignificativo, há suspeitas de que o incêndio tenha sido provocado. Pode ser, mas aquela foi apenas uma das 11 áreas de conservação atingidas pelo fogo nesta seca, comolembrouaministraIzabella Teixeira. De todos os biomas do País, o Cerradotalvezsejao maisameaçadoatualmente.É difícil saber, aesta altura,se aumentara meta deredução dodesmate éo caminho indicado. O certo é que o Cerrado é uma savana das mais ricasembiodiversidadedomundo, e a sua preservação é tão importante quanto a da Amazônia.

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 20 DE SETEMBRO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

Mel da primavera ✽ ●

XICO GRAZIANO

V

aicomeçaraprimavera. Mais quente e úmida, a época das flores renova as cores da natureza e rejuvenesce a biodiversidade. Podem verificar: as árvores já vestiram seus novos trajes. Para as abelhas é tempo de fabricar o mel. A apicultura representa uma antiga atividade humana. Recebeu a atenção pioneira dos regulamentosdeSólon, na Grécia,fixando a distância mínima, de 90 metros, entre as colmeias lá exploradas. Utilizado o mel em cerimônias sagradas e na medicina, as abelhas despertaram também a curiosidade de Aristóteles,sabidoestudiosodaentomologia, a ciência dos insetos. No Brasil, a história da apicultura começou, pra valer, em 1840. Foi quando aqui chegaram, trazidas pelo padre Antônio Carneiro, da região lusitana do Porto, as primeiras rainhas de abelhas europeias. Logo depois,osimigrantes alemãeseitalianosintroduziramnovasespécies melíferas, próprias de suas regiões de origem. Junto vieram os inchaços. Acontece que nem toda abelha tem ferrão. As espécies do gênero Apis, exóticas, carregam dardos venenosos, ao contrário das abelhas nativas, pertencentes ao gênero Melipos, que são mansas, como a pequenina jataí. Por isso na meliponicultura nem se utilizam roupas protetoras, imprescindíveis na apicultura. Um acidente mudou a apicultura nacional há cerca de 50 anos. Introduzidas por cientistas liderados por Warwick Kerr, asabelhasafricanas,maisprodutivas, porém muito bravas, escapuliram dos laboratórios, enxameando-se livremente nas matas. Agressivas, causaram pavor napopulação.Foramdenominadas, na época, de “abelhas assassinas”. Assunto de bombeiros. Durante décadas, porém, a contínua mestiçagem entre as abelhas europeias, amarelas, e as negras africanas foi “amansando”o enxame nacional. Hoje o Brasil produz 50 mil toneladas por ano de mel, ocupando o 11.º lugarnorankingmundial.Épouco. O País poderia, segundo os estudiosos, quadruplicar a sua produção. Insetos sociais, as abelhas vivem em colônias, organizadas em castas, cada qual com funções delimitadas. Normalmente existem na colmeia milhares de operárias, algumas centenas de zangõeseapenasumarainha.Esta vinga da operária, alimentada com geleia real. Logo após o seu nascimento, entre cinco e sete

dias, ela realiza o voo nupcial e, a dezmetrosdealtura,sevêcercada por uma nuvem de zangões, atraídos de longe pelo odor de seu feromônio sexual. A morte é o presente do felizardo zangão que a copula, dilaceradoemseuabdômenpeloferrão preso ao corpo da rainha. Em contrapartida, seu sêmen permanecerá ativo durante toda a vida útil da fêmea, cerca de três anos. Fora isso, os zangões não servem para mais nada. São as operárias que cuidam de todo otrabalho demanutençãoeproteção da colmeia. Curioso é o mundo das abelhas. Pouca gente, óbvio, conhece as artimanhas da sociedade apícola. Mas sabe que o delicioso alimento dos enxames se fabrica a partir do néctar das flores. Desconhece, ainda assim, que, após ser recolhido, o néctar é

Na veracidade do produto, mais que na qualidade, reside grande desafio da apicultura “mastigado” pelas abelhas, momento em que nele se juntam as secreções glandulares dos insetos. Depois segue “cuspido” e concentrado nos alvéolos do favo. Cada flor, um aroma, uma cor. Segredo delicioso. Mais que na qualidade, na veracidade do mel reside um grande desafio da apicultura atual. Análises de laboratório mostram que chega a 80% a falsificação vista no mercado. Vende-se como mel legítimo uma gororoba que mistura xarope de açúcar com amido (para dar viscosidade), artificializado com odor e cor. Até desinfetante com cheiro de eucalipto já se encontrou no produto dos picaretas. Distinguir, visualmente, mel puro da meleca falsificada não é tarefa fácil. Alguns pensam que melendurecidoéruim.Ledoengano. Mel puro sempre tende a se cristalizar, mas uniformemente. Se formar pelotas, aí, sim, é malandragem. Os técnicos ensinam a pingar umas gotas de iodo no produto. Se ele enegrecer,significaqueapresenta amido, portanto, é falso. Só existe uma saída para enfrentaressamalandragem: identificaraorigemdoproduto.Nesse sentido, um selo de qualidade seria bem-vindo. Enquanto isso, a fiscalização sanitária poderia funcionar melhor. E o consumidor, esperto, fugir da pechincha. Mel bom custa caro. Palavra das abelhas. Umaameaçaecológicaapavora os apicultores. Em várias partes do mundo, enxames de abelhas perecem sem que se conheça, ao certo, a causa da mortandade. Desde 2006, o mistério da “desordem de colapso de colônia” afeta a população das abe-

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

Coragem para retomar o etanol lhas.Inseticidas,perdasde hábitat, mudanças no clima, nutrição e até sinais emitidos por celulares se colocam entre os suspeitos da morte dos enxames. Osbichinhossomemsemdeixarem seus restos mortais. Simplesmente desaparecem. Ainda não relatado cientificamente por aqui, o terrível fenômeno poderá afetar não apenas a produção mundial de mel, mas também comprometer a produtividade das lavouras. Acontece que,emsualabutadiáriadecoletar néctar das flores, as abelhas ajudam na fertilização vegetal, melhorando a frutificação. Pólen de uma flor encontra os óvulos de outra, distante, graças ao trabalho das abelhas. Gratuito. Pesquisadores relatam acréscimos de até 94% na produtividade de pomares de macieiras e pessegueiros quando neles se alojam colônias de abelhas. Em cafezais e laranjais, os ganhos ficamnaordemde35%.Sedesaparecerem as abelhas, perde-se o mel e, junto, ganha-se uma crise deproduçãorural,especialmente na fruticultura. A cada primavera aumenta a incerteza sobre o amanhã. Dos problemas ecológicos mundiais às bandidagens corriqueiras, restaacreditarnaindignaçãohumana. A favor das abelhas, contra a degradação de sua própria natureza. ✽ AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO. E-MAIL: XICOGRAZIANO@TERRA.COM.BR

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MARCOS SAWAYA JANK

O

etanol brasileiroacabou?Estamo-nostornando importadores de etanol? São essas as indagações que mais tenho ouvido nos últimos tempos e me conduzem a escrever este artigo, até para evitar que elas erroneamente virem afirmações. A redução da oferta de etanol no Brasil tem três explicações. Primeiro, o setor reduziu seu crescimento após a crise financeirade2008,queatingiufortementeasempresasquemaishaviam investido naquele momento. Um terço do setor entrou em dificuldades e passou por forte reestruturação financeiraesocietária.Emvezde novas unidades, os investimentos deslocaram-se para a compra deempresasendividadaseaexpansão caiu de 10% para 3% ao ano,nãoacompanhandoasvendas de carros flex. Segundo, nos últimos seis anos o custo de produção do etanol aumentou mais de 40%, aomesmotempoqueodiferencial tributário do produto ante a gasolina se estreitou. Terceiro, as três últimas safras foram marcadas por graves problemas climáticos e produtividade em queda, numa incrível sequênciade chuvas esecaem excesso, além da geada deste ano. Para evitar problemas de

SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS

Mahmoud Abbas

abastecimentoereduziravolatilidade dos preços o governo, as distribuidoras e os produtores vêm se reunindo desde o início do ano para monitorar com lupa aproduçãoeomercado.Deveremos importar este ano 1 bilhão de litros de etanol, o equivalente a 4% da produção brasileira, valor compreensível diante de uma quebra de produtividade que atingirá 20% em produto nestasafra.Importar etanolainda é melhor e mais barato, econômica e ambientalmente, do que importar gasolina. Aliás,porsetratarde umcombustível de origem agrícola e, portanto, sujeito aos conhecidos riscos climáticos, é preciso estar sempre preparado para recorrer a eventuais importações. Agora, imaginar que o Brasil se tornará “importador estrutural” de etanol (ou de alimentos

Nossa verdadeira meta deveria ser duplicar a produção de cana até 2020 básicos) é simplesmente desconhecer o enorme potencial do País. Só o seremos se formos muito incompetentes, no médio e no longo prazos. O monitoramento estrito e as importações aumentaram a segurança de abastecimento do sistema. A ampliação das linhas de crédito proposta pelo governo permitirá uma recuperação doscanaviaisafetadospelosproblemasclimáticos.Em brevenovas medidas serão implementadas, como a ampliação do programadefinanciamentodeestocagem de etanol e o sistema de contrataçãopréviadeetanolanidro pelas distribuidoras no início da safra, vinculado à compra de gasolina. Vale destacar ainda que o setor está disposto a buscar novos mecanismos contratuais para alongar ainda mais o compromisso de oferta de etanolanidroegarantiadeabastecimento de longo prazo. Etanol anidroéaquelemisturadonagasolina a uma taxa de 18% a 25%. O hidratado é o que é vendido puro nas bombas e compete diretamente com a gasolina. Oscarrosflexforamdesenvolvidos para usarem etanol ou gasolina indistintamente, e essa livre escolha é uma vantagem de que só o consumidor brasileiro dispõehojenomundo.Entendemos que, no longo prazo, o País tem interesses ambientais e de saúdepúblicaquejustificamque os carros flex utilizem volumes cada vez maiores de etanol em seus motores. Mesmo com a dádiva do pré-sal, que certamente farádoBrasilumgrandeexportador de petróleo e derivados, não devemos abrir mão do nosso compromisso de ter uma matriz energética cada vez mais limpa e

renovável. E isso passa pela definiçãoclarado papeldosbiocombustíveis e da bioeletricidade na matriz energética brasileira. Portanto, é preciso desde já definirpolíticas públicaseprivadasquerestabeleçamacompetitividade e ampliem a participação do etanol na matriz de combustíveis do País. Diversos são os caminhos possíveis para isso, mas os mais inteligentes são: 1) Ganhos de eficiência que reduzamcustosagrícolas,agroindustriais e de logística e 2) mudançasefetivas naestrutura tributária que reconheçam os benefícios econômicos, ambientais e de saúde publica do etanol para a sociedade. Boaparte dos países do planeta tem graves restrições em termos declima, água, solos ou tecnologia agrícola. Esse não é o casodoBrasil.Hojea cana-de-açúcar ocupa menos de 3% de nossas terras aráveis (9,7 milhões de hectares), uma área quase 20 vezes inferior à ocupada apenas por pastagens (180 milhões de hectares). Já duplicamos a produção de etanol por área desde osanos 1970epodemosduplicála novamente nos próximos dez anos. Portanto, não se trata de optar entre açúcar e etanol ou entre mercado interno e mercado externo. Nossa verdadeira metadeveriaserduplicaraquantidade de cana produzida no País até 2020 para atender a todos esses mercados, começando, obviamente, pelo atendimento ao flex, mas não deixando de lado nenhum mercado atual e potencial. A presidente Dilma foi muito feliz ao citar em seu discurso de posse uma frase do mestre Guimarães Rosa que reproduzo aqui, pois serve com perfeição para ilustrar o atual momento que vive o etanol brasileiro. “A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depoisdesinquieta.Oqueelarequer da gente é coragem”. Tivemos imensa coragem ao lançar, em 1975, o primeiro programa mundial de substituição de petróleo por um combustível renovável em larga escala, o Proálcool. No momento em que estamos completando 50% de frota de flex, precisamos novamente da mesma coragem para completaressa belajornadabrasileira e mostrar ao mundo que, mesmo tornando-nos grandes produtores e exportadores de petróleo, continuaremos contandocomalternativasenergéticas do mundo de baixo carbono pós-petróleo – o etanol e a bioeletricidade da cana-de-açúcar, segunda fonte da nossa matriz energética exemplar. ✽ PRESIDENTE DA UNIÃO DA INDÚSTRIA DA CANA-DE-AÇÚCAR (UNICA). SITE: WWW.UNICA.COM.BR

Fórum dos Leitores

PEDRO SERGIO RONCO sergioronco@uol.com.br Ribeirão Bonito

nado. O poder exercido pela família Sarney é desproporcional à sua importância na vida política, considerando como agravante a situação de desenvolvimento do Maranhão, governado por sua filha. Enquanto o processo de censura ao Estadão quiçá algum dia será julgado, o trabalho da PF é desqualificado com essa decisão e mostra, de forma contundente, que o aparelhamento do Estado está consolidado e a sua ruptura só se dará com outro aparelhamento, este das forças verdadeiramente democráticas, cujo clamor virá das ruas, dos lares, das escolas e das igrejas. A corda está tensa e seu rompimento é iminente.

A corda está tensa

JAIR GOMES COELHO jairgcoelho@gmail.com Vassouras (RJ)

CORRUPÇÃO Nova mobilização

A corrupção corre solta no Brasil, só não vê quem não quer. O Superior Tribunal de justiça (STJ), que acaba de acobertar os desmandos da família Sarney, dá um péssimo exemplo àqueles que ainda acreditavam na Justiça do País. Por essas e outras é que nos devemos preparar para nova mobilização no próximo dia 12 de outubro, protestando, inclusive, contra esse tipo de decisão absurda.

O STJ anulou as provas obtidas pela Polícia Federal (PF) na Operação Boi Barrica, envolvendo um filho do donatário-mor desta capitania e também presidente do Se-

Ricos e poderosos

Lamentável o STJ ter anulado as provas colhidas pela PF contra a

família Sarney. É mais um triste retrato da impunidade dos ricos e poderosos no Brasil. RENATO KHAIR renatokhair@uol.com.br São Paulo

Comissão da Verdade

Num país onde a justiça somente é feita para os ricos e poderosos (descendentes dos antigos coronéis), não acho necessária nenhuma Comissão da Verdade. Na realidade, o que falta é seriedade. JOSÉ G. OLIVEIRA mandarino-oliveira@uol.com.br Praia Grande

Intocáveis

A decisão do STJ de anular todas as provas contra a família Sarney na Operação Boi Barrica deixou os delegados que atuaram na investigação completamente frus-

trados. Segundo alegam, todas as provas foram obtidas com mandado judicial. Por essa razão, deixanos perplexos tal decisão desse tribunal. Na verdade, a coisa mais difícil de ocorrer no Brasil é a punição de culpados coroados por status e poder financeiro. Sono tranquilo para os familiares do poderoso Sarney, que, segundo Lula, não é uma pessoa comum. FRANCISCO ZARDETTO fzardetto@uol.com.br São Paulo

Reverência

Boi Barrica

Vergonha, tristeza, angústia e o fim da esperança, quando toda a Nação assiste ao ato do Poder Judiciário de se curvar diante de um delinquente.

Em suma, quem censura também anula! Cadê os milhões?

IVAN BERTAZZO bertazzo@nusa.com.br São Paulo

Censura

Depois de o STJ anular provas de operações da competente PF contra políticos e apadrinhados (leiase Sarney S.A.), só me resta perguntar: afinal, as Cortes Superiores da (in)Justiça brasileira estão a favor de quem mesmo?

Anuladas todas as provas obtidas pela PF, que investigava notória família do Maranhão. Investigação cujos resultados foram acompanhados e publicados pelo Estado, jornal que, em consequência, sofreu severo processo de censura, que já dura quase 800 dias. Que poder tem essa família, hein? É de meter medo!

MARIA JOSÉ MACCHIONE mariamac25@yahoo.com.br São Paulo

JOSÉ MARQUES seuqram.esoj@bol.com.br São Paulo

Vergonha nacional

ALBERTO NUNES albertonunes77@hotmail.com Itapevi

Brasil sem rumo

O excelente artigo Política sem política (17/9, A2), do professor Marco Antonio Villa, mostra de forma muito objetiva o quanto continuam negras as nossas perspectivas de termos um combate efetivo à corrupção e às mazelas dos donos do poder. O fato de termos vergonha de nossos políticos não é novidade. Mas ter a certeza de que a chamada oposição é medíocre, sem uma efetiva capacidade de enfrentamento das vis manobras de Lulas e Sarneys de se perpetuarem como donos do poder, é que constrange nossas esperan-


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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 20 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

STJ acode o clã Sarney Quatro anos de trabalho policial acabam de ir para o ralo com a decisão da 6.ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de invalidar as provas colhidas pela Polícia Federal (PF) na investigação sobre os negócios do clã do presidente do Senado, José Sarney. Com base em interceptações telefônicas e no acesso a movimentações financeiras da família, autorizados pela Justiça do Maranhão, a PF abriu cinco inquéritos que resultaram no indiciamento do filho do oligarca, Fernando Sarney, por desvio e lavagem de dinheiro, tráfico de influência e formação de quadrilha. O ponto de partida da inicialmente denominada Operação Boi Barrica e, depois, Faktor, foi a descoberta de um saque de R$ 2 milhões em dinheiro da conta do casal Fer-

nando e Teresa Sarney, às vésperas da eleição de 2006, quando a irmã do empresário, Roseana Sarney concorria (pela terceira vez) ao governo maranhense. As conversas captadas pelos federais registraram, além de fortes indícios de transações escusas, a desenvoltura com que os Sarneys exerciam a política de patronagem no governo Lula, reproduzindo na esfera federal, com a maior naturalidade, os padrões de controle oligárquico sobre o seu Estado de origem reduzido a capitania hereditária. Em 2009, a pedido de Fernando Sarney, o desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal – e amigo do patriarca Sarney –, proibiu este jornal de continuar divulgando as evidências levantadas pela PF. A aberração da censura prévia imposta ao Estado completa hoje 781 dias. Enquanto essa ilicitude se perpetua, o STJ resolveu considerar que a deci-

são judicial que permitiu conhecer de perto as traficâncias sarneysistas, mediante quebras de sigilo bancário, fiscal e de dados telefônicos, carecia de fundamentação. Formalmente, isso não significa o fim da investigação, muito menos equivale a um atestado de inocência dos investigados. Mas a volta à estaca zero, no caso, “abre a porta para a impunidade”, como diz o presidente do Sindicato dos Delegados Federais em São Paulo, Amaury Portugal. “A PF respeita as decisões judiciais, mas o trancamento da Boi Barrica é temerário”, alerta. O órgão policial sente-se diretamente atingido no cumprimento das suas atribuições, na medida em que a anulação das provas possa sugerir que a PF “forçou a barra” junto ao Judiciário maranhense para obter a prorrogação das interceptações por 18 vezes. “A PF não inventa, ela investiga nos termos da lei e sob severa fiscalização”,

retruca o diretor de Assuntos Parlamentares da Associação Nacional dos Delegados da PF, Marcos Leôncio Sousa Ribeiro. Ele se refere ao controle do Ministério Público Federal, “fiscal da lei”, e do Judiciário, “garantidor de direitos”. Pode-se concordar ou discordar da sua opinião sobre a falta de “interesse em deixar investigar” quando os investigados não são pessoas comuns – como, numa tirada reveladora do quanto mudou o combatente social de outrora, o presidente Lula se referiu ao bom amigo José Sarney. Pode-se também concordar ou discordar da tese de que o Judiciário está “a serviço das elites”, o que seria, segundo o delegado, o pano de fundo do ato do STJ. Mas é difícil refutar a sua narrativa do episódio, a partir da referência aos controles que incidem sobre a atuação da PF: “Aí uma Corte superior anula todo um processo público com base em

quê? Com base no ‘ah, não concordo, a fundamentação do meu colega que decidiu em primeiro grau não é suficiente’. Nessa hora não importa que os fatos sejam públicos e notórios e que nem sequer há necessidade de se ficar buscando uma prova maior”. Não é a primeira vez que o STJ invalida ações da Polícia Federal. Os precedentes mais notórios foram a Operação Satiagraha, que focalizou o banqueiro Daniel Dantas, e a Castelo de Areia, envolvendo diretores da empreiteira Camargo Corrêa. Num caso, o motivo foi a participação, julgada ilegal, de membros da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nas investigações. No outro, o tribunal entendeu que denúncias anônimas não justificam autorizações para escutas telefônicas. São objeções respeitáveis. Agora, está-se diante de uma interpretação equivocada – ou pior.

Os resíduos sólidos do TRE

Nova proposta de Obama

uma iniciativa sem precedentes, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo tentou converter a Corte responsável pela aplicação da legislação eleitoral no Estado em instrumento de lobby e propaganda, ao recomendar aos juízes eleitorais que distribuam a 290 prefeituras paulistas exemplares de uma cartilha e cópias de DVDs sobre programas de coleta seletiva de lixo produzidos por uma empresa privada. A recomendação foi feita em agosto, durante um evento convocado para discutir formas de coibir doações irregulares em campanhas eleitorais. A empresa é de propriedade de um consultor do TRE que, além de acumular a função de diretor de meio ambiente da prefeitura de Franco da Rocha, foi contratado pelo TRE para fazer a cartilha e ministrar palestras para ajudar os juízes eleitorais a se “conscientizarem” da importância dos programas de coleta seletiva de lixo e estimulá-los a persuadir prefeitos a firmar “convênios” com empresas privadas especializadas. A iniciativa do TRE, totalmente alheia às funções da Justiça Eleitoral, foi justificada pelo presidente da Corte, desembargador Walter de Almeida Guilherme, com um argumento absolutamente descabido. Ele alegou que, como os municípios brasileiros terão de se adequar ao Plano Nacional de Resíduos Sólidos a partir de 2012, os juízes eleitorais paulis-

o propor uma tributação mais pesada da renda dos mais ricos e das empresas petroleiras, para aumentar em US$ 1,5 trilhão a arrecadação tributária – como parte essencial de seu novo plano para conter o déficit público federal americano em cerca de US$ 4 trilhões nos próximos dez anos –, o presidente Barack Obama tenta ganhar alguns pontos em seu abalado índice de popularidade, mas abre um duro jogo com a oposição republicana, que tem a maioria numa das Casas do Congresso. Em discurso, ontem, no Jardim das Rosas da Casa Branca, o presidente propôs o aumento da tributação dos chamados super-ricos americanos, com base na tese exposta pelo bilionário Warren Buffet, que mostrou como o atual regime tributário taxa pesadamente os que vivem de salários e cria brechas para os que ganham muito, sobretudo com rendimentos de aplicação financeiras, reduzirem o valor do seu imposto. Buffet utilizou sua situação fiscal para mostrar a iniquidade do atual regime de impostos de seu país. Ele recolheu proporcionalmente menos imposto do que os seus funcionários e menos também do que os assalariados americanos. Apesar desses argumentos, a oposição republicana resistirá duramente à proposta e já mostrou como poderá fazer isso. Tão logo souberam que o governo Obama proporia a taxação dos mais ricos, os republicanos passaram a classificar a medida

N

ças. Está mais do que na hora de surgir uma liderança patriótica para comandar um movimento de moralização. Já que essa liderança não é do PSDB, nem mesmo do ex FHC, é torcer para que ela surja da única instituição respeitável que ainda existe (não é necessário explicitá-la). ANTONIO PENTEADO SERRA apserra@uol.com.br Santana de Paraíba

ECOVIAS Neblina criminosa, não

Todos os anos, naquela região da Rodovia dos Imigrantes, ocorre neblina. Onde estão os Anjos da Guarda que cuidam da visibilidade nas estradas e, em seguida, da prevenção de acidentes? Agora acharam uma solução, comboios e mais comboios. Isso é falta de tecnologia e de criatividade em segurança nas rodovias. Sugiro ao Ministério Público que solicite a

tas poderiam “contribuir” para a implantação dos serviços de coleta de lixo nos municípios sob sua jurisdição. “O juiz é um difusor de ideias. Não custa nada distribuir a cartilha. É ação de responsabilidade social”, disse ele. Além de corresponder a uma “responsabilidade moral”, para o presidente do TRE, a participação da magistratura na propaganda “aproxima o Judiciário da cidadania”. “Convoquei os juízes” – diz o desembargador Almeida Guilherme – “porque esse aspecto da coleta é muito ligado à cidadania. O Tribunal deve ser difusor dos di-

Tentou-se converter a Corte em instrumento de lobby e propaganda de empresa privada reitos e deveres do cidadão. O papel do juiz não é apenas no gabinete, queremos um Judiciário mais próximo da cidadania.” Esqueceu-se o presidente do Tribunal que magistrados são aplicadores do direito positivo, e não vendedores de serviços e difusores de projetos de empresas particulares. O presidente do TRE confessa ainda que, apesar de não ter imposto a distribuição da cartilha e dos DVDs como uma obrigação, sugeriu aos seus subordinados que chamassem os prefeitos “para falar do interesse da Justiça nessa questão”. Disse que não estava preocupado com eventuais ações por improbidade administrativa que o Ministério Público poderia impetrar. E alegou que a rela-

relação dos técnicos à disposição para cuidar da segurança das estradas, com advertência na forma da lei. O seguro não paga os transtornos causados e as sequelas deixadas pelo acidentes. AGENOR ANTONIO DE CAMARGO, líder comunitário há 35 anos e membro conselheiro da Agenda 21 agennorcamarggo22@hotmail.com Cubatão

Acidente e punição

Vejo na imprensa que o Alckmin disse que, dependendo das investigações, poderá punir a Ecovias. Eu duvido que haja sinceridade nas palavras do governador. Já levei a ele, nestes 11 anos de concessão, dezenas de irregularidades, até em mãos, e nunca obtive uma resposta sequer. Conte outra, governador, essa foi boa. ORIVALDO T. DE VASCONCELOS prof.tenorio@uol.com.br Monte Alto

ção dos juízes com a empresa e com os prefeitos não seria comercial, mas institucional. Por sua vez, o proprietário da empresa, Jetro Menezes, deu a sua contribuição para o despautério: “Um servidor público não pode ficar limitado à sua pasta, tem de ter um horizonte um pouco maior. O juiz não pode ter só a função de juiz eleitoral, mas uma função um pouco maior que isso”. Por mais absurdo que pareça, o empresário é consultor do TRE. Diante de tanta promiscuidade no relacionamento entre o presidente de um tribunal e um empresário por ele contratado comoconsultor,osjuízeseleitorais paulistas fizeram o que se esperava, negando-se a desempenhar o papel que lhes foi “sugerido” pelo desembargador Walter de Almeida Guilherme. LembraramqueaJustiçaEleitoral nada tem a ver com questões ambientais e classificaram como inadmissível e imoral a orientação que receberam. “Entregomeu cargo, masnão entregoacartilha.Nãofaçoopapelde garoto-propaganda de empresa”,disseum dosjuízes.A orientaçãofoi“equivocada”eainiciativa de fazê-la foi “lamentável”, afirmou José H. Rodrigues Torres, presidente da Associação Juízes para a Democracia. Para evitar a desmoralização da Justiça Eleitoral paulista, esse é um caso que tem de ser investigado o mais rapidamente possível pela Corregedoria do Tribunal de Justiça. Não fazê-lo seráconfirmara imagemda corregedoriacomoumórgão minado pelo corporativismo e sem coragem para punir juízes.

“A Operação Boi Barrica perdeu força para Sarney?”

A

como “guerra de classes”. “Promover uma guerra de classes pode trazer bons resultados políticos, mas a economia sofre com isso”, disse o presidente republicano da Comissão de Orçamento da Câmara, Paul Ryan, numa referência aos objetivos político-eleitorais de Obama e ao possível efeito do aumento da tributação sobre a atividade econômica. Prevendo essa acusação, ao anunciar seu plano, Obama tratou de dizer que não “se trata de uma guerra de classes”, mas de uma questão matemática. Afinal, déficit se combate com aumento de receita e com cor-

Republicanos reagem, dizendo que tributação dos mais ricos será uma ‘guerra de classes’ te de despesas – entre as quais Obama propôs a redução de US$ 580 milhões em gastos compulsórios, incluindo o Medicare e o Medicaid, e de US$ 1,1 trilhão nas despesas com as guerras no Iraque e no Afeganistão. Disse também que “ninguém quer punir o êxito na América”, mas é necessário que as pessoas em situação financeira mais confortável paguem a “fatia justa” de tributo. Para não deixar dúvidas de que, se tem genuína preocupação com o corte do déficit, se preocupa também com sua popularidade, o presidente americano afirmou que não aprovará nenhum plano de combate ao déficit público que possa criar ônus para os americanos comuns. E garantiu que vetará

TEMA DO DIA

“Não há apelido mais apropriado – e que até deveria ser adotado como nome oficial do nosso (nosso?) triste país – do que Sarneylândia”

Washington tenta dividir com aliados ônus de barrar Autoridade Palestina nas Nações Unidas

LAÉRCIO ZANINI / GARÇA, IDEM arsene@uol.com.br

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

VOCÊ NO ESTADÃO.COM.BR

CÍCERO SONSIM / NOVA LONDRINA (PR), SOBRE AS PROVAS DA PF ANULADAS PELO STJ c-sonsim@bol.com.br

TOTAL DE COMENTÁRIOS NO PORTAL:

EUA querem apoio a veto ao Estado palestino

864

● “O reconhecimento da ONU é superestimado. Poucos se lembram quanto levou para reconhecerem o genocídio em Ruanda.” CAIO FATTORI

● “A conduta americana está coerente com o histórico de suas posições, quando o foco envolve Israel e os vizinhos.” ALFREDO AZEVEDO

HÁ 781 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Enquanto o processo de paz entre Israel e os palestinos estiver restrito aos Estados Unidos, prevê-se que não terá fim.” SERGIO DINIS

qualquer proposta de mudanças dos benefícios do Medicare que não venha acompanhada do aumento da tributação dos americanos ricos e das grandes empresas. O déficit americano cresceu rapidamente depois que a economia do país parou de crescer em 2007. Desde então, o desemprego vem subindo e já passou de 9% da população economicamente ativa, um índice muito alto para os padrões americanos. A renda média da população diminuiu nesse período e aumentou muito o número de americanos considerados pobres. Conterocrescimento dodéficit nos próximos anos é essencialparaassegurarumdesempenho melhor da economia e para gerar mais empregos. Mas Obama e a oposição republicana – que conquistou a maioria da CâmaradosRepresentantesemnovembro do ano passado – ainda não chegaram a um acordo sobre como fazer isso. Um acordo entre Obama e o presidente republicano da Câmara, John A. Boehner, esperado para abril, acabou não saindo. No fim de julho, o Tesouro correu o risco denãopoderhonraralgunscompromissos que venciam na época. Um acordo limitado de última hora evitou o calote. Com o discurso de ontem, Obama tenta novamente resolver a questão do déficit, mas sua proposta, que antes de ir à votação precisa passar por uma comissãobipartidária doCongresso criada especialmente para discutir o tema, já enfrenta forte resistência que pode aumentar daqui para a frente.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 21 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

O nó das escolhas políticas Não podem ser subestimadas as dificuldades de toda natureza que a presidente Dilma Rousseff tem para conviver com, e administrar, o arranjo político-partidário que dá sustentação parlamentar a seu governo. Mas gradativamente se acentua a impressão de que ela poderia – na verdade, deveria – fazer mais para impedir que a face perversa da “governabilidade” comprometa tanto a moralidade quanto a eficácia de sua administração. Na semana passada, durante a posse do novo ministro do Turismo, com a evidente intenção de fazer um afago no PMDB, que acumulou muitas contrariedades nos episódios das duas últimas demissões ministeriais, Dilma prestou uma homenagem ao óbvio: “Escolhas políticas não desmerecem nenhum governo”. Sob aplau-

sos, ainda se deu ao trabalho de explicar: “É com políticos e com partidos políticos, com técnicos e com especialistas, que se governa um país tão complexo como o Brasil”. Talvez para não melindrar a plateia, Dilma evitou cuidadosamente mencionar outras condições que, em qualquer tempo e lugar, são indispensáveis no perfil de administradores públicos: honestidade e zelo no trato da coisa pública. Pode haver quem diga que a omissão é natural e compreensível, na medida em que honestidade é, mais do que atributo, obrigação. E o mesmo se pode dizer de preparo e aptidão técnica. Ocorre que, por uma série complexa de fatores – inclusive a dificuldade da própria presidente para lidar com a questão –, são alarmantes tanto a falta de honestidade quanto a de competência técnica de pessoas nomeadas para os altos cargos da administração federal.

No que se refere à moralidade, os fatos falam por si. As substituições em cadeia dos ministros da Casa Civil, dos Transportes, da Agricultura e do Turismo foram todas motivadas pela mesma razão: improbidade. Desses ministros mandados para casa, três foram herdados do governo anterior e o quarto era apadrinhado do senador José Sarney, o que dá no mesmo. São nomes que, à exceção de Antonio Palocci, tudo indica não terem sido escolha pessoal da presidente e certamente não eram os de sua preferência. Mas ninguém em Brasília compraria um carro usado de qualquer dos quatro, o que pode significar que, na melhor das hipóteses, Dilma deu chance para o azar. Parece que agora está um pouco mais preocupada com a delicada questão dos antecedentes. Já no que diz respeito à questão da aptidão técnica, o problema certamente não é menor e tem, no geral,

a mesma raiz: o loteamento partidário. O noticiário cotidiano está repleto de exemplos de falhas no planejamento e execução de obras públicas – exemplos gritantes, para mencionar apenas os relacionados com a Copa de 2014 e a Olimpíada – que traem o despreparo e a incompetência de seus gestores. É claro que em muitos casos a corrupção responde solidariamente pelos trambiques, mas o desempenho das muitas pessoas, de todos os escalões, até mesmo as honestas, que estão nos cargos exclusivamente por indicação política é talvez a principal razão do mau funcionamento da máquina governamental. Na edição do Estado da última segunda-feira (19), matéria do repórter Roldão Arruda revela um exemplo escandaloso de notória incompetência para o desempenho, não de uma função subalterna qualquer da administração federal, mas no posto

de ministro de Estado. Nomeado para preencher cota de cargos loteados entre as várias tendências do PT, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, está praticamente alijado das decisões relativas a sua área porque “não é do ramo”. As questões políticas da reforma agrária e dos assentamentos de terra são tratadas pelo secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. As de caráter técnico são entregues ao presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Celso Lisboa Lacerda. Em recente reunião de ministros com a presidente no Palácio do Planalto, Florence teve uma intervenção interrompida por Dilma, porque os dados que estava expondo não coincidiam com aqueles de que a Presidência dispunha. Escolhas políticas, tudo bem. Mas por que não de gente honesta e competente?

Recuperação de ferrovias

O FMI aposta no Brasil

governo tem planos ambiciosos para o setor ferroviário, sendo previstos, na segunda etapa do PAC, investimentos da ordem de R$ 43,9 bilhões, entre 2011 e 2014, para a expansão da malha em mais de 4,5 mil km e para a construção de linhas de bitola larga. São obras viáveis, algumas já em andamento ou em estágio de planejamento, como a extensão da Ferronorte e da Ferrovia Norte-Sul, a conclusão da Transnordestina, o Ferroanel de São Paulo e a Ferroeste. Se haverá recursos ou financiamentos para levar a termo todas essas obras nos prazos previsto é uma questão em aberto. Além desse desafio, o País enfrenta outro: como recuperar milhares de quilômetros de estradas de ferro construídos no século 19 e no início do século 20, mas que, abandonados durante décadas, são hoje praticamente inúteis ou subutilizados. Segundo o diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo, dos 28 mil km de estradas de ferro em funcionamento no País, dois terços não estão em boas condições de tráfego. Esta foi uma das motivações do novo marco regulatório do setor, em vigor desde julho deste ano. Além do direito de passagem de trens de uma companhia pelas linhas de outra, cuja inexistência constituía um dos empecilhos ao transporte ferroviário no País, foram estabelecidas metas que

governo brasileiro continua com crédito alto no FMI. Seus economistas aceitaram sem críticas a decisão do Banco Central (BC) de cortar os juros de 12,5% para 12% ao ano e, além disso, levaram a sério os argumentos apresentados como justificativa para a decisão: a economia internacional está perdendo impulso, os preços das commodities vão cair, diminuindo as pressões inflacionárias, e o Executivo está seriamente comprometido com a disciplina fiscal. O primeiro ponto – a piora do cenário internacional – é indiscutível e está retratado claramente nas novas projeções da instituição. A segunda estimativa é menos segura, embora defensável. Está prevista uma redução dos preços dos produtos básicos em 2012, depois de um ano de alta, mas a queda dependerá da evolução econômica da China e outros países emergentes. Já a avaliação do controle fiscal no Brasil é uma questão de fé. Ou talvez o Brasil tenha sido escolhido como exemplo de bom comportamento num momento em que a baderna fiscal dos países do Primeiro Mundo arrebentou suas finanças. A inflação brasileira estará em 4,5%, isto é, no centro da meta, no fim do próximo ano, segundo projeção apresentada no Panorama Econômico Mundial divulgado ontem pelo FMI. A inflação média do próximo ano, 5,2%, ainda ficará acima da meta, mas o compromisso das autoridades é com o resul-

O

tadoras não garantem manter os preços dos carros nacionais, só restam aos brasileiros três alternativas: 1) Se puderem, comprem veículos importados (mesmo com aumento); 2) Conservem seus veículos atuais; 3) Parem de comprar veículos nacionais, imediatamente! Só assim mostraremos que nós, brasileiros, não somos idiotas. ANASTACIO GABRIEL anastacioangola@terra.com.br São Paulo

Telhado de vidro?

Por que o PT tem tanto medo das montadoras? Por intermédio do seu braço Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD, nas décadas de 60, 70 e 80 o PT barbarizou a vida das montadoras instaladas no ABC. Quem não se lembra das invasões, depredações, sabotagens, paralisações e otras cositas más? Será que o PT tem medo que a in-

devem ser cumpridas pelas concessionárias, que agora têm de recuperar os ramais abandonados ou devolvê-los ao governo. Segundo Figueiredo, a desativação de tantos quilômetros não ocorreu por culpa das concessionárias, mas em razão do modelo adotado na privatização, que não exigia que as companhias operassem a totalidade da malha que passaram a administrar. As companhias pagam entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões por ano pelas concessões, mas só investem se lhes for economicamente proveitoso. Agora, será diferente.

O governo tem grandes planos. Mas planejar é uma coisa e tirar os projetos do papel, outra Não estando as empresas interessadas em alguns trechos, devem devolvê-los ao governo, que pode promover nova licitação, mantê-los inativos ou darlhes outra destinação. Isso levou as concessionárias a apresentarem recentemente projetos para a recuperação de 27 trechos, numa extensão de 5.500 quilômetros. Sobraram 6 trechos, de 1.700 km, o que parece muito. Cada concessionária tem razões específicas para não investir em determinado trecho, mas, em geral, falta motivação econômica. É preciso considerar também que, em algumas áreas, os dormentes apodreceram ou foram roubados, os trilhos praticamente sumiram, cobertos de terra ou de vegetação, e muitas

dústria automobilística revele os bastidores das negociações daquela época? CARLOS ALBERTO HONFI honfica@gmail.com Santos

REPETRO Fiscalização

Parabéns pela reportagem sobre o Repetro (18/9), porém alerto que a IN-RF 513, que trata do entreposto aduaneiro para plataforma, é mais um motivo para alijar a Receita Federal da fiscalização, pois todas as importações são controladas por um sistema eletrônico alimentado pelo próprio importador, ou seja, a Receita controla as informações fornecidas pelo importador, e não a fiscalização do material importado. Absurdo. ALVAREZ AGUILAR alvarez.atib@hotmail.com São Paulo

estações foram destruídas, dilapidadas ou invadidas. Somente em poucos municípios as velhas estações foram preservadas como museus ou transformadas em prédios públicos. E alguns pequenos ramais são mantidos pelas prefeituras, com apoio dos governos estaduais, para pequenas viagens turísticas. Na realidade, recuperar significa, muitas vezes ter de reconstruir. Isso só vale a pena quando existe interesse econômico. É o caso do ramal de 131 km entre Pradópolis e Colina, no oeste do Estado de São Paulo, que vai ser reconstruído pela concessionária, em parceria com uma trading, para suportar o tráfego de trens de até 80 vagões de 100 toneladas. O ramal, quesó serviaaumausinadeaçúcar, fará a ligação com a linha tronco da concessionária até o Porto de Santos, possibilitando o escoamento da produção de até 4 milhões de toneladas de açúcarporano.Ofretecompensa e tende a ser barateado com o aumento do transporte de mercadorias, como fertilizantes, nas viagens de retorno. Alguns avanços têm sido feitos, mas o País está ainda muito longe de ter “ressuscitado” esse setor, como se chegou a afirmar nolançamentodoPlanodeRevitalização das Ferrovias, no fim de2010.O Planotambém dáênfase ao transporte de passageiros, mas casos como a suspensão do projeto de ligação ferroviáriaentreo centrodeSão Paulo e o Aeroporto de Guarulhos mostramqueumacoisa éplanejar e outra, muito diferente, é tirar o projeto do papel.

“Não adianta Marcha Contra a Corrupção se a Justiça valida as falcatruas” ROGERIO VILELA SILVA / SÃO GONÇALO DO SAPUCAÍ (MG), SOBRE ‘STJ ACODE O CLÃ SARNEY’ rogervs_sgs@hotmail.com

“O único grampo que o STJ valida é aquele que está pregado na cerca de arame farpado do pasto em que nos encurralaram” MARA FONSECA CHIARELLI / MOGI-GUAÇU, IDEM mara.chiarelli@ig.com.br

O

tado de janeiro a dezembro. A mera publicação daquele número, 4,5%, comprova a aposta do FMI na política do BC e, mais que isso, na manutenção do regime de metas. Mas essa aposta é também uma demonstração de confiança na gestão das finanças públicas. Para justificar essa confiança, a economista Petya Koeva Brooks, do FMI, mencionou a decisão do governo de melhorar o resultado fiscal deste ano. Ela se referia à decisão de incluir mais R$ 10 bilhões no superávit primário de 2011. Acontece que essa decisão de nenhum modo resultará

Foram aceitos os argumentos do Banco Central que justificaram o corte de juros num aperto de cinto, nem representa um compromisso com uma política fiscal mais austera. O Tesouro arrecadou, até agosto, cerca de 14% mais que no mesmo período de 2010, descontada a inflação. Além disso, cerca de R$ 5 bilhões vieram de um pagamento especial de tributos da Vale. Depois, é preciso levar em conta as condições do orçamento proposto para 2012. O Executivo resiste a algumas tentativas de elevação de gastos, como a proposta de aumento salarial para o pessoal do Judiciário. Mas o projeto apresentado pelo governo está longe de ser mais austero que os dos anos anteriores. Até a hipótese de um desconto na meta fiscal – com a subtração do valor apli-

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Provas de 4 operações da PF sob ameaça

1.270

STJ anulou provas da Operação Boi Barrica; alegação é de que foram obtidas de modo ilegal ● “Agora é a hora das entidades de classe saírem às ruas e convocar a população para protestar e exigir uma explicação." HAMILTON DE OLIVEIRA

● “Leis que anulam leis. Uma jurisprudência repleta de retóricas, escarrada pela ineficiência.” ANTONIO LEANDRO

HÁ 782 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Pelo visto, só a confissão espontânea tem o condão de convencer nossos juízes a condenar alguém com poder político.” RICARDO MELLO

cado no PAC – foi considerada. Enfim, convém considerar também as inevitáveis pressões eleitorais de 2012 e a sensibilidade do governo às demandas de sua base de apoio. A aposta do FMI quanto ao recuo da inflação brasileira até o centro da meta, no fim de 2012, até poderá ser sancionada pelos fatos, mas nada, até agora, indica o acerto da manifestação de confiança na austeridade fiscal do governo. Outros fatores, no entanto, poderão contribuir paraa moderação das pressões inflacionárias. O FMI reduziu as previsões de crescimento dos países desenvolvidos. China, Índia e outros países emergentes continuarão crescendo vigorosamente, embora em ritmo inferior ao dos últimos anos. Entre eles, o Brasil é o que crescerá menos. O preço do petróleo poderá cair 3,1%, mas depois de uma alta de 30,6% em 2011. Para as demais commodities está projetada uma queda de 4,7% em 2012, mastambémdepois deum grande aumento (21,2%). As pressões poderão ser menores, mas as cotações continuarão elevadas. Além disso, os efeitos sobre ospreçosao consumidordependerão do peso de cada produto nas cestas de compras e há muita incerteza quanto à oferta mundial de trigo e de outros alimentos. Enfim, há o problema da demanda interna no Brasil. Pode estar cedendo, como avaliam os economistas do FMI, mas ainda pressiona os preços e as importações. O BC pode ter acertado em sua aposta. Mas há razões muito fortes para encarar com reserva a sua decisão.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 22 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação

Notas e Informações A3

Administração e Negócios

Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Cascos duros O Brasil andou. A presidente Dilma Rousseff fez menos do que a sociedade anseia em matéria de combate à corrupção. Mas talvez tenha feito o possível, até aqui, dentro das herdadas condições em que lhe é dado governar. Ela exerce o poder dependendo de uma cáfila de políticos a quem o então presidente Lula ensinou que tudo lhes será perdoado desde que não criem problemas para a “governabilidade” do País. De todo modo, apesar das limitações com as quais lida pelo método do ensaio-e-erro, e ao contrário do seu patrono, soa convincente quando louva a ética pública e reitera de que lado está entre o vício e a virtude. Por uma dessas coincidências a que se deve ser grato, porque lançou um súbito facho de luz sobre o con-

traste entre a mentalidade que reinava até há pouco no coração do governo e a que tenta se afirmar, quanto mais não seja pela força da palavra, Dilma e Lula falaram de corrupção no mesmo dia, anteontem, em locais e circunstâncias tão diferentes como os dizeres de cada qual. No hotel Waldorf Astoria, em Nova York, perante dignitários de 46 países, a começar do americano Barack Obama, ela foi uma das oradoras da sessão inaugural da organização Parceria para o Governo Aberto, da qual o Brasil é um dos codirigentes. A entidade incentiva o livre fluxo da informação oficial a fim de promover a participação das sociedades nas decisões do Estado e a vigilância sobre a conduta das autoridades. Nesse cenário, a presidente brasileira deu o seu recado não propriamente aos grandes deste mundo, mas aos residentes do mundo político brasileiro, cuja integridade não ra-

ro é inversamente proporcional ao tamanho de sua propensão para a falcatrua e de suas expectativas de impunidade. Daí ela ter renovado a advertência que ecoou bem à época, mas os fatos subsequentes (e a licenciosa lição do passado) ameaçaram desmoralizar: “Fui muito clara desde o meu discurso de posse, em janeiro, quando afirmei que meu governo não terá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito”. Foi também para o Brasil, em especial para as pulsões liberticidas que costumam irromper no PT, o estudado elogio à “posição vigilante da imprensa brasileira, não submetida a qualquer constrangimento governamental”. Pano rápido para outra cena. Em Salvador, onde recebeu um título de doutor honoris causa da Universidade Federal da Bahia, Lula deu uma aula sobre o que os errados, desviantes e malfeitores devem ser – e o que não devem fazer – quando os

seus atos são trazidos à tona. Reza o manual lulista de resistência à faxina que “político tem que ter casco duro”. Quando acusado de fazer coisa errada, “não pode tremer”. Se não enfrentar a briga, ensinou, “acaba saindo mesmo”. O ex-presidente não está nem remotamente preocupado com a presença de corruptos ou coniventes com a corrupção nos altos escalões da administração federal. É a sua sobrevida que lhe interessa. Foi assim consigo próprio. De início, atrapalhou-se com o mensalão. Se não chegou a tremer, fraquejou. Depois, o casco duro prevaleceu – e o escândalo foi debitado à “mídia golpista”. O Brasil andou, sim, mas tropeça quando menos se espera. Não fosse o injustificado bloqueio do presidente do Senado, José Sarney, e do seu colega Fernando Collor, relator da matéria, ao projeto da Lei de Acesso de Informação, que permite a divul-

gação de documentos secretos depois de 25 anos, prorrogados por outro tanto – e acaba com o sigilo de textos que envolvam direitos humanos –, Dilma não teria sofrido óbvio constrangimento no evento de Nova York em que falou sobre seus compromissos éticos. Ela ouviu Obama citar o México, a Turquia e a Libéria, mas não o Brasil, evidentemente, como exemplos de países que aprovaram leis “que garantem o acesso de suas populações à informação pública”. Sarney e Collor alegaram que os diplomatas e os militares se opunham ao projeto do governo. O Itamaraty e as Forças Armadas os desmentiram. Pensando bem, faz sentido. Esperar daquela dupla de “cascos duros”, com seus notórios prontuários, apoio à transparência na gestão das instituições de governo equivale a esperar de Lula, de quem ambos foram aliados, intolerância à corrupção.

Como piorar o que é ruim

Guerra cambial e OMC

ara investir mais, gerar mais empregos, ser mais competitiva e estimular o crescimento do País, a indústria não precisa de medidas protecionistas canhestras – e por isso questionáveis na Justiça e na Organização Mundial do Comércio (OMC) –, como as anunciadas pelo governo na semana passada para favorecer um segmento específico do setor automobilístico. Precisa de um sistema tributário mais simples, que tolha menos a atividade econômica e custe menos para todos. Conhecida há muito por todos os que se preocupam com o crescimento de longo prazo da economia brasileira, essa necessidade foi reafirmada pela pesquisa sobre o sistema tributário que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) acaba de divulgar. O momento é mais do que oportuno para discutir o caráter nocivo do sistema tributário brasileiro, problema para o qual o governo está demonstrando, mais uma vez, completa falta de sensibilidade. Alegando a necessidade de proteger a produção automobilística doméstica e o emprego para o trabalhador brasileiro, o governo aumentou as alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o setor em 30 pontos porcentuais, mas estabeleceu condições para a isenção do aumento que favorecem diretamente o grupo de montadoras instaladas há mais tempo no País. Dificilmente a medida gerará empregos, os veículos im-

governo brasileiro propôs uma discussão na OMC sobre os efeitos do câmbio nas condições de competição das diversas economias. O governo e os empresários têm motivos especialmente fortes para se preocupar com a questão. A forte valorização do real tem prejudicado severamente os produtores nacionais, dificultando suas vendas ao exterior e ao mesmo tempo facilitando o acesso dos estrangeiros ao mercado nacional. Real valorizado significa, em termos comerciais, produtos brasileiros mais caros e maior dificuldade para concorrer globalmente. Pouca atenção se deu, no entanto, às questões cambiais na elaboração das normas internacionais de comércio. Isso torna pouco eficiente – e inútil, na maior parte dos casos – qualquer esforço para combater a manipulação cambial ou para limitar as oscilações de valor das moedas. O governo sabe disso, mas há algum tempo insiste em levar a discussão sobre o câmbio ao principal fórum do comércio internacional, a OMC. Em abril, a representação do Brasil fez circular entre os membros da organização um documento sobre a questão cambial, chamando a atenção para os efeitos das políticas fiscais e monetárias adotadas em vários países a partir de 2008/2009, na fase inicial da crise. Algumas dessas medidas afetaram fortemente os fluxos internacionais de capital e produziram efeitos no mercado de

P

e 12 de agosto o TRE reuniu-se com os juízes eleitorais para apresentação do projeto. A convocação para as reuniões foi feita por ofício que explicava os dois temas das palestras: Projeto Coleta Seletiva de lixo e doações irregulares em campanha. Na oportunidade, orientei os juízes eleitorais a exercerem também o seu papel administrativo, pois creio que poderiam ser importantes multiplicadores do projeto nos seus municípios, representando a Justiça Eleitoral como agentes políticos. A Justiça Eleitoral é a Justiça que mais se aproxima da cidadania e a sustentabilidade é profundamente ligada ao cidadão. Não me alio à interpretação de que o contato do magistrado com o chefe do Executivo municipal, como o proposto, seria inadmissível e imoral. Penso que no século 21 os juízes devem assumir um papel de vanguarda, sem comprometimento da sua lisura. Estou à disposição para debater o tema, reduzi-

portados já estão mais caros, há o risco de o produto nacional também subir, por falta de concorrência mais acirrada do produto estrangeiro em termos de preço, e investimentos já anunciados por novas empresas estão sendo reavaliados. Quanto ao sistema tributário, o que a decisão do governo conseguiu foi piorar o que já era muito ruim. O sistema tributário foi criticado pelos empresários em todos os aspectos examinados na pesquisa da CNI – realizada, ressalve-se, antes das mudanças da tributação para o setor automobilístico –, como di-

A CNI mostra, mais uma vez, o caráter perverso do sistema tributário brasileiro reitos e garantias dos contribuintes, estabilidade de regras, número de tributos, prazos de recolhimento, segurança jurídica, simplicidade e transparência. Entre todos os aspectos ruins, os empresários apontaram alguns como muito piores do que outros. O número de tributos, com avaliação “ruim” ou “muito ruim” por 96% dos entrevistados, foi o item mais criticado. Motivo, de fato, não falta para isso. A CNI lembra que um levantamento recente feito pela consultoria legislativa do Senado identificou 104 tributos (federais, estaduais e municipais) cobrados atualmente no País. A complexidade da legislação, resultado desse número excessivo de impostos, taxas e

do e distorcido pelo jornal. WALTER DE ALMEIDA GUILHERME, presidente TRE-SP eliana.passarelli@tre-sp.gov.br São Paulo

N. da R. – A atribuição funcional da Justiça Eleitoral é clara. Por mais que planos estratégicos do Judiciário e de tribunais superiores recomendem a aproximação com a sociedade, por meio de iniciativas destinadas a valorizar responsabilidade social e cidadania, não há correlação alguma entre direito eleitoral e defesa da sustentabilidade. Juízes eleitorais nada têm que ver com o estímulo à implementação de projetos de coleta seletiva de resíduos sólidos e seu envolvimento com prefeitos, como foi proposto pelo TRE-SP. O editorial mostrou que a reação de vários juízes eleitorais à orientação recebida deixou claro que a corporação tem consciência dos riscos inerentes à extrapolação de suas funções e agiu com prudência e sensatez.

contribuições, cobrados pelos três níveis de governo, torna mais difícil a administração tributária por parte dos contribuintes, o que representa um custo adicional para as empresas. Por isso, outro aspecto do sistema tributário muito criticado pelas indústrias foi a falta de simplicidade. “É um entrave enorme à competitividade do setor industrial brasileiro”, observou o economista-chefe da CNI, Flávio Castelo Branco. “As empresas vivem em um emaranhado de normas tributárias. A tributação é excessiva. E o sistema tributário é cheio de problemas.” Além do número excessivo de tributos, outros pontos condenados pelos empresários foramacargaexagerada,atributação sobre a folha de pagamento eacumulatividadedealguns tributos. O ICMS, cobrado pelos Estados, foi apontado como o tributo mais prejudicial à competitividade por 70,1% das empresas. Por isso, muitos industriais consideraram essencial a mudança das regras do ICMS numaeventualreforma tributária. A unificação das alíquotas e asimplificaçãodosprocedimentos para o recolhimento foram as principais alterações sugeridas por eles. Setores como os de vestuários, calçados, edição e impressão,máquinasemateriaiselétricos, consideraram as contribuiçõesprevidenciáriascomo o tributo mais nocivo para sua competitividade. A Cofins foi outro tributo apontado como responsável pela perda de competitividade da indústria.

“O STJ pensa que é deus, Sarney tem certeza. Deus me livre!” HELCIO SILVEIRA / SÃO PAULO, SOBRE A OPERAÇÃO BOI BARRICA heldiasilveira@gmail.com

“Os membros do clã Sarney fazem história: um deles, na Academia Brasileira de Letras, se tornou imortal e todos, para o STJ, são impuníveis” HUMBERTO SCHUWARTZ SOARES / VILA VELHA (ES), IDEM hs-soares@uol.com.br

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câmbio. O governo brasileiro tem mostrado especial preocupação com a política monetária americana. Como os estímulos fiscais foram insuficientes para reativar a economia dos EUA, coube ao Federal Reserve (Fed, o banco central americano) uma responsabilidade extra na tentativa de impulsionar os negócios e criar empregos. Os juros foram mantidos perto de zero e, além disso, houve duas etapas de “afrouxamento quantitativo” – compras maciças de títulos do Tesouro em circulação no mercado. Para comprar os papéis, o Fed emitiu enorme volume de dinheiro.

FMI e G-20 são fóruns mais adequados que a OMC para discutir problemas cambiais Para a segunda rodada, concluída em junho, foram emitidos US$ 600 bilhões. Essa estratégia resultou numa inundação de dólares no mercado internacional. Parte foi destinada a especulações com produtos básicos. Outra parte foi aplicada em operações financeiras e em investimentos em economias emergentes, como a brasileira. O efeito sobre o câmbio de várias economias foi muito forte e a valorização do real foi um entre vários casos. A contrapartida – a desvalorização do dólar – obviamente beneficiou os produtores americanos. Intencional ou não, essa política foi descrita como guerra cambial pelo ministro Guido Mantega. A expressão “guerra” pareceu adequada, em alguns

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Boi Barrica: provas anuladas rapidamente

1.265

Relator estudou em 6 dias o processo contra evidências da PF; outros casos levaram até 8 meses ● “A quem interessa arquivar tudo tão rapidamente? Deveria ser investigado. Mas, se for a PF, as provas não serão válidas.” RAFAEL PAIVA

● “Além do STJ esquecer o que é ética, também esqueceu o que significa justiça, honestidade. É uma perda de consciência.” PAULO ROBERTO MARTINEZ LOPES

HÁ 783 DIAS

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● “Estamos caminhando a passos largos rumo à institucionalização do descrédito nas instituições judiciais do País.” A. RODRIGUES DOURADO

momentos, porque vários governos decidiram reagir com intervenções no câmbio. Mas guerra cambial – se existe alguma – tem sido travada há vários anos pela maior potência emergente, a China. Há muito tempo o yuan vem sendo mantido subvalorizado e, apesar de pressionado pelos governos das maiores potências ocidentais, o governo chinês mantém sua política praticamente inalterada. A valorização do yuan, a partir da anunciada mudança de política em 2005, foi praticamente irrelevante. Anovafasedacrise,comapiora das perspectivas na Europa e nosEUA,trouxemaisinsegurança aos mercados de câmbio. No Brasil, a instabilidade no movimento de capitais tem valorizado o dólar, nas últimas semanas, e reduzido o desajuste cambial. Masqualquer prognóstico sobre a evolução das cotações é muito arriscado.O quadropode mudar muito rapidamente. Ainsegurançacambialpermanecerá por muito tempo e a discussãonaOMCdificilmenteproduzirá qualquer efeito prático num prazo razoável para os países mais prejudicados. Os fórunsmais apropriadospara odebate são ainda o FMI e o G-20. Mas a eficácia do G-20 como órgão de coordenação de políticas tem sido muito menor, de um ano para cá, do que no início da crise, em 2008/2009. Com maior realismo, o governo brasileirodeveriaconcentrar-senasolução de outros problemas de competitividade, principalmente aqueles vinculados aos custos internosdeinvestimento,produção e exportação.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 23 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Notas & Informações

A presidente impressionou De volta ao hotel onde estava hospedada em Nova York, depois de pronunciar, como compete ao Brasil, o discurso de abertura de nova sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, a presidente Dilma Rousseff fez uma breve pausa antes de se preparar para a etapa seguinte de sua agenda – encontros bilaterais com os chefes de governo do Chile, Colômbia, França e Grã-Bretanha – e compartilhou uma Veuve Clicquot com membros de sua comitiva. Havia, de fato, o que comemorar. Durante 25 minutos, diante de líderes e representantes diplomáticos de 194 países, ela fizera um pronunciamento que impressionou pela limpidez, correção e maturidade, para expor a posição do País em relação às questões centrais da atualidade mundial.

Poderia se ressaltar ainda o vigor de sua fala, mas esse atributo, por si só, não torna mais respeitáveis os argumentos desfiados. É o caso do ranço ideológico que permeava, ano após ano, a contundente oratória do então presidente Lula naquela mesma tribuna. Foi um alívio não ouvir de Dilma, por exemplo, a descrição maniqueísta do mundo dividido entre a cupidez do Norte e os padecimentos do Sul, marca registrada da visão simplória de seu antecessor sobre a natureza e a solução dos problemas internacionais. Já para Dilma, mais importante do que execrar os culpados pela presente crise econômica é promover “um novo tipo de cooperação” entre países emergentes e desenvolvidos. Porque a crise, indicou, é também de “governança e coordenação política”. Trata-se de “substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo no-

vo”. De mais a mais, se os Estados Unidos são em boa parte responsáveis pela situação, “que pode se transformar em uma grave ruptura política e social”, entre outras coisas porque permitem que conflitos partidários sustem a aprovação de projetos para revitalizar a economia, a China adota uma política cambial (mantendo o yuan artificialmente baixo) que desequilibra as relações de troca entre os países e, por extensão, retarda a recuperação econômica global. Lula pensaria duas vezes antes de fazer críticas ao governo com o qual imaginava, bisonhamente, celebrar uma aliança contra o capitalismo loiro, de olhos azuis. Dilma não fez o Brasil de vítima da recessão que avança no exterior. Mas observou que, embora o País ainda tenha sido pouco afetado, “nossa capacidade de resistência não é ilimitada”, o que reforça o sentido de urgência de seu apelo para a

redefinição dos compromissos que regem as relações internacionais. Não foi apenas ao discorrer sobre a economia que ela – a primeira mulher a abrir uma temporada de debates no plenário da ONU – se guardou de separar os países entre “bons” e “maus”. Respeitando os fatos, apontou que violações de direitos humanos existem em toda parte, sem exceção. “Reconheçamos esta realidade e aceitemos, todos, as críticas”, exortou. Como era de prever, reiterou a posição brasileira pela reforma do Conselho de Segurança, com a inclusão de representantes dos países em desenvolvimento entre os seus membros permanentes, defendendo explicitamente a aspiração do País a um lugar no colegiado. Também como se esperava, apoiou a reivindicação palestina ao reconhecimento do seu Estado e ao seu ingresso na ONU como membro de pleno direito – o te-

ma principal desta 66.ª sessão do organismo. “Apenas uma Palestina livre e soberana”, raciocinou, “poderá atender os legítimos anseios de Israel por paz com seu vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade política em seu entorno.” Foi uma paráfrase da clássica tese de que Israel não terá para si o que insiste em negar à Palestina. Escaldada, talvez, pelo fracasso da pretensão de Lula de mediar o conflito, Dilma se absteve de entrar nos meandros de sua eventual solução, salvo para consignar que o Brasil já reconhece o Estado palestino nas fronteiras de 1967. Com o pouco que disse, foi mais coerente do que o americano Barack Obama. Ele nem sequer aludiu a esse ponto, como se já não o tivesse endossado, ao condenar a iniciativa palestina no seu discurso mais pró-Israel desde que chegou à Casa Branca – onde espera continuar depois de 2012.

Desafios da ‘Macrópole Paulista’

Novo risco de choques externos

governo do Estado de São Paulo pretende investir em estações-garagem do metrô nos próximos anos com o objetivo de reduzir o número de veículos de municípios vizinhos que circulam diariamente na capital. Pelo Plano de Expansão da Companhia do Metropolitano de São Paulo, as cinco principais rodovias que desembocam na cidade – Bandeirantes, Régis Bittencourt, Raposo Tavares, Dutra e Anhanguera – ganharão novos ramais e bolsões de estacionamento entre 2020 e 2030. Essas obras deveriam ser incluídas entre as prioridades tanto do governo estadual como das prefeituras das cidades médias vizinhas da capital. E vizinhos são a rigor todos os municípios localizados no raio de 200 quilômetros de São Paulo, dentro da chamada Macrópole Paulista, uma nova cidade-região que poderá ser criada por lei até o fim do ano. Na última década, a mancha urbana ao redor da capital praticamente dobrou. O processo de conurbação do entorno de São Paulo reuniu 153 das 645 cidades paulistas. Esses municípios representam 27% do PIB do País, produzem 80% de toda a riqueza do Estado e reúnem 30 milhões de habitantes, o equivalente a 72% da população de São Paulo. A nova cidade-região dará ao governo um instrumento legal para planejar e financiar políticas públicas compartilhadas e, neste caso, a melhoria do transporte

enhum país está imune ao agravamento da crise na Europa e nos EUA e a agitação no mercado brasileiro de câmbio é mais um lembrete dessa situação simples e incontornável. O Brasil não quebra mais, disse há poucos dias a presidente Dilma Rousseff. Esse risco parece mesmo afastado por um bom tempo – o suficiente, pelo menos, para o governo provar na prática seu compromisso com a austeridade fiscal e a prudência. O Brasil tem mais de US$ 350 bilhões de reservas, um sistema financeiro sólido e contas externas administráveis, apesar do buraco em transações correntes. Mas é bom levar em conta o risco de novos choques externos e o alerta do FMI. “Estamos de volta à zona de perigo”, disse o diretor do departamento financeiro do Fundo, José Viñals, ao apresentar o Relatório de Estabilidade Financeira Global. A crise de confiança recrudesceu nos mercados, a recuperação econômica perdeu impulso e o risco de grandes perdas para os bancos voltou a crescer. Os grandes fatores de instabilidade estão nos EUA e na Europa, mas as dificuldades do mundo rico podem atingir também os países em desenvolvimento. A redução do crescimento econômico será apenas um dos efeitos possíveis do contágio, segundo os especialistas do FMI. A nova fase da crise nos países desenvolvidos, mesmo sem recessão, tende a limitar a expansão do comércio e da pro-

O

HOOVER AMÉRICO SAMPAIO hoover@mkteam.com.br São Paulo

HANSENÍASE Missionário da palmilha

A Associação Médica Brasileira (AMB) cumprimenta os editores do Estado pela oportuna reportagem O missionário da palmilha (Aliás, 18/9), que trata dos traumas psicológicos causados pela hanseníase. Os danos estendemse muito além dos produzidos diretamente pelo agente biológico (bacilo Mycobacterium leprae), visto que esses são amplificados e perpetuados pelas atitudes que assumimos, indivíduos e sociedade, perante a doença. Sucedem-se séculos de preconceito, e pela segregação se tem buscado negar solução para um problema que aflige milhares de seres humanos e seus familiares. A Associação Médica Mundial (WMA) discutirá

público é prioritária. Essa imensa conurbação engloba três regiões metropolitanas – as de São Paulo, Baixada Santista e Campinas –, além de aglomerados urbanos, como São José dos Campos, Jundiaí, Sorocaba e Piracicaba. Desses centros partem diariamente 2 milhões de pessoas rumo ao trabalho ou ao estudo, fora dos municípios em que residem. Estima-se que aproximadamente 1 milhão vem para a região metropolitana de São Paulo e, desse total, mais de 671 mil têm como destino o centro expandido da capital. Esse movimento congestio-

O processo de conurbação que tem São Paulo como polo já reúne 153 cidades na as rodovias desde a madrugada até a metade da manhã. No fim do dia, os congestionamentos começam por volta das 17 horas e vão até as 21 horas em muitas das estradas. O impacto desses deslocamentos na região metropolitana é enorme. Ele é responsável por danos ao meio ambiente, pelo agravamento dos congestionamentos e, indiretamente, pelo aumento da violência no trânsito. Tudo isso torna urgente a necessidade de ampliar e melhorar os serviços públicos. A Prefeitura de São Paulo, por exemplo, é obrigada a investir cada vez mais na manutenção de ruas e avenidas e em engenharia de trânsito. Aos milhares de veículos que vêm de outros municípios,

em outubro, em sua assembleia anual, em Montevidéu, proposta da AMB contra a discriminação dos doentes e de seus familiares. Em janeiro esperamos mobilizar a sociedade brasileira e lançar no País, com a Nippon Foundation e a WMA, o 2012 Global Appeal, campanha mundial de combate à discriminação das pessoas afetadas pela hanseníase. JOSÉ LUIZ GOMES DO AMARAL, presidente da AMB acontece.monica@uol.com.br São Paulo

MEIO AMBIENTE Cerrado

Ao parabenizar a excelência do editorial A proteção do Cerrado (12/9, A3), comunico que o transcrevi em discurso na tribuna da Câmara dos Deputados. PAES LANDIM dep.paeslandim@camara.gov.br Brasília

somam-se os comboios de ônibus fretados transportando trabalhadores e estudantes. Sem estrutura adequada para recebê-los, os principais corredores sofrem com o embarque e desembarque improvisados em pontos de ônibus do sistema formal ou em filas duplas. É essencial, portanto, criar condições para que essa população itinerante, que equivale à de municípios como Guarulhos e Campinas, chegue e saia da cidade de uma maneira mais organizada, segura e confortável. Quanto mais rapidamente isso for feito, menos prejuízo haverá para a economia e para a qualidade de vida da população. O plano de expansão do metrô precisa ser complementado por outros projetos, como o do Expresso ABC – uma linha de trem planejada para diminuir de 16 para 3 o total de paradas entre a capital e cidades da região, com redução do tempo de viagem para a metade do exigido hoje. O Expresso Jundiaí, que ligará o município à capital em um percurso de 45 quilômetros a ser feito em 25 minutos, também precisa ser colocado entre as prioridades do governo. E o Ferroanel, projeto estudado desde a década de 1990 e que será finalmente executado, retirará milhares de caminhões das ruas de São Paulo, uma vez que o volume de 80 mil contêineres que hoje chegam de trem anualmente ao Porto de Santos poderá ser elevado para 1,5 milhão. Soluções e bons planos existem.Restaimplantá-losnavelocidade certa.

“Dilma deixou claro que se Lula não se cuidar, ‘dança’” PAULO DE SOUZA CAVALCANTI / RIBEIRÃO PRETO, SOBRE O DISCURSO DA PRESIDENTE NA ASSEMBLEIA-GERAL DA ONU paulo_souza_cavalcanti@ig.com.br

“Um país que tem uma Justiça como essa não precisa de inimigos!” RENATO KHAIR / SÃO PAULO, SOBRE A ANULAÇÃO PELO STJ DE PROVAS DA POLÍCIA FEDERAL CONTRA O CLÃ SARNEY renatokhair@uol.com.br

N

dução em várias partes do mundo. O contágio pode também afetar a segurança do sistema financeiro, dificultando o levantamento de recursos no mercado internacional. Riscos poderão ser especialmente severos em países caracterizados pela rápida expansão do crédito – como no Brasil, por exemplo. É preciso levar em conta o perigo de uma reversão do fluxo de capitais. Países emergentes têm recebido grandes volumes de investimento estrangeiro, que complementam a poupança interna, mas contribuem para a valorização das moedas locais – como o real –, dimi-

Nenhum país – nem o Brasil – está imune ao agravamento da crise nos EUA e na Europa nuindo o poder de competição dos produtores nacionais. Esse efeito é indesejável, mas, em contrapartida, o capital estrangeiro tem compensado os déficits na conta corrente do balanço de pagamentos. Um repentino desvio do capital para outras aplicações – como papéis do Tesouro americano – pode aumentar a vulnerabilidade externa dos países deficitários. Esse efeito pode ser ampliado perigosamente por uma queda de cotações dos produtos básicos – importantes para o Brasil. Uma desvalorização da moeda, embora torne a produção nacional mais competitiva, pode ser insuficiente para neutralizar os efeitos negativos da crise internacional. O governo brasileiro preocu-

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Governo aprova Comissão da Verdade

961

Sob Dilma, projeto que cria grupo para investigar violações de direitos humanos passa na Câmara ● “Claro que não haverá punição, o que é uma lástima. Torturadores dos velhos tempos vão levando a vida mansa.” FRANCISCO XAVIER ANDRADE

● “A sociedade necessita que a Comissão da Verdade seja estabelecida para os momentos atuais.” ALBERTO I.

HÁ 784 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “O cidadão digno e honrado tem o direito de conhecer os dois lados dessa triste história do nosso passado.” LUIZ CLÁUDIO RIBEIRO

pou-se especialmente com os efeitos da desaceleração da economia mundial, quando resolveu reduzir os juros básicos de 12,5% para 12%. Parece haver dado peso muito menor aos outros riscos decorrentes do agravamento da crise no mundo rico. O Executivo e o Banco Central redistribuíram o peso da política de estabilização, dando ênfase ao controle fiscal e reduzindo a importância da política monetária. Com maior controle das contas públicas, a economia poderia funcionar com juros menores. O risco de inflação seria diminuído pela gestão mais severa das finanças públicas e pela depreciação dos preços internacionais dos produtos básicos. Sobram,noentanto,bonsmotivospara preocupação.Paracomeçar, o BC cortou os juros antes de uma efetiva mudança na políticafiscal.Oaumentodameta do superávit primário deste anofoifacilitadopelograndeaumento de arrecadação e de nenhummodoconfirmaocompromisso com a contenção de gastos.Em segundo lugar,a demandainternacontinuavigorosa, favorecida pela expansão do emprego, peloaumento real dossalários e pela grande disponibilidade de crédito. Esses fatores prenunciam a continuidade de pressões inflacionárias e de uma forte demanda de importações. Em terceiro, o País continua carente de uma efetiva política de competitividade. As medidas tomadas até agora,emtodosessescamposdapolítica econômica, revelam mais voluntarismo do que prudência e planejamento.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 24 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação

Notas e Informações A3

Administração e Negócios

Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Uma causa na mira do mundo Aos 76 anos, o líder palestino Mahmoud Zeidan Abbas fez história ontem. E não só por ter cumprido a promessa de entregar ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, o pedido de reconhecimento da Palestina como Estado e membro de pleno direito do organismo – depois de enfrentar pressões ocidentais, ameaças israelenses e a reprovação dos extremistas do Hamas, que controlam a Faixa de Gaza e se opõem à solução dos dois Estados para o conflito entre árabes e judeus. Abbas fez história também porque, dê no que der, a sua iniciativa colocou a causa palestina, pela primeira vez em décadas, no centro das atenções da instituição que, mal ou bem, representa o mundo. Além disso, criou as condições para ressuscitar, quem sabe com novo

script e novos atores, o processo de paz que o governo direitista do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu deixou morrer de inanição. Os homens não fazem a história como querem, mas como podem. Abbas soube distinguir uma coisa da outra ao aceitar que o Conselho de Segurança (CS), o foro por excelência para temas dessa natureza, não decida no calor da hora, mas espere a demanda palestina começar a produzir efeitos que se estendam ao calcinado terreno das negociações. Se o plano de Abbas fosse tudo ou nada, ele insistiria no exame imediato da reivindicação, que os Estados Unidos já anunciaram que vetarão no colegiado –, e deixaria a Cisjordânia ocupada por Israel pegar fogo, com a irrupção de novos protestos turbinados pelo exemplo da primavera árabe. Abbas sabe que os americanos estão jogando pesado nos bastidores para transformar presumíveis votos pró-

Palestina em abstenções, a fim de não arcar solitariamente com a responsabilidade de provocar, mais uma vez, a ira muçulmana. Para passar, a iniciativa depende da adesão de 9 dos 15 países com assento no CS, entre membros permanentes com poder de veto (5) e rotativos. No primeiro grupo, Rússia e China apoiam o pleito palestino, França e Grã-Bretanha tendem a lavar as mãos, EUA e Alemanha se opõem. Na outra bancada, Abbas tem garantidos apenas os votos do Brasil, África do Sul, Índia e Líbano. Para que não consiga os três demais sufrágios que lhe dariam a vitória moral, Washington pressiona duramente Portugal, Nigéria, Bósnia e Gabão a ficar em cima do muro. Dar tempo ao tempo, portanto, interessa ao palestino. O que ele podia querer de imediato já obteve – com a paradoxal ajuda de um presidente Barack Obama ansioso por conservar nas eleições do ano

que vem o maciço voto judaico que obteve em 2008. Ao pronunciar na ONU, anteontem, um discurso cujo facciosismo animou o ultrarradical chanceler israelense Avigdor Lieberman a dizer que o assinaria “com as duas mãos”, Obama vaporizou o que restava da alegação dos EUA de ser um intermediário honesto entre judeus e árabes, e pavimentou o caminho para a remodelagem das negociações de paz. Na sua vez de falar, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, debitou aos EUA os “60 anos de fracasso” das tentativas de resolver o impasse no Oriente Médio e desafiou: “Vamos parar de acreditar que um só país ou pequeno grupo de países pode resolver um problema de tamanha complexidade”. Para resolvê-lo, não se pode prescindir da Europa nem “do envolvimento dos Estados árabes que já escolheram a paz” – numa alusão ao plano de 2002 da Arábia Saudi-

Áreas críticas na capital

Déficit de liderança

Shopping Center Norte foi construído em terreno onde antes havia um lixão. Durante anos foram ali despejados lixo doméstico e, acredita-se, também dejetos industriais. Conforme relatório da Cetesb, a concentração de metano no local atinge níveis que superam 5% da composição do ar, o que indica risco de explosão, até mesmo dentro das lojas. Pela área do centro de compras – que, além do shopping, reúne o Lar Center, o Expo Center Norte e o supermercado Carrefour – circulam 800 mil pessoas diariamente. Há anos, a Cetesb adverte e multa os responsáveis pelo empreendimento, tentando leválos a adotar medidas que afastem o risco de explosão no local. Em 2009 e 2010, a companhia emitiu duas autuações contra o Center Norte. Sem sucesso. Em maio passado, foi emitida multa no valor de 500 Unidades Fiscais do Estado de São Paulo (Ufesps) e, em agosto, os responsáveis foram novamente autuados em 1.000 Ufesps por não cumprimento das exigências feitas. Diante da inércia da direção do shopping, a Cetesb incluiu o local em sua lista de áreas contaminadas críticas, passou a aplicar multas diárias e determinou que até o dia 25 seja apresentado à Prefeitura de São Paulo laudo técnico que ateste a implantação de sistema de extração de gases, de planos de monitoramento, comunicação e gerenciamento de ris-

s governos têm menos munição q u e e m 2008-2009 para enfrentar a nova fase da crise financeira, advertiu a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde. Há três anos, houve dinheiro para conter a quebradeira dos bancos, salvar indústrias e atenuar as consequências do colapso econômico. A ação governamental, em vários países, foi muito além dos limites habitualmente aceitos. O Tesouro americano virou acionista de empresas privadas e o Reino Unido reviveu os velhos tempos do capitalismo de Estado. Para isso os governos aumentaram seus gastos, acumularam déficits e endividaram-se muito além dos limites da prudência. Alguns já carregavam dívidas enormes, mas conseguiam refinanciá-las a custo baixo. Essa possibilidade não existe mais. A saída da crise, disse Lagarde, é mais estreita que há três anos. E, como disse a presidente Dilma Rousseff, agora a solução depende da qualidade da ação política: requer ousadia, liderança e capacidade de coordenação e de mobilização. Convertidos em artigos de primeira necessidade, esses itens parecem estar em falta. Há um ano o ex-diretor-gerente do FMI Dominique Strauss-Kahn já lamentava o afrouxamento da cooperação internacional para o enfrentamento da crise. A pior fase da crise foi superada, em 2008-2009, em grande parte graças à coordenação de políticas. Os principais problemas fo-

O

PRIMAVERA Chuvas e enchentes

A primavera chegou e com ela, as chuvas. É hora de a Prefeitura de São Paulo limpar os bueiros e o governo do Estado desassorear o Tietê. Me engana que eu gosto. ANGELO ANTONIO MAGLIO angelo@rancholarimoveis.com.br Cotia

MEIO AMBIENTE Desmate na USP

Ao ler sobre a derrubada de árvores, fiquei indignado. Já temos pouco verde e a Secretaria do Verde e Meio Ambiente de São Paulo autoriza a derrubada de 1.328 dentro do câmpus da USP para a construção de museus. Pior é que não é só na capital: a Unicamp, na época das eleições para presidente, derrubou mais de 200 árvores de mais de 40 anos, simplesmen-

co e contingência. Caso as exigências não sejam cumpridas, o local poderá ser lacrado. Há motivos de sobra para essa atitude rigorosa. Há dois meses, técnicos da Cetesb detectaram gás metano na área das 311 lojas existentes no Center Norte. Medidas urgentes foram exigidas, para dissipar os gases das galerias de telefonia, de águas pluviais, de fios elétricos, de esgoto e dos depósitos das lojas. Nada foi feito e, conforme o diretor de controle e licenciamento ambiental do órgão, Geraldo do Amaral Filho, existe risco de explosão nesses pontos.

Prédios construídos sobre terrenos contaminados oferecem grandes riscos Não há mais por que contemporizar, considerando-se que a área do Center Norte já havia sido inserida no Banco de Áreas Contaminadas em 2004, como informa a Cetesb em seu portal. Sete anos de espera e nenhuma medida foi tomada pelos empreendedores, nem mesmo neste ano em que o local foi incluído no grupo de áreas críticas. Cabe agora aos órgãos de Controle e Uso do Solo e ao Ministério Público do Estado de São Paulo a interdição do local, caso as exigências não sejam atendidas. Nos últimos anos, não têm faltado estudos e advertências sobre as áreas contaminadas em todo o Estado. O último relatório da Cetesb aponta a existência de mais de 2,9 mil pon-

te porque um carro foi atingido por um galho. Não levaram em conta a existência de três lagos nas imediações, com nascentes. Parece que os órgãos públicos ambientais facilitam quando fazem parte do mesmo governo, sem se importar muito com a natureza. ANDERSON APARECIDO dandersonaparecido@yahoo.com Hortolândia

CARNAVAL Patrocinadores

Lula, com sua astúcia e sua ousadia, conseguiu politizar até o carnaval paulista, fazendo a Gaviões escolhê-lo para o “samba-enredo”. Na ocasião a diretoria da escola declarou estar à procura de patrocinadores. Não se preocupem, com o “cara” na fita vai chover dinheiro na vossa horta. ANGELO TONELLI angelotonelli@yahoo.com.br São Paulo

tos críticos. A atividade mais poluidora é a dos postos de combustível, vindo em seguida a das indústrias. O controle dessas áreas é de grande importância para que se evitem problemas de saúde para a população e o comprometimento da qualidade das águas. Além da sua identificação, o apoio da Cetesb permitiu que mais de 900 desses locais fossem descontaminados. A desconcentração industrial iniciada a partir de meados da década de 70 deixou na cidade de São Paulo um grande número de terrenos abandonados e contaminados. E muitos desses locais se tornaram pontos nobres no mapa imobiliário. A especulação passou por cimada segurançaeedifíciosforam erguidos aceleradamente sem a mínima preocupação com a qualidade ambiental. Um dos casos mais conhecidoséodoCondomínioResidencial Barão de Mauá, no Parque São Vicente, no município de Mauá,construído emum antigo aterro industrial clandestino. Há dez anos, uma explosão em caixa d’água subterrânea chamou a atenção para o problema. De lá para cá, os moradores dos 54 prédios vivem em constante alerta. A Cetesb espera por medidas concretas dos responsáveis que, até agora, não cumpriram as suas exigências. Por isso, ela recomendou há poucos dias a remoção de 1,7 mil famílias que vivem no local. Ou as exigências da Cetesb, nesse e em outros casos semelhantes, são prontamente atendidas ou não haverá como evitar tragédias.

“Virou pirataria, emenda parlamentar é eufemismo de divisão de butim!” JOSÉ CARLOS SALIBA / SÃO PAULO, SOBRE NEGOCIATAS DE PARLAMENTARES fogueira2@gmail.com

“O tema da Gaviões poderia dar nome ao futuro estádio: Mensalão” A. FERNANDES / SÃO PAULO, SOBRE O ENREDO DA ESCOLA CORINTIANA PARA O CARNAVAL standyball@hotmail.com

O

ta, que Israel ignorou. Sarkozy propôs um cronograma rígido para um acordo que acabaria com a ocupação da Cisjordânia e daria à luz o Estado palestino em um ano. Falta combinar com os russos – no caso, os judeus que migraram em massa da ex-União Soviética e empurraram para a extrema direita o pêndulo da política israelense. Avigdor Lieberman, por exemplo, é um deles. Defendem ardorosamente a colonização da “Judeia e Samaria”, abominam a ideia de devolver Jerusalém Oriental aos palestinos, para ser a sua capital, e dizem que a Palestina deve ficar na Jordânia. Não há diferença essencial entre eles e Netanyahu. Este age como se Abbas pudesse continuar negociando enquanto se expande a ocupação judaica dos territórios. Para os palestinos, equivaleria a discutir como dividir uma pizza com alguém que já começou a comêla – e não dá sinal de parar.

ram atacados simultaneamente nos EUA e na Europa. Os governos conduziram ações de salvamento sem dar grande atenção a restrições ideológicas, e os bancos centrais operaram com harmonia, cortando juros, criando liquidez e socorrendo o setor privado. A coordenação diminuiu sensível e perigosamente, passado o momento de maior perigo. Houve algum esforço de ação conjunta na zona do euro a partir da eclosão da crise grega. Uma operação de socorro foi montada com participação da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do

Solução da crise global depende da qualidade da ação política. E liderança está em falta FMI. Embora discreta, a ação de Strauss-Kahn foi importante. Ele dispunha de recursos técnicos invejáveis, transitava com facilidade em todos os meios políticos e tinha um importante papel na definição da agenda comum dos países do G-20. Mas o próprio G-20 perdeu eficácia como formulador da pauta global, quando os políticos, passado o perigo imediato, voltaram para as disputas internas de cada país e para suas preocupações eleitorais. A grande pauta de ajuste global, no entanto, ainda é aquela preparada nos melhores tempos do G-20 e isto, de certa forma, resume os problemas atuais. A agenda incluía três grandes linhas de ação. Países deficitários e superavitários

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Deputado denuncia venda de emendas

1.028

Roque Barbiere (PTB) afirma que 30% dos colegas da Assembleia fazem lobby de empreiteiras ● “Eles vendem para quem? Quem compra? O Ministério Público tem que descobrir.” JOÃO GERALDO MORSELLI ALVES

● “Por que o TSE condena quem compra e vende o voto e não condena quem vende emendas no Legislativo?” ABRAÃO LINCOLN SALES BASTOS

HÁ 785 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Há surpresa? A banalização da nossa Constituição chegou a um ponto que nos perguntamos se ela existe mesmo.” JOÃO PAULO M. DE SOUSA

nas contas externas deveriam mudar suas estratégias de crescimento. Os EUA conteriam a expansão do consumo, poupariam mais e aumentariam as exportações. A China faria o contrário. Isso não ocorreu, em grande parte porque as mudanças anunciadas pelo governo chinês têm avançado muito lentamente – quando avançam. O segundo grande compromisso envolvia a correção dos desajustes fiscais. Pouco se avançou. Em vários países desenvolvidos ocorreu o contrário. Os buracos orçamentárioscrescerameasdívidas atingiam níveis alarmantes. A crise das dívidas soberanas,naEuropa,éoresultadodessa trapalhada. A terceira grande tarefa deveria ser a reforma financeira, com a adoção de padrões de segurança mais rigorosos para os bancos e maior capitalização. Também nesse caso houve pouquíssimo progresso. Ocenário seriamenosperigoso se tivesse havido apenas atraso na realização dessa agenda. Mas houve o agravamento dos problemas.A pautacontinuaválida e agora os governos têm de tentar cumpri-la em condições muito piores e com sacrifícios muito maiores. Sem coordenação, tudo será mais difícil, porque o jogo, agora, envolve riscos mais graves, como, por exemplo, a integridade da zona do euro. Isso adiciona a problemas já complexosdavelhaagendaodesafio adicional da liderança e da articulação. Quando a política fracassano tratamentodasmais graves questões nacionais, como nos EUA e em alguns países europeus, sobram pouquíssimos motivos para otimismo.

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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 25 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

O sabor da estação A pouco mais de um ano das eleições municipais de 2012, a construção da candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, a prefeito de São Paulo já deixou de ser uma questão de economia interna do seu partido, o PT, onde a senadora Marta Suplicy vê encolherem as suas chances de se opor ao rolo compressor acionado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em defesa de seu protegido. Numa prematura ofensiva de propaganda política, o governo federal passou a inserir na programação de rádio e TV spots de louvação ao que seriam os êxitos da pasta de Haddad em satisfazer demandas populares na área educacional e anunciar mais do mesmo para o futuro próximo. É uma operação malandra: os supostos feitos e os presumíveis projetos, apresenta-

dos com uma profusão de números destinados, obviamente, a emprestarlhes credibilidade, não têm localização definida no território nacional, mas é como se o seu endereço fosse o Município de São Paulo. A jogada é articulada para preparar o eleitorado paulistano para fazer uma inexorável conta de dois mais dois no devido tempo: quando começar efetivamente a campanha na mídia eletrônica, o eleitor terá elementos de recall para associar a figura do candidato petista (com toda a probabilidade Fernando Haddad) ao que lhe foi mostrado como prova do dinamismo e das políticas voltadas para os mais pobres de um dos principais Ministérios – que, por feliz coincidência, estava sob o comando do aspirante ao governo da capital paulista. O resultado da conta armada pelos marqueteiros só poderia ser a conclusão de que alguém com as qualidades e o desempenho evidenciados

num setor estratégico da administração federal, de mais a mais jovem e telegênico, tem tudo para repetir na gestão do Município os êxitos que obteve na pasta da Educação. Se o homem implantou mais de 400 creches e se comprometeu com a implantação do dobro disso – a publicidade não diz onde, mas por que não seria por estas nossas bandas? –, eis o melhor prefeito que o voto do povo pode dar a São Paulo. Ainda não há de ter saído da memória dos brasileiros, ou daqueles mais atentos à manipulação da opinião pública pelos donos do poder, o que o então presidente Lula fez, ao arrepio da ética política, quando não da legislação eleitoral, para tornar conhecida da grande massa a ministra que escolhera candidata à sua sucessão – e que, além de totalmente desconhecida pelo povão, tinha contra si uma personalidade não propriamente cativante.

A proteção do rebanho

D

epois das perdas desastrosas provocadas pelo forte surto de febre aftosa ocorrido em Mato Grosso do Sul, em 2005, que colocou sob suspeita toda a exportação brasileira de carne bovina, o governo aprendeu a amarga lição. Com a confirmação há pouco de que focos de aftosa foram detectados no departamento de San Pedro, no Paraguai, a 130 km da fronteira com o Brasil, o governo federal reagiu prontamente para evitar o alastramento da doença. O Ministério da Agricultura soou o alerta, suspendendo provisoriamente a importação de carne in natura e de animais vivos do Paraguai. O mesmo fizeram os governos da Argentina e do Uruguai. O Ministério anunciou também que está aumentando o número de fiscais na área de fronteira com o Paraguai, tendo determinado a colocação de barreiras volantes na região, além de identificar as propriedadesmaissujeitasarisco no território nacional. O Estado de Mato Grosso do Sul, por sua vez, proibiu o trânsito de animais de um lado para o outro da fronteira. As Forças Armadas colaborarão ativamente no trabalho de defesa sanitária. Esses cuidados são necessários, mas não são suficientes. A aftosa é altamente transmissível e cumpre ao governo brasileiro colaborar estreitamente com o governo paraguaio. Afinal, enquanto existirem focos de doença naquele país, o rebanhobrasileiro estará ameaçado. Nesse sentido, um técnico do

MANOEL JOSÉ RODRIGUES manoel.poeta@hotmail.com Alvorada do Sul (PR)

POLÍTICA ECONÔMICA Intervenção do BC

Será que o Banco Central (BC) se esqueceu de avisar à presidente que faria intervenções para evitar a valorização do dólar? A presidente afirmou em Nova York que o governo não iria intervir. E agora? Fica o dito pelo não dito? Autonomia é bom, mas quem está fora do contexto? MARIA TERESA AMARAL mteresa0409@estadao.com.br São Paulo

Cego em tiroteio

O governo está mais perdido que cego em tiroteio. Presume-se que seus “economistas” sejam meros ocupantes de cabides de

Ministério da Agricultura já seguiuparaoParaguai,ondetrabalhará em conjunto com técnicos daquele país, da Argentina, da Bolívia e do Chile. A inspeção será acompanhada pela Comissão Sul-Americana para a Luta Contra a Febre Aftosa, formada por 11 países do continente, que colocouasuaestrutura deserviços veterinários à disposição das autoridades paraguaias. As preocupações são plenamente justificáveis. Graças a umtrabalhosistemáticodevacinação do gado, 12 Estados brasileiros foram reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como áreas livres

Desta vez, o governo agiu rápido para proteger o gado de um surto de febre aftosa de aftosa. Em Estados do Norte e do Nordeste, a vacinação abrange apenas parte do rebanho, mas campanhas prosseguem, sendo a meta do governo erradicar a doença em todo o País até 2013. Mato Grosso do Sul foi o último dos principais Estados produtores de carne bovina a ser reconhecido, em fevereiro passado, como área livre de aftosa, depois de um grande esforço de vacinação e controle por parte do governo estadual ao longo de 700 km de fronteira com o Paraguai. O Estado havia sido atingido em cheio pelo surto de febre aftosa de 2005. Para controlar o surto, foram sacrificadas 34,3 mil cabeças de gado, em 1.268 propriedades. Para a economia de alguns municípios

Detalhes à parte, é o que a presidente Dilma Rousseff, em dobradinha com o seu patrono, deu de fazer com Haddad, levando-o para cima e para baixo em eventos concebidos para isso mesmo e destinados ao noticiário das grandes redes de TV. Como diriam os publicitários americanos, ele se tornou o sabor da estação. A mal disfarçada campanha eleitoral plantada na mídia eletrônica complementa o arranjo, cujo objetivo imediato é resgatar o ministro da rabeira em que foi exibido na primeira grande pesquisa sobre a intenção de voto dos paulistanos no ano que vem. Segundo o Datafolha, ele reúne a preferência de não mais de 2% dos entrevistados, enquanto Marta Suplicy se situa na faixa histórica de 30%. A boa notícia para Haddad são os 40% que se disseram inclinados a votar em qualquer candidato apoiado por Lula. O que, aliás, parece legitimar a pretensão do ex-presidente Luiz Inácio

Outra decisão polêmica do MEC mais afetados, isso significou um forte abalo. O governo de Santa Catarina, por sua vez, ergueu barreiras sanitárias na divisa com o Paraná e na fronteira com a Argentina para proteger, principalmente, o seu rebanho suíno. O objetivo é preservar a sua condição de único Estado brasileiro reconhecido pela OIE como livre de aftosa sem vacinação, obtida graças a uma vigilância sanitária rigorosa e de alto padrão. A pecuária brasileira é das mais avançadas do mundo. O controle sanitário, especialmente a prevenção da aftosa, não pode, portanto, ser relaxado.Oscustosdadesídiasãomuito altos para o Brasil. Apesar da fiscalização feita pelas Secretarias da Agricultura dos Estados, que exigem dos pecuaristas notas fiscais que atestem a compra de vacinas, às vezes elas não são aplicadas ou, quando o são, não obedecem aos prazos recomendados ou às condições de conservação ou refrigeração adequadas. O essencial é que seja mantida a credibilidade do País como exportador de carne. Casos de aftosa em uma grande região produtora agravariam as desconfianças dos importadores quanto à sanidade da pecuária nacional, afetando diretamente as vendas externas, que já estão sujeitasaoutrasrestrições.Apesarde estarempraticamente estagnadas, por causa, principalmente, da baixa oferta de animais para abate, as exportações brasileiras de carne são significativas, tendo alcançado US$ 2,660 bilhões de janeiro a agosto deste ano.

A

o homologar o parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) que extinguiu o credenciamento especial dos cursos de pós-graduação lato sensu oferecidos por instituições não educacionais, o Ministério da Educação (MEC) se meteu em mais uma confusão. Além das críticas de corporações profissionais e entidades de classe, o MEC sofreu várias derrotas na Justiça, que tem concedido liminares para as instituições ameaçadas de perder a chancela do governo para seus cursos. O parecer do CNE demorou dois anos para ser homologado pelo MEC. Pelas regras anteriores,123 instituições não educacionais – hospitais, fundações e centros de pesquisa – estavam autorizadas a oferecer cursos de pós-graduação lato sensu, como os MBAs e os programas de especialização e residência médica em centros hospitalares de referência. As mais conhecidas dessas instituições são o Hospital Sírio-Libanês, a Escola de Ultrassonografia de Ribeirão Preto, o Centro de Medicina Especializada, Pesquisa e Ensino, a Escola de Administração e Negócios, o Instituto de Educação Tecnológica de Minas Gerais e a Fundação Dom Cabral, considerada uma das melhores escolas de administração do mundo. Os cursos oferecidos por essas instituições continuam funcionando, mas não podem mais exibir o carimbo do MEC em seus certificados. Ao justificar a proibição, o

CNE alegou que o “conceito original do credenciamento especial” foi desvirtuado. Segundo o órgão, clínicas de odontologia e escritórios de consultoria também vinham pedindo autorização para oferecer cursos com a chancela do MEC. “Era preciso dar um basta, porque o que se buscava era só o carimbo do Ministério”, explica o conselheiro Milton Linhares. Segundo ele, como já fiscaliza 2,5 mil instituições de ensino superior, o MEC não tem recursos humanos e financeiros para acompanhar a pós-graduação lato sensu oferecida por instituições não educacionais.

Setor importante do sistema educacional será prejudicado por falta de credenciamento Por isso, o CNE limitou a fiscalização aos cursos de mestrado e doutorado (pós-graduação stricto sensu). Por não dispor de condições de controlar a qualidade dos cursos da pósgraduação lato sensu, endossando programas de qualidade e não chancelando cursos ruins, o MEC tomou uma iniciativa que prejudica de forma indiscriminada um setor específico do sistema educacional. Para especialistas do setor, a Constituição e a Lei de Diretrizes e Bases proíbem as autoridades educacionais de abrir mão de parte de suas atribuições funcionais. “Há omissão por parte do CNE quando não reconhece o dever do Estado de regular os cursos de especialização”, afirma o advogado Ed-

“A melhor solução é a privatização dos Correios. Um problema a menos”

HUMBERTO SCHUWARTZ SOARES hs-soares@uol.com.br Vila Velha (ES)

JOSÉ PIACSEK NETO / AVANHANDAVA, SOBRE A GREVE bubapiacsek@yahoo.com.br

Variação cambial x inflação

“O samba-enredo da Gaviões da Fiel deveria chamar-se ‘Tudo por um estádio’!”

Presidente não refará proposta do Orçamento para incluir o reajuste salarial do Judiciário

MARIA CRISTINA ROCHA AZEVEDO / FLORIANÓPOLIS, SOBRE O HOMENAGEADO DOS CORINTIANOS NO CARNAVAL crisrochazevedo@hotmail.com

● “Seria melhor ainda se Dilma abaixasse o salário de todo o Executivo, Legislativo e Judiciário.”

OTAVIO AKIO YOSHIGA otavio@angelfoto.com.br São Paulo

LUIZ A. D’ARACE VERGUEIRO luiz-vergueiro@hotmail.com São Paulo

TOTAL DE COMENTÁRIOS NO PORTAL:

Dilma peita STF e mantém Orçamento

1.476

VAGNER ALEXANDRE ABREU

● “Façamos o seguinte: incidir porcentual sobre o salário mínimo sempre que houver aumento dos salários de ministros.”

IMPOSTOS Nova CPMF

Pode ser a gota d’água.

VOCÊ NO ESTADÃO.COM.BR TEMA DO DIA

TIAGO FELIPE BALDASSO

HÁ 786 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Não é o salário de um ministro do STF que estraga o País, e sim a corrupção e o desvio do dinheiro público!” KELTON ACTIS

gar Jacobs, da Associação Brasileira de Instituições de PósGraduação (Abipg), que reúne 17 instituições não educacionais. Para o presidente da entidade, Marcelo Nunes, o MEC favoreceu programas universitários de pós-graduação stricto sensu com qualidade inferior à de vários cursos oferecidos por instituições não educacionais. “Muitas instituições de ensino superior não têm experiência em educação executiva. Se o Hospital Sírio-Libanês não sabe de saúde e se a Fundação Dom Cabral não sabe de gestão, quem mais sabe?”, completa o presidente da Abipg. Na ausência do MEC como agenteregulador, algumasinstituições prejudicadas pelo parecer do CNE pretendem lançar um selo de “acreditação de cursos”, com parâmetros mais rígidos que os exigidos pelo governo. Outras instituições pretendem converter os cursos de especialização em mestrados profissionais, que são voltados para a capacitação profissional e têm uma estrutura distinta dos mestrados tradicionais, que formam docentes. O problema é que, na Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de NívelSuperior(Capes),oórgãoencarregadodefiscalizarapós-graduação stricto sensu, há comitês de área que se opõem aos mestrados profissionais mais por preconceito ideológico e interesses corporativos do que por motivos acadêmicos. Por isso, os problemas causados pelo MEC aos cursos oferecidos por conceituadas instituições não educacionais não devem ser resolvidos tão cedo.

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empregos, sem qualificação, pois ficam preocupados e tentam interferir na variação do dólar, seja ela para baixo ou para cima.

Agora que a porca torceu o rabo, gostaria de ouvir dos srs. Mantega e Tombini as declarações vazias e redundantes que vêm repetindo há tempos.

Lula da Silva de ser o Grande Eleitor na disputa paulistana. Provavelmente com razão, ele acha que só um nome novo poderá devolver ao Partido dos Trabalhadores a Prefeitura da capital (e também a de Campinas, entre outras cidades que considera prioritárias no Estado). Dentro do partido, o ministro acaba de fincar um bastião importante. Sob óbvia inspiração lulista, a corrente majoritária “Construindo um novo Brasil” (CNB) declarou segunda-feira apoio à pré-candidatura Haddad. Ele próprio pertence à ala “Mensagem ao Partido”. A decisão foi tomada numa reunião de que participaram cerca de 60 líderes petistas. Marta, que integra a facção, não foi convidada. Com isso, minguaram as chances de realização de prévias para a escolha do candidato – como ambicionava Marta. E o bumbo do governo em torno de Haddad, o ministro das creches, ressoará cada vez mais.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


A2 Espaço aberto %HermesFileInfo:A-2:20110926:

O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 26 DE SETEMBRO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

Mitos e verdades sobre as mudanças do CPP ✽ ●

FÁBIO TOFIC SIMANTOB

E

ntrou em vigor no dia 5 de julho a Lei n.º 12.403/11, que altera alguns dispositivos do CódigodeProcesso Penal (CPP) referentes às medidas cautelares. Insta desfazer desde logo o principal mito sobre a nova lei, o de que agora bandido não vai mais para a cadeia. É importante esclarecer de uma vez por todas que medida cautelar não tem nada que ver com pena imposta pela prática deumcrime.Asmedidascautelares são instrumentos de coerção postos à disposição do juiz durante o processo; a pena criminal, ao contrário, é punição prevista para cada crime e aplicada no fim do processo, depois de confirmada a culpa do acusado. O objetivo das medidas cautelares, então, é evitar que a demora do julgamento torne inviável a aplicação da pena final. Assim,amedidacautelaréusada quando há risco concreto de fugadoréuoudeameaçasatestemunhas, ou seja, para assegurar o regular andamento do processo e garantir que, ao final, o réu pague pelo crime que cometeu. Imagine, caro leitor, que independentemente da situação, do crime praticado e das peculiaridades de cada réu o juiz tivesse emmãossempreomesmoremédio para acautelar o processo e garantir a futura aplicação da lei: aprisão.Écomosenossoshospitais só tivessem a quimioterapia para curar todas as doenças, desde o resfriado mais simples até um câncer terminal. Resultado: ou as pessoas sofreriam à míngua de medicação, ou sofreriam o excessivo e desnecessário efeitocolateraldaquimioterapia.Essa era a sistemática da antiga lei: ouaspessoasficavamlivresesperando o desenrolar do processo porque a prisão era remédio desproporcional demais para o crime imputado, ou amargavam uma prisão processual por um crime cuja condenação não levaria à prisão final. Ou seja, eram distorçõeseidiossincrasiasdetodos os lados. Num dos seus inúmeros pontos,aLein.º12.403/11sóveiosedimentar lógica há muito tempo consolidada nos tribunais, prescrevendo que não caberá prisão provisória nos crimes cuja pena não ultrapasse quatro anos. Esse limite escolhido se deve a uma razãomuitosimples:crimesapenados com até quatro anos podem ter a pena final de prisão substituída por pena alternativa. Mas se a jurisprudência já entendia da mesma forma que agora estabelece a lei, o que muda efetivamente com a alteração le-

gislativa? A diferença é que, se antes o preso precisava percorrer a via-crúcis do Judiciário parausufruirobomsensojurisprudenciale serposto em liberdade, agora ele não chega sequer a ser preso. Isto é, a lei saiu em socorro dos desvalidos que ficavam presospor meses eaté anos, sem necessidade, apenas por falta de acesso à Justiça. Como se vê, ao contrário do que alardearam alguns profetas doapocalipse, sempre dispostos a minar as tentativas de implementação de um direito penal mais progressista e igualitário, a nova lei não é uma via de acesso fácil às ruas, por onde escoarão oscriminososmaisgraúdos;aalteração legislativa equivale à abertura de pequenos orifícios legais cujo entupimento impedia a liberdade provisória de infratoresmenosperigosos,esque-

O mérito da nova lei foi substituir o antiquado binômio prisão/liberdade por penas alternativas

do seja obrigado a suportar uma medidacautelarantesdesersentenciado. Tal raciocínio levaria a abolir por completo a presunção de inocência e admitir que, pelo simples fato de estar sendo processado, o cidadão já é merecedor de alguma restrição da liberdade, olvidando-se que ao final de um processo não são raras as chances de absolvição. Outro aspecto que merece ser festejado é o retorno da fiança. Relegada na vigência do antigo códigoapenasaoscrimesdepouquíssima gravidade, a fiança foi caindo em desuso porque se mostrava extremamente injusto exigi-la dos acusados de crimes leves e não dos de crimes graves. Com a nova lei a fiança pode ser aplicada pelo próprio delegado quando a pena do crimenãoexcederquatroanosepelo juiz em todos os crimes, excetoaquelesparaosquaisaConstituição federal já a proibia, como os hediondos, o tráfico ilícito de entorpecentes, o racismo, a tortura, o terrorismo, etc. Boa ou ruim, uma coisa é certa: a nova lei ajudará a reduzir a distância que separava os presos com fácil acesso ao Judiciário dos detentos que mofavam nas prisões por falta de defesa. De outra banda, casos em que o juiz nadapodiafazerparaevitaraimpunidade ao final do processo vãopermitiragora aaplicaçãode medidas que, se, de um lado, se ajustam melhor à situação de cada acusado, causando sempre o menormalpossível,deoutro,garantem de forma mais eficaz a execução final da pena.

cidos nas masmorras brasileiras tão somente por falta de recursos para reclamar os seus direitos nos tribunais. A bem da verdade, o mérito da nova lei foi o de abandonar o velho e antiquado binômio prisão/ liberdade, substituindo-o por nove alternativas à prisão como forma de garantir a execução final da pena. Quer dizer, então, que, nos casos em que o juiz era obrigado a deixar o réu responder solto ao processo – porque a prisãoeraabsolutamenteinaplicável –, ele pode agora impor ✽ uma das medidas alternativas à ADVOGADO CRIMINALISTA, prisão (fiança, prisão domici- É CONSELHEIRO DA COMISSÃO liar,proibiçãode frequentarcer- DE PRERROGATIVAS DA tos lugares, afastamento de fun- SECCIONAL PAULISTA DA OAB çãopública,monitoramento eletrônico, entre outras), de forma a buscar na escala prevista na lei o SINAIS PARTICULARES grau de intervenção na liberdade alheia que atenda melhor aos pressupostos de adequação e necessidade do caso. Se a lei anterior oferecia ao juiz um tamanho único para diferentes manequins, o novo diploma oferece a tesoura do alfaiate, permitindo ao magistrado aplicarrestriçõessobmedida para cada acusado, de acordo com a necessidade do processo e a situação de cada réu. Isaac Bashevis Singer, Nobel de Literatura, foi feliz quando disse que fazer justiça nada mais é do que individualizar o julgamento. Não se deve, todavia, desejar que a partir de agora, não importando o crime e tampouco as qualidades Olé em Barcelona, só do Messi pessoaisdoréu,todoacusa-

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

Adeus à ideologia ✽ ●

DENIS LERRER ROSENFIELD

E

nquanto, para muitos,o marxismo vigia como a grande doutrina do século 20, os que compartilhavamessavisãoestavamrelativamente tranquilos por fazerem parte de um mundo acomodado,ondetodasaspeçasseencaixavam. Não importava que a realidadefossetotalmentediferente. Nesse mundo teoricamente acomodado, a luta de classes estruturava tudo, ancorada que estava numa classe, o proletariado, que teria a missão de resgatar a humanidade da opressão capitalista. Comaderrocadadocomunismo/socialismo,osquecontinuaram, apesar de tudo, seguindo a doutrina marxista partiram para a busca de novos agentes históricos, criando um arremedo de luta de classes, agora focado em minorias. Não valia mais a oposiçãoentre burgueses e proletários,masentre“ricos”e“pobres”, as “elites” e os “trabalhadores”, e assim por diante. Aagendadasminoriasfoisendoassumidapelaesquerda,emborahistoricamentenãolhefosse uma pauta própria. A questão indígena foi um exemplo dessa apropriação, tornandose as tribos símbolos de resistência ao capitalismo, que teria destruídoasuasituaçãooriginária, identificada a uma espécie de comunismo primitivo. Os indígenas reais, com seus problemas urgentes de integraçãoaumasociedadenãoindígena, que os atrai e não os trata como iguais, foram sendo pro-

gressivamente abandonados. Em vez do equacionamento de uma questão social, com saúde, educação e moradias de qualidade, outra agenda entrou em pauta, ada lutacontrao capitalismo, contraosprodutoresrurais,contra o agronegócio. Acontece que a realidade não se deixa apreender dessa maneira. Em artigo anterior apresentei o caso de Barra Velha, no sul da Bahia, posteriormente muito bem retratado no Jornal Nacional de 20 de setembro. Lá o conflito opõe pequenos e médios agricultores e assentados da reformaagráriaàFunaieaoConselho Indigenista Missionário. A oposiçãoentre “ricos” e “pobres” desaparece, com os assentados da reforma agrária, representadospelaFederaçãodosTrabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), ala rural da CUT, e

Assentados da reforma agrária aliam-se a produtores rurais em defesa de suas terras

pelo MST, aliados aos produtores rurais, opondo-se aos representantes dos indígenas. Um diretorda Fetraf, em termos muito incisivos, falou ao Jornal Nacional. Um proprietário rural, por suavez, chegou aexibir um título de propriedade anterior à promulgaçãodenossaConstituição. Em outros lugares do País a situação se repete. No norte do Rio Grande do Sul, nos municípiosdeMarau,Gentil,MatoCastelhanoeCiríaco,agricultoresfamiliares e pequenos agricultoresestãoameaçadosporatosadministrativosda Funai,via constituição de grupos temáticos e de identificação e demarcação. Num primeiro momento, alguns representantes da Funai procuram tranquilizar esses produtores rurais e os prefeitos, dizendo que osgrupossãoapenastemáLEO MARTINS ticos e os processos de identificação não foram concluídos. Pura enganação, pois, uma vez a máquina posta em movimento, o resultado é um só: a identificação e demarcação dessas terras. Os antropólogos a serviço dessa “causa ideológica”têmumsócódigo de “ética”: dar sempre razãoàs“minorias”.Aciência foi abandonada. O rosto de agricultores familiares e pequenos agricultores expressa medo. A apreensãoé total.Possuem títulos de propriedade em muito anteriores a 1988 e, no entanto, estão reféns da insegurançajurídica.Trabalhos de décadas estão em perigo. As famílias desconhecem seu destino. O sul de Mato Grosso do

Sul, em torno de 20% do Estado, vivehojeamaiscompletainsegurança jurídica, com portarias da Funai que estabelecem estudos preparatórios de identificação e demarcação. Produtores rurais são vítimas de uma política que os tem como inimigos, usurpadores, quando seus títulos são também em muito anteriores à Constituiçãode 1988.Lá há também problemas graves de ampliação de terras indígenas. O conflito é generalizado. Dentre as diretrizes estabelecidaspeloSupremoTribunalFederal (STF) quando do julgamento do caso da Raposa-Serra do Sol, duas merecem ser destacadas: a que estabelece o fato temporalindígena,asaber,aocupação efetiva, presente, de territórios pelos indígenas quando da promulgação da Constituição de 1988; e a proibição de ampliação de territórios indígenas já demarcados. A primeira condição não acolhe a ideia de que um território indígena o seja de fato por haver nele um cemitério ou traços de ocupação que remontam, por exemplo, a 100 ou 200 anos, se tal ocupação não se prolongou efetivamente no tempo. Laudos e relatórios antropológicos dessamaneirafeitosnãoteriamvalidade.Asegundavedanovasidentificações e demarcações a partir de um território já demarcado e homologado – na verdade, umaampliação,poisumademarcação anterior demarcou igualmente como terras não indígenasoseuentorno.Eventuaisproblemas de explosão demográficadevemserobjetodetratamento social, podendo até mesmo se traduzirnacompradeterras,pelo valor de mercado, terra nua e benfeitorias, para equacionar um problema de ordem demográfico-social. As duas diretrizes acima mencionadas estipuladas pelo STF incluem também como condição que os territórios em disputa, tanto no fato antropológico temporal quanto na ampliação de territórios, não tenham sido objeto anterior de esbulho possessório, segundo o acórdão publicado a respeito. Eis um argumentoquetemsidoutilizadopela Funai e pelo Ministério PúblicoFederalpararestringir, senão invalidar a decisão do Supremo. Na verdade, seria uma forma de seguir não seguindo o acórdão do STF. Há uma questão teórica importante aqui envolvida: a condicionante de uma regra não pode ser interpretada de tal modo que invalide a própria regra da qual ela é uma condição. Isso seria equivalente a anular a própria decisão do Supremo. ✽ PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Fórum dos Leitores CORRUPÇÃO Boi Barrica

O que esperar do futuro deste país, se o Superior Tribunal de Justiça (STJ), com seus mais renomados juízes, é posto de joelhos diante do todo-poderoso José Sarney, aceitando bovinamente as vontades desse senhor? Se tudo o que for julgado pelo STJ tiver como “cláusula pétrea” a condição de não ferir os interesses dos poderosos? Se os ministros, muito bem pagos para fazer valer a justiça, a ética e a moralidade, agem de forma tão subserviente e vacilante? Se o STJ ignorou os mais elementares preceitos de conduta, transformando-se num arremedo de tribunal? Se os poderosos agem como se estivessem acima da lei, com total anuência dessa Alta Corte? Enfim, se observarmos com mais atenção o silêncio da “oposição”, que, apesar dos 43 milhões de votos, finge

não estar vendo nada de anormal em toda a corrupção, que não para de crescer, o que esperar...?!

FLAVIO MARCUS JULIANO opegapulhas@terra.com.br São Paulo

WILSON SANCHES GOMES sancheswil@hotmail.com Curitiba

Comuns e incomuns

‘Suum cuique tribuere’

A velocidade espantosa, comparada aos vergonhosos padrões nacionais, com que foram anuladas as provas da operação da Polícia Federal (PF), desprezando diversos pareceres, dá a entender que a venda nos olhos da Justiça é para “que se atribua a cada um o que é seu”, mas só pode abrir o pacote em casa para ver a surprezinha. O percurso e o desfecho do julgamento em prol dos réus causaram “desconforto e desconfiança” entre ministros do STJ. Imaginem o desconforto e a desconfiança do povo brasileiro com essa forma inusual de inocentar sempre os mesmos sem-vergonha...

O relator estudou e decidiu em seis dias o processo da Operação Boi Barrica. Pois eu tenho um simples processo de devolução de indébito no TRF-3, concluso, no gabinete do desembargador há 12 anos e lá continua parado. Parece que a Justiça, além de cega, é muda e paralítica.

WALTER FRANCISCO BARROS walterfbarros@yahoo.com.br Araçatuba

ministros do STJ em relação ao clã Sarney, uma simples e democrática pergunta não quer nem vai calar: e como fica a censura ao nosso Estadão?

Homem forte

ANIBAL VILARI anibalvilari@bol.com.br São Paulo

novo significado da sigla.

LUIZ TERCI SOBRINHO terzzi65@hotmail.com São Paulo

Avalio que o homem mais forte da política brasileira nos últimos tempos é, sem dúvida, José Sarney. Ele mantém dois Estados sob seu controle, comanda o Congresso, impôs à presidente ministros, altos funcionários e até um diretor da PF diferente do que ela pretendia e ainda controla parte importante do Judiciário. Nem o Lula teve tanta força política.

STJ e Sarney

FABIO FIGUEIREDO fafig3@terra.com.br São Paulo

Justificável a decisão do STJ. Afinal, com o padrinho que têm os membros do tribunal, seria anormal se a decisão fosse outra. Seremos Ternos com José deve ser o

Censura

Independentemente da atitude indecorosa e corporativista dos

GOVERNO ALCKMIN Institutos de pesquisa

Sempre que pode, o governador tece loas à pujança da agricultura paulista, relacionando-a aos nossos institutos de pesquisa. Realmente, todos os nossos institutos de pesquisa, e não só os relacionados à agricultura, têm instalações primorosas e equipamentos dignos de Primeiro Mundo, construídos e adquiridos que foram em governos passados. A eficiência de nossos institutos se deve à qualidade e ao empenho dos pesquisadores e funcionários de apoio à pesquisa que neles trabalham; a

grandiosidade das instalações e a qualidade dos equipamentos de nada valem sem os funcionários que nelas e com eles trabalham. A carreira dos pesquisadores é pequena, entre os da ativa e aposentados pouco passam de 2 mil. O grande entrave é o salário. A Lei 859/99 tornou obrigatória a equiparação salarial entre os pesquisadores e os docentes das universidades públicas, a qual, desde o governo Covas, não vem sendo cumprida. Para fazer valer a lei formaram-se diversos grupos que pleitearam a equiparação nos tribunais. Uns ganharam e outros, não. Assim, pelo fator salário, existem duas classes de pesquisadores científicos, com uma diferença salarial de cerca de 70%. Agora, sempre que fala em salário, o governador cita os que ganharam a demanda, postergando para segundo plano os que perderam, como se o nível salarial fosse aceitável sem considerar que uns poucos ainda ganham mal. Urge repa-


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 26 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

O Supremo e o futuro do CNJ Uma das principais decisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que começou a funcionar em 2005, foi a de fiscalizar, processar e aplicar sanções administrativas a magistrados envolvidos com corrupção, nepotismo e tráfico de influência. A tarefa cabia às corregedorias dos tribunais, mas muitas delas foram corroídas pelo corporativismo. A pretexto de preservar a “imagem da Justiça”, essas corregedorias deixavam de expor irregularidades de todo o tipo, cometidas por juízes. Em seis anos de atuação, o CNJ condenou 49 magistrados. Desse total, 24 foram punidos com a pena máxima no plano administrativo – a aposentadoria compulsória. Os casos mais rumorosos foram os do ministro Paulo Medina, do Superior Tribu-

nal de Justiça (STJ), e do desembargador José Eduardo Carreira Alvim, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 2.ª Região. Acusados de favorecerem máfias dos caça-níqueis, eles foram aposentados em 2010. Além disso, o CNJ colocou 6 magistrados em disponibilidade, afastou 15 provisoriamente, removeu 2 compulsoriamente e submeteu 1 à sanção de censura. Em 2009, as punições atingiram um corregedor do Tribunal de Justiça (TJ) da Região Norte, que foi aposentado por engavetar processos contra desembargadores da Corte. Apesar da contribuição que tem dado para impedir que uma minoria de juízes acusados de desvio de conduta comprometa a autoridade de uma corporação integrada por 14 mil magistrados, o CNJ está correndo o risco de perder atribuições e ser esvaziado. Isto porque, pressionada pelas corregedorias dos tribunais, a Associação dos Magistrados Brasileiros

(AMB) impetrou no Supremo Tribunal Federal (STF) uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, questionando as prerrogativas do órgão encarregado do controle externo do Judiciário. A AMB alega que o CNJ não teria competência para punir e que só poderia atuar nos casos de omissão das corregedorias dos tribunais. A ação já está na pauta do STF e seu relator, ministro Marco Aurélio Mello, tem sido um crítico do CNJ. Além do apoio público de entidades sindicais da magistratura, o recurso da AMB tem o endosso velado de membros do CNJ que são juízes de carreira. É o caso do presidente do órgão, Cezar Peluso. Na época do julgamento de Medina e Carreira Alvim, ele defendeu – sem sucesso – que os processos ficassem sob responsabilidade das corregedorias do STJ e do TRF da 2.ª Região e que a sessão fosse sigilosa, para não constranger os acusados. Durante anos,

Peluso atuou ao lado do presidente da AMB, desembargador Nelson Calandra, no TJSP. Indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho, outro conselheiro que quer esvaziar o CNJ é o juiz Lúcio Munhoz. Empossado em agosto, ele apresentou uma proposta para que os procedimentos disciplinares contra juízes acusados de irregularidades fiquem a cargo dos tribunais a que pertencem. A proposta tem o mesmo objetivo do recurso da AMB. Ela foi divulgada por e-mail como espécie de “questão de ordem” às vésperas de uma sessão do CNJ convocada para julgar um procedimento envolvendo um juiz do Maranhão, acusado de liberar altas somas de dinheiro em ações nas quais não teria competência para atuar. Se o procedimento tivesse de ser aberto no tribunal local, esse magistrado seria julgado por uma corregedoria que recebeu 120 representações contra juí-

zes, só em 2007, e não puniu nenhum deles. Nessa corregedoria há vários procedimentos arquivados por decurso de prazo. Como se vê, a atuação moralizadora do CNJ, que foi criado pela Emenda Constitucional 45 como uma resposta à crise da Justiça, incomoda muita gente – principalmente as cúpulas dos tribunais de segunda e terceira instâncias. A oposição contra o CNJ cresceu depois que a atual corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, acusou as corregedorias de serem ineptas, inoperantes e corporativas e propôs novas medidas para aprimorar investigações, por meio de parcerias com a Controladoria-Geral da União, a Receita Federal e os Tribunais de Contas. Se acolher o recurso da AMB, reduzindo a pó as prerrogativas do CNJ e fortalecendo as desmoralizadas corregedorias judiciais, o STF estará promovendo um retrocesso institucional.

Golpe no fechamento de ruas

Novidades e dúvidas no PPA

decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), segundo a qual moradores de vilas criadas com o fechamento de ruas não são obrigados a pagar taxas de condomínio, porque isso é inconstitucional, abre caminho para acabar com abusos que se vêm espalhando rapidamente nos últimos anos, principalmente nas grandes cidades. Se outras decisões como essa – que se refere a um caso específico do Rio de Janeiro – forem tomadas pelo STF, como tudo indica que acontecerá, estará firmada jurisprudência que vai orientar julgamentos em todos os outros tribunais. A prática tanto do fechamento de ruas como da formação de condomínio em loteamentos, contra a vontade de muitos moradores, vem de longe. Na capital paulista, leis e decretos municipais, baixados entre 1991 e 2009, permitiram a difusão dessa prática. Existem hoje em São Paulo mais de 300 ruas fechadas, o que é feito com a justificativa de que se trata de medida destinada a melhorar a segurança dos moradores da área, que na prática se transforma numa vila. O fechamento exige a instalação de grades e cancelas automáticas, além da contratação de pessoal para fazer a segurança – controlando a entrada e saída de pessoas e veículos – e a limpeza do local. Tudo isso tem um custo, que as associações criadas para gerir tais vilas querem repassar a todos os moradores, filiados ou

o definir os grandes projetos que o governo Dilma pretende executar nas áreas social, de infraestrutura, de desenvolvimento produtivo e aquela que seus técnicos chamam de especial – que envolve, entre outros programas, a política nacional de defesa, o desenvolvimento regional e a política externa –, o Plano Plurianual (PPA) para o período 2012-2015 apresenta boas surpresas, mas também metas que parecem ambiciosas demais. Uma novidade auspiciosa é, por exemplo, a disposição do governo Dilma de retomar a concessão de rodovias federais, suspensa desde 2007. Já para alcançar a meta de dotar o sistema aeroportuário nacional de capacidade para receber 305 milhões de passageiros em 2015, praticamente o dobro dos 155 milhões que recebeu em 2010, o governo terá de mostrar uma competência e uma eficiência até agora desconhecidas nas gestões comandadas pelo PT. Parte essencial do processo orçamentário determinado pela Constituição, o PPA define as prioridades do governo para o período de quatro anos e deve ser apresentado ao Congresso até o fim de agosto do primeiro ano de mandato. As prioridades do PPA devem fazer parte do orçamento anual. Isso significa que o PPA 2012-15 em exame pelo Congresso servirá de base para a definição das metas a serem cumpridas anualmente, e que deverão constar dos orçamentos anuais cuja

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rar essa injustiça, equiparando o salário de todos, nos termos da lei não cumprida. Dado o pequeno número de funcionários envolvidos, a despesa será insignificante dentro do orçamento paulista. JOSÉ MAURÍCIO DE T. MURGEL, pesquisador científico aposentado jmmurgel@gmail.com Jaú

PATRIMÔNIO HISTÓRICO Casa Modernista

A nota Patrimônio? (coluna Direto da Fonte, 21/9) cometeu vários equívocos. A Casa Modernista esteve fechada durante anos, recebeu obras estruturais do governo do Estado e foi transferida para a Prefeitura para integrar a rede de Casas Históricas da Secretaria Municipal de Cultura (SMC), em 2008. Seu estado atual está longe de ser precário. A piscina, desativada, mas não “destruída”, está protegida por tapumes. Há um

não a essas associações. Essa prática se repete em loteamentos como o da Granja Carneiro Viana, em Cotia, que ficou conhecido em 2008, quando moradores que se recusavam a arcar com as despesas de segurança e limpeza, por não serem membros da associação que decidiu que aquele seria um condomínio, foram considerados inadimplentes e acionados judicialmente. Na ocasião, uma moradora teve sua casa penhorada pela Justiça por causa de uma dívida de R$ 57 mil. A situação chegou a tal ponto que moradores descontentes criaram a Asso-

Supremo decide que associações que fecham ruas não podem cobrar taxas de não sócios ciação das Vítimas de Loteamentos Residenciais do Estado de São Paulo (Avilesp), para defender seus interesses. Apesar dos esforços da Associação, a situação continua a mesma, pois uma moradora de loteamento também em Cotia recebe, desde 1992, cobrança de taxa de condomínio referente a dois lotes de 350 m², como mostra reportagem do Estado. “Até hoje, mandam boletos cobrando R$ 1,9 mil por mês”, diz ela. Seu caso está na Justiça. Antes da decisão do STF, a probabilidade de essa moradoraperderacausaeramuitogrande. Os Tribunais de Justiça de São Paulo e do Rio Janeiro entenderam até agora que todos os moradores, mesmo os não pertencentes às associações,

projeto de restauro da casa com paisagismo em elaboração no Departamento do Patrimônio Histórico. Mas nada disso impede que a casa continue aberta e com programação. Quanto às grades das janelas e portas foram instaladas pelo próprio Warchavchik, autor do projeto da casa, construída na década de 1920. Portanto, não há descaracterização. GIOVANNA LONGO, assessora de Comunicação da SMC giovannalongo@prefeitura.sp.gov.br São Paulo

N. da R. – A coluna esteve na Casa Modernista e observou que a piscina não está apenas desativada, mas com parte das bordas quebradas e dezenas de azulejos fora do lugar. As grades em portas e janelas não fazem parte do projeto original – fotos da casa na época de sua construção provam que elas foram colocadas depois. E em momento algum a nota publicada pela coluna diz que a casa está fechada ou sem programação.

têm de pagar as taxas, porque usufruem dos serviços por elas prestados.Nãocontribuirconfiguraria, em última análise, enriquecimento ilícito. Agora, a situação pode mudar até mesmo para os que acharam melhor pagar as taxas para evitar maiores aborrecimentos.Segundoopromotor de Habitação e Urbanismo José Carlos de Freitas, “todos os que foram cobrados têm condições de ingressar com pedido de ressarcimento”. Tudoindica que estamos perto de acabar com uma das situações mais odiosas criadas nas grandes cidades nos últimos anos, que na prática significa a privatização de espaços públicos, no caso do fechamento de ruas. Tanto nesse como no caso dos loteamentos transformados arbitrariamente em condomínios, o fim da obrigatoriedade de pagar taxas, para os que não pertencem às associações, tende a enfraquecê-las e leválas a desistir da pretensão absurda de assumir, na prática, funções de segurança e controle de espaços públicos, que são privativas do Estado. O ideal é que o passo seguinte sejaofim dasleise decretosmunicipais que possibilitam o fechamento de ruas. Nada justifica essa prática. O argumento de que ela garante maior segurança aos moradores daquelas áreas é inaceitável. No dia em que se admitir como legítimo queuma minoria podese defender da violência à custa do direitoda maioria,a cidade regredirá àleidosalve-se quempuder.Esta não é, nem de longe, a maneira corretade tratardo problema da segurança pública.

“A confiança no homem público brasileiro está cada vez mais difícil!” FILIPE LUIZ RIBEIRO SOUSA / SÃO CARLOS, SOBRE AS NEGOCIATAS filipelrsousa@yahoo.com.br

“Durou pouco a Lei (Lei? Ora, a lei...) Cidade Limpa. Num país onde se aceita ficha suja não há necessidade de cidade limpa...” GLALCO ÍTALO PIERI / SÃO PAULO, SOBRE A PUBLICIDADE NAS RUAS DA CAPITAL colyacpieri@uol.com.br

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montagem será de responsabilidade do governo Dilma. O projeto do PPA 2012-15 foi elaborado de acordo com uma metodologia diferente da que foi seguida nos planos anteriores, para permitir que o cidadão comum possa distinguir com rapidez o estágio de cada programa, mesmo que seja de responsabilidade de diferentes Ministérios e órgãos, e não se perca no emaranhado de contas e códigos referentes a cada unidade orçamentária. O governo pretende também que o PPA se transforme numa espécie de referência para as empresas interessadas em investi-

O Plano Plurianual define os grandes projetos do governo para 2012-2015 mentos no País, tanto em obras públicas como no setor produtivo privado. Se seus principais projetos saírem do papel, o novo PPA terá efeitos muito positivos em diferentes campos. A atividade econômica será estimulada, com a melhora substancial da infraestrutura, sobretudo na área de transportes. A atividade das pequenas e médias empresas será apoiada com o aumento da oferta de crédito, hoje um dos principais entraves à atuação dessas empresas. A população em geral será beneficiada com os investimentos em saúde, geração de emprego e assistência social. Os mais pobres ganharão mais moradias e terão assegurados os recursos de programas como

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Dilma não terminou faxina nos ministérios

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Limpeza só na cúpula dos Transportes e no Dnit; Valec e Cohab ainda esperam decisão do governo ● “E a coragem para enfrentar os partidos da base aliada? Desde o começo ficou claro que a faxina era fogo de palha.” THEUBALDO JUNIOR VACCARI

● “Politicamente, acho mais fácil a Dilma peitar o STF do que a banda pobre dos deputados e senadores.” WALTER REIS LOPES

HÁ 787 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Faxina? Se ela for realmente feita, não sobrará nenhum político do presente nem do passado.” LUIZ CARLOS PALADINO

de agricultura familiar e BolsaFamília. Quanto às finanças públicas, a criação de planos de previdência complementar em todos os níveis de governo prevista no PPA, se efetivada, apontará para o equilíbrio atuarial no longo prazo dos regimes previdenciários do setor público. Até agora, porém, só o governo federal e alguns poucos estaduais têm projetos de criação da previdência complementar. A proposta do governo de licitar três importantes trechos rodoviários (BR-040, de Brasília a Juiz de Fora, de 956 quilômetros; BR-101 no Espírito Santo, de 461 km; e BR-116 em Minas Gerais, de 817 km), para “propiciar mais segurança e qualidade no deslocamento”, é um reconhecimento de que, no ritmo em que costuma atuar o órgão federal encarregado do sistema detransporte terrestre, o Dnit, a melhora seria muito demorada. Já a malha ferroviária deverá ser estendida em 4.546 km. O PPA projeta a duplicação, até 2015, da capacidade do sistema aeroportuário, tanto para a movimentação de passageiros comodecarga,oqueexigirárapideznasobrasdeampliaçãoemodernização das unidades já existentes,inclusivecomaparticipação de capital privado nas três principais unidades do País (Guarulhos, Brasília e Viracopos). Até agora, porém, não se conhecemasregrasparaaentrada do setor privado no sistema. PelosbenefíciosqueoPPApode trazer, o País torce para que, superando seu antecessor em termos de eficiência, o governo Dilma consiga executá-lo.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 27 DE SETEMBRO DE 2011

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Notas & Informações

Novo bote do governo Kirchner Na Argentina da presidente Cristina Kirchner, a única verdade é a verdade do governo – e ai de quem ouse contrapor às fabricações do oficialismo uma visão da realidade calcada em dados objetivos, apurados com independência. Como se o país estivesse novamente sob o tacão da ditadura militar extinta há quase 30 anos, o Estado kirchnerista investe pesadamente também contra a imprensa que desmoraliza as versões da Casa Rosada, ao cumprir o dever elementar de dar voz ao outro lado. Decerto que o terror estatal em sua forma bruta, com as prisões, torturas e “desaparecimentos”, está confinado à memória dos pesadelos argentinos. Mas, sob a capa das instituições democráticas e da defesa retórica das liberdades fundamentais,

o governo não cessa de tentar estender os limites de seu controle autoritário da sociedade, subordinando até a Justiça aos seus interesses, para intimidar e amordaçar os que não se alinham com eles. E isso, mesmo quando a experiência cotidiana da população cobre as autoridades de ridículo. Para ficar no assunto da hora, toda a Argentina sabe que o índice oficial de inflação, fornecido pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), é uma contrafação grosseira. A rigor, os consumidores não precisam que ninguém lhes diga que a alta do custo de vida, em valores anuais, é quase o triplo da taxa de 9% admitida pelo Executivo. E ainda que não soubessem, bastaria o recente acordo entre o patronato e os sindicatos de trabalhadores, que reajustou o salário mínimo em 25%, para desmascarar o número chapa-branca. O governo garante também que a trajetória da in-

flação é declinante. E, para prová-lo, tropeça na própria mentira, como fez o desavisado vice-ministro da Economia, Roberto Feletti. Numa entrevista, ele comparou o índice apurado em Ushuaia, na Terra do Fogo, ao de Mendoza: 31,5% no primeiro caso, 22% no outro. Mas o comportamento do governo não é propriamente um caso de galhofa. A Casa Rosada começou a torturar os fatos em 2007, na presidência Néstor Kirchner, quando interveio no até então autônomo Indec para sonegar a verdade sobre a carestia, a fim de minimizar a correção monetária dos títulos da dívida pública. No entanto, como as empresas privadas de consultoria continuassem a apresentar números que indicavam a maquiagem das taxas oficiais, o kirchnerismo apelou para a sua especialidade – a truculência. Em 2009, mandou abrir processo penal contra a consultoria M&S e ou-

O fantasma da CPMF

A

o aprovar o projeto de lei complementar regulamentando a Emenda Constitucional 29, que define porcentuais mínimos de gastos públicos em saúde, a Câmara dos Deputados criou uma espécie de fantasma tributário. Ao concluir uma votação iniciada em 2008, os deputados retiraram do texto a definição da base de cálculo do tributo sobre operações financeiras para o financiamento dos gastos públicos em saúde, chamado de Contribuição Social para a Saúde (CSS) – o que inviabiliza sua cobrança imediata –, mas mantiveram no projeto o dispositivo que cria o tributo, com alíquota de 0,1%. Originário do Senado, o projeto foi alterado pela Câmara, razão pela qual os senadores terão de examiná-lo novamente. Por terem identificado em sua base no Senado um movimento a favor da imposição da obrigatoriedade de aplicação de 10% da receita corrente bruta da União em saúde, as lideranças governistas devem tentar adiar a votação. O Senado não poderá incluir no texto aprovado pela Câmara matéria nova, como a definição de nova base de cálculo da CSS, mas poderá aprovar o que os deputados decidiram. Se o fizerem, o sistema tributário brasileiro terá um novo tributo, por enquanto incobrável. Ele ficará lá, como uma ameaça a todos os contribuintes. Na Câmara, as lideranças das bancadas, com exceção da do PT, orientaram seus deputa-

bolso o peso dos impostos conhece a fórmula para melhorar a saúde e os demais serviços essenciais: basta tirar dos ladrões a chave do cofre e fazê-los trabalhar. IZABEL AVALLONE izabelavallone@gmail.com São Paulo

Ajuda à Grécia

Se a Grécia nos desse os títulos, ainda seriam presentes de grego. Imaginem comprá-los! E ainda dizem que precisam de mais impostos para socorrer a saúde... SUELI CARAMELLO ULIANO scaramellu@terra.com.br São Paulo

CRIMINALIDADE JUVENIL Maioridade penal

Excelente o artigo Órfãos do inexplicável, de Jorge Forbes (Aliás, 25/9, J7). O Estado não pode per-

dos a votar contra a cobrança da CSS, pois sabem do caráter impopular da medida. Para, mesmo assim, ficarem a favor do novo tributo, os petistas alegaram que foi deles a iniciativa de propor sua criação em 2008, em substituição à Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), extinta em 2007 por decisão do Congresso. Assim, não poderiam votar contra a proposta, que era do interesse do expresidente Lula – ainda que ela seja nociva aos contribuintes e, ao contrário do que afirma o partido, não seja indispensável para assegurar recursos à saú-

Agora é a vez de o Senado resolver como serão financiados os gastos de saúde da Emenda 29 de, pois a racionalização dos gastos certamente permitiria aumentar os investimentos nessa área. A ampla margem de vantagem dos que rejeitaram a cobrança imediata da CSS – 355 votos contra 76 (e 4 abstenções) – evidencia o isolamento dos petistas na votação. Pouco antes da decisão dos deputados, já prevendo a rejeição da cobrança da CSS, o presidente da Câmara, deputado Marco Maia, anunciou a criação de uma comissão especial para “discutir e propor novas fontes de financiamento para a saúde”. Foi uma forma de dar alguma satisfação aos 14 governadores, 7 vice-governadores e representantes de outros Estados com os quais se reunira e que querem mais dinheiro, ra-

der esta oportunidade de avançar na discussão sobre criminalidade juvenil. A cada novo latrocínio ou simples assassinato se volta à discussão da redução da idade penal. O texto mostra bem sobre que bases temos uma lei, ou uma loa, que estabelece que até certa idade – 16 ou 18 anos – a pessoa é inimputável e depois, como acordado de um coma, vira responsável por tudo. Como diz o artigo, é o iluminismo que nos obscurece. Acho que os conselhos de psicologia e psiquiatria poderiam provocar a discussão com a sociedade, pois, dentre outros aspectos, tem como finalidade “contribuir para o desenvolvimento da psicologia como ciência e profissão”. Talvez estudar caso a caso seja melhor para a sociedade do que estabelecer parâmetros etários sem levar em conta que, independentemente da idade, se trata de pessoas. ROBERTO NOLASCO nolasco@uol.com.br São Paulo

tras, por difundir índices discrepantes de preços, sob a alegação de que essas empresas do ramo incentivavam, para fins especulativos, o aumento do custo de vida. Era de esperar que a Justiça arquivasse a ação por flagrante insubsistência, mas sendo o que se pode presumir que sejam as relações entre setores da magistratura argentina e o casal Kirchner, o juiz Alejandro Catania deu curso ao processo, aplicando multas a torto e a direito às acusadas. Na semana passada ele partiu para cima da imprensa. Intimou seis jornais de Buenos Aires – La Nación, Clarín, Ámbito Financiero, El Cronista Comercial, BAE e Página 12 – a fornecer os “nomes, endereços, telefones e contatos dos jornalistas que tenham publicado notícias sobre índices de inflação”, a contar de 2006. E aproveitou para perguntar a cada um desses periódicos se recebiam publicidade da M&S, como se isso fosse um in-

dício de cumplicidade com o suposto delito da empresa. Tamanha foi a reação ao ato de intimidação judicial que o próprio Catania se sentiu compelido a pelo menos mostrar que recuava da arbitrariedade. Sugerindo que tinha sido mal interpretado, alegou cinicamente que não tinha pedido informações pessoais “ou de uso particular” dos jornalistas. Queria apenas saber como a Justiça poderia entrar em contato com eles, caso fossem chamados a prestar declarações, não como réus – tal seria! –, mas como testemunhas. Em suma, o juiz quer pressionálos a revelar os nomes de seus entrevistados nas consultorias que teriam transgredido o código penal, ao cometer, segundo o governo, “fraudes de comércio e indústria”. A Constituição argentina assegura o sigilo da fonte, mas os Kirchners nunca se sentiram inibidos por garantias constitucionais.

A Alemanha e o impasse europeu zão pela qual insistiam na instituição e na cobrança da CSS. A Emenda 29, aprovada em 2000, estabelece porcentuais para a aplicação na área de saúde. Os Estados devem investir no setor 12% da receita corrente bruta e os municípios, 15%. A emenda estabelece que, no caso de um governo estadual ou de uma prefeitura não cumprir esses porcentuais mínimos, a União poderá suspender os repasses de recursos. Por falta de regulamentação, governos estaduais e prefeituras têm lançado despesas variadas – com saneamento básico, custeio da merenda escolar e até aposentadorias – como gastos de saúde. A regulamentação vincula 12 despesas a ações e serviços públicos de saúde e relaciona outras 10 que não podem ser custeadas com os recursos previstos na Emenda 29. Entre as proibidas, estão pagamento de inativos e pensionistas, limpeza urbana e remoção de resíduos e ações de assistência social. Na prática, isso significará que o setor público terá de reforçar o orçamento para cobrir os gastos típicos da Emenda 29. Para isso, terão de cortar outras despesas – ou aumentar impostos, como querem os governadores. Quando o projeto for discutido pelo Senado, além de evitar a imposição de aplicação mínima de recursos em saúde, o governo tentará derrubar o dispositivo inserido pela Câmara que exclui os recursos do Fundeb da base de cálculo do valor a ser aplicado em saúde, pois alega que essa exclusão retira cerca deR$6 bilhõespor ano dosetor.

“Do nosso bolso, não!” ROBERT HALLER / SÃO PAULO, SOBRE A EMENDA 29 E A RESSURREIÇÃO DA CPMF robelisa1@terra.com.br

“Os abutres estão sempre de plantão no intento de esfolar o povo brasileiro! Até quando?” LUIGI VERCESI / BOTUCATU, IDEM luver44@terra.com.br

V

encer a crise de confiança é o desafio imediato para os governos do mundo rico – uma condição indispensável para se afastar o risco de uma nova recessão nas economias mais avançadas. A Alemanha poderá dar um passo importante para a superação do problema, nesta semana, se o seu Parlamento aprovar a reforma da Linha Europeia de Estabilidade Financeira, proposta em julho na conferência de cúpula dos 17 países do euro. Outros Parlamentos serão estimulados a seguir o mesmo caminho, se o novo modelo do fundo for ratificado pela maior economia europeia. A Europa, nesse caso, passará a dispor de um instrumento mais flexível e poderoso para socorrer os países atolados na crise da dívida pública e também para ajudar na capitalização dos bancos em situação de risco. O fundo foi criado em 2010, com recursos previstos de € 440 bilhões, mas com pouca flexibilidade para atuar. Em julho, chefes de governo da zona do euro propuseram uma ampla reforma para tornar mais eficaz esse instrumento. Foi prevista, por exemplo, a possibilidade de socorro a governos em dificuldades mesmo antes da formalização de programas de ajuda financeira vinculados a programas de ajuste fiscal. A reforma só entrará em vigor, no entanto, depois de ratificada pelos Parlamentos dos 17 países da união monetária. Até agora só cinco países completaram essa etapa. Na Alema-

nha, tem havido resistência política à proposta. O jogo será virado muito mais facilmente se o Parlamento alemão ratificar a mudança. Os governos da zona do euro estão empenhados em obter a aprovação em todos os países até 14 de outubro. Ao mesmo tempo, esses governos têm de correr para evitar o agravamento da situação na Grécia. Sem a liberação da sexta parcela do financiamento negociado com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o FMI, o Tesouro grego será incapaz de pagar as dívidas com vencimento no próximo mês.

Parlamento alemão pode virar o jogo, se aprovar a reforma do fundo de estabilidade Mas a liberação do dinheiro depende da revisão da política de ajuste adotada na Grécia. Se o resultado for negativo, ou se as autoridades gregas forem incapazes de apresentar um plano de ação digno de confiança, a ajuda será interrompida. Este é, pelo menos, o quadro oficialmente apresentado pelas autoridades da união monetária e do FMI. Mas o quadro real é muito mais complicado. Na prática, não se trata de só manter ou abandonar o programa de auxílio, como se se tratasse de uma decisão técnica. Se a ajuda for interrompida, o governo grego será forçado ao calote. O calote poderá ser desordenado, com péssimas consequências para os bancos e para

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‘A Saúde vai ter um novo imposto’, diz Ideli

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Ministra afirma que governo tem ‘clareza’ de que precisa de novas fontes para financiar setor ● “É mais fácil criar imposto do que gastar bem o dinheiro que se tem. Não se ouve falar em eficiência e controles.” WALDEMAR BAGGIO

● "Bilhões para construir estádios de futebol eles têm. Para a Saúde, Educação e Segurança, precisam criar mais impostos.” OSTERVALDO GALDINO DA SILVA

HÁ 788 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● "Acabem com o roubo, superfaturamento e com a má gestão que sobrará dinheiro.” MIGUEL PIO

outros países com dívida pública muito alta, ou razoavelmente organizado. Neste caso, os credores deverão assumir certas perdas, mas haverá uma possibilidade maior de limitação dos estragos. Em tese, pelo menos, é possível conceber essa alternativa. Nos mercados, a conversa sobre a hipótese de uma moratória ordenada continuou nos últimos dias. Oficialmente, as autoridades gregas continuam negando qualquer procedimento nessa direção. Governos da zona do euro e do FMI também têm contestado essas versões. Mas o assunto continua na pauta. Quanto mais demorada a articulação de novas ações contra a crise das dívidas soberanas, maior o risco de um desastre. Se a pequena Grécia quebrar, ondas de choque se difundirão pelos mercados, atingindo os bancos e economias muito maiores. Itália a Espanha já foram atingidas, nas últimas semanas, por movimentos especulativos. Ontem as principais bolsas europeias fecharam em alta. O humor melhorou, segundo analistas, graças à expectativa de aprovação da reforma do fundo de estabilidade e de um corte dos juros básicos pelo BCE. Ninguém deve iludir-se com esse aparente surto de otimismo. O humor nos mercados muda rapidamente, e mudará para pior, se as autoridades europeias continuarem incapazes de novas e mais firmes ações contra a crise. O Parlamento alemão poderá dar o primeiro lance para romper o impasse.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 28 DE SETEMBRO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

O Brasil de hoje é o Maranhão de 1966 ✽ ●

JOSÉ NÊUMANNE

N

esta semana, este Estadão ainda não se livrou da censura imposta pelo Judiciário às notícias a respeito da Operação Boi Barrica, na qualaPolíciaFederal(PF)investigou negócios suspeitos da família Sarney. Esta também foi aliviada com a notícia de que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) invalidou as provas que a referida autoridade policial levantou na dita investigação. O YouTuberevelouacinéfiloseinteressadosempolíticaumcurtametragem de propaganda feito pelo baiano Glauber Rocha, ícone do Cinema Novo e da sétima arte no Brasil, por encomenda do então jovem governador do Maranhão, registrando o início de uma carreira política que, contrariando as previsões mais otimistas, o levou à Presidência da República. E a um poder, na presidência do Senado, que ora lhe permite substituir no Ministério do Turismo um indicado, Pedro Novais, afastado por suspeita de corrupção e evidências de má gestão, por outro, Gastão Vieira, cuja única virtude notória éa deser mais umilustre desconhecido e leigo nos assuntos da pasta a assumi-la. OfilmedeGlauberRocha,Maranhão 66, suscitou um debate inócuo em torno das intenções e dos verdadeiros interesses do cineasta e da notória sagacidade do político profissional que patrocinou um comercial da própria posse e terminou por financiar umdocumentário vivo e cru da dura realidade do País e de seu Estado miserável. Questionou-se se o cineasta foi leal a seu patrocinador ou se se aproveitou do patrocínio dele para, comimagens chocantes,denunciar o abismo existente entre o discurso barroco do empossado earevoltantemisériadeseueleitorado. Também foramlevantadasdúvidassobreopapeldoprotagonistadofilmenorelativoostracismo em que a obra mergulhou, não merecendo a fortuna crítica que obras como Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe viriam a ter. Glauber foi um militante de esquerda, mas aderiu à ditadura em seus estertoresquandovoltouaoBrasil, chegando a chamar o ideólogo da intervenção militar contra a pretensa República sindicalista, general Golbery do Couto e Silva, de “gênio da raça”. O Sarney por ele filmado era da “Bossa Nova” da UDN, com tinturas pink, mas aderiu ao regime autoritárioe,depois,seafastou dele para entrar na chapa que lhe pôs fim no colégio eleitoral.

Personagem e autor podem, assim, alinhar-se na galeria das “metamorfoses ambulantes” em que Luiz Inácio Lula da Silva se introduziu, inspirando-se em Raul Seixas, para justificar na prática sua adesão ao lema de Assis Chateaubriand, segundo o qual “a coerência é a virtude dos imbecis”. Mas, com todo o respeito às boas intenções de quem entrou no debate, não é a incoerência do material do curta-metragem que interessa, e sim exatamente o contrário: a permanência das práticas denunciadas com a imagética bruta da fita sob a gestão do orador inflamado e empolado, que as usava para detratar seus antecessores, dos quais assumiu os mesmos vícios ao tomar-lhes o lugar nos braços do povo que, “bestializado”, na definição de José Murilo de Carvalho, o ouvia e aclamava.

Político brasileiro se elege em nome de faxina para fazer leis que mantêm maus costumes O autor deste texto é glauberianodecarteirinha:presidioCine Clube Glauber Rocha em Campina Grande um ano depois de o curta ter sido produzido, mas nunca me interessei por ele. Graças ao mesmo YouTube que trouxe de volta obras-primas perdidas da música para cinema no Brasil, como as trilhas de Sérgio Ricardo para Deus e o Diabo na Terra do Sol e de Geraldo Vandré para A Hora e a Vez de Augusto Matraga, Maranhão 66 emergiu. E despertou o debate errado: não importa se Glauber exaltou ou execrou Sarney nem se este foi elogiado ou ludibriado pelo cineasta contratado. Interessa é perceber a genialidade da peça cinematográfica no que ela tem de mais poderoso: a constataçãode que acena deum homem fazendo um penico de prato antecede outra em que urubus sobrevoam um lixão, ao som da retórica barroca e vazia de um demagogo, retratando o Maranhão daquela época e, sem tirar nem pôr, o Brasil de agora. Sarney, que preside o Senado e o Congresso e põe no Ministério do Turismo de Dilma Rousseff quem lhe apraz, é o símbolo vivo do Brasil em que, no poder, o PT da presidente, associado ao saco de gatos do PMDB do senador pelo Amapá, mantém incólume “tudo isso que está aí” equeLulaprometeuaseusdevotos exterminar. O problema do filme feito para exaltar a esperança no jovem político que assumiu o poder prometendo mudar tudo não é ter seu diretor traído, ou não, o acordo feito com o financiador ao expor as mazelas que ele garantiu que acabaria e não acabou. A tragédia é que nada mudou.

E não é o caso só de Sarney. A vassoura com que Jânio Quadros varreria o Brasil terminou sendo posta atrás da porta do PaláciodoPlanaltoparaexpulsálo do poder. O caçador de marajás FernandoCollor foidefenestrado sob a acusação de ter executadocomdesenvolturaaspráticas daninhas que usou como chamarizes para atrair eleitores incautose,depoisdo períodosabático fora do poder, voltou ao Congresso para bajular os novos guardiães dos cofres da viúva. E estes também desempenharam com idêntico cinismo o papelderestauradores da moralidade que engrossaram o caldo sujo da malversação do erário, primeiro, sob Luiz Inácio Lula da Silva e, depois, sob Dilma Rousseff,cujameiafaxinaemnada fica devendo aos arroubos de falso moralismo de antanho. Desde sempre, vem sendo cumprida a verdadeira missão dos políticos no poder no Brasil sobqualquerregime ecomqualquer bandeira partidária: “O Estado brasileiro usa as leis para manterosmauscostumes”,definiu, magistralmente, o antropólogo Roberto DaMatta na entrevistadaspáginas amarelasdaVeja desta semana. Foi por isso que aqui se inverteu o aforismo de Heráclito de Éfeso: o rio em que nos banhamos tem sido emporcalhado a jusante por quem promete limpar a água – Sarney, Jânio, Collor, Lula, Dilma, etc. ✽ JORNALISTA E ESCRITOR, É EDITORIALISTA DO ‘JORNAL DA TARDE’

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

Escola é empresa? ✽ ●

CLAUDIO DE MOURA CASTRO

C

om dedo em riste nosdizem:“Escolanãoéempresa”, “educação não é produto”,“avaliação é neoliberal”, e por aí afora. Passemos ao largo desses soluços semânticos. Embora tocar piano seja um ato individual, carregar o dito requer a cooperação de mais de umforçudo.Contudosãojustamente as atividades do segundotipo quemais crescem.Convivemos com empresas, igrejas, escolas, associações voluntárias e inúmeras outras formas de trabalho coletivo, com estruturas tortuosas e exigindo de quem as coordena cada vez mais competência para que cumpram o seu papel. Curiosamente, por diferentes que pareçam, têm algumas necessidades comuns. Em primeiro lugar, precisam de clareza quanto aos resultados esperados, sem isso boa coisa não vai sair. Se um empurra o piano escada acima e outro, escada abaixo,éencrencanacerta.Portanto, definir objetivos claros é importante tanto para fábricas quanto para escolas. Qualquer organização busca sempre conseguir mais ou melhores resultados com o mesmo esforço, sejam quais forem os objetivos perseguidos: mais pneus produzidos, Judiciário comdecisões maisjustaserápi-

SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS

Michael Stipe

das, escola com melhor qualidade. Produtividade e eficiência têmque vercom essarelaçãoentre o esforço e o resultado. Portanto, esse nexo será sempre o foco de grandes atenções. O que tem isso de neoliberal? Para sobreviverem as empresas foram as primeiras a buscar boas regras e boas técnicas para que pudessem ser mais eficientes. Nos últimos anos, explicitam-se os critérios da boa gestão: 1) Definir objetivos claros (o piano sobe ou desce?); 2) quantificar as metas (sem medirnão sabemos ondeestamos); 3)compartilhar asmetas comos colaboradores; 4) criar instrumentos para acompanhar o funcionamento, passo a passo; e 5) criar mecanismos para premiar, punir e corrigir os desvios. Isso serve para as escolas? Faz algunsanos,pesquisadoreseuro-

Quem viu excelentes razões para aprender com o setor produtivo está ganhando qualidade peus identificaram traços característicos das melhores escolas (todas públicas). Descobriram também que eram geridas por princípios muito parecidos com oscincocitados.Nãousavamnenhuma das ferramentas modernas de administração, mas é como se as usassem. Ou seja, a lista acima identifica um núcleo duro deregrasexplícitasouimplícitas que caracterizam a boa gestão. Nos últimos anos houve várias iniciativas de adaptar para as escolas aquelas ferramentas que se revelaram poderosas para obter melhores resultados nas empresas. Note-se que não falamos de resultados econômicos ou lucros, mas do conjunto de objetivos que os responsáveisescolham,quaisquerquesejam. Pode ser nota na Prova Brasil, pode ser aprovação, menor deserção, disciplina, medalhas. O INDG (associado ao nome de Vicente Falconi) desenvolveuferramentas dessetipoe que vêm sendo aplicadas em redes públicas. Marcos Magalhães, em seu projeto Procentro, também estácaminhandonasmesmasdireções.ComofaçopartedoConselho da Fundação Pitágoras (por causa de um envolvimento profissional anteriorcom oGrupo Pitágoras/Kroton), acompanho mais de perto o Sistema de Gestão Integrado (SGI) dessa fundação. Trata-se de um sistema para melhorar a gestão de redes municipais de educação. Como as escolas têm pouca clareza quanto aos seus objetivos, o primeiro passo do SGI é estabelecer prioridades. É precisoalinharoquepretendeasecretariacomacomunidadedaescola (diretores, professores e mesmo osalunos): vamos combinar,

todos vão empurrar o piano na mesma direção. As principais metas tendem a ser baseadas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) ou nas avaliações estaduais. Vale mencionar que as escolas estampam à sua porta metas e resultados, sem causar traumas. Mais ainda, diretores, professores e até os alunos sabem interpretar os gráficos,seja daescola,decadaclasse ou as notas individuais. Há rotinas para avaliar o que está andando bem e o que precisa ser corrigido. Entrei numa classe de primeiro ano e escolhi um aluno ao acaso. Fui direto: Quais as suas prioridades? Quais os problemas desta sala? O aluninho respondeu que sua meta era ler, escrever e fazer contas,seguindo-seuma descrição de problemas com faltas ou conversas na aula. Nos anos recentes, muitos municípiosdo interior de Minas Gerais aderiram ao SGI. No intervalo entre 2007 e 2009, a implantação do SGI aumentou de quatropontosdecimaisosresultados medidos no Ideb. Isso é duas vezes mais que o crescimento nacional. Até mais surpreendente, os 43 municípios doValedoJequitinhonhapassaram de 3,2 para 5,1 pontos! No seu período de implantação, que dura dois anos, o SGI custa um total R$ 27 por aluno. Embora a operação subsequente seja trabalhosa, não gera custos. Assim sendo, a relação entre gastos e resultados é imbatível. O sucesso, contudo, depende da motivação das prefeituras. Ou seja, o SGI oferece ao prefeito uma ferramenta poderosa, mas é preciso que ele queira usá-la. O SGI também dá certo em municípios mais ricos. Em 2011, a Secretaria de Educação de Sorocaba ganhou o Prêmio Paulista de Qualidade. Aliás, Sorocaba e São José dos Campos são campeõesnoIdeb,dentreos municípios com mais de meio milhão de habitantes. Ambos têm SGI implantado.Em ásperocontraste,háacidentesdepercurso.Mudanças de prefeito já resultaram no cancelamento instantâneo do programa. Éirrelevanteperdertempo indagando seaescola tem “produto”,se ensinoé “mercadoria”, se “produtivismo” é neoliberal e outras fantasias do mesmo naipe. Importa reter que instituições das mais variadas naturezas e índoles têm muito em comumequeháboasregraseferramentas que servem para todas. Comoo setorprodutivo seantecipou aos outros, há excelentes razões para aprender como ele. Com efeito, quem entendeu isso está ganhando qualidade. ✽ ECONOMISTA, ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO

Fórum dos Leitores CORRUPÇÃO Balcão do PDT

Manchete do Estadão de domingo: Ministério do Trabalho vira balcão do PDT. Ora, não é só esse ministério que abriga seus companheiros, todos eles empregam antigos líderes sindicais, que no governo FHC saíam às ruas por qualquer motivo, vociferando contra a burguesia, o sistema financeiro, os EUA e tudo mais. Cadê a CUT, onde está a UNE? Será que não existem mais motivos para protestos? Está tudo às mil maravilhas no Brasil varonil? Isso explica por que as centrais sindicais se calaram sobre a censura ao Estadão, a mando da família Sarney. As centrais sindicais viraram casas de pelegos. O PT fez o mesmo que Getúlio no Estado Novo: transformou os antigos inimigos da burguesia em burgueses muito bem pagos. Só falta o PT ressuscitar o DIP do Getúlio!

JOSÉ MILTON GALINDO galindo52@hotmail.com Eldorado

Mais faxina

Aparentemente, o Ministério do Trabalho é outro Ministério dos Transportes, isto é, cheio de procedimentos não muito éticos. Se a presidente Dilma realmente está interessada em moralizar o País, é necessário que ela faça uma investigação profunda e urgente nessa pasta. MARCO ANTONIO MARTIGNONI mmartignoni@ig.com.br São Paulo

Assentamento pedetista

O Carlos Lupi, na maior cara de pau, nomeia dez membros da Executiva Nacional de seu partido no Ministério do Trabalho. Como ministro dessa importante pasta,

sua atitude é excrescente. E transforma o odioso loteamento de cargos como se fosse usucapião. Aliás, ação muito corriqueira nesta era petista, porque a ética inexiste no dicionário deles! Por isso é que essa história de faxina no governo Dilma é apenas um tirapó em dia de muito vento... PAULO PANOSSIAN panossian@hotmail.com São Carlos

Ministro imperial

Lamentável, mas ao mesmo tempo significativa entrevista do ministro do Trabalho (25/9), que criou o recibo de relógio de ponto que consumirá mais de 200 mil árvores por ano e possibilidade de outras negociatas. Ele enfrenta o espírito republicano com declarações imperiais ao Estado. Em resumo: o ministério é meu e faço o que entendo em prol do fortalecimento do meu partido.

HÉLIO MAZZOLLI mazzolli@terra.com.br Criciúma (SC)

CRISE FINANCEIRA Socialismo

Vem aí o calote grego, depois o espanhol e o português. É a saideira dos regimes socialistas europeus. VICTOR GERMANO PEREIRA victorgermano@uol.com.br São Paulo

Ajuda à Grécia

Estamos esquecendo a História? No lugar de polonetas, agora é a vez das greguetas... Outra leva de papéis podres comprados com o dinheiro do povo. Se tivessem de suar para ganhar, não gastariam com tanta facilidade. JOSE RUBEM BELLATO bellato@terra.com.br Joinville (SC)

Remessa de lucros

E não é que o ministro Guido Mantega tinha razão? O Brasil (o B dos Brics) está socorrendo as empresas da Europa, Ásia e América do Norte. A remessa recorde de US$ 5,1 bilhões para as matrizes das multinacionais aqui estabelecidas mostra que não é o País que ajuda, mas o povo brasileiro, que com suas compras e o uso dos serviços (bancos e financeiras) garante os altíssimos lucros dessas empresas. MAURÍCIO LIMA mapeli@uol.com.br São Paulo

BNDES Não cheira bem

Na Bolívia, Gonzalo Colque, diretor da Fundação Terra, ligada aos indígenas, faz eco às palavras do dirigente indígena Adolfo Chá-

vez, o qual afirma que a estrada localizada dentro do Parque Nacional e Território Indígena Isiboro Sécure (Tipnis), que está sendo construída com financiamento do BNDES, será uma verdadeira “mão na roda” para os cocaleiros locais. Diz ele que “a estrada transformará o parque num grande loteamento para os cocaleiros cultivarem mais coca e aumentarem a produção de drogas”. Ora, será que a direção do BNDES no Brasil não sabia disso quando autorizou tal financiamento? Acaso o nosso BNDES deve servir para financiar infraestrutura em outros países, enquanto a nossa própria está literalmente no osso – e ainda fomentando, por tabela, o crime organizado e a produção de narcóticos, que, ao fim e ao cabo, fatalmente desembarcarão em território nacional? Isso, definitivamente, não cheira bem. SILVIO NATAL silvionatal49@yahoo.com.br São Paulo


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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 28 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação

Notas e Informações A3

Administração e Negócios

Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

País dos impostos complicados O Brasil é campeão mundial de complicação no pagamento de impostos e contribuições. O peso dos encargos – dos mais altos do mundo – é só um dos problemas suportados pelas empresas, quando têm de cuidar da tributação. Além de pesados, os tributos são incompatíveis com a inserção global da economia, porque encarecem toda a atividade empresarial, desde o investimento em máquinas e instalações até a exportação ou a venda final no mercado interno. Tanto no exterior quanto no País, o produtor nacional fica em desvantagem diante do concorrente estrangeiro. Essas características bastariam para fazer do sistema brasileiro um dos piores do planeta. Mas há mais que isso. As companhias gastam muitas ho-

ras de trabalho só para acompanhar e decifrar as mudanças de regras e para seguir todos os trâmites necessários ao cumprimento de suas obrigações. É muita mão de obra desperdiçada numa atividade custosa e sem retorno, tanto para a empresa como para a economia nacional. As empresas brasileiras gastam em média 2.600 horas por ano com os procedimentos necessários para cumprir as normas tributárias. Isso equivale a 325 jornadas de 8 horas. Foi o pior desempenho nesse quesito identificado em pesquisa anual da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC) em colaboração com o Banco Mundial (Paying Taxes 2011). Segundo o levantamento, realizado em 183 países, o tempo médio gasto para o cumprimento das normas tributárias é de 282 horas, ou 35 dias de trabalho. O tempo despendido no Brasil é mais que o dobro do consumido no segundo país em pior situa-

ção, a Bolívia – 1.080 horas. No Chile, frequentemente classificado como o país mais competitivo da América Latina, gastam-se 316 horas. Na França, 132. Na Alemanha, 215. Nos Estados Unidos, 187. Na Índia, 258. Na China, segunda maior economia do mundo, 398. O tempo consumido no Brasil para o cumprimento das obrigações se mantém desde 2006. Nesse período, houve reformas tributárias em 60% dos países cobertos pela pesquisa, os sistemas foram aperfeiçoados, tornaram-se menos onerosos e, além disso, os procedimentos foram simplificados. Na média, o peso dos tributos caiu 5%, o tempo de trabalho ficou cinco dias menor. Também houve redução no número de pagamentos efetuados. Na média, cerca de quatro recolhimentos foram eliminados. Na China, a unificação de procedimentos contábeis e o maior uso de

meios eletrônicos permitiram às empresas poupar 368 horas de trabalho e 26 pagamentos por ano. Na América Latina os procedimentos continuam complexos, mas, apesar disso, as empresas dedicam em média 385 horas à administração dos impostos, apenas 14,8% do tempo consumido no Brasil. Houve descomplicação das tarefas em vários países da região, segundo a pesquisa. No Brasil, as mudanças foram insignificantes. Quanto às economias mais avançadas, operam, de modo geral, com sistemas bem mais simples. Também isso contribui para a competitividade de suas empresas. Pelo menos num ponto a situação brasileira é semelhante à da maior parte dos demais países. O imposto sobre valor agregado (IVA) complica sensivelmente os procedimentos administrativos das empresas. De modo geral, o pagamento do Imposto de Renda é muito menos trabalho-

so que o recolhimento das várias contribuições e do IVA (no Brasil, Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, ICMS, cobrado pelos Estados). A empresa brasileira gasta em média 736 horas para cuidar do Imposto de Renda, 490 para administrar os encargos trabalhistas e 1.374 para cumprir as normas dos impostos sobre consumo (principalmente dos Estados). O caso do ICMS é especialmente complicado, porque as empresas têm de observar 27 legislações estaduais, com diferentes alíquotas, condições de recolhimento e incentivos. Se não houvesse várias outras, esta já seria uma excelente razão para a reforma do sistema. Conseguir o apoio dos governos estaduais, no entanto, tem sido um dos principais obstáculos à racionalização do sistema. Enquanto isso, outros países simplificam, reduzem a carga e ganham capacidade de competir.

O aviso prévio proporcional

O tráfico de emendas em SP

mbora criticada por empresários e sindicalistas, a decisão da Câmara dos Deputados de regulamentar o aviso prévio proporcional afasta a insegurança jurídica que já assustava as empresas e assegura aos empregados o usufruto de um direito constitucional. Sem uma lei específica que tratasse do assunto, as regras da proporcionalidade acabariam sendo definidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ao qual recorreram trabalhadores que pedem a aplicação do que está na Constituição. O histórico do projeto não deixa dúvidas de que, se não fosse a ameaça da definição pela Justiça da regra para o cumprimento do que estabelece a Constituição – segundo a qual o trabalhador tem direito a aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, devendo ser de no mínimo 30 dias –, a Câmara dos Deputados não teria se mobilizado para votar e aprovar a nova fórmula, por acordo das lideranças de todos os partidos. O projeto – que agora aguarda a sanção da presidente Dilma Rousseff – foi aprovado pelo Senado em 1989, ano seguinte ao da promulgação da Constituição. Enviado à Câmara, tramitou lentamente e só seis anos depois estava pronto para votação. Mas ficou engavetado desde então. Em junho, ao iniciar o julgamento de ações sobre o aviso prévio proporcional, o STF decidiu que, diante da omissão do Congresso (no caso, da Câmara dos Deputa-

mporta relativamente pouco saber por que o deputado estadual paulista Roque Barbiere, do PTB, já no seu sexto mandato consecutivo, resolveu dizer numa entrevista a um canal da internet de Araçatuba, em 10 de agosto, que “de 25% a 30%” dos seus 93 colegas “vivem e enriquecem” vendendo emendas parlamentares e fazendo lobby para empreiteiras. Importa é que, acostumada pelos políticos a esperar deles sempre o pior, a opinião pública parece não ter se espantado com a revelação, quando este jornal, na última sexta-feira, lhe deu o destaque que até então não tinha conseguido. No seu papel, o presidente da Assembleia Legislativa, Barros Munhoz, disse que a denúncia “caiu como uma bomba” na Casa. Só pode ser porque um certo número de seus pares teme que os estilhaços os alcancem em cheio. Ou alguém imagina que ficaram chocados com Barbiere por ele ter feito uma acusação sem o mais remoto fundamento? O ponto, decerto, é outro. Trata-se da sua recusa a identificar os deputados traficantes de obras públicas e convênios com o Estado, que cobram comissão dos prefeitos beneficiados quando o governo aceita pagar a conta. Primeiro, Barbiere falou que não daria os nomes porque não é “dedo-duro”, insistindo embora que a corrupção “existe do meu lado, vejo acontecer, falo para eles inclusive para parar”. Agora, diz que tem provas do que declarou e poderá apresentar “dois ou três” nomes de

E

MEMÓRIA Bombardeios aéreos

Com a notoriedade de sempre, o Estado de 25/9 trouxe a reportagem de Fabiano Nunes Subsolo de SP guarda história da 2.ª Guerra, com depoimentos até sobre possíveis bombardeios aéreos à cidade de São Paulo. No meu livro Contos e Recontos, de 2004, no conto Revolução e Futura União escrevo com detalhes sobre a Revolução Tenentista de 1924 na nossa cidade. Não houve bombardeios aéreos. Aviões legalistas às vezes sobrevoavam posições da artilharia rebelde no fim da Avenida Paulista, na descida para o Pacaembu, no Morro dos Ingleses (Bela Vista) e outros pontos de onde se avistavam os Bairros da Penha e Vila Matilde, locais dos quartéis legalistas. Esses aeroplanos também jogavam fardos de papel, que se abriam no ar, alertando a população a abandonar a cidade, pois o

dos), ele mesmo estabeleceria a regra, quando o assunto voltasse àquela Corte. Diante disso, o presidente da Câmara, deputado Marco Maia, apressou a aprovação do projeto, que podia ter sido votado já em 1995. A regra estabelece que, além do mínimo de 30 dias de aviso prévio, o trabalhador terá direito a três dias adicionais por ano trabalhado, até o máximo de 60 dias. Assim, o aviso prévio pode chegar a 90 dias. Os sindicalistas queriam mais. Essa regra não satisfez inteiramente o empresariado, parte do qual defendia o acréscimo, aos 30 dias, de um dia por ano

Congresso somente regulamentou direito do trabalhador pressionado pelo STF trabalhado. Mas havia o risco de, se o Congresso não definisse com presteza a nova fórmula, o STF decidir por regras ainda mais onerosas para os empregadores. Por essa razão, dirigentes empresariais consideraram a decisão da Câmara “o menor dos males”. O presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson de Andrade, de sua parte, destacou que, embora aumente o custo das empresas, a definição da regra afasta a insegurança a respeito do custo das demissões. Não é simples aferir os custos da nova regra. Nem sempre o aviso prévio implica pagamento sem o respectivo trabalho, pois a legislação permite que a empresa exija do empregado que cumpra o prazo traba-

governo federal não deixaria pedra sobre pedra com seus canhões. A revolução foi controlada no fim de julho, com a fuga dos revoltosos pelas estradas de ferro que corriam para o interior. Quanto à Revolução Constitucionalista de 1932, meu pai, José Stavale (1906-1999), que dela participou, contava que os únicos ataques aéreos à capital foram os bombardeios à pista do Campo de Marte. Congonhas não existia. Também contava do blecaute durante a 2.ª Grande Guerra. Eu e minhas irmãs éramos pequenos e morávamos na Rua Abolição (Bela Vista). Para não deixar o quarto na escuridão e iludir o pessoal da defesa civil, à noite ele colocava panos e pedaços de jornal nas frestas das portas e janelas, para depois acender lamparinas. Parabéns, Estadão! Continue nos brindando com essas informações. ROBERTO STAVALE bobstal@dglnet.com.br São Paulo

lhando. Nesse caso, não se pode falar em aumento dos encargos, visto que o empregado terá contribuído para a geração de renda da empresa . O economista e professor da USP Hélio Zylberstajn observou que, de 17 milhões de trabalhadores do mercado formal desligados no ano passado, 21% tinhammenosde3mesesdeemprego e, por isso, não tiveram direito a aviso prévio. Outros 56% tinham de 3 meses a 23,9 meses de contrato. Ou seja, só 23% tinham mais de dois anos de trabalho. A Federação das Indústrias doRiode Janeiro(Firjan)calculou em R$ 1,9 bilhão o gasto extra que as empresas terão com o aviso prévio proporcional, o que representaria 21% do custo atual com esse item das despesas trabalhistas. Quaisquer que sejam os ganhos ou as perdas das empresas e dos empregados, a nova regra – como todas as demais que regem o mercado de trabalho brasileiro – não se aplica obrigatoriamente a cerca de metade dos brasileiros que compõem a força de trabalho do País. Por causadocustoexcessivodaformalização do emprego, um enorme contingenteestánomercadoinformal, sem registro em carteira, sem os direitos e as garantias de que gozam os que integram o mercado formal. Pior ainda, elessãocompletamenteignorados pelos que dizem representar os trabalhadores, que são as organizações sindicais de todos os níveis, de sindicatos às grandes centrais sindicais. Elas falam apenas por metade dos trabalhadores do País.

“Mergulhada na crise, a Grécia dá ao mundo um belo presente...” FRANCISCO ZARDETTO / SÃO PAULO, SOBRE O CALOTE GREGO fzardetto@uol.com.br

“Se eu pudesse, ajudaria somente os troianos” SERGIO S. DE OLIVEIRA / MONTE SANTO DE MINAS (MG), IDEM ssoliveira@netsite.com.br

I

colegas venais – ou seja, algo como um 1/10 do suposto porcentual mencionado originalmente. A Comissão de Ética da Assembleia, que começará a tratar do escândalo amanhã, com 60 dias de prazo, renováveis por outros 30 para tomar posição a respeito, tem a clamorosa obrigação de extrair a verdade de Barbiere, com “nomes e sobrenomes”. O mesmo rigor se espera, com mais otimismo, por motivos óbvios, do Ministério Público Estadual, no inquérito civil aberto para apurar a denúncia. O promotor de Justiça Carlos Cardoso, da Promotoria do Pa-

A denúncia não revela nomes e sobrenomes. Por isso, a investigação rigorosa é obrigatória trimônio Público, teve a boa ideia de antecipar o interrogatório do deputado, que deveria se seguir a umas tantas quantas providências de praxe, como solicitar ao governo e à Assembleia documentos sobre a tramitação das emendas. Barbiere, por sinal, declarou na sexta-feira que alertou o governo para a maracutaia rotineira. A versão do Palácio dos Bandeirantes é outra. O chefe da Casa Civil, Sidney Beraldo, negou ter recebido o alerta. Além disso, o parlamentar “relevou o assunto” quando procurado para esclarecer a entrevista. Por via das dúvidas, o governador Geraldo Alckmin mandou levantar todos os convênios resultantes de emendas parlamentares de 2010 e identificar

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Suspensa, ONG recebe verba de Carlos Lupi

1.025

Ministério liberou R$ 1,5 mi para Instituto Nacional América 23 dias depois de sanção da CGU ● “É por isso que não tem dinheiro para a Saúde. As torneiras jorram dinheiro para as ONGs dos políticos.” GILBERTO MENDES

● “Consequência da impunidade, já que a mera suspensão, pelo que se viu, não representa punição.” HERMEVAL CARLOS ZANONI

HÁ 789 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Se você pergunta para onde vão os seus impostos, aí está a resposta.” MARCOS PEÇANHA

doravante os autores das destinações de recursos no sistema de acompanhamento dos gastos e repasses do Estado disponível na internet. Não se sabe por que uma proposta da bancada do PT nesse sentido, aprovada na Assembleia, foi vetada em 2006 por Claudio Lembo, quando assumiu o governo com a renúncia de Alckmin para disputar o Planalto. O modelo é o Sistema Integrado de Administração Financeira, que permite saber a cada momento quais deputados apresentaram emendas para esse ou aquele dispêndio e o fluxo de liberação dos recursos. Isso, é óbvio, não permite dizer que determinado parlamentar recebeu propina do município favorecido por sua emenda ou da entidade com a qual o Executivo se conveniou. Mas facilita uma investigação, quando se queira fazê-la. O tráfico de emendas parlamentares é uma endemia do sistema político brasileiro. O deputado estadual Bruno Covas, secretário de Meio Ambiente, contou há cerca de um mês ao Estado que, depois de emplacar uma emenda de R$ 50 mil para um município, o prefeito o procurou para saber com quem ele devia deixar “os R$ 5 mil”. O neto do ex-governador sugeriu que os doasse à Santa Casa. “Eu que não vou ficar com isso”, teria rebatido. Agora, bem no dia em que se lançou pré-candidato à Prefeitura paulistana, o tucano negou que tivesse relatado umepisódio real.“Estava dando um exemplo hipotético”, recuou, à toa. É a primeira baixa do escândalo da Assembleia.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


A2 Espaço aberto %HermesFileInfo:A-2:20110929:

O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 29 DE SETEMBRO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

OBC easubversão dos Àsombra fatos– amais longa marcha deJabotinsky ✽ ●

LOURDES SOLA

O

s Fatos são Subversivos é o título de um livro de Garton Ash, um dosmaislúcidos “historiadores do presente”. É um chamado à responsabilidade histórica dos formuladores de políticas públicas que se valem de conjunturas degrandeincertezaparafazervaler suas prioridades. “Os fatos são subversivos (...) porque subvertem os argumentos dos líderes democráticos eleitos tanto quanto dos ditadores (...), porque subvertem as mentiras, as meias-verdadese osmitos de todosaquelesdefalafácil”.Oargumento reporta-se a um contexto de incerteza ainda mais extremo do que o atual cenário econômico.Miraasmentirasemeias-verdades oficiais que levaram o povo e o Congresso americanos a legitimar a invasão do Iraque e à guerra no Afeganistão em resposta ao 11 de Setembro. Sem esses recursos, retóricos, mas nada inofensivos, a História mundial teria sido outra. O que dá um sentido trágico a essa constatação é a impossibilidade de reverter o que foi consumado com apoio em meias-verdadesemitos.Restamdoisrecursoscorretivos:asliçõesdeHistória que os fatos propiciam e a oportunidade para uma correção de rumos. Mesmo assim, há uma boa dose de otimismo na constatação de Garton Ash, porque ancorada num suposto forte: a vigência de instituições democráticasedeumamídiainvestigativa, graças às quais cedo ou tarde os fatos virão à luz. No essencial, tem razão, pois toda tentativa de impedir que os fatos venham à tona traz à luz também um déficit democrático. Que as decisõesdapresidenteda Argentina, Cristina Kirchner, ilustram. Ao subtrair da agenda pública a disparidade entre a taxa oficial e a taxa efetiva da inflação, com medidas legais restritivas à autonomia de consultores e jornalistas, lança luz sobre a subordinação do Judiciário ao Executivo – e sobre indícios anteriores de regressão autoritária. No novo contexto de incertezaglobalvoltamaentrar empautaentreemergentestemascorrelatos, como inflação, disciplina fiscal e monetária, papel do mercado interno e crescimento. No Brasil volta à cena um velho espectro – a questão da autonomia do Banco Central (BC) – que os mercados e os analistas julgavam exorcizado desde 1999, graças ao mandato (informal) para exercersuaautoridadeno marco de um conjunto de regras e normas, caracterizado como regime

de metas de inflação. O debate que se seguiu à redução abrupta da taxa de juros interbancária dá o que pensar. Há convergência entre analistas quanto aos rumosdapolíticaeconômica:substituição do regime de metas de inflação por metas ad hoc para a taxadejuros,adoçãodeumabanda oculta para as variações na taxa de câmbio. Dá o que pensar, também, sobre o modo de fazer políticadogoverno.Porumlado, há elementos que reforçam o contraste entre a nossa trajetóriaeadaArgentina.Opresidente do BC, o ministro da Fazenda e assessores informais do governo vieram a público legitimar tecnicamente as medidas mencionadas – sob o escrutínio dos seus pares. Com isso atestam a vigência (tênue) de um requisito democrático: a prestação de contas pelosdecisoreseachancederes-

Volta à cena um velho espectro que mercados e analistas julgavam exorcizado desde 1999 ponsabilização futura por suas apostas. Isso compõe o quadro de credibilidade econômica acumulada ao longo dos últimos anos, graças à qual foi afastada a possibilidade de reproduzirmos o padrão errático da Argentina – o “efeito vodca”. Háduas questõesintrigantes a respeito. Em que momento definidor se consolidou a divergência de rumos entre os dois países? Além disso, o argumento sobrea função subversiva dos fatos pressupõe que, uma vez revelados, a capacidade para elaborálos está dada e bem distribuída. Seria assim sempre? A resposta à primeira questão é simples: os momentos definidores foram as decisões políticas tomadas em duas encruzilhadas, em resposta aos choques externos de 1999 e 2002-2003. Respectivamente, a adoção do tripé regime de metas de inflação-flutuação cambialsuperávitprimárioeaopçãopela continuidade em 2002-2003 e nos anos seguintes. Esse rumo é posto em causa pelo governo, de forma concertada e pouco transparente. Baseia-se na aposta numa crise sistêmica internacional deflacionária, que estaria a exigir políticas fiscal e monetária expansivas aqui e agora. É uma questão em aberto, mas não se esgota nisso. Vale a pena refletir também nos termos de Garton Ash. Na hipótese de que o horizonte de crescimento dos emergentes seja menos negro do que o suposto, quais as chances de que uma nova onda inflacionária em 2012-2013 tenha um efeito subversivo sobre os mitos, as ideologias e meias-verdades de curso oficial? Há razões para ceticismo, estruturais e históricas. As demo-

cracias de massa, num mundo globalizado,caracterizam-sepela existência de um hiato entre a democratização das informações, por um lado, e a capacidade de elaborá-las adequadamente, por outro. A experiência da inflação e das flutuações no poder de compra internacional da moeda é imediata, brindada por indicadores diários nos jornais televisivos. Dependemos da intermediação de vários atores sociais para elaborar o que significam – incluídos os que detêm o saber especializado, os ideólogos, os legisladores. A experiência histórica também justifica o ceticismo. Uma das características da trajetória econômica brasileira é a opção pelo que caracterizo como “fuga paraafrente”.Diantedafalsadisjuntiva estabilidade ou crescimento,reapresentadaemencruzilhadas históricas como 1956-1957, ou quando dos choquesdopetróleonogovernoGeisel, ou no Plano Cruzado, recriase um impulso inexorável: por políticas expansionistas, ponto. Hojeenfrentamosumtestedeestresse. Mas se explica a resistência à institucionalização da autonomiadoBancoCentral.Éhistórica,mascontoucomacumplicidade dos mercados para os quais essa é uma questão residual – até evidência em contrário. ✽ PH.D. EM CIÊNCIA POLÍTICA PELA UNIVERSIDADE DE OXFORD, PROFESSORA APOSENTADA DA USP, É MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS

✽ ●

DEMÉTRIO MAGNOLI

P

erante a ONU, Mahmoud Abbas disse que o reconhecimento do Estado Palestino equivaleria a fazer mais uma “Primavera Árabe”. A verdade é exatamente o inverso: a iniciativa tem o propósito de evitar uma “Primavera Árabe”, desviando a frustração popular nos territórios ocupados para a esfera da diplomacia internacional. Contudo, como tantasoutras coisas,oplano pode ter consequências indesejadas, deflagrando precisamente a revolta que almeja impedir. Na sua resposta, Benjamin Netanyahu lançou sobre Abbas a responsabilidade pelo fracassodas negociaçõesde paz, invocando seu pretexto predileto: ospalestinosrecusam-seareconhecer Israel como “Estado judeu”. A verdade é que a OLP reconheceoficialmenteIsraeldesdeosAcordosdeOslo,de1993,e o pedido palestino encaminhadoàONUrepresentatantooreconhecimentodasfronteirasanteriores a 1967 quanto uma renúncia definitiva aos territórios palestinos perdidos na guerra de 1948. Entretanto, nenhuma liderança palestina pode cumprir o requisito maximalista de Netanyahu, pois um quinto dos cidadãos israelenses não são judeus, mas palestinos. Não se reconhece o Irã como

SINAIS PARTICULARES LOREDANO

Oswald na Estação da Luz

“Estado islâmico” ou Cuba como “Estado socialista”, mas apenas como Estados soberanos. Quando se firmaram os Acordos de Oslo, ninguém exigiu da OLP o que agora reclama o chefe de governo de Israel. Definir anatureza de Israel não compete aos palestinos, mas unicamente aos próprios israelenses, que sempre estiveram divididos acerca do complexo tema, com repercussões variadas sobre os direitos da minoria árabe e, também, sobre os privilégios legais dos judeus ortodoxos. Correntes radicais em Israel, com assento no Gabinetedegoverno,jápropuseram cassar os direitos políticos da minoria não judaica. Ao demandar o reconhecimento de Israelcomo“Estadojudeu”,Netanyahu exige algo duplamente impossível: que a OLP coloque um selo de legitimidade sobre a ex-

Acomodado nessa visão do passado, Netanyahu empurra os palestinos para o Estado único pulsãodospalestinosdesuasterras na guerra de 1948 e que admita a hipótese de supressão da cidadania da minoria árabe-israelense. O primeiro-ministro sabe disso – e exatamente por saber insiste na exigência. Osionismoatravessoutrêsetapas distintas tentando responder à espinhosa questão da soberania sobre a Terra Santa. No início, elegeu o caminho de negar a presençafísicaeaexistênciapolíticadeárabespalestinosnaPalestina. A negação expressava-se no lema da “terra sem povo para um povo sem terra” e na figuração dos habitantes daquelas terras como nômades do deserto. Na etapaseguinte,quecoincidecom aguerra de 1967,a presença física palestinajánãoerapassíveldenegação, mas se rejeitava a existêncianacionaldospalestinos.AJordânia,diziaalíderisraelenseGolda Meir, era o Estado Palestino. Uma etapa final, marcada pela ocupação dos territórios palestinos e pela intifada, propiciou um choquederealidade.“Hádoispovos e duas bandeiras na Terra Santa”, declarou Shimon Peres na hora dos Acordos de Oslo. O impasse atual decorre da escolha do governo de Netanyahu de passar uma borracha sobre o aprendizadodeseuspredecessores. O primeiro-ministro é um herdeiro da tradição sionista, mas a sua maioria parlamentar se ergue sobre um componente estranho a essa tradição: o Yisrael Beitenu, do ministro do Exterior, Avigdor Lieberman. Baseado nos imigrantes recentes oriundosdaantigaURSS,opartido não reflete a experiência histórica israelense, mas uma cisão do sionismo anterior à fundação do Estado judeu. Sua fonte dou-

trinária se encontra no pensamento de Zev Jabotinsky, que, há 90 anos, imaginou Israel como uma federação judaico-árabe dirigida pelos judeus no conjunto indivisível da Terra Santa. A visão de Jabotinsky, uma relíquia resgatada das águas do passado, norteia a política oficial do Estado de Israel. Uma crise devastadora atravessa o sionismo. A coalizão governista,formadapelaaliançado Likud com o Partido Trabalhista, subordina-se voluntariamenteàorientaçãoanacrônicadeLieberman,quetornainviávelasolução da paz pela divisão da Terra Santa em dois Estados. Há pouco, o ex-primeiro-ministro Ehud Olmertpediuareaberturaurgente das negociações com Abbas e alertou sobre as consequências desastrosas da política oficial: “Osfuturoslíderespalestinospodem abandonar a ideia de dois Estados e buscar uma solução de Estadoúnico,tornandoimpossível a reconciliação”. Não foi o respeito aos direitos dospalestinos,masasrealidades da geopolítica e da demografia que conduziram o sionismo à “ideia de dois Estados”. Hoje, no conjunto Israel-Palestina, a população árabe-palestina supera a judaica.O Estadode Israel sópode conservar a ocupação dos territóriospalestinosmedianteasupressão permanente dos direitos políticos da maioria da população da região – ou seja, por meio de um regime de apartheid incompatível com os princípios admitidos pela comunidade internacional. Olmert está dizendo que a solução dos dois Estados é a única capaz de preservar Israel como Estado judeu e democrático. E, ainda, que Netanyahu representa uma ameaça concretaaoidealsionistasobreo qual Israel se constituiu. JabotinskynãoalmejavaumEstadojudeu, masumEstadoúnico dirigido pelos judeus. A OLP acalentou por algum tempo o sonho de um Estado único dirigido pelos palestinos, mas acabou aceitando a “ideia de dois Estados”. Uma ideia, contudo, não perdura eternamente.Soboimpactocombinadodadesmoralizaçãodoprocesso de paz, das revoluções popularesárabesedoisolamentoregional de Israel, os palestinos podem desistir da miragem de um Estadonacionalnasfronteirasanteriores a 1967. Nessa hipótese, eles seguiriam o exemplo dos negros sul-africanos e passariam a exigirdireitosiguaisdecidadania para todos os habitantes do conjuntoIsrael-Palestina.Acomodado à sombra de Jabotinsky, Netanyahu empurra-os rumo à opção do Estado único. ✽ SOCIÓLOGO E DOUTOR EM GEOGRAFIA HUMANA PELA USP. E-MAIL: DEMETRIO.MAGNOLI@TERRA.COM.BR

Fórum dos Leitores PODER JUDICIÁRIO ‘Bandidos de toga’

O mundo vai desabar sobre a cabeça da juíza corregedora nacional, Eliana Calmon, por ter tido a petulância de denunciar, em entrevista à Associação Paulista de Jornais, o que todos os brasileiros já sabiam: há muitos bandidos escondidos atrás das togas. Os tribunais superiores, aparelhados pelo PT, já se manifestaram contra a denúncia, por nada saberem do que se passa em seus intestinos (sic). A corrupção não é privilégio apenas do Executivo e do Legislativo, que, apesar de se beneficiarem do grande e cínico corporativismo, não têm a mesma blindagem do Judiciário. As primeiras instâncias, em todas as áreas, estão abarrotadas de sentenças estapafúrdias, obrigando suas vítimas a recorrerem a instâncias superiores na esperança de um julgamento justo. Se a contaminação atin-

ge todo o corpo da instituição, dissemina-se por todo o País a insegurança jurídica, com graves consequências para o normal funcionamento do Estado de Direito. SERGIO VILLAÇA svillaca@terra.com.br Recife

Defesa da magistratura

Parabéns ao eminente ministro Cezar Peluso pela defesa intransigente da magistratura honesta e honrada, que não tolera desvios éticos nem compactua com ilícitos e cuja espinha dorsal jamais se dobrou a pressões de natureza alguma. O bom juiz tem por predicados a serenidade e a isenção, os quais parecem ter faltado na manifestação da corregedora nacional da Justiça, a quem compete exatamente apurar, com firmeza, desvios funcionais e sua autoria. Se conhece os infratores, a corregedora tem por dever de ofí-

cio apontá-los, sob pena de prevaricação. Se os ignora, deve cumprir sua função e identificá-los, em vez de fazer generalizações inúteis, injuriosas e sem comprovação. O ministro do STF Mário Guimarães, em 1958, alertava que o juiz deve ter cautela no emprego de adjetivos, evitar termos chulos e abster-se de utilizar expressões exageradas, as quais, segundo ele, “indicam paixão ou falta de equilíbrio mental”.

Atitudes louváveis

A corregedora Eliana Calmon manifestou o que muitos brasileiros querem dizer mas, por sua passividade, não dizem. Peluso defende a parte da classe que merece defesa. Duas atitudes louváveis. Espero que a suscetibilidade não cause estrago entre a liberdade de expressão e a verdade, prejudicando o real Estado de Direito no País.

RODRIGO CAPEZ, juiz de Direito rodrigocapez@tjsp.jus.br São Paulo

SORAYA KASSOUF SAD sorayaksad@gmail.com São Paulo

Três perguntas

Oportunidade ímpar

A população está satisfeita com a Justiça? A ameaça de uma ação judicial inibe a ação criminal dos bandidos? Todos os juízes estão imunes às tentações humanas?

O ministro Cezar Peluso é merecedor de respeito, mas a Corte que ele preside não está muito bem vista pela opinião pública. As decisões são polêmicas (vide os casos Cesare Battisti, Ficha Limpa, etc.) e vão sempre contra o que os leigos (população contri-

MÁRIO ISSA drmarioissa@yahoo.com.br São Paulo

buinte) esperam. Se a sra. Eliana Calmon está equivocada, que o STF tome uma posição, sem retóricas, julgando de forma imparcial a “sofisticada quadrilha” que operou o mensalão. É uma oportunidade ímpar para desmontar qualquer denúncia inverídica. ADEMAR MONTEIRO DE MORAES ammoraes57@hotmail.com São Paulo

Caixa-preta

O que a juíza Eliana Calmon falou sobre o Judiciário nada mais é do que aquilo que os brasileiros pensam. Há décadas que esse Poder virou as costas para a sociedade e para o País e só cuida de seus interesses pessoais e corporativos. Infelizmente, não temos motivo algum para nos orgulharmos dessa caixa-preta perdulária e muitas vezes conivente com o crime organizado e a corrupção. ANDRÉ LUIS COUTINHO

arcouti@uol.com.br Campinas

Zorro e sargento Garcia

Parabéns à eminente ministra Eliana Calmon pela coragem de suas declarações. E o mais veemente protesto e repúdio aos ministros do stf (minúsculas mesmo, pela indignação que sinto) que tentam cercear as ações do CNJ. Na realidade, estão demonstrando publicamente que têm alguma cousa a esconder, não bastasse o que estão fazendo ao empurrarem com a barriga o julgamento do mensalão e da censura ao Estadão. Realmente, só quando o sargento Garcia prender o Zorro a ministra conseguirá entrar no feudo do TJ-SP. Os cartorários aposentados das serventias não oficializadas que o digam. WALTER SIMÕES waltersimoesdx@hotmail.com Santos


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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 29 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação

Notas e Informações A3

Administração e Negócios

Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Um filho exemplar À parte a surpresa de 17 senadores terem votado contra a homologação do nome da deputada Ana Arraes, do PSB pernambucano, para uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU), ante 48 a favor e uma abstenção, a ratificação era apenas, como sempre foi, uma formalidade. Aos 64 anos, filha do lendário governador populista Miguel Arraes (1916-2005) e mãe do atual, Eduardo Campos, tendo sido no ano passado a candidata mais votada em seu Estado para a Câmara, ela não vinha propriamente se destacando no exercício do mandato. Quaisquer que sejam os méritos de sua biografia e as qualificações para a função vitalícia que irá assumir, a sua escolha em votação secreta, prevalecendo sobre quatro outros candidatos – entre eles o ex-presi-

dente da Casa Aldo Rebelo, do PC do B –, resultou exclusivamente do rolo compressor posto em marcha pelo filho. Presidente nacional do PSB, reeleito para o governo de Pernambuco com 83% dos votos válidos, Campos vinha já emergindo, aos 46 anos, como o primeiro entre os seus pares da nova geração de políticos brasileiros. “Dudu Beleza”, como os conterrâneos o apelidaram, precisava, no entanto, de uma oportunidade para demonstrar poder e prestígio além dos limites de seu Estado e do Nordeste. A vacância, por aposentadoria do titular, da cadeira do TCU que cabia à Câmara preencher, veio a calhar. Patrocinou o nome da genitora e foi um filho exemplar como articulador político. Mas não um exemplo para o decoro e a integridade das instituições políticas. Criado como órgão de assessoria e fiscalização da Câmara, o TCU foi

no passado um cabide de madeira de lei onde os governantes de turno penduravam as ambições de seus aliados a caminho do fim da carreira. Uma reforma no sistema de nomeação de seus ministros, com a adoção de cotas para o Executivo e para o Legislativo, e a gradativa ampliação dos seus quadros técnicos tornaram o órgão mais matizado, logo menos dependente dos interesses dos padrinhos de seus membros, além de mais apto a identificar irregularidades em obras e serviços contratados pelo governo federal. O prestígio público do Tribunal cresceu com a multiplicação das fraudes reveladas e das recomendações para a suspensão das empreitadas até que os seus vícios fossem sanados. O que, para surpresa de ninguém, levou o então presidente Lula a fazer uma campanha contra o que seria o excessivo rigor das decisões do colegiado. A propósito, também a futura

ministra Ana Arraes acha que “é preciso rever essa questão, porque a paralisação (de obras) às vezes sai mais cara do que a continuação com retificação (dos ilícitos apurados)”. Contrastando com o fortalecimento do caráter republicano da instituição, a operação filial desencadeada por Eduardo Campos – que chegou a se instalar com armas e bagagens em Brasília – foi uma exibição de coronelismo à moda antiga, cultive ele quanto queira o perfil de gestor moderno e político de novos costumes. Ele rodou o País, fazendo saber aos líderes regionais que, já nas eleições municipais do próximo ano, colocará a sua influência a serviço dos candidatos que, direta ou indiretamente, tiverem ajudado a eleger a sua genitora. Repetiu a dose à exaustão na capital federal. O senador tucano Aécio Neves, que vê em Campos um possível companheiro numa chapa presidencial, engajou-se na campa-

nha de Ana. Assim também o seu sucessor no Executivo de Minas, Antonio Anastasia, e os governadores tucanos de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do Paraná, Beto Richa. Sem falar no ex-presidente Lula. A sua interferência impediu que o comando petista na Câmara ordenasse o fechamento da questão em torno de Aldo Rebelo; o voto da bancada foi liberado. Campos fincou posições também no PMDB, ao prometer o apoio socialista à pretensão do partido do vice Michel Temer de ficar com a presidência da Casa em 2013. O PSB prometeu liberar emendas que dependem do Ministério da Integração Regional, controlado pela legenda. E, para facilitar a vitória da mãe, Campos manobrou para manter na disputa candidatos sem chances. Foi, nas palavras do senador pernambucano Jarbas Vasconcelos, dissidente do PMDB, “um exemplo do vale-tudo na política”.

Mais rigor nas compensações

A situação das polícias científicas

construtora WTorre e os controladores do Shopping Iguatemi bancarão um projeto viário estimado em R$ 90 milhões na região da Vila Olímpia. Um viaduto ligará a Avenida Juscelino Kubitschek à pista expressa da Marginal do Pinheiros, no sentido Castelo Branco, e passarelas exclusivas para ciclistas integrarão a ciclovia da Marginal aos Parques do Povo, na zona sul, e Villa-Lobos, na zona oeste. Essas obras, cuja conclusão está prevista para dezembro de 2012, são a compensação exigida pela administração municipal para os impactos no trânsito e no transporte provocados pela construção do JK Iguatemi, um complexo de edifícios comerciais na confluência da Marginal e da Avenida Juscelino Kubitschek, que deverá atrair mais de 7.850 veículos por dia a uma área da cidade há muito tempo já saturada. A cada dia, circulam pela Vila Olímpia 465 mil pessoas, das quais só pouco mais de 21 mil moram na região. As demais são profissionais que ocupam milhares de salas em imensos edifícios comerciais construídos nos últimos anos. Veículos e pedestres congestionam as Ruas Funchal, Rocio, Helena, Gomes de Carvalho, Olimpíadas e Fidêncio Ramos. Segundo dados da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp), existem 550 mil metros quadrados de escritórios na região da Vila Olímpia, uma área 57% maior

lém da falta generalizada de laboratórios e equipamentos especializados e de um déficit de 30 mil peritos para atender às necessidades das Secretarias da Segurança Pública, o Brasil ainda não dispõe de uma lei federal que regulamente o setor, definindo um modelo de polícia científica para todos os Estados. A maioria dos Institutos MédicoLegais funciona em prédios deteriorados, carece de pessoal especializado, não segue procedimentos uniformes nas perícias e não dispõe de condições mínimas de realizar exames complementares com o objetivo de permitir às polícias a conclusão de inquéritos criminais. O diagnóstico é da Associação Brasileira de Criminalística (ABC), a entidade que representa os peritos das polícias estaduais, e foi publicado pelo jornal O Globo. Atualmente, o País tem 6,5 mil peritos. Para seguir as determinações da ONU, que prevê 1 perito por 5 mil habitantes, seria necessário quintuplicar o número desses profissionais. Para atender uma população de3,1milhõesdehabitantes, por exemplo, o Piauí tem apenas 21 peritos. Pelas estimativas, só a capital, Teresina, necessitaria de pelo menos 88. “Você acha que,nosertão,mandam paraperícia o corpo de toda vítima de assassinato? Nem solicitam, porque sabem que não vai ter quem faça, a não ser que seja familiar de alguém importante”, afirma o presidente da ABC, Iremar Paulino.

A

Inversão de valores

do que a registrada dez anos atrás. Isto leva boa parte dessa população flutuante a querer morar perto do trabalho. Entre 2008 e 2009, foram lançadas na Vila Olímpia 241 unidades residenciais e, nos primeiros cinco meses deste ano, conforme a Embraesp, outras 254. Essa situação provoca críticas às normas municipais de compensação pelos impactos provocados por polos geradores de tráfego. A Lei 15.150, de maio de 2010, sobre a aprovação de projetos arquitetônicos e os serviços necessários para amenizar as consequências ne-

Empreendimentos imobiliários que geram tráfego custearão projetos viários gativas para o sistema viário, considera polos geradores de tráfego os empreendimentos comerciais com mais de 120 vagas de estacionamento, locais de reunião para mais de 500 pessoas e prédios residenciais com mais de 500 vagas. A análise dos projetos é feita pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) que, segundo muitos urbanistas, avalia cada empreendimento isoladamente, sem considerar o efeito cumulativo do boom imobiliário para uma região inteira. Na Vila Olímpia, por exemplo, a responsabilidade pela redução do impacto no transporte público e no trânsito local não deveria ser apenas dos empreendedores do JK

Carapuça

Como ex-funcionário do TJ-SP e advogado militante, só posso dizer que não me surpreendi ao ler no Estadão de ontem o destempero de “parte” da magistratura quanto às declarações corajosas da corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon. Assim como não me surpreenderia se ela viesse a ser punida por suas declarações. Aliás, as reações externadas pelos representantes da “magistratura nacional” falam por si e demonstram um único propósito corporativista. Se o Brasil fosse um país sério, pessoas como a dra. Eliana Calmon seriam elogiadas por sua coragem e incentivadas em suas apurações, jamais caladas! Essa é mais uma prova da inversão de valores que impera no Brasil.

Parece que a corregedora nacional, sra. Eliana Calmon, está com toda a razão. Para não ir muito longe e profundamente na questão, não haveria maiores suspeitas se juízes, promotores, delegados e outras tantas autoridades – ressalvem-se todos os que constituem as honrosas exceções – não se valessem de situações como a dos falsos condomínios e ruas fechadas (22/9, C8 e 26/9, A3) para tirarem seus proveitos sobre todos os proprietários. Pensar que há outros envolvimentos de interesses em escalas maiores é plenamente plausível. É, portanto, extremamente desoladora a defesa que o sr. presidente do CNJ faz dos seus colegas, numa atitude claramente corporativa. E a quem a carapuça serve...

JOSÉ MARIO PRADO VIEIRA josemario@sacosta.adv.br São Paulo

RÉGIS D. C. FUSARO rxfusaro@hotmail.com São Paulo

Iguatemi, mas do conjunto de investidores cujos empreendimentos complicaram a situação na região. Empresas instaladas em antigos condomínios da área conseguiram triplicar o número de profissionais que utilizam seus escritórios. As vagas de estacionamento dos condomínios tornam-se, assim, insuficientes e vans são contratadas para levar os funcionários até seus carros, em estacionamentos localizados cada vez mais longe. Diariamente, na hora do almoço, do antigo esqueleto da Eletropaulo, hoje um prédio comercial que faz parte do complexo WTorre JK, partem 800 pessoas em vans para o Shopping Center Vila Olímpia, e uma pequena rodoviária funciona no subsolo para receber ônibus fretados que atendem às pessoas que trabalham ali. Conforme reportagem publicada no Estado, nos últimos três anos, 133 novos empreendimentos considerados polos geradores foram cadastrados na CET, mas apenas 10% (12) tiveram de fazer obras viárias de grande porte para compensar osimpactosnotrânsito,eosresponsáveis por apenas 5 novos polos tiveram de se preocupar com melhorias no transporte. Émuitopouco,pois essesempreendimentos criaram 102,9 mil novas vagas de estacionamento em shoppings, torres de escritórios, faculdades e igrejas evangélicas. A compensação é necessária, mas, para que produza bons resultados para a cidade, é preciso haver mais rigor nas exigências feitas aos empreendedores.

“Quem fala a verdade não merece castigo” VIRGÍLIO MELHADO PASSONI / JANDAIA DO SUL (PR), SOBRE ELIANA CALMON mmpassoni@gmail.com

“Na briga dos juízes, quem apanha é a Justiça” A. FERNANDES / SÃO PAULO, IDEM standyball@hotmail.com

“E agora, sr. Kassab, vamos trabalhar?” ANGELO A. MAGLIO / COTIA, SOBRE O REGISTRO DO PSD angelo@rancholarimoveis.com.br

A

Alagoas, que foi apontado como o Estado com os maiores índices de criminalidade pelo últimoMapadaViolência,doMinistério da Justiça, tem 34 peritos. “Em Sergipe, até um ano atrás, o Estadonuncatinhafeitoconcursoparaperito”,dizGuaracyMingardi, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP e membro doFórum Brasileiro de Segurança Pública. No Nordeste, a maioria dos peritos está concentrada nas capitais. A situação na região é tão crítica que, em alguns Estados, os serviços de criminalística nãoestãoaparelhadosnemmesmo para analisar manchas de

Faltam laboratórios, equipamentos e pessoal especializado em todas as polícias do País sangue, sendo obrigados a enviar para os Institutos MédicoLegais de outros Estados amostrasparaexamede DNA. Noscasosdehomicídio,faltamatéfuncionários para isolar o local do crime, impedindo a contaminação de provas. A polícia científica é decisiva para a elucidação de crimes – e, por tabela, para a atuação da Polícia Judiciária e do Ministério Público. O assassinato da juíza fluminensePatríciaAcioli foiesclarecido graças a uma perícia conduzida de maneira exemplar. Além do exame cuidadoso do local, do carro e do corpo da vítima, foram analisados dados de mais de 3 milhões de telefones celulares. Foi a partir desses dados que a política identificou – com provas – o envolvimento

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Oposição tenta convocação de Bruno Covas

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Secretário afirmou que prefeito do interior havia lhe oferecido comissão por emenda ● “Se essas denúncias forem confirmadas, Bruno Covas estará reduzindo drasticamente sua carreira política.” SERGIO DINIS

● “As denúncias gravíssimas feitas pelo deputado Roque Barbiere não podem ficar sem investigações.” JOEL CARLOS DE ALMEIDA SARAIVA

HÁ 790 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “São Paulo precisa de um apaixonado por essa cidade, um conhecedor das deficiências e dos problemas.” WOLMIR MATOS

depoliciaismilitaresno planejamento e na execução do crime. No entanto, em quase todos os Estados esse tipo de trabalho é exceção, e não regra. Para as Secretarias da Segurança Pública,o desafio é fazer os Institutos Médico-Legais funcionarem independentemente da condição socialdasvítimasdeestupro,homicídio e latrocínio. “O crime envolvendoajuízaPatríciaAcioli não foi tratado como mais um. Quando a máquina se esforça, as respostas aparecem”, diz Erlon Reis, da Associação de Peritos do Rio de Janeiro. Por causa da negligência dos governos estaduais com serviços de perícia criminal, o Brasil é um dos países com menor taxa de elucidação de crimes em todo o mundo. Em média, as políciasbrasileirasconseguemelucidar apenas 5% dos crimes; nos Estados Unidos, o índice é de 65%; na França, 80%; e na Inglaterra, ele é superior a 90%. Em São Paulo – o Estado que dispõe damelhorinfraestruturaemmatéria de criminalística e medicina legal –, a taxa de resolução de homicídios é de 10% a 12%. No Rio de Janeiro, ela é de 3% a 4%. Além da escassez crônica de recursos, contribuem para a situação crítica em que se encontram as polícias científicas animosidadescorporativaseobstáculos jurídicos. Os delegados, por exemplo, não admitem que as polícias científicas sejam independentes da Polícia Civil como recomendam os especialistas. E, invocando o princípio constitucionalda autonomia federativa, muitos Estados se opõem à adoção de um modelo único para o setor.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 30 DE SETEMBRO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

Onde a sociedade quer mais saúde? ✽ ●

WASHINGTON NOVAES

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eacende-seodebate sobre a situação calamitosa da saúde pública na maior parte do País–eatéjáseprevê que será esse o tema principal na campanha eleitoral de 2012. O governo federal, por intermédio de suas lideranças, admite que precisará criar algum imposto que acrescente R$ 45 bilhões anuais ao setor (o ministro da Saúde fala em mais R$ 41 bilhões para igualar o nível da saúde no País ao da Argentina e do Chile). Em 2010 investiu o nosso governo central R$ 61,9 bilhões – mas asdespesasdaUniãonosetor,segundo Ricardo Bergamini, caíram de 1,88% do PIB, entre 1995 e 2002, para 1,80%, entre 2003 e 2010; a tendência até aqui é de 1,56% do PIB em 2011. Mas a oposição e até parte dos governistasjádizemquenãoconcordam com um novo imposto, embora haja quem fale em taxar, paraisso,grandesfortunas,legalizar o jogo (cobrando altas taxas), aumentarosimpostossobreofumo e reservas no exterior, além de destinar à saúde parte dos royalties decorrentes da exploração do petróleo. Até se registram alguns avançosimportantesnoEstadodeSão Paulo,comoodareduçãodamortalidade infantil, que em 20 anos caiu 61,8%, passando de 31,2 mortesde criançasem 1.000 nascidas vivaspara11,9–eissosedeveuem grandeparteaosavançosnosetor de saneamento. Também influíram o aumento da vacinação, os cuidadosnafasepré-natal,aassistência às gestantes (Estado, 27/8). Em contrapartida, cresceram os índices de poluição do ar nasmaiorescidades,quejáproduzem 23,7 mil mortes por ano. O Rio de Janeiro está com índice trêsvezesacimadomáximorecomendadopelaOrganizaçãoMundial da Saúde (OMS); São Paulo e Campinas, com o dobro (o melhor índice é o de Curitiba). E o Escritório da ONU sobre Drogas e Crime (Unodc) alerta para o consumoabusivodemedicamentos no Brasil, sobretudo emagrecedores (Envolverde, 27/6). A questão brasileira na área da saúde parece ainda mais preocupante quando colocada diante de outros relatórios internacionais. Como o do World Cancer Research Fund (BBC Brasil, 17/9), que aponta um aumento da incidênciadecâncernomundodaordem de 20% na última década, quandoseregistraram12milhões de casos novos; 1,8 milhão estavamrelacionadoscommáalimentação,deficiênciasdeatividadefísica e aumento de peso – e esse número“devecrescerdramatica-

mente na atual década”. Além do câncer, diz a ONU em outros documentos,tambémcrescemmuitodoençasnãotransmissíveis,comoascardiovasculares,respiratórias crônicas e diabetes. No Brasil, segundo a OMS, os casos de câncer de próstata (41,6 mil em um ano) e de pulmão (16,3 mil) são os mais frequentes entre homens; na mulher, câncer de mama (42,5 mil) e de colo do útero (24,5 mil). Já o IBGE diz que 16% dosmeninosbrasileirose12%das meninasde5a9anossofremcom obesidade,sedentarismoeestresse deles decorrente. Outro alerta da OMS é para a ameaça de recrudescimento da gripeaviária(vírusH5N1),principalmente na Ásia e em regiões maispróximas,emborapossaexpandir-se. Desde 2003, o combate à gripe exigiu o sacrifício de 400 mil aves confinadas em 63

Recursos podem surgir, basta lembrar o que o governo federal paga em juros da dívida pública países, com prejuízos de US$ 20 bilhões. Em 2010-2011 já surgiram 800 casos e há vírus endêmicos em seis países. Como grande exportador de carne de aves, o Brasil precisa se precaver. Chega-se, então, ao terreno dos medicamentos. Há progressos na cooperação da indústria farmacêutica com a OMS e outros organismos, que permitirá a produção de medicamentos antirretrovirais em versão genérica por um consórcio internacional que os fornecerá a 111 países mais pobres, com economia de US$ 1 bilhão (o Brasil já quebrou a patente em 2001). Também haverá redução dos royalties em patentesdemedicamentosparahepatite (Estado, 13/7). Na verdade, os ministros da Saúde do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul – o Brics – querem mudançasnalegislaçãosobremedicamentos e patentes para ampliar o acesso das pessoas mais pobres e baratear custos. A resistênciaéforte.Masaprópriapresidente Dilma Rousseff defendeu narecente reunião daONU aque esteve presente a quebra de patentes de remédios para doenças nãoterminais(Estado,20/9),como diabetes, hipertensão e outras. Segundo ela, trata-se de um “elemento da estratégia para aumentar a inclusão social”. É um tema antigo e difícil. Quando era secretário de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia doDistrito Federal(1991-1992), o autordestaslinhaseoentãopresidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ennio Candotti, tentaramevitarqueoCongressoNacional incluísse na Lei da Propriedade Industrial, que então discutia, oreconhecimentodepipelinespa-

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

Pátria de chuteiras e ocaso da razão ra medicamentos com patente já vencida no exterior – quando, na verdade,deveriam passaraser fabricados aqui sem pagar royalties, como já ocorria em tantos países. Até ao então presidente Itamar Franco foi uma delegação com representantes da SBPC em todos os Estados. O chefe do governoaderiuimediatamenteàreivindicação. Mas seus líderes no Congresso impediram qualquer avanço.E ospipelines prevalecem até hoje, embora haja ações de inconstitucionalidade tramitando no Supremo Tribunal Federal. Prevenida quanto ao avanço de certas reivindicações, a indústria farmacêutica transnacional já domina 40% do mercado de medicamentos genéricos (Folha de S.Paulo, 28/8), quando há três anos só tinha 12%: muitas patentes poderão cair em domínio público em prazos curtos. Comtudoisso,asociedadeprecisa acompanhar atentamente a discussão sobre a saúde pública, umadasquemaislheinteressam. Recursos podem surgir – basta lembraroquejáse citounumdos últimostextosnestapágina:ogovernofederalpagaemjurosdadívidapúblicaentreR$60bilhõese R$ 70 bilhões/ano (por causa da mais alta taxa de juros no mundo);emsubsídiosaváriossetores econômicos, R$ 30 bilhões; em ajuda a mutuários, R$ 32 bilhões (Agência Estado, 8/8). Recursos como esses terão o destino que a sociedade autorizar. ✽ JORNALISTA E-MAIL: WLRNOVAES@UOL.COM.BR

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FERNANDO GABEIRA

A

prendi ao longo de alguns textos sobre a Copa do Mundo de Futebolqueopreçode questionar uma conquistanacionaléodeseracusado de torcer contra o Brasil. Isso não é exclusivo do atual governo. Desde a ditadura militar, com seu famoso slogan “ame-o ou deixe-o”, a tendência é inibir certas críticas, associando-as à falta depatriotismo. Neste caso, e em muitos outros, o patriotismonãoésimplesmenteumrefúgiodecanalhas,comonacélebre citação. Ele faz parte de um processo complexo de acúmulo de poder e dinheiro, no qual um doselementossempreimpulsiona o outro: mais dinheiro traz mais poder, que, por sua vez, traz mais dinheiro. Da maneira como está sendo conduzida, a preparação para a Copa não é racional. Notícias de bastidores relatam a insatisfaçãodaFifa,quepoderiaemoutubro cancelar a escolha do Brasil como sede. O que a Fifa parece querer é pior ainda do que se está fazendo por aqui. A entidade quereliminaromeioingressopara estudantes e idosos, algo que, corretoounão,representadireitosconquistados.Ogovernoenfatiza esse detalhe da disputa comaFifaporquesabequeodeixa bem com a opinião pública. Outros anéis já se foram, sem

SINAIS PARTICULARES LOREDANO

Um pouco de gás para Mano Menezes

grandesprotestos.ORegimeDiferenciado de Contratações Públicas (RDC), denunciado pela Procuradoria-Geral da República, foi oprimeirograndepassoparaconformar a legislação brasileira ao desígniosdosquesequeremaproveitarda Copa.Eorelator doprojeto do novo Código Florestal no Senado, Luiz Henrique (PMDBSC), afirmou que seria introduzidaumaemendanoprojetopermitindo desmatar para obras da Copa. O Brasil tem pressa, disse ele. Quando se trata de conformar uma legislação aos seus desígnios, o Brasil deles tem pressa. Quando se trata de avançar com obras essenciais para a Copa, o Brasil deles é devagar. Aparentemente,sãomovimentoscontraditórios, mas no fundo se complementam: mais pressa significa menos controle sobre os gastos. Estou convencido de que mui-

Da maneira como está sendo conduzida, a preparação para a Copa do Mundo não é racional tos desses gastos são irracionais. Nocapítulodosestádiosesportivos, tenho mencionado dois exemplos:odoMaracanã,noRio, e o do Machadão, em Natal. Só paraareformadoMaracanãogovernador Sérgio Cabral pretendiagastarquaseR$1bilhão.OTribunal de Contas apertou o controleeconseguiuabaterR$84milhões. O governo do Rio, que esta semana contraiu um empréstimo de US$ 126,6 milhões com o Banco Interamericano, resolveu fazer marketing e reduziu mais R$ 80 milhões no custo do Maracanã.Omecanismofoisutil:isentar de ICMS o material de construçãodestinadoàobra,construídapelaempresaDelta,deFernando Cavendish, amigo de Cabral. Nemosfluminensesnemsuaimprensa se deram conta, na plenitude,dequeestavamsendoenganados: os custos são os mesmos, mas pagos de forma diferente. Tudo foi feito em concordância com a legislação federal que tambémisentaestádiosdealguns impostos. A conta da Copa ficará um pouco como as pessoas cujas fotos são processados no Photoshopeparecemter10kgamenos. OcasodoMachadão,emNatal, que se vai chamar Arena das Dunas, também é típico. O estádio será reconstruído para ampliar sua capacidade. Pesquisas sobre sua trajetória indicam que só lotou uma vez, durante a visita do papa João Paulo II. Suponhamos queaampliaçãosirvaaosjogosda Copa.Mas,edepois?Teríamosde esperarnovavisitadeumpapapara encher o estádio outra vez. A solução para os aeroportos também me parece irracional. O aumentodonúmerodepassageiros das linhas aéreas é constante noPaís.ComousemCopa,preci-

samosdenovosaeroportos.Asolução apresentada: construir terminaisprovisórios.Seháumanecessidade estratégica de crescimento, o arranjo provisório atrasaria asolução definitiva e drenariapartedosseusrecursos.Serviria à Copa e aos torcedores, mas atrasaria o passo de novas levas de viajantes. As famosas obras de mobilidade urbana não serão concluídas. O empenho na construção do trem-bala parece maior do que a preocupação com as massas metropolitanas que, às vezes, passam quatro horas do dia se deslocando de casa para o trabalho e vice-versa. A solução para esse complexo problema já foi anunciada pela ministra Miriam Belchior:saiolegado,entraoferiado. Nos dias de jogo, as cidades param e o Brasil arca com um imenso prejuízo, sentido na carne pelos trabalhadores autônomos. Nunca se falou tanto em transparênciaquantonaépocaemque oBrasilfoiescolhidoparasediara Copa e a Olimpíada. Políticos de vários horizontes formaram comissões, ONGs se posicionaram no front da vigilância e, no entanto, os dados não aparecem com toda a sua clareza. O empréstimo de US$ 126,6 milhões no exterior e a redução de custos no Maracanãcombaseemisençãodeimpostossãofacesdeumdramaque escapaatéaosgrandesórgãosdecomunicaçãodoRio,sideradoscom os lucros que a Copa lhes trará. Porém a vida continua no seu implacávelritmo.Ainsensatezjoga em inúmeras posições, mas os governantescalculamqueosprejuízos serão recompensados por uma vitória nacional no futebol. Em caso de derrota e insatisfação, há sempre o recurso de mais um feriado para aplacar a fúria. A proposta do Brasil é sediar a CopadoMundoparaprojetarsua nova importância internacional. Para essa tarefa estratégica a interface cosmopolita do País são osMinistériosdoEsporteedoTurismo. O primeiro é dirigido pelo PartidoComunistado Brasil, que há alguns anos era fascinado pela experiência da Albânia. O segundo é feudo do senador José Sarneyeprocuraatender,prioritariamente,aoMaranhão,umbeloEstado, porém mantido no atraso pelos seus dirigentes. Os patriotas que me perdoem, mas não posso repetir o slogan do McDonald’s, amo muito tudo isso. E já vai muito longe o tempo emque o dilema, pela força da repressão, era amar ou deixar. Nos tempos democráticos, é precisodemonstrararacionalidade das ações do governo. E a Copa do Mundo de 2014 pode ser a amargataçadaimprovisaçãoecobiçana qualbebemapenaspolíticos empresários. ✽ JORNALISTA

Fórum dos Leitores PODER JUDICIÁRIO Que se debata!

Posso entender a indignação de Cezar Peluso ante a declaração da corregedora nacional Eliana Calmon de que a magistratura está com infiltração de bandidos que se escondem atrás da toga, pois a generalização atinge os que agem com lisura e compromete a “corporação”. Ela rebateu dizendo que não falava de toda a categoria. Porém devo cumprimentála pela coragem de abrir esse debate, que há muito precisava ser trazido à baila. Há, sim, algo de muito podre no reino do Judiciário. É inconcebível que com tantas denúncias de desvios de verbas públicas, tantas provas de maracutaias de políticos, tantos desmandos praticados por tantas e tantas “quadrilhas” formadas dentro do governo, não haja uma prisão, uma condenação. Ou se anulam provas, ou são julgadas insufi-

cientes, ou há falhas processuais, ou ocorrem prescrições, sempre há uma justificativa para a justiça não ser feita. E o que dizer da aprovação de uma lei que impõe a óbvia prerrogativa de ficha limpa para que alguém se possa eleger? Nem isso conseguimos fazer valer! Não, sr. Peluso, não era necessária a declaração da sra. Eliana para que essa Casa ficasse desacreditada. Os brasileiros há muito não confiam nos homens da Justiça. Atitudes positivas e em favor do povo é que hão de dar crédito ao Judiciário. Como ele se está mostrando, ineficiente, impróprio, afastado da sociedade e a favor dos que estão acima da lei – e há muitos acima da lei –, só serve para que caia em desmoralização, dando a impressão de ser o grande e único patrocinador da impunidade, sendo a toga, sim, um bom esconderijo. Que se debata! MYRIAN MACEDO myrian.macedo@uol.com.br São Paulo

Até tu, Cezar?!

Bandidos de toga

Parece que, entre tantas blindagens neste país, agora é a vez do Judiciário. Quem tiver coragem, como a corregedora, que venha a público dizer que não existem juízes corruptos.

Juízes corruptos, já identificados pela corajosa corregedora Eliana Calmon como bandidos de toga, confiam no corporativismo do Poder Judiciário, que supostamente ditará ordens ao STJ para eliminar eventuais provas que possam incriminá-los, assim como essa alta Corte anulou provas da PF no processo Boi Barrica, por determinação do influente clã Sarney.

JOSÉ LUIZ TEDESCO, advogado wpalha@terra.com.br Presidente Epitácio

Parabéns a Peluso

Parabéns ao companheiro Cezar Peluso pela defesa intransigente dos trabalhadores de nossa corporação, que se vem mantendo íntegra nos últimos 500 anos. As aleivosias da elitista Eliana Calmon não prevalecerão contra nossos preceitos pré-iluministas. O Judiciário unido jamais será vencido. WILLIAM CARVALHO williamcarvalho@terra.com.br Brasília

ROBERTO TWIASCHOR rtwiaschor@uol.com.br São Paulo

SEM NOVIDADES Descendo a ladeira

A ministra Eliana Calmon está estimulada demais, não existe desvio de conduta de juízes. Deputado Valdemar Costa Neto é absolvido. Deputados vendem emendas em São Paulo. Ex-presidente

Lula em mais uma palestra milionária. Roubaram as vassouras colocadas em Brasília em protesto contra a corrupção. Skinhead condenado a 29 anos de prisão por assassinato de jovem continua livre, leve e solto. Resumo das notícias de segunda a quarta-feira. Tudo normal, sem novidades. É o Brasil descendo a ladeira... LUIZ RESS ERDEI gzero@zipmail.com.br Osasco

TUDO IGUAL Ou de mal a pior

Como sempre, o lúcido escriba José Nêumanne nos brinda com o excepcional artigo O Brasil de hoje é o Maranhão de 1966 (28/9, A2). Sua verve literária, aliada a seus conhecimentos políticos e sua ironia, nos mostra que realmente não há diferença entre o que era o Maranhão de 66 e o Brasil atual, graças, evidentemente,

ao magnânimo José Sarney e sua “cumpanheirada”. Sarney, como bem diz Nêumanne, um ex-udenista “Bossa Nova”, trilhou todos os caminhos possíveis para permanecer na crista da onda da política nacional, usando todos os métodos, em especial os mais condenáveis. Acabamos de presenciar até onde vai sua influência com o arquivamento pelo STJ, a toque de caixa, de provas da Operação Boi Barrica, que provocou até a censura ao nosso Estadão. Citou também a genial frase de Roberto DaMatta “o Brasil usa as leis para manter os maus costumes”, que coube muito bem. Sarney, como os demais citados no final do texto, é um cancro político que deveria há muito ter sido extirpado, mas permanece firme, mandando e desmandando, agora aliado ao PT, que já o havia considerado o político mais corrupto do Brasil. Essa união PT-Sarney vai acabar levando o Brasil ao caos político definitivo, se não terminar logo.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 30 DE SETEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

A crise da Justiça Diante da forte reação da opinião pública e das críticas ao corporativismo do Judiciário, o Supremo Tribunal Federal (STF) agiu com sensatez ao adiar o julgamento da ação de inconstitucionalidade impetrada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) questionando as prerrogativas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para investigar e punir juízes acusados de desvios de conduta. Até terça-feira, a tendência da Corte era acolher o recurso da AMB, abrindo caminho para que o órgão responsável pelo controle externo do Judiciário só examinasse denúncias já julgadas pelas corregedorias dos tribunais. Mas, diante das reações da opinião pública e, principalmente, do Senado ao bate boca entre o presiden-

te do STF e a corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, os ministros concluíram que não havia clima para tomar qualquer decisão. Dias antes, Eliana Calmon havia afirmado que é preciso combater a impunidade dos “bandidos que se escondem atrás da toga”. Ela também disse que o presidente da AMB, Nelson Calandra, estaria agindo de comum acordo com Peluso. E classificou o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), no qual ambos foram colegas, como o maior foco da resistência corporativa à punição de juízes. “Sabe quando vou inspecionar o TJSP? No dia em que o sargento Garcia prender o Zorro”, disse ela. Em nota de repúdio às declarações da corregedora, Peluso cobrou uma retratação. A ministra não só se recusou a se retratar, como aumentou o tom de suas críticas, acusando as corregedorias dos tribunais de “camuflarem suspeitos” e de serem lentas nas

investigações para permitir a prescrição dos processos. Calmon disse ainda que tramitam na Corregedoria Nacional de Justiça 115 processos contra juízes de primeira instância e 35 contra desembargadores. Lembrou que há dias pediu a abertura de uma investigação para apurar denúncias de envolvimento da presidente do Tribunal de Justiça do Tocantins, desembargadora Willamara de Almeida, num esquema de venda de sentenças. E afirmou que, se o STF acolhesse o recurso da AMB, as investigações sobre as denúncias de irregularidades cometidas por esses magistrados seriam suspensas. No embate com os presidentes do STF e da AMB, a ministra Eliana Calmon recebeu dois importantes apoios. O primeiro foi da Associação Juízes para a Democracia. Em nota, a entidade denunciou a “longa e nefasta tradição de impunidade (...) de desembargadores dos tribunais esta-

duais e federais e ministros dos tribunais superiores”, e afirmou que a campanha contra o CNJ é “animada por interesses particulares e manifestações das cúpulas dos tribunais” que, a pretexto de defender as corregedorias, “objetivam garantir poderes arbitrários”. O segundo e mais decisivo apoio foi o do Senado, onde parlamentares do governo e da oposição assinaram Proposta de Emenda Constitucional (PEC) mantendo os poderes do CNJ, de iniciativa do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) – que, ao apresentála, ponderou que, se acolher o recurso da AMB, o STF passará para a sociedade o recado de que a Lei da Ficha Limpa só vale para o Poder Legislativo. A rigor, a PEC não seria necessária, pois o artigo 103-B da Constituição é claro quando autoriza o CNJ a tomar as providências pertinentes – inclusive avocando processos em tramitação nas corregedorias dos tribunais –

para zelar pelo princípio da moralidade na instituição. Esse artigo foi introduzido pela Emenda Constitucional 45, graças a um acordo firmado em 2004 pelos chefes do Executivo, Legislativo e Judiciário. A PEC agora proposta elimina qualquer dúvida que possa existir sobre essas atribuições e prerrogativas. Em seu recurso, a AMB invocou argumentos técnicos para questionar os poderes do CNJ. Mas a discussão vai além das implicações jurídicas, envolvendo valores éticos e morais. Em seis anos de existência, o CNJ e sua corregedoria puniram 49 juízes por desvio de conduta, combateram o nepotismo, extinguiram adicionais salariais e estabeleceram metas de desempenho. Foi essa folha de serviços que levou o CNJ a ser apoiado pela opinião pública, partidos políticos e entidades da sociedade civil. Esse apoio é que levou o STF a pensar duas vezes na decisão que tem de dar ao recurso da AMB.

Modelo duvidoso para merenda

O jogo perigoso do BC

rês anos depois de o Ministério Público Estadual (MPE) iniciar investigação sobre denúncias de corrupção na terceirização da merenda escolar em São Paulo, a Prefeitura decidiu adotar um modelo capaz, segundo ela, de assegurar menor custo aos cofres públicos e melhor qualidade da alimentação oferecida aos estudantes da rede municipal. Garantir a melhor relação custo/benefício é dever dos administradores públicos, a ser cumprido sempre e não apenas quando correm o risco de ser punidos pela Justiça por causa de irregularidades. De acordo com a Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social, o esquema da merenda montado na capital já pagou R$ 100 milhões em propina a funcionários municipais desde 2001. São Paulo seria uma das 57 cidades nas quais o esquema movimentou R$ 280 milhões em notas frias, entre 2008 e 2010, segundo cálculos elaborados a partir de documentos apreendidos pelas Polícias Civil e Federal nas sedes das empresas investigadas e em casas de suspeitos. Para não ser processado por uso indevido de dinheiro público, o governo Gilberto Kassab resolveu adotar um modelo que combina refeições produzidas com alimentos adquiridos pelo próprio Município e preparadas por empresas contratadas que fornecem mão de obra e equipamentos de cozinha. Esse modelo está em teste há

s brasileiros terão de aguentar a inflação acima da meta por mais dois anos, segundo a hipótese mais otimista do Banco Central (BC). Se der tudo certo, o índice oficial baterá no centro do alvo no terceiro trimestre de 2013, com aumento de preços de 4,5% em 12 meses. Nos cenários menos favoráveis, a presidente Dilma Rousseff completará seu terceiro ano de mandato com o custo de vida ainda subindo mais do que o prometido pelas autoridades. São essas, pelo menos, as perspectivas apontadas no relatório trimestral de inflação divulgado nessa quinta-feira. Apesar disso, o tom do relatório é otimista com relação aos preços. O ciclo de inflação elevada de 12 meses deve ter acabado neste trimestre, segundo o documento, e agora o indicador deve avançar na direção da meta. Levará quanto tempo para chegar lá? Se alguém perguntar se o governo ainda leva a sério o regime de metas, a questão será pertinente. O presidente do BC, Alexandre Tombini, insiste em reafirmar o compromisso com esse regime. Além disso, ele usou um tom ainda mais otimista que o do relatório. “Trabalhamos com a inflação no centro da meta em 2012”, disse Tombini, ontem cedo, numa palestra para executivos financeiros em Curitiba. Horas antes, no Rio de Janeiro, a Fundação Getúlio Vargas havia publicado o Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) de setembro, com for-

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CARLOS E. BARROS RODRIGUES ceb.rodrigues@hotmail.com São Paulo

Dura realidade

Tanto o artigo de Nêumanne quanto a coluna de Dora Kramer de 28/9 nos mostram uma realidade dura e estarrecedora no que tange à nossa política e aos políticos de plantão. Cabe a nós traduzir toda a nossa insatisfação com este estado geral de erros e falcatruas desses “senhores” todos, sem tirar um, por meio de manifestações, com o firme propósito de acabarmos com isso antes que tarde seja. Sarney, Collor, Lulla, Jucá, Vaccarezza, Renan, Genoino, Valdemar Costa Neto, Lupi e tantos outros envolvidos em mensalões e demais escândalos deviam estar devidamente cassados para todo o sempre. E presos. Mas, como vivemos no país dos coronéis, temos de aturar tais ele-

dois meses em 140 escolas da rede municipal na região de Pirituba, onde se concentram 75.300 crianças matriculadas na rede municipal. Antes, quando todos os serviços eram comandados por terceiros em 42% das escolas e 18% das creches, a compra dos ingredientes e o preparo da merenda servida a 1,8 milhão de estudantes estavam nas mãos de empresas contratadas. Lista de documentos apreendidos nas investigações indica que a propina cobrada por servidores municipais chegava a 10% do preço firmado com a Prefeitura. Conforme depoimento

TCU já constatou que a terceirização não é a melhor solução para a merenda escolar de um empresário que fez acordo de delação premiada, o esquema começou em São Paulo na gestão de Marta Suplicy e continuou nos governos José Serra e Gilberto Kassab. No ano passado, a administração municipal aumentou a fiscalização no setor e trocou o modelo de pregão, que passou a ter dois preços de referência. Com isso, teria feito economia de R$ 40 milhões. Em entrevista ao Estado, o secretário municipal da Educação,AlexandreSchneider,anunciou que a intenção do governo é lançar, em outubro, licitação para contratar a merenda mista em um número maior de regiões: “Além de Pirituba, queremos o modelo no Butantã, no Campo Limpo, em Santo Ama-

mentos mandando no povo e fazendo o que bem entendem, sem respeitar as leis vigentes – ora, as leis... Chegou a hora de darmos início à Primavera Brasileira. BORIS BECKER borisbecker@uol.com.br São Paulo

O POETA DE SÃO PAULO Paulo Bomfim, 85 anos

Contra o despudor dos tiranos, poesia/ Contra a desfaçatez dos corruptos, poesia/ Contra o desamor da modernidade, poesia/ Contra a melancolia da ausência, poesia/ A favor da urgência da ética, poesia/ A favor da verdade da democracia, poesia/ A favor da esperança de uma vida, poesia/ A favor da beleza de um dia, poesia/ Aos 85 anos de Paulo Bomfim, eterna poesia! JOSÉ D’AMICO BAUAB josedb02@gmail.com São Paulo

ro e M’Boi Mirim”. As medidas foram tomadas emdoseshomeopáticas.Primeiro, o aumento da fiscalização; depois, as mudanças nas regras do pregão; em seguida, o teste donovomodelo defornecimento de mão de obra e alimentos; agora,licitaçãoparalevá-loaoutrasregiões.Por que,emvez disso, não tomar logo uma medida duracapaz de desmontar asmáfias da merenda escolar? O governo municipal deveria levaremconsideraçãoasauditorias realizadas há dois anos pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que demonstraram que a terceirização da alimentação escolar provoca queda de qualidade e aumento de custo. Frequentemente, os alimentos fornecidos são de qualidade inferior e muitos são utilizados com validade vencida. Há também problemas na higienização dos refeitórios, no armazenamento inadequado dos alimentos, desperdício e desvios. A Prefeitura precisa encarar os gastos com merenda escolar como investimento social, afastando desse setor empresários inescrupulosos que ganham muito em troca de serviços de má qualidade. Quando decidiu entregar a merenda a empresas terceirizadas, o cuidado mínimoqueo governomunicipaldeveria ter tomado era fiscalizar com rigor o cumprimento das exigências de qualidade do produto e a cobrança de preços razoáveis. Não parece ter sido isso que aconteceu, à vista das irregularidades constatadas. Não há, pois, muitas razões para ser otimista com relação ao novo modelo adotado.

“O Brasil inteiro aplaude, de pé, a ministra Eliana Calmon, que personifica a esperança de um Judiciário limpo e eficiente” LAFAYETTE PONDÉ FILHO / SALVADOR, SOBRE AS DENÚNCIAS QUANTO AOS ‘BANDIDOS DE TOGA’ lpf41@hotmail.com

“O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados tem alguma utilidade?” VANDERLEI ZANETTI / SÃO PAULO, SOBRE O ARQUIVAMENTO DO CASO VALDEMAR COSTA NETO vanzanetti@uol.com.br

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tes sinais de repique inflacionário. A variação geral passou de 0,44% em agosto para 0,65% em setembro. O índice de preços ao consumidor, um de seus três grandes componentes, aumentou 0,59%, bem mais do que no mês anterior, quando havia subido 0,12%. O IGP-M é apenas um entre muitos indicadores, mas é sempre prudente levá-lo em conta. Prudência em relação aos preços parece artigo escasso no BC, ultimamente. O Relatório de Inflação aponta a possibilidade de novos cortes de juros, nos próximos meses, e reafirma a argumentação usada pa-

‘Relatório de Inflação’ reafirma confiança na seriedade da política fiscal no próximo ano ra justificar a mudança. A alegação mais convincente refere-se ao agravamento da situação internacional. Esse fator, segundo o pessoal do BC, deve eliminar as pressões inflacionárias. Mas esse detalhe continua sujeito à verificação, por causa da demanda chinesa, ainda vigorosa, e das condições incertas de suprimento internacional de produtos agrícolas. O relatório reafirma também as avaliações sobre a situação interna. Para o BC, a economia perde impulso tanto do lado da oferta – especialmente da produção industrial – quanto da demanda. Um dia antes de sair o Relatório de Inflação, porém, o próprio BC divulgou nota mensal sobre a política monetária, confirmando uma nova expan-

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Dilma: medida do IPI é a favor do emprego

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Questionada, presidente disse que 'nosso mercado interno não será objeto de pirataria' ● "Entendo a proteção à indústria nacional, mas acho que o consumidor final também é lesado neste aumento.” SERGIO TAVARES

● “Precisa diminuir a alta carga de tributos na produção, isso, sim, gera empregos.” MARCOS LOSSO

HÁ 791 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “O que vão fazer é investir no México, na Argentina, no Uruguai e continuar vendendo carro no mercado brasileiro.” RODRIGO BURGO

são das operações de crédito em agosto. Além disso, ontem mesmo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo revelou uma nova elevação do índice de atividade em agosto, com melhor resultado para o mês desde 2005. Apesar disso, o crescimento acumulado será bem menor que o do ano passado, mas a avaliação do BC é insegura em relação à oferta e ainda mais discutível em relação à demanda de consumo. Este último ponto é reconhecido até no relatório, onde os salários e o crédito são mencionados como fatores de risco. Enfim, o BC repete a profissão de fé no cumprimento estrito de uma política de consolidação fiscal em 2012, sem redução dametafiscalfixadapelo Executivo.Nem oprojetode orçamento autoriza essa aposta, nem a perspectiva de um ano de eleições combina com a hipótese de rigorosa disciplina fiscal. Há razões fortes para desconfiar de uma precipitação do BC. A projeção das contas externas fica restrita a este ano e também é otimista. De fato, o resultado deve ser melhor que o previstoatéhápoucotempo,principalmente por causa dos preços dos produtos básicos. Mas é estranho o relatório se deter antes de uma análise das perspectivas de 2012. Se o cenário global for tãoruim quanto o pessoal do BC insinua, e se, além disso, for razoável a previsão de recuo de preços das commodities, o setor externo será uma área de risco, mesmo com o atual volume de reservas. Estranho e preocupante é o aparente descaso em relação a esse ponto.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 1 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Notas & Informações

Nas barras do STF Por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), Paulo Salim Maluf – procurado pela Interpol em 181 países, sob suspeita de crimes financeiros – na última quinta-feira tornouse réu de processo criminal que tramita naquela Corte. As acusações contra Maluf, mulher, filhos e outros parentes, num total de 11 pessoas, estão relacionadas com o desvio de recursos públicos de cerca de US$ 1 bilhão, classificados como “astronômicos” pelo ministro-relator, Ricardo Lewandowski. De acordo com a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, esse dinheiro foi desviado de obras públicas quando Maluf foi prefeito de São Paulo (1993-1996), remetido ilegalmente ao exterior por doleiros e, por fim,

“lavado” em investimentos feitos na Eucatex, empresa da família. De acordo com a denúncia apresentada ao STF por Gurgel, a maior parte desse dinheiro foi desviada da construção da Avenida Água Espraiada, hoje Roberto Marinho. “Essa obra, concluída em 2000, teve o custo final extremamente absurdo de R$ 796 milhões, ou cerca de US$ 600 milhões. Essa foi a fonte primordial dos recursos utilizados na lavagem.” O ministro Lewandowski não disfarçou sua perplexidade: “A família Maluf movimentou no exterior quantia superior a US$ 900 milhões. Esse valor é superior ao PIB de alguns países como Guiné-Bissau, Granada, Comores, Dominica e São Tomé e Príncipe”. Não se pode dizer que as acusações a Maluf sejam surpreendentes, porque a opinião pública está habituada, há pelo menos quatro décadas, a notícias sobre suspeitas de en-

volvimento do ex-prefeito paulistano com a malversação de recursos públicos. A associação do nome do ex-governador à prática da mão grande sobre o dinheiro alheio tornou-se tão corriqueira que acabou consagrando o neologismo “malufar”. Surpreendente é o fato de que até hoje um homem com essa história de vida, frequentador assíduo das barras dos tribunais na condição de réu, jamais tenha sido condenado à prisão. Atrás das grades Maluf já esteve, em 2005, por exatos 40 dias, na sede da Polícia Federal de São Paulo, acusado de intimidar uma testemunha, um doleiro, num dos vários processos em que está envolvido por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, evasão fiscal, etc. Mas, na época, o STF decidiu pela revogação do mandado de prisão, considerando a idade avançada e a saúde precária do recorrente, condições que não o impediram de, poucas horas depois de

libertado, posar para fotos num restaurante, em Campos do Jordão, sorridente e satisfeito da vida, comendo pastéis e tomando chope com um grupo de amigos. Menos de um ano depois de passar quase seis semanas como hóspede da Polícia Federal, foi reconduzido à Câmara dos Deputados com quase 740 mil votos. Além do hábito feio de se envolver em malfeitos na manipulação do dinheiro do contribuinte, Maluf notabiliza-se também pela deslavada cara de pau com que reage aos questionamentos a respeito de sua especialidade. Declara-se o político mais honesto do País, quiçá do mundo. Nega veementemente ter dinheiro depositado no Exterior. Promete renunciar ao mandato de deputado se alguém provar o contrário. Garante que a inclusão de seu nome da lista de procurados da Interpol é pura perseguição – o que, no sentido policial, de fato é mesmo. E agora chega à su-

Ameaça à atividade empresarial

O partido da janela

ão estão claras as razões que levaram o Ministério Público Federal (MPF) em Bauru a entrar com ação contra 14 laboratórios farmacêuticos que estariam boicotando as licitações do governo do Estado de São Paulo para a compra de remédios cuja distribuição foi determinada por decisão judicial. O Ministério Público pede que os laboratórios sejam obrigados a vender o remédio com desconto, sob pena de multa diária de R$ 50 mil, e que o governo do Estado passe a registrar as possíveis tentativas de desrespeito à lei. A legislação estabelece que, nas vendas ao governo, por meio de licitações, de remédios listados em programas especiais de saúde pública, considerados excepcionais (de alto custo) ou cuja distribuição foi determinada pela Justiça, as empresas concedam desconto mínimo de 24,69% estabelecido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed). Mas a lei não impôs a obrigatoriedade de participação de todos laboratórios e distribuidoras nas disputas para vendas ao governo. Não há dúvida quanto à exigência legal, aplicada a toda empresa produtora ou distribuidora de medicamentos, de oferecer desconto nas licitações para vendas a órgãos da administração pública direta ou indireta da União, dos Estados e dos municípios. Essa norma, em vigor desde março de 2007, chegou a ser questionada por representantes da indús-

e a infidelidade partidária continuasse a existir, o PSD criado pelo prefeito paulistano, Gilberto Kassab, não existiria. Tampouco existiria se pelo menos tivesse vingado a ideia da chamada “janela” para permitir que os políticos trocassem impunemente de legenda durante um período a cada quatro anos. À falta disso, o PSD vem para fazer o papel de partido da janela. Afinal, a legislação autoriza a migração, sem risco de perda de mandato, para siglas novas. O difícil é encontrar algo verdadeiramente novo na nova agremiação, cujo registro foi concedido na terçafeira pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Até o nome é plágio do velho PSD concebido pelo astuto Getúlio Vargas para fazer par com o PTB no seu esquema de sustentação à direita e à esquerda. Já Kassab anunciou, com a maior candura, que a sua futura legenda não seria nem de esquerda, nem de centro, nem de direita. Se tivesse a pretensão de ser qualquer dessas coisas – só se declarou de centro depois de registrados o partido e as adesões a ele –, entraria em colisão com a causa que o inspirou, com o perdão das palavras: ser o porto de abrigo de todos os políticos que se sentiam desconfortáveis onde estavam, por não enxergarem ali futuro para as suas ambições – caso do estiolado DEM, de onde virá uma vintena dos 48 deputados federais que já fizeram as malas para o PSD, dando substância à previsão de que os adesis-

N

e também um pouco de criatividade. Irany quer proibir (censura à livre expressão) que Gisele Bündchen, o maior orgulho brasileiro nas passarelas do mundo, continue a divulgar um comercial de lingerie. Programas de televisão e revistas divulgam à exaustão esse tipo de propaganda e as mulheres jamais se sentiram incomodadas. Mulheres são espancadas e mortas diariamente sem que os carrascos sejam punidos. Espero que o loteamento de cargos por mulheres não transforme o governo num clube da Luluzinha ou numa cidadela de valquírias. JAIR GOMES COELHO jairgcoelho@gmail.com Vassouras (RJ)

OPERAÇÃO BOI BARRICA Esclarecimentos

Os ministros do STJ que anularam as provas da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal (PF),

tria farmacêutica, mas foi validada pela Justiça. Não se conhece na legislação brasileira, porém, nada que obrigue toda e qualquer empresa produtora de determinado medicamento a participar de licitações eventualmente abertas pelo poder público. Se houvesse uma imposição legal como essa se chegaria à situação absurda em que toda pessoa física ou jurídica em condições de fornecer determinado bem ou serviço seria obrigada a entrar numa disputa para a venda desses itens ao poder público. Até onde se sabe, participar ou não participar

Ministério Público Federal quer obrigar empresas farmacêuticas a entrar em licitações dessas disputas continua sendo da livre escolha de cada empresa ou cidadão, conforme sua avaliação das conveniências desta ou daquela decisão. Do ponto de vista das políticas públicas, a exigência do desconto é justificável. Sobre a questão, o STF reconheceu que “a distribuição gratuita, a pessoas carentes, de medicamentos essenciais à preservação de sua vida e/ou de sua saúde é um dever constitucional que o Estado não pode deixar de cumprir”. A obrigatoriedade de o governo comprar com desconto tem o objetivo de lhe assegurar melhores preços, racionalizar seus custos e disciplinar e uniformizar as compras públicas. O governo compra cerca de um quarto dos me-

devem mesmo ser convocados a dar esclarecimentos à Nação. Ao blindarem os investigados, ligados às entranhas do poder, os ministros jogaram no lixo um trabalho sério e custoso da PF, do Ministério Público e do próprio Judiciário, sem razão aceitável. Tratase de decisão judicial que se discute e cujo cumprimento revolta os brasileiros. JAIRO EDWARD DE LUCA jeluca.dois@yahoo.com.br São Paulo

Jamais, em tempo algum

Sabem quando a Câmara dos Deputados conseguirá alguma informação/explicação sobre a decisão a respeito do assunto Boi Barrica? Nunca! Esse tipo de decisão é denominado “não esquentem que já, já, cai no esquecimento”. JOSÉ PIACSEK NETO bubapiacsek@yahoo.com.br Avanhandava

dicamentos vendidos no País. Uma empresa que concordou em fornecer remédios ao governo nessas condições tem a obrigação legal e contratual de cumpri-las, sujeitando-se a punições no caso de não o fazer. A multa no caso de descumprimento da regra pode chegar a R$ 3 milhões e até a interdição da empresa infratora. Segundo a Cmed, há em andamento pelo menos 400 investigações de descumprimento da lei de desconto no fornecimento de remédio ao governo – cerca de metade dessas investigações está sendo feita no Estado de São Paulo. O MPF em Bauru identificou quatro distribuidoras que teriam vendido remédios ao governo do Estado pelo preço cheio, isto é, sem o desconto, e pediu que elas sejam obrigadas a fazer o ressarcimento do valor recebido a mais e que a Secretaria da Saúde do Estado apresente dentro de 60 dias a planilha com o valor pago a mais. A Cmed reconhece, porém, que não tem competência legal para punir empresas que não se apresentarem em licitações do governo. Ninguém tem o poder de aplicar essa punição, pois não há o que punir, visto que nenhuma empresa está obrigada a participar dessas disputas. Como observou o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos de São Paulo, a participaçãonaslicitações“éumadecisão comercial baseada em interesses específicos e/ou estratégias demercado”. Numa economia de livre mercado, esta é uma decisão que a empresa toma livremente.

“Cesare Battisti, herança maldita de Luiz Inácio”

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peração de suas melhores performances: manifestou-se contra a criação de novo imposto destinado a recolher recursos para a saúde, alegando que o dinheiro existe: “É só acabar com a bandalheira”. Os advogados da família Maluf também se esmeraram nas intervenções que fizeram durante a sessão do STF. Coerente com a eterna postura de “quem, eu?” com que o ex-alcaide paulistano se compraz em demonstrar desprezo pelo discernimento de seus interlocutores, o causídico José Roberto Leal de Araújo sustentou que seu cliente vive, desde 1970, um verdadeiro “calvário”, perseguido pelo “ódio”. Na mesma linha, José Roberto Batocchio foi ainda mais longe: “No Brasil, transformaram formação de família em formação de quadrilha”. É verdade. No Brasil, às vezes essas duas coisas se confundem, como acabamos de comentar.

tas poderão somar cerca de 60. Com isso, a social-democracia kassabista se tornará a terceira força na Câmara, depois do PT (86 deputados) e do PMDB (80). Outra razão de desconforto, ligada à anterior, é a impossibilidade de dar vazão, nas siglas em que os insatisfeitos se alojam, ao insopitável desejo de se achegar ao governo da presidente Dilma Rousseff, sem integrar formalmente a base parlamentar do Planalto. Ou, como diz o prefeito, “não fazer oposição por oposição”. O kassabismo, desse modo, põe de ponta-cabeça um clássico dito anarquista espanhol.

O PSD é um partido que, pretendendo ser tudo para todos, nada de novo tem a oferecer Na versão pessedista, si hay gobierno, soy favorable. É também o mote do PMDB, entre outros, mas este pelo menos teve uma trajetória respeitável, antes de decair, lenta, gradual e seguramentenosuprassumodofisiologismo. Além disso, avantajou-se obastante,nosúltimosanos,parasonharem ser,elepróprio,governo.Asambiçõesdecurto prazo do PSD são, em geral, menores. Exceto, talvez, no seu lugar de nascimento, onde o vice-governador paulista, Guilherme Afif Domingos, dá sinais de pretender suceder a Kassab. A ordem é apoiar nos Estados seja lá qual for o político no poder, com vistas a conquistar posições já a partir das eleições municipaisdopróximoano.Opartido fará alianças com “qualquer

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GUSTAVO GUIMARÃES DA VEIGA / SÃO PAULO, SOBRE O TERRORISTA ITALIANO HOMIZIADO NO BRASIL gjgveiga@hotmail.com

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“Que lingerie, que nada! Lullopetista gosta mesmo é de cueca recheada de dólares...”

Atacante está chateado com a diretoria do Palmeiras e deve sair em janeiro do ano que vem

A. FERNANDES / SÃO PAULO, SOBRE A REAÇÃO DA MINISTRA IRINY LOPES AO COMERCIAL COM GISELE BÜNDCHEN standyball@hotmail.com

● “Sou palmeirense e penso que o jogador deve jogar onde sente que pode ser mais valorizado, em todos os sentidos.”

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Kleber pode ir para o Corinthians em 2012

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VILMA TEREZINHA CASARI

● “Kleber não tem mais ambiente no Palmeiras, não quer jogar. Só espero que a diretoria do Verdão o libere.” REINALDO SANDIM

HÁ 792 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Não precisa! O Palmeiras fez de tudo por esse jogador e ele só dá dissabor. O Corinthians precisa de união.” CAROLE CHIDIAC

um”, disse o prefeito, “norteadas por nossos princípios e nossa conduta” – a perfeita contradição em termos. Aconduta,porsinal,énomínimo matéria controversa, diante das pencas de irregularidades de que o País tomou conhecimento no processo de coleta das490mil assinaturasnecessárias à inclusão do PSD no balofo sistema partidário nacional, com assuas 27 siglas. Firmas falsificadas, compra de signatários, petições circulando em repartições públicas e o uso dos nomes de eleitores mortos para cumprirasexigênciasdalei.Ainda assim e apesar do zelo da procuradora-geral eleitoral Sandra Cureau para impedir que o valetudo compensasse, o TSE legitimou a agremiação. Cumprida a etapa processual e enquanto correm os conchavos para o transbordo partidário dos insatisfeitos nas suas embarcações, Kassab descobre que a sociedade também existe e quer saber a que vem o seu partido. Daí ele anunciar a sua primeira proposta: a convocação, mediante emenda constitucional, deumaAssembleiaexclusivapara revisar em dois anos a Carta de 1988, à margem do Congresso. Como se a ordem institucionaltivessevindoabaixoeumnovoregimetivesse sido implantado no País. A vida política tem problemasdesobra,eosbrasileiros, motivos de sobra para deplorar as suas deformações, para levar a sério essa tentativa de tapar com a peneira a indigência programática de um partido que, pretendendo ser tudo para todos,nada de novotem aoferecer à população.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 2 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação

Notas e Informações A3

Administração e Negócios

Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

A Comissão da Verdade A criação da Comissão Nacional da Verdade, proposta no 3.º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro de 2009 e aprovada pela Câmara dos Deputados no último dia 21 (será votada agora no Senado), tem como objetivo precípuo investigar e divulgar a “verdade histórica” sobre a ditadura militar de 1964/1985 para “promover a reconciliação nacional”. Um passo decisivo – e, para muitos, suficiente – nessa direção já foi dado pela Lei da Anistia, de 1979, que impede a responsabilização penal por crimes políticos cometidos naquele período, assim consideradas tanto as ações armadas da guerrilha rural e urbana como as ações repressivas praticadas por agentes do Estado – inclusive a tortura.

Com a pedra colocada pela Lei da Anistia sobre esse conflito que durante muitos anos jogou brasileiros contra brasileiros, a tendência seria que o tempo consolidasse a desejada reconciliação nacional, inclusive a partir dos ensinamentos extraídos daquela traumática experiência histórica. Mas com o advento do governo do PT, a partir de 2003, e a chegada ao poder de muitos antigos militantes da luta armada, sucederam-se as tentativas de abrir brechas na Lei da Anistia, a partir de uma perspectiva unilateral. Dizia o texto assinado por Lula na apresentação do PNDH-3: “No tocante à questão dos mortos e desaparecidos políticos do período ditatorial, o PNDH-3 dá um importante passo no sentido de criar uma Comissão Nacional da Verdade, com a tarefa de promover esclarecimento público das violações de Direitos Humanos por agentes do Estado na repressão aos opositores.

Só conhecendo inteiramente tudo o que se passou naquela fase lamentável de nossa vida republicana o Brasil construirá dispositivos seguros e um amplo compromisso consensual – entre todos os brasileiros – para que tais violações não se repitam nunca mais”. Sobre violações de direitos humanos praticadas por “opositores”, nenhuma palavra. O projeto de criação da Comissão da Verdade –que agora tramita no Senado – acabou sendo escoimado de radicalismos unilaterais e se concentra agora na ideia do estabelecimento de um grupo de sete pessoas nomeadas pela Presidência da República que se dedicará, pelo prazo de dois anos, a levantar informações sobre a chamada “guerra suja”, visando, principalmente, a apurar o paradeiro de brasileiros desaparecidos ou as circunstâncias em que pessoas foram mortas naquele entrevero. As negociações que permitiram a aprovação

Excessos tolerados

V

oltou a ser de grande tolerância a atitude das autoridades brasileiras em relação às medidas prejudiciais à economia do País tomadas pelo governo argentino. Desrespeitando normas do comércio internacional e as regras do Mercosul, o governo da presidente Cristina Kirchner está impondo novas restrições à entrada de produtos brasileiros em seu país. Mas a nota divulgada há dias pelo Ministério do Desenvolvimento (MDIC), em resposta a queixas de exportadores brasileiros contra essas restrições, não deixa dúvidas de que, quaisquer que sejam os problemas criados pela Argentina e suas consequências nocivas para as empresas brasileiras, por enquanto nada será feito. Em resposta à denúncia de que a Argentina está retendo na alfândega 3,4 milhões de pares de calçados por prazo de até 210 dias, quando o máximo permitido pelas normas da OMC é de 60 dias, o MDIC informou que está fazendo esforços para que a liberação dos produtos “ocorra nos prazos mais curtos possíveis” e que “seguirá empenhado em resolver todos os casos”. Ou seja, não fará nada diferente do que tem feito. Isso significa que também a Argentina terá toda a tranquilidade para continuar a fazer o que já faz – dane-se, por isso, a empresa brasileira. As perdas não são poucas. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), os cal-

tura. Diz o ditado que quem não deve não teme. É evidente que cabe ao juiz que for denunciado ao CNJ amplo direito de defesa. Porém, havendo fundada prova de ato irregular ou ilegal, e após decisão do CNJ, deve ser exemplarmente punido. O CNJ foi criado justamente porque as Corregedorias dos Tribunais de Justiça nunca atuaram a contento – segundo o Estadão (A4), 18 de 29 corregedores de tribunais são alvo de ações, isso é inaceitável. Caso o STF decida por enfraquecer as competências do CNJ, resta ao Senado propor emenda constitucional ampliando os mais que necessários poderes do Conselho.

çados retidos na alfândega argentina à espera de licença para entrada no país valem US$ 33,8 milhões e representam metade do que o Brasil exportou para seu principal sócio no Mercosul nos sete primeiros meses de 2011. Faz tempo que a Argentina tenta conter a entrada de calçados brasileiros. Acordo firmado em 2009 limitou a 15 milhões de pares o total das exportações anuais brasileiras. No passado, foram exportados 14,1 milhões de pares. Neste ano, com as dificuldades impostas pelo governo Kirchner, o volume será ainda menor.

Brasília continua permitindo que a Argentina bloqueie exportações brasileiras Como a produção argentina não é suficiente para cobrir essa diferença, ganham os exportadores de outros países, em particular os chineses. Na tentativa de explicar sua condescendência em relação aos excessos protecionistas do governo Kirchner, a nota do MDIC tentou mostrar que o Brasil está sendo até bem tratado pela Argentina. “A Argentina, um dos principais destinos de produtos manufaturados brasileiros, tem feito exigências a todos os seus parceiros comerciais”, segundo a nota. “As licenças de importação para produtos brasileiros, inclusive, têm sido concedidas em menor tempo do que para outros países.” De fato, a Argentina vem im-

pois não teria o que denunciar. RICARDO MARIN s1estudio@ig.com.br Osasco

Mazelas

Juízes comprados

Brilhante e corajosa a atitude da corregedora Eliana Calmon quanto às mazelas que dominam o Judiciário. Não sei se há bandidos de toga, mas uma coisa é evidente: há, sim, sob as togas muitos ministros, desembargadores e juízes comodistas e letárgicos nos julgamentos que a sociedade – que paga seus polpudos salários e benesses – espera. Cito dois exemplos grotescos: a lerdeza no julgamento do mensalão, que já se arrasta por mais de seis anos, e a canhestra e estranha censura imposta ao Estadão, que perdura há inacreditáveis 793 dias!

Se o Brasil fosse um país sério, Eliana Calmon não falaria nada,

PAULO RIBEIRO DE CARVALHO JR. paulorcc@uol.com.br São Paulo

CARLOS RODRIGUES, advogado berodriguess@yahoo.com.br São Paulo

do projeto pela Câmara incluíram a ampliação do período que será investigado, de 1946 – fim da ditadura Vargas – até 1988 – já em pleno processo de redemocratização. Venceu-se, assim, a resistência dos que se opunham a colocar na berlinda exclusivamente os mais de 20 anos do regime militar de 1964. Houve acordo também sobre a definição do perfil dos futuros integrantes da comissão. Serão necessariamente pessoas desvinculadas de partidos, organizações não governamentais ou dos quadros da administração pública, que demonstrem, até o ponto em que isso é possível reconhecer, postura isenta em relação aos fatos a serem apurados. A maneira como a Comissão da Verdade está sendo constituída parece indicar que o bom senso afinal prevalecerá, em benefício do objetivo maior de reconciliação nacional e da construção de um futuro assenta-

do em bases de convivência democrática. A última tentativa de impor a essa questão, em nome de uma visão estreita de direitos humanos, um tratamento sectário e unilateral, foi derrotada essa semana na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara. Projeto de autoria da deputada Luiza Erundina (PSBSP), que previa a revisão da Lei da Anistia e a possibilidade de levar a julgamento agentes do Estado responsáveis por mortes, torturas e desaparecimento de opositores do regime militar, foi rejeitado por expressiva maioria. Por mais dolorosa que seja a memória de episódios da ditadura, a Lei da Anistia colocou um ponto final nessa questão. Resta apenas o trabalho de recompor historicamente esse período de triste memória da vida nacional, até para evitar no futuro a repetição dos mesmos erros. É a missão que caberá à Comissão da Verdade.

Dinheiro mal gerido pondo dificuldades crescentes à entrada de produtos estrangeiros de todas as procedências. Agora as restrições incluem até livros – estima-se que haja 1 milhão de volumes retidos na alfândega –, um fato espantoso num país com índice de leitura tão alto como a Argentina. Mas a justificativa não pode ser aplicada a produtos brasileiros. Ao utilizá-la, o governo brasileiro ignora o fato de que Brasil e Argentina – com Uruguai e Paraguai – integram o que, formalmente, é uma união aduaneira, que permite a livre circulação de mercadorias e serviços entre seus integrantes. O Brasil não está sendo tratado como parceiro do Mercosul, mas como qualquer outro país fora do bloco. O Brasil tenta manter as aparências de uma sociedade feliz no Cone Sul da América do Sul. Da criticada imposição do aumento do IPI sobre automóveis importados anunciada há pouco, o governo brasileiro excluiu os carros argentinos. Essas atitudes discrepantes tornam a sociedade esquisita. Compreende-se a irritação do presidente da Abicalçados, Heitor Klein, diante da benevolência do governo brasileiro em relação às medidas tomadas pela Argentina.Nãohárazõeseconômicas que justifiquem tal atitude, que Klein atribui a interesses políticos. Ele acredita que o governo brasileiro age desse modo “para não criar problemas para a presidente Cristina Kirchner”.Ela écandidata àreeleição, no dia 23 de outubro. Até lá, pelo visto, nada mudará.

“Presidenta, que tal um plebiscito?” LUIGI VERCESI / BOTUCATU, SOBRE A DECLARAÇÃO DE DILMA DE QUE A POPULAÇÃO PEDIRÁ NOVO IMPOSTO PARA A SAÚDE luver44@terra.com.br

“Cota para Político Melhorar as Finanças. Haja bolso do surrupiado contribuinte brasileiro!” MILTON BULACH / CAMPINAS, SOBRE A PRETENDIDA NOVA CPMF mbulach@gmail.com

A

o reconhecer que a área de saúde enfrenta um “problema sério de gestão”, a presidente Dilma Rousseff apontou para uma das mais graves deficiências da administração pública brasileira, sobretudo a federal, e que não se restringe ao setor por ela mencionado. No caso do governo federal, a má qualidade de gestão se estende a praticamente todas as áreas, e uma de suas consequências mais visíveis e danosas para o contribuinte e para os cidadãos em geral é o atraso crônico dos programas de investimentos em melhoria e expansão dos serviços públicos. A sociedade paga impostos escorchantes, mas a contrapartida do governo, que é a oferta de serviços, vem com muita lentidão, quando vem, e com qualidade inferior à esperada. Referindo-se especificamente à saúde, Dilma não se queixou da falta de dinheiro. “A gente tem recursos e o uso desses recursos tem de ser melhorado”, disse a presidente à TV Record. “Nós vamos melhorar a gestão da saúde nesse país e, quando ficar claro para a população que ela precisa de mais coisa, ela mesma vai se encarregar de pedir”, prometeu, fazendo referência indireta à recriação de um imposto específico para a área de saúde. “Temos de provar, o governo federal, estaduais, municipais, que podemos gerir bem a saúde e, a partir daí, começar a conversar claro com a população.” Se isso for feito, será possível constatar que, se bem apli-

cados, os recursos públicos atuais são mais do que suficientes para melhorar os serviços de saúde, sem cortar investimentos em outras áreas e sem a necessidade de um novo imposto. Dinheiro existe, mas os investimentos em outras áreas não estão sendo feitos na velocidade necessária, pois, por problemas de gestão, os projetos demoram para sair do papel. Apontado há meses por instituições não governamentais e pela imprensa, o atraso na execução dos programas de investimentos começa a preocupar o próprio governo, como mos-

Dilma finalmente reconhece que há graves deficiências na administração pública trou o Estado (29/9). CaracterísticadogovernoLula, a dificuldade de gastar está se transformando em marca da administração petista, pois também o governo Dilma vem executando muito lentamente seus programas de investimentos. O ritmo étão lento que atéo secretário do Tesouro, Arno Augustin, teve de admitir isso em recente entrevista ao Estado. O problema mais notório é o do Ministério dos Transportes, o mais afetado pela “faxina” nas áreas atingidas por denúncias de irregularidades. Essa é a pasta responsável pelo maior volume de investimentos federais, e a troca do ministro e da diretoria do Dnit paralisou muitas obras. Mas Ministérios não alcança-

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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‘Baixa, gorda e índia’, secretária critica Hope

757

Aparecida Gonçalves, do combate à violência contra a mulher, questiona campanha com Gisele Bündchen ● “A Hope está adorando a polêmica.” ORLEI AMBROSIO DOS SANTOS

● “Sugiro uma pesquisa entre mulheres. Sou bem diferente da Gisele e não me ofendi. Cada mulher é sexy do seu jeito e pode, sim, seduzir seu companheiro.” MARGARETE APARECIDA OLIVEIRA

HÁ 793 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Ainda que ‘gorda, baixa e índia’, essa senhora poderia, sim, ser sensual e provocante.” EDDIE SAMPAIO

dos pela “faxina” também apresentam resultados apenas sofríveis quanto à aplicação das verbas destinadas a investimentos. Emboraatingido emmarço pelo corte deR$ 5,1 bilhões desua dotação original de R$ 12,6 bilhões para este ano, o programa Minha Casa, Minha Vida ainda dispõe de um volume expressivo de dinheiro. Mas praticamente nada saiu do papel em 2011, por causadeentraveslegais.Doponto de vista contábil, o programa já pagou cerca de R$ 4 bilhões em2011,massãorecursosincluídos na conta “restos a pagar”, de compromissos assumidos em exercíciosanteriores. Obras novas quase não há. O Minha Casa, Minha Vida é parte do novo Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC 2,eresumeaexecuçãodesseprogramanogovernoDilma.Embora o atual governo tenha desembolsado R$ 16,7 bilhões para o PAC, mais de 80% desse valor se refere a compromissos herdados do governo anterior. Há sérios atrasos nas obras da Copa do Mundo – que, no que se refere aos estádios, recebem a atenção dos dirigentes do futebol. Mas as obras de mobilidade urbana, que serão o principal legado da Copa para o brasileiro comum, só receberam 1,1% dos investimentos previstos. Ainda que tardio, pois surge nove meses depois do início de seu governo, o reconhecimento doproblemapelapresidenteDilma Rousseff é um passo essencial para buscar soluções. O País espera, de fato, que o governo seja capaz de realizar os investimentos que programou, no ritmo que programou.

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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 2 DE OUTUBRO DE 2011

Reportagem Especial ✽ Que País é Este?

● Marcelo Yuka, EX-BATERISTA DO GRUPO O RAPPA

“A música está um pouco afastada do discurso político. A violência está mais em alta do que a política, até porque a mídia precisa disso e os jovens seguem”

POLÍTICA E ARTE

NO PALCO DO ROCK, O GRITO DE DINHO PELA LIBERDADE DE IMPRENSA Experiente líder do Capital Inicial revitaliza debate sobre a politização dos jovens

E

Julia Duailibi

m 1985, o Brasil assistia àprimeira edição dofestival de música Rock in Rio.Noquintodiadoencontro,15 dejaneiro, enquanto bandas como AC/DC e Barão Vermelho se revezavam no palco da Cidade do Rock, o País vivia um momento de otimismo: Tancredo Neves e José Sarney eram eleitos pelo Colégio Eleitoral presidente e vice-presidente do País, depois de duas décadas de ditadura. Passados quase trinta anos e seis eleições diretas para presidente, José Sarney voltou a aparecer como protagonistapolíticonaquartaediçãobrasileira do festival. Mas, dessa vez, as menções ao presidente do Senado ocorreramemcontextomenos elogioso e de maneira mais direta. “Essa daqui, velho, é para as oligarquias, cara, que parecem ainda governar o Brasil. Que conseguem deixar os grandes jornais brasileiros censurados durante dois anos, como o Es-

tado de S. Paulo. Cara, coisas inacreditáveis... Essa daqui é para o Congresso brasileiro. Essa daqui é em especial para o José Sarney. Isso daqui se chama Que País é Este”, anunciou o vocalista do Capital Inicial, Dinho Ouro Preto, para uma multidão de cem mil pessoas, no dia 24. Expoente da geração dos anos 80 do rock nacional, que usou a música como formadeprotestopolítico,Dinhoreferiase à censura de 793 dias a que o Estado está submetido desde que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal proibiu o jornal de divulgar informações sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado. Aos 47 anos, o músico cantou o clássicodeRenatoRusso,escrito em1978,épocaemque o Paísvivia uma asfixiapolítica e se preparava para ingressar no cenário de instabilidade econômica dos anos 80. Na plateia do Rock in Rio, milhares de jovens de uma outra geração. Pessoas que nasceram quando já se podia votar para presidente. Jovens que ouviram falar de “plano econômico”, “Cruzeiro” ou

“Cruzado” pelos livros escolares e que usam as mídias sociais como forma de protesto, principalmente em questões comportamentais.EnquantoDinho cantava para essa plateia, a multidão gritava: “Ei, Sarney, vai tomar...”. Dinho, que diz já ter cogitado se candidatar e conta preferir ler a cobertura jornalística nacional à cultural, conversou sobrepolítica comoEstado na sexta-feira, no Rio: “Está se caminhando para um Brasil moderno enquanto formas muito arcaicas de fazer política continuam enraizadas. Não é possível que o Brasil moderno possa coexistir com o Brasil desses coronéis e oligarcas neandertais”. Em seguida, ponderou: “Neandertais no sentido antigo, não no cerebral”. Ele diz que são “alarmantes” as agressões à liberdade de imprensa na América Latina. “Quando se resumia a países menores, você conseguia caracterizar como, talvez, um espasmo patrocinado pelo Hugo Chávez (presidentedaVenezuela)”, disse. “Mas fica mais grave quando você pega um país com as proporções da Argentina, país que até há pouco tempo era o mais desenvolvido da

Filho da revolução

DINHO OURO PRETO

VOCALISTA DO CAPITAL INICIAL

“Está se caminhando para um Brasil moderno enquanto formas muito arcaicas de fazer política continuam enraizadas. Não é possível que o Brasil moderno possa coexistir com o Brasil desses coronéis e oligarcas neandertais” “Congresso do PT falando em controle da imprensa, não sei o que tem em mente, se é algo à la Stalin. O que eles querem exatamente? As leis existem para coibir abusos, se você se sentir insultado, afrontado ou lesado por alguma notícia”

América do Sul. Aí começo a ficar preocupado. E o mais grave é que a Cristina (Kirchner, presidente) vai se reeleger”, completou. Parao músico,“historicamenteaAmérica Latina tende a caminhar em manada”.“Oqueacontecenumpaísfrequentemente acontece nos outros: o regime mi-

litar, a redemocratização e até os movimentos de independência, se quiser ir mais longe”, avaliou. “Congressos do PT falando em controle da imprensa, em regulamentar a imprensa... Não sei o que eles têm em mente, se é algo à la Stalin. O que querem exatamente? A mim parece que as leis existem para coibir abusos: se você se sentir insultado, afrontado ou lesado por alguma notícia”, completou. Geração. O jornalista e crítico musical

Arthur Dapieve diz que a politização foi um marco da geração de Dinho, a dos anos80,principalmenteentrebandascomoLegiãoUrbanaePlebeRude.“Apolitização caiu muito com a democratização. Mais fácil ser politizado quando há um antagonista claro, como os militares, a ditadura”, disse. “Os jovens da atualidade não passaram por hiperinflação, por privações maiores, grande crises econômicas. E aquela coisa: se a economia vai bem, eles não veem maiores razões para protestar. Mesmo que façam coro com o Dinho na hora que toca Que País é Este. Há um certo entorpecimento que a boa fase econômica cria. Não só nos jovens, mas comboa parteda população”,avalia. Para a secretária nacional de Juventude, Severine Macedo, ligada à Presidência da República, não dá para fazer uma comparação entre as gerações. “Hoje a juventude tem um conjunto de pautas, e os grupos se articulam em favor das suas demandas. Não são bandeiras únicas. Então, aparentemente, dá a impressão de que há um processo de desmobilização”, afirmou. “Há jovens que não se organizam mais pelo sistema tradicional de partidos, sindicatos ou movimento estudantil. Mas a partir de seu grupo cultural, de sua comunidade, do movimento de periferia, nos grupos GLBT”, declarou. Líderdomovimento estudantildos caras-pintadas, que foi às ruas pedir a queda de Fernando Collor em 1992, o senador Lindberg Farias (PT-RJ) diz que a geração dele “não era melhor” do que a atual: “Essa é uma geração mais antenada, que aceita mais diversidade e tem


O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 2 DE OUTUBRO DE 2011

● Nelson Motta, PRODUTOR MUSICAL

● Paulo Miklos, INTEGRANTE DOS TITÃS

“Acho que a juventude é até mais diversificada, talvez um pouco mais ignorante, mas no geral eles têm uma ânsia de alguma participação política, social, que a internet facilita muito”

“São contextos diferentes. A gente vinha de outro momento político, Não se deve exigir isso dessa geração. Ser panfletário está por fora”

● Arthur Dapieve, CRÍTICO MUSICAL

“A juventude é majoritariamente alienada do processo político. Acha que nada que fizer fará diferença”

FABIO MOTTA/AE

● Jovens

e Política

59%

dos jovens brasileiros dizem não ter preferência por nenhum partido

83%

concordam com a afirmação de que poder político concentrado nas mãos de poucas pessoas é o grande problema do Brasil

71%

dos jovens concordam que usar a internet para mobilizar as pessoas é um jeito de fazer política

74%

afirmam que têm vontade de participar de projetos comunitários. Desses, 7% dizem que têm interesse na área da política

76%

dos jovens brasileiros acreditam que o País está mudando para melhor

89%

dos jovens têm mais orgulho do que vergonha de ser brasileiro Fonte: Pesquisa da Box 1824

Vigilante. Para o vocalista Dinho Ouro Preto o Brasil e outros países da América Latina precisam estar atentos às iniciativas de controle da imprensa mais senso ético. Não é correto dizer que está na rua ou é alienada. Para aglutinar, precisa de crise. Felizmente, não temos mais isso”, afirmou. As conjunturas econômica, política e atéeducacional pesaramemoutros lugares do mundo e levaram, neste ano, milhares de jovens, de realidades díspares,

às ruas da Grécia, da Espanha, do Chile e, inclusive, em Wall Street, coração financeiro dos Estados Unidos. A “primavera árabe”,quederrubouditadoresdoOrienteMédio,tornou-sesímbolopolíticodesses movimentos. Em reportagem publicada na semana passada, o New York Times disse que os jovens desta geração

vão para as ruas porque não têm fé nas urnas e porque veem com “desconfiança e até desprezo os políticos tradicionais e o processo político democrático”. O sociólogo Gabriel Milanez, da empresa de tendências Box 1824, coordenou a pesquisa O Sonho Brasileiro, com pessoas entre 18 e 24 anos, concluída em

Nacional A15

2011 (leia acima). “Hoje a noção de política do jovem é menos partidária. Ele não pensa política pelo viés do partido ou da política institucional de Brasília. Expandiu a noção política para outras esferas.” Veterano. Dinho Ouro Preto também

achaqueosjovenshojesãomais“despoli-

tizados”. “Eles cresceram num País muito diferente do nosso. Isso favorece um distanciamento, ao menos dos garotos de classe média. Aliado ainda à percepção de que o País está crescendo, talvez os torne mais egoístas”, afirmou o músico. Ainda assim, ele diz que, como “veterano”, leva para a plateia “os temas políticos da semana”. Foi o que fez no Rock in Rio, sábado passado. “Mas você pensa em falar alguma coisa e na hora não sai como você quer. Você está emocionado, tem muita gente gritando. Então, você acaba não sendo tão eloquente quanto gostaria de ter sido”, afirmou. “Gostariadeterditomais.Você acaba soltando um apanhado do que gostaria de dizer. Não consegue o mesmo foco que seria necessário. Mas é um show de rock, não é um comício. O seu coração vai a 180 batimentos por minuto, sei lá a quanto vai”, contou. Asdeclarações domúsicolherenderam críticas. No Maranhão, Estado de Sarney, o deputado estadual Magno Bacelar(PV)dissequepediráumamoção de repúdio contra Dinho. “Muitos dosmetaleirosvãoalidrogados,maconhados”, declarou o parlamentar. Dinho disse ter achado o episódio “engraçadíssimo. “O cara que falou isso é do PV! O PV, na verdade, não é nada do que eu achava. É do Zequinha (Sarney), filho do cara. Me interessei peloPVporcausadoGabeira, maspercebique éum partido muito heterogêneo”,afirmou.Omúsicocontaque votou na última eleição em Marina Silva, do PV. No segundo turno, anulou o voto. “Sempre votei no Lula. Parei depoisdomensalão.NãoachooLulacorrupto, eu faço uma boa avaliação do governo dele. Mas o grande erro foi a condescendência com aliados e com a coalizão que o sustentou”, disse. Dinho diz que o próximo CD do Capital terá conteúdo político. A riqueza das Nações, em referência ao pai do liberalismo, Adam Smith, trará o verso “vamos fazer uma revolução”. Tema atual, com certa dose de saudosismo.


A2 Espaço aberto %HermesFileInfo:A-2:20111003:

O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 3 DE OUTUBRO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

Pouca democracia em eleição no TJSP ✽ ●

ALOÍSIO DE TOLEDO CÉSAR

C

om a aproximação do fim do ano, começa a desenhar-se no Tribunal de Justiça do EstadodeSãoPaulo (TJSP) o quadro sucessório, uma vez que o atual presidente, o vice-presidente e o corregedor-geral de Justiça terminam sua gestão em 31 de dezembro. Essa eleição, infelizmente, assim como as anteriores, não será nem um pouco democrática. O mandato dos desembargadores eleitos para os cargos de direção é de dois anos, mas, destavez,comofalecimentodopresidente Viana Santos no exercício do cargo, cerca de um ano atrás, houve nova eleição para um mandato-tampão, que está para chegar ao fim. Muito embora a partir de 1988 o País tenha aprovado uma nova Constituição federal, que veio garantir amplo exercício das liberdades políticas, com eleições, que são disputadas democrática e livremente, para o ExecutivoeoLegislativo,noJudiciário paulista o sistema de escolha de seus dirigentes permanece emdesacordocomaaberturademocrática. De fato, os três cargosde direção (presidente, vicepresidente e corregedor-geral) são destinados pela Lei Orgânica da Magistratura aos três desembargadores mais antigos, circunstância que deixa de fora da disputa todos os outros, por mais merecedores e talentosos que se mostrem. A restrição da disputa aos mais antigos apresenta o inconveniente de eleger pessoas que completarão 70 anos no curso do mandato e, por isso, serão afastadas compulsoriamente. Exemplo disso está na situação dos três desembargadores mais antigos, Souza Lima, Corrêa Vianna e Luiz Pantaleão, que completarão70anosrespectivamente em maio, outubro e novembro de 2012. Nenhum deles manifestou desejo de concorrer e, caso anunciem a desistência, os candidatos serão escolhidos pelaordemde antiguidade,imediatamente abaixo deles. O atual presidente, José Roberto Bedran, foi eleito para completar o mandato de Viana Santos, falecido no final do ano passado. Sem unanimidade, esboça-se um movimento para que Bedran concorra à reeleição e permaneça no posto até julhode2012,quando completará 70 anos. Asdecisões envolvendooprocesso eleitoral no TJSP são tomadas pelos 25 desembargadores integrantes do Órgão Especial,escolhidosmetade poranti-

guidade e metade por eleição. O voto é extensivo a todos os desembargadores, mas os juízes ficamde fora, ematitudecontemplativa,semnenhuma participação. Essa conduta decorre da Lei Orgânica da Magistratura, nascida no berço da ditadura, quando era presidente da República o general Ernesto Geisel e ministro da Fazenda, Armando Falcão, aquele que se notabilizou por não ter nada a declarar. Lamentavelmente, o Supremo Tribunal Federal entendeu tersidorecepcionadopelaConstituição federal de 1988 o artigo 102daLeiOrgânica daMagistratura, que restringe aos três desembargadores mais antigos o direito preferencial à eleição. A reserva legal dos três mais antigos pune o talento e a criatividade. Embora experientes, esses três apresentam o inconvenien-

Reserva legal decorre da Lei Orgânica da Magistratura, nascida no berço da ditadura tedeencontrarcondiçõesdeelegibilidade só quando já estão próximos da compulsória, como ocorre no momento. De outra parte, os mais jovens,cadaumcom suaexperiência, gostariam de participar e de concorrer aos cargos de eleição. Mas, infelizmente, ficam de fora, uma vez que o critério tradicional é o de escolher os nomes apenas pelo critério decrescente de antiguidade, de cima para baixo. Se alguém lá de cima não se interessa em participar, é chamado o que vem logo abaixo, e assim por diante. No momento, abaixo dos três desembargadoresmais antigos,que dificilmente concorrerão, seguem-se, pela ordem, David Haddad, que sai em abril, e Gonzaga Franceschini, um dos mais novos e que poderá ser presidente, se quiser, porque só se aposentará em fevereiro de 2014. É voz corrente no tribunal que esse desembargador, muito estimado, não concorrerácasoo presidenteJosé Roberto Bedran pretenda se reeleger. Abaixo deles, ainda na ordem deantiguidade,estãoAlvesBevilacqua, Santi Ribeiro e Guerrieri Rezende. Bevilacqua e Rezende teriam tempo para cumprir quase todo o mandato de dois anos e surgem como eventuais candidatos, mas igualmente não assumiram a candidatura. Favorecido pela reputação de ter sido bom presidente do Tribunal de Alçada Criminal, na mesma ordem de antiguidade, o desembargadorRibeirodosSantos é visto como eventual candidato ao cargo de presidente, mas também ele vem dizendo que nada postula.

Bemcolocadonaordemdeantiguidade, e sendo um dos mais jovens, o desembargador Walter Guilherme poderia, se eleito,cumprirosdois anosde mandato.Todavia,como oÓrgãoEspecialjáofavoreceucomapresidência do Tribunal Regional Eleitoral, um novo benefício não é esperado, porque significaria dar à mesma pessoa os dois maiores prêmios da carreira de magistrado. Como candidato favorito ao cargo de corregedor, é sempre apontado o desembargador Hamilton Ackel, considerado um dos exemplos da magistratura. A restrição do voto exlusivamente aos desembargadores, com todo o seu ranço, é defendida pela maioria deles, ao fundamento de que a extensão do direitoaosjuízesserviriaparapolitizar partidariamente o tribunal. Enfim, realiza-se uma eleição de cúpula, com votação somente de uma elite funcional, para escolha de dirigentes que administrarãoparatodos,inclusive os que não votaram. Esse sistema eleitoral, fruto da mencionada Lei Orgânica da Magistratura, destoa completamente da realidade brasileira presente, cujos exemplos de livre democracia são evidenciados pela eleição de um operário e depois de uma mulher para a Presidência da República. ✽ DESEMBARGADOR APOSENTADO DO TJSP, É ADVOGADO E JORNALISTA. E-MAIL: ALOISIO. PARANA@ GMAIL.COM

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

O avanço das drogas ✽ ●

CARLOS ALBERTO DI FRANCO

A

população de internos da Fundação Casa de São Paulo (ex-Febem) diretamente ligada ao tráfico de entorpecentes cresceu quase 100% em comparação com 2006. O censo realizado na fundação, naquele ano, já indicava que 28% dos infratores estavamligadosaotráfico.Neste ano, encostou na barreira dos 40%. Os indicadores são impressionantes. Conversei com a presidente da instituição,BereniceGiannella. “Hájovens que vêm de uma família estruturada”,observa Giannella. “O pai e a mãe trabalham e osfilhos,muitasvezes,seenvolvemcomotráficooucomoroubo porque querem ter acesso a determinadosbens,comoamoto e o tênis de marca.” Para Giannella, a maior presença de garotos de classe média no tráfico de drogas pode estar ligada à significativa expansão do crime. “Costumo dizer que a droga ‘socializa’ o crime. Hoje você tem pessoas da classe média envolvidas com o tráfico – e não apenas com o uso de drogas.” O envolvimento com o narcotráfico já não é uma exclusividade das periferias e dos bolsões da exclusão social. Ele bate às portas das casas dos bairros de classe média, mostra a sua garra aos que se

SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS

Crise?

julgavam imunes ao seu apelo e ensombrece a alma de famílias que sucumbem ao drama da delinquência insuspeitada. SegundoosaudosoLeodeOliveira, fundador da Comunidade Terapêutica Horto de Deus (www.hortodedeus.org.br), em Taquaritinga, no interior do EstadodeSãoPaulo,“crisedafamília, aposta na impunidade, ganho fácil e consumo garantido explicam o novo mapa do tráfico de drogas”. O tráfico oferece a perspectiva do ganho fácil e do consumo assegurado. E a sensação de impunidade – rico não vai para a cadeia – completa o silogismo da juventude delinquente. O quadro é assustador. E a omissão do Estado torna o assunto ainda mais dramático. Após um concerto na Sala São Paulo, fiz uma curva errada e fui

O quadro é assustador. E a omissão do Estado torna o assunto ainda mais dramático parar na Cracolândia. O espetáculode misériahumana que testemunhei deixa os personagens de Os Miseráveis, de Victor Hugo, no chinelo. A degradação é impressionante. Jovens e crianças consomem drogas, sobretudo crack, sob o olhar da autoridade policial. A Cracolândia, cujo fim foi anunciado inúmeras vezes pela Prefeitura paulistana, especialmente em época eleitoral, é uma vergonha e um atestado de incompetência das autoridades da maior cidade do País. Mas o câncer do crack se espalha por todos os municípios brasileiros. Alguns, decepcionados com a ineficiência dos governos e apoiadosnumacerta ingenuidade, defendem a liberação das drogas consideradas leves, como a maconha, o ecstasy ou as anfetaminas. Caso adotássemososprincípiosadvogadospelos defensores da liberação, o Brasil estaria entrando, com o costumeiro atraso, na canoa furada da experiência europeia. A Holanda, que foi pioneira ao autorizar a abertura de cafés onde era permitido consumir maconha e haxixe, já está retificando essa política. O mesmo ocorre na Suíça, que também está voltando atrás na política de liberar espaços em que viciados se encontramparainjetarheroínafornecida pelo próprio governo. Um amigo jornalista, irônico e inteligente,deixoucairapergunta que paira na cabeça de muita gente:seráqueFernandinho Beira-Mar forneceria ao governo a maconha que seria repassada aos usuários? Todos sabem que, assim como não existe meia gravidez, também não há meia dependên-

cia. É raro encontrar um consumidor ocasional. Existe, sim, usuário iniciante, mas que, muito cedo, se transforma em dependentecrônico.Afinal, acompulsão é a principal característicadoadicto. Umcigarroda“inofensiva” maconha preconizada pelos arautos da liberação pode ser o passaporte para uma overdosede cocaína.Transcrevo, caro leitor, o depoimento de um dependente químico. Ele fala comaexperiênciade quemesteve no fundo do poço. “Sou filho único. Talvez porque meus pais não pudessem ter outros filhos me cercavam de mimoserealizavamtodasasminhas vontades. Aos 12 anos comecei a fumar maconha, aos 17 comeceiacheirarcocaína.Eperdi o controle. Fiz um tratamento psiquiátrico, fiquei nove meses tomando medicamentos e voltei a fumar maconha. Nessa épocajá cursavamedicinaeconvenci os meus pais de que a maconha fazia menos mal que o cigarro comum. Meus argumentos estavam alicerçados em literatura e publicações científicas. Eles mal sabiam que estavam sendo enganados, pois, além de cheirar, também passei a injetar cocaína e dolantina, que é um opiáceo. Sofri uma overdose e somentenãomorri porqueestava dentro de um hospital, que é o meu local de trabalho. Após essa fatalidade decidi me internar numa comunidade terapêutica e hoje, graças a Deus, estou sóbrio. O uso moderado de maconha sempre acabava nas drogasinjetáveis.Somente asobriedade total, inclusive do álcool, me devolveu a qualidade de vida que não pretendo trocar nem por uma simples cerveja ou uma dose de uísque” – A. S. N, médico, Ribeirão Preto (SP). De acordo com o respeitado especialista Ronaldo Laranjeira, professor de Psiquiatria e coordenadordaUnidade dePesquisaemÁlcooleDrogasdaUniversidade Federal Paulista (Unifesp), “assistimos a uma grande negligência com o tratamento da dependência química (...). Não temos apoio governamental às mais de 2 mil comunidades terapêuticas que sobrevivem do voluntariado ou de parcosrecursosde doações.Nãotemos apoio aos grupos de autoajuda. Não damos apoio aos milhares de famílias que sofrem no seu dia a dia, buscando algum tipo de tratamento para seus parentes”. As drogas estão matando. A dependênciaquímica não admite ingenuidade. Reclama, sim, realismo e seriedade. ✽ DOUTOR EM COMUNICAÇÃO, É PROFESSOR DE ÉTICA E DIRETOR DO MASTER EM JORNALISMO E-MAIL: DIFRANCO@IICS.ORG.BR

Fórum dos Leitores COMÉRCIO EXTERIOR Troco na Argentina

A Argentina barra a entrada de calçados brasileiros, causando enormes prejuízos aos fabricantes, que não conseguem licenças para vender no país vizinho, e em alguns casos já passa de 200 dias. Por que tanta demora do governo brasileiro em resolver o problema, quando é só dar o troco barrando a entrada de automóveis argentinos no Brasil? EDGARD GOBBI edgardgobbi@gmail.com Campinas

GOVERNO DILMA Sem rumo

O governo Dilma é o sonho de consumo de toda oposição. Sem rumo, sem metas, sem competência. A começar pela própria presidente, que deixou pelo meio do

caminho a faxina na administração pública, que todos nós, brasileiros decentes, torcíamos para que continuasse. E o que dizer da conjuntura econômica? Inflação em alta e revisão para baixo do crescimento do PIB não são exatamente indicativos de uma economia saudável... Sobre as obras de infraestrutura para a Copa de 2014, a solução para os atrasos – que muito provavelmente tornarão inviável o término a tempo da maioria dos projetos planejados – é simples: decreta-se feriado nos dias dos jogos! Nota 10 em planejamento, hein?! Que o diga a saúde pública: se ela vai mal, estabeleça-se um novo imposto. Afinal, o que é um mero trilhão de reais no Impostômetro? Esse é o Brasil do PT, da oposição mais inepta da História deste país e de um tal partido novo, o PSD, que não está nem aí para tudo isso e só quer saber mesmo da famigerada Constituinte. HENRIQUE BRIGATTE

hbrigatte@yahoo.com.br Pindamonhangaba

FARINHA POUCA... ... meu pirão primeiro

O presidente do PSD, prefeito omisso e incompetente da maior cidade do País, que cobra IPTU extorsivo e sem retorno e só faz política, em vez de “prefeitar” e cumprir a sua obrigação, para o que é pago, informa que o partido apoiará Dilma – como apoiaria qualquer governo, como outros da base, que vendem apoio por cargos e intere$$e deles, e não dos eleitores/contribuintes. Basta ver como vários políticos mudaram para essa legenda. Aliás, político muda de partido como se fosse cueca. E os eleitores antas votam nesses sujeitos, só verbo e sem predicados. MÁRIO A. DENTE dente28@gmail.com São Paulo

Partidos políticos

E o PT, que já foi substantivo, hoje é mero adjetivo. CARLOS DELPHIM DA GAMA NETO carlosgama@croniquetas.com.br Santos

Mosquedo

A criação do PSD não constrói nada de novo, apenas reagrupa uma grande quantidade de moscas sobrevoando mais do mesmo (ou da mesma...). FLAVIO MARCUS JULIANO opegapulhas@terra.com.br São Paulo

Toma lá dá cá

Vem por aí a criação de mais alguns ministérios, para levar para a base os companheiros do PSD. CARLOS NORBERTO VETORAZZI

cnorbertovetorazzi@yahoo.com.br São José do Rio Preto

PODER JUDICIÁRIO Acima das leis?

O missivista sr. William Carvalho (30/9), ao dar os parabéns e intimamente chamar de “companheiro” o ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal (STF), dá a entender também ser juiz. Até aí, tudo normal. Mas chamar a corajosa dra. Eliana Calmon de traidora, pérfida, desleal e elitista é outra história! Vai além de uma simples ofensa. E causa surpresa virem tais palavras de um trabalhador corporativo (como se identificou), bem como não aceitar que alguém seja investigado, punido e condenado quando provas concretas forem levantadas contra o malfeitor – seja ele juiz, empresário, político ou qualquer outro cidadão igual perante a lei. Juiz está acima das

leis? P. S.: Se é verdade que nos últimos 500 anos a corporação se vem mantendo íntegra (palavras do missivista), aqui, em São Paulo, temos um juiz condenado por ter roubado milhões do Fórum Trabalhista – e não parece ser tão velho assim. ROGÉRIO AMIR RIZZO rizzomoreno@superig.com.br São Paulo

Toga em moda

Eu, cidadão comum, preocupado com o cumprimento de meus deveres, não tenho conhecimento da existência de “bandidos de toga”, como disse a corregedora nacional, Eliana Calmon. Porém imagino que haja muito bandido de colarinho branco se abrigando à sombra das togas escuras de alguns magistrados. Em vez de o ministro Cezar Peluso querer enquadrar o CNJ, ele devia, isso sim, reunir os seus pares do STF


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 3 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

O Brasil torce pela China O Brasil terá um bom apoio para enfrentar a crise internacional, se a China, principal mercado para suas matérias-primas, continuar em crescimento. Mas falta saber se a própria economia chinesa poderá manter um bom ritmo de expansão com o mundo rico estagnado. Há sinais “óbvios” de desaceleração, segundo uma nota divulgada nesta sexta-feira pela agência estatal Xinhua. Alguns analistas arriscam previsões de longo prazo. O crescimento chinês será inferior a 5% em 2016, segundo 59% dos entrevistados numa sondagem realizada pela Bloomberg em vários países. A desaceleração já ocorrerá no próximo ano, de acordo com 42% dos 1.031 investidores consultados. O próprio governo chinês, no entanto, mantém um discurso otimista sobre

as perspectivas de curto prazo e o roteiro de ajuste econômico do país. No primeiro semestre o Produto Interno Bruto (PIB) chinês foi 9,6% superior ao de um ano antes. Num período pouco maior – de janeiro a julho – dados parciais continuaram mostrando um nível de atividade muito alto. As vendas no varejo, o investimento em máquinas e construções e o comércio exterior foram, respectivamente, 16,8%, 25,4% e 25,1% maiores que os de igual período de 2010. Esses números foram apresentados na semana passada pelo presidente do Banco do Povo da China, o banco central, Xie Xuren, durante a assembleia conjunta do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. “O desenvolvimento saudável e estável da economia chinesa continuará sendo uma contribuição positiva para a recuperação da economia global”, afirmou. O próprio FMI projeta uma desa-

celeração muito pequena para a China: 9,5% de expansão do PIB neste ano e 9% em 2012, resultados muito parecidos com a média dos últimos dois anos – 9,2% em 2009 e 10,3% em 2010. Esse notável desempenho resultou da conjugação de um grande estímulo à demanda interna e da manutenção de um grande esforço de exportação num mercado muito menos dinâmico do que antes da crise. Em 2010, as exportações mundiais de bens aumentaram 14,1%, mas essa variação mal compensou a diminuição de 12,1% ocorrida no ano anterior. Na semana passada a Organização Mundial do Comércio reduziu de 6,5% para 5,8% a projeção de crescimento das exportações globais neste ano. As perspectivas para 2012 são de uma expansão menor do comércio internacional, por causa do cenário econômico previsto para o mundo rico – uma desaceleração muito forte

ou, segundo os mais pessimistas, uma recessão. Esta última hipótese depende principalmente de fatores políticos. Se o Congresso americano rejeitar as medidas de estímulo contidas no pacote fiscal proposto pelo presidente Barack Obama, a economia americana levará muito mais tempo para sair da estagnação. Se novos impasses na Europa agravarem a situação dos países mais endividados, o estrago no setor financeiro terá um forte impacto no setor produtivo. Mas há sinais positivos. A mobilização política pela aprovação do novo modelo do fundo de estabilização europeia – aumento de recursos para € 440 bilhões e maior amplitude de ação – é um dado animador, embora insuficiente para eliminar as preocupações. Uma desaceleração maior da economia chinesa dependerá em grande parte da evolução econômica do mundo rico. Quanto pior o quadro

nos Estados Unidos e na Europa, tanto piores as perspectivas da China a curto prazo. Nesse caso, as cotações das matérias-primas serão com certeza afetadas, exceto se as condições de oferta de produtos agrícolas forem muito prejudicadas por eventos naturais. Mas o governo chinês tentará, de toda forma, impor um freio ao crescimento, para conter as pressões inflacionárias. Se o freio for moderado, melhor para o Brasil. De janeiro a agosto o País exportou para o mercado chinês produtos no valor de US$ 29 bilhões, 17,4% da receita global. Nenhum outro país comprou tanto do Brasil. Se os preços das commodities caírem, a receita comercial brasileira será fortemente prejudicada no próximo ano. O País pagará pela negligência do governo em relação às condições efetivas de redução de custos e de elevação da competitividade industrial.

O Ministério dos Correligionários Alívio na regra de conteúdo local

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onsiderando-se “ministro da confiança da presidente Dilma Rousseff”, o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, age com absoluta desenvoltura, tanto no preenchimento de cargos de comando de sua pasta como no repasse de verbas do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Ao tomar posse em 2007, Lupi passou a dispor de 600 cargos de livre provimento, em Brasília e nas Superintendências Regionais do Trabalho nos Estados, e não perdeu tempo em preenchêlos com militantes do PDT, partido do qual é presidente licenciado “pro forma”. Aparelhada a máquina, o ministro tem buscado “novas parcerias” com as centrais sindicais, alegadamente para ajudar o Ministério na intermediação de empregos no Rio e em São Paulo. Ocorre que algumas das centrais sindicais estão proibidas pelo TCU de receber dinheiro público por irregularidades nas prestações de contas. Matreiramente, Lupi encontrou uma brecha para canalizar dinheiro para essas entidades por meio de sindicatos a elas filiados. Trata-se, claramente, de uma burla, pois são as centrais que lideram os programas para onde vão os recursos e são elas que os capitalizam para seus próprios fins. Lupi faz questão de afirmar que separa as funções de ministro de Estado e de militante partidário e que toma o cuidado de só se reunir com seus colegas de legenda depois do expediente. Mas não fica bem cla-

e pôr um ponto final, de maneira rápida e definitiva, à censura ao jornal O Estado de S. Paulo, que já dura mais de dois anos. Os três Poderes devem respeitar e fazer respeitar a Constituição brasileira. É isso que nós esperamos. ALVARO SALVI alvarosalvi@hotmail.com Santo André

STF x CNJ

Há que ser ressaltada a coragem da corregedora do Conselho de Nacional de Justiça (CNJ), ministra Eliana Calmon, seja por ter trazido ao conhecimento da opinião pública uma questão tão importante como é a que se refere aos poderes de investigação do CNJ, em análise no STF, seja também por ter revelado – ainda que sob a forma de um pecadilho, como disse um ministro do STF – a inusitada e injustificada resistência com que alguns tribunais esta-

ro se o convênio com a Confederação Nacional dos Metalúrgicos, que recebeu R$ 46,4 milhões do FAT, foi discutido em âmbito ministerial ou partidário. A Confederação é filiada à Força Sindical, presidida pelo deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP). E a presidente da Confederação, Monica de Oliveira Lourenço Veloso, também é diretora da central. O objetivo de tais convênios é sempre criar empregos – e eles os criam, mas nem sempre para as categorias que eles objetivam ajudar. Muitos são empregos diretos como os dos nomeados para cargos de confian-

O Ministério do Trabalho e o partido do ministro parecem ser uma só coisa ça no governo ou os integrantes da burocracia sindical. Mas há também empregos indiretos, incluídos naturalmente nas estatísticas que o ministro do Trabalho costuma recitar mensalmente para a mídia. Saíram do FAT, por exemplo, R$ 6 milhões, destinados, na gestão de Lupi, ao Sindicato dos Oficiais Alfaiates, Costureiras, Trabalhadores na Indústria de Confecção de Roupas e de Chapéus para Senhoras, do Rio, filiado à União Geral dos Trabalhadores (UGT). Grande parte do dinheiro, porém, foi utilizada pelo sindicato para reformar e mobiliar a sua sede. Foram criados empregos, portanto, na construção civil e na indústria de móveis, mas ignora-se qual foi o ganho para a ca-

duais têm buscado contrastar as decisões de âmbito disciplinar emanadas daquele Conselho. Destarte, caberá ao STF declarar a constitucionalidade do CNJ, que – relevante observar – figura ao lado do mesmo STF como órgão de cúpula do Poder Judiciário brasileiro (artigo 92, I-A, da Constituição), para assim reconhecer a plena legitimidade de seus atos, especialmente dos de investigação disciplinar, que outra não poderá ser, com certeza, a intelecção a ser extraída do artigo 103-B, § 4.º, da nossa Carta Magna. Como observava o marquês de Maricá, para bem julgar não basta ver, é necessário olhar, nem basta ouvir, é conveniente escutar. Que o STF ouça o que diz a opinião pública, reforçando cada vez mais o poder do CNJ, em vez de enfraquecê-lo. VALENTINO APARECIDO DE ANDRADE, juiz de Direito valentinoandrade@uol.com.br São Paulo

tegoria beneficiária da verba. Mais recentemente, o ministro do Trabalho descobriu um novo nicho para aplicação de recursos do FAT – a contratação de ONGs para capacitação de pessoal para atuar durante a Copa de 2014. O Ministério do Turismo já tem um programa com essa finalidade, com uma dotação de R$ 257 milhões, denominado “Bem Receber a Copa”, no qual o TCU detectou indícios de irregularidades. Mas isso não impede que o Ministério do Trabalho também tome iniciativas na mesma direção. Como o Estado noticiou (27/9), o ministro Lupi firmou um convênio com o Instituto Nacional América, no valor de R$ 3 milhões, para treinar trabalhadores na área de turismo em Porto Alegre e em 19 municípios de sua região metropolitana. Acontece que aquele Instituto foi punido pela Corregedoria-Geral da União com suspensão de novos contratos com a União por irregularidade e está sujeito a recolhimento de multa. A entidade já recebeu R$ 1,5 milhão e a CGU mandou verificar se já foram feitos ou são previstos novos pagamentos, mas está claro desde já que o pagamento foi feito bem antes de os cursos começarem a ser ministrados. Lembra-se que a presidente Dilma Rousseff, em sua primeira reunião ministerial, anotou a proposta de rever os programas pulverizados pelos Ministérios de qualificação e capacitação de mão de obra, que custaram R$ 1 bilhão nos últimos dois anos, mas nada foi feito.

“Darwin explica: Arena, PDS, PFL, DEM, PSD...” JORGE MANUEL DE OLIVEIRA / GUARULHOS, SOBRE A EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES jmoliv11@hotmail.com

“Depois do fim que prometem ter a Lei Ficha Limpa e o mensalão, por obra e arte do Supremo, como é que poderíamos levar esse tribunal a sério?” CONRADO DE PAULO / BRAGANÇA PAULISTA, SOBRE STF X CNJ conrado.paulo@uol.com.br

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om dificuldades para cumprir as exigências de conteúdo local nos serviços e equipamentos que compram – pois às vezes não há fornecedor nacional e, quando há, seus preços podem ser até 20% superiores ao dos similares importados –, e punidas quando não as cumprem, as empresas petrolíferas que atuam no País poderão ter algum benefício. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) pretende alterar as regras de conteúdo local para equipamentos de exploração e produção de petróleo, com o objetivo de simplificar as exigências e permitir que as multas sejam convertidas em investimento em pesquisa e desenvolvimento desses equipamentos. Se a ANP fizer isso, este será o primeiro alívio na exigência de contratação no Brasil de equipamentos para a produção e exploração de petróleo imposta pelo ex-presidente Lula em 2003, para cumprir uma promessa feita durante a campanha eleitoral de 2002. As regras de conteúdo local aplicadas às empresas petrolíferas que operam no País já resultaram em multas pesadas, inclusive para a Petrobrás, mas não serviram para estimular o desenvolvimento da indústria nacional de equipamentos para o setor petrolífero no ritmo esperado pelo governo e necessário para atender à demanda do setor. Há algum tempo, ao comentar os investimentos previstos para o setor de produção e exploração de petróleo nos próxi-

mos anos, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, advertiu que, para o cumprimento da exigência de conteúdo local, é necessário estimular a indústria nacional de peças e equipamentos para o setor naval, para evitar atrasos ou prejuízos no futuro. Dirigentes da indústria naval, que também precisa comprovar o índice de conteúdo local, calculam que a exigência encarece em 15% produtos como plataformas, navios e sondas de exploração. Obviamente,aindústriabrasileira defende a aplicação rigorosa da regra que resultou de uma promessa eleitoral de Lula. A

Quando há fornecedor nacional, a regra encarece equipamentos para a Petrobrás obrigatoriedade da compra de parte dos equipamentos de empresas instaladas no País deveria estimular o desenvolvimento do setor. Mas as petroleiras reclamamdeproblemasparaencontrar fornecedores locais de determinadosserviçoseequipamentos e, sobretudo, dos preços, superiores aos do mercado internacional. A ANP já aplicou multas a diversasempresas pordescumprimento das metas de conteúdo nacional. A Petrobrás, multada em R$ 29 milhões, teve o valor desuapuniçãoreduzidopeloórgão regulador do setor para R$ 21 milhões, pois decidiu não recorrer. Até agora, as multas aplicadas pela ANP somam R$ 60 milhões. Pelaregra atual, qualquer des-

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Obama defende apoio a gays no Exército

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Presidente dos Estados Unidos rebate rivais e diz que é preciso apoiar todo o Exército ● “Os gays são seres humanos e, como tais, têm o direito de exercer a profissão que desejarem. Não vejo benevolência neste ato, apenas fazer justiça ao ser humano.” EDNILSON GARCIA BLANCO

● “Acho que todos devem ter seus direitos respeitados. Acho que lutar pelo seu país não depende se sua cor, religião, etnia.” CRISTIAN LATRÔNICO HÁ 794 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

cumprimento da meta é punido com a mesma multa. Uma empresa que não comprou nada no mercado interno, mesmo tendo se comprometido a adquirir 100% dos bens e serviços no País, recebe a mesma punição, em valor, aplicada a outra que não cumpriu a meta por 2% ou 3%. A ANP pretende simplificar as exigências para a comprovação dos índices de conteúdo nacional e também transformar as multas aplicadas em determinados casos – de descumprimento por pequena margem, por exemplo – em um sistema de créditos, a serem investidos em alguns segmentos da indústria que fornece para o setor petrolífero. Atualmente,amultaérecolhida por meio de um documento genérico – a Guia de Recolhimento da União (GRU) –, que a transfere para a conta única da União. Por isso, o dinheiro demora muito para chegar à ANP. A ideia do órgão é que a empresa multada recolha o valor para umadeterminada conta, eaponte em qual projeto industrial relacionado pela agência pretende aplicar o dinheiro. “Se tenho uma árvore de natal (conjunto que controla a pressão e a vazão de um poço) para olhar, por que vou olhar o parafuso?”, exemplificou o chefe da CoordenadoriadeConteúdoLocal da ANP, Marcelo Mafra, ao confirmar que o órgão estuda mudanças nas regras. “Existem multasemultas”,completou,esclarecendo que o objetivo das mudanças é poupar de punições mais pesadas as empresas que tenham deixado de cumprir as metas por pequena diferença.

● “Ser homem não é exercer sexualidade, mas, sim, o respeito.” TÁSSIO ALMEIDA

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 4 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Dilma Rousseff, no comando do BC A presidente Dilma Rousseff assumiu oficialmente o comando do Banco Central (BC) e a política de juros é agora decidida no Palácio do Planalto. O plano do governo para 2012 é baixar a taxa básica para 9%, porque “ainda há margem de manobra” para novos cortes, segundo informou ao Estado o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. A conversa, com participação de dois outros membros do primeiro escalão do Executivo, foi bastante clara para eliminar qualquer dúvida: há um plano traçado no Palácio do Planalto e a decisão final caberá à presidente. Ressalvas quanto ao ritmo dos cortes – determinado com “prudência”, segundo o secretário – em nada alteram o dado principal. A autonomia de fato do

BC, adotada nos anos 90 e mantida nos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é uma experiência encerrada, embora ninguém, na administração federal, o admita de forma explícita. Não há outra forma de entender as declarações do secretário-geral nem os pronunciamentos da presidente Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, desde a última semana de agosto. Esses pronunciamentos foram logo seguidos pelo anúncio da redução dos juros, decidida pelo Comitê de Política Monetária (Copom). A aparente dissidência – a decisão foi tomada por 5 votos contra 2 – até poderia ser interpretada como sinal de permanência da autonomia de fato. Em pouco tempo as palavras do ministro e da presidente confirmaram a interpretação oposta. Eles continuaram falando sobre os cortes de juros como se apontassem o caminho ao BC. E, na sexta-feira, a presidente

foi absolutamente explícita – mais do que pretendia, provavelmente – ao defender a redução da taxa básica como resposta ao agravamento da crise internacional. “Desta vez”, disse ela, “o Brasil não pode errar na avaliação do quadro externo.” Não seria “admissível”, acrescentou, deixar de levar em conta o risco de recessão e de deflação no resto do mundo. Não é o tom de quem apenas manifesta um desejo, mas de quem transformou o Banco Central em mais um instrumento da política econômica do governo. Ontem, o ministro da Fazenda voltou a falar sobre as medidas possíveis diante de uma piora do cenário global e mencionou novos cortes de juros e redução do depósito compulsório dos bancos. Usou o pronome “nós”, ignorando qualquer separação relevante entre o BC e o comando do Executivo. Além de comandar a redução dos

juros, a presidente da República decidiu também, segundo todas as evidências, afrouxar o regime de metas de inflação. Sem usar essas palavras, o BC admite o fato num relatório trimestral divulgado na semana passada. Pelas projeções publicadas, a inflação acumulada em 12 meses só voltará ao centro do alvo (4,5%) no terceiro trimestre de 2013 – mas essa hipótese, a mais otimista, só aparece num dos três cenários apresentados. O afrouxamento do combate à inflação será adotado num período de eleições municipais, com salários em alta e sem garantia, além de meras promessas, de efetiva austeridade fiscal. Ao mesmo tempo, o Executivo embarca em políticas protecionistas muito mal disfarçadas, com o pretexto de tornar mais competitivos certos setores da indústria nacional. Medidas efetivas para promover esse aumento de competitividade permanecem na esfera das promessas e de pla-

A regulamentação de profissões

Carga mais pesada

ramitam na Câmara e no Senado 45 projetos de regulamentação de profissões que, em sua grande maioria, não exigem conhecimento técnico e teórico nem formação específica. Tais projetos, geralmente, resultam de reivindicações de associações de classe, às quais certos parlamentares atendem em busca de votos. Na lista de “profissões” a serem regulamentadas, segundo esses projetos, as mais estapafúrdias são as de cuidador de idoso, cuidador de pessoa, lutador de “artes marciais mistas”, instrutor de trânsito, bugreiro, ouvidor, gastrólogo, transcritor e revisor de textos em braile, guarda de guarita, lavador de automóvel e “guardador autônomo de veículos automotores” – que nada mais é do que o flanelinha, cuja atuação é tipificada como crime de extorsão ou achaque pela legislação penal. Também fazem parte da lista as profissões de técnico de estocagem de produtos químicos e derivados de petróleo, comerciário, paisagista, agente de turismo, designer, representante comercial, garçom e maître, motorista e cobrador de ônibus, grafologista, corretor de imóvel, perito judicial, pesquisador de mercado, pesquisador de opinião, pesquisador de mídia, auxiliar de farmácia e drogaria, cozinheiro, ceramista, detetive particular, acupunturista, instrumentador cirúrgico, salva-vidas, técnico em radiologia, técnico de óti-

aumento da carga tributária brasileira, de 33,14% do PIB em 2009 para 33,56% em 2010, uma variação de 0,42 ponto porcentual, talvez não tenha sido grande o bastante para impressionar parte dos contribuintes. Afinal, poderão argumentar os mais condescendentes com a voracidade do Fisco, o resultado de 2010 ainda é inferior ao recorde de 35,8% do PIB registrado em 2008, quando a carga aumentou 1,08 ponto porcentual sobre o resultado de 2007. Eles poderão lembrar também que, em 2009, como reflexo da crise global, algumas das atividades mais tributadas foram as que apresentaram pior desempenho, daí resultando a redução da carga de impostos naquele ano e sua “normal” recuperação em 2010, quando a economia brasileira teve um desempenho excepcional. É preciso destacar, no entanto, que o cálculo da carga tributária em 2010, divulgado na semana atrasada pela Receita Federal do Brasil, reafirma o enorme peso dos tributos sobre a atividade econômica no País e mostra o reforço de duas características nocivas do atual sistema de impostos: o crescimento da arrecadação sempre mais rápido do que o da produção em condições econômicas normais e a concentração de recursos no governo central, em detrimento dos Estados e municípios. Aos tributos contabilizados no estudo da Receita Federal

T

versão. Aliás, que repensem suas políticas de patrocínio de todo e qualquer evento que surge até resolverem o grave problema das greves nos Correios e nas agências bancárias, que torturam milhões de brasileiros, empresários e trabalhadores. EDUARDO BRITTO britto@znnalinha.com.br São Paulo

ESCLARECIMENTO ANP

Em relação ao editorial Alívio na regra do conteúdo local (3/10, A3), como responsável pela área, venho, em nome da diretoria da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), esclarecer o seguinte: 1) A ANP segue a política pública referente ao conteúdo local conforme as diretrizes do Ministério de Minas Energia e do Conselho Nacional de Política Energética. 2)

ca, ortesista, protesista e compositor – além de analista de sistemas, historiador, físico, geofísico, arquiteto, engenheiro e agrônomo. Seriam projetos apenas engraçados, se a regulamentação dessas profissões não acarretasse dois graves problemas, com perversas consequências sociais. O primeiro problema é o comprometimento do princípio do livre exercício profissional e a subsequente rigidez do mercado de trabalho. Como impõem os mais variados deveres e responsabilidades para o exercício de funções bastante simples, a pretexto de regula-

Ao que parece toda e qualquer atividade vai ser ‘profissionalizada’ e burocratizada mentá-las, tais projetos podem impedir, por exemplo, que trabalhadores dos setores secundário e terciário demitidos em períodos de crise econômica sejam rapidamente absorvidos pelo mercado de trabalho como, por exemplo, cobradores e fiscais de linhas de ônibus, porteiros e zeladores de prédio, vigias, garçons, vendedores de farmácia, oleiros e cuidadores de idosos. O segundo problema é o aumento dos custos de determinadas atividades profissionais. Os projetos de regulamentação preveem, entre outras “conquistas trabalhistas”, carga horária máxima de trabalho diário, pisos salariais e tratamento previdenciário diferenciado. “Você dá um status na le-

Não consta de determinações da diretoria da agência nenhuma alteração no que se refere a redução de multas ou a simplificação das exigências atuais de conteúdo local. 3) A ANP tem cumprido a sua missão legal de fiscalizar as obrigações dos concessionários, conforme as cláusulas do contrato de concessão. 4) Diante do exposto, as considerações do sr. Marcelo Mafra, feitas aos jornalistas, não têm correspondência alguma com a posição da diretoria da ANP sobre o assunto. FLORIVAL CARVALHO, diretor da ANP lmanso@anp.gov.br Rio de Janeiro

gislação para a profissão. A partir daí, você tem direitos e deveres consagrados”, afirma o senador Paulo Paim, esquecendo-se de que esta elevação de “status” de algumas categorias pode acabar inviabilizando a demanda por seus serviços. Das 45 propostas em tramitação no Congresso, o parlamentar gaúcho é autor de 7. Para os autores dos projetos, a regulamentação de novas profissões elevaria a formalização no mercado de trabalho, reforçando com isso a arrecadação da Previdência Social. Para alguns setores do governo, no entanto, esses projetos só criam problemas, uma vez que se sobrepõem a atividades já regulamentadas, dificultando ainda mais as inspeções do Ministério do Trabalho. Para a iniciativa privada, as propostas de regulamentação deatividades que não requeremconhecimentostécnicosenãocriam riscosàsegurança e à saúde da população ou ao patrimônio público aumentam os custos de produção. Para os especialistas, os projetos de regulamentação de novas profissões levam à formação de reservas de mercado em algumas áreas profissionais, privilegiandocorporaçõesegruposorganizados em detrimento dos interesses da sociedade. Para tentar frear a demagogia,em2007algunsparlamentares propuseram que as Comissões do Trabalho da Câmara e doSenadosó acolhessemprojetos de regulamentação de profissõesqueexigemconhecimentos técnicos e teóricos específicos.Infelizmente,porém,aproposta não foi posta em votação.

“Pergunto desde já: sobrou alguém, ainda, para confiar o voto neste país?” FILIPE LUIZ RIBEIRO SOUSA / SÃO CARLOS, SOBRE AS ELEIÇÕES DE 2012 filipelrsousa@yahoo.com.br

“O fim do anacrônico ‘coeficiente eleitoral’ seria um importante passo para uma reforma política minimamente séria” ALEXANDRE FUNCK / BRAGANÇA PAULISTA, SOBRE OS PROJETOS EM ESTUDO NO CONGRESSO afunck1@gmail.com

sobre a carga tributária no País, os economistas José Roberto Afonso e Kleber Castro acrescentam outras receitas extraídas compulsoriamente da sociedade pelos três níveis de governo, como os royalties e as contribuições econômicas. Desse modo, chegam a números diferentes – e certamente maiores – daqueles apresentados pela Receita, mas que, igualmente, confirmam algumas das características mais nocivas do atual regime de impostos. Nos cálculos dos dois economistas, a carga tributária global alcançou aproximadamente R$ 1,3 trilhão, ou 35,16% do PIB no

Quase R$ 7 mil é o que, em média, cada brasileiro está pagando, por ano, de impostos ano passado. Isso significou um custo médio por habitante de R$ 6.957,30. Na prática, cada brasileiro precisou trabalhar cerca de 130 dias do ano exclusivamente para o governo. O estudo dos economistas também mostra que aumentou a fatia do governo central no bolo tributário. Do total arrecadado, a União foi responsável por pouco mais de R$ 876 bilhões, o que correspondeu a 67,9%, ou mais de dois terços, da arrecadação total. Os Estados arrecadaram 26,1% do total e os municípios, os restantes 6,0%. De 2009 para 2010, houve uma pequena redução nas fatias dos Estados e dos municípios e, consequentemente, um aumento na da União. Como há transferências de

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Barbiere diz que vai confirmar denúncias

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Deputado pivô de crise na Assembleia afirmou que empreiteiras compram emendas de colegas ● "Isso está parecendo fogo de palha. Se está acusando de maracutaia, tem obrigação de citar os nomes dos corruptos.” RENATO FERRO

JORGE BENGOCHEA

HÁ 795 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Duvido que tenha resultado prático. O povo brasileiro já se acostumou a sujeiras.” JESPER J.

recursos da União para os Estados e municípios, por meio dos respectivos fundos de participação e da distribuição de royalties, e também dos Estados para os municípios, sobretudo das cotas-parte do ICMS, a participação de cada nível de governo na receita líquida é diferente da fatia que cabe a cada um na receita bruta. Diminuem as fatias da União e dos Estados e cresce a dos municípios. Mas, mesmo assim, o que se constata é que, entre 2009 e 2010, cresceu a fatia da União (de 56,18% para 57,00% do total), o que resultou na redução das parcelas que ficaram com os Estados (de 25,29% para 24,75% do total) e dos municípios (de 18,53% para 18,25%). A crescente concentração de receitas na União, tanto bruta como líquida, explica parte das também crescentes pressões de governadores e prefeitos sobre o governo federal por mais recursos e por facilidades na rolagem das dívidas renegociadas com a União e na contratação de novos empréstimos. Não se justificam, porém, as pressões para a criação de um tributo para financiar o setor de saúde. Embora a União se aproprie de fatias crescentes do bolo tributário, o aumento da carga tributária produz receitas maiores para os três níveis de governos e o aumento da arrecadação como porcentagem do PIB, que deve se repetir em 2011, tem sido mais do que suficiente para produziros superávitsfiscais. E, se bem administrado, é bastante também para financiar as indispensáveis ações do governo na área social.

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

● “Não entendo como o MP, o TCE e a Comissão de Ética da ALSP ainda não citaram o deputado para dar explicações.”

CORREÇÃO Armando Falcão

Armando Falcão foi ministro da Justiça no governo Geisel, e não da Fazenda (Pouca democracia em eleição no TJSP, 3/10, A2).

O

nos muito mal esboçados. Bons argumentos a favor de uma política monetária mais branda poderiam surgir em breve, com o provável agravamento da crise no mundo rico. O primeiro passo poderia ser a redução do depósito compulsório, para ampliação do crédito. Vendas de dólares, como em 2008, poderiam ser um complemento, em caso de escassez de financiamentos em moeda estrangeira. O BC tomou medidas como essas no início da grande crise, há três anos, e foi muito mais eficiente, na ação imediata, do que o Ministério da Fazenda – ao contrário da versão cultivada no Palácio do Planalto. Mas o governo preferiu agir às pressas, impondo ao BC uma ação arriscada, alimentando a expectativa de inflação e desmontando a credibilidade do regime de metas e da autoridade monetária. Esse retrocesso pode sair muito caro para o País.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 5 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

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Notas & Informações

A lição inoportuna de Dilma A visita da presidente Dilma Rousseff a Bruxelas não resultou em nada muito mais importante que um acordo sobre organização e gestão de museus, assinado durante a V Cúpula Brasil-União Europeia, mas não foi totalmente perdida. Ela aproveitou a oportunidade para ensinar ao primeiro-ministro demissionário da Bélgica, Yves Leterme, como administrar a crise e evitar uma nova recessão. Ele poderia repassar o ensinamento às demais autoridades do bloco, se não tivessem ouvido recomendações semelhantes, e formuladas com mais discernimento, de seus pares, de seus comissários e também dos dirigentes de entidades como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ajustes fiscais muito fortes e recessivos podem agravar a

situação em vez de ajudar a resolver os problemas, disse a presidente, lembrando, de forma um tanto imprecisa, a experiência brasileira dos anos 1980 e 1990. Uma receita parecida, mas bem mais equilibrada e prudente, foi mencionada há duas semanas, na reunião anual do FMI, pelo comissário europeu para Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn. Países com espaço nas contas públicas devem adotar políticas para estimular a economia, mas sem abandonar os planos de ajuste fiscal de prazo médio. Países sem espaço para isso e muito sujeitos a pressões dos mercados devem concentrar-se na correção dos desequilíbrios fiscais e do endividamento excessivo. Aqueles em melhores condições devem ajudar os demais a sair do buraco A mesma recomendação foi feita por altos funcionários do FMI e pelo Comitê Monetário e Financeiro, o órgão político mais im-

portante da instituição. Além disso, governos da zona do euro, secundados por autoridades de organismos multilaterais, têm pressionado os Parlamentos da união monetária para aprovar a reforma da Linha Europeia de Estabilidade Financeira (EFSF), dando-lhe meios e poderes para socorrer governos em apuros e até para recapitalizar bancos. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, voltou a bater nesse ponto em pronunciamento, nesta terça-feira, no Comitê de Economia e Assuntos Monetários do Parlamento Europeu. O BCE, disse Trichet, reativou a compra de papéis governamentais no mercado secundário, em agosto, com a expectativa de ser em breve substituído nessa tarefa pelo fundo de estabilização municiado pelos Tesouros nacionais. Quando isso ocorrer, o banco poderá retornar às suas funções normais de administrar a

moeda e o crédito e supervisionar a operação do mercado financeiro. A maior parte dos Parlamentos já aprovou a reforma. Também ontem, o presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke, falou sobre política econômica e perspectivas da economia americana a um comitê conjunto do Congresso. O banco central, isto é, o Fed, ainda pode dar alguma ajuda à reativação da economia, mas a tarefa principal, segundo ele, cabe agora à Casa Branca e ao Congresso. É preciso, disse Bernanke, tomar medidas orçamentárias para estimular a atividade a curto prazo, sem descuidar de um plano confiável para redução do déficit fiscal num período mais longo. Ele mesmo havia apresentado essa recomendação mais de uma vez, em pronunciamentos diante de vários auditórios. O Executivo concorda e o plano enviado ao Congresso pelo presidente Barack Obama trata dos

dois objetivos – a criação de empregos nos próximos meses e a arrumação das contas públicas num prazo mais extenso. Medidas semelhantes foram cobradas da União Europeia, em discussões no Grupo dos 20 (G-20) e na assembleia do FMI, no mês passado. Esse tipo de sugestão, e até de cobrança, cabe perfeitamente em reuniões multilaterais de ministros ou de chefes de governo, durante discussões de temas de interesse comum. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, aproveitou aqueles eventos para cobrar medidas tanto das autoridades americanas quanto das europeias. O secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, pressionou os colegas europeus e chineses. Mas uma visita presidencial é uma circunstância muito diferente e requer outro comportamento. Os diplomatas brasileiros deveriam saber disso.

A Justiça vai para as ruas

Crise na Bolívia de Evo

o autorizar a criação de um posto móvel na Cracolândia, com a presença obrigatória de um juiz, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) deu uma importante contribuição para o sucesso da política de internação compulsória de crianças e adolescentes viciados em crack adotada pela Prefeitura de São Paulo. Esse programa foi concebido originariamente pela prefeitura do Rio de Janeiro, mas os movimentos sociais reclamaram que ele não respeitava os direitos e garantias individuais. Diante disso, há dois meses a Secretaria dos Negócios Jurídicos da Prefeitura de São Paulo emitiu parecer recomendando que os menores viciados – que são considerados civilmente incapazes – só fossem internados compulsoriamente com autorização judicial. Convidada pela Prefeitura para participar de uma ação conjunta com as Secretarias da Saúde e Assistência Social, a presidência do TJSP destacou 15 juízes para realizarem audiências com crianças e adolescentes que vivem na Cracolândia, para definir quais deles devem ser internados em clínicas especializadas, encaminhados a abrigos públicos ou retornar às suas famílias. “Somos contra a internação compulsória geral, como está sendo feita no Rio de Janeiro. O objetivo do projeto é entender em quais casos há a necessidade de se levar a criança a uma clínica, mesmo contra sua

o inaugurar o seu segundo período de governo, em janeiro de 2010, o primeiro ato do presidente Evo Morales foi consagrar a transformação da Bolívia em Estado Plurinacional, conforme previa a Constituição que ele fizera redigir, aprovar e ratificar no ano anterior. A nova Carta conferiu poderes políticos sem precedentes aos 36 grupos indígenas que somam 2/3 da população nacional de 10 milhões de habitantes – o Congresso, por exemplo, passou a se chamar Assembleia Plurinacional e a sua composição deve refletir esse perfil multiétnico. Além disso, as “nações” foram dotadas de autonomia também inédita em assuntos locais, em um complicado enlace com os órgãos de governo dos 9 departamentos, 112 províncias, 327 municípios e 1.384 cantões que compõem a geografia política do país vizinho. Em tese, portanto, as comunidades que vivem na reserva do Parque Nacional e Território Indígena Isiboro-Sécure (Tipnis), na Amazônia Boliviana, deveriam ter sido ouvidas sobre o projeto, anunciado há dois anos pelo governo de La Paz, de construir uma estrada de 306 quilômetros ligando San Ignacio dos Moxos, no Departamento nortista de Beni, a Vila Tunari, no Departamento de Cochabamba, no centro do país. O traçado atravessa a área protegida, afetando os seus recursos naturais e os meios de subsistência da maioria de seus habitantes. Estes suspeitam de

A

sidente Dilma Rousseff dispõemse a alterar as leis vigentes no Brasil para tornar a Copa viável e garantir os lucros de uma entidade privada (Fifa). Como no caso da compra da BRTelecom pela OI, muda-se a lei para permitir que se concretize uma empreitada privada. Resta saber se em 2022, no Catar, país muçulmano, a Fifa exigirá que se vá contra o preceito do Corão que proíbe o consumo de álcool. Essa Copa de 2014 está se mostrando a cada dia mais perniciosa para o País. M. CRISTINA ROCHA AZEVEDO crisrochazevedo@hotmail.com Florianópolis

Absurdo

Uma das coisas mais sagradas do brasileiro é Copa do Mundo. Não importa onde se realize, antes e durante o torneio ruas, muros e casas são enfeitados com as cores da nossa Bandeira e alusões ao

vontade, e qual é a melhor forma de encaminhamento legal. Com o Judiciário vivendo a realidade das ruas, vamos garantir o respeito à legislação e aos direitos humanos”, diz o desembargador Antonio Carlos Malheiros, coordenador da Infância e Juventude do TJSP. “O desafio é não haver desrespeito aos direitos da criança. Trabalhando com a Justiça, as decisões sobre cada caso serão mais seguras”, afirma o secretário de Direitos Humanos da Prefeitura, José Gregori. Além da colaboração do Judiciário, o projeto da Prefeitura conta com o apoio da seccio-

O posto móvel do TJSP na Cracolândia poderá ser o início de uma boa solução do problema nal paulista da OAB, do Ministério Público Estadual e da Defensoria Pública de São Paulo, que desde sua criação vem trabalhando em projetos de assistência a moradores de rua. O posto móvel do Tribunal de Justiça será instalado, inicialmente, na Rua Mauá, perto da Estação da Luz. Ficará aberto de manhã e à tarde e será mantido no local até que os juízes adquiriram experiência do que acontece nas ruas. “Em alguns meses, teremos como definir quanto tempo será necessário manter esse esforço na Cracolândia”, afirma Malheiros. A experiência começará na próxima semana e a presença dos juízes nas ruas, além de evitar problemas (como ações impetradas contra o Estado), tem

evento. Pelo que ando lendo, agora que a Copa vai ser no Brasil, esse tipo de manifestação popular vai ser proibido. Haja cadeia para tanto brasileiro! Ou alguém imagina que o povo vai respeitar essa absurda determinação da Fifa? MAURÍCIO LIMA mapeli@uol.com.br São Paulo

AINDA O ROCK IN RIO Protesto

Xingar José Sarney só para responder a uma banda não vale. O que vale é os milhares que fizeram isso deixarem de lado Ipanema ou Copacabana, numa manhã ensolarada de domingo, para irem a uma passeata de protesto contra a politicanalha que rouba o País diariamente. Se aparecer uma centena, será muito... LAÉRCIO ZANNINI arsene@uol.com.br Garça

por objetivo agilizar o processo de retirada das crianças e adolescentes das áreas mais degradadas do centro da capital. Pela estratégia que as autoridades municipais e a Justiça estadual elaboraram de comum acordo, os assistentes da Prefeitura abordarão os menores viciados da Cracolândia e farão uma triagem. Havendo necessidade, os viciados serão encaminhados para a avaliação de psiquiatras da rede de saúde pública. Com base nos laudos por eles emitido e num relatório preparado por assistentes sociais, o juiz promoverá uma audiência com a criança ou adolescente. E, depois de avaliar sua vida pregressa e familiar, decidirá se ele será internado compulsoriamente ou se pode voltar para casa. Dessa maneira, diz Malheiros, o juiz poderá tomar a medida mais drástica – a internação compulsória – “com a segurançadequemviudepertooproblema”. Entre janeiro de 2010 e junho de 2011, o TJSP realizou audiências especiais nos abrigos da capital, seguindo uma estratégiasemelhanteà queseráaplicadana Cracolândia,com resultados considerados positivos. Cabe agora à Prefeitura fazer sua parte, para que a experiência dê certo. Não se sabe com certeza o número de menores viciadosquecirculam naCracolândia,masosespecialistasestimam que é superior ao número de vagas disponíveis na clínicas especializadas conveniadas com a Prefeitura. Por isso, comoa própria SecretariaMunicipal da Saúde reconhece, será preciso aumentar sua oferta.

“Tombini é um apparatchik!” AIRTON MOREIRA SANCHES / SÃO PAULO, SOBRE A INDEPENDÊNCIA DO BANCO CENTRAL moreira.sanches@uol.com.br

“A Lei Geral da Copa brasileira é tão soberana quanto foi a lei para a não extradição de Battisti?” TANIA TAVARES / SÃO PAULO, SOBRE AS EXIGÊNCIAS DA FIFA taniatma@hotmail.com

A

que por trás da obra de US$ 415 milhões, dos quais US$ 322 milhões financiados pelo BNDES, a cargo da empreiteira brasileira OAS, está a intenção do ex-líder sindical cocalero Evo Morales de facilitar a atividade dos plantadores de coca da região, pouco preocupados, aliás, com o meio ambiente. Em 15 de agosto, com a construção já começada, os indígenas contrários ao empreendimento iniciaram uma pacífica marcha de protesto para La Paz, onde esperavam chegar em fins de setembro, no que deveria ser o coroamento de um movimento de opinião pública

Tudo indica que o melhor para o Brasil é ficar distante dessa crise no país vizinho pela paralisação dos trabalhos. A pressão se beneficiaria da queda da popularidade de Evo, reduzida a 30%, pela frustração com a alta dos preços e a perpetuação dos níveis de pobreza no país, desmentindo as promessas do líder populista, aliado do bolivariano Hugo Chávez. Contra esse pano de fundo, a mando de uma autoridade ainda não identificada, 400 policiais militares investiram no domingo atrasado contra os participantes da marcha. Usaram cassetetes, bombas de gás, armas de fogo. Ninguém morreu, mas houve dezenas de feridos e crianças desaparecidas em meio ao pânico. Estilhaços da violência policial atingiram em cheio o governo. Os ministros da Defesa e do In-

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USP lidera ranking de universidades latinas

1.794

Brasil tem 65 instituições entre as 200 da lista; Unicamp é a terceira colocada e UFMG, a décima ● "Parabéns para a USP, navegando praticamente solitária em um mar infestado de funcionalismo público.” GUILHERME AFFONSO ALBUQUERQUE

● "É bom saber que o ensino superior brasileiro tem tido um destaque positivo.” ALESSANDRA OLIVEIRA FERREIRA

HÁ 796 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Qual é o critério? O Brasil nunca vai ser como a Índia e a China e produzir tecnologia.” MARIA MELLO TALIN

terior denunciaram a violência e renunciaram. Evo pediu desculpas à população e criou uma comissão, com participação da Corte Interamericana de Direitos Humanos, para apontar os responsáveis pela explosão de truculência – que marcará a história de Evo, que sempre se apresentou como paladino da luta contra a secular opressão dos indígenas bolivianos. Para pôr panos quentes na crise, a Assembleia Plurinacional, controlada pelo MAS, o partido do presidente, foi incumbida de convocar um referendo sobre a estrada. Não está claro se votarão apenas os moradores da área afetada ou também os eleitores dos departamentos beneficiados. Se estes puderem votar estará criada uma causa potencial de novos conflitos políticos. De toda forma, os indígenas de Tipnis não se opõem à ideia. Com a obra já em andamento (embora suspensa desde o fatídico domingo), não faz sentido, argumentam, promover uma consulta pública sobre a sua execução. Os críticos mais radicais veem o “imperialismo brasileiro” na obra apoiada pelo BNDES por decisão do então presidente Lula, executada por uma construtora que ajudou a financiar as campanhas presidenciais de ambos os lados da fronteira e que estaria sobrefaturando o serviço. O Brasil está certo ao se distanciar do novo ciclo de tensões na Bolívia, que pode desembocar sabe-se lá no que. O país, escreveu domingo no Estado o jornalista americano Mac Margolis, tem “memória longa e pavio curto”.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 6 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

O novo susto na Europa Com a ameaça de nova quebradeira no setor bancário, o sinal de alarme afinal parece ter soado com suficiente estridência para assustar os governos europeus e fazê-los mexer-se com maior rapidez. O alerta foi acionado pela virtual falência do banco Dexia, de controle franco-belga, já socorrido com € 6,4 bilhões em 2008, ainda sobrecarregado com cerca de € 20 bilhões em papéis gregos e italianos e abalado recentemente por € 4 bilhões de prejuízo no segundo trimestre deste ano. A notícia do quase colapso do banco Dexia coincidiu com o novo rebaixamento da dívida italiana, mas seu impacto político, tudo indica, foi maior. O socorro ao setor financeiro foi o grande assunto das discussões entre ministros da zona do euro, ontem, e as

principais bolsas europeias encerraram o pregão em forte alta depois das declarações da chanceler alemã, Angela Merkel, sobre o reforço de capital dos bancos. “A Alemanha está pronta para se mover para a recapitalização”, disse Merkel nessa quarta-feira. “Precisamos formular critérios e estar preparados para implementar rapidamente uma decisão.” Um dia antes, o comissário europeu para Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn, havia mencionado “um senso de urgência” entre os ministros de Finanças do bloco, agora muito mais empenhados em cuidar do fortalecimento do setor bancário. As perdas dos bancos europeus podem chegar a € 300 bilhões, segundo estimativa publicada há poucas semanas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Esse cálculo chega a parecer moderado, quando se examinam as condições de resga-

te do Dexia. Uma das possibilidades indicadas por autoridades francesas e belgas é a criação de um “banco ruim”, garantido pelos governos dos dois países, com ativos de € 120 bilhões, segundo algumas fontes, e de até € 200 bilhões, segundo outras. Também nessa quarta-feira o Fundo Monetário Internacional divulgou seu relatório especial sobre a Europa, mais detalhado que o material distribuído em setembro. A economia europeia deve crescer 2,3% neste ano e 1,8% no próximo, mas só se os governos agirem com firmeza para conter a crise. Sem isso, o desempenho econômico será pior, advertiu o diretor do Departamento Europeu do FMI, Antonio Borges. Além disso, as estimativas indicam uma piora geral das condições: depois de um primeiro trimestre melhor que o esperado, as taxas de crescimento dos vários países passaram a convergir para um nível

mais baixo. O Fundo reiterou sua lista de recomendações – de modo geral aceita pelos governos: ajuste rápido nos países com piores condições fiscais e políticas mais expansionistas, a curto prazo, naqueles com alguma folga para gastar e conceder incentivos. Além disso, o FMI reafirmou a urgência de capitalização dos bancos e de aprovação do novo modelo da Linha Europeia de Estabilidade Financeira (EFSF). Esse fundo, concordam os governos, participará do socorro aos governos em apuros e também do reforço do setor financeiro. Mas falta a aprovação da reforma por alguns Parlamentos. A primeira opção dos bancos deverá ser a busca de recursos no mercado, segundo as autoridades, mas os governos deverão estar prontos para fornecer-lhes capital, se a participação dos investidores privados for insuficiente. O fundo de estabiliza-

ção, com recursos iniciais previstos de € 440 bilhões, poderá ser envolvido nessa tarefa. Enquanto a situação dos bancos assusta os governos e cria uma sensação de urgência, continua a discussão sobre novas ações de ajuda à Grécia. A situação do país é pior que a projetada há alguns meses, com recessão mais grave e maior dificuldade para cortar o déficit público. Segundo Antonio Borges, os números do plano de socorro à Grécia estão obsoletos e será preciso atualizá-los. Além disso, será preciso dar mais ênfase ao crescimento, em vez de concentrar a atenção no ajuste das contas públicas. Essa proposta é uma importante novidade. Sem algum crescimento será inútil apertar o cinto, porque não haverá a receita mínima indispensável ao equilíbrio das contas, têm dito alguns analistas. O FMI parece ter comprado essa ideia.

A universidade latino-americana

Retrocesso nos aeroportos

s universidades brasileiras – principalmente as públicas e as confessionais – estão entre as melhores instituições de ensino superior da América Latina. A primeira edição do ranking latino-americano foi elaborada por uma empresa britânica de consultoria educacional, a Quacquarelli Symonds (QS), e divulgado pelo site Top Universities. Realizadocombasenumametodologia semelhanteà que tem sido utilizada nas avaliações das melhores universidades do mundo, o estudo comparou o desempenho de 200 instituiçõesdaregiãoeincluiu8universidades brasileiras entre as 20 melhores. A campeã foi a USP, que se destaca em todos os indicadores, tais como proporção de professores com doutorado, produtividade de pesquisa do corpo docente, número de matrículas, reputação acadêmica, reputação entre empregadores, númerode publicaçõesporprofessor, citações em estudos científicoseimpactodaspesquisas na internet e investimento em tecnologia. Além da USP em 1.º lugar, estão na lista das 20 melhores a Unicamp,em3.ºlugar; aUniversidade Federal de Minas Gerais, em 10.º lugar; a Universidade de Brasília, em 11.º; a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em14.º; a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em 15.º; a Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, em 16.º; e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 19.º. Por causa dos investimentos

nganou-se quem pensou que o leilão do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, em Natal, no fim de agosto, realizado sem a participação da Infraero no negócio, estabeleceria um padrão para concessões à iniciativa privada dos terminais aéreos no País. A minuta do edital de concessão dos Aeroportos de Cumbica, em São Paulo, de Viracopos, em Campinas, e de Brasília – disponível para consulta pública por 30 dias – reintroduz a Infraero como sócia, determinando que a empresa detenha nada menos que 49% das ações das concessionárias. A estatal terá ainda poder de veto sobre “decisões estratégicas” das companhias privadas que deveriam, em princípio, administrar os terminais. Essas exigências representam um verdadeiro retrocesso, reproduzindo, em essência, o esquema que levou os aeroportos do País ao caos em que se encontram. O que ocorreu com o Aeroporto de Natal foi uma privatização efetiva, com acirrada disputa, graças à qual o ágio pago pelo consórcio vencedor foi 229% superior ao valor mínimo, elevando o preço final a R$ 270 milhões. Nos três grandes aeroportos que devem ir a leilão em dezembro, segundo promete a Secretaria de Aviação Civil (SAC), quaisquer que sejam os consórcios vencedores, eles terão de dividir, na prática, a administração dos terminais com a Infraero. Estabelece também o edital, com o argumento de estimular

A

PAC, de acordo com relatórios do TCU. Dessas, 3 já foram saneadas e em 2 o tribunal determina a adequação de preços, e não a paralisação de obras ou licitações, o que só ocorre em outras duas cautelares. Entre os empreendimentos citados como reprovados pelo TCU (8), só 3 foram objeto de cautelar ou recomendação de paralisação. Segundo o TCU, não são 8 obras da Valec com indícios de irregularidades, mas 3. GUTO PIRES, Assessoria de Comunicação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão bianca.estrella@planejamento.gov.br Brasília

N. da R. – Os dados que compõem a reportagem foram retirados dos relatórios do primeiro e do segundo trimestres deste ano comparados a igual período do ano passado. No primeiro trimestre, foram 20 medidas cautelares e 15 licitações e contratos suspensos. No segundo, 19 e 15 respectivamente. Em 2010, o re-

que o Chile tem feito nas últimas décadas em educação, não causou surpresa o desempenho das instituições chilenas – 3 delas estão entre as 20 melhores do ranking da QS e uma – a Pontifícia Universidad Católica – ficou em segundo lugar, com uma diferença muito pequena da primeira. A USP obteve 100 pontos e a instituição chilena, 99,6. Entre as demais instituições que integram a lista das 20 melhores, destacam-se a Universidad Nacional Autónoma de México, uma das mais antigasdaAmérica Latina,aUniversidad Nacional de Colombia e cinco universidades argenti-

Em lista internacional as nossas universidades ficam entre as melhores da América Latina nas, das quais a mais importante é a Universidade de Buenos Aires, que ficou em 8.º lugar. Nalistadascemmelhoresuniversidades, 31 são brasileiras. No critério de número de trabalhos publicados por professor, asuniversidadesbrasileirasocupam 15 das primeiras 20 colocações. As líderes são a USP, a Unicamp e a Unifesp, as três situadas no Estado de São Paulo, cujo governo mantém – com recursos do ICMs – uma das principais agências de fomento do país, a Fapesp. Esse é um dos fatores que levaram a Unicamp a ser a universidade que tem registrado maior número de patentes de inovação tecnológica, perdendo apenas para a Petrobrás. “A fórmula do sucesso é o equilíbrioentreensinoepesqui-

latório mostrou 19 medidas cautelares e 13 licitações e contratos suspensos no primeiro trimestre. No segundo trimestre foram 14 e 10, respectivamente. Quanto às obras do PAC, os números foram informados pelo TCU por email: do total de 32 obras (remanescentes do ano passado mais as comunicadas este ano ao Congresso) com recomendação de paralisação, 17 são do PAC e 1 PAC e Copa (Guarulhos). Já sobre os empreendimentos da Valec, os dados foram informados por e-mail pelo Ministério dos Transportes e confirmados pela Valec. Na Ferrovia Oeste-Leste, descrita na matéria, a Valec confirmou que 4 lotes de obras estão paralisados.

sa. Temos o mesmo número de alunos de graduação e de pósgraduação, num total de 30 mil”, diz o coordenador-geral da instituição, Edgar De Decca. Para o editor do site Top Universities, Danny Birne, o excelentedesempenhodas universidades brasileiras no ranking das 200 instituições latinoamericanas de ensino superior se deve à prioridade que foi dada à pesquisa acadêmica e científica nos últimos anos, por meio do aumento do número de bolsas de estudo e financiamento de projetos, por parte dasagências públicasde fomento e das que são mantidas pela iniciativa privada. Ele também destacaoaltonúmerodedocentes com doutorado e o aumento do número de matrículas nas universidades brasileiras, que pulou de 2 milhões para 6 milhões, na última década. Para o editor do Top Universities e para o coordenador de pesquisas da QS, Ben Sowter, os investimentos feitos pelas universidades públicas e confessionais brasileiras ainda estão em fase de maturação e, quando começarem a produzir dividendos, serão “o motor que ajudará o País a alcançar seu potencial de crescimento econômico”. Comparadas com as principais universidades europeias e americanas,as universidadeslatino-americanas ainda se encontram muito atrás – a USP, a mais bem classificada, ocupa o 169.º lugar, na pesquisa da QS. As universidades brasileiras estão melhorando, mas ainda têm de percorrer um longo caminho para ascenderem ao topo do ranking mundial.

“E aqui, isso também não é entrave?” ROBERTO TWIASCHOR / SÃO PAULO, SOBRE A REPORTAGEM ‘BRASIL VÊ CORRUPÇÃO NA BULGÁRIA COMO ENTRAVE A PARCERIAS’ (5/10, A8) rtwiaschor@uol.com.br

“Um sujo falando do mal lavado...” ROGERIO VILELA SILVA / SÃO GONÇALO DO SAPUCAÍ (MG), IDEM rogervs_sgs@hotmail.com

CARLOS E. BARROS RODRIGUES ceb.rodrigues@hotmail.com São Paulo

O edital de concessão dos maiores aeroportos arma uma privatização de fachada apenas que não deu certo tenha continuidade, embora disfarçado de parceria igualitária com o setor privado, complicou ainda mais a privatização ao colocar no edital que parcela da receita bruta anual das concessionárias – não da receita líquida, note-se – proveniente do aluguel de lojas, exploração de estacionamento e outros serviços irá para o Fundo Nacional de Aviação, subordinado à SAC, que deverá aplicar esses recursos na expansão de aeroportos regionais. Esse ônus não pesou na privatização do Aeroporto de Natal e, dependendo do porcentual a ser fixado, pode inviabilizar as futuras concessões. A SAC acabou transferindo para sua esfera uma das atribuições

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Mais servidores podem ter supersalários

1.258

Com proposta de reajuste no Judiciário, número dos que ganhariam acima do teto saltaria para 4.814 ● “Olhem para seus compatriotas, meus caros. São poucos os eleitos para viver às margens plácidas.” ED ANTONIO

ORAZIO MARTINI

HÁ 797 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Não podemos condenar mais de 120 mil servidores ao congelamento salarial por conta de apenas 3% da categoria.” RODRIGO ÉVORA

da Infraero, que também teria de modernizar aeroportos regionais com os recursos obtidos pelos terminais comprovadamente lucrativos, que não passam de sete no País. Atribuição que a estatal não cumpriu. Em termos financeiros, a equação também é complexa. Ao que se informa, o BNDES vai proporcionar financiamentos para Cumbica, Viracopos e Brasília nas mesmas condições do Aeroporto de Natal. Mas vale notar que a modalidade de financiamento para aquele terminal foi a de project finance, que requer elevado retorno, que pode ser comprometido pela cobrança pretendida pela SAC. Como se não bastasse, o governo praticamente excluiu do processo as empresas aéreas, cujafatianasconcessõesnãopoderá passar de 1%. Além disso, elas estariam sujeitas ao pagamento de uma “tarifa de conexão”, que supostamente beneficiaria o Aeroporto de Brasília. Segundo Bittencourt, essa taxa será calculada por passageiro, mas não será paga por ele e, sim, pelas empresas. Dá para acreditarqueosusuários sejampoupados desse custo? Tudo isso pode afugentar os investidores, uma vez que terão de assumir o compromisso de pesados aportes. O edital prevê a instituição de uma espécie de “gatilho”,ummecanismosemelhante ao que existe na concessão de rodovias, que sinalizaria o momento em que a concessionária deve investir antes que a capacidade do terminal esteja para esgotar-se. Mas será preciso,primeiro,passarpelos obstáculos do edital.

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● “A ganância demonstrada pelo Judiciário é incompatível com princípios idealizados da prestação jurisdicional.”

GREVES Correios e bancos

Não vão terminar nunca?

E

a concorrência, que nenhuma concessionária privada poderá administrar mais de um aeroporto. A Infraero, porém, participará de todos. Há ainda um objetivo corporativista nessa decisão que fica nítido com a cláusula que permite que a Infraero venda a seus funcionários sua participação nas futuras concessionárias, se e quando estas tiverem condições de abrir o seu capital. O ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt, de quem se esperava uma nova orientação do transporte aéreo no País, além de permitir que um modelo

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%HermesFileInfo:A-3:20111007:

O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 7 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Notas & Informações

As emendas paulistas A improbidade na manipulação de emendas parlamentares aos orçamentos públicos, em todos os níveis da administração, não é novidade. Os recentes escândalos que resultaram em demissões de ministros de Estado de alguma forma tinham alguma coisa a ver com essa verdadeira praga que infesta as Casas legislativas do Brasil desde que os parlamentares aprenderam a usar as emendas como eficientes instrumentos do clientelismo ou da pura e simples apropriação particular de recursos públicos. Não deve haver, portanto, quem duvide de que o deputado estadual Roque Barbiere (PTB) sabia do que estava falando ao apresentar, a rigor, uma “denúncia vazia” sobre a prática reiterada da venda de emendas ao orçamento estadual por

parte de colegas seus na Assembleia Legislativa de São Paulo. A denúncia de Barbiere foi feita em agosto, num site da internet gerado em Araçatuba, e reproduzida no Estado de 23 de setembro. Daí para a frente o assunto não deixou mais o noticiário, numa clara evidência de que, apesar da insistência do deputado em revelar o milagre, mas não nomear o santo, a opinião pública deu crédito à denúncia. Barbiere, aliás, conseguiu a proeza de criar uma unanimidade contra si próprio, nos meios políticos paulistas e, em particular, na Assembleia Legislativa. De um lado aqueles que, talvez por terem o rabo preso, passaram a negar, contestar e desqualificar veementemente as denúncias apresentadas pelo deputado. De outro, os que, interessados por qualquer que seja o motivo na investigação das denúncias, cobram de Barbiere os nomes dos envolvidos na bandalheira. Entre es-

tes últimos está o governador Geraldo Alckmin. Seja como for, o deputado Barbiere conseguiu se meter em uma bela trapalhada. Sua reiterada determinação de não revelar nomes “nem com um revolver na cabeça” é, no mínimo, contraditória e, no limite, capaz de inviabilizar a apuração da maracutaia de cuja existência paulista algum duvida. Afirma o denunciante que não é “dedo-duro” e por isso jamais entregará nomes. Na melhor das hipóteses, garantiu, citará algum para um representante do Ministério Público, se tiver pela frente um promotor “sério” que o “trate bem”. Trata-se, na melhor das hipóteses, de um bom-mocismo equivocado, porque revelar a existência de um crime e ao mesmo tempo proteger o criminoso equivale a se tornar cúmplice deste. Portando, comete um grave erro o deputado ao pretender colher apenas os bônus, recusando-

Botox na inflação

A

inflação continua acelerada e não há sinal, até agora, do arrefecimento previsto pelo governo para os próximos meses. Com a alta do dólar, os preços ganharam impulso adicional nas últimas semanas e isso já é visível tanto no mercado de matériasprimas como no varejo. Mas o câmbio é só uma parte do problema, como advertiu o economista Salomão Quadros, da FGV, ao comentar a elevação de 0,75% do Índice Geral de Preços (IGP-DI) em setembro. Segundo ele, são mais preocupantes outros fatores, como a demanda interna ainda aquecida e o próprio corte dos juros básicos pelo Banco Central (BC). Esse corte, observou Quadros, gerou dúvidas quanto ao compromisso do governo com a meta de inflação e alimentou a expectativa inflacionária. Em agosto, o IGP-DI havia subido 0,61%. Mas também os dados sobre a atividade econômica justificam dúvidas sobre as previsões do BC. Números da indústria fornecidos por diferentes fontes ainda não permitem um diagnóstico seguro das condições de produção e demanda. Quanto aos preços, tudo indica, por enquanto, a tendência de forte elevação nos próximos meses. Ainda na quintafeira, a Associação Brasileira da Indústria do Plástico informou em comunicado os aumentos de preços decididos por grandes fornecedores de matérias-primas. De acordo com a associação, a Braskem

são praticamente dispensáveis. Com a obrigatoriedade de usar caixas eletrônicos, os clientes percebem essa condição, que vem ao encontro dos desejos dos bancos. LAERT PINTO BARBOSA laert_barbosa@ig.com.br São Paulo

ESCLARECIMENTO Doação à USP

A respeito da reportagem Em ato de repúdio, gestão de Rodas é comparada a ditadura (30/9), o escritório Pinheiro Neto Advogados, sem entrar no mérito da discussão objeto dessa matéria, apenas esclarece, uma vez mais, que a doação feita à Faculdade de Direito da USP para reforma e modernização de uma das salas dessa renomada escola, na qual centenas de integrantes deste escritório – inclusive seu fundador – tiveram a honra de obter graduação, mestrado e/ou doutorado, se deu sem

anunciou majoração da ordem de R$ 700 por tonelada. A Dow notificou seus clientes de uma elevação de R$ 600 por tonelada a partir de 3 de outubro. Em setembro, os preços por atacado subiram 0,94%, segundo a FGV. Esse item é o principal componente do IGP-DI, com peso de 60%. No mercado internacional de matérias-primas houve algum recuo, atribuído aos temores de uma nova recessão. Analistas, no entanto, evitam apostar numa tendência de baixa, ou de baixa significativa. A FAO já alertou para o risco de novos aumentos das matérias-primas agríco-

Pressões inflacionárias continuam e sinais da atividade econômica ainda são pouco claros las, por causa das condições inseguras de suprimento. De toda forma, produtos básicos continuam pressionando a inflação brasileira. O índice de preços ao consumidor da FGV, outro componente do IGP-DI, subiu 0,5% em setembro, 4,69% no ano e 7,13% em 13 meses. Em agosto havia aumentado 0,4%. Outros indicadores de preços apontam na mesma direção. O índice de preços ao consumidor pesquisado em São Paulo pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos subiu 0,69% em setembro, 0,30 ponto mais que no mês anterior. O Índice de Custo de Vida da Classe Média apurado pela Federação do Comércio do Esta-

nenhum pedido nem expectativa de contrapartida, seja por nomeação da sala ou por qualquer outra forma. Do mesmo modo, o escritório Pinheiro Neto, sem nenhuma contrapartida senão a satisfação de saber que está contribuindo – ou retribuindo – para o aprimoramento da universidade pública em que muitos de seus membros ganharam as luzes do Direito, tem prestado assessoria legal à Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito da USP, à Associação Atlética Acadêmica XI de Agosto e ao Centro Acadêmico XI de Agosto com relação ao projeto denominado Clube das Arcadas. O escritório não se envolve – nem poderia – em nenhum debate político acerca desse tema, limitando-se, repita-se, a prestar assessoria no desenvolvimento do modelo jurídico adequado à viabilização do projeto. ALEXANDRE BERTOLDI jcpegorim@mvl.com.br São Paulo

se a enfrentar os ônus de sua atitude. Afinal, ele não se limitou a lançar ao vento uma suspeita vaga. Assediado pelos repórteres, na última terçafeira, chegou a comparar a Assembleia a um “camelódromo” – “Isso é igual a camelô. Cada um vende de um jeito. Cada um tem uma maneira, cada um tem um preço” – e informou ter levado esses fatos, há cerca de quatro meses, ao conhecimento do secretário de Planejamento, Emmanuel Fernandes, e da subsecretária da Casa Civil para Assuntos Parlamentares, Rosmary Corrêa. Numa primeira manifestação, o governador Alckmin tentou minimizar o assunto, afirmando que aguardaria a revelação de um “fato concreto”, ou seja, de uma acusação formal a alguém envolvido nas irregularidades, para tomar as providências cabíveis. Na quarta-feira, foi mais incisivo, cobrando do deputado explicações e informações que, garantiu,

não foram fornecidas ao secretário Fernandes ou à subsecretária Corrêa: “Entendo que ele, como homem público, tem o dever de apontar o que sabe”. E explicou que a relação das emendas liberadas já está exposta no site do governo do Estado na internet. Apesar desse assunto frequentar o noticiário há pelo menos três semanas, nada leva a crer que a Assembleia Legislativa e o Palácio dos Bandeirantes estejam realmente dispostos a ir a fundo na apuração das denúncias do deputado Barbiere. Diante da falta de uma acusação formal a algum político, a tendência é de que a questão seja empurrada com a barriga até que dela todos se esqueçam. Não importa que até as maçanetas do Palácio Nove de Julho saibam que há um comércio de emendas. Em São Paulo, como em Brasília e em todo o País, a vida pública é regida pelos mesmos usos e costumes.

A nova ‘bolsa-eleitor’ do de São Paulo aumentou 0,37% em agosto e 6,47% em 12 meses. O IBGE estimou uma redução mensal de 0,2% da produção industrial em agosto. A Confederação Nacional da Indústria, no entanto, apontou uma alta real de 8,4% no faturamento, expansão de 3,5% nas horas de trabalho e de 0,4% no emprego. O nível de uso da capacidade instalada subiu de 82% para 82,2%, descontados os fatores sazonais. A associação das montadoras informou uma queda de 19,7% na produção de veículos em setembro, masessedado,segundoum dirigente da entidade, é em grande parteexplicávelpelasazonalidade e por greves. A média diária de vendas (14.840 unidades) foi 4,2% maior que a de agosto. O quadro da produção, portanto, está longe de ser claro, apesar de algum efeito da contenção do crédito. Mas, de modo geral, a demanda continua forte, alimenta a inflação e é em parte suprida por importações. Em Brasília já se admite, extraoficialmente,aadoçãodemedidas extraordinárias para impedir o estouro do limite superior da meta (6,5%) no fim do ano. Poderá, adiantou uma fonte,haveruma reduçãotemporária de impostos. Mas isso seria umremendo, uma formade disfarçar e não de eliminar as pressões inflacionárias. Essa informação parece confirmar o pior dos temores: o governo renunciou a enfrentar para valer a inflação e já admite aplicar botox nos preços, para fazer crescer o PIB em ano de eleição – a qualquer custo, literalmente.

“Para colocar na lápide: Eu sou a lenda” MARIO BUENO DE SAMPAIO / GUAPIARA, SOBRE A MORTE DE STEVE JOBS mariosampaio2@hotmail.com

O

s números do programa de proteção a pescadores durante o período em que a pesca é proibida para a preservação de determinadas espécies poderiam sintetizar o êxito de uma meritória ação social e ambiental do poder público. Mas a quantidade de ações do Ministério Público Federal contra administradores e beneficiários do programa em diversos Estados indica que parte dos benefícios pagos pelo governo resulta de fraudes e irregularidades praticadas às vezes com objetivos eleitorais e sempre com graves prejuízos para os cofres públicos. Não é fácil obter dados precisos sobre a concessão desse benefício. Os últimos números disponíveis na página eletrônica do Ministério do Trabalho, responsável pelo pagamento, são de 2005. Conhecido como “bolsa-pescador” ou “segurodefeso” – pois é pago no período de defeso, em que a pesca é proibida para assegurar a reprodução das espécies –, o benefício foi criado há quase 20 anos pelo governo Collor e ampliado há 8 pelo governo Lula. Trata-se de uma modalidade de seguro-desemprego, pago com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalho (FAT), administrado pelo Ministério do Trabalho. Há cerca de um ano, o Estado publicou reportagem mostrando que, durante o governo Lula, o número de beneficiários do“bolsa-pescador”foi quadruplicado e o gasto total com o benefício – equivalente a um salá-

rio mínimo e pago durante os quatro meses do período de proibição da pesca de determinada espécie – superava R$ 1 bilhão por ano. Esse valor representava o quádruplo do orçamento do Ministério da Pesca e Aquicultura e três vezes o valor das exportações brasileiras de pescado. Em artigo publicado no jornal O Globo (4/11), o economista Gil Castello Branco, fundador da organização não governamentalAssociaçãoContas Abertas, que se dedica a fiscalizar o uso do dinheiro público, informou que são hoje exatamente 553.172 pessoas que afirmam vi-

Um programa destinado a ajudar pescadores e que ajuda políticos na pescaria de votos ver exclusivamente da pesca, individualouem regime deeconomiafamiliar,eobtiveram odireito de receber do governo R$ 545 por mês durante um terço do ano, o que representa um custo anual de R$ 1,2 bilhão. Em 2003, primeiro ano do governo Lula, eram 113.783 favorecidos, para os quais o Ministério do Trabalho pagou R$ 81,5 milhões a título de seguro-desemprego. Ao contrário do que ocorre com os beneficiários do BolsaFamília, cujos nomes estão disponíveis nos portais do governo, os do “seguro-defeso” não são divulgados pelo Ministério do Trabalho. Só depois de fazer diversassolicitaçõesaoMinistério e recorrer à Ouvidoria-Geral da União o fundador da Contas Abertasconseguiu alistadosbe-

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Morre Steve Jobs, ícone da era digital

1.155

“Deputado Roque Barbiere, por que te calas?”

À frente da Apple, Jobs definiu o rumo de vários mercados. Notícia provocou comoção mundial

FRANCISCO ZARDETTO / SÃO PAULO, SOBRE O NOME DOS DEPUTADOS ‘CAMELÔS’ QUE VENDEM EMENDAS NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA fzardetto@uol.com.br

● "A genialidade fez com que a tecnologia inventada por ele chegasse às mãos tanto de especialistas como de crianças.” LUCAS BARBOSA

● "Steve Jobs não vendia produtos, vendia sonhos. Acima de tudo, era um exemplo de persistência e superação." HELOISA RODRIGUES

HÁ 798 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “A partir de suas criações, ele me fez escolher minha profissão, meu futuro. Uma lição de vida.” LUCAS BERTONI

neficiários do “bolsa-pescador”. Ele constatou que até em Brasíliahápessoasque,sedeclarando pescadores profissionais, afirmaram ter tido seu trabalho interrompido durante o defeso e, por isso, recebem o benefício. O jornal O Globo (5/10) informa que uma auditoria realizada pela Controladoria-Geral da União constatou a existência de irregularidades em mais de 60 mil pagamentos feitos em dois anos e que somam R$ 91,8 milhões. Na lista dos beneficiários havia pescadores já mortos, donos de empresa, empregados fixos, aposentados pelo INSS e atépessoas cujo cadastro no Ministério da Pesca e Aquicultura comopescador(umadasexigências para participar do programa) tinha sido recusado. O Ministério Público Federal investiga os pagamentos do “bolsa-pescador” em diversos Estados, como Rio Grande do Sul,SantaCatarinaePará.Quando atuava em Santa Catarina (atualmente está no Rio Grande do Sul), o procurador Celso Tresencontrou casos como o de uma pessoa que declarou à PolíciaFederalquesóentrounoprograma porque, ao ver uma fila diante da Colônia de Pescadores de Tubarão, perguntou o queera,soubeque “estavamdistribuindo seguro-desemprego” e passou a receber o benefício. As fraudes, em geral para beneficiaramigosouparaconquistar votos, são facilitadas porque não há controle do Ministério da Pesca, que cadastra os pescadores,nemdoMinistériodoTrabalho, que paga o “bolsa-pescador” – que por isso está virando uma espécie de “bolsa-eleitor”.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


A2 Espaço aberto %HermesFileInfo:A-2:20111008:

O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 8 DE OUTUBRO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

Dez anos, cem casos ✽ ●

ANTONIO DE AGUIAR PATRIOTA

A

o longo dos últimos17anos,oconjunto de regras administrado pela OrganizaçãoMundial do Comércio (OMC) tornou-se referência necessária na formulação e implementação das políticas comerciaisdeseusmembros.Essearcabouço complexo, contido no Acordo de Marrakesh e nos demais acordos resultantes da RodadaUruguaidoantigoGatt,delimitahojeocampodojogocomercial em áreas tão díspares como agricultura e medidas antidumping, subsídios e propriedade intelectual, serviçose regras de origem.Naturalmente,taisregrasforam negociadas para serem cumpridas:ao aderir à OMC, todos os membros se comprometem com esse patrimônio jurídico-institucional,noslimitesdoqualseobrigam a delinear suas prioridades e aestabelecerseusmodelosdedesenvolvimento econômico. Muito embora os membros da OMC tenham plena consciência da necessidade de observar as regras multilaterais de comércio, não se pode descartar a possibilidade de essas normas virem a ser descumpridas. Para fazer frente às alegações de violação das regrasqueintegramseuacervonormativo, a OMC dotou-se de um sistema de solução de controvérsias sofisticado, apto a decidir, com base em dispositivos jurídicos, conflitos entre os membros daorganizaçãoe,quandocabível, autorizar retaliações pelo descumprimento de suas decisões. Umobservadoratentodospassos trilhados pelo Brasil no sistema multilateral de comércio saberá que o País percebeu muito cedo o alcance e a relevância do mecanismodesoluçãodecontrovérsias que surgia em 1995. Não surpreende, pois, que o Brasil tenha figurado como demandante, ao lado da Venezuela, no primeiro contencioso da OMC (EUAgasolina),igualmenteoprimeiro caso sobre a difícil relação entre comércioemeioambienteeaprimeira disputa a ser submetida ao Órgão de Apelação da OMC. Como viria a ocorrer tantas outras vezes depois, o Brasil venceu o seu contencioso inaugural. AsdiferençasentreBrasileCanadá sobre subsídios concedidos de parte a parte à indústria aeronáutica – que opuseram os dois países por longos anos em controvérsias paralelas na OMC – evidenciaram a importância de o Itamaraty, no exercício permanente de sua função de defesa dosinteressesdoEstadobrasileironoexterior,dotar-sedaqualificação requerida para enfrentar desafios dessa ordem. Em outu-

bro de 2001, há dez anos, portanto, o governo brasileiro passou a contarcomumaunidadeinstitucional especialmente incumbida da condução das disputas iniciadas pelo Brasil ou contra o Brasil na OMC. A inserção da Coordenação-Geral de Contenciosos (CGC)naestruturaorganizacional do Ministério das Relações Exterioresfoiumamedidaadministrativa extremamente bemsucedida,estimuladoradaformação de uma equipe de diplomatas com alta especialização em disputas comerciais, cujo trabalho já rendeu ao País benefícios importantes nos campos econômico, político e ambiental. Desdeacriaçãoda CGC,oBrasil–numverdadeirosaltoqualitativo na defesa dos interesses do PaísnaOMC–tornou-sepaulatinamente o país em desenvolvimento que mais se utilizou do

O Brasil no sistema de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio mecanismodesoluçãodecontrovérsias e o quarto entre todos os membros da organização, atrás apenas de EUA, União Europeia (UE)e Canadá.O impressionante número de 104 participações em contenciosos em pouco mais de 15 anos de OMC inclui 25 casoscomodemandante,14nacondição de demandado e 65 como terceira parte interessada. Alguns dos casos vencidos peloBrasilsetornaramemblemáticos pelo grande impacto que exerceram sobre o comércio internacional, a exemplo dos dois contenciosos, iniciados no mesmo dia de 2002, contra os subsídios dos EUA ao algodão e da UE ao açúcar. Ao questionar a legalidade da ajuda estatal à agricultura norte-americana e europeia, naqueles casos o Brasil conseguiu, além de ganhos concretos para os setores econômicos brasileiros prejudicados, costurar importante coalizão de interessescomunsnoâmbitodochamado G-20 Agrícola, coordenado pelo Brasil. Em relação ao algodão, os EUA vêm pagando há maisdeumanoamaiorcompensação financeira da história da OMC, US$ 147 milhões/ano, ao Instituto Brasileiro do Algodão. Entreosmaisdestacadoscontenciosos vencidos pelo Brasil naOMC,merecemençãooquestionamento pela UE da proibição brasileira de importação de pneususadosereformados.Nessa disputa, cuja defesa mobilizouasociedadecivilegrandenúmero de atores estatais, o País conseguiu fazer prevalecer na OMC princípio ambiental ante interesses puramente comerciais, evitando assim tornar-se o depósitofinaldetoneladasderesíduo de borracha vulcanizada

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

No espírito de Assis produzida e utilizada em países desenvolvidos.Aoapresentarperante o Supremo Tribunal Federal medida judicial bem-sucedida destinada a impedir a importaçãodessesresíduos,o governo brasileiro demonstrou não só seu comprometimento com os princípiosconstitucionaisrelativos à proteção do meio ambiente e da saúde humana, mas igualmente com o cumprimento das decisões emanadas do sistema multilateral de comércio. Orecursoaomecanismodesolução de controvérsias da OMC teve o efeito positivo de tornar maisconhecidas,internaeexternamente, as ações do Ministério das Relações Exteriores na defesa dos interesses econômico-comerciais brasileiros. Ao captar a atençãodamídianacionaleinternacional, a atuação do Brasil no mecanismodesoluçãodecontrovérsias da OMC tornou o Itamaraty mais próximo, sob um novo ângulo, do setor privado e da sociedade civil em geral. Nas palavras do filósofo do Direito Ronald Dworkin, o Direito é “espada, escudo e ameaça”. Na esteira dabem-sucedidatrajetóriabrasileira no mecanismo de solução de controvérsias da OMC, o Itamaratycontinuaráavaler-se,nesse importante foro equilibrador das forçasde poder,e sempre em prol de interesses brasileiros, cada vez mais numerosos e diversificados, dos valiosos instrumentos que lhe oferece o Direito. ✽ EMBAIXADOR, É MINISTRO DE ESTADO DAS RELAÇÕES EXTERIORES

✽ ●

DOM ODILO P. SCHERER

E

screvo estas linhas no dia de São Francisco de Assis, santo muito estimado por católicos e não

católicos. Almasensível,coração límpido e sábio, poeta do “irmão Sol” e da “irmã Lua”, desprendido dos bens deste mundo e mendigo voluntário, mas rico por ter encontrado “meu Deus e meu tudo”, Francisco também se fez “irmão universal” e quis ser “instrumento da paz” de Deus para todos. Uma de suasmaisinsistentes recomendações aos confrades, que se agregaram a ele no mesmo ideal, referia-se à vida fraterna, com todas as consequências que isso traz. Por esses e por outros motivos,suamedievalepequenaAssisi se apresenta ainda hoje como um dos lugares mais encantadores da Itália e continua a atrair todos os anos multidões de peregrinos, turistas e curiosos de todo o mundo. Lá, a memória de São Francisco convida a reviver a experiência que ele próprio viveu intensamente, irradiando paz e bem. Não foi por outro motivo que o papa João Paulo II, em 27 de outubro de 1986, se reuniu em Assis com líderes de várias religiões para um encontro de diálogo sobre a paz.

SINAIS PARTICULARES LOREDANO

A cidade aos pés de Mahler, último dia

Transcorriao AnoInternacional da Paz, celebrado pela Organização das Nações Unidas (ONU), e João Paulo II queria destacar a dimensão espiritual da paz e refletir, com os representantes das religiões, sobre a responsabilidade comum de orientar as crenças religiosas pessoais e comunitárias para a construção efetiva da paz; o papa lamentava que, infelizmente, a religião era instrumentalizada com frequência para gerar violência e alimentar conflitos. Sem cair no sincretismo, nem relativizando as crenças de cada religião, o papa João Paulo II quis mostrar que era possível as religiões conviverem em paz e serem instrumentos de edificaçãoda concórdia nas comunidades e entre os povos. Os anos seguintes comprovaram a importância dessa intui-

Cultivar o campo onde prospera o fruto da paz é tarefa constante e nunca plenamente realizada ção e como, de fato, é preciso que todas as religiões condenem com firmeza o terrorismo e se oponham com lucidez e coragem ao uso ideológico da religião, transformada em fonte de ódio e violência – porque isso seriatrair asua finalidade genuína e constituiria grave ofensa a Deus. Ninguém honra a Deus fazendo violência contra o próximo em seu nome! Passados 25 anos desde aquele memorável evento, no próximo dia 27 de outubro o papa Bento XVI vai repetir o encontro com líderes religiosos de todo o mundo para manter vivo o “espírito de Assis”. Também estarãopresenteshomens de ciência e cultura, além de personalidades que se definem como não crentes. Todos irão ao túmulo do pobrezinho de Assis como “peregrinosda verdade,peregrinos da paz” – esse será o lema do encontro. O peregrino, por vezes, avança com fadiga, mas segue caminhando com alegria e esperança, fascinado pela meta do seu peregrinar... As pessoas de fé sabemque todas as metas de peregrinações neste mundo são simbólicas e o coração intui que o termo do peregrinar está além, muito além do ponto a que já chegou. O homem é peregrino da verdade, do bem, do belo e da paz; e continua a caminhar, a perscrutar o horizonte da existência, ávido de luz, ansioso por enxergar e encontrar repouso para suas buscas. A proposta do novo encontro de Assis é a busca sincera da verdade, na abertura atenta ao próximo.Emoutrostempos,o“pró-

ximo” estava geograficamente perto; com a globalização, a humanidade inteira transformouse em sujeito de convivência. Noentanto,comoconstata opapa Bento XVI, se é verdade que a globalização nos avizinhou mais,ela nãonos fez mais fraternos (cf Caritas in Veritate n.º 19). É preciso ir além do viver uns ao lado dos outros, para convivercomosoutros,abrindo espaço no coração para que os nossos semelhantes possam tomar partedenossas alegrias,preocupações e esperanças. A religião é caminho para o encontro do homem com o bem, o amor e a verdade – com o mistério de Deus. Se ela cumprir esse papel, também ajudará a edificar a paz. Mas se, ao contrário, a religião não leva ao encontro com Deus, ou faz de Deus um objeto de manipulação dos desejos e dos projetos humanos, ela se desvia de sua finalidade e pode pôr em risco a paz. Nenhuma religião está isenta desse risco; por isso, as pessoas de religião são convidadas a se deixarem purificar sempre mais pela verdade, a exemplo de São Franciscode Assis, transformando-se em instrumentos da paz. O desprezo à verdade leva a passar por cima da dignidade das pessoas, à soberba obcecada, ao triunfo da violência. E tudo isso está muito longe de Deus. Opapa Bento XVI,falando sobre o tema, convidou os líderes de religiões a prosseguirem nos esforços comuns pela paz. Desde o primeiro encontro, em 1986, muitas iniciativas de reconciliação e de paz já ocorreram. No entanto, também houve muitas ocasiões perdidas e retrocessos! Velhos conflitos, ocultos como brasa debaixo da cinza, explodiram novamente em terríveis atos de violência e pareceramsufocarapossibilidade da paz. São Francisco de Assis, homem de paz, convidava a colocar Deus no centro do viver humano. Assim fazendo, ele próprio podia amar com liberdade edesapego cada criatura, valorizar cada pessoa, ir ao encontro do leproso e do pobre, falar com o lobo e com o ladrão, dialogar com aqueles que, antes, queria combater... O campo onde prospera o desejado fruto da paz precisa ser cultivado sem parar; é tarefa constante e nunca está plenamente realizada: a edificação da convivência pacífica entre os homens requer o testemunho e oesforço comumde todosaqueles que buscam a Deus de coração sincero. ✽ CARDEAL-ARCEBISPO DE SÃO PAULO

Fórum dos Leitores IMPOSTOS Concorrência desleal

Certeiro o editorial A indústria nacional não suporta a carga tributária (5/10, B2) ao abordar um enorme prejuízo para o setor: a concorrência desleal dos produtos importados. Pesquisa recente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria (Simpi) com 400 empresas mostrou que 53% das micro e pequenas indústrias paulistas demitiram ou deixaram de contratar nos últimos 12 meses por causa da competição dos importados. O que é atraente e imbatível em termos de preço no exterior não raro esconde salários mensais de US$ 30 (algo em torno de R$ 50), péssimas condições, agressões ao meio ambiente, trabalho infantil e escravo, entre outras irregularidades. Gerar emprego e estimular o mercado interno são vocações das micro e pequenas empresas, que já de-

monstraram ser um eficiente escudo anticrise. Resta olhar com mais atenção para elas, que são essenciais para o desenvolvimento do País, e dar-lhes igualdade de condições competitivas. JOSEPH COURI, presidente do Simpi presidencia@simpi.org.br São Paulo

Carga pesada

O aumento da carga tributária de 33,14% para 33,56% do PIB significa mais R$ 4,2 bilhões na arrecadação. Somado o aumento do IOF pelo fim da CPMF, já temos a verba para a saúde sem criar nenhum imposto novo. Que tal? GUSTAVO GUIMARÃES DA VEIGA gjgveiga@hotmail.com São Paulo

Dinheiro para a saúde

Se o governo não sabe onde obter

recursos, nós sabemos: 40% da corrupção, 20% dos repasses indevidos, 15% dos desvios de verba, 9% do superfaturamento, 7% da roubalheira, 5% da algazarra política, 3% das mordomias da corte e 1% do desperdício. A conta está feita. Agora é só livrar o lombo do contribuinte, cansado de pagar tanto imposto sem retorno. JOSÉ PEDRO ZANETTI zanettao@yahoo.com.br Rio Claro

REFORMAS Expectativas

O Brasil precisa realizar urgentemente reformas para atender às expectativas mais básicas da população. Reforma política, para acabar com a corrupção e valorizar os bons políticos. Reforma tributária para reduzir impostos, que tanto sacrificam a população e afetam diretamente os mais necessitados. Reforma judiciária, pa-

ra atender aos desejos populares de segurança e justiça rápida e eficiente. Reforma da Previdência, para acabar com privilégios e eliminar o enorme e permanente déficit previdenciário, pago pela sociedade por meio de uma carga tributária exagerada. CLAUDIO FROES PEÑA cpena@plugin.com.br Porto Alegre

Pelo voto distrital

Será que a reforma política pretendida pelo PT subiu no telhado? A proposta que defende o financiamento público de campanhas e o nefasto voto proporcional misto – uma indecência que pioraria ainda mais o modelo de representação em vigor, ao deixar nas mãos dos partidos a responsabilidade pela nomeação de metade dos membros da Câmara dos Deputados – não foi apreciada pela Comissão de Constituição e

Justiça na quarta-feira, como estava previsto, por falta de quórum e de consenso sobre o assunto entre aliados do governo. Um bom sinal, visto que tais modificações nas normas eleitorais têm como objetivo o fortalecimento unilateral dos partidos detentores das maiores bancadas congressuais, PT à frente. É chegada a hora de a sociedade civil buscar informações e vislumbrar a possibilidade de apoio à implantação do voto distrital, um dos únicos caminhos possíveis para aperfeiçoar o sistema democrático-representativo, aproximando eleitores de eleitos e contribuindo para reduzir significativamente os custos das campanhas eleitorais País afora. HENRIQUE BRIGATTE hbrigatte@yahoo.com.br Pindamonhangaba

Pragas brasileiras

O Brasil está infestado por três

pragas que impedem um crescimento sólido: burrocracia, corporativismo e impunidade. Os três Poderes da República, Judiciário, Legislativo e Executivo, criaram um corporativismo nefasto com benesses para seus pares, em que tudo é possível e que conta com a marca da impunidade para atos criminosos (em vez de “malfeitos”). Transformaram o Brasil num feudo burocrático para poderem extorquir os empresários. Os três Poderes estão podres e precisam se modernizar para que possamos ter um futuro digno, com ética e moral. Chega de regalias dignas de um reino, de um Judiciário que não julga nem o mensalão, nem a censura ao Estadão, nem essa farra generalizada com dinheiro público. O futuro está batendo à porta do País, mas nossos três Poderes impedem que esse sonho se torne realidade. LUIZ HENRIQUE CHAVES DAVILA luiz_davila@terra.com.br São Paulo


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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 8 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Guerra cambial e fantasia A presidente Dilma Rousseff levantou, na Turquia, a bandeira de mais uma campanha fantasiosa, ao propor a união dos emergentes contra a “guerra monetária” movida pelos bancos centrais de países desenvolvidos. Poderia ter usado a expressão “guerra cambial”, posta em circulação há mais de um ano por seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, para denunciar principalmente a inundação do mercado internacional por enormes volumes de dinheiro emitido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Centenas de bilhões de dólares foram lançados pelo Fed, em duas grandes ondas, na tentativa de estimular a expansão do crédito nos Estados Unidos. Uma das consequências foi a valorização de várias moedas – entre elas

o real, com sérios prejuízos para o comércio do Brasil. Mas a manipulação cambial mais antiga, mais evidente e mais danosa a um grande número de economias, incluída a brasileira, é praticada há muitos anos pelo governo de um país emergente, a China, a maior potência comercial do mundo. Bastaria esse pormenor para mostrar o irrealismo da proposta da presidente Dilma Rousseff em seu discurso perante um auditório de cerca de 1.200 empresários turcos e brasileiros em Ancara, nessa sexta-feira. Segundo ela, os emergentes deveriam juntar-se para manifestar sua oposição à guerra cambial na próxima reunião do Grupo dos 20 (G-20), formado pelas maiores economias desenvolvidas e emergentes, marcada para novembro, em Cannes. O governo brasileiro tem sido extremamente parcimonioso nas críti-

cas à persistente depreciação da moeda chinesa. No início de sua campanha contra a “guerra cambial”, o ministro Guido Mantega nem sequer se dispôs a falar contra a manipulação do yuan. Chegou quase a justificar essa política, ao descrever a ação das autoridades chinesas como defesa contra a desvalorização do dólar. Mas nem ele foi capaz de sustentar por muito tempo esse evidente despropósito. De fato, as autoridades chinesas vincularam o yuan ao dólar depois do agravamento da crise, em 2008, mas a estratégia de depreciação do yuan já era mantida havia muitos anos, apesar dos protestos da maior parte dos governos ocidentais. A China tem sido o grande alvo das pressões, por sua política de câmbio, na maior parte das conferências do G-20. A depreciação do yuan tem sido também, por muitos anos, um assunto importante nas discus-

sões de organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. O governo brasileiro nunca se comprometeu seriamente com essas críticas nos foros internacionais, mas tem sido forçado pelos fatos – e pelas pressões do empresariado nacional – a tomar medidas defensivas contra as práticas desleais de comércio da China. Neste momento, nem se pode acusar o banco central americano de persistir na estratégia de grandes emissões. Sua política monetária continua frouxa, com juros próximos de zero, e, agora, com um programa de alongamento de prazo de títulos públicos de sua carteira. Também essa operação pode resultar em expansão monetária, mas o resultado nem de longe será parecido com o da segunda etapa de “afrouxamento quantitativo”, quando foram emitidos cerca de US$ 600 bilhões. Essa etapa terminou em junho. Uma ter-

ceira poderá ocorrer, mas, por enquanto, está fora da agenda. A grande novidade nessa área, nos últimos dias, foi a decisão do Banco da Inglaterra de iniciar a compra de títulos no valor de 75 bilhões de libras, com a emissão, é claro, do valor correspondente em moeda. Teria a presidente notado esse fato? Os chineses são hoje os maiores parceiros comerciais do Brasil e os maiores predadores de nossa indústria em todos os mercados – incluído o brasileiro. O governo brasileiro faria um trabalho político e diplomático muito mais útil à indústria nacional se reforçasse, nos foros internacionais, as pressões pela mudança da política de câmbio e do modelo chinês de crescimento. Já é tempo de abandonar em Brasília as fantasias terceiro-mundistas e a crença pueril na identidade de interesses dos países do grupo Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

O superávit do agronegócio

Assad se safa de sanções

lém de ocupar as primeiras posições entre os maiores exportadores mundiais de produtos agroindustriais, o Brasil vem se destacando no comércio desses produtos também por outro motivo: tornou-se o país com o maior superávit comercial, à frente até mesmo dos EUA, que, embora continuem sendo o maior exportador mundial, passaram também à condição de grande importador de alimentos. Esta é mais uma notável contribuição do campo para o crescimento da economia brasileira e para situá-la, no setor da agroindústria, entre as mais destacadas do planeta. Dados do Ministério da Agricultura mostram que, nos 12 meses encerrados em agosto, o saldo da balança comercial do agronegócio brasileiro alcançou US$ 72 bilhões, resultado de exportações de US$ 88,3 bilhões e importações de US$ 16,3 bilhões. Esse valor é 22,9% maior do que o registrado nos 12 meses encerrados em agosto de 2010, de US$ 58,6 bilhões. Nos 12 meses até setembro, o saldo do agronegócio americano foi de US$ 43,5 bilhões, bem menor do que o brasileiro. Observe-se, porém, que os EUA continuam sendo os maiores exportadores mundiais de produtos agroindustriais. O Departamento de Agricultura dos EUA estima que as exportações americanas alcançaram US$ 137 bilhões em 12 meses, 55% mais do que as exportações brasileiras.

ela primeira vez desde 2008, quando se opuseram à adoção de sanções contra a ditadura de Robert Mugabe no Zimbábue, a Rússia e a China usaram, na terça-feira, do seu poder de veto no Conselho de Segurança (CS) da ONU para tornar sem efeito uma resolução contra a ditadura de Bashar Assad na Síria. De iniciativa europeia, com apoio dos Estados Unidos, o texto foi aprovado por 9 votos. Quatro países – Brasil, Índia, África do Sul e Líbano – se abstiveram. Desde meados de março, Damasco tem reprimido com crescente ferocidade as robustas manifestações de rua pela democratização do país – a versão local da Primavera Árabe. Estima-se que cerca de 2.700 sírios – civis, na esmagadora maioria – já foram mortos nos confrontos com as forças de segurança ou sob a artilharia pesada do Exército, em cidades favoráveis à insurgência. Fracassaram os esforços da comunidade internacional para deter a matança e obter de Assad o cumprimento das promessas de liberalização do regime. O máximo que o CS conseguiu, depois de quatro meses de negociações, foi aprovar em agosto uma “declaração presidencial” condenando a violência do governo sírio contra a sua própria população. Os motivos da desunião parecem claros. Antes de mais nada, o peso estratégico da Síria no instável Oriente Médio provoca reações distintas entre os governos estrangeiros. Até Israel, tec-

A

ESTRELA DO MENSALÃO Faz sentido

Nos últimos anos, os EUA se tornaram também grandes importadores de alimentos. De cerca de US$ 40 bilhões no início da década passada, as importações agrícolas americanas passaram a US$ 94,5 bilhões. Nesse valor estão as compras de muitos produtos brasileiros, como açúcar, café e suco de laranja. As importações americanas de açúcar e café alcançaram US$ 13 bilhões em 12 meses. O subsídio ao etanol de milho teve como efeito a forte absorção pelo mercado interno do grão produzido no país, o que conteve as exportações e o

Setor está dando grande contribuição para o crescimento da economia brasileira saldo do agronegócio americano. O estímulo à produção de milho, além disso, reduziu o plantio da soja e abriu espaço para a soja brasileira no mercado mundial. O resultado, como mostrou o jornal Valor (4/10), foi a redução da fatia americana nas exportações mundiais de produtos agrícolas, de 13% para 10,2% do total entre 2000 e 2009, e o aumento da participação brasileira, de 2,8% para 4,9%. Por ter alcançado altos níveis de produtividade e de ocupação das áreas disponíveis, os EUA têm hoje menor capacidade de expansão de sua participação no comércio mundial do que o Brasil. As exportações do agronegóciobrasileirocontinuamvigorosas. Em agosto, elas somaram

como o operador do esquema do mensalão e, se for condenado pelo STF, pode pegar até 111 anos de prisão pelos supostos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) homenageia Delúbio Soares, tratando-o como ídolo, um popstar. Pensando bem, faz sentido...

IRACEMA PALOMBELLO cepalombello@yahoo.com.br Bragança Paulista

M. CRISTINA ROCHA AZEVEDO crisrochazevedo@hotmail.com Florianópolis

Segredos...

Desagravo e censura

Não faltaram sorrisos, abraços, filas para autógrafo e pedidos de fotos no lançamento do CD de Delúbio Soares, com artigos, notícias, fotografias e outros itens de seu site na internet, na 13.ª Plenária da CUT, que começou na terça-feira, em Guarulhos. Mas a CUT barrou a entrada de jornalistas nesse ato de desagravo a Delúbio. Ex-tesoureiro do PT, ele é apontado pelo Ministério Público

Então, os jornalistas foram proibidos de ir a lançamento do CD de Delúbio Soares, quando este fez campanha para tentar mobilizar sindicalistas e militantes em sua defesa no processo do mensalão?! O que será de tão oculto que foi tratado nesse “evento”, além do conteúdo do tal CD? Eis aí a CUT interferindo na liberdade de imprensa, pois até os jornalistas convidados foram postos para fora do recinto. Aí tem! LEILA E. LEITÃO São Paulo

US$ 9,84 bilhões, um valor recorde, 34,7% maior do que o de igual mês de 2010. Os grupos de produtos que mais contribuíram para o crescimento foram o complexo soja (aumento de 50,5%), complexo sucroalcooleiro (aumento de 45,2%), cereais, farinhas e preparações (aumento de 117,3%, mas sobre um valor exportado menor do que os dos dois grupos anteriores) e café (aumento de 48,8%). Esses quatro grupos foram responsáveis por US$ 2,1 bilhões dos US$ 2,5 bilhões de aumento das exportações do agronegócio entre agosto de 2010 e agosto de 2011. Os bons resultados registrados em agosto pelas exportações de produtos agroindustriais devem se repetir em setembro, ampliando o superávit comercial do setor. Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que, nos primeiros 21diasdomêspassado,asexportações de café em grão foram 43,8% maiores do que as das três primeiras semanas de setembro de 2010. Na comparação entre esses dois períodos, as exportações de soja em grão aumentaram 76,9%; as de óleo desoja em bruto, 109,4%; e as de açúcar em bruto, 33,6%. Isso compensou as reduções das exportações de farelo de soja (-0,2%), suco de laranja (-18,5%) e açúcar refinado (-30,9%). No mês passado, os preços desses produtos estavam, em média, bastante acima dosregistradosem setembrode 2010. O preço da tonelada do café em grão exportado foi 59,5% maior e o do óleo de soja em bruto, 50,4%.

“R$ 1,1 trilhão em impostos 39 dias antes de esse valor ter sido atingido em 2010. E a presidente ainda diz que o povo vai pedir mais. Benza Deus...” RICARDO MARIN / OSASCO, SOBRE A PESADA CARGA TRIBUTÁRIA s1estudio@ig.com.br

“Com essa carga tributária o próprio governo está sufocando a indústria nacional” SERGIO S. DE OLIVEIRA / MONTE SANTO DE MINAS (MG), IDEM ssoliveira@netsite.com.br

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nicamente em estado de guerra com o vizinho país, prefere um inimigo conhecido, porém refratário a aventuras, do que a incerteza que se seguiria à queda de Assad. Além disso, a Síria é a primeira aliada de Moscou na região, desde os tempos da União Soviética. A Rússia é a principal fornecedora de armamentos para Damasco. O porto sírio de Tartus é a única instalação naval russa fora dos países da antiga URSS. E, assim como a China, a Rússia tem motivos para se aferrar à doutrina da “não intervenção em assuntos internos de outras nações”, que da-

China e Rússia impedem as tentativas de se pôr um freio às violências contra a população síria ta da guerra fria. Já os países ocidentais, que de início se limitavam a condenações retóricas da fúria repressiva de Assad, endureceram as suas posições. O motivo da mudança – e, paradoxalmente, a causa da sua inocuidade – foi a Líbia. Quase coincidindo com o começo dos protestos estudantis na Síria, em março, França e Grã-Bretanha conseguiram a aprovação no CS de uma resolução que autorizava a Otan a fazer o que fosse preciso, salvo uma invasão, para proteger a população civil líbia do banho de sangue com que o psicoditador Muamar Kadafi ameaçava o levante contra a sua brutal ditadura de 41 anos. Sintomaticamente, a Rússia e a China apenas se abstiveram, do mesmo modo que

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Inflação oficial sobe 7,31% em 12 meses

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Em setembro, índice subiu 0,53%, pressionado pelos preços das passagens aéreas e dos alimentos ● “Enquanto a inflação foge ao controle, nossos dirigentes dão pitacos nas nações em crise.” JOSÉ NORONHA SOBRINHO

● “A política econômica tem que ser feita sem teimosia. O reflexo de nenhuma ação será imediato.” CÁSSIA FERREIRA

HÁ 799 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Eles conseguiram! Quem nasceu nos anos 50 já viu esse filme antes." NORBERTO BOBBIO

o Brasil e a Alemanha. Como logo se viu, as incursões aéreas da Otan, extrapolando do mandato recebido, não visavam a conter Kadafi, mas a derrubá-lo. Foram o fator decisivo para a mudança de regime em Trípoli. Desde que os EUA invadiram o Iraque em 2003, essa expressão se tornou anátema em Moscou e Pequim, por razões estratégicas, e em Nova Délhi, Pretória e Brasília – as capitais dos demais Brics – por questão de princípios de política internacional. Agora, no caso da Síria, para prevenir o veto russo-chinês, os diplomatas ocidentais, entre eles os brasileiros, aguaram ao máximo os termos da resolução afinallevadaavotos naterça-feira. Saíram do texto todas as passagens que pudessem sugerir uma eventual ação militar futura contra Assad – o que, por sinal, nunca esteve na pauta europeia ou americana. Até a palavra “sanções” foi suprimida. Ficou uma exortação a Damasco para pôr fim à violência, respeitar a população e admitir a entrada de jornalistas e da missão da ONU para investigar violações de direitos humanos. Passados30dias,diziaoprojetoderesolução,oCSpoderiaimpor à Síria sanções “não militares”. Mas, depois do precedente líbio, não se podia esperar que russos e chineses se abstivessem novamente. É provável que,comaqueletexto,oOcidente apenas quisesse exibir as suas credenciais democráticas. Como disse a embaixadora americana no colegiado, Susan Rice, com o veto “o povo sírio pode ver quem o apoia e quem não”.

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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

O Estatuto da Juventude Em sessão tumultuada, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto do Estatuto da Juventude que, entre outras inovações estapafúrdias, assegura a meia-passagem em ônibus intermunicipais, interestaduais e de turismo a jovens assim classificados em três faixas etárias: o jovem adolescente, entre 15 e 16 anos; o jovem jovem, entre 18 e 24 anos; e o jovem adulto, entre 25 e 29 anos. O projeto contou com o apoio da União Nacional dos Estudantes (UNE), hoje uma “entidade chapa branca” que vive à custa do monopólio da expedição das carteirinhas que garantem o direito de estudantes à meia-entrada em eventos culturais e de entretenimento. Dominada pelo PC do B, o partido a que pertence a relatora do projeto – a deputada gaú-

cha Manoela D’Ávila –, a entidade providenciou uma claque para aplaudi-la durante a votação do Estatuto da Juventude. Além da meia-entrada em cinemas e teatros, o projeto concede às três categorias de jovens o mesmo direito em eventos esportivos, o que pode levar o governo a enfrentar mais problemas com a Fifa. No acordo firmado com a entidade ficou estabelecido que não será admitido qualquer tipo de desconto – inclusive a meia-entrada para estudantes – nos jogos da Copa do Mundo de 2014. A relatora alega que uma preocupação pontual, como a relativa aos jogos da Copa, não pode inviabilizar a concessão de um benefício em caráter permanente. Outro ponto de colisão com a Fifa diz respeito à propaganda de bebida alcoólica, uma vez que as grandes cervejarias mundiais estão entre os principais patrocinadores da Copa e o Estatuto da Juventude prevê restrições

para este tipo de publicidade. Para contornar o problema, que foi levantado pela oposição, a deputada Manoela D’Ávila propôs uma redação que prima pela imprecisão. Segundo o texto aprovado, “a política de atenção à saúde do jovem terá como diretriz a proibição da propaganda com qualquer teor alcoólico (sic), quando esta se apresentar com a participação de jovem menor de 18 anos”. O projeto também se destaca pela profusão de boas intenções, frases vagas e dispositivos que já constam da legislação em vigor. No capítulo sobre o “direito à saúde integral”, por exemplo, ele recomenda às escolas que incluam no currículo temas relativos ao consumo de álcool, drogas, doenças sexualmente transmissíveis, planejamento familiar e saúde reprodutiva. Segundo o texto, as políticas de saúde devem reconhecer o impacto da gravidez nos jovens, “em todos os aspectos, do psicológico ao

A novela dos royalties

A

diada mais uma vez a apreciação pelo Congresso Nacional do veto do ex-presidente Lula à chamada Emenda Ibsen, estabeleceu-se agora um prazo de 20 dias para a busca de entendimento entre Estados produtores e não produtores de petróleo sobre a questão dos royalties. A emenda vetada previa que, reservada a parte da União, o restante desses royalties seria distribuído entre todos os Estados da Federação, de acordo com os critérios do Fundo de Participação dos Estados e Municípios, o que acarretaria perdas de receitas para os Estados do Rio, Espírito Santo e São Paulo. Esses Estados produtores têm lutado por uma solução negociada que preserve a proporção das receitas de royalties que já auferem. Se rejeitado o veto, e se não houver acordo, os governos do Rio e do Espírito Santo já anunciaram que recorrerão ao Supremo Tribunal Federal (STF) para ter os seus direitos assegurados e não sofrerem perdas que consideram ruinosas em sua arrecadação. A própria União também recorreria ao STF, segundo se informa, prolongando uma disputa que ameaça colocar em jogo o pacto federativo. Diversos esquemas têm sido propostos para superar o impasse, inclusive com a redução dos royalties que seriam pagos ao governo federal, mas mantendo a participação especial dos Estados produtores no nível atual. Uma das últimas proposições seria a criação de um

Consulta ‘pública’

imposto de exportação sobre o petróleo, que seria utilizado basicamente para atender às pretensões dos Estados não produtores. A criação desse imposto, diga-se de passagem, é inaceitável, pois configuraria uma espécie de confisco cambial, uma das pragas de que o País conseguiu se livrar há muito tempo. A dificuldade de se chegar a um consenso nasce de uma concepção equivocada quanto à finalidade dos royalties. Tem sido alegado que, como a maior parte do petróleo brasileiro é explorada na plataforma continental, ou a milhas da costa dos Estados produtores,

Uma contenda política em que o que tem prevalecido é a cobiça sobre o bom senso ele pertenceria à Nação e, em consequência, todos os Estados teriam direito a uma participação. Não se nega que se trata de uma riqueza nacional, mas isso não tem nada a ver com o pagamento de royalties aos Estados e municípios. O que está deixando de ser considerado é que o pagamento de royalties a Estados e municípios só se justifica pelos encargos que essas unidades federativas suportam em razão direta da produção de petróleo nas bacias confrontantes ao seu território. Não só os investimentos em infraestrutura precisam ser consideravelmente reforçados, mas crescem também as necessidades de habitação e de atendimento à educação e à saúde, principal-

CENSURA ‘Estado’, 800 dias

Os petistas não desistem nunca! Novamente veremos conferências, simpósios, encontros regionais/nacionais para discussão “pública” do assunto, porém só com o público interno – petistas, sindicatos, centrais sindicais, funcionários públicos, etc. –, para ouvirem apenas um lado das opiniões. E depois sai um projeto de lei ou decreto presidencial de surpresa e dizem que a matéria foi “amplamente discutida com a sociedade”. Foi assim com o Plano Nacional de Educação, com o 3.º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) e outros. Esse é o Brasil do PT. Se a consulta é pública, têm de ouvir a minha opinião: sou contra qualquer controle da mídia, mesmo disfarçado de “democratização”!

Não entendo de leis, decretos, petições, protelações e outros bláblá-blás do nosso juridiquês, sou apenas um contribuinte otário que paga rigorosamente em dia os polpudos salários de ministros, juízes, desembargadores, senadores e “aspones” em geral. Todavia gostaria que alguém explicasse como é possível um dos mais importantes jornais do Brasil estar sob censura há 800 dias, por ação movida pelos Sarneys, sem que a Justiça tome uma atitude efetiva para dar fim a essa excrescência. Quanto tempo mais os leitores terão de esperar pela boa vontade dos meritíssimos? Quando é para aumento dos próprios salários, o Judiciário é célere. Já quando o assunto é julgar...

ALBERTO FUTURO carlos_futuro@viscondeitaborai.com.br São Paulo

PAULO RIBEIRO DE CARVALHO JR. paulorcc@uol.com.br São Paulo

econômico”. No capítulo sobre profissionalização e trabalho, o projeto enfatiza a necessidade de cumprir as leis que tratam de vagas para aprendizes e proíbem a exploração do trabalho infantil. E, repetindo o que já consta da Constituição, o projeto afirma que o jovem não será discriminado por sua etnia, cor, cultura, condição social, condição econômica e orientação sexual. A deputada Manoela D’Ávila classificou como “histórica” a aprovação do projeto do Estatuto da Juventude. Já para a secretária nacional da Juventude, Severine Macedo, ele representa “um grande avanço”. Evidentemente, trata-se de um exagero. Se há algo que merece aplauso, com relação ao projeto, foi o que de bom senso prevaleceu nas negociações. Por pressão da oposição, foram suprimidos os dispositivos que abriam caminho para mais um trem da alegria, como a criação de cargos remunerados para os

Conselhos da Juventude nos Estados e nos mais de 5,5 mil municípios. E, por recomendação da Secretaria Nacional da Juventude, a relatora alterou o texto original, deixando claro que os Estados e municípios que criarem conselhos terão de fazê-lo com recursos próprios. Por repetir o que já está previsto pela legislação atual e enumerar um extenso rol de princípios óbvios, o projeto do Estatuto da Juventude é uma bandeira mais vistosa do que necessária. Mas, pelo impacto que a concessão indiscriminada da meiaentrada pode causar em companhias de transporte coletivo, teatros, redes de cinema, casas de lazer e estádios de futebol, ele se tornou um problema – seja para os empresários do setor, seja para os Estados e municípios, que serão pressionados a subsidiar a generosa iniciativa. Cabe ao Senado escoimar o projeto dos dispositivos mais absurdos.

Perdas e danos dos Refis mente em razão do deslocamento de técnicos e de milhares de trabalhadores para as bases em terra que permitem a exploração do petróleo em alto mar. O meio ambiente também é afetado, tanto mais levando em conta os danos provocados pelos eventuais derramamentos de óleo em zonas marinhas. Até a descoberta do pré-sal, os royalties pagos aos entes federativos eram vistos como uma compensação. Os Estados e municípios em que a atividade mineradora é mais intensa recebem, por exemplo, uma Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem), que equivale a royalties, sobre o faturamento bruto das empresas que exploram jazidas de ferro, cassiterita, cobre,etc.,emseuterritório.Minas, Pará e Goiás são os mais beneficiadospela Cfem, masessa receita não é dividida entre todos os Estados. Se a alíquota da Cfem é baixa (3%), trata-se de uma outra questão, a ser discutida quando se cuidar da revisão do Código de Mineração. É verdade que todos os Estados, em maior ou menor grau, apresentam graves problemas na área social e o governo tem insistido em que seu objetivo é usar os recursos do pré-sal para sanaressas deficiências.Para isso, foi instituído o Fundo Social do Pré-Sal, administrado pelo governo federal. É imprevisível o resultado da contenda que se trava no Congresso Nacional sobre a divisão dos royalties do petróleo. Por enquanto,a cobiça tem prevalecido sobre o bom senso.

“De tempos em tempos o PT desenterra esse defunto, e assim fará até conseguir seu intento” MARIA DO CARMO ZAFFALON LEME CARDOSO / BAURU, SOBRE O CONTROLE DA MÍDIA mdokrmo@hotmail.com

“Censurável é o motivo da censura ao jornal” A. Fernandes / SÃO PAULO, SOBRE 0S 800 DIAS standyball@hotmail.com

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anoso, ineficiente, estimulador da sonegação, fonte de concorrência desleal e, sobretudo, injusto com os contribuintes que recolhem regularmente os tributos devidos. Estas são algumas das piores características dos programas de rolagem de dívidas tributárias que o governo vem oferecendo regularmente desde 2000 e em condições cada vez mais favoráveis para o devedor, como agora reconhece o subsecretário de Arrecadação e Atendimento da Receita Federal, Carlos Roberto Occaso. Ao apresentar os resultados parciais do último desses programas – o “Refis da crise”, de 2009, que permitiu o pagamento da primeira parcela da dívida renegociada apenas em fevereiro deste ano –, Occaso disse que ele deveria ser extinto, dados os prejuízos que causa para o governo, para a economia em geral e para os contribuintes preocupados em manter-se rigorosamente em dia com o Fisco. Certamente, parte dos contribuintes beneficiados por esses programas enfrentou dificuldades momentâneas que os impediram de cumprir suas obrigações tributárias e, para eles, o parcelamento pode ter significado a preservação de suas atividades. Para esses casos, Occaso anunciou que está em fase final de implantação na Receita um sistema mais aperfeiçoado para a concessão e acompanhamento de parcelamentos de débitos tributários, que levará em

conta a situação econômico-financeira da empresa devedora. “Não vamos mais conceder parcelamento de forma indiscriminada por 60 meses”, disse. “Vamos conceder no limite exato de cada contribuinte.” Refinanciamentos generalizados, de fato, beneficiam contribuintes, em débito com o Fisco, que estão interessados apenas em regularizar temporariamente sua situação mas não em quitar sua dívida, mesmo que esta tenha sido renegociada em condições muito favoráveis. A regularização temporária de sua situação fiscal traz vantagens imediatas, pois per-

Criado para oferecer ‘segunda chance’, o programa estimula maior sonegação mite obter uma Certidão Negativa de Débito com a Receita. De posse desse documento, o contribuinte pode participar de licitações governamentais e obter empréstimos de bancos oficiais. Obtidas essas vantagens, os beneficiados pelos programas de refinanciamento da dívida simplesmente deixam de pagar as parcelas devidas. Isso aconteceu nos três primeiros programas desse tipo adotados pelos governo – o primeiro Refis, de 2000; o Paex, de 2003; e o Paes, de 2006 – e ocorre com o “Refis da crise”. Para os devedores do Fisco, este programa é o mais generoso de todos, pois permitiu a redução de até 90% das multas devidas e de até 40% dos juros, além de permitir o pagamento

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Código Florestal pode oferecer incentivos

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Papel verde nacional poderia ser adquirido na Bolsa de Valores por empresas que precisam desmatar ● “O que parece preservação é só conversa do governo. Querem mudar as leis ambientais, mas a tributária, não.” NELSON RODRIGUEZ TEIXEIRA

● “É necessário criar incentivos para beneficiar os pequenos produtores que preservam de forma objetiva e sem burocracia.” CARLOS GOMES DA MOTA FILHO

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● “Esta na hora de o governo realmente apoiar quem protege o verde. Até agora só escutei o discurso de burocratas.” CRISTINA TACCOLA

em até 180 meses. Até novembro de 2009, 577,3 mil empresas tinham entrado no programa. De imediato, elas ganharam o direito de “limpar seu nome” nos órgãos da administração pública e foram ainda beneficiadas com uma carência de mais de um ano, pois a primeira parcela da dívida renegociada só seria devida em 2011. Das que optaram por se beneficiar do programa, 445 mil negociaram com a Receita as condições de parcelamento e se mantiveram no novo Refis. Mas, agora, apenas 212,4 mil, cerca de um terço das que manifestaram interesse no parcelamento de sua dívida, continuam apagarasparcelas.A dívidaconsolidada das empresas que continuam no programa soma R$ 174 bilhões. Desse total, a Receita arrecadou R$ 14,3 bilhões nos primeiros oito meses de 2011. Apesar dessa receita adicional,Occasoconsideraqueo“Refis da crise” foi utilizado por boa parte dos devedores apenas como uma “artimanha de rolagem das dívidas”, por meio da qual, além da obtenção da Certidão Negativa de Débito e da protelação do pagamento, as empresas querenegociaram adívidapuderam retirar o passivo tributário de seus balanços. Desse modo, essasempresas“acabamconcorrendo de forma desleal com a companhia que paga impostos regularmente”, observou o subsecretário da Receita. A sucessão de programas como esses estimula a sonegação, pois cria a expectativa de que, mais cedo ou mais tarde, novas vantagens serão oferecidas a caloteiros contumazes.

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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011

Em Lima, SIP vai debater o futuro da mídia Gabriel Manzano

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) vai realizar por cinco dias – a partir de sexta-feira – na cidade de Lima, no Peru, sua 67.ª Assembleia Geral. Colunistas, gurus da informática, juristas, editores, políticos e celebridades estarão presentes no evento. Mais de 1.300 filiados, entre jornais, revistas e outras mídias, devem mandar representantes. Em painéis recheados de temas polêmicos,entre200e300jornalistas e editores vão debater os caminhosda informação nas três Américas. Um dos pontos altos do encontro,em um elegante hotel do centro de Lima, será o discurso de abertura do presidente peruano, Ollanta Humala. Entre os debatedores, dois expresidentes – o boliviano Carlos MesaeoperuanoAlejandroToledo – falarão das ameaças políticas à liberdade de informação. A celebridadeconvidadaseráocriador do WikiLeaks, Julian Assange – que, via teleconferência, se defenderá dos muitos críticos de seus métodos de obter os dados. O debate será na segunda-feira e o moderador será Milton Coleman, do The Washington Post. Ética, legalidade, queda de leitores, informação virtual, pressões judiciais contra a imprensa, censura:nãofaltarãoassuntospara animar a semana. Um dos painéisvai analisaro fechamento do tabloide inglês The News of the World, após operações tidas como antiéticas, por ele realizadas, para obter informações sobre a vida privada de celebridades. Censura. Representando o Bra-

sil, o vice-presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa da SIP, Paulo de Tarso Nogueira – consultor do Grupo Estado –, apresentará um relatório atualizadosobrealiberdadedeimprensa no País. Lá deverão estar, mais uma vez, os casos de jornalistas assassinados, de prisões, ameaças e episódios de censura judicial– como ado Estado, quehoje completa 800 dias. Esses relatórios sobre a situação da imprensa, país por país, valem como termômetro da saúde da liberdade de informação nos 39 países das Américas. Lidos a partir do sábado e votados no último dia, os de Lima deverão repetir um quadro que, nos últimos tempos, tem apontado avanços democráticos mas, também, o crescente recurso de governosaformasjudiciaisdeexercerpressãocontraamídia.Noencontro de abril passado em San Diego (Estados Unidos), estavam no banco dos réus governos como os da Venezuela, Equador, Nicarágua e Argentina. E os episódios não param. Na semana passada, o presidente da SIP, Gonzalo Marroquín, protestou em comunicado oficial contraa“instigaçãoaoódio”praticada por autoridades venezuelanas contra o semanário Sexto Poder.

NaArgentina,anteontem,umrelatório da Associação de Entidades Jornalísticas, denunciou “o discurso único e o enfraquecimento da crítica”, promovidos pelo governo Cristina Kirchner, cuja arma, agora, é exigir que os jornais revelem os nomes de jor-

Novas mídias. À parte esses desafios,aexpansãodos smartphones e tablets e o crescimento da internet continuam ganhando espaço nas discussões. Já no pri-

Polêmica. Julian Assange, criador do site WikiLeaks, discutirá acesso à informação

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Porto Seguro 8 dias Uma das decisões já anunciadas pela direção da SIP, antes de iniciar as reuniões de Lima, foi a escolha do Brasil como sede da próxima assembleia-geral. Cerca de 500 delegados, de mais de 25 países, devem encontrar-se no Hotel Renaissance, em São Paulo, entre 12 e 16 de outubro de 2012. A reunião de meio de ano será em Cádiz, na Espanha, entre 20 e 23 de abril. Essaassembleia,a68ªdahistória da SIP, vai coincidir com dois fatos do calendário político. Primeiro, ela se instala uma semana depois das eleições para prefeito nasmaisde5milcidadesbrasileiras. Segundo, ela terá comopano de fundo os esforços de lideranças do PT para incluir nos debates do Congresso Nacional o marco regulatório da mídia. A volta da SIP ao País ocorre depois de 11 anos de ausência. A reunião anterior, de meio de ano, foi realizada em Fortaleza em 2001. Antes dela, houve uma assembleia-geral, também em São Paulo, em 1991. / G. M.

SUZANNE PLUNKETT/REUTERS–13/7/2011

meiro dia de reuniões um painel abordará o papel do celular como veículo de informação e as maneirasde torná-lo fonte de receitas. Em outro debate, O Globo e The New York Times contarão suas experiências na criação de conteúdos virtuais.

nalistasquerevelamnúmerossobre a i nflação no país.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 10 DE OUTUBRO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

Doutor Lula ✽ ●

RICARDO VÉLEZ RODRÍGUEZ

L

ula, como Brizola, éumgrandecomunicador. Mas, como Brizola também, é um grande populista. A característica fundamental dessetipodelíderé,comoescreve o professor Pierre-André Taguieff (A Ilusão Populista – Ensaio sobre as Demagogias da era Democrática, Paris, Flammarion, 2002), que se trata de um demagogo cínico. Demagogo – no sentido aristotélico do termo – porque chefia uma versão dedemocraciadeformada,aquela em que as massas seguem o líder em razão de seu carisma, em que pese o fato de essa liderança conduzir o povo à sua destruição. O cinismo do líder populistajá fica por contada duplicidade que ele vive, entre uma promessa de esperança (e como Lula sabe fazer isso: “Os jovens devem ter esperança porque são o futuro da Nação”, “o présal é a salvação do brasileiro”, e por aí vai), de um lado, e, de outro, a nua e crua realidade que ele ajudou a construir, ou melhor,adesconstruir,comafalência das instituições que garantiriam a esse povo chegar lá, à utopia prometida... Lula acelerou o processo de desconstrução das instituições que balizam o Estado brasileiro. Desconstruiu acintosamente a representação, mediante a deslavada compra sistemática de votos, alegando ulteriormente quesetratavademaisumaprática de “caixa 2” exercida por todos os partidos (seguindo, nessa alegação, “parecer” do jurista Márcio Thomas Bastos) e proclamando, em alto e bom som, que o “mensalão nunca existiu”. Sob a sua influência, acelerouse o processo de subserviência do Judiciário aos ditames do Executivo (fator que nos ciclos autoritáriosda Históriarepublicana se acirrou, mas que sob o PT voltou a ter uma periclitante revivescência, haja vista a dificuldade que a Suprema Corte brasileira tem para julgar os responsáveis pelo mensalão ou a censura odiosa que pesa sobre importante jornal há mais de dois anos, para salvar um membro de conhecido clã favorável ao ex-mandatário petista). Lula desconstruiu, de forma sistemática, a tradição de seriedade da diplomacia brasileira, aliando-se a tudo quanto é ditador e patife pelo mundo afora, com a finalidade de mostrar novidadesnessaempreitada, brandindo a consigna de um “Brasil grande” que é independente dos odiados norte-americanos, mas, certamente, está nos cau-

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

Política e costumes sando mais prejuízos do que benefícios no complicado xadrez global: o País não conseguiu emplacar, com essa maluca diplomacia de palanque, nem a direção da Unesco, nem a presidência da Organização Mundial do Comércio (OMC), nem a entradapermanentedoBrasilnoConselho de Segurança da ONU. Lula, com a desfaçatez em que é mestre, conseguiu derrubar a Lei de Responsabilidade Fiscal, abrindo as torneiras do OrçamentodaUniãoparamunicípios governados por aliados que não fizeram o dever de casa, fenômeno que se repete no governoDilma.Deoutrolado,isentoudavigilânciadosórgãoscompetentes (Tribunal de Contas daUnião,notadamente)asorganizações sindicais, que passaramachafurdarnaságuas doOrçamentosemfiscalizaçãodenin-

O título concedido em Paris é uma boa piada ou fruto de ignorância do que se passa no País guém. Esse mesmo “liberou geral” valeu também para os ditos “movimentos sociais” (MST e quejandos), que receberam luz verde para continuar pleiteando de forma truculenta mais recursosda Nação parasuasfinalidades políticas de clã. Os desmandos do seu governo foram, para o ex-líder sindical, invenções da imprensa marrom a serviço dos poderosos. A política social do programa Bolsa-Família converteu-se numa faca de dois gumes, que, se bem distribuiu renda entre os mais pobres, levou à dependência do favor estatal milhões de brasileiros, que largaram os seus empregos para ganhar os benefíciosconcedidos sem contrapartidanem fiscalização. Enquanto ocorria isso, o Fisco, sob o consulado lulista, tornou-se mais rigoroso com os produtores de riqueza, os empresários. “Nunca antes na História deste país” se tributou tanto como sobos mandatos petistas, impedindo,assim,que alivre-iniciativa fizesse crescer o mercado de trabalho em bases firmes, não inflacionárias. Isso sem falar nas trapalhadas educacionais, comuniversidades abertas do norte ao sul do País, sem provisão de mestres e sem contar com os recursos suficientes para funcionarem. Nem lembrar as inépcias do Inep, que frustraram milhões dejovens em concursosvestibulares que não funcionaram a contento. Nem trazer à tona as desgraças da saúde, com uma administração estupidamente centralizada em Brasília, que ignora o que se passa nos municípios onde os cidadãos morrem na fila do SUS.

Diante de tudo isso, e levando em consideração que o Brasil cresceu na última década menos que seus vizinhos latinoamericanos, o título de doutor honoris causa concedido a Lula, recentemente, pela prestigiosa casa de estudos Sciences Po, em Paris, é ou uma boa piada ou fruto de tremenda ignorância do que se passa no nosso país. Os doutores franceses deveriam olhar para a nossa inflação crescente, para a corrupção desenfreada, fruto da era lulista, para o desmonte das instituições republicanas promovido pelo lídercarismático e para as nuvens que, ameaçadoras, se desenham no horizonte de um agravamento da crise financeira mundial, que certamente nos encontrará com menos recursos do que outrora. Ao que tudo indica, os docentes da Sciences Po ficaram encantados com essa flor de “la penséesauvage”, o filho dedona Linduqueconseguiufazertamanho estrago sem perder a pose. Sempre o mito do “bon sauvage” a encantar os franceses! O líder prestigiado pelo centro de estudos falou, no final do seudiscurso, umaverdade: a homenagem ele entendia ter sido feita ao povo brasileiro – que pagaagora,com acréscimos,acontadafestançademagógicadeLula e enfrenta com minguada esperança a luta de cada dia. ✽ COORDENADOR DO CENTRO DE PESQUISAS ESTRATÉGICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA E-MAIL: RIVE2001@GMAIL.COM

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DENIS LERRER ROSENFIELD

O

graudeliberdade de um país se mede pela liberdade de seus costumes, pelas escolhas que cada cidadão faz do que estima ser melhor para si, sabendoreconhecernooutroumportador dos mesmos direitos. A sociedadebrasileira tem tornado um valor seu a liberdade dos costumes, alterando velhos hábitos e mesmo legislações restritivas à liberdade de escolha. Recentemente, contudo, surge uma onda, patrocinada por agentesgovernamentais,dopoliticamente correto que procura reverter essa tendência, fazendo-o em nome de uma posição aparentemente “progressista”. O retrocesso está mudando de nome. Há setores do governo, que têm uma visão definitivamente autoritária das relações políticas, invadindo, sem nenhum pudor, a esfera do privado, daquilo que é próprio de cada um. O poder passa a ser exercido sob a forma de controle da vida individual, em que, por princípio, nada se coloca fora do seu alcance. A liberdade de escolha – e, por extensão, de iniciativa –, econômica, de imprensa, de publicidade, é fortemente atingida. Engana-se quem pensa que se trata de ações apenas pontuais. Em cada caso especí-

SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS

Sebastian Vettel

fico se revela toda uma concepção de mundo, das relações pessoais e, mais particularmente, dos costumes. A última em série – mas, infelizmente, não a última de um processo que parece interminável–estána tentativadaSecretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República de enquadrar a novela Fina Estampa, da Globo. O motivo, aparentemente anódino, diz respeito a um personagem que na trama humilha e bate na mulher. Segundo o enredo, a personagem agredida é aconselhadapor amigas a prestar queixa do marido, porémnãoofazporque dizamálo. Trata-se, na verdade, de um retrato do que ocorre com muitos casais pelo País afora, sem queintervenhaaquinenhumjuízo de valor. Cabe, isso sim, ao telespectador elaborar o seu.

Setores do governo com visão autoritária invadem, sem nenhum pudor, a esfera privada Masasecretáriasugereemofício enviado à TV Globo que esta mude seu enredo. Segundo ela, a mulher agredida deveria procurar a Rede de Atendimento à Mulher, ligando para o telefone 180. Sugere ainda que o agressor seja não só punido, mas encaminhado aos centros de reabilitação da Lei Maria da Penha. Aqui, a secretária já está se tornando especialista em dramaturgia. A “lei” do politicamente correto deveria, então, passar a reger a elaboração das novelas e – por que não? – do cinema também. O assunto é especialmente graveporqueimplicainterferência governamental direta na liberdadede expressão, aindaque feita sob a forma de “sugestão”. Sugestão de ministra não é conselho de uma cidadã qualquer, mas de uma agente estatal. Trata-se de uma recomendação oficial. Num primeiro momento, estamos diante de um fato menor, mas o problema é que a modapodepegar.Logo,numsegundo momento, qualquer agente público estaria no direito de se tornar um dramaturgo oficial. Retomando o genial Stanislaw Ponte Preta, estamos diante de outro episódio do festival de besteiras que assola o país. O problema é que esse festival se apresenta como politicamente correto, estabelecendo normas de como deveriam ser os costumes e de como a liberdade de escolha deveria ser cerceada. Nofestivalemcursotemosvárias peças dignas de menção. Uma delas é sobre advertências, que deveriam estar inscritas em roupasíntimas dehomensemulheres, quanto aos perigos do câncer de próstata e de mama. Trata-se de uma invasão do do-

mínio daquilo que é mais próprio decada um, desua vida íntima. Imaginem uma situação amorosa em que o homem olha osutiãdacompanheiraelhepergunta se tem feito mamografia. Ela, surpresa, olhando a cueca, retruca se ele fez exame de próstata. No auge da relação amorosa, o câncer, a morte, introduzse numa relação de Eros, de vida. Não há clima que resista! Oclima,evidentemente,seesvai, dando lugar a uma conversa sobre os perigos de uma doença que pode ser mortal. Tânatos, a pulsão de morte, toma o lugar de Eros, pulsão de vida. E isso é feito pelo Estado, que diz proteger a vida contra a morte! A vida privada deveria, acima de tudo, ser preservada de intervenções estatais,por mais politicamente corretas que sejam. Eis o perigo maior. O Estado torna-se agente de Tânatos. O festival não tem fim. A reincidente Secretaria de Políticas paraMulherestambémvemtentando tirar do ar um comercial de lingerie com a modelo Gisele Bündchen por esta se insinuar, no uso de seus atributos femininos, num pedido ao marido. Nada de muito particular no fato, não fosse a “polícia” do politicamente correto procurando ditaroquedeveounão serveiculado numa propaganda televisiva. Seja dito de passagem que o anunciante da tal lingerie agradece, compadecido, a iniciativa governamental,poisapublicidade alcançada foi muito maior do que a prevista, seja ou não tirada a propaganda do ar. Jamais esse comercial teria atingido tal grau depublicizaçãonãofosseainterferência estatal. O assunto encontra-se atualmente no Conar, órgão autônomo de regulação da publicidade, para análise de sua adequação ou não ao seu Código de Ética. Espera-se que essa entidade tenha o bom senso de rechaçar a interferência naquilo mesmo que é o fundamento da ética: a liberdade de escolha, livre das amarras governamentais. O assunto é da maior gravidade,apesardeseuaspecto francamente cômico. Um agente estatal tem a pretensão de passar a decidir o que deve ou não ser veiculado na publicidade, interferindo em sua própria mensagem e criatividade. O mais preocupante, contudo, é que ele se crê imbuído da “crença correta” do que devem ser os costumes humanos. O governo arroga-se em instrumento de uma espécie de dever-ser moral que teria como função passar a ditar as normasdoscomportamentospoliticamente corretos. ✽ PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Fórum dos Leitores GREVES Correios

Inquestionável: greve é um direito de todo trabalhador. E temos de apoiar. Mas não dá para ficar quieto e assistir à dos Correios, que já ultrapassa os limites da razoabilidade e da tolerância, pois há quase um mês afeta a vida de milhões de brasileiros que necessitam desse tão relevante serviço prestado pelos carteiros. E nem podem alegar que não foi oferecida proposta, porque foi, e se não aceitaram é porque as correntes políticas por trás dessa manifestação não permitem. Pessoas como Anaí Caproni (PCO) são as principais lideranças e usarão os trabalhadores na próxima campanha eleitoral, associando esta greve a Dilma Rousseff. Mas, na verdade, os trabalhadores dos Correios estão sendo usados, como sempre foram, por essa senhora, que sonha ter um cargo no Executivo,

estadual ou municipal, a qualquer custo. Será esta uma greve justa? MÁRIO GREGO mariogrego@uol.com.br São Paulo

Bancários

Essa greve anual já encheu e não comove mais ninguém. Os mesmos carros de som, a mesma conversa de trabalhador oprimido de sempre. E as mesmas fachadas dos bancos forradas de adesivos, escrito “greve” em vermelho. Está faltando criatividade. Mas há uma agravante na greve atual: o Sindicato dos Bancários foi flagrado pagando R$ 50 por dia para desempregados fazerem figuração e cara feia na porta das agências, com a intenção óbvia de inibir possíveis fura-greves. Ou seja, agora o comitê de esclarecimento da greve está terceirizado. Depois os bancários reclamam que os bancos terceirizam serviços. Nu-

ma democracia isso não deve ser permitido. A liberdade de escolher, participar ou não da greve, não está sendo observada. Muito estranhas as práticas antidemocráticas utilizadas por quem clama por mais democracia. Já fui bancário, quando me contentava com pouco dinheiro. Quando quis mais, resolvi pedir demissão e fui procurar algo mais rendoso para fazer. E é isso o que os insatisfeitos deveriam fazer. A taxa de desemprego está baixa, mas há muita gente querendo trabalhar. AURÉLIO NUNEZ ROLAN, microempresário aurelioanr@gmail.com São Paulo

REFORMA POLÍTICA Escândalo das emendas

Necessitamos urgentemente fazer a reforma política. Da maneira como se vai consolidando a roubalheira, logo, logo, vamos

quebrar, como está ocorrendo mundo afora. Até nas pequenas cidades do interior há maracutaias. O vereador mal-intencionado fica na espera de uma possível situação. De cima do muro, observa e depois dá o bote, seja por vantagens políticas (barganhas) ou/e por dinheiro. Por essas e outras, nossos legisladores têm uma missão muito séria para breve, mais do que breve: cada qual deixar de lado seus próprios interesses para proceder a uma reforma abrangente – quem sabe, eliminando o voto obrigatório, por onde começam a compra de votos e as barganhas, até chegar ao escândalo das emendas e aos projetos espúrios. ANTONIO CARNIATO FILHO antoniocarniato@gmail.com Santa Rita do Passa Quatro

Carta de princípios

Só faria sentido pensarmos em reformas como a política (Dora Kra-

mer, 7/10) após termos uma Constituição que fosse uma carta de princípios, e não uma extensa carta de intenções, emendadas e, na sua maioria, não cumpridas. Com uma Constituição tão prolixa não pode haver ordem jurídica que sustente reformas efetivas e duradouras. PAULO CAMPOS HARTFORD pcamposhartford@bol.com.br São Paulo

PRECATÓRIOS Listas sem lógica

Há dois meses escrevi para este Fórum questionamento os critérios para pagamentos de precatórios alimentares pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). Dias depois foi publicada resposta da assessoria do tribunal, com um leve tom de ameaça, dizendo que cuidariam muito bem do precatório em meu nome. Posteriormente o TJSP divulgou duas novas lis-

tas de pagamento, em 31/8 e 30/9, das quais não é possível imaginar nenhuma lógica ou clareza, causando imensas dúvidas quanto aos critérios empregados. Será que é muito difícil ter transparência? E o que é mais importante, não poderiam pagar simplesmente de acordo com a ordem cronológica? Até a PEC do Calote manda pagar 50% em ordem cronológica. Mas não dá para ver isso na lista publicada no site do TJSP. JOSÉ RENATO NASCIMENTO jrnasc@gmail.com São Paulo

PETROBRÁS Ações em baixa

Os Estados se engalfinham pela divisão dos resultados de um présal futuro, quando a administração atual da Petrobrás deixa a desejar. A melhor demonstração do seu mau resultado administrativo é o preço das ações, que tem caí-


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 10 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

O Super Cade Depois de muitas negociações e uma tramitação influenciada por pressões de grandes empresas e escritórios de advocacia, o projeto de reestruturação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica foi finalmente aprovado pela Câmara dos Deputados. A sessão foi tão tumultuada que, horas após seu término, a área de direito econômico do governo se surpreendeu ao saber que o substitutivo aprovado não incluía o que havia sido acertado com a oposição, no dispositivo referente a multas para as empresas condenadas por formação de cartel. O governo queria que o teto para as multas ficasse em 30% do faturamento das empresas, como ocorre hoje. Mas, por descuido dos deputados no encaminhamento da votação,

foi mantido o teto de 20% fixado pelo Senado, em detrimento do que havia sido negociado. “Saímos de lá com a sensação de vitória e, por um lapso, corremos o risco de ter um retrocesso monstruoso”, disse o presidente em exercício do Cade, Olavo Chinaglia. Para tentar corrigir o erro, os técnicos do governo ouviram as gravações da sessão, leram o material taquigrafado e consultaram os especialistas em regimento interno da Câmara, mas o teto da multa ficou mesmo em 20% e, agora, a direção do Cade quer que a “correção” seja feita por Medida Provisória. Problemas como esse desfiguraram o projeto original de reestruturação do Cade, que foi enviado ao Congresso em 2005. Nestes seis anos, o Brasil bateu recordes sucessivos de fusões e aquisições de empresas. Em 2009, foram realizadas 454 operações. Em 2010, 726. E, para 2011, a estimativa é de que sejam

concluídas 787. Para dar conta de tanto serviço e agilizar as decisões do órgão responsável pelo combate à formação de cartéis, o projeto funde o Cade com os órgãos que compõem o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência – a Secretaria de Direito Econômico, vinculada ao Ministério da Justiça, e a Secretaria de Acompanhamento Econômico, vinculada ao Ministério da Fazenda. Além da criação do Super Cade, outra inovação importante é a que determina que a análise das fusões e aquisições de empresas seja feita antes de o negócio ser fechado. Sem o aval do órgão antitruste, as operações não podem ser realizadas. Isso vai exigir que os contratos sejam mais detalhados, prevendo, inclusive, a possibilidade de o Cade não autorizar o negócio e definindo como as partes irão arcar com o ônus de eventual rejeição. Até agora, as ava-

liações são feitas depois do negócio fechado – uma vez assinado o contrato, as empresas têm 15 dias para notificar o Cade. Isso cria situações difíceis de serem revertidas e leva as decisões do Cade a serem questionadas na Justiça. O texto aprovado pela Câmara também determina que só serão objeto de análise pelo Super Cade as fusões e aquisições nas quais a maior empresa fature pelo menos R$ 400 milhões e a menor, pelo menos R$ 30 milhões. Esses limites foram decididos depois de muita discussão e são mais baixos do que os valores que haviam sido aprovados pelo Senado – R$ 1 bilhão e R$ 40 milhões, respectivamente. Outra alteração do projeto se refere ao depósito em juízo no caso de as empresas recorrem à Justiça contra decisões do Cade. O Senado havia proposto que a multa fosse fixada pelo juiz, mas a Câmara decidiu que o depósito terá

Escassez de água no interior

O novo Simples

s municípios que se abastecem com a água das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí estão enfrentando as consequências de fortes variações climáticas. Na estiagem, a escassez severa coloca em risco o abastecimento de água de boa parte dos 5 milhões de consumidores da região, além de encarecer o tratamento e a distribuição; no verão, as chuvas intensas e as enchentes obrigam o aumento da vazão dos mananciais. A situação exige melhoria da gestão da água, principalmente no Sistema Cantareira e seu reservatório de espera, que tem de garantir a disponibilidade de água na seca e a segurança das represas nas chuvas. Estudos climáticos mostram que os dois últimos verões permitiram que o Sistema Cantareira atingisse 100% da sua capacidade. Para evitar acidentes nas represas, foi decidida a abertura das comportas, o que provocou grande aumento da vazão dos rios a jusante e, consequentemente, pontos preexistentes de transbordamento se transformaram em imensas áreas inundadas, desabrigando milhares de moradores dos municípios próximos dos Rios Atibaia e Jaguari. Já durante a estiagem, os consumidores da região enfrentam ameaça de racionamento e aumento de até 15% das contas de água, devido à alta do custo do tratamento provocada pela queda da qualidade dos mananciais. A disponibilidade

epois de muito tempo gasto em discursos sobre a necessidade de incentivar o empreendedorismo e reduzir a burocracia tributária, o Senado aprovou o projeto de lei complementar que eleva o limite de faturamento anual das microempresas que optaram pelo Simples Nacional de R$ 240 mil para R$ 360 mil e, para as empresas de pequeno porte, de R$ 360 mil para R$ 3,6 milhões. Eram consideradas pequenas as empresas com faturamento até R$ 2,4 milhões. Foram também contemplados os empreendedores individuais, para os quais já existe legislação específica, cujo limite para uso do Simples foi de R$ 36 mil para R$ 60 mil por ano. Para não retardar a tramitação do projeto, os senadores deixaram de lado todas as emendas, mantendo o texto aprovado pela Câmara dos Deputados. O projeto aguarda sanção presidencial para vigorar em 2012. Ficou para ser votada em outra ocasião, por exemplo, a emenda da então senadora Ideli Salvatti, hoje ministra das Relações Institucionais, que previa uma ampliação do leque de setores empresariais que poderiam se valer do Simples. Mas o fato é que, se o governo decidir desburocratizar a máquina arrecadadora, bastará uma decisão do Ministério da Fazenda para estender o sistema simplificado a novas áreas, beneficiando milhares de empresas. O País tem sido muito criticado, com razão, por ser um dos

O

de água neste período é de 400 m³/habitante/ano, muito abaixo do que a Organização das Nações Unidas (ONU) considera limite do estresse hídrico (1.500 m³/habitante/ano). Em entrevista ao Estado, o presidente do Consórcio PiracicabaCapivari-Jundiaí (PCJ), Francisco Lahóz, lembra que no Oriente Médio esse índice é de 450 m³/habitante/ano. Águas dessas bacias abastecem o Sistema Cantareira, que estádesde2001 sobgestãocompartilhada dos Comitês PCJ, dos Organismos Gestores do Estado de São Paulo, da Sabesp, da União e de consumidores.

Há necessidade de revisão das normas de gestão do conjunto do Sistema Cantareira-PCJ Há um ano, discute-se na região a necessidade de renovação das normas de operação, gestão compartilhada e novos volumes de vazão do sistema. O chamado banco de águas, que permite que a água seja reservada nos períodos de chuva para ser utilizada na estiagem, se mostrou ineficaz quando as represas atingiram capacidade plena e houve a necessidade de esvaziá-lo. Na outorga assinada em 2004, porém, as mudanças climáticas não foram consideradas. Só foi prevista a necessidade de o banco ser zerado nos períodos em que as represas têm de verter suas águas por excessodearmazenamento.Assecas mais intensas não foram consideradas.

do abaixo da média do Ibovespa. A ação ordinária da Petrobrás está equiparada à da Telemar!

tratando essa tragédia, que culmina com a morte de outro ícone da tecnologia, aos 42 anos de idade!

SERGIO HOLL LARA jrmholl.idt@terra.com.br Indaiatuba

MOYSÉS FRIEDHEIM m.friedheim@uol.com.br São Paulo

AINDA STEVE JOBS Logotipo da Apple

URBANISMO Estádio do Palmeiras

A maçã mordida, logotipo da empresa de Steve Jobs, foi certamente uma homenagem ao matemático inglês Alan Turing, que, na época da 2.ª Guerra Mundial, decifrou o código “Enigma” da Marinha alemã, fator que mudou a direção do conflito. Conhecido como o pai do computador contemporâneo, em risco eminente de ser preso por ser homossexual (na época era crime sujeito a prisão), Alan Turing mordeu uma maçã previamente envenenada, cometendo suicídio. Nota: há poucos anos o ator Carlos Palma apresentou uma peça teatral re-

O novo estádio do Palmeiras, no mesmo tradicional local, pareceme um absurdo, quer pelas dificuldades urbanísticas (sistema viário, região sujeita a alagamentos, transporte público, etc.) como pela qualidade de vida dos moradores do entorno e região, que ficarão sujeitos ao barulho e às arruaças, além da insegurança habitual em eventos desse tipo. Pergunto-me como pôde a Prefeitura, e seus diversos setores envolvidos, aprovar o projeto. ANDRÉ C. FROHNKNECHT anchar.fro@hotmail.com São Paulo

O que os representantes dos municípios da região pretendem é que os debates para mudançadas regrasdeoperação do Sistema Cantareira – com adoção de novos limites de vazões do banco de águas no período de estiagem – se iniciem logo, porque a renovação da outorga ocorrerá em 2014. Além do mais, é preciso adequar a gestão às condições socioeconômicas da região, que nos últimos anos experimentou crescimento populacional e desenvolvimento econômico acelerados. O Sistema Cantareira abastece 20% da população da região metropolitana de São Paulo, além de quase 5 milhões de pessoas das Bacias PCJ. A outorga estabeleceu a vazão de 5 m³/segundo para os municípios do interior, volume que representa menos da metadedo considerado ideal para que os consumidores tenham água em quantidade e qualidade ideais. A Grande São Paulo, por sua vez, tem direito de receber 31 m³/segundo. Além da quantidade insuficiente, a pouca vazão tem por consequência a piora da qualidade da água e o alto custo do tratamento. Dianteda pressão sobreos recursos hídricos, tão importante quantoaadequação das normas edefiniçõesoperacionais da outorgaéoestabelecimentodeformas de preservação e de economia da água, seja no interior, seja na região metropolitana de SãoPaulo. Onde não háágua para todos, é preciso reutilizá-la, evitar as perdas na distribuição, usar a tecnologia que assegura o consumo econômico e educar a população.

“Falta ao deputado Roque Barbiere nomear os bois” ROBERTO TWIASCHOR / SÃO PAULO, SOBRE A DENÚNCIA DE VENDA DE EMENDAS NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA rtwiaschor@uol.com.br

“Será o primeiro Nobel de nosso país o da violência?” LUIGI VERCESI / BOTUCATU SOBRE O BRASIL SER LÍDER EM ASSASSINATOS NO MUNDO luver44@terra.com.br

D

de ser igual ao valor da multa aplicada pelo Cade. Elaborado para aperfeiçoar os mecanismos de defesa da concorrência, o texto aprovado pela Câmara apresenta, contudo, alguns retrocessos perigosos. O mais grave é o dispositivo que permite aos técnicos do Super Cade entrar nas empresas a qualquer momento, sem autorização judicial, para buscar provas de formação de cartel. Nem a Polícia Federal nem a Receita Federal têm essa prerrogativa – na verdade, um instrumento autoritário incompatível com o Estado Democrático de Direito. Outro problema é a falta de recursos financeiros e humanos. Com as novas prerrogativas, o Super Cade terá de decidir com maior agilidade, e a estimativa é de que terá de contratar urgentemente mais 200 técnicos e de se mudar para novas instalações, mas, até o momento, ninguém sabe de onde sairão os recursos para isso.

campeões mundiais em tempo gasto pelas empresas para pagar impostos e contribuições previdenciárias – estimado em 108 dias por ano para as empresas de porte médio, segundo estudo do Banco Mundial –, o que afeta a sua competitividade internacional e interfere com a realização de negócios. Para um grupo considerável de empresas menores, porém, houve um avanço com a Lei Complementar 123/2006, em vigor a partir de 2007, que introduziu o Simples Nacional, esquema que permite às micro e pequenas empresas de setores selecionados pagar, com um

O Senado aprovou afinal a elevação dos tetos de enquadramento de microempresas único boleto mensal, oito tributos federais, estaduais e municipais, excluída a contribuição previdenciária. A alíquota do Simples é mais baixa, variável de acordo com o faturamento nos últimos 12 meses e, ao fim de cada exercício anual, as empresas devem apresentar declaração de Imposto de Renda. Com o passar do tempo, contudo, os limites de faturamento para enquadramento no Simples ficaram defasados. O projeto agora aprovado pelo Senado corrige em 50% o teto para as microempresas e, quanto às empresas de pequeno porte, o limite é multiplicado por dez. Há também um estímulo direto à exportação pelas empresas menores, cuja participação nas vendas externas é hoje insignifi-

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Aécio: 'Estarei pronto, seja Lula ou Dilma'

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Senador tucano se apresenta disposto a enfrentar qualquer nome do PT nas eleições de 2014 ● “Se o Aécio conseguir unir o PSDB em torno de seu nome, já terá dado o passo mais difícil para a vitória.” JOSÉ SILVA

● “Com certeza é o único nome que o PT teme. Seria muito interessante ver essa disputa.” JOSÉ HENRIQUE

HÁ 801 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “O PSDB vai precisar trabalhar muito e valorizar seus quadros em todo o País.” ROBERVAL VIEIRA DE FREITAS

cante. Para as empresas de menor porte que estão engajadas ou planejam engajar-se no esforço exportador, o projeto aprovado prevê que podem dobrar o faturamento com a receita advinda de vendas externas e permanecer no programa. Calcula-se que existam no Brasil 5,4 milhões de empresas em funcionamento, 99% das quais são micro e pequenas, responsáveis por 52% dos empregos com carteira assinada. A ampliação do Simples, ao reduzir a carga tributária, pode concorrer, portanto, para a maior formalização de empresas e de empregos. Há, porém, dificuldades operacionais. Muitasempresas,especialmentedurante a crise de 2008/2009, deixaram de pagar o imposto devido e foram excluídas do sistema. O projeto prevê que, nesse caso, os débitos possam ser parcelados em 60 meses. É provável que esse dispositivo encontre resistências da Receita Federal, cujos técnicos têm criticado os programas de refinanciamento da dívida ativa –especialmenteochamado“Refis da crise”, lançado em 2009, no qual se inscreveram 577,3 mil empresas, das quais apenas 36% concluíram as negociações com o governo evêm pagando asparcelasde suadívida.Segundo técnicos da Receita, não serão mais concedidos parcelamentos indiscriminados,devendoos pedidos ser examinados caso a caso. Essa precaução é justificável, mas não elimina as vantagens doSimplesampliadoparaasempresasquevêmcumprindorigorosamente os seus compromissos tributários.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 11 DE OUTUBRO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

Meio ambiente, política e soberania ✽ ●

MARIO CESAR FLORES

M

eio ambiente, recursosnaturais (água doce...) e clima são temas indutores potenciaisdecontenciososqueperturbarãoatranquilidadeinternacional (e interna em muitos países) no século 21. Esses contenciosos já se manifestam em duas “frentes”, aqui referidas ao Brasil. Interna: a atuação humana dissonante do conveniente à natureza, pressionada por demandas do homem, inexoravelmente inserido nos ecossistemas – demandas que, ao menos as racionais, não podem ser ignoradas. E supranacional: as atividades no Brasil vistas, com ou sem razão, como prejudiciais à natureza em escala transnacional; e na mão contrária, os reflexos no Brasil de atividades fora do País danosas à natureza global. Em ambas as frentes a solução depende da conciliação do interesse humano de curto prazo, quandonãodasnecessidadeshumanas essenciais, com a sustentabilidade ambiental no longo prazo. Essa conciliação passa pela ciência, pela conscientização dopovoeformulaçãoepelocumprimento de regulação sensata. A ciência e a conscientização estão avançando – a conscientização, lentamente. Já a regulação e seucumprimentoandamaostropeços (no Brasil e no mundo...), num quadro em que demandas infladaspelocrescimentodemográfico, associado ao consumismo paranoico, tendem a menoscabar o alerta da ciência e aretardar a conscientização. E tendem também a ameaçar a continuidade do potencial da natureza. Nessequadrodúbio,queinclui o Brasil, é natural que a conciliaçãosejatumultuadaporumcomplicadorinerenteàdemocracia:o reflexopolítico-eleitoral dadinâmica do homem no ecossistema, comseusinteressese/ounecessidades – o que explica, por exemplo, por que o político do Mato Grosso é mais tolerante com o desmatamentonafronteiraagropecuáriadoqueodoRiodeJaneiro,que,porsuavez,écomplacentecomafavelizaçãodescontrolada de áreas protegidas. Explica ainda por que o político dos EUA resiste ao Protocolo de Kyoto... Nofundo,aassociaçãodointeresse ou da necessidade humana com a lógica eleitoral no curto prazo,hierarquizadaacimadanatureza e do próprio interesse humano,no longo prazo– uma conduta de risco, se deixada livre. Estamos a caminho de saber razoavelmenteoquepodeoudeve ser ou não ser feito. Difícil é estruturar esse “pode ou deve”

sem que o dissenso entre o sugerido pela ciência e o desejado pelo homem – ou exigido por sua sobrevivência – provoque turbulência política. Esse dilema esteve refletido na votação do CódigoFlorestalnaCâmaradosDeputados,emmaio:apardabaixapolíticamanifestanoescambo“cargos e recursos por votos”, a pressão do homem ator econômico e social no ecossistema também foi influente. Foi, sempre será e é natural que seja, mas há que procuraroequilíbrioentreasdemandasdohomemeasustentabilidade ambiental, de que aquelas demandas dependerão no futuro. Enfim, no Brasil – e no mundo emgeral,sobretudonodemocrático–asdificuldadesdaconciliação são maiores na política, influenciada pelos interesses do homem, eventualmente até imperativosecomumentemodula-

Não será fácil atingir o equilíbrio ideal entre a prudência ecológica e a pressão socioeconômica dos por peculiaridades locais, que sugerem soluções distintas, não raro em dissonância com a natureza. O malogro na solução desse desafio acaba desembocando numadestas hipóteses: se prevalecer o fundamentalismo ecológico irrazoável (pouco provável),viveremosentravesaodesenvolvimentoeinsatisfaçãosociopolítica; se prevalecer a pressão humana, em desafio à ciência no tocante à natureza, comprometer-se-áodesenvolvimento no longo prazo e se sujeitará o Paísaembargos,cotasecertificações restritivas, a pretexto de que o Brasil não responde à sua responsabilidade; no extremo, a pressões impudentes sobre a soberania nacional. Mais dia, menos dia, impor-se-ão medidas salvacionistasaté radicais. Risco deerosão dademocracia emambas as hipóteses. Embora nossos vários biomas sejamtodosimportantes,aAmazônia é hoje objeto de particular atenção interna e internacional. Por mais que ainda seja preciso estudá-la–oquevemsendofeito no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e em outras instituições –, já existe forte suscetibilidade quanto aos reais ousupostosreflexossuprarregionaisdo que nela ocorre, indutora demanifestaçõescríticasaoexercício da soberania brasileira na região, vista como de singular interesse da humanidade (exemplo insólito, a manifestação do presidente Mitterrand anos atrás). Independentemente do seu grau de correção, em aferição pela ciência, a suscetibilidade alerta para a necessidade de controle adequado da reação às irregularidades antropogênicas e às catástrofes naturais, o qual,

se bem exercido, além de seu valorambientalintrínseco,deslegitimará atitudes prejudiciais ao País e/ou atentatórias ao sentido rigoroso da soberania. Esta é a realidade: nossa virtude ambiental carece de adequadamolduralegalqueconciliehomem e natureza e, complementarmente, de rigoroso controle do seu cumprimento. Nessa equação intervêm o Congresso e seuscongêneresestaduais,naflexibilidade admitida pela lei federal, naturalmente sujeitos às pressões do processo político com suas peculiaridades regionais, e os Executivos federal e estaduais, em realce o Ministério do Meio Ambiente e órgãos estaduais correlatos. Se à sombra do Tratado de Cooperação Amazônica o tema se estender aos nossos vizinhos – hipótese razoável, jáqueoecossistemanãorespeita fronteirapolítica–,tambémoMinistério das Relações Exteriores. Saberemos resolver o desafio da compatibilização das demandas do homem, incidentes nos ecossistemas, com as da sustentabilidade ambiental, ou viveremos décadas tumultuadas por contenciosos nacionais e internacionais? Não será fácil atingir oequilíbrioidealentreaprudência ecológica e a pressão socioeconômica – ao menos enquanto a conscientização do povo não forcapazdesecontraporaointeresse imediatista, no processo político-eleitoral. ✽ ALMIRANTE DE ESQUADRA (REFORMADO)

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

Terrorismo e segurança nacional ✽ ●

RUBENS BARBOSA

E

m artigo recente procurei mostrar que o mundo não mudouemdecorrência dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, mas a sociedade norte-americana, sim.OsEUAnuncahaviamsido atacados em seu território continental desde 1814, quando, na guerra anglo-francesa, depois da independência, a Casa Branca foi incendiada pelos ingleses. A alma americana foi profundamente afetada, o que explicaa mudança rápida nocomportamento do seu povo e do seu governo. Uma das consequências da transformação da sociedade norte-americana foi a obsessivapreocupaçãocomapossibilidade de novos atos terroristas. EmconversacomoentãopresidenteeleitoLula,emdezembro de 2002, o presidente George W. Bush disse enfaticamente que “todos os dias, sentado a mesa onde trabalharam Kennedy e Johnson, recebia do CIA mais de 40 alertas de possíveis ataques terroristas”. Aguerraglobalcontraoterrorismo passou a ser a primeira prioridade do governo de Washington. Impedir novos ataques ao território norte-americano e capturar, vivo ou morto, Osama bin Laden e outros líderes da Al-Qaeda foram objeti-

SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS

Henrique Meirelles

vos perseguidos tenazmente nos últimos dez anos. Depois do 11 de Setembro, um tentacular aparato de segurança nacional foi criado. Integrada por agências governamentais, companhias privadas e comandos militares, formou-se uma rede sigilosa dentro do governo norte-americano (Pentágono, CIA, Departamento da Segurança Interna), que se tornou um braçoautônomoeautossustentável do governo e pouco conhecidopela opinião pública dos EUA. Desde os ataques terroristas, o número de pessoas contratadas para trabalhar em programas ultrassecretos subiu a mais de 250 mil. Mais de 1.200 organizações do governo e cerca de 2 mil empresas privadas foram criadas e trabalham em programas sigilosos relacionados com a luta global contra o terroris-

Cultura do medo após o 11/9 levou à formação de uma tentacular rede ultrassecreta nos EUA mo, defesa interna e inteligência em mais de 10 mil edifícios espalhados por todo o país. Somente naregião deWashington, nos últimos dez anos foram construídos ou estão em construção 33 conjuntos de prédios para tratar dessestemas,umdelesverdadeira cidade secreta. Mais de 850 milfuncionários e não funcionáriosdogovernodispõemdeacesso a informações ultrassecretas. Analistas, que tentam interpretar documentos e conversações, obtidas por espionagem doméstica ou externa, compartilham suas ideias por meio de mais de 50 mil relatórios de inteligência todos os anos, um volume tão grande que os faz ser rotineiramente ignorados. Ninguémnogovernosabeexatamente qual o montante dos custos envolvidos, que programas são realmente relevantes e mereceriam ser mantidos ou quantasagênciasestariamduplicando o mesmo trabalho. A polícia, sob a justificativa de combateroterrorismo,estáusandoinstrumentosdealtatecnologia,utilizadosnasGuerrasdoAfeganistão e do Iraque, para investigar ativistas políticos ou mesmo cidadãos comuns. Apesar de todo esse aparato, ninguéméclaramenteresponsável pela coordenação das ações contraoterrorismo.Os civiseos militares que trabalham em tal engrenagem têm um conhecimento limitado do que os demaismembros dessa comunidade estão fazendo. Seu funcionamentoseassemelhamuitoàscélulas dos movimentos armados de contestação ao regime militar no Brasil, com poucos vasos comunicanteseinformaçãoparcial entre todos.

Tudo isso foi mostrado agora comapublicaçãodolivroTop Secret America (A America Ultrassecreta), dos jornalistas Dana Priest e de William M. Arkin. Exemplo de jornalismo investigativo, o livro revela aspectos desconhecidos do crescimento dos órgãos de segurança e da comunidade de informações e seu impacto nas ações do governo, na política interna e na externa. A cultura do medo justificou o gasto para enfrentar a ameaça do terrorismo. Isso levou à crença de que o governo deve fazer tudo para evitar o risco de ataque, antes que ele ocorra, sem diferenciarumarededeterroristas de uma ação isolada de pessoa desequilibrada. Ao assumir, o presidente Barack Obama herdou dois governos:um administrado de maneira mais ou menos aberta e outro, paralelo, ultrassecreto, que, em uma década, se expandiu sem controle e, no dizer do chefe da inteligência do Pentágono, só é conhecido, na sua totalidade, por Deus. Essa máquina de combate ao terrorismo desenvolve meios própriosparaalcançarseusobjetivos. Significativos e sofisticados avanços tecnológicos foram desenvolvidos visando à busca de pistas para descobrir possíveis ameaças e mesmo para a eliminaçãofísicadelideresdeorganizações terroristas. Dos muitos exemploscitadosnolivro,ressalto os veículos aéreos não tripulados (Vants ou drones) e a guerra cibernética.OsVantssãoresponsáveis pela coleta de informações e pelo assassinato de indivíduos marcados para morrer por sua atuação em atividades consideradas como ameaça para os EUA.Comautorizaçãopresidencial(memorando secreto), estão sendo utilizados no Afeganistão e no Iraque, foram empregados para identificar os passos de Bin Laden no Paquistão e, mais recentemente, estão sendo usados na Líbia e no Iêmen. Grupos libertários, acadêmicos e cientistas começam a questionar o governo dos EUA por essa autoconcedida licença para matar, em qualquer país, o que põeemcausaquestõeslegais,éticas e mesmo leis internacionais. Os meios sofisticados de quebra de sigilo na internet e de defesa e ataque na guerra cibernética tornam os desenvolvimentos nessa área um dos meios mais avançados de que dispõe a comunidade desegurança parainterferir, com precisãoediscrição,navidaprivada e em assuntos internos de outros países, como se viu recentementenoataqueaoscomputadores do Irã visando a atrasar o programa nuclear desse país. ✽ Ex-EMBAIXADOR DO BRASIL NOS EUA (1999-2004)

Fórum dos Leitores CORRUPÇÃO No Amapá

O Estadão de domingo nos mostrou como funciona, há muito tempo, um grande esquema de corrupção no Amapá. Não podemos esquecer que o grande representante desse Estado no Senado é o maranhense José Sarney, que nada tem de amapaense, mas deve estar a par de toda essa maracutaia. R$ 1 bilhão bem aplicado no pobre Amapá, que praticamente nada tem, seria bem-vindo. Mas quanto mais pobre o Estado, mais a volúpia argentária dos governantes aumenta e esvazia celeremente os cofres públicos. Que crime hediondo! Até quando aguentaremos tanta corrupção? Vamos ver os resultados das passeatas de amanhã. Estão todos convocados, compareçam. CARLOS E. BARROS RODRIGUES carlosedleiloes@terra.com.br São Paulo

Punição

Quando pensávamos que a faxineira do Planalto havia parado por falta de sujeira, eis que o Estadão nos oferece mais um espetáculo de horror que dá náuseas e aumenta nossa revolta. O Amapá está dominado. Até quando aceitaremos calados o descalabro? Por que não virar a mesa já? Não basta um não à corrupção, queremos punição. E se a Justiça já não funciona, vamos pôr nossas mãos em ação, saiamos às ruas para exigir um país decente, não um país doente. Amanhã temos de nos mobilizar. Basta de tolerância! GILBERTO DIB gilberto@dib.com.br São Paulo

Volta das passeatas

Apesar da lentidão com que tratamos os processos de corrupção

dos agentes públicos no País, a cassação de 274 prefeitos já é um bom sinal de mudanças. Se continuarmos a atual pressão contra atitudes ilícitas – via mídias tradicionais e virtuais, que levem, como no passado, multidões às ruas –, creio que podemos acelerar, e muito, um longo e bem-sucedido processo de saneamento moral, que tanto a Nação brasileira está a necessitar. Com a palavra, principalmente, as novas gerações, a liderarem esse movimento ético entre nós. JOSÉ DE ANCHIETA N. DE ALMEIDA josedalmeida@globo.com Rio de Janeiro

Operação Mãos Limpas

Sem dúvida, um grande serviço à Nação. Todavia, que enorme cara de pau chamar a operação de Mãos Limpas! Depois que o Brasil (por seu Executivo!) “reformou” a decisão do Poder Judiciá-

rio da Itália e “absolveu” Cesare Battisti, cometendo enorme ofensa não só à memória de Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, mas aos juízes que, pondo sua vida em risco, participaram da Operazione Mani Pulite, dar esse nome a uma operação policial é acrescentar injúria ao insulto. FRANCISCO JOSÉ GALVÃO BRUNO fjgbruno@ajato.com.br São Paulo

VALORES MORAIS Derrocada

José de Souza Martins conseguiu superar sua extraordinária sensibilidade ao denunciar a derrocada dos valores morais que assola a sociedade brasileira, no artigo A sociedade sem graça (Aliás, 9/10). A frase lapidar “a sociedade dos incalculáveis ganhos econômicos tornou-se a sociedade de incalculáveis perdas morais” diz tudo o que precisamos saber para come-

çar a agir. Parabéns. JOSÉ PASTORE, USP jpjp@uninet.com.br São Paulo

CENSURA Critica justa dói...

Dinho Ouro Preto, músico e intérprete do Capital Inicial, representou a vontade da maioria do povo brasileiro quando no último Rock in Rio criticou Sarney. Porque o senador usou a sua amizade com um juiz federal de Brasília para que seu filho Fernando, denunciado pela Polícia Federal por maracutaias, censurasse o Estado, como, infelizmente, conseguiu, impedindo assim a publicação detalhada de excrescentes fatos. Sarney, coitado, disse que considera injusta essa crítica do vocalista... Mas, ao mesmo tempo, não mediu esforços para cercear a liberdade de imprensa no País! E olhem que esse maranhense foi o

primeiro presidente da República pós-ditadura de 64. Por essas e outras, ainda dizem, e sem se ruborizar, que a ditadura nas nossas instituições acabou... PAULO PANOSSIAN paulopanossian@hotmail.com São Carlos

ESCLARECIMENTO Rossi Residencial

Em relação à reportagem Rio paga R$ 19,9 milhões por área de doador de Paes (5/10), lamentamos o fato de o texto ter mencionado que a empresa que presido vai se “beneficiar com a remoção da favela” por conta de “dois empreendimentos vizinhos à Vila Autódromo e que deverão se valorizar após a remoção dos barracos”. Já que não fomos questionados sobre esse ponto antes da publicação da matéria, esclareço que as vendas dos dois empreendimentos citados estão pratica-


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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 11 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Onde o Itamaraty acerta Mais diplomatas e mais recursos serão mobilizados para as disputas comerciais e para a promoção de produtos brasileiros no mercado internacional, anunciou o chanceler Antonio Patriota. As novidades compõem um quadro de 20 medidas apresentadas pelo ministro ao abrir, nessa segunda-feira, a comemoração dos 10 anos da Coordenação Geral de Contenciosos e dos 16 anos de participação do Brasil no sistema de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC). A diplomacia brasileira tem obtido resultados importantes em disputas na OMC. O exemplo mais conhecido talvez seja a vitória no caso dos subsídios americanos ao algodão. Mas soluções satisfatórias, às vezes com vitórias parciais, foram alcança-

das em vários processos importantes, em áreas tão diferentes quanto o comércio de aviões e a exportação de açúcar. O comércio exterior brasileiro cresceu aceleradamente nos últimos 10 anos. Aumentaram tanto o volume e o valor das exportações e importações quanto o número de parceiros em todo o mundo. Multiplicaram-se, portanto, as possibilidades de conflitos de interesses e de processos legais na OMC. Mas a estrutura oficial montada para a defesa dos interesses brasileiros nem de longe acompanhou a expansão do intercâmbio. Agora, o chanceler Patriota anuncia a duplicação do número de diplomatas lotados na Coordenação Geral de Contenciosos. Mesmo assim, o número continuará modesto. A equipe deverá passar de quatro para oito funcionários, além de um chefe. O novo programa inclui também, entre

outros pontos, uma preparação melhor dos profissionais, com a inclusão de uma disciplina intitulada “OMC e Contenciosos” no currículo do Instituto Rio Branco. Além disso, haverá mais oportunidades de treinamento na missão do Brasil na OMC, na embaixada brasileira em Washington e na própria Coordenação. Haverá mais investimento em estudos e pesquisas sobre investimento e comércio e na produção, por embaixadas, de relatórios sobre barreiras a produtos brasileiros. Poderá ser especialmente útil o aumento dos contatos com o setor privado para a obtenção de informações sobre obstáculos protecionistas. Com todo o esforço anunciado pelo ministro Antonio Patriota, a estrutura encarregada do contencioso comercial ainda será menor que as de outros grandes participantes do comércio internacional. Mas a iniciativa é positiva, sem dúvida, embora de-

vam permanecer alguns problemas organizacionais. No Brasil, a gestão do comércio exterior é dividida entre vários setores do governo e nem sempre há cooperação e entendimento entre ministros ou mesmo entre funcionários de escalões técnicos. No governo americano – apenas para mencionar um exemplo bem conhecido –, negociações de acordos e atuação em disputas são funções atribuídas a um só organismo com status ministerial – o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR). Em nenhum país a diplomacia comercial é totalmente livre de influências políticas e ideológicas. A separação de funções, no entanto, pode com certeza contribuir para uma avaliação mais clara dos interesses comerciais envolvidos em cada projeto, em cada negociação e em cada disputa. No Brasil, essa avaliação tem sido prejudicada, a partir de

2003, pelo predomínio da visão político-ideológica. O resultado é visível na escolha das prioridades, em geral vinculadas à ideia da promoção de laços econômicos Sul-Sul. Essa ideia tem prevalecido mesmo quando alguns parceiros, como China e Rússia, mostram pouco interesse de fato em alianças desse tipo e dão evidente prioridade ao comércio com os mercados dos mais desenvolvidos. A excessiva tolerância – muito além dos padrões da solidariedade – ao protecionismo praticado por sulamericanos contra produtos brasileiros é outro sinal bem conhecido dessa tendência. Uma das consequências dessa orientação tem sido a perda de oportunidades. O País ganharia, se a eficiência do setor de contenciosos do Itamaraty contaminasse a formulação da diplomacia comercial. Mas não há sinal, por enquanto, desse contágio.

Polícia Legislativa ou milícia?

Lucro em obra pública

esponsável pela preservação da ordem, do patrimônio e da segurança de deputados e funcionários nas dependências do Congresso, a Polícia Legislativa da Câmara, que conta com 500 agentes, está sendo acusada de ter exorbitado de suas prerrogativas. Com a leniência do presidente da Casa, deputado Marco Maia (PT-RS), teria cometido crime de abuso de autoridade, agindo como milícia privada a serviço do deputado Roberto Policarpo (PT-DF), que há cinco meses foi procurado por três cabos eleitorais para cobrar dívidas e promessas da campanha eleitoral de 2010. O caso, que foi divulgado pela revista Veja, foi levado à PolíciaFederaleostrêscaboseleitorais – todos filiados ao PT – se transformaram em testemunhas de um inquérito criminal que pode custar o mandato de Policarpo. A acusação é tão grave que levou a liderança do PPS a apresentar uma representação ao Corregedorda Câmara,deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), com o objetivo de apurar o envolvimentodeMaiaedePolicarpo (DF) num suposto crime de chantagem. As três testemunhas – o vigilante Paulo Batista dos Santos, o lavador de carros Edmilson Almeida Lopes e o sem-terra Francisco Manoel do Carmo – alegam ter negociado com Policarpo os votos de 39 eleitores arregimentados em acampamentosrurais naperiferia de Brasília e alugado um ônibus para transportá-los até suas

edida adotada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) pode eliminar uma lacuna técnica que dificultava o trabalho de aferição do valor das propostas apresentadas pelos participantes de licitações públicas na área de engenharia civil e, depois, a fiscalização da execução do contrato e dos pagamentos feitos pelo governo. Alguns empresários de obras públicas, no entanto, consideram a iniciativa uma ingerência de organismo do Estado em assuntos de exclusiva responsabilidade do setor privado. Não havia nenhuma referência oficial para as chamadas despesas indiretas, entre as quais a taxa de lucro esperada pelo contratado, que oneram a maioria dos contratos de obras e serviços de engenharia. A exceção são as obras de linhas de transmissão de eletricidade e de subestações, cujos parâmetros foram definidos pelo TCU em 2007. Em setembro, o TCU aprovou o Acórdão 2.369/11 que, pela primeira vez, estabelece limites mínimo e máximo para os Benefícios e Despesas Indiretas (BDI) que as empresas contratadas pelo governo federal para obras e serviços de engenharia podem acrescentar ao valor do contrato. Os BDI já tinham sido tratados explicitamente na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que balizou a montagem do Orçamento da União para 2011. O texto foi mantido na LDO para 2012. De acordo com a lei, no cálculo desse

R

mente finalizadas (um dos prédios já foi entregue e do outro só temos 13 apartamentos disponíveis, de um total de 246 unidades). O local em questão foi adquirido em 2006, em sociedade com a empresa PDG, por R$ 19 milhões. Esse terreno passou por um longo processo de loteamento, em que foram adquiridas todas as licenças necessárias e estávamos já em processo de aprovação das edificações. Já fizemos um investimento de cerca R$ 10 milhões no local, com movimento de terra e contenções, preparando o terreno para receber o futuro empreendimento imobiliário. Este empreendimento teria 932 unidades e valor de vendas de aproximadamente R$ 270 milhões. O valor de mercado do terreno hoje é de, no mínimo, R$ 35 milhões e está situado numa das áreas mais valorizadas do Rio, próxima dos locais que sediarão vários eventos da Olimpíada. Há aproximadamente dois anos fo-

seções eleitorais, no dia da eleição,oqueéexpressamenteproibido por lei. O valor do “negócio” teria sido acertado em R$ 4 mil mais a promessa de alguns empregos, mas o ônibus foi interceptado pela polícia. Na ocasião, o sem-terra Francisco Manoel do Carmo, que o dirigia, ainda tentou preservar Policarpo, alegando que o ônibus teria sido alugado por uma igreja evangélica para levar fiéis a um culto. Mas as autoridades não se convenceram e Carmo acabou sendo indiciado por crime eleitoral,além denão terrecebido um único centavo do então candidato.

Ação extemporânea da Polícia Legislativa no interesse particular de um deputado federal Em abril deste ano, Santos, LopeseCarmosolicitaramaPolicarpoquepagasseadívidacontraída em troca da compra de votos de 39 eleitores. Eles também pediram os empregos prometidos. E lhe propuseram ainda que arcasse com o pagamentodoshonoráriosdeumadvogado para defender o sem-terra no caso da apreensão do ônibus. Em setembro, os três foramsurpreendidoscomaentrega de um “mandado de intimação” para que comparecessem à CoordenadoriadaPolíciaLegislativa, na Câmara, a fim de prestar esclarecimentos acerca de uma “ocorrência policial”. Alémde nãotercompetência legal para intimá-los, a Polícia Legislativa os teria coagido durante os depoimentos.

mos informados pela prefeitura de que o terreno fora escolhido para a remoção da favela. Não tivemos opção, fomos obrigados a ceder, pois sabemos que a prefeitura não aprovaria mais o projeto ali e, no limite, poderia futuramente desapropriá-lo. A negociação do valor com a prefeitura foi longa e levou muito tempo, até chegarmos a um consenso. Só estamos efetuando a venda do terreno para solucionar uma questão da prefeitura por causa da Olimpíada. Seria ótimo para nós se a prefeitura tivesse outro local em vista ou desistisse da compra, pois o potencial de vendas no local é muito bom. Para nós essa questão também gerou questionamentos sobre o motivo que nos levou a vender por tão pouco um terreno tão valioso. Todas as doações realizadas por nossa empresa são transparentes, registradas e realizadas na forma da lei. LEONARDO DINIZ, CEO da Rossi São Paulo

Para se defender, justificar a iniciativa da Polícia Legislativa e preservar a imagem de Maia, Policarpo alegou que os antigos caboseleitoraisoestariamchantageando. Mesmo que isso seja verdade, o parlamentar brasiliensedeveriateracionadooMinistério Público (MP) e a Polícia Federal, denunciando a tentativa de extorsão. Para a liderança do PPS, se houve chantagem, ela teria sido cometida por Policarpo,queusouaPolícia Legislativa para ameaçar os acusadores.Alémdisso, senãoprocurou o MP e a Polícia Federal quando foi cobrado a pagar o que devia, é porque sabia que haviacometidoumcrimeeleitoral que, se descoberto, poderia levá-lo à perda do mandato, dizem os líderes do PPS. O fato de um parlamentar requisitar os serviços da Polícia Legislativaparaatenderauminteresse pessoal envolvendo cabos eleitorais já é condenável. O mais grave é que Policarpo confessou ter pedido esses serviços ao presidente da Câmara, seu colega de partido. O deputado Marco Maia, em nota, limitouse a dizer que a solicitação teria sido encaminhada à DiretoriaGeral da Câmara – que está sob seu comando direto. Se a representação formuladapelaliderançado PPSforacolhida pela Corregedoria da Câmara, o passo seguinte será a abertura, no Conselho de Ética, de um processo contra Policarpo e Maia. No passado, processos como esse não davam em nada. Mas, desta vez, órgãos da sociedade civil – como a OAB – já anunciaram que irão pressionaro órgão a cumprir seu papel.

“Mais um Estado vítima da maldição maranhense, comandada por Sarney” HUMBERTO DE LUNA FREIRE FILHO / SÃO PAULO, SOBRE OS DESMANDOS NO AMAPÁ hlffilho@gmail.com

“Com Fernando Collor fui cara-pintada, hoje sou cara borrada” FRANCISCO JOSÉ SIDOTI / SÃO PAULO, SOBRE OS PROTESTOS CONTRA A CORRUPÇÃO PREVISTOS PARA AMANHÃ fransidoti@gmail.com

M

item contratual deverão constar, no mínimo, a taxa de rateio da administração central, os porcentuais dos tributos sobre os serviços, a taxa de risco, seguro e garantia do empreendimento e a taxa de lucro. Embora tenha representado um avanço em relação à situação vigente até o ano passado, essa referência aos BDI na LDO não deixou claro como o item será calculado e quais são seus limites, o que deixa grande margem de liberdade na fixação do preço para as empresas interessadas em prestar serviços de engenharia civil para o governo. O Acórdão 2.369 pro-

TCU tenta limitar os benefícios e despesas indiretas em contratos de obras públicas cura limitar essa margem, ao fixar, para diferentes tipos de obras e valores de contratos, faixas dentro das quais o BDI poderá variar. Com o objetivo de respeitar as características das diferentes atividades ligadas à engenharia civil, o TCU estabeleceu faixas específicas para obras de construção, reforma e ampliação de edificações; obras de irrigação e construção de canais; obras de saneamento básico; obras portuárias; obras aeroportuárias (divididas em pátios e pistas de pouso e terminais de passageiros); e fornecimento de materiais e equipamentos. Em alguns casos, a faixa poderá ser contestada, pois pode ser estreita demais para os diferentes graus de eficiência das

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Apple recebeu 1 milhão de pedidos para modelo 4S, superando marca anterior, de 600 mil, do modelo 4 ● “Cadê o fracasso que previam? Imagina se não fosse.” RICARDO AOI

● “E vários 'jornalistas especializados' dizendo que o lançamento havia sido um fiasco.” CRISTIANE DANTAS

HÁ 802 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Os mercados agora estão definindo quem você é. Ou seja, ou você é um cliente Windows ou um cliente Apple ou Google ou Linux?” MARCO FREIRE

empresas. Trata-se de uma decisão provisória, que poderá ser revista depois que diferentes unidades do TCU concluírem, em 120 dias, o estudo sobre o tema e definirem, em caráter definitivo, “faixas aceitáveis para valores de taxas de BDI específicas para cada tipo de empreendimento”, como estabelece o acórdão. Mesmo assim, é possível que a iniciativa do TCU afete as novas licitações. Editais a serem publicados no futuro próximo muito provavelmente estão sendo revistos para incluir a nova norma. O jornal Valor (7-8-9/10) relata que foram suspensos os processos licitatórios para reforma ou construção de terminais de passageiros nos Portos de Santos, Natal e Rio de Janeiro, obras incluídas no PAC da Copa. “Recomendar ‘parâmetros aceitáveis’ é um eufemismo para dizer que se está tutelando o lucro”, disse ao jornal Valor o diretor executivo da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas, Carlos Eduardo Jorge. Outros empresários advertiram para o risco de a fixaçãodeBDI por valor docontrato deixar de lado fatores relevantes na determinação do custo, comodistânciadasgrandescidades e a necessidade de locomoção e transporte, entre outros. OTCUargumentaqueasreferências para os BDI são necessáriasparaoórgãopúblicoresponsável pela licitação poder aferir seospreçosoferecidospelasempresas estão de acordo com os praticados no mercado, “como manda a lei”.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 12 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação

Notas e Informações A3

Administração e Negócios

Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Os indignados com Wall Street A rua é o desaguadouro natural das pulsões sociais quando os sistemas políticos não conseguem ou não querem acolhê-las, ou ainda quando as sufocam. Nem todos, portanto, saem às ruas pelos mesmos motivos ou com os mesmos objetivos. Como as famílias infelizes de que falava Tolstoi, por oposição às famílias felizes que seriam, todas, parecidas, as insatisfações sociais que se materializam nos espaços públicos têm, cada qual, feitio próprio. As que mais se assemelham, historicamente, são as revoltas contra os despotismos, que eclodem muitas vezes depois que a proverbial gota de água faz transbordar o copo. Ou, numa metáfora apropriada para a presente geografia política, quando uma palha a mais quebra a espinha do camelo – como a autoimolação de

um vendedor de rua na Tunísia que levou à derrubada do ditador de seu país e, em sequência, dos seus congêneres egípcio e líbio. Nas democracias é que as diferenças se acentuam. Os estudantes protestam e são violentamente reprimidos no Chile pelo governo direitista de Sebastián Piñera porque reivindicam, como começaram a fazer no anterior governo de centro-esquerda da presidente Michelle Bachelet, a reforma do sistema de financiamento da educação herdado da era Pinochet. Embora enfurecidos, decerto não passa pela cabeça deles defender uma solução “bolivariana” para as mazelas não sanadas do regime democrático chileno: conhecem a sua história. A democracia tampouco está na mira dos muitos milhares de israelenses que, irados de início com a alta do preço do iogurte, fizeram passeatas e montaram acampamentos para denunciar a crise habitacional do país –

e, por extensão, o aumento das desigualdades econômicas sob o governo neoliberal de Binyamin Netanyahu. O panorama muda de figura quando os descontentes se congregam para escancarar aos políticos – de todo o espectro partidário – a frustração levada ao extremo com a sua aparente indiferença diante dos padecimentos da população. É o caso da Espanha, onde a recessão, o desemprego de 21%, o mais alto da União Europeia, o corte de benefícios sociais e a ausência de projetos dotados de credibilidade para o resgate da economia deram origem à mobilização de Los Indignados, que tempos atrás ocupou a Porta do Sol, em Madri. O seu patrono é o francês Stéphane Hessel, de 94 anos e herói da Resistência, autor do panfleto Indignez-vous, um dos livros mais vendidos na Europa. Os indignados estão longe de repetir o bordão dos argentinos que, na virada de 2001 para 2002, clamavam nas praças por-

tenhas Que se vayan todos. Mas querem um outro (e nebuloso) modelo de representação política. A onda chegou aos Estados Unidos – e confirma que, sejam quais forem os seus pontos em comum com as de outros quadrantes, sua identidade é também singular. O alvo primário do movimento Ocupe Wall Street não são as instituições, mas, como diz o nome, o capitalismo financeiro, com os seus desmedidos poderes sobre os centros de decisão de Washington e a impunidade extravagantemente bem remunerada de que desfruta, em que pese ter jogado o país na maior recessão desde a quebra de 1929. Não se sabe no que dariam os protestos iniciados há três semanas no Zuccotti Park, no sul de Manhattan, a uma pedrada de distância do símbolo da finança mundial, não fosse a brutalidade estúpida da repressão da polícia nova-iorquina a uma marcha pacífica na Ponte do Brooklyn, no último dia

1.º. Mas o fato é que as concentrações se propagaram para mais de 25 cidades, entre as quais Boston, Chicago, Los Angeles e Washington. Os seus participantes, em que há de tudo, de anarquistas a operários, podem não saber o que querem. Um jornalista comparou os seus atos a manchas de tinta que, a exemplo das imagens do Teste de Rorschach, cada observador interpreta à sua maneira. Mas eles sabem o que não querem – a hegemonia da alta finança sobre a economia americana e a sua exagerada influência sobre a Casa Branca, que trata Wall Street na palma da mão, enquanto a renda se concentra e o desemprego permanece fixo na casa de 9%. Os indignados com Wall Street não têm a pretensão de obter respostas prontas às suas aflições. Mas o movimento tem tudo para crescer a ponto de conseguir “dar uma sacudida” no país, como disse Obama.

Irregularidades persistentes

A CNI vê risco de inflação alta

maior rigor de suas auditorias explica parcialmente o fato de, mesmo tendo diminuído o número de ações de fiscalização, o Tribunal de Contas da União (TCU) ter aumentado o número das restrições impostas neste ano a contratos públicos. Mas o aumento do número de irregularidades ou indícios de irregularidades detectados pelo TCU nas auditorias realizadas em 2011 têm outra explicação. As ressalvas feitas pelo órgão deixam claro que, nos contratos firmados pelo governo federal, persistem, e até podem ter aumentado, práticas danosas ao erário como sobrepreço, superfaturamento e irregularidades nas licitações. O número de processos reprovados por algum motivo foi 23% maior neste ano do que em 2010, apesar de ter diminuído o volume de documentos analisados pelo TCU. Nos seis primeiros meses deste ano, foram expedidas 39 medidas cautelares (decisão preliminar) e suspensas 30 licitações e seus respectivos contratos. Isso resulta na média de mais de três ocorrências por semana. Boa parte das decisões do TCU envolve obras de infraestrutura, com contratos de grande valor. Na última semana de setembro, por exemplo, o TCU reprovou os contratos para a ampliação do terminal remoto do Aeroporto de Guarulhos, o parque eólico da Petrobrás no Rio Grande do Norte, a segunda etapa do Programa de Irrigação Araras Norte no Ceará e o

nflação alta, produção em ritmo lento e gasto federal em rápida expansão compõem o cenário traçado para 2012 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em seu novo Informe Conjuntural, divulgado nessa terça-feira. Será difícil conduzir a inflação ao centro da meta de 4,5%, no próximo ano, e isso dependerá principalmente deumapolíticafiscalmaisaustera, mas não há sinal dessa política,segundoodocumento.Osórgãos de representação da indústria têm defendido a redução dos juros básicos pelo Banco Central (BC). A taxa básica foi cortada em 31 de agosto e novos cortes deverão ocorrer, segundo projeções do setor financeiro e dos meios empresariais. No entanto, os economistas da CNI parecem menos confiantes agoraquantoao acertoda novapolíticamonetária.Emnenhummomento a criticam, em sua análise, mas demonstram insegurança quanto aos pressupostos alegados pelo governo para defender o afrouxamento da política de juros. Ao anunciar o corte da taxa básica, o BC apresentou suas razões para tomar a decisão:a economia brasileira já perde impulso, a inflação começa a recuar, o crescimento internacional será muito lento, mesmo sem recessão,ospreçosdosprodutosbásicos tendem a cair e o governo continuaráadotandoumapolítica fiscal prudente. Com isso, será possível abrandar a política monetária, porque a gestão das contas públicas facilitará o controle da inflação. O relatório endossaapenaspartedessasavalia-

O

novo pier de atracação de navios de passageiros no Porto do Rio de Janeiro. Dos projetos incluídos no Programa de Aceleração do Crescimento, 15 fazem parte da lista dos contratos que sofreram alguma restrição pelo TCU nas auditorias realizadas neste ano. O rigor das auditorias do TCU levou o então presidente Lula a criticar duramente o órgão e a defender a restrição de seu campo de atuação. No entanto, o TCU vem se transformando praticamente no único órgão eficaz de fiscalização do uso do dinheiro público, em defesa dos contribuinte. E os re-

O TCU aumenta o rigor e o número de processos reprovados é 23% maior neste ano sultados de seu trabalho de fiscalização não deixam dúvida de que tem procurado cumprir bem seu papel. Só na área de transportes, onde estão os maiores gargalos de infraestrutura do País, o TCU identificou 23 obras com indícios de irregularidades graves. Dessas, 15 são de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e 8 da Valec, estatal que coordena os projetos ferroviários do governo federal. São os dois órgãos atingidos pelas denúncias de corrupção que resultaram na mudança da cúpula do Ministério dos Transportes. Com nova direção, Dnit e Valec informam que estão adotando as providências recomendadas pe-

CENSURA Crítica de Dinho

ESCLARECIMENTO Bolsa-Família

A Nação brasileira está acordando! Como nos anos 60, volta a força da música a incomodar as oligarquias geradoras da corrupção que nos assola. O velho lobo ficou balançado. Sempre no seu estilo “toma lá, da cá”, fazendo-se de vítima que quer o troco quando dá. Saravá, Dinho Ouro Preto! Use a sua voz. Outros haverão de segui-lo.

No artigo Doutor Lula (10/10, A2), Ricardo Vélez Rodríguez tece comentários baseados em falsas premissas sobre o Programa Bolsa-Família. Não há nenhum indício de que “as pessoas largam os empregos” para receberem os benefícios do Bolsa-Família. Ao contrário, os últimos dados do IBGE apontam que 72% dos beneficiários em idade adulta trabalham. Porém a maioria dessas ocupações é precária e de baixa remuneração. Para essas famílias o benefício serve como complementação de renda. Os beneficiários do Bolsa-Família integram o público prioritário das ações de inclusão produtiva do Plano Brasil Sem Miséria.

LUCIA HELENA GARCETTI RIBEIRO luciagarcetti@hotmail.com Franca

Mordaça

Tentam amordaçar o Estadão, agora querem calar a corregedora nacional de Justiça... E la nave và. ROSALVO LOPES DA SILVA rosalvo.lopes@terra.com.br São Paulo

RENATO HOFFMANN, coordenador Ascom/MDS joao.mendes@mds.gov.br Brasília

lo TCU para que as obras suspensas sejam reiniciadas o mais depressa possível. A paralisação de obras causa perdas, como observou ao Estado o presidente da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas, Luciano Amadio Filho, pois provoca a desmontagem do canteiro de obras e a dispensa de mão de obra. O reinicio da obra exige que tudo sejarefeito. Além disso, o atraso traz custos adicionais. Asobservaçõessãoprocedentes, mas a responsabilidade pela paralisação não é do TCU. O Tribunal apenas cumpre sua obrigação de, em defesa do dinheiro público, sustar a execuçãode contratos nos quais identificou irregularidades. E estas, como mostram os resultados de suas auditorias, são persistentes:sobrepreço,superfaturamento, licitações malfeitas, entre as mais frequentes. Boa parte dessas irregularidades poderia ser eliminada se as obras fossem licitadas já com projetos executivos, como sugeriu o presidentedoSindicato deArquitetura e Engenharia (Sinaenco), José Roberto Bernasconi. Não haveria necessidade de mudança de tecnologia, substituição demateriaise,sobretudo,determos aditivos feitos apenas para elevar o preço da obra. Se as obras do governo federal fossem planejadas com mais competência e rigor, diminuiria onúmerodecontratoscomirregularidades, os trabalhos progrediriam mais rapidamente, menoresseriamosriscosdeperdas para as empresas contratadas e para os órgãos públicos e mais benefícios teria o País.

“Dona Dilma, se a faxina é de fachada e a senhora não aguenta, peça pra sair...” TANIA TAVARES / SÃO PAULO, SOBRE A CORRUPÇÃO taniatma@hotmail.com

“Peculatários do Amapá, uma vergonha nacional!” FRANCISCO ZARDETTO / SÃO PAULO, SOBRE O DESVIO DE R$ 1 BILHÃO POR POLÍTICOS fzardetto@uol.com.br

I

ções e é muito menos otimista quanto à evolução dos preços. A CNI reduz de 3,8% para 2,2%suaprojeção de crescimento do produto industrial e, na sua avaliação, esse resultado dependeráemboapartedamineração,daconstruçãociviledosserviços de utilidade pública. A indústria de transformação deve crescer apenas 1,2%. A expansão do Produto Interno Bruto (PIB) foireestimada de 3,8%para 3,4% e será puxada principalmente pelo aumento do consumo privado (4,5%) e do consumo do governo (3%). Além disso, o relatório chama a atenção para um ponto espe-

Estudo aponta demanda ainda vigorosa e novo surto de expansão do gasto público em 2012 cialmente importante e nem sempre valorizado pelos economistas do governo: a produção tem perdido vigor, em parte por causadaconcorrênciaestrangeira,masademandainternacontinua forte. Por isso, o comércio cresceu mais velozmente que o PIB nos últimos quatro trimestres e essa tendência provavelmente se manterá. Além disso, o setor de serviços, livre dos efeitos da competição estrangeira, segue a evolução da renda e do crédito oferecido ao consumidor nacional. Ainda ontem, novas informações do IBGE apontaram na mesma direção da análise publicada pela CNI. Em agosto, o emprego industrial foi 0,4% maior que em julho. A folha de pagamento real foi 3,3% maior que a

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Após faxina, Dilma lançará pacote de R$ 14 bi

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Órfã de uma marca no governo, presidente usa projetos prontos para mostrar resultados ● “Ou seja: vem aí muita propaganda. Porque mexer em corrupção não dá.” CLAUDIO MALAGRINO

● “Com a corrupção e a impunidade vigentes, programa nenhum vai dar certo.” HURTADO DE MENDOZA

HÁ 803 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Outro pacote estilo PAC? Parece mais uma cortina de fumaça para esconder as falhas.” PAULO ANDRADE

do mês anterior e 7,1% maior que a de um ano antes. Apesar das dificuldades, o próprio setor industrial continua contratando e expandindo a folha de salários. A mesma tendência tem sido observada em outros segmentos da economia. A piora do cenário internacional deverá afetar o Brasil, mas a deterioração das condições externas será menor do que foi em 2008. Os investimentos diretos continuarãosustentandoo déficit nas transações correntes do balanço de pagamentos e, além disso, não deve ocorrer uma grande queda nos preços das commodities,poishaverárestrições de oferta (provavelmente, uma referência a dificuldades de vários produtores agrícolas importantes). Do setor externo, portanto, dificilmente virá uma pressão desinflacionária tão importante quanto a prevista pelo pessoal do BC. Apesar disso, segundo a CNI, novos cortes deverão baixar a taxa básica de 12% para 11% neste ano. Com os consumidores aindacacifadoseo quadrointernacional menos assustador do que projeta o BC, cresce o papel da política fiscal no combate à inflação. Mas o gasto público voltou a crescer mais do que o PIBeem2012asdespesasprimárias aumentarão 14,5% em relação ao valor esperado para 2011. Além disso, o salário mínimo embutidonapropostaorçamentária está subestimado, segundo a Confederação Nacional da Indústria, porque a inflação deve chegar a 6,5% no fim deste ano e não aos 5,7% usados no cálculo. É bom dar atenção a essas avaliações.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 13 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

A costumeira chantagem Na ressaca da ditadura militar, a Constituição de 1988 foi escrita com a preocupação de aparar os amplos poderes que o Executivo tinha se concedido durante o regime, em especial mediante a Carta de 1967. Por um ato institucional, o general Castelo Branco, o primeiro chefe de governo da nova ordem, atribuiu a um expurgado e acoelhado Congresso a função de institucionalizar a chamada Revolução de 1964, conforme um projeto de Constituição saído pronto e acabado das entranhas do Planalto. O texto, aprovado praticamente como foi recebido, transformou o Executivo no “mais igual” dos Poderes do Estado. Exemplo dessa centralização hierárquica, o governo se outorgou o monopólio da edição de emendas constitucionais.

Não admira, portanto, que os constituintes livremente eleitos duas décadas depois se empenhassem em ir além da varrição do entulho autoritário, como se dizia à época. A ideia mestra da Constituinte era não apenas enquadrar o Executivo na moldura do Estado Democrático de Direito, reequilibrando a balança das instituições nacionais, mas também dar vida nova à Federação, delegando competências aos Estados e municípios. E tudo isso guiada pela premissa de que a democracia política e a descentralização administrativa deveriam abrir caminho à redução das iniquidades sociais. Acreditavam os constituintes que a Constituição poderia ser a carta de alforria da população pobre e o salvo-conduto para o seu acesso à saúde, educação, moradia e demais bens públicos dos quais vivia apartada. Isso se traduziu diretamente na política orçamentária federal. Desde en-

tão, os governos de turno tiveram de conviver com um padrão de engessamento do destino a ser dado às receitas que lhes deixava pouca margem de manobra no uso dos recursos. Como que a afrouxar essa camisa de força, os desembolsos previstos na proposta orçamentária original ou a ela acrescidos pelas emendas parlamentares são meramente indicativos – salvo quando se tratar de vultosas rubricas pétreas, como a paga do funcionalismo e o financiamento da Previdência, os investimentos pré-fixados para a educação e a saúde e as transferências constitucionais aos entes federativos para esses mesmos fins. O impulso modernizador do Estado, no bojo do Plano Real, levou o governo do presidente Itamar Franco a instituir, por iniciativa do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, e com aprovação do Congresso, um mecanismo para tornar mais flexível a execução orçamen-

tária. A Desvinculação das Receitas da União (DRU), como viria a ser designado, estipula que o Executivo federal pode gastar como queira 20% da arrecadação. Em 2012 isso dá R$ 62,4 bilhões. O instrumento deve ser renovado por emenda constitucional. A DRU vigente expira em dezembro. Eis uma preciosa oportunidade, a enésima e de forma alguma a derradeira, para os políticos exercitarem a sua propensão para a chantagem. É a imprecisamente denominada base parlamentar governista que saca da faca para encostar no pescoço da presidente: ou ela acede em cacifar 61% do valor total das emendas individuais apresentadas pelos congressistas – o equivalente a R$ 4,7 bilhões – ou a DRU só será prorrogada por dois anos, no máximo, e não por quatro, como seria normal. Nessa hipótese, teria de ser renovada em plena campanha presidencial. Como de costume, dinheiro para obras não é tudo

‘Democratização’, não controle

Greves sem regras

PT já percebeu que pega mal falar de “controle social da mídia”. Agora, o que reivindicam os petistas é a “democratização dos meios de comunicação”. Claro, o termo “controle” tem uma desagradável conotação autoritária. É melhor defender a mesma ideia usando uma expressão mais simpática, sedutora. Afinal, não se pode ser contra a “democratização”, seja lá do que for. Portanto, sai “controle”, entra “democratização”. Por exemplo, o presidente nacional do PT, Ruy Falcão, em entrevista à imprensa dias atrás, anunciou a realização, no âmbito dos debates sobre o marco regulatório da comunicação eletrônica, um seminário que deverá reunir em São Paulo “todas as entidades, organismos e parlamentares interessados na democratização dos meios de comunicação”. Da comunicação eletrônica? Não, dos meios de comunicação, tout court. O esperto floreio de linguagemapenascamuflaairreprimível vocação autoritária do PT, que na verdade não admite uma imprensa livre criticando seus programas e seu governo e por issoquer “democratizar”osveículosde comunicação.Umaclara demonstração do uso que o partido faria da “democratização”dos meios decomunicação que preconiza são as recentes tentativas da ministra da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, Iriny Lopes, de interferir numa peça publicitária protagonizada pela modelo Gi-

ncerrada a greve dos Correios, depois de 28 dias de paralisação, sobraram 185 milhões de correspondências acumuladas e prejuízos incontáveis para milhões de brasileiros – além, é claro da perda estimada de R$ 20 milhões diários para a empresa. Esse episódio comprovou mais uma vez a necessidade urgente de uma adequada regulamentação do direito de greve nos serviços ou atividades essenciais, tal como determina a Constituição no parágrafo 1.º de seu artigo 9.º. O assunto permanece numa espécie de limbo legislativo, assim como o direito de greve dos servidores públicos. Telecomunicações foram incluídas entre os serviços ou atividades essenciais pela Lei n.º 7.783/89. Correios obviamente fazem parte desse conjunto. Essa lei obriga empregados, trabalhadores e sindicatos a garantir, durante a greve, a prestação de “serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade”. Mas ela tem pelo menos duas graves lacunas. Em primeiro lugar, a lei não determina como se deve realizar esse atendimento mínimo. Apenas atribui ao Poder Público a função de providenciar a prestação dos serviços no caso de inobservância daquela obrigação por empregadores, empregados e sindicatos. Em segundo lugar, o texto é muito restritivo ao definir as “necessidades inadiáveis da comunidade”. De acordo com o texto, uma necessidade só é inadiável

O

gem, fazendo ilações sobre a atuação de Camilo Capiberibe quando este era deputado estadual e sobre atividades públicas de alguns de seus parentes, induz o leitor a pensar que o governador fazia parte do esquema montado por seus adversários políticos, quando, na verdade, ele sempre esteve na linha de frente do combate a essas práticas e a seus representantes. De acordo com a PF, o esquema desviava recursos da União que eram repassados à Secretaria de Educação do Estado do Amapá, provenientes do Fundeb e Fundef. A maioria dos contratos firmados pela Secretaria de Educação não respeitava as formalidades legais e beneficiava empresas previamente selecionadas. O mesmo esquema era executado em outros órgãos públicos – Tribunal de Contas do Estado, Assembleia Legislativa, prefeitura de Macapá, Secretarias de Estado de Justiça e Segurança Pública, de Saúde, de Inclusão e Mobili-

sele Bündchen e no enredo da novela “Fina Estampa”, da TV Globo, sob a alegação de que em ambososcasosacondiçãofeminina estaria sendo colocada numa posição de “subalternidade”. Seria o Estado decidindo o que constitui ou não a dignidade da condição feminina. É notável também a insistência do PT em colocar num mesmobalaioduasquestõesabsolutamente distintas, na tentativa de se valer da confusão para impor sua visão autoritária a respeito do controle da mídia. Umacoisa éoproblemada atualização do marco regulatório da comunicaçãoeletrônica,neces-

O PT troca a palavra controlar pela palavra democratizar, mas o que visa mesmo é a censurar sária em razão da enorme defasagem da legislação vigente em relação aos avanços tecnológicos na área. Outra coisa é a tentativa de regulação – censura, em português claro – dos conteúdos veiculados por todas as mídias, inclusive a impressa. E é isso que se tentará colocar em pauta no seminário anunciado pelo presidente petista. Esse seminário, quem sabe, poderá lançar luzes sobre o verdadeiro significado de “democratizar”amídia.Seagrandeimprensabrasileiranãoédemocrática,comoacusao PT,issosignifica o quê? Que falsifica a realidade em benefício de interesses escusos, por exemplo, quando denuncia escândalos que obrigam a presidente a demitir ministros? Ou quando participa

zação Social, de Desporto e Lazer e no Instituto de Administração Penitenciária. Todo esse esquema foi montado durante os governos Waldez Góes e Pedro Paulo Dias. As acusações sobre abusos supostamente cometidos pelo governador quando ele era deputado estadual devem ser investigadas – embora, é preciso ressaltar, não tenha havido nenhuma ilegalidade no uso de verbas da Assembleia Legislativa. Mas comparar esses supostos abusos com a gigantesca máquina de desvios e corrupção instalada no Estado do Amapá pelos aliados do senador José Sarney é ofender a inteligência do leitor. Ainda mais publicado num veículo como O Estado de S. Paulo, que tem sido vítima da perseguição implacável do último coronel brasileiro. CLÁUDIO CAMARGO, Ex Libris Comunicação Integrada, Assessoria de Imprensa do governo do Amapá ccamargo@libris.com.br São Paulo

do debate político e das campanhaseleitorais,criticandoosexcessos do PT? Se é isso que pensa o PT, está em clara divergência com a presidente Dilma Rousseff. Em primeiro lugar, pela razão óbvia de que ela foi eleita, apesar de não tercontadocomoapoiodagrande mídia. Mais do que isso, porém,porqueDilma,desdeacampanha eleitoral do ano passado, jamais deixou de expressar, de maneiraabsolutamente cristalina,seurepúdioaqualquertentativa de controle da mídia e a sua confiança na imprensa livre que existe hoje no País. Quandoeracandidata àPresidência, em outubro do ano passado, Dilma Rousseff declarou: “A imprensa pode falar o que bem entender. Eu, o máximo que vou fazer, quando achar que devo, é protestar dizendo: está errado o que disseram por isso, por isso e por isso. Usando uma coisa fundamental que é o argumento”. Em seu discurso de posse, proclamou: “Prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras. As críticas do jornalismo livre ajudam ao País e são essenciais aos governos democráticos, apontando erros e trazendo o necessário contraditório”. Em setembro, em visita aos Estados Unidos, ao assinar uma parceria com o governo norte-americano pela transparência e pela fiscalizaçãodasaçõesdospoderespúblicos, garantiu: “Conta-se tambémcom apositivaação vigilante da imprensa brasileira, não submetidaaqualquerconstrangimento governamental”. Dilma e o PT que se entendam.

“Será que a mudança de toda a direção da Fifa não traria melhores resultados financeiros?” MARCELO PRADO / SÃO PAULO, SOBRE A PREOCUPAÇÃO COM PREJUÍZOS NA COPA DE 2014 POR CAUSA DA MEIA-ENTRADA mpprado@einstein.br

“Estou morrendo de pena da Fifa. Vamos fazer uma vaquinha pra ajudar?” PEDRO OCTAVIO BEGALLI / PEDREIRA, IDEM pedrobegalli@itelefonica.com.br

E

se o seu não atendimento puser “em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população”. Essa definição favorece os grevistas. Pode-se alegá-la para justificar a paralisação completa da atividade em muitos serviços classificados como essenciais. A própria noção de “essencial” fica um tanto vaga, porque nem todo serviço relacionado nessa rubrica responde a uma necessidade considerada inadiável. A paralisação da compensação bancária, por exemplo, incluída entre as atividades essenciais, põe em risco “a sobrevivência, a saúde ou a se-

É preciso aperfeiçoar as normas sobre a paralisação de serviços ou atividades essenciais gurança da população”? Podese argumentar a favor de qualquer interpretação. Em casos-limite, a interrupção de uma transferência financeira pode, é claro, ameaçar a segurança ou a saúde de uma pessoa ou de um grupo de pessoas. Mas não deveria ser preciso pensar em casos extremos para sustentar uma simples afirmação do bom senso: de fato, transportes, comunicações e compensações bancárias são essenciais e indispensáveis à vida normal e ao exercício de direitos básicos de milhões de pessoas, especialmente em sociedades complexas. Prejuízos causados por greves em serviços essenciais atingem muito mais que as empresas diretamente empregadoras.

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Marcha reúne 20 mil contra a corrupção

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Os números são de Brasília. Segunda edição do protesto aconteceu em outras 18 cidades ● “Para um país que nunca sai para protestar, até me surpreendeu. Que continuem assim lotando as ruas e fazendo esses políticos corruptos verem que quem manda é o eleitor.” ARINA ALBA

PAULO BABBONI HÁ 804 DIAS

Atrasos de pagamentos – para citar um exemplo muito comum – podem causar não só danos financeiros, mas também danos morais importantes, atingindo pessoas sem distinções econômicas ou de outras condições. Não tem sentido sobrepor o direito de greve, essencial à democracia, a outros direitos igualmente relevantes ou, em muitos casos, de importância maior para a maioria das pessoas. Como saber se a interrupção de um serviço de transporte impedirá um transplante de órgão ou a continuidade de sessões de quimioterapia? Já se perdeu muito tempo sem uma boa regulamentação das greves nos serviços ou atividadesessenciaisenoserviçopúblico. Para se estabelecer uma boa regulamentação será precisolevaremconta,deformaequilibrada, tanto os interesses dos grevistas e dos empregadores quanto os direitos de todos os segmentos da sociedade. A Lei 7.783 é claramente insuficiente para disciplinar o direito de greve nos serviços ou atividadesessenciais.É precisoretomar esse trabalho, seja para produziruma novalei, seja para ampliar e aperfeiçoar aquela editadaem1989.Éigualmenteimportante cuidar da greve no serviço público. Diante da omissão dos outros Poderes, o Judiciário já foilevadoafixarprovisoriamente regras sobre o tema. Não basta repetir frases de efeito, como fez a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, ao criticar a malandríssima conversão da greve em férias. Governa-se com atos e não só com retórica.

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● “Quanta bobagem. Aposto que 99% dos que estavam lá nem lembram em quem votaram.” POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

para os extorsionários. Demandam outros meios de engordar o seu patrimônio político: o preenchimento de cargos vagos em órgãos como a Sudene, Chesf, Codevasp e Dnocs, para citar apenas os do Nordeste. “A hora é esta, temos de estressar o governo até o limite”, diz com cínica naturalidade um parlamentar que se diz “aliado do Planalto” e se esconde sob o anonimato. A hora é esta e o sistema é este – o modelo de perversão política que confronta, caso a caso, o governante não com a oposição, mas com as bancadas dos partidos que se coligaram para elegê-lo. Aos seus oportunistas integrantes, ávidos pela barganha, pouco se dá que a presidente Dilma Rousseff – ou quem quer que estivesse hoje no seu lugar – precisa da DRU como uma ferramenta adicional para limitar os danos ao Brasil da crise econômica internacional que não cessa de se agravar.

● “Melhor protesto seria retirar de lá todos os maus políticos.” AMÉLIA CARREIRA

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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 14 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

O que retém a voz da rua As marchas contra a corrupção no feriado da quarta-feira em 18 cidades brasileiras decepcionaram os que torciam para que elas fossem mais concorridas do que as do Sete de Setembro. Tivesse isso acontecido, poderia ser um sinal de que a expressão pública da indignação com o que se passa nos Poderes da República – os “malfeitos”, no eufemismo da presidente Dilma Rousseff – estaria enfim ganhando corpo como embrião de um movimento de massa. No Dia da Pátria, 25 mil pessoas saíram de casa em Brasília para externar a sua repulsa pelos políticos. O estopim foi a absolvição, por seus pares, da deputada Jaqueline Roriz, flagrada recebendo dinheiro ilícito antes de se eleger pelo Distrito Federal. Anteontem, segundo estimativas

não confirmadas pelas imagens transmitidas pela TV, não passaram de 20 mil – e nada nem remotamente comparável a isso em outros pontos do País. Em São Paulo, por exemplo, apenas mil pessoas se mobilizaram para percorrer a Avenida Paulista. No Rio, cerca de 2 mil se juntaram na orla de Copacabana. O contraste com as multidões que têm ocupado as ruas no Hemisfério Norte para ventilar o seu descontentamento com os chamados poderes constituídos reforça para muitos a crença – na verdade, o estereótipo – de que o brasileiro é um acomodado. Pior ainda é a comparação com as grandes ondas cívicas da história nacional no último quarto de século: os comícios pelas Diretas Já em 1984 e as passeatas pelo impeachment do presidente Fernando Collor em 1992. E não se diga que falta foco às atuais manifestações convocadas por intermédio das redes sociais. A

bandeira do combate à corrupção se desdobra em demandas concretas, ao alcance, de resto, dos cidadãos minimamente informados. É o caso da demanda pela entrada em vigor da Lei da Ficha Limpa – ela mesma resultante de uma formidável iniciativa popular –, à espera de ser regulamentada pelo Supremo Tribunal Federal. Outra exigência, talvez ainda mais inteligível, é a do fim do voto secreto no Congresso Nacional, graças ao qual Jaqueline, filha do notório ex-governador Joaquim Roriz, se livrou da cassação por quebra de decoro. Mesmo a defesa das prerrogativas do Conselho Nacional de Justiça, órgão de controle do Judiciário, pode ser explicada em poucas palavras aos distraídos. E não se diga tampouco que faltam despertadores de consciências no País. Na celebração do Dia de Nossa Senhora Aparecida – o maior evento do catolicismo brasileiro –, a

Captação para imóveis

É

hora de criar novos mecanismos de financiamento para o setor imobiliário no País, afirmou o diretor de Fiscalização do Banco Central (BC), Anthero de Moraes Meirelles. Hoje, as operações dependem dos recursos das cadernetas de poupança, do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e de instrumentos com menor poder de captação, como os fundos imobiliários, os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), as Letras Hipotecárias (LHs) e as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) – e estes recursos deverão ser insuficientes para atender à demanda dos próximos anos. Até agora, apesar do forte crescimento da demanda, a oferta de recursos atendeu às necessidades de mutuários e construtores. As cadernetas de poupança, principal fonte de crédito, além de disporem de um saldo da ordem de R$ 320 bilhões, recebem recursos provenientes de acordos sobre o Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS) e atendem bem à demanda da classe média. E o FGTS, voltado para as faixas de renda baixa e média baixa, dispõe de vultosas disponibilidades, próximas de R$ 90 bilhões. Além disso, os bancos recebem mensalmente o pagamento das prestações de cerca de 3 milhões de mutuários com contratos ativos. Mas, enquanto as operações de empréstimo crescem cerca de 50% ao ano, os depósitos de poupança evoluem a taxas infe-

Todo mundo calado

Se o deputado Barbiere, um peixe miúdo, tem tanta coisa a esconder, imaginem os graúdos... JORGE ZAVEN KURKDJIAN zavida@uol.com.br São Paulo

ESCLARECIMENTO Obras federais

Ao contrário do que sugere o editorial Irregularidades persistentes (12/10. A3), a recomendação de paralisação de obras diminuiu substancialmente nos últimos anos, expressando a melhoria na gestão dos projetos e dos controles internos dos órgãos federais. Para 2011 nenhuma obra foi paralisada pelo Congresso Nacional na Lei Orçamentária. Dentre 39 medidas cautelares citadas, só 7 incidem em obras do PAC, de acordo com relatórios do Tribu-

riores a 20%. Neste ano, o ritmo de crescimento é ainda menor. Estima-se, portanto, que haja escassez de recursos das cadernetas já em 2012, como temem os mais pessimistas, ou em 2013 ou 2014. A proporção do crédito imobiliário em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), calcula o diretor do BC, deverá atingir 6% neste ano – quase cinco vezes mais do que o porcentual de 1,3% registrado em 2004. Mas 6% do PIB ainda será um volume modesto, comparado ao de outros países emergentes, como o México e o Chile. Estima-se, no setor privado,

O Banco Central admite a necessidade de novos recursos para compor o crédito imobiliário que a relação entre o crédito imobiliário e o PIB deva atingir 10% a 11%, até 2015, podendo dobrar novamente até o início da próxima década. Só então o Brasil estará mais próximo do Chile, cuja proporção crédito imobiliário/PIB supera 20%. No Brasil, ao contrário do que ocorreu em outros países, o crédito imobiliário opera em bases muito seguras – as prestações não comprometem mais do que 30% da renda dos mutuários e, de preferência, é adotado o Sistema de Amortização Constante (SAC), em que as prestações são decrescentes ao longo do contrato. Os bancos não apenas concedem os créditos (ou seja, são originadores das operações), como mantêm esses ativos até

nal de Contas da União (TCU). Dessas, 3 já foram saneadas e em 2 o tribunal determina a adequação de preços, e não a paralisação de obras ou licitações, o que só ocorre em outras 2 cautelares. Dentre os empreendimentos citados como reprovados pelo TCU (4), somente 1 foi objeto de cautelar. Em relação aos outros 3, foi recomendada continuidade. Sobre a lista de projetos do PAC que sofreram restrições do TCU em auditorias de 2011, não se trata de obras com decisão cautelar, mas com recomendação de paralisação ao Congresso Nacional. Os achados destes projetos são ainda preliminares, não tendo sido objeto de decisão definitiva do TCU. Segundo o TCU, não são 8 obras da Valec com indícios de irregularidades, mas 3. GIOCONDA BRETAS, Assessoria de Comunicação Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão palova.brito@planejamento.gov.br Brasília

Igreja, pela voz de prelados como o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, e o de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis, presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tornou a exortar os fiéis a se manifestar ativamente contra a corrupção. “Quando não somos mais capazes de reagir e nos indignar diante da corrupção”, advertiu dom Odilo, “é porque nosso senso ético também ficou corrompido.” Decerto a integridade do senso ético de cada qual é condição necessária para dizer “basta!” aos abusos dos poderosos de todo tipo. Mas não é suficiente. Para surgir e se expressar, a indignação com a rapina do dinheiro público depende de condições objetivas, mais que de um imaginário “caráter nacional” acomodatício. E a primeira dessas condições, ninguém ignora, varia conforme a base material de existência da maioria do povo.

Em rigorosamente todos os países onde as ruas foram tomadas nos últimos tempos, a raiz – menos ou mais exposta – da ira popular é o empobrecimento, o desemprego, a escassez de oportunidades, a penúria. No Brasil, no ano anterior ao das Diretas Já, o poder aquisitivo da população diminuíra 15% e o PIB caíra 2,8%. E a recessão provocada pelo Plano Collor pesou pelo menos tanto quanto a esbórnia da República de Alagoas para o clamor pela destituição do presidente. Hoje, porém, a melhora sem precedentes no padrão de vida de milhões de brasileiros e a sensação geral de otimismo que daí resulta não é que anestesiem as pessoas, mas, à parte quaisquer outras considerações, não as incentivam a protestar contra a corrupção que sabem que existe – e que poderia provocar uma contundente resposta popular se estivesse associada à privação econômica.

Europa avança, EUA empacam o encerramento dos contratos. A questão é manter a eficiência de um sistema em forte crescimento e que depende de variáveis macroeconômicas. Como afirmou Anthero Meirelles, “o BC vem trabalhando em estreita parceria com os demais órgãos reguladores e entidades representativas do setor imobiliário” para definir novos mecanismos de captação de recursos. Mas há empecilhos a serem removidos, como o das regras sobre a destinação obrigatória de 65% dos recursos das cadernetas para as operações – a chamada exigibilidade. Os bancos querem flexibilizar a regra, para poder vender os créditos para companhias de securitização e fazer novos créditos, em prazo curto. A exigibilidade seria, assim, cumprida, mas com alguma defasagem. E o resultado seria o aumento da concessão de créditos com os recursos das cadernetas. Outra hipótese é criar novos títulos, como os covered bonds, espécie de CDBs imobiliários que tiveram boa aceitação na Europa. Mas, para ser colocados, esses papéis teriam de render taxas de mercado superiores às da caderneta, que paga ao aplicador 6,17% ao ano mais TR. Captando a taxa baixa, os bancos poderiam emprestar a juros de 10% a 12% ao ano. Se a captação for mais onerosa, o tomador pagará mais. Para o crédito imobiliário, a queda da taxa básica, dos 12% ao ano, hoje, para 9%, em 2012, permitiria lançar novos papéis e assegurar a oferta de financiamentos.

“Nenhum combate à corrupção terá sucesso neste país se antes não combaterem a corrupção no Poder Judiciário” MARCO ANTONIO R. NUNES / PINDAMONHANGABA, SOBRE A TENTATIVA DE PÔR CABRESTO NO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA nunesmarcelao1@ig.com.br

“Quem pagará a conta dos R$ 560 milhões em 28 dias deixada pelos Correios?” CÍCERO SONSIM / NOVA LONDRINA (PR), SOBRE O PREJUÍZO DA GREVE c-sonsim@bol.com.br

C

om € 440 bilhões para socorrer governos e bancos em apuros, a União Europeia tem agora um instrumento a mais para agir e uma desculpa a menos para deixar prolongar-se a crise das dívidas soberanas. A aprovação da nova Linha Europeia de Estabilidade Financeira (EFSF) acabou sendo mais fácil do que previam, há menos de um mês, autoridades econômicas da zona do euro. A maior dificuldade – inesperada – foi o impasse no Parlamento eslovaco, provocado por um problema político interno e ontem superado. O novo fundo terá mais dinheiro que o anterior e poderá, além disso, comprar bônus de governos, livrando o Banco Central Europeu (BCE) dessa tarefa, e terá liberdade, também, para reforçar o capital de bancos. Poderá, portanto, participar do esquema de capitalização e de blindagem dos bancos esboçado na quarta-feira pelo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso. A Europa avança um pouco mais no rumo da solução da crise das dívidas soberanas e do resgate de um sistema financeiro exposto ao risco de perdas estimadas em até € 300 bilhões. A capitalização necessária está calculada em cerca de € 200 bilhões e a primeira opção dos bancos, segundo as autoridades financeiras, deve ser a captação de recursos no mercado. A intervenção do setor público deverá ser complementar, segundo o discurso oficial. Mas, ao mesmo tempo, autori-

dades planejam convencer os banqueiros a aceitar uma perda maior que a imaginada anteriormente numa reestruturação da dívida grega – sem se anunciar, no entanto, um calote oficial. Ainda será preciso enfrentar dificuldades sérias nas próximas semanas, talvez meses, e até o fundo de estabilidade já é considerado insuficiente. O próprio Durão Barroso defende a captação de recursos para elevar de € 440 bilhões para cerca de € 2 trilhões o volume de recursos disponíveis. Do outro lado do Atlântico Norte as dificuldades políticas são mais graves. O Senado ame-

Ministros do G-20 pouco podem fazer para apressar a superação da crise no mundo rico ricano rejeitou o plano de estímulo econômico e geração de empregos apresentado pelo presidente Barack Obama – um conjunto de gastos e benefícios fiscais com valor estimado em US$ 447 bilhões. Sem conseguir nem sequer apoio suficiente de sua base parlamentar, o presidente americano foi incapaz, até agora, de convencer os congressistas a discutir o plano esquecendo momentaneamente os projetos eleitorais para 2012. Numa segunda tentativa, ele poderá fatiar as propostas e submetê-las separadamente ao Congresso. Embora a crise fiscal e bancária da zona do euro pareça bem mais grave que a situação americana, o impasse político nos Estados Unidos é neste mo-

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Serra: não é o momento para discutir 2014

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Declaração é aparente resposta a Aécio, que disse estar pronto para disputar com Lula ou Dilma ● “Não adianta mesmo discutir antecipadamente as eleições sem fazer oposição.” SOLANGE DELOCCO COUTINHO

● “A falta de opção é o que mata a oposição ao PT. A indecisão na eleição passada só me faz ficar ainda mais temeroso.” MARCOS PEREIRA

HÁ 805 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “A oposição está sem discurso. O governo está dando certo mesmo em meio à maior crise mundial que o mundo já viu." PAULO SERGIO MARCELINO

mento especialmente preocupante. Uma nova fase de estagnação nos Estados Unidos – mesmo sem recessão – terá um custo muito alto para todo o mundo e certamente afetará a segunda maior economia do planeta, a China, hoje o principal motor da economia global. Diante de todos esses problemas, dificilmente os ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G-20 poderão produzir algo relevante nas discussões marcadas para esta sexta-feira e para sábado em Paris. Esse encontro foi marcado como preparação da conferência de cúpula programada para novembro em Cannes. Haverá, na reunião ministerial, temas polêmicos, como a proposta de alguns desenvolvidos a favor de umaliberalizaçãomaiordascontasdecapitaisoudeumaacumulação menor de reservas pelos emergentes. Nenhuma das propostas interessa, hoje, ao Brasil e nem à maior parte dos países em desenvolvimento. Provavelmente haverá novas pressões pela valorização da moeda chinesa, assim como críticasàpolíticamonetáriaexpansionista dos Estados Unidos e de outros países desenvolvidos. Uma das consequências dessas políticas é a inundação dos mercados de moedas do mundo desenvolvido, com a consequente e indesejável valorização das moedas dos emergentes, incluído o real. E tudo poderá piorar, se o impasse político americano levar o banco central dos Estados Unidos a uma nova rodada de emissão de dólares. Diante desses perigos, os ministros do G-20 estão desarmados.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 14 DE OUTUBRO DE 2011

NELSON MOTTA

Boca-livre high tech

A

presentado como “ativista do software livre”, uma espécie de MST digital, um tal de Richard não-sei-oquê ganhou seu megabyte de fama ao se declarar feliz com a morte de Steve Jobs, “um pioneiro do compu-

tador que parece ser cool mas é uma prisão, projetado para privar os tolos de sua liberdade”. Eledescobriu a conspiração capitalista: o iPad, o iPod, o iPhone e as maravilhas tecnológicas criadas por Jobs para facilitar a comunicação entre as pes-

soas, a troca de ideias, o conhecimento, o acesso à diversão e à arte, foram criados para escravizar os tolos como nós, que nos viciamos na eficiência e beleza das suas máquinas e temos de pagar pelos benefícios que recebemos. Ele queria que tudo fosse livre, aberto,

SIP debate violência contra a imprensa Relatórios dos países serão apresentados na assembleia-geral a partir de domingo; desde o último encontro, 21 jornalistas foram assassinados Gabriel Manzano ENVIADO ESPECIAL / LIMA

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que reúne cerca de 1.300 jornais, começa hoje, em Lima, a sua 67.ª Assembleia-Geral, marcada por um dado preocupante: 21 jornalistas foram assassinados no exercício da profissão nos últimos seis meses – desde o encontro anterior da entidade em San Diego, nos Estados Unidos. Diante desse número, os holofotes se voltam para os relató-

rios nacionais, cerca de 30, a serem lidos e discutidos a partir do domingo. “Esta é uma guerra que talvez nunca termine, e que nós temos de travar dia a dia”, diz a respeito o presidente da SIP, Gonzalo Marroquín. O documento sobre o Brasil, a ser apresentado por Paulo de Tarso Nogueira,vice-presidentedaComissão de Liberdade de Imprensada entidadee consultordo Estado, deve ser um dos primeiros. Nele, Nogueira anunciará que o Brasil entra com quatro profissionais mortos na lista de baixas. México e Honduras tive-

ram cinco cada, o Peru três e uma vítima fatal em El Salvador, Colômbia,GuatemalaeRepública Dominicana. Comandada por Marroquín, que é editor do diário Siglo 21, na Guatemala, a assembleia terá abertura solene na segunda-feira,comumdiscursodopresidente peruano Ollanta Humala, um decididodefensor, comoprometera em campanha, da liberdade de expressão. Dois ex-presidentes virão também ao encontro – CarlosMesa,daBolívia,eAlejandro Toledo, do Peru – para um painelsobreasrelaçõesentrejor-

Toda quinta no Estadão.

para cada um usar e modificar à vontade, em nome da justiça e da igualdade. Que fofura. Mas quem paga a conta das pesquisas, desenvolvimento e produção dessas máquinas maravilhosas? Quem paga o gênio que as inventa? Assim como os almoços, não há conexões grátis. Deviam convidar esta besta para uma mesa com o Stédile no Fórum Mundial. Ainda que Jobs tenha sido um canalha nelson-rodrigueano, um tirano ganancioso, um explorador do suor alheio, um Sarney do Vale do Silício, ele seria o único caso em que concordo com o Zé Dirceu: os fins justificaram os meios. Mas Jobs não foi nada disso, todas as evidências são de que era apenas um homem, muito especial, mas com as precariedades da condição humana

nalismo e política. Mas outros temas estão no programa destes próximos cinco dias. Os participantes, que divulgam informação para um total de 44 milhões de leitores, do Canadá à Patagonia, vão debater também, em vários painéis, problemas como o papel do celular na criação de novos públicos e novas fontes de receita e mecanismos legais que os governos têm utilizado, em tempos recentes, para pressionar a mídia e impor novas formas de censura. Programação. Dois momentos

“quentes” do programa devem ocorrernasegunda-feira.Noprimeiro, o criador do WikiLeaks, Julian Assange, participará por teleconferência de uma discussãosobresuaatuaçãonadivulgação de dados sigilosos de muitos governos. No segundo, juristas e jornalistas vão analisar o caso do fechamento do tabloide inglês The News of the World, pivô de umescândalo,naimprensabritânica, pelo modo como invadiu a vida privada de celebridades, pa-

Nacional A9

e sua impotência diante do nosso destino inexorável. Duro, rigoroso e perfeccionista, pode até ter infernizado a vida de algumas pessoas, que provavelmente mereceram, mas seu legado é o de um grande benfeitor da humanidade. No nosso tempo, ninguém contribuiu mais para a liberdade de ver, ouvir, pensar e se comunicar do que Steve Jobs. Esses ativistas parecem saídos do tempo dos hippies, de tanta fraternidade e solidariedade, paz e amor, bicho, dinheiro é só papel, quando os ativistas da boca-livre viviam alegremente às custas do trabalho alheio. E tem mais, seus cafonas: além de cool, os produtos criados por Jobs foram e são uma educação visual para a beleza e a harmonia.

Documento aponta 23 crimes no Brasil presentante brasileiro, Paulo de Tarso Nogueira, para a Assembleia-Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa, deverá mencionar um total de 23 casos de violação da liberdade de imprensa no País. “Estamos informando, entre outros crimes, quatro assassinatos, além de duas prisões, oito casos de agressão e seis novas decisões de censura tomadas por vários juízes do País”, disse ele ao Estado. O documento dará destaque, ainda, ao caso da censura judicial ao Estado – impedido de di-

vulgar informações a respeito da Operação Boi Barrica, que investigou a atuação do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), desde 31 de julho de 2009. O Estado está à espera de decisão judicial sobre o caso – que tramita há dois anos e dois meses no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça. O relatório também abordará as pressões feitas pela exigência do diploma para jornalistas. Outro dos itens mencionados deverá ser a Lei de Acesso à Informação, já aprovada na Câmara, mas paralisada, no Senado, por uma manobra do relator, senador Fernando Collor (PTB-AL). / G.M.

ra torná-la pública. O encontro termina na terçafeira, com a atribuição de vários PrêmiosSIPdeExcelênciaJornalística, um deles para os jornalistas do Estado Leonencio Nossa,

Celso Jr. e Eduardo Barela, pelo caderno especial Guerras Desconhecidas do Brasil, publicado no dia 26 de setembro, que descreve revoltas populares ocorridas ao longo do século 20.

● O relatório preparado pelo re-

Do rock ao pop. Do eletrônico ao jazz. C2+música: todos os gêneros em um só caderno.

Todo sábado no Estadão.


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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 15 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Perigos no mercado externo Há sinais ominosos no mercado global para os exportadores brasileiros, principalmente os industriais, já muito prejudicados pela valorização do real e por custos mais altos que os de seus concorrentes. A primeira má notícia é uma novidade excelente para os empresários e trabalhadores de três outros países: o Congresso americano aprovou na quarta-feira acordos de livre comércio com a Coreia do Sul, a Colômbia e o Panamá, depois de longas negociações com o Executivo. A Coreia do Sul, uma das potências comerciais mais dinâmicas e mais eficientes do mundo, já ocupa o sétimo lugar entre os principais países fornecedores dos Estados Unidos. O Brasil não consta sequer da lista dos 15 maiores, segundo as estatísticas americanas. Com as facilidades

de acesso concedidas pelo acordo aos produtores coreanos, os brasileiros têm um novo motivo para se preocupar. No ano passado a Coreia vendeu aos Estados Unidos produtos no valor de US$ 48,9 bilhões. O Brasil exportou para lá US$ 23,9 bilhões, segundo os números do governo americano. Entre 2000 e o ano passado, as vendas brasileiras para os Estados Unidos aumentaram 72,9% em dólares. As da Coreia cresceram 21,2%, mas já naquele ano eram muito maiores que as brasileiras e a diferença se mantém muito ampla. As exportações da Colômbia para os Estados Unidos expandiram-se muito mais do que as brasileiras – 125% –, de US$ 6,9 bilhões para US$ 15,6 bilhões, e agora terão mais espaço para crescer. O acesso mais livre ao mercado americano será um estímulo adicional à instalação de fábricas na Colômbia, até por empresas brasileiras.

A segunda má notícia envolve a China, outros países da Ásia e os Estados Unidos. A entidade setorial da indústria americana de roupas e calçados pediu ao governo dos Estados Unidos ação contra barreiras impostas pelo governo brasileiro à importação daqueles produtos. As barreiras são burocráticas e incluem até a inspeção física das mercadorias e isso pode retardar consideravelmente a autorização para o ingresso. Segundo o governo brasileiro, as medidas foram tomadas para impedir importações fraudulentas de produtos originários da Ásia. A queixa é explicável porque os produtos, embora fabricados no Oriente, têm marcas americanas e sua produção e comercialização envolvem desenho, marketing e outras atividades desenvolvidas nos Estados Unidos. O Brasil pode até ter argumentos para justificar sua atuação, nesse caso, mas, se o governo americano in-

tervier, a disputa poderá ser trabalhosa e muito cara. É claro que o governo brasileiro poderia ter sido mais cuidadoso e mais prudente ao tratar do assunto, embora seja necessário enfrentar os casos de triangulação. O caso típico é o de produtos chineses vendidos como se fossem originários de outros países. Mas o governo se arrisca a prejudicar uma boa causa ao tratar uma questão desse tipo com mais barulho do que habilidade. O Brasil precisa fortalecer as áreas de defesa comercial e de disputa na Organização Mundial do Comércio (OMC). O Itamaraty anunciou a intenção de investir no setor de contenciosos, mas é preciso muito mais. Nem todos os Ministérios envolvidos na defesa comercial têm hoje condições técnicas para isso. O da Fazenda é um exemplo óbvio. A terceira novidade ruim é a decisão do governo japonês de contestar na OMC a elevação do Imposto so-

bre Produtos Industrializados incidente nos carros importados ou, simplesmente, montados com menos de 65% de componentes nacionais. A iniciativa japonesa só envolve, por enquanto, uma consulta ao Comitê de Acesso a Mercados, mas a discussão pode evoluir para uma ação contra o Brasil. Vários outros países terão interesse em participar desse processo. Há um grande risco de derrota num processo como esse. O governo foi extremamente descuidado ao criar uma discriminação fiscal entre produtos com diferentes graus de nacionalização. O Brasil precisa de medidas comerciais muito mais sofisticadas – ou, de fato, muito menos toscas. Diante de perspectivas muito ruins para o comércio, num cenário global de crise e de concorrência mais dura, o governo deveria cuidar mais seriamente da competitividade. Mero protecionismo não é a resposta.

O problema do solo contaminado Os cartões e os consumidores

O

s riscos que correm construções erguidas sobre antigos lixões não podem ser tratados com medidas ocasionais, de eficácia duvidosa, adotadas às pressas a mando da Justiça, e que desencadeiam naturais reações de empresas e pessoas afetadas. Depois do caso do Shopping Center Norte, interditado pela Prefeitura de São Paulo e que deveria permanecer fechado até que os seus administradores apresentassem laudos atestando não haver mais risco de explosão provocada por gás metano – liberado afinal com a instalação de drenos –, houve o caso do Conjunto Habitacional Cingapura, vizinho ao shopping. Os moradores, revoltados, se recusaram a deixar seus apartamentos, a Prefeitura instalou às pressas drenos no local e a Justiça acabou também liberando o conjunto. A Cetesb resolveu, em boa hora, solicitar à Prefeitura que revele quais as áreas às margens do Rio Tietê em que foram feitas construções sobre aterros, sanitários ou não. Com base nesses dados, uma ação preventiva pode ser programada, evitando sobressaltos para a população da Grande São Paulo, onde se localizam muitas áreas críticas de contaminação do solo. Na capital já foram identificados, pelo menos, 13 locais de risco, entre eles o Novotel, ao lado do Center Norte, o prédio do Departamento de Investigação sobre Crime Organizado

natale@natale.com.br São Paulo

Sem ver a cor do dinheiro

Aproveitando também a oportunidade da manifestação do leitor sr. José Renato Nascimento, gostaria que me fosse esclarecido, por quem tiver a responsabilidade, como funcionam essas listas de precatórios alimentares. Em lista divulgada no site http://www. tj.sp.gov.br/Depre/Pagamentos/ Municipais/OrdemCronologica/ Pagamento.aspx?ID=1016 em 31/3/2011, consta o EP: 10043/00; natureza: alimentícia; ordem cronológica: 00108/02; autor(es): Ademar Gomes e o/o; comarca: São Paulo; vara: setor de execuções contra a Fazenda Pública; autos: 0407819-37.1995.8.26.0053; devedora: Prefeitura Municipal de São Paulo; advogado(s): Marcelo Gatti Reis Lobo (sic), sendo meu nome citado em lista abaixo,

(Deic) e o Terminal Rodoviário do Tietê, pelo qual transitam, diariamente, 90 mil pessoas. Não se informaram quais os procedimentos que serão adotados nesses locais, mas está claro que ficam responsáveis pelo atendimento das recomendações da Cetesb, dentro do prazo estipulado, os proprietários de imóveis privados, empresas concessionárias de serviços públicos e os dirigentes de órgãos de governo. O trabalho, porém, está apenas no começo. Segundo a Comissão de Política Urbana e Meio Ambiente da Câmara Municipal de São Paulo, pode ha-

É preciso pesquisa correta das áreas de risco e cuidados na elucidação da população ver algum tipo de contaminação nos terrenos onde estão instalados o Estádio do Canindé, o Parque do Trote, o ExpoCenter Norte e o Shopping D. Isso só ficará mais claro quando for concluído o levantamento solicitado, que deveria abranger também os municípios da região metropolitana. Foram as prefeituras que concederam os alvarás para a construção em locais contaminados, especialmente onde se formaram lagoas que afloraram durante o processo de retificação do Rio Tietê. Com o crescimento urbano, grande extensão dessas lagoas foi transformada em lixões, posteriormente aterrados e loteados. Dados da Cetesb indicam que, desde 2002, houve um

dado que sou portador de doença grave e, portanto, prioritário no recebimento. Para tanto tive de juntar uma série de documentos, até provando estar ainda vivo. Mas, decorridos seis meses da publicação, não vi a cor do dinheiro e ninguém consegue me informar, de forma clara e objetiva, a causa e o prazo que ainda terei de esperar. Já não bastasse o fato de que os aposentados por doença grave não têm direito à paridade – o que, no caso da Prefeitura de São Paulo, significa na prática o congelamento do salário, pois a correção das remunerações é feita por categoria –, ainda tenho de receber a menor do que a Justiça determinou, graças à PEC do Calote, sujeito a uma negociação unilateral imposta pela Prefeitura, aguardando pelas calendas gregas. Por favor, espero obter esclarecimento enquanto vivo. CORINTO LUIS RIBEIRO corinto@corinto.arq.br São Paulo

crescimento de 1.341% no número de registros de terrenos contaminados no Estado de São Paulo, que chegaram a 3,6 mil em 2010. Há todo tipo de construções sobre lixões ou aterros, mas a Cetesb tem mantido um controle mais rigoroso somente sobre alguns estabelecimentos com maior potencial de contaminação, como os postos de gasolina. Depois de uma investigação detalhada, é fixada uma meta para recuperação do local dos postos, sendo exigido um serviço de engenharia ambiental, que deve ser realizado dentro de determinado prazo. Somente depois de 18 meses de monitoramento e comprovado o controle da situação, é emitido um certificado que permite que a área seja utilizada. O engenheiro Paulo Negrão, professor da Unicamp, afirmou ao Estado (6/10) que a Cetesb deveria também passar a adotar os mesmos critérios comrelaçãoaindústriasquetrabalham com solventes, incluindo montadoras de automóveis, indústriasfarmacêuticas, metalúrgicas e de outros setores manufatureiros, de forma a cumprir a Lei Estadual 13.577, de 2009, que estabeleceu normas para o gerenciamento de áreas contaminadas. O que está em jogo não é apenas a ameaça de explosões e incêndios, que podem vir a custar muitas vidas. Se não for feito umtrabalho sistemático deproteção ao solo, será também inviável a recuperação gradual do lençol freático, já comprometidonamaiorpartedasáreascríticas em São Paulo.

“Bem-vindos, caras-pintadas!”

M

ais de 60% dos consumidores brasileiros já têm um cartão de débito e pelo menos 53% têm um de crédito. A ampla disseminação desses cartões é acompanhada por elevado número de reclamações dos usuários. Os cartões de crédito ocupam o segundo lugar nas reclamações dos consumidores, de acordo com o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), do Ministério da Justiça. Não admira, pois, que oito administradoras de cartões de crédito tenham sido multadas em R$ 31,8 milhões cada uma, por decisão da 30.ª Vara Federal do Rio de Janeiro, em 29 de setembro passado. Valor que terá acréscimo de 10% em caso de atraso do pagamento. As empresas multadas são Citicard, Bradesco, Ourocard (Banco do Brasil), Real (Santander), Federal Card (Caixa Econômica Federal), Itaucard, Banerj Cartões e Banco Fininvest (ItaúUnibanco). Elas foram alvo de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal, que contesta a legalidade da cobrança de taxas de garantia e de administração, de multa superior a 2% do saldo devedor e de mais de um encargo em caso de inadimplência do consumidor. Os cartões de crédito facilitam a vida dos consumidores, mas sua utilização pode ter efeitos negativos quando o usuário se descontrola e se endivida em excesso. Acrescente-se que muitas vezes cartões são ofere-

cidos a consumidores que claramente não têm condições de honrar os compromissos relativos às facilidades de que passam a dispor. Numa tentativa de evitar o agravamento do problema, o Banco Central decidiu, em junho passado, que eles têm de pagar à vista no mínimo 15% do valor da fatura. A partir de 1.º de dezembro, essa parte que não pode ser parcelada subirá para 20%. E o pagamento com cartão de contas de serviços públicos, como luz e água, e tributos ficou sujeito ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Meses atrás, o Banco Central

Mais de 50% da população tem cartão de crédito – e são muitas as reclamações também interveio nas regras dos cartões, reduzindo de mais de 80 para apenas 5 as tarifas que podem ser cobradas dos usuários. E contratou, em conjunto com a Secretaria de Direito Econômico (SDE) e a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), uma pesquisa sobre o segmento de cartões de crédito, tendo em vista a sua grande importância no Sistema de Pagamentos de Varejo no Brasil. As iniciativas do Banco Central não conflitam com a ação anterior do Ministério Público, que resultou nas multas aplicadas àquelas administradoras, no valor total de R$ 254 milhões. No processo, o procurador da República Márcio Barra Lima alegou que as administra-

TEMA DO DIA

“A transparência total, a fiscalização rigorosa e a punição severa são as únicas formas de combate à corrupção”

15 mil pessoas circulam diariamente pelas 90 Varas do Fórum da Justiça do Trabalho na Barra Funda

RENZO ORLANDO / SÃO PAULO, IDEM renzoorlando@uol.com.br

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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VICTOR GERMANO PEREIRA / SÃO PAULO, SOBRE OS PROTESTOS CONTRA A CORRUPÇÃO victorgermano@uol.com.br

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TRT vai parar por tempo indeterminado

1.150

● “O desrespeito e a incompetência que caracterizam nossos serviços públicos não conhecem limites.” V. GUTIERRES

● “O Judiciário Federal está em greve! Todos os servidores, a fim de valer a Constituição, devem aderir ao movimento.” RODRIGO ÉVORA

HÁ 806 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “O buraco está mais embaixo. Tribunais se encontram entulhados de processos simplesmente por causa de leis anacrônicas.” ANTONIO CARLOS AZEM

doras não comprovaram o recolhimento da multa diária de R$ 50 mil que lhes foi aplicada entre dezembro de 2006 e julho de 2008. “É inaceitável que grandes e conhecidas empresas do setor financeiro descumpram decisões judiciais de modo permanente e ostensivo, mesmo sob pena de multas pesadas”, afirmou ele. As administradoras multadas decidiram recorrer da decisão da 30.ª Vara Federal do Rio e duas delas já entraram com recurso, em segunda instância, para se livrar da punição. Além das leis que regulam sua atividade, as administradoras se submetem ao código de ética da Associação Brasileira dasEmpresasdeCartõesdeCrédito e Serviços (Abecs). Entre os mandamentos desse código está o emprego nos contratos de linguagem clara e objetiva “que permita a leitura e a compreensão do sentido e alcance das disposições, de forma a propiciar um amplo entendimento sobre a utilização dos produtos e serviços”. Deve haver “entendimento claro sobre a cobrança de anuidade, eventuais tarifas, serviços, tributos, encargos financeiros e moratórios, e condições de aplicação de tais cobranças”. Quanto à publicidade dos cartões,ela temde obedecer àsnormas estabelecidas pelo Código de Defesa do Consumidor. As reclamações dos consumidores indicam que essas regras não estão sendo cumpridas comodeveriam,oqueexplicaejustifica o rigor da punição imposta às administradoras pela Justiça Federal.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 16 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Roubalheira recorde Os deputados estaduais do Amapá estão recebendo uma verba indenizatória, paga além do salário, de R$ 100 mil por mês. Mas quem se impressiona com mais esse absurdo? Para qualquer lado que se olhe neste país, em qualquer direção que se procure, lá se encontram marginais travestidos de homens públicos que não hesitam em meter a mão no dinheiro que é de todos, locupletando-se à custa dos brasileiros que, vergados sob o peso de uma das mais onerosas cargas tributárias do mundo, assistem impotentes ao espetáculo da corrupção e da ineficiência no trato da coisa pública. Não há faxina que possa dar conta deles. As evidências que diariamente vêm à tona demonstram que em todos os níveis, em todos os poderes, em todos os parti-

dos, em todos os Estados e municípios, a corrupção se alastra. Basta procurar, que se encontra. O escândalo da vez vem do Estado amazônico que José Sarney escolheu para representar no Senado. Lá, a Polícia Federal levou a cabo a Operação Mãos Limpas, cujo relatório final o Estado divulgou no domingo passado. O inquérito foi feito com a colaboração de técnicos da Controladoria-Geral da União (CGU) e revela o envolvimento de membros dos Três Poderes estaduais, do Tribunal de Contas e da prefeitura da capital, Macapá, em desvios de recursos públicos que somaram, ao longo de dez anos, cerca de R$ 1 bilhão. Mesmo diante dessa enormidade a trampolinagem praticada pela Mesa Diretora da Assembleia Legislativa amapaense pode ser considerada de primeira grandeza. Em junho, na maior moita, a verba indenizatória dos 24 deputados estaduais foi eleva-

da para inacreditáveis R$ 100 mil por mês. Essa verba indenizatória é quase três vezes maior do que a paga pela Assembleia de Alagoas – de R$ 39 mil –, considerada recordista em generosidades no trato de seus deputados, até que se conheceram os hábitos amapaenses. E corresponde a sete vezes o que os deputados federais recebem para cobrir as mesmas despesas gerais de aluguel, transporte e consultoria. Os responsáveis pela decisão são o presidente da Assembleia, Moisés Souza (PSC), e o primeiro-secretário da Mesa, Edinho Duarte (PP). Ambos integram com destaque a lista dos indiciados pela Operação Mãos Limpas, acusados de participar de um esquema de emissão de notas frias destinadas a mascarar o desvio de verbas públicas. Mas o que dá a exata medida da podridão que infesta a vida pública do Estado é a história de um personagem que, se fosse de ficção, seria sim-

plesmente inacreditável. Mas é de carne e osso. José Julio de Miranda Coelho comandou a Polícia Militar, presidiu a Assembleia Legislativa por dois mandatos consecutivos e era presidente do Tribunal de Contas quando foi preso no ano passado pela Operação Mãos Limpas, sob a acusação de desvios num montante de R$ 190 milhões, e solto em março último. É suspeito do assassínio de um policial federal, cuja arma foi encontrada na sua casa, além de responder à acusação de pedofilia. Possui cerca de 100 imóveis, alguns deles em São Paulo, tudo em nome de laranjas. Pois é esse o homem que manda no dia a dia da política amapaense. Lá, tudo é feito à sua imagem e semelhança. A Assembleia Legislativa, que ele presidiu por duas vezes, por exemplo, está caindo aos pedaços. A verba que sobra para a farra dos deputados falta para manter o prédio em condi-

ções minimamente dignas. A Casa tem 3.121 funcionários, apenas 134 efetivos. Os demais são nomeados pelos deputados. Mas não são encontrados no prédio, até porque a maior parte é constituída de fantasmas. Entre os quase 3 mil comissionados, outra revelação inacreditável: 626 ocupam o cargo de agentes parlamentares da presidência; 272 atuam como agentes especiais da presidência e 89 são assessores especiais da presidência. Ao todo, 987 para servir ao chefe do Legislativo. E este, o deputado Moisés Souza, tem para o fato uma explicação absolutamente cínica: “Seria uma hipocrisia se tivéssemos tantos funcionários que não pudessem percorrer o Estado e manter contato com nossas bases eleitorais. São esses gastos (a verba de R$ 100 mil) que aumentam a qualidade dos trabalhos dos deputados do Amapá”. Haja desfaçatez!

O corte de gastos do CNJ

Gargalo no transporte

m mês depois de a organização não governamental Contas Abertas ter divulgado um levantamento dos gastos do Conselho NacionaldeJustiça(CNJ)compassagensaéreas,diárias,festas,homenagens e publicidade, nos oito primeiros meses de 2011, o presidente do órgão, ministro Cezar Peluso, baixou portaria disciplinando o ressarcimento de despesas efetuadas por conselheiros e funcionários. A medida visa a conter a farra de gastos do CNJ. Só as despesas com diárias em viagens no País e para o exterior totalizaram R$ 3,17 milhões. A partir de agora, o conselheiro ou servidor só receberá diárias quando em missões institucionais – e com autorização expressa do ministro Peluso. Elaborado com base nos dadosdoSistemaIntegradodeAdministração Financeira (Siafi), o levantamento do Contas Abertas mostrou que em 2011 o órgão responsável pelo controle externodoPoder Judiciárioexibiu os mesmos excessos que deveria coibir, gastando quantias vultosas com coquetéis, almoços e eventos corporativos. Além de ter destinado quase R$ 700 mil para festas e posses, o CNJ aumentou em 60% as despesascompassagens aéreas, entre janeiro e agosto. Muitas viagens foram realizadas por servidores e conselheiros para participar de eventos sem ligações comosprogramas implementados pelo órgão. As despesas com diárias cresceram 21%, nos primeiros oito

om a economia aquecida, num Brasil extremamente dependente do transporte rodoviário de cargas, não surpreende que o licenciamento de caminhões tenha aumentado 15,9% de janeiro a setembro de 2011, em comparação com igual período do ano passado, alcançando, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 129.918 unidades. Nem assim a demanda foi atendida, pois a espera é de seis meses a um ano para o comprador receber o veículo. O não atendimento da demanda, além de agravar o problema do escoamento da produção agrícola e industrial, aumenta os riscos de acidentes nas estradas, uma vez que a idade média da frota de caminhões é de nada menos que 22 anos, de acordo com Instituto Ilos, especializado em logística. Nos EUA, a idade média da frota de caminhões é de sete a oito anos e a qualidade das rodovias é muito superior à do Brasil, o que significa muito menor desgaste dos veículos. Para melhorar esse quadro, o presidente do Ilos, Paulo Fleury, observa que pode ser necessário aumentar as importações para atender à demanda, caso os novos investimentos nas linhas de produção não supram as necessidades das empresas transportadoras. Efetivamente, essa seria a saída, mas acontece que a importação foi praticamente bloqueada com a elevação de 30 pontos porcentuais da alíquota do IPI

U

apurado das autoridades competentes (governo, direção dos Correios e Justiça do Trabalho)? ÉLCIO CARILLO elcio.carillo@gmail.com Curitiba

Sem caixinha

Agora que 96% dos carteiros resolveram voltar ao trabalho, penso em me manifestar a eles quando, na época do Natal, vierem com os famosos cartõezinhos de boas-festas. Como só nós fomos prejudicados, vou dizer ao meu carteiro que vote contra a próxima greve e dar-lhe apenas meus desejos de felicidades. ALBERTO MARTINEZ alberto.martinez@terra.com.br São Paulo

Direito de greve

O editorial Greves sem regras

meses de 2011, em relação ao quefoi gasto no mesmo período de 2010. Também cresceram os gastos com folha de pagamento. Quando o CNJ foi chefiado pelo ministro Gilmar Mendes, entre2008e 2010,havia seisjuízesauxiliareslotadosnogabinete da presidência. Agora, há 13 juízesauxiliares convocadosparadesempenharas mesmasfunções. Além de auxílio-moradia, eles recebem passagens aéreas do tribunal a que servem para retornar ao Estado de origem. Além da portaria recém-baixada, o presidente do CNJ decidiu fazer economia cortando despesas de órgãos importan-

Gastos vultosos com coquetéis, eventos e passagens aéreas provocam reação tes do colegiado. O problema é que uma das áreas mais atingidasporessamedidaéaCorregedoria Nacional de Justiça. Encarregada de apurar denúnciasdeirregularidadese punir juízes, desembargadores e ministrosdostribunaissuperiorescondenadosadministrativamente por desvio de conduta, a Corregedoriaéchefiadapelaministra Eliana Calmon, com quem o ministro Peluso se desentendeu publicamente, nas últimas semanas. Os cortes de gastos por ele determinados foram um dos motivos que levaram a corregedora a criticá-lo pela imprensa. Segundo ela, a Corregedoria respondeu por apenas R$ 832 mil dos R$ 3 milhões gastos com diárias, entre janeiro e agosto de 2011. Eliana

(13/10, A3 ) é um importante alerta para o governo promover uma urgente e adequada regulamentação do direito de greve nos serviços essenciais, como transporte público, Correios, telecomunicações. E até do esquecido direito de greve dos servidores públicos. Já existe uma lei que obriga empregados, empregadores e sindicatos a prestarem serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da população durante as greves, porém existem brechas nessa lei que acabam deixando a população sem saber o que fazer. No Brasil, greve é direito constitucional. Mas está faltando segurança jurídica para que, além desse, sejam garantidos direitos outros que, dada a sua essencialidade, prevaleçam quando em confronto com o interesse de categorias cujo objetivo é o aumento salarial. EDGARD GOBBI edgardgobbi@gmail.com Campinas

Calmon também alega que somente um dos programas por ela implementado – o relativo a ações que envolvem o Sistema Financeirode Habitação – já devolveu aos cofres públicos R$ 176 milhões. Outra iniciativa do presidentedoCNJ que tambémestá causando polêmica é a alteração dos nomes dos programas mais caros. Alguns servidores alegam que a prática teria por objetivo apagar o rastro de gastos milionários que foram feitos sob outras rubricas. Um desses programaséo dosmutirõescarcerários. Quando foram criados, há quatro anos, eles envolviam apenas quatro pessoas – um juiz auxiliar, dois técnicos e, eventualmente, um conselheiro. Para não gastar com passagens e diárias, o CNJ convocava juízes e servidores dos Estados em que os mutirões eram realizados.Agora,osmutirõesenvolvem dezenas de profissionais convocados em outros Estados. Só o programa de mapeamento dos centros de internação de menores é formado por 38 pessoas. As viagens permitem que os conselheiros, cujos salários variam de R$ 22,9 mil a R$ 27,7 mil, recebam em um mês valor equivalente em diárias. Os dados do Siafi revelam queos conselheirostambém recebem jetom pelas sessões a que comparecem. As providências adotadas por Peluso para reduzir gastos são importantes e oportunas. Criado para racionalizar a gestão da Justiça, o CNJ tem de dar o exemplo para todos os tribunais brasileiros em matéria de gasto público.

“Lula disse que fez mais que Steve Jobs e Bill Gates? Desisto, pare o carro que eu vou descer!” RICARDO MARIN / OSASCO, SOBRE AS BRAVATAS DO ‘CARA’ s1estudio@ig.com.br

“Tiram mais uma coisa do sofrido trabalhador brasileiro: uma hora do seu sagrado sono!” EDUARDO BRITTO / SÃO PAULO, SOBRE O HORÁRIO DE VERÃO britto@znnalinha.com.br

C

sobre veículos, exceto aqueles que contenham 65% de partes e peças produzidas aqui, ou em países com os quais o Brasil firmou acordos automotivos. E, segundo o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, o governo não cogita “neste momento” de fazer qualquer mudança no novo regime de importação de veículos. Vale notar, no entanto, que, diferentemente do que vinha ocorrendo com automóveis de passageiros, as importações de caminhões não eram relevantes – apenas 2.784 unidades de janeiro a setembro, menos de 3% do total licenciado.

Falta de veículos de transporte pode vir a prejudicar o ritmo da atividade econômica Em parte, isso pode ser explicado pela possibilidade de as transportadoras obterem financiamentos do BNDES/Finame para a aquisição de caminhões novos, chassis, reboques, etc., a juros mais baixos e a prazos que podem chegar a 60 meses. Tais financiamentos são concedidos geralmente por meio de bancos sob o controle das próprias montadoras. Há queixas, porém, de que os recursos para essa linha são insuficientes. André Ferreira, diretor da empresa Rápido 900, disse ao Estado (10/10) que “os programas governamentais de financiamento privilegiam equipamentos industriais em detrimento de caminhões”. Acresce que são poucos os caminhoneiros autônomos que

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Ocupações se espalham pelo mundo

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Protestos populares contra a 'ganância corporativa' acontecem em centenas de cidades ● “Já passou da hora de termos uma distribuição de renda equitativa amenizando as disparidades sociais.” ZÊINA MARIANO

● “É muita hipocrisia! Ocupam em nome do fim do capitalismo selvagem, mas 90% das pessoas em Wall Street têm iPhone.” GUILHERME MOREIRA

HÁ 807 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “As pessoas estão esgotadas e cansadas com tanta ganância, egoísmo. É hora de as pessoas reagirem.” JOÃO GERALDO

reúnemcondições parateracesso a esses financiamentos, por não poderem comprovar renda nem oferecer as garantias exigidas pelos bancos repassadores dosfinanciamentos. Osautônomos, frequentemente, compram caminhões usados pelas maiores transportadoras e considerados “aposentados”. Havendo tanto espaço para a renovação da frota de caminhões e outros veículos comerciais, as montadoras instaladas no País estão investindo no aumento da capacidade de produção e algumas indústrias trabalham em três turnos. Este é, aliás, um dos fatores que vêm sustentando o crescimento industrial. “O principal impacto positivo na produção da indústria vem de veículos automotores, puxado por caminhões, caminhões-tratores e veículos para transporte de mercadorias”, disseAndréMacedo,daCoordenaçãode Indústria doIBGE.Como resultado, o setor de produção de bens de capital cresceu 8,6% em agosto deste ano. Esses dadoscertamentepesamnasdecisões do governo, que vem tendo “cuidado com o mercado interno para que ele não seja ocupado apenas pela produção externa”, como afirmou Pimentel. Há fila de espera para comprarcaminhões,indicandopressãodademandanaáreadetransporte pesado. O País tem disponibilidadescambiaisparaimportar, mas o governo cria empecilhos. Enquanto o governo não resolve o impasse – pelo qual foi responsável em parte –, o setor produtivo enfrenta dificuldades crescentes para escoar sua produção.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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JULIO MESQUITA 1891 - 1927

RUY MESQUITA Diretor

Segunda-feira 17 DE OUTUBRO DE 2011 R$ 3,00*

JIM WILSON/NYT

O CEO Mark Pincus

MP da desoneração vai aumentar imposto

estadão.com.br

ANO 132. Nº 43098 EDIÇÃO DE 0H15

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Metrópole

Caderno2

Em ascensão Criadora do Farmville, Zynga se destaca no Vale do Silício

Discussões urbanas. SP e as enchentes. Pág. C6

Bibelô japonês Livro conta saga do clã Ephrussi por meio de miniaturas JONNE RORIZ/AE

Esportes

Pontosincluídosnoprojetoelevamtributossobreempresas e provocam críticas até de aliados do governo A medida provisória que desonera a folha de pagamento de quatro setores industriaistambémaumentaacobrança de impostos de empresas e investidores. O pacote tributário, que foi incluído às escondidas no texto do MP pela Receita Federal com a bênção do Palácio do Planalto, contempla artigos prevendo desde um maior controle sobre a transferência de ações até a cobrança inédita de mais um tributo sobre a divisão de lucros entre sócios de uma companhia. O Estado teve acesso à nova versão da MP, que está no Congresso e passou a contar com 31 artigos e não mais os 24 originais.

Surpresas do projeto

Se a empresa usar o lucro para aumentar o seu capital, os donos dos papéis pagarão imposto de renda.

Uma das mudanças de maior alcance permite à Receita arbitrar o valor de ações ou títulos, usadas para elevar o capital social de uma empresa, em um período de até dez anos. Dessa forma, oFisco poderiaarrecadar mais.Procurados, o Ministério da Fazenda e a Receita Federal não se pronunciaram. ECONOMIA / PÁGS. B1 e B3

Sem surpresa. Cielo completou os 100 m livre em 47s84 e quebrou o recorde da competição, que já era dele

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Denúncias colocam em risco cargo do ministro do Esporte

Fifa define hoje São Paulo como abertura da Copa

A denúncia de que teria recebido dinheiro de propina na garagem do Ministério do Esporte, num suposto esquema de irregularidades, já ameaça o cargo do titular da pasta, Orlando Silva (PC do B). Envolvido em acusações

Sem o governo brasileiro, Fifa e CBF decidirão hoje pela abertura do Mundial em São Paulo e tentarão uma saída para impasses da meia-entrada e dasbebidas alcoólicas,informa o correspondente Jamil Chade. PÁG. E5

anterioresde desvios no ProgramaSegundo Tempo, a permanência de Orlando no Ministério vai depender da repercussão do caso ou do surgimento de novos problemas envolvendo o ministério. NACIONAL / PÁG. A4

ARIEL SCHALIT/AP

Moeda de troca Israel transfere 477 palestinos que devem ser soltos na terça em troca do cabo Gilad Shalit, preso no Egito. INTERNACIONAL /

Negócios

A máquina de compras brecou Maior empresa de bens de consumo do País, mas com ações caindo 60%desde o começo do ano, a Hypermarcas abandona estratégia de aquisições, congela lançamentos e vende parte dos ativos.

PÁG. A8

e no revezamento 4 x 100 livre, ao lado de Bruno Fratus, Nicholas Santos e Nicholas Oliveira. Felipe França ganhou nos 100 m peito. O País tem cinco ou-

JONNE RORIZ/AE

Na alegria e na tristeza Com gol de Paulinho, o Corinthians venceu o Cruzeiro e se manteve líder do Brasileirão. O São Paulo demitiu o técnico Adilson Batista. PÁGS. E1 e E3

Eleição para Conselho Tutelar tem boca de urna METRÓPOLE / PÁG. C1

Doença de Chagas inspira droga anti-inflamatória VIDA / PÁG. A12

Cinzas de vulcão do Chile voltam a afetar voos METRÓPOLE / PÁG. C4

CARLOS ALBERTO DI FRANCO Jornal, qualidade e rigor O papel é um suporte que permite trabalhar em algo que a internet não pode: o jornalismo de alta qualidade narrativa e literária.

CARLOS A. SARDENBERG Na base do puxadinho ‘Módulo provisório’ não é bem o que se imagina quando os governantes brasileiros saem pelo mundo dando lições de governança.

LÚCIA GUIMARÃES Tamanho é documento No neoelitismo do Brasil, onde tendência virou trending, o anonimato é uma lepra e a celebridade viral uma nova forma de intimidação.

ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2

ECONOMIA / PÁG. B2

CADERNO 2 / PÁG. D8

ros. A jogadora de vôlei Jaqueline, que lesionouduasvértebrasdacolunacervical, e a ginasta Jade Barbosa, que torceu o tornozelo, estão fora do Pan. PÁG. E8

Tempo na capital

20˚ Máx. 11˚ Mín. Céu nublado, chuviscos e frio HOJE: 68 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3

SIP critica abusos contra a imprensa no Brasil Relatórioapresentado ontemna67.ªAssembleia-Geralda SociedadeInteramericana de Imprensa (SIP), em Lima, no Peru, destacou os recorrentes casos de censura judicial e assassinato de jornalistas. NACIONAL / PÁG. A7

NOTAS & INFORMAÇÕES

O estranho complô iraniano Sem dúvida, alguém tramou algo. Resta ver as provas que Obama diz existirem contra Teerã. PÁG. A3


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 17 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

O estranho complô iraniano O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, viuse na obrigação de dizer que o seu governo não acusaria o Irã de tramar um atentado contra o embaixador da Arábia Saudita em Washington, Adel al-Jubeir, plantando uma bomba no restaurante que costuma frequentar, “se não soubéssemos exatamente como fundamentar todas as alegações contidas na denúncia”. No entanto, as garantias de Obama, acompanhando o anúncio de que os EUA aplicarão “as mais duras sanções” para acentuar o isolamento de Teerã, aparentemente não conseguiram aplacar o ceticismo com que foi recebida, até por especialistas em terrorismo, a revelação do secretário da Justiça Eric Holder, na terça-feira, de que um iraniano naturalizado america-

no, Manssor Arbabsiar, encomendou o atentado contra o diplomata ao cartel mexicano Los Zetas. As embaixadas saudita e israelense também seriam atacadas. O mentor da operação seria Gohlam Shakuri, primo de Arbabsiar, que faria parte da unidade de elite Quds, da Guarda Revolucionária Islâmica, a principal força repressora do regime. Segundo Holder, em maio último, orientado por ele, Arbabsiar entrou em contato com um mexicano que aparentava ser membro dos Zetas, mas era um agente americano infiltrado. O interlocutor pediu US$ 1,5 milhão pelo serviço. Arbabsiar viajou em seguida para o Irã. Em agosto, sempre segundo as autoridades americanas, dois depósitos de US$ 50 mil caíram numa conta bancária nos Estados Unidos – como presumível adiantamento da paga combinada. Em fins de setembro, Arbabsiar tornou a desembarcar no

México, mas, dessa vez, foi barrado pelos serviços de segurança e colocado num avião para Nova York, onde foi preso, interrogado e indiciado por conspiração para matar um diplomata e uso de armas de destruição em massa, entre outros crimes. Três questões emergiram de imediato. Especialistas em assuntos iranianos se perguntaram, desde a fala de Holder, por que a teocracia iraniana – a Guarda responde diretamente ao líder supremo da Revolução, aiatolá Ali Khamenei – teria ordenado ou concordado em perpetrar um ou mais atos terroristas em plena capital dos Estados Unidos, com vítimas civis em profusão, o que fatalmente sujeitaria o Irã a represálias militares americanas, com ataques às suas instalações nucleares? O país treina e financia extremistas na Síria e no Líbano, além de patrocinar radicais xiitas no Iraque, mas nunca promoveu no exterior um ataque como se-

ria o de Washington. Tampouco se percebe a lógica em eliminar o embaixador de um país árabe com o qual, apesar da inimizade recíproca, o Irã mantém relações diplomáticas. Ao que se saiba, o contencioso entre Teerã e Riad não se agravou – continua o mesmo de sempre. Em segundo lugar, a ideia de terceirizar os atentados a narcotraficantes latino-americanos infiéis destoa de tudo que se conhece do modus operandi dos agentes iranianos no exterior. Por último, por tudo que se conhece da personalidade do vendedor de carros Arbabsiar, de 56 anos, radicado no Texas, ele não é a pessoa indicada para gerenciar uma operação daquelas proporções. Uma reportagem do New York Times, transcrita sexta-feira neste jornal, o descreve como um oportunista trapalhão e incompetente, fracassado nos negócios, assolado pelos credores e incuravelmente desorganizado. Se-

gundo um amigo, citado na reportagem, vivia perdendo o celular e as chaves, e não conseguia vestir as meias de um mesmo par. Seja como for, não é crível que Washington tenha inventado um pretexto para punir o país persa. Arbabsiar, afinal, procurou um traficante e viajou para o Irã, quando foram feitos os depósitos bancários nos EUA. Preso, disse ter sido recrutado e financiado por pessoas que acreditava serem do Quds – ao qual negou pertencer. E ouviu do desavisado primo Shakuri, numa conversa telefônica gravada por seus captores, que tocasse a operação “rapidamente”. Sem dúvida, alguém tramou algo. Mas até que ponto o complô subiu na cadeia de decisões do Irã? É significativo Obama ter se guardado de dizer que o plano foi discutido nos níveis mais altos do governo de Teerã. Resta ver as provas que diz existirem.

O governo e a residência médica

Retração da abertura de capitais

epois de extinguir o credenciamento especial dos cursos de pós-graduação lato sensu oferecidos por instituições não educacionais, atingindo com isso– entre outrasconsequências desastrosas – os cursos de especialização oferecidos pelos mais renomados hospitais do País, o Ministério da Educação (MEC) voltou a causar confusão no setor. Agora, com o objetivo alegado de resolver o problema da falta de médicos na áreadesaúdepública, oMinistério da Educação, em parceria com o Ministério da Saúde , está interferindo nos programas de residência médica dos hospitais universitários. Pormeio deumasimples portaria, os dois Ministérios determinaramqueosmédicosrecémformados que participarem do Programa de Valorização do Profissional de Atenção Básica durante um ano terão direito a receber pontuação extra nas provas de seleção para residências médicas. Como a procura por vagas em residências é muito maior que a oferta, os médicos recém-formados candidatos a uma vaga são submetidos a provas ainda maisrigorosas doqueasdosvestibulares em medicina. A escolha baseada exclusivamente no mérito e na competência técnica é um dos fatores que contribuem para a alta qualidade da formação dos profissionais em medicinanoPaís,segundoasentidades especializadas e órgãos corporativos do setor médico. Aconcessão de pontuaçãoex-

stamos em outubro, mas, para fins de abertura do capital de empresas, o ano já terminou, segundo constatou a consultoria Ernst & Young Terco. A expectativa era de que fossem realizados no ano 30 IPOs (ofertas iniciais de ações, na sigla em inglês) e até o fim do terceiro trimestre só houve 11, número que deve permanecer inalterado, dadas as condições do mercado, refletindo as incertezas relacionadas à crise na Zona do Euro e as turbulências da economia dos EUA. Como informou o consultor André Viola Ferreira ao jornal Valor (11/10), das 11 empresas que ingressaram no mercado em 2011, apenas 2 tiveram suas ações negociadas pelos valores de lançamento. Nas outras 9 o preço foi inferior. O que agora se discute é se é necessário manter a taxação de 2% do IOF sobre as aplicações externas em ações, sabendo-se que70%dosIPOs, especialmente no Novo Mercado – que requerquetodosos papéisdasempresas sejam ações ordinárias com direito a voto –, têm sido absorvidos por investidores estrangeiros. E estes, agora, se retraem cada vez mais. Em setembro, os investidores estrangeiros retiraram R$ 249,11 milhões líquidos da BM&F/Bovespa, o que configura uma tendência, já que ocorre pelo sexto mês consecutivo. Pode-sealegar queoque vemacontecendo no País não é diferente do que se verifica no mercado internacional. De acordo com o

D

tra aos recém-formados que trabalharem em hospitais públicos, proporcionada pela portaria do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde, nada tem a ver com mérito e desfigura o eficiente sistema de seleção das residências médicas. Além disso, a portaria fereo princípioda autonomiauniversitária, pois impõe aos hospitais mantidos por instituições de ensino superior critérios e obrigações que nada têm a ver com ensino, capacitação técnica e treinamento. Para os coordenadores de residência médica das principais universidades brasileiras e para

MEC e Ministério da Saúde querem ditar regras que competem às escolas de medicina os dirigentes dos órgãos corporativos do setor, a portaria do MinistériodaEducaçãoedo Ministério da Saúde é prejudicial também porque leva médicos recém-formadosesemummínimo de experiência a assumirem na rede hospitalar pública responsabilidades para as quais não estão preparados, apenas paraobterapontuaçãoextrapara as provas de seleção. “Um médico que sai da faculdade não tem condição de estar à frente de um serviço de atenção básica na rede pública”, diz opresidentedoConselhoRegional de Medicina de São Paulo (Cremesp),RenatoAzevedoJúnior. “Sem o preparo necessário, esse profissional vai se transformarnummeroencaminhador de pacientes para ou-

quecimento extremamente mal explicado do sr. Bittencourt de Carvalho, do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Mas o que mais assusta é o envolvimento do sr. Eros Grau, nomeado seu bastante procurador. E pensar que esse senhor trabalhava na mais alta Corte deste pobre país.

CONRADO DE PAULO conrado.paulo@uol.com.br Bragança Paulista

RENATO CAMARGO natuscamargo@yahoo.com.br São Paulo

Ministro inglês

Enriquecimento ilícito

O Decreto 5.483, assinado por Lula em 2005, no artigo 8.º determina que deverá ser instalada sindicância nos casos em que se “tomar conhecimento de fundada notícia ou de indícios de enriquecimento ilícito, inclusive evolução patrimonial incompatível com os recursos e disponibilidades do agente público”. Mas o artigo 9.º estabelece que a sindicância deverá ser “um procedimento

sigiloso e meramente investigatório, não tendo caráter punitivo”. Agora, sim, ficou bem explicado por que ninguém foi e jamais será preso e por que a ficha limpa e o mensalão vão ser enterrados.

Que inveja da Inglaterra, onde o ministro da Defesa renunciou por ter um amigo trabalhando para ele de maneira extraoficial. Lá, ele disse que errou ao não “traçar uma linha clara entre a vida pessoal e a profissional”. Aqui, isso é regra e só em casos gravíssimos ministro renuncia. Quem sabe, um dia, os nossos políticos cheguem a esse nível, até porque sonhar não paga imposto. Ainda! ROBERTO SARAIVA ROMERA robertosaraivabr@gmail.com São Bernardo do Campo

trosserviços”,acrescentaovicediretorda FaculdadedeMedicina da Universidade de São Paulo, José Auler Júnior. A portaria dos Ministérios da Educação e da Saúde cria dois problemasondehaviaumsó.Para resolver o problema da escassez de médicos na rede pública, ela compromete a qualidade do ensino da medicina. E os médicos que ela estimula a trabalhar nos hospitais públicos não têm preparo e experiência para atuar nos serviços de emergência e pronto atendimento, o que submete os pacientes a uma assistência médica de má qualidade, expondo-os a situações de risco. “Foi uma tática para tapar buraco”, resume o presidente do Cremesp. Reagindo às críticas, asecretáriaexecutivadaComissão Nacional de Residência Médica, Maria do Patrocínio Nunes, alega que “toda mudança gera uma discussão” e que a polêmica provocada pelo Programa de Valorização do Profissional de Atenção Básica já era esperada pelos Ministérios da Educaçãoe da Saúde.Esse argumento revela a precariedade do processo de decisões de fundamental importância para a saúde e o bem-estar da população. Invocando o princípio da autonomia universitária previsto pela Constituição, a direção da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo anunciou que não mudará os critérios vigentes de seleção para residênciamédica.Adireçãodaescola não pretende nem mesmo recorrer à Justiça, para questionar a portaria. Vai simplesmente ignorá-la.

“Onde o ministro se refere a ‘ato de soberania’, leia-se capricho do Lulla. Tem mais: via-crúcis foi a sina das famílias das vítimas” CANDIDA L. ALVES DE ALMEIDA / SÃO PAULO, SOBRE BATTISTI almeida.candida@gmail.com

“E ainda querem criar novos Amapás...” JOSÉ EDUARDO ZAMBON ELIAS / MARÍLIA, SOBRE A ‘ROUBALHEIRA RECORDE’ (16/10, A3) zambonelias@estadao.com.br

E

relatório global da Ernst & YoungTerco,noterceirotrimestre deste ano foram realizados 284 IPOs no mercado internacional, movimentando US$ 28,5 bilhões,um recuode25% emnúmero de casos e de 57% em valor, em relação ao do trimestre anterior (383 operações, no total de US$ 65,6 bilhões). Além disso, o mercado brasileiro de ações é muito sensível à conjuntura internacional e o mercadoprimário,ouseja,olançamentodeaçõesnovas,écondicionado pelo comportamento da Bolsa. Quando ela está em alta, o ambiente é considerado favorável para a oferta inicial de

Crise na zona do euro e incertezas na economia restringem as previsões de novos lançamentos ações. Assim, há muitas empresasbrasileirasàesperademelhores condições para abrir o capital e elevar seus investimentos. Essa circunstância certamente não aconselha que se mantenha umgravamesobreaplicaçõesexternasemações,que,amais longo prazo, contribuem para o desenvolvimento nacional. Vale notar que, embora os investidores estrangeiros tenham umpapel decisivo no lançamento de novas ações, os investidores institucionais (fundos de pensão, entidades de previdência privada, fundos de investimento,seguradoras, etc.) foram os que mais fizeram resgates na Bolsa em setembro. Essa evolução frustrou a expectativa de muitosdeque,com areduçãoda taxa básica de juros para 12% a.a.

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Brasil não sabe quanto custará a Copa

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Estádios ficarão prontos a tempo, mas não há garantia sobre aeroportos e infraestrutura ● “Não sabem o valor porque não serão eles que pagarão: somos nós. Preparem-se para apertar os cintos.” KARLIS SMITS

● “As obras estão sempre atrasadas, pois, desse jeito, elas podem ser feitas sem licitação e aí... o final todos já sabem.” ZELIA ANGELIM

HÁ 808 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Bilhões, bilhões. Inacreditável como falamos dos investimentos nessa ordem. Perdemos a noção de quanto é 1 bilhão” EDUARDO RODRIGUES

e a perspectiva de baixar mais, osinvestidoresinstitucionaisseriam levados a investir mais em ativos de risco. Seja como for, continua sendo do interesse do País que mais empresas abram o capital e, sob esse aspecto, o Brasil está bastante atrasado com relação às economias mais desenvolvidas e de alguns emergentes. A capitalização pelo mercado de ações no País corresponde a 74% do PIB, segundo cálculos da BM&F/Bovespa, enquanto nos Estados Unidos, na China, na Coreia do Norte e no Chile corresponde a 100% ou mais do PIB. O número de empresas listadasnaBolsabrasileiranãochega a 500. Outro dado significativo é que, das 1.000 maiores empresasnacionaisporfaturamento,somente300estãonaBM&F/ Bovespa. Deve-se considerar também que, como disse a presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Maria Helena Santana, o mercado de ações continua fora do alcance das empresas de menor porte. Os IPOs no Brasilsão quase sempre de grande valor, diferentemente do que se verifica em outros países desenvolvidos ou emergentes. Nos EUA, a média dessas operações, em 2010, foi de US$ 246 milhões; no México, de US$ 264 milhões; no Reino Unido, de US$ 181 milhões; e na Austrália, de US$ 66 milhões. Já a média brasileira é de US$ 620 milhões. Isso explica por que o Brasil está entre os três maioresno ranking mundial em volume captadopor IPOse está abaixo da 10.ª posição em número dessas operações.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 17 DE OUTUBRO DE 2011

Relatório acusa abusos contra imprensa no País

PAUL VALLEJOS/EFE

VIOLÊNCIA Entre abril e setembro, quatro mortes de jornalistas ●

ENVIADO ESPECIAL / LIMA

Em seis meses, mais quatro jornalistas assassinados. Além disso, a censura ao Estado, que aguarda há dois anos uma decisão da Justiça. Por fim, a Lei de Acesso à Informação parada no Senado e mais pressões para exigir o diploma para o exercício do jornalismo. Esses foram os destaques do relatório sobre a imprensa no Brasil apresentado ontem na 67.ª Assembleia-Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), em Lima, pelo representante brasileiro Paulo de Tarso Nogueira. Ao longo do dia, outros 20 balanços, país por país, foram lidos no salão principal do Swissotel, onde se realiza o encontro. DelegadosdeArgentina,Bolívia,Honduras e Equador mostraram gra-

ves abusos ocorridos nos últimos meses. “Prevalece preocupante a recorrente censura judicial”, afirmou o brasileiro Nogueira, que é vice-presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e consultor do Estado. Ele adverte, ainda, que “é crescente a ampliação do poder discricionáriodemagistrados,especialmenteosde 1.º grau,nojulgamento de ações de antecipação de tutela e direito de resposta”. O levantamento de Nogueira repete o quadro já apresentado sobre a censura judicial imposta ao Estado – processo que aguarda decisão no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF). Detalha também a recente decisão do STJ de anular as provas colhidas pela Polícia Federal na Operação Boi Barrica, que envolvem o empresário Fernando Sarney. “Esclareça-sequeasescutastele-

Ataques contra jornais, golpes, censura e crimes são exemplos de casos relatados durante as reuniões da SIP Ao abrir as sessões da Comissão de Liberdade de Imprensa da SIP, ontem pela manhã, o jornalista uruguaio Claudio Paolillo, presidente da comissão, resumiuo quevinha pelafrente:“Um panorama francamente desolador”. Ele se referiu às 21 mortes de jornalistas ocorridas nos últimos seis meses, nos países filiados à SIP, “quase uma por semana”. Atacou o “aparato extraoficial” que se montou em alguns países para impedir que se divulguem notícias contra os governos“quetêmlegitimidadedeorigem, pois foram votados, mas têm ilegitimidade de exercício”. Paolillo lamentou os golpes na Argentina, onde os dois maiores jornais, Clarín e La Nación, receberam em 2010 apenas 2,5% da publicidade oficial. Recordou que na Venezuela há mais de 30 emissorasderádioedeTVfechadas e abordou a onda de crimes emHondurasenoMéxico.Completando o cenário, revelou que, naBolívia,“cercade90% doseditores admitem, em público, que fazem autocensura para não enfrentar problemas maiores”. Oanode2001“foimuitoturbulento na Argentina”, resumiu o delegado desse país, Daniel Dessein, abordando a decisão do governo Cristina Kirchner de concentrar a publicidade oficial em veículos governistas ou outrossemexpressãonasociedade. Detalhou “as agressões verbais e o clima opressivo” contra jorna-

3 de maio

Valério Nascimento, dono do jornal ‘Panorama’, levou seis tiros em Rio Claro (RJ).

fônicas foram obtidas mediante competente autorização judicial”, adverte. Nogueira lembra que “a anulação das provas não significa a absolvição dos acusados”. Foi o empresário, filho do senador José Sarney, quem pediu a um juiz de Brasília a censura contra o jornal, alegando que o caso corria sob sigilo.

Assembleia. SIP: na tela, o equatoriano Pedro Zambrano quatro assassinatos de jornalistas só nos últimos seis meses. No total, o documento menciona outros 21 episódios: 2 prisões, 8 agressões físicas, 2 atentados, 6 novos casos decensura judicial

Quatro mortes. O trecho mais grave, porém, é o que dá conta de

e 3 episódios de abuso do poder. Em todos os quatro crimes – ocorridos nos Estados de PE, RJ, RN e AM –, os jornalistas faziam denúncias contra a prefeitura ou outras autoridades locais.

15 de junho

Seis balas mataram, em Serra do Mel (RN), o blogueiro Edinaldo Figueira. ●

1º de setembro

Vanderlei Canuto, radialista de Tabatinga (AM), morreu ao levar oito tiros.

OS MELHORES

RESORTS E HOTÉIS SELECIONADOS

Em todo continente, relatos de ‘um panorama desolador’ listas. Se isso prosseguir, advertiu, “o país terá cada vez mais débeiscontrapesosinstitucionais”. Mas foi o Equador que roubou a cena no salão do Swissotel. Seu representante, Pedro Zambrano, listou numerosos casos de ataques do presidente Rafael Correa contra jornais, colunistaserepórteres.Elelembrou que avança no Congresso do país a criaçãodeumconselhodecomunicação que terá sete membros – trêsindicadospelogoverno.Edenuncioua“guerra”emandamento entre Correa e o jornal El Universo, do qual ele pede na Justiça uma indenização de US$ 40 milhões, por danos morais. O episódio começou em fevereiro, quando o colunista Emilio Palacio publicou um artigo que o presidente considerou ofensivo. Ameaçado, Palacios decidiu exilar-se em Miami. O dono do jornal, Carlos Perez, enfrenta o caso na justiça equatoriana. Presentenasala, ontem,Perez subiuaopalcoedeuseutestemunho. “O presidente me diz que suspenderiao processo sepedíssemosperdão”,contou.“Maspedirperdãoseriafalharnumaobrigação moral e aceitar a autocensura”, completou, sob uma salva depalmas.Eleinformou quepretendelevaroassunto àUniãoEuropeia e ao Congresso dos EUA. “Na Venezuela está em marchaumgolpeconstitucionalcontraosdireitosfundamentais”,resumiuodelegadodopaís,Gilberto Urdaneta. Entre suas denúncias, contou que jornalistas do El Nacional têm seu e-mail invadido, falou dos eventuais ataques contrajornalistasnasruaselembrou que o jornal Sexto Poder foi condenado por publicar foto de Chávez na cama, doente. / G.M.

9 de abril

Luciano Leitão Pedrosa foi executado em Vitória de Santo Antão (PE).

Documento apresentado ontem na Sociedade Interamericana de Imprensa destaca censura ao ‘Estado’ e o assassinato de 4 jornalistas em seis meses Gabriel Manzano

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 18 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação

Notas e Informações A3

Administração e Negócios

Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

O ministro tem de sair Por sua extrema gravidade, não basta que se investigue a fundo a denúncia de que o ministro do Esporte, Orlando Silva, do PC do B, se beneficiou pessoalmente do desvio de recursos do programa Segundo Tempo, criado para promover atividades esportivas com crianças e adolescentes pobres. O programa foi terceirizado para organizações não governamentais (ONGs) conveniadas com a pasta – e, claro, dirigidas por gente do partido do ministro. A acusação, divulgada no fim da semana pela revista Veja, deixou Orlando Silva sem condições de continuar no cargo. Ele pediu à Polícia Federal que investigue o caso, que certamente acabará nos tribunais. Mas, no âmbito da política, o princípio da presunção de inocência não se aplica nem se pode esperar

que sentenças transitem em julgado. O ministro precisa sair não apenas para não ter a sua autoridade cada vez mais desgastada, que é o que costuma acontecer nessas circunstâncias, mas sobretudo para poupar a presidente Dilma Rousseff de novas atribulações no campo minado da corrupção – bem agora que o Esporte ganhou uma projeção sem precedentes, com os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 no País e dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, dois anos depois. Em fevereiro último uma série de reportagens deste jornal revelou que o Segundo Tempo era uma mina de ouro para o PC do B, graças justamente aos convênios da pasta com entidades ligadas à sigla, realizados sem licitação. Somente em 2010 o aparelhado Ministério desembolsou R$ 30 milhões em transferências – em mais de um sentido – do gênero. Ao que tudo indica, o contubérnio começou com

o antecessor de Orlando Silva, Agnelo Queiroz, que se elegeu governador do Distrito Federal (DF) depois de trocar o PC do B pelo PT. Comissões de 20% que teriam sido pagas ao partido da foice podem ter somado ao longo da era Lula cerca de R$ 40 milhões. Mas os “comunistas” não guardavam tudo para si. Teriam ajudado a cobrir gastos da campanha do presidente, em 2006, diz o policial militar (PM) e ex-militante do PC do B João Dias Ferreira. Em abril do ano passado, ele foi preso na Operação Shaolin, da Polícia Civil do DF, por suspeita de participação no desvio de R$ 1,99 milhão repassado pelo Ministério dos Esportes, mediante dois convênios, à Associação João Dias de Kung Fu. Ferreira é o principal acusador de Orlando Silva. O ministro alega que o PM se voltou contra ele porque o Ministério pediu ao Tribunal de Contas da União que investigasse os convênios com as suas ONGs e as obrigasse

Metrô e ônibus

C

om muito realismo e em termos claros, o secretário estadual de Transporte Metropolitanos, Jurandir Fernandes, chamou a atenção para um ponto fundamental do problema do transporte coletivo da Grande São Paulo, com destaque para a capital: não se pode apostar apenas no metrô, porque a solução depende também da melhoria do serviço de ônibus, que cabe aos municípios. A ênfase excessiva no metrô – ele poderia ter acrescentado – tem sido na prática uma forma de os prefeitos da região fugirem de, pelo menos, uma parcela da responsabilidade que lhes cabe nesse caso. É conhecido o esforço das últimas administrações estaduais para ampliar a rede do metrô. Mas esta é uma obra que, além de cara, demanda tempo. Não é de admirar, portanto, que, embora o governo do Estado esteja fazendo o maior investimento na extensão da rede em apenas um ano – R$ 4,9 bilhões –, o secretário reconheça que a conclusão de um importante conjunto de 11 obras, em meados do próximo ano, não trará uma melhora significativa para o transporte coletivo e o trânsito na capital. A superlotação do metrô em várias linhas deve continuar mesmo com essa expansão. O problema é que os vários meios de transporte coletivo devem funcionar de forma integrada. Por mais importante que seja o transporte por trilhos – do metrô e da CPTM –,

bloquearam uma das pistas neste domingo (16/10). Carteiras, celulares e um carro foram roubados durante a ação. Em compensação, estamos construindo modernos estádios de futebol, isso é o que interessa. Inflação, educação e saúde, cuidados nas péssimas estradas, juros estratosféricos... a Fifa não se importa com problemas menores! MAURICIO VILLELA mauricio@dialdata.com.br São Paulo

Custos

apenas a sua expansão, feita pelo governo do Estado, não resolve. Ela deveria ser coordenada com a melhoria do serviço de ônibus, para que ele mantivesse seus usuários. Como isso não ocorreu, eles estão migrando para o metrô. “Estamos tirando passageiros dos ônibus. Por quê? Em nossa opinião, é por tempo e por dinheiro. A viagem de metrô é mais rápida e custa R$ 3,20 por dia a menos”, afirma Fernandes em entrevista ao Estado. Imaginava-se, acrescenta ele, que o metrô ganharia passageiros que usam carro: “Você tiraria gente dos carros e da-

Com a esperança toda no metrô, a necessária melhoria dos ônibus foi deixada de lado ria até mais fluidez aos ônibus. Mas o carro continua ali”. Como o serviço de ônibus continuou ruim, isso teve um triplo efeito negativo para o sistema de transporte coletivo: a absorção de parte de seus passageiros superlota as novas linhas do metrô que, assim, não conseguem atrair quem se locomove de carro. E o número cada vez maior de carros nas ruas piora o trânsito e, por isso, também colabora para a lentidão dos ônibus. A solução, segundo Fernandes, é uma conjugação de esforços do governo estadual e dos municípios da Grande São Paulo. “De que adianta uma bela rede metroferroviária, se você não tem uma capilaridade funcionando bem? Não adianta fa-

Duas certezas

A primeira delas é que o custo da Copa do Mundo ultrapassará cifras astronômicas (bilionárias), cujo montante o governo (responsável pelas obras) desconhece. A outra – não há dúvida nenhuma – é a corrupção, que atingirá uma escala invejável, colocando nosso país, com certeza, no topo do ranking das nações corruptas. ALOISIO PEDRO NOVELLI celnovelli@terra.com.br Marília

Ao contrário do que diz a manchete do Estadão deste domingo, o Brasil sabe muito bem quanto vai custar a Copa do Mundo de 2014: muita mutreta, muito superfaturamento, muito escândalo e nenhuma punição.

A má gestão púbica

JULIO C. TESHAINER jcteshainer@terra.com.br São Paulo

CHRISTIAN NIELSEN cnielsen@uol.com.br São Paulo

Projetos e obras públicas mal feitos, atrasados e com custos exorbitantes têm uma explicação simples: a terrível combinação de incompetência com safadeza!

a devolver ao erário R$ 3,16 milhões. Pode ser. Mas pode ser também porque o ministro e o partido, diferentemente do que lhe teriam prometido, o deixaram entregue à própria sorte nas investigações da Shaolin. Não foi a primeira vez, nem será a última, que a vingança acaba expondo os podres do governo e da política. À Veja, Ferreira confirmou que o Segundo Tempo servia para favorecer correligionários e irrigar as finanças do PC do B – mas a denúncia bombástica foi outra. Um comparsa do policial, o motorista Célio Soares Pereira, contou ter recolhido dinheiro de quatro entidades ditas sem fins lucrativos que recebiam verba do programa e que o entregou ao ministro Orlando Silva dentro da garagem do Ministério, numa caixa de papelão. “Eram maços de notas de 50 e 100 reais.” Para embolso pessoal ou caixa 2 de partidos, desvios de recursos de convênios entre a administração pública

e ONGs de fachada – não raro constituídas para esse fim, instaladas em endereços fictícios, em nome de laranjas – são talvez o maior dos ralos por onde escorre dinheiro do contribuinte. Como notou ontem no Estado o colunista José Roberto de Toledo, em 2010 o governo destinou R$ 5,4 bilhões a 100 mil ONGs, ante R$ 1,9 bilhão em 2004. Esses gastos têm crescido mais do que as transferências para Estados e municípios. Ironicamente, de início se esperava que a participação dessas entidades, além de engajar a sociedade na implementação de políticas públicas, ajudaria a combater o burocratismo, o desperdício – e a corrupção. A leniência do governo Lula com a bandalheira transformou uma colaboração em princípio saudável numa gazua. Mesmo assim, até agora ninguém tinha acusado um ministro de receber dinheiro vivo de um convênio de promoção social.

Brasil Maior ou Imposto Maior? zermos só metrô. Ele nunca vai passar na esquina de casa. É preciso uma complementação. Não basta um prefeito pedir metrô para a cidade dele. Não basta dizer que está ajudando o metrô. Precisa fazer a parte dele.” A parte das prefeituras, a começar pela da capital, é a reforma e melhoria do péssimo serviço de ônibus que oferecem à população, um problema do qual elas vêm fugindo há muito tempo, ao longo de várias administrações. Uma pesquisa realizada pela Rede Nossa São Paulo, em parceria com a Câmara Municipal e apoio da rádio Estadão ESPN, cujos resultados acabam de ser divulgados, mostra que na área de transporte a melhoria dos ônibus foi apontada como prioridade por 77,4% dos paulistanos. A participação da Prefeitura nos investimentos para a ampliação da rede do metrô vem em quinto lugar (47,94%). O recado dos paulistanos é claro. Eles sabem muito bem que, como a implantação de uma rede de metrô à altura de suas necessidades demanda tempo, a curto prazo dependem em grande parte do serviço de ônibus, cuja má qualidade é notória – lento, sem pontualidade e desconfortável. Disso sabem também, é claro, as autoridades municipais, e há muito tempo. A única explicação razoável para isso nunca ter sido feito é a falta de coragem para contrariar os interesses das empresas que dominam o setor – altamente subsidiado – e não parecem nem um pouco descontentes com a situação.

“Vem aí a nova versão do caseiro Francenildo: vai sobrar para o motorista...” DOCA RAMOS MELLO / SÃO SEBASTIÃO, SOBRE AS NOVAS DENÚNCIAS DE CORRUPÇÃO NO MINISTÉRIO DO ESPORTE ddramosmello@uol.com.br

“De denúncia em denúncia, a tapioca foi só o primeiro sinal” NELSON PEREIRA BIZERRA / SÃO PAULO, IDEM nepebizerra@hotmail.com

V

ai de mal a pior o Plano Brasil Maior, uma das incursões do governo da presidente Dilma Rousseff no campo da política industrial. Cada vez mais parecido com um daqueles pacotes inventados para esfolar o contribuinte, o projeto em tramitação no Congresso poderia ser rebatizado como Plano do Imposto Maior. Com o número de artigos ampliado de 24 para 31, a Medida Provisória (MP) chamada “da desoneração” agora inclui novas e onerosas formas de tributação, incorporadas no texto por intervenção da Receita Federal – com a aprovação, certamente, do gabinete da Presidência. Segundo o relator da MP na Câmara, deputado Renato Molling (PP-RS), a Receita informou que se trata apenas de “ajustes” na legislação atual, mas essa explicação foi desmentida por empresários, preocupados, segundo ele, com o aumento da carga tributária. Uma das inovações, se aprovada, encarecerá o financiamento das empresas, produzindo efeito exatamente oposto ao proclamado pelo governo ao apresentar sua “política industrial”. Uma das inovações principais do Plano Brasil Maior, em sua versão original, deveria ser a desoneração da folha de pagamentos das indústrias de confecções, calçados, móveis e de software. Concebida por quem desconhecia os assuntos, a MP foi em pouco tempo criticada por empresários do setor de confecções. A troca dos encargos trabalhistas por uma contri-

buição sobre o faturamento elevaria a tributação de várias empresas. Pelo menos o deputado Renato Molling parece ter entendido o equívoco e promete defender uma alíquota menor que a proposta. Mas a fome arrecadadora voltou a manifestar-se. As emendas incluídas por intervenção da Receita Federal deverão resultar, se aprovadas, em maior tributação das debêntures, uma das formas de financiamento mais baratas à disposição das empresas. A Receita pretende, além disso, recolher um tributo a mais quando a empresa destina o lucro à amplia-

Fome de arrecadação e incapacidade de planejar impedem qualquer política industrial séria ção de seu capital. Ao realizar essa operação, a companhia distribui, naturalmente, novas ações ao seus sócios. Não se trata, nesse caso, de distribuição de dividendos, mas apenas da atualização das parcelas de cada acionista no patrimônio próprio da empresa. A operação é hoje isenta do Imposto de Renda, mas o governo pretende mudar a regra para cavar um dinheiro a mais. Essa inovação é um evidente desestímulo ao reinvestimento dos lucros e, portanto, à expansão das empresas e ao desenvolvimento do setor produtivo. As emendas apresentadas pela Receita incluem outras formas de elevação dos tributos, atingindo operações no mercado acionário e encarecendo os

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Assalariados pagam mais IR que os bancos

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Trabalhadores garantem 9,9% da arrecadação, mais que o dobro dos 4,1% pagos pelas instituições ● “Não é à toa que as autoridades se gabam da solidez do sistema financeiro do Brasil.” ABRAÃO LINCOLN SALES BASTOS

● “Tomara que esses protestos em Wall Street sejam o início de uma onda que cresça muito.” GIULIANO MAZZANTINI

HÁ 809 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Em nenhum país desenvolvido isso seria aceitável. Até quando o povo brasileiro vai tolerar tamanho absurdo?” JOÃO AUGUSTO

prêmios de resseguro – entre outras mudanças. A maior parte dessas propostas confirma claramente, mais uma vez, as preocupações dominantes no governo. Qualquer desoneração anunciada como benefício ao setor produtivo será seguida de novas manobras para preservar e, se possível, aumentar a arrecadação. O objetivo normal da administração é gastar com a própria máquina, sempre inchada e sempre ineficiente. Se sobrar algum dinheiro, a ordem será usá-lo em programaseem distribuiçõesdevantagens potencialmente rentáveis em termos eleitorais. Quando essa é a concepção de governo, a racionalização dos tributos e a desoneração das atividades empresariais só podem ser objetivos de menor importância, condicionados à sustentaçãode um Estado balofo e gastador.Essa concepçãoénaturalmente aliada a um permanente desprezo à competência administrativa. Isso se revela na maior parte das iniciativas impropriamente classificadas como ações de política industrial. Cabem perfeitamente nessa moldura as desastradas medidas protecionistas apresentadas, há algumas semanas, como incentivos à modernização do setorautomobilístico.Os incentivos,nessecaso,tomaram aforma de uma elevação do imposto cobradosobreveículos com menos de 65% de componentes nacionais. Criar um programa de modernização tecnológica, de atualizaçãodeprocessos ede ganho de competitividade exige imaginação e competência, itens em falta no governo.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 19 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Onde começa a fraude O ministro do Esporte, Orlando Silva, do PC do B, atribuiu ao seu antecessor e ex-correligionário Agnelo Queiroz, que se filiou ao PT e se elegeu governador do Distrito Federal, a responsabilidade pela escolha de duas organizações não governamentais (ONGs) criadas pelo PM João Dias Ferreira para executar, mediante convênio, projetos no âmbito do programa Segundo Tempo, destinado a proporcionar a prática de esportes a crianças e jovens carentes. No ano passado, o policial foi preso por suspeita de participação no desvio de R$ 1,99 milhão daqueles contratos. Ele, por sua vez, acusa o ministro de envolvimento pessoal com as fraudes, cujo produto seria canalizado para o caixa 2 do PC do B. A defesa de Orlando Silva é primária. Se é verdade que,

na condição de secretário executivo da pasta, foi instruído pelo chefe a assinar um convênio com João Dias, o fato é que nada mudou depois que ele se tornou ministro; ou melhor, as irregularidades no Esporte ficaram mais evidentes. Debatendo-se no centro das denúncias, Orlando Silva procura ainda assumir o papel de moralizador anunciando o fim dos convênios com ONGs para o Segundo Tempo. Nenhum dos 11 contratos do gênero, a vencer no próximo ano, será renovado. Mas ele fala como se a escolha das entidades não guardasse qualquer relação com as mutretas que o escândalo trouxe à luz ou que já haviam sido expostas. Em 2010, conforme o Estado revelou em fevereiro, o Ministério repassou R$ 30 milhões a ONGs de membros e aliados do PC do B. O que o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria-Geral da União têm apurado não deixa

dúvida de que a fraude, tosca e rasteira, é a regra. O TCU descobriu um caso em que cerca de 90% dos gastos correspondem a “atos impróprios”. Trata-se de um convênio de R$ 2 milhões entre o Ministério do Esporte e a Federação dos Trabalhadores no Comércio (Fetracom) para atender 5 mil crianças do Distrito Federal. A auditoria só encontrou 348 crianças – e mazelas em profusão. A presidente Dilma Rousseff tem razão ao dizer que “existem ONGs e ONGs”. Mas o número daquelas criadas para se apropriar de recursos públicos, não raro com a cumplicidade das mesmas autoridades que deveriam zelar por eles, é assombroso. Diante disso, a presidente se viu na obrigação de alertar recentemente os seus ministros para que filtrem as ONGs interessadas em se conveniar com o Executivo. Foi o que ela contou em Pretória, na África do Sul, onde participa da cúpula do Ibas, que

Ilegalidades explosivas

A

explosão provocada por vazamento de gás em um restaurante do centro do Rio, na semana passada, com três vítimas fatais e muitos feridos, alerta sobre a possibilidade de novas ocorrências desse tipo nas grandes cidades, onde comer fora de casa, mais que um hábito, tornou-se uma necessidade. Sob o ponto de vista da regulamentação, a população da cidade de São Paulo parece estar bem protegida, mas o mesmo não se pode dizer da fiscalização dos estabelecimentos comerciais, muito deficiente e só realizada quando provocada por denúncia. O Corpo de Bombeiros de São Paulo atende em média uma ocorrência por dia de fogo causado por vazamento de gás de cozinha. Embora não haja detalhes sobre quantas vezes isso se verifica em locais abertos ao público, a reportagem do Estado, valendo-se da lei municipal que obriga os restaurantes a abrir suas cozinhas ao público, procurou visitá-las, na última sexta-feira, nos estabelecimentosdocentro dacidade, mas foi impedida pelos proprietários,oqueé umclaro indício de irregularidades. Por lei, é proibido o uso de botijões de gás liquefeito de petróleo (GLP) em estabelecimentos comerciais. Se restaurantes, lanchonetes, oficinas ou quaisquer lojas de serviços tiverem de usar esse gás, os tubos de condução devem ser instaladospor engenheirosqualificados, em centrais específicas

uma pasta”. E com perfeição, como bom comunista tapuia, preferiu o conveniente “desfrute o poder político como a única satisfação material que o marxismo permite a seus sacerdotes” (in Edmund Wilson, Rumo à Estação Finlândia, página 40). MARIO COBUCCI JUNIOR maritocobucci@uol.com.br São Paulo

Faxina

Do jeito que as nossas instituições estão contaminadas, não basta uma simples faxina, precisamos de um processo de desinfecção, com uso de raticida, inseticida, acaricida, fungicida e bactericida, terminando com uma vassoura de fogo. É assim que se faz em pocilga e galinheiro. É um tal de conveniogate, cuecagate, meiagate e emendagate que não tem tatu que aguente. SÉRGIO BARBOSA

para isso. Os botijões de 13 kg são de uso exclusivo de residências. Quanto ao gás natural em áreas atendidas pela Comgás, as instalações devem obedecer às especificações técnicas da companhia. Como relatam os bombeiros, eles encontram tudo em ordem quando fazem vistorias para a concessãodealvarás.Osproblemas acontecem depois, com a faltademanutençãodosequipamentos e as adaptações que os proprietários dos estabelecimentos fazem para atender às suasconveniências.Seja porfalta de pessoal ou qualquer outro motivo, não há uma fiscalização

‘Gatos’ na rede elétrica e botijões de gás são as duas maiores causas de incêndios no Estado periódica e não se cogitou ainda de visitas de surpresa, para efeito de amostragem, ou blitze em áreasmaissuspeitasdedescumprirem as normas de segurança. O desleixo com o uso de gás na hora de cozinhar, tanto em restaurantes como em residências,explicaporqueosvazamentosvêmlogoemseguidaàsinstalações elétricas improvisadas como fonte de incêndios no Estado. No caso das linhas de distribuiçãodeeletricidade,sãofrequentes os incêndios provocados por ligações ilegais – os chamados “gatos” – que têm destruído favelas inteiras. Como as concessionárias de energia elétrica têm interesse em aumentarsuasreceitas,buscamcombater os “gatos”, mas, pelo que se observa, o êxito é limitado.

sergiobarbosa@megasinal.com.br Batatais

Recorde mundial

A gestão da presidenta Dilma já é a maior recordista mundial de todos os tempos na modalidade arremesso de ministro a distância, a cada dois meses, por corrupção. Estamos em outubro, Orlando Silva é o quinto que vai espernear muito, mas vai dançar. Fácil, fácil. GATTAZ GANEM gattaz@globo.com Carapicuíba

EDGARD MARQUES FILHO ed.marques@terra.com.br Barueri

fechassem os olhos para a proliferação de ONGs de fachada ou, como tudo indica ser o caso do Esporte, não fizessem arranjos espúrios com elas. Menos mal que os ministros agora tenham de assinar, eles próprios, os convênios de suas pastas, o que os torna diretamente responsáveis pelos contratos – e as associações contratadas. “Em muitos momentos do passado houve convênios com ONGs mais frágeis”, reconheceu Dilma, em um eufemismo para não usar um termo mais forte. Essas considerações, porém, não simplificam o seu problema. Com a Copa do Mundo no horizonte, não há como ela preservar o ministro Orlando Silva. A sua capacidade de impor seus pontos de vista aos donos da Fifa, que já é pequena, ficaria ainda mais reduzida. E o Brasil não fez tanta força para sediar a mais popular competição do globo para passar vergonha.

O motor chinês continua firme JácomrelaçãoaoGLP,emvista de um florescente comércio clandestino de botijões em todo o País, não há nem controle preventivo nem fiscalização porpartedas distribuidorasprivadas que atuam no mercado formal, para prevenir acidentes, além de uma concorrência predatória. Sob o pretexto de que a cadeia de revenda é longa demais para poder ser controlada, as distribuidoras de gás de cozinha deixam para a Polícia a tarefade darcombateaocomércio irregular. Na semana passada, como já se tornou rotineiro, a Polícia paulista desarticulou um depósito de botijões na zona norte de São Paulo, onde encontrou 193recipientes.Odonododepósito, que operava há cinco anos em uma área residencial, costumavarecarregar osbotijõesmenores com gás retirado dos de maior capacidade, com grande risco para os vizinhos, que o denunciaram. Pode-sealegar queafiscalização sobre o comércio clandestino cabe à Agência Nacional do Petróleo (ANP), que lançou, no fim do ano passado, o Programa Gás Legal, prevendo a criação de comitês regionais para erradicação do comércio irregular de GLP, o que promete ser uma luta inglória. De acordo com o Sindigás,dos33milhões debotijões de gás de cozinha distribuídos mensalmente no Brasil, 8 milhões,ou seja,24%,sãovendidosilegalmente.Aoque tudoindica este é mais um daqueles problemas nacionais que só podem ser resolvidos “a mais longoprazo”, comodizem os documentos oficiais.

“Orlando Silva, caia fora! Nós já estamos nos 48 do ‘segundo tempo’!” RODRIGO BORGES DE CAMPOS NETTO / BRASÍLIA, SOBRE O ESCÂNDALO DE CORRUPÇÃO NO MINISTÉRIO DO ESPORTE rodrigonetto@rudah.com.br

“Em quem você acredita, no policial militar ou no ministro do Esporte?” ALCIDES FERRARI NETO / SÃO PAULO, IDEM ferrari@afn.eng.br

Ministros na berlinda

Agora Orlando Silva, um a cada dois meses. Pelos meus cálculos, o último deverá cair em agosto de 2012. Ou será antes...?

reúne o país anfitrião, o Brasil e a Índia, ao comentar a mais recente denúncia de corrupção no seu governo, que ela disse estar acompanhando atentamente. “Tem que se fazer uma chamada pública, tem de apurar se a ONG existe há mais de três anos”, explicou. E não pode haver nenhuma possibilidade de convênio com ONG “que tiver incorrido em alguma falha, seja qual for”. Dilma deixou clara a sua preferência por governos estaduais e prefeituras como parceiros da administração federal, porque as ONGs “são menos formais” em matéria de controles internos. O paradoxo é que os convênios com as ONGs aumentaram substancialmente já no governo Fernando Henrique, na expectativa de limitar a influência dos interesses políticos locais ou regionais na execução de programas de alcance social. A preocupação é legítima e a alternativa seria válida se os Ministérios não

M

aior parceira comercial do Brasil e principal motor da economia mundial, a China continua crescendo vigorosamente e assim deve manter-se ainda por um bom tempo, segundo indicam os últimos números divulgados pelo governo. No terceiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês foi 9,1% maior que o de um ano antes. No segundo, havia sido 9,5% superior ao de igual trimestre de 2010. No primeiro, a diferença havia sido de 9,7%. Há, portanto, sinais de uma desaceleração, mas ainda muito suave e insuficiente para mudar o padrão observado em mais de uma década. As autoridades têm procurado baixar o ritmo de atividade, para conter a inflação, mas com resultados muito modestos até agora. Além disso, têm tomado medidas para limitar a expansão dos preços no mercado imobiliário, perigosamente inflados pelo menos desde o ano passado. No Brasil e na maior parte do mundo há uma compreensível torcida pela prosperidade chinesa. Com as economias do mundo rico ainda estagnadas e sem perspectivas de grande melhora nos próximos 12 ou mesmo 24 meses, caberá aos grandes emergentes continuar sustentando a atividade global. Caberá à China o papel central nesse espetáculo, como vem ocorrendo há alguns anos, especialmente a partir de 2007, quando começou o estouro da grande bolha imobiliária do Ocidente. Os últimos núme-

ros confirmam o vigoroso dinamismo chinês. Em setembro, as vendas no varejo, a produção industrial e o investimento fixo foram de, respectivamente, 17,7%, 13,8% e 24,9% maiores que os de um ano antes. A expansão do mercado interno estimula as importações e é uma notícia muito bem-vinda. O esforço contra a especulação imobiliária parece dar algum resultado. Em 70 cidades cobertas por uma pesquisa oficial, os preços dos imóveis ficaram praticamente estáveis de agosto para setembro, com variação média de 0,01%.No combate à inflação o êxito parece

O problema do governo é corrigir desajustes e ao mesmo tempo evitar uma freada desastrosa menor. Os preços ao consumidor acumularam alta de 6,1% nos 12 meses terminados em setembro. No período encerrado em agosto, o aumento havia sido pouco superior – 6,2%. De toda forma, a inflação continua bem acima da meta fixada para este ano, 4%, apesar das medidas do banco central. Apesar disso, um porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas mostrou-se otimista quanto à evolução dos preços. O aperto monetário ainda produzirá efeitos e, além disso, uma boa safra de grãos ajudará a conter a elevação dos preços, afirmou. Mas ainda haverá a ameaça, segundo esse funcionário, da inflação importada, resultante do grande volume de dinheiro em circulação no mer-

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Policial diz que ministro negociou silêncio

1.141

João Dias Ferreira afirma que Orlando Silva propôs acordo para evitar denúncias sobre desvios ● “Punir policiais é fácil. Querer comparar um policial com um ministro é uma atitude covarde.” CARLOS RM

● “E as punições? O que sofreram os outros ministros que foram demitidos?” DOUGLAS ALBUQUERQUE LIMA

HÁ 810 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “É realmente uma vergonha para nós, brasileiros. Não devemos baixar a guarda. Temos de reclamar sempre.” ADILSON ROCHA

cado internacional. Mas o governo chinês e os parceiros da China devem ter outros motivos de preocupação. Governos locais estão muito endividados e, além disso, há sinais de fragilidade nos bancos. As autoridades chinesas terão de manobrar com muita firmeza e muita competência, nos próximos meses, para evitar o agravamento de problemas tanto no setor bancário quanto na área pública. Um dos principais problemas para os condutores da política econômica, nos próximos tempos, será conduzir o país a uma acomodação tranquila, sem grandes solavancos. Será uma tarefa complicada, porque as autoridades terão de encontrar meios de reduzir a inflação, eliminar os desajustes no mercado imobiliário, manter os bancos saudáveis, corrigir os desequilíbrios no setor público e, ao mesmo tempo, manter um crescimento suficiente para atender à demanda de empregos fora da agricultura. Se algo falhar e a economia chinesa for levada a um ajuste desastrado, o custo será muito alto para todos. O governo chinês enfrentará, quase certamente, problemas políticos sérios com a frustração de milhões de famílias em busca de novas oportunidades, ou mesmo daquelas acomodadas há poucos anos na vida urbana e recém-chegadas ao mercado de consumo. Ao mesmo tempo, o tropeço chinês afetaria o comércio internacional e os preços das commodities, com grandes danos para o Brasil e muitos outros países.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 19 DE OUTUBRO DE 2011

SIP pede mais rigor da Justiça brasileira

Nacional A13 ERNESTO BENAVIDES/AFP

Apelo é reação às mortes de jornalistas ocorridas nos últimos seis meses no País Gabriel Manzano ENVIADO ESPECIAL / LIMA

● Conclusões

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) pediu ontem às autoridades do Brasil “o máximo esforço e agilidade na investigação de assassinatos de jornalistas”, para eliminar “o incentivo proporcionado pela impunidade”. O apelo é parte de uma das 15 resoluções adotadas no encerramento da 67.ª Assembleia-Geral da entidade, como reação às quatro mortes de jornalistas nos últimos seis meses no País. Outroitemda resoluçãoédirigido ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e trata da censura judicial ao Estado. A entidade pede, ao CNJ, que adote “medidas para restabelecer a liberdade de imprensa e informação, violentadas pela decisão do Poder Judiciário, que segue impedindo por mais de dois anos que o jornal O Estado de S.Paulo possa publicar informações relacionadas à Operação Boi Barrica/Faktor, da Polícia Federal”. Háaindaumterceirotemabrasileiro no documento, a pressão para se exigir diploma de jornalistas. A resolução pede, no caso, “que não se aprove uma lei que violariaaConvençãoInteramericana de Direitos Humanos”. O Brasil foi objeto, ainda, de

MILTON COLEMAN, NOVO PRESIDENTE DA SIP

“Temos de trabalhar mais para enfrentar todas essas novas ameaças, muitas das quais têm também caráter internacional”

RICARDO TROTTI

PRESIDENTE DO INSTITUTO DE IMPRENSA DA SIP

“No Brasil, além dos quatro mortos, uma das nossas preocupações foi a censura judicial, que atingiu o ‘Estado’ e a RBS, do Sul. O Brasil é conhecido, aqui, como o líder no que se refere a censura judicial”

outro documento cujo titulo diz tudo: “Impunidade/Brasil”. Nele há 22 considerações que retomam episódios em andamento na Justiça, seguidos de cinco decisões. A principal delas é um apelo em favor da federalização dos crimes de imprensa, para o qual já existem uma PEC, uma lei no Senado e outra na Câmara. A SIP entende que, como no resto do continente, graves crimes contra jornalistas, em cidades pequenasedistantes,dificilmente são punidos, pois as pressões locais resultam em impunidade.

Assembleia-Geral. O novo presidente da SIP, Milton Coleman (dir.), ao lado do diretor executivo da entidade, Julio Muñoz Uma conclusão geral sobre a situação no continente ressalta que “as tentativas para silenciar a imprensa independente continuaram de forma cada vez mais intensa em 2011”. Balanço. Em dezenas de exposições e debates, durante cinco dias, os mais de 200 delegados focaram três inimigos imediatos do jornalismo nas Américas: o crime organizado, comandado por narcotraficantes, a lentidão da Justiça para punir quem ataca e assassina jornalistas e as arma-

dilhas jurídicas que se multiplicam para tornar legais as decisões de censurar a imprensa. Para conseguir mais eficácia no combate às ameaças contra a mídia, principalmente em países como Venezuela, Nicarágua, EquadoreArgentina,foianunciado o Acordo de Lima, pelo qual a SIP se dispõe a trabalhar em conjunto com as associações nacionais de jornais. Uma das metas é pedir medidas concretas contra osgovernosemcortesinternacionais, como a Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA.

No seu balanço final, o presidenteda Comissão deLiberdade de Imprensa, Claudio Paolillo, observou: “Nesta assembleia foi dado destaque a dois problemas principais. Um deles, o crime organizadopelasquadrilhasdenarcotraficantes, que já penetram até no imenso território do Brasil.Osegundo problemaéoautoritarismo de líderes que submetem os demais poderes do Estado. Eles sabem que seu projeto nuncaserealizaráenquantoaimprensa for livre”. Veterano participante dessas

Roseana propõe estatizar Fundação Sarney no Maranhão Projeto de lei ainda prevê inclusão no Orçamento do Estado das despesas com a manutenção da entidade Ernesto Batista ESPECIAL PARA O ESTADO / SÃO LUÍS

Sem alarde e com urgência. Foi assim que a governadora Roseana Sarney (PMDB) enviou, para apreciação na sessão de ontem da Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão, o projeto de lei que prevê a estatização da FundaçãoJoséSarney,responsável pela administração do Convento das Mercês. O Projeto de Lei 259/11 estabelece a criação da Fundação da Memória Republicana Brasileira, de “direito público e duração ilimitada”, vinculada à Secretariade Educação, cujopatrono seria o presidente do Senado, José Sarney. A controversa lei ainda

inclui no Orçamento do governo do Estado as despesas da Fundação. Roseana é filha de Sarney. O deputado estadual Marcelo Tavares (PSB), líder da oposição na Casa, criticou, em plenário, a medida tomada pela governadora: “Será o povo do Maranhão que pagará todos os custos deste cultoapersonalidadedeumcidadão maranhense que, se por um lado teve enorme sucesso na vida, deixou o Estado do Maranhão como um dos piores Estados da Federação?” Tavaresdisseque,casooprojeto de lei seja aprovado, a oposição vai solicitar à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que entre com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) no Supremo Tribunal Federal (STF). Para o deputado estadual Rubens Júnior (PC do B), não há justificativas para a urgência no trâmite da matéria, porque, no corpo do projeto de lei, o governo do Estado define o prazo de

● Reações

MARCELO TAVARES LÍDER DA OPOSIÇÃO (PSB)

“Será o povo do MA que pagará todos os custos deste culto à personalidade de um cidadão que deixou o Estado como um dos piores da Federação”

MAGNO BARCELAR DEPUTADO ESTADUAL (PV)

“Para nós, maranhenses, é um orgulho ter Sarney, que já foi presidente da República”

45 dias, descrito pelo artigo 46 da ConstituiçãoEstadual.“Oprojetodeleiprevê,emalgumaspassagens,algonãovistosequer noperíodo da Monarquia. A indicação ficará ao cargo do patrono ou dos seus herdeiros, aí é uma verdadeira capitania hereditária no Estado doMaranhão”,acrescentou Rubens Júnior. O governista Magno Bacelar

Estatização. Projeto de lei foi enviado ontem a Assembleia

assembleias, Julio Cesar FerreiradeMesquita, membrodo Conselho de Administração do Grupo Estado, se diz desanimado. “Depois de 34 anos que frequento esses eventos, volto para casa muito triste com o que acontece nocontinente. São 32 países etodos eles têm problemas relacionados com a liberdade de imprensa. Segundo ele, “estamos no século 21, o mundo evolui, e esta região do planeta, em termos de liberdade de imprensa, parece estar voltando a um passado distante”.

(PV), conhecido por reagir com frases de efeito aos ataques da oposição, aproveitou a ocasião para render homenagens ao presidentedo Senadoefustigar professores presentes nas galerias da Assembleia. “Para nós, maranhenses, é um orgulho ter Sarney, que já foi presidente da República, o presidente de todos nós,dosbrasileirosedasbrasileiras, o presidente dos mal-educados professores que devem respeitar a tribuna, aqueles professores que não querem trabalhar”, ironizou Bacelar. Questionado pela reportagem,o presidente daCasa,deputado Arnaldo Melo (PMDB), se limitou a informar que o projeto está na Comissão de Constituição e Justiça e que deverá ser votado hoje após apreciação. Em julho de 2009, o Estado denunciou que a Fundação José Sarney – criada em 199o por Sarney para preservar a sua memória – havia desviado dinheiro de um projeto de R$ 1,3 milhão patrocinadopelaPetrobrás, beneficiandoempresasfantasmaseoutras entidades ligadas à família do senador e de assessores.

EMENDAS SECRETAS

Estado promete divulgar todas as emendas de 2010 em uma semana Segundo secretário da Casa Civil, dados serão publicados na internet; por ora, governo divulgou apenas restos a pagar Fernando Gallo

O secretário-chefe da Casa Civil de São Paulo, Sidney Beraldo (PSDB), assegurou ontem que o Estado vai publicar na internet emumasemana asemendasparlamentares referentes ao ano de 2010. Até agora, o Palácio dos

Bandeirantes deu publicidade apenas aos restos a pagar do ano passado, pagos em 2011 – quantia de R$ 26,1 milhões de um total oficial de R$ 188 milhões. “Penso que, em mais uma semana, no máximo, nós vamos disponibilizar isso. (As de) 2010 pelomenoseugaranto quepoderemos ter em mãos”, disse, após audiência pública sobre o Plano Plurianual 2012-2015 na Assembleia Legislativa. Segundo Beraldo, a demora ocorreporquenem todasasindicaçõesviram convênios, e a Casa Civiltemde checarcomas secre-

tarias se os convênios foram efetivamente feitos e pagos. “Não posso me basear nessas indicações que eu tenho pela porta de entrada, tenho de avaliar a porta de saída, que é a secretaria fim.” Beraldo sustentou que de 30% a 40% das indicações não viram convênios, já que são rejeitados, segundo ele, por criteriosa análisedo governo. “Existeum numerograndedeindicaçõesderepasses para entidades, mas somos muito rigorosos. Temos critérios claros. A entidade tem deter mais de dois anos de serviços prestados, tem de ter o estatuto

EPITACIO PESSOA/AE–14/1/2011

Emendas. Sidney Beraldo criticou a cobertura da imprensa conforme manda a legislação.” O chefe da Casa Civil criticou a cobertura da imprensa sobre o caso da suposta venda de emendas. “Às vezes dá a impressão, ao ler os jornais, que o Estado não

tem controle de nada, que a sociedade não controla. Controla sim!” Segundo ele, “a Secretaria de Planejamento tem teto, se o custo da obra ficar acima, o convênio não é efetivado”.

Ontem, o promotor de Justiça Carlos Cardoso, que investiga as revelações do deputado Roque Barbiere (PTB), informou que vai solicitar à Secretaria da Fazenda a relação de emendas ao Orçamento desde 2007. Ele espera que o exame dos documentos indique se ocorreram irregularidades. Em entrevista ao SPTV 2.ª Edição, da TV Globo, Barbiere disse ter sido procurado por exassessores da Casa dispostos a confirmar a existência do esquema. “Algumas pessoas vieram aqui voluntariamente e disseram: deputado, o senhor falou a verdade, eu trabalhei com fulano de tal e vou lá depor”, afirmou. Segundo Barbiere, essas pessoas teriam visto pacotes de dinheiro serem entregues nos gabinetes de deputados.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 20 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Falta resgatar a paz É impossível não se sensibilizar com o júbilo em Israel e na Palestina pelo cumprimento da primeira etapa do acordo para a libertação de um soldado israelense, Gilad Shalit, sequestrado pelo Hamas há cinco anos na fronteira com Gaza, em troca de 1.027 dos cerca de 6 mil ativistas palestinos que cumprem penas em Israel. Na terça-feira, foram soltos 477, escolhidos pelo Hamas, com vetos israelenses. Outros 550 sairão em dois meses. Em todo o mundo, chefes de Estado saudaram o acordo com declarações apropriadas à ocasião. “Há lugar para a esperança mesmo nos momentos mais difíceis”, entoou, por exemplo, o presidente da França, Nicolas Sarkozy. “Gostaria de acreditar que isso permitirá a retomada das negociações de paz.”

Mas não há por que acreditar. Em meio ao entusiasmo popular, líderes do Hamas reiteraram a sua recusa a aceitar a existência de Israel e pregaram a captura de outros soldados para reaver militantes condenados pelo inimigo. Em Israel, onde 79% da população se disse favorável ao acordo, a aparição de um Shalit pálido e emaciado reavivou o ódio aos seus captores. A palavra paz não circulou. A libertação do soldado, na realidade, resultou de cálculos de conveniência que pressupõem, ou se destinam, a manter o impasse israelense-palestino, apesar da nova conjuntura regional. O Hamas, que jamais se dispusera a negociar a libertação de Shalit – nem sequer permitiu que a Cruz Vermelha tivesse acesso a ele alguma vez –, mudou de ideia por duas razões fundamentais. Uma, o imperativo de desviar os holofotes que deram evidência mundial à figura do presidente da Autori-

dade Palestina, Mahmoud Abbas, desde que ele assomou à tribuna da ONU, no mês passado, para pedir o reconhecimento e a admissão do Estado que busca criar por meios pacíficos dentro das fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, em 1967. Para os radicais que controlam Gaza e o antagonizam, isso é anátema porque legitima a “entidade sionista”. A segunda razão para o Hamas mudar de ideia é a perspectiva de ter de transferir da Síria o seu reduto no mundo árabe, caso caia o regime de Bashar Assad que abriga a organização. O seu destino natural seria o novo Egito que tomou distância de Israel depois de derrubada a ditadura de Hosni Mubarak. Era a hora de mostrar respeito pelos militares egípcios, convidandoos a patrocinar as tratativas com Israel que o Hamas até então se recusava a endossar. O que chama a atenção nesse jogo é que o primeiro-mi-

Conselhos Tutelares

O

s Conselhos Tutelares foram criados para zelar pelo respeito aos direitos da criança e ajudar nas políticas de atendimento à infância e adolescência. Mas as eleições realizadas domingo para os Conselhos Tutelares da capital foram marcadas pelos mesmos vícios da política tradicional, em matéria de clientelismo, fisiologismo e tráfico de influência. Foi preciso, até, chamar a Polícia Militar para coibir várias práticas proibidas por lei, tais como boca de urna e utilização de vans para transporte de eleitores para os locais de votação. Agora, os promotores do Ministério Público estadual analisarão cada um dos casos de irregularidade registrados nas 438 escolas e prédios municipais que serviram de pontos de votação e no boletim de ocorrência que foi lavrado no 50.º Distrito Policial, no bairro do Itaim Paulista, na zona leste, para tomar as devidas providências legais. O Ministério Público pode pedir a impugnação dos candidatos que transgrediram a legislação. Segundo o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de São Paulo, mais de 150 mil pessoas compareceram para votar. Para trabalhar durante o pleito, a Prefeitura convocou cerca de 3,3 mil servidores municipais. A posse dos candidatos eleitos está marcada para 18 de novembro. Previsto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o comparecimento dos

luiz_davila@terra.com.br São Paulo

PATRIMÔNIO HISTÓRICO Casa Modernista

Em atenção à Nota da Redação (26/9) em réplica à minha resposta à nota Patrimônio? (Direto da Fonte, 21/9), esclareço que as grades nas portas e janelas da Casa Modernista foram instaladas pelo próprio Gregori Warchavchik, autor do projeto da casa, em reforma realizada entre os anos de 1934 e 1935. Esse fato é de simples comprovação. No livro de José Lira Warchavchik: Fraturas da Vanguarda, editado pela Cosac Naify e lançado em abril deste ano, entre as páginas 338 e 339 é possível observar diversas fotos da casa pós-reforma e constatar a existência das grades, que a nota publicada diz que descaracterizam o imóvel. Reiteramos que elas integram a casa por decisão do arquiteto.

eleitores é facultativo. No pleito de domingo, apresentaramse 220 candidatos para integrar os 44 conselhos instalados em todas as subprefeituras da capital. O que levou os candidatos a disputarem cargos com a mesma “gana” de candidatos à Câmara Municipal, à Assembleia Legislativa e à Câmara dos Deputados foram os fatos de a atividade de conselheiro ser remunerada e de o vencedor se converter numa espécie de servidor público comissionado. Com mandato fixo de três anos, na capital paulista o conselheiro tem direito a um salário mensal de R$ 1.490 – uma

As eleições de domingo indicam que já estão marcadas pelos vícios da política tradicional boa remuneração para o pouco trabalho exigido dos conselheiros. Como agente público, o conselheiro tutelar tem a obrigação de zelar pela aplicação das medidas socioeducativas previstas pelo ECA. Para muitos conselheiros, o que efetivamente importa é o dinheiro depositado regularmente no final do mês. Para outros, esse é o primeiro passo para uma carreira política. O que vem ocorrendo com os Conselhos Tutelares é o mesmo que aconteceu com as Câmaras Municipais das cidades de pequeno e médio portes, desde que seus integrantes passaram a ter direito a salário. Em alguns casos, o cargo de conselheiro – que, por princípio, envolve atividades comunitárias – foi convertido

GIOVANNA LONGO, Assessoria de Comunicação da Secretaria Municipal de Cultura giovannalongo@prefeitura.sp.gov.br São Paulo

CUMPRIMENTOS Prêmio Vladimir Herzog

Nossos cumprimentos à direção desse importante veículo de comunicação e aos seus profissionais pelo Prêmio Vladimir Herzog pela publicação Guerras desconhecidas do Brasil. Essa justa homenagem adquire maior significado neste momento em que a sociedade brasileira defende a criação de uma Comissão da Verdade que resgate a verdade histórica e faça justiça aos que lutaram e se sacrificaram pela democracia em nosso país. LUIZA ERUNDINA DE SOUZA, deputada federal dep.luizaerundina@camara.gov.br São Paulo

nistro israelense, Binyamin Netanyahu, também tinha motivos para ofuscar Abbas e valorizar o papel do Egito. No que diz respeito a Abbas, porque a iniciativa do líder palestino na ONU aumentou as pressões sobre Israel para cessar a expansão das colônias nos territórios ocupados – o obstáculo por excelência para o reinício das conversações de paz. Quanto ao Egito, o reconhecimento de que continua a ser a principal potência política árabe era a coisa certa a fazer para fortalecer os generais do Cairo diante da novamente desafiadora Irmandade Muçulmana, que defende a “revisão” do tratado de paz de 1979 com Israel. Disso, Netanyahu não fez segredo. Ao anunciar as negociações em curso para a troca de Shalit por intermédio do alto comando egípcio, secundado por diplomatas alemães, declarou que as novas circunstâncias regionais criaram uma oportu-

nidade que talvez não se repetisse para o resgate do soldado – um imperativo moral para os israelenses. E deixou claro que os 550 presos a serem libertados em breve, escolhidos por Israel, representam “um gesto para o Egito”. Além disso, com a volta de Shalit agora, Netanyahu espera neutralizar os recentes protestos – os maiores da história do país – contra a política econômica do seu governo. O Hamas, Netanyahu e o Egito são, portanto, os óbvios beneficiários do fato histórico desta semana. Abbas, o grande prejudicado, como os inimigos da paz queriam. Ontem, o New York Times se perguntava em editorial por que o primeiro-ministro israelense é capaz de negociar com quem quer acabar com Israel, mas não negocia a paz com quem aceita o seu país e o ajuda a reprimir os extremistas na Cisjordânia. A resposta é que isso ele não quer.

Alerta contra a censura em “profissão”. De centros de civismo, solidariedade e prática democrática, passaram a ser meio de vida. Em outros casos, o trabalho dos conselhos se transforma numa forma de perversão da representatividade política. Pelo ECA, os conselheiros são responsáveis por encaminhar crianças e adolescentes a serviços públicos de atendimento e proteção. Há conselheiros que se valem dessa prerrogativa para praticar o assistencialismo entre famílias carentes, providenciando matrículas em escolas municipais ou internação em hospitais públicos, em troca de votos. É por isso que muitos políticos profissionais estimulam seus cabos eleitorais a se candidatarem aos Conselhos Tutelares. Trata-se de um investimento político que pode ser decisivo nas eleições legislativas. Os promotores que fiscalizaram a eleição de domingo estão investigando, por exemplo, denúncias de fraudes que teriam sido cometidas por um deputado estadual na Escola Municipal Idemia de Godoy – uma das dez zonas eleitorais do bairro do Lajeado, um dos mais pobres da zona leste. Entre outras irregularidades, o parlamentar teria contratado um micro-ônibus e financiado a confecção de panfletos. Quando o ECA entrou em vigor,oConselhoTutelarfoirecebidoscomoumavanço.Duasdécadas depois, ele corre o risco de ser desfigurado por quem converte a assistência social em porta de entrada para a carreira política.

“Nem bem começou a preparação do evento e os ganhadores de sempre já entraram em campo” OSCAR ROLIM JÚNIOR / ITAPEVA, SOBRE A COPA DO MUNDO DE 2014 rolimadvogado@ibest.com.br

“Dilma tirou o Orlando Silva da Copa. Para ficar bom mesmo só falta tirar o Ricardo Teixeira...” VICTOR GERMANO PEREIRA / SÃO PAULO, IDEM victorgermano@uol.com.br

O

s relatórios apresentados e os debates a respeito da liberdade de imprensa no continente americano realizados durante a 67.ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), encerrada terçafeira em Lima, Peru, colocaram em evidência que as ameaças ao direito da livre informação ainda existem no Brasil, mas a situação é muito mais grave, pela existência de uma censura praticamente sistêmica, em outros países como Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina. Nesses países, os veículos de informação que não apoiam os respectivos governos são vítimas permanentes das mais variadas formas de perseguição política: censura judicial, pressão econômica, cassação de concessões, leis casuísticas que estabelecem restrições à livre divulgação de notícias e informações, etc. Esse quadro sombrio, se por um lado revela que o Brasil vive, comparativamente, um período de relativa tranquilidade em relação à liberdade de imprensa, por outro lado é um sinal de alerta sobre a necessidade de se preservar esse status diante da permanente ameaça representada por medidas de “democratização dos meios de comunicação”, ou do “controle social da mídia”, que os dirigentes do PT insistem em preconizar. O relatório sobre o Brasil foi apresentado por Paulo de Tarso Nogueira, vice-presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa da entidade e consul-

tor do Estado, que deu ênfase ao fato de mais quatro jornalistas brasileiros terem sido assassinados nos últimos seis meses, todoselesenvolvidosnainvestigação de denúncias de corrupção contra autoridades locais. Alémdisso,Nogueirarelatououtros 21 episódios: 2 prisões, 8 agressões físicas, 2 atentados, 3 casos de abuso de poder e 6 outros de censura judicial. Dentre os últimos, destacou a censura judicial que durante meses impediu que o Estado divulgasse informações sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolveu a família e os interesses do senador José Sarney.

Assembleia da SIP denuncia um tipo de censura que se torna praticamente sistêmica De acordo com o relatório do representante brasileiro, “é crescente a ampliação do poder discricionário de magistrados, especialmente os de 1.º grau, no julgamento de ações de antecipação de tutela e direito de resposta”, o que acaba resultando emflagranteviolaçãodaliberdade da imprensa. Oscasosmaisgravesdecensura à imprensa relatados à SIP ocorreram em países dominados por regimes populistas, todos eles praticantes sistemáticos de violações aos direitos humanos levadas a cabo em nome deideias“libertárias”.Semmencionar Cuba, onde nem sequer existem veículos de comunicação independentes do partido único e do governo, os exemplos mais flagrante de violação

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Dilma tira poder de ministro e assume Copa

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Orlando Silva deixa de ser interlocutor do governo e perde atribuição de negociar Lei Geral da Copa ● “Tentar excluir a responsabilidade pessoal e indelegável do presidente por ações corruptas de seus subordinados é crime.” JOSÉ REIS BARATA

● “Enquanto sobra verba para a ladroagem generalizada, o governo ainda pensa em recriar a CPMF.” JOSÉ JORGE PANTOJA COELHO

HÁ 811 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “É muito triste um país onde investigações sobre crimes só evoluem devido a cochilos e vaciladas.” PAULO ADRIANO

do direito à informação – um dos direitos humanos fundamentais–vêmdepaísesdominados por caudilhos adeptos do “socialismobolivariano”–Venezuela, Bolívia, Equador – ou de populistas,comoéocasodapresidente argentina, Cristina Kirchner, cuja ação política é movida por um remoto ideal peronista recondicionado por seu finadoantecessoremarido,Néstor Kirchner. O novo presidente da SIP, o norte-americano Milton Coleman, cidadão de um país onde a liberdade de imprensa é amplamente praticada e respeitada, sob a garantia da Primeira Emenda constitucional, tem muito claras as dificuldades que enfrentará com o tema, por conta da fragilidade das instituições democráticas em muitos países latino-americanos: “Em muitos lugares da América Latina estamos sendo desafiados por governos que querem reduzir os direitos da sociedade de se informar”. Para enfrentar esse desafio, aponta alguns caminhos: “Temos de operar mais com as mídias sociais. Achar meios para enfrentar os governos autoritários, que tentam esconder do povo o fato de que, sem imprensa livre, a democracia não pode existir”. E concluiu, em entrevista ao repórter Gabriel Manzano, do Estado: “Temos de estabelecer os direitoshumanos como parte dos direitos civis. Depois de estabelecê-los, defendê-los. Lembro uma frase de Thomas Jefferson. Ele disse que, se tivesse de escolher entre um governo sem jornais ou jornais sem governo, ficava com a segunda opção”.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 21 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

As provas pedidas Nos seus depoimentos ao Congresso e em declarações à imprensa, o ministro do Esporte, Orlando Silva, do PC do B, recorreu a um repertório de impropérios impublicáveis para desqualificar o PM João Dias Ferreira, que o acusou de participar de um esquema de fraudes com recursos do programa Segundo Tempo, criado para proporcionar atividades esportivas a jovens carentes. O ministro também insiste a mais não poder no argumento de que o denunciante, que esteve preso no ano passado, não apresenta provas de suas “calúnias” – e nem poderá apresentá-las, por não existirem. Vá dizê-lo ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que anunciou anteontem a iniciativa sem precedentes de pedir nos próximos dias ao Supremo Tribunal Federal (STF)

abertura de inquérito contra o ministro ainda no exercício da função, “considerando a extrema gravidade dos fatos noticiados”. Naturalmente, Gurgel diz que não se pode fiar “apenas nas declarações de uma única pessoa”, mas elas merecem ser examinadas com toda a atenção, incluindo eventualmente a quebra dos sigilos de Orlando Silva. Uma investigação na mais alta Corte – o foro próprio para detentores de cargos federais e membros do Parlamento – será a gota d’água para tornar intolerável a permanência do acusado no governo. Fechando o círculo, o procurador avalia a hipótese de pedir ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) que remeta ao Supremo o inquérito em curso naquela Corte contra o antecessor e excorreligionário do ministro, o atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, agora filiado ao PT. “Há um relacionamento muito intenso entre os fatos”, sustenta Gurgel para

justificar a unificação das apurações. Os indícios parecem incontestáveis. Agnelo assumiu no início do primeiro governo Lula e nomeou Orlando secretário executivo da pasta. Em 2006, quando Agnelo se afastou na busca frustrada de uma cadeira no Senado, o sub foi para o seu lugar e nele foi confirmado, depois, pela presidente Dilma Rousseff a pedido do seu mentor Lula. Conforme as evidências, o que começou com Agnelo continuou sem interrupção com Orlando – a assinatura de convênios com organizações não governamentais (ONGs) fictícias ou sem a mais remota condição de cumprir os contratos firmados nem o menor interesse em usar em benefício público os valores recebidos. Evidentemente, deviam pagar pedágio aos contratantes, os quais o repassavam, não necessariamente por inteiro, ao caixa 2 do PC do B, ao qual, aliás, os conveniados estavam fi-

Importação de lixo

A

julgar pelas reiteradas apreensões de contêineres com lixo importado, tudo indica que o Brasil passou a ser visto, por outros países, como um bom local de descarte de dejetos e resíduos perigosos. As quadrilhas de exportadores de lixo e de materiais contaminados, que podem transmitir doenças infecciosas, selecionam como destino de seus embarques países em desenvolvimento onde imaginam que a vigilância sanitária nos terminais portuários seja pouco rigorosa ou inexistente. A Receita Federal apreendeu há dias no Porto de Suape, em Pernambuco, pela segunda vez em uma semana, contêineres com lixo de diversos hospitais dos EUA, num total de 46 toneladas, importados como sendo “tecidos de algodão com defeito” por uma indústria têxtil denominada Na Intimidade Ltda., com sede em Caruaru (PE), que vem realizando esse tipo de operação desde 2001. Alertada pela Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), a Polícia estadual invadiu o galpão da empresa e encontrou 15 toneladas de lixo hospitalar. Depósitos semelhantes foram interditados nas filiais da empresa nas cidades vizinhas de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama. Só neste ano a empresa fez oito importações, tendo seis delas passado pela alfândega. Segundo o chefe da Receita em Suape, há indícios de que 14 outros contêineres desse tipo estejam a caminho daquele porto.

da”, apenas ficam esperando ansiosamente a chegada de Fidel. BENONE AUGUSTO DE PAIVA benonepaiva@yahoo.com.br São Paulo

A empresa Na Intimidade Ltda. vinha processando o material importado para revenda no mercado interno, incluindo lençóis usados, roupas, luvas, seringas descartadas, etc. O Ministério Público já solicitou à Polícia Federal a abertura de investigação para apurar os fatos, mas é provável que exista uma rede criminosa agindo no exterior para o envio de lixo ao Brasil, em estreita ligação com grupos locais. O negócio funcionaria mediante o pagamento de comissões ou propinas aos importadores. Não é a primeira vez que a Receita Federal constata im-

Aos poucos parece que o Brasil vai sendo visto lá fora como um fácil depositário de dejetos portação de lixo no País. Em agosto de 2010, foram apreendidos no Porto de Rio Grande (RS), contêineres contendo 23 toneladas de lixo, procedentes do Porto de Hamburgo, na Alemanha. A única providência então tomada foi devolver os contêineres à Alemanha, e uma das opções agora em exame, com relação ao material hospitalar contaminado bloqueado em Suape, é enviá-lo de volta para os EUA. Além da aplicação aos responsáveis pelas importações das penas previstas em lei – em geral brandas –, nenhuma medida preventiva foi tomada até agora. Embora a Receita Federal já tenha embargado um número significativo de contêineres cheios de lixo, é pratica-

Primavera brasileira

Kadafi teve o destino que procurou. A Líbia e o mundo ficam melhor sem ele.

Nosso excelentíssimo, salve, salve, ex-presidente deve estar triste com a morte do amigo e “democrata” coronel Kadafi. Aliás, se tivéssemos a mesma atitude dos líbios, egípcios e outros povos que derrubaram ditadores, para derrubar os corruptos daqui, Brasília estaria às moscas...

PAULO RIBEIRO DE CARVALHO JR. paulorcc@uol.com.br São Paulo

RENATO CAMARGO natuscamargo@yahoo.com.br São Paulo

Melhor sem ele

Amigo e companheiro

Exéquias

Enfim, morreu Kadafi, um assassino que ceifou milhares de vidas de inocentes ao longo de sua carreira de déspota. O que fará agora o “cara”, lamentará a perda do amigo e companheiro?

O ex-presidente Lula deve não só comparecer ao enterro do companheiro Kadafi, como também mandar uma coroa de flores. Afinal, eram eles grandes amigos, não é mesmo?

JOSÉ EDUARDO ZAMBON ELIAS zambonelias@estadao.com.br Marília

JOSÉ EDUARDO VICTOR je.victor@estadao.com.br Jaú

liados. Do inquérito que chegou ao STJ consta uma detalhada (e sórdida) descrição da entrega, em agosto de 2007, de uma mochila com R$ 256 mil ao então ministro Agnelo no estacionamento de uma concessionária de veículos na cidade-satélite de Tabatinga. O autor do relato à Polícia Civil do DF é um certo Geraldo Nascimento de Andrade, motorista de uma das empresas fornecedoras de notas frias para encobrir desvios de recursos do Segundo Tempo. Qualquer que seja a sua folha corrida, o depoimento soa verdadeiro, pela profusão dos fatos narrados. O mesmo se pode dizer da entrevista do PM João Dias à revista Veja, confirmando as revelações publicadas neste jornal em fevereiro último. Filiado ao PC do B, o policial registrou duas ONGs que se conveniaram, a partir de 2005, com o Ministério do Esporte. Ele adquiriu um punhado de carros

de luxo – e não foi propriamente com o seu soldo. Mas isso não torna menos verossímeis as suas acusações a Orlando nem inibiu o procurador-geral de procurar o STF. Tampouco a esbórnia é coisa do passado. Em agosto último, por exemplo, o Ministério do Esporte prorrogou por um ano um convênio de 2009 no valor de R$ 911 mil com uma ONG de fachada, como se viria a saber, para criar núcleos esportivos para 2,2 mil crianças em Novo Gama, Goiás, no entorno do DF, embora nem um grão de poeira tivesse sido tirado do lugar ali nesse período. Enquanto isso, R$ 393 mil do Tesouro Nacional já mudaram de mãos. O convênio foi usado na campanha eleitoral do PC do B no ano passado. Quando o Estado divulgou o caso, há oito meses, o ministro prometeu uma sindicância para “apurar e punir” Não fez nem uma coisa nem outra.

Um BC paz e amor mente impossível estimar quantos poderão ter escapado à sua triagem, feita, sobretudo, sob o ângulo tributário. Dado o volume total das importações, que tem batido recordes, o controle é feito por amostragem e se baseia nos documentos apresentados pelos importadores, especificando a natureza das mercadorias. Proibir simplesmente a importação de resíduos ou de materiais usados, de modo geral, pode ser uma medida drástica demais e de eficácia duvidosa. O Brasil é signatário da Convenção de Basileia, que regulamenta o transporte intercontinental de resíduos. Esse, na verdade,éumnegóciopróspero,estimando-se que 80% dos materiais não perigosos, enviados de um país para outro, são destinados à reciclagem. Contudo, a ameaça sanitária e ao meio ambientenoPaís,representadapelas importações irregulares, requer uma atitude mais firme por parte das autoridades. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, disse que vai solicitar ao Itamaraty que apresenteumareclamaçãoàembaixada americana em Brasília, por falta de fiscalização no ponto de embarque. Isso está longe de ser uma solução. Acima de tudo,épreciso reforçara fiscalizaçãosanitárianos portosbrasileiros. A Polícia Federal já entrou no caso e, presumivelmente, deve acionar a Interpol, o que pode produzir resultados mais efetivos. O que é preciso evitar, a todo custo, é que o Brasil acabe se transformando em uma lixeira internacional.

“De novo? Sim, dona Dilma, mais um. A fila está andando...” HELENA RODARTE C. VALENTE / RIO DE JANEIRO, SOBRE AS DENÚNCIAS DE CORRUPÇÃO NO MINISTÉRIO DO ESPORTE helenacv@uol.com.br

“A pergunta está no ar: você compraria um carro usado do ministro Orlando Silva?” VIVIANO FERRANTINI / SÃO PAULO, IDEM engferrantini@ig.com.br

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ma nova fase de paz e amor entre o Banco Central (BC) e o mercado financeiro parece ter sido inaugurada com o novo corte de juros – de 12% para 11,5% – anunciado na quarta-feira pelo Copom. A decisão confirmou a previsão dominante no setor financeiro e foi recebida com tranquilidade. Além disso, a nova redução da taxa Selic ajustou-se com perfeição ao discurso recente das autoridades monetárias. Tudo se passou como se o presidente do BC, Alexandre Tombini, e seus companheiros houvessem redescoberto a arte de falar ao mercado e de conduzir suavemente a formação das expectativas. Tudo bem, portanto? Longe disso. O entendimento pode ter melhorado e, além disso, as manifestações de apoio à política mais frouxa são hoje mais numerosas do que foram depois do primeiro corte, em 31 de agosto. Mas a inflação prevista para este ano continua em torno do limite superior da banda de tolerância e a estimada para 2012 permanece bem longe do centro da meta (4,5%). Convém, portanto, alguma cautela em relação a esse novo padrão de diálogo entre o BC e o mercado. Alguns economistas do setor financeiro aplaudiram a nova decisão do Copom e mostraram-se otimistas quanto ao arrefecimento da inflação nos próximos meses e ao longo do próximo ano. Os dirigentes do BC acertaram, segundo esses analistas, ao prever o agravamento do quadro mundial e

a desaceleração da economia brasileira. Têm o mérito, portanto, de haver saído na frente, adotando medidas para uma acomodação mais suave da produção e da demanda no mercado interno. Outros economistas, no entanto, mantêm a avaliação inicial: o BC pode ter-se precipitado em 31 de agosto e o novo corte da Selic foi mais uma imprudência. Ainda não está claro, segundo os críticos, como a piora do quadro internacional afetará a economia brasileira. A produção industrial já perdeu impulso no Brasil, mas a demanda interna continua forte e isso se

O mercado recebeu sem susto o novo corte de juros, mas ainda aposta numa inflação elevada reflete no conjunto dos preços, especialmente dos serviços. A desaceleração do setor industrial é explicável em grande parte pela perda de competitividade dos produtores nacionais. O câmbio e outros fatores contribuíram para isso. Mas o movimento de compras continuou vigoroso e, por enquanto, não há sinais de arrefecimento. Mesmo o arrefecimento da economia chinesa, principal mercado para as matérias-primas brasileiras, ainda é muito moderado. No terceiro trimestre, o PIB chinês foi 9,1% maior do que um ano antes. Além disso, a evolução das cotações dos produtos básicos tem sido desigual. Caíram, por exemplo, os preços de alguns produtos agrícolas, mas a soja continua valo-

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Kadafi é capturado e morto na Líbia

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Revolução encerra regime de 42 anos do ditador líbio e abre as portas para a democracia no país ● “Kadafi estava com os seus dias contados. No mundo multipolar do século 21, não há mais espaço para tiranias.” PAULO JOSÉ VALENTE

● “Uma execução sumária. Que barbárie! Achei que tínhamos saído da Idade Média.” ANTONIO LOCATELLI

HÁ 812 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Parabéns ao bravo povo líbio! Infelizmente, muitas vidas se perderam até a vitória.” RENATO FERRO

rizada. É cedo para saber se o mercado internacional produzirá alguma desinflação no Brasil. Enfim, é preciso levar em conta os gastos públicos. Não houve moderação neste ano nem há indicação de algum freio em 2012. A proposta orçamentária aponta nova expansão do custeio e, além do mais, o compromisso com a Copa do Mundo forçará uma aceleração do investimento público. A pergunta é inevitável: ainda vigoram as metas de inflação? Não se trata de saber se os preços ao consumidor em 2012 subirão4,5%oupoucomais.Trata-se de saber se o BC continua comprometido com esse objetivo. Se não estiver, a dúvida mais importante já não será sobre os números finais da inflação no próximo ano, mas sobre o futuro da política anti-inflacionária. O fato de 2012 ser um ano de eleições municipais justifica os temores. A dúvida sobre o regime de inflação ganha um peso especial porqueaindanãoestáclaroonovo relacionamento do BC com a PresidênciadaRepública eo Ministério da Fazenda. Houve rumor sobre o uso, no mercado, de informação privilegiada sobre a decisãodoCopomde31 deagosto. Esse rumor só teria sentido se a redução dos juros estivesse decidida por antecipação ou se umalto funcionário tivesse falado sobre o assunto com grande segurança. As suspeitas podem serinfundadas,masnão resultaram de mera invencionice. A eficácia de qualquer BC depende crucialmente de credibilidade. Ninguém deveria desprezar esse dado.

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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 22 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Notas & Informações

O incerto futuro da Líbia Como se o acaso quisesse pôr os fatos históricos em pratos limpos, a última incursão da Aliança Ocidental na Líbia pulverizou a já desacreditada versão de que a Otan se engajou no país apenas para impedir que o ditador Muamar Kadafi cumprisse a ameaça de massacrar as populações dos redutos da insurgência contra a sua tirania de quase 42 anos. Invocando justificadas preocupações humanitárias, a resolução do Conselho de Segurança (CS) aprovada por 10 votos e 5 abstenções (entre elas as do Brasil e da Alemanha), autorizou em março o abate de aviões líbios na zona de exclusão aérea a ser imposta “por todos os meios necessários”. A expressão não tardou a assumir o sentido desejado por seus autores. Primeiro, com os bombardeios

às tropas do regime a caminho dos bastiões inimigos. Em seguida, com as investidas contra as casamatas de Kadafi em Trípoli. Depois, coordenando os seus ataques com as sortidas rebeldes às quais davam apoio logístico. Sem isso, os insurgentes não teriam tomado praticamente todo o território líbio e, por fim, a desguarnecida capital, onde o Conselho Nacional de Transição (CNT) procura harmonizar as diferentes facções e tribos que se ergueram contra Kadafi. Por todos os meios necessários, portanto, a França, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, nessa ordem, permitiram que o país se livrasse de um déspota desvairado, que passou 42 anos fomentando o terrorismo, incluindo ataques a bases militares na Europa e a infame explosão de dois jatos comerciais, um sobre o Níger e outro sobre a Escócia, matando 440 pessoas. Mas ele já tinha tro-

cado de lado: desistiu de ter a bomba atômica, passou a esmagar com a mão dura de sempre os fundamentalistas islâmicos, aliou-se aos EUA contra a Al-Qaeda e abriu o petróleo líbio à ENI italiana, à Total francesa e à BP do Reino Unido, entre outras gigantes do setor. Em 2007, armou sua tenda, literalmente, em um jardim do centro de Paris e fechou negócios biliardários com o presidente Nicolas Sarkozy. No mesmo ano, recebeu na sua própria tenda em Trípoli o então premiê britânico Tony Blair, que voltou com a autorização para que as Forças Especiais do Reino Unido pudessem treinar nos desertos líbios. E nesse estado de graça estavam as relações dos líderes democratas do Ocidente com o tirano homicida quando um vendedor ambulante tunisino se imolou em protesto contra o déspota Zine Ben Ali. Surgia a Primavera Árabe – e tudo saiu do lugar.

A reação pavloviana de Sarkozy foi defender seu aliado em Túnis. O britânico David Cameron, de início, fez o mesmo em relação ao ditador egípcio Hosni Mubarak, enquanto o americano Barack Obama ficava em cima do muro. Mas a rua árabe os levou a corrigir o rumo. Quando o fogo se alastrou para a Líbia, deram-se conta de que estavam diante de uma oportunidade excepcional para resgatar os interesses estratégicos e econômicos de seus países, e a sua imagem política nas antigas colônias ou áreas de influência. Bastava agir, dessa vez, no lado certo. Foi o que terminaram de fazer na quintafeira, quando caças franceses e americanos destruíram uma caravana de veículos que tentavam escapar de Sirte, terra natal de Kadafi, invadida pelos rebeldes. Ele foi um dos poucos a escapar, escondendo-se numa tubulação. Encontrado, foi sumariamente executa-

do, enquanto a multidão em volta uivava. No Iraque, Saddam Hussein pelo menos teve direito a julgamento. A selvageria em Sirte indica que será mais do que “tortuoso”, como até Obama admitiu, o caminho da Líbia para a democracia – se for possível chegar a ela na Líbia. Ajuntamento de tribos com mais rivalidades do que pontos em comum, a Líbia carece de líderes e forças políticas nacionais. Faltam-lhe ainda cultura cívica e experiência para construir as instituições livres que o país nunca teve em 60 anos de vida independente. Na esfera internacional, a forma brutal como Kadafi terminou os seus dias reaviva o debate sobre as intervenções “humanitárias” armadas em conflitos internos com feições de guerra civil. É um problema de legitimidade e também de coerência. Por que na Líbia de Kadafi sim, e na Síria de Assad não?

O combate às enchentes

Os protestos dos juízes federais

á nove meses, no auge das chuvas de verão na capital, o governador Geraldo Alckmin e o prefeito Gilberto Kassab anunciaram um plano de R$ 800 milhões para o combate às enchentes. Entre as obras prometidas estavam a instalação de três turbinas para aumentar em 60% a capacidade de bombeamento do Rio Pinheiros para a Represa Billings, a canalização de córregos e a construção de dois piscinões, sendo um na divisa de São Paulo e São Caetano. Também faziam parte dos planos a construção de um sistema de canais entre São Paulo e Guarulhos para desassoreamento do Rio Tietê, a criação do Parque Várzeas do Tietê, com a remoção de 5 mil famílias que vivem nas margens do rio, e a retirada de 4,18 milhões de metros cúbicos de resíduos da calha do rio. Até agora, porém, o governo do Estado gastou apenas R$ 155 milhões dos R$ 658 milhões destinados à prevenção das inundações e a Prefeitura desembolsou só R$ 57,1 milhões – 8,3% do previsto. É evidente que um pacote de obras como esse não pode ser executado em tão pouco tempo, mas, ao utilizar menos de 10% do previsto para investimentos no ano em obras antienchentes, os governos municipal e estadual negam aos paulistanos qualquer esperança de alívio, a curto prazo, dos transtornos causados pelas inundações cada vez mais frequentes e devastadoras. Nos últimos

falta de sensibilidade política demonstrada por alguns setores da magistratura, quando defendem seus benefícios funcionais e interesses corporativos, está enodoando a imagem da categoria perante a opinião pública. As últimas demonstrações de inabilidade foram dadas pela Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), que representa 2 mil magistrados. Há duas semanas, a Ajufe fez duras críticas à corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, que questionou o acordo firmado pela associação com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para a promoção de um torneio na Granja Comary. O torneio de futebol da magistratura estava marcado para 12 e 13 de outubro e, pelo acordo, a CBF cederia o campo e arcaria com despesas de hospedagem. O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, está sendo acusado de enriquecimento ilícito e de lavagem de dinheiro, razão pela qual a ministra Eliana Calmon afirmou que os juízes federais não podem receber favores de quem é parte em processo judicial, ameaçando tomar providências contra a Ajufe, caso o torneio fosse realizado. A direção da entidade alegou que os juízes federais não receberiam vantagens financeiras da CBF e que a Ajufe é uma entidade associativa privada, não podendo ser investigada pelo CNJ, mas o torneio não foi realizado. No último fim de semana, a Ajufe anunciou que suspenderá as atividades da Justiça Fede-

H

WILSON SCARPELLI wiscar@estadao.com.br Cotia

Heranças malditas

De tanta roubalheira, tanta picaretagem, tanta corrupção, tanta farra das ONGs, tanta impunidade, tanta imoralidade – heranças malditas do governo Lula –, e lembrando que neste governo já caíram quatro ministros por corrupção e um quinto está prestes a cair, a sociedade brasileira não está aguentando mais. Logo, logo, quem cai é a presidente... JOSÉ WILSON DE LIMA COSTA jwlcosta@bol.com.br São Paulo

Legado

É verdade que o ex-presidente Lula, bancando e ampliando políticas iniciadas na gestão FHC, que

dias, chuvas moderadas já foram suficientes para provocar alagamentos em vários pontos da cidade, que passou o fim de semana em estado de atenção. A cada verão, para acalmar a população chocada pelas tragédias dos deslizamentos e pelas grandes perdas causadas pelas enchentes, autoridades se unem e anunciam grandes planos e investimentos recordes para a solução do problema. Ao fim do verão, constata-se que muito pouco foi feito, que a mancha urbana continua se expandindo, que as áreas de impermeabilização se tornam cada vez maiores e que até

Tudo indica que o trabalho preventivo está mais uma vez atrasado neste ano mesmo as operações mais simples, como limpeza de bocas de lobo, não recebem recursos suficientes. Em entrevista ao Estado, o secretário de Estado de Saneamento e Recursos Hídricos, Edson Giriboni, afirmou que, “no primeiro ano de governo, é normal ter mais planejamento que execução”. Segundo ele, no ano que vem haverá um grande canteiro de obras na cidade. Mas a verdadeé queatéo planejamentoestá atrasado,pois nem ocronograma da revisão do Plano de Macrodrenagem da Região Metropolitana, prometida para este ano, foi cumprido. A necessidade de construção de mais piscinões na região metropolitana é ponto pacífico há décadas. Nesse caso, portanto,

ele tanto adora execrar, colaborou, sim, para que um número considerável de famílias deixasse a pobreza e passasse à classe média. Esse talvez seja um dos seus poucos méritos. De resto, o que mais ele deixou? Vamos ver: é ou não é verdade que as estradas federais em ruínas são herança de Lula? Que a persistência da baixa qualidade das escolas da rede pública é também herança dele? Igualmente, a continuidade da carga tributária escorchante? E ainda, claro, o número aparentemente sem fim de falcatruas que vicejam nestes mais de oito anos e meio de PT – estão aí os seus antigos ministros Antônio Palocci, Wagner Rossi, Alfredo Nascimento e Orlando Silva, entre tantos outros companheiros envolvidos em tantos outros escândalos, que não me deixam mentir – é ou não é herança de Lula? HENRIQUE BRIGATTE hbrigatte@yahoo.com.br Pindamonhangaba

o planejamento já não deveria mais ser o motivo de atraso das obras. Numa área urbana tão ampla,emquetodooescoamento flui para um único canal, o Rio Tietê, é preciso aumentar o volumedeáguaretidonosreservatórios. Para tanto, além de construirnovospiscinões,épreciso ampliar as áreas permeáveis, com pavimentos apropriados e jardins. As prefeituras da região metropolitana de São Paulo e o governo estadual deveriam coordenar suas ações de manutenção de bocas de lobo e galerias, controle de ocupação de várzeas e instalação de sistemas de alertaparasegurançadapopulação. Assim se evitaria a duplicação de esforços e a perda de recursos preciosos. Oproblemadasenchentesdeve estar sempre na agenda das autoridades, independentementeda estação. Durantetodo o ano, prefeituras da região metropolitana e o governo estadual deveriam, por exemplo, manter um trabalho de conscientização da população sobre o destino a ser dado ao lixo, que, descartado irregularmente, também favorece as enchentes. No início do século 20, São Paulotinhaapenas200milhabitantes. Hoje, ela integra uma região metropolitana com mais de 18 milhões de habitantes, dos quais 2,7 milhões vivem em favelas, cortiços e habitações precárias em áreas de risco. A ocupação desordenada da Bacia do Alto Tietê requer ações rápidas, radicais e contínuas para que a população possa ter um mínimo de segurança nas temporadas de chuvas.

“A juíza não vai expulsar o jogador que cometeu falta gravíssima no Segundo Tempo?” MÁRIO A. DENTE / SÃO PAULO, SOBRE AS DENÚNCIAS DE CORRUPÇÃO NO MINISTÉRIO DO ESPORTE dente28@gmail.com

“Enrolando, Orlando vai rolando” ROBERTO TWIASCHOR / SÃO PAULO, SOBRE DECLARAÇÕES DO MINISTRO EM SUA DEFESA rtwiaschor@uol.com.br

A

ral no dia 30 de novembro, para pressionar a Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados a aprovar o projeto de reajuste salarial do Judiciário. Alegando que a magistratura federal teve seus salários reajustados em 110% entre 2002 e 2010, enquanto a inflação no período foi de 56,7%, o governo pediu à sua bancada que travasse a tramitação do projeto. A suspensão das atividades judiciais coincidiria com a Semana Nacional de Conciliação. Organizado pelo CNJ, o objetivo do evento é estimular os brasileiros a substituírem o litígio judicial pela negociação, como for-

Pressões da Associação sobre o CNJ e sobre o STF por reivindicação de reajustes salariais ma de resolução de conflitos. Para a direção da Ajufe, a paralisação da Justiça Federal é uma forma de pressionar o Executivo, o Legislativo e o próprio Judiciário. “É ilusório e utópico pensar que conseguiremos algo ainda este ano com diálogos formais e sem pressão. A indignação está aumentando, é crescente, não estamos sendo ouvidos pelos demais Poderes. E, em especial, precisamos de maior empenho do presidente do STF”, diz o presidente da Ajufe, Gabriel Wedy. Ele também pretende que os 3,6 mil juízes trabalhistas apoiem o protesto. Além de prejudicar uma iniciativa do CNJ para desafogar o Judiciário, a paralisação das atividades da Justiça Federal –

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ONU pede inquérito sobre morte de Kadafi

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Alto Comissariado de Direitos Humanos quer apurar se ditador foi vítima de execução sumária ● “Seria muito mais civilizado se capturássemos Kadafi com vida e ele pagasse pelo que fez em uma penitenciária.” CARLOS ALBERTO DA SILVA

● “Se a ONU não pediu inquérito para apurar a morte de Bin Laden, por que quer investigar a morte de Kadafi?” OSWALDO ROBERTO RODRIGUES

HÁ 813 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Imaginar que a paz reinará na Líbia após plantarem tanto ódio e destruição é sonhar.” EROS JOSÉ ALONSO

e, eventualmente, da Justiça do Trabalho – será uma violência cometida contra cidadãos e trabalhadores justamente por quem tem a missão de assegurar os direitos fundamentais e garantir as liberdades públicas. Como se não bastasse, a Ajufe está planejando outra forma de protesto igualmente danosa para o interesse público. Para pressionar o governo a aumentar os salários dos juízes federais, a entidade propôs aos seus filiadosquepromovamumaoperação-padrão nas ações judiciais em que a União é parte. A ideia é suspender até o final de novembroa publicaçãodecitações eintimações referentes aos processos sob responsabilidade da Advocacia-Geral da União (AGU) quecorrem nasVaras Cíveis ede ExecuçãoFiscal.Comisso,asintimações e citações represadas seriam remetidas à AGU em bloco, em dezembro. A AGU é parte em3,7 milhõesde açõesnaJustiça Federal. Para Wedy, essa é uma forma “inteligente e efetiva de pressão”.Naprática,trata-sede pura chantagem.Pormaisqueopresidente da Ajufe prometa que as açõesquetratamdeaposentadoriasserãopoupadasdoprotesto, a suspensão das intimações e citaçõesprejudica, além da União, toda a sociedade. Por isso, o presidente do Conselho da Justiça Federal, Ary Pargendler, e o presidente do STF, Cezar Peluso, anunciaram que punirão os juízes que suspenderem o trabalho e classificaram a iniciativa da Ajufecomo“equívoco”.Narealidade, é mais do que isso – é uma agressão ao Estado Democrático de Direito.

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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 23 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

As trapalhadas com o IPI O governo promoveu duas trapalhadas, ao mesmo tempo, ao elevar o imposto cobrado sobre veículos com menos de 65% de componentes nacionais. Tornou o País vulnerável a contestações na Organização Mundial do Comércio (OMC) e, além disso, atropelou uma norma constitucional. Para corrigir este erro, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu até 15 de dezembro a vigência da nova alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O decreto de aumento só pode produzir efeitos 90 dias depois de publicado no Diário Oficial. Ao suspender a cobrança, o Tribunal concedeu uma liminar pedida pelo Democratas (DEM). Mas a decisão foi unânime e não há perspectiva de reconsideração.

O princípio da anualidade, válido, por exemplo, para o Imposto de Renda, não se aplica ao IPI. Neste caso, um aumento de alíquota pode produzir efeito no ano de publicação da lei ou decreto, mas não antes de 90 dias. A noção de anterioridade inclui um prazo razoável para a adaptação do contribuinte. “Em matéria tributária no Brasil, o princípio do nãosusto já seria bem-vindo, porque aqui a trepidação é permanente”, disse, durante o julgamento, a ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha. Ou falhou a assessoria jurídica do Ministério da Fazenda ou o ministro Guido Mantega preferiu desprezar os detalhes legais, quando se dispôs a elevar de 30 pontos porcentuais o imposto cobrado sobre veículos com menos de 65% de nacionalização. Ele até aceitou retardar a cobrança por 45 dias, mas apenas para atender a uma conveniência de sua política. Nesse intervalo, o governo deve sele-

cionar as empresas sujeitas à nova cobrança e aquelas poupadas, pelo menos temporariamente, com base em compromissos de nacionalização dos produtos. Tanto na elaboração do decreto quanto na decisão sobre como aplicálo prevaleceu, portanto, o voluntarismo como estilo da política econômica. Esse estilo predominou durante o período militar e nos primeiros anos da fase seguinte. Uma de suas consequências foi a criação de esqueletos financeiros e de processos movidos por milhares de cidadãos lesados por vários planos milagrosos. Ainda há processos abertos naquela época em curso na Justiça. Além disso, o voluntarismo resultou em desastres econômicos bem conhecidos – desorganização dos mercados, hiperinflação, crises de balanço de pagamentos e descrédito internacional. A reparação desses danos consumiu muito tempo e muito trabalho e

Só multar não resolve

O

aumento da arrecadação com multas de trânsito na cidade de São Paulo, entre 2008 e 2012, será de nada menos que 115%, se for confirmada a previsão para o ano que vem. Como nisso a Prefeitura não costuma falhar, pode-se dar como certo o salto de R$ 386,1 milhões para R$ 832,4 milhões. Nos últimos três anos, o aparelho fiscalizador continuou sendo ampliado e aprimorado. Nas ruas e avenidas da capital foram instalados 354 novos radares eletrônicos e 112 câmeras. O quadro de fiscais da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) ganhou 250 novos agentes e o Comando de Policiamento de Trânsito (CPTran) foi reativado. Mais 800 policiais foram colocados nas ruas. No entanto, a severa vigilância não tem resultado na redução do número de acidentes e de mortes, como seria de esperar. Nos últimos dois anos, a frota de veículos cresceu 7,9%, chegando a 7,1 milhões em julho, enquanto o número de mortes no trânsito cresceu 8,9%. No ano passado, uma pessoa se feriu a cada 20 minutos e uma morreu a cada 13 horas no trânsito de São Paulo. Tudo isso mostra que a punição descolada da educação e da melhoria da engenharia de tráfego não produz bons resultados. Alegam os responsáveis pelo trânsito que há uma relação entre o aumento da frota e o do número de acidentes. Desde 2008, a frota de São Paulo ganhou 1,2 milhão de novos veí-

et caterva: ladrões de sonhos infantis e que, por isso mesmo, hão de fazer de sua própria vida opressivos pesadelos. JOÃO GUILHERME ORTOLAN guiortolan@hotmail.com Bauru

Mais dinheiro para o ralo

Devolver R$ 30 mil gastos com a farra dos cartões corporativos e continuar com as regalias do governo foi moleza. Vamos ver agora, caso comprovadas as denúncias contra o ministro Orlando Silva, se os milhões desviados retornarão aos cofres da União ou serão simplesmente escoados pelo ralo. Eu aposto na segunda hipótese. E você, caro leitor? Como disse o Barão de Itararé, “certos políticos brasileiros confundem a vida pública com a privada”. SÉRGIO DAFRE sergio_dafre@hotmail.com Jundiaí

culos, entre carros, motos, ônibus e caminhões. Mas a situação seria certamente diferente se os novos motoristas tivessem melhor formação. O aumento da arrecadação é também, em parte, atribuído à lei que o prefeito Gilberto Kassab sancionou há quatro anos, instituindo o parcelamento de multas de trânsito em até 12 parcelas mensais para veículos registrados na capital. Na época, 800 mil veículos apresentavam multas pendentes num total de R$ 512 milhões. Apesar dessas facilidades, a Prefeitura colocou, desde abril, mais de 690 mil devedores de multas

Severo policiamento e grande aumento das multas não diminuem acidentes do trânsito na lista do Cadastro Informativo Municipal (Cadin). O controle do trânsito em São Paulo se baseia principalmente na punição do motorista infrator. A Prefeitura nada faz para estimular entidades não governamentais, empresariais, educacionais, técnicos e acadêmicos a adotarem iniciativas destinadas a promover o respeito às regras de trânsito, aos pedestres e ao meio ambiente. Reportagem publicada pelo Estado dias atrás mostrou que alguns estudiosos da questão defendem o rigor da fiscalização como um bom instrumento para reduzir o número de acidentes e mortes no trânsito. Luiz Célio Bottura, ombudsman da Campanha de Proteção

Injustiça

O que é roubo? O Código Penal brasileiro, em seu artigo 157, define: “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência. Pena: reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa”. Alguns políticos inteligentíssimos, possuidores de alta genialidade e grande iniciativa, associaram-se e se tornaram incorporadores. Com imenso talento, incorporaram bens públicos e alheios ao seu próprio patrimônio. Mas em suas ações não usaram ameaças nem violência. Apesar disso, foram acusados de roubo. Que grande injustiça! Seus acusadores não sabem distinguir entre o que é roubo e o que é incorporação... CHAFIK TANNURE São Paulo

nenhum governante brasileiro deveria esquecer esses fatos. Mas o voluntarismo voltou à moda em Brasília pelo menos desde o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e é hoje um dos principais componentes da política econômica, se não o principal. Ao elevar a alíquota do IPI sem levar em conta o prazo de 90 dias, o Ministério da Fazenda obviamente desprezou os cuidados em relação às normas nacionais. Mas descuidou também de outros detalhes básicos, ao negligenciar os conselhos de conhecedores das regras internacionais. Não parece ter havido consulta ao Itamaraty nem à Câmara de Comércio Exterior (Camex). Reservadamente, diplomatas brasileiros confessaram ter sido surpreendidos pela decisão sobre o IPI. Em Genebra, segundo relatos de jornalistas, a iniciativa do governo brasileiro causou espanto por seu primarismo.

Parceiros comerciais do Brasil já abriram discussão sobre o assunto na OMC, por enquanto sem recorrer a ações legais. Em princípio, todos preferem resolver os problemas por meio de entendimentos e da composição de interesses, mas a vulnerabilidade brasileira é evidente nesse caso, e o governo deveria ter consciência disso. Não há nada extraordinário nas trapalhadas com o IPI. São perfeitamente normais em governos com baixo padrão gerencial. Há muitos anos esse baixo padrão caracteriza a administração federal brasileira. Boa parte dos investimentos prometidos nunca sai da intenção por falta de projetos, ou ainda porque os projetos violam as normas financeiras definidas pelo próprio setor público. Enquadra-se bem nessa moldura a incapacidade de formular a sempre decantada política industrial. A incompetência pode ser polivalente.

O corporativismo na Justiça ao Pedestre da CET, afirma que o número de multas deveria ser até maior.Tendo emvista a péssima formação dos motoristas, o volume de infrações flagradas poderia de fato ser bem superior ao registrado. Por isso mesmo, as autoridades deveriam cuidar mais da capacitação para dirigir com segurança. Poderiam começar a fazer isso combatendo as fraudes e negligências em muitos centros de formação de motoristas, que ainda corrompem o sistema digital e vendem facilidades para motoristas incapazes de serem aprovados nos testes para obtenção de carteira de habilitação. Como bem lembra o engenheiro Flamínio Fichmann, em entrevista ao Estado, a CET erra ao se preocupar mais em punir os que descumprem o rodízio municipal, por exemplo, do que os que dirigem sob efeito de álcool ou drogas, desrespeitam semáforos e limites de velocidade. Autoridades de trânsito também obteriam melhores resultados se investissem em iniciativas capazes de reduzir o permanente conflito entre motociclistas e motoristas. Das 1.357 mortes em acidentes de trânsito no ano passado, 478 foram de motociclistas. Igualmente importante seria melhorar a sinalização e a pavimentação das vias, que deixam muito a desejar e respondem por grande número de acidentes. Finalmente, é preciso mudar o comportamento dos agentes da CET, sempre mais preocupados com o bloco de multas do que com a orientação do trânsito.

“A faxina não pode terminar, já que a cada dia aparece um lixo novo” ROBERT HALLER / SÃO PAULO, SOBRE AS DENÚNCIAS DE CORRUPÇÃO NO GOVERNO DILMA ROUSSEFF robelisa1@terra.com.br

“O PT não rouba nem deixa roubar. Mas, se for ‘por esporte’, tudo bem...” A. FERNANDES / SÃO PAULO, IDEM standyball@hotmail.com

A

pontado pela corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, como uma das cortes mais fechadas e resistentes às fiscalizações do País, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) acaba de dar mais uma demonstração do que poderá ocorrer caso o STF acolha o recurso impetrado pela Associação dos Magistrados Brasileiros, retirando do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a prerrogativa de julgar administrativamente magistrados acusados de desvio de conduta. As Justiças estaduais alegam que dispõem de corregedorias para fazer esse trabalho. Mas, como mostra Eliana Calmon, elas são lentas, ineptas e primam pelo corporativismo. Atualmente, 32 desembargadores respondem a sindicâncias e processos disciplinares no CNJ. Entre os desembargadores já condenados, um chefiava uma corregedoria. Ele foi acusado de desleixo, omissão e favorecimento. Municiando a corregedora nacional de Justiça com nova prova de corporativismo, o presidente do TJSP, desembargador José Roberto Bedran, acaba de propor oficialmente à Secretaria da Segurança Pública a assinatura de um “protocolo, convênio ou entendimento” para a criação da figura de um “delegado especial” encarregado de cuidar de ocorrências policiais que envolvam magistrados da Justiça paulista. A iniciativa foi anunciada esta semana, durante a sessão em que o tribunal discutiu a promoção ao cargo de desembargador do

juiz Francisco Orlando de Souza, que há duas semanas foi detido pela polícia sem carteira de habilitação e sob suspeita de dirigir embriagado. Depois de se envolver numa briga de trânsito, em São Bernardo, na frente do 1.º Distrito Policial da cidade, o magistrado foi detido, recusou-se a fazer o teste do bafômetro, discutiu com o delegado, que o acusou de ter dado “carteirada”, e acabou sendo escoltado por policiais civis até sua casa. A sessão do TJSP foi um festival de corporativismo. Os desembargadores elogiaram Souza, que terá de ser ouvido pela

Secretaria descarta a criação de ‘delegado especial’ para a magistratura Corregedoria-Geral da Justiça, e, além de desprezar o boletim de ocorrência, levantaram suspeitas sobre a conduta do delegado e dos investigadores que o prenderam por desacato. Finalmente, por unanimidade, promoveram o colega à última instância da Justiça estadual, pelo critério de antiguidade. EmSãoPaulo,osjuízes edesembargadoresjágozamdeumdireito que é negado aos cidadãos comuns. Quando se envolvem em algumincidentebanal,osmagistrados não podem ser conduzidos a delegacias de polícia e a ocorrênciatemdesercomunicada imediatamente ao Tribunal de Justiça. Juízes só podem ser presos em flagrante por outro juiz. Agora, além desse tratamento especial, a magistratura

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Cresce suspeita de execução de Kadafi

846

Corpos do ditador líbio e de seu filho viram atração turística em um açougue de Misrata ● “Isso é repugnante. Como é que se pode festejar a morte de alguém?” IVAN LIMA

● “Acho que ele morreu como um rato, o que me parece um fim digno de sua crueldade.” CÉLIO F. MEDEIROS

HÁ 814 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Suspeita? Ele aparece sendo capturado vivo e depois aparece morto com vários tiros. O que é isso senão uma execução?” MILTON DOS SANTOS

estadualquerodireitoa“delegadoexclusivo”.Segundoodesembargador Bedran, o tratamento diferenciado dado por um delegado exclusivo evitaria que as ocorrências policiais chegassem ao conhecimento dos meios de comunicação, evitando assim que eles publicassem reportagens “sensacionalistas” e “fatos distorcidos” que maculema imagem de seus colegas de ofício. “Não queremos evitar a divulgação de fatos, mas que eles sejam desvirtuados. Esse entendimentoentreo Tribunal deJustiça de São Paulo e a Secretaria da Segurança Pública vai levar a que se evitem esses incidentes (como adetençãodeumjuizacusado de dirigir alcoolizado e sem carteira) equecheguemaoconhecimento dos jornais e possam até ser explorados”, disse o presidente do TJSP. Em nota polida, porém firme, a Secretaria da Segurança Pública anunciou que informará mais rapidamente o tribunal das ocorrências policiais envolvendo magistrados, mas que não criará a figura do “delegadoespecial”nemrestringirá o trabalho da imprensa. “Não há que se confundir a observância da lei com a redução das atribuições funcionais dos delegados e tampouco cerceamento do trabalho da imprensa”, diz a nota. Éumfato insólito. Se nãoestivessem divorciados da realidade,preocupadosemprimeirolugar com interesses corporativos, os dirigentes da Justiça não estariam na constrangedora posição de terem de ouvir lições elementaresdedireito ministradas por delegados.

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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 23 DE OUTUBRO DE 2011

HUMOR TUTTY

tuttyvasques@estadao.com.br

ambulatório da notícia

A exumação de Van Gogh

TUTTY VASQUES ESCREVE TODOS OS DIAS NO PORTAL, DE TERÇA A SÁBADO NO METRÓPOLE E AOS DOMINGOS NESTE CADERNO.

versão de suicídio. Quem ainda hoje vive na dúvida se Van Gogh teria perdido a orelha num ataque de loucura ou numa briga feroz com Paul Gauguin ficou sabendo, com precisão, um pouco menos sobre essa espécie de Tim Maia dos impressionistas. A nova crônica sobre a morte do holandês esquizofrênico que coloria o sul da França conta que, em meados de 1890, aos 37 anos, ele saiu para beber com dois adolescentes e, já todo mundo de cara cheia, foi atingido no peito por um tiro disparado da arma enguiçada com que um dos rapazolas, vestido de vaqueiro, brincava com o outro. Pode? Ainda ferido, o artista teria inventado a versão do suicídio para livrar os amiguinhos de farra do julgamento. Por muito menos, convenhamos, o Vaticano pediu desculpas às vítimas de pedofilia praticadas por sacerdotes. Os meninos de hoje devem estar confusos sobre quem foi, na verdade, Vincent Van Gogh. Já se sabe que ele não cortou a orelha, não pintou a si próprio – mas a outro – em autorretrato e não se matou, ou seja, só falta descobrirem que ele nunca foi doido!

S

abe Deus quem teve o bom senso de não dar ouvidos ao juiz que,emmarço,autorizouaexumação do Tim Maia para averiguação de paternidade. Já basta essa compulsão que os historiadores da arte têm por desenterrar o Van Gogh aos pouquinhos. O pintor tem sido figurinha fácil no noticiário policial de época. Agora mesmo, quatro meses após as investigações que desmascararam um de seus autorretratos mais famosos – o rosto pintado, sabe-se agora, era do irmão, Theo –, uma nova biografia do artista assinada por gente séria (Steven Naifeh e Gregory White Smith têm no currículo um Prêmio Pulitzer no gênero) reabre o caso do pintor com outra maluquice daquelas: vítima de bala perdida, ele próprio teria induzido a polícia a acreditar na

Pauta internacional

A indiferença da imprensa com o destino do guarda-roupa de Muamar Kadafi abrange, na verdade, muitos outros detalhes pessoais da vida do ditador: que fim levaram, por exemplo, aquelas enfermeiras ucranianas que cuidavam do “cachorro louco”?

Francamente, a Dilma reclama de barriga cheia do serviço quando é obrigada a fazê-lo em seu ministério.

Mal menor

Hugo Chávez anunciou vitória sobre o câncer. Pena que, de resto, o presidente da Venezuela não tem cura, né?

Ato cívico

Só o que faltava

Desvio providencial

Ô, raça!

Para que não seja amanhã acusada de privatizar o Maranhão, a governadora Roseana Sarney estatizou a fundação que leva o nome de seu pai. Essas coisas a oposição não vê – ô, raça! Sempre à frente de seu tempo, o Rio de Janeiro resolveu adotar um sistema misto integrado de planos inclinados e teleférico no transporte projetado para a favela Rocinha. É o caminho mais curto para se esquecer o bondinho de Santa Teresa, né?

Ninguém merece!

Enfim, na enésima vez que Lindsay Lohan violou os termos de sua liberdade condicional, a corte de Los Angeles pegou pesado com a atriz condenada por furto de joia: faxina em necrotério.

Frases

A Polícia Federal investiga o comércio na Feira de Caruaru de bonecos de barro de Mestre Vitalino modelados com lixo hospitalar norte-americano desembarcado no porto de Suape. Tem gente no governo preocupada com o poder de fogo do tal acusador do esquema de propina no Ministério do Esporte: quem já foi comunista sabe que ex-militante do PCdoB é pior que ex-mulher. Ou não!

Bom pro ganso!

Como se não bastassem os planos de Barack Obama para sobretaxar os americanos endinheirados, a Califórnia decidiu proibir o foie gras. Isso quer dizer o seguinte: está cada vez mais difícil ser rico nos EUA!

Semáforo

“O acordo era para que eles tomassem providências, limpassem meu nome, e eu não denunciaria ao Ministério Público” JOÃO DIAS FERREIRA, policial militar, que denunciou o ministro do Esporte, Orlando Silva, por desvio de verbas no Programa Segundo Tempo

“Eu tô conversando com você na janela e tem uma piscina de 40 metros com cachoeira, é brincadeira? Agradeço ao povo por ter me dado esta vida de príncipe” RODSON LIMA, vereador de Taubaté (PP), pelo Facebook, falando do hotel de luxo em que está hospedado no Nordeste, durante um encontro do Legislativo

“Eles estão aí na Polícia Civil até hoje. Tinha sindicalista e tinha os analistas, os empresários, vou falar de um, ele era da aviação, trabalhava com o dr. Tuma”

“Não conseguia sentir meus braços e minhas pernas” JAQUELINE, jogadora de vôlei, sobre sua reação após o choque com a líbero Fabi na estreia do Brasil no Pan. A ponteiro sofreu concussão cerebral e fratura cervical

BAPTISTÃO/AE

CABO ANSELMO, ex-militar, entrevistado no Roda Viva, sobre aqueles que emprestavam apoio à perseguição aos guerrilheiros durante a ditadura militar

“Não imagino um monstro como Ahlam, que se orgulha em dizer que matou minha Malki, caminhando livre” ARNOLD ROTH, israelense, pai de Malki, de 15 anos, morta em atentado planejado pelo palestino Ahlam Tamimi, libertado com outros 476 palestinos em troca do cabo israelense Gilad Shalit

“Você está caminhando para ter apenas um mandato” STEVE JOBS, fundador da Apple, para o presidente Obama, no primeiro encontro que tiveram em 2010, segundo o biógrafo de Jobs, Walter Isaacson

ANDRÉ LESSA/AE

PEDRO TORRECILLAS, RUI SACRAMENTO E MARIANO FIORE (foto) Júri condena a 17 anos e 6 meses de prisão os três médicos acusados de retirar rins de pacientes vivos em Taubaté para usá-los em transplantes. Eles poderão continuar exercendo a profissão. REUTERS

FRANÇA

Preocupada com o custo do resgate aos países da zona do euro, a agência Moody’s ameaça rebaixar a nota AAA da dívida francesa. Com o anúncio, os juros dos títulos da França atingiram recordes. AFP

“PC do B não vai piscar primeiro”

“Avisem a tampa que gostosa tem que ter peito. Tá parecenu um tronquim (sic)”

RENATO RABELO, presidente do PC do B, aguardando conversa com a presidente para saber se Dilma tiraria o Ministério do Esporte das mãos do partido

LUANA PIOVANI, atriz, mandando recado pelo Twitter para Carolina Dieckmann, que faz a personagem Teodora na novela Fina Estampa

e sim compensados os dias parados no máximo até 15/12. Eventual saldo após esse período será anistiado.

cam o cancelamento de 42 voos no Aeroporto Salgado Filho. A nuvem foi visível em Porto Alegre e região metropolitana, na serra do nordeste e no litoral norte do Estado. Finas camadas de fuligem cobriram carros e casas em Canela, Gramado, Canoas, Osório e Xangri-Lá. A nuvem foi percebida também no litoral de Santa Catarina. Meteorologistas afirmam que desde 1993 não era registrada uma alteração climática tão significativa relacionada a um vulcão.

THIAGO PEREIRA NADADOR

Com a vitória no revezamento 4x100 m medley, Thiago é o brasileiro com mais medalhas de ouro em Pan-Americanos, com um total de 12, ultrapassando o mesa-tenista Hugo Hoyama, que tem 10.

O que passou DOM. 16/10

SIP critica abusos contra a imprensa no Brasil A Sociedade Interamericana de Imprensa pede às autoridades brasileiras “o máximo esforço e agilidade na investigação de assassinatos de jornalistas”, para eliminar “o incentivo proporcionado pela impunidade”. O apelo é parte de uma das 15 resoluções adotadas no encerramento da 67.ª AssembleiaGeral da entidade, que ocorreu no Peru, como reação às quatro mortes de jornalistas nos últimos seis meses no País. Outro item da resolução é dirigido ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e trata da censura judicial ao Estado. A entidade pede ao CNJ que adote “medidas para restabelecer a liberdade de imprensa e informação, violentadas pela decisão do Poder Judiciário, que segue impedindo por mais de dois anos que o jornal O Estado de S. Paulo possa publicar informações relacionadas à Operação Boi Barrica/ Faktor, da Polícia Federal”.

SEG. 17/10

Polícia encontra galpão com 15 t de lixo hospitalar A Polícia Civil arromba em Caruaru, a 130 km do Recife, um galpão repleto de material semelhante ao encontrado em dois contêineres interceptados na semana passada pela Receita Federal

no Porto de Suape, Pernambuco. O galpão tem o mesmo nome fantasia – Império do Forro de Bolso – da empresa Na intimidade Ltda., investigada por importação de lixo hospitalar dos EUA, mas CNPJ diferente. São 15 t de lençóis sujos com as logomarcas de vários hospitais americanos, apreendidas num galpão de 1.200 m. Há indícios de pelo menos dois crimes: contrabando e uso de documento falso.

Israelense é trocado por palestinos

AMR NABIL/AP

TER. 18/10

Bancários retornam ao trabalho após greve Depois de 21 dias de paralisação, assembleias de bancários realizadas em todo o Brasil decidem pelo fim da greve. A maioria dos funcionários aceitou a proposta feita pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) de reajuste salarial de 9%. Os bancários conquistaram valorização do piso da categoria em 12% (4,3%de aumento real) e melhorias na participação nos lucros e resultados. O acordo estabelece uma regra de aviso prévio proporcional maior que o da nova legislação sobre o tema, que determina o pagamento de três dias adicionais a cada ano trabalhado. Para até cinco anos de trabalho, os bancários receberão 60 dias de aviso prévio; de 5 a 10 anos, 75 dias; de 10 a 20 anos; 90 dias; mais de 20 anos, 120 dias. O acordo garantiu que não será descontado nenhum dia dos grevistas,

QUA. 19/10

Em Paris, Carla Bruni dá à luz uma menina O cabo Gilad Shalit é solto pelo Hamas em troca da libertação de 1.027 prisioneiros palestinos. Na primeira leva, Israel liberou 477, dos quais 42 não tiveram concedido o direito de retornar aos territórios palestinos e receberam exílio na Síria, Turquia, Catar e Jordânia. O grupo que foi obrigado a partir para o exterior é formado pelos “militantes mais perigosos”, segundo militares israelenses.

Cinzas de vulcão do Chile voltam a afetar voos As cinzas do vulcão chileno Puyehue chegam ao Rio Grande do Sul e provo-

A primeira-dama francesa, Carla Bruni, dá à luz uma menina, batizada de Giulia, em Paris. No momento do parto o pai e presidente francês, Nicolas Sarkozy, estava na Alemanha. Carla tem um filho de 10 anos, Aurélien, fruto da relação com um professor de filosofia. Sarkozy é pai de três rapazes: Pierre, de 26 anos, e Jean, de 25, com a primeira mulher, Marie-Dominique Culioli; e Louis, de 14, com a executiva Cécilia Ciganer-Albéniz.

EXPEDIENTE EDITORA EXECUTIVA: LAURA GREENHALGH. EDITORA: MÔNICA MANIR. EDITORES ASSISTENTES: CHRISTIAN CARVALHO CRUZ E IVAN MARSIGLIA. REPÓRTER: CAROLINA ROSSETTI. PREPARADOR DE TEXTOS E REVISOR: ROBERTO MUNIZ. DIRETOR DE ARTE: FÁBIO SALES. EDITORA DE ARTE: ANDREA PAHIM. DESIGNER: JUSSARA GUEDES

QUI. 20/10

Grupo separatista ETA abandona a luta armada O grupo separatista basco ETA (Euskadi Ta Askatasuna, “Pátria Basca e Liberdade”) anuncia que abandonou definitivamente a luta armada, segundo o jornal Gara, canal habitual dos comunicados do grupo. A ETA, que matou mais de 850 pessoas em seus 50 anos de história a favor de um País Basco independente, no norte da Espanha e sudoeste da França, estava enfraquecido pela repressão policial, com a detenção de vários de seus dirigentes mais importantes, e pelo aumento do apoio basco à saída política. A ETA também se encontrava havia vários meses sob pressão de seu braço político, o Batasuna, para anunciar o cessar-fogo.

SEX. 21/10

Obama anuncia fim da guerra no Iraque

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anuncia a retirada total dos militares americanos que combatem no Iraque até o fim do ano. A medida põe fim a quase nove anos de guerra. Obama afirmou que os dois países entraram numa “nova fase”, que será “um relacionamento normal entre nações soberanas, uma parceria baseada em interesses e respeito mútuos”.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 24 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Incentivos perdulários O governo federal deverá destinar no próximo ano R$ 146 bilhões a atividades, empresas e setores por meio de incentivos fiscais. Esse valor corresponderá a quase um quinto da receita prevista. Em 2002, correspondia a 11,6%. Desde o primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, a distribuição desse tipo de benefícios cresceu muito mais que o Orçamento-Geral da União e muito mais, também, que a economia nacional. Em princípio, deveria ter ajudado a economia a expandir-se e a modernizar-se. A expectativa desses bons efeitos geralmente justifica a concessão de estímulos custeados pelo Tesouro, isto é, pelo contribuinte. Essa alegação é usada mesmo quando se trata de mera distribuição de favores. Serve pa-

ra manter as aparências. Mas terão esses incentivos contribuído, de forma significativa, para tornar a produção brasileira mais eficiente e mais moderna? A resposta, de modo geral, é negativa. Então, o enorme volume de benefícios outorgado a empresas e setores selecionados resultou basicamente em desperdício de recursos federais – um desperdício previsível, na maior parte dos casos, e explicável por um estilo voluntarista de gestão. “Os incentivos são cada vez mais usados, mas são medidas pontuais, sem planejamento de longo prazo, e sua eficácia é questionável”, disse ao Estado o consultor da Câmara dos Deputados Marcelo Sobreiro Maciel, autor de um estudo sobre os estímulos fiscais. O controle desse tipo de gasto é insuficiente, segundo o consultor, porque os critérios são mal definidos e as informações fornecidas pelo Exe-

cutivo são insuficientes desde a apresentação da proposta de lei orçamentária. No Congresso, há pouca ou nenhuma resistência a essa distribuição de favores. Ao contrário: a tendência dos parlamentares é ampliar a lista dos beneficiários. Técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) confirmam as avaliações negativas. Renúncias fiscais devem custar ao Tesouro, neste ano, R$ 137,2 bilhões, segundo um levantamento recémdivulgado. Esse total inclui incentivos a setores e a empresas e também benefícios destinados à “área social”, calculados em R$ 43,5 bilhões. Os critérios para esses gastos “sociais” – tecnicamente, uma renúncia é um gasto – são pouco claros e, além disso, há pouco debate sobre essas políticas. São pouco claros, também, os critérios seguidos para a concessão de benefícios fiscais a atividades, em-

presas e setores. Os benefícios para a economia nacional são no mínimo discutíveis, segundo análises produzidas pelo pessoal do Ipea. A chamada Lei do Bem, por exemplo, parece ter sido um fracasso como estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologias. Na indústria de transformação, 70,3% dos gastos desse tipo, em 2008, foram realizados nos setores automobilístico, aeronáutico e de petróleo, já empenhados, tradicionalmente, na produção, na absorção e na adaptação de tecnologias. Se a intenção dos autores da lei era envolver mais indústrias nessas atividades, o resultado foi decepcionante. Também a Lei de Informática produziu efeitos muito menores que os pretendidos, segundo avaliação realizada no ano passado pela Unicamp e pelo Ministério de Ciência e Tecnologia e citada pelo Estado. De acordo com o relatório, os incentivos “não têm levado a uma maior partici-

pação da indústria brasileira no mercado global de tecnologia da informação e comunicação”. Também não têm impedido o crescimento do déficit comercial do setor nem têm resultado em aumento do número de publicações acadêmicas na área. Algumas conclusões parecem claras. O governo brasileiro tem sido incapaz de formular com eficiência e realismo políticas de desenvolvimento setorial. A concessão de incentivos tem resultado, em grande parte, de mero voluntarismo e de um intervencionismo gratuito. As medidas enfeixadas no Plano Brasil Maior, confirmam esse diagnóstico. Enquanto se desperdiça dinheiro com incentivos mal concebidos, a maior parte das empresas continua esmagada pela tributação irracional e pelos custos associados à infraestrutura deficiente e a outras desvantagens desconhecidas de seus concorrentes.

O TST muda sua jurisprudência

As concessões dos aeroportos

Tribunal Superior do Trabalho (TST) começou a colher os frutos da decisão, tomada no início do ano, de adequar sua jurisprudência a uma realidade econômica e empresarial cada vez mais complexa. No primeiro semestre, a Corte suspendeu suas atividades durante uma semana, para que seus 27 ministros aparassem divergências doutrinárias em questões de grande interesse para empregados e empregadores. E, em seguida, inspirando-se numa bem-sucedida experiência do Supremo Tribunal Federal, convocou audiências públicas para discutir essas questões com representantes de sindicatos trabalhistas e entidades empresariais, do Ministério do Trabalho, do Ministério Público e da OAB. O que levou o TST a promover consultas com os setores interessados, para embasar os julgamentos dos casos mais polêmicos, foram as discussões sobre o alcance da subcontratação de mão de obra. Para as entidades empresariais, a terceirização permite a redução dos custos trabalhistas, aumentando a eficiência e a competitividade da iniciativa privada. Já as centrais sindicais se opõem a toda e qualquer forma de subcontratação, alegando que ela provoca desemprego, reduz o nível médio dos salários por categoria profissional e não assegura aos terceirizados todos os benefícios da legislação trabalhista. Chamada a arbitrar o conflito, a Justiça

Secretaria de Aviação Civil (SAC) corre contra o relógio para a realização dos leilões de concessão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília, que, marcados para 22 de dezembro, já se admite que podem ser adiados. Antes mesmo de decorridos os 30 dias de consulta pública do edital, que pode sofrer alterações, a SAC apresentou na semana passada as linhas gerais dos estudos econômico-financeiros para a outorga dos três aeroportos, para apreciação pelo Tribunal de Contas da União. Vencida essa etapa, são previstos 45 dias entre a publicação do edital definitivo e os leilões. Mas há ainda muitas dúvidas a esclarecer, principalmente no tocante aos investimentos que caberão à Infraero. Informa-se que as concessionárias terão de investir R$ 4,2 bilhões até dezembro de 2013. Como foi estabelecida uma participação de até 49% da Infraero nas empresas que administrarão os aeroportos, não está claro qual será de fato a parcela da estatal e onde ela irá buscar o dinheiro. A Infraero se destaca pela lentidão com que utiliza as dotações orçamentárias que recebe. Segundo informação do portal Contas Abertas, com base em dados do Ministério do Planejamento, dos R$ 2,2 bilhões de recursos autorizados pelo orçamento deste ano para investimentos pela empresa, ela utilizou apenas R$ 388,2 milhões até agosto, valor que corresponde a 17,5% do total.

O

resposta é sempre a mesma: “A liberação depende da boa vontade do juiz”. Nossa Justiça ainda não está aparelhada para agir com mais rapidez? Terei de esperar mais 22 anos? Já estou com 72! JOSE MASCHIETTO SOBRINHO jmaschiettosobrinho@gmail.com São Paulo

Marisco

Aproveitando a oportunidade da missiva do leitor sr. Corinto Luis Ribeiro (15/10) – que espera esclarecimento, “por quem tiver a responsabilidade”, sobre como funcionam as listas dos precatórios alimentares –, também sou portador de doença grave (câncer) e, portanto, tenho prioridade no recebimento. Para isso tive de juntar vários documentos, e não preciso provar que estou vivo, pois todos os anos tenho de fazer declaração de vida. Mas o tempo passa e até agora não recebi o

do Trabalho decidiu que podem ser terceirizados os trabalhadores que atuam nas atividades-meio, como, por exemplo, faxina, segurança e alimentação, mas não nas atividadesfim de uma empresa. Esse entendimento prevaleceu durante anos. Mas, com o avanço das tecnologias de comunicação, as concessionárias de serviços básicos e os sindicatos trabalhistas passaram a discutir se as atividades de call center seriam atividade-meio ou atividade-fim nos setores financeiro, de seguros, de telefonia e de informação. Nas Varas Trabalhistas é cada vez maior

Com base em ampla e inédita consulta pública, busca sintonia com o mercado de trabalho o número de processos impetrados por operadores de telemarketing, pedindo a equiparação de sua jornada de trabalho com a dos telefonistas. Os operadores de telemarketing trabalham oito horas por dia, enquanto a jornada dos telefonistas é de seis horas. Dada a abrangência da matéria, entidades empresarias de outros setores econômicos, como a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica, encomendaram estudos técnicos e pareceres jurídicos a economistas, especialistas em tecnologia, ex-ministros do Trabalho e ex-ministros do Supremo Tribunal Federal, alegando que o desenvolvimento das telecomunicações teria tornado inócuas a distinção entre

que é meu de direito, tampouco conseguem dar-me uma satisfação, objetiva e clara, de quanto tempo terei de aguardar. Nós, aposentados e pensionistas da Prefeitura, não temos direito, na visão do prefeito, a reajuste nem paridade com os funcionários da ativa. Nossos proventos estão congelados há mais de dez anos, pois os reajustes são feitos por categoria. Exemplo: prefeito, secretários, vereadores, médicos, guardas metropolitanos. Os coveiros e os operacionais não tiveram reajuste. Finalmente, conforme a PEC do Calote, estou sujeito a uma negociação unilateral imposta pela Prefeitura, aguardando a vontade do Executivo, pois o Judiciário vem a reboque dele. Estou entre as ondas e o rochedo, sou um marisco. O atual alcaide fundou um partido, mas afundou a vida dos funcionários. SEVERINO NEVES BATISTA FILHO bat.filho@hotmail.com São Paulo

atividade-meio e atividade-fim e a jurisprudência firmada com base nessa distinção. Com base nas audiências públicas, quando mais de 50 técnicos e acadêmicos se manifestaram a respeito da subcontratação de mão de obra, o TST, que até então considerava o call center uma atividade-fim das empresas de telefonia, começou a rever seu entendimento. Invocando argumentos apresentados nas audiências públicas, a 7.ª Turma, por exemplo, autorizou a Oi a terceirizar seu call center. O relator Ives Gandra da Silva Martins Filho alegou que o telemarketing é um instrumento para a venda de serviços e lembrou que as leis que regulamentam os serviços essenciais admitem subcontrataçãode mão de obra. Também afirmou que um novo aspectoaseravaliado pelaJustiça do Trabalho nos casos de terceirização é o local da prestação do serviço. “O local da prestação do serviço passa a ser um elemento diferenciador. O que não se pode admitir é que pessoas trabalhem ombro a ombro na mesma empresa, fazendo o mesmo tipo de serviço, sendo que uma é contratada diretamente e outra não”, disse ele. Elaborada com base numa ampla e inédita consulta aos interessados,essamudançadeentendimento mostra que o TST vem procurando adequar-se à evolução do mercado de trabalho, por causa dos avanços da tecnologia e da diversificação do setor de serviços. Essa é uma iniciativa que deve servir de exemplo para os demais tribunais do País.

“Mico-leão-dourado, jacaré-de-papo-amarelo e ministros incorruptíveis, espécies em extinção no Brasil” FILIPE LUIZ RIBEIRO SOUSA / SÃO CARLOS, SOBRE A CORRUPÇÃO NO GOVERNO DILMA ROUSSEFF filipelrsousa@yahoo.com.br

“A corrupção no governo lulopetista está nos vencendo pelo cansaço” FRANCISCO JOSÉ SIDOTI / SÃO PAULO, IDEM fransidoti@gmail.com

A

A assessoria de imprensa da estatal alega que o grosso dos investimentos é feito no segundo semestre, citando obras programadas para este ano, entre as quais só uma será realizada nos três aeroportos que vão a leilão – a terraplenagem para a construção do terceiro terminal de passageiros de Guarulhos. Ainda segundo a assessoria, os investimentos previstos que não tenham sido executados neste exercício “serão executadospelosfuturosconcessionários, que começarão a atuar em 2012”. A presunção é de que, sendo sócia,aInfraeroparticipedosin-

O edital lançado para consulta pública suscita muitas dúvidas que exigem esclarecimento vestimentos na mesma proporção em que participa do capital. Neste caso, teria de desembolsar, nos três aeroportos que vão a leilão, R$ 2,058 bilhões até dezembro de 2013, ou seja, R$ 1,029 bilhão por ano, a metade, aproximadamente, de seus investimentos totais orçados para este ano para obras em todos os aeroportos do País. E, se a Infraero não participar com49% dos investimentosque estão sendo transferidos para 2012/2013,asconcessionáriasterão de arcar com a maior parte – financiada com recursos a juros baixosdoBNDES,provavelmente –, além de pagar os preços da outorga, fixados em R$ 2,3 bilhõespara Guarulhos,R$521 milhões para Viracopos e R$ 75 milhões para Brasília. Esses valo-

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Repórter do ‘Estado’ vira fiscal do Enem

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Jornalista é recrutado na porta de faculdade para cobrir vaga e recebe treinamento em duas horas ● “A aplicação do Enem é um reflexo do descaso do governo para com a população.” ALINE TAVARES

● “Não deveríamos crucificar apenas o Inep, mas especialmente as universidades que não seguiram as orientações.” EDUARDO MARQUES

HÁ 815 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Os problemas foram exagerados. Isto não é nada diante da grandeza do exame.” WARLEY FERREIRA DIAS

res poderão ser parcelados pelo prazo da concessão, fixados em 20 anos (Guarulhos), 25 anos (Brasília) e 30 anos (Viracopos), com correção pelo IPCA. Estima-se que, ao longo dos períodos de concessão, os investimentos deverão alcançar R$ 17,8 bilhões. Além disso, investimentos nosaeroportosaserem“privatizados” teriam de ser feitos pelas empresas de acordo com o cronograma para não incorrerem emmultas“adequadamentesalgadas”, como disse o ministro daAviaçãoCivil,WagnerBittencourt. Presumivelmente, a Infraero seria solidária nessas penas pecuniárias. Como se não bastasse, as empresas às quais caberá a gestão dostrêsaeroportosterão dedestinaraoFundoNacionaldeAviaçãoCivilumporcentualdareceitabrutafixadoem2%paraBrasília, 5% para Viracopos e 10% para Guarulhos. Se o movimento de passageiros superar as estimativas oficiais, esses porcentuais poderão ser aumentados. Para cobrir tudo isso, a taxa de retorno das concessões teria que ser bastante elevada. Os estudos da SAC, contudo, preveem um retorno anual de 6,46% ao ano, que é, aproximadamente, a taxa de inflação projetada pelo governo para 2011. Pelo que se observa, o cenário desenhado pela SAC parte do pressuposto de que a economia doPaís passaráavoar,naspróximas décadas, sempre em céu de brigadeiro, com intenso movimento dos aeroportos em razão de um crescimento acelerado, com baixa inflação e taxa de juros insignificante.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 25 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

A viúva nas nuvens A arrasadora reeleição da presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner – que obteve domingo cerca de 54% dos votos, ante 17% do segundo colocado, o socialista Hermes Binner – tornou-a a mais popular dirigente de seu país desde Juan Domingo Perón, que também obteve dois mandatos sucessivos. Com a diferença de que ela jamais tinha mostrado vocação ou talento para líder de massas. Conduzida ao poder em 2007 pelo marido Néstor Kirchner, a fim de ocupar, à sua sombra, a cadeira que ele pretendia reaver daí a quatro anos, a arrogante “presidenta”, de início, desapontou de tal modo os argentinos que o seu índice de aprovação chegou a 23%. E, em 2009, o governo perdeu a maioria na Câmara dos Deputados.

Foi um paradoxo. Apesar da retração da economia mundial na esteira da crise financeira de 2008, a Argentina crescia a taxas asiáticas, numa inesperada metamorfose. Depois do derretimento do país, entre 1998 e 2002, quando o PIB nacional despencou 20% – mais do que o da Grécia hoje em dia –, Kirchner deu o calote na dívida, reestruturou o governo e pisou fundo no acelerador para resgatar a atividade industrial e o emprego. No mandato de Cristina, a dupla acrescentou ao modelo desenvolvimentista gastos maciços em programas de bem-estar social, incluindo subsídios ao consumo de água e energia e ainda ao transporte público. Mesmo assim, era o marido, não a mulher, quem a população aplaudia. Os argentinos não podiam suspeitar que, golpeada pelo acaso – a súbita morte de Néstor, que completará um ano depois de amanhã –, Cristi-

na revelaria uma força interior incomum e não menor aptidão para concentrar o poder, manipular a política e se fazer querida pelo povo. Nesses 12 meses, criou inumeráveis situações para cultuar o falecido – “ele”, como lhe basta dizer – e se agigantou no papel de continuadora de sua obra social. Enquanto isso, continuou a perseguir o principal grupo de mídia do país, que edita o jornal portenho Clarín, por ter tido o desplante de deixar de apoiá-la quando da sua queda de braço com o setor rural há três anos. Se há algo que não cabe na Casa Rosada kirchnerista é a tolerância com o dissenso. É bem verdade que de uns tempos para cá Cristina passou a adotar uma expressão corporal de bonomia – por exemplo, recebeu de braços abertos a adesão da antes hostil confederação da indústria. Nomeou para a Fazenda o telegênico empresário e economista de formação libe-

A qualidade da energia

A

Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) está criando um indicador para avaliar a qualidade da distribuição de energia. Nos casos em que o serviço não atingir um mínimo de qualidade, pretende aplicar um redutor nas tarifas cobradas pelos fornecedores, anunciou o diretor do órgão regulador, Julião Coelho, em entrevista ao Estado (19/10). A medida se justificaria diante da falta de investimentos e das interrupções do fornecimento de energia, que provocam graves prejuízos às empresas e às famílias. A Aneel quer criar um novo índice, denominado Xq, capaz de aferir a evolução da qualidadedoserviço.“Seaconcessionária deixar de realizar investimento, no reajuste vamos identificar isso e reduziremos a tarifa, caso a qualidade (do serviço) tenha se deteriorado”, disse Coelho. Hoje, os reajustes das tarifas ocorrem anualmente, com base em índices de inflação, havendo uma revisão a cada quatro anos. A tarifa é reavaliada pela Aneel com base em indicadores de investimento e de produtividade das distribuidoras de energia. O indicador proposto introduz um novo parâmetro para a determinaçãodoreajustetarifário. Ele permitirá, segundo a reportagem, rever a tarifa em prazos de apenas um ano. A Aneel quer coibir uma prática de várias empresas do setor: a de dar preferência à distribuição de dividendos aos acionistas, em detrimento de investimentos im-

o Estado? Por que não pagar à família das vítimas? Por acaso o Estado vai cuidar dessa família? LUIZ HENRIQUE PENCHIARI luiz_penchiari@hotmail.com Vinhedo

ESCLARECIMENTO Itaucard

Em 15/10, no editorial Os cartões e os consumidores (A3) foi feita menção à execução de sentença proposta pelo Ministério Público Federal (MPF) contra diversas administradoras de cartão, inclusive o Itaucard, a fim de receber multa por descumprimento de liminar (e não por falta de recolhimento de multa diária, conforme constou do editorial). Gostaríamos de contextualizar a situação. Na ação civil pública, o procurador da República Márcio Barra Lima pediu uma liminar, que acabou sendo deferida pelo TRF da 2.ª Região. No entanto, dois anos

perativospara a manutenção e a expansão dos serviços. Nos últimos anos, com a aceleração do ritmo de crescimento da economia e o aumento do número de consumidores de energia, os colapsos no fornecimento tornaram-se mais frequentes e mais prolongados em todo o País. Por isso, a nova regra é defendida pelo diretor técnico da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Luciano Pacheco. Em artigo no Estado (20/10), ele mostrou que bastaminterrupções de curtaduração e variações na tensão de for-

A Aneel pretende criar novo parâmetro para punir os responsáveis por colapsos necimento para provocar impactos na produção industrial comparáveis aos de “apagões de várias horas”. O anúncio da Aneel pode ser um sinal de exaustão dos mecanismos de punição existentes, comoasmultasaplicadasemescala crescente pela agência e por órgãos reguladores estaduais. No primeiro semestre, a Aneel impôs às concessionárias o pagamentoaos consumidores de R$ 163,77 milhões, a título de ressarcimentoporprejuízosdecorrentes de colapsos energéticos. Mas o montante foi apenas 7,4%superiorao doprimeirosemestre de 2010 e em muitos casos não compensou os prejuízos que tiveram os consumidores que deixaram de trabalhar ou estudar por falta de energia

depois, em julho de 2008, o mesmo TRF cassou a liminar, em decisão que se tornou definitiva. A liminar deixou de existir, desaparecendo também a multa. A execução proposta pelo MPF não tem, assim, nenhum fundamento jurídico. Tanto é assim que, dia 13 – dois dias antes da publicação do editorial, portanto –, o juiz da 30.ª Vara Federal, sendo informado da cassação da liminar, extinguiu a execução da multa. Na sentença o próprio juiz afirma que não foi informado pelo MPF de todos os fatos, o que certamente prejudicou o entendimento da questão. O Itaú Unibanco não cumula comissão de permanência com multa, como alegou o MPF. A nossa prática para todos os contratos em atraso é a cobrança da taxa de juros do contrato acrescida de 1% ao mês, além da multa de 2%. CLÁUDIA POLISTANSKI, diretora executiva da Área Jurídica imprensa@itau-unibanco.com.br São Paulo

ral Amado Boudou, a quem promoveria a companheiro de chapa, e se distanciou do sindicalismo peronista encarnado na mafiosa CGT. De seu lado, fracionada por disputas mesquinhas e sem ter nada a contrapor ao oficialismo, a oposição fez por merecer a verrina de um comentarista do La Nación, Carlos Reymundo Roberts, para quem os opositores, por sua pusilanimidade, deviam cobrar direitos autorais pelo êxito do kirchnerismo. Decerto muitos deles já se acotovelam para aderir à presidente reeleita, ampliando a folgada maioria que já tinha no Congresso e dando condições para as mudanças constitucionais destinadas a “aprofundar o modelo” – o mote de Cristina para os próximos quatro anos. Ou mais, se de fato ela patrocinar a emenda que lhe permitiria concorrer indefinidamente à Casa Rosada. Mas “a viúva que ganhou todas”, como diz a revis-

ta The Economist, terá na economia os seus grandes desafios. As contas nacionais estão se deteriorando, apesar dos US$ 48 bilhões em reservas. A fuga de divisas deve ultrapassar US$ 20 bilhões no ano, o peso está sobrevalorizado, o país continua sem acesso aos mercados financeiros e o investimento privado decresce aceleradamente. As róseas estatísticas do governo a esse respeito, por sinal, têm tanta credibilidade quanto o falseado índice oficial de inflação de 11%. A taxa real se mantém estável entre 20% e 25%. O espectro que ronda a Argentina é a desaceleração da economia brasileira – que absorve 20% de suas exportações – e um eventual soluço chinês. A bonança do Brasil e as compras chinesas de soja foram os pilares do formidável crescimento argentino sob o kirchnerismo – e das políticas sociais que levaram às nuvens a figura de Cristina Fernández.

A crise dos royalties ou perderam negócios devido a colapsos. E, se o consumidor tiver de recorrer à Justiça para se ressarcir, não pode esperar uma solução rápida. A fixação de novos limites para os indicadores de qualidade aplicadospelaAneel estáem audiência pública, abrangendo as companhias CPFL Piratininga, Elektro, Bandeirante, AES Eletropaulo, Coelce e CEA. É tarefa rotineira, que ocorre nos anosderevisãotarifáriaperiódica das empresas. As distribuidoras manifestampreocupaçãocom amudança das regras da Aneel. O presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia Elétrica(Abradee),NelsonFonseca, entende que as empresas serão duplamente punidas, pois já pagam as multas. Além disso, estão sujeitas à redução da taxa de remuneração dos ativos, de 9,95% para 7,15%, e ao aumento do repasse para o consumidordosganhosde produtividade, o chamado Fator X, de 0,4% para 3,3%. Com lucros menores, o investimento tende a cair, avalia a Abradee. Ainda que a Aneel tenha o poderdealterar asregras deavaliação da qualidade dos serviços, não se deve afastar a hipótese deque as distribuidoras contestem judicialmente as mudanças, contrariarem os termos dos contratos de concessão. Queéprecisomelhorarosserviços e o fornecimento, não resta dúvida. Mas o resultado final das iniciativas da Aneel não pode ser um retardamento ainda maior dos investimentos. Afinal, o mais caro dos serviços é aquele que não está disponível.

“O ministro Orlando Silva será demitido pela presidente Dilma ou pelo presidente da Fifa?” LUIZ RESS ERDEI / OSASCO, SOBRE AS DENÚNCIAS DE CORRUPÇÃO NO MINISTÉRIO DO ESPORTE gzero@zipmail.com.br

“Orlado Silva pode ter enganado a Dilma, mas só ela” ALEJANDRO B. CORREA / SÃO PAULO, IDEM alebotto@globo.com

A

presidente Dilma Rousseff errou ao evitar o debate sobre a divisão de royalties do petróleo. O projeto de redistribuição aprovado na semana passada pela maioria dos senadores tramitou e foi votado como se o governo central tivesse pouco ou nenhum interesse por um tema crucial para a boa ordem da Federação. A representação dos Estados produtores foi facilmente esmagada, como era previsível, pelas demais bancadas. Em situações como essa, argumentos, direitos, contratos e a própria Constituição podem tornar-se pouco importantes, porque o peso da maioria tende a prevalecer com ou sem razão. Cabe ao Executivo, diante desse risco, o papel de mediador empenhado na busca da solução mais equilibrada. A presidente recusou esse papel e foi acompanhada, nessa atitude, pelos líderes governistas. A votação converteu-se em conflito entre entes federativos. Só isso caracterizaria o quadro como desastroso. Mas também é preciso levar em conta o resultado dos votos: aprovou-se um projeto altamente lesivo aos Estados e municípios produtores, atropelaram-se direitos e a insegurança jurídica aumentou. Antes desse, outro projeto havia alterado a distribuição de royalties do petróleo. A mudança foi vetada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o veto ainda não foi examinado pelo Congresso. Os senadores deram prioridade à tramitação do

projeto aprovado na semana passada. Esse projeto deve ainda passar pela Câmara dos Deputados. O presidente da Casa, deputado Marco Maia (PTRS), elogiou a fórmula sacramentada pelos senadores: “Melhora a arrecadação dos não produtores e garante uma boa arrecadação aos produtores de petróleo. O pior dos mundos seria a derrubada do veto”. Se esse comentário é uma tomada de posição, o debate começa muito mal na Câmara. Os governos dos Estados produtores têm fortes razões para discordar do deputado Marco Maia. O senador Francisco Dor-

A votação no Senado atropelou direitos e a presidente falhou gravemente ao se omitir nelles (PP-RJ) tentou pôr em debate uma proposta alternativa. A ideia era reduzir a parcela da União e aumentar a tributação sobre as petroleiras para garantir receita aos Estados e municípios não produtores. A maioria dos senadores desprezou essa tentativa. Senadores do Rio de Janeiro e do Espírito Santo ainda tentaram, num último apelo, preservar a arrecadação de seus Estados em 2012, mas também fracassaram. O projeto aprovado afeta a distribuição de royalties do présal e também a dos direitos sobre o petróleo já explorado. Dispõe sobre o futuro, alterando os critérios seguidos até agora, e muda os padrões adotados para os contratos já em vigor. O senador Vital do Rego Filho

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Crise no Esporte: PM entrega documentos

1.107

João Dias apresentou áudios e papéis à PF que comprovariam denúncias de irregularidades ● “Após duas eleições, os protegidos do mensalão estão impunes. Não há muito o que esperar da Justiça.” PAULO VICTOR DE OLIVEIRA BATISTA

● “Em um país sério, esse ministro iria ser afastado somente após as investigações.” ROBSON SÓ

HÁ 816 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “A corrupção está institucionalizada no Brasil, como uma doença sem cura. Esparramou-se por todo o território.” LUCE MARONBA

(PMDB-PB), relator do projeto, só recuou de alguns poucos pontos especialmente escandalosos, como a alteração das linhas geodésicas. Isso mudaria a geografia oficial das bacias petrolíferas, com vantagem para os Estados do Sul e prejuízos para os produtores. Se a Câmara aprovar o projeto e a presidente Dilma Rousseff o sancionar, Estados e municípios produtores terão de mudar seus planos econômicos e financeiros, porque sua receita será fortemente prejudicada. Só no Estado do Rio, os municípios produtores ou com instalações petrolíferas deixarão de arrecadar entre R$ 25 bilhões e R$ 33 bilhões nos próximosnove anos. É perfeitamente compreensível, portanto, o tom dedesesperodogovernadorSérgioCabralaopedirsocorroàpresidente Dilma Rousseff. Se ela fraquejar, restará aos governos dosEstadosemunicípiosprodutores ir ao Judiciário em busca de seus direitos. Ahesitaçãoda presidentetende a agravar a enorme confusão criadapelogovernodesde aconversão da política energética num tema ideológico. A transformação da Petrobrás em instrumento de política industrial, comresultadosentre ruinseduvidosos, é parte dessa confusão. Com muito mais entusiasmo do que cálculo, o governo subestimou as dificuldades do complexo projeto de exploração da novariqueza.Asdificuldadesfinanceiras da Petrobrás, empenhada em conseguir mais ajuda oficial, é mais um ingrediente desse imbróglio, agora ampliado com uma crise federativa.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Uma zona risonha e franca A Zona Franca de Manaus poderá funcionar por mais meio século, se o Congresso aprovar a proposta de emenda à Constituição recém-assinada pela presidente Dilma Rousseff. Além disso, a área beneficiada por incentivos fiscais será ampliada para cobrir toda a região metropolitana em torno da capital amazonense. A presidente anunciou os dois “presentes” – a palavra é dela – aos manauaras durante a inauguração da ponte sobre o Rio Negro. Com essa decisão, o governo renega mais uma vez, na prática, sua promessa de formular e de pôr em execução uma política industrial voltada para o aumento da competitividade e da criação de empregos. As medidas anteriores passam longe de qualquer estratégia de modernização e de aumento de produtividade. Sua

maior ousadia é um protecionismo indisfarçável e simplório. Não há uma única justificativa razoável para a concessão de mais 50 anos de existência à Zona Franca de Manaus nem para a sua ampliação geográfica. A Zona Franca foi criada em 1967 para dar um primeiro impulso à industrialização da Amazônia. Sua extinção foi prevista para 1997, mas bem antes disso, em 1986, o presidente José Sarney providenciou a primeira prorrogação, desta vez até 2007. O prazo foi esticado mais duas vezes, até 2013 e depois até 2023. A última extensão foi uma gentileza do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há muito a concessão de benefícios a empresas da Zona Franca deixou de ter qualquer relação com genuína política de desenvolvimento regional. Tudo se resume em distribuição de favores e manutenção de privilégios, com resultados negativos para

a economia nacional. Em geral, a criação de zonas francas é compatível com estratégias de desenvolvimento quando sua produção é destinada ao mercado exterior. Nessas condições, a concessão de benefícios fiscais favorece a industrialização regional, a criação de empregos e o fortalecimento das contas externas. Não tem sentido fazer da zona favorecida um mero polo de atração de investimentos, sem levar em conta as condições de competição das indústrias instaladas em outras áreas. A história da Zona Franca de Manaus é uma crônica de distorções. Lá se instalaram muitas fábricas de eletroeletrônicos domésticos, atraídas por incentivos fiscais, terrenos baratos e serviços de utilidade pública a custos muito baixos. Essas indústrias são as mais conhecidas, mas o polo reúne também outros tipos de indústrias. Os formuladores

da política, deixaram de lado os objetivos de comércio exterior. As empresas puderam desfrutar de facilidades para comprar insumos estrangeiros, mas não tiveram de se empenhar na exportação. Ao contrário, puderam dedicar-se tranquilamente ao abastecimento do mercado interno, concorrendo em condições privilegiadas com quem ousasse se instalar no resto do País. A balança comercial do Estado do Amazonas mostra um dos efeitos dessa política incompleta. O saldo negativo passou de US$ 3,15 bilhões em 2000 para US$ 9,94 bilhões no ano passado. Neste ano já chegou a US$ 9,18 bilhões até setembro. A Zona Franca de Manaus é, portanto, importadora líquida. Se operasse como as zonas desse tipo instaladas em outros países, seu balanço seria positivo, porque o insumo importado livre de imposto ou com imposto reduzido seria uma de suas várias vanta-

gens competitivas. Diante da perspectiva de nova prorrogação do prazo da Zona Franca de Manaus, empresários de outras partes do País cobram compensações. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, já anunciou a intenção de pedir uma renovação da Lei de Informática, com extinção prevista para 2019. Sem isso, argumentou, as empresas do setor serão forçadas a transferir-se para Manaus. Mas isso não é solução. Incentivos promovem o desenvolvimento quanto têm prazo para acabar. Sem isso, o estímulo para investir, para inovar e para ganhar competitividade tende a diluir-se. Estratégias de desenvolvimento podem transformar-se facilmente em políticas cartoriais de distribuição de favores e privilégios. Isso é bem conhecido no Brasil. Mas a presidente Dilma Rousseff parece gostar desse tipo de política.

A greve dos médicos do SUS

O capital do camarada ministro

oordenada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Federação Nacional dos Médicos (Fenam), a greve deflagrada pelos médicos do Sistema Único de Saúde (SUS) em 21 Estados – e que teve a adesão de cerca de 100 mil profissionais – é o efeito inevitável do desleixo com que o governo vem gerindo o setor. As reivindicações dos grevistas, que protestam contra o aviltamento da profissão médica, são as mesmas de sempre. Eles exigem melhores condições de trabalho e pedem a correção das tabelas de consultas do SUS, que estão desatualizadas em relação aos valores do mercado. “O movimento é a favor da assistência médica. Queremos dizer à população que estamos ao lado dela, que a assistência hoje está abaixo daquilo que desejamos e do que a população espera”, diz o vicepresidente do CFM, Aloísio Miranda, depois de afirmar que o atendimento em muitos hospitais da rede pública atenta contra os direitos humanos. Segundo as entidades médicas, o número de leitos hospitalares vem caindo de forma preocupante. Embora a população continue a crescer – sobretudo a mais idosa, que requer maiores cuidados –, o País perdeu 203 mil leitos, entre 1990 e 2011. Estudo do IBGE revelou que o Brasil dispunha de apenas 431.996 leitos hospitalares para uma população superior a 190 milhões de habitan-

m outros tempos se diria que “são desencontrados os rumores” sobre o destino do ministro do Esporte, Orlando Silva, do PC do B. No fim de semana atrasado, um PM do Distrito Federal, João Dias Ferreira, seu correligionário, ongueiro e beneficiário de convênios suspeitos com a pasta, o acusou de participar de um esquema de cobrança de propina nos contratos do programa Segundo Tempo, para jovens carentes. Desde então, o ministro tem sido alvo de uma ou mais denúncias por dia, não apenas sobre favorecimento aos camaradas nos negócios esportivos, mas também de casos clamorosos de desídia. Ainda ontem, por exemplo, este jornal revelou que obras previstas em um convênio com a Prefeitura de Campos do Jordão, assinado em 2006 pelo ministro, praticamente continuam na estaca zero – mas já consumiram R$ 1,37 milhão dos cofres federais. O desencontro de versões sobre o que a presidente Dilma Rousseff irá fazer com o único membro do PC do B no seu Gabinete exprime, na realidade, o fato singelo de que ela não sabe como sair de mais essa enrascada no viscoso cipoal da corrupção no governo. Na sexta-feira, Dilma convocou o ministro para uma conversa de horas – ao fim da qual assessores da presidente anunciaram que ela havia lhe dado o equivalente a um visto de permanência na administração. Seria, no entanto, uma permanência tem-

C

ROBERTO ARANHA rcao@globo.com São Paulo

Reputação

tes, em 2009. Esse é o menor número de leitos nos últimos 33 anos – e o problema se concentra, basicamente, nos hospitais particulares conveniados com o SUS. Como os custos com atendimento e cirurgia são duas vezes mais altos do que os repasses do Ministério da Saúde, vários hospitais tiveram de fechar as portas. Outros deixaram de investir em tecnologia e projetos de expansão. E muitos, apesar da crescente demanda de serviços hospitalares, passaram a atender somente à saúde complementar. O índice de leitos por mil ha-

Uma greve que é o efeito inevitável do desleixo com que o governo trata a saúde bitantes, que era de 2,4, em 2005, caiu para 2,3, no ano passado. Entre os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a média era de 3,8 leitos por mil habitantes, em 2007. Nas unidades de terapia intensiva, o problema da falta de leitos é agravado pela má distribuição dos leitos existentes. Em pelo menos 20 Estados, a média de leitos de UTI por habitante fica bem abaixo da média nacional, que é de 1,3 para 10 mil habitantes. Por isso, em muitos hospitais é comum pacientes em estado grave serem atendidos em locais inapropriados. Em matéria de investimento per capita para atendimento médico-hospitalar, o Brasil há muito tempo está atrás da Ar-

ronferraz@globo.com Rio de Janeiro

Tapiocard

ALBERTO B. C. DE CARVALHO albcc@ig.com.br São Paulo

Se tivesse havido a demissão na época da compra de tapioca com cartão corporativo, certamente o País não teria chegado a mais este desvio de dinheiro público. É interminável. Por favor, líbios, venham ensinar a este despolitizado povo brasileiro como é que se resgata um país!

‘Indestrutível’

LAFAYETTE PONDÉ FILHO lpf41@hotmail.com Salvador

Michel Temer, diz que a reputação do companheiro Orlando Silva é “indestrutível”. Caramba! Indestrutível é a quadrilha que tomou conta deste país.

Lembro ao sr. Orlando Silva que Kadafi também se achava indestrutível e acabou chegando a hora em que ninguém, nem o seu exército, conseguiu salvá-lo. Será que os “camaradas” do partido, mesmo com o vergonhoso apoio do “cara”, conseguirão salvá-lo? RONALDO GOMES FERRAZ

gentina, Uruguai e Chile, segundo os dirigentes do CFM. Preocupantes para a população, esses números têm sido vistos com naturalidade pelo governo. Segundo dirigentes do Ministério da Saúde, a redução do número de leitos decorreria de uma política –“alinhada à tendência mundial”– de priorizar o atendimento de emergência e os serviços de apoio a diagnósticos, com o objetivo de reduzir o número de internações. A situação também é crítica no que se refere à remuneração. Na área de cirurgia cardiovascular, por exemplo, os médicos passam de quatro a seis horas na sala de operação, têm de ficar dois meses de sobreaviso para agir em caso de intercorrência após a cirurgia e recebem pouco mais de R$ 100 por caso. Por ponte de safena, que exige uma equipe de quatro cirurgiões e dois instrumentadores, o SUS paga cerca de R$ 1 mil – enquanto alguns planos de saúde pagam até R$ 13,5 mil. Segundo a AMB, a Fenam e o CFM, a média do salário-base do médico que trabalha 20 horas semanais é de R$ 1.946,91, oscilando deR$732,81aR$4.143,67,dependendodoEstado.Astrêsentidades defendem um piso salarial baseado numa lei federal editada há cinco décadas. Por ela, em valores corrigidos, os médicos teriam um piso de R$ 9.188,22. Agindo demagogicamente, o governo só se lembra da saúde para tentar justificar a recriação da CPMF. O resto do tempo,como afirmam os médicos grevistas, a rede do SUS parece entregue à própria sorte.

“Lula colocou o cocar, Dilma vestiu a carapuça” A. FERNANDES / SÃO PAULO, SOBRE A ‘CONVERSA ENTRE CACIQUES’ (25/10, A1) standyball@hotmail.com

“Com razão o Ministério do Esporte não gostou do termo esporteduto. O correto seria espertoduto” ALEXANDRU SOLOMON / SÃO PAULO, SOBRE A CORRUPÇÃO NA PASTA COMANDADA PELO PC DO B alex101243@gmail.com

E

porária, a julgar por um comentário atribuído a Dilma, em dado momento de sua estada em Manaus, ao lado do patrono Lula, na segunda-feira. Orlando Silva “não resistiria a uma denúncia nova”, teria ela afirmado. Também o ex-presidente parece ter caído em um poço de dúvidas. Depois de dar apoio ostensivo ao ministro que ficou no governo Dilma a seu pedido e de instar o PC do B a cerrar fileiras em torno dele, Lula teria confessado não ter mais “convicção de nada” e se queixado dos comunistas. “Só me contam o que (lhes) interessa. O

A presidente, ao que parece, não sabe o que fazer com um ministro que é pedra no sapato que não interessa eu fico sabendo pelos jornais”, desabafou, segundo uma fonte, numa involuntária homenagem à imprensa cuja leitura o fazia sentir azia. Ainda que o noticiário o convença de que o Esporte é uma arena de maracutaias, será a extremo contragosto que ele cessará de blindar o suspeito de tolerá-las, ou de promovêlas. Deixaria assim Dilma livre para fazer o que achar mais conveniente. Lula tem uma dívida de peso com o PC do B – e a presidente sabe disso. A legenda comunista ortodoxa foi a única, além do PT obviamente, a apoiar todas as tentativas de Lula de alcançar o Planalto. Por ora, o PC do B é o capital de Orlando Silva. Para conservá-lo, escreveu uma carta aos

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STF manda investigar ministro Orlando Silva

1.721

Procuradoria-Geral também avalia pedir abertura de investigação do ex-ministro Agnelo Queiroz ● “Vai acontecer o mesmo que em outros casos parecidos: ninguém vai para a cadeia e o dinheiro também não aparece.” SANDRO ARAÚJO

● "O ministro Orlando Silva cometeu um erro ao afirmar: 'Me sinto indestrutível'. O correto seria: 'Me sinto impune.'"

Faxina

FRANCISCO JOSÉ DE OLIVEIRA

Pelo visto, a faxina acabou e a sujeira continua grossa. A Copa vem aí, imaginem a farra. RENATA VELLUDO JUNQUEIRA rvjun@hotmail.com São Paulo

HÁ 817 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Já sabemos o fim da história. Ele vai deixar o cargo depois de muita pressão e não vai ser punido.” CRISTIANO MENDES

seus hierarcas, citando o poeta comunista chileno Pablo Neruda. Ele disse certa vez que se sentia indestrutível porque “contigo, meu partido, não termino em mim mesmo”. O ministro ressaltava assim a sua indestrutível identificação com a legenda que “jamais reviu os seus dogmas”. A sigla da foice não poderia ceifar do poder um quadro que de tal modo proclama a sua firmeza ideológica – além de transformar as denúncias contra si em expressão de uma imaginária “luta de classes”. Mas há também uma razão política real para o governo não comprar briga com o PC do B. O partido poderia partir para cima do antecessor de Orlando Silva, comquemos“malfeitos”napastateriamcomeçado– ogovernador do DF, Agnelo Queiroz, que migrou para o PT. Por sinal, os companheiros, enquanto se mantêm publicamentesolidáriosaoministro,fazem já os seus cálculos para a eventualidadedesuaqueda.Partindo da premissa de que o PC do B poderia ser aplacado com a indicaçãodeoutrocamarada para o lugar de Orlando Silva, os petistas ventilam os nomes dos deputados Aldo Rebelo e Manuela D’Ávila e o do presidente da Embratur, Flávio Dino. Coincidentemente, todos eles têm planos próprios inconvenientes paraoPT.Rebelogostariadevoltar a dirigir a Câmara. Manuela quer ser prefeita de Porto Alegre. Dino, desafeto do amigão de Lula, José Sarney, ambiciona se eleger em São Luís. São essas coisasquecontamparaospolíticos. A imprensa que se ocupe do que não lhes interessa.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 27 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

O fim do sigilo eterno Vinte e três anos depois de sua inclusão entre os direitos constitucionais do povo brasileiro, o acesso a documentos públicos dos Três Poderes e dos três níveis da Federação enfim teve a sua regulamentação aprovada no Congresso Nacional – e o resultado a que se chegou graças a um acordo suprapartidário, primeiro na Câmara, agora no Senado, é tão positivo quanto seria possível desejar, realisticamente. O texto que segue para a sanção presidencial é o da versão melhorada que os deputados deram em 2010 ao projeto da Lei de Acesso à Informação encaminhado no ano anterior, em nome do governo, pela então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O seu aspecto mais criticado era a autorização para que se pu-

desse manter em sigilo por 30 anos, prorrogáveis indefinidamente, os chamados documentos ultrassecretos, definidos como aqueles cuja divulgação poderia colocar em risco a defesa e a soberania nacional, os planos e operações estratégicas das Forças Armadas e as relações internacionais do País. Logicamente, apenas o presidente da República e o vice, ministros de Estado, comandantes das Três Armas e chefes de missões diplomáticas no exterior podem dar essa classificação de sigilo máximo aos papéis oficiais. A Câmara manteve a modalidade de documentos ultrassecretos, mas limitou a 25 anos, prorrogáveis só por uma vez, a duração máxima do segredo. Os deputados também reduziram de 20 para 15 anos, sem renovação, o trancamento dos documentos rotulados secretos – o que também fizeram em relação aos papéis classificados como reserva-

dos por cinco anos. Os prazos devem contar a partir da data em que cada um deles foi carimbado. A categoria “confidencial” foi extinta. Um colegiado inédito – a Comissão Mista de Reavaliação de Informações, integrada por representantes dos Três Poderes – deverá reavaliar em dois anos as informações classificadas como ultrassecretas. Os governos precisarão publicar anualmente a relação dos documentos de acesso limitado, “com identificação para referência futura”. O País, portanto, pelo menos conhecerá os assuntos de que tratam. De todo modo, o acesso a informações sobre violações de direitos humanos não poderá sofrer restrições. Qualquer cidadão poderá requisitar, sem necessidade de explicar por que, outros documentos de livre consulta. O material liberado ficará disponível na internet – hoje em dia, a prova dos noves da transparência.

O consenso alcançado na Câmara custou a se repetir no Senado. Os líderes partidários defensores do endosso puro e simples da decisão dos deputados toparam com a resistência à primeira vista inexplicável de dois políticos que se sabe lá quais são os seus guardados – o ex-presidentes José Sarney, titular da Casa, e Fernando Collor, que dirige a comissão de Relações Exteriores. Eles argumentaram, inconvincentemente, que a extinção do sigilo perpétuo dos documentos ultrassecretos poderia criar embaraços diplomáticos para o Brasil e até ameaçar a integridade territorial do País, numa provável alusão ao acerto com a Bolívia que resultou na anexação do Acre. Às voltas com os seus problemas com a base parlamentar do governo e querendo ver a matéria aprovada antes do recesso de julho, a presidente Dilma Rousseff chegou a vacilar na defesa do texto da Câmara que ti-

vera o aval do Planalto. Em boa hora, desistiu de fazer concessões, mas Sarney e Collor retardaram a mais não poder a votação do projeto. Com isso, Dilma teve de disfarçar o constrangimento, ao participar no mês passado, em Nova York, ao lado do colega americano Barack Obama e de outros líderes mundiais, do lançamento da Parceria para o Governo Aberto, integrada por 60 países que dispõem de leis pró-transparência. Na terça-feira, quando finalmente o projeto entrou na pauta de deliberações, Collor apresentou o seu voto em separado em favor do sigilo eterno e contra a divulgação obrigatória de informações oficiais na internet. Submetida ao plenário, a sua posição foi derrotada por 43 votos a 9. Em seguida, o texto oriundo da Câmara foi aprovado por aclamação. Já o senador José Sarney, alegando outros compromissos, nem apareceu para presidir a sessão.

Atrasos na construção civil

Novo assalto ao FGTS

Ministério Público Estadual (MPE) e o Sindicato da Habitação (Secovi) assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) pelo qual as construtoras devem indenizar os compradores, em caso de atrasos superiores a seis meses em relação ao estabelecido nos contratos. O TAC não tem força de lei, mas é um passo importante para coibir atrasos que causam graves prejuízos aos compradores. Nos últimos anos têm crescido as reclamações dos consumidores, muitos dos quais estão adquirindo o primeiro imóvel e não dispõem de recursos para se defender em casos de atraso. O número de reclamações no Procon de São Paulo contra construtoras e incorporadoras aumentou de 1.572 para 1.981 entre os primeiros semestres de 2010 e 2011, um terço das quais por descumprimento de contrato. Contratos de compra e venda com cláusulas brandas para o vendedor e severas para o comprador são usados para justificar atrasos superiores a um ano e até a dois anos. Algumas construtoras alegam dificuldades para a contratação de mão de obra ou atrasos de que são vítimas, na entrega de materiais de construção ou nas cartas de Habite-se expedidas pelas prefeituras, necessárias para a entrega das chaves. Na maioria absoluta dos casos, não há justificativa razoável, mas negligência em relação aos compradores.

governo tenta novamente meter a mão no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), patrimônio do trabalhador, para desperdiçá-lo em maus negócios. A ideia, desta vez, é investir recursos do fundo em obras para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Se a manobra der certo, o dinheiro poderá ser aplicado em estádios, centros esportivos de treinamento e “empreendimentos hoteleiros e comerciais”. A proposta foi incluída no texto da Medida Provisória (MP) 540 pelo relator do projeto na Câmara, deputado Renato Molling. Essa MP trata da política industrial proposta no Plano Brasil Maior, mas seu texto foi alterado e seu objetivo ampliado durante a tramitação. A primeira grande mudança foi a inclusão de cinco emendas por interferência da Receita Federal. Essa alteração deveria resultar num grande aumento de impostos sobre algumas operações. Esse lance foi denunciado em reportagem do Estado. Não houve manifestação pública nem da Receita Federal nem dogabinetedo Ministérioda Fazenda, mas o assunto chegou ao Palácio do Planalto. Por ordem do gabinete presidencial, as emendas foram eliminadas. Mas o projeto continuou muito ruim, porque outros defeitos nãoforamcorrigidose,alémdisso, o governo introduziu no textoaautorizaçãoparausodoFundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS) para o custeio de

O

e não dos órgãos de governo que deveriam fazê-lo. Essa, sim, é mais do que razão para a defenestração, não só do ministro, mas de toda a cúpula do ministério! FRANCISCO E. SOARES f.e.soares@terra.com.br Campinas

O MPE, segundo a reportagem publicada no Estado (19/10), entende que o TAC será aplicado em todo o País, não se limitando à área abrangida pelo Secovi-SP. CombasenoTAC,queseaplicará aos contratos assinados a partir de 26 de novembro, as construtoras estarão sujeitas à devolução de no mínimo 2% do valor já pago do imóvel por atraso superior a seis meses, mais 0,5% a cada mês de espera. A devolução ocorrerá mediante descontono valordevidopelocomprador, em até 90 dias após a entrega das chaves ou a assinatura da escritura definitiva de

A partir de novembro, os atrasos serão punidos, por acordo entre o Secovi e o MPE compra e venda. As construtoras também se obrigam a informar os compradores, com antecedência de quatro meses, sobre atrasos no andamento das obras,evitandoproblemasdeúltima hora. O promotor Roberto Senise Lisboa observou que o objetivo da punição “é compensar o consumidor que não pôde mudar no período estimado e teve de morar na casa da sogra ou alugar um apartamento, por exemplo”. Hoje, os contratos rezam que o prazo de tolerância para a entrega da obra é de seis meses, sem definir punição por atraso maior. Para o presidente do Secovi,João Crestana,oacordo estabelece um padrão para o consumidor, “que saberá se a construtorasecompromete ou nãoa

nossa calçada esteja esburacada. Perfeito! Posso reduzir minha alíquota de IPTU por conta de a minha rua estar esburacada? O racional é exatamente o mesmo. Espero resposta aqui, no Estadão. JÚLIO CRUZ LIMA NETO juliocruzlima@uol.com.br São Paulo

Sinais de riqueza

Orlando Silva é só mais um entre tantos outros que deveriam ser investigados. Basta ver os sinais de riqueza para presumir que o que ganham, comprovado em holerite, não justifica tamanha fortuna.

A multa por calçadas esburacadas e sujas vai triplicar. E para ruas esburacadas e sujas, nada? SÉRGIO ARANHA DA SILVA aranhafilho@aasp.org.br São Paulo

pagar a multa, por exemplo”. A primeira fragilidade do TAC é justamente essa: o acordo não é impositivo, depende da adesão da empresa. Esta pode, inclusive, contestar o TAC. A segunda é que a punição é consideradabrandaporespecialistas do setor imobiliário: incide apenas sobre o montante que já foi pago pelo comprador, enquanto o contrato de compra e venda é corrigido pelo valor total da venda, com base no IGP-M ou no Índice Nacional da Construção Civil (INCC). Os atrasos ocorrem tanto nas construções para a classe média, com recursos da caderneta de poupança, como no programa Minha Casa, Minha Vida e nas linhas que dependem do FGTS. Em 2010, mais de 1 milhãodemoradiasforamcompradas com financiamento, muitas das quais na planta, sendo estas as mais sujeitas a atrasos. O custo dos atrasos não é uniforme, mas a reportagem menciona o exemplo de um casal que precisou adiar o casamento por falta de moradia e de outro casal que espera há tanto tempo pelo apartamento prometido que, no período, já teve dois filhos. Entrar na Justiça com um pedidodeindenizaçãopeloatraso seria a alternativa natural, não fosse a expectativa de esperar muito tempo pela solução – e das custas processuais. O TAC significa o reconhecimento das empresas de que o problema existe, é grave e não adianta buscar justificativas nasdificuldades geraisquetambém afetam outras construtoras,inclusiveaquelasquerespeitam a pontualidade.

“O ministro caiu, a verdade veio à tona. Quem não deve não teme” JOÃO ROCHAEL / SÃO PAULO, SOBRE ORLANDO SILVA jrochael@ibest.com.br

“De nada vale trocar o técnico quando o time está todo ‘bichado’ e a diretoria é ‘indestrutível’” CLAUDIO JUCHEM / SÃO PAULO, SOBRE O MINISTÉRIO DO ESPORTE cjuchem@gmail.com

ALBERTO NUNES albertonunes77@hotmail.com Itapevi

ADMINISTRAÇÃO KASSAB Impostos e buracos

O sr. prefeito é bom mesmo como arrecadador de dinheiro dos munícipes via impostos e multas. Kassab nunca mais!

O sr. prefeito nos brinda com maior alíquota de imposto caso

CARLOS R. DA SILVA CALDERON crscalderon@hotmail.com São Paulo

O

obras vinculadas à Copa e à Olimpíada. A criação do FI-FGTS, em 2007, para financiar obras de infraestruturanossetoresderodovias, ferrovias, hidrovias, portos, energia e saneamento, já foi uma péssima ideia. O País precisadeinvestimentosemtodasessas áreas, mas não tem sentido usarumpatrimônio dotrabalhador,destinadoadar-lhesegurança, para financiar empreendimentos desse tipo. Financiar a ampliação e a modernização da infraestrutura é tarefa para ser dividida entre o Tesouro público e o capital privado de acordo com o custo e as possibilidades

Governo propõe usar patrimônio do trabalhador nas obras para a Copa do Mundo de retorno de cada projeto. A Caixa, responsável pelas aplicações do FI-FGTS, obteve um péssimo resultado com os investimentos em 2010. Dez das 15 companhias selecionadas parareceberosinvestimentostiveram prejuízo e a rentabilidade dofundoficouabaixo daprometida pela Caixa. As compras de participação foram concentradas no setor de energia elétrica e houve atraso nas obras das empresas selecionadas. Segundo o superintendente de Fundos de Investimento Especiais da Caixa, as empresas não poderiam ter gerado receita por não estarem produzindo. Mas tudo mudará, disse ele ao Estado, quando começarem as operações comerciais e as empresas tiverem suas ações cotadas em bolsa.

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Orlando Silva deixa Ministério do Esporte

1.520

Ministro é o 6º a cair no governo Dilma; decisão de abrir inquérito foi decisiva, diz Gilberto Carvalho ● “Simplesmente pedem demissão ou são demitidos. Ninguém é preso ou devolve nada aos cofres do País.” ARMANDO PINTO

● “Bons tempos aqueles em que ministros eram competentes. Hoje são aliados do governo, sem experiência nenhuma.” SERGIO OLAVO GUIMARÃES

HÁ 818 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Se o Ministério do Esporte continuar com o PC do B, serão trocados seis por meia dúzia.” FRANCISCO RIBEIRO

A explicação tem sentido, mas a justificativa não vale para o caso do FI-FGTS. Não é razoável usar um fundo de segurança dotrabalhadorparainvestimentos sujeitos a atrasos e a múltiplos acidentes de percurso, como têm sido, no Brasil, os investimentos no setor energético. O governo simplesmente agiu de forma irresponsável ao aplicar esse dinheiro em empreendimentos com baixo grau de segurança quanto a prazos, custos, e até quanto à possibilidade de conclusão. As autoridades, no entanto, parecem nada ter aprendido com essa experiência, e agora propõem usar o FI-FGTS para outros investimentos de qualidade muito duvidosa.Osinvestimentosnecessários à realização dos grandes eventos de 2014 e 2016 já estão atrasados, seus custos já foram revistos mais de uma vez e ninguém sabe quanto dinheiro ainda consumirão e qual será seu retorno. Alguns projetos podem resultar em elefantes brancos, como ensina a experiência. Em vez de ensaiar mais esse atentado ao patrimônio do trabalhador, o governo deveria ter cuidado de corrigir defeitos flagrantes da MP 540. Um deles é a tributação do faturamento para compensar a desoneração da folha salarial de alguns setores. A cobrança estipulada pelo governo poderá, como já se advertiu, resultar em aumento da carga tributáriapara váriasindústrias. Isso comprova o despreparo do governoparaaelaboraçãodepolíticas setoriais. A presidente Dilma Rousseff deveria preocupar-secom issoantes de searriscar em novas aventuras.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 28 DE OUTUBRO DE 2011

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Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Notas & Informações

Um grande avanço na Europa Os líderes da União Europeia deram passos importantes para conter os efeitos da crise grega e criar condições para a restauração da saúde econômica e financeira da zona do euro. Depois de mais de oito horas de negociação, eles puderam anunciar um acordo com os credores privados para redução da dívida grega, um plano para fortalecer o principal fundo de resgate financeiro da região e um entendimento sobre a recapitalização dos bancos. A crise continuará afetando o dia a dia dos europeus por um bom tempo e os governos de grandes devedores, como a Itália, ainda terão de trabalhar duramente para reconquistar a confiança dos investidores. Mas as novidades anunciadas na manhã dessa quinta-feira, em Bruxelas, indicam a superação de alguns dos

maiores obstáculos enfrentados pelos principais negociadores – a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Os líderes europeus levaram meses para convencer negociadores do setor financeiro a aceitar uma redução de 50% dos créditos contra o Tesouro grego. Num entendimento anterior, os banqueiros haviam concordado com um corte de até 21%. Ainda será preciso formalizar a adesão de cada instituição privada, mas o trabalho mais duro, a negociação geral com a entidade representativa dos banqueiros, o Instituto de Finanças Internacionais, foi finalmente concluído. Na prática, esse entendimento representa mais que uma reestruturação da dívida oficial grega: é um calote oficializado com a intermediação da cúpula dirigente da União Europeia e, de modo especial, dos chefes de governo das duas maiores potências da zona do euro. O des-

conto está estimado em cerca de € 100 bilhões e os governos se dispõem a contribuir com até € 30 bilhões para o pacote. O entendimento sobre a recapitalização dos bancos também é um avanço importante. Segundo estimativa da Autoridade Econômica Europeia, cerca de 70 bancos terão de captar € 106,4 bilhões para compensar perdas e para aumentar a sua segurança. As estimativas têm variado, mas ficam em torno desse valor. Com o acordo anunciado em Bruxelas, os bancos deverão completar seus ajustes até o fim de junho do próximo ano. Como o objetivo oficial é tornar mais segura a relação entre capital e aplicações, alguns banqueiros poderão ser tentados a realizar o acerto por meio da venda de ativos. Será uma solução ruim, porque representará um encolhimento da atividade bancária. Por isso, as autoridades da

Caso de polícia

O

s tumultos ocorridos nesta semana no entorno da chamada Feirinha da Madrugada, no Pátio do Pari, no centro de São Paulo, mostram a que ponto chegou o desrespeito à lei pelo comércio ambulante irregular na cidade. Considerando-se com direitos exclusivos ao território, para a venda de todo tipo de mercadorias contrabandeadas ou pirateadas, cerca de 300 camelôs reagiram com violência à Operação Delegada, deflagrada por policiais militares (PMs) e pela Guarda Civil Metropolitana na última terça-feira, por determinação da Prefeitura, para fiscalizar e disciplinar o comércio no local. Automóveis foram incendiados, fachadas de lojas foram danificadas, as ruas ficaram repletas de lixo e o trânsito nas vias adjacentes permaneceu congestionado durante horas. Os protestos continuaram no dia seguinte, com novos choques com a Polícia, obrigando escolas a fecharem e lojas a baixarem as portas. A violência da manifestação revela que o comércio ambulante irregular não pode mais ser tratado com tolerância pelo poder público. Não só o comércio legítimo, que paga impostos, mas toda a sociedade exige uma ação firme das autoridades para acabar com os verdadeiros feudos de camelôs em que se transformaram algumas áreas da capital. O prefeito Gilberto Kassab informou que, há 15 dias, a Prefeitura vinha advertindo os ambulantes para a irregularidade

que resistir, o ministro tem que resistir”. Mesmo sabendo das graves evidências de desvios do dinheiro público, atribuídos ao exministro acusado, ao qual nem o grito da pajelança adiantou. Outro ponto negativo que atribuo a Lula foi ter forçado o País a patrocinar a Copa do Mundo, desviando para esse fim bilhões de reais, e deixar a saúde pública na miséria, com pessoas morrendo pelos corredores dos hospitais por falta de recursos. Isso é um crime! Lula não pode passar à História como um bom governante. O que ele fez com o Bolsa-Família, plagiando o Bolsa-Escola, foi campanha política em cima dos mais pobres para se perpetuar no poder. A prova está aí, a presidente Dilma não conseguiu segurar pelo menos seis dos ministros indicados por ele, em apenas nove meses de mandato. Se a mídia peneirar mais fundo, poderá derrubar outra meia dúzia. VICENTE MUNIZ BARRETO

de seu comércio. Além da falta de licenças de funcionamento, havia denúncias de extorsão e a cobrança de propinas na feira. Somente 2.949 ambulantes com boxes autorizados podem permanecer no Pátio do Pari e ruas vizinhas, mas cerca de 7 mil ali têm pontos ilegais de venda – e grande número deles trabalha para imigrantes estrangeiros, nem todos em situação regular no País. É fácil entender que, sendo os pontos valiosos – chegam a custar R$ 300 mil –, a transferência de boxes era habitualmente feita mediante o pagamento de “luvas”. Como havia

Os fatos começam a mostrar que não pode haver tolerância com ambulantes ilegais um grande número de chineses no local, muitos dos quais entraram ilegalmente no País, havia suspeitas de pagamento de taxas de “proteção”, extorquidas de feirantes em benefício de determinados indivíduos ou grupos – uma prática típica do gangsterismo. Nos últimos meses, foram assassinados um líder de camelôs e um ex-administrador do local. O quebra-quebra e a verdadeira batalha campal travada entre a PM e manifestantes têm impedido que os passageiros de ônibus fretados desembarquem naquela parte do centro. São Paulo é um polo de atração para os sacoleiros de todo o País que aqui vêm, especialmente nos meses que precedem o Natal, para fazer com-

pras por “preços de atacado”. Existem pontos, no centro e em certos bairros, em que um comércio regular funciona para atendê-los. Mas não é esse o caso da Feirinha da Madrugada, formada há dez anos e que não tem autorização para funcionar emitida pelos órgãos municipais desde 2006. Entre os planos da atual administração municipal está a construção no local de um shopping popular, de um hotel, de duas torres comerciais, de estacionamento para carros e ônibus de sacoleiros, além de casaspopulares,aum custo previsto de R$ 400 milhões. O projeto, que serviria para a recuperação de uma área deteriorada, não parece viável. Entre outros problemas, a área, administrada pela Prefeitura, pertencia à antiga Rede Ferroviária Federal, e foi incorporada ao patrimônio da União, que não quer cedê-la em definitivo. Durante o quebra-quebra, alguns manifestantes portavam faixas com os dizeres “Camelô não é caso de polícia”. De fato, não é, em circunstâncias normais.Muitaspessoas sem qualificação profissional atuam no comércio ambulante para ganhar a vida. Fazem parte do grandesetorinformalda economia e sustentam honestamente as suas famílias. Coisa muito diferente é a ação de maltas, sob a orientação de lideranças criminosas, que usam de meios violentospara impedirqueasautoridades cumpram a lei e reprimam atividades escusas. Isso é casodepolícia,sim–easociedade espera que a fiscalização não esmoreça.

“Muda o infrator, mas não muda a quadrilha”

Ratos e príncipes

JOSÉ ROBERTO BORSARI / BARIRI, SOBRE A CORRUPÇÃO NO MINISTÉRIO DO ESPORTE jrborsari@terra.com.br

“PC do B(utim)...” J. S. DECOL / SÃO PAULO, IDEM decoljs@globo.com

EDUARDO PEPE eduardo.pepe@terra.com.br Iracemápolis

“Sugestão para uma nova sigla: PC do Bem-Bom”

Malfeitos

FAUSTO FERRAZ FILHO / SÃO PAULO, IDEM faustoferrazfilho@hotmail.com

E pensar que tudo começou com a compra mal feita de uma simples tapioca... Não importa o tamanho do malfeito, essa prática já se consolidou no DNA dos desonestos. JORGE T. SCHWARZENBERG jorge.thomas1@hotmail.com São Paulo

contribuindo para o reforço financeiro dos bancos. Menos de um mês depois de completada a aprovação das mudanças pelos 17 da zona do euro, os governos anunciaram, nessa quinta-feira, a disposição de ampliar para cerca de € 1 trilhão o total de recursos à disposição do fundo. Nas próximas semanas haverá o detalhamento do plano. O pacote recém-anunciado representa um enorme avanço, mas a superação da crise dependerá de ajustes severos tanto nos países comprometidos com programas de ajuda (Grécia, Irlanda e Portugal) como em algumas das maiores economias (Itália, Espanha e França), fortemente endividadas. Além disso, será preciso reordenar a união monetária e implantar uma disciplina fiscal sujeita a controle coletivo. Também isso está previsto e, para manter o euro, os governos terão de aceitar esse tipo de supervisão.

A tardia decisão no Esporte

dabmunizbarreto@hotmail.com Cruzeiro

O “PT C do B” que se cuide, na nossa “primavera árabe”, nós saberemos onde procurar os ratos – a exemplo de onde estão sendo encontrados, em tempo, os príncipes também.

zona do euro recomendam aos organismos nacionais de supervisão um acompanhamento próximo das medidas tomadas pelos bancos. Um dos objetivos é promover o ajuste mais pelo aumento do capital do que pela redução das aplicações. As instituições financeiras deverão, preferencialmente, buscar dinheiro no mercado, mas, se for necessário, os governos deverão destinar recursos públicos para a capitalização dos bancos. Será reforçado o principal fundo de resgate da região, a Linha Europeia de Estabilização Financeira, mais conhecida pela sigla EFSF (European Financial Stability Facility). Os 17 países da zona do euro sancionaram recentemente a reforma desse fundo e ampliaram sua dotação de cerca de € 250 bilhões para € 440 bilhões. Com a reforma, a ESFS pode atuar mais amplamente, ajudando com rapidez governos em apuros e

S

ó depois de a ministra Carmen Lúcia, do STF, anunciar na terça-feira que autorizara a abertura de inquérito para investigar, a pedido do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, os convênios do Ministério do Esporte na gestão Orlando Silva, a presidente Dilma Rousseff se rendeu à evidência de que o ministro do PC do B, herdado do governo Lula, tinha perdido as condições políticas de continuar no cargo havia já dez dias, com a divulgação de novas acusações contra ele. A presidente invocou o princípio da presunção de inocência diante da denúncia de que o ministro se envolvera pessoalmente no esquema de desvio de verbas do programa Segundo Tempo, para favorecer, se não a si próprio, o seu partido. É bem verdade que o delator, o PM do Distrito Federal João Dias Ferreira, tem ficha suja e chegou a ser preso pela Polícia Federal por suspeita de apropriação de recursos públicos. É verdade ainda que ele não apresentou provas cabais das irregularidades apontadas e que o seu comportamento, desde então, foi o de um farsante. Mas era de esperar que a verossimilhança de suas acusações, coerentes com o que já se sabia das sistemáticas maracutaias no Esporte – detalhadas neste jornal, em fevereiro último –, fosse mais do que suficiente para alertar a presidente do imperativo de se desfazer do titular de um Ministério que Lula entregara ao PC do B, já em 2003,

em regime de porteira fechada. Além disso, pesava o retrospecto de quatro escândalos que resultaram em baixas no seu Gabinete em nove meses de Planalto – um recorde na história da República. Das vezes anteriores, ela conseguiu fazer dos limões uma limonada ao personificar, perante uma opinião pública nauseada pela corrupção política, a faxina na administração federal, embora a reboque do noticiário. Agora, refém de seus dilemas, quando não do patrono Lula – arrimo durante duas semanas do militante de um partido do qual se sente devedor desde a sua pri-

Refém dos seus dilemas e do seu patrono, Dilma demorou para decidir e foi atropelada pelo STF meira candidatura presidencial –, Dilma permitiu que a sua imagem ficasse contaminada pela hemorragia do ministro, atingido, dia sim, o outro também, por revelações de “malfeitos” no seu entorno. Ela parece não ter entendido que em política não há presunção de inocência – ainda mais no Brasil, onde, ao longo do tempo, legiões de políticos fizeram por merecer a presunção de culpa. Em política, os conceitos são outros: responsabilidade e legitimação. Alheio a isso, um Orlando Silva destituído de legitimidade só dificultou a vida da chefe ao se agarrar irresponsavelmente ao posto como a ostra à pedra. Nos estertores, apelou para a ideologia de seu partido presumivelmente mo-

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Aldo Rebelo é o novo ministro do Esporte

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Nome do deputado foi indicado pelo PC do B e aceito por Dilma para substituir Orlando Silva ● “A sensação que o brasileiro tem é de que ninguém no governo escaparia de uma auditoria financeira.” TETSUO SHIMURA

● “Seja bem-vindo, ministro. Confio no seu trabalho, acompanhei seu empenho na relatoria do Código Florestal.” SERGIO DI PIERRO

HÁ 819 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Essa história de escolher um ministro por falta de opções não costuma dar certo.” PAULO ANDRADE

nolítico. A essa altura, porém, dando a batalha por perdida, os camaradas já se preocupavam mais em conservar a única pasta sob seu controle, de alto a baixo aliás, no primeiro escalão dilmista. (O PC do B tem ainda o comando da Embratur e da Agência Nacional do Petróleo.) Tendo demorado mais do que seria razoável para despedir seu sexto ministro (apenas Nelson Jobim, da Defesa, por motivos alheios à ganância), Dilma desperdiçou a oportunidadedeaparecerdenovoperanteasociedadecomoprimeira-faxineira. E perdeu, também, a ocasião de ser aplaudida pelo que seria uma decisão de alcance ainda maior – o início do desmanchedoenfeudamentopartidário da Esplanada dos Ministériosecercanias.Oformidávelreconhecimento público com que seria premiada, se fizesse valer a lógicarepublicana deque umórgãode Estadonãopode “pertencer”a um partido, lhedaria capital para enfrentar a zanga da base aliada, cuja ganância iguala desde o PP malufista ao PC do B da Guerrilha do Araguaia. Pior ainda, outra vez Dilma guindou ao seu superpovoado Gabineteumpolíticocomescassa intimidade dos assuntos do setor que lhe tocará conduzir – com a agravante, no caso, de uma Copa do Mundo e de uma Olimpíada no horizonte. Nada consta que desabone o deputado Aldo Rebelo, de quem se falava para o Ministério antes até do tardio velório de Orlando Silva. Mastampoucoconstaqueeletenha o mapa do que o memorável técnicoJoão Saldanha chamaria os subterrâneos do esporte.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 29 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

O problema não é só o Esporte Não haverá novos convênios com organizações não governamentais (ONGs), anunciou o novo ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Ele terá a dupla tarefa de limpar e reorganizar o Ministério e, ao mesmo tempo, impor o necessário padrão de seriedade e eficiência aos trabalhos de preparação da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Para ser completa, a faxina deverá incluir também uma revisão dos convênios em vigor – não de todos, provavelmente, porque já há evidências mais que suficientes de irregularidades em muitos deles. Mas o Ministério do Esporte é apenas uma das áreas do governo onde têm surgido escândalos com envolvimento de ONGs e de outras entidades “sem fins lucrativos”. Será necessário um esforço muito

mais amplo de higienização e de imposição de novos costumes e novas práticas administrativas, se a presidente Dilma Rousseff quiser mudar os padrões de gerenciamento e de uso de recursos públicos. Esse foi um dos compromissos assumidos em seu discurso de posse. O caso do Ministério do Esporte chama a atenção de modo especial por causa do grande número de ONGs envolvidas em seus programas e do vínculo de muitas dessas entidades com o PC do B. Já foram aplicados R$ 782,3 milhões no programa Segundo Tempo desde o seu início, na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quase metade, R$ 347,5 milhões, foi destinada a entidades “sem fins lucrativos”. Ainda não se fez um levantamento completo de quanto dinheiro foi desviado, mas a lista de bandalheiras divulgada só em 2011 deixa claríssimo um ponto: irregularidades foram componentes

importantes da rotina ministerial. Desvios de verbas entregues a ONGs também marcaram parte da história do Ministério do Turismo. Muito dinheiro foi passado a instituições desse tipo para treinamento de profissionais, como se houvesse, no Brasil, um enorme número de entidades qualificadas para esse trabalho. Parte das verbas foi gasta por iniciativa do pessoal do Ministério. Outra parte foi destinada a ONGs com base em emendas ao Orçamento federal. Para investigar fraudes em convênios a Polícia Federal executou a Operação Voucher e prendeu 36 pessoas. Uma das consequências foi a demissão do ministro Pedro Novais, o quinto a deixar o atual governo e o quarto a sair no meio de uma onda de denúncias de corrupção. Um dia depois da queda do ministro do Esporte, Orlando Silva, o ministro-chefe da Controladoria-Geral

da União (CGU), Jorge Hage, anunciou a preparação de novas medidas para controle dos convênios entre órgãos do governo e ONGs. Muitas entidades são criadas pouco antes da assinatura dos convênios e não têm a mínima condição de ser parceiras do governo, disse o ministro Hage. É preciso, segundo ele, mudar as normas, tornar mais transparentes os critérios dos contratos e separar claramente as entidades malandras das organizações sérias. Adotar regras mais severas pode ser uma boa ideia, mas cumprir aquelas em vigor já seria um belo avanço. Exemplo de negligência: o Ministério do Esporte fechou o exercício de 2010 sem analisar 1.493 prestações de contas, no valor de R$ 801 milhões. Não somente ONGs, mas e também entes públicos, como prefeituras, frequentemente deixam de prestar contas do dinheiro. Como complemento, há muito atraso no

exame das contas apresentadas. Neste ano, até 15 de agosto, o governo federal desembolsou R$ 1,62 bilhão para entidades “sem fins lucrativos”, como ONGs, igrejas, partidos, fundações e instituições de pesquisa. Muitas são entidades sérias e úteis para a realização de objetivos do governo. Outras não têm condições de receber dinheiro público para nenhuma tarefa. A mera discriminação das entidades sérias e não sérias seria só um primeiro passo para as mudanças necessárias. Uma reforma dos costumes políticos e administrativos teria de incluir uma revisão de critérios. Afinal, por que o governo depende tanto de entidades privadas? Por que o parlamentar deve ter o direito de atribuir verbas, por meio de emendas, a entidades de sua escolha? Estas perguntas são sugestões de como se poderia começar um reexame do assunto.

Fazer negócios continua difícil

Novos problemas com o Enem

curioso no relatório Doing Business 2012 do Banco Mundial (Bird), há pouco divulgado, não é a constatação de que a burocracia no Brasil tem aumentado. Isso não chega a ser novidade. O que chama a atenção do Bird, como exemplo de melhora, é “o sistema de informação sobre crédito, ao permitir que as agências privadas coletem e divulguem dados positivos”. Trata-se do cadastro positivo, já regulamentado por lei e que, felizmente, é opcional. As empresas e os cidadãos que se submeterem ao cadastro positivo têm de abrir mão de sua privacidade, ficando seu histórico financeiro à disposição de toda a rede bancária, com risco de invasão por pessoas inescrupulosas. Para os bancos, o cadastro positivo pode concorrer para aumentar a rentabilidade, mas para os clientes, que têm de preencher formulários e aguardar aprovação, não há benefício algum, uma vez que, como as próprias instituições financeiras afirmam, os bons pagadores não fazem jus a taxas mais baixas de juros ou a tarifas menores por serviços prestados. O que realmente importa é que o Brasil caiu, no relatório do Bird, da 120.ª posição para 126.ª entre 183 países. O grande empecilho para fazer negócios no mercado brasileiro continua sendo o tempo gasto para pagar impostos, considerando o número de tributos, o número de horas necessário para completar os procedimentos

Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) voltou a apresentar problemas de vazamento de questões pelo terceiro ano consecutivo. Desta vez, o incidente ocorreu em Fortaleza, onde 14 questões da prova de 2011 foram usadas dez dias antes num simulado aplicado a 639 estudantes por uma escola particular – o Colégio Christus. Pelas redes sociais, circulam informações de alunos de outras escolas que também teriam obtido previamente as perguntas do Enem. Com 180 questões e uma redação, a prova foi aplicada no último fim de semana e teve a participação de 4 milhões de estudantes. As notas serão utilizadas para selecionar 260 mil vagas em universidades. Os resultados do Enem são usados pelos colégios para autopromoção. Como é candidato a prefeito de São Paulo, desta vez o ministro da Educação agiu rapidamente. Antes que o Ministério Público tomasse a iniciativa de pedir a anulação da prova e a Justiça começasse a conceder liminares a estudantes que se sentiram prejudicados, como ocorreu nos dois últimos anos, Fernando Haddad determinou que os 639 alunos do Colégio Christus façam nova prova nos dias 28 e 29 de novembro – quando ela será aplicada a presidiários de todo o País – e acionou a Polícia Federal. As autoridades da área da educação não acreditam que o vazamento tenha ocorrido na gráfica que imprimiu a prova.

O

ra a liberdade do povo. E hoje, entronados no poder pelas mãos de Lula, roubam tudo o que podem do povo, em causa própria. Não existe verdadeiro comunista ou comunismo. Se existiu algum dia, faleceu com a queda do Muro de Berlim. Stalin, o assassino de 11 milhões de pessoas, era comunista? Na Coreia do Norte todo o povo passa fome, enquanto os líderes se banqueteiam no poder. Isso é comunismo? E no Brasil os comunistas se locupletam com o dinheiro do povo para encher os bolsos. Isso é comunismo? OLAVO BERGAMASCHI BARROS ligia.teodoro@hotmail.com Lins

Estranho...

Engraçado como no exato momento em que o ex-ministro, vinculado ao PC do B, é alvo de sérias acusações de irregularidades no Ministério do Esporte, o parti-

contábeis, preparar as declarações e, finalmente, fazer o recolhimento. No ranking mundial desse quesito, o Brasil ocupa o 150.º lugar, estimando o Bird que as empresas nacionais levam 2.600 horas por ano, em média, para ficar em dia com suas obrigações tributárias. Na América Latina em geral, são 382 horas, enquanto nos paísesmembros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) não passam de 186. Tem havido um certo avanço, com o Simples Nacional, que vem facilitando a vida de muitas micro e pequenas em-

O relatório sobre países onde é mais difícil fazer negócios continua a dar bom destaque ao Brasil presas, mas o universo contemplado pelo sistema ainda é relativamente pequeno. Um dos grandes objetivos de uma reforma tributária, como as entidades empresariais defendem há anos, é justamente reduzir o número de tributos e contribuições e torná-los de fácil compreensão. Mas entra governo e sai governo e essa reforma não progride, principalmente por falta de acordo entre a União, os Estados e os municípios sobre o quinhão de cada um sobre as receitas. Em alguns quesitos, o Brasil melhorou, ainda que pouco, como o número de dias que os empreendedores levam para abrir uma firma, item em que o Brasil subiu 5 posições ficando agora na 120.ª. Esse prazo no

do dele veicula nacionalmente propaganda sobre seus feitos e sua história, mas logo em seguida o Tribunal Superior Eleitoral julga um processo do PSDB do primeiro semestre de 2010 – mais de um ano depois – e tira o direito de propaganda do maior partido da oposição. Muito estranho... ROBERTO SARAIVA ROMERA roberto.saraiva@zf.com São Bernardo do Campo

Descrença

Por mais que acreditemos, por mais esperança que tenha um povo, num país onde a corrupção brota como água da fonte não há como não sonhar com mudanças, principalmente quando o partido que está no governo dizia que seu maior objetivo seria não roubar nem deixar roubar. VIRGÍLIO MELHADO PASSONI mmpassoni@gmail.com Jandaia do Sul (PR)

Brasil agora é, em média, de 119 dias (quatro meses), muito acima do exigido por países da América Latina (54 dias) e pelos países da OCDE (13). Ao todo, são necessários 13 procedimentos para abrir uma empresa no Brasil, uma boa parte dos quais poderia ser dispensada, sem perda de arrecadação e sem risco à segurança. Contudo, em um estado cartorial como ainda é o Brasil, a formalização de empresas não pode passar sem certos carimbos. Essa burocracia é, certamente, um dos fatores que contribuem para que muitos empreendedores prefiram trabalhar na informalidade, sem pagarimpostos.E, apesardoscontroles, existem burlas até em contratos com o governo, como mostram empresas fantasmas que frequentam o noticiário. Os critérios utilizados pelo Bird podem ser discutíveis sob alguns aspectos, como “proteção aos investidores”, em que o Brasilapareceem 79.ª posição, o que, aparentemente, não reflete apercepção dos investidoresinternacionais. Deve-se reconhecer,contudo,queaquelainstituição internacional vem trabalhandoparaaperfeiçoarsuaanálise. No relatório deste ano, por exemplo, foi introduzido mais um critério para avaliação do ambiente de negócio em um país – “obtenção de eletricidade”. Nesse quesito, o País obteve a sua melhor colocação: a 51.ª. O Brasil, contudo, diz a coordenadora do relatório, Sylvia Solf, está “na direção correta” e que tudo “é uma questão de tempo”. E de vontade política, vale acrescentar.

“Finalmente, fim do sigilo eterno! O do roubo eterno terá fim neste governo?” YOSHITOMO TSUJI / SÃO PAULO, SOBRE A CORRUPÇÃO y.ts@hotmail.com

“A ideologia termina quando começam a contar o dinheiro – PC do B e PT fazem isso muito bem” RENATO ROSA / SÃO PAULO, IDEM graficarealize@hotmail.com

O

Elas alegam que as questões vazadas já haviam sido utilizadas num pré-teste realizado no ano passado. Para definir as questões de cada versão do Enem, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) costuma testar, em colégios sorteados, centenas de questões. O pré-teste também permite ao MEC comparar os graus de dificuldade da prova entre um ano e outro. Formuladas por docentes contratados pela Fundação Cesgranrio e pelo Centro de Seleção e Promoção de Eventos da UnB, essas questões fazem parte de um banco com

O desvio dos objetivos e funções do Enem tem sido causa de boa parte dos seus problemas 20 mil perguntas. Um dos estabelecimentos selecionados para o último pré-teste foi o Colégio Christus. Na ocasião, foram distribuídos 16 cadernos de questões. Após a aplicação, eles foram recolhidos, levados para Brasília, corrigidos e incinerados. Segundo o ministro da Educação, nenhum caderno foi extraviado. Em entrevista coletiva, Haddad afirmou que funcionários do Colégio Christus teriam subornado um fiscal do Inep por ocasião do pré-teste e copiado o caderno. Independentemente da suspeita do ministro, os especialistas em educação alegam que os sucessivos problemas de vazamento das questões do Enem decorrem da inépcia com que o

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Flagrante de maconha gera confronto na USP

1.608

Prédio da diretoria da FFLCH foi invadido após PM abordar três alunos que portavam droga ● “Certo ou errado, a PM está cumprindo a lei. O que devemos fazer é um referendo sobre o consumo de maconha.” GRIGORI FERESIN

● "Protesto não deveria ser sinônimo de violência e depredação. Uma pena que nossa elite intelectual se comporte desse jeito.” FLAVIO PINHEIRO

HÁ 820 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “O mundo quer aprender como o cassetete, o gás e o uso da força alcançam sucesso na solução de problemas sociais.” FRANCISCO MENDES

MEC vem reformulando a função dessa prova. Previsto pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o Enem foi criado em 1998, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, com o objetivo de medir a qualidade do ensino médio. Era, basicamente, um mecanismo de avaliação. Em 2009, durante o segundo governo do presidente Lula, o MEC passou a usar os resultados da prova para classificar os vestibulandos das universidades federais. Com isso, o Enem se transformou num vestibular nacional unificado. Para os pedagogos, a partir do momento em que o governo converteu a expansão das universidades federais em bandeira política na eleição presidencial de 2010, Haddad teria tomado medidas equivocadas, implementadas às pressas. Além de considerar o banco de20milperguntaspequenodemais, tal a magnitude que o Enem alcançou, os especialistas lembram que a direção do Inep foi trocada três vezes nos dois últimos anos e acusam o MEC de açodamento. Para Tufi Machado Soares, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e considerado um dos principais especialistas em avaliação do País, a mudança da função do Enem só deveria ter sido iniciada depois que o Inep tivesse um banco com pelo menos 10 mil questões por disciplina. “O problema foi a pressa. A mudança no Enem deveria ter levado de três a quatro anos. Se o banco de perguntasfossemaior,nãohaveria a necessidade de testar questões em um ano para aplicá-las já no outro”, diz Soares.

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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 30 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Notas e Informações A3

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Notas & Informações

A baderna a serviço do crime A Cidade Universitária voltou a ser palco de confrontos entre estudantes e a Polícia Militar (PM). Os incidentes ocorreram na noite de quinta-feira e começaram depois que os policiais militares detiveram três alunos que fumavam maconha no estacionamento do prédio de História e de Geografia. Quando os levavam para o 91.º DP, a fim de registrar a ocorrência, os policiais militares foram atacados por cerca de 200 estudantes. Além de terem apedrejado seis viaturas policiais e ferido três soldados, os estudantes invadiram o prédio administrativo da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), onde praticaram atos de vandalismo, e anunciaram que só sairão do local após a revogação do convênio que permite à PM garantir a segurança na Ci-

dade Universitária. O convênio foi assinado após o primeiro caso de latrocínio no local, ocorrido em maio deste ano. A vítima foi um estudante de economia, assassinado ao reagir a uma tentativa de roubo. Entre janeiro e abril, os roubos na Cidade Universitária aumentaram 13 vezes e os atos de violência – tais como estupros e sequestros relâmpago – cresceram 300%. Até então, a Cidade Universitária – situada ao lado de uma favela – dispunha apenas de uma Guarda Universitária, que não pode portar armas e que conta com 130 agentes de segurança patrimonial, divididos em dois turnos, para proteger dezenas de prédios e fiscalizar seus estacionamentos, além das 100 mil pessoas que circulam diariamente pelo câmpus. Mas, apesar da crescente violência, minorias radicais constituídas por servidores, alunos e professores resistiam e continuam resistindo à presença da PM no câmpus.

Militantes de micropartidos de esquerda, eles associam a PM à “repressão”, alegam que a presença de policiais militares fere a autonomia universitária e classificam o câmpus como “território livre”. Alegando que a Cidade Universitária estava se convertendo em terra de ninguém, o Comitê Gestor da USP – apoiado pela maioria da comunidade acadêmica – superou as resistências políticas, elaborou um plano emergencial de segurança para a Cidade Universitária, definiu um modelo de policiamento aprovado por entidades de professores, alunos e funcionários e, em junho, fechou um acordo com a PM para colocá-lo em execução. É esse convênio que os invasores do prédio administrativo da FFLCH querem revogar. Para confirmar que se trata de movimento ideológico, eles apresentaram uma lista de reivindicações absurdas, impossíveis de serem atendidas, do ponto de vista jurídico. Além de apro-

veitar o incidente para fazer novas críticas ao reitor João Grandino Rodas e acusar a PM de agir como “o braço armado dos exploradores”, pedindo sua imediata retirada do câmpus, os invasores querem autonomia absoluta nos “espaços estudantis”. Reivindicam, ainda, a extinção de todos os processos administrativos e criminais contra estudantes, professores e funcionários. São centenas de sindicâncias e de ações judiciais instauradas pela reitoria para apurar desvios de conduta e punir quem depredou o patrimônio da USP e ameaçou a integridade física de colegas em assembleias, greves e piquetes. Em nota, o Diretório Central dos Estudantes (DCE-Livre) classificou a invasão da FFLCH e a oposição à presença da PM no câmpus como uma luta pelos “direitos civis”. Na realidade, o que está em jogo no câmpus da USP não são as liberdades públicas nem os direitos fundamentais de estudantes, professores e fun-

Novo modelo de limpeza

Façanha do Senai

Prefeitura de São Paulo resolveu mudar o atual modelo do serviço de limpeza pública da capital, que em quatro décadas não conseguiu atingir um nível de qualidade que justifique o seu alto custo para os cofres públicos. Há três meses, ao anunciar a nova licitação, o prefeito Gilberto Kassab afirmou que a mudança teria a mesma importância e impacto da Lei Cidade Limpa e da inspeção veicular ambiental. Além da varrição – que passará a ser feita também aos domingos – e da remoção de entulho, a licitação prevê a unificação, numa mesma concessionária, também da instalação e manutenção de 150 mil novas lixeiras confeccionadas com material reciclável, do gerenciamento dos resíduos dos Ecopontos e da limpeza e desobstrução de bueiros, bocas de lobo e galerias pluviais. O custo total dos serviços será de R$ 2,1 bilhões por três anos. Em locais de grande movimento serão usadas máquinas varredoras e as empresas serão obrigadas a instalar 1,5 mil novos pontos de entrega voluntária de recicláveis, inclusive em parques. Serão delas também as tarefas de lavar e conservar logradouros e monumentos, capinar os locais, pintar as guias e realizar as Operações Cata-Bagulho. Pelo sistema atual, a limpeza é feita por cinco empresas – Construfert, Unilest, Delta, Paulitec e Sustentare –, responsáveis por cinco áreas em que

s vitórias esportivas internacionais do Brasil costumam ser comemoradas com estrépito. Já não é o mesmo com as conquistas do País nos campos científico e educacional, que, até por serem raras, mereciam maior celebração. Este é o caso do grupo de 28 alunos do Senai que obteve o segundo lugar no disputado torneio WorldSkills International, realizado em Londres neste mês, com a participação de 944 competidores de 51 países, no qual os brasileiros ficaram atrás apenas da Coreia do Sul, superando, entre outras, as equipes do Japão, Suíça, Alemanha,França e EUA. O feito é particularmente relevante em uma fase em que o Brasil se ressente dafaltademãodeobraespecializada para sustentar o seu crescimento, evidenciando quanto o País pode avançar em termos de capitalhumano,seelevaraqualidadedoensinoeabrirmaisoportunidades para os jovens de todasasclasses sociais.Osresultadoscomprovamtambémaexcelência do ensino profissionalizante proporcionado pelo chamado Sistema S, que pode e deve ser ampliado. No mais importante torneio internacional de capacitação profissional, realizado a cada dois anos, em diferentes cidadesdomundo,osjovensbrasileiros participantes, procedentes de vários Estados, repetiram a conquista de 2007 e garantiram sua classificação pelo somatório das medalhas de ouro (seis), de prata (três) e de bronze (duas), além de dez certificados

A

RUTH DE SOUZA L. E HELLMEISTER rutellme@terra.com.br São Paulo

Penalidades sérias

Sabem o que vai acontecer com o ex-ministro do Esporte Orlando Silva e com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, num futuro bem próximo? Absolutamente nada! Exatamente igual ao que ocorreu com Antônio Palocci, Wagner Rossi, Alfredo Nascimento e Pedro Novais. ANGELO TONELLI angelotonelli@yahoo.com.br São Paulo

Mordaça

Sobre as denúncias que derrubaram Orlando Silva: se o governo não demite, a mídia demite. E depois ainda querem calar quem fiscaliza este país!

a cidade foi dividida. Os contratos vencem em novembro, quando o prefeito pretende colocar o novo modelo em operação, se nenhuma disputa judicial atrapalhar o cronograma. No novo modelo, São Paulo será dividida em apenas duas áreas e os dois consórcios vencedores poderão ser compostos por até três empresas. Com quase 13 mil funcionários dedicados à limpeza da cidade, se bem fiscalizado, o novo modelo poderá ajudar a resolver um dos principais problemas enfrentados pelos paulistanos – as enchentes –, agravado pela enorme quantidade

Vamos ver se com essa novidade o prefeito consegue uma cidade realmente limpa de lixo que entope os bueiros e vai parar nos rios e córregos. Como em tudo nos serviços públicos, o rigor da fiscalização do novo modelo de limpeza pública será fundamental para que os resultados pretendidos sejam alcançados. Nesse particular, o modelo tem um ponto positivo – a avaliação dos paulistanos sobre a qualidade dos serviços prestados terá influência na remuneração das concessionárias. Elas deverão manter atualizadas na internet as informações sobre os serviços prestados, com a identificação dos profissionais responsáveis por eles. Haverá canais de comunicação da Prefeitura com a população para que esta se manifeste. Avaliações negativas implicarão punição,

ROGÉRIO VILELA SILVA rogervs_sgs@hotmail.com São Gonçalo do Sapucaí (MG)

DOCUMENTOS SECRETOS O fim do sigilo eterno

A julgar pela formidável resistência mostrada por alguns congressistas a aceitar o fim do sigilo, não causaria nenhuma surpresa, na atual conjuntura política, se muitos documentos que possam constituir prova de grandes mutretas passassem a ser carimbados como “ultrassecretos”. Sarney e Collor que o digam, seja em causa própria ou em “apoio” a competentíssimos ministros de Estado recentemente defenestrados, aos que certamente ainda o serão e aos demais membros dos três Poderes participantes do butim à República. LAZAR KRYM lkrym@terra.com.br São Paulo

por meio da redução do valor pago à empresa. Em casos graves, o contrato poderá ser rescindido. O diálogo entre a administração municipal e a população é sempre útil, mas não substitui a necessidade da ação rigorosa dos fiscais in loco e no dia a dia. Em dezembro passado, o relatório da CPI das Enchentes da Câmara Municipal mostrou que, por falta de fiscalização eficiente das subprefeituras, garis de empresas de varrição jogavam dentro dos bueiros montes de sujeira acumulados durante o trabalho nas ruas. Foram constatadas falhas nos serviços até mesmo nas áreas centrais da cidade. O problema é que as próprias empresas de varrição enviam à Prefeitura relatórios sobre o trabalho prestado, num sistema de autocontrole, raramente contestado pelos fiscais. Meses atrás o prefeito Gilberto Kassab garantiu que haveria inovação na fiscalização, mas, infelizmente, esta se resume àquele sistema de avaliação dos paulistanos, o que está longe de ser suficiente. Pelas regras da licitação, as empresas continuarão responsáveis pelo envio de seus relatórios, exatamente como no sistema que vigorou nos últimos anos, sem a devida fiscalização dos dados. Mais uma vez, a Prefeitura joga nas costas do cidadão o dever de denunciar os serviços mal executados para, então, decidir se pune ou não quem recebe tanto e entrega tão pouco. Este é o ponto fraco do novo modelo, que poderá comprometer o seu desempenho.

“O que Aldo Rebelo entende de esportes? Quem sabe, já foi campeão no jogo de palitinho?!” ROBERT HALLER / SÃO PAULO, SOBRE O NOVO MINISTRO robelisa1@terra.com.br

“Com a ascensão de Aldo Rebelo a ministro do Esporte, o saci-pererê tornou-se favorito para mascote da Copa de 2014” FLÁVIO JOSÉ RODRIGUES DE AGUIAR/ RESENDE (RJ), IDEM flavio.daguiar@gmail.com

A

de excelência, o que os coloca entre os mais bem preparados do mundo. Como destacou o professor José Pastore, em artigo no Estado de terça-feira (25/10), já vão longe os tempos em que as famílias rejeitavam certas profissões por serem de “mãos sujas”, uma concepção ultrapassada em vista da demanda crescente em todo o mundo de profissionais especializados em setores como desenho mecânico, eletrônica industrial, mecânica de refrigeração, mecatrônica, web design e joalheria, para mencionar apenas as especialidades em que os alunos doSenai mais se destaca-

Um torneio de grande valor em que, mesmo sem ‘ouro’, o Brasil teve destaque notável ram. E é justamente em áreas técnicas, como estas, onde está a melhor oferta de empregos. “Numa pesquisa feita em junho de2011pelaUniãoEuropeia”,relata Pastore, “71% dos entrevistados indicaram que as escolas profissionais desfrutam de uma imagemaltamentepositiva.Cerca de 80% consideram o ensino técnico como absolutamente necessário para as empresas e para as pessoas, que, com ele, passamatermelhoresoportunidades de trabalho.” Executivosdecompanhiasnacionais e internacionais têm-se queixadomuitas vezesnão só dá escassezdeengenheiros,pesquisadoreseespecialistasdealtonívelpara que possamtocar novos projetos no Brasil. Eles constatam uma falta ainda mais aguda

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‘Ter bilhões não é nada demais’, diz Bill Gates

586

Segundo mais rico do mundo, exCEO da Microsoft diz que de milhão para bilhão não muda muita coisa ● “É verdade. Sou feliz sofrendo para pagar minhas contas em dia e ainda usar seus programas em versões piratas.” EDILSON DUARTE DE OLIVEIRA

NILSON OLIVEIRA POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Deveria haver um teto. Acima de tal valor, a grana tem que ser compartilhada. Impostos para grandes fortunas, já.” MARTA MARTINZ

de “tecnólogos”, como designam os profissionais de nível médio, capazes de fazer a ponte entre as equipes de gestão e o chão da fábrica, de encarregarse de trabalhos que exigem períciaeprecisãooudepessoashabilitadas a atender diretamente o público na prestação de serviços. As próprias empresas chamam asi a tarefade treinar esses profissionais, mesmo sabendo que correm risco de perdê-los para a concorrência, em face da demanda dessa mão de obra no mercado.Importar técnicos éàs vezesasolução,emuitasempresas têm feito isso, aproveitando a recessão e o desemprego no mundo desenvolvido. Mas está claroqueointeressenacionalrequer que brasileiros, em número cada vez maior, sejam qualificados para ocupar essas vagas. O governo não ignora essa deficiência, e escolas técnicas têm sido instaladas em várias regiões. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais, as matrículas em escolas profissionalizantes atingiram 10% do total dos alunos de nível médio em 2009, o dobro de 2001(5%), mas aindaassim uma quantidade insuficiente para atender às necessidades atuais do País e, principalmente, do futuro. Os resultados WorldSkills International dissipam qualquer dúvida sobre a importância fundamental do Sistema S nesse quadro. O Senai não só capacita seus alunos, mas seleciona os melhores para representar o País. Ao brilharem no exterior, eles servem de exemplo no plano interno.

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

● “Grande coisa é levantar todo dia às 6 horas e pegar metrô e ônibus lotados. Isso sim é grande coisa.”

HÁ 821 DIAS

cionários. Quando invocam o princípio da autonomia universitária e pedem que a PM seja expulsa do câmpus, os baderneiros fazem o jogo dos assaltantes, assassinos, estupradores e traficantes de drogas. É evidente que, desde o início do convênio firmado com a reitoria, a presença de policiais militares na Cidade Universitária vem prejudicando os negócios dos fornecedores de drogas, reduzindo seus lucros. Além de se colocarem – consciente ou inconscientemente – a serviço do crime organizado, os invasores cometem outro erro. Eles confundem “território livre”, expressão usada na academia para designar a livre troca de ideias, com uma república independente – como se a USP existisse à margem do Estado e da sociedade que a sustentam. O que ocorreu no embate com a PM e com a invasão da FFLCH não são atos de rebeldia intelectual – são apenas demonstrações de irresponsabilidade e de alienação ideológica.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 69,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 31 DE OUTUBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

A lei da lavagem de dinheiro Depois de demoradas negociações com as lideranças partidárias, o governo conseguiu que a Câmara dos Deputados aprovasse importantes mudanças na legislação que coíbe a lavagem de dinheiro, tornando-a mais rigorosa. Para o Palácio do Planalto, a nova lei é uma resposta da presidente Dilma Rousseff à onda de denúncias de corrupção que, desde junho, a levou a demitir cinco ministros de Estado. O projeto original foi apresentado em 2003 e era de autoria do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). Em oito anos de tramitação, foi reformulado diversas vezes. A última, na semana passada, com base em sugestões dos órgãos que integram a Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro

(Enccla). Reunindo representantes dos Três Poderes, do Ministério Público e da sociedade civil, a Enccla começou a funcionar em 2003 – ano em que também foi criado o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional. Originariamente, a Enccla compreendia 28 órgãos. Hoje, são mais de 60, com a presença de representantes da Agência Brasileira de Inteligência, do Tribunal de Contas da União, do Conselho Nacional de Justiça e da Febraban. Esses órgãos se reúnem anualmente para definir as medidas necessárias para assegurar o cumprimento da lei que coíbe a lavagem de dinheiro. Editada em 1998, a primeira lei punia crimes de ocultação de bens com pena de reclusão de 3 a 10 anos e determinava que as empresas mantivessem cadastro com suas movimentações bancárias – além de obrigá-las a prestar contas ao Conselho de Controle de Ativida-

des Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda. Essa lei foi concebida com base num projeto formulado na década de 1990 pelo Grupo de Ação Financeira Internacional. Criado para propor medidas de combate à corrupção, crime organizado e financiamento do terrorismo, o órgão funciona em caráter informal na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Apesar de o Brasil não pertencer à entidade, ela estimulou o País a adotar suas propostas no campo do direito penal econômico. Como o governo do presidente Lula não se interessou pelo tema, o projeto de Valadares teve lenta tramitação. No Senado, demorou cinco anos para ser votado. Chegou à Câmara em 2008 e só em 2010 as comissões técnicas dessa casa do Congresso o aprovaram. Para criar o que chamou de “agenda positiva”, há alguns meses Dilma decidiu acelerar

Rodovias precárias

A

Pesquisa CNT de Rodovias 2011, desenvolvida entre 27 de junho e 4 de agosto e divulgada quarta-feira passada, mostra que 57,4% das estradas de rodagem do País têm deficiências e 26,9% estão em situação crítica. São números menos ruins do que os da metade da década passada, quando mais de 70% das rodovias tinham deficiências. Mas, recentemente, tem havido aumento do número de acidentes e de mortos e feridos nas estradas. Além disso, segundo os especialistas da Confederação Nacional do Transporte (CNT), o custo econômico dos acidentes chegou a R$ 14,1 bilhões, em 2010, superando os investimentos do governo federal na área rodoviária, de R$ 9,85 bilhões. O número de pontos críticos das estradas passou de 109, na Pesquisa CNT de 2010, para 219, no levantamento deste ano. É a 15.ª pesquisa da CNT sobre o mesmo assunto, abrangendo, neste ano, 92.747 km de estradas pavimentadas – 100% das rodovias federais, principais rodovias estaduais e estradas concedidas à iniciativa privada. As discrepâncias entre a conservação das estradas sob a responsabilidade do governo e do setor privado são enormes: nos 15.374 km de vias sob concessão, 48% são ótimos; 38,9%, bons; 12%, regulares; e apenas 1,1%, ruins – nenhuma foi considerada péssima. Já nos 77.373 km de rodovias sob gestão pú-

derivativas intervenções urbanísticas ao longo dos corredores de transporte, com 300 metros de cada lado, e no entorno das estações de embarque, num raio de 600 metros. Há leis para esses princípios pioneiros. Após o período atuando junto ao Executivo municipal, concluo que a função de ombudsman, originária da Suécia com o significado de agente da sociedade, não cabe ao setor publico, mas à sociedade civil organizada. Ao tema estou me dedicando e peço a ajuda de todos, pois é minha nova contribuição, visando à qualidade de vida da sociedade. LUIZ CÉLIO BOTTURA, engenheiro luizcelio@bottura.eng.br São Paulo

PRECATÓRIOS Ainda às escuras

Decorridos 15 dias da publicação da minha carta sob o título que o Fórum dos Leitores lhe atribuiu

blica, apenas 5,6% foram considerados ótimos; 28,2%, bons; e 34,2%, regulares. As ruins chegam a 21,5% e as péssimas, a 10,5%. As deficiências analisadas no levantamento são de pavimento, sinalização e geometria viárias. Veículos pesados, que representavam 32% da frota de caminhões, em 2009, o dobro dos 16% de uma década atrás, transportam com frequência mais tonelagem do que a permitida. Estão entre os grandes responsáveis pelo desgaste prematuro das vias, pois a fiscalização é deficiente ou inexistente. Isso aumenta a insegurança e os cus-

O descaso com as rodovias gera aumento do número de acidentes com mortos e feridos tos de transporte rodoviário de todos os usuários, de veículos de passeio a ônibus ou microônibus, que proporcionam o deslocamento de trabalhadores para as empresas e de escolares, ou dos que transportam cargas leves. A sinalização é outro aspecto crítico: placas, painéis e marcas no pavimento são essenciais para a segurança do tráfego, mas são, frequentemente, malconservados, objeto de vandalismo ou de puro desinteresse dos órgãos responsáveis pela fiscalização das estradas. É criminoso o descaso com placas de intersecção, por exemplo, que indicam cruzamentos e entroncamentos. Apenas 16,6% das estradas têm ótima sinalização, enquanto em 28,2%

(Sem ver a cor do dinheiro, 17/10), até hoje nem a Justiça nem a Prefeitura de São Paulo se dignaram a responder como funcionam as listas de precatórios, demonstrando assim qual é o interesse existente no atendimento dos cidadãos. A única manifestação que recebi foi do meu advogado, cujo nome apareceu na citação da publicação feita no Tribunal de Justiça – citação que eu deveria ter feito entre aspas, mas por lapso não o fiz. Entretanto, o advogado não tem por que protelar o pagamento, até porque depende de sua consecução para receber seus honorários. O conceito de publicidade não se deve ater apenas à publicação, mas à ampla e explícita divulgação dos fatos, incluindo as informações sobre prazos e andamentos a serem cumpridos, o que não ocorre neste caso, pois continuamos às escuras. CORINTO LUIS RIBEIRO corinto@corinto.arq.br São Paulo

sua tramitação. A redação da versão final ficou a cargo da Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, mas o texto não foi bem recebido pelas lideranças partidárias por causa de dois artigos. O primeiro permitia que o Ministério Público e a polícia tivessem acesso, sem autorização judicial, a dados pessoais de investigados. O segundo artigo permitia à polícia utilizar bens de investigados durante o processo. Os deputados alegaram que esses dispositivos davam a delegados e promotores a prerrogativa de vasculhar livremente a vida de qualquer cidadão. Para assegurar a votação do projeto, o governo suprimiu esses dois artigos. Pelo texto aprovado, consultores, empresários de jogadores de futebol, doleiros e juntas comerciais terão de informar ao Coaf qualquer movimentação suspeita ou que exceda R$ 100 mil em espécie. Quem descumprir a regra poderá incorrer em

multa de até R$ 20 milhões (pela lei em vigor, ela não passa de R$ 20 mil). Entre os alvos do projeto estão as consultorias imobiliárias, os estabelecimentos comerciais ou industriais, as empresas de gestão de fundos e valores mobiliários, a abertura de contas bancárias e de poupança e a criação e gestão de fundações. A partir da sanção da lei, entidades envolvidas com a Copa do Mundo de 2014 – como o Comitê Organizador Local (COL), que tem um orçamento de R$ 200 milhões – também terão de se submeter ao controle do governo. Por aumentar os controles governamentais e as penas para o crime de lavagem de dinheiro, as mudanças introduzidas na legislação penal econômica são oportunas, mas polêmicas. Mas caberá ao Senado escoimar do projeto aprovado pela Câmara os dispositivos que põem em risco as liberdades públicas.

O mercado jurídico brasileiro ela é ruim ou péssima. A geometria só é ótima ou boa em 23,2% das vias, sendo ruim ou péssima em 49,5% das estradas. As deficiências na construção tornam-se ainda mais graves numa malha rodoviária pavimentada constituída por 88,3% de pistas simples de mão dupla, e 42,1% não têm acostamento. O resultado é que em quatro rodovias federais, BR-381 (MG), BR-101 (ES), BR-470 (SC) e BR-101 (SC), registraram-se, em 2010, 4.794 acidentes com feridos, e 328 acidentes com mortos. O levantamento de 2011 da CNT reforça evidências conhecidas, indicando que, em média, as rodovias das Regiões Sudeste e Sul são as que apresentam melhores condições. Já nas estradas do Nordeste, mais de 30% são ruins e, nas do CentroOeste, as rodovias ruins e péssimas passam dos 35%. Nada se iguala, porém, à situação deploráveldasrodoviasdaRegiãoNorte, onde apenas 0,8% é ótimo e 12,7%, bom, enquanto as ruins atingem 31,8% e as péssimas, 23,2%. Anteacarênciadeinvestimentos no transporte ferroviário e fluvial, a única alternativa para a maioria dos transportadores são as rodovias, que respondem por cerca de 60% dos transportes de carga no País. Os agentes econômicos, em resumo, estão à mercê da política rodoviária federal, que ignora o êxito das concessões de estradas à iniciativa privada, bem-sucedidas em São Paulo, permitindo até a redução do valor dos pedágios, como ocorreu na Rodovia Ayrton Senna.

“Há políticos com as barbas de molho: será a minha vez?” ANTONIO CARNIATO FILHO / SANTA RITA DO PASSA QUATRO, SOBRE A CORRUPÇÃO antoniocarniato@gmail.com

“Parece-me que basta a economia estar aquecida para a indignação nacional contra os seguidos casos de corrupção descansar em berço esplêndido” ALEXANDRE FUNCK / BRAGANÇA PAULISTA, IDEM afunck1@gmail.com

E

m recente reunião com os dirigentes do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a presidente eleita da American Bar Association (a Ordem dos Advogados dos EUA), Laurel Bellows, propôs que as duas entidades criem uma comissão para discutir a abertura do mercado brasileiro de serviços legais. Ela também manifestou preocupação com os processos que tramitam nos tribunais de ética e disciplina da OAB, questionando parcerias entre escritórios brasileiros e estrangeiros. Pela legislação em vigor, advogados estrangeiros só podem atuar no Brasil como consultores em matérias relacionadas ao direito de seus países de origem. Além de terem de se cadastrar na OAB, eles não podem comandar ou influenciar a gestão dos escritórios nacionais nem compartilhar instalações. Segundo o jornal Valor, 80 dos 100maiores escritóriosde advocacia do mundo já atuam no País no mercado de consultoria em direito estrangeiro, que movimenta US$ 15 bilhões por ano. Este ano, a OAB suspendeu porquatromesesoexercícioprofissional de dois advogados paulistas, acusados de se associar irregularmente a um escritório americano. Foi a primeira vez que a entidade tomou uma decisão tão dura. Ela entendeu que o escritório dos dois advogados servia de fachada para uma banca de Miami. O interesse dos escritórios estrangeirosem atuarno Brasilde-

corre do alto número de fusões de empresas brasileiras, dos investimentos do governo em gás e extração de petróleo na camada pré-sal e da chegada de empreiteiras multinacionais com o objetivo de participar das licitações para as obras de infraestrutura da Copa do Mundo de 2014 edaOlimpíadade2016.Grandes escritórios brasileiros têm interesse em aprofundar parcerias – eatéem sefundirem– comgrandesfirmasmundiaisdosetor.Algumasáreasdaadvocaciaempresarial são tão rentáveis que, na Inglaterra, entrará em vigor em 2012 uma lei que permite o controle das firmas de advocacia

Empresas de advocacia americanas querem operar no Brasil e encontram resistências por empresários do setor de serviços e até por fundos de investimento.Pela nova lei,a advocacia passa a ser um negócio como qualquer outro. No Brasil, a atuação das bancas estrangeiras é regulamentada pelo Provimento 91 da OAB, que é uma “autarquia especial”. Baixado em 2001 com o objetivo de preservar a “soberania da advocacia brasileira”, o Provimento91consideranulososatospraticados por advogados não inscritosnaentidade.Éessalegislação que a presidente da American Bar Association quer revogar,sobaalegaçãodequeaglobalização unificou os mercados de bens e serviços e aprofundou o caráter transnacional dos negócios. “Na medida em que o mundo se torna mais plano, precisa-

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Lula segue em casa e não recebe visitas

1.015

Médicos recomendam que ex-presidente, com um tumor na laringe, repouse e preserve sua voz ● “Campanha! Lula, faça o tratamento pelo SUS!” PAULO DUARTE

● “Lula, te amamos. E o amor do povo brasileiro será um dos principais remédios para sua imediata cura.” ROSA H. FERNANDES

HÁ 822 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Seu quadro transcende ideologia ou paixão política; desejo que ele se recupere e possa refletir, para lutar para que todo brasileiro tenha as mesmas possibilidades de seu tratamento.” CLÓVIS DE MORAES LUI

mosconstruir relações entre advogados não só em torno dos direitos individuais, mas também em questões econômicas”, diz Bellows. Há algumas semanas, autoridades inglesas da área de comércioexterioranunciaramqueproporão ao governo brasileiro a aberturadomercadojurídiconacional. Representando 102 entidades de advogados das três Américas,aFederaçãoInteramericana de Advogados promoveu recentemente uma reunião para que elas discutissem a questão. Procurando garantir a reserva de mercado para seus filiados,aOAB semprefoi contra essamedida, lembrandoqueos Estados Unidos e a União Europeia também criaram barreiras parao ingresso deadvogados estrangeiros. Por seu lado, as empresas estrangeirasalegamqueosadvogados brasileiros não estão preparados para atender às suas demandas, especialmente nos casos de contratos que envolvem questões muito específicas, do ponto de vista técnico e econômico. Os defensores da reserva demercadoreconhecemaslimitações do ensino jurídico, mas alegam que parte dos advogados brasileiros tem capacitação técnica, conhecimento linguístico superior aos dos colegas estrangeiros e “compromisso deontológico adequado aos interesses nacionais”. Por envolver grandes interesses econômicos e políticos, essa discussãoprovavelmenteacabarásendodeslocadaparaorganismos multilaterais responsáveis pela regulação do comércio mundial.

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 1 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Cristina, sim; peso, não Vote no governo, mas não confie na moeda. Os argentinos, fiéis a esse lema, reelegeram a presidente Cristina Kirchner com 54% dos votos, em primeiro turno, mas continuaram mandando dólares para o exterior. Também fiel a velhos costumes, o governo voltou a intervir no mercado de câmbio, para dificultar a compra de moeda estrangeira e conter a sangria de reservas. A partir dessa segundafeira, o comprador – empresa ou pessoa física – tem de explicar de onde saiu o dinheiro para a transação e o destino da moeda comprada. A operação só será completada com autorização do Fisco, isto é, da Administração Federal de Rendas Públicas. Como de costume, a intervenção deverá servir principalmente para complicar a vida de quem precisa de moeda

estrangeira. Servirá também, naturalmente, para estimular os negócios no mercado paralelo e para reforçar a desconfiança em relação à solidez do peso. Oficialmente, não haverá novas limitações à compra de moeda estrangeira. O governo só pretende, segundo seus porta-vozes, tornar as operações mais transparentes e combater a lavagem de dinheiro. Mas ninguém, dentro ou fora do governo, deve levar a sério essa conversa. Desde o começo do ano, os argentinos mandaram para fora do país uma soma estimada em US$ 21,8 bilhões. Isso é bem mais que o dobro do superávit comercial acumulado de janeiro a setembro (US$ 8,2 bilhões). O superávit comercial de todo o ano passado chegou a US$ 11,6 bilhões, pouco mais de metade do valor remetido neste ano até agora. A principal motivação para a evasão, apontada por analistas, é muito

simples: os argentinos não acreditam nos números oficiais da inflação e apostam numa próxima desvalorização cambial. Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), os preços ao consumidor subiram neste ano 7,3% até setembro e acumularam uma alta de 9,9% em 12 meses. Escritórios privados estimam uma inflação anual próxima de 25%. O dólar oficial, cotado ontem a 4,26 pesos, poderá chegar até o fim do ano a 5 pesos ou muito perto desse valor, segundo se especula no mercado. O Banco Central (BC) poderá intervir para conter a desvalorização da moeda argentina, porque isso realimentará a inflação. Mas, ao mesmo tempo, o governo terá de pensar no comércio exterior. A valorização do dólar ajudará a elevar as exportações e a conter as importações. Na maior parte do tempo o BC tem procurado manter o peso depreciado. Mas essa política foi abandona-

da, pelo menos provisoriamente, no esforço para conter o envio de dólares ao exterior. Em setembro, a autoridade monetária vendeu no mercado US$ 1,5 bilhão, para enfrentar a onda compradora. Em outubro, o valor vendido aumentou para US$ 1,78 bilhão. No ano passado, a saída de moeda estrangeira (US$ 11,4 bilhões) praticamente igualou o superávit comercial. Neste ano o volume de remessas cresceu aceleradamente e já está muito próximo do recorde anterior, de 2008, quando a saída chegou a US$ 23,1 bilhões. Segundo estimativas correntes no mercado financeiro, os argentinos mantêm fora do país cerca de US$ 160 bilhões. Só em setembro e outubro mais US$ 7 bilhões, aproximadamente, devem ter sido mandados para o exterior, segundo cálculos de especialistas privados. Os argentinos, segundo o presidente Néstor Kirchner, continuavam

pensando em dólares, muito tempo depois de encerrada oficialmente a desastrosa experiência da paridade entre a moeda argentina e a americana. Mesmo naquele período, os argentinos jamais haviam levado muito a sério a equivalência das duas moedas. A prova disso é muito clara: credores preferiam quase sempre contratos em dólares. Isso valia para negócios tão diferentes quanto aluguéis e compras a prazo. O governo quebrou e teve de impor um calote a credores nacionais e estrangeiros porque sua dívida era quase toda em moeda americana. O cidadão argentino pode encontrar motivos para manter no governo o nome Kirchner, mas sua confiança tem limites muito claros. Como acreditar na moeda, se o governo é um conhecido manipulador de estatísticas e prefere a mágica dos controles à solução técnica e efetiva dos grandes problemas?

Licenciamento ambiental

Pizza na Assembleia Legislativa

Secretaria de Estado do Meio Ambiente e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) desenvolveram em parceria um portal por meio do qual os empreendedores poderão requerer o licenciamento ambiental para atividades de baixo impacto e acompanhar cada etapa do processo pela internet. Com essa iniciativa, o governo paulista pretende unificar, modernizar e desburocratizar o licenciamento ambiental, tradicionalmente caracterizado pela lentidão, alto custo para o contribuinte e falta de transparência. Além do portal, também entrou em operação o Sistema Integrado de Licenciamento Ambiental (SIL) que reúne num só processo todas as exigências dos órgãos estaduais e municipais conveniados. Dessa forma, o empresário terá maior facilidade para obter as autorizações exigidas para lançar um novo empreendimento ou para renovar suas licenças ambientais. Uma série de exigências constantes de leis aprovadas nos últimos anos para assegurar a proteção ao meio ambiente tem inibido muitos empreendimentos. Sem o licenciamento, empreendedores não podem ter o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). No ano passado, em discurso pronunciado na região do ABC paulista, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a lentidão do governo paulista para aprovar projetos públicos, como o de

noticiário a respeito da venda de emendas parlamentares ao Orçamento do Estado, provocado pelas denúncias feitas há mais de dois meses pelo deputado estadual Roque Barbiere (PTB), tem incomodado os parlamentares paulistas, inevitavelmente igualados na imagem negativa que a opinião pública tem da Assembleia Legislativa. Para reverter essa situação, a atitude recomendada pelo necessário rigor ético e a indispensável transparência no trato da coisa pública seria colocar tudo em pratos limpos, por meio de um inquérito parlamentar, já que, no plano externo, o Ministério Público (MP) está atuando. Mas os integrantes do Conselho de Ética, obedecendo à orientação da liderança da maioria governamental na Casa, preferiram, por 5 votos contra 2, que tudo terminasse em pizza: decretaram a interrupção das investigações e da tomada de depoimentos no âmbito do Legislativo. Essa é a contribuição que a Assembleia Legislativa do Estado mais desenvolvido da Federação oferece para ilustrar o quadro de profunda deterioração ética e moral das instituições políticas brasileiras. É mais uma demonstração de que o desprezo pelo discernimento dos cidadãos já contamina todos os níveis de governo, todos os poderes, todos os partidos políticos. Os tucanos de São Paulo se comportam exatamente como os petistas&associados de Brasília, quando se

A

urbanização de favelas, que podem ajudar a melhorar a situação das pessoas que vivem em submoradias. Têm sido frequentes as críticas aos procedimentos de concessão das licenças ambientais, complicados pela burocracia, o que aumenta os custos e, consequentemente, contribui para reduzir a competitividade dos empreendimentos. A opinião de especialistas no assunto e as experiências de outros países apontam para a necessidade de valorização dos procedimentos técnicos e simplificação dos trâmites burocráticos. A integração das informações

O processo unificado de licenciamento ajudará a desburocratizar os pedidos das empresas e exigências dos diversos órgãos governamentais, a maior transparência, a modernização das estruturas, o fortalecimento da fiscalização e a participação popular completam as medidas que podem tornar mais ágil o processo de licenciamento ambiental. O projeto desenvolvido atualmente pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente em parceria com a Fiesp está no caminho certo. Na primeira etapa, o lançamento do portal e do Sistema Integrado de Licenciamento indica a preocupação com a unificação, modernização e desburocratização do licenciamento ambiental no Estado. Há dois anos, uma pesquisa do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp)

câncer. Está na hora de o governo brasileiro entrar na guerra e fazer um trabalho para acabar com essa doença maldita, que os laboratórios farmacêuticos do mundo não tiveram coragem nem interesse em fazer. Sabem por quê? Porque uma vacina contra o câncer não é viável para o sistema lucrativo de doenças. É a hora de o governo brasileiro incentivar uma unidade para descobrir a vacina contra essa doença. Essa iniciativa tem de partir do Brasil. É hora de o País financiar idealistas que estão perto da cura, não importa a nacionalidade desses cientistas.

FLÁVIO J. RODRIGUES DE AGUIAR flavio.daguiar@gmail.com Resende (RJ)

RICARDO CHACUR cabecascaninas@gmail.com São Paulo

Recuperação

Alarmante

Notícia publicada no Estadão de ontem (A7) deve ter deixado alarmada boa parte dos leitores mais atentos. Segundo o repórter, o

médico pessoal de Lula informou que o resultado da biópsia vai demorar alguns dias porque o material colhido foi enviado ao exterior para análise e – pasmem! – esse procedimento é considerado rotina. Não posso acreditar que resultados dos citologistas locais não sejam confiáveis e muito menos que seja rotineiro enviar material, retirado por biópsia, para análise ou confirmação de resultado no exterior. Com a palavra os nossos oncologistas.

Creio que todos aqueles que, como eu, não votaram em Lula também desejam ao ex-presidente uma rápida recuperação. FAUSTO FERRAZ FILHO faustoferrazfilho@hotmail.com São Paulo

mostrou que executivos de 80% das empresas gostariam de ser mais bem orientados nesses casos. Já em 2009, quando a Cetesb incorporou as atividades do Departamento Estadual de Proteção a Recursos Naturais e do Departamento de Uso do Solo Metropolitano, um primeiro passo foi dado para a unificação do processo de licenciamento, pelo menos no queserefereàsanálisesdeinstalações a serem erguidas em área de proteção ambiental. Mas a remoção dos obstáculos enfrentados pelos empreendedores requer mais do que isso.AtéacriaçãodoSistemaIntegrado de Licenciamento, que em breve vai se transformar numaespécie deViaRápidadaEmpresa,eramnecessáriasincontáveis visitas, incluindo, além da Cetesb, a do Centro de Vigilância Sanitária, a da Secretaria de Estado da Saúde, o Corpo de Bombeiros, a Secretaria de Segurança e órgãos municipais. Tudo isso, agora, está integrado no caso dos licenciamentos ambientais considerados de baixo potencial poluidor (fabricação de conservas, estamparia, hotéis, entre outros). A informatização do processopermitirá tambémaosprofissionais da Cetesb concentrarsemais nas atividades defiscalização e no atendimento às demandasrelativasàsgrandesfontes de poluição. Mais cem funcionários serão incorporados à companhiaparaaomesmo tempo reforçar a vigilância e facilitar o atendimento a essa parcela dos empreendimentos e das indústrias de alto impacto.

“Com todo o respeito, presidente Dilma, penso que o ex-ministro foi muito mais que meramente excepcional” RENATO GUIMARÃES JR. / CAMPINAS, SOBRE A ATUAÇÃO DE ORLANDO SILVA NO ESPORTE renatogjr@yahoo.com

“(V)Exame Nacional do Ensino Médio: 2009, 2010, 2011... Até quando?!” J. S. DECOL / SÃO PAULO, SOBRE O ENEM decoljs@globo.com

O

trata de escamotear bandalheiras que beneficiam interesses pessoais ou partidários. É tão cínica a atitude dos membros do Conselho de Ética da Assembleia que, para que não se alegue que a decisão foi, como foi de fato, a de varrer as denúncias para debaixo do tapete, estabeleceram um prazo de 15 dias para que o resultado das investigações até aqui feitas sobre o assunto seja reunido num relatório final a ser encaminhado ao Ministério Público. Ocorre que todo o material de que se dispõe para enviar ao MP é pouco mais do que as cartas enviadas ao Conselho pelo

Tucanos paulistas se igualam aos petistas de Brasília na omissão diante da corrupção deputado Barbiere e pelo deputado licenciado e secretário do Meio Ambiente, Bruno Covas (PSDB), documentos que já são de conhecimento público e nos quais não existe nenhuma referência concreta à denunciada venda de emendas parlamentares. Para se ter uma ideia da disposição com que Conselho de Ética tratou do assunto, basta dizer que dos 17 requerimentos de convocação de depoimentos e pedidos de informação apresentados – a maior parte, é claro, por parlamentares da oposição –, apenas 3 foram aprovados. Questionado sobre a relevância dos documentos a serem encaminhados ao Ministério Público, o deputado Campos Machado (PTB), autor do requerimento que pro-

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Justiça Federal anula 13 questões do ENEM

1.017

Decisão tomada na noite desta 2ª é válida para estudantes que prestaram o exame em todo o País ● “O mais importante não é saber quem copiou a prova, mas quem criou e mantém um sistema tão fácil de copiar.” LAÉRCIO DO VALLE

● “Acredito que os alunos prejudicados deveriam entrar em peso na Justiça.” GIL GONÇALVES

HÁ 823 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Novamente o Enem e seus tropeços. Muito obrigado a todos que mais uma vez contribuíram.” ANIELE DE MOURA

pôs o fim das investigações, saiu pela tangente: “Será encaminhado o que existe! O que tem nos autos. Se não tem nada, é outro problema”. Para não deixar o Legislativo sozinho na lambança, o Executivo também fez o que estava a seu alcance para esvaziar o assunto. Primeiro, o governador Geraldo Alckmin, no dia 12 de outubro, garantiu “transparência absoluta” no trato da questão e prometeu a divulgação da lista completa das emendas parlamentares a partir de 2007. Aí o assunto passou para o secretário-chefe da Casa Civil, Sidney Beraldo, que no dia 18 de outubro garantiu que em uma semana o governo divulgaria a relação de todas as emendas em seu site na internet. Desde então, Beraldo vem protelando a divulgaçãoprometida.Atéomomento só foram divulgados os restosapagarde2010 easemendaspagasem2011. No total,apenas 11% do valor que o governo reservou nos dois anos somadosparaopagamentodasemendas parlamentares. Em plena crise, os deputados aprovaram, em nome da “transparência”, a criação de um sistema de acompanhamento da tramitação das emendas e a obrigatoriedade de o governo do Estado enviar semestralmente à Assembleia um relatório sobre a execução orçamentária que detalhe a autoria, o valor e os beneficiários das emendas. Uma ferramenta que será certamente muito útil para que eles – os deputados – possam cobrar com mais eficiência o andamento das propostas de seu interesse.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 2 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Clima ruim para o G-20 Chefes de governo das 20 maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento – o G-20 – vão gastar os próximos dois dias em Cannes em mais uma reunião de cúpula que tem tudo para ser marcada por muitas cobranças, polidas acusações mútuas e pouco ou nenhum avanço na superação da crise internacional. Não bastasse o fato de a dívida pública na zona do euro continuar assustando os mercados, surge agora um novo sobressalto provocado pela decisão do primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, de convocar um referendo sobre o plano de ajuste recémnegociado com a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e os bancos credores. Os principais artífices do acordo sobre o socorro à Grécia, a premier alemã,

Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, marcaram para esta quarta-feira uma conversa, que deverá ser dura, com Papandreou. Mas também o acréscimo desse detalhe é insuficiente para desanuviar o cenário real. Sinais vitais continuam piorando. Em setembro o desemprego na zona do euro chegou a 10,2%, um recorde. Nos Estados Unidos, voltou a 9,2% recentemente. Novo número deve ser divulgado em Washington na sexta-feira, mas não deverá ser muito melhor, apesar de indícios de reativação do consumo. O plano econômico do presidente Barack Obama continua emperrado no Congresso e ele terá de fazer concessões em troca de uma aprovação parcial. Como de costume, as grandes economias capitalistas deverão cobrar do governo chinês uma nova estratégia de crescimento, com mais consumo e mais importações, e uma nova

política de câmbio, para valorização do yuan. Os chineses poderão queixar-se da política americana, e terão desta vez o apoio das autoridades japonesas. O Banco Central do Japão vendeu na segunda-feira cerca de 8 trilhões de ienes, equivalentes a US$ 100 bilhões, para deter a valorização de sua moeda, provocada pela depreciação da moeda americana e pela piora da crise europeia. A intervenção japonesa empurrou o dólar para cima, sem, no entanto, eliminar o problema. Com a economia ainda abalada pelos terremotos e pelo tsunami e por um desastre nuclear, o Japão depende da exportação para se reerguer. A valorização do iene, fator de encarecimento dos produtos japoneses, é mais indesejável do que nunca. Os governos do Japão e da China têm comprado e poderão continuar comprando papéis europeus e assim ajudar a rolagem das dívidas de al-

guns governos encalacrados. Mas estão pagando um preço elevado pela crise na Europa e nos Estados Unidos e não esconderão esse fato. Outros emergentes, incluído o Brasil, poderão ser convidados a contribuir para a superação dos problemas europeus. Até poderão aceitar, mas, quase certamente, deverão preferir canalizar a ajuda pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), em troca de maior influência na instituição. Além disso, a União Europeia poderá propor, segundo se informou no começo da semana, negociações setoriais de comércio como alternativa imediata à Rodada Doha, atolada há alguns anos em graves divergências. Mas os europeus, de acordo com informações adiantadas nos últimos dias, proporão discussões sobre serviços e bens industriais, sem abrir perspectivas de concessões no comércio de produtos agrícolas. Pelas informações até agora dispo-

níveis, será mais uma proposta indecorosa e inaceitável para o Brasil e outros exportadores interessados na liberalização dos mercados para o agronegócio. Também entre os europeus o clima é ruim. Os países do euro não deveriam ter permitido a entrada da Grécia, disse na semana passada o presidente Sarkozy. O referendo grego será uma decisão sobre a permanência da Grécia na união monetária, comentou nessa terça-feira o ministro de Relações Exteriores da Finlândia, Alexander Stubb. Mas há malestar também entre os grandes países da área. O ministro de Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, acusou Sarkozy de haver agravado a situação italiana. Sem o acordo a respeito da Grécia, afirmou Sarkozy, a Itália teria sido empurrada para a beira do abismo. Se tudo isso for levado à mesa, a reunião do G-20 será uma briga de cortiço.

O mau exemplo da Prefeitura

Freio à farra dos convênios

evemos receber com cautela o anúncio de mais um plano da administração municipal para melhorar o estado lastimável em que se encontra a maior parte dos 30 mil quilômetros de calçadas da capital paulista. É verdade que a nova lei na qual o plano se baseia cria mecanismos importantes para se atingir aquele objetivo, como o aumento do valor das multas para os particulares que não cuidam como deveriam das calçadas e condições para aumentar a eficiência da fiscalização. Mas a má conservação das calçadas em frente de órgãos e estabelecimentos públicos municipais, mostrada em reportagem do Estado, levanta dúvidassobreacapacidadedaPrefeitura de levar adiante aquele plano. Ela certamente encontrará dificuldades para exigir dos outrosaquiloquenão conseguefazer e que é sua obrigação. Já neste mês de novembro, seráaumentadoo valordasmultas aplicadas aos responsáveis por calçadas esburacadas, sujas ou com obstáculos que impeçam ou dificultem a circulação de pedestres. No caso dos buracos, ela será de no mínimo R$ 300(hoje éde R$ 96,33) eaplicada na hora ao ocupante do imóvel, seja ele proprietário ou inquilino. Antes, só o dono do imóvel podia ser autuado, o que frequentemente dificultava o processo que leva à punição. A Lei 15.442 também aumentou de 0,9 m para 1,2 m a área da calçada reservada à passagem livre dos pedestres. Nes-

a mesma segundafeira em que a transmissão do cargo no Ministério do Esporte se converteu em ato de desagravo ao titular afastado, Orlando Silva – a quem a presidente Dilma Rousseff louvou pelo “excepcional trabalho” e que o substituto Aldo Rebelo considerou “mais do que inocente, uma vítima” –, entrou em vigor o decreto destinado a moralizar os negócios da administração federal com entidades privadas sem fins lucrativos, a começar das organizações não governamentais (ONGs). Desde que, em 2003, o PC do B de Orlando Silva e Aldo Rebelo foi premiado pelo então presidente Lula com o Ministério do Esporte, pelo menos 41 ONGs ligadas à legenda receberam recursos públicos para a execução de programas da pasta. O grosso do dinheiro ou foi desviado pelos controladores das ONGs de fachada ou, a julgar pelas denúncias que derrubaram Orlando Silva, carreado para o caixa 2 do “partido do socialismo”. Revelação similar de corrupção já havia apeado o ministro do Turismo, Pedro Novais, do PMDB. O decreto da presidente tem uma dimensão emergencial e outra estrutural. A primeira está na suspensão de 2.670 convênios com entidades sem fins lucrativos, que somam R$ 2,3 bilhões. Durante 30 dias esses contratos serão submetidos a um pente-fino por uma forçatarefa do Executivo. Os que estiverem em ordem voltarão a receber verbas. Nos demais ca-

D

Polícia Militar deve combater no câmpus apenas os delitos que lhes convêm (roubo, furto, latrocínio, sequestro) e fazer vista grossa para os delitos que esses mesmos estudantes querem praticar livremente (uso de drogas, ações de vandalismo...)? A lei é para todos e, como bem mencionou o Estadão, esses poucos alunos não podem confundir “território livre de ideias” com “território livre das leis”. Lamentável! NIVALDO SILVA ouvidoriaativa@gmail.com São Paulo

SAÚDE PÚBLICA Atendimento vergonhoso

Com todo o respeito, gostaria de dizer ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – que tanto admiro e em quem sempre votei, como também no PSDB – que concordo plenamente com sua mensagem divulgada pelo Estadão

se espaço a circulação não pode ser obstruída por lixeiras, postes de luz, vasos de plantas ou mesmo árvores. A grande inovação dessa lei é aterceirizaçãoparcialda fiscalização. Como essa é uma função privativa de agente público, não serão contratados terceiros para serem fiscais. Mas empregados de empresas privadas a serem contratadas pela Prefeitura para ajudá-la na fiscalização percorrerão as ruas e documentarão,comfotografias,asirregularidadesencontradas. Essasinformações serão repassadas aos fiscais, que depois irão diretamente aos locais em que há

Boa parte das calçadas malcuidadas na capital está em frente de órgãos do Município problemas. As graves e notórias deficiências do serviço de fiscalização da Prefeitura – que dispõe de apenas700agentes parauma cidadedasdimensõesecomplexidade de São Paulo – foram as principaisresponsáveispelasdificuldades e o malogro parcial dos planos de reforma e melhoriadas calçadas, desdeoPrograma Passeio Livre, de 2005, até o Programa Emergencial de Calçadas, de 2008. Assim como têm sido responsáveis também pelo fato de muitas outras leis municipais de boa qualidade, que tratam dos problemas os mais diversos, terem se transformado em letra morta. Se a terceirização parcial da fiscalização funcionar no caso das calçadas, ajudando a resol-

segundo a qual o momento não permite e muito menos justifica críticas a Lula por estar recebendo tratamento especial e diferenciado num dos melhores hospitais da América Latina, neste momento tão difícil de sua vida. Rezamos e torcemos por seu pronto restabelecimento, ignorando atitudes ou ideais políticos. Mas a reivindicação da população não é a de ser atendida no Hospital Sírio-Libanês, onde Lula está se tratando, e sim ter um atendimento, no mínimo, humano e digno em qualquer hospital com condições adequadas, que o governo tem por obrigação nos oferecer, por ser nosso direito. Para que não ocorra essa vergonhosa situação de o povo morrer na fila aguardando atendimento durante cinco a seis horas diariamente e ter de esperar mais de um ano para marcar uma cirurgia. Vergonha! ANGELO TONELLI angelotonelli@yahoo.com.br São Paulo

ver esse problema, será possível a sua adoção, no futuro, em outros setores da administração municipal. Mas é preciso ter em mente que não se trata de nenhuma panaceia. Ela ajuda, mas nãogaranteasoluçãodo problema, para a qual é preciso algo mais. Dificilmente a Prefeitura conseguirá executar a contento oseuplano,senãocomeçardando um bom exemplo. E ela está longe disso. Em toda a cidade – mostra a reportagem – há buracos, sujeira e obstáculos à livre circulação de pedestres em calçadas em frente de escolas municipais, postos de saúde, prédios desubprefeituras,calçadões como o do Vale do Anhangabaú e até mesmo da sede da Prefeitura. Um exemplo disso é a Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Alberto de Almeida, no Cambuci, onde os canteiros de árvores – que podem ser reduzidossemprejuízoparaelas–ocupamquase todaa calçadaemvários trechos. No entorno do Sambódromo, na Marginal do Tietê, a calçada quase não existe mais. E muitos outros casos poderiam ser citados. Obomestado deconservação das calçadas é importante, porque30%dosdeslocamentosdiários dos paulistanos são feitos a pé. Uma das consequências disso, segundo estudos do Instituto de Traumatologia da Universidade de São Paulo, é que nove em cada mil paulistanos se acidentam nas calçadas esburacadas da cidade. Tudo isso vale, evidentemente, tanto para as calçadas de particulares como para as de órgãos municipais, de responsabilidade da Prefeitura.

“O Enem foi criado para avaliar os alunos e as escolas, porém tem avaliado bem o Ministério da ‘Educação’” FABIO DUARTE DE ARAÚJO / SÃO PAULO, SOBRE O EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO fabionyube@visualbyte.com.br

“Para lullopetistas, pingo é letra, não vazamento” A. FERNANDES / SÃO PAULO, IDEM standyball@hotmail.com

N

sos, as entidades terão 60 dias para sanar as irregularidades. Se não o fizerem, deverão devolver os valores obtidos e entrarão para a lista negra das organizações às quais o poder público não poderá mais se associar. Além de fechar a torneira dos gastos que iam para o ralo, a intenção do governo é separar as ONGs “sérias e qualificadas” das entidades “fantasmas”, nas palavras do ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, que participou da elaboração do decreto. O censo mais recente das ONGs brasileiras, em sentido amplo, data de 2005: eram

Um decreto tenta fechar a porta depois que diversos larápios se serviram dos cofres 338 mil fundações e entes sem fins lucrativos, empregando 1,7 milhão de pessoas. No plano estrutural, o ponto talvez mais importante do decreto é o que restringe a “ministros de Estado e dirigentes máximos das entidades da administração pública federal” a faculdade de assinar convênios nas suas áreas. Eles também arcarão com a responsabilidade direta pela gestão e o controle das parcerias que decidiram firmar. De agora em diante, portanto, quando se descobrir irregularidades em convênios, nenhum ministro poderá imitar o ex do Esporte, Orlando Silva, que se eximiu de culpa sob a alegação, verdadeira, de que não fora ele o signatário dos contratos que explodiram na sua face, mas su-

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TOTAL DE COMENTÁRIOS NO PORTAL:

Dilma pede a Marta que não dispute em SP

1.014

Endossada por Lula, presidente faz apelo para senadora desistir de pré-candidatura à Prefeitura ● “O problema é que a maioria das pessoas prefere votar em partido político em vez do candidato em si.” RODRIGO MONTEIRO

● “Querem trocar a derrota certa por uma possível derrota.” CADU LOPES

HÁ 824 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Está consolidada a candidatura de Haddad, o preferido de Lula. Assim, o diretório estadual do PT não racha. Na atual conjuntura, o desejo de Lula passa a ser uma ordem.” JOSÉ CELESTINO TEIXEIRA

bordinados seus. A responsabilização dos titulares começa já agora: eles é que terão de dizer quais dos convênios suspensos podem ser reativados e quais devem ser objeto do processo administrativo chamado “tomada de contas especial”, na CGU. O órgão, por sua vez, deverá cadastrar as ONGs e assemelhadas impedidas de receber recursos federais. O decreto desta semana complementa e amplia o que a presidente baixou em setembro, com a mesma intenção moralizadora. Daquela vez, Dilma instituiu a chamada pública de entidades para fins de contratação mediante convênios. Com isso, as autoridades de turno perdem a prerrogativa de contratar, por exemplo, quem lhes der na veneta. Além disso, para se qualificar a um convênio, a entidade terá de comprovar que, nos três anos precedentes, exerceu atividades relacionadas com a área de interesse da parceria. Será um tiro nas ONGs de cartolina, registradas apenas para se apropriar do dinheiro do contribuinte, com seus cúmplices na máquina do governo. Por fim, organizações que deixaram de prestar contas de contratos ou cometeram irregularidades na sua execução não terão uma segunda chance. Essas medidas, noticiou o jornal Valor, fazem parte de um pacote de propostas da CPI das ONGs, que funcionou no Senado de 2007 a 2010. Segundo o seu presidente, o ex-senador Heráclito Fortes, do DEM, o relatório final não chegou a ser votado, porque “o governo pressionou, sentou em cima e não permitiu apurar nada”.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 3 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

A volta por cima A conduta pública do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde que soube que tem câncer na laringe é a melhor resposta que ele poderia dar às baixezas de que tem sido alvo nas chamadas redes sociais e outros meios de expressão na internet. Mentalidades encardidas, incapazes de distinguir entre rejeição política e respeito pelas vicissitudes pessoais daqueles a quem combatem na cena pública, deram vazão ao que o antecessor Fernando Henrique Cardoso chamou de “recalques” – talvez para não dizer algo pior. Com indisfarçado gozo com o sofrimento alheio, batem na tecla de que Lula devia se tratar no SUS para sentir na pele as mazelas da saúde pública no País que, certa vez, em um dos seus arroubos autocongratulatórios –

que este jornal jamais deixou de criticar –, declarou não estar longe de “atingir a perfeição”. Quanto mais não seja, os tipos que espelham nas novas mídias a própria mesquinhez nem sequer se perguntaram se o ex-presidente dispõe de um plano de saúde que cubra o seu tratamento numa instituição de primeira linha. Na realidade, conforme se noticiou, não só dispõe de um seguro do gênero, como ainda, depois de oito anos no Planalto e com as conferências altamente remuneradas que tem sido convidado a fazer, amealhou recursos pessoais para eventualmente complementar as suas despesas médico-hospitalares. É sabido que em toda parte a internet é também um repositório de torpezas. Mas não é em toda parte que líderes políticos contribuem, pelo modo como reagem a uma grave enfermidade, para elevar os padrões da ética pública em seus países – o

que inclui, parafraseando Thomas Jefferson, um respeito decente pela opinião da sociedade. Informado de sua condição, Lula decidiu que não se deveria sonegar dos brasileiros a verdade sobre o seu estado, o resultado dos exames a que se submeteu para aferir a gravidade da sua moléstia, a natureza, duração e efeitos colaterais da terapia que estava para começar, bem assim os prognósticos a que a sua equipe médica podia chegar já nesse estágio. Fez o que não foi capaz de fazer, para citar um exemplo estrangeiro notório, o então presidente francês François Mitterand que escondeu estar acometido de câncer na próstata na maior parte dos 14 anos em que exerceu o poder, entre 1981 e 1995. Lula, a rigor, não foi o primeiro político brasileiro de envergadura a jogar limpo numa situação como essa – que, inevitavelmente, provoca especulações nem sempre otimistas

Nova invasão da USP

N

um curto período de tempo, a Cidade Universitária – principal câmpus da Universidade de São Paulo, a maior instituição de ensino superior do País – viveu três importantes eventos políticos. Dois foram programados pela alienação ideológica e o outro foi a resposta do bom senso aos dois primeiros. O primeiro evento foi o endosso da Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) à ocupação de seu prédio administrativo, ocorrida na última quintafeira, por estudantes e funcionários vinculados a micropartidos de esquerda. A invasão foi realizada como protesto contra a presença da Polícia Militar (PM) no câmpus, que foi autorizada por um convênio firmado pela corporação e pelo Comitê Gestor da USP em maio, após o primeiro caso de latrocínio no local, tendo como vítima um estudante de economia, com o objetivo de aumentar a segurança no local. O convênio tem o prazo de cinco anos. Até então, o policiamento da Cidade Universitária era feito pela Guarda Universitária, que não pode portar armas e conta com 130 agentes de segurança patrimonial, para proteger dezenas de prédios – além das cerca de 100 mil pessoas que circulam diariamente pelo câmpus. A invasão do prédio administrativo da FFLCH ocorreu depois que três alunos foram presos em flagrante fumando maconha no estacionamento do prédio de História e de Geogra-

zembro de 2010 totalizam R$ 444 bilhões, 82% do investimento previsto para 2007-2010 (R$ 541,8 bilhões). Os 144 empreendimentos misturam obras com conclusão prevista pós-2010 – ampliação e adequação do Terminal Salineiro de Areia Branca (RN) e da BR-319 (AM) – com as previstas para 2007-2010. Algumas obras listadas são previstas a partir do lançamento do PAC 2, como a ampliação do quebra-mar em Salvador, com previsão de início até julho de 2012 e conclusão até janeiro de 2014. A base completa do PAC1 (2.561 ações, excluindo habitação e saneamento), e não apenas o universo escolhido, revela que só não foram iniciados 8,9% (229 empreendimentos), e não mais de 20%, como diz o jornal. Quanto ao valor, apenas 2,9% (R$ 11,8 bilhões) não foram iniciados. O critério do governo federal para aferir o desempenho do PAC é o volume de recursos, e não a quantidade de obras, pois do con-

fia. As minorias radicais da USP classificaram a prisão como “opressão policial”, acusaram a PM de ser o “braço armado de exploradores” e investiram contra os policiais, depredando seis viaturas e ferindo três soldados. Numa demonstração de insensatez e irrealismo, a Congregação da FFLCH relegou o vandalismo dos invasores e pediu a revisão do convênio com a PM. Os dois outros eventos foram as assembleias promovidas na terça-feira – uma para discutir a continuidade da invasão do prédio administrativo da FFLCH e outra para pedir a manutenção do convênio com

Baderna e radicalismo de esquerda começam a perder terreno nas assembleias de alunos a PM. Na primeira assembleia, realizada no vão livre do prédio de História e de Geografia, as minorias radicais perderam o controle das discussões e foram derrotadas, numa votação em que 559 estudantes se pronunciaram pela desocupação e 458 pela permanência. Em mais uma manifestação de desapreço pela democracia, a minoria derrotada promoveu nova invasão após o fim da assembleia. Encapuzados, para não serem identificados e punidos com sanções administrativas e legais, um grupo de cem estudantes arrombou o prédio da Reitoria e passou a fazer exigências absurdas, tais como o fim do vestibular, a efetivação de funcionários terceirizados, a extinção de processos admi-

trário seria dado o mesmo peso a grandes e pequenos empreendimentos. Quanto aos R$ 4,4 bilhões pagos até 21/10/2011, este ano o PAC iniciou novo ciclo, que exige etapas tão importantes quanto a execução orçamentária: elaboração de projeto, licenciamento ambiental, licitação, contratação e execução da obra. GIOCONDA BRETAS, Comunicação Social, Ministério do Planejamento palova.brito@planejamento.gov.br Brasília

N. da R. – A reportagem não analisou investimentos, mas as obras que constavam no primeiro balanço do PAC1 e continuam no PAC2. Foram usados dados do balanço nacional, no qual estão destacadas as principais obras. Quanto ao cronograma, vários empreendimentos, que terminariam até 2010, tiveram seus prazos prorrogados. Em relação à execução orçamentária, o estudo foi feito pela ONG Contas Abertas, especializada no assunto.

sobre o seu desempenho futuro. A primazia, até onde chega a memória, foi do governador paulista Mário Covas, cuja incapacitação, licença e afinal falecimento, em 2001, aos 71 anos, vítima de câncer na bexiga, influiu nos rumos da política nacional. Tampouco o vice de Lula, o empresário José Alencar, tentou em algum momento ocultar a sua luta de 11 anos e 15 cirurgias contra um câncer abdominal. Ao contrário, foi um exemplo de tenacidade. E o próprio presidente não há de ter estado alheio à decisão da então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, de revelar, em abril de 2009, ter iniciado tratamento contra um câncer no sistema linfático e, desde então, de manter o Brasil informado do seu caso. Àquela altura, já se sabia que era a candidata escolhida por Lula – e os dois, principalmente ela, tiveram de suportar as conjecturas saídas na imprensa sobre o eventual colapso de

sua candidatura. Agora, o ex-presidente não apenas mandou que falassem a verdade a respeito de sua saúde, mas faz ainda outra coisa que se espera de uma figura com a sua estelar popularidade. À maneira de José Alencar, ensina pelo exemplo que o câncer não deve prostrar os seus portadores – que é o que os oncologistas vivem dizendo a seus pacientes e aos familiares deles, por saber que o ânimo dos enfermos desempenha um papel não negligível para as suas chances de recuperação. O vídeo que divulgou anteontem, no qual afirmou que “não existe espaço para pessimismo”, despedindo-se com um “até a primeira assembleia, o primeiro comício, o primeiro ato público”, é puro Lula. Dando a volta por cima do susto inicial, vai tirar do drama pessoal o que ele lhe pode render de acréscimo na sua já formidável popularidade.

A virada inflacionista nistrativos e criminais contra estudantes, professores e servidores e a reincorporação aos quadros da USP de funcionários demitidos por justa causa – além da revogação do convênio com a PM. Realizada na Praça do Relógio, a outra assembleia exigiu a continuidade do policiamento da PM na Cidade Universitária. Esta manifestação foi liderada por estudantes da Escola Politécnica e da Faculdade de Economia e Administração, mas teve a participação de muitos alunos da FFLCH. Alegando que a ditadura militar acabou há muito tempo e que identificar a PM com as “forças da repressão” é erro histórico, eles criticaram as depredações de prédios da USP e classificaram a ocupação da Reitoria como “fetiche da ultra esquerda”. Além disso, pediram ao Conselho Universitário um plebiscito sobre a presença de policiais militares no câmpus. Para qualquer pessoa de boa fé, não é difícil ver quem tem razão nesse embate. Quando o convênio entre o Comitê Gestor da USP e a PM foi firmado, a Cidade Universitária vinha batendo recordes em número de furtos de automóveis, assaltos a mão armada, sequestros relâmpagos e estupros. Quatro meses depois de policiamento efetivo, os furtos de veículos caíram 92,3%. Os sequestros relâmpagos diminuíram 87,5%. Os roubos diminuíram em 66,7% e os crimes de lesão corporal em 77,8%. Os números falam por si. O resto é demonstração de irresponsabilidade e alienação ideológica.

“Se cumprir as suas promessas éticas, Aldo Rebelo será o Mikhail Gorbachev do PC do B” AMADEU ROBERTO GARRIDO DE PAULA/ SOBRE A CORRUPÇÃO amadeugarridoadv@uol.com.br

“É mais fácil encontrar o sétimo bilionésimo ser humano nascido no mundo do que reduzir a corrupção no Brasil a níveis ao menos razoáveis” ALBERTO BASTOS CARDOSO DE CARVALHO / SÃO PAULO, IDEM albcc@ig.com.br

O

governo está fazendo um jogo perigoso com a inflação e o grande perdedor, a médio prazo, será o trabalhador. Em vez de combater as causas do problema, as autoridades financeiras resolveram adotar medidas de curto alcance para atenuar temporariamente a alta dos preços e dos índices. Com isso, disfarçam os problemas e mantêm aberto o caminho para novos cortes de juros e para a gastança. Ao mesmo tempo, o senador petista Lindbergh Farias, orientado por economistas ligados ao Executivo, defende no Congresso um projeto para incluir entre as funções do Banco Central (BC) estímulos à geração de empregos e ao crescimento econômico. Ninguém deve iludir-se. O objetivo não é tornar o BC brasileiro parecido com o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), mas sujeitá-lo aos interesses políticos do governo. A diretoria do BC, em outros tempos ciosa de sua autonomia operacional, assiste sem reação a essas manobras e até aceita a perda de status da instituição. Pior para o brasileiro comum, porque o seu rendimento jamais acompanhará uma inflação acelerada. A disposição de recorrer a pequenos truques foi duas vezes confirmada em poucos dias. O corte da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) permitiu atenuar os efeitos dos aumentos de preços da gasolina e do diesel pretendidos pela Petrobrás. A decisão seguinte foi adiar para maio a elevação

do IPI incidente no preço dos cigarros. Nenhuma das duas medidas atinge as causas da inflação. As duas são tão eficientes quanto um antitérmico ministrado a um paciente com infecção. A febre é contida por algum tempo, mas a doença permanece. No caso brasileiro, o problema é o evidente descompasso, confirmado a cada novo indicador econômico, entre a demanda interna e a capacidade de resposta da indústria, prejudicada pela perda de competitividade. Quanto à demanda, é em grande parte alimentada pelo gasto público excessivo e ineficiente, mas essa disfunção o governo

Forma-se uma aliança em torno de uma ilusão – mais inflação em troca de mais crescimento não pretende eliminar. Administrar bem é trabalhoso e a gastança é politicamente muito rentável. Haverá eleições municipais no próximo ano. Além disso, a grande disputa de 2014 nunca deixou de estar no topo da agenda petista. O projeto assinado pelo senador Lindbergh Farias, aprovado na terça-feira pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, pode parecer, à primeira vista, mera manifestação de ingenuidade e ignorância. Mas é algo mais grave. O Fed, mencionado como exemplo na justificativa, tem realmente a atribuição de buscar as condições monetárias mais favoráveis ao pleno emprego e à estabilidade de preços. Mas essa estabilidade é interpretada com muito rigor: é preciso

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Brasileiro dá nota 6,8 para a vida que leva

1.207

Avaliação é similar à da população de países muito ricos, segundo estudo realizado pela ONU ● “Os europeus são mais exigentes e não são alienados.” CLÁUDIO DANTAS FROTA

● “Vive-se no fio da navalha, não há motivo real para tanta felicidade tupiniquim.” ROSE ALVES

HÁ 825 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Carregamos a felicidade dentro da gente, independentemente do lugar em que estamos. Nosso povo tem uma autoestima elevadíssima e consegue valorizar tudo que tem.” TYCINA PATRICIA GENTLE

manter a inflação muito baixa, em torno de 2% ao ano, e cuidar principalmente de garantir condições favoráveis à expansão econômica de longo prazo. A ideia de leniência com a inflação para permitir um pouco mais de crescimento está fora do repertório do Fed e de qualquer banco central considerado sério. Além disso, o Fed é autônomo. Seus diretores, indicados pelo presidente da República e sujeitos à aprovação do Senado, têm mandato de 14 anos e não são forçados a seguir ordens de políticos. O BC brasileiro desfrutou de autonomia de fato durante vários anos, até o fim do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Isso resultou em razoável controle da inflação. Em várias ocasiões, no período petista e também antes, esse BC deu prioridade ao crescimento da economia, quando uns pontos a menos de inflação podiam resultar num custo excessivo em termos de atividade e de emprego. Desse ponto de vista, não há inovação real no projeto do senador Lindbergh Farias. Mas o projeto, se aprovado, com certeza abrirá espaço para mais interferências políticas. Quanto à missão de estimular o desenvolvimento, é pura bobagem. A autoridade monetária só realizará essa tarefa se preservar a estabilidade de preços e a saúde do sistema financeiro. A tolice recomendada pelo senador já foi testada no Brasil, com resultados desastrosos. Esse projeto é apenas mais um componente de uma grande virada inflacionista na política brasileira, apoiada por uma alegre coalizão de pelegos trabalhistas e patronais.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 3 DE NOVEMBRO DE 2011

Dilma manda padronizar edital de pacto com ONG

Nacional A9 WILTON JUNIOR/AE–17/3/2011

Medida a ser implementada pela CGU pretende evitar que cada ministério crie regras próprias e subjetivas para convocar e selecionar entidades Rui Nogueira / BRASÍLIA

A presidente Dilma Rousseff mandou a Controladoria-Geral da União (CGU), comandadapeloministroJorgeHage,fazer um edital padrão que sirva demodeloemtodososministérios e demais órgãos públicos para contratar organizações não governamentais (ONGs). Depois de impor na assinatura de novos convênios a obrigação de fazer uma seleção por meio de “chamamento público” aos candidatos, o governo notou que cada ministério estava interpretando a seu modo as regras do Decreto 7.568, de setembro passado. Com a adoção do edital padrão, o governo pretende evitar que cada ministério crie regras

próprias e muito subjetivas para convocar e fazer a seleção das ONGs. O decreto estabelece, por exemplo, que as organizações não governamentais têm de comprovar serviços prestados por pelo menos três anos na área em que se habilitam a assinar um convênio. Antes, a regra dizia que a ONG precisava existir três anos antes, não importando o que fazia. Por conta da regra dos três ● Força-tarefa

Os ministérios terão de analisar 2.670 convênios celebrados com ONGs até o próximo dia 30. Segundo o ministro da CGU, Jorge, Hage, a análise exigirá a formação de uma força tarefa.

anos de existência, centenas de políticos compraram associações sem fins lucrativos que existiam havia mais tempo, atualizaram os estatutos, mudaram as diretorias e se candidataram a receber dinheiro público – não raro, dinheiro de emendas dos próprios parlamentares que é aprovado no Congresso e depois remetido à ONG caseira. Até associações de bairro ou de condomíniosforam transformadas em ONGs. Alguns ministérios já estavam propensos a pedir a comprovação dos serviços prestados apenas por meio de cartas. O edital padrão vai estabelecer como deve ser feita essa comprovação e determinar os procedimentos para o “chamamento público”.

Modelo. Jorge Hage, em inspeção no Maracanã: normas da AGU terão de ser mais objetivas Além da regulamentação do decreto presidencial de setembro, o governo, sob coordenação do ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, vai trabalhar na criação de um marco regulatório para as organizações da sociedade civil. Será uma espécie de regulação para o relacionamento institucional e financeiro do governo federal com o chamado ter-

ceiro setor. O grupo de trabalho do novo marco regulatório vai ser criado formalmente em um seminário internacional agendado para os próximos dias – entre quarta e sexta-feira da semana que vem. Suspensão. Até o fim de no-

vembro, o governo federal também vai revisar os convênios em vigor com organizações não governamentais, isto é, aqueles

que ainda têm dinheiro público a receber. Na segunda-feira passada, outrodecreto presidencial suspendeu os pagamentos de convênios com entidades privadas sem fins lucrativos por 30 dias – o que soma contratos no valor de R$ 2,3 bilhões. O número foi calculadopeloMinistériodo Planejamento, queadministra o sistemaderegistrodeconvênioscelebrados pela União, o Siconv.

UNE já levou R$ 30 mi e sede não sai do papel

No 3º dia de químio, Lula repousa em casa

Luciana Nunes Leal Bruno Boghossian / RIO

O ex-presidente Luiz Inácio LuladaSilvapermaneceuemrepouso ontem em seu apartamento em São Bernardo do Campo, no terceiro dia de tratamento quimioterápico contra o câncer de laringe diagnosticado no último sábado. Segundo sua assessoria de imprensa, Lula não recebeu visitas. A equipe médica recomendou que Lula evite agendas públicas. A previsão é que o tratamento seja concluído em fevereiro de 2012. A primeira sessão de quimioterapia do ex-presidente foi realizada na segunda-feira. Até o fimde semana, Lula carregará na cintura uma bomba de infusão que injetará medicamentos num cateter alocado na clavícula.

Comandada por dirigentes ligados ao PC do B, a União Nacional dos Estudantes (UNE) ainda não tirou do papel a sede de 12 andares que promete construir em um dos melhores pontos da Praia do Flamengo com os R$ 44,6milhõesaquetemdireitocomo indenização pelos danos sofridos durante o regime militar. A União já pagou R$ 30 milhões aos estudantes em dezembro, quando o ex-presidente Lula participou do lançamento da pedra fundamental da obra. Mas o terreno continua intacto. Além desse dinheiro, a UNE recebeu, nos dois mandatos de Lula, R$ 12,8 milhões da União, graças a convênioscominstituiçõesfederais,inclusiveoMinistériodoEsporte, entregue ao PC do B. Levantamento do site Contas Abertas,combasenoSistemaIntegradodeAdministraçãoFinanceira (Siafi), mostra que os convênios da UNE com o Ministério do Esporte renderam repasses de quase R$ 450 mil, em 2004 e 2009. O convênio de 2009, de R$ 250 mil, prevê “capacitação de gestoresde esporte e de lazer”. O de2004somouR$199,6mil,para “promoçõesdeeventosdeesporte educacional”. Por causa dos altos valores repassados à UNE, o procurador Marinus Marsico, representante do Ministério Público no Tribunal de Contas da União (TCU), pediu aos ministérios informações e cópias das prestações de contas dos universitários. Emresposta ao Estado, a direção da entidade afirma que “todos os recursos foram utilizados na realização de atividades que a UNE organiza, como congressos e bienais de cultura”. Segundo a UNE, as obras da nova sede começarão no primeiro semestre de 2012. “Pelas dimensões de um projeto do porte da nova sede da UNE, os prazos estão dentro de nossa expectativa”, diz direção da entidade. O orçamento final, informa,ainda não foicalculado.

Fumaça. O Estado procurou ontem, por intermédio da assessoria de Lula, a ex-primeira-dama Marisa Letícia, flagrada em foto publicada no jornal Folha de S.Paulo fumando um cigarro na janela do apartamento em São Bernardo do Campo. Segundo a assessoria,trata-se deumassunto particular. Fumante, Lula foi alertado pelos médicos a largar imediatamente o vício, já que o fumo éuma das causas docâncer na laringe.

Mendes Ribeiro volta ao hospital ● O ministro da Agricultura, Men-

des Ribeiro, voltou a ser internado na noite de terça-feira no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para uma “consulta de rotina” e deve permanecer sob cuidados médicos nos próximos dias, segundo boletim médico divulgado ontem pelo hospital. No mês passado, ele foi submetido a uma cirurgia para retirada de um tumor maligno no cérebro. Mendes Ribeiro assumiu o Ministério da Agricultura em agosto, após uma série de denúncias que derrubou Wagner Rossi do cargo.

Site sofre ofensiva na Justiça por revelar supersalários Servidores do Senado movem ação contra Congresso em Foco que podem condená-lo a pagar RS 1 mi em indenização Andrea Jubé Vianna BRASÍLIA

Após uma série de reportagens que revelou os “supersalários” de servidores públicos, o site Congresso em Foco enfrenta uma ofensiva de processos que podemcondená-loaumaindeni-

zação de quase R$ 1 milhão. Até agora, 43 servidores do Senado moveram ações por dano moral contra o veículo,que divulgou os nomes dos 464 funcionários da Casa que receberam salários acima do teto constitucional em 2009,conformeauditoriadoTribunal de Contas da União. O jornalista e diretor do site, Sílvio Costa, lamentou a estratégia dos servidores de provocar o Judiciáriopara“constrangerodireito à informação” e disse que a eventual condenação pode levar ao “estrangulamento econômico” e até fechamento do veículo.

Pela Constituição, o teto do funcionalismo é a remuneração dosministrosdoSupremoTribunal Federa, hoje fixada em R$ 26,7 mil. No entanto, reportagens veiculadas pelo Congresso em Foco mostraram que essa re● Reação

OPHIR CAVALCANTE PRESIDENTE DA OAB

“Isso certamente vai receber a reprimenda do Judiciário. Isso é litigância de má-fé”

gra vem sendo descumprida. O Ministério Público Federal tentarecuperarnaJustiçaR$307milhões pagos indevidamente nos três Poderes. Em julho, a Justiça Federal determinou o bloqueio dos pagamentos superiores ao teto na Câmara e no Senado, mas a decisão acabou suspensa. O Sindicato dos Servidores do Legislativo (Sindilegis) tentou retirar do ar a lista dos servidores beneficiados com os “supersalários”, mas o pedido foi negado pelo juiz da 1.ª Vara Cível do Distrito Federal Marco Antônio Costa, para quem o direito à pri-

vacidade não deveria prevalecer “para encobrir práticas contrárias à legislação”. Diante disso, o sindicato pôs seus advogados à disposição dos servidores para entrarem com ações individuais e idênticas contra o site, pedindo indenizações de R$ 21,8 mil. Os processos foram movidos no Juizado Especial, onde o autor não tem de pagar as despesas com advogados dos réus, em caso de derrota. O Estado procurou a assessoria do Sindilegis, que não respondeu às ligações. Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir

Cavalcante, a ofensiva dos servidores é “litigância de má-fé” e “atentado à liberdade de expressão”.Emnota,aAssociaçãoBrasileira dos Jornalistas Investigativos (Abraji) também lembrou que “os salários dos servidores são pagos com dinheiro público” e, por isso, “devem ser do conhecimento de toda a população”. A Abraji lembrou que a censura judicial já foi apontada por organizações internacionais como aprincipal ameaça à liberdade de expressão na América Latina. O Estado é alvo de censura há mais de um ano e 4 meses, por liminar que o impediu de publicar informações sobre a Operação Boi Barrica, que investigou o empresário Fernando Sarney.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 4 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Super-Mario combate a crise A chegada de Super-Mario foi a boa notícia do dia na conturbada zona do euro. O novo presidente do Banco Central Europeu (BCE), o italiano Mario Draghi, estreou no posto anunciando um inesperado corte de juros. Foi uma ação preventiva, segundo explicou, diante do risco de uma “leve recessão” no fim do ano. Seu estilo agressivo justificou o apelido, inspirado no herói de um jogo eletrônico da Nintendo. Enquanto o mercado reagia com demonstrações de otimismo à nova política do BCE, chefes de governo das 20 maiores economias do mundo começavam em Cannes uma reunião de dois dias para discutir a crise da Grécia, a situação dos grandes endividados da zona do euro e o quadro de estagnação das maiores potências

capitalistas. A grande surpresa foi a mudança de estilo na condução do BCE, comandado nos oito anos anteriores pelo francês Jean-Claude Trichet. A direção do banco já havia dado sinais de um possível corte na taxa básica de juros, mas a mudança, segundo avaliação do mercado, só deveria ocorrer em dezembro. Mas a decisão foi tomada, sem aviso, na reunião de ontem, a primeira sob a presidência de Mario Draghi. A taxa foi reduzida de 1,5% para 1,25% ao ano e alguns especialistas já falam na possibilidade de um novo corte no próximo mês. A inflação na zona do euro está acima de 3%. O BCE normalmente procura mantê-la pouco abaixo de 2%, mas a tendência, segundo o novo presidente, é de redução nos próximos meses, por causa da retração econômica. Alguns analistas do setor financeiro também já apontam a possibilida-

de de uma política de “afrouxamento quantitativo”, similar àquela seguida até junho pelo Federal Reserve (Fed), dos Estados Unidos, e adotada há pouco tempo pelo Banco da Inglaterra. Para aplicar essa política, a autoridade monetária compra títulos públicos em circulação no mercado e para isso emite dinheiro, numa tentativa de estimular a concessão de crédito pelos bancos. Draghi, no entanto, foi cauteloso na entrevista concedida depois do anúncio do corte de juros. O programa de compra de bônus soberanos iniciado por seu antecessor é temporário e limitado, disse o novo presidente do BCE. Durante meses, o banco absorveu títulos emitidos por vários governos pressionados pelo mercado financeiro, incluído o italiano. Esse trabalho deve ser transferido ao fundo de resgate recém-reformado e ampliado por decisão dos 17 países da zona do euro. Draghi também evi-

A falta de saneamento

S

étima maior economia do mundo, o Brasil apresenta índices de saneamento básico de país subdesenvolvido. O Atlas de Saneamento 2011, recémpublicado pelo IBGE, permitindo uma melhor avaliação da Pesquisa de Saneamento Básico 2008, mostra que somente 45,7% dos domicílios em todo o País têm acesso a redes de esgotos sanitários. Frequentemente, são redes restritas a algumas áreas das metrópoles ou às sedes dos municípios menores. E 2.495 dos 5.564 municípios do País não contam com nenhum tipo de esgoto sanitário. O Estado de São Paulo, onde apenas um município não dispõe desse serviço, é a exceção. Mas, como nota o IBGE, o fato de um município oferecer algum tipo de serviço de saneamento já leva a incluí-lo entre os que são atendidos, independentemente da abrangência, eficiência e do número de ligações domiciliares. Tem havido avanço, mas muito lento. Pela mesma pesquisa, realizada em 2000, só 33,5% dos domicílios eram servidos por redes de esgotos. Mais da metade da população brasileira continua sendo obrigada a se servir de fossas sépticas ou de alternativas mais rudimentares como fossas a céu aberto ou lançamento de dejetos em cursos d’água, em detrimento das condições de salubridade e do meio ambiente. A desigualdade entre regiões é bem nítida também sob esse ângulo. A Região Sudeste é a mais bem servida (69,8% dos domicílios), seguindo-se as re-

Manifestações estudantis

Fiz política estudantil nos anos 60 e 70, e nem sempre da forma mais correta. Entretanto, naquela época nunca escondemos o nosso rosto, no melhor estilo de quadrilheiros do tráfico. E olhem que haveria muitos mais motivos para isso! Certos ou errados, os estudantes de então tinham orgulho de suas ações e não se fantasiavam de bandidos. LUIGI PETTI luigi.petti@oas.com São Paulo

Totalitarismo stalinista

Gostaria muito que esses estudantes que estão protestando contra a presença da PM na USP pudessem viver em algum país de regime comunista, como Cuba, Coreia do Norte ou até Venezuela, e tentassem protestar contra qual-

giões Centro-Oeste (33,7%) e Sul (30,2%). Os maiores problemas estão no Nordeste (29,1%) e, principalmente, na Região Norte (3,5%). Segundo o IBGE, as deficiências são mais acentuadas nas cidades de menos de 50 mil habitantes e nas áreas rurais. Considerando as dimensões do País, o avanço do agronegócio e as necessidades de preservação florestal em áreas de escassa população, talvez seja impossível a universalização dos serviços de esgotos sanitários no Brasil. De qualquer forma, o saneamento básico deveria ser condizente com a taxa de urbanização nacional, que es-

Apesar de melhorias pontuais, o fato é que essa questão continua tratada com descaso tá em torno de 85% da população, projetando-se um avanço para 93% por volta de 2050. Os governos, nos três níveis, têm elevado os seus investimentos nesse setor, mas nunca na medida do necessário, apesar do contínuo aumento da carga tributária. Como afirmou o professor Rogério L. F. Werneck, em artigo publicado no Estado (28/10), percebe-se com clareza “ainexplicávelcarênciaderecursos que ainda persiste em áreas nas quais a atuação do Estado é indiscutivelmente essencial”, como o saneamento básico. Nasgrandesmetrópoles,seforem consideradas apenas as necessidades de esgotos sanitários, a situação é melhor, mas os grandes centros do País estão ainda muito longe de alcançar o

quer coisa que seus governos não permitem – ou seja, nada, pois lá não pode haver manifestações contra nada, exceto os EUA! Eles deviam agradecer por viverem numa democracia, pois, se quiserem tentar o diálogo, conseguirão. Mas impor ideias, como querem, é coisa de totalitaristas stalinistas, demolida no Muro de Berlim. FRANCISCO DA COSTA OLIVEIRA fco.paco@uol.com.br São Paulo

BEBIDA NO TRÂNSITO Decisão acertada

quências foi a valorização do real. Isso encareceu as exportações brasileiras e barateou as importações e causou danos importantes à indústria do País. O modo mais seguro de evitar um novo afrouxamento monetário nos Estados Unidos seria a aprovação do pacote de estímulos à criação de empregos apresentado pelo presidente Barack Obama, mas para isso seria preciso vencer a forte resistência republicana. Na zona do euro, o banco central poderá dividir os encargos de combate à crise com o fundo de estabilização, agora autorizado a operar com recursos de até € 1 trilhão. Mas será preciso, ao mesmo tempo, enfrentar os enormes problemas criados pelas dívidas soberanas. Nos Estados Unidos, o Fed continua suportando um encargo desproporcional às suas possibilidades. Isso é ruim para todo o mundo.

O lance da Liga Árabe nívelnãosódospaísesmaisavançados,masmesmodealgunspaíses vizinhos da América Latina, que deram mais atenção às necessidades de prevenção de transmissão de doenças por meio da melhoria das condições de saneamento. Em sentido mais amplo, entendendo-se o esgotamento sanitário como compreendendo não só a coleta de esgotos, mas tambémestações detratamento e manejo de resíduos sólidos e de águas pluviais, as maiores cidades brasileiras ainda deixam muito a desejar. Brasília, sendo uma cidade planejada, mas que cresceu muito além do projetado, apresenta o melhor nível de atendimento do País no que se refere a esgotos (86,4% dos domicílios), mas se vê diante de problemas para lidar com seus lixões. Muita culpa cabe às administraçõesmunicipais,mas,narealidade,asautoridadesnosdiferentes níveis de governo estão mais interessadas em realizar obras vistosas,àsvezesfaraônicas,que podem lhes render dividendos eleitorais,doqueobrassubterrâneas. Alguns governos só se dispõem a realizar tais obras quando contam com verbas ou empréstimos a juros baixos pelo BNDES,quefinanciaalgunsprojetos de saneamento incluídos no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Quanto ao tratamento de resíduos sólidos e de águas pluviais, as grandes enchentes, que assolamnoverãoasgrandesmetrópoles brasileiras, aí estão para demonstrar o descaso com que essas questões continuam a ser tratadas.

“Lulla locuta, causa finita est. Falou, o PT obedece” RONALD MARTINS DA CUNHA / MONTE SANTO DE MINAS (MG), SOBRE A AUSÊNCIA DE MARTA NA DISPUTA PELA PREFEITURA DE SÃO PAULO EM 2012 ronald.cunha@netsite.com.br

“É o PC do B em ação, com a UNE e toda a alcateia” ARIOVALDO BATISTA / SÃO BERNARDO DO CAMPO, SOBRE A OCUPAÇÃO DA REITORIA DA USP arioba06@hotmail.com

Cumprimentos ao STF – Dirigir bêbado é crime, confirma STF (3/11) – por decisão que não poderia ter sido mais acertada. Correta do ponto de vista jurídico, responsável do ponto de vista social. RUBENS BELFORT JR. E JOSÉ LUIZ GOMES DO AMARAL, professores da Unifesp São Paulo

tou esse tema, mas sua oposição ao papel do BCE como emprestador de última instância a governos em apuros é conhecida. No dia anterior, o Fed havia anunciado a manutenção da taxa básica de juros dos Estados Unidos na faixa de zero a 0,25%. Além disso, havia apresentado uma reavaliação das condições econômicas do país. As estimativas de crescimento econômico foram reduzidas para a faixa de 1,6% a 1,7% neste ano, 2,7% no próximo e 3,3% em 2013. As projeções anteriores indicavam 2,8% em 2011, 2,7% em 2012 e 3,9% no ano seguinte. Ficou aberta, mas apenas insinuada, a possibilidade de uma terceira rodada de afrouxamento quantitativo. Na rodada anterior, o Fed lançou no mercado US$ 600 bilhões. Boa parte desse dinheiro vazou para o mercado de produtos básicos, favorecendo a elevação de preços, e para os mercados cambiais. Uma das conse-

H

oje mesmo se poderá saber se o ditador sírio Bashar Assad pretende cumprir o primeiro dos compromissos que assumiu na quarta-feira com a Liga Árabe para pacificar o seu país – o de retirar das ruas as forças militares e os serviços de segurança que há cerca de oito meses reprimem ferozmente as manifestações pelo fim do regime, deixando mais de 3 mil mortos. Sextafeira, o domingo muçulmano, é o dia tradicional dos protestos de rua no mundo árabe-islâmico. Assim como em outros países onde floresceu a primavera árabe, a intensidade do movimento pela instauração da democracia na Síria e o empenho em eliminá-lo podem ser medidos pelas multidões iradas que se formam à saída das mesquitas e pela violência com que são atacadas. Sexta-feira passada, soldados e policiais mataram pelo menos 40 manifestantes, estabelecendo um lúgubre recorde para a data: em 6 de maio, haviam sido 36. A persistência do impasse na Síria – onde nem o regime consegue sufocar a insurgência popular, nem esta consegue trincar a tirania implantada em Damasco há 31 anos, que Bashar herdou do pai Hafez, falecido em 2000 – subiu ao topo da agenda árabe com o desfecho da rebelião na Líbia e a execução ignominiosa do psicocrata Muamar Kadafi, o terceiro ditador da região a cair este ano. Liderada pelo Catar, até há pouco o principal parceiro da combalida economia síria, a Liga Árabe tratou de oferecer

uma barganha a Assad, em contraposição às fracassadas tentativas ocidentais de obrigá-lo a ceder sob o peso de sanções internacionais. No começo de outubro, a China e a Rússia vetaram no Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas uma resolução nesse sentido apresentada pelos Estados Unidos e membros da União Europeia. No último fim de semana, diplomatas árabes e autoridades sírias reuniram-se em Doha, no Catar, para traçar o “roteiro da pacificação”. O plano, consolidado no Cairo, prevê o aquartelamento das forças repressoras, a libertação de uma parcela ainda indetermi-

O dia de hoje na Síria poderá dizer até que ponto Assad respeitará o compromisso assumido nada dos 10 mil presos políticos que se estima existirem na Síria, a permissão para o ingresso de jornalistas estrangeiros e observadores da Liga Árabe no país, além do início de conversações, em duas semanas, também no Cairo, entre representantes do governo e da oposição. Assad relutou em aceitar a capital egípcia como sede das negociações, em vez de Damasco, porque a escolha de certa forma confere aos interlocutores o mesmo status político. Ele decerto pretende manobrar para que o outro lado da mesa seja predominantemente ocupado pela oposição moderada, cujas propostas de reforma não incluem a sua renúncia. Para outros setores, a maioria ao que tudo indica, a remoção de Assad não seria negociá-

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Marta será principal cabo eleitoral do PT

1.005

Presidente do PT acredita na transferência de votos para o candidato petista à Prefeitura de SP em 2012 ● “Haddad deveria pedir desculpas pela sua incompetência no Enem e deixar que alguém capacitado seja candidato.” LAÉRCIO DO VALLE

● “O que será que ela vai ganhar em troca da desistência da candidatura e atuação como cabo eleitoral?” PAULO ADRIANO

HÁ 826 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Marta como principal cabo eleitoral do PT nas próximas eleições? Que ótimo para a oposição!” FELIX SANTOS NETO

vel, mas só questão de tempo. Os promotores do plano sabem que o astuto ditador, cujas feições suaves escondem um tirano implacável com quem o afronte e que já descumpriu sucessivas promessas de liberalização do regime, não está arfando de ansiedade para seguir ao pé da letra o texto assinado pelo seu chanceler Walid al-Muallem – enquanto, sintomaticamente, mais 24 pessoas eram abatidas no reduto rebelde de Homs, no centro do país, no mesmo dia. Ontem foram outras 12. “Ficamos felizes por ter chegado a esse acordo”, havia comentado o primeiro-ministro do Catar, xeque Hamad bin Jassim al-Thani, emendando, com conhecimento de causa, que “ficaremos ainda mais felizes se for implementado imediatamente”. Para os ativistas exilados do outro lado das fronteiras sírias, no Líbano e na Turquia, a adesão de Assad à iniciativa de Doha era ao mesmo tempo inevitável e conveniente. Se a rejeitasse, argumentam, ele estaria a caminho de se tornar um chefe de Estado pária perante os demais governos árabes, um Kadafi do Oriente Médio. Aceitando-a, pode ao menos ganhar tempo – embora não se saiba quais possam ser as suas expectativas realistas. Quando correram mundo as imagens da prisão, tortura e morte do ditador líbio, em 20 de outubro, não faltou quem se perguntasse como Assad estaria reagindo a esse espetáculo de justiçamento selvagem. Mas não parece que tenha imaginado que possa, também ele, terminar os seus dias de forma abjeta.

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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 5 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Balanço final da reunião do G-20 A reunião de cúpula do Grupo dos 20 (G-20), em Cannes, foi um cenário solene para uns poucos fatos importantes, como o ultimato ao primeiroministro grego, George Papandreou, para desistir de um referendo sobre a ajuda financeira negociada na semana anterior. De positivo, produziu pouco. Tão relevante quanto surpreendente foi o apelo do primeiroministro italiano, Silvio Berlusconi, ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para acompanhar as contas de seu governo e servir como avalista moral perante o mercado financeiro. Terceira maior economia da zona do euro, a Itália, com uma dívida pública próxima de 120% de seu Produto Interno Bruto (PIB), tem sofrido os efeitos da grande tensão gerada pela crise da Grécia e de outros pequenos

países da chamada periferia europeia. O encontro foi também um bom cenário para o último ato público do economista Mario Draghi na presidência do Conselho de Estabilidade Financeira (Financial Stability Board). Ele entregou ao G-20 as últimas informações sobre o programa de reforma do sistema financeiro e uma lista de 29 instituições “sistemicamente importantes”, tradicionalmente consideradas “grandes demais para quebrar”. Os estudos incluem normas de regulação bancária e políticas para facilitar, em caso de necessidade, a implosão dos maiores bancos do mundo. No dia anterior, em sua primeira entrevista coletiva como novo presidente do Banco Central Europeu (BCE), ele havia anunciado sobre o surpreendente corte de juros decidido pouco antes e já era saudado nos meios financeiros como Super-Mario. Como figura pú-

blica, foi ele, com certeza, quem mais lucrou na semana. Nenhum acordo justificou a presença de governantes das 20 maiores economias. Nenhum líder de fora da Europa assumiu o compromisso de reforçar a Linha Europeia de Estabilização Financeira (EFSF). Também não houve acordo sobre como canalizar a ajuda por intermédio do FMI, solução preferida pela presidente Dilma Rousseff e por seus colegas das grandes economias emergentes. Também não houve progresso no debate sobre a instituição de um imposto global sobre operações financeiras. O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, propôs em setembro a adoção de um imposto desse tipo no bloco europeu, com apoio dos governos da França e da Alemanha. Mas a criação do tributo depende da aprovação dos 27 países-membros e a ideia é rejeitada na Inglaterra.

No G-20, a oposição a uma taxa sobre operações financeiras é liderada pelo governo americano. O governo brasileiro foi contrário à proposta até há pouco tempo. Em Cannes, no entanto, a presidente Dilma Rousseff declarou-se disposta a apoiar a criação do tributo em troca da adoção, por todos os países, de um “piso de proteção social” definido pela Organização Internacional do Trabalho. Uma referência a esse piso foi incluída na declaração final do encontro, mas a menção a esse ponto, no documento, não passou de retórica. Aquele mínimo de proteção social já existe na maior parte das economias capitalistas, há muito tempo. A única novidade importante seria a sua adoção por algumas potências comerciais da Ásia, incluída a China, mas o governo chinês, como tem feito até agora, adotará reformas de acordo com seu critério e segundo suas conveniências. Por isso,

seus líderes não se opõem a subscrever qualquer compromisso simpático e mais ou menos vago nas declarações oficiais do G-20. Esse mesmo documento, divulgado ontem, inclui também um compromisso geral de adoção o mais rapidamente possível de regimes cambiais mais flexíveis e mais dependentes do mercado. Representantes da China já prometeram isso em outras ocasiões, mas o yuan permanece depreciado e continua barateando as exportações chinesas. Se o governo grego de fato cumprir os compromissos assumidos em troca da ajuda e do perdão de 50% de sua dívida, as conversas em Cannes terão servido para alguma coisa. A semana terá sido positiva, também, se as pressões do mercado sobre o Tesouro e os bancos italianos diminuírem. Mas uma reunião de cúpula do G-20 deveria produzir resultados muito mais amplos.

Uso impróprio da Petrobrás

A desburocratização das licenças

esde 1.º de novembro, a Petrobrás aumentou o preço da gasolina na refinaria, de R$ 1,05 para R$ 1,246, o que, evidentemente, eleva as receitas da empresa. Mas, como o governo diminuiu simultaneamente a tributação que incide sobre a gasolina – a Contribuição sobre a Intervenção no Domínio Econômico (Cide) –, o preço do combustível na bomba continuará o mesmo. Essas duas medidas foram adotadas para, simultaneamente, atender às necessidades de maior receita da Petrobrás e ao objetivo do governo de não aumentar ainda mais o índice de inflação – que já vai alto. A redução da Cide para a gasolina, de R$ 0,192 para R$ 0,091 por litro, e para o diesel, de R$ 0,07 para R$ 0,047 por litro, vale até 30 de junho de 2012 e terá um impacto sobre a arrecadação federal estimado em R$ 282 milhões, neste ano, e em R$ 1,769 bilhão, no primeiro semestre do ano que vem. A ajuda do governo à Petrobrás custará ao Tesouro Nacional, portanto, mais de R$ 2 bilhões – bem menos do que a estatal pretendia. Em junho, ao anunciar seu Plano de Negócios para o período 2011-2015, a Petrobrás já havia pedido ao governo autorização para elevar em 10% os preços dos combustíveis. E havia sugerido a redução da Cide para que o aumento não fosse repassado ao consumidor. Na semana passada, a proposta foi novamente apresen-

ara reduzir a lentidão na concessão de licenças ambientais para a implantação de projetos no Brasil – e que influi na conhecida dificuldade de fazer negócios no País –, o governo baixou um pacote de medidas na semana passada com o qual pretende reduzir pela metade, em diversos casos, os prazos das licenças no âmbito federal, bem como diminuir os custos de compensação de danos causados por obras de infraestrutura. Os órgãos que dão pareceres sobre a concessão das licenças terão 60 dias para fazê-lo. A intenção é louvável, mas nem o Ibama nem os órgãos que devem ser ouvidos, conforme a natureza dos projetos – como a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Fundação Palmares, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – dispõem de estrutura e de equipes técnicas em número suficiente para cumprir esse prazo. Desses órgãos, o Ibama é o que está em melhores condições. Conta com 382 servidores habilitados para trabalhar na área de licenças ambientais, e recentemente realizou um concurso para contratar 70 técnicos, como informou o jornal Valor (31/10). Contudo, o órgão está na cúpula do sistema e precisa da anuência de outras instituições para que o processo de licenciamento possa avançar. Na Funai, só há 17 funcionários paratratardeconflitoscomindígenas e com o meio ambiente,

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Senai

Carentes que estamos de boas notícias, o editorial Façanha do Senai (30/10, A3) deveria estar na capa do Estadão. Novamente nossos jovens ficaram em segundo lugar num torneio internacional de capacitação profissional, realizado a cada dois anos em diferentes cidades do mundo. Estamos entre os jovens mundialmente mais bem preparados profissionalmente. Seria de pensar, num futuro bem próximo, em substituir o (mau) ensino de segundo grau por cursos profissionalizantes. ARCANGELO SFORCIN FILHO arcangelosforcin@gmail.com São Paulo

Ainda a violência

Na maioria dos casos, a falta de limites vem de casa para a escola, como mostra a mãe que deu um

tada. A empresa argumentou que não tem dinheiro suficiente para tocar os projetos do pré-sal. A conjuntura econômica não tem beneficiado a estatal. Com o aumento da frota de automóveis e, portanto, do consumo interno de combustíveis, cresceram a demanda de gasolina e as importações do derivado de petróleo. Neste ano, calcula o diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, as importações de combustíveis deverão mais que triplicar em relação ao ano passado, passando de 9 mil barris para 32 mil barris de gasolina por dia.

O governo não deveria usar a Cide para resolver os problemas que causa à estatal Em nota oficial, a Petrobrás explicou que o reajuste dos preços na refinaria leva em consideração uma estratégia que busca “alinhar o preço dos derivados aos valores praticados no mercado internacional, em uma perspectiva de médio e de longo prazos”. Na verdade, desde 2009 não há reajuste dos preços da gasolina e do diesel. O especialista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (Cbie), afirma que o caixa da Petrobrás “estava sangrando”, devido ao aumento do preço da gasolina no mercado internacional. Pelos cálculos do diretor do Cbie, entre janeiro e outubro a estatal deixou de auferir uma receita de R$ 4 bilhões, devido à manutenção dos preços dos combus-

soco na professora porque não gostou da nota do filho. Há dois anos, o Ministro da Educação da Inglaterra tomou uma posição contra a violência dos alunos. Agora, se há uma queixa de aluno, o professor é automaticamente considerado inocente e continua a dar aulas até seu julgamento (porque na grande maioria dos casos foi provado que a acusação era falsa). Se ele é agredido por um aluno, este é encaminhado à polícia, faz-se uma ficha e ele fica retido até o julgamento. Já que os brasileiros valorizam tanto tudo o que vem de fora, por que não aproveitar os estudos sobre violência contra os professores feitos lá e tomar a Inglaterra como exemplo? O pior de tudo é uma socióloga que admite não ter ideia do que acontece no ambiente escolar presumir que esses são os alunos do século 21. TERESA RODRIGUES ttrodrigues@gmail.com São Paulo

tíveis na refinaria. O aumento do consumo de gasolina também se deve ao desequilíbrio no mercado do etanol – cuja oferta diminuiu, por problemas com a safra. O etanol só é competitivo quando seu preço é 30% inferior ao da gasolina. Se a oferta fosse satisfatória e os preços, mais baixos, os proprietários de veículos flex-fuel, que responderam por 81,6% da produção de veículos leves, em setembro, não dariam preferência à gasolina. A Cide foi criada, há quase dez anos, para fornecer recursos para programas ambientais destinados a reduzir os efeitos da poluição causada pelo uso de combustíveis, para subsidiar a compra de combustíveis e para custear a infraestrutura de transportes. Rendeu aos cofres públicos R$ 912 milhões, em setembro. Em vista do mau estado de conservação das nossas rodovias, apontado pela última pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), seria natural que os recursos da Cide fossem destinados principalmente para investimentos nas estradas federais. Mas não é o que ocorre. Não se justifica usar a Cide na tentativa de reduzir os problemas que a política oficial está criando para a Petrobrás. A Petrobrás deve cobrar o preço justo pelos derivados que produz, sem o que o governo é obrigado a socorrê-la. Por outro lado, a Petrobrás não deve ser usada como instrumento de política industrial e tampouco para sustentar a política anti-inflacionária, como vem ocorrendo há tempo.

“Por que será que quase todos os partidos políticos têm suas ONGs de estimação?” VIRGÍLIO MELHADO PASSONI / JANDAIA DO SUL (PR), SOBRE DESVIOS E OUTROS ‘MALFEITOS’ mmpassoni@gmail.com

“O perdão das dívidas contratadas só aumenta a gastança sem lastro” ANTONIO C. F. RAINHO / SÃO PAULO, SOBRE A CRISE GREGA caipiramoderno@ibest.com.br

P

em uma área que corresponde a 13% do território nacional. Na Fundação Palmares, que reconhece a existência no País de 1.715 comunidades quilombolas, só há 6 especialistas. Não é melhor a situação do Iphan, que, além do patrimônio artístico e histórico brasileiro, deve cuidar de 22 mil sítios arqueológicos. O órgão dispõe de 40 funcionários para lidar com um volume de autorizações ambientaisquedeveultrapassarmilnesteano.Jáo ICMBiotem20servidores especializados. Este é um panorama pouco animador. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, as-

Um pacote de medidas pretende dar mais agilidade na concessão de licenças ambientais segura que “o desafio de ter mais gente ou modernizar toda a gestão do licenciamento está pautado, não só para o Ibama, mas para todos os órgãos licenciadores do País”. A expectativa é de que o governo, de acordo com a lei, remaneje pessoal, quando possível ou realize concursos públicos para preenchimento das vagas existentes. Isso leva tempo, mas nada justifica a contratação de servidores provisórios, sem qualificação, apadrinhados por políticos e que tendem a se perpetuar nos cargos. A maior celeridade nos licenciamentos depende muito, também, da qualidade dos estudos ambientais apresentados pelos empreendedores interessados, como mencionou Curt Trenne-

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CCJ inclui na pauta anistia a mensaleiros

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Projeto a ser votado devolve direitos políticos a José Dirceu, Pedro Corrêa e Roberto Jefferson ● “Em países decentes, os mensaleiros teriam sido condenados há muito tempo. Mas no Brasil eles têm espaço para legislar em causa própria.” JORGE RODRIGUES

● “E ainda comentam que o Brasil é um país sério.” EDIVELTON TADEU MENDES

HÁ 827 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Só mesmo a iniciativa do povo brasileiro para acabar com essa pouca-vergonha.” DOMINGOS ROBERTO GABRIELLI

pohl, presidente do Ibama. Não são raros os casos de empresas construtoras e mineradoras que localizamáreasparafuturoaproveitamento e fazem bons estudos econômicos levando em conta seu impacto ambiental. O ideal seria que esses empreendedores, como as entidades empresariais têm sugerido, pudessem trabalhar em conjunto com os técnicos das esferas federal e estadual, em todas as etapas do licenciamento, corrigindo falhas ou omissões eventualmente detectadas, o que apressaria o processo. Por sinal, opacoteagoralançadodevefacilitar os entendimentos entre as autoridades responsáveis pelo meio ambiente e as empresas que tocam projetos de infraestrutura. O Ibama só poderá pedir, uma única vez, complemento de informações do empreendedor, acabando com as idas e vindas que têm retardado tantos processos. O governo também passa a adotarumprocedimentosimplificado para o licenciamento de linhas de transmissão, de até 750 km de extensão, que desmatem 30% da área de influência. Isso, sem dúvida, facilitará a conexão das novas hidrelétricas da Amazônia à rede elétrica interligada nacional. São previstas tambémmedidas para possibilitar a recuperação mais rápida de rodovias e a regularização dos portos. O que se espera é que as novas normas fixem um padrão, pelo qualsepautemosgovernosestaduais, cuja interferência pode igualmente afetar o andamento de projetos de infraestrutura dos quais o País tanto carece.

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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 6 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Notas & Informações

IDH entre regular e ruim Segundo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), medido pela expectativa de vida, pelos anos de escolaridade e pela renda per capita, a nota do Brasil em 2011 foi 0,718, numa escala que vai de 0 a 1, o que nos valeu a 84.ª posição entre 187 países analisados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Desde o ano passado, porém, em resposta a críticas de que o indicador não levava em conta as condições reais de vida dos diversos países, o Pnud introduziu o fator desigualdade de renda, criando o IDH-D. Por esse índice, cuja base é só de 134 países, a nota do Brasil cairia para 0,519, abaixo das da Armênia, do Gabão e da Mongólia, entre outros. Assim, as contradições do desenvolvimento brasileiro estão ex-

postas ao mundo – o que deixou o ex-presidente Lula “iradíssimo”. Apesar dos programas de transferência de renda, como o Bolsa-Família, ainda é muito extensa no Brasil a “pobreza multidirecional”, ou seja, o estado de indigência em que estão cerca de 400 mil pessoas. Pior que isso, há 5,1 milhões de brasileiros vivendo com baixíssimas condições de salubridade, sem acesso a redes de esgoto, coleta de lixo e mesmo sem água encanada, para não mencionar as escassas possibilidades de educação adequada. O desconto na nota brasileira relativa à renda, levando em conta a desigualdade, foi de 40,7%, o que coloca o Brasil como o terceiro país de renda mais desigual entre os de desenvolvimento mais avançado. O quadro fica menos desalentador sabendo-se que o Brasil também evoluiu em termos de distribuição de renda. Em 1990, quando o Pnud pas-

sou a divulgar o IDH de vários países, o Brasil era o mais desigual entre 45 países selecionados. A renda média dos 20% brasileiros mais ricos equivalia a 34 vezes a dos 20% mais pobres. Hoje a proporção é de 18, o que se reflete na incorporação de grandes parcelas da população ao mercado de consumo, graças à expansão da massa salarial e, particularmente, do aumento real do salário mínimo. Entre os Brics, o Brasil está em posição abaixo da Rússia (66.ª no ranking, com nota de 0,755), mas em condições melhores que as da China (101.ª com 0,687) e da Índia (134.ª com 0,547). A expectativa de vida do brasileiro, que era de 66,3 anos em 1990, chegou a 73,5 anos em 2011, período em que a renda per capita anual se elevou de US$ 6,978 para US$ 10,162 (valores deflacionados). No quesito educação, a nota brasileira também teve grande desconto,

A degradação da UNE

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uase um ano depois de ter recebido R$ 30 milhões do governo Lula para construir sua sede na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, a União Nacional dos Estudantes (UNE) até agora não conseguiu ir além da pedra fundamental, que foi lançada pelo presidente Lula da Silva em dezembro do ano passado. A concessão desse valor foi justificada por Lula como pagamento de indenização devida pelo Estado brasileiro pelos danos patrimoniais à entidade durante o regime militar. Como a UNE não é uma entidade pública, o governo não podia transferir dinheiro dos contribuintes para custear as obras. A indenização por danos patrimoniais foi o expediente encontrado pelo governo Lula para contornar essa proibição legal. Primeiro, o governo reconheceu a responsabilidade da União na destruição do prédio da entidade, que foi incendiado em 1.º de abril de 1964. Em seguida, Lula autorizou a União a promover uma “reparação” no montante equivalente a seis vezes o valor de mercado do terreno. É muito dinheiro, mas nada garante que os dirigentes da UNE terão a competência necessária para a obra sem precisar pedir mais dinheiro público, em troca de apoio político aos governantes de plantão. Ao contrário do que ocorreu no passado, quando lutou efetivamente, tanto contra a ditadura Vargas quanto contra a dos militares, a UNE é hoje uma for-

des, é injusto que a União Nacional dos Estudantes (UNE) já tenha recebido R$ 30 milhões para a construção de sua sede, que não sai do papel. Para que serve essa sede? Por que tanto dinheiro público para a UNE? Além desses R$ 30 milhões, a entidade já recebeu também R$ 12,8 milhões referentes a convênios com instituições federais, entre as quais o Ministério do Esporte. É preciso pôr um fim nisso! CLEO AIDAR cleoaidar@hotmail.com São Paulo

EDUCAÇÃO Enem

Fala-se muito na anulação de questões da prova do Enem, mas nada sobre quem é o culpado pelo crime. Quem é ou quem são eles? Dá a impressão de que tem “graúdo” comprometido. RICARDO GUERRINI

ça auxiliar do governo e um reduto do PC do B. Desde a ascensão de Lula ao poder, em 2003, a UNE age como um órgão chapa-branca, apoiando todas as iniciativas administrativas e políticas do Palácio do Planalto. Pelos serviços prestados, ficou com o direito de indicar antigos dirigentes da entidade para o Ministério do Esporte – vários deles envolvidos no escândalo de repasses irregulares de recursos públicos a ONGs fantasmas – e ganhou polpudas verbas tanto da administração direta como da indireta, sob a justificativa de divulgar programas dos Ministérios da Educa-

Os esforços criativos da entidade hoje em dia são sobre como melhor bajular o governo ção, da Saúde, da Cultura e da Igualdade Racial, promover “caravanas da cidadania” em universidades federais, realizar jogos estudantis e organizar ciclos de debates. Só do Ministério do Esporte, a UNE ganhou um total de R$ 450 mil, entre 2004 e 2009, para promover eventos de “esporte educacional” e capacitação de gestores de esporte e lazer. Ao que parece, como os dirigentes da UNE transformam-se, em geral, em estudantes profissionais que não costumam frequentar salas de aulas, o lazer se converteu em sua principal “especialização”. Desde 1995, quando começou a obter verbas governamentais, a UNE já recebeu mais de R$ 44 milhões dos cofres públi-

ricguerrini@hotmail.com São Paulo

Demissões

As demissões no desgoverno são só por roubo? IncomPeTência não vale? Até quando Fernando Haddad permanecerá no cargo, sem qualificação para ocupá-lo?

cos. Do montante acumulado nesses 17 anos, 97,4% foram desembolsados durante os oito anos de governo do presidente Lula. Os 2,6% restantes foram repassados pelo governo do presidente Fernando Henrique. Os números foram coletados pelo site Contas Abertas, com base no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). A exemplo do que está ocorrendo com a maioria das ONGs financiadas pelo Ministério do Esporte, a maneira como a UNE gasta o dinheiro dos contribuintes também é, no mínimo, perdulária. Depois de identificar recibos frios e gastos com restaurantes de luxo e bebida importada nas contas da entidade, o Ministério Público Federal pediu as cópias das prestações de contas da entidade aos Ministérios e empresas públicas e sociedades de economia mista com que mantém convênios. E, no dia 6 de agosto, a Procuradoria-Geral do Ministério da Fazenda lançou a UNE como inadimplente no Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal (Cadin). Procurados para esclarecer o atraso da construção de sua sede com dinheiro público, os motivos das suspeitas do Ministério Público Federal e o que levou à inadimplência no Ministério da Fazenda, os dirigentes da entidade limitaram-se a afirmar que as obras da nova sede começarão em 2012 e que as verbas recebidas do governo têm sido gastas em “congressos e bienais da cultura”. Isso mostra a que nível de degradação política chegou a UNE.

“Haddad confirma tese do PT: quanto pior, melhor. E nem nóis vota nele...” ROBERTO TWIASCHOR / SÃO PAULO, SOBRE O CANDIDATO, O ENEM E A CARTILHA DO MEC rtwiaschor@uol.com.br

“Felizmente, a cidade de São Paulo não terá um prefeito do PT, nem Marta ‘Enem’ Haddad”

ELEIÇÕES 2012 Agradecimento

LUIZ HENRIQUE PENCHIARI / VINHEDO, IDEM luiz_penchiari@hotmail.com

NESTOR R. PEREIRA FILHO rodrigues-nestor@ig.com.br São Paulo

apresenta uma nota abaixo da média global (0,741) e inferior à nota média da América Latina (0,731). Se existe uma correlação entre o ritmo de crescimento econômico e o desenvolvimento humano, ela até agora não tem sido relevante. Segundo o relatório do Pnud, o IDH brasileiro cresceu a uma média anual de 0,69 de 2000 a 2011, ligeiramente abaixo da expansão de 0,70 dos países em desenvolvimento humano alto. Uma das possíveis explicações para esse descompasso, segundo técnicos do Pnud, pode estar associada a uma oferta de trabalho que não exige maior escolaridade. Isso, ao que parece, hoje em dia não mais reflete o avanço da economia nacional. Com um crescimento mais acelerado em anos recentes, para poder continuar essa expansão, o Brasil precisa justamente de muito mais técnicos e trabalhadores capacitados, inclusive de nível médio.

A farra do imposto sindical

SÉRGIO MICHILIN ser.michilin@hotmail.com Osasco

Meus sinceros agradecimentos à Marta. Se o candidato do PT for mesmo o Fernando Hadad, com Lula ou sem Lula, em São Paulo ele não ganha nem eleição para síndico de prédio.

de 25,7%. A média de anos de escolaridade para os maiores de 25 anos é de 7,2 anos, insuficiente para a conclusão do curso secundário. O futuro parece mais brilhante, pois se espera, segundo o Pnud, que os brasileiros mais jovens de hoje tenham, em média, 13,8 anos de escolaridade. A projeção é até otimista, se se considerar, por exemplo, que, segundo o Censo de 2010, a taxa de analfabetismo era de 9,6% da população, compreendendo então 14 milhões de pessoas, para não mencionar os chamados analfabetos funcionais. Claramente, os níveis de educação no Brasil não são condizentes com a renda per capita do País, superior à de países que apresentam índices melhores de desenvolvimento humano. Entre as quatro grandes categorias em que o Pnud divide os países analisados – desenvolvimento muito alto, alto, médio e baixo –, o Brasil está no segundo grupo, mas

D

esde 2008, 782 sindicatos foram reconhecidos pelo Ministério do Trabalho e passaram a receber uma fatia do bolo do imposto sindical, que cresce mais depressa do que a produção, por causa da crescente formalização do trabalho observada nos últimos anos. A média de quatro novos sindicatos por semana poderia sugerir um revigoramento do legítimo movimento de defesa dos interesses dos trabalhadores, como parte da estrutura que busca o equilíbrio das relações entre capital e trabalho no País. Mas, por trás dessa proliferação de sindicatos, há muito pouco de interesse dos trabalhadores em geral e muito mais de interesse exclusivo de um grupo de novos sindicalistas de olho apenas no dinheiro que o governo retira do bolso de cada brasileiro empregado com carteira assinada e distribui automaticamente para essas entidades. O bolo dobrou de tamanho em quatro anos. No ano passado, a arrecadação do imposto sindical totalizou R$ 1,51 bilhão. Nos nove primeiros meses de 2011, alcançou R$ 1,7 bilhão. Esse valor, como mostrou o jornal O Globo, do Rio (3/11), equivale ao dinheiro repassado pelogovernoparaos5.565municípiosbrasileiroseparaoEstado do Amapá no mesmo período. Com o recolhimento dos atrasados, até o fim do ano a arrecadação pode alcançar R$ 2 bilhões. Tanto dinheiro e a relativa facilidade para se obter o registro – na Secretaria de Relações do

Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, cujo titular é nomeado de acordo com critérios políticos – necessário para o recebimento da parcela do imposto explicam a proliferação de entidades sindicais. No início de 2008, eram 9.077 sindicatos no País; hoje, são 9.859. Entre as novas entidades pode haver algumas criadas para defender interesses de categorias profissionais não representadas ou sub-representadas. No entanto,comoaestrutura sindical já é ampla e cobre praticamente toda a diversidade do mercado de trabalho, é muito provável que a grande maioria

Na média, formam-se quatro novos sindicatos por semana para abiscoitar o imposto dos novos sindicatos tenha sido criada apenas para queseus dirigentes possam administrar a seu modo o dinheiro do imposto sindical. O imposto sindical é cobrado uma vez por ano de todos os trabalhadorescomregistroem carteira, no valor correspondente a um dia de trabalho. Ele é cobrado também sobre o capital social da empresa. Do total arrecadado,os sindicatos têm direito a 60%;asfederações,a15%;asconfederações, a 5%; as centrais sindicais, a 10%; e o governo, a 10%. O valor a que cada entidade tem direito depende do número de trabalhadoresque formalmente representa. Como é automática, a distribuição desses recursos desobriga os sindicatos de exercer sua

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STF blinda políticos investigados

698

São 152 nomes de deputados, senadores e ministros de Estado identificados apenas pelas iniciais, mesmo quando não há segredo de Justiça

● “O STF é um tribunal que só existe para proteger os barões do poder econômico! Nunca vi ele condenar ninguém.” SILAS SILVEIRA

● “Brasil, país das desigualdades. Ladrões de galinhas são penalizados de imediato, políticos safados têm regalias...” PEDRO SARTORI

HÁ 828 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “O 'sigilo' atende ao processo investigatório ou é para dificultar a divulgação dos investigados? Fico com a segunda opção.” EDUARDO CSENY

verdadeira função, isto é, a de representar os trabalhadores de suabase.Ouseja,estimulaacriação de entidades praticamente fantasmas, sem qualquer preocupação com os problemas de sua base, e que só existem para ter uma diretoria legalmente constituída que administra com inteira liberdade o dinheiro do imposto sindical. O sindicato nem precisa se preocupar com o destino que der ao dinheiro do trabalhador, pois praticamente nãoexistefiscalização doMinistério do Trabalho para isso. Nãoháexigêncialegaldeprestação de contas pelos sindicatos, que, embora recebam dinheiro do governo, são consideradosinstituições dedireito privado. Cabe ao conselho fiscal dos próprios sindicatos exercer esse papel – mas o conselho fiscal é formado por membros do mesmo grupo que compõe a diretoria executiva do sindicato. Emagosto,oTribunaldeContasda União (TCU)determinou ao Ministério do Trabalho que exija das entidades sindicais a demonstração comprovada do uso do dinheiro do imposto sindical que recebem, segregando a contabilidade desses recursos do registro contábil das demais receitas (se houver, é claro). Há dúvidas sobre a competência do TCU para fazer isso e, sobretudo, sobre a disposição do governo de aceitar esse controle. O Congressoincluiumedidasemelhante no projeto que autorizou o repasse de parte do imposto sindical para as centrais sindicais, mas, na época, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou a obrigatoriedade de prestação de contas ao TCU.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 7 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

O lazer dos juízes e a imagem da Justiça A magistratura brasileira mostrou novamente o quanto está divorciada da realidade. Desta vez a iniciativa partiu dos juízes trabalhistas. Para promover um torneio esportivo da corporação em resort situado numa das mais badaladas praias do litoral de Pernambuco, entre 29 de outubro e 2 de novembro, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) pediu o patrocínio de empresas estatais e privadas. O torneio contou com a presença de 320 magistrados – acompanhados de seus familiares – e envolveu competições que foram do tiro esportivo a dominó e pingue-pongue, num total de 11 modalidades. O montante arrecadado pela Anamatra foi de R$ 180 mil, e entre as empresas contribuintes destacaram-

se o Banco do Brasil, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), a AmBev, a Qualicorp e a Oi. Em termos de marketing, o evento era irrelevante e as doações dos patrocinadores – justificadas como “publicidade corporativa” – nada renderam em matéria de retorno de imagem. O problema é que essas empresas são, em sua maioria, partes em ações judiciais que terão de ser por eles julgadas. Por mais desinteressado que tenha sido o patrocínio dessas empresas aos “Jogos Nacionais da Anamatra”, o evento ganhou as manchetes dos jornais não pelos recordes batidos por juízes trabalhistas em torneios amadores, mas pela suspeição de tráfico de influência levantada por advogados e promotores. Essa suspeição também foi a marca do torneio esportivo que os juízes federais tentaram promover entre 12 e 13 de outubro na Granja Comary, em Tere-

sópolis, com base num acordo firmado entre a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Confederação Brasileira de Futebol. Pelo acordo, a CBF cederia o campo onde treina a seleção brasileira e arcaria com as despesas de hospedagem de juízes e familiares. Como o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, está sendo acusado de enriquecimento ilícito e de lavagem de dinheiro, a corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, lembrou que os juízes federais não podem receber favores de quem é – ou pode vir a ser – parte em ações judiciais que terão de ser por eles julgadas. Os dirigentes da Ajufe alegaram que os juízes federais não receberiam vantagens financeiras da CBF e que a Ajufe é uma associação privada, mas o torneio na Granja Comary acabou não sendo realizado. Após a realização de seus “Jogos Nacionais”, a Anamatra deu declara-

Um freio no BNDES

T

endo praticamente dobrado de tamanho depois da crise global de 2008, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) dá sinais de que está desinchando. Deve terminar o ano com desembolsos de R$ 140 bilhões a R$ 145 bilhões, em torno de 15% menos do que o total liberado no ano passado, de acordo com a previsão de seu presidente, Luciano Coutinho. Se confirmada a previsão, o resultado será um pouco inferior à projeção feita por Coutinho no início do ano, de desembolsos de R$ 146 bilhões em 2011. Entre janeiro e setembro, como mostrou o Estado (1.º/11), os financiamentos do BNDES alcançaram R$ 91,8 bilhões, 28% menos do que os do mesmo período de 2010. A diretoria da instituição prevê uma concentraçãoda liberação de recursos nos últimos meses do ano, de modo que a queda em 2011 se limite a cerca de 15%. Até agora, areduçãomaisacentuadafoiobservada no setor industrial, para o qual os financiamentos diminuíram 56%. Já para o setor deinfraestruturahouveaumento de 4% dos financiamentos neste ano. O fato de os empréstimos para as micro, pequenas e médias empresasterematingidoumvalor recorde nos nove primeiros meses do ano indica uma atenção maior do BNDES para esse segmento empresarial, que tem papel essencial na geração de empregos.Mesmoassim,aparticipação dessas empresas nos

empréstimos totais do banco, de 39,5%, ainda é baixa. As grandesempresascontinuamnocentro das atenções do BNDES. Embora a redução dos financiamentos do banco signifique menordisponibilidadederecursosparaosprogramasdeinvestimentos das empresas privadas, a notícia pode ser boa para as finanças públicas e não é ruim para a economia no médio e no longo prazos. Os financiamentos feitos pelo BNDES com recursos do Tesouro embutem um subsídio – o banco empresta a juros menores do que os pagos pelos títulos doTesouro, quearcacom adife-

A economia brasileira está muito dependente dos recursos do banco; é bom que ele encolha rença –, o que afeta a política fiscal. Quanto mais o banco emprestar com recursos do Tesouro, maiores serão as dificuldadesparaocumprimentodasmetas de superávit primário. O crescimento quase exponencial de seus financiamentos, por sua vez, desestimulou as grandes empresasa buscaroutrasfontes derecursos noPaíseno exterior – às quais a maior parte delas temacesso–e,sobretudo,retardou ainda mais a consolidação de um mercado de capitais para financiar projetos de longo prazo,comosãoemgeralosprogramas de investimentos privados. Para sustentar o crescimento do BNDES, o governo injetou dinheiro do Tesouro na instituição, e fez isso mesmo quando anunciava a adoção de uma

MOGI-BERTIOGA Tudo na mesma

ELEIÇÕES 2012 Salva da derrota

Conforme relatei na carta MogiBertioga pede socorro, publicada em 27/8, o problema nessa rodovia continua: faltam placas de sinalização e fiscalização. Dia 1.º/11 contabilizamos 15 caminhões areeiros, após as 18 horas, assim que terminou o expediente da balança, descendo a serra. Justamente no horário de maior movimento. Seria pedir muito ao DER que nos horários de pico a descida dos caminhões não seja feita em comboios, o que provoca longas filas, podendo com isso vir a causar acidentes nas tentativas de ultrapassagem? Os motoristas que demandam o sentido Mogi das Cruzes continuam utilizando a pista central, sem se dar conta do perigo que correm.

Marta deveria agradecer ao PT por fazer Fernando Haddad passar o vexame de perder a eleição para a Prefeitura de São Paulo no lugar dela, salvando, assim, a sua imagem de outra derrota mais do que certa.

GILBERTO SCANDIUZZI gilberto.carbosal@uol.com.br São Paulo

JOSÉ MENDES josemendesca@ig.com.br Votorantim

NIVALDO SILVA ouvidoriaativa@gmail.com São Paulo

Desistência

Lamentável a desistência de Marta. Acho que permanecendo no Senado ela é prejudicial a todos os brasileiros, enquanto na Prefeitura seus atos só atingiriam os moradores da capital – e, convenhamos, já é bastante gente!

ções semelhantes às da Ajufe. Em seu site, a entidade alegou que o objetivo do evento foi propiciar “a interação, o convívio, a troca de experiências e o estreitamento dos laços entre todos os que fazem a Justiça do Trabalho”, além de estimular a saúde física dos magistrados. Uma pesquisa entre os juízes trabalhistas teria, segundo a Anamatra, apontado altos índices de obesidade, hipertensão, depressão e sedentarismo entre os juízes, decorrentes, entre outros motivos, “da alta carga de trabalho e da pressão por crescente produtividade”. As explicações, contudo, não conseguiram responder à crítica de que a busca de patrocínios compromete a imagem de isenção do Poder Judiciário. E também não conseguiram explicar por que os juízes podem aproveitar feriadões para “enforcar” dias úteis de trabalho, se a carga de trabalho é alta. Diante da má repercussão do malo-

grado torneio de futebol da Ajufe no campo da seleção brasileira e dos “Jogos Nacionais” da Anamatra, a Corregedoria Nacional de Justiça anunciou que apresentará nas próximas sessões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) uma proposta de resolução regulamentando o patrocínio de empresas públicas e privadas a eventos promovidos por entidades de magistrados, sejam eles seminários acadêmicos ou simples convescotes esportivos. Aos juízes que alegam que o CNJ não tem competência legal para impor regras a associações particulares, a corregedora Eliana Calmon responde que o problema não é apenas jurídico – mas também ético e moral. “Por momentos de lazer momentâneo, coloca-se em risco a reputação da magistratura”, diz o presidente da OAB, Ophir Cavalcante, aplaudindo a iniciativa moralizadora da corregedora nacional de Justiça.

No reino do faz de conta política fiscal mais severa, como ocorreu em março último, com o programa de capitalização da instituição de R$ 55 bilhões. O aumento da capacidade de financiamento do banco naquele momento foi criticado por permitir o estímulo à atividade econômica quando a inflação já se acelerava e o governo falava em cortes de despesas de R$ 50 bilhões. Na ocasião, o governo argumentou que havia demanda para novos financiamentos da instituição. Sem dúvida essa demanda existia e continuará a existir, sobretudo porque, para os tomadores de empréstimos, os custos são bem inferiores aos dasdemaislinhasdecréditodisponíveis no mercado. Além disso, apesar do grande aumento de investimentos no ano passado, o Brasil ainda precisa investir muito na infraestrutura e na ampliação e modernização do sistema produtivo. O BNDES tem desempenhado um papel relevante nesse sentido,massua política équestionável. A direção da instituição tem escolhido com liberdade setores e empresas que serão beneficiados com recursos públicos, cuja utilização, por isso, impõe custos para asociedade, que não é consultada sobre essas escolhas. Por falta de um mercado privado de capitais de longo prazo suficientemente amplo para atenderasuademanda,aeconomia brasileira tornou-se dependente do BNDES. O crescimento da instituição nos últimos anos acentuou a dependência. Seu encolhimento tem o saudável efeito de frear esse processo.

“Bê-á-bá: com ou sem azia, todo petista é obrigado a ler a cartilha do Lulla!” A. FERNANDES / SÃO PAULO, SOBRE O PODER DO ‘CARA’ DE DAR ORDENS E IMPOR CANDIDATOS standybll@hotmail.com

“O político brasileiro nasce puro, mas o lullopetismo o corrompe” ENOCH BRUDER / SÃO PAULO, IDEM enoch.bruder@uol.com.br

O

governo do Estado, com o apoio da ampla maioria de que dispõe na Assembleia Legislativa, consegue aprovar ali, sem dificuldades, todos os projetos de seu interesse. Em contrapartida, sua liderança no Palácio 9 de Julho facilita a tramitação de qualquer projeto – e “qualquer” não é força de expressão! – por meio do qual os deputados, especialmente os da base aliada, distribuem benesses entre seus eleitores. A deliberação mais relevante adotada recentemente pelos nobres parlamentares paulistas foi a de varrer para debaixo do tapete as denúncias formuladas por um de seus pares, Roque Barbiere, sobre a venda de emendas ao orçamento por parte de “cerca de 30%” dos membros da Casa. E assim, consumindo anualmente um orçamento de R$ 650 milhões, os 94 deputados estaduais paulistas se desincumbem lépidos e fagueiros de suas graves responsabilidades nesta 17.ª Legislatura do Parlamento estadual, construindo uma pitoresca “História de faz de conta”, como relatado pela repórter Julia Duailibi, no Estado de 30/10, num texto que seria muito divertido, não fosse tristemente revelador da decadênciade mais umainstituição republicana. Em sua matéria, a jornalista narra o inacreditável transcorrer de uma sessão extraordinária da Assembleia paulista do dia 21 de setembro,convocadaparadeliberar “em regime de urgência” sobreprojetostãorelevantesquanto o do deputado Marcelo Bueno

(PTB), que propunha a concessão ao município de Cubatão do título de “capital das bandas e das fanfarras no Estado”. O veterano deputado Campos Machado (PTB), contrariado pela liderança do governo em matéria de seu interesse, decidiu obstruir a pauta e alimentou rica discussão sobre bandas e fanfarras até o esgotamentodasduashorasemeia destinadas à sessão. Foram 150 minutos de um “debate” tão absurdamente fora de propósito que o presidente da Mesa se viu na obrigação de pedir “desculpas àpopulaçãodeSãoPaulopelaposição vexatória em que nos colocamos hoje”.

O lastimável balanço anual das atividades da Casa das Leis do Estado de São Paulo A obstrução é um recurso parlamentar válido e praticado em todas as casas legislativas dos regimes democráticos, que existem para cumprir duas funções básicas: legislar em benefício do interesse público e fiscalizar as ações do poder executivo. Aqui, historicamente e como regra geral, as casas de representação popular deixam a função legislativa por conta do Executivo e, no geral,sóexercemseupoderdefiscalização como moeda de troca na conquista de vantagens para seus membros. Na Assembleia paulista, que não chega a ser muito diferente das de outros Estados, os projetos que tratam de matéria relevante são de origem quase que exclusivamente do Executivo. Sua tramitação nas comissões

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Taxa de juros é a menor em 17 anos

1.009

Banco Central testa o menor nível de juro real no Brasil desde que foi lançado o Plano Real ● “Realidade: se eu compro um carro, pago duas vezes o seu valor. No Brasil se trabalham quatro anos só para pagar juros.” LUIZ CLÁUDIO RIBEIRO

● “Regredimos. Temos um Banco Central que desistiu de cumprir a sua principal função que é o controle da inflação.” VIVIANE SALES

HÁ 829 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Reduzir a taxa de juros com inflação acima do teto da meta é uma leviandade e uma brutal imprudência.” JOSÉ ANTÔNIO MICHELETTI

parlamentares e no plenário costuma ser relativamente tranquila e, na maior parte dos casos, as votações são decididas por acordosdeliderançaerealizadassimbolicamente. Desde o início da atual sessão legislativa, em março, foram aprovados no Palácio 9 de Julho todos os projetos de autoria do Executivo: 26 até o fim de outubro. As proposituras de deputados aprovadas foram mais do que o dobro, 56, previamentesubmetidasaum rigoroso filtro político por parte das lideranças partidárias e, muito especialmente, as do governo. Quase todos esses 56 projetos encaminhados à sanção do governador tratamdequestõesdemenorimportância para a administração pública estadual e dizem respeito a interesses muito específicos e regionalizados. É o que se chama de pequeno varejo da atividade legislativa, parte do jogo democrático. Lamentável é que sejapraticamente a únicacoisa que amaiorpartedosdeputadosconsegue produzir. Boapartedaproduçãolegislativa dos deputados paulistas só não é completamente relegada à irrelevância porque enriquece o folclore da Casa. Este ano, por exemplo, foi aprovado projeto de André do Prado (PR), que transforma a cidade de BiritibaMirim em “capital do agrião no Estado”. Luis Carlos Gondim (PPS) deu sua contribuição com a criação da “Semana dos direitos dos animais”. Carlos Grana (PT) comemorou a instituição do “Programa Bombeiro Mirim”. Talvez isso explique por que a maior parte dos eleitores nem se lembre em quem votou para deputado.

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 8 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Outro feudo, outro escândalo Se o ministro Gilberto Carvalho, titular da SecretariaGeral da Presidência, se diz cansado das crises provocadas por denúncias de corrupção no governo, que dirá a sociedade que afinal é quem paga a conta dos malfeitos, como costuma dizer a presidente Dilma Rousseff? O desabafo do ministro se seguiu a outra revelação do gênero – a da existência de um esquema de extorsão de organizações não governamentais (ONGs) conveniadas com o Ministério do Trabalho, apropriado pelo chefão do PDT, Carlos Lupi. Segundo a revista Veja, dirigentes de uma ONG do Rio Grande do Norte, o Instituto Êpa, e de outra, denominada Oxigênio, sediada no Rio de Janeiro informaram que as entidades, contratadas para ministrar cursos de capacitação profissional,

foram alvo do clássico golpe da criação de dificuldades para a venda de facilidades. A certa altura da execução dos convênios, as ONGs eram avisadas de que, por supostas irregularidades que teriam cometido, não receberiam novos repasses – a menos que molhassem as mãos de seus interlocutores da cúpula do Trabalho com 5% e 15% do valor dos contratos. Os achacadores seriam um então assessor de Lupi, o deputado federal maranhense Weverton Rocha, e o coordenador-geral de Qualificação da pasta, Anderson Alexandre dos Santos. A dupla respondia ao chefe de gabinete do ministro, Marcelo Panella, não por acaso tesoureiro do PDT, para onde se destinaria, no todo ou em parte, o cala-boca extraído dos ongueiros. Não se sabe com que grau de detalhamento, mas o fato é que o Planalto tinha ciência dos podres do feudo de Lupi, outro dos ministros

que a presidente foi obrigada a herdar de seu patrono Lula. Tanto assim que, em agosto último, Dilma mandou demitir Panella. No sábado, Lupi teve de afastar Santos pelo tempo que durar a sindicância por ele anunciada, enquanto recitava a mesma lengalenga a que recorreram os cinco colegas que acabariam varridos do Gabinete: não compactua com desvios de recursos públicos, mas as denúncias devem respeitar o princípio do amplo direito de defesa. Ao blá-blá-blá de sempre, o bravateiro Lupi acrescentou uma provocação: “Tem muita gente graúda incomodada com a minha presença no Ministério, mas vão ter que me engolir”. Ele sabe que já estava marcado para cair na reforma ministerial prevista para o começo do ano. O seu medo maior é o desmonte da usina de beneficiamento do PDT a que o Trabalho foi reduzido, na operação lulista de cooptação da Força

Sindical liderada por outro notório personagem, o deputado Paulo Pereira da Silva. A julgar pelo retrospecto recente, no entanto, ele não precisa se preocupar. Quando se tornou insustentável a permanência do ministro Orlando Silva, do PC do B, no Esporte, a única dúvida no Planalto era sobre o nome do camarada que iria lhe suceder. O partido impôs o deputado Aldo Rebelo. O antecessor, como se sabe, foi levado a se imolar por causa das maracutaias nos convênios da pasta com ONGs, algumas delas criadas para repartir com o PC do B o dinheiro recebido. Por bem ou por mal, como se vê agora no escândalo envolvendo o PDT, a cobrança de pedágio das entidades do Terceiro Setor interessadas em contratos com a administração federal é uma forma rotineira de irrigar finanças partidárias. Mas o problema não se resolve com a “tradicional” retirada do sofá da sala.

Restringir os convênios apenas a entes públicos, como pretende Rebelo, é um retrocesso na gestão dos programas de promoção social em qualquer nível de governo. É ainda abrir mão do dever – e do poder – de fiscalizar adequadamente o uso dos recursos arrecadados da sociedade. Tratase de separar o joio do trigo e instituir normas de habilitação das ONGs que impeçam políticos corruptos de fechar negócio com aquelas que, com avidez ou a contragosto, farão a sua parte no cambalacho. Essa seria a intenção da presidente, depois do pente-fino que mandou passar em todos os convênios do Executivo. A higienização, de toda maneira, é um ponto de partida, não de chegada. Esse é o desmanche da engrenagem que enlaça apoio parlamentar ao Planalto e arrendamento aos partidos, chaves na mão, de setores inteiros do governo. Mas isso não está no horizonte.

A reestruturação do Incra

Exportações em risco

ão cada vez mais violentas as reações dos movimentos sociais ligados aos trabalhadores rurais, aliados históricos do PT, à condução da reforma agrária pelo governo Dilma e à maneira como vêm atuando o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). E quanto mais violentas, mais parecem confirmar que o presidente do Incra, Celso Lacerda, está agindo como prometeu quando assumiu o cargo, no fim de março. Na ocasião, anunciou que sua gestão se basearia “nos padrões da iniciativa privada, com gastos cada vez menores e produtividade cada vez maior”. Na busca de maior eficiência, mais resultados e menos burocracia – objetivos que, segundo Lacerda, lhe foram determinados pela presidente Dilma Rousseff –, o Incra deverá passar por uma reformulação, da qual resultará a redução de seu poder e da sua esfera de ação e também das funções do Ministério do Desenvolvimento Agrário, como mostrou reportagem de Roldão Arruda publicada pelo Estado (2/11). Não há, ainda, documentos públicos com as linhas gerais da reestruturaçãodaáreadogoverno responsável pela política de reforma agrária nem compromisso expresso das autoridades com as mudanças. Por isso, seasresistências dosmovimentos sociais se tornarem estridentes demais, a ponto de criar

Brasil perderá US$ 10 bilhões de receita comercial no próximo ano, por causa do esfriamento da economia global e da redução dos preços de commodities, segundo o economista Fábio Silveira, da RC Consultores, citado em reportagem do Estado. O barateamento dos produtos básicos também está nas contas do Banco Central (BC) e essa perspectiva foi invocada para justificar o corte dos juros. As projeções dos especialistas variam, mas coincidem em pelo menos dois pontos. As cotações de produtos básicos e semimanufaturados deverão cair, se o crescimento chinês perder impulso e os mercados desenvolvidos continuarem estagnados. Além disso, serão afetados principalmente os preços dos minérios, porque a oferta de alimentos permanecerá apertada dando sustentação internacional aos preços agrícolas. Se essas expectativas forem confirmadas, o BC e o governo terão um ponto a favor de sua política de redução de juros, mas o superávit comercial diminuirá eo déficitna conta correntedobalançodepagamentosaumentará. As autoridades parecem pouco interessadas, no entanto,emfortalecerascontasexternas por meio de um aumento das exportações. Pelos cálculos de Fábio Silveira, o saldo comercial cairá de US$ 30 bilhões em 2011 para US$ 20 bilhões no próximo ano. Pelasestimativasdosetorfinanceiro e de consultores independentes, coletadas pelo BC, o su-

S

discurso oficial deste e do último governo e dos comentários e artigos chapa-branca, a verdade é que estamos, ano a ano, cada vez mais distantes de outros países neste mundo globalizado, com os quais disputamos oportunidades. Lamentável é que, com todas as deficiências da educação, o País tenha ainda de conviver com cenas grotescas, para não dizer ridículas, de ocupação da USP por um bando de privilegiados que deveriam ceder as suas vagas gratuitas àqueles que realmente quisessem estudar a sério. RENATO DE REZENDE PIERRI renato.pierri@cerp.com.br São Paulo

Menores de idade

Dois adolescentes (de 16 e 17 anos) acusados de praticar 32 sequestros relâmpagos no Butantã foram “apreendidos” pela polícia e encaminhados à Fundação Ca-

um clima político desfavorável à reestruturação, ela poderá ser temporariamente suspensa. Mas,alémdasdeclarações dadiretoria do Incra em favor de uma nova estrutura para o órgão e de uma nova gestão da política de assentamentos em terras cedidas pelo governo, também os números da execução da reforma agrária reforçam a avaliação de que, nesse aspecto, o governo Dilma está rompendo com seu antecessor. Dados do Incra mostramque, nos dez primeiros meses de mandato, o governo Dilma criou menos assentamentos e assentou menos famílias do

Mudanças podem tirar o Incra de conflitos políticos e colocá-lo como órgão técnico que os dois antecessores. Foram criados 35 assentamentos noatual governo, contra 135nos dez primeiros meses do primeiro mandato de Lula e 156 em igual período de FHC. Mas, além disso, o número de famílias assentadas foi bem menor: 1.949, bem menos do que as 9.195assentadasnoiníciodo governo Lula e as 23.391 no início do governo FHC. Além disso, o governo Dilma rejeitou cerca de 90 processos de desapropriação de áreas para fins de reforma agrária. Nenhum decreto com esse teor foi assinado no atual governo. No deLula, foramassinadosemmédia20decretos pormês transferindo terras para o Incra. Lacerda procurou minimizar a redução do ritmo de assenta-

sa. No entender dos que fazem as leis do País, o caso não é tão preocupante, pois os jovens ainda estão com a personalidade em formação. Quando completarem 18 anos e já tiverem sua personalidade formada, eles deixarão de fazer coisas erradas – malfeitos, como diria a presidente da República –, procurarão trabalho e uma escola noturna para estudar. EUCLIDES ROSSIGNOLI euros@ig.com.br Itatinga

DEFICIENTES FÍSICOS Direitos

Concordo com o leitor sr. Orivaldo T. de Vasconcelos (7/11) quanto à renovação da isenção de impostos a que nós temos direito. Minha deficiência também é permanente e comprovada. PETER WOLFF peterwolff@ig.com.br São José dos Campos

mentos no atual governo, argumentandoqueosprincipaisprogramas do Incra são os destinados aodesenvolvimento dos assentamentos já criados. Atualmente,oIncratemgrandes poderes e dispõe de muitos recursos para comprar terras, assentarfamílias,construir residências para os assentados, abrir e manter estradas em áreas rurais, implantar agroindústrias, financiar programas educacionais, contratar e prestar assistência técnica. Como observou a reportagem citada, com tantos poderes o Incra é chamado de “Estado dentro do Estado”. A reforma em exame pelo governoresultará num órgão muito mais enxuto, com muito menos poderes, mas com tarefas maisespecíficase,especialmente, mais eficiente. Programas ligados à área habitacional, por exemplo, deverão ser transferidosparaoórgãofederalespecializado no assunto, que é a Caixa Econômica Federal. Umpontoquecertamentegerará polêmica é o que estabelece prazo para a execução da reforma agrária no País. Por ser uma de suas mais visíveis bandeiras,areformaagráriaéessencialparaasobrevivênciademuitos grupos políticos ligados ao campo e vinculados ao PT. Mas, se as mudanças forem, efetivamente, colocadas em prática, o Incra deixará de ser um foco de conflitos políticos e sociais e poderá se transformar num órgão técnico capaz de impulsionar a atividade produtiva nos assentamentos, com resultados muito mais positivos para os assentados e para o País.

“A fila vai andar? Quem se habilita agora?”

O

perávit na conta de mercadorias passará de US$ 27 bilhões para US$ 18,9 bilhões. As variações são muito parecidas. Além disso, o mercado projeta um aumento do déficit em conta corrente de US$ 55 bilhões neste ano para US$ 68,9 bilhões em 2012, portanto, maior do que o investimento estrangeiro direto previsto para o próximo ano, de US$ 53 bilhões. Projeções são muitas vezes desmentidaspelos fatos,masesse pontoé secundário neste momento. A mera perspectiva de fortereduçãodospreçosdealgumas commodities obriga a uma reflexãosobreaestruturadasex-

É perigoso depender dos preços de commodities, mas falta política para venda de manufaturados portações brasileiras e sobre as principais parcerias comerciais doPaís.Por muitos anos,as vendas de manufaturados garantiram a maior parte da receita comercial brasileira. Isso mudou há algum tempo e a dependência em relação às commodities ainda se acentuou em 2011. Dejaneiroaoutubroosexportadores brasileiros faturaram US$ 212,1 bilhões, 29,3% mais do que um ano antes. Quase metade (48%) desse valor foi proporcionada pelas vendas de produtos básicos. Se forem considerados também os semimanufaturados,comoaçúcarembruto,celulose, óleo de soja em bruto e certos produtos metálicos, as commodities terão gerado 62,1% da receita comercial. Esse resultado, essencial para

TEMA DO DIA

“Mas, afinal, o que é a USP? Universidade para pesquisar, ensinar e aprender ou ‘boca de fumo’ com Ph.D.?”

Disfarces usados por alunos que ocupam prédio da Reitoria vão de Branca de Neve a palhaço

PAULO BOCCATO / SÃO CARLOS, SOBRE A INVASÃO DO CÂMPUS pofboccato@yahoo.com.br

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

VOCÊ NO ESTADÃO.COM.BR

ULYSSES FERNANDES NUNES JUNIOR / SÃO PAULO, SOBRE O MINISTRO CARLOS LUPI ulyssesfn@terra.com.br

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Máscara vira ‘moda’ na USP ocupada

1.269

● “E no Chile os estudantes fazem protestos por melhor qualidade de ensino. Que diferença, hein?” PAULO MARTINS

● “Querem ser militantes? Vão aplicar aulas em cursinhos para pessoas carentes e dar aulas em escolas públicas.” ANDRÉ RAMOS

HÁ 830 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Estamos assistindo ao desmantelamento da USP por conta de meia dúzia de inconsequentes.” ROGERO BOTTINO

o superávit na conta de mercadorias, dependeu neste ano, como em 2010, principalmente dos bons preços no mercado internacional. Na média, os preços cresceram bem mais do que os volumes embarcados e isso se deveu em boa parte à demanda chinesa, ainda muito vigorosa, e à de outros emergentes, principalmente asiáticos. Este é outro dado importante paraaavaliaçãodaestratégia nacional: neste ano, até outubro, os mercados da Ásia garantiram 30,2%da receitabrasileiradeexportações. Nenhuma outra região teve peso tão grande no faturamento comercial brasileiro. A China absorveu 17,5% das exportações brasileiras, medidas em dólares. Nessa parceria, omercado chinêscomprouquasesócommoditiesevendeuquase só produtos manufaturados. As cotações de commodities são mais sujeitas a oscilações do que os preços dos manufaturados. Mas o governo brasileiro exibe outras preocupações quando se trata da indústria. Cria barreiras contra a importação, mas pouco faz para apoiar as exportações. Em vez disso, uma das novidades que nos reservou para este ano foi a redução do Proex. O orçamento do Proex-Financiamento, fixado inicialmente em R$ 1,3 bilhão, foi cortado para R$ 800 milhões, segundo informou nesta segunda-feira o jornal Valor. Faz-se o oposto nas potências comerciais, onde o principal objetivo é tornar a produção competitivapara ganhar mercados e gerar empregos. Pior para os brasileiros, melhor para os concorrentes.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 9 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Notas & Informações

A desocupação da Reitoria Determinada pela Justiça, a desocupação da Reitoria da USP ocorreu com base no script tradicional. Assim como aconteceu no cumprimento de outras ordens judiciais idênticas, no mesmo local, a Polícia Militar (PM) realizou a operação de madrugada. Com 400 homens, a tropa de choque chegou de surpresa, cercou o prédio e, sem uso de armas de fogo, deteve os invasores. Estes, por seu lado, saíram repetindo a lengalenga “revolucionária” de sempre, apresentando-se, no momento em que foram detidos, como “presos políticos”, denunciando a opressão policial e acusando o governo estadual de “militarizar” a Cidade Universitária. A novidade é que, ao inspecionar o prédio invadido, a PM descobriu mais do que pichações e sujeira.

Além de portas arrombadas e móveis e câmeras de segurança destruídos, desta vez foram apreendidos morteiros e coquetéis molotov, o que deixou clara a intenção dos baderneiros de sempre, que há duas semanas tumultuam o câmpus. Falam em “diálogo democrático”, mas assumem sempre posições radicais que não podem levar a qualquer tipo de acordo. Desde o início da baderna, que começou no final de outubro, quando três estudantes foram detidos depois de flagrados fumando maconha no estacionamento do prédio da História e da Geografia, os protestos contra a presença da PM no câmpus e as invasões do prédio administrativo da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e da Reitoria tiveram a participação de cerca de 700 estudantes. No total, a USP tem quase 89 mil alunos, dos quais 50 mil só na Cidade Universitária. Por causa da apreensão de mortei-

ros e coquetéis molotov, que poderiam ter causado um incêndio de grandes proporções, a PM levou os 73 invasores da Reitoria para o 91.º DP. Como foram transportados em ônibus comuns, sem banheiro e arcondicionado, os líderes do grupo chegaram ao desplante de classificar o tratamento como “tortura”. Depois de submetê-los a exame de corpo de delito, o delegado seccional abriu inquérito por crime de formação de quadrilha, dano patrimonial e desobediência a ordem judicial e fixou fiança no valor de R$ 545, mantendo encarcerado quem se recusasse a pagar. Se a Justiça acolher a denúncia que o Ministério Público fará com base nesses inquéritos, os invasores podem ser condenados no plano criminal, perdendo a primariedade, e obrigados a ressarcir os prejuízos patrimoniais sofridos pela USP no plano civil. Além disso, a condenação judi-

O avanço do crack

H

á anos, a Prefeitura, com a colaboração do governo do Estado, vem procurando sem êxito acabar com a cracolândia, uma chaga aberta no centro da cidade, como parte dos planos de revitalização do bairro da Luz. Muita coisa foi feita para dar nova vida à região, tornando-a um polo cultural, com as obras de conservação e restauração da Estação da Luz e da Estação Sorocabana, que hoje abriga a Sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica do Estado. No entorno estão a Pinacoteca do Estado, o Museu da Língua Portuguesa e o Memorial da Resistência, no local do antigo Dops. Mas, quanto à segurança da área, o máximo que se conseguiu até agora foi delimitar a cracolândia a um trecho de 300 metros da Rua Helvetia, que se transformou em verdadeiro antro de viciados em crack, onde não podem passar pedestres, automóveis e nem mesmo o caminhão de coleta de lixo. Naquele pedaço de rua, apinhado de barracas e cortiços lacrados pela Prefeitura, mas invadidos ou depredados, a droga rola solta, representando um risco que pode descambar para um surto de violência de grandes proporções, o que urge evitar. O problema não é só de segurança, mas de saúde pública, como a Prefeitura reconhece. Em agosto, o secretário municipal de Saúde, Januário Montone, afirmou que o novo projeto para a região compreenderia “centros de acolhida”, clínicas onde os dependentes de drogas pode-

maioria dos estudantes da FFLCH, tivemos de passar ontem ao tentarmos exercer nosso direito de estudar, pois havia um grupo de alunos do Centro Acadêmico de Estudos Linguísticos e Literários na Faculdade de Letras que impediu a entrada nas salas. O curioso é que não havia ninguém para impedi-los de tal delito, revoltante, por sinal. Assim perderam a razão, já que criticam os que, segundo eles, inibem seus direitos e, ao mesmo tempo, também roubam nosso direito de ser contra tal manifestação. É essa a democracia exercida por uma minoria que impõe pela violência sua opinião. A única coisa que nos resta é lamentar, pela incompetência de ambas as partes envolvidas: alunos que, pela ignorância, querem impor suas ideias, sem respeitar a decisão da maioria na assembleia da véspera, e policiais que só sabem fazer show diante da mídia. Se a PM fosse mesmo profissional, nosso país

riam ser tratados. Os planos não saíram até agora do papel, assim como a integração com o Judiciário para a internação compulsória daqueles considerados adictos. A ação pela Coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça deveria começar em outubro, mas a estrutura desejada ainda não foi montada. Um programa improvisado pode comprometer os resultados, mas a questão já é suficientemente grave para que seja feita uma mobilização nacional para um combate efetivo ao crack. O problema não se limita à cidade de São Paulo, onde é tão visí-

Muito mais do que um vício, é uma degradação que já se torna grave ameaça à sociedade vel, nem ao Estado, mas se dissemina pelo País todo. Uma enquete feita pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) revelou que 63,7% das 4.000 prefeituras de todos os Estados que responderam ao seu questionário disseram que a circulação de crack e outras drogas se tornou um grande entrave para o bom funcionamento de seus sistemas de saúde; 58,5% informaram que se veem diante de ameaças sérias à segurança por causa do crack; e 44,6% afirmaram que sua rede de assistência social também se ressente com o que já classificam de epidemia. Em inúmeros casos, as escolas não são devidamente protegidas e milhões de jovens brasileiros estão hoje expostos às

seria exemplo de segurança. Sim, é preciso a atuação da PM, mas isso não basta. Se a Reitoria estivesse interessada de fato em melhorar a segurança no câmpus Butantã, apresentaria um plano de desenvolvimento desse setor a longo prazo. As soluções são conhecidas por todos, como mais iluminação, aumento do número dos ônibus circulares, colocar a PM em locais estratégicos, que, todos sabem, são visados pelos marginais. São apenas alguns pontos que devem ser melhorados. Devem-se evitar as medidas arbitrárias desses alunos, que quando coagidos impedem a entrada na faculdade dos que querem apenas exercer seu papel de estudantes. É o desabafo de mais uma dos muitos alunos prejudicados pelos equívocos uspianos. O pior é que a diretoria divulgou que as aulas não foram canceladas! DEBORAH A. GARBEZ GOMES deborahgarbez@hotmail.com Santo André

cial pode pôr fim à velha hipocrisia que está por trás das greves, piquetes e invasões promovidos por minorias radicais no câmpus. Elas se acostumaram a fazer reivindicações absurdas e a impor condições disparatadas nas “negociações” com as autoridades acadêmica, porque não lhes interessa qualquer espécie de acordo. Sem acordo, partem para atos de vandalismo e, depois, exigem que não sejam punidas pelo vandalismo. Lenientes, as autoridades universitárias acatam essas exigências – e a impunidade estimula os estudantes a voltarem à baderna com violência cada vez maior, como se não houvesse limites legais. Isso ficou evidente no final da semana passada, quando a Justiça acolheu a ação de reintegração de posse impetrada pela Reitoria. Em vez de cumprir a ordem de desocupação, os invasores tentaram impor à Justiça, como condição para a desocupação do prédio da Reitoria, a retirada da

PM do câmpus – o que devolveria a USP à infestação dos traficantes de drogas, assaltantes, estupradores e assassinos. E, mais grave ainda, mesmo depois do acintoso desacato a uma determinação judicial, eles continuaram sendo cortejados. Esquecendo-se de que no Estado de Direito todos são iguais perante a lei e ninguém tem prerrogativa de transgredir o que o direito penal classifica como crime, o ministro da Educação, numa declaração das mais infelizes, disse que a USP “não pode ser tratada como se fosse a cracolândia”. O que se está vendo na USP nada tem a ver com questões ideológicas ou com a discussão sobre autonomia universitária. Por trás do discurso ideológico das minorias de arruaceiros – e daqueles que irresponsavelmente os cortejam – o que se tem é delinquência praticada por quem não aprendeu a respeitar a lei e a viver numa democracia.

Oposição afinal? drogas de todos os tipos, muitas vezes vendidas em pontos bastante conhecidos, o que está diretamente relacionado ao aumento da violência. Entre os principais problemas detectados na pesquisa realizada pela CNM está a crescente incidência de estudantes armados nas escolas. Por ser mais barato, o óxi (mistura de pasta de cocaína, querosene e cal virgem), vendido em pedra, é cada vez mais usado por trabalhadores rurais, especialmente nos canaviais. Paulo Ziulkoski, presidente da CNM, considera que a União e os Estados estão sendo omissos no combate ao crack e no atendimento aos viciados, que acaba sob a responsabilidade dos municípios, sobrecarregados de gastos com a saúde por causa da droga. Pode haver algum exagero, mas é verdade que os Estados e o governo federal se restringem à repressão ao tráfico, a cargo das Polícias Militar e Federal. Essa ação é indispensável e não resta dúvida de que muito se pode avançar por meio de um melhor monitoramento das extensas fronteiras brasileiras. Verifica-se, porém, que vêm sendo negligenciadas as questões de saúde e de educação, relacionadas ao vício. Não há uma política nacional antidrogas abrangente, capaz de unir os esforços dos governos em todos os níveis, bem como da sociedade e das famílias, para prevenir os efeitos devastadores do consumo de crack e outras substâncias tóxicas, que geram tanta violência e podem comprometer a saúde e a capacidade produtiva das novas gerações.

“Rebeldes sem causa: enfim os ‘revolucionários de butique’ vão retornar aos barzinhos da Vila Madalena...” FRANCISCO DE SALES MACEDO SOUZA / SÃO PAULO, SOBRE A DESOCUPAÇÃO DA REITORIA DA USP PROMOVIDA PELA PM mailto:ctampa@ig.com.br

“Uns estudantes velhos, não?” CAROLINA CHAVES / SÃO PAULO, IDEM mackcomel@hotmail.com

D

epois de perder três eleições presidenciais consecutivas e de ter visto se agravarem, a cada derrota, as disputas internas e uma profunda crise de identidade, o PSDB dá um primeiro sinal de ter reencontrado o caminho para se firmar como principal partido da oposição e se apresentar ao povo brasileiro como alternativa viável de poder no plano federal. Reunida no Rio de Janeiro num seminário promovido pelo Instituto Teotônio Vilela, a cúpula tucana revelou uma há tempo sumida capacidade de articular em uníssono críticas severas e objetivas aos governos Lula e Dilma com propostas concretas, tanto para a correção dos desvios que julga estarem sendo cometidos há mais de oito anos pelos governos do PT quanto para o desenvolvimento de novas políticas, especialmente nos campos econômico e social. O grande homenageado do evento foi Fernando Henrique Cardoso, em mais uma demonstração de que o partido está disposto a se redimir do grave erro político que vinha cometendo desde as eleições de 2002, quando tentou minimizar a importância do papel do ex-presidente, que era – e continuou sendo – alvo de uma demolidora campanha de desmoralização política por parte dos petistas. Escalado para fazer o encerramento do seminário, Fernando Henrique foi duro nas críticas ao governo que o sucedeu, reformulando a tese de que Lula se limitou a procurar seguir e ampliar as políticas implementadas pelos tuca-

nos nos campos econômico e social: “O governo do presidente Lula deformou o que foi feito antes. O programa que eles tinham era uma corrida para o abismo. Pegaram o nosso e executaram mal”. Aécio Neves e José Serra também foram duros nas críticas aos governos petistas. Ambos destacaram as reiteradas denúncias de corrupção que já provocaram a queda de cinco ministros herdados do governo Lula e condenaram o aparelhamento da administração pública federal, loteada entre o PT e os partidos da base aliada do governo. O governador mineiro atirou

Uma reunião que pode ter criado um novo alento e maior harmonia nas fileiras da oposição em Dilma Rousseff com a expressão que ela consagrou para se referir a irregularidades praticadas em seu governo: “O malfeito para este governo só é malfeito quando vira escândalo. Até lá, é bem feito. O governo age reativamente”. Mas a nota marcante do evento tucano foi a grande quantidade de propostas apresentadas com o objetivo de corrigir o que consideram políticas equivocadas da atual administração federal. Talvez a mais importante delas, considerada “revolucionária” por Fernando Henrique, foi de autoria de Pérsio Arida, expresidente do Banco Central no governo FHC: o fim do crédito subsidiado oferecido pelos bancos públicos, especialmente o BNDES, como forma de acele-

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USP: alunos serão indiciados por 3 crimes

1.577

PM deteve 70 estudantes que ocupavam Reitoria da FFLCH para cumprir reintegração de posse ● “Se esses ociosos estivessem trabalhando e estudando, não teríamos visto cenas de alunos agindo como bandidos.” MARIO SERGIO CANZIAN

● “É importante que a sociedade tenha paciência com os jovens. Foi batendo cabeça que foram forjadas grandes lideranças.” HELIO FIGUEIREDO

HÁ 831 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Esses estudantes não sabem o valor da democracia e não entendem a necessidade de manter a ordem.” GILMAR CARDOSO

rar a queda da taxa básica de juros e elevar a remuneração da caderneta de poupança e de fundos administrados pelo governo federal, como o FGTS e o FAT. “O governo tem de agir em nome do bem comum e não favorecer o lobby dos tomadores de recursos subsidiados”, enfatizou Arida. Para ele, com o fim dos subsídios, as taxas de juros cobradas pelo BNDES poderiam se nivelar às dos bancos privados, provocando uma redução da demanda por crédito público e a consequente liberação de recursos para outras finalidades importantes. O “lobby dos tomadores de recursos subsidiados” a que se referiu Arida é um grupo de grandes empresários nacionais com quem o lulopetismo firmou um sólido pacto de apoio mútuo cimentado pela abertura de generoso acesso a dinheiro público barato. Executada em nome da defesa dos interesses e do fortalecimento do empresariado nacional, essa prática, sempre pautada por indisfarçável favorecimento político, significa, na verdade, indevida intervenção pública no princípio da livre concorrência entre as empresas do próprio País. Outros participantes do seminário defenderam ainda a retomada das privatizações, a redução drástica do número de ministérios, maior investimento na qualificação do magistério público, reformas da Previdência que incluem a elevação da idade para aposentadoria, entre outras propostas apresentadas. Resta saber agora até quando vão durar esse entusiasmo e essa harmonia oposicionistas.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 10 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

A vez de Berlusconi A crise europeia mudou de patamar e a insegurança aumentou nos mercados com a Itália, uma economia de US$ 2,1 trilhões, tomando o lugar da pequena Grécia no centro das preocupações de investidores e governos. A anunciada renúncia do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, sem maioria para sustentar-se e para conduzir o duro ajuste necessário ao país, é mais um capítulo de um drama político já vivido em Portugal, na Irlanda e na Grécia. Mas é um capítulo especial, porque envolve a terceira maior economia da zona do euro, a quarta da Europa e uma das dez maiores do mundo, com uma indústria de primeira classe e um poderoso sistema financeiro. Grande e tecnicamente avançada, essa potência é hoje tratada nos mercados como fo-

ram em outros tempos as economias instáveis da América Latina. Nesta quarta-feira, o Tesouro italiano chegou a pagar 7,4% para rolar seus títulos de 10 anos – uma taxa classificada como insustentável por muitos analistas. Segundo o Banco da Itália, esse custo financeiro ainda é suportável, mas quem decide se um país vai ou não quebrar é o mercado. A crise financeira foi politicamente mais desastrosa para Berlusconi que uma longa série de escândalos sexuais, acusações de corrupção e processos na Justiça. Uma votação no Parlamento bastou para comprovar a perda da maioria necessária para mantê-lo no poder. Com realismo, ele prometeu renunciar logo depois da aprovação da proposta orçamentária para 2012. Il Cavaliere, como é também chamado, já havia proposto ao Parlamento programas de ajuste fiscal para reduzir nos próximos anos o peso da dívida pública.

Essas iniciativas foram bem recebidas, de imediato, mas foram insuficientes, afinal, para restabelecer a confiança dos credores e investidores. A história poderia ter sido diferente, talvez, se a crise grega tivesse evoluído de modo mais favorável. Mas a incapacidade do primeiro-ministro George Papandreou de atender aos critérios da União Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional (FMI), responsáveis pelo socorro à Grécia, manteve os mercados em sobressalto. A cada novo susto, o risco de agravamento da situação dos países mais endividados ganhava peso nas avaliações dos operadores financeiros. Diante da pressão crescente dos mercados e da piora da classificação de risco da Itália, Il Cavaliere pediu ao Fundo Monetário Internacional um trabalho de acompanhamento da política fiscal italiana. Essa iniciativa foi confirmada durante a reunião de

cúpula do Grupo dos 20 (G-20), na semana passada, em Cannes. A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, respondeu positivamente ao apelo e anunciou um programa de revisão trimestral das contas. As missões do Fundo têm sido tradicionalmente avaliadas, em países dependentes de ajuda, como intromissões intoleráveis. Berlusconi, no entanto, pediu esse trabalho de supervisão, mesmo sem depender de ajuda financeira. O acompanhamento das contas proporcionaria, segundo seu cálculo, um aval precioso ao governo italiano. Diante da piora do quadro, a hipótese de um pedido de ajuda parece agora muito mais provável. Se o governo italiano de fato recorrer a um programa de auxílio financeiro durante o período de ajuste, haverá um novo e complicado problema para a União Europeia e também para o FMI. Os governos europeus aprova-

Da assistência ao treinamento

No limiar da bomba

reparar para o trabalho continua sendo a melhor forma de combater a pobreza e é o modo mais seguro de tornar o indivíduo independente e capaz de organizar a própria vida. Programas de ajuda e transferência de renda, como o Bolsa-Família, podem ser muito bons como ações de emergência. Servem para dar algum alívio aos muito pobres, mas são insuficientes para mudar suas condições de forma duradoura. Daí a importância do Programa Nacional do Ensino Técnico (Pronatec), projetado para qualificar 1 milhão de pessoas do meio urbano até 2014. A ideia do governo é oferecer, de preferência aos beneficiários do Bolsa-Família, cursos variados para formar pedreiros, pintores, cozinheiros, camareiras, jardineiros, cuidadores de idosos e outros profissionais com perspectivas de emprego decente. Além do treinamento específico, os cursos deverão reforçar os conhecimentos de português e matemática, disciplinas essenciais e muito maltratadas na educação básica da maior parte dos brasileiros. Com o Pronatec, o Ministério do Desenvolvimento Social e do Combate à Fome poderá tomar um rumo novo, tornando-se menos assistencialista e mais eficiente no esforço de eliminação da pobreza. Desde o começo de seu mandato a presidente Dilma Rousseff mostrouse preocupada com o aperfeiçoamento dos programas sociais desenvolvidos até o fim do governo anterior. A transfe-

novo relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre o programa nuclear do Irã só faltou dizer que o país está fabricando a bomba – não disse porque não conseguiu recolher evidências nesse sentido e não quis se desmoralizar. Os próprios Estados Unidos haviam anunciado em 2007 que o concentrado esforço iraniano por armas nucleares havia sido sustado quatro anos antes. Mas, com palavras cuidadosamente calibradas, o relatório sustenta que, em tempos recentes, o Irã “conduziu atividades relevantes para o desenvolvimento de um artefato nuclear”, algumas das quais “podem ainda estar em curso”. O governo de Israel diz ter certeza, a ponto de o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu falar novamente em atacar as instalações atômicas do inimigo. O documento de 22 páginas, em duas partes, é o mais circunstanciado de todos quantos a Agência produziu em uma década de difíceis investigações sobre o programa que Teerã alega se destinar a fins pacíficos, mas que nunca abriu plenamente aos inspetores do órgão – a quem, em diversas ocasiões, enganou. As trapaças, mentiras e transgressões do Tratado de Não-Proliferação, de que o Irã é signatário, foram punidas pelo Conselho de Segurança da ONU com quatro pacotes de sanções – sem efeito palpável. Valendo-se de conhecimentos próprios, além da ajuda de cientistas estrangeiros, pelo menos

P

seus filhos foram maltratados pela polícia, quando deveriam mais é reconhecer que falharam em sua educação para serem cidadãos, e não estudantes profissionais e maconheiros, que ocupam o lugar de muitos que ali não conseguem entrar. LAÉRCIO ZANNINI arsene@uol.com.br Garça

‘Bichos grilos’

Irretocável o artigo A revolução dos ‘bichos grilos’ mimados da USP, de José Nêumanne (9/11, A2). É preciso acabar com essa demagogia barata que permeia a sociedade brasileira, sempre tolhida pelo patrulhamento ideológico das minorias organizadas que impõem a ditadura do politicamente correto. RICARDO SALLES salles@endireitabrasil.com.br São Paulo

rência de enormes volumes de renda a cerca de 12 milhões de famílias havia melhorado as condições de vida de um enorme contingente de brasileiros. Mas era preciso pensar mais seriamente e de modo mais ambicioso na criação de portas de saída, para facilitar o abandono dos programas assistenciais, a superação efetiva da miséria e a conquista da independência pelos beneficiários da ajuda oficial. Muitas famílias poderão continuar recebendo a transferência de renda, mas deverão, com o treinamento, melhorar seu nível de renda, informou a ministra Tereza Campello, cita-

Programa de formação de mão de obra dá um novo sentido à política de combate à pobreza da pelo jornal Valor. Mas a preparação profissional certamente aumentará as possibilidades de autossuficiência das pessoas assistidas. De início, o governo deverá manter contato com 161 dos maiores municípios. A intenção é envolver governos estaduais e municipais e também com entidadesdosetorprivadoparacombinar a montagem dos cursos e a abertura de oportunidades de emprego. Será ainda preciso cumprir uma longa agenda, antes da execução dos programas de treinamento a partir de 2012. OMinistériodaEducaçãoeoSistema S, mantido pelas grandes entidades empresariais, deverão cooperar com o Ministério do Desenvolvimento Social, segundo se anunciou em Brasília.

Massa de manobra

Magno Carvalho, o presidente do Sintusp, grande apoiador e financiador dos “revolucionários” da FFLCH da USP, hospeda em sua casa o terrorista italiano Cesare Battisti. É com esse tipo de elemento que a polícia de São Paulo está lidando. Os “estudantes” são só massa de manobra de gente muito mais graúda. M. CRISTINA ROCHA AZEVEDO crisrochazevedo@hotmail.com Florianópolis

Discriminação

Por que essa discriminação com os estudantes? Por acaso sem-terra é preso quando detona sede do Incra, a Câmara dos Deputados, fazendas, etc.? CLAUDIO DE OLIVEIRA VILLELA cov.urutau@gmail.com Jataí (GO)

O Sistema S (Senai, Sesi, Senac,etc.)écomcertezamaispreparado que o Ministério da Educação para ajudar nesse trabalho. Pelo menos em alguns Estados,oscursosmantidosporentidades desse grupo alcançaram elevadonível de qualidade e têm dado uma excelente contribuição ao preparo de mão de obra para a indústria, o comércio e os serviços. O Ministério da Educação nemsequer,durantemuitotempo,atribuiuaoscursosprofissionais a necessária importância. Nos oito anos anteriores, sua prioridade foi criar faculdades e facilitar o acesso de estudantes aos cursos classificados formalmentecomouniversitários,sem muitaatençãoàqualidadedoensino ou às necessidades efetivas da sociedade e da economia. Sórecentemente oMinistério da Educação passou a mostrar interesse pelo ensino técnico. A escassez de mão de obra qualificada,emváriossetoresdaeconomia brasileira, é uma prova muito clara do erro de enfoque da política educacional mantida nos últimos anos pelo governo da União. O programa do Ministério do Desenvolvimento Social certamente não compensará essa deficiência, nem deve ser esse o seu objetivo. Mas sua orientação supera, sem dúvida, a do Ministério da Educação em termos de realismo. Falta conferir, naturalmente, se o programa será administrado e executado com eficiência e sem interferências prejudiciais de caráter político-partidário. Por enquanto, cabe aplaudir a ideia e torcer pelo sucesso de uma iniciativa promissora.

“Esse Carlos Lupi é tão ‘indestrutível’ quanto Orlando Silva?” JAMES F. SUNDERLAND COOK/ SÃO PAULO, SOBRE O MINISTRO DO TRABALHO sunderland2008@gmail.com

“Lupi (‘lobo’?) já está em cima do telhado. Quem será o próximo?” RONALDO PARISI / SÃO PAULO, IDEM rparisi@uol.com.br

O

ram a ampliação de recursos de seu fundo de resgate de € 440 bilhões para € 1 trilhão, mas falta resolver como será executada a mudança. O FMI também está despreparado para socorrer uma economia do tamanho da Itália e com necessidades financeiras tão grandes. Em setembro, a diretora-gerente alertou para a necessidade de um aumento de capital. Circulam estimativas de um reforço necessário de uns US$ 300 bilhões, se a instituição tiver de socorrer a Itália. Na sexta-feira, o G-20 encerrou a reunião de Cannes sem ter resolvido um único problema importante. Menos de uma semana depois, o agravamento da crise italiana torna mais extensa e complicada a agenda de problemas sem perspectiva de solução. Diante disso, a situação do Cavaliere chega a ser invejável: dentro de poucos dias ele poderá cuidar só de seus assuntos pessoais.

um deles russo, os iranianos realizaram avanços expressivos no setor, constatou a AIEA. Alguns podem ter aplicações civis. Mas outros são “específicos para armas nucleares”. O organismo cita quatro frentes “seriamente preocupantes” de atuação: a busca, às vezes bem-sucedida, de equipamentos e materiais nucleares pela área militar; a aquisição de informações sobre desenvolvimento de armas atômicas junto a fornecedores clandestinos; a procura de meios sigilosos para a produção de material nuclear; e a tentativa de criar um tipo próprio de arma atômica e testar seus

Tudo faz crer que a pior iniciativa no impasse com o Irã é a ameaçada por Netanyahu componentes. Isso permitiu ao Irã produzir em computador modelos de explosões nucleares, efetuar sofisticados experimentos com detonadores de bombas A e trabalhar no projeto de uma ogiva nuclear para seu míssil Shahab 3, com 1,3 mil km de alcance. Pois, obviamente, não basta estocar uma bomba: é preciso transportá-la e fazê-la explodir no lugar desejado. Como era de prever, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, denunciou ontem o relatório como uma farsa, reiterou que não recuará “um pingo” do seu programa nuclear – mas disse também algo a ser considerado: “O Irã não construirá duas bombas contra as 20 mil que vocês (o Ocidente) têm”. Não é que não as construirá necessaria-

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Projeto pode tornar Lei Seca mais rigorosa

1.401

Aprovado pela CCJ do Senado, texto torna crime dirigir com qualquer quantidade de álcool no sangue ● “O certo seria que eles fizessem cumprir as leis que já existem, não ficar retocando as que não funcionam.” DANIEL OLIVEIRA

● “Ainda acho pouco. Teria que prender o cidadão e cancelar a carteira de habilitação.” CRISTIANO JUNIOR

HÁ 832 DIAS

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● “E as propagandas de álcool na TV são liberadas e incentivam os jovens a beber.” LUIZ SANTOS

mente. O complexo clerical-militar que domina o país age para estar com tudo preparado se e quando decidir que chegou a hora de o Irã entrar para o clube atômico, como fizeram o Paquistão e a Índia – e, antes deles, sem confessar, Israel. O ponto a levar em conta é que, não obstante todo o seu ódio fanático aos Estados Unidos e ao “ente sionista”, Teerã sabe que, se for o primeiro a usar a bomba, a retaliação virá na mesma moeda. Se os observadores mais circunspectos estiverem certos, o regime quer chegar à bomba, ou ficar no seu limiar, para se afirmar e, sobretudo, dissuadir os inimigos de desestabilizá-lo. O mais agressivo o encara do outro lado do Golfo Pérsico. Em abril de 2008, o rei Abdullah, da Arábia Saudita, disse que os EUA deviam “cortar a cabeça da serpente” iraniana. O fato é que a bomba de Teerã é inadmissível para Washington – por Israel, em primeiro lugar, mas também para prevenir uma corrida nuclear na região, a que se lançariam sauditas e egípcios. O imenso problema do presidente Barack Obama, de quem, afinal, tudo depende, é como desativar de vez o programa iraniano. Novas sanções multilaterais? A Rússia e a China vetarão. Negociações, então? Mas de que adianta pedir a alguém que deixe de fazer algo, em troca de um benefício, se ele nega que esteja fazendo. Sabotagem? Atrapalha, mas não resolve. O bombardeio que Netanyahu deseja? Será, parafraseando o célebre dito, pior do que um crime e do que um erro: uma catástrofe de efeitos inimagináveis.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 11 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Notas & Informações

Com a viola no saco Quando ainda se sentia confiante na solidez de sua posição à frente do Ministério do Trabalho, Carlos Lupi não se poupou de trovejar bravatas. Mas, como quem fala muito, segundo o dito popular, acaba dando bom dia a cavalo, o ministro acabou cometendo dois graves equívocos, um deles provavelmente fatal: o de colocar em dúvida a possibilidade de a presidente Dilma Rousseff demiti-lo, garantindo que só deixaria o cargo “abatido à bala”. Já meteu a viola no saco. O outro foi o de tentar reverter a seu favor a lógica dos acontecimentos, lançando mão de um jogo de palavras demagógico e primário: “Sou osso duro de roer. Quero ver até onde vai essa onda de denuncismo”. A onda que assola o País não é essa, é a da corrupção. As denúncias são apenas

consequência. E a demissão de cinco ministros de Estado por elas atingidos revela que todas têm tido fundamento. Ou a presidente da República é irresponsável? Por que o caso do ministro do Trabalho seria diferente? As suspeitas de trambiques de agentes do governo, com ONGs picaretas, começaram a pipocar ainda na administração anterior e estão no foco das denúncias recentemente veiculadas sobre a cobrança de propina, por parte de assessores do ministro Lupi, para fazer vista grossa a irregularidades. Ontem o Estado publicou o caso da ONG Oxigênio, de um amigo de Lula, com sede em São Paulo, que foi cobrada pelo próprio Ministério do Trabalho a respeito da comprovação de serviços de qualificação de operadores de telemarketing pelos quais recebeu R$ 24 milhões. E ficou comprovado que outra organização, a Associação dos Artesãos e Produtores Rudimentares

do Rio (Aart), que recebeu R$ 3,75 milhões de convênio firmado em dezembro de 2009 para oferecer cursos de qualificação para o “arranjo da indústria do carnaval”, não funciona em nenhum dos dois endereços que constam dos documentos oficiais. Não é à toa que a presidente determinou uma rigorosa revisão de todos os convênios firmados com organizações não governamentais. Apesar das evidências contra ele, o trovejante Lupi permitiu-se, na última terça-feira, uma fanfarronice temerária para quem, como ele, afirma conhecer muito bem Dilma Rousseff: “Não saio do cargo. Daqui ninguém me tira. Só se for abatido à bala. E tem que ser bala de grosso calibre, porque eu sou pesado”. E acrescentou que não sairia agora nem na reforma que Dilma fará em janeiro. Foi a conta. A presidente mandou a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffman, chamar o falastrão a seu gabine-

te, passar-lhe um pito e exigir uma retratação pelos “excessos” verbais. Imediata e obedientemente o PDT, partido do qual Lupi é o chefão, divulgou nota oficial para esclarecer que “em nenhum momento as declarações do ministro Carlos Lupi, durante coletiva ontem na sede nacional do PDT, foram de ameaça a quem quer que seja, muito menos à presidente Dilma Rousseff, mas sim um desafio aos acusadores que se escondem por trás do anonimato”. Por recomendação do Palácio do Planalto, na quinta-feira pela manhã Lupi compareceu, menos trovejante, a uma audiência pública da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, para prestar esclarecimentos sobre as denúncias de irregularidades envolvendo sua pasta. Depois de reiterar seu ato de penitência pelos excessos verbais, chegou a declarar: “Presidente Dilma, peço desculpas se errei. Eu te

amo. Quem trabalha muito erra muito” – e procurou minimizar a importância de todas as irregularidades apontadas, chegando a garantir que seu ex-chefe de gabinete Marcelo Panella, o primeiro a ser demitido pelo próprio ministro quando a situação começou a ficar feia, sempre teve um comportamento irrepreensível: “Não há possibilidade de ele estar envolvido em qualquer coisa irregular”. E saiu pela tangente quando convidado a explicar a série de “erros e equívocos” apontados nos convênios: “São mais de 500 convênios, como não vai ter isso? Mas corrupção, dentro do meu partido, não há”. Será ótimo se for verdade, porque, a se repetir o procedimento que Dilma Rousseff tem geralmente seguido em situações semelhantes, quando o ministro Lupi cair o feudo do Trabalho estará garantido nas mãos do PDT. Afinal, é preciso preservar a governabilidade.

Incentivo ao saneamento

O Brasil diante da crise global

stá em estudo no Ministério das Cidades um projeto que isenta os investimentos em saneamento básico do recolhimento do Programa de Integração Social/Contribuição Financeira para a Seguridade Social (PIS/Cofins). Se aprovada, a medida reduzirá em R$ 2 bilhões por ano os custos tributários das empresas do setor. Esse foi o total de PIS/Cofins recolhido por essas empresas no ano passado. O objetivo do governo é transformar os ganhos tributários em investimentos adicionais, para acelerar as obras dos serviços de saneamento e a sua universalização até 2030. A desoneração tributária do saneamento básico foi solicitada formalmente ao governo pela Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais (Aesbe) e apoiada por outras entidades empresariais, e chegou a ser citada na campanha eleitoral da então candidata Dilma Rousseff. Já há algum tempo, vem sendo tratada por membros do governo ligados à área de saneamento. Estudos técnicos do Ministério das Cidades elaborados há alguns meses defendem a redução da tributação dos investimentos em redes de água e em sistemas de coleta e tratamento de esgoto como forma de estimular os investimentos. Um desses estudos afirma que a desoneração dos encargos diretos sobre a receita (PIS/Cofins) e sobre o lucro (Contribuição Financeira sobre o Lucro Líquido e Imposto de Renda) reduziria

crise mundial se agrava, mas o Brasil não terá uma década perdida, prometeu o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Para isso, acrescentou, será preciso tomar novas medidas para fortalecer a economia nacional e prepará-la para o impacto de novas dificuldades no cenário global. Ontem, enquanto ele discursava no Palácio do Planalto, a Comissão Europeia divulgava, em Bruxelas, novas e mais sombrias estimativas; no próximo ano o crescimento econômico do bloco não deverá passar de 0,6%. Há seis meses, a projeção indicava uma expansão de 1,9%. Na semana passada, em Washington, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) havia apontado a perspectiva de um avanço “lento e frustrante” nos Estados Unidos em 2012. O risco de uma década perdida foi mencionado nesta semana, em Pequim, pela diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, em pronunciamento num fórum financeiro. As perspectivas pioraram, nos últimos dias, quando o epicentro da crise europeia se deslocou para a Itália, a terceira maior economia da zona do euro e uma das dez maiores do mundo. Com a troca de governo, as pressões do mercado financeiro sobre o Tesouro italiano poderão diminuir, mas o novo gabinete será forçado a promover um ajuste orçamentário severo e terá pouquíssimo espaço para cuidar do crescimento a curto prazo. O recém-apontado primeiro-ministro grego, Lucas

E

Quem perde?

Se os alunos fazem greve, quem perde? Ao que eu saiba, professores e funcionários continuarão a ganhar seus salários... Realmente, a USP está ruim na qualidade do ensino. Nem o óbvio esses tapados conseguem entender! Ou fumaram muita erva e queimaram o cérebro? “Dã, vamos fazer greve, assim a gente perde o ano e esses PMs aprendem a não se intrometer na nossa boca de fumo!”. MARCUS COLTRO marcuscoltro@hotmail.com São Paulo

Anarquia

em 20% o custo das empresas prestadoras de serviços de saneamento básico, ganho suficiente para sustentar suas operações e assegurar investimentos em ampliação e modernização. A desoneração, nesse casos, se justificaria pelo fato de essas empresas estarem prestando um serviço que é parte de políticas públicas a cargo do governo. Em encontro com empresários do setor em São Paulo na segunda-feira (7/11), o secretário nacional de Saneamento do Ministério das Cidades, Leodegar Tiscoski, disse que a proposta de desoneração tributária foi

A isenção tributária é importante, mas é preciso mais ajuda a Estados e municípios aprovada pelo ministro Mário Negromonte. É um passo importante, mas não suficiente. Os Ministérios da Fazenda e do Planejamento terão de ser consultados antes da apresentação do projeto de desoneração. Em geral, eles costumam resistir a medidas que impliquem redução de arrecadação. Não se conhece nenhuma manifestação a respeito da proposta em estudo no Ministério das Cidades. A desoneração teria um efeito importante no aumento da capacidade de investimento das empresas do setor. As companhias estaduais de saneamento básico calculam que, nos últimos dez anos, recolheram R$ 13 bilhões de PIS/Cofins. É um valor superior a todo o investimento realizado por elas no pe-

BERLUSCONI O fim de uma era

Finalmente a Itália vai se livrar da “República do Bunga-Bunga” do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, depois de mais de dez anos no poder, rodeado por escândalos sexuais e sociais, corrupção e até mesmo conexões com a Máfia. Agora os italianos têm a chance de mostrar ao mundo – com seu próximo primeiro-ministro – que não são como o seu atual líder. Quem viver verá. SÉRGIO ECKERMANN PASSOS sepassos@yahoo.com.br Porto Feliz

ríodo, de R$ 12 bilhões. Dados compilados recentemente pela Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) indicam que, no ano passado, os investimentos em saneamento básico efetivamente realizados pelo governo dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) somaram R$ 7,5 bilhões, o que equivale a pouco mais da metade do investimento federal necessário para alcançar a universalização dos serviços no longo prazo. Para levar serviços de água e esgotos a toda a população em 15 anos, isto é, até 2025, o Brasil teria de investir R$ 20 bilhões por ano. Se o prazo for estendido por cinco anos, isto é, até 2030, os investimentos anuais devem ser de R$ 17 bilhões. A participação dos governos estaduais e das prefeituras, além de empresas privadas por meio de concessões ou parcerias com o setor público, é essencial para a execução desses investimentos. É importante destacar que, embora relevante, a questão tributária é apenas uma entre as muitas que o setor precisa superar para ampliar sua capacidade operacional e seus investimentos. No encontro com empresários em São Paulo, o secretário nacional de Saneamento lembrou que os municípios têm até dezembro de 2013 para apresentar seu plano de longo prazo para o setor. Muitos, porém, não têm condições técnicas para elaborar esses planos, o que torna mais difícil a expansão dos serviços e sua universalização. Além de dinheiro, isso requer competência administrativa.

“Medo de sair do governo?” CICERO SONSIM / NOVA LONDRINA (PR), SOBRE O AMOR DECLARADO c-sonsim@bol.com.br

“Lupi = lobo... Lobisomem? A dona Dilma terá de usar bala de prata!” HUMBERTO DE LUNA FREIRE FILHO / SÃO PAULO, IDEM hlffilho@gmail.com

“Lupi já está maduro, é só chacoalhar que ele cai” ROBERT HALLER / SÃO PAULO, IDEM robelisa1@terra.com.br

E os mercados acionários estão fazendo Bunga-Bunga...

VAGNER RICCIARDI vbricci@estadao.com.br São Paulo

ALEXANDRU SOLOMON alex101243@gmail.com São Paulo

O governo terá de gastar de forma seletiva e eficiente, se quiser estimular a economia Boa parte do empresariado brasileiro já inclui em seus cálculos a piora do cenário internacional. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 54% dos 22.090 executivos consultados em pesquisa recémconcluída descreveram o cenário mundial como incerto e com riscos para suas empresas. Cerca de um terço – 31% – disse esperar uma piora das condições nos próximos meses. Além disso, 30% afirmaram ainda sentir os efeitos da crise de 2008-2009. A nova fase de estagnação deverá afetar as empresas brasileiras, principalmente, pela estagnação do comércio exterior e pela retração do crédito, segundo os consultados. Por enquanto, os impactos da crise são pouco claros no Brasil.

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Lupi pede desculpas e afirma amar Dilma

1.206

Ministro do Trabalho declarou que só deixaria cargo ‘abatido à bala’. ‘Quem trabalha muito erra’, disse ● “Depois da ameaça velada de Lupi, agora ele diz que a ama. O amor é lindo.” ALVES BRASIL

MICHAEL K

HÁ 833 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “O peixe morre pela boca. Esse ministro está politicamente morto.” PAULO VICTOR

O presidente da Gerdau, André Gerdau Johannpeter, disse, numa teleconferência com analistas, prever para o próximo ano um aumento da demanda de aço. As vendas da companhia, acrescentou, ainda não foram afetadas pelas incertezas sobre a economia mundial. Mas a posição da empresa, segundo ele, é cautelosa, assim como a da maioria dos clientes. De toda forma, o governo brasileiro se prepara, segundo fontes de Brasília, para enfrentar a piora das condições internacionais. A redução dos juros, já iniciada pelo Banco Central (BC), é com certeza parte dessa estratégia. Mesmo sem a crise externa, o governo teria de aumentar os investimentos no próximo ano, para atender aos compromissos de realização da Copa do Mundo. Sem entrar nesses detalhes, o ministro da Fazenda mencionou a necessidade de manter a solidez fiscal, controlando os gastos e evitando, por exemplo, novos aumentos salariais. Pelo menos o discurso é sensato. Se quiser aumentar os investimentos, adotar estímulos e ao mesmo tempo evitar o descontrole orçamentário, o governo terá de usar o dinheiro com parcimônia e eficiência. É essencial, como o próprio ministro observou, manter a credibilidade diante dos mercados. A renovação da DRU, a Desvinculação de Receitas da União, poderá facilitar a gestão orçamentária. Mas a farra das emendas ao orçamento pode produzir o efeito contrário. Essa farra já está sendo organizada no Congresso e o governo deveria levar em conta esse risco.

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

● “Ainda bem que o Ministério só é composto por políticos de reputação ilibada, probos e que escolhem seus assessores.”

Novo ritmo

Estudantes anarquistas, futuros políticos. Um deles pode até chegar a ser presidente do Brasil.

A

Papademos, já declarou ter mandato para a execução do plano negociado com a União Europeia e com o FMI. Sua missão, em outras palavras, é promover um fortíssimo aperto de cinto. Alemanha e França poderão dar algum impulso à Europa, mas o resultado geral deverá ser muito limitado. O crescimento global dependerá, mais uma vez, dos emergentes, mas China e Índia, embora mantendo uma expansão muito maior que a do resto do mundo, também deverão perder impulso. Somados todos esses fatores, sobram para o Brasil perspectivas nada brilhantes.

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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 12 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Mais dívidas e gastos O gasto público vai crescer no próximo ano em todos os níveis de governo. Se o vigor da economia depender dos cofres da União e dos Estados, o Brasil terá uma boa proteção contra a crise internacional. Dezessete governadores já foram autorizados pelo poder central a tomar mais empréstimos no mercado para investir em infraestrutura. A autorização foi apresentada oficialmente como um reconhecimento da boa gestão fiscal. Esses governadores poderão acrescentar R$ 37 bilhões à dívida estadual. Até o fim de dezembro, mais oito deverão receber sinal verde para aumentar o endividamento. Só Tocantins e Amapá deixarão de receber o benefício. Com esses acordos, pode-se dar como certa a elevação do investimento nos próximos

anos, comentou a presidente Dilma Rousseff em cerimônia no Palácio do Planalto. A notícia parece boa, especialmente diante da piora do quadro internacional, mas tudo vai depender da qualidade dos gastos. Nada garante a qualidade do gasto, especialmente quando todos os políticos estarão interessados nas eleições municipais. A mesma preocupação é justificável em relação às finanças federais. A proposta orçamentária para 2012 inclui aumento de gastos e a possibilidade, pelo menos formal, de usar o valor investido para reduzir a meta de superávit primário. O governo nega a intenção de usar esse expediente e promete esforçar-se para alcançar a meta cheia, isto é, sem desconto. Mas a possibilidade de uma política mais frouxa permanece. Além disso, cada senador ou deputado poderá apresentar emendas individuais no valor de até R$ 15 milhões. O limi-

te previsto anteriormente era de R$ 13 milhões, mas o aumento foi incluído no relatório preliminar aprovado pela Comissão Mista de Orçamento. O Executivo havia defendido a redução do valor para algo na faixa de R$ 7 milhões a R$ 8 milhões, mas sem sucesso. Com o aumento do teto, as emendas individuais deverão comprometer R$ 8,9 bilhões. Além disso, haverá outros tipos de emendas, como as chamadas populares, propostas por municípios com até 50 mil habitantes. Isso poderá consumir mais R$ 2,2 bilhões. O relator, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), rejeitou a inclusão de valores para reajustes de vencimentos do Poder Judiciário e dos benefícios da Previdência. Incluiu, no entanto, uma previsão de “ganho real” para todos os aposentados e pensionistas. A fixação do porcentual ficou para ser decidida em reuniões entre representantes do governo, das cen-

trais sindicais e das associações de aposentados. O acerto final dependerá, portanto, de pressões políticas e de negociações complicadas. Os R$ 2 milhões adicionais concedidos a cada emenda individual ficaram sujeitos a uma condição: o dinheiro será destinado obrigatoriamente a serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). Aparentemente, isso limita e racionaliza a aplicação de uma parte das emendas, mas nada garante esse resultado. Se o governo tem interesse em promover melhoras estruturais no SUS, o procedimento mais eficiente – e o único racional, de fato – é planejar as inovações e incluí-las na proposta orçamentária do Executivo. As emendas, mesmo com destinação restrita, podem simplesmente resultar, como de costume, em pulverização de recursos, em desperdício e em novos desvios. O governo tentará aumentar os in-

vestimentos para levar adiante o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para cumprir os compromissos de realização da Copa do Mundo e, naturalmente, para favorecer um crescimento econômico pelo menos próximo de 4%. O principal desafio será elevar a qualidade da administração federal – o maior obstáculo, nos últimos anos, à elaboração e à execução de projetos federais. Mas o governo precisará também preservar sua credibilidade diante dos mercados mundiais e manter a inflação no rumo da meta de 4,5%. Se relaxar em qualquer desses pontos, complicará a gestão da presidente Dilma Rousseff nos dois anos finais de seu mandato, 2013 e 2014. A aproximação das eleições para os governos estaduais e para a Presidência da República tornará a administração ainda mais difícil e sujeita a riscos para o governo e para a economia nacional.

PT contra o governo do PT

Irregularidades no PAC

ificilmente o governo conseguirá aprovar ainda este ano, como pretendia, o projeto de lei que cria o Fundo de Previdência Complementar do Servidor Público Federal (Funpresp), medida essencial para evitar o crescimento contínuo e rápido do déficit do sistema de aposentadoria do funcionalismo. Por considerar a aprovação desse projeto uma das prioridades legislativas de 2011, em razão de seus efeitos positivos sobre as contas públicas no futuro, o governo conseguiu desengavetá-lo – apresentado em 2003, estava parado na Câmara dos Deputados – e acelerar sua tramitação. Mas agora enfrenta resistência de parte da bancada do PT, que quer alterar partes importantes do projeto, como a participação da União na constituição do Funpresp, o que deverá retardar a votação. Em algumas comissões técnicas da Câmara, o governo conseguiu derrubar diversas tentativas de parlamentares da base aliada de mudar aspectos essenciais do projeto. Mas, na recente reunião de representantes dos Ministérios da Fazenda e da Previdência com a bancada petista, ficou claro que dificilmente o projeto passará no plenário se não incorporar emendas que vão elevar os gastos do Tesouro. Um dos pontos que os petistas querem mudar refere-se à contribuição dos servidores e da União para a formação do fundo de previdência. O texto original do projeto prevê contribuições básicas iguais para as duas partes, equivalente a

e um conjunto de 230 obras que utilizam recursos orçamentários do governo federal, em 26 os auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) encontraram indícios de irregularidade grave que recomendam sua paralisação. Destas, 18 integram o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), de grande interesse político do governo do PT, e 7 fizeram parte de listas anteriores de obras irregulares apontadas pelo TCU e continuam com problemas. O governo tem resistido a seguir as recomendações do TCU, sobretudo quando envolvem obras do PAC. O TCU não tem poderes para determinar que os contratos sejam suspensos até a eliminação das irregularidades, e seu papel, neste caso, se limita ao de apresentar ao Congresso Nacional um relatório com informações suficientes para que, na discussão da proposta de lei orçamentária, os deputados e senadores retirem essas obras da lista das que receberão verbas federais no ano seguinte. A nota com que o Ministério do Planejamento procurou responder às recomendações do TCU para a paralisação de 26 obras denota a despreocupação do governo do PT com a persistência de irregularidades e até procura apontar o que considera uma “evolução” administrativa. No ano passado, lembra a nota, o TCU recomendou a paralisação de 24 obras do PAC; agora, foram “apenas” 18. Em 2010, foram auditadas 426 obras e, em 2011, 545, razão pela qual,

D

USP Passeata brancaleone

7,5% do vencimento. Mas a bancada petista quer que o empregador, isto é, a União, pague 8,5%. Outros partidos da base aliada, como o PC do B, têm a mesma posição. A questão da criação de um fundo específico para os servidores de cada Poder, que já estava resolvida, com a firme posição do governo de só aceitar um fundo para todos, pode ser reaberta por insistência de deputados petistas ligados a sindicatos de servidores, o que, se ocorrer, certamente implicará longas discussões, como as que se travaram no início do ano. Se passar pela Câmara, o tex-

Uma solução para o déficit previdenciário do funcionalismo fica para o ano que vem to terá de ser examinado pelo Senado, o que torna praticamente impossível sua aprovação ainda este ano. “Diante de matéria importante como essa, o Senado precisaria de três a quatro meses para apreciar o projeto”, disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDBRR), ao jornal O Globo. “Não dá para aprovar uma coisa dessa sem discutir, e só temos 45 dias de trabalho até o início do recesso parlamentar.” Pior para o País, em particular para os contribuintes. Quanto mais demorar a aprovação do projeto, mais crescerá o déficit daaposentadoriadosservidores, coberto com recursos do Tesouro. No ano passado, esse déficit consumiuR$51,24bilhõesdostributos recolhidos pelos contri-

Parado no tempo

Se os alunos da Universidade de São Paulo (USP) passeassem pelas ruas da nossa cidade, como o fizeram na quinta-feira, sob a motivação que moveria a indignação popular – a corrupção – para falar em bala, teriam encontrado a bala de prata galvanizadora da população e cruzariam gloriosamente a linha no velho e sempre novo território livre do Largo de São Francisco. Acontece, porém, que, nesse caso, exporiam o governo federal e desnudariam as correntes fundamentalistas de esquerda que o elegeram, entre elas as que apoiaram o delírio de uma minoria, com base em preconceitos ideológicos, desvios comportamentais e sem nenhuma independência política.

É muito triste ver pessoas com um passado de lutas, como Plínio de Arruda Sampaio, fazerem papel de bobo e perderem a noção do ridículo. Ao defender a ação dos estudantes reacionários da USP e atacar a ação legítima da polícia, o sr. Plínio de Arruda Sampaio revela que parou no tempo, perdeu o bonde da História e não sabe distinguir o certo do errado. Ora, por acaso a universidade é um território sacrossanto que paira acima da lei? Ainda estamos nos anos de chumbo da ditadura militar? As reivindicações dos estudantes são minimamente sensatas e legítimas? Lamentável ver pessoas que antes eram progressistas e libertárias hoje defenderem bandeiras conservadoras, reacionárias e demagógicas.

AMADEU R. GARRIDO DE PAULA amadeugarridoadv@uol.com.br São Paulo

RENATO KHAIR renatokhair@uol.com.br São Paulo

buintes. Neste ano, prevê-se que consumirá R$ 57 bilhões. Éumvalorabsurdamentealto, sobretudo se comparado com o custodas aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Em razão do aumento do emprego formal nos últimos anos, o déficit do regime geral tem-se mantido em torno de R$ 42 bilhões. Esse regime atende mais de 24 milhões de brasileiros, enquanto o dos servidores atende menos de 1 milhão, razão pela qual, para o contribuinte, o custo de cada servidor aposentadoémuitomaiordoqueodoaposentado do INSS. Areformadaprevidênciaaprovada no início do primeiro mandatodeLulainstituiuaprevidência complementar do servidor público de todos os níveis de governo. Com a criação dos fundos de previdência no serviço público, o valor máximo do benefício automático passará a ser igual ao do benefício máximo pago pelo INSS, atualmente de R$ 3.691,74. O participante do fundo terá direito a benefício adicional proporcional à sua contribuição e à do governo e ao rendimento das aplicações desse dinheiro. Ogovernoterádespesaadicional para entrar com sua parte na constituição do fundo de previdência.Mas,nomédioenolongo prazo, suas despesas diminuirão e o sistema tenderá ao equilíbrio financeiro.Anovaregrasó valerá para os servidores admitidos depoisdeaprovadaacriaçãodofundo,oquepreservaos direitosdos atuais funcionários. Apesar das nítidas vantagens para o País, o projeto ainda enfrentaresistênciasnabasegovernista. Pior para o contribuinte.

“Quanta humilhação mais será necessária para se manter no cargo?” MARIA DO CARMO ZAFFALON LEME CARDOSO / BAURU, SOBRE O MINISTRO CARLOS LUPI E A DECLARAÇÃO DE AMOR A DILMA mdokrmo@hotmail.com

“Se, para a presidenta Dilma, passado é passado, então por que criar a Comissão da Verdade?” MARCELO STOPPA GOMIDE / UBERLÂNDIA (MG), IDEM stoppagomide@gmail.com

D

diz a nota, “houve menos irregularidades mesmo com mais fiscalização”. Além disso, destas 18, 7 faziam parte da lista do ano passado, ou seja, são problemas velhos – e não resolvidos, é importante destacar. Assim, novas irregularidades foram constatadas “apenas” em 11. Para o governo, a diminuição de casos irregulares “reflete, entre outras coisas, o aprimoramento na gestão do investimento público no PAC”. Na verdade, o que o relatório do TCU deixa claro é que persistem irregularidades em número expressivo de obras do PAC e em outras que utilizam recursos federais.

O TCU manda paralisar 26 obras do governo, mas quem disse que isso será cumprido? Além disso, se houve melhora na gestão do PAC, foi muito pequena, insuficiente para tornála eficiente o bastante para, como promete o governo, assegurar a expansão da infraestrutura e dos serviços públicos na velocidade exigida pelo País. A permanência, na lista de 2011, de obras cuja paralisação tinha sido recomendada em relatórios anteriores do TCU indica que o Congresso não aceitou a sugestão de as suspender e o órgão responsável por sua execução não eliminou as irregularidades. Uma dessas obras é a de construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Para o TCU, a obra tem indícios graves de superfaturamento de R$ 124 milhões. Para a Petrobrás, responsável pela obra, porém, tudo

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Haddad fecha acordo e enterra prévia em SP

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Ministro da Educação acertou desistência dos dois últimos pré-candidatos do PT à Prefeitura ● “Haddad não deve se preocupar, pois Kassab foi o pior prefeito que São Paulo já teve.” JULIO TERCEIRO

● “É muito fácil vencer Haddad, desde que o PSDB ou o PSD façam campanha correta: mostrem o despreparo do ministro.” ALEX SILVA

HÁ 834 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Fernando Haddad será um grande prefeito, à altura da cidade de São Paulo.” LUCIANO ROCHA

não passa de “formulações e interpretações divergentes daquelas adotadas pela companhia”. Além da recomendação da paralisação das 26 obras, o relatório do TCU aponta uma lista de “achados” mais recorrentes detectados por seus auditores. Das obras auditadas, 126 (ou 55%) apresentaram sinais de sobrepreço ou superfaturamento e 124 tinham projeto básico ou executivo deficiente ou desatualizado. Em 47 havia restrições ao caráter competitivo das licitações e, em 33, o orçamento não está sendo acompanhado da composição de todos os custos. Nesses casos, o TCU concordou com o prosseguimento das obras, mas recomendou a eliminação das irregularidades apontadas. Caberá à Comissão Mista de Orçamento do Congresso decidir sobre o destino das obras cuja paralisação foi recomendada pelo TCU. O governo parece confiante de que, por meio de negociação política, tem condições de derrubar a proposta de suspensão das obras. “O Congresso pode não acolher as recomendações” (do TCU), observou a nota do Ministério do Planejamento. No ano passado, de uma lista de 34 obras que, pela gravidade das irregularidades, deveriam ser suspensas, apenas 6 nela permaneceram, depois de entendimentos do governo com os congressistas. Das 24 obras do PAC às quais o TCU fez severas restrições, nenhuma foi paralisada pelo Congresso, lembrou o Ministério. Não parece difícil que, mais uma vez, o governo do PT escape do rigor do TCU.

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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 13 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Notas & Informações

A indecisão do Supremo Para o público leigo – mas ansioso pela moralização dos costumes políticos nacionais, com o fim da impunidade para os que os aviltam –, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) tropeçam nas próprias togas ao julgar a Lei da Ficha Limpa, uma conquista da sociedade brasileira, sancionada no ano passado. A Corte não consegue chegar, nem por maioria de votos, que dirá por consenso, a uma decisão cabal sobre a matéria. O pior, pela situação esdrúxula resultante, foram as suas decisões contraditórias sobre a entrada em vigor da lei que torna inelegíveis durante oito anos os políticos condenados em um tribunal de segunda instância por crimes contra a administração pública ou compra de votos. Ou, ainda, que tenham re-

nunciado aos mandatos para não serem cassados e declarados inelegíveis por seus pares por quebra de decoro parlamentar. Foi o caso do então senador Jader Barbalho. Em 2003, ele se safou de uma condenação no Conselho de Ética da Casa ao largar a sua cadeira antes da abertura da ação contra ele. Em 2010 tornou a se eleger, mas a sua posse foi barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral com base na nova lei. O STF, ao qual recorreu, foi incapaz de decidir se procedia a tese da defesa de que a lei não poderia se aplicar ao pleito do qual saíra vencedor, por ter sido promulgada a quatro meses apenas de sua realização, desrespeitando o princípio da anualidade. Cinco ministros concordaram, cinco discordaram (uma vaga estava em aberto). Exercendo seu voto de Minerva, o presidente da Corte invocou um artigo do seu regimento para avalizar a posição da Justiça Eleito-

ral. Só que, em março último, com quórum completo, o Supremo decidiu por 6 votos a 5 que a Ficha Limpa só se aplicaria, caso declarada constitucional, a partir da eleição seguinte, em 2012. Com isso, três candidatos eleitos ao Congresso, antes vetados, puderam afinal tomar posse e dois outros estão aptos a fazê-lo. Mas o caso de Barbalho ficou no limbo. Na sessão de quarta-feira, que também deveria julgar duas ações de constitucionalidade da lei, novamente com uma cadeira ainda por preencher, deu 5 a 5 mais uma vez. Os ministros que não lhe deram ganho de causa invocaram argumentos incompreensíveis. O destino do paraense e a questão da legitimidade da Ficha Limpa ficaram para depois da posse da nova ministra recém-indicada pela presidente Dilma Rousseff, Rosa Maria Weber Candiota da Rosa, do Tribunal Superior do Trabalho. Como ela ainda de-

ve passar pela sabatina no Senado, é possível, se não provável, que tudo fique para o ano que vem. De todo modo, o relator da matéria principal, ministro Luiz Fux, já deu o seu voto pela constitucionalidade da lei, menos em relação a dois pontos. Ele se opõe a que sejam considerados fichas-sujas os políticos que renunciaram aos mandatos para fugir à cassação e à inelegibilidade. Segundo ele, naquela categoria deveriam figurar apenas os que o tiverem feito depois da abertura do processo por quebra de decoro. O ministro parece não ter levado em conta o fato de que, uma vez iniciada a ação, ela segue o seu curso com ou sem a renúncia do acusado. Ou seja, se for condenado, perderá o mandato e ficará impedido de participar de eleições durante oito anos – nesses casos, a Ficha Limpa seria supérflua. Já a impunidade da renúncia prévia, se passar no STF, irá de encontro ao

próprio espírito da lei moralizadora. Para o senso comum, não há outra conclusão. Depois, o ministro admitiu que poderá mudar de opinião. A segunda objeção de Fux diz respeito ao período de inelegibilidade dos condenados em instância judicial colegiada. Para ele, os oito anos de desterro eleitoral deveriam contar a partir dessa decisão, excluindo, portanto, o tempo de tramitação dos recursos que o réu tiver impetrado até o trânsito em julgado do processo. À primeira vista, o ministro parece equiparar punição jurídica e punição política. A primeira é da alçada dos tribunais. A segunda se consubstancia na Lei da Ficha Limpa. Elas podem se somar, mas não se confundem. É esperar pela tardia palavra final da Suprema Corte, para acabar de uma vez por todas com a insegurança jurídica reinante na legislação eleitoral que compromete a eficácia plena da Lei da Ficha Limpa.

Aperto no setor elétrico

Persistência da guerra fiscal

Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acaba de divulgar novas regras de remuneração das companhias de eletricidade com o objetivo de promover uma redução nas tarifas, embora modesta. Com as mudanças, as companhias terão sua rentabilidade diminuída e as punições serão maiores caso a qualidade dos serviços fique abaixo do padrão estipulado. As novas regras foram definidas no 3.º Ciclo de Revisões Tarifárias Periódicas, que ocorrem a cada quatro anos e que afetarão os reajustes de 31 das 63 distribuidoras de energia do País. A taxa de remuneração do capital investido pelas distribuidoras, hoje de 9,95% ao ano, passa a ser de 7,5% ao ano. Para justificar essa redução a Aneel alega que houve queda do risco Brasil, o que permite às empresas se financiarem com menor custo. O presidente da associação da distribuidoras (Abradee), Nelson Fonseca Leite, porem, não concorda e afirma que a “situação é preocupante, principalmente agora que o setor precisa fazer investimentos em expansão por causa da Copa e da Olimpíada, além de investir em melhoria da qualidade e em novos serviços como o das redes inteligentes”. Essa é também a opinião do diretor financeiro da Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig), Luiz Fernando Rolla, para quem, com essa redução, o equilíbrio econômico-financeiro da empresa “poderá ser rompido”. Outra mudança determinada

em a decisão unânime tomada em junho pelo Supremo Tribunal Federal (STF), considerando inconstitucionais leis de seis Estados e do Distrito Federal que concediam reduções e isenções fiscais, está sendo suficiente para forçar os governos da maioria dessas unidades da Federação a suspender a prática condenada. Por meio de novos decretos, restabelecendo os benefícios fiscais condenados, esses governos estão burlando uma decisão judicial de última instância e tornando ainda mais iníquo e mais confuso o sistema tributário. Além dos prejuízos que as práticas de alguns Estados causam a outros, elas criam incertezas para muitas empresas, cujos eventuais ganhos tributários no presente poderão ser contestados na Justiça e cobrados mais tarde. Dos Estados que tiveram leis de incentivos fiscais do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) derrubadas pelo STF, porque não foram previamente aprovadas pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), como exige a Constituição, pelo menos quatro – Pará, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e São Paulo – reeditaram medidas consideradas inconstitucionais e continuam a aplicá-las, como se nada tivesse mudado. A reedição foi constatada pelo escritório Machado Associados Advogados e Consultores. O Espírito Santo, que também teve leis consideradas inconstitucionais, reeditou um

A

prensa, os malfeitores deixam um posto e mais adiante se agarram a outro. Somente no Brasil e no governo do PT um mau funcionário é punido com novo emprego. A continuar essa prática, não será tão cedo que extirparemos o câncer da corrupção que grassa neste país. IZABEL AVALLONE izabelavallone@gmail.com São Paulo

Governabilidade

Após a queda líquida e certa do ministro machão Carlos Lupi, o único com motivos em dobro para ser trocado – afrontou Dilma, como fez Nelson Jobim, e é suspeito de corrupção, como os outros cinco defenestrados –, o Brasil poderá, enfim, respirar aliviado, a caminho de seu brilhante futuro. Afinal, todos os problemas de governabilidade da nossa presidente estarão finalmente resol-

pela Aneel, foi a criação de um indicador, denominado fator Xq, para punir com redução da tarifa de até 0,3 ponto porcentual as distribuidoras que interromperem o fornecimento por prazos e frequências superiores aos limites estabelecidos. Isso afetará o lucro das empresas elétricas e os dividendos pagos aos acionistas. A regra foi questionada por uma superintendente da Light, Ângela Magalhães Pinto, que alega que serão prejudicadas as empresas que já investem na melhoria dos indicadores de qualidade. Também mudarão as regras de repasse ao consumidor dos

O governo não quer mexer na parte das tarifas onde predomina o custo dos tributos ganhos de produtividade das distribuidoras, propiciando ligeira redução das tarifas, em termos reais. Em termos nominais, as tarifas continuarão corrigidas pelos índices IGP-DI e IGP-M. Nos últimos dez anos, calcula o presidente da associação de grandes consumidores industriais e consumidores livres (Abrace), Paulo Pedrosa, “a grande indústria sofreu aumento de 100%, em termos reais”, no custo da energia. As novas regras da Aneel só afetam parte da tarifa de eletricidade, a chamada Parcela B, que reflete os custos das distribuidoras e que representa apenas 30% da tarifa. Ou seja, só haveria forte impacto na tarifa com alterações na Parcela A, cujo peso na tarifa é de 70%.

vidos e os novos ministros, mesmo sendo do mesmo partido de seus antecessores, nos darão total confiança de que a corrupção nos respectivos ministérios foi eliminada, se é que algum dia existiu. Alguém duvida? Perguntem à saudosa Velhinha de Taubaté. LAZAR KRYM lkrym@terra.com.br São Paulo

Trabalhismo humilhado

E pensar que já tivemos, para citar só três, Almir Pazzianotto (1985-1988), Francisco Dornelles (1999/2002) e Franco Montoro (1961-1962) como ministros do Trabalho! É penoso ver, como recentemente, Berzoini mata-velhinho (2004-2005) e agora Lupi-45 (2007-?). Verdadeira humilhação para o trabalhismo brasileiro. JASMELINO DUARTE jotaduarte10@hotmail.com Rio de Janeiro

Mas na Parcela A a agência reguladora pouco pode alterar, pois reflete o custo da geração e da transmissão de energia e, sobretudo, de impostos, tributos e encargos. “Se o governo quiser diminuir de fato o custo final da energia para o consumidor, poderia renunciar a uma fatia da sua metade sobre as contas de luz”, afirmou o especialista Paulo Ludmer, referindo-se ao peso dos encargos e tributos que em 2010 superaram R$ 53 bilhões, já chegaram a R$ 54,1 bilhões neste ano e deverão bater em R$ 66 bilhões, segundo o Instituto Acende Brasil. Cabe à Aneel fiscalizar o setor de energia elétrica e assegurar a qualidade dos serviços, o que justifica as punições pecuniárias previstas. O que não faz sentido é que em um país capaz de gerar energia renovável a custos razoáveis, os consumidores tenham de pagar, segundo cálculos da Firjan, tarifas superiores em cerca de 50% às do Japão, da Inglaterra e da Alemanha, 130% maiores que as da China e 163% acima das tarifas dos Estados Unidos, levando em conta que a energia é insumo básico para a população e para as empresas. O potencial energético brasileiro continua enorme, mas um indício de que investir nele não é muito atraente está na decisão de duas estatais brasileiras de disputar uma participação na empresa portuguesa EDP, que pretende alienar 21% do seu capital. As regras da Aneel deveriam estimular, sobretudo, os investimentos em energia no Brasil.

“Nesse ritmo lento de um por mês, vamos precisar de pelo menos três anos para varrer o lixo que o inquilino anterior deixou” ARY NISENBAUM / SÃO PAULO, SOBRE A CORRUPÇÃO NOS MINISTÉRIOS DE DILMA aryn@uol.com.br

“Quantos ministros são necessários para caracterizar formação de quadrilha?” FERNANDO ULHÔA LEVY / SÃO PAULO, IDEM foulevy@gmail.com

N

benefício fiscal que está sendo contestado numa ação ainda não julgada pelo STF. O secretário de Desenvolvimento do Espírito Santo, Márcio Félix, declarou ao Estado (7/11) que o governo estadual não criou incentivos nem ampliou os já existentes, mas apenas fez pequenosajustesnasregras.“Nãohouve mudança, não houve afronta”, garantiu. “Além disso, o caso ainda não foi objeto de decisão do Supremo.” Tributaristas consideram, porém, que esse é tambémumartifício–denatureza preventiva – para escapar de futuras decisões desfavoráveis da Justiça.

Estados e STF em jogo de gato e rato tornam ainda mais confuso e iníquo o ICMS NocasodosEstadosquereeditaram normas consideradas inconstitucionais, o desrespeito à decisão do Supremo é mais ostensivo. Antes que um benefício do ICMS fosse considerado inconstitucional pelo STF, São Paulo revogou a legislação que o concedia. Mas o restabeleceu imediatamente, por meio de outro decreto, editado em março – também antes da decisão do STF, mas já sem tempo para sua apreciação na sessão de junho, naqualoSupremojulgouinconstitucionais 23 leis tributárias estaduais. Tratava-se da redução do ICMS pago pelos fabricantes de leite longa vida. A única unidade da Federação que,atéagora,nãoburlou adecisão do STF é o Distrito Federal. O advogado Júlio de Oliveira,

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EUA armam países vizinhos ao Irã

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Washington planeja aumentar a capacidade militar das monarquias do Golfo Pérsico para conter o Irã ● “Arma-se os aliados dos norte-americanos por uma única razão: proteger as fontes de energia vitais aos EUA.” SERGIO DINIS

● “Os EUA deveriam ficar de fora do próximo conflito que certamente vai eclodir no Oriente Médio e na África.” JAYSON REX

HÁ 835 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “É inacreditável como os EUA conseguem persuadir o mundo a compactuar com sua política hegemônica.” CLOVIS

da Machado Associados, observou que o restabelecimento de benefíciosconsideradosinconstitucionais, por meio da reedição de decretos, está levando o STF a examinar meios para conter essa prática. Até agora, os benefícios foram derrubados no Supremo por uma questão formal, pois eles não foram aprovados previamente pelo Confaz, formado pelos secretários estaduais da Fazenda e que só toma decisão por unanimidade. Oliveira considera que, em novas decisões sobre casos semelhantes, o STF pode declarar inconstitucionaisas próprias leis, e não sóaformacomoelasforamaprovadas. “Se isso ocorrer, seria uma decisão inédita.” Em debate realizado em setembrosobre aguerra fiscalpraticada por alguns Estados contra outros, com o objetivo de atrair investimentos, o ministro do STF Gilmar Mendes admitiu que, para impedir os governos de reeditar normas por ele derrubadas, o Supremo poderia editar súmula vinculante. Mendes criticou a guerra fiscal, com a qual um Estado tenta impor seus interesses a outros, por meio da concessão de benefícios tributários, mas reconheceu que a prática evidencia falhas do pacto federativo. Trata-sedeumproblemacomplexo, e a insistência de vários governosemcontinuarpraticando essa guerra, mesmo que para issoprecisemburlar decisõesdo STF, não deixa dúvidas de que a solução não é apenas jurídica. Ela exige uma ampla discussão sobre o sistema tributário, para a qual não parece haver ainda condições políticas adequadas.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 14 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

O STJ e as ações civis públicas Formada pelos 15 ministros mais antigos, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) tomou uma importante decisão, reconhecendo o caráter coletivo de determinados litígios judiciais – principalmente nos casos dos conflitos de massa, que envolvem questões relativas à saúde, meio ambiente e consumo. Pela decisão, as sentenças e acórdãos nas ações civis públicas – que são usadas para defender direitos comuns a um grupo, num único processo – agora valerão para todo o País, não tendo mais sua execução limitada ao município onde foram proferidas. Pela nova sistemática, quando um direito coletivo for reconhecido pela Justiça, quem se julgar beneficiado terá apenas de entrar com uma petição judicial informando que foi favo-

recido por essa decisão. O beneficiário também poderá ajuizar o pedido na cidade onde mora ou no local onde a sentença ou o acórdão foi proferido, conforme sua conveniência. Até recentemente, o STJ entendia que essas sentenças e acórdãos só tinham validade na jurisdição da Corte que os proferiu. Uma sentença do Tribunal Regional Federal da 3.ª Região, por exemplo, teria efeitos apenas em São Paulo e Mato Grosso do Sul, área de sua abrangência. A decisão do STJ – que é a última instância da Justiça Federal – representa mais um golpe na tradição do direito processual brasileiro que, durante um século, valorizou a solução de conflitos de forma individual. Segundo essa tradição, que foi fortemente influenciada pelo liberalismo jurídico, cada cidadão só pode defender seus direitos por meio de ações específicas. Mas, com o avanço da industrialização e a subsequente urba-

nização do País, a partir da década de 1970 os movimentos sociais e as ONGs se multiplicaram, exigindo a democratização do acesso ao Judiciário e discutindo nos tribunais questões de interesse comunitário e corporativo. Isso provocou importantes mudanças na legislação processual civil. Primeiro, vieram os direitos que protegem os chamados interesses difusos, envolvendo a defesa do patrimônio histórico e o meio ambiente. Em seguida, vieram os direitos que defendem interesses coletivos, e que podem ser pleiteados por órgãos representativos. A ação civil pública foi introduzida em 1985 e tem sido utilizada desde então por Procuradorias de Justiça, Defensorias Públicas e associações dedicadas à proteção de direitos coletivos para proibir o fumo em aviões, coibir aumentos abusivos de planos de saúde e obrigar a União a atualizar a lista de remédios distribuí-

Mudança adiada

A

pesar dos esforços de sua liderança na Assembleia Legislativa, ainda não foi desta vez que o governador Geraldo Alckmin conseguiu a aprovação do projeto de lei complementar que, a pretexto de ampliar as receitas do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), altera sua natureza jurídica e desvirtua seu papel como órgão público dedicado ao atendimento geral da população, sem discriminações. Na quarta-feira (9/11) as lideranças partidárias concordaram em submeter o projeto ao plenário, mas, por falta de quórum, a votação foi suspensa, sem data para nova votação. O projeto transforma o HC em autarquia de regime especial e o autoriza a atender pacientes possuidores de planos de saúde privados, cobrando pelos serviços que prestar. É injustificável que uma instituição pública como o HC cobre por serviços que deve prestar gratuitamente e, sobretudo, que, ao cobrar de uns e não de outros, acabe gerando dois sistemas de atendimento – a chamada “porta dupla” –, o que pode resultar no atendimento preferencial para os que pagam pelos serviços. Afinal, se o HC passar a atender os planos de saúde, os possuidores desses planos poderão marcar consultas e realizar determinados procedimentos com mais rapidez, como fazem quando recorrem a qualquer unidade médica conveniada. Já os demais pacientes, atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), con-

rência: nossa indignação deve manifestar-se onde está o nosso umbigo, isto é, na cidade onde moramos. É na Câmara Municipal que estão os representantes que elegemos e de quem nos podemos aproximar, protestar e exigir. Ao narrar a presença e o comportamento da população na sessão que criou a CPI em Nova Friburgo, Gabeira dá a receita para agirmos: “Eram conhecidos, chamavam-se pelo nome, quando vaiavam alguém sabiam por que vaiavam e o político sabia por que estava sendo vaiado”. É isso! Devemo-nos unir aos familiares, vizinhos, amigos e a todos os participantes diários de nosso convívio e protestar quando necessário, na Câmara ou na porta da casa do vereador. Afirmo, por experiência própria, que dá resultado. Em minha cidade, para conseguirmos debater o Plano Diretor recorremos ao Ministério Público, e conseguimos. Recentemente obtivemos a realização de audiên-

tinuarão na fila. Proposto pelo então governador Cláudio Lembo em dezembro de 2006, quando uma grave crise financeira atingia a Fundação Zerbini – vinculada ao Instituto do Coração (Incor) do HC –, o projeto estava pronto para ser votado desde 2007. Por seu caráter polêmico, porém, estava parado. Neste ano, por iniciativa da base governista, passou a tramitar com rapidez. A dificuldade enfrentada pela bancada do governo na sessão de quartafeira sugere que, mesmo dentro dela, enfrenta resistências. Os defensores do projeto alegam que, para preservar a quali-

O problema de fazer do HC uma autarquia é como evitar o regime de ‘porta dupla’ dade de seus serviços e manterse como referência internacional na área de saúde em termos de tecnologia e equipamentos, o Hospital das Clínicas necessita de recursos adicionais. A maneira de obter esses recursos é cobrar daqueles que podem pagar pelos serviços. Além disso, como tem afirmado em artigos e entrevistas o professor da FMUSP e membro do conselho deliberativo do HC, José Octávio Costa Auler Jr., com mais recursos o hospital poderá ampliar e melhorar os serviços também para os atendidos pelo SUS. Certamente, o bom uso de recursos adicionais terá diversos resultados positivos para a instituição hospitalar e para o público em geral. Hospitais privados

cia pública para tratar do tema, por meio de interpelação extrajudicial à sra. prefeita, com ajuda da imprensa. E agora, para conseguirmos o texto da lei antes do envio à Câmara, já estamos lutando. É assim que conseguimos eliminar o arbítrio: lutando por nossos direitos de cidadãos! Como último exemplo do efeito “umbigos unidos”, os vereadores decidiram, sem nenhuma consulta à população, aumentar o número de cadeiras na Câmara de 20 para 27. Para minha felicidade cidadã, vi a cidade sublevar-se com abaixo-assinado contra a iniciativa e a coleta de assinaturas para um projeto de lei de iniciativa popular. É um sinal de novos tempos e os políticos que se cuidem, ou efetivamente nos representem com lealdade e naquilo que de fato desejamos. Felizmente, o voto ainda é só nosso! HONYLDO R. PEREIRA PINTO honyldo@gmail.com Ribeirão Preto

dos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar disso, o uso das ações civis públicas ainda gerava dúvidas no que se refere à abrangência das decisões judiciais, o local de cumprimento e a prescrição individual de execução. Para esclarecê-las, a Corte Especial do STJ aproveitou o julgamento de um recurso de um poupador de Londrina que tenta receber a diferença na correção da inflação referente aos Planos Bresser e Verão. Como noticiou o jornal Valor, o direito à correção foi reconhecido pela comarca de Curitiba, numa ação civil pública movida pela Associação Paranaense de Defesa do Consumidor. Quando tomou ciência da decisão, o poupador de Londrina entrou com ação na sua comarca, reivindicando o mesmo benefício, mas o banco alegou que a ação só poderia ser protocolada onde a sentença foi proferida. Alegando que o objetivo da ação civil pública é

facilitar o cumprimento dos direitos coletivos, o relator Luís Felipe Salomão rejeitou o recurso do banco. A decisão da Corte Especial do STJ foi bem recebida por ONGs e entidades comunitárias, mas não pelas empresas. Na medida em que as ações civis públicas passam a valer no País inteiro, bancos, concessionárias de telefonia e energia e fabricantes de medicamentos terão de ficar atentos a elas, o que os obrigará a aumentar seus departamentos jurídicos e ampliar as provisões nos balanços, para pagar eventuais condenações. Para a Justiça, a decisão do STJ diminui o número de ações repetitivas. Para os cidadãos, reduz custos e burocracia – principalmente para quem mora no interior, longe dos tribunais de segunda e terceira instâncias. No conjunto, o saldo é positivo, pois o STJ assumiu um balizamento claro, que reforça a segurança do direito no País.

Estelionatos nos Correios e aqueles que são geridos por organizações sociais (OS) por meio de contrato com órgãos do Estado têm autonomia administrativa e financeira para buscar, legitimamente, receitas adicionais de que necessitem para manter e melhorar seus serviços. Podem optar por atender pacientes particulares, do SUS e dos planos de saúde na proporção que quiserem, cobrando mais de uns do que de outros. O que se questiona é se os recursos adicionais de que o HC necessita podem ser obtidos mediante a cobrança dos serviços. Como instituição pública – condição que será preservada mesmo com sua transformação em autarquia de regime especial, –, o HC deve prestar serviços gratuitamente, e sem discriminações. Quanto aos recursos para prestar esses serviços, é do poder público o dever de provêlos. Cabe ao governo do Estado destinar ao HC os que forem necessários para sua manutenção, funcionamento, aperfeiçoamento e ampliação dos seus serviços. Sendo uma instituição pública, o HC não pode tratar diferentemente os cidadãos. Os que defendem o projeto asseguram que isso não ocorrerá e que, com mais recursos, a instituição poderá até prestar serviços melhores para todos. O que ocorreu no Incor, que há tempos adotou o sistema de “porta dupla”, foi a criação de duas classes de pacientes, a dos que pagam, e têm atendimento imediato, e a dos que não pagam, e às vezes esperam até 14 meses por alguns procedimentos.

“Excelências do STF, ficha meio limpa significa ficha meio suja... A quem interessa mais essa excrescência? Ao povo brasileiro é que não!” SAULO VIEIRA TORTELLI / SÃO PAULO, SOBRE A INDECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAI saulo_tortelli@msn.com

“João Paulo Cunha bem que tentou, mas não colou!” ROBERT HALLER / SÃO PAULO, SOBRE O FRUSTRADO PROJETO DE ANISTIA PARA OS MENSALEIROS robelisa1@terra.com.br

J

á se disse que a qualidade dos serviços públicos de um país pode ser medida pela do seu serviço de correio. Não existe um ranking internacional a esse respeito, mas, se houvesse, o Brasil atual certamente não teria posição favorável. Como se não bastassem as irregularidades detectadas na direção dos Correios no governo anterior, e a recente greve que paralisou os serviços postais no País por 28 dias, a Polícia Federal (PF) iniciou na semana passada operação para desbaratar uma quadrilha que atuava com a conivência de funcionários dos Correios, em centros de triagem de correspondências, para interceptar cartões de crédito e de débito enviados pelos bancos a seus clientes. Até quarta-feira, 34 suspeitos de estar envolvidos no crime foram presos pela Polícia Federal, numa operação ironicamente denominada Crédito Fácil, para a qual foram mobilizados 250 de seus agentes. Ao todo, foram expedidos 48 mandados de prisão e 58 de busca e apreensão, a serem cumpridos na Grande São Paulo, Limeira e Itapetininga. Este tipo de crime mostra, ainda uma vez, como os cidadãos estão expostos a fraudes financeiras, que se tornaram mais frequentes com a invasão cada vez maior de sua privacidade. Sim, porque não basta a posse de um cartão de crédito para que o seu detentor possa utilizá-lo. É preciso também que tenha conhecimento da respectiva senha, que é enviada pelos bancos em correspondência à parte, que os criminosos têm

também de interceptar. Além disso, as instituições financeiras, para o desbloqueio do cartão, checam os dados pessoais do cliente, os quais só por meios escusos podem ser obtidos por elementos estranhos. Apesar das precauções, a PF estima que 5 mil transações tenham sido realizadas pela quadrilha entre janeiro do ano passado e outubro deste ano, sendo desviados valores no total de R$ 4 milhões, envolvendo apenas clientes da Caixa Econômica Federal. Pelas evidências, calculase que o valor pode quintuplicar, com a inclusão nas investigações de cartões emitidos por ou-

Com a cumplicidade de funcionários, cartões de crédito eram desviados para fins ilícitos tras instituições financeiras. Para os clientes pessoas físicas são valores muito elevados, que podem significar perdas ruinosas, se não grandes incômodos para comprovar que foram lesados junto aos bancos. Os maiores bancos têm ouvidorias ou departamentos especializados em investigação de queixas de clientes. Mas para as pessoas que veem quantias consideráveis desaparecerem de repente de suas contas, relativas a gastos que não fizeram, o processamento das reclamações é demorado e desgastante. Os bancos podem alegar que a senha e os dados estão corretos e, se não se tratar de uma pessoa conhecida pela instituição, as perdas podem ser irreversíveis. Isso também aponta para os riscos do chamado “ca-

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Polícia do Rio ocupa Favela da Rocinha

352

Primeiro dia da operação ‘Choque de Paz’ terminou com 4 suspeitos presos e apreensão de 15 fuzis em 3 favelas da Zona Sul

● “Comemorar o quê? A incompetência? Como deixaram chegar a esse ponto? Tinha é que lamentar.” FRANZ JOSEF HILDINGER

● “Não moro no Rio, mas penso que já é uma grande mudança a instalação de UPPs nas favelas.” MI RECH

HÁ 836 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “De que adianta saírem os traficantes e entrarem as milícias?” RODRIGO GUEDES COELHO

dastro positivo”, pelo qual os dados de um cliente podem se disseminar pela rede bancária, tornando-se mais facilmente acessíveis e “vazados” por funcionários inescrupulosos. As quadrilhas organizadas também se valem da internet, enviando e-mails falsos, em nome de bancos e de serviços públicos, solicitando dados pessoais para atualização de cadastro. Muitas pessoas ingenuamente caem nessas armadilhas e, recentemente, a Secretaria da Receita Federal alertou os contribuintes a não fornecerem informações solicitadas por cartas supostamente enviadas por aquele órgão. Seria tão injusto culpar os bancos pelo que está ocorrendo como incriminar toda uma corporação como os Correios, com 107 mil servidores, pelos crimes cometidos por apenas alguns. Fraudes financeiras as mais diversas ocorrem em todo o mundo e às vezes passam anos sem ser descobertas. Contudo, são notórias as falhas administrativas que a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) tem apresentado nos últimos anos. Funcionários encarregados da triagem de correspondência não passam, aparentemente, por um crivo especial. A ECT tem uma auditoria interna e adota um código de ética, mas não realiza uma fiscalização nos moldes do Postal Inspection Service, dos EUA. O órgão, que atua com rigornaverificaçãodefalhasoperacionaiseparaapuraçãodefraudes, parte da premissa de que a segurançado sistema postal está diretamente ligada à sua imagem junto ao público.

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 15 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Notas & Informações

A retomada da Rocinha Não é apenas a população do Rio de Janeiro que tem motivos para comemorar a ocupação das Favelas da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, numa bem montada operação da polícia local, com apoio da Polícia Federal e de blindados da Marinha. O júbilo é de todo o País, porque o domínio, pelos traficantes de drogas, de vastas áreas da antiga capital da República e segunda maior cidade brasileira era uma ameaça e um mau exemplo que ultrapassavam as fronteiras do País. A repercussão no exterior, motivada principalmente pelo fato de essa operação demonstrar a determinação das autoridades de garantir a segurança necessária para a realização da Copa do Mundo em 2014 e da Olimpíada em 2016, ressalta ainda mais a sua importância.

A rapidez com que o Estado retomou o controle da área na madrugada de domingo – em apenas duas horas –, sem que fosse necessário disparar um só tiro, mostra o acerto da tática adotada. O comando da operação comunicou com antecedência e insistência a sua realização, contando com a probabilidade de os traficantes concluírem realisticamente que seria inútil resistir. A quantidade relativamente pequena tanto de armas e munições como de drogas apreendidas indica que a aposta foi ganha e o tráfico decidiu recuar e buscar refúgio em outro lugar. Isto não diminui em nada o alcance do sucesso da operação. Ela não só garantiu a ocupação de um território estrategicamente importante na luta contra o tráfico, como, ao evitar choques que certamente produziriam vítimas entre a população das favelas, reforçou o apoio desta à operação. Apoio que é fundamental

para o êxito do trabalho das autoridades a médio e longo prazos. A euforia com que os moradores da Rocinha, do Vidigal e da Chácara do Céu receberam os policiais é um sinal de que esse apoio não deve faltar. A fuga dos traficantes e sua reorganização em breve, em outros locais, estava prevista pelos planejadores da operação. O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, resumiu bem a situação: “Nós estamos caminhando com passos que talvez não tenham a velocidade que todos gostaríamos, mas são passos sólidos”. Isto quer dizer que numa outra etapa o combate aos bandidos continuará em seus novos redutos. Com a vantagem de que eles não terão a importância que tinham nas favelas agora liberadas e nas outras que foram liberadas desde o ano passado. E não se deve perder de vista que não se derrota o tráfico de drogas numa ba-

talha espetacular. O combate a ele é permanente, como mostra a experiência, a começar pela do país mais rico e poderoso, os Estados Unidos. Para se consolidar, a retomada da maior parte dos territórios ocupados pelos bandidos no Rio, por meio de operações da polícia com o apoio das Forças Armadas, exige a adoção de duas providências urgentes e simultâneas. Uma é garantir a presença efetiva do Estado nessas áreas, por meio de serviços públicos essenciais. Não basta a segurança pública, que está sendo reimplantada pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). É indispensável levar, melhorar ou ampliar – conforme o caso – para as favelas “liberadas” também serviços de saúde, educação, saneamento, limpeza pública e assistência social. A precariedade ou a ausência desses serviços, que os traficantes ofereciam ainda que em escala limitada, facilitou o seu

domínio sobre as comunidades. A outra providência inadiável é um esforço muito maior do que até agora de combate à corrupção na polícia. A prisão do chefe do tráfico na Rocinha, Antonio Bonfim Lopes, o Nem, dias antes da ocupação da favela, mostra bem como está a situação. Houve algum progresso, porque os policiais que o prenderam recusaram as generosas ofertas de suborno para deixá-lo escapar. Mas qualquer pessoa minimamente informada sabe que há boas razões para acreditar que Nem não estava mentindo quando disse que 50% do rendimento do tráfico se destinava a subornar policiais. Se a corrupção no meio policial não for contida, poderá contaminar as UPPs e todo o avanço conseguido para livrar as favelas cariocas do domínio do tráfico – que durou mais de três décadas – estará comprometido.

Novas restrições aos caminhões

O Censo do Ensino Superior

Consórcio Intermunicipal do ABC, formado pelas sete prefeituras da região, e a capital ampliaram a proibição à circulação de caminhões nos principais eixos de ligação, para forçar os caminhoneiros a utilizar o Rodoanel Mario Covas, o que obriga as empresas de transporte a transferir as atividades de carga e descarga para a madrugada. No ABC, onde as vias internas das cidades se transformaram em rotas de fuga para os motoristas dispostos a driblar o pedágio do Trecho Sul do Rodoanel, caminhões estarão proibidos de circular por 23 vias, num total de quase 40 quilômetros. Na cidade de São Paulo, onde há um ano já é proibido o tráfego pesado na Avenida Bandeirantes, na Marginal do Pinheiros e no centro expandido durante os horários de pico, as autoridades decidiram impedir a circulação de carretas entre 4 e 10 horas e entre 16 e 22 horas. Isso passará a valer também, a partir de 11 de dezembro, para a Marginal do Tietê e os principais corredores da zona norte e da zona leste, que poderiam servir de rotas alternativas aos caminhoneiros. Os benefícios da medida não devem durar muito, e mesmo isso depende de fiscalização rigorosa e constante, porque a tendência é de busca por novas rotas alternativas pelo tráfego pesado, o que leva para bairros relativamente preservados o aumento dos congestionamentos, dos acidentes de trânsito e da poluição ambiental. Solução ver-

ecém-divulgado pelo Ministério da Educação, o último Censo do Ensino Superior não trouxe maiores novidades. Registrou um aumento de 110% no número de estudantes – em 2001, as universidades brasileiras tinham 3 milhões de alunos; no ano passado, eram 6,37 milhões –, dos quais 74,2% matriculados em instituições privadas. O maior crescimento ocorreu nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Mas, apesar desse crescimento expressivo, o País não conseguiu atingir a meta do último Plano Nacional de Educação, em matéria de acesso à universidade. Elaborado em 2000, o Plano previa a inclusão de 30% dos jovens de 18 a 24 anos no ensino superior, até 2010. Em dezembro do ano passado, o número de brasileiros dessa faixa etária matriculados em instituições públicas, privadas ou confessionais de ensino superior era de apenas 17,4%. Para a atual década, o novo Plano Nacional de Educação – que continua à espera de votação do Congresso – prevê a inclusão, até 2020, de 33% da população com idade entre 18 e 24 anos no ensino superior. Trata-se de outra meta difícil de ser alcançada, apesar dos estímulos criados para incentivar as novas gerações a fazerem uma faculdade. Um desses estímulos foi a criação do Programa Universidade para Todos (ProUni), que concede bolsas de estudos integrais e parciais em cursos de graduação e cursos sequenciais de formação específica em instituições

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eles, que se sentem acima da lei e protegem corruptos sem que nada lhes aconteça? A busca por distorcer a realidade é uma constante dentro desse grupo político, que sempre se coloca no papel de herói ou vítima. José Dirceu não é inocente, é indecente! SUELI MARIA FONSECA RICHERS sueli.richers@uol.com.br São Paulo

Contragolpe

Em oposição à “luta moralista” criticada pelo ex-deputado José Dirceu, a Juventude do PT daria um golpe fulminante “nas elites” brasileiras – sem atingir os pobres – se lutasse pela instituição da pena de morte para quem rouba dinheiro público. A obra então se completaria com o fim dos absurdos privilégios da elite dominante: imunidade parlamentar e os foros especiais e prisionais para autoridades.

dadeira virá quando as prefeituras da região metropolitana de São Paulo e o governo estadual conseguirem executar os projetos de transporte público – ampliação do metrô e das linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) – e de carga, capazes de, efetivamente, reduzir o trânsito de todo tipo de veículos. Nos últimos dez anos, a frota da região do ABC cresceu 75%, enquanto o aumento da população beirou os 8%, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), chegando a 1.413.085 veículos. Destes, 71.951 são caminhões e carretas.

Medidas dão alívio, mas solução duradoura só virá com grandes obras viárias, trens e metrô Em março, a cidade de São Paulo ultrapassou a marca dos 7 milhões de veículos. O mais impressionante foi a rapidez com que nos últimos três anos a cidade incorporou 1 milhão de veículos à sua frota. O milhão anterior, quando a frota passou de 5 para 6 milhões, foi alcançado ao longo de 8 anos. Diariamente, o ABC é destino de um imenso comboio de carretas que abastecem as indústrias e o comércio locais ou fazem a ligação da região com o Porto de Santos. Em São Paulo, só pelas dez vias em que o tráfego pesado será restrito circulam diariamente 158 mil veículos pesados. Segundo especialistas em transporte, a proibição da circulação de caminhões nos horários de pico tem seu efeito redu-

NILSON OTÁVIO DE OLIVEIRA noo@uol.com.br São Paulo

CERCO AO TRÁFICO Rocinha

Numa megaoperação de guerra, a Secretaria da Segurança Pública do Rio de Janeiro invadiu e dominou a maior favela do País, a Rocinha. O maior traficante do Rio, o popular Nem, e diversos membros da sua quadrilha foram presos. O movimento com o tráfico de drogas girava em torno de R$ 10 milhões por mês, acho impressionante como o crime atuou ali por tanto tempo sem a intervenção do Estado. Enfim, antes tarde do que nunca! Agora resta saber se os quadrilheiros não vão continuar a comandar o crime atrás das grades... ALEX TANNER alextanner.sss@hotmail.com Sumaré

zido por causa da grande quantidade de veículos de passeio na região. Para eles, a conclusão do Rodoanel, a construção do Ferroanel e a ampliação da malha do metrô e dos corredores exclusivos de ônibus é o que efetivamente aliviará o trânsito na região. Os fatos comprovam essa avaliação pouco otimista dos especialistas. Em São Paulo, a primeira etapa da restrição à circulação dos caminhões melhorou o trânsito apenas durante um curto período. Para aliviar os congestionamentos na capital, os governos estadual e municipal conjugaram iniciativas como a instituição da zona de máxima restrição ao tráfego pesado, o rodízio da circulação de caminhões e obras de melhorias viárias, como a ampliação da Marginal do Tietê e a construção do Trecho Sul do Rodoanel. Com tudo isso, os congestionamentos diminuíram 32%, de acordo com dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de abril de 2010. Mas esse alívio durou pouco. Conforme dados de setembro, o índice de engarrafamentos às 19 horas foi 10% superior ao mesmo mês do ano passado, atingindo 129,7 quilômetros de filas no horário – 11,8 quilômetros a mais do que um ano antes. Nada disso diminui a importância daquelas medidas e daquelas obras. Sem elas, a situação estaria certamente muito pior. Afinal, se todo o comboio pesado, que já superlota e paralisa os dois trechos em operação do Rodoanel, estivesse nas vias internas da capital, o caos seria total.

“Quem critica uma luta moralista contra a corrupção ou é corrupto ou imoral” JOSÉ EDUARDO ZAMBON ELIAS / MARÍLIA, SOBRE JOSÉ DIRCEU zambonelias@estadao.com.br

“O Rio invade e pacifica a Rocinha e São Paulo não consegue fazer o mesmo em alguns quarteirões da Cracolândia?” CESARE MOROSINI / GUARULHOS, SOBRE O TRÁFICO DE DROGAS cesare@listasinternet.com.br

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particulares e confessionais de ensino superior. Criado em 2004, o ProUni começou a funcionar efetivamente em 2005. Outro estímulo foi o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Foi lançado em 2007 com o objetivo de ampliar a oferta de vagas e reduzir as taxas de evasão nas instituições de ensino superior mantidas pela União. Graças ao Reuni, o número de matrículas nas universidades federais cresceu 86%. Todavia, como o Censo não apresenta o perfil de renda dos alunos, é difícil saber quais foram as classes sociais que se

Para os jovens de 18 a 24 anos ainda está bem abaixo do objetivo o acesso à universidade beneficiaram da expansão do acesso ao ensino superior. Além desses dois programas, o governo também investiu na expansão da rede de ensino a distância, com o objetivo de aumentar o número de estudantes universitários. Em 2001, o País tinha 5.359 alunos matriculados nessa modalidade educacional. No ano passado, eram 930.179 alunos. Atualmente, o ensino a distância – cuja qualidade tem sido criticada pelos pedagogos – responde por 14,6% das matrículas de graduação no ensino superior. O ministro Fernando Haddad reconhece que o ritmo de expansão da educação não presencial – em que a idade média dos alunos é de 33 anos – poderia ter sido bem maior do que o registrado pelo Censo, mas alega que

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UPP deve acabar com 30 anos de tráfico

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Especialistas acham que tráfico nas favelas do Rio perde característica de controle territorial ● “Existe agora a vontade comercial/política. Por isso as coisas irão melhorar um pouco.” AUGUSTO MAGALHÃES

● “Acredito em seu potencial autônomo de se organizar sem a interferência do Estado. Sem polícia e sem opressão.” MARA SILVA

HÁ 837 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “O depoimento de quem mora nas favelas do Rio pesa muito mais do que qualquer crítica de quem está longe.” PAULO PAMPLONA

o governo procurou contê-lo por não conseguir garantir padrão mínimo de eficiência pedagógica. Nos cursos de graduação presenciais, a idade média dos estudantes é de 26 anos. O Censo também registrou que 6 em cada 10 alunos de ensino superior estudam à noite. Entre 2001 e 2010, as matrículas nos cursos noturnos pularam de 56,1% para 63,5%. Nas universidades federais predominam os cursos diurnos, frequentados por 70% dos estudantes. Já nas universidades privadas, 71,8% dos alunos estudam à noite. As mulheres continuam sendo maioria – no ano passado, 57% dos estudantes de graduação eram do sexo feminino, porcentagem que se mantém estável desde 2001. Em 2010, o número de formandos foi de 973 mil – mais do que o dobro do registrado em 2001. O Censo é um retrato estatístico da realidade do ensino superior. Com base nele, as autoridades educacionais podem planejar políticas para o setor. Para os especialistas, além de ter registrado que o País não conseguiu atingir as metas do último Plano Nacional de Educação, o Censo de 2010 revela que o Brasil continua com taxas de escolarização bem abaixo do Chile e da Argentina. O Censo mostra ainda que a maioria dos universitários estuda em instituições cujo nível médio de qualidade está muito abaixo do das universidades mais conceituadas. Essas informações mostram o quanto o Brasil ainda precisa investir para aprimorar um sistema educacional que sempre primou pela falta de qualidade.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 16 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Notas e Informações A3

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Notas & Informações

Em jogo o sonho europeu A União Europeia, a mais ambiciosa experiência de integração regional dos últimos cem anos, enfrenta muito mais que um enorme desafio econômico e financeiro criado pela crise das dívidas soberanas. O risco maior é político: mutilação, perda de peso no cenário internacional e paralisação de um processo – único e auspicioso – de criação de um amplo espaço multinacional de cidadania e de unificação de direitos. Até agora, a Comissão Europeia, os governos da Alemanha e da França e o Fundo Monetário Internacional (FMI) trabalharam para socorrer os países mais atolados na dívida pública, para evitar o contágio de outras economias, para impedir um desastre no mercado financeiro e para salvar o próprio euro. Desde 2008 a crise derrubou sete governos. O úl-

timo foi o da Itália, a terceira maior potência econômica da união monetária. Na melhor hipótese, as mudanças darão certo, a zona do euro manterá sua integridade e a Europa retornará, embora lentamente, ao caminho da prosperidade e do sucesso. A tarefa dos novos tecnocratas grego e italiano – especialmente de Mario Monti, novo primeiro-ministro da Itália – ultrapassa suas agendas nacionais. O resultado de seu trabalho terá repercussões em todo o bloco. Mas alguns governos podem ser tentados – e alguns já estão sendo, segundo informações extraoficiais – a não esperar mais e a repensar sem demora o projeto comunitário. Autoridades da Alemanha e da França, as duas maiores economias da zona do euro, já teriam começado a discutir uma reforma da união monetária e da própria União Europeia. A mudança poderia resultar na exclusão de alguns sócios ou, no mínimo,

na oficialização de categorias diferentes de países. A distinção centroperiferia passaria a ter um sentido institucional. Por enquanto, é só uma figura de linguagem politicamente incorreta. Embora não haja informação oficial sobre as conversas entre alemães e franceses, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, decidiu defender num discurso o fortalecimento do bloco a partir de sua atual constituição. “Uma União Europeia dividida não funcionará”, disse Barroso. Segundo ele, uma união com diferentes partes comprometidas com objetivos contraditórios e constituída por um núcleo e uma periferia desconectados seria insustentável e não poderia operar a longo prazo. “Na era da globalização”, continuou, “a unificação da Europa é mais essencial do que nunca para preservar nosso modo de vida e nossos valores e para promover a

prosperidade de nossos cidadãos.” Em sua peroração, o presidente da Comissão Europeia recorreu a um discurso repetido muitas vezes nos momentos mais críticos do Mercosul. “A solução para o Mercosul é mais Mercosul”, repetiram em várias ocasiões autoridades do Brasil e da Argentina. Mas os defeitos do bloco sul-americano são mais elementares que os do europeu. O Mercosul é uma união aduaneira, mas nem chega a funcionar direito como zona de livre comércio. Deveria ser fácil corrigir essa deficiência, se os governos da região levassem a sério os objetivos econômicos do bloco. A integração econômica europeia foi muito mais lenta e é muito mais sólida que a de qualquer outro bloco. Em nenhuma outra área a mobilidade de capitais e de mão de obra produziu efeitos tão notáveis. Além disso, houve avanços importantes na adoção de princípios políticos e jurí-

dicos comuns e no rumo da constituição de uma cidadania comunitária. A memória da guerra foi certamente um estímulo poderosíssimo para tantas conquistas. Mas a integração falhou num ponto fundamental – e isso teve consequências muito perigosas para a união monetária. Faltou uma efetiva articulação das políticas fiscais, um sistema disciplinar aplicável obrigatoriamente a cada país. O projeto de um controle fiscal centralizado foi esboçado há mais de um ano, mas não executado. Cada país cedeu um pouco de sua autonomia para adotar o euro. Deveria ceder também um pouco da independência orçamentária, numa iniciativa politicamente mais complicada. Por isso não basta controlar a crise das dívidas. Aprofundar a integração envolve em primeiro lugar uma disciplina fiscal comum, na direção, talvez, da formação de um Tesouro comum.

‘Álcool zero’ para motoristas

Médicos formados em Cuba

entre as diferentes tradições do País em matéria de política legislativa, uma das mais criticadas pelos especialistas é a tendência do Congresso de propor mudanças açodadas nas leis penais todas as vezes em que são cometidos crimes com grande repercussão popular. Como são feitas com o objetivo de cortejar a opinião pública e propiciar dividendos eleitorais a deputados e senadores, essas alterações legais costumam trazer mais problemas do que soluções. Diante de acontecimentos impactantes – como, por exemplo, os crimes hediondos – os parlamentares procuram aumentar o rigor punitivo das normas penais, o que tende a desequilibrar o sistema de penas e a disseminar insegurança jurídica. O exemplo mais ilustrativo é a Lei dos Crimes Hediondos. Editada em 1990, ela foi tão mudada que acabou desfigurada. Apesar das advertências dos juristas para esse problema, as chamadas “leis penais de emergência” continuam proliferando. A última proposta foi apresentada por um senador do PMDB capixaba. Alegando a necessidade de reduzir os acidentes de trânsito cometidos por motoristas alcoolizados, ele propôs um projeto que impõe a política do álcool zero para motoristas infratores e pune até quem não causa acidente de trânsito. Aprovado em caráter terminativo pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, o projeto estabelece que, além do bafômetro, valerão como provas de

ressionado por partidos de esquerda e movimentos sociais, o governo continua procurando uma forma de facilitar o reconhecimento de diplomas expedidos por faculdades estrangeiras e, principalmente, permitir o exercício profissional no país de médicos brasileiros e não brasileiros formados em Cuba. Atualmente, existem 181 cursos de medicina em funcionamento no Brasil. Como em vários deles a demanda é de cem candidatos por vaga, muitos estudantes preferem se candidatar ao vestibular de faculdades particulares de medicina na Argentina ou na Bolívia, nas quais o processo seletivo é menos competitivo, ou cursar escolas cubanas, onde a seleção se faz pela afinidade ideológica, não pelo mérito. A Escola Latino-Americana de Medicina (Elam) de Havana, por exemplo, aceita qualquer candidato, desde que seja indicado por movimentos sociais, sindicatos e partidos simpatizantes do regime castrista. A estimativa é de que 6 mil brasileiros estejam cursando ou já cursaram medicina fora do País. Em média, cerca de 600 voltam anualmente para o Brasil – e os que mais têm dificuldade para regularizar a situação profissional são os formados por faculdades cubanas, cujos currículos valorizam mais a medicina preventiva, voltada à prevenção de doenças entre a população de baixa renda, do que a medicina curativa. No marketing político cubano, os médicos curativos não se preocupariam com a “saúde dos pobres”.

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Embusteiros! ANDRÉ C. FROHNKNECHT anchar.fro@hotmail.com São Paulo

Ratos e queijo

O governo estuda eliminar convênios com ONGs. Creio que a moral disso tudo é: ratos incontroláveis obrigam o governo a eliminar o queijo. CARLOS R. FERREIRA nolasco@uol.com.br São Paulo

embriaguez evidências, vídeos e provas testemunhais. Pela regra em vigor, o motorista pode se recusar a fazer o teste do bafômetro, pois a Constituição assegura ao cidadão o direito de não produzir provas contra si. Pelo projeto, que colide com a Carta neste ponto, quem se recusar a fazer o teste sofrerá sanções como se estivesse embriagado, podendo ser punido sem ter provocado acidente. Entre janeiro e outubro de 2011, 8,6 mil pessoas foram detidas por dirigir embriagadas em estradas federais. Se a obrigatoriedade do bafômetro estivesse em vigor, seriam 23 mil detidos. A di-

Um projeto draconiano que não terá condições de tramitação e de ser afinal sancionado ferença decorre do número de pessoas que foram autuadas, mas se recusaram a fazer o teste do bafômetro. O projeto é tão drástico que, se for convertido em lei, poderá, em tese, levar à punição de quem comeu bombom com licor ou consumiu uma dose de xarope. E as penas para os condenados variam de 6 meses a 3 anos de prisão. Se provocar acidente com lesão corporal, a pena é de 6 a 12 anos. E, se provocar morte, a condenação é de 8 a 16 anos de prisão. São penas superiores às previstas pela legislação criminal para delitos muito mais graves, o que não faz sentido. “A gente espera que com isso diminua o sentimento de impunidade que ainda existe entre os brasileiros”, diz o autor do

De lobbies, ONGs e limpeza

Não seria este um bom momento de montar uma ONG para arrecadar “grana” e pagar a um lobista para o governo continuar com a tal faxina – ou, no mínimo, ter uma ficha limpa?! FLÁVIO CESAR PIGARI flavio.pigari@gmail.com Jales

Escândalos diários

O povo está curioso: por que o Paulinho da Força não usa o plenário da Câmara para defender as ONGs do ministro Carlos Lupi e do governador Agnelo Queiroz?

Depois do Esporte, agora é a vez do Trabalho. Quantos já se foram e quantos mais estão na lista? Para mim, Celso Daniel foi queima de arquivo. Ele descobriu algo de podre no reino petista, ia começar a abrir a boca e precisava ser morto. Foi crime de pistoleiro, os caras não levaram um tostão.

ROBERTO MARQUES DE OLIVEIRA robertomarques@veseg.com.br Paraguaçu Paulista

CARLOS Y. TAKAOKA cy.takaoka@hotmail.com São Paulo

Perguntar não ofende

projeto, Ricardo Ferraço (PMDB-ES). O discurso é pretensioso, mas o projeto não tem condição de ser sancionado, se passar pela Câmara com a mesma tramitação açodada que teve no Senado. Em primeiro lugar, o projeto padece de vícios jurídicos, na medida em que prevê penas desproporcionalmente severas em relação ao delito tipificado, releva para segundo plano o direito de defesa dos motoristas e permite a leigos fazer acusações indiscriminadas a motoristas. Em segundo lugar, o projeto de Ferraço é desnecessário. Entre outros motivos, porque a legislação vigente foi bem recebida pelos especialistas, está produzindo resultados importantes e vem sendo aplicada de modo exemplar pelos tribunais. Além disso, a legislação de trânsito foi revista e atualizada há três anos. Acompanhando a tendência mundial, ela tolera até 0,6 gramas de álcool por litro de sangue – o equivalente a dois copos de cerveja. Por fim, os especialistas afirmam que o crescimento de mortes no trânsito – foram 40 mil, em 2010, o maior índice em quinze anos – não decorre da leniência da lei, mas, acima de tudo, do relaxamento na fiscalização. Bebida e direção são incompatíveis, não há dúvida. Mas, se a lei em vigor é considerada moderna e vem mudando progressivamente a cultura dos motoristas, por que modificá-la? Por que não ampliar a fiscalização, em vez de adotar punições exageradas e gerar situações de injustiça para quem dirigir sob o efeito de dosagens irrisórias de bebida?

“ONG é a Bolsa-Família dos partidos e políticos corruptos” SINCLAIR ROCHA / SÃO PAULO, SOBRE A CORRUPÇÃO E O DESVIO DE VERBAS PÚBLICAS sinclairmalu@uol.com.br

“Seria possível a instalação de UPPs no Congresso e no Palácio do Planalto?” CARLITO SAMPAIO GÓES / SÃO PAULO, IDEM carlitosg@estadao.com.br

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Em 2007, o presidente Lula enviou ao Congresso um projeto de lei que previa a equivalência dos diplomas de medicina expedidos no Brasil e em Cuba, mas a proposta foi rejeitada pelas comissões técnicas da Câmara. Na viagem que fez a Havana, em 2008, Lula prometeu uma nova solução para o problema, mas enfrentou a oposição do Conselho Federal de Medicina e da Associação Médica Brasileira, que sempre criticaram a qualidade dos médicos formados em Cuba. Depois de muitos impasses, as autoridades das áreas de saúde e educação instituíram um exame nacional unificado de

Médicos formados em Cuba terão uma ajuda do governo que os formados aqui não têm proficiência e habilitação para avaliar os conhecimentos de quem se graduou em medicina fora do País. A ideia era tornar o processo de revalidação mais rápido, dando aos candidatos tratamento equitativo, sem distinções ideológicas. Mas, como as entidades médicas previram desde o início, o número de aprovados oriundos de faculdades cubanas nessas provas foi pequeno. Dos 677 inscritos em 2011, só passaram 65. Em 2010, quando a prova foi criada, só 2 dos 628 candidatos conseguiram passar. Foi por isso que movimentos sociais e partidos de esquerda voltaram a pressionar o governo. Agora, a solução encontrada foi oferecer um curso preparatório gratuito, com a inclusão no

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Polícia desmonta ‘Occupy Wall Street’

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Cerca de 200 manifestantes são presos durante a desocupação de acampamento em Nova York ● “Que democracia é essa? A democracia dos ricos? Devemos nos unir contra a hipocrisia.” BERNARDO OLIVEIRA

● “O sonho americano de que cada um deve ter uma casa com cinco carros e um Cadillac na porta acabou.” BRUNO ROZA

HÁ 838 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Temos o nosso ‘Ocupa Sampa’ que, infelizmente, ficou em um local de pouca visibilidade e quase não chama a atenção.” FERNANDA PINHEIRO

currículo de matérias não abordadas nas faculdades cubanas. Em setembro, ao visitar Cuba, o ministro Alexandre Padilha assinou um acordo com a Elam, permitindo que os médicos por ela formados estagiem em hospitais públicos e recebam ajuda de custo durante o período em que fizerem o curso de reforço. A medida favorecerá 500 médicos brasileiros formados em Cuba. A permissão – uma forma disfarçada de assegurar o exercício profissional a quem ainda não está habilitado por órgãos profissionais e governamentais – é só um lado do problema. O outro é saber de onde sairá o dinheiro para financiar os cursos preparatórios e pagar a ajuda de custo. Até agora, o governo não esclareceu de onde virão os recursos, limitando-se a afirmar que os médicos formados em Cuba estão sendo tratados com preconceito ideológico. O problema, contudo, não é ideológico – é ético. “Não entendo a lógica de mobilizar uma grande estrutura pública para um grupo pequeno de brasileiros. O que mais surpreende é a ajuda de custo. Por que esses alunos merecem esse privilégio?” – indaga o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital. Enquanto o governo continua bajulando a ditadura cubana, as entidades médicas se preocupam com os problemas que profissionais despreparados podem causar para a saúde dos seus pacientes e com o tratamento discriminatório dado pelo governo a quem se forma em medicina no Brasil e é obrigado a enfrentar exames duríssimos para conseguir residência ou estágio.

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QUINTA-FEIRA, 17 DE NOVEMBRO DE 2011

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Notas & Informações

Já passou da hora A presidente Dilma Rousseff perdeu dois consecutivos “momentos ótimos” para demitir o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. O primeiro foi na quarta-feira da semana passada, quando, atingido pela denúncia de que assessores diretos seus chantagearam ONGs conveniadas com a pasta, o ministro afrontou a autoridade da presidente. “Duvido que a Dilma me tire, ela me conhece muito bem”, desafiou. “Para me tirar, só abatido à bala.” A segunda ocasião surgiu quando ele tentou consertar a fanfarronada da antevéspera com uma tirada cafajeste, que não há de ter passado em branco para alguém, como a sua chefe, atenta para o que se convencionou chamar sexismo. “Presidente Dilma, desculpe se eu fui agressivo”, apelou. “Eu te amo.”

No trato com os subordinados, ela é conhecida por ser fulminante no gatilho. Na remoção de membros de sua equipe afogados em escândalos, porém, só parece agir quando percebe, na vigésima quinta hora, que a inação ameaça se transformar em desmoralização. Perto disso, o eventual benefício de se guardar de problemas com as legendas dos ministros desmascarados e, conforme o caso, com o seu patrono Lula não compensa o custo do desgaste diante da opinião pública. Assim foi com Alfredo Nascimento, titular dos Transportes, do PR; Wagner Rossi, da Agricultura, e Pedro Novais, do Turismo, ambos do PMDB; e Orlando Silva, do Esporte (PC do B). Só foi diferente com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que caiu não por corrupção, mas por incontinência verbal. (O primeiro a cair, o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, ainda não era ministro quando fez a fortuna escondida

que o levaria ao pelourinho.) É verdade que, apesar de ir a reboque da imprensa na descoberta das falcatruas, primeiro, e de esperar demais, depois, para tirar das denúncias as suas inevitáveis consequências, Dilma tem sido recompensada pela aprovação nas pesquisas. Mas se algo desgasta a sua imagem de presidente despachada não é a sempre citada relação sem precedentes entre o seu tempo de casa e o número de auxiliares demitidos. É a sua convivência com o malcheiroso interregno entre a crise aberta com a exposição das maracutaias ministeriais e o seu costumeiro desfecho. Em nenhuma das situações mencionadas apareceu um “fato novo” que jogasse a favor dos ministros encalacrados. O normal é o contrário – e não está sendo diferente com o bravateiro Lupi. Desde que, no começo do mês, a revista Veja revelou o esquema da suspensão dos repasses a ONGs con-

tratadas pelo Trabalho e sua reativação mediante pagamento de pedágio, vieram à luz, entre outras coisas, o aparelhamento da pasta pelo PDT do ministro, em Brasília e nos Estados; o favorecimento de correligionários nos convênios para treinamento de pessoal; o acúmulo de irregularidades nesses negócios; o aval à criação de sindicatos patronais fantasmas, ou seja, que não representam nenhum setor de atividade; e, por fim, a prova do contubérnio do ministro com o dono de uma ONG beneficiada com R$ 13,9 milhões em contratos. Há uma semana, no mesmo depoimento à Câmara dos Deputados em que declarou seu “amor” pela presidente, Lupi negou que conhecesse o empresário Adair Meira, da ONG Pró-Cerrado, e que tivessem viajado juntos pelo Maranhão a bordo de um King Air alugado por ele. Fez também chegar a negativa ao Planalto.

Desmentido por outra reportagem da Veja, por imagens que o mostram desembarcando do táxi aéreo seguido pelo empresário e pela confirmação dele ao Estado de que viajara com Lupi “num trecho” do Maranhão em dezembro de 2009, o ministro se tornou para Dilma o que ela permitiu que se tornasse ao mantêlo na Esplanada: um fator de desmoralização. Não resiste a um sopro o argumento de que, fadado a cair na reforma do Gabinete prevista para o início do ano, a sobrevida do mentiroso por um punhado de meses seria “administrável” pela presidente sem danos adicionais. Sim, Lupi manda e desmanda no PDT, de que é presidente licenciado apenas no papel, o que dificultaria mais uma substituição de um correligionário por outro. Ainda assim, Dilma tem de se livrar dele, a que custo for. Tentar varrer a crise para debaixo do tapete será pior – para ela e o seu governo.

Pela credibilidade do IBGE

Mais estímulo aos pequenos

omo era previsível, os funcionários designados para esclarecer o vazamento de dados sobre inflação, mercado de trabalho e PIB por falha no sistema eletrônico de divulgação de informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) procuraram de todos os modos reduzir o fato a uma simples falha técnica e minimizar suas consequências. Mas o episódio deixa evidente uma fragilidade técnica da instituição que pode arranhar sua credibilidade. No caso do dado que levou à descoberta da falha na página eletrônica do IBGE – a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em outubro –, de fato, não há, até o momento, indicações de que a informação vazada tenha sido utilizada de maneira dolosa por alguém ou alguma instituição para auferir vantagens. Mas a persistência da falha por cerca de cinco meses e a incapacidade do IBGE de a detectar por seus próprios meios – o problema só foi descoberto após advertência de um jornalista – podem ter produzido efeitos, que só com o tempo será possível aferir. O IBGE vinha cumprindo com rigor seu calendário de divulgação. Na véspera da divulgação oficial dos dados sobre a inflação em outubro, no entanto, um jornalista descobriu que a informação mais importante, que é a variação do IPCA, índice básico de inflação do País, já estava disponível no site do IBGE, e informou a instituição sobre essa ocorrência.

om a sanção, pela presidente Dilma Rousseff, da lei que reajusta em 50% as tabelas de enquadramento das micro e pequenas empresas no regime tributário denominado Simples Nacional (também conhecido como Supersimples) e amplia o limite da receita bruta anual do microempreendedor individual, essas empresas e empreendedores poderão aumentar seu faturamento sem perder seus benefícios fiscais e, em boa parte dos casos, pagarão proporcionalmente menos impostos. Isso poderá impulsionar seu crescimento. De acordo com estimativas do Ministério da Fazenda, as novas medidas, que valerão a partir de 1.º de janeiro de 2012, reduzirão em R$ 5,3 bilhões os impostos a serem pagos por essas empresas no próximo ano, em R$ 5,8 bilhões em 2013 e em R$ 6,4 bilhões em 2014, na comparação com o que seria arrecadado caso as regras antigas tivessem sido mantidas. No entanto, esses valores devem ser considerados apenas como uma referência da dimensão dos benefícios fiscais agora concedidos, pois, se eles de fato estimularem as atividades das micro e pequenas empresas, elas faturarão mais, outras poderão ser criadas e o resultado final, do ponto de vista da arrecadação federal, poderá até melhorar. A receita anual máxima do microempreendedor individual (MEI) será elevada de R$ 36 mil para R$ 60 mil. Para as microempresas que optarem pelo regime do Supersimples, a receita bruta

C

protestam por melhor educação, aqui temos pessoas elogiando a arbitrariedade policial na USP e dizendo que os alunos deveriam estudar ou, então, ser expulsos; e, de outro lado, gente apoiando a ociosidade estudantil, como se houvesse mesmo uma campanha real pela descriminação das drogas e dando controle a agitadores de quinta categoria, inúteis, sem nada a fazer e a dizer. O debate educacional no Brasil não passa de um mero caso de polícia. CARLOS IUNES carlosiunes@bol.com.br Bauru

MÉDICOS Formados em Cuba

Se o que os estudantes aprenderam em Cuba foi medicina preventiva, por que não enviá-los para o Norte e o Nordeste, onde esse tipo de trabalho se faz necessário? Será que eles topariam? Acho

A informação ficou disponível entre 17h10 e 17h38. Pouco depois de receber o alerta sobre o vazamento, a direção do IBGE retirou o número do ar e tomou a decisão de antecipar para aquele mesmo dia a divulgação, que só deveria ser feita às 9 horas do dia seguinte, dos dados completos sobre a inflação em outubro. “Avaliamos que o vazamento não teve qualquer efeito nos mercados, porque, pelo horário, já estavam fechados”, disse o diretor do Centro de Documentação e Disseminação de Informações do IBGE, David Wu Tai. É possível que sua avalia-

Até para comprovar que não houve dolo, é preciso apurar a fundo as causas da falha ção esteja correta, pois, além do horário, o próprio índice cuja divulgação foi indevidamente antecipada dava pouca margens para sua utilização privilegiada. No mês passado, a alta do IPCA foi de 0,43%, confirmando as expectativas predominantes no mercado. Para o economista da LCA Consultores Francisco Pessoa, o fato de o índice ter sido igual à mediana das expectativas afasta o risco de o vazamento ter propiciado seu uso especulativo. Mas, como advertiu a economista-chefe do Royal Bank of Scotland, Zeina Latif, o que poderia acontecer se o IPCA tivesse apresentado uma variação muito surpreendente, capaz de gerar nervosismo entre os investidores? É essa possibilidade

que não, pois, como todos sabem, esses estudantes fazem parte de uma elite privilegiada, isto é, pertencem aos quadros do PT e de entidades ou movimentos reivindicatórios ao governo. No fundo, acho que eles estão certos, pois, com este governo, o que importa é ser inepto e corrupto. Então, para que estudar? CARLOS MONTAGNOLI carlosmontagnoli@uol.com.br Jundiaí

Atendimento exclusivo

Proponho a construção de um hospital multifuncional em Brasília, cujo corpo médico, composto exclusivamente por profissionais formados em Cuba, atenderia, com exclusividade, todos os membros dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. SERGIO S. DE OLIVEIRA ssoliveira@netsite.com.br Monte Santo de Minas (MG)

que torna grave o vazamento. O fato de poder dispor antecipadamente de uma informação favorece uns e prejudica outros. Não era só ao IPCA, mas também a dados sobre emprego e renda e sobre o PIB que se podia ter acesso antecipado no endereço eletrônico do IBGE, por causa de uma falha existente desde maio, quando se concluiu a mudança do sistema de informações do órgão. Só os títulos das informações a serem divulgadas oficialmente no dia seguinte estavam disponíveis antecipadamente, mas os títulos contêm as informações básicas, como a variação do IPCA ou o crescimento do PIB no período. Por causa do risco do aproveitamento doloso em operações financeiras de dados do IBGE obtidos com antecedência, o governo mudou até mesmo a sistemática de divulgação interna dessas informações. Os ministros da área econômica recebiam informações sobre o desempenho da economia 24 horas antes de o IBGE as divulgar para a imprensa e em seu site. Em 2007, para afastar suspeitas de vazamento desse tipo de informação que estavam sendo investigadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o governo reduziu o prazo de antecipação para apenas duas horas. A ocorrência de novo problema na divulgação de dados do IBGE deveria ser apurada pela CVM ou outro órgão independente, até para comprovar, se for o caso, que não houve dolo, desídia nem outro comportamento condenável do IBGE, cuja credibilidade, assim, não será colocada em dúvida.

“Como explicar o inexplicável sem confessar o inconfessável?” VAGNER RICCIARDI / SÃO PAULO, SOBRE DILMA AGUARDAR EXPLICAÇÕES DE LUPI vbricci@estadao.com.br

“Para quem ocupa cargo público o ônus da prova deveria ser invertido, tal qual está inscrito no Código de Defesa do Consumidor” OSCAR ROLIM JÚNIOR / ITAPEVA, SOBRE A CORRUPÇÃO rolimadvogado@ibest.com.br

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anual máxima passará de R$ 240 mil para R$ 360 mil. Serão consideradas empresas de pequeno porte as que tiverem receita anual entre R$ 360 mil e R$ 3,6 milhões (atualmente, o limite máximo é de R$ 2,4 milhões). Além disso, serão excluídas do cálculo da receita anual as receitas provenientes de exportações, também até o limite de R$ 3,6 milhões por ano. Na prática, as pequenas empresas exportadoras poderão faturar até R$ 7,2 milhões, sem perder o direito aos benefícios tributários do regime do Simples Nacional. O regime, criado pela Lei Geral da Micro e Pequena Empresa,

O aumento dos limites da receita anual alterou as faixas de incidência da tributação de 2006, unifica a cobrança de 8 impostos, sendo 6 federais (Imposto de Renda, IPI, PIS/Pasep, Cofins, CSLL e INSS patronal), o ICMS (estadual) e o ISS (municipal), todos pagos num único boleto e numa única data. Com o aumento dos limites de receita anual, foram alteradas as faixas de incidência da tributação. Uma empresa com faturamento anual de aproximadamente R$ 1,7 milhão hoje está enquadrada na faixa da alíquota de 10,32%; com o novo enquadramento, ela passará a recolher 9,12%. Isso significa uma redução de quase 12% da tributação. Também será importante para a atuação e crescimento dessas empresas a criação de um programa especial de parcelamento das dívidas. Elas agora poderão ser

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Dilma diz aguardar explicações de Lupi

1.115

Ministro afirmou que ‘vai reagir’ e prometeu buscar provas contra as denúncias de corrupção ● “Vai 'reagir' a quê, criatura? Vimos imagens que comprovam!” CECILIA CARDOSO DE ALMEIDA

● “Este ministro tinha mesmo que tomar vergonha na cara e pedir para sair.” EDUARDO OLIVEIRA DE FREITAS

HÁ 839 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Falando em português claro: ‘É muita firula em torno de um assunto do qual já se sabe o final.’” JOÃO HENRIQUE KIEHN

pagas em até 60 parcelas mensais. Estima-se que, de cerca de 3,8 milhões de empresas inscritas no regime do Simples Nacional, 500 mil estejam inadimplentes com o Fisco. Um dos pontos da lei mais destacados durante sua tramitação no Congresso foi a atenção dada ao MEI. Essa categoria particular de trabalhador foi beneficiada com a redução da contribuição previdenciária de R$ 59,95 para R$ 27,25 ou R$ 33,25 por mês (o valor depende do rendimento) que vigora desde maio. Com a medida, o governo procurou estimular a formalização de um número ainda maior desses empreendedores individuais, oferecendo-lhes proteção previdenciária, possibilidade de registro no Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas e os benefícios disso decorrentes, como a possibilidade de fornecer para o governo e de pleitear financiamentos bancários. Agora, teve ampliado o limite de sua receita anual. A expectativa do governo era de que, com a redução da contribuição previdenciária, 500 mil empreendedores regularizariam sua situação em 2011. Calcula-se que já haja cerca de 1,7 milhão de microempreendedores individuais. “Esse é um reconhecimento da enorme capacidade de trabalho dos brasileiros e brasileiras, que se viram no dia a dia”, disse o deputado Cláudio Puty (PT-BA), que foi o relator na Câmara do projeto de ampliação do Supersimples. “É também a prova de que a redução de imposto nem sempre significa perda de arrecadação tributária. Neste caso, foi o contrário, pois mais gente entrou para a formalidade.”

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 18 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Um censo de contrastes A vida dos brasileiros melhorou nos últimos dez anos, com mais crianças na escola, maior acesso a bens de consumo e aumento do emprego formal. A pobreza diminuiu e poderá continuar diminuindo, mas, apesar do crescimento econômico e de seu peso no sistema global, o Brasil ainda exibe alguns indicadores sociais típicos de países pobres. Há falhas importantes na educação, saneamento deficiente, enorme desequilíbrio entre regiões e uma persistente desigualdade na distribuição de renda. Essa notável combinação de progresso e de atraso é mais uma vez mostrada pelos novos dados do Censo Demográfico de 2010 divulgados na quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Classificado em mais de uma lista como sétima economia do mundo, o Brasil terá de melhorar vários indicadores de importância estratégica, para continuar avançando ou mesmo para se manter nessa posição. Um dos principais indicadores de mudança é a redução da taxa de fecundidade, de 2,38 filhos por mulher em 2000 para 1,86 em 2010 – uma variação de 21,9% em uma década. As maiores quedas foram no Norte (23,5%) e no Nordeste (25,2%), onde se concentram os maiores índices de pobreza, e por isso a notícia é especialmente bem-vinda. A base da pirâmide populacional vem-se estreitando de forma sensível há algumas décadas, como ocorreu há mais tempo nas economias mais desenvolvidas. Mas a mudança da composição etária da população traz novos problemas. Numa sociedade com maior porcentagem de pessoas mais velhas tendem a cres-

cer os custos de assistência à saúde e as despesas com aposentadorias e pensões. Mesmo sem os problemas já acumulados e bem conhecidos na área da Previdência, a mera alteração demográfica já seria uma boa razão para cuidar da reforma. Entre 2000 e 2010 mais famílias brasileiras tiveram acesso a bens de consumo duráveis, típicos das sociedades modernas. Os domicílios com automóvel particular passaram de 32,7% para 39,5%. Aqueles com máquina de lavar roupa, de 32,9% para 47,2%. O aumento mais notável foi o de residências com microcomputador – de 10,6% para 38,3% em uma década. No caso dos televisores, a transformação foi muito menos sensível por razões óbvias: de 87,2% para 95%. O nível de ocupação das pessoas com 10 anos ou mais passou de 47,9% para 53,3%, uma evolução facilmente explicável num período de

10 anos de crescimento econômico quase ininterrupto. Além disso, a parcela de empregados com carteira de trabalho assinada cresceu de 54,4% para 65,2%. Melhoraram, portanto, as condições de emprego, porque os assalariados com registro formal normalmente desfrutam de mais benefícios e maior segurança. Mas alguns indicadores, apesar da melhora registrada na década, permanecem ruins, mesmo quando comparados com os de outras sociedades em desenvolvimento. Os domicílios com “saneamento adequado” passaram de 45,3% em 1991 para 56,5% em 2000 e 61,8% em 2010. “Saneamento adequado” inclui ligação à rede geral de esgoto ou fossa séptica, abastecimento de água da rede geral e coleta regular de lixo. Quase 40% dos brasileiros vivem, portanto, em condições sanitárias inaceitáveis e isso se deve em grande parte à incapacidade dos mu-

Pós-graduação interdisciplinar

A fila tem que andar

ncarregada de gerir e avaliar a pósgraduação estrito senso e de divulgar sua produção científica, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) vem registrando um crescimento significativo dos cursos interdisciplinares de mestrado e doutorado em instituições públicas, privadas e confessionais. Eles cresceram mais de seis vezes, nos últimos 12 anos – eram 34, em 1998, e são 313, atualmente. Esse crescimento vem ocorrendo em todos os campos do conhecimento. Nas ciências exatas, por exemplo, alguns cursos de pós-graduação estrito senso incluíram história, sociologia e cultura entre as disciplinas oferecidas. Na área de ciências biológicas, há programas de mestrado e doutorado que oferecem filosofia, ética, epistemologia, antropologia e inclusão social como matérias obrigatórias ou optativas. E, nas ciências humanas, foram incorporadas aos currículos disciplinas como matemática, administração e tecnologia. Na rede pública estadual e federal, as universidades recémcriadas lançaram novas unidades e estão optando, em sua grande maioria, por cursos multidisciplinares. É esse o caso do câmpus da Universidade de São Paulo na zona leste. Criada há seis anos, a USP Leste oferece mestrado acadêmico somente em áreas novas, tais como sistemas de informação, modelagem de sistemas complexos, mudança social e participação política

pesar da sucessão de escândalos comprovados, herança maldita que coloca Dilma Rousseff na iminência de ter que mandar para casa o sexto ministro envolvido em denúncias de corrupção, a chefe do governo tem logrado preservar – nem sempre com a desejável presteza – a imagem de governante suprema fiadora da moralidade da administração federal. E moralidade quer dizer, no caso, probidade na gestão da coisa pública, honestidade no trato do dinheiro que é de todos nós brasileiros. Mas não é o que pensa o “chefe de quadrilha”, transformado em réu do processo do mensalão pela autoridade de um procurador-geral da República. José Dirceu proclama que tudo não passa de conspiração das elites contra os “interesses populares”, como se o povo tivesse interesse em ser permanentemente roubado pelas ratazanas vorazes de quem o ex-ministro de Lula se apresenta como advogado. Ao participar, no último domingo, do 2.º Congresso da Juventude do PT, em Brasília, o exdeputado federal cassado por seus pares em 2005 criticou duramente o que classificou de “luta moralista contra a corrupção”. Em cinco palavras, atribuiu conotação pejorativa à indignação generalizada dos brasileiros contra as bandalheiras praticadas por políticos e agentes governamentais e proclamou que, afinal, a corrupção generalizada que atormenta o País não é tão grave assim. E ainda reservou palavras de estímulo às vítimas dos “moralistas” – os minis-

E

e tecnologia têxtil e moda. Nas universidades federais, a prioridade tem sido dada a programas de pós-graduação em Gestão Ambiental, Agroenergia, Poder Judiciário e inclusão social, Vigilância Sanitária e Tecnologia, Cultura e Sociedade. “Não se consegue mais imaginar equipes de pesquisa de ponta que não sejam multidisciplinares”, diz Vahn Agopyan, próreitor de pós-graduação da USP. “A forma tradicional como os sistemas universitários dividiram os campos da natureza e das atividades sociais não dão mais conta da complexidade de situações enfrentadas pela so-

A diversificação das especialidades e do conhecimento se reflete na pós-graduação ciedade contemporânea”, afirma Euclides de Mesquita Neto, pró-reitor de pós-graduação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Algumas áreas demandam conhecimento profundo de vários profissionais, entre acadêmicos, pesquisadores e pessoas que atuam no mercado, o que contribui para seu avanço”, explica Adelaide Faljoni-Alario, titular de bioquímica e biofísica da UFABC e coordenadora adjunta do comitê interdisciplinar da Capes. A mudança dos projetos pedagógicos da pós-graduação estrito senso e o crescimento dos cursos de mestrado e doutorado de caráter interdisciplinar decorrem do avanço da tecnologia e da globalização econômica. Com o afrouxamento dos limi-

do. Ministro Carlos Lupi, pegue o seu boné e diga: “Fui...”

mentos podemos ter pela classe política, a não ser o desprezo?

VIRGÍLIO MELHADO PASSONI mmpassoni@gmail.com Jandaia do Sul (PR)

FRANCISCO ZARDETTO fzardetto@uol.com.br São Paulo

Pé para fora

Auxílio-paletó

O ministro tenta se agarrar ao cargo, mas o Brasil já o demitiu!

Já era tempo de acabar com essa safadeza. Parabéns ao Judiciário. Mas atenção, que tem mais molecagens por lá!

VICTOR GERMANO PEREIRA victorgermano@uol.com.br São Paulo

Honoráveis sanguessugas

Na esfera federal, é um deus nos acuda, tantos são os abusos e os desmandos. Na Assembleia Legislativa de São Paulo, fomos sacrificados por longo tempo bancando mais essa excrescência dos deputados estaduais, o tal auxílio-paletó. Ainda bem que a Justiça paulista determinou o fim desse abuso descabido e imoral. Que senti-

GUSTAVO GUIMARÃES DA VEIGA gjgveiga@hotmail.com São Paulo

PRÊMIO ESSO Parabéns!

Parabéns pelos vários Prêmios Esso, especialmente o de Reportagem Econômica, dos mais merecidos. É o Estadão de sempre, em seus melhores momentos. MIGUEL JORGE São Paulo

tes do conhecimento, o desenvolvimento de novas fontes de energia e a diversificação da economia, propiciados pela expansão da informática, algumas profissões tradicionais desapareceram e outras surgiram. E, à medida que o mercado de trabalho se tornou mais flexível e mutante, as universidades se viram obrigadas a criar cursos superiores novos e específicos – como bioinformática, engenharia de energias renováveis e agroecologia, ao lado dos cursos tradicionais, como direito, administração e ciências sociais, que proporcionam uma formação clássica e generalista. Esse processo começou timidamente nas duas últimas décadas do século 20, com a criação de cursos tecnológicos, com menor duração e menor abrangência acadêmica, para atender a demandas de mão de obra qualificada em alguns setores da atividade econômica. E ganhou corpo na primeira década do século 21, com o surgimento de bacharelados não convencionais, em áreas como biodiversidade, gestão sanitária, proteção ambiental e agroenergia. E, à medida que os cursos de graduação com esse perfil se consolidaram, a criação de mestrados e doutorados interdisciplinares se tornou inevitável. A reestruturação da pós-graduação estrito senso é um fenômeno que vem ocorrendo há muito tempo no mundo inteiro. Entre nós, essa mudança é decisiva para que o desenvolvimento do Brasil não seja afetado pelo déficit de pessoal com formação superior e qualificado nas principais áreas da economia.

“Quantas balas serão necessárias para a demissão de Carlos Lupi do Ministério do Trabalho?” GILBERTO M. COSTA FILHO / SANTOS, SOBRE O AMOR NÃO CORRESPONDIDO pindorama@estadao.com.br

“Na versão lullopetista do Chapeuzinho Vermelho, o ministro lobo mau será abatido por uma ONG” A. FERNANDES / SÃO PAULO, IDEM standyball@hotmail.com

A

nicípios de elaborar projetos de saneamento. O governo federal simplesmente não consegue desembolsar boa parte da verba disponível para obras nessa área. É preciso repensar as políticas. A educação também vai mal. A taxa de analfabetismo das pessoas com 15 anos ou mais caiu de 13,6% para 9,6%, mas chega a 28% em pequenas cidades do Nordeste. O quadro é mais feio quando visto em detalhe. A parcela de crianças de 10 anos analfabetas diminuiu de 11,4% para 6,5%, uma taxa ainda muito alta e muito preocupante. Pesquisas identificaram, nos últimos anos, cerca de 20% de analfabetos funcionais na população com idade igual ou superior a 15 anos. O analfabeto funcional foi à escola, mas é incapaz de ler uma instrução simples. A proporção pouco deve ter mudado. Os concorrentes do Brasil, é bom lembrar, são muito mais atentos à educação.

tros demitidos por Dilma –, especialmente ao ex-titular do Esporte, Orlando Silva, ex-presidente da UNE, a quem recomendou “ânimo, força”, e manifestou “afeto”. Dirceu revelou poder de persuasão, pelo menos diante de jovens contaminados pelo modo lulopetista de ver o mundo. O presidente da Juventude do PT, Valdemir Pascoal, discursou em tom de perfeita afinação com o pensamento de seu guru: “Não aceitamos o golpe (das elites). A juventude do PT está aqui para dizer que é tudo mentira”. E condecorou o ídolo com uma camiseta cujos dizeres estampados o

É tudo ‘mentira das elites’? Mas quem se enredou em mentiras foi o próprio Lupi, não foi? absolvem de todas as acusações que, se assim julgarem os ministros do STF, vão colocá-lo atrás das grades. Se, como querem José Dirceu e os jovens petistas, “é tudo mentira”, a presidente Dilma está, mais uma vez, na iminência de cometer uma “injustiça” e dar o bilhete azul para o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que perdeu até mesmo o apoio incondicional de seu partido, o PDT, para permanecer à frente da pasta que dirige. Segundo fontes do Palácio do Planalto, a razão principal da hesitação de Dilma em relação à demissão de Lupi seria o fato de que foi possível preservar desde logo o apoio das legendas da base aliada a que pertenciam os demitidos – PMDB, PP, PTB e PC do B – porque as de-

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Unicamp é a primeira em ranking do MEC

1.007

Enade: Universidade de Campinas tem melhor desempenho entre as instituições públicas do País ● “Se o MEC não consegue nem controlar o Enem, como se pode acreditar em tais avaliações?” LOU GOTTFRIED

● “E por que a Universidade de São Paulo não participa da prova do Enade?” JEAN CARLOS SOARES PEREIRA

HÁ 840 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Parabéns, Unicamp. Por aí provavelmente não há ‘estudantes profissionais’ nem anarquistas.” FABIO FIGUEIREDO

missões foram negociadas com as respectivas lideranças partidárias. Lupi é, ele próprio, a grande liderança do PDT, de cuja presidência está formalmente licenciado, e tem demonstrado, apesar de todos os tropeços nesse episódio, um entranhado apego à cadeira de ministro. Mas, na última quarta-feira, depois de líderes pedetistas do Maranhão terem desmentido as declarações feitas por Lupi em sua defesa das acusações de ter voado em avião particular na companhia do dono de uma ONG beneficiada por convênios com a pasta do Trabalho, o próprio presidente interino do partido, o cearense André Figueiredo, aconselhou o ministro a deixar o cargo: “Como amigo do Lupi, sofro muito vendo ele sofrer. É muito doloroso. Como amigo, preferia que ele saísse. Mas isso é uma decisão que o PDT vai tomar de forma institucional”. Por sua vez, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) também se manifestou favorável ao afastamento. Como afirmamos em editorial de ontem, a presidente Dilma deixou passar duas oportunidades de demitir Carlos Lupi a um custo político aceitável. Mas o ministro continuou se enredando nas próprias mentiras e teve uma atuação desastrosa em seu depoimento ontem pela manhã perante a Comissão de Assuntos Sociais do Senado. Agora, sem o apoio de seu próprio partido, Lupi certamente conta suas últimas horas na cadeira a que tanto se apega. Será o sexto ministro herdado do governo Lula e demitido por envolvimento em corrupção. Uma herança realmente maldita.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 19 DE NOVEMBRO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

Por que professor ganha menos que executivo? ✽ ●

KLAUS SCHWAB

A

scríticasaocapitalismo aumentarammuitonosúltimos meses. Movimentos de protesto, como o “Occupy Wall Street”, expressam indignação com os excessos dos banqueiros, que, segundo os manifestantes,sãoosprincipaisculpadospelaatualcriseeconômica – mas, aparentemente, não estão sendo responsabilizados. Crescente número de vozes, deváriasesferasdasociedade,está demonstrando a sua solidariedade às atividades contra o capitalismo, um reflexo da frustração generalizada dos cidadãos. E por boas razões: porque até agora foi o contribuinte – o cidadão médio – que teve de pagar pela crise econômica e pelas dívidas nos Estados Unidos e na Europa. Aumento do desemprego, mais impostos e cortes nos sistemas debem-estaredesaúdenostrouxeramàbeiradeumacrisesocial. Sem dúvida, esses protestos contra o capitalismo conseguiramcaptar aessênciadosnossos tempos. Mas não basta simplesmente condená-lo por seus inegáveis excessos. Precisamos fazer uma análise mais profunda do sistema capitalista e por que, em sua atual forma, ele não se encaixa mais no mundo ao nosso redor. Quando a crise começou, em janeiro de 2009, durante minha palestra de abertura em Davos, eu disse: “Hoje, as pessoas ao redor do mundo estão me perguntando como foi possível tomar decisões – baseadas em ganância ou incompetência e sem nenhuma fiscalização efetiva – que tiveram consequências terríveis, não somente para a economia global, mas também para pessoas reais, que perderam suas aposentadorias, suas casas e seus empregos. Essas pessoas estão desnorteadas, confusas e com medo e raiva”. Naquelaépoca,omundoesperava que a crise fosse produzir uma reavaliação básica do comportamento de executivos de alto escalão no mundo dos negócios, em especial no setor de serviços financeiros.Depois de praticamente três anos, ainda não aprendemoscomoserrosdopassado. O sistema que nos levou até essa crise é obsoleto, e não é de hoje. A crise não será superada no longo prazo se continuarmos renegando a necessidade de revisar o sistema. O capitalismo precisa ser reformulado, por três motivos: ● Ocapitalismoédesequilibrado. O uso do capital virtual para especular aumentou muito e de maneira desproporcional com-

parado com o capital real, e está fora de controle. Precisamos de transaçõesfinanceirasparaequilibrar os riscos, mas não transações especulando sobre a própria especulação. ● O sistema original capitalistaapresentavaumadivisãoclara: entre o empreendedor, que suportava o risco do investimento, cuja recompensa é o lucro; e o executivo, cuja tarefa profissional é garantir o futuro da empresa no longo prazo e proteger os interessesdetodasaspartesinteressadas.Comumsistemadebônus excessivo, o executivo aliase aos interesses dos proprietários do capital, desvirtuando o sistema.Esteéoproblemafundamental da situação hoje: os saláriosexcessivoscorroeramaética empresarial dos executivos. ● O capital deixou de ser um fator decisivo para a produção,

Devemos converter o capitalismo de volta a uma economia de mercado social na atual economia global. Ideias inovadoras ou serviços intangíveis estão ocupando o espaço das vantagens competitivas, reduzindo a importância do capital. Além disso, com padrões de vida em ascensão, o foco geral estámudandodequantidadepara qualidade. O sucesso econômico, no futuro, não será mais decidido pelo capital, mas pelo “talento” como fator de produção. Então, nesse sentido, estamos migrando do capitalismo para o “talentismo”. As demonstrações que estão ocorrendo ao redor do mundo são perigosas quando usadas como meio de iniciar uma guerra entre as classes sociais. Precisamos de novos impulsos que nos levem a reavaliar a situação e implementarasaçõescorretivasnecessárias para remediar o sistema.Devemosconverterocapitalismo de volta a uma economia de mercado social. Como o passado demonstrou claramente, outrossistemaseconômicos,como o socialismo doutrinário, não oferecem alternativas viáveis. Ponto-chave de uma tal reforma precisa ser a redução dos excessos de produtos financeiros e da participação de executivos nos lucros. Acima de tudo, o trabalho do executivo deve voltar a ser um posto profissional. Algumas empresas justificam o pagamento desalárioseprêmiosestratosféricos pelo fato de o talento ser frequentemente o principal fator de sucesso. Porém o talento não é importante apenas na profissão do executivo, mas em qualquer emprego. Porqueumprofessorexcelente deveria ganhar menos que um executivo? Por que um cirurgião

reconhecido mundialmente deveria ganhar menos que o CEO de uma empresa global? Num mundo ideal, todos devem ganhar de acordo com sua responsabilidadeeseudesempenho. A maior motivação profissional deve ser a vocação – não somenteodesejodelucrar.Medidas para diferenciar executivos de pessoas que correm riscos também devem reprimir transações financeiras em que os lucrosbeneficiemapenasosindivíduosenvolvidos,enquantoosriscos são coletivos e o contribuinteacabapagandoacontaquando tudo der errado. Outroprincípioorientadorimportantenareformadonossosistema econômico é o conceito de partes interessadas, que defini pela primeira vez há mais de 40 anos. O conceito de partes interessadasassumequeaempresaé uma comunidade social de muitaspartes diferentes–ouseja, diferentesgrupossociaisqueestão ligados direta ou indiretamente pela empresa. O objetivo de uma liderança responsável é garantir osucessonolongoprazoeaviabilidade da companhia e, assim, atender a todos os intervenientes, não somente aos interesses de curto prazo dos acionistas. Emsuma,precisamosavançar do capitalismo excessivo para uma economia de mercado em que a responsabilidade e as obrigações sociais não sejam palavras vazias. ✽ FUNDADOR E PRESIDENTE EXECUTIVO DO FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

Indivíduo x sociedade ✽ ●

JUDITH BRITO

C

ada cidadão nasce sob a égide de umEstadonacional, o Leviatã – nem sempre benevolente. Nas sociedades modernas há um consenso de que o sistema democrático representa não um modelo perfeito de convivência, mas, quem sabe, o menos ruim que os homens conseguem gestar. Não por outra razãoareferênciaglobaldedemocracia consolidada, a norteamericana, tratou de cravar em sua Constituição, já em 1791, a Primeira Emenda, que impede qualquer restrição à liberdade de imprensa – um dos pilares indispensáveis das sociedades democráticas. No Brasil, a Constituição de 1988consagrouomesmoprincípio. E decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2009, que revogou a Lei de Imprensa do governo militar, acabou por consolidar de vez a supremacia da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão em geral. Foi uma decisão histórica, sem margem para dúvidas, mas mesmo assim persistem, ainda que residualmente, decisões de juízesproibindoosmeiosdecomunicaçãodeveicularemdeterminadas informações, o que na prática configura a “censura prévia judicial”. Por essa razão, a Associação

SINAIS PARTICULARES LOREDANO

Salve, lindo

NacionaldeJornaistemprocurado a interlocução com representantes dos órgãos do Judiciário nos diversos Estados do País, comoobjetivodediscutir,deforma aberta e saudável, o espírito da lei. Tais eventos têm permitidoqueasdiferentesvisões sejam expostas, como deve ser numa sociedade democrática. Geralmenteasdecisõesdecensura prévia judicial decorrem de pedidos feitos por políticos, por autoridadespúblicas,quepretendem impedir a divulgação de informaçõesqueconsiderammentirosas ou ofensivas. Alguns juízes acatam o que pedem esses agentes públicos e determinam que o jornal, a revista ou outro meio de comunicação que esteja depossedasinformaçõessejapunido, quase sempre com pesadas multas, caso as divulgue. Há também os casos de figu-

Numa democracia, o direito individual não pode anteceder o direito coletivo à informação raspúblicas,nãonecessariamente de autoridades, que, cientes de que determinadas informações que lhes dizem respeito serão veiculadas, batem às portas da Justiça para impedir que isso ocorra. Alegam questões de privacidade, de proteção à sua imagem, etc. Um caso infelizmente notórioéoqueatingiuesteEstadão há mais de dois anos, com o empresário Fernando Sarney pedindo e conseguindo na Justiça (numa decisão solitária de apenas um desembargador...) que o jornal fosse impedido de divulgar informações a seu respeito contidas em investigação da Polícia Federal. Informações que certamente interessam aos cidadãos, aos contribuintes. Embora o empresário tenha depois desistido da ação com o pedidodecensura,oprópriojornal,muitoacertadamente,preferiu não aceitar o arquivamento docaso. Afinal,éumaquestão de princípio,dedefesadodireito de todos à liberdade de expressão, de livre acesso às informações, semnenhumtipodeamarraprévia. O que se espera, nesse caso específico, é que em algum momento, nas suas mais altas instâncias, o Poder Judiciário decida que nem mesmo juízes podem exercer a censura, em nenhuma situação, sob nenhum tipo de argumento. Osjuízesqueimpõemacensurapréviaargumentamquealiberdade de expressão e a liberdade de imprensa não são absolutas e nãosepodemsobreporaosdireitosindividuais,comoàimageme à privacidade. Por essa interpretação, o direito de um indivíduo de se proteger da divulgação de informaçãoqueconsideramentirosaouofensivaantecedeodirei-

to geral da sociedade de ter acesso a essa informação. No entanto, como bem disse o ministro Carlos Ayres Britto quando da decisão do STF em 2009, “não há como garantir a livre manifestação do pensamento (...) senão colocando em estado de momentânea paralisia a inviolabilidade de certas categorias de direitos subjetivos fundamentais, como, por exemplo, a intimidade, a vida privada, a imagem e a honra de terceiros“. Como reza o princípio maior daliberdadedeexpressãoconsagrado por nossa Constituição, ninguém pode proibir ninguém de dizer o que quer que seja. A contrapartida dessa plena liberdadedeexpressãoéapossibilidadedeodivulgador dedeterminada informação, depois de tornada pública, ser processado e condenado por danos morais, conforme legislação específica. Mas essa possível punição só ocorre casoseprove,naJustiça,quehouve violação dos princípios da legislação de danos morais. Não é possívelproibirpreviamenteadivulgação das informações, no pressuposto de que poderão ser mentirosas ou caluniosas. A violação ao princípio constitucional da liberdade de expressão é ainda mais grave quando censura prévia judicial beneficia um agente do Estado. Essas figuras públicas têm status diferenciado diante da sociedade, bem diverso do de outros cidadãos, e precisam,sim,estarsobapermanentevigilânciadosmeios decomunicação. Gozam, inclusive, deforosdejulgamentoprivilegiadosnoPoderJudiciário.Porisso, quando um jornal divulga informações a respeito de determinado político sob investigação da PolíciaFederal,eleofazexercendo um direito de toda a sociedade: o de ter acesso às informações que lhe interessam. Proibir previamente a sua divulgação é desrespeitar o direito de todos embenefíciodeumindivíduoprivilegiado pelos poderes que lhe concede o Estado. Noscasosrelacionadosaagentes públicos, a agentes do Estado, a democracia claramente optoupelapossibilidadedoônusindividual – passível de correção a posteriori – em vez do ônus coletivo,com todaa sociedadesendo prejudicada. É claro que erros e injustiçaspodemocorrer,masesse é um mal menor diante do grandeequívocodeseinstitucionalizar a censura prévia, mesmo que apenas pela via judicial. Se queremos mesmo uma democracia,complenajustiça, não podemosadmitirque osinteresses dos indivíduos, sobretudo dos agentes públicos, estejam acima dos de toda a sociedade. ✽ PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS (ANJ)

Fórum dos Leitores CORRUPÇÃO Novela mexicana

Há gente que, de tanto mentir, acaba esquecendo a mentira anterior, obrigando-se a inventar uma nova, muitas vezes conflitante, sempre que precisa voltar ao assunto. Aparentemente, esse é o jeito “lupiano” de ser! No depoimento à Comissão de Assuntos Sociais do Senado, Carlos Lupi tentou esclarecer o seu envolvimento com o empresário Adair Meira, responsável pelo “empréstimo” do avião em que o ministro zanzou pelo Maranhão, cumprindo agenda do PDT, e que, talvez por um desses acasos do destino, depois de tal “mimosa demonstração de amizade”, teve a ONG que preside beneficiada com polpudos convênios firmados com o Ministério do Trabalho. Apesar de falar pelos cotovelos, Lupi pouco disse que se aproveitasse. O fato é que, após enrolar os deputa-

dos, Lupi mentiu novamente no Senado, na vã tentativa de maquiar as mentiras anteriores. Num um país governado por gente minimamente séria, Lupi teria sido defenestrado no momento em que, ao depor na Câmara, protagonizou aquela lastimável cena de chanchada em que, fazendo caras e bocas, como fazem os canastrões, fingiu vasculhar a sua papelada, numa patética simulação de que não lembrava o nome de Adair Meira, seu coleguinha nas viagens maranhenses. Até quando a presidente Dilma Rousseff vai continuar assistindo, passivamente, a essa novela mexicana? JÚLIO FERREIRA julioferreira.net@gmail.com Recife

Ilusionista

De fato, episódio interessante de materialização da mentira se deu quando o sr. Lupi “leu” o nome

do sr. Adair perante os senadores, depois de ter dito que nem sequer o conhecia. Fracassou como ministro e como ilusionista! ROSALVO LOPES DA SILVA rosalvo.lopes@terra.com.br São Paulo

Lupi

Que vergonha, sr. ministro. Passando por mentiroso! FLAVIO LANGER diretoria@spaal.com.br Taboão da Serra

Renovação

Já esta na hora de o PT mudar o seu slogan. Seria “o PT não rouba, não deixa roubar nem admite mentira” e traduziria melhor os seus ideais. RUBENS SOUSA PINTO FILHO rubanfilho@hotmail.com São Paulo

Bala de chocolate

O legado de Lulla não foi a herança maldita, foi a corrupção eterna. O ainda ministro Lupi é prepotente, incompetente, dissimulado e trapalhão. Só está no poder porque é o Brasil, em nenhum lugar do mundo teria essa oportunidade. A presidente Dilma tem todos os meios para saber dos atos ilícitos desse senhor, ele não resiste a uma bala de chocolate! CELSO DE CARVALHO MELLO celsosaopauloadv@uol.com.br São Paulo

De indignação

Não sei por que tanta reclamação contra a corrupção e os corruptos. Minha indignação é contra o povo brasileiro, que reclama, reclama e não faz nada para conter um pouco a corrupção. Tá, uma pequena manifestação aqui e aco-

lá é bom, é ótimo. Mas ainda não somos como árabes, chilenos ou americanos, que ocupam capitais e se manifestam. Aliás, não somos nós, brasileiros, que gostamos de importar modismos, comportamentos e até feriados dos americanos (seria inveja)? Ah... há quanto tempo mesmo o Estado está sob censura? JOSEMAR ELOY DA SILVA josemar.eloy@hotmail.com Lorena

Bisonho

Nosso povo se ilude ao supor que vive numa democracia plena. Esta é um processo que se legitima de conformidade com o grau de respeito à dignidade do povo. O cargo não é da presidente, mas de quem ela representa. A defesa do ministro beirou o insólito, com imagens que demonstram o grotesco da mentira em depoimento no Parlamento. Mantê-lo, em su-

ma, é golpear a democracia em sua essência, é deturpá-la, sob o prisma de uma representação necessária – já que não podemos ter a democracia direta – mediante a desconsideração da percepção ética generalizada da Nação. Por mais que esteja combalida, a presidente não pode deixar de afastar mais um ministro – que escancarou uma falta de caráter e uma bisonhice lastimáveis. AMADEU R. GARRIDO DE PAULA amadeugarridoadv@uol.com.br São Paulo

Não cai

A presidente está certa. Não demita outro ministro e mostre que é tudo culpa da imprensa, senão o povo vai achar que até Lula se enganou e toda a corrupção, o mensalão incluído, existiu de verdade. RENATO JOSÉ ALDECOA renatoaldecoa@gmail.com Socorro


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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 19 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

A nova promoção do Brasil O governo tem mais um motivo para comemorar a boa imagem do Brasil no mercado internacional. Pela terceira vez neste ano, a nota de crédito do País foi elevada por uma das principais agências de classificação de risco. Três meses depois de ter rebaixado a nota dos Estados Unidos, a Standard & Poor’s (S&P) aumentou a do Brasil de BBB- para BBB. Essa promoção tem um valor especial num momento de muita desconfiança em relação à dívida pública de vários países do mundo rico, incluída a terceira maior potência da zona do euro, a Itália. A iniciativa é naturalmente bem-vinda, mas de fato a S&P somente se alinhou com alguns meses de atraso à Fitch e à Moody’s. As duas já haviam movido o Brasil um pouco mais para cima na escala

dos países com grau de investimento – a primeira em abril, a segunda em junho. A função principal das agências de classificação de risco é avaliar para os mercados a qualidade do crédito de empresas e entidades públicas. A avaliação é muitas vezes discutível. Em todas as grandes crises financeiras dos últimos 20 anos deixaram de acionar o sinal de alarme ou só o acionaram muito tarde. Apesar disso, suas notas são levadas em consideração e têm reflexos na operação das instituições financeiras, facilitando ou dificultando a concessão de empréstimos a tomadores com grau de investimento ou rotulados como de alto risco. Embora muito criticadas, essas agências continuam tendo influência e por isso as suas avaliações são acompanhadas com interesse por empresários e autoridades. O reconhecimento do Brasil como um país confiável para investidores e

fornecedores de empréstimos demorou. Só em 2008 recebeu da S&P o grau de investimento, já concedido a economias de nível semelhante ou até menor de desenvolvimento. Com a nova nota, o País se equipara a México, Peru, Rússia e África do Sul. A partir de 2008 várias economias do mundo rico entraram em crise e passaram a exibir um quadro fiscal preocupante, com grandes déficits orçamentários e endividamento muito elevado. Apesar disso, as agências demoraram para baixar as notas da dívida soberana desses países. Mesmo com o rebaixamento, alguns continuam acima do Brasil na escala de classificação. A Irlanda é ainda avaliada como BBB+, embora tenha precisado da ajuda da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional para não quebrar. A Espanha, sob forte pressão dos mercados por causa do mau estado de suas contas, foi rebaixada de AA para AA- e

permanece em posição melhor que a do Brasil. A Itália, em 20 de setembro, foi rebaixada de A+ para A, embora sua dívida equivalha a 120% do Produto Interno Bruto (PIB). A dívida bruta do setor público brasileiro corresponde a 55% do PIB, segundo a estimativa da S&P, ou a cerca de 65%, de acordo com o FMI. A reclassificação do Brasil não deverá resultar em maior volume de financiamentos ao setor público a curtíssimo prazo, mas é mais um elemento para compor a imagem do Tesouro Nacional como um devedor digno de confiança. O Tesouro já tem obtido melhores condições de financiamento no mercado internacional e essa tendência deverá manterse nos próximos anos, se nenhum acidente ocorrer. Como sempre, a avaliação positiva da agência veio acompanhada de algumas advertências. A promoção foi justificada com uma referência às

Os juízes e o papel do CNJ

O cerco a Assad

m entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, a corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, voltou a criticar os mecanismosdecontroledamagistratura, a acusar as corregedorias judiciaisdeagiremdeformacorporativa e a pedir sanções mais rigorosasparajuízes,desembargadores e ministros condenados por desvio de conduta. Pela legislação em vigor, a penamáximaaplicadano planoadministrativoamagistradoscondenados por nepotismo, tráfico deinfluência e venda de sentençaséaaposentadoriacompulsória,comdireitoasalárioproporcionalaosanostrabalhados.Entende a ministra Eliana Calmon que, quando a Lei Orgânica da Magistratura foi editada, em 1979, a preocupação do legisladoreracriarapenassançõesmorais. Hoje, no entanto, os valores da magistratura mudaram e a aposentadoria compulsória comdireito avencimentosévista como um prêmio, diz ela. “Aposentadoria não pode ser punição para ninguém. Foi no passado, quando o fio do bigode era importante, quando se tinhaoutrospadrõesdemoralidade.A aposentadoria era uma pena. Hoje não é mais. Passou a ser encarada como benesse”, afirmou. Indagada sobre a aplicaçãoda pena deprisão amagistrados corruptos, ela fez outra declaração contundente: “Não sei se cadeia é o melhor resultado, já que o Brasil tem dificuldadede punirtrombadinhas.O senhor conhece algum colarinhobranco preso?”.

Liga Árabe, que no sábado passado tomou a ousada decisão de suspender a Síria, depois que o ditador Bashar Assad descumpriu a promessa de sustar a violência contra a oposição ao regime, deu-lhe quartafeira mais três dias de prazo para enfim respeitar o chamado plano de paz assinado no Cairo no começo do mês e receber cerca de 50 observadores civis e militares da entidade para avaliar a situação no país. Os resultados da prorrogação são incertos. Nem Assad demonstra na prática alguma disposição para deixar de reprimir a insurgência com a brutalidade assassina empregada até agora e efetivar as reformas liberalizantes que anunciara nem a Liga Árabe parece ter ideia clara do que fazer se a matança continuar nas ruas sírias. “Ninguém pode prever o que acontecerá em seguida”, resumiu o diário Al Quds al Arabi, publicado em Londres. Fala-se em boicote econômico e retirada de embaixadores. Neste oitavo mês de protestos, por sinal, o número de mortos chegou a inéditos 376 em apenas duas semanas, fazendo o total alcançar 3.500, a esmagadora maioria dos quais manifestantes abatidos pelas forças militares e dos serviços de segurança, apoiadas por artilharia pesada. Assad tampouco se deu ao trabalho de enviar o seu ministro do Exterior para a reunião dos chanceleres dos 22 Estado-membros da Liga em Rabat, no Marrocos, que adiou o vencimento da fatura política exigida de Damasco. Além disso, o ditador pratica-

E

Ilusão

A situação fiscal do governo Dilma melhora com devolução de R$ 1.736,90 referentes a uma diária recebida indevidamente pelo ministro falastrão Carlos Lupi. Mas a corrupção, nesta era petista, continua um caos... PAULO PANOSSIAN paulopanossian@hotmail.com São Carlos

EM SÃO PAULO Só manobras

O que acontece na cidade de São Paulo para ter chegado ao ponto a que chegou? É que somos dirigidos por um prefeito incompetente, que só pensa em arrecadar cada vez mais, sem que saibamos para onde vai ou a que se destina todo esse dinheiro dos munícipes – no que tange a revertê-lo em benefício da população, nada se vê,

Há dois meses, a ministra Eliana Calmon se envolveu numadiscussãopúblicacomo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Cezar Peluso, quando declarou que “há bandidos de toga” e que uma minoria de juízes “se vale da toga para cometer deslizes”. Apoiado pelo presidente da AssociaçãodosMagistrados Brasileiros (AMB), Nelson Calandra, de quem foi colega no Tribunal de Justiça de São Paulo, Peluso exigiu uma retratação pública da corregedora nacional de Justiça. A corregedora nacional de

A corregedora nacional de Justiça critica na TV os métodos de controle da magistratura Justiça manteve o que havia dito, ressalvando que suas críticas foram dirigidas apenas a uma minoria de juízes. TambémacusouosTribunaisdeJustiça – especialmente o de São Paulo – de serem os principais entraves da modernização do Poder Judiciário. “Sabe quando eu vou poder inspecionar São Paulo? No dia em que o sargentoGarciaprenderoZorro.OTribunal de Justiça de São Paulo é fechado, refratário a qualquer ação do CNJ”, disse ela. As críticas mais contundentes da ministra têm sido dirigidas aos atuais dirigentes da AMB. Alegando que a fiscalização da magistratura cabe às corregedoriasjudiciais,o presidente da entidade entrou com um recurso no Supremo, questio-

deixando a cidade chegar a este estado calamitoso: suja, esburacada, mal iluminada, mal sinalizada, etc. Pois agora Gilberto Kassab e a “corja” de vereadores reeditam as manobras na Câmara Municipal para aumentarem os próprios salários. Se alguém pensou que a safadeza terminou, enganou-se. ANGELO TONELLI angelotonelli@yahoo.com.br São Paulo

Auxílio-paletó

Só o fato de todos os deputados estaduais paulistas que já receberam ou recebem esse auxílio sem se envergonhar, sendo bons ou maus políticos, já é o suficiente para não mais os reelegermos. A mudança é necessária em todos os partidos e devemos procurar melhores representantes. JOÃO CARLOS BRAGA JUNIOR cuquineto@gmail.com São Paulo

nando a prerrogativa do CNJ de investigarepunirjuízes.Noprograma Roda Viva, a corregedora nacional de Justiça deu o troco. Porcausadocorporativismoreinante nos Tribunais de Justiça, os desembargadores tendem a nãosesubmeteràs açõesfiscalizadoras moralizadoras das corregedorias, disse ela. “Os juízes de primeiro grau têm a corregedoriajudicial.Mesmoineficiente, ela tem alguém que está lá para questioná-los. Mas, dos integrantes dos Tribunais, nada passa pelas corregedorias. Os desembargadoresnãosãoinvestigados por elas.” Segundo a ministra, o descontentamento das associações de classe de magistradoscresceram na medida em que a Corregedoria Nacional de JustiçaeoCNJ passaramarealizar a tarefa que as corregedorias não queriam ou não conseguiam executar. Atualmente, o CNJfiscaliza 32 desembargadores de todo o País. Na magistratura, a principal força de apoio da corregedora nacional de Justiça é a Associação Juízes para a Democracia. Seus integrantes querem que a AMB tenha uma atuação mais política, discutindo temas como os que têm sido levantados por Eliana Calmon, mas perderam a última eleição da entidade. Por 52% contra 48% dos votos, ela foi vencida pela correnteque defendeaumentode salários e considera o controle externo uma ameaça à autonomia daJustiça.Alémdoimpactocausado perante a opinião pública, as declarações de Eliana Calmon no Roda Viva devem suscitardiscussões aindamaisacirradas entre os juízes.

“Qual desculpa leva o troféu óleo de peroba: ‘Eu não sabia’ ou ‘eu esqueci’?” LUIZ CARLOS TIESSI / JACAREZINHO (PR), SOBRE O MINISTRO CARLOS LUPI tiessilc@hotmail.com

“O sr. ministro é mentiroso ou cínico? Ou ambos? Como o ‘pudê’ é fascinante e embriagante!” EDGARD GOBBI / CAMPINAS, IDEM edgardgobbi@gmail.com

A

medidas orçamentárias tomadas neste ano. A política fiscal mais severa, segundo a agência, abriu espaço para uma política monetária mais branda e mais adequada para o enfrentamento da crise global. Do lado positivo, a avaliação dos economistas da S&P coincide, essencialmente, com a orientação anunciada oficialmente pelo governo. Além disso, eles mostram confiar na promessa de cumprimento integral da meta de superávit primário no próximo ano. Alertam, no entanto, para a necessidade de elevar o investimento, considerado muito baixo, e para o risco de continuar aumentando o crédito fornecido pelos bancos públicos. As mesmas advertências têm sido feitas no dia a dia por muitos analistas, mas com uma diferença. Nem todos se mostram tão confiantes quanto o pessoal da S&P nas promessas de seriedade fiscal do governo.

mente não moveu uma palha para impedir atos de vandalismo contra as representações diplomáticas da Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes, Jordânia e Turquia (que não integra a organização) e, ainda, da França. Os respectivos governos têm criticado duramente a brutalidade de Assad contra os seus concidadãos. A Turquia, por exemplo, que abriga 10 mil fugitivos sírios, anunciou a suspensão dos projetos conjuntos com o vizinho país no setor de petróleo e ameaça interromper a transmissão da energia elétrica que lhe destina. Por menos que isso afete a eco-

Está se esgotando o prazo dado pela Liga Árabe para que a Síria aceite o plano de paz nomia síria, é um ominoso sintoma de isolamento internacional da tirania de Assad, em virtude, entre outras coisas, do papel cada vez mais ativo de Ancara na política regional. “O banho de sangue não pode prosseguir”, disse o chanceler turco Ahmet Davutoglu, que acompanhou a reunião de Rabat. Em agosto, ele tentou, em vão, negociar uma trégua entre Damasco e os seus opositores. A Jordânia, por sua vez, foi o primeiro país árabe a exigir a renúncia de Assad. E o rei jordaniano Abdullah propôs ao primeiro-ministro britânico, David Cameron, que o Reino Unido se engajasse na criação de um “grupo de contato” para coordenar as políticas árabes e ocidentais em relação à Síria. O termo é carregado. Desig-

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Carlos Lupi se nega a comentar denúncias

1.469

Na divulgação de dados sobre o emprego, ministro evitou perguntas sobre uso de avião particular ● “A presidente Dilma Rousseff sai completamente desmoralizada dessa crise.” BRAZ DOS SANTOS

● “Quando deixar o ministério, Lupi estará pronto para trabalhar na Comissão de Ética.” PAULO MARTINS

HÁ 841 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Presidente, quando vai nos livrar desse ministro do Trabalho? O povo merece uma satisfação.” JOSÉ ROBERTO PASQUALINI

nou os entendimentos entre a Liga Árabe, a União Europeia e os Estados Unidos que conduziram à intervenção militar da Aliança Atlântica na Líbia, decisiva para a derrubada do regime de Muamar Kadafi. Mas algo do gênero não está nem remotamente nos planos de qualquer governo ocidental ou árabe, embora, em seguida à morte do coronel líbio, manifestantes sírios tenham pedido o estabelecimento de uma “zona de exclusão aérea” no país para conter a repressão de que são alvo – e embora o Irã dê apoio logístico a Assad, incluindo o envio de pelo menos 300 membros da Guarda Revolucionária, temida por seus métodos repressivos, como conselheiros. A República Islâmica é o único sustentáculo da Síria no Oriente Médio – o que provavelmente ajuda a explicar a escalada anti-Assad de governos não menos despóticos do Golfo Pérsico, como os da Arábia Saudita e Catar. De todo modo, a insurgência teria cruzado a fronteira da militarização, a tomar pelo valor de face a versão do autodenominado Exército Livre da Síria sobre o seu ataque, anteontem, com morteiros e granadas, à sede do órgão de repressão da Força Aérea, em Harasta, na estrada que liga Damasco a Aleppo. A organização, formada por desertores do Exército e comandada por oficiais refugiados na Turquia, reivindica ainda três incursões nos subúrbios da capital. Se ocorreram, corroboram as reiteradas alegações de Assad de que enfrenta “bandos armados” e não manifestantes pacíficos. Daí as dúvidas sobre os episódios.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 20 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Ainda a herança pesada Chamada de “mãe do PAC” – o Programa de Aceleração do Crescimento criado com objetivos nitidamente eleitorais – pelo expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, que desse modo queria forjar a imagem de administradora competente da então candidata presidencial do PT, a presidente Dilma Rousseff agora está tendo de pagar as contas do mesmo programa deixadas por seu antecessor. São despesas tão grandes que, financeiramente, a impedem de iniciar obras que havia anunciado como prioritárias durante a campanha eleitoral e constam do Orçamento de 2011. O governo Dilma anunciará nos próximos dias um novo balanço parcial da execução do PAC e, como já fez em julho, quando apresentou as realizações dos primeiros seis meses

de mandato da atual presidente, deverá exibir números com os quais tentará convencer a população de que o programa está sendo executado de acordo com a programação e que os investimentos neste ano são maiores dos que os de 2010. Os grandes números da execução do PAC, de fato, sugerem esse aumento. Os pagamentos relativos a ações (investimentos e outras despesas) inscritas no PAC feitos neste ano já somam R$ 21,7 bilhões, valor praticamente igual aos R$ 22 bilhões pagos durante todo o ano passado. Não há dúvidas de que, até o dia 31 de dezembro, o total de 2011 alcançará um valor bem maior do que o do ano passado. Mas, como mostrou o Estado (18/11), em reportagem de Lu Aiko Otta, nada menos do que R$ 16,1 bilhões, ou praticamente três quartos de tudo o que foi gasto em 2011, se referem a restos a pagar – despesas

assumidas em exercícios anteriores (no governo Lula), mas não quitadas e, por isso, foram empurradas para os anos seguintes –, de acordo com levantamento feito pela organização não governamental Contas Abertas. Isso quer dizer que o governo Dilma só conseguiu aplicar R$ 5,6 bilhões em projetos previstos no Orçamento do PAC para 2011, que totaliza R$ 40,4 bilhões. Em resumo, até agora, o atual governo só conseguiu executar 13,9% do que foi programado para 2011. A execução do PAC no ano que vem não deverá ser muito melhor do que a de 2011. Ainda resta uma fatia pesada da herança deixada pelo governo Lula. Mesmo com os pagamentos já feitos, o estoque de restos a pagar continua alto, de R$ 16,4 bilhões. “Provavelmente ainda viraremos o ano com um saldo grande”, previu o secretário-geral da associação Contas Abertas, economista Gil

Castelo Branco. A associação considera o que o governo Dilma está fazendo uma espécie de “arrumação da casa”, ou um acerto das contas deixadas pelo antecessor. Essa arrumação está impedindo o atual governo de cumprir com a velocidade prometida uma das principais promessas eleitorais da então candidata do PT, o programa Minha Casa, Minha Vida, que, no Orçamento de 2011, recebeu uma das maiores verbas do PAC. O Orçamento de 2011 reservou R$ 12,7 bilhões para o programa habitacional. As demonstrações financeiras do governo indicam que neste ano foram gastos pouco mais de R$ 5,6 bilhões no programa Minha Casa, Minha Vida. Mas praticamente todo esse gasto se refere a restos a pagar. Apenas R$ 6,5 milhões, ou 0,05% do valor orçado para este ano, se referem a despesas novas. “Como explicar que um programa tão importante

na campanha tenha uma execução tão pífia?”, pergunta Castelo Branco. Um dos motivos pode ser a intenção do governo de reduzir gastos, para não alimentar a inflação. Mas o governo faria melhor se cortasse outras despesas para preservar investimentos que considera prioritários. Também a necessidade de cumprir a meta de superávit primário pode estar desestimulando os investimentos, que sabidamente estão sendo feitos com muita lentidão no governo Dilma. Mas há ainda um problema crônico das administrações do PT, que é sua notória incapacidade de gerir com eficiência os recursos de que dispõe. A limpeza feita em alguns órgãos – sobretudo do Ministério dos Transportes, responsável por grandes investimentos federais – tornou ainda mais lentas as decisões no governo Dilma. Não há sinais de que as mudanças no Ministério tenham melhorado o quadro.

Ameaça de greve na Petrobrás

A educação no Censo de 2010

queda de 42% do lucro da Petrobrás no terceiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2010, em nada alterou a disposição dos petroleiros de reivindicar aumento real de salário de 10% e nominal de 17%, como mostrou reportagem no Estado de quartafeira. Como afirmara, sextafeira passada, o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antonio de Moraes, “a gente quer cobrar a Petrobrás”, mesmo que isso afete “a rentabilidade da empresa”. Setembro é o mês do acordo coletivo dos funcionários da Petrobrás, que ofereceu um reajuste de 2,5% a 3,25% mais a inflação e elevou a proposta média de aumento nominal de 9% para 10,7%. É mais do que o aumento que a maioria dos trabalhadores brasileiros recebeu nos dissídios. Os bancos, por exemplo, que auferiram resultados elevados, fecharam acordo salarial prevendo aumento nominal de 9% para os bancários. Sem acordo, os petroleiros ameaçam deflagrar uma greve geral, que pode paralisar as refinarias, em todo o País, se for bem-sucedida, e prejudicar o abastecimento nos postos, além das exportações da empresa. Até quarta-feira, sindicatos de petroleiros de seis Estados já haviam declarado apoio à greve, segundo a FUP. Paralisações curtas, de algumas horas, já ocorreram desde o final de outubro, por

s números do Censo Demográfico de 2010 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram o quanto o Brasil ainda está atrasado em matéria de educação em geral – e, principalmente, em ensino fundamental. Na verdade, o País registrou alguns avanços importantes, na última década, mas eles foram insuficientes para aumentar o nível médio de escolaridade da população e, por tabela, para elevar a taxa de formação de capital humano – condição indispensável para a passagem a padrões mais sofisticados de produção. Segundo o Censo Demográfico de 2010, a parcela de crianças de 10 anos analfabetas diminuiu de 11,4% para 6,5% na última década – um índice ainda muito alto e muito preocupante. A taxa de analfabetismo das pessoas com mais de 15 anos – que foi de 20,1% em 1991 e de 13,6% em 2000 – caiu para 9,6% no ano passado. A queda é expressiva. Em termos concretos, todavia, a taxa de 9,6% significa que ainda existem cerca de 13,9 milhões de brasileiros com idade igual ou superior a 15 anos que não sabem ler, escrever ou fazer as quatro operações aritméticas. Em termos comparativos, o porcentual de analfabetismo no Brasil entre as pessoas dessa faixa etária continua muito acima dos níveis registrados pelo Banco Mundial e pela OCDE para países africanos pobres, como o Zimbábue (com 8% de analfabetos com 15 anos ou mais) e a Guiné Equatorial

A

robertosaraivabr@gmail.com São Bernardo do Campo

Tiro de misericórdia

Reparem: todas as vezes que o deputado Vaccarezza (PT-SP) sai em defesa de ministros alvo de denúncias – como fez na semana passada com Lupi –, é apostar na saída de mais um. O deputado tem o triste papel de dar o tiro de misericórdia e alisar picaretas em nome da governabilidade. Por isso, atentem: Vaccarezza defendeu, pode contar que o ministro está na rua. Foi assim com todos os anteriores. A conferir. IZABEL AVALLONE izabelavallone@gmail.com São Paulo

REFORMA MINISTERIAL Fusão de pastas

O PT é contra e reclama de possí-

exemplo, na sede administrativa da Petrobrás em Macaé e no Paraná. Trabalhadores terceirizados que constroem o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, chegaram a interromper o trabalho, retornando após um acordo. Os funcionários da Refinaria de Paulínia (Replan) fizeram mobilização por causa da falta de rigor nos procedimentos de segurança da empresa. O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse que o governo faz um “esforço enorme” para evitar

O PT tem sido dócil com os sindicatos, que querem aumento real de salários de 10% a paralisação, pois uma greve seria “muito negativa”. O governo do PT tem-se mostrado dócil às reivindicações dos sindicalistas – que se incluem nas bases de apoio ao governo Dilma. Há alguns dias, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, evitou criticar os grevistas que paralisaram os Correios. A decisão sobre a greve dos petroleiros será tomada na próxima terça-feira, segundo a FUP. O coordenador da entidade admite que há espaço para a negociação salarial e que o problema é a pouca disposição da empresa de reavaliar a política de segurança. Apenas neste ano, segundo a FUP, 16 trabalhadores morreram, dos quais 14 terceirizados. “A Petrobrás

vel fusão de pastas ministeriais, porém o povo é a favor – com destaque para o senador Valdir Raupp, presidente do PMDB. Enxugar a máquina administradora do governo, com a redução dos 38 ministérios hoje existentes, conta com o “apoio total” da presidente Dilma, que, na próxima reforma, prevista para o início de 2012, tem a grande oportunidade de entrar na História do País, visando a melhor governabilidade. JOSÉ ERLICHMAN joserlichman@terra.com.br São Paulo

Entulho

Pelo andar da carruagem, o Ministério herdado de Lula não comporta mais uma reforma, e sim a demolição. Espero que o entulho vá para aterro adequado! AIRTON MOREIRA SANCHES moreira.sanches@uol.com.br São Paulo

não permite a participação de representantes dos trabalhadores nas comissões que apuram os acidentes, só quando há mortes”, reclamou Moraes. O diretor financeiro e de Relações com Investidores da Petrobrás, Almir Barbassa, afirmou que a estatal provisionou R$ 600 milhões para atender ao acordo salarial, está preparada para eventuais paralisações e para “eliminar qualquer prejuízo à produção”. De fato, foi o que ocorreu nos últimos dois anos. Em 2009, por exemplo, quando os trabalhadores da Petrobrás fizeram cinco dias de greve parcial, as operações foram mantidas na quase totalidade. Os empregados da estatal desfrutam de benefícios inimagináveis para a quase totalidade dos trabalhadores brasileiros, como planos generosos de assistência médica e de aposentadoria complementar pelo fundo Petros, além da distribuição de lucros por intermédio do PLR, cabendo R$ 16,5 mil a cada trabalhador. Há pouco, a Petrobrás conseguiu uma redução de tributos – diminuiu a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) – sem que se alterassem os preços ao consumidor. Ou seja, o Tesouro socorreu a estatal. Aumentos salariais generosos, como os que pretendem os trabalhadores da Petrobrás, são incomuns nas empresas privadas, sobretudo quando os resultados contábeis são declinantes e as empresas estão envolvidas em gigantescos planos de investimento.

“Expulsar os bandidos do morro é moleza. Quero ver é expulsar os do governo, do Congresso e adjacências” ANGELO ANTONIO MAGLIO / COTIA, SOBRE A CORRUPÇÃO angelo@rancholarimoveis.com.br

“Com quantas mentiras se derruba um ministro?” MARIA DO CARMO ZAFFALON LEME CARDOSO / BAURU, SOBRE CARLOS LUPI mdokrmo@hotmail.com

O

(com 7%). Como era esperado, a pesada herança das desigualdades sociais e regionais do País afetou os números do Censo Demográfico de 2010, em matéria de educação. No Sudeste e no Sul, a taxa de analfabetos com mais de 15 anos é de 5,4% e 5,1%, respectivamente. Na Região CentroOeste, ela sobe para 7,2%. No Norte, vai a 11,2%. E no Nordeste, atinge 19,1%. Alagoas é o Estado com maior porcentual de analfabetos de crianças com mais de 10 anos (22,5%), seguido de Piauí (21,1%), Paraíba (20,2%) e Maranhão (19,3%). Já nas capitais, Maceió tem a

As prioridades devem recair sobre os ensinos fundamental e médio, é o que o Censo mostra maior proporção de crianças que não sabem ler ou escrever (11,6%), seguida de Macapá (7%) e Manaus (7,1%). O Censo Demográfico de 2010 também apontou as disparidades entre as áreas urbana e rural. Nas áreas rurais, a taxa de analfabetismo entre as pessoas com mais de 15 anos é de 23%, chegando a 32,9% no Nordeste rural. Na região, há 32 cidades com mais de 25% de jovens adultos analfabetos que não são atendidos por qualquer programa oficial de alfabetização. O Censo apontou ainda outro ponto preocupante. Embora o País tenha universalizado a oferta de matrículas no ensino fundamental, as taxas de crianças e jovens que não frequentam escola ainda são significativas. Na

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Justiça manda parar Linha 5 do metrô de SP

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Modelo de licitação adotado teria causado prejuízo de R$ 327 mi aos cofres públicos, sustenta MPE ● “Má administração pública. É mais fácil parar para achar culpados do que realmente fazer o correto desde o início.” WALDIR COLETTO

● “O nome disso é politicagem, pois temos eleições em 2012 e em 2014 e tem muita gente interessada no atraso da obra!” ADAUTO GUDIN

HÁ 842 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Em vez de parar, a Justiça deveria mandar acelerar, fiscalizar os desmandos e punir os culpados. A obra é necessária.” ALDEMIR MORENO GUIMARÃES

faixa etária de 7 a 14 anos, a taxa foi de 3,1%, em 2010. Na faixa etária entre 15 e 17 anos, ela foi de 16,7%. No Sudeste, a taxa de jovens desta faixa etária fora da escola é de 15%. No Centro-Oeste, é de 16,9% e na Região Norte, de 18,7%. E, ao contrário de outras áreas em que o Nordeste registra os piores indicadores, aqui seu porcentual é de 17,2% – pouco inferior ao da Região Sul, com 18,6%. Trocando em miúdos, apesar dos investimentos na expansão da rede pública de ensino fundamental, o País continua sem conseguir manter parte das crianças e adolescentes nas salas de aula. Os números do Censo revelam que o ensino fundamental vai mal e mostram que os programas de redução do analfabetismo adulto e funcional estão longe de dar os resultados esperados. Em outras palavras, o que o Censo Demográfico de 2010 mostra é que as prioridades da política educacional devem recair, basicamente, na melhoria de qualidade do ensino fundamental e do ensino médio. Na década anterior, porém, o governo atirou para todos os lados – desperdiçando tempo e dinheiro, por exemplo, com a expansão da rede de universidades federais, programas de cotas sociais e demagógicos projetos de democratização na gestão das instituições de ensino superior. Se tivesse concentrado sua atenção nos ensinos básico e médio, a esta altura o Censo do IBGE não estaria mostrando que a educação brasileira continua abaixo dos padrões exigidos por uma economia dinâmica e competitiva.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 21 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

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Plinio Villares Musetti

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Notas & Informações

A avaliação do ensino superior Os números do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de 2010 e do Índice Geral de Cursos (IGC), recém-divulgados pelo Ministério da Educação, não trazem maiores surpresas. Em síntese, revelam que as mais conceituadas instituições públicas, confessionais e privadas mantiveram seus padrões de qualidade e que as faculdades e universidades com pior desempenho são estabelecimentos particulares que cobram mensalidades baratas e não se preocupam com a qualidade de seus cursos. O Enade é uma prova escrita aplicada anualmente a alunos ingressantes e concluintes do ensino superior. Já o IGC leva em conta, além dos resultados do Enade, a avaliação do corpo docente, das instala-

ções físicas e do projeto pedagógico de cada instituição. O MEC também divulgou o Conceito Preliminar de Cursos (CPC), que é a nota conferida a cada curso oferecido. A avaliação do ensino superior combina assim três notas – a do desempenho dos estudantes, a do desempenho dos cursos e a do desempenho das instituições. No IGC, só 27 universidades – o equivalente a 1,47% das instituições avaliadas – conseguiram tirar a nota máxima. É um grupo seleto, do qual fazem parte as Universidades Federais do Rio de Janeiro (UFRJ), de Minas Gerais (UFMG), do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de São Paulo (Unifesp), além do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), do Instituto Militar de Engenharia, da Fundação Getúlio Vargas e da Unicamp. Esta instituição, que participou pela primeira vez das avaliações do

MEC, foi a primeira classificada no Enade. O desempenho é atribuído à contratação de professores com doutorado no País e no exterior, à seleção dos alunos por vestibulares que privilegiam o mérito dos candidatos e aos investimentos na infraestrutura de ensino e pesquisa. Alegando que o modelo de avaliação do MEC não é capaz de distinguir o aluno que tem um desempenho insatisfatório e o estudante que boicota a prova por razões políticas, entregando-a em branco, a USP não se submete às avaliações. Das 1.826 instituições classificadas por critério de qualidade no IGC, 683 receberam as notas 1 e 2 – as mais baixas numa escala que vai até 5. E, dos 2.988 cursos avaliados classificados pelo CPC, 694 – o equivalente a 23,2% do total – foram reprovados. No CPC, foram avaliadas 14 áreas de conhecimento. Dos cursos de enfermagem e odontologia,

só quatro tiraram a nota máxima em cada área. Em farmácia, foram só dois cursos e em agronomia, dez. Na área de medicina, nenhum curso obteve a nota máxima. As universidades públicas mais conceituadas obtiveram o melhor desempenho nas mais variadas áreas do conhecimento. Já as instituições privadas mais bem classificadas se destacaram, basicamente, nas áreas de economia, administração e negócios. Das instituições de ensino superior que o MEC considerou inadequadas, 214 são particulares e 12 são municipais. Na avaliação de 2010, 226 faculdades e centros universitários foram reprovados pelo quarto ano consecutivo. Por isso, o governo anunciou que promoverá auditoria em 70 delas, podendo descredenciá-las caso voltem a ser reprovadas, e fiscalizar as demais com maior rigor. Ao anunciar os resultados da ava-

liação do ensino superior, o MEC também anunciou que determinará o corte de 50 mil vagas nos vestibulares de cursos de saúde, administração e ciências contábeis. Trata-se de um número pequeno, considerando-se que essas áreas têm cerca de 1,1 milhão de vagas, atualmente. Além disso, quase todas as vagas a serem cortadas não estão preenchidas, por falta de candidatos. E, como lembram os especialistas do setor, apesar das ameaças de fechamento de cursos, o MEC tem sido leniente com a questão da qualidade, pois o ministro Fernando Haddad pretende usar a expansão de vagas no ensino superior como uma de suas bandeiras na campanha para a Prefeitura de São Paulo. Independentemente do modo como o MEC vai agir com relação às instituições mal avaliadas, o Enade, o IGC e o CPC são um retrato do ensino superior no País.

Petrobrás atrasa investimentos

Cristina corta subsídios

Petrobrás comprometeu-se com um Plano de Negócios de US$ 224,7 bilhões (ou R$ 389 bilhões, a dados de julho), para o período 2011/2015, mas que já está atrasado, como admitiu o diretor financeiro e de Relações com os Investidores, Almir Barbassa. Entre janeiro e setembro, a estatal investiu apenas R$ 50,8 bilhões, 10% menos do que no mesmo período de 2010 e, até o mês que vem, investirá no máximo R$ 76,4 bilhões, valor igual ao de 2010 e inferior em R$ 8 bilhões aos R$ 84,7 bilhões previstos. Não apenas os investimentos ficaram abaixo do previsto. A produção da Petrobrás também foi menor do que se esperava. A média diária, neste ano, foi de apenas 2,013 milhões de barris/ dia, menos do que a média dos 2,1 milhões de barris/dia produzidos no ano passado. É possível que, no mês que vem, a produção atinja 2,2 milhões de barris/dia, mas é pouco provável que se mantenha esse nível ao longo de todo o ano de 2012. Faltam equipamentos, por exemplo, para explorar o Campo Carioca, na área do pré-sal da Bacia de Santos, cuja produção foi adiada para 2013. Ainda neste ano deverão ser ligados 20 novos poços ao sistema de produção, mas só em 2012 deverão chegar 15 novas sondas, com capacidade para perfurações em profundidades superiores a 3 mil metros. O objetivo que a Petrobrás tem em vista é que sua produção seja acrescida de 414 mil barris por dia, até o segundo se-

desconfiança dos mercados e, especialmente, a fuga de capitais forçam o governo argentino a atenuar pelo menos por algum tempo sua política populista e a cortar subsídios ao consumo de água, eletricidade e gás. A medida, anunciada na semana passada, deverá resultar numa economia de 3,97 bilhões de pesos (US$ 925 milhões) para o Tesouro, segundo estimativa oficial. “Este é um claro sinal aos mercados”, disse o ministro do Planejamento, Julio de Vido, deixando claro o objetivo do governo. Tratase de um recado a investidores e poupadores, nacionais e estrangeiros, visivelmente nervosos diante da condução da política econômica. Passada a eleição e garantido mais um mandato para a presidente Cristina Kirchner, o governo pode arriscar-se a incomodar alguns empresários há muito beneficiados pelos favores oficiais e uma parcela dos consumidores mais abonados. Entre o começo de agosto e o fim de outubro as reservas cambiais diminuíram de US$ 52 bilhões para US$ 46,8 bilhões. Nesse período, o Banco Central interveio no mercado para conter a corrida aos dólares e o forte movimento de saída de capitais. No fim do mês passado, o Ministério da Economia apertou os controles sobre as operações cambiais, obrigando os compradores de moeda estrangeira a pedir autorização à Receita. O novo aperto foi anunciado cerca de uma semana depois da reeleição da presidente,

A

em 2011, um total de 65 profissionais aprovados. Entre os 677 inscritos de todas as nacionalidades, 140 eram formados em Cuba. Desses, apenas 3 médicos passaram no exame. 2) O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, não assinou acordo prevendo a contratação no SUS de médicos formados em Cuba. Tampouco o ministério recebeu solicitação para investir recursos para ajuda de custo no sentido de que médicos graduados em Cuba estagiem no SUS. 3) As universidades brasileiras têm autonomia para firmar parcerias com universidades estrangeiras, sem intermédio do governo. O Ministério da Saúde considera positivo esse tipo de iniciativa e apoia institucionalmente acordos entre universidades brasileiras e estrangeiras com o intuito de afinar as grades curriculares e garantir que mais médicos formados no exterior tenham preparo para atuar no SUS. MARIA DE FÁTIMA GOMES DE LI-

mestre de 2012. A empresa disporá, então, de 38 sondas com capacidade para perfurar em águas profundas. O início da produção de gás no Campo de Tambaú está previsto para o próximo trimestre, e até o terceiro trimestre de 2012 entrarão em produção o piloto de Baleia Azul, no pré-sal, e o Campo de Tiro Sidon, com capacidades, respectivamente, de 100 mil e de 80 mil barris/dia. No último trimestre do ano que vem começarão a operar, se as previsões estiverem corretas, os Campos de Roncador, com capacidade de 180 mil barris/dia, e o piloto de Guará, no

A produção de petróleo da Petrobrás, até agora, foi inferior em relação à do ano passado pré-sal, com capacidade de 120 mil barris/dia. Em 2011, os resultados foram afetados por interrupções frequentes – nem sempre previstas – da produção, que reduziram a extração em 44 mil barris/ dia. No Campo de Marlin, cuja produção já entrou em declínio, mas que continua sendo um dos mais importantes da empresa, houve queda de 79 mil barris/dia, no terceiro trimestre deste ano, devido à paralisação de três plataformas. Houve ainda problemas de escoamento do gás nos Campos de Uruguá e Lula (ex-Tupi). A queda na produção – e, naturalmente, nas vendas – contribuiu para prejudicar a geração de caixa da Petrobrás, já afetada pelo prejuízo na venda

MA, Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Saúde barbara.semerene@saude.gov.br Brasília

N. da R. – Os números do Revalida de 2011 apresentados pela Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Saúde, mostrando que dos 140 médicos formados em Cuba apenas 3 conseguiram ser aprovados no exame, só confirmam o que dissemos no editorial. O editorial discutiu a qualidade dos médicos formados não só em Cuba, mas, igualmente, em outros países – entre eles, Bolívia e Argentina. Quanto à autonomia das universidades brasileiras para firmar parcerias com universidades estrangeiras, sem intermediação do governo, isso não foi objeto do editorial. Nossa preocupação foi com relação ao enfoque mais ideológico do que técnico com que tem sido tratado o reconhecimento de diplomas obtidos no exterior – especialmente em Cuba.

de gasolina importada. A importação é crescente devido à quebra na safra de cana-de-açúcar e na produção de álcool, cuja escassez foi suprida pela gasolina para abastecer os motores flexfuel, que nos últimos sete anos passaram a equipar a maior parte dos veículos leves produzidos no Brasil. O reajuste de 10% no preço da gasolina recebido pela Petrobrás a partir de 1.º de novembro não foi uma solução completa, admitiu Barbassa. “O médio e o longo prazos é que vão nos dizer se os reajustes estão sendo ou não suficientes”. Os investimentos previstos pela Petrobrás destinam-se não apenas aos campos já descobertos e em exploração, mas à prospecção e exploração das jazidas do pré-sal que entrarão em ritmo pleno de exploração na segunda metade desta década. Na condição de operadora única do pré-sal, a Petrobrás tem a responsabilidade da exploração de reservas de até 50 bilhões de barris, ou três vezes as reservas provadas de cerca de 16 bilhões de barris equivalentes (BOE) de 2010, conforme as hipóteses citadas pela diretora da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Magda Chambriard, em seminário recente. Mas, nas explicações sobre a queda da produção, neste ano, a Petrobrás não deixa claro se o problema é a falta de equipamentos, como justificou seu diretor, as deficiências de pessoal ou a escassez de recursos. Ante a gravidade da crise global, que pode ameaçar a oferta de crédito, as explicações precisam ser mais pormenorizadas.

“Estava faltando um apelido, aqui vai: ministro carrapato. PT saudações” HOMERO DE PAULA LIMA JR. / LINS, AINDA SOBRE LUPI, QUE NÃO QUER LARGAR O OSSO... homerodepaula@uol.com.br

“Os ministros que já se foram devem estar pensando: nós que aqui estamos por vós esperamos” LUCIANO HARARY / SÃO PAULO, IDEM lharary@hotmail.com

A

no primeiro turno, com 54% dos votos. O apoio da maioria dos cidadãos ao governo não se havia traduzido em maior confiança na moeda. Mesmo depois da implantação dos controles, a saída de capitais continuou. Especialistas estimam entre US$ 21 bilhões e US$ 25 bilhões a fuga de capitais da Argentina em 2011. Manter dinheiro no exterior é uma tradição de empresas e poupadores argentinos. Em momentos de crise ou de desconfiança em relação à política econômica aumenta a remessa de dinheiro e se torna perigosa para a economia nacional.

O governo tenta exibir uma cara séria para enfrentar a desconfiança e ganhar credibilidade Desta vez a inquietação é explicável pela combinação de vários fatores – crescimento econômico mais lento, contas externas menos confortáveis, inflação ainda muito alta (embora disfarçada nas estatísticas oficiais) e uma situação fiscal preocupante. Entidades privadas ainda estimam para este ano uma expansão econômica em torno de 6,5%. Para 2012, cerca de 4,5%. Dado o cenário internacional, são números muito bons, mas bem menores que os dos anos anteriores (9,2% em 2010). O cenário mais inquietante é o da inflação. Segundo o governo, os preços ao consumidor aumentaram 9,7% nos últimos 12 meses. Economistas do setor privado estimam um aumento na faixa de 22% a 25%.

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Motos causam epidemia de mortes

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Cidades pequenas concentram as maiores taxas de mortalidade por quantidade de motos no País ● “Os políticos têm medo de perder os votos dos motoboys e dos fabricantes japoneses e não endurecem a fiscalização.” MARCELLO SGARBI

● “Não precisamos de leis. Seguimos a consciência.” SUELY USHIROBIRA

HÁ 843 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “É uma vergonha a manutenção e conservação das motos de pequena cilindrada. Não há fiscalização nem punição. São reais camicases trafegando entre carros.” CARLOS MOREIRA DE SÁ

Os dados oficiais vêm sendo maquiados há vários anos. Esse fato, bem conhecido dentro e fora do país, é um dos motivos de desconfiança dos mercados em relação à política econômica. Além disso, a formação de preços há muitos anos vem sendo afetada por um complicado sistema de controles, de intervenções no sistema de abastecimento e de subvenções. O corte de subsídios, por enquanto limitado a algumas áreas da capital, deverá resultar em aumentos entre 150% e 400% nas contas de água, eletricidade e gás, segundo estimativas divulgadas pelo jornal Clarín. Consumidores sem condições de suportar o aumento poderão ser poupados, segundo o anúncio oficial, mas, para isso, terão de pedir a isenção e de provar sua incapacidade. As medidas atingirão indústrias de processamento de gás, de produção de biocombustíveis e de agroquímicos e de refino de petróleo. Representantes do setor empresarial puseram em dúvida a economia de 3,97 bilhões de pesos, porque nenhuma fonte oficial explicou direito como se chegou a esse número. Por enquanto, o importante para o governo é certamente enviar aos mercados a mensagem de austeridade. Os mercados talvez cobrem mais, porque o sistema de subsídios é amplo e muito custoso. O governo terá problemas, também, com o impacto da nova política nos índices de inflação. Poderá insistir na maquiagem, mas terá de reconhecer oficialmente algum impacto no custo de vida.

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Vai-se o oitavo governo No último ano e meio, até o final da semana passada, a crise tinha ceifado sete governos europeus, sem distinção de cores políticas: cinco pelo voto (Reino Unido, Holanda, Irlanda, Portugal e Dinamarca) e dois, com um dia de diferença, pela renúncia forçada de seus líderes (o grego George Papandreou e o italiano Silvio Berlusconi), substituídos por tecnocratas, mais confiáveis para os mercados do que os políticos. Domingo, confirmando a teoria de que, onde a reeleição é permitida, não são as oposições que ganham, mas os governos é que perdem, foi despachado o oitavo – o do primeiro-ministro da Espanha, José Luiz Rodríguez Zapatero, no poder desde 2004. Já no começo de abril, quando dissolveu o Parlamento, antecipou as

eleições que estavam marcadas para o próximo ano e desistiu de disputar um terceiro mandato (cedendo a vez para o quase desconhecido Alfredo Pérez Rubalcaba), não havia dúvida alguma de que o Psoe, o partido socialista espanhol, estava fadado a entregar o Palácio de Moncloa ao seu rival histórico de centro-direita, o Partido Popular (PP), representado pelo insosso, porém experiente Mariano Rajoy. Em maio, as previsões de uma virada sem paralelo na política nacional desde o fim do franquismo, em 1977, haviam adquirido consistência com os resultados das disputas nas 13 das 17 autonomias, equivalentes aos nossos Estados: o PP levou a melhor em 11. Anteontem, a derrocada se consumou. A agremiação de Rajoy conquistou nada menos que 186 cadeiras das 350 em jogo na Câmara Baixa do Parlamento e 136 das 208 do Senado. No plano regional, o PP completou a goleada de maio, assumindo o controle

de todas as capitais provinciais, salvo Sevilha e Barcelona. Mas são os números absolutos que permitem entender melhor o que se passa na Espanha devastada pela recessão e o desemprego recorde no Primeiro Mundo de 22,6% (e o dobro disso na população de 15 a 24 anos). No plano nacional, o PP recebeu 10,830 milhões de votos, ou relativamente modestos 550 mil a mais do que no pleito anterior, em 2008. Já o Psoe, com 6,970 milhões de sufrágios, perdeu 4,4 milhões do total então recebido. Houve mais abstenções do que votos nos socialistas. O novo Parlamento espelhará outra mudança significativa – a fragmentação política. Para todos os efeitos práticos, a Espanha era uma democracia bipartidária: juntos, Psoe e PP detinham 83% das vagas no Parlamento. Na próxima legislatura, ocuparão cerca de 70%. O número de siglas representadas passará de 9 para 13. En-

tre estas, o avanço mais espetacular – e sintomático da enorme frustração do eleitorado socialista – foi o da até então irrelevante Esquerda Unida. Tinha dois deputados. Ganhou mais nove. O regionalismo também se fortaleceu com o êxito dos principais partidos nacionalistas bascos (12 cadeiras), em detrimento dos aliados do PP, e com o crescimento do CiU catalão (de 10 para 16). Abster-se, anular o voto, votar contra o Psoe pela esquerda ou reforçar as tendências autonomistas espanholas – tudo isso faz sentido como protesto contra um governo que assumiu prometendo levar o país para o topo da União Europeia (UE), promoveu uma insustentável “década pródiga” com dinheiro alheio, deixou inflar uma tóxica bolha imobiliária e termina perto de ser incluído entre membros da sua segunda divisão, como Grécia e Portugal, à mercê dos mercados (e da boa vontade da guar-

As exportações do agronegócio

Reservas e gastança

balança comercial do agronegócio brasileiro continua a apresentar resultados expressivos. O saldo comercial do setor nos primeiros dez meses do ano totalizou US$ 65,3 bilhões, 22,7% maior do que o registrado no período janeirooutubro de 2010. Na comparação entre os dois períodos, as importações cresceram mais (31,4%) do que as exportações (24,2%), mas o total exportado foi mais do que suficiente para assegurar o bom desempenho comercial do agronegócio, que tem sido o principal responsável pelos sucessivos superávits registrados pelo comércio exterior total do País. Os dados divulgados pela Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura não deixam dúvidas quanto ao dinamismo e à eficiência produtiva e comercial desse segmento, que tem conseguido manter e, em alguns casos, ampliar mercados no exterior, apesar das turbulências que afetam o desempenho das principais economias do planeta. Há, porém, alguns aspectos no desempenho comercial recente do agronegócio que merecem atenção maior, pois, ainda que não apontem para a iminência de problemas nas exportações, mostram mudanças importantes no mercado mundial. Em 2011, as exportações do setor até outubro alcançaram US$ 79,5 bilhões, com ganho de US$ 15,5 bilhões em relação ao resultado de igual período de 2010, de US$ 64,0 bilhões. Como apenas dois dos cinco principais gru-

ara manter reservas de US$ 350 bilhões, o governo já gasta o equivalente ao superávit primário, o dinheiro destinado ao pagamento de juros da dívida pública. Ao chamar a atenção para esse dado, economistas do banco Crédit Suisse realimentam um velho debate: vale a pena acumular reservas tão volumosas e a um custo tão alto? Críticas à política oficial já eram publicadas quando o estoque de moeda estrangeira ainda estava em torno de US$ 200 bilhões. O governo respondia alegando razões de segurança e comparando a posição brasileira com a da China e outros emergentes, detentores de volumes muito maiores de reservas. A questão é mais complicada do que pode parecer inicialmente. De fato, gasta-se muito para manter um grande volume de ativos monetários aceitos na maior parte dos mercados, como dólares, euros e ouro. Mas o custo de não dispor desses ativos pode ser muito maior, num momento de crise externa. Além disso, é preciso discutir por que o custo dessa política é tão alto para o contribuinte brasileiro. Para começar, ninguém pode dizer com segurança qual o volume ideal de reservas. Para responder a essa questão, especialistas levam em conta vários números – meses de importação, dívida externa de curto prazo e a proporção entre a moeda estrangeira e os meios de pagamentos. Não há resposta segura. Num quadro de muita insegurança, o país precisará de reservas não só para pagar as importações e o

A

do, houve exageros por parte do aparato da segurança nacional, também os houve da parte dos poucos que queriam implantar o regime comunista no País. Não creio que se deva mexer em feridas já secas pelo tempo, mas se é para condenar quem quer que seja, os defensores dos direitos humanos deviam exigir a condenação dos que assassinaram inocentes sem lhes ter dado o direito de defesa – assassinatos covardes na calada da noite, em nome de uma revolução utópica, tentada por uma minoria inexpressiva. É triste ver o ódio estampado nos poucos rostos hoje com muito poder. Nunca entenderam que o sonho deles não era o sonho dos brasileiros, nem que não tinham força para enfrentar o poder. Para uns, os ex-guerrilheiros, a esperança de ver os militares de então condenados. Para outros, os dos direitos humanos, a possibilidade de regredir aos primórdios de nossa História e provar que Pedro Álva-

pos de produtos exportados pelo agronegócio registraram aumento do volume exportado – e de menos de 5% em ambos os casos –, o ganho se deveu basicamente à alta dos preços desses produtos nos últimos meses. “A expansão de 24,2% nas vendas totais ocorreu, fundamentalmente, em função da elevação do preço médio de exportação, que subiu em todos os principais setores exportadores do agronegócio”, reconheceu o Ministério da Agricultura, na nota em que analisa os resultados da balança comercial do setor em outubro e nos dez primeiros meses do ano.

É muito importante contar com a demanda da China, mas é preciso saber diversificar Agora, os preços devem cair. As cotações registraram, em fevereiro, sua maior alta dos últimos dois anos e meio, o que estimulou os produtores a ampliar a área cultivada. O resultado, como apontou há dias o secretário do Grupo Intergovernamental para Grãos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Abdolreza Abbassian, foi uma produção bem maior do que a prevista no início do ano. Alguns efeitos do aumento da produção já são nítidos. Em outubro, o Índice de Preços de Alimentos da FAO atingiu seu ponto mais baixo dos últimos meses e, se confirmada a estimativa da organização de que a produção mundial de cereais em 2011 alcançará o recorde de 2,32 bi-

res Cabral maltratou os índios e deve ser condenado por isso... JOÃO MENON joaomenon42@gmail.com São Paulo

Comemoração

Daqui a algumas décadas as Farc, o ETA e outras organizações terroristas possivelmente estarão também comemorando a aprovação de uma Comissão da Verdade em seus países. PAULO C. ARRUDA CASTANHO pccastanho@hotmail.com São Paulo

lhões de toneladas, continuará a cair. Depois de atingir seu valor mais alto em junho, o preço do milho já caiu 20%, e ainda pode cair mais, antes de encontrar seu nível de equilíbrio. A soja está sendo negociada a um preço 19% menor do que a cotação máxima alcançada neste ano. O complexo soja lidera as exportações do agronegócio brasileiro. Quando se examina o destino dos produtos exportados pelo setor fica evidente o enorme papel que a China já assumiu, e que continua a crescer. Quase um quinto de tudo o que o setor exporta (exatamente 18,3%, segundo o Ministério da Agricultura) vai para a China. No ano passado, as vendas para a China respondiam por 16,4% das exportações totais do agronegócio. Nos dez primeiros meses deste ano, os chineses já importaram do Brasil US$ 14,6 bilhões de produtos agroindustriais. É essencial para a expansão do agronegócio brasileiro a conquista de fatias crescentes do imenso mercado chinês. A China é o maior importador mundial de soja e algodão e grande importador de açúcar. Por razões de política interna e pela escassez cada vez mais aguda de área para o cultivo de grãos – por causa da intensa urbanização do país e da necessidade de produção local de outros produtos vegetais para consumo interno –, a demanda chinesa por produtos importados continuará alta. E o Brasil pode atender a boa parte dessa demanda. Mas, para não se tornar inteiramente dependente do mercado chinês, precisa prestar mais atenção a outros mercados.

“Jura apurar, revelar e dizer a verdade, apenas a verdade e nada mais que a verdade sobre as violações dos direitos humanos no País?” J. S. DECOL / SÃO PAULO, SOBRE A COMISSÃO DA VERDADE decoljs@globo.com

“Já começou a grande tragédia ecológica do pré-sal?” LUIGI VERCESI / BOTUCATU, SOBRE O VAZAMENTO DE PETRÓLEO NA BACIA DE CAMPOS luver44@terra.com.br

P

diã do bloco, a chanceler alemã Angela Merkel). Resta saber o que poderá fazer o governo de Rajoy mais do que o do socialista Zapatero para segurar o déficit público e a dívida soberana espanhola. No ano passado, o governo socialista diminuiu os salários do funcionalismo, cortou gastos sociais, congelou aposentadorias e aumentou impostos. Na campanha, Rajoy guardou-se de dizer o que faria concretamente para decepar algo em torno de 20 bilhões de euros do orçamento nacional, como a Europa exige. Vitorioso, disse platitudes: “Não há milagres” nos “tempos difíceis pela frente”. Mas não é preciso ser um indignado da Puerta del Sol, em Madri, para temer que ele irá ministrar remédios mais amargos do que os de Zapatero – e que, para a imensa maioria dos 46 milhões de espanhóis, a vida vai piorar antes de começar a melhorar, não se sabe quando.

serviço da dívida, mas também para financiar as exportações e para atender à demanda especulativa de moeda estrangeira. O Brasil e outros países latino-americanos já enfrentaram essa experiência várias vezes. Em 2008, quando a crise se espalhou pelo mundo rico e os financiamentos secaram, o Brasil estava preparado para a emergência. Em 15 de setembro, quando quebrou o banco Lehmann Brothers, o País dispunha de US$ 207,6 bilhões. O Banco Central (BC) pôs no mercado o necessário para enfrentar a emergência. Em um mês foram consumidos US$ 4,5 bilhões, mas no fim do

O problema não está no volume de ativos cambiais, mas nos juros internos muito altos ano o total havia voltado a US$ 206,8 bilhões. Também a especulação contra o real foi detida em pouco tempo e sem muita dificuldade. A experiência da crise de 2008 é um excelente argumento a favor do governo. Se o País estivesse menos municiado para enfrentar os problemas, o estrago teria sido muito maior, tanto pela escassez de financiamentos quanto pela especulação cambial. As empresas teriam sofrido um abalo muito mais forte e, além disso, a inflação teria recrudescido. O Brasil tem mais que o volume de reservas indicado como desejável pelos critérios habituais de medida, como cobertura de importações e serviço da dívida de curto prazo. Mas esses

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Ibama multa Chevron em R$ 50 milhões

1.015

Valor é o máximo previsto para as multas aplicadas pelo instituto; vazamento de óleo começou no dia 8 ● “Multa não serve para nada. As pessoas têm de entrar com ações na Justiça. O Estado do Rio tem de mover uma ação.” PETER BIONDI

● “Por maiores que sejam as multas, essa dinheirama toda vai parar no caixa da União e desaparecer no mar de falcatruas.”

Vantagem

ELIPHAS LEVI

Muito melhor que uma Comissão da Verdade seria um Ministério de verdade. A. FERNANDES standyball@hotmail.com São Paulo

HÁ 844 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Quanto tempo vai levar para recuperar a fauna? Se essa empresa sabia do risco, tem de arcar com a consequência.” MARIO HIIDETO NAKAMOTO

critérios pouco valem diante de grandes ondas de instabilidade. Além disso, o estoque brasileiro de reservas é relativamente modesto, quando se leva em conta o tamanho do Produto Interno Bruto (PIB). A relação reservas/ PIB equivalia a 13,8% do PIB no fim do ano passado, segundo o relatório do Crédit Suisse. A média latino-americana era de 15,1%. A média da Rússia e das economias emergentes da Ásia era muito maior, 56,4%. O custo de manutenção é um problema real, mas é explicável não pelo volume de reservas, e, sim, pelo nível de juros do Brasil. Quando compra dólares no mercado, o BC emite reais. O efeito inflacionário da emissão é neutralizado com a venda de títulos do Tesouro. Para encontrar tomadores para esses papéis o governo paga juros bem maiores que a remuneração obtida com a aplicação dos dólares em títulos no exterior (só se pode aplicar esse dinheiro em ativos com a máxima segurança e, portanto, com rendimento baixo). O problema seria muito menor se os juros brasileiros fossem mais próximos daqueles em vigor em outros países. O BC começou a baixar os juros e novos cortes poderão ocorrer nos próximos meses. Mas essa política tem limites e seria enorme irresponsabilidade conduzi-la de forma voluntarista. O principal fator determinante do custo do crédito, no Brasil, ainda é o desajuste das contas públicas, decorrente do excesso de gastos. O problema não está no volume de dólares, mas na gastança federal. Criticar a política de reservas é mirar o alvo errado.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 23 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Crise nos EUA, risco global Más notícias para todo o mundo partem mais uma vez de Washington. A recuperação da maior economia do mundo, a americana, deverá ser mais lenta e acidentada do que seria se os políticos houvessem chegado a um acordo sobre um plano de ajuste para os próximos dez anos. A preocupação com as eleições de 2012 prevaleceu, mais uma vez, e a oposição republicana decidiu ser mais importante criar problemas para o presidente Barack Obama do que apoiar a criação de empregos. Outra novidade ruim foi divulgada na manhã dessa terçafeira: o Produto Interno Bruto (PIB), a soma dos bens finais e serviços gerados pela economia num dado período, cresceu no terceiro trimestre em ritmo equivalente a 2% ao ano. Números divulgados ante-

riormente haviam indicado uma expansão de 2,5%. Na revisão, o aumento dos gastos dos consumidores passou de 2,4%, estimados inicialmente, para 2,3%. O endividamento das famílias, ainda elevado, e o desemprego acima de 9% continuam desestimulando o consumo. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) mantém os juros básicos entre zero e 0,25% e tem procurado estimular a concessão de crédito pelos bancos, mas sem resultado significativo. Nem os consumidores estão em busca de mais empréstimos nem as empresas estão animadas para investir, diante da perspectiva de baixo crescimento dos negócios. Os americanos devem cortar US$ 2,2 trilhões de seu déficit público em dez anos, para manter algum controle sobre uma dívida de cerca de US$ 15 trilhões, aproximadamente igual ao valor de toda a produção de um

ano. Um corte de US$ 1,2 trilhão deveria ser decidido até esta quarta-feira por um supercomitê bipartidário, mas o fracasso da negociação foi reconhecido oficialmente dois dias antes. Para tornar o ajuste menos doloroso, o Executivo propôs a redução de benefícios fiscais concedidos a contribuintes muito ricos. Vários deles, a começar pelo multibilionário Warren Buffett, apoiaram publicamente a proposta de Obama. Buffett declarou pagar muito menos impostos, proporcionalmente, que suas secretárias e defendeu uma tributação mais equitativa. A iniciativa desses bilionários fracassou, porque não houve acordo entre os membros do supercomitê. Os democratas defenderam a antecipação do fim daqueles benefícios fiscais, prevista para dezembro de 2012. A oposição rejeitou, mas, em contrapartida, sua proposta de cortes de gastos combinados com uma

O vazamento de óleo

D

epois do vazamento de milhares de litros de óleo no Campo de Frade, na Bacia de Campos, de responsabilidade da Chevron, torna-se imperativo dispor de um Plano de Contingência para casos de acidentes desse tipo, reclamado há 11 anos por ambientalistas. E para isso o governo deve, em primeiro lugar, exigir absoluta transparência das atividades das companhias que extraem petróleo na área, sejam concessionárias, seja a própria Petrobrás. Detectado o vazamento no dia 8 deste mês, a 120 km da costa do Estado do Rio de Janeiro, a Chevron demorou para se pronunciar e, quando o fez, atribuiu a mancha de óleo no mar a uma falha geológica. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) e o Ibama tampouco mostraram apego pela transparência, o que levou a protestos de ambientalistas. No início, como disse Leandra Gonçalves, coordenadora da campanha de oceanos do Greenpeace, a única fonte de informação era a própria companhia. Somente após uma lenta investigação, a Agência NacionaldoPetróleoinformou terhavido um “furo” na sapata do poço, que levou a sonda a atravessarumafalhageológica. Opresidente da empresa no Brasil, George Buck, admitiu então que seus técnicos subestimaram a pressão do reservatório, devido a erro de cálculo na injeção de lama pesada para impediroretornodoóleopelatubulação até a superfície do mar.

a respeito da instalação da Comissão da Verdade, considero adequado lembrar a seus signatários, e a tanta gente que ignora situações, ou faz de conta que as ignora, que integrantes de grupos revolucionários foram caçados pela polícia de repressão política naqueles anos e a grande maioria deles foi presa, torturada, processada, condenada e cumpriu pena. Isso quando não foram assassinados. Ou seja, do ponto de vista legal, inclusive da legalidade em vigor durante a ditadura militar, esses militantes cumpriram suas penas. Já os torturadores... VICENTE ALESSI FILHO valessi@valessi.com.br São Paulo

MINISTÉRIO PÚBLICO Aumento para vereadores

Em relação à matéria Vereadores terão dois aumentos até 2013 (18/11), a Procuradoria-Geral de

Agora, passado um bom tempo, aumentaram as suspeitas da ANP. Segundo os especialistas da agência, o acidente pode ter sido devido ao emprego pela Chevron de uma sonda com capacidade para perfurar a 7.600 metros, chegando à camada do pré-sal. Nota-se que o petróleo no Campo de Frade é encontradoamenosdametadedessaprofundidade, não havendo necessidade, portanto, de ir além. A empresa nega essa irregularidade, afirmando que a perfuração abaixo do subsolo foi de apenas 2.279metros. Asuspeitafoisuficiente para a abertura de um inquérito pela Delegacia de Meio

Há anos extraindo petróleo no mar, o País não tem um plano para atender a emergências Ambiente e do Patrimônio Histórico da Polícia Federal, que julga ter havido crime ambiental e trabalha também com a hipótese de a Chevron ter utilizado uma sonda com capacidade para perfurar além do limite. Segundo Nilo Azambuja, expresidenteda Associação Brasileira de Geólogos do Petróleo, asconjecturas surgidas emrelação às causas do vazamento não podem ser consideradas definitivas. Mas, qualquer que seja a conclusão, é estranho que não existanenhum tipo defiscalização da ANP para evitar que as empresas exploradoras ultrapassem o limite de profundidade da perfuração determinado nos seus contratos, em face da regulamentação em vigor para o pré-sal. Só agora, depois do

Justiça esclarece que não auxiliou a Câmara Municipal de São Paulo na elaboração de nenhum projeto porque é vedada ao Ministério Público a consultoria ou assessoria jurídica a órgãos públicos. Informa, ademais, que mantém e manterá sua posição a respeito do assunto, constante de ação direta de inconstitucionalidade em trâmite no Tribunal de Justiça de São Paulo, inclusive sobre os temas correlatos, na linha do entendimento dos tribunais. FERNANDO GRELLA VIEIRA, procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo josepacola@mp.sp.gov.br São Paulo

N. da R. – Em nenhum momento a reportagem diz que foi o procurador-geral quem ajudou a elaborar o projeto. Cita apenas o presidente da Câmara, José Police Neto (PSD), que diz ter costurado o projeto do novo aumento com o Ministério Público Estadual.

reforma tributária foi recusada pelos democratas. No balanço geral, a resistência republicana tem sido o principal obstáculo à execução de um ajuste menos penoso e socialmente mais equitativo. Antes do fracasso do supercomitê, a oposição já havia derrubado um plano de estímulos de US$ 447 bilhões apresentado ao Congresso pelo presidente Barack Obama. O governo, apesar da forte resistência republicana, mantém certo espaço de ação. Em agosto, conseguiu a elevação do teto da dívida e não precisará rediscutir esse problema antes da eleição do próximo ano. Também já foi definido um corte de US$ 1 trilhão do déficit público. Além disso, o acordo de agosto criou uma alternativa para o caso de fracasso do supercomitê. A partir de 2013 será acionado um corte automático de US$ 1,2 trilhão, dividido igualmente entre o orçamento da saúde e o da defesa.

Oposicionistas já revelaram a intenção de votar uma lei para eliminar esse compromisso. O presidente Obama prometeu vetar qualquer projeto desse tipo. O impasse nos Estados Unidos e a prolongada crise das dívidas soberanas na Europa tornarão muito difícil uma retomada do crescimento no mundo rico, no próximo ano. Na Europa, também as economias até agora em melhores condições, como as da Alemanha e da França, têm perdido impulso e dão sinais de estagnação. A troca de governos na Itália e na Espanha talvez facilite o ajuste e apresse a recuperação da atividade nesses dois países, mas também isso não é garantido. As economias emergentes têm sido os principais motores da atividade global, mas também deverão crescer menos. Se isso se confirmar, países como o Brasil terão mais dificuldade para limitar os efeitos da crise.

De volta à Praça Tahrir óleo derramado, a Agência acusa a Chevron de não ter utilizado um equipamento importantepara evitar vazamento,ameaçando a companhia de deixá-la fora da exploração do pré-sal. Já o Ibama, que concedeu licença ambiental para perfuração no local, não previu o risco de liberação de óleo pelas falhas geológicas. Felizmente, o vazamento parece estar sob controle, a mancha diminuiu e avança em direçãoaoalto mar,evitandoumdesastre que poderia poluir seriamente as praias e mangues da costa, como ocorreu no Golfo do México em abril de 2010. Mas nem por isso deixa de haverprejuízosambientaisqueimpedem a pesca e afetam a biodiversidade da área. O Ibama impôs à companhia uma multa de R$ 50 milhões e outras multas deR$ 100 milhões podem resultar de autuações pela ANP, para servir de exemplo às companhias que exploram petróleo off shore. Também o governo do Estado do Rio estuda reivindicar reparação pelosdanos àvida marinha. Estima-se que o custo total da punição à Chevron chegue a R$ 210 milhões. Multas, por mais elevadas que sejam, nãorevertemosefeitos ambientais. É necessário um verdadeiro plano de contingência, com medidas de prevenção de acidentessendorevisadasfrequentemente. As autoridades brasileiras parecem não ter compreendido até hoje que o domínio da tecnologia de exploração de petróleo off shore, em grandes profundidades, é inseparável da capacidade de prevenir e enfrentar acidentes.

“O governo não respeita o povo brasileiro. Manter um ministro mentiroso e totalmente desprestigiado é um escárnio” FABIO FIGUEIREDO / SÃO PAULO, SOBRE CARLOS LUPI fafig3@terra.com.br

“Faltam balas de grosso calibre ou faltam nomes de fina estirpe?” VICTOR GERMANO PEREIRA / SÃO PAULO, IDEM victorgermano@uol.com.br

O

s protestos no Egito contra o açambarcamento do poder pela cúpula militar desde a derrubada, há nove meses, do ditador Hosni Mubarak, ele próprio egresso da Força Aérea, entraram ontem no quarto dia – deixando dúvidas sobre a disposição das Forças Armadas de cumprir o calendário eleitoral que prevê, para a próxima segundafeira, a primeira das três votações para a formação do Parlamento nacional. O gabinete civil renunciou. O novo ciclo de manifestações, reprimido à bala, com uma trintena de mortos e mais de 1.500 feridos graves já nos três dias iniciais, é a resposta do movimento pró-democracia – que no começo do ano fez da Praça Tahrir, no centro do Cairo, um endereço conhecido no mundo inteiro – à insistência da elite fardada, sob o comando do marechal de campo Mohamed Hussein Tantawi, em tutelar o futuro sistema político do país. De acordo com o combinado entre representantes civis e o Conselho Supremo das Forças Armadas depois da destituição de Mubarak, um governo civil deveria ser empossado em seis meses para conduzir a transição. O ciclo eleitoral a terminar em 10 de janeiro, aberto a tantos quantos quisessem disputar as preferências dos 50 milhões de egípcios aptos a votar, deveria gerar um Legislativo de 498 cadeiras. A sua função mais importante seria escolher a comissão de 100 membros incumbida de redigir

uma nova Constituição. Já sob a égide da Carta democrática, os egípcios voltariam às urnas o quanto antes para eleger o presidente do país. Só que os militares deram o dito pelo não dito. Subordinaram a si o governo provisório. Mantiveram a agenda eleitoral, mas se concederam a prerrogativa de nomear 80 dos 100 constituintes, esvaziando clamorosamente os poderes do Parlamento, e deixaram em aberto a data da eleição presidencial. O pior de tudo para as muitas centenas de milhares de jovens que removeram em 18 dias uma ditadura de 30 anos foi a decisão dos militares de se colocar aci-

A redemocratização do Egito esbarra na perigosa oposição do grupo militar no poder ma das leis. Nem a Constituição nem a legislação que a ela se seguir poderão interferir na esfera militar – incluindo, entre outras coisas, o orçamento das Três Armas, as atividades econômicas sob o seu controle e a política de defesa nacional. As Forças Armadas egípcias estão no poder desde que depuseram o carcomido rei Faruk, em 1952, para livrar a nação da herança do colonialismo britânico. Ao longo desses quase 60 anos, nenhum aspecto da vida nacional do mais populoso país árabe ficou à margem de sua influência. Friamente, faz sentido que desejem preservar a sua hegemonia nas instituições de Estado, com os privilégios e as oportunidades de corrupção a isso associados. Não é tudo, porém.

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Ações contra juízes prescrevem no País

1.547

Segundo a Corregedoria Nacional de Justiça, há casos abertos desde 2009; prazo de prescrição é curto ● “As relações entre juízes e magistrados é corporativista, são colegas de carreira. Como vão julgar uns aos outros?” MAGDA DE ABREU

● “Que tal um projeto de lei de iniciativa popular propondo mudanças na indicação de juízes do Supremo pelo presidente?” RANOLFO MATOS

HÁ 845 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Como podemos dizer que temos uma democracia se o Judiciário é imparcial e conivente com a impunidade?” MARCO AURELIO REHDER

Tiveram sensibilidade política para não reprimir (salvo numa ocasião) o clamor pelo fim da era Mubarak. Mas nas academias militares – da antiga URSS às dos Estados Unidos e Reino Unido – não lhes ensinaram a conviver com a algaravia inerente à política nas democracias nascentes. Fazendo lembrar o Iraque pós-Saddam, por exemplo, mais de 70 legendas e coligações lançaram milhares de candidatos ao Parlamento do Cairo. A favorita delas assombra a junta militar. Trata-se do Partido Justiça e Liberdade (PJL), codinome eleitoral da Irmandade Muçulmana, banida no antigo regime. Como os seus camaradas de décadas atrás na Argélia, a oficialidade secular egípcia tem horror à ideia de ver os fundamentalistas no governo, ainda que se declarem tolerantes e pacíficos. Teme que se repita no país a vitória do partido conservador islâmico Nahda nas recentes eleições tunisinas. Por via das dúvidas, a Irmandade vem agindo como bombeiro no novo ciclo de conflitos de rua, a ponto de um dos dirigentes do PJL, o moderado Mohamed Beltagy, ter sido escorraçado da Praça Tahrir pelos jovens irados – e sem comando – que agora pregam a derrubada do marechal Tantawi. No cenário político-religioso egípcio, a Irmandade parece uma organização agnóstica perto do Partido Nour, formado pelos zelotes da seita salafista. Para se ter ideia, seus cartazes mostram apenas os candidatos homens. Mas eles não constituem uma ameaça real e presente à democratização egípcia. Os militares, sim.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 24 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Notas e Informações A3

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estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

O PAC continua devagar O governo continua derrapando na execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), agora oficialmente na segunda fase, embora a primeira tenha ficado incompleta. De janeiro a setembro deste ano foram desembolsados R$ 143,6 bilhões em projetos conduzidos pela administração direta, por estatais e pelo setor privado, segundo balanço apresentado pela ministra do Planejamento, Míriam Belchior. Esse valor corresponde a 15% dos R$ 955 bilhões previstos para o PAC 2 no período entre 2011 e 2014. Mas até essa modesta porcentagem fica menos impressionante quando se examinam alguns detalhes. Por exemplo: R$ 55,2 bilhões, 38,4% do total gasto, foram destinados a financiamentos habitacionais para pessoa fí-

sica. Não envolveram, portanto, nenhum esforço especial de execução de projetos. A ministra alegou dois fatores para justificar a execução lenta do programa. Este é o primeiro ano do mandato e, em segundo lugar, metade das obras está em licitação ou em regulamentação. O argumento seria mais convincente se outros dados não mostrassem evidentes problemas administrativos. De 42 licitações iniciadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), 14 foram revogadas e 27 suspensas. Sobrou, portanto, apenas 1 em andamento. Esses números foram fornecidos pela própria ministra e comprovam mais uma vez as deficiências do governo na elaboração e na execução de projetos. Mas a ministra ainda se esforçou para tornar o quadro menos negativo. Segundo a avaliação apresentada no relatório, 72% das

ações do PAC estavam em ritmo “adequado” de execução até setembro. A lista inclui projetos nitidamente emperrados, como trechos de estradas em Minas Gerais ainda não leiloados porque seus estudos financeiros não foram aprovados pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A parte do programa custeada diretamente pelo Tesouro – o chamado PAC orçamentário – continua muito lenta. Dos R$ 36,4 bilhões autorizados para este ano, foram pagos apenas R$ 5,5 bilhões. Mas as despesas contabilizadas até 11 de novembro chegaram a R$ 21,6 bilhões. A maior parte dos gastos correspondeu a restos a pagar, isto é, a verbas empenhadas em exercícios anteriores e não desembolsadas. A presidente Dilma Rousseff continua, portanto, muito mais empenhada em pagar compromissos deixados por seu antecessor do que em executar o programa de seu governo.

Defesa sucateada

O

mais recente documento dos comandos do Exército, Marinha e Aeronáutica sobre o estado dos equipamentos militares comprova que continua em curso o processo de sucateamento das Forças Armadas, iniciado há muitos anos. As consequências podem ser graves. O treinamento e preparo do pessoal acaba espelhando as condições precárias do equipamento e dos sistemas de armas e o resultado óbvio disso é a redução da capacidade de defesa do País, que também fica sem condições de sustentar ações de política externa que exijam qualquer tipo de apoio militar. A reportagem de Tânia Monteiro publicada pelo Estado (22/11) mostra que o problema não se deve apenas à falta de recursos. Em termos absolutos – excluídos os gastos com a dívida pública e a Previdência –, o orçamento militar é menor, apenas, que o do Ministério da Saúde. Mas a liberação desses recursos não é regular e contínua, o que prejudica enormemente qualquer planejamento militar, que depende de continuidade. Os contingenciamentos de verbas comprometem os planos de reaparelhamento das Forças Armadas. Éverdade que as dotações orçamentárias para as três Forças cresceram nos últimos anos. De R$ 5 bilhões para investimentos e custeio em 2007, os recursos aumentaram para R$ 7,77 bilhões em 2008, R$ 10,05 bilhões em 2009, R$ 12 bilhões em 2010, R$ 12,9 bilhões (valor estimado) em 2011 e R$ 14,4 bi-

mão. O imperador encontrou-se com vários intelectuais vinculados às ciências e às artes, como o gramático Ibrahim al-Yazigi, que lhe ofereceu livros em árabe, com dedicatória – os quais se encontram no Museu Imperial de Petrópolis –, e o professor Cornelius Van Dyck, da Universidade Americana de Beirute, de quem assistiu a uma aula, ao lado de Nami Jafet, um dos pioneiros da emigração libanesa para o Brasil. Depois de visitar o patriarca da Igreja Maronita, Boulos Mass’ad, em Bkerke, dirigiu-se às cidades de Chtaura e Zahle. No dia seguinte, visitou os templos de Baco, Júpiter e Vênus em Baalbek. Durante a viagem muito incentivou o fluxo emigratório para o Brasil. Desde então a história da comunidade líbano-brasileira está entrelaçada com o desenvolvimento do País nos últimos 130 anos. Não faltam exemplos do elo afetivo entre os dois países. Em 1808, quando dom João VI chegou ao Rio com a

lhões(valorqueconstadoprojetodeleiorçamentáriaemexame no Congresso) em 2012. A reportagem não deixa dúvidas, porém, de que, mesmo com maisdinheiro,asituaçãodasForçasArmadascontinuapiorando, ecomrapidez.Emmarço,aMarinha–que,comodizemasautoridades, tem a missão de proteger a área do pré-sal – mantinha em operação apenas 2 de seus 23 jatosA-4;hoje,nenhumadessasaeronaves tem condições de decolar do porta-aviões São Paulo. Das 100 embarcações militares, entre corvetas, fragatas e patrulhas,apenas 53 estãonavegando. Dos5submarinos,só2estãoope-

Verbas intermitentes e muito pessoal inativo tornam precárias as condições da defesa rando. Na Aeronáutica, dos 219 caças, apenas 72 (33%) estão em operação; dos 81 helicópteros, 22(27%);dos174aviõesdetransporte, 67 (39%); dos 177 aviões de instrução e treinamento, 49 (28%). Se considerada a idade média da frota, a situação é ainda pior. Quase 90% dos aviões da FAB têm mais de 15 anos de uso,quando,paraumaforçaoperacional com um mínimo de eficiência, o recomendável é que no máximo metade das aeronavestenhamaisde10anosdeuso. Quanto às baterias antiaéreas, as 9 existentes estão fora de uso. No Exército, a situação não é melhor. Dos 1.610 veículos blindados, apenas 982 (61%) estão disponíveis; dos 78 helicópteros,39(50%)estãoemoperação;

família real, o libanês Elias Antonio Lopes ofereceu-lhe sua casa como residência, mais tarde conhecida como Paço de São Cristóvão – onde nasceu dom Pedro II – e, hoje, como Quinta da Boa Vista, onde se encontra o Museu Nacional. Essa história consta nos arquivos da Biblioteca Nacional de Portugal. Calcula-se que existam atualmente cerca de 8 milhões de libaneses e descendentes no Brasil, o maior número de imigrantes do Líbano no mundo. Sua presença é notável nos diversos setores de atividade: são médicos, artistas, esportistas, intelectuais, empresários, políticos... Todos participando do crescimento do País, lado a lado com brasileiros natos e imigrantes de outras partes do mundo, e assim contribuindo para a formação e o engrandecimento da Nação brasileira. LODY BRAIS, presidente da Associação Cultural Brasil-Líbano brasil.líbano@gmail.com São Paulo

O único dado positivo, em relação ao PAC orçamentário, foi o aumento dos desembolsos efetivos: 222% em relação a igual período do ano passado. Mas isso representou apenas uma aceleração na liquidação dos atrasos e não um avanço real na administração do PAC. Em relação aos investimentos, o governo da presidente Dilma Rousseff mal começou e talvez até esta avaliação seja um tanto otimista. Pela previsão oficial, serão concluídas até 2014 obras no valor de R$ 70,8 bilhões, 74% do investimento de R$ 955 bilhões planejado para o PAC. Sobrará, portanto, mais de um quarto do programa para ser executado nos anos seguintes, se der tudo certo até o fim do mandato da presidente Dilma Rousseff. Quase metade do investimento previsto para o período até 2014 deverá caber à Petrobrás: R$ 303,2 bilhões. A Petrobrás tem executado,

ano após ano, cerca de 90% do investimento inscrito no PAC para as estatais. Mas esses projetos são de fato independentes do PAC. Grandes volumes de recursos vêm sendo regularmente investidos no setor de petróleo há muitos anos e isso tem dependido essencialmente do dinamismo e do vigor de uma grande e experiente empresa estatal. Seus projetos apenas foram incluídos no PAC, desde 2007, por uma decisão política. O ritmo lento do PAC não é explicável apenas pelos dois fatores citados pela ministra do Planejamento – começo de mandato e grande número de projetos em etapas iniciais. O secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, mencionou os ajustes e reprogramações do orçamento desde o início do ano. Mas o fato mais simples e conhecido há anos é a deficiência gerencial do governo.

Nova história na Argentina e,dos563obuseiros,estãodisponíveis 449 (80%). Esses números mostram a urgênciadarecuperaçãodacapacidade operacional do setor militar,que,aomesmotempo,precisa ampliar o alcance de suas ações,pormeiodeprogramascomo o do submarino nuclear, que já contabiliza grande atraso em sua execução, e o de reequipamento da FAB. Mas, se mais recursos têm sido aplicados no setor militar e, aindaassim,asituação pioraeos programasinovadoresnãoavançam, o que há de errado, além da intermitência da liberação das verbas? O item que mais absorve recursos do Ministério da Defesa, eofaz emproporçãoalarmantemente crescente, é o de pessoal. São mais de 750 mil militares da ativa e da reserva e pensionistas. Isoladamente, esse item consome cerca de 80% do orçamento do Ministério da Defesa. Mas o mais grave é que pelo menos 75% das despesas com pessoal correspondem a gastos com inativos e pensionistas – uma despesa cujo crescimento é inexorável. O modelo de carreira militar adotado pelo Brasil produz duas distorções. Uma delas é a concentração, cada vez maior, de despesas com o pessoal inativo. Asegundaéacarênciadecontingentes de reservistas – sargentos e oficiais – com idade apropriada para atender a uma eventualconvocação.Osistemaé,assim, insustentável. Os políticos não parecem interessados em discutir os problemas estruturais das Forças Armadas.

“Qual o sentido da Comissão da Verdade, se um dos ministros mente descaradamente?” ANÍZIO MENUCHI / PRAIA GRANDE, SOBRE CARLOS LUPI amenuchi@uol.com.br

“De fato, que moral tem a presidente Dilma para criar a Comissão da Verdade, se acatou a mentira com desfaçatez de Carlos Lupi?” EDWARD BRUNIERI / SÃO PAULO, IDEM patricia@epimaster.com.br

D

izem os argentinos, com o saudosismo entranhado na sua cultura nacional, que o passado siempre fue mejor. E assim como muitos são capazes de se engalfinhar em acirradas discussões para provar que Carlos Gardel continua cantando cada vez melhor, não faltam argentinos para apresentar suas versões peculiares – e muito particulares – dos políticos de sua predileção. Daí que, dessa perspectiva, não lhes soe frívolo polemizar sobre qual teria sido o melhor dos passados que o país conheceu em seus 195 anos de existência tempestuosa, frequentemente sangrenta – e fascinante. O culto acendrado aos heróis nacionais, e a Argentina os teve muitospara as escolhasdas geraçõesquelhessucederiam,fazparte desse peculiar enlace entre a contemporaneidade e a memória dos tempos idos. Mas nada queaolhosestrangeirospossaparecer uma singularidade do modo de ser argentino se compara à extravagânciadapresidenteCristina Kirchner de refazer o passado, por não ser de seu agrado a versão escrita “pelos vencedores das guerras civis do século 19”. Na antiga URSS, a revisão periódica da trajetória do regime, comatrocadeposiçõesentreheróis e traidores a cada edição da chamada Grande Enciclopédia Soviética, era uma das incontáveis faces da tragédia do totalitarismo. Na Argentina kirchnerista, a históriase repete como caricatura.Começapelagrandiloquência do nome da agência estatal incumbida por decreto de apontar,

na narrativa oficial, quem foi quem no país. Chama-se InstitutoNacionaldeRevisionismoHistórico Argentino e Ibero-Americano Manuel Dorrego. O título rende homenagem a uma das mais controvertidas figuras dos primeiros tempos argentinos. Nascido em 1787, o militarparticipou dasguerrasde independência, governou Buenos Aires duas vezes, antes de ser deposto em 1827 por outro militar, Juan Lavalle, e executado pouco depois, a seu mando – a primeira morte do gênero no país. (Na capital federal, uma Plaza Dorrego coexiste com a mais conhecida Calle Lavalle.)

A revisão encomendada pela presidente é uma caricatura do que faziam dirigentes da ex-URSS O problema de Dorrego era o descontrole emocional, a ponto deserconsideradoinsano.Cristina, que aprecia se declarar vítima de “fuzilamentos midiáticos”, o compara ao seu falecido marido Néstor, “irreverente” e “louco”. Gosto não se discute, a menos quando o governante de turnootransformaempreferênciadoEstado.OInstitutoNacional de Revisionismo, etc., etc., funcionarána SecretariaFederal de Cultura e não lhe faltarão recursos. Sua monumental tarefa será “estudar, investigar e difundir a vida e obra de personalidades e circunstâncias destacadas (…) que não tenham recebido o reconhecimento adequado no âmbito institucional”. Para dirigi-lo, a presidente nomeou o historiador Mario O’Donnel, o Pa-

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Panamericano já indicava fraude ao BC

1.011

Banco Central tinha indícios de irregularidades, mas aprovou venda da instituição para a CEF em 2010 ● “Desenha-se, em tese, crime de responsabilidade de alguém. Quem do BC assinou o ofício permitindo a compra?” JOSÉ AFONSO

● “Ser banqueiro no Brasil é uma maravilha. Silvio Santos foi quem mais lucrou com a derrocada de seu banco.” GILBERTO MENDES

HÁ 846 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Fato: o Panamericano quebrou na onda da marolinha. Sua carteira implodiu.” CRIS ROCHA AZEVEDO

cho,entusiastadatradiçãocaudilhesca que sabidamente retardou o desenvolvimento político da vizinha nação. A independência da entidade pode ser também avaliada pelos seus demais membros – ministrosdogabinetepresidencial,jornalistas chapas-brancas e políticos alinhados com o oficialismo. Écertoqueelesdarão“oreconhecimento adequado” ao tirano Juan Manuel de Rosas (1835-1852), afamado pelas brutais campanhas de extermínio que ordenou contra a população indígena do sul da Província de Buenos Aires. ParaaCasaRosada,apesardisso, ele é um herói, o “primeiro grande nacionalista” argentino. Já o presidente filoeuropeu Julio Roca (1880-1886 e 1898-1904), que por sua vez mandou massacrardezenas de milhares de indígenasnaconquista daPatagônia, seria nada além de um genocida, cujas estátuas deveriam ser removidas.PioraindaparaaArgentina será a eventual inclusão no índex dos maus compatriotas de sua mais luminosa figura histórica, o pensador Domingo Faustino Sarmiento, que governou o país entre 1868-1874. No exílio a que foi condenado porRojas,eleescreveuumsoberbo estudo da política argentina – Civilização e Barbárie – a partir da história do caudilho riojano Facundo Quiroga. Presidente, lançou as bases da moderna Argentina, instituindo o ensino público e estimulando a imigração europeia – daí Cristina desdenhar dele como “europeizante”. Nadatadesuamortesecomemora o Dia do Professor. Ela ignora o evento.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 25 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

A crise no coração do euro A crise de confiança chegou afinal ao coração da Europa, a Alemanha, maior economia do bloco e sócio mais importante da união monetária. O sinal de alerta soou na quarta-feira, quando o Tesouro alemão só conseguiu vender 65% dos títulos no valor de € 6 bilhões oferecidos ao mercado. Pouco antes o governo alemão havia rejeitado um plano da Comissão Europeia (CE) para salvar o euro. As divergências políticas dificultam cada vez mais uma solução ampla para os problemas fiscais e financeiros da região. O desafio, agora, já não é salvar este ou aquele país, mas preservar o bloco monetário ou talvez a integridade da própria União Europeia, como comentou em artigo reproduzido no Estado o historiador Niall Ferguson, de Harvard.

Com pequenas variações, preocupações semelhantes são manifestadas pelos mais importantes eurocratas. “O custo de uma ação tardia já tem sido muito alto”, disse nessa quinta-feira o presidente da CE, José Manuel Barroso. Mas o perigo maior está à frente: “O custo de não agir é a fragmentação”, advertiu. A Europa está a um passo de uma recessão e dados econômicos assustadores complicam o cenário dos desacertos políticos. A economia da zona do euro cresceu no terceiro trimestre em ritmo equivalente a 0,2% ao ano. Nessa quarta-feira novos dados confirmaram um quadro dramático. As encomendas à indústria nos 17 países da união monetária caíram 6,4% de agosto para setembro. Nem as maiores economias da área escaparam da retração. As encomendas de bens industriais diminuíram 4,4% na Alemanha, 6,2% na França e 9,2% na Itália.

A perspectiva de uma recessão torna mais preocupante a situação dos países mais endividados e com maiores problemas fiscais. Quanto menor o crescimento da economia, mais difícil a arrecadação de impostos, mesmo com aumento da tributação. O mero corte de gastos dificilmente garantiria a arrumação das contas públicas. Por isso as autoridades do bloco, apoiadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), vinham recomendando uma diferenciação de políticas. Governos com menor espaço de manobra deveriam concentrar-se nas medidas de austeridade, enquanto aqueles com alguma folga tentariam manter algum estímulo ao crescimento. As economias mais sólidas dariam algum alento às demais. Se forem tragadas pela recessão, Alemanha e França pouco poderão fazer para puxar as economias em pior estado.

Uma nação indefesa

A

preservação da segurança nacional e a proteção dos cidadãos brasileiros contra ações criminosas vindas do exterior dependem cada vez mais das intenções e objetivos de potenciais agressores e cada vez menos do governo brasileiro, que não está cumprindo adequadamente seu papel de defender o território nacional e a população. O Brasil corre o risco de se transformar numa nação indefesa. Ante o sucateamento das Forças Armadas, hoje praticamente incapazes de cumprir sua missão constitucional, como comentamos ontem nesta página, o governo, alegando motivos orçamentários, tomou uma decisão que, na prática, equivale a se ausentar das fronteiras do País. Aos problemas já graves da porosidade decorrente das características das nossas fronteiras secas, de 16,8 mil quilômetros, soma-se a decisão do governo de cortar verbas que assegurariam a presença dos órgãos de segurança e de outras instituições do Estado brasileiro nessa área. Essa presença é indispensável para o combate a crimes como tráfico de drogas, contrabando de armas e outras mercadorias e entrada ilegal de estrangeiros. Anunciado em junho com o objetivo de tornar mais eficiente a política de segurança e estabelecer de maneira definitiva a presença do Estado nas regiões fronteiriças, o Plano Estratégico de Fronteiras foi considerado prioritário pelo governo Dilma. A designação do vice-

cífica e respeitosa pelos “monstros torturadores” da PM... RENATO REA GOLDSCHMIDT reagold@gmail.com São Paulo

PAC Restos a pagar

A respeito da reportagem Governo aposta no PAC contra a crise (23/11), esclarecemos que, ao informar que o governo “se concentrou em pagar os restos contratados no governo Lula”, a matéria ignorou as informações dadas pela ministra Miriam Belchior, durante o segundo balanço do PAC 2, na terça-feira (22/11), em Brasília, de que os restos a pagar do PAC são diferentes porque não são contingenciáveis. Dos restos a pagar de 2010, foi pago R$ 1,7 bilhão (71% em janeiro de 2011), referente a obras concluídas já no final do ano e sem tempo para o pagamento efetivo. Quase a totalida-

presidente da República, Michel Temer, para coordenar a execução desse plano foi interpretada na ocasião como um explícito reconhecimento de sua importância. No entanto, nada saiu do papel até agora, como mostrou o Estado, em reportagem de Vannildo Mendes (23/11). Apesar de sua concepção inovadora, o Plano Estratégico de Fronteiras parece ser mais um daqueles que,àmínguaderecursos,ficam na gaveta. O Ministério da Justiça, responsável administrativamente pela coordenação do plano, diz queamaioriadasaçõessócome-

O Plano Estratégico de Fronteiras por ora está apenas no papel, à espera de recursos çará a ser executada no ano que vem, pois seu orçamento para 2011 teve cortes de R$ 1,5 bilhão. Paraforçarogovernoaagir,policiais federais decidiram fazer uma operação-padrão. O plano prevê benefícios para os policiais federais designados para as fronteiras e o aumento de 100% do efetivo. O adicional de 20% a 40% na remuneração do policial federal, conforme as dificuldades da região para a qual for designado, já tem a concordância do Palácio do Planalto, mas ainda depende da solução de questões legais para ser efetivado. O governo chegou a enviar policiais para as fronteiras, mas, com as remoções, aposentadorias e baixas, o saldo é praticamente nulo. Estava previstaaentradaemoperaçãoime-

de dos restos a pagar do PAC 2 (R$ 14,1 bilhões) é relativa a obras iniciadas já em 2011. Em nenhum momento a ministra disse que houve redução dos investimentos do PAC, conforme publicado na reportagem. Até porque, comparados os períodos de janeiro a setembro de 2010 e 2011, os valores pagos registraram aumento de 22%. GIOCONDA BRETAS, diretora de Comunicação Social do Ministério do Planejamento palova.brito@planejamento.gov.br Brasília

N. da R. – A matéria utiliza dados do balanço ao afirmar que foram pagos, este ano, R$ 16,1 bilhões de restos a pagar e registra a explicação da ministra de que se referem a despesas efetivamente feitas no ano – embora tenham sido contratadas em anos anteriores. Sobre a redução dos investimentos, a reportagem trata do montante do governo federal, sendo PAC ou não.

Se não surgir um acordo político salvador, caberá ao Banco Central Europeu (BCE) a maior parte do esforço de reanimação da economia. Sob nova direção, o BCE já reduziu a taxa básica de juros de 1,5% para 1,25% ao ano. Foi o ato de estreia do economista Mario Draghi na presidência da instituição. E economistas do setor financeiro esperam novos cortes. Enquanto isso, o BCE continua comprando no mercado secundário papéis emitidos por governos. Com isso dá aos Tesouros alguma proteção, enquanto os investidores cobram juros perigosamente altos para rolar dívidas soberanas. Mas não só os governos estão em apuros. Bancos europeus têm tido dificuldade para obter financiamento, especialmente em dólares. O BCE, segundo se informou nessa quinta-feira, estuda a ampliação do prazo de empréstimos aos bancos de um ano para dois ou três. A proposta de criação do eurobô-

nus, apresentada na quarta-feira pela Comissão Europeia, foi rejeitada pelo governo alemão. É inaceitável, segundo parlamentares da União Democrata Cristã, partido da chanceler Angela Merkel. Os bônus, de acordo com a proposta, substituiriam os papéis dos países mais endividados e com maior dificuldade para levantar financiamentos no mercado. A credibilidade dos Tesouros em melhor situação funcionaria como aval desses títulos. Reunidos em Estrasburgo, a chanceler alemã, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e o novo primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, anunciaram a intenção de propor nas próximas semanas um plano para integração das políticas econômicas e imposição de maior disciplina fiscal. A salvação do euro e a integridade do bloco dependem de mais que isso: centenas de bilhões de euros e ação rápida.

‘Poder civil, já’ diata de 2 aviões não tripulados de observação – de um total de 14 previstos no plano –, mas, até agora, só 1 está operando. Até o momento, não foi aberto nenhumdos28novospostosdepoliciamento de fronteira que deverão estar em funcionamento até 2013. Pouco mais de 500 policiais atuam nos postos de fronteira e nas bases instaladas nas margens de rios que nascem em outros países. Isso representa menos de 4% do efetivo da Polícia Federal.Alémdepoucos,ospoliciais que atuam nas fronteiras enfrentam grandes dificuldades para cumprir suas missões. Meios de comunicação e de transporte precários e equipamentos insuficientes são algumas delas. Antes temida, hoje a PolíciaFederal édesafiadapelos bandidos, muitos dos quais ostentam armamentos mais potentes e modernos que os que estão à disposição dos policiais. Ogovernoencontrouumajustificativasimplesparaaparalisação do plano: a situação econômica.Em resposta à reportagem do Estado, que procurou ouvir o vice-presidente Michel Temer, sua assessoria garantiu que o governo vai investir na melhoria das condições de trabalho dospoliciais,mascomaressalva de que os investimentos serão feitos“respeitandoos limitesde uma conjuntura desfavorável”. Umgovernoeficientesaberia, mesmo em “conjunturas desfavoráveis”, preservar ao máximo os programas que considera prioritários. E no Congresso, comas exceçõesdepraxe,os políticos permanecem calados diante desse descalabro.

“Ele disse que não sairia nem à bala, e não saiu... A bala perdida acertou foi no povo, de quem o dinheiro foi desviado, até que se prove o contrário” ELIANA FRANÇA LEME / SÃO PAULO, SOBRE CARLOS LUPI efleme@terra.com.br

“E pensar que uma Elba derrubou um presidente, que, na época dos fatos, ainda disse que nossos carros eram carroças...” ANGELO ANTONIO MAGLIO / COTIA, IDEM angelo@rancholarimoveis.com.br

C

ada caso de sucesso é um caso à parte no curso da conturbada primavera árabe, que completará um ano em janeiro. Na Tunísia, o primeiro país onde o povo na rua pôs abaixo uma tirania, na vasta região que vai da África do Norte à Península Arábica, dez meses depois eleições parlamentares livres abriram caminho para a formação, ainda por se consumar, de um governo legítimo. Na Líbia, ao cabo de oito meses de guerra civil, um governo provisório se instalou em Trípoli, mas a efetiva democratização do país parece uma miragem. No Egito, bastaram 18 dias de protestos para apear Hosni Mubarak. No Iêmen, a queda de Ali Abdullah Saleh, na quarta-feira, levou dez meses. Nesses dois países, porém, as manifestações prosseguem. Os iemenitas acampados em Sanaa, a capital, rejeitam o acordo com a oposição, mediado pela ONU e a Arábia Saudita, segundo o qual o ditador se comprometeu a ceder o lugar em 30 dias para o seu vice. Este, por sua vez, formará um governo de união nacional e convocará eleições no prazo de três meses. Em troca da renúncia, Saleh recebeu garantias de imunidade – o que enfurece os ativistas, dos quais mais de 200 foram mortos no correr dos protestos. “Os crimes de Saleh não desaparecerão com o tempo”, argumenta uma estudante. “Portanto, nós o perseguiremos até o fim.” É improvável que o consigam: ele deve se asilar no reino saudita. Já no Egito, o clima é de insur-

reição – e ninguém ousa prever o dia de amanhã. No fim da semana passada, depois de nove meses, os jovens voltaram a ocupar a Praça Tahrir, no Cairo, para denunciar a continuidade do regime de arbítrio de Mubarak, agora sob o controle dos seus camaradas do Conselho Supremo das Forças Armadas, e pela relutância da junta em promover a prometida transição para a democracia, evitando, por exemplo, marcar a data da eleição presidencial. A gota d’água foi um comunicado deixando escancarada a vontade da cúpula militar de continuar tutelando o país. O texto estipula que as For-

Falta no Iêmen um líder nacional com autoridade para assumir o governo e preparar o futuro ças Armadas indicarão 80 dos 100 membros da comissão constitucional a ser formada pelo Parlamento a tomar posse em março, depois de um arrastado ciclo eleitoral a se iniciar na próxima segunda-feira. Além disso, a futura Constituição não abrangerá assuntos militares, como o orçamento das Três Armas, os seus amplos poderes no campo econômico e a prerrogativa da última palavra em matéria de defesa e política externa. A repressão policial aos novos protestos comprovou que o passado não passou no Egito. Em três dias, 33 manifestantes foram mortos à bala e mais de mil ficaram feridos – o que só radicalizou o movimento. Um desconcertado Mohamed Hussein Tantawi, o mare-

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Fraude em ministério encarece obra da Copa

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Pasta das Cidades adultera documento e eleva em R$ 700 mi valor de projeto de infraestrutura no MT ● “Pessoas totalmente despreparadas assumem cargos, apadrinhadas por partidos políticos. Cadê o Ministério Público?” LEONARDO SOUZA

● “Tudo o que estamos presenciando é reflexo do voto que foi colocado nas urnas.” OTANER ORREF

HÁ 847 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “A presidente empossou os ladrões e agora não dá mais conta de controlá-los.” JANSEN SANTOS

chal de campo que foi ministro da Defesa de Mubarak e comanda o Conselho Supremo, foi à TV anunciar que as eleições para presidente se realizarão em junho do ano que vem e que os militares estão prontos a entregar o mando aos civis, se assim o povo decidir em um plebiscito – em data indefinida. O único efeito do pronunciamento foi aglutinar os protestos em torno de uma única palavra de ordem, o equivalente a “Poder civil, já”. A destituição de Tantawi, o desmanche da junta e a formação (não está claro como) de um “governo de salvação nacional” ganharam precedência sobre o cumprimento do calendário eleitoral, a nova Constituição e até a eleição presidencial. Ontem, um dia depois de um dos piores confrontos do ano, quando a polícia atacou os manifestantes com um tipo devastador de bombas de gás, matando cinco deles e ferindo muitas centenas – antes que tropas do Exército enfim se interpusessem –, dois generais, falando pelo Conselho Supremo, pediram inéditas desculpas pela morte dos “mártires dos leais filhos do Egito”. Um deles, Muhammad al-Assar, pediu para não serem comparados ao regime de Mubarak. Mas é exatamente o que pensa o movimento democrático. O seu drama é não ter um líder nacional que possa assumir um governo para remover o entulho autoritário de 60 anos de hegemonia política armada enquanto prepara o futuro. A única força civil organizada no país é a Irmandade Muçulmana – e ela, por oportunismo, prefere dialogar com os militares.

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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 26 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Notas & Informações

Criminalidade ainda alta O Brasil gasta cada vez mais em segurança pública, mas gasta mal, pois as taxas de homicídio em vários Estados estão entre as mais altas do mundo e outros índices mostram baixa eficiência do poder público no combate à criminalidade. A busca de informação, essencial para a prevenção da criminalidade e para o planejamento das ações policiais quando e onde elas forem necessárias, e o uso de tecnologias mais modernas ainda não se disseminaram pelo País, o que tem facilitado a expansão do crime em algumas regiões e alguns Estados. Em outros, que adotaram políticas adequadas, há notável melhora nos índices. Dada a precariedade das estatísticas – por falta de preparo ou por descuido de alguns órgãos estaduais –, é muito provável que o quadro seja

ainda mais sombrio do que o mostrado na quinta edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pela organização não governamental Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com o Ministério da Justiça. Mas os dados do Anuário reforçam uma tendência já identificada em outros trabalhos. Trata-se do deslocamento da violência para regiões onde a atividade econômica se expandiu com maior velocidade nos últimos anos, mas a modernização do órgãos de segurança não evoluiu na mesma velocidade e, por isso, a ação policial ainda não alcançou o grau de eficiência observado nos polos mais desenvolvidos. O aumento da renda e o crescimento da economia do Nordeste nos últimos anos foram acompanhados pelo aumento generalizado da violência na região, como destacou reportagem do Estado (24/11). Dos 10 Esta-

dos que apresentam taxas de homicídio acima de 30 casos por 100 mil habitantes, 6 estão no Nordeste (Alagoas, Paraíba e Pernambuco, nos três primeiros lugares, Sergipe em 5.º, Bahia em 7.º e Ceará em 9.º). As vítimas desses crimes eram jovens, em sua maioria, e boa parte tinha ligações com drogas. “Os jovens são as maiores vítimas dos homicídios porque entram cada vez mais cedo no mundo das drogas, não têm dinheiro para sustentar o vício e pagam com a vida”, de acordo com a interpretação do secretário de Defesa Social de Alagoas, coronel Dário César. Outro tipo de crime – os roubos em geral – também aumentam no Nordeste, e Sergipe ocupa o segundo lugar entre as unidades da Federação onde ele é mais frequente (em primeiro lugar está o Distrito Federal). Essa modalidade de crime inclui pequenos roubos, como os de celula-

res, carteiras e caixas de ônibus, e seu aumento igualmente pode ser decorrência do crescente uso de drogas. Para o coordenador do Centro de Operações Policiais Especiais da Polícia Civil de Sergipe, Everton dos Santos, a maioria dessas ocorrências está ligada ao tráfico de drogas, principalmente do crack. A eficiência da ação policial em Estados como São Paulo, comprovada pelas estatísticas, é resultado de políticas corretas e mantidas por longo tempo, acompanhadas de investimentos em pessoal e em modernização dos equipamentos. É possível que a maior eficiência nos grandes centros tenha empurrado o tráfico de drogas para outras regiões, como o Nordeste. É preciso melhorar em nível nacional a aplicação do dinheiro público em segurança pública, para que também em outras regiões comecem a surgir os resultados dos investimen-

tos. “O Brasil gasta muito, mas gasta muito mal”, diz o secretário-geral do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o sociólogo Renato Lima. “Não conseguimos reduzir as taxas de violência nem garantir os direitos (dos cidadãos). O Estado brasileiro não está dando conta do recado.” Criado em 2006 para avaliar as políticas públicas, a gestão da informação, os sistemas de comunicação, a tecnologia e as práticas e procedimentos dos órgãos de segurança pública, o Fórum elabora seu Anuário com o objetivo de oferecer elementos mais precisos para a ação das autoridades. Parte destas, porém, parece não querer se ajudar, pois não tem dados confiáveis nem sobre sua área de atuação. Os Estados que têm as piores estatísticas são Rio de Janeiro, Minas Gerais, Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Pará e Rio Grande do Norte.

Acidentes não acontecem à toa

Crédito externo apertado

Ponte dos Remédios foi interditada nos dois sentidos na madrugada de quarta-feira depois que 20 metros da passarela e da mureta de proteção de pedestres, no sentido Lapa, desabaram no Rio Tietê. A via liga as Ruas Silva Airosa e Major Paladino, na Vila Olímpia, região da Ceagesp, na zona oeste de São Paulo, à Avenida dos Remédios, no município vizinho de Osasco. Técnicos da Prefeitura de São Paulo acreditam que a trepidação provocada pelo intenso tráfego de caminhões na ponte fez a lateral das pistas, malconservada, ceder. Há 14 anos, uma profunda rachadura indicou risco de desabamento da ponte, construída na década de 60, e, até então, nunca reformada. Na época, a Marginal do Tietê ficou interditada por dois meses, até que a instalação de uma estrutura metálica na ponte restabelecesse a segurança no local. A reforma completa durou seis meses e custou R$ 6 milhões à Prefeitura. Em entrevista à Rádio Estadão ESPN, o superintendente da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras, Régis de Oliveira, explicou que a lateral da ponte não recebeu reforço durante as reformas realizadas em 1997 e, por isso, houve problemas na junção da passarela com as pistas. Segundo ele, o acidente não indica falhas na manutenção, porque há acompanhamento constante das condições das pontes e viadutos da cidade. Mas “acidentes sempre acontecem”. Não aconteceriam, pelo me-

rescem os temores de que a crise dos países da zona do euro afete seriamente o desempenho das exportações brasileiras em 2012. Não só a demanda por produtos brasileiros, inclusive commodities, tende a decrescer, como já surgem sinais de retração de grandes bancos europeus do funding para linhas de crédito destinadas ao comércio exterior, o que deve merecer a atenção dos responsáveis pela política econômica brasileira. Umdado significativo é aqueda de 42% na média diária da concessão de Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio (ACC) nas últimas semanas. A média de fechamento de ACC, que foi de US$ 241 milhões em setembro, recuou para US$ 142 milhões na última semana de outubro e no início deste mês, segundo dados do Banco Central(BC), citados pelo jornal Valor (16/11). O baque praticamente não foi sentido, uma vez que, aproveitando a desvalorização do real, os exportadores brasileiros fecharam um volume muito grande de ACCs até meados de outubro. Assim, a retração da oferta de linhas de financiamentoexternopelos bancos europeus coincidiu com umamenordemanda dosexportadores brasileiros. No acumulado do ano a soma dos ACCs é de US$ 45,2 bilhões, aproximando-se de um recorde histórico, assim como as exportações que podem alcançar US$ 250 bilhões este ano (US$ 212,14 bilhões até outubro). Caso o real volte a se depre-

A

LIVROS Acervo

A matéria 1 de cada 10 livros sumiu de bibliotecas e pontos de leitura nos últimos 4 anos (5/11) diz que 347 mil livros “sumiram das prateleiras” e 546.767 foram comprados. Assim, é errado concluir que o acervo que sofreu baixa em razão da informatização não foi reposto “na proporção equivalente”. Ao contrário, a reposição foi superior. Lamentavelmente, a reportagem perdeu a oportunidade de destacar uma ação que, de fato, mudou a vida dos leitores: a informatização do acervo. Esse trabalho proporciona a qualquer pessoa a possibilidade de consultar a disponibilidade, pela internet, de todas as coleções pertencentes a bibliotecas, CEUs, pontos de leitura e ônibus-biblioteca. Há 30 anos não era feita uma triagem nos exemplares à disposição nas bibliotecas públicas a fim de dar

nos não com tanta frequência, se houvesse prevenção adequada. Uma via que recebe milhares de veículos por dia, em grande parte pesados, não pode passar muito tempo sem reformas ou reparos destinados a corrigir o desgaste. Há cinco anos, o Sindicato de Arquitetura e Engenharia (Sinaenco) realizou estudo que mostrava a necessidade de reparos em pelo menos 50 pontes e viadutos da capital. Em 2007, a Prefeitura firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Estadual, definindo obras de recuperação de 68 pontes e via-

Obras novas dão votos, manutenção de obras antigas não, por isso vai haver mais acidentes dutos, mas até agora apenas 8 obras foram concluídas. O acordo estabeleceu prazo de dez anos para a realização de todas as reformas. São visíveis os sinais de desgaste dessas estruturas. Dias atrás, um dos autores daquele estudo, o engenheiro Gilberto Giuzo, chamou a atenção para a situação do Viaduto Moffarrej, da Ponte da Freguesia do Ó e da Ponte dos Remédios. Em entrevista ao portal de notícias do Grupo Bandeirantes, ele apontou a existência de várias marcas de infiltração e pontos de ferrugem na estrutura dessas construções. “As construções estão com prazo de validade vencido e, se não forem recuperadas, podem causar danos e, em casos extremos, ruir”, advertiu.

baixa em obras desatualizadas ou em mau estado. Afinal, os livros que estavam em más condições ou desatualizados foram realmente perdidos ou apenas a informatização contabilizou essa perda pelas baixas efetivas? Se esses livros não estavam em condições de empréstimo e consulta, é recomendável tirá-los de circulação e repor o acervo com livros novos, o que foi feito. Um esclarecimento completo sobre a reportagem está disponível no site da Secretaria de Cultura, que pode ser acessado pelo link http://bit.ly/vUCck9. GIOVANNA LONGO, assessora de Comunicação da Secretaria Municipal de Cultura giovannalongo@prefeitura.sp.gov.br São Paulo

A queda da passarela da Ponte dos Remédios ocorreu três dias depois dessa entrevista. Para Giuzo, os custos para a Prefeitura seriam muito menores se a cada dois anos os reparos necessários fossem realizados. Em resposta, a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras informou que todas as 443 estruturas, entre pontes, viadutos, pontilhões e passarelas, da cidade serão reformadas e que a meta estabelecida em 2007 no TAC não foi ainda integralmente cumprida, porque recentemente o documento foi revisado e seus objetivos ampliados. Segundo Régis de Oliveira, apesar das limitações do orçamento municipal, um amplo processo de licitação será iniciado para que, em 2012, pelo menos 30 pontes e viadutos sejam reformados. Promessas assim são sempre feitas quando ocorre um acidente. É preciso ir muito além disso e reconhecer que, infelizmente, não existe entre nós uma cultura de manutenção de obras públicas. Os governantes em geral só se preocupam com obras novas, porque isso tem retorno eleitoral, fechando os olhos ao fato de que os acidentes decorrentes da falta de conservação do que já existe acarreta sérios prejuízos. As advertências a respeito desses riscos e da necessidade de tomar as medidas necessárias para reduzi-los têm sido frequentes em São Paulo. Portanto, não se pode dizer simplesmente que os acidentes “acontecem”, como se fossem uma fatalidade. Eles não acontecem à toa.

“O ministro Mário Negromonte chora de emoção. E o povo paga a ‘roubação’...” CÍCERO SONSIM / NOVA LONDRINA (PR), SOBRE A CORRUPÇÃO NO MINISTÉRIO DAS CIDADES c-sonsim@bol.com.br

“Divergência técnica virou justificativa para fraudes” ROBERTO TWIASCHOR / SÃO PAULO, IDEM rtwiaschor@uol.com.br

C

ciar a curto prazo, surgirão novas oportunidades para que as empresas exportadoras fechem contratos de câmbio em cotações mais vantajosas. Contudo, para que isso possa ocorrer no volume esperado, é indispensávelquehajademandaporprodutos brasileiros em importantes mercadosdaEuropa,oqueéproblemático. Já se admite que as vendas brasileiras de commodities tenham um decréscimo de US$ 10 bilhões em 2012 e se prevê um sensível recuo de produtos manufaturados, como calçados,paraosmercados europeus. Jáasvendasparaomercadoamericano vêm reagindo, apresen-

Demanda por produtos brasileiros tende a cair e também as linhas de crédito à exportação tando um bom crescimento nos últimos meses, principalmente de produtos siderúrgicos e petróleo.De qualquerforma, asexportações brasileiras devem se ressentir daescassez de créditos a fornecedores de grandes bancos internacionais. Tudodependerádecomoevolua a crise mundial, mas estão ainda bem presentes na memória os efeitos da crise de 2009 sobre as vendas externas brasileiras. Naquele ano, as exportações nacionais não passaram de US$ 152,99 bilhões, uma queda de 22,7% em relação a 2008 (US$ 197,94bilhões), como consequência direta da contração daliquideznospaísesmaisavançados. Calcula a Organização Mundial do Comércio (OMC) que as linhas de financiamento

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Ministro das Cidades chora durante evento

1.405

Pressionado por denúncias, Negromonte acusou a imprensa ‘do sul’ de ‘preconceito com nordestino’ ● “Só faltava essa! Querer jogar a culpa de sua bandalheira nesse ou naquele Estado a pretexto de discriminação.” FABIO SILVA

● “Quando a situação é irreversível, algumas lágrimas podem surtir melhor efeito do que muitas explicações.” EDGARD OLIVEIRA

N. da R. – A reportagem utilizou dados da Rede Nossa São Paulo sobre 70 bibliotecas e pontos de leitura da cidade, além de ouvir funcionários, que confirmaram a diminuição do acervo de 2006 a 2010.

HÁ 848 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Um diz que ama a presidente e o outro chora copiosamente em vez de se explicar.” CHARLES MAURICE TALLEYRAND

ao comércio internacional naquele ano tiveram um decréscimo de US$ 25 bilhões. Ébemverdadequeasimportações brasileiras também tiveram um recuo expressivo em 2009, ficando em US$ 127,72 bilhões, 26,16% a menos em relação ao ano anterior (US$ 172,98 bilhões). Mas é preciso levar em conta que o Produto Interno Bruto (PIB) do País, em 2009, foi negativo em 0,20%, o que deprimiu a demanda por produtos importados. A grande questão está em saber se o Brasil conseguirá crescer a uma taxa de 3% a 3,5% em 2012, como prevê o governo, com um decréscimo sensível das exportações, agravado por umaprovável aceleração das importações em vista do empenho redobrado dos países em crise em vender para o exterior. Arespostanãoestaránarestriçãoàsimportações,comoéatendênciadogoverno,masnofortalecimento do crédito interno e externo às exportações. Presumindo que a taxa do dólar se mantenha ao redor de R$ 1,75 no ano que vem, empresários sugerem que, como o País possui reservas elevadas (US$ 352,11 bilhões em 14/11), tem condições para criar instrumentos que habilitemagênciasdebancosbrasileiros no exterior a complementar o funding para aquisição de produtos brasileiros nos países em que as restrições de crédito são mais agudas. Há precedente, lembrando os empresários que já foi criada uma linha de crédito em dólares para países vizinhos para importação de máquinas e equipamentos fabricados no Brasil.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 27 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

O governo e a crise dos ricos A economia brasileira crescerá entre 4,5% e 5% no próximo ano, apesar do agravamento da crise mundial, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em depoimento na quarta-feira na Câmara dos Deputados. “Não podemos nos atemorizar e parar de consumir e de produzir”, exortou a presidente Dilma Rousseff, na sextafeira de manhã, no Rio de Janeiro. As autoridades tomarão medidas para evitar uma desaceleração excessiva da atividade, acrescentou em São Paulo o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, declarando-se preparado para continuar financiando projetos de investimento. Em coro ou separadamente, autoridades federais procuram transmitir segurança e otimismo, enquanto reconhecem o agravamento da situação interna-

cional e dão como quase certa uma recessão no mundo rico. “Não somos uma ilha, mas somos um país protegido”, disse também a presidente. A proteção, segundo ela, é o “imenso mercado interno”, reforçado nos últimos anos pela incorporação de 40 milhões de pessoas. O ministro da Fazenda também bateu nesse ponto. O Brasil, segundo ele, depende menos do mercado externo do que outros países. O enorme número de consumidores é de fato um ativo importante para a economia brasileira, mas é preciso frear um pouco o otimismo em relação a esse dado. O consumo cresceu neste ano e poderá continuar crescendo, porque o desemprego continua baixo (5,8% em outubro), a massa de rendimentos ainda se expande, o crédito é mais que suficiente e o índice de confiança dos consumidores subiu 3,3% neste mês, segundo a Fundação Getúlio Vargas.

Mas só tem sido possível atender a boa parte dessa demanda com o rápido aumento das importações. A participação de importados no consumo de bens industriais chegou a 21,3% no acumulado de quatro trimestres até o período julho/agosto deste ano, segundo a Confederação Nacional da Indústria. Essa participação foi 1,2 ponto porcentual maior que a do ano anterior e 10 pontos superior à de 2003. Ao mesmo tempo, o coeficiente de exportações – relação entre o valor exportado e a produção industrial – chegou a 17,9% nos quatro trimestres encerrados no terceiro deste ano. Esse resultou de uma pequena recuperação, depois de alguns anos de queda. Em 2006 havia chegado a 20,4% e depois diminuiu. Não há, portanto, um problema de demanda, mas há entraves importantes à produção industrial. A indústria tem sido prejudicada não só

pela valorização do real, interrompida e parcialmente revertida pela recente recuperação do dólar, mas também por várias desvantagens bem conhecidas e nunca atacadas seriamente pelos formuladores da política econômica: tributação errada e onerosa para a produção, infraestrutura deficiente, encargos trabalhistas elevados, custos burocráticos, etc. O governo anunciou a partir de agosto várias medidas para tornar a produção mais competitiva, como a redução dos custos trabalhistas de alguns segmentos, devolução de impostos e aumento da defesa comercial. A desoneração, como já foi demonstrado, foi mal planejada e pode até resultar em maior tributação para algumas indústrias. A devolução de impostos seria mais eficiente se o Tesouro liquidasse em menor prazo os créditos fiscais das empresas. Quanto à defesa comercial, foi

concebida de forma rudimentar e só não motivou processos na Organização Mundial do Comércio (OMC) porque os parceiros comerciais não quiseram. Além disso, protecionismo não torna a produção nacional mais competitiva no exterior e o Brasil precisa exportar para criar empregos e ao mesmo tempo manter segurança nas contas externas. As autoridades têm agido como se o grande risco para o País estivesse no enfraquecimento da demanda interna. Mas não está, até porque o gasto público, um dos principais pilares da demanda, deve continuar em crescimento em 2012, se o governo não cuidar seriamente dessa questão. Nesse caso, suas despesas, combinadas com o afrouxamento da política monetária, resultarão em pressões inflacionárias e mais importações, e não em estímulo à produção. Na etapa seguinte, isso, sim, acabará, provocando demissões.

A economia inútil de Furnas

Os ônibus interestaduais

empresa Furnas Centrais Elétricas tem capacidade própria de geração superior a 8 mil MW, mais de 19 mil km de linhas de transmissão de energia e fez investimentos de R$ 1,2 bilhão, no ano passado, informa o Relatório Anual de 2010. É uma das maiores concessionárias de energia do País e subsidiária da Eletrobrás, mas decidiu economizar 1% do investimento postergando a compra de um transformador para a subestação do Grajaú, no Rio. Economizou, com isso, R$ 12 milhões, em 2010, mas o resultado foi um apagão, em dezembro do ano passado, com grandes prejuízos para os consumidores e uma pesada multa imposta à empresa, segundo reportagem de Karla Mendes, no Estado de domingo passado. O número de transformadores em uma subestação é calculado tecnicamente para assegurar o fornecimento contínuo de energia, o que exige a instalação de equipamentos de reserva. Como Furnas não instalou esses equipamentos, foi multada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em R$ 17 milhões. Em resumo, Furnas opera com um número de transformadores abaixo do necessário desde maio de 2010, segundo a Superintendência de Fiscalização da Aneel. Os fiscais da Aneel identificaram “falhas graves e primárias” no planejamento da empresa, descumprimento do contrato de concessão e “ações em desacordo com os procedimentos de

omo todas as agências reguladoras, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) foi criada para evitar abusos do poder econômico, proporcionar proteção e segurança ao consumidor e servir de canal de comunicação entre o setor privado e o governo, mas não para criar obstáculos à prestação de serviços públicos pela iniciativa privada. Mas parece ser isso o que está fazendo a ANTT, com o modelo que elaborou para a licitação de linhas de ônibus interestaduais. O modelo prevê a redistribuição de 2.412 linhas, divididas em 18 grupos e 60 lotes. Mistura trechos de alta e baixa demanda, e, por tudo isso, a Associação das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abati) entrou com representação no Tribunal de Contas da União. Segundo as empresas, as condições para a licitação baseiam-se em um cenário irrealista, que pode tirar muitas delas do mercado, comprometer a rentabilidade de outras e desempregar cerca de 10 mil dos 60 mil trabalhadores do setor. Declaradamente, a intenção da ANTT é contribuir para a modernização das empresas de transporte rodoviário de passageiros, melhorando e barateando a prestação de serviços. Como afirma o diretor-geral da agência, Bernardo Figueiredo, “queremos um sistema que se assemelhe ou até supere o que o aéreo oferece”. É verdade que as empresas de ônibus têm se ressentido da concorrência

A

MARIA ELOIZA ROCHA SAEZ m.eloiza@gmail.com Curitiba

rede”. Também não respeita a obrigatoriedade de “manter instalações e métodos operativos adequados, que garantam bons níveis de regularidade, eficiência e segurança”. O apagão causa um duplo prejuízo: de um lado, porque interrompe a produção nas empresas, das vendas no comércio, das atividades nos serviços e de quem trabalha ou estuda em casa; de outro, porque encarece as tarifas, pois a interrupção no fornecimento de energia leva o Operador Nacional do Serviço Elétrico (ONS) a determinar a ligação de usinas térmicas, que produzem ener-

Por uma economia de R$ 12 milhões ela gerou prejuízo maior para si e para os consumidores gia mais cara, para substituir a energia que falta. No caso, foi acionada a Termoelétrica Barbosa Lima Sobrinho – e o custo para os consumidores do Sudeste e do Centro-Oeste foi estimado pela reportagem do Estado em R$ 275 milhões. Esse valor é incluído nas contas de eletricidade dos consumidores, no item Encargos de Serviços do Sistema (ESS). A termoelétrica não deixou de funcionar desde o apagão, segundo a reportagem. O acréscimo é de R$ 8 por MWh, como se estima. E vai aumentar, se o transformador não for instalado na subestação do Grajaú até dezembro. O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, calcula que o montante do prejuízo é da ordem

Loteamento explícito

O Brasil está entregue a bandidos que, de tão desonestos e gananciosos, não é mais possível esconder suas ilicitudes e aqueles que as aprovam como forma de agir. A cada dia vem uma à tona. Carcomida pela base, quem será o primeiro a dar jeito na nossa República? Dilma Rousseff, confirmando a suspeita de não ser essa candidata – mantendo Lupi nos confirmou isso –, deixou o espaço aberto para quem quiser se candidatar a herói. Mas até agora não vimos um único político destemido engajado até as últimas consequências em arcar com essa que é verdadeiramente uma missão.

É vergonhoso, mas a presidente não tem independência nem liberdade para escolher os seus ministros. Façamos uma analogia. Imaginemos uma empresa em que o diretor não tenha autonomia para escolher os gerentes de cada departamento e seja obrigado aceitar a imposição pelo sindicato dos funcionários de nomes mais comprometidos com os interesses sindicais do que com os da própria firma. Dá para prever qual seria o desempenho da empresa e também o resultado do balanço final... Os partidos, donos dos ministérios, estão pautando a presidente, e não o contrário. Eles impõem os ministros e à presidente só resta aceitar. Em vez de o cachorro balançar o rabo, é o rabo que balança o cachorro.

MYRIAN MACEDO myrian.macedo@uol.com.br São Paulo

SANSÃO JOSÉ DA SILVA sansao@sansaojsilva.com.br Uberlândia (MG)

Procura-se herói de verdade

de R$ 24 milhões por mês, ou seja, é igual a duas vezes o valor de compra do transformador. Isso é algo inacreditável num sistema que se pretende confiável. “Se tivesse o transformador, a termoelétrica não precisaria estar ligada”, resumiu o superintendente de Regulação da Geração da Aneel, Rui Altieri Silva. E, como notou Hermes Chipp, “com apenas três bancos de transformadores, não há como ter segurança sem ligar a termoelétrica”. Furnas está recorrendo da multa, que terá de ser confirmada pela diretoria da Aneel. E informa que a subestação do Grajaú estará pronta neste ano. Argumenta que fez uma licitação para a compra do transformador em abril de 2010, mas todos os proponentes foram desclassificados por não apresentarem a documentação necessária. Em maio de 2010, justifica, ocorreu falha em outro transformador. Os sistemas elétricos operam com folga de capacidade porque as interrupções podem ser frequentes, a um custo elevadíssimo. Mas no Brasil essa regra é respeitada só em parte, porque as usinas termoelétricas oferecem energia de reserva. Falta investir na manutenção, na substituição dos equipamentos obsoletos e no aumento da capacidade, de modo a atender à demanda – e o resultado são os apagões. O que ocorreu em Furnas é um exemplo da falta de prioridade dos investimentos e de descaso com os consumidores, que, afinal, pagarão a conta.

“Nunca antes na História deste país tivemos um Ministério tão chinfrim!” CLODER MARTOS / SÃO PAULO, SOBRE A INEFICIÊNCIA E AS DENÚNCIAS DE CORRUPÇÃO NO GOVERNO FEDERAL sheinerivas@hotmail.com

“Mas será que não se salva nenhum?” ELAINE NAVARRO / SÃO PAULO, IDEM elainenavarro.pa@hotmail.com

C

mais acirrada das companhias aéreas, que procuram atingir um público maior, principalmente da chamada classe C, oferecendo passagens baratas para viagens mais longas. Acontece que esse resultado não se obtém limitando a liberdade das empresas de se defenderem elas próprias da concorrência. A ANTT quer reduzir a frota de ônibus em operação para 6.152 veículos, com 639 de reserva, o que levaria a um corte drástico nas ligações de transporte rodoviário no País. As empresas, que vêm funcionando desde 2008 com permissões especiais, não se opõem à

O problema de como enfrentar concorrentes compete às empresas e não à agência reguladora licitação, mas apontam erros no dimensionamento da oferta. Segundo elas, há necessidade de uma frota de 10 mil ônibus, quase 50% mais do que estima a ANTT, a ser dividida em 39 lotes. Para um levantamento confiável sobre a situação do transporte rodoviário de passageiros, a entidade pediu à Fundação Getúlio Vargas (FGV) que analisasse o modelo de licitação. A primeira conclusão da FGV é de que a taxa de retorno dos investimentos ficaria entre 1% e 4,44%, o que significaria a “completa inviabilidade econômico-financeira” do novo modelo de licitação, segundo noticiou o jornal Valor (21/11). O estudo da FGV focaliza algumas situações absurdas no modelo da ANTT. É o caso de

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Multa a Kassab pode chegar a R$ 1,1 bilhão

262

Processo contra fraudes na contratação de empresa que faz inspeção veicular bloqueou bens do prefeito ● “Considerando que SP tem a segunda maior frota de carros do mundo, dá para ter uma ideia do tamanho da maracutaia.” MAURICIO LEE

● “Quero meu dinheiro de volta!” EDUARDO PAES LANDIM

HÁ 849 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Ele está fazendo um belo caixa com a inspeção veicular e com essa besteira de reduzir a velocidade para 60 km nas avenidas com a desculpa de que a intenção é diminuir acidentes.” GABRIEL MARTINS

88 linhas que apresentam demanda anual de 673 passageiros, com previsão de apenas uma viagem por mês. “Esse tipo de ligação já nasceria morta”, dizem as empresas operadoras, uma vez que elas “precisarão dispor de toda uma infraestrutura dedicada a atender a uma única viagem mensal”. Em contraste, a agência reguladora superestima a taxa de ocupação dos ônibus, que chegaria a 95%, em média, nos trajetos mais movimentados, como São Paulo-Belo Horizonte, Goiânia-Vitória e São PauloRio. A ANTT parte do pressuposto de que os ônibus viajariam com essa lotação, em todos os horários e em todos os dias do ano, não importando se se trata de final de semana, feriadões ou períodos de férias. A prevalecer o modelo preconizado pela ANTT, o risco seria de descontinuidade dos serviços prestados, com a redução da frota e, possivelmente, com o fechamento de empresas. Mesmo em países em que, além do transporte aéreo, há boa oferta de transporte ferroviário, as linhas de ônibus para longos percursos continuam funcionando bem e são rentáveis. Se no Brasil enfrentam competição agressiva das aerovias, a elas compete batalhar para se defender e decidir sobre a melhor maneira de atrair mais passageiros. À agência reguladora cabe fiscalizar o cumprimento das leis em vigor e impor disciplina. É inconcebível que, ao fazer licitações que são obrigatórias, leve as empresas participantes ao desequilíbrio econômico-financeiro.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Ninguém sabe, ninguém viu No exato dia, em julho de 2010, em que seus técnicos apuravam fraudes de mais de R$ 4 bilhões na contabilização de carteiras de crédito cedidas pelo Banco Panamericano para outras instituições financeiras, o Banco Central (BC) aprovou oficialmente a venda, para a Caixa Econômica Federal, de 49% do capital social da instituição. O negócio, no valor total de R$ 739 milhões, fora decidido pela Caixa em novembro de 2009, mesmo tendo o Banco do Brasil se recusado, um ano antes, a adquirir as carteiras de crédito que o Panamericano lhe oferecera. Além disso, investigações da Polícia Federal (PF) revelavam graves indícios de fraudes, cometidas pelos então diretores do Panamericano, num montante, depois apurado, de quase R$ 80 milhões. Nada disso,

no entanto, impediu que a Caixa concretizasse a compra. Só muito depois essa bilionária lambança seria considerada pelos compradores “uma grande surpresa”. Essa é a explicação – registrada em depoimento prestado à PF, em 21 de setembro, pelo vice-presidente de Finanças, Marcio Percival – que a diretoria da Caixa deve ter dado também ao ministro da Fazenda, Guido Mantega. Este, questionado sobre o assunto por jornalistas, no último dia 10, tentou eximir-se de qualquer responsabilidade: “Pergunta para a Caixa. Isso é decisão da Caixa, não minha”. Resumo da ópera: um dos bancos que compõem o aparato financeiro do Estado brasileiro decide comprar metade de uma instituição financeira notoriamente podre; o banco a quem cabe regular e fiscalizar o sistema financeiro nacional aprova a compra, apesar de seus próprios técnicos terem apurado a existência de um enorme rom-

bo nas contas da instituição beneficiada pela transação. Mas nenhuma autoridade federal se dispõe a dar satisfações sobre a desastrada e desastrosa aplicação de um dinheiro que, afinal, é público. É uma situação tão insólita e surreal que só falta alguém alegar que tudo se resume a uma questão de boa-fé, já que a Caixa se anuncia como “o banco que acredita nas pessoas”. Haja fé. Todo esse imbróglio começou no final de 2008, quando a crise financeira internacional, provocada a partir da quebra do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers, espalhou o pânico no mundo das finanças. Na tentativa de se capitalizar, a direção do Banco Panamericano passou a oferecer sociedade a instituições mais sólidas ou a venda de algumas de suas carteiras de crédito. O primeiro alvo foi o Banco do Brasil, que ainda no fim de 2008 rechaçou o negócio. Paralelamente, o Pana-

mericano negociava a venda de 49% de seu capital social para a Caixa, transação anunciada pelo banco oficial em fins de 2009. A chancela do Banco Central só foi dada em 19 de julho de 2010, quando a Caixa já tinha depositado na conta do Panamericano a primeira parcela do pagamento. A segunda e última foi quitada cinco dias depois da decisão do BC. Ocorre que, além de o Banco do Brasil, mais de um ano antes, ter considerado as carteiras de crédito do Panamericano um mau negócio, já a partir de maio de 2010 o próprio Banco Central tinha levantado suspeitas sobre a existência de um rombo gigantesco nas contas do Panamericano. Conforme apurou a Polícia Federal, essas fraudes foram armadas pela diretoria do banco, uma verdadeira quadrilha que acabou demitida pelo controlador Silvio Santos. Durante as investigações a PF levantou e-mails trocados entre o então

presidente do banco, Rafael Palladino, e Guilherme Stoliar, sobrinho e braço direito de Silvio Santos, nos quais o segundo relata conversa que tivera com o tio e patrão: “Disse que vocês estão trabalhando firme para vender parte do banco e que, provavelmente, teremos a ajuda dos ‘amigos’ nessa venda”. E acrescentou: “Disse a Silvio quem eram os ‘amigos’ e ele ficou de boca aberta, como qualquer um ficaria”. Como resultado do escândalo, os 51% do capital social da empresa que ainda permaneciam em mãos do controlador foram transferidos, por decisão do governo, para o banco BTG Pactual. Os golpistas que faturaram com as fraudes continuam por aí, lépidos e fagueiros, enquanto a Caixa, muito surpresa, ficou com o mico. Mais perplexos estão os contribuintes, que não entendem até hoje por que a Caixa fez esse negócio.

A Justiça e a administração

Os truques de Chávez

á bons motivos para comemorar a decisão do presidente do Tribunal de Justiça do Estado, desembargador José Roberto Bedran, de liberar a licitação para o novo modelo de limpeza pública que a Prefeitura pretende implantar na capital paulista, e que havia sido suspensa por duas medidas liminares, porque, como ele afirmou com inteira razão, a demora na solução da questão poderia causar “lesão à ordem, à saúde e à economia públicas”, tendo em vista a natureza desse serviço essencial. Ao mesmo tempo, esse caso impõe uma reflexão sobre as repetidas tentativas feitas ultimamente por empresas derrotadas em concorrências de levar a Justiça a interferir na condução da administração pública. A licitação muda o sistema atual, pelo qual a limpeza é feita por cinco empresas responsáveis por cinco áreas em que a cidade foi dividida. O novo modelo centraliza vários serviços hoje realizados por aquelas empresas e divide a cidade em apenas dois lotes, entregue cada um a um consórcio diferente, que poderá ser composto por até três empresas. Eles cuidarão, em suas respectivas áreas de atuação, da varrição das ruas, que passará a ser feita também aos domingos, das lixeiras – serão instaladas 150 mil delas, que terão chips com localização e data de limpeza –, da coleta de entulho, da remoção de cartazes e faixas e da limpeza de bueiros e bocas de lobo. A unificação dos serviços deve impedir que garis

governo do caudilho Hugo Chávez – que além de autoritário é desastrado – resolveu jogar a culpa pela inflação que devasta a economia da Venezuela, já chegando a 27,7% em 12 meses até outubro, segundo analistas independentes, sobre os ombros dos fabricantes de 20 produtos básicos de consumo, congelando seus preços a partir de 2012. Entre esses produtos estão alimentos diversos e artigos como pasta de dentes, água mineral e detergentes, em sua maioria importados. Quanto aos produtos fabricados na Venezuela, os seus fabricantes passarão por uma auditoria para “evitar a especulação” e “dar aos produtos o preço justo”, como anunciou Hugo Chávez. Se porventura o caudilho venezuelano fosse capaz de aprender o que quer que seja, saberia que congelamento de preços não funciona em lugar nenhum, nem em economias de livre mercado nem em economias centralmente planejadas. É o que mostra sobejamente a experiência histórica, e é o que se constatará no proclamado “socialismo do século 21”. A medida é mais uma evidência do desastre a que Chávez levou a economia da Venezuela, que mal vem se recuperando em 2011 de dois anos seguidos de recessão (queda do PIB de 3,3% em 2009 e de 1,4% em 2010). Nos últimos anos, a inflação naquele país tem ficado sempre acima de 25% e, com o congelamento, os índices oficiais de preços poderão ser manipulados à maneira argentina – ou

H

ser levantada a reintegração de posse de uma área originalmente pertencente ao Parque do Ibirapuera desde a sua concepção para as festividades do IV Centenário da cidade e ocupada por uma agremiação estudantil para a prática desportiva, mesmo tendo esta o direito de utilizar as instalações magníficas do Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp). Por um acaso essa agremiação é o Centro Acadêmico XI de Agosto, que até assinou um contrato de locação para a construção de um prédio com frente para a Avenida Pedro Álvares Cabral. Se a propriedade foi passada à agremiação, que se proponha a instituição do direito de preempção ou a sua desapropriação; caso tenha sido cedida, que se casse por uso indevido. Essa área seria de maior utilidade para a população se fosse integrada ao antigo edifício do Detran – que sofreu adaptação para ser um museu de arte, formando com as dependências do Instituto

continuem a jogar o lixo varrido nos bueiros, entupindo-os e agravando o problema das enchentes. A suspensão da assinatura dos contratos, com duração de três anos e valor de R$ 2,25 bilhões, foi pedida à Justiça – e concedida por medidas liminares da 9.ª e da 14.ª Varas da Fazenda Pública – por empresas desclassificadas na concorrência. Alegaram elas que a Prefeitura exagerou nas exigências de atestados para comprovar sua experiência nesse tipo de serviço, o que acabou por limitá-la a grandes grupos empresariais. Além de restringir assim a com-

Até que ponto a Justiça pode ou deve contestar critérios técnicos da administração pública? petição, aquelas exigências teriam acarretado preços maiores do que os previstos. De acordo com os juízes, não havia mesmo justificativa para tais exigências. O juiz Randolfo Ferraz de Campos, da 14.ª Vara, além de decidir favoravelmente ao pedido de uma das empresas que se sentiu prejudicada, a Marquise, ainda pediu ao Ministério Público Estadual abertura de inquérito para investigar a disputa. A Prefeitura alega que os contratos foram assinados duas horas antes de ser comunicada da decisão judicial. E a Secretaria Municipal de Serviços logo informou que eles não entrariam efetivamente em vigor enquanto a liminar fosse mantida pela Justiça. Um contrato emergen-

Biológico uma grande reserva-parque para usufruto da população, aumentando a área de atuação do Parque do Ibirapuera. Infelizmente, nossos procuradores não se opõem à introdução de uma área comercial destoando de todo o entorno – que, com exceção do Hospital Dante Pazzanese e do Palácio 9 de Julho, é voltado para parques, exposições e artes. Mas nossos futuros doutores em Direito, além de gozarem o privilégio de ter sua cancha esportiva apartada da rude plebe, poderão ainda amealhar uns caraminguás extras para suas festividades. Isso me faz pensar se a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco ensina justiça ou técnica legal. Em 2012 vence a concessão da área do Círculo Militar, que poderá ser incorporada ao parque. Vamos ver qual será a atitude dos nossos procuradores. CORINTO LUIS RIBEIRO, arquiteto corinto@corinto.arq.br São Paulo

cial foi assinado com as empresas que hoje fazem a varrição das ruas, para que o serviço não fosse interrompido, com prejuízo para a população. Além do argumento decisivo, referente aos danos que uma demora na decisão do problema poderia acarretar para a população, o desembargador Bedran entendeu que os preços licitados ficaram apenas pouco acima dos pagos atualmente pela Prefeitura, o que se justificaria pela ampliação dos serviços a serem prestados pelas empresas vencedoras da concorrência. A questão não está ainda resolvida, porque todas as decisões tomadas até agora, contra e a favor do prosseguimento da implantação do novo modelo de limpeza pública, foram em caráter liminar. A empresa Marquise já anunciou que recorrerá da decisão do presidente do Tribunal. E, o que é mais importante para o desfecho do caso, falta o julgamento do mérito, que ainda não tem data marcada. Essa espera deveria ser aproveitada para uma análise serena sobre os casos em que a Justiça, pelo menos em primeira instância, interfere diretamente na forma pela qual os governantes conduzem a administração. O fato de a Justiça ser soberana em suas decisões não impede que se pergunte, por exemplo, se ela pode e deve contestar critérios técnicos fixados pela administração, como o da exigência de experiência no setor, feita a participantes de uma licitação, referente à limpeza pública ou a outro serviço. A repetição de exemplos como esse é inquietante.

“A infraestrutura da cidade de São Paulo está com o prazo de validade vencido, enquanto o prefeito só faz política” LUIZ DIAS / SÃO PAULO, SOBRE A PONTE DOS REMÉDIOS lfd.silva@uol.com.br

“O trabalho que fazem os vereadores paulistanos merece ser remunerado?” VICTOR GERMANO PEREIRA / SÃO PAULO, PERGUNTA QUE DEVERIA SER RESPONDIDA PELA POPULAÇÃO EM PLEBISCITO victorgermano@uol.com.br

O

seja, para que o governo possa exibir o resultado mais conveniente, do ponto de vista eleitoral. Mas o expediente só aumentará o descompasso existente entre a inflação oficial (22,7% no período anual até outubro, segundo o Banco Central de Venezuela) e a medida por fontes independentes. Em nome do que ainda resta do setor privado na Venezuela, o presidente da entidade empresarial Fedecámaras, Jorge Botti, depois de ponderar que “a estabilidade dos preços não pode ser obtida com controle, mas com políticas econômicas assertivas”, disse que a entidade estuda a possi-

O socialismo do caudilho venezuelano dá mais um passo no rumo do desastre econômico bilidade de entrar com ações judiciais contra o decreto de congelamento, que se baseia em uma lei de 2003. Como Chávez tem poderes excepcionais e comanda o Judiciário, essas ações não terão mais que um efeito simbólico. Quase toda a economia venezuelana – indo de instituições financeiras a estabelecimentos de varejo – já está sob o controle do governo. E é previsível que, depois da auditoria prevista em empresas que terão seus preços congelados, o governo decida também estatizá-las. O resultado dessa aventura já é conhecido pelos venezuelanos e somente se agravará no futuro: o desabastecimento, seguido de prósperas atividades de câmbio negro dos produtos constantes da tabela

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Analista diz que houve fraude em Cidades

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Higor Guerra, que assinou parecer contrário à implantação do VLT em Cuiabá para a Copa de 2014, denunciou ‘procedimentos irregulares’ de colegas

● “O governo de MT deve explicações. Por que o governador pressionou pela alteração, preferindo tecnologia mais cara?” JOSÉ SILVA

● “Cuiabá não precisa de VLT! Bogotá construiu um corredor de ônibus com veículos articulados que é exemplo para o mundo!” CARLOS MANÉ

HÁ 850 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “O que a presidente Dilma espera para demitir o ministro das Cidades? A fraude houve.” RENATO RIBEIRO

de preços congelados, a ser divulgada dentro de um mês. Segundo Karlin Granadillo, diretora da Superintendência Nacional de Custos e Preços Justos (Sundecap) – a Sunab local –, “há uma disparidade importante de preços na Venezuela em comparação com o exterior”, o que seria evidência de “uma carga especulativa muito forte”. Mas não foi divulgada qual é a taxa de câmbio nem o índice de inflação tomados para esse cálculo, para não falar do volume da oferta em relação à demanda. E o desabastecimento já é grave, obrigando os consumidores a enfrentar filas para comprar produtos em falta, como azeite e açúcar. Em sua auditoria de custos, a Sundecap não levará em conta custos indiretos, como os decorrentes das incertezas jurídicas e econômico-financeiras geradas pela socialização progressiva dos meios de produção, nem as ineficiências dos setores já estatizados e que se projetam sobre o conjunto da economia nacional. Como de hábito, Hugo Chávez tentará mascarar as consequências perversas de sua incapacidade gerencial. Não se afasta, por exemplo, a possibilidade de o governo subsidiar os produtos básicos de consumo ou de valorizar o bolívar fuerte em relação ao dólar para baratear os importados. Em ambos os casos, isso afetaria o déficit orçamentário, que já chega a 5,1% do PIB. O fato é que o congelamento é umembuste. O caudilhoacredita que, mantendo os preços artificialmente congelados por algum tempo, será mais fácil ganhar as eleições presidenciais de dezembro de 2012.

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 29 DE NOVEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Notas & Informações

Cortes no investimento Com receita bem maior que a prevista, o governo decidiu em novembro liberar cerca de R$ 12 bilhões para despesas até o fim de dezembro. Provavelmente nem haverá tempo para o uso desse dinheiro, neste exercício, mas, de toda forma, a presidente Dilma Rousseff decidiu atenuar a política de contenção de gastos prometida no primeiro trimestre. Austeridade de fato não houve e, além disso, os Ministérios sujeitos a algum aperto orçamentário cortaram essencialmente o investimento, não o custeio, segundo comprova trabalho do economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). De janeiro a outubro, os Ministérios das Cidades, Defesa, Educação, Turismo, Transportes e Integração Nacional investiram

R$ 25,3 bilhões, cerca de 9% menos que um ano antes, enquanto suas despesas de custeio cresceram 27%. É fácil explicar por que os cortes se concentram no investimento, quando há alguma tentativa de controle das finanças públicas. As despesas de custeio são pouco flexíveis. É muito difícil comprimir o valor corrente da folha de salários e benefícios do funcionalismo. Em geral, o governo só consegue economizar na folha quando a inflação corrói o valor real dos salários. O quadro de pessoal é muito raramente reduzido, porque os empregos são quase intocáveis. Quando os vencimentos são corrigidos ou aumentados, a rigidez do orçamento é levada a um nível mais alto e o governo perde espaço de manobra. Algo semelhante ocorre no caso de outras despesas com a manutenção da máquina administrativa – para não falar dos juros da dívida públi-

ca. Além do mais, parte importante das verbas é destinada obrigatoriamente aos setores de saúde e educação e a transferências constitucionais a Estados, municípios e regiões. A Desvinculação de Receitas da União (DRU) atenua o problema, sem resolvê-lo. Em sua análise, o economista Mansueto Almeida ressalva a qualidade de alguns itens contabilizados como custeio, como os financiamentos para o programa Minha Casa, Minha Vida e as despesas com educação. Segundo ele, esses itens constituem um custeio “com cara de investimento”. Em princípio, essa ressalva é corretíssima, até porque o investimento tende a ser acompanhado de novos gastos de custeio: quando se constrói um hospital ou uma escola, é preciso contratar pessoal, comprar equipamentos e materiais de uso e manter as instalações em operação. O custeio, portanto, pode ser tão

bom quanto o investimento para a economia e para o bem-estar da população, mas a palavra não ganhou conotação negativa por acaso. Tornou-se quase sinônimo de gasto improdutivo por causa da ineficiência dos governos e da baixa qualidade dos serviços prestados pelo setor público federal e por boa parte dos Estados e municípios. Mas o governo federal é há muito tempo um investidor ineficiente. Normalmente aplica muito menos do que o valor autorizado no orçamento, mesmo quando não há bloqueio de verbas nem compromisso de ajuste fiscal. Os gastos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) têm ficado sempre, desde seu lançamento em 2007, bem abaixo dos montantes planejados em cada ano. Neste ano, como já foi noticiado, dos R$ 21,6 bilhões desembolsados para o PAC até 11 de novembro só R$ 5,5 bilhões foram destina-

dos a ações previstas no orçamento de 2011. O resto correspondeu a restos a pagar, isto é, a empenhos de exercícios anteriores. De modo geral, os programas da União, vinculados ou não ao PAC, foram executados de forma deficiente em 2011. Até novembro, o desembolso para mais de metade dos projetos ficou abaixo de metade dos valores autorizados no orçamento, segundo a organização especializada Contas Abertas. O governo precisa, portanto, aprender não apenas a economizar, mas também a gastar. Para economizar, deve cuidar muito mais da eficiência do serviço público e empenhar-se mais seriamente para desengessar o orçamento. Se avançar nesse esforço, acabará aprendendo a elaborar e a executar projetos. Atualmente, muitos são barrados antes de entrar em execução, porque não passam sequer pelo crivo dos organismos de controle financeiro.

Armadilhas sobre rodas

As sanções árabes à Síria

ão de arrepiar as conclusões do teste de avaliação da segurança dos automóveis populares mais vendidos no Brasil. Na maioria deles, colisões a velocidades moderadas representam um alto risco de lesões fatais para motoristas e acompanhantes, pois esses veículos não dispõem de bolsas infláveis (air bags) e suas cabines têm estrutura deficiente. Numa escalade1a5,setemodelosbásicos das principais montadoras em operação no País receberam a nota mais baixa. São armadilhas sobre rodas. De acordo com a ONU, o Brasilregistra emmédia,por ano,19 mortes no trânsito para cada 100 mil habitantes. É um índice quatro vezes maior do que o detectado na Europa, de cerca de 5 mortes por 100 mil habitantes por ano. São vários os fatores que explicam o alto número de acidentes de trânsito registrados no País, entre os quais os efeitosdaingestãodoálcoolocupam posição destacada. Também a má qualidade das pistas e asinalizaçãoinsuficientecontribuem para essas ocorrências. Mas o alto índice de letalidade tem muito a ver com a má qualidadedosveículosnoqueserefere à segurança das pessoas que os utilizam. Esta é uma clara conclusão dosresultadosdostestesdosveículos novos fabricados e vendidos na América Latina – onde o índice de acidentes com mortes éo maisaltodo mundo–realizados pelo braço latino da New Car Assessment Programme (NCAP). Os testes de impacto a

m 1979, numa decisão inédita, a Liga Árabe suspendeu o Egito por ter procurado Israel para fazer a paz. A suspensão durou dez anos. Em fevereiro último, a entidade aplicou a mesma pena à Líbia pelas centenas de vítimas civis caídas nos primeiros protestos contra o regime de Muamar Kadafi. No mês seguinte, apoiou o ato do Conselho de Segurança da ONU que estabelecia uma zona de exclusão aérea no país norte-africano. No domingo passado, invocando desta vez a necessidade de prevenir uma nova intervenção militar estrangeira na região, a Liga tomou a iniciativa de impor à Síria, que havia sido suspensa semanas antes, um duro pacote de sanções econômicas e diplomáticas. Foi a resposta, também sem precedentes, à recusa do ditador Bashar Assad de sustar a matança sistemática de ativistas pró-democracia, libertar parte considerável dos 10 mil presos políticos e permitir o ingresso de observadores do organismo, como previa o plano de pacificação aprovado pela Liga Árabe, com o qual ele dissera concordar. A Síria está convulsionada há oito meses. Mais de 3.500 pessoas já morreram nos choques com as forças de segurança do regime e nos ataques do Exército aos redutos da insurgência, como as cidades de Homs, Hama e Deraa, onde ela irrompeu. Estima-se em mais de 5 mil o total de refugiados na Turquia. As sanções – que incluem o congelamento de ativos do governo sírio nos países do bloco,

S

consumidores que decidem embarcar nesse otimismo, como forma de passar mais segurança aos empresários e consumidores. MARIA CHRISTINA R. GALANTE crisgalante@uol.com.br São Paulo

Chega, né?!

Enquanto a coisa pega fogo no Hemisfério Norte, a dona Dilma, sem bala na agulha, de novo joga nas costas do povo brasileiro a responsabilidade de salvar o Brasil, exortando todos a comprar, comprar e comprar. Alguns dados para nossa presidente refletir: o crédito está muito mais caro e as instituições financeiras começaram a dificultar o máximo essa prática. O povo está altamente endividado e a inadimplência preocupa (o Vale do Anhangabaú que o diga). A inflação, principalmente a dos alimentos, corre solta e o recurso à importação fica difícil

média velocidade (64 quilômetrosporhora)contraumabarreira deformável, que simulam uma colisão com outro veículo, mostraram que os veículos vendidos na região são frágeis, não dispõem de itens hoje essenciais em outros países para proteger as pessoas, cujas vidas, por isso, são colocadas em risco. Esses carros estão atrasados 20 anosemrelaçãoaosmodeloscomercializados na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo. A NCAP é uma organização apoiada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pela Federação Internacional do Automóvel (FIA) que

Carros vendidos no Brasil são altamente inseguros é a conclusão de uma pesquisadora realizatestesindependentespara alertar os consumidores e os governos sobre a segurança dos modelos comercializados no país e orientar os fabricantes, desde que estes estejam dispostos a receber orientações desse tipo. No Brasil, eles resistem. Já no ano passado, a Anfavea, associação que representa as montadoras instaladas no País, disse que osveículosaquifabricadosatendem às especificações legais e, por isso, seus fabricantes nada tinham a comentar sobre os resultadosdostestesdaNCAP.Repetiramarespostanesteano.De fato, a despeito de colocarem em risco a vida de seus usuários, os veículos comercializados no mercado interno respeitam as regras do governo.

com o dólar às portas de R$ 2. Os estrangeiros que estão por aqui por causa da Fórmula 1 se assustaram com o salto dos preços na cidade de São Paulo de 2010 para 2011. A carne está pela hora da morte, desde o início do mês há cortes que subiram 30%. É, dona Dilma, a coisa vai ficar preta. MAURICIO LIMA mapeli@uol.com.br São Paulo

FGTS

A correção monetária anual aplicada aos saldos do FGTS em 2010 foi de 0,6887% (TR), enquanto o IGP-M foi de 11,03%, o IPCA foi de 6,3% e o INPC, de 6,72%. Quem são os irresponsáveis, os sindicalistas que cuidam do FGTS, os congressistas ou a Presidência da República? HÉLIO MAZZOLLI mazzolli@terra.com.br Criciúma (SC)

Essas regras têm sido muito favoráveis às montadoras, desde que elas começaram a se instalarnoPaís,nametadedo século passado. Nos últimos anos, elas ganharam apoio explícito dos governos do PT, pois, na década de 1980, o partido deu seus primeiros passos na região onde se concentravam as montadoras e onde, não por acaso, surgiu politicamente sua figura mais popular, o ex-presidente Lula. Desde essa época, em várias ocasiões, interesses do PT e das montadoras se confundiram. O episódio mais recente ocorreu em setembro, com a escandalosa proteção dada a elas, mediante a imposição de alíquota de 30%doImpostosobreProdutos Industrializados(IPI)aosveículos importados fora do Mercosul e do México. Assim protegidas, e agindo como uma espécie de “oligopólio consentido”, as indústrias têm assegurada uma imensafatiadomercadodoméstico. Desse modo, impõem preçosmuitoaltos–mesmodescontados os impostos, que são muito pesados, os carros brasileiros chegam a custar o dobro do modeloequivalentevendidonosEstadosUnidos–eamealhamgrandeslucros.Deacordocompublicaçõesespecializadasdomercado de automóveis, nos oito primeiros meses deste ano, elas remeteram para suas matrizes no exterior cerca de US$ 4 bilhões como pagamento de lucros e dividendos. É o setor que mais remete lucros para o exterior. Mas elas quase nada investem em tecnologia e, sobretudo, em segurança dos veículos. O resultado não poderia ser diferente daquele constatado pela NCAP.

“Como já esperávamos, a Copa está como o PT gosta: um buraco sem fundo!” LAERT PINTO BARBOSA / SÃO PAULO, SOBRE OS R$ 2 BILHÕES DE AUMENTO DOS CUSTOS laert_barbosa@ig.com.br

“Será possível noticiar alguma obra do governo federal sem que haja corrupção, desvio de verbas ou maracutaias?” MARCELO STOPPA GOMIDE / UBERLÂNDIA (MG), IDEM stoppagomide@gmail.com

E

a suspensão das transações financeiras e comerciais, excluídas as vendas de bens de consumo popular, e a proibição do ingresso de hierarcas sírios nos territórios dos países-membros da Liga – são uma tentativa de levar as elites econômicas de Damasco e Aleppo, o segundo centro do país, a convencer o ditador do qual são aliadas a fazer concessões aos opositores. Nestes oito meses de confrontos, Assad se limitou a mencionar vagos projetos de abertura política. Confiando nas suas bases etnorreligosas, que agregam a seita islâmica alauita à minoria cristã – temerosas da ascensão ao

A pressão da Liga Árabe não parece suficiente para convencer Assad a negociar com a oposição poder dos rivais sunitas ou, pior ainda, dos fundamentalistas –, ele insiste em descrever os antagonistas como “bandos de terroristas armados, a serviço de interesses estrangeiros”. Mas a plutocracia dos negócios, credora dos seus sócios do clã Assad que controla o país há quatro décadas, só sentirá no bolso motivos para pressionar Bashar se as sanções forem efetivamente aplicadas. Dois dos 22 membros da Liga, vizinhos da Síria, que figuram entre os seus principais parceiros comerciais, indicaram que não devem fazêlo. O maior deles, o Iraque, se absteve na votação de anteontem, lembrando o que sofreu sob as medidas punitivas do Ocidente contra o então ditador Saddam Hussein. E o Líbano, on-

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Obras da Copa já estão R$ 2 bi mais caras

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Pressão política que levou à alteração de parecer no Ministério das Cidades é exemplo da elevação ● “É um país administrado por gente que nunca lutou para empreender, só para ganhar espaço político e trocar interesses. Não é assim que vai para a frente.” NADIR COURI

● “Alguém está surpreso? Isso é só o começo. A ressaca virá depois de 2014.” RUBENS DIAS HÁ 851 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● "Só uma pergunta: alguém vai responder por isso?” CLAUDIO LAZZARINI

de a influência síria é crucial, não apenas votou contra as sanções, como se “dissociou” da resolução aprovada. Assad também conta com o Irã, que tem nele o seu único aliado no mundo árabe, e com a Rússia, firmemente estabelecida no país desde os tempos da União Soviética, para atenuar os efeitos das sanções o suficiente para manter a coalizão de lealdades e conveniências que o sustenta. Aliás, no que depender da Rússia e da China, não há hipótese de o Conselho de Segurança da ONU atender ao apelo da Liga Árabe e impor também uma bateria de punições. (Os Estados Unidos e a União Europeia já o fizeram, meses atrás.) Tanto assim que o foro preferido pelos governos solidários com o movimento civil na Síria é outro: o Conselho de Direitos Humanos da ONU. Na sexta-feira, o órgão sediado em Genebra discutirá os crimes cometidos por Bashar contra o seu povo com base nas conclusões de uma investigação conduzida a distância pelo cientista político brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, cuja equipe foi proibida de entrar na Síria. Mas, seja no Oriente Médio, seja no Ocidente, não se divisa o tipping point do conflito no país – a conjunção de fatos que privarão o ditador dos recursos de poder graças aos quais, apesar do isolamento internacional, ele tem conseguido resistir. A insurgência paga um preço cada vez maisalto. Estenovembrotemsidoo piormêspara omovimento. Só no domingo, enquanto a Liga Árabe se reunia no Cairo, foram mais 32 mortos.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 30 DE NOVEMBRO DE 2011

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Plinio Villares Musetti

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Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

O exemplar Carlos Lupi Um dos efeitos perversos da ininterrupta sucessão de denúncias de corrupção na administração pública é a banalização do assunto, que acaba se tornando rotineiro. A cada caso, parece que menos gente fica indignada com a bandalheira. Fica parecendo que é assim mesmo que a coisa funciona e não tem outro jeito. Por que, então, esquentar a cabeça? Sem falar que os interessados na manutenção desse estado de coisas ficam à vontade para pura e simplesmente negar que a corrupção exista. É apenas uma “onda de denuncismo” alimentada pelas “elites”. São apenas “boatos”, como teve o caradurismo de afirmar dias atrás em relação ao mensalão do PT, o operador principal daquele esquema de compra de apoio parlamentar, Delúbio Soares.

Mas a corrupção existe, sim, e em caráter quase que endêmico, ou institucional, e por isso não sai do noticiário. Veja-se o caso do intrépido ministro Carlos Lupi. Além de tudo o que se publicou a respeito da sua atuação como ministro do Trabalho, matéria publicada pela Folha de S.Paulo no último sábado revela que ele foi funcionário fantasma da Câmara dos Deputados entre dezembro de 2000 e junho de 2006, período em que se dedicou exclusivamente a atividades partidárias, como vice e depois presidente do PDT. Ou seja, o contribuinte brasileiro pagou, por quase seis anos, para que Lupi cuidasse dos interesses de seu partido. Há mais. Sob o título Proliferação de sindicatos no Brasil vai na contramão mundial, o Estado publicou, em maio de 2010, matéria de Lu Aiko Otta que analisava o impressionante aumento do número de enti-

dades sindicais registradas no País nos últimos anos, em contradição com a tendência universal de os sindicatos se fundirem para ganhar maior representatividade e força política. Agora, reportagem publicada na revista Veja revela que “assessores do ministro Carlos Lupi são acusados de cobrar propina para legalizar sindicato”. A partir daí entendese qual tem sido o estímulo para a multiplicação de entidades sindicais no País. Acrescenta a revista que a denúncia de que assessores do Ministério do Trabalho “só liberam o Registro Sindical se pagar por ele aos amigos da Força Sindical” foi feita pelo até agora não registrado Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Reparação de Veículos e Acessórios no Estado de São Paulo, em ofício dirigido à presidente Dilma Rousseff no dia 22 de fevereiro último. A Força Sindical é o braço sindical do PDT,

Ampliação de rodovias

F

aixas adicionais de tráfego serão construídas, a partir de 2013, nas principais rodovias do Estado de São Paulo, numa tentativa de aliviar os congestionamentos no acesso à capital e nos trajetos entre as cidades das regiões paulistas de maior desenvolvimento. As obras estão previstas nos contratos de concessão das Rodovias Imigrantes, Anhanguera, Bandeirantes, Ayrton Senna, Castelo Branco e Raposo Tavares e exigirão investimentos de R$ 478,8 milhões. De acordo com a Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), as novas faixas vão beneficiar os cerca de 400 mil motoristas que utilizam diariamente essas estradas. Mais uma vez, opta-se por uma reforma isolada de um sistema já esgotado, quando o certo seria formular e implantar um plano diretor de transporte público integrado, com a atenção devida a cada um dos modais que o compõem. As regiões metropolitanas do Estado – de Campinas, da Baixada Santista e de São Paulo – e grandes aglomerações urbanas, tais como Jundiaí, Piracicaba, São José dos Campos e outras, são polos industriais e agrícolas da maior importância, densamente povoados, que necessitam de um sistema de transporte de passageiros e de carga integrado. Esse é um problema que não se resolverá com medidas pa-

Decência

liativas e isoladas, como a ampliação de faixas em algumas rodovias que servem de ligação entre essas regiões. Pelo contrário. Tais obras acabarão por estimular o uso do transporte individual de grande parte daquelas pessoas que, cansadas dos congestionamentos, optaram pelos ônibus fretados que fazem o trajeto entre a casa e o trabalho. Mais do que isso, as obras agora anunciadas consumirão recursos que, usados no transporte de massa, poderiam atender um número muito maior de pessoas, e por longo tempo. O adiantado processo de co-

Novas faixas de rolagem aliviam por um período a saturação das estradas no entorno da capital nurbação daquelas três regiões metropolitanas, de São Paulo, Campinas e Baixada Santista, torna urgente o planejamento conjunto capaz de assegurar os deslocamentos diários – em boas condições, de conforto e rapidez – de mais de 1 milhão de pessoas, entre elas trabalhadores e estudantes, entre seus municípios e a região metropolitana de São Paulo. Desse total, mais de 670 mil se deslocam para o centro expandido da capital. Essa movimentação é cada vez mais intensa. A partir das 5h30, formam-se em estradas como a Raposo Tavares, a Castelo Branco, a Imigrantes e a Bandeirantes congestionamentos de dezenas de quilômetros, que se mantêm até as 10 horas,

Deputados decidiu que crimes cometidos até cinco anos antes da posse do criminoso perdem a validade. Esse é o Legislativo que qualquer republiqueta de bananas merece.

Acho que entendi tudo errado o que o PT falava no tempo em que era oposição. Entendi que Lula e seus companheiros de partido e de sindicatos diziam que queriam fazer um Brasil mais decente...

NELSON PENTEADO DE CASTRO pentecas@uol.com.br São Paulo

EUCLIDES ROSSIGNOLI euros@ig.com.br Itatinga

História política

PODER LEGISLATIVO Prazo de validade

Sólon, que viveu muitos séculos antes da nossa era cristã, portanto, há mais de 2 mil anos, foi quem, sozinho, redigiu toda a legislação da Grécia. Daí ser ele até hoje chamado de “pai da democracia”. Suas leis inspiram a maioria das leis que vigoram até hoje no mundo inteiro, admirável! Como é possível que o nosso Congresso, com mais de 600 legisladores, produza tanta insensatez?

O Conselho de Ética (!) e Decoro (!) Parlamentar da Câmara dos

GERARD BANNWART ggjb87@gmail.com São Paulo

Transparência

Somente a transparência total nos livrará da corrupção. RENZO ORLANDO renzoorlando@uol.com.br São Paulo

partido que, sob o comando de Lupi, domina o feudo do Trabalho. O sindicato denunciante, com sede em Caieiras, município da Grande São Paulo, é presidido pelo mecânico petista Irmar Silva Batista. O ofício contendo a denúncia, que no dia 9 de março o Palácio do Planalto confirmou ter recebido, não teve nenhum efeito, por alegadas “questões técnicas”: o trecho que continha o objeto da denúncia, reproduzido em fac-símile pelo semanário, acabou “cortado na mensagem recebida”, segundo o texto da reportagem. É possível, com boa vontade, acreditar que, em fevereiro, a denúncia sobre a exigência de propina tenha sido considerada pela Presidência da República apenas o resultado de conflito de interesses entre militantes petistas e aliados pedetistas. Hoje, depois de Carlos Lupi ter exibido fartamente seu estilo de administrar, não há como deixar de levar a

sério as denúncias de que é alvo. Resta saber o que Dilma Rousseff fará a respeito. Tudo leva a crer que a presidente está convencida de que precisa se livrar de mais essa herança do governo Lula, mas, por uma série de razões políticas – inclusive para não dar a impressão de que está sendo pautada pelo noticiário –, só o fará na anunciada reforma ministerial. Então, a “faxina” se diluirá no conjunto da reorganização do Ministério. E tanto Lupi quanto o ministro das Cidades, Mario Negromonte, poderão deixar o governo de cabeça erguida. Mas, se com a reforma ministerial não vier uma mudança radical desse modelo de feudalismo partidário que domina a administração pública, Dilma permanecerá até o fim de seu mandato refém dos interesses nada republicanos que hoje predominam em sua base de sustentação partidária. Pois outros Lupis virão.

Dois anos ruins pelo menos. À tarde, as longas e lentas filas de veículos voltam a tomar as rodovias, entre 16h30 e 22 horas. Esse comboio interminável agrava problemas urbanos, como os de manutenção das vias internas dos municípios para assegurar condições mínimas de fluidez do tráfego. O desafio de permitir que milhares de pessoas possam cumprir compromissos de trabalho, de estudo ou de consumo e voltar a suas casas exige dos governantes dos municípios que hoje integram as grandes concentrações urbanas a construção de uma ampla malha ferroviária entre as cidades. Projetos como o Expresso ABC, o Expresso Jundiaí e o Ferroanel deveriam ter sua implantação acelerada ao máximo e servir de modelo para outros tantos planos semelhantes ligando São Paulo às regiões metropolitanas de Campinas e da Baixada Santista. O Expresso ABC é uma linha de trem que reduzirá à metade o tempo de viagem entre a capital e cidades da região. O Expresso Jundiaí ligará o município à capital – um percurso de 45 quilômetros – em 25 minutos. O Ferroanel também retirará milhares de caminhões das estradas e ruas, porque permitirá que se eleve para 1,5 milhão o número de contêineres que atualmente chegam de trem, por ano, ao Porto de Santos. A melhoria da malha rodoviária é necessária, mas não pode ser feita de forma isolada dos projetos para a ampliação do transporte sobre trilhos.

“A ‘megassesmaria’ do Kassab está em ebulição” FRANCISCO JOSÉ SIDOTI / SÃO PAULO, SOBRE OS EFEITOS DOS DESMANDOS DO PREFEITO fransidoti@gmail.com

“Podia-se esperar: com a intervenção do governo, a Vale ‘reduz investimentos’. Era uma vez a empresa orgulho dos brasileiros...” JOSÉ ERLICHMAN / SÃO PAULO, SOBRE A INTERFERÊNCIA PÚBLICA EM NEGÓCIOS PRIVADOS joserlichman@terra.com.br

O

Brasil deve preparar-se para pelo menos mais dois anos de estagnação no mundo rico, aperto no mercado financeiro e comércio internacional em marcha lenta. Para atenuar o impacto da crise, o governo terá de ir além da redução dos juros básicos. Precisará conter seus gastos de custeio, cortar impostos e dar espaço ao setor privado – consumidores e empresas – para manter um ritmo razoável de atividade sem pressionar a inflação nem abrir um buraco perigoso nas contas externas. As previsões de uma fase mais difícil foram reforçadas pelas novas estimativas da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), formada por 34 dos países mais desenvolvidos. As economias desses países crescerão em média apenas 1,6% em 2012 e 2,3% em 2013. Neste ano a expansão não deve passar de 1,9%. O crescimento do comércio mundial deve passar de 6,7% em 2011 para apenas 4,8% no próximo ano. Em seguida haverá uma retomada, com aumento de 7,1%. As condições de concorrência em todos os mercados serão quase certamente muito mais duras em todo esse período. Mas a realidade poderá ser pior que o cenário desenhado pelos economistas da OCDE. Se os governos europeus continuarem retardando uma solução para a crise das dívidas soberanas, nem as maiores economias da região ficarão livres de dificuldades muito graves. Um sinal de alerta soou na semana passada,

quando o governo alemão só conseguiu vender, num leilão, 65% dos títulos oferecidos ao mercado. Além disso, também no Reino Unido a situação é pior do que se previa até há pouco tempo. O Ministério das Finanças cortou de 1,7% para 0,9% a estimativa de crescimento neste ano e de 2,5% para 0,7% a expansão projetada para 2012. Além disso, até 2015 o governo precisará obter financiamentos de 111 bilhões de libras a mais do que se calculava anteriormente. Os Estados Unidos, também com grandes problemas fiscais, ainda crescerão bem mais do que a Europa e o Japão nos pró-

As novas projeções da OCDE confirmam piora do cenário global e risco crescente para o Brasil ximos dois anos, segundo a OCDE. Pelas novas contas, o crescimento americano passará de 1,7% neste ano para 2% em 2012 e 2,5% em 2013. Para a zona do euro, os números estimados são 1,6%, 0,2% e 1,4%. O Japão deverá sair de uma contração de 0,3% em 2011 para uma expansão de 2% no próximo ano e 1,6% no seguinte. O governo americano, embora muito endividado, ainda se financia muito mais facilmente que os europeus. A demanda de ativos denominados em dólares – especialmente papéis do Tesouro – continua elevada e assim deverá permanecer por muito tempo, se não houver uma enorme surpresa. Em reunião com líderes europeus na segunda-feira, em Washington, o pre-

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'Palmeiras é o rival que mais incomoda’

1.210

Ao ‘Estado’, dirigente corintiano Andrés Sanchez garante título da Libertadores: ‘De 2014 não passa’ ● “O maior inimigo do Corinthians é o Andrés Sanchez.” FRANCISCO SALGADO

● “É uma vergonha o Corinthians ter um estádio com o dinheiro público. Sou palmeirense e vascaíno desde que nasci.” PAULO THIENE

HÁ 852 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Muita calma nessa hora, torcida palmeirense. O Corinthians mostrou que, se não é um time brilhante, foi o mais consistente. O Palmeiras ainda demonstra muita inconsistência.” IVAN DA SILVA LESSA

sidente Barack Obama declarouse preparado para organizar alguma ajuda à Europa. No mesmo dia, a Fitch, uma das principais agências de avaliação de risco, reafirmou a nota AAA para a dívida pública americana, mas com perspectiva negativa. Apesar disso, e do rebaixamento anunciado em agosto pela Standard & Poor’s, os títulos federais dos Estados Unidos permanecem como referência para o mercado mundial. A zona do euro já está em recessão e seu Produto Interno Bruto (PIB) deve encolher 1% em termos anualizados neste trimestre, segundo a OCDE. No primeiro trimestre, deverá diminuir em ritmo equivalente a 0,4% ao ano. O desastre será menor no resto do ano e o resultado médio de 2012 será uma expansão modestíssima de 0,2%. Enquanto a crise se agrava, líderes da zona do euro continuam promovendo reuniões, apresentando esboços de planos para reforma do bloco e adiando a adoção de soluções práticas para os desafios mais urgentes. Conseguiram aprovar o aumento do fundo europeu de resgate de € 440 bilhões para € 1 trilhão, mas não foram capazes de pôr em funcionamento esse mecanismo. Enquanto o quadro piora, o Banco Central Europeu continua como a única entidade regional capaz de agir para atenuar os problemas. Em suas piores fases, países latino-americanos foram capazes de apresentar resultados muito mais tangíveis em seus duros programas de ajuste supervisionados pelo Fundo Monetário Internacional.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 1 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Informação

Notas e Informações A3

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Notas & Informações

Pronto-socorro para os bancos O otimismo espalhou-se ontem pelos mercados, quando os maiores bancos centrais do mundo rico anunciaram uma ação coordenada para socorrer o sistema financeiro, ameaçado pela crise das dívidas soberanas e pela escassez de financiamento no próprio setor bancário. O Federal Reserve (Fed), o Banco do Canadá, o Banco da Inglaterra, o Banco do Japão, o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco Nacional da Suíça participarão de um esquema para abastecer os bancos com recursos mais baratos. Para isso, concordaram em reduzir o custo das operações entre os próprios bancos centrais, a partir de 5 de dezembro. Se der tudo certo, esse dinheiro acabará reforçando a atividade econômica da Europa, já muito debilitada e com perspectivas mui-

to ruins para os próximos dois anos. Outra notícia animadora veio da China, onde a autoridade monetária reduziu o depósito compulsório dos bancos, deixando-lhes mais dinheiro para financiar os negócios. As boas novidades surgiram um dia depois de anunciado o risco de rebaixamento de 87 bancos europeus pela agência Moody’s de classificação de risco. A lista inclui bancos de algumas das maiores economias da zona do euro – 22 da Espanha, 17 da Itália e 7 da França – e de várias economias médias e pequenas. No mesmo dia, a agência Fitch informou o rebaixamento de dois bancos italianos de médio porte. Mais uma vez as grandes agências seguem o velho roteiro: depois de terem falhado na transmissão dos sinais de alerta, entram em cena com atraso e agravam os problemas de países e bancos já em dificuldades. Também a ação dos bancos cen-

trais seguiu um padrão bem conhecido nos últimos anos – mas a repetição, neste caso, tem um valor positivo. Desde o agravamento da crise financeira, em 2008, as autoridades monetárias têm coordenado suas ações mais prontamente que os Ministérios de Finanças. Já haviam feito isso em 2001, depois dos ataques terroristas às Torres Gêmeas e ao Pentágono, quando foi preciso mostrar aos mercados a disposição de fornecer o apoio necessário. Entre o fim de 2008 e o primeiro semestre de 2009 os Ministérios de Economia e Finanças ainda conseguiram mostrar alguma capacidade de articulação para socorrer os bancos e sustentar algumas grandes empresas. Tanto nos Estados Unidos como na Europa os governos agiram para mitigar os efeitos da crise e limitar a quebradeira nos mercados e o aumento do desemprego. Tiveram algum sucesso e para isso assumiram

compromissos financeiros enormes, hoje refletidos no mau estado de suas contas fiscais. Passada a pior fase da crise, no entanto, diminuiu muito a capacidade de coordenação dos governos. O Grupo dos 20 (G-20), formado pelas maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento, brilhou durante algum tempo como fórum de articulação de políticas, mas perdeu eficiência e relevância nos últimos dois anos. Os governos europeus também se mostraram pouco eficientes na criação de soluções de longo alcance para a crise das dívidas soberanas e para a deterioração das condições no mercado financeiro. Conseguiram evitar a quebra da Grécia, de Portugal e da Irlanda, mas não evitaram o contágio de grandes economias da região, como Espanha, Itália e França, nem conseguiram pôr em operação em prazo razoável seu fundo de

resgate financeiro. Durante a maior parte do tempo, o BCE tem funcionado como bombeiro, apagando incêndios do dia a dia por meio de suas intervenções no mercado financeiro e, de modo especial, no mercado de títulos públicos emitidos até por grandes países, como a Itália. Já se discutiu se o BCE teria ultrapassado seu mandato, mas essa discussão é obviamente um tanto acadêmica. Sem sua intervenção, a rolagem das dívidas teria sido bem mais difícil. Reunidos em Bruxelas, na terça-feira, ministros de Finanças da zona do euro foram incapazes, mais uma vez, de resolver como cumprirão o acordo de aumentar de € 440 bilhões para € 1 trilhão o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. A única notícia positiva foi sobre a próxima liberação de mais € 8 bilhões do primeiro pacote de socorro à Grécia, negociado em 2010.

Os deputados e seus fantasmas

A turba ataca em Teerã

Casa que deveria representar os interesses do povo do Estado de São Paulo resistiu o quanto pode à obrigação de informar o destino que dá a boa parte do dinheiro que os contribuintes paulistas recolhem para sustentá-la. Durante 11 anos, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo brigou na Justiça para não ter de publicar a lista completa de seus servidores e os cargos por eles ocupados. Para o bem do serviço público e dos interesses da população, finalmente, em maio, seu último recurso foi rejeitado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e ela foi condenada a publicar a lista. No entanto, mesmo sujeito à multa diária de R$ 1 mil, o Legislativo paulista não cumpriu o prazo que lhe foi dado para fazer a primeira publicação – depois, terá de publicar a lista com regularidade e, também, quando ela sofrer alterações. A população continua sem saber quantas e quais pessoas sustenta na Assembleia, com os impostos que paga. Deve haver motivos muito fortes para tão feroz resistência dos deputados em divulgar uma informação que, pelos princípios básicos da administração pública, como a moralidade e a publicidade dos atos, deveria ter sido sempre do conhecimento geral. Uma clara indicação dos motivos que levam os deputados a esconder da população o que fazem com o dinheiro dela foi mostrada na reportagem de

o Irã dos aiatolás, só há dois tipos de manifestações de protesto. Aquelas que a teocracia reprime com brutalidade, como as que, em um desafio sem precedentes, tomaram as ruas de Teerã em meados de 2009 para denunciar a fraudada reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad. E aquelas que o regime apoia, quando não incentiva, como acaba de acontecer agora, para manter aceso o ódio aos inimigos que abomina – o “ente sionista” (Israel), o “grande Satã” (Estados Unidos) e o “pequeno Satã” (Reino Unido). Destes, o único alvo físico ainda disponível no país são as imponentes edificações da missão diplomática britânica, no coração da capital iraniana – famosas por sediar em 1943 a conferência em que os líderes aliados Franklin Roosevelt, Winston Churchill e Josef Stalin planejaram as etapas finais da guerra contra a Alemanha nazista e o Japão. Anteontem, as dependências, em tese protegidas por acordos internacionais, foram invadidas e saqueadas por uma turba de 300 a 400 “estudantes”, na realidade membros da milícia Basij, ligada ao aiatolá Ali Khamenei. A própria televisão iraniana mostrou que forças dos serviços de segurança assistiram, impassíveis, às cenas de vandalismo. Levou horas até que agentes em trajes de combate, porém contrafeitos, retirassem os agressores. O ultraje lembrou de imediato a ocupação da embaixada americana em Teerã por uma horda xiita, logo em seguida ao advento

A

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Dados desatualizados

Cabem alguns esclarecimentos sobre a matéria MEC vai inspecionar 70 instituições mal avaliadas (23/11). Tanto o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) como o Índice Geral de Cursos (IGC) são uma realidade, não cabe refutar a importância desses indicadores. No entanto, dados de 2008 e 2010 são reunidos num relatório e apresentados como IGC de 2011 sem a devida atualização e não refletem a realidade presente do curso de Sociologia e Política. Desde o início do segundo semestre deste ano, todos os itens apontados como críticos no relatório do Ministério da Educação (MEC) já estavam resolvidos no curso. E essa nova situação não foi atualizada no último relatório do IGC divulgado pelo MEC, o que causou confusão na sociedade e cons-

Fernando Gallo e Fabio Serapião publicada no Estado (27/11). Trata-se da existência de funcionários não concursados que recebem sem que precisem demonstrar o desempenho regular de uma função pública capaz de justificar a remuneração que recebem. São os funcionários “fantasmas”, nomeados por critérios políticos, que continuam a morar em suas cidades de origem, trabalhamnasatividadesquedesenvolviam antes da nomeação, não batem ponto nem precisam assinarlivrodepresença,malconhecem o prédio da Assembleia –informe-se,aoseventuaisinte-

Uma velha prática que a Assembleia insiste em manter oculta, apesar da condenação do STF ressados, que fica no bairro do Ibirapuera–, masrecebemregularmente seus vencimentos, pagos pelo contribuinte. A prática é generalizada e não éprivilégiodesteoudaquelepartido. A reportagem identificou funcionários fantasmas lotados em gabinetes de deputados do DEM, do PSDB, do PTB, do PMDB, do PT, do PDT e do PV. Um exame atento da lista dos funcionários da Assembleia, quando ela for divulgada, muito provavelmente ampliará a lista de partidos. A Mesa Diretora da Casa diz não ser responsável pela fiscalização do trabalho desse tipo de funcionário. “O controle de frequência é de responsabilidade das unidades administrativas”, afirmou, em nota com que pro-

trangimento na comunidade acadêmica, desnecessariamente. Quanto ao resultado negativo do Enade que provocou o rebaixamento do IGC, informamos que historicamente os alunos de Sociologia e Política têm alcançado bons resultados. No exame de 2005, por exemplo, foi a instituição da área de Ciências Sociais que obteve a maior nota no Estado de São Paulo e um dos seus alunos teve a segunda maior nota do País. Isso sem contar que há algum tempo nossos alunos são contemplados com bolsas da Fapesp e do CNPq, instituições científicas que só destinam bolsas a instituições de ensino superior que demonstrem qualidade. ALDO FORNAZIERI, diretor acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), e RAFAEL ARAÚJO, coordenador do curso de Sociologia e Política de São Paulo jorge.comunica@gmail.com São Paulo

curou apresentar ao jornal as razões da existência desse tipo de funcionário. Desse modo, transferiu a questão para os gabinetes dos deputados, as lideranças, as secretarias e os gabinetes dos integrantes da Mesa Diretora. Procurados, os deputados que utilizam recursos públicos para sustentar pessoas por eles escolhidas valem-se de argumentos semelhantes para tentar justificar essa prática. O trabalho legislativo, alegam, não se limita às atividades internas – isto é, desenvolvidas na sede da Assembleia Legislativa –, masenvolvetambémmuitasatividades externas, daí a ausência de seus “assessores” do local de trabalho natural. “Ele fica na extensão de meu gabinete. Tenho escritório em Osasco”, disse, por exemplo, o deputado Celso Giglio (PSDB), para justificar a contratação do gerente comercial Bruno Siniauskas como seu assessor em Osasco, onde tem sua principal base eleitoral. Funcionário de confiança da liderança do PT, Éverson Inforsato é diretor da Ferroviária, tradicional time de futebol da cidade onde mora, Araraquara, e da qual o deputado Edinho Silva foi prefeito. Anaturalidadecomqueospolíticostentam justificaro uso do dinheiro público para manter a estrutura eleitoral de seu interesse pessoal é o retrato de um grave desvio de interpretação de seu papel. Escritórios políticos de detentores de mandato eletivo não podem ser sustentados com recursos públicos. Os interessados devem fazê-lo com seu próprio dinheiro.

“Pergunto por perguntar: na inspeção veicular, quem controla a Controlar?” CLÁUDIO MOSCHELLA / SÃO PAULO, SOBRE O ACESSO A INFORMAÇÕES SIGILOSAS DE DONOS DE VEÍCULOS arquiteto@claudiomoschella.net

“Controlar a Controlar é preciso, para que se evite o descontrole de suas ações” FRANCISCO ZARDETTO / SÃO PAULO, IDEM fzardetto@uol.com.br

N

do Estado policial-clerical que se autodenominou República Islâmica, em 1979. Os invasores mantiveram 52 funcionários reféns durante 444 dias. A violência contra a representação do Reino Unido, condenada em termos duros pelo Conselho de Segurança da ONU, foi a resposta dos ultrarradicais do regime à decisão do governo do primeiro-ministro David Cameron, na semana passada, de impor ao Irã severas sanções econômicas, em decorrência das conclusões da AIEA, o fiscal nuclear das Nações Unidas, de que o país está no limiar de produzir a bomba atômica. Ao determinar

Parece ter sido parte de uma luta interna pelo poder a invasão da embaixada britânica o congelamento de todos os contatos com o Banco Central iraniano, Cameron foi mais longe nisso do que os próprios Estados Unidos. Na segunda-feira, o Parlamento de Teerã “exigiu” a expulsão do embaixador Dominick Chilcott, por sinal instalado há bem pouco tempo na capital, enquanto o aiatolá Khamenei fulminava a “arrogância” do Reino Unido, com o seu histórico de “humilhar nações, destruir as suas culturas e apossar-se de seus recursos”. Não é de agora que a maioria dos iranianos odeia os britânicos – pela derrubada, em 1951, do primeiro-ministro Muhammad Mossadegh, que nacionalizou a petrolífera anglo-iraniana, e por seu apoio ao governo tirânico do xá Reza Pahlevi, nos

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FHC: futuro do PSDB é mais incerto que o euro

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Em Buenos Aires, ex-presidente destacou importância das prévias para definir candidato em SP ● “O futuro do PSDB pode se definir como o próprio FHC: equivocado como sempre foi.” ROGERIO ALVES DE ALMEIDA

● “FHC foi e continua sendo o único estadista deste país. Hoje não temos partidos políticos, temos gangues.” CLARA GUIMARÃES

HÁ 853 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

“Desde a última eleição o PSDB já falava em refundação. Só ago-

ra começa a reconhecer a realidade?” RICARDO JOSÉ FONTES ALMEIDA

anos 60 a 70. Em 1987, quando o Irã acusou a Grã-Bretanha de apoiar o Iraque com o qual estava em guerra, o encarregado de negócios Edward Chaplin chegou a ser agredido por membros da Guarda Revolucionária. Pouco depois, Londres determinou a retirada de todo o seu pessoal em Teerã. Repetiu a decisão ontem, ao fechar a sede da representação e o conjunto onde residiam os seus 26 funcionários, e dar 48 horas para o Irã fazer o mesmo na capital britânica. O chanceler do Reino Unido, William Hague, descartou o rompimento formal de relações. Isso aconteceu, por iniciativa britânica, depois do decreto religioso que condenou à morte, em 1989, o escritor anglo-indiano Salman Rushdie por sua obra Os versos satânicos, considerada blasfema pelos aiatolás. Os dois países reataramapenasem 1998.Desta vez, Londrespreferedeixarentreaberta uma fresta de diálogo com o governoAhmadinejad,cujachancelariaemitiuumincomumpedido de desculpas pelo ataque de anteontem. Especula-se que o episódio faz parte de uma prolongada batalha pelopoderentreogrupodopresidente e as alas mais conservadorasdoregime.Porincrívelquepareça,Ahmadinejadestariainclinado a reduzir as tensões com a comunidade internacional. Quanto àlinhadura,parececlaroqueprocura chegar a um confronto com o Ocidente, na esperança de acuar os sobreviventes da oposiçãointernaegalvanizarasruasde Teerã, fazendo-as distanciar-se das influências liberalizantes da Primavera Árabe.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Dilma fraquejou Faltou combinar com os “gagás”, como o deputado pedetista e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, se referiu, com a costumeira falta de compostura, aos membros da Comissão de Ética Pública da Presidência. Ao decidir manter o chefão do PDT, Carlos Lupi, no Ministério do Trabalho até a reforma do Gabinete prevista para o começo do ano, a presidente Dilma Rousseff aparentemente não levou na devida conta os riscos embutidos no exame dos malfeitos do ministro pelo colegiado que avalia a conduta dos integrantes da alta administração federal. Também não considerou que, mantendo a seu lado um tipo como Lupi, exonerou, na prática, os probos membros do Conselho de Ética Pública e afrontou a imensa maioria do povo brasileiro,

cuja vida se pauta pela honestidade e pelo trabalho árduo. Ela já tinha errado ao imaginar que poderia deixar Lupi agonizando na Esplanada apesar da multiplicação de revelações da imprensa sobre o histórico do figurão, como se a expectativa da sua demissão em prazo relativamente curto neutralizasse o noticiário que a desmoraliza por conservar na sua equipe um tipo cuja estatura moral de há muito deixou de ser motivo de controvérsia. Pior ainda para a “gerentona”, com fama de controladora desde os seus tempos de ministra, foi ser surpreendida literalmente dentro de casa – a Comissão de Ética faz parte da estrutura da Presidência da República – pela mais severa condenação infligida a um membro do primeiro escalão governamental. Podendo considerá-lo inocente, adverti-lo, censurá-lo ou, enfim, recomendar a sua exoneração, pela pri-

meira vez desde a sua criação, em 1999, o órgão aprovou por unanimidade esta última alternativa, que conduziu a presidente a uma enrascada. Pois, se ela desdenhasse da recomendação, estaria afrontando aos olhos da sociedade o parecer de um colegiado que tem a palavra “ética” no nome. Caso seguisse o conselho, não haveria quem não se perguntasse por que ela precisou esperar por isso, quando podia fazer jus à imagem edificante de faxineira-mor do Executivo, mostrando sem demora a porta de saída para mais um ministro maracuteiro – o quinto, sem contar Antonio Palocci, que fez estranha fortuna antes de ser nomeado. Na segunda hipótese, de toda maneira, ela conservaria a dignidade política. Mas ela preferiu não comprar mais uma briga com a sua base parlamentar, dessa vez com o PDT, nem tampouco confirmar a escrita do enfeudamento partidário do Gabinete, substi-

tuindo Lupi por outro do partido que ele controla – e do qual só não conserva formalmente o título de presidente porque dele teve de abrir mão, quando a mesma Comissão de Ética entendeu ser o cargo incompatível com a condição de ministro a que o presidente Lula o guindou em 2007. Daí, por sinal, a fúria do deputado que adotou o codinome Paulinho da Força com os “retardados que vivem perseguindo” Lupi. A grosseria, evidentemente, não altera a verdade trazida à tona. Tão extensa e variada é a folha corrida do prepotente personagem notabilizado por dizer que, para tirá-lo, só “abatido à bala”, que a comissão não tinha escolha, sob pena de cair no descrédito. O organismo presidido pelo jurista Sepúlveda Pertence concluiu o óbvio: as alegações que Lupi apresentou em sua defesa à própria comissão, ao Congresso e à imprensa para negar o envolvimento com achaques

de ONGs no Trabalho foram “insatisfatórias” e “inconvincentes”. Isso sem falar na mentira sobre a viagem em voo fretado na companhia do dono de uma entidade beneficiada com R$ 13,9 milhões em convênios com a pasta, a exigência de paga para o registro de sindicatos – e o fato de Lupi ter sido funcionário fantasma da Câmara dos Deputados entre dezembro de 2000 e junho de 2006, período na maior parte do qual “assessorava” um vereador do Rio de Janeiro, recebendo indevidos salários, portanto, de duas fontes públicas. Mesmo para os padrões do indigitado, é dose. Ontem cedo, Dilma o recebeu para uma conversa. Mas a presidente durona fraquejou. Sem medo do ridículo, fez saber que resolveu aguardar novas explicações de Lupi. Completando a farsa, mandou pedir à Comissão de Ética que diga por que, afinal, sugeriu a demissão do ministro. Por que será, não?

Avanço nos planos de saúde

Um pacote medíocre

Resolução Normativa n.º 279, que a Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS) acaba de baixar, para regulamentar a Lei n.º 9.656, de junho de 1998, dá uma solução razoável para o grave problema enfrentado por um grande número de participantes de planos de saúde que, ao serem demitidos sem justa causa ou ao se aposentarem, perdiam as vantagens dos planos empresariais e eram obrigados a pagar planos individuais, excessivamente caros, se quisessem manter assistência igual ou próxima da que tinham antes. Como se trata de pessoas que em sua imensa maioria tiveram os rendimentos reduzidos, muitas não conseguiam arcar com essa despesa. Elas passam a ter o direito de continuar como beneficiárias dos planos das empresas em que trabalham, dentro de condições muito mais favoráveis – se comparadas com as dos planos individuais – e por tempo que varia conforme o caso. Mas suficiente em princípio, no caso dos demitidos sem justa causa, para que consigam reorganizar suas vidas. Estes poderão permanecer no plano por um terço do tempo que contribuíram para ele, respeitando-se o limite mínimo de seis meses e máximo de dois anos. No caso dos aposentados – ainda mais delicado, porque estão com a vida profissional encerrada, sem condições, portanto, de conseguir novos recursos –, eles são enquadrados em duas categorias. O aposentado

economia brasileira poderá crescer 5% em 2012, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao apresentar as novas medidas para baratear bens de consumo, atrair capitais estrangeiros e facilitar a exportação de manufaturados. O pacote foi apresentado um dia depois de mais um corte de juros, promovido pelo Banco Central (BC) para atenuar o impacto da crise internacional. Mais discutível que o otimismo do ministro é o alcance dos incentivos contidos em três decretos e uma Medida Provisória (MP). Os estímulos são dirigidos muito mais ao consumo do que ao investimento produtivo. Além disso, o benefício à exportação é um mero remendo temporário – valerá até dezembro do próximo ano – e será passível de contestação na Organização Mundial do Comércio (OMC), embora o governo afirme sua legalidade. Mesmo o estímulo ao consumo será limitado. O mais amplo será a redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) cobrado nos financiamentos. Haverá maior facilidade para o endividamento das famílias – perfeitamente sustentável, segundo o ministro da Fazenda. Será especialmente facilitada a compra de geladeiras, fogões e outros itens da chamada linha branca, porque haverá, no caso desses itens, diminuição do Imposto sobre Produtos Industrializados (só até 31 de março). Comer macarrão também ficará mais barato. Será reduzida a tributação sobre as massas, até

A

reira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical. Graças à corrupção que se instalou nos últimos anos neste país sob o comando do PT, os homens honestos e sábios são considerados “gagás” e “velhinhos”. Realmente, a mediocridade nos meios políticos é de pasmar. Felizmente, ainda temos a imprensa para denunciar e as urnas para mudar. JOSÉ MILLEI elymillei@hotmail.com São Paulo

CONTROLE DA MÍDIA Líbero Badaró

Há 182 anos, Líbero Badaró, em seu livreto Liberdade de Imprensa, desafiou o poder autoritário de Sua Majestade Imperial e Real Dom Pedro I com duras e sábias palavras em defesa do livre pensar e escrever. Quase dois séculos depois, em plena República e democracia, torna-se vital evocar

que contribuiu por um período mínimo de dez anos tem o direito de manter, pelo tempo que quiser, “as mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral”. Ou seja, a parcela que já pagava mais a da empresa. O que contribuiu por tempo inferior àquele terá direito a permanecer no plano – também com pagamento integral – pelo período de um ano para cada ano de contribuição. Outra inovação da Resolução – que entra em vigor no final de dezembro – é o direito à porta-

Parece bom, mas vários pontos ainda precisam ser mais bem debatidos e esclarecidos bilidade tanto para demitidos como aposentados, que poderão, assim, mudar de plano sem necessidade de cumprir novas carências. Antes, quando terminava o prazo em que podiam ser mantidos no plano, eles tinham de cumprir as carências exigidas pelos novos planos, situação particularmente difícil para os aposentados que, por causa da idade, enfrentam maiores problemas de saúde. As regras para reajuste das tarifas dos planos para esses casos são um dos raros pontos da Resolução – em geral bem-aceita pelos interessados e as entidades de defesa dos consumidores – que suscitam polêmica. Segundo um “tira-dúvidas” divulgado pela ANS em seu site, as empresas poderão manter os de-

sua lembrança para o enfrentamento da censura disfarçada em vigência no País. Tristes trópicos! J. S. DECOL decoljs@globo.com São Paulo

OBELISCO DO IBIRAPUERA Ideia infeliz

Louvável a todo título a campanha internacional contra a aids. Contudo o Obelisco do Ibirapuera integra a decantada “última trincheira”, onde descansam os heróis de 1932. Em passado recente foi reprovada a absurda ideia de enfeitá-lo com luzes de Natal. Agora colocam ali, jazigo de centenas de bravos, o símbolo da campanha? São Paulo tem milhares de locais mais adequados, sem desvirtuamento do nobilíssimo sentido do Obelisco. EDUARDO MENEZES SERRA NETTO decimoserranetto@uol.com.br São Paulo

mitidos e aposentados no mesmo plano dos ativos ou contratar outro exclusivo para eles. No primeiro caso, o reajuste será o mesmo para todos. No segundo, ele “será calculado de forma unificada com base na variação do custo assistencial (sinistralidade) de todos os planos de aposentados e demitidos da operadora de saúde” escolhida. Para Carla Soares, diretora adjunta de normas e habilitação de produtos da ANS, esse critério garante reajuste razoável, porque dilui riscos e custos. Rosa Chiavassa, advogada especializada em direito do consumidor, admite que esse tipo de cálculo pode evitar reajustes excessivos, mas afirma que o melhor seria mesmo um reajuste igual para todos – ativos, aposentados e demitidos. O tempo dirá se a fórmula adotada é a melhor, como sustenta a ANS, ou se mudanças serão necessárias. Para uma avaliação mais precisa da questão é preciso esperar a manifestação da outra parte envolvida – as empresas de planos de saúde, representadas pela Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge). Embora elas sejam obrigadas a acatar as novas regras, o seu poder de pressão é grande, como mostra a experiência. A Resolução da ANS, que é sem dúvida um avanço, deveria abrir caminho para a solução do problema de outro grupo – o dos trabalhadores autônomos, cujo número cresce a cada dia e que estão condenados hoje a pagar planos individuais caríssimos ou se contentar com a precariedade do atendimento da rede de saúde pública.

“Ou Dilma demite Lupi ou Lupi derruba a Dilma” NEY JOSÉ PEREIRA / SÃO PAULO, SOBRE A HESITAÇÃO DA PRESIDENTE DA REPÚBLICA A RESPEITO DA SAÍDA DO MINISTRO DO TRABALHO neyjosepereira@yahoo.com.br

“Basta de intermediários, Lupi na Presidência da República, já!” JORGE SÁ DE MIRANDA NETTO / SÃO PAULO, IDEM miranda.netto@bol.com.br

A

30 de junho, e prorrogada até o fim do ano a desoneração do trigo, da farinha e do pão comum. O governo também decidiu elevar de R$ 75 mil para R$ 85 mil o valor dos imóveis passíveis de inclusão no Regime Especial de Tributação da Construção Civil. Trata-se de mera adaptação do Programa Minha Casa, Minha Vida às condições atuais de mercado, segundo explicação do Ministério da Fazenda. Nada, realmente, inovador. Segundo o ministro da Fazenda, as famílias brasileiras podem tomar novos empréstimos sem grande risco porque “há emprego e o trabalhador tem sa-

O governo concentra a atenção no consumo e pouco faz para melhorar as condições da oferta lário”. Como há emprego, acrescentou, “não temos a mais longínqua similitude com a economia de outros países”. No entanto, a maior parte das medidas é destinada a estimular o consumo, como se houvesse uma retração dos compradores. Isso é discutível, em primeiro lugar, porque o ministro está certo em relação aos dados de emprego e renda. Além disso, o otimismo do consumidor aumentou em novembro pelo terceiro mês consecutivo, segundo pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Dado semelhante foi publicado pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo. Mas as famílias, de acordo com a CNI, continuam preocupadas com a inflação – enquanto o go-

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Comissão de Ética recomenda demitir Lupi

1.027

Órgão que assessora Presidência da República vê permanência de ministro do Trabalho insustentável ● “Isso prova que a tal Comissão de Ética só serve para cabide de emprego, já que não tem poder. Mera figura de decoração.” CARLOS LOPES

● “Como podemos notar, a presidente não é insensível. Foi só Lupi declarar que a ama que ela reluta em tirá-lo do cargo.” NELSON CARNEIRO JR.

HÁ 854 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Quanta vergonha, quanta patifaria. Aonde anda a Justiça? Quem será o mais cínico?” IVO ANDRADE

verno se mostra otimista quanto à convergência do índice oficial para a meta de 4,5% até o fim de 2012. O governo deveria preocuparse muito mais com os problemas do lado da oferta. A atividade industrial continua perdendo impulso, embora os consumidores mantenham razoável grau de otimismo. A redução de alguns impostos pode dar aos produtores nacionais – mas só de alguns setores – alguma vantagem sobre os estrangeiros, no mercado interno. Nem essa vantagem será muito relevante, se o dólar continuar muito barato. As mudanças fiscais para atrair capitais estrangeiros, anunciadas ontem, podem contribuir para manter elevada a oferta de dólares no setor financeiro. Se isso ocorrer, o real continuará a subir, como ocorreu ontem. Mas será preciso esperar algum tempo para avaliar a tendência do câmbio. Nenhuma providência séria para estimular o investimento, a inovação e o ganho de competitividade foi tomada. A promessa de devolver aos exportadores de manufaturados 3% do valor das exportações, mas só até o fim do ano, nem remotamente resolve os problemas criados pela tributação de baixa qualidade, pela demora na devolução dos créditos e pelo alto custo fiscal do investimento produtivo. Além disso, será fácil contestar esse benefício na OMC, se houver interesse em criar essa briga. Nenhum país é obrigado a exportar impostos, como lembraram portavozes do governo, mas há regras sobre como cuidar da tributação sobre o comércio exterior.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2011

Profissionais do ‘Estado’ recebem Prêmio Esso Por trabalhos eleitos em 3 categorias, 4 repórteres, 2 artistas gráficos e 1 repórter-fotográfico fizeram do jornal o mais premiado nesta edição RIO

Com vencedores em três categorias, o Estado foi o veículo mais premiado na edição deste ano do Prêmio Esso, cuja solenidade ocorreu ontem. Sete profissionais do jornal foram agraciados: os repórteres David Friedlander, Leandro Modé, Fausto Macedo e Sonia

MEC corta mais 2,8 mil vagas de cursos de saúde Marina Mandelli

O Ministério da Educação (MEC) cortou mais 2.794 vagas de 153 graduações na área da saúde, correspondentes aos cursos deBiomedicina,NutriçãoeFisioterapia, que apresentaram desempenho insatisfatório na última avaliação nacional. Eles obtiveram notas entre 1 e 2, em uma escala que vai até 5. O ministério também vai supervisionar todas essas graduações. Entre os cursos, 17 estão em instituições de ensino no Estado de São Paulo. As medidas foram publicadas no Diário Oficial da União. É o terceiro anúncio de redução de vagas que o governo faz desde a divulgaçãodosresultadosdaavaliação deste ano. No início desta semana, o MEC cortou 3.986 vagas de cursos de Enfermagem, Farmácia e Odontologia, pelo mesmo motivo. Antes, 514 vagas foram cortadas de cursos de Medicina. No corte anunciado ontem, a maior baixa foi nos cursos de Fisioterapia: 74 deles perderam 1.211 vagas. Em Nutrição, 50 graduações terão de reduzir 772 vagas e, no caso de Biomedicina, 29 cursos ficam sem 811 vagas. Todos os cursos apresentaram resultado insatisfatório no Conceito Preliminar de Curso (CPC), índice criado em 2008 e divulgado anualmente pelo ministério. O CPC serve para mediraqualidade doscursos de graduação do País e vai de 1 a 5. As notas1e2sãoconsideradasinsuficientes. O indicador é composto por diversos fatores, como as notas dos ingressantes e dos concluintes do curso no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade),atitulaçãodocorpo docente e a infraestrutura da instituição de ensino, entre outros elementos avaliados. Motivos. Das instituições pau-

listas que tiveram cursos notificados e com vagas reduzidas, apenas duas têm unidades na capital e na região metropolitana: Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e Universidade Bandeirante (Uniban). A FMU afirmou, em nota, que “o Complexo Educacional FMU aguarda o conceito definitivo do MEC sobre o curso para se pronunciar”. Porsua vez, aUniban, que teve cursos das unidades de São Bernardo do Campo, São Paulo e Osasco atingidos pelas medidas do MEC, diz em nota que foi “adquirida recentemente pelo Grupo Anhanguera Educacional” e que “já tem um plano de melhorias em execução”. Além disso, a instituição afirma que “não poupará esforços para cumprir todas as exigências estabelecidas pelo ministério”.

● Avaliação

50 mil

vagas será o total que o MEC deve reduzir das instituições

1.211

foi o corte em Fisioterapia

Racy, o repórter-fotográfico Epitácio Pessoa e os artistas gráficos Dennis Fidalgo Doimo e André Graciotti. As reportagens sobre as fraudes do Banco Panamericano, que era de Silvio Santos e protagonizou fraudes que totalizaram R$ 4,3 bilhões, renderam o Esso de Informação Econômica. Modé, ao falar pela equipe, lembrou

que “nesse momento em que sofremoscomas instabilidadesem relação ao futuro, o Prêmio Esso é uma lembrança de que sempre haverá espaço para o bom jornalismo seja ele em que plataforma for, digital ou impressa”. Na categoria Fotografia, venceu Violência Abortada, que flagrou a ação de dois rapazes que tentam matar um outro, que só

Caderno ‘Guerras Desconhecidas’ vence premiação Desconhecidas do Brasil, publicado em dezembro pelo Estado, venceu ontem o Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, concedido desde 1984 pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do

Rio Grande do Sul e Ordem dos Advogados do Brasil. A reportagem, que recebeu o Prêmio Especial do júri, foi considerada um dos “melhores trabalhados da história do prêmio”. O júri incluiu uma homenagem ao Estado, por enfrentar desde julho de 2009 censura imposta pela Justiça. O jornal está impedido de divulgar informações da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolve o empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney (PMDB-AP).

escapouapósseusalgozesperceberem que eram fotografados. “Quando o nosso trabalho ajudou a salvar a vida dele, aquele foi o maior prêmio da minha vida”, disse Pessoa.

Na categoria Criação Gráfica para jornal, o Estado foi premiado por Troca de Olhares, capa do Divirta-se sobre abertura de exposição em São Paulo do artista gráfico holandês M. C. Escher.

● O caderno especial Guerras

Vida A25


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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 3 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Notas & Informações

O novo-rico e o FMI O ministro da Fazenda, Guido Mantega, aproveitou a visita da diretoragerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, para mais um comentário digno de um novorico emergente: “É uma satisfação que desta vez o FMI não tenha vindo para dar dinheiro ao Brasil, mas para pedir dinheiro”. Ele fez o comentário no fim de uma entrevista coletiva, em Brasília, ao lado da visitante. Ela já estava sem o fone usado para ouvir a tradução simultânea e talvez não tenha notado as palavras de seu anfitrião. Se notou, preferiu silenciar. A possível participação brasileira no reforço de caixa do FMI foi discutida nas conversas da diretora-gerente com o ministro da Fazenda, o presidente do Banco Central, Alexandre

Tombini, e a presidente Dilma Rousseff. Não houve notícia oficial sobre o assunto, mas o governo, segundo fontes qualificadas, estuda uma contribuição na faixa de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões. O Brasil se comprometeu recentemente com o esquema de captação de recursos conhecido como New Arrangements to Borrow (NAB), criado depois da crise mexicana de 1995. Por esse esquema, o FMI fica autorizado, em situações de emergência, a sacar determinados valores dos países contribuintes – um acerto parecido com o dos cheques especiais. Formado inicialmente por poucos países, na maior parte desenvolvidos, o grupo foi ampliado a partir de negociações iniciadas em 2009 e hoje inclui 40 participantes. Só uma vez o esquema foi acionado para socorrer um país – o Brasil, em 1998. Participar de arranjos desse tipo é geralmente um sinal de maturidade

financeira. Países capazes de assumir responsabilidades e papéis importantes na vida internacional normalmente o fazem sem bravatas e sem exibicionismo. Bem antes do Brasil, o Chile integrou o NAB, por meio de seu banco central, e seu governo jamais alardeou isso. As autoridades da China e da Rússia, habituadas há muito mais tempo a posições importantes – e com assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas –, são em geral discretas e não costumam chamar a atenção para a sua importância. Além disso, russos e chineses normalmente agem e negociam invocando em primeiro lugar seus interesses nacionais. Muito raramente falam em nome dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e é ainda menos frequente aparecerem como porta-bandeiras dos emergentes ou das economias em desenvolvimento. Autoridades chinesas, indianas e russas não

costumam aparecer no noticiário condicionando esta ou aquela ação a consultas prévias a seus parceiros de acrônimo – porque os Bric são, antes de tudo, um acrônimo e muito raramente agem como bloco. O ministro Guido Mantega, no entanto, costuma agir como se os quatro países – ou cinco, se a agregação da África do Sul for levada a sério – tivessem muitos interesses comuns e formassem uma frente unida nos grandes foros internacionais. Por isso, segundo o ministro, a contribuição brasileira só será definida depois de uma confabulação do grupo. Com isso, o governo brasileiro mostra-se incapaz de resolver por si se o País é suficientemente importante para assumir um papel de mais peso no combate a uma das maiores crises de todos os tempos. Mostra-se incapaz, igualmente, de expor suas condições para participar. Mas os membros do Bric têm ob-

O esvaziamento do MST

Recuos do governo

ois fatos recentes revelam como está mudando a realidade no campo. Como resultado da perda de militantes, surgiu um racha no Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), que veio a público com a divulgação de uma carta de 31 de seus apoiadores mais radicais se desligando do movimento e acusando sua direção de “subordinação às linhas políticas do governo”, que prefere “movimentar a massa dentro dos limites da ordem e ampliar projetos assistencialistas”, deixando de lutar pelo socialismo. Por seu lado, o Incra, depois de constatar que mais de 100 mil famílias assentadas venderam os lotes que lhes foram destinados, lança uma campanha para alertar a população contra esse tipo de operação ilegal. Esses fatos evidenciam os efeitos do desenvolvimento do País, com o crescente índice de urbanização e dos níveis de emprego proporcionados pelo agronegócio e por atividades tipicamente urbanas, principalmente para trabalhadores que ganham entre um e quatro salários mínimos. As diferenças entre a situação atual e a que prevalecia em 2003, quando o PT chegou ao poder, são flagrantes. Naquela época, existiam no País 300 mil acampados, aguardando assentamento, número que vem caindo verticalmente. Em 2010, falavase em 120 mil acampados, total que recuou para 60 mil este ano, segundo informações do próprio MST. Menos acampados significam menos militantes, pa-

ara tentar aprovar ainda este ano o projeto que, na versão original, cria o Fundo de Previdência Complementar do Servidor Público Federal (Funpresp), objetivo considerado prioritário pela presidente Dilma Rousseff, o governo está tendo de ceder a diversas pressões, algumas coordenadas por integrantes de seu próprio partido, o PT. Depois de reuniões com representantes do Judiciário, sindicalistas e parlamentares aliados, o governo concordou em abrir mão de itens que, até há algumas semanas, considerava inegociáveis, como a criação de apenas um fundo para os Três Poderes e a contribuição de 7,5% para todos os participantes dos fundos – inclusive o empregador. As modificações implicam maior comprometimento financeiro do poder público na constituição do novo fundo e criam o risco de perda de controle das instituições a serem criadas. Compreende-se a disposição do governo de negociar para, desse modo, acelerar a votação. Quanto mais demorar para conseguir a aprovação do fundo de previdência complementar do funcionalismo, maiores serão as desconfianças dos contribuintes a respeito de seu compromisso com um programa de longo prazo de saneamento do sistema de aposentadoria e pensões do setor público, cujo déficit – inevitavelmente crescente pelas regras atuais – se tornaria insustentável dentro de alguns anos. Causa estranheza, no entan-

D

JOSÉ PIACSEK NETO bubapiacsek@yahoo.com.br Avanhandava

Desmoralização

Dona Dilma não demitiu o ministro Carlos Lupi apesar da recomendação da Comissão de Ética Pública. Se não aceitou a recomendação porque a Constituição lhe garante a prerrogativa de nomear e demitir ministros, teria um significado político até compreensível: passaria à sociedade uma imagem de autoridade e comando, que, todos nós sabemos, ela não tem. O que hoje existe na cúpula do governo é briga de foice nos escuros porões palacianos e o vencedor é aquele que souber mais dos podres. A esta altura se faz necessária a extinção dessa desmoralizada comissão ou, no mínimo, a troca de nome. Ou os dicionaristas brasileiros procurem urgentemente um novo signi-

ra a irritação de líderes como João Pedro Stédile, que está entre os signatários da carta, sendo 28 deles do Rio Grande do Sul, onde o movimento começou a ser organizado na década de 1980. O MST perdeu o peso político que tinha no governo de Lula. Significativamente, a presidente Dilma Rousseff não fez menção à questão agrária na campanha eleitoral de 2010. Seu governo, por sinal, é expressamente contrário às invasões de terras, que no passado geraram tantos conflitos, muitos deles violentos. Já o Incra, hoje em dia, luta para manter os programas de refor-

O ‘racha’ no movimento é um sinal de como ele vai ficando para trás na poeira da história ma agrária em funcionamento. Levantamento do órgão mostra que, do total de 789.542 famílias assentadas por ele nos últimos dez anos, teve de excluir 103.543. Destas, 42,9% abandonaram os lotes que lhes foram concedidos por desinteresse ou falta de conhecimento e experiência para cultivá-los. Outros 35,4% fizeram transferências ilegais de domínio. Há também 10,6% que não cumpriram as cláusulas contratuais. A situação é particularmente crítica em novas fronteiras agrícolas. Em Mato Grosso foram excluídos 24,8% dos assentados e em Rondônia, 34,9%. A campanha do Incra destinase a evitar que muitas pessoas interessadas em adquirir terras para cultivo ou que possuem propriedades adjacentes aos as-

ficado para a palavra ética. HUMBERTO DE L. FREIRE FILHO hlffilho@gmail.com São Paulo

Inutilidade

Para que serve uma Comissão de Ética Pública da Presidência, se a presidente não leva em conta as suas recomendações? Que seus membros peçam licença e se afastem, pois a sua função se provou irrelevante! SILVANO CORRÊA scorrea@uol.com.br São Paulo

sentamentos comprem lotes destinados à reforma agrária, sem amparo legal, podendo depois sofrer desapropriações. A expectativa é de que, em contrapartida, o Incra, de acordo com os planos do governo, dê melhor assistência aos assentados, organizando-os em cooperativas, se for o caso, dando viabilidade econômica à produção de lotes pequenos, verdadeiros minifúndios. O presidente do Incra, Carlos Lisboa de Lacerda, alega que, como os primeiros assentamentos foram localizados em áreas de solo pobre e topografia acidentada, isso acarretou muitas desistências. Nos lotes mais recentemente concedidos, as condições seriam melhores. De qualquer maneira, ele não nega que há muita rotatividade nos assentamentos e que existe demora na concessão de títulos definitivos de posse das terras, embora não haja estatísticas a esse respeito. Com a posse assegurada, o proprietário poderia vender os lotes legalmente, mas, segundo o presidente do Incra, se houvesse titulação em massa de terras destinadas à reforma agrária, poderia haver uma “reconcentração” em face das pressões do mercado. Em outras palavras, teme-se que fique ainda mais evidente que a reforma agrária – como entendida pelos governos petistas – é um flagrante anacronismo, pois é baseada na pulverização da propriedade e não na agricultura familiar com alto conteúdo tecnológico. No entanto, as forças de mercado avançam inexoravelmente no campo, deixando para trás o MST e o próprio Incra.

“Lupi mostrou quem manda e Dilma, quem obedece” ROBERTO CASTIGLIONI / SANTO ANDRÉ, SOBRE A PRESIDENTE RECUSAR-SE A DEMITIR O MINISTRO DO TRABALHO rocastiglioni@hotmail.com

“Agora, se Lupi ficar, quem tem de se demitir em peso é a Comissão de Ética da Presidência” JULIO CIRELLI / SÃO PAULO, IDEM jcir@uol.com.br

P

viamente poucos objetivos comuns, como comprova – entre muitos outros fatos – a insistência chinesa em manter sua moeda subvalorizada. Além disso, o governo chinês aliouse ao americano para impedir a inclusão de um debate sobre o câmbio na próxima reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio. O Brasil havia proposto o tema. Lagarde conhece as enormes diferenças entre os interesses dos Bric, mas não comenta a posição brasileira. Prefere elogiar a política do governo e apontar o País como um dos mais preparados para enfrentar a crise, por suas condições fiscais, pela solidez de seu sistema financeiro e pelo volume de reservas. Também não faz bravatas. O objetivo do FMI, disse ela em São Paulo, é obter resultados e não visibilidade. Por isso, explicou, boa parte de seu trabalho é feita nos bastidores. Isso inclui as negociações com os europeus.

to, que esteja demonstrando tanta disposição em alterar o que, até há pouco, afirmava ser inegociável – e o fazia com argumentos fortes, pois são aspectos essenciais do projeto. Em contraposição à proposta de criação de três fundos – para o Executivo, o Legislativo e o Judiciário – defendida por deputados de sua base aliada e por funcionários do Congresso e do Judiciário, os representantes do governo nas negociações argumentavam que a criação de apenas um fundo asseguraria uma gestão unificada, reduziria custos e asseguraria regras básicas iguais para todos. Além disso,

É importante sinalizar que o déficit do sistema de aposentadoria do servidor pare de crescer mesmo com o fundo único, haveria a possibilidade de adesão a planos distintos para os funcionários de cada um dos Três Poderes. Há duas semanas, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), sugeriu ao ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves, a criação de um fundo por Poder. Em seguida, o ministro da Previdências e técnicos de outros Ministérios acertaram com o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PTSP), a criação dos três fundos. Nem assim, porém, a base aliada se comprometeu a votar e aprovar o projeto. Ainda havia a questão, levantada especialmente por deputados do PT, sobre a contribuição mínima dos

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Marcos Valério é preso por grilagem de terra

1.491

Justiça baiana determinou a prisão do empresário, pivô do mensalão, durante operação em 3 Estados ● “A impunidade no Brasil é um absurdo. Marcos Valério deveria estar preso há anos, mas é acobertado pelos mensaleiros.” RENATO RIBEIRO

● “Se vão soltar, para que prender? Em uma semana estará solto e rindo da nossa cara.”

Inversão

MARIO JORGE

Estamos ficando assim: o “malfeito” é da Comissão de Ética. Quanta tolice! ANDRÉ C. FROHNKNECHT anchar.fro@hotmail.com São Paulo

HÁ 855 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Este cidadão é o orgulho da família e do PT. Uma verdadeira referência nacional.” RICARDO LAZZARINI

participantes do novo fundo. A proposta original previa a contribuição de 7,5% do participante, com igual participação do governo. Para poder aumentar os benefícios futuros para determinadas parcelas de servidores, sobretudo as que gozam de aposentadoria especial, como mulheres, professores do ensino primário e policiais federais, representantes do PT, do PDT e do PC do B defendiam a elevação da contribuição para 8,5% do vencimento – com o correspondente aumento da contribuição do empregador, também para 8,5%. Em defesa de sua proposta, o governo apresentou estudos atuariais mostrando que a contribuição de 7,5% seria suficiente para assegurar ao servidor que contribuir por 35 anos rendimento equivalente a 89% 0u 90% do último salário, proporção semelhante ao benefício a que tem direito o servidor que se aposenta pelo sistema em vigor. Mesmo assim, pressionado pelos partidos de sua base, parece disposto a ceder também nessa questão, e concordar com a contribuição de 8,5%. As novas regras só valerão para os servidores admitidos após a sanção da lei que cria o fundo de previdência complementar. Mas são importantes desde já, pois indicam que, em algum momento, o déficit do sistema de aposentadorias do funcionalismo deixará de crescer. Se forem o bastante para convencer a base aliada a votar e aprovar o projeto nos próximos dias, as alterações aceitas pelo governo terão tido alguma utilidade. Mas que não haja outras.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Pior a emenda que o soneto Num desses casos típicos em que a emenda sai pior do que o soneto, o deputado Cândido Vaccarezza, líder do governo, meteu os pés pelas mãos ao tentar minimizar a importância da revelação feita pela Folha de S.Paulo, de que o ministro Carlos Lupi, de 2000 a 2006, na condição de assessor técnico do gabinete da liderança do PDT na Câmara dos Deputados, não dava expediente regular em Brasília, dedicando-se apenas ao trabalho partidário, principalmente no Rio de Janeiro, onde morava. Ou seja: Lupi passou seis anos recebendo dos cofres públicos para cuidar exclusivamente dos interesses do partido de que hoje é presidente licenciado. Para Vaccarezza, isso é perfeitamente normal, porque a maior parte dos funcionários dos gabinetes dos deputa-

dos jamais aparece em Brasília, já que trabalham nos escritórios políticos nos Estados. “A maioria (dos funcionários dos gabinetes) jamais pisou na Câmara. Porque a maioria dos funcionários dos deputados fica nos Estados”, explicou candidamente o deputado Vaccarezza. E emendou: “Quem prova que Lupi nunca apareceu para trabalhar? Por que o Lupi é fantasma? Porque existe uma campanha contra ele”. Certamente se referia ao “denuncismo” orquestrado pelos inimigos do povo, que já obrigou Dilma Rousseff a demitir cinco ministros envolvidos em negócios mal explicados. O homem que lidera a bancada governista na Câmara dos deputados devia saber que existe uma enorme diferença entre funcionário público, que trabalha para o governo e por ele é pago, e funcionário de partido político, entidade privada que, por isso mesmo, precisa assumir, ela própria, os

salários de seus colaboradores. E para sua subsistência contam as agremiações com os recursos do Fundo Partidário, que pode ser usado nos casos claramente definidos pela lei. O que não pode é funcionário de legenda partidária receber diretamente dos cofres públicos, como era o caso de Carlos Lupi quando exercia cargo de natureza especial (CNE) no Parlamento. Atualmente, o Regimento Interno da Câmara estabelece expressamente que assessores CNE são obrigados a dar expediente na Casa. Foi uma medida moralizadora adotada durante a gestão de Aldo Rebelo na presidência, entre 2005 e 2007. “No caso do Lupi”, afirmou Vaccarezza, “temos que ver se a lei lhe dava permissão para trabalhar no Rio de Janeiro”. Ou seja, o próprio líder do governo não tem certeza sobre a situação do ministro quando era funcionário CNE, mas não teve o menor constrangi-

mento em garantir que o ocorrido “é correto e legal, não tem nenhum absurdo nisso”. Já o presidente da Casa foi mais cauteloso, explicando que será aberta sindicância para apurar os fatos: “Se for constatada irregularidade, a Câmara pode pedir ressarcimento dos pagamentos feitos”. Ver para crer. O mais extraordinário, no caso de um parlamentar, com a responsabilidade de ser líder do governo, convalidar irregularidades no trato da coisa pública, é que ele está falando a mais absoluta verdade. De fato, boa parte, talvez a maioria, dos funcionários alocados nos gabinetes parlamentares – isso vale também para o Senado Federal – “jamais pisou” no Distrito Federal. Seus chefes garantirão, se questionados, que esses servidores permanecem nos Estados cuidando de questões relacionadas com as atividades legislativas; lá estão para dar atenção aos cidadãos e encaminhar seus plei-

tos a seu representante no Parlamento; que cumprem a generosa e patriótica missão de multiplicar a capacidade de atendimento do deputado que, por ser um só, não consegue estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Mas a descrição acima corresponde às típicas tarefas de um cabo eleitoral. Embora não se possa descartar a possibilidade de que um ou outro abnegado funcionário dos gabinetes parlamentares de Brasília esteja em seu próprio Estado fazendo apenas o que é certo de acordo com a lei e os bons costumes, seria ingênuo supor que a maioria não é constituída de cabos eleitorais, pelos quais pagamos todos nós. E há ainda outra explicação para a existência de funcionários fantasmas da Câmara dos Deputados espalhados por todo o País: nepotismo ou compadrio. Mas, justiça seja feita, de nepotismo, até o momento, o ministro Lupi ainda não foi acusado.

A quem esse imposto beneficia

Trio da mordaça ataca de novo

á cada vez mais sindicatos, mas as categorias profissionais e econômicas por eles representadas estão cada vez mais indefesas. A facilidade com que se criam sindicatos no Brasil e, sobretudo, a facilidade com que o dinheiro retirado dos trabalhadores e das empresas – por meio do imposto sindical – chega às mãos dos dirigentes sindicais os desobrigam de atuar em defesa de suas categorias, como deveriam. Assim, os sindicatos de trabalhadores preocupam-se cada vez menos com os interesses e os problemas de suas bases – fenômeno que ocorre também na área patronal –, o que realimenta o processo de esvaziamento político e de perda de representatividade dessas organizações. Mas os dirigentes de sindicatos estão muito satisfeitos com a situação. A união demonstrada por dirigentes de centrais sindicais de trabalhadores e de confederações empresariais em defesa do imposto sindical, durante debate sobre o tema promovido pela Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados, deixou claro que propostas de mudança nessa área enfrentarão fortíssima resistência. A atitude é compreensível, embora não justificável. Cobrado uma vez por ano de todo trabalhador com carteira assinada, no valor equivalente a um dia de trabalho, e de todas as empresas, como proporção de seu capital social, a receita do imposto sindical é distribuída às diferen-

les não desistem. Apesar de a presidente Dilma Rousseff ter deixado claro, em várias oportunidades, que não quer ouvir falar em censura à Imprensa, os petistas continuam fazendo proselitismo de sua visão muito particular de “controle social da mídia”. Foi o que voltou a acontecer na semana passada, durante o seminário “Um novo marco regulatório para as Comunicações”, promovido em São Paulo pelo partido do governo e protagonizado pelo trio que está na linha de frente dos defensores da mordaça: José Dirceu, Franklin Martins e Ruy Falcão. O Palácio do Planalto recusou-se a dar seu aval ao evento, razão pela qual o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, embora convidado e anunciado como participante da mesa de abertura, não compareceu. É claro que nenhum dos integrantes do trio da mordaça admite publicamente ser defensor da censura. Mas com o PT instalado no poder, logo no início do primeiro mandato de Lula, foi propostaacriaçãode umConselho Federal de Jornalismo com poderes para controlar e fiscalizar os meios de comunicação. Por absurda, a ideia não progrediu. Nessa época, é verdade, o trio da mordaça estava disperso: Dirceu, chefe da Casa Civil, articulavaa formaçãoda quadrilha do mensalão, o que lhe custouocargoeomandato dedeputado federal. Martins trabalhava na imprensa contra a qual já então conspirava, ao mesmo

H

núncia. Quem está segurando Lupi no governo são os que temem suas denúncias, talvez os mesmos que não permitiram que o confiante Celso Daniel denunciasse o “esquema” da era Lula... LUIZ RESS ERDEI gzero@zipmail.com.br Osasco

Batata assada

Em visita à Venezuela, disse a “presidenta” Dilma: “Problemas do Brasil só trato no Brasil. Segunda-feira, quando eu voltar, tratarei desse assunto”. Pelo que entendi, a batata de Lupi já assou. VIRGÍLIO MELHADO PASSONI mmpassoni@gmail.com Jandaia do Sul (PR)

GRILAGEM Marcos Valério preso

Começou a punição dos mensalei-

tes organizações sindicais (sindicatos, federações e confederações). Desde que reconhecida pelo Ministério do Trabalho, a entidade sindical tem direito a uma parte do bolo e o recebe automaticamente, sem necessidade de comprovar sua ação em favor de seus representados e sem precisar prestar contas do uso que faz do dinheiro. Nos últimos quatro anos, quase 800 novos sindicatos foram reconhecidos pelo Ministério do Trabalho. Parte deles veio preencher lacunas na representação sindical de algumas categorias. Mas muitos sindicatos foram criados para atender ape-

Por que um sindicato se esforçará pelo apoio do associado se vive muito bem do imposto? nas aos interesses pessoais de seus dirigentes. A facilidade com que se criam organizações sindicais gerou muitos “sindicatos fantasmas”, que só existem no papel, mas asseguram a seus dirigentes o repasse automático da fatia do imposto sindical – da qual eles podem fazer o uso que quiserem, sem necessidade de prestação de contas. Há vários exemplos de sindicatos que, por serem atuantes e conhecerem os problemas e as necessidades de suas bases, estão muito próximos dos trabalhadores. Estes, de sua parte, por receberem de suas entidades representativas a atenção e o apoio de que necessitam nas suas demandas trabalhistas, se dispõem a sustentar a atividade sindical com seus próprios re-

ros? Infelizmente, ainda não. Fezme lembrar Al Capone, que acabou na cadeia por crimes menores entre os cometidos por ele. LUIZ NUSBAUM lnusbaum@uol.com.br São Paulo

‘Prisões são ilegais’

Foi o que disseram advogados e sócios de Marcos Valério, que, ao ser preso, disse ao delegado: “Ah, tá, já sei”... Depois da aprovação da Lei 12.403 ninguém mais vai preso. Nenhuma novidade, no país da impunidade ninguém é punido. As leis são aprovadas pelo Congresso e referendadas pela Presidência da República, pelo visto, para benefício próprio. Bagunçou geral, no Brasil o crime compensa. Como ficam os direitos humanos dos humanos direitos? LUIZ DIAS lfd.silva@uol.com.br São Paulo

cursos. A legislação prevê fontes de receitas próprias das organizações sindicais, como a contribuição assistencial em convenções ou acordos coletivos, a contribuição confederativa aprovada em assembleia e a mensalidade paga por seus filiados. A maioria das organizações sindicais, porém, não procurou receitas próprias, pois isso exige trabalhar mais e melhor com suas bases – ou, simplesmente, cumprir seu papel. Preferem viver à custa do imposto sindical. Os dirigentes se acomodaram a essa situação. “O fim da contribuição sindical desmantelaria todo o movimento sindical brasileiro”, disse o presidente da Nova Central Sindical de Trabalhadores, José Calixto Ramos. Para o diretor de relações trabalhistas da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Adauto de Oliveira Duarte, o fim do imposto sindical seria “desastroso”. Durante o debate na Câmara dos Deputados, só duas pessoas defenderam o fim desse imposto. O subprocurador-geral do Ministério Público do Trabalho, Ricardo Pereira, propôs sua substituição pela contribuição negocial paga pelo trabalhador sindicalizado e pelo não sindicalizado que se beneficiar da negociação coletiva. E para o secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Quintino Severo, o imposto sindical tem servido para dividir categorias, criar sindicatos sem representatividade e “fraudar as organizações dos trabalhadores”. No que a CUT tem toda a razão.

“Está chegando a hora...” ROBERT HALLER / SÃO PAULO, SOBRE A DECLARAÇÃO DA PRESIDENTE DILMA DE QUE DECIDIRÁ SOBRE O MINISTRO LUPI A PARTIR DE AMANHÃ robelisa1@terra.com.br

“Presidenta, a bola está na cara do gol, é só um chutezinho para conquistar mais uma vitória!” ARY NISENBAUM / SÃO PAULO, IDEM aryn@uol.com.br

E

tempo que cultivava seus laços com Lula e o PT, o que lhe valeu, temposdepois,ocargodeministro. Falcãoera figurainexpressiva da nomenklatura petista e teria permanecido nessa condição se as contingências da vida partidária não tivessem apontado para a necessidade de colocarna presidência dalegenda alguém que soubesse exatamente quemsãoosverdadeirosmandachuvas. Hoje, desvinculados do governo, os três agem de comum acordo na instância partidária para manter acesa a chama da obsessão que os une: a censuraàimprensa. Agemmovidos, basicamente, pelo históri-

‘Democratizar os meios de comunicação’ é o novo nome do ‘controle social da mídia’ no PT co radicalismo ideológico que compartilham.Enão sepodeesperar que mentes autoritárias admitam o contraditório, um dos fundamentos das liberdades democráticas. Não é à toa que Dilma Rousseff, com ampla experiência no trato com cabeças ideologicamente radicais e autoritárias, hoje queira distância do trio de ferrabrases. Foi por essa razão que a presidente, logo ao assumir o poder, transferiu para o Ministério das Comunicações e para o ministro Paulo Bernardo a responsabilidade de rever o projeto de implantação do novo marco regulatóriodascomunicações.Este, no governo Lula, tinha sido elaborado sob a inspiração de Franklin Martins, na Secretaria de Imprensa da Presidência, e

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Dilma fará ‘análise objetiva’ sobre Lupi

395

Perguntada se declaração de amor de Lupi o manteria no cargo, Dilma afirmou que não é adolescente ● “A presidente não gosta de ser pressionada e, quando é, reage com o fígado e não com a razão e comete montes de besteiras.” ANTONIO AUGUSTO OLIVEIRA

● “Ela nega, mas acho que a declaração de amor balançou as estruturas dela. Só pode ser isto para segurar este camarada.” ROBERTO NESPOLO

HÁ 856 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Presidenta, é só mudar o nome do cargo do seu ministro que a oposição não terá mais motivos para críticas infundadas.” MARCO FERRAZ

promovia, deliberadamente, confusão entre os conceitos de marco regulatório propriamente dito e “controle social” das comunicações. Como já foi mais de uma vez ditoneste espaço, o marco regulatório é um conjunto de disposições legais que disciplina as atividades em áreas que dependemde concessão estatal, como aradiodifusãoe atelecomunicação. “Controle social” é conceito que implica não apenas a regulaçãodapropriedadeedo funcionamento técnico dos instrumentos de comunicação, mas, sobretudo, dos conteúdos veiculados. A necessidade da modernização do marco regulatório das comunicações no País, defasado em relação aos avançostecnológicos dasúltimas décadas, é absolutamente pacífica. Mas a questão dos conteúdos diz respeito à liberdade de expressãoeaodireito àinformação, fundamentosdeuma sociedadedemocrática e,nessamedida, intocáveis. O trio da mordaça vai continuar mistificando a questão do controlesocialda mídia,quehoje prefere designar pelo nome mais charmoso de “democratização dos meios de comunicação”. Dirceu lamentou, durante o seminário, que não haja no País nenhum jornal “de esquerda” para apoiar o governo. Talvez tivesse em mente algo monolítico, como o Pravda soviético ou o Granma cubano. Porque não basta a imprensa brasileira manifestar simpatia por algumas declarações e alguns atos da presidente Dilma. Isso, para o trio, é apenas um truque das “elites” para “dividir o PT”.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 5 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Notas & Informações

O espólio de Wagner Rossi Em agosto, quando Wagner Rossi se viu forçado a pedir exoneração do Ministério da Agricultura em face de denúncias da atuação franca e desimpedida de um lobista na pasta e na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e de outras irregularidades, a presidente Dilma Rousseff disse que ele deixava “uma herança de bons resultados”. Ao mesmo tempo, porém, a presidente determinou que a Controladoria-Geral da União (CGU) realizasse auditorias no Ministério e na Conab para apurar as denúncias envolvendo a pasta. Os resultados da gestão de Rossi vieram à luz essa semana, revelando fraudes em licitações e desvios de verbas no Ministério e na Conab no valor de nada menos que R$ 228 milhões. No relatório da CGU há de tudo:

contratos irregulares com a Fundação São Paulo (Fundasp), que teria indicado o lobista Júlio Fróes para trabalhar dentro do Ministério; suposta cobrança de propinas por dirigentes da Conab; empresas registradas em nome de “laranjas”, com sedes de fachada, que recebiam pagamentos do órgão; fraude em leilão de milho de produtor falecido há meses; graves problemas no transporte de grãos; aquisição de bens de informática e contratação de empresas de seguro-saúde para servidores – tudo sem licitação; e irregularidades na análise laboratorial para verificação de resíduos agrotóxicos em alimentos. Em nota, o Ministério da Agricultura informou que recebeu o relatório e que o material será analisado e, dentro de dez dias, serão definidos os “encaminhamentos”. Inquéritos na área administrativa devem ser instaurados para apuração das respon-

sabilidades, mas, em alguns aspectos, o relatório poderia surtir efeitos imediatos. Por exemplo, se já não o foram, os cursos de treinamento ministrados pela Fundasp deveriam ser suspensos. E devem ser devolvidas as verbas pagas irregularmente, como recomenda a CGU. A Fundasp esclarece que, antes da conclusão da auditoria, já havia se colocado à disposição para devolver “os valores que tenham porventura sido recebidos indevidamente”. Os números agora são fáceis de calcular. A Fundação recebeu R$ 5 milhões pelo convênio e, segundo o relatório, serviços de consultoria desnecessários prestados pela entidade geraram prejuízo de R$ 1,1 milhão aos cofres públicos. A CGU também analisou denúncia de que o lobista teria pedido propina de 10% à Gráfica Brasil para assegurar a renovação de um contrato com o Ministério, sem que houvesse ao menos a demonstração da necessida-

de do serviço. O Ministério da Agricultura também poderia pedir reembolso desse dinheiro. Quanto à Conab, a confirmação das denúncias feitas pela imprensa é da maior gravidade. O relatório afirma que a empresa Commerce Comércio de Grãos Ltda., registrada em nome de “laranjas”, recebeu da Conab cerca de R$ 6,5 milhões em 2011 e outros R$ 916 mil em 2010. Os verdadeiros proprietários da Commerce possuem outras empresas, também em nome de “laranjas”, que receberam mais de R$ 16,6 milhões. A CGU considera “urgente” a reestruturação da área jurídica da Conab, cujo chefe já foi substituído, mas é estranhável que todo o restante da diretoria do órgão venha sendo mantida até hoje e que seus titulares não tenham se licenciado, pelo menos, enquanto são conduzidas as investigações nas esferas administrativa e policial. A CGU afirmou não po-

der confirmar denúncias de cobrança de propina por dirigentes da Conab, devendo para isso haver uma investigação policial, com a quebra de sigilos telefônico e bancário. As suspeitas, porém, são fortes, tanto assim que a CGU recomendou a “suspensão dos processos em curso para alienação de imóveis, até que novas diretrizes e avaliações sejam formuladas”, e verificação dos preços pagos por serviços. O ex-ministro Wagner Rossi e o ex-secretário executivo do Ministério da Agricultura Milton Ortolan não foram indiciados pela Polícia Federal e não se sabe nem mesmo se o lobista Júlio Fróes será chamado a depor. A apuração de responsabilidades depois da substituição de um ministro e seus auxiliares diretos, acusados de corrupção, é um avanço, mas há justificada desconfiança de que a impunidade acabe por prevalecer.

Regulamentação do motofrete

Corporativismo e impunidade

Prefeitura de São Paulo tenta, mais uma vez, regulamentar a atividade dos motoboys, que circulam em alta velocidade entre os carros nas mais movimentadas vias da capital e fazem com frequência manobras imprudentes, que aumentam significativamente o risco de acidentes. A partir de agosto, só poderão trabalhar com motofrete os que apresentarem atestado de antecedentes criminais e usarem coletes que os diferenciem dos demais motociclistas. Deverão também colocar faixas reflexivas nos baús das motos. No prazo de dois anos, todas as suas motocicletas deverão ser brancas, cadastradas no Departamento Estadual de Trânsito (Detran) como veículos de aluguel, com placas vermelhas. Essas regras estão em seis portarias publicadas sábado passado no Diário Oficial da Cidade. Entre 2000 e 2010, a frota de automóveis cresceu 27% em São Paulo e a de motocicletas, 136%. A comparação das Pesquisas Origem e Destino, do Metrô, de 1997 e de 2007, indica que aumentou 300% o número de viagens de motocicleta no Município. O elevado custo da tarifa do transporte público, a lentidão das viagens, a superlotação de ônibus e metrô e o crédito fácil estimularam o crescimento dessa frota. Por outro lado, o congestionamento constante nas vias da cidade e a dificuldade de chegar rapidamente aos destinos fizeram explodir o setor de entregas por motos. Hoje, estima-se que São Pau-

e o órgão criado para apurar indícios de atos ilegais praticados na administração pública e punir os responsáveis pelas irregularidades se alia aos investigados, as consequências mais óbvias serão a facilitação e a disseminação das práticas sob investigação. Esta é, lamentavelmente, a situação que se está criando no serviço público, pois as corregedorias – responsáveis pela apuração de atos irregulares e punição dos eventuais culpados – estabeleceram um “acumpliciamento corporativo” com servidores envolvidos em desmandos e corrupção, como descreveu o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, criando uma situação por ele considerada “inaceitável” (Estado, 26/11). Dinheiro público que deveria seraplicadoem projetosdeinteresse coletivo é desviado para os bolsos de umas poucas pessoas ou é desperdiçado. Assim, os contribuintes recolhem impostos em troca de serviços cada vez mais deficientes. Por causa de acertos entre corregedorias e investigados,osresponsáveispelos atos ilegais raramente são alcançados pela punição administrativa ou financeira. Em muitos casos, ainda escapam da ação judicialquepoderiaserabertacontra eles com base no que foi apurado no plano administrativo. “Quantas vezes vemos situações de corregedorias que, diante de ilícitos evidentes e de um mal-estar na própria corporação em que o órgão está, resolvem colocar a sujeira debaixo do

A

ra estacionar, perigo para caminhar e atravessar as ruas, falta de energia constante, etc. Para piorar, a CET inventou as tais rotatórias, que ninguém respeita, dificultando a travessia de pedestres. VITOR DE JESUS vitordejesus@uol.com.br São Paulo

No limiar da honestidade

Gilberto Kassab, logo que herdou o cargo do ex-prefeito José Serra, com suas atitudes agressivas e pedantes evidenciou quem era, ou seja, uma pessoa dissimulada e falsa. Inteligente, tomou algumas atitudes de impacto que levaram o povo a acreditar que ele seria um bom prefeito. Ledo engano. Passou a nova gestão cuidando de sua vida política e de seus agregados, gastando o dinheiro do povo, de forma às vezes irresponsável, sem executar as obras necessárias para a cidade, como, por

lo tenha aproximadamente 900 mil motos e, destas, pelo menos 200 mil façam serviço de motofrete. Apesar de representarem apenas 13% da frota paulistana, as motos se envolvem em 3 de cada 5 colisões com mortes na cidade. Pelo menos um motociclista morre a cada dia nas ruas da capital e um pedestre morre a cada três dias, vítima de acidentes com motos. Estudo do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, realizado entre os meses de maio e novembro de 2009, mostrou que 84 motociclistas acidentados no perío-

Finalmente a Prefeitura tentará colocar ordem na atividade dos chamados motoboys do precisaram de internação e, destes, 54% sofreram fraturas expostas. O custo hospitalar para atendê-los foi de R$ 3 milhões. Apesar de tudo isso, as autoridades de trânsito não demonstraram a necessária firmeza para disciplinar e fiscalizar a atividade dos motoboys. De aproximadamente 6,5 milhões de multas de trânsito aplicadas anualmente na capital, apenas 5,5% atingem motociclistas, embora sejam eles os que mais abusam da velocidade nas ruas, desrespeitam o farol vermelho, andam pelas calçadas, na contramão, usam o celular enquanto dirigem e a maior parte de seus veículos não tem manutenção adequada e documentação regular.

exemplo, os piscinões programados e creches. Atitudes de impacto têm sido tomadas, como contra camelôs irregulares, para chamar a atenção. É importante realçar que ele procurou, no pouco tempo que lhe sobrava para comandar a Prefeitura, cancelar e renegociar os grandes contratos, como os de merenda escolar, limpeza pública, manutenção dos relógios e marcadores de temperatura, etc. E desengavetou o seu grande negócio, que é a medição dos níveis de poluição dos veículos emplacados em São Paulo, negociando com a Controlar a exploração dos munícipes. Está muito claro para os paulistanos que é mais uma falcatrua realizada no limiar da honestidade, com sua habitual prepotência e dissimulação. Na eleição de 2012 o cidadão paulistano não deve esquecer todas essas atitudes do sr. Kassab. HUMBERTO AFONSO FREITAS humberto_freitas@uol.com.br São Paulo

Nas últimas décadas, legislações específicas para os serviços de motofretes se sucederam, numa tentativa de disciplinar a atividade dos motoboys que, pressionados pelo relógio, são os que mais se arriscam. Nenhuma foi cumprida. Em 1999, o ex-prefeito Celso Pitta baixou decreto regulamentando a atividade, mas, por falta de fiscalização, só 7% da categoria obteve licença para atuar na cidade. Sua sucessora, Marta Suplicy, baixou nova regulamentação em 2004, obrigando os motoboys a se inscrever no Cadastro Municipal de Condutores. Apenas 15 mil fizeram isso. O ex-prefeito José Serra fez nova tentativa, embora com poucas alterações em relação à anterior. Sem fiscalização, só 2% dos motoboys cumpriram as regras. Em 2008, o prefeito Gilberto Kassab assinou convênio com a Polícia Militar para melhorar a fiscalização referente a placas adulteradas, documentação do veículo e do condutor, que são itens de sua exclusiva competência. Infelizmente, só poucas blitze foram feitas para isso. Agora, em mais um esforço para levar os motociclistas a cumprir as regras, a Prefeitura negocia uma contrapartida – a criação de bolsões exclusivos de estacionamento para motoboys nos pontos de maior movimento da cidade. Ela não se dá conta de que, para atingir seu objetivo, mais do que premiar os motoboys com esses bolsões, é preciso punir com rigor os que desobedecem a regulamentação de sua atividade e as leis de trânsito.

“De vista em vista, perderemos a Lei da Ficha Limpa de vista. Hasta la vista, baby!” VANDERLEI ZANETTI / SÃO PAULO, SOBRE MAIS UM ADIAMENTO DA DECISÃO NO STF vanzanetti@uol.com.br

“Sugestão para aproveitar bem as qualidades de Carlos Lupi: enviá-lo para a Embaixada em Teerã” RONALD MARTINS DA CUNHA / MONTE SANTO DE MINAS (MG), SOBRE O DESTINO DO MINISTRO ronald.cunha@netsite.com.br

S

tapete para não ter que colocá-la à luz do sol, o que evidentemente propiciaria uma lição mais firme e decidida”, disse o ministro, durante reunião da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro, organização formada por 70 entidades de prevenção e repressão ao crime organizado. Essa organizaçãosereúneanualmenteparadiscutirmecanismosdeproteçãodosrecursosdoTesouroNacional contra a corrupção. Nem todas as corregedorias se renderam ao corporativismo denunciado pelo ministro da Justiça. Há exemplos de órgãos de investigação interna que não

As corregedorias dos serviços públicos pouco servem à função para a qual foram criadas se submetem ao tráfico de influência ou aos interesses de umapequenapartedo funcionalismo, e procuram desempenhar seu papel com a isenção que ele requer. Embora o ministro Cardozo não a tenha citado, suas palavras podem ser interpretadas como de apoio à corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Eliana Calmon, que enfrenta forte resistência corporativadepartedamagistraturaaoritmoeaoestilodetrabalho que vem desenvolvendo. Nasemanapassada,a chefeda corregedoria do CNJ informou que o órgão está investigando operações suspeitas envolvendo um grupo de juízes em grilagemdeterrasnosEstadosdeMato Grosso, Mato Grosso do Sul,

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Sócrates morre em São Paulo

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Após série de internações, ídolo do Corinthians não resistiu a uma infecção intestinal ● “Sócrates mostrou que futebol é arte. Valia a pena assistir aos jogos 30 anos atrás.” JOSIAS PIMENTEL

● “Grande jogador, médico, nome de filósofo e vencido pelo alcoolismo. Uma grande perda e um alerta para a sociedade.” SIMONI CASAGRANDE

HÁ 857 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Democracia corintiana, futebol-arte, entre outras grandes lições progressistas. Que o estádio tenha o seu nome.” TAKEO WATASHIWA

Piauí e divisa entre Bahia e Goiás. Em setembro, a ministra Eliana Calmon havia afirmado sernecessáriocombater aimpunidade dos “bandidos que se escondematrásdatoga”,oqueprovocou a divulgação, pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Cezar Peluso, de uma nota de repúdio em que também cobrava retratação da ministra, que não se retratou. Em ação de inconstitucionalidade impetrada no STF, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) questiona as prerrogativas do CNJ para investigar e punir juízes acusados de desvio de conduta. No seu entender, só depoisdejulgadaspelascorregedorias dos respectivos tribunais as denúncias poderiam ser examinadas pela corregedoria do CNJ. É neste ponto que as afirmações do ministro da Justiça ganham maior relevo. As corregedorias locais têm em andamento1.085investigaçõescontramagistrados, de acordo com dados divulgados pelo ministro Cezar Peluso, que também preside o CNJ.Onúmeroelevadopodesugerir trabalho intenso das corregedorias locais. Mas relatórios da Corregedoria Nacional de Justiça, chefiada pela ministra Eliana Calmon, constataram a existência de processos “esquecidos” em prateleiras ou que vêm passando de gaveta em gaveta – alguns, desde 2005. Na prática, pouco se investiga. Como são leves as punições administrativas para boa parte dasatos investigados,o prazo de prescrição é curto. A demora no julgamento dos processos, por isso, beneficia os investigados.

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 6 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

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Plinio Villares Musetti

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Notas e Informações A3

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Notas & Informações

Caiu de podre O que terá passado pela cabeça da presidente Dilma Rousseff entre a quinta-feira e o domingo da última semana? Na quinta, ela deixou boquiabertos os observadores ao mandar às favas a inédita recomendação da Comissão de Ética da Presidência da República, anunciada no começo da noite anterior, de que exonerasse o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. No entender do colegiado, ele não conseguiu oferecer, nem ao Congresso nem à imprensa, explicações convincentes para as denúncias que se sucediam contra ele havia quase um mês. Além disso, comportou-se de forma inconveniente ao reagir a elas – por exemplo, dizendo que só sairia “abatido à bala”, o rompante que o notabilizou. Naquela quinta, horas antes de via-

jar para uma reunião em Caracas, ela recebeu Lupi em audiência, ao fim da qual mandou divulgar que resolvera esperar as suas explicações para a revelação de que na maior parte do período entre 2000 e 2006 conseguira a proeza de ser funcionário fantasma da Câmara dos Deputados e da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Pior ainda, cobrou da Comissão de Ética que informasse como e por que chegou à sua conclusão. Nos dias seguintes, nada de novo aconteceu que abreviasse ou prolongasse a permanência de Lupi no governo – salvo a sensação de pasmo entre os setores bem informados da sociedade e os comentários condenatórios da mídia. No domingo, porém, tendo antecipado em 24 horas a volta da Venezuela e tendo feito saber, na véspera, que decidira abater o ministro que se proclamara invulnerável, Dilma o chamou para o ritual da “conversa

definitiva” – a chance para que se demitisse. Não há explicação racional para o zigue-zague da presidente (daí a pergunta que abre este texto). Ela não ganhou nada deixando que o caso Lupi se arrastasse por semanas a fio até ele cair de podre. Só perdeu. Assim que rebentou o primeiro escândalo no Ministério do Trabalho – a extorsão de ONGs conveniadas com a pasta para que continuassem a receber os repasses previstos – vá lá que Dilma não quisesse aparecer, pela sexta vez consecutiva, como caudatária do noticiário sobre as lambanças de seus ministros. O que se viu depois, no entanto, foi a presidente perdendo uma oportunidade atrás da outra para preservar a imagem de ser implacável com a corrupção quando exposta ao público e de se dar ao respeito no trato com a sua equipe. Para a sua própria conveniência, ela poderia ter demitido Lupi quando ele se gabou de que

só cairia à bala; poderia tê-lo demitido quando se saiu com o “eu te amo, Dilma”; ou quando ficou provado que mentira na história do voo fretado com o dono de uma entidade beneficiada pela pasta; ou ainda quando da descoberta de que recebera de duas fontes públicas ao mesmo tempo; ou, enfim, quando a Comissão de Ética, amarrando todas as pontas, julgou que ele não devia continuar ministro. Se a presidente imaginou que a crise minguaria com a sua decisão, devidamente vazada, de afastar Lupi na reforma ministerial marcada para o começo do ano, é sinal de que não aprendeu nada com os casos anteriores. Suas agonias duraram um pouco mais, um pouco menos, mas nenhum dos ministros atingidos por denúncias – de Antonio Palocci, da Casa Civil, a Orlando Silva, do Esporte, passando por Alfredo Nascimento (Transporte) Wagner Rossi (Agricul-

tura) e Pedro Novais (Turismo) – sobreviveu. Pela razão essencial de que, desatado o escândalo, os fatos novos que se seguiam invariavelmente agravavam a situação dos envolvidos, até ela ficar insustentável. A sensação que fica é de que, impondo-se à fria contabilidade do custo-benefício das escolhas por fazer, prevalece a relutância de Dilma em dar o passo devido não quando queira, mas sob o império dos fatos. Quem sabe, ela não atine com uma verdade elementar: candidata, o seu patrimônio político era a popularidade do patrono Lula e a ele devia lealdade; da posse em diante, passou a depender do julgamento do eleitorado – e é à Nação que deve prestar conta, tanto de seus atos como de suas omissões. Se ela não compreende esse fato elementar, o País tem um problema. O de ter uma presidente cujo temperamento perturba a sua sintonia com a opinião pública.

Policiamento nos aeroportos

Uma OEA sem os gringos

Brasil tem hoje 700 aeroportos ou pistas para pouso regular de aeronaves, mas, com exceção dos terminais de grande movimento, a maioria não conta com nenhum tipo de policiamento que coíba a presença de pessoas estranhas ao setor nas áreas de embarque e, o que é pior, a ação de ladrões e traficantes de drogas. Considerando que seu efetivo de 12 mil homens é insuficiente para dar conta de todas as atribuições que a lei lhe confere, inclusive a vigilância de aeroportos, a Polícia Federal (PF) planeja firmar convênios com as polícias estaduais para que estas assumam a responsabilidade explícita pela segurança dos terminais aéreos de menor porte. É estranho que essa parceria, prevista pelo Programa Nacional de Segurança da Aviação Civil Contra Atos de Interferência Ilícita (Pnavsec), lançado em maio de 2010, não tenha sido efetivada até agora por meio de convênios. Tornou-se agora urgente por causa da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. A colaboração das Polícias Militar (PM) e Civil nos aeroportos menores, no entanto, é reclamada há muito tempo em vista do grande crescimento da aviação regional no País. A falta de policiamento regular nos pequenos aeroportos causa transtornos de todo tipo. Não há exemplo melhor disso do que o dos policiais militares que, recentemente, não puderam embarcar num voo em Marília (SP) por estarem armados,

s presidentes das três maiores economias da América Latina, Brasil, México e Argentina, deixaram Caracas sem participar do segundo dia da Primeira Cúpula dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), um organismo fundado para duas missões tão gloriosas quanto essenciais para o futuro dos 33 paísesmembros. Uma das tarefas é reafirmar – cumprir é outra história – todos os compromissos assumidos em algumas décadas por esses mesmos países, ou pela maioria deles, e jamais postos em prática integralmente. A outra, politicamente mais excitante, é prover as Américas de uma associação paralela à Organização dos Estados Americanos (OEA) e sem a participação dos Estados Unidos e do Canadá. É mais uma forma de praticar o fascinante exercício de mostrar a língua aos gringos. A conferência terminou, como é de praxe, pela divulgação de algumas declarações à praça – neste caso, quatro documentos obviamente rascunhados pela diplomacia bolivariana. O primeiro dá uma boa ideia do tom geral de toda a papelada, a começar pelo título: Declaração de Caracas – No Bicentenário da Luta pela Independência, Percorrendo o Caminho de Nossos Libertadores”. Comemorar centenários ou outros aniversários de feitos históricos é uma prática universal e compreensível, mas o caso latino-americano é especial. Alguns dos políticos da região têm a mania de viver repetindo a proclamação da independência de

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ao menos tentar a renovação com homens de bem. Os que respondem a processo, se não condenados, poderão postular cargos públicos, eletivos ou não, mas os condenados deveriam ser definitivamente banidos da vida pública. HUMBERTO SCHUWARTZ SOARES hs-soares@uol.com.br Vila Velha (ES)

DIVISÃO DO PARÁ Plebiscito

Oportuníssimo o artigo de Gaudêncio Torquato (4/12, A2) sobre esse golpe indecente de políticos idem. Como só se fala do mais recente corrupto no Ministério, o caso Pará vai passando em brancas nuvens. E o inacreditável está a ponto de ocorrer: só podem votar nesse plebiscito indecoroso os paraenses! Nós, brasileiros de outros Estados, não vamos tugir nem mugir. Só teremos de pagar a conta de mais uma imoralidade.

como relatou a reportagem do Estado (2/12). Para serem liberados, foi preciso chamar a Polícia Federal, que levou oito horas para chegar. A PF culpou a companhia aérea, que alegou que os policiais militares teriam de fazer o “check-in” com duas horas de antecedência. Contudo, mesmo se isso tivesse ocorrido, seria preciso que houvesse agentes da PF por perto e, frequentemente, não há nos 80 aeroportos públicos existentes no Estado de São Paulo, incluindo aqueles usados poraeroclubes ou por aeronaves particulares. No Campo de Marte,emplenacidadede SãoPaulo, embarcaremumjatinhoétãofá-

Efetivos da Polícia Federal não dão conta da ação de criminosos em muitos aeroportos cil como tomar um táxi na rua, não havendo nenhum controle. Mesmo em alguns terminais muito movimentados do interior,comoodoCampodosAmarais, em Campinas, e os de RibeirãoPreto,SãoJosédoRioPretoe Bauru,afaltadepoliciamentofacilita a ação de criminosos. Suspeita-se, por exemplo, que o aeroporto do Campo dos Amarais tenha servido de rota de fuga de assaltantes que roubaram os cofres de aluguel de uma agência do Itaú em São Paulo, no fim de agosto. Note-seaindaque,dos57portos secos existentes em todo o território nacional, listados pela Secretaria da Receita Federal, nadamenosde25estãolocalizados em São Paulo. Nos maiores aeroportos, a PF tem meios pa-

NELSON PENTEADO DE CASTRO pentecas@uol.com.br São Paulo

CONTROLE DA MÍDIA Mordaça

Belisca e assopra é a tática pendular para tentar implantar a matreira ideia de “democratizar” a mídia, pelo aparelhado governo (Trio da mordaça ataca de novo, 4/12, A3). Com a experiência da instalação do maior organismo estatal de comunicação da História, que faria inveja ao Partido Trabalhista Nacional Socialista do sr. A. H., o próximo passo é o “controle social”: a tentativa de implantar procedimentos para o melhor encabrestamento do pensamento único da sociedade. Fiquemos atentos e aguardemos o novo evento do “trio da mordaça”. NEY DE ARARIPE SUCUPIRA ney.sucupira@uol.com.br São Paulo

ra exercer a vigilância sobre os pontos de embarque e desembarque de mercadorias, mas os demais estãoexpostos aoroubo de cargas, um crime cada vez mais frequente. A situação é tão ou mais grave no restante do País. Há casos mesmo de pequenos aeroportos que recebem voos internacionais, mas não contam com postos fixos da Polícia Federal, como é o caso de Uruguaiana (RS),Navegantes(SC), Corumbá (MS) e Boa Vista (RR). Segundo a Infraero, a ausência da PF nesses locais é devida à baixa demanda devoos internacionais, mas é fácil concluir que esses terminais sejam convenientes para o tráfico de drogas e para a entrada no Brasil de imigrantes ilegais. O aeroporto de Boa Vista tem sido apontado, porexemplo, como porta deentrada de imigrantes haitianos não documentados. Segundo o delegado Edson Gonçalves de Souza, da Polícia Federal, o uso de Veículos Aéreos Não Tripulados (Vant) pode ajudar na fiscalização das extensas fronteiras nacionais e no controledotráfegoaéreo,masisso não será suficiente. “Não tem jeito”,disseele.“Éprecisocontar comoapoiodasSecretariasEstaduais da Segurança Pública.” No caso de São Paulo, há boa vontade em colaborar com a PF, mesmo porque ela tem carência de braços, como disse o comandante da PM, coronel Álvaro Batista Camilo. Mas, de acordo com a Secretaria da Segurança PúblicadoEstado,ainiciativadeve partir da União. Ou seja, está na hora de o Ministério da Justiça acordar.

“A presidenta Dilma perdeu mais uma vez a chance de demonstrar com clareza aos brasileiros quais são seus objetivos” MARA FONSECA CHIARELLI / MOGI-GUAÇU, SOBRE A QUEDA DE LUPI POR LUPI mara.chiarelli@ig.com.br

“Carlos Lupi é o sétimo ministro a cair no governo Dilma. Uma dúvida: isso é Ministério ou jogo dos sete erros (por enquanto)?” CLAUDIO JUCHEM / SÃO PAULO, IDEM cjuchem@gmail.com

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seus países. Nos primeiros 21 itens dessa declaração aparecem 9 referências à libertação e aos libertadores da América Latina, com destaque para o haitiano Toussaint Louverture e o venezuelano Simón Bolívar, e para o Congresso Anfictiônico do Panamá, de 1826, “ato de fundação da doutrina da unidade latinoamericana e caribenha”. Anfictíone, ou anfictião, era o representante de cada Estado grego nas deliberações coletivas. Desta vez, os anfictiões decidiram reafirmar todos os compromissos definidos nas últimas duas ou três décadas, como a integração produtiva, comercial e

Cúpula de Caracas tem a retórica de sempre e a repetição de promessas velhas e requentadas física de todos os países da região, a criação de mecanismos próprios de financiamento, o combate conjunto à pobreza e às desigualdades, a eliminação das assimetrias e a defesa de objetivos comuns nos foros internacionais. Alguns desses objetivos, é claro, ganharam cores e rótulos novos com o tempo. A linguagem da integração Sul-Sul tornou-se corrente nos últimos dez anos. O estoque de boas intenções inclui alguns itens até mais novos, como a ideia de ações coletivas para ação regional contra a crise financeira. Mas o tom é o de sempre e, de modo geral, as ideias mais ambiciosas de constituição de um amplo espaço de cooperação econômica, política e cultural são repetidas há muito tempo.

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Corinthians festeja título com badalação

1.102

Comemoração oficial da conquista do Brasileiro foi em casa noturna voltada para o público sertanejo ● “O Brasil parou, a cidade de São Paulo parou. Foi apenas a confirmação. Título mais do que merecido no melhor Campeonato Brasileiro de todos os tempos!" MARCOS SILVA

● “Mais uma vez, não venceu o melhor: venceu o time menos pior do campeonato.” RUI FERREIRA HÁ 858 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

Que os compromissos sejam requentados fica evidente até para o leitor mais distraído. Num só parágrafo, o 31.º, os presidentes prometeram adotar as declarações, princípios, objetivos e programas estabelecidos em 13 reuniões celebradas em vários países em apenas dois anos, 2010 e 2011. Alguns desses encontros foram dedicados à reafirmação de velhos compromissos, como os de integração das infraestruturas de transportes e de telecomunicações. Como a maior parte das promessas continuará no plano das intenções, todo o pacote poderá ser incorporado, dentro de algum tempo, ao ideário de algum novo ente regional. Se houvesse alguma seriedade por trás de todo esse palavrório, haveria um número muito maior de projetos de infraestrutura em execução. Os latinoamericanos poderiam receber ajuda do Banco Interamericano de Desenvolvimento e do Banco Mundial, se fossem capazes de planejamento conjunto. Não precisariam de um banco regional, mas precisariam de esquemas de contrapartida para receber empréstimos daquelas instituições. Os documentos preveem a preservação do Estado de Direito e o respeito aos direitos humanos, mas com esquemas políticos adotados independentemente em cada país-membro. Os compromissos da OEA já incluem uma cláusula democrática, mas essa parece não servir. Cuba não participa da OEA, mas é membro da Celac. Isso torna mais clara a ideia da democracia à moda de cada país.

● "Anotem aí: Tite será o próximo técnico da seleção brasileira.” ADRIANA ROSA

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QUARTA-FEIRA, 7 DE DEZEMBRO DE 2011

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Notas & Informações

A produção entravada A economia brasileira estagnou no terceiro trimestre, embora o Produto Interno Bruto (PIB) – o valor dos bens e serviços finais gerados no período – ainda tenha sido 2,1% maior que o de um ano antes e tenha crescido 3,7% em 12 meses. Mas o crescimento zero no período de julho a setembro é um sinal inequívoco: até o consumo perdeu impulso e isso justifica o empenho do governo em estimular a volta às compras. Mas o pacote econômico divulgado na semana passada é limitado. Pode animar os consumidores a curto prazo, mas é preciso fazer mais pela indústria de transformação, o setor mais enfraquecido e mais abalado pela concorrência internacional. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, fala em retomada já neste trimestre e promete

para o próximo ano um crescimento de até 5%. Qualquer resultado igual ou superior a 4% será satisfatório, num quadro internacional muito ruim. Mas políticas de curto prazo, incluída a redução dos juros básicos, serão insuficientes para sustentar a expansão por mais tempo e impedir danos maiores à estrutura industrial. É preciso destravar a produção. Os principais desafios ficam mais claros quando se examinam os dados de um ano ou de um período um pouco mais longo. O consumo das famílias cresceu 5,4% em quatro trimestres. O do governo, 2,3%. No mesmo período, a produção da indústria de transformação só aumentou 1,7%. A diferença vazou para o exterior. A importação de bens e serviços avançou 14,5%. A exportação, apenas 6,8%. O quadro fica mais feio quando se examinam alguns detalhes com mais atenção. A participação de importados no mercado brasi-

leiro de bens industriais chegou a 20,4% em quatro trimestres, 1,3 ponto a mais que no período anterior, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria. Isso inclui tanto produtos destinados ao consumo final quanto ao processo produtivo. Essa proporção cresceu de forma quase contínua a partir de 2003, quando era pouco inferior a 12%. Parte dessa evolução é atribuível à valorização do real, mas a causa mais importante, a longo prazo, tem sido o descompasso entre os custos no Brasil e nos principais países competidores (transportes, energia, impostos, encargos sociais, etc.). O peso da tributação é visível nas contas divulgadas ontem pelo IBGE. Calculado a preços básicos, isto é, sem impostos, em 12 meses o PIB cresceu 3,3%. O número chega a 3,7% quando se acrescentam os impostos sobre produtos. Estes impostos aumentaram 6,1%, muito mais

que o valor da produção de cada setor (2,7% na agropecuária, 2,9% em todos os segmentos industriais e 3,6% nos serviços). O investimento em máquinas, construções e obras de infraestrutura diminuiu 0,2% do segundo trimestre para o terceiro, mas ainda acumulou crescimento de 7% em quatro trimestres. Foi o item com maior expansão no período – um dado muito positivo, porque sem esse fator o crescimento é insustentável a longo prazo. Também o dinheiro investido acaba sendo, em boa parte, canalizado para fora. Isso se explica por dois fatores. Em alguns casos, o bem procurado não é disponível no mercado interno. Nenhum país, mesmo entre os mais avançados, fabrica todos os tipos de equipamentos. Mas há também o problema do preço, afetado pela valorização do real e por outros fatores. No terceiro trimestre, o câmbio foi mais favorável do que um ano

Menos Estado, mais cidadania

Os russos rosnaram

liberdade de expressão é um direito fundamental e inalienável do ser humano e um requisito básico para a existência de uma sociedade democrática. Esse direito é incompatível com qualquer tentativa de tutela do Estado no que diz respeito, por exemplo, ao relacionamento dos cidadãos com os veículos de comunicação. Foi com base nesse princípio que no último dia 30 quatro ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) consideraram inconstitucional parte da legislação que estabelece a imposição de multa pecuniária a emissoras de televisão que exibam programas fora dos horários estabelecidos pela classificação indicativa definida pelo Ministério da Justiça. Sem considerar o princípio geral de que numa sociedade democrática não cabe ao Estado tutelar o cidadão em seu livre-arbítrio, exercido nos limites da lei e do bom senso, a legislação sob exame do STF estabelece que cabe ao Ministério da Justiça, em caráter indicativo, sugerir o horário mais adequado para a exibição de programas de televisão, tendo em vista o que recomenda o Estatuto da Criança e do Adolescente. Como se trata, portanto, de uma medida de caráter indicativo e não impositivo, ela não autoriza o Estado a interferir na grade de programação das emissoras. Fica a critério destas acatar ou não a indicação oficial do horário mais adequado para a exibição do programa, sendo obrigadas, apenas, a anunciar essa indicação de modo claro ao telespectador. No caso de descon-

Rússia de Boris Yeltsin, entre 1991 e 1999, era uma cleptocracia e uma protodemocracia. A Rússia de Vladimir Putin, presidente e depois primeiro-ministro, continua sendo uma cleptocracia, mas virou uma pseudodemocracia. Em rublos, a corrupção decerto diminuiu, pela simples razão de que já não há como reproduzir a rapina das gigantescas empresas estatais soviéticas, na transição para a economia de mercado. Foi quando se tornou de uso corrente o estrangeirismo mafiya. Pelo menos, Yeltsin pretendia sinceramente construir no país uma ordem política à ocidental, um Estado de Direito com liberdadedeexpressão edeorganização partidária, eleições livres e competitivas. Sob Putin, o antigo agente da KGB de quem Yeltsin se aproximou quando prefeito de Moscou e que escolheu como seu sucessor, a Rússia marchou a passos firmes para o passado. Saudoso,não propriamente da ideia de propriedade coletiva dos meiosde produção,masdoestatismo centralizador e liberticida,sobaégidede um lídernacionalista com punhos de ferro – czar ou camarada, tanto faz –, Putin agiu. Acabou com a imprensa independente pela intimidação, suborno ou artifícios legais, e silenciou o dissenso em geral, recorrendo à violência bruta contra jornalistas, membros de organizações de fiscalização do governo e de entidades de defesa de direitos humanos. Muitos foram mortos pelo apa-

A

formidade entre a indicação recomendada e o horário da exibição do programa, caberá ao telespectador decidir o que fazer. Se confiar na recomendação oficial, não permitirá que crianças e jovens fora da faixa etária recomendada assistam ao programa, bastando para isso impor sua condição de adulto responsável. Essa responsabilidade, a de educar, o que significa também incutir valores éticos aos jovens, cabe precipuamente aos pais e responsáveis, e não ao Estado. Está claro que a tendência moderna de os pais negligenciarem a necessidade de impor limites ao comportamento dos filhos

Emissoras de TV não podem ser multadas por programas exibidos fora do horário indicado contribui negativamente para a formação de pessoas adequadamente preparadas para o convívio social. Mas a responsabilidade de educar não pode ser delegada ao Estado, a não ser naquilo que lhe cabe, que é prover a sociedade de oportunidades para todos numa rede de ensino e pesquisa – pública e privada – apta a, suplementarmente, forjar cidadãos e, precipuamente, ministrar e desenvolver conhecimentos necessários à formação profissional em todos os campos da atividade humana. Por outro lado, está claro também que muitas vezes as emissoras de televisão, movidas pela obsessão da conquista de audiência, indispensável ao faturamento comercial, negligenciam a responsabilidade de pautar

SOS

IPI

Enquanto o governo baixa o IPI da linha branca, incentivando o povo a gastar mais e garantir a sobrevivência do Brasil, e a nova forma de cálculo da inflação para manter o índice dentro da meta dá ao mercado a certeza de que o Banco Central vai pôr os juros abaixo de 10%, o mundo real mostra que arroz, feijão e carne ficaram mais caros no campo (6/11, B7). E não foi um aumentozinho qualquer, não, pois o índice medido pelo IEA subiu em novembro 1,85%, ante 0,51% de outubro, quase quatro vezes mais. Enquanto isso, o povo, inebriado pelo emprego formal, pelo 13.º e principalmente pela facilidade do cartão de crédito, nem vai dar bola para os aumentos que virão. Daí vem aquela pergunta: até quando...?

Só espero que o governo não desconte essa isenção de IPI sobre a classe média, o que é a regra.

MAURÍCIO LIMA mapeli@uol.com.br São Paulo

WILSON SCARPELLI wiscar@estadao.com.br Cotia

RICARDO GUERRINI ricguerrini@hotmail.com São Paulo

DIVISÃO DO PARÁ Quem paga a conta?

O País todo deveria ser consultado sobre a divisão do Estado do Pará, visto que, no caso de ela ser feita, serão necessárias grandes despesas federais para implantação das novas unidades da Federação. Há estimativa de que o valor deve suplantar R$ 1 bilhão. Como pode haver tanta despesa sem aprovação prévia dos que vão pagar por ela?

sua programação por conteúdos socialmente saudáveis, quando não permite que ela seja claramente nociva, não apenas a crianças e adolescentes, mas às pessoas em geral. É aí que se coloca a questão de saber quem deve decidir – para simplificar a questão – o que é ou não saudável ou nocivo num programa de televisão. Transferir essa responsabilidade para o Estado significa, pura e simplesmente, admitir a censura oficial, com todos os riscos que isso implica para as liberdades individual e política. É mais sensato confiar no discernimento dos próprios telespectadores, que têm o direito, e o poder, de escolher ao que desejam assistir mediante o simples manuseio de um controle remoto. Tudo aquilo que, em qualquer programação, for clamorosamente condenável – e isso significa que a opinião pública já se estará manifestando claramente contra a aberração – inevitavelmente acabará repercutindo de modo negativo para quem o veicula. Há claros exemplos disso na história recente da televisão brasileira. Ao argumento de que o Estado deve atuar ativamente na proteção da família – observaram os ministros do Supremo – cabe contrapor o de que a lei civil e penal brasileira já dispõe de um amplo e eficiente instrumental para esse fim – que sempre poderá ser aperfeiçoado toda vez que as demandas sociais o exigirem. Finalmente, concluíram os ministros, o princípio fundamental do sistema democrático de governo não é atribuir ao Estado o poder de controlar o cidadão. É exatamente o contrário.

“Negromonte ou Pimentel? Quem será o próximo?” ROBERT HALLER / SÃO PAULO, SOBRE A ‘DANÇA DOS MINISTROS’ robelisa1@terra.com.br

“Estão caindo/trocando mais ministros do que técnicos de futebol. Será que estamos voltando a ser um país sério? Viva!” ILMAR MELLO DE CARVALHO / SÃO PAULO, IDEM ilmarcarvalho@gmail.com

A

antes, mas o desajuste vem de longe. Embora o investimento cresça mais que o consumo há vários anos, continua insuficiente para sustentar um crescimento duradouro em ritmo superior a 5%. No terceiro trimestre, o País investiu o equivalente a 20% do PIB, 0,5 ponto menos do que um ano antes. Em 2008, a proporção chegou a 20,6%. Deveria ser de uns 24% ou 25%, pelo menos, para garantir uma expansão econômica sustentável de uns 7%, segundo estimativa corrente entre os economistas. Isso depende em boa parte do governo, incapaz de poupar para investir e também de administrar a execução de projetos. Depende também de uma redução de custos. No Brasil, o empresário paga impostos pesados quando investe na modernização e na expansão da capacidade produtiva. Países com políticas mais sensatas crescem mais e conquistam mercados mais facilmente.

rato de segurança que voltou a desfrutar do poder que detinha nos velhos tempos. Eleições continuam a se realizar, como as de domingo último para a renovação da Duma, a Câmara Baixa russa. Mas, como bem resumiu a diplomata suíça Heidi Tagliavini, “trata-se de um jogo que não só é restrito a poucos, porque numerosas forças de oposição foram impedidas de participar, mas também que se trava em um campo inclinado de modo a favorecer o governo”. Ela chefiou a missão de monitoramento da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (Osce) que Mos-

Nem com fraudes eleitorais Putin pôde evitar perdas e enfrenta protestos populares cou recebeu a contragosto e tratou de tolher ao máximo. Ainda assim, seus integrantes puderampresenciarcenasdedeslavada e rudimentar fraude, como a violaçãode urnasem plenavotação para recheá-las de sufrágios favorecendo a lista da legenda de Putin, Rússia Unida, encabeçada pelo presidente Dmitri Medvedev. Tendo sido ele próprio duas vezes presidente, entre 2000 e 2008, Putin trocou então de lugar com o seu primeiro-ministroDmitriMedvedev.Assim,poderá concorrer de novo à presidência em março próximo, dessa vez para um mandato de seis anos,com o direito dedisputar a reeleição em 2018, quando tiver apenas 66 anos. Para conseguir isso, ele combinou a expressão

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PDT deixa Lupi de fora até acertar reforma

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Partido considera que ex-ministro não tem condição de assumir papel de interlocutor com o Planalto ● “Lula inchou o número de ministérios para abrigar os apetites políticos. Agora se faz o contrário para alijar o PDT.” ANTÔNIO GONÇALVES CANEIRO

● “A democracia é ótima para elegermos, mas ainda é ineficaz para evitar a corrupção.” PAULO VICTOR DE OLIVEIRA

HÁ 859 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Se houvesse vontade do governo de resgatar o que os ex-ministros já amealharam, daria para construir um novo Brasil.” HILDO SERRA

própria das democracias – o voto secreto – com a substância da escrachada manipulação eleitoraltípicadastiranias. Mas,ficando mais difícil o pão de cada dia, até uma parcela dos russos que não faz muito o idolatravam resolveu dar-lhe um susto. Em um episódio sem precedentes, quando, semanas atrás, subiu a um ringue para cumprimentar o lutador vitorioso, teve dedescer sob vaias. Nas urnas foi pior. Apesar das fraudes em escala industrial, registradas não apenas pelos observadores estrangeiros, mas por inumeráveis eleitores munidos de celulares, o partido do Kremlin sofreu um duro revés. Recebeu menos de 50% dos votos, ficando com 238 cadeiras – 77 aquém das 315 que ocupava no Parlamento de 450. Com isso perdeu a maioria de dois terços para aprovar o que Putin bem entendesse. Os três partidos de oposição cresceram. Os comunistas passaram a deter 92 vagas, os social-democratas do Rússia Justa, 64, e os ultranacionalistas do absurdamente chamado Partido Liberal Democrata, 56. Além do baque eleitoral – que o obrigará a oferecer algo novo para vencer as presidenciais de agora a três meses –, Putin foi alvo da maior manifestação de protesto já vista na sua era. Milhares de manifestantes saíram às ruas de Moscou e São Petersburgo na segunda-feira para denunciar a lambança da véspera. “Nós, russos, somos como ursos, muito pacientes”, comentou uma eleitora. “Mas, quando a paciência acaba, começamos a rosnar.”

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 8 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Emergência na Europa Haverá motivo de sobra para comemoração, e não só na Europa, se a reunião de cúpula da União Europeia, marcada para hoje e amanhã em Bruxelas, garantir uma razoável sobrevida ao euro e tirar do sufoco os governos mais endividados. A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, poderão insistir em seu recém-formulado plano de “refundação da Europa”, mas até no governo da Alemanha há dúvidas sobre o êxito dessa iniciativa. Talvez os países da zona do euro e mais uns cinco aceitem uma coordenação de orçamentos e supervisão fiscal pelas autoridades do bloco, disse ontem um funcionário alemão citado pela agência Dow Jones. Mas será preciso mais que isso para o mercado financeiro aceitar uma

trégua e reduzir a pressão sobre os Tesouros. Os chefes de governo dos 27 países-membros do bloco devem ter suficiente consciência do risco para evitar pelo menos a impressão de mais um fracasso. A discussão começará hoje à noite, durante um jantar informal organizado pelo presidente do Conselho Europeu, o belga Herman Van Rompuy. A conferência oficial começará na sexta-feira de manhã, depois da cerimônia de admissão da Croácia à União Europeia. Pelo menos o presidente croata, Ivo Josipovic, deve acreditar no futuro da Europa unida. Enquanto se espera a reunião, o palco é tomado pelo Banco Central Europeu (BCE). Fala-se nos mercados de mais um corte de juros, hoje, e do anúncio de novas medidas de ajuda a instituições privadas. O BCE, segundo se especula, poderá afrouxar os critérios de garantias e alongar os prazos de empréstimos aos ban-

cos, para aumentar sua capacidade de financiamento a empresas e consumidores. Os juros básicos na zona do euro foram reduzidos há pouco tempo de 1,5% para 1,25% ao ano e poderão agora diminuir, segundo se estima, para 1%. Se essas expectativas se confirmarem, pelo menos a política monetária continuará contribuindo para atenuar as tensões. Na semana anterior, seis dos maiores bancos centrais do mundo rico, liderados pelo americano Federal Reserve, haviam montado um esquema para abastecer com dólares o mercado europeu. Foi a medida mais efetiva, em muito tempo, para conter a crise financeira na Europa. As boas notícias têm sido insuficientes, no entanto, para dissipar o pessimismo em relação ao futuro do euro e à situação econômica e financeira da região. Quinze países da zona do euro estão ameaçados de rebai-

xamento pela agência de avaliação de riscos Standard & Poor’s. Um deles é a França, um dos seis membros do bloco ainda classificados com a nota máxima (AAA). Entrevistado sobre o risco de redução da nota, o ministro da Economia da França, François Baroin, vinculou essa possibilidade ao resultado da reunião de cúpula. Ontem de manhã os mercados iniciaram as operações num ambiente de otimismo, depois de rumores sobre o uso combinado de dois fundos de resgate para o combate à crise regional. Para isso seria necessária a operação simultânea da Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês) e do Mecanismo de Estabilidade Europeu (ESM). Os dois poderiam dispor, conjuntamente, de cerca de € 1 trilhão. Mas o governo alemão desmentiu logo de manhã essa possibilidade. O ESM só deverá entrar em operação quando o

outro for extinto, em 2013. O humor logo piorou nos mercados europeus e o efeito se repetiu no resto do mundo. A única novidade positiva, nessa área, foi o anúncio do lançamento, ainda em dezembro, de títulos de curto prazo pela EFSF, por enquanto abastecida com apenas € 440 bilhões. Embora os 17 governos da zona do euro tenham combinado elevar para € 1 trilhão o dinheiro disponível para esse fundo, quase nada se fez até agora para a concretização desse plano. Enquanto se esperam ações conjuntas, os governos dos países mais endividados e mais pressionados pelo setor financeiro vão anunciando seus planos de ajuste, numa tentativa de acalmar os mercados. O efeito desses anúncios tem sido muito limitado. Sem ação conjunta nada se resolverá e os participantes do novo encontro de cúpula em Bruxelas sabem disso.

Ferrovia em baixa velocidade

A revolução frustrada

m dezembro de 2010, o ex-presidente Lula percorreu 14 km da Ferrovia Transnordestina, o que, segundo a propaganda oficial, seria o cumprimento de sua promessa de que, até o fim do seu governo, ele andaria sobre os trilhos dessa via férrea. Foi “inauguração”, como muitas outras, de obra inexistente ou inacabada. Um ano depois estavam concluídos menos de 10% dos 1.728 km da ferrovia destinada a ligar o município de Eliseu Martins, no interior do Piauí, aos Portos de Suape, em Pernambuco, e de Pecém, no Ceará, cortando grande parte da região nordestina nos sentidos vertical e horizontal. O prazo para a realização de toda a obra, anteriormente revisado para 2012, é agora previsto para fins 2013 (para chegar até Suape) e para 2014 (para alcançar Pecém). Como seria de esperar, o orçamento inicial, fixado em R$ 5,5 bilhões, saltou para R$ 6,7 bilhões, ou seja, R$ 1,3 bilhão acima do previsto. Embora seja uma obra privada – sendo concessionária a CSN, que se comprometeu a investir R$ 1,35 bilhão de recursos próprios no projeto – a revisão do orçamento depende de chancela do Ministério dos Transportes, que estuda “se e como vai fornecer novos recursos para o projeto”. Tudo indica que falta entrosamento entre a CSN, o governo federal e os governos estaduais para tocar um empreendimento de tal magnitude e de reconhecido valor para o desenvolvimen-

onhecidos os resultados do primeiro dos três ciclos eleitorais para a composição da Assembleia do Povo do Egito, a câmara baixa de 498 cadeiras que formará o Parlamento nacional com a Shura, o conselho consultivo de 176 membros eleitos e 88 biônicos, vem à mente a máxima segundo a qual as revoluções inexoravelmente devoram os seus filhos. No caso egípcio, os revolucionários foram os jovens predominantes nas multidões que se instalaram na Praça Tahrir do Cairo para pedir o fim da ditadura de 30 anos do octogenário Hosni Mubarak. Nos passos dos colegas tunisinos que haviam apeado o autocrata Zine Ben Ali, os ocupantes da praça – universitários, profissionais liberais, empresários de setores modernos, famílias de classe média e trabalhadores desempregados – clamavam não apenas por liberdade, decência e democracia em senso estrito, mas também por oportunidades de importar do Ocidente, com as suas cambiantes tecnologias em rede, novos valores na vida pessoal e na relação com os poderes estabelecidos e, enfim, de participar das decisões dos governantes. Nas ruas de todo o país podiam-se ouvir, com variáveis graus de nitidez, ecos das rebeliões estudantis de maio de 1968. Passados nove meses, pouco mudou. Mubarak se foi, substituído por uma junta militar de 24 oficiais, sob a chefia do marechal Mohamed Hussein Tantawi, de 76 anos, 25 deles como mi-

E

FLAVIO MARCUS JULIANO opegapulhas@terra.com.br São Paulo

GRAMPO ACREANO No comitê tucano

Do modo como foi, só pode ter sido feito por adversários poderosos. Não deverá ser muito difícil concluir quem foram seus mentores. Talvez em breve saibamos o nome do autor da obra. JOSÉ PIACSEK NETO bubapiacsek@yahoo.com.br Avanhandava

LEI DAS CALÇADAS Atraso

Ao contrário do que diz a matéria Cobrança de multa por buraco em calçada vai atrasar (1.º/12), a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras informa que o início da aplicação da nova lei das

to nacional. Quando a Transnordestina estiver pronta, poderá transportar cerca de 30 milhões de toneladas de cargas por ano, evitando que a produção agrícola e mineral de uma vasta região tenha de percorrer milhares de quilômetros por caminhão para ser escoada, o que hoje é feito até mesmo por Portos do Sudeste do País. De outra parte, será mais econômica a distribuição de produtos industriais e de combustíveis no sertão do Nordeste, em zonas que vêm ganhando relevo na produção de grãos e na pecuária. Sob o aspecto logístico, a

Entraves têm de ser superados logo para que a Transnordestina corra afinal nos trilhos Transnordestina é de importância estratégica, e não só porque liga o interior aos Portos de Suape e Pecém. A ferrovia deve interligar-se futuramente com a Norte-Sul e alcançar o Porto de Itaqui, no Maranhão. Prevê-se também que se integre através de ramais com a Paraíba e Alagoas, bem como com o restante da rede ferroviária do Nordeste, e se conecte com o Sudeste através de Juazeiro (BA). Mesmo no estágio atual, a obra tem tido um impacto considerável na atividade econômica na região. A produção de materiais destinados à via férrea vem crescendo consideravelmente no Nordeste, com a instalação de fábrica de dormentes de concreto,

calçadas não está atrasado. Publicada em 9/9, a lei tem 120 dias de prazo legal para ser regulamentada, ou seja, até janeiro de 2012. Preocupada em minimizar os transtornos causados à população, a secretaria está empenhada em dinamizar ao máximo o processo de regulamentação, mas para isso alguns fatores, como deixar as regras claras e específicas, estão sendo cuidadosamente verificados para que a nova lei não possa ser mal interpretada, causando prejuízos à população. MARIANA NOGUEIRA SANDOVAL mariananogueira@prefeitura.sp.gov.br São Paulo

N. da R. – O secretário municipal de Coordenação das Subprefeituras, Ronaldo Camargo, informou pessoalmente ao Estado, durante evento na Câmara Municipal, que a regulamentação da lei das calçadas sairia no começo de novembro. O gabinete do prefeito confirmou a informação.

de estaleiros de solda de trilhos, usinas de britagem e outras empresas. A construção, no entanto, empaca com a liberação demorada de verbas e encontra às vezes “surpresas”, como a barragem de Serro Azul, em Palmares, que o governo de Pernambuco planeja construir para contenção de cheias, e que vai obrigar uma mudança no traçado da ferrovia. E, segundo a CSN, ainda está em processo de negociação e desapropriação de grandes áreas necessárias para a passagem da estrada de ferro, 42,4% das quais no Ceará e 24,7% no Piauí – e esta é uma responsabilidade do governo. A presidente Dilma Rousseff, que, desde quando exercia a chefia da Casa Civil, vem se empenhando na aceleração das obras da Transnordestina, já chegou a ameaçar a CSN de retomar a concessão. O fato é que, se o orçamento previsto for novamente revisado, será preciso que a União e/ou a concessionária destinem recursos adicionais à ferrovia. Outra hipótese é que o governo providencie um rearranjo dos financiamentos proporcionados pelo BNDES, Banco do Nordeste, Sudene e Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (Finor). Sendo um empreendimento economicamente viável, e que deve concorrer para a redução dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento, o que se espera é que os entraves à obra sejam logo superados para que a Ferrovia Transnordestina entre em operação, afinal, no atual governo.

“Será fácil regular a mídia quando os políticos forem regulados” EDUARDO HENRY MOREIRA / GUARUJÁ, SOBRE O ‘CONTROLE SOCIAL’ E A CORRUPÇÃO henrymoreira@terra.com.br

“Estagnação temporária? Ufa, que alívio! Pensei que fosse definitiva...” ALDO BERTOLUCCI / SÃO PAULO, SOBRE O CRESCIMENTO ZERO DA ECONOMIA BRASILEIRA NO TERCEIRO TRIMESTRE accpbertolucci@terra.com.br

C

nistro de Defesa do regime. Por conta própria, fracassadas as tentativas de acordo com os desacreditados partidos políticos, a junta nomeou primeiro-ministro um civil que fez carreira sob Mubarak e nada fez para modernizar a administração pública controlada pelos potentados da vasta e corrupta burocracia. Ao mesmo tempo, como nos tempos de Mubarak, a polícia, os serviços de segurança, as organizações paramilitares e o Judiciário servil continuavam a prender, torturar e condenar dissidentes. Mais do que isso, confirmando a sua intenção de manter o Egito sob tutela, em qualquer

Aliança entre o partido Al-Nur e a Irmandade Muçulmana pode levar o Egito para trás configuração institucional, as Forças Armadas fizeram saber que continuará ser delas a prerrogativa de nomear e demitir primeiros-ministros – e não do Parlamento que seria eleito daí a pouco. Além disso, da comissão de 100 notáveis encarregada de redigir a nova Constituição, 80 seriam de livre escolha da caserna. Por fim, a Carta teria de sacramentar a plena autonomia das Forças Armadas para montar o seu orçamento, gerir os empreendimentos econômicos de que são guardiães, operadoras e beneficiárias, e fazer a guerra e a paz. Os jovens voltaram a Tahrir, onde 40 perderiam a vida, para exigir a saída imediata dos militares e pregar o boicote das eleições, se ficassem. Receberam apenas um inédito pedido

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Governo quer internar usuários de crack

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Pacote prevê internação involuntária; consultórios de rua farão triagem nas cracolândias, diz ministro ● “Isso me parece mais uma resposta reacionária e política do que uma alternativa médica para o problema.” JACOB REIS

● “Internados ou presos? Muito esforço para pouco resultado, só para se quiser. O combate deveria ser nas fronteiras.” ALAN EDGAR

HÁ 860 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Acho válido. Quem já passou pela cracolândia e viu a situação também deve concordar.” JANSEN SANTOS

de desculpas pelas mortes de manifestantes e a promessa da realização de eleição presidencial em meados do ano que vem. E o povo foi, sim, às urnas na última semana de novembro. No Cairo, Port Said e Alexandria, as principais cidades da área por onde começaria a votação (na segunda área vota-se na semana que vem e, na terceira, no início de fevereiro), pacientes eleitores formaram filas literalmente quilométricas para exercer o seu direito. Houve seções eleitorais com 18 mil inscritos, outras com 24 mil. Contados ossufrágiosdepositadospor52% da população apta a votar, os filhos de Tahrir tiveram um choque:acoalizãoliberalBlocoEgípcio, apoiada pela imensa maioria deles,obteveapenas13,3%dosvotos. Praticamente todo o resto premiou os islâmicos – além do que já se previa. E, entre as suas duas principais forças, o Partido Liberdade e Justiça, da Irmandade Muçulmana, o disciplinado movimento fundado há 83 anos (quesóperdeemorganizaçãopara as Forças Armadas do país) não chegou aos 40% que esperava. Ficou com 36,6%. Já o Partido Al-Nur, que representa os fanáticos arquiconservadores salafistas,alcançou24,3%,quandosefalava em 20% ou menos. É muito improvável que as rodadas eleitorais restantes, em redutos conservadores, transformem esse panorama – o mesmo, por sinal, dos pleitos na Tunísia e no Marrocos. Uma aliança dominante entre a Irmandade e o Nur, com os militares arbitrando os negóciosdeEstado,éumpesadeloparaosjovensliberaiseseculares que revolucionaram o Egito.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 9 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

A CPMF não voltará A presidente Dilma Rousseff obteve na quarta-feira uma vitória marcante no Senado. O País também. Foram duas vitórias, aliás. Por 65 votos a 4, a Casa eliminou a possibilidade da criação de um imposto, alegadamente para financiar o sistema de saúde. E por 70 a 1 caiu a tentativa de obrigar a União a destinar ao setor pelo menos 10% do Orçamento federal. Foi o desfecho positivo de uma história que se arrastava no Congresso há uma eternidade – a regulamentação da Emenda Constitucional número 29, que trata dos gastos e responsabilidades dos entes federativos com a saúde pública. O projeto original que desembocou na votação de anteontem, de autoria do então senador petista Tião Viana, atual governador do Acre, con-

tinha a ideia equivocada de fixar o mencionado piso de 10% da arrecadação bruta federal. E o à época presidente Lula nunca desistiu de recriar a famigerada CPMF – abatida também pelo Senado em dezembro de 2007 –, sob a forma de um novo tributo, a Contribuição Social da Saúde (CSS). Quando a matéria passou pela Câmara, a primeira proposição foi derrotada, mas a segunda ficou como uma assombração, porque o texto não estipulou qual seria a base para o cálculo da CPMF com outro nome. Em relação ao patamar de gastos, os deputados mantiveram o padrão segundo o qual o repasse mínimo dos municípios é de 15% da arrecadação, o dos Estados é de 12%, enquanto a União deve alocar o montante do exercício anterior, corrigido pela variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos atrás – a mesma regra de reajuste do salário mínimo. Por esse critério, a parcela da arreca-

dação destinada à saúde em 2012 chegará a 7,5%, ante os atuais 6,8%. Com descarado oportunismo, os senadores da oposição falavam em restaurar a obrigatoriedade de 10%, pouco se lhes dando as suas implicações negativas. Em primeiro lugar, o acréscimo de R$ 35 bilhões no Orçamento da saúde para 2012 se daria numa conjuntura em que a ordem da presidente é cortar gastos para fortalecer a blindagem do País contra os efeitos da crise internacional. Segundo, a vinculação enrijeceria ainda mais o engessamento dos dispêndios federais, que já atingem níveis aberrantes. Com o que tem de desembolsar necessariamente com pessoal, Previdência e o serviço da dívida, mais as transferências constitucionais intocáveis e o custeio também mandatório da folha dos Territórios promovidos a Estados e da segurança pública no Distrito Federal, sobra muito pouco para ser remaneja-

do. Daí a importância crucial, para o governo, da Desvinculação das Receitas da União (DRU). A presidente temia que uma aliança profana entre a oposição e setores da base do Planalto no Senado aprovasse os 10%. Tanto que manobrou meses a fio para adiar a apreciação da matéria, até se persuadir de que seria politicamente mais indicado encarar o desafio – com as devidas precauções, naturalmente. Verbas foram liberadas (algo como R$ 13 bilhões), nomeações foram prometidas ao PR (para os cargos deixados vagos no Ministério do Transporte desde a queda do ministro perrista Alfredo Nascimento) e a discussão de um controvertido projeto de resolução sobre o ICMS em operações com produtos importados foi adiada. A história de sempre, em suma. Quanto à CSS, bem que o relator do projeto, o líder petista Humberto Costa, tentou manter a brecha aberta

na Câmara. Mas a duvidosa garantia da inexistência da base de cálculo, um verdadeiro cavalo de Troia, foi descartada pelos senadores da base aliada, a começar da bancada do PMDB – e a CSS foi enterrada. De mais a mais, o senador Francisco Dornelles, do PP fluminense, havia alertado para uma questão de fundo: impostos devem ser criados por mudanças constitucionais, não mediante projetos de lei complementar, como o da regulamentação da emenda 29. É bom lembrar ainda que o governo não precisou espremer o contribuinte mais do que já faz para financiar as suas políticas públicas. Outra decisão louvável do Senado foi acabar com as espertezas de Estados e municípios que incluem uma infinidade de gastos que nada têm que ver diretamente com a Saúde para dizer que cumprem os porcentuais fixados para o setor. Já não era sem tempo.

Transposição abandonada

A crise expõe o atraso do PAC

jogo de palavras com que o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, tentou negar a paralisação das obras de transposição do Rio São Francisco, que estavam em execução por empresas particulares, não esconde o fato de que na origem dos problemas mostrados pelo Estado (4/11) estão a pressa eleitoral e a incompetência gerencial do governo. Planejadas como cenário para a propaganda do governo Lula e, no ano passado, para a campanha eleitoral de Dilma Rousseff, as obras de transposição foram iniciadassem quehouvesseprojetos adequados. Por isso tiveram de ser interrompidas para que fossem elaborados esses projetos, cuja execução exigirá a recontratação de diversos trechos.Paraoministro,porém,tudo não passa de uma simples “desaceleração”. O problema, porém, é bem mais grave. Os repórteres Eduardo Bresciani e Wilson Pedrosa percorreram trechos das obrasdurantetrêsdiaseconstataram que elas estão se deteriorando. As estruturas de concreto dos canais, submetidas ao calor intenso e sem utilização, começam a estourar ou a rachar e há vergalhões de aço abandonados. Natural em qualquer construção interrompida, a deterioração pode ser mais rápida em obras como as da transposição do São Francisco, feitas para receber continuamente a carga de um grande volume de água e não para ficarem expostas diretamente às condições climáti-

governo terá de ser muito mais competente do que está demonstrando ser, se quiser usar o investimento federal para impulsionar a economia em 2012. O primeiro desafio será desemperrar a própria administração, incapaz, há muitos anos, de elaborar projetos e de executá-los com um mínimo de eficiência. O baixo ritmo de execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), desde seu lançamento em 2007, é uma bem conhecida prova da inépcia gerencial dominante em Brasília. O padrão se manteve depois da posse da presidente Dilma Rousseff. Neste ano, até 30 de setembro, só foram gastos R$ 143,6 bilhões, 15% dos R$ 955 bilhões previstos para o PAC2, mas boa parte do desembolso – R$ 55,2 bilhões, 38,4% do total – correspondeu a financiamento imobiliário para pessoa física. A lentidão dos investimentos é especialmente preocupante, agora, por causa do cenário internacional. A economia, no próximo ano, deve continuar avançando muito lentamente na maior parte da Europa e nos Estados Unidos. Além disso, há perspectiva de alguma desaceleração na China. A presidente Dilma Rousseff pretende para 2012 uma expansão econômica na faixa de 4% a 5%. É um objetivo ambicioso, diante do quadro externo muito ruim. Depois do crescimento zero no terceiro trimestre, a economia brasileira já dá sinais de alguma aceleração, mas pre-

O

com a natureza das instituições que gerenciam o sistema elétrico brasileiro. Tanto o Operador Nacional quanto a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) são associações civis de direito privado, sem fins lucrativos, regulamentadas pela Aneel. Portanto, é incorreto atribuir ao governo qualquer responsabilidade sobre a operação do SIN ou sobre a comercialização de energia. Não houve “erro de cálculo”, mas necessidade de aprimoramento na modelagem das hidrelétricas da região amazônica. Identificada pelo ONS e pela CCEE, equacionada pelo Cepel, discutida de forma aberta e transparente com os agentes, resultou na revisão do Programa Mensal de Operação e no recálculo do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) para a primeira semana operativa de dezembro. Por último, o ONS repudia veementemente a ilação feita pelo presidente da Abraceel de que possa estar havendo “mani-

cas da região semiárida. Em todo o trecho percorrido pela reportagem – com exceçãodaparte sobresponsabilidade do Exército –, o que se constatou foi o abandono das obras. Entreosmunicípios pernambucanos de Betânia e Custódia, em um trecho de 500 metros do eixo leste, o concreto está quebrado e vários pedaços estão caídos sobre o leito do futuro canal. “As empresas abandonaram as obras e já começou a se perder o trabalho feito”, disse o padre Sebastião Gonçalves, da diocese pernambucana de Floresta. “É um desperdício inexplicável.”

Ministro chama de ‘desaceleração’ a paralisação de obra por incúria administrativa O Ministério da Integração Nacional reconhece que, dos 14 lotes em que a obra foi dividida, 6 estão parados. Não se trata de umainterrupção,segundo oministroFernandoBezerra. “Estamosvivenciando uma desaceleração no ritmo em consequência das dificuldades e dos problemas que enfrentamos pela contratação de projetos básicos que se revelaram frágeis quandodaexecução”,disseeleaoEstado. “A obra já não cabia dentro dos contratos e muitas frentes não puderam ser abertas.” Em linguagem mais simples, isso quer dizer que a obra mais alardeada do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – que ampliou a popularidade do ex-presidente Lula e garantiu boa parte dos votos com que

pulação desse preço” e sua afirmativa de que “ninguém tem clareza do que está sendo calculado”. Todos os especialistas dos agentes, do Cepel, da CCEE e do próprio ONS envolvidos nesse cálculo sabem muito bem o que estão fazendo, mas isso exige formação técnica especializada e experiência na operação do sistema. HERMES CHIPP, diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) jussemara@ons.org.br Brasília

N. da R. – O governo federal tem forte controle sobre o ONS, apesar de o órgão ser uma pessoa jurídica de direito privado. Empresas e entidades do setor elétrico alegam que os problemas identificados quanto ao preço da energia são decorrência de erro de cálculo que o ONS classifica como “diferentes maneiras de se modelar a realidade”. É exatamente essa modelagem da realidade que está sendo questionada.

a presidente Dilma Rousseff se elegeu –, uma das mais polêmicas dos últimos anos e uma das mais caras em andamento no País, começou a ser executada sem que houvesse projetos executivos adequados. Um governo só age desse modo por pressa,determinadaporcálculospolítico-eleitorais, ou por incapacidade administrativa e técnica – ou pelas duas razões. Ganhos políticos para o governoe suaentão candidatacertamente houve. No município de Floresta, por exemplo, em 2010 a candidata petista obteve 86,3% dos votos; em Cabrobó e Custódia, 90,7%; e em Betânia, 95,4%. No segundo turno, Dilma teve 75% dos votos válidos de Pernambuco, Estado onde começa o desvio do São Francisco. Mas a pressa com que as obras foram contratadas já provocou revisões de seu custo total, agora orçado em R$ 6,8 bilhões (R$ 1,8 bilhão mais do que a previsão original). Segundo o governo, desse valor, R$ 3,8 bilhões já foram empenhados e R$ 2,7 bilhões, pagos. É muito provável que, até o fim das obras, o custo seja novamente revisto. O próprio ministro Fernando Bezerra admitiu a necessidade de renegociação e recontratação de diversas frentes de trabalho. Além disso, haverá o custo de recuperação daquilo que se está perdendo com a suspensão das obras. Apesar da veemência do ministro, não é certo que as empresas arcarão com esse custo. Afinal, a “desaceleração”, como diz o ministro,éderesponsabilidadedogoverno, não das construtoras.

“Nosso governo se esquece de que evitar a ida do ministro ao Congresso não vai silenciar a mídia e a opinião pública” MAURO RIBEIRO GAMERO / SÃO PAULO, SOBRE FERNANDO PIMENTEL E SUA CONSULTORIA mrgamero@ajato.com.br

“Quer dizer que Pimentel é aquele mineirinho ‘enriquece quieto’... RONALDO GOMES FERRAZ / RIO DE JANEIRO, IDEM ronferraz@globo.com

O

cisará de um impulso adicional para se expandir no ritmo desejado pelo governo. Diante da lentidão dos investimentos, a presidente Dilma Rousseff cogitou, segundo fontes do Executivo, de transferir a gestão de algumas tarefas do PAC do Ministério do Planejamento para a Casa Civil. Nesta quinta-feira, um dia depois de vazar aquela informação, a intenção de mudança foi desmentida pelo porta-voz da Presidência da República. A gestão e a coordenação do programa continuam sob responsabilidade do Planejamento. A informação pode ter vaza-

Governo quer investir mais para enfrentar a crise, mas não tem competência gerencial do muito cedo e o desmentido pode ser uma questão de conveniência política. Seja como for, duas afirmações são dificilmente contestáveis. Em primeiro lugar, a presidente da República não pode estar satisfeita com o andamento do PAC ou, de modo geral, dos investimentos planejados pelo setor público. Em segundo lugar, sua insatisfação deve ser acentuada pelo risco representado pela crise internacional e pelo atraso das obras necessárias à realização da Copa do Mundo de 2014. Ela já deve ter avaliado o vexame, se uma das sete ou oito maiores economias do mundo, representada por figuras falastronas e inclinadas a dar lições de governança a europeus e americanos, fracassar na prepa-

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Dilma quer Casa Civil no comando do PAC

1.011

Presidente pretende que Gleisi, que será candidata em 2014 no Paraná, comande infraestrutura ● “Acelerar investimentos para o bolso dos governantes ou para o povo brasileiro?” THALITA BARTELI

● “Grande parte do Ministério de Dilma já mostrou a que veio: para ficar rica por meio da corrupção.” PEDRO SACOLA

HÁ 861 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Não perca seu tempo. O PAC é uma grande lorota do PT. Bem bolado, mas não sai do chão.” FABIO FIGUEIREDO

ração de um dos maiores eventos esportivos do mundo. Mesmo sem crise externa e sem Copa do Mundo, o governo teria um excelente motivo para se preocupar com os investimentos: será impossível manter um bom ritmo de crescimento por vários anos se o País for incapaz de vencer, entre outros problemas, as falhas de infraestrutura. Não se eliminará o atraso dos investimentos só com a mudança da coordenação de um para outro Ministério. A incompetênciaéumacaracterística da maior parte do governo e acentuou-se com o loteamento político da administração. Há muito tempo o setor público federal tem sido incapaz de realizar os investimentos programados. Em 2011, a execução de alguns programas até se acelerou, mas o panorama se manteve. Na área das estatais, a maior parte dos investimentos – 89,6%, neste ano – continua dependendo da Petrobrás, emboraaempresatenhainvestidomenos que em 2010. O desempenho da Eletrobrás melhorou, mas até outubro o grupo só investiu 45% do previsto para 12 meses. A parte do PAC dependente do Orçamento da União foi um fracasso. Dos R$ 21,6 bilhõesgastos atéocomeço de novembro, R$ 16,1 bilhões corresponderam a restos a pagar. As bandalheiras divulgadas neste ano mostram muito mais que corrupção: comprovam o desprezo petista, durante anos, pela qualidade da gestão pública. Se não mudar esse padrão, a presidenteDilmaRousseffcomprometerá seu governo.

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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 10 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Notas & Informações

Trégua na crise europeia Boa surpresa para todos, foi muito melhor do que se previa o resultado da reunião de cúpula da União Europeia, iniciada num ambiente de muito pessimismo quanto ao futuro não só do euro, mas também do bloco. Depois de muita negociação e de um duro jogo de pressões, 26 dos 27 chefes de governo concordaram em aprofundar a união fiscal, apressar o funcionamento do Mecanismo Europeu de Estabilidade – um sistema de resgate financeiro – e fornecer mais US$ 270 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para ajuda aos países com maior dificuldade para refinanciar a dívida pública. A proposta original, preparada pela chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, implicava uma reforma do tra-

tado do bloco. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, rejeitou o plano. Isso impossibilitou a reforma e a solução foi negociar um acordo com livre participação de cada membro. Depois de dez horas de negociação, durante a noite de quinta para sexta-feira, Merkel e Sarkozy haviam conseguido o apoio de todos os membros da zona do euro e de outros seis países. Depois de uma pausa, a discussão foi retomada e só o Reino Unido ficou fora do acordo. Os mercados oscilaram durante horas, na sexta-feira, enquanto novas informações eram divulgadas em Bruxelas, mas a avaliação final dos economistas de grandes instituições financeiras acabou sendo positiva, embora sobrassem dúvidas importantes. Os governos da zona do euro terão de encontrar formas de estimular o crescimento econômico. Políticas de austeridade fiscal serão insuficientes para resolver o pro-

blema das dívidas soberanas. Diante do risco de insolvência de alguns Tesouros, investidores e credores têm cobrado juros muito altos para rolar as dívidas. Nem as maiores e mais sólidas economias da zona do euro, a alemã e a francesa, têm sido poupadas dessas pressões. Sem crescimento não haverá solução para o problema das dívidas, disse na semana passada, em São Paulo, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde. Esse ponto de vista é hoje amplamente aceito. Só com alguma expansão da atividade os governos endividados conseguirão a receita necessária para ampliar sua capacidade de pagamento, tranquilizar os mercados, conseguir juros menores e assim desviar-se do rumo do desastre. Os credores e investidores continuarão, nas próximas semanas, à espera de novas ações para a retomada do crescimento. O BCE tomou a

dianteira, mais uma vez, e reduziu os juros de 1,25% para 1% ao ano. Foi a segunda redução desde a posse de seu atual presidente, o economista Mário Draghi. Além disso, o BCE alongará de um ano para três o prazo máximo de empréstimos para os bancos e será mais flexível em relação às garantias. O objetivo é aumentar a capacidade dos bancos privados de conceder empréstimos e também de refinanciar os Tesouros. Além disso, o FMI poderá ampliar a ajuda aos governos. Por enquanto, mantém programas com a Grécia, a Irlanda e Portugal. O acordo fiscal deverá resultar em maior disciplina orçamentária para os países signatários. Nenhum governo poderá operar com déficit estrutural – isto é, de longo prazo – superior a 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) de cada ano. Se o déficit nominal superar 3% do PIB, o país ficará sujeito a sanções automáticas. A

dívida pública será limitada a 60% do PIB. Os países se comprometerão a trabalhar imediatamente para reduzi-la, se o limite for ultrapassado. Para o sistema funcionar, será necessária uma supervisão centralizada. Pelo acordo, cada país participante deverá incluir as cláusulas essenciais em sua legislação. Se um mecanismo desse tipo houvesse funcionado nos últimos anos, a crise das dívidas soberanas teria sido provavelmente evitada. A disciplina orçamentária é fundamental para uma união monetária, como a zona do euro. Os governantes sempre souberam disso, mas foram incapazes de seguir essa regra. Desta vez, o compromisso foi – pelo menos em princípio – assumido pelos 17 países do euro e por mais 9. Com isso, a união monetária ganhou mais uma sobrevida. Pode ser a última chance. Também disso os governantes devem estar conscientes.

Descompasso no setor elétrico

Custos da divisão do Pará

onsequência da desarticulação das ações do governo, o descompasso entre a construção de usinas hidrelétricas e de linhas de transmissão da energia por elas geradas impedirá o País de se beneficiar integral e imediatamente de uma obra que está sendo concluída em tempo recorde. Até o fim deste mês, estará em plena operação a primeira turbina, de 71,6 megawatts (MW), da Usina de Santo Antônio, no Rio Madeira (RO), que terá capacidade total de 3,15 mil MW. Mas tudo que ela gerar nos próximos meses será consumido na região, pois ainda não há como transmitir sua energia para os principais centros de consumo. À época de sua licitação, há cerca de quatro anos, a Hidrelétrica de Santo Antônio foi considerada a principal alternativa para evitar uma crise de abastecimento de energia no País a partir de 2012. No que dependeu do consórcio responsável pela construção e, em breve, pela operação de Santo Antônio, essa expectativa poderia se concretizar, pois a primeira turbina está sendo colocada em operação cinco meses antes do prazo contratual. Novas turbinas entrarão em operação nos próximos meses. Pelo menos até novembro do próximo ano, porém, não haverá como transmitir essa energia para os grandes centros consumidores, pois a linha de transmissão ligando Porto Velho à subestação de Araraquara, já no sistema na-

ão há nenhuma garantia de que, se o Estado do Pará for dividido em três, sua população passará a receber do poder público atendimento melhor do que teve até agora. Mas é certo que, se a divisão for aprovada pelos eleitores paraenses convocados a dar sua opinião no plebiscito marcado para amanhã, os contribuintes de todo o País, e não apenas do Pará, serão chamados a pagar a conta. Será uma conta pesada, mas, espertamente, dela os defensores da divisão do Estado nada falam. Haverá ganhadores, sim, se os paraenses aprovarem a divisão do Estado em três – Pará, tendo como capital Belém; Carajás, com capital em Marabá; e Tapajós, sendo Santarém sua capital – e essa decisão for ratificada pelo Congresso Nacional e pela presidente Dilma Rousseff. Mas os beneficiados não serão necessariamente os cidadãos comuns, que esperam por melhorias. Novos Estados exigem novos governadores, novas estruturas administrativas, com milhares de novos funcionários, novos cargos de confiança, mais deputados estaduais, mais deputados federais, mais senadores, mais desembargadores e assim por diante. Daí o interesse de políticos e lideranças regionais, com o apoio de marqueteiros conhecidos por vender seus préstimos para defender qualquer causa, em retalhar os atuais Estados – tramitam no Congresso outros 23 projetos de criação de Estados.

C

da alheia porque estão “armados” (com munição ou álcool) mereceriam gestos de carinho, redução de pena por bom comportamento, etc., se estão conscientes do risco que representam? Arma de fogo, para o cidadão civil, apenas com porte legal e como instrumento de defesa do lar ou do trabalho! Direção de veículo, só para quem não está alcoolizado, porque a perda de noção do nível de embriaguez começa no primeiro gole. Quer beber? Não dirija. Quer dirigir? Não beba. Quer viver solto? Não mate! Prisão perpétua não é pena mínima para quem mata o seu semelhante deliberadamente? Não é preciso estar no rol de vítimas para se conscientizar desses elementares princípios preventivos. Que descanse em paz o espírito do saudoso mestre e continue bem-sucedido o eminente ex-presidente da OAB. Mas a solução começa na punição severa, sim. Desde que fielmente cumprida, sem “alisar” os

cional interligado, com cerca de 2,4 mil quilômetros de extensão, começou a ser construída há pouco tempo. O cronograma previa a conclusão da linha em novembro passado, mas, com os atrasos acumulados até agora, sobretudo em razão da demora na concessão da licença ambiental, ela só estará pronta quase um ano depois de a usina ter iniciado suas operações. Então, Santo Antônio estará operando 15 turbinas, com capacidade de 1.074 MW, de acordo com as projeções da Aneel (concluída, a usina terá 44 turbinas). Santo Antônio é uma das

Sem linhas de transmissão, usinas hidrelétricas prontas geram prejuízos duas usinas em construção no Madeira. A outra é a de Jirau, que deverá iniciar suas operações em janeiro de 2013 com capacidade total de 3,45 mil MW. O atraso na construção das linhas de transmissão (serão duas, entre Porto Velho e Araraquara) imporá perdas para os controladores de ambas, pois eles não poderão beneficiar-se das vantagens de antecipar a produção, que lhes asseguraria o direito de vender a energia no mercado livre, a preço melhor do que o acertado nos leilões de concessão. Esse, infelizmente, é um problema generalizado no setor. Balanço feito pela Aneel em meados deste ano indicava que 55% das linhas de transmissão em construção estavam atrasa-

culpados. Pensar antes e não fazer livra qualquer um do castigo. LUIZ CARLOS BISSOLI tiocaio17@gmail.com São Paulo

GREVE Justiça Federal

Pouco tem sido falado sobre a greve dos funcionários da Justiça Federal, que já se arrasta por dois meses ou mais, em razão da qual milhares de decisões de primeira instância e do Tribunal Regional Federal (TRF) deixaram de ser cumpridas. Agora há notícia de que o movimento se vai estender até o recesso de fim de ano, causando imenso prejuízo às partes, aos advogados e à população em geral. O que está sendo feito para pôr fim a essa situação? Com a palavra o TRF da 3.ª Região. SEBASTIÃO DE CASTRO RANGEL sfrangel@uol.com São Bernardo do Campo

das, e o atraso médio era de mais de dez meses. Em agosto, quando do anúncio do novo plano decenal para o setor, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética, dirigentes de empresas energéticas calculavam haver de 30 a 40 projetos de linhas de transmissão com obras atrasadas, com atraso médio de 22 meses, por conta da demora na concessão do licenciamento ambiental. No caso do linhão que atenderá a Hidrelétrica de Santo Antônio, os funcionários do Ibama alegaram que a empresa responsável pelas obras atrasou a entrega da documentação necessária, mas que, uma vez entregues os documentos, a licença foi concedida com rapidez. A empresa, por sua vez, argumenta que o prazo previsto pelo governo para a concessão da licença era de 12 meses, mas 27 meses se passaram até que a questão ambiental fosse inteiramente resolvida. Assinado em fevereiro de 2009, o contrato para o linhão de Santo Antônio previa a conclusão da obra em 36 meses, mas, até agora, só 22% foram executados. A empresa responsável informou ao Estado que, mesmo sem a licença, já havia contratado os insumos, materiais e equipamentos necessários, o que deve contribuir para acelerar os trabalhos daqui para a frente. O caso mostra como é falho o planejamento do setor. O problema se repetirá com a Usina deJiraue, senadamudar,provavelmente também com a de Belo Monte, no Rio Xingu, que será a terceira maior do mundo.

“Tapajós e Carajás, mais dois Estados para os paulistas sustentarem” JOÃO CARLOS BRAGA JR. / SÃO PAULO, SOBRE A DIVISÃO DO PARÁ cuquineto@gmail.com

“Concordo com a divisão do Pará se os custos da implantação do projeto ficarem por conta dos interessados paraenses” SERGIO S. DE OLIVEIRA / DALAS, TEXAS (EUA), IDEM ssoliveiramsm@hotmail.com

N

Não se deve ignorar, por certo, o legítimo anseio das populações locais por serviços de melhor qualidade. Muitos habitantes de localidades distantes da capital ou dos principais polos regionais sentem-se esquecidos pela administração estadual. Isso ocorre em vários Estados e o caso pode ser pior num Estado com as dimensões do Pará. Mas cortar o Pará em pedaços não significará necessariamente aproximar os cidadãos de seus governantes. A população do Sul do que seria o futuro Estado de Tapajós teria quase tantas dificuldades para ir a Santarém como tem hoje

Maiores interessados na divisão do Estado são alguns políticos que facilitarão suas carreiras para chegar a Belém. O que essas regiões necessitam é de representação política mais confiável e que responda e corresponda a seus anseios, e isso não será assegurado pela divisão do Estado. Sem propiciar melhor acesso da população aos órgãos estaduais, a divisão do Estado, se aprovada, produziria importantes efeitos negativos sobre as finanças públicas, não apenas dos novos Estados, mas do País, pois todos os contribuintes teriam de arcar com os custos da criação de novas estruturas de governo, visto que as receitas de que dispõe o atual Estado do Pará não serão suficientes para cobrir as despesas decorrentes de sua divisão. Estudos feitos pelo Instituto

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Arrumar emprego, o desafio de Francenildo

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Ex-caseiro que denunciou Palocci diz que vive de bicos; 'Vou ser prejudicado pelo resto da vida?’, indaga ● “Conseguir um emprego ou trabalhar por conta própria não está fácil para ninguém, sr. Francenildo.” ALEX SILVA

● “Que os líderes da oposição ajudem este brasileiro que teve a coragem de falar a verdade.” GERALDO SOARES

HÁ 862 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Engraçado como falar a verdade, denunciar crimes e ser correto neste país é tão ruim.” FRANKLIN MEDEIROS

de Pesquisa Econômica Aplicada mostram que os novos Estados nasceriam deficitários. Atualmente, o Pará registra um superávit orçamentário de R$ 300 milhões, mas o Estado de Carajás teria déficit de pelo menos R$ 1 bilhão por ano; o de Tapajós, de R$ 864 milhões; e o Pará remanescente, de R$ 850 milhões. Como esses déficits seriam cobertos? Com recursos do governo federal. Sem eles, os novos Estados não teriam condições de montar uma nova infraestrutura física e ampliar os serviços públicos – afinal, não é para isso que eles seriam criados? –, nem mesmo para manter sua nova estrutura administrativa e política. Assim, uma decisão aparentemente de interesse estadual pode ter impacto nacional, pois o dinheiro da União que for eventualmente destinado aos novos Estados implicará redução de gastos em outros ou na criação de mais impostos. Mas a criação de um Estado gera oportunidades políticas, daí o interesse de certas lideranças no assunto. O Pará tem, atualmente, 1 governador, 3 senadores, 16 deputados federais e 41 deputados estaduais. Com a divisão, serão 3 governadores, 9 senadores, pelo menos 24 deputadosfederaise72deputados estaduais. Com a recomposição do eleitorado, serão necessários muito menos votos para se elegeros candidatos a cadaumdesses cargos. Novas carreiras políticas serão alimentadas e impulsionadas. E muito mais cargos públicoshaveráparaabrigaraliados e amigos dos políticos.

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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 11 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

O novo Código Florestal O texto do novo Código Florestal, aprovado por ampla maioria no Senado na terça-feira, não é aquele dos sonhos dos ambientalistas e tampouco é do inteiro agrado dos ruralistas. Representa, porém, um meio-termo bastante razoável. Não houve propriamente anistia aos proprietários que desmataram depois de julho de 2008, como se temia. Em vez de multas, optou-se por compensações, ficando os maiores proprietários com a obrigação de recuperar as áreas degradadas em Áreas de Preservação Permanente (APP) e de Reserva Legal. Foram mantidas para o futuro as regras em vigor de proteção da vegetação nativa, num porcentual variável de 20% a 80%, de acordo com os biomas. Os pequenos proprietários (até quatro módulos fiscais) ficam

isentos de recuperar a reserva legal, mas devem cumprir as normas ambientais em novas áreas. Para os produtores, a principal vantagem do novo código é a segurança jurídica para desenvolver suas atividades, sem o ônus de multas que elevariam os custos de adequação das propriedades rurais à legislação. O consenso a que se chegou não significa, porém, uma derrota para os defensores do meio ambiente. O Ibama passará a contar com um novo e poderoso instrumento de fiscalização, que é o Cadastro Ambiental Rural, no qual todos os produtores rurais devem inscrever-se dentro de um ano, prorrogável por mais um. Isso facilitará a regularização da propriedade de terras no País e permitirá uma fiscalização mais eficaz. Há ambientalistas que consideram o texto aprovado como um retrocesso, tendo manifestado a expectativa de que a presidente Dilma Rousseff

vete alguns de seus dispositivos. Embora as emendas no Senado devam ainda passar pela Câmara dos Deputados, isso parece pouco provável, se o texto for mantido. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, participou ativamente das negociações, e o acordo a que se chegou tem, claramente, o aval do governo. Para a obtenção do consenso teve efeito decisivo também a forte pressão exercida pela bancada nordestina para aprovação do dispositivo que permite aos produtores de camarão ampliarem em até 10% da área de criação do crustáceo na Amazônia e até 35% em áreas de manguezais no Nordeste. Novamente, foi um meiotermo entre as pretensões dos produtores de camarões em cativeiro, que defendiam a liberação total dessas áreas e aqueles que queriam simplesmente proibi-la. Outro ponto que vinha gerando muita discussão era a extensão da ve-

getação a ser mantida ao longo do curso dos rios. Havia alegação de que os pequenos proprietários, principalmente, seriam penalizados pela proibição do aproveitamento de várzeas, uma prática disseminada por todo o País. O texto aprovado prevê a recuperação de 15 a 200 metros das margens, a depender da largura do curso d’água, se programas de regularização ambiental dos governos federal e estaduais assim o exigirem. Com relação às nascentes dos rios, o texto é mais rigoroso ao exigir que, independentemente da vazão ou da extensão de rios, aqueles produtores que derrubaram matas ciliares devem recompor 30 metros em cada margem. A atividade agrícola é permitida em encostas com inclinação de 25˚ e 45˚. Como essas áreas não são favoráveis ao cultivo, impedindo muitas vezes o uso de tratores e outras máquinas agrícolas, geralmente destinamse a pastos e seria praticamente im-

possível exercer vigilância para que isso deixasse de ocorrer. Mais importante é a preservação dos topos de morros com mais de 100 metros de altura. Note-se, a propósito, que os picos mais elevados não são aproveitados pela agropecuária. São as mineradoras que têm devastado a cobertura vegetal desses picos ao derrubar montanhas inteiras, o que não deverá ser mais permitido. O êxito do novo Código, quando afinal entrar em vigor, dependerá, portanto, de uma fiscalização mais rigorosa do Ibama e dos órgãos ambientais dos Estados. Nesse sentido, é alentadora a notícia, há pouco divulgada, de que a Amazônia registrou a menor taxa anual de desmatamento em 23 anos. Embora tenham sido desmatados 6.280 km² entre agosto de 2010 e julho deste ano – uma área ainda extensa –, é inegável que a situação hoje está sob maior controle.

Tudo o que a Fifa mandar

A nova ministra do Supremo

realização no Brasil da Copa das Federações, em 2013, e da Copa do Mundo de Futebol, em 2014, dois dos principais eventos promovidos pela Fédération Internationale de Football Association (Fifa), certamente trará prestígio para o País, além dos benefícios permanentes que resultarão – é o que se espera – das obras de infraestrutura necessárias para a realização dessas competições. Mas há um alto preço que já se começa a pagar por tanta honra e glória: a submissão das instituições nacionais aos interesses comerciais da poderosa entidade privada que manda no futebol no mundo. É o que lamentavelmente revela o parecer do deputado governista Vicente Cândido, relator do projeto da Lei Geral da Copa na Comissão Especial da Câmara. Estabelece o relatório, obviamente negociado com o Palácio do Planalto, que o Estatuto do Idoso e o Estatuto do Torcedor terão alguns de seus dispositivos escamoteados para atender a exigências da Fifa. A dona do futebol não abre mão de controlar rigidamente a política de preços dos ingressos para as competições que promove e por essa razão não admite a cobrança de meia-entrada para espetáculos culturais, artísticos e desportivos que os maiores de 60 anos conquistaram por força do artigo 23.º do Estatuto do Idoso. Para não ter que pura e simplesmente admitir que está cedendo à exigência da Fifa, o relator Vi-

ouco conhecida nos meios jurídicos, apesar de integrar o Tribunal Superior do Trabalho, a ministra Rosa Weber foi indicada pela presidente Dilma Rousseff para substituir no Supremo Tribunal Federal (STF) a ministra Ellen Gracie, que se aposentou há cinco meses. Apesar de a indicação ter sido aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado por 19 votos contra 3, graças à maioria da bancada governista, Rosa Weber não se saiu bem na sabatina a que foi submetida. Deixou, por exemplo, de responder a quase todas as perguntas técnicas – especialmente em matéria de direito penal, civil e processual – formuladas por senadores da oposição. Várias indagações tratavam de temas que têm sido debatidos nas sessões plenárias do STF e sobre os quais os membros da Corte estão divididos, em termos doutrinários. Na sabatina, Rosa Maria Weber mostrou desconhecer o teor desses debates. Quando perguntada sobre questões complexas, que exigem conhecimento de direito positivo e teoria jurídica, afirmou que não poderia respondê-las, por estar impedida de comentar assuntos sub judice. Às perguntas politicamente mais embaraçosas, deu respostas vagas. “A corrupção é inerente à natureza humana, assim como a bondade e a moralidade”, disse Rosa Weber, ao ser questionada sobre casos de corrupção no Judiciário. Após a sabatina, que durou

A

Conselho

Um conselho para o caseiro Francenildo, que depois de denunciar Palocci vive só de bicos em Brasília: deixe a corte e venha para São Paulo com seu currículo. AMADEU R. GARRIDO DE PAULA amadeugarridoadv@uol.com.br São Paulo

DIVISÃO DO PARÁ Plebiscito

As pesquisas indicam rejeição à divisão do Pará. Espero que esse seja o resultado do plebiscito, ou teremos mais dois governadores, mais duas Assembleias Legislativas, mais cargos públicos de confiança, mais quatro senadores, mais deputados federais, mais lambança com dinheiro público! Que a divisão seja rejeitada pelos eleitores, para o bem do Brasil. CARLOS E. BARROS RODRIGUES

cente Cândido se entrega a um extravagante contorcionismo verbal. Nos jogos das duas competições não haverá meiaentrada para idosos, estudantes ou quem quer que seja. Haverá, isto sim, uma cota de 300 mil ingressos destinados a uma categoria especial, designada pelo número 4, “cujos preços não excederão da metade do preço da categoria superior para uma mesma partida da Copa do Mundo Fifa de 2014, que corresponderão a cerca de cinquenta reais (R$ 50,00)”. Assim, na tal categoria 4, os ingressos deverão custar R$ 25, ou seja, a metade do preço

Para atender a entidade, revogam-se partes dos Estatutos do Idoso e dos Torcedores da categoria imediatamente superior. E esses ingressos só poderão ser comprados, por se tratar de uma “cota social”, por idosos, estudantes, portadores de deficiências, indígenas e “beneficiários de participantes de programa federal de transferência de renda” (o Bolsa-Família, por exemplo). O sistema é mais fácil propor do que de operar, mas não se fala em meia-entrada, como quer a Fifa. Para desatar o nó da venda de bebidas alcoólicas nos estádios durante as competições da Fifa o relator também usou de criatividade. Será permitida a venda e o consumo de bebidas nos estádios – o que contraria a letra expressa do Estatuto do Torcedor –, desde que isso

carlosedleiloes@terra.com.br São Paulo

Sustentabilidade

A falta de um debate sério, propositivo e responsável na política brasileira levou ao extremo do plebiscito sobre a divisão do Estado do Pará. Interesses políticos e econômicos contrariados transformaram-se em duas frentes separatistas. Passados os ressentimentos e as mágoas com o resultado das urnas, hoje, Belém deve estender as mãos a Santarém e Marabá, com a criação de duas regiões metropolitanas, o repasse de um volume de recursos compatível para o desenvolvimento das duas regiões e, assim, oferecer condições adequadas de infraestrutura para a sustentabilidade de longo prazo de todo o Pará. LUIZ ROBERTO DA COSTA JÚNIOR lrcostajr@uol.com.br Campinas

seja feito exclusivamente nos bares, restaurantes e estabelecimentos similares em funcionamento dentro das arenas. Continuará sendo proibido consumir bebidas alcoólicas nas arquibancadas, pois o relatório considera isso uma medida de segurança indispensável. Mas nada impedirá que os torcedores se embriaguem nos “bares, restaurantes e estabelecimentos similares” dentro dos estádios para depois armarem confusão durante ou após os jogos. E já que estava com a mão na massa, o relator considerou de bom alvitre “corrigir” o que considera uma falha no Estatuto do Torcedor. Propôs que a permissão de venda e consumo de bebidas alcoólicas, nas condições restritivas que valerão para as copas, seja definitivamente incorporada àquele estatuto,para permitir queos torcedores possam voltar a beber nos estádios. Os Estatutos do Idoso e do Torcedor foram sancionados pelo presidente Lula em 2003. O primeiro não trata apenas da concessão de meia-entrada nem o segundo exclusivamente da proibição do consumo de bebidas alcoólicas nos estádios. Mas essas duas medidas específicas foram então saudadas como importantes conquistas sociais. E desde então têm funcionado muito bem, plenamente aceitas pela sociedade brasileira de modo geral, apesar de tanto uma quanto outra contrariarem interesses econômicos. Estão sendo revogadas por determinação dos donos do futebol mundial.

“Pimentel ou Negromonte? A ordem dos fatores não altera o produto...” ROBERTO TWIASCHOR / SÃO PAULO, SOBRE O PRÓXIMO A DEIXAR O MINISTÉRIO rtwiaschor@uol.com.br

“O nosso país deve ser o único no mundo onde dizer a verdade merece castigo” VIRGÍLIO MELHADO PASSONI / JANDAIA DO SUL (PR), SOBRE O CASEIRO FRANCENILDO mmpassoni@gmail.com

P

mais de seis horas, alguns ministros mais antigos do STF não esconderam a insatisfação com o desempenho da futura colega. Mais explícitos, os parlamentares da oposição afirmaram que as respostas evasivas de Rosa Weber mostraram que ela não atende a um dos requisitos básicos para integrar a mais alta Corte do País – o notório saber jurídico. O mais surpreendente é que a ministraconcordoucomascríticas. Admitiu que conhece pouco de direito civil, penal e processual por estar há 35 anos julgando processos trabalhistas. E também afirmou que aprende-

Ministros do Supremo só devem ser escolhidos pelo critério do notório saber jurídico rá, no dia a dia do STF, as matérias que não domina. “Penso quehoje em dia, dada a tamanha complexidade e o número de matérias, dificilmente alguém consiga abarcar todos os temas. O que me anima a enfrentar essesdesafioséquepodemosestudar. Somos eternos aprendizes”, disse ela. A ministra Rosa Weber merece aplauso por sua franqueza. Mas a última instância do Judiciário – que tem a palavra final sobre praticamente todos os aspectos da vida dos cidadãos brasileiros – exige em seu plenário magistrados com sólidos conhecimentos e comprovada experiência em temas de alta complexidade, e não aprendizes, que terão de recorrer aos manuais introdutórios, pois, entre

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STF condena, mas deputados ficam livres

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Nenhum dos cinco deputados condenados pelo Supremo desde o ano passado foi preso ● “Não há ilegalidade alguma. Apenas a aplicação da lei que é feita pelos eleitos do povo.” SERGIO GUIMARÃES

● “Algo tem de ser feito rápido neste país. Uma reforma política, uma reforma do judiciário, uma reforma do Código Penal.” ORLANDO RIBEIRO

HÁ 863 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Eles não serão presos, pois o prazo para irem para o xadrez vai prescrever.” RICARDO DAMM

outras funções, cabe ao STF julgar ações diretas de inconstitucionalidade, ações penais impetradas contra o presidente da República e concessão de habeas corpus. Repetiu-secom aindicação da sucessora da ministra Elen Gracie o que ocorreu com outras recentes indicações para o Supremo. O ministro Dias Tófoli, por exemplo, antigo assessor jurídico da direção do PT, em 20 anos de carreira jamais produziu um artigo doutrinário digno de nota, tendo um currículo exíguo. Ele só foi aprovado pela CCJ do Senado graças à hegemonia da bancada governista, mas assumiu o STF desgastado. O mesmo está acontecendo com Rosa Weber, como observou o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP). No passado, os presidentes da República indicavam para o STF juristas, professores e advogadosconsagrados.Apartirdopresidente Lula, os critérios passaram a obedecer a estratégia do marketing“politicamentecorreto”, o que levou as indicações a seremobjetodeacirradacompetição política e corporativa. No caso de Rosa Weber prevaleceu, além da condição de gênero, o fato de ser amiga de familiares dapresidentedaRepública.A indicação de ministros indicados porcritériosdemarketingpolíticooucompadriopoderiaserevitada se os membros da CCJ do Senado fossem rigorosos nas sabatinas, preocupando-se mais com os interesses da Nação do queemcortejarquempoderájulgar seus processos. Infelizmente, não é isso o que acontece, o que está levando o STF a se empobrecer.

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Notas & Informações

O nó das concessões do setor elétrico Não são apenas os números, por si sós espantosos, que assustam no caso da indefinição sobre o destino a ser dado às concessões dos serviços de energia elétrica que vencem em 2015. O que mais incomoda os consumidores, os dirigentes das empresas concessionárias e os potenciais investidores é a dificuldade do governo em propor uma solução para um problema conhecido desde 1995 e que, se não for resolvido com presteza, poderá paralisar boa parte do sistema elétrico brasileiro. Isso pioraria as condições do fornecimento de energia. Afinal, as incertezas sobre a situação das atuais concessionárias já impediram soluções de mercado para alguns casos e vêm limitando os investimentos indispensáveis para a manutenção, melhoria e expansão dos serviços.

O problema não existiria se o governo tivesse adotado, a tempo, a solução que já está definida em lei. Aprovada há mais de 16 anos, a Lei Geral de Concessões, que regulamentou os regimes de outorga e prorrogação das concessões dos serviços do setor elétrico (produção, transmissão e distribuição), é clara. Ela dispõe que, uma vez vencida a concessão, esta será revertida ao poder concedente (no caso, a União), que deverá ressarcir as concessionárias dos valores referentes a investimento não amortizados e, em seguida, realizar nova outorga por meio de licitação. A excessiva demora do governo em colocar em prática a solução estabelecida pela lei tornou sua adoção problemática. Vencem, em 2015, as concessões de geradoras que respondem por 20,2 mil MW (18% da oferta de energia) e 80,2 mil km de linhas de transmissão (84% do total), além de 23% da energia comercializada no

País. Será necessário definir um modelo para a licitação, com regras claras sobre a qualidade e o preço dos serviços, e garantias suficientes para o investidor que se dispuser a aplicar os recursos necessários para obter a concessão. Há muito pouco tempo para isso. Os valores impressionam. Antes de fazer nova licitação, o governo terá de ressarcir as atuais concessionárias num montante que pode chegar a R$ 47,1 bilhões, de acordo com cálculos feitos pelas próprias empresas. É possível que o total esteja superestimado, mas dá uma ideia da dimensão financeira da questão. E ainda será preciso encontrar investidores com recursos suficientes e dispostos a disputar as concessões. Por causa dessas dificuldades, passou-se a examinar a possibilidade de renovação das concessões que vencem em 2015. Também este caminho é complicado, pois exigiria mudanças

na legislação, sujeitas a lentas e complexas negociações no Congresso. Relatório encaminhado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) à Presidência da República aponta mais pontos positivos do que negativos na prorrogação das concessões, ao contrário do que ocorreria com a convocação de uma nova licitação. A renovação evitaria o risco de perda de valor das concessionárias, eliminando o risco de comprometimento dos recursos disponíveis para a ampliação do parque gerador, e permitiria a eliminação de deficiências do modelo atual. Entre os pontos negativos estão a menor transparência na fixação do preço da energia elétrica. Em fins de novembro, o TCU deu prazo de 60 dias para o governo definir um plano de ação para os vencimentos das concessões do setor elétrico, indicando datas, atribuições e responsáveis para definir o modelo a ser adotado, incluindo parecer jurídi-

co quanto à constitucionalidade e à legalidade da alternativa escolhida. Por falta de definição quanto à prorrogação das concessões, o leilão de privatização da Cesp, em 2008, não teve interessados. Com seu futuro indefinido, algumas das concessionárias frearam ou interromperam planos de investimentos, com prejuízo para os consumidores. A redução ajuda a explicar a frequência dos colapsos no sistema elétrico, não obstante as multas aplicadas pelos órgãos reguladores. Qualquer que seja a solução que o governo adotar – e isso tem de ser feito com urgência –, ela precisa oferecer maior segurança jurídica para o bom funcionamento do setor, estabelecer regras claras e duradouras, assegurar tarifas adequadas para consumidores e investidores e conter a exigência de prestação adequada de serviços e de contínua expansão da oferta de energia.

A defesa da paisagem urbana

O plano contra o crack

inco anos depois da entrada em vigor da Lei Cidade Limpa – que livrou a paisagem da capital paulista do uso abusivo de peças publicitárias –, a Prefeitura começa a estudar formas de disciplinar as novas intervenções urbanas para consolidar e ampliar essa conquista. O objetivo é garantir o direito dos paulistanos de aproveitar a paisagem formada por elementos tanto naturais como artificiais – vegetação, serras, monumentos, prédios históricos, etc. Reconhecida internacionalmente como uma eficiente forma de combate à poluição visual, a Lei Cidade Limpa é um exemplo de que determinação política e rigor na fiscalização são essenciais para resolver um problema como esse, que se arrastava e se agravava há décadas. Foram muitas as tentativas de livrar a cidade dos milhares de outdoors, faixas, cartazes, backlights, frontlights, bonecos infláveis, cavaletes e outras peças de publicidade externa. A lei entrou em vigor com a promessa da Prefeitura de tolerância zero, o que provocou desconfiança de muitos sobre a sua real capacidade de fiscalização e de resistência aos grupos que sempre atuaram como donos da paisagem paulistana. O Executivo municipal, no entanto, além de firme, foi também hábil ao estabelecer etapas para o ordenamento da publicidade externa na capital: primeiro, limpou as ruas e prometeu que, em seguida, realizaria licitação para ex-

lançamento de mais um programa de combate às drogas mostra como o governo da presidente Dilma Rousseff formula políticas públicas. Ao anunciar o programa, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que o consumo de crack ganhou proporções epidêmicas e é um problema equivalente ao da aids, nos anos 80. “No conceito técnico, estamos diante de uma epidemia de crack”, afirmou. Dois meses atrás, porém, o coordenador de doenças mentais do Ministério da Saúde, Roberto Tykanori, afirmou que não havia dados estatísticos que permitissem classificar o aumento do uso de crack como epidemia. E, no primeiro semestre, quando anunciou que a Fiocruz faria um levantamento sobre consumo de drogas, a secretária nacional de Políticas sobre Drogas, Paulina Duarte, rebateu a ideia de epidemia e classificou como “pedagogia do terror” as campanhas contra o consumo de crack. “O que se tem no imaginário popular é que o Brasil está tomado pelo crack. Não há um exército de zumbis consumindo num só lugar, mas pequenas ‘cenas de uso’ (...). Combatem-se essas ‘cenas’ com atendimento na rua, não com abordagem higienista, de recolher usuários.” Além dessas declarações conflitantes, o programa de combate ao crack pouco tem de original. Ele adota como linhas mestras – mas com nomes diferentes – os mesmos três eixos do

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Quem tem fama...

Pelo visto, dona Dilma já se cansou da faxina que parecia tão disposta a fazer. Agora prefere que o tempo ou o vento se encarregue de levar a sujeira para longe. Dá menos trabalho, o povo não desconfia de nada, preocupado em consumir um pouco mais. Afinal, ninguém é de ferro e todos querem sentir gratificação após um ano duro de trabalho. Enquanto a sujeirada não incomodar, a população tende a não inspecionar a faxina: limpando um pouco daqui, um pouco dali, a credibilidade vai-se mantendo firme. Com a fama de boa gerentona é a mesma coisa: a publicidade na TV mostra diariamente o que “vai ser feito” e basta isso para dar a impressão de que tudo já começou. Além disso, o povo não consegue saber se a obra prometida foi de fato realizada. Depois de quase nove anos no poder, o pes-

ploração publicitária do mobiliário urbano. Em setembro, a Câmara Municipal aprovou lei que permite a exposição de anúncios em 43 mil pontos de São Paulo – totens das paradas de ônibus e plataformas de embarque e desembarque dos terminais e estações de transferência, além de mil relógios de rua. A concessão será pelo período de 30 anos e renderá ao Município R$ 2 bilhões. Para assegurar o interesse dos grupos publicitários, é importante que a Prefeitura fiscalize e coíba rigorosamente a publicidade clandestina. Para is-

A Lei Cidade Limpa é uma experiência que deveria ser copiada por outras cidades do País so, em fevereiro foi criado um grupo dedicado a reforçar a fiscalização em toda a cidade, por meio das 31 subprefeituras. O resultado tem sido excelente: em dez meses, foram retiradas 574.361 propagandas irregulares das ruas, entre faixas, banners, cartazes e outras peças. O volume é três vezes maior do que o recolhido durante todo o ano passado e seis vezes maior do que o de 2009. Os fiscais aplicaram aproximadamente R$ 50 milhões em multas – em 2010 foram R$ 15,9 milhões. Agora, a luta pela preservação da paisagem entra em nova fase. Em 2012 será criado um grupo para sugerir padrões de construção capazes de preservar paisagens de valor para

soal do governo já aprendeu que basta a versão criada pela publicidade oficial, paga do bolso do contribuinte, e... Voilà! Para que mais, se o brasileiro exige tão pouco? Ah! Mas a fama, essa, sim, é que deve prevalecer e tem de ser cuidada com esmero, como um novela “global”, em todos os detalhes. Se o final será feliz ou não, vai depender de um fator bem conhecido e que se expressa pela famosa frase: “É a economia, estúpido!”. ELIANA FRANÇA LEME efleme@terra.com.br São Paulo

a população. A discussão do tema já passou pela Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU). Em entrevista ao Estado, a arquiteta Pérola Felipette Brocaneli, membro da CPPU, afirmou que a intenção é evitar a obstrução completa da paisagem, como ocorreu com a construção do Shopping Bourbon, na Pompeia, zona oeste da capital. O prédio impede que os moradores do local avistem o Pico doJaraguá. A comissãotambém interferiunolicenciamentoambiental do monotrilho em construção na zona leste – a extensão da Linha 2-Verde do Metrô. As vigas que sustentam os trilhos suspensos mudam a paisagem. Por isso, exigiu-se do consórcio o aterramento da fiação elétrica ao redor da obra e a instalação de barreiras acústicas transparentes, além de um corredor verde sob os trilhos. São Paulo segue, assim, a tendência mundial de proteção da paisagem urbana. Ela vai além dos aspectos culturais, ecológicos, ambientais e sociais, pois tem grande importância econômica para a metrópole – afeta o potencial turístico e o próprio mercado imobiliário. No início de novembro, a cidade recebeu emNovaYorkoPrêmioInternational Scenic Visionary Award, ocasiãoem quefoi lançadoo documentário This Space Available, baseado na experiência da Lei Cidade Limpa. O filme descreve a luta contra a poluição visual nos espaços públicos em todo o mundo. Essa lei é um sucesso e deve servir de exemplo para cidades de todo o País.

“Para a Fifa e os cartolas, festa, só bônus! Para o Brasil e para nós, povo laborioso, só ônus!” JORGE DE AZEVEDO PIRES / RIBEIRÃO PRETO, SOBRE A COPA jorpires@uol.com.br

“O circo tem prioridade até sobre o pão. Educação, saúde, segurança e infraestrutura, nem pensar” LUIGI VERCESI / BOTUCATU, IDEM luver44@terra.com.br

Economia...

Inflação acima da meta, crescimento abaixo do projetado e retomada do desemprego. Esse é o governo do lulupetismo! FRANCISCO JOSÉ SIDOTI fransidoti@gmail.com São Paulo

O

programa lançado em maio do ano passado pelo presidente Lula. A diferença é que o programa de Lula previa R$ 420 milhões – dos quais só R$ 90 milhões foram efetivamente aplicados. Já o programa de Dilma conta com um orçamento de R$ 4 bilhões. A medida mais polêmica do programa – a internação compulsória de viciados – foi inspirada em políticas já adotadas pelas prefeituras do Rio de Janeiro e de São Paulo – esta última com base jurídica mais consistente. Considerando que toxicômanos são civilmente incapazes, podendo ser levados à

O plano é um repertório de boas intenções, mas faltam as condições para sua implementação avaliação de médicos mesmo contra a vontade, a Prefeitura de São Paulo implantou em 2009 um programa de recolhimento – com autorização judicial – de dependentes de crack, inclusive menores. A iniciativa conta com o apoio de promotores e juízes. Ela já propiciou 11 mil encaminhamentos médicos e 2.180 internações consentidas, mas a internação compulsória ainda não foi efetivamente posta em prática. O programa de Dilma prevê a ampliação dos leitos para dependentes e atendimento de 24 horas – o que já constava do plano adotado por Lula. Também prevê a elevação de 92 para 308 do número dos consultórios de rua – equipes de médicos, psicólogos e assistentes so-

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Milhares pedem novas eleições na Rússia

1.518

Manifestantes saem às ruas para denunciar fraude eleitoral e pedir novas eleições legislativas ● “Guerreiros é a melhor denominação para manifestantes que vivem num país onde não permitem liberdade de expressão.” HAMILTON DE OLIVEIRA

● “Uma hora dessas o povo russo vai acordar e banir seus atrasadíssimos governantes que apoiam ditaduras na Síria e Irã.” ANTONIO AUGUSTO BARELLA

HÁ 864 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “EUA e UE estão brincando com fogo ao pensarem que podem fazer com a Rússia o mesmo que fizeram com a Líbia.” PAULO FEITOSA

ciais para abordar os usuários –, a criação de enfermarias especializadas nos hospitais do SUS e reforço das polícias. É de estranhar, porém, a ausência de medidas para reprimir o tráfico e cortar o abastecimento de drogas aos dependentes. O programa não foi bem recebido nem por médicos nem por criminalistas. Alguns especialistas afirmaram que o governo fixou metas sem bases estatísticas, pois a pesquisa da Fiocruz ainda não foi concluída. Outros especialistas advertiram para os riscos de se internar viciados em crack em hospitais do SUS, que não estão preparados para lidar com eles. Como o programa prevê repasse de recursos para “comunidades terapêuticas” vinculadas a ONGs e Igrejas, há também quem receie acriação de novas fontes de desvio de dinheiro público. A críticamais importanteéaqueaponta a distância entre a magnitude do problema e o que o governo oferece, em matéria de atendimentoe de leitos em clínicas para dependentes. Evidentemente,308consultórios de rua são insuficientes para um país como o Brasil, que tem cerca de 1,2 milhão de usuários de crack, consumindo uma toneladadadrogapordia,segundo a Polícia Federal. Em todo o País, existem apenas 2,5 mil leitospara dependenteseo Conselho Federal de Medicina estima serem necessários 10 mil. “Há melhorias no programa, mas ele aindapareceumacarta deintenções”, diz Ronaldo Laranjeira, coordenadordaUnidade dePesquisaemÁlcooleDrogas daUniversidade Federal de São Paulo.

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 13 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Muito pouco para o clima Assentada a poeira do mais longo encontro das Nações Unidas sobre o combate ao aquecimento global, manda o realismo esfriar a euforia manifestada por um certo número de exaustos delegados dos 194 países participantes da 17.ª Conferência do Clima (COP-17). Quando a reunião terminou, na manhã de domingo, depois de sucessivas prorrogações, três noites em claro e a ameaça de um impasse, eles consideraram o seu resultado “histórico”. Só se foi porque não se repetiu em Durban, na África do Sul, o vexame da conferência de Copenhague, em 2009. É verdade que agora, pela primeira vez, os Estados Unidos, o principal responsável, desde o século passado, pela emissão dos gases-estufa que aumentam a temperatura do pla-

neta, e a China, o maior emissor da atualidade, concordaram, em tese, em se submeter a metas compulsórias de redução dos volumes de substâncias lançadas à atmosfera, que degradam o clima da Terra. Isso manteve respirando o princípio das negociações multilaterais, sob os auspícios da ONU, para mitigar as mudanças climáticas. Mas, conforme o chamado Protocolo de Durban, as metas não serão definidas antes de 2015 e não começarão a contar antes de 2020. No mínimo até 2017, continuará valendo o Protocolo de Kyoto, o primeiro e desdentado tratado global de redução de gás carbônico, assinado em 1997 naquela cidade japonesa para durar de 2005 até o fim do ano que vem. Japão, Rússia e Canadá rejeitaram o documento de saída. Dos 192 países signatários, só os Estados Unidos não o ratificaram. O Congresso americano não aceitou a pre-

missa de que só os países desenvolvidos deveriam cortar 5,2% de suas emissões, em relação aos níveis de 1990. A adesão da União Europeia impediu que o protocolo não valesse o papel que o contém. O bloco tornou-se o mais ativo defensor da prorrogação do protocolo. Ainda assim, entre 2005 e o ano passado, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera aumentou de 379,8 partes por milhão (ppm) para 390,3 ppm. A tendência justifica o ceticismo da comunidade científica e das organizações ambientalistas sobre a chance de a economia mundial reduzir para 44 bilhões de toneladas as emissões anuais de gases-estufa, atualmente na marca de 48 bilhões. Sem isso, será impossível deter o aumento da temperatura da Terra no fim do século em 2%, em relação aos tempos pré-industriais. É consenso que esse é o limite máximo além do qual os efeitos das mudanças climáti-

A vitória do bom senso

O

s eleitores paraenses demonstraram sensatez ao rejeitar, por ampla maioria, a divisão de seu Estado em três. Eles entenderam que o desmembramento do Pará, para a criação dos Estados de Tapajós e Carajás, não significaria a solução automática dos problemas enfrentados pelas populações das regiões mais afastadas da capital. No primeiro plebiscito da história do Brasil sobre a divisão de um Estado, dois terços dos eleitores votaram pela preservação do Pará na sua configuração atual (66,1% votaram contra a criação de Tapajós e 66,6% rejeitaram a criação de Carajás). A esmagadora vitória do “não” – os eleitores deveriam votar “sim” ou “não” à proposta de criação de cada um dos dois Estados – não é, porém, suficiente para acabar com o grande descontentamento dos moradores das áreas que constituiriam os novos Estados. Dos eleitores de Santarém, 98,6% votaram pela criação de Tapajós (do qual o município seria capital) e 97,8%, pela criação de Carajás. Em Marabá, 92,9% votaram pela criação de Tapajós e 93,3%, pela criação de Carajás (do qual Marabá seria capital). Nos demais municípios que fariam parte dos dois Estados a votação não foi muito diferente. A vitória do “não” foi assegurada basicamente pelos eleitores da área que continuaria sendo chamada de Pará se vencesse o “sim” – que representa

deira no Brasil só para pobres ou desprovidos de conhecimentos. IRACEMA M. OLIVEIRA mandarino-oliveira@uol.com.br Praia Grande

Fora de foco

Diariamente assistimos a escândalos que ocorrem com pagamentos de somas vultosas por serviços de assessoria/consultoria prestados por parlamentares e exparlamentares a empresas privadas de grande porte. Seria de perguntar: se os eminentes parlamentares têm assim tanta capacidade administrativa para prestar consultoria a empresas privadas, muitas delas com gestão tecnológica de ponta, por que não dão conta de sanar os problemas brasileiros, já que foram eleitos e/ou convocados para servir à Nação? MANOEL BRAGA manoelbraga@mecpar.com Matão

apenas 17% do território estadual, mas abriga a capital, Belém, e onde vivem cerca de 65% da população de todo o Estado. É um índice muito próximo do porcentual alcançado pelo “não” no plebiscito de domingo. Ou seja, foram os eleitores das áreas mais próximas da capital que garantiram a preservação da unidade do Estado. Além de interesses políticopartidários e pessoais que moviam os líderes separatistas – a criação de novos Estados geraria dezenas de cargos eletivos, exigiria a contratação de milhares de funcionários, muitos sem necessidade de concurso,

A omissão de governos estaduais estimula a ação de movimentos separatistas entre outras vantagens para eles –, havia outra motivação. A concentração das riquezas do Pará nas regiões que formariam os novos Estados também mobilizou as lideranças locais. A região sul, que formaria o Carajás, tem a maior reserva de ferro do mundo e concentra boa parte dos investimentos da Vale. O oeste, que formaria o Tapajós, terá a hidrelétrica de Belo Monte, projetada para ser a terceira maior do mundo. Apesar disso, essas regiões carecem de serviços públicos em áreas essenciais, como saúde, educação e segurança, e não dispõem de infraestrutura adequada. Suas populações se consideram esquecidas pelo governo do Estado. Para conseguir a vitória do “sim”, os líde-

Manobras

No Brasil a corrupção sobe pelo elevador, enquanto a punição sobe pela escada, parando em cada andar, aguardando manobras de defesa dos envolvidos. ARY MARINO FILHO arymarino@gmail.com Garça

IMPRENSA Di Franco

Mais uma vez venho à coluna Fórum dos Leitores para elogiar a atitude do doutor em Comunicação, professor de Ética e diretor do Master em Jornalismo Carlos Alberto Di Franco. Seu artigo Iluminar a história (12/12/A2) engrandece a sua história de jornalista modelar. CÉSAR TÁCITO LOPES COSTA, jornalista aposentado São Paulo

cas deixarão de ser manejáveis. Seria incorreto – e injusto – dizer que os governos assistem de braços cruzados à catástrofe em formação. Mas é inegável que está se perdendo a corrida contra o tempo, apesar dos passos adiante dados a muito custo. Levou tempo demais para se reconhecer que o aquecimento global existe, não é um capricho passageiro da natureza, mas uma consequência duradoura dos padrões mundiais de uso de fontes de energia que aprisionam a radiação solar, gerando o efeito estufa. E só ao faltarem oito anos para o fim do século 20, na Rio-92, concordou-se que o problema precisava ser atacado pelo conjunto das nações. O desafio é o compartilhamento de responsabilidades entre os poluidores históricos (Estados Unidos, Rússia, Japão) e os países em desenvolvimento (China, Índia, Brasil) que reproduzem os seus modelos

energéticos. Estes não aceitam que o mundo rico, que chegou à prosperidade sem a menor preocupação com os efeitos ambientais de seus processos econômicos, venha agora cercear o crescimento dos demais países, assolados pela pobreza em escala endêmica. Retrucam os desenvolvidos que, se os novos poluidores forem poupados, o único resultado será uma vantagem indevida na competição econômica globalizada. A boa notícia é que, desta vez, o Brasil se distanciou da posição de recusar metas obrigatórias de redução de emissões e empenhou-se em construir um roteiro de decisões ao longo da década. Embora a contragosto, americanos, chineses e indianos aceitaram enfim o conceito de um futuro acordo de cortes “com valor legal”, nos termos do Itamaraty, em vez de “legalmente vinculantes”. O tempo dirá se não foi muito pouco, muito tarde. É o que se teme.

Mais protecionismo argentino res do movimento separatista procuraram explorar ao máximo esse sentimento, tentando limitar o plebiscito às áreas dos dois Estados que seriam desmembrados – ou seja, estariam excluídos os eleitores da área que seria o Pará depois de dividido. O STF, no entanto, determinou que os eleitores de todo o Estado participassem do plebiscito. Contrário à divisão, o governador do Pará, Simão Jatene, reconheceu a legitimidade das reivindicações dos separatistas, por mais serviços do governo estadual, e admitiu que “há distância e ausência” do Estado nas regiões que queriam se separar. “A aspiração é legítima”, admitiu Jatene, mas “o caminho é equivocado”. De fato, a separação não asseguraria melhores serviços – e, mesmo assim, aumentaria os gastos públicos, pois novas estruturas administrativas e políticas teriam de ser montadas com o dinheiro do contribuinte. Mas é preciso que esse reconhecimento não se limite ao discurso. É preciso aproximar o governo do Estado das populações, pois só assim será possível aferir suas carências e definir as prioridades dos programas públicos para essas regiões. O que ocorreu no Pará deve ser visto como advertência por outros governos estaduais. Tramitam no Congresso 23 projetos de criação de Estados. Quanto mais falhar a ação dos governos nas regiões que podem dar origem a novos Estados, mais fortes serão os movimentos separatistas.

“Parabéns ao povo paraense pelo bom senso. O Brasil fica livre de algumas centenas de novos políticos. Chega de parasitas!” GLALCO ÍTALO PIERI / AVARÉ, SOBRE A REJEIÇÃO À DIVISÃO DO ESTADO DO PARÁ colyacpieri@uol.com.br

O golpe falhou. Felizmente, os interessados na criação de ‘seus’ novos Estados perderam. Parabéns, Pará!” LUIZ RESS ERDEI / OSASCO, IDEM gzero@zipmail.com.br

O

protecionismo comercial, especialmente contra a indústria brasileira, deverá ser uma das marcas do segundo mandato da presidente Cristina Kirchner, como foi no primeiro e como tem sido há muitos anos, especialmente a partir de 2008, quando se agravou a crise mundial. Em seu discurso de posse, a presidente reeleita anunciou a criação de uma Secretaria de Comércio Exterior subordinada ao Ministério da Economia. A nova secretaria será dirigida pela economista Beatriz Paglieri, até então subordinada ao secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, responsável nos últimos anos pela ampliação de barreiras contra produtos brasileiros. Conhecido por seu destempero verbal e por suas ações autoritárias, Moreno forçou empresários, por meio de ameaças, a reduzir as compras de produtos estrangeiros. Também tratou de impor a política do “um por um”, condicionando as importações a exportações de igual valor. Beatriz Paglieri tornou-se conhecida por suas afinidades com o secretário Moreno e por sua disposição de usar os mesmos métodos. Dirigiu o Indec, o instituto oficial de estatísticas, hoje famoso internacionalmente por seus índices de inflação desacreditados dentro e fora do país. Enquanto a inflação oficial da Argentina não passa de 9,3% ao ano, pesquisas e cálculos produzidos por especialistas do setor privado apontam uma alta de preços na fai-

xa de 24% a 30%. Por causa do controle político dos números divulgados pelo Indec, estatísticas oficiais da Argentina vêm sendo há anos publicadas com ressalvas em relatórios do FMI. Nenhum outro país é distinguido dessa forma nas publicações do Fundo. Anunciada a criação da Secretaria de Comércio Exterior, os mais importantes jornais argentinos logo interpretaram a decisão como mais um lance da política protecionista e evocaram a figura de Guillermo Moreno. Oficialmente, no entanto, ele permanecerá como secretário do Comércio Interior, sem au-

Exportadores brasileiros podem esperar a manutenção da política de barreiras comerciais toridade para comandar o novo departamento. A recém-nomeada Beatriz Paglieri confirmou numa entrevista os extensos poderes conferidos à nova Secretaria: será sua responsabilidade cuidar de todas as questões vinculadas a importações e exportações. Mas não se trata, segundo ela, de uma supersecretaria, embora deva absorver funções antes atribuídas ao Ministério de Relações Exteriores e à Secretaria de Indústria e Comércio. Não será subordinada a Moreno, mas os dois setores – de Comércio Interior e Comércio Exterior – deverão “estar absolutamente coordenados”. Disso não parece haver dúvida, tantas são as afinidades entre Moreno e sua ex-funcioná-

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‘Tem suspeita? Tem de cair fora’, diz FHC

1.011

Ex-presidente afirma que Dilma deve se responsabilizar por ministros. ‘Eu nunca tive tolerância.’ ● “Como podemos continuar tolerando tantos escândalos de corrupção e continuar passivos?” EDIVALDO CAMARGO

● “Eu falaria a FHC: ‘Por que não te calas?’. O PSDB esconde tudo de ruim nas suas odres.” JOSE CARLOS GASPAR

HÁ 865 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “FHC é o único da oposição que realmente faz oposição. Cadê os outros?” FABIO FIGUEIREDO

ria. Além disso, a presidente Cristina Kirchner nunca fez segredo de suas inclinações protecionistas, manifestadas claramente em contatos com empresários. Na melhor hipótese, portanto, a tendência é a continuidade das políticas atuais. Essas políticas incluem a suspensão de licenças automáticas de importação mesmo de produtos originários do Mercosul. A emissão de licenças tem com frequência demorado mais que os 60 dias permitidos pela OMC. Além disso, o governoargentino tem conseguidohá anos, até com o apoio de Brasília, impor a indústrias brasileiras cotas e acordos de restrição de exportações. Uma das prioridades é a renovação de um desses acordos com os fabricantes brasileiros de calçados. Neste ano, houve alguma reação do governo brasileiro aos abusos comerciais praticados pelas autoridades argentinas. Foram impostas, como retaliação, barreiras burocráticas à entrada de veículos argentinos, mas a medida foi logo suspensa, emtrocadocompromisso–nunca respeitado integralmente – de redução dos prazos de licenciamento de importações. Graças à complacência cúmplice dasautoridadesbrasileiras,ogoverno argentino tem conseguido impor seu jogo no comércio bilateral.Isso dispensao empresariadoargentinode investirparasetornarcompetitivo.Aanunciada criação de uma Subsecretaria de Competitividade na Argentina será um ato sem grande consequência, se os empresários continuarem confortavelmente protegidos por barreiras.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 14 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

A grande ressaca europeia Para alívio geral, o euro ganhou uma sobrevida, mas a Europa enfrenta uma ressaca política e financeira, depois da reunião de cúpula da sexta-feira passada. Enquanto os líderes avaliam as consequências do isolamento britânico – só o primeiro-ministro David Cameron ficou fora dos acordos de Bruxelas –, os mercados cobram ações de curtíssimo prazo para complementar o pacote fiscal aprovado de forma definitiva ou condicional por 26 dos 27 governantes da União Europeia. Na sexta-feira os investidores celebraram nas bolsas o relativo sucesso da reunião. Na segunda-feira, já na fase da ressaca, as atenções se voltaram para o outro lado do problema, isto é, para a grande questão não resolvida – o reforço imediato dos mecanismos de segurança contra calotes das dívi-

das soberanas, especialmente da Itália e da Espanha. Na terça, os humores mudaram de novo e o otimismo foi reforçado por leilões bem-sucedidos de títulos públicos de vários países. A ressaca passará, mas os mercados continuarão ciclotímicos enquanto os programas de estabilização de longo prazo não estiverem em pleno funcionamento. Apesar da tensão nas bolsas, houve boas notícias no começo da semana. Governos conseguiram rolar suas dívidas em condições melhores que as das últimas semanas. Na terça-feira, o Tesouro espanhol vendeu € 4,9 bilhões em títulos de 12 e 18 meses, com juros abaixo dos fixados em outros leilões. O volume comprado foi maior que o oferecido inicialmente. Os governos da Hungria e da Bélgica também realizaram boas vendas, em condições iguais ou melhores que as obtidas em operações anteriores. O Tesouro grego rolou o necessário,

embora com juros ligeiramente mais altos. Outro bom resultado foi obtido pelo fundo de resgate – a Linha de Estabilidade Financeira Europeia – com a captação de € 2 bilhões no mercado. O Banco Central Europeu (BCE) voltou a comprar papéis da Itália e da Espanha no mercado secundário. Esse tipo de operação tem sido importante para garantir liquidez aos títulos soberanos e para dar algum alívio aos Tesouros. Mas haverá limites para as compras, advertiu na semana passada o novo presidente do BCE, Mario Draghi. Além disso, o banco não deverá transformar-se em financiador de última instância dos governos. Essa orientação, defendida principalmente pelo governo alemão, prevaleceu na reunião de cúpula. Foi uma notícia ruim para os investidores e credores das dívidas soberanas e isso explica, em parte, as manifestações de mau humor na fase

de ressaca. O BCE tem sido um importante fator de estabilização nos momentos de maior insegurança e é a instituição mais preparada para missões de socorro urgente. Além disso, pode emitir moeda e por isso dispõe, pelo menos no curto prazo, de um poder de fogo respeitável. Seria necessário, é claro, neutralizar o efeito inflacionário das emissões, mas esse detalhe nem sempre é lembrado. No entanto, funcionar como emprestador de última instância para os Tesouros não faz parte do mandato do BCE, têm advertido políticos e especialistas. A ressaca política também tem sido intensa. No Reino Unido, o vice-primeiro-ministro, Nick Clegg, criticou a decisão de David Cameron de vetar os acordos negociados em Bruxelas. Cameron justificou a iniciativa como necessária para salvaguardar o setor financeiro britânico. Faltavam garantias na reforma proposta pelos gover-

nos da Alemanha e da França, argumentou. Mas o Reino Unido, segundo ele, tem interesse em continuar no bloco. A crítica de Clegg apenas explicitou mais uma vez a diferença entre os componentes da coalizão de governo – liberais muito mais favoráveis que os conservadores a uma integração europeia mais completa. O isolamento britânico foi condenado também no continente. A partir da reunião de cúpula, há claramente, disse o presidente francês, Nicolas Sarkozy, duas Europas, “uma em busca de maior solidariedade e maior regulação e outra presa à lógica exclusiva do mercado único”. “Mas”, acrescentou, “nós precisamos da Grã-Bretanha.” A conferência de sexta-feira criou algumas das condições necessárias para remendar as finanças europeias. Mas abriu – ou ampliou – uma brecha política e acrescentou um item à lista dos consertos necessários.

O currículo da educação básica

O público e o privado

Ministério da Educação (MEC) apresentará, até o final do mês, a proposta de um currículo nacional para a educação básica. A iniciativa tem por objetivo complementar as diretrizes propostas no ano passado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). A ideia é estabelecer metas de aprendizagem a serem alcançadas pelas crianças e definir as condições, em termos de materiais pedagógicos e elaboração de currículos, que possibilitem que essas metas sejam alcançadas. Como o ministro Fernando Haddad vai deixar o cargo no primeiro semestre de 2012, uma vez que é candidato à Prefeitura de São Paulo, o problema é saber se a proposta de adoção de um currículo nacional para o ensino básico não se encaixa na sua estratégia de marketing eleitoral para a campanha do próximo ano. Desde que o ministro – originariamente um técnico – passou a usar o cargo para fazer política, o MEC atira para todos os lados, anunciando com regularidade quase mensal os mais variados programas para todos os ciclos de ensino. Alguns foram formulados de forma açodada, como a transformação do Exame Nacional do Ensino Médio em vestibular unificado para as universidades federais – o que levou à desmoralização desse mecanismo de avaliação – e a imposição do piso salarial nacional para o magistério público – que impôs aos Estados e municípios obrigações finan-

Natal!”, brincou o presidente da Câmara dos Deputados,Marcos Maia, ao comentar o fato de queaCasa deve aprovarnos próximosdiasmaisumdaquelespacotes de bondades que nessa época são quase uma tradição nas casas legislativas brasileiras – a tradição do descaso com o dinheirodoscontribuintes.Desta vez a brincadeira vai custar cerca de R$ 386 milhões aos cofres públicos, aos quais poderão ser somados mais R$ 200 milhões de uma conta relativa à controvertida questão pendente da vinculação dos vencimentos dos funcionários da Câmara aos salários dos deputados federais. Já os nobres senadores, por sua vez, adiaram novamente a implantação da reforma administrativa que está engavetada há seis meses. Essa reforma propiciaria uma economia anual de R$ 150 milhões ao acabar com a aberração de um em cada cinco funcionários efetivos do Senado ganharem acima do piso, além de outros descalabros. É Natal, enfim! Mas o que chama a atenção em mais esse episódio da farra com os recursos do erário é o fatodeque,naCâmara,umaparte da conta a ser debitada à viúva refere-se à criação de 60 a 70 novospostosparaatenderàsnecessidades do recém-criado PSD, que já se instala no Parlamento com o mesmo apetite das demaislegendas pelas benessesdo Tesouro.Onúmerodecontratações previstas para dar conforto aos pedessistas é até modesto,

O

fato”, pois ela já existe e mesmo onde é aplicada, superando todos os entraves, como aqui, tem efeitos limitados pela tolerância ao abandono de tratamento, pela alta reincidência e pela abundância de oferta de drogas, principalmente do crack, cujo aumento de produção tem acompanhado o aumento de consumo, mantendo os preços estáveis há mais de cinco anos. Enfim, o tema é apaixonante, até porque o crack é um “perigo real e imediato” que não devemos menosprezar. JANUÁRIO MONTONE januariomontone@prefeitura.sp.gov.br São Paulo

BOAS-FESTAS O Estado agradece e retribui os votos de feliz Natal e próspero ano-novo de Afam, Antonio Carlos Pannunzio, Antonio José Gomes Marques, Atelier Comunicação Empresarial, Beno Marcio Karlik, Bludeni Advocacia, Carla

ceiras que não tinham condição de arcar. Outros projetos – como a expansão da rede federal de cursos técnicos – foram lançados sem que o governo disponha de recursos nem mesmo suficientes para bancar as despesas de custeio dos cursos já existentes. Embora o ensino básico seja responsabilidade dos Estados e municípios, a definição de um currículo comum para todo o País é prevista pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996. Outras propostas foram apresentadas nos últimos vinte anos com o mesmo objetivo. É o caso dos Parâ-

Expectativa em torno do currículo nacional da educação básica, a ser apresentado pelo MEC metros Curriculares Nacionais (PCNs). Definidos no início da década de 1990, eles estabeleceram os conteúdos dos currículos de cada série, por disciplinas. É também o caso da Provinha Brasil, aplicada no 2.º ano do ensino fundamental, e da Prova Brasil, aplicada no 5.º e no 9.º anos. Alegando que muitos desses documentos são excessivamente genéricos e abrangentes e que essas experiências sofreram o desgaste da passagem do tempo, precisando ser atualizadas por causa das mudanças sociais e econômicas e das inovações tecnológicas ocorridas nas duas últimas décadas, em 2010 o CNE propôs ao MEC novas diretrizes curriculares. Foi nesse contexto que,

Emilia Brunet Lopes, Carlos Vogt, Dalton Penezzi, Dario Albuquerque Passarella, Elaine, Rafael e Pedro Sicoli, Equipe do 2.º Juizado da 1.ª Vara Cível da Comarca de Pelotas (RS), Equipe Sertha Brindes, Fabio Porchat – ALA, Gaudêncio Torquato, Gilberto Natalini, Gilberto Paiva, Glórya Ryos, Grupo Itapemirim, GuimaQual Consultoria Ltda., Hildo Daniel, Ideia Design, Instituto Aço Brasil, Irene Maria Dell’Avanzi, JM Assessoria Empresarial, Jornal Alumiar, José Augusto de Almeida Neto, José ‘Buba’ Piacsek Neto, José Ruy Veloso Campos, Luiz Felipe Dias Farah, Maxpress, Migalhas, Miguel Ruggiro, Milton Monti, Liliana e equipe, Nice e Eduardo Zago, Osmar S. Maciel, Paulinho Girão, Professor Senna, Rossana Chiavassa, Ruth de Souza Lima e Hellmeister, Thomas Schmall – Volkswagen do Brasil, União da Indústria de Cana-deAçúcar (Unica), Vanessa Mastro e Virginia Andrade Bock Sion.

entre outras importantes iniciativas, a duração do ensino fundamental foi aumentada de oito para nove anos e foi aprovada a Emenda Constitucional que tornou obrigatório matricular crianças e adolescentes com idade entre 4 e 17 anos. Como o Brasil é um país marcado por profundas disparidades regionais e culturais, um dos desafios da política educacional para o ensino básico é assegurar um mínimo de unidade nos currículos, respeitandose as especificidades de cada região. Como lembram os especialistas, currículo mínimo não é currículo único e quanto mais a educação básica for unificada, mais difícil é melhorar sua qualidade. A imposição de um currículo único não deu certo, tendo sido abolida na década de 90. “Não vamos colocar o currículo numa forma. Não é uma listagem de conteúdos, mas um instrumento de organização da vida do professor e do aluno”, diz a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda. O MEC vai submeter a proposta de currículo nacional para a educação básica a consultas públicas no início de 2012, quando a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e o movimento Todos pela Educação poderão apresentar suas sugestões. Mas é preciso que os debates fiquem imunes a pressões eleitorais e às aspirações políticas de quem chefia o MEC.

“Todos os ministros demitidos também se diziam supertranquilos...” ROBERT HALLER / SÃO PAULO, SOBRE FERNANDO PIMENTEL robelisa1@terra.com.br

“É

se comparado, por exemplo, aos 124 funcionários (24 efetivos e 100 militantes) que estão alocados no gabinete da liderança do PT; os 98 (29 e 69) do PSDB ou os 129 (37 e 92) do campeão PMDB. Ocustoprevistodascontratações para o PSD é de R$ 10 milhões. Mas não se trata de saber se o custo é alto ou baixo, mas até que ponto ele é realmente devido, considerando a necessidade de estabelecer uma distinçãomuitoclara entreaatividade parlamentar e a atividade partidária. Da mesma forma que um deputadoépago peloEstado para exercer sua atividade parla-

Funcionários da Câmara e do Senado se aprestam para embarcar no ‘trem da alegria’ do Natal mentar – basicamente, legislar em benefício do povo e fiscalizar as ações do Executivo –, todo o aparato de recursos humanos e materiais de que ele precisa para fazer esse trabalho deve ser bancado pelo poder público. Mas a atividade partidária não tem nada a ver com isso. Os partidospolíticossãoentidadesprivadas que entre nós já contam com a generosa contribuição do Fundo Partidário, constituído com recursos do Tesouro, para subsidiar seu funcionamento. A linha que divide a atividade parlamentar,queépública,dapartidária, que é privada, costuma ser muito tênue, principalmente para políticos paternalistas e patrimonialistas que não conseguem,enemdesejam,distinguir o público do privado.

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Ministro fez 'escritório político' na empresa

1.103

“Senadores, cuidado! A DRU é o sonho dourado do governante com viés ditatorial”

Sede da P-21 foi usada como quartel-general da campanha de Pimentel ao Senado em 2010

LUIGI VERCESI / BOTUCATU, SOBRE A VOTAÇÃO EM SEGUNDO TURNO DA DESVINCULAÇÃO DAS RECEITAS DA UNIÃO luver44@terra.com.br

● “Será que a presidente Dilma nada sabe sobre o fato? Será reflexo das conversas com o ex-presidente Lula?” EDIVELTON TADEU MENDES

● “Os métodos são de bandidos mafiosos. Um começa, outro aumenta e um terceiro executa.” CARLOS MINEIRO

HÁ 866 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Resista, Pimentel. É Natal, ano-novo, chega o carnaval. É festa, vão esquecer de você.” ANTONIO APARECIDO COLLETI

Um magnífico exemplo dessesabusosestá configuradoexatamente nos quadros de funcionários da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Os primeirosestãonaiminência de serem contemplados com novos afagos graças ao trem da alegria do próximo Natal. Os da Câmara Alta passarão as festas de fim de ano tranquilizados pela garantiadamanutençãode privilégios indevidos, graças à benevolência da Mesa Diretora presidida pelo senador Sarney. Só na Câmara são mais de 15 mil funcionários, entre estáveis e os que exercem cargos de livre provimento. Quem conhece as dependências da Casa diria que é impossível caber tanta gente ali, trabalhando, se esse problema já não tivesse sido recentemente esclarecido pelo líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza: boa parte desse enorme contingente “nem sequer pisa em Brasília”, porque atua nos Estados de origem dos parlamentares em cujos gabinetes estão alocados. E isso ocorre até com os funcionários que, pela natureza das funções que exercem, são obrigados por lei a dar expediente na sede do Parlamento. Resta saber que tipo de trabalho é feito pelos funcionários da Câmara nas “bases eleitorais” de seus chefes, para usar o jargão consagrado dentro dos próprios gabinetes. Ou mesmo se esses funcionários sabem qual é ou se importam com a diferença entre atividade parlamentar e trabalho partidário. A única dúvida que absolutamente ninguém tem é sobre quem paga essa conta.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 15 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Municípios sem economia Municípios deveriam viver da renda gerada pela produção de bens e serviços para o mercado – artigos industriais, mercadorias agrícolas e serviços privados –, mas essa não é a regra em boa parte do Brasil. Para 1.968 municípios, 35,4% do total, a administração pública representou um terço ou mais do valor gerado por todas as atividades em 2009, segundo os últimos dados do censo municipal divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Administração, nesse caso, corresponde ao conjunto das ações do setor público, incluídos os serviços de educação e saúde e a seguridade. Em alguns casos, a participação desses itens na renda chegou a 70% ou 80%. O estudo sobre o Produto Inter-

no Bruto (PIB) dos municípios cobre o período de 2005 a 2009, iniciado num ano de intensa atividade econômica e encerrado num momento de recessão. Algumas alterações são facilmente previsíveis. A crise global de 2008-2009 afetou os preços dos produtos básicos e prejudicou o valor da produção de municípios dependentes do agronegócio e da mineração. Por exemplo, a participação de Campos (RJ) no PIB nacional diminuiu de 1% em 2008 para 0,6% em 2009 por causa da desvalorização do petróleo. A de Vitória (ES) passou de 0,8% para 0,6% em consequência do barateamento do minério de ferro. Variações como essas, no entanto, são meramente conjunturais e têm pouco significado para a análise das tendências de longo prazo. Muito mais instrutivo é observar, por exemplo, a continuação das grandes desigualdades entre regiões ou Esta-

dos, apesar de alguma redistribuição de pesos num período de dez anos. A medida mais ampla de concentração pouco mudou. Considerados os municípios de todo o Brasil, o índice de Gini passou de 0,87 em 2000 para 0,86 em 2005 e permaneceu nesse nível até 2009. Esse índice mede graus de concentração de qualquer tipo de variável (renda, propriedade, educação, etc.) e varia de 0 a 1. Quando mais próximo de 1, mais desigual a distribuição. O indicador pouco mudou entre regiões e também no interior de cada uma, talvez porque a redistribuição geográfica das atividades tenha sido menos intensa que nas duas décadas anteriores, mas isso é só uma hipótese. A maior parte da análise concentra-se na comparação dos dados de 2008 e 2009, mas, apesar disso, é possível ter uma boa ideia da persistência da pobreza e do baixo nível de

atividade produtiva em boa parte do território nacional. Em 2009, a renda per capita de metade dos municípios foi inferior à mediana do País, de R$ 8.395. Sessenta por cento dos municípios do Norte enquadraramse nessa categoria. No Nordeste, a proporção chegou a 93%. Ficou em 37% no Sudeste (11% em São Paulo), 10% no Sul e 23% no Centro-Oeste. A maior concentração de municípios com economia mais dependente da administração pública estava, naturalmente, nas áreas mais pobres. Na Região Norte, eram 57,9%. Na Região Nordeste, 76,3%. Quando a administração pública gera mais de um terço do PIB de um município, é fácil imaginar de onde vem a receita fiscal: a maior parte deve provir de transferências federais ou estaduais, não só por causa do baixo valor gerado pelas atividades privadas, mas também porque o esforço local de arrecadação deve

ser muito frouxo. Mesmo em algumas capitais a participação do valor bruto da administração, saúde e educação no PIB municipal é muito alta. Em Brasília, correspondeu a 49%, em 2009, mas isso é compreensível, no caso de uma cidade construída só para ser capital. Em várias grandes cidades do Norte e do Nordeste essa participação ficou entre 14% e 40%. Em São Paulo, não passou de 6,2%. O peso da administração pública na economia brasileira tem crescido há mais de uma década, como assinala o IBGE. Mas há nesse cálculo uma distorção. Boa parte desse aumento decorre muito mais do encarecimento de um setor público ineficiente, balofo e dispendioso do que de uma expansão efetiva dos serviços. Os municípios mais dependentes da administração pública não são apenas pobres. São vítimas de uma ação governamental de baixa qualidade.

Safra menor, mas ainda grande

O autocrata e o magnata

queda de 2,4% na estimativa da produção nacional de grãos na safra 2011/2012 em relação à safra anterior, prevista no terceiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), não é necessariamente uma notícia ruim. Obviamente, melhor seria se a previsão fosse de novo crescimento da safra agrícola. De qualquer maneira a produção de grãos será muito alta e comprovará, mais uma vez, os resultados da profunda transformação pela qual passou a atividade rural no Brasil nas últimas décadas. Graças aos investimentos, que permitiram o emprego cada vez mais intenso de novos métodos de gestão e de novas técnicas, a agricultura brasileira alcançou ganhos de produtividade e de qualidade que a tornaram uma das mais competitivas do mundo. Oscilações de produção, produtividade ou de área cultivada entre uma safra e outra são naturais – pois a atividade rural é sujeita às variações do clima e as decisões de plantio são influenciadas pelas flutuações do mercado mundial. Além disso, as quedas previstas nos levantamentos da Conab não configuram uma tendência da atividade rural no País. De acordo com os resultados apurados até agora pela Conab, a produtividade deverá cair, pois, mesmo com o aumento de 1,1% da área de plantio (de 49,92 milhões de hectares para 50,45 milhões de hectares), a produção diminuirá 2,4% (de 162,96 milhões de to-

m toda parte, a imprensa destacou a intenção do bilionário russo Mikhail Prokhorov – o quarto homem mais rico do país, com uma fortuna avaliada em US$ 18 bilhões – de se candidatar a presidente da Federação Russa nas eleições de março próximo, enfrentando o atual primeiro-ministro Vladimir Putin. O autocrata governa a Rússia, de direito ou de fato, desde 2000. Pretende voltar à presidência por um período de seis anos e se reeleger para um segundo mandato de igual duração. Mas a notícia vinda de Moscou, que espelha verdadeiramente a vida política na ex-União Soviética, foi um comentário do portavoz de Putin, Dmitri Peskov. Ele falava da agitação em torno das eleições parlamentares do penúltimo domingo, repletas de fraudes testemunhadas por observadores estrangeiros e registradas em vídeos por inumeráveis eleitores. A fraude, tosca e descarada, não impediu que o partido do governo, Rússia Unida, sofresse enorme perda de votos. A lista encabeçada pelo atual presidente e paumandado de Putin, Dmitri Medvedev, obteve 49,5% da votação, ante 64% no pleito de 2007. A legenda perdeu 77 cadeiras, ficando com 238 das 450 que formam a Duma, a Câmara Baixa do país. A eleição “não foi livre nem justa”, resumiu a secretária de Estado americana Hillary Clinton, enfurecendo o primeiro-ministro, que a acusou de incitar os protestos de rua pela anulação do

A

lhão de reais cada um, com mais de 20 anos no mercado elevei o valor de minhas consultorias, em média entre 10 mil e 15 mil reais cada, para 50 mil. Resultado: meus clientes simplesmente se escafederam. O ministro fica devendo a fórmula de seu sucesso! ALCIDES FERRARI NETO ferrari@afn.eng.br São Paulo

Forças ocultas

Gostaria de ser uma pulga palaciana para saber quais são as “forças ocultas” que fazem a presidente Dillma não tratar as denúncias contra o ministro Fernando Pimentel com o mesmo critério dos outros ministros apanhados com a boca na botija. Como dizem na minha terrinha, nesse caso o buraco é mais embaixo! BEATRIZ CAMPOS beatriz.campos@uol.com.br São Paulo

neladas para 159,08 milhões de toneladas). Mas esta é uma conclusão provisória. A pesquisa mais recente foi realizada entre os dias 21 e 25 de novembro por cerca de 60 técnicos da Conab, que visitaram órgãos públicos e instituições privadas ligados à produção agrícola em todos os Estados. Naquele período, como ressaltou o relatório da Conab, “o plantio estava em andamento, prevalecendo o estágio de desenvolvimento vegetativo”. Por isso, para o cálculo da produtividade, adotou-se como critério a média dos últimos cinco anos (descartados os re-

Apesar de fatores adversos, produção e produtividade se mantêm elevadas sultados atípicos), à qual se adicionou o ganho tecnológico. Só nas próximas pesquisas de campo, quando se terá uma noção mais correta da produção, será possível aferir com mais precisão a produtividade. As culturas mais representativas, de soja e de milho, somam 83% da produção nacional de grãos, mas suas perspectivas para a safra 2011/2012 são bem diferentes. No fim do mês passado, a área plantada com soja no Centro-Sul do País já alcançava 92% da área reservada pelos agricultores para essa cultura e, no NorteNordeste, 65%. A safra estimada pela Conab é de 71,29 milhões de toneladas, uma redução de 5,4% em relação à safra anterior.

BOAS-FESTAS O Estado agradece e retribui os votos de feliz Natal e próspero ano-novo de Accesso Assessoria de Comunicação e Publicidade, Alkamac Soluções em Máquinas Desentupidoras, Antonio Salim Curiati, Carlos Benedito Pereira da Silva, Célio Franco de Godoy Junior, Clínica Yaga, Comunicação da Febraban, CPH Health, Enoteca Decanter, Fernando Homem de Montes – Colégio Dante Alighieri, Filipe Luiz Ribeiro Sousa, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Pernambuco, Instituto Nacional de Educação e Desenvolvimento (Inaed), Izabel Avallone, José Carlos de Carvalho Carneiro, José Eduardo Zambon Elias e equipe do Centrocor Clínica do Coração de Marília, Laert Pinto Barbosa e família, Lody Brais – Associação Cultural Brasil-Líbano, Manhattan Café Theatro, Revista CityPenha e Roseli e Pedro Galuchi.

O milho responderá por boa parte do aumento da área de plantio. Bons preços do produto e a necessidade de rotação de culturas estão entre os fatores que levaram os agricultores a plantar mais milho nesta safra. A produção, de acordo com os resultados da primeira safra, pode crescer até 4%. Já as áreas reservadas para o arroz e o feijão da primeira safra deverão diminuir. Com base nos resultados do último levantamento, a Conab prevê a redução de estoques de arroz em casca, feijão, soja em grão e trigo no final da safra. Mesmo que a redução se confirme, não se preveem problemas de abastecimento nem de pressões excessivas sobre os preços dos alimentos. Omercadointernacionalcontinua muito pressionado pela crise financeira e fiscal dos países industrializados, mas os fatores clássicos de formação de preços de alguns dos principais produtos de exportação do Brasil, como a soja, continuam ativos. Há um descompasso entre a oferta e demanda mundial de soja,quepode resultaremredução dos estoques mundiais. Isso pode conter a queda da cotação do produto observada nos últimos meses. A eficiência da agricultura continua a ser desafiada pelos conhecidos fatores que afetam a produtividade global da economia brasileira, especialmente a precariedade da infraestrutura, que dificulta e encarece o escoamento da safra. A despeito desses fatores altamente adversos,aproduçãoeaprodutividade continuam altas.

“Bem se vê que a tal ‘faxina’ só era para valer até chegar aos amigos” MARCELO GUTERMAN / SÃO PAULO, SOBRE A BLINDAGEM GARANTIDA POR DILMA AO MINISTRO FERNANDO PIMENTEL margutbr@gmail.com

“Pela ‘Lei da Palmada’ os deputados já fazem por merecer um peteleco” A. FERNANDES / SÃO PAULO, SOBRE A APROVAÇÃO NA CÂMARA standyball@hotmail.com

E

pleito – os maiores, mais insistentes e disseminados da repressiva era Putin. Depois de Medvedev prometer uma investigação sobre as denúncias, o porta-voz Peskov recolocou as coisas nos seus devidos lugares. Textualmente: “Mesmo se, hipoteticamente, todos os casos das supostas violações forem levados à Justiça, isso de modo algum afetará a legitimidade das eleições”. É a natureza autoritária da pseudodemocracia russa, com a intimidação dos críticos, o controle total da TV, os bloqueios da internet e a subordinação do Judiciário ao Kremlin. Mas Peskov

O desconforto com a economia se volta enfim contra a corrupta elite do poder na Rússia não deve ter usado o termo “legitimidade” à toa. É do que Putin passou a precisar acima de tudo, mais até do que apenas se eleger (o que ainda parece quase certo) para que o pleito não seja desmoralizado. É onde pode ser que se encaixe a hipotética candidatura de Prokhorov, o magnata da mineração e das finanças, cujo vasto patrimônio inclui um time de basquete da primeira divisão dos EUA. (Outro nababo russo, Roman Abramovich, é dono do Chelsea, de Londres.) Prokhorov, que necessita do apoio de 2 milhões de eleitores para obter o registro de candidato independente, se apresenta menos como um crítico de Putin do que como um defensor da classe média. Diz que se afas-

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Comissão da Câmara aprova Lei da Palmada

1.403

Projeto proíbe castigo físico a crianças e adolescentes e prevê multa; medida ainda precisa ir ao Senado ● “Tirar autonomia dos pais neste quesito não parece racional. Os políticos deviam se preocupar em melhorar a educação e a qualidade de vida dos cidadãos.” MAURICIO ONGARO

● “E a lei que torna corrupção crime hediondo está na gaveta.” ABEL ALVES

HÁ 867 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Dialogar adianta. Bater em uma criança gera um adulto violento, por isso há tanta violência nas ruas.” RAFAEL COSTA

tou do seu partido, Causa Justa, depois que este se tornou linha auxiliar do governo. Na realidade, a legenda foi criada com a anuência tácita de Putin, e as divergências entre eles parecem circunstanciais. Analistas russos são céticos sobre a autonomia de Prokhorov. “A sua tarefa é ajudar Putin a se eleger (dividindo a oposição e legitimando a disputa)”, acredita o ex-vice-premiê Boris Nemtsov. “Um bilionário jamais assumiria um risco desses se não tivesse um acerto com Putin.” Oúltimo grande “oligarca”queoafrontou,querendoentrarpara apolítica,Mikhail Khodorkovski,daempresapetrolífera Yukos, então o homem mais rico da Rússia, cumpre pena de 13 anos de prisão por “sonegação fiscal”. Não seria por isso queo povo desgostariade Putin. Segundo uma pesquisa recente, cerca de 60% dos russos preferemum“líder forte”aum governo autenticamente democrático (alternativa escolhida por apenas 30%). E metade acha que o fim da URSS foi “um grande infortúnio”. Putin caiu em relativa desgraçaquando,aoanunciarasuacandidaturapresidencialemsetembro,revelou que “anos atrás” ele e Medvedev tinham combinado se revezar novamente na chefia do Estado e do governo. Contra o pano de fundo da perda de poderaquisitivo dossalários, amanipulação confessada por Putin atingiuduramenteasua popularidade. O desconforto com a economia, enfim, se voltou contra a corrupta elite do poder – “um bando de ladrões e escroques”, na expressão corrente.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 16 DE DEZEMBRO DE 2011

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Plinio Villares Musetti

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Notas & Informações

Melhor para os mensaleiros O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski não conta propriamente uma novidade ao dizer que, “sem dúvida nenhuma”, alguns dos crimes de que são acusados os réus do mensalão estarão prescritos quando o processo for julgado. O tempo joga a favor principalmente dos réus primários, que poderão deixar de cumprir as penas a que forem condenados, conforme a sua severidade. Incumbido de revisar o parecer do relator do caso, Joaquim Barbosa, Lewandowski afirmou à Folha de S.Paulo que dificilmente o julgamento ocorrerá em 2012. Não há previsão para o término do trabalho de Barbosa. O relator licencia-se frequentemente para tratar de um crônico problema ortopédico. Há pouco, por exemplo, viajou aos Estados Uni-

dos para exames. E o ministro revisor, por sua vez, diz que terá de começar “do zero” quando receber o processo de 130 volumes, com mais de 600 páginas de depoimentos. O mensalão – o suborno sistemático de deputados federais para agir de acordo com os interesses do governo, no primeiro mandato do presidente Lula – foi denunciado em junho de 2005 pelo cacique petebista e então deputado Roberto Jefferson, numa clara represália à revelação de maracutaias na cúpula dos Correios, controlada por ele. Em abril de 2006, o então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pediu ao STF abertura de processo contra 40 envolvidos no escândalo, entre eles o próprio Jefferson e, notadamente, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, apontado como “chefe da organização criminosa” que operou e se beneficiou do esquema. Jefferson e Dirceu tiveram cassa-

dos os seus mandatos parlamentares. Em agosto de 2007, enfim, o Supremo fez história ao acolher a imensa maioria das denúncias do procurador sobre formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, evasão de divisas, peculato e gestão fraudulenta. Os ministros, como se ressaltou à época, não aprovaram a abertura de processo apenas porque os gritantes indícios coletados pelo procurador impediam a impronúncia sumária dos acusados. No seu voto, Joaquim Barbosa, por exemplo, definiu o mandachuva petista José Dirceu como “comandante supremo da trama”. No entanto, as esperanças de que a ação – sem prejuízo do devido processo legal – teria um curso comensurável com o peso sem precedentes do escândalo e com a força das evidências levadas à Corte foram se transformando em frustração com a demora em começar o julgamento

dos 38 réus remanescentes. É inegável também que o mensalão foi saindo, como se diz, do radar da opinião pública, pela tediosa reprodução de ilícitos cometidos por figuras carimbadas da política. Nos ensaios de protestos públicos contra a leva de denúncias de corrupção no governo Dilma, o maior de todos os casos parece ter sido esquecido. Contra esse pano de fundo, a admissão do ministro Lewandowski de que uma parcela indeterminada de mensaleiros deixará de cumprir algumas das penas a que for condenada, em virtude da prescrição dos seus crimes, teve o efeito paradoxal de devolver à cena a inaceitável lentidão do Supremo Tribunal em levar a matéria a um desfecho – lentidão que equivale a uma forma de impunidade. No limite, isso é mais danoso para a imagem da Justiça e para a infusão de um mínimo de decência nos costumes políticos nacionais do que seria uma

inimaginável absolvição dos principais protagonistas da operação que expôs as entranhas do governo Lula. Não por outro motivo, decerto, o presidente do STF, Cezar Peluso, pediu ao relator Barbosa que repasse os autos em versão digital aos colegas para não “retardar ainda mais” a decisão do caso e evitar os “riscos inerentes à delonga do processo”. A rigor, o pedido é supérfluo: os ministros podem solicitar a qualquer momento acesso aos autos dos processos em tramitação na Corte. Não se entende, aliás, por que o revisor Lewandowski depende de receber o parecer do relator para “começar do zero”, ou seja, examinar os volumosos autos do caso. Tampouco se entende por que Barbosa, prejudicado no seu papel por uma dolorosa condição clínica que já limita a sua atividade no colegiado, não abre mão da relatoria – para que se faça Justiça a tempo.

Simplificação tributária

A Câmara e a PEC dos cartórios

partir de 2014, os contribuintes pessoas físicas com uma única fonte de renda estarão dispensados de entregar a declaração do Imposto de Renda (IR), que passará a ser feita pelo Fisco, segundo o secretário da Receita Federal, Carlos Alberto Barreto. É parte de um conjunto de medidas de simplificação do sistema tributário que beneficiarão pessoas físicas e empresas, anunciado pelo Fisco desde a semana passada. Para serem dispensadas de fazer a declaração, as pessoas físicas terão de usar o modelo simplificado, optando pelo desconto-padrão de 20% da renda. Hoje, de cada 10 contribuintes, 7 usam o modelo simplificado, o que dá uma ideia da importância da decisão. Neste ano, o Fisco já dispensou da declaração os contribuintes com rendimentos anuais de até R$ 22.487,25, pois, com o desconto-padrão, estes entravam na faixa de isenção. Foram beneficiados autônomos, beneficiários de pequenas heranças ou doações, mas não trabalhadores com carteira assinada que pleitearam restituição de IR. No tocante às empresas, na semana passada foi anunciada a eliminação da obrigatoriedade de entrega da Declaração do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e de documentos com informações acessórias, às quais a Receita já tem acesso, via notas fiscais eletrônicas ou Sistema Público de Escrituração Digital (Sped). A

esde que o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiram moralizar o funcionamento dos 13,5 mil cartórios em atividade no País, exigindo que todos sejam dirigidos por pessoas devidamente concursadas, os tabeliães e registradores interinos, que assumiram o cargo em decorrência da aposentadoria ou morte do titular, vêm pressionando a Câmara dos Deputados a aprovar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 471 que os efetiva no cargo. Alegando que a pretensão é imoral, pois favorece parentes de políticos e desembargadores, entidades da sociedade civil conseguiram, nos últimos 18 meses, impedir que a PEC fosse votada. Mas o presidente da Câmara, deputado Marcos Maia (PT-RS), decidiu colocar o projeto na pauta das últimas sessões do ano legislativo. A atividade cartorial – um setor que movimenta mais de R$ 4 bilhões por ano – é delegada pelo poder público a particulares e a Constituição de 1988 é taxativa ao exigir que eles sejam escolhidos por concurso público de provas e títulos. O problema é que essa exigência foi regulamentada somente em 1994. Nesse intervalo de seis anos, muitos cartórios – principalmente os de grande porte, que têm um faturamento superior a R$ 2 milhões por mês – foram assumidos interinamente por titulares não concursados. Vários deles são juízes e de-

A

ECONOMIA Recessão técnica

IBGE aponta queda do PIB pelo segundo trimestre consecutivo. A isso os economistas chamam recessão técnica. Qual a explicação oficial? Culpa de quem, de FHC? Do governo Lula? Crise externa? Qualquer que seja, desta vez o disparate da “herança maldita” não mais pode ser usado, pois o que Lula recebeu foi bendito e na “empresa Brasil” houve tão só a promoção da gerenta a presidenta. LUIZ NUSBAUM lnusbaum@uol.com.br São Paulo

Etanol

Tá sobrando álcool? Baixa o preço! Ou guarda que vai faltar. GUSTAVO GUIMARÃES DA VEIGA gjgveiga@hotmail.com São Paulo

partir do mês que vem, serão extintos os demonstrativos de notas fiscais e a declaração de crédito presumido de IPI. A declaração anual do Simples Nacional será extinta em 2013. Também será eliminado o DIFBebidas, pois a Receita já faz o controle eletrônico da produção de cervejas e refrigerantes. E débitos relativos a contribuições previdenciárias poderão ser parcelados pela internet. A partir de junho, tributos aduaneiros poderão ser pagos com cartão de débito nas unidades da Receita em portos, aeroportos e postos de fronteira.

O Brasil inclui-se entre os países onde é maior o custo burocrático de atender ao Fisco No âmbito das pessoas físicas, as medidas já adotadas permitiram reduzir o número de declarantes de 25,5 milhões, em 2009, para 24,6 milhões, em 2010. Ao mesmo tempo, as declarações retidas na malha-fina do Fisco foram reduzidas de 700 mil, em 2010, para 570 mil, neste ano. Isso significa também que o Fisco não tem feito uso de mecanismos administrativos para atrasar as devoluções, como ocorreu no passado. A diminuição do número de declarações retidas deve-se à permissão para que os contribuintes retifiquem ao longo do ano os dados informados à Receita – o que foi feito por 933 mil declarantes, que corrigiram os dados até 30 de no-

BOAS-FESTAS O Estado agradece e retribui os votos de feliz Natal e próspero ano-novo de Acontece Comunicação e Notícias, Admilson Cesar dos Anjos, Amauri Mascaro Nascimento e Sonia Mascaro Advogados, Associação Paulista de Medicina, Bobby Cohen Cinematography, Célio Franco de Godoy Júnior, Cia. de Teatro Contemporâneo, Conrado de Paulo, De León Comunicações, Dinâmica Desenvolvimento Humano, Domingos de Souza Medeiros, Editora A Partilha, Elisa Baccaro Martins – Agenda Dia a Dia dos Noivos, Equipe da GT Marketing e Comunicação, Equipe do Projeto Ronda da Cidadania na Comarca de Pelotas (RS), Equipe da Vera Moreira Comunicação, Equipe Globalis, Equipe Wak Editora, Evanise Moreira, Flower Gallery, Grão de Bico Produtos Naturais, Ingrid e Alexandru Solomon, Marly N. Peres e Paulo Panossian.

vembro. “Esse foi o maior volume de regularizações já registrado pela Receita num ano”, observou o supervisor nacional do IR, Joaquim Adir. A maior parte dos erros que levaram as declarações para a malha-fina é relativa à omissão de rendimentos (como aluguéis), seguindo-se os abatimentos irregulares de despesas médicas. A simplificação tributária facilita a vida das pessoas físicas e reduz os custos burocráticos das empresas, que despendem em média 2.600 horas/homem por ano para pagar impostos, segundo o relatório Doing Business, do Banco Mundial. Essas mudanças são significativas, mas o sistema tributário continua sendo complexo e as normas são difíceis de entender e editadas em excesso, notou o ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel, em artigo publicado no Estado (5/12,B2). O artigo 150 da Constituição, diz Maciel, “é um primor de hermetismo, com proliferação de remissões cruzadas, pontos e vírgulas”. Para enfrentar o excesso de normas, caberia cumprir o artigo 212 do Código Tributário Nacional, segundo o qual as administrações fiscais da União, dos Estados e dos municípios devem consolidar anualmente a legislação tributária. A simplificação tributária – “exigida”, segundo Barreto, pela presidente Dilma Rousseff – só é possível devido ao alto grau de informatização da Receita Federal e das administrações fazendárias dos principais Estados e cidades do País.

“Com um STF desses não precisamos nos preocupar mais com os corruptos” ROGERIO VILELA SILVA / SÃO GONÇALO DO SAPUCAÍ (MG), SOBRE A AUTORIZAÇÃO PARA O FICHA-SUJA TOMAR POSSE rogervs_sgs@hotmail.com

“Se as leis fossem para os ‘políticos’ o que são o arroz e o feijão para os pobres, haveria mais justiça e menos corrupção” ANTONIO CARNIATO FILHO / SANTA RITA DO PASSA QUATRO, SOBRE MORAL E ÉTICA antoniocarniato@gmail.com

D

sembargadores aposentados que foram escolhidos nos círculos de amizades e parentesco de presidentes de Tribunais de Justiça (TJs) – os órgãos encarregados de fiscalizar os cartórios nos Estados. Outros registradores, notários e tabeliães foram beneficiados pelo “regime de hereditariedade” – ou seja, receberam o cargo como herança de seus pais, o que também contraria a Constituição. E há ainda parentes de políticos beneficiados por negociações entre as Justiças estaduais e as Assembleias Legislativas. Depois da regulamentação do concurso público para esco-

Espera-se que os deputados rejeitem uma proposta sobretudo desmoralizadora lha de titulares dos cartórios, os registradores, notários e tabeliães interinos recorreram aos tribunais superiores, invocando o direito adquirido de permanecer no cargo. Mas a pretensão não foi acolhida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a realização de concursos públicos. Os presidentes de TJs de alguns Estados ignoraram a determinação. Outros realizaram os concursos, mas não deram posse aos novos titulares, esperando a aprovação da PEC que favorece os interinos, apresentada em 2005. Depois de realizar uma ampla auditoria no setor, entre 2006 e 2008, a Corregedoria Nacional de Justiça constatou que cerca de 8 mil pessoas devi-

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Cigarro agora proibido em todo o Brasil

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Tabaco está banido de ambientes fechados como bares e restaurantes, publica o ‘Diário Oficial’ ● “Quem quiser que fume dentro de casa ou no meio da rua. E pronto!” MARCELO LOPES

● “No Brasil, eles aprovam leis absurdas, enquanto tem coisa muito mais importante para tratar!” FLÁVIA GONÇALVES

HÁ 868 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Nos fumódromos, eu discordo, já que são ambientes que foram feitos exclusivamente para os fumantes.” PEDRO PAULO FILIZZOLA FRANCALACCI

damente aprovadas para dirigir cartórios ainda não tinham sido empossadas. O órgão também verificou que alguns tabeliães interinos acumulavam a direção de mais de um cartório, o que não é permitido por lei, e descobriu várias irregularidades, como escrituras sem assinatura, livros em péssimo estado e falta de controle no recolhimento de custas. Com base nessas descobertas, entre 2008 e 2009 o CNJ começou a baixar resoluções com o objetivo de moralizar os cartórios e pedir aos presidentes de TJs o cumprimento da Constituição. Foi nesse momento que os tabeliães, notários e registradores interinos passaram a pressionar a Câmara a votar a PEC 471 – o que levou o então corregedor nacional de Justiça, Gilson Dipp, a acusá-los de forjar “esquemas corporativos de transmissão de feudos”, e o então presidente do STF, Gilmar Mendes, a classificar a PEC dos cartórios como uma “gambiarra jurídica” concebida para institucionalizar “o filhotismo, o apadrinhamento e o patrimonialismo”. Apesar da oposição da OAB e do CNJ à pretensão dos tabeliães, notários e registradores interinos, o lobby dos cartórios é um dos mais poderosos do País e acredita ter o número de votos suficiente para aprovar a PEC 471. Resta esperar que os deputados tenham bom senso e rejeitem uma proposta que, ao transformar os cartórios em verdadeiras capitanias hereditárias, desmoralizará a Constituição e a exigência de concurso público de provas e títulos.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 17 DE DEZEMBRO DE 2011

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Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Notas e Informações A3

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Notas & Informações

O fim da ‘guerra estúpida’ Emad Risn, colunista de um jornal de Bagdá, provavelmente resumiu melhor do que ninguém o que significa para os iraquianos o fim oficial da guerra iniciada há quase nove anos pelos Estados Unidos, a pretexto de eliminar a ameaça encarnada pelo ditador Saddam Hussein com seus arsenais de destruição em massa que Washington decerto sabia serem fictícios. “A guerra só acabou para os americanos”, escreveu Risn. “Ninguém sabe se a guerra terminará também para nós.” A invasão do Iraque, de fato, não serviu nem para mitigar a hostilidade ancestral entre as suas principais seitas etnorreligiosas – os majoritários xiitas, os sunitas que os oprimiam sob Saddam e os curdos separatistas concentrados no norte do país. Entregues a selva-

gens matanças recíprocas, xiitas e sunitas convergiram apenas na insurgência contra os invasores para tornar intolerável a sua presença. Até o fim do mês, os 4 mil militares americanos remanescentes terão partido. A guerra que começou com uma mentira termina com uma meia-verdade. A mentira: George W. Bush usou desde o início o ultraje de 11 de setembro de 2001 para destruir Saddam – o que o primeiro Bush, George H. W., foi desaconselhado a fazer na Guerra do Golfo de 1991 pela Arábia Saudita aliada dos Estados Unidos. Era o que queriam também os teóricos neoconservadores enquistados nos centros de decisão de Washington, com a sua fantasia de implantar no coração do mundo árabe uma democracia pró-ocidental. A preocupação com a segurança de Israel, os interesses econômicos e geoestratégicos americanos no petróleo iraquiano, os cálculos eleito-

rais do presidente e o seu ódio a Saddam, que ameaçara matar o seu pai –, eis a origem da catástrofe infligida ao Iraque, sob a capa das suas imaginárias armas químicas e atômicas. A ignorância abissal de Bush fez o resto. Até pouco antes da invasão, ele desconhecia o antagonismo entre xiitas e sunitas. A meia-verdade: ao ordenar a retirada total das tropas, salvo as poucas centenas de soldados incumbidos de guardar a fortaleza que abriga os diplomatas americanos em Bagdá, Barack Obama estaria apenas sendo fiel à promessa de campanha, que lhe rendeu não poucos votos, de encerrar de uma vez por todas o que chamava de “guerra estúpida” (e passaria a chamar “guerra de escolha”, para diferenciá-la da “guerra necessária” no Afeganistão). Na realidade, o que deu o empurrão definitivo para a saída foi a recusa do governo iraquiano do primeiro-

ministro (xiita) Nuri Kamal al-Maliki de assegurar imunidade às tropas que ficassem por delitos de qualquer natureza. O país não esquecerá as atrocidades de soldados americanos na prisão de Abu Ghraib, em Bagdá. Nenhuma autoridade iraquiana, por sinal, compareceu na quinta-feira à solenidade de 45 minutos conduzida sobriamente pelo secretário de Defesa Leon Panetta no aeroporto de Bagdá para formalizar o fim da guerra. As estatísticas são devastadoras. As baixas fatais americanas foram da ordem de 5 mil, sem contar as dos aliados britânicos, australianos e de outras nacionalidades. Cerca de 110 mil civis iraquianos pereceram e 1,5 milhão fugiu para países vizinhos. Não se conhece ao certo o custo financeiro, para os Estados Unidos, da sua imperdoável aventura. O custo oficial é de US$ 800 bilhões, mas estimativas independentes fa-

lam em até US$ 3 trilhões. Seja qual for o dado verdadeiro, é impossível dissociar dele o estado crítico das finanças americanas – sem falar que boladas milionárias foram desviadas por empresas contratadas por Washington para prestar serviços no Iraque. A corrupção iraquiana não fica muito a dever. O país está estilhaçado em mais de um sentido. Desde a invasão, em 17 de março de 2003, a população de Bagdá não sabe o que é ter um dia inteiro com energia elétrica. Teme-se que as forças de seguranças treinadas e financiadas pelos Estados Unidos sejam leais antes às suas seitas do que ao governo de turno. O vácuo de poder é palpável. E os aiatolás xiitas iranianos assistem a tudo, deliciados. Na sua soberba cegueira, os americanos lhes deram o que não conseguiam desde a Revolução Islâmica de 1979: ser uma influência poderosa na política iraquiana.

A previdência do funcionalismo

Ciência sem Fronteiras

e contasse com o apoio firme de uma bancada capaz de entender a urgência da criação do fundo de previdência complementar para o setor público – como entenderam os deputados estaduais de São Paulo, que aprovaram por grande maioria projeto nesse sentido para o funcionalismo estadual –, o governo da presidente Dilma Rousseff já teria conseguido a aprovação, pelo Congresso, do projeto que cria o fundo dos servidores federais. Mesmo tendo sido obrigado a aceitar várias alterações no projeto, defendidas por seus aliados, o governo viu frustrado seu objetivo de criar o fundo federal ainda este ano. Por falta de articulação de sua base, a votação, que deveria ocorrer na quarta-feira passada, foi adiada para fevereiro. Previsto na reforma da Previdência de 2003, o regime de previdência complementar para os servidores públicos de todos os níveis já deveria estar em vigor há muito tempo. A criação desse regime é necessária e urgente. Só com a equiparação dos funcionários públicos aos demais trabalhadores brasileiros vinculados ao INSS será possível começar a reduzir o gigantesco déficit do sistema de aposentadoria e pensões do setor público. No ano passado, os funcionários federais contribuíram com R$ 22,5 bilhões para o sistema de aposentadoria, mas as despesas com benefícios alcançaram R$ 73,7 bilhões. O déficit, de R$ 51,2 bilhões, foi co-

ançado há seis meses com o objetivo de acelerar a internacionalização do ensino superior no País e regulamentado por decreto assinado esta semana pela presidente Dilma Rousseff, o programa Ciência sem Fronteiras anunciou a primeira chamada pública para a concessão de 12,5 mil bolsas a estudantes que queiram fazer graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado e cursos de formação de tecnólogos no exterior. As bolsas de graduação poderão ser pleiteadas por quem obtiver mais de 600 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a definição dos critérios de seleção, das áreas a serem financiadas e do valor das bolsas ficará a cargo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). As primeiras bolsas se destinam, basicamente, a estudos nos EUA, Inglaterra, Alemanha, França e Itália e as áreas escolhidas – matemática, física, química e biologia – estão entre aquelas em que o Brasil é carente. Previstas para o início de 2012, as próximas chamadas públicas privilegiarão as engenharias e as ciências aplicadas, como nanotecnologia, biotecnologia, tecnologia mineral, geociências, tecnologia aeroespacial, fármacos, energias renováveis, petróleo, gás e carvão mineral. Essas áreas são consideradas estratégicas pelo governo para a qualificação da mão

S

veram ficar em greve, mesmo sabendo das consequências de suas faltas. Essa foi e será, se nenhuma lei abrir uma brecha, uma verdadeira aula de democracia. Ou se ensina a esses estudantes que eles precisam ser responsáveis ou estamos criando mais vândalos em nossa sociedade. Infelizmente, os alunos darão de ombros porque, se ficarem em DP, nada terão de pagar, mas com isso atrasam em mais um ano a oportunidade de outros alunos virem a cursar uma faculdade que é paga com o dinheiro do contribuinte e, por isso mesmo, deveria ser levada muito a sério. IZABEL AVALLONE izabelavallone@gmail.com São Paulo

Boa lição

Também gostaria de dar os parabéns ao professor Carlos Alberto Ribeiro de Moura pela reprova-

berto com dinheiro dos contribuintes. Se nada mudar, esse déficit continuará a crescer indefinidamente. A situação é semelhante nos Estados e nos municípios. Com a criação dos fundos, os servidores passarão a ter os mesmos direitos dos trabalhadores vinculados ao INSS, cujos benefícios estão limitados a R$ 3.691,74. Como eles, para terem direito à aposentadoria de maior valor, os funcionários terão de contribuir para um fundo de previdência. É justamente a criação desse fundo que o governo Dilma queria ver aprovada em 2011.

Adiada, agora para fevereiro, a criação do fundo de previdência complementar A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou a criação de fundo idêntico com presteza. Apresentado no fim de agosto pelo governador Geraldo Alckmin, o projeto que institui o regime previdenciário complementar do funcionalismo público do Estado foi aprovado por 57 votos a 22 pelo Legislativo de São Paulo. Apesar da complexidade do tema, o projeto teve tramitação muito rápida na Assembleia, onde passou por mudanças – a principal das quais foi a exclusão da Polícia Militar do novo regime previdenciário – que não alteraram a essência da estrutura originalmente proposta pelo governo. São Paulo é o primeiro Estado a criar o fundo de previdência do funcionalismo.

ção desses baderneiros que se dizem estudantes. O melhor seria mesmo expulsá-los e abrir concurso para ingresso de novos alunos, mas já foi uma boa lição. Espero que eles aprendam. DAVID J. MARGATO davidjm1@uol.com.br São Paulo

BOAS-FESTAS O Estado agradece e retribui os votos de feliz Natal e próspero ano-novo de Academia de Letras do Brasil (SC) Alfredo Wagner, Antonio Brandileone, Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Associação Médica Brasileira, Carlos Eduardo de Barros Rodrigues, Crianças da Legião da Boa Vontade (LBV), HG Telecomunicações, Jair Gomes Coelho, Joel Sanches Carrilho, José Roberto Palma, Silvia Carneiro – SecoviSP, Sonia Jordão, Studio Design Comunicação e Tania Tavares.

As novas regras valerão para os funcionários contratados pelo governo de São Paulo após a publicação da lei que cria o fundo paulista de previdência complementar. A adesão ao novo regime será voluntária. Essas regras valerão também para o funcionalismo federal. Nessa questão, o PT tem tido atitude contraditória. No plano federal, parte do partido tentou atenderàexigênciadapresidente Dilma Rousseff de apressar a votação de projeto de criação do fundo para os servidores da União – e o fez exigindo mudanças na proposta original que agradam a suas bases eleitorais, mas impõem custos adicionais aoTesouro,o queretardou avotação pelo Congresso. No plano estadual, porém, votou contra a iniciativa quase idêntica do governador Alckmin, sem deixar claras as razões de seu voto. A criação do fundo federal foi considerada uma das prioridades de seu governo pela presidente Dilma Rousseff logo depois de sua posse. O projeto de criaçãodessefundo foiapresentado em 2007, mas, por falta de iniciativa do governo anterior, estava praticamente parado no Congresso. Para fazê-lo andar, o governo Dilma fez algumas concessões, como a criação de fundos específicos para funcionários de cada Poder (e não um fundosó,comoseprevianoprojeto original) e o aumento da contribuição do participante e, consequentemente, também do governo, para que aumente o valor do benefício a ser pago no futuro. Nem assim,porém, conseguiu aprovar o projeto em 2011, como queria.

“Dúvida: vale mais a pena lamentar os votos dos cinco corifeus togados (mais um voto de qualidade) ou o 1,8 milhão de votos que o hoje senador recebeu?” ALEXANDRU SOLOMON / SÃO PAULO, SOBRE JADER BARBALHO alex101243@gmail.com

“Coitado do senador, homem bom, igual a muitos políticos brasileiros...” ANTONIO ROCHAEL JR. / IGUAPE, IDEM antoniorochael@gmail.com

L

de obra e o desenvolvimento. Serão concedidas bolsas para escolas na China, Japão, Coreia do Sul e Bélgica. O governo pretende oferecer 101 mil bolsas de estudo em quatro anos. Mas a União só financiará 75 mil. Para custear as 26 mil bolsas restantes, no valor de R$ 1,3 bilhão, o governo está pedindo ajuda a empresas estatais, empresas privadas e instituições financeiras. Nos últimos meses, enquanto os Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia negociavam convênios com grandes instituições de ensino e pesquisa estrangeiras, a presidente

Programa de bolsas tem tudo para dar certo, se não for desvirtuado por intervenções políticas Dilma Rousseff e a chefe da Casa Civil, ministra Gleisi Hoffmann, instavam empresários e dirigentes de entidades de classe a custear as bolsas. Além da Petrobrás, Eletrobrás, Vale, British Petroleum, AmBev, Portugal Telecom/Oi e Tim,foramprocuradasaFederação Brasileirade Bancos(Febraban), que prometeu financiar 6,5 mil bolsas; a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que bancará 6 mil bolsas; e a Associação Brasileira da InfraestruturaeIndústriasdeBase(Abdib), que custeará outras 5 mil. Tambémforamprocuradasmultinacionais que têm interesse em vender seus produtos no País ou que participam de concorrência para a venda de equipamentos e serviços ao gover-

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Enfermeira é investigada por agressão a cão

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Em vídeo divulgado na web, mulher espanca yorkshire até a morte; polícia de Goiás abriu inquérito ● "E a omissão de quem filmou?” LEANDRO KDEIRA

● “Simplesmente abominável a atitude e o comportamento deste indivíduo. Só não podemos esquecer de que não se deve combater a violência com violência e mensagens de ódio.” RAQUEL BARRETO

HÁ 869 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Por causa de um cachorro, tanta indignação. Por vidas humanas, indiferença.” CLEANDRO BOEIRA

no. É o caso da sueca Saab e da americanaBoeing,que têminteresseemvendercaçasparaaForça Aérea Brasileira. Por meio do Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro,a Saabsecomprometeu a conceder cem bolsas para estudantes e pesquisadores das áreas de defesa e segurança em universidades suecas. A Boeing concederá bolsas para 18 estudantes de engenharia geoespacialeaeronáuticaemescolas americanas. Com o avanço da globalização econômica, a internacionalização do ensino superior e a ampliação de programas de intercâmbio em ciência e tecnologia se tornaram decisivas para que os países possam aumentar o esforço de inovação científica e assegurar maior competitividade às suas empresas. Ao proporcionar vivência acadêmica e profissional no exterior, dando aos jovens oportunidade de superar a barreira da língua e aprimorar seus conhecimentos em escolas de alto nível, esses programas tornarão as novas geraçõesmais cosmopolitas e ajudarão a reduzir a distância entre as universidades brasileiras e as instituições de ensino mais bem classificadas nos rankings internacionais. OCiênciasem Fronteirastem tudo para dar certo. Mas, para quenãosejadesvirtuado,éprecisoqueaseleçãodosbolsistasprivilegie os candidatos mais bem preparados, sem concessões a políticas de cotas sociais e étnicas, e que o pedido de apoio financeiro a empresas e entidades de classe não se converta em formade pressãodo governosobre a iniciativa privada.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 18 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Orçamento e decoro A crise internacional dá à presidente Dilma Rousseff um motivo a mais, e muito forte, para resistir a toda tentativa de aumento de gastos de custeio e, portanto, à pretensão de aumento salarial para os magistrados e demais servidores do Judiciário. “Não é hora de dar reajuste a ninguém”, disse a presidente na sexta-feira, num encontro com jornalistas. O aumento para o Judiciário “é uma questão do Congresso”, ressalvou, mas sua opinião sobre o assunto é clara: será um erro sobrecarregar as contas públicas com mais esse compromisso e reduzir, assim, a margem de ação do governo em face de novas e graves ameaças à economia nacional. O Executivo e o Banco Central vêm-se preocupando há meses com a piora da situação nos Estados Unidos e na

Europa e com os inevitáveis prejuízos para os emergentes, incluído o Brasil. Mas nos demais Poderes da República, e até na base aliada do governo, poucos parecem preocupados com isso ou até mesmo com as aparências. Esse desprezo pelas aparências – quem liga para os maledicentes? – foi demonstrado na terça-feira, no encontro do presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, com três senadores peemedebistas, Waldir Raupp, Romero Jucá e Renan Calheiros, e o deputado Henrique Eduardo Alves. Como o tempo era escasso, aproveitaram a ocasião para tratar de dois assuntos: a solução do problema de Jader Barbalho, até então impedido de tomar posse no Senado, por problemas de ficha suja, e o aumento do Judiciário. Na quartafeira, Peluso deu o voto decisivo para a confirmação de Jader Barbalho como senador.

Casualidade ou não, parlamentares do PMDB têm defendido com muito empenho o aumento salarial para o pessoal do Judiciário – 14,79% para os juízes e 56% para os demais servidores. “Estamo-nos movimentando há muito tempo para sensibilizar o Planalto”, disse o deputado Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara. Dirigentes peemedebistas e líderes de outros partidos devem nos próximos dias conversar com altos funcionários do Ministério da Fazenda e com as ministras da Casa Civil, Gleisi Hoffman, e de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Mesmo sem a perspectiva de uma crise internacional muito feia nos próximos meses, a presidente Dilma Rousseff teria excelentes motivos para pensar duas vezes antes de apoiar esses aumentos. Benefícios salariais para o Judiciário produzem efeito em cascata nas contas públicas, porque elevam o teto dos vencimentos

Os eternos perdedores

O

s brasileiros que planejam viajar de avião neste fim de ano estão ameaçados dos mesmos dissabores de anos anteriores. Os aeroviários e aeronautas, cuja data-base é 1.º de dezembro, reivindicam reajuste de salários de 10% para toda a categoria e de 14% para aqueles que ganham o piso salarial. As companhias aéreas ofereceram aumento geral de 3% e de 6% para o piso. Como não se chegou nem mesmo a estabelecer um diálogo entre as partes, os sindicatos marcaram uma greve para o próximo dia 22, às vésperas do Natal. É a velha chantagem. Já foi sugerido que as categorias de trabalhadores do setor alterem sua data-base, recebendo uma compensação por isso, mas nunca aceitaram essa hipótese, confiantes em que a apreensão causada pela ameaça de greve a milhares de pessoas que querem viajar no fim de ano fortaleça o seu movimento. E garantem que não estão “blefando”. Já as companhias aéreas parecem alheias a tudo, dando a impressão de que nada têm a perder com a greve. Afinal, milhares de passagens foram vendidas com antecedência e, ainda que seus titulares queiram, não conseguiriam remarcar para antes do dia 22 as viagens programadas, sem pagamento de uma sobretaxa. A Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil (Fentac) nega que seus filiados estejam se aproveitando

TÚLLIO MARCO S. CARVALHO tulliocarvalho.advocacia@gmail.com Belo Horizonte

Fora de sintonia

Pimentel vai devolver o custo da passagem e das diárias, robustas, do passeio a Genebra?! E agora, presidente, o ministro também não terá de dar satisfação à sociedade, que lhe paga os proventos?! Num país com governo ético esse cidadão já estaria no olho da rua... PAULO PANOSSIAN paulopanossian@hotmail.com São Carlos

Realidade

Verdade, decência, honradez? Estas palavras não estão no dicionário dos “cumpanheros”. ELAINE NAVARRO elainenavarro.pa@hotmail.com São Paulo

do aumento exponencial do movimento nesta época do ano. Afirmam que em 15 de setembro apresentaram uma proposta de reajuste às empresas, que não se mostraram interessadas em negociar, ignorando solenemente não só seus empregados, como os interesses de sua clientela, que tanto dizem prezar. Além de poderem aumentar as suas receitas nesse período, as empresas parecem preferir que a Justiça decida, em cima da hora, a questão de reajuste dos salários, como ocorreu no ano passado. Nesse cenário, não se pode levar a sério a decisão do De-

A ameaça de greve de aeroviários e aeronautas pode gerar conflitos graves nos aeroportos partamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça – alegadamente para evitar as habituais confusões nos aeroportos no final do ano e início das férias – de notificar as empresas aéreas para que esclareçam os procedimentos que adotam para transferência de horários, cancelamento ou remarcação de voos. “Nosso intuito é criar uma política para evitar conflitos”, disse Amaury Oliva, diretor substituto do DPDC, acrescentando que, com base nas informações colhidas, o Ministério da Justiça vai traçar um plano de ação. A ver que plano será esse, até porque a fiscalização deveria caber à Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), que

BOAS-FESTAS O Estado agradece e retribui os votos de feliz Natal e próspero ano-novo de Acnur Brasil, Açougue Cultural T-Bone, Ademir Rosa, Agência Vero Comunicação Corporativa, Alex Manente e família, Brazilian Finance & Real Estate, Elisabel Benozatti e Mari Amalie Contrim – Opportunity, Escola de Direito de Brasília (EDB), Euclydes Parente Ramos Filho, Grupo Orguel, Instituto Brasiliense de Direito Público, João Cappellano e filha Vera Helena, Jô Ribes Comunicação, Karina Mie – Associação Paulista Viva, Livraria do Advogado Editora, Luiz Souto Madureira – Associação Paulista de Imprensa, Mara Gabrilli, Marcio Poy – Emark, Marcus Lima Arquitetura e Urbanismo Ltda., Meta Consultoria e Comunicação, Neide Monteiro, Objeto Brasil, Paulo Affonso Mauro Filho, Paulo R. Kherlakian e Penteado Mendonça Advocacia.

de praticamente todas as categorias do funcionalismo. O setor público não tem condições de suportar mais um aumento de encargos desse tipo. O ministro da Fazenda tem reafirmado o compromisso de trabalhar pela obtenção, em 2012, de um superávit primário cheio, isto é, sem descontos. A fidelidade a esse compromisso é essencial para a concretização do objetivo mais ambicioso de alcançar o equilíbrio das contas públicas em 2014. Problemas de finanças públicas e de saúde econômica parecem raramente comover a maior parte dos membros do Parlamento e do Judiciário. Em geral, agem como se o equilíbrio fiscal fosse problema só do Executivo. Mas o Tesouro Nacional é um só e dele sai o dinheiro para as despesas de todos os Poderes. Não pode haver uma discussão séria, inteligente e honesta sobre rela-

ções entre Poderes quando esse fato básico é esquecido. Nos últimos dias a polêmica sobre o aumento para o Judiciário ultrapassou as considerações econômicas. A mistura de dois assuntos – o aumento para o Judiciário e o destino de Jader Barbalho – num único encontro de peemedebistas com o presidente do Supremo foi, para dizer o mínimo, inoportuna. Em português corrente, pegou mal. Igualmente inoportuna havia sido, alguns dias antes, uma emenda de comissão a favor do mesmo aumento. Essa emenda à proposta orçamentária foi apresentada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, presidida pelo deputado João Cunha (PT-SP), réu no processo do mensalão. Foi rejeitada, depois, pelo senador Inácio Arruda (PC do B-CE) em seu relatório setorial. Com isso, o texto ficou um pouco mais decoroso. Por enquanto, pelo menos.

Eles brigam por dinheiro tem competência para monitorar o setor, mas nada fez até agora para disciplinar as frequências de voos para destinos diversos, atrasos, cancelamentos e remarcações. Todos aqueles que viajam habitualmente estão cansados de saber que as companhias aéreas não têm compromisso com horários. Com frequência que já se torna um hábito, as companhias manejam os passageiros de acordo com a lotação de seus voos, cancelando muitos deles, de acordo com a taxa de ocupação dos aviões ou transferindo os passageiros para outros horários. As autoridades, no entanto, não cogitam de rever a programação de voos, retirando da grade aqueles em que há poucos passageiros. Preferem submeter os passageiros aos incômodos dos cancelamentos e adiamentos de voos, a privar as empresas de “slots” que poderiam atender melhor aos usuários do sistema aéreo se fossem destinados a rotas mais procuradas. Quanto à suposta existência de um plano B para períodos de movimentação excepcional, como o que se aproxima, ele simplesmente não existe. Se houver greve, ainda que parcial, haverá “apagão” nos aeroportos, com conflitos entre passageiros e as empresas que nem a fiscalização da Anac e nem a do DPDC conseguirão evitar. Já está na hora de o governo acabar com esse jogo de interesses, que se repete ano a ano, em que os consumidores são sempre os únicos perdedores.

“Será que a nossa Justiça, além de cega e lerda, é partidária?” TANIA TAVARES / SÃO PAULO, SOBRE O JULGAMENTO DO MENSALÃO taniatma@hotmail.com

“Para quem não sabe, Lewandowski é de São Bernardo do Campo e foi posto no STF por Lula. Alguém precisa de mais explicação?” ARIOVALDO BATISTA / SÃO BERNARDO DO CAMPO, IDEM arioba06@hotmail.com

O

que aparentava ser apenas uma feroz disputa entre apadrinhados do PT e do PMDB por fatias de poder e prestígio, natural em um governo que adotou como norma o loteamento partidário dos cargos, se transformou em prova, mais uma, da irresponsabilidade da administração petista no trato do dinheiro colocado sob sua gestão. Neste caso, trata-se de um enorme volume de recursos, de dezenas de bilhões de reais. Mais do que simples divergências partidárias, a briga entre diretores da Caixa Econômica Federal (CEF), ligados ao PT e ao PMDB, envolve o controle de cerca de R$ 44 bilhões do FGTS. Depositados por empresas em benefício de seus empregados e colocados sob a administração da Caixa – que só pode aplicá-los em projetos de habitação, saneamento e infraestrutura urbana –, esses recursos financeiros deveriam ser geridos de acordo com critérios eminentemente técnicos. Mas, como aconteceu com muitas outras funções de natureza técnica, também esta foi utilizada pelo governo Dilma para saciar parte do apetite político de sua fluida base de apoio. Desde março, quando o petista Jorge Hereda assumiu a presidência da Caixa, havia um certo descontentamentode diretores ligados ao PT em relação ao desempenho de um membro da diretoriavinculado ao PMDB do Rio de Janeiro, Flávio Cleto, membrodosdoisórgãoscolegiados que decidem as aplicações

dos recursos do FGTS. Nas últimas semanas, as divergências provocaram uma crise administrativa e política, que acabou sendo levada à presidente DilmaRousseff pelos doisladosenvolvidos na disputa. Criado em 1966, o FGTS, formado pela contribuição mensal dos empregadores, na proporção de 8% da remuneração recebida pelos empregados, tem por finalidade constituir uma reserva para o trabalhador utilizar emcasosdeaposentadoria,invalidez e desemprego e seus familiares, em caso de morte. Esses recursos precisam, portanto, ser administrados comcautela e

Disputa rasteira entre PT e PMDB pode pôr em risco o futuro do FGTS que é dos trabalhadores eficiência, para assegurar sua preservação e sua expansão no médio e no longo prazos. A Caixa administra as contas dos trabalhadores vinculadas ao FGTS. As diretrizes para aplicação dos recursos são decididas pelo conselho curador do Fundo, formado por representantes de centrais sindicais, de entidades empresariais e do governo. Mas o órgão que cuida das aplicações é o comitê de investimentos do FGTS. Como vice-presidentede Fundosdo Governo e Loterias da CEF, Flávio Cleto participa dos dois órgãos colegiados.Masseumandato está terminando. Asdivergências entreospetistas e Cleto se acirraram depois que o Congresso aprovou a inclusão, numa medida provisória

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Em São Paulo, 90% apoiam lei antifumo

321

Pesquisa revela, porém, que 70% defendem o fumódromo em estabelecimento comercial ● “Eu não apoio nada. Isso é descaso com meu livre-arbítrio.” STEFANI GARCÍA

● “Como alguém que acredita que deve haver locais para fumantes nos estabelecimentos pode concordar com uma lei que diz o contrário?” FAGNER MARQUES

HÁ 870 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Apoiadíssimo! Só deveriam fiscalizar mais. No Aeroporto de Guarulhos ninguém respeita, apesar dos avisos por toda parte.” RICHARD KENO

que tratava de questões tributárias, de emenda autorizando a utilização de recursos do FGTS para obras ligadas à Copa do Mundode2014eaosJogosOlímpicos de 2016. A emenda foi proposta por deputados do PMDB do Rio de Janeiro. Com o apoio do presidente Jorge Hereda, o vice-presidente de Gestão de Ativos de Terceiros da CEF, Marcos Vasconcelos, aliado ao PT, elaborou parecer no qual defendeu o veto da presidente Dilma Rousseff ao uso do FGTS nas obras da Copa e da Olimpíada. Cleto fez outro parecer, favorável a essa forma deutilizaçãododinheirodoFundo. Afinal, esta seria uma forma de apoiar projetos do governo fluminense, hoje chefiado pelo peemedebista Sérgio Cabral, voltados para os dois grandes eventos esportivos programados para os próximos anos. Na semana passada, o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves, procurou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para tratar da situaçãodeCletona diretoriadaCEF. Chegou a circular a informação de que, descontente com as divergências, a presidente Dilma RousseffteriaautorizadoMantega e o presidente da CEF a demitirCleto,caso estenãodesistisse de alimentar a disputa interna. Até agora, nada aconteceu. De concreto, a presidente vetou a emenda incluída pelo PMDB que permitia o uso do FGTS em obras da Copa e da Olimpíada. No mais, parece disposta a manter o danoso modelo de administração políticoeleitoral que instalou em seu governo.

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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 19 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Notas & Informações

Saudade das carroças Com dificuldade para se adaptar ao século 21, o governo insiste em reeditar o protecionismo dos anos 50 e 60 do século passado, quando a maior parte da indústria era nascente e esse tipo de política ainda tinha algum sentido. Esse velho padrão foi reeditado na elaboração do Plano Brasil Maior, já em vigor, e poderá servir de inspiração para um “novo” regime automotivo com elevada exigência de conteúdo nacional (mais precisamente, produzido no Mercosul). O Plano Brasil Maior já estabeleceu a exigência de pelo menos 65% de conteúdo local para os veículos comercializados no Brasil, impondo uma taxação adicional de 30 pontos porcentuais aos produtos sem essa especificação. Esse critério deverá valer nos próximos 12 meses. Nesse período

serão definidas as condições para vigorar em 2013, segundo informou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. O Brasil foi um dos últimos países a abandonar o velho modelo de substituição de importações. A economia nacional foi muito prejudicada por isso. Outros países, principalmente da Ásia, deram o passo adiante nos anos 70 e 80. Passaram a absorver tecnologia, investiram em pesquisa e adotaram planos de educação ambiciosos e bem elaborados, preparando-se para conquistar espaços no mercado internacional. A Coreia do Sul foi um desses países. Absorveu e desenvolveu conhecimentos e tornou-se uma potência industrial e comercial adaptada a seu tempo. Enquanto isso, o Brasil pagava pelo fracasso da reserva de mercado para informática e entrava nos anos 90 com uma indústria de carroças motorizadas.

Nos anos 80 e em boa parte dos 90, o setor mais dinâmico da economia brasileira foi o agronegócio. Não por acaso, a modernização ocorreu mais prontamente naqueles segmentos mais voltados para o mercado internacional, como a produção de soja e derivados e a criação de animais para a exportação de carnes. Empenhados em disputar com os melhores produtores do mundo, os empresários envolvidos nesse trabalho tiveram de ajustar sua atividade aos níveis mais altos de eficiência, em vez de se refugiar no conforto de um mercado protegido. As instituições de pesquisa, com a Embrapa em posição central, tiveram um papel decisivo nesse esforço. A abertura da economia brasileira, na virada dos anos 80 para os 90, foi um primeiro esforço de adaptação às mudanças globais. Os empresários com visão de maior alcance haviam começado a investir em moderniza-

ção antes da abertura. Esses foram capazes de resistir ao impacto da mudança. A própria indústria automobilística adotou novas políticas, embora parte de sua produção tenha continuado defasada em relação aos padrões mundiais. Mas o Brasil jamais completou a sua inserção na economia globalizada. Os avanços na educação e na criação de tecnologia foram insuficientes, principalmente porque faltou uma clara e realista definição de prioridades. A infraestrutura continuou deficiente e inadequada e os custos de logística permanecem absurdamente altos. O sistema tributário é um desastre, porque onera o investimento, a produção e a exportação. O Brasil não precisa de um novo regime automotivo nem de regras de conteúdo mínimo. Precisa de melhores condições para produzir e competir. Empresas poderão cumprir exigências de conteúdo nacional, num

mercado protegido, sem tornar o País mais competitivo. Fala-se, em Brasília, de possível diminuição de impostos, como parte do regime automotivo, para quem investir em tecnologia. Nisso, pelo menos, há uma semente de bom senso. Mas seria muito mais sensato adotar uma política ampla de estímulo ao desenvolvimento tecnológico, em todos os setores, como parte de uma estratégia de modernização. O presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, apoiou a exigência de maior conteúdo nacional para os automóveis e ainda propôs uma alteração dos cálculos, para atribuição de maior peso aos componentes estritamente industriais. Daria uma contribuição muito melhor se cobrasse uma política de modernização produtiva e rejeitasse o ranço das políticas do passado. A CNI já produziu ideias mais luminosas.

O pessimismo da indústria

Privatização pela metade

otimismo com que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fala da atual situação da economia brasileira e de suas perspectivas para os próximos meses contrasta com as projeções cada vez mais pessimistas do empresariado, sobretudo do setor industrial. Por razões políticas ou por desprezo a dados, o governo insiste em qualificar como meramente incidental a estagnação registrada no terceiro trimestre, razão pela qual continua a prever uma expansão de 4% a 5% do PIB em 2012. Economistas e dirigentes do setor financeiro consultados pelo Banco Central, ao contrário, vêm reduzindo suas previsões e, na pesquisa divulgada na última segunda-feira, a projeção para a expansão do PIB em 2012 caiu para 3,40% (na pesquisa anterior, estava em 3,48%). É mais do que a projeção da Confederação Nacional da Indústria (CNI), de aumento de 3,0% em 2012. A estimativa da Fiesp é mais pessimista, de 2,6%. O fraco desempenho do setor em 2011 e a perda de competitividade no mercado interno e no exterior, que deteriorou a balança comercial, entre outros fatores negativos, abateram o ânimo dos industriais. A CNI reduziu de 3,2% (dado de julho) para 1,8% sua previsão de crescimento do PIB industrial neste ano. Com relação especificamente à indústria de transformação, a Fiesp calcula que o crescimento deve ficar

s peripécias do processo dos leilões de privatização dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília continuam a causar estupor no mercado. O Tribunal de Contas da União (TCU) examinou a minuta do edital, elaborada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e mais que dobrou o valor mínimo total dos terminais de Guarulhos, Viracopos e Brasília, que passou de R$ 2,9 bilhões para R$ 6,3 bilhões, sob a justificativa de que houve superestimativa de 25% dos investimentos necessários. Dadas as condições em que se encontram esses aeroportos, a alteração é surpreendente. Mas, ao publicar o edital fixando as condições para os leilões – marcados para o dia 6 de fevereiro –, o governo concordou com as avaliações do TCU. Embora o valor mínimo total das outorgas, de R$ 5,48 bilhões, seja 13,2% menor do que o determinado pelo TCU, é 89,7% maior do que constava na versão inicial do edital. O TCU afirmou que a revisão do preço para outorga não vai significar tarifas maiores para os usuários, o que só o futuro dirá. Além disso, o Tribunal pressupõe que, com os lances iniciais mais elevados, a Infraero terá mais recursos para investir em aeroportos sob sua administração. Mas o órgão considerou – muito acertadamente, aliás – que a participação de até 49% da Infraero nas concessionárias que administrarão os três aeroportos é um risco para a concessão e reco-

O

ciso tentar convencer os ministros? Por fim, noticio-lhe, não obstante jornais já o hajam noticiado, que, poucas semanas antes, havia recebido, como é de meu dever institucional, parlamentares do PSDB, em caso idêntico, de interesse do sr. João Capiberibe! Por que não cogitou V. Sa. ter havido aí outro pretenso “acordo”? Todos os presidentes e ministros recebem advogados e parlamentares a respeito de causas pendentes, em prática tradicional e equânime, que, embora não me agrade, como já assentei em entrevista à revista Veja, não consigo mudar. Mas daí a supor que cedam a pressões ou cometam crime de prevaricação, vai uma distância que só dolo e má-fé conseguem transpor. Na expectativa, pois, de que, como jornalista atento ao dever de ser fiel à verdade, desfaça a tempo os equívocos propalados, subscrevo-me, atenciosamente. CEZAR PELUSO, presidente do STF Brasília

em 0,9% neste ano; com uma pequena melhora, a expansão em 2012 poderá chegar a 1,5%. Seria um crescimento insuficiente para mudar a tendência da balança comercial da área de manufaturados, que, neste ano, deve registrar déficit de US$ 100 bilhões, de acordo com a Fiesp. Embora não tão pessimistas quanto os da indústria, outros cálculos para o PIB de 2011 e outras projeções para 2012 também contrastam com os do governo. Na semana passada, diante da evidência dos dados mais recentes, o ministro Guido Man-

Os prognósticos do mercado para 2012 se afastam cada vez mais dos do governo tega admitiu que, em 2011, o PIB não crescerá 3,8% como vinha sendo previsto pelo governo (a previsão foi mantida no boletim do Ministério da Fazenda Economia Brasileira em Perspectiva, que manteve também a estimativa de aumento de 5% em 2012). Mesmo a nova previsão do ministro, de que o PIB crescerá 3,2% em 2011, porém, é mais otimista do que a mais otimista estimativa do empresariado. Na terça-feira (13/12), o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Vasconcelos, fez uma previsão um pouco mais modesta do que a do ministro, de crescimento “em torno de 3%” neste ano. Mas nem esse número deverá ser alcançado.

O colunista João Bosco Rabello responde: O artigo não ofende o presidente do STF, ministro Cezar Peluso. Limita-se a analisar versão corrente nos meios políticos, inclusive no governo, envolvendo a questão do aumento salarial do Poder Judiciário. O foco da abordagem está no chamado voto de minerva – o que desempata um julgamento e, portanto, não pode ser condicionado a um consenso do plenário. Se na votação do mérito da Lei da Ficha Limpa o ministro Peluso declinou da prerrogativa intransferível, coerente seria repetir a decisão pessoal de não usála em caso correlato. A frase do senador Jader Barbalho após a vitória no tribunal não deixa dúvida quanto à visão do episódio, ao menos no âmbito do PMDB. “Quando vi que o jogo não era jurídico, mas político, acionei o partido”, disse o senador, no jantar em que comemorou com o partido a decisão do STF. O que se pode extrair do texto é a crítica à decisão do STF, jamais o endosso à interpretação, apenas noticiada.

Instituições financeiras do exterior têm observado que, embora disponham de forte poder de reação, os países emergentes não estavam nem estão imunes aos problemas da Europa. A desaceleração foi observada nos principais países emergentes. Os efeitos da crise externa ainda não foram superados nesses países, entre os quais o Brasil. Isso torna mais remota a possibilidade de o PIB crescer 3% em 2011, pois, para isso, no último trimestre, o crescimento deve ser de pelo menos 0,8% em relação ao trimestre anterior, expansão que dificilmente será alcançada. A agência Fitch reduziu sua previsão do crescimento neste ano para 2,8%, a mesma projeção feita pela indústria e por economistas de diversos bancos. A desaceleração dos últimos meses deverá afetar o desempenho da economia brasileira no início de 2012. Quanto a novos estímulos à atividade econômica, a alta do salário mínimo, a maior dos últimos seis anos, começará a produzir efeito no início do próximo ano. Mas medidas recentes adotadas pelo governo para estimular o consumo produzirão efeitos mais notáveis só no fim do primeiro semestre. Na segunda metade do ano, se a crise mundial não se agravar, o ritmo de crescimento poderá se acelerar. Por isso, as previsões mais frequentes para o PIB brasileiro em 2012 convergem para 3,5%, mais do que a previsão da CNI e da Fiesp, mas bem menos do que os 4% ou 5% que permanecem nas projeções otimistas do governo.

“Gracias, Barcelona, pela aula de futebol!” CARLOS ROBERTO DA SILVA CALDERON / SÃO PAULO, SOBRE A VITÓRIA CONTRA O SANTOS NA FINAL DO MUNDIAL, POR 4 X 0 crscalderon@hotmail.com

“A simplicidade e a eficiência venceram o ‘topete’ e os ‘acessórios’. Que sirva de exemplo. Parabéns ao Barcelona” ALESSANDRO LUCCHESI / CASA BRANCA, IDEM timtim.lucchesi@hotmail.com

A

mendou que a Anac retirasse essa obrigatoriedade dos editais. Mas isso não foi feito. O pior foi ter o governo, por meio da Secretaria-Geral da Presidência da República e da Secretaria da Aviação Civil, negociado com o Sindicato Nacional de Aeroportuários (Sina) um verdadeiro trem da alegria para os funcionários da Infraero que migrarem para as concessionárias. A demonstração de fraqueza do governo diante de interesses corporativos diz muito mal de sua capacidade de gestão. Pelo acordo entre o governo e o Sina, será estruturado um

No edital dos leilões dos aeroportos só ficam claras as vantagens para a Infraero e o Sina Programa de Demissão Voluntária (PDV) que simulará a dispensa desses funcionários, dando o direito a cada um de 1,2 salário por ano de serviço até o limite de R$ 180 mil. Programas como este foram adotados em desestatizações para valer, mas, no caso dos integrantes do quadro da Infraero, eles terão, no “novo emprego”, direito à estabilidade até 2018. E os aposentados da estatal nos últimos cinco anos também serão premiados por esse estrambótico PDV, com dois salários por ano de trabalho. Quer dizer, o Sina trata a Infraero como se fosse de propriedade de seus funcionários e ainda ameaça impedir os leilões. O governo fez concessões absurdas depois de cinco me-

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Novas regras para planos de saúde

204

ANS vai determinar prazos máximos para operadoras marcarem consultas, exames e cirurgias. Medida entra hoje em vigor. ● “Por que a ANS não estipula esses prazos também para o SUS, onde uma simples consulta pode demorar semanas?” EDSON JOSÉ

● “Mais uma lei brasileira que vai ficar só no papel, como o tempo no atendimento bancário.” LUÍS FERNANDO ALMEIDA

HÁ 871 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “É inadmissível pagar valores tão altos para se 'comprar' saúde e ainda assim o atendimento deixar a desejar.” SHIMADA COELHO

ses de negociações com o sindicato, mas não obteve nem uma promessa sequer em troca. “Não aceitamos a concessão de jeito nenhum”, disse o presidente do Sina, Francisco Lemos, como noticiou o jornal Valor (8/12). “Agora, vamos partir para ações políticas e jurídicas (...). A gente vai para a Justiça e quer que esse debate vá para o Congresso Nacional, mas a gente tem que ter a responsabilidade de garantir o mínimo dentro do pior cenário.” O pior cenário, para Lemos, é uma maravilha para a Infraero, quepermanecerácomo poderosa sócia, podendo dar voz de comandonasfuturas concessionárias. Do jeito que as coisas caminham, essa “privatização” pode comprometer a eficiência dos serviços aeroportuários e “dar errado”, como vaticinou Tony Tyler, presidente da Associação InternacionaldeTransporteAéreo(Iata, na siglaeminglês).TylerobservouqueincluiraInfraero como sócia das empresas que administrarão os maiores aeroportos brasileiros é o mesmo que“colocarumaraposatomando conta das galinhas”. Estas são questões cruciais queprecisariam ter sidoresolvidaspreviamenteparaafastarriscosaoprocessode outorgae,sobretudo,àeficiênciadanovagestão dos três aeroportos. A concessãofoideterminada pelapresidente Dilma Rousseff como forma de apressar os investimentos no setor, que o governo não tem condições de realizar. Mas a experiência demonstra que privatização pela metade é como uma porta meio aberta e meio trancada. Não funciona.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 20 DE DEZEMBRO DE 2011

Fundado em 1875

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940

Surfando na onda do relatório ✽ ●

LUIZ EDUARDO ROCHA PAIVA

A

s vulnerabilidades da defesa nacional apontadasemrelatório do Ministério da Defesa, recém-divulgadas pelo Estadão, merecem uma análise, ainda que sucinta, do cenário político-militar mundial e seus reflexos para o Brasil. Osconflitosnãotêmmaislimites geográficos, distinguindo-se apenasemamplitudeeintensidade. Do Oriente Médio e da Ásia Central se expandem para o entorno chinês, a África e espaços oceânicos adjacentes e chegarão àAmérica doSul.Oprogressodiminuiu as distâncias e facilitou a projeçãodaspotênciasparaacessar e manter a presença em regiõesderecursos vitais.Para isso exercem pressões político-econômicaseempregampodermilitar de forma indireta (cooperação e dissuasão) ou direta (dissuasão, coação e ato de força), a fim de se imporem a oponentes maisfracoselimitaremainfluência de potências rivais. Existe um eixo de poder, que conduz os destinos do mundo, onde estão China, Rússia, EUA, União Europeia (UE) e Japão. Por estarem em constantes disputas, mantêm poder militar capazdeapoiar o Estado na satisfação de interesses em âmbito global. A queda da URSS permitiu a expansão norte-americana e da UE no Leste Europeu e na Ásia Central, e a dos EUA no Oriente Médio.PorémaascensãodaChina,arecuperaçãodaRússia,decisões estratégicas equivocadas no Oriente Médio e na Ásia Central e a crise econômica limitaram a liberdade de ação mundial dos EUA e da UE. A Rússia tenta reverter o processo de encolhimento sofrido naEuropaOrientalenaÁsiaCentral. Na vazia Sibéria, a ameaça vem de 100 milhões de chineses na fronteira e do expansionismo econômicoamarelo.Aaproximação com os EUA e aliados poderá ser necessária para preservar aquelaregião,cujaexploraçãoserá mais viável e rendosa com o aquecimento global. Trata-se de uma aliança decisiva para os EUA fecharem o cerco estratégico à China com a presença da aliança ocidental na Ásia Central e a dos aliados Coreia do Sul, Japão, Taiwan, Austrália, Filipinas e Índia, no Pacífico e no Índico. Daí o esforço chinês para ampliar e projetar seu poder naval no Oriente Médio enos Oceanos Índico e Pacífico, incluindo o Mar da China, rotas vitais para suasriquezaseimportações,particularmentedopetróleodaÁfrica e do Oriente Médio. Na Ásia Central a China leva

vantagem por afinidades históricas, pela projeção cooperativa, e não impositiva, como é a dos EUA, e por não estar envolvida emconflitoarmado.Aaliançaocidental está num atoleiro no Afeganistão e no Paquistão, tendo poucas chances de vitória total. Terá de limitar seus objetivos, contentando-se em dividir a presença e a influência com potências rivais e apenas reduzir o poder do Taleban naqueles países. A Ásia Central e o Oriente Médiosãoáreasdecertaformainterdependenteseondeestãoosconflitos de mais difícil solução. No Oriente Médio os EUA, que chegaramateraArábiaSaudita,oIraqueeoIrãcomoaliados,estavam reduzidos nos anos 1990 à Arábia Saudita,entãoameaçadaporSaddamHusseinepelofundamentalismo islâmico. Um sucesso no Iraqueem2003reverteriaasitua-

Desde os anos 90 os governos brasileiros tornaram o País um indigente militar ção, mas ele não veio como almejado. O novo Iraque não é inimigo, mas a retirada militar dos EUA ensejará a possibilidade de ascensãodoIrãcomopotênciaregional dominante, o que contraria um objetivo fundamental da política externa norte-americana em todos os continentes. Por outro lado, a transferência do esforço de guerra para o Afeganistão não evoluiu como desejado, pois a vitória parece impossível e já foi decidida a retirada militar. Emboraa maiorameaçaaos interesses dos EUA ainda seja o Irã, o futuro do mundo árabe ficou maisdifícildedeterminarcomos movimentos contra regimes até há pouco tempo estáveis. Quaisosreflexospolítico-militares para o Brasil se os EUA e aliados perderem espaços nessas áreas para seus rivais regionais e globais? Entre as prioridades de nossa diplomacia e de nossa defesa estão o Atlântico Sul e a África, onde a influência crescente da China levou os EUA a criarem o Comando da África e a reativarem a 4.ª Frota. A propósito, um documentooficial dosEUA sobre mobilidade estratégica destaca a importância de uma base no saliente nordestino brasileiro. Os conflitos chegaram ao nosso entorno.Oinsucessoouêxitolimitado dos EUA e aliados em áreas distantesresultarãoempressõespara impor condições que asseguremoacessoprivilegiadoàsriquezasdaAméricadoSuledoAtlântico Sul. A região é a maior reserva mundial de recursos naturais, tem um mercado promissor, a China investe forte na área e alguns vizinhos atraem a Rússia, a China e o Irã no campo militar. Os EUA reagirão à penetração de

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)

Segurança nas fronteiras rivais em sua área de influência e tudoissoafetaaliderançadoBrasil no processo de integração regionalenadefesadeseupatrimônio e de sua soberania. A Unasul não garantirá os nossos interesses, portanto, temos de ser uma potência autônoma. Nãosãoosvizinhosarazãopara reforçar o poder militar do País,esimsuaascensãocomopotência econômica global, a participação destacada no comércio mundialeacobiçapor nossosrecursos e posição geoestratégica. Tudo isso tirou o Brasil da posição periférica e o colocou em rotas de cooperação e conflito com o eixo do poder em áreas regionaiseextrarregionais,nadisputa por recursos, interesses e direitos, pois ao eixo não interessam novos sócios. Como na China, no século 21, em vez de entrarem emconflitosdesgastantes,aspotênciasrivaispoderãounir-separa pressionar e ameaçar o País. Otempoestratégiconãosemedeporanos,maspordécadas.Decisões tomadas hoje têm consequências no futuro e, quando erradas, trazem perdas desastrosas, pois a correção só produz resultados em médio ou longo prazo. Os governos brasileiros, desde os anos 90, trocaram a opção de Brasil potência pela de global trader, confundiram nação com mercado, aceitaram limitações ao desenvolvimento científicotecnológico militar, negociaram asoberania naAmazôniaetornaram o País um indigente militar. ✽ GENERAL DA RESERVA

✽ ●

MICHEL TEMER, JOSÉ EDUARDO CARDOZO, CELSO AMORIM E MOREIRA FRANCO

A

faixa de fronteira brasileira tem 2,4 milhões de quilômetros quadrados, área pouco inferior à do segundomaiorpaísdaAméricado Sul – a Argentina, que tem 2,7 milhõesdekm2.Apaisagemdessa região compreende a FlorestaAmazônica,oPantanalMatoGrossense e chega até os Pampas gaúchos. População superiora10milhõesde pessoasvive nesse território. É cenário complexo,ondehácomunidadesisoladas pela densa floresta do Amazonas, mas também existem divisas secas com intenso fluxodemilharesdepessoasentre cidades onde mal se percebe quando acaba o Brasil e começam outras nações. Era, até este ano, território propício para ações criminosas. O Plano Estratégico de Fronteirasmudouoestadode semiabandono em que se encontravam os limites territoriais brasileiros. Lançado há seis meses com atividades conjuntas das forças de segurança brasileiras e suporte institucional de outras pastas, é um programa governamental de sucesso que integra o governo federal (centrado nos Ministérios da Defesa e da Justiça), Estados e municípios.

SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS

Kim Jong-il

Númerosdãopesoàafirmação de que houve mudança acentuada nesse curto período: foram apreendidas mais de 115 toneladas de drogas, 65 mil garrafas de bebidas, 650 quilos de explosivos,2 mil veículos, 4,2 milhõesde pacotes de cigarros, 75 mil munições,534armasdefogo.Alémdisso,asoperaçõesresultaramnainterdição de garimpos e madeireiras ilegais e na destruição de pistas de pouso clandestinas, muitas vezes usadas por traficantes ou contrabandistas. Em menos de seis meses, note-se. Pela primeira vez houve efetivamente integração orgânica entre todas as forças de segurança do País em suas diferentes esferas de atuação, com a presença ostensiva do Estado, aliada a ações de inteligência nocombate aos crimes. Foram mobilizados para essas ações quase 20 mil ho-

Agora o Brasil fincará definitivamente a Bandeira Nacional nos limites mais distantes mens, com suporte de inteligência e avaliação dos melhores quadros policiais do País da Polícia Federal e do Gabinete de Segurança Institucional. As três fases da Operação Ágata, estratégica e ostensiva,contribuíramdecisivamente para acentuar a presença do Estado, ao levar, além da repressão, a presença social do governo brasileiro. Populações de regiões isoladas tiveram atendimento médico e odontológico, onde profissionais desse setor são luxo inacessível à imensa maioria dos habitantes. A Operação Ágata é realizada pelas Forças Armadas, mobilizadas em terra, no ar e nos rios. Complementada pela Operação Sentinela,doMinistériodaJustiça, por meio da Polícia Federal, quesufocaosilícitoseseuspraticantes, essas duas ações obtêm grandes resultados e demonstramaimportânciada coordenação e do planejamento no âmbito nacional. Outros organismos federais entram em cena para inibir crimes pontuais. O Ibama e o Instituto Chico Mendes atuam no combate ao desmatamento ilegal e ao contrabandode madeira. A Receita Federal acentua ações contra o descaminho e o contrabando de produtos estrangeiros. A Agência Nacional de Aviação Civil fiscaliza aeronaves e pistas de pouso. A Secretaria de Assuntos Estratégicos formulou plano para minorar os problemas das populações que vivem nessas áreas, muitas vezes inóspitas. A integração do governo federal com os Estados permitiu melhor articular com os governadoresaproteçãodasfronteiras.Polícias militares e civis se integraram às operações das Forças Ar-

madas,daPolíciaFederaledaPolícia Rodoviária Federal. Alguns governadores até pediram a continuidadedasoperaçõesnopróximo ano e sua ampliação. Serão atendidos. Também avançamos na cooperação internacional, com pactos de colaboração com paísesfronteiriços. Nesse campo houve grande avanço, com colaboração de inteligência e, em alguns casos, operacional, como destruição de plantações de drogas no Paraguai, por exemplo. Todos os países vizinhos foram avisados previamente das operações,percebendoqueoobjetivo do Plano Estratégico de Fronteiras brasileiro é aumentar a cooperação entre as nações no combate à criminalidade. Vários acordosforamassinadoscomgovernos que fazem fronteira com oBrasileobservadoresestrangeiros puderam acompanhar parte das operações conduzidas pelas Forças Armadas. A área de atuação do plano envolve 11 Estados brasileiros que aderiramaoprogramadeinvestimentos em projetos estruturantes de fronteira. As operações contam com dados produzidos pelosórgãosdoSistemaBrasileiro de Inteligência. Os Ministérios da Defesa, das ComunicaçõesedaCiência,Tecnologia e Inovação estão empenhados na obtenção de um sistemadesatélitepróprio.Essesistema vai auxiliar o funcionamento do SisFron, importante projeto desenvolvido pelo Exército para monitorar e propiciar um melhorcontroledasfronteiras.Estamosmudandoarealidadedenossas divisas com a sintonia perfeitaentreaUnião,osEstadosfederados e a tecnologia. Exemplo disso é que há poucas semanas a Polícia Federal pôs em operação o primeiro veículo aéreo não tripulado(Vant).Noscincoprimeiros dias de uso, somente um Vant rastreou mil quilômetros de fronteira, principalmente em buscadeinformaçõessobreotráfico de drogas. Dois veículos semelhantes também estão sendo usadospelasForçasArmadasem operações estratégicas. A realidade de nossas fronteiras mudou. O Estado brasileiro está cada vez mais próximo de seus cidadãos. E esse é um caminho sem volta, como bem acentuou a presidente Dilma Rousseff no lançamento do Plano Estratégico de Fronteiras, em junho. O Brasil, que nasceu no litoral de Porto Seguro, ocupou o centro do País após a construção deBrasília.Agorafincarádefinitivamente a Bandeira Nacional noslimitesmaisdistantesdenossas fronteiras. ✽ VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA, MINISTRO DA JUSTIÇA, MINISTRO DA DEFESA E MINISTRO DA SECRETARIA DE ASSUNTOS ESTRATÉGICOS

Fórum dos Leitores STF O voto de minerva

Li ontem a contestação do ministro Cezar Peluso a João Bosco Rabello por causa do artigo Voto de minerva polêmico (18/12, A16) e entendi por que o Judiciário é lento: usou todo espaço do Fórum num confuso arrazoado, lembrando-me outro ministro que num processo levou seis horas – repito: seis horas! – para “embasar” seu voto. Se fossem direto ao ponto, os votos nos julgamentos seriam bem mais rápidos e menos confusos. Que tal sim ou não? MÁRIO A. DENTE dente28@gmail.com São Paulo

Inconvincente

O Fórum dos Leitores cada vez mais está se transformando no espaço gratuito que figuras públicas

utilizam para responder ou tentar explicar assuntos que as incomodam. Ontem nós, leitores missivistas, fomos alijados do espaço que o jornal nos reserva porque o ministro Peluso não gostou da interpretação do jornalista João Bosco Rabello sobre o voto decisório que deu e liberou a volta de Jarder Barbalho ao Senado. Li com atenção tanto o texto do ministro como a resposta do jornalista e continuo vendo mais lógica e veracidade nas breves palavras usadas pelo profissional da imprensa para explicar seu artigo. Lembro ao ministro que políticos e homens públicos, além de probos, têm de parecer honestos. Pois muitos de nós, leitores leigos, não podemos ficar tentando entender nas entrelinhas das justificativas regimentais os argumentos que validam as decisões da Suprema Corte deste país. Mormente quando tais argumentos nem com essas explicações adicionais se tornaram convincentes.

MARA MONTEZUMA ASSAF montezuma.scriba@gmail.com São Paulo

Peluso x João Bosco

As palavras do ministro Peluso em contestação ao artigo Voto de minerva polêmico fizeram-me lembrar o personagem Conselheiro Acácio em O Primo Basílio, de Eça de Queiroz, que usava linguagem empolada, dotada de formalismo oficial, para expressar seus chavões de conteúdo vazio. Ministro Peluso, as decisões do STF só confirmaram o que toda a população brasileira já sabe: o Brasil é o país da impunidade. No exterior nosso país tem mais fama por acolher toda espécie de bandidos, assassinos, ditadores, como Ronald Biggs e, recentemente, o “famoso caso” do italiano Battisti, condenado em seu país de origem e hoje cidadão “brasileiro”. Não é diferente com os “suspeitos de cor-

rupção” que o STF abrigou no Senado. O fato é que o STF demonstra claramente estar equivocado, seja na figura de um ministro do Supremo, seja na figura de um colegiado em “decisão de plenário”. A carta do ministro também me faz recordar o longo período de censura imposto ao Estado em ação movida pelo clã Sarney e, ao que me parece, o trecho final serve como um ultimato ao jornalista: ou retira as palavras em tempo ou será processado. PAULO CÉSAR PIERONI pcpieroni@hotmail.com Campinas

Viés político-partidário

A meu ver, o mais nefasto dos Poderes da nossa República é o Judiciário, pois, com a prerrogativa de policiar o Executivo e o Legislativo, se mancomuna com estes, tratando assuntos jurídicos com viés político-partidário. Tome-se

como exemplo a última do “grande” brasileiro Ricardo Lewandowski, cuja intenção de postergar o julgamento do mensalão vai fazer o crime prescrever, deixando de punir a quadrilha que assaltou o País. Na rotina de surpreender a Nação com suas decisões, vem agora o digníssimo presidente do STF, Cezar Peluso, se indignar com o artigo Voto de minerva polêmico, do sr. João Bosco Rabello, como se o texto não expressasse com clareza a forma como são tomadas as decisões na Casa. Se fossem corretas e considerassem o anseio da população, teríamos o assassino Battisti extraditado para a Itália, a Lei da Ficha Limpa atuante e a quadrilha do mensalão atrás das grades. Fosse eu parente de algum ministro desse tribunal, esconderia o fato de todos, para não ter o meu nome e a minha reputação manchados. RUBENS PAULO STAMATO JÚNIOR rubensstamatojr@terra.com.br Bebedouro

Justiça?!

Curioso que o sr. Cezar Peluso se sinta tão incomodado com um artigo e um editorial do Estadão. Vale destacar que o jornal publicou as duas cartas em sequência, no Fórum de ontem. Se o exmo. sr. ministro não quer ser questionado, poderia exercer seu nobre cargo de maneira mais equilibrada, conforme apontado nas respostas tanto do editorialista quanto do jornalista reprimido. Diferentemente de outros colegas que foram criticados e não reagiram, aliás, como a maioria dos par(a)lamentares do nosso Brasil varonil, o sr. Peluso sentiu-se ofendido. Ministro, seu sentimento é o mesmo que nós, brasileiros, temos quando recebemos notícias como a absolvição de Jader Barbalho, a soltura de Paulo Maluf da prisão, anos atrás, a não extradição do criminoso italiano, a protelação da decisão sobre a Lei


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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 20 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

O comércio e a lei da selva Mais que um fiasco, a conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), no último fim de semana, foi um novo e estridente sinal de alerta. A atividade comercial foi o principal motor do crescimento econômico nas últimas quatro décadas e a expansão das trocas dependeu em grande parte da liberalização dos mercados. Mas a fase da abertura comercial e dos grandes acordos está encerrada e o vírus do protecionismo tende a se espalhar por todo o globo. As condições de concorrência se tornarão menos civilizadas e o atual sistema de regras será submetido a severos testes de resistência, se o salve-se quem puder superar todas as outras considerações. Dez anos depois de lançada a mais ampla negociação comercial de

todos os tempos, a Rodada Doha, ninguém mais tenta disfarçar o fracasso dessa iniciativa. Foi a primeira concebida para ser uma Rodada do Desenvolvimento – seu outro nome – e deu em nada. A grande negociação já estava emperrada em 2007, antes do agravamento da crise, mas ainda houve esforços para levá-la à conclusão. As dificuldades aumentaram nos anos seguintes, quando a recessão travou o comércio e os governos ficaram menos propensos a novas concessões. Além disso, a maior economia do mundo, a americana, passou a ser governada por um partido fortemente vinculado a interesses protecionistas. Alguns esforços ainda foram feitos para salvar compromissos alcançados na fase mais otimista da rodada, mas sem resultado. O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, passou da coordenação das negociações a uma tarefa de pregação,

alertando o mundo para as consequências de uma fragmentação do sistema global de comércio. A primeira ameaça ocorreu quando os governos, diante dos impasses da Rodada Doha, começaram a dar prioridade a acordos bilaterais e regionais, transformando as normas de comércio numa colcha de retalhos. O pior veio depois, quando a crise e o desemprego tornaram muito mais tentador o recurso às barreiras comerciais e aos incentivos causadores de distorções no funcionamento dos mercados. A pregação de Lamy tem sido um esforço para mostrar o enorme perigo das políticas de restrição comercial adotadas nos últimos anos. Os sinais de isolacionismo lembram o cenário da década de 1930, alertou o diretor-geral da OMC. O seu discurso, assim como o da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, vem

ganhando tons mais dramáticos enquanto se agrava a crise no mundo rico e aumenta o risco de uma recessão mais funda e mais duradoura que a de 2008-2009. Economistas têm usado com menos parcimônia a palavra “depressão”, reservada para a descrição de crises como a dos anos 30. Uma das marcas desse período foi a competição sem regras, com muito protecionismo e muito recurso a desvalorizações cambiais. Com cerca de 14 milhões de desempregados nos Estados Unidos e 23 milhões na União Europeia, a tentação de entrar na espiral das políticas de restrição ao comércio é muito forte. A perspectiva de uma crise prolongada realimenta essa tendência, perigosa para todos. Incentivos à exportação e barreiras à importação, legais ou ilegais, com ou sem disfarce, multiplicamse em todas as partes do mundo. A instabilidade cambial dificulta o pla-

nejamento das empresas. Países com câmbio subvalorizado, como a China, tendem a preservar essa vantagem competitiva, apesar das promessas de correção dos desvios. Nesse ambiente, os conflitos tendem a multiplicar-se, impondo uma sobrecarga ao mecanismo de solução de controvérsias da OMC. Mas a violação consciente e quase sem disfarce das normas de comércio, como já se vê em vários países, põe em xeque o próprio sistema e tende a minar sua relevância. Mais grave que o abandono definitivo da Rodada Doha e a tendência ao protecionismo será a desmoralização aberta do regime de regras comerciais. Talvez seja excesso de pessimismo imaginar uma OMC irrelevante. Mas a preocupação não é descabida. No limite, o salve-se quem puder desemboca na lei da selva. Neste momento, é essa a tendência predominante.

Emendas, balcão de negócios

De Jong-il para Jong-un

menda parlamentar é hoje quase sinônimo de picaretagem. Isso porque a transformação do jogo político numa mera barganha de favores entre os Poderes Executivo e Legislativo solapou os fundamentos éticos e desmoralizou as mais importantes instituições republicanas, a começar pelo Congresso. De setembro a novembro, quando se torna premente a necessidade de fazer o Congresso aprovar projetos de seu interesse, o Palácio do Planalto multiplicou por 16 o valor dos empenhos para o pagamento de emendas parlamentares ao orçamento de 2011. De R$ 40,5 milhões em setembro, esses empenhos saltaram para R$ 653,4 milhões em novembro. Empenhar a verba é uma coisa, liberar o pagamento, outra. Os próprios parlamentares sabem e se queixam muito disso. Mas esses números são suficientes para demonstrar que a relação do poder central com sua base de apoio no Legislativo se dá sobre um prosaico balcão de negócios. Na teoria, emenda parlamentar é um instrumento de que as Casas legislativas dispõem para participar ativamente da elaboração do orçamento anual do governo. Com ela, os parlamentares procuram aperfeiçoar a proposta encaminhada pelo Poder Executivo, aprimorando a alocação dos recursos públicos, principalmente para atender a demandas regionais ou de grupos sociais específicos. Isso, na teoria. Na prática, no entanto, a

uando Kim Ilsung nasceu, uma estrela brilhante surgiu no céu e um duplo arco-íris abraçou a Terra. Quando morreu, um golpe militar impediria que o herdeiro que ele escolhera, Kim Jong-il, lhe sucedesse. A primeira afirmação foi repetida incontáveis vezes pela agência oficial de notícias da Coreia do Norte, como parte da divinização do “eterno líder” comunista que fundou o país, em 1948. A segunda foi uma estimativa, enunciada como certeza absoluta pelas agências ocidentais de inteligência, a começar da CIA. Uma e outra valem tanto quanto a advertência de que um perigoso vácuo de poder se instalará no paupérrimo país dotado de armas atômicas, agora que o “querido líder” e “líder sem par” Kim Jong-il se foi – embora o seu filho, Kim Jongun, tenha sido alçado ao seu lugar, como queria o pai. E o alerta, enfim, vale tanto quanto a expectativa de que o terceiro Kim, o único da dinastia a ter vivido no Ocidente, abra ao mundo o mais recluso e paranoico dos regimes, promova a distensão com a vizinha Coreia do Sul e, de quebra, aceite negociar a cessação do seu programa nuclear em troca da ajuda de que necessita desesperadamente em todos os campos. “Para ser honesto”, escreveu no Guardian de Londres o colunista Simon Tisdall, “ninguémsabe aocerto o que poderá acontecer na Coreia do Norte em seguida à morte súbita de Kim Jong-il.” (Embora doente

E

da Ficha Limpa, a prescrição do mensalão, aquele que “não” houve, etc., etc. Ministro, seja imparcial e ajude a dar um pouco mais de esperança ao povo. Exerça seus votos de uma perspectiva legal, jurídica, fundamentada, porém coerente com as questões envolvidas e, ao mesmo tempo, ao encontro dos anseios dos habitantes da Terra Brasilis. Se fizer isso, tenha certeza que o senhor entrará para a História do País! RENATO CAMARGO natuscamargo@yahoo.com.br São Paulo

Conselho

Prezado ministro Peluso, um conselho de cidadã pagante: quanto mais V. Exa. se explica, mais a nossa compreensão se obscurece. No uso de duas medidas para o mesmo caso não há clarividência. LEILA E. LEITÃO São Paulo

crescente dissolução dos costumes políticos acabou levando a maioria dos representantes do povo a ver nas emendas parlamentares uma eficiente ferramenta para a conquista de dois benefícios nada republicanos: aumentar seu poder de barganha com o Executivo e fazer maracutaias com os beneficiários das emendas – no mais das vezes, prefeituras ou ONGs. Essa é uma prática generalizada, como demonstra o noticiário cotidiano. A poucos dias do encerramento da atual sessão legislativa, para garantir a aprovação de projetos de interesse do go-

Verbas de emendas são liberadas conforme o deputado seja mais ou menos dócil ao governo verno, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, intensificou seu contato com senadores e deputados, usando como moeda de troca a garantia de empenho e posterior liberação de recursos para emendas ao orçamento. Chegou a mudar provisoriamente seu gabinete para o Senado, de modo a acompanhar de perto a tramitação, por exemplo, do projeto que regulamenta a Emenda Constitucional 29, definindo porcentuais mínimos de investimento em saúde pela União, Estados e municípios, e do projeto que prorroga a Desvinculação de Receitas da União (DRU). O jornal O Globo publicou minucioso levantamento, feito com base em dados fornecidos

BOAS-FESTAS O Estado agradece e retribui os votos de feliz Natal e próspero ano-novo de Angelo Tonelli, Ataliba Churrascarias (Florianópolis), Dionatan Zibetti – Zanotti S.A. (Jaraguá do Sul), Equipe AC Galeria de Arte, Equipe GWA Comunicação Integrada Ltda., Flavia Ghiurghi – G. Friso Consultoria Jurídica, Granadeiro Guimarães Advogados, José Leonardo Ferraz Monaco, Julio César Caldas Alvim de Oliveira, Luiz Nusbaum, Marcos Bernardelli, Marli Gonçalves, Natal Sapia, Raio Z, Revista Circuito, Ricardo Melhem Abdo, Roberto Twiaschor, Rodney Rissi Comércio e Serviços em Ar-Condicionado Ltda., Romeu Chap Chap, Ronald Wagner Colombini Martins, Rosane Franco, Ruy Martins Altenfelder Silva, Samuel de Oliveira Bernardi, Sebrae e Sindicato dos Bancários de Brasília, Toninho Paiva e Virgílio Melhado Passoni.

pelo Sistema Integrado de Administração Financeira do GovernoFederal,querevelaosubstancial aumento de R$ 40,4 milhões em setembro para R$ 273,7 milhões em outubro e R$ 653,4 milhões em novembro dos empenhos de verba para o pagamento de despesas decorrentes de emendas parlamentares. Em conversa com os jornalistas alguns dias antes, após despacho com a presidente Dilma Rousseff, Ideli Salvatti, ao comentaratramitaçãodoprojeto de prorrogação da DRU, estabeleceuclaramentearelaçãoentre essa votação e a liberação de emendas parlamentares,garantindo que até o último dia do anoosrecursosparaopagamentodessasemendasestariam empenhados no Tesouro. Esse toma lá dá cá, na medida emquetem sido exacerbadopelo modelo lulopetista de governar,revelaafragilidadedas relações institucionais entre os poderes Executivo e Legislativo. Os parlamentares, com as exceções de praxe, já não votam as matérias constantes da ordem dodiaporque sãorelevantespara o País, por convicção pessoal ou em obediência a um programa partidário, mas por viciada barganha de favores. O governo Dilma, por sua vez, preso a uma coalizão que o torna refém de aliados que estão mais interessados em tirar vantagem da situação do que em programas e metas, passa a enfrentar dificuldades crescentes em questões fundamentais como o compromisso de austeridade fiscal que assumiu. Afinal, a conta da “governabilidade” está ficando cada vez mais alta.

“O voto de confiança do ministro Cezar Peluso deixou o povo desconfiado” ROBERTO TWIASCHOR / SÃO PAULO, SOBRE DECISÃO ACERCA DA POSSE DE JADER BARBALHO rtwiaschor@uol.com.br

“O ministro Cezar Peluso foi muito eclético, porém sensivelmente contraditório. Voto de minerva não é de colegiado” FRANCISCO ZARDETTO / SÃO PAULO, SOBRE A RESPOSTA A JOÃO BOSCO RABELLO (19/12) fzardetto@uol.com.br

Q

há três anos, ele parece ter morrido do coração, numa viagem de trem.) A incerteza se aplica até à China, o único arrimo da surreal monarquia marxista de Pyongyang – que, ainda assim, às vezes não lhe antecipa as suas intenções. A única assertiva que talvez se possa fazer sobre o futuro do país é que muito vai depender da capacidade de Jong-un de provar que os sapatos do pai lhe servem – com ou sem os saltos embutidos que usava para parecer menos baixote. Os seus examinadores serão os inescrutáveis generais da Comissão MilitarCentraldoPartidoComunis-

Não há por que esperar que a supremacia política dos militares seja abalada na Coreia taeos membros da Comissãode Defesa Nacional, que dirige o programanuclear.Asuafidelidade ao regime não o desobriga de tê-los como consultores de última instância. O absolutismo norte-coreano se sustenta no pacto de poder entre o equivalente ao imperador, a cúpula do Exército de 1,1 milhão de soldados (o quarto maior do mundo e muitobem aquinhoado,em proporção aos recursos nacionais), a comissão de defesa e os demais hierarcas do partido. Foi dentro dessa teia que se cumpriu a liturgia prescrita pelo fundador da dinastia. Kim Ilsung anunciou Jong-il como seu herdeiro político na abertura do congresso comunista de 1980. Jong-il repetiu o procedimento com o filho caçula Jong-un, em

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Morre Kim Jong-il, ditador da Coreia do Norte

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Segundo a TV estatal, Kim morreu aos 69 anos por ‘excesso de trabalho’; filho caçula é o sucessor ● “Como todo ditador, especialmente socialista ou comunista, comia bem enquanto o povo passava fome.” CLAYTON BREVILIERI

● “Tal pai, tal filho. Como pôde entregar um país na mão de um moleque?” VERA LUCIA SOUZA

HÁ 872 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Devemos respeitar cada regime se desejamos a paz. O povo chorava. Não somos a verdade do mundo.” ANTONIO CARLOS GOMES

novembro do ano passado, no primeiro evento do gênero em três décadas. (O sucessor natural seria o primogênito Kim Jong-man, não fosse o fato de o pai e a mãe não terem se casado.) Jong-un, um civil de menos de 30 anos – a idade exata é desconhecida–, queestudounaSuíça, recebeu então a patente de general de quatro estrelas e foi nomeado para o comitê central do partido e a vice-presidência da comissão militar. Sua madrinha foi a tia e tutora Kim Kyonghui, a confidente de Jong-il educada na antiga União Soviética, que controla a indústria leve do país e cujo marido é vice-presidente da comissão de defesa. Uma família real aparentemente coesa, portanto. Com o pouco que a ditadura dá a conhecer de si, não há por que esperar que Jong-un tenha a pretensão de retirar dos militaresparcelaquesejadesuasupremacia política – e o controle das suas seis ou oito bombas atômicas.Aambiçãodoregimeequivale a comer o bolo e ficar com ele: manter o status quo interno, incluídas as atividades nucleares, ser tratada como grande potência pelos EUA, Rússia, China, CoreiadoSuleJapão(seusinterlocutores nas empacadas “conversações de seis lados”) e, ao mesmo tempo, receber de Seul e Washington as doações “humanitárias” de alimentos que o esfaimado país não consegue nem produzir nem comprar. Lembrando o penteado à Elvis do finado Jong-il, dir-se-ia que é muito topete. Mas é de lembrar também que 49 milhões de sulcoreanos estão ao alcance da artilharia de Pyongyang.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 21 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

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estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Retrocesso institucional Ao privar o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) do poder de investigar juízes acusados de irregularidades, por meio de uma liminar, concedida às vésperas do recesso do Judiciário pelo ministro Marco Aurélio Mello, o Supremo Tribunal Federal (STF) surpreendeu os meios políticos e jurídicos. A liminar esvazia o poder da Corregedoria Nacional de Justiça e, como só voltará a ser apreciada em fevereiro, dará aos juízes que estão sendo investigados o tempo necessário para apagar rastros ou sumir com provas. Entre as Cortes que o CNJ está investigando se destaca o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), onde há suspeitas de pagamentos de honorários em valores muito acima do teto salarial fixado pela Constituição. Um

de seus desembargadores é o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) – a entidade que questionou as competências do órgão responsável pelo controle externo da magistratura para tentar impedir a realização de uma devassa na folha de pagamentos da Justiça paulista. Na segunda-feira, a AMB, em conjunto com outras entidades de juízes, pediu outra liminar – também concedida – suspendendo o poder do CNJ de quebrar o sigilo bancário de juízes. Para a AMB, o CNJ só poderia atuar nos casos de omissão das corregedorias dos tribunais. Para o CNJ, a prerrogativa suspensa permitia ao órgão identificar movimentações financeiras suspeitas de magistrados. Há três meses, a corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, acusou a Justiça paulista de ser a mais corporativa do País e disse que só conseguiria investigá-la para valer “no dia em que o sargento Gar-

cia prender o Zorro”, ou seja, nunca. “O TJSP é refratário a qualquer ação do CNJ e o presidente do STF é paulista e foi desembargador”, disse a corregedora, referindo-se ao ministro Cezar Peluso. A liminar concedida à AMB parece dar razão a Eliana Calmon. O recurso da associação de juízes deveria ter sido votado em setembro. Mas, por causa do apoio da opinião pública ao CNJ, principalmente depois de a corregedora ter afirmado que o corporativismo das corregedorias judiciais favorece os “bandidos de toga” e a “minoria de juízes que se valem da toga para cometer deslizes”, o recurso da AMB foi tirado da pauta. E só agora o ministro Marco Aurélio deu a conhecer a sua decisão liminar – quando não há tempo de submetê-la ao plenário antes do recesso do STF. A oposição ao CNJ começou logo após a aprovação da Emenda Constitucional 45, em dezembro de 2004.

A CVM pune mais

O

ano de 2011 não foi favorável para o mercado de ações. Até meados de dezembro, o Índice Bovespa recuou 18% e as ofertas iniciais de ações também ficaram abaixo da expectativa: apenas 11, num total de R$ 7,2 bilhões, quando se esperava que, pelo menos, 30 novas empresas abrissem o capital. Tudo isso, naturalmente, tem a ver com a desaceleração da economia, particularmente no segundo semestre. Contudo, sob o ponto de vista da fiscalização ou da punição dos responsáveis por irregularidades, no mercado de capitais, este ano pode ser considerado histórico. Há dias, por exemplo, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aplicou pesadas multas a empresários que usaram informações privilegiadas em negócios com ações da Sadia. E, pela primeira vez no País, houve condenação a prisão por uso de informação privilegiada. Houve também o primeiro caso de mandado de busca e apreensão pela Polícia Federal (PF), determinado por crime contra o mercado de capitais (possível manipulação de mercado), crime que também levou à condenação. São fatos que vêm reforçar a credibilidade do mercado acionário no País, essencial para atrair um maior número de investidores, especialmente pessoas físicas, popularizando-se o mercado de ações como em países mais avançados. Nos Estados Unidos, são comuns as condenações por uso

çamento-Geral desse órgão. Sobre o trem de alta velocidade, o governo trabalhou num novo modelo de concessão que está em conclusão. Aproximadamente 6.600 km de rodovias estão com obras em andamento no País. As de duplicação do trecho PelotasRio Grande e do contorno de Pelotas totalizam 76,4 km e 53 estão em andamento. Já o anel viário de Belo Horizonte integra as novas obras do PAC 2 e se encontra em ação preparatória. Não procede, portanto, falar em “fraco desempenho do PAC” nem em “verbas não liberadas”, pois as obras são plurianuais, não sofrem contingenciamento e têm orçamento garantido. GIOCONDA BRETAS, Assessoria de Comunicação Social palova.brito@planejamento.gov.br Brasília

N. da R. – Como o próprio Ministério do Planejamento diz, há R$ 2 bilhões em recursos disponibilizados

de “inside information” por parte de proprietários de empresas ou controladores, seus executivos, corretores, investidores ou qualquer pessoa que tenha informações seguras sobre qualquer fato ou decisão que pode afetar as ações de uma companhia, antes de se tornarem de conhecimento público. A propósito, vieram à luz, recentemente, suspeitas de que a ex-presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e o atual presidente daquela Casa, John Boehner, tiveram lucros na Bolsa de Nova York porque teriam usado o conhecimento que seu

O órgão procura ter acesso mais rápido às informações para agir mais eficazmente cargo proporciona sobre aprovação de medidas que poderiam influenciar o comportamento do mercado. Tanto Pelosi como Boehner negaram as acusações, mas as suspeitas deram impulso a um projeto de lei, que dormia nas comissões, destinado a dar transparência às aplicações em Bolsa por parte de membros do Congresso. Isso mostra a seriedade com que é tratado um tema que se torna cada vez mais complexo com o aumento exponencial de informações por meios eletrônicos sobre lançamento de novos produtos pelas empresas, adoção de novas estratégias, fusões e aquisições, substituição de executivos, novos fatos político-administrativos, etc. Se é praticamente impossí-

para o PAC que não foram empenhados este ano. A reportagem trata disso e mostra casos pontuais de obras e programas nessa situação. BOAS-FESTAS O Estado agradece e retribui os votos de feliz Natal e próspero ano-novo de Antônio Hércules Júnior; Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace); Assessoria de Comunicação Social da Procuradoria da República no Estado de São Paulo; Beatriz Campos; Bob Sharp; Carlos Alberto Di Franco; Católicas pelo Direito de Decidir; Claudio Roberto Gomes Conceição – Revista Conjuntura Econômica (FGV); Confederação Brasileira de Taekwondo; Dalmir Sant’ Anna; DNA Natural Balneário Camboriú; Edivelton Tadeu Mendes; Equipe da Central de Conciliação e Mediação da Comarca de Pelotas; e Fabio Figueiredo.

Ao votar esse dispositivo da reforma do Judiciário, a maioria parlamentar considerou que as corregedorias tinham sua autoridade moral e sua eficácia funcional corroídas pelo corporativismo e deu à Corregedoria Nacional de Justiça a prerrogativa de abrir investigações no momento em que quisesse. Se as corregedorias judiciais fossem eficientes, não teria ocorrido, por exemplo, o desvio de quase R$ 170 milhões das obras do Fórum Trabalhista de São Paulo, do qual um dos beneficiados foi um expresidente do Tribunal Regional do Trabalho. Recentemente, os jornais noticiaram que a Corregedoria do TJ do Maranhão recebeu 120 representações contra juízes num só ano e não puniu nenhum deles. O mais escandaloso é que quase todos os procedimentos foram arquivados por decurso de prazo. Atualmente, tramitam na Corregedoria Nacional de Justiça 115 proces-

sos contra juízes de primeira instância e 35 contra desembargadores. Em seis anos de atuação, o CNJ condenou cerca de 50 magistrados, dos quais metade foi punida com a pena máxima no plano administrativo: a aposentadoria compulsória. No mesmo período, o CNJ foi objeto de 32 ações diretas de inconstitucionalidade, das quais 20 foram propostas por entidades de juízes, como a AMB. Os números revelam “uma estratégia de guerrilha processual permanente contra o CNJ”, diz Joaquim Falcão, diretor da FGV e um dos mais respeitados pesquisadores do Judiciário. A criação do CNJ, cujo saldo de realizações é inegável, foi a principal inovação da reforma do Judiciário. Resta esperar que, ao retomar os trabalhos, em 2012, o STF casse a liminar que promove um retrocesso institucional, esvaziando o CNJ e fortalecendo as desmoralizadas corregedorias judiciais.

Expulsões na USP vel controlar os boatos de toda sorte, a CVM vem constantemente aperfeiçoando os mecanismos de controle e apuração, de modo a evitar práticas que ajam em detrimento do investidor comum. A presidente da CVM, Maria Helena Santana, em entrevista ao Estado (10/12), destacou o crescente entrosamento do órgão com a Supervisão de Mercado da BM&F/Bovespa, o MinistérioPúblico, aPolícia Federal e o Banco Central para a adoção de medidas de moralização do mercado. A CVM também começou este ano a treinar técnicosemarticulaçãocomaSecurities Exchange Commission (SEC), seu equivalente nos EUA, e com o FBI. Embora Maria Helena Santana tenha tido o cuidado de não antecipar uma data, é previsto queentrememoperação,noprimeiro trimestre de 2012, novos equipamentos que permitirão à CVM ampliar a sua base de dados sobre mercado de bolsa, de balcão, de derivativos, etc. Esses dados poderão ser acessados em tempo real, podendo a CVM, em face de suspeitas fundamentadas, colher provas que lhe deem segurança para solicitar uma ordem judicial de quebra de sigilos, por exemplo. Emfaceda“tradicional”lentidãodaJustiçabrasileira,otrabalho de fiscalização e controle de operações no mercado acionáriodeveserconduzidocomrapidez. Se os processos não andarem,porqualquer falha,háo risco de prescrição, o que acaba dando aos fraudadores um prêmio adicional ao lucro que obtiveram em operações ilícitas.

“Os mensaleiros de 2005 confiam na Justiça e na oposição amiga do PSDB” FRANCISCO ANÉAS / SÃO PAULO, SOBRE O JULGAMENTO NO STF francisco.aneas@uol.com.br

“Offside: no campo das penalidades, as do mensalão só prescrevem se os juízes estiverem impedidos” A. FERNANDES / SÃO PAULO, IDEM standyball@hotmail.com

P

ela primeira vez, em dez anos, a Universidade de São Paulo (USP) aplicou a punição administrativa no grau máximo, expulsando alunos que, sob pretexto de realizar manifestações de protesto e deflagrar greves, invadiram dependências da instituição, quebraram computadores e destruíram milhares de prontuários. O vandalismo ocorreu em 2010, quando salas da Coordenadoria de Assistência Social (Coseas) foram ocupadas por um grupo que reivindicava melhoria das condições de moradia e aumento do número de vagas no Conjunto Residencial da USP, na Cidade Universitária. Depois da baderna, a Reitoria abriu um processo administrativo contra 13 alunos, dos quais 6 foram expulsos, 5 foram absolvidos por falta de provas e 2 foram julgados culpados, mas nada sofrerão pois não mais estudam na USP. Dos 6 alunos expulsos, 2 cursavam a Escola de Comunicação e Artes (ECA) e 4 a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Com 88,9 mil alunos, a USP tem 42 unidades – das quais a ECA e a FFLCH são aquelas que mais se envolvem em movimentos de protesto. Reagindo à rigorosa aplicação das normas que regem a maior Universidade do País, os dirigentes de centros acadêmicos acusaram o reitor Grandino Rodas de perseguição política e afirmaram que as expulsões foram autoritárias, por terem sido baseadas num regi-

mento introduzido por um decreto da época da ditadura militar. A crítica não procede. O regimento da USP data de 1990 – em plena democracia. “Os que imaginam que o fundamento legal não vale poderão contestálo judicialmente e tentar a anulação das penas”, diz o reitor. Ele também afirma que as expulsões foram decididas com base em provas inequívocas e lembra que teria incorrido em crime de responsabilidade se não tivesse aberto sindicância para apurar os prejuízos decorrentes da ocupação da Coseas. Aliás, foi também na FFLCH quecomeçou,emnovembropas-

Finalmente a direção da USP se decide pela imposição da lei às minorias de baderneiros sado, a última onda de protestos contra a Reitoria, depois que 3 alunosforam presos em flagrantefumandomaconha noestacionamento. Alegando que a Cidade Universitária é “território livre” e criticando o convênio firmadopelaUSPcomaPolíciaMilitar para garantir a segurança nocâmpus,umaminoriadeestudantes promoveu piquetes, realizou passeatas e deflagrou mais uma greve. Mesmo sabendo das consequênciasdesuasfaltas,vários alunos da unidade aderiram ao protesto. Ao divulgar na semana passada as notas da disciplina de Filosofia Contemporânea, o professor Carlos Alberto Ribeiro de Moura reprovou por faltaos60 alunosque, porterem aderido àgreve, nãocompareceram ao número regulamentar

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Santos tem chegada conturbada ao Brasil

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Após derrota, atletas e comissão técnica evitaram contato com a torcida e imprensa em Guarulhos ● “O Barça deu uma lição de futebol. Resta saber se os jogadores, técnico e dirigentes aprenderam alguma coisa.” JOSÉ MARTIN

● “Essa derrota serviu para mostrar ao Muricy que como técnico ele não está com essa bola toda.” PAULO RENATO MENEZES

HÁ 873 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Quer dizer que o segundo melhor time do mundo é o décimo melhor do Brasil?” NELSON CARNEIRO JR.

de aulas. “O cálculo de frequência em disciplinas deve levar em conta a totalidade do semestre letivo. Aulas não ministradas em função de piquetes são computadas como dadas e não frequentadas. As aulas foram interrompidas antes de se completar o mínimo exigido e os alunos foram avisados sobre isso”, disse Moura. Os reprovados anunciaram que irão recorrer, mas membros dos órgãos colegiados da FFLCH reconhecem que a reprovação por falta está prevista no regimento. Embora não exista um levantamento oficial, estima-se que, nos últimos 17 anos, as greves pararam a USP por cerca de 400 dias – o equivalente a dois anos letivos. Em várias paralisações, estudantes e funcionários exorbitaram, desacatando autoridades, invadindo prédios administrativos, promovendo quebraquebrae se recusando a cumprir ordens judiciais. Nos últimos anos, contudo, alguns professores começaram a reagir contra a baderna praticada por minorias vinculadas a micropartidos de esquerda radical, classificando o“invasionismo”comoumamodalidade de fascismo. No único comentário político que fez, o professorRibeiro de Mouraafirmou que os alunos da USP não podem pretender ser tratados como crianças, presumindo-se que têm consciência de que quem faz greve sabe avaliar a consequênciadesuadecisão.Assim, também no caso da decisão da Reitoria, os 6 alunos deviam saber o que ocorre a quem, além de desrespeitar a lei e desprezar o regimento, destrói o que pertence à coletividade.

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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 22 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

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Plinio Villares Musetti

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Notas & Informações

Melhor para a Justiça Podem não ter fundamento, afinal, as previsões do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski de que o mensalão provavelmente só será julgado em 2013 – seis anos depois da abertura do processo contra 40 envolvidos no megaescândalo do primeiro governo Lula. Incumbido de revisar o parecer do relator da ação, ministro Joaquim Barbosa, Lewandowski disse numa entrevista à Folha de S.Paulo que, “sem dúvida nenhuma”, alguns dos crimes de que são acusados os atuais 38 réus terão caducado quando se concluir o julgamento. Ficou implícito que a impunidade, por prescrição do delito, sobretudo na eventualidade de penas leves para réus primários, será tanto mais espraiada quanto mais tardar o veredicto. Um escár-

nio comensurável com as dimensões do esquema de compra de votos no Congresso, concebido pela cúpula do PT para favorecer o seu líder instalado no Planalto. Conhecida a entrevista – comentada nesta página na última sexta-feira, no editorial intitulado Melhor para os mensaleiros –, o presidente do STF, Cezar Peluso, fez saber que pediu ao relator que repassasse os autos aos seus pares, em versão digital, para não “retardar ainda mais” o desfecho do processo e evitar “os riscos inerentes à delonga”. O revisor havia dito que terá de começar “do zero” o seu trabalho, quando, em data indefinida, receber do colega relator a montanhosa papelada em que ele terá se baseado para emitir o parecer e o seu voto. Os prognósticos pessimistas de Lewandowski fizeram lembrar que Barbosa é portador de um doloroso problema ortopédico que o obriga a se licenciar com

certa frequência para tratar de sua crônica condição. Em razão disso, o editorial se perguntava por que ele não abre mão da relatoria, para que se faça Justiça a tempo. Não era, felizmente, o que parecia. Na terça-feira, o Globo – logo seguido pelos principais jornais do País – revelou que Barbosa já concluiu e acabou de enviar ao ministro revisor o seu relatório de 122 páginas. Ele também teria terminado de redigir boa parte do seu voto. A expectativa, segundo a reportagem, é de que o julgamento ocorra em maio, quando o ministro Carlos Ayres Britto assumir a presidência do STF no lugar de Cezar Peluso. No relatório, que resume o processo, Barbosa ressalta que todos os acusados se declararam inocentes e alegaram inexistir provas contra eles – salvo o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. “O réu”, especifica o relatório, “admite a prática de caixa 2 de campanha, conduta

Acidentes e trânsito

U

m acidente envolvendo três carros e uma moto, ocorrido na última sextafeira na Marginal do Pinheiros, engarrafou o trânsito por seis horas no período da manhã. Não foi o primeiro e, provavelmente, não será o último com tal gravidade. Mas pode ser tido como um exemplo trágico da ineficiência dos órgãos de controle do tráfego no atendimento a acidentes em São Paulo. A liberação das pistas costuma demorar horas, mesmo quando se trata de uma importante via expressa, cuja obstrução tem reflexos no trânsito de grande parte da metrópole. Em casos como esse, a liberação do tráfego depende da perícia feita pela Polícia TécnicoCientífica, em coordenação com o Departamento Estadual do Trânsito (Detran). Como mostram os frequentes congestionamentos na cidade, causados por acidentes, a Polícia Técnico-Científica não tem a agilidade necessária, seja em que horário for. O acidente do dia 16 aconteceu às 3h40, um horário de ruas vazias, o que deveria facilitar o deslocamento da equipe especializada da perícia. Mas, não foi o que ocorreu. Em consequência, no pico do congestionamento, às 10h30, foram registrados 120 km de lentidão, bem acima da média do horário, que é de 75 km, com repercussões na Marginal do Tietê, onde a lentidão foi de 11 km, entre o Cebolão e a Ponte Cruzeiro do Sul. As circunstâncias foram das

BOAS-FESTAS

O Estado agradece e retribui os votos de feliz Natal e próspero ano-novo de Adriano Luchiari e família; Agência da ONU para Refugiados (UNHCR-Acnur); Aldo Dórea Mattos e família; Allcomm Partners Comunicação Estratégica; Amir Khair; Antonio Carlos Gomes da Silva; Aparecida Dileide Gaziolla; Carlos Battesti – Convergência Comunicação Estratégica; Carlos Gama; Cláudio Moschella; Claudio Schleder – Inbook Editora; Datagro; diretores e funcionários da E-Lift Produtos e Serviços para Movimentação e Armazenagem; Elenita Fogaça Comunicação; Elones Fernando Ribeiro, diretor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUCRS; Francisco José Sidoti; Giselle Oliveira – Assessoria de Imprensa do Ibmec Belo Horizonte; Grupo RBS; Icone/Redeagro; Instituto Brasileiro de Defesa do Consu-

mais infelizes. Dois carros se chocaram na Marginal do Pinheiros e um terceiro parou, sendo intenção do seu motorista ajudar os acidentados e para isso teve o cuidado de colocar um triângulo sinalizando o local. Um motoqueiro, que vinha em alta velocidade, ignorou a sinalização, atropelando o grupo de motoristas. O motorista que parou para prestar socorro morreu no Hospital das Clínicas, enquanto um outro ficou gravemente ferido. O motoqueiro não quis se submeter ao bafômetro, mas admitiu ter bebido. Os acidentes envolvendo motoqueiros, por sinal, são co-

Algo precisa ser feito para liberar com maior presteza vias públicas onde ocorrem acidentes muns em São Paulo, morrendo dois por dia, segundo o Corpo de Bombeiros, e seus corpos ficam expostos por horas nas ruas ou calçadas da cidade. Como prevê a legislação, a Polícia, ao chegar ao local, além de providenciar a remoção dos feridos para o hospital e autuar os eventuais infratores, deve preservar o “estado de conservação das coisas” até a chegada dos peritos criminais. Somente em casos excepcionais, o agente policial pode autorizar a remoção dos veículos e das pessoas acidentadas que estiverem no leito da via pública, a fim de não interromper o fluxo intenso do tráfego. É o que fazem às vezes policiais rodoviários por ocasião de feriados prolongados, assumindo o

midor (Idec); Jorge S. Decol – Decol, J.S. Marketing & Copyright Worldwide; Jose Roberto Marforio; Luis Coelho; Luiz Alberto de Paula Souza; Luzia Ilza Ferreira Jorge; Mario Pallazini; Maurício Lima; Meio&Mensagem; Myrian Macedo; Nelson Pereira Bizerra; Opportunity; Paulo Paiva; Pedro Estevam Serrano; Philip Morris Brasil; Ricardo Patah, presidente nacional da União Geral dos Trabalhadores (UGT); Ricardo Viveiros; Sadao Nakai; Sérgio Amad Costa; Silas Brasileiro, presidente do Conselho Nacional do Café; Sílvia Carmona; Sindicato Nacional dos Analistas Tributários da Receita Federal do Brasil (Sindireceita); Sueli Batista Damasceno; Tarzio Tomei; Tatini Restaurante; Tonico Senra Assessoria de Imprensa; TV Votorantim; Valcir Antonio Donda; Vivência Publicidade e Marketing; e Viviane Sarraf – Museus Acessíveis e Rede de Informação de Acessibilidades em Museus.

que preenche o tipo penal do art. 350 do Código Eleitoral, cuja pena é de até cinco anos de reclusão.” Em 2007, no exame do pedido do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, de abertura da ação penal, Barbosa estruturou o seu voto favorável em capítulos, cada qual correspondendo a um dos núcleos da trama, cujo “comandante supremo”, apontou, era o então ministro da Casa Civil José Dirceu. Agora, no voto em fase final de elaboração, o relator adotou o mesmo método – incluindo no núcleo central, além de Dirceu, evidentemente, o publicitário mineiro Marcos Valério, operador do esquema, e o então presidente do PT, José Genoino, que no mínimo assinou tudo que lhe era apresentado para o bom andamento da tramoia. O ministro Joaquim Barbosa fez ainda outra coisa na segunda-feira. Mandou uma dura resposta ao ofício

que recebera na semana passada do presidente da Corte para que disseminasse entre os colegas cópias eletrônicas da papelada. Foi um “lamentável equívoco”, retrucou o relator, lembrando que, por iniciativa sua, “os autos, há mais de quatro anos, estão integralmente digitalizados e disponíveis (mediante senha de acesso) na base de dados do Supremo”. Rebateu também a “insinuação” de demora no exame do processo de 49.914 páginas, divididas em 233 volumes e 495 apensos, contendo 650 depoimentos de testemunhas arroladas pela defesa, tomados em 18 Estados e no exterior. Ele se orgulha de ter concluído a instrução do processo em quatro anos, enquanto continuava a receber o mesmo número de processos distribuídos aos colegas. Outras ações penais instauradas no STF à mesma época, com “dois ou três réus”, compara, ainda estão em curso.

O Mercosul se arrasta policial a responsabilidade por essa decisão. Policiais civis e militares geralmente não agem dessa forma, temendo sanções. No caso doacidenteda Marginal,nãoseria preciso uma liberação emergencial, havendo bastante tempo para a inspeção pela Polícia Técnico-Científica,sesuasequipes estivessem disponíveis a tempo e a hora, o que não se tem verificado. É essencial o trabalho da SuperintendênciadaPolíciaTécnico-Científica (SPTC) do EstadodeSão Paulo, que tem emsua estruturaoInstitutoMédicoLegale o Instituto de Criminalística e é obrigada a atuar em qualquer lugar com a incumbência de produzir provas judiciais a partir de vestígios deixados na prática de delitos. Para atender a uma demanda crescente para elucidação de crimes, a SPTC dispõedeequipamentosmodernosetemreforçadoosseusquadros de pesquisadores, médicos legistas, peritos criminais, técnicos de laboratórios, desenhistas e fotógrafostécnico-periciais, além de outros técnicos. Contudo, em uma cidade com 11,3 milhões de habitantes não parece pertinente o uso de todo o aparato técnico-científico, depois da prestação de socorro e apuração policial das causas dos acidentes de trânsito, existindo evidências materiais da ocorrência. A simples presença de um fotógrafo técnico-pericial poderia ser suficiente, permitindo ao Detran liberar as ruas com presteza, para não congestionar ainda mais o trânsito, em prejuízo de milhões de cidadãos.

“Ministros, só quem deve teme... Logo, vocês devem” JOSÉ EDUARDO VICTOR / JAÚ, SOBRE O CERCEAMENTO DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ) PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) je.victor@estadao.com.br

“A chicana foi de Marco Aurélio Mello, mas alegrou todos os ministros do STF” ANTONIO DO VALE / SÃO PAULO, IDEM adevale@uol.com.br

C

onfirmada em mais uma tediosa reunião de cúpula, a mediocridade continua sendo a grande marca do Mercosul, criado há 20 anos para promover a integração econômica de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai e promover sua inserção no mercado global. O resultado mais importante da última reunião de cúpula, em Montevidéu, foi a decisão de ampliar a barreira comercial em torno do bloco, desta vez com a justificativa de proteção contra a crise nas principais economias do mundo. Nenhum problema interno foi resolvido e o comércio entre os sócios continua tão emperrado por medidas protecionistas quanto antes. A reunião serviu também para a assinatura de um acordo de livre comércio com a Palestina, um gesto político de escassa repercussão internacional e sem o mínimo valor econômico para os quatro países do Mercosul. A única medida comercial de algum significado foi o aumento da lista de exceções à Tarifa Externa Comum. Cada governo poderá elevar o imposto de importação de até 100 produtos. O aumento valerá para mercadorias originárias de fora do bloco e o limite será a tarifa consolidada na OMC. Para o Brasil, o teto é de 35%. É preciso, disse a presidente Dilma Rousseff, conter a “avalanche de importações predatórias” e proteger a economia dos países do Mercosul de “práticas ilegais e fraudulentas”. Nem todo produto da tal

“avalanche” entra nos mercados da região por meio de práticas ilegais. A presidente incorreu, portanto, em certa confusão conceitual, até porque há remédios específicos contra fraudes e outras irregularidades. Mas, tomada em conjunto, a ampliação da lista de exceções tem sentido como ação anticrise, até porque um dos principais parceiros da região, a China, tentará vender mais à América do Sul para compensar o estreitamento dos mercados do mundo rico. Elevar tarifas é em princípio uma solução ruim. Se for usada por muitos participantes do

A reunião de cúpula evidencia mais uma vez a mediocridade da pauta econômica do bloco mercado, o comércio será travado e todos perderão. Mas a medida é pelo menos compatível com as normas internacionais e menos passível de contestação do que o protecionismo do Plano Brasil Maior, criticado até pelo diretor-geral da OMC, Pascal Lamy. O recurso exclusivo à ampliação de barreiras está longe de ser um fato isolado. Os governos do Mercosul têm-se mostrado incapazes de formular e de aplicar políticas destinadas a aumentar a produtividade geral de suas economias e do bloco. Empresas ou segmentos produtivos são eficientes, mas seu poder de competição é prejudicado por deficiências de infraestrutura, pelas condições de financiamento e por erros

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Turista não precisa declarar bagagem

892

Medida vale a partir de janeiro para bagagem que não ultrapassar a cota de isenção permitida no Brasil ● “Mas a burocracia não mudará. Só não terão de preencher o formulário. A amostragem continuará a acontecer.” ANTONIO SAVERIO

● “Que a segurança seja melhor nos aeroportos, em vez de tratarem os viajantes como transgressores.” FERNANDO GUARNIERI

HÁ 874 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Muito bom. Mas, como é uma medida inteligente, devem revogá-la em breve.” ROBERTO ALMEIDA

de política econômica. Além disso, a integração das cadeias produtivas, uma forma de ganhar eficiência, nunca saiu dos discursos para a prática. Incapazes de criar um espaço econômico integrado, os governos do Mercosul têm fracassado também na criação de vínculos com países de outras áreas. Nenhum acordo de livre comércio com uma grande economia foi celebrado pelo bloco. O projeto de maior alcance, a criação da Alca, foi liquidado pela união ideológica do petismo e do kirchnerismo. As negociações com a União Europeia permanecemnumatoleiro.Diferenças entre Brasil e Argentina foram obstáculos importantes à conclusão do acordo. Ocasionalmente, o governo uruguaio mostrou interesse em negociações mais ambiciosas, mas sem resultado. O acordo com a Palestina enquadra-se no padrão habitual, já que a preferência pelos vínculos Sul-Sul tambéméessencialmentepolítica.Houveacordoscomsul-americanos. Estes, mais pragmáticos, trataram também de se associar aos EUA, criando uma espécie de Alca sem o Mercosul. Pior para o Mercosul. O ingresso da Venezuela de Hugo Chávez como sócio pleno tornarámaisdifíciladotarpolíticaspragmáticas de inserção global. Falta a aprovação do Congresso paraguaio, impedida por oposicionistas descritos por Chávez como “mãos peludas”. Sem essas mãos, o Mercosul teria virado, há muito tempo, mais umpalcoparaasbravatasbolivarianas. Seria o golpe final contra um belo projeto.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 23 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

A crise da Justiça se agrava Tão grave quanto a suspensão do poder do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de investigar juízes acusados de irregularidades, tomada em caráter liminar pelo ministro Marco Aurélio Mello, foi a liminar concedida pelo ministro Ricardo Lewandowski proibindo a Corregedoria Nacional de Justiça de quebrar o sigilo fiscal e bancário de juízes. Tomadas no mesmo dia, as duas decisões obrigam o órgão responsável pelo controle externo do Judiciário a interromper as investigações sobre movimentações financeiras suspeitas em várias cortes – inclusive a maior delas, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), onde 17 desembargadores teriam recebido irregularmente R$ 17 milhões, por conta de antigos passivos salariais.

Tendo pertencido durante anos ao TJSP, Lewandowski foi um dos magistrados beneficiados por esses pagamentos. Deste modo, ao conceder liminar suspendendo a devassa que vinha sendo feita nessa Corte pelo CNJ, ele interferiu em causa na qual está envolvido. Por meio de sua assessoria, o ministro disse que não se considerou impedido de julgar o caso, apesar de ter recebido os pagamentos que a CNJ considera suspeitos, porque não era o relator do processo. Em nota, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) apoiou Lewandowski, alegando que ele agiu “no cumprimento de seu dever legal e no exercício de suas competências constitucionais”. Para o ministro Cezar Peluso, Lewandowski não tinha motivos para se declarar impedido de julgar a liminar solicitada pela Associação de Magistrados Brasileiros, cujo presidente – Nelson Calandra –

é desembargador no TJSP. O ministro Peluso, oriundo do TJSP, é um dos beneficiários dos pagamentos considerados suspeitos pela Corregedoria Nacional de Justiça. Segundo a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, ele teria recebido R$ 700 mil, em 2010. Para Peluso, os ministros do STF não estão impedidos de julgar ações sobre o tema, uma vez que não se sujeitam ao CNJ. Em resposta, a corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, alegou que não estava investigando ministros da mais alta Corte do País, mas somente os critérios utilizados pelo TJSP nos pagamentos de passivos trabalhistas. “As folhas de pagamento examinadas foram as de 2009 e 2010, quando os ministros Peluso e Lewandowski já não faziam mais parte da Justiça paulista”, disse ela. Os passivos trabalhistas do TJSP decorrem do efeito cascata causado

pela aplicação indiscriminada do princípio da isonomia. O problema começou há duas décadas, quando a magistratura – invocando paridade funcional entre o Legislativo e o Judiciário – passou a reivindicar o auxílio-moradia que era pago somente a deputados e senadores. A discussão demorou anos, os juízes e desembargadores tiveram a pretensão acolhida pela Justiça e a liberação do pagamento ficou condicionada à disponibilidade orçamentária dos tribunais. Como o número de beneficiados era alto e as sobras orçamentárias eram baixas, as quitações tiveram de ser feitas em várias parcelas de pequeno valor. No caso do TJSP, surgiram suspeitas de que os desembargadores mais antigos – que ocuparam os cargos de direção da Corte e dirigem entidades classistas – teriam recebido de uma só vez a quantia a que tinham direito, em detrimento dos demais colegas.

Truculência na Argentina

Um jorro de euros

Argentina de Cristina Kirchner é um Estado de Direito – pero no mucho. A concentração de poderes na Casa Rosada, que precedeu a presidência de seu falecido marido, Néstor, e foi por ele exacerbada, não se restringe ao controle, mediante o chicote e o afago, dos atores políticos nacionais e dos setores econômicos cujos interesses podem ser favorecidos ou prejudicados pelo Executivo, conforme a adesão das respectivas lideranças. Nesse país em que as instituições do Estado ainda estão contaminadas pelo entulho autoritário da história nacional, tambémoJudiciário parecevulnerável ao hiperpresidencialismo, com a sua notória prontidão para premiar ou punir. Para Cristina,como foi para Néstor – e para os autocratas de todas as latitudes –, a fidelidade pessoal do agente público não só é esperada como fato natural, mas constitui a sua maior virtude. Some-se a isso o gosto pela truculência e está traçado o pano de fundo para o mais recente ato de agressão política – não o último, decerto – cometido com o endosso da Casa Rosada. Na manhã de terça-feira, em Buenos Aires, um destacamentode50membrosdaGendarmería, a polícia argentina de fronteiras, ocupou durante três horasasededaCablevisión,operadora de TV a cabo e internet do Grupo Clarín, o principal conglomerado de comunicação do país, que edita o jornal do mesmonome, o maior da Argentina, que há três anos, numa mudan-

ator de risco e de preocupação para todo o mundo, o sistema bancário da zona do euro ganhou importante reforço com a injeção de € 489,2 bilhões (US$ 640 bilhões) proporcionada na quarta-feira pelo Banco Central Europeu (BCE). O dinheiro foi emprestado a juro de 1% ao ano e por prazo de até 36 meses. Mas a boa notícia foi acompanhada de um pormenor inquietante: 523 bancos participaram do leilão de liquidez promovido pela autoridade monetária do bloco. Esse número deu uma ideia mais precisa, e um tanto assustadora, da extensão dos problemas do sistema financeiro da região. A iniciativa do BCE, uma das mais audaciosas deste ano, foi planejada não só como ajuda às instituições do mercado, mas também como estímulo à concessão de crédito e ao refinanciamento dos governos mais endividados. Mas ainda havia nos mercados muita incerteza, nessa quinta-feira, sobre o destino de todo aquele dinheiro. Se as expectativas mais otimistas forem confirmadas, haverá impulso ao consumo e até algum alívio para os Tesouros em dificuldades. Nada garante esse resultado. Em tempos de muita insegurança, a injeção de dinheiro nos bancos pode ser inócua e resultar simplesmente no conhecido empoçamento da liquidez. O dinheiro fica parado, sem circular mesmo entre as instituições financeiras. Poças de recursos são tão inúteis quanto as piscinas de di-

A

ram o colírio na estúpida medida de receita retida. O mesmo com pomadas e cremes dermatológicos, como o Quadriderme, veterano de quatro a cinco décadas. No popular, jogaram a criança junto com a água do banho. Pedi a um conhecido que comprasse na Argentina alguns vidros, o que fez sem problema, mediante exibição da identidade. Enfim, este é o país da burocracia turbinada pela safadeza ideológica. Enquanto isso... Deixa pra lá! ALEXANDRE DE M. MARQUES ammarques@uol.com.br São Paulo

BOAS-FESTAS

O Estado agradece e retribui os votos de feliz Natal e próspero ano-novo de Álamos Genética; Alfaômega Marcas e Patentes; Alvarez Aguiar; Andreas de Souza Fein; Angelo Piccardi e Família; Angelo Tonelli; Armando Ama-

ça de linha editorial, passou de aliado a crítico do governo. Os policiais chegaram acompanhados por uma equipe do programa 6, 7 e 8, da televisão estatal, notabilizado pela sua virulência contra os desafetos do kirchnerismo. Os agentes intimidaram os funcionários, revistaram os seus pertences e exigiram dos executivos da empresa a apresentaçãodedocumentoseplanilhas financeiras. Eles estavam ali, alegadamente, para garantir o cumprimento da intervenção na empresa, ordenada por um juiz da província de Mendoza, numa ação movida pelo concorrente Supercanal, por suposta

Até o Poder Judiciário parece vulnerável ao hiperpresidencialismo que controla o país concorrência desleal. Ocorre, não por acaso, que o Supercanal pertence ao Grupo Uno, dono de uma rede de jornais no interior do país. Os seus controladores, como o peronista José Luiz Manzano, que foi ministro no governo Menem, apoiamostensivamentea presidente. Este ano, o faturamento do conglomerado com publicidadeoficialchegouaUS$3,7milhões, quase nove vezes mais do que em 2010. Segundo o portavoz do Grupo Clarín, Martín Etchevers, o Uno é “testa de ferro” do governo na Justiça. A intervenção, a rigor, foi feita para dar um verniz legal ao pretendido desmembramento da Cablevisión, como parte da obsessão de Cristina em arruinar o grupo. Em 2007, quando tudo ia

rante Filho e família; Carlos Magno Taborda; Céu Comunicação sem Limites; Eduardo José Bernini – Tempo Giusto Consultoria Empresarial; Eduardo Zago; Equipe de Relacionamento com a Mídia da PR Newswire; Equipe do Portal ZNnaLinha; Família C&M Software; Grupo Floresta; Gustavo Guimarães da Veiga; Gustavo Loyola; Humberto de Luna Freire Filho; Instituto Análise; João Carlos Carcanholo, Maria Elide Carcanholo e Aline Maria Carcanholo; Jorge Peixoto Frisene, Laudicéia Moraes Frisene e Igor Frisene; Link Comunicação Empresarial; Luiz Dias; Marcelo de Paiva Abreu; Maria Teresa Amaral; Milton Linhares; Petram; Plínio Zabeu; Proteste – Associação de Consumidores; Rachel Bratfisch; Renato Guimarães Jr.; Ricardo Bergamini; Rita de Cássia Ayres; Robert Haller; Silvana Barolo e Carlos Lungarzo; Sônia Mascaro; Veolia Water Brasil; e Viveiro Manacaá.

bem entre a empresa e a Casa Rosada, o então presidente Kirchneraprovouafusão daCablevisióncoma Multicanal,a gigante da TV por assinatura no país. Desde o ano seguinte, quando o Clarín tomou o partido dos ruralistas no seu conflito com os Kirchners, a presidente tem tentado de tudo para anular o negócio. Além das ações recorrentes de terrorismo de Estado, como a invasão da sede do jornal por mais de 200 fiscais da Receita, em setembro de 2009, no que seria uma “operação de rotina”, e o piquete sindical diante de policiaisimpassíveisparaimpedir a circulação do diário, em umdomingo demaiopassado,o kirchnerismo se vale de duas armas.UmaéaLeideMeios,aprovadatambémem2009esuspensa por uma liminar. Ao limitar a participação privada nos setoresdeTVerádio,obrigaráoGrupo Clarín a se desfazer de parte de seus ativos nessa área. A outra arma é o projeto que declara de “interesse público” a produção, venda e distribuição de papel-jornal na Argentina, monopolizadas pela companhia Papel Prensa,que abastece 172 jornais. O Grupo Clarín detém 49% do seu capital, enquanto a empresa que edita o diário La Nación possui 22% e o Estado argentino, 27%. A proposta, aprovada na Câmara e em vias de votação no Senado, proíbe a empresas de mídia impressa participação acionária na Papel Prensa.Comisso,diretaouindiretamente, o governo assumirá o seu controle – e condicionará o acesso ao insumo à docilidade dos jornais do país.

“Se a intromissão do STF no CNJ não é inconstitucional, é, no mínimo, imoral” ROBERTO TWIASCHOR / SÃO PAULO, SOBRE O CNJ AGORA SEM PODER PARA INVESTIGAR MAGISTRADOS rtwiaschor@uol.com.br

“Só falta o STF decretar a falência da Justiça do País” CONRADO DE PAULO / BRAGANÇA PAULISTA, IDEM conrado.paulo@uol.com.br

F

nheiro do Tio Patinhas. De toda forma, o BCE continua agindo com mais determinação e ousadia do que os governos da zona do euro. Tem cumprido seu papel no esforço para reativar a economia da região e até para dar liquidez aos papéis da dívida pública. Em contraste, os ministros de Finanças tendem a mostrar hesitação e excesso de cautela nos momentos cruciais. Isso ocorreu de novo, nesta semana, quando os ministros anunciaram a intenção de oferecer € 150 bilhões ao FMI para operações de socorro a países da Europa. Os governos, no

O BCE está agindo, mas sem a ação de governos a reativação econômica será bem mais lenta entanto, haviam criado a expectativa de uma contribuição de € 200 bilhões e o mercado reagiu a essa decepção. As oscilações nas bolsas acompanharam, durante a semana, a rápida sequência de boas e más notícias. Do lado positivo houve a injeção de liquidez nos bancos europeus e o voto de confiança do Senado italiano ao primeiro-ministro Mário Monti e, portanto, a seu pacote de austeridade. Houve também alguns dados animadores sobre a economia alemã. Do lado negativo, o fato mais importante foi, provavelmente, a perspectiva de novo rebaixamento da classificação de países europeus. A França está sob ameaça, a Hungria foi rebaixada e as novas advertências in-

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Corregedora do CNJ rebate acusações

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Eliana Calmon nega que Conselho Nacional de Justiça tenha quebrado sigilo de juízes ● “Um acobertando o outro. É necessário acabar com esse corporativismo perverso e nocivo que ameaça a democracia.” PAULO RODRIGO

RODNEI ALQUATI POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Se houvesse mais investigação de juízes e magistrados, o Brasil não estaria do jeito que está.” JOTA ALCAIDE

cluíram o Reino Unido. A lenta reação dos governos ao risco de agravamento da crise também tem afetado o comportamento das bolsas de valores. Boas e más notícias de todas as grandes economias acabam produzindo efeitos globais. Nos EUA, a oposição tem resistido, na Câmara de Representantes, à proposta de prorrogação do desconto do imposto sobre os salários. Essa prorrogação poderia significar, em média, um abono mensal de US$ 40 dólares para 160 milhões de trabalhadores.Não éumdinheiro desprezível, como têm mostrado cartas enviadas à Casa Branca por muitos assalariados. A boa notícia, nos Estados Unidos, nos últimos dias, foi a diminuição das novas solicitações do auxílio-desemprego. Havia previsão de um aumento de 14 mil, mas o resultado foi uma redução de 4 mil – pequena, mas suficiente para dar algum ânimo aos mercados. O crescimento econômico no terceiro trimestre foi revisto de 2% para 1,8%, mas essa notícia foi contrabalançada, em parte, pela divulgação do aumento do lucro das empresas. Nos EUA e na Europa, o esforço anticrise seria mais eficiente se dependesse menos dos bancos centrais, já muito empenhados, e mais dos governos. No caso americano, a oposição republicana tem dificultado uma ação mais ampla do Executivo. Na Europa, os governos com maiorespaço demanobra, especialmente o alemão, poderiam fazer mais para movimentar a economia regional. Mas tem faltado coragem para isso.

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● “Quem não deve não teme. Se for assim, quem vai investigar aqueles que nos investigam?”

HÁ 875 DIAS

A Corte tem 353 desembargadores e, segundo as inspeções da Corregedoria do CNJ, 17 foram privilegiados – o que fere o princípio da impessoalidade assegurado pela Constituição de 88. Ao esvaziar o poder do CNJ e ao suspender as investigações que a Corregedoria Nacional de Justiça vinha fazendo nas Justiças estaduais, as liminares concedidas pelos ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski agravaram a crise do Poder Judiciário. Para evitar que a crise se aprofunde ainda mais, a Corregedoria Nacional de Justiça – que até agora está se saindo moralmente vencedora nesse embate – tem de enviar os processos disciplinares já abertos contra juízes para as Justiças estaduais, como recomendou o ministro Marco Aurélio, em vez de aguardar o julgamento do recurso que a Advocacia-Geral da União já interpôs contra as liminares concedidas pelo Supremo.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 24 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

O ano-novo do governo O Brasil terá no próximo ano mais crescimento econômico e menos inflação que em 2011, segundo o governo. As profecias oficiais são em geral otimistas em relação ao País, especialmente porque o cenário global deve continuar muito ruim. Mas há diferenças de tom. O troféu do otimismo vai para o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele insiste na previsão de um crescimento econômico entre 4% e 5% em 2012, enquanto os economistas do Banco Central (BC) dão como provável um aumento de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Eles concordam, no entanto, quanto a um detalhe bem menos animador: a inflação cairá até o meio do ano, voltará a subir e no começo de 2013 ainda estará acima do centro da meta, de 4,5%. No mercado financei-

ro, esse ponto foi interpretado como indicação de nova alta dos juros. Se houver um repique da alta de preços, será difícil evitar um aperto da política monetária. Mas isso deve ficar para bem mais tarde. Segundo Mantega, a grande missão do governo em 2012 será reduzir o custo do crédito. Não contou como será cumprida essa missão, mas o BC já anunciou pelo menos uma providência para irrigar o mercado. Deixará de remunerar 36% do recolhimento compulsório sobre depósitos a prazo. O objetivo é estimular os grandes bancos a repassar pelo menos parte desse dinheiro aos pequenos. Se der tudo certo, haverá maior volume de recursos para crédito. Mas será preciso muito mais para equiparar o custo do crédito aos padrões internacionais. De toda forma, tanto os economistas do BC quanto o ministro da Fazenda apostam na manutenção de

um elevado nível de emprego como fator favorável ao consumo. Em novembro, o desemprego de 5,2% nas seis maiores áreas metropolitanas foi o mais baixo da pesquisa mensal iniciada em 2002. A construção civil deu uma contribuição importante para a sustentação do emprego e o setor deve continuar muito ativo em 2012. Segundo o BC, a construção deve crescer 5% no próximo ano – em ritmo igual ao previsto para o setor de extração mineral. Mas o crescimento da indústria de transformação deverá ficar em 3%. Será bem superior ao estimado para este ano (0,9%), mas, apesar disso, claramente insatisfatório. Afinal, esse é o segmento industrial mais importante para a geração de empregos de alta qualidade na maior parte do País e um dos canais mais eficientes para a absorção de tecnologia. Há uma ligação entre o baixo crescimento previsto para o setor manu-

fatureiro e a projeção de um ano medíocre para as contas externas. Segundo o BC, a exportação de bens e serviços aumentará 3%; a importação, 7%. Considerado somente o comércio de bens, os aumentos estimados são de 4,3% e 7%. A contribuição das contas externas para o PIB será novamente negativa. O superávit comercial diminuirá de US$ 28 bilhões (estimativa deste ano) para US$ 23 bilhões. Esse resultado refletirá, segundo o BC, a situação da demanda internacional e, de modo especial, a redução de preços das commodities. Mas seria importante ressaltar outro ponto: o comércio de manufaturados tem sido deficitário há anos e isso se deve principalmente às condições de competição. O câmbio é só parte do problema. Custos determinados fora das empresas (logística, impostos, etc.) são os principais fatores, mas o País continua sem uma política realista para a eliminação des-

ses entraves. Segundo o BC, mais uma vez a receita de impostos sobre produtos aumentará mais que o valor da produção. A preços básicos, isto é, sem os impostos, o PIB deverá crescer 3,4%, 1 ponto menos que o PIB a preços de mercado. A diferença resulta do acréscimo do valor dos tributos, com expansão estimada em 4,2%. Isto é parte do problema da competitividade. O ministro Mantega mostrase preocupado com a sustentação do consumo. Deveria dar maior atenção, para variar, às condições da oferta interna. Isso serviria tanto para equilibrar a concorrência quanto para tornar o controle da inflação menos dependente das importações. Protecionismo não resolve. Pode sustentar empregos durante algum tempo, mas não cria empregos a longo prazo, não estimula ganhos de produtividade e de qualidade e acaba prejudicando o consumidor.

A OAB e a Defensoria Pública

O currículo do ensino médio

provado pelas comissões técnicas da Assembleia Legislativa de São Paulo, já pode ser votado pelo plenário o projeto de lei que transfere, da Defensoria Pública para a Secretaria de Justiça e Cidadania, a gestão do Fundo de Assistência Judiciária. O projeto foi apresentado pelo deputado Campos Machado (PTB), mas suas diretrizes foram elaboradas pela OAB. A seccional paulista da OAB alega que cerca de 47 mil advogados prestam atendimento jurídico a 1,8 milhão de pessoas carentes por ano, com base em convênio firmado com o governo estadual, e acusa a Defensoria Pública estadual de atrasar o pagamento devido a esses advogados. A Defensoria responde que advogados participantes do convênio – que ganham por processo – muitas vezes querem receber por trabalhos não previstos pelas regras do Fundo de Assistência Judiciária e que as certidões para recebimento de honorários são enviadas com irregularidades. O embate entre a OAB e a Defensoria Pública é antigo, ocorre em quase todo o País e se tornou mais acirrado à medida que o mercado de trabalho ficou saturado, por causa da proliferação de faculdades de direito. Como a oferta de profissionais é maior do que a demanda por seus serviços, advogados sem clientes recorrem aos convênios de assistência judiciária para fechar as contas. Em São Paulo, o primeiro convênio foi firmado em 1984,

Secretaria da Educação do Estado de São Paulo alterou duas vezes, no período de apenas três dias, o currículo da rede estadual de ensino médio para o próximo ano, mudando as cargas horárias de disciplinas obrigatórias e eletivas. Há uma semana, o Diário Oficial do Estado anunciou a redução de 17% no número de aulas de matemática e de 8% na carga horáriadeportuguêsparaos alunos do curso noturno. Segundo a Secretaria Estadual da Educação, a medida foi tomada para permitir a ampliação do número de aulas de disciplinas eletivas, como sociologia, filosofia e artes, e a inserção de matérias que hoje não integram a grade, como espanhol. Para os alunos do curso diurno, foi anunciada a redução da carga horária de geografia e história. Para as autoridades educacionais, essas alterações permitiriamàrede deensinomédio oferecer em 2012 um currículo mais diversificado e mais adequado às necessidades do mercado de trabalho. Os especialistas reconheceram que as medidas poderiam estimular os alunos a estudar mais, ajudando a reduzir a taxa de evasão escolar, que é alta nesse ciclo. Mas também lembraram que o novo currículo reduziria a carga horária justamente das matérias em que os alunos enfrentam maior dificuldade de aprendizagem. Segundo o Sistema de Avaliação doRendimentoEscolardoEstado de São Paulo (Saresp), 57% dos estudantes de ensino médio

A

BOAS-FESTAS

O Estado agradece e retribui os votos de feliz Natal e próspero ano-novo de Activolution; Adilson Alves; Amadeu R. Garrido de Paula; Amil Assistência Médica Internacional; Antonio Bias Bueno Guillon – Fundação Armando Álvares Penteado; Associação Nacional dos Defensores Públicos (Anadep); Bandeira de Mello; Bianca Costa – ABC Comunicação; Camila Abranches – Albert Eisntein; Celita Procopio de Carvalho – Fundação Armando Álvares Penteado; Cesa; Cia. City; Ciampolini e Calvo Advogados; Clarínk – Julio Blanck; Eneida Nogueira – TV Globo; ETC; Fundação iFHC; Gilberto Lima Junqueira; Graciela Binaghi; Grupo FCEM; Hidenarii Hayashi – Igreja Messiânica Mundial; Hospital Bertioga; Instituto Anandah; Instituto Ecológico Aqualung; Ipanema Tower; Jorge de Azevedo Pi-

durante o governo Montoro, quando a então Procuradoria de Assistência Judiciária – vinculada à Procuradoria-Geral do Estado – não dispunha de profissionais em número suficiente para dar atendimento jurídico gratuito. O problema era especialmente grave na área penal – foi por causa da falta de assistência legal que o sistema prisional foi cenário, na época, de violentas rebeliões. O convênio foi sendo renovado com a seccional da OAB até que, em 1988, considerando que a assistência jurídica gratuita à população pobre é obrigação do poder público,

Assistência advocatícia a pessoas sem recursos em discussão entre OAB e governo estadual a Constituição obrigou a União e os Estados a criarem Defensorias Públicas. Segundo os constituintes, se o Estado dispõe de um juiz para julgar e de um promotor de Justiça para acusar, deveria completar o quadro um defensor devidamente concursado. Apesar da determinação constitucional, São Paulo demorou 18 anos para criar a Defensoria estadual – só instalada após uma campanha deflagrada por mais de 400 movimentos sociais, ONGs e entidades da sociedade da civil. Depois da realização de concurso para a seleção de 400 defensores para atuar na capital e nos municípios mais populosos, a Defensoria Pública de São Paulo adotou novos critérios para

res; Jornal e TV da Segurança; José Eduardo Victor e Lucas Fiorelli Victor; Kazuaki Obe, cônsul-geral do Japão em São Paulo; Kelly Palermo; Lauro Mario Melo de Almeida; Luiz Ricardo Navarro; Maga Fialho Eventos; Mailson da Nóbrega – Tendências Consultoria Integrada; Mara Montezuma Assaf; Marc Bailliart – Air France KLM Brasil; Marcell Moraes; Maria Tereza Murray; Mozarteum Brasileiro; NBCom; Neto Angel e Helena Alam – Hfashion; Paulo Dias Neme; Paulo Piau, deputado federal; Paulo Ricardo Stark – Siemens Brazil; Peggy Beçak; Prefeitura de São Paulo; Projeminas Projetos e Serviços Ltda.; Ritah Oliveira; Roberto Saraiva; Robson Braga de Andrade – CNI; Ruth Hellmeister; Ruy Martins Altenfelder Silva; Sagrado Lamir David; Santa Imaginação; Silvio Natal; Sociedade Brasileira de Coaching; Tree Comunicação; Turibio Liberatto; Santo Antônio Energia; e Unesco no Brasil.

a renovação do convênio com a OAB, rejeitou os pedidos de reajuste das tabelas de honorários e procurou circunscrever a contratação de advogados conveniados a locais onde não havia defensores. A Defensoria alegou que, com isso, faria uma economia que permitiria a contratação de mais 1,2 mil defensores públicos e a instalação de unidades de atendimento em todas as comarcas do Estado – o que tornaria o convênio com a OAB desnecessário. A entidade de classe reagiu – e o projeto do deputado Campos Machado,transferindoocontrole do Fundo de Assistência Judiciária para a Secretaria de Justiça, é fruto dessa reação. Desde que ele foi apresentado, entidades dasociedade civil, institutos de pesquisa, movimentos sociaiseONGssemobilizaramparatentarimpedirsuaaprovação. A mesa daAssembleia pretendia colocá-lo em votação ainda este ano, mas, cedendo às pressões, retirou-o temporariamente da pauta.Alémdeconsideraroconvêniooneroso para os cofrespúblicos,oscríticosdoprojetoacusam a OAB de tentar perpetuar ummodelodeassistênciajurídicaqueatendemaisàsnecessidades de advogados sem clientela doqueaspessoasporelesassistidas e lembram que os defensores, além de concursados, trabalhamemregimedededicaçãoexclusiva – o que não ocorre com os advogados conveniados. Essas críticas são procedentes. Por que o governo precisa pagar advogados particulares para atender pessoas carentes sejá existe umórgão públicoencarregado dessa tarefa?

“O mensalão vai ser votado em ano eleitoral? Tá bom. E quem vai dar voto de minerva é o Papai Noel” RICARDO MARIN / OSASCO, SOBRE O JULGAMENTO DO CASO NO STF francisco.aneas@uol.com.br

“Justiça tardia não é justiça, é injustiça manifesta” CARLOS JOSE BENATTI / SÃO PAULO, IDEM cjbenatti@globo.com

A

não conhecem as noções básicas de matemática e 38% não conseguem absorver os conteúdos mínimos de português. Na última versão do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que é um levantamento comparativo envolvendo65países,osestudantesbrasileiros ficaram em 53.º lugar no examede leitura;em 57.º, noteste de matemática; e em 53.º, na prova de ciências. Três dias depois da divulgação do novo currículo, o governador Geraldo Alckmin obrigou a Secretaria Estadual da Educação a voltar atrás nas mudanças anunciadas para os alunos do

Às vésperas de um novo ano letivo, ainda se discute o currículo do ensino médio estadual cursonoturno.Com isso,oscortes na carga horária de português e matemática foram suspensos. As alterações que haviam sido anunciadas para os alunos do curso diurno foram mantidas. Nos últimos três meses, o governador deu váriasdeclarações sobre as mudanças que a Secretaria Estadual da Educação pretendia promover no currículo do ensino médio. Quando a minutadonovocurrículo foienviada às escolas da rede pública para ser debatida, em setembro, o governadorsugeriuqueonúmero de aulas de sociologia, filosofia e artes não fosse aumentado àcustadareduçãodacargahorária de português e matemática. “Já que vai haver debate, quero daraminhacontribuição,dizen-

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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TOTAL DE COMENTÁRIOS NO PORTAL:

Dilma aprova salário mínimo de R$ 622

837

Alta será de 14,3% em relação ao valor atual, de R$ 545; cálculo leva em conta a inflação e o PIB ● “Ainda assim continua sendo uma vergonha para um país tão rico como o nosso em tantos aspectos.” ROBSON BARBOSA

● “O pior é saber que alguns se alegram com esse reajuste. Não ficariam assim se soubessem do reajuste da inflação.” MARCO DINIZ

HÁ 876 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “O aumento porcentual da remuneração dos legisladores deveria ser limitado ao aumento porcentual do salário mínimo.” EMANUEL BARRETO

do que, se pudéssemos, deveríamosaumentaras aulasde português e matemática”, disse ele. Segundo a Secretaria Estadualda Educação,ocurrículo divulgadopeloDiárioOficialdoEstado resultou de um debate que durou quase três meses e contou com a participação de mais de 20 mil representantes da rede de ensino médio. Mesmo assim, a decisão tomada por Alckmin,acolhendoasrecomendações dos especialistas, é muitomais sensata do que aalternativaquehaviasidonegociadapelas autoridades educacionais com o professorado. Português e matemática são disciplinas decisivas para a emancipação social, intelectual e profissional das novas gerações. Sem saber ler e escrever textos com um mínimo de complexidade e sem conhecer álgebra e geometria, os jovens não têm como encontrar ocupação na economia formal, pois não saberão lidar com as novas técnicas de produção e comunicação propiciadas pelo desenvolvimento tecnológico. Também não terão condições de progredir no sistema educacional, evoluindo para o ensino superior, ajudando com isso a romper o círculo vicioso do analfabetismo, da desigualdade e da pobreza. Sem um ensino fundamental e médio capaz de assegurar uma boa formação em matemática e portuguêsaosalunos, nãohápolítica pedagógica que ajude a nivelaroportunidades.Ogovernadormostrou terconsciência disso, quando impediu a redução da cargahorária dessasduas disciplinas.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


%HermesFileInfo:A-3:20111225:

O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 25 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

A sobrevivência do CNJ Estimuladas pelas liminares concedidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que suspenderam o poder do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de investigar magistrados acusados de irregularidades e de quebrar seus sigilos fiscal e bancário, associações de juízes estão pedindo que a corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, passe de investigadora à condição de investigada. A ministra Eliana Calmon, por sua vez, ao justificar as correições que vem fazendo em 22 Tribunais de Justiça, afirmou que o corporativismo de desembargadores se converteu no “ovo da serpente do Judiciário”. Como as discussões se tornaram mais acirradas após a concessão das liminares, pelo STF, no calor dos debates as duas partes apelaram para ar-

gumentos marcados mais pela paixão do que pela razão. Alguns juízes, por exemplo, acusam Calmon de ter determinado a quebra do sigilo de 216 mil juízes e servidores judiciais. A corregedora classificou a acusação como “mentirosa”. Alegou que o número de movimentações financeiras consideradas atípicas pelo CNJ não chega a 500. E disse que não houve quebra de sigilo, pois todo servidor público tem de entregar sua declaração de bens e os tribunais são obrigados a divulgar suas folhas de pagamento. O que está em jogo, nessa discussão que nem sempre é conduzida com serenidade, é a sobrevivência do CNJ como eficaz órgão de controle externo do Judiciário. A magistratura quer que a Procuradoria-Geral da República abra uma investigação para apurar se Calmon cometeu crime ao determinar correições dos Tribunais de Justiça, cruzan-

do folhas de pagamento com declarações de Imposto de Renda de juízes e servidores. Essa decisão, contudo, não foi tomada por ela, mas por seu antecessor, ministro Gilson Dipp. Ele teve atuação exemplar no período em que esteve à frente da corregedoria do CNJ. Além das correições, Dipp se destacou no combate ao nepotismo, proibindo desembargadores de contratar parentes para cargos de confiança. Em suas declarações, Eliana Calmon disse que apenas deu sequência às decisões tomadas por seu antecessor. Em 2009, depois de receber denúncias de irregularidades no pagamento de verbas atrasadas a juízes e servidores, Dipp pediu a todos os tribunais do País que enviassem os nomes completos e os CPFs de seus juízes – e, com base neles, solicitou ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) um levantamento das movimentações financeiras aci-

ma de R$ 500 mil, entre 2006 e 2010. As investigações correram normalmente até que chegaram ao Tribunal de Justiça de São Paulo, onde foram constatados problemas em pagamentos feitos a alguns desembargadores. A ministra Eliana Calmon alega que, nesse tribunal, o mais refratário às fiscalizações do CNJ, as inspeções se circunscreveram a 2009 e 2010, quando nenhum dos atuais ministros do STF a integrava. Ela não citou nomes, mas fez referência a duas reportagens publicadas pelo jornal Folha de S.Paulo. Uma noticiou que o ministro Ricardo Lewandowski teria sido beneficiado pela liminar que concedeu no início da semana, suspendendo inspeções feitas pelo CNJ na Justiça paulista, onde foi desembargador. Outra reportagem noticiou que 17 desembargadores – entre eles o ministro Cezar Peluso, hoje à frente do STF – teriam recebido de uma só vez o pagamento de passivos trabalhis-

tas, enquanto os demais desembargadores estariam recebendo o que têm direito em parcelas. A corregedora também classifica as manifestações das associações de juízes – que a acusam de crime de quebra de sigilo – como “tentativa de desviar o foco do que está em jogo” – a sobrevivência do CNJ. De fato, criado para promover o controle externo da magistratura, o CNJ foi a principal inovação da Emenda Constitucional 45, que introduziu a reforma do Judiciário, em 2004. Desde então, os corregedores do órgão apenas cumpriram suas atribuições, ouvindo denúncias, apurando irregularidades e coibindo desvios éticos. A crise da Justiça é o desdobramento da resistência das corporações judiciais à atuação do CNJ. “Detratam um órgão que defende as instituições”, diz Eliana Calmon, depois de afirmar que, “mesmo inconformada”, cumprirá as liminares do STF.

Freio nos gastos em São Paulo

O Senado esbanja mais

m face das projeções de redução dos investimentos estrangeiros diretos no Brasil e das previsões, nada animadoras, sobre os investimentos de empresas nacionais, o ritmo de atividade da economia, em 2012, vai depender, proporcionalmente, muito mais dos investimentos públicos. Nesse sentido, o governo do Estado de São Paulo acaba de tomar medidas para garantir que a sua capacidade de investir seja preservada e até mesmo ampliada. O governo paulista planeja reduzir os seus gastos de custeio em até R$ 2,7 bilhões até 2014, sendo R$ 900 milhões em 2012. Esquematizou também um sistema de contingenciamento de verbas orçamentárias para racionalizar as despesas, preservando os investimentos, e se prepara para adotar um novo modelo de gestão, a ser elaborado por uma consultoria especializada. Diante de um orçamento de R$ 156,9 bilhões para o exercício de 2012, a poupança de R$ 900 milhões no ano, por meio da contenção de despesas de água, energia elétrica, telefonia e combustíveis, pode parecer relativamente pequena. Esse argumento deixa de considerar que o maior desafio da administração pública no Brasil, em todos os níveis, é conter despesas de custeio. Se, além de não aumentarem, elas deixarem uma sobra para ser agregada aos investimentos, isso é novidade no Brasil. Basta lembrar a promessa do

a iniciativa privada, balanços maquiados são passíveis de processo. Na esfera pública, os Tribunais de Contas, órgãos de assessoria das câmaras legislativas, podem rejeitar os números apresentados pelos governantes de turno, multá-los pelas irregularidades identificadas e eventualmente pedir ao Ministério Público a abertura de inquéritos a respeito. Mas isso não deve tirar o sono do político José Sarney, pela quarta vez presidente do Senado. Ele sabe que nada lhe sucederá pelo fato de o balanço financeiro de 2011 da Casa – um documento de 12 páginas, encapadas por uma apelativa foto do oligarca ladeado por estudantes – desmentir o seu título autocongratulatório: Mais econômico, mais ágil e mais transparente. Montado para mostrar a dedicação com que o senador zela pelo dinheiro do contribuinte, o material comemora a acentuada redução dos dispêndios com horas extras de sua legião de mais de 9 mil servidores (concursados, patrocinados ou terceirizados). Os R$ 37,8 milhões pagos a esse título em 2010 caíram para R$ 5,8 milhões este ano. Naturalmente, o texto não se deu ao trabalho de creditar a mudança ao noticiário sobre a rotina dos extravagantes pagamentos de horas extras na Casa, o que levou tardiamente à implantação do ponto eletrônico. O balanço esconde verdades muito mais inconvenientes para a imagem de administrador rigoroso e

E

BOAS-FESTAS

O Estado agradece e retribui os votos de feliz Natal e próspero ano-novo de Alex Manente e família; Alvimar Santos Jr.; AMC Comunicação; Américo Fialdini Jr. – Fundação Conrado Wessel; Bradesco Prime; Brasil Sem Grades; BS Bios Energia Renovável; Carlos Iunes; Carolina Carvalho Link Mailer; Celso Gasparello; Centro de Direito Internacional (Cedin); Colégio Dante Alighieri; Comerlato Imobiliária; Coodetec; De Conto Farmácia de Manipulação; Desejo & Sabor; Divox; Emiliano Hotel e Gastronomia; Fernando Penteado Villar Félix, presidente da Associação dos Moradores do Parque São Jorge; Fernando Valentin; Festimania; Filipe Luiz Ribeiro Sousa; Flower Gallery; Francisco Zardetto; Fundação Konrad Adenauer; Hélio Deutsch de Freitas Braga; Henrique Arantes; Henrique Brigatte;

atual governo federal, feita em março, de cortar R$ 50 bilhões nos seus gastos totais em 2011. As autoridades federais reduziram a previsão de cortes para R$ 36,4 bilhões, que mesmo assim não foi cumprida e o valor caiu afinal para R$ 24 bilhões em novembro, aí incluídas não só despesas de custeio, mas também de investimentos. A meta de superávit primário de 3,1% do PIB, das contas do setor público, poderá ser cumprida, pelo que indicam os últimos dados, mas em razão do aumento extraordinário da arrecadação em 2011. Repetir essa ginástica em 2012 será extre-

Governo paulista planeja redução de custeio para preservar capacidade de investir mamente difícil. O compromisso do governo do Estado de São Paulo é diferente. Ele parte do controle de pequenos gastos para preparar o campo para um novo sistema de gestão. Como determinou o governador Geraldo Alckmin, todas as secretarias deverão acompanhar de perto a economia de despesas em suas áreas de atuação. A coordenação caberá à Secretaria de Gestão, que deverá produzir relatórios mensais de redução dos custos da máquina. Os recursos poupados devem ser alocados para a área social, onde certamente fazem falta. Isso é só o começo. No início de dezembro, o governo paulista abriu concorrência pública para a contratação de ser-

Ives Gandra da Silva Martins – Advocacia Gandra Martins; Jack Terpins Silvia Perlov, presidente do Congresso Judaico Latino-Americano; Jatiacy F. Silva; João Carlos Martins; Lourival J. Santos Advogados; Lucia Faria e Equipe; Luiz Alberto de Castro Albuquerque – Jornal Correio; Luiz Carlos C.Dutra Jr. – Unilever Brasil Ltda.; Maria Heloísa Nogueira Rodrigues Alves Martins; Mário Felipe; Markiano Charan Filho; Maxpromo; Megacycle; Metal Roma; Mohammed Khaddour, embaixador da República Árabe da Síria; NexGroup; Oliverio Junior; Pagnani Representações; Paloma Martim Muiña Ferrari – Oi; Pedro Bigardi, deputado estadual; Rádio Germânia Fm; Rick Eventos e Promoções; Rodrigo Barbosa, Mac Dowell de Figueiredo, Gasparian Advogados; Ronaldo Cabrera; Ronilson de Souza Luiz; Valeria Rossi – ExxonMobil; Vladimir Polizio; Zeca Dirceu, deputado federal; e Zoom Comunicação e Equipe.

viços de consultoria especializada para a implantação do modelo de gestão para a melhoria do gasto público em São Paulo. Os objetivos são amplos: dotar o Estado de um plano que possibilite a redução das despesas de custeio, envolvendo monitoramento de resultados, sob o aspecto de custo/benefício das aquisições de materiais e serviços, bem como despesas de passagens e locomoção, etc.; definição de modelos de gestão de suprimentos e adoção de um Plano Anual de Contratações Públicas,comaprimoramento das relações com o mercado fornecedor; e capacitação e treinamento de servidores estaduais. O projeto será desenvolvido em quatro etapas, com prazo de um ano e meio para execução, a contar da assinatura do contrato.O governo, segundo seinforma,querpassar opente-fino em despesas que somaram R$ 17,6 bilhões em 2010. Presume-se que, até a adoção das recomendações dos técnicos, o governo estadual conterá a folha de salários, limitando a contratação de pessoal por secretarias e órgãos aelas ligadosaopreenchimento de eventuais vagas, quando for imprescindível. Adecisão do governopaulista de buscar consultoria técnica para racionalizar os seus gastos tem sido criticada porque seria uma“confissão”dequeSãoPaulo não tem um plano de gestão eficiente. Trata-se, na realidade, de um ato de coragem política, que serviria de exemplo para os governos petistas, se, é claro, eles se desvinculassem de suas bases corporativistas.

“Creio que somos o único país no mundo onde Papai Noel vive o ano todo de saco cheio...” VIRGÍLIO MELHADO PASSONI / JANDAIA DO SUL (PR), SOBRE O NATAL BRASILEIRO mmpassoni@gmail.com

“Ho, ho, ho! Com a chegada do Papai Noel, a mídia se esqueceu do Pimentel” MÁRCIA CALLADO / SÃO PAULO, SOBRE A COMEMORAÇÃO NO MINISTÉRIO marciacallado@bol.com.br

N

austero que Sarney tenta transmitir, decerto para apagar da memória da opinião pública o escândalo dos “atos secretos” que ele acobertava, revelados por este jornal em 2009. Os fatos são acessíveis no Portal da Transparência da própria instituição (www.senado. gov.br/transparencia), que “tem por finalidade veicular dados e informações detalhados sobre a gestão administrativa e a execução orçamentária e financeira do Senado Federal, compreendendo, entre outros, os gastos efetuados por seus órgãos, inclusive os supervisionados, bem como suas unidades

Uma pífia economia de R$ 32,0 milhões num orçamento inchado de mais de R$ 3 bilhões integrantes”. Ali aparece o retrato da “economia” de que se gaba Sarney: até a semana passada a Casa já havia empenhado R$ 31 milhões a mais do que os R$ 2,939 bilhões desembolsados no exercício cheio de 2010. O orçamento do Senado para este ano é de R$ 3,3 bilhões (o mesmo montante irrealisticamente fixado para 2012, quando aos gastos “imexíveis” se somarem os da provável contratação de 246 outros funcionários concursados). O inchaço crescente dos débitos da Casa decorre acima de tudo da sua enxundiosa folha de pagamento – R$ 2,76 bilhões, este ano. Para citar um dado, que deixaria de olhos arregalados um senador americano, europeu ou asiático, cada

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Anvisa pede ‘recall’ de próteses de mama

276

Agência faz alerta a mulheres que implantaram prótese suspeita de causar vazamento e até câncer ● “O governo francês vai bancar a troca ou o acompanhamento das próteses de quem fez reconstrução de mamas pós-câncer.” DANIELLA LASO

● “Cabe uma solução imediata de informar essas mulheres dos riscos, monitorá-las e retirar as próteses assim que possível.” DELONI TONETTO BÓZZ

HÁ 877 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “As pessoas vão atrás de estética a qualquer custo, inclusive correndo risco de vida. É ridículo.” WILKER DALLAS

um dos nossos 81 senadores, em média, tem a seu dispor, sempre à custa do público, cerca de 80 funcionários. Pela reforma administrativa que Sarney prometeu implantar sob o impacto da crise de 2009, mas parece ter abandonado, o Senado poderia economizar algo como R$ 150 milhões por exercício. Isso seria possível, como recomendou a Fundação Getúlio Vargas naquele ano, cortando 30% dos mais de 3 mil terceirizados, entre outras providências. Mas Sarney já disse que “não se pode fazer economia com os mais pobres” – mesmo que estejam sobrando. Até o último dia 14, as despesas do Senado com locação de mão de obra somaram R$ 62,8 milhões, tanto quanto em todo o ano passado. E falta pagar mais cerca de R$ 9 milhões por serviços prestados por terceiros. Para poupar uma parte da dinheirama, bastaria que o plenário aprovasse um projeto de resolução. Mas a tramitação da matéria está empacada na Comissão de Constituição e Justiça, por obra do poderoso lobby dos terceirizados e da complacente indiferença de muitos senadores. Afinal, não são eles que pagam a conta. Nesse clima, uma representação de terceirizados entregou na terça-feira a Sarney uma placa que há de ter enchido de orgulho o velho soba. “A família dos funcionários terceirizados do Senado Federal”, diz o texto da homenagem, “agradece todo o apoio recebido do estimado presidente José Sarneydurante o presente ano.” No fim do ano que vem, com certeza, tem mais.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEGUNDA-FEIRA, 26 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

A ‘democradura’ argentina As eleições de outubro passado na Argentina não apenas deram um segundo mandato à presidente Cristina Kirchner, como lhe permitiram recuperar a maioria na Câmara dos Deputados, perdida em 2009, e, com isso, assegurar a subordinação do Congresso Nacional aos ditames da Casa Rosada. Reempossada no começo do mês, Cristina não perdeu tempo em usar a supremacia política do governo para impor a sua agenda legislativa, em que se destacam propostas claramente destinadas a tolher a liberdade de expressão no país. Do ponto de vista do kirchnerismo, faz todo o sentido: com a oposição fragmentada por disputas paroquiais e desacreditada pela sua impotência em face do rolo compressor do oficialismo em todas as frentes, incluin-

do o Judiciário, sobrou um único obstáculo à transformação do país numa versão austral da “democradura” chavista: os setores da mídia que não se acoelharam diante dos atos de intimidação e de sua formidável prontidão para corromper. Para se ter ideia, no ano passado os gastos do governo com publicidade somaram o equivalente a US$ 288,2 milhões, três vezes mais do que em 2008, o primeiro ano de Cristina no poder. O Executivo federal é o maior anunciante do país. E a distribuição das verbas de propaganda obedece – como quase tudo o mais nas relações do Estado argentino com a sociedade – à lei do cão. O jornal Pagina 12, outrora independente e mordaz, foi contemplado com US$ 5,6 milhões como prêmio por ter passado a fazer parte do sistema de controle social adotado pela Casa Rosada. Já o outrora aliado Clarín, o principal diário do país e um dos maio-

res do mundo em espanhol, recebeu a quirera de US$ 400 mil, apenas para constar, desde que começou a criticar o kirchnerismo, há três anos. O estrangulamento do matutino e, mais ainda, do bem-sucedido conglomerado de mídia que o edita se tornou uma obsessão da presidente. Esse intento está na raiz da Lei de Serviços Audiovisuais (também chamada Lei de Meios) aprovada parcialmente em fins de 2009 e atualmente sub judice. O texto estabelece limites à participação privada nos setores de rádio e TV, o que obrigará o Grupo Clarín – se o governo impuser por inteiro a sua vontade – a abrir mão do controle acionário de um número talvez significativo de emissoras. O cerco à imprensa é uma operação concatenada. O novo chefe de gabinete de Cristina, com efeito, é o ex-secretário de Comunicação Juan Manuel Abal Medida, um dos autores da lei de mídia. Na Ar-

gentina, a chefia do gabinete presidencial equivale, em tese, ao Ministério de Relações Institucionais no Brasil: o seu titular é o interlocutor natural do governo com o Congresso e condutor da sua articulação política. Cristina deve estar muito satisfeita com o seu trabalho. A toque de caixa, o Parlamento aprovou dois sinistros projetos kirchneristas. O primeiro, que declara de “interesse público” a produção, venda e distribuição de papel-jornal, passou na Câmara por 134 votos a favor ante 93 contra, na última semana. Na quinta-feira a dose se repetiu no Senado (41 a 26). O objetivo escancarado do governo é se apropriar da única empresa do setor no país, a Papel Prensa, cujos sócios privados, o Grupo Clarín e o que edita o jornal La Nación, detêm ao todo 71% do seu capital. O Estado argentino, 27%. Com a nova lei, a sua participação poderá se ampliar enormemente – isso se a

O protecionismo brasileiro

A Fifa exige tudo

ítima frequente das medidas protecionistas adotadas pela Argentina, o Brasil tornou-se mais protecionista que sua principal parceira no Mercosul. É hoje o mais fechado dos 20 países mais desenvolvidos do mundo (G-20) e dos Brics (Rússia, Índia, China, África do Sul e Brasil). Entre as 75 maiores economias do mundo, ocupa a 68.ª posição entre os que mais favorecem o comércio externo. Não se trata de classificação feita por algum país que tenha tido problemas comerciais com o Brasil, mas de uma pesquisa de uma organização independente, a Câmara de Comércio Internacional (CCI), que reúne milhares de empresas de comércio externo e associações comerciais de 120 países. Por coincidência, seu relatório sobre o protecionismo – principal tema da reunião ministerial da OMC realizada há dias em Genebra – foi apresentado no mesmo dia em que, no Brasil, entrou em vigor o decreto que eleva em 30 pontos porcentuais o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis que não comprovem o mínimo de 65% de conteúdo nacional. O aumento do IPI para carros com menor índice de componentes nacionais, no entanto, é apenas a mais recente de uma série de decisões que o governo Dilma Rousseff vem adotando, alegando necessidade de proteção do produtor nacional contra a concorrência externa predatória. O governo

difícil saber o que é mais absurdo e insano: a petulância dos donos do futebol mundial ou a ausência de senso crítico – para ficarmos com a hipótese benevolente – de quem se curva às exigências da Fédération Internationale de Football Association (Fifa). Pois o deputado Vicente Cândido (PT-SP), relator da Comissão Especial da Câmara que discute a Lei Geral das Copas, incluiu no projeto uma cláusula pela qual a União terá que ressarcir, mesmo quando não tiver nenhuma responsabilidade pelo ocorrido, todo e qualquer prejuízo que a Fifa venha a ter com a realização no Brasil da Copa das Confederações, em 2013, e da Copa do Mundo, em 2014. A atitude do relator petista é tão ostensivamente despropositada que logrou a proeza de unir em protestos, na última terça-feira, deputados tanto da oposição quanto da base de apoio do governo. Cópias do relatório foram distribuídas aos membros da comissão pela manhã, poucas horas antes do início da sessão. Muitos deputados tiveram uma imediata reação de repúdio à novidade. Vários deles, manifestando indignação, retiraram suas assinaturas da lista de presença e impediram a realização da sessão, provocando o adiamento da votação da matéria para, na melhor das hipóteses, fevereiro próximo, depois do recesso parlamentar. A tramitação da Lei Geral das Copas na Comissão Espe-

V

BOAS-FESTAS

O Estado agradece e retribui os votos de boas-festas e próspero ano-novo de Adriano Pires; AGGREGO Consultores; ANDI – Comunicação e Direitos; Andrea Doti – Central Globo de Comunicação; Antônio Correa de Lacerda; A. R. Batista e família; Argeu de Almeida Ferraz Filho; AssistCard; Au Au Joinville; Camila Conte – PRNewswire; Carlos Cesar e família; Carlos Leonel Imenes; Casa Norte Beauty; Centro Cultural Padre Eustáquio; Claudio Fernandes; Cléa Maria Granadeiro Corrêa; Clínica Médica Sua Pele – São José (SC); Conrado Alberto Bannwart Mortean; Encontros com o Professor; Equipe da Vera Moreira Comunicação; Equipe Veritae; Escritório Paulista de Contabilidade Ltda. ME; Fábio, Solange e Ricardo; Faiwichow Seguros; Família TopMídia; Fernando Fernandez – Unile-

tem afirmado que o aumento do IPI e outras medidas tomadas com o mesmo objetivo estão de acordo com as regras do comércio internacional. O crescente protecionismo brasileiro – explícito ou implícito – ainda não está sendo questionado formalmente. A inexistência de queixas formais tem sido invocada pelo governo como demonstração de que está agindo com correção no campo comercial. “Nós estamos seguindo as regras e não há nenhum processo aberto contra nós”, disse o ministro Fernando Pimentel, em Genebra, onde participou da reu-

Apesar dos benefícios da abertura da nossa economia, ela ainda é das mais fechadas nião da OMC. Naquele momento, porém, o aumento do IPI não tinha entrado em vigor. Mas já são vários os itens apontados pela OMC e parceiros comerciais como característicos de uma guinada protecionista brasileira. Há estudos que mostram o Brasil como o país que mais adotou medidas protecionistas neste ano. No fim de outubro, a OMC enviou aos países do G-20 relatório no qual mostra que a Índia, o Brasil e a Rússia foram os membros do bloco que mais impuseram medidas de restrição ao comércio externo nos últimos meses – embora, como ressalva o relatório, esses países tenham também adotado medidas de liberalização do comércio.

ver; Fuad Maluf; Galeria de Comunicações; Habib Saguiah Neto; Hayai Assessoria de Imprensa; Hornst o Krull; Hotel Península; Humberto Pessoa; Iara Correia – Assessoria de Imprensa NBCOM; Idenir Cecchim, vereador; IDP Insider2; J. Murillo Valle Mendes e Lúcia Andrade Mendes; Josmar Moura; Juvenal Azevedo Comunicação; Luiz Edgard Bueno; Luiz Fernando Rangel de Camargo Fidelis; Malheiros Filho, Camargo Lima e Rahal Advogados; Mara Montezuma Assaf; Marcelo Braga – Search Consultoria em Recursos Humanos Ltda.; Marcia Niemeyer e Equipe; Maurício Avellar de Azevedo Marques; Milton Monti, deputado federal; Nelson Penteado de Castro; Parra Imobiliária; Paulo Vaz e família; Pedro Galuchi; PT Taubaté; Ronaldo Parisi; Roraima Adventures; RP1 Comunicação; Rui Falcão, deputado estadual; Samuel Grossmann, presidente da Associação Brasil Parkinson; e Xavier Lima.

Relatório da União Europeia (UE), por sua vez, apontou a Argentina e o Brasil como os países que mais lançaram mão de medidas protecionistas. Os europeus afirmam que o Brasil acelerou as medidas de proteção para não ficar atrás de seu vizinho, “com medidas inquietantes que impactam o comércio e o investimento”. Entre as medidas do governo brasileiro consideradas preocupantes nos relatórios internacionais estão a suspensão da concessão de licença automática para importações, a adoção da regra de preferência nacional nas licitações por órgãos públicos e empresas estatais, os subsídios ao crédito para exportadores e a elevação de tarifas. A UE, em particular, apontou o risco de, por iniciativa brasileira, o Mercosul começar a elevar a Tarifa Externa Comum do grupo para proteger o mercado regional, no que poderia se caracterizar como uma tendência perigosa para o futuro do comércio com o bloco. Um dos temas tratados na última cúpula do Mercosul, em Montevidéu, foi justamente a ampliação da lista de produtos aos quais será aplicada a tarifa máxima, de 35%, como “medida dedefesacomercial,emum momento em que estamos sendo invadidos pela competição estrangeira”, na explicação do ministro Guido Mantega. Paraum país que,nos últimos anos,sevaleudasregrasinternacionais para assegurar acesso a mercados, a guinada protecionistapodecorroersua credibilidade no sistema internacional de comércio.

“O que antes só se fazia por debaixo dos panos, agora é feito debaixo das togas” A. FERNANDES / SÃO PAULO, SOBRE A CRISE NO PODER JUDICIÁRIO standyball@hotmail.com

“Juízes e desembargadores pensam que são Deus. Ministros do STF têm certeza” ANTONIO CARLOS MARTINS / SÃO PAULO, IDEM acmartins@uol.com.br

É

cial tem sido atribulada desde o início. O relator já havia provocado reações de protesto ao incorporar ao projeto as exigências da Fifa que obrigam a revogação de dispositivos dos Estatutos do Torcedor e do Idoso. Tudo porque, para agradar a um dos patrocinadores das copas, os mandachuvas do futebol querem que seja permitido o consumo de bebidas alcoólicas durante as partidas e, para que sua receita permaneça intocada, não admitem a cobrança de meia-entrada de estudantes e idosos. Atendendo não se sabe exatamente a qual motivação, o relator extrapolou a fina-

O extremado zelo do governo pela soberania do Brasil não é exibido diante da Fifa lidade específica do projeto ao incluir cláusula que revoga definitivamente, e não apenas durante as partidas das copas, o dispositivo do Estatuto do Torcedor que proíbe o consumo de álcool durante os jogos, em todo o território nacional. Esse é “o alto preço que já se começa a pagar” pela realização no País daqueles dois importantes torneios organizados pela Fifa, conforme destacamos em recente editorial. Naquele momento, no entanto, o casamento do atrevimento com a submissão ainda não tinha transposto os limites do impensável a que agora se chega com a exigência despropositada de que todo e qualquer prejuízo naqueles eventos seja debitado na conta do contri-

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Economia global está em perigo, alerta FMI

431

Países emergentes, que antes da crise foram os motores da economia mundial, estão sendo afetados ● “A União Europeia e os Estados Unidos, que criaram toda essa situação, devem arcar com as consequências.” RUBENS MIRANDA

ANTONIO SAVERIO POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “A crise econômica vai destruir o Brasil depois da Copa do Mundo 2014, é só aguardar.” FELIPE MARQUES

buinte brasileiro. Apesar da veemente negativa do deputado Renan Filho (PMDB-AL), que preside a Comissão Especial, é óbvio que o adiamento da votação da Lei Geral das Copas por pelo menos dois meses contribuirá para atrasar o já problemático cronograma de organização daqueles eventos. E o adiamento nem chega a ser uma garantia de que a discussão mais ampla da matéria acabará por favorecer o trabalho de escoimar o projeto de suas cláusulas mais claramente conflitantes com os interesses do País. Muito ao contrário, os dois meses podem ser exatamente o tempo de que a Fifa e seus aliados necessitam para colocar em camposeuenormepoderdepersuasão e dobrar as resistências a suas exigências mais abusadas. Essas resistências existem, tanto dentro da Comissão Especial como no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto. Não se podedescartar,portanto,ahipótese de que tudo o que ocorreu no âmbito da Comissão Especial tenha sido calculado para evitar a anulação das cláusulas que interessam à Fifa. Uma manobraconcebidaexatamentepara proporcionar à suprema entidade internacional do futebol e a seus aliados no Brasil tempo suficiente para quebrar as resistências que estão enfrentando para impor suas condições em troca do grande favor de nos ter honrado com a escolha do Brasil para sediar a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. Resta saber até que ponto os homens públicos brasileiros estão dispostos a se curvar.

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

● “Nafta, Comunidade Europeia, Mercosul. No fim, é cada um por si. Não há união ou cuidado com o bem comum.”

HÁ 878 DIAS

companhia não for sumariamente expropriada, ficando a imprensa à mercê da Casa Rosada para ter acesso ao insumo e não precisar recorrer a fornecedores estrangeiros. O segundo ataque liberticida, via Congresso, foi mais engenhoso. Também na quinta-feira o Senado completou a aprovação de uma lei antiterrorista, feita para aterrorizar, isto sim, o jornalismo. O governo poderá enquadrar na lei o noticiário da imprensa que possa provocar especulação financeira, cambial ou uma corrida aos bancos – ou ainda “ameaçar a governabilidade”. Evidentemente, isso permitirá à Casa Rosada considerar terrorista qualquer notícia ou comentário que o seu ocupante não gostaria de ver divulgados – desde uma denúncia de corrupção nos negócios oficiais à exposição de graves desequilíbrios nas contas internas. Uma ditadura não faria melhor.

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 27 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

Lição de pragmatismo da Ásia China, Japão e Coreia do Sul – um quinto do produto bruto mundial – em breve poderão compor mais uma poderosa área de livre comércio, segundo anunciou no fim de semana o primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda. Os governos da China e do Japão, a segunda e a terceira maiores economias do planeta, decidiram usar as próprias moedas para o comércio bilateral, dispensando o dólar quando julgarem conveniente, e também combinaram iniciar negociações para um acordo de livre comércio. O governo coreano já havia iniciado entendimentos com o chinês há algum tempo e será chamado para um acerto a três. Só o intercâmbio China-Japão alcançou no ano passado US$ 339,3 bilhões, segundo informação oficial japonesa. Cinco

dias antes, os presidentes do Mercosul, mantendo sua tradição minimalista em matéria de pactos comerciais, haviam assinado um acordo de livre comércio com a Palestina. O uso das moedas nacionais deverá simplificar o comércio entre China e Japão e cortar os custos de operações cambiais. Até agora, 60% das transações bilaterais envolvem operações com dólares. Nas discussões do fim de semana o governo japonês comprometeu-se também a comprar títulos públicos da China – por enquanto, em pequena quantidade. Os dois países são os maiores detentores de reservas estrangeiras, especialmente americanas, e devem manter essa posição. Há pelo menos três fortes motivos para isso: o dólar permanece como a referência principal para o comércio, a moeda chinesa não é livremente conversível e, além do mais, nenhum governo tem interesse em agravar a crise

nos Estados Unidos, ainda a maior potência e o mercado mais importante do mundo. A negociação de um acordo de livre comércio será um passo a mais na integração, já muito forte, das economias chinesa, japonesa e coreana. A iniciativa seguinte poderá ser a vinculação dos três países à Asean, a área de livre comércio formada por dez países dinâmicos do sudeste asiático – incluídos Cingapura, Tailândia e Indonésia – com PIB conjunto de US$ 1,3 trilhão em 2010. Um acordo poderá levar ainda um bom tempo, mas ensaios de aproximação ocorrem desde 1997 e deram origem à sigla APT (Asean Plus Three, Asean Mais Três). Também estão na agenda há vários anos acordos entre países da Asean e membros da Apec, o bloco de Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico. Participam desse grupo, além de países da Ásia e da Oceania,

Canadá, Estados Unidos, México, Peru e Chile, todos com importantes interesses comerciais no Extremo Oriente. Há pouco mais de um mês – em 21 de novembro –, os governos de Estados Unidos, Chile, Peru, Cingapura, Malásia, Austrália, Nova Zelândia e Brunei divulgaram o esboço de uma Parceria Transpacífico, destinada a promover o comércio e diversas formas de cooperação econômica, passos iniciais para compromissos mais estreitos. Quatro latino-americanos – Chile, Peru, Colômbia e México – prometem oficializar dentro de uns seis meses a Aliança do Pacífico, um novo esforço de cooperação com objetivos essencialmente comerciais. Se esse bloco for constituído, será mais um reforço para a ligação comercial entre Estados Unidos e um grupo importante de países latino-americanos. Chile e Colômbia já têm acordos de livre comércio com os Esta-

dos Unidos. O México é membro do Nafta (Acordo Norte-americano de Livre Comércio), formado pelos três países da América do Norte. O governo americano também já firmou um acordo comercial com as autoridades da Coreia, criando mais uma ponte com o poderoso mercado do Extremo Oriente. Nos últimos dez anos, a diplomacia econômica brasileira dividiu suas fichas entre a Rodada Doha e parcerias com países em desenvolvimento a partir do Mercosul. Enquanto a Rodada Doha derrapava, até o fracasso final oficializado há cerca de duas semanas numa conferência em Genebra, outros governos cuidaram de buscar bons acordos bilaterais e regionais. O resultado foi uma ampla trama de acordos já concluídos ou ainda em negociação. O Brasil e o Mercosul ficaram fora desse movimento. É o preço do infantilismo ideológico.

Adensamento na Faria Lima

A questão do lazer dos juízes

Câmara Municipal de São Paulo concedeu permissão para a construção de 410 mil metros quadrados de prédios residenciais e comerciais na região das Avenidas Faria Lima e Presidente Juscelino Kubitschek, entre Pinheiros e Vila Olímpia, na zona oeste da capital. Ruas estreitas do entorno já têm, hoje, um grande número de construções, que prejudicam o tráfego por causa das betoneiras, caçambas e caminhões ali estacionados. São muitos os sofisticados empreendimentos residenciais que têm, em seus subsolos, pelo menos cinco vagas de estacionamento para cada apartamento, distribuídas em sete ou oito pavimentos de garagem. Com o projeto aprovado, o perímetro da Operação Urbana Faria Lima poderá receber outros 24 arranha-céus, que atrairão aproximadamente mais 12 mil veículos para lá. Hoje, 9,6 mil carros passam pela Juscelino Kubitschek na hora de maior movimento da manhã e outros 7 mil travam a Faria Lima no pico da tarde. O congestionamento se espalha pelas ruas estreitas da região. Aos milhares de veículos somam-se ônibus fretados que param em fila dupla diante das empresas e disputam com os ônibus do sistema formal os pontos de embarque e desembarque. A decisão da Prefeitura de organizar os fretados não está sendo respeitada e em vias como a Avenida Luís Carlos Berrini os ônibus tomam todas as faixas. A desor-

ois meses depois de ter criticado entidades de juízes que pedem colaboração financeira a empresas estatais e privadas para custear eventos esportivos da magistratura em cidades serranas ou em praias badaladas, a corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, apresentou ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) uma proposta para regulamentar a participação de integrantes do Poder Judiciário em eventos patrocinados, como cursos de especialização, seminários, encontros acadêmicos, almoços e jantares de confraternizações, homenagens e competições esportivas. Entre outras restrições, a minuta propõe que os juízes sejam proibidos de usar transporte ou hospedagem pagos ou subsidiados – mesmo que indiretamente – por pessoas físicas e empresas. E que os tribunais sejam obrigados a controlar de forma mais rigorosa as atividades extrajurisdicionais organizadas por seus membros. A ministra Eliana Calmon lembrou aos dirigentes de todas as instâncias e braços especializados do Judiciário que essas atividades estão submetidas aos princípios da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência consagrados pela Constituição de 88. Por isso, disse ela, o conteúdo, a carga horária, os custos dos eventos e a origem do dinheiro que os custearão devem ser “expostos de forma prévia e transparente”.

A

toda a América do Sul está levando seu país a ter grandes prejuízos. E nenhum outro país do Cone Sul que tem a democracia como sistema político sonha em ter um sócio que, em vez de dar um passo à frente, teima em dar dois para trás. PETER CAZALE pcazale@uol.com.br São Paulo

Vale para todos

Gostaria de pedir ao sr. Maximilien Arvelaiz, embaixador da República Bolivariana da Venezuela no Brasil, que faça uma leitura bem atenta dos estatutos da criação do Mercosul. Membros plenos só poderão ser aceitos, ou se manter no grupo, se forem países “democráticos”, e uma democracia é constituída de alternância de poder, liberdade de imprensa e expressão, independência entre os Poderes institucio-

ganização afeta também a Marginal do Pinheiros. A Prefeitura defende seu projeto de verticalização com base em planejamento feito há 16 anos, quando a Operação Faria Lima foi lançada pelo então prefeito Paulo Maluf. De um total de 1,3 milhão de metros quadrados que poderiam ser construídos na região, 890 mil foram utilizados. Segundo o diretor de Legislação Urbana do Sindicato da Habitação (Secovi), Eduardo Della Manna, o adensamento da região não terá grande impacto no trânsito, porque ela recebeu duas estações de metrô –

Um projeto de quase 20 anos, desatualizado, não pode servir de base para esse adensamento Pinheiros e Faria Lima. “Acho que a área, que até agora foi ocupada por prédios comerciais, vai receber mais empreendimentos residenciais e as pessoas vão ficar mais perto do trabalho”, explica. Planejamento urbano não se faz com “achismos”. Exige estudos precisos. Certamente não é grande a parcela da população que tem condições de comprar apartamentos nesses sofisticados edifícios, erguidos numa das áreas mais nobres do Município. Dificilmente quem vem das periferias das zonas sul e oeste – talvez a maior parte dos trabalhadores daquela região – pode adquirir uma nova moradia ali. Um projeto de quase duas décadas atrás, nunca atualiza-

nais, entre muitos outros deveres e direitos que não ocorrem em seu país. Não vejo, pois, razões para tanta insistência em fazer parte do bloco. E cumprimento o Legislativo paraguaio, por se manter firme na defesa das regras que necessariamente devem valer para todos os membros. ANA PRUDENTE ana_prudente@uol.com.br São Paulo

BOAS-FESTAS

O Estado agradece e retribui os votos de boas-festas e próspero ano-novo de Arline Silva; Associação Nacional de Livrarias (ANL); Avec Mitsubishi; Casa Norte Beauty; Cassiano Goulart; Deli Dias; Jihan Arar – Embaixada da República Árabe da Síria; Luiz Fernando Rocha Lima – Organização Jaime Câmara; Martiniano Santana e família; e Paulo Damião – Santo Antônio Energia.

do, não pode servir de base para aprovação de tal adensamento. Por exemplo, se foram feitas projeções sobre o crescimento da frota de veículos de São Paulo em 1995, o mais provável é que elas ficaram aquém da realidade. O País e a principal cidade brasileira passaram por mudanças profundas na última década, quando a indústria automobilística bateu sucessivos recordes de produção. Os administradores municipais só parecem pensar nos R$ 2 bilhões que os 500 mil Certificados de Potencial Construtivo poderão trazer para os cofres públicos. Esses títulos permitirão a construção dos 410 mil metros quadrados além do que estabelece a Lei de Zoneamento na região da Avenida Faria Lima. O volume é praticamente o mesmo negociado nos últimos dez anos nos leilões da Operação Urbana Consorciada Faria Lima, um instrumento criado para revitalizar regiões das cidades com investimento da iniciativa privada que, em contrapartida, ganha o direito de construir área adicional à permitida. A Operação Urbana Faria Lima foi a primeira a ser aprovada em São Paulo e, desde o seu início, sofreu críticas de urbanistas por causa do desacordo entre o que foi planejado e o que temsidoexecutado.Aáreaconstruída se multiplicou, os cofres da Prefeitura se encheram, mas a população não recebeu as melhorias prometidas: continuou sofrendo os mesmos problemas dos bairros adensados descontroladamente.

“Esquecer 2011 é correr o risco de repeti-lo em 2012” FAUSTO FERRAZ FILHO / SÃO PAULO, SOBRE O ARTIGO DE MARCO ANTONIO VILLA (25/12, A2) faustoferrazfilho@hotmail.com

“Será que até mesmo o Supremo Tribunal Federá?” ARY NISENBAUM / SÃO PAULO, SOBRE A CRISE NO JUDICIÁRIO aryn@uol.com.br

D

Pelas regras propostas, a realização de eventos fica condicionada à prévia autorização dos tribunais e a documentação tem de ficar arquivada para eventuais fiscalizações do órgão encarregado de promover o controle externo do Judiciário. Só haverá exceções no caso de eventos promovidos por instituições de ensino nas quais o magistrado seja professor ou em atividades de conteúdo educacional, em que eles sejam palestrantes, conferencistas ou participantes de programas de intercâmbio. Na exposição de motivos a ministra lembra que a magistra-

CNJ examinará questão da participação de juízes em eventos e torneios com patrocínio privado tura está proibida de receber favores, auxílios ou contribuições de pessoas e entidades públicas e privadas, uma vez que elas podem vir a ser parte em ações judiciais que terão de ser julgadas por juízes. E também recomenda aos juízes que mantenham “conduta irrepreensível na vida pública e particular”. A afirmação é a resposta da ministra Eliana Calmon às críticas que sofreu há alguns meses por parte de dirigentes de entidades de juízes federais e de juízes trabalhistas. Eles alegaram que, como suas entidades de classe são associações privadas, não poderiam ser fiscalizadas pela Corregedoria Nacional de Justiça ou sofrer sanções administrativas do CNJ. Para Eliana Calmon, o proble-

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Brasil é a 6ª maior economia do mundo

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‘The Guardian’ destaca que crise bancária e recessão são as razões para o resultado de 2011 ● “Com tanta corrupção no Brasil, o que ainda salva a economia é a absurda arrecadação de impostos.” PRIH GONSALVES

● “Somos a sexta economia do mundo, mas será que o dinheiro é dividido para toda a população?” PEDRO FIRMINO

HÁ 879 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Somente no dia em que der condições dignas de trabalho e estrutura, poderemos dizer que o Brasil se desenvolveu.” VINICIUS MACEDO

ma não é apenas jurídico – é, também, ético e moral. O que levou a corregedora a defender a regulamentação da participação da magistratura em eventos patrocinados foram três iniciativas polêmicas da corporação. Uma delas, já antiga, é a realização de um encontro anual de juízes num resort situado no litoral baiano, com as despesas pagas por instituições financeiras. A segunda iniciativa foi um acordo promovido por uma entidade de juízes federais com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), para a realização deumtorneio.Peloacordo,aentidade cederia o campo onde treina a seleção brasileira, em Teresópolis, e arcaria com as despesasdehospedagemde magistrados e familiares. Como o presidente da CBF está sendo acusadodeenriquecimentoilícito e lavagem de dinheiro e poderáserréuemaçõespenais,aCorregedoria Nacional de Justiça proibiu o torneio. A terceira iniciativa foi um eventoesportivo realizadonofinal de outubro em resorts de PortodeGalinhas,nolitoralpernambucano,comtorneiosdedominó e pingue-pongue, num total de 11 modalidades. Participaram 320 magistrados trabalhistas – com seus familiares – e o eventofoipatrocinadopeloBancodo Brasil,aAmBev, Oie CompanhiaHidrelétricadoSãoFrancisco (Chesf). A proposta da ministra Eliana Calmon somente será colocada em votação no plenário do Conselho Nacional de Justiça na primeira reunião do colegiado em 2012 – após as férias de verão.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUARTA-FEIRA, 28 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação

Notas e Informações A3

Administração e Negócios

Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

O Brasil na corrida global O Brasil é hoje a sexta maior economia do mundo, mas poderá levar até 20 anos para alcançar o padrão de vida europeu de antes da crise, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorando com louvável comedimento a notícia de mais um avanço do País na classificação global. O Brasil deve fechar 2011 com um Produto Interno Bruto (PIB) maior que o do Reino Unido, segundo levantamento do Centro de Pesquisa de Economia e Negócios, uma entidade britânica, divulgado pelo jornal The Guardian. Muito investimento social e econômico ainda será necessário para chegar a um nível de vida semelhante ao da Europa, afirmou o ministro. Mas a economia nacional continuará crescendo, nos próximos anos, em velocidade só inferior à de alguns emergen-

tes, acrescentou. Ele está certo quanto à necessidade de mais investimentos. Isso será indispensável não só para a melhora das condições de vida, mas também para o País conservar uma posição razoável na corrida internacional. Índia e Rússia poderão ultrapassar o Brasil nos próximos anos, segundo algumas projeções, e assim o sexto lugar será perdido. Mas o governo brasileiro deve preocupar-se menos com isso do que com as condições necessárias para reforçar o dinamismo da economia nacional. Elevar a proporção entre o investimento e o PIB para uns 25% é uma dessas condições. Nos últimos anos, a taxa tem sido inferior a 20%. Será preciso, portanto, aumentar a poupança do governo e reduzir o custo do investimento privado. Não bastará aumentar a oferta de crédito barato. As empresas pagam impostos pesados para ampliar e modernizar sua

capacidade produtiva e esse é um dos primeiros entraves ao aumento do seu poder de competição e ao seu crescimento. Será indispensável aumentar a eficiência das políticas públicas. Dinheiro no orçamento e capitais privados são insuficientes para a realização de obras de infraestrutura, quando o governo é incapaz de produzir e de executar projetos e também de coordenar o envolvimento das empresas privadas nos seus programas. Segundo levantamento do Estado, o governo adiou para o próximo ano o início de nove projetos ou conjuntos de projetos no valor de R$ 46,7 bilhões por falhas estritamente gerenciais – atrasos em licitações, falta de licenciamento ambiental, erros em editais, defeitos em modelos de contratação e fraudes. A lista inclui as obras do trem-bala, de aeroportos, de estradas e de hidrelétricas, entre outras.

Planos de saneamento estão emperrados na maior parte do País, principalmente por falhas na elaboração de projetos e, em muitos casos, pelo absoluto despreparo dos governos locais para projetar as obras necessárias. Os órgãos de financiamento ficam impossibilitados de repassar o dinheiro disponível por causa do despreparo técnico e gerencial dos tomadores potenciais. Investir em saneamento básico é uma das condições mais importantes para a elevação do padrão de vida de milhões de brasileiros. A maior parte da população dispõe de abastecimento de água, mas há uma enorme deficiência de serviços de esgotamento sanitário. É igualmente indispensável cuidar da qualidade do investimento. Parte do dinheiro investido pelo governo federal é destinada a projetos de interesse estritamente clientelístico e paroquial, por meio de emendas de par-

lamentares. Algumas dessas obras podem ter utilidade local, mas essa forma de investir pulveriza dinheiro e torna seu uso pouco eficiente. É um problema político e será necessária muita disposição para enfrentá-lo. Enfim, é preciso cuidar do aspecto mais nobre de todas as políticas de desenvolvimento econômico e social: o binômio educação e tecnologia. O Brasil nunca poderá alinhar-se de fato às economias mais avançadas enquanto seu sistema educacional for insuficiente até para universalizar um domínio razoável da linguagem e das técnicas básicas da matemática. Os efeitos da demagogia, do populismo e das prioridades erradas são evidenciados pela má formação dos alunos diplomados nos cursos fundamentais e médios. Ou se corrigem esses defeitos ou o Brasil, hoje uma economia grande, nunca será uma economia capaz de integrar a primeira divisão.

A multiplicação dos flanelinhas

Para trânsfugas, impunidade

om o movimento provocado pelas festas de fim de ano na capital paulista aumentou o número de guardadores de carros, que exploram o espaço público e se aproveitam para isso da insegurança da população e do desinteresse do poder público em combater esse tipo de extorsão. Nos corredores comerciais e nos pontos em que a decoração de Natal se tornou atração turística, como, por exemplo, o Parque do Ibirapuera, para estacionar numa vaga de rua, o motorista tem de passar por um corredor de flanelinhas que o intimidam, fecham o caminho e encaminham o veículo para um dos espaços disponíveis, cobrando o que bem entendem por um suposto serviço de vigilância. Quem não paga corre o risco de sofrer agressões e ter o veículo danificado ou roubado. O loteamento das ruas de São Paulo é feito por grupos que as tratam como sua propriedade e que são formados, em grande parte, por pessoas que colecionam passagens pela polícia. Há alguns anos, a assessoria policial da Assembleia Legislativa organizou uma blitz no Parque do Ibirapuera e 70% dos 38 guardadores conduzidos à delegacia tinham antecedentes criminais, a maioria por prática de roubo e furto. Hoje, grupos de guardadores ocupam, em atitude intimidadora, pontos do parque e de outras regiões da cidade, exigindo dos motoristas que procuram estacionar o pagamento

uma sociedade democrática, partido político é uma entidade privada de direito público que se propõe a aplicar na administração da coisa pública princípios programáticos e projetos específicos consagrados em seus estatutos, e que com esse objetivo luta para chegar ou se manter no poder, mediante a conquista do voto dos eleitores que apoiam suas propostas. Ou seja, o objetivo, a meta, o fim de um partido político é representar a vontade popular na gestão do bem comum. O exercício do poder é o meio para isso. Essa é a teoria. Na prática, demonstra-o a realidade brasileira, o exercício do poder pode ser um fim em si mesmo. E o fim colimado por muitos políticos está longe de ser o bem comum. O que interessa são as vantagens pessoais, os interesses momentâneos, as possibilidades eleitorais no próximo pleito. Por isso, para a enorme quantidade de políticos que mudam de legenda, estimulados pela impunidade, os partidos políticos significam apenas a necessária via de acesso ao poder em determinadas condições que, evidentemente, variam. Apenas isso. O quadro partidário brasileiro tem hoje 29 legendas, na grande maioria inexpressivas, mas habilitadas a disputar eleições, o que demonstra a fragilidade da instituição da representação política. Grande parte desses grupamentos vive exclusivamente em fun-

C

recedoras. Apenas acentuam o que ocorre durante todo o ano. Todos os dias morrem dezenas de motoristas nas ruas, avenidas e rodovias brasileiras. O principal fator é o excesso de velocidade. Na Alemanha, os adolescentes têm quatro anos de aulas de trânsito nas escolas. Quando chega o momento de tirarem sua carteira de habilitação, já sabem tudo o que devem e o que não devem fazer no trânsito. Infelizmente, por aqui, há poucas aulas práticas e quase nenhuma teórica. Ainda por cima, há a corrupção para facilitação de quem vai se habilitar. Sei disso porque quando fui tirar a minha, em 1974, pediram-me 250 cruzeiros, equivalentes a uns R$ 400 em dinheiro de hoje. Bilhões de reais são gastos todos os anos por causa dos graves acidentes no trânsito, tanto com pensões e aposentadorias por invalidez quanto com consultas, tratamentos, remédios, etc. Pior mesmo é a tragédia familiar. Há uma

de valores que variam conforme a demanda. É uma atividade de alta lucratividade numa cidade onde a escassez de estacionamento só aumenta. O descontentamento e a revolta da população contra tal situação nunca foram devidamente considerados pelo poder público, que não reprime como deveria aquela prática ilegal. Ao comentar a ação dos flanelinhas nas redondezas do Parque do Ibirapuera, o capitão Cleodato Moisés Nascimento, porta-voz do Comando de Policiamento da Capital da Polícia Militar, explicou que pedir dinheiro para “olhar” os veí-

Uma ocupação ilegal do espaço público conta com o desinteresse das autoridades culos não é crime. “O crime é a extorsão; é o flanelinha obrigar o motorista a pagar ou não deixá-lo estacionar na vaga”, afirmou em entrevista ao Estado. Segundo ele, é difícil provar a prática da extorsão nesse caso. O problema não é esse, mas o comportamentodopoderpúblico, que não protege o cidadão da ação dessas gangues. Se pedir dinheiro para “olhar” o carronãoé crime,atuar comoguardador dele sem o devido registro na Delegacia Regional do Trabalho, como estabelece lei federal,caracterizaexercícioilegal de profissão ou atividade. Além disso, mesmo que a atividadesejaregularizada,oguardador não pode, conforme análise de juristas, exigir o pagamento de um valor por ele determina-

omissão educacional quase total da nossa sociedade em relação ao aprendizado de uma matéria que envolve vidas e sonhos. Quem educa uma criança não precisa punir um adulto. FRANK ODDERMAYER frank_oddermayer@hotmail.com Bragança Paulista

BOAS FESTAS O Estado agradece e retribui os votos de boas-festas e feliz e próspero ano-novo de Adriano Pires, Aloísio Arruda De Lucca, Aloísio de Toledo César, Ana Luzia de Aveiro, Angelo Antonio Maglio, Arcangelo Sforcin Filho, Carlos Dias, Carlos Eduardo Russo, Casillo Advogados, Cid Heráclito de Queiroz, Cleiton Rezende, Conrado Alberto Bannwart Mortean, DAN Galeria, Danilo F. Santa Rosa, Debora Judite dos Santos, Du Pont – Divisão Pioneer Sementes, Ecilla Bezerra, Equipe Mental, Erreacom e Fabio Figueiredo.

do ou usar formas discutíveis de cobrança. Ao impedir o uso de vagas nas ruas, o flanelinha comete ato de constrangimento ilegal – são inúmeros os casos em que cones são utilizados pelos guardadores para impedir que motoristas estacionem em locais públicos onde o estacionamento é permitido. Essas gangues fazem tudo isso usando como desculpa o argumento da “exclusão social” e da dificuldade de ingresso no mercadodetrabalho.APrefeitura de São Paulo, a Polícia Militar e o Ministério Público Estadual (MPE), infelizmente, não demonstram interesse em reprimir essa atividade ilegal. Há um ano e meio, convencidos de que a exigência do cadastramentodosguardadoresafastaria aqueles com antecedentes criminais e facilitaria o combate à extorsão, os promotores da 3.ª Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo decidiram elaborarumplanoderegularização da atividade. Abriu-se também inquérito para apurar a atuação dos flanelinhas e foram cobradas ações conjuntas da Prefeitura e da Polícia Militar. Até agora, a iniciativa em nada mudou a rotina de quem achaca os motoristas e ameaça a integridade física dos que insistem em exercer o direito de estacionar seus veículos em local permitido, sem sofrer constrangimentos. E essa situação não vai mudar enquanto esse problemafortratadocommedidas administrativas, quando ele édenaturezapolicial.Éinaceitável essa espécie de regularização da prática de extorsão e do uso indevido de espaço público.

Ministro Mantega, o padrão de vida brasileiro só vai chegar perto do de países desenvolvidos quando deixarmos de ter políticos com padrões ético e moral de Terceiro Mundo” PAULO RUAS / SÃO PAULO, SOBRE O PIB DO PAÍS SUPERAR O INGLÊS pstreets@terra.com.br

“De que adianta o Brasil ter o sexto maior PIB do mundo e IDH inferior ao de mais de 50 países?” FRANCISCO JOSÉ SIDOTI / SÃO PAULO, IDEM fransidoti@gmail.com

N

ção das eleições a cada dois anos. São legendas de aluguel. E todas têm direito a recursos do Fundo Partidário. É um negócio tão bom que, além dos 29 partidos existentes, há mais de 30 outros em processo de legalização. Essa é a principal razão pela qual o instituto da fidelidade partidária não “pega” no Brasil. Embora o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tenha decidido em 2008 que os mandatos pertencem aos partidos e não aos eleitos, decisão referendada pouco tempo depois pelo Supremo Tribunal Federal (STF), os políticos continuam

Estimulados pela impunidade, os políticos mudam de partidos como de gravatas praticando sem a menor cerimônia a dança das cadeiras ao sabor de suas conveniências, como demonstrou ampla reportagem de Mariângela Gallucci, publicada no Estado. Apenas neste ano foram protocoladas na Procuradoria-Geral Eleitoral, pelo Ministério Público Eleitoral de 6 Estados, pelo menos 798 representações por infidelidade partidária, 128 delas no Estado de São Paulo. Deacordocomalei,essesquase 800 parlamentares e prefeitos que trocaram de partido sem justa causa devem perder seus mandatos, devolvendo-os aos partidos pelos quais foram eleitos. Mas o próprio procurador-geral, Roberto Gurgel, é céticoquanto aisso:“Comoaseleições já se aproximam, a eficácia

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Presidente Dilma opta por ‘balancear’ equipe

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Reforma ministerial vai ser mais modesta que o esperado, de modo a não melindrar partidos da base ● “Uma coisa podemos ter certeza: pior do que está realmente não tem como ficar.” MARCELO DE MATTOS CARVALHO

● “Se existe uma coisa que Dilma não faz é optar. Obedecer é a palavra, pois quem manda são os partidos políticos.” SERGIO OLAVO GUIMARÃES

HÁ 880 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Engraçado que com tanta gente boa e honesta no País, só escolhem corruptos. Que azar, não é?” JOÃO SILVA

do resultado da sanção fica pequena”. De fato, dada a irremediável lentidão da Justiça brasileiranaaplicaçãode uma legislaçãoquefoi concebidapelos políticos com a deliberada intenção de deixar brechas em seu próprio benefício (a Lei da Ficha Limpa é outro magnífico exemplo dessa técnica), é muito pouco provável que mesmo os mais notórios trânsfugas venham a ser punidos. É o caso do deputado federal Gabriel Chalita, que eleito em 2010 pelo PSB, poucos meses depois se transferiu para o PMDB a convite de MichelTemerpara concorreràPrefeitura de São Paulo. Chalita, aliás, é reincidente em matéria de infidelidade partidária. Eleito vereador pelo PSDB em 2008, mudou-se em 2009 para o PSB, na ilusão de candidatar-se ao Senado, frustrada pelas conveniênciasdaaliançaentãoestabelecida entre o PSB e o PT em benefício da derrotada candidatura do cantor Netinho de Paula, pelo PC do B. Apesar de ser grande o número de representações contra políticos que mudaram de mandato sem aparente justa causa, esses casos não têm tido grande repercussão no TSE, a julgar pelo balanço de atividades de 2011 divulgado na página de aberturado site oficial do tribunal. Nenhuma alusão à punição de trânsfugas. Há destaque, porém, à criação, este ano, de duas novas legendas: o Partido Pátria Livre (PPL) e o Partido Social Democrático (PSD). Este, liderado pelo prefeito paulistano, é responsável, aliás, por boa parte do troca-troca partidário dos últimos meses.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

QUINTA-FEIRA, 29 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

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Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

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Notas & Informações

A crise da Justiça Em sua primeira entrevista como presidente eleito do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), o desembargador Ivo Sartori mostrou por que a Corte é considerada a mais refratária a qualquer tipo de fiscalização, por parte da Corregedoria Nacional de Justiça. Além de acusar o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de desrespeitar as garantias de magistrados, em suas inspeções e sindicâncias, ele acusou o órgão responsável pelo controle externo do Judiciário de agir como no tempo da ditadura.“Se existe uma Constituição, vamos respeitá-la. Sem isso, vai se voltar aos tempos da ditadura”, disse Sartori. Defensores do CNJ responderam lembrando que o órgão foi criado por uma Emenda Constitucional aprovada pelo Congresso, e acrescen-

tando que as investigações realizadas pelo CNJ nas Justiças estaduais são transparentes, que os juízes acusados de irregularidades e desvios éticos têm tido direito de defesa e que quem não está cumprindo a Constituição, no âmbito da magistratura, são os dirigentes dos Tribunais de Justiça, como mostra o fato de, apesar das normas baixadas pelo CNJ, eles terem continuado a contratar parentes para cargos de confiança e a indicar filhos, compadres e colegas aposentados para dirigir rentáveis cartórios extrajudiciais. Na réplica às declarações do presidente do TJSP, destacou-se o ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça e um dos responsáveis pela reforma da legislação processual civil. Dipp chefiou a Corregedoria Nacional de Justiça, entre 2008 e 2010, e foi quem autorizou a abertura de investigações na Justiça paulista, quando surgiram denúncias de irregulari-

dades na folha de pagamento da Corte. No domingo, o ex-presidente do CNJ ministro Gilmar Mendes já havia dito que eram “heterodoxas e atípicas” as liminares concedidas pelos ministros Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski no último dia de trabalho antes do recesso do Judiciário, determinando a suspensão do poder do CNJ de investigar juízes e de quebrar seus sigilos bancário e fiscal – o que a corregedora Eliana Calmon nega que tenha feito. As críticas de Dipp a Sartori foram no mesmo tom. Para o ex-corregedor nacional de Justiça, ao comparar o CNJ a uma ditadura, o presidente do TJSP mostrou que não dispõe de argumentos sólidos para criticar o controle externo da magistratura. “Quando o CNJ preconiza que os tribunais devem colocar nos sites da internet as licitações, as folhas de pagamento, a verificação da entrega obrigatória das declarações de bens e Imposto de

A lentidão da Anvisa

T

ão ágil para regular a venda e exposição de produtos pelas farmácias; para exigir receitas, em duas vias, na compra de medicamentos antes liberados; para recomendar medidas de contenção da venda de determinados remédios – a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é notória pelos atrasos na análise e autorização para uso de novos medicamentos, o que, por lei, deveria ser feito no prazo de 90 dias. Há hoje mais de mil solicitações de análise para registro de remédios e produtos de saúde encalhadas no órgão regulador e o número só tende a crescer. Cansadas de esperar, as empresas recorrem com frequência à Justiça, estimando-se que de 6 a 12 mandados de segurança sejam expedidos por semana contra a Anvisa. Para aliviar essa dor de cabeça, a diretoria do órgão aprovou a criação de duas filas distintas: uma delas para as solicitações relativas a produtos mais simples, com menos riscos, as quais teriam andamento mais rápido; a outra para as requisições que seguiriam o caminho rotineiro, a não ser que sejam objeto de ações na Justiça. Esse tratamento desigual acaba favorecendo algumas empresas e ferindo o princípio de equidade. A lentidão da Agência não causa prejuízos apenas para os fabricantes, como afirmou Evaristo Araujo, diretor da Associação Brasileira das Empresas Certificadas (Abec). “Se não há competição no mercado, os

tos, não reconhecendo o juiz nenhuma nulidade no auto de infração lavrado pela fiscalização do Ibama. A reportagem interpretou apenas o Decreto n.º 6.514/08, que efetivamente exige “laudo prévio”, o que não ocorre com a Lei n.º 9.966/00, a Lei do Óleo, utilizada para fundamentar a autuação da Chevron. Não ocorreu, pois, “erro do Ibama” na lavratura do auto de infração. A regularidade desse ato foi confirmada na decisão judicial, como segue: “Sob outro prisma, mostra-se desarrazoado o efeito retroativo emprestado pela decisão objeto do presente Mandado de Segurança, sendo certo que, em relação aos demais pontos da impetração, com especial enfoque para a ausência de Laudo Técnico, observado no momento inicial do procedimento, não induz o reconhecimento, em princípio, de qualquer nulidade. Ante o exposto, defiro a liminar para o fim de assegurar à impetrante, relativamente ao pro-

preços se mantêm altos, o que não é bom nem para o consumidor nem para o governo, que é um dos maiores compradores de produtos de saúde para o SUS.” Os Estados arcam igualmente com pesadas despesas na aquisição de medicamentos não só para atender à demanda de seus hospitais e postos de saúde, como para cobrir a deficiências do SUS. No Estado de São Paulo, por exemplo, esses gastos praticamente dobraram em quatro anos. Deve-se acrescentar que, muitas vezes, faltam nas farmácias remédios que incorporam os últimos avanços para trata-

Análises e autorizações para uso de novos medicamentos sofrem atrasos excessivos mento de determinadas moléstias. Não é incomum que hospitais, empresas de planos de saúde e pessoas doentes ou seus familiares encomendem, no exterior, produtos farmacêuticos ainda não disponíveis no mercado nacional. Se é necessária a análise de medicamentos pelo órgão competente antes de eles serem colocados no mercado, o processo não precisaria ser tão complicado como o adotado pela Anvisa. O primeiro passo para o registro é a obtenção de um documento atestando boas práticas de fabricação, que, desde um ano e meio atrás, só é concedido após vistoria nas indústrias. A inspeção pode ser feita aqui ou no exterior, ou seja, nas matrizes ou fábri-

cesso administrativo referido no corpo da presente, o direito de ter o seu recurso administrativo aceito como tempestivo bem como aditá-lo no mesmo prazo legal (20 dias), a contar do dia 7/12/2011”. FERNANDO DA COSTA MARQUES, presidente substituto do Ibama ascom.sede@ibama.gov.br Brasília

BOAS-FESTAS O Estado agradece e retribui os votos de boas-festas e feliz e próspero ano-novo de Andrea Matarazzo, Fernando Cruz de Sousa, Fernando Faruk Hamza, Fialdini, Guillon Advogados, Flavio Barollo, Flávio Cesar Pigari, Frank Oddermayer, Giovani Miguez, Humberto J. Buzzi, IBCCrim, Ingomar Lochschmidt – cônsul comercial da Áustria e equipe, Irma Sanchez e família, João Gruber e família, João Paulo Garcia, José Roberto Afonso e Jurema Cappelletti.

Renda – que é obrigação do presidente da República ao mais humilde barnabé –, quando verifica (que há) inúmeras irregularidades nos cartórios extrajudiciais, passados de pai para filho, isso é ditadura ou norma democrática?”, questionou Dipp. No desdobramento da crise do Judiciário, que é a maior de todas desde a redemocratização do País, o ministro Marco Aurélio tentou refutar as críticas a ele dirigidas por Gilmar Mendes, alegando que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), vinculado ao Ministério da Fazenda, não poderia ter repassado para o CNJ os dados fiscais de 216 mil juízes e servidores. Os auditores da Corregedoria Nacional de Justiça retrucaram que o Coaf se limitou a identificar as movimentações financeiras atípicas de magistrados, agindo dentro das regras que coíbem os crimes de lavagem de dinheiro e que atingem todos os cidadãos brasileiros, sem exceção.

Um fato novo, na crise, é a entrada em cena de juízes mais jovens. Alguns estão começando a questionar publicamente o empenho das entidades da magistratura em defender corregedorias judiciais desmoralizadas. No início da crise, a Associação Juízes para a Democracia divulgou nota, criticando “a longa e nefasta tradição de impunidade dos agentes políticos do Estado, dentre os quais estão metidos a rol desembargadores estaduais e federais”. A iniciativa teve pouco destaque na imprensa, mas estimulou juízes de primeira instância a exigir que suas entidades de classe passassem a defender o interesse público e não os interesses corporativos de desembargadores e ministros. Os juízes mais jovens têm consciência de que a imagem da magistratura não é boa perante a opinião pública e que a ofensiva para reduzir o CNJ a pó colocou o Judiciário de costas para o País.

Expansão do saneamento cas mantidas em outros países pelas empresas farmacêuticas internacionais. Contudo, a ordem cronológica de entrada dos pedidos de registro não é obedecida, como reconhece Jaime Oliveira, diretor da Anvisa. A explicação para isso é a racionalização de custos. Hoje, como disse Oliveira ao Estado, uma equipe vaiaumpaísparaanálise deapenas uma fábrica. A ideia é aproveitar a viagem para vistoriar também indústrias próximas. Os registros que dependerem de fábricas que não estiverem nas proximidades continuarão pendentes. Para agilizar o processo,odiretor daAnvisadefendequeautoridadessanitáriasestaduais e municipais também possam fazer vistorias em paísesestrangeiros,o queimportaria em gastos não autorizados. Parecemaisrealistaocredenciamento,pela Anvisa,delaboratórios públicos para essa tarefa. Concursos são previstos para aumentar o quadro dos analistas da Anvisa em 2012, mas o prognóstico não é bom, como reconhece Maximiliano D’Ávila Cândido,procuradorda Anvisa. A seu ver, “é preciso mudar a lei”, para evitar ações judiciais, quesignificam ônuspara o Estado e a Justiça. Ele não especificou qual seria um prazo razoável para registro de um novo medicamento. Estima-se que seriam necessários quatro anos para atender a todas as solicitações acumuladas feitas pelas empresas e que dormitam na Anvisa, que sofre de má gestão, um mal crônico da administração pública brasileira.

“Se a FGV constatou ser alto o índice de desconfiança do povo brasileiro na Justiça, é induvidoso: tem de dar satisfação. É seu dever” ANTONIO GABRIEL DE LIMA / SÃO PAULO, SOBRE O CORPORATIVISMO NO PODER JUDICIÁRIO gabriellima@stetnet.com.br

“O Judiciário faliu, o Legislativo está no bolso e o Executivo... ri a bandeiras despregadas” CONRADO DE PAULO / BRAGANÇA PAULISTA, SOBRE O BRASIL ATUAL conrado.paulo@uol.com.br

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mbora continue muito distante a meta de universalização dos serviços, são expressivos os avanços observados nos sistemas de abastecimento de água e de coleta e tratamento do esgoto sanitário no País nos anos recentes. Investimentos que estiveram paralisados durante quase duas décadas, por falta de regras duradouras, foram retomados depois da aprovação da Lei Geral de Saneamento Básico em 2007 e os resultados têm sido animadores. As estatísticas mais atualizadas do Ministério das Cidades mostram que, entre 2008 e 2009, 1,6 milhão de domicílios foram ligados à rede de abastecimento de água. A rede de esgotamento sanitário recebeu 1,1 milhão de novas ligações. No entanto, os esforços para a ligação do maior número de domicílios às redes de saneamento básico, que estão em contínua expansão, podem esbarrar num sério problema social: a renda baixa, que impede o potencial beneficiário de arcar com o custo da ligação. Trata-se de um problema nacional, mas, no Estado de São Paulo, ele poderá ser significativamente atenuado com a execução do Programa Pró Conexão, que acaba de ser aprovado pela Assembleia Legislativa. Esse programa permitirá que as ligações na rede de esgoto dos domicílios das famílias com renda de até três salários mínimos sejam feitas sem ônus para os beneficiados. O governo do Estado arcará com 80% dos

custos e a Sabesp, com os restantes 20%. O subsídio como instrumento de política social, para garantir o acesso aos serviços de toda a população, especialmente a de baixa renda, está previsto na legislação do saneamento básico. O custo médio de cada ligação é de R$ 1.820. O governo paulista estima que, nos próximos oito anos, o Pró Conexão poderá propiciar 192 mil novas ligações à rede de coleta de esgoto operada pela Sabesp, que atua em 364 municípios. O custo total do programa será de R$ 349,5 milhões. A estimativa é de que o programa permitirá

Desde 2007, com a Lei Geral, o saneamento tem avançado, mas o caminho ainda é longo 76,8 mil ligações na Grande São Paulo, 30 mil na Baixada Santista, 5,4 mil na região de Campinas e 79,3 mil nos demais municípios do Estado de São Paulo. Desse modo, o serviço de coletadeesgotos passaráaatender mais 800 mil pessoas. Os ganhos em termos de saúde e de qualidade de vida não se limitarão às famílias que vivem nos domicílios a serem ligados à rede de esgotos por meio do Pró Conexão. Como observou o secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos do EstadodeSãoPaulo,EdsonGiriboni, ao propor o programa ao governador Geraldo Alckmin, os ocupantes de domicílios não ligados à rede “acabam lançando os esgotos ou diretamente na rua ou em fossas que, muitas

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‘A volta é em fevereiro, da tribuna’, diz Jader

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Senado faz reunião extraordinária para dar posse a peemedebista, que foi barrado pela Ficha Limpa ● “A nação aguarda ansiosa o retorno do estadista, sob as bênçãos do Supremo Tribunal Federal.” CARLOS GOMES DA MOTA FILHO

● “Jader Barbalho lançou candidatura e recebeu 1.700.000 votos. É ele que está errado?” VALTER FERRI

HÁ 881 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “Será que o povo tem alguma culpa nessa vergonhosa decisão do desmoralizado STF?” MARIO CESAR DE OLIVEIRA

vezes, por não serem construídaseoperadasde forma adequada, extravasam e põem as águas residuárias em contato com os moradores”. Issoaumentao riscode contaminação da população local, especialmente as crianças, e pode provocar a infiltração do esgoto no solo. E os dejetos acabarão chegando aos cursos d’água, contribuindo para a degradação do meio ambiente. Já a melhoria das condições de saneamento básico permite a redução dos gastos públicos com saúde e tem impacto notável na redução dos índices de mortalidade infantil. No ano passado, o índice de mortalidade infantil no Estado de São Paulo foi de 11,9 óbitos de crianças com menos de um ano de idade para mil nascidas vivas; em 1990, era de 31,2 por mil nascidas vivas. OPróConexãopermitiráàSabesp reduzir mais rapidamente o hiato entre o número de ligações deágua (de6,6 milhões) e o de ligações de esgoto (5,3 milhões) em sua área de operação. A empresa já atende 99% da população urbana dessa área com serviços de água. Ela coleta os esgotos de 82% dos domicílios urbanos dos municípios em que atua e, do total coletado, trata 72%. O objetivo da empresa é alcançar, em 2018, a universalização dos três serviços (abastecimento de água, coleta de esgoto e tratamento do esgoto). As metas nacionais são bem menos ambiciosas: a universalização dos serviços de água e a extensãoda redede coletade esgotos para 91% dos domicílios urbanos nos próximos 20 anos.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 30 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

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Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

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Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Confusão na defesa comercial O ministro da Fazenda, Guido Mantega, continua conduzindo de forma atabalhoada a política brasileira de defesa comercial. Ele acaba de prometer um novo regime fiscal para a importação de têxteis e confecções, com o objetivo declarado de criar uma barreira contra produtos subfaturados ou importados em condições predatórias. “Já vi terno importado com valor de US$ 3 e até US$ 1,50, o que não paga nem o botão”, disse o ministro, ao anunciar a substituição da tarifa cobrada sobre o valor do produto por uma taxa fixa sobre o quilo da mercadoria importada. No jargão profissional, será uma troca da alíquota ad valorem (aplicada sobre o valor) por uma ad rem (incidente sobre a coisa, isto é, sobre o bem material). A solução pode pare-

cer atraente, mas é uma saída perigosa e tecnicamente ruim. A preocupação com a concorrência movida por produtores de vários países emergentes, especialmente da China e de outros países da Ásia, é perfeitamente justificável. São igualmente justificáveis as dúvidas quanto às condições de formação de preço nessas economias. Além disso, a mudança de um para outro sistema de tributação é, em princípio, legal e menos sujeita à contestação na Organização Mundial do Comércio (OMC), do que a proteção adotada para a indústria automobilística no Plano Brasil Maior. Mas a medida é insatisfatória por mais de uma razão. Do ponto de vista formal, cria uma complicação com os parceiros do Mercosul, porque toda a Tarifa Externa Comum do bloco é definida em termos ad valorem. Mesmo sem esse problema, a alteração do

regime poderá custar caro ao País, porque a defesa baseada numa alíquota específica é muito grosseira e é geralmente evitada no comércio de bens industrializados. Outros governos serão tentados a retaliar de alguma forma ou a pressionar as autoridades brasileiras em busca de compensação. Além do mais, o ministro da Fazenda parece um tanto confuso a respeito do assunto. Ao anunciar os preparativos para a aplicação das tarifas ad rem, mencionou a conversão dessa medida numa salvaguarda para o setor têxtil, semelhante à adotada para a indústria de brinquedos. Mas a política de salvaguardas, disciplinada pelo sistema internacional de comércio, é totalmente diferente. É aplicada por meio da elevação de tarifas ad valorem ou da criação de cotas. Para adotar essa política, as autoridades, depois de recebida a queixa, devem provar a ocorrência de um

surto de importação gravemente danoso à indústria nacional. Segundo a associação da indústria têxtil, os números mostram tanto o surto – 40% de aumento da importação em um ano – quanto o estrago imposto à indústria local, com redução de 15% na produção de têxteis e de 4% na de roupas, Se esse é o caso, o governo deve ter uma boa base para iniciar uma investigação. O próprio setor público deve dispor de importantes informações, a partir das licitações para a compra de uniformes militares. Durante anos, produtores baseados na China ganharam bom dinheiro fornecendo roupas e botas para as Forças Armadas do Brasil. Em agosto, ao lançar o Plano Brasil Maior, o governo prometeu uma vantagem de até 25% aos fabricantes nacionais. Além de anunciar a mudança do regime tarifário para têxteis e confecções, o ministro Guido Mantega indi-

cou a disposição de adotar medidas semelhantes para outros setores. Se o fizer, meterá o País numa enorme e custosa trapalhada. O Ministério da Fazenda tem atropelado os órgãos especializados em comércio internacional, como a Camex e o Ministério de Relações Exteriores, e vem-se enredando numa perigosa confusão entre defesa comercial, política industrial e protecionismo dos mais grosseiros. Governos devem manter a defesa comercial como atividade permanente, baseada em critérios técnicos e conduzida por funcionários especializados. Numa economia grande como a brasileira, isso requer uma estrutura mais complexa e mais ampla do que a disponível até hoje. O voluntarismo é incompatível com as necessidades e ambições da sexta maior economia do mundo – ou de qualquer uma com vocação para crescer e ganhar importância global.

O novo Mapa da Violência

Crescimento das favelas

laborado pelo Instituto Sangari em parceria com o Ministério da Justiça, o Mapa da Violência 2012 mostra que o País não vem conseguindo reduzir os crimes contra a vida. Entre 2000 e 2010, a taxa nacional de homicídios por 100 mil habitantes se manteve estável, oscilando entre 26,2 e 26,7. E, nos últimos trinta anos, período em que foi assassinado cerca de 1,1 milhão de pessoas, ela cresceu 124%. Em 1980, a taxa era de 11,7 homicídios por 100 mil habitantes. Em 2010, ela chegou a 26,2. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), taxas superiores a 10 homicídios por 100 mil habitantes configuram “violência epidêmica”. “É como se tivéssemos matado, em três décadas, uma cidade inteira com uma bomba atômica”, diz o coordenador do levantamento, Júlio Jacobo Waiselfisz. Para ter ideia da tragédia, só 13 municípios brasileiros têm população acima de 1 milhão de habitantes. O levantamento é realizado anualmente com base em dados do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde e do Sistema de Informação Estatística da OMS. Nas últimas edições, o estudo mostrou que, apesar de as taxas de homicídio terem permanecido estáveis ao longo da década de 2000, as ocorrências vinham se deslocando do Sul e Sudeste para o Norte e Nordeste e dos grandes centros urbanos para pequenas e

ais do que um novo retrato da tragédia habitacional que afeta a vida de milhões de brasileiros, o rápido crescimento na década passada do número de pessoas vivendo em favelas é uma comprovação da incapacidade do governo, em todos os níveis, de desenvolver e colocar em prática políticas públicas que atendam às demandas sociais crescentes, sobretudo nas maiores regiões metropolitanas. No estudo sobre a população que mora em favelas, palafitas ou outros assentamentos irregulares – classificados eufemisticamente como “aglomerados subnormais” –, o IBGE mostrou que, entre 2000 e 2010, o número de brasileiros que vivem nessas condições passou de 6,5 milhões para 11,4 milhões, um aumento de 75%. Nesse período, a população brasileira cresceu bem menos, 12,3%. Por isso, aumentou a proporção de brasileiros vivendo em habitações inadequadas, de 3,5% para 6% da população. O IBGE destacou que a utilização de novas técnicas, como imagens de satélite de alta resolução e uma pesquisa para melhorar as informações sobre as favelas, permitiu identificar localidades que, pelos meios tradicionais, não teriam sido computadas na pesquisa. Por isso, uma parte do aumento da população favelada se deve a essa inovação metodológica. Mas as áreas onde estão instaladas as maiores favelas, sobretudo na Região Sudeste (em particular

E

ministros do Supremo Tribunal Federal que permitiram a esse senhor assumir a vaga no circo, digo, no Senado Federal. ALEXANDRE FUNCK afunck1@gmail.com Bragança Paulista

CRISE NO JUDICIÁRIO Discernimento cristalino

A respeito da manifestação do leitor sr. Honyldo Roberto Pereira Pinto, sob o título O ministro, o CNJ e o Coaf (29/12), em que pesem meus parcos conhecimentos jurídicos, envio os meus parabéns a Ribeirão Preto por abrigar um cidadão possuidor de discernimento cristalino – raro nos dias de hoje, diga-se –, bem diferente de outros de seus “exponenciais” cidadãos – exemplificativamente, Palocci & Cia. LUIZ ROBERTO SOUZA NORONHA souzanoronha@uol.com.br São Paulo

médias cidades do interior. O levantamento de 2010 mostrou que a tendência de desconcentração e interiorização da violência continua. Em São Paulo, por exemplo, a taxa de homicídios caiu de 42,2 para 13,9 entre 2000 e 2010 – uma redução de 67%. No início da década, São Paulo tinha a 4.ª pior taxa do País. Em 2010, tinha a terceira melhor, ficando atras apenas do Piauí e de Santa Catarina. E, no Rio de Janeiro, a taxa caiu de 51 para 26,2, na década. No mesmo período, contudo, Alagoas assumiu o primeiro lugar no ranking de crimes mais violentos,

Reformas das polícias, políticas comunitárias e mais serviços públicos reduzem a violência seguido pelo Espírito Santo, Pará, Pernambuco, Amapá, Paraíba e Bahia. Nestes Estados, a situação é considerada crítica pelo Mapa da Violência. Entre 2000 e 2010, os homicídios cresceram 329,7% no Maranhão e 332,4% na Bahia. As mudanças também são expressivas quando consideradas somente as capitais. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a taxa de homicídio em 2010 foi de 13 por 100 mil habitantes, depois de ter chegado em 2000 a 64,8, o que representa uma queda de 79,9%. No mesmo período, a taxa de homicídios em Maceió passou de 45,1 para 109,9, por 100 mil habitantes, e a de João Pessoa pulou de 37,8 para 80,3. O Mapa da Violência tam-

BOAS-FESTAS O Estado agradece e retribui os votos de boas-festas e feliz e próspero ano-novo de Jean Claudio Santana e equipe: Marcelo Nogueira, Lóiam Torres e Elaine Vidal; João Crestana, Torrear Incorporações e Planejamento Imobiliário Ltda. e Sindicato da Habitação (Secovi); João Francisco Lobo Ribeiro; João Gambini; Kahtia, Atelier de Ideia Comunicação Empresarial; Leila Elston Leitão; LPH Brasil, Departamento Comercial; Luciana Leal e família; Luciano Monteiro, Santillana; Luiz Antonio da Silva e Marisa Stucchi; Luiz Claudio Zabatiero; Marcius Villela; Marco Antonio Leite e família; Marta Calha, Grupo CCR; Mendonça e Rocha Barros Advogados; Milton Seligman e Alexandre Loures, Ambev; Mistral Importadora Ltda.; Museu Mágico; Núcleo da Notícia Comunicação Corporativa; Opticanet; Panayotis Poulis e Portal R7.

bém registra uma tendência de crescimento dos índices de crimes violentos entre a população com idade entre 15 e 24 anos – o equivalente a 18,6% da população brasileira. Em 2010, foram mortas 201 mil pessoas nessa faixa etária. A taxa de homicídios entre jovens é o dobro das taxas relativas a outras faixas etárias. Na década, aumentaram em 11,1% os homicídios de jovens. A tendência de deslocamento da violência tem sido atribuída por especialistas ao surgimento de novos polos de crescimento econômiconoPaís.Elesemergiram com força e peso no Nordeste, o que atraiu o narcotráfico e crimes correlatos, como a formaçãodemilíciasedeesquadrões de extermínio. Nessa região, marcada pelas disparidades de renda e pelo analfabetismo, os Estados são muito deficientes, em matéria de programassociaisedesegurançapública. Já os Estados onde houve reduçãodas taxas de violência, segundo o estudo, foram aqueles que investiram na reforma das polícias, adotaram políticas comunitárias,melhoraramaqualidade dos serviços essenciais e levaram a sério a campanha de desarmamento. OMapadaViolência éuminstrumentoimportanteparaaformulaçãodepolíticasquecombinem programas sociais, melhoria de serviços públicos para setores carentes e estratégias maiseficientesdecombateàcriminalidade. Mas, para que essas políticas produzam os efeitos desejados,épreciso queosEstados e a União as implementem com determinação.

“Filho de peixe... O filho ‘roubou’ a cena do pai” HAMILTON PENALVA / SÃO PAULO, SOBRE A POSSE DE JADER BARBALHO NO SENADO hpenalva@uol.com.br

“A entrevista de Jader ao filho tem de ser exclusiva. Se torná-la pública, terá de renunciar outra vez!” FLÁVIO CESAR PIGARI / JALES, IDEM flavio.pigari@gmail.com

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nas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro), são há muito conhecidas, de modo que, nesses casos, o aperfeiçoamento da metodologia teve pouco efeito nos resultados. A maior favela do Brasil é a da Rocinha, no Rio de Janeiro, onde vivem 69,2 mil pessoas. Em São Paulo, as duas maiores, de acordo com o IBGE, são as de Paraisópolis (42,9 mil moradores) e Heliópolis (41,1 mil habitantes). O rápido crescimento das favelas torna-se intrigante quando se leva em conta o desempenho da economia. O PIB cresceu cerca de 40% entre 2000 e

Taxa de crescimento da população favelada tem sido maior que a da população em geral 2009, o que, certamente, propiciou o aumento da oferta de trabalho e de renda para a maioria da população. Mesmo assim, o número de pessoas que vivem em condições inadequadas continuou a crescer e até mais rapidamente do que crescera em períodos anteriores. Membro da comissão técnica que elaborou o estudo do IBGE, o geógrafo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Cláudio Egler reconhece que “o grande aumento da população de favelas é algo que já vinha sendo observado nas metrópoles” (quase 90% da população favelada vive em regiões com mais de 1 milhão de habitantes). Em busca de alguma atividade rentável, as pessoas a procuram nas

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Senado do Uruguai despenaliza aborto

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Decisão deve ainda ser discutida pela Câmara; proposta conta com apoio do presidente José Mujica ● “As pessoas choram a morte de um cachorro, mas comemoram o direito de matar bebês.” VICTOR BATISTON BIMBATO

● “Absurdo são mulheres morrendo em verdadeiros açougues clandestinos para evitar serem presas por uma escolha que só diz respeito a elas, donas de seus corpos.” BRUNO NIGRO HÁ 882 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

áreas onde as oportunidades são mais numerosas e a infraestrutura é melhor, como as grandes cidades e, particularmente, as regiões metropolitanas (a de São Paulo tem 2,16 milhões de pessoas vivendo em favelas, 18,9% de toda a população brasileira favelada). Mas, sem dispor de oferta de moradias adequadas nas áreas mais próximas dos locais de trabalho e sem dispor de um sistema de transporte público que lhe permita se deslocar da casa ao trabalho com um mínimo de conforto e confiabilidade, essas pessoas passam a morar em condições precárias. É o preço que aceitam pagar para não ter de se sujeitar a gastar até seis horas por dia no deslocamento entre casa e trabalho, e vice-versa.Nãohápolíticaspúblicasarticuladas – de habitação (inclusive com linhas de financiamento acessíveis a essa população), de uso e ocupação do solo urbano e de transportes – para amenizar esseproblemanamaioriadas regiões metropolitanas. Num ponto, pelo menos, o estudo do IBGE apresenta dados animadores. É notável a extensão de um serviço essencial na área de saúde pública à população que vive em favelas. A rede de distribuição de água atende a 100% das duas maiores favelas de São Paulo e, com exceção das Favelas de Cidade de Deus, em Manaus, e de Coroadinho, em São Luís, alcança mais de 90% da população das dez maiores aglomerações de favelados do País. Com relação à coleta de esgoto, no entanto, o quadro é ruim, com raras exceções.

● “Quantas vidas serão tiradas? É bem melhor prevenir.” THAMIRES SANCHES

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.


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O ESTADO DE S. PAULO

SÁBADO, 31 DE DEZEMBRO DE 2011

Conselho de Administração

Opinião

Presidente

Membros

Plinio Villares Musetti

Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Júlio César Mesquita, Patricia Maria Mesquita e Roberto C. Mesquita

Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira

Informação Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor do Núcleo Publicações: Ilan Kow Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Notas e Informações A3

Administração e Negócios Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Leitor: João Carlos Rosas Diretor de Mercado Anunciante: Fábio Costa Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio

estadão.com.br A versão na Internet de O Estado de S. Paulo

Notas & Informações

Investimentos adiados É como se o Brasil dispusesse de energia à vontade, distribuída de maneira eficiente; a malha de transporte terrestre, já extensa o suficiente para atender todas as regiões, estivesse em condições perfeitas de utilização, sem riscos e sem prejuízos para os usuários; e a estrutura portuária e aeroportuária já tivesse alcançado capacidade e eficiência necessárias para atender a uma demanda grande e crescente. Só se essas situações ideais constituíssem a realidade se justificaria que o governo adiasse para 2012 quase R$ 50 bilhões de investimentos em infraestrutura. O governo federal, no entanto, adiou obras de infraestrutura, sem considerar que sua falta estrangula o crescimento da economia. O adiamento de investimentos em

obras indispensáveis e as indecisões sobre regras essenciais ao fluxo de capitais para a infraestrutura resultam de inoperância, incompetência (faltam projetos adequados), irregularidades contratuais e incapacidade do governo para atrair o setor privado – como mostrou reportagem de Eduardo Rodrigues e Karla Mendes publicada no Estado (26/12). Projetos que deveriam ter sido iniciados neste ano para que seus resultados começassem a surgir antes da realização de grandes eventos internacionais foram postergados, por falta de definição, a tempo, das regras para sua execução ou de projeto executivo. O adiamento atinge áreas críticas. Entre obras e planos adiados estão os leilões dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília e diversas concessões, como a da rodovia BR-101 no Espírito Santo e de hidrelétricas, entre as quais a usina de São Manoel (entre os Estados

do Pará e Mato Grosso). Ressalve-se que, num caso, o adiamento poderá ser benéfico para o País. Trata-se do trem-bala ligando Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, projeto megalomaníaco idealizado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o queria ver concluído até 2014, quando o Brasil sediará a Copa do Mundo, ou, pelo menos, até 2016, quando se realizará a Olimpíada do Rio de Janeiro. Os sucessivos adiamentos da publicação do edital para a realização dessa obra, por falta de definições a respeito de questões essenciais – inclusive o projeto básico, com o traçado da ferrovia e a indicação das áreas a serem desapropriadas –, e outras carências dos estudos do governo, apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), tornaram impossível a conclusão da obra antes de 2019. Na melhor das hipóteses, se novos obstáculos não surgirem, a

obra começará a ser executada em 2014. Se isso ocorrer, espera-se que, até lá, tenha surgido alguma justificativa concreta para a obra, cuja utilidade para o País e cuja viabilidade econômico-financeira nunca foram convincentemente demonstradas pelo governo. No geral, o País perde com as vacilações do governo. No caso de grandes obras de energia e de transportes, por exemplo, além da lentidão que se tornou a marca dos governos petistas, há a defasagem entre a decisão de investir e a efetiva realização do investimento. E surgem dificuldades também depois de assinado o contrato. “O governo não contrata bem, há muitos problemas nos contratos e o País, às vezes, acaba pagando duas vezes pelo mesmo serviço”, observou o diretor executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Bruno Batista. Além de adiar investimentos, o go-

verno deixou de tomar decisões em questões importantes, como a das concessões do setor elétrico que vencem a partir de 2015. Essas concessões representam 18% da oferta total de energia e 84% das linhas de transmissão em operação no País. O governo teve tempo para resolver essa questão de acordo com o estabelecido desde 1995 (a realização de nova licitação), mas não o fez. Enquanto não a toma, os investimentos estão paralisados. Continua sem solução prática a questão da distribuição dos royalties do pré-sal (no fim de seu mandato, o ex-presidente Lula vetou o rateio aprovado pelo Congresso). Isso impede a licitação de novas áreas que incluam o pré-sal. Na área de mineração, a renovação do código, anunciada como prioritária, continua sem solução, o que igualmente impede novos investimentos no setor.

Novas regras para radares

As receitas dos Estados

or meio de uma resolução anunciada logo no início do período de férias, quando aumenta o tráfego nas rodovias, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) alterou as regras que disciplinam o uso de radares fixos e móveis. Foi revogada a norma que obrigava as autoridades estaduais e municipais de trânsito e as polícias rodoviárias estaduais e federal a colocar placas de alerta informando os motoristas da localização de radares. A obrigatoriedade das placas foi exigida até 2003, quando foi suspensa por um decreto que disciplinou a Coordenação do Sistema Nacional de Trânsito. Três anos depois, o Contram baixou outra resolução, restabelecendo a obrigatoriedade. Agora, a exigência foi suspensa novamente, sob a alegação de que os motoristas se aproveitavam dos avisos de radares para ultrapassar a velocidade máxima permitida em trechos não cobertos pelo equipamento. Segundo dirigentes do Departamento Nacional de Trânsito, a exigência das placas de alerta também dificultava a fiscalização eletrônica nas rodovias de alta velocidade. Além de suspender a obrigatoriedade das placas de alerta, a resolução do Contran revogou a exigência de estudos técnicos prévios para a instalação de radares móveis em rodovias. Pelas novas regras, qualquer ponto pode ser fiscalizado, sem nenhuma necessidade de justificação técnica por par-

omo era previsto, a desaceleração da atividade econômica, em consequência da persistência da crise internacional, já afeta a receita tributária em todos os níveis de governo. Mas, por causa das características do sistema tributário brasileiro, a crise não afeta a todos da mesma maneira. Embora os efeitos dos problemas nos países industrializados sobre a economia brasileira tenham se tornado mais agudos, as arrecadações em todos os níveis continuaram a crescer em termos reais (isto é, descontada a inflação). As do governo federal, no entanto, cresceram bem mais que as dos Estados. Apesar de também ter registrado desaceleração nas receitas no segundo semestre de 2010, o governo federal vem obtendo resultados muito positivos. Em novembro, o aumento real da arrecadação federal em relação a igual mês de 2010 foi de 6,4%. Pelo quarto mês consecutivo, o aumento real em relação ao mesmo mês do ano anterior foi inferior a dois dígitos. Mesmo assim, no acumulado dos 11 primeiros meses do ano, a arrecadação cresceu 11,7% em relação ao valor arrecadado de janeiro a novembro de 2010. Para todo o ano de 2011, a previsão da Receita é de um aumento real de 11% a 11,5% (o resultado será conhecido daqui a algumas semanas). Nenhum dos principais Estados brasileiros conseguiu resultado comparável. No acumulado de janeiro a setembro (último dado disponível para todo

P

BOAS-FESTAS O Estado agradece e retribui os votos de boas-festas e feliz e próspero ano-novo de Adherbal Ramon González, Adriana Aulisio, Adriana e Hugo Studart, Antônio Dias Neme, Carla de Lima, Carlos Botelho, Companhia do Ser, Consulado Geral da Bélgica em São Paulo – Peter Claes, Véronique Marounek, Bart Struyf, MarieHélène Devisscher, Dulce Vivas, Sueli Monteiro, Manoel Rodrigues, José Carlos Andrade, Décio José Balles e família, Diário do Litoral, Fernanda Vannucci, Fernando Leça, Giorgio Nicolini, Hildo Daniel, Holograma Comunicación, João Antonio Pagliosa, João Ricardo Silveira Jaluks, Jürgen Detlev Vageler, Katia Helena Victor, Kim Alencar, Maria Alzira Mattos, Marcelo Sousa, Movimento Salvador Pela Paz, Naila Petrechem Manzini, Nardão Sacomani, Ney de Araripe Sucupira – diretor de Relações Públicas da Asso-

te das autoridades de trânsito. Os radares móveis podem ser instalados até em trechos de rodovias sem sinalização de velocidade máxima permitida – uma regra polêmica, uma vez que o motorista poderá ter dúvidas sobre o limite de velocidade naquele trecho. A única condição é que os equipamentos de fiscalização não fiquem camuflados na vegetação ou escondidos atrás de viaturas. Para o Contran, a nova resolução vai tornar mais eficiente o controle das infrações de trânsito, ajudando a reduzir o número de acidentes. Muitos motoristas respeitavam os limi-

O objetivo principal não muda: aumentar a receita das multas, não a orientação do trânsito tes de velocidade somente quando alertados sobre a iminência da fiscalização eletrônica, e dirigiam de modo imprudente e em alta velocidade nos trechos não cobertos por radares. Alguns especialistas, contudo, acham contraproducente a instalação de radares sem que haja a sinalização de velocidade permitida. Além de não contribuir para a educação dos motoristas, a ausência de sinalizações precisas sobre limite de velocidade ou a existência de sinalizações confusas só tendem a alimentar a indústria das multas, reforçando o caixa dos Estados e das prefeituras – advertem os especialistas. Só na cidade de São Paulo, por exemplo, as multas propiciaram mais de R$ 500 mi-

ciação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, Organização Caro Ltda., Pedro Atílio Cesarino e Mario Sergio Cesarino - Publicidade Archote Ltda., Pedro Pinciroli Júnior, Prefeitura de Poços de Caldas, Primata Camisetas, PSOL Petrolina, Promoview Marketing Promocional, Ralph Anzolin Lichote, Refrimur, Retiro Rosa de Nazaré, Ricardo Fujii, Ricardo Marin, Rodney Vergili –Digital Assessoria Comunicação Integrada, Ronaldo Parisi, Sergio Pinheiro – Dot Insight, Sergio S. de Oliveira, Silvia & Sonia Balady – Balady Comunicação, SPMJ Comunicações, Sérgio Poroger & Maria José Arrojo, Sidney Cantilena, Sônia e José Lascane, Telefônica/Vivo, Tech Talk, Tojal Renault Advogados Associados, TSántali, Unilever – Externa, Comunicação, Victor Germano Pereira, Washington Luiz P. Vizeu e José Luiz Pereira Vizeu – Vizeu Leiloeiro Oficial, Secretaria de Educação de Osasco e Zeidan For Man.

lhões de receita extraordinária para os cofres da Prefeitura, no ano passado. Entre 2005 e 2010, o número de multas de trânsito em São Paulo praticamente dobrou. E as previsões são de que a receita propiciada por multas de trânsito na capital, no próximo ano, seja 115% maior que a de 2008. O Código de Trânsito foi concebido principalmente como um instrumento educativo. É por isso que, além de impor as multas como sanções extremas,ele determinaque a receita por elas propiciada seja usada emcampanhasdeesclarecimento destinadas a motoristas em geral. Em muitos Estados e municípios, porém, essa determinação é ignorada – a ponto de, em São Paulo, parte dos recursos do Fundo Municipal de Desenvolvimento de Trânsito ser usada para pagamento de subsídios a empresas de ônibus. Aosepreocuparemexclusivamente com aumentar a arrecadação, muitos Estados e prefeiturasrelegampara segundoplanoaadoçãodemedidasparamelhorar a segurança do trânsito, como adequada visibilidade dos sinais, pavimentação de qualidade e orientação precisa aos motoristas. Se a preocupação das autoridades de trânsito fosse reduzir a violência nas ruas,elas estariam empenhadas mais em educar e orientar do que em forjar pretextos para multar motoristas e, com isso, assegurar recordes sucessivos dearrecadação.Apesardasjustificativasdoórgão,anova resolução do Contran não parece ter sido baixada com o propósito de mudar esse quadro.

“Que em 2012 não se esgote a já minguada esperança de que na direção do País voltem a prevalecer a dignidade e a justiça” ROBERTO TWIASCHOR / SÃO PAULO, SOBRE O QUE SE QUER PARA O BRASIL NO NOVO ANO rtwiaschor@uol.com.br

“Meus votos para a presidenta Dilma: adeus ano dos malfeitos, feliz ano dos benfeitos” VIDAL DOS SANTOS / GUARUJÁ, IDEM vidal.santos@yahoo.com.br

C

o País), a arrecadação do ICMS, principal tributo estadual, teve aumento real de 4,3% em relação a igual período de 2010, segundo reportagem do jornal Valor (28/12). O que preocupa os governos estaduais é que os resultados vêm piorando desde o início de 2010. No primeiro trimestre, o aumento real da arrecadação do ICMS em todo o País tinha sido de 6,7%; no trimestre encerrado em setembro, de 3,4%, metade do resultado do início do ano. A arrecadação do ICMS é fortemente dependente da atividade econômica, especialmente daprodução industrialnos prin-

Todas elas melhoram, mas as do governo federal melhoram mais do que todas cipais Estados. O fraco resultado do PIB brasileiro no terceiro trimestre de 2010 explica boa parte da redução do ritmo de crescimento das receitas estaduais nos últimos meses. Essa reduçãosónão foimaisacentuada porque o ICMS tem dois outros importantes fatos geradores, que são o consumo de energia elétrica e a telefonia. Essas fontes de receita também são afetadaspelaatividadeeconômica,masdemaneiramenosintensa que a produção. Porterdiversasbasesdecálculo (produção industrial, operaçõesfinanceiras,comércio exterior, renda das pessoas físicas e das pessoas jurídicas, entre outras),aarrecadaçãofederalémenos suscetível às oscilações da atividade econômica. Além dis-

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 6º andar, CEP 02598-900 Fax: (11) 3856-2920 E-mail: forum@grupoestado.com.br

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Jader receberá salário por 4 dias de trabalho

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R$ 3,4 mil serão pagos ao senador pelos últimos dias do ano, mesmo com o Senado em recesso ● “A política neste país não tem conserto. É muito dinheiro da arrecadação tributária que escoa para esse esgoto político.” JOSÉ RAFAEL GONTIJO

● “Difícil acreditar. R$ 3,4 mil por quatro dias de serviços prestados. O que fez o novo senador?” JOSÉ MARIA THEODORO

HÁ 883 DIAS

POR DECISÃO JUDICIAL, O ESTADO ESTÁ SOB CENSURA. ENTENDA O CASO: WWW.ESTADAO.COM.BR /CENSURA

● “E o trabalhador recebe um salário mínimo para sobreviver por 30 dias.” DALVA SOUZA

so, o governo federal dispõe, em váriosmomentos,dereceitasextraordinárias, como ocorreu em 2010 com o Refis da Crise e com decisões judiciais em favor da União na área tributária. Paraos Estados, a dúvida é como ficará a arrecadação em 2012. Os orçamentos estaduais para o novo exercício foram elaborados em meados de 2011, quando os efeitos da crise sobre as receitas próprias ainda não eram notáveis. Não são raras, por isso, previsões de crescimento nominal da arrecadação de 10% a 15% em relação a 2011. Dados recentes sugerem que são projeções irrealistas. A arrecadação do ICMS em São Paulo, em novembro, foi apenas 0,5% maior do que a de novembro de 2010 (em outubro, foi 0,1% menor do que a de igual mês do ano anterior). Governos previdentes já preparam os ajustes que certamente serão necessários em 2012. Em São Paulo, como anunciou o governador Geraldo Alckmin, o objetivo é cortar as despesas de custeio, de modo a preservar ao máximo os investimentos. “Vamos sempre procurar ser criteriosos na área de custeio e pisar no acelerador do investimento”,disse Alckmin, aoconfirmar que contingenciará o Orçamentodo Estado de 2012, cujo total é deR$156,6 bilhões.Énecessário cuidado na gestão dos recursos públicos, argumentou, pois “há uma incerteza em relação à economia mundial”. Ocontribuinteesperaqueoutros governantes, especialmentena áreafederal,tenhamomesmo bom senso na gestão da política fiscal em 2012.

As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas. O Estado se reserva o direito de selecioná-la para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada. Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 – falecom.estado@grupoestado.com.br Central de atendimento ao assinante Capital e Regiões Metropolitanas: 4003-5323 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br/faleconosco Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Vendas Corporativas: 3856-2917 Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 – cia@estado.com.br Preços venda avulsa: SP: R$ 3,00 (segunda a sábado) e R$ 5,00 (domingo). RJ, MG, PR, SC e DF: R$ 3,50 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). ES, RS, GO, MT e MS: R$ 5,50 (segunda a sábado) e R$ 7,50 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,50 (segunda a sábado) e R$ 8,50 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo) Preços assinaturas: De segunda a domingo – SP e Grande São Paulo – R$ 74,90/mês. Demais localidades e condições sob consulta.




O Estado Novo de São Paulo julho/dezembro 2011 Org. Fernando Piola vol. V Publicação realizada sob os auspícios do Programa de Residência Artística do Memorial da Resistência de São Paulo Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo Impresso em papel Offset 90 g/m2 pela Prol Editora Gráfica Encadernado pelo Atelier Luiz Fernando Machado com capa revestida de couro São Paulo: Edição do autor, 1a edição, cópia de artista 2013





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