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Iza Santos
from Desenho e Risco
Ainda não entendi muito bem se a gente tem que começar a biogra-
Iza, nomes artísticos me deixam agoniada porque tenho medo de criar um nome e ele deixar de representar quem sou anos depois. Tenho 18 anos, nasci em uma cidade costeira minúscula chamada mente moro em Viana e tenho sérios problemas envolvendo burocracia e crises existenciais sobre ser brasileira ou não.
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Sou uma perfeccionista nata e uma procrastinadora melhor ainda, inclusive tudo o que você verá na minha parte deste livro foi milimetricamente deixado pra última hora. O que mais me capta é utilizar tudo da maneira mais íntima que me vier (essa frase não tem contexto mas precisou ser dita). Me sinto viva quando me vejo conectada ao mundo, à natureza, quando canto, quando corro, grito, e choro de felicidade por nenhum motivo. Me sinto feliz quando me sinto humana. A arte me vem como forma de conexão com aquilo que me rodeia e aquilo que sou. Gosto de compor músicas, poemas, textos, sou fotógrafa, faço teatro e por causa dessa maté-
nada por caipirinha e desenho animado.
PAISAGENS FRAGMENTADAS Nanquim sobre papel
Pequenas observações de detalhes que compõe um todo, momentos em locais diferentes que retratei e que me captaram, mas não tinham o porquê. Coisas que a gente olha de relance e não enxerga.
PROPOSTA DO DOSSIÊ
de início porque a ideia de retratar algo a princípio invisível, como o som, me instigava. A sinestesia que me atingia quando começava a desenhar me deixava em um estado de atenção e cuidado com o que me rodeava e visualmente a abstração das obras me agradou. Com o tempo isso foi tomando proporções mais profundas e passei a prestar atenção não só ao som, mas a todo o processo que poderia envolver sua formação. O som surge no movimento, então me movi.
HANS HARTUNG
Um pintor alemão que conheci durante as aulas da matéria acabou alugando um triplex na minha cabeça. O trabalho de Hans em vida consistia na gestualidade, uso do inconsciente e constante processo de experimentação, ele trabalhava em suas telas o movimento, invertendo a relação de pintar o movimento para movimentar para pintar.
pois no momento estava em uma luta para entender como poderia levar para a arte o conceito de movimentação.
PAISAGEM 01 (Ouvido de Mergulhador)
Tinta acrílica e chuva sobre tela’
Foi a primeira tela que pintei na vida então a enxergo com carinho. Tentei retratar o embaçar do som após emergir do mergulho, quando a água te tampa o ouvido e não dá pra entender com clareza o quebras das ondar do mar, das pessoas falando, do vento. No dia em que pintei estava no meio da chuva, numa tempestade, no quintal de casa, então passei a movimentar a tela simulando o movimento de emergir enquanto ela era atingida pela água.
PAISAGEM 02 (Grave)
Tinta acrílica sobre tela
Estava num rock de carnaval, bêbada com as minhas amigas, quando me sentei numa escada e parei para prestar atenção na sensação do funk alto e da minha mente ondulando e cambalean-
sonora.
PAISAGEM 03 (Sopro)
Tinta acrílica e talvez um pouco de saliva acidental sobre tela
Fui de babá para um parque de diversões acompanhando meu primo pequeno. Quando entrei num brinquedo que consistia numa barca balançando como um pêndulo, falando assim nem parece tão divertido, mas acabamos voltando 7 vezes. Em uma das vezes prestei atenção na sensação do vento forte soprando e assoviando no meu rosto. Pintei essa tela com sopros me baseando nessa ex-
sabão, deixei que tudo se formasse sem interferência de nada a não ser vento.