Engenharia 53

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engenharia Boletim Informativo da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto INVERNO 2013

Alumni FEUP reunidos em Londres FEUP e IPATIMUP inovam no diagnóstico de infeção ligado ao cancro Rolhas técnicas de cortiça 100% naturais BIN@BRAZIL: a redescoberta do Brasil da inovação



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SUMÁRIO

p.7

p.12

p.10

p.15

p.28

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p.22 EDITORIAL

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Compromisso FEUP 2020

FEUP NO MUNDO

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Acontecimentos com ADN FEUP

INOVAR

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FEUP lidera projeto europeu em energias renováveis FEUP e IPATIMUP inovam no diagnóstico de infeção ligado ao cancro FEUP e SAPO lançam “Máquina do Tempo” FEUP lança Centro Competências em Inovação e Desenvolvimento de Produtos e Serviços

EMPREENDER

10 BERD: cada ponte, uma solução 12 “INEM Voador” com assinatura da FEUP 13 Embaixador da Google em Portugal é estudante da FEUP

p.38

13 Estudante da FEUP eleito novo Presidente da ESTIEM 14 Rolhas técnicas de cortiça 100% naturais

AGIR

16 Metodologias participativas no ensino do design: a olaria pedrada de Nisa 18 Morfologia Urbana e o “International Seminar on Urban Form” 19 Entrevista - Pedro Coelho: “O H2020 é uma oportunidade que não podemos desperdiçar” 20 Controlar plantações agrícolas à distância de um clique

PROMOVER

COOPERAR

28 BIN@BRAZIL: Portugueses à redescoberta do Brasil da inovação 31 Entrevista de vida: Alírio Rodrigues 34 FEUP participa em curso InterUniversitário em Cabo Verde

VENCER

35 Estudantes da FEUP vencem Prémio SECIL Universidades 2012 36 Robin Food: uma heróica aplicação “made in” FEUP

Interpretar

37 Temos Orquestra! 38 Blip, a empresa que pensa “fora da caixa” criada por alumni FEUP

21 Encontro Alumni em Londres 25 Museu da FEUP participa no Thesaurus de Acervos Científicos em Língua Portuguesa 26 FEUP Career Fair 2013

ENGENHARIA Boletim Informativo da FEUP Edição* Divisão de Comunicação e Imagem da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto dci@fe.up.pt Conselho editorial Carlos Oliveira e Raquel Pires Redação Carlos Oliveira, Helena Peixoto e Raquel Pires noticias@fe.up.pt Design e Produção César Sanches design@fe.up.pt

Colaboram nesta Edição: Álvaro Martino, Ana Pereira, Ana Grácio, Luís Ferraz e Susana Neves Publicidade Sara Cristóvão publicidade@fe.up.pt

Impressão Empresa Diário do Porto, Lda. Porto 04 - 2014 Periodicidade Semestral

Propriedade Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Tiragem 5000 exemplares

Sede FEUP Rua Dr. Roberto Frias, 4200-465 Porto Tel: 22 508 1400 e-mail: dci@fe.up.pt | url: www.fe.up.pt

Depósito legal 225 531/05 * Esta edição foi escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico.


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EDITORIAL

Compromisso FEUP 2020 O futuro passa pela cooperação multidisciplinar na Academia

Fotografia: Ana Pereira

Sebastião Feyo de Azevedo*

1. Este é o oitavo e último editorial que assino na minha qualidade de diretor da FEUP. Embora ainda sem data certa, o meu mandato deve terminar nos próximos meses, antes do verão, e o meu futuro individual não passa, como já informei os meus colegas, pela candidatura a uma renovação de mandato. Foi, tem sido, um período extraordinário da minha vida, porque é extraordinário, e motivo de grande orgulho e satisfação pessoal, ser diretor de uma grande instituição, com tantos pedagogos e investigadores notáveis, servidos por um quadro técnico de imensa qualidade e, principalmente, com uma postura de serviço público absolutamente exemplar. 2. Nos sete editoriais precedentes dei ênfase às linhas de força da política de desenvolvimento da FEUP que me esforcei por fomentar ao longo deste mandato e que exprimo em três ideias complementares: internacionalização; merecer e ter a confiança da sociedade; acreditar e confiar no futuro. Hoje, acrescento uma outra, vital, de que no estado atual do desenvolvimento do conhecimento o futuro passa por um aprofundamento da cultura da colaboração multidisciplinar na FEUP e dentro da Academia. Merece reflexão um estudo que efetuamos muito recentemente sobre a base de dados do sistema de ranking de Taiwan. Entendemos apreciar o impacto da atividade da FEUP em áreas que não as de engenharia e o impacto da atividade de colegas de outras Unidades Orgânicas da U.Porto na área da engenharia. Os resultados sugerem uma importante multidisciplinaridade no trabalho dos docentes e investigadores da Universidade do Porto: • Das publicações a que estão associados docentes da FEUP, verifica-se que apenas 60% equivalente dessas publicações são classificadas na área da Engenharia; as restantes 40% dividem-se da seguinte forma: 18% na área das Ciências Naturais; 9% em Agricultura; 6% em Ciências da Vida; 5% em Ciências Sociais; e 2% em Medicina Clínica. • Em sentido inverso, complementar, nota-se que 24% das publicações da U.Porto classificadas neste ranking em ‘Engenharia’, não são da autoria de docentes e investigadores da FEUP. Provêm maioritariamente de colegas da Faculdade de Ciências. Este é um resultado da evolução da ciência e do conhecimento. É um importantíssimo sinal de alerta para a necessidade de procurarmos formas de fomento da

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cooperação multidisciplinar, tanto na investigação, como na formação. Afinal, nada de novo. Inspirado na minha interpretação dos escritos de Darwin, parece-me claro que o nosso futuro depende muito da nossa capacidade de adaptação à evolução, de adaptação aos tempos. 3. Mais uma vez saúdo a escolha de conteúdos do BIFEUP, a cargo do Conselho Editorial da revista. Neste número continua bem espelhada a nossa atividade em todas as vertentes da nossa missão: na educação, com o sucesso dos nossos estudantes; na investigação, com os exemplos de trabalhos em curso e com o exemplo de um percurso de Vida, do professor Alírio Rodrigues; na intensa atividade em temas diretamente associados às nossas empresas e ao nosso quotidiano; no esforço de cooperação internacional em inovação; no lançamento de novas empresas; no exemplo de cooperação com os Alumni. 4. Termino com quatro referências muito importantes de eventos ou acontecimentos destes últimos meses: Uma palavra de homenagem a mais um distinto colega que depois de uma carreira de mais de 40 anos se jubilou, o professor Eduardo Oliveira Fernandes. Todos desejamos que continue por bons anos, com a sua intensa e importante contribuição para o desenvolvimento da nossa Faculdade e da nossa Universidade. No Dia da FEUP, em 13 de janeiro de 2014, inauguramos os Painéis da Inovação na Sala do Conselho. Desta forma terminamos o arranjo da Sala, feito com três mensagens: respeito pela memória, qualidade de meios de trabalho para o presente, projeção do presente no futuro. Nesse mesmo Dia da FEUP tivemos a grande honra de receber o Presidente da Câmara Municipal do Porto, Dr. Rui Moreira, que nos transmitiu no seu discurso uma mensagem muito forte da importância da cooperação institucional a nível da Região. Foi a primeira vez que o mais alto representante da cidade participou na principal sessão solene da FEUP. Finalmente, um evento de grande simbolismo. A cultura é a essência da identidade de uma instituição e de um Povo. É o fogo que aquece a Alma. Tivemos no passado dia 19 de dezembro de 2013 o concerto inaugural da Orquestra Clássica da FEUP. Foi extraordinário. Não poderia terminar os meus textos de melhor forma. * Diretor da FEUP


FEUP NO MUNDO

“Equipa de Conteúdos” do Spotify recruta estudante FEUP Pedro Pacheco, antigo estudante da FEUP, é um dos mais recentes colaboradores do conceituado serviço de música Spotify. Integrado na equipa de conteúdos, é responsável pela coleção musical disponibilizada aos utilizadores, recebendo os dados enviados pelas editoras e processando-os para garantir consistência e qualidade. Depois há que distribuí-los pelos data centers para que possam ser acedidos pelos utilizadores. Devido à grande quantidade de dados, há diariamente grandes desafios de performance e escalabilidade, o que torna o desafio de Pedro Pacheco ainda mais aliciante.

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Cleanroom Award 2013 atribuído a projeto com assinatura FEUP

Estudante da FEUP Vence prémio de mérito da ABB Portugal Diogo Varajão, estudante de doutoramento da FEUP, foi distinguido com o Prémio ABB 2013 pela ABB Portugal, empresa de tecnologias de energia e automação, pela dissertação de mestrado realizada no âmbito do Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica e Computadores, que obteve a classificação de 20 valores. Enquadrada no âmbito das Redes Elétricas Inteligentes (Smart Grids), a dissertação explorou o conceito Vehicle-to-Grid para os veículos elétricos, desenvolvendo uma solução para o carregador das baterias que possibilita a injeção de energia na rede e rentabiliza a sua capacidade de armazenamento.

Projeto “Blautouch” esteve em destaque na Cleanroom 2013, evento de referência a nível mundial na área dos ambientes controlados, e que decorreu na cidade de Frankfurt, na Alemanha, em outubro. Desenvolvida pela Laborial em parceria com a FEUP e a empresa Edigma, a “Blautouch” consiste numa superfície de trabalho interativa constituída por materiais resistentes aos reagentes e aos desinfetantes mais agressivos, tendo sido criada segundo as últimas diretrizes do hygienic design.

Docente da FEUP integra ERC

Professor da FEUP eleito Fellow da ADSA É o primeiro investigador português a ser eleito Fellow da American Dairy Science Association (ADSA), a maior associação profissional do mundo na área dos laticínios, sedeada nos EUA. F. Xavier Malcata, professor catedrático da FEUP, integra também a restrita lista dos premiados da ADSA, e vê assim – mais uma vez – amplamente reconhecidas as suas consistentes contribuições prestadas à indústria nacional e internacional de laticínios, na sequência de intervenções integradas nas vertentes académica e de gestão.

Pedro Camanho, Professor Associado da FEUP, foi convidado pelo European Research Council (ERC) a integrar o painel de avaliação das Starting Grants, na categoria Products and Processes Engineering. As Starting Grants promovem a formação de equipas excelentes, apoiando investigadores que estabeleçam uma equipa e conduzam uma investigação independente na Europa. É missão do ERC incentivar a investigação e investigadores de elevada qualidade na Europa através de um financiamento competitivo, promovendo a excelência científica.

Antiga docente da FEUP distinguida com prémio internacional

Estudante de mobilidade da FEUP recebe prémio internacional em biometria

Ana Neves, antiga docente da FEUP, viu a sua tese de Doutoramento ser reconhecida como a melhor na região ibero-americana nos últimos dois anos (2012 e 2013), para a área da Engenharia Mecânica. A entrega do prémio teve lugar no XI Congresso Ibero-Americano de Engenharia Mecânica, em La Plata, Argentina, que decorreu de 11 a 14 de novembro de 2013. Ana Neves lecionava na FEUP durante o período de elaboração da tese premiada. Neste momento encontra-se a trabalhar no Reino Unido.

Juliano Murari, estudante de mobilidade no Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da FEUP em 2013, viu o seu projeto sobre biometria da íris premiado na LivDet – Iris 2013: Iris Liveness Detection Competition 2013, evento que decorreu em Madrid, em outubro. Trata-se de uma competição internacional, apoiada não só por faculdades de várias geografias (E.U.A., Polónia), como também por prestigiados laboratórios na área da biometria.

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INOVAR

FEUP lidera projeto europeu em energias renováveis Texto: Helena Peixoto Fotografia: D.R.

Com um financiamento europeu de 5 milhões de euros, uma equipa de investigadores da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) vai dedicar-se à criação de tecnologias de geração de eletricidade que utilizem fontes de energia renováveis. O grande objetivo passa por conseguir apresentar, daqui a quatro anos, três protótipos de geração elétrica que seja 100% renovável.

Chama-se REnewable ELectricity COOPeration (REELCOOP) e arrancou no passado mês de setembro, no âmbito do 7.º Programa Quadro da Comissão Europeia. O projeto liderado pela Faculdade de Engenharia com coordenação científica de Armando Oliveira, do Departamento de Engenharia Mecânica (DEMec), assenta sobretudo no desenvolvimento e disseminação de tecnologias de geração de eletricidade que utilizem fontes de energia renováveis. Divide-se em cinco grandes áreas: eletricidade fotovoltaica, centrais solares de concentração, eletricidade solar térmica, biomassa e integração de eletricidade renovável na rede. De acordo com o plano estratégico da União Europeia para a energia (SET-Plan), o projeto terá a duração de quatro anos, durante os quais vão ser estudados e desenvolvidos sistemas de geração centralizada de eletricidade, assim como sistemas de geração distribuída (de pequena dimensão). O REELCOOP compreende ainda a conceção, construção e teste de três protótipos de sistemas de geração elétrica, que incorporam inovações tecnológicas de relevo: um protótipo de sistema elétrico fotovoltaico integrado num edifício, um protótipo de sistema de micro cogeração híbrido (solar térmico/biomassa) e um outro de uma minicentral de concentração solar. Existe fundamentalmente a ambição

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de se conseguir criar três protótipos de geração elétrica 100% renovável, o que se traduzirá em ganhos operacionais e económicos significativos. Neste momento estão já criadas as condições para aferir alguns resultados, nomeadamente no que toca a simulações dos sistemas em causa e na experimentação de algumas componentes: células fotovoltaicas, micro turbinas, fontes de biomassa, etc. A Faculdade de Engenharia é a entidade coordenadora do projeto, que conta ainda com outras entidades parceiras, como a Universidade de Évora (Portugal), a Universidade de Reading (Reino Unido), o German Aerospace Centre DLR (Alemanha), o Centre for Energy, Environmental and Technological Research - CIEMAT (Espanha), a National School of Engineering of Tunis - ENIT (Tunísia), o Institut of Research on Solar Energy and New Energies - IRESEN (Marrocos), a Universidade de Yasar (Turquia), o Centre for Development of Renewable Energies - CDER (Argélia) e as empresas ONYX Solar (Espanha), MCG Solar (Portugal), Termocycle (Polónia), Soltigua (Itália), Zuccato Energia (Itália) e Advanced Energy Systems (Tunísia). www.reelcoop.com


INOVAR

Texto: Raquel Pires Fotografia: D.R.

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FEUP e IPATIMUP inovam no diagnóstico de infeção ligado ao cancro

O estudo é recente e vem revolucionar a forma como habitualmente se diagnosticam infeções microbianas no corpo humano. Através de uma técnica não invasiva e sem amostras de sangue, o novo método pode ser usado para detetar mais facilmente bactérias ligadas ao cancro do estômago. Em breve serão realizados testes animais que vão permitir aferir com mais certeza estes primeiros indicadores.

Um grupo de investigadores da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP), em parceria com a University of Southern Denmark (SDU), desenvolveu um novo método que permitirá diagnosticar infeções microbianas diretamente no corpo humano, através de uma técnica que não necessita de recorrer a biópsias ou amostras de sangue, como acontece atualmente. O trabalho dos investigadores permitiu desenvolver um diagnóstico em tempo real, capaz de detetar sequências específicas de ácidos nucleicos de microrganismos patogénicos a 37ºC e em condições semelhantes às encontradas no interior do corpo humano. O primeiro método, publicado recentemente na revista PLoS ONE, centrou-se na deteção da Helicobacter pylori, uma bactéria existente no estômago humano que é um fator de risco para o desenvolvimento de úlceras de estômago e cancro gástrico. Este novo método de diagnóstico utiliza metodologias avançadas de modificação de ácidos nucleicos que, juntamente com métodos de biologia molecular mais estabelecidos, permitem uma deteção sensível e específica da bactéria. O método foi testado em laboratório em condições semelhantes às encontradas no interior do corpo humano, mas espera-se em breve iniciar com os testes em animais. No futuro, esta metodologia poderá ser também aplicada a outros tipos de microrganismos que infetam frequentemente os seres humanos.

Para detetar os microrganismos, o método utiliza então sondas de ácidos nucleicos modificados que se encontram ligadas a uma molécula fluorescente e que a partir desta tornam o próprio microrganismo fluorescente. Num contexto real, estas moléculas serão enviadas para o estômago, onde irão reagir com a Helicobacter pylori. Neste ponto são precisas microcâmaras para identificar o sinal fluorescente, um equipamento que já se encontra presente nos endomicroscópios confocais utilizados na área clínica. Os investigadores acreditam que este equipamento poderá gerar imagens de alta resolução e em tempo real durante uma endoscopia. Outra particularidade do método é que pode ser facilmente adaptado de forma a ser possível detetar a resistência a claritromicina, um antibiótico normalmente utilizado para combater a Helicobacter pylori. Com esta informação, os médicos poderão fazer uma seleção da terapia a administrar ao paciente de forma mais racional. Na opinião de Nuno Azevedo, investigador da FEUP, este estudo reveste-se da maior importância uma vez que “poderá ter um profundo impacto na forma como os diagnósticos das infeções microbianas serão efetuados no futuro”, e com isso revolucionar uma parte importante da medicina. Recorde-se que a Biomode SA, uma spin-off portuguesa da área dos diagnósticos, demonstrou já interesse em acompanhar esta linha de investigação com vista à possível comercialização de kits de diagnóstico baseados em sondas de LNA.

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INOVAR

FEUP e SAPO lançam “Máquina do Tempo” Já imaginou uma plataforma que permite pesquisar 25 anos de história em notícias? Chama-se “Máquina do Tempo” e é uma aplicação informática inédita que agrega cerca de 7 milhões de notícias dos últimos 25 anos da história recente de Portugal. Foi desenvolvida pela SAPO em parceria com a Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) e a agência LUSA. De acesso livre, 24 horas por dia. É uma viagem no tempo, através das notícias e do arquivo da Agência LUSA. A tecnologia de exploração de notícias foi criada no Laboratório SAPO/U.Porto, com coordenação de Eugénio Oliveira e Cristina Ribeiro (U.Porto) e Celso Martinho e Benjamin Júnior (SAPO). A “Máquina do Tempo” resulta de cinco anos de investigação e enquadra-se na área de jornalismo computacional. Trata-se de uma tecnologia que pretende sobretudo facilitar o acesso a acontecimentos históricos e a notícias que simplifiquem a investigação no geral, mas mais especificamente a investigação jornalística. Numa abordagem original, que usa as personalidades e as suas ligações, os dados são apresentados numa linha do tempo que permite viajar e enquadra a pesquisa no ano ou mês das notícias. Ao todo são 7 milhões de notícias que representam mais de 25 anos de Portugal, com 110 mil personagens que marcaram a história recente do país e do mundo, existindo no total mais de 8 milhões de ligações entre as diferentes personalidades. “A Máquina do Tempo” resulta de um conjunto de projetos que nos últimos cinco anos decorreram no Laboratório SAPO/U.Porto. Esses projetos serviram para resolver problemas específicos, como, por exemplo, a identificação e desambiguação das individualidades mencionadas nas notícias, e os resultados de alguns deles foram agora combinados numa ferramenta única. As áreas

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Texto: Raquel Pires Imagem: D.R.

científicas envolvidas incluem extração de informação de texto, visualização de informação, pesquisa multimédia, análise de sentimentos, recomendação musical, deteção de opiniões nos media sociais e análise de relações em redes. Estes projetos exploram grandes coleções de dados, de que são exemplo notícias, blogues, imagens jornalísticas, músicas e mensagens na rede social Twitter. Apesar da declarada vertente jornalística, o serviço vai ficar disponível na Web para o público em geral. Além de uma ferramenta de investigação, o projeto português pretende funcionar como uma janela sobre a história da rede de ligações que permite analisar a evolução das personalidades através da linha de contactos que estabeleceram ao longo do tempo, com as diferentes áreas sociais e com outras personalidades. Na opinião de Cristina Ribeiro, professora na FEUP e coordenadora técnica do Laboratório SAPO/U.Porto, a “Máquina do Tempo” é “o resultado de uma colaboração entre a Universidade do Porto e o SAPO que tem permitido lançar pequenos projetos que revelam o nível da investigação na U.Porto. Resultados como a “Máquina do Tempo” mostram que esta parceria tem um valor que a pode levar muito além dos pequenos projetos, ao explorar grandes repositórios de informação”. noticias.sapo.pt/maquinadotempo


INOVAR

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FEUP lança Centro Competências em Inovação e Desenvolvimento de Produtos e Serviços Com o objetivo de reforçar o papel da Faculdade de Engenharia na área de inovação e desenvolvimento de produtos e serviços, fomentando a competitividade e inovação no tecido empresarial, nasce o Centro de Competências em Inovação e Desenvolvimento de Produtos e Serviços (CiPS). A apresentação pública decorreu no dia 6 de setembro. É a mais recente aposta da Faculdade de Engenharia e surge na sequência dos anos de investigação e do papel relevante que a faculdade tem assumido na área de desenvolvimento de produto e mais recentemente no desenvolvimento de serviços com empresas do panorama nacional e internacional. O Centro de Competências em Inovação e Desenvolvimento de Produto e Serviços (CiPS) foi publicamente lançado no passado dia 6 de setembro e contou com a presença de Carlos Costa, Governador do Banco de Portugal. O CiPS tem como missão integrar e potenciar os recursos da faculdade na área do desenvolvimento de novos produtos e serviços, nomeadamente recursos humanos, recursos laboratoriais e redes de parcerias nacionais e internacionais. Com base nesta integração o CiPS irá reforçar o papel da FEUP na área da inovação a nível nacional e internacional e irá fomentar a competitividade e inovação do tecido empresarial. Consciente de que o setor da inovação é atualmente uma das prioridades no meio empresarial e académico, dado o papel decisivo que desemopenha na melhoria da competitividade das empresas, a Faculdade de Engenharia decidiu avançar com a criação do CiPS. Este novo Centro de Competências quer assumir-se como um agente mediador, que estabeleça a ponte entre o mundo empresarial e o ecossistema FEUP e por extensão da Universidade, permitindo identificar o interlocutor certo para uma parceria mais eficaz.

Texto: Raquel Pires Fotografia: D.R.

De acordo com António Augusto Fernandes, coordenador do CiPS, “é sabido que hoje em dia a gestão da inovação deve estar focada na análise de oportunidades emergentes e planear as ações necessárias para tirar partido delas”. E continua: “a inovação está no centro da estratégia europeia definida pelo HORIZON 2020. Com o envelhecimento da população e as pressões competitivas geradas pela globalização, o futuro crescimento da economia e do emprego vai depender de forma crescente da capacidade de inovar produtos, serviços e modelos de negócio”. www.fe.up.pt/cips

SONAE promove Maratona de Inovação Promovido pelo CiPS em colaboração com a SONAE, decorreu na Faculdade de Engenharia uma Maratona de Inovação, no passado mês de outubro, que desafiou os estudantes a desenvolverem e apresentarem os seus próprios projetos de inovação. Foram 29 horas non-stop, essencialmente dedicadas a programar uma aplicação mobile na área do e-commerce. Pensada com o intuito de estimular e apoiar projetos de inovação numa lógica de colaboração estreita entre o mundo académico e o setor empresarial, esta Maratona mobilizou 188 estudantes - organizados em 22 equipas - na criação de uma “app/website mobile” que permitisse a transposição do serviço da loja online do Continente para dispositivos móveis. No final, a vitória sorriu aos “Os Bambinos”, equipa composta por Mariana Ribeiro, do Mestrado de Multimédia; Ana Rodrigues, do Mestrado de Engenharia Industrial e Gestão e Henrique Teixeira de Sousa, Luís Pereira, Nuno Oliveira, Ricardo Teixeira, do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação. A proposta vencedora propõe a maneira mais simples de fazer a lista de compras (com papel e caneta) para uma app.

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EMPREENDER

BERD: cada ponte, uma solução Nasceu em 2006 e veio revolucionar o mercado da construção. Ancorada num sistema inovador, a BERD baseou-se na estrutura do corpo humano, mais concretamente no músculo, como fonte de inspiração na construção de pontes. O que começou por ser um spin-off da Faculdade de Engenharia, tornou-se uma empresa sólida e com uma estrutura acionista de referência. Hoje a BERD está representada em mais de 60 países, espalhados pelo mundo. As raízes da BERD remontam a 1994, ano em que Pedro Pacheco defende a tese de Mestrado, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Intitulada “Soluções da Natureza para Problemas Estruturais”, a investigação centrava-se sobretudo na aplicação de soluções das bioestruturas a estruturas da engenharia civil. Mais tarde, Pedro Pacheco aprofundou ainda mais este tema durante o doutoramento, cujo trabalho “Pré-esforço orgânico: um exemplo de sistema efetor” foi considerado, pela Féderation Internationale du Béton, em 2001, como uma das duas melhores teses em Estruturas no ano de 1999-2000, a nível mundial. Nesse mesmo ano, iniciam-se os primeiros estudos experimentais e, em 2002, afirma-se uma cooperação científica e tecnológica entre a FEUP e a Mota-Engil. Após mais alguns anos de investigação,

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Texto: Helena Peixoto Fotografia: D.R.

a empresa adquire um cimbre autolançável novo, onde passa a ser possível experimentar e testar o sistema OPS da autoria de Pedro Pacheco. É neste contexto que nasce a BERD, que a partir de 2006 se tornou subscritora dos contratos e detentora do sistema OPS. “One Bridge One Solution”[Cada Ponte, Uma Solução] é o mote que sustenta a empresa que já utilizou e patenteou o Sistema OPS em mais de 65 países. Esta é uma solução exclusiva da BERD, que consiste num inovador sistema de pré-esforço baseado no músculo humano, o que traz múltiplas vantagens. Até ao surgimento deste sistema, não existia qualquer elemento estrutural em engenharia de estruturas que se comportasse desta forma. O sistema OPS resulta de um pré-esforço “otimizado”, evitando as forças


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permanentes não desejadas e reduzindo consideravelmente as perdas de tempo associadas ao pré-esforço. A tensão aplicada nos cabos de pré-esforço, à semelhança do que acontece com o músculo, ajustada automaticamente às cargas atuantes através de um sistema de controlo permite, assim, a redução de deformações e minimização de tensões nos elementos estruturais do cimbre, assegurando equipamentos mais leves e funcionais. Este sistema tem inúmeros benefícios: permite desenhar estruturas mais leves, funcionais, seguras e estéticas com os mesmos materiais estruturais; controlo de deformações; menor consumo de aço e de energia; menor necessidade de transporte e consequente redução de consumo de combustível e diminuição das emissões de dióxido de carbono, entre outras. Sedeada em Matosinhos, a BERD iniciou o seu processo de internacionalização em 2007 e está presente em países como Portugal, Espanha, França, Alemanha, Polónia, Roménia, EUA, Rússia, Turquia, República Checa, Eslováquia, Índia, Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela, entre outros. O sistema utilizado pela BERD foi já utilizado e testado em diversas geografias. Na obra do Rio Cabriel, em Valência, Espanha (2009), o sistema OPS permitiu a construção de vãos de grande dimensão (70 metros), criando novas possibilidades na utilização de cimbres autolançáveis, capazes de vencer as dificuldades inerentes à construção dessa ponte. Com este cimbre a BERD criou também um inovador sistema de abertura de cofragens “tipo gaveta” para fazer face aos ventos superiores a 120 km/hora expetáveis para a região. De destacar também a obra do Viaduto do Corgo, em Vila Real, Portugal (2011). Esta obra tinha vários pilares com altura superior a 100 m pelo que a máquina a utilizar deveria ser autónoma e o abastecimento de materiais efetuado pelo tabuleiro já construído. A BERD concebeu o M60-I, cimbre autolançável inferior com sistema OPS, que se adequou às exigências da obra, tornando a construção operacionalmente facilitada, com uma qualidade muito elevada e sem perigo de fissurações. Recentemente a tecnologia da BERD foi a sua estreia no Brasil, em São Paulo, aquando da construção de dois viadutos com extensão de cerca de 1600 m cada

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no trecho leste do Rodoanel. Com a utilização de dois cimbres autolançáveis, o trabalho que demoraria um mês a efetuar é capitalizado para apenas uma semana. Com a utilização destes dois cimbres é possível construir 120 m de viaduto numa semana, ou seja, a construção é quatro vezes mais rápida que o método tradicional. Também no Brasil, a BERD está presente numa das maiores obras em construção na América do Sul, no Estado de Santa Catarina. Além deste, estão neste momento em curso projetos em pontos tão diferenciados como a Venezuela, Eslováquia e Bélgica, havendo um envolvimento da BERD numa fase mais precoce em muitos outros projetos, em diferentes partes do mundo. Prémios e distinções, nacionais e internacionais, são conquistas que não escapam a esta empresa. Para além da já referida distinção da Tese de Doutoramento do Professor Pedro Pacheco pela Fédération Internationale du Béton, destacam-se o Prémio FIVE, outorgado ao Sistema OPS e a Pedro Pacheco em 2004, o Prémio Inovação BES em 2005, o Prémio Exportação e Internacionalização BES em 2011 e o Prémio TOP Exporta Santander Totta em 2012 e 2013. www.berd.eu

SABIA QUE… A história da BERD começou com o sistema OPS. Inspirado no músculo humano, o sistema permite tornar mais seguros, económicos e funcionais os equipamentos construtivos de pontes: os cimbres autolançáveis. O sistema tem por base um princípio físico elementar: o de que os músculos permitem aumentar rigidez à custa de energia, em vez de massa, com a grande vantagem da energia não pesar - e a sua introdução na engenharia de pontes representou um salto histórico no setor da construção. Os registos de faturação comprovam o sucesso além-fronteiras: em 2013, o volume de negócios da BERD alcançou os 10 milhões de euros.

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Empreender

Texto: Helena Peixoto Fotografia: Álvaro Martino

“INEM Voador” com assinatura da FEUP

João Coelho é antigo estudante da FEUP e é um dos vencedores do Prémio Desafio Mar, uma iniciativa da PT que pretende identificar e distinguir os projetos mais inovadores. São valorizadas as propostas com maior potencial para o crescimento diferenciado da economia do Mar em Portugal. O que lhe valeu este prémio? Uma espécie de INEM voador para as praias.

“Na vida, todos os segundos contam” é um dos lemas que suporta este produto. É exatamente por isto que surge o Quadcopter Rescue (QR), para cumprir dois objetivos cruciais: o aumento significativo da probabilidade de sobrevivência de um náufrago e o crescimento do sentimento de segurança dos banhistas. João Coelho juntou-se a Catarina Pereira e José Xavier, também alumni FEUP, na criação deste produto. Começaram por analisar os problemas e as necessidades das atividades de socorro e vigilância nas praias e rapidamente se depararam com uma oportunidade de negócio: era urgente criar uma solução de apoio ao salvamento de náufragos. Atualmente, sempre que um banhista se encontre em risco de afogamento, o seu salvamento depende exclusivamente do nadador-salvador, e/ou de outros banhistas que decidam arriscar as suas próprias vidas. Com a solução apresentada pela equipa liderada por João Coelho, o tempo de execução na intervenção pode ser encurtado já que o equipamento tem como principal potencialidade o transporte rápido de uma bóia salva-vidas até ao náufrago, garantindo uma intervenção de socorro imediata. Claro está que a utilização deste equipamento não invalida a intervenção do nadador-salvador, funciona antes como complemento. Aliado à componente de intervenção direta nos salvamentos, o QR possui uma forte vertente de vigilância que pode ser usada como meio de prevenção de incidentes e de riscos de afogamento, permitindo aos

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nadadores-salvadores uma maior visibilidade de toda a área concessionada (com serviço de socorros a náufragos). O mercado de aplicação do QR é muito vasto, podendo ser implementado tanto a nível nacional como internacional e em vários contextos - praias marítimas e praias de águas fluviais e lacustres, socorros a náufragos em alto mar, cruzeiros e estâncias turísticas, etc. O produto tem por isso um grande potencial de implementação. A ideia de conceber o QR surgiu na sequência do lançamento do concurso “Desafio Mar”. O gosto por quadcopters já não é de agora, mas o concurso permitiu olhar o mar como fonte de oportunidades… E foi assim que a equipa se lembrou de adaptar o equipamento que já estava a ser desenvolvido no sentido de auxiliar a vigilância da praia e salvamento de náufragos. A convicção de que tinham uma das melhores ideias a concurso era bastante forte. No total havia 16 finalistas, mas desde o início do concurso tinham sido já analisadas aproximadamente 500 propostas. O produto ainda não está totalmente terminado. Os planos da equipa passam por melhorar e finalizar o produto e avançar para a sua comercialização. Contudo, para isso, necessitam de financiamento que de momento não têm. João acredita que esta nova aliança com a PT os possa ajudar a ultrapassar este problema e a abrir portas no sentido de se avançar para a comercialização do protótipo premiado.


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Embaixador da Google em Portugal é estudante da FEUP

Estudante da FEUP eleito novo Presidente da ESTIEM

André Freitas é o novo “embaixador da Google”. O estudante do 4.º ano do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) candidatou-se ao lugar depois de ter assistido a uma conferência do Núcleo do Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE), onde teve a oportunidade de conhecer o anterior embaixador da Google em Portugal. Recebeu o link de candidatura do próprio embaixador, por já ter sido recomendado, e não tardou a ser selecionado. André realça que “a Google se preocupa em selecionar pessoas que tenham paixão” e está convencido que o facto de pertencer ao IEEE e de ter organizado atividades neste grupo foi um aspeto decisivo e que beneficiou, em muito, a sua candidatura.

Nuno Carneiro, estudante do 4.º ano do Mestrado Integrado em Engenharia Industrial e Gestão (MIEIG), foi eleito presidente da European Students of Industrial Engineering and Management (ESTIEM). Trata-se de uma organização europeia de estudantes de gestão industrial, fundada em 1990, cujo principal objetivo é servir de plataforma de interligação entre os estudantes de Engenharia Industrial e Gestão de toda a Europa, promovendo o seu desenvolvimento profissional e pessoal. Atualmente a organização marca presença em 74 Universidades espalhadas por 28 países, e reúne cerca de 60.000 estudantes. Com mais de 80 eventos organizados anualmente por toda a Europa, a organização mobiliza mais de 2500 participantes por ano.

Assim que soube que tinha sido escolhido, André teve dificuldade em esconder o entusiasmo. A ideia de poder dinamizar um sem número de atividades na FEUP e assim contribuir para o bom nome da instituição a um nível tão elevado foi extremamente motivadora. Visitou os escritórios da Google na Irlanda, conheceu de perto a cultura da empresa e recebeu alguma formação. “Adorei a criatividade e o ambiente, pois é mesmo propício à inovação e dedicação e não se vê nenhum sinal de stress no ar pois o bem-estar dos googlers tem muita prioridade para eles”, partilha o jovem estudante da FEUP. Já na qualidade de embaixador da multinacional norte-americana, o trabalho de André Freitas passa por servir de elo de ligação entre a Google e a FEUP e isso passa por dinamizar atividades que promovam a adoção das aplicações/ferramentas da Google, pela divulgação de oportunidades de emprego, ou até mesmo pela organização de workshops técnicos. De acordo com André Freitas, o importante é aproximar a Google do universo da FEUP e isso passa também por dar a conhecer o espírito que se vive na faculdade e promover ações que potenciem futuras colaborações.

Enquanto presidente, a principal função de Nuno Carneiro passa por coordenar estrategicamente a organização, garantindo que a ESTIEM continua a cumprir a sua missão, de formas cada vez mais inovadoras e adequadas às tendências globais na área de Engenharia Industrial e Gestão. O estudante da FEUP vai trabalhar em estreita colaboração com uma equipa de cinco vice-presidentes de quatro países diferentes. Toda a organização é suportada pelos grupos locais nas várias Universidades e por uma equipa de cerca de 200 estudantes que trabalha a partir dos vários países nos projetos internacionais. A oportunidade de se tornar presidente da ESTIEM surgiu no seguimento da participação de Nuno Carneiro na organização ao longo dos últimos dois anos. Assim que começou a envolver-se na organização de atividades a nível local, tornou-se coordenador dos Local Groups da Península Ibérica, em 2012. Posteriormente, Nuno Carneiro assumiu a liderança de um comité responsável por relações empresariais a nível europeu. O facto de ter pertencido à equipa vencedora do TIMES (Tournament in Management and Engineering Skills), garantindo assim o título de “Estudantes de Engenharia Industrial e Gestão do Ano” em 2013 para a U. Porto foi também outro elemento decisivo na eleição de Nuno.

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Rolhas técnicas de cortiça 100% naturais Fotografias: Álvaro Martino

Dados recentes do Instituto da Vinha e do Vinho apontam para que as exportações no setor tenham tido um crescimento na ordem dos 4,5%, nos primeiros nove meses de 2013, ultrapassando os 500 milhões de euros. Portugal continua a apostar no setor, tirando partido de ser o 4.º país europeu com mais área de vinha. Atentos à dinamização do setor e às tendências do mercado, a empresa Amorim & Irmãos em colaboração com a FEUP está a apostar na criação de rolhas técnicas de cortiça 100% naturais.

Fernão Magalhães*

Ao longo de décadas a empresa Amorim & Irmãos tem vindo a produzir e comercializar rolhas de cortiça natural como vedante para vinhos. Com o crescimento e diversificação dos mercados, surgiram as chamadas rolhas técnicas, que são compostas, em parte ou na totalidade, por granulado de cortiça resultante do aproveitamento de aparas

e desperdícios provenientes do fabrico de rolhas e de discos de cortiça natural, após rigorosa seleção e avaliação. As rolhas técnicas constituem cerca de 47% das vendas totais de rolhas. Existem várias famílias, nomeadamente rolhas de Champanhe (24%), rolhas TwinTop (13%), rolhas Neutrocork (7%) e rolhas aglomeradas (3%). A evolução das vendas das rolhas técnicas tem sido significativa nos últimos anos, tendo havido, em 2012, um aumento de 3,2% em relação ao ano anterior. Os produtos aglomerantes, ou colas, usados no fabrico destas rolhas evoluíram ao longo de décadas, tendo no passado sido usados produtos tão diversos como colas de ureia-formaldeído, colas de melamina, etc. No caso de Amorim & Irmãos a aglomeração para rolhas tem sido feita com colas de poliuretano. Esta cola termoendurecível permite a obtenção das exigentes propriedades físico-mecânicas que são fundamentais para este produto. De facto, a cola não pode pôr em causa as caraterísticas que fazem da principal matéria-prima da rolha, a cortiça, um vedante de excelência: flexibilidade, elasticidade, robustez, estabilidade estrutural e impermeabilidade à água e a soluções alcoólicas, mesmo a alta temperatura. Para além disso, a segurança alimentar tem também que ser garantida. No entanto, dado que as rolhas técnicas usam aglomerantes sintéticos, não podem ser consideradas rolhas 100% naturais. A enorme preocupação com a sustentabilidade vivida atualmente pelo mundo desenvolvido, associada ao facto de estarmos a falar de um produto para


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Equipa da FEUP ligada ao projeto: Adélio Mendes, Fernão Magalhães, Diana Paiva e Margarida Bastos

ser usado para vedar bebidas alcoólicas, elas também consideradas “verdes”, tem criado uma elevada pressão em todo o setor para substituir a cola de poliuretano por um aglomerante de origem natural. No entanto não são, até ao momento, conhecidas soluções alternativas. É neste contexto que surge o projeto Gluecork, financiado pela Agência de Inovação no âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN). O seu objetivo essencial é a obtenção de um aglomerante de origem natural para a produção de rolhas técnicas de cortiça. Os requisitos fundamentais para este produto são: compatibilidade alimentar; aspeto visual: ausência de cor, não alterando visualmente a superfície das rolhas; facilidade de aplicação industrial; a estabilidade física e química, nomeadamente, estabilidade em álcool e em soluções etanólicas e ausência de migração química e organolética para o vinho; desempenho físico-mecânico apropriado, nomeadamente, flexibilidade semelhante à da cortiça e ainda a baixa absorção de líquidos, de forma a não pôr em causa a impermeabilidade da rolha. O projeto, que teve início em janeiro de 2013, é promovido pela Amorim & Irmãos e envolve equipas de investigação da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e Faculdade de Ciências de Tecnologia - Universidade Nova de Lisboa (FCT-UNL). O projeto é coordenado pela Associação Rede de Competências em Polímeros (ARCP), sediada no centro tecnológico da UPTEC (campus da FEUP). A equipa da FEUP, integrada pelos professores Fernão Magalhães, Margarida Bastos e Adélio Mendes, do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE), tem participado com a Amorim & Irmãos em projetos conjuntos ao longo dos últimos 10 anos. Temas diversos têm sido abordados, como o estudo da permeabilidade das rolhas ao oxigénio, ou o desenvolvimento de revestimentos especiais para impedir a migração de compostos corados da cortiça para bebidas brancas. É no entanto a primeira vez que o tema é o desenvolvimento de aglomerantes de base natural. * Professor Auxiliar da FEUP

As rolhas técnicas de cortiça são hoje obtidas prensando o granulado de cortiça com um adesivo sintético

COLAS DE ORIGEM MICROBIANA Uma componente chave do projeto Gluecork é a avaliação do potencial de polímeros produzidos por via microbiana como aglomerantes para rolhas técnicas. Estes materiais apresentam vantagens em relação aos obtidos a partir de plantas ou algas, por os microrganismos exibirem taxas de crescimento mais elevadas e a manipulação das respetivas condições de cultivo ser muito mais fácil. Neste aspeto é fundamental a participação da equipa da FCT-UNL, integrada pelas professoras Maria Ascensão Reis, Isabel Coelhoso e Filomena Freitas (Grupo de Engenharia Bioquímica e Processos), que detém uma elevada experiência na produção destes biopolímeros e na sua formulação. Assim estão a ser estudados, entre outros, polímeros patenteados pela equipa da FCT-UNL, com vista a serem eventualmente modificados em parceria com a FEUP de forma a poderem ser usados como aglomerantes de rolhas de cortiça. À equipa da FEUP competem também aspetos da caraterização físico-mecânica dos materiais produzidos, que são complementados por ensaios específicos realizados pela empresa Amorim & Irmãos.

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Metodologias participativas no ensino do design: a olaria pedrada de Nisa Um grupo de estudantes do curso de Especialização em Design e Desenvolvimento de Produto da Faculdade de Engenharia da U. Porto (FEUP), participou num workshop inteiramente dedicado à construção de novos paradigmas da Olaria Pedrada de Nisa. A iniciativa envolveu não só designers mas também os próprios artesãos, numa tentativa de preservação do património cultural material e imaterial típico do Alto Alentejo. Ana Grácio, Lígia Lopes, Jorge Lino e Xavier Carvalho*

O workshop “Olaria Pedrada de Nisa - Crafts & Design”, organizado pela Crafts2Design - Associação de Salvaguarda do Património Cultural, com a coordenação da designer Ana Grácio, decorreu na vila alentejana de Nisa entre 13 e 15 de junho de 2013, tendo ultrapassado em larga medida as expetativas iniciais. Isto porque o workshop resultou de um exercício de reflexão sobre a aplicação de metodologias participativas no ensino de design, em que o objetivo passava pela aproximação dos diferentes intervenientes envolvidos no processo: estudantes e docentes de design, artesãos, designers e comunidade. O objetivo final do projeto foi testar especificamente uma plataforma colaborativa capaz de alimentar, não só a prática projetual de design, como o traçar de novos caminhos na contemporaneidade para a Olaria Pedrada de Nisa, permitindo o replicar do modelo de ação junto de outros patrimónios culturais e de comunidades. A Olaria Pedrada subsiste hoje em Portugal, apenas em Nisa, e a sua principal característica diferenciadora consiste na tarefa desempenhada pelas “pedradeiras”, que ao incrustar pequenas pedras de quartzo branco na pasta de barro, desenham motivos baseados na flora, fauna e simbologia mística local. Hoje apenas três oleiros,

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com as respetivas mulheres, se mantêm no ativo, com idades compreendidas entre os 65 e os 73 anos de idade. A constatação da inexistência de novos interessados em aprender ou desenvolver esta técnica confirma o risco de extinção de uma cultura material muito antiga. Assim, foi possível compreender a urgência de entender e constituir o conhecimento que possa vir a projetar a Olaria Pedrada e as suas características específicas e técnicas para novos contextos na contemporaneidade. Pelo conhecimento de um conjunto de processos e transações que caracterizam este artesanato, é possível (re)conhecer a cultura partilhada da comunidade em que se insere e obter a diversidade de singularidades que a constituem. Com a realização deste workshop conseguiu-se criar uma base de diálogo entre o artesanato e o design de produto, cruzando conhecimentos e práticas do “saber fazer“, o que foi claramente benéfico para todos os intervenientes. As peças de Olaria Pedrada possuem algumas mais-valias técnicas, mas também algumas fragilidades: além de uma ótima capacidade de resistência a diferentes temperaturas e uma excecional capacidade de arrefecer água, mesmo em ambientes muito quentes (i.e. 40ºC), como são os que se vivem no interior do Alentejo, no verão; as peças não são por tradição cozidas a temperaturas muito altas (c. 700ºC) o que resulta na sua baixa resistência a toques mais fortes ou embates. Este facto prende-se primordialmente com o seu antigo uso ou valor, ou seja, apesar de todo o trabalho na produção e grande investimento na parte estética, até meados do séc. XX estas peças eram, acima de tudo, “descartáveis”, uma vez que o seu uso no quotidiano era muito efémero - recorde-se, por exemplo, a venda e consumo de pequenas bilhas/moringues nas estações de caminho-de-ferro aos viajantes para saciarem a sede. Para além disso, a sua fragilidade resulta também de ao longo dos anos os artesãos se terem habituado a cozer as peças a baixas temperaturas, para que estas não cedessem nem “estalassem” no processo de cozedura, algo muito frequente nos fornos de lenha que até há poucos anos continuavam a ser usados. Dada a longa tradição e hábito em fazê-lo, existe ainda hoje uma grande resistência à alteração desta realidade.


Foi proposto um briefing aos alunos, a fim de desenvolverem um projeto individual, onde fossem tidas em conta várias especificidades: a mecânica das peças, o utilizador final e a existência de mercado para as peças desenvolvidas, entre outros aspetos. De igual forma, os estudantes teriam de ter em conta que numa perspetiva de prática projetual de design, as soluções encontradas teriam de ser inovadoras e originais, interdisciplinares e despidas de preconceitos. Dos projetos apresentados pelos estudantes do curso de EDDP, foram selecionados quatro com maior viabilidade de desenvolvimento e produção durante o workshop. Desta feita, os projetos foram desenvolvidos em equipa e já com as análises críticas dos designers/ estudantes e dos próprios artesãos incorporadas. O workshop foi filmado e foram realizadas entrevistas aos participantes, tendo em vista alimentar um estudo etnográfico completo da ação no terreno. Do workshop resultaram nove peças. Todas as propostas apresentadas propõem novas cores e acabamentos, novas formas e usos utilitários para o artesanato de Nisa. Foram tidos em consideração princípios para a maior rentabilização das metodologias participativas usadas no processo. Assim, foi pedido que se constituísse o conhecimento da Olaria Pedrada de Nisa através da partilha, permitindo reduzir a distância entre os intervenientes e dando lugar à construção de uma relação de confiança. O desenvolvimento da prática projetual como atividade conjunta foi contínuo, tendo em vista a máxima informação de todos na atividade projetual e na produção. Os projetos foram desenvolvidos apelando à intervenção e crítica de

todos os participantes, a fim de minimizar a necessidade de correções numa fase posterior de produção, bem como o confronto com objetos não viáveis e as ações conjuntas foram planeadas de modo a reduzir o desperdício de tempo e a perda de motivação. Só assim foi possível garantir que as funções definidas para o trabalho realizado em colaboração seria a mais produtiva e rica possível. Durante o workshop os estudantes foram acolhidos em residências de famílias da comunidade local. O objetivo foi permitir-lhes que tivessem um conhecimento global e transversal desta técnica de artesanato única como um todo, uma vez que somente através do conhecimento e experiência dos contextos é possível conhecer o património cultural material e imaterial constituído pela Olaria Pedrada de Nisa. Uma das principais conclusões retiradas da iniciativa foi o entendimento de que a academia também está lá fora! Normalmente, os projetos académicos são desenvolvidos dentro do laboratório, em colaboração com as empresas, mas o seu desenvolvimento é todo realizado dentro da sala de aula. A participação dos estudantes da FEUP nesta experiência, em que foram confrontados com a interferência de outros designers sobre os seus projetos, bem como a mudança do local de ação, requerem uma abertura relativamente ao projeto e uma capacidade de resolver novos problemas que só podem resultar no desenvolvimento e progresso em termos de aprendizagem. Foi uma nova abordagem, nunca utilizada em edições anteriores deste curso, mas o saldo é extremamente positivo. Com esta iniciativa, tentou-se transferir e compartilhar conhecimento através de uma abordagem de design participativo e colaborativo com os artesãos, comunidade local e designers. Concluiu-se que, embora fosse uma experiência curta (e por enquanto isolada), com alguns obstáculos para superar, é possível abrir caminhos para novos produtos e comunicações da Olaria Pedrada de Nisa para a contemporaneidade e para o futuro. Com base nesta experiência de campo, acredita-se que este é um primeiro passo para traçar novas e frutíferas interações (e não intervenções) entre designers e artesãos. * DESIGNstudio da FEUP

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Fotografia: Ana Grácio

Ao promover uma maior interação entre os artesãos, os estudantes da FEUP, designers de produto e de comunicação de diferentes origens, professores de design e de engenharia, nomeadamente a designer Lígia Lopes e os Professores Xavier Carvalho e Jorge Lino, o workshop de verão permitiu estudar a viabilidade de implementação de novos produtos no mercado - através da análise da sua inclusão no quotidiano de potenciais consumidores e tentar impulsionar os produtos dos artesãos, indo ao encontro das exigências do mercado atual.

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Fotografia: Ana Grácio

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Morfologia Urbana e o “International Seminar on Urban Form” Fotografia: Anders Jildén

Vítor Oliveira*

Morfologia Urbana é a ciência que estuda a forma física das cidades, bem como os principais atores e processos de transformação urbana que moldam essa forma. Dada a complexidade do objeto de estudo, não será difícil perceber que a Morfologia Urbana tem uma clara natureza multidisciplinar, recebendo contributos de diferentes disciplinas como a arquitetura, a geografia, a história e o planeamento urbano. Esta diversidade de contributos disciplinares encontra paralelo numa forte diversidade geográfica, com interessantes desenvolvimentos da ciência da forma urbana a ocorrerem em todos os continentes. O estudo sistemático das formas urbanas começou há pouco mais de um século com o trabalho de investigação desenvolvido por um conjunto de geógrafos alemães. Durante as três primeiras décadas do século XX o ‘centro’ da investigação morfológica manteve-se na Alemanha. No entanto, a partir dos anos 30, a geografia urbana alemã alterou o seu enfoque da forma para a função. Em meados do século XX, os contributos mais relevantes para a história disciplinar da Morfologia Urbana são dados por arquitetos Italianos, em particular por Saverio Muratori. A partir do início dos anos 60 e durante as décadas seguintes assiste-se, primeiro, à afirmação do trabalho de M. R. G. Conzen, o geógrafo Alemão emigrado para o Reino Unido nos anos 30, e posteriormente, ao desenvolvimento do Urban Morphology Research Group, construído a partir do trabalho de Conzen e dinamizado por Jeremy Whitehand. A partir do final dos anos 70 e início dos anos 80, passa a coexistir com estas escolas uma nova abordagem, a sintaxe espacial (inicialmente desenvolvida por arquitetos ingleses), estruturada a partir da relação entre espaço e sociedade. Como aconteceu noutras áreas do conhecimento, o processo de afirmação de cada uma destas novas abordagens morfológicas foi marcado, não por uma substituição das abordagens anteriores, mas sim por uma coexistência entre diferentes abordagens. Nesse sentido, a Morfologia Urbana dispõe atualmente de um sólido conjunto de teorias, conceitos, metodologias e técnicas de descrição e explicação dos fenómenos urbanos, podendo fornecer orientações prescritivas para o desenho de novas

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formas ou a intervenção em formas existentes, com base nesta compreensão objetiva das dinâmicas da forma urbana informada pela ‘evidência’. Um elemento crucial para o debate científico em Morfologia Urbana foi a criação do International Seminar on Urban Form (ISUF) em 1994. Desde o primeiro encontro em Lausanne, em 1996, esta organização tem vindo a promover conferências anuais (realizadas, até hoje, em todos os continentes à exceção de África) e, desde 1997, publica a revista Urban Morphology. Em meados da primeira década deste século, o ISUF iniciou uma política de incentivo à criação de grupos nacionais, ou regionais, ligados à estrutura internacional mais abrangente. É neste âmbito que, no ISUF2010, realizado em Hamburgo, é criada a ‘Rede Portuguesa de Morfologia Urbana’ (PNUM), que desde então tem vindo a desempenhar um papel central na promoção do estudo da forma urbana em Portugal e nos países Lusófonos. Em 2014, Portugal recebe pela primeira vez a conferência anual do International Seminar on Urban Form (http://isuf2014.fe.up.pt). O encontro realiza-se de 3 a 6 de julho na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), organizado por uma equipa coordenada por Vítor Oliveira e Paulo Pinho. O título da conferência é ‘Our common future in urban morphology’. Além de refletir o papel crucial do ambiente no debate sobre a forma física das cidades, este título evoca a necessidade de identificar os temas fundamentais que deverão ser incluídos na agenda da Morfologia Urbana para os próximos anos. De facto, a conferência ‘Our common future in urban morphology’ será palco de uma reflexão sobre qual deverá ser o nosso contributo enquanto investigadores em Morfologia Urbana, como é que este contributo poderá integrar uma investigação mais abrangente sobre cidades (beneficiando da participação de disciplinas como a ecologia urbana, a sociologia urbana e a economia urbana) e, por fim, como é que os resultados da investigação científica poderão ser aplicados na prática profissional de planeamento e gestão urbanística. * Investigador da FEUP


“O H2020 é uma oportunidade que não podemos desperdiçar” Com o objetivo de encontrar novas estratégias de financiamento para os projetos de investigação, a FEUP decidiu criar um gabinete que terá como missão incentivar os investigadores a concorrer aos fundos europeus do novo programa-quadro, o Horizonte 2020 (H2020). Pedro Coelho coordena a atividade deste novo gabinete. Como surgiu o gabinete H2020 e qual a sua missão? Foi uma aposta da atual Direção da FEUP, sustentada pelas enormes dificuldades de financiamento de projetos ligados ao Ensino Superior em Portugal. Com a redução significativa e sucessiva da componente do Orçamento de Estado e com a falta de investimento do Estado Português na Ciência e Tecnologia, tornou-se fundamental encontrar soluções alternativas para continuar a desenvolver projetos científicos. Foi assim que chegámos ao Gabinete Horizonte 2020. O novo programa-quadro da Comissão Europeia, o H2020, é uma oportunidade que não podemos desperdiçar. É claro que para sermos bem-sucedidos a nível europeu teremos de adotar estratégias de atuação diferentes. O gabinete tem como missão promover ativamente a participação da comunidade científica da FEUP no H2020 e nos demais programas de financiamento europeus. De que forma vão sensibilizar os investigadores para a importância deste programa? A atividade do gabinete arrancou no final de novembro de 2013 com a integração da Olívia Rocha na equipa. Desde então temos organizado um conjunto significativo de atividades com vista a sensibilizar a nossa comunidade científica para o H2020. Temos organizado na FEUP várias ações de informação sobre o programa e sobre as redes europeias de I&D e Inovação, com a participação de oradores externos. Realizámos 11 sessões de formação para os nossos grupos de I&D, que designamos por sessões H2020@LAB, que tiveram uma forte adesão dos nossos professores e investigadores (cerca de 150 participantes) e que serviram para apresentar as competências do gabinete H2020 e para informar sobre a estrutura do novo programa-quadro e oportunidades que existem para a FEUP neste enquadramento. Como é possível potenciar o envolvimento das empresas na investigação aplicada? Temos vindo a incentivar as empresas a olharem para o H2020 como uma excelente oportunidade de financiamento

Entrevista: Raquel Pires Imagem: D.R.

para desenvolvimento de produto/serviço, nomeadamente através do instrumento para as PMEs. Temos agendada uma apresentação no UPTEC sobre as oportunidades de financiamento europeu para as start-ups, evidenciando o potencial de colaboração com a FEUP, dado que poderemos atuar umas vezes como instituição parceira, em consórcio, outras vezes como instituição de I&D subcontratada em ações de Investigação e Inovação. Por outro lado, as empresas que nos estão mais próximas são frequentemente convidadas a participar nas sessões informativas que decorrem na FEUP. Fazemos também contactos de “matching” quer identificando competências internas para necessidades de I&D das empresas, quer procurando empresas (na nossa rede de contactos) que possam integrar projetos em carteira dos nossos investigadores. O H2020 tem uma abordagem essencialmente orientada para uma lógica de mercado, o que faz com que a participação das empresas, em particular a participação das PMEs, seja uma prioridade. Existem também contactos diretos dos nossos professores e investigadores com as empresas, resultando em parcerias em projetos de I&D, nacionais e internacionais. Como pensam aumentar a competitividade das propostas apresentadas em Bruxelas? Pretendemos ser mais ativos em termos de “lobbying” pelo que temos vindo a desenvolver algumas iniciativas nesse sentido. Em primeiro lugar, temos fomentado a participação da FEUP nas diferentes Redes Europeias onde se decidem as agendas temáticas e onde se desenvolvem os consórcios ganhadores. Penso que temos já resultados muito interessantes que, estou certo, muito em breve resultarão em projetos aprovados. Temos também incentivado a participação dos nossos investigadores em Info Days e Partnering Days em Bruxelas. Finalmente temos promovido a inscrição da nossa comunidade científica na plataforma de avaliadores. www.fe.up.pt/h2020

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Controlar plantações agrícolas à distância de um clique

Texto: Helena Peixoto Fotografia: D.R.

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São seis alumni da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Engenheiros eletrotécnicos de formação que decidiram apostar fortemente no setor da agricultura. Juntos criaram uma startup que está já a caminho do Chile. Querem conquistar a América Latina com o seu produto e vão bem lançados nessa corrida da internacionalização.

Sandro Vale, Luís Azevedo, Miguel Rodas, Tiago Sá, Ricardo Neves e Flávio Ferreira são os seis alumni do Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores responsáveis pela criação e desenvolvimento da WiseNetworks, uma startup incubada no Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto (UPTEC), fundada há mais de um ano. O início desta empreitada remonta aos tempos em que eram estudantes na FEUP. “Tudo começou numa unidade curricular onde tivemos contacto com uma tecnologia de características semelhantes à que estamos a utilizar. A partir daí, muito informalmente mas sempre com muita motivação, fomos pensando em maneiras de melhorar essa tecnologia e fomos equacionando as suas possíveis aplicações. Basicamente, queríamos transformar uma ideia de tecnologia num produto”, refere Miguel Rodas. Aos poucos o projeto ganhou forma. Decidiram então avançar com a criação de uma startup e desenvolver todo o produto e o respetivo modelo de negócio. A missão da WiseNetworks é clara: desenvolver sistemas integrados de monitorização distribuída, computação da informação e atuação remota em plantações agrícolas. E como? Através de uma plataforma online que permite armazenar todo o tipo de informação: não só registar as grandezas medidas, mas também acionar alarmes (como o sistema de rega, por exemplo) e/ou configurar vários tipos de avisos. A informação gerada tem por base vários parâmetros (atmosféricos, de crescimento da planta, entre outros) e torna-se essencial para a gestão e controlo da plantação. Por exemplo: é possível controlar autonomamente a rega de uma plantação consoante as necessidades de rega aferidas, ou ainda prever possíveis doenças e pragas nas culturas agrícolas. O sistema da Wisenetworks permite assim que o agricultor maximize a sua produção, reduzindo os custos de operação (menos deslocações à plantação, menos prejuízos com pragas e doenças, maior economia no uso de água e de fertilizante, entre outros).

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Ao longo dos últimos meses a startup tem recebido contactos de múltiplos produtores interessados em testar e validar este produto. O primeiro semestre de 2014 está assim destinado a vários testes-piloto com clientes, de forma a ajustar o sistema até reunir todas as condições para entrar em força no mercado. Não satisfeitos com a presença apenas no mercado nacional, a Wisenetworks prepara já a sua internacionalização. Aliás, dois dos alumni aterraram no Chile no final do mês de novembro graças a um programa patrocinado pelo governo chileno denominado StartUP Chile. Este programa elegeu 85 startups de todo o mundo, sendo a WiseNetworks a única empresa portuguesa a conseguir financiamento de 40 mil dólares, ao abrigo deste programa. A ambição dos jovens não termina por aqui. Acreditam que os países vizinhos do Chile podem vir a ser uma ótima aposta no setor da agricultura, em particular na vitivinicultura, o que tonra o StartUP Chile uma rampa de lançamento de enorme potencial. “Esperamos com a nossa presença no Chile conseguir alargar a nossa rede de contactos na América do Sul, fazer prospeção de mercado e estabelecer relações com potenciais clientes; o nosso objetivo número um a médio prazo passa portanto por expandir a WiseNetworks para o mercado chileno e possivelmente para os restantes países da América Latina”, confessa Miguel. www.wisenetworks.pt


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FEUP promove 1.º encontro alumni em Londres Sebastião Feyo de Azevedo, Diretor da FEUP, Katy Turff, responsável pela Cooperação Internacional do Engineering Council, e João de Varella, Embaixador de Portugal no Reino Unido

Texto: Raquel Pires Fotografias: D.R.

Londres é atualmente a cidade estrangeira com mais membros da comunidade da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), cerca de 250. São fundamentalmente antigos alunos que partiram em busca de uma experiência profissional diferente da realidade portuguesa. Esta concentração de alumni na capital inglesa foi o motivo que levou a FEUP a organizar pela primeira vez um encontro alumni. Uma oportunidade única de networking. E muitas histórias de vida para partilhar.

Outubro de 2013. Final de tarde em Londres. Ponto de encontro: Hotel Pestana Chelsea. Tudo a postos para o 1.º encontro alumni da FEUP, uma iniciativa que há muito estava a ser planeada com o intuito de aproximar a faculdade dos seus antigos alunos. Cerca de 60 participaram nesta iniciativa, sendo que a grande maioria nunca se tinha cruzado pelas ruas da capital londrina. Ivo Timóteo, 24 anos, vive em Cambridge desde outubro 2012. As viagens iniciaram-se quando ainda estava a frequentar o 5.º ano do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação na FEUP, na sequência de uma candidatura ao programa ERASMUS, na Universidade de Edimburgh. É o primeiro contacto com uma realidade

diferente. Mais tarde, decide prosseguir estudos e candidata-se à Universidade de Cambridge, onde se encontra neste momento a desenvolver investigação na área de “machine learning” no Computer Laboratory da Universidade de Cambridge, no grupo ligado ao setor de inteligência artificial. “[Cambridge] é conhecida por ser a casa de uma das melhores universidades do mundo e por estar no meio de um grande centro tecnológico a que chamam Silicon Fen. Um quinto da população são estudantes e mais de 40% dos trabalhadores da cidade têm um curso superior (…) O que mais aprecio é o equilíbrio entre cultura, desporto e estudo, rodeado de edifícios monumentais e muitos espaços verdes”, admite Ivo Timóteo.

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Os alumni são por excelência os principais embaixadores da escola no mundo. São eles os portadores da marca FEUP além fronteiras Ivo Timóteo

Apesar de estar em terras de “sua majestade” há apenas ano e meio, o antigo aluno da FEUP rapidamente se integrou na comunidade, tendo inclusivamente sido nomeado presidente da Portuguese Association of Researchers and Students in the UK (Parsuk) - www.parsuk.pt uma associação que agrega todos os estudantes e investigadores radicados no Reino Unido. Com um dia a dia sempre bastante preenchido, Ivo Timóteo foi um dos primeiros entusiastas em relação ao jantar alumni na capital inglesa até porque acredita que “a FEUP e uma formação na FEUP têm de se apresentar como uma marca de qualidade e os alumni são os principais embaixadores que, tendo essa responsabilidade, gostam de se sentir acarinhados pela instituição. Com a quantidade de grandes engenheiros formados todos os anos, uma rede alumni unida e eficaz seria uma representação muito forte para a faculdade”. Quem também vive em Cambridge é Mariana Garcia Domingos, de 27 anos. Vive na cidade há quatro anos, depois de ter passado pela Universidade de Delft, na Holanda, ao abrigo do programa ERASMUS, onde teve oportunidade de desenvolver a tese de final de curso. Com um percurso académico ligado à engenharia química, Mariana decidiu apostar na continuação dos estudos e inscreveu-se na Universidade de Cambridge. Com o doutoramento concluído, Mariana encontra-se neste momento à procura de emprego: “Estou a dar prioridade a oportunidades próximas de Cambridge. É uma cidade que consegue aliar os benefícios de uma cidade pequena, tais como deslocarmo-nos de bicicleta para todo o lado, com uma excelente oferta cultural em muito potenciada pela Universidade”, admite. Em relação ao sistema de ensino inglês, Mariana Domingos tem uma opinião bastante fundamentada sobre o assunto: “embora os sistemas de ensino (Cambridge/FEUP) sejam muito diferentes, o desempenho de alunos provenientes de universidades portuguesas nos seus doutoramentos, pós-docs e em empresas está ao nível das universidades inglesas. Do ponto de vista de investigação, isso é claro pela frequência com que alunos portugueses são distinguidos com prémios e bolsas internacionais. Em termos empresariais, sei de empresas que após recrutarem

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um aluno da FEUP (e visto o seu potencial) a seguir recrutaram mais dois ou três”. Dos 60 alumni que participaram no jantar, Mariana Domingos conhecia sete. “Esta iniciativa despertou-me imenso entusiasmo em participar em futuras atividades de aproximação dos alumni FEUP, e considero que foi dado um importante pontapé de saída neste sentido. Este tipo de encontros permite uma interessante partilha de experiências, opiniões, percursos e conhecimentos e simultaneamente estabelece uma importante plataforma de comunicação entre pessoas a trabalhar em diferentes áreas, partindo de um background em engenharia. Acredito que saímos bastante enriquecidos deste tipo de encontros, com novas perspetivas e mais atualizados relativamente ao tipo de desafios que outros engenheiros enfrentam”, admite a jovem de 27 anos. Depois de concluída a licenciatura em Engenharia Química e de ter colaborado num projeto de investigação nesta área na FEUP, Tânia Campos Duarte decidiu que estava na altura de integrar um novo desafio, de preferência em ambiente empresarial e que lhe permitisse desenvolver capacidades de liderança e de gestão. Foi assim que se tornou gestora ambiental numa das maiores empresas de construção portuguesas, tendo sido responsável pela implementação do sistema de gestão ambiental nas diversas unidades de trabalho da empresa, pela gestão ambiental operacional, e pela gestão do departamento ambiental (incluindo a supervisão dos técnicos ambientais a nível nacional). “Adicionalmente, fui membro do conselho de sustentabilidade da empresa, onde coordenava uma task force responsável pela implementação das linhas de orientação estratégicas em termos de ambiente e sustentabilidade corporativa”, acrescenta Tânia Campos Duarte. Ao mesmo tempo, investiu numa pós-graduação em Gestão de Organizações e Desenvolvimento Sustentável e mais tarde um MBA na área de Finanças. Foi durante o MBA que Tânia decidiu que estava na hora de se “reinventar em termos profissionais”, onde Londres surgiu como opção de vida. Está a morar em Londres há ano e meio, depois de ter estado permanentemente em viagens no ano anterior até


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Os embaixadores da FEUP Com o objetivo de reforçar a ligação entre os recém-diplomados e os antigos estudantes, a FEUP lançou em setembro de 2013 o Portal Alumni - www.fe.up.pt/alumni. Trata-se de uma plataforma que pretende ser um canal aberto entre a faculdade e a comunidade de antigos alunos, disponibilizando serviços de apoio à integração profissional e gestão de carreira, até várias possibilidades de contribuição ativa na comunidade e de interação com outros alumni. Uma dessas contribuições passa pelo papel de embaixador da FEUP. Marina Domingos e Simão Belchior na cidade de Cambridge

ter decidido que era altura de acabar com as constantes viagens. Com 32 anos, Tânia Campos Duarte dedica-se em exclusivo a um projeto na área de Sustainable Finance da London School of Economics (LSE). O dia a dia é preenchido pelas atividades relacionadas com o planeamento, coordenação e organização do projeto e que vão desde o desenvolvimento de planos de negócio, reuniões multidisciplinares, tratamento e análise de informação, assim como a comunicação de informação relevante ao projeto através das suas plataformas sociais. Com um percurso marcadamente multidisplinar, a antiga estudante da FEUP considera que essa é uma das suas grandes mais-valias na atual conjuntura mundial: “Não vejo o mundo da engenharia como algo separado do mundo dos negócios. São apenas duas vertentes que se complementam mutuamente. Acredito que as competências de um engenheiro são sempre bem-vindas no mundo dos negócios, e que um engenheiro beneficia sempre quando compreende a envolvente empresarial em se insere”, resume. Apesar de ainda ter chegado há relativamente pouco tempo à cidade londrina, Tânia Campos Duarte participou no 1.º encontro alumni com bastante entusiasmo. Admite que está ainda a habituar-se à cidade e à “confusão organizada” que é a cidade. E diz-se surpreendida com “a importância que muitas organizações aqui dão ao equilíbrio trabalho/ vida pessoal, tendo a possibilidade de trabalhar a partir de casa vários dias por semana se assim o desejar. Desde que uma pessoa cumpra os objetivos, existe um grande nível de confiança nos trabalhadores”, conclui.

Engenheiros com Percursos Multidisciplinares A verdadeira essência dos encontros de antigos alunos reside no facto de constituírem momentos de convívio, networking e reencontro de gerações. Assumem-se como plataformas excelentes de contacto e de partilha. Esta ação que decorreu em Londres, no passado dia 24 de outubro, inscreve-se numa estratégia de instalação de capítulos locais da rede alumni FEUP - FEUPLink, a partir do qual se espera promover outras iniciativas (workshops, master classes, visitas técnicas, apoio na integração profissional e na gestão de carreira, relações com as universidades e ações de voluntariado e programas de socialização, entre outras). Este encontro

Simão Belchior de Castro candidatou-se ao lugar de embaixador alumni assim que viu o anúncio no site. Foi decisiva a sua contribuição na organização do jantar promovido pela FEUP na cidade de Londres. Depois de duas experiências no programa ERASMUS no estrangeiro, primeiro na Dinamarca e depois na Holanda, Simão muda-se de “malas e bagagens” para o Reino Unido em 2004, em busca de uma oportunidade na área de Informática e Computação. Recusou o convite de ficar na TAM TAM (empresa holandesa líder no mercado das telecomunicações) para se juntar a Mariana Garcia Domingos em Cambrigde, que já lá estava. Um mês bastou até que a oportunidade surgiu: está a trabalhar numa organização não governamental inglesa, World Conservation Monitoring Centre, que colabora ativamente com o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP). “Trabalhamos com diversos parceiros internacionais (entre os quais Convenções e Governos) com vista a recolher, gerir e analisar dados relativos à conservação da Natureza e Biodiversidade. Isto permite auxiliar diferentes entidades internacionais na tomada de decisões em relação a diversas áreas da conservação”, sintetiza Simão. O percurso de Simão na empresa começou como web developer. Passados dois anos foi promovido a analyst developer: “sou responsável pela gestão de alguns dos nossos projetos, pelo contacto com os nossos colegas de outros departamentos e também com alguns dos nossos clientes internacionais, continuando ainda a fazer algum desenvolvimento web”. Com 29 anos, Simão acredita que encontros como os que aconteceram em Londres “têm um grande potencial: creio que uma instituição de ensino superior que quer estar na linha da frente tem que se manter em contacto com a Indústria, para melhor se desenvolver e para melhor preparar os seus alunos, que integrarão esse mercado. E acho que uma das melhores formas de manter esse contacto é através de antigos alunos, pois, como no meu caso, haverá uma afinidade para com a instituição e até uma motivação extra de poder contribuir para o sucesso dessa instituição, neste caso da FEUP”, esclarece o antigo estudante. Além disso “estes encontros são também benéficos para quem neles participa, podendo ser uma forma de ficar a saber um pouco melhor o que outros colegas e amigos nossos estão a fazer profissionalmente. Daí poderão advir potenciais colaborações, ou tão simplesmente a identificação de oportunidades para mudar de emprego”, conclui.

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O 1.º jantar alumni FEUP decorreu no Hotel Pestana Chelsea, nos arredores de Londres

foi o primeiro passo no sentido de aproximar a marca FEUP dos seus antigos alunos radicados no Reino Unido. Juntou 60 “embaixadores”, mas a verdade é que nem todos se conheciam. A grande maioria até nunca se tinha encontrado. Paulo Alves tem 39 anos. Chegou a Inglaterra há 17 anos. Não conhecia nenhum dos antigos estudantes que estava no jantar. Concluiu a licenciatura em Engenharia Mecânica na FEUP em 1997, depois de uma experiência na Universidade de Leeds, ao abrigo do programa ERASMUS, que lhe valeu o grau em “Master Engineering”. Foi a porta de entrada que sempre quis ter, “influenciado por programas de televisão” que na altura eram emitidos em Portugal, como a série policial “Dempsey e Makepeace”, que ainda hoje Paulo Alves recorda. “Fiquei com uma ideia idílica do que seria viver em Inglaterra e da marca Rover que eram os carros usados nessa série. O outro motivo foi forçar-me a aprender a língua”, admite. Apaixonado pela indústria automóvel, Paulo concorreu a um emprego na fábrica de Swindon, que à época incluía as marcas Rover, Land Rover, Mini e MG. O grupo estava nas mãos da BMW. Uns anos mais tarde quando o grupo foi vendido, Paulo Alves permaneceu na BMW. Trabalhou 10 anos na área de engenharia e esteve envolvido em vários projetos (Rover 25, Rover 45, Range Rover, novo MINI), mas está neste momento ligado à área de vendas e marketing. Lidera o Gabinete de Comunicação e Marketing do grupo BMW e os seus dias são sempre muito diferentes porque tanto podem implicar estar reunido com agências criativas e de planeamento de ações de media e marketing, como discutir toda a estratégia de lançamento de novas viaturas dentro e fora do Reino Unido. São frequentes as reuniões com as equipas de Munique e ainda o contacto com profissionais ligados aos jornais, revistas e agências de publicidade. Tudo ou quase tudo o que tenha a ver com a imagem da BMW no Reino Unido passa pelo crivo de Paulo Alves. Está de partida para a Irlanda onde vai assumir o cargo de Diretor Geral do Grupo BMW e iniciar uma nova etapa da sua vida. Diz “não ter pressa de regressar a Portugal”, embora confesse ter saudades do céu azul português que vai tentando apaziguar com as cinco viagens que faz ao nosso país por ano. A multidisciplinaridade que muitas vezes está associada à engenharia faz com que muitas vezes os percursos profissionais dos nossos estudantes se cruzem com outras

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Foi bom sentir que a FEUP não se esquece dos seus alumni e que tantos alumni estão interessados em manter esta ligação Marina Domingos

áreas do conhecimento. Foi o que aconteceu a José Farinha, 36 anos, licenciado em engenharia de minas pela FEUP. Após terminar o curso em 2001, a participação no programa CONTACTO leva José Farinha até ao Perú para estagiar numa empresa do grupo Mota-Engil. Depois dessa experiência regressa ao Porto onde teve a oportunidade de integrar a equipa da Metro do Porto SA, no projeto de construção das estações de metro. Em 2007 ruma ao Reino Unido para trabalhar na London Bridge Associated, uma empresa especializada em obras subterrâneas, onde esteve durante três anos. Resolve enveredar pela fotografia e viver da paixão que tinha pela arte de fotografar. E dá-se uma reviravolta profissional na sua vida. É freelancer e está ligado a uma agência de fotografia em Londres, a Camera Press, que lhe permite fazer colaborações com alguns media em Portugal: Público, Visão e Global Imagens. A viver em Londres há seis anos, o antigo aluno da FEUP aprecia “a diversidade cultural e étnica, os milhões de pessoas a movimentarem-se num caos organizado, museus gratuitos, concertos/espetáculos até fartar, mercados que vendem tudo e mais alguma coisa, o conforto dos pubs no virar de cada esquina, e o som das mil e uma línguas que povoam esta cidade”, razões que o levam a adiar o regresso a Portugal, por enquanto. Patrícia Barata Rodrigues participou no jantar promovido pela FEUP na condição de oradora convidada. Depois da licenciatura em Engenharia Química na FEUP, parte para Cambridge onde conclui o doutoramento. Foi recrutada para Investment Banking na Morgan Stanley em 2003. Mudou-se para Londres e aí permanece há mais de 10 anos. Com 38 anos e um percurso notável no ramo financeiro, teve necessidade de investir muito tempo e esforço a aprender a movimentar-se no mundo dos negócios, e considera que tem sido largamente compensada por isso. Depois da Morgan Stanley segue-se em 2005 o Macquarie Group, um banco australiano líder mundial em investimento em infraestruturas. Patrícia Barata Rodrigues passa a diretora do grupo em 2009, altura em que integra o Conselho de Administração de várias companhias de infraestruturas no portfolio do Grupo. Em 2011, o governo Inglês (Department for Business, Innovation & Skills) convida-a a integrar a equipa inicial de seis profissionais financeiros seniores para o projeto de desenvolver e implementar um novo banco para investimento e financiamento de projetos de infraestrutura em energias renováveis no Reino Unido, um projeto que foi bem sucedido.


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Museu da FEUP participa no Thesaurus de Acervos Científicos em Língua Portuguesa Susana Medina*

O Thesaurus de Acervos Científicos em Língua Portuguesa foi apresentado em julho de 2013, no âmbito do “International Congress of History of Science, Technology and Medicine”, realizado na Universidade de Manchester. Trata-se de um instrumento de referência para normalização e controlo terminológico para coleções de instrumentos científicos e teve origem num projeto de cooperação internacional, no qual participaram 12 instituições museológicas de Portugal e do Brasil, entre as quais o Museu da FEUP. A ideia de criar um tesauro de acervos científicos de acesso gratuito surgiu da constatação da inexistência de ferramentas deste tipo em língua portuguesa. Cientes de que a partilha da mesma língua não é suficiente para que se construa uma linguagem comum que possibilite o trabalho colaborativo entre profissionais de museus de ciência e técnica no espaço da lusofonia, Marta Lourenço (Museus da Universidade de Lisboa) e Marcus Granato (Museu de Astronomia e Ciências Afins do Rio de Janeiro) lançaram as bases do projeto “Thesaurus de Instrumentos Científicos em Língua Portuguesa” em 2006. Com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia entre 2009 e 2011, o projeto teve como objetivo inicial o desenvolvimento de uma ferramenta que permitisse a normalização e controlo da terminologia utilizada na classificação e catalogação de instrumentos científicos, e que facilitasse a gestão da informação e a divulgação de conteúdos sobre estes acervos (sobretudo de Portugal e Brasil).

que estabelece ligações aos inventários das instituições participantes. Assim, o desenvolvimento deste projeto de cooperação possibilitou uma maior visibilidade e reconhecimento do património científico através da sua organização, uma ampliação do conhecimento nas áreas da museologia e da história dos instrumentos científicos, e ainda a sua divulgação junto de especialistas, de investigadores e de diversos segmentos de público. A constituição da rede museológica lusófona revelou-se fundamental para o sucesso desta iniciativa, quer pelo potencial universo de estudo que representou (no seu todo, a rede compreende mais de 60 mil objetos cobrindo todas as áreas das ciências exatas e engenharias), quer pelas atividades de investigação paralela que foram surgindo e que possibilitaram a aproximação entre os museus dos dois países. Como resultado desta dinâmica, destaca-se a publicação do livro “Coleções Luso-Brasileiras: patrimônio a ser descoberto”, uma obra pioneira que aborda em conjunto os principais museus portugueses e brasileiros que detêm coleções de ciência e técnica. Esta iniciativa suscitou já o interesse da comunidade museológica internacional, no sentido da constituição de outras parcerias que, seguindo a mesma metodologia, possibilitem a adequação desta ferramenta a outros idiomas. chcul.fc.ul.pt/thesaurus * Responsável pela equipa AGORA - SDI - FEUP

Fotografia: D.R.

No âmbito da rede de museus constituída para o projeto, coordenada pelo Museu da Universidade de Lisboa e pelo Museu de Astronomia e Ciências Afins do Rio de Janeiro, realizaram-se múltiplos encontros entre as equipas nacionais e dois workshops conjuntos, em Lisboa e no Rio de Janeiro. Como produto final, foi construída uma estrutura que possibilita a organização de cerca de 3000 termos, sistematizados hierarquicamente de acordo com critérios funcionais, que derivam da cultura material técnico-científica destes museus. Paralelamente, foi organizado um banco com cerca de 6000 imagens agregado ao tesauro,

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FEUP CAREER FAIR 2013 Fotografias: Luís Ferraz

19 e 20 de novembro foram os dias escolhidos para mais uma edição da feira de emprego da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP). Pelo 6.º ano consecutivo, e com a nova designação de “Career Fair”, a iniciativa destinou-se a todos os estudantes e alumni que durante dois dias tiveram a oportunidade de participar em iniciativas como conversas informais com responsáveis de empresas, entrevistas de recrutamento individuais, sessões práticas, aconselhamento de carreira, entre outras atividades. Este ano, através do conceito “Carreira” - conceito mais abrangente e entendido como um processo contínuo ao longo da vida - o FEUP Career Fair procura integrar uma maior diversidade de empresas nacionais e internacionais e desta forma promover ofertas de emprego/estágio, inclusive para alumni FEUP com mais experiência profissional. A 6.ª edição contou com a participação de 47 empresas estando algumas delas a atuar no mercado internacional. www.fe.up.pt/careerfair

A Feira destina-se a recém-graduados, estudantes finalistas e, pela primeira vez, aos alumni da FEUP

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Os estudantes podem obter aconselhamento de carreira

47 empresas marcaram presença no “Career Fair”

Durante dois dias os estudantes passaram pelos espaços-empresa

À semelhança de edições anteriores, realizaram-se Workshops de Empregabilidade

Para as empresas, o “Career Fair” permite um contacto direto com a comunidade académica

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Portugueses à redescoberta do Brasil da inovação Texto: Carlos Oliveira

Sexta economia mundial, o Brasil ocupa atualmente o 64.º lugar no Índice Global de Inovação, destacando-se nos indicadores da proporção de produtos de alta e média-alta tecnologias fabricados e na publicação e citação de artigos científicos, especialmente nas melhores universidades, como a Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e as Estaduais de São Paulo (USP) e Campinas (Unicamp). Foi em busca deste Brasil da inovação que a Universidade do Porto partiu à descoberta em novembro de 2013, no âmbito das atividades da rede internacional BIN@. Desde a sua criação, em 2010, que os responsáveis na U.Porto pela Business and Innovation Network (BIN@) ambicionavam alargar a rede ao outro lado do Atlântico e contribuir para a partilha de experiências de inovação entre os blocos Europeu e Ibero-Americano. Uma missão conjunta da Faculdade de Engenharia (FEUP) e do Parque de Ciência e Tecnologia (UPTEC) ao sul do Brasil em maio de 2011 permitiu identificar a parceria ideal para organizar localmente o evento: a maior instituição de ensino superior e investigação da América Latina, a Universidade de São Paulo.

Fotografia: USP Imagens

O coordenador da Agência USP de Inovação, Vanderlei Bagnato, abraçou entusiasticamente o projeto e, no evento de 2012 no Porto, liderou uma grande delegação que integrava além da equipa da Agência USP de Inovação, elementos da Fundação Instituto Pólo Avançado da Saúde (FIPASE) encabeçada pelo seu presidente António Adilton Carneiro. Ficou definido, na altura, que o evento se realizaria na cidade de Ribeirão Preto, pólo de excelência nas áreas de Saúde e Biotecnologia e havia o compromisso de fazer mais e melhor do que os eventos já realizados até essa data.

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E assim foi. O evento, realizado entre 12 e 14 de novembro de 2013, acolheu mais de 300 participantes, dos quais 44% empresariais, de um total de 9 países e 12 estados brasileiros. Um vasto programa permitiu a partilha de boas práticas através de apresentações convidadas, sessões temáticas nas áreas das tecnologias da informação, energia e materiais renováveis, farmacologia e biotecnologia e equipamentos para a


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Fotografia: Marcos Santos/USP Imagens

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saúde, uma série de workshops sobre inovação e uma sessão de posters. Do evento constava ainda uma ronda de negócios promovida pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX Brasil), em que participaram 25 start-ups, das quais 8 internacionais, e uma mostra de tecnologias e negócios que integrou start-ups do Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (CINET) do ParqTec, em S. Carlos, e da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Ribeirão Preto (SUPERA). De destacar ainda o excelente programa cultural, que incluiu um concerto sinfónico da USPFilarmónica, no belíssimo Theatro Pedro II, e uma visita cultural à coleção de arte contemporânea do Instituto Figueiredo Ferraz. A delegação da U.Porto contribuiu significativamente para o sucesso do evento. Os coordenadores na FEUP da rede BIN@, Pedro Coelho e Carlos Oliveira, integraram as sessões de abertura e de encerramento, respetivamente. O vice-reitor para a Investigação, Desenvolvimento e Inovação da U.Porto, Jorge Gonçalves, apresentou o modelo de incubação da UPTEC, o pró-reitor para a Inovação e Empreendedorismo, Carlos Brito, o concurso de ideias de negócio iUP25k, e a diretora executiva da UPTEC, Clara Gonçalves, o programa de Aceleração de Startups. Nas sessões temáticas, referência para a apresentação do diretor da FEUP, Sebastião Feyo de Azevedo, sobre as oportunidades de colaboração na área do petróleo e gás, e para as intervenções dos investigadores Fernando Jorge Monteiro, Luísa Andrade e Ricardo Vardasca, nas áreas de biomateriais, células solares e termografia médica. Destaque ainda para o workshop sobre educação para a inovação, animado pelo diretor do Departamento de Engenharia Informática, Raul Vidal, e pelo diretor da start-up ShiftForward, Paulo Cunha, e para o estudo de caso de internacionalização da start-up AdClick, pelo Bruno Augusto, responsável pela empresa no Brasil. Para além destas duas empresas, a delegação da UPTEC integrou ainda representantes das start-ups Last2Ticket, Xnfinity e Bitmaker Software e a responsável do Pólo do Mar e Biotecnologia, Susana Pinheiro.

São Carlos, a Capital da Tecnologia São Carlos, no interior do Estado de S. Paulo, é hoje um dos maiores centros de inovação do Brasil. A cidade tem a maior densidade de doutorados do país, sobretudo nas áreas de engenharia, física e química (um por cada 180 habitantes) e um dos maiores índices de registo de patentes. A USP instalou uma escola de engenharia na cidade em 1953 e a Universidade Federal (UFSCar) começou a funcionar em 1970, também com enfoque nas ciências e tecnologias. A Fundação ParqTec, a mais antiga incubadora da América Latina, surgiu em 1984 e é responsável por grande parte das pequenas e médias empresas de base tecnológica da região. O pólo tecnológico tem atraído também grandes empresas para a cidade. Entre elas estão uma fábrica de motores da Volkswagen, uma unidade da Electrolux e o centro de manutenção de aeronaves da TAM, razões que levaram o governo federal a conferir a São Carlos o título de capital nacional da tecnologia, em 2011. Uma delegação da FEUP, encabeçada pelo diretor Sebastião Feyo de Azevedo, foi recebida a 12 de novembro na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), pelo presidente da Comissão de Cooperação Internacional e professor do Departamento de Engenharia Aeronáutica, Eduardo Belo. A receção incluiu uma visita ao campus 2, que permitiu constatar a grande dinâmica e o potencial de crescimento da Universidade. Entretanto, uma delegação conjunta FEUP/UPTEC tomou contacto com diversas start-ups do ParqTec, numa sessão dinamizada pelo seu presidente, Sylvio Goulart Rosa Jr., o carismático pioneiro das incubadoras de base tecnológica no Brasil. O sucesso desta missão resultou na retribuição com uma visita à FEUP de Eduardo Belo, acompanhado pelo vice-diretor da EESC, Sérgio Proença, logo em dezembro, em que ficaram claras as possibilidades de estreitar as relações de colaboração entre as duas escolas.

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Fotografia: D.R.

Fotografia: USP Imagens

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Colaboração estratégica com a Escola Politécnica da UFRJ

Coleção de arte contemporânea do Instituto Figueiredo Ferraz.

A presença no interior do Estado de S. Paulo, permitiu também o contacto com outras estruturas de investigação relevantes da Universidade Estadual, tendo sido realizadas visitas ao Centro de Nanotecnologia, Engenharia Tecidual e Fotoprocessos aplicados à Saúde, no campus de Ribeirão Preto, à Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos e ao Centro de Inovação, Empreendedorismo e Extensão Universitária (UNICETEX), no campus de Pirassununga, e à Escola de Engenharia (EESC) e ao Parque Tecnológico (ParqTec), no campus de São Carlos. Destes contactos resultaram várias perspetivas de colaboração em diversas áreas de engenharia, na formação pós-graduada, no desenvolvimento de projetos científicos, na transferência de tecnologia e no intercâmbio e parcerias comerciais entre empresas incubadas e graduadas dos ecossistemas de inovação de ambos os países. Esta aventura, à redescoberta do Brasil da inovação, incluiu ainda uma importante escala no Rio de Janeiro, para estreitamento das relações existentes com a Universidade Federal (UFRJ) e o seu Parque Tecnológico. A missão empresarial da UPTEC, abrangeu também contactos com a Agência de Inovação da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) e o Instituto Gênesis, a RioSoft e a PetroRio, e outras entidades no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. www.businessandinnovation.net

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A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e a Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Poli-UFRJ) têm muito em comum: descendem das primeiras escolas civis de engenharia, em Portugal (1837) e no Brasil (1874), e ambas são reconhecidas e prestigiadas entre as melhores escolas técnicas do continente em que se inserem. Na última avaliação trienal da pós-graduação (2011-13), implementada pela agência de fomento à pesquisa brasileira - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) - a generalidade dos cursos de doutoramento em engenharia da UFRJ receberam classificações de excelência de nível internacional (índices 6 e 7). O Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE) da UFRJ, fundado em 1963, é o maior centro de ensino e pesquisa em engenharia da América Latina e o Parque Tecnológico do Rio alberga centros de inovação de gigantes industriais como a Petrobras, a Siemens e a Schlumberger, juntamente com pequenas e médias empresas e uma incubadora de start-ups. Argumentos que justificam o reforço da colaboração no ensino e pesquisa que as duas escolas discutiram num workshop realizado no dia 11 de novembro na Poli-UFRJ. No evento, coordenado pelo Diretor da Escola Politécnica, Ericksson Rocha e Almendra e pelo Diretor de Assuntos Académicos da COPPE, Fernando Rochinha, o diretor da FEUP, Sebastião Feyo de Azevedo apresentou as oportunidades de colaboração no contexto do recém-criado Instituto do Petróleo e Gás, Associação para a Investigação e Formação Avançada (ISPG), de que a U.Porto faz parte. Seguiram-se intervenções de doze investigadores de laboratórios de ambas as escolas, tendo sido identificadas complementaridades e interesses comuns em diversas áreas, tendo o workshop terminado com visitas a diversos laboratórios. Em simultâneo, uma delegação conjunta FEUP/ UPTEC foi acolhida no Parque Tecnológico pelo seu CEO, Maurício Guedes e restante equipa.


Entrevista: Raquel Pires Fotografias: Álvaro Martino

“A maior recompensa é encontrar antigos estudantes doutorados pelos vários cantos do mundo” Começou por dar aulas em Angola. Veio para Portugal depois da Revolução de abril e radicou-se no Porto, na Faculdade de Engenharia, onde desenvolveu investigação científica ao mais alto nível. Fundou o Laboratório de Processos de Separação Reação (LSRE) e orientou mais de 60 teses de doutoramento. Foi professor convidado em várias universidades espalhadas pelo mundo e guarda recordações dos tempos que viveu nos EUA, na Índia e na China. Professor jubilado da FEUP, vai voltar ao Brasil como professor convidado, três vezes por ano. Diz que lhe falta fazer tudo. E que quer voltar a Angola, ao início da viagem. Entrevista de vida a Alírio Rodrigues, na primeira pessoa.

Como surgiu a inclinação pela área das engenharias, em especial pela engenharia química? No meu tempo de liceu havia duas grandes áreas: letras (português, francês, inglês e história) e ciências (Matemática, físico-química, ciências, geografia e desenho). Havia o exame do 5º ano (atualmente corresponde ao 9.º ano) nessas nove disciplinas. Passei a Letras e reprovei na oral na seção de Ciências. Se tivesse passado teria seguido Direito. Como reprovei passei depois a gostar de Físico-Química. A primeira escolha passou a ser Engenharia Nuclear mas como não havia essa carreira em Portugal fui para Engenharia Química. E ainda bem. Isto mostra como a nossa vida pode depender de eventos muito particulares... Iniciou a sua carreira de professor em 1969, na Universidade de Luanda. O que recorda da sua passagem por Angola? A minha ida para Angola foi para realizar estágios remunerados na indústria, enquanto não era chamado a cumprir o serviço militar (coisa penosa para a minha geração). Passei vários meses na CUCA (fábrica de cerveja) e depois na Refinaria de petróleo da então FINA. Dei umas aulas noturnas na Universidade de Luanda e depois surgiu o convite para ficar como Assistente por intervenção do


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... tenho dificuldade em aceitar um professor universitário que não seja ativo na investigação científica.

Prof. Guedes de Carvalho que na altura dava apoio ao curso de Engenharia Química na Universidade de Luanda. Desse tempo anterior ao doutoramento guardo boas recordações de um corpo docente jovem, inexperiente que se empenhou na Reforma Veiga Simão, e também dos alunos em número reduzido e com quem era possível ter uma relação de muita proximidade. Depois do doutoramento apanho em Angola a revolução de abril e sou obrigado a tomar decisões, como fazer serviço militar em Angola. Em julho de 1974, com 30 anos, faço o 1.º ciclo em Nova Lisboa (hoje Huambo) e o 2.º ciclo em Minas e Armadilhas em Luanda. Quando finalmente me dirigia ao quartel do Grafanil para ficar destacado a dar aulas na Universidade fui apanhado debaixo de fogo cruzado entre as forças do MPLA e FNLA em frente ao cemitério de Catete. Capotei o carro, fui cuspido e levado por uma viatura militar que passava para o Hospital Militar. Costumo dizer que foi a única vez em que me saiu a sorte grande! Dos meus alunos na Universidade de Luanda vários seguiram carreira académica em Portugal no Instituto Superior Técnico, na Universidade do Minho e na Universidade da Beira Interior. Regressa a Portugal em 1975, depois da revolução. Antes disso era difícil começar uma carreira em Portugal? Parece que o salário e condições de trabalho não eram muito atrativas antes da revolução de abril. Mas com o ministro Veiga Simão aumentou a ida de assistentes para fazer doutoramento no estrangeiro que começaram a regressar nos anos da revolução e que tiveram impacto no desenvolvimento da Investigação e Desenvolvimento em Portugal. Para mim foi a altura de assentar depois de uma passagem curta pela Universidade de Évora. Foi altura de recomeçar a carreira tendo um dos M (recursos humanos Carlos Costa, Rui Boaventura e José Miguel Loureiro) da receita MMM+K. Faltava Money e Machines mas tinha algum Knowledge. Foi assim possível criar uma linha de investigação no Centro de Engenharia Química do INIC. Era a linha 5 Processos de Separação e Reação em Meios Porosos... que mais tarde viria a dar origem ao LSRE. Se tivesse que ter optado entre a carreira de docente e a de investigador: qual escolhia? Sempre vi as duas atividades ligadas. Aprende-se a dar aulas mas tenho dificuldade em aceitar um professor universitário que não seja ativo na investigação científica.

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A história do LSRE está intimamente ligada ao seu percurso na FEUP. Sempre foi um sonho ter um grupo de investigação a trabalhar em conjunto? A investigação obriga a formar grupos para atacar problemas científicos de natureza fundamental ou para responder a desafios de empresas. Uns sonhos realizam-se e outros não. Tenho orgulho em ter levado o LSRE em parceria com o Laboratório Catálise de Materiais (LCM) a obter estatuto de Laboratório Associado e fiquei triste por não ter os apoios necessários para fazer a extensão do LSRE num edifício da Universidade Católica na Asprela, onde pensava gerar spin-offs localizadas no Laboratório. Pelo LSRE passaram muitos estudantes estrangeiros que aqui se doutoraram... ou fizeram pos-doc. E a maior recompensa é encontrar antigos estudantes de graduação e doutorados pelos vários cantos do mundo. É difícil fazer investigação em Portugal? No início foi difícil mas com trabalho continuado o laboratório acabou sendo conhecido. Houve tempos difíceis e agora estamos num ciclo complicado. Em períodos de financiamento escasso usam-se economias de projetos anteriores... agora é cada vez mais difícil porque a parcela que a FEUP deixa para o investigador é cada vez menor. O que custa mais é ver partir o melhor da nossa massa cinzenta para outros países por não terem perspetivas na investigação científica aqui... Foi professor convidado em países tão distantes como o Brasil, a China, Índia, EUA… o que recorda dessas passagens pelo estrangeiro? Cada país me deixou uma marca. O ambiente de trabalho na Universidade de Virgínia (EUA) deixou-me a recordação de informação aos docentes em reuniões curtas (dizia que tinha sido uma experiência democrática como não conhecia em Portugal) e o país pelo lado de resolver problemas em vez de complicar... O Brasil que descobri em 1978 e que mais tarde na década de 90 me levou a dar aulas de mestrado na Universidade Federal Santa Catarina (UFSC) no quadro de uma cátedra UNESCO. Doutorei muitos estudantes do Brasil sendo que na carreira académica quem avançou mais foi a Prof. Diana Azevedo da Universidade Federal do Ceará (UFC). Agora terei de ir com frequência à UFC no quadro do programa CsF onde posso dar aulas no Programa Doutoral... e que em Portugal não posso fazer na FEUP.


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Nota Biográfica Licenciado em Engenharia Química pela Universidade do Porto em 1968 e doutorado em 1973 pela Universidade de Nancy (em França), e pela Universidade de Luanda em 1974, Alírio Rodrigues iniciou o seu percurso profissional em 1969 na Universidade de Luanda como professor assistente. Regressou a Portugal em 1975. Passou pela Universidade de Évora e fez Agregação no Instituto Superior Técnico (Lisboa), tendo voltado à U.Porto em 1976. Do seu percurso enquanto professor destacam-se também as colaborações com outras Universidades, na categoria de professor convidado, onde lecionou unidades curriculares relacionadas com engenharia química: Université de Technologie de Compiègne (França), University of Virginia (EUA), Universidad de Oviedo (Espanha), Université de Paris XI (França), Universidade Federal de Santa Catarina (Florianopolis, Brasil), Universidade Agostinho Neto (Angola) e mais recentemente o Institute of Chemical Technology, em Mumbai (Índia). Recebeu recentemente o título de Professor Emérito da U.Porto. Publicou, até ao momento, cerca de 500 artigos científicos, que tiveram mais de 7000 citações. Foi orientador de cerca de 60 teses de doutoramento. É ainda autor de seis patentes.

Da China guardo o carinho com que me recebem. Creio que os chineses têm reconhecimento pelos professores que ajudaram a formar os seus quadros. Recebi o primeiro pos-doc da China em 90 e mantenho até hoje uma boa cooperação com a East China University of Science and Technology, em Shangai. A Índia é um país que me deixa sempre sem opinião definitiva, pois tem muitos contrastes e coabitam aspetos excelentes no campo científico com dificuldades a que seria difícil adaptar-me... Dou o exemplo aos alunos de que vida dura é a de um doutorado em Mumbai que gasta 3h ou mais por dia para ir e regressar do local de trabalho. Mas vivi também em Oviedo um ano sabático, outro na Université de Technologie de Compiègne, uns meses em Orsay... e fui absorvendo coisas boas dessas várias culturas. Guardo boas recordações da Argentina (o meu colega de doutoramento em Nancy Hugo de Lasa era de Bahia Blanca onde o Prof. Ruy Luis Gomes deu aulas de Matemática durante o exílio, Miguel Laborde, Cunningham, Barreto, Gigola..., de projetos CYTED, do committee NATO Science for Peace, etc.). Falamos de sistemas de ensino muito díspares. O que mais o impressionou nesse contacto com outros estudantes e outras universidades? Tive a sorte (dá muito trabalho ter sorte...) de receber excelentes estudantes de doutoramento, outros bons e alguns menos bons mas tive a sensação que saíram melhores do que entraram... Cada um é diferente: tem o que pensa bem e não gosta da parte experimental, tem outro que é bom experimentalista, outros que combinam as várias facetas. Procurei passar a mensagem de que o teste é publicar... se fica com resultados na gaveta não interessa. Também lhes dizia que deviam deixar marca no LSRE construindo o seu equipamento... com sucesso nalguns casos. Nos EUA gostei de chegar à sala de aula e todos os estudantes já lá estarem... Faltar é impensável nos EUA pois as propinas são bem altas...

Tem uma equação com o seu nome, a equação Rodrigues. É uma extensão da equação de Van Deemter. Como chegou até ela? E para que serve? Tive uma estudante Rosa Maria Quinta Ferreira na década de 80 que fez doutorado num tema de catalisadores de poros largos onde a transferência de massa era melhorada pela convecção nos poros... Quando no ano de 1990 aparece a ideia de Perfusion Chromatography para separação de proteínas vi que tinha todo o suporte para explicar o que se passava (cross fertilization aqui de reaction engineering para separation engineering)... e foi fácil fazer a extensão da equação de Van Deemter... Na realidade o suporte vinha de uma estadia na UTC para explicar certos resultados experimentais de medidas de difusividades que se traduziu numa publicação no AIChEJ em 1982. Com 500 artigos científicos e mais de 7 mil citações, 60 teses de doutoramento e seis patentes: ficou alguma coisa por fazer? Sempre fica por fazer... mas com saúde continuarei a trabalhar. De todos os prémios que teve oportunidade de vencer houve algum que tenha tido um sabor especial? Gostei de receber todos os prémios: uns dependem da avaliação de júris, outros do nosso CV. Outros com estudantes mostram reconhecimento por entidades e empresas de outros países. Se não tivesse ficado em Portugal, onde estaria neste momento a dar aulas? Porquê? Em Portugal sinto-me bem no LSRE mas estou certo que o país vai evoluir e vai aproveitar os seus jubilados em programas doutorais. Para colmatar essa lacuna vou dar aulas na UFC em estadias mensais, três vezes por ano, durante três anos. Terei contactos com outras universidades e laboratórios no Brasil. Gostava também de voltar a Angola onde comecei a carreira académica.

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FEUP participa em curso InterUniversitário em Cabo Verde O convite veio diretamente do Ministro do Ensino Superior, Ciência e Inovação de Cabo Verde, António Correia e Silva, e tinha como destinatário a Universidade do Porto. Em cima da mesa a possibilidade de organizar a 3.ª edição do curso InterUniversitário de Cabo Verde subordinado ao tema Informática e Multimédia. De 9 a 21 de setembro de 2013, um grupo de professores da Faculdade de Engenharia e da Faculdade de Belas Artes da U.Porto (FEUP e FBAUP) liderado por António Coelho rumou a Cabo Verde para dar início ao curso de formação nesta área. As inscrições rapidamente superaram o número de vagas inicialmente previsto. Toda a estrutura do curso foi delineada pelos professores que integraram a comitiva da FEUP. Divididos por três módulos, o curso InterUniversitário incidiu sobre Computação Móvel (Miguel Pimenta Monteiro, DEI/FEUP), Jogos Digitais (António Coelho e Rui Rodrigues, DEI/FEUP) e Interfaces Multimodais (Miguel Carvalhais e Rui Rodrigues, FBAUP/FEUP). Todos os módulos contemplavam uma parte teórica e uma componente prática, onde os participantes desenvolviam um pequeno projeto no contexto de cada módulo.

O curso foi organizado de forma a acontecer em três universidades na ilha de Santiago: a Universidade de Cabo Verde, a Universidade Jean Piaget e a Universidade de Santiago. Em termos logísticos, implicou a transição de uma universidade para a seguinte a meio dos módulos, e uma consequente adaptação às novas condições, que apresentavam também alguma variabilidade. Foi, no entanto, o único constrangimento encontrado pela equipa da FEUP, que rapidamente se adaptou às circunstâncias. Rui Rodrigues, um dos professores da FEUP que viajou até Cabo Verde considera esta experiência muito produtiva e ressalva que “a importância dada pelo Ministério do Ensino Superior, Ciência e Inovação, pelas Universidades envolvidas e pelos estudantes ao curso e às áreas em questão, e o empenho que o governo tem em fomentar o desenvolvimento destas áreas foi um dos aspetos mais positivos. O grau de preparação e motivação dos estudantes foi também um aspeto a reter: a adesão e envolvimento dos participantes nas matérias e projetos eram elevados, tendo isso sido refletido nos bons resultados finais”, admitiu o professor da FEUP em jeito de balanço.

Fotografia: D. R.

Há interesse da parte do Governo cabo-verdiano em continuar com esta colaboração, estendendo-se a outras áreas de ensino da Universidade do Porto. O objetivo passa por criar novos cursos de pós-graduação ou linhas de especialização em cursos já existentes, bem como linhas de investigação nas instituições de ensino superior de Cabo Verde. Atualmente, as formas de cooperação estão ainda em estudo.

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VENCER

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Estudantes da FEUP vencem Prémio SECIL Universidades 2012 Dois estudantes finalistas da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) viram os seus projetos distinguidos com o Prémio Secil Universidades 2012, na categoria “Engenharia Civil”. As temáticas vencedoras versam sobre a dinâmica das pontes e sobre a proposta de construção de uma nova ponte que liga as cidades do Porto e Gaia. Este galardão é atribuído anualmente pela cimenteira SECIL em colaboração com a Ordem dos Engenheiros, com o alto patrocínio da Presidência da República. Andreia Meixedo e José Cristiano Moreira, ambos alumni do Mestrado Integrado em Engenharia Civil, foram os grandes vencedores do Prémio SECIL Universidades Engenharia Civil 2012. Orientada por Raimundo Moreno Delgado e Rui Calçada, Andreia Meixedo concluiu em 2012 o Mestrado Integrado em Engenharia Civil da FEUP e abordou a temática do comportamento dinâmico de pontes com tabuleiro pré-fabricado em vias de alta velocidade. A estudante finalista aplicou uma metodologia com interação entre a ponte e o comboio para a análise dinâmica do viaduto quando sujeito à passagem de tráfego de alta velocidade como o Alfa Pendular e o TGV Duplo. Uma vez que o estudo inclui as irregularidades reais da via, será possível progredir em termos de exatidão de resultados, aumentar o rigor das respostas dinâmicas encontradas e ainda avaliar com maior precisão o conforto dos passageiros. Trata-se de um estudo que a autora considera absolutamente essencial para a evolução da ferrovia.

José Cristiano Moreira concluiu nesse mesmo ano o Mestrado Integrado em Engenharia Civil da FEUP e foi o autor do segundo trabalho premiado. Intitulado “Projeto PÁGINA DIREITA de uma Ponte Rodoviária entre as cidades do Porto e Gaia”, o trabalho de investigação propõe a construção de uma

nova ponte que ligue as cidades do Porto e Gaia. Análise e dimensionamento, processo construtivo e respetivas necessidades, estimativa orçamental e impacto visual foram os itens analisados e abordados ao longo do trabalho. José Cristiano Moreira viu o seu projeto orientado por Álvaro Azevedo e acredita que a solução elaborada representaria uma grande evolução nas dificuldades diárias de tráfego entre as duas cidades ribeirinhas.

SABIA QUE... O Prémio SECIL Universidades é atribuído anualmente pela cimenteira SECIL em colaboração com a Ordem dos Engenheiros e com a Ordem dos Arquitetos. Contando com o Alto Patrocínio da Presidência da República, este galardão visa incentivar a qualidade do trabalho académico e promover o reconhecimento público de jovens provenientes das várias escolas portuguesas de Engenharia Civil e de Arquitetura. Nesta edição foram atribuídos três prémios na categoria “Engenharia Civil”. Cada um dos vencedores do prémio recebe um diploma e cinco mil euros.


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Texto: Helena Peixoto Fotografia: D.R.

Robin Food: uma heróica aplicação “made in” FEUP Da esquerda para a direita: Ricardo Teixeira, Henrique Sousa, Fernanda Serrano, Luís Miguel e Nuno Oliveira

Reaproveitar os excedentes alimentares que acabam no lixo e alimentar quem mais necessita. É este o lema da “Robin Food”, que “tira” a quem tem a mais e dá a quem quase nada tem . A aplicação, desenvolvida por uma equipa de estudantes da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), conquistou o 2.º prémio no concurso de programação APPY DAY promovido pelo BPI. Henrique, Luís, Nuno e Ricardo são estudantes do 4.º ano do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação da FEUP, e após terem vencido um concurso semelhante - o Agile Marathon, promovido pela Sonae “Os Bambinos” decidiram participar também no APPY DAY. Realizado no passado mês de dezembro, o desafio promovido pelo BPI consistiu numa competição de programação a nível nacional, onde os participantes foram desafiados, em 24 horas non-stop, a desenvolverem aplicações móveis inovadoras, estimulando o empreendedorismo e contribuindo para a afirmação de Portugal na área da tecnologia. A aplicação “Robin Food” sumariza no próprio nome a sua missão: contribuir para o reaproveitamento dos excedentes alimentares que acabam no lixo e poder alimentar quem se depara com dificuldades de nutrição. A ideia é utilizar as novas tecnologias para auxiliar as instituições solidárias que já ajudam pessoas com carências alimentares. Através da aplicação, os fornecedores alimentares (restaurantes, hotéis, refeitórios, etc.) conseguem introduzir ao momento a informação sobre excedentes alimentares. Do outro lado, as organizações têm acesso a um mapa que lhes indica a localização de todos os fornecedores prontos a doar alimentos, que serão posteriormente recolhidos pelos voluntários da organização.

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A participação na maratona foi mesmo 24 horas non-stop, com paragens apenas para os períodos de alimentação. Por terem conquistado o 2.º lugar, os estudantes arrecadaram 6 mil euros em dinheiro como prémio geral e, a nível individual, foram premiados com um smartphone. Se estavam à espera de ganhar? O facto de terem sido pré-selecionados para participarem no dia “já foi uma vitória”. Depois disso, foram “lutando” para ser uma das 20 equipas escolhidas para apresentar a ideia, com um grande foco na divulgação de um projeto tão necessário nos tempos que correm. “Foi um evento fantástico, muito bem organizado. Mesmo em termos de enriquecimento curricular, a participação nestes eventos é mostra de inovação e empreendedorismo, pelo que recomendamos vivamente a que os nossos colegas participem neste tipo de iniciativas”, sugerem. Para o futuro, fica prometida a concretização da aplicação. “Na atual conjuntura económica existem cada vez mais pessoas com dificuldades alimentares. Ainda que com emprego e casa, existem famílias que, a cada mês, têm que escolher quais as contas que podem pagar. Ao mesmo tempo, o último estudo publicado indica que, em média, cada português desperdiça 47kg de alimentos por ano. Achamos que faz todo o sentido haver uma contribuição da tecnologia para acabar com estes flagelos”, frisam os Bambinos.


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Temos Orquestra! Chama-se “Orquestra Clássica da FEUP” e é a mais recente iniciativa do Comissariado Cultural. Liderada pelo maestro José Eduardo Gomes, a orquestra realizou o seu concerto de estreia no passado dia 19 de dezembro e mostrou, uma vez mais, que nem só de cálculos e equações se vive na Faculdade de Engenharia. São cerca de 45 os elementos que compõem este novo grupo. Entre estudantes, docentes, colaboradores, investigadores, bolseiros… Há de tudo um pouco. A motivação é comum: a paixão por uma expressão universal que é a música. Tudo começou com o lançamento do projeto “Oficina de Música”, mais focado na música Jazz. Seguiu-se uma outra iniciativa, os “Músicos da FEUP”, onde têm sido descobertos muitos talentos na comunidade da Faculdade de Engenharia. E foi assim que se descobriu um espaço a preencher: o da música clássica. Havia muitos candidatos para um projeto deste género e assim arrancou o projeto de criar uma Orquestra Clássica dentro da FEUP. As primeiras audições decorreram no dia 30 de outubro. O sucesso falou por si! Houve tanta adesão que rapidamente surgiu a necessidade de marcar uma segunda data de audições. Das 45 pessoas que participaram, 45 foram selecionadas. Com ensaios semanais, foi sendo feita a preparação para o momento que marca a história das iniciativas culturais em Portugal: o concerto de uma Orquestra Clássica totalmente formada pela comunidade académica e maioritariamente FEUP.

Texto: Helena Peixoto Fotografia: Susana Neves

É membro fundador do Quarteto Vintage e Maestro Titular do Coro do Círculo Portuense de Ópera. Para a temporada 2013/2014, tem já agendados concertos com as mais destacadas orquestras nacionais, diversos estágios e masterclasses, bem como algumas apresentações no estrangeiro. Para participar no projeto é necessário ter alguma formação musical, alguma prática instrumental e participar nos ensaios semanais, que decorrem todas as quartas-feiras, das 21h00 às 23h00. Para quem não pertence à Orquestra mas gostaria de o fazer, não é necessário aguardar por próximas audições! Basta contactar o Comissariado Cultural (ccultur@fe.up.pt), que dará o devido acompanhamento ao assunto. Este é, sem dúvida, um projeto singular que promove e estimula a formação e desenvolvimento musical daqueles que, tendo outras profissões e ocupações, nutrem uma grande paixão pela música e querem por isso dedicar-lhe um pouco do seu tempo. O próximo concerto está agendado para dia 24 de abril a não perder.

A Orquestra é dirigida pelo maestro José Eduardo Gomes, músico e instrumentista premiado em concursos nacionais e internacionais.

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Texto: Helena Peixoto Fotografia: D.R.

José Fonseca participa na Cerimónia dos Novos Mestres

Blip, a empresa que pensa “fora da caixa” criada por alumni FEUP José Fonseca é alumni da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e é também fundador e Diretor de Tecnologia da já reconhecida empresa Blip. Empreendedor e especialista em aplicações de alta performance e escalabilidade, fundou a empresa em março de 2009, depois de ter vivido alguns anos em Inglaterra (e trabalhado em empresas como Financial News e Yahoo). Sem qualquer investimento e com um escritório improvisado na sala, nasce a Blip, direcionada para o desenvolvimento de aplicações de alta performance e preocupada com a felicidade dos colaboradores. Ser colaborador da Blip é mais do que realizar as tarefas do dia a dia. Trabalhar na Blip é dar mais de si, é ter sentido de autonomia, trabalhar em equipa, construir amizades e forte empatia com os colaboradores e clientes. Estes são os verdadeiros “blippers”. Empatia, autonomia e ambição são as três palavras-chave que caracterizam a empresa. E um dia habitual nesta empresa? “Não há dias iguais…” José partilha a sua ideia de dia positivo: começar a manhã com uma boa conversa ao pequeno-almoço com colaboradores para saber aquilo que os preocupa ou os deixa entusiasmados. Segue-se a análise de prioridades do trabalho e gestão do mesmo com as várias equipas e gestores de entrega para perceber o estado dos vários projetos. Muito do tempo é passado em reuniões com elementos das várias equipas (produto, marketing,

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A Comemoração Novos Mestres é uma cerimónia marcante na vida da FEUP realizada com o objetivo de homenagear os estudantes que terminam os seus Mestrados nesse ano letivo. A edição de 2013 contou com a presença do alumni José Fonseca, que partilhou com os participantes um importante testemunho do seu percurso pessoal e profissional. Foi uma honra para José representar os alumni da FEUP, uma vez que a Faculdade de Engenharia teve um peso muito grande na sua formação, vida e até na constituição da Blip. Os prazos apertados, trabalhos em grupo, e noites a estudar com os colegas ajudaram-no a perceber que para alcançar algo é preciso ter gosto naquilo que se faz e estar com as pessoas certas. “Foi a FEUP que me ensinou que as possibilidades são ilimitadas quando as pessoas começam a acreditar nelas próprias, e que não há nada mais poderoso para construir um futuro do que a capacidade de o imaginar”, conta-nos.

tecnologia, operações) de forma a definir e identificar oportunidades futuras. Sempre que possível, José programa todo o tipo de coisas, normalmente ferramentas internas. E o principal elemento diferenciador da Blip? “Sem dúvida, as pessoas”, afirma. Tudo o que acontece na empresa advém da autonomia e vontade de cada um fazer da Blip um lugar melhor para todos. Isso resulta num ambiente em que as pessoas se sentem bem, respeitadas e onde o seu trabalho, intelecto e criatividade é valorizado. Na Blip, o estatuto é alcançado através do conhecimento e não da hierarquia. Quando questionado sobre as principais vantagens de trabalhar na Blip, José refere que, na sua visão, será “ a possibilidade de trabalhar em projetos de escala mundial com colegas inteligentes, criativos, com imensa experiência e conhecimento.” A Blip tem atualmente cerca de 180 colaboradores, mas a empresa está em expansão e conta crescer até aos cerca de 220. As áreas mais procuradas são as de software, developers, Arquitetos, Linux Engineers, especialistas em Software Reliability e Resillience e, mais recentemente, Predictive Analytics (machine learning, modelos probabilistics, gaussian processes, etc). www.blip.pt


Are you auto-motivated? Welcome! Continental Mabor Localizada em Lousado, V. N. de Famalicão, é uma das fábricas de pneus do Grupo Continental, afirmandose como uma das mais importantes do grupo.

Produz mais de 16 milhões de pneus ao ano para os mais prestigiados construtores da indústria automóvel e para o mercado de substituição. Emprega perto de 1700 pessoas e está entre as mais exportadoras do país. Em permanente crescimento e com uma aposta firme na qualificação crescente e permanente dos seus colaboradores, a realização de estágios curriculares e a admissão de colaboradores com elevado potencial faz parte da sua política de gestão de recursos humanos. O Grupo Continental, tem presença em 46 países, e cerca 170 mil colaboradores a nível mundial.

Programa de Mérito e Distinção Público Alvo

Estudantes Finalistas dos Mestrados Integrados: › Engª. Química › Engª. Mecânica › Engª. Industrial e Gestão › Engª. Eletr. e de Computadores

Prémios

› ContiBest › ContiMaster › Project Your Future

Continental Mabor - Indústria de Pneus, S.A. Rua Adelino Leitão, nº 330, 4760-606 Lousado Tel: +351 252 499 200 continental.recrutamentopt@conti.de


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