ENGENHARIA BOLETIM INFORMATIVO DA FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO VERÃO 2014
UPTEC: reinventar o empreendedorismo na cidade do Porto José Novais Barbosa: o homem forte do UPTEC Eduardo Oliveira Fernandes: “O projeto-energia da EXPO’98 foi a oportunidade de uma vida” ACE FORUM: desafios e oportunidades de cooperação internacional
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SUMÁRIO
p.7
p.14
p.13
p.19
p.30
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EDITORIAL
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A FEUP em sintonia com a Sociedade
FEUP NO MUNDO
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Acontecimentos com ADN FEUP
INOVAR
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Produção de metanol a partir de grafite: um processo revolucionário 7 Os biomateriais como substituição de partes ósseas lesadas em humanos 8 FEUP desvenda recursos Geológicos do Sudoeste de Angola 9 LABIOMEP colabora com o Exército em projeto pioneiro 10 Aplicação de juntas adesivas na indústria automóvel
p.38
EMPREENDER
13 Reabilitar para despoluir as cidades 14 METABLUE: diagnósticos médicos “à medida” e sem sair de casa
AGIR
16 UPTEC: reinventar o empreendedorismo na cidade do Porto 19 Entrevista ao homem forte da UPTEC: José Novais Barbosa 23 Temporais na zona Costeira Portuguesa no inverno de 2013/14
COOPERAR
24 Entrevista - Eduardo Oliveira Fernandes: “O projeto-energia da EXPO’98 foi a oportunidade de uma vida” 27 ACE FORUM: desafios e oportunidades de cooperação internacional
VENCER
29 WeTruck: o projeto que vai revolucionar o mercado dos camiões 30 Startup Pitch Day: a maior competição de aceleração de startups da U.Porto
PROMOVER
32 Fotorreportagem: Semana Profissão Engenheiro 2014 34 iUP25k: cinco anos a promover o empreendedorismo
INTERPRETAR
35 Pessoas que pintam: viver (n)o campus, em conjunto 36 Exposição “Entre as margens”, Pintura e Engenharia em perfeita simbiose 38 Um assistente de cozinha do futuro com ADN FEUP
ENGENHARIA BOLETIM INFORMATIVO DA FEUP Edição* Divisão de Comunicação e Imagem da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto dci@fe.up.pt Conselho editorial Carlos Oliveira e Raquel Pires Redação Carlos Oliveira, Helena Peixoto e Raquel Pires noticias@fe.up.pt Design e Produção César Sanches design@fe.up.pt
Colaboram nesta Edição: Álvaro Martino, Ana Pereira, António M.L. Cabral, Cátia Barros, Egídio Santos, Filipe Paiva e Rodolfo Rodrigues
Impressão Empresa Diário do Porto, Lda. Porto 11 - 2014
Publicidade Sara Cristóvão - publicidade@fe.up.pt
Periodicidade Semestral
Propriedade Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Tiragem 5000 exemplares
Sede FEUP Rua Dr. Roberto Frias, 4200-465 Porto Tel: 22 508 1400 e-mail: dci@fe.up.pt | url: www.fe.up.pt
Depósito legal 225 531/05 * Esta edição foi escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico.
EDITORIAL
A FEUP em sintonia com a Sociedade João Falcão e Cunha*
É um enorme privilégio liderar a FEUP e é com muito gosto e sentido de responsabilidade que agora inicio as funções de seu Diretor. Num contexto nacional e europeu, particularmente exigente, é essencial conseguirmos fortalecer os pilares da Educação, Investigação e Inovação da nossa Missão. Tal passa também por uma maior abertura dentro da UPorto e por maior ligação a empresas e organizações externas, nacionais e internacionais, reforçando a colaboração nesses três pilares. Num mundo aberto, a sociedade portuguesa tem de melhorar a qualidade dos seus produtos e serviços e tem de aumentar o valor das suas exportações para mercados internacionais. Numa perspetiva de médio e longo prazo, a FEUP precisa de estar atenta à evolução da sociedade e adaptar-se às aspirações e necessidades dos estudantes, parceiros e organizações em geral. Com o envolvimento ativo de toda a Comunidade FEUP, vejo como prioritário continuar a melhorar a educação, suportada em investigação e numa perspetiva de inovação, visando criar mais emprego qualificado. Tal deve ser conseguido, como referi, com maior abertura às empresas e organizações externas e também com o aumento do nível de internacionalização de todas as nossas atividades. Requer-se assim a manutenção dos esforços de melhoria de eficiência, eficácia e qualidade dos processos de gestão interna, ouvindo as sugestões de todos e implementando as melhores. Num contexto global muito competitivo, precisamos também de reforçar as colaborações e alianças com parceiros que nos complementem, mas com quem por vezes também competimos, reforçando iniciativas existentes e estabelecendo novas redes. É ainda imprescindível não ignorar a vertente de responsabilidade social, que passa no meu entender por incentivar iniciativas de solidariedade, apoiar atividades culturais e desportivas e por uma boa gestão do ambiente. Julgo que de todas estas formas a Comunidade FEUP pode influenciar muito positivamente a economia e a sociedade, sendo um agente de mudança para um futuro melhor. Nas páginas seguintes são apresentadas algumas atividades que contaram com forte envolvimento da Comunidade FEUP, muitas delas em colaboração com
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parceiros da UPorto e organizações externas com atividade internacional. Muito relevantes são as iniciativas em colaboração com a UPTEC, superiormente liderada pelo Prof. José Novais Barbosa. Espero que a entrevista e os exemplos de projetos e de pessoas selecionados permitam ao leitor conhecer melhor o enorme potencial desta incubadora de empresas inovadoras. Contamos também com a visão do Prof. Eduardo Oliveira Fernandes, recentemente Jubilado, sobre a sua experiência na FEUP. Sem dúvida é importante manter o conhecimento e influência dos antigos colaboradores no serviço da Comunidade FEUP. Com uma perspetiva cultural, o Prof. Manuel Matos Fernandes é entrevistado sobre a exposição “A pintura e a engenharia entre margens” que ajudou a organizar no Museu Nacional Soares dos Reis. Apresenta-se a iniciativa ACE Forum, promovida pela nossa Divisão de Cooperação, e que reuniu na FEUP mais de 50 representantes de instituições de ensino superior de 15 países, com o objetivo de identificar interesses mútuos na área da engenharia, discutir e partilhar soluções e concertar estratégias que permitam atingir melhores resultados ao nível da educação, investigação e inovação. É sem dúvida uma iniciativa que pode crescer. Serão ainda alvo de destaque projetos de investigação e inovação, muitos deles com envolvimento de antigos estudantes e de enorme sucesso. Apresentam-se ainda os trabalhos do Prof. Lucas da Silva, relacionados com a indústria automóvel, do Prof. Veloso Gomes, sobre a erosão costeira e os estragos provocados no litoral no último inverno, e do Prof. Vitor Abrantes, a propósito da reabilitação urbana. Estes são alguns dos muitos projetos de que nos orgulhamos. Mas precisamos sempre de novos projetos, iniciativas e desafios para uma Educação, Investigação e Inovação com futuro. Contamos também com as vossas propostas! * Diretor da FEUP
Fotografia: Egídio Santos
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PRÉMIO INTERNACIONAL DE EXCELÊNCIA PARA DOCENTE DA FEUP Joaquim Silva Gomes, Professor Aposentado do Departamento de Engenharia Mecânica da FEUP, foi distinguido com o ‘Award of Excellence’, um dos mais prestigiados prémios da European Association for Experimental Mechanics (EuraSEM). Entregue numa das mais importantes conferências mundiais em Mecânica Experimental, o ICEM 16, em julho 2014, na Universidade de Cambridge, Reino Unido, este prémio reconhece internacionalmente o trabalho desenvolvido ao longo da sua carreira universitária na área da mecânica experimental.
ESTUDANTES FEUP EM PROGRAMA DA AGÊNCIA ESPACIAL EUROPEIA Uma equipa portuguesa que integra estudantes FEUP foi a única selecionada a participar na edição 2014 do “Spin your Thesis!”, organizado pela European Space Agency (ESA), de 8 a 19 de setembro, em Noordwijk, na Holanda. Uma iniciativa que permitiu aos participantes desenvolverem experiências científicas sobre o efeito da hipergravidade na formação e crescimento de vasos sanguíneos, o que pode ter aplicação no campo da medicina regenerativa.
DOCENTE DA FEUP GALARDOADO PELA AMERICAN OIL CHEMISTS’ SOCIETY Francisco Xavier Malcata, professor catedrático do Departamento de Engenharia Química da FEUP, foi o primeiro português eleito Fellow pela American Oil Chemists’ Society (AOCS), sedeada em Boulder, EUA. Este reconhecimento único é atribuído a membros da AOCS associados há pelo menos 15 anos que se tenham destacado por avanços relevantes na ciência ou serviço prestado à comunidade, designadamente de âmbito industrial, liderança, educação, administração ou comunicação.
FEUP NO MUNDO
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ALUMNUS DA FEUP PREMIADO POR GRUPO EMPRESARIAL JAPONÊS Mário Freitas, antigo estudante do mestrado integrado em Engenharia Informática e Ciências da Computação (MIEIC) da FEUP, conquistou recentemente o prémio CyberAgent Best Engineer, por ser considerado o melhor engenheiro do grupo CyberAgent, sedeado no Japão, no semestre de outubro a março de 2013. O reconhecimento valeu-lhe o prémio mais elevado de sempre dentro desta empresa japonesa, cerca de 5 mil euros.
DOCENTE DA FEUP INTEGRA ERC Vladimiro Miranda, diretor do INESC TEC e Professor Catedrático da FEUP, foi convidado a integrar o conselho científico do IRESEN - Institut de Recherche en Energie Solaire et Energies Nouvelles, instituição que define as linhas de investigação na área da energia e avalia projetos que lhe são propostos por empresas e/ou centros de I&D. Enquanto membro do conselho científico, o docente vai propor recomendações estratégicas e atividades I&D para garantir a qualidade e rigor da produção científica do IRESEN.
DOCENTE FEUP CONQUISTA BOLSA INTERNACIONAL PROFESSOR DA FEUP ELEITO FELLOW DA IACEE “Reconhecer personalidades com um serviço extraordinário em extensivo período de tempo e que proativamente tenham apoiado o desenvolvimento da IACEE” foi o grande mote para a atribuição do prémio IACEE Fellow (International Association for Continuing Engineering Education) a Alfredo Soeiro, docente do departamento de Engenharia Civil da FEUP. O prémio foi entregue em junho, na Universidade de Stanford, EUA, durante a 14ª edição da World Conference on Continuing Engineering Education (WCCEE).
José Fernando Oliveira, Professor Catedrático da FEUP, foi um dos três contemplados com uma bolsa para investigadores visitantes, do programa Ciência sem Fronteiras (CsF), na Universidade de São Paulo, Brasil. Esta bolsa vai auxiliar no desenvolvimento de um projeto relacionado com a otimização de processos de corte industriais, uma questão economicamente relevante para as empresas do setor e com forte impacto ambiental.
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INOVAR
Produção de metanol a partir de grafite: um processo revolucionário Texto: Helena Peixoto Fotografia: D.R.
Chama-se “Projeto Sym” e tem como objetivo principal a produção de metanol por eletrólise de água, usando elétrodos de grafite. É liderado pela empresa ACR Energia e copromovido pela Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) e pretende desenvolver um processo inovador de produção. O investimento no projeto ultrapassa já os 300 mil euros.
A tecnologia é simples: armazenar energia elétrica através da produção de gás de síntese, matéria-prima que produz combustíveis líquidos sintéticos, usando plataformas motorizáveis existentes. É nesta tecnologia que a equipa do projeto Sym, em colaboração com o Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ), com a GSyF - Equipamentos para Energia e com o Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), tem concentrado esforços. Uma solução que poderá servir de apoio à gestão otimizada de redes elétricas e com aplicação na eletrificação de locais isolados e sem acesso à rede, como os locais rurais, contribuindo para a melhoria das condições de vida destas populações. Tendo por base uma patente nacional para o processo de produção, o projeto foi financiado pelo COMPETE em mais de 350 mil euros. Para demonstrar a viabilidade técnica e económica desta tecnologia foi construída uma unidade piloto de pequena potência (1 kW) e está ainda a ser desenvolvido um novo reator para produção de combustível sintético renovável a partir da eletricidade (Electrofuel®). A Faculdade de Engenharia, pelas mãos dos professores Adélio Mendes, Clito Afonso, Óscar Mota e ainda das investigadoras auxiliares Cecília Mateos e Marta Boaventura, tem vindo a desempenhar um importante papel no desenvolvimento do “Sym”. Adélio Mendes, professor catedrático do departamento de engenharia química da FEUP realça a importância deste tipo de projetos: “Trata-se de um projeto ambiocioso, disruptivo e de elevado risco. A produção de metanol utilizando recursos renováveis é muito importante no contexto da conversão e armazenamento de energia. Este projeto pretende dar um passo significativo nesta direção.”
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Falamos de um projeto que tem como objetivo desenvolver um processo inovador do álcool mais simples existente - o metanol. Este álcool pode ser utilizado tanto na indústria química (produção de cola para utilizar em painéis de aglomerado de madeira) como pode ser facilmente convertido noutras formas de energia (em hidrogénio, pela reformação com vapor, energia elétrica e com o uso de baterias de combustível). Considerado mais seguro do que a gasolina, pode ainda ser usado na alimentação de motores de combustão interna.
SABIA QUE… O principal apoio financeiro do projeto Sym deriva do Programa Operacional Temático Fatores de Competitividade - COMPETE? Este organismo visa a melhoria sustentada da competitividade da economia portuguesa num contexto de mercado global, intervindo sobre dimensões estratégicas como a inovação, o desenvolvimento científico e tecnológico, a internacionalização, o empreendedorismo e a modernização da Administração Pública. Com recursos concentrados em torno destas prioridades, o COMPETE desafia as empresas, as associações empresariais, as entidades do Sistema Científico e Tecnológico e a Administração Pública para um objetivo partilhado: um Portugal mais competitivo.
INOVAR
Texto: Raquel Pires Fotografia: D.R.
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Os biomateriais como substituição de partes ósseas lesadas em humanos
Desenvolver um biomaterial com estrutura tridimensional (3D) controlada, semelhante ao osso humano, e que possa ser utilizado na regeneração de defeitos ósseos motivados por acidente ou doença é o que uma equipa da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) tem vindo a estudar. A investigação está a ser testada em ensaios pré-clínicos e estima-se que daqui a três anos possa estar disponível no mercado.
É uma nova esperança que se abre à medicina regenerativa: a possibilidade de fabricar biomateriais que serão implantados no corpo humano, nas áreas de cirurgia ortopédica e maxilofacial usando tecnologias de micromoldação por injeção de materiais cerâmicos. Denominado “Tribone”, o projeto de investigação tem como principal objetivo colmatar problemas nos ossos através da criação de uma alternativa que possa facilitar a regeneração óssea do próprio paciente, através da estrutura interna do biomaterial, que irá funcionar como uma estrutura de suporte e indução da regeneração do osso nativo. “Através da tecnologia de micromoldação por injeção que desenvolvemos neste projeto conseguimos controlar a estrutura interna dos biomateriais de modo a que eles se assemelhem ao osso humano trabecular. E, portanto, no fundo, esses biomateriais possibilitam que as células cresçam por essa estrutura interna e que a regeneração do osso se faça muito mais facilmente e de uma forma muito melhorada. Quando são implantados em substituição desse osso humano comportam-se como sendo o próprio osso humano”, explica José Domingos Santos, que lidera esta investigação na Faculdade de Engenharia.
O que se pretende é que a estrutura deste biomaterial 3D se assemelhe à zona lesada, ao osso que teve de ser retirado ou à zona óssea onde houve desgaste ou degeneração. Ou seja, o biomaterial que vai ser implantado deverá ter as propriedades e a configuração próxima ao osso que está a substituir. De acordo com o professor da Faculdade de Engenharia esta nova tecnologia “está particularmente adaptada a grandes séries e, por isso, o grande objetivo passa também por uma aposta mais forte no mercado internacional”. O projeto, financiado pela Agência de Inovação, foi desenvolvido por um consórcio que engloba a Faculdade de Engenharia da U.Porto, o Instituto Pedro Nunes de Coimbra e três empresas (Biosckin, Celoplás-Plásticos e Nanologic).
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INOVAR
FEUP desvenda recursos Geológicos do Sudoeste de Angola Texto: Helena Peixoto Imagem: D.R.
Um trabalho de investigação intensivo numa área de cerca de 11 mil km2 do sudoeste angolano permitiu avançar com a publicação da Carta Geológica e respetiva memória descritiva do território. O projeto demorou cinco anos a ficar concluído e envolveu entidades portuguesas, angolanas e brasileiras, num trabalho de cooperação que resultou já em seis publicações. É mais um importante legado para a história do povo angolano aquele que o Instituto Geológico de Angola (IGEO), o Instituto Camões (IC), o Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) e o Centro de Pesquisas Geocronológicas (CPGeo) da Universidade de S. Paulo, no Brasil, e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) encetaram desde 2008 e que terminou recentemente com a publicação da cartografia geológica de cerca de 11 mil km2 do sudoeste de Angola. Tendo como principais responsáveis José Feliciano Rodrigues (docente da FEUP) e Eurico Pereira (docente da FEUP e investigador do LNEG) este projeto de mapeamento da área situada a sudoeste da cidade do Lubango, considerada fundamental para a compreensão da geologia desta região de Angola pelos seus alvos diversificados e de grande interesse económico (rochas ultramáfico-máficas, elementos do grupo da platina, grande variedade de rochas ornamentais, entre outros). A investigação geológica de base foi o tema primordial do projeto, seguindo-se depois a componente económica. As entidades que integraram a ação de cooperação desde logo apoiaram o projeto, o que permitiu reunir as principais instituições para o seu desenvolvimento. Para preencher a lacuna das datações geocronológicas de uma área desconhecida de Angola surgiu a participação do Centro de Pesquisas Geocronológicas (CPGeo) da Universidade de S. Paulo, no Brasil, dotado de um dos melhores laboratórios de estudos isotópicos do mundo. Ao longo do projeto foram realizadas duas campanhas
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de terreno, em 2009 e 2011, para recolha de elementos e amostragens geológicas aliadas à realização de cursos de formação em Cartografia Geológica e em Geologia Estrutural e Tectónica. Dos resultados obtidos salientam-se 15 datações geocronológicas U-Pb, e mais de 50 análises de rocha total, realizadas na área de intervenção do projeto. As datações U-Pb são superiores, em número, a todas as já realizadas, até à presente data, sobre unidades geológicas de Angola. Na sequência do trabalho desenvolvido, em junho de 2013 foi firmado outro consórcio entre o LNEG, o Instituto Geológico e Mineiro de Espanha e a empresa de assistência técnica Impulso que visa a implementação do Plano Nacional de Geologia (Planageo), plano esse que recebeu um investimento de 405 milhões de euros e que envolve a caracterização do potencial geológico-mineiro numa área com mais de 470 mil Km2 no sul de Angola.
SABIA QUE... A geocronologia é a ciência que utiliza um conjunto de métodos de datação usados para determinar a idade das rochas, fósseis, sedimentos e os diferentes eventos da história da Terra?
Texto: Raquel Pires Fotografia: D.R.
INOVAR
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LABIOMEP colabora com o Exército em projeto pioneiro Testar os limites dos militares em situações de missões especiais e conflito armado nas regiões mais recônditas do mundo e, ao mesmo tempo, ajustar os treinos às exigentes condições que lá vão encontrar foi o grande objetivo do LABIOMEP em colaboração com o Exército. Durante duas semanas uma vasta equipa de investigadores da Faculdade de Engenharia da U.Porto esteve envolvida nestes ensaios e medições que decorreram no campus da Asprela.
“Treino duro, combate fácil” é um dos lemas do Exército que procurou a colaboração dos investigadores do LABIOMEP no sentido de adaptar o treino dos militares às exigentes condições dos palcos de futuras operações. Para isso foi selecionada uma equipa multidisciplinar de engenheiros, médicos, enfermeiros especialistas em fisiologia e desporto que, em conjunto com os militares, liderados pelo Tenente-Coronel Mário Álvares, simularam experiências de campo em ambiente controlado com vista a adaptar os planos de treino atualmente utilizados às condições climáticas de países como o Afeganistão e o Kosovo, onde o Exército mantém operações.
registo de grande quantidade de informação e a realização de vários exames psicotécnicos a cargo do Centro de Psicologia Aplicada do Exército.
Com o objetivo de testar os limites - quer da fadiga física, quer psicológica e a sua influência na capacidade de decisão - os militares foram submetidos a condições semelhantes às existentes no Afeganistão, onde as condições climatéricas são severas, com temperaturas que rondam os 40 graus durante o dia. Os testes foram executados com os militares transportando todo o equipamento individual, mochila e armamento, dentro da câmara ambiental existente no Laboratório de Prevenção do Riscos Ocupacionais e Ambientais (PROA/ FEUP) associado ao LABIOMEP. No exterior uma equipa monitorizou em tempo real todo o ensaio, registou e interpretou todos os dados. Os ensaios decorreram com uma vigilância apertada e o acompanhamento da Faculdade de Medicina e do Hospital Militar do Porto. Os testes decorreram durante duas semanas e envolveram o
Empenhados na segurança e desempenho dos nossos militares e atendendo ao sucesso desta parceria entre o LABIOMEP e o Exército está já em cima da mesa a possibilidade de iniciar novos projetos de I&D para desenvolver vestuário e calçado adaptados às condições climatéricas adversas pois estes equipamentos têm influência no desempenho em cenários de guerra. Estes projetos, segundo Mário Vaz, investigador na FEUP e um dos diretores do LABIOMEP, “ devem envolver empresas portuguesas com o objetivo de criar novos produtos, alguns de duplo uso, civil/militar, e que possam ser depois comercializados em Portugal ou até mesmo vir a ser exportados. Deste modo se consolidará esta ligação Universidade/Exército que se antevê com elevado potencial na criação de novo conhecimento sobre o comportamento humano e sobre a criação de novos produtos”.
“O soldado é o mais importante para nós. Percebemos que testar os limites, quer em termos de fadiga física, quer psicológica, debaixo de condições climatéricas adversas, com temperaturas acima da média e valores de humidade fora do comum é necessário, pois devemos atuar sempre com a maior segurança possível”, admite o Major Garcia Lopes que acompanhou de perto estes dias intensivos de testes na Faculdade de Engenharia da U.Porto.
www.labiomep.up.pt
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INOVAR
Aplicação de juntas adesivas na indústria automóvel
Um grupo de investigadores da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) tem-se dedicado à procura de uma solução que permita aumentar a resistência das juntas adesivas na indústria automóvel. Uma nova técnica baseada em juntas funcionalmente graduadas permite aumentar a resistência mecânica. Mas outras técnicas estão a ser estudadas com o objetivo de serem aplicadas à indústria naval e aeronáutica. E até um fabricante de adesivos japonês tem acompanhado de perto os ensaios desta investigação. ENGENHARIA 54 FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Lucas da Silva*
De modo a aumentar a eficiência dos transportes, reduzir o consumo de combustível e emissões de contaminantes, uma redução de peso associada a melhoria do desempenho em termos de segurança dos materiais em uso devem ser alcançados. Esta necessidade de estruturas com melhor desempenho resultou no desenvolvimento de uma nova variedade de estruturas e materiais híbridos. Estruturas multimaterial como aviões, barcos, carros e vagões usam vários tipos de materiais como aço, alumínio, magnésio, plásticos reforçados com fibras e estruturas sanduíche. A soldadura é simplesmente impossível de usar nestas situações por razões óbvias e rebites ou parafusos apresentam concentrações de tensão e oferecem baixa resistência à fadiga. A ligação adesiva é geralmente o método preferido nestes casos, uma vez que permite maior flexibilidade na conceção, é mais eficiente em aspetos mecânicos e de energia e torna-se mais resistente à corrosão.
INOVAR
É com esta motivação que o Grupo de Adesivos tem vindo a desenvolver investigação na área de juntas adesivas estruturais. Neste momento, a equipa de investigação é composta por 21 elementos: 3 alunos de pós-doutoramento (Mariana Banea, Ricardo Carbas e Filipe Chaves), 6 alunos de doutoramento (Eduardo Marques, Ana Queirós Barbosa, Rosa Paiva, Daniel Braga, Marcelo Costa e Guilherme Viana), 11 alunos de mestrado e 1 bolseiro de investigação. O trabalho abrange uma vasta gama de adesivos estruturais como epóxidos, acrílicos e poliuretanos. Vários métodos de ensaio de resistência e de fratura estão disponíveis como provetes de adesivos maciços, juntas de simples sobreposição, juntas topo a topo, testes de fratura em modo de abertura (modo I) e de corte (modo II), etc. O laboratório de adesivos dispõe de máquinas de ensaio comerciais e de máquinas especialmente construídas pelo grupo para testes de adesivos como uma máquina inovadora de medir a temperatura de transição vítrea baseada na ressonância de uma camada de adesivo, uma máquina de torção vertical e uma máquina de impacto. Estas máquinas especializadas contam com a colaboração do professor António Mendes Lopes e do investigador Carlos Moreira, especialistas na conceção de máquinas. Para além das competências experimentais em termos de fabrico e ensaios de provetes, o grupo de investigação da FEUP recorre a simulações com modelos analíticos ou numéricos (como o método dos elementos finitos) e tem apostado no estudo de estruturas híbridas que habitualmente são usadas na indústria automóvel, aeronáutica e naval. O grupo tem vários projetos relacionados com a indústria automóvel financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, pela Fundação Luso-Americana e pelo fabricante de adesivos japonês NAGASE CHEMTEX. A indústria automóvel procura cada vez mais produtos ecológicos. Atualmente é usual a inclusão de partículas (nano ou micro) para melhorar determinadas propriedades mecânicas de adesivos estruturais muito conhecidos pela
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sua resistência mecânica e também pela baixa ductilidade e tenacidade. Existem vários métodos, descritos na literatura, que permitem aumentar a tenacidade destes adesivos. Um dos mais difundidos é a inclusão de partículas de borracha. Em colaboração com a Dra. Juana Abenojar, da Universidad Carlos III (Madrid) e o Prof. Andreas Öchsner (Universidade de Griffith, Austrália), o grupo de investigação da FEUP utilizou micropartículas de cortiça como material de reforço de modo a aumentar a ductilidade e resistência ao impacto de um adesivo frágil. As partículas de cortiça são utilizadas com o objetivo de atuarem como obstáculos ao avanço das fissuras, aumentando a resistência mecânica e a energia de absorção de impacto. As juntas adesivas usadas na construção do chassis são sujeitas a esforços complexos, incluindo solicitações de tração e de corte. A capacidade de absorção de energia do adesivo varia em função do modo de solicitação. O grupo, com a colaboração do Prof. Marcelo de Moura e do Prof. Dave Dillard (Virginia Tech, EUA), desenvolveu um dispositivo experimental que permite avaliar a tenacidade do adesivo em modo I, modo II e modo misto I e II. O conhecimento da tenacidade em qualquer modo de solicitação permite um projecto muito mais realista. Existe um pedido provisório de patente (nº 107188 B) do dispositivo que se espera possa ser útil para a indústria automóvel. A junta de sobreposição simples com substratos planos metálicos ou compósitos é a mais comum devido principalmente à sua simplicidade e eficiência. No entanto, um dos problemas associados a esta junta é o facto da distribuição de tensão (corte e arrancamento) estar concentrada nas extremidades da sobreposição. Na FEUP usa-se vários métodos para tornar as juntas de sobreposição mais resistentes: alterações geométricas do substrato, alterações do estado superficial do substrato, uso de mais do que um adesivo ao longo da sobreposição. Este último método pode ser considerado uma versão grosseira de um material funcionalmente modificado. Em colaboração com o Prof. Gary Critchlow (Universidade
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de Loughborough, Reino Unido) o grupo de investigação desenvolveu um adesivo funcionalmente modificado de modo a ter um adesivo com propriedades variando gradualmente ao longo da sobreposição permitindo ter uma distribuição de tensões uniforme ao longo da sobreposição. Isso permite trabalhar com áreas resistentes muito menores e assim reduzir consideravelmente o peso da estrutura, o que é um factor decisivo nos transportes. Uma cura gradual por indução foi desenvolvida a fim de obter uma junta ‘graduada’ em termos de comportamento mecânico (pedido provisório de Patente Portuguesa nº 107189 C). Um problema que a indústria automóvel enfrenta está relacionado com a reparação, sobretudo quando se trata de juntas coladas. Várias possibilidades existem na literatura para descolar juntas adesivas sendo o uso de partículas termicamente expansivas uma delas. A ideia passa por aquecer o adesivo misturado com partículas de modo a expandir as partículas o suficiente para causar uma separação dos substratos. Esta ideia está a ser estudada na FEUP, sendo que as partículas poderiam também melhorar o comportamento mecânico da junta e provocar uma autoreparação, ou self-healing em inglês. O aumento de resistência e o efeito de self-healing podem ser obtidos através de aquecimento gradual criando um estado de tensão mais favorável. Estas três funcionalidades (desmontagem, resistência e autoreparação) seriam uma mais-valia muito importante para a indústria automóvel. O projeto mais recente ligado à indústria automóvel está relacionado com durabilidade e envolve vários parceiros (SIKA, NAGASE CHEMTEX e ALSTOM). O comportamento mecânico da junta é bem compreendido para as juntas de sobreposição simples em condições estáticas. No entanto, a previsão da durabilidade ainda é um tema que necessita de muita investigação, sendo este um dossier muito crítico para a indústria automóvel. É neste momento difícil de prever a força de rotura após um período longo de carregamento estático ou cíclico com temperatura e humidade. As juntas adesivas podem ser projetadas por métodos analíticos ou métodos
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numéricos. Para previsões complexas que incluam vários fatores, como o efeito da temperatura e da humidade, apenas os métodos numéricos permitem obter uma resposta. Inicialmente, o comportamento da junta foi modelado usando conceitos da mecânica dos meios contínuos, que apenas permitem prever a força que corresponde ao início do dano. Mais tarde a mecânica da fratura foi usada para prever a propagação de fendas, no entanto este tipo de análise pressupõe a existência de uma fenda inicial, o que nem sempre é aceitável. Muito recentemente a mecânica do dano, que combina conceitos da mecânica dos meios contínuos e da mecânica da fractura, foi desenvolvida. Este é o método preferido para modelar o início do dano e a sua propagação até à rotura. Foram desenvolvidos elementos finitos coesivos para simular o dano estático e o dano por fadiga. No entanto, o comportamento do adesivo também depende da temperatura e da velocidade de solicitação, fatores que ainda não são tidos em conta por este método. Para uma modelação completa é necessário que o elemento coesivo também inclua esses efeitos. Com o aumento rápido da capacidade de computação tem havido tentativas de incluir as várias condições ambientais, de modo a desenvolver um procedimento para prever a durabilidade de juntas adesivas baseado numa identificação inicial dos coeficientes de difusão e das propriedades mecânicas. Um modelo numérico acoplado para a junta considerada é construído, permitindo definir a concentração de água e prever as propriedades correspondentes no adesivo. No entanto, a temperatura e a natureza viscoelástica do adesivo são fatores adicionais que devem ser considerados para uma previsão mais realista. Por outro lado, as estruturas são frequentemente sujeitas a esforços de fadiga que complicam ainda mais a análise. O objetivo deste projeto é desenvolver um elemento coesivo que inclua o efeito da temperatura, da humidade, do tempo (comportamento viscoelástico do adesivo) e da fadiga. Espera-se que esta ferramenta permita maior segurança no projecto a longo prazo de juntas adesivas. * Professor Auxiliar com Agregação da FEUP
EMPREENDER
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Reabilitar para despoluir as cidades Vítor Abrantes*
Escrevi há alguns anos que a maior poluição sentida em algumas cidades era a visual. De facto, quando percorremos a pé Lisboa e Porto, cidades belas e reconhecidamente locais de eleição para visitar, não deixamos de sentir alguma amargura pela quantidade de edifícios degradados e emparedados que poluem a nossa visão e sensibilidade. Por outro lado, se viajarmos de Lisboa a São Petersburgo, não encontraremos nada semelhante. Surge então a pergunta: porquê este atraso na reabilitação em Portugal? De acordo com alguns dados de 2011 do Euroconstruct e da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário, esta evidência pode ser destrinçada nas seguintes conclusões: 1. Noutros países da Europa, a percentagem de reabilitação chega a ultrapassar a percentagem de construção nova. Já a realidade portuguesa é bem diferente: a proporção reabilitação comparada com nova construção não chega a metade, valor ainda substancialmente inferior quando considerado o setor residencial; 2. Devido às facilidades de crédito outrora concedidos, Portugal (e Espanha) são os países europeus com os maiores índices de casa própria, o que se traduziu num erro com consequências nefastas colocadas a nu pela crise económica: amontoar de dívidas, devolução de casas, dificuldades de mobilidade, entre outras. Todos estes fatores aliados ao congelamento das rendas, à burocracia exagerada e aos regulamentos inadequados se tornam indicadores evidentes de que é necessário alterar o paradigma para a construção e de que reabilitar é a única saída com futuro. A reabilitação urbana, além de promover a projeção cultural e turística das cidades, preservar os monumentos, os centros urbanos e os edifícios antigos, desempenha um importante papel na contribuição para a manutenção da memória coletiva e aumento da autoestima das
cidades e dos seus habitantes. Uma das situações que tão bem exemplifica os benefícios da reabilitação urbana é o caso ‘Vila D’Este’. Esta zona residencial, situada à entrada no Porto pela Ponte da Arrábida, era tida como verdadeira ‘poluição visual’. Com o projeto de reabilitação, esta área tornou-se o exemplo vivo de como a partir de pequenas intervenções arquitetónicas, em edifícios com estas características, se pode criar uma melhoria muito considerável do património arquitetónico edificado com efeitos imediatos nos utilizadores desses edifícios, melhorando significativamente a qualidade de vida dessas pessoas e, por outro lado, a qualidade da paisagem urbana. Este trabalho de valorização arquitetónica, assinado pelo Arquiteto Nuno Abrantes, foi decisivo na recetividade positiva dos habitantes, estreitanto e reforçando os seus laços afetivos com o meio onde vivem. Este último aspeto é, sem dúvida, uma das qualidades que a reabilitação de “habitação social” deve assegurar. * Professor Catedrático da FEUP
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METABLUE: diagnósticos médicos “à medida” e sem sair de casa Texto: Raquel Pires Imagens: D.R.
Criada em 2011, a METABLUE pretende revolucionar a indústria dos dispositivos médicos através do desenvolvimento de novas tecnologias e produtos. Atualmente focada em três soluções distintas, o grande objetivo desta spin-off passa por disponibilizar produtos de elevada qualidade e fiabilidade a todos os consumidores, independentemente das suas possibilidades económicas.
As origens da Metablue Solution, Lda. remontam ao Mestrado de Inovação e Empreendedorismo Tecnológico da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Foi aí que nasceu, pelas mãos de Diamantino Lopes e Maria Semedo, na altura estudantes do mestrado. Sedeada no Porto, esta spin-off define como missão acrescentar valor à indústria dos dispositivos médicos através de novas tecnologias e produtos que superem as insuficiências dos equipamentos existentes no mercado e que satisfaçam as expectativas dos consumidores. A METABLUE está centrada em três produtos/soluções: o Otitest, o Lipotool e o Digital Laryngoscope. O primeiro já se encontra finalizado e os outros dois estão em estágio de desenvolvimento. O ‘Otitest’ é um Otoscópio Digital de diagnóstico que, através de uma tecnologia única e altamente fiável, mede autonomamente as mudanças de cor no tímpano, sendo capaz de detetar a inflamação do ouvido num estádio inicial, surgindo o resultado como
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Da esq. para a dir.: Rúben Moutinho, Vera Morais e Diamantino Lopes
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A empresa é atualmente constituída por cinco elementos: Diamantino Lopes como CEO - Chief Executive Officer, Vera Morais como COO - Chief Operations Officer e Rodolfo Martins no cargo de CTO - Chief Technology Officer, responsável pela área de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Já João Barreto, formado em Gestão, Business Developer, procura identificar e explorar novas oportunidades de desenvolvimento de negócio. Rúben Moutinho é formado em Design e tem a responsabilidade de acompanhar o desenvolvimento dos produtos desde a fase da ideia e conceção até ao seu lançamento no mercado.
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O “Otitest” consiste num aparelho de monitorização da inflamação do ouvido acessível aos consumidores domésticos, evitando consultas médicas desnecessárias.
uma resposta positiva ou negativa - tal como num teste de gravidez. Em oposição aos otoscópios atuais, desenvolvidos exclusivamente para utilização médica e com deteção da inflamação em fase mais avançada, este dispositivo estará acessível aos consumidores “domésticos” para que possam monitorizar as suas crianças sem a necessidade de consultas médicas desnecessárias e/ou utilização de antibióticos. Sem custos adicionais, este aparelho previne ainda possíveis sequelas e complicações que possam advir de uma deteção de otite em fase mais avançada. O LipoTool baseia-se num novo sistema integrado de avaliação da gordura corporal, desenvolvido com o intuito de colmatar as inconsistências de precisão dos equipamentos até agora comercializados. Este lipocalibrador/adipómetro digital (Adipsmeter) mede em tempo real as pregas cutâneas e comunica via wireless com uma aplicação (Liposoft) instalada num computador, tablet ou smartphone. Com características mecânicas e eletrónicas únicas, o LipoTool regista os resultados numa base de dados e informa sobre a compressibilidade e variação de temperatura dos tecidos, apresentando-se uma ferramenta única para novos estudos. Finalmente, o Laringoscópio Digital foi projetado para responder às insuficiências dos dipositivos existentes nesta área, amplamente utilizados como auxiliar nas intubações traqueais de pacientes durante a preparação para as cirurgias. Este dispositivo é constituído por uma lâmina amovível que permite a sua esterilização independente e apresenta um punho que perceciona o nível de esforço aplicado. A utilização do laringoscópio implica a aplicação
de uma força no punho para desobstruir as vias aéreas e facilitar a intubação, força esta que não deverá exceder um determinado limite para minimizar os possíveis danos no paciente. Esta força é difícil de estimar e, com o Laringoscópio Digital, através de um conjunto de leds de sinalização, este trabalho é francamente simplificado. A nível de financiamento, a METABLUE conta com o apoio de acionistas (Smart Ventures e Green Capital), apoios públicos (QREN Vale I&DT e QREN Qualificação PME) e ainda o apoio à contratação (Programa 3 I’s da AIP). Já no que toca a prémios e distinções, foi com o Otitest que a spin-off conquistou a semifinal do concurso internacional de inovação Building Global Innovators em 2011, promovido pelo ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, em parceria com o MIT (Massachusetts Institute of Technology), o Deshpande Center for Innovation e o The Martin Trust Center for MIT Entrepreneurship. A METABLUE espera entrar no mercado já em novembro deste ano com o lançamento do Otitest. Pautando-se por ser uma empresa que já nasceu global, esta spin-off, apesar de atualmente estar presente apenas em Portugal, firmou patentes nacionais e internacionais que lhe permite internacionalizar-se a curto prazo. Exemplo disso é o processo de homologação do Otitest junto da Food and Drug’s Administration (FDA), entidade que regula o mercado dos dispositivos de médicos nos EUA, e que poderá traduzir-se numa alavanca de aceleração do processo de internacionalização do negócio e da própria empresa. www.metabluesolution.com
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UPTEC: reinventar o empreendedorismo na cidade do Porto Texto: Raquel Pires
O impacto económico das empresas ligadas ao Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto (UPTEC) no Produto Interno Bruto (PIB) em Portugal foi, em 2012, de 31,85 M€. Ao nível das receitas fiscais o valor estimado é de 6,25 M€. Estes dados fazem parte de um estudo recente da Faculdade de Economia da U.Porto e traçam boas perspetivas para o futuro do berço da inovação na cidade invicta. Mas quem são os protagonistas deste sucesso? De que massa crítica falamos? Que tipo de empresas estão no parque e quantas delas têm ADN FEUP?
Chegaram recentemente de Tóquio, onde estiveram a lançar a DVINE, uma linha de cosméticos de “nova geração”. A particularidade é a incorporação de aromas de vinho do Porto às matérias-primas habituais quando falamos de cremes para o rosto. Madeira, chocolate e frutos silvestres trabalhados numa mistura explosiva e com fortes raízes ao Douro, região demarcada e classificada como Património da Humanidade. É esta a identidade da Douro Skincare, a empresa que está por trás da DVINE, uma linha de produtos de cosmética seletiva lançada em finais de setembro deste ano, e que tem como embaixadora da marca a fadista Ana Moura. A ideia partiu de Mariana Andrade, fundadora da Douro Skincare e criadora da marca DVINE. Farmacêutica, com ligações familiares ao Douro, sempre soube que queria enveredar pela “cosmética” e rapidamente se deu conta de que havia um conjunto de recursos naturais que não estavam a ser rentabilizados. Daí até ao vinho do Porto não demorou muito: “Pensámos no vinho do Porto para a primeira linha a desenvolver precisamente pelo seu caráter único e inimitável”, confidencia Mariana Andrade.
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Foi nessa altura que se cruzou com Margarida Bastos, docente e investigadora na Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), com um vasto trabalho publicado sobre as propriedades do vinho e da uva. Na FEUP encontrou a tecnologia necessária, um método de extração de aromas a baixa temperatura e sem solvente desenvolvida na faculdade e patenteada para outras aplicações. Por uma questão de conceito, foi escolhido o primeiro vinho do Porto de produção inteiramente biológica. Hoje a Douro Skincare reúne um núcleo feminino constituído por mais três sócias que se aliaram a Mariana Andrade, fundadora do projeto e autora de toda a ideia e conceito da empresa e dos produtos: Susana Cruz, responsável pela direção técnica e assuntos regulamentares, Cláudia Leite, diretora financeira e Marta Enes, gestora de marcas. A empresa está sediada no UPTEC Bio, um dos polos do UPTEC, e tem desenvolvido esforços no sentido de rapidamente se posicionar no mercado. O investimento rondou meio milhão, sendo 307 mil euros apoiados por fundos europeus para a internacionalização (taxa média de comparticipação a fundo perdido de 56%). Depois de Paris e Tóquio segue-se a feira de Abu Dhabi, em dezembro. Neste momento a Dvine surge no mercado com 11 produtos, divididos em duas gamas: uma mais indicada para a prevenção dos primeiros sinais de envelhecimento, a Light Harvest; e outra linha que incorpora ouro na sua composição e que se destina a peles mais maduras, a Gold Harvest. Em cima da mesa está a possibilidade de, a médio prazo, se avançar para o desenvolvimento de novas linhas voltadas para outras matérias-primas emblemáticas da região do Douro como os mirtilos, a amêndoa, a azeitona e o azeite.
PORTO: PATRIMÓNIO MUNDIAL DA HUMANIDADE A cidade do Porto serviu também de mote à instalação da NCREP (Consultoria em Reabilitação do Edificado e Património) no PINC - o Polo das Indústrias Criativas localizado em plena baixa. Um grupo de cinco jovens licenciados em Engenharia Civil pela FEUP decidiu, em agosto de 2011, lançar-se na criação de uma empresa que presta serviços de consultoria, inspeção e diagnóstico,
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UPTEC E FEUP: UMA ESTREITA LIGAÇÃO
A incubação da NCREP no PINC veio a revelar-se estratégica para a atividade da empresa, “nomeadamente pelo networking que potencia com empresas da área, e com quem a NCREP tem desenvolvido parcerias e colaborações, e pela localização na baixa do Porto”, asseguram os jovens engenheiros. A empresa tem por alvo as tipologias construtivas tradicionais em betão, aço, alvenaria e madeira. Um dos projetos emblemáticos em que a NCREP esteve envolvida foi a reabilitação estrutural de um armazém das antigas instalações da Real Companhia Velha, atualmente nas mãos da empresa “The Fladgate Partnership”. O edifício do início do século XX, com paredes de alvenaria de pedra e cobertura de madeira de grande vão, acolhe sobretudo eventos de cariz social. Foi deles todo o trabalho de inspeção e diagnóstico do edifício, o projeto de reforço estrutural e toda a monitorização do comportamento da estrutura ao longo do tempo. Tiago Ilharco defende que a abordagem à reabilitação deve contemplar as mais recentes recomendações internacionais nesta área, procurando “minimizar o impacto sobre as construções, num compromisso entre funcionalidade, segurança e salvaguarda do património”. É isso que os move sempre que aceitam um projeto.
A MÚSICA COMO PONTO DE PARTIDA E DE NEGÓCIO Uma plataforma B2B para gestão de agenciamento de artistas e eventos musicais, que pode ir da simples programação do evento e booking de artistas até ao
orçamento e logística de um determinado espetáculo. Pode definir-se assim a Musicverb, uma das mais recentes start-ups do UPTEC. Uma equipa de seis pessoas, onde se incluem três engenheiros e a editora do blogue oficial, além dos dois sócios-fundadores, tinham já experiência na área dos eventos e isso foi um bom ponto de partida porque se deram conta de que havia todo um mercado para explorar. A ideia começou a ganhar força com um grupo de estudantes da FEUP que começou a trabalhar num protótipo no âmbito da cadeira de LGP, em que os alunos do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação (MIEIC) são desafiados a desenvolver soluções tecnológicas em parceria com empresas reais e consolidadas no mercado de trabalho. Um dos grupos de LGP do ano 2012/13 começou a trabalhar num protótipo e a conseguir validar algumas das ideias iniciais dos fundadores da Musicverb. A empresa existe desde abril e tem já uma carteira de clientes que vai desde o Reino Unido à Indonésia. Uma vez que a indústria da música é universal, todo o agenciamento é feito à escala global. Isto significa que a solução apresentada pela Musicverb tanto pode ser utilizada por agências, promotores e artistas portugueses, como profissionais de qualquer parte do mundo! Mas desengane-se quem julga que esta ferramenta se destina apenas para uso exclusivo de profissionais do setor musical: “é uma ferramenta para qualquer evento público ou privado, podendo ser utilizada por empresas que nada têm a ver com música”, esclarece Rui Santos Couto, um dos sócios fundadores da empresa. Apesar de estarem a desenvolver trabalho para vários pontos da Europa é no mercado inglês que a Musicverb quer concentrar esforços. Optaram pela incubação na UPTEC “por razões de contexto”, uma vez que “é preciso criar o ambiente necessário ao bom desenvolvimento dos projetos e o UPTEC traz-nos isso: massa crítica, avaliação constante, contacto com o meio e com as oportunidades e sobretudo com as pessoas”, confidencia Rui Santos Couto.
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Fotografia: Álvaro Martino
monitorização e projeto. Atuam sobretudo ao nível da reabilitação urbana de edifícios e têm neste momento cerca de 20 projetos em marcha no Porto, oito dos quais em pleno centro histórico da cidade. E o facto desta zona do Porto ser Património Mundial da Humanidade “introduz uma responsabilidade acrescida no trabalho a desenvolver”, afirma Tiago Ilharco, um dos fundadores da NCREP. “A empresa surge da vontade de transferir para o mundo exterior à universidade este conhecimento, depois de a maioria de nós ter mais de 10 anos de experiência nesta área, grande parte volvidos nos laboratórios da Faculdade de Engenharia”, admite Tiago Ilharco.
Fotografia: Ana Grácio
165 empresas incubadas: 82 com ADN FEUP 27 empresas graduadas: 16 com ADN FEUP
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Fotografia: D.R.
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OS CENTROS DE INOVAÇÃO Dentro do UPTEC há dois tipos de estruturas de apoio às empresas: as incubadoras, como os exemplos referidos em cima, e os centros de inovação empresarial que englobam empresas já consolidadas mas que decidem ficar sediadas no parque tecnológico com o objetivo de operacionalizar os seus projetos e atividades, aproveitando as sinergias com os departamentos de I&D&I e institutos de interface da U.Porto. É o caso da Nomad Tech, uma empresa “graduada” do UPTEC e que se dedica a promover no mercado global soluções inovadoras de engenharia e de telegestão/manutenção para a indústria ferroviária. Criada em dezembro de 2013, opera sobretudo no desenvolvimento e comercialização de serviços e produtos essenciais na monitorização remota da condição, manutenção centrada na fiabilidade, eficiência energética e eletrónica de potência e comando, visando a redução do custo do ciclo de vida do material circulante e a otimização dos parâmetros RAMS (Reliability, Availability, Maintainability and Safety) na ferrovia. Nuno Freitas e Augusto Franco, diretores-gerais da Nomad Tech, acredita que a empresa vai ser líder de mercado no setor da ferrovia: “estamos a penetrar de forma sólida no mercado escandinavo, alemão, inglês e possibilidade de expandir para outras zonas da Europa”. Com tecnologia totalmente produzida em território nacional, Nuno Freitas e António Franco acreditam que “ Portugal tem excelentes exemplos, a começar pela própria EMEF e CP. A EMEF e CP dispõem de oficinas de excelência tendo sido pioneiras mundiais na aplicação de inovadoras
metodologias e ferramentas de suporte à manutenção ferroviária, designadamente a metodologia RCM. A Unidade de Manutenção de Alta Velocidade é um exemplo vivo desta situação”, esclarece Augusto Franco, antigo aluno da FEUP. Com uma equipa de 15 pessoas, A Nomad Tech tem desenvolvido trabalho pioneiro no setor da ferrovia e que a curto prazo pode mesmo vir a revolucionar o mercado das “cost-saving solutions” ferroviárias atrás referidas. São três as soluções/produtos da Nomad Tech: a NT Maintain é um sistema pioneiro e que conjuga a aplicação da metodologia de manutenção RCM à ferramenta ROCM (Remote Online Condition Monitoring) e que deteta de forma preditiva, remota e em tempo real falhas nos comboios, constituindo uma ferramenta de apoio à manutenção do material circundante (comboios) a que os operadores e gestores de manutenção podem aceder remotamente. Foi aplicado a toda a frota de comboios alfa pendulares em Portugal o que permitiu um aumento da disponibilidade da frota de 20% e de fiabilidade na ordem dos 30%. As taxas de sucesso foram impressionantes o que levou a Nomad Tech até à Noruega onde tiveram a oportunidade de aplicar o sistema a toda a frota de caminhos-de-ferro dos noruegueses. A empresa está também a desenvolver um projeto de eficiência energética (telemedição e análise de dados e ecodriving) aplicado a toda a frota de automotoras UMEs 3400 o que permitiu já à CP uma redução média do consumo energético de 10% (integrada com estratégia da CP).
O UPTEC VISTO “POR DENTRO” O Edifício Central do UPTEC foi oficialmente inaugurado pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, no passado dia 20 de junho. Com a área total de construção de 21.368m2 e capacidade máxima para 80 empresas (com salas entre 30m2 e 300m2), este Edifício Central triplica o espaço disponível do Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto para a incubação de empresas criadas por estudantes, professores ou investigadores da Universidade. Organizado em quatro polos espalhados pelas cidades do Porto e Matosinhos - Polo Tecnológico, Polo de Biotecnologia, Polo das Indústrias Criativas e Polo do Mar -, o UPTEC alberga
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atualmente 165 projetos empresariais, entre startups, empresas âncora e centros de inovação de grandes empresas nacionais e internacionais (da Vodafone, da Microsoft, da Fraunhofer, da Altran, da Efacec ou da Sonae Indústria). Criado em 2007 como estrutura de apoio à transferência de conhecimento entre a Universidade e o Mercado, o UPTEC é o principal instrumento da U.Porto para desenvolver a sua Terceira Missão - a valorização do conhecimento no mercado, através do apoio ao desenvolvimento de projetos empresariais intensivos em conhecimento. uptec.up.pt
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Entrevista: Raquel Pires Fotografias: Álvaro Martino
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“A região norte sempre foi empreendedora” É ele o homem forte do Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto (UPTEC), desde o primeiro dia. Professor jubilado da Faculdade de Engenharia da U.Porto, José Novais Barbosa está dedicado a 100% ao projeto que todos os dias vê ideias de negócio a nascer. Antes disso passou pela Reitoria onde cumpriu dois mandatos e avançou com obras importantes que marcaram a vida de muitas das faculdades que compõem o universo da U.Porto. Com 25 anos reformulou a disciplina de Hidráulica Geral a partir de noções básicas de Mecânica dos Fluidos então ensinadas na Faculdade de Ciências, rompendo com um ensino fundamentado na antiquada metodologia de Forkheimer. E já nessa altura estava destinado a liderar pessoas. Adepto da regionalização e defensor do processo de Bolonha, Novais Barbosa diz que os jovens devem apostar em percursos de vida multidisciplinares. Cada vez mais.
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A Universidade do Porto é uma mais-valia para a cidade. É uma cidade universitária e portanto estas duas casas têm de andar de mãos dadas. E nós aqui também somos Universidade. Que recordações guarda do tempo em que estudou na Rua dos Bragas? Eram tempos muito diferentes... Eram tempos completamente diferentes. Havia naquele tempo, na altura, hoje repleto de automóveis, lugar para três carros estacionados. Um deles era o do Prof. Correia de Araújo, Diretor da Faculdade de Engenharia na altura, que até tinha o espaço pavimentado, com cimento de cor azulado. As restantes pessoas deslocavam-se a pé. E nós usávamos aquele espaço para jogar futebol, onde hoje é o parque de estacionamento... e eu como nunca tive muito jeito cheguei a partir dois vidros do antigo pavilhão... (risos). A ideia que as pessoas têm de que se encontravam mais facilmente na antiga faculdade é real. Mas tinha de ser porque o espaço era manifestamente pequeno para tanta gente... era dificílimo fazer horários naquela casa porque era preciso encontrar espaços para toda a gente... e quem não se lembra de fazer testes no piso -2 ou -3 do ParqueAuto? Sem nenhum tipo de ventilação especial e sem condições... havia uma grande amizade entre as pessoas e isso vem desde essa altura. Engenharia sempre teve essa conotação, talvez porque sempre esteve mais ligada ao mundo exterior e tinha essa missão... Em termos de dimensão conseguimos estar à frente... Exato. E foi aí que começaram a surgir os primeiros sinais de inovação e de vontade de fazer coisas diferentes. A Faculdade de Engenharia teve sempre bons alunos, uma faculdade sempre de 1ª escolha e isto já vem de longe. Às vezes os alunos já mostravam aptidão e características típicas de quem quer ser empreendedor e andar para a frente. Em 1998 foi eleito Reitor da U.Porto. Cumpriu dois mandatos. O que mais o entusiasmou desse tempo? E que projetos se orgulha de ter ajudado a implementar? Foram os melhores oito anos da minha vida em toda a Universidade! - e os seis anos anteriores em que estive como Vice-Reitor que foram muito especiais. Foi um período em que se procurou valorizar a unidade dentro da própria Universidade, que era uma coisa que estava muito esquecida... procurar que os símbolos, embora com as diferenças próprias de cada faculdade, procurar que uma parte da imagem fosse comum a toda a Universidade! Para mim esta foi uma grande conquista.
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Senti uma alegria imensa quando reparei que a FMUP usou pela 1ª vez o logotipo com a extensão U.Porto num convite para uma cerimónia - logotipo que ainda hoje se mantém - e aí percebi que tínhamos conseguido. Outro aspeto que me entusiasmou bastante foram as obras. Foi uma altura de um certo pulo de construções na Universidade: foi a FEUP e já antes como vice-reitor foi a Faculdade de Desporto, uma parte da Faculdade de Letras, a de Ciências, a de Medicina Dentária e depois a de Psicologia e Ciências de Educação... praticamente o polo da Asprela que na altura não existia. Havia um esquisso de urbanização feito pelo arquiteto Luís Cunha na década de 50 creio, em que esboçavam alguns edifícios, entre eles a Faculdade de Engenharia e de Ciências... na Reitoria existe uma maquete desse projeto que vale a pena conhecer. A zona da Asprela era composta pelo Hospital de S. João e pela Faculdade de Economia, o edifício do S. João dos anos 50 e Economia de 74. Depois avançou-se para a construção da Faculdade de Desporto ainda por esse plano e depois Engenharia. Não existia a via panorâmica e só mais tarde é que foi idealizada. Chegando a finais do século XX todas as entidades localizadas no campus da Asprela assinaram uma carta de objetivos comuns pelas quais a CMP seria a entidade líder na execução de um plano de urbanização para esta zona. Ninguém se mexeu a partir daí. Até que a Reitoria decidiu avançar com o assunto. Foi nessa altura que foi destinado um espaço para a criação da UPTEC. Não com a configuração que atualmente lhe conhecemos, mas muito próximo do que hoje temos. Foi nessa altura que também se começou a estudar a criação de uma linha de metro até ao Hospital de S. João, isto em 1999. O que inicialmente estava previsto era que o metro passasse por Roberto Frias, um metro de superfície, mas não imagina o que é aquele cruzamento do cemitério de Paranhos... De modo que nós procuramos nessa altura convencer o Metro a desviar a linha. A Universidade cedeu a passagem ao metro pela linha que agora existe e assim foi. Só deixamos o Hospital de S. João ciente da sua cerca porque quiseram ser eles a negociar com o final da linha. Mas foi assim que tudo nasceu e que o plano de urbanização foi para a frente.
O PROCESSO DE BOLONHA E A MAIS-VALIA DA MULTIDISCIPLINARIDADE
E a UPTEC? Como nasceu este projeto? Este projeto tem início em 1991, decreto do ministro Valente Oliveira que criou um Parque de Ciência e Tecnologia em Lisboa (que veio a dar origem à TagusParque) e um parque de tecnologia no Porto. Consultando as atas percebe-se que na 1ª reunião de assembleia da APCTP ficou decidido que o Parque de Ciência e Tecnologia do Porto teria três polos: o polo do Ave, o da Maia e o polo da Feira (a norte do EuroParque). A APCTP dedicou-se numa 1ª fase à aquisição de terrenos. E isso foi tudo muito difícil porque enquanto em Lisboa o Tagusparque teve o apoio da Câmara Municipal de Oeiras, aqui não houve nada disso. E depois porque eram três polos... era preciso distribuir tudo por três polos. O Polo do Ave deu origem ao que hoje é o AveParque, o polo da Maia seria o polo mais próximo da U.Porto, simplesmente a disponibilização do polo da Maia coincidiu com a construção da FEUP e a U.Porto interessou-se mais pelo que se passava na Asprela do que se estava a passar na Maia, para uma deslocação do dia a dia... e nós começamos a pensar que talvez fosse boa ideia criar um polo mais perto desta zona. Começou assim a projetar-se a UPTEC conforme o conhecemos hoje. Foi assim que surgiu esta oportunidade de vir para aqui. Em conversas com a FEUP, em particular com o Prof. Carlos Costa que na altura era diretor da faculdade, surgiu a possibilidade de ocupar os pavilhões que eram usados pela Metro do Porto e de começar a nossa atividade nesses pré-fabricados... foi aqui que tudo começou. Não sabíamos o que ia acontecer, e as empresas foram-se instalando ao ponto de rapidamente percebermos que o espaço ia ser pequeno para alojar tantas empresas que nos estavam a procurar. Ainda ali estivemos quase oito anos nos pré-fabricados. O professor foi o pai desta ideia? Como é ser responsável por um projeto desta dimensão? Esta ideia surgiu ainda eu era Reitor. Fiz quase sempre parte da direção da APCTP e fiquei de certa forma ligado aos pequenos êxitos da associação. Eu conhecia bem a vontade que existia de que houvesse uma estrutura destas na U.Porto, e que estivesse próxima da Faculdade de Engenharia. Também de Economia, mas sobretudo de Engenharia. Com o Prof. Marques dos Santos depois foi possível dar corpo a esta ideia: a aquisição dos primeiros
“Fui um defensor, desde a 1ª hora, do processo de Bolonha. E sempre lastimei que ele tivesse sido mal compreendido e que nunca tivesse sido bem posto em prática pelos sucessivos governos que nunca encetaram esforços para enquadrar o processo de Bolonha: foi mal recebido e acarinhado. Espero que isto venha a modificar-se. E a Universidade pode ter aqui um papel fundamental nomeadamente na aposta de 2ºs ciclos mais interessantes e complementares ao seu percurso de vida. Há muito a fazer nos 2ºs ciclos. Há que assumir a multidisciplinaridade sem receios e saber encarar isso como mais-valia. Por exemplo, engenharia civil que neste momento está a sofrer uma crise imensa na procura de jovens, e portanto se calhar era de todo importante que pudessem apostar num 2º ciclo numa área completamente diferente e que poderia ser até nas tecnologias de informação que é uma área emergente e que todos os dias está a recrutar gente, pelo menos no que vejo aqui da UPTEC. Mas a Universidade não pode fazer isto sozinha, é preciso que a nível de governo estas decisões possam ser apoiadas e bem fundamentadas”
pavilhões deve ter sido por volta de abril-maio de 2006 e nós começamos a nossa atividade em fevereiro de 2007. Depois fomos crescendo. Com êxitos e fracassos. Como em tudo na vida. Como se explicam as taxas de incubação, de 100%? Andamos todos distraídos ou afinal somos mesmo um país de gente com ideias e com sangue empreendedor? A região norte sempre foi empreendedora e acabou por estar sempre na primeira linha. Historicamente perdemos o comboio do surto industrial do séc. XIX embora algumas coisas tenham sido feitas. Tudo o que se fez foi sempre a título individual, sempre. Foi o que aconteceu com as empresas têxteis, com as cortiças, uma série de empresas que se foram instalando e que ainda hoje são responsáveis por grande parte das exportações nacionais. Isto mantém-se também nos estudantes: a própria qualidade dos estudantes. Tem a ver com as famílias também, que de certa forma acarinham este espírito empreendedor. E a Universidade tem beneficiado disso. O Porto é muitas vezes conotado com o Futebol Clube do Porto, com a movida da baixa, com os novos spots de comida e diversão noturna... e quase nunca se identifica a cidade com a investigação que se faz na U.Porto e que merece atenção dos nossos pares internacionais. O que nos falta fazer? Falta-nos um trabalho grande. É uma deficiência nossa. Durante algum tempo e enquanto as organizações crescem é bom mantê-las em silêncio. Somos um país em que a inveja tem um papel decisivo para o crescimento das instituições. As coisas começam a ser invejadas e as dificuldades começam a aparecer. É bom manter um low
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NOTA BIOGRÁFICA Nascido a 24 de janeiro de 1940, o 16º Reitor da U.Porto (1998/2006) percorreu todo o seu percurso académico na Faculdade de Engenharia. Licenciado (1963) e doutorado (1969) em Eng. Civil, iniciou a carreira de docente em 1964. Em 1979 é nomeado professor catedrático de Hidráulica, cargo que, entre 1988 e 1990, partilhou com o de Presidente do Conselho Científico da faculdade. Em setembro de 1998 foi eleito Reitor da U.Porto, depois de ter vivido uma experiência de seis anos (entre 1992 e 1998) como vice-reitor de Alberto Amaral. Nos seus oito anos de mandato, a Universidade prosseguiu a sua expansão física e a afirmação enquanto instituição de referência no ensino e na investigação: assistiu-se ao lançamento de novas licenciaturas (ex: Jornalismo e
Ciências da Comunicação e Criminologia), à criação da Escola de Gestão do Porto (2000) e à inauguração do UPTEC. Sob a alçada de Novais Barbosa, a Universidade conheceu também uma importante abertura ao exterior, resultado do lançamento de iniciativas como o Dia da Universidade, a Universidade Júnior e da Mostra de Ciência, Ensino e Inovação. Ao fim de 33 anos de docência, José Novais Barbosa jubilou-se em 2007, sendo distinguido no mesmo ano com o título de Professor Emérito da U.Porto. Atualmente dedica-se à presidência do UPTEC, um espaço que, desde a sua criação, em 2001, se tem afirmado como ponte fundamental entre os meios académico e empresarial, por via da incubação/instalação de dezenas de empresas de base tecnológica avançada.
profile enquanto se amadurecem ideias e projetos. Eu sou muito assim e defendo que só assim se consegue levar um projeto destes avante. Divulgar excessivamente é prejudicial numa fase inicial. Mas agora estamos num momento em que temos a obrigação de falar das coisas. Também não tivemos o apoio da Câmara anterior, do Executivo. Criou-nos imensas dificuldades para a construção do UPTEC. Basta dizer que tivemos de pagar 1 milhão e 400 mil euros de licença para estes edifícios quando são considerados uma mais-valia para a cidade. Temos a esperança que com este Executivo as coisas sejam diferentes e estamos já a trabalhar com a equipa do Rui Moreira nesse sentido. Tenho esperança que o futuro nos seja mais favorável e que os ventos sejam de colaboração e perfeita harmonia. A Universidade do Porto é uma mais-valia para a cidade. É uma cidade universitária e portanto estas duas casas têm de andar de mãos dadas. E nós aqui também somos Universidade. Qual é a sua opinião sobre o Novo Programa de Apoio Comunitário, o Horizonte 2020? De que forma é que podemos preparar-nos para os financiamentos nas áreas da ciência e da tecnologia? Temos que vencer a nossa tendência para o isolamento. Lutar contra as nossas capelinhas e cantinhos... temos que nos associar. Fiquei muito satisfeito com a assinatura do protocolo entre as três maiores universidades da região norte [U.Porto, U.Minho e UTAD] e é um excelente sinal que estamos a dar para fora e permite-nos também ambicionar candidaturas conjuntas com outra dimensão. Nós aqui estamos sempre disponíveis para nos associarmos com quem quer que seja, desde que a ideia seja boa. Juntos somos mais fortes! Temos de procurar responder muito bem às candidaturas do H2020, torná-las com características de projetos vencedores. Tenho pena que estes projetos não tenham um cariz mais regional. Eu sou um adepto da regionalização, mas espero que para meados do séc. XXI este tipo de programas europeus consiga ser diferente... A cultura do centralismo é perigosa e não nos permite evoluir. Espero que as gerações futuras já não vivam numa sociedade com tendência tão centralista como a nossa.
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Temporais na zona Costeira Portuguesa no inverno de 2013/14 Fernando Veloso Gomes*
O inverno de 2013/14 foi caracterizado por uma elevada tempestuosidade no mar que terá um período de retorno superior a 40 anos. Foi evidenciada pelo registo de mais de uma dezena de temporais, ondas máximas da ordem dos 15m, sobrelevações do nível médio do mar superiores a 1m, períodos de onda superiores a 20s e ventos fortes atuando sobre praias fragilizadas pela progressiva perda sedimentar. Algumas das estruturas de defesa costeira também estavam fragilizadas por não terem sido objeto das necessárias e previstas intervenções de manutenção e reabilitação devido a restrições orçamentais. Muitos cidadãos registaram em tempo real imagens de fenómenos que no passado não eram tão abundantemente documentados. Muitos dos estragos verificados estão relacionados com uma inadequada ocupação do solo. Tem sido concretizada uma extensa intervenção de proteção de dunas, permitindo que as pessoas tenham acesso a esses espaços, mas de forma controlada. Executaram-se algumas dezenas de quilómetros de passadiços que a população procura intensamente, alguns demasiado próximos da “linha de água”. Foram destruídos algumas centenas de metros desses passadiços ao longo da costa. Há 20 ou 40 anos, temporais com idênticos níveis energéticos não destruiriam qualquer passadiço, porque estes não existiam. Há 30 ou 40 anos não havia tantos e tão expostos e frágeis apoios de praia. Alguns foram afetados. Será necessário reposicioná-los ou assumir nos custos de exploração os riscos de danos associáveis a temporais. Nos últimos decénios verificou-se uma grande transformação nas bacias hidrográficas. Os rios, nomeadamente aqueles que alimentavam as praias de areia, foram artificializados, com a construção de barragens que delimitam albufeiras. Há mais de 25 anos que a investigação na FEUP tem alertado para uma assinalável redução de volumes de sedimentos transportados pelos rios para alimentar as praias. Por outro lado, pretende-se controlar as cheias fluviais, mas estas são fundamentais para alimentar com sedimentos as praias. Os portos estão a ser dotados com quebramares mais extensos e canais de navegação de acesso cada vez mais profundos. A areia que chega é depositada e tem depois de ser dragada. Como medida de mitigação, sempre que se dragam areias por razões de navegação, estas deveriam de ser colocadas nas praias. Tal não tem sucedido. As soluções técnicas de defesa
são conhecidas, mas têm custos elevados e não existem soluções “perfeitas” do ponto de vista ambiental ou técnico. Cometeram-se muitos erros na ocupação das zonas costeiras que estão a ter e vão ter custos elevados. Ocuparam-se territórios que eram dinâmicos. A partir dos anos 60 do séc. XX vingou a moda de construir quase em cima do mar. As Torres de Ofir, nos anos 70 eram um exemplo de modernidade. Até há 20 ou 30 anos, permitia-se a construção em zonas vulneráveis a erosões e galgamentos pelo mar e depois construíam-se esporões para proteger as edificações. Essas más práticas de ordenamento começaram a ser travadas com os Planos de Ordenamento da Orla Costeira. Alguns esporões funcionaram bem até há poucos anos, retendo areias nas frentes edificadas porque existia transporte sedimentar litoral, defendendo muitas zonas urbanas. Se não tivessem sido executados conjuntamente com estruturas de defesa aderente, essas zonas já não existiam. O que aconteceria se fossem removidos os esporões de Ofir, Espinho, Esmoriz, Cortegaça, Furadouro, Costa Nova, Vagueira, Mira, Costa da Caparica, Quarteira? Os esporões servem para intercetar fluxos de areia, beneficiando uma área a defender, mas antecipando problemas a sotamar. O recuo da costa que qualquer cidadão verifica a sotamar (sul) dos esporões não é o impacto negativo dessas estruturas, mas o resultado de um processo erosivo generalizado, antecipado no tempo a sotamar pela construção dos esporões, para proteger uma zona urbana a barlamar. A frente urbana da cidade de Espinho tem uma diretriz similar à de há cem anos. Mas ainda que se consiga “fixar” artificialmente uma linha de costa, em diversas frentes urbanas há que “viver” com galgamentos pelas ondas. Adequados sistemas de dissipação, drenagem, alteração de cotas, mobiliário urbano mais robusto e o reforço e a complementaridade entre estruturas de defesa poderão minimizar as consequências. Uma alternativa é a “retirada planeada” de edificações e marginais, opção que é complexa sob o ponto de vista social e jurídica. Ao contrário do que por vezes se afirma, em frentes urbanas consolidadas não é a que apresenta o “custo – benefício” mais favorável. É necessário operacionalizar a Estratégia Integrada para as Zonas Costeiras porque as questões de segurança patrimonial, os valores naturais e as atividades económicas associadas a estas zonas são essenciais para o País. * Prof. Catedrático do Departamento de Eng. Civil da FEUP
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Fotografia: D.R.
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“O projeto-energia da EXPO’98 foi a oportunidade de uma vida” Entrevista: Raquel Pires
É considerado um dos maiores especialistas europeus no campo da eficiência energética. Liderou projetos e geriu equipas multidisciplinares um pouco por toda a Europa. Foi dele toda a estratégia de energia do parque EXPO’ 98, um projeto “de que se orgulha”. Mas também do teto de iluminação natural da Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima. Com um percurso ligado à política, Eduardo Oliveira Fernandes teve responsabilidades governativas na área do ambiente e da energia em decretos-lei de grande impacto. Professor Jubilado da FEUP, aos 70 anos, continua ativo como investigador do INEGI e consultor para as questões energéticas no país em projetos internacionais.
Como é que foi parar a Coimbra, depois de ter estado matriculado no IST em Lisboa? E como é que, anos mais tarde, veio estudar para a U.Porto? A minha infância e o liceu foram vividos num raio de cerca de 80 km de Lisboa. Encontrei-me destinado a entrar na Universidade em Lisboa. Entretanto, razões de proximidade com um familiar a estudar Direito levaram-me a transferir-me para Coimbra. Em boa hora reconheço-o porque, embora gostando muito de Lisboa, Coimbra foi para mim uma escola de vida. Entretanto, feitos os primeiros três anos (a licenciatura tinha seis na altura) os restantes três só poderiam ser frequentados em Lisboa ou no Porto. Aqui valeu de novo a proximidade da terra berço e completei a licenciatura no Porto. Se tivesse que escolher entre ser professor ou investigador, qual seria a sua opção? Justifique. Nunca senti essa dicotomia. Se nos referirmos ao ensino de turmas de centenas de alunos, aí sim, pode haver uma
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Fotografia: Ana Pereira
Como surgiu a paixão pela área das engenharias? Naturalmente pela aparente atração pelas ciências de base (Matemática, Física e, também, Ciências Naturais) e o desejo de poder ‘intervir’ no quadro de vida pela engenharia. A ambição era tão ingénua como ambiciosa. Havia uma não muito elaborada ambição que diríamos hoje “holística”. Por isso, a minha primeira escolha foi Minas. Mas, uma maior intimidade com a Termodinâmica fez-me perceber que a minha ‘pátria’ seria a Mecânica. Daí que cedo me comecei a interessar mais pela vertente térmica da engenharia mecânica.
certa aridez com algum desconforto. De outro modo, o ensino é uma expressão do exercício investigacional: é o ‘trocar as coisas por miúdos’. É o abordar das questões do conhecimento da forma mais difícil, isto é, tornando-as mais simples e acessíveis. As centenas de palestras e de ‘powerpoints’ e seus ‘antepassados’ perante as mais diversas audiências são a melhor ilustração dessa experiência. Além da carreira académica, exerceu cargos políticos orientados para as políticas públicas relativas ao Ambiente e à Energia. Que memórias guarda desses tempos? Em termos de memórias, as melhores, já que na pobreza dos meios à disposição era e foi possível fazer coisas. Claro que os tempos do Ambiente (1984/85) eram mais difíceis. Tínhamos cá o FMI. Mas era um tempo de sonho e de convicções. Já o tempo da Energia (2001/02) foi um tempo curto de oportunidade e de ação. Em termos pessoais foi como que uma chegada. Em termos do que deveria ter sido feito, ficou uma avenida aberta às energias renováveis (2001), definitiva e irreversível, num país que se queixava de que não tinha recursos energéticos. O universo da política é muito diferente do ambiente universitário enquanto espaço de liberdade de ação? Sim e não. A liberdade começa por ser uma experiência pessoal, o que quer dizer que não é só intelectual ou ideológica mas também vivencial. Poder-se-á dizer que a Universidade oferece em teoria um espaço mais amplo para essa liberdade. Mas, nem sempre isso é assim na prática. Há muitas rotinas, muitas amarras, muita demagogia e burocracia. Dir-se-á que a pessoa ‘corre menos riscos’ mas não é garantido que ‘sofra’ menos. Na política, o jogo é mais aberto e, por isso, há a possibilidade de um maior escrutínio social e político; interfere-se com mais e maiores interesses e há mais espaço à disfunção por falta dos ingredientes do diálogo. Sendo-se isento fazem-se mais inimigos que amigos. Esteve ligado ao aparecimento dos primeiros parques eólicos em Portugal e foi um dos responsáveis pela legislação. Em 2013 o vento já representou mais de 50% da produção de eletricidade do País. O professor teve um importante papel nisso. Agradeço a pergunta mas é difícil elaborar muito. Porque, de facto, quem esteve por dentro sabe que ao ter beneficiado
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da confluência de um conjunto de circunstâncias favoráveis no Governo e no Ministério da Economia em que tinha toda a cobertura do Ministro, e nos quadros europeu, ibérico e nacional, tive o privilégio de escrever e submeter para aprovação do Governo em outubro de 2001 um Programa (E4 - Eficiência Energética e Energia Endógenas) que pôde ser executado plenamente no horizonte estabelecido (2011) no que às energias endógenas (renováveis) diz respeito. Já a eficiência energética como matéria mais difícil porque envolve todos os cidadãos individualmente e, desde logo, todos os setores da economia bem como todos os que se assumem como líderes na sociedade, seja nas empresas, nas instituições e nas autarquias não arrancou em 2001. Nem, verdadeiramente, ainda hoje. Aqui pesa a iliteracia energético-ambiental generalizada que ainda é confrangedora. Foi responsável pela eficiência energética dos edifícios no Parque Expo em 1998. Foi um caso de sucesso? O projeto-energia da EXPO’98 foi a oportunidade de uma vida. Colocar uma ‘nova cidade’ a emitir 40% menos CO2 per capita que a restante Lisboa com intervenções intrínsecas ao urbano e, na prática, muito alheias ao comportamento individual dos cidadãos é um resultado extraordinário em qualquer parte. Curiosamente o país não o valorizou nem na comunicação social nem mesmo ao nível das autarquias envolvidas (Lisboa e Loures). Mas isso não lhe tira o mérito que faz desse projeto uma razão de enorme orgulho pessoal e um contributo para a energia nas cidades do futuro em Portugal, quando os autarcas, os fundos estruturais e as políticas urbanas ‘lá chegarem’. Liderou a Agência de Energia do Porto (AdEPorto) até março de 2014. Um estudo produzido em 2007 dizia que cada portuense produzia cerca de 5,3 toneladas por ano de dióxido de carbono, um dos principais gases responsáveis pelo efeito de estufa. O que foi feito para inverter este cenário? A AdEPorto foi uma criação da U.Porto para a CMPorto e, mais tarde, para a Área Metropolitana do Porto, a Norte do Douro, iniciada por meu intermédio a partir de 2006. Refere o número de 5,3 ton de CO2 per capita por ano. Agradeço-lho porque ninguém pode agir antes de conhecer a situação e, a partir desse conhecimento é possível definir as metas que foram definidas no longínquo 2010 para a cidade do Porto. A AdEPorto em sete anos fez um trabalho de escrutínio e caracterização quantitativa de uma realidade mal conhecida
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Fotografia: António M.L. Cabral
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Fotografia: Ana Pereira
[na política] sendo-se isento fazem-se mais inimigos que amigos.
no âmbito autárquico e regional: a energia. A energia que tem impacte à escala global, através do aquecimento global e consequentes alterações climáticas até à questão-climax da própria sobrevivência. Foi um trabalho muito gratificante reconhecido, nomeadamente, por Bruxelas. Mas não sei se isto será referência no Porto. Posso colocar-lhe um desafio? Como descreve o panorama nacional em matéria de eficiência energética? Estamos muito longe de países como a Dinamarca, líder europeu neste setor? Fui consultor da Comissão Europeia durante oito anos. E em Portugal tive durante 25 anos alguma responsabilidade pela regulamentação térmica dos edifícios, um setor que, se não é o que mais energia usa em Portugal é, seguramente, o que pior a usa. Isto é, aquele setor que, para além da tecnologia e das políticas, ambas ainda com muito potencial de intervenção em prol da eficiência energética em Portugal, menos controle político e técnico tem e mais sofre de falta de conhecimento. O panorama da eficiência energética é muito deficiente o que reflete ainda um pouco dos pecadilhos da nossa sociedade: incompetência política e técnica ao longo dos últimos dez anos, oportunismo e falta de ética institucional e profissional. Num domínio que interpela a cultura energética dos atores e de largo espetro de aplicação, devo confessar que não estou nada otimista. Quer com isto dizer que não há vontade política para acabar com a dependência dos combustíveis fósseis, nomeadamente o petróleo? Talvez haja uma vontade teórica. Mas não há uma consciência da essência do problema. Para além da corruptela caricata de se confundir energia com eletricidade (esta é cerca de 20% da totalidade da energia comercializada no país), esquece-se que grande parte da energia, desde os transportes aos edifícios dependem de decisões ao nível urbano e não da opção exclusiva do cidadão/utente. Veja-se, a título de exemplo, que o Metro do Porto deve ter contribuído para uma redução de mais de 10% das emissões de CO2 na AM do Porto, ou seja, reduzir a capitação anual de CO2 para menos de cinco toneladas. O mesmo se poderia obter para o edificado ao nível do licenciamento e da reabilitação como se ilustrava acima no caso da EXPO’98 para o licenciamento.
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NOTA BIOGRÁFICA Licenciado em Engenharia Mecânica pela Universidade do Porto em 1967 e doutorado em 1973 pela EPF Lausanne, na Suíça, Eduardo Oliveira Fernandes iniciou o seu percurso profissional em 1968 na Universidade de Lourenço Marques (Maputo) como assistente. Regressou a Portugal em 1974, ano em que começa a lecionar em duas Universidades em simultâneo: na Universidade de Aveiro como Professor Convidado até 1980 e na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, como Professor Auxiliar, até 1979, ano em esteve como “Research-Associate”, no Iowa State University, nos EUA. Desde o seu regresso lecionou na FEUP como professor catedrático. Ainda de destacar diversos cargos académicos, nomeadamente a criação e coordenação do Grupo de Térmica Aplicada do Departamento de Engenharia Mecânica, em 1975 e a vice-reitoria da U.Porto entre 1986-1991. Oliveira Fernandes foi também bastante ativo em termos governamentais, em cargos que passaram pela Secretaria de Estado do Ambiente em 1984/85 e Secretaria de Estado Adjunto do Ministro da Economia em 2001/02. Foi consultor para o ambiente e energia da DG Research da Comissão Europeia. Foi também dirigente de várias instituições não-governamentais entre as quais a ISES (International Solar Energy Society), de que foi presidente (1995/97).
Se tivesse que nomear um projeto em que tenha estado envolvido, qual destacaria e porquê? Três ex-aequo de eficiência energética: i) conceito ‘energia’ da Expo’98: uma oportunidade única com uma latitude de intervenção em espaço urbano inabitual entre nós e resultados notáveis; ii) bloco de habitação social solar em Vila do Conde (1996): 16 fogos em que a fatura energética é 20% menor por contribuição do Sol para água quente e os consumos para o aquecimento das casas representam menos de 5% do consumo global; iii) conceito ‘energia’ da Igreja da Santíssima Trindade em Fátima (2005) que conduziu, entre outros, a um teto todo de iluminação natural.
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Ensino e Investigação: desafios e oportunidades de cooperação internacional Identificar interesses mútuos na área da engenharia, discutir e partilhar soluções e concertar estratégias que permitam atingir melhores resultados ao nível da educação e investigação no ensino superior foram os principais objetivos do ACE FORUM (Alliance for Cooperation in Engineering). De 5 a 7 de maio, a iniciativa reuniu mais de 50 representantes de instituições de Ensino Superior de 15 países e cerca de 70 membros da comunidade da Faculdade de Engenharia da U.Porto. Texto: Carlos Oliveira Imagens: D.R.
Fotografia: USP Imagens
A estratégia de crescimento Europa 2020 propõe uma economia inteligente, sustentável e inclusiva para a União Europeia sedimentada em cinco objetivos ambiciosos em matéria de emprego, inovação, educação, inclusão social e clima/energia. Para as instituições de Ensino Superior esta estratégia apresenta enormes desafios e oportunidades, nomeadamente as resultantes das sinergias entre o Espaço Europeu de Ensino Superior (EHEA) e o Espaço Europeu de Investigação (ERA). De facto, a educação e a investigação são os catalizadores da inovação, com a qual formam o triângulo essencial da sociedade baseada no conhecimento.
O ACE FORUM promovido pela Faculdade de Engenharia pretendeu pois dar resposta às principais linhas de ação desta estratégia, promovendo a criação de parcerias eficazes e com impacto significativo, e contribuindo simultaneamente para os fluxos de conhecimento intra e extraeuropeus. A sessão plenária inicial contou com apresentações de reputados especialistas: Pedro Teixeira, do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior da Universidade do Porto, apresentou as principais
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UMA ESTRATÉGIA PARA A COMUNIDADE DE LÍNGUA PORTUGUESA tendências e desafios do sistema de ensino superior português, Jean-Marc Le Lann, Diretor do INP-ENSIACET da Universidade de Toulouse, propôs metodologias de inovação sistemática em contexto internacional, e Peter van der Hijden, consultor independente em Bruxelas, descreveu a importância das sinergias entre EHEA e ERA para a melhoria do desempenho Europeu, no contexto das economias intensivas em conhecimento. Os trabalhos do Forum desenvolveram-se posteriormente em “action tanks” temáticos. Na área da educação, foram objeto de debate o desenvolvimento estruturado de competências transversais (“soft skills”) e a sua importância na empregabilidade, a relevância da diversidade cultural dos ambientes educativos para a formação de engenheiros com competências globais e os desafios no desenvolvimento de parcerias internacionais equilibradas. Houve ainda oportunidade para reforçar os laços de colaboração académica entre países de língua portuguesa, numa sessão muito concorrida (ver caixa). Na área da investigação, o foco dividiu-se em estratégias para o desenvolvimento de projetos e redes de cooperação nos temas da saúde, alterações demográficas e bem-estar, energia segura, limpa e eficiente e tecnologias avançadas de manufatura. Foi ainda apresentada a parceria entre o recém-criado Instituto do Petróleo e Gás (ISPG), uma iniciativa da Galp Energia com as seis maiores universidades portuguesas e a Heriot-Watt University, na criação do Mestrado em Engenharia do Petróleo, de particular relevância para a comunidade de língua portuguesa. Destaque também para a realização de cerca de 25 reuniões de trabalho entre os delegados, além de visitas a departamentos e laboratórios da FEUP, ao Parque de Ciência e Tecnologia (UPTEC) e a realização de palestras convidadas. Do evento, resultaram mais de uma dezena de propostas de colaboração em candidaturas a projetos Europeus de I&D, projetos educativos, acordos de intercâmbio e visitas.
O encontro incluiu uma sessão direcionada para a comunidade de língua portuguesa, na qual mais de 30 delegados, de Angola, Brasil, Timor, Cabo-Verde e Portugal debateram as oportunidades de cooperação académica, com foco nos desafios do desenvolvimento e da melhoria de qualidade. Entre os oradores, Maria Amélia Ferreira partilhou a experiência da Faculdade de Medicina na cooperação na saúde e educação médica, e Paulo Garcia (FEUP) desafiou as instituições presentes para a construção de um projeto comum de educação digital. Alice de Ceita e Almeida, da Universidade Agostinho Neto e Ermelinda Cardoso, da Universidade Katyavala Bwila, enquadraram a perspetiva de Angola em objetivos comuns aos da estratégia da União Europeia; e o Ministro do Ensino Superior, Ciência e Inovação de Cabo Verde, António Correia e Silva, numa mensagem enviada em vídeo, incentivou Portugal e Brasil a serem locomotivas de um programa de convergência científica e tecnológica para a comunidade.
MEMORANDO DE ENTENDIMENTO ASSINADO ENTRE A UOS, U.PORTO E USP O ACE Forum deu ainda o mote para a elaboração de um Memorando de Entendimento entre as Universidades do Porto, de Sheffield e de São Paulo, que veio a ser assinado à margem do III Encontro Internacional de Reitores - Universia Rio 2014. Este memorando enquadra a cooperação entre estas instituições, no desenvolvimento da rede de inovação (Business and Innovation Network - BIN@TM) e em candidaturas a programas de investigação e intercâmbio, como o Horizonte 2020 e o Ciência sem Fronteiras. O entendimento abrange ainda atividades para promover e aumentar a capacidade empreendedora e experiência empresarial de estudantes e pessoal das universidades com parceiros da indústria, e para facilitar o acesso de empresas spin-off e start-up aos ecossistemas de inovação das universidades. Mais informações: businessandinnovation.net
Mais informações: fe.up.pt/aceforum
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WeTruck: o projeto que vai revolucionar o mercado dos camiões
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Texto: Helena Peixoto Imagem: D.R.
Criada por quatro alumni da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), a empresa AddVolt dá a conhecer a WeTruck, uma solução energética que alimenta o sistema de refrigeração de camiões-frigoríficos, reduzindo o consumo de combustível e os níveis de poluição. Vencedores de várias competições nacionais, esta startup garantiu também uma posição no programa de aceleração promovido pela Carnegie Mellon Portugal (CMU), que lhes abriu portas para o mercado dos EUA. Da autoria de Bruno Azevedo, Miguel Sousa, Ricardo Soares e Rodrigo Pires a ideia por detrás da WeTruck visa a poupança de combustível e energia especificamente em veículos pesados de transporte de cargas refrigeradas. Para tal, a solução proposta pelos quatro empreendedores da U.Porto aproveita a energia solar e a energia cinética do veículo para produzir eletricidade suficiente para alimentar o sistema de refrigeração dos camiões-frigoríficos, reduzindo o número de horas de operação dos atuais motores diesel. O que se ganha com isto? Uma redução de até 87% nos custos de combustível dedicado ao sistema de refrigeração, bem como uma redução do número de manutenções nomeadamente ao nível do sistema de travagem do veículo. Este sistema permite ainda uma diminuição do ruído e das emissões de CO2. Esta solução traz inúmeras vantagens económicas e ambientais face às opções atuais do mercado, aliadas ao facto de se apresentar como uma solução não-invasiva, sem necessidade de alterações estruturais nos veículos. Esta startup tem provas dadas quanto ao seu caráter inovador e altamente eficaz, contando já com vários reconhecimentos em competições nacionais e internacionais. Além de ter conquistado o 1º lugar na 5ª edição do iUP25k e da competição de Aceleração de Startups ‘Startup Pitch Day 2014’, a AddVolt disputou juntamente com outros 20 finalistas na Cidade do México o Model2Market, programa internacional de apoio ao empreendedorismo, onde alcançaram o 2º lugar, que lhes valeu um prémio de 29 mil dólares. Também no passado mês de setembro a equipa
“fez as malas” para Pittsburgh, EUA, juntamente com outras três startups portuguesas - uma delas também com raízes na FEUP (Xhockware) - , para participar num programa de aceleração de seis semanas (para mais informação, ver caixa). Os fundadores da startup não deixam de referir que a grande ambição da AddVolt passa por “desenvolver tecnologia, produtos e serviços que contribuam para a sustentabilidade dos transportes pesados terrestres, e assim para a melhoria do ecossistema em que vivemos”. www.addvolt.com
CONHEÇA O ‘INRES - ENTREPRENEURSHIP IN RESIDENCE’ Promovido pelo Programa Carnegie Mellon Portugal, o ‘inRes Entrepreneurship in Residence’ levou recentemente aos EUA quatro startups portuguesas: We Truck, Xhocware, Displr e Followprice. Este programa seleciona projetos na área das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) focadas na criação de novas aplicações e soluções tecnológicas, relevantes do ponto de vista da competitividade e do valor acrescentado para empresas e utilizadores. O programa é constituído por diferentes fases, começando por uma formação intensiva em Portugal à qual se segue um período de imersão em Pittsburgh e na Carnegie Mellon University com apoio de grupos de investigação e especialistas, redes globais de empreendedores, parceiros, potenciais clientes e investidores.
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Texto: Helena Peixoto Imagens: D.R.
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Startup Pitch Day: a maior competição de aceleração de startups da U.Porto
Seis meses intensivos de formação, mentoring e networking a cerca de duas dezenas de projetos empresariais/startups nas áreas de Tecnologias, Indústrias Criativas, Biotecnologia e Mar. Seis meses que culminam com a apresentação de um “pitch” de breves minutos, perante uma plateia de centenas de pessoas distribuídas entre investidores, jornalistas, empreendedores, parceiros e sociedade em geral. É este o grande desafio lançado pelo Programa de Aceleração de Startups, promovido pelo Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC) e que conta já com quatro edições. A 1ª edição do Startup Pitch Day realizou-se em setembro de 2013, onde foram apresentados 22 projetos. ‘mQueue’ foi a startup vencedora, com a apresentação de uma aplicação que revoluciona a noção de filas de espera, permitindo que o utilizador a siga remotamente e em tempo real. Em março de 2014 aconteceu a 2ª edição da iniciativa que contou com uma plateia de mais de 200 pessoas e com a apresentação de 20 projetos empresariais. Foi a vez de premiar o projeto Wetruck, que revoluciona os sistemas energéticos dos camiões frigoríficos. Esta edição introduziu a novidade de atribuir três menções honrosas: Xhockware, Adapttech e FAHR 021.3 foram as selecionadas. De todas elas, apenas a FAHR não é fruto do empreendedorismo FEUP. A 3º e mais
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recente edição realizou-se no passado mês de setembro onde foram “ouvidos” 17 projetos. O grande vencedor foi o Crowbar, projeto com raízes na Faculdade de Engenharia que possibilita uma rápida e eficaz localização automática de bugs. Paralelamente, foram escolhidas três menções honrosas: Still Urban Design na área das indústrias criativas, Sky Angel na área de biotecnologia/mar e Beauti na área tecnológica. Novidade desta última edição foi o prémio do público, que recaiu sobre a InfraSpeak, sistema de desburocratização do processo de manutenção de infraestruturas e equipamentos. De todos os premiados, apenas a Beauti partiu de um grupo sem ligações à FEUP. O Startup Pitch Day tem vindo a gozar de uma crescente notoriedade e reconhecimento externo, conseguindo atrair para as suas sessões de apresentação investidores que pretendem conhecer novos projetos empresariais, estreitar relações e avançar com possíveis parcerias e investimentos, promovendo o desenvolvimento destas startups.
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O ‘Startup Pitch’ aos olhos de alguns dos premiados... CROWBAR crowbar.io
A Crowbar foi a startup reconhecida com o prémio de melhor pitch na última edição do Startup Pitch Day. Com importantes contribuições de Rui Maranhão, Nuno Cardoso, Alexandre Perez e Luuk Eliens, um grupo de docentes e estudantes da Faculdade
infraspeak.com
A Infraspeak foi a startup escolhida pelo público como tendo realizado o melhor ‘pitch’, novidade introduzida na 3ª edição do Startup Pitch. Criada por um grupo de estudantes e investigadores da Faculdade de Engenharia, esta startup define como principal objetivo organizar
adapttech.pt.vu Com uma menção honrosa na 2ª edição da competição, a AdaptTech tem como missão o desenvolvimento de tecnologias de adaptação que ajudem as pessoas com limitações a viverem melhor o seu dia a dia. Não pretendem construir próteses mas possibilitar o desenvolvimento de um interface personalizado, que, através de um modelo 3D criado pela startup, otimiza a adaptação sem necessidade de
de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), a Crowbar possibilita uma rápida e eficaz localização automática de bugs no software através de visualizações que mostram onde é mais provável encontrar o bug responsável pelas falhas. Esta startup está já a dar provas do seu valor, estando inclusivamente a ser testada por empresas de desenvolvimento de software com necessidades de segurança extremamente críticas, inseridas em diferentes setores de atividade.
ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O STARTUP PITCH DAY… A participação no programa de aceleração do UPTEC e, consequentemente no Startup Pitch Day, foi uma grande ajuda em diversos aspetos. Não só nos facilitou o contacto com o nosso público-alvo e clientes, como nos permitiu aumentar a nossa exposição perante investidores e media e nos apoiou no desenvolvimento do negócio considerando altos standards de startups e de modelos de desenvolvimento focados no consumidor.
e desburocratizar todo o processo de manutenção de infraestruturas e equipamentos. Baseado numa tecnologia Cloud, esta startup 100% portuguesa permite que técnicos, gestores e clientes tenham acesso a toda a informação em tempo real e em qualquer lugar e respondendo às exigências legais deste âmbito. A principal vantagem apontada reside no facto da ferramenta diminuir bastante os níveis de dificuldade, tempos e custos dispendidos com estas tarefas.
ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O STARTUP PITCH DAY… Para aqueles que, como nós, têm uma formação técnica, esta é uma excelente forma de aprofundar conhecimentos nas áreas de finanças, definição de produto e mercado, modelo de negócio, entre outros. Para além dos momentos de formação do programa, retiramos imenso valor do contacto com empreendedores mais experientes e com os parceiros da rede do UPTEC que nos abriram várias portas no mercado.
substituir a prótese e sem desconforto para os amputados. Este sistema, baseado numa análise rigorosa, devolve resultados quantitativos e objetivos de apoio ao médico/ técnico no diagnóstico e acompanhamento do amputado e auxilia na otimização das próteses a realizar pelos técnicos nos centros de reabilitação e pelas empresas de produção de próteses. Constituída por Frederico Carpinteiro e João Martins, alumni FEUP, esta startup acredita num futuro risonho que inclui parcerias na área das próteses e ortóteses, a comercialização do primeiro produto, o desenvolvimento de outros tantos e a internacionalização.
ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O STARTUP PITCH DAY… “No Startup Pitch Day conquistámos a menção honrosa na área de Biotecnologia. Esta iniciativa permitiu-nos melhorar a nossa capacidade de apresentação e receber um importante feedback por parte de um júri com elementos de várias áreas e muito experiente. Foi ainda uma excelente oportunidade para dar a conhecer a AdaptTech a investidores e à imprensa, deixando um 1º contacto para uma futura abordagem na procura de financiamento.”
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cinco anos a promover o empreendedorismo
Texto: Helena Peixoto
É o maior concurso de ideias de negócio da U.Porto. Lançando pela primeira vez em 2010, o iUP25k é organizado pela UPIN (Universidade do Porto Inovação) e pelo Clube de Empreendedorismo (CEdUP). Tem por objetivo promover o empreendedorismo entre os estudantes da U.Porto. Para participar na iniciativa basta ter uma ligação à U.Porto, uma boa ideia de negócio e grande vontade de fazer a ideia crescer no mercado, apresentando-a num vídeo de três minutos. Em jogo estão prémios no valor de 25mil euros e a possibilidade de participar na grande final do concurso integrado na Semana de Promoção da Inovação e do Empreendedorismo (SpieUP). Desde o ano de lançamento que o iUP25k tem crescido e angariado novos parceiros. Para a edição de 2014, o iUP25k contou com a Redemprendia (rede de universidades ibero-americanas) que possibilitou a ligação ao SPIN 2014, evento focado no empreendedorismo com a participação de mais de mil de pessoas ligadas ao mundo do investimento, no México; a Microsoft, que apoiou o concurso com um novo prémio - Best TIC - destinado à melhor ideia na área das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação e com o Santander, que patrocinou os prémios pecuniários. Esta iniciativa não esquece o pilar do Empreendedorismo Social, tendo criado o prémio para a categoria ‘Best Social Business’, uma competição exclusivamente dedicada aos negócios de empreendedorismo social.
ÁGINA DIREITA
Ao longo das várias edições desta competição a presença da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) tem sido bastante notada, uma vez que os estudantes, alumni e investigadores da faculdade têm vindo a conquistar primeiros, segundos e terceiros lugares na tabela
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de classificações. Não existiu um único ano em que não houvesse pelo menos uma equipa FEUP entre os premiados! O iUP25k tem funcionado como uma rampa de lançamento tendo projetado, até ao momento, grandes ideias no mercado de trabalho. iup25k.up.pt
PROJETOS DISTINGUIDOS COM ADN FEUP 1ª Edição | 2010 Prémio iUP25k - Efistec - Efficient Solar Technology 2ª Edição | 2011 1º lugar - ScrofaTech - Freelance your Farm 2º lugar - Scootzz 3ª Edição | 2012 1º lugar - Termonitor 2º lugar - Remote Debugging Service 3º lugar - SoundPace 4ª Edição | 2013 2º lugar - AdaptTech - Adaptation Technologies 3º lugar - Taggeo - Rede Social Geolocalizada 5ª Edição | 2014 1º lugar - WeTruck 2º lugar - CECO - Energy Wave Converter 3º lugar - 5sense
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Pessoas que pintam Viver (n)o campus, em conjunto “Seeing things as the product of people doing things together makes a lot of other views less plausible and less interesting.” Howard S. Becker Leonor Cutileiro* e Paulo Jesus**
Neste artigo procuramos refletir acerca do potencial transformador que atividades realizadas nos espaços da própria universidade, tidas como “periféricas” ao contexto académico, podem ter nos modos como atualmente as universidades são pensadas e representadas, quer pela comunidade académica, quer pelos discursos mediáticos e governamentais. É nossa convicção que pelo menos parte das renovadas epistemologias com as quais urge falar a universidade podem ser escutadas nas palavras e nos gestos de determinados grupos de pessoas - académicos e não académicos - que nos espaços do campus se agregam em torno de interesses e atividades comuns. Relembrando as palavras do sociólogo Howard S. Becker, em epígrafe, interessa-nos questionar o potencial - social, humano, relacional, institucional - do fazer em conjunto nos espaços do campus: O que fica para a Universidade - que retorno? - quando tais “fazeres” são facilitados e acarinhados? Para responder a esta questão, tomamos como exemplo a Oficina de Pintura da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), uma iniciativa do Comissariado Cultural da FEUP, em atividade desde janeiro de 2008. O projeto tem contado não só com a participação da comunidade da FEUP, mas também com a de membros vindos de outras faculdades localizadas no campus da Asprela. Tendo em conta os testemunhos de alguns destes participantes, é possível, em nossa opinião, antever vantagens e ensinamentos que o fazer em conjunto no/do campus pode trazer à própria universidade: . “Fazer este tipo de atividades é muito bom, porque aqui estamos muito à vontade. O campus é como uma segunda casa.”, Ana P. (Investigadora, Física); . “Quando estou a pintar, tudo desaparece. Mesmo os problemas ou o cansaço. Quando venho à pintura sinto-me muito melhor.”, Vanessa A. (Investigadora, Astrofísica); . “Uma pessoa quando pinta, não pensa em mais nada. É das poucas coisas que eu realmente gosto de fazer e em que me abstraio de tudo. Faz-me descansar.”, Marta F. (Doutoranda, Engenharia Industrial); . “A criatividade, quer seja desenvolvida aqui na pintura, na música ou seja onde fôr, pode e deve ser usada também na investigação.”, Helena C. (Docente, Engenharia Civil);
. “Aqui as pessoas criam uma relação mais próxima e se a Oficina de Pintura acontecesse num atelier fora dos espaços da faculdade, isso não existiria. Temos uma pequena família cá dentro.”, Ana Sofia G. (Docente, Engenharia Civil); Para além do sentimento de realização pessoal encontrado na obra concretizada, o qual muitas vezes nunca se imaginaria alcançar, interessantes pistas para o contexto mais alargado da universidade podem, então, ser aprendidas. São elas: a formação de “competent users” ou seja, a formação de pessoas que, ao permanecerem no espaço do campus, melhor o conhecem e, desejavelmente, mais se incluem na sua construção; a suavização das hierarquias institucionais (académicos vs. não-académicos) e disciplinares (Artes vs. Ciências) características da estrutura institucional da universidade. E, por fim, os inegáveis benefícios para a saúde mental dos utilizadores do campus. Posto isto, e em nosso entender, nos gestos de pessoas que pintam (no campus), ou plantam uma horta comunitária como acontece na Escola de Biotecnologia da Universidade Católica, também localizada no campus da Asprela ou, simplemente, estudam juntas nas bibliotecas (do campus) é possível vislumbrar uma atualização da história da instituição “universidade”, na Europa e no Mundo, onde o viver em conjunto fazia, e faz, parte de uma ética/estética do coletivo, que vale a pena continuar, habitando o campus competentemente. O argumento que serviu de base a este artigo está a ser desenvolvido por Leonor Cutileiro na sua investigação acerca da vida coletiva nas universidades. Este estudo consiste numa etnografia “intermitente” realizada no campus da Asprela, no campus da Universidade de Sussex (R.U.) e, em menor escala, no campus da Universidade de Stanford (E.U.A.). A Oficina de Pintura da FEUP é uma das situações registadas (através de entrevistas e fotografias) para futura inclusão nesta dissertação.
* Doutoranda no Programa de Media and Cultural Studies na Univ. de Sussex, UK; ** Orientador da Oficina de Pintura e responsável pela Divisão de Comunicação e Imagem da Faculdade de Engenharia, U.Porto;
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Entrevista: Helena Peixoto Imagem: D.R.
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Exposição “Entre as margens”, Pintura e Engenharia em perfeita simbiose
“Entre as Margens - Representações da Engenharia na Arte Portuguesa” foi o nome da exposição coorganizada em 2013 pela Faculdade de Engenharia (FEUP) e pela Faculdade de Belas Artes (FBAUP) da Universidade do Porto. Acolhida no Museu Nacional de Soares dos Reis (MNSR) esta iniciativa contou com mais de 5000 visitantes e reuniu 140 pinturas e instalações de 61 dos mais significativos artistas plásticos portugueses. Estivemos à conversa com Manuel de Matos Fernandes, docente da FEUP e um dos comissários de exposição, que nos revelou alguns aspetos deste importante e multidisciplinar evento cultural. Como surgiu esta oportunidade de reunir alguns dos mais significativos artistas plásticos portugueses na área da Pintura e obras com ligação à Engenharia? Organizar uma exposição sob o tema “A Pintura e a Engenharia” era uma velha ideia minha compartilhada com os professores Luís Valente de Oliveira e Luís Braga da Cruz, ambos da FEUP. Mais tarde juntou-se Bernardo Pinto de Almeida da FBAUP. Chegámos a equacionar a realização da exposição em 2012, ano de comemoração dos 175 anos da Academia Politécnica, mas tendo em 2011 ocorrido os 100 anos da U.Porto, os 175 anos da Academia Politécnica acabaram por perder força. Surgiu então a ideia de realizarmos a exposição em 2013, por ocasião dos 50 anos da Ponte da Arrábida e do centenário do nascimento de Edgar Cardoso. O projeto foi apresentado ao então Diretor da FEUP, Sebastião Feyo de Azevedo, e ao Diretor da FBAUP, Francisco Laranjo, que desde logo garantiram apoio institucional. Também a Diretora do MNSR, Maria João Vasconcelos, gentilmente nos abriu as portas do Museu para albergar a exposição que esteve aberta ao público entre 22 de junho (dia do 50º aniversário da Ponte da Arrábida) e 22 de setembro. Enquanto comissário da exposição, qual a importância deste tipo de iniciativas? É difícil associar a Arte com a Engenharia? Fui comissário da exposição juntamente com Bernardo Pinto de Almeida, um distinto conhecedor da história
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da arte, e em particular da pintura, com vasta obra publicada e muitas exposições comissariadas. Tínhamos convivido quando éramos estudantes e quando lhe apresentei a ideia da exposição ele achou que era um projeto entusiasmante. De facto, a ponte entre a (nossa) arte de construir e a pintura, é um campo apaixonante. As (nossas) obras marcam a paisagem de forma indelével, para o mal e para o bem, e o mundo exterior, a paisagem, é objeto da pintura. Mesmo os mestres do Renascimento quando nos mostram em fundo o mundo exterior representam-no enriquecido com a obra humana. As 140 representações da Engenharia presentes nesta exposição remontam a meados do século XVIII. Como se processou a recolha e seleção de todas as obras? As obras cobrem o período entre o fim do século XIX e a atualidade. Havia uma lista preliminar que ao longo dos anos eu próprio fui selecionando. Mas o essencial da seleção foi da responsabilidade de Bernardo Pinto de Almeida, apoiado por uma investigadora contratada para o efeito, Isabel Lopes Gomes. Quais os principais artistas que figuraram nesta exposição? Na exposição foram incluídos muitos dos mais reconhecidos artistas plásticos portugueses, desde o fim do século XIX: Silva Porto, Henrique Pousão, António Carneiro, Amadeo de Souza-Cardoso, Carlos Botelho,
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Henrique Pousão, Margem do Sena (estudo), óleo sobre madeira (10 x 16,5 cm), Museu Nacional de Soares dos Reis
Vieira da Silva, Eduardo Viana, António Cruz, Alvarez, Nadir Afonso, Fernando Lanhas, Júlio Resende, Júlio Pomar, Nikias Skapinakis, Ângelo de Sousa e muitos outros. De todas as obras expostas, é possível indicar a mais valiosa? E qual é, para si, a mais representativa desta simbiose entre a Engenharia e a Arte? É impossível indicar a obra mais valiosa. Contudo, destacaria uma pequena pintura “descoberta” pelo Bernardo Pinto de Almeida nas reservas do Museu Soares dos Reis: um pequeno óleo sobre madeira representando as margens do Sena e uma ponte em Paris, da autoria do Henrique Pousão, pintor homenageado há poucos anos pela U.Porto, também com uma exposição naquele museu. Uma obra que foi colocada em grande destaque, frente a outro quadro notável (sem título, mas representando uma ponte) de Amadeo de Souza-Cardoso, pertencente à Coleção Berardo. A exposição foi inaugurada no dia da celebração dos 50 anos da Ponte da Arrábida. Classificada recentemente como Monumento Nacional, esta ponte é sem dúvida um marco na história e na evolução do tráfego entre as cidades de Porto e Gaia. Considera esta classificação um ponto de viragem? Não lhe chamaria ponto de viragem, mas a classificação foi de facto muito importante uma vez que assegura que quaisquer novas construções e estruturas na zona tenham em consideração o extraordinário valor patrimonial da Ponte da Arrábida. Por outro lado, com a aprovação pelo Governo da classificação da Ponte da Arrábida como Monumento Nacional, em maio de 2013, com a exposição
“Entre as Margens” e com o Colóquio Arrábida50 sobre Pontes e Património, em junho de 2013, a FEUP acabou por se posicionar no centro das comemorações do cinquentenário da ponte e do centenário de Edgar Cardoso. Poderá esta exposição ter aberto um caminho para ser continuado e percorrido no futuro? Seria exagerado (e imodesto) dizer que se abriu um caminho com esta iniciativa. Isto porque, felizmente, a FEUP tem tido inúmeras iniciativas culturais que interatuam com outras entidades e escolas. As fronteiras entre a tecnologia e a arte são cada vez mais difusas pelo que continuar este caminho é muito importante para a formação adquirida dos nossos estudantes e para a nossa própria formação e, claro, para melhor apreciarmos a Vida!
SABIA QUE... Fruto da exposição foi publicado um catálogo intitulado “Entre as Margens, Representações da Engenharia na Arte Portuguesa“? Com a chancela da U.Porto e com o design gráfico de António Queirós, professor da FBAUP, a obra inclui cuidadas reproduções de todas as obras expostas, uma nota biográfica dos autores representados, um texto escrito propositadamente por Mário Cláudio e ainda textos dos comissários. Pode ser adquirido nas livrarias da U.Porto e de Serralves.
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Um assistente de cozinha do futuro com ADN FEUP Texto: Helena Peixoto Fotografia: D.R.
Ovos escalfados para as 8 da manhã. A ordem foi dada pelo smartphone e os ovos colocados dentro da máquina. Estes são, basicamente, os únicos passos que exigem intervenção humana. Tudo o resto é feito pela ‘Mellow’, a versão doméstica de uma máquina de cozinhar a baixa temperatura (sous-vide). Catarina Violante e José Pinto Ferreira, os criadores da “Mellow” acreditam que este robot de cozinha poderá revolucionar para sempre a forma como cozinhamos em nossas casas. Criada por Catarina Violante, alumna da Pós-Graduação em Design e Desenvolvimento de Produto na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e José Pinto Ferreira, engenheiro mecânico do Instituto Superior Técnico (IST) este é o primeiro produto da FNV Labs, fundada há dois anos por duas pessoas que adoram fazer produtos e apreciam boa comida. Até então, apenas existiam máquinas “sous vide” com grandes dimensões e comuns no setor da restauração e, por essa razão, extremamente dispendiosas, o que as torna pouco acessíveis ao público em geral. Com a Mellow, “cozinhar um bife de vaca médio-mal é tão simples quando escolher a combinação certa entre tempo e temperatura, assim como é muito fácil cozinhar o entrecosto perfeito onde os ossos se soltam da carne. Quase impossível sobrecozinhar uma posta de salmão e capaz de deixar vegetais com a textura perfeita. E tornar simples ovos de galinha em verdadeiras experiências gastronómicas”, exemplifica Catarina Violante. A facilidade de utilização aliada ao controlo da “Mellow” com um smartphone torna o conceito ainda mais inovador. Com o software alojado na cloud é possível criar receitas personalizadas e “dar ordens” ao assistente de cozinha para aquecer e arrefecer os alimentos para que fiquem
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protegidos enquanto não é hora de cozinhar. Uma máquina inteligente que memoriza o gosto pessoal do utilizador, o que significa que com o passar do tempo não haverá duas “Mellow” a cozinhar exatamente da mesma forma. O perído de pré-venda da Mellow nos EUA ultrapassou todas as expectativas, tendo atingido cerca de 800 reservas, no valor de mais de 300 mil dólares. As unidades da pré-venda serão entregues em 2015, altura em que se prevê o arranque da venda online direta ao público. Será também nesta altura o momento de iniciar o processo de certificação para trazer a “Mellow” até Portugal e alargar a sua presença a outros países da Europa e do mundo. cookmellow.com
O CONCEITO DA COZINHA “SOUS-VIDE” A cozinha “sous-vide” é uma técnica de cozinha largamente utilizada por chefs de restaurantes de alta cozinha e encontra-se em largo crescimento. Consiste na utilização de um banho de água onde são submersos sacos com os ingredientes e, ao contrário de um forno ou de um fogão, ao longo do processo de cozedura, a temperatura varia apenas cerca de 1ºC. Ao cozinhar um alimento durante um tempo específico e a uma temperatura muito precisa, é possível atingir o ponto preferido de cada um.
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