Engenharia 56

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Engenharia

engenharia Boletim Informativo da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Primavera 2016

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O que está a mudar na investigação: o novo H2020 Violeta Bulc, Comissária UE: “Com o tratado do clima de Paris o mundo tem uma tábua de salvação“

MASDIMA: a solução para reduzir custos no transporte aéreo

FEUP e BERD lançam prémio mundial de Inovação em Engenharia de Pontes


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SUMÁRIO

p.6

p.13

p.10

p.20

p.30

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p.23

EDITORIAL

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Colaborar para gerar conhecimento

FEUP NO MUNDO

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Acontecimentos com ADN FEUP

INOVAR

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As mais-valias da cortiça aplicadas à indústria têxtil FEUP inicia projeto de produção do Novo Atlas Europeu do Vento Retail Pro: a plataforma que ajuda a aumentar as vendas dos retalhistas FEUP integra projeto europeu de investigação em supercomputação

EMPREENDER

10 Bruxelas: onde tudo se decide na investigação 13 Entrevista: Violeta Bulc “Com o tratado do clima de Paris o mundo tem uma tábua de salvação“

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AGIR

17 “Ilhas do Porto”: diversidade de problemas e de formas de intervenção 18 Desenhar Interações no ensino de Design na FEUP

Cooperar

20 Projeto inovador de estabilização de solos: uma alternativa ao cimento Portland 22 Super Bock Sem Álcool: uma parceria académico-empresarial de sucesso 23 Entrevista: Pedro Guedes de Oliveira “O sistema de investigação associado às universidades portuguesas é especial e complexo”

promover

30 Fotorreportagem: FEUP organiza final europeia de competição de engenharia 32 Embaixadores Alumni@FEUP: Reino Unido 34 FEUP e BERD lançam prémio mundial de Inovação em Engenharia de Pontes

Interpretar

35 Engenharia de Minas da FEUP celebra duplo Aniversário 36 O que estamos a celebrar no centenário da Faculdade Técnica? 38 SITU SCALE: a balança inteligente que o ajuda a comer de forma saudável

VENCER

27 Media digitais: estudante da FEUP premiado na Suécia 28 MASDIMA: a solução para reduzir custos no transporte aéreo

ENGENHARIA Boletim Informativo da FEUP Edição* Divisão de Comunicação e Imagem da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto dci@fe.up.pt Conselho editorial Carlos Oliveira e Raquel Pires Redação Helena Peixoto e Raquel Pires noticias@fe.up.pt Design e Produção César Sanches design@fe.up.pt

Colaboram nesta Edição: Álvaro Martino, Ana Pereira, Egídio Santos e Filipe Paiva. Publicidade Sara Cristóvão - publicidade@fe.up.pt Propriedade Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Sede FEUP Rua Dr. Roberto Frias, 4200-465 Porto Tel: 22 508 1400 e-mail: dci@fe.up.pt url: www.fe.up.pt

Impressão Empresa Diário do Porto, Lda. Porto 04 - 2016 Periodicidade Semestral Tiragem 3000 exemplares Depósito legal 225 531/05 * Esta edição foi escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico.


EDITORIAL

Colaborar para gerar conhecimento João Falcão e Cunha*

A educação, investigação e inovação na FEUP dependem da atividade conjunta de estudantes, investigadores, técnicos e docentes, e de múltiplas colaborações internas e externas. Neste início de 2016 deixo os meus votos de que este trabalho se aprofunde e que o conhecimento gerado seja motivador na vida de cada um e de todos nós. Relativamente ao ano que termina gostaria de agradecer o empenho de toda a Comunidade FEUP, com quem tem sido um prazer trabalhar. Nomeio em especial, pela proximidade, os colegas da Direção. O ano de 2015 foi repleto de boas notícias e eventos relevantes, alguns dos quais apresentados nesta edição do Boletim Informativo da FEUP. Destaco desde já o início das comemorações do centenário da Faculdade Técnica, designação inicial da Faculdade de Engenharia, como unidade autónoma na U.Porto. Pelo simbolismo que representam, gostaria de referir os três seguintes resultados internos obtidos durante 2015: • O Conselho Científico da FEUP aprovou pela primeira vez critérios para atribuição de nomeação definitiva a professores auxiliares após o período experimental. • A par dos prémios de excelências pedagógica e científica, que todos os anos contemplam a atividade dos nossos docentes, e de vários prémios atribuídos a estudantes, foi criado o prémio de inovação para ideias dos nossos técnicos que permitam melhorar a FEUP. • Chegou-se a um acordo com a Faculdade de Ciências da U.Porto para que o mestrado integrado e o doutoramento em Engenharia Física passem a ser oferecidos em conjunto, num esforço negocial que envolveu diversos professores da FEUP e da FCUP, a quem agradeço pelo empenho e determinação neste processo. No final de 2015 foi criada a Comissão de Ligação à Indústria, liderada pelo Prof. Luís Filipe Malheiros e pelo Dr. Pedro Coelho, com representantes de todos os departamentos da FEUP, com a missão de melhorar o relacionamento com as organizações externas numa perspetiva de realização de projetos conjuntos. O funcionamento desta Comissão deverá ser articulado com a atividade dos Institutos de Interface, que têm uma elevada participação de docentes e investigadores da FEUP. Esta iniciativa surge na

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continuação da atividade dos gabinetes Horizonte 2020 e Portugal 2020, que têm permitido apoiar a realização de candidaturas de elevado número de projetos de investigação em consórcio, com elevadas taxas de sucesso. Neste novo ano de 2016 a aposta na internacionalização irá continuar. Esperamos reforçar a qualidade da oferta de educação em inglês nos mestrados e nos últimos anos dos mestrados integrados. Na U.Porto a FEUP conta com a maior percentagem de estudantes internacionais, e ao nível das mobilidades internacionais a FEUP recebeu em 2015 mais estudantes do que aqueles que foram estudar em outras universidades. Iremos fomentar o aumento da mobilidade, mas mantendo o equilíbrio. Está também a ser preparada uma iniciativa para aumentar os estudantes brasileiros na FEUP visando em particular informar os que se candidatam pela primeira vez ao ensino superior da nossa oferta. O processo de internacionalização da FEUP requer assim uma atenção especial à evolução da comunicação em inglês nos próximos anos, mas sem descurar naturalmente a língua portuguesa. Nas páginas seguintes deste Boletim são apresentadas notícias da nossa comunidade: destaco um artigo da autoria da Dra. Susana Medina sobre a exposição do centenário da Faculdade Técnica na Biblioteca da FEUP, patente até abril de 2016; uma reportagem da missão de uma delegação da FEUP à Comissão Europeia em maio de 2015, para reforçar a capacidade de intervenção no programa Horizonte 2020 e em outros programas europeus. De salientar ainda nesta edição a entrevista à Comissária Europeia dos Transportes Violeta Bulc que visitou a FEUP durante o BIN@Porto em novembro de 2015 e o artigo sobre o Engenheiro Paulo Gomes, Embaixador Alumni da FEUP em Londres. Realço também a entrevista ao Prof. Pedro Guedes de Oliveira que foi diretor do INESC TEC e também diretor do DEEC, com uma vida profissional sempre em serviço público na educação, investigação e inovação. Esperamos assim mostrar um pouco do muito que se tem feito na FEUP e estamos determinados em melhorar a qualidade da educação, investigação e inovação num contexto internacional competitivo. * Diretor da FEUP

Fotografia: Egídio Santos

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Estudantes da FEUP vencem competição mundial de previsão Três equipas da FEUP, compostas por estudantes finalistas do Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica e Computadores (ramo Energia), conquistaram o 1º, 2º e 5º lugares num concurso de previsão de consumos de energia elétrica, promovido pela Universidade de Charlotte (EUA). O desafio consistiu em prever, para cada hora do dia seguinte, os consumos da região da Virgínia (EUA), durante cinco dias. O desafio seria atingir erros próximos dos conseguidos pelas previsões da PJM, o operador da rede de transporte do leste dos EUA que opera um dos maiores e mais competitivos mercados grossistas de eletricidade do mundo. Duas das equipas da FEUP além de garantirem o 1.º e o 2.º lugares também conseguiram bater as melhores previsões da PJM, tendo sido os únicos participantes a arriscar fazê-lo.

Melhor Tese em Engenharia de Perfumes com ADN FEUP Miguel Teixeira, antigo estudante da FEUP, é o autor da melhor tese europeia na área de Product Design & Engineering, um prémio bienal atribuído pela Federação Europeia de Engenharia Química (EFCE). O doutoramento de Miguel Teixeira, desenvolvido no LSRE/LCM, abordou a importância da escolha das matérias-primas e os fenómenos da evaporação e difusão das diferentes fragrâncias presentes num perfume até à sua perceção olfativa. Foi até desenvolvida uma nova metodologia, a “Perfumery Quaternary-Quinary Diagram®, capaz de prever e mapear a intensidade e o carácter do cheiro de uma mistura simples de fragrâncias, que mais tarde originou o “Perfumery Radar”, uma metodologia baseada em pressupostos científicos com potencialidades de previsão para a classificação sistemática de perfumes comerciais em famílias olfativas.

FEUP NO MUNDO

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Escola Europeia de ambiente premeia doutoramento da FEUP Ricardo Monteiro, doutorado em Engenharia do Ambiente pela FEUP, recebeu o prémio de melhor tese de doutoramento atribuído pela Escola Europeia de Processos Avançados de Oxidação (AOP). Esta escola, fundada em 2014, tem como principal objetivo promover o desenvolvimento académico de jovens investigadores na aplicação de processos avançados de oxidação na melhoria ambiental. Com orientação de Vítor Vilar, investigador do Laboratório de Processos de Separação e Reação em Engenharia/Laboratório de Catálise e Materiais (LSRE/ LCM), do Departamento de Engenharia Química da FEUP, a tese pretende demonstrar a viabilidade da fotocatálise heterogénea enquanto tecnologia promissora para o tratamento do ar, fazendo a sua caracterização e analisando a sua eficiência.

Investigadores da FEUP distinguidos em Itália

Cadeira “made in U.Porto” vence prémio de criatividade Chama-se DualStepChair, foi desenvolvida no DesignStudio da FEUP por uma equipa de três estudantes do Mestrado em Design Industrial e de Produto (MDIP) da FBAUP e da FEUP e conquistou o Prémio internacional de criatividade em Ergonomia ‘Estudantes do Ano 2015’, atribuído pela Associação Americana de Engenheiros Industriais. Maria João Pato, Ângela Gomes e Vítor Carneiro, estudantes do MDIP integram a equipa vencedora coordenada por Bárbara Rangel, docente na Faculdade de Engenharia. O projeto consistiu no desenvolvimento de uma cadeira escolar ajustável e empilhável de baixo custo dirigida a crianças do ensino primário entre os 6 e 10 anos, para a empresa especializada em mobiliário e tecnologia de educação NAUTILUS.

Um artigo publicado pelos investigadores Wei-Hua Hu e Álvaro Cunha, do Laboratório de Vibrações e Monitorização de Estruturas (ViBest ) da FEUP foi distinguido com o “Best Paper Award” no âmbito da 7th International Conference on Structural Health Monitoring of Inteligent Infrastructure (SHMII 2015). O artigo descreve o extenso trabalho de monitorização dinâmica a longo prazo desenvolvido sobre a ponte rodoviária de Westend, em Berlim, ao longo dos últimos 20 anos, apresentando-se resultados de processamento de dados decorrentes da aplicação de técnicas inovadores de deteção de danos com base na medição de vibrações, desenvolvidas recentemente no ViBest.

Young Researcher in Mixing 2015 é alumni da FEUP É a primeira vez que um investigador português é distinguido na área da Mistura pela European Federation of Chemical Engineering (EFCE). Cláudio Fonte, antigo aluno da FEUP, é o jovem investigador do ano na área de mistura. Candidatou-se ao prémio com o trabalho de investigação realizado no âmbito da tese de doutoramento realizada no Laboratório Associado LSRE-LCM da Faculdade de Engenharia. O trabalho centrou-se no estudo computacional e experimental do processo de mistura por jatos opostos confinados e foi considerado inovador ao propor uma equação de projeto para adequar condições de operação e design do equipamento às razões de densidades e viscosidades dos líquidos que se pretende misturar.

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INOVAR

As mais-valias da cortiça aplicadas à indústria têxtil Desenvolver produtos inovadores e de elevada performance que incorporem em simultâneo as propriedades dos substratos têxteis ao nível do conforto, toque e aspeto e as mais-valias funcionais da cortiça, promovendo o conceito eco-friendly. É este o objetivo do projeto Cork-a-Tex que iniciou em janeiro de 2014 com um consórcio que integra a Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP).

Texto: Raquel Pires Fotografia: Álvaro Martino

Impermeabilidade. Elasticidade. Durabilidade. São características da cortiça que a tornam uma matéria-prima de elevado potencial para a indústria têxtil. Trata-se de identificar mais-valias funcionais, estéticas e de sustentabilidade na cortiça que, conjugadas com as propriedades dos texteis podem dar origem a produtos diferenciadores, inovadores, mais sustentáveis e com maior incorporação de matérias-primas nacionais. Desde janeiro de 2014 que o trabalho desenvolvido pelo consórcio composto por Sedacor, Têxteis Penedo, CITEVE e FEUP tem investido na descoberta de novos materiais e combinações relativamente à incorporação da cortiça nos texteis. “Existem já alguns produtos que utilizam a combinação destes materiais, embora nenhum com esta abordagem”, assegura Fernando Pereira. O responsável na FEUP pelo projeto admite que “os resultados já obtidos levaram o consórcio a iniciar o processo de registo de patente desta tecnologia”.

A aplicabilidade deste tipo de materiais é elevada. O mercado é muito vasto e pode ir desde o têxtil lar e o vestuário até à marroquinaria, mobiliário e até mesmo decoração, “o que irá permitir às empresas entrar em mercados competitivos e com grande potencial de crescimento”, esclarece Fernando Pereira. Ao mesmo tempo, “espera-se promover e estimular a inovação e o desenvolvimento tecnológico das empresas aumentando a sua competitividade, através da criação de relações de sinergia entre duas empresas de diferentes setores, nomeadamente o setor industrial corticeiro e os têxteis e vestuário, bem como com as entidades do Sistema Científico e Tecnológico (SCT): CITEVE e FEUP”. O projeto Cork-a-Tex venceu recentemente o prémio INOVATÊXTIL 2015 na categoria Produtos.

Sabia QUE... O setor têxtil e do vestuário representa cerca de 20% do emprego da Indústria Transformadora, 8% do volume de negócios da Indústria Transformadora, 8% da produção da Indústria Transformadora e cerca de 10% da totalidade das exportações portuguesas? Isto porque quase 70% do seu produto é dirigido para o exterior do espaço português, o que se reveste de particular relevo já que falamos de 12 mil empresas (cerca de 6 mil em nome individual), e de 127 mil trabalhadores, com uma exportação de 4,8 mil milhões de euros. Fonte: ATP

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INOVAR

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FEUP inicia projeto de produção do Novo Atlas Europeu do Vento Integrada nas comemorações do Dia Global do Vento, Vila Velha do Rodão foi o local escolhido para a apresentação da tecnologia WindScanner e o início dos trabalhos do projeto Novo Atlas Europeu do Vento, um projeto europeu que conta com a participação da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e do Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI). A avaliação das caraterísticas do vento com fins energéticos assenta ainda nos procedimentos estabelecidos pelo Atlas Europeu do Vento de 1989, hoje obsoletos devido à maior dimensão e potência dos aerogeradores atuais e à sua instalação em terrenos de maior complexidade do que a inicialmente prevista. Surge, assim, a necessidade de criar novas metodologias de avaliação baseadas em medições e modelos globais de previsão meteorológica.

mente, assegurada por quatro instituições: a FEUP, o INEGI, e ainda o Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Dada a influência do regime de ventos noutros domínios, como sejam os fogos florestais e a dispersão de poluentes, a importância do projeto não se restringe à energia eólica, estando em estudo a participação de outras instituições e outras iniciativas e estudos na Serra do Perdigão.

O novo Atlas Europeu do Vento (NEWA), recentemente aprovado, tem como objetivo criar novas metodologias de avaliação e gestão do recurso eólico e traçar novas diretrizes em relação à versão que existe de 1989. Grande parte do trabalho que está a decorrer na Serra de Perdigão, em Vila Velha de Ródão, assenta na tecnologia WindScanner, uma infraestrutura europeia móvel que permite criar competências à escala europeia para utilização de um sistema de medição de vento a laser para medir as condições de vento em regiões de vários quilómetros quadrados. A instalação conta com dispositivos inovadores, baseados em laser, de deteção remota e as medições estão a cargo da Universidade Técnica da Dinamarca.

De acordo com José Laginha Palma, professor da FEUP e um dos responsáveis principais, a tecnologia WindScanner e o Novo Atlas Europeu do Vento “irão marcar a atividade da indústria eólica nos próximos anos, tal como os 30 anos anteriores foram marcados pelo Atlas Europeu do Vento de 1989”. A participação nestes projetos traz por isso “oportunidades da maior relevância para o meio científico e indústria nacional”.

Com a duração de cinco anos (2015-2019), iniciados em março de 2015, um orçamento global de 13,8 milhões de euros e um consórcio de instituições de oito países (Dinamarca, Suécia, Alemanha, Espanha, Letónia, Turquia, Bélgica e Portugal), o projeto NEWA instalou-se na Serra de Perdigão devido às condições da orografia local, representativa das condições de vento em terreno montanhoso e que serão a base de apoio ao desenvolvimento dos modelos do futuro. O processo que conduziu ao projeto NEWA, iniciado em 2005, foi complexo e a participação nacional é, presente-

De realçar que o projeto, desde o início, atraiu também a atenção de grupos americanos e a sua participação tem vindo a ser preparada desde 2010 com financiamento do National Center of Atmospheric Research (NCAR), em conjunto com as universidades de Notre Dame, Colorado (Boulder) Utah, Califórnia, Riverside, Oklahoma, Cornell e outras instituições de referência no estudo dos escoamentos atmosféricos e aplicações de energia eólica. www.windscanner.eu www.neweuropeanwindatlas.eu

Texto: Raquel Pires Fotografia: D.R.


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INOVAR

Retail Pro: a plataforma que ajuda a aumentar as vendas dos retalhistas Saber o que pode ou não influenciar o aumento do volume de vendas dentro de uma loja e perceber o comportamento do consumidor é possível. Surpreendido? A solução chama-se Retail Pro, uma tecnologia inovadora que faz a gestão de ambientes de loja e poderá ajudar o mercado retalhista a aumentar as vendas.

Texto: Helena Peixoto Fotografia: D.R.

Resultado de um consórcio entre a empresa InovRetail, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e o INESC TEC (INESC Tecnologia e Ciência) e com a participação do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), a plataforma Retail Pro surge com o objetivo de endereçar as necessidades específicas das lojas e perceber os fatores que, dentro do seu espaço de venda, contribuem para o aumento ou diminuição do volume de vendas. O projeto consiste numa plataforma que utiliza um sofisticado conjunto de algoritmos, altamente parametrizáveis e desenhados para uma fácil integração com os sistemas de informação do retalhista, e faz a recolha, análise e processamento dos dados e, posteriormente, apresenta os resultados. A plataforma disponibiliza ao retalhista, por intermédio de um interface gráfico inovador, um conjunto de indicadores de gestão de ambiente loja, que identificam, medem e quantificam o efeito das variáveis do ambiente de loja sobre o comportamento dos consumidores (vendas e tráfego). Fatores tão simples como temperaturas elevadas ou baixas,

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altos níveis de ruído ou má prestação de serviço por parte dos colaboradores são grandes influenciadores do tempo de permanência dos consumidores nos estabelecimentos. “Para perceber as razões que levam a que um consumidor permaneça ou não numa loja utilizamos algumas ferramentas de localização espacial por vídeo, Bluetooth ou Wifi, e as diferentes variáveis sensoriais, como a temperatura, humidade, ruído, a luminosidade ou os recursos humanos, no fundo tudo que possa afetar o comportamento dos consumidores num certo espaço físico”, explica Pedro Carvalho, o investigador do INESC TEC que, juntamente com o docente do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da FEUP Luís Corte-Real, está responsável pelo projeto RETAIL PRO. O projeto contou com o financiamento da Agência de Inovação através do QREN e conta já com vários dos seus módulos integrados na solução Seeplus®, utilizada em lojas como a LEVI’S®, G-STAR RAW, DOCKERS, WORTEN e NIKE.


INOVAR

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FEUP integra projeto europeu de investigação em supercomputação

Texto: Raquel Pires Fotografia: D.R.

Chama-se ANTAREX. É o acrónimo de um projeto europeu, iniciado em setembro 2015, financiado pelo programa H2020 em 3 milhões de euros, e no qual participa uma equipa de investigadores da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP). Está relacionado com o desenvolvimento de algoritmos e aplicações de software capazes de acompanhar o elevado poder de cálculo de algumas áreas científicas, sem que isso represente aumentos significativos no consumo de energia.

O estudo e compreenção de doenças, o desenvolvimento de fármacos adaptados a cada paciente, as previsões climatéricas com maior rigor, o desenvolvimento de novos materiais, são alguns exemplos de áreas científicas muito dependentes de níveis elevados de poder computacional. Estamos a falar de supercomputadores com elevado poder de cálculo que se espera que atinja cerca de um trilião, isto é, a unidade seguida de 18 zeros de operações por segundo, por volta de 2020, o que representa um aumento em cerca de 100x no poder de cálculo considerando o supercomputador atual mais poderoso!

principais fornecedores de casos de estudo nesta investigação) para desenvolver e personalizar novos fármacos; e a futura geração de algoritmos de navegação, auto-adaptáveis, em desenvolvimento pela empresa Sygic e que lidam com múltiplas fontes de informação nomeadamente no contexto de cidades inteligentes (a empresa lidera o top das apps de sistemas de navegação para Android da Play Store). Estes casos de estudo foram selecionados por representarem tendências em futuras aplicações, pelo seu impacto direto em termos de exploração económica, e pelo impacto social relevante.

Com o objetivo de lidar e propor uma nova abordagem a estes desafios surge o ANTAREX, um projeto de investigação europeu no qual participa uma equipa de investigação da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP). O consórcio é liderado por investigadores do Politécnico de Milão e tem um financiamento de 3 milhões de euros ancorado no programa H2020. O projeto arrancou em setembro de 2015 e vai prolongar-se durante 3 anos. Estão envolvidos investigadores do INRIA (França) e do ETH de Zurique (na Suiça) e também cientistas de dois reputados centros de computação europeus: o CINECA (Itália) e o IT4i (República Checa).

A equipa da Faculdade de Engenharia terá um papel fundamental no desenvolvimento de técnicas inovadoras para especificar estratégias focadas na aceleração da execução de aplicações, na redução do consumo de energia, contemplando otimizações do software, refinamento do mesmo, e a adaptabilidade das aplicações e das otimizações tendo por base pontos de operação e cenários de execução. O resultado final contemplará uma linguagem de programação para a especificação de estratégias e um conjunto de ferramentas de software que se pretende tragam grandes benefícios em termos de produtividade e de desempenho.

O projeto avaliará os métodos propostos com duas aplicações representativas de dois domínios de aplicação: algoritmos de simulação usados pela empresa Dompé (empresa italiana ligada à indústria farmacêutica e um dos

www.antarex-project.eu

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empreender

Bruxelas: onde tudo se decide na investigação

Nos últimos anos a participação da indústria nos programas europeus de ciência e inovação tem vindo a diminuir. O oitavo Programa-Quadro, também designado por Horizonte 2020, pretende inverter esta tendência. Mas não só. Criado para fazer face ao subinvestimento europeu em conhecimento, à fragmentação dos recursos e à burocracia excessiva, o H2020 - na forma como foi desenhado - é o maior programa de investimento em ciência e inovação do mundo. Mas como se tem acesso a esse financiamento? Como se submetem projetos europeus e que aspetos são mais valorizados nos processos de candidatura? O que se passa nos corredores do Parlamento Europeu e que nos interessa perceber? Uma comitiva da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) viajou até Bruxelas para ficar a conhecer de perto o funcionamento da Comissão Europeia e tentar perceber de que forma se pode influenciar legalmente o processo de decisão na atribuição dos financiamentos europeus para a investigação. ENGENHARIA 56 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Texto: Raquel Pires Fotografia: D.R.


empreender

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A comitiva da FEUP na visita ao Parlamento Europeu, em abril de 2015

Ninguém sabe ao certo quantos são. Mas de acordo com a EULobby Network (plataforma de lobistas europeus) os números podem estar perto dos 25 mil profissionais de pressão ativos em Bruxelas, a capital europeia do “lobbying”, só ultrapassada por Washington. O “lobbying”, acreditam os defensores da regulamentação, gera transparência - diz de quem influencia as decisões em que nome fala, por quem é financiado e quais são os objetivos e interesses de quem representa. O Parlamento Europeu é a única instituição europeia que obriga à acreditação dos lobistas e que tem há vários anos um código deontológico para estes profissionais de relações públicas. A Comissão Europeia optou por criar um registo público voluntário e, para tornar as suas relações com o “lobbying” mais claras, lançou, em 2006, a Iniciativa Europeia de Transparência, desenvolvida pelo comissário dos Assuntos Administrativos, Auditoria e Luta Anti-fraude, Siim Kallas. A ideia é adotar um Livro Branco, que estabeleça regras e, mais tarde, harmonizar a prática nos Estados-membros. Em Portugal, por exemplo, o “lobbying” esteve para ser regulamentado no anterior governo de coligação PSD-PP, mas acabou por não ser votado no Parlamento. Certo é que os decisores políticos percebem a importância de regulamentar esta atividade que tem poder de influenciar decisões. Grande parte da legislação nacional tem origem na União Europeia (UE), daí ser fundamental estar em Bruxelas e conhecer de perto os seus mecanismos de funcionamento. Isto porque o processo decisório da UE tem especificidades, o ciclo legislativo é longo. Desde que a Comissão propõe iniciativas até à aprovação pelo Parlamento e Conselho, um processo pode durar meses, ou até anos. Antes de propor, a Comissão analisa as consequências, faz estudos de impacto, consulta as partes (ONG’s, entidades locais, representantes da sociedade civil, do setor empresa-

rial), ouve opiniões técnicas, recebe pareceres de grupos de trabalho e de peritos. Depois, o processo segue o seu curso, por vezes com um vai e vem entre instituições ou longas negociações entre estados-membros e Parlamento Europeu. Tudo isto assume particular importância quando estamos a falar do novo programa quadro: o H2020 representa um aumento significativo do financiamento para a investigação e a inovação, na ordem dos 79,4 mil milhões de euros (no anterior quadro de financiamento o valor era de 52 milhões de euros). “É o maior programa de investimento em ciência e inovação do mundo”, admite Maria da Graça Carvalho, deputada no parlamento Europeu e a principal relatora do Programa Específico de Execução do H2020 para o campo da Investigação e Inovação. O investimento é distribuído de forma equilibrada entre três pilares fundamentais: excelência científica, liderança industrial e desafios societais. Até 2020, o principal objetivo das instâncias europeias é “guindar a Europa a uma posição de liderança mundial na ciência e, simultaneamente, recuperar a competitividade industrial, sem esquecer os desafios societais característicos de uma sociedade moderna”, esclarece Maria da Graça Carvalho. Na reunião que aconteceu em Bruxelas, em abril de 2015, e que contou com uma comitiva de 22 pessoas ligadas à Faculdade de Engenharia e de Anabela Carvalho, em representação de pontos de contacto nacional do GPPQ, a eurodeputada mostrou-se otimista em relação ao futuro da investigação científica nos países-membros, afirmando que “o problema da Europa não é a falta de investigação científica de qualidade, mas a debilidade da sua transferência para a economia e da sua concretização no mercado. O H2020 ambiciona cobrir todo o caminho, muitas vezes longo e dispendioso, entre a investigação fundamental, o desenvolvimento tecnológico, a demonstração industrial e a remoção de barreiras à entrada de produtos e processos inovadores no mercado”.

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empreender

Sabia que... O Gabinete H2020 da FEUP efetuou, no início de abril de 2016, o Registo de Transparência na UE? A medida insere-se na política de registo público voluntário de lobbying criado pela Comissão Europeia em 2006 para dar resposta a questões básicas como quais os interesses que estão a ser promovidos, por quem e com que fundos.

O Gabinete H2020 na FEUP Consciente de que o novo programa-quadro iria ditar as regras e o futuro do financiamento em material de ciência e de cultura científica nos próximos anos, a Faculdade de Engenharia da U.Porto montou, em novembro de 2013, uma estrutura própria de aconselhamento e acompanhamento internos a projetos europeus. Liderado por Pedro Coelho, da Divisão de Cooperação da FEUP, o novo gabinete tem como missão incentivar os investigadores a concorrer aos fundos europeus. Até ao momento e com uma equipa de duas pessoas em permanência, o gabinete esteve envolvido no apoio a 205 candidaturas de onde resultaram 23 projetos aprovados, com um orçamento total aprovado para a FEUP de 4,8 milhões de euros. “Quando fizemos a proposta de criação do Gabinete 2020 foram definidas metas que passavam por aumentar o n.º de candidaturas da FEUP no programa quadro da Comissão Europeia, aumentar o n.º de projetos aprovados e o n.º de projetos coordenados pela Faculdade de Engenharia”, avança o coordenador do Gabinete 2020. Tudo isto com o objetivo de “aumentar a dotação orçamental assegurada pela FEUP e duplicar a participação/representação da Faculdade de Engenharia em Redes Europeias de I&I”, continua. Até ao momento e de acordo com os indicadores de que dispõe, o Gabinete 2020 “está no bom caminho, praticamente todos os objetivos e metas foram largamente ultrapassados”, conclui Pedro Coelho. A visita institucional da FEUP a Bruxelas, em abril de 2015, foi uma das iniciativas do Gabinete 2020, entre muitas outras que têm acontecido. A comitiva integrou um representante de cada departamento da FEUP e que funciona como pivot de ligação entre ambas as estruturas. O principal foco desta viagem foi fazer lobbying, numa perspetiva construtiva e que se enquadra perfeitamente na visão estratégica do Gabinete 2020. Passou por dar a conhecer as competências da FEUP junto dos Delegados Europeus que trabalham nas áreas de Educação, Cooperação Internacional, Investigação e Inovação; sensibilizar os nossos professores para a importância de conhecerem os programas de financiamento europeus e para a necessidade de assumirem uma posição mais interventiva e, ao mesmo tempo, estimular a participação da FEUP em projetos europeus.

ILO: a nova Comissão de Ligação à Indústria da FEUP Promover e estimular a ligação entre a FEUP e a Indústria nacional e internacional, fomentando assim a colaboração competitiva e a procura de recursos externos. É este o principal objetivo do Industry Liaison Office (ILO), uma estrutura apresentada publicamente em dezembro de 2015. Liderado por Luís Filipe Malheiros, professor catedrático da FEUP, esta Comissão de Ligação à Indústria conta também com Pedro Coelho na qualidade de agente de ligação e por um professor de cada departamento da FEUP nomeado pelo Diretor da Faculdade de Engenharia. As atividades principais desta Comissão prendem-se com o estreitar ligações e o relacionamento com as empresas e organizações e identificar oportunidades de colaboração futuras em Investigação e Inovação. “Promovemos e facilitamos a interação com os investigadores da FEUP, através da promoção de reuniões individuais entre as empresas e os nossos investigadores e facultamos o acesso a um vasto conjunto de informação relevante para os interesses e necessidades das empresas”, assume Luís Filipe Malheiros. “As empresas que trabalham connosco têm acesso privilegiado aos eventos que promovemos, com oferta de excelentes oportunidades de networking com a comunidade científica da FEUP, com outros empreendedores, com especialistas internacionais, entre outros. As empresas têm ainda acesso, em primeira mão, à nossa base de conhecimento científico”, remata Pedro Coelho. fe.up.pt/ilo

fe.up.pt/h2020

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Fotografia: D.R.

EMPREENDER

“Com o tratado do clima de Paris o mundo tem uma tábua de salvação“

Entrevista: Raquel Pires

A União Europeia (UE) importa 53% da energia que consome. E o setor dos transportes é o que mais gasta em combustíveis fósseis: entre 1990 e 2012, as emissões de carbono aumentaram cerca de 57%. Isto deve-se, sobretudo, aos transportes rodoviários, ainda que este aumento tenha sido menos pronunciado do que nos outros modos de transporte: 64% em termos mundiais, em comparação com aumentos de 80% para a aviação e 66% no transporte marítimo*. Que medidas está a Comissão Europeia a adotar para alterar esta dependência do mercado externo de energia? E que políticas estão a ser discutidas no sentido de diminuir as emissões de carbono para a atmosfera? Violeta Bulc, Comissária Europeia para a área dos transportes, esteve na Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), em novembro, no âmbito do BIN@Porto. Deixou algumas diretrizes sobre o que está a ser discutido em Bruxelas em matéria de descarbonização e de políticas energéticas para a Europa. * Os dados são de 2015 e podem ser encontrados no relatório anual do International Transport Forum, uma organização intergovernamental que reúne 57 países membros (www.internationaltransportforum.org).

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A multimodalidade e a interoperabilidade são de facto a chave para o transporte do futuro, tanto para passageiros como para o transporte de mercadorias.

A conferência do clima da ONU (COP21), que decorreu em Paris, em dezembro, reuniu mais de 150 chefes de Estado. A preparação desta cimeira ao mais alto nível levou a que os governantes tivessem de apresentar os seus planos de redução das emissões de carbono até 2030. Qual é a sua leitura sobre os resultados desta maratona negocial em matéria de transportes? O tratado de Paris é o primeiro tratado efetivamente global sobre clima e também o grande acordo multilateral do século XXI. É também um marco para a União Europeia que desempenhou um papel fundamental na intermediação deste acordo histórico. O mundo tem uma tábua de salvação, uma última oportunidade de entregar às futuras gerações um mundo mais estável, um planeta mais saudável, sociedades mais justas e economias mais prósperas. Agora temos de nos concentrar em pôr em prática todas as estratégias delineadas e no facto da Europa continuar a liderar o processo de transição das políticas de baixo carbono. Quanto ao setor dos transportes, o que posso garantir é que nos esforçámos até ao último minuto para que a aviação e a navegação também integrassem este acordo. Mas quando se negoceia com quase 190 governos, sabemos que têm de ser feitas concessões e não conseguimos garantir o apoio suficiente para a inclusão destes dois setores. Mas eu tenho expectativas elevadas em relação ao que conseguimos negociar em Paris. Em primeiro lugar, pelo compromisso de assegurar que o aumento da temperatura média global fique 2ºC acima dos níveis pré-industriais em todos os setores da economia, incluindo os transportes. Em segundo lugar, 2016 oferece mais uma oportunidade para um acordo multilateral com a Assembleia Geral da Organização da Aviação Civil Internacional, neste outono, em Montreal. A UE vai chegar a acordo com outras regiões do mundo para alcançar um mecanismo de redução global das emissões para a aviação.

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Acelerar a descarbonização do setor dos transportes é uma das principais apostas da UE para travar o efeito das emissões de carbono para a atmosfera. Como é que as políticas europeias tencionam incentivar e contribuir ainda mais para este processo? Para conseguir uma descarbonização duradoura e sustentável do setor dos transportes e para satisfazer os nossos objetivos climáticos e energéticos, precisamos de uma combinação inteligente de políticas. Precisamos de conjugar o baixo consumo de energia de carbono no setor dos transportes com o aumento da eficiência energética e precisamos de gerir de forma inteligente a procura no ramo dos transporte. Na sequência dos resultados da COP21, vamos preparar uma comunicação sobre a descarbonização nos transportes, ainda este ano, e vamos acompanhar propostas, incluindo as que considerarmos justas e sustentáveis para o transporte rodoviário. Também vamos continuar a apoiar a adoção de veículos e equipamentos que utilizam combustíveis alternativos no mercado. No âmbito da legislação da UE sobre a implantação de infraestrutura de combustíveis alternativa, os Estados-Membros têm de apresentar quadros nacionais de políticas para a Comissão em meados de novembro de 2016. Além disso, vamos continuar a trabalhar na criação de medidas que promovam a estandardização da rotulagem dos combustíveis, nas orientações para o preço dos combustíveis e também no apoio a modelos de negócio que possam ajudar no desenvolvimento da infraestrutura para os combustíveis alternativos. Vamos estar atentos e apoiar as cidades: a descarbonização, como enfatizou o presidente Juncker, vai mesmo acontecer, nas cidades. Além disso, estamos a rever investigação sobre os transportes para assegurar que estamos a desenvolver tecnologias e sistemas que vão transformar drasticamente a área dos transportes e reduzir emissões de CO2, reforçando simultaneamente a competitividade do setor.


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Está previsto um aumento das emissões de CO2 no setor da aviação, no futuro. Sei que apresentou, recentemente, um plano estratégico sustentado na descarbonização também para esta área. Pode explicar-nos melhor em que consiste, exatamente? A aviação é responsável por cerca de 2% das emissões globais de gases com efeito de estufa, mas ao contrário de outros setores, as emissões deverão aumentar drasticamente. Alguns especialistas apontam para um aumento na ordem dos 290% até 2050, se nada for feito. A Europa teve um papel pioneiro, em linha com a nossa meta de redução de emissões de 40% até 2030. Em primeiro lugar, a aviação europeia está incluída no Emissions Trading Scheme (ETS), que é a pedra angular da nossa política climática. Ainda assim, podemos fazer mais e é precisamente essa a ambição da nova Estratégia da Aviação. Como exemplo, temos de abordar a fragmentação do espaço aéreo europeu, que acrescenta milhões de toneladas de CO2 por ano. Vamos também investir perto de 500 milhões de euros por ano em “SESAR”, um projeto que moderniza e atualiza as tecnologias de gestão do tráfego aéreo. Trata-se de um

Nota Biográfica

Fotografia: Filipe Paiva

Violeta Bulc é Comissária da União Europeia para a área dos transportes. Nomeada para o cargo em novembro de 2014, definiu como prioridade para o seu mandato em Bruxelas a promoção da digitalização e da inovação no setor dos transportes. Com uma vasta experiência académica, Violeta Bulc notabilizou-se no seu país de origem, a Eslovénia, como mulher empreendedora ligada também aos negócios: na esfera corporativa, ocupou vários cargos na indústria de telecomunicações, como a Telekom Slovenia e Telemach, duas das principais operadoras eslovenas. É proprietária e CEO da Viacom, uma empresa ligada aos negócios inovadores e sustentáveis. Imediatamente antes da sua nomeação para a Comissão Europeia, Violeta Bulc foi Vice-Primeiro-Ministro da Eslovénia, com responsabilidade ministerial para o desenvolvimento, projetos estratégicos e de coesão.

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O Porto no mapa internacional da inovação

O que é o BIN?

De 2 a 4 de novembro, a Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) e o Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto (UPTEC) juntaram mais de 500 investigadores, parceiros industriais e pessoas ligadas ao investimento tecnológico, num programa que mostrou a cidade do Porto como um parceiro de referência no mapa internacional da inovação. A edição do BIN@Porto 2015 centrou-se em temáticas atuais como as tecnologias da saúde, energias renováveis, cidades inteligentes, tecnologias de construção, inovação automóvel, indústria da ferrovia, design de inovação e serviços, logística e mobilidade, manufatura avançada, novos materiais, e oceanos.

A BIN@TM - Business and Innovation Network - é uma rede internacional para a partilha de boas práticas e oportunidades em inovação. Fundada em 2010 e assente num memorando de entendimento entre as Universidades do Porto, Sheffield e São Paulo, cujos princípios são também subscritos por outros parceiros académicos, industriais, ou de desenvolvimento económico e investimento tecnológico.

O programa incluiu um conjunto de sessões abertas, ações temáticas, workshops, uma mostra de tecnologias e outros eventos complementares, em acesso livre e gratuito. O próximo encontro da rede BIN está agendado para os dias 7, 8 e 9 de novembro, na cidade de São Paulo, no Brasil.

A rede tem por pressupostos a criação de relações de confiança e o acesso livre à participação: ao promover a cooperação na investigação aplicada, a inovação aberta e a internacionalização das empresas de base tecnológica, a rede BIN@ assume um papel facilitador na ligação entre os ecossistemas de inovação dos seus membros. businessandinnovation.net

Fotografia: D.R.

sistema que atua ao nível da poupança de combustível e que pode reduzir 50 milhões de toneladas de emissões de CO2. Ainda assim, a aviação é um setor essencialmente internacional e é difícil negociar e decidir globalmente a esta escala. Eu já tive oportunidade de apresentar esta estratégia, na Assembleia Geral da Organização Internacional da Aviação Civil (ICAO), que aconteceu no outono, em Montreal. A UE defende um mecanismo global ambicioso para reduzir as emissões. Também apoiamos o desenvolvimento das primeiras normas no setor da aviação. Estão em curso trabalhos conjuntos com o ICAO. O objetivo da UE, que reiteramos na Estratégia de Aviação, é claro: queremos alcançar um crescimento neutro de carbono para o setor de aviação a partir de 2020. Uma das maiores preocupações do setor dos transportes na Europa é o facto de não existir um verdadeiro mercado único digital: a Intermodalidade e interoperabilidade ainda não existem. O que é que a UE pretende fazer relativamente a esta questão? A multimodalidade e a interoperabilidade são de facto a chave para o transporte do futuro, tanto para passageiros como para o transporte de mercadorias. Estamos a trabalhar para ir ao encontro de um sistema de transportes completamente integrado em redes logísticas onde a cooperação entre as autoridades públicas e os operadores, através do uso intensivo de tecnologias inteligentes, possibilitem ultra-

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passar alguns constrangimentos e obstáculos que verdadeiramente existem. Um bom exemplo para percebermos isto é o que acontece com as portagens, nas estradas europeias. Não podemos ter sistemas de cobrança de portagens incompatíveis e que sejam um obstáculo à livre circulação de pessoas e bens, com custos adicionais para as transportadoras e para os cidadãos. Hoje, um camião com uma rota de Lisboa até Bratislava, com passagem por Lyon, Milão, Munique e Viena precisa de, pelo menos cinco contratos diferentes com operadores de portagem e de cinco unidades de bordo. Isto leva a custos consideráveis para os operadores em termos de compra ou arrendamento de unidades de bordo, depósitos e encargos administrativos. É por isso que este ano estamos a pensar promover a interoperabilidade entre o sistema de cobrança de portagens para permitir que os utentes das estradas possam viajar por toda a Europa sem se preocupar com as burocracias dos métodos de cobrança e sem ter que instalar equipamento específico para cada um deles. Quanto ao transporte multimodal, nós estabelecemos um transporte Digital Fórum de Logística com o objectivo de apoiar o desenvolvimento de ferramentas digitais nos transportes numa perspetiva multimodal. O Fórum reúne os Estados-Membros e as partes interessadas das comunidades de transporte e logística, a fim de identificar as áreas em que é necessária uma ação comum na UE, para fornecer recomendações e soluções, e trabalhar sobre a implementação destas recomendações e soluções, se for caso disso.


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Fotografia: D.R.

“Ilhas do Porto”: diversidade de problemas e de formas de intervenção Isabel Breda Vazquez* e Paulo Conceição**

Na cidade do Porto existem cerca de 960 núcleos habitacionais identificados como “ilhas”, aonde vivem atualmente, de forma permanente, quase 10 500 habitantes, distribuídos por aproximadamente 4 900 alojamentos. Apesar de se verificar que o total de núcleos habitacionais diminuiu 19%, entre 2001 e 2014, estes valores mostram a importante dimensão do fenómeno, e, então, a necessidade de conhecer melhor as características e os principais problemas que afetam estes núcleos habitacionais, a qualidade dos alojamentos e o conforto habitacional.

Os principais problemas que afetam o conjunto das “ilhas” do Porto estão associados ao estado de degradação, ao nível de desocupação e a carências de acessibilidade (interna) à própria “ilha”. Estas situações críticas, estando presentes na generalidade dos núcleos habitacionais, apresentam algumas diferenciações espaciais importantes. É de notar, também, que estes problemas se podem apresentar de forma combinada, sendo de salientar que quase 90 núcleos habitacionais apresentam situações de risco múltiplo, dado concentrarem os três tipos de problemas referidos.

Em geral pode dizer-se que as “ilhas” do Porto integram vários tipos de situação, do ponto de vista da forma e inserção urbana dos núcleos habitacionais, da densidade de alojamentos, do estado de ocupação ou desocupação, da intensidade e do tipo dos seus principais problemas, das características dos seus residentes ou das relações de propriedade que envolvem.

A existência de problemas diversificados caracteriza também o alojamento das famílias: problemas de degradação física, de sobrelotação, de ausência de equipamentos ou infraestruturas, de localização e de vizinhança, de isolamento.

No que respeita a estes últimos aspetos, deve ser salientado, desde logo, o contexto geral de envelhecimento e de vulnerabilidade social que caracteriza a população residente nas “ilhas”. Em particular, observa-se: o peso dos agregados familiares de reduzida dimensão (envolvendo 1 ou 2 pessoas); a existência de baixos rendimentos e a relevância das pensões, do rendimento social de inserção e do subsídio de desemprego como fontes de rendimento das famílias; a situação de relativo envelhecimento da população residente (média de idade igual a 57 anos e 37% dos residentes com mais de 65 anos); a existência de residentes com longa permanência no local (65% residem há mais de 30 anos) que se combinam com situações de procura recente de alojamento nas “ilhas”; a predominância do arrendamento (80%), mas, também, a existência de proprietários (18%); o valor médio de 85€ nos encargos mensais com o alojamento, sendo estes mais elevados em arrendamentos recentes; e, ainda, um contexto marcado pelas baixas qualificações académicas dos residentes.

A situação das “ilhas” - a dimensão do fenómeno, os problemas físicos e sociais que envolve, mas também a diversidade de formas e localizações, de estados de ocupação e de conservação, de relações de propriedade, de expetativas e prioridades dos residentes - constitui um importante desafio para a cidade. Esse desafio passa pela capacidade de desenhar e articular modelos de intervenção adequados a cada caso: um modelo de demolição e realojamento imediato, sobretudo nas situações de maior risco; um modelo de intervenção baseado nos proprietários existentes; um modelo de substituição dos proprietários ou de alteração das relações de propriedade; um modelo de saída, baseado no acesso a outros tipos de alojamento, já existentes ou a construir de raiz; um modelo de desenvolvimento de novos tipos de ocupação, já encontrado de forma muito pontual e minoritária. Trata-se, sobretudo, de mobilizar agentes - residentes, proprietários, entidades públicas locais e nacionais - e meios de intervenção, incorporando a preocupação com as “ilhas” no debate mais geral sobre as estratégias de reabilitação urbana para o Porto. * Professora Associada do Departamento de Engenharia Civil ** Professor Auxiliar do Departamento de Engenharia Civil

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Fotografia: D.R.

Desenhar Interações no ensino de Design na FEUP

Lígia Lopes* e Jorge Lino**

Nos últimos anos o ensino de projeto de design na FEUP tem sido marcado por uma abordagem participativa e orientado para grupos que normalmente ficam à margem das estratégias voltadas para um design de consumo. Essa é a promoção que fazemos ao trabalho de consulta e envolvimento dos utilizadores finais no processo criativo e que pedagogicamente propiciam aos estudantes a reflexão para uma prática em design responsável e socialmente mais crítica. Foi assim em 2012, no projeto “Apanha-me se Puderes” inserido na Unidade Curricular de Laboratórios de Projeto II, do Curso de Especialização em Design e Desenvolvimento de Produto (EDDP) da FEUP. Um projeto inserido no programa Manobras do Porto (MnP) que colaborou desde o levantamento das acessibilidades e mobilidade da comunidade do Centro Histórico do Porto (CHP) até à divulgação e promoção da exposição final dos trabalhos. O foco de utilizadores foram pessoas com mobilidade reduzida ou idosos que necessitam de acompanhamento

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diário e que recebam cuidados de assistência em casa e/ou que careçam de cuidados ou sejam utentes em alguma das instituições envolvidas. Da análise desta observação, interação e informação (entrevistas, fotografias, vídeos) resultaram diversos projetos individuais que procuravam solucionar um ou mais problemas encontrados pelos estudantes. O contacto e interação com a população idosa e utentes dos Centros Sociais de Miragaia, Vitória e da Sé foram decisivos para a avaliação das barreiras físicas no CHP. Nas primeiras aulas práticas os estudantes acompanharam os utentes desses centros em atividades como ginástica, ida ao cinema ou ensaios musicais. Se na ginástica foi possível constatar limitações de ordem física dentro de um espaço controlado e seguro, o trajeto de poucos metros desde o Centro Social de Miragaia até à Casa do Infante para assistir ao filme ‘Aniki Bóbó’ de Manuel de Oliveira, trouxe uma outra perspetiva ao problema de mobilidade e acessibilidade física do CHP e dessa parceria resultaram propostas que procuraram responder às necessidades específicas apontadas pelos


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... o ensino de projeto de design na FEUP tem sido marcado por uma abordagem participativa e orientado para grupos...

utentes desses centros. Destacamos o projeto do estudante Manuel Santos (designer) que desenhou um sistema de alerta de aproximação para as guias do tradicional elétrico. O sistema de iluminação aplicado no solo junto às guias é acionado pela vibração do elétrico quando este se aproxima. Constitui, um alerta de segurança que complementa a perda de audição. Na fase final deste exercício as propostas foram apresentadas publicamente na Casa do Infante e estiveram expostas na Estação de Metro de São Bento integrando o programa do MnP.

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Mais tarde, em 2013, também no Curso de EDDP, e em 2014, no Mestrado em Design Industrial e de Produto da U.Porto os estudantes foram desafiados para exercícios distintos mas ambos implicavam e convidavam às práticas participativas em projeto. Em 2013, a parceria com a Associação Crafts2Design e em coorientação com a designer Ana Grácio Soares Franco, pretendia que os alunos fizessem uma análise e estudo sobre costumes, técnicas e constrangimentos técnicos adjacentes à Olaria Pedrada de Nisa e posteriormente apresentassem uma proposta interpretativa para um novo objeto representativo da cultura do Alto Alentejo - Nisa. Foram selecionadas três propostas para serem novamente objeto de análise e transformação em contexto de workshop que decorreu em Nisa. Esta iniciativa integrou estudantes e docentes de design, artesãos, designers garantindo que todos os participantes do workshop pudessem ter um impacto direto nas decisões projetuais e a comunidade que acolheu a iniciativa e os estudantes que ficaram alojados por pequenos grupos em casas particulares. Este exercício foi capaz de alimentar não só a prática projetual de design como o traçar de novos caminhos na contemporaneidade para PÁGINA ESQUERDA a Olaria Pedrada de Nisa e conseguiu desenhar um novo

modelo de interação que jamais havíamos testado entre a comunidade e a academia. No ano letivo seguinte, em 2014, realizamos um projeto em parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Gaia Ensaio de Design sobre a Demência - no qual, tal como o nome indica, os estudantes foram confrontados com o tema da demência, pessoas com demência e cuidadores. O objetivo do trabalho consistia em desenhar/projetar um objeto de produção industrial, de baixo custo, passível de poder auxiliar e/ou estimular pessoas com demência e/ ou seus cuidadores, proporcionando uma melhoria na sua qualidade de vida, ainda que respondendo a um momento ou atividade pontual. O relatório e resultados deste exercício foram publicados no capítulo do livro “Demência na Terceira Idade, Contributos Teóricos, Competências a Mobilizar e Estratégias de Intervenção”, edição da ADRAVE, 2014. Por fim, em 2015, desenhamos um novo modelo de participação e de interação da prática em projeto de design, no projeto ‘RitaRedShoesCerebralPalsyDesignProject’ trazendo os utilizadores finais para a universidade. Neste projeto, a interação com os ‘designer partners’ - pessoas com paralisia cerebral (PC) - permitiu aos alunos conhecer de perto as expectativas e ambições das com PC na utilização/compra de um par de sapatos adaptados. Esta abordagem, começou por anular o estigma associado à deficiência dentro da sala de aula, transportando essa atitude para os resultados - sapatos que estão ao nível de desejo de qualquer tipo de utilizador. * Design Studio da FEUP ** Coordenador do Design Studio

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Projeto inovador de estabilização de solos: uma alternativa ao cimento Portland

Sara Rios*

A estabilização de solos é feita tradicionalmente com ligantes como a cal ou o cimento Portland. No entanto, a produção destes materiais leva à geração de grandes quantidades de dióxido de carbono estimada em cerca de 1 tonelada de C02 por tonelada de cimento Portland produzido. Na Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) há um projeto coordenado pelos investigadores António Viana da Fonseca e Sara Rios do CONSTRUCT do Departamento de Engenharia Civil, que visa desenvolver uma nova técnica para tratamento de solos, incorporando resíduos inertes da queima de carvão em centrais termoeléctricas.

A ativação alcalina de cinzas volantes, através da mistura de cinzas com uma solução alcalina, gera um gel cimentício que une as partículas de solo melhorando consideravelmente a sua resistência e deformabilidade. É uma solução inovadora que tem sido estudada noutras áreas de aplicação como o fabrico do betão usado em todo o tipo de estruturas de engenharia civil, mas que ainda não foi aplicada no tratamento de solos, onde os volumes envolvidos são também muito significativos. O desenvolvimento desta solução é o principal objetivo do projeto ECOSOLO financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), através do POFC - Programa Operacional Fatores de Competitividade, do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), no âmbito do Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico. Resumidamente a ativação alcalina consiste em utilizar cinzas como fonte de sílica e alumínio para criar, através de soluções à base de sódio ou potássio, um ambiente altamente alcalino que facilite a dissolução da sílica e alumina das cinzas ocorrendo seguidamente uma fase de nucleação e condensação/precipitação. Este processo origina um gel cimentício que funciona como ligante das partículas de solo, gerando uma matriz de resistência considerável em termos mecânicos e químicos. A este tipo de materiais assim obtido, com elevada resistência mecânica, baixa condutividade hidráulica, estabilidade térmica, e dureza elevada, onde o cálcio está praticamente ausente, dá-se a designação de geopolímeros. Estes materiais têm grandes vantagens em relação ao cimento Portland e à cal aérea que, na sua produção, geram grandes quantidades de CO2 e carecem de rochas calcárias que não existem em todos os pontos do globo.


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A grande inovação em que se baseia a ativação alcalina é a possibilidade de obter, através das reações químicas referidas, os mesmos compostos que formam as rochas de natureza siliciosa (como o granito) e que apresentam a mesma estabilidade e comportamento mecânico e hidráulico que a estas são reconhecidos. A necessidade de adicionar cinzas volantes resulta de serem abundantes em sílica e em alumina, mas também da condição de estado amorfo, que facilita grandemente a combinação com os componentes fornecidos pelo ligante alcalino. Por outro lado, a possibilidade de fabricar geopolímeros à base de cinzas volantes, que substituem o cimento e cal aérea nalgumas aplicações, é uma forma de minimizar os problemas ambientais resultantes da produção destes ligantes e simultaneamente utilizar um subproduto das centrais termoelétricas. É neste contexto que este projeto pretendeu proceder, em laboratório, a uma otimização das misturas de solo + cinzas + ativadores alcalino (em particular silicato de sódio e hidróxido de sódio), para sua posterior aplicação em campo na estabilização de solos para plataformas de infraestruturas de transporte onde tradicionalmente se usam misturas de solo com cimento Portland e cal aérea ou outras soluções mais intrusivas e dispendiosas. Para esse efeito um solo de Bogotá (Colômbia) foi selecionado e trazido para Portugal executando-se um amplo programa experimental nos laboratórios de geotecnia da FEUP e do Instituto Politécnico da Guarda (IPG) com ensaios de resistência, deformabilidade e erodibilidade, analisando-se ainda a influência das condições de cura, em especial, temperatura e humidade. A possível aplicação em campo desta técnica foi testada através de um modelo físico construído nas instalações da Mota-Engil de 4 m x 2 m em planta onde se colocou três camadas de 30 cm de solo não tratado sobre os quais se colocou uma camada de 20 cm de solo tratado por esta técnica, simulando a construção de uma plataforma de estrada. Neste modelo foram realizados vários ensaios geotécnicos como o ensaio de carga em placa e o ensaio com o defletómetro de ensaio portátil bem como ensaios de controlo de compactação com o gamadensímetro. Em paralelo, a durabilidade da técnica foi avaliada com en-

saios de fadiga à escala real no novo campus da Universidade Militar Nueva Granada de Bogotá, Colômbia (UMNG) em Cajicá, em que o eixo de uma roda é feito passar num trecho de pavimento construído especificamente com a camada de solo tratado a analisar (ver imagem acima). Os resultados de laboratório e campo mostraram um incremento significativo da capacidade de suporte e desgaste do solo em especial em condições de temperatura mais elevadas (superiores a 20ºC) e com baixos níveis de pluviosidade pelo que poderá ser aconselhável para climas áridos e secos. No entanto, a investigação na FEUP mantém-se à procura de soluções alternativas para outras condições meteorológicas. Este projeto decorre da colaboração entre a Universidade Militar Nueva Granada de Bogotá, Colombia (UMNG) e a FEUP, estabelecida pelos Professores Javier Camacho-Tauta e António Viana da Fonseca, que já proporcionou o estabelecimento de um protocolo de intercâmbio entre as universidades, a nível reitoral, que permitirá mobilidade de estudantes e orientações de teses de pós-graduação conjuntas e que, circunstancialmente, permitiu associar a UMNG como parceira do projeto ECOSOLO. O consórcio é constituído pela empresa Mota-Engil, promotora do projeto, pela FEUP e pelo Instituto Politécnico da Guarda (IPG) como co-promotores, sendo subcontratadas a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), a UMNG e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, todos do Sistema Científico e Tecnológico (SCT). * Investigadora Pós-Doc

Sabia que? A estabilização de solos é usada desde os primórdios da engenharia na construção de pavimentos rodoviários nas civilizações Mesopotâmica, Grega e Romana, ou na construção dos templos da antiga Babilónia. É uma forma de utilizar o solo disponível no local através da melhoria das suas características, evitando trazer materiais bons de outras zonas com custos significativos a nível ambiental, social e económico.

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Super Bock Sem Álcool: uma parceria académico-empresarial de sucesso

Texto: Helena Peixoto Fotografia: D.R.

Foi em 2007 que a Unicer e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) uniram forças e fizeram nascer um produto que ultrapassou todas as expectativas: a Super Bock Sem Álcool, ainda hoje um êxito de vendas a nível nacional e internacional.

Um processo totalmente inovador, uma unidade de pervaporação construída de raíz e uma ideia “patenteada” que veio revolucionar o mercado das bebidas ao provar que é possível criar uma cerveja 100% sem álcool através de um processo totalmente inovador. Adélio Mendes, docente do Departamento de Engenharia Química da FEUP, após regressar do seu pós-doutoramento na Alemanha, sugeriu à Unicer, a produção desta nova cerveja totalmente sem álcool utilizando um processo alternativo e inovador. Não havia sequer fornecedor da unidade de pervaporação necessária à produção do aroma: fui o próprio Adélio Mendes que a desenhou. A Unicer, acreditando na importância da ligação às universidades como uma mais-valia e um fator de diferenciação, aceitou o desafio e iniciaram os trabalhos. Após três anos de um profundo trabalho conjunto de investigação, as instituições chegaram ao processo de produção final que dotou a nova Super Bock Sem Álcool de características únicas. E para que se perceba a inovação do processo, importa referir que a cerveja é obtida por fermentação de um mosto produzido à base de malte e gritz de milho. Durante esse processo de fermentação, as leveduras produzem não só álcool, como outras substâncias que dão um sabor e aroma característicos à cerveja, o que não acontece com o processo tradicional de produção de cerveja sem álcool, onde a fermentação é interrompida no seu início para que não se produza o álcool, impedindo a produção dos aromas típicos da fermentação. Para o lançamento da nova Super Bock Sem Álcool, partiu-se de uma base composta pela afamada Super Bock autêntica, à qual é extraído o álcool através de um sistema de arrastamento de vapor sob vácuo. A nova Super Bock Sem Álcool conserva, assim, a sua personalidade, os seus aromas. Um projeto que permitiu a criação do know-how e

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das infraestruturas industriais adequadas a um processo de produção único, reconhecido e devidamente patenteado. Este é um exemplo vivo do sucesso das parcerias académico-empresariais. A Unicer conseguiu com esta parceria entrar em países do Médio Oriente e Norte de África com restrições ao consumo de bebidas com álcool, tornando a empresa ainda mais competitiva nos mercados internacionais. Maria Manuel Dantas, diretora de Qualidade, Desenvolvimento e Inovação da cervejeira, enfatiza a importância deste tipo de ligação: “na Unicer consideramos a ligação às universidades uma mais-valia e um fator de diferenciação, laços que temos vindo a intensificar. E são vários os motivos que nos levam a fazer esta apreciação. É nos centros de saber e de investigação contínua que muitas organizações encontram resposta para determinado desafio, soluções que são postas em prática nos mais variados negócios; que se partilha conhecimento; que se capta novo talento para as empresas”. Adélio Mendes, responsável na FEUP pelo lançamento desta cerveja, recorda o êxito conseguido com esta parceria e acredita que o futuro vai trazer novas e saudáveis sinergias entre a academia e o mundo empresarial que resultem em produtos que melhorem a qualidade de vida dos cidadãos: “Este é o sonho e a missão de todo o investigador: transformar, de forma saudável, impostos em mais riqueza e alegria!”


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“O sistema de investigação associado às universidades portuguesas é especial e complexo” Entrevista: Helena Peixoto Fotografia: Egídio Santos

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A decisão de seguir uma carreira académica não foi imediata por achar que a universidade estava demasiado comprometida com o regime político da altura. Mas os caminhos da docência cruzaram-se com Pedro Guedes de Oliveira e desde 1974 não mais o largaram. Docente na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) desde 1993, tem um percurso indissociável do INESC TEC, primeiro em Aveiro e depois no INESC Porto, que chegou a presidir. Com um percurso profissional entre a eletrónica e a engenharia biomédica, assumiu ao longo dos anos diversas funções públicas e de destaque a nível europeu, até porque acredita que “um país desenvolvido não se faz sem uma forte disseminação da cultura científica”.

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Quando surgiu o interesse pela engenharia? E porquê a escolha de engenharia eletrotécnica? Pergunta difícil... na verdade não existe uma data ou um facto específico que possa associar à decisão. Porém, tenho a perfeita recordação de, por volta dos meus 13 ou 14 anos, pensar que gostaria de ser “engenheiro nuclear”, mesmo sem saber muito bem o que isso significava... O interesse pela engenharia já lá morava, se calhar em parte devido ao meu Pai que cursou engenharia e, apesar de não ter terminado, era um engenheiro nato! A questão da área nuclear deve ter sido por uma questão de “moda” já que, nessa altura (finais dos anos 50) as esperanças depositadas na utilização pacífica da energia nuclear eram enormes. Curiosamente, o meu primeiro trabalho foi no âmbito da Junta de Energia Nuclear, mas nada teve a ver com o nuclear em si. Quanto à eletrotecnia, não é difícil pensar que, tendo nascido mesmo no fim da 2ª Grande Guerra, conceitos como o radar, as comunicações, a rádio, a televisão e os computadores, de que se começava a falar, transmitiam um ar de modernidade e de mistério, irresistíveis para quem já se interessava pelas questões de ciência e tecnologia. Além da carreira docente ligada à FEUP, desempenhou sempre um papel muito ativo num dos nossos institutos de interface, o INESC TEC. Que papel desempenham estas estruturas dentro da faculdade e até mesmo junto da sociedade? Efetivamente tive uma longa intervenção no INESC - diria até que em diversos INESCs - o que me deu um grande prazer mas também muitas dores de cabeça... mas sempre com muito orgulho. O sistema de investigação associado às universidades portuguesas é especial e complexo. Ainda há relativamente poucos anos era muito incipiente, com escassíssimas verbas e com uma grande parte dos professores a não estarem permanentemente na universidade (na engenharia era ainda mais comum). A partir da reforma Veiga Simão e após o Estatuto da Carreira Docente Universitária (ECDU) e a criação da exclusividade, a situação mudou imenso. Ainda assim, as estruturas da universidade eram pobres, a gestão desadequada aos novos desafios e o número de doutorados baixíssimo. Em 1980, quando o INESC surge, liderado por jovens professores doutorados em grandes universidades internacionais e como uma instituição privada sem fins lucrativos (IPSFL), com grande autonomia, verbas e edifícios próprios, detida


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Um país desenvolvido não se faz sem uma forte disseminação da cultura científica

a 50% pela academia (Universidade Técnica de Lisboa, UTL e Instituto Superior Técnico, IST) e outros 50% pelas empresas públicas de telecomunicações (CTT e TLP) foi uma grande revolução. A Universidade do Porto aderiu ao INESC em 1985 com a criação de um núcleo local e seguiu-se a Universidade de Aveiro (UA) em 1986, fazendo com que o sistema passasse a ter um âmbito nacional. O impacto que isso teve na eletrotecnia e na informática foi muito grande, criando uma verdadeira comunidade nacional em que nos conhecíamos bem, colaborávamos e fortalecemos elos pessoais e de confiança. O exemplo do INESC frutificou e, no início dos anos 90 surgem, na área das TIC, o Instituto das Telecomunicações (IT) e o Instituto de Sistemas e Robótica (ISR), também IPSFL e também de âmbito nacional. Quando em 1995 Mariano Gago assume a pasta da Ciência e Tecnologia (C&T), o apoio à ciência passa um pouco ao lado do controlo universitário. As razões para isso acontecer foram várias e, na minha opinião, boas e de acordo com uma estratégia inteligente, mas não cabem nesta entrevista. Contudo, esta independência articulada entre os dois sistemas (o universitário e o de C&T) traz vantagens mas também dificuldades. Uma instituição como o INESC TEC tem uma enorme autonomia e agilidade de gestão pois gere os seus próprios projetos e as verbas que daí resultam, mas tem também uma enorme responsabilidade que pesa sobre os seus dirigentes pois arca com todas as despesas das instalações, equipamento, comunicações, energia, segurança, staff técnico e administrativo... Com este modelo conseguimos captar e reter talentos de uma maneira que, nas condições atuais da gestão pública, estão fora do alcance da universidade. E se as autoridades universitárias não têm um direto envolvimento na gestão corrente, elas detêm a capacidade de interferir em todos os aspetos estratégicos. Eu vejo isto como um enorme potencial de desenvolvimento e os resultados do INESC TEC, na minha opinião, provam-no. Durante o seu mandato de presidente do INESC TEC, qual o projeto de que mais se orgulha? Eu nunca cheguei a ser presidente do instituto com a designação INESC TEC que é uma criação recente, herdeira do INESC Porto. Mas a instituição é a mesma e, nesse contexto, o projeto mais interessante foi a sua própria criação. Partindo de um núcleo local do INESC, foi uma tarefa coletiva e muito

arriscada mas muito bem sucedida, que apenas encabecei e que mobilizou praticamente toda a comunidade. Mas se pensarmos numa perspetiva mais de projeto científico, aponto o projeto ORBIT, levado a cabo em colaboração com a BBC no âmbito da TV digital, e cuja conceção e direção se deveram ao professor Artur Pimenta Alves. Embora não tenha tido o sucesso que ambicionávamos, foi incrivelmente avançado no tempo (talvez por isso mesmo não tenha sido tão bem sucedido!) e esteve na origem de uma iniciativa empresarial levada a cabo pelos investigadores do INESC ligados ao projeto, que ainda hoje existe com largo sucesso internacional: a criação da MOG. Ocupou cargos públicos e de destaque a nível europeu. Qual o balanço que faz desta dimensão mais “executiva” e quais as ações e atividades que mais o marcaram? A nível europeu, fui um dos representantes nacionais no comité de ações concertadas em engenharia biomédica (COMAC-BME), em que estimulámos a participação nacional na área e contribuímos para a definição de alguns projetos. No plano nacional, integrei as direções da Agência de Inovação (AdI) e da Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN), nesta última com funções de natureza executiva. Foram duas tarefas que me deram um grande prazer pois são duas instituições que muito prezo e que granjearam grande prestígio por aquilo que foram edificando ao longo dos anos e que muito se deve à ação, respetivamente, de Lino Fernandes e de Pedro Veiga. Num plano completamente diferente fui Presidente da Mesa do Conselho Geral da CULTURPORTO e membro do Conselho de Administração da Porto 2001- Capital da Cultura, o que me permitiu intervir em duas realizações regionais com grande impacto nacional, importantes na transformação cultural da cidade e da região. Participei ainda durante alguns anos, de maneira regular no programa de divulgação da ciência e tecnologia designado por 4xCiência, da RTPN. Devo dizer que retiro um grande gozo em participar em atividades que obrigam a pensar novas questões, a enfrentar problemas de diferente natureza, a dialogar com pessoas com perspetivas e formações muito diversas da minha. Mas realço também duas coisas: por um lado, em qualquer das atividades, vejo-me sempre com a identidade de professor de universidade e por outro, sem brincar, penso que em todos os casos a minha formação de engenheiro me

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Cooperar

Nota Biográfica Licenciado em Engenharia Eletrotécnica pela FEUP (1968) e Doutorado e Agregado pela Universidade de Aveiro (UA) após uma passagem pela Holanda (1978-79), Pedro Guedes de Oliveira foi um dos fundadores do Departamento de Eletrónica e Telecomunicações da UA, onde lecionou desde a Revolução de 1974 até 1993. Em 1986 fundou o INESC Aveiro, que dirigiu até à sua saída da UA. Em 1992 concorreu a uma vaga de Catedrático na FEUP, lugar que assumiu em 1993 até junho de 2015. Com uma atividade de investigação quase sempre ligada ao INESC, primeiro em Aveiro e depois no Porto, teve um significativo envolvimento na gestão académica nas universidades e no instituto. Assumiu ao longo dos anos diversas funções públicas, como o cargo de membro não executivo do Conselho de Administração da Agência de Inovação (2005 e 2008), membro da Direção Executiva da Fundação para a Computação Científica Nacional (2008 a 2013) e de membro do Conselho Científico para as Ciências Exatas e da Engenharia da Fundação de Ciência e Tecnologia (2009 a 2012) e teve posições de destaque a nível europeu como a de membro do Conselho de Diretores do European Consortium in Informatics and Mathematics (ERCIM). A promoção da cultura e a divulgação científica foram outros dos seus pilares de atuação, ocupando, entre outros, o cargo de membro do Conselho de Administração da Porto 2001-Capital Europeia da Cultura e de Presidente da Mesa do Conselho Geral da Culturporto.

ajudou imenso, pela maneira como nos leva a olhar para os problemas e a equacionar as possíveis soluções. Foi recentemente jubilado pela FEUP. Na sua última lição fez uma importante reflexão sobre algumas das questões que hoje se colocam à ciência e ao ensino superior... O que mais me preocupa, neste momento, é o mal que tem sido feito à ciência e ao ensino superior nos últimos quatro anos. Nas universidades, a autonomia foi quase aniquilada e assistimos a um terrível estrangulamento financeiro. Ao nível da ciência, a situação é ainda pior porque o sistema é mais frágil e algumas das consequências do enfraquecimento institucional podem ser irreversíveis. Atacam-se as instituições e privilegia-se a perspetiva dos indivíduos como se as pessoas, sozinhas, pudessem mudar o mundo. Isto não significa que não se deva premiar, estimular e atrair o talento, mas não perceber que isso só acontece se houver o ambiente propício, é pura cegueira e má demagogia. Esperemos que a situação não se arraste e que possamos recuperar o caminho anterior... até porque a nossa comunidade científica o merece e a grande quantidade de jovens talentosos e entusiastas que nos chegam às universidades têm o direito de exigir.

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Entretanto, também há muito a fazer dentro de portas: temos de manter a exigência e não esquecer que mais do que preparar profissionais capazes de intervir rapidamente, não podemos descurar os conhecimentos fundamentais da engenharia, os aspetos culturais, sociais e éticos na formação dos nossos estudantes. Defende a promoção da cultura e a divulgação científica em Portugal. Portugal está no bom caminho? O que acha das atividades culturais do Comissariado Cultural da FEUP? O caminho encetado desde há uns anos e no qual o Ciência Viva é uma das expressões mais importantes, tem de ser incentivado. Um país desenvolvido não se consegue sem uma forte disseminação da cultura científica e sem a criação de condições em que a população perceba e apoie os esforços para desenvolver a ciência e o ensino superior. A nível local, é formidável o que as últimas direções da FEUP têm feito em termos de incentivo ao Comissariado Cultural, onde o papel do Luís de Melo tem sido fundamental.


Vencer

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Texto: Raquel Pires Fotografia: NativeIn

Media digitais: estudante da FEUP premiado na Suécia Um projeto desenvolvido por Horácio Tomé Marques, estudante da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), do Programa Doutoral em Media Digitais, UT Austin Portugal, foi um dos vencedores da edição deste ano dos MusicBricks Incubation Awards, entregues no passado mês de maio, na Suécia, durante o Music Tech Fest Encandinavia 2015.

O projeto FindingSomething SoundingBonding, criado e produzido por Horácio Tomé Marques, Francisco Marques Teixeira e Fanny Fazakas (Hungria) no Hackathon - uma das modalidade existentes no festival escandinavo - permitiu-lhes carimbar um Blue Vinyl Award, depois de terem criado e desenvolvido este projeto no espaço de 24 horas, respeitando uma série de parâmetros ligados à estrutura do MusicBricks. O júri rendeu-se à peça performativa audiovisual para dois atores que expõem uma narrativa concetualmente ancorada num evento inter-relacional entre dois seres humanos (uma espécie de jogo baseado em provocação/perceção, tendo como ingredientes gestos, expressão corporal, receção/perceção/reação cerebral, iteração). Em termos de processos e tecnologias o projeto de Horácio Tomé Marques baseia-se em gestos/movimentos e potenciais elétricos do cérebro, onde um dos participantes usa vários sensores de gestos/movimentos R-IoT (IRCAM) e o outro usa um interface cérebro-computador (Emotiv).

tos EEG), criada por si e por outro estudante FEUP (Hugo Cardoso) publicada e disponível no portal da Emotiv. A investigação doutoral do Horácio Tomé Marques, Music, Reason and/or Emotion, substancia-se num projeto multidisciplinar que propõe representações - e.g., narrativas visuais, sonoras, multi-sensoriais - em tempo-real dos fenómenos elétricos do cérebro, através do uso de interfaces cérebro-computador (BCI). “Implementa abordagens inovadoras de representação dos processos ação/perceção/reação, especialmente do rácio proporcional, entre razão e emoção no contexto das artes performativas, sobretudo da música. É um projeto-investigação artístico, mas fortemente fundamentado por quadros de referência teórica e experiências nas áreas das neurociências, neurotecnologia e ciências da computação” conclui o estudante de Doutoramento da FEUP.

Sobre os MusicBricks Estes interfaces (BCI - Brain Computer Interface) permitem captar os fenómenos elétricos do cérebro e transformá-los, via software especializado, em dados digitais. Estes podem, por sua vez, ser usados para denotar fenómenos como as emoções, ou para controlar eventos ou mecanismos. São, a exemplo, uma tecnologia emergente nos jogos onde são usados como controlares de jogo, pois permitem jogar com impulsos gerados no cérebro em substituição dos joysticks. Neste projeto Horácio usou também a aplicação HoMy_EmoRAW (toolbox de acesso facilitado a dados bru-

Os prémios de incubação MusicBricks são incentivos à continuidade de investigação e desenvolvimento, configurados por bolsas de 3 000 euros que premeiam projetos inovadores, bem fundamentados, que denotem um histórico de investigação e que têm um claro potencial de evolução futura e venham a ter impacto efetivo nos campos das artes, ciência e tecnologia. musictechfest.net/musicbricks

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VENCER

MASDIMA: a solução para reduzir custos no transporte aéreo Cinco anos de investigação e uma tese de doutoramento permitiram a António Castro desenvolver um sistema, baseado em noções de inteligência artificial, capaz de reduzir os custos que habitualmente estão associados às companhias aéreas. Foi considerada a melhor tese pela Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial (APPIA) em 2013-2014 e serviu de alicerce à criação do MASDIMA, o mais recente spin-off da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP).

Texto: Raquel Pires Fotografia: D.R.

António Castro tem 50 anos. Diz que o momento de viragem na sua vida se deveu ao facto de ter ingressado no Mestrado de Inteligência Artificial e Sistemas Inteligentes (MIASI) em 2004 e de ter encontrado na FEUP as condições que lhe permitiram uns anos mais tarde desenvolver trabalho de investigação de elevada qualidade. “A Distributed Approach to Integrated and Dynamic Disruption Management in Airline Operations Control” é o resultado final de cinco anos dedicado ao programa Doutoral em Engenharia Informática da FEUP: o objetivo da tese é aplicar técnicas de Inteligência Artificial, tais como, sistemas multi-agente, negociação automática e aprendizagem para a resolução de problemas não previstos nos centros de controlo operacionais. Isto aplica-se aos vários tipos de transporte (aéreo, ferroviário, rodoviário e marítimo) mas, também, noutros domínios como o controlo de produção de uma fábrica, por exemplo.

caso da TAP Portugal, que tem uma receita de aproximadamente 2 mil milhões de EUR, os custos rondam os 40 a 60 milhões por ano. Tudo isto sem contarmos com o impacto na satisfação dos passageiros (goodwill).

De acordo com António Castro, estamos a falar de setores com um grande impacto na economia das empresas. Por exemplo, no caso do transporte aéreo, o custo direto das operações irregulares (é o termo usado neste domínio) anda entre os 2% a 3% da receita anual das empresas. No

Em 2014, juntamente com Ana Paula Rocha e Paulo Maia, António Castro lançou-se na criação da MASDIMA, uma start-up da FEUP incubada no Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto (UPTEC). “Estamos a trabalhar com a TAP Portugal no PoC (Proof-of-Concept). O objetivo é criar

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Na tese foi proposto um sistema multi-agente chamado MASDIMA que, no caso do transporte aéreo, mostrou que é possível atingir pelo menos uma redução de 13% desses custos diretos (um valor entre 5,2 a 7,8 milhões de EUR/ano no caso da TAP Portugal) e aumentar a satisfação dos passageiros em 58% sem aumentar outros tipos de custos. Adicionalmente, o sistema mostrou que é possível reduzir os atrasos dos voos em aprox. 86%. Na opinião de António Castro, “estas duas componentes têm um grande impacto não só na economia da companhia aérea mas, também, na do transporte aéreo, pois as companhias aéreas operam numa rede à escala mundial”.


VENCER

produtos baseados na tecnologia desenvolvida na tese e que possam ser comercializados não só em Portugal mas, sobretudo, internacionalmente. Atualmente estamos a procurar ativamente investidores, em Portugal e também nos EUA”, confessa o antigo estudante da FEUP. “Uma tecnologia avançada como a nossa, em que, ela própria, é disruptiva relativamente à tecnologia atual, requer uma visão diferente por parte dos potenciais investidores. Essa é uma das razões pela qual estamos, neste momento, a procurar investidores e apoio nos EUA”, admite António Castro. Além da tese e de todos os artigos científicos publicados, foi também publicado um livro pela Springer em coautoria com Eugénio Oliveira e Ana Paula Rocha, professores na FEUP, sendo o primeiro orientador da tese premiada pela APPIA. Em julho de 2015 foi submetido o processo de patente do sistema MASDIMA. masdima.com

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Nota Biográfica Licenciado em Engenharia de Sistemas de Informação, pelo ISEP em 1995 e Mestre em Inteligência Artificial e Sistemas Inteligentes, pela FEUP em 2007, António Castro é Doutor em Engenharia Informática, pela FEUP desde 2013. Com um passado ligado ao setor da aviação, António Castro fez ainda uma pós-graduação em Operações de Transporte Aéreo no Instituto Superior de Educação e Ciências - Lisboa (ISEC) em 2008. É Consultor da Administração da TAP Portugal para projetos de TI desde 2003, sendo responsável por liderar equipas com o objetivo de conceptualizar e implementar projetos de larga escala no âmbito do Transporte Aéreo. Foi também assistente convidado do Departamento de Engenharia Informática da FEUP entre 2006 e 2011 tendo lecionado várias unidades curriculares como Algoritmos e Estruturas de Dados, Conceção e Análise de Algoritmos e Agentes e Inteligência Artificial Distribuída.

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PROMOVER

FEUP organiza final europeia de competição de engenharia Uma das maiores competições de engenharia europeia aconteceu em Portugal pela primeira vez. De 2 a 11 de agosto, a European BEST Engineering Competition - EBEC - tomou de assalto os corredores e espaços da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), que foi o palco principal para 120 estudantes oriundos de todos os cantos da Europa. Pela primeira vez a organização deste evento e o desenho da competição, que conta com a chancela da UNESCO, ficou a cargo do BEST Porto, num esforço que envolveu mais de 70 estudantes das faculdades de Engenharia e Ciências da U.Porto, tendo sido recentemente distinguido com o 1º lugar do Prémio Carlos Magno depois desta competição. ebecportugal.pt

Fotografias: D.R.

Um dos muitos testes na categoria de Team Design

Durante a competição os estudantes tiveram a oportunidade de participar em diversas iniciativas culturais organizadas pelo BEST Porto

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Sessão de abertura, na Casa da Música

Na categoria de Team Design, as equipas foram convidadas a desenvolver um protótipo com materiais de baixo custo

Apresentação final dos protótipos

Pela primeira vez, Portugal acolheu uma final europeia das competições de engenharia: mais de 120 estudantes europeus invadiram a FEUP durante 10 dias de prova

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promover

Texto: Helena Peixoto Fotografia: D.R.

Embaixadores Alumni@FEUP: Reino Unido De espírito curioso e com sede de saber, Paulo sempre foi fascinado por descobrir como funcionavam as coisas ao seu redor. Prova disso eram as brincadeiras desde pequeno que faziam antever uma costela de engenheiro: adorava quando um carro a pilhas se “avariava” para o poder desaparafusar, ou quando simples tubos de plástico se transformavam em horas a fazer circuitos de água. No secundário, a forma como resolvia alguns exercícios de química, física ou matemática comprovou a sua vocação: queria mesmo engenharia, área de Química. Escolheu a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) não só pela proximidade da sua terra natal (Leça da Palmeira), mas também pela afirmação da instituição como uma das melhores escolas de engenharia do país e Europa. Em simultâneo com a licenciatura também trabalhou: primeiro no Labcork – Laboratório Central do Grupo Amorim e depois na Fluidinova - Engenharia de Fluidos, S.A., uma spin-off da FEUP da qual é também sócio-fundador. Posteriormente, fez uma pós-graduação em Empreendedorismo, na Porto Business School (PBS). Em 2010, prestes a terminar o doutoramento na mesma área, sentiu necessidade de testar os conhecimentos

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B.I. Nome: Paulo Gomes Idade: 33 anos Embaixada FEUP: Reino Unido Percurso: Natural de Leça da Palmeira, Paulo Gomes vive no Reino Unido há cerca de cinco anos, dois dos quais passados em Cambridge e os restantes em Londres. Grande parte da sua vida académica foi passada na FEUP, onde concluiu uma licenciatura e um doutoramento em Engenharia Química. Enquanto estudava para o doutoramento, lecionou Informática Industrial e depois rumou ao Reino Unido para trabalhar na BHR Group. Atualmente trabalha na BP, no centro de Upstream Technology.

num contexto industrial. Portugal estava ainda a sofrer repercussões da crise económica de 2008 e Paulo rumou ao Reino Unido para trabalhar na BHR Group. A mudança de país foi facilitada pela presença de alguns amigos em Cambridge (e de uma amiga em particular, que veio a


promover O novo ano letivo arranca com a abertura de oito novas embaixadas em todo o mundo: Dinamarca, Espanha, França, Gana, Perú, Qatar, República Checa e Estados Unidos (EUA) são os países que vão contar este ano, pela primeira vez, com ações específicas levadas a cabo por Alumni Embaixadores da FEUP. As novas embaixadas juntam-se às onze (Alemanha, Angola, Bélgica, Holanda, Lisboa, Luxemburgo, Noruega, Suécia, Suíça, Reino Unido e Brasil) que transitam do ano anterior, perfazendo um total de 19.

tornar-se namorada e, mais tarde, esposa), mas existem sempre desafios. A barreira da língua surge não no ponto de vista gramatical mas pelos diferentes sotaques existentes e há sempre processos burocráticos a tratar. Outra das maiores dificuldades é a gestão de expectativas: Paulo tenta ir a Portugal a cada 2 ou 3 meses, mas para familiares e amigos nunca é tempo suficiente e a agenda fica rapidamente cheia. Há sempre um aperto no coração na hora de regresso: “penso que há um sentimento partilhado por todos os emigrantes de que era ideal ter um botão ‘pause’ que se pressionaria sempre que saímos da terra natal para o estrangeiro; botão esse que voltaria a ser ‘play’ sempre que regressássemos. Infelizmente não é assim, e os sobrinhos continuam a crescer, os pais vão continuar com saudades, os amigos a seguir com as suas vidas, a cidade a mudar... Esta é a realidade mais difícil de gerir”, confessa o embaixador alumnus FEUP. Atualmente a trabalhar na BP, desempenha as funções de “Drilling Modelling/Applications Engineer”, com responsabilidades que passam por desenvolver métodos numéricos e modelos de simulação para prever o comportamento de fluidos usados nas operações de perfuração e consolidação de poços de petróleo e gás natural. Acompanha também a implementação dessas ferramentas numéricas em várias regiões de exploração, o que lhe permite viajar e dar apoio a locais tão distintos como o deserto americano de Wyoming e plataformas no meio do Mar do Norte, no Azerbaijão, Golfo do México, Angola... A ideia de se candidatar a embaixador Alumni FEUP surgiu na sequência do apoio dado à FEUP para a organização do primeiro evento no Reino Unido em outubro de 2013. Nessa altura a rede Alumni estava a arrancar e havia muitas expectativas relativamente ao modo como tudo iria desenrolar-se. A experiência de trabalho “foi muito enriquecedora”. Paulo acreditou que, ao tornar-se embaixador Alumni FEUP, além de dar algo de volta à casa que o formou, receberia a recompensa social de conhecer pessoas, partilhar desafios e soluções, e ajudar os recém-chegados a Londres a integrar-se com a comunidade e com os locais. Não deixa porém de referir que todo o trabalho associado se torna fácil por ser apenas um elemento de uma equipa fantástica com mais dois Alumni

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O Programa Alumni Embaixadores constitui uma oportunidade para os alumni contribuírem para a projeção da FEUP como escola de engenharia de excelência, através da promoção desta instituição junto dos seus contactos nacionais e internacionais. Corresponde, ainda, a mais uma forma de demonstrarem o orgulho na sua alma matter, assim como uma excelente oportunidade para alargarem a rede de contactos no país onde residem. fe.up.pt/link

Embaixadores UK - Marisa Fernandes e Fábio Reis, cada um com as suas competências individuais complementares - e graças ao apoio contínuo por parte do gabinete Alumni FEUP que ajuda no processo de definir toda uma estratégia desenhada a pensar nesta comunidade de antigos alunos. Para o seu “mandato” como embaixador FEUP, Paulo tem como grande objetivo consolidar números: ajudar a criar uma comunidade com uma base sólida, ou seja, com participantes regulares e com eventos periódicos, que já comprovaram o seu sucesso. Destaque para o almoço convívio de Natal que começou com uns 20 participantes na sua 1ª edição e em 2014 contou com cerca de 50 pessoas ou o evento “Alumni Career Conferences: My Story”, onde os alumni UK partilharam os seus diferentes percursos, ajudando os membros da comunidade com dicas para os recém-chegados ao Reino Unido, gerando sentimento de partilha e criando laços no grupo. Outra das grandes linhas de ação da embaixada passa por auxiliar estudantes e profissionais que pensam em mudar-se para o Reino Unido e dinamizar contactos de negócio entre empresas e universidades. “É muito compensador dinamizar a semente da rede que dá origem a uma evolução natural dentro da comunidade”, refere. O futuro também vai trazer surpresas: a rede será uma ponte para empresas portuguesas que queiram desenvolver negócios no Reino Unido e vão ser organizados eventos com uma componente social. Paulo não deixa de referir a importância das embaixadas Alumni FEUP espalhadas pelo mundo que podem ajudar a criar uma rede de contactos de cooperação, de canais de comunicação e partilha, edificando o bom nome dos profissionais de engenharia Portugueses. A comunidade Alumni FEUP possui elementos em diferentes fases das suas carreiras: recém-licenciados/recém-doutorados; jovens profissionais que reconhecem a FEUP como alavanca para atingir os objetivos, pessoais e profissionais e querem dar algo de volta à casa; e ainda os mais sénior que aconselham os mais novos e já são responsáveis por recrutar novos engenheiros para as empresas onde trabalham. “Independentemente da fase em que nos encontramos, todos temos uma coisa em comum: todos somos FEUP, e isso nunca mudará!”

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Promover

Texto: Raquel Pires Fotografia: D.R.

FEUP e BERD lançam prémio mundial de É uma espécie de prémio nobel das pontes e foi anunciado no passado 28 de julho, numa sessão Inovação em diapública que envolveu a Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) Engenharia e a BERD, empresa portuguesa especializada em equipamentos de Pontes com sistemas de pré-esforço para a construção de pontes. Com o lançamento deste prémio as duas entidades pretendem partilhar a nível internacional o sucesso do modelo de investigação e desenvolvimento que a BERD e a FEUP têm vindo a aplicar nos últimos anos e manter ambas as instituições em contacto com a vanguarda da engenharia internacional de pontes, ao mesmo tempo que contribuem para o seu avanço. Pedro Pacheco, CEO da BERD, afirmou durante a sessão de apresentação do prémio que “a engenharia de pontes portuguesa tem condições para ocupar um lugar de liderança no mapa internacional da engenharia civil”, sustentando que “a organização de um prémio com esta envergadura constitui uma enorme responsabilidade e um grande desafio, dado o objetivo de contribuir para um posicionamento de liderança da engenharia de pontes portuguesa”. O diretor da FEUP, João Falcão e Cunha, enfatizou também a importância do galardão: “este é o primeiro prémio lançado a nível nacional e internacional focado na inovação em engenharia de pontes”, devendo por isso passar a ser considerado “o prémio Nobel das Pontes”, enaltecendo assim a capacidade de inovação dos engenheiros nacionais e internacionais. Trata-se de uma excelente oportunidade “para promover a nível internacional as elevadas capacidades existentes no domínio da engenharia de pontes”, adianta João Falcão e Cunha.

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A ligação da BERD - uma empresa especializada em equipamentos com sistemas de pré-esforço para a construção de pontes - e a da FEUP neste prémio trianual, no valor de 50 mil dólares (46 mil euros) remonta a 1994, ano em que a BERD surge no mercado como spin-off da FEUP, na sequência da tese de doutoramento de Pedro Pacheco. Toda a base que sustentava a linha de investigação da tese foi considerada inovadora à época: aplicar à estrutura de pontes noções e princípios que normalmente estão associados ao músculo humano. Surgiu assim o sistema OPS - Sistema de Pré-esforço Orgânico, uma espécie de músculo artificial usado em cimbres (estruturas temporárias de suporte), para construir pontes, já com patente mundial, e o M1, um equipamento de construção que só se tornou viável com esta tecnologia. O M1 é um cimbre que possibilita a construção, in situ, de pontes e viadutos com vãos até 120 metros tornando-se o maior cimbre autolançável da atualidade, que graças ao sistema OPS permite chegar a novos limites na construção de pontes e viadutos. A empresa sediada no Porto ocupa o top 3 mundial na área de soluções para a engenharia de pontes. Emprega 40 trabalhadores e está a exportar 100% do que faz. Em Portugal, marcou presença no viaduto do Corgo, mas desde então tem-se dedicado ao mercado externo, tendo neste momento cerca de 15 projetos a decorrer um pouco por todo o mundo. www.fe.up.pt/wibe


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Engenharia de Minas da FEUP celebra duplo Aniversário Alexandre Leite e António Fiúza*

No ano de 2015, o Curso de Engenharia de Minas comemorou 130 anos e 100 anos da sua criação, respetivamente na Academia Politécnica do Porto (1885) e na Faculdade Técnica (1915), embrião da futura FEUP. É pois, um dos mais antigos Cursos da UP.

funcionamento, e o envolvimento dos docentes do DEM em diversos projetos de relevo nacional e internacional. Em alguns destes projetos foram ainda integrados estudantes, seja com a participação ativa com publicações e dissertações, seja como observadores/acompanhantes.

Desde os primórdios da Humanidade que o Homem recorre aos recursos naturais para a melhoria da sua vida. A Engenharia de Minas encontra-se na primeira linha desse processo de aproveitamento do que a Natureza tem para oferecer. Desenvolvendo-se e especializando-se ao longo dos tempos, esta Engenharia contribui para a prospeção, extração e transformação dos recursos naturais com o seu “know-how” e os seus especialistas. Com o aumento e desenvolvimento das sociedades surgem os chamados “problemas dos tempos modernos” - elevados índices de consumo, de produção de resíduos e de poluição - o que tornou premente acrescentar à Engenharia de Minas a vertente de atividade denominada de “Geo-Ambiente”, sendo hoje um dos pilares básicos da sustentabilidade do setor.

Nos dias de hoje, a indústria extrativa é desenvolvida de acordo com parâmetros tecnológicos modernos e orientada segundo objetivos de desenvolvimento sustentável. A sua importância estratégica no panorama da economia nacional tem sido realçada pela comunidade científica e por alguns decisores políticos quando sobre ela refletem de modo sério. Pode mesmo ser considerado um dos setores melhor posicionado para contribuir para um real desenvolvimento da economia do País.

Recorrendo aos conhecimentos científicos de base de todas as engenharias, a tecnologia mineira alicerça-se nas ciências da terra, ambientais, sociais e na gestão e tem em vista a construção de um corpo cognitivo e coerente e uma visão holística dos geo-recursos. Assim, e no sentido de prosseguir com o processo de atualização e desenvolvimento da formação nesta singular engenharia de que a sociedade não prescinde, o Departamento de Engenharia de Minas da FEUP (DEM) realizou nos últimos 15 anos um enorme esforço de criação de infraestruturas de investigação. De realçar os dez Laboratórios de Investigação em pleno

Continuando o caminho de mais de 130 anos, o DEM forma Engenheiros de Minas preparados para contribuir para esta área fundamental da qual dependem praticamente todas as tecnologias. Para assinalar este duplo centenário, o DEM promoveu diversas iniciativas: criação de um site (fe.up.pt/deminas), a respetiva Sessão Solene a 21 de julho, a organização do 3º Simpósio em Caraterização e Reabilitação do Subsolo, um Curso de Desmonte a Céu Aberto em outubro, com a colaboração da Escola de Engenharia de Minas de Madrid, o II Fórum da Indústria Extrativa e da Formação/ Investigação em Engenharia de Minas, uma exposição temporária na Biblioteca da FEUP com o título “A Luz e a Santa das Minas” e, a culminar estas atividades, a celebração a 4 de dezembro o tradicional Dia de Santa Bárbara, Patrona dos Mineiros. * Professores do Departamento de Engenharia de Minas Fotografia: D.R.

Na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), o ensino da Engenharia de Minas e Geo-Ambiente está estruturado de forma a oferecer uma habilitação integrada fundamentada na análise do ciclo de vida dos geo-recursos. Este ensino envolve formação avançada, entre outros, nos domínios da prospeção e inventariação dos recursos naturais, do projeto mineiro e do impacte ambiental potencial, da exploração e transformação de minérios e rochas, da deposição e tratamento dos resíduos e efluentes e da desativação, encerramento e controlo ambiental de espaços mineiros.

De salientar que, de acordo com os dados do Inquérito aos Graduados em 2013/2014 do Observatório de Emprego da FEUP 2015, o Mestrado em Engenharia de Minas e Geo-Ambiente obteve uma taxa de empregabilidade de 100%, a mais alta da Faculdade de Engenharia.

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O que estamos a celebrar no centenário da Faculdade Técnica? Susana Medina*

No âmbito da comemoração do centenário da Faculdade Técnica, foi apresentada na Biblioteca da FEUP a exposição “Centenário da Técnica: Documentos com História”, na qual se procurou materializar a história e a memória de um dos períodos significativos da história do ensino e da aprendizagem da Engenharia no Porto: o momento compreendido entre a criação da Faculdade Técnica em 1915 e a sua transformação em Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto em 1926. Essas materialidades assumem a forma de documentos e artefactos até então guardados em arquivos, museus, bibliotecas e depósitos da Universidade do Porto. O estudo efetuado a partir destas evidências de vida e de produção intelectual da comunidade “Faculdade Técnica” permitiu identificar sinais das dinâmicas de transformação próprias da conjuntura da época e dos seus reflexos no desenvolvimento da recém-criada escola. Por sua vez, a interpretação desses sinais suscitou a formulação de novas questões sobre o processo histórico institucional, o que pode reforçar a ideia do período da Faculdade Técnica como relevante momento de transição no continuum da História do ensino da Engenharia na cidade do Porto e no País. De facto, embora a Academia Politécnica do Porto (1837-1911) tenha constituído o marco decisivo na formalização do ensino técnico de aplicação civil no Porto, a afirmação da formação técnica superior e a autonomia que permitiu a condução de um programa científico-pedagógico especializado só foram alcançadas de facto com a criação da Faculdade Técnica. Tal como foi analisado pela socióloga Maria de Lurdes Rodrigues (2002), foi a partir de 1911 que a Engenharia portuguesa se institucionalizou como domínio de conhecimento transmitido e produzido nos estabelecimentos de ensino superior. Foi esse o ano de criação do Instituto Superior Técnico e também da Escola de Engenharia anexa à Faculdade de Ciências na récem-criada Universi-

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dade do Porto. De 1911 a 1915, viveu-se um momento de transição durante o qual o ensino da Engenharia no Porto se manteve ainda dependente, em termos orgânicos, pedagógicos e financeiros, da Faculdade de Ciências. A Escola de Engenharia iniciou as suas atividades com o mesmo programa de formação para os cursos de engenharia civil da anterior Academia Politécnica, debatendo-se com a falta de espaço próprio e com o escasso número de docentes especializados. Poucas foram, portanto, as mudanças a assinalar em termos de organização do ensino neste período. Decorreram cerca de quatro anos desde a criação da escola anexa até que as transformações de maior envergadura ocorressem no ensino técnico superior no Porto. Em agosto de 1915, foi aprovada a lei orçamental que permitiu à Universidade do Porto constituir uma nova Faculdade destinada ao ensino de ciências aplicadas. Podemos afirmar que o referendo desta lei se deveu em grande parte à ação reiterada e persistente do Reitor Francisco Gomes Teixeira e de um grupo de docentes da Faculdade de Ciências - dos quais se destacaram Augusto Nobre e Luís Woodhouse, aos quais se juntaram representantes da sociedade civil portuense, junto de um grupo de deputados do parlamento republicano e do então Ministro da Instrução Pública, João Martins Júnior. Foi, então, considerada estrategicamente indispensável a viabilização política e orçamental da Faculdade Técnica, na perspetiva de um papel ativo das várias especialidades da Engenharia na prossecução do ideal republicano de modernização tecnológica e social do País. Neste sentido, foi aumentada a oferta de cursos de Engenharia com novos ramos específicos de formação: às engenharias civil e de minas, juntava-se agora a engenharia mecânica, eletrotécnica e químico-industrial. De destacar as alterações ao modo de ensinar, acrescentando uma componente prática ao ensino teórico das ciências


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fundamentais e aplicadas sob a forma de trabalhos em laboratórios e oficinas, tirocínios e visitas de estudo, assim como de trabalhos de projeto a defender em final de curso pelo candidato ao diploma de engenheiro. A evolução do ensino, em comparação com a Academia Politécnica, fez-se também sentir de forma considerável no número e na especialização de cadeiras ministradas, passando de 8 para 29 em 1915 e para 32 na reformulação de 1918. No entanto, se este contexto transformador aproximou o ensino da Engenharia no Porto dos ideais progressistas do País, o mesmo provocou igualmente constrangimentos ao desenvolvimento da récem-criada Faculdade. Apesar do voluntarismo e esforço dos seus criadores, o clima de instabilidade política e financeira vivido no período republicano inibiu as condições necessárias à concretização da nova escola. Por outro lado, a entrada de Portugal na I Guerra Mundial em 1916 veio igualmente perturbar o seu crescimento, o que se traduziu em número decrescente de estudantes e docentes em virtude da incorporação de milicianos no contingente nacional, na impossibilidade de suprir as lacunas de professores através de novas contratações, no número de conclusões de curso por ano e nas sucessivas dotações orçamentais anuais de baixo valor. A atividade dos anos que se seguiram ao final da Grande Guerra marcou o início de um novo ciclo da Faculdade Técnica. Entre várias manifestações, é de realçar a intensidade com que esta aparece em termos públicos, seja através da organização de cerimónias comemorativas e da participação em atos de natureza científica, ou da realização de mostras anuais dos resultados do trabalho académico aos habitantes da cidade do Porto. Note-se que é igualmente nesta época que, por determinação legal, os laboratórios da Faculdade começaram a poder prestar serviços ao exterior, aproximando o ensino técnico superior do tecido industrial e produtivo da região.

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Torna-se particularmente evidente neste período a figura de Luís Couto dos Santos (1872-1938), Engenheiro Civil e de Obras Públicas pela Academia Politécnica do Porto, nomeado Diretor da Faculdade Técnica em 1919. Com o dinamismo que imprimiu ao seu mandato, colocando o espírito empreendedor que o caracterizava ao serviço do desenvolvimento da escola, Luís Couto dos Santos liderou processos decisivos para a melhoria considerável da qualidade do ensino e da investigação, para a construção da identidade da Faculdade Técnica com reflexos, anos mais tarde, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, bem como para a afirmação da função social do engenheiro. Como foi anteriormente referido, a outra data extrema que escolhemos para enquadrar o nosso trabalho de pesquisa foi a do ano de 1926, não só o ano da transformação da Faculdade Técnica em Faculdade de Engenharia, mas também o ano marcado pela definição legal do título de engenheiro através do decreto nº 11988 de 26 de julho do mesmo ano. Concluimos o exposto com a convicção que há ainda muitas outras perspetivas a explorar a partir do acervo documental e museológico sobre a Faculdade Técnica reunido pelos Serviços de Documentação e Informação da FEUP até ao presente. Para já, consideramos cumprida a primeira etapa do nosso trabalho: a que nos fez despertar para o período da Faculdade Técnica, nos deu a oportunidade de reviver de forma partilhada este importante acontecimento e de conhecer melhor e organizar os elementos identitários que projetaram as ideias e formas deste coletivo FEUP através dos tempos. Confirmamos, portanto, realizações passadas; vamos prosseguir o trabalho inspirados por essas possibilidades de futuro. fe.up.pt/centenariodatecnica * Museóloga. Serviço de Documentação e Informação FEUP, Museu.

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SITU SCALE: a balança inteligente que o ajuda a comer de forma saudável

Texto: Helena Peixoto Fotografia: D.R.

Desafiado por um amigo jornalista, o alumnus FEUP José Farinha lançou-se na aventura de criar uma balança que promete revolucionar os hábitos alimentares: com a SITU Scale é possível monitorizar a informação nutricional de todos os alimentos ingeridos diariamente e melhorar decisões.

Saber a quantidade exata de calorias, açúcares, proteínas, vitaminas e minerais de um alimento ou de uma refeição inteira sem andar perdido a desvendar rótulos. Um sonho de muitos que passa a realidade com a balança de cozinha SITU. Com esta ferramenta é possível, pela primeira vez, obter facilmente a quantidade exata de calorias, açúcares, sal, proteínas, vitaminas e minerais de qualquer alimento com base no peso do ingrediente. E como? Muito fácil: pesa-se uma laranja na balança, a informação é enviada para a aplicação do iPad, seleciona-se na app o ingrediente que se está a pesar e, automaticamente, toda a informação nutricional é revelada. A partir daí, é possível gravar a informação e através do histórico verificar a quantidade de nutrientes ingerida por dia, semana ou mês, dos ingredientes gravados. Além disso, a SITU funciona como ferramenta de grande utilidade para pessoas com necessidades alimentares específicas como o caso de pessoas com diabetes, hipertensão e até mesmo atletas, que necessitam contar e perceber as calorias que ingerem, ajudando as pessoas a controlar a sua alimentação quaisquer que sejam os seus objetivos, sejam eles perder peso, ganhar massa muscular, melhorar os hábitos nutricionais, ou contribuir para uma alimentação mais saudável e equilibrada. Casos de sucesso? Não haverá melhor exemplo do que o de Michael, sócio de José, que desde sempre lutou contra o peso e foi a ‘cobaia’ da ferramenta. Em pouco mais de sete meses, perdeu mais de 30kg. Licenciado em engenharia de minas pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), José partiu

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para Londres em 2007 motivado por uma oferta de emprego e pela perspetiva de ir viver para uma das maiores capitais europeias, mas em 2010, deixou a engenharia e dedicou-se à fotografia, atividade que mantém em paralelo com o negócio criado. Foi em 2012 que o alumnus FEUP, motivado pelo amigo Michael, um jornalista americano especializado em tecnologia, entrou na aventura de desenvolver a balança capaz gerir o que comemos e que ajuda a cultivar a saúde e o bem-estar físico. O projeto SITU teve duas fases de investimento: inicialmente foi maioritariamente auto-financiado e obteve alguns apoios governamentais do Reino Unido. Numa segunda fase e para arrancar com a produção inicial, molde e primeiras 1000 unidades (que estão praticamente todas vendidas), foi lançada uma campanha de crowdfunding onde se obteve mais de 50 mil euros, essenciais para a concretização do projeto, não só pelo investimento, mas pela excelente recetividade de mercado. Neste momento, a empresa procura investidores para desenvolver as novas ideias e funcionalidades. Como principal mercado, a equipa aponta os Estados Unidos e o Reino Unido na Europa por serem os principais compradores da SITU e por ambos os mercados serem muito conhecidos como os “Early Adopters” na área da tecnologia e health tech. A balança tem um custo de cerca de 90 euros e está disponível para venda através do site: www.situscale.com/product. A aplicação é gratuita e descarrega-se na Apple Store.


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