Engenharia
engenharia Boletim Informativo da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Outono 2016
FEUP: o player da inovação no cluster da ferrovia portuguesa 6 milhões de euros para projetos de Unidades de I&D da FEUP
Investigadores da FEUP criam G.P.S. inédito
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SUMÁRIO
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p.9
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p.32
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EDITORIAL
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O papel da Investigação na Educação e na Inovação
FEUP NO MUNDO
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Acontecimentos com ADN FEUP
INOVAR
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6 milhões de euros para projetos de Unidades de I&D da FEUP FEUP e FMUP promovem ensaios clínicos em abdominoplastias FEUP e FCNAUP criam protótipo de doseador de sal portátil Laboratório da FEUP ajuda empresas a criar novos produtos e serviços
EMPREENDER
10 FEUP: o player da inovação no cluster da ferrovia portuguesa 13 Entrevista: Augusto Costa Franco “Estamos a servir e a atacar mercados de elevada relevância mundial”
p.36
AGIR
16 Uma visão do futuro para a Engenharia Civil 17 Uma experiência única de voluntariado na Amazónia
Cooperar
19 Entrevista: José Marques dos Santos “A pedagogia tem de evoluir, o modo de levar o estudantea aprender exige metodologias e ferramentas diferentes das tradicionais” 22 Fotorreportagem: Mais de 40 participantes no convívio de Natal Alumni FEUP do Reino Unido 24 Sakthi: o apogeu da borboleta entre a faculdade e a indústria 25 A U.Porto, o curso de Comandos e os conhecimentos de Duplo Uso 26 Brasil: o nosso mais privilegiado exportador de talento
VENCER
28 Adélio Mendes distinguido com Prémio Universidade de Coimbra 2016 29 Investigadores da FEUP criam G.P.S. inédito
promover
30 A participação na final de Kiruna vista por dentro 32 Fotorreportagem: Alumni da Faculdade de Engenharia regressaram a “casa” 34 Os eventos como experiência emocional 35 FEUP colabora em projetos de promoção da Ciência no ensino básico e secundário
Interpretar
36 Estudantes brasileiras “Perdidas no mapa” aterram na FEUP 38 Sistema de bagagem inteligente pelas mãos de estudantes da FEUP
ENGENHARIA Boletim Informativo da FEUP Edição* Divisão de Comunicação e Imagem da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto dci@fe.up.pt Conselho editorial Carlos Oliveira e Raquel Pires Redação Helena Peixoto e Raquel Pires noticias@fe.up.pt Design e Produção César Sanches design@fe.up.pt
Colaboram nesta Edição: Álvaro Martino, Egídio Santos, Luís Rocha e Mariana Ferrand. Publicidade Sara Cristóvão - publicidade@fe.up.pt Propriedade Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Sede FEUP Rua Dr. Roberto Frias, 4200-465 Porto Tel: 22 508 1400 e-mail: dci@fe.up.pt url: www.fe.up.pt
Impressão Empresa Diário do Porto, Lda. Porto 12 - 2016 Periodicidade Semestral Tiragem 3000 exemplares Depósito legal 225 531/05 * Esta edição foi escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico.
EDITORIAL
O papel da Investigação na Educação e na Inovação João Falcão e Cunha*
A FEUP tem por missão desenvolver atividades de educação, investigação e inovação de nível internacional. Em conformidade, são resultados destas atividades a criação, transmissão e difusão de conhecimento, a formação de profissionais competentes e éticos e futuros líderes na área de engenharia e afins, assim como a promoção do bem-estar da sociedade global. A atividade de investigação, criando conhecimento novo com bases científicas sólidas, está a ser aprofundada por toda a nossa comunidade sobretudo no contexto das unidades de investigação. Esta atividade, feita quase sempre em colaboração com outras instituições nacionais e internacionais, apoia uma educação atualizada, permitindo que os estudantes aprendam com uma base em conhecimento relevante para o futuro da economia e da sociedade. Espera-se que a criatividade e o contacto com os problemas atuais permitam que uma parte dos resultados da investigação originem ideias com valor, levando por exemplo à criação de novos produtos, serviços, processos ou empresas. A qualidade dos graduados pela FEUP e a qualidade da atividade das unidades de investigação, resultado do envolvimento dedicado da nossa comunidade, tem sido um aspeto muito relevante para que várias empresas estejam a crescer significativamente as suas atividades na região, vocacionadas para a sociedade global. Desejamos fortalecer as relações com essas organizações dinâmicas e inovadoras. O ano de 2016 tem sido repleto de boas notícias e eventos relevantes, alguns dos quais apresentados nesta edição da Revista da FEUP. Destaco por exemplo o crescimento do número de estudantes internacionais que procuram a FEUP para uma experiência de estudo ou investigação ou para aqui obterem o seu grau académico. Saliento a notícia sobre a missão ao Brasil e o trabalho em curso para permitir que mais estudantes brasileiros conheçam a FEUP como destino para estudos de mestrado e doutoramento. Pelo simbolismo que representam, gostaria de referir as três seguintes iniciativas que muito podem representar para o futuro da FEUP: • As unidades de investigação aguardam com grande expectativa os editais sobre os concursos para os novos Laboratórios Colaborativos a apresentar pela FCT.
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• O Conselho Científico iniciou a análise da evolução dos recursos da FEUP nos próximos 20 anos e o papel dos departamentos nos ciclos de estudo de licenciatura, mestrado e doutoramento, que envolvem sempre conhecimentos multidisciplinares e propedêuticos. • A FEUP, o INESC TEC e o INEGI acordaram na constituição do FABTEC, Laboratório de Processos e Tecnologias para Sistemas Avançados de Produção, uma estrutura de caráter multidisciplinar, sem existência jurídica própria, facilitando a partilha dos respetivos recursos existentes na área dos sistemas de produção avançada, incluindo a necessidade de preparar técnicos para os novos desafios que a indústria exportadora enfrenta. Nas páginas seguintes desta revista são apresentadas notícias da nossa comunidade, de que realço a atribuição ao Prof. Adélio Mendes do Prémio Universidade de Coimbra 2016 e o projeto UP Clérigos, para visitas inclusivas à Igreja e Torre dos Clérigos, vencedor do IUP25K, envolvendo os investigadores João Moutinho, Diamantino Freitas e Rui Araújo. Também saliento as Medalhas de Mérito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior que foram atribuídas aos Prof. Alírio Rodrigues e Prof. Pedro Guedes de Oliveira. Destaco também um artigo a contar a aventura de uma estudante que durante um ano esteve na Amazónia num programa de voluntariado e um artigo dedicado ao lançamento da experiência da FEUP no programa BEXUS-REXUS da ESA, que decorreu na Suécia. Realço finalmente a entrevista ao Prof. José Marques dos Santos que foi diretor da FEUP e Reitor da U. Porto, com uma vida profissional sempre ao serviço público. Enalteço o seu trabalho recente como Prof. Emérito crucial para o acordo sobre o FABTEC. Iremos assim mostrar uma pequena seleção do que de melhor se tem feito na FEUP. Continuamos determinados em melhorar a qualidade da educação, investigação e inovação num contexto internacional competitivo e cada vez mais complexo. * Diretor da FEUP
Fotografia: Egídio Santos
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FEUP NO MUNDO Investigadora da FEUP preside Associação Internacional de Educação em Engenharia Teresa Restivo, investigadora e docente do departamento de Engenharia Mecânica da FEUP, é a nova presidente da International Society for Engineering Pedagogy (IGIP), órgão de referência a nível internacional no domínio da Educação em Engenharia. Durante o mandato, que terá a duração de um ano, a investigadora docente da FEUP propõe-se trabalhar sobretudo na criação de ferramentas que promovam a cooperação entre todos os membros do IGIP e também na valorização da carreira docente entendida como alicerce fundamental para a investigação de qualidade.
Governo distingue investigadores da FEUP com Medalha de Mérito Alírio Rodrigues e Pedro Guedes de Oliveira, professores catedráticos aposentados da FEUP, foram distinguidos com a medalha de Mérito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) “pelo seu valioso contributo para o desenvolvimento da ciência em Portugal”. A entrega das medalhas decorreu durante a abertura do “Ciência 2016”, o maior encontro nacional de ciência que aconteceu em Lisboa, no início de julho.
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Estudo sobre segurança rodoviária distinguido em Itália Pedro Aires Montenegro, investigador do Departamento de Engenharia Civil da FEUP, venceu o Young Researcher Best Paper Competition, na conferência Railways 2016 - Third International Conference on Railway Technology: Research, Development and Maintenance”, que decorreu em Cagliari, de 5 a 8 de abril. Orientado por Rui Calçada o estudo aborda a aplicação de uma metodologia de interação ponte-comboio a um caso real, avaliando a segurança de um comboio de alta velocidade a circular sobre um viaduto sujeito a ações sísmicas moderadas.
Professor distinguido com Prémio Carreira internacional
Investigador vence prémio internacional na área da Catálise Adrián Silva, Investigador Principal do Laboratório Associado LSRE-LCM, do Departamento de Engenharia Química da FEUP, foi distinguido com o prémio FISoCAT, que reconhece um Investigador Jovem Ibero-americano, com menos de 40 anos, que tenha realizado um trabalho original e de elevado valor científico na área da Catálise. Atribuído pela Federação Ibero-americana de Sociedade de Catálise, é a primeira vez que este prémio é atribuído a um investigador português. A cerimónia decorreu em Montevideo, Uruguai, no dia 21 de setembro, durante a realização do XXV Congresso Ibero-americano de Catálise (CICat2016).
A European Society for Experimental Mechanics (EURASEM), uma das organizações mais respeitadas em todo o mundo na área da Mecânica Experimental, distinguiu recentemente Mário Vaz, professor da FEUP, com o “Robert Hooke’s Award”, um prémio de carreira destinado àqueles que mais se destacam na promoção da Mecânica Experimental, quer como ferramenta de ensino, quer como meio de investigação. A distinção teve lugar durante a última conferência internacional da EURASEM (Conferência ICEM 17), realizada em Rhodes, na Grécia, em julho. Durante o evento, que reuniu temas de investigação com um ponto comum na experimentação e técnicas experimentais, o professor da FEUP foi também eleito presidente da EURASEM para o biénio 2016-2019.
Professor distinguido com “Global Engineering Education” Alfredo Soeiro, docente do departamento de Engenharia Civil da FEUP, foi distinguido com o prémio “Global Engineering Education Award” da Industrial Engineering and Operations Management (IEOM) Society. Este galardão representa o reconhecimento e a valorização do percurso de Alfredo Soeiro e o trabalho em prol da Educação para a Engenharia, sobretudo a dedicação à área da engenharia industrial e gestão de operações. O prémio foi atribuído durante o jantar do dia 9 de março da conferência anual da IEOM, que decorreu em Kuala Lampur de 8 a 10 de março.
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INOVAR
6 milhões de euros para projetos de Unidades de I&D da FEUP
Texto: Helena Peixoto Imagem: D.R.
O Quadro Comunitário Portugal 2020 financiou com mais de 6 milhões de euros dois projetos de Investigação e Desenvolvimento liderados pela FEUP e um outro em que a Faculdade integra o consórcio de promotores. O principal objetivo? Promover e acelerar a produção de conhecimento e soluções para os desafios da sociedade. No âmbito do concurso Programa de Atividades Conjuntas (PAC), enquadrado no Quadro Comunitário Portugal 2020, foram recentemente aprovados dois projetos de Investigação e Desenvolvimento (I&D) liderados pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e um outro que integra a faculdade no consórcio de promotores do projeto. Ao todo, são mais de 6 milhões de euros de investimento. A FEUP coordena os projetos SunStorage e SPLACH. O projeto SunStorage visa o estudo da conversão direta e eficiente da radiação solar em combustíveis químicos e eletroquímicos facilmente armazenáveis. Com um total de 2 milhões de euros de financiamento, o SunStorage é coordenado por Adélio Mendes, membro integrado do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE), unidade de I&D do Departamento de Engenharia Química da FEUP, e tem como parceiros a Universidade de Coimbra (Centro de Química) e a Associação para a Inovação e Desenvolvimento da FCT de Lisboa (Laboratório Associado para a Química Verde – Tecnologias e Processos Limpos). Para o LEPABE, foi aprovada uma dotação financeira de cerca de 800 mil euros. O SPLACH, projeto liderado por Paulo Pinho, coordenador científico do Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente (CITTA) do Departamento de Engenharia Civil da FEUP, tem como objetivo a produção de um corpo abrangente (um compendium) de políticas de planeamento e de gestão urbanística de natureza transformativa, capaz de promover uma rápida e efetiva transição para um sistema urbano socialmente inclusivo e de baixo carbono. Este projeto
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tem como parceiros o ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa e a Universidade de Aveiro. Do financiamento total de 1,8 milhões euros, coube ao CITTA o montante de 766 mil euros. A FEUP participa ainda no consórcio do projeto UniRCell, que tem como objetivo desenvolver um sistema combinado de célula de combustível/eletrolisador usando uma nova geração de materiais de elevado desempenho, baixo custo e ambientalmente sustentáveis. Coordenado pelo Instituto de Materiais de Aveiro (CICECO) sediado na Universidade de Aveiro, o projeto será desenvolvido na FEUP pelo Laboratório de Processos de Separação e Reação - Laboratório de Catálise e Materiais (LSRE-LCM), sob a responsabilidade de Fernando Pereira e pelo Centro de Estudos de Fenómenos de Transporte (CEFT), sob a responsabilidade de Alexandra Pinto, ambos docentes na FEUP. Com um financiamento global de mais de 2,2 milhões de euros as duas unidades de I&D do Departamento de Engenharia Química da FEUP vão receber cerca de 852 mil euros. Os Programas de Atividades Conjuntas pretendem apoiar propostas de investigação científica e/ou de desenvolvimento tecnológico que visem acelerar a produção de conhecimento e ou soluções para os desafios da sociedade.
INOVAR
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FEUP e FMUP promovem ensaios clínicos em abdominoplastias
Texto: Raquel Pires Fotografia: D.R.
Como é que a técnica da termografia médica pode ajudar na recuperação e diminuição de riscos de doentes que recorrem à abdominoplastia? Investigadores da Faculdade de Engenharia (FEUP) e da Faculdade de Medicina (FMUP) em colaboração com o Hospital de S. João, realizaram um estudo científico que pode influenciar tomadas de decisão relativamente a esta matéria.
20 doentes que estavam inscritos para abdominoplastia no Serviço Nacional de Saúde participaram num projeto de investigação promovido por investigadores das Faculdades de Engenharia e Medicina do Porto (U.Porto). O objetivo é estudar e analisar os benefícios da termografia médica na recuperação de diminuição de riscos de doentes que recorrem à abdominoplastia. E de que falamos quando nos referimos à abdominoplastia? Na remoção de gordura e pele excedentária da região infra-umbilical, com o intuito de melhorar o contorno corporal em doentes que sofreram, por exemplo, de uma redução de peso acentuada, ou apresentem flacidez cutânea após gravidez, ou que queiram simplesmente melhorar o contorno abdominal.
Outra mais-valia do uso da termografia é a “identificação dos vasos sanguíneos principais nas situações onde há necessidade de transferência de tecidos/retalhos, facilitando a sua ligação e mais rápida recuperação”, conclui. Este trabalho de investigação foi orientado por José Manuel Amarante, professor catedrático e diretor de cirurgia da FMUP e co-orientado por António Costa Ferreira, professor auxiliar da FMUP. Contou também com Joaquim Gabriel da FEUP e Renato Natal, Pedro Martins e Francisco Pereira do INEGI.
De acordo com Rita Valença Filipe, cirurgiã plástica e investigadora principal deste estudo científico, a abdominoplastia é provavelmente um dos quatro procedimentos mais realizados por cirurgia plástica, salvaguardando que esta informação é com base na sua sensibilidade e experiência médica. A lipoaspiração em primeiro lugar, prótese mamária em segundo, redução mamária em terceiro e depois a abdominoplastia. Ao aplicar a termografia, este estudo multidisciplinar vai permitir uma técnica de imagem inócua para o paciente aumentar o conhecimento anátomo-fisiológico da parede abdominal durante o procedimento de abdominoplastia. “Desta forma podem avaliar-se procedimentos de cirurgia plástica e reconstrutiva, dando uma informação mais objetiva aos cirurgiões que poderá no futuro influenciar a forma da realização dos procedimentos cirúrgicos e ajudar a determinar melhor o período de recuperação”, explica Ricardo Verdasca, investigador da FEUP.
Sabia que... A termografia médica é uma modalidade de imagem médica que permite avaliar a distribuição da temperatura à superfície da pele ou tecidos do corpo humano, permitindo avaliar procedimentos de cirurgia plástica e reconstrutiva, dando uma informação mais objetiva aos cirurgiões?
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FEUP e FCNAUP criam protótipo de doseador de sal portátil
Uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação e da Faculdade de Engenharia da U.Porto desenvolveu um equipamento portátil que permite dosear o teor de sal em refeições. A inovação está já patenteada e vai permitir monitorizar o teor de sal e contribuir para uma estratégia de redução do consumo de sal a nível nacional.
Texto: Raquel Pires | Fotografia: D.R.
Depois de em outubro de 2015, um artigo científico da Universidade do Porto intitulado “Salt Intake by Children and Adolescents - Contribute for Salt Reduction Strategy”, revelar que 85% dos adolescentes portugueses consomem sal em excesso, um grupo multidisciplinar composto por investigadores da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) juntou-se à equipa da Faculdade de Ciências da Nutrição (FCNAUP) com o intuito de desenvolver um doseador de sal portátil capaz de medir, em tempo útil, o teor de sal de uma determinada refeição. A forma atual de análise do teor de sal das refeições implica a sua recolha e envio para laboratório, um processo muito demorado. Com este novo equipamento será possível, na cozinha, obter o valor do teor de sal das refeições em cerca de 6 minutos, permitindo corrigir esse teor de sal, fornecendo assim refeições com um nível de sal compatível com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). A ideia de desenvolvimento deste equipamento partiu da nutricionista Carla Gonçalves no âmbito do doutoramento subordinado ao estudo do consumo de sal e desenvolvi-
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mento de estratégias de redução do consumo. O projeto obteve financiamento por parte da Direção Geral da Saúde e após um ano de trabalho o protótipo do equipamento, que está neste momento pronto para ser comercializado. Após um ano de trabalho, a equipa de nutricionistas, engenheiros químicos do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE) e engenheiros mecânicos da Unidade de Integração de Sistemas e Processos Automatizados (UISPA) da FEUP, desenvolveram o protótipo do equipamento. Fácil de utilizar, compacta (pesa cerca de 250 gramas) e com um design apelativo, esta primeira versão integra um ecrã semelhante ao dos “smartphones”, pode ser levada para qualquer cozinha portuguesa (incluindo cantinas de escolas, infantários, hospitais, lares de idosos ou restaurantes) e contempla as principais categorias da alimentação da população. No futuro, o objetivo é que o equipamento faça automaticamente a análise dos alimentos e dê orientações para quem está na cozinha saber qual a percentagem de sal presente na refeição.
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Laboratório da FEUP ajuda empresas a criar novos produtos e serviços Nasceu na Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) um Laboratório de Desenvolvimento de Produtos e Serviços com o grande objetivo de servir de suporte a atividades de ensino e de investigação e funcionar como elo de ligação entre a universidade e o meio empresarial.
Texto: Helena Peixoto Fotografia: D.R.
A ideia de criação de um laboratório de desenvolvimento de novos produtos e serviços surgiu da necessidade da Faculdade de Engenharia ter uma infraestrutura que desse suporte a algumas disciplinas dos seus mestrados e mestrados integrados, como o de Engenharia Mecânica, de Inovação e Empreendedorismo Tecnológico ou ainda de Engenharia de Serviços e Gestão, Design Industrial e de Produto.
O novo laboratório vai ser um meio de potenciar a inovação nos mais diversos setores. “Podemos estar a falar no desenvolvimento de um equipamento para uma unidade industrial como de um produto para utilização no dia a dia, seja uma bicicleta, um automóvel ou uma tecnologia”, refere António Augusto Fernandes, docente do Departamento de Engenharia Mecânica da FEUP e coordenador do Laboratório.
A inspiração para a criação do modelo deste laboratório veio da Universidade de Michigan, Ann Arbour, nos EUA. Inaugurado no passado mês de maio, o Laboratório de Desenvolvimento de Produtos e Serviços da FEUP tem como principal finalidade aproximar a investigação aplicada que se faz na faculdade das necessidades do mercado. Ao mesmo tempo, permite-lhe angariar receitas próprias e desta forma garantir o seu próprio funcionamento, sustentabiliadade e autossuficiência.
Quanto a planos para o futuro, pretende-se, a curto prazo, consolidar a infraestrutura e encontrar fontes de financiamento que garantam a contratação sustentada de técnicos de Laboratório nas áreas de intervenção, especialmente no âmbito de projetos europeus.
Desenhado para atuar sobre várias áreas interdisciplinares como o fabrico aditivo, realidade virtual e realidade aumentada, protótipagem virtual e simulação numérica do produto, o laboratório tem em curso uma série de contactos com empresas e outras organizações de investigação no sentido de desenvolver projetos em parceria.
O Novo Laboratório O laboratório nasceu do financiamento do Programa Novo Norte do QREN, com o montante total de 700 mil euros. A coordenação está a cargo de António Augusto Fernandes. Teresa Restivo lidera os projetos na área da realidade virtual e aumentada, Renato Natal ficará ligado aos projetos de prototipagem virtual e simulação e Jorge Lino na prototipagem física por fabrico aditivo.
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empreender
FEUP: o player da inovação no cluster da ferrovia portuguesa Ainda em Portugal não se falava em alta velocidade e já na Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) se vislumbravam oportunidades no primeiro projeto da Fundação Ciência e Tecnologia (FCT) sobre comportamento dinâmico de pontes ferroviárias, em 1992, liderado por Raimundo Delgado, professor do departamento de Engenharia Civil. A verdade é que o comboio do conhecimento no setor não mais abrandou: começam a surgir projetos em colaboração com empresas portuguesas que permitiram acumular conhecimento e sobretudo ganhar o respeito de alguns dos principais players da indústria ferroviária. Em Portugal, os primeiros investimentos no setor da ferrovia aconteceram em 1995, tendo sido considerados “estatégicos”. Mais tarde e já nos governos de José Sócrates o argumento para avançar com o projeto da alta velocidade sustentava-se no facto de Portugal ser um país geograficamente periférico, que não podia colocar-se à margem de um empreendimento ferroviário europeu de larga escala. “A verdade é que em termos de dinâmica que foi criada, isto nunca mais parou desde essa altura”, esclarece Adriano Carvalho, professor do departamento de Engenharia Eletrotécnica da FEUP. A par de Rui Calçada, professor do departamento de Engenharia Civil e Luís Andrade Ferreira, professor do departamento de Engenharia Mecânica, são os investigadores que mais têm impulsionado o CSF - Centro de Saber da Ferrovia, um dos Centros de Competência da FEUP.
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Texto: Raquel Pires Fotografias: D.R.
Um dos projetos que mais contribuiu para o reconhecimento do Centro junto dos principais players no setor da ferrovia aconteceu numa colaboração com a Mota-Engil, em 2009. O desafio consistiu em desenvolver soluções inovadoras pré-fabricadas para pontes, atravessamentos inferiores, barreiras de proteção de ruído e via em laje para linhas de alta velocidade, de modo a obter ganhos importantes quer nos tempos de execução, quer nos custos finais de construção. O resultado final superou as expectativas e permitiu dinamizar um produto que foi replicado em grandes obras mundiais, como a linha ferroviária de alta velocidade LGV - Bretagne/Pays de la Loire, em França. Em 2002, o professor Adriano Carvalho orienta Augusto Costa Franco durante a tese de mestrado, na FEUP.
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Programa Doutoral iRail: uma parceria inédita em Portugal
O CSF tem apostado fortemente em desenvolver investigação ao mais alto nível (...) que continua a merecer atenções da parte da Comissão Europeia Intitulada “Sistema de diagnóstico de avarias inteligente para manutenção ferroviária” a tese permitiu desenvolver e testar em condições reais de funcionamento num veículo ferroviário, um protótipo que apresentou bons resultados ao nível da fiabilidade, disponibilidade e segurança. O objetivo passaria por estender a outro ramo do setor de transportes de passageiros e mercadorias (rodoviário, fluvial e aeronáutico), ao mesmo tempo que permitiria um aumento do investimento destas empresas na área de I&D, amplamente compensatório no custo do ciclo de vida da respetiva frota de veículos. A ideia subjacente a este trabalho de investigação esteve na génese da Nomad Tech (ver página 13) e catapultou a FEUP para a linha da frente no que toca à investigação científica nesta área. O projeto chamou a atenção da CP que desde logo quis instalar esta solução na linha de Cascais e garantir mais tempo de vida aos comboios alfa (em média o preço de um alfa ronda os 15 milhões de euros). Em Portugal há uma grande oportunidade de negócio só na substituição de comboios e do sistema ligado à própria manutenção das carruagens. Em 2013, novamente com Adriano Carvalho ao leme e colaboração da equipa da Nomad Tech, iniciam-se estudos e testes no sentido de desenvolver um novo módulo de tração nos comboios alfa. O principal objetivo era equipar a frota da linha de Sintra com tecnologia de tração IGBT (e substituir a antiga GTO) por cerca de um terço do custo de um processo de modernização convencional. Durante um ano fizeram-se testes exaustivos, que lhes permitiram depois apresentar resultados bastante animadores à CP: uma poupança de 12,5% de energia da unidade de tração a IGBTs relativamente à unidade a GTO, em condições idênticas de exploração. “A frota ferroviária portuguesa tem aproximadamente 28 mil módulos, cada um deles custa cerca de 200 mil euros, portanto tudo o que possa ajudar a minimizar este impacto interessa obviamente a quem gere o negócio”, esclarece o investigador da FEUP.
O Programa Doutoral em Sistemas e Tecnologias Inovadoras para a Ferrovia (iRail) é um programa doutoral inédito em Portugal. Tem como objetivo dar resposta às atuais preocupações relacionadas com a procura de sistemas de transporte ferroviário de alta capacidade, eficientes em termos de desempenho e de custo, resilientes e sustentáveis. A funcionar desde 2015, o programa doutoral é uma parceria entre a Universidade do Porto, a Universidade do Minho e a Universidade de São Paulo, no Brasil.
Conseguiram igualmente instalar um sistema/equipamento de diagnóstico remoto em tempo real enquanto parte do projeto de modernização, o que significa que o sistema de tração pôde ser levado para um regime de manutenção sob condição. O Diretor-Geral da Nomad Tech para o Material Circulante & Engenharia de Manutenção, Nuno Freitas, enalteceu na altura, “o papel da CP e da FEUP para o sucesso do projeto”, que considerou “preponderante”. Em 2012, teve início um projeto de I&D promovido pela empresa Evoleo Technologies e pela FEUP, em parceria com a IP, para o desenvolvimento de um sistema de pesagem dinâmica e deteção de irregularidades de rodados de veículos ferroviários. A principal função do sistema era permitir comparar com os serviços contratualizados e com os limites regulamentares, bem como tarifar os operadores ferroviários em função da qualidade geométrica dos rodados e das cargas transportadas. Em 2015 foi iniciado um projeto demosntrador do sistema, prevendo-se que venha a ser instalado no futuro em diversos pontos estatégicos da rede ferroviária nacional.
MAXBE: o início da aventura europeia À medida que a investigação e o know-how no setor da ferrovia foi avançando, o CSF - Centro de Saber da Ferrovia da FEUP, toma consciência de que o estado da arte europeu não é muito diferente da realidade portuguesa, pelo menos no que toca às implicações económicas e de segurança causados pelos eixos ferroviários. Na Europa há alguma falta de padronização que justifique o trabalho de monitorização da condição e diagnóstico precoce de rolamentos de eixo por integração de tecnologia. Além disso, os documentos europeus atuais não apresentam quaisquer orientações para a gestão da manutenção do material circulante no que diz respeito aos rolamentos de eixos, o que torna a associação de monitorização, diagnós-
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empreender
FEUP integra Plataforma Ferroviária Portuguesa
tico e manutenção uma abordagem interessante. É neste contexto que surge o projeto MAXBE, integrado nos programas de financiamento do 7ºPQ: um consórcio europeu de 17 parceiros (indústria, universidades, utilizadores finais e PME) de oito Estados-Membros, que representam operadores, fabricantes de rolamentos de eixos, agentes-chave da comunidade ferroviária e especialistas no domínio da monitorização e material circulante. O projeto, coordenado pela FEUP, arrancou em 2012 com um total de 5 milhões de euros para investigação. Para a Faculdade de Engenharia fazer parte deste consórcio europeu foi como entrar na liga dos campeões: abriu portas e fez com que a rede de contactos nesta área se alargasse e consolidou definitivamente o seu papel enquanto player no setor da inovação da ferrovia, respeitado pelos principais parceiros internacionais. Em 2015, FEUP e Evoleo, integram um novo consórcio europeu, IN2Rail, composto por 54 parceiros, entre os quais players mundiais como a Ansaldo, a Bombardier e a Siemens. O projeto visa, entre outros desafios, o desenvolvimento de sistemas avançados de gestão do tráfego ferroviário, que permitam prever em tempo real situações críticas para a operação em função de dados da monitorização da condição da infraestrutura ferroviária e ambientais.
O projeto de dinamização da indústria através da criação de uma plataforma centrada na ferrovia portuguesa existe formalmente desde julho de 2015. O principal objetivo era reunir os principais atores do sistema ferroviário nacional e conseguir criar um cluster e ganhar dimensão para se afirmar internacionalmente. Numa fase inicial oito players integraram a Plataforma Ferroviária Portuguesa: IP, CP, Mota-Engil, Evoleo, Nomad Tech, Alma Design, Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) e Instituto Superior Técnico (IST). Neste momento a plataforma conta já com 40 associados. O facto da FEUP integrar este consórcio nacional no setor da ferrovia desde o primeiro momento demonstra que esta é uma das áreas em que a Faculdade de Engenharia tem desenvolvido bastante trabalho. O Centro de Saber da Ferrovia tem apostado fortemente em desenvolver investigação ao mais alto nível e que continua a merecer atenções da parte da Comissão Europeia. Só em 2015 foi aprovado, no âmbito do H2020, um financiamento para um consórcio de países europeus com know-how em matéria de ferrovia, designado por Shift2Rail, no valor de 900 milhões de euros. Trata-se sobretudo de desenvolver projetos de inovação ligados à indústria da ferrovia. A participação da FEUP, membro associado deste consórcio, vai centrar-se na criação de novos sistemas para a via, de novos sistemas de monitorização e, ao nível da melhoria do comportamento das infraestruturas ferroviárias, no desenvolvimento de soluções inovadoras para o reforço de pontes e túneis. Questões relacionadas com a eficiência energética também vão ser alvo de estudos por parte de investigadores e alunos de doutoramento, num total de 15 pessoas da Faculdade de Engenharia. shift2rail.org ferrovia.pt
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“Estamos a servir e a atacar mercados de elevada relevância mundial”
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Entrevista: Raquel Pires Fotografias: D.R.
Foi um dos dois projetos portugueses selecionados pela Comissão Europeia no âmbito do programa de financiamento do H2020, no valor de 30,5 milhões de euros. A empresa chama-se Nomad Tech, é uma joint-venture liderada por Augusto Costa Franco e Nuno Freitas, e tem conquistado os mercados internacionais com soluções para a indústria da ferrovia. Do metro de Melbourne até à gigante japonesa Toshiba todos se renderam ao know-how português. Fomos perceber a fórmula do sucesso deste grupo de engenheiros portugueses sediados no UPTEC, parte deles alumni FEUP.
Criada em 2013, a Nomad Tech tem estado associada a uma série de projetos inovadores no setor da ferrovia. Qual é a receita para o sucesso? O sucesso deve-se fundamentalmente à equipa que, na sua maioria, veio da empresa EMEF, com o saber acumulado de mais de 20 anos de experiência ferroviária. O facto da EMEF ser nossa acionista trouxe igualmente um apport muito importante: a ligação a um operador/gestor de manutenção confere credibilidade à Nomad Tech e dá a garantia de acesso ao material circulante e de continuidade de serviço também para o mercado nacional. É extremamente complicado projetar a internacionalização sem ter projetos de referência em solo nacional. A CP e a EMEF têm sido fundamentais também neste aspeto. As parcerias com as Universidades, dentro e fora de Portugal, têm sido fundamentais para o crescimento sustentado da Nomad Tech, nomeadamente a FEUP (nas pessoas dos professores Adriano de Carvalho, Rui Calçada e Luís Andrade Ferreira). Por fim a rede comercial da Nomad Digital foi preponderante na internacionalização da empresa.
Qual é o vosso principal objetivo no mercado nacional? E internacional? O principal objetivo é alargar a expressão do mercado internacional, sem nunca descurar o mercado nacional, que foi quem nos projetou. Como referi atrás, o facto de estarmos ligados “umbilicalmente” à EMEF/CP, faz com que possamos ter criado em conjunto projetos de referência que servem os interesses da própria EMEF e CP, designadamente os projectos “Lusogate - modernização de conversores de tração”, “Remote Condition monitoring and Reliability Centred Maintenance” e “Ecodriving”, e suportaram a criação de projetos de referência “montra” para o mercado internacional. Que impacto teve para a Nomad Tech ter sido um dos dois projetos inovadores selecionados por Bruxelas, recentemente, no âmbito do H2020? Foi sem dúvida muito importante, não só pelo prestígio, projeção e financiamento em si, mas também pela manutenção do envolvimento da Nomad Tech na rede de inovação europeia que alavanca o networking industrial e comercial. Foi uma decisão que premiou a própria equipa em si, que vê a sua perseverança reconhecida, com todo o mérito. Aproveito também para anunciar que estamos envolvidos
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Estamos a servir e a “atacar” mercados de centenas de milhões de euros, pelo que só podemos estar com toda a motivação e perseverança na continuação do crescimento da empresa em mais um projeto H2020 (PMEinCPPS - ligado à área do “data analytics”) e dois projetos P2020 (um já aprovado e outro em fase de avaliação - ID-traction associado à modernização de sistemas de tração ferroviários e outro em fase de avaliação ligado à eficiência energética no setor ferroviário). Finalmente, e ainda neste campo, a Nomad Tech concorreu aos fundos do SIFIDE e conseguiu ter sucesso, o que vem provar o esforço continuado na aposta na Inovação e desenvolvimento, fator este crítico para a sustentabilidade de Nomad Tech. O que vos permite liderar este segmento de mercado? Eu diria que somos um player de pequena dimensão, quando comparado com os grandes OEM’s, mas suportado por um relevante operador/gestor de manutenção (EMEF) e com suporte no mercado internacional conferido pela Nomad Digital. Conseguimos ser flexíveis e ágeis a atacar o mercado, bem como competitivos e diferenciadores, pois a junção do saber da engenharia de manutenção ferroviária com o expertise nas tecnologias de informação/engenharia de software e eletrónica, é a nosso ver, única neste mercado. Que tipo de soluções inovadoras estamos a falar? As soluções tecnológicas e de saber ferroviário dividem-se fundamentalmente em três áreas de atividade: NT MAINTAIN, com a experiência e serviços de consultoria em engenharia de manutenção (RCM - Reliability centred Maintenance) onde a EMEF - Unidade de Manutenção de Alta Velocidade foi pioneira e a solução tecnológica onboard/onshore de telemanutenção - remote online condition monitoring (ROCM); NT ECO, com soluções de fleet monitoring e ecodriving associados à eficiência energética e o NT POWER, com soluções associadas à capacidade de reparação de eletrónica de comando e potência ferroviária, bem como soluções de modernização. Estamos a servir e a “atacar” mercados de centenas de milhões de euros, pelo que só podemos estar com toda a motivação e perseverança na continuação do crescimento da empresa. Como surgiu a oportunidade de implementar em Melbourne um sistema piloto para monitorização contínua dos comboios? Surgiu em 2013, através da delegação da Nomad Austrália, para a qual aproveitamos a oportunidade de enviar uma palavra de especial apreço, pois sem dúvida fizeram - em
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Nota Biográfica: Augusto Costa Franco é engenheiro de software e de sistemas de energia e conta com mais de 20 anos de experiência em sistemas de caminhos de ferro, especificamente em material circulante. Ingressou nos caminhos de ferro de Portugal em 1996 como engenheiro de produção na EMEF - Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, S.A., com a responsabilidade da manutenção dos veículos ferroviários a diesel e da renovação de vagões. De 2000 a 2007, foi responsável pelo Departamento de Engenharia da EMEF Norte, o que incluiu a revisão de material circulante e a gestão de projetos de remodelação de material rolante. De 2007 a 2013 dirigiu a Unidade de Negócios de Engenharia e Inovação desta empresa e, juntamente com Nuno Freitas, responsável pela unidade de negócio de alta velocidade da EMEF, iniciou e desenvolveu uma Unidade de Negócios de Engenharia e Inovação nos caminhos-de-ferro Portugueses, com o objetivo de criar soluções de redução de custos do ciclo de vida do material circulante, otimizando sobretudo a gestão de manutenção e de operações e a utilização de energia. É especialista em desenvolvimento de aplicações de manutenção com base em condições e na monitoração remota e on-line do desenvolvimento de aplicações de caminhos de ferro e é detentor de uma patente em telemanutenção. Com uma forte ligação à academia, não só pela participação em vários projetos de financiamento e não financiamento como também pelo acompanhamento de mestrados e teses de doutoramento relacionados com o mercado de transportes. Mestre em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), frequentou o Programa de Gestão pela AESE/IESE e encontra-se a terminar o Doutoramento, também na FEUP, na mesma área de estudo.
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conjunto com a equipa da Nomad Tech - um esforço notável para o sucesso alcançado até à data. De facto, o Metro de Melbourne está a apostar nas tecnologias do ROCM (remote online condition monitoring) e na sua integração com as modernas práticas de engenharia ferroviária. Neste projeto a equipa da Nomad Tech em estreita cooperação com a equipa da Nomad Austrália implementou um desafiante projeto, onde a interface lógico/ físico com diversos sistemas do comboio foi um dos principais requisitos, que foi cumprido com nota extremamente positiva por parte do cliente - o Metro de Melbourne. Outros projetos internacionais em que a Nomad Tech tenha estado envolvida e que seja importante destacar? Destaco alguns: o projeto com um dos maiores operadores logísticos do mundo - DB CARGO. Após um período de intenso trabalho que durou quatro anos, estamos já num processo de extensão da nossa tecnologia a um conjunto alargado de locomotivas da DB CARGO. Também estivemos envolvidos num projeto importante com a Hitachi, na área da engenharia de manutenção e ROCM e com o operador Norueguês NSB e Mantena na área da engenharia de Manutenção e RCM - serviços de consultoria e formação. Liderámos um projeto com o operador Finlandês - VR, na área da engenharia de Manutenção e RCM - serviços de consultoria e formação e participámos num projeto com o operador Suíço SBB na área da engenharia de Manutenção e RCM - assessment de engenharia. Na área da electrónica de potência temos vindo a desenvolver trabalho com operador ferroviário espanhol e indiano. Estamos igualmente a coordenar um projeto na área da eficiência energética com a empresa japonesa Toshiba. Na sua opinião, o plano de Investimentos Ferroviários 2016-2020 que conta com um apoio financeiro da União Europeia de mil milhões de euros vai traduzir-se num impacto positivo para o nosso país? Como? Sim, sem dúvida. Já está a ser e irá com certeza continuar a ser um apoio estruturante para Portugal. Projetos de modernização da infraestrutura, passando por exemplo pela expansão da sua eletrificação, bem como a eventual aposta na modernização de material circulante e quem sabe na sua aquisição/aluguer, poderão ser projetos apoiados por este plano de investimentos.
Considera que o projecto do TGV em Portugal se perdeu para sempre? Ou ainda vamos voltar a discutir este dossier? Não, está e terá de ser repensado. Acho que se divergiu em demasia nas opções estudadas, mas pensamos que para a continuação do desenvolvimento económico e social do país, trata-se de um projeto estruturante e que muito provavelmente vai ser implementado no curto-médio prazo.
Nomad Tech: da cidade do Porto para o resto do mundo A Nomad Tech dedica-se a promover no mercado global soluções inovadoras de engenharia ferroviária, de telegestão/monitorização remota, eficiência energética e eletrónica de potência para a indústria ferroviária. Criada em 2013, como uma Joint-Venture entre a Nomad Digital (líder global no fornecimento de soluções wireless de elevada disponibilidade para o setor dos transportes) e a EMEF (empresa responsável pela manutenção do material circulante do grupo CP), a Nomad Tech opera sobretudo no desenvolvimento e comercialização de serviços e produtos atrás referidos, visando a redução do custo do ciclo de vida do material circulante e a otimização dos parâmetros RAMS (Reliability, Availability, Maintainability and Safety) na ferrovia. Os produtos e soluções da Nomad Tech são também dirigidos a vários setores como energia, transportes, infraestruturas, entre outras. www.nomadtech.pt
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Fotografia: D.R.
Uma visão do futuro para a Engenharia Civil
António Silva Cardoso*
O campo de atuação da Engenharia Civil é muito amplo e diversificado. Quando, caminhando pela rua de uma qualquer cidade, olhamos à nossa volta, muito do que observamos tem a ver diretamente com a Engenharia Civil - os edifícios para habitação, comércio, serviços, atividades culturais e desportivas, os arruamentos, as infraestruturas de abastecimento de água e de recolha das águas residuais e pluviais - ou facilmente intuímos que existe uma relação indireta - o planeamento das cidades, a organização da circulação de veículos e o seu controlo, entre outros. São também resultado da atividade dos engenheiros civis as redes de transportes terrestres como estradas e vias férreas, onde se incluem uma parte importante das pontes e dos túneis, os portos e aeroportos, as obras hidráulicas que passam pelas barragens, obras de irrigação, navegabilidade de rios, regularização de cursos fluviais e proteção costeira. Além disso, a atividade da Engenharia Civil está intimamente ligada ao ambiente e à sustentabilidade - eficiência energética, novos materiais mais duráveis e com menor pegada de carbono, gestão e valorização de resíduos, economia circular... Enfim, a complexidade dos processos de conceção e de concretização de estruturas físicas em regra exige uma visão tendencialmente global e integrada, que os engenheiros civis vão desenvolvendo no desempenho das suas atividades, o que os torna, muitas vezes, capazes de assumir cargos de gestão e de direção de elevada responsabilidade. As infraestruturas são fundamentais para o funcionamento das sociedades modernas evoluídas. São um meio para
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assegurar, por um lado, a distribuição de bens e serviços, a qual é essencial para a promoção da prosperidade e do crescimento e, consequentemente, da qualidade de vida, da saúde e da segurança dos cidadãos, e, por outro lado, a qualidade dos ambientes. As infraestruturas desempenham também um papel vital no desenvolvimento económico e social, cada vez mais relevante à medida que a globalização da economia se vai acentuando e as sociedades humanas se vão tornando mais dependentes do funcionamento adequado de um espectro crescente de serviços infraestruturais. O custo da construção e manutenção das infraestruturas é elevado, mas o custo de não proceder a esses investimentos imprescindíveis é incalculável; infraestruturas de qualidade produzem abundantes benefícios para a economia, o ambiente e o progresso social. Em suma, os atos de Engenharia Civil são muito diversificados, abrindo perspetivas de atuação muito diferentes e, portanto, adaptáveis aos anseios e aspirações dos profissionais. Por outro lado, o campo de atuação também é muito alargado e, regra geral, tem muito a ver com a procura de respostas para as necessidades dos cidadãos. Acresce que se é um facto que, em Portugal, se instalou uma crise que está a ser difícil de ultrapassar em certos setores da Engenharia Civil, noutros as perspetivas são já positivas. Em contraponto, a nível mundial existe uma acentuada necessidade de infraestruturas, em países em vias de desenvolvimento, e são necessários grandes investimentos na renovação de infraestruturas, nos países desenvolvidos. * Diretor do Departamento de Engenharia Civil da FEUP
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Texto: Helena Peixoto Fotografias: D.R.
Uma experiência única de voluntariado na Amazónia Foram nove meses passados como voluntária numa missão Dominicana em Sepahua, uma comunidade nativa na selva amazónica peruana. Nove meses que equivaleram a uma vida inteira de experiências diferentes e de uma nova visão do mundo em que vivemos. Gabriela Ricca é estudante do 3º ano do Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e decidiu fazer voluntariado numa missão Dominicana. Juntou-se a três Irmãs Missionárias e a um padre dominicano e, em março de 2015, partiram para Ucayali (região da selva baixa). Sepahua encontra-se entre dois rios: o rio urubamba (o grande rio que percorre o país até desaguar no amazonas), e o rio sepahua (afluente do primeiro). Estas missões conjuntas funcionam há muitas décadas nesta região e são o único apoio constante às comunidades indígenas, pois o apoio estatal é recente e curto, e as ONGs em geral não trabalham a longo prazo com as comunidades nativas. O objetivo inicial passava por apoiar na educação e crescimento das raparigas que viviam no Internato de Sepahua. O Internato, exclusivo de meninas (existe outro para meninos), foi criado e é mantido pela Missão. Sepahua é um dos poucos locais da região que tem uma escola secundária, daí a localização do internato. Nenhuma criança pode continuar a estudar após a primária sem ir para Sepahua. Gabriela acabou por ficar responsável, em conjunto com a Hermana Meche, pelo Internato de Mulheres, o que significava criar e manter uma rotina diária para as 25
internas de quatro etnias diferentes. Estas raparigas saíam de casa aos 12 anos, pelo que, exceto nas férias de Natal e verão, estavam sozinhas num mundo novo e desconhecido, sem pais ou família étnica. “Não era fácil, mas a alegria e a vontade com que estas miúdas viviam cada dia, torna qualquer coisa possível e verdadeiramente boa. Elas foram o principal foco da minha atenção durante o ano, e também a maior fonte de alegria”, conta-nos a estudante. Sendo uma experiência longa, acabou por entrar noutros projetos e por ter outras responsabilidades. Pouco tempo depois de ter chegado começou a dar aulas na escola primária de uma comunidade nativa aos alunos de 4º, 5º e 6º ano. Foi uma experiência diferente: as aulas, as condições, os miúdos... não passavam cinco minutos sem algum miúdo trepar pela parede para espreitar lá para fora, só para não se sentir tão preso; havia a necessidade do trabalho ser individual, de explicar uma pirâmide dos alimentos sem leite, pão ou sopa e redesenhá-la com mandioca, peixe, banana e água fervida e de ensiná-los a estar numa escola, a vir todos os dias às aulas, a não explodir as canetas para brincar com a tinta e manter os cadernos com folhas. Foi uma experiência que a ensinou a definir as prioridades.... Após algum tempo, Gabriela já ia a casa de alguns destes alunos e conhecia os seus pais e irmãos, os seus hábitos, costumes, medos e desejos. No entanto, sempre esteve consciente de um facto: “por mais passos que demos, por mais que nos adaptemos e entremos na vida de outra sociedade, nunca faremos verdadeiramente parte dela. É bom deixarmo-nos entrar, mas sempre sabendo que há um limite”.
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Além do apoio ao internato e das aulas, Gabriela ajudou ativamente na Rádio Sepahua 100.5 FM, uma emissora sediada em Sepahua que a Missão construiu em 2000 e que serve para informar e formar os cerca de 12 000 nativos das comunidades próximas: aprendem a importância de ferver a água antes de cozinhar e de tomar um banho diário com sabão; ficam a saber quando podem viajar a Sepahua para ir tomar uma vacina; escutam atentamente cada relato futebolístico da liga de Sepahua; podem ouvir a missa aos domingos e programas didáticos, musicais ou de diversão sempre e comunicam entre si. Trabalhar para a rádio significa cobrir as manifestações nativas contra as multinacionais petrolíferas, e ao mesmo tempo as reuniões entre estas mesmas empresas e o governo local; é comunicar uma morte, e passado umas horas comunicar duas vidas. O crescimento desta rádio é difícil dado que a energia elétrica só existe durante umas horas fixas por dia (9h-12h e 18h-23h) e fazer com que esta rádio funcione 24h por dia e tenha mais alcance, é um investimento muito grande. Durante este ano, Gabriela foi um pouco a “faz tudo” de Sepahua, em parte pela formação que recebeu antes e durante a faculdade, durante o curso em Engenharia Mecânica. Isto incluia resolver todo o tipo de problemas que fossem surgindo: arranjar antigos sistemas de água e canalizações, sistemas elétricos e de iluminação; arranjar material e pequenos trabalhos nas construções das casas (tudo é feito de madeira); dar algum apoio técnico à rádio... até um telhado de folhas de bananeira reconstruiu! Por mais gratificante e incrível que seja conhecer e passar a pertencer a uma sociedade completamente distinta da nossa, Gabriela sentiu falta de coisas simples como poder carregar o telemóvel quando quisesse; ter luz à noite, um sofá ou água quente; de comer legumes, leite ou um simples café expresso; ouvir português ou uma música que não fosse folcore peruano; dormir até depois das 7h da manhã; sair uma noite; ter férias... até ter aulas! Das coisas que mais valorizou nesta experiência foi a cultura indígena: nenhum povo resistiu a tanto ataque e perigo de extinção (de raça ou de cultura) como os indígenas da selva amazónica. Quase todos os alunos do 12º ano em Sepahua querem continuar a estudar para serem professores, enfermeiros ou condutores de trator; mas não querem ir para Lima por ser demasiado diferente,
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confuso e sujo. Todos, sem exceção, depois do curso, voltarão para a selva para construírem as suas vidas. O nativo adapta-se à realidade, mas mantém sempre a sua cultura intacta. Aproveita o que a civilização lhe traz para melhorar a sua comunidade, a sua familia, e a vida dos seus filhos, mas nunca se esquecerá daquilo que é realmente importante. Por outro lado, valoriza imensamente o trabalho da Missão, e de forma mais abrangente, a vida de serviço de centenas de missionários que desde que conhecem a selva para lá vão, dar apoio a comunidades que por todos os outros são ignoradas, inferiorizadas ou hostilizadas. Apesar de neste momento planear viver o presente, Gabriela quer conhecer outras realidades, como a da Índia, dos aborígenes na Austrália, do Médio Oriente ou até dos refugiados...! É impossível prever, mas a estudante tem a certeza de que o seu futuro - a longo prazo - terá como base uma sociedade não marcada pela ocidentalização, onde possa desenvolver um trabalho significativo, provavelmente como engenheira, mais próximo da essência do ser humano, e mais distante daquilo que a nossa civilização acabou por se tornar. Se foi uma experiência que a mudou? Gabriela pensa que uma pessoa não muda: “não mudei quem sou, mas mudei radicalmente a maneira como vejo o mundo, as pessoas, e como vejo a vida. Conhecer uma sociedade tão nativa e tão pura abre-nos os olhos para outro estilo de vida. Ensina-nos a redefinir as prioridades da vida, e o valor da nossa. No nosso mundo, nesta “bolha” ocidental, vivemos muito longe da realidade originalmente humana.” Gabriela acredita que no ocidente, insconscientemente, tomamos tudo por garantido: eletricidade, emprego, transportes públicos... e ao mesmo tempo que o tomamos por garantido, tomamos também por ‘correto’. Esta viagem fê-la perceber que não há apenas uma maneira correta para viver e ser feliz; cada povo tem a sua! Os nativos são culturalmente um povo feliz: vivem no, do, e pelo presente, pelo momento. Todos os que a essa comunidade pertencem, são acolhidos e protegidos por ela. Ninguém sobrevive sozinho na selva, ninguém sobrevive sozinho na vida - a vida existe para ser partilhada com outros. O “eu” não é importante, o crucial é o “nós”. E esta é a grande aprendizagem que traz consigo: o ser humano sozinho e o sucesso individual não existem, a família e o crescimento em comunidade são o que define uma vida compartilhada feliz.
Entrevista: Helena Peixoto Fotografia: Egídio Santos
“A pedagogia tem de evoluir, o modo de levar o estudante a aprender exige metodologias e ferramentas diferentes das tradicionais” Foi diretor da Faculdade de Engenharia durante 11 anos e Reitor da U.Porto durante oito. José Marques dos Santos acredita num sistema de ensino que prepare cidadãos competentes, com âmbito multidisciplinar, não compartimentado nas Faculdades ou Departamentos e que fomente e incentive a mobilidade. Enquanto diretor da FEUP, esteve envolvido na épica transferência da Rua dos Bragas para o Campus da Asprela. Já no papel de Reitor, deu pontapés de saída rumo ao processo de Bolonha, à ligação da U.Porto à sociedade e à sua internacionalização. Homem de números, Marques dos Santos não esquece a importância do capital humano e do papel preponderante das equipas para o sucesso de um líder.
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Tive a sorte de trabalhar com pessoas excecionais, empenhadas, competentes, leais... eu apenas era o maestro que deu muita autonomia a essas equipas. Porquê eletrotécnica? O que o fez optar por esta área? Sempre gostei muito de matemática, de física, da eletricidade... Apreciava como única alternativa a medicina, mas tinha um problema: não consigo ver sangue (risos). Sempre gostei de números, de ver e fazer experiências... e tenho pena que muitos jovens não queiram vir para engenharia por “medo” dos números. Engenharia é uma área profissionalmente desafiante e entusiasmante que, de um modo geral, consegue bons níveis de empregabilidade! Com tantos anos de carreira, tem vindo a acompanhar diferentes gerações de estudantes. Existe alguma diferença que consiga apontar entre elas? As gerações de hoje são muito mais capazes, têm muito mais formação do que no meu tempo, têm muita maior visão do mundo. Há algumas diferenças comportamentais que poderão não ter evoluído tão positivamente... perderam-se alguns valores civilizacionais típicos da Europa, que a fizeram grande e respeitada mas que presentemente está a viver um mau momento por falta de coesão e solidariedade, enquanto outros estão a conseguir emergir (ex: Ásia). A Europa era considerada o expoente da cidadania, da investigação e do desenvolvimento e hoje em dia os números e estatísticas provam que está em perda! Temos de lutar para que a Europa volte a ser vista como o farol do Mundo. E o que é curioso, e até um pouco antagónico, é o facto de nunca terem existido tantas ferramentas tecnológicas que nos pudessem ajudar a combater este cenário de desagregação... Temos também de olhar para um novo modelo de sociedade, capaz de lidar com a eventualidade do recurso crescente à tecnologia originar acréscimo de desemprego. Considero que o emprego, devidamente remunerado, é a melhor maneira de dignificar os cidadãos e não o recurso sistemático ao apoio público ou à caridade. Desempenhou algumas das funções executivas de maior responsabilidade numa instituição académica: foi Diretor da FEUP durante 11 anos e Reitor da U.Porto de 2006 a 2014. Qual o balanço destas experiências? Tive muito prazer em ambas. Só exerce estes cargos quem quer e quem tenha gosto nisso! Claro que há muitas dificuldades a vencer e é necessário uma grande capacidade de resiliência, de ouvir os outros, de suportar críticas (por vezes não muito justas)!... Mas tudo isto faz parte dos desafios inerentes a esses cargos. Ainda há tempos li um artigo muito interessante na Fortune que falava do cargo mais dificil de
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todos... e não, não era a presidência de um governo, de uma empresa ou de um hospital, era a direção de uma Universidade! O artigo referia que é necessário ter-se físico de atleta grego, força de leão e estômago de cabra para engolir todos os sapos! São cargos muitos interessantes, onde lidamos com muitas pessoas, onde vemos crescer projetos e iniciativas, e poder contribuir para isso é fantástico! Importa também dizer que o diretor ou reitor, sozinho não faz nada... tudo depende daqueles para quem trabalha e das equipas que o acompanham. Eu tive a sorte de trabalhar com pessoas excecionais, empenhadas, competentes, dedicadas, leais... eu apenas era o maestro que sempre concedeu muita autonomia aos membros dessas equipas. E o que se aplica à Universidade, aplica-se, a meu ver, às organizações, aos países, ao Estado... todos nós somos o Estado e temos de nos empenhar nas causas da sociedade. Não podemos esperar que os Governos façam tudo por nós. Enquanto reitor da U.Porto, qual foi o projeto de qual mais se orgulha? Foram muitos.... Mas um grande passo que se deu foi o da visibilidade nacional e internacional da U.Porto. Empenhamo-nos muito nesse papel. Atingiram-se níveis nunca antes atingidos e a U.Porto passou a ser reconhecida a nível internacional, com destaque em vários rankings internacionais... Havia uma estratégia forte de ligação à sociedade, aposta na qualidade, exigência na formação e investigação, valorização do conhecimento, internacionalização com atração de estudantes estrangeiros, acordos e projetos específicos, participação em programas internacionais de financiamento.... uma série de iniciativas e esforços que valeram a pena. Os rankings têm um papel que não podemos desprezar. Todas as grandes instituições estão lá e referem-se a eles! Tivemos ainda um outro papel muito importante: o de contribuir para aprofundar unidade na Universidade. Não consegui levar até onde queria, mas acredito que mais cedo ou mais tarde isso vai acontecer. (...) Apostou-se muito na coesão da universidade, com contacto e trabalho entre as pessoas, aumentando o conhecimento mútuo dentro da universidade e o trabalho em equipa quer na investigação quer na formação... Falamos de cursos lecionados em conjunto por diferentes faculdades, grupos de investigação a colaborar, agrupamentos de unidades de investigação... e assim criamos um sentimento de universidade mais forte. Temos de ter o sentimento de orgulho da Universidade
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Nota Biográfica José Marques dos Santos nasceu em Bolama, Guiné-Bissau, a 31 de janeiro de 1947. Licenciado em Engenharia Eletrotécnica pela U.Porto em 1971 e doutorado pela Universidade de Manchester (Reino Unido) em 1977, é professor catedrático da FEUP desde 1989, tendo assumido a direção da faculdade durante 11 anos consecutivos, entre 1990 e 2001. No ano seguinte tomou conta de uma das vice-reitorias da universidade, tendo a seu cargo a instalação e presidência do IRICUP - Instituto de Recursos e Iniciativas Comuns da U.Porto. Foi eleito Reitor da U.Porto a 17 de maio de 2006. Após um primeiro mandato marcado pelos processos de implementação do Processo de Bolonha nas escolas da U.Porto e de adoção do modelo de fundação pública com regime de direito privado (em 2009), a estratégia da equipa de Marques dos Santos centrou-se na consolidação do estatuto da
para a podermos levar para o exterior! A dimensão Universidade é mais ampla do que a dimensão Faculdade e foi este o espírito que se procurou trabalhar. Outro facto de destaque foi a adoção do regime fundacional. A U.Porto foi a maior Universidade do país a aderir mostrando que não receava inovar. Às vezes são pequenos passos que têm um impacto positivo enorme interno e externo. Este regime concedeu à U.Porto maior autonomia e contribuiu para simplificar o seu funcionamento. Foi durante o seu mandato na Reitoria que a U.Porto aderiu ao processo de Bolonha. Como decorreu? Eu sempre fui um grande defensor do sistema de Bolonha. Mas penso que em Portugal se perdeu demasiado tempo antes de o implementar. E quando foi implementado foi um pouco atropelado. Tivemos de o implementar e adaptar em cerca de três anos, levando a que se cometessem alguns erros, entre os quais os mestrados integrados. Sempre fui contra pela falta de flexibilidade que daí resultava. Hoje as entidades da U.Porto que não aderiram a este modelo integrado estão satisfeitas por estarem a atrair para os seus cursos de mestrado muitos estudantes de grande qualidade e potencial, de múltiplas proveniências e selecionados por elas próprias! O processo de Bolonha ainda tem muito para evoluir, entre nós, sobretudo na atitude das pessoas, devendo-se aceitar com maior liberalidade o reconhecimento dos créditos ECTS nos processos de mobilidade, interna, nacional e internacional, dos estudantes. Também terá de evoluir o processo de ensino aprendizagem centrado no estudante e não no docente. A pedagogia tem de evoluir, o modo de levar o estudante a aprender exige que o professor recorra a metodologias e ferramentas diferentes das tradicionais. Esta questão devia ser considerada ao nível do 12º ano, que devia funcionar como um ano pré-universitário, capaz de facilitar a integração no ensino superior.
U.Porto enquanto Universidade de investigação reconhecida internacionalmente, e agente ativo no desenvolvimento económico e social da região e do país. Esses objetivos têm vindo a ser cumpridos com sucesso, fruto da ascensão da U.Porto nos principais rankings internacionais do Ensino Superior, do aumento exponencial de estudantes estrangeiros e da consolidação da posição da Universidade enquanto maior Produtor de Ciência em Portugal. Em 2010, foi reeleito para um segundo mandato à frente da Reitoria, que cumpriu até ao fim. Desde 2014 na FEUP e no INESC TEC, tem-se dedicado a apoiar vários projetos, em particular na área de produção industrial inteligente, através de parcerias estratégicas envolvendo também o INEGI.
Como encara o consórcio das Universidades a Norte? Encaro com muita esperança! Na parte final do meu reitorado, a minha equipa já se empenhou para avançar com esta união de atividade, pois temos muito a ganhar ao encontrar soluções concertadas destas três entidades em prol do país. Demasiadas vezes falta-nos ter um espírito de âmbito nacional. Não podemos olhar só para o umbigo de cada um, de cada grupo, de cada organização! As Universidades têm de contribuir para o progesso social, económico e cultural do país e por isso têm que se preocupar em assegurar que o que fazem interessa a quem está acima delas, isto é, o país! Estas três Universidades (U.Porto, U.Minho e UTAD), trabalhando em conjunto, evitando redundâncias e aproveitando as suas complementaridades, dão um contributo acrescido não só a cada um em si mas à região e ao país. Portugal precisa de universidades reconhecidas internacionalmente para alcançar prestígio cultural, científico e tecnológico, tanto a nível europeu como mundial. Recebeu recentemente o título de Professor Emérito da U.Porto. Que significado teve para si? Quando a própria Universidade reconhece o trabalho feito em prol dela, é muito gratificante. Mas mais uma vez não posso deixar de recordar todas as equipas que trabalharam comigo mais de perto e que contribuíram decisivamente para esta distinção. Quem lidera está, normalmente, mais visível e é quem, em primeiro lugar, “dá a cara” pelas coisas positivas e negativas! Associado ao sentimento de satisfação, a Universidade confiou em mim para continuar o trabalho na FEUP, o que me deixa muito satisfeito por poder continuar ativo a fazer aquilo que mais gosto e por poder continuar a ser útil à Universidade, à sociedade e ao país. Trabalhando em projetos que envolvem várias entidades da U.Porto, gostaria de contribuir para a construção de um ambiente de confiança entre as instituições, conduzindo a uma maior cooperação entre elas.
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Mais de 40 participantes no convívio de Natal Alumni FEUP do Reino Unido Texto: Helena Peixoto Fotografias: Luís Rocha
É já uma tradição natalícia, que todos os anos se repete: a comunidade Alumni da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) no Reino Unido reuniu-se no passado dia 3 de dezembro de 2015 para um almoço convívio em Londres. Promovido pelo Embaixador Alumni João Alves, o evento contou com 41 antigos estudantes e com alguns docentes da FEUP, que se deslocaram à capital britânica especialmente para o evento. Foram eles os Professores Hipólito de Sousa, Miguel Castro, Luísa Costa Sousa e Raul Vidal, atual Coordenador das Relações com os Alumni da FEUP. Destaque para a homenagem realizada ao docente Raul Vidal, a quem a comunidade alumni FEUP em Londres ofereceu um troféu pela sua atuação na ligação aos antigos alunos da casa. A embaixada Alumni do Reino Unido FEUP tem provado ser uma das mais ativas. Ainda no rescaldo do evento prepara-se já uma próxima atividade, desta vez com um caráter desportivo e de responsabilidade social: o desafio é constituir equipas de alumni FEUP para participar no “Cancer Research UK London Winter Run”, programada para o dia 5 de fevereiro, em Londres. Os encontros alumni constituem verdadeiros momentos de convívio, networking, reencontro e interação com antigos colegas e diretores de curso ou departamento. Além disso, são uma excelente plataforma de contacto e de partilha geracional e intergeracional a nível social, académico e empresarial.
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Sakthi: o apogeu da borboleta entre a faculdade e a indústria A política de articulação com o meio industrial esteve na génese da criação da Licenciatura em Engenharia Metalúrgica (hoje Mestrado Integrado em Engenharia Metalúrgica e de Materiais - MIEMM), em 1970, e tem vindo a revelar-se uma mais-valia significativa em termos de empregabilidade e de atribuição de prémios de mérito a estudantes do curso. Fui desde sempre um defensor da necessidade de estreitar relações com o universo empresarial. Tive o meu primeiro contacto com esta realidade, aquando da conclusão do meu curso, numa viagem que, na companhia dos meus colegas finalistas, realizei à Suécia e onde pude constatar o impacto altamente positivo resultante da ligação do meio académico ao tecido empresarial que, em 1977, era já uma prática consolidada neste país. O primeiro doutoramento em ambiente empresarial no DEMM ocorreu 35 anos depois desta viagem. Entretanto, novas parcerias para realização de dissertações de doutoramento e mestrado em empresa foram surgindo. Neste momento, cerca de 95% dos estudantes do MIEMM tiram partido desta realidade para o desenvolvimento das suas dissertações de mestrado, o que é efetivamente um motivo de regozijo para nós. Foi, por isso, com orgulho e admiração que vi nascer em novembro de 2014 um projeto promissor de constante metamorfose. Chama-se Butterfly e tem carimbo de empresa de futuro. Do universo Butterfly deriva o projeto Minerva, um programa que tem vindo a fazer jus ao verdadeiro paradigma de articulação entre a universidade e o meio industrial e que se concretizou, no primeiro ano de existência, com a oportunidade de realização de estágios de verão para cinco estudantes do MIEMM na empresa-mãe sediada na Índia. No mesmo ano, cerca de uma dezena de estudantes do mesmo curso rumaram ao Centro de Investigação Metalúrgica - Instituto Azterlan IK4, sediado em Bilbao, Espanha, para uma experiência de estágio de cerca de um mês. E, provando que o universo Sakthi não se confina à área da Engenharia Metalúrgica e de Materiais, estudantes dos cursos de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, Engenharia Mecânica, Engenharia e Gestão Industrial e Engenharia do Ambiente integraram igualmente estágios de verão na unidade nacional da empresa, sediada em Vermoim, na Maia. Numa lógica de continui-
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dade, estas oportunidades repetiram-se no verão de 2016, para o Instituto Azterlan e para a Sakthi Maia e prometem continuar a ser uma realidade no futuro. O Butterfly deu também origem a um projeto derivado: o Júpiter. Com a intenção de formar quadros para a nova unidade Sakthi SP 21, localizada em Águeda, este projeto determinou o arranque, em 2015, de uma primeira fase de um programa de trainees com a duração de nove meses, que se repetiu em 2016. Recém-graduados de diversas áreas da engenharia preparam-se assim para integrar os quadros de uma nova unidade que dedicar-se-á essencialmente ao fabrico de componentes de segurança crítica para a indústria automóvel. A relação com a Sakthi Portugal ilustra de forma concreta a capacidade da academia e, muito particularmente, da FEUP, em estabelecer pontes e dinamizar parcerias importantes que ultrapassam em muito o meio académico e o tornam parte integrante de um mundo exterior em constante movimento. Nesta lógica de pensamento e 100 anos volvidos sobre a fundação da Faculdade Técnica, conscientes de que muito há para desenvolver neste paradigma de ligação à área industrial, foi dado o primeiro passo na criação da Comissão de Ligação à Indústria da FEUP, que tenho o prazer de coordenar. Com a criação deste grupo de trabalho, no qual constam representantes de todos os departamentos da FEUP, pretende-se homenagear o legado histórico da Faculdade Técnica, que antecedeu a criação da atual Faculdade de Engenharia, projetando-o no futuro e valorizando-o no presente sob a lógica de uma conexão cada vez mais valorizada e eficaz de interação com os parceiros industriais. Acredito que a relação FEUP-indústria é a chave para um futuro que se pretende venha a determinar o sucesso de uma geração académica que carece cada vez mais de uma forte componente de experiência profissional em empresa da qual só podem resultar garantidas mais-valias bilaterais. Acima de tudo, acredito que há que estabelecer pontes, minimizando obstáculos e potenciando uma ligação cada vez mais estreita. Só assim poderemos falar de uma verdadeira sinergia de futuro. * Professor Catedrático do DEMM
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Luís Filipe Malheiros*
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A U.Porto, o curso de Comandos e os conhecimentos de Duplo Uso João Baptista* e Mário Vaz**
Em todos os exércitos do mundo, o treino das tropas de elite tais como rangers, paraquedistas, fuzileiros, operações especiais ou comandos, é sempre muito específico e de elevada exigência física e psicológica. Só esta abordagem do treino permite aos soldados adquirir capacidades de intervenção em condições extremas de risco físico e tensão psicológica com um máximo de segurança. Em Portugal, estas tropas são frequentemente utilizadas em situações extremas, como aconteceu recentemente em Timor, no Kosovo, no Afeganistão, ou no Líbano, também com a função de embaixadores do nosso país. Às suas elevadas capacidades táticas, os nossos soldados acrescentam um fácil e cordial relacionamento com as populações. São, por isso, internacionalmente reconhecidos. Tal faz com que sejam, frequentemente, a primeira opção, como acontece atualmente na República Centro Africana. A Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) e a Escola de Sargentos do Exército (ESE), com a colaboração da Faculdade de Desporto (FADEUP), Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação (FCNAUP) e da Faculdade de Medicina (FMUP), através do Laboratório de Prevenção de Riscos Ocupacionais e Ambientais (PROA), com o apoio do Centro de Investigação da Academia Militar (CINAMIL), do LABIOMEP e do INEGI, tem vindo a estudar desde 2013 a capacidade de adaptação fisiológica dos Militares Portugueses a condições de clima extremo, tal como aconteceu na missão realizada no Afeganistão. Esta parceria entre a U.Porto e o Exército Português foi entretanto alargada ao Regimento de Comandos com objetivo de estudar, no terreno, as condições de treino e complementá-las com os novos métodos de investigação na área da segurança. Neste momento estão em curso as análises dos primeiros testes de monitorização do treino destas tropas e a definição de uma metodologia de investigação compatível com as exigências deste treino militar.
Os primeiros resultados obtidos são muito encorajadores e já desencadearam a atenção do Exército Brasileiro, que procura igualmente soluções para problemas idênticos. Tratando-se de um corpo de tropas em elevada prontidão operacional destacáveis para qualquer parte do mundo, são o objeto ideal para a realização de investigação em contexto operacional/ocupacional envolvendo não apenas os procedimentos de segurança e os equipamentos de proteção individual, mas também a alimentação e hidratação. A ligação destes problemas com o que acontece quotidianamente a nível ocupacional em atividades civis, principalmente quando o Ser Humano é submetido a condições de elevado stresse, quer físico, quer psicológico, tornou-se óbvia para todos os participantes nos projetos. Também os grupos profissionais envolvidos na emergência médica, em operações de busca e salvamento, combate a incêndios ou forças de segurança são potenciais utilizadores dos conhecimentos adquiridos neste projeto. O permanente sublinhado, por parte das Forças Armadas Portuguesas, para a necessidade de desenvolvimento de tecnologia e conhecimentos de duplo uso, tornou-se mais uma vez evidente ao longo desta colaboração. Neste contexto, a criação de um curso em Engenharia de Segurança Ocupacional/Operacional ao nível de um Mestrado Integrado, com uma componente vincada de liderança e focados em encontrar soluções para problemas complexos é, com certeza, um importante contributo de duplo uso que a U.Porto está em condições de assegurar. A abordagem multidisciplinar com integração de conhecimentos provenientes de diversos setores de investigação e do sistema científico e tecnológico nacional, podem dar um forte contributo para o desenvolvimento de novos serviços e produtos a disponibilizar nacional e internacionalmente a partir do tecido empresarial português. * Professor Associado do Departamento de Engenharia de Minas ** Professor Associado do Departamento de Engenharia Mecânica.
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Brasil: o nosso mais privilegiado exportador de talento No início deste ano académico recebemos na FEUP 45 novos estudantes brasileiros de grau nos mestrados integrados e licenciatura em Engenharia, fruto de uma estratégia de captação colocada em prática no início de 2016. A ação teve efeitos colaterais nos mestrados independentes, que viram de uma forma geral o número de estudantes brasileiros aumentar significativamente, e promete trazer muitos mais talentos para a FEUP no próximo ano. Liliana Carvalho*
A captação de estudantes internacionais está na ordem do dia das Instituições de Ensino Superior (IES). Portugal acordou tarde para esta realidade (até porque tem, por tradição, um sistema de ensino essencialmente em língua portuguesa), mas a necessidade de colmatar a quebra de estudantes a nível nacional, reflexo dos baixos níveis de natalidade e da crise económico-financeira, veio revolucionar a forma como as IES portuguesas se têm posicionado no exterior. Se são boas notícias? Sim, sem dúvida, mas não podemos esquecer que somos “noviços” nos campos de batalha internacionais e que, enquanto estivemos adormecidos, outros países foram ganhando terreno e construindo relações de confiança com os principais agentes no setor. Para nos impormos, a estratégia deve ser bem definida, diferenciada e focada em mercados-chave, conceitos básicos de marketing e comunicação mas por vezes esquecidos face à tentação de “disparar para todo o lado” e de assumir políticas menos dispendiosas, como a do “one size fits all”. Para a FEUP, referenciada como uma das melhores escolas de Engenharia da Europa, encontrando-se mesmo no top
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mundial em várias áreas específicas da Engenharia, este investimento na captação internacional não tem por objetivo fazer disparar o número de estudantes, mas sim atrair os melhores talentos, enriquecendo desta forma também a experiência (multi)cultural nas suas salas de aula. Em 2015, a FEUP definiu o Brasil como um mercado privilegiado para a captação desses talentos e desenvolveu uma estratégia que tem vindo a ser aplicada ao longo de 2016 que inclui a conceção de incentivos financeiros aos melhores estudantes brasileiros que ingressem pela primeira vez no ensino superior. Isto para além da redução de 50% no valor das propinas, uma vantagem existente para todos os estudantes CPLP da U.Porto. Poderá questionar-se: porquê o Brasil? A resposta é simples. A recente aceitação dos resultados do Exame Nacional de Ensino Médio brasileiro (ENEM) para candidaturas aos cursos de 1º ciclo de estudos, no contexto da aplicação do estatuto do estudante internacional, veio criar a possibilidade de ingresso nos mestrados integrados e licenciatura em En-
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Comunidade Alumni FEUP reúne-se no Brasil O Brasil é, segundo dados do LinkedIn, o país onde residem mais alumni FEUP (perto de 900) que trabalham um pouco em todas as áreas, em particular na Engenharia Civil. Aproveitando a presença da FEUP em São Paulo, foi organizado em março de 2016 um jantar alumni que resultou num agradável convívio entre os membros desta comunidade. Além das memórias dos tempos na FEUP, partilharam-se contactos e experiências pessoais e profissionais nesta que é agora a sua segunda casa. A iniciativa repetiu-se a 4 de novembro, liderada pelos Embaixadores Alumni João Campos Ferreira, André
genharia da FEUP. Face ao requisito de ingresso obrigatório de domínio da língua portuguesa, o Brasil é, sem dúvida, o nosso mais relevante mercado, tendo mesmo sido formalizado a 9 de março deste ano um acordo entre a U.Porto e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), do Brasil, que passou a permitir o acesso direto da U.Porto às informações de desempenho dos estudantes do Brasil nas provas do ENEM. Em 2015/2016 os brasileiros na FEUP correspondiam a perto de 40% da totalidade dos estudantes estrangeiros de grau, na maioria em Programas Doutorais, e isto sem quaisquer esforços relevantes de captação. Olhando para a realidade do Brasil, temos um país em que a procura é francamente superior à oferta, com um elevando número de instituições de ensino superior privadas, que disparou na última década. Segundo o Censo Superior 2015, do INEP, as matrículas na educação superior (graduação e pós-graduação) nesse mesmo ano superaram os 8 milhões de alunos, com uma participação de 75,7% (6.075.152) das Instituições de Ensino Superior privadas no total de matrículas de graduação, participando a rede pública com os restantes 24,3% (1.952.145). O potencial é, pois, enorme, reforçado pelas elevadíssimas mensalidades nas instituições particulares brasileiras. E se, por um lado, a atual crise político-económica no Brasil, marcada por uma taxa de câmbio flutuante, poderá deitar por terra a intenção de estudar no estrangeiro, por outro lado poderá ser ela própria mais um estímulo para muitas famílias que desejam proporcionar um futuro melhor aos seus filhos, com um ensino superior de qualidade, num ambiente seguro e que é uma porta de acesso direto para a Europa. “Sinta-se em casa na Europa” foi, aliás, o slogan da campanha desenvolvida para o Brasil no início de 2016, essencialmente baseada em testemunhos dos estudantes de grau brasileiros sobre a experiência na FEUP, no Porto e em Portugal. Com a campanha foi feito o lançamento de materiais de comunicação totalmente customizados, entre eles um website (www.fe.up.pt/brasil) com um módulo de pré-candidaturas simplificadas que apresenta a possibilidade de pagamento através do paypal. Este foi um trabalho que contou com a colaboração dos Serviços de Imagem, Comunicação e Cooperação, Serviços Académicos, Centro de Informática Prof. Correia Araújo e Serviços Económico-Financeiros.
Silva e Marcela Fukumori, em São Paulo, e estendeu-se também ao Rio de Janeiro, a 8 de novembro, com organização pela Embaixadora Alumni Ana Ribeiro. O papel dos Embaixadores Alumni não se limita à organização de encontros sociais. Entre as iniciativas previstas para 2016/2017 contam-se a aproximação estratégica ao CONFEA/CREA, o apoio a alumni em processo de reconhecimento dos seus diplomas e o desenvolvimento de duplas de mentoring em empresas.
O contacto pessoal com potenciais candidatos e seus educadores ocorreu durante os dias do Salão do Estudante em São Paulo, a feira de educação que todos os anos leva ao Brasil centenas de instituições de ensino superior de todo o mundo para informar, esclarecer e aconselhar os milhares de estudantes que a visitam juntamente com os seus familiares mais próximos. Esta presença no terreno veio corroborar algumas dificuldades já identificadas, entre elas a inexistência de um regime de ingresso para estudantes com dupla cidadania europeia. De facto, a legislação portuguesa impede estes cidadãos de se candidatarem através do concurso especial estudante internacional, mas não apresenta alternativas viáveis, sendo portanto praticamente impossível que alguém nestas condições consiga ingressar num curso de graduação. Outra questão bastante frequente prende-se com o ingresso nos segundos ciclos de mestrado integrado por quem frequenta ou já concluiu o ensino superior no Brasil e pretende dar continuidade aos estudos na FEUP. Para estes, a única possibilidade é a candidatura ao curso de graduação completo, podendo solicitar posteriormente a equivalência às disciplinas realizadas no Brasil. São vários os obstáculos, quase todos tendo por base questões legislativas e burocráticas. Por exemplo, a obrigatoriedade de um período de audiência prévia (período para reclamações) de duas semanas após o anúncio dos resultados das colocações atrasa bastante o do pedido de visto e, consequentemente, a chegada dos estudantes brasileiros à FEUP. Para contornar este problema, para o ano académico 2017/2018, a primeira fase de candidaturas iniciou já a 12 de dezembro de 2016. Apesar de todos os constrangimentos enfrentados nesta primeira abordagem ao Brasil, a campanha resultou em 65 candidaturas e 45 novas matrículas efetivadas para 2016/2017, contando apenas os cursos de graduação. O aumento das candidaturas de brasileiros nos mestrados independentes foi também substancial, indo aliás ao encontro do interesse que se verificou existir pelos cursos de pós-graduação. Para 2017/2018 espera-se uma nova leva de mais e melhores talentos para a FEUP. fe.up.pt/brasil * Coordenadora da Área de Marketing e Relações Externas da FEUP
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Adélio Mendes distinguido com Prémio Universidade de Coimbra 2016
Texto: Raquel Pires Fotografia: Álvaro Martino
O percurso pedagógico, científico e social valeu-lhe o Prémio Universidade de Coimbra 2016. Autor de múltiplas patentes, entre elas aquela que foi vendida por um valor mais alto em Portugal, Adélio Mendes tem-se notabilizado ao nível do desenvolvimento de tecnologias inovadoras de produção de energia elétrica, dinamizando projetos nacionais e internacionais nesta área.
“Um percurso notável”. É desta forma que o reitor da Universidade de Coimbra, João Gabriel Silva se dirige a Adélio Mendes, professor e investigador da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) no momento em que foi anunciado o vencedor do Prémio Universidade de Coimbra 2016. A nota oficial dá conta de “uma atividade letiva por todos reconhecida, uma atividade científica de centenas de artigos nos melhores locais de publicação internacional” e ainda “uma ligação ao tecido económico absolutamente invulgar”.
Mérito - Grau Ouro, numa cerimónia realizada nos jardins do Palácio de Cristal, em julho de 2015.
Autor de várias patentes, designadamente daquela que, “até ao momento, foi vendida por um preço mais elevado em Portugal”, Adélio Mendes tem somado incentivos à sua investigação: foi distinguido em 2012 com uma Advanced Research Grant no valor de 2 milhões de euros atribuída pelo European Research Council (ERC).
Do ponto de vista científico, Adélio Mendes conta com mais de 250 artigos em revistas internacionais e 21 famílias de patentes. Ao longo dos últimos anos, dinamizou diversos projetos nacionais e internacionais que globalmente representaram um financiamento global superior a 10 milhões de euros.
O professor da FEUP tem sido um dos principais impulsionadores de duas tecnologias fotovoltaicas que permitem a conversão direta da luz solar em energia elétrica de forma renovável e sustentável, que podem vir a revolucionar o mercado da eletricidade. Esta foi a principal razão que levou a Câmara Municipal do Porto (CMP) a distinguir Adélio Mendes com a Medalha Municipal de
O prémio Universidade de Coimbra 2016, no valor de 25 mil euros, foi entregue no dia 1 de março, na sessão comemorativa dos 726 anos da Universidade. Todos os anos a Universidade de Coimbra distingue uma personalidade de nacionalidade portuguesa que se tenha afirmado por uma intervenção particularmente relevante e inovadora nas áreas da cultura ou da ciência.
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Anos antes, em 2011, a empresa multinacional americana atribui-lhe o prémio “Air Products Faculty Excellence 2011 Award”, ainda em 2011 recebeu os prémios Solvay & Hovione Innovation Challenge SHIC’11, Ramos Catarino Inovação e Prémio ACP - Diogo Vasconcelos Applied Research pelos desenvolvimentos na selagem assistida a laser de células solares.
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Investigadores da FEUP criam G.P.S. inédito Criada por três investigadores da FEUP, a tecnologia Audio - G.P.S. envia sinais áudio impercetíveis e que permitem a um smartphone ou tablet determinar a localização global em espaços interiores onde o sinal do G.P.S. por satélite não chega. Apesar de recentemente criada, esta tecnologia arrecadou já um prémio universitário e um outro promovido pelo Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior.
Texto: Helena Peixoto Fotografia: D.R.
Nem sempre é fácil encontrarmos um consultório específico dentro de um hospital ou uma determinada loja num centro comercial... as informações e sinaléticas por vezes são tantas e até que acabam por confundir ainda mais o utilizador. Foi exatamente para colmatar este problema que nasceu o Audio - G.P.S, pelas mãos do investigador João Moutinho e dos também investigadores e docentes Diamantino Freitas e Rui Araújo, todos da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). O Audio - G.P.S consiste numa tecnologia de localização global para espaços interiores baseada na captação, pelos smartphones ou tablets, de sinais áudio impercetíveis emitidos por um sistema sonoro, pré-existente ou a criar facilmente no edifício. Com a sua localização global determinada nos espaços interiores, os utilizadores dispõem de um vasto conjunto de serviços que dependem da localização. A tecnologia tem também benefícios de acessibilidade, já que possibilita o aparecimento de tecnologias de apoio. Um fator diferenciador é o facto de trazer para o interior dos edifícios as vantagens dos tradicionais sistemas de G.P.S por satélite, de forma eficaz, económica e preservando a privacidade do utilizador.
Veniam: uma das 50 empresas mais disruptivas do mundo Este é mais um dos casos de sucesso de um projeto nascido na FEUP. A startup Veniam, liderada pelo docente da FEUP João Barros, ocupa o 28º lugar no prestigiado ranking internacional CNBC das 50 empresas mais disruptivas, posicionando-se ao lado de nomes como a Uber, Airbnb, Coursera e SurveyMonkey. Ao todo, foram analisadas 500 empresas a nível mundial. A Veniam dedica-se à implementação de tecnologia Wi-fi e tem um projeto relacionado com esta tecnologia nos transportes públicos, a chamada “internet em movimento”.
Além de ter já arrecadado o primeiro prémio da edição 2016 do concurso de Ideias de Negócio da U.Porto - iUP25k, o Audio - G.P.S venceu recentemente a edição 2016 do IDEAS - Born from Knowledge, o concurso nacional de ideias inovadoras promovido pelo Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior (MCTES). João Moutinho, um dos mentores do projeto, refere a importância desta vitória uma vez que, “a uma escala nacional, reconhece o Audio - G.P.S como a melhor ideia de negócio de 2016, numa altura em que a tecnologia prepara a sua entrada no mercado”. A equipa encontra-se de momento a desenvolver o produto para um primeiro cliente e espera daqui a uns meses ter a aplicação disponível para o público em geral.
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A participação na final de Kiruna vista por dentro Destinado a estudantes universitários de todo o mundo, o programa BEXUS, promovido pela ESA, em parceria com o German Aerospace Center (DLR) e o Swedish National Space Board (SNSB), desafia os participantes a desenvolver experiências científicas e tecnológicas que são lançadas até à estratosfera através de balões de grande dimensão, cheios de hélio. Pela primeira vez, um grupo de estudantes português, garantiu a passagem até à final da competição, que aconteceu em outubro, na Suécia. E contam-nos como viveram esta experiência única. Bruno Correia, Américo Duarte, David Leite e Nuno Moreira *
A experiência SIGNON (SIGNals of Opportunity for Navigation) nasceu no âmbito de um projeto existente na Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) no qual já estávamos envolvidos, denominado STRAPLEX (STRAtospheric PLtaform Experiment) e que desde 2005 tem feito lançamentos até à estratosfera de experiências científicas transportadas em balões de hélio. Todos nós participávamos neste projeto desde 2013 e sabíamos da existência do programa REXUS/ BEXUS (Rocket-Balloon EXperiment for University Students) que a ESA (European Space Agency) promove há dez anos. Trata-se de um programa de lançamento de gôndolas com várias experiências científicas através de balões de hélio de grandes dimensões a partir do SSC (Swedish Space Center) em Kiruna, na Suécia, e decidimos que era uma excelente oportunidade de sermos nós a desenvolver uma nova experiência e colocá-la a voar. Além disso, vimos neste programa uma forma de nos podermos envolver num meio mais abrangente ao que estamos habituados a lidar, sendo-nos dada a oportunidade de trabalhar com estudantes de toda a Europa, e com especialistas no domínio aeroespacial provenientes da ESA e de outras entidades associadas ao espaço europeu.
Fotografia: D.R.
O nosso projeto assenta numa ideia base: aproveitar um voo estratosférico para desenvolver um potencial sistema de navegação. Tivemos desde o início o apoio do professor Sérgio Cunha, coordenador do projeto STRAPLEX e nosso mentor neste projeto e da engenheira Zaida Silva. A experiência SIGNON teve como principal objetivo utilizar sinais de oportunidade existentes na zona de voo do balão (entre a Suécia e a Finlândia) de modo a que fosse possível navegar exclusivamente usando estes sinais, alternativamente ao GPS.
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Este projeto teve, sem dúvida, um papel importantíssimo na nossa formação como futuros engenheiros(...) Falamos essencialmente de sinais de televisão digital terrestre (TDT), sinais de rádio e sinais de tráfego aéreo e os ecos refletidos na superfície, o que nos iria também permitir a criação de um radar passivo da zona por onde o balão sobrevoou. Esta utilização dos sinais de oportunidade como método de navegação tem potencial aplicação em satélites de baixa órbita (LEO), que atualmente utilizam o sinal de GPS para obterem a sua posição. Vemos, portanto, neste novo método de navegação uma alternativa fiável ao GPS, que apresenta restrições à operação em órbitra. Todo o processo de desenvolvimento do projeto começou cerca de um ano antes de atingirmos a fase final do lançamento, para o qual tivemos de ultrapassar algumas fases de seleção. A pressão era grande até porque anualmente só são escolhidas cerca de seis ou sete experiências. A acrescentar a isto, fomos percebendo que éramos a equipa com a média de idades mais nova no concurso e estávamos a competir com estudantes europeus ao nível do doutoramento. De maneira a avançar com o projeto, dividimos as tarefas em três grandes áreas: mecânica, telecomunicações e eletrónica. Apesar de cada uma destas áreas ter como responsável um membro da equipa, a verdade é que houve uma grande entreajuda entre todos. Quanto ao set-up da experiência, esta funcionou do seguinte modo: construímos quatro caixas similares, todas com o mesmo material eletrónico e com o mesmo design. Uma das caixas voou dentro da gôndola, enquanto as outras três foram colocadas em locais estratégicos situados na vizinhança da projeção da trajetória prevista para o voo (ao longo de 100km) e perto de transmissores dos sinais que se pretendiam gravar, de forma a poder ter o registo de sinais mínimo de ruído. Cada uma das caixas tinha frequências de gravação bem definidas e sincronizadas com a caixa situada na gôndola, de forma a que, durante o processamento dos dados, fosse possível efetuar correlações e assim calcular distâncias associadas ao tempo de propagação dos sinais que darão informação de navegação. O facto de termos quatro caixas totalmente iguais, fez com que ocupássemos bastante tempo em toda a fase de implementação, pois toda a execução e todos os testes tinham que ser feitos quatro vezes. Por vezes surgiam erros difíceis de identificar apenas numa das caixas, o que fez com que o processo de garantir uma experiência to-
talmente funcional fosse bem mais demorado do que se tivéssemos apenas investido na construção de uma caixa. A campanha de lançamento em Kiruna, na Suécia, em outubro, foi de facto a altura em que a pressão se fez sentir com mais intensidade. Foram 10 dias para testar todo o trabalho que tínhamos vindo a fazer desde há um ano e queríamos ser bem-sucedidos! Foi crucial para nós levarmos a experiência já totalmente funcional porque isso permitiu-nos fazer testes em ambientes semelhantes as quais iríamos encontrar durante a fase de lançamento. Deparamo-nos com problemas de última hora e percebemos que é algo que acontece com frequência quando lidamos com projetos de engenharia, o que pôs à prova a nossa capacidade de ultrapassar e lidar com estas situações da melhor forma possível, num curto espaço de tempo. O dia do lançamento foi sem dúvida o principal marco para toda a equipa. Poder ver a experiência realizada por nós próprios a voar e a sermos bem-sucedidos ao fim de um ano de trabalho foi um momento de grande satisfação e felicidade e que dificilmente vamos esquecer! Em finais de janeiro toda a experiência culminará com a nossa participação numa conferência mundial no setor espacial. Queremos deixar também aqui o nosso agradecimento à equipa técnica da FEUP pelo valioso apoio prestado. Este projeto teve, sem dúvida, um papel importantíssimo na nossa formação como futuros engenheiros, permitindo-nos lidar com problemas reais de engenharia e interagir com realidades diferentes às quais estamos habituados. Foi também muito importante porque nos permitiu desenvolver soft-skills essenciais para o mercado de trabalho. Notamos que tivemos um crescimento enorme em termos pessoais, no modo de funcionar em equipa e também como futuros engenheiros. Certamente que também foi para nós um orgulho poder representar o nosso país, e deixar a prova de que Portugal é um país repleto de pessoas capazes de levar para o mundo novas ideias e novos projetos. Perante o sucesso da nossa participação no programa BEXUS, esta linha de investigação prossegue este ano, com uma equipa mais alargada, no programa REXUS através da experiência SPAN (SPace Navigation using Signals of Opportunity). * Estudantes do 4º ano de Mestrado Integrado em Eng. Eletrotécnica e Computadores
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Alumni da Faculdade de Engenharia regressaram a “casa” Foram cerca de 200 os participantes no evento pensado especialmente para alumni (antigos estudantes), mas dirigido também a atuais estudantes, professores e colaboradores. Realizado pela primeira vez para todos os cursos e gerações da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), o Regresso a Casa 2016 constituiu uma verdadeira oportunidade de reencontro, convívio, diversão e interação naquela que foi, durante alguns anos, a segunda casa para muitos destes antigos estudantes. Animação não faltou neste convívio, que contou com uma atuação da banda musical “Cassette”. O convite foi alargado aos familiares mais próximos dos participantes e por isso foi possível ver no relvado central da FEUP muitos miúdos, entusiasmados por fazer parte da festa! www.fe.up.pt/regressoacasa2016
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Fotografias: Egídio Santos
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Fotografia: Mariana Ferrand
Os eventos como experiência emocional
Cristina Soares Pereira*
Recordo-me de há uns anos, talvez uns sete, num curso de formação em que participei, ouvir com atenção a formadora - Laura, uma expert brasileira, com livros editados e um número alargado de eventos de grande escala organizados -, que um evento bem sucedido é aquele em que o participante fica satisfeito. Eu estava a começar este grande desafio que é hoje o Centro de Eventos da FEUP. Cheia de vontade de consolidar conhecimentos e de fazer diferente, trazendo na bagagem muita teoria, muitos workshops e cursos, mas ainda pouca experiência acumulada. Na altura, fruto da minha inexperiência, recusei-me a concordar e insisti que um evento bem sucedido é aquele que acontece de acordo com o planeamento definido para o mesmo, ou seja, é aquele que se desenrola com base num plano de trabalhos meticulosamente elaborado em que se prevê os constrangimentos possíveis e reservamos alguns “trunfos na manga” que podemos usar para minimizar o seu impacto. De facto, a idade é sinónimo de sabedoria e experiência que, vividas diariamente com profissionalismo e perseverança, são a nossa maior riqueza. Passados sete anos assumo como estava enganada! Desde 2008, ano em que abracei o desafio de criar uma equipa capaz de trabalhar profissionalmente os eventos institucionais e científicos na FEUP, e contando hoje mais de 200 eventos por ano (pouco mais de 20 mil participantes), percebi que não existe perfeição, apenas a tentativa constante de chegar lá perto. Todos os dias, a qualquer hora, tanto aqui como em todo e qualquer evento, constrangimentos/imprevistos existem, acontecem e contornam-se. Por mais planeamento, mais profissionalismo e mais empenho, por mais exigência e rigor na planificação - e continuando a acreditar que a antecipação de problemas são a chave fundamental de sucesso -, por mais engenharia logística, há sempre pormenores que escapam na hora do planeamento, isto porque
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os eventos vivem essencialmente de pessoas, a maioria das vezes culturalmente diferentes, com vivências impossíveis de comparar, com percursos e experiências diferentes, que vêm o mundo de forma tão peculiarmente diferente. De facto, Laura tinha razão. Neste admirável e desafiador mundo da organização de eventos, cujo impressionante crescimento se explica pelos benefícios que estes geram para as marcas, revelando-se como uma área estratégica para qualquer empresa ou instituição que valoriza a comunicação com o mundo, cada detalhe conta e, se é com profissionalismo que deve ser pensado e organizado, é também com muito “jogo de cintura”, nunca perdendo o enfoque nos participantes que se tornaram cada vez mais exigentes e informados. É muitas vezes na situação gerada no momento, no imprevisto (e não improviso, salvaguardo) que podemos ter a grande oportunidade de fazer diferente, maximizando os nossos pontos fortes e atenuando os nossos pontos mais fracos. Organizar um evento é nem mais nem menos do que criar o argumento de um “filme” que conta com uma panóplia de personagens e onde os convidados são os protagonistas. Quanto mais emoções “o filme” for capaz de proporcionar-lhes mais bem sucedido é o seu argumento. Defendo por isso que não devemos fazer eventos, mas antes gerir momentos para gerar emoções! Um bom exemplo disso é o Summer Sunset FEUP. Organizado pela primeira vez o ano passado, e que se repetiu no passado 8 de julho, mais uma vez sob o mote “Get together”, reuniu o público interno (docentes e colaboradores) num ambiente descontraído e cheio de boa disposição e é já considerado um evento bem sucedido. O feedback dos quase 400 participantes é a prova disso. E são estas emoções que ligam a organização do evento ao participante, o nosso melhor cartão de visita. * Coordenadora do Centro de Eventos da FEUP
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Integrado no programa Porto de Futuro da C.M.Porto, arrancou em 2015 o Projecto SEI. Em parceria com 21 estabelecimentos de ensino público da cidade, o objetivo passa por promover a literacia científica e alavancar o nível de conhecimento dos jovens. Funciona também como aproximação entre as instituições de ensino superior e as escolas básicas e secundárias. O convite surgiu da Escola Secundária Clara de Resende e foi bem acolhido pela Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), no ano letivo de 2015/16. Das 11 propostas de engenharia apresentadas, avançaram duas: as massas alimentícias saborosas e a energia microbiana sustentável. Com a coordenação da professora Margarida Bastos (FEUP), o desenvolvimento das massas com aromas levou a turma do 8ª ano até aos laboratórios da Faculdade de Engenharia e ainda numa visita à Cerealis. Produziram massas com sabor a laranja, tangerina, limão e lima através das próprias cascas de cada citrino recolhidas em casa e na cantina da escola. O projeto funcionou também como campanha de sensibilização para o desperdício. “Os alunos estavam entusiasmados por perceber que a partir de cascas que habitualmente iam para o lixo conseguiram retirar um tubo com aromas”, admite a professora do Departamento de Engenharia Química da FEUP. A parceria resultou bem e voltou a funcionar no arranque deste ano letivo e com a mesma turma da Escola Clara de Resende: vão manter-se fieis à massa, embora tentando reduzir o teor de sal pela utilização de uma planta que existe em grandes quantidades na Ria de Aveiro - a salicornia. O objetivo é também preparar massas enriquecidas em determinados nutrientes essenciais (ácidos gordos essenciais e determinadas vitaminas). O projeto da energia microbiana sustentável ficou com o 12º ano. Marcadamente multidisciplinar, o projeto faz a aplicação de investigação desenvolvida no grupo de Biofilmes do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE), em colaboração com investigadores do Centro de Estudos de Fenómenos de Transporte (CEFT), ambos da FEUP. Na opinião de Manuel Simões, o projeto “é atrativo devido à dimensão do seu potencial benéfico: pode tratar uma água residual, pode remover dióxido de carbono da atmosfera e produzir oxigénio, produzir energia elétrica através do metabolismo
Texto: Raquel Pires Fotografia: D.R.
FEUP colabora em projetos de promoção da Ciência no ensino básico e secundário
X Mostra Nacional de Ciência No dia 30 de maio e 1 de junho realizou-se a 10ª Mostra Nacional de Ciência, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa. Foram apresentados 100 projetos da autoria de 268 jovens, orientados por 57 professores. O grupo de 12º da Escola Secundária Clara de Resende participou nesta iniciativa, com o projeto da energia microbiana sustentável desenvolvido no âmbito do SEI. Foram distinguidos com o Prémio Especial Eficiência Energética, apoiado pela Agência para a Energia. O mesmo grupo participou, dias mais tarde, entre 24 e 31 de julho, no 34th Youth Science Meeting, que decorreu em Almada. E mais uma vez garantiu o 1º lugar entre todos os projetos nacionais apresentados, o que lhes permitiu estar presente na MILSET Expo-Sciences International 2017, que irá decorrer em Fortaleza, no Brasil, entre os dias 6 e 12 de agosto.
celular e até podem ser obtidos produtos biotecnológicos a partir da biomassa formada no processo”. Durante a experiência, os alunos da Escola Secundária Clara de Resende conseguiram obter valores de diferença de potencial no circuito do protótipo de célula de combustível microbiana construída no âmbito do projeto. E fizeram testes que visam a utilização de águas poluídas no decorrer da atividade escolar no reator, com vista à sua purificação em simultâneo com o processo de produção de energia. A parceria entusiasmou e deu o mote para um novo ano de troca de experiências. “O contacto com uma instituição do ensino superior com prestígio e provas dadas internacionalmente motivou alunos e professores. Interessava-nos poder operacionalizar, através da investigação e aplicação prática, conceitos teóricos trabalhados nas disciplinas das várias esferas da ciência”, admite Ângela Andrade, diretora adjunta da Escola Secundária Clara de Resende. Por outro lado, é uma ocasião única para os alunos verificarem in loco as aplicações práticas, em várias áreas, dos cursos que a FEUP oferece.
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Estudantes brasileiras “Perdidas no mapa” aterram na FEUP Amanda e Isadora são duas amigas brasileiras que embarcaram na aventura de passar um semestre na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). O que ia ser apenas um período de intercâmbio, tornou-se na aventura de uma vida.
Amanda Ludwig e Isadora Souza chegaram de Anápolis, Brasil, para frequentarem um semestre de Unidades Curriculares no curso de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), ao abrigo de um programa de intercâmbio. E porquê a escolha da FEUP? Amanda e Isadora não hesitaram: afinal, a Faculdade de Engenharia é considerada uma das melhores do mundo! Aliado a este motivo, a sua Universidade de origem, a UniEvangélica, mantém uma parceria com a FEUP, o que facilita as questões processuais. E assim começou a aventura na Faculdade e na cidade do Porto. De fevereiro a agosto de 2016, estas duas brasileiras não aprenderam só matérias de engenharia... os desafios foram muitos e as aprendizagens ainda maiores. Tudo começa com um excelente acolhimento aos estudantes estrangeiros, consideram ambas as estudantes: “a FEUP é extremamente acolhedora com os estrangeiros desde a primeira semana nos Orientation Days fazendo dinâmicas, mostrando a famosa “francesinha”, e proporcionando momentos de descoberta da própria cidade”, refere Amanda. Depois, e referindo-se especificamente às aulas, o feedback foi igualmente positivo: “a faculdade possui excelentes professores com uma ótima dinâmica de aula. Em relação ao ensino, é muito eficaz e dinâmico. Gostei de todas as aulas, professores e matérias. Acho muito importante a forma como o ensino da faculdade dá o mesmo valor nas aulas teóricas como nas aulas práticas”, conta Isadora. Comparando com o Brasil, o ensino é bastante diferente. Isadora reforça o facto de em Portugal o ensino das aulas e das matérias serem bem aprofundadas e específicas, o
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Texto: Helena Peixoto Fotografias: D.R.
que ajuda bastante na aprendizagem dos estudantes. O que não faltou nesta experiência de seis meses foram histórias caricatas para contar em volta das diferenças entre Portugal e Brasil. Muitas delas relacionadas com a comunicação verbal, pois, afinal de contas, apesar de teoricamente termos a mesma língua, há muitas especificidades... Amanda confessa que os portugueses falam muito rápido e que por vezes nas aulas precisava da ajuda dos colegas para perceber o que o professor dizia! “Muitas vezes as palavras diferentes do português do Brasil das do português de Portugal me deixavam passando um pouco de vergonha, mas depois eu acabava rindo...por exemplo, no início contaram para a gente que não é nada comum chamar ninguém de moça e eu me assustava pensando - será uma ofensa?... e nesta mesma lógica é engraçado ser chamada de rapariga pois no Brasil não tem o mesmo sentido. Confesso também que achava no início que a letra “K” era uma letra nova no alfabeto porque o som da letra no Brasil é de “CA” e aqui em Portugal é de ”CAPA”. Palavras como “giro” e “fixe” eram para mim bem estranhas... eu olhava sem entender, pensando: “tão me xingando?” mas no fim percebi que eram gírias positivas, e que tudo fica bem”, conta Amanda em tom de risada. No meio de tantas aventuras e histórias para contar, há sempre espaço para a saudade... afinal de contas, a nossa casa é sempre a nossa casa. A saudade da família aperta em alguns momentos e o bom clima do Brasil também deixou alguma nostalgia, naqueles dias cinzentos e frios de fevereiro. Além disso, uma boa feijoada à brasileira “nem sempre é fácil de encontrar em Portugal”, contam a rir.
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Porto não é uma cidade, é um sentimento.
E foi por toda esta riqueza de experiências que surgiu também a ideia de criar as “Perdidas no Mapa”, uma página de instagram que conta, através de fotografias, todas as aventuras e recantos explorados durante o período de intercâmbio. Afinal, uma imagem vale mais que mil palavras... Viagens por Portugal, amizades travadas, desafios de estudo superados... existe de tudo um pouco nesta página que juntou mais de 1500 utilizadores. O balanço da experiência foi, sem dúvida, mais do que positivo. Amanda não consegue parar de pensar na culinária portuguesa - os pastéis de nata e as francesinhas vão deixar saudade - e nos locais maravilhosos que a cidade do Porto tem para explorar. Também Isadora considera que esta experiência superou todas as expectativas e que “o Porto não é apenas uma cidade, é um sentimento!”. Como ponto negativo foi apontado o facto de em apenas seis meses não ser possível conhecer tudo o que Portugal tem para oferecer... Sem dúvida que a FEUP e Portugal ganharam duas embaixadoras. Quem sabe se um dia não se mudam de vez para este país irmão...! www.instagram.com/perdidasnomapa
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Sistema de bagagem inteligente pelas mãos de estudantes da FEUP Texto: Helena Peixoto Fotografia: D.R.
Terminaram as filas de check in e os tempos infinitos a preparar malas. Com o Travel Cache, criado por um grupo de estudantes da U.Porto, os viajantes apenas se têm de preocupar em usufruir do destino! Toda a gente sabe que as filas do check in são intermináveis, que as roupas ficam a parecer que não foram passadas a ferro, e que se perdem eternidades no momento de preparar as malas de viagem! Tudo isto para já nem sequer mencionar o incómodo que é perder as bagagens! Todas estas preocupações vão deixar de acontecer com o Travel Cache, um serviço que permite aos viajantes seguirem os seus destinos sem a necessidade de se ocuparem com a bagagem. Criado por Florian Rehm, Richard Ancuta e Pedro Silva, colegas no Mestrado de Inovação e Empreendedorismo Tecnológico (MIETE) lecionado nas faculdades de Engenharia (FEUP) e de Economia (FEP) da Universidade do Porto, o Travel Cache armazena e trata todos os itens usuais e necessários para que o viajante possa encontrar a sua bagagem no local de destino. Apesar do serviço ser especialmente dirigido a pessoas que viajem pelo menos uma a duas vezes por mês, pode ser utilizado por qualquer outro viajante que queira experimentá-lo. Estamos a falar de um sistema inteligente de gestão de bagagem que disponibiliza dois tipos de serviço: armazenamento físico ou entrega no local. O primeiro permite, além do armazenamento, o acesso e escolha do conteúdo
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para a viagem, através do site ou app, e custa 9,99 euros/ mês. Quem quiser a entrega no local final, paga um valor variável, que ronda os valores semelhantes ao custo adicional de uma bagagem de porão numa companhia low-cost. De acordo com os seus criadores, não existe - até ao momento - na Europa, nenhum serviço com estas características. Apesar das dificuldades iniciais em desenhar um modelo logístico eficaz e acessível, o Travel Cache está pronto para “oferecer armazenamento, entrega em qualquer parte da Europa e serviço de lavandaria”. Tudo isto à distância de um clique. O lançamento do Travel Cache está previsto para março de 2017 e, apesar da base operacional ser em Portugal, o projeto quer expandir-se para o mercado europeu. “Temos algumas ideias de serviços complementares que visam antecipar e satisfazer as necessidades dos 63 milhões de viajantes profissionais na Europa”, explicam os criadores. Apesar de tão recente na sua criação, o Travel Cache já arrecadou uma distinção. Foi premiado com o segundo prémio na competição universitária iUP25K, uma distinção que vai permitir lançar o serviço de forma mais rápida e sustentável.
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INDUSTRY LIAISON OFFICE Promover e estimular a ligação entre a FEUP e a Indústria nacional e internacional, fomentando assim a colaboração competitiva e a procura de recursos externos. O ILO assume o papel de elo de ligação entre a nossa Faculdade e o exterior, facilitando o diálogo interdisciplinar e procurando assegurar respostas mais eficazes às necessidades de Investigação e Inovação apresentadas pelas empresas e outras organizações.
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