Engenharia 58

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EN GE NHA RIA

58 REVISTA OFICIAL DA FACULDADE

DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO PRIMAVERA 2018

A revolução energética com ADN FEUP


OPEN INNOVATION TOWARDS

fe.up.pt/binporto2018


EN GE NHA RIA

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EDITORIAL

4 . O Serviço Público de Qualidade na FEUP

A ABRIR

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. Programas de Mobilidade

FEUP NO MUNDO

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. Acontecimentos com ADN FEUP

INOVAÇÃO E FUTURO

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As baterias do futuro: a revolução energética com ADN FEUP

ENGENHARIA REVISTA OFICIAL DA FEUP Edição* Unidade de Imagem e Comunicação da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto dci@fe.up.pt Conselho editorial Carlos Oliveira e Raquel Pires

11 . 1 milhão de euros para novas terapêuticas contra bactérias resistentes a antibióticos Hóquei em Patins na mira da Engenharia 12 . O

19

EUP revoluciona sistema de bilhética dos 13 . F transportes públicos

Redação Raquel Pires e Helena Peixoto – noticias@fe.up.pt

a ideia mais sustentável FEUP 2017 é: 14 . E “Combater o desperdício alimentar”

Design e Produção César Sanches design@fe.up.pt

NOVOS TALENTOS

Colaboram nesta Edição: Egídio Santos e Fernando Veludo/Nfactos

ntrevista a Vera Homem: “A investigação que 15 . E fazemos está direcionada para as pessoas”

Publicidade Sara Cristóvão – publicidade@fe.up.pt Propriedade Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Sede FEUP, Rua Dr. Roberto Frias 4200-465 Porto Tel: 22 508 1400 e-mail: noticias@fe.up.pt url: www.fe.up.pt

FEUP À CONQUISTA

18 . FEUP vence Prémio Mantero Belard 2017 19 . Mobilidade na FEUP: resultados históricos

AS NOSSAS PESSOAS

ntrevista a Raul Vidal – “As ligações são fulcrais 20 . E

Impressão Empresa Diário do Porto, Lda Porto 05 – 2018

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em tudo, da vida pessoal à profissional” iagem pela Academia Polytechnica do Porto 24 . V

Periodicidade Semestral

AS NOSSAS PARCERIAS

Tiragem 3000 exemplares

or mares nunca dantes navegados: a robótica 25 . P

Depósito legal

submarina do LSTS

*Esta edição foi escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico.

ADN FEUP

mbaixadores Alumni @FEUP: 28 . E Nuno Lago de Carvalho

MUITO + QUE ENGENHARIA NIRAID: a competição onde ganhar é 30 . U o menos importante Professor Aposentado que transforma madeira 32 . O em peças de arte

33 . Vulcanus: o programa que aproxima Europa e Ásia

FEUP GOURMET ntrevista a Joana Ventura – “Queria provar que 35 . E na minha cozinha se preparava mais do que massa com atum”

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A FECHAR 38 . A não perder

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C EDITORIAL

omo sabemos a FEUP tem por missão desenvolver atividades de educação, investigação e inovação focadas nas áreas de engenharia com impacto regional, nacional e internacional. Este é o desenvolvimento atual do compromisso de serviço público iniciado em Portugal há mais de 180 anos, a 13 de janeiro de 1837, pela Academia Politécnica do Porto “[...] com a missão de formar engenheiros, oficiais de marinha, pilotos, comerciantes, agricultores, diretores de fábrica e artistas.”

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Eis contudo alguma informação que pode não ser do conhecimento público: . No “QS Ranking” mundial em Enge-

No contexto da OCDE, Portugal é um dos países onde o Estado menos investe no ensino superior, destinando-lhe apenas 0,8% do PIB. De acordo com um estudo de 2017 promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos “em Portugal, quase 90% dos indivíduos com ensino superior [entre os 25-64 anos de idade, 2015] estavam satisfeitos com a sua vida, contra pouco mais de 60% daqueles que apenas concluíram o ensino secundário”.

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sido feito dentro da legalidade, pese embora um processo de contratação pública quase “medieval”, inadequado a instituições de ensino superior que se deseja que promovam também investigação e inovação competitiva a nível global. A FEUP tem também sabido manter um saldo global de tesouraria adequado, embora baixo face à sua dimensão, para garantir uma atividade de grande qualidade.

Apesar disto, o atual governo e grande parte das instituições do ensino superior, incluindo a U.Porto, assinaram um acordo de manutenção de financiamento durante a atual legislatura. Na realidade, desde o início da crise global em 2008, a redução em termos reais do financiamento público às instituições de ensino superior portuguesas tem sido constante. Num contexto macroeconómico nacional quase sempre adverso, tem havido a sabedoria de todos os envolvidos na FEUP ao manterem o equilíbrio financeiro, apesar dos sacrifícios. Tudo tem

nharia e Tecnologia a U.Porto passou da posição 169.ª em 2014 para 135.ª em 2018, sendo assim a primeira classificada em Portugal, seguida de perto pela U.Lisboa na 137.ª posição e depois pela U.Coimbra na 255.ª posição. .E m 2017, na 1.ª fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior, 10 dos 1062 cursos disponíveis eram da FEUP e em 7 desses 10 cursos, todos mestrados integrados, a nota do último estudante colocado do contingente geral foi superior a 16 valores. .E m 2014 estavam inscritos na FEUP 314 estudantes estrangeiros, dos quais 72 em mestrados integrados, 63 em mestrados e 179 em doutoramentos. No final de 2017 havia um total de 555 estudantes estrangeiros, dos quais 196 em mestrados integrados, 137 em mestrados e 222 em doutoramentos. Estimo que o crescimento irá continuar de 200 a 250 estudantes internacionais por ano, nos próximos 3 anos. E esta estatística não inclui os estudantes de mobilidade, tais como os Erasmus+. Estes indicadores, com todas as limitações inerentes, têm um grande

Fotografia: Egídio Santos

O SERVIÇO PÚBLICO DE QUALIDADE NA FEUP

João Falcão e Cunha*

significado para a Comunidade FEUP face ao contexto. Significam que a dedicação extraordinária de quase todos, pelo menos nesta última década, permitiu “filtrar” as dificuldades e continuar a compensar com o seu trabalho a falha nas condições disponibilizadas pelo Estado. Mas envolvem também uma grande responsabilidade, face aos parceiros externos e à sociedade, pois significam que existe confiança no que a FEUP faz e oferece, a nível nacional e internacional. Significam ainda um impacto crescente da população de estudantes internacionais na Área Metropolitana do Porto e da investigação que aqui é feita, traduzida por exemplo no dinamismo internacional das empresas acolhidas no UPTEC. Os estudos acima referidos e os nossos indicadores de desempenho também deviam fazer refletir as autoridades governamentais e os reguladores, tais como a A3ES, no sentido de permitirem mais autonomia a quem tem continuamente bons resultados e serve bem o interesse público. Entendo assim como contrária à autonomia das universidades a política de diminuir as vagas para novos estudantes e de eliminar os mestrados integrados da nossa oferta. Reafirmo assim a minha convicção de que a Comunidade FEUP conjuntamente com os seus excelentes parceiros na U.Porto e na Sociedade continuará determinada em melhorar a qualidade da educação, investigação e inovação, qualquer que seja o ambiente de governação e regulação, num contexto global cada mais competitivo e complexo. * Diretor da FEUP


MOBILIDADE NA FEUP: uma aposta vencedora

Balanço dos principais Programas de Mobilidade

OUT

IN

ESTUDOS/ESTÁGIOS ERASMUS+/BRASIL, ACORDOS DE MOBILIDADE, IAESTE, LEONARDO DA VINCI, VULCANUS (...)

ESTUDOS/ESTÁGIOS ERASMUS+/BRASIL E ACORDOS DE MOBILIDADE

Desde 1994 Total de participantes envolvidos

Desde 1994 Total de participantes envolvidos

Para onde vão?

De onde vêm?

>3500

>4500

Espanha Holanda 5 continentes

Itália

Espanha

Brasil

Itália

+50 nacionalidades


Docente Paulo Tavares de Castro integra Comissão Científica do programa europeu de aeronáutica “Clean Sky2” janeiro de 2018

Encontro Alumni @ Londres 28 de abril de 2018 Sillicon Valley investe três milhões de euros na ‘Fyde’, Startup com ADN FEUP abril de 2018

Marques dos Santos, Antigo Diretor FEUP, é o 1.º Provedor do Munícipe do Porto dezembro de 2017 João Teixeira, estudante 5.º ano do MIEEC, conquista prémio APREN 2017

Encontro Alumni @ São Paulo 3 de março de 2018

FEUP NO MUNDO


Alumnus Guilherme Paredes conquista bolsa Marie Curie na área de Eng.ª Civil outubro de 2017

Docente Álvaro Cunha recebe prémio EASD Senior Research’17 dezembro de 2017

Docente Alírio Rodrigues é dos mais citados do mundo na área de Engenharia Química de acordo com o Ranking de Shanghai setembro de 2017

Encontro Alumni @ Singapura 9 de dezembro de 2017

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Encontro Alumni @ Suíça 24 de março de 2018

FEUP NO MUNDO

Lançamento de foguetão Rexus-Bexus março de 2018


INOVAÇÃO E FUTURO

As baterias do futuro: a revolução energética com ADN FEUP

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É a investigadora de quem se fala. Helena Braga, docente da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), poderá ficar na história e mudar a forma como armazenamos energia. Tudo isto à custa de uma bateria sólida que está a desenvolver nos EUA: mais leve, amiga do ambiente e capaz de multiplicar a capacidade das tradicionais baterias de lítio. A investigadora acredita que no espaço de cinco anos as baterias do futuro possam estar já disponíveis no mercado. Tudo vai depender da resposta da indústria.

Texto: Raquel Pires Fotografia: Fernando Veludo/NFACTOS

Licenciada em Física e doutorada em Engenharia de Materiais e Metalurgia, lecionou na FEUP entre 2002 e 2009. De 2008 a 2011 foi também investigadora no instituto de Los Alamos. Hoje é investigadora na Universidade de Austin. Desde 1993 que tem publicado artigos científicos, sendo o mais conhecido aquele levou ao desenvolvimento de um eletrólito de vidro.

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udo começou há nove anos, na FEUP. Helena Braga tinha já experiência como docente quando decide dedicar-se à investigação que tem sido alvo de patentes internacionais e motivo de conversa junto da comunidade científica. Os resultados alcançados chamaram a atenção de John Goodenough, o criador das baterias de lítio tradicionais, que de imediato a convida a trabalhar na Universidade do Texas, nos EUA, juntamente com a sua equipa. Estávamos em 2015 e começava aqui uma importante parceria. Com 45 anos, Helena Braga quer continuar o seu trabalho a partir de Portugal, ainda que o seu nome possa ficar para a história da física e correr o mundo. Como aconteceu a escolha pela engenharia física? O que a atraía nesta área? Não escolhi a Eng. Física, escolhi a Física. Um dia pelos meus 15 anos li um livro que deram ao meu pai, “Um pouco mais de azul” de Hubert Reeves (Diretor do CNRS França) e que era de divulgação científica. Escrevi-lhe uma carta com perguntas sobre Entropia e ele respondeu-me dizendo que respondia a essas perguntas no seu próximo livro “A hora do deslumbramento” a editar em Portugal e mandou-me a versão do livro em Português. Disse-me também que ia dar uma conferência na Universidade de Aveiro e que gostaria que eu lá fosse... Pensei então que todos os Físicos eram assim interessantes e generosos no seu saber e, influenciada por isso e porque me “apaixonei” pelo conceito de Entropia vs. informação, fui para o curso de Física. Apaixonei-me pela Eng. Física e Materiais quando iniciei o Doutoramento na FEUP. Como surgiu esta colaboração com o Prof. John Goodenough, da Universidade do Texas? Quando publicámos o primeiro artigo sobre o eletrólito de vidro em 2015 recebi vários telefo-


INOVAÇÃO E FUTURO

Em termos de inovação científica, qual é a inovação destas novas baterias do futuro? O essencial destas baterias é que são capazes de armazenar muito mais energia do que as de ião lítio porque a sua capacidade já não depende do cátodo mas da do ânodo que é muito maior. Isto através de um eletrólito sólido de vidro que permite a utilização

de um ânodo construído em metais alcalinos sem a formação de “dendritos” (curto-circuitos internos) que habitualmente podem surgir em baterias de lítio tradicionais, que usam eletrólitos líquidos, levando a curtos-circuitos internos que provocam incêndios rápidos e até mesmo explosões. Além disso só usam elementos amigos do ambiente e baratos. O que significou, para si, fazer parte desta investigação e ter o seu nome associado a esta inovação? O meu nome não foi associado a esta investigação. Eu sou primeiro autor dos artigos porque contribuí muito substancialmente para todas as ideias e todo o trabalho envolvidos, nomeadamente o eletrólito que é essencial neste conceito e foi desenvolvido pelo Jorge Ferreira (LNEG) e por mim. É muito diferente fazer investigação nos EUA em relação à Europa? Como foi recebida? Fui muito bem recebida pelo Prof. Goodenough. Ele, apesar dos seus 95 anos, é um exemplo de abertura a novas ideias! O Andy também sempre acreditou no que fazíamos. A investigação não é muito diferente, mas a velocidade com que tudo é feito é muito maior.

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nemas de estrangeiros que queriam saber mais e eventualmente colaborar ou licenciar. Um deles foi Andy Murchison com que começámos a interatuar até que ele pensou que devíamos começar a colaborar com um grupo “de peso” nos EUA. Ele conhecia o Prof. Goodenough que eu conhecia dos livros que li!... Era o sonho para mim... O Andy apresentou-nos em fevereiro de 2014 e desde aí começamos a trabalhar para lhe provar que o eletrólito realmente funcionava. Durante um ano vim muitas vezes a UT-Austin e em fevereiro de 2016 pedi equiparação a bolseiro para fazer trabalho em baterias com lítio-metálico que não podia fazer na FEUP porque à data não tinha laboratório e muito menos caixa de luvas que é absolutamente essencial para este trabalho, uma vez que o lítio reage violentamente na presença de humidade e oxida facilmente.


O meu lado B Pedro Páramo” Juan Rulfo; “Memorial do Convento” José Saramago; “Temporal” Sergio Astorga; “O Nome da Rosa” Umberto Eco; “Entanglement” Joana Espain; “Mensagem” Fernando Pessoa (e muitos outros). .............. “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tornatore .............. Chico Buarque na sua obra prima “Construção” porque é dos melhores poemas/fotografia de uma sociedade injusta e muitas vezes assustadora.

INOVAÇÃO E FUTURO

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Quem é John Goodenough? Condecorado com a Medalha Nacional da Ciência pelo presidente Barack Obama, John Bannister Goodenough é muitas vezes considerado pela academia sueca quando chega a época do Nobel para a área de Física. É considerado o pai das baterias de iões de lítio, a invenção do início dos anos 90 que revolucionou o mundo da tecnologia, e o dia a dia de hoje, com gadgets e equipamentos eletrónicos a funcionar sem fios, em todo o lado, através de baterias recarregáveis. E por isso já recebeu vários prémios e comendas internacionais. Com 95 anos continua a trabalhar na Universidade de Austin, no Texas, nos EUA. Esteve recentemente na FEUP, a convite da Comissão de Ligação à Indústria, para um debate sobre o armazenamento da energia no futuro.

Trouxas de batata como a minha avó Renata fazia. Gosto muito de comer por isso tenho outros pratos favoritos: Confit d’Oie (com batatinha frita na banha do ganso); taquitos de huitlacoche e mole de pato do Restaurante “Frida” no Porto e todos os bacalhaus bem regados com o que de melhor temos, o azeite! .............. A realizar: muitas pela América Latina e em particular pelos vestígios pré-hispânicos. Ir à India, Petra na Jordânia, Galápagos no Equador e Florença na Itália (onde nunca estive). Gostaria de ir ao deserto do Atacama no Chile para ver os lagos secos de sais de Lítio e os telescópios recentemente construídos. .............. Gostaria que as baterias que fazemos fossem usadas por muitas pessoas. Gostaria que permitissem a substituição de automóveis movidos a gasolina por automóveis elétricos. Gostaria que uma criança, mulher ou homem, pudesse estudar melhor porque armazenou na bateria, durante o dia, a energia que vai poder usar quando o sol se põe.

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10 A nova geração de jovens investigadores portugueses tem dado provas de que há novos valores em território nacional. Como vê a aposta na ciência em Portugal? A “fuga de cérebros” é inevitável? Portugal alcançou um excelente nível mundial na educação e mesmo na investigação em algumas áreas do conhecimento, mas o problema é que não há qualquer incentivo. Não há progressão na carreira e não há recompensa em termos salariais. Não se recompensa quem faz. Por exemplo, só agora ao fim de 15 anos é que nos arranjaram um laboratório de investigação no campus da FEUP...

Que papel podem desempenhar as universidades na atração de novos talentos? As Universidades/Faculdades têm que reconhecer os talentos antes que as notícias venham de fora... Dito isto, têm que fazer tudo o que estiver ao seu alcance para proporcionar condições a quem quer fazer. Quando sentimos que estão a fazer o que podem por nós, respondemos imediatamente com um sentimento de lealdade... As Universidades teriam que ter mais poder discricionário para poder dar condições a quem quer trabalhar em Portugal. Talvez, por exemplo, reduzindo a carga horária e atribuindo mais licenças sabáticas (neste momento só podemos ter seis meses seguidos) a quem quer fazer investigação.


1 milhão de euros para novas terapêuticas contra bactérias resistentes a antibióticos

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ma equipa de investigação liderada por Nuno Azevedo, professor no Departamento de Engenharia Química e investigador do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE) da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) acaba de receber 1 milhão de euros de fundos comunitários no âmbito do programa H2020, para desenvolvimento de novas terapêuticas para inibir a resistência de bactérias a antibióticos. É uma linha de investigação que assume particular importância numa altura em que as notícias de surtos de bactérias resistentes a antibióticos são cada vez mais recorrentes, isto porque o ritmo de aparecimento destas estirpres resistentes é bem maior do que o desenvolvimento de novos antibióticos. Este grupo de investigadores do LEPABE tem-se dedicado a estudar e a desenvolver métodos alternativos de tratamento antibacteriano através do uso de mímicos de ácidos nucleicos. Qual a principal vantagem? Trabalhar com moléculas que se comportam da mesma maneira que o ADN e ARN normal presente em todos os organismos, mas que não são degradados por enzimas bacterianas. Isto permite aos investigadores “desenhar moléculas compostas por estes mímicos que se conseguem ligar ao ADN ou ARN do microrganismo em locais específicos que provocam a inibição da expressão de determinados genes essenciais à sobrevivência do microrganismo, levando por consequência à sua morte”, explica Nuno Azevedo.

Ao mesmo tempo, os investigadores da FEUP estão também empenhados em desenvolver sistemas de entrega “destes mímicos” para o interior dos microrganismos recorrendo ao uso de nanopartículas. Trata-se de uma abordagem que tem sido utilizada para o tratamento de células cancerígenas, mas cuja aplicação em microrganismos não foi ainda testada, “o que poderá representar uma importante alternativa ao tratamento tradicional com antibióticos neste tipo de infeções”, admite o investigador responsável por este estudo. As expetativas são elevadas: por um lado há a possibilidade de consolidar a posição da FEUP nesta área emergente que é o tratamento de infeções recorrendo a ácidos nucleicos; e, também, pelo facto de o projeto contar com a colaboração de dois dos mais respeitados grupos de investigação internacionais na área: o Nucleic Acid Centre of SDU na Dinamarca, líder mundial no desenvolvimento de mímicos de ácidos nucleicos, tendo inventado um dos mímicos que atualmente apresentam maior potencial neste tipo de abordagens e o Laboratory for General Biochemistry and Physical Pharmacy da Universidade de Ghent, reconhecido internacionalmente pelo seu trabalho em nanotecnologia, nomeadamente no desenvolvimento de estratégias para a entrega de ácidos nucleicos em células animais.

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É uma linha de investigação que assume particular importância numa altura em que as notícias de surtos de bactérias resistentes a antibióticos são cada vez mais recorrentes e porque o ritmo de aparecimento destas estirpes é bem maior do que o desenvolvimento de novos antibióticos.

INOVAÇÃO E FUTURO

Texto: Raquel Pires Fotografia: direitos reservados


O HÓQUEI EM PATINS NA MIRA DA ENGENHARIA

INOVAÇÃO E FUTURO

Texto: Raquel Pires Fotografia: direitos reservados

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De acordo com a Federação Espanhola de Hóquei em Patins, todos os fins de semana acontecem 15 lesões graves na cabeça dos atletas espanhóis. Em Portugal, no Laboratório de Biomecânica da U.Porto (LABIOMEP), há um grupo de investigadores que está a desenvolver um novo capacete para os guarda-redes, onde as preocupações com a ergonomia e a segurança dos atletas são as palavras-chave.

N

ão é por acaso que o assunto é já motivo de uma tese de mestrado em Design Industrial na Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), desde março de 2017. O assunto tem sido debatido com regularidade sobretudo pelas federações profissionais e clubes onde a tradição do hóquei em patins é grande. A CERS, entidade oficial que gere a modalidade a nível mundial, proibiu recentemente os capacetes de hóquei no gelo, decisão que foi revista após a intervenção do LABIOMEP. Ainda assim as opiniões dividem-se. Em Portugal, testes de impacto já realizados no LABIOMEP permitiram constatar que no hóquei em patins não é utilizado o equipamento mais adequado na proteção da cabeça dos guarda-redes. Os investigadores acreditam que a melhoria das condições de treino e da capacidade atlética dos praticantes conduziu a velocidades de bola cada vez mais elevadas e, muito provavelmente, com energias superiores às que o atual equipamento admite em segurança (136 km/h velocidade máxima medida). O assunto ganha outra dimensão se tivermos em conta que “os guarda-redes são treinados de forma a defenderem com a cabeça bolas rematadas para a área superior central da baliza e, assim, ficam expostos a riscos que podem comprometer a sua integridade física”, garante Mário Vaz, do LABIOMEP. O objetivo dos investigadores passa por dotar a modalidade com um equipamento de proteção individual que possa garantir a segurança dos atletas; e, ao mesmo tempo,

apostar no design dos capacetes, de modo a torná-los apelativos e perfeitamente indispensáveis à prática da modalidade. Depois de se terem inspirado nas soluções para o hóquei do gelo, “a principal novidade do nosso protótipo prende-se com a eliminação da mobilidade da viseira – que não protege a articulação temporo-mandibular (ATM) no caso dos impactos no queixo – além de novas soluções construtivas para a própria viseira”, anuncia Mário Vaz. Até porque, “o melhor compromisso entre uma elevada resistência ao impacto e um peso reduzido poderá aconselhar a utilização de materiais diferentes dos atuais”. Numa fase inicial o projeto contou com a participação ativa de Edo Bosch, jogador da equipa principal do Futebol Clube do Porto: era importante definir as principais exigências (quer dimensionais, quer funcionais) para o protótipo do capacete que se encontra em fase adiantada de produção. “O feedback tem sido muito positivo com envolvimento dos principais guarda-redes do campeonato nacional”. Ainda segundo Mário Vaz, é muito possível que Portugal seja o primeiro país a homologar um capacete com estas características, estando apenas dependente de se encontrar uma empresa que queira associar-se ao projeto. E nunca é demais lembrar que “a empresa AZEMAD, de Oliveira de Azeméis, fabricante de stiques para hóquei em patins, conseguiu transforma-se no maior fabricante mundial de stiques através de três projetos de colaboração realizados através do INEGI/LABIOMEP”, rematou.


Chama-se Anda e promete tornar mais simples e em alguns casos mais barato o uso de transportes públicos no Porto. A cidade invicta torna-se assim a primeira cidade portuguesa a desmaterializar a sua bilhética.

FEUP REVOLUCIONA SISTEMA DE BILHÉTICA DOS TRANSPORTES PÚBLICOS Texto: Raquel Pires Fotografia: direitos reservados

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INOVAÇÃO E FUTURO

partir de junho vai ser possível utilizar o Metro do Porto, os autocarros da STCP e dos operadores privados (nas linhas que integram o Andante) e os comboios urbanos do Porto validando, apenas e só, com o telemóvel. Tudo graças ao Anda, a nova aplicação móvel do sistema Andante, desenvolvida pelos Transportes Intermodais do Porto (TIP) em estreita colaboração com os operadores de transportes, a Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) e empresas tecnológicas nacionais.

Com o Anda basta fazer o download da aplicação e, a partir daí, validar e seguir tranquilamente até ao destino, sem quaisquer complicações. O pagamento das deslocações passa a realizar-se à posteriori, no final do mês, através de cartão bancário de débito ou crédito. O cliente insere os seus dados de pagamento no momento do registo na aplicação. Diariamente a aplicação analisa o registo de viagens efetuadas e, através de um algoritmo altamente rigoroso, apresenta a solução tarifária mais económica e vantajosa para o cliente. De acordo com Marta Campos Ferreira, aluna de doutoramento da FEUP envolvida no projeto, estamos a falar de uma solução inédita ao nível dos sistemas de bilhética europeus e que pode vir a revolucionar todo o setor. “Com esta aplicação deixa de ser necessário ir para as filas para comprar títulos de transporte, ter moedas disponíveis para as máquinas de venda automática ou transportar cartões físicos. Os passageiros também não precisam de ter conhecimento sobre o tipo de bilhete necessário para efetuar determinada viagem, nem com a compra da assinatura mensal no início de mês”, explica a jovem investigadora da Faculdade de Engenharia.

Outra das grandes vantagens da aplicação é poder pagar no final do mês, “com a garantia de que o cliente paga o mínimo valor possível já que a aplicação otimiza o valor a pagar e agrupa as viagens efetuadas na melhor combinação possível em termos de assinaturas, títulos ocasionais e zonas”. O cliente paga apenas a utilização efetiva das viagens que realiza. Na opinião de Marta Campos Ferreira “trata-se de uma solução inovadora e um excelente exemplo que junta o conhecimento da universidade, a experiência dos operadores de transporte e a competência das empresas de base tecnológica”. Numa fase inicial, o Anda está disponível apenas na Google Play. O investimento global associado à conceção, desenvolvimento e instalação do sistema Anda é de aproximadamente dois milhões de euros, parcialmente financiado pelo Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente.

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A aplicação, totalmente inovadora na área de bilhética, permite uma experiência de utilização simplificada do sistema de transportes públicos, desmaterializando o título de transporte numa App (dispensando assim o recurso ao cartão físico e permitindo a utilização do sistema sem conhecer previamente as regras de zonamento ou tarifário), sendo pioneira na capacidade de otimizar o tarifário mensal apresentado a cada cliente, tendo em conta a sua utilização efetiva.


E a ideia mais sustentável FEUP 2017 é: “Combater o desperdício alimentar”

INOVAÇÃO E FUTURO

Texto: Helena Peixoto Fotografia: direitos reservados

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Diogo Xavier Pereira e Vera Miguéis são os autores do projeto ‘Desperdício 0 na cantina da FEUP’ que pretende alinhar a confeção diária com a respetiva procura através de um modelo matemático preditivo baseado numa série de fatores que afetam diariamente os consumos.

N

um contexto mundial em que cerca de 1,3 biliões de toneladas de alimentos produzidos no mundo para consumo humano são desperdiçados em toda a cadeia de abastecimento, é urgente tomar medidas. Até porque esta realidade se torna especialmente crítica quando nos deparamos com o inverso da medalha: a fome crónica atinge cerca 815 milhões de pessoas, o correspondente a 11% da população mundial. O desperdício alimentar é um problema bem real e vivido à escala mundial. Considerando toda a energia, água e embalagens envolvidas no processo de produção, transporte e entrega ao consumidor, o desperdício alimentar é um grande inimigo da sustentabilidade. Em particular, e devido ao desadequado planeamento das porções a confecionar, uma parte significativa dos alimentos produzidos não são consumidos. Foi precisamente com estas premissas em mente que Diogo Xavier Pereira, estudante do 5.º ano do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação e Vera Miguéis, Professora Auxiliar do Departamento de Engenharia e Gestão Industrial da Faculdade de Engenharia da U.Porto, desenvolveram o projeto ‘Desperdício 0 na cantina da FEUP’, vencedor da 2.ª edição do Concurso Mais Ideias Sustentáveis 2017. E como se consegue cumprir este objetivo? Através de um modelo matemático preditivo que estima a procura de determinado prato em determinado dia, permitindo alinhar a confeção diária com a procura da refeição específica, minimizando assim o desperdício alimentar. Este modelo será baseado em dados históricos da cantina da FEUP que vão ajudar a identificar os fatores que afetam

os consumos: condições meteorológicas, horários dos estudantes e características do prato são alguns deles. O projeto premiado está enquadrado no projeto de dissertação do finalista Diogo Pereira e encontra-se numa fase preliminar de desenvolvimento. Crucial foi também a colaboração dos Serviços de Ação Social da U.Porto (SASUP) ao fornecerem dados de consumo, e da FEUP na disponibilização de informação relativa aos horários dos estudantes. A atribuição do prémio da 2.ª edição do Concurso Mais Ideias Sustentáveis – uma bicicleta patrocinada pela Órbita – decorreu no passado dia 15 de janeiro, durante a Cerimónia do Dia da FEUP.

Sobre a iniciativa Promovido pelo Comissariado para a Sustentabilidade da FEUP, o Concurso Mais Ideias Sustentáveis conta já com duas edições (2016 e 2017) e, com elas, cumpre dois grandes objetivos: por um lado, sensibilizar a comunidade FEUP para as questões relacionadas com o desenvolvimento sustentável e, por outro, recolher ideias que possam ser implementadas e que contribuam para o bem-estar da comunidade e para a sustentabilidade da instituição.


São 370. O número é ainda mais redondo quando se escrutinam os registos: 90% são bolseiros de investigação. Quem são estes jovens investigadores? Que trabalho desenvolvem? O que os move? E que expetativas têm relativamente ao futuro? Andámos pelas unidades de investigação da FEUP à procura de respostas. E sobretudo de jovens promessas.

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era Homem tem 33 anos. É bolseira pós-doc no Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE) da FEUP e dedica-se ao estudo de avaliação de risco ambiental de produtos de higiene pessoal, o que lhe permitiu já estabelecer parcerias com grupos de investigação internacional de renome como o Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC) de Barcelona e o Departamento de Saúde do Wadsworth Center, em Nova Iorque. Com um percurso académico que passou sempre pela Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), primeiro com a licenciatura em Engenharia Química (2007) e mais tarde com o Doutoramento em Engenharia do Ambiente (2011), conseguiu recentemente financiamento para uma nova linha de investigação. Vera Homem vai também estudar o impacto agronómico da utilização

NOVOS TALENTOS

A investigação que fazemos está direcionada para as pessoas

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ENGENHARIA 58 FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

Texto: Raquel Pires Fotografia: Egídio Santos


O LEPABE Foi criado em 1998 e está sediado no Departamento de Engenharia Química. Grupo interdisciplinar, reúne atualmente 199 investigadores – 177 são doutorados – a que se somam 17 que trabalham diretamente em empresas. Sob o slogan “Da Ciência para a Inovação”, o LEPABE sustenta toda a sua atividade na combinação entre a ciência básica, a engenharia aplicada e a inovação: aqui faz-se investigação em áreas multidisciplinares como as células solares, os biomateriais, passando pelos sistemas de libertação controlada de medicamentos, o ambiente, entre outros. Neste momento, decorrem no LEPABE 12 projetos europeus, que representam um financiamento de 3,5 milhões de euros para a unidade de investigação. No âmbito do Portugal2020, destaque para os 5,1 milhões de euros já atribuídos ao LEPABE. Em matéria de projetos em curso financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) o encaixe financeiro é de 2,5 milhões de euros, a que se somam 1,3 milhões relativos a projetos em co-promoção com empresas. Quanto às receitas próprias, o ano de 2017 apresentou receitas próprias, em prestações de serviços, no valor de 100 000 euros. Com 17 patentes e 4 spin-offs, o LEPABE tem sido consistentemente avaliado como “Excelente” nas várias avaliações internacionais da Fundação para a Ciência e Tecnologia.

NOVOS TALENTOS

fe.up.pt/lepabe

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de lamas produzidas em estações de tratamento de águas residuais como fertilizante. O objetivo passa por contribuir para o conhecimento sobre o uso seguro de lamas em campos agrícolas, fomentando e promovendo melhorias nesta prática através de estratégias de “economia circular”. Como aconteceu a escolha pela engenharia química? O que a atraiu nesta área? Sempre gostei de áreas muito distintas. A maior dificuldade prendia-se com a escolha de uma área específica para o prosseguimento dos estudos, quando entrei no ensino secundário. Na altura estava bastante inclinada em escolher Humanidades, porque sempre me interessei por História. Mas as poucas saídas profissionais fizeram-me repensar e acabei por prosseguir estudos na área científico-natural porque assim conseguiria juntar “um pouco de razão e um pouco de coração”. O meu interesse pela físico-química intensificou-se durante esse período, o que acabou por enviesar a minha escolha seguinte: engenharia química. Este curso proporcionava não só uma forte formação de base em áreas como a matemática, química e física (que sempre me suscitaram interesse), como aliava conceitos mais práticos de engenharia, o que me iria permitir construir uma carreira futura na indústria ou na investigação. No decorrer do curso de engenharia química apercebi-me que era a investigação científica que me preenchia... o criar novo saber, relacionando conhecimentos de base com resultados obtidos através da experimentação laboratorial. No último ano do curso surgiu a oportunidade de desenvolver trabalho de investigação, desta vez na área do ambiente, o que me permitiu adquirir competências mais específicas, numa área que nos tem suscitado uma crescente preocupação.

Em que consiste o seu trabalho de investigação no LEPABE? Estou integrada no grupo das Ciências e Tecnologias do Ambiente do LEPABE e todo o trabalho que tenho vindo a desenvolver está relacionado com esta área. Há duas linhas de investigação a que me dedico neste momento: o desenvolvimento de estudos de avaliação de risco ambiental de produtos de higiene pessoal e o estudo do impacto agronómico da utilização de lamas produzidas em estações de tratamento de águas residuais como fertilizante. No primeiro caso posso dizer que, em traços gerais, estamos a estudar o impacto no meio ambiente da presença de compostos incorporados nos produtos de higiene pessoal e cosméticos (nomeadamente fragrâncias, siloxanos e filtros-UV). Estes compostos são lançados massiva e diariamente na nossa rede de esgotos e não são eficazmente removidos nas ETARs. Por essa razão, são comummente encontrados no meio ambiente como contaminantes. Embora possam estar presentes em quantidades relativamente pequenas, estes podem ter uma ação nociva nomeadamente para os seres vivos, produzindo efeitos ao nível reprodutivo, endócrino e até morfológico. É exatamente nesta área em que estamos a trabalhar, na determinação destas concentrações a nível ambiental e na avaliação dos riscos associados à sua presença para podermos propor novas estratégias de tratamento, nomeadamente ao nível das ETARs e podermos atuar também a nível legislativo. É um trabalho multidisciplinar e, por isso, temos diversas parcerias com outros grupos de investigação internacional de renome, como o CSIC em Barcelona e o Departamento de Saúde do Wadsworth Center nos EUA,


A segunda linha de investigação que mencionei constitui um trabalho mais recente, para o qual obtivemos financiamento através do último concurso para Projetos de IC&DT da FCT, no qual desempenho o papel de Investigadora Principal. As lamas produzidas nas ETARs (resíduos sólidos) têm um elevado teor de matéria orgânica, minerais e outros nutrientes indispensáveis para o crescimento das plantas. Nos últimos anos, o número de ETARs aumentou, bem como a produção destes resíduos e é preciso encontrar formas para a sua remoção. As características mencionadas anteriormente tornam as lamas propensas a serem usadas como fertilizantes agrícolas. Contudo, a potencial presença de quantidades significativas de poluentes tem suscitado preocupação. O trabalho que iniciamos pretende contribuir para o aumento do conhecimento sobre o uso seguro de lamas em campos agrícolas, fomentando e promovendo melhorias nesta prática através de estratégias de “economia circular”. Para quem não estiver familiarizado com esta expressão é um modelo que defende que os resíduos devem ser transformados, através da inovação, em potenciais produtos, promovendo assim a reutilização, recuperação e reciclagem. Em que é que se materializa? Ou melhor: que impacto poderá vir a ter na vida das pessoas? A investigação que fazemos está direcionada para as pessoas e para que possa ter efetivamente um impacto positivo nas suas vidas. Nesta fase pretende-se sobretudo

É verdade que temos motivos para estar contentes, uma vez que a ciência feita em Portugal tem vindo a ser reconhecida como ciência de elevada qualidade, mas é necessário que se criem melhores condições para o aparecimento de nova massa crítica. A “fuga de cérebros” é inevitável? Refira algumas medidas que poderiam ajudar a fixar talento no nosso país. Acredito que a fixação de talento no nosso país poderá ser estimulada através da criação de empregos científicos qualificados, com condições de trabalho mais aliciantes do que as que atualmente existem. Na verdade, a grande maioria dos investigadores é bolseiro. É essencial criarem-se contratos de trabalho que promovam uma estabilidade até aqui inexistente, nas vidas de quem escolheu a ciência e a investigação como carreira profissional. É insustentável manter este tipo de práticas num país que diz querer afirmar-se pelo investimento na ciência e tecnologia. Era importante também lançar novos programas de financiamento de projetos, com duração mais alargada e com datas de abertura de concursos e regras bem definidas à partida.

NOVOS TALENTOS

bem como o INFARMED, I.P., a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde.

Esta nova geração de jovens investigadores tem dado provas de que há novos valores em território nacional. Como vê a aposta na ciência em Portugal? Embora a tendência pareça ser de melhoria, ainda há um longo caminho a percorrer. É necessário continuar a apostar na ciência em Portugal, não descurando a ciência fundamental (o que na minha opinião tem vindo a acontecer). Essa servirá de base à ciência aplicada, essencial para o desenvolvimento económico e social de um país. Acredito que sem as bases, dificilmente conseguiremos construir um futuro sólido.

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que os projetos tenham um forte impacto na preservação do meio ambiente e da biodiversidade dos ecossistemas, mas também na área da saúde e agroalimentar. Queremos saber que contaminantes não estão a ser corretamente removidos nas ETARS e desenvolver novas tecnologias que permitam melhorar o tratamento das águas residuais, diminuindo as cargas poluentes emitidas. Isto terá um forte impacto no meio ambiente e consequentemente na saúde. Por outro lado, gostaríamos de contribuir para a criação de novos limites legais. Além disso, é nosso objetivo contribuir decisivamente para a valorização de resíduos provenientes das ETARs, garantindo uma resposta ecológica, segura e economicamente viável de reutilização.


FEUP vence Prémio Mantero Belard 2017

Texto: Raquel Pires Fotografia: direitos reservados

FEUP À CONQUISTA

Projeto que envolve consórcio internacional foi distinguido com 200 mil euros e visa a descoberta de uma nova metodologia para o tratamento da doença de Alzheimer. Só em Portugal a prevalência da doença atinge 90 mil pessoas, sendo a causa de demência mais frequente em pessoas na terceira idade.

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aria do Carmo Pereira e Joana Loureiro, investigadoras do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE) da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) foram distinguidas com o Prémio Mantero Belard 2017, promovido pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. O prémio, no valor de 200 mil euros, foi atribuído a uma equipa multidisciplinar liderada pelo Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa, da qual também fazem parte a FEUP, o Centro da Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra e o Institute of Biomedicine da University of Eastern Finland. Segundo as investigadoras da FEUP, o galardão atribuído a este consórcio vem “reforçar a necessidade crescente de conjugar a engenharia à área da medicina”.

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O projeto vencedor intitulado “Nova estratégia terapêutica e novo biomarcador para a doença de Alzheimer baseados na clivagem do receptor do BDNF” visa a descoberta de uma nova metodologia para o tratamento da doença de Alzheimer. Apesar de ainda não existir uma cura, acredita-se que a doença de Alzheimer esteja relacionada com a alteração da conformação e acumulação de um péptido no cérebro: o péptido beta amiloide (Aβ). Depois de ocorrer este fenómeno é muito difícil reverter o processo. O fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), através da ativação de seu recetor completo TrkB-FL, regula a sobrevivência neuronal. Descobriu-se que o péptido Aβ induz a clivagem dos receptores TrkB-FL originando dois fragmentos: um novo recetor truncado (TrkB-T’) e um domínio intracelular (TrkB-ICD). No projeto agora distinguido, os investigadores apresentam como hipótese que a clivagem dos recetores de TrkB-FL pelo péptido

Aβ contribua para a permanência da toxicidade do Aβ, não só por induzir uma perda de neuroproteção endógena, mas também por causar um ganho de função tóxica que deve ser interrompido para prevenir a neurodegeneração contínua. Desta forma, um dos objetivos desta equipa multidisciplinar consiste em encapsular em lipossomas (veículo) uma molécula que seja capaz de prevenir a clivagem do TrkB-FL. Assim os lipossomas podem ser direcionados para o cérebro (local onde ocorre este mecanismo patológico), transportando o novo fármaco e evitando a progressão da doença. Este veículo será desenvolvido na FEUP e posteriormente testado em modelos animais pelo consórcio.

Quem foi Mantero Belard? Enrique Mantero Belard foi o benemérito que, em 1974, deixou à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa uma parte significativa dos seus bens com a obrigação de atribuir três prémios pecuniários anuais distintos, destinados a galardoar os indivíduos de qualquer nacionalidade que, em Portugal, mais tenham contribuído pelo seu esforço, trabalho ou estudos, no cuidado dispensado aos idosos, no progresso da medicina, na sua aplicação às pessoas idosas e no progresso no tratamento das doenças do coração. Este Prémio pretende, assim, promover e dirigir a investigação científica para novos estudos, dentro do leque multidisciplinar das Biociências que possa incentivar contribuições estratégicas e significativas na compreensão das causas, prevenção, tratamento e cura das doenças de Alzheimer, Parkinson e outras doenças neurodegenerativas associadas.


Mobilidade na FEUP: resultados históricos A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) está de braços abertos ao mundo. E o ‘mundo’ agradece e responde na mesma moeda. Aliás, os números dos programas de mobilidade falam por si. E abrangem toda a comunidade da Faculdade.

MOBILIDADE IN(COMING) Em 2017 chegaram à FEUP 606 estudantes estrangeiros ao abrigo de inúmeros programas de mobilidade e acordos de cooperação, oriundos de mais de 50 países. Falamos de um aumento de 85%, quando comparado com os últimos dois anos. Das mais de 60 diferentes nacionalidades conquistadas pela FEUP, não há dúvidas de que o Brasil continua a ser o país em grande destaque que trouxe 281 brasileiros em 2017. Itália, Espanha, França e Alemanha são outras das nações com maior representação, sendo que a Faculdade recebeu estudantes de países tão longínquos quanto a Turquia, Nepal, Coreia do Sul, Chile, Sri Lanka e Bangladesh, fazendo o pleno com os cinco continentes representandos. MOBILIDADE OUT(GOING) Dados de 2017 apontam para um total de 450 estudantes da Faculdade de Engenharia a usufruir de uma experiência de mobilidade além fronteiras e a tendência é de crescimento. Em termos de países de destino, praticamente todos os cinco continentes estão abrangidos. E a aposta da FEUP nas experiências internacionais não se limita à comunidade de estudantes. No último ano letivo, foram mais de 30 os docentes e técnicos a usufruir de um programa de mobilidade, assistindo-se ao aumento de mais de 50% face a dados de 2016.

Quem foi o 1.º aluno a participar no programa ERASMUS? Após uma intensa pesquisa chegamos ao início da década de 90 e encontramos o primeiro registo Erasmus FEUP: Mariana Curado Malta, estudante de Engenharia Eletrotécnica e Computadores, voou até à Universidade de Gent (Bélgica) no ano letivo de 91/92 onde ficou um ano. Confessou-nos que na altura pesou o facto de querer “sair da zona de conforto”, “viver no estrangeiro” e “conhecer e viver com pessoas e culturas diferentes”. Atualmente é professora no Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto (ISCAP) e lembra-se do período de adaptação ter sido “duro”: “não havia telemóveis nem wireless, muito menos companhias low cost. O isolamento era muito maior. A distância de Portugal à Bélgica era psicologicamente maior do que hoje. A adesão de Portugal à União Europeia dava os primeiros passos e não existia nada semelhante ao espaço Schengen. Tudo era mais complexo.” O facto de as aulas serem dadas em flamengo e de as sebentas seguirem pela mesma cartilha levaram-na a estudar com recurso a dicionário muitas vezes e a que “os primeiros meses tivessem sido difíceis”, mas diz que todas estas dificuldades permitiram que crescesse e aprendesse a relativizar problemas menores. Na opinião de Mariana Curado Malta essa foi a grande mais-valia do programa Erasmus: “Começar de novo, provar o que somos, pelo que somos e não por preconceitos estabelecidos pela nossa cultura de país, de organização. Enfrentar uma cultura organizacional diferente e saber lidar com isso”. Defende que a participação no programa deve estender-se durante um ano e que o mais importante para quem vai é “compreender bem as regras culturais do país e respeitá-las; em vez de criticar, entender o porquê das coisas e dos comportamentos”.

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Texto: Helena Peixoto/Raquel Pires Fotografia: direitos reservados

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ualquer experiência de mobilidade internacional oferece a possibilidade de explorar os conhecimentos sob um ponto de vista diferente, de mergulhar numa cultura alheia e alargar horizontes, ultrapassar fronteiras e diminuir as distâncias”– são palavras do próprio Diretor da FEUP, João Falcão e Cunha, que reforça a importância destas experiências. A verdade é que, entre programas de mobilidade, acordos bilaterais e outras parcerias específias, a Faculdade de Engenharia atinge números históricos.


As ligações são fulcrais em tudo, da vida pessoal à profissional

Texto: Helana Peixoto Fotografia: direitos reservados


Pode falar-nos um pouco do seu percurso académico e profissional? Não é fácil resumir 45 anos dedicados ao ensino da Engenharia... Formei-me em 1972 e o que começou por ser uma escapatória – fui dar aulas para “fugir” à tropa –, transformou-se numa das paixões da minha vida. Fui para Coimbra, passado um ano fui estudar para Manchester (UMIST) onde tirei o Mestrado em Engenharia de Comunicações e um Doutoramento em processamento paralelo. Regressei a Portugal em 1978 para lecionar na Universidade do Minho e, finalmente, em 1982, regressei à minha casa, à FEUP. Qual o balanço que faz do desafio de criar a Licenciatura em Engenharia Informática e Computação (LEIC), posteriormente transformado em Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação (MIEIC), que dirigiu, de 2001 a 2008? No Minho eu era o responsável pela área de Eletrónica e, quando vim para o Porto, vim nessa onda. Acabei por provocar um ressurgimento da opção de Sistemas Digitais (para mim a melhor opção do curso de Eletrotecnia naquela altura – note-se que mantive uma colaboração docente com a FEUP entre 1979 e 1982). Entretanto, em

1983/84, foi construído um Mestrado em Sistemas e Computadores Digitais – que eu apoiei e que acabei por coordenar, a convite do Diretor da altura, o Prof. Marques dos Santos. Este passo deu um “abanão” tão grande que me propuseram construir um curso de raíz para a FEUP (Mestrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores), do qual me orgulho muito. Nasceu uma proposta de curso verdadeiramente inédita, com oito opções (apesar de terem aberto apenas cinco) e, em 1992/93, desafiei o meu colega Prof. João Falcão e Cunha (atual Diretor da FEUP), para lançarmos uma nova licenciatura. A LEIC veio preencher uma lacuna existente já que a U.Porto era, à data, a única Universidade portuguesa de prestígio que não oferecia uma licenciatura completa nesta área. Começou com 45 numerus clausus e atualmente já vai em 117, sempre com uma taxa de ingresso de 100%. Além disso, não esquecer que este foi o primeiro curso na FEUP com uma organização interdepartamental o que possibilitou uma utilização mais racional dos recursos existentes e o aproveitamento das potencialidades e experiências pedagógicas de cada um dos departamentos/ cursos. Gestão de proximidade é outra das palavras-chave deste curso. Existe algum momento ao longo da sua carreira de docente que o tenha marcado especialmente? É complicado...são muitos... na verdade, isto foi um crescendo! Já fui presenteado com tantas surpresas e agradecimentos vindos de colegas, alunos, antigos alunos, amigos... Felizmente já conquistei várias coisas e ajudei muita gente. Para mim, o mais gratificante é ter o feedback e retorno das pessoas, seja para o bem ou para o mal. Chegar a um local e receber parabéns de pessoas que não me conhecem pessoalmente mas que reconhecem o meu percurso é fantástico. De uma maneira geral, os seus alunos guardam um carinho especial por si, o que se comprova pelas diversas homenagens e elogios públicos. Qual o seu segredo? Atribuo estas reações a um dos meus lemas de vida: “respeitar para ser respeitado”. Outra questão que considero

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uando é que surgiu o interesse pela área de engenharia? E porquê a escolha de Engenharia Eletrotécnica e, posteriormente, Engenharia Informática? Sempre fui uma pessoa com gosto e apetência para “fazer” coisas concretas. Esta motivação, aliada a um contexto familiar (o meu pai era engenheiro de Minas) fizeram-me escolher a área da Engenharia. Muitos podem não saber mas, na altura de decidir qual a área a seguir, estive bastante indeciso entre a Engenharia Química e a Engenharia Eletrotécnica! O curioso foi que, graças a um pormenor (um exame de Ciências Naturais – área de Mineralogia – que não correu assim tão bem), acabei por me decidir pela segunda. O fascínio pelas tecnologias sempre esteve presente e acabou por falar mais alto também na hora de seguir a minha opção posterior de carreira: Engenharia Informática.

AS NOSSAS PESSOAS

Dificuldade em dizer não, disponibilidade para ajudar os outros como poucos e de uma frontalidade inconfundível. Assim se caracteriza Raul Moreira Vidal, Professor Emérito da Universidade do Porto e também Professor Jubilado da Faculdade de Engenharia da U. Porto (FEUP). Exerceu um papel fundamental na criação dos departamentos e cursos de Engenharia Informática e Eletrotécnica e de Computadores na FEUP e noutras universidades. Ligações, acompanhamento na gestão, redes e atalhos são algumas das palavras sempre presentes no vocabulário de alguém que, na sua cerimónia de Jubilação, contou com tantos participantes que tornaram o Auditório da FEUP numa verdadeira casa cheia.


AS NOSSAS PESSOAS

basilar é a paixão: não há excelência sem amor pelo que fazemos. Eu tenho que sentir que sou útil e desejado e que as pessoas gostam de trabalhar comigo. No dia 28 de junho de 2017 proferiu a sua última aula na FEUP e assistiu à sua cerimónia de Jubilação. Que momentos guarda com carinho deste dia? Qual a sensação de estar numa sala de aula como professor pela última vez? A minha cerimónia de Jubilação foi um exemplo claro do carinho que as pessoas guardam por mim... é um regozijo enorme! Nesse dia, “trajei-me” a rigor, como manda a tradição, e preparei-me para momentos de grandes emoções. Foi tudo simplesmente delicioso – fiquei quase “anestesiado”! As pessoas que compareceram sem eu imaginar, os vários agradecimentos que recebi, as homenagens e surpresas pensadas até ao mais pequeno pormenor são coisas que nunca mais vou esquecer. Modéstia à parte, considero que a fasquia ficou muito elevada para futuras cerimónias (risos). Se tivesse de definir a FEUP numa palavra, qual seria? Definir a FEUP numa palavra não consigo, mas numa frase não tenho a mínima dúvida: “Engenharia com Alma”.

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Em paralelo com a sua carreira académica, desempenhou funções no mundo empresarial e com institutos de interface, startups, grupos estudantis, associações internacionais... É possível fazer tanta coisa? Sem dúvida! Quando fazemos o que gostamos, o nosso dia tem 72 horas e tudo é possível com uma eficiente gestão. As ligações são fulcrais em tudo, da vida pessoal à profissional. Imaginemos que cada área e temática com que lidamos é um ponto. A totalidade desses pontos só faz sentido se estiverem ligados em rede e são as pessoas que fazem esse trabalho essencial. Em jeito de brincadeira, já me disseram que o meu telemóvel e contactos associados valem mais do que o orçamento de um departamento da FEUP! Se tivesse de destacar “o” projeto da sua vida, qual seria? A Engenharia Informática, sem hesitar. E não posso deixar de demonstrar o meu grande carinho pela uni-

dade curricular LGP (Laboratório de Gestão de Projetos), também conhecida como ‘Linking Great Partners’! Apesar de muito dedicado ao trabalho, percebe-se que é um homem de afetos e de relações. Como se faz o equilíbrio pessoal/familiar/profissional? É muito complicado, confesso. Os meus filhos desde pequenos que se habituaram à ideia do pai “trabalhar muito”. Havia momentos em que quase não me viam... momentos em que chorei, literalmente, lágrimas de sangue. Mas os afetos estão todos lá! Com a minha mulher, a nossa ligação é tão forte que já nos entendemos sem precisar de falar. Como muitas vezes costumo dizer, comunicamos entre nós por “sinais de fumo”! Neste aspeto, há um ponto importante: para mim, o conceito de família é um pouco mais alargado: tenho a minha família de sangue, a família da minha mulher e, depois, um círculo de amigos e colegas que incluo neste círculo. Quase que arrisco dizer que, a certa altura, a FEUP acabou por se integrar na minha família! Foi-lhe recentemente atribuído o título de Professor Emérito 2018/2023. Como recebeu este reconhecimento atribuído pela Universidade do Porto? E em que se vai focar o seu trabalho? Sinceramente, não estava à espera desta surpresa. Fiquei muito orgulhoso e sensibilizado quando recebi o convite. Vejo que todos estes anos em que me bati pela Escola foram reconhecidos e valorizados! Tenho uma sorte imensa de estar rodeado de gente sã, dedicada e apaixonada pelo que faz. “FEUP Great Partners” é, no fundo o “slogan” para o meu plano de trabalho no âmbito do aprofundamento da relação com as Empresas e da Coordenação das Relações com os Alumni, que é também a base da minha atividade enquanto Emérito. Há coisas no mercado que já estão a ser feitas, em Escolas de referência, e não há mal nenhum em beber desses bons exemplos! Além disso, tenho na manga algumas ideias de iniciativas e ações com vista à alavancagem desta rede que é tão importante para a Faculdade de Engenharia. O retorno vai começar a surgir, e não vai demorar muito tempo... No meio de todas as estratégias,


Nota biográfica

Foi também dinamizador e coordenador do processo de criação de outros cursos superiores de informática e de ações de formação contínua e profissional. Membro eleito do Conselho Geral da Universidade do Porto (2013 a 2017), foi também membro do Conselho Científico da Faculdade de Engenharia do Porto (2014 a 2017) e é, desde 2016, Coordenador das Relações com os Alumni FEUP. Foi designado em março de 2018 Professor Emérito da Universidade do Porto. temos uma grande vantagem a nosso favor: o nome FEUP fala mais alto – os nossos Alumni “vestem a camisola” como poucos. Para si, qual o caminho que o ensino e a pedagogia devem seguir? A U.Porto em geral e a FEUP em particular estão bem encaminhadas nesse sentido? Acho que ainda há um longo caminho a percorrer. A começar pelas políticas públicas e legislações. Para mim, não há dúvida que a FEUP é a melhor Escola de Engenharia do país e a maior Faculdade da Universidade do Porto! Estamos no bom caminho, mas é preciso cuidado com o “automatismo”. O acompanhamento na gestão é fundamental e a comunicação também. Alocando algumas pessoas especializadas pelo meio, aparentemente “invisíveis” mas absolutamente essenciais, é possível olear a máquina e torná-la mais personalizada. Qual o conselho mais precioso que gostaria de partilhar com as gerações mais novas de docentes? Gostaria de reproduzir a mensagem que procuro passar aos meus alunos (possivelmente a próxima geração de docentes): que não sejam acomodados. Que sejam inquietos. Que sejam lutadores e que ponham este país na ordem!

Membro do Grupo de I&D de Engenharia de Software da FEUP, que fundou e liderou até 2008, Raul Vidal tem participado em vários projetos de I&D, nacionais e internacionais. Em 2009 foi cofundador da Strongstep, spin-off da Faculdade de Engenharia na área da melhoria de processos e da qualidade de software. Integra também, desde fevereiro de 2015, o Serviço de Apoio a Parcerias Empresariais (SAPE) do INESC TEC como Assessor Sénior. É membro Sénior do IEEE, Membro do Software Engineering Institute (SEI) da Universidade de Carnegie-Mellon, e Membro Sénior da Ordem dos Engenheiros (Colégio de Engenharia Informática). Foi, em 2017, homenageado pela Ordem dos Engenheiros-Região Norte (OERN), em reconhecimento do seu contributo em prol do desenvolvimento da engenharia em Portugal. Destaque ainda para vários reconhecimentos obtidos ao longo do seu percurso, nomeadamente o ‘IEEE Third Millenium Award’ (2000) e a distinção ‘Personalidade do Ano em Engenharia de Software’ (2016), pelo grande impulso dado ao setor das TIC e mesmo à economia nacional.

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Teve uma passagem relevante pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (1972-1977) e também pela Universidade do Minho (1978-1982). Iniciou a sua carreira na FEUP em 1982 e, em 1986, coordenou e foi um dos principais dinamizadores do processo de criação do Mestrado em Engenharia Eletrotécnica e Computadores (MEEC) e, em 1993, coautor do processo de criação da Licenciatura em Engenharia Informática e Computação (LEIC), posteriormente transformado em Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação (MIEIC), que dirigiu, de 2001 a 2008. Dirigiu o Departamento de Engenharia Informática (DEI) de 2008 a 2017.

AS NOSSAS PESSOAS

Licenciado em Engenharia Eletrotécnica pela FEUP em 1972, Raul Moreira Vidal prosseguiu os estudos em Inglaterra, onde concluiu o Mestrado (1974) e, mais tarde, o Doutoramento (1978), ambos na UMIST, em Manchester.


AS NOSSAS MEMÓRIAS

Viagem pela Academia Polytechnica do Porto (1837-1911)

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Veja aqui os diapositivos

Texto: Raquel Pires Fotografia: direitos reservados

Embarque connosco nesta viagem e conheça alguns dos principais objetos históricos da Faculdade de Engenharia: o principal objetivo é destacar as peças emblemáticas e algumas coleções que à época permitiram validar conceitos e inovar a forma como se transmitiam conhecimentos. Porque a história também se faz de memórias.

É

uma das “joias da coroa”. Falamos do conjunto de diapositivos fixos e móveis para lanterna de projeção, da autoria de Jules Duboscq. O fabricante francês tinha expostas duas coleções de dispositivos pintados sobre vidro para ensino de astronomia e cosmografia, ambas adquiridas pela Academia Polytechnica, pelo valor de 27.000 reis (equivalente a 150 francos). Representavam o sistema solar, os movimentos terrestres e da lua, as marés, bem como outros elementos da astronomia e cosmografia, ensinados aos alunos da 5.ª cadeira. Esta disciplina versava sobre Trigonometria esférica, Geodesia, Navegação Teórica e Prática e também princípios de Astronomia. Era uma cadeira relevante para quem procurava conhecimentos na área da náutica, mas também para alunos de engenharia. Importa aqui destacar que o domínio da Topografia estava no século XIX integrado na Geodesia, área do conhecimento que se ocupava da medição do campo gravítico da Terra e da representação cartográfica da sua superfície. A Astronomia fornecia, assim, a base matemática e física de que a Geodesia necessitava para construir os seus modelos, partilhando com esta o interesse pela medição de distâncias entre planetas ou o estudo de rotação da Terra. Este conjunto de diapositivos foi adquirido em 1865, possivelmente por ordem de Joaquim Torcato Álvares Ribeiro, na Exposição Internacional do Porto, que deu origem ao Palácio de Cristal. Foi a primeira exposição do tipo realizada na Península Ibérica e contou com cerca de 3139 expositores, dos quais 499

franceses, 265 alemães, 107 britânicos, 89 belgas, 62 brasileiros, 24 espanhóis, 16 dinamarqueses e ainda representantes da Rússia, Holanda, Turquia, Estados Unidos e Japão. “Podemos afirmar que estamos perante uma coleção de elevado valor científico e pedagógico que pode ser por nós entendida como um “estado da arte” da Astronomia em finais do século XIX”, explica Susana Medina, responsável pelo projeto FEUPMuseu. “Até porque os princípios científicos veiculados eram os mais atuais da época”, continua. “Estes diapositivos já representavam a via láctea como uma nebulosa alongada, por exemplo”, o que reforça bem o caráter inovador da coleção. “O fabricante, Jules Duboscq, era um fornecedor de renome dos meios académicos e científicos, e colaborava regularmente com cientistas e inventores na criação deste tipo de material didático. Sob o ponto de vista artístico, trata-se também de um conjunto de belíssimas representações do cosmos”, admite Susana Medina. À luz dos acontecimentos do século XIX, o conjunto de diapositivos fixos e móveis para lanterna de projeção de Jules Duboscq preparou inúmeros alunos dos cursos de Engenharia da Academia Politécnica do Porto – futuros engenheiros geógrafos e construtores de pontes e estradas, para os trabalhos de topografia que desenvolveram em contexto profissional. E 150 anos depois a topografia volta a estar com os olhos postos no céu, através do levantamento de coordenadas com o apoio na navegação de satélites.


São um dos laboratórios mais recentes da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) mas já se afirmaram entre os melhores do mundo na área da robótica submarina. O que começou por ser uma operação de veículos autónomos submarinos (AUV) em 1997, é agora uma conjugação de drones aéreos e de missões simuladas da guerra submarina, fiscalização marítima, busca e salvamento, monitorização ambiental e exploração hidrográfica. Desenvolveram um software único no mundo para comando e controlo de veículos de superfície, aéreos e submarinos e isso garantiu-lhes visibilidade internacional. Os maiores players mundiais desdobram-se em exercícios e protocolos de cooperação: todos querem associar-se ao Laboratório de Sistemas e Tecnologia Subaquática da FEUP.

C

amões enalteceu o espírito aventureiro e as conquistas marítimas portuguesas como ninguém n’Os Lusíadas, a obra que ainda hoje é leitura obrigatória nas escolas secundárias no nosso país. E se é verdade que a história dos descobrimentos do séc. XV e XVI nos mostrou que o caminho se fazia por mar, em pleno século XXI continua a ser um dos pilares estratégicos de qualquer programa governamental ao mais alto nível. Compreende-se: 70% da superfície terrestre é ocupada pelos oceanos, o que traduz bem o potencial ligado ao mar e ao papel decisivo que os veículos robóticos podem vir a desempenhar num futuro muito próximo.

João Tasso sabia disso. E quis estar na linha da frente. Em 2005 a aventura começa a ganhar forma depois de um contacto da Marinha Portuguesa para um workshop que serviu sobretudo para aprofundar a perceção do potencial para uma colaboração efetiva. No ano seguinte o LSTS é convidado a participar no exercício Swordfish e desde então intensificaram os níveis de colaboração. Em 2007 submetem em conjunto com a Marinha Portuguesa o projeto Seacon ao Ministério da Defesa: a aprovação e execução desse projeto – que viria a ser distinguido com o prémio BES Inovação em 2006 – serviu de rampa de lançamento para a organização do Rapid Environmental Picture (REP) em 2010, que

AS NOSSAS PARCERIAS

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Por mares nunca dantes navegados: a robótica submarina do LSTS


AS NOSSAS PARCERIAS

LSTS: a origem O Laboratório de Sistemas e Tecnologia Subaquática (LSTS) é um laboratório de pesquisa interdisciplinar criado em 1997 com pesquisadores de Engenharia Elétrica e de Computação, Engenharia Mecânica e de Ciência da Computação da FEUP. A sua atividade centra-se essencialmente na construção e operação de veículos subaquáticos, de superfície e aéreos não tripulados e no desenvolvimento de ferramentas e tecnologias para a implantação de sistemas de veículos em rede. Nos últimos 20 anos, os investigadores do LSTS conseguiram testar veículos aéreos, terrestres, superficiais e submarinos não tripulados nos oceanos Atlântico e Pacífico e também no mar Mediterrâneo. lsts.fe.up.pt

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já na altura conseguiu mobilizar investigadores e meios do Naval Undersea Warfare Centre da Marinha Americana. E não mais pararam. O que permitiu ao laboratório liderado por João Tasso chegar mais longe e atrair as atenções dos principais players foi o desenvolvimento do software com que os veículos operam. “É a nossa vantagem competitiva. Permite-nos operar todos os veículos ao mesmo tempo sejam eles aéreos, submarinos ou de superfície”, explica o investigador. Além disso, com este software, todos os veículos conseguem comunicar entre eles e com as estações de operações em terra “o que o torna único no mundo”, enfatiza João Tasso. A notícia correu mundo. O LSTS passa a estar na vanguarda da robótica submarina e os contactos sucedem-se. As Forças Armadas Americanas já estabeleceram acordos

de colaboração. A NASA e a NATO também. E o exercício REP organizado pela Marinha Portuguesa em colaboração com o LSTS, e mais recentemente com o Center for Maritime Research and Experimentation da NATO, que acontece todos os anos, passa a contar com parceiros de peso. A última edição – que decorreu de 10 a 21 de julho de 2017 ao largo da costa de Sesimbra e península de Tróia – contou, além dos organizadores, com investigadores da Universidade do Hawaii, do Naval Undersea Center, da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, Marinhas Belga e Turca, da Universidade Técnica da República Checa, da Universidade de Carnegie Mellon, das empresas Hidromod e Oceanscan MST, e do Fort Lewis College. Nos últimos anos, a projeção da investigação do LSTS tem permitido sonhar alto: a equipa de 24 investigadores está agora interessada em explorar a potencial integração com sistemas de controlo de satélites (ver caixa 2).


Nome de Código: Subtropical Front

A AVENTURA EUROPEIA A somar ao reconhecimento internacional – e apesar de a Europa ser líder em muitas áreas relacionadas com o ambiente marinho – o LSTS identificou a necessidade de criar uma infraestrutura robótica europeia bem integrada ao nível dos oceanos. E a resposta veio diretamente da União Europeia com o financiamento do projeto EUMarineRobotos (EUMR) no âmbito do Programa Horizonte 2020: 5 milhões de euros para “estabelecer uma infraestrutura integrada de robótica submarina de classe mundial”, resume João Tasso. Coordenado pela FEUP e com a duração de três anos, o projeto reúne 15 dos principais atores europeus nesta área da robótica submarina, sendo que o objetivo passa sobretudo por permitir o acesso transnacional a importantes recursos de Investigação e Desenvolvimento nacionais nesta área por toda a Europa, um setor com custos altos e consideráveis barreiras de entrada. Pretende-se, assim, “potenciar o crescimento desta indústria através do acesso a infraestruturas partilhadas de investigação”. Em traços gerais, o EUMR representa uma primeira etapa na agregação dessas redes e será líder mundial no apoio ao crescimento de uma forte comunidade nas áreas do mar e da robótica submarina.

É a missão que se segue e já tem data prevista para junho de 2018. O LSTS vai liderar uma campanha oceanográfica nos EUA, a bordo do navio Falkor, do Schmidt Ocean Institute com múltiplos veículos em simultâneo: submarinos, de superfície e aéreos. Outra particularidade: vão estar a funcionar 24 horas non-stop, naquela que é já considerada uma das primeiras campanhas mundiais mais inovadoras no que diz respeito à robótica submarina. “O principal objetivo é mapear uma frente oceânica, o que nos permitirá recolher dados sem interrupções e, ao mesmo tempo, atuar rapidamente e no local como resposta a eventos. (...) Estamos a falar de capacidades fundamentais tanto para o estudo dos oceanos como em situações de segurança e defesa”, assegura João Tasso.

Além da FEUP, são entidades parceiras do projeto a Universitaet Bremen (Alemanha), o IST-ID (Portugal), a Università Degli Studi di Genova (Itália), a University of Zagreb - FER (Croácia), a Universitat de Girona (Espanha), a University of Limerick (Irlanda), o Consorcio para el Diseno, Construccion, Equipamiento y Explotacion de la Plataforma Oceanica de Canarias (Espanha), a NATO Science and Technology Organization (Bélgica), a Heriot-Watt University (Reino Unido), a NTNU (Noruega), o Marine Institute (Irlanda), o Distretto Ligure delle Tecnologie Marine Scrl (Itália), o Natural Environment Research Council (Reino Unido) e o Ifremer (França).


EMBAIXADORES ALUMNI @FEUP: NUNO LAGO DE CARVALHO Texto: Helena Peixoto Fotografia: direitos reservados

ADN FEUP

Foi por sair da sua zona de conforto que o embaixador e alumnus da Faculdade de Engenharia da U.Porto está a fazer história no ramo petrolífero em Singapura: é ele o responsável pela gestão da engenharia e construção dos módulos de processamento de petróleo e gás num megaprojeto de conversão de dois petroleiros em plataformas flutuantes.

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paixão pela Engenharia praticamente nasceu com o Nuno. Talvez por influência familiar, o embaixador alumnus FEUP em Singapura nunca se viu a fazer outra coisa. Licenciado em Engenharia Metalúrgica e de Materiais pela FEUP, está a viver em Singapura desde 2015, onde gere um importante scope num projeto para a exploração petrolífera da multinacional TOTAL, que conta com um investimento de 16 mil milhões de dólares, e com mais de 15 mil pessoas envolvidas. Como surgiu a ligação à Engenharia? Desde pequenino que quis ser engenheiro... Escolhi a FEUP sem hesitar – é uma Escola de Engenharia de referência a nível nacional e internacional! Durante a minha Licenciatura em Engenharia Metalúrgica e de Materiais fiz um estágio de verão numa empresa de Engenharia e Design Industrial que me permitiu ‘sentir’ o mundo do trabalho e perceber o que se espera de um engenheiro, que se resume a quatro características: pen-

samento crítico, raciocínio rápido, capacidade de antecipar e de resolver problemas. Continuo convencido disso até hoje! Em 2003 concluí o curso e comecei a trabalhar numa PME do ramo automóvel, e tive o privilégio de passar à prática o meu projeto final de licenciatura, que consistiu na implementação de uma unidade industrial de recuperação de jantes de automóveis em liga de alumínio, com vista à diversificação da área de negócios da empresa, até então ligada apenas à comercialização de pneus. Em 2005, a unidade industrial que eu dirigia já tinha conquistado os concessionários das principais marcas de automóveis em Portugal e estabelecíamos os primeiros contratos com concessionários em Espanha, França e Alemanha. Nesse ano fiz também uma pós-graduação em Gestão Industrial para desenvolver competências nessa área. Em 2006 avancei para um Mestrado em Engenharia Industrial na U.Minho e tive a oportunidade de colaborar com uma

empresa de fabrico de autocarros do grupo Salvador Caetano, a CaetanoBus, por intermédio do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da FEUP (envolvido na coorientação da minha tese de Mestrado), que me abriu portas a uma experiência numa empresa de grande dimensão. Aqui trabalhei diretamente com a gestão de topo e liderei um projeto ambicioso com vista à otimização de processos associados ao fabrico de autocarros de aeroporto. Em meados de 2008, com o preço do barril de petróleo a bater máximos históricos e com a indústria petrolífera a recrutar massivamente, decidi alterar o rumo da minha carreira profissional e procurar uma experiência internacional nesta indústria. Entre 2009 e 2013 estive a viver em Angola, onde integrei o departamento de projetos da petrolífera francesa TOTAL enquanto gestor de projetos de modificação e otimização das unidades em operação. No final de 2013 fui convidado a integrar a equipa de


O que faz exatamente na TOTAL? Quando me perguntam o que faço, tenho alguma dificuldade em ser sucinto. A minha missão no projeto passa por assegurar que os módulos sob a minha responsabilidade são fabricados e testados dentro dos prazos e custo contratuais e de acordo com as especificações do projeto, definidas entre a TOTAL e a empresa responsável pela execução, bem como pelos estaleiros envolvidos. Este projeto tem uma dimensão e complexidade inimagináveis. Há dois números que falam por si: 16 mil milhões de dólares de investimento e 15 mil é o número aproximado de pessoas dedicadas exclusivamente para o fazer acontecer, nas mais diversas áreas, de diferentes empresas e em vários países espalhados um pouco pelos cinco continentes. Integro a equipa sénior de gestão do projeto e lidero a parte da fabricação dos módulos de processamento de petróleo e

Fale-nos da adaptação à Àsia. Estou a viver em Singapura com a minha mulher e com os meus filhos e de um modo geral foi muito fácil para todos. Singapura é um país especial na Ásia que respira multiculturalidade, organização, limpeza e segurança. O inglês é a língua oficial, o que ajuda muito, e não posso esquecer o bónus do clima tropical (risos). Tudo é ainda mais simples quando a mudança conta com o apoio da empresa a todos os níveis, pois Singapura é um país extremamente caro para se viver. Como faz a gestão familiar com quem ficou em Portugal? Como a nossa presença em Singapura está diretamente relacionada com a duração do projeto, e como todos têm um princípio, meio e fim (este não fugirá à regra), temos aproveitado para viajar aqui à volta - a Ásia é encantadora! A família mais chegada tem feito férias deste lado do mundo, por isso as saudades são geridas entre essas visitas e algumas viagens a Portugal. E porquê embaixador Alumni FEUP? Tive conhecimento do programa em-

baixadores FEUP através de um email do gabinete Alumni a apresentar o conceito e a propor o meu envolvimento. Achei a ideia muito interessante até porque surgiu no ano em que celebrei o marco de 20 anos de entrada na instituição da qual muito me orgulho. Quais os seus principais objetivos enquanto embaixador Alumni? A comunidade Alumni FEUP em Singapura, apesar de pequena (17), é a maior comparada com qualquer Universidade ou Instituição de Ensino Superior portuguesa (dados do Linkedin). Tendo em conta que não existia embaixada FEUP em Singapura, o primeiro objetivo passou pelo seu lançamento. Depois organizei o primeiro encontro de Antigos Estudantes da FEUP (fevereiro 2017), que contou com quase metade dos Alumni FEUP aqui residentes e que utrapassou todas as minhas expectativas. Entretanto, já aconteceram mais três encontros, todos com nota positiva! Destacaria o que contou com a presença do Embaixador de Portugal em Singapura, onde foram discutidos vários temas, como o papel dos engenheiros portugueses, em especial da FEUP em Singapura, desafios e oportunidades. Estou a preparar o próximo evento, em parceria com o gabinete Alumni de Engenharia da NUS (National Universitiy of Singapore), para promover o networking e o nome da FEUP e dos seus Engenheiros em Singapura. Qual a sua visão pessoal da importância de embaixadas Alumni FEUP? As embaixadas FEUP são uma forma muito interessante de aproximação de antigos estudantes que, embora muitas vezes nem se conheçam, têm em comum a passagem pela FEUP, a profissão de engenheiro e o país ou cidade onde se encontram a viver e a trabalhar. A troca de experiências e o networking são sempre o resultado dos encontros e, para mim, a principal missão das embaixadas Alumni FEUP no mundo. Sinto ainda que os “miminhos” que a excelente equipa do Gabinete Alumni FEUP nos faz chegar a cada evento são recebidos pelos presentes com emoção, fazendo-os sentir de novo em contacto com a sua alma mater.

ADN FEUP

A “passagem” para Singapura aconteceu em pleno verão de 2015, onde integrei a equipa de gestão do projeto especificamente criada para a fase de execução, ou seja, o arranque da conversão dos dois petroleiros em plataformas flutuantes, conhecidos na indústria petrolífera por FPSO (Floating, Production, Storage and Offloading), que num futuro próximo estarão a operar no offshore ultraprofundo de Angola.

interfaces com as equipas de engenharia em França, fabricantes dos equipamentos entre o Médio Oriente e a Ásia e Pacífico, fabricação dos módulos num estaleiro de metalomecânica pesada de gestão italiana na Indonésia e a integração dos mesmo nos navios, em conversão num estaleiro naval em Singapura.

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Engenharia de um dos maiores projetos do Grupo TOTAL e o maior da TOTAL E&P Angola, sediado em Paris.


UNIRAID: a competição onde ganhar é o menos importante

Texto: Helena Peixoto Fotografia: direitos reservados

Dois amigos, um Fiat Panda de 1989 e 4500 quilómetros percorridos em nove dias. Guilherme Órfão e Diogo Matos são estudantes de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e também os protagonistas da aventura de uma vida.

S

ão 8h00 da manhã do dia 22 de fevereiro. Está tudo a postos para começar a viagem. Mochilas prontas, material empacotado, carro atolado. Os corações de Guilherme e Diogo, estudantes do 4.º ano de Engenharia Mecânica da FEUP, começam a bater mais rápido e os níveis de ansiedade sobem – até porque só voltam a ver a cidade do Porto no início do mês de março. Mas então, qual o destino e objetivo da viagem? A dupla de estudantes ruma ao interior de Marrocos para participar na 6.ª edição da UNIRAID, uma expedição ibérica que desafia estudantes universitários a percorrer a cidade de norte a sul e entregar 30 kg de bens solidários às populações mais desfavorecidas. Material escolar, roupa, brinquedos ou alimentos são sempre os bens mais procurados. Foi cerca de um ano de organização, preparação e muito, muito trabalho de mecânica no carro – afinal, este “Panda” é mais velho que os próprio participantes (nascidos em 1996)! Para conseguirem ter tudo pronto a tempo, foram muitas as horas sem dormir, as diretas passadas numa oficina gentilmente cedida, e muitos os apoios conseguidos. Mesmo com todos os problemas que iam surgindo, nada os fez desistir.

O pontapé de saída da UNIRAID 2018 aconteceu a 24 de fevereiro, em Tânger, onde foram organizadas várias comitivas, de acordo com as diferentes nacionalidades inscritas. No total de cerca de 100 veículos participantes, o grupo dos portugueses contou com cerca de 11. A partir deste momento, e acontecesse o que acontecesse, o lema da competição passa por nunca deixar um carro da comitiva para trás – entreajuda e solidariedade em primeiro lugar! Foram muitas as peripécias vividas ao longo das sete diferentes etapas. Problemas técnicos no carro, algumas questões mecânicas, muito cansaço e uma série de imprevistos que todos os dias surgiam. Até uma tempestade no deserto Guilherme e Diogo enfrentaram, o que os impediu de dormirem nas tendas previamente montadas, conforme os planos originais. Valeu-lhes o seu espírito de sacrifício, o famoso “desenrascanso” português e os conhecimentos que têm vindo a adquirir ao longo das suas formações académicas. E afinal quem ganhou a competição? Quem chegou primeiro? O melhor disto tudo é que ninguém faz ideia – mas também não estão minimanente preocupados com isso. “A verdadeira vitória é termos a oportunidade


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Sobre o UNIRAID

Questionados sobre se voltariam a participar numa competição deste género, responderam em uníssono e sem hesitar: claro que sim! “Não só participaríamos novamente como recomendamos a todos os nossos colegas que o façam também, não só pela aventura em si, mas também pela oportunidade de vermos o mundo de outra perspetiva.”

O grande objetivo desta iniciativa passa por proporcionar uma experiência de vida única, alertar para as necessidades de populações mais desfavorecidas e promover o sentido de entreajuda entre os seus participantes. Mais informações em uniraid.org.

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de ver as caras de felicidade dos meninos do interior de Marrocos a receber uma simples caneta ou bola como se da coisa mais importante do mundo se tratasse” – dizem, com orgulho.

Criado em 2012, a competição UNIRAID desafia estudantes universitários de toda a península ibérica a aliarem a uma competição amigável os valores de solidariedade e de entreajuda. Destinado a jovens entre os 18 e os 28 anos de idade, a prova tem como requisito a utilização de carros com mais de 20 anos, sem tração às quatro rodas e que tenham, no máximo, 1300 de cilindrada. O destino é sempre o mesmo – Marrocos – e o número de etapas também – sete no total.


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O Professor Aposentado que transforma madeira em peças de arte

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Texto: Helena Peixoto Fotografia: direitos reservados

Foram mais de 40 anos dedicados ao ensino e à investigação na área da Engenharia numa carreira de grande intensidade, grande parte em funções e cargos de gestão. Sem esquecer a marca que deixou no mundo académico, Fernando Nunes Ferreira, agora Docente Aposentado da FEUP, transformou-se num criador de peças de madeira torneada.

O

gosto pelas artes manuais esteve desde sempre presente: em pequeno, Fernando Nunes Ferreira vivia numa vila rodeada por artesãos e muitas vezes entregava um pedaço de laranjeira a um vizinho para que este lhe fizesse um peão. No entanto, esta área de interesse acabou por ser deixada para segundo plano, em detrimento de uma vida inteira dedicada à Universidade – foi Diretor do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores (DEEC) da FEUP (1997-2001), subdiretor desta mesma Facudade (2001-2010) e ainda Provedor do Estudante da Universidade do Porto (20102016) e Professor Emérito da mesma instituição. Chegado o momento de aposentação, encontrou nos trabalhos decorativos em madeira uma forma de se manter ativo e de continuar uma atividade estimulante. “É fundamental prepararmos a reforma e termos pelo menos uma nova atividade”, refere. Apesar de desde cedo revelar interesse por “criar coisas”, este autodidata aprendeu tudo após se reformar, fazendo várias experiências, investigações e muito graças às centenas de vídeos tutoriais disponíveis online. Foi, inclusive, através da internet que comprou o seu torno, posteriormente modificado para poder trabalhar peças maiores, e é por esse canal que faz a maior parte das encomendas das ferramentas e materiais como lixas, óleos, ceras e equipamentos de afiar. Oliveira, carvalho, castanheiro, nogueira, pereira, cameleira, romãzeira, e até mesmo as raízes de algumas destas árvores, são algumas das matérias-primas procuradas por Fernando Ferreira que gosta particularmente de trabalhar troços de madeira com rachadelas e defeitos que, em vez de

disfarçados, são até aproveitados e realçados. Grande parte da matéria-prima é oferecida por amigos. Afinal, “quem não gostará de receber em troca uma peça feita com madeira de uma velha árvore que sempre conheceu no quintal, mas que um dia atingiu o seu fim como árvore?”, refere. É na Murtosa, localidade de onde é natural, que Fernando Nunes Ferreira desenvolve a sua atividade, que começa já a ser reconhecida: ao longo dos meses de janeiro, fevereiro e março deste ano foi possível admirar algumas das peças criadas pelo antigo docente da FEUP no Museu COMUR. E os planos não ficam por aqui! As ideias para peças futuras já fervilham e, se todas as condições se reunirem, outras exposições se seguirão.


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VULCANUS: O PROGRAMA QUE APROXIMA EUROPA E ASIA Texto: Helena Peixoto Fotografia: D.R.

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ui Júnio Matos e Silva concluiu o Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores na FEUP em julho de 2016. Um mês depois estava a embarcar numa viagem até ao Japão no âmbito do Programa Europeu Vulcanus, que proporciona estágios de um ano em várias cidade nipónicas. Foi através de um e-mail recebido da Divisão de Cooperação da FEUP que o alumnus FEUP tomou contacto com o Programa e como já era sua intenção fazer um estágio ou trabalhar no estrangeiro quando concluísse o curso, viu aqui uma oportunidade interessante. Candidatou-se e foi aceite! “Aterrou” no Japão a 31 de agosto de 2016 de mente totalmente aberta – afinal, ia ali viver precisamente 365 dias – mas a verdade é que ficou surpreendido

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Rui Silva é alumnus da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) e graças a uma bolsa Vulcanus viveu 365 dias inesquecíveis no Japão. Entre um seminário de integração, um curso de japonês e um estágio muito exigente, o antigo estudante ainda conseguiu conhecer alguns cantos da Ásia e, imagine-se, encontrar a mulher da sua vida – portuguesa e da FEUP!


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com a facilidade de integração, muito graças ao suporte fornecido pelo Vulcanus. Na primeira parte do programa, composta por um seminário de integração e por um curso de língua japonesa, Rui tinha aulas de manhã e até ao meio da tarde. O tempo que sobrava era ocupado com o curso de japonês, trabalhos de casa e estudo. Ao fim de semana passeava por zonas à volta de Tóquio e saía com o seu grupo. Quando começou estágio propriamente dito, na empresa Asial Corporation, foi-lhe atribuída a função de desenvolvimento de componentes para aplicações móveis híbridas. Esta fase, apesar de mais exigente a nível de horas de trabalho, libertava-o nas folgas para fazer viagens até pontos asiáticos mais distantes. As diferenças entre a realidade portuguesa e nipónica são imensas: “quase tudo é diferente! Os carros e as pessoas circulam pela esquerda, as maçanetas fecham e abrem para o lado contrário, há minicápsulas para se dormir, existem normas sociais inversas às nossas, a gastronomia é um abalo, a linguagem super complexa e a própria mentalidade e ética das pessoas são diferentes. Existem tantas diferenças que se torna difícil sumarizar”, refere Rui. Sabendo que a vida é uma verdadeira caixinha de surpresas, foi preciso chegar ao Japão para que conhecesse a sua atual namorada. E não, não é japonesa; é “tripeira” e, adivinhe-se, também estudou na FEUP! Na verdade, a grande conclusão que Rui retira desta experiência é que recomenda vivamente qualquer estudante a aproveitar o Vulcanus: “é um programa extraordinário, a bolsa é generosa e permite pagar tudo e é perfeito para quem quer conhecer profundamente o Japão (e de certa forma a Ásia), conhecer pessoas internacionais, desenvolver capacidades técnicas na sua área e desfrutar de um ano de abertura de espírito quiçá inigualável”.

Programa Vulcanus: o que é? Inaugurado em 1997, o programa Vulcanus é financiado pelo EU-Japan Centre for Industrial Cooperation (uma joint venture cofinanciada pela Comissão Europeia e o Ministério de Economia, Comércio & Indústria Japonês) e tem como grande objetivo oferecer oportunidades de estágios no Japão a estudantes da União Europeia (UE). Os estágios arrancam no início do mês de setembro e terminam em agosto do ano seguinte, de forma a conciliar o período de realização do estágio com o ano académico dos estados-membros da EU, e desafia os seus participantes a conhecerem as tecnologias utilizadas por empresas de topo japonesas, dotando-os de competências que favoreçam a interação com o mundo empresarial japonês na sua futura carreira, sem esquecer o contacto com a cultura japonesa através de uma experiência enriquecedora. Estruturado em duas fases – um seminário de uma semana no Japão com um curso intensivo de quatro meses da língua Japonesa em Tóquio e um estágio de oito meses numa empresa japonesa, o Vulcanus oferece uma bolsa de cerca de 14.600€ (1 900 000 yen) para o total das despesas (viagens e necessidades diárias), uma vez que o seminário, curso de línguas e alojamento são gratuitos. A FEUP colabora com o programa desde 2005 e já “levou ao Japão” mais de 15 estudantes.


Joana. Foodie de Coração, Engenheira de Formação. É o que salta à vista assim que se acede ao blogue “Na Cozinha de Uma Universitária”, o projeto que Joana Ventura lançou em 2014. Na altura, e na condição de estudante universitária na Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), a escolha do nome pareceu-lhe óbvia. Os mais de 18 mil seguidores nas redes sociais não desiludiram e o projeto mantém-se até hoje. E a avaliar pelas fotografias, não é difícil imaginar o porquê... Texto: Raquel Pires Fotografia: direitos reservados

FEUP GOURMET

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Queria provar que na minha cozinha se preparava mais do que massa com atum


FEUP GOURMET

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eio de Bragança para o Porto para estudar Engenharia Química. Apaixonou-se pela cidade e guarda as melhores recordações dos tempos e dos amigos que fez na FEUP. Com 26 anos, Joana Ventura trabalha em Guimarães, na TMG Automotive, na qualidade de engenheira de produção. Durante o dia dedica-se à produção de tecidos plastificados para a indústria automóvel e quando chega a casa faz receitas e idealiza pratos de encher o coração. A parte boa: está tudo à distância de um clique e todos podemos experimentar em nossas casas.

Aliado à paixão pela cozinha, sempre tive um enorme gosto em cozinhar para os meus amigos e durante os anos de estudante na FEUP fazia-o regularmente. Incentivada por eles decidi começar a partilhar as minhas receitas com os que me eram mais próximos e por uma espécie de brincadeira nasceu o blogue. O nome surgiu mesmo da minha condição na altura, era estudante universitária e queria mostrar que na minha cozinha se preparava muito mais do que “massa com atum”, o prato tipicamente associado aos estudantes, e que não era assim tão difícil para um estudante sem gosto/vontade/ tempo fazer um prato simples e saboroso.

Como surgiu a ideia de fazer um blog sobre receitas culinárias? E a inspiração para o nome? Sempre senti uma enorme vontade de aprender a cozinhar, desde muito nova. Lembro-me das minhas primeiras aventuras na cozinha com cerca de 11 anos, e mesmo antes de ingressar na faculdade que me interessava por aprender as técnicas culinárias. Mas foi só quando saí de casa dos meus pais e fui para o Porto que me dediquei a aprender um pouco de tudo: desde o básico até aos pratos mais complexos.

Há algum episódio curioso que possa e queira partilhar? O episódio mais curioso/caricato que vivi até hoje foi uma vez em que estava a fazer as minhas compras semanais num hipermercado do Porto e uma rapariga – também estudante na FEUP mas que eu não conhecia – me abordou para pedir dicas para um jantar com amigos e receitas para preparar com cogumelos frescos. Fiquei um bocadinho atrapalhada e envergonhada porque até esse momento não


Desafio Culinário Entrada a que não sabe dizer que não? Entre uma sopa de peixe ou uma simples tábua de queijos e enchidos a escolha é difícil. Prato preferido? Um prato tão tipicamente português: arroz de marisco. Sobremesa de eleição? Fondant de chocolate. Um chef que admira? E que gostasse de conhecer? Jamie Oliver e Heston Blumenthal, são os dois geniais! Livro de Receitas A Cozinha Tradicional Portuguesa de Maria de Lourdes Modesto. Melhor restaurante do Porto? Tenho vários que gosto muito para diferentes ocasiões. Dessa lista tanto faz parte o Yuko Tavern como o Cafeína ou o Esquina do Avesso. O segredo de um bom restaurante está no produto e na maneira como este é confecionado, e tanto pode ser um restaurante de luxo como um restaurante modesto. Um spot de sonho “culinário” que gostaria de conhecer? Osteria Francescana pelo Chef Massimo Bottura. Foi um chef bastante descredibilizado no início da sua carreira mas hoje em dia é um dos melhores do mundo e tem um enorme respeito pela cozinha e produtos italianos.

tinha a noção de que as pessoas conseguiam associar a minha cara ao blogue. A gestão do blogue e dos conteúdos são da sua responsabilidade? Ou tem uma equipa a ajudar? Toda a gestão de conteúdo é feita por mim exceto o design gráfico do blogue. Assim que entrei nesta aventura procurei sempre aprender mais, quer sobre cozinha quer sobre fotografia e foodstyling, e rapidamente adquiri os chamados gadgets e props para construir as fotografias que público. Uma oportunidade que tenha surgido pelo facto de se dedicar a este projeto. Desde que me dedico a este projeto surgiram diversas boas oportunidades, mas penso que a melhor foi poder trabalhar com marcas que já faziam parte do meu dia a dia enquanto estudante e que hoje são também parceiras do blogue, como o Continente. Outra oportunidade que me deixou extremamente orgulhosa do meu percurso foi ter cozinhado em televisão. É o reconhecimento de um enorme esforço para manter o projeto ativo. nacozinhadeumauniversitaria.blogspot.pt

O blogue em números

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A fechar Days to remember...

MUFFINS DE MIRTILOS - SERVE 10 (joana ventura)

Ingredientes

1 chávena de amêndoas 1 chávena de farinha integral 1/2 chávena de farinha de arroz 1 colher de sopa de canela 1 chávena de leite vegetal 1 colher de sobremesa de fermento em pó sem glúten 1+1/3 chávena de mirtilos 1/2 chávena de maple syrup ou outro adoçante à escolha

Preparação

Pré-aquecer o forno a 180ºC. Triturar as amêndoas até obter uma mistura muito fina. Misturar as amêndoas, as farinhas, a canela e o fermento. Adicionar o leite vegetal e o adoçante e envolver com uma vara de arames até obter uma mistura homogénea. Adicionar os mirtilos. Envolver. Distribuir por 10 forminhas previamente untadas com óleo de côco e polvilhadas com farinha (a que desejar), ou usar forminhas de silicone. Levar ao forno por 30 minutos ou até dourar.

ENJOY!

Sabia que? No Parque José Avides Moreira (Centro Hospitalar Conde Ferreira), existe um espaço de 2 talhões de 30 m2 onde pode cultivar a sua horta orgânica?


Regresso a casa 2018 SÁBADO, 29 DE SETEMBRO

Porque setembro é altura de regressar a casa, não perca a 3.ª edição deste evento para antigos estudantes e suas famílias! Este ano voltamos a colaborar com as empresas com uma forte comunidade de alumni FEUP. Quer saber como se associar? Fale connosco!

fe.up.pt/regressoacasa



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