EN GE NHA RIA
59 REVISTA OFICIAL DA FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO OUTONO 2018
EVENTOS FEUP - Associações e Núcleos Estudantis 2º Semestre 2018/19
IACES - INTERNATIONAL ASSOCIATION OF CIVIL ENGINEERING STUDENTS iacesporto.org
AGE-I-FEUP - ASSOCIAÇÃO DOS ALUNOS DE GESTÃO E ENGENHARIA INDUSTRIAL DA FEUP www.facebook.com/ageifeuporto
III Jornadas de Engenharia Civil - 20 e 21 de março Encontro Nacional de Estudantes de Engenharia Civil (ENEEC) - 25 a 28 de abril - forumcivil.ist.utl.pt/eneec ---------------------------------------------------------------------------AEFEUP - ASSOCIAÇÃO DE ESTUDANTES DA FEUP www.facebook.com/aefeup FEUP Engineering Days - 12 a 15 de março e-mail: geral@aefeup.pt Academic Games of Engineering - fevereiro a abril e-mail: empreendedorismo@aefeup.pt ---------------------------------------------------------------------------NEEQ - NÚCLEO DE ESTUDANTES DE ENGENHARIA QUÍMICA www.facebook.com/neeqfeup VII ENEEQ - Encontro Nacional de Estudantes de Engenharia Química - 12 a 15 de abril ---------------------------------------------------------------------------NEEEC - NÚCLEO DE ESTUDANTES DE ENGENHARIA ELETROTÉCNICA E DE COMPUTADORES www.facebook.com/NEEECFEUP 2ª edição do NEEEL IT - 1 a 7 de abril e-mail: neeec@fe.up.pt ---------------------------------------------------------------------------NEEM - NÚCLEO DE ESTUDANTES DE ENGENHARIA MECÂNICA - neemfeup.pt ConnectinGears - 10 a 11 de abril e-mail: neemfeup_empreendedorismo@fe.up.pt ----------------------------------------------------------------------------
TIE YOUR KNOT - 18 a 20 de março e-mail: ageifeup@fe.up.pt TIMES Final (Final of the Tournament in Management and Engineering Skills) - 24 a 29 de março e-mail: ageifeup@fe.up.pt ---------------------------------------------------------------------------NUCMMAT - NÚCLEO DE ESTUDANTES DE ENGENHARIA METALÚRGICA E DE MATERIAIS www.facebook.com/NEEECFEUP MetalMat - IV Jornadas de Metalurgia e Materiais 2019 (data a definir) e-mail: nucmmat@fe.up.pt ---------------------------------------------------------------------------BEST - BOARD OF EUROPEAN STUDENTS OF TECHNOLOGY - UNIVERSIDADE DO PORTO BEST - bestporto.org/website/pt EBEC - 16 a 18 de março | e-mail: orgporto@BEST.eu.org Career Craft - 29 abril a 3 maio | e-mail: orgporto@BEST.eu.org ---------------------------------------------------------------------------NECGM - NÚCLEO ESTUDANTIL DE COMPUTAÇÃO GRÁFICA E MULTIMÉDIA - necg.fe.up.pt www.facebook.com/NeCGM.FEUP Game Dev Meet - Mensalmente, a partir de fevereiro Learning Projects - Mensal/Bimestral e-mail: necg@fe.up.pt ---------------------------------------------------------------------------JUNIFEUP - JÚNIOR EMPRESA DA FEUP - www.junifeup.pt www.facebook.com/junifeup
ALUMNIEI - ASSOCIAÇÃO DOS LICENCIADOS E FINALISTAS DA LICENCIATURA EM ENGENHARIA INFORMÁTICA E COMPUTAÇÃO DA FEUP - alumniei.pt
Another Day at the Office - ADATO - 20 de março adato.junifeup.pt
JOB-IT - 10, 17 e 24 de abril jobit.pt
NEB-FEUP/ICBAS - NÚCLEO DE ESTUDANTES DE BIOENGENHARIA - nebfeupicbas.pt
COMMIT Porto - 22 de junho commitporto.com
X Symposium on Bioengineering - 6 e 7 abril www.symposium.nebfeupicbas.pt
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EDITORIAL
ENGENHARIA REVISTA OFICIAL DA FEUP
4 . Engenharia: Ciência e Tecnologia ao Serviço das Pessoas
Edição* Unidade de Imagem e Comunicação da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto dci@fe.up.pt Conselho editorial Carlos Oliveira e Raquel Pires
A ABRIR
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. Financiamento FCT 2018
FEUP NO MUNDO
Redação Raquel Pires e Helena Peixoto – noticias@fe.up.pt
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Design e Produção César Sanches design@fe.up.pt
INOVAÇÃO E FUTURO
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Colaboram nesta Edição: Alfredo Cunha, Egídio Santos e Susana Neves
.E ntrevista a Paulo Garcia: “A atração pelo espaço é tão antiga como a humanidade”
ome Zero: a casa do futuro com ADN FEUP 11 . H
Publicidade publicidade@fe.up.pt
idades e Morfologia Urbana: o binómio inseparável 12 . C
Propriedade Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Sede FEUP, Rua Dr. Roberto Frias 4200-465 Porto Tel: 22 508 1400 e-mail: noticias@fe.up.pt url: www.fe.up.pt
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. Acontecimentos com ADN FEUP
NOVOS TALENTOS
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ntrevista a Sílvia Ávila: “Os meus laboratórios 13 . E são o território em geral e as cidades em particular”
FEUP À CONQUISTA
Impressão Empresa Diário do Porto, Lda Porto 02 – 2019
studante da FEUP distinguida com o Prémio 16 . E
Periodicidade Semestral
quipa com genes FEUP vence maior competição 17 . E
“Amelia Earthart” de estratégia e gestão do mundo
Tiragem 3000 exemplares
AS NOSSAS PARCERIAS
Depósito legal
EUP Prime: o programa que vai ligar as empresas 18 . F *Esta edição foi escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico.
à Engenharia
ADN FEUP
aculdade de Engenharia da U.Porto: de portas 20 . F abertas ao mundo
20
mbaixadores Alumni @FEUP: António Boucinha 25 . E uando o espírito empreendedor ultrapassa 27 . Q fronteiras geográficas
AS NOSSAS PESSOAS
ntrevista a Luís Melo: “Não há equipas 30 . E a funcionar bem só com Ronaldos”
AS NOSSAS PESSOAS
otor de Havilland “Goblin” (1941) 34 . M
MUITO + QUE ENGENHARIA
36 . J oão Matias: partir da FEUP em direção às nuvens
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A FECHAR
38 . A não perder
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ENGENHARIA: CIÊNCIA E TECNOLOGIA AO SERVIÇO DAS PESSOAS João Falcão e Cunha*
EDITORIAL
A
FEUP tem por missão desenvolver atividades de educação, investigação e inovação, com uma sólida base científica, de forma sustentável, ao serviço das pessoas. O conhecimento assim gerado e transmitido permite atos superiores de engenharia que facilitam o desenvolvimento de tecnologias que considerem os princípios clássicos enunciados por Marcus Vitruvius Pollio: utilitas (utilidade), firmitas (firmeza) e venustas (beleza). Considerando o presente contexto nacional, europeu e internacional, as nossas prioridades para os próximos anos são de forma resumida as seguintes:
potenciando os seus conhecimentos e experiências, e procurando equilibrar os quadros de pessoal nas diversas categorias e faixas etárias. . Infraestruturas: Estudar, projetar e construir novas infraestruturas sustentáveis, espaços e laboratórios multidisciplinares, permitindo potenciar este Campus e áreas adjacentes, oferecendo melhores condições de trabalho e de inter-relacionamento. . Comunicação: Reforçar a capacidade de comunicar internamente e com a sociedade a atividade científica e tecnológica desenvolvida, clarificando o benefício da atividade de engenharia para as instituições e sobretudo para as pessoas.
.M odelo Educativo: Melhorar a ativi-
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dade de educação nas licenciaturas, mestrados e doutoramentos, promovendo a evolução dos mestrados integrados, garantindo uma sólida formação científica comum, reforçando o contacto dos estudantes com a atividade das unidades de investigação, empresas e outras instituições na sociedade, assim como a aquisição de competências transversais.
Estas prioridades estão a dar origem a projetos com metas ambiciosas. Espero assim que a FEUP reforce a sua situação como uma das melhores escolas de engenharia da Europa, sob o compromisso de serviço público iniciado em Portugal há mais de 180 anos, a 13 de janeiro de 1837, pela Academia Politécnica do Porto, em cooperação com os agentes mais dinâmicos da sociedade.
ENGENHARIA 59 FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
. I nvestigação e Inovação: Garantindo a autonomia e liberdade de investigação, reforçar a realização de projetos de doutoramento com base em desafios propostos por empresas e outras instituições, de forma articulada com as nossas unidades de investigação internas e externas, visando a inovação de produto, processo, marketing e organizacional. .P essoas: Adequar a gestão dos nossos colaboradores, bolseiros, técnicos, investigadores e docentes,
Gostaria de relevar aqui alguma informação que pode não ser do conhecimento generalizado, mas que nos responsabiliza muito perante a sociedade: .N o final de 2018 havia na FEUP um total de 800 estudantes estrangeiros, dos quais 329 em mestrados integrados, 213 em mestrados e 257 em doutoramentos. Em 2014 estavam inscritos 314 estudantes estrangeiros, dos quais 72 em mestrados
integrados, 63 em mestrados e 179 em doutoramentos. . No corrente ano académico de 2018/19 estima-se que os estudantes de mobilidade, tais como os Erasmus+, entre muitos outros acordos com todo o mundo, venham a ser 650 “in” e 450 “out”. .E m 2018, na 1ª fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior, 10 dos 1068 cursos disponíveis eram da FEUP e em 7 desses 10 cursos, todos mestrados integrados, a nota do último estudante colocado do contingente geral foi superior a 16 valores. .E m 2018 as receitas competitivas com projetos de investigação e com a prestação de serviços geridos pelas principais unidades de investigação internas e externas em que participam os docentes e investigadores da FEUP foram superiores a 45 M€. Os indicadores irão evoluir de forma positiva nos próximos anos como consequência das cinco prioridades atrás enunciadas, exigindo a manutenção de um forte comprometimento de toda a Comunidade FEUP, incluindo Alumni e parceiros. Estou seguro que a dedicação extraordinária de quase todos no passado se irá manter e aprofundar, continuando assim a FEUP a ultrapassar as dificuldades e as falhas que sempre existem, atingindo novos patamares de qualidade, num contexto global cada vez mais competitivo e complexo. Um excelente 2019 para todos! * Diretor da FEUP
FINANCIAMENTO FCT 2018
EM TODOS OS DOMÍNIOS CIENTÍFICOS DA FEUP
60% QUÍMICA
20% CIVIL
12,8 MILHÕES DE EUROS
82
6%
PROJETOS APROVADOS
14%
12%
ELETROTÉCNICA
OUTROS
TAXA DE APROVAÇÃO FACE A 2014
183 CANDIDATURAS DE PROJETOS
45% TAXA DE APROVAÇÃO
Horácio Tomé Marques, investigador e estu do Doutoramento em Media Digitais, prem em festival de inovação na Suécia setembro de 2018
LSTS participa em campanha de robótica marinha inédita, ao largo da Califórnia, com veículos autónomos subaquáticos, de superfície e aéreos abril de 2018
Encontro Alumni @Irlanda 16 de dezembro de 2018
Investigadora Lucília Ribeiro assina melhor tese de doutoramento em Catálise de Materiais - Ramôa Ribeiro 2018 setembro de 2018 Docente Humberto Varum integra Academia de Engenharia do México, associação que agrega profissionais e académicos de todo o mundo novembro de 2018
FEUP NO MUNDO
Embaixadores Alumni FEUP organizam visita técnica à TAP outubro de 2018
udante miado
Encontro Alumni @ Singapura 3 de março de 2018
Carolina Russo, alumni FEUP, integra board da ONG Portuguese Business Society (PBS) em Singapura outubro de 2018
Equipa FEUP Portugal sagrou-se vice-campeã mundial do International College Cup 2018, o campeonato mundial entre universidades em League of Legends. agosto de 2018
Docente João Catalão nomeado Editor Associado do IEEE Transactions on Industrial Informatics (TII), a melhor revista do mundo na área de Industrial Engineering setembro de 2018
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ENGENHARIA 59 FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Abílio de Jesus e António Correia, docentes da FEUP, foram distinguidos pela Universidade de Ciência e Tecnologia da Polónia pelas contribuições científicas nas áreas da fadiga, fratura e integridade estrutural de pontes e materiais metálicos julho de 2018
FEUP NO MUNDO
Vítor Oliveira, investigador sénior do CITTA, eleito Secretário-Geral do ‘International Seminar on Urban Form’ (ISUF), a organização de investigação cientifica em morfologia urbana a nível internacional setembro de 2018
“A atração pelo espaço é tão antiga como a humanidade” INOVAÇÃO E FUTURO
Texto: Raquel Pires Fotografia: ESO
Depois de ter conseguido comprovar os efeitos previstos pela teoria da relatividade geral de Einstein no movimento de uma estrela, a equipa do GRAVITY acaba de anunciar mais uma descoberta histórica: existe mesmo um buraco negro supermassivo escondido no centro da Via Láctea. É o ponto alto numa campanha de observações que decorre a partir do Very Large Telescope (VTL) do ESO, no Chile, desde 2016, e que contou com o trabalho de dedicação do português Paulo Garcia, professor da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP).
O ENGENHARIA 59 FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
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que é que significa, para si, enquanto físico, o anúncio de que há mesmo um buraco negro no centro da Via Láctea? E ter feito parte desta descoberta, foi especial? Os físicos teóricos tinham previsto a existência de buracos negros há muito tempo, há cerca de 100 anos. No início da 2ª Guerra Mundial foi possível mostrar que o colapso de uma estrela formaria um buraco negro. Na década de 50 percebeu-se que esses objetos tinham uma fronteira da qual a luz não poderia escapar. O termo “buraco negro” aparece na década de 60 (há até um interessante artigo na Gazeta da Física sobre a sua origem). É também na década de 60 que se descobrem os “quasares”. São objetos cuja potência luminosa é tão grande que não pode ser criada por fusão nuclear (como acontece com a luz das estrelas). A única fonte plausível seria a conversão de energia potencial gravítica em luz (tal como um objeto em queda livre transforma energia potencial gravítica em movimento cada vez mais rápido). As massas – de centelhas de milhões de vezes a massa do sol – e as escalas espaciais necessárias levaram a especular-se que existiam nos “quasares” buracos negros com massas gigantescas. No final da década de 60 início de 70 especulou-se que haveria também
um buraco negro no centro da nossa galáxia. Foi detetado na década de 70, usando interferometria de ondas eletromagnéticas de frequência radio. Na década de 80 descobre-se que a posição dessa fonte luminosa coincide com o centro de massa do movimento de gás no centro da galáxia. E no início do milénio descobre-se que um pequeno grupo de estrelas no centro da galáxia se move em torno desse objeto: obtém-se uma medição precisa da massa no interior da órbita e da distância usando as leis de Newton. O grande avanço que o GRAVITY traz é a sua precisão espacial que - combinada com outro instrumento que mede velocidades - nos permite medir efeitos relativistas pela primeira vez na órbita da estrela mais próxima do buraco negro. Vai haver novidades em março… uma nova descoberta: vamos medir efeitos relativistas ainda não detetados! Como é fazer parte de um consórcio internacional que reúne investigadores de todo o mundo, com modos de trabalhar e ritmos diferentes? Há quantos anos estão juntos neste projeto? Eu tive a sorte de ter estabelecido contactos internacionais desde muito cedo. Desde o meu último ano da licenciatura passando pelo mestrado, estive
essencialmente a colaborar com colegas fora de Portugal. Trabalhar neste projeto não foi por isso uma novidade no contacto de pessoas de países diferentes (já tinha tido relações de trabalho muito extensas com colegas de França e Inglaterra). O GRAVITY é liderado pelo instituto mais forte em instrumentação para telescópios do mundo: o MPE – Instituto Max Planck para Física Extraterrestre (o nome parece falar de extraterrestres mas é um instituto de Ciências do Universo!). No consórcio participam mais dois institutos alemães, dois franceses e Portugal (a unidade CENTRA – Centro de Astrofísica e Gravitação com professores da FCUL e FEUP). Foi a primeira vez que trabalhei com alemães e também tive a sorte de orientar um doutorando da Índia neste contexto. A grande vantagem de trabalhar num consórcio internacional é aprender – aprende-se muito, a vários níveis. Outro fator importante é permitir-nos discernir o que em Portugal são problemas portugueses e o que são problemas que existem em todos os lados. Em Portugal a ciência ainda se joga num campeonato diferente? Na década em que construímos o GRAVITY houve a crise da pré-bancarrota nacional, foi muito duro conseguir chegar ao fim e cumprir com o que nos
tinha sido atribuído. Em Portugal o staff central do projeto eram três pessoas, incluindo o Prof. António Amorim da FCUL, nos outros países eram bem mais e na sua maioria investigadores a 100%. Portanto, aqui há que trabalhar por dois e três, tapar buracos e fazer coisas muito diferentes. Além disso os recursos financeiros são muito diferentes. Por exemplo, num Max Planck quando se decide fazer um instrumento há uma linha significativa de financiamento assegurado. Em Portugal temos de competir com projetos de três em três anos, com o risco que isso significa. Os projetos têm valores muito reduzidos e o financiamento da unidade também é reduzido. O que se segue agora? As vossas atenções estão viradas para onde? Agora estamos na fase de exploração científica do GRAVITY, em março temos mais medições do centro galáctico. Também estamos a medir outros objetos celestes, estrelas bebés, planetas e núcleos ativos de galáxias. Em paralelo, estamos a preparar outro instrumento o METIS, para o maior telescópio do mundo – o ELT, que está a ser construído pelo ESO e terá um espelho com um diâmetro de 39 metros. Somos a única equipa Portuguesa num instrumento de primeira luz para este telescópio. O instrumento
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O GRAVITY É o instrumento mais poderoso construído para telescópios terrestres. Desenvolvido por um consórcio de vários institutos europeus da Alemanha, França e Portugal, o GRAVITY entrou em funcionamento em novembro de 2015, no Observatório do Paranal, no Chile. É uma estrutura que combina em modo interferométrico os quatro telescópios gigantes do Observatório do Paranal, com espelhos de 8 m de diâmetro, obtendo informação semelhante à de um telescópio colossal com 100 m de diâmetro. O grau de precisão é tal que conseguiria medir o equivalente do movimento de uma moeda de euro na superfície da Lua, quando vista da Terra. O objetivo científico principal do GRAVITY é estudar o buraco negro supermassivo, com uma massa de cerca de quatro milhões de vezes a massa do Sol, que existe no centro da Via Láctea.
INOVAÇÃO E FUTURO
NOTA BIOGRÁFICA Doutorado em Física pela Universidade de Lyon 1 em 1999, Paulo Garcia chega à FEUP em 2001, ao Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores. Foi um dos fundadores do Departamento de Engenharia Física, que inicia atividades em 2002. Foi professor visitante e Marie Curie Fellow na Universidade Joseph-Fourier, Grenoble em 2008/2010. Cria, em 2010, o Polo FEUP da unidade FCT Laboratório de Sistemas, Instrumentação e Modelação em Ciências e Tecnologias do Ambiente e do Espaço, que se fundiu com a unidade Centro de Astrofísica e Gravitação (CENTRA) em 2013. No âmbito do GRAVITY, Paulo Garcia liderou a equipa que desenvolveu o software da câmara de aquisição e participa na exploração científica do instrumento. Encontra-se atualmente no European Southern Observatory, no Chile, em licença sabática, fazendo medições com este instrumento. Paralelamente, desenvolve atividades em inovação pedagógica, tendo coordenado do Laboratório de Ensino Aprendizagem da FEUP, de 2013 a até início de 2019.
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estará operacional daqui a cerca de 10 anos, é liderado por um instituto holandês e participam também alemães, franceses e ingleses. Em maio temos a avaliação da fase B do instrumento no ESO. Como de costume está a ser muito duro, problemas inesperados que temos de resolver, muita aprendizagem e muito trabalho… Estamos também a pensar na evolução do GRAVITY, mas provavelmente não teremos recursos para participar. Somos muito pequenos, só nos devemos comprometer com o que conseguimos fazer, senão perdemos a credibilidade internacional. O universo tem ainda muito para revelar, na sua opinião? Existem áreas científicas que por desenho não têm fim, um exemplo são as Ciências Humanas, outro as Ciências do Universo. Como estas estudam uma região que vai da alta atmosfera terrestre até aos confins do universo é natural que hajam sempre descobertas novas propulsionadas pela tecnologia. Por exemplo, atualmente usam-se câmaras de 256 megapixéis (que podem ser comparados com as dos telemóveis e câmaras profissionais) e estão continuamente a desenvolverem-se novos instrumentos e telescópios incorporando tecnologia de ponta. À medida que o tempo passa temos uma visão cada vez mais “nítida” do Universo e fazem-se descobertas totalmente novas ou aprofundam-se descobertas mais antigas. Mas há puzzles muito importantes para os quais não temos resposta: não sabemos
porque é que o universo está em expansão acelerada, qual a sua origem, como se formam os planetas ou a origem da vida, entre outras. Que conselhos daria a quem quer prosseguir estudos superiores e tenha interesse no espaço? A atração pelo espaço ou universo é tão antiga como a humanidade. É por isso natural que muitos jovens que querem seguir estudos nessa área se interroguem que curso tirar. O erro mais comum é procurar cursos com espaço no nome. Qualquer pessoa que se desloque a um centro espacial ou observatório vê que a população mais abundante são sempre engenheiros: informáticos, mecânicos, eletrotécnicos, de gestão industrial, aeroespaciais e físicos abundam sendo a bioengenharia também uma área emergente. Qualquer destes cursos de engenharia dá acesso ao Espaço. Depois é preciso trabalhar para ser tecnicamente competente, aprendendo o que a Escola ensina e também tentar ter experiências ligadas ao Espaço. Qualquer estudante a partir do 2º ano pode pedir para participar em projetos nesta área – existem vários na FEUP e U. Porto. Basta perguntar aos seus professores ou a alumni onde os encontrar, na U.Porto ou fora dela. É por isso muito fácil trabalhar em áreas ligadas ao Espaço, basta haver qualidade técnica, força de vontade, iniciativa e comunicação.
Home Zero: a casa do futuro com ADN FEUP Texto: Helena Peixoto Fotografia: direitos reservados
renováveis, conseguida através da recolha e armazenamento de energia por painéis fotovoltaicos que é, por sua vez, garantido por baterias de segunda vida (baterias de automóveis elétricos recicladas). A instalação de um carregador de veículos elétricos permite a disponibilização de parte da produção solar para esse fim e a extensão do conceito CO2 Zero à mobilidade dos habitantes da casa.
Conseguir contruir uma casa ‘NZEB (nearly zero energy buildings)’ – uma casa com necessidades energéticas próximas de zero – aliando a construção modular, as energias renováveis e a domótica, sem esquecer o conforto do utilizador, é o grande objetivo deste projeto. “Esta meta terá, aliás, de ser atingida pelos edifícios novos num futuro próximo, o que obriga a que se desenvolvam e testem tecnologias que possam garantir essas metas”, alerta Nuno Ramos, docente do Departamento de Engenharia Civil que está na liderança do projeto do lado da FEUP. O também investigador do CONSTRUCT contou ainda com o apoio dos investigadores Pedro Pereira, Ricardo Almeida, Eva Barreira, Lurdes Simões e Karol Bot e ainda com Cláudio Monteiro e Tomás Sapage, investigadores do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores (DEEC).
Neste consórcio de três entidades, a Faculdade de Engenharia participa com as funções de teste laboratorial in-situ das soluções tecnológicas e de desenvolvimento de algoritmos de análise dos ocupantes. A líder do projeto, DreamDomus, concentra-se no desenvolvimento de soluções de domótica e na construção modular e, finalmente, a MagnumCap está responsável pelo desenvolvimento das soluções de armazenamento elétrico. O Arquiteto Alberto Montoya (BAU UAU Arquitetura) participa ativamente no projeto sendo o responsável pela arquitetura do protótipo.
Com parte do financiamento obtido no âmbito do programa COMPETE2020, o projeto inclui vários fatores diferenciadores e inovadores, destacando-se a utilização de uma tecnologia construtiva com elevados níveis de isolamento térmico e de estanquidade do ar que, combinada com um sistema avançado de domótica para controlo dos equipamentos, permite garantir aos ocupantes elevados níveis de conforto e de qualidade do ar, associados a elevada eficiência energética. Incorpora ainda uma grande utilização de energias
O protótipo do projeto vai ser utilizado como um “living lab” por vários estudantes no âmbito das suas dissertações do Mestrado Integrado em Engenharia Civil (MIEC) e de várias teses do Programa Doutoral em Engenharia Civil (PRODEC). Instalado no Campus da FEUP até novembro de 2019, vai ter em análise não só o comportamento do edifício e dos seus sistemas, mas também a forma como os diferentes ocupantes vão procurar obter um ambiente interior adequado. “O estudo dos ocupantes assume uma elevada importância, pelo que o sistema de domótica foi desenvolvido de modo a detetar as suas ações mais relevantes e a compreender as suas motivações”, conclui Nuno Ramos.
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ânsia pela evolução, impulsionada pelos constantes desafios ambientais enfrentados pela sociedade moderna, levou ao desenvolvimento do Projeto Home Zero, pelas mãos de um consórcio que inclui a Faculdade de Engenharia e as empresas ‘DreamDomus’ e ‘MagnumCap’.
INOVAÇÃO E FUTURO
É o protótipo de uma casa inteligente e tem necessidades de energia muito próximas do zero. Desenvolvido no âmbito de um projeto em co-promoção Portugal 2020, com a participação de um grupo de investigadores da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), o Home Zero pode estar a um pequeno passo das casas do futuro.
Cidades e Morfologia Urbana: o binómio inseparável
Texto: Vítor Oliveira* Fotografia: direitos reservados
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o longo dos últimos 6.000 anos vivemos em cidades. Neste período tão alargado, as cidades demonstraram que oferecem o melhor layout espacial de suporte às nossas atividades fundamentais. Seria hoje impossível imaginar a nossa vida sem cidades. Mas o que realmente sabemos acerca delas e do seu passado? O que é que sabemos sobre a sua atual forma, estrutura e funcionamento? Qual o impacto dessa forma e estrutura nos principais aspetos das nossas vidas, em termos sociais, económicos e ambientais? E o que podemos dizer sobre o seu futuro provável? A Morfologia Urbana é a disciplina que estuda a forma física das cidades, bem como os diferentes agentes e processos de transformação dessa mesma forma ao longo do tempo. Utilizando os instrumentos fornecidos pela Morfologia Urbana podemos olhar para esse passado ‘histórico’, para as regiões do planeta onde começaram a emergir estes assentamentos humanos e começar a estruturar uma teoria da evolução das cidades. Perceber essa evolução é compreender um processo que combinou permanência e inovação, numa contínua aprendizagem e adaptação das formas urbanas às necessidades humanas. Podemos também perceber o quão profunda foi a rutura introduzida nas nossas cidades em meados do século XX, suportada pelas teorias do urbanismo modernista e pela utilização generalizada do automóvel. Rutura essa que, importa sublinhar, tem ainda hoje um impacto profundamente negativo nas nossas cidades e nas nossas vidas. Para lidar com esta rutura e reconstruir um sentido de continuidade entre passado, presente e futuro, a Morfologia Urbana propõe-nos um enquadramento analítico de descrição e explicação (e que poderá também suportar um quadro normativo) que assume toda a complexidade dos elementos fundamentais da forma urbana. Tomemos dois exemplos: as ruas e as parcelas/lotes. Sabemos hoje que o modo como definimos o nosso sistema de ruas e praças, tornando-o mais ou menos acessível em termos espaciais vai contribuir para uma maior integração ou para uma maior segregação social. Possuímos hoje os modelos que nos permitem prever se uma determinada rua – pelo modo como esta se relaciona espacialmente com as outras ruas do seu sistema – terá um maior ou menor
potencial de movimento pedonal. Sabemos que ruas com fraca acessibilidade espacial e quarteirões demasiado grandes desincentivam a atividade pedonal. Como tal, tornam-nos mais dependentes do automóvel nas nossas deslocações diárias, condicionando a tomada de decisão no que se refere ao modo de transporte a adotar em cada deslocação específica. Três setores são hoje responsáveis pelo nosso enorme e crescente consumo de energia: os transportes, os edifícios (com as suas necessidades de aquecimento, arrefecimento e iluminação) e a indústria. A forma urbana tem um impacto significativo (e quantificável) no primeiro e no segundo setores. Apesar de ‘invisível’ aos nossos olhos quando caminhamos pela cidade, o sistema de parcelas tem um papel essencial na diversidade do espaço urbano. As decisões sobre o parcelamento de um determinado quarteirão, no diálogo de regulação entre o público e o privado, são cruciais para o ambiente urbano que queremos ter. Ilustro, de seguida, esta afirmação com duas situações limite. Fazer corresponder um quarteirão a uma única parcela (ou a um número muito reduzido de parcelas) conduz à existência de um único proprietário, de uma estratégia urbana, de um conjunto edificado, e de habitantes de um único estrato social. Pelo contrário, dividir um quarteirão em tantas parcelas quanto possível (tomemos, como referência a tradicional parcela portuense do século XIX), conduz à existência de n proprietários, de n estratégias urbanas, de múltiplas arquiteturas, de habitantes de vários estratos sociais. Uma compreensão rigorosa, ‘baseada na evidência’, de como é que transformando a forma física influenciamos um conjunto de aspetos de natureza social, económica e ambiental. É este o contributo fundamental que a Morfologia Urbana tem para oferecer às nossas cidades. Para além das relações mais ‘imediatas’ com as disciplinas que atuam diretamente sobre esta dimensão física, como o planeamento urbano e a arquitetura, a Morfologia Urbana possui todo um conjunto de teorias, conceitos e métodos de interface que lhe permitem o diálogo com disciplinas aparentemente mais ‘afastadas’, mas que pela sua natureza possam contribuir para tornar as nossas cidades mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis. * Investigador CITTA da FEUP, Secretário-Geral do International Seminar on Urban Form
S
ílvia Ávila de Sousa, 41 anos, é membro integrado do Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente (CITTA) da FEUP, onde desenvolve simultaneamente o seu pós-doutoramento. Ao longo de todo o seu percurso, académico e profissional, não teve dúvidas do que a apaixonava: o estudo das cidades e seus fenómenos. Com particular interesse pela investigação do fenómeno das cidades portuguesas em contração/declínio populacional e/ou económico (as chamadas ‘shrinking cities’) e consequentes desafios causados ao ordenamento do território e aos paradigmas instituídos, tem também desenvolvido atividade científica em domínios como a gestão dos centros históricos, ambientes urbanos de baixo carbono, resiliência urbana, planeamento baseado na evidência, forma urbana e ainda acessibilidade.
do frequentava o Mestrado em Planeamento e Projeto do Ambiente Urbano (iniciativa conjunta da Faculdade de Engenharia e de Arquitetura da U.Porto). Nessa altura trabalhava também como consultora independente num gabinete de arquitetura e urbanismo em Aveiro e candidatei-me a uma bolsa de Mestrado de um projeto comunitário designado ‘ATLANTE – Melhorar/Mellorar as Cidades Atlânticas Património Mundial da UNESCO’ que era coordenado pelo Prof. Paulo Pinho (Diretor do CITTA) e que procurava novas formas de desenvolvimento económico que pudessem tornar os centros históricos tão atraentes para os seus habitantes como outras áreas do território sem as mesmas restrições regulamentares. O contrato era de um ano, mas fiquei com muita vontade de seguir com a investigação pelo que em 2006 consegui uma Bolsa Individual de Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).
É investigadora do CITTA há mais de 10 anos. Porquê a escolha deste Centro e consequentemente por esta área de estudo? Contactei pela primeira vez com o CITTA em 2005 quan-
A área de estudo acaba por ser uma escolha natural. Sendo a minha formação pluridisciplinar – com uma sólida base em ciências exatas e em engenharia, mas também centrada em ciências sociais –, um centro de
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OS MEUS LABORATÓRIOS SÃO O TERRITÓRIO EM GERAL E AS CIDADES EM PARTICULAR
NOVOS TALENTOS
Texto: Helena Peixoto Ilustração: direitos reservados
NOVOS TALENTOS
investigação como o CITTA, que se dedica às várias dimensões do planeamento do território, era escolha acertada. Além disso, não podemos descurar o fator ‘estar no local certo, à hora certa’ – as circunstâncias são sempre importantes! Como explicaria as suas principais funções no CITTA? Sou Membro Integrado do CITTA e pertenço ao Grupo de Investigação 1 – Planeamento e Avaliação Ambiental. Em setembro deste ano transitei para uma situação contratual mais estável graças ao Programa de Estímulo ao Emprego Científico, ao abrigo da norma transitória. Neste momento, além de continuar a trabalhar como investigadora na área do meu pós-doutoramento – a relação entre as dinâmicas demográficas e as políticas de habitação – estou a coordenar a equipa Portuguesa do projeto ‘3S RECIPE – Smart Shrinkage Solutions: Fostering Resilient Cities in Inner Peripheries of Europe’ e represento a FEUP/CITTA no Comité de Gestão da ação ‘Cost Public Value Capture of Increasing Property Values’. Tenho participado de uma forma transversal nas atividades do CITTA, nomeadamente em atividades de gestão da ciência e de disseminação do conhecimento, que vão desde a colaboração na organização das conferências, workshops e sessões diversas, até à gestão dos seus suportes de comunicação. Entre outras funções, apoio ainda as candidaturas a projetos nacionais e internacionais.
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Se entramos nos projetos de investigação propriamente ditos, as atividades diárias passam pela revisão da literatura, recolha de dados quantitativos e qualitativos, análise através de métodos e ferramentas estatísticas e espaciais, redação de artigos, relatórios e recursos a outros meios de divulgação como comunicações em conferências nacionais e internacionais. Na minha área de investigação não existe atividade laboratorial ‘tradicional’. Os meus laboratórios são o território em geral e as cidades em particular. Qual ‘O projeto’ que gostava de ver desenvolvido no CITTA? A curto prazo, gostaria de apresentar uma candidatura a um projeto de Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico (IC&DT) da FCT e ainda de formar um pequeno núcleo de investigação.
O nosso país está no bom caminho na área da investigação do Território, Transportes e Ambiente? Considero até que nunca estivemos tão bem! Um dos indicadores que o provam passa pelos níveis de excelência que a investigação dessas áreas tem alcançado, assim como pelo financiamento conseguido, pelo número de artigos publicados e pela visibilidade que os centros de investigação portugueses conquistam no estrangeiro. O que acontece, a meu ver, é que o financiamento está demasiado dirigido para as questões relacionadas com os transportes e ambiente, e menos para as temáticas de planeamento do território e para os desafios societais – talvez em função do estado do mundo... O CITTA é já um centro com reconhecimento nacional e internacional. Quais os seus fatores distintivos? Penso que a direção do CITTA sempre teve a visão necessária para manter o foco no que realmente importa. Não se deixou desviar da estratégia traçada e conseguiu manter o financiamento nos piores anos de crise em Portugal. O CITTA faz uma investigação fundamental, que quando aplicada tem efeitos diretos na vida das comunidades! Este centro não se limita a descrever o status-quo, ele trabalha para encontrar soluções, desenvolver métodos e ferramentas úteis para a prática e influenciar a tomada de decisão nas áreas do planeamento do território, transportes e ambiente. Além disso, falamos de um centro pluridisciplinar, que agrega investigadores de duas Faculdades de Universidades de referência (Porto e Coimbra), com formações cada vez mais diversas (desde a engenharia civil até à sociologia), o que permite abordar o conceito multidimensional das cidades pós-carbono. O estabelecimento de redes internacionais é também um fator importantíssimo e distintivo do CITTA. O seu percurso tem passado por território nacional. Planeia uma experiência internacional ou prefere ‘reter’ o seu talento por cá? Em 2001 fiz Erasmus no Royal Institute of Technology, em Estocolmo e, quando regressei, os planos passavam por voltar a ter uma experiencia internacional, o que acabou por não acontecer. Se por um lado não me arrependo de ter ficado, também não descarto essa possibilidade no futuro. Apesar de tudo, a verdade é que os investigadores em Portugal ainda não têm uma situação muito estável e, uma vez passados os seis anos de contrato que tenho pela frente, não sei que situa-
O CITTA
Licenciada em Planeamento Regional e Urbano pela Universidade de Aveiro com uma especialização em Planeamento do Território Europeu no Royal Institute of Technology, Estocolmo e Mestre em Planeamento e Projeto do Ambiente Urbano pela U.Porto, Sílvia concluiu o Doutoramento em Engenharia Civil - Planeamento do Território e Ambiente.
ção encontrarei e que enquadramento existirá. Estou disposta a ir onde a investigação e a vida me levarem, ainda que agora, com uma família, as condicionantes sejam maiores. De qualquer modo, o contacto com experiências internacionais é sempre possível de outra formas: participação em projetos europeus, em ações e conferências e também através do estabelecimento de redes de conhecimento ao longo destes anos de trabalho no CITTA.
Pelo desenvolvimento das suas atividades, o CITTA afirma-se como um profundo conhecedor do funcionamento das cidades, sistemas urbanos, infraestruturas e serviços de transporte e desenvolve abordagens e soluções inovadoras para os seus problemas com base nesse entendimento. À data, o CITTA conta com 45 investigadores integrados nos seus quadros e com nove investigadores Doutorados, seis com Mestrado Integrado e conta ainda com a colaboração de 37 estudantes de Doutoramento. Uma pequena maioria dos investigadores possui formação em Engenharia Civil, mas estão também representadas áreas de formação como a Arquitetura, Engenharia Ambiental, Geografia, Arquitetura Paisagista, Ordenamento do Território e Sociologia. citta.fe.up.pt
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Nota Biográfica
O CITTA organiza-se em quatro grandes grupos de investigação: Planeamento e Avaliação Ambiental; Planeamento Urbano e Habitação; Análise e Planeamento de Transportes e Engenharia e Gestão de Transportes. O grupo de Planeamento e Avaliação Ambiental dedica-se sobretudo ao estudo da forma e estrutura urbana, avaliação ambiental, metabolismo urbano, desenho urbano bioclimático e cidades em declínio; já o Planeamento Urbano e Habitação enfoca políticas urbanas e metropolitanas, políticas e programas habitacionais locais em contextos socioespaciais complexos. O grupo de Análise e Planeamento de Transportes concentra-se sobretudo nos modelos de apoio à decisão em questões de transportes, tanto ao nível urbano como interurbano, assim como nas análises de interação transporte-ambiente-saúde e planeamento de sistemas de instalações públicas. Finalmente, o grupo de Engenharia e Gestão de Transportes aborda sobretudo o planeamento e gestão das infraestruturas de transporte, análises de comportamento e de segurança dos utilizadores das vias e ainda a procura das melhores soluções de conceção e respetiva operacionalização das redes de estrada e seus elementos.
NOVOS TALENTOS
O Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente (CITTA) é uma unidade de investigação da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e da Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade de Coimbra (FCTUC) que se dedica à disseminação e evolução do conhecimento nas áreas de Ordenamento do Território, Política Ambiental, Planeamento e Engenharia de Transportes, sendo detentor de espaços laboratoriais de referência em ambos os polos (Laboratório GIS no Porto, Laboratórios de Análise de Tráfego no Porto e Coimbra e Laboratório de Engenharia Geotécnica e Mecânica dos Pavimentos Laboratórios em Coimbra).
Texto: Raquel Pires Fotografias: direitos reservados
FEUP À CONQUISTA
ESTUDANTE DA FEUP DISTINGUIDA COM O PRÉMIO “AMELIA EARTHART”
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hama-se Carolina Furtado, está no 3º ano do Programa Doutoral em Engenharia Mecânica da FEUP e foi a única investigadora portuguesa distinguida com o prémio “Amelia Earthart Fellowship – 2018-2019”, um dos mais relevantes na área da Engenharia Aeronáutica e Aeroespacial. Orientado especificamente para o desenvolvimento de novos materiais compósitos com a utilização de laminados ultrafinos e nanotubos de carbono, o trabalho de investigação de Carolina Furtado tem despertado muito interesse junto da indústria aeronáutica. O doutoramento insere-se num projeto de investigação do MIT-Portugal designado “Introdução de Tecnologias Baseadas em Materiais Avançados nas Indústrias da Mobilidade” e passa não só pela realização de testes e análise de resultados, mas também pela criação de ferramentas que permitam antever o comportamento dos materiais e das peças com eles fabricadas, de modo a antecipar o seu modo de falha. “Este prémio representa um louvor ao meu passado académico, cumprimento que quero partilhar com as Escolas por onde passei, com os meus Professores e com todos os colegas com quem tive o privilégio de trabalhar”, reconhece a investigadora do Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI). “Significa também, de forma clara, que o meu projeto de doutoramento é relevante e de grande interesse para a indústria. Isso dá-me uma enorme satisfação e representa um importante alento para mim e para toda a equipa diretamente envolvida”, conclui. O prémio tem ainda uma componente material muito interessante de dez mil dólares.
Sabia que… Amelia Mary Earthart foi pioneira na aviação dos Estados Unidos? Nascida em 1897, Earthart foi a primeira mulher a voar sozinha sobre o oceano Atlântico. Além disso, estabeleceu diversos recordes, escreveu livros sobre as suas experiências de voo e foi essencial na formação de organizações para mulheres que desejavam pilotar. Defensora dos direitos das mulheres, Amelia Earthart desapareceu no oceano Pacífico em 1937, enquanto tentava realizar um voo à volta do mundo.
Equipa com genes FEUP vence maior competição de estratégia e gestão do mundo Texto: Helena Peixoto Fotografia: direitos reservados
Luís Filipe Valente, estudante finalista do Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica e Computadores da FEUP, assumiu a liderança da equipa e contou com a colaboração do recém-Mestre em Engenharia Metalúrgica e de Materiais Bruno Silva e ainda de Maria João Campos, estudante do Mestrado Integrado em Medicina da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP). De 10 a 13 de dezembro, em Madrid, a equipa portuguesa disputou o primeiro lugar na competição com as restantes três equipas finalistas a nível mundial e mostrou o que valia em matérias de otimização e simulação de processos de produção de uma empresa do setor Automóvel, procurando as opções mais eficientes. Entre muito poucas horas de sono mas muitas de trabalho, a equipa disputou quatro rondas compostas por sete provas cada uma, que correspondem às decisões anuais de um fabricante de automóveis de grande dimensão: vendas, cadeia de abastecimento, compras, operações e até finanças. No final, a equipa portuguesa foi a mais forte, garantindo o tão esperado prémio: “Foi o culminar de vários meses
de trabalho árduo, sendo um orgulho poder representar Portugal e ter a honra de ser a primeira equipa do nosso país a ganhar a competição. Numa final dominada por Gestores e Economistas, eramos a única equipa com background em Engenharia, o que prova mais uma vez as capacidades de polivalência dos engenheiros”, refere o líder de equipa sem esconder o orgulho. O galardão foi entregue pelas mãos de Amador Fraile, diretor de Convénios do Grupo Santander, no último dia da competição, numa cerimónia que decorreu na ‘Ciudad Financiera de Banco Santander’.
Sobre a Global Marketing Competition Com mais de 20 anos de existência, a Global Marketing Competition é considerada uma das maiores competições do mundo nas áreas de Gestão e Finanças de Supply Chain (Cadeia de Abastecimento). Com mais de 80 países representados, a competição testa anualmente mais de 5.000 participantes provenientes de mais de 800 universidades de todo o mundo.
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m MBA para cada elemento vencedor e 16 mil euros em valor pecuniário: eram estes os prémios em cima da mesa de mais uma edição da GMKC, uma das maiores competições do mundo nas áreas de Gestão e Finanças.
FEUP À CONQUISTA
Um estudante e um alumnus da Faculdade de Engenharia da U.Porto integraram a equipa vencedora da 23ª edição da Global Marketing Competition (GMCK), iniciativa que testa anualmente mais de 5.000 estudantes universitários de todo o mundo.
Texto: Raquel Pires Fotografia: direitos reservados
AS NOSSAS PARCERIAS
o programa que vai ligar as empresas à engenharia É um programa ambicioso de aproximação da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) ao tecido empresarial. Lançado em outubro 2018, o FEUP Prime - Corporate Membership Program pretende criar valor e vantagens competitivas para as empresas. Como? Através de uma conexão direta com as fontes de talento e conhecimento produzido na faculdade.
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projeto ganhou forma durante o último ano. A necessidade de contribuir para o desenvolvimento de uma cultura de inovação aberta envolvendo empresas exportadoras, startups de base tecnológica e a academia – fonte de desenvolvimento económico e social da região e do país – foi o que norteou toda a estratégia do FEUP Prime. O objetivo foi sempre trabalhar numa lógica de cooperação estreita com os parceiros industriais que estivessem interessados em colaborar, sem deixar ninguém de fora. As empresas podem associar-se ao FEUP Prime de duas formas: na qualidade de “Prime Partners” ou como “Prime Affiliates”. EFACEC, SONAE IM, Kaizen, Vodafone e Natixis são empresas que estão já a colaborar como “Prime Partners”, o que significa que decidiram investir num relacionamento estratégico e de longo prazo com a FEUP, definindo objetivos comuns de aprendizagem, investigação e inovação. Estas empresas vão ter a oportunidade de atrair os melhores talentos, envolver os melhores estudantes em problemas concretos, trabalhar com os melhores investigadores em desafios societais e inovação de ponta e envolver-se na vida da comunidade académica.
As restantes empresas com as quais já existe uma sólida colaboração (medida por diversos indicadores) e que beneficiam das relações existentes são designadas por “FEUP Prime Affiliates” e vão ser continuamente desafiadas a reforçar o seu envolvimento nas diversas oportunidades que o programa FEUP Prime pretende desenvolver. A FEUP é uma das principais fornecedoras de talento e quadros altamente especializados para empresas do setor da indústria e também para tecnológicas, sejam elas multinacionais ou startups em fase de arranque e crescimento no mercado, daí a necessidade de estruturar e formalizar um programa com esta dimensão. “É uma oportunidade única para as empresas colocarem desafios ambiciosos de inovação aos nossos estudantes, investigadores e docentes, sobretudo ao nível de mestrado e doutoramento. O aumento da interação no âmbito do FEUP Prime irá permitir trabalhar na universidade sobre conhecimento mais relevante para a economia e para a sociedade, fazendo chegar às empresas melhores engenheiros e contribuindo assim para melhor emprego e para empresas mais inovadoras”, assume João Falcão e Cunha, diretor da FEUP.
Ângelo Ramalho
Somos cerca de 130 engenheiros da FEUP. Para nós é um orgulho poder estreitar esta ligação, é como se regressássemos a casa. Na verdade, nos programas doutorais, queremos desenvolver mais esta cooperação entre a Universidade e o Instituto Kaisen e, em conjunto, encontrar novas soluções para o tecido empresarial nacional.
Além de um motivo de orgulho, para a Vodafone Portugal ser parceira da FEUP é uma oportunidade para a Empresa continuar a contribuir para o desenvolvimento da sociedade, e em particular do mundo académico. Quando apresentámos o Vodafone 5G Hub – centro de inovação dedicado à rede móvel do futuro – queríamos juntar empresas do setor das telecomunicações a universidades e startups. A FEUP tornou-se o primeiro parceiro académico do 5G Hub, e esta parceria passa pela instalação de uma antena 5G na Faculdade permitindo, assim, a concretização de projetos por parte dos alunos. Mais do que um laboratório para explorar as potencialidades da quinta geração móvel, o Vodafone 5G Hub será uma fábrica de produção de conhecimento e inovação, ativos fundamentais para que Portugal possa competir na economia digital europeia e mundial. João Nascimento
António Costa
O programa FEUP Prime destacou-se como uma oportunidade de centralizar as interações com uma das principais fontes de talento e conhecimento na área das TI no Porto. Sendo esse talento um dos pilares do projeto Natixis em Portugal e com vista a enriquecer o conhecimento no ecossistema do Porto, fez todo o sentido associarmo-nos ao programa.
AS NOSSAS PARCERIAS
O histórico de relação que existe entre a EFACEC e a Faculdade de Engenharia, a necessidade que a EFACEC tem de promover e desenvolver talento e a capacidade que a FEUP tem de formar pessoas para o mundo das empresas convergem para uma relação estruturada e assim conseguimos trabalhar num único sentido: crescermos todos.
É um programa que pretende colocar doutorados nas organizações. Ao associarmo-nos a este programa, significa que estamos recetivos à inovação aberta, à inovação com outros parceiros porque consideramos que no mundo atual, no mundo em rede, isso é absolutamente essencial. Esta parceria é um sinal de que a SONAE está disponível para colaborar com quem nos possa ajudar a ser cada vez melhor naquilo que fazemos. Luís Reis
Telmo Fernandes
Dia da FEUP – premeia o mérito dos melhores alunos com a atribuição de bolsas de mérito no valor de 35 mil euros, patrocinadas por fundações e empresas com quem a FEUP tem protocolos de colaboração. www.fe.up.pt/prime
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Nos últimos anos a Faculdade de Engenharia tem trabalhado e criado condições de aproximação às empresas, numa lógica de parceria e de reconhecimento públicos. Só no ano letivo 2017-18, há a registar 405 Dissertações em ambiente empresarial. Também os Programas de Estágios de Verão aumentaram de 53 para 79 de 2017 para 2018, o que traduz o interesse quer dos estudantes, quer das empresas para este tipo de parcerias. De realçar ainda que a Faculdade de Engenharia todos os anos – por altura do
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Faculdade de Engenharia da U.Porto: de portas abertas ao mundo Texto: Helena Peixoto Fotografia: direitos reservados
É uma Casa cada vez mais escolhida por estudantes de todo o mundo. Seja para frequentar a Licenciatura, Mestrado Integrado, Mestrado Independente ou ainda qualquer Programa Doutoral, a FEUP tem assistido a um aumento galopante de estudantes internacionais. Fomos tentar perceber porquê.
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rasileiros, Iranianos, Nepaleses, Colombianos, Turcos, Chineses… esta é apenas uma amostra da lista de nacionalidades que integram a comunidade de estudantes internacionais a estudar na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). E se no final de 2017 o número de estudantes rondava os 650, em 2018 assistimos a um aumento de quase 50%: foram mais de 1100 os estudantes não portugueses inscritos na Faculdade de Engenharia para frequentar um grau completo. Mas o que será que motiva estudantes oriundos dos quatro cantos do mundo a estudar no nosso ‘pequeno’ País? É certo que a qualidade de ensino da FEUP é já inequívoca e reconhecida nacional e internacionalmente – ela é, aliás, considerada uma das 250 melhores da Europa – mas tem de haver outras razões que expliquem este aumento exponencial de estudantes internacionais.
É possível afirmar que existe já um ‘ecossistema’ de acolhimento e de integração cada vez mais desenvolvido, não só dentro do Campus como na própria cidade, o que torna a vinda destes estudantes cada vez mais fácil e apetecível. Além disso, não podemos esquecer o grande trabalho de fundo que tem sido desenvolvido pela própria Faculdade na captação de talento internacional – o primeiro grande passo foi dado na captação de estudantes no Brasil e atualmente ruma em direção à China e à Índia. Seja através da participação em atividades académicas desportivas, do desenvolvimento de ações em núcleos e organizações estudantis ou simplesmente pela convivência com os colegas portugueses e também com os não nativos, estes estudantes vão aumentando o sentimento de pertença e o carinho pela cidade e pela Faculdade, bem patente nos seus testemunhos.
Antes de chegar à FEUP, o meu supervisor – o Professor Fernando Tavares de Pinho – contactou os Serviços de Ação Social da U.Porto (SASUP) para encontrar um quarto para mim. Foi buscar-me ao aeroporto e ajudou-me a tratar de todas as burocracias inerentes à minha chegada (acompanhou-me, inclusivamente, à Loja do Cidadão!). Fez-me também uma visita guiada ao Centro de Estudos de Fenómenos de Transporte (CEFT) da FEUP e estabeleceu contacto com o Divisão de Cooperação da FEUP para que eu pudesse contactar com outros estudantes iranianos. Foi assim que conheci o Mohammad Shahgol e o Ali Azariyan, que depois me esclareceram nas dúvidas que me iam surgindo (onde comprar roupa, abrir uma conta bancária, melhores supermercados…). No meio de tudo isto ainda me juntei a uma equipa de futsal à qual os meus colegas pertenciam. Saeed Parvar, estudante Iraniano do 1º ano do Programa Doutoral em Engenharia Mecânica
A FEUP é uma Faculdade de excelência, que proporciona diversas oportunidades de crescimento profissional, intelectual e social. Graças a isso, participo da fundação de uma associação juvenil, a InterUp, que visa promover uma maior integração dos estudantes internacionais entre si e com os portugueses. Portanto, hoje sinto-me realizada e grata ao Porto e a esta Faculdade que tanto têm me feito feliz.” Analú Brum, estudante Brasileira do 3º ano do Mestrado Integrado em Engenharia Metalúrgica e Materiais
ADN FEUP
“Posso dizer que fui muito bem recebida por toda a comunidade académica da Universidade do Porto. De realçar o programa ‘FEUP Mentor’, iniciativa integrada no programa de softlanding dos estudantes internacionais, que me permitiu fazer amigos incríveis que desde logo me acolheram e ajudaram a sentir-me em casa no Porto.
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Assim que cheguei ao Porto fiquei verdadeiramente surpreendido com as suas paisagens, condições meteorológicas e localização, de certa forma parecidas até com a minha terra natal! Uma outra questão que me cativou de imediato foi a qualidade inegável da sua gastronomia (não posso deixar de referenciar a Francesinha)! Todas estas características fizeram com que as saudades de casa não fossem tão fortes.
Viver o Campus A Faculdade de Engenharia torna-se a segunda casa destes estudantes. Uma casa no verdadeiro sentido da palavra uma vez que esta Escola faz todos os possíveis por integrar e acolher quem vem além-fronteiras da melhor forma possível.
ADN FEUP
Quando a matemática não é um obstáculo A promoção da integração e da igualdade deve estar patente em todas as valências, incluindo dentro da sala de aulas. Exemplo disso é o curso intensivo de nivelamento de matemática oferecido a todos os estudantes brasileiros que ingressam o 1.º ano dos vários cursos e que tem como objetivo a uniformização dos pré-requisitos exigidos. Ministrado por três Docentes do Departamento de Engenharia Civil (DEC) – Fernanda Campos de Sousa, Isabel Martins Ribeiro e Isabel Silva Magalhães – conta ainda com um conjunto de monitores – estudantes do Mestrado Integrado em Eng. Civil (MIEC) – devidamente identificados pelas suas excelentes prestações curriculares em geral e nas unidades curriculares da área disciplinar de matemática em particular.
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Com a sua primeira edição em 2016/17, o curso tem a duração de duas semanas – 12 sessões de três horas cada –, e é ministrado antes de arrancar o ano letivo. Aqui são revistos e/ou introduzidos alguns conceitos e definições considerados fundamentais, havendo aulas de pendor mais expositivo, ministradas por um dos docentes do grupo de trabalho e aulas mais exploratórias dos conceitos/ferramentas abordados e intensificação da capacidade de cálculo. “Os estudantes são o centro destas aulas, pretendendo-se uma forte participação de todos”, refere a docente Fernanda Sousa. Em termos de metodologia de trabalho, os estudantes são distribuídos por várias salas, garantindo que cada sala tenha até 20 estudantes. Em cada sala, os alunos são depois organizados em grupos, de quatro ou cinco elementos, com o objetivo de trabalharem em grupo na resolução dos exercícios
propostos. Cada sala é supervisionada por um docente do grupo de trabalho, coadjuvado por um monitor. No fim do curso é feito um diagnóstico (que é realizado também no início da formação), de forma a melhor avaliar/quantificar os resultados alcançados. Apesar de opcional, é bastante recomendado que todos participem. E as taxas de frequência atestam a sua importância até porque são bastante significativas as diferenças nos conteúdos programáticos pré-superior, na notação e nas metodologias de resolução usadas em Portugal e no Brasil.
Promover a língua portuguesa É verdade que a língua universal é o inglês. E a FEUP possui já alguns cursos lecionados a 100% em língua inglesa. Mas o conhecimento da língua característica do país escolhido para se viver durante alguns anos é sempre uma mais valia. Como tal, são realizadas na FEUP duas edições de um curso intensivo de português para estrangeiros: uma em fevereiro/março e outra em outubro/ novembro. A decorrer três vezes por semana, cada sessão tem a duração de três horas, o que perfaz o total de 60 horas no final da formação. Para que as atividades letivas não sejam prejudicadas, o curso de português decorre em horário pós-laboral. Para melhor corresponder às diferentes necessidades dos estudantes, Ana Martins, Docente da Faculdade de Letras e responsável pelas aulas, explica que são criadas duas turmas diferentes: a de nível A1.1 e A1.2. No primeiro caso, as aulas destinam-se a estudantes em que a língua mãe é totalmente diferente do português (russos, ucranianos, franceses, ingleses, alemães, chineses, japoneses, entre outros) pelo que as sessões começam por ser dadas inteiramente em inglês, introduzindo progressivamente o português. Já as de nível A1.2 dirigem-se a alunos hispano-falantes (espanhóis, italianos e romenos), ou seja, com uma língua mãe mais aproximada do português, sendo o curso lecionado exclusivamente em português e a um ritmo mais dinâmico.
Helena Lopes, Psicóloga, coordenadora do GOI e membro da equipa de atendimento, reforça a importância deste gabinete “O GOI não deve ser um recurso apenas quando há mal-estar psicológico, uma vez que as nossas atividades e atuação têm também uma vertente preventiva e desenvolvimental. Trabalhamos para promover o bem-estar e desenvolvimento pessoal dos estudantes, estimulando o seu autoconhecimento e capitalizando os seus recursos (inter) pessoais, sociais e académicos. Disponibilizamos um atendimento personalizado – em português e em inglês –, considerando as idiossincrasias e vivências de cada um, numa relação empática e colaborativa.”
iPoint International Contact Point ipoint@fe.up.pt
o ponto de contacto Estudante - Faculdade A Unidade de Cooperação é o ponto de contacto de todos os estudantes internacionais, apoiando-os nas questões especificamente ligadas à vida na FEUP e também nos desafios de adaptação à cidade. Este é também a Unidade responsável pela organização dos “Orientation Days”, um programa de integração que consiste numa semana repleta de atividades que permite que estes estudantes conheçam a FEUP e desvendem um pouco da cidade Invicta.
Nem só de Engenharia vivem os futuros engenheiros! E a integração dos estudantes que chegam de outros países também é promovida através de atividades desportivas. É o caso de Leonardo Rodrigues, estudante brasileiro a frequentar já o 2º ano do Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica que partilha a sua experiência: “Cheguei a Portugal já em 2016 e a integração foi bastante tranquila, facilitada com a participação na atividade ‘Orientation Days’. Além disso, integro a equipa de Remo do Centro Desportivo da Universidade do Porto (CDUP), que me apresentou a uma série de pessoas e me ajudou a estabelecer várias amizades. Vou ficar por Portugal de certeza; aliás, até os meus pais estão a pensar vir para cá viver!”
ADN FEUP
A funcionar desde 1995, o Gabinete de Orientação e Integração (GOI) apoia os estudantes com vista ao seu bem-estar e sucesso académico. Estudantes internacionais incluídos! Integração e sucesso académico, apoio psicológico, aconselhamento, necessidades especiais educativas e competências transversais são algumas das temáticas desenvolvidas por este serviço de suporte, cada vez mais requisitado.
O desporto como atividade de integração
Leonardo foi, aliás, um dos contemplados com um incentivo financeiro em 2016/17, iniciativa nascida nesse mesmo ano com o objetivo de reconhecer o mérito dos estudantes internacionais e promover a sua estadia e permanência na FEUP.
A importância das organizações estudantis A FEUP é extremamente rica em organizações, grupos e associações estudantis, nas quais participam ativamente todos os estudantes interessados, independentemente da sua nacionalidade. Se percorrermos a lista das mesmas – AEFEUP, Age-i-FEUP, BEST, ENGENHARIA RÁDIO, Grupo de FADOS, Grupo de Robótica, IACES, JUNIFEUP, NEB – FEUP/ICBAS, NeCGM FEUP, NEEM FEUP, TEUP, TUNAFE – rapidamente percebemos que praticamente todas contam com a participação ativa de estudantes internacionais e que em muito contribuíram para a sua rápida adaptação ao novo contexto de vida. Arthur Garcia, estudante brasileiro a frequentar o 1 º ano do Mestrado Integrado em Engenharia e Gestão Industrial integra a equipa da AGE-i-FEUP
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Orientar e Integrar
Viver a Cidade
ADN FEUP
e confirma que a sua atividade na associação contribuiu e ainda contribui para uma rápida adaptação ao contexto português e da FEUP.
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Ainda no âmbito da temática das organizações estudantis, e aliado ao objetivo de acolher e integrar a comunidade académica internacional, um grupo de estudantes das Faculdades de Engenharia, Ciências e Letras composto por sete elementos brasileiros e dois portugueses, fez nascer recentemente um projeto de extrema importância – a InterUp, uma associação juvenil sem fins lucrativos e transversal ao ensino que promove o acolhimento, apoio irrestrito e a maior integração dos Estudantes Internacionais com todos os estudantes e a sua inserção na sociedade. Uma das grandes bandeiras desta organização é precisamente o facto de estimular a partilha de experiências e o networking não só entre os estudantes de outras nacionalidades, mas também destes últimos com os estudantes nativos. “Não queremos cair no ‘erro’ de criar uma entidade que, ao invés de promover a integração está a criar condições para um grupo fechado entre estudantes internacionais”, reforça Luiz Henrique, estudante brasileiro a frequentar o 3º ano do Mestrado em Engenharia Mecânica e um dos fundadores da InterUp. Oficialmente criada em janeiro de 2019, a associação pretende acompanhar os estudantes internacionais da Universidade do Porto de montante a jusante, considerando quatro grandes etapas no processo de integração do estudante: pré-inscrição (ainda antes de chegar ao Porto), adaptação (primeiros dois a três meses), desenvolvimento (4º ao 9º mês) e desfecho (últimas semanas do ano letivo). Para todas elas estão pensadas ações e atividades específicas, adaptadas à fase em que o estudante se encontra.
Indissociável de toda a estratégia de acolhimento e integração da Faculdade de Engenharia está o próprio ecossistema da cidade do Porto. São várias as organizações, atividades e processos criados para que esta comunidade se sinta ‘em casa’. ‘Porto. for talent’ é o nome da plataforma lançada pelo Talent Office da Câmara Municipal do Porto que agrega uma série de informações úteis e importantes em todos os quadrantes do dia a dia. ‘Land’, ‘Live’ e ‘Work’ são os seus três grandes segmentos da plataforma, que convida todos os interessados a se tornarem ‘Portonauts’, oferecendo fortes argumentos e justificações para que esta seja a sua cidade de eleição. Com ofertas de emprego de valor disponíveis na plataforma, esta ferramenta pretende ajudar a reter o talento internacional na cidade e a FEUP é uma das instituições parceiras do projeto. Em articulação com a Faculdade de Engenharia está também a Internations, considerada uma das maiores comunidades de expatriados a nível mundial. Recentemente sediada também no Porto, esta rede pretende agregar ‘expats’ a viver na cidade Invicta e promover o seu networking, troca de experiências e momentos de socialização. Esta organização participou inclusivamente na 1ª edição do “International Doctoral Students Orientation Day”, a mais recente iniciativa criada pela FEUP para dar as boas-vindas aos novos estudantes internacionais que ali começam o seu ciclo de estudos Doutorais e que reflete a estratégia integrada de ‘softlanding’ criada para os estudantes de grau, não só de Licenciatura e Mestrado, mas também ao nível de Doutoramento. O tema da integração e softlanding para os estudantes internacionais não se esgota por aqui. A verdade é que muito mais haveria para dizer! ‘Faculdade’, ‘Campus’, ‘Cidade’ e ‘País’ são quatro dimensões bem diferentes, que vão de um plano micro a uma perspetiva mais macro, mas todas elas são consideradas pela Faculdade de Engenharia na hora de melhor integrar, acolher e reter o talento internacional captado.
EMBAIXADORES ALUMNI @FEUP: ANTÓNIO BOUCINHA ADN FEUP
Texto: Raquel Pires Fotografias: direitos reservados
Depois de uma passagem por Coimbra, veio parar ao Porto. Apanhou a reforma dos cursos de engenharia promulgada por Veiga Simão e estava em Lisboa, numa visita de estudo promovida pelo curso de Engenharia Mecânica, quando se deu a revolução do 25 de abril. Com uma carreira ligada à indústria tabaqueira, António Boucinha vai repetir a experiência de ser embaixador alumi FEUP pelo terceiro ano consecutivo.
O facto mais inesquecível, para o curso de engenharia mecânica de 1970/75 – que todos os anos, nos nossos
encontros, é ainda tema de conversa – foi a visita de estudo às empresas de Lisboa entre 22 e 26 de abril de 1974: as três primeiras visitas fizeram-se normalmente, mas a quarta (prevista para a empresa de construções mecânicas MAGUE) coincidiu com o dia 25 de Abril! A maioria, logicamente, decidiu ir para o Largo do Carmo onde se desenrolou o principal acontecimento desse dia que mudou a vida de todos nós! Durante muitos anos esteve ligado à indústria tabaqueira: é um setor exigente? Costuma-se distinguir os vários ramos da engenharia dizendo que os mecânicos trabalham em mm e microns e os civis em cm e metros. Na indústria do tabaco, uma variação ainda que pequena de uns 10 ou 20 microns no diâmetro de um cigarro, numa produção de 60 milhões de cigarros por dia, pode fazer toda a diferença
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ue memórias guarda dos tempos que estudou na FEUP? Para quem saiu de uma escola muito recente (edifício das matemáticas da Universidade de Coimbra, inaugurado em 1969) e chega ao velho edifício da Rua dos Bragas, ainda por cima com alguns edifícios anexos que mais pareciam provisórios, a sensação não foi a melhor. Contudo essa má impressão depressa se esvaneceu ajudado pelo facto de as turmas serem muito mais pequenas, haver muitos professores jovens e um ambiente de liberdade de reunião e expressão que não se conhecia noutras faculdades do Porto, muito por força da determinação do Diretor da altura que não deixava entrar a polícia nas instalações da faculdade.
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nas muitas toneladas de tabaco em rama consumidas ou desperdiçadas no final do ano. Os requisitos no controlo dessa variação – além das muitas outras exigências colocadas pelos clientes em todos os setores da manufatura – tornam o desafio bastante interessante para um engenheiro. A formação que recebeu na FEUP foi determinante para a sua carreira na Philip Morris? Sim. O meu percurso na empresa foi bastante facilitado pela formação recebida na FEUP em contraste, por exemplo, com a formação dada no IST (mais direcionada para as grandes obras e que fornecia a maioria dos recursos de engenharia disponível na região de Lisboa). A verdade é que a especial ligação do curso de engenharia mecânica com as empresas dos arredores do Porto e que os professores traziam para as diversas disciplinas prepararam-me para as exigências que a fábrica precisava nessa altura. E não só: toda a formação recebida foi fundamental para a evolução dentro da empresa pois permitiu a passagem por áreas muito variadas e assim construir uma visão geral das interligações internas e externas do negócio. É o 3º ano à frente da Embaixada em Lisboa. Qual foi a atividade mais interessante até agora? Penso que é justo destacar o encontro de janeiro de 2018. Tivemos mais de 40 inscritos. Foi a quinta tentativa de reunir alumni residentes na cidade e o balanço foi positivo. O Gabinete Alumni da FEUP envolveu-se na
organização e tivemos intervenções do prof. Raul Vidal, do antigo bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos, de Jorge Catarino, antigo Administrador da Teixeira Duarte e do jovem Miao Sun, general manager na AikeInf Technologies. Acabou por ser um cruzamento de gerações muito interessante, com um denominador comum e que deu muita força para o encontro seguinte. Quero ainda destacar a visita técnica que organizámos à TAP, que contou com uma delegação de professores e investigadores da FEUP e que correu muito bem. Já tem planos para dinamizar a comunidade alumi FEUP na capital e que possa partilhar? A organização de visitas a empresas com elevado nível de requisitos de engenharia, e tomando como exemplo a visita realizada à TAP, motiva-nos para continuar com a experiência e a melhorar ainda. Gostaria de estender alguns convites a outras organizações de estudantes de engenharia se/e quando isso fizer sentido, mas era importante haver mais iniciativas que nos permitissem conhecer alumni de outras escolas de engenharia. E o desafio para que seja encontrado um consenso sobre um prémio anual a atribuir pela comunidade alumni Feup Lisboa, ainda que possa parecer muito difícil, não deixa de estar na perspectiva para os tempos mais próximos. fe.up.pt/link
Quando o espírito empreendedor ultrapassa fronteiras geográficas Texto: Helena Peixoto Fotografia: direitos reservados
Nasceram ou desenvolveram-se com a ajuda de capital humano ‘made in FEUP’ e rapidamente ganharam asas em direção ao mercado internacional. Conheça estes exemplos de startups que são verdadeiros sinónimos de inovação, empreendedorismo e arrojo.
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byssal, Infraspeak, Jscrambler, OceanScan e Vizzuality: cinco startups focadas em áreas de competência completamente diferentes, mas com dois denominadores comuns: possuem na sua genética ‘sangue’ FEUP e o seu trabalho é reconhecido a nível nacional e internacional.
De todas elas, apenas a Vizzuality não esteve incubada no Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC), parceiro tecnológico e estratégico da FEUP que, com apenas dez anos de existência, é já berço de centenas de startups e empresas de claro sucesso. Embarque nesta viagem e conheça um pouco mais de cada uma.
ADN FEUP
A startup que descomplica a manutenção
O software que ajuda à navegação de submarinos operados remotamente A Abyssal desenvolve soluções de software assentes em tecnologias inovadoras de 3D, Realidade Virtual Aumentada, Simulação e Digitalização para projetos offshore, desde a fase de conceção, design e engenharia até à instalação e operação.
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Criada em 2012 com o objetivo de aumentar a segurança e eficiência de operações subaquáticas, foi em 2015 considerada como uma das 10 startups mais promissoras do setor de Oil & Gas pela GE e Chevron e tem criado parcerias com empresas de engenharia subaquática e companhias de energia offshore nas áreas de petróleo, gás natural e energias renováveis marinhas.
Como é que nasce uma startup que, só em 2016, cresceu 243%? Tudo começou quando Felipe Ávila da Costa se cruza com Luís Martins no UPTEC, formados, respetivamente, em Engenharia Civil e Informática na FEUP. Felipe faz questão de reforçar que Luís é que é o “herói da história”, pois esteve a desenvolver a ideia desde o seu projeto de final de curso na FEUP. Passados cerca de três anos, Felipe, que na altura dava apoio a startups no UPTEC, juntou-se a Luís para levar a tecnologia para o mercado. Em abril de 2015 nasce a Infraspeak e em 2017 foi ‘fechado’ um dos negócios chave da sua internacionalização: a Intu, maior cadeia de centros comerciais inglesa, contratou o seu software para 17 centros comerciais ingleses, dois dos quais os maiores da Grã-Bretanha. É mais fácil perceber em que consiste esta startup criando um pequeno contexto: imagine um centro comercial de média dimensão, onde todos os dias várias equipas de limpeza e de manutenção têm centenas de tarefas para executar, da limpeza das lojas às tarefas de logística (trocar lâmpadas, verificar cabos e sistemas de ventilação...). Todas elas estão sob a gestão de um responsável de manutenção. Face à complexidade deste cenário, a Infraspeak transfere toda a calendarização e organização de trabalho para uma plataforma digital, fácil de navegar e consultar.
Com um forte investimento em R&D, a Abyssal tem 30 postos de trabalho ativos, conta com alumni FEUP na sua equipa e as suas soluções estão espalhadas por todo o mundo.
Esta startup conta atualmente com cerca de 30 colaboradores, com mais de 150 clientes distribuídos por Portugal, Brasil, Angola, Espanha e Reino Unido e possui um volume de vendas anual superior a 400 mil euros.
Abyssal.eu
Infraspeak.com
Segurança informática com chancela FEUP Fundada em 2013 por Rui Ribeiro e Pedro Fortuna, ambos alumni FEUP, a Jscrambler é uma startup que trabalha com produtos de cibersegurança inovadores para proteção de aplicações web e móveis.
código. Permite ainda a deteção e reação em tempo real face a ataques de injeção maliciosa de código – problemática que tem resultado no roubo de milhões de dados em todo o mundo. Com escritórios no Porto, Lisboa e São Francisco (EUA), conta com 34 colaboradores e a sua tecnologia é utilizada em mais de 150 países, por mais de 43.000 empresas e a título pessoal, incluindo empresas da lista Fortune 500 e de vários setores incluindo Finanças, Publicidade, Media e Jogos. Jscrambler.com
A OceanScan-MST é uma spin-off do Laboratório de Sistemas e Tecnologia Submarina (LSTS) da FEUP. Fundada em 2008 e com sede no polo do Mar da UPTEC, tem a missão de desenvolver, produzir e comercializar sistemas submarinos autónomos para monitorizar os oceanos, rios e lagos. O seu produto principal – LAUV (Light Autonomous Underwater Vehicle) é um veículo robusto, não-tripulado, compacto, simples de operar e com capacidade de integrar sensores e sonares que o tornam uma ferramenta de pesquisa útil para vários setores do mercado (Militar, Oceanografia, R&D, Oil&Gas). Tendo nos oceanos o seu escritório, conquistou clientes de coordenadas tão longínquas quanto a Rússia, Croácia, Indónesia, Noruega, Sigapura, Qatar, entre outros.
Esta startup começou numa lógica ‘ao contrário’ dos restantes exemplos: esta agência de design e tecnologia nasceu em 2009, em Espanha (Madrid), e daí expandiu-se para o Reino Unido (Cambridge), EUA (Washington) e, mais recentemente, para Portugal (Porto). Atualmente conta com mais de 40 colaboradores e apesar de nenhum dos seus criadores ser ‘FEUPinho’, fazem parte dos seus quadros Simão Belchior, antigo estudante do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação (MIEIC), que assume a função de Gestor de Projetos da Vizzuality e foi um dos grandes responsáveis pela implementação da empresa no Porto e ainda Tiago Santos, também alumnus do MIEIC, Backend Developer da Vizzuality.
Certificada segundo a EN ISO 9001:2015, recebeu a distinção de PME líder e PME excelência, resultado do empenho dos cerca de dez colaboradores e colegas FEUP que colaboram nos projetos nacionais e internacionais de que a empresa é parceira.
Combater problemas sociais e ambientais críticos através da transformação de Big Data em visualizações de grande qualidade é o grande objetivo desta organização, que trabalha sobretudo com Organizações Não Governamentais que se focam em resolver problemas chave como a desflorestação, as alterações climáticas, a pesca ilegal, a corrupção e a desigualdade social.
Oceanscan-mst.com
Vizzuality.com
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Inovação no fundo do oceano
A startup que luta por um mundo melhor
ADN FEUP
O seu principal produto, Jscrambler, é líder global em segurança client-side de aplicações JavaScript e protege contra roubo e Engenharia reversa de
Não há equipas a funcionar bem só com Ronaldos Texto: Raquel Pires Fotografia: Alfredo Cunha
Na companhia de uma guitarra elétrica e ao som de “Shine On Your Shoes”. Foi assim que Luís Melo proferiu a última aula na Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), em abril. Nada que surpreendesse quem ali estava, afinal a música sempre fez parte da sua vida. Pioneiro na criação de cursos superiores na área da BioEngenharia, liderou grupos de investigação e os convites que recebeu ao longo da vida reconhecem-lhe capacidades para iniciar projetos com mestria. Um deles surgiu há 15 anos: lançar o Comissariado Cultural da FEUP. E fazer de uma casa de engenheiros, uma casa virada para o mundo.
Lançou três programas de rádio, fundou um jornal de música e colaborou na revista “Mundo da Canção”. Como conseguia tempo? O gosto pela música despertou-me o interesse pela sua análise crítica. Como não tinha uma formação musical suficiente para voos mais eruditos (apesar de a música clássica ser o que se ouvia em casa), foquei-me na música urbana da minha geração (Beatles, Bob Dylan, Paul Simon, etc.), tentando perceber os fatores que a tornavam distinta da chamada “música ligeira” mais comum na época. Sem saber como, começaram a aparecer os convites. O primeiro foi, aliás, canalizado através de um amigo da juventude e de sempre, mais tarde professor catedrático da Faculdade de Economia (José Madureira Pinto, economista e sociólogo) que tinha um programa de jazz numa estação de rádio do Porto e foi, ao mesmo tempo, o responsável pela minha entrada no mundo do jazz. A participação na fundação da “Memória do Elefante” (sim, o título é anterior à obra homónima do António Lobo Antunes), uma publicação mensal irreverente, foi um momento muito especial de que guardo excelentes recordações. Fui escolhido para escrever o Editorial do número zero (lançamento do jornal). O título desse
Que influência teve a música na sua vida? Tanto quanto sei, aprendeu guitarra aos 17 anos sozinho, mais tarde frequentou aulas de teoria musical na Escola de Jazz do Porto, seguiu-se o piano… Aprendi formalmente música dos 10 aos 13 anos. Não me quiseram dar um piano (certamente, porque não valeria a pena investir num talento limitado) e aprendi acordeão que, na época, era muito pouco atraente para um jovem. Depois de um interregno, decidi de facto comprar uma guitarra acústica aos 17 anos com dinheiro do meu mealheiro, e lá fui aprendendo sozinho a tocar. Mas não aconselho nada esta opção autodidata: aprende-se devagar e mal. Só aos 45 anos, com a carreira profissional lançada, é que decidi ter aulas de guitarra e teoria musical na Escola de Jazz do Porto. Esta escola foi um dos marcos fundamentais na afirmação deste tipo de música no Porto. Conheci músicos, a sério, de jazz. O piano foi apenas uma experiência por três ou quatro anos, que comecei aos 50 ou 52 anos. É um instrumento ótimo para aprender harmonia (que foi muito útil para a guitarra), embora deva ter sido uma frustração para o pianista que me aturou (Paulo Gomes, um dos nomes mais conhecidos do jazz português). O convite para criar o Comissariado Cultural na FEUP foi um desafio ao qual não conseguiu resistir? O então diretor da Faculdade de Engenharia, prof. Carlos Costa, fez-me o convite em 2002. Fiquei curioso por descobrir se eu tinha capacidade para pôr a funcionar uma estrutura dessas, algo que nunca tinha experimentado fazer. Que balanço faz destes 15 anos de atividade cultural na FEUP? A comunidade adere com bastante interesse aos concertos e projetos teatrais, o que é sempre surpreendente sendo esta uma casa de engenheiros. Foram 15 anos de conquista gradual do interesse da comunidade da FEUP e de vários outros públicos, não
AS NOSSAS PESSOAS
Que memórias guarda dos seus tempos de estudante universitário? Foi um tempo de aprendizagem da vida, essencialmente fora da Universidade. Esta era uma instituição muito fechada ao mundo, tal como o regime político da altura. Havia algumas iniciativas de estudantes com interesse (por exemplo, o teatro de estudantes da Universidade de Coimbra-TEUC). Dou outro exemplo: logo no primeiro ano do meu curso na Universidade do Porto, tive a oportunidade de assistir a um happening com o Mário Viegas a dizer poemas no átrio de entrada do edifício da atual Reitoria, como só ele o sabia fazer. Este momento durou poucos minutos, interrompido pela chegada da polícia, mas tive aí uma pincelada realista do país em que vivia, e da sua alternativa.
editorial foi: “O relógio do senhor doutor é muito bonito”. O pessoal divertiu-se à grande, até ao momento em que fomos chamados à censura por termos publicado um artigo do Jorge Lima Barreto sobre as origens do jazz, no qual ele referia, naturalmente, o transporte forçado de escravos negros da África para a América do Norte. Avisaram-nos que se não mudássemos de atitude os nossos cursos universitários seriam interrompidos imediatamente e seríamos obrigados a fazer o serviço militar numa “companhia disciplinar” em África (essas companhias iam para os sítios piores da guerra). É esta a imagem do País naquela época.
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uma entrevista disse que “nunca quis ser professor, nem médico”: a engenharia ficou a ganhar? Não sei se a Engenharia ou o ensino da Engenharia beneficiou com isso. Eu é que fiquei a ganhar, porque a engenharia trouxe-me ferramentas adicionais que me permitiram observar e avaliar com mais interesse o mundo das artes e humanidades (com o qual tinha contactado em casa dos meus pais) e as pessoas. Não consigo separar a engenharia do resto da sociedade.
AS NOSSAS PESSOAS
O maior problema da ciência não é a escassez de dinheiro: é a tremenda e paralisante burocracia, é a falta de previsibilidade nas estratégias e financiamentos
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só universitários. Os números da participação nas nossas atividades indicam uma audiência anual de cerca de 8 mil a 10 mil pessoas. Hoje em dia já possuímos informações concretas de que a nossa oferta de projetos culturais internos onde participam estudantes (orquestra de jazz, grupo vocal, orquestra clássica, teatro, oficina de pintura, etc.) é já um motivo adicional para a escolha da FEUP como instituição de formação por alguns estudantes. Uma decisão de que me congratulo foi o ter percebido cedo que era necessário contratar um profissional para a complexa tarefa de produção das atividades e para trazer mais ideias para a programação (são as funções atuais do Paulo Vasques). A colaboração generosa e empenhada de outros grandes profissionais (maestros, encenadores, etc.) tem sido fantástica e, só assim, foi possível atingir os nossos objetivos com qualidade e sustentabilidade económica. O que falta reforçar na nossa atividade? Falta mais debate de ideias sobre o que nos rodeia, não apenas com os professores e outros funcionários, mas essencialmente com a intervenção ativa dos estudantes. É este o setor onde pretendemos alargar o nosso esforço. Num mundo tão instável, pela rápida mudança (não apenas a decorrente das tecnologias de informação) e pela menorização da memória das sociedades, é preciso conversarmos abertamente sobre o que queremos – principalmente, o que querem os jovens – para o nosso/deles futuro. Recuando no tempo e ao início da sua carreira universitária: começou na Universidade do Minho, depois de um convite para lançar o curso de Engenharia Biológica. Como aconteceu? Fiz o doutoramento na Universidade do Minho (UM), em colaboração com o Dep. Eng.ª Química da Univ. Birmingham, Reino Unido. No final do doutoramento, o reitor da UM propôs-me coordenar a criação e instalação de um curso e de uma área científica no domínio da Eng.ª Biológica. Foi o primeiro curso de raiz nesta área em Portugal e um dos primeiros na Europa. Os recursos eram parcos nos anos 80 e recordo-me de ter submetido ao reitor um documento com um plano detalhado do
investimento necessário (em docentes, em formação de docentes, em espaços e equipamentos laboratoriais, em consumíveis, etc.) para os primeiros seis anos do curso. Uma vez aprovado, esse plano foi seguido com rigor e, ao fim de sete anos, tínhamos um curso de licenciatura, com dois ramos de especialização (Alimentar e Ambiental), um Mestrado em Tecnologia Ambiental, um Departamento de Eng.ª Biológica, um Centro de Investigação em Eng.ª Biológica e um Instituto de investigação em Biotecnologia e Química Fina (que incluía também o Departamento de Química). O apoio da minha colega Odete Maia foi essencial nesse período. Foram anos entusiasmantes acompanhados, naturalmente, de uns pequenos “obstáculos humanos”, para não se perder a adrenalina. Terminado esse período, estava “sugado” pelas atividades de gestão: para além da direção do curso, do centro e do instituto de investigação, passei pela vice-presidência da Escola de Engenharia, pelo Senado da UM e, mais tarde, em Lisboa, pela vice-presidência da JNICT (atual FCT). Percebi então que tinha chegado o momento de sair dessa espiral e concorri a uma vaga de professor catedrático na FEUP (Dep. Eng.ª Química), que tive a sorte de obter. Seis anos depois, estava a lançar, juntamente com Alexandre Quintanilha, Mário Barbosa e Pedro Moradas Ferreira, o curso de Bioengenharia da UP (o curso com notas de entrada mais elevada na área da Bioengenharia no País e, no ranking de todas as áreas, o 6º curso). Mais uma vez, partimos do zero. Não tenho emenda… Anos mais tarde esteve também envolvido na criação do primeiro grupo de investigação em BioFilmes em Portugal. Esta capacidade para iniciar projetos é uma constante na sua vida? Como explica isso? É verdade: não me interesso muito por cargos de gestão, mas sim por arrancar projetos novos. A verdade é que não tenho apetência por atividades de poder, embora respeite muito os que empenhadamente se dedicam a esses cargos. É que essas funções trazem sempre uma perda de liberdade, que, a par da lealdade (não confundir com fidelidade canina) são os valores que mais prezo. O Jazz é também
O meu lado B Duas: na música erudita, o Addagietto da Sinfonia n.º 5 de Mahler. No jazz, a versão do “My Funny Valentine” gravada pelo Trio de Keith Jarrett no concerto do Japão em 1996. .............. Dois exemplos: Homo sapiens, de Yuval Noah Harari; Poemas de Álvaro de Campos. ..............
Considera que Portugal tem reunidas condições para que se possa desenvolver investigação e ciência ao mais alto nível? Já existem alguns exemplos disso, apesar de haver um certo exagero jornalístico no tratamento de algumas notícias da ciência: de acordo com alguns títulos, a cura definitiva do cancro já teria sido descoberta várias vezes nos últimos anos... Mas isto não é de facto um problema importante para nós, desde que não se criem expectativas irrealistas. A ciência a sério é um trabalho de equipa. Não há equipas a funcionar bem só com Ronaldos, esse é um erro que alguns (poucos) pensadores da ciência em Portugal cometem. Mas a maior falha na sociedade portuguesa é o contexto em que se movem a investigação e muitas outras atividades, incluindo o mundo das empresas. O maior problema da ciência não é a escassez de dinheiro: é a tremenda, absurda e paralisante burocracia, é a falta de previsibilidade (consistência) nas estratégias e financiamentos. As próprias decisões políticas são envenenadas pelas grilhetas da burocracia. Persiste também, mas felizmente cada vez menos, uma antiga deficiência na nossa cultura empresarial de
.............. Chocolate negro, 85% de cacau. .............. Uma viagem impossível: voltar a falar com pessoas a quem não disse, na sua vida, as palavras que sempre estiveram lá para lhes dizer, mas que eu não consegui soltar a tempo. ..............
AS NOSSAS PESSOAS
assim: há regras, há enquadramento harmónico e rítmico, há lealdade com os outros músicos do grupo, mas há uma liberdade criativa que os músicos reforçam todos os dias nas suas improvisações. Na minha profissão, só me senti bem em renovar desafios. Uma parte do estímulo é de interesse pessoal: os desafios da investigação própria. A outra parte é a procura de projetos que contribuam de qualquer modo para o desenvolvimento da sociedade a que pertenço. É uma espécie de responsabilidade difusa a que me sinto geneticamente ligado. Os dois grupos de biofilmes que ajudei a criar (um na Univ. Minho e outro na FEUP) foram algo que me entusiasmou. Até porque os biofilmes são um modelo de sociedade com o qual o Homo sapiens pode aprender muito. Não é por acaso que os biofilmes são o mais antigo sistema social organizado (à parte os sistemas do reino vegetal) no nosso planeta – já existem há biliões de anos e continuarão a existir depois da nossa espécie desaparecer.
Estar com amigos verdadeiros; tocar música, mesmo sofrivelmente. .............. fazer as coisas certas (“do the right thing”)
inovação e desenvolvimento. Ultrapassados ou minorados estes condicionamentos (principalmente, os dois primeiros), os investigadores terão tempo e disponibilidade mental para ir captar mais financiamento a fontes diversificadas e criar condições de trabalho e de remuneração adequadas para contratar e preservar os melhores nas suas equipas. O problema da burocracia é o travão maior do nosso desenvolvimento, (des-) estruturando uma sociedade com base na desconfiança entre os cidadãos. Mesmo os governos que mais tentaram criar condições para fazer avançar a ciência em Portugal (quase sempre, foram governos da área do PS) não conseguiram mexer um milímetro nesta doença. E quando mexeram, quase sempre pioraram a situação. Questão: tentem criar/educar uma criança/jovem dando-lhe a entender que, por princípio, desconfiam de tudo o que ela/ele diz ou faz. Qual será o resultado? Evidentemente mau. A burocracia é ainda um estímulo à desonestidade: basta confirmar a correlação que existe entre os níveis de corrupção e de burocracia dos vários países.
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© Susana Neves
Dois exemplos: Midnight in the garden of good and evil” (“Meia noite no jardim do bem e do mal”), dirigido por Clint Eastwood; “The remains of the day” (“Despojos de um dia”), dirigido por James Ivory, baseado no livro de Kazuo Ishiguro.
AS NOSSAS MEMÓRIAS
Texto: Raquel Pires* Fotografia: D.R.
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MOTOR DE HAVILLAND “GOBLIN” (1941) É uma das peças de coleção da Faculdade de Engenharia e está exposto no átrio do Departamento de Engenharia Mecânica: é um motor que foi desenhado para um dos aviões planeados para combater na II Guerra Mundial, em 1943. À época, Portugal recebeu dois exemplares. Foi usado como peça de demonstração em aulas e também responsável por levar a ponta do dedo de um aluno mais curioso.
Ano Letivo 1962-63. Um exemplar de “motor de avião Goblin” aterra na Rua dos Bragas, nas instalações da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), por oferta das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico de Alverca (OGMA), provavelmente a pedido do professor José Carlos Leão da Silva Cunha. Os cortes e adaptações realizados para mostrar o interior do motor foram executados por funcionários das oficinas de Mecânica, sob a orientação do engenheiro Fernando Manuel Fernandes de Oliveira, então responsável pelo laboratório de ensaios tecnológicos (LET). Este motor – hoje inativo e alterado – cumpriu um papel de destaque na história da Força Aérea Portuguesa (FAP). Desenhado para combater na II Guerra Mundial (19411945), o primeiro protótipo do motor que equipou os aviões De Havilland Vampire foi usado nos primeiros voos de teste em setembro de 1943, iniciando-se a produção em março de 1943, com a versão DH Vampire F.1. Construíram-se 120 unidades. Embora tenha sido o segundo caça
a reação de produção britânica – o primeiro foi o birreator Gloster Meteor – não chegou a participar no conflito, dado que os Vampire só chegaram às unidades de combate em 1946, depois de terminada a guerra. No entanto, dado o sucesso alcançado, sem demora apareceram outras versões, mais evoluídas: em maio de 1948, um DH Vampire F.1 bateu o recorde mundial de altitude, subindo a 59.446 pés (18 000 m). A produção total dos DH Vampire, nas diferentes versões, ultrapassou os 4.000 exemplares, muitos deles construídos sob licença na Índia, Austrália, França e Itália. Com o vertiginoso progresso dos aviões a reação, os Vampire ficaram desatualizados como aviões de combate. Foram, então convertidos em aviões de instrução, sob diversas designações, entre elas a DH-115 Vampire T.55. Para Portugal, vieram dois exemplares que estiveram ao serviço da Força Aérea Portuguesa de setembro de 1952 até 1962.
AS NOSSAS MEMÓRIAS
Em meados da década de 50, os DH-115 Vampire encontravam-se na Base Aérea 3, em Tancos, onde raramente voavam, absolutamente desenquadrados entre os trimotores Junkers Ju-52/3m, alguns bimotores Oxford e os monomotores ligeiros Piper L-21 Super Cub, numa base cuja atividade primária era o apoio aos paraquedistas e às Unidades do Exército de Tancos, Santa Margarida e Vendas Novas. É possível que tenham regressado à Base Aérea 2, em 1956. Uma vez que não estavam a ser utilizados, foram vendidos no princípio dos anos 70. Totalmente pintados em alumínio, ostentavam a Cruz de Cristo, sobre círculo branco, no extradorso da asa esquerda
e no intradorso da asa direita, bem como nos lados exteriores dos fusos de ligação aos estabilizadores da cauda. As cores nacionais, sem escudo, encontravam-se em retângulos colocados nas faces exteriores dos estabilizadores verticais. As matrículas estavam pintadas a preto nas asas em alternância com a insígnia e nas faces exteriores dos lemes de direção e não sobre as cores nacionais, devido à pequena dimensão dos estabilizadores verticais. Tratando-se de um par, pintaram num uma boca masculina e no outro uma boca feminina. O Museu do Ar possui um DH 100 Vampire F B 9, ex – Força Aérea da África do Sul que, embora de modelo diferente, é semelhante aos De Havilland DH-115 Vampire T.55 adquiridos pela FAP. * com Mário Vaz, professor Associado DEMec
Esta rubrica é uma viagem pelos objetos históricos da FEUP: destacar as peças emblemáticas e algumas coleções que à época permitiram validar conceitos e inovar a forma como se transmitiram conhecimentos.
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A aquisição destes aviões tinha por objetivo a preparação dos pilotos da Força Aérea para operar aviões a reação, embora na prática não tenha resultado. Primeiro, por serem de origem britânica, o que causou dificuldades de adaptação aos nossos pilotos destinados às esquadras de caça que, na sua maioria, tinham recebido treino nos EUA ou em bases americanas na Alemanha Ocidental; segundo, porque os aviões de reação que a FAP veio a receber – os F-84G Thunderjet – eram de origem americana.
MUITO + QUE ENGENHARIA
João Matias: partir da FEUP em direção às nuvens
Texto: Helena Peixoto Fotografias: João Matias
Depois de quatro anos a estudar Engenharia Mecânica na FEUP, ganhou coragem e foi atrás do sonho da sua vida: pilotar aviões! João Matias é a prova de que, com determinação e perseverança, o limite está para lá do céu!
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esde cedo demonstrou interesse por tudo o que envolvesse mecanismos, raciocínio lógico e tecnologias. Seguir uma carreira na Fórmula 1 ou numa grande empresa de aviação (idealmente como piloto ou, como alternativa, no ‘backstage’) fazia parte dos objetivos de João Matias e, como tal, a escolha do Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica desde logo lhe pareceu a mais indicada. Já a preferência pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) deveu-se à inegável reputação associada a estas áreas: ‘seria uma honra concluir o curso numa faculdade tão prestigiada’, refere. Natural de Leiria mas a viver atualmente em Leça da Palmeira, João frequentou a FEUP de 2008 a 2012. E se inicialmente os seus objetivos passavam por concluir os estudos e só depois avançar rumo ao sonho de ser piloto, o ano de 2012 marcou o momento de ‘viragem’: surgiu a oportunidade de viajar para a Flórida e tirar o curso de piloto por intermédio de um amigo de Leiria que já o havia feito. Com a ajuda e apoio indispensáveis dos seus pais decidiu arriscar, suspendeu o curso e voou para o outro lado do oceano.
O curso, extremamente intensivo e com pouco tempo para pausas, decorreu de dezembro de 2012 a maio de 2014. Graças à sua excelente prestação, a própria escola acabou por lhe oferecer a oportunidade de permanecer na instituição como Instrutor de Voo, oportunidade que aceitou sem pestanejar e que abraçou até abril de 2016, altura em que regressou à Europa para trabalhar na empresa aérea ‘Ryanair’, companhia que ainda hoje integra. E não, não se consegue ser piloto de um dia para o outro. Depois de ingressar na empresa aérea irlandesa, João começou com aulas teóricas em abril e só em setembro pôde voar! Afinal, são muitos os procedimentos a estudar. Todos os pilotos passam por um curso muito intensivo de dois meses (entre aulas teóricas e simuladores) para se qualificarem à condução do Boeing 737. Além disso, esta é uma profissão de estudo contínuo! Na Ryanair, por exemplo, é realizada uma avaliação semestral com exames escritos e com 15 horas de simulador nas quais é necessário lidar com várias situações de emergência e com problemas técnicos.
Mas a verdade é que esta profissão tem tanto de exigente quanto de maravilhoso: ‘não há nada mais gratificante do que acabar o dia sem que haja algo de novo para contar. É sinal de que fizemos o nosso trabalho com a máxima responsabilidade e competência, em que correspondemos à confiança que os nossos passageiros depositaram em nós’, conta-nos o antigo estudante da Faculdade de Engenharia. ‘A sensação de pilotar um avião, seja ele um Cessna ou um Boeing, é algo indescritível que não passa com o tempo. A liberdade de voo e a facilidade com que viajamos de avião hoje em dia é algo que as pessoas já tomam por garantido.
MUITO + QUE ENGENHARIA
A segurança e a fiabilidade destas máquinas são um feito tremendo que continua a evoluir com o passar dos dias’, acrescenta. Outra das vantagens associadas a este cargo é a possibilidade de conhecer o mundo! De todos os países que já teve a oportunidade de visitar, João mantém o seu fascínio pela cultura norte-americana, em especial por Nova Iorque, mas não deixa de referir a sensação indescritível que é sobrevoar território nacional. Planos para o futuro? Sim, o ‘ex-estudante’ de engenharia tem tudo muito bem definido: em 2019 vai fazer o upgrade para escalar de Copiloto a Comandante, função que quer exercer até à idade da reforma (65 anos). Depois disso, apesar de já não ser possível voar a nível comercial, pretende continuar a dar instrução. Mas então, de que forma entra a FEUP nesta equação? As palavras saem da própria boca de João Matias: ‘A FEUP faz parte do meu percurso, foi onde fiz amigos para a vida. Para mim sempre será um orgulho dizer que frequentei a FEUP, onde adquiri bases muito sólidas, conhecimentos matemáticos aprofundados e lidei com verdadeiros cérebros da Engenharia portuguesa’. Caso para dizer que a Faculdade de Engenharia foi a ‘rampa de lançamento’ rumo às nuvens e mais além!
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ENGENHARIA 59 FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Como em todas as profissões, existem momentos mais desafiantes. E se esses momentos forem vividos a vários milhares de pés de distância do solo, a adrenalina é verdadeiramente posta à prova: num dos voos que instruiu, pouco tempo após a descolagem, foi detetada uma falha de motor (num avião monomotor) que não voltou mais a pegar. Como lidar com uma situação assim? João conta que a chave para manter a calma é o conhecimento! Imediatamente tomou os controlos e voltou a apontar o avião para o aeroporto. Completou os procedimentos necessários, reportou à torre de controlo a situação de emergência, fez uma boa gestão de velocidade e altitude e conseguiu aterrar o avião numa das pistas do aeroporto de onde tinham descolado com sucesso.
A fechar Days to remember...
E O PRÉMIO CARREIRA DA FEUP VAI PARA... Luís Valente de Oliveira! Engenheiro, professor universitário, educador, gestor e político, o antigo Professor Catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) assumiu, ao longo da sua vida, todas estas facetas com elevada distinção, exemplos claros de excelência que lhe garantiram a 1ª edição do Prémio Carreira da FEUP. Entregue anualmente, o galardão tem por objetivo premiar um diplomado pela Faculdade de Engenharia que se tenha distinguido ao longo da sua carreira, que constitua uma referência profissional para os seus pares e para a comunidade, e que tenha contribuído para a consolidação da imagem da FEUP enquanto escola de referência na área da Engenharia. A entrega do Prémio Carreira da FEUP 2018 vai ser feita numa cerimónia agendada para o próximo dia 14 de março, na Faculdade de Engenharia. Mais informações em: fe.up.pt/premiocarreira
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Sabia que? Em 2019 assinalam-se os 150 anos da criação da tabela periódica dos elementos químicos pelo russo Dimtri Ivanovich Mendeleiev? Ao longo do ano muitas vão ser as iniciativas em torno desta efeméride, promovidas pela Sociedade Portuguesa de Química www.iypt2019.pt
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RESEARCH work with FEUP scholars on cutting-edge challenges
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fe.up.pt/prime
A nova marca da CUF no setor químico. Inovar para liderar.
O mundo da CUF sempre foi composto de mudança. Constantes foram sempre as ligações a Portugal, às pessoas e ao futuro. Hoje, os desafios internacionais levam-nos a assumir uma nova marca: Bondalti. Reforçando a nossa herança e uma forma de estar onde a eficiência e a criação de valor se conjugam com a sustentabilidade e os valores humanos. bondalti.com