EN GE NHA RIA 61
REGISTRATIONS
Online registration opens soon on BIN@PORTO 2021 website
CONTACTS
feupbin@fe.up.pt
fe.up.pt/binporto2021
Organised by:
Supported by:
REGISTRATIONS
Online registration opens soon on BIN@PORTO 2021 website
CONTACTS
feupbin@fe.up.pt
fe.up.pt/binporto2021
Organised by:
Supported by:
EDITORIAL
. Engenharia para uma Sociedade mais Sustentável A ABRIR
Novos Edifícios para a FEUP
FEUP NO MUNDO
Acontecimentos com ADN FEUP
FEUP lidera projeto inovador na área da agricultura FEUP instala Unidade de Produção Fotovoltaica de Autoconsumo
. Web Summit premeia projeto português de combate à poluição dos oceanos
O primeiro comboio português a hidrogénio terá
ADN FEUP
NOVOS TALENTOS
. Entrevista a José Pedro C. Reis: “A máquina não sente realmente”
Estudantes da FEUP dominam competição de ideias contra a fome Fraunhofer Portugal Challenge 2020 consagra tecnologias aplicadas à saúde
ADN FEUP
. Opinião Pedro Ramalho: “Nos 20 anos dos edifícios da FEUP”
Entrevista a Etienne Huret: “O Porto foi um fator decisivo para o nosso sucesso”
. Opinião Pedro Amorim: “Vacinas e Operações”
Entrevista a Branca Gonçalves: “Fomos pioneiros na abertura da Universidade ao exterior”
. Entrevista a Ricardo Fernandes: Da ilha da Madeira para a logística da Louis Vuitton em Espanha
Embaixadores Alumni@FEUP: Rui Guimarães
MUITO + QUE ENGENHARIA
. Entre a música, a magia e a Física
Em setembro de 2000 a FEUP transferiu todas as suas atividades de educação, investigação e inovação para as atuais instalações. A cerimónia de inauguração ocorreu em 22 de março de 2001 com a presença de S. Exa. o Presidente da República.
A FEUP está assim a comemorar os 20 anos neste campus com diversas iniciativas (fe.up.pt/20anosasprela).
Desde 2000 houve um significativo desenvolvimento e melhoria da qualidade das unidades de investigação e dos programas de educação, com impacto positivo crescente na economia e na sociedade.
De forma progressiva e segura tem-se assistido à consolidação e crescimento das unidades de investigação e institutos de interface. No nosso Campus vieram a ser localizados alguns dos principais institutos de interface da U.Porto, contando com forte colaboração e liderança de docentes da FEUP.
Assistiu-se a um aumento sustentado da oferta educativa tendo muitos dos nossos ciclos de estudo consolidado posições de destaque a nível nacional e internacional. O Mestrado Integrado em Engenharia e Gestão Industrial teve este ano a média de acesso mais elevada no concurso nacional de acesso ao Ensino Superior. A FEUP conta hoje com 16% de estudantes internacionais de grau, destacando-se 11% de nacionalidade brasileira.
O crescimento dos últimos anos vem mostrando a necessidade de dotar o
Campus com novos espaços destinados a oferecer mais e melhores condições de trabalho a estudantes, docentes, investigadores e técnicos para que a FEUP possa cumprir ainda melhor a sua Missão.
Está assim em estudo a construção de dois novos edifícios do lado nascente do Campus. Um dos edifícios deverá acolher o DEGI e o DEI, novos auditórios, novos espaços de trabalho para estudantes e ainda um arquivo documental. O outro edifício deverá acolher laboratórios multidisciplinares para aulas e ficará com uma área de reserva, flexível, para ser definida a sua ocupação posteriormente. Está ainda previsto um terceiro edifício, do lado norte, destinado a serviços complementares, nomeadamente restauração e eventos.
A FEUP submeteu o PIP - Pedido de Informação Prévia - em abril, elaborado pelo Arq. Luís Ramalho, tendo sido aprovado pela Câmara Municipal do Porto em outubro. Este estudo de expansão do campus contempla a construção dos dois edifícios referidos, cada um com 1200m2 de área de implantação e 7000m2 de área de construção, e do terceiro com área de implantação na ordem de 400m2
O espaço que ficará livre nos edifícios dos atuais departamentos deverá ser redirecionado sobretudo para permitir melhorar as condições de investigação, incluindo mais espaço para trabalho dos estudantes de doutoramento.
Considerando ainda o potencial de crescimento expectável de algumas
unidades de investigação e inovação da FEUP está também em estudo um plano de expansão para a construção de infraestruturas no lado nascente da A3/A4 em terrenos da U.Porto afetos ao desenvolvimento da FEUP.
O projeto global está a ser desenvolvido para garantir a qualidade, segurança e flexibilidade das atividades de educação e investigação, com suporte extensivo em meios digitais de apoio ao trabalho. O projeto tem ainda como objetivo reforçar a cooperação da FEUP com empresas, respeitando os objetivos de desenvolvimento sustentável. E prevê se ainda dotar o Campus de um ponto de encontro que promova a comunicação.
Este projeto conta já com o envolvimento de um grupo de empresários e tem sido dinamizado com a colaboração superior do Prof. Luís Valente de Oliveira. Espera-se deste grupo aconselhamento estratégico e a promoção de doações que permitam complementar a capacidade de financiamento da FEUP e da U.Porto.
Estamos assim a entrar numa nova fase importante de evolução onde todos somos necessários, incluindo os Alumni e parceiros externos. Espero que os contributos desta Comunidade alargada, com base em todo o seu conhecimento, experiência e capacidade de fazer, possam também continuar a ajudar a FEUP a ser melhor no futuro contribuindo para uma Sociedade mais Sustentável.
Área total do prédio: 93.060 m2
Número de pisos: 7
Total área de construção: 8.150m²
Departamento de Engenharia e Gestão Industrial
Departamento de Engenharia Informática
Arquivos
Auditórios
Área total de construção: 17.530 m2
relativos a ampliação face ao existente no Campus da FEUP
Número de pisos: 6
Total área de construção: 6.950m²
Laboratórios
Ensino
Número de pisos: 6
Total área de construção: 1.230m²
Restauração
Apoio Eventos
Área bruta de construção: 12.320 m2
relativos a ampliação face ao existente no Campus da FEUP
Novos espaços verdes propostos: 1400m2
FASE IInvestigadora da FEUP Helena Braga é a Personalidade do Ano do “Portugal Tecnológico” pelo seu contributo no desenvolvimento de uma nova geração de baterias inovadoras novembro 2020
Alumnus Miguel Xavier conquista bolsa Marie Curie desenvolvimento de um dispositivo que simula a digestão absorção intestinal de fármacos. outubro 2020
Estudante da FEUP vence maior programa de aceleração nacional de turismo dezembro 2020
Alumnus National de setembro
Alumna FEUP Monique Branco conquistou Mário Quartin Graça 2020, tendo melhores teses de doutoramento outubro 2020
Curie para digestão e a
Estudantes da FEUP no pódio de competição europeia de Engenharia e Gestão Industrial março 2021
abril 2021
Investigador da FEUP vence Medalha Manson-Coffin IGF 2021 julho 2021
Alumnus Cláudio Lopes recebe 4 milhões do Luxembourg National Research Fund para desenvolver próxima geração de materiais compósitos setembro 2020
conquistou o Prémio Científico tendo sido considerada uma das da América Latina
Sérgio Guedes Silva, alumnus FEUP, ajuda Programa Alimentar Mundial a vencer Prémio Franz EdelmanFoi um dos finalistas da 7ª. edição do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola. Nomeado na categoria “Alimentação, Nutrição e Saúde”, o “CROPEO” quer proteger os cereais armazenados contra pragas e doenças, com especial foco na proteção de grãos de milho. O dispositivo agrícola conta já com uma patente nos EUA.
Foi “a elevada degradação de alimentos armazenados nos países subdesenvolvidos” que levou Margarida Bastos, investigadora do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE) da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), e António Mexia, investigador do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa (ISA), a dedicarem-se ao desenvolvimento de uma tecnologia capaz de proteger os cereais armazenados em silos livres de fungos e insetos. Juntamente com uma equipa de investigadores da FEUP, do ISA e do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) desenvolveram um dispositivo agrícola que contém óleos essenciais com atividade inseticida e fungicida, o que permite uma libertação contínua e controlada dos seus voláteis. O projeto conta já com uma patente nos EUA e é visto como uma solução sustentável que garante a segurança alimentar nos países em desenvolvimento, com acesso limitado a recursos de proteção de cereais armazenados.
Com vista a alcançar a concessão da patente europeia, estão a decorrer diferentes testes de combinações de óleos essenciais em colaboração com a Faculdade de Ciências da U.Porto, mais concretamente no Campus de Vairão. “No total foram preenchidos 108 frascos e 6 bidões com 462 Kg de
milho previamente tamisados”, explica Ana Aguiar, docente da Faculdade de Ciências e investigadora do Laboratório de Proteção das Culturas da U.Porto (GreenUPorto).
“Ao longo de nove meses, têm sido recolhidas amostras mensais de forma a avaliar os efeitos inseticidas e fungicidas dos óleos testados, através da análise da mortalidade dos insetos, aferição dos danos nos grãos, identificação dos fungos e medição da quantidade de farinha de milho resultante do desenvolvimento destes organismos”, acrescenta. Dentro dos bidões, testam-se ainda temperatura e humidade, o que permite uma monitorização em tempo real do desenvolvimento das atividades metabólicas dos insetos e fungos.
O “CROPEO” tem origens no ‘Microprotect’, um projeto iniciado em 2012, na Faculdade de Engenharia. Na altura o objetivo passava por iniciar uma linha de investigação sobre o uso de óleos essenciais encapsulados para proteção de cereais e leguminosas armazenados. Em 2015 o projeto evoluiu e despoletou várias candidaturas a programas de apoio à inovação: o BIP Proof – Programa de Atribuição de Apoios para Prova de Conceito da Universidade do Porto – foi um deles, tendo o ‘CROPEO’ sido, em 2018, um dos 10 projetos financiados.
Está concluída a empreitada de instalação de uma unidade de produção fotovoltaica de autoconsumo na Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP). Durante os 6 meses da obra, foram instalados 708 painéis nas coberturas de alguns edifícios do campus, numa área que ronda os 1420 m². Além de contribuir para a implementação de políticas sustentáveis de energia, a instalação destes painéis vai permitir também reduzir os custos relativos ao consumo de eletricidade.
“Estima-se que esta instalação produza 412 MWh (produção equivalente ao consumo de 260 habitações), o que representa cerca de 7% do consumo anual da FEUP em energia elétrica em 2019 e uma poupança anual nos custos na ordem de 50 mil euros”, refere Carlos Rodrigues, um dos membros do Conselho Executivo da FEUP. No que diz respeito a emissão de CO2, os valores estimados apontam para uma redução de 82 toneladas por ano.
Os custos totais com a obra executada pela empresa DST Solar rondam os 233.270 mil euros, a que acrescem mais 9.963 mil euros relativos à fiscalização e coordenação de segurança, suportados na totalidade por verbas Santander (no âmbito do protocolo com a U.Porto).
Com uma área construída superior a 85.000 m2 e um uso muito intensivo, a Faculdade de Engenharia tem revelado uma forte preocupação com a eficiência energética nas suas instalações. Nos últimos cinco anos têm vindo a adotar-se medidas que con-
duziram a uma diminuição sustentada do consumo anual de energia em cerca de 135 mil euros.
Foi o caso da substituição de fontes de iluminação para equipamentos LED, em 2015, de modo a baixar os consumos ligados à iluminação artificial nos espaços de uso comum de todos os edifícios: corredores, instalações sanitárias, elevadores e caixas de escadas, assim como todas as salas de aula e computadores do bloco B, o edifício da Biblioteca e o Centro de Informática e também o dos Serviços Administrativos, além dos parques de estacionamento.
Ainda no âmbito das medidas de apoio à mobilidade sustentável, foram instalados dois pontos de carregamento de veículos elétricos (carregadores rápidos) localizados no parque de estacionamento P1, que permitem o carregamento simultâneo de quatro veículos.
A utilização destes carregadores é reservada a Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE) aderentes à rede MOBI.E que sejam simultaneamente membros da comunidade FEUP ou outros devidamente autorizados.
A instalação foi parcialmente financiada pelo Fundo Ambiental no âmbito de concurso aberto em 2018 para apoio à aquisição e instalação de postos de carregamento de veículos elétricos em campi universitários.
Para breve está prevista a instalação de carregadores fotovoltaicos para bicicletas elétricas, tendo sido já instaladas tomadas exteriores para o carregamento das baterias das bicicletas elétricas bem como bicicletários em diferentes pontos do campus no âmbito do projeto U-Bike da U.Porto.
No campus da Asprela, 708 painéis foram instalados numa empreitada que durou 6 meses. Medida enquadra-se nas políticas de sustentabilidade energética e ambiental e vai permitir uma poupança anual de custos com a eletricidade na ordem dos 50 mil euros.
O projeto SMART, que agrega investigadores de cinco instituições portuguesas - entre elas o Laboratório de Sistemas e Tecnologias Subaquáticas (LSTS) da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) - foi o vencedor da 1.ª edição do concurso “AI Moonshot Challenge” promovido pela Web Summit. São 500 mil euros para desenvolver um projeto de combate à poluição nos oceanos.
“Estima-se que 80% dos detritos flutuantes presentes no oceano sejam de material plástico, situação que representa uma grave ameaça não só para a vida marinha, mas também para a saúde humana. O nosso objetivo é, portanto, fazer convergir técnicas de inteligência artificial, modelação, robótica e observação remota, para garantir a identificação e seguimento de micro-plásticos”, garante João Tasso, diretor do LSTS, visivelmente satisfeito com este prémio.
O investigador da Faculdade de Engenharia destaca também a forma orgânica e simples que deu origem a este projeto, num compromisso sério de resolução de um dos principais desafios da atualidade e que “só pode ser equacionado na base da cooperação nacional e internacional”. A equipa é liderada pelo Centro de Recursos Naturais e Ambiente (CERENA-IST) e integra, além do LSTS da FEUP, mais três entidades: o Laboratório Associado Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), o Instituto Hidrográfico e o MIT-Portugal.
Juntos pretendem “conjugar a aprendizagem automática (da inteligência artificial) com os princípios das leis da física para construir modelos de previsão e simulação da acumulação de plástico no oceano” a partir de dados recolhidos por satélite. Os investigadores vão recorrer a dados de satélite do programa Copernicus para determinar as frequências adequadas para a deteção de plástico em massas de água e complementar essa informação com modelos que simulam o comportamento do oceano.
Em comunicado, Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, afirma que o “uso de dados de satélite, nomeadamente do programa Copernicus, permite encontrar soluções de larga escala para alguns dos muitos desafios que colocam as alterações climáticas”.
O júri - presidido pela bióloga Carolina Sá e por Paolo Corradi, engenheiro de sistemas na Agência Espacial Europeia (ESA) - valorizou ainda o facto de os investigadores portugueses preverem usar “veículos autónomos marítimos para validar os resultados e recolher ainda mais dados”.
AI MOONSHOT CHALLENGE
Lançado durante a edição de 2019 da Web Summit, o“AI Moonshot Challenge”e os vencedores foram anunciados na edição deste ano da cimeira tecnológica que decorreu em Lisboa de 2 a 4 de dezembro 2020, e que visa encontrar“ideias disruptivas” e novas soluções que combinem tecnologias de computação, dados de satélite e inteligência artificial para resolver problemas no âmbito das alterações climáticas.
Para Paulo Dimas, vice-presidente de Inovação de Produto da Unbabel, empresa que apoia o “AI Moonshot Challenge”, “a inteligência artificial tem o potencial de ser capaz de conjugar todos estes dados e encontrar padrões e fazer deteções onde geralmente não seria possível”.
CP quer transformar “Vouguinha” no primeiro comboio português a hidrogénio. IP vai ceder linhas, a partir de 2023, para testes de protótipo desenvolvido por três países.
Projeto ‘H2Rail’ junta academia e empresas rumo a um futuro mais verde através da implementação de hidrogénio na rede ferroviária portuguesa.
A andar a todo o vapor, ou, aliás, a hidrogénio: assim se poderá falar do projeto ‘H2Rail’, que estuda a transformação das automotoras a gasóleo em circulação na Linha do Vouga. Em causa está a possibilidade de substituição de um motor a diesel por células de combustível a hidrogénio, que geram eletricidade, em linha com a estratégia do Governo de descarbonização dos transportes através da aposta no hidrogénio verde.
Unindo a academia e o tecido empresarial na procura por um futuro mais sustentável, o projeto nacional reúne as competências transversais da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), CaetanoBus, Comboios de Portugal (CP), NomadTech e Associação Portuguesa para a Promoção do Hidrogénio.
Adriano Carvalho, diretor do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da FEUP e responsável pela equipa da faculdade que fará parte do ‘H2Rail’, contextualiza a importância do projeto que viabiliza a opção do hidrogénio como produtor de energia, ao invés do investimento na total eletrificação da rede ferroviária.
“Há uma série de linhas que não estão eletrificadas onde existem comboios a diesel, compostos por
um motor a diesel que serve para alimentar um gerador elétrico. O objetivo é substituir este conjunto por uma célula de combustível a hidrogénio, que produz energia elétrica. Esta transformação reduzirá custos, uma vez que a eletrificação das linhas é algo mais dispendioso”, esclarece o professor.
Liderado pela CP, o ‘H2Rail’ já conta com pedido de financiamento europeu, juntamente com as restantes iniciativas aprovadas pelo Governo no âmbito do hidrogénio verde. Em simultâneo, foi igualmente apresentada uma proposta para obtenção do estatuto de projeto de interesse comum para a área do hidrogénio (estatuto IPCEI).
34,6 milhões de euros é o valor necessário para alavancar as seis etapas do projeto. Entre estudos de viabilidade técnica e financeira e a construção do protótipo, a previsão para a chegada à fase de testes será 2023.
O objetivo final será “expandir as composições de hidrogénio para as restantes linhas ferroviárias”, como avança Adriano Carvalho, mas, primeiro, “para que a linha do Vouga fique operacional, é necessário que, em simultâneo, existam já os postos de abastecimento para o efeito”.
Aos 14 anos começou a programar. Vivia fascinado por linhas de código e entender como funcionavam os computadores. Depois de um curso tecnológico em informática, João Pedro C. Reis ingressa no Mestrado Integrado em Engenharia Informática na FEUP. Seguiu-se o doutoramento (2013) na mesma área e o fascínio transferiu-se para sistemas de aprendizagem computacional e inteligência artificial. Hoje, com 31 anos, é investigador do Centro de Investigação para Sistemas & Tecnologias (SYSTEC).
Como surgiu a oportunidade de fazer investigação no Systec?
Após ter terminado o meu curso na FEUP, estive a trabalhar na Dinamarca durante um período, mas a área na qual trabalhava não era a mais apelativa para mim. Regressei e falei com o professor Gil Gonçalves que tinha sido o meu orientador de dissertação, e cuja linha de investigação continuava a despertar-me muito interesse. Poucos tempo depois surgiu a oportunidade de integrar o i-RAMP3, um projeto europeu que me abriu as portas no Systec. Aqui, a nossa filosofia de trabalho é focada no domínio de especialização dos investigadores e não tanto na alocação por projeto. Isto na prática traduz-se na possibilidade de um investigador desenvolver uma área de conhecimento específica e de posteriormente a aplicar em vários projetos de investigação. Apesar da contratação ser no âmbito de um projeto, esta especialização evita que diferentes investigadores estejam a resolver um mesmo problema, maximizando o potencial e motivação dos investigadores que integram o Systec.
Dentro da dinâmica do Systec em que projetos está a colaborar?
O meu trabalho tem como foco a aplicação de algoritmos de inteligência artificial na indústria transformadora. Intervenho em vários tópicos como previsão de falhas, prescrição de soluções para aumento de qualidade de produto, reconfiguração automática de software considerando restrições de chão de fábrica e digitalização de equipamentos como máquinas,
Texto: Raquel Pires Fotografia: D.Rsensores, atuadores, produtos e até pessoas. Por vezes, por limitações das técnicas existentes, existe também a necessidade de investigação a nível mais fundamental, principalmente em novos algoritmos que sejam capazes de endereçar os problemas encontrados. Dito de outra forma: o meu principal objetivo é tornar o chão de fábrica ainda mais inteligente e interoperável, tirando um maior proveito dos recursos existentes, beneficiando por último o consumidor final com tempos de resposta mais rápidos e qualidade de produtos superior.
O projeto europeu RECLAIM é um dos predominantes na minha investigação neste momento. O objetivo principal passa pela exploração de soluções para a extensão de vida útil de equipamentos que possam estar em fim de “vida” ou que sejam já bastante antigos (e.g. 25 anos), e que assim possam responder a esta era da digitalização. A minha função é trabalhar no desenvolvimento de soluções baseadas em inteligência artificial para melhor determinar que ações devem ser aplicadas para rejuvenescer estes equipamentos.
Estou também envolvido no Zero Defects 4.0, um projeto europeu coordenado pela Sonae Arauco, que tem por objetivo o desenvolvimento de algoritmos baseados em aprendizagem computacional para minimizar defeitos de qualidade no chão de fábrica (ou na melhor das hipóteses, evitando-os) através da previsão de perdas de qualidade usando as condições atuais de produção.
Saliento ainda o INDTECH4.0, um projeto de âmbito nacional liderado pela PSA Mangualde. O principal objetivo aqui é maximizar a capacidade produtiva da empresa como um todo, através de múltiplas áreas como robótica colaborativa, visão artificial, digitalização, aprendizagem computacional, simulação e otimização para decisões estratégicas a médio-longo prazo.
É um novo patamar no conceito de “revolução industrial”?
Estes projetos em que estou diretamente envolvido no Systec enquadram-se numa lógica que pretende atingir a customização em massa. É um conceito intimamente associado ao tipo de produção da quarta revolução industrial que estamos a passar e define-se por fornecer ao cliente final um produto exclusivo, feito à medida, e que melhor se adequa às suas necessidades, mas pelo preço que pagaria por um produto standardizado, que normalmente é reduzido devido a grandes volumes
de produção. Tudo isto tem um forte peso na vida das pessoas visto que a indústria transformadora toca praticamente em todos os aspetos das nossas vidas. Basta olharmos para todos os elementos da nossa casa e pensarmos que todos, eventualmente, saíram de uma fábrica. Desde os tijolos e tubagens que a compõem até aos medicamentos que tomamos, são todos eles fruto de um processo industrial. Sendo que vivemos numa era especialmente consumista que se intensificou nesta fase de crise pandémica pela qual ainda estamos a passar, qualquer redução ou quebra na produção acaba por ter, inevitavelmente, fortes implicações para todos nós.
Na sua opinião, há limites éticos para a inteligência artificial?
Neste momento, na academia estão a ser traçados já limites ao poder computacional da inteligência artificial, onde, de acordo com os algoritmos existentes, há certas classes de problemas que não conseguem ser resolvidos. Acredito que grande parte das limitações, sobretudo matemáticas, serão ultrapassadas mais tarde ou mais cedo.
Se apenas considerarmos a aplicabilidade da inteligência artificial para os problemas rotineiros e tarefas especializadas das nossas profissões, que envolvem maioritariamente uma vertente racional, então, já existem sistemas que ultrapassam o desempenho humano em muitas dessas tarefas. Estes sistemas são baseados sobretudo em aprendizagem computacional e reconhecimento de padrões, onde tem havido grandes progressos na literatura nos últimos anos. Apesar de haver também implicações éticas sobre este ponto, como a polarização política nas redes sociais e parcialidade de algoritmos que compõem sistemas de apoio à decisão em sistemas jurídicos, gostaria de explorar uma vertente diferente e menos convencional e que tem a ver com uma reflexão mais fundamental sobre a inteligência artificial. Refiro-me à corrente que defende o replicar de todas as funções do cérebro humano e a sua implementação num meio artificial: defendo que neste caso há a limitação do substrato artificial não suportar algumas funções essenciais do substrato biológico. Este último tem subjacente a função de “sentir”, que nos é familiar através da fome, vergonha, paixão ou arrependimento, sem a qual a inteligência artificial estará sempre limitada. Pode considerar-se uma máquina como inteligente utilizando apenas um algoritmo bem orquestrado que simula ou emula um conjunto de sentimentos, mas a questão é que todo o processo de aprendizagem/modelação que
Engenharias geram sinergias. E é nessa premissa que se inspira o ARISE – Produção Avançada e Sistemas Inteligentes, um dos novos Laboratórios Associados aprovados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e resultado de um consórcio entre diversas unidades de I&D portuguesas, liderado pelo SYSTEC –Centro de Investigação em Sistemas e Tecnologias da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP). O objetivo? Apoiar a renovação e a reindustrialização dos sistemas de produção e de construção nacionais, no seio de um quadro de descarbonização que assegure a sustentabilidade ambiental e socioeconómica do país.
O novo Laboratório Associado, com um potencial claro de criação de emprego científico qualificado, reúne 255 investigadores das universidades de Coimbra, Porto e Minho e do Instituto Politécnico de Leiria, juntando sinergias essenciais para o desenvolvimento de investigação científica e técnica de excelência a ser aplicada em diversos setores, nomeadamente em Políticas Públicas e no Plano de Recuperação e Resiliência nacionais.
Com foco nas áreas de investigação de Sistemas Avançados de Produção, Construção, Robótica, Materiais, Energia, Gestão e Tecnologias de Informação, o consórcio cria um quadro interdisciplinar único que articula ciências e tecnologias fundamentais com os mais diversos ramos da Engenharia: Civil, Eletrotécnica, Mecânica e Materiais.
Ao SYSTEC, junta-se o Centro para o Desenvolvimento Rápido e Sustentado de Produto (CDRSP) do Instituto Politécnico de Leiria, o Centro de Engenharia Mecânica, Materiais e Processos (CEMMPRE) e o Instituto de Sistemas e Robótica (ISR-UC) da Universidade de Coimbra e o Instituto para a Sustentabilidade e Inovação em Estruturas de Engenharia (ISISE), uma unidade de investigação e desenvolvimento partilhada entre a Universidade do Minho e a de Coimbra.
systec.fe.up.pt arise.la.org
levou a essa simulação fidedigna não teve como base um sentimento com substrato biológico. Ou seja, a máquina não sente realmente. Isto faz toda a diferença num sistema de inteligência artificial, no sentido fundamental que descrevo, visto que a maioria das decisões e ações humanas são feitas tendo por base, não só, mas também, o sentimento.
Como vê a utilização de inteligência artificial em sistemas biónicos?
Um sistema de inteligência artificial a nível fundamental não levanta grandes problemas a nível ético, desde que o meio onde é executado seja - como o nome indica - artificial. Porém, estes sistemas acabam por ter implicações éticas grandes quando aplicados em sistemas biónicos, como temos vindo a assistir nos últimos anos. Empresas como a “Neuralink” de Elon Musk propõem-se a desenvolver uma interface cérebro-máquina que permitirá que o substrato biológico sustente, em parte, alguma interface ou até algum tipo de execução computacional. Isto irá claramente possibilitar a expansão da capacidade humana com os algoritmos mais recentes ou até a criação de novas capacidades. O maior problema deste tipo de tecnologias está relacionado com a possível criação de assimetrias sociais onde questões fundamentais como a acessibilidade à tecnologia, os conhecimentos para a sua utilização e a propriedade que daí advém precisam de ser amplamente discutidos e balizados - estas são as questões éticas que mais gosto de debater e perspetivar, visto que a minha entrada para o mundo da inteligência artificial foi precisamente na ótica mais filosófica e fundamental.
Fotografia: Manuel FontesMais de 150 estudantes e profissionais das áreas de engenharia, business analytics e data science participaram na Eurekathon 2020, uma competição promovida pela Porto Business School em parceria com a LTPLabs e a NOS. O combate à fome ditou o mote do concurso.
Bernardo Franco, Catarina Rocha Leite, Guilherme Pinheiro, Luís Bulhosa (todos eles estudantes do 4.º ano do Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da FEUP), João Azevedo e Pedro Machado da Universidade do Minho foram os vencedores da Eurekathon 2020, com a criação de um modelo “inovador” que permite aumentar o número de doadores ao Banco Alimentar.
Com recurso à base de dados do Banco Alimentar e do grupo de comunicações e entretenimento português NOS, e através do cruzamento dessas informações com métricas sociais e demográficas, a equipa Hunger Byte conseguiu identificar o perfil do potencial doador e as freguesias portuguesas onde há maior discrepância entre esses e o número de doações feitas ao Banco Alimentar.
A partir deste modelo, os estudantes confirmaram que se o Banco Alimentar direcionasse as suas campanhas de marketing recorrendo ao envio de SMS (mensagens de texto) e e-mail (correio eletrónico), de notas nas faturas da NOS ou de campanhas exclusivas para determinadas freguesias, conseguiria aumentar em “oito vezes a capacidade de chegar a potenciais doadores, em vez de o fazer aleatoriamente”. A solução vencedora da Eurekathon 2020 vai ser implementada pelo Banco Alimentar Contra a Fome.
A competição ocorreu virtualmente entre 5 e 7 de novembro e houve seis projetos finalistas. Para além dos Hunger Bytes, que levaram para casa um prémio de 2000 euros, a Eurekathon 2020 distinguiu mais duas ideias “assinadas” por atuais e antigos estudantes da UPorto: o 2º prémio foi atribuído à equipa Feeding the Future, composta por seis estudantes da FEUP e da Faculdade de Ciências (FCUP). A fechar o pódio ficaram os Hunger Gamers, constituídos por alumni da Faculdade de Engenharia.
As equipas e respetivas ideias foram avaliadas tendo em conta o seu impacto potencial, grau de inovação e profundidade analítica. O júri foi constituído por nomes como Isabel Jonet, Presidente da Federação Portuguesa de Bancos Alimentares contra a Fome, Nuno Paiva, Head of Data Science da NOS, Pedro Brandão, Diretor Executivo da NOS SGPS, Rui Coutinho, Diretor Executivo para as áreas de Innovation & Growth da Porto Business School, Carlos Soares, professor da FEUP e da Porto Business School e Bernardo Almada-Lobo, co-founder da LTPLabs.
A Eurekathon é um programa de e sobre pessoas, de capacitação e talento exclusivo que usa e trabalha os dados com foco na criação de um mundo melhor. Na edição deste ano, “o principal desafio foi tirar partido da capacidade e criatividade de mais de 200 pessoas que se dedicam voluntariamente a ajudar o Banco Alimentar para solucionar um problema com grande impacto social”, assegura Rui Coutinho, um dos membros do júri da Eurekathon.
A criação de um sistema de rede neuronal convolucional capaz de detetar o cancro através da análise de imagens, da autoria da investigadora Isabel Rio-Torto, que terminou recentemente o Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica e Computadores da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), venceu o 1º prémio do Fraunhofer Portugal Challenge 2020.
Organizado desde 2010 pelo centro de investigação Fraunhofer AICOS (FhP-AICOS), o Fraunhofer Portugal Challenge distingue anualmente os melhores projetos de tecnologias aplicadas à saúde, desenvolvidos por estudantes e investigadores de todasas universidades portuguesas. O concurso envolve duas categorias, Mestrado e Doutoramento, sendo premiados três finalistas em cada uma delas (seis no total). O valor global dos prémios científicos é de 9 mil euros.
Além de Isabel Rio-Torto e Pedro Dias (ambos na categoria Mestrado), a edição deste ano premiou ainda um projeto de Inês Machado (categoria Doutoramento) do Instituto Superior Técnico. Trata-se de uma tecnologia já validada por neurocirurgiões, radiologistas e engenheiros do MIT, Harvard Medical School e Brigham and Women’s Hospital e que consiste num GPS aplicado à neurocirurgia.
A ferramenta proposta pela jovem investigadora é capaz de produzir explicações visuais para as decisões que toma, identifica as regiões mais afetadas e permite melhorar o processo de avaliação humana do trabalho desempenhado pelo algoritmo.
“Foi um desafio muito interessante, que me fez analisar a minha investigação de uma perspetiva diferente: mais próxima da aplicação prática e do impacto social, algo que nem sempre é valorizado numa perspetiva mais teórica na investigação científica. Além disso, ver a dedicação e o esforço reconhecidos foi muito gratificante e revelador da importância e potencial da área de Explainable Deep Learning em contextos clínicos, o que me encoraja ainda mais para continuar a investigar nesta área”, admite Isabel Rio-Torto.
Assistente Convidada no Mestrado Integrado de Engenharia Eletrotécnica da FEUP, Isabel Rio-Torto frequenta atualmente o 1.º ano do doutoramento em Ciência de Computadores na Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP). Mais recentemente, integrou o CTM - Centro de Telecomunicações e Multimédia do INESC TEC, onde espera continuar a sua linha de investigação nesta área.
“O intuito é tentar melhorar os resultados obtidos de maneira a conseguir produzir outro tipo de explicações, que não apenas visuais, para o que as redes neuronais aprendem, nomeadamente explicações em forma de texto, mais próximas do que os seres humanos estão habituados e melhor compreendem”, enfatiza. De acordo com a investigadora, “o grande objetivo é desbloquear o potencial das redes neuronais como ferramentas de apoio ao diagnóstico, tornando-as “capazes de explicar as suas decisões, para que possam vir a ser aplicadas no dia-a-dia em contextos clínicos e auxiliar os médicos no processo de diagnóstico”.
MESTRES DA FEUP EM DESTAQUE
Para além de Isabel Rio-Torto, a edição deste ano do Fraunhofer Portugal Chalenge distinguiu outro antigo estudante da FEUP na categoria de Mestrado. Trata-se de Pedro Dias, recém-diplomado em Bioengenharia, que obteve o 2.º lugar com um trabalho de investigação que incide sobre o processo de diagnóstico da epilepsia, que é “extremamente dispendioso e custoso para os neurofisiologistas”.
Na verdade, é prática comum para estes especialistas analisarem imagens que correspondem a horas de sinais de EEG (sinais elétricos cerebrais) para identificar padrões anormais que possam estar associados à doença. Isto acaba por traduzir-se numa enorme desvantagem não só para quem faz o diagnóstico, mas também para os pacientes que não têm uma resposta atempada.
Numa tentativa de automatizar este processo, e recorrendo a modelos de inteligência artificial que sinalizem estes padrões epiléticos, Pedro Dias desenvolveu uma tecnologia alternativa com resultados bastante animadores. Através de modelos de inteligência artificial explicáveis - que retornam quais os segmentos mais prováveis de conter padrões anormais e, além disso, fornecem uma explicação visual sobre a informação mais relevante para uma dada classificação - sem qualquer passo extra.
De acordo com o jovem investigador, foi ainda feito um esforço suplementar para avaliar de forma objetiva estas explicações comparando-as com anotações de especialistas do Hospital de Enschede, no âmbito de uma parceria com a Universidade de Twente (Holanda).
“O facto de não precisar de passos extra para a obtenção de explicações constitui uma inovação na área da epilepsia, possibilitando assim que os neurofisiologistas possam olhar, por exemplo, para representações dos sinais EEG que contenham apenas padrões anormais, poupando tempo”, nota o jovem investigador da FEUP.
Foi considerado o maior empreendimento público na área do Ensino Superior em Portugal, à época, num processo de avanços e recuos que demorou 16 anos até conseguir sair do papel e tornar-se realidade. Revisitamos os principais momentos-chave da empreitada que dinamizou o pólo da Asprela, há 20 anos.
A OBRA
É um dos momentos mais emblemáticos e que ainda hoje é contado com particular emoção por quem o viveu: a 27 de Setembro de 1996 é lançada a primeira pedra do novo edifício da Faculdade de Engenharia, no pólo da Asprela. Era o culminar de um processo que se estendeu no tempo e que implicou oito anos para a escolha do projetista, elaboração do projeto e respetivos processos administrativos inerentes à adjudicação da empreitada.
Da autoria dos arquitetos Pedro e Luís Ramalho, o novo edifício demorou quatro anos a ser construído, com custos avaliados em 60 milhões de euros suportados pelo Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC) e por verbas comunitárias do Plano para o Desenvolvimento Educativo para Portugal (PRODEP). Foi considerado uma das obras mais notáveis do século XX em Portugal.
“A particularidade do projeto da FEUP reside unicamente na dimensão e complexidade do programa, no número de interlocutores ao nível do dono da obra, na coordenação ao nível do grupo dos projetistas das especialidades, no controlo dos custos e naturalmente assistir a um longo período de execução… são parâmetros de todas as obras de arquitetura… a diferença aqui é a grande escala da obra”, reconhece Pedro Ramalho.
Paulo Ribeirinho Soares, gestor de projeto da obra na Asprela, corrobora a magnitude da empreitada e admite que nem sempre foi fácil supervisionar cerca de 350 trabalhadores diariamente e níveis de faturação mensais na ordem dos 200 mil euros.
“Estávamos verdadeiramente empenhados em
fazer cumprir os contratos e isso implicava mão firme no que diz respeito aos custos e aos prazos da obra”, avança. “A minha principal atividade passava por arbitrar todos estes interesses e ser o elo de ligação entre os fornecedores, as entidades envolvidas, os projetistas e a própria Faculdade.” Ao “desafio brutal” juntava-se o acompanhamento sistemático de reuniões com a Comissão de Acompanhamento da Obra e que reunia sempre 20 a 25 pessoas na mesma sala, num esforço de conjugação de vontades quase sempre desafiante.
Enquanto a obra se fazia lá para os lados da Asprela era preciso começar a pensar na logística da mudança e na melhor forma de embalar uma vida inteira na Rua dos Bragas. Foi criada uma comissão liderada por Maria Antónia Carravilla, que juntamente com um grupo de pessoas dos secretariados dos departamentos e serviços centrais, orquestraram toda a mudança. Denominado “Projeto Júpiter”, o Pai de todos os Deuses na mitologia grega, arrancou em 1997 com inquéritos detalhados com o objetivo de se fazer o inventário do que de facto existia.
“Rapidamente chegámos à conclusão de que tirando alguns equipamentos associados a alguns projetos, tudo o resto simplesmente não estava catalogado”, admite a professora do Departamento de Engenharia e Gestão Industrial da FEUP. O que constituiu, à época, uma vantagem já que obrigou a estudar formas de etiquetar, catalogar património público e também de criar um sistema interno que permitisse identificar as novas salas na Asprela e a partir daí decidir que caixas seguiam para que determinado
bloco do novo edifício em plena mudança. “Ainda tenho esquissos guardados das primeiras visitas que eu e o Gabriel David fizemos à obra para definir o sistema de numeração dos pisos e das salas… dei por mim a atravessar janelas e a subir andaimes”, confidencia Maria Antónia Carravilla.
Foram encomendadas caixas com medidas específicas para acomodar tudo o que veio das antigas instalações para o novo campus. A logística era grande e definiu-se uma “carga-padrão” para nortear o concurso da contratação da empresa responsável pela mudança: cada módulo seria composto por uma secretária, duas cadeiras e um armário. Cálculos feitos, por alto, apontavam para a necessidade de replicar esse módulo 600 vezes!
A operação foi bem-sucedida e as opiniões são unânimes relativamente à forma como tudo aconteceu: “A mudança foi gerida com muita competência o que acabou por facilitar os trabalhos, resultado de uma organização muito boa”, destaca Carlos Costa, que viria a assumir a direção da FEUP em 2001, um ano depois da inauguração oficial das novas instalações no campus da Asprela. “Esta mudança foi absolutamente crucial porque veio permitir que a Faculdade de Engenharia se posicionasse não só no território nacional mas sobretudo na Europa, com infraestruturas modernas e capazes de fomentar investigação ao mais alto nível”, continua o Professor Emérito da U.Porto.
Apesar da inevitabilidade desta mudança anunciada, o sentimento que invade as memórias de muitas pessoas que viveram este processo de perto é de um enorme desafio: sair do centro da cidade para um pólo onde não existia praticamente nada em matéria de infraestruturas é sempre complicado. A Associação de Estudantes organizou mesmo um protesto público por ocasião da marcha simbólica que aconteceu a 29 de setembro de 2000 e que reuniu elementos da comunidade da FEUP desde a Rua dos Bragas até ao novo edifício na Rua Roberto Frias.
O momento, carregado de simbolismo, foi recordado no âmbito do Ciclo de Debates da Asprela que em outubro de 2020 juntou alguns dos principais intervenientes da mudança, tendo Maria Antónia Carravilla partilhado a emoção que foi quando se aproximaram do edifício do IPATIMUP e viram uma enorme faixa que atravessava toda a rua Roberto Frias e onde se podia ler “Bem-vinda FEUP!” A mensagem “calorosa” foi recebida com entusiasmo pela comunidade que ultrapassava já os 6 mil estudantes só nas áreas de engenharia.
Um mês depois é inaugurada a Cantina e a ponte pedonal no campus da FEUP. Seguiu-se a instalação dos institutos de interface (INESC TEC e INEGI, 2002 e 2009 respetivamente), da inauguração da linha de Metro do Pólo Universitário (2005) e dos acessos da via estruturante da Rua D. Frei Vicente da Soledade e Castro (2007), do edifício da AEFEUP (2009) e do pólo tecnológico do UPTEC (2012). Como demonstração da constante revitalização do campus, é de realçar ainda a inauguração do Pavilhão José Falcão (2012) e todo o trabalho de requalificação do Parque de Lamas (2015).
Tudo somado faz com que a Asprela seja uma das maiores concentrações de talento, conhecimento e inovação na Europa: em pouco mais de um quilómetro quadrado trabalham e estudam diariamente mais de 50 mil pessoas em instituições de ensino superior universitário e politécnico, público e privado, em dezenas de centros de investigação e laboratórios associados de excelência, em hospitais centrais de referência na região e no país, e num polo de ciência e tecnologia que agrega startups em incubação e centros de inovação de empresas internacionais. Tradicionalmente designado por “Pólo Universitário da Asprela”, tem assumido uma forte componente multicultural, inovação aberta, de laboratório vivo e urbanidade que o coloca ao nível internacional do conceito de “Innovation District” que tem dinamizado algumas cidades à escala mundial.
fe.up.pt/20anosasprela
Esta mudança foi absolutamente crucial porque veio permitir que a Faculdade de Engenharia se posicionasse não só no território nacional mas sobretudo na Europa, com infraestruturas modernas e capazes de fomentar investigação ao mais alto nível.
Professor Carlos Costa
Aminha ligação ao projecto das Novas Instalações da FEUP inicia-se em 1988, ano do concurso de arquitetura, e vai durar até 2012, 32 anos. Numa 1ª fase o projecto e a obra até 2000, ano da sua inauguração, e depois na complementaridade do programa das instalações: Cantina, ainda em 2000, Cafetaria em 2006, Associação de Estudantes em 2009, e Pavilhão Desportivo em 2012; na instalação de novos programas (DEQ e DEEC, em 2008); nas alterações da nave do Departamento de Mecânica (2004) e do Átrio e Serviços Administrativos (2010). Para além de projectos não realizados (Recuperação do Solar de Lamas, um Hotel/Residência, Campos de Ténis, Residência de Estudantes, etc.)
Tão longo período justifica-se, não só pela complexidade do seu programa, derivado da diversidade dos cursos professados, mas também porque não era possível prever com objetividade quais eram as tendências evolutivas a médio prazo.
Não menos importante foi a nova dinâmica introduzida pela direcção do Prof. Marques dos Santos, a partir de 1990, com a criação de novas funções e a reformulação de outras.
Note-se que no Programa Preliminar, em 1986, a lotação estava fixada em 3.500 estudantes normais e 180 estudantes em cursos de pós-graduação, distribuídos por 6 Departamentos e ocupando uma área global da ordem dos 70.000m2 (cerca do triplo da área total disponível nas antigas instalações da rua dos Bragas). Hoje o número de estudantes duplicou, há 9 Departamentos e a área bruta existente é de 90.000m2
A esta dinâmica e correspondente evolução, à enorme pressão sobre o edificado, o complexo inaugurado em 2000, conseguiu adaptar-se, resistir e manter a matriz incial da implantação e volumetria.
Nem tudo o que estava preconizado no Programa Preliminar do concurso foi cumprido. Este P.P., elaborado pelo professor Barbosa de Abreu e Joaquim Figueiras em 1986, incluía uma ambiciosa rubrica de Serviços Sociais com uma área de 5.500 m2, que o projecto preconizava instalar em terrenos incluídos na área de intervenção do concurso, a Sul da rua Dr. Júlio de Matos, em articulação com o conjunto rural aí existente que se pretendia recuperar. No entanto, todo este programa foi abandonado quando se verificou, após o concurso, que os terrenos, ainda que cativos, não estavam expropriados e era im-
possível acomodar estas instalações no lote a Norte. Parte destes serviços (Cantina e Associação de Estudantes) vêm mais tarde a instalar-se numa área inicialmente prevista como zona verde predominante.
Este longo processo do projecto e obra da FEUP, inicia-se em Fevereiro de 1988 quando três jovens arquitectosJoaquim Oliveira, Lúcio Parente e Sérgio Ramalho – que integravam o Centro de Estudos da FAUP, me propuseram entrar no concurso para as novas instalações da FEUP. A esta pequena equipa inicial juntou-se, como era exigido no concurso, a CNEC, que integrava nominalmente os técnicos das especialidades. Foi uma parceria que não correu bem e que mais tarde, já na fase do projecto de execução, se veio a revelar incapaz de cumprir o contrato.
Esta grave situação obrigou a entrega destes projectos de especialidade ao gabinete técnico do empreiteiro adjudicatário Soares da Costa, e a criar uma nova equipa para a fase de fiscalização.
Este episódio é um percalço entre muitos outros que infelizmente são correntes e muitas vezes fatais nas obras públicas e nos seus investimentos. No caso da FEUP a Direcção, presidida por José Marques dos Santos, com o apoio do Reitor da Universidade do Porto, Novais Barbosa e do Vice-Reitor António Cardoso, foi determinante. Destaco ainda Raimundo Delgado que foi o elemento da Direcção que, a partir de 1990, acompanhou todo o processo de construção e instalação da Faculdade.
Quando se pergunta que marca deixa a FEUP no Campus da Asprela não resta dúvida sobre a importância da sua presença como uma Escola de Engenharia de referência, reconhecida nacional e internacionalmente. Mas será também um projecto urbano no sentido disciplinar em que o objetivo final é a sua integração na vida da cidade. É um complexo aberto ao Campus ao contrário de outras escolas que são muradas, fechadas sobre si. Há a intenção de articular os diferentes corpos com a diversificação e qualificação dos espaços livres resultantes e de criar uma ampla zona verde no interior do complexo para permitir momentos de pausa e convívio.
* Arquiteto, principal autor do projeto do campus da FEUP na Asprela ** Escrito segundo o antigo acordo ortográficoDepois de uma avaliação detalhada e rigorosa, o Porto foi a cidade escolhida para instalar o hub tecnológico da Natixis em Portugal, em 2017. Com 31 milhões de clientes, o groupe BPCE, o segundo maior grupo financeiro francês onde pertence a Natixis, está rendido ao talento dos engenheiros portugueses: são “empreendedores, ágeis e inovadores”. Quatro anos depois, acreditam que ainda há margem para crescer e querem fazê-lo em estreita colaboração com as Universidades. Etienne Huret, Diretor Geral da Natixis em Portugal, diz-nos como.
Entrevista: Raquel
Fotografia: D.R.
PiresQue fatores influenciaram a instalação do centro de competências da Natixis no Porto?
A decisão foi tomada depois de vários estudos e avaliações efetuadas em diferentes países europeus, com base em alguns critérios: educação, inovação & empreendedorismo, adaptação cultural à França, a mentalidade e experiência internacional. No final, Portugal e o Porto foram a escolha ideal para a Natixis.
O Centro de Excelência em Tecnologias de Informação na cidade invicta comprovou a competência de Portugal como um ecossistema de empreendedorismo e inovação, com vantagens competitivas, não só na perspetiva de infraestrutura e integração tecnológica, mas também através do perfil de capital humano: graduados em universidades de topo, altamente qualificados em ciência e tecnologia, multilíngues e com uma cultura profissional internacional.
E que balanço faz destes 4 anos para o vosso banco de investimento?
A Natixis em Portugal é uma história de sucesso real: começámos o projeto do zero e, em menos de três anos, contratámos mais de 800 pessoas nas áreas de Tecnologia de Informação em Portugal. Este projeto foi um dos maiores investimentos em Recursos Humanos alguma vez feito pela Natixis a nível mundial. A escolha de Portugal – e da cidade do Porto – foi um fator decisivo para o nosso sucesso. Fazendo parte de um ecossistema dinâmico de empreendedorismo e inovação – que agora nos conhece muito bem – conseguimos encontrar a experiência e o talento que não conseguimos noutro lugar. Assim, desenvolvemos a competência necessária para fortalecer as operações mundiais da Natixis, em termos de serviços tecnológicos. Em resultado deste sucesso, em 2020, o projeto
evoluiu com a missão de transformar a banca tradicional através do desenvolvimento de soluções inovadoras nos negócios do banco, nas operações e na cultura de trabalho em todo o mundo. Assim, para além das TI, integrámos uma nova área de Atividades de Suporte à Banca (operações de middle office e back office), chegando aos 1000 colaboradores, ao integrar novos perfis das ciências económicas. Esta nova etapa da nossa operação em Portugal reforçou o nosso compromisso com a equipa e vai garantir que cada pessoa tem oportunidade de escolher a sua carreira, dentro de um ambiente que lhe permite crescer, mudar e criar impacto na empresa.
A ligação às universidades faz parte da vossa cultura. Foi um factor determinante na adesão ao FEUP PRIME?
Acreditamos que a ligação às Universidades e outras instituições de formação é um fator chave para trabalharmos a nossa vantagem competitiva enquanto empregador, bem como para aumentar a nossa pool de talentos. Com todo o conhecimento e conexões adquiridos nesta relação com o programa FEUP PRIME, trabalhamos na melhoria contínua dos nossos processos de recrutamento e retenção, assim como na construção da comunidade em redor da Natixis através de parcerias, eventos e muito mais. Em cada ano integramos cerca de 100 recém-licenciados e a verdade é que muitos deles conhecem-nos ainda nas universidades. Esta aproximação à FEUP também nos tem trazido uma fonte inesgotável de inovação e criatividade, dois dos maiores ativos que os estudantes podem trazer para dentro das empresas.
Enquanto hub tecnológico, que perfis valorizam quando procuram novos talentos?
Queremos recrutar profissionais que se identifiquem com a cultura e o mindset da Natixis e que estejam disponíveis para crescer connosco. Procura-
Com lucros de 9,2 mil milhões de euros a nível global em 2019, a Natixis é a divisão internacional de banca empresarial e de investimento, de gestão de ativos, de seguros e serviços financeiros do Groupe BPCE - Banque Populaire e Caisse d’Epargne, o segundo maior grupo financeiro em França, com 31 milhões de clientes, duas redes de banca de retalho e cerca de 16 mil funcionários em 38 países. Em 2020, a Empresa recebeu, pelo quarto ano consecutivo, a certificação Top Employer, do Top Employers Institute, um dos mais reconhecidos prémios de Recursos Humanos a nível internacional.
mos pessoas com predisposição para aprender, com pensamento ágil e inovador, atitude proativa e uma mentalidade colaborativa e multicultural. A diversidade é um valor determinante para a Natixis.
Atendendo a que algumas equipas estão a ser criadas de raiz, procuramos também profissionais com experiência nas áreas de atuação da empresa, que tragam consigo know-how, permitindo-nos desenvolvê-las mais rapidamente. Para além da área de TI, na qual empregamos mais de 800 pessoas, a Natixis em Portugal está a apostar também nas atividades de suporte à banca (em ambos os casos, procuramos desde perfis juniores a séniores).
Em três palavras: como definiriam os engenheiros portugueses da Natixis?
Empreendedores, ágeis, inovadores. A Natixis em Portugal é a melhor combinação de uma “mentalidade de start-up” com a estrutura grande e sólida tradicional de uma multinacional: é pequena o suficiente para manter o espírito empreendedor, grande o suficiente para atuar globalmente. A cultura da Natixis é única e dá verdadeiro significado à assinatura da nossa marca “beyond banking”: ser um verdadeiro empreendedor, que se desafia, que se esforça para se destacar e ir sempre além do que lhe foi pedido.
Trabalhamos a partir do Porto, mas de forma integrada e transversal com todos os países em que a Natixis opera. Porém, a forma espontânea e despreocupada como nos relacionamos uns
com os outros e integramos os novos membros da equipa é a mesma forma como nos relacionamos com as diferentes áreas de negócio. Apesar desta postura menos tradicional e corporativa, tornámo-nos uma referência para a empresa como um todo, como fonte de soluções inovadoras e projetos avançados. Apesar de nos sabermos parte de algo maior, permitimo-nos a ingenuidade que nos permite colocar as questões que nos levam a fazer as coisas de forma diferente.
Somos um exemplo de agilidade, flexibilidade, transparência e quebra de barreiras geográficas e culturais que são desafios com que o setor bancário atualmente se está a deparar.
O que podemos esperar do centro tecnológico do Porto a médio/longo prazo?
Estamos muito focados em solidificar o que de melhor temos feito até então, e claro, em crescer: em reputação, inovação, qualidade e diversidade dos serviços que entregamos à casa-mãe. Pretendemos continuar a trazer inovação e transformação para o coração da Natixis, construir uma equipa empreendedora e responsável, alavancar nos talentos portugueses, universidades, startups e criar competências que sejam reconhecidas a nível mundial em tecnologia, core banking e transformação de processos.
www.fe.up.pt/prime
Entrevista: Raquel Pires Fotografia: direitos reservados
Em 1990, Branca Gonçalves assume o Gabinete de Relações Externas da Faculdade de Engenharia, depois de uma passagem como engenheira pela refinaria de Petróleos de Angola e no Departamento de Engenharia Química como investigadora. Portugal despontava para o mundo com a entrada na União Europeia e foi o tempo de fazer acontecer: a primeira feira de emprego, a 1ª edição da semana aberta da Universidade marcam esse tempo que culminou na mudança da FEUP para o pólo da Asprela.
Como é que veio parar a esta Casa de Engenheiros? Eu já estava no Departamento de Engenharia Química, era técnica superior. Uma evolução na carreira sem passar pelo Doutoramento seria possível concorrendo a um cargo de Assessora na Direção. Das três vagas disponíveis na altura, a que se me afigurava mais capaz de realizar era na área da Relações Públicas, de que nada sabia mas que começava a despertar em Portugal. Fiquei bem posicionada no concurso público e agarrei esta oportunidade com o compromisso de dar o meu melhor no desempenho do cargo. O Prof. Marques dos Santos foi um importante apoio em todo esse processo porque tinha já uma visão muito concreta sobre o papel que a Faculdade de Engenharia devia desempenhar dentro da Universidade. É preciso também realçar que Portugal tinha acabado de entrar na União Europeia,
os projetos europeus estavam a arrancar e havia necessidade de criar na FEUP uma estrutura que desse resposta ao desafio dos fundos comunitários. De repente as Universidades têm a oportunidade de conseguir candidatar-se a financiamento externo e com isso gerar receitas próprias. Tínhamos de estudar como funcionava o processo de candidatura e dinamizar e apoiar os professores na concretização de propostas. Foi assim que tudo começou.
Esteve na génese da criação do Serviço de Relações Externas na FEUP. Do que se lembra desses tempos? Foi um processo lento. É preciso ver que não havia internet! Portanto o serviço estava muito centrado no apoio às candidaturas europeias: começámos por criar um boletim informativo para distribuir pelos professores da casa.
Era tudo em papel e demorava 2 meses a ser feito! Depois a minha função era pegar no telefone e falar com as pessoas que dentro da FEUP pudessem estar melhor posicionadas para se candidatarem àquele projeto europeu.
O meu trabalho passava muito por desafiar e encorajar os investigadores a lançar-se nesta epopeia europeia. E as coisas correram bem: começámos a ter financiamentos aprovados, o dinheiro passou a entrar e isso foi um fator determinante porque motivava toda a gente. E de repente a minha equipa que tinha 3 pessoas (eu, o professor Mário Barbosa e uma pessoa a fazer secretariado) tem necessidade de crescer porque tudo ganhou escala.
E dentro da área das Relações Públicas, quando começam a organizar os eventos institucionais na faculdade?
O Dia da Graduação foi uma sugestão do Prof. Marques dos Santos. Ele tinha esta capacidade de lançar desafios e eu era muito entusiasta! Ele tinha participado em Inglaterra numa cerimónia de Graduação e pediu-me para pensar em organizar algo do género. Como eu não tinha assistido a nenhum Dia da Graduação pedi à Universidade de Aveiro e à Reitoria da U.Porto que me ajudasse na questão da cerimónia protocolar e assim foi! Eu tinha já uma equipa formidável nesta altura onde todos ajudavam, o ambiente era muito saudável. E dali a uns meses estávamos a organizar o 1º Dia da Graduação da FEUP, que foi para mim um dos acontecimentos mais marcantes da minha carreira por tudo o que implicou. Não cabíamos na Rua dos Bragas, não tínhamos condições para acolher uma cerimônia com a dignidade e dimensão que nos era devida, portanto a solução foi organizar tudo no Seminário de Vilar. Estávamos em 1996, e toda a logística de realizar a cerimónia protocolar passou por mim. Envolveram-se os departamentos todos, a própria Reitoria e havia um verdadeiro espírito de ajuda e comprometimento.
Outro momento muito especial foi a homenagem que a FEUP fez ao escritor Jorge de Sena, que é nosso alumni. Para assinalar os 80 anos do seu nascimento organizamos
uma exposição sobre a sua obra e juntamente com a FLUP e a Biblioteca conseguimos mobilizar a comunidade para um passeio à noite pela cidade de Jorge de Sena com declamação de poemas dele. Foi muito bonito!
A minha vida foi um partir de pedra permanente: na FEUP éramos pioneiros em praticamente tudo. Além do boletim informativo lançámos ainda o anuário de Ciência e Tecnologia que era uma montra dos projetos que estavam a decorrer na faculdade, em versão bilingue. Havia a ambição de chegar às universidades estrangeiras, às empresas e captar parcerias. Também nessa altura se criou o Gabinete de Apoio ao Aluno, liderado pela Dra. Maria do Céu com a intervenção de psicólogas com o objetivo de solucionar problemas. Era o tempo de fazer acontecer, e eu estava verdadeiramente empenhada e motivada com a equipa. Não havia tempo para rotinas, havia demasiado que fazer.
Como era a vivência na Rua dos Bragas?
O edifício era demasiado pequeno para albergar uma comunidade tão numerosa de modo que fomos obrigados a aproveitar o pé direito muito alto do edifício principal para criar um piso duplo, o que quase duplicou o espaço disponível. Mas mesmo assim quase não havia espaço, muito menos para socializar. O momento do café a meio da manhã transferiu-se para o café em frente, o “People”, onde praticamente todos se encontravam por volta das 11 horas. Resolvíamos bastantes problemas ali, por incrível que possa parecer. Agendavam-se reuniões, pressionavam-se algumas respostas e tudo num registo informal que muitas vezes ajuda a desbloquear situações mais delicadas. A comunidade da FEUP deveria ter perto de 5 mil pessoas, nesta altura.
Foi ainda na Rua dos Bragas que fizemos os primeiros dias abertos. Dias abertos ao exterior, aos alunos do ensino secundário e que só se conseguiam pôr de pé porque os departamentos cediam pessoas dos secretariados para nos ajudar com as visitas aos laboratórios
e com a organização logística de uma iniciativa desta magnitude! Era uma loucura: uma semana que nos deixava completamente exaustos fisicamente mas que rapidamente se tornaram num dos eventos mais emblemáticos na FEUP. Julgo que fomos os pioneiros nas semanas abertas em toda a U.Porto!
O Prof. Marques dos Santos era quem lançava estes desafios… e eu mobilizava a minha equipa porque as ideias eram sempre magníficas e postas em prática contribuindo para promover a imagem da FEUP. Por isso, quando surgiu a ideia de organizar a 1ª feira de emprego, o serviço soube estar à altura: a FEUP estava a crescer a um ritmo acelerado, todas as semanas surgiam coisas novas, a internet e a fibra óptica despontam e aceleram obrigatoriamente os processos… Para a 1ª feira de emprego, tivemos que montar os stands das empresas em pleno parque de estacionamento (toda a gente teve de vir para a faculdade de transportes públicos nesses dias ou então a pé!), mas acabou por correr tudo muito bem! Arranjavam-se empregos para os alunos com estas feiras, funcionava mesmo!
Numa fase inicial o edifício projetado pelo arquiteto Pedro Ramalho na Asprela não previa que os serviços “ocupassem” grande parte do bloco A. Como se resolveu?
Era urgente avançar para uma nova casa. Para mais rapidamente se avançar com a obra a Faculdade avançou também com receitas próprias. A gestão da empreitada foi impecável e ao contrário do que era habitual em obras públicas não houve derrapagem, nem de custos nem de tempo. Houve um acompanhamento muito pessoal e próximo dos trabalhos que aconteciam na Asprela por parte da direção e lembro-me que o prof. Raimundo Delgado teve aqui um papel importantíssimo, deslocando-se todas as semanas à obra para se inteirar do que estava a acontecer.
No projeto inicial da nova Faculdade não havia espaço para esta área das relações públicas porque simplesmente não existia ainda. A FEUP com uma comunidade já com 5 mil pessoas e com grande dinamismo precisava de apostar na contratação de pessoas mais preparadas tecnicamente capazes de apoiar toda a atividade da Faculdade de Engenharia. No caso do serviço de relações externas passámos de duas pessoas (eu e uma administrativa) para uma equipa com algumas dezenas de pessoas que estavam a meu cargo directamente. E era preciso acautelar tudo isto antes de nos mudarmos para a Asprela. E é sempre muito difícil “negociar” espaços.
A solução passou por abdicar de espaços individuais e gabinetes para funcionar em open space. Para complicar, tínhamos uma área de formação contínua a despontar e que era preciso abraçar rapidamente... E o que tem de ser, tem muita força!
Conte-me como é que surgem os passeios a Santiago de Compostela, que é uma iniciativa que muitas pessoas ainda falam nos dias de hoje. Ah! Pois a mudança trouxe outros desafios que foi precisamente o de um campus onde as pessoas de repente já não se viam com a mesma facilidade com que acontecia quando tínhamos o “People”… eu já estava reformada quando o Prof. Carlos Costa, diretor da FEUP entre 2001 até 2010, me lança o desafio de mobilizar a comunidade e resgatar o espírito de corpo da FEUP! Apoiei o Professor Augusto Sousa nestes passeios a Santiago e com o Sr. Meireles do Departamento de Engenharia Química, organizámos tudo. De 15 em 15 dias fazíamo-nos à estrada e cumpríamos uma etapa; fazíamos piqueniques e estávamos todos juntos num contexto que era o de convívio e amizade. Percorriamos 20 a 30 km por dia, numa aventura que durou um ano! Tenho memórias fantásticas desses tempos! Acredito que o facto de me dar bem com toda a gente e ter facilidade no contacto com os outros tenha contribuído fortemente para desenvolver a minha atívidade à frente de um Serviço que já na altura era importante na organização e concretização de várias iniciativas que tinham com objetivo promover o nome da faculdade no exterior. Fui muito feliz nessa escola!
Mestre em Engenharia e Gestão Industrial pela Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), é Engenheiro de Melhoria Contínua na Louis Vuitton, em Barcelona. Ricardo Fernandes, 29 anos, madeirense de gema, é o único português na estrutura ibérica da marca de segmento de luxo francesa.
Texto: Mafalda Leite Fotografia: D.R.Depois de concluída a parte letiva do Curso de Engenharia e Gestão Industrial, Ricardo Fernandes rumou a Espanha para se dedicar à dissertação que decorreu na Andaluzia, numa empresa de exportação de azeitona de mesa. Um ano e meio depois, embarca num outro desafio, também em terras de Espanha, mas desta vez para trabalhar na Louis Vitton. É ele um dos responsáveis pela otimização de processos e pela criação e análise de indicadores de performance da marca e assume que ainda tem muito para aprender e oferecer à empresa, ainda que isso implique estar longe de casa e gerir as saudades.
Como surgiu a oportunidade de ir para Espanha?
Eu gosto de desafios. Quando percebi que a FEUP dava a oportunidade de fazer a dissertação de Mestrado no estrangeiro, através do programa Erasmus, decidi arriscar. Fiz a minha dissertação numa das maiores empresas de exportação de azeitonas de mesa do mundo, a Agro Sevilla Aceitunas, aqui na região da Andaluzia. O meu principal objetivo era otimizar processos e procedimentos numa linha de produção. Depois de finalizada a dissertação, a empresa convidou-me a ficar e pude continuar a trabalhar na área de produção. Ali, aprendi muito a nível profissional e pessoal. Passado um ano, surgiu a oportunidade de entrar na Louis Vuitton.
O que faz exatamente na Louis Vuitton?
Sendo atualmente Engenheiro de Melhoria Contínua, o primeiro desafio foi mudar da área de produção para a área de logística. Foi uma grande mudança porque os desafios diários são diferentes, mas devido à formação que tive nos últimos dois anos do curso na FEUP, mais ligada a estas duas áreas, foi possível adaptar-me. Na Louis Vuitton, sou responsável pela otimização de processos, e pela criação e análise de indicadores de performance. Atualmente, estou focado no serviço ao nosso principal cliente, as linhas de produção, e estou também num projeto de convergência de processos com todos os ateliers da marca.
De que forma a FEUP teve impacto no seu percurso profissional?
Inicialmente, queria seguir a carreira de Engenharia Mecânica, mas o curso de Engenharia e Gestão Industrial cativou-me por ser tão abrangente e por poder trabalhar em áreas muito desafiantes. Acho que é esta diversidade de saídas profissionais que atrai os estudantes a escolherem a Engenharia e Gestão Industrial. Sem dúvida que fiz uma boa escolha. Confesso que tenho muito orgulho na faculdade onde estudei. É uma instituição exigente, mas que dá todas as ferramentas para que sejamos bons profissionais.
Qual o impacto da experiência Erasmus na projeção da sua carreira lá fora? Terá sido um dos fatores relevantes para a entrada na Louis Vuitton?
Uma das melhores experiências que tive na FEUP foi, sem dúvida, o programa Erasmus. Foi muito marcante para mim e recomendo vivamente a todos os estudantes a possibilidade de uma experiência Erasmus. Passar por esta experiência é um ponto que joga a nosso favor porque mostra a capacidade de sairmos da nossa zona de conforto e de experimentarmos situações que nos desafiam. Tenho a certeza que foi um elementochave para entrar na Louis Vuitton porque mostra a capacidade de adaptação num mundo em constante mudança.
E a sua adaptação à cultura espanhola?
Nunca me senti emigrante. Acho que nós, portugueses, somos muito parecidos com os espanhóis e eu gosto muito da maneira de ser deles. Já a distância até Portugal… é o que mais me custa. Sinto saudades da minha família e dos amigos. Mas confesso que também sinto muita falta dos nossos costumes e de ouvir e falar a minha língua. O que importa é que, com as tecnologias que existem atualmente, tudo fica à distância de um clique e a distância parece menor.
Confesso que tenho muito orgulho na faculdade onde estudei. É uma instituição exigente, mas que dá todas as ferramentas para que sejamos bons profissionais.
Trocar a Engenharia Eletrotécnica pela Informática e o Porto pela Nova
Zelândia: Rui Guimarães nunca teve medo da mudança nem de desafios.
Agora, como Engenheiro de Software numa das mais reconhecidas marcas
neozelandesas, a empresa de ecommerce Trade Me, sabe que encontrou o seu lugar. Mas há algo que fica: o carinho pelos seus tempos académicos e o orgulho de ser Embaixador Alumni FEUP.
Texto: Mafalda Leite Fotografia: D.R.Trocar o Porto por Christchurch, na Nova Zelândia, foi difícil?
Trocar a nossa cidade, a nossa casa, por outro lugar nunca é fácil. Quando esse lugar é no lado oposto do mundo, ainda menos fácil fica, mas a mudança para a Nova Zelândia também não foi difícil. E, acima de tudo, foi na altura certa.
Porquê a Nova Zelândia e como surgiu a oportunidade de explorar novos horizontes fora de Portugal?
A escolha da Nova Zelândia foi uma questão de oportunidade. Já tendo vivido fora, sabíamos que o nosso futuro, o meu e o da minha mulher, que também é alumni FEUP, não iria passar por Portugal. Estudámos várias alternativas, incluindo a Austrália e o Canadá, e acabámos por tomar a decisão de que iríamos rumar à Nova Zelândia, mais concretamente Christchurch. E cá estamos.
Delft, nos Países Baixos, ao participar no Programa Erasmus, foi o início desta vontade de conhecer outras paragens?
Sim, definitivamente. O meu despertar para viajar começou no Orfeão Universitário do Porto, onde viajávamos muito pelo país e, por vezes, pelo estrangeiro. Seguiu-se um interrail pela Europa e a experiência Erasmus pela FEUP, algo que recomendo a todos os que tenham oportunidade. Delft foi um dos lugares onde tive das melhores experiências da minha vida e onde fiz muitas das amizades fortes que ainda hoje mantenho.
A partir daí, quanto mais viajava, mais me convencia que conhecia tão pouco do mundo, principalmente das culturas tão diferentes das nossas. Já estive em diversos países de todos os continentes (à exceção da Antártida, o que é muito curioso porque a maior parte dos aviões que partem para lá voam de Christchurch, tendo já estado dentro deles), ao ponto de lhes perder a conta. Ainda assim, sinto que não conheço quase nada.
De Engenharia Eletrotécnica e de Computadores para Engenharia Informática e de Computação em 2005.
Porque mudou de curso? E porquê escolher a FEUP?
A FEUP é uma das melhores casas de Engenharia em
Portugal. Sendo eu do Porto, não faria sentido escolher outro sítio para passar os meus anos da Universidade. Sinto-me com espírito Engenheiro de uma ponta a outra desde sempre. No início, acreditei que Engenharia Eletrotécnica e de Computadores seria aquilo com que me ia identificar mais, mas, com o tempo, apercebi-me que a paixão estava na Informática.
Porquê a candidatura a embaixador Alumni?
Sempre me mantive muito ligado à faculdade, mesmo depois de acabar o curso. Com a minha mudança para a Nova Zelândia, essa ligação forte iria, naturalmente, desvanecer. Ser embaixador Alumni ajudou a recriar estes laços, dando-me igualmente a oportunidade de ajudar todos aqueles da FEUP que queiram, tal como eu, mudar-se para este lado do mundo ou saber um pouco mais para poderem tomar uma decisão mais acertada.
Na sua opinião, que contributos podem dar estas embaixadas à comunidade da FEUP?
Acredito que as embaixadas ajudam as pessoas a pensarem em oportunidades muito diferentes das do nosso quotidiano. Há alumni FEUP em grandes grupos e em cidades como Londres, Paris ou Dublin, mas também há em lugares não tão comuns como a Nova Zelândia, o Qatar ou até o Vanuatu. Estas pessoas permanecem ligadas à sua casa-mãe, partilhando as suas experiências do dia a dia.
A Nova Zelândia faz parte dos seus planos futuros ou gostava de poder regressar a Portugal e ficar por cá com a sua família?
Inicialmente, a Nova Zelândia era uma experiência de dois anos, passando depois para cinco e agora oito. A aventura começou a dois, ambos com um visto temporário de trabalho, e agora já somos quatro e todos com cidadania neozelandesa. Neste momento, a Nova Zelândia é um dos melhores países do mundo para se viver, especialmente pelo excelente equilíbrio entre o trabalho e casa. Não digo que o regresso um dia não vá acontecer, mas esse dia não deve ser num futuro próximo. A Nova Zelândia é um lugar onde nos sentimos seguros e agora é a nossa casa.
Recentemente, falava com um administrador hospitalar que admitia o papel fundamental da gestão de operações em garantir a prestação adequada dos cuidados de saúde garantindo, por exemplo, os medicamentos na hora certa, ao paciente certo, na quantidade certa sem descurar o registo da informação operacional e financeira. Contudo, o mesmo interlocutor, reconhecia que o imperativo da boa gestão de operações necessitava de maior destaque na ordem das prioridades dos diferentes intervenientes do sistema de saúde.
No inverno assistimos a desafios com a distribuição da vacina da gripe que poderiam ter sido mais rapidamente resolvidos usando métodos de gestão de operaçõespor exemplo, identificar e melhorar os constrangimentos na distribuição -, desafios mais complexos emergiram com a distribuição da vacina do covid-19.
No contexto atual, em que há um desgaste dos profissionais de saúde, graves restrições financeiras e limitações no fornecimento de vacinas, as decisões relacionadas com a gestão destas ‘capacidades’ restritivas assumem um papel primordial na eficácia dos resultados da campanha de vacinação.
A gestão de operações trata exatamente dos problemas decorrentes deste contexto como gestão da alocação e reservas, gestão de inventário e distribuição, e tratamento de filas de espera. Por exemplo, ao analisar a gestão da alocação procura-se encontrar a melhor forma de gerir a parte do stock de vacinas que não é alocada aos pacientes prioritários. Ao gerir o inventário encontra-se os melhores pontos para guardar stock das vacinas maximizando a eficiência da sua distribuição e administração.
A utilidade do tratamento das filas de espera é materializada na gestão do escalonamento dos pacientes de forma a evitar congestionamento nas unidades de saúde – indicador tão relevante nos dias de hoje.
Noutros contextos, como no retalho, a aplicação rigorosa, desde há muitos anos, da gestão de operações para resolver problemas de índole similar tem permitido um aumento, simultâneo, do nível de serviço e eficiência para o consumidor final.
Sem um cuidadoso desenho e planeamento das cadeias de abastecimento relacionadas com as vacinas verificamos problemas de coordenação entre os múltiplos intervenientes com objetivos muito divergentes e métricas operacionais míopes. Enquanto, em geral, os atores privados são movidos por um objetivo agregador de maximização de lucro ou utilidade, alinhando os diversos elos das respetivas cadeias de abastecimento, no setor da saúde os diferentes intervenientes implicam um alinhamento mais cuidado de objetivos sociais, económicos e políticos.
A gestão das operações das vacinas relacionadas com a pandemia covid-19 amplificaram todos estes desafios por três principais motivos: múltiplas vacinas concorrentes com incerteza nos tempos de fornecimento e níveis distintos de eficácia; requisitos variáveis e exigentes de controlo de temperatura com limitações importantes de validades; e ansiedade dos pacientes.
Estes diferentes aspetos relacionados com a gestão de operações da vacinação da covid-19 têm que ser equacionados em conjunto. O cenário que se verificou, em que a vacina da Pfizer/BioNTech foi a primeira a ser aprovada em Portuseguida das restantes vacinas poderia ter sido antecipado. Esta antecipação poderia levar a reconhecer, à partida, que seria vantajoso tirar partido da complementaridade das duas vacinas.
A comunidade académica relacionada com a gestão de operações pode contribuir em equipa com especialistas de saúde pública e outros para mitigar estes desafios aplicando os conhecimentos existentes e apoiando a tomada de decisão pública.
* Professor Auxiliar do Departamento de Engenharia e Gestão Industrial Texto: Pedro Amorim* Fotografias: direitos reservadosNo auge dos 22 anos, Fernando Maia alia os estudos na Faculdade de Engenharia a uma carreira na música enquanto baterista. Pelo caminho
ainda lhe sobra tempo para truques e espetáculos de magia. Mas talvez o que mais impressione seja o facto de o jovem acreditar que estas três “vidas” estão afinal interligadas e são a mesma forma de “arte”.
Texto: Mafalda Leite Fotografia: João FitasLasers, varinhas, baquetas e tambores… Há quem não reconheça a ligação entre estes objetos mas, para Fernando Maia, este é o seu mundo. O estudante de Engenharia Física, que tanto percorre os corredores da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) como os da Faculdade de Ciências (FCUP), reconhece a “curiosidade insaciável” que lhe corre nas veias, apaixonando-se por todos os projetos que assume. Da percussão e da magia à engenharia, paixão não lhe falta.
As três artes que o acompanham há uns largos anos foram sendo descobertas aos poucos, ora por acaso, ora por vontade, mas nunca por imposição. Desde tenra idade que sabe e compreende os seus gostos e a sua vontade de explorar o mundo. Por isso, fez-se ao caminho e tratou de “aprender os seus segredos”, experimentando tudo e tanto quanto pôde.
Em 2011, com apenas 13 anos, Fernando decidiu entrar para uma escola de música. Sempre gostou de ouvir vários estilos de música - clássica, pop, eletrónica, rock, metal ou progressiva - e guitarra elétrica pareceu-lhe a escolha acertada para iniciar os acordes da sua vida como músico. Paralelamente, foi desenvolvendo um gosto pela parte rítmica, acabando por ingressar simultaneamente em aulas de bateria e em algumas bandas, maioritariamente de covers.
Mas a percussão e as cordas não chegavam. Já em 2013, pela altura do seu 15º aniversário, o gosto pelo ilusionismo falou mais alto e, na hora de escolher a sua prenda, optou por uma caixa de magia do ilusionista português Luís de Matos, por quem nutre grande admiração. Foi atrás do ecrã da televisão e com um baralho de cartas na mão que o estudante começou a dar os primeiros passos – ou as primeiras cartadas – no mágico universo do ilusionismo, acabando por se ir profissionalizando.
Já com música e magia na bagagem, o interesse pela física só chegaria mais tarde, após uma passagem pela Escola de Verão de Física da FCUP, no 11º ano do ensino secundário. Ao contactar diretamente com matérias e projetos desta área, rapidamente percebeu que “não queria seguir as pegadas de 90% dos familiares, que são da área da saúde”, orgulhando-se da sua decisão em ser “uma exceção na família”.
A escolha do Mestrado Integrado em Engenharia Física na FEUP, um curso onde se aprende a “encontrar soluções para resolver problemas”, foi, por isso, algo natural e lógico para Fernando. “Conseguir descrever fenómenos da natureza através de equações matemáticas e conseguir prevê-los é algo que sempre me fascinou”, explica.
A paixão pelo desconhecido e a vontade de compreender o porquê de tudo o que nos rodeia são alguns dos motivos que levaram o estudante a enveredar por esta área “entusiasmante” e que traz sempre algo de novo. Com uma ânsia em querer fazer sempre mais, Fernando não conseguiu descurar outra das suas paixões e foi também no início deste seu percurso académico que se profissionalizou na música.
Do gosto pelo ritmo nasceu “Phase Transition”, uma banda que começou em 2018, durante o 2º ano como estudante no ensino superior, juntamente com colegas de Engenharia Física e de Bioengenharia, assumindo a posição de baterista. “Quatro engenheiros numa banda de metal progressivo… Acho que tem tudo para correr bem!”, admite, em tom de brincadeira. O projeto, que combina música clássica, jazz e fusão com a música metal e progressiva, está atualmente em ascensão, tendo a banda lançado recentemente o seu primeiro EP “Relatively Speaking” composto por dois singles.
Já o seu lado mágico, com que vibra desde criança, tem, atualmente, um enfoque menor nesta etapa da
Somos exploradores que procuram as leis que regem o universo para podermos usá-las a nosso favor
sua vida, continuando, ainda assim, a fazer parte do dia a dia de Fernando através de atuações profissionais esporádicas em eventos empresariais e casamentos.
Apesar do ritmo acelerado em que vive, desengane-se quem pensa que Fernando se desconecta de todas as suas artes para poder executar cada uma de forma individual: todas se interligam e nenhuma das suas paixões fora da engenharia o deixa escapar-se dela. “Para produzir/gravar música, é necessário ter luzes de aquisição e processamento de sinal, uma área que me fascina desde a última Unidade Curricular que tive. É extraordinário poder aplicar vários conceitos do meu curso na música.”, revela Fernando, cruzando conhecimento e talento.
Já no universo da magia, o estudante recua aos primórdios da humanidade. Faz uma analogia com a “engenharia” produzida pelo Homo erectus na criação das primeiras faíscas e na descoberta da “magia” do controlo do fogo, algo fascinante e inexplicável na época.
Para Fernando, conciliar todos os seus afazeres durante as 24 horas que compõem um dia pode até ser tarefa árdua, mas é algo que aceita e faz com prazer e tranquilidade. “Confesso que é necessário um esforço enorme para conseguir fazer tudo. Aproveito todas as viagens de metro para compor, treinar ritmos na cabeça, tratar da logística da banda, estu-
dar ou falar com clientes para as atuações de magia. Tirar partido de todos os tempos “mortos” é algo que já estou habituado a fazer e é o que dá ao meu dia mais horas.”, confessa o estudante de 22 anos.
O tempo que escasseia não o impede, ainda assim, de se dedicar a outros prazeres da vida, como um bom filme ou um bom livro. “A Brief History of Time”, de Stephen Hawking, é uma das obras que guarda na memória, tanto por ter sido escrita por um dos seus grandes ídolos, como por ter sido uma das leituras que mais o inspirou e mais o fez questionar a existência das coisas.
Fernando não sabe o que o futuro lhe reserva, mas sabe que a sua mente curiosa o fará ir mais longe e explorar novos e amplos horizontes. E não esconde nunca o orgulho no caminho que vem a traçar.
“Agora, já no meu 5º ano como estudante, tenho a certeza que ser engenheiro, e em particular físico, muda por completo a maneira como olhamos para o mundo. Somos exploradores que procuram as leis que regem o universo para podermos usá-las a nosso favor”, remata.
João Serrenho, CEO da CIN e antigo estudante de Engenharia Química da FEUP, foi distinguido no dia 18 de junho, durante a cerimónia do Doctoral Conferment, com o Prémio Carreira FEUP 2020.
fe.up.pt/~link/premiocarreira
feup_porto O Auditório da #FEUP recebeu, no passado dia 18 de junho, a 2ª edição da Doctoral Conferment Ceremony, onde foram distinguidos todos os que completaram o doutoramento e defenderam a sua tese e homenageados os doutores cujo doutoramento foi conferido há 25 anos.
O ambicioso Parque Central da Asprela, que irá ligar as várias faculdades e centros de investigação da U.Porto, terá uma área total superior a 60.000m2?
A partir de 2022, o novo “pulmão verde” da cidade será rodeado de centenas de árvores, duas ribeiras e vários espaços concebidos para passear, estudar ou descansar após um dia de trabalho.
TALENT ATTRACTION
boost your employer brand
RESEARCH
work with FEUP scholars on cutting-edge challenges
engage top students to solve real problems and create innovative solutions
ENGAGEMENT
participate in the life of the academic community
+ 92 AFFILIATE COMPANIES