Revista Engenharia nº51

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ENGENHARIA BOLETIM INFORMATIVO DA FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO INVERNO 2012

“Ciência sem fronteiras”: estudantes estrangeiros “invadem” a FEUP

Investigadores da FEUP premiados com Bolsas Europeias milionárias Centro de Competências em Cidades do Futuro garante financiamento de 1,6M€

Estudo inovador do LOME quer revolucionar o hóquei em patins



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SUMÁRIO

p.12

p.6

p.14 p.31

p.22

p.27 EDITORIAL

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Compromisso FEUP 2020

FEUP NO MUNDO

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Acontecimentos com ADN FEUP

INOVAR

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FEUP e ICBAS unem-se para travar doenças neurodegenerativas 7 Estudo biomecânico da FEUP quer revolucionar hóquei em patins 8 Docente da FEUP distinguido com Starting Grant na área da engenharia 10 Células Fotovoltaicas: o futuro do mercado da energia

EMPREENDER

12 “3D à Engenheiro” 14 Investigador da FEUP distinguido com Advanced Grant 17 FEUP Management Challenge 18 Startups no setor da saúde

p.17

AGIR

19 Transformar a cidade do Porto numa cidade do futuro até 2015 20 O Desenho da Plataforma de Dados da Saúde ao serviço dos cidadãos e dos profissionais de saúde 22 Ponte da Arrábida a Monumento Nacional

VENCER

23 Diretor da FEUP distinguido com prémio internacional 23 Start Up da U.Porto vence prémio BES Inovação 2012 24 FEUP vence Prémio SECIL 2011 24 Nova tecnologia para produção de aditivos verdes 25 Prémio Grünenthal para estudo sobre a dor 26 Veleiro Robótico da FEUP/INESC TEC vence competição internacional 26 Comemoração Novos Mestres

p.36 COOPERAR

27 500 estudantes internacionais a caminho da FEUP 28 Entrevista a João Falcão e Cunha: “O programa Erasmus é um dos maiores sucessos da União Europeia” 30 Engenharia da U.Porto continua a subir nos rankings internacionais 31 Investigadores de todo o mundo debatem inovação e tecnologia

INTERPRETAR

33 Fotorreportagem: FEUP First Job 2012 34 FEUP homenageia Prof. Vasco Sá 36 Entrevista a Luís Melo: “Um engenheiro FEUP tem de ser bastante mais do que um bom técnico” 38 TravelPlot Porto: caça ao tesouro na cidade Invicta

ENGENHARIA BOLETIM INFORMATIVO DA FEUP Edição* Divisão de Comunicação e Imagem da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto dci@fe.up.pt Conselho editorial Carlos Oliveira, Paulo Jesus e Raquel Pires Redação Raquel Pires e Marina Bertoncello noticias@fe.up.pt Design e Produção César Sanches design@fe.up.pt

Colaboram nesta Edição: Álvaro Martino, Ana Pereira, Anabela Trindade, Filipe Paiva, Luís Ferraz, Manuel Fontes, Rui A. Cardoso e Susana Neves

Impressão Empresa Diário do Porto, Lda. Porto 12 - 2012

Publicidade Sara Cristóvão publicidade@fe.up.pt

Periodicidade Semestral

Propriedade Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Sede FEUP, Rua Dr. Roberto Frias, 4200-465 Porto Tel: 22 508 1400 e-mail: dci@fe.up.pt | url: www.fe.up.pt

Tiragem 3500 exemplares Depósito legal 225 531/05 * Esta edição foi escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico.


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EDITORIAL

Compromisso FEUP 2020 À altura das responsabilidades. Que outrem também o esteja

Fotografia de Ana Pereira

Sebastião Feyo de Azevedo*

1. Este número da revista “Engenharia” publica um conjunto muito importante de destaques da nossa atividade nos últimos meses. Saúdo esta decisão editorial, na mensagem que transmite de que, no crescendo das restrições que desde 2010 se abatem sobre toda a sociedade, na crise material, de princípios e de confiança que está instalada, a FEUP, pelo mérito e esforço dos seus docentes, investigadores e técnicos, representa um pilar essencial para o desenvolvimento nacional e de que Portugal é viável como parceiro igual na Europa. 2. Em vésperas da promulgação da lei do Orçamento do Estado para 2013, antecipadamente conhecida como de austeridade extrema, interessa suscitar uma reflexão sobre responsabilidades institucionais e políticas - as nossas e as de outrem. Pelo nosso lado, devemos refletir sobre essa nossa responsabilidade para com a sociedade, de manter acesa a chama da esperança no progresso. Pela nossa história e pelas condições que usufruímos, nós temos a responsabilidade de constituir, no seio e em articulação com o todo esse potencial extraordinário de ciência, cultura, arte e tecnologia da U.Porto, uma alavanca forte para que Portugal saia do lamaçal em que caiu. Para essa missão superior, coloca-se-nos indubitavelmente o desafio de termos a lucidez, a coragem e a capacidade para tomarmos um máximo de medidas antecipativas, face à conjuntura, que assegurem a nossa capacidade de desenvolvimento, particularmente a nossa capacidade competitiva internacional. Teremos que perceber e interiorizar rapidamente que estamos a caminhar para um ‘novo estado de energia’, para uma estabilização de funcionamento com pressupostos duradoura e substancialmente diferentes dos que prevaleceram até aos dias de hoje. Nesse novo ‘estado’, face a pressupostos novos, teremos que adotar políticas e princípios novos, para mantermos uma necessária política de crescimento com qualidade: gerar mais receitas, reorganizar, gastar menos e produzir mais. Nada que não tenhamos a capacidade para fazer e estou certo de que o faremos, como é nossa obrigação para com as gerações futuras. 3. Mas, outros têm também que assumir as suas responsabilidades, com igual visão lúcida da realidade, e esses outros são concretamente o poder político - o governo e o poder legislativo.

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O panorama económico-financeiro e o quadro jurídico geral que rege o funcionamento do ensino superior e da investigação científica são atualmente muito preocupantes para o futuro das instituições, o que equivale a dizer, para o futuro de Portugal. No plano da gestão económico-financeira, o problema está bem para lá dos duros cortes orçamentais a que temos estado sujeitos - discutvel que seja a dimensão, os cortes são eventualmente necessários, mas outras medidas são difíceis de entender. As Leis do OE para 2011 e 2012, e legislação complementar, trouxeram-nos uma teia jurídico-administrativa burocrática largamente restritiva, no concreto de algumas normas e no ‘etéreo’ das dúvidas jurídicas dificilmente decifráveis que outras encerram, que têm provocado enormes dificuldades de gestão, desde logo na incerteza, mas também nas consequências de diminuição factual da qualidade de serviços e de aumentos de despesas administrativas consideráveis. No plano do quadro jurídico, numa perspetiva mais alargada, é neste momento bem claro que sem uma reforma do regime jurídico no modelo orgânico, na gestão e na administração, que responsabilize de forma clara os atores, dando-lhes meios para gerir de forma ágil, sem a assunção de um estatuto para as instituições de ‘autonomia no quadro de uma missão contratualizada’, e sem uma reforma articulada dos estatutos das carreiras e dos quadros de contratações, estamos em risco de não conseguir reagir aos cortes orçamentais, isto é, estamos em riscos de regredir, de perder competitividade internacional, enfim, de esbanjar este potencial de recuperação nacional que a FEUP representa. 4. Fecho este editorial com uma menção final de dimensão maior. O professor Vasco Sanches da Silva e Sá (Vasco Sá para todos nós), figura maior da FEUP e da Universidade, deixou-nos no dia 2 de abril de 2012. Por iniciativa do departamento de engenharia mecânica, aprovada por unanimidade pelo conselho científico da FEUP, foi inaugurada, a 22 de novembro, a Sala Professor Vasco Sá, sala de atos do departamento. É este o ciclo da vida. Fica gravado para a história, mas principalmente na memória individual de muitos e na memória coletiva da FEUP. *Diretor da FEUP


FEUP NO MUNDO

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IBM FACULTY AWARD PARA PROFESSOR DA FEUP

PROFESSOR DA FEUP ELEITO FELLOW DA IAFoST F. Xavier Malcata, professor catedrático da FEUP, é o primeiro português distinguido a nível internacional na área de engenharia e tecnologia alimentar, através da eleição para fellow da Academia Internacional de Ciência e Tecnologia Alimentar (IAFoST). A decisão foi conhecida em novembro e reflete o reconhecimento internacional pelo trabalho de investigação desenvolvido pelo professor que tem vindo a protagonizar abordagens pioneiras em ciência e tecnologia alimentar.

João Falcão e Cunha, professor catedrático da FEUP, recebeu o prémio Faculty Award, atribuído pela IBM. O papel decisivo e a contribuição do investigador no âmbito do Centro de Estudos Avançados (CAS) da IBM na área das Smart Cities foi um dos fatores preponderantes para esta distinção. É a segunda vez que João Falcão e Cunha recebe este prémio. Em 2009 tinha já sido distinguido pela IBM por ter sido um dos principais impulsionadores do MESG, em 2007.

LIVRO DE DOCENTE DA FEUP EDITADO NA CHINA Elsa Caetano, professora da FEUP e investigadora do VIBEST, é autora do livro “Cable Vibrations in Cable-Stayed Bridges”, que foi recentemente reeditado em Chinês, pela Chinese Architecture and Building Press (CABP). A obra original, escrita em Inglês, foi publicada pela International Association for Bridge and Structural Engineering (IABSE). Este livro foi a segunda obra da IABSE traduzida e à venda na China, na sequência de um protocolo assinado entre as duas instituições com o objetivo de traduzir e divulgar em território chinês um conjunto de monografias selecionadas.

FEUP VENCE CONCURSO DE EMPREENDEDORISMO ESTUDANTE DA FEUP PREMIADO NOS EUA Bruno Ferreira, estudante do Programa Doutoral em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da FEUP e investigador do INESC TEC, foi recentemente distinguido com o 2.º prémio numa competição de posters que decorreu durante a conferência “Oceans 2012 MTS/IEEE”, de 14 e 19 de outubro, na Virgínia (EUA).

O projeto “Remote Debugging Service”, de André Riboira, estudante do Programa Doutoral em Engenharia Informática e Rui Maranhão, professor na FEUP, foi um dos vencedores da 1.ª edição do Prémio da Ideia à Ação, promovido pela RedEmprendia, em parceria com o Banco Santander. O projeto, que em maio passado conquistou o 2.º lugar do iUP25k - Concurso de Ideias de Negócio da U. Porto foi um dos três - o único português - distinguidos entre os 12 finalistas a concurso.

INVESTIGADOR IDMEC-FEUP VENCE “YOUNG SCIENTIST AWARD”

ANP E GALP DE VISITA À FEUP A FEUP recebeu no dia 7 de novembro a visita da Agência Nacional de Petróleo do Brasil (ANP) e da GALP. As comitivas ficaram a conhecer as competências da FEUP e do INESC TEC, assim como alguns projetos estratégicos desenvolvidos por estas instituições e que se enquadram na linha de atuação das duas empresas visitantes. Outro aspeto importante da visita foi a apresentação do posicionamento e respetivas competências da faculdade em matéria de gestão de inovação e transferência de tecnologia para o tecido empresarial.

Tiago Andrade, antigo estudante da FEUP e investigador do Instituto de Engenharia Mecânica (IDMEC - Polo FEUP), é o vencedor do “Young Scientist Award”, atribuído pela Sociedade Internacional para a Educação em Engenharia (IGIP). O galardão foi entregue no âmbito da conferência comemorativa dos 40 anos desta sociedade que decorreu em Villach, na Áustria, e visa reconhecer o percurso deste jovem, desde os tempos de estudante até ao presente, como investigador no Laboratório Associado de Aeronáutica, Energia e Transportes (LAETA), onde desenvolve trabalho na Unidade de Integração de Sistemas e Processos Automáticos (UISPA).

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INOVAR

FEUP e ICBAS unem-se para travar doenças neurodegenerativas

Texto: Raquel Pires Fotografia: D.R.

É uma descoberta que pode constituir um enorme passo na investigação de medicamentos mais eficazes para as doenças neurodegenerativas. Uma equipa de investigadores da FEUP e do ICBAS criou um novo modelo biofísico que permite compreender a formação de fibras de amiloide que se encontram associadas ao desenvolvimento de patologias como o Alzheimer, Parkinson ou a Paramiloidose, também conhecida como Doença dos Pezinhos. Um estudo científico na área da biofísica, liderado por investigadores do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), em colaboração com a Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), pode tornar-se uma peça fundamental no desenvolvimento de novos fármacos para várias doenças neurodegenerativas. O estudo apresenta um modelo matemático universal e simples que, de forma objetiva e concreta, descreve a sequência de acontecimentos envolvidos na fibrilização (formação de fibras amiloide que se encontram associadas ao desenvolvimento das doenças neurodegenerativas) e o modo como estes são afetados pela ação de eventuais fármacos. “Trata-se de uma ferramenta que descreve e prevê o que acontece no caso da formação de fibras de amiloide, na presença ou ausência de inibidores”, explica Pedro Martins,

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coordenador do estudo. O investigador acrescenta ainda que “este tipo de modelos é muito importante na compreensão de vários fenómenos e em particular para o desenvolvimento de novos medicamentos. O artigo “A generic Crystallization-Like Model that describes the kinetics of amyloid fibril formation” foi publicado no Journal of Biological Chemistry e considerado “Paper of the week”, um reconhecimento internacional, uma vez que coloca o estudo entre os melhores do ano que são publicados pela prestigiada revista científica. A equipa de investigadores é constituída por Fernando Rocha e Rosa Crespo (FEUP) e por Ana Margarida Damas e Pedro Martins (ICBAS), que coordena o trabalho.


INOVAR

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Estudo biomecânico da FEUP quer revolucionar hóquei em patins Melhorar o desempenho dos atletas e dar visibilidade à modalidade é o principal objetivo do estudo biomecânico que um grupo de investigadores ligado à FEUP iniciou em 2010. A investigação, pioneira a nível mundial, incidiu sobre ringues, patins e sticks e nos materiais que poderão vir a melhorar o comportamento individual dos atletas. Jogadores profissionais do Barcelona e do FCPorto têm colaborado nos testes. É a primeira vez que uma equipa de investigadores se dedica ao estudo biomecânico do hóquei em patins, a modalidade que “mais títulos deu ao nosso país”, assegura Mário Vaz, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e um dos mais entusiastas pela investigação. O interesse surgiu do facto de os dois filhos serem praticantes da modalidade no clube Infante de Sagres e de não haver nenhum estudo biomecânico ligado ao hóquei em patins. Isto em 2010. “A nossa intenção passa por estudar todo o equipamento associado a esta modalidade, até os guarda-redes, com os seus equipamentos de proteção (…) e contribuir para melhorar o desempenho dos atletas de alta competição”, explica o investigador. De forma a conseguir uma boa base científica para o estudo, foi necessário realizar muitos testes não só nos ringues mas também no equipamento dos atletas que praticam esta

Texto: Raquel Pires Fotografia: D.R.

modalidade. Para isso foi necessário contactar de perto com equipas profissionais que estivessem dispostas a colaborar no estudo: para além do FCPorto, também a equipa do Barcelona participou nos testes realizados. Nesta fase foi também crucial a colaboração de Nuno Carrão, treinador adjunto da seleção nacional de sub-20 que recentemente se sagrou campeã da Europa. A parte do desempenho dos jogadores foi analisada por investigadores da Faculdade de Desporto da U.Porto (FADEUP), que têm feito um trabalho notável com a atleta Naide Gomes, campeã de salto em comprimento e com Beatriz Gomes, atleta olímpica de canoagem. De acordo com Mário Vaz, este estudo biomecânico será continuado em breve e estendido às equipas femininas e, se possível, alargado aos fabricantes de equipamentos, como é o caso da JETROLLER com os patins.

SABIA QUE… No dia 7 de dezembro foi inaugurado o Laboratório de Biomecânica da U.Porto LABIOMEP. Um investimento de 1,7 milhões de euros que vai permitir transformar esta infraestrutura num dos três melhores laboratórios de Biomecânica da Europa no que toca a equipamentos e tecnologia de ponta. O principal objetivo do LABIOMEP é o estudo do movimento biológico, desde o movimento do batimento cardíaco para a conceção de próteses até ao movimento de atletas para melhoria da performance desportiva. O LABIOMEP envolve até ao momento 29 investigadores da U.Porto de seis faculdades diferentes e de dois centros de investigação: Faculdade de Ciências, Desporto, Engenharia, Medicina, Medicina Dentária, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, juntamente com o Instituto de Engenharia Mecânica e o INEGI - Instituto de Engenharia e Gestão Industrial. Para além dos quase 30 investigadores, o centro conta ainda com cerca de 20 bolseiros de investigação a desenvolver projetos a longo prazo. www.labiomep.up.pt


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Texto: Raquel Pires Fotografia: Álvaro Martino

Docente da FEUP distinguido com Starting Grant na área da engenharia É o primeiro ano em que é atribuída uma Starting Grant na área de engenharia, em Portugal. O financiamento no valor de 1 milhão de euros foi atribuído a Manuel Alves, professor no Departamento de Engenharia Química da FEUP, que se dedica ao estudo de escoamentos de fluidos complexos e dos mecanismos que induzem instabilidades e turbulência elástica em escoamentos microscópicos. O anúncio foi feito pelo Conselho Europeu de Investigação (Bruxelas), que no total atribuiu 536 bolsas de investigação, sete delas para investigadores portugueses. Manuel Alves, professor auxiliar do Departamento de Engenharia Química da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), foi um dos investigadores contemplados com uma bolsa de investigação. Trata-se da primeira vez que um docente/ investigador da FEUP recebe uma Starting Grant. Com este financiamento será possível à equipa de investigação liderada por Manuel Alves aprofundar o estudo dos mecanismos que conduzem ao aparecimento de instabilidades em escoamentos microscópicos. Apesar

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de as propriedades elásticas dos fluidos complexos serem objeto de investigação há vários anos, até ao momento ainda se desconhecem os mecanismos físicos que conduzem ao aparecimento de turbulência elástica nestes fluidos que contêm moléculas longas. De acordo com Manuel Alves, em processos industriais pretende-se frequentemente evitar o aparecimento destas instabilidades, daí ser crucial o desenvolvimento de programas computacionais para a sua previsão, com vista a determinar as condições ideais de operação que maximizam a produtividade. Contudo, as instabilidades elásticas, em particular o estado de turbulência elástica, também podem ser favoráveis, e desejáveis, como por


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É difícil quantificar com precisão e analisar teoricamente o fenómeno da turbulência

O FENÓMENO DA TURBULÊNCIA ELÁSTICA DOS FLUIDOS

exemplo no desenvolvimento de microdispositivos para mistura eficiente de reagentes, para aumentar taxas de transferência de calor ou de massa ou para a produção de emulsões com propriedades otimizadas.

O fenómeno da turbulência elástica é bastante comum: desde a formação de galáxias, passando pela libertação de calor produzido por reações nucleares no centro do sol, movimentos atmosféricos e oceânicos, fluxos aerodinâmicos em torno dos automóveis e aviões, até ao escoamento de água nas tubagens em nossa casa, ou ao fluxo de ar no aparelho respiratório humano. Trata-se de uma área fundamental e de enorme interesse para os matemáticos, físicos e engenheiros, cujas ramificações se estendem aos campos da astrofísica, meteorologia, engenharia e medicina. É difícil quantificar com precisão e analisar teoricamente o fenómeno da turbulência.

O interesse por esta área de estudo surgiu em 1998, altura em que Manuel Alves iniciou o doutoramento. Desde aí, a linha principal da investigação tem sido direcionada para essa temática. Apesar do escoamento de fluidos complexos originar frequentemente instabilidades (elásticas), o conhecimento atual dos mecanismos envolvidos nesses fenómenos é escasso, o que acaba por constituir “um desafio importante e estimulante”.

Muitos matemáticos e físicos tentaram desenvolver uma teoria universal para a turbulência, mas sem sucesso, apesar das equações básicas serem conhecidas há mais de um século. A turbulência elástica é um fenómeno idêntico, mas ocorre em fluidos com estruturas moleculares complexas, como soluções poliméricas, detergentes, tintas, sangue, etc.

Para Manuel Alves, a atribuição da Starting Grant, depois de três tentativas, traduz o reconhecimento internacional do trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos. Permitirá ainda a criação de um grupo de investigação focado no estudo teórico e experimental de escoamentos microscópicos de fluidos complexos e o desenvolvimento de ferramentas computacionais para a sua previsão. É nisso que vai estar focado, muito provavelmente durante os próximos cinco anos de duração da Starting Grant.

O escoamento à microescala de líquidos “simples”, como a água, é normalmente ordenado e determinístico. No caso de fluidos complexos o escoamento torna-se facilmente instável, podendo eventualmente tornarse caótico, em condições descritas recentemente por ‘turbulência elástica’. São precisamente os mecanismos responsáveis pelo aparecimento deste estado caótico que se pretende estudar, por via experimental e computacional, com vista a desenvolver ferramentas computacionais para a sua previsão.

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Células Fotovoltaicas: o futuro do mercado da energia O sistema de selagem SolarSel foi um dos vencedores da 1.ª edição dos prémios ACP Diogo Vasconcelos, atribuído pela Associação Comercial do Porto em parceria com a U.Porto. Foi desenvolvido na FEUP, em parceria com a EFACEC, CIN e CUF-QI, e permite assegurar a estabilidade dos módulos fotovoltaicos a longo prazo, viabilizando a sua comercialização no mercado. Luísa Andrade* e Adélio Mendes**

A conversão direta da luz solar em energia elétrica constitui uma estratégia de elevado potencial na geração de energia de uma forma renovável e sustentável. As tecnologias solares e fotovoltaicas têm crescido exponencialmente nos últimos anos e fazem já parte do nosso quotidiano. Portugal definiu como objetivos da sua política energética a produção de cerca de 45% da eletricidade em Portugal a partir de fontes renováveis. Por outro lado, Portugal, a par da Espanha, apresenta condições geográficas excelentes em termos de exposição solar para a exploração de tecnologias solares e fotovoltaicas. Diversas empresas iniciaram a comercialização em Portugal destes sistemas de produção de energia elétrica, limitando-se contudo essencialmente à tecnologia de silício ou de filme fino. As células solares sensibilizadas com corante, do inglês Dye-sensitized Solar Cells (DSCs), têm vindo a interessar diversas empresas por apresentarem a possibilidade de fabrico a muito baixo custo e têm a capacidade de aproveitar muito mais a radiação difusa do que outras tecnologias, tirando melhor partido da radiação solar incidente não perpendicular. Este facto torna-as especialmente interessantes para integração em edifícios (Building Integrated Photovoltaics - BIPV), quer em fachadas quer em coberturas, e de operarem em latitudes com mais nebulosidade e assim com menos radiação direta. Adicionalmente, ao contrário das células solares convencionais de silício ou de semicondutores metálicos, as DSCs não perdem eficiência com o aumento da temperatura até à máxima de 60°C, sendo a perda acima deste valor menor que no caso das células convencionais. Para além destas vantagens, as DSCs

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constituem elementos arquitetónicos elegantes devido à sua transparência (daí a aplicação em fachadas e janelas), podendo ser produzidas com diferentes cores; as DSCs usam matérias-primas abundantes e não tóxicas. Uma das aplicações mais promissoras das DSCs são efetivamente as fachadas e janelas de edifícios urbanos, especialmente os que possuem já fachadas de vidro. As DSCs são formadas por dois vidros revestidos com uma película condutora para drenagem da corrente elétrica gerada. O fotoânodo é um filme nano-estruturado e poroso de dióxido de titânio no qual é adsorvida uma monocamada de corante. O corante, absorvendo um fotão, injeta na banda de condução do semicondutor um eletrão. O contra elétrodo é tradicionalmente formado por um filme de platina. Estes dois elétrodos são então aplicados sobre as placas de vidro, sendo posteriormente soldadas de forma a criarem um dispositivo hermético. O espaço entre as duas placas de vidro é preenchido com um eletrólito, normalmente à base de iodeto/triiodeto, estando as placas de vidro afastadas aproximadamente 30 µm. A FEUP e a EFACEC, no âmbito de um projeto cofinanciado pela AdI, envolvendo também as empresas CIN, CUF-QI e EDP, iniciaram o desenvolvimento da tecnologia de Células Solares Sensibilizadas com Corante com vista à sua a aplicação em edifícios. Esta tecnologia tem vindo a ser desenvolvida laboratorialmente desde 1991, quando o Prof. Grätzel (EPFL - Lausanne, Suíça) a propôs pela primeira vez. Contudo, apesar das diversas vantagens acima descritas, a maior limitação desta tecnologia prendia-se com a sua curta esperança de vida


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Fotografia de Manuel Fontes

Atualmente a equipa de investigação é constituída por sete investigadores e detém seis patentes relacionadas com este produto. Encontra-se em desenvolvimento um segundo projeto cofinanciado pela AdI - Projeto WinDSC - que terminará em 2014 com a apresentação de um primeiro protótipo de um painel fotovoltaico DSC com 1m2

e embutido em vidro duplo (simulação de uma janela com vidro duplo), capaz de produzir corrente elétrica contínua com uma diferença de potencial nominal de 24V. Esta é facilmente convertida para os 240V de corrente alterna da rede elétrica doméstica. * Investigadora do Departamento de Engenharia Química da FEUP ** Professor do Departamento de Engenharia Química da FEUP

Fotografia: D.R.

dado as placas de vidro serem encapsuladas usando um polímero termoplástico. Para que a longevidade da célula seja elevada, não deverá entrar contaminantes no seu interior nem sair eletrólito. Uma soldadura estanque, não condutora elétrica, de fácil aplicação e barata foi o desafio principal da equipa FEUP-EFACEC. Assim, foi desenvolvida uma tecnologia de selagem que permite às células operarem durante 20 anos com uma perda residual de eficiência, baseada numa soldadura a laser com fita de vidro de baixo ponto de fusão. Desenvolveu-se ainda uma solução inovadora na recolha da energia elétrica gerada, mais eficiente, mais barata e que permite o seu aumento de escala sem perda de eficiência. Tradicionalmente esta drenagem é feita através de coletores metálicos aplicados sobre a película condutora que reveste o vidro e protegidos por um selante polimérico. Esta solução não é, no entanto, satisfatória pois é cara, diminui significativamente a área ativa e está na origem do envelhecimento acelerado das DSCs.


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EMPREENDER

“3D à Engenheiro” Texto: Marina Bertoncello Fotografia: Álvaro Martino

A 3Decide é uma spin-off que nasceu há dois anos, no âmbito de um projeto desenvolvido na FEUP. À frente da empresa estão quatro jovens com ideias empreendedoras e dinâmicas, que aliam ferramentas de Engenharia ao que de melhor se faz na área do 3D. O resultado são produtos inovadores mais interativos e próximos das pessoas. O “3D” é uma das maiores tendências do mercado do entretenimento, marcando presença no nosso dia a dia através dos videojogos, dos filmes de animação e ficção que podemos ver no cinema ou até mesmo em casa com televisões e óculos especiais. Significa três dimensões e permite representar o imaginário e o virtual, aproximando-os da nossa realidade. A proposta da 3Decide passa pela fusão inovadora entre o 3D e a engenharia, de forma a aliar as ferramentas de engenharia informática ao que o 3D tem de melhor: a possibilidade de comunicar de forma natural e intuitiva, o seu aspeto cativante e apelativo e a capacidade de ajudar a compreender locais remotos e até a projetar cenários futuristas. “Por brincadeira por vezes dizemos que fazemos ´3D à Engenheiro´”, revela a equipa, formada por jovens empreendedores que acreditam que o 3D tem assumido “um papel mais interativo, imersivo e próximo do conhecimento e das decisões dos clientes”. O processo de criação da spin-off levou dois anos, envolvendo a captação de investimentos privados necessários e a formação de uma equipa multidisciplinar e experiente. Hoje é formada por duas equipas, uma de colaboradores e estagiários e outra residente, da qual fazem parte três engenheiros informáticos, formados na FEUP: Carlos Rebelo (31 anos, Diretor Executivo da 3Decide), André Cardoso e André Pinto (ambos com 26 anos e Engenheiros de Software) e um economista: Pedro Gonçalves (29 anos, Diretor de Operações).

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Equipa 3D

Com um ADN tecnológico inovador, desenvolvem soluções interativas e dinâmicas em 3D, multiplataforma, o que significa que funcionam em sítios web, dispositivos móveis, quiosques interativos, e que, ao contrário das soluções existentes no mercado, permitem aos clientes gerir todas as informações de forma simples e autónoma, através de sistemas de administração na Internet, como qualquer blog ou sítio web de conteúdos. Para além disso, não esqueceram as redes sociais (Facebook, Twitter, FourSquare) e outros serviços característicos da Web 2.0, como o Google Maps e a produção de estatísticas sobre a audiência e utilização em tempo real das soluções. “No mercado atual é muito importante uma empresa orientar a sua oferta comercial em direção a produtos, que sejam facilmente comunicados e que possam ser vendidos internacionalmente”, destacam. A empresa é especialista em áreas técnicas como a Computação Gráfica, Engenharia de Software, Serious Games/Simulações e Sistemas de Informação Geográfica. Destaca-se mundialmente na utilização do CityEngine, que permite a criação de cenários urbanos 3D realistas e desenvolve soluções customizadas em Realidade Aumentada, tendo já criado dois produtos inovadores: o 3DPlace (modelos 3D de espaços urbanos interiores e exteriores, partilhados diretamente em websites ou totems interativos, com informações dinâmicas disponíveis em mapas online e infografias práticas) e o aLIVE Panoramics (visitas virtuais baseadas em fotografias 360 interativas que podem ser diretamente configuradas pelos clientes e que


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Realidade Aumentada 3D aplicada ao projeto de arquitetura sustentável “Casas em Movimento” (CEM)

permitem recolher informações dos visitantes e explorar as visitas com realidade aumentada quando se está fisicamente no local). Os produtos enquadram-se em setores transversais à área do Marketing, da Comunicação e da Narrativa Digital, abrangendo grandes públicos e diferentes espaços físicos. Os principais clientes têm negócios direcionados para a área do turismo, património cultural e imobiliário, como é o caso dos museus, resorts, parques temáticos, locais históricos, centros empresariais e de congressos, teatros, entre outros. Carlos Rebelo, que atualmente assume a liderança executiva da empresa (CEO), já teve em mãos a liderança técnica, tendo sido responsável pela análise e escolha de tecnologias, elaboração do “estado da arte” do setor, idealização técnica dos produtos e recrutamento de novos colaboradores. Hoje, tem como desafio pensar na visão estratégica da 3Decide, orientação dos produtos para os mercados e clientes, na participação em eventos e promoção internacional da empresa e criação de parcerias técnicas e comerciais. “Ser CEO de uma empresa jovem que procura afirmar-se nacional e internacionalmente, num setor dinâmico e competitivo como o do 3D Interactivo & Tempo Real é escalar um Evereste. Muito treino, resistência, resiliência, sacrifício e paixão”, ressalta. A 3Decide já marcou presença na FITUR de Madrid, considerada a segunda maior feira de turismo do mundo, já fez uma missão empresarial aos Países Baixos e participou recentemente no “Power to the Pixel Market” em Londres, enquanto especialistas em 3D interativo e em tempo real. Ganhou uma menção honrosa, no Prémio Nacional de Indústrias Criativas, entre mais de 400 candidaturas, com a iniciativa SafeCity3D, um jogo digital educativo que tem como objetivo ensinar boas práticas de Segurança, Prevenção e Tolerância a crianças dos 6 aos 12 anos, através da combinação de métodos pedagógicos e componentes de entretenimento. Também iniciaram contactos com a

embaixada do Reino Unido e têm uma rede de contactos pessoais que vão desde a região de Oresund no Norte da Europa até à Nova Zelândia. Um dos objetivos traçados a médio prazo é a possibilidade de elevar os dois principais produtos da empresa (3DPlace e aLIVE Panoramics) à escala mundial, consolidando-os como uma nova forma de produzir e utilizar o 3D em termos empresariais. Para a equipa, a estratégia passa pela “capacidade de interligar modelos de cenários 3D aos atuais sistemas de informação, que estão na base de todo o universo digital que nos rodeia, e às plataformas sociais que são usadas por milhões de pessoas permanentemente”. Otimista e divertida, a equipa da 3Decide acredita na evolução do 3D e que “o futuro será feito de sistemas baseados em informação em tempo real e ambientes digitais que dão toda a liberdade aos utilizadores para os explorar em 2D, 3D, 4D… Queremos ajudar a escrever esse futuro! ´3D Interactivity… done right!´”.

História da 3Decide Tudo começou em 2007, quando António Coelho, professor do Departamento de Engenharia Informática da FEUP, começou a desenvolver, em parceria com a Porto Digital, um projeto sobre modelação em 3D de partes urbanas do centro histórico do Porto, no qual se incluía também Carlos Rebelo. Terminado este projeto, a equipa até então reunida, decide dar continuidade ao trabalho na área do 3D Urbano Interativo e dos Serious Games. Assim, criam em 2008 a empresa Palcos da Realidade, atualmente com a marca regista 3Decide. A FEUP faz parte do capital social da empresa, através de investigadores de grande relevância na área da computação gráfica em Portugal. A colaboração também abrange estudantes dos cursos de mestrados que têm a oportunidade de desenvolver dissertações em parceria com a empresa. www.3decide.com

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“Este prémio é o recomeço da minha vida profissional” Texto: Raquel Pires Fotografia: Álvaro Martino


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Adélio Mendes, professor do Departamento de Engenharia Química da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), acaba de ser distinguido com uma Advanced Research Grant no valor de 2 milhões de euros atribuída pelo European Research Council (ERC). O projeto consiste na criação e desenvolvimento de uma tecnologia inovadora de produção de energia elétrica através de células fotovoltaicas sensibilizadas com corantes, que pode vir a revolucionar o mercado da eletricidade.

Há quem compare estas bolsas aos prémio Nobel, até porque os montantes atribuídos são da mesma ordem de grandeza. Para os investigadores, receber uma Advanced Grant representa chegar ao grupo restrito das personalidades que veem assim o seu trabalho - às vezes de uma vida - ser reconhecido pela comunidade científica. Com 48 anos, Adélio Mendes acaba de entrar para “o grupo”. Considera este prémio “um recomeço da vida profissional” e “uma ferramenta para atingir um objetivo maior, que é o de poder contribuir para revolucionar o mercado da eletricidade em Portugal”. Até porque - diz - “o meu sonho era que o nosso país, com tantos recursos em termos de energia solar, se tornasse líder mundial nesta tecnologia”. A ideia de iniciar a pesquisa nas tecnologias fotovoltaicas partiu de um desafio lançado por Carlos Costa, em 2005, na altura diretor da FEUP. Com o pretexto de fazer um relatório sobre a tecnologia mais promissora no campo da energia fotovoltaica, Adélio Mendes chega a um ponto de partida importante: a solução passava pelo desenvolvimento de células solares sensibilizadas com corante. Os primeiros passos desta investigação arrancaram em 2006, depois de ter aceitado orientar uma estudante que acabara o doutoramento e se preparava para iniciar uma bolsa de investigação. Um ano depois, em conversa com um dos administradores da EFACEC, o professor da FEUP percebe que há interesse da parte da empresa líder no mercado de tecnologias e sistemas elétricos em apoiar este projeto. Os dados estavam lançados e era altura de investir tudo na investigação das células fotovoltaicas. Adélio Mendes não perdeu tempo. Em 2008 reúne-se com Michael Grätzel, professor na École Polytechnique Fédérale de Lausanne (Suíça) e inventor das células sensibilizadas com corante. Falou-lhe de um processo inovador de selagem das células com vidro, através de um processo assistido a laser. “Ele incentivou-me a prosseguir com a ideia e na sequência desta conversa acabei por submeter uma patente descrevendo todo este novo processo de selagem das células”, explica Adélio Mendes. Os dois anos seguintes ficaram marcados por alguns impasses. Os resultados tardavam em aparecer e houve necessidade

EM QUE CONSISTE A INVESTIGAÇÃO PREMIADA? Mimetizando o funcionamento da clorofila das plantas (pigmentos que permitem a fotossíntese), a tecnologia em causa, conhecida como células sensibilizadas com corante (DSC - Dye-sensitized Solar Cells), utiliza corantes para absorver a luz solar e transformá-la em energia elétrica. A solução tecnológica desenvolvida pela equipa de investigação liderada por Adélio Mendes apresenta-se como alternativa mais económica, segura e até estética do que as tradicionais células fotovoltaicas em silício e nas aplicações em edifícios também mais eficientes. O grande objetivo passa por construir módulos fotovoltaicos capazes de funcionar como revestimento de edifícios (semelhante a azulejos) ou até mesmo substituir fachadas, permitindo transformar a luz solar em eletricidade baixando significativamente a fatura energética. Esta tecnologia não tinha, até há pouco tempo, viabilidade comercial. No entanto, com a colaboração da EFACEC, o investigador da FEUP desenvolveu um processo de selagem das células DCS com pasta de vidro, garantindo assim a estabilidade dos módulos fotovoltaicos a longo prazo. Assim, o financiamento de 2 milhões de euros será utilizado no desenvolvimento científico e tecnológico destas células fotovoltaicas tendo como objetivo final células com pelo menos 13% de eficiência energética e com estabilidade de 25 anos. Para além do desenvolvimento da selagem com vidro assistida a laser, serão desenvolvidos substratos transparentes com uma condutividade elétrica muito superior à atual, um contra elétrodo de carbono nanoestruturado substituindo o atual filme de platina e um foto elétrodo otimizado para receber um pigmento nanoestruturado de carbono. O desafio passa agora por colocar esta tecnologia no mercado no início de 2014, com a ajuda da EFACEC.

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SABIA QUE… Adélio Mendes junta-se a Rui L. Reis (Universidade do Minho), ambos distinguidos com uma Advanced Research Grant, que assim passam a integrar o restrito grupo de 1200 investigadores que em 2012 foram reconhecidos com uma bolsa de investigação do ERC, o que revela a dificuldade de alcançar este feito e a competitividade da excelência destas bolsas. O Ministério da Educação e Ciência veio já felicitar os investigadores que se juntam agora aos sete portugueses que este ano foram distinguidos com Bolsas do ERC, referindo mesmo, em comunicado, que a atribuição destes prémios são «uma clara prova da excelência e vitalidade do tecido científico nacional, representado pelas instituições científicas portuguesas, reconhecidas internacionalmente».

de mudar a estratégia e desenvolvimento do projeto. Depois dessa reformulação, e passadas três semanas, surgem os primeiros sinais de que o projeto tem tudo para dar certo. Seguem-se várias outras patentes, descrevendo com mais detalhe estas e outras invenções. E os bons resultados na investigação sucedem-se a partir daqui. Quem o confirma é Michael Grätzel, em visita à FEUP, em 2011, ao considerar “os resultados excecionais” dado ser possível, pela primeira vez desde a invenção das células sensibilizadas com corante em 1991, garantir a estabilidade das células por 25 anos, graças ao processo inovador de selagem (ver caixa).

A LIGAÇÃO ENTRE UNIVERSIDADE-EMPRESA Uma das grandes apostas de Adélio Mendes é a colaboração com o tecido empresarial como forma de valorização dos projetos. Paralab, CIN SA, SONAE, CUF-QI, EFACEC, Amorim & Irmãos, Siemens, Continental, Unicer, NASA (EUA), Air Products (EUA), Sysadvance, Serenergy (DK) são alguns exemplos de empresas com quem o investigador da FEUP mantém ligações e parcerias. Mas nem sempre é fácil chegar até aqui. Na opinião de Adélio Mendes “o docente tende por vezes a ver a investigação exclusivamente como uma forma de progressão na carreira docente. Publicar um artigo científico, porventura numa área da moda, e sem compromissos relativamente à valorização social da investigação subjacente, é porventura mais simples e tentador. A interação com tecido industrial nacional é difícil, por vezes, mesmo complicado, mas é uma forma necessária de remunerar o investimento que a sociedade faz na investigação, uma forma de compromisso para com quem financia a instituição universitária nas suas diferentes facetas.” Por outro lado - continua o professor da FEUP - da parte das administrações das empresas ainda há quem olhe para as universidades considerando que não têm que pagar pelos serviços de I&D solicitados, dado estas serem cofinanciadas pelo Estado. Para

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Adélio Mendes, “a solução passa, obrigatoriamente, por um trabalho muito importante de sensibilização das universidades e empresas de como é possível tornar a colaboração profícua para ambas as partes, tendo em mente a própria sociedade; mas também é necessário a academia fazer o seu trabalho de casa e promover a atitude responsável daqueles que ousam colaborar com o tecido económico nacional”. Não é de admirar que a recente inauguração do Polo da UPTEC (ver pág. 32) seja, por isso, encarada como uma lufada de ar fresco no que toca à criação de parcerias com o universo empresarial. Considera o novo centro um sonho projetado a duas mãos, onde está incluído o diretor do UPTEC, professor Novais Barbosa. E diz ter ficado “comovido quando, durante a inauguração, o professor Novais Barbosa cita as minhas palavras sobre os requisitos de localização do novo centro: deve estar localizado a uma distância, não de carro, não de bicicleta mas a uma distância a pé da FEUP”. De acordo com Adélio Mendes, “este centro de inovação visa ser uma incubadora de empresas maduras da sua relação com a academia. Estou comprometido a tudo fazer para tornar este projeto um polo de desenvolvimentos do nosso tecido empresarial e da nossa academia (…). As empresas que lá se instalaram têm toda a minha gratidão e reconhecimento”. Crítico daqueles que apenas investem se tiverem o apoio do Estado, o professor da FEUP diz que se lembra das palavras de John F. Kennedy, ex-presidente dos EUA, quando dizia “My fellow Americans, ask not what your country can do for you, ask what you can do for your country.” E remata dizendo “vivemos numa cultura que nos diz continuamente que não somos capazes de fazer o que quer que seja sem a ajuda do Estado. Temos de inverter essa cultura, por outra da responsabilidade pessoal para com o bem comum, por uma cultura da dedicação e da competência, por uma cultura da excelência”.


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FEUP Management Challenge Bernardo Almada-Lobo* e Gonçalo Figueira**

O foco do processo de aprendizagem está a transferir-se dos professores para os estudantes. À luz do tão badalado processo de Bolonha, os estudantes devem adquirir mais responsabilidade, autonomia, competências práticas e uma outra atitude perante o próprio conhecimento. Os jogos sérios são uma ferramenta importante neste novo modelo pedagógico. Geralmente suportados por um simulador que modela eventos e processos do mundo real, estes jogos complementam os métodos tradicionais de aprendizagem, colocando a ênfase na experimentação (sem contudo envolver os riscos e custos da operação do sistema real). Representam um desafio relevante para os seus jogadores, sejam eles estudantes ou profissionais. Para os primeiros, os temas lecionados nas aulas são trazidos para a prática e é-lhes dada a oportunidade de testar soluções/estratégias específicas. Daí que os jogos sérios sejam um instrumento de conexão entre a teoria e a prática. O FEUP Management Challenge é uma competição de estratégia e gestão, baseada num simulador que visa estabelecer este tipo de ligações. A primeira edição, destinada a estudantes da FEUP inscritos em unidades curriculares de gestão de empresas, contou com o apoio institucional da Tabaqueira, uma subsidiária da Philip Morris International, e do Global Management Challenge. A organização foi levada a cabo pela SDG (Simuladores e Modelos de Gestão), em parceria com o Departamento de Engenharia e Gestão Industrial (DEGI). Na competição, que decorreu em setembro e outubro, os estudantes organizaram-se em equipas e assumiram o papel de conselho de administração de uma empresa virtual. As várias equipas foram distribuídas em mercados, onde competiram entre si para alcançar o melhor valor para as suas ações. O desafio foi composto por duas rondas. Na primeira, 55 equipas (englobando cerca de 230 estudantes - a maioria finalistas - de oito cursos de mestrado da FEUP) competiram em oito mercados, tendo-se qualificado a primeira de cada grupo. Na ronda final, as equipas apuradas disputaram entre si o mesmo mercado.

A participação no programa requer a análise da situação de uma empresa, a definição da estratégia e a sua concretização nas diversas decisões presentes no simulador. A estratégia a definir tem um caráter global na empresa, já que deve congregar quatro áreas fundamentais: marketing, produção e distribuição, recursos humanos e financeira. O desafio do simulador não se prende apenas com a análise estática de um problema e a sua resolução. A dinâmica de competição num mercado com outras empresas (equipas) obriga a que a estratégia seja delineada (e adaptada no decorrer das decisões) tendo em conta o comportamento da concorrência. Todo este processo é desenvolvido em equipa, exigindo a organização e coordenação dos vários elementos que a compõem, à semelhança do que acontece em empresas reais. Os objetivos deste programa têm que ver com a oferta de uma formação complementar à componente letiva e aos trabalhos existentes, já que a participação na competição permite aos estudantes, por um lado, integrar e testar os seus conhecimentos de gestão num simulador, perante a concorrência de outros participantes (observando e avaliando os resultados das suas decisões) e, por outro, desenvolver as suas competências de organização, trabalho em equipa e liderança. Naturalmente que o jogo tem um impacto diferente consoante o percurso do estudante e a sua familiaridade com conceitos de gestão de empresas. Para alguns poderá passar pelo simples facto de ganharem já alguma consciência sobre o processo de gestão e tomada de decisão. A primeira edição da competição foi ganha por estudantes de Engenharia Informática, que se superiorizaram a equipas de Bioengenharia, Engenharia Eletrotécnica, Engenharia Industrial e Gestão, Engenharia Mecânica, Engenharia do Ambiente, Engenharia de Serviços e Gestão e Engenharia Química. A equipa vencedora terá a oportunidade de realizar um estágio na Tabaqueira e de participar no IEMS’13 (Industrial Engineering and Management Symposium). * Professor do Departamento de Engenharia e Gestão Industrial da FEUP ** Investigador do Departamento de Engenharia e Gestão Industrial da FEUP

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Fotografia: D.R.

Startups no setor da saúde . Os médicos são os únicos prescritores e por isso os maiores influenciadores da adoção de tecnologias. Embora se rejam por princípios éticos rígidos (Juramento de Hipócrates), são humanos e por isso sujeitos às mesmas tentações materialistas que nos afetam a todos. Esta simples realidade, que ninguém gosta de debater, é bem conhecida das indústrias de tecnologias médicas que desenvolvem as suas estratégias comerciais e de marketing à volta dela. . A burocracia (certificações, testes clínicos) para lançar

Paulo Ferreira dos Santos*

É inegável o contributo da tecnologia para a melhoria dos cuidados de saúde e para o aumento significativo da esperança de vida. Por outro lado, o respetivo custo é apontado como um dos fatores com maior impacto no crescimento da despesa dos sistemas de saúde, nem sempre identificando as razões que contribuem para esse facto. Os decisores políticos, particularmente na Europa e por receio de serem penalizados nas eleições, têm tido alguma relutância em reformar os sistemas de saúde tornando-os sustentáveis financeiramente. Por outro lado, os interesses dos pacientes têm justificado muitas ações que em nada os beneficiam, mas apenas protegem as corporações que se movimentam na esfera do mercado médico, que se protegem com métodos lícitos, mas lesivos do interesse público, pois têm como objetivo evitar concorrência, o que torna o acesso a cuidados médicos mais caro e a entrada no mercado a novos competidores mais difícil. Sem qualquer ironia afirmo frequentemente que a Tomorrow Options tinha, quando a iniciamos, tudo para falhar. No entanto, na altura não tínhamos essa consciência, pois acreditávamos que para ter sucesso seria suficiente desenvolver produtos com melhores propostas de valor do que as alternativas. Acreditávamos que a maior dificuldade seria internacionalizarmo-nos, de imediato. Tratava-se de uma necessidade urgente face aos prazos de pagamento dos hospitais portugueses, na altura a mais de 300 dias (hoje mais de 500). A internacionalização foi de facto um desafio enorme, com a agravante de não termos nenhum negócio no país para servir de referência lá fora. Mas outros fatores vieram a revelar-se bem mais difíceis de superar:

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um produto médico é muito maior do que em qualquer outro setor de atividade, pois, com razão, é necessário avaliar e medir os riscos e responsabilidades, mas a (incompreensível) inexistência de standards básicos implica repetir todos os processos sempre que se queira vender num novo país ou região. A legislação, muito ambígua, funciona como barreira para evitar e distorcer a concorrência, aumenta custos e atrasa a entrada dos produtos no mercado. . Os modelos de negócio são pouco claros e envolvem muitos intervenientes, particularmente na aquisição de produtos inovadores. As pequenas empresas para acederem ao mercado têm com frequência que se associar às grandes, com relações fortes e privilegiadas, abdicando de valor em favor destas. Também as instituições de investigação científica usam a necessidade de validar novos produtos médicos para retirar dividendos financeiros avultados, particularmente através de fundos públicos. Frequentemente contribuem para atrasar a entrada dos mesmos no mercado (estudos mais longos geram-lhes mais receita). Estas barreiras não constituem um desincentivo para nós, antes pelo contrário, pois se existem grandes dificuldades, existem também oportunidades que queremos explorar. Para as startups vencerem as dificuldades é importante desenvolverem boas parcerias, de preferência internacionais e captar investimento. Mas fundamental é constituir uma boa equipa. Na Tomorrow Options queremos investir a maior parte dos recursos gerados na nossa excelente, ambiciosa e internacional equipa. Os jovens que trabalham connosco fazem-no arduamente para sermos os melhores do Mundo. São os nossos heróis. Não entendemos porque é que o país tudo faz para se desfazer deles ou lhes castiga a excelência e o mérito com mais impostos. *CEO, Tomorrow Options


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Transformar a cidade do Porto numa cidade do futuro até 2015 O Centro de Competências em Cidades do Futuro da U.Porto, sediado na FEUP, acaba de garantir financiamento europeu no valor de 1,6 milhões de euros para um projeto cujo objetivo é transformar o Porto numa smart city, ou seja, um laboratório vivo para as cidades do futuro. É o arranque oficial do Centro de Competências em Cidades do Futuro da U.Porto, partindo de imediato para o terreno: o financiamento de 1,6 milhões de euros, conseguido através de um concurso europeu no âmbito do 7.º Programa Quadro, vai permitir dotar a Universidade e a cidade do Porto de plataformas experimentais à escala urbana, apoiando a investigação experimental e interdisciplinar em áreas de ponta como a sensorização à escala da cidade, os sistemas de transporte inteligentes para a mobilidade sustentável, e a análise do impacto das tecnologias e redes sociais urbanas no comportamento e qualidade de vida dos cidadãos. A decisão da Comissão Europeia em apoiar este projeto vem confirmar a excelência da investigação da U.Porto em áreas relevantes para as cidades do futuro, bem patente através de projetos como o Vital Responder, que desenvolveu redes de sensores para bombeiros, e o Drive IN que está a tornar os Raditáxis numa das frotas mais avançadas do mundo. O sucesso destes projetos, anteriormente financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), reúne investigadores das Faculdades de Engenharia, Ciências e Psicologia e de várias unidades

Texto: Raquel Pires Fotografia: Álvaro Martino

de investigação que trabalham em conjunto e colaboram com parceiros nacionais e internacionais como a Universidade de Aveiro, o Instituto de Telecomunicações, a Carnegie Mellon e o MIT. Com este financiamento europeu vai ser possível explorar as sinergias entre grupos de investigação de áreas tão diferentes como telecomunicações, transportes, psicologia, urbanismo, engenharia biomédica, redes sociais ou informática, permitindo também contratar novos investigadores doutorados e alargar a esfera de atuação do Centro de Competências em Cidades do Futuro. O plano de trabalhos aprovado pela Comissão Europeia passa por ampliar a infraestrutura que está criada, nomeadamente através de parcerias com a Câmara Municipal do Porto, os Raditáxis, a Porto Digital, a STCP e dezenas de parceiros industriais. Sediado na Faculdade de Engenharia do Porto, o Centro de Competências em Cidades do Futuro é um projeto multidisciplinar que pretende englobar diferentes equipas e projetos das faculdades da U.Porto, numa lógica de colaboração e networking no setor das tecnologias de informação e comunicação, design urbano, construção e gestão de ambientes urbanos, contribuindo assim para o bem-estar e qualidade de vida nas cidades. Na opinião de João Barros, diretor do Centro de Competências em Cidades do Futuro e professor da FEUP, este é um projeto inovador em Portugal na medida em que “coloca os utilizadores finais, por exemplo famílias, condutores, médicos e bombeiros no centro da atenção dos investigadores, oferecendo novas plataformas tecnológicas e living labs, onde cientistas podem criar novo conhecimento de ponta, startups podem fazer provas de conceito essenciais para serem financiadas e empresas já mais estabelecidas podem desenvolver e testar novos produtos e serviços que podem ser depois exportados para as cidades do futuro de todo o mundo”.

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O Desenho da Plataforma de Dados da Saúde ao serviço dos cidadãos e dos profissionais de saúde Permitir o acesso descentralizado à informação de saúde do cidadão e um rigoroso processo de autenticação é o principal objetivo da Plataforma de Dados de Saúde (PDS), um projeto do Ministério da Saúde em colaboração com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Trata-se de um serviço que permite melhorar a saúde dos cidadãos dando-lhes mais autonomia e apoiando os profissionais de saúde na prestação de melhores cuidados, em qualquer ponto do país.

Lia Patrício e António Brito*

Atualmente, a informação de saúde dos cidadãos ainda está em grande parte alojada e acessível apenas em cada uma das unidades de saúde a que o cidadão recorreu: o centro de saúde, o hospital, a clínica ou o consultório médico. No entanto, o acesso descentralizado a essa informação pode ser crucial. Se um cidadão tiver um problema de saúde fora da sua área de residência, é importante que o médico tenha acesso à informação relevante para uma melhor prestação dos cuidados de saúde. Além desta melhoria, o acesso à informação torna os cuidados de saúde mais eficientes, uma vez que evita a repetição de exames que assim deixam de ser necessários. Com a implementação da Plataforma de Dados de Saúde os profissionais de saúde podem consultar a plataforma em vários pontos do país e os cidadãos passam a ter um papel mais ativo na gestão da sua saúde.

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No entanto, para que seja bem-sucedida, a PDS tem de enfrentar vários desafios, não só tecnológicos, mas humanos e organizacionais. Em primeiro lugar, é fundamental que a informação disponibilizada vá ao encontro do que os cidadãos e os diferentes profissionais de saúde precisam e que traga benefícios claros para todos. Para isso é necessário conhecer bem e adaptar a PDS às necessidades dos vários utilizadores. Por outro lado, o desenvolvimento da PDS implica interligar informação de múltiplos sistemas tecnológicos usados pelas diferentes instituições e integrar procedimentos dos diferentes utentes e profissionais de saúde. A prestação de cuidados de saúde é complexa e a diversidade de sistemas e de práticas é um grande desafio ao acesso integrado à informação preconizado pela PDS. Foi com base nestes pressupostos que o Ministério da Saúde estabeleceu em 2010 um protocolo de colaboração com a FEUP, que apoia o projeto em três áreas: o desenho da PDS enquanto serviço que ofereça uma boa experiência de utilização e que crie valor para os cidadãos, para os profissionais de saúde e para o sistema de saúde como um todo; a análise e apoio à integração da PDS nos processos operacionais das diferentes instituições do sistema de saúde, contribuindo para uma adoção suave, mas que sirva também de incentivo à melhoria desses processos e no desenho da arquitetura de informação que permita integrar os diferentes sistemas, no sentido de suportar uma implementação eficaz da PDS e promover a colaboração entre as diferentes entidades do sistema de saúde. Esta colaboração do Ministério da Saúde com a FEUP tem tido um impacto direto no desenho da PDS, mas tem, também, uma grande relevância em termos de investigação em Ciência, Gestão e Engenharia de Serviços, área que tem vindo a assumir um papel crescente no panorama internacional. A importância dos serviços nas principais economias mundiais levou


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Fotografia: Manuel Fontes

a que fosse necessário desenvolver competências interdisciplinares para a inovação nos serviços. O desenvolvimento da PDS é disso um exemplo.

funcionalidades, a arquitetura de serviço que define as atividades a suportar e a de experiência de utilização e os blueprints para o desenho das interfaces.

Tendo por base uma abordagem de desenho de serviços, o grande desafio foi a compreensão e desenho de um serviço tão complexo como a PDS, envolvendo múltiplos stakeholders, organizações e sistemas. Assim, após uma fase de enquadramento com a equipa do Ministério da Saúde, a equipa da FEUP começou por realizar um conjunto de entrevistas para mapear os stakeholders relevantes que, de alguma forma, estavam relacionados com a PDS, contribuindo ou utilizando os seus serviços. Este mapa foi importante para ter uma ideia da extensão do impacto da PDS e para identificar os stakeholders mais diretamente envolvidos.

Após o lançamento da primeira versão da PDS, o trabalho da FEUP centra-se agora no acompanhamento da implementação da PDS através da avaliação do valor criado para os cidadãos e profissionais de saúde pela PDS e da sua experiência de utilização. Em breve serão realizados novos estudos com cidadãos e profissionais de saúde no lançamento das várias etapas do RCU2, para avaliar a experiência do serviço e identificar melhorias e novas evoluções. Como a PDS é precisamente uma plataforma que se pretende venha a servir de base à criação de novos serviços, irá também ser realizado um levantamento junto dos diferentes stakeholders da saúde e de especialistas internacionais no sentido de identificar evoluções futuras para a PDS. Numa abordagem iterativa de desenho de serviços, o objetivo é contribuir para melhorar a PDS e apontar caminhos para a sua evolução futura no sentido de contribuir ativamente para a melhoria da saúde dos cidadãos.

A partir deste levantamento, foram estudados em maior profundidade quatro grupos: cidadãos, médicos, enfermeiros e farmacêuticos. Este estudo envolveu entrevistas individuais e em grupo e permitiu identificar as principais atividades desenvolvidas por cada um deles, as suas necessidades de informação e os seus requisitos de experiência na utilização da PDS. Paralelamente foi realizado um estudo em unidades de cuidados primários, num hospital privado, num público e no INEM, para analisar os seus processos, as suas necessidades de informação, bem como os constrangimentos e elementos facilitadores da adoção da PDS. Deste levantamento resultou a geração do conceito de serviço da PDS, que permitiu identificar os principais serviços e respetivas

Neste projeto estão envolvidos dois investigadores da FEUP e três estudantes de doutoramento, que desenvolvem a sua investigação nas três grandes áreas de apoio à plataforma. O projeto conta ainda com a colaboração de investigadores da Carnegie Mellon University, da Texas State University e da University of Hawaii. * Professores do Departamento de Engenharia e Gestão Industrial da FEUP

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Ponte da Arrábida a Monumento Nacional Manuel de Matos Fernandes*

1. A Ponte da Arrábida constitui uma obra-prima da engenharia de pontes, sendo como tal reconhecida internacionalmente. 2. A Ponte da Arrábida é a primeira grande ponte sobre o rio Douro integralmente concebida, projetada e construída pela engenharia portuguesa. 3. A Ponte da Arrábida tornou-se um dos mais poderosos símbolos da cidade, provavelmente aquele que no futuro melhor simbolizará o Porto do séc. XX. 4. A Ponte da Arrábida insere-se numa área sensível e com forte pressão imobiliária, sendo imperioso que quaisquer novas construções e estruturas na zona sejam apreciadas tomando em consideração o seu extraordinário valor patrimonial. 5. A Ponte da Arrábida completa 50 anos no dia 22 de junho de 2013, ano em que se cumpre o centenário do nascimento no Porto do seu autor, o Engenheiro Edgar Cardoso. Em dezembro de 2010, em sessão pública na FEUP, com a presença do Diretor, Sebastião Feyo de Azevedo, e do Bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos, foi lançado um abaixo-assinado de apoio à classificação, com ampla repercussão nos média. Sensivelmente na mesma altura ocorreu a abertura formal da instrução do processo de classificação, por despacho do Diretor do IGESPAR - Instituto para a Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico, tendo ficado responsabilizado pela instrução do mesmo o técnico superior David Ferreira. Deve ser referido que estava em causa, por um lado, a classificação da Ponte e, por outro,

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o grau dessa classificação, o de “interesse público” ou de “monumento nacional”. Um passo fundamental representou a aprovação, a 18 de junho de 2012, pela Secção do Património Arquitetónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura, do seguinte parecer (tendo sido relator Mário Jorge Barroca): “Como o exemplar processo que acompanha o pedido de abertura de procedimento classificatório demonstra, a Ponte da Arrábida é um dos mais significativos monumentos da Engenharia Portuguesa do século XX. Foi mesmo a primeira grande ponte a ser integralmente projetada e construída por técnicos nacionais. As inovações técnicas introduzidas na sua construção atraíram, desde cedo, a atenção internacional. Por outro lado, a Ponte, com o seu notável desenho, entrou rapidamente no imaginário coletivo das populações das duas margens do rio. Assim como as obras mais emblemáticas da Arquitetura Contemporânea portuguesa têm vindo a ser objeto de proteção patrimonial, entendemos que também as mais significativas obras da nossa Engenharia o devem ser. Nesse sentido, porque o valor patrimonial da Ponte da Arrábida não carece de demonstração, a SPAA do CNC é de parecer que a mesma deve ser classificada como Monumento Nacional”. À aprovação deste parecer seguiu-se o anúncio no Diário da República da abertura, durante 30 dias úteis, da Consulta Pública do processo, destinada a permitir a qualquer cidadão fazer reclamação acerca do projeto de decisão final (isto é, a classificação nos termos do parecer acima transcrito). Essa consulta encerrou sem reclamações. Falta agora o último passo: a aprovação em Conselho de Ministros de decreto-lei com a classificação como Monumento Nacional. Parece legítimo esperar que a 22 de junho próximo, no dia em que completar 50 anos, a Ponte da Arrábida seja Monumento Nacional. No dia anterior, a 21 de junho de 2013, a FEUP organizará na Alfândega do Porto um Colóquio Internacional sobre Pontes e Património. * Professor do Departamento de Engenharia Civil da FEUP

Fotografia: D.R.

O processo de classificação da Ponte da Arrábida foi desencadeado em agosto de 2010 com a entrega na Secretaria Regional de Cultura do Norte de um pedido formal subscrito por Manuel de Matos Fernandes, Diretor do DEC, sustentado por um dossiê preparado por uma equipa que envolveu também Augusto de Sousa e Álvaro Azevedo, docentes da FEUP, Esmeralda Paupério, colaboradora do Instituto da Construção, e José Fernando Martins, estudante de doutoramento. De entre as razões apontadas para a classificação, destacam-se, de modo muito resumido as seguintes:


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Diretor da FEUP distinguido com prémio internacional

Start Up da U.Porto vence prémio BES Inovação 2012

Sebastião Feyo de Azevedo, professor catedrático de engenharia química da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) e atual diretor da faculdade, foi recentemente distinguido com a Medalha Dieter Behrens, galardão máximo da Federação Europeia de Engenharia Química (EFCE), atribuído quadrienalmente em reconhecimento de uma contribuição significativa para o engrandecimento do perfil da engenharia química na Europa. É o primeiro português distinguido com esta medalha, passando a figurar como a quinta personalidade premiada pela EFCE.

Uma tecnologia inovadora que promete “revolucionar” o modo como acedemos a vídeos em tempo real através de redes wifi acaba de valer à Streambolico, empresa startup incubada no Polo Tecnológico do Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto (UPTEC ), a atribuição do Prémio BES Inovação 2012.

O júri de seleção, presidido por Richard Darton, professor e ex-diretor do Departamento de Engenharia da Universidade de Oxford (Reino Unido), justificou a distinção pelo papel que Sebastião Feyo de Azevedo desempenhou durante cerca de 14 anos como membro ativo, presidente comprometido (2007-2010) do Grupo de Educação em Engenharia Química. Destacou a contribuição substancial que o docente deu para a educação e qualificação em engenharia química na Europa, especialmente no âmbito da reorganização do Ensino Superior europeu subsequente à Declaração de Bolonha. Para esta distinção terão contribuído os 10 anos que Sebastião Feyo de Azevedo teve como Diretor do Departamento de Engenharia Química da FEUP (2001-2010) e diretor da Faculdade (2010-presente), mas particularmente o seu trabalho como delegado Nacional ao Bologna Follow-up Group (2004-2010), como coordenador do Grupo Nacional de Peritos de Bolonha (2007-2008) e como presidente do Grupo de Trabalho da EFCE em Engenharia Química, onde foram elaboradas as recomendações da EFCE para a adaptação dos cursos de Engenharia Química aos três ciclos de Bolonha. O galardão será atribuído na cerimónia de abertura da conferência europeia em Engenharia Química que se realizará na cidade de Haia, Holanda, a 21 de abril de 2013.

Se já desesperou a tentar ver um vídeo no Youtube através de uma rede wifi de acesso partilhado (aeroporto, hospital, etc.), então esta notícia é para si. Atualmente, estes pontos de acesso wifi só conseguem fornecer um fluxo contínuo de vídeo de alta qualidade a um máximo de cinco a oito clientes, o que está na origem de várias falhas no carregamento. A tecnologia desenvolvida pela Streambolico permite aumentar dez vezes o número de utilizadores, maximizando desta forma a fiabilidade das comunicações. Na base desta inovação está o facto de a nova tecnologia gerar um único pacote de dados codificado a partir dos pacotes perdidos por todos os utilizadores, em vez de fazer retransmissões separadas para cada um. Ao receber esse pacote codificado, cada recetor é capaz de extrair os dados que precisa combinando esse pacote codificado com os outros dados que recebeu anteriormente. A aplicação mais imediata desta tecnologia é a transmissão de vídeo através de pontos de acesso wifi de acesso partilhado, como os que se podem encontrar em estádios, hotéis, aeroportos, hospitais e outros espaços públicos com grandes aglomerações de pessoas. Outras aplicações possíveis incluem a transmissão de dados sem fios em data centers, sistemas de tempo real em fábricas ou jogos e aplicações de redes sociais com vários utilizadores em dispositivos móveis. A nova tecnologia deve chegar ao mercado português em 2013. A equipa vencedora é liderada por João Barros, professor da FEUP e investigador do Instituto de Telecomunicações (IT) e inclui ainda Diogo Ferreira (FEUP), Paulo Oliveira (Streambolico) e Rui Costa, da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP). www.streambolico.com

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FEUP vence no Prémio SECIL Universidades 2011 Uma solução base para a travessia do rio Douro através do metro, capaz de ligar as cidades do Porto e Vila Nova de Gaia, passando pela Ponte da Arrábida e ainda o estudo do comportamento dinâmico de pontes com tabuleiro pré-fabricado em vias de alta velocidade foram os temas de investigação premiados pela cimenteira SECIL, no âmbito da edição 2011 do Prémio SECIL Universidades, galardão que tem o alto patrocínio da Presidência da República. Orientado por Álvaro Azevedo, Tiago Costa Pinto dedicou-se à adaptação da Ponte da Arrábida à passagem do metro ligeiro. Esta opção insere-se na terceira e última fase prevista para o desenvolvimento do Metro do Porto, que ligará as zonas do Campo Alegre (Porto) à Arrábida (em Vila Nova de Gaia), incluindo o novo atravessamento do rio Douro. A solução proposta permite ganhos consideráveis no fator custo relativamente à construção de uma nova ponte.

Cláudio Horas, estudante finalista do Mestrado Integrado em Engenharia Civil da FEUP, foi o autor do segundo trabalho premiado e que consistiu na elaboração de um estudo sobre o comportamento dinâmico de pontes com tabuleiro pré-fabricado em vias de alta velocidade. O objetivo desta investigação passa por contribuir para a evolução no conhecimento das implicações do tráfego a alta velocidade a nível estrutural e respetivas medidas de análise, incidindo com particular detalhe no desenvolvimento de processos de otimização de modelos numéricos de pontes e viadutos já existentes. Orientado por Raimundo Delgado e Rui Calçada, Cláudio Horas desenvolveu um trabalho de investigação que incide sobre um viaduto ferroviário de tipologia pré-fabricada situado em Alverca, embora o que se pretenda é que esta experiência seja passível de ser aplicada a outras estruturas semelhantes.

Nova tecnologia para produção de aditivos verdes É uma nova tecnologia que permite produzir um produto com elevado rendimento e pureza, com aplicação à produção contínua e à escala industrial de compostos oxigenados, como ésteres e acetais. Estes podem ser usados como aditivos verdes para combustíveis, solventes verdes ou como intermediários na produção de polímeros, perfumes e aromas. Chama-se “Simulated Moving Bed Membrane Reactor” e integra o estudo “PermSMBR A New Hybrid Technology: Application on Green Solvent and Biofuel Production”, da autoria de Alírio Rodrigues (professor da FEUP), Viviana Silva e Carla Pereira (ambas investigadoras do laboratório

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associado da FEUP LSRE - Laboratório de Processos de Separação e Reação/LCM - Laboratório de Catálise e Materiais), recentemente distinguido pela Process Systems Enterprise, com o prémio “Model-Based Innovation 2012”, no valor de 3000 euros. A tecnologia híbrida integra um único equipamento de reação com duas técnicas de separação diferentes: cromatografia (Simulated Moving Bed) e membranas seletivas permeáveis (pervaporação ou permeação). A equipa explica que esta tecnologia permite a “intensificação de processos que envolvam reações de equilíbrio onde mais do que um produto é formado; a simultânea reação e separação dos produtos formados (por adsorção e membranas) conduzindo a conversões muito superiores à de equilíbrio, por vezes até a uma conversão completa, tendo o potencial de produzir um produto com elevado rendimento e pureza”. Esta tecnologia foi avaliada teoricamente, através do uso de modelos matemáticos, baseados em dados experimentais. O próximo passo será a construção de uma unidade PermSMBR para proceder à sua validação experimental e, em seguida, passar à fase de comercialização.


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Texto: Marina Bertoncello Fotografia: D.R.

Prémio Grünenthal para estudo sobre a dor Um novo método objetivo de quantificação da dor foi distinguido com o Prémio de Investigação Clínica Dor 2011, pela Fundação Grünenthal Portugal. O projeto foi desenvolvido por Ana Castro no âmbito do Programa Doutoral em Engenharia Biomédica da FEUP.

É possível medir algo tão subjetivo como a dor? A resposta foi apresentada num projeto desenvolvido por Ana Castro, no âmbito do Programa Doutoral em Engenharia Biomédica da FEUP. O estudo “Potenciais evocados somatossensitivos podem traduzir objetivamente o balanço nocicepção/antinocicepção sob ação de anestésicos gerais” foi distinguido em junho com o Prémio de Investigação Clínica Dor 2011, pela Fundação Grünenthal Portugal. O conceito inovador apresentado por este estudo propõe um novo método objetivo de quantificação da dor, que consiste na avaliação do uso de potenciais evocados somatossensitivos - resposta cerebral a estímulos dolorosos, que se relacionam com a intensidade do estímulo enquanto ferramenta objetiva na tradução do balanço nocicepção/antinocicepção. O estudo deste binómio consiste na avaliação da dor, acompanhada pela subida de tensão arterial, da frequência cardíaca, sudação, lágrimas, etc., versus a atenuação da dor, proporcionada pela administração de anestésicos potentes. Este fator assume particular importância no momento de reportar a dor e a dose dos anestésicos gerais estudados para estes casos, auferidos através da colaboração de voluntários. O projeto foi desenvolvido, sob a orientação de Fernando Gomes Almeida (professor do Departamento de Engenharia Mecânica da FEUP), Catarina S. Nunes (professora do King’s College, Londres) e de Pedro Amorim

(professor do ICBAS e Centro Hospitalar do Porto - Hospital Geral de Santo António). “Apesar de haver um grande interesse na avaliação objetiva da dor, especialmente em indivíduos incapazes de comunicar, ainda não existe uma medida objetiva comummente aceite e aplicada na clínica, reproduzível e comparável entre indivíduos. O nosso trabalho pretende dar resposta a estas questões, com a proposta de um índice que traduza o balanço entre a nocicepção e a antinocicepção proporcionada pelos anestésicos”, explicam os investigadores. De acordo com a equipa vencedora, “este método pode vir a ser utilizado na avaliação deste balanço em doentes incapazes de comunicar dor e assim proporcionar ao doente o melhor cuidado, com a administração da dose adequada de analgésico, nomeadamente durante a anestesia geral”. Para os investigadores, a distinção representa “uma grande honra, uma vez que se trata da maior distinção para a investigação clínica em dor, em Portugal”. Os Prémios Grünenthal Dor contemplam um valor pecuniário total de 15.000 euros, igualmente distribuídos pelo Prémio de Investigação Básica e pelo Prémio de Investigação Clínica. Criados pela Fundação Grünenthal em 1999, constituem o prémio de mais alto valor anualmente distribuído em Portugal, no âmbito da investigação em dor.

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Veleiro Robótico da FEUP/INESC TEC vence competição internacional Terminou da melhor forma a participação portuguesa na 5.ª edição do Campeonato do Mundo de Veleiros Robóticos: o veleiro FASt sagrou-se campeão mundial, depois de ter assegurado o 1.º lugar na classificação geral. A prova, que decorreu de 17 a 21 de setembro na baía de Cardiff, no País de Gales, contou com nove embarcações provenientes dos EUA, Alemanha, Reino Unido e Portugal. A comitiva portuguesa, composta por Diogo Lopes, Henrique Cabral, João Teixeira e José Francisco Valente, estudantes do Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica contou também com a colaboração de José Carlos Alves e Nuno Cruz, ambos docentes da FEUP e investigadores da Unidade de Robótica e Sistemas Inteligentes, ROBIS, do INESC TEC. Durante a semana de competição, os desafios colocados às equipas centraram-se essencialmente num conjunto de aspetos que eram valorizados à medida

que as provas se foram sucedendo: endurance, precisão de navegação, capacidade de deteção e desvio de obstáculos e capacidade de recolha e registo de dados ambientais e do estado do veículo foram os aspetos mais valorizados na classificação final. Para além destas provas, a organização lançou um outro desafio aos estudantes que participavam na competição: o “hacker challenge”, em que os concorrentes tinham de conceber e construir um veleiro robótico com recurso a materiais reutilizados. A equipa portuguesa, juntamente com os elementos da comitiva alemã, fizeram dupla neste desafio e, apesar de algumas limitações no software que foi desenvolvido de raiz, a originalidade da proposta luso-alemã, do tipo catamarãn, construída com duas garrafas de água, uma grelha de forno e uma caixa de plástico convenceu o júri. Mais informações: www.microtransat.org/wrsc2012

Comemoração Novos Mestres A Comemoração Novos Mestres é uma cerimónia marcante na vida da FEUP. Com o objetivo de agraciar os estudantes que terminaram os seus Mestrados neste ano letivo, a FEUP organizou um evento ímpar, que teve lugar no dia 20 de outubro. Nesta celebração familiar e festiva, foi dado também o merecido palco aos estudantes que se destacaram, com a atribuição dos prémios de mérito, concedidos por empresas e outras entidades parceiras da FEUP. À semelhança de anos anteriores, a cerimónia contou com a presença de um antigo estudante como orador convidado: a edição 2012 foi conduzida por Manuela Tavares de Sousa, CEO da Imperial.

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Fotografia: Filipe Paiva

fe.up.pt/novosmestres


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500 estudantes internacionais a caminho da FEUP É a maior participação de estudantes internacionais de sempre, na FEUP. Ao todo, para este ano letivo de 2012/13, o número de estudantes estrangeiros duplicou relativamente aos anos anteriores, situando-se agora em 500 inscritos. Para assinalar o arranque do novo ano e acolher estes estudantes internacionais, a faculdade organizou, em setembro, uma sessão de boas-vindas.

A iniciativa ficou conhecida pelo nome de “Orientation Days”. Durante 2 dias - 6 e 7 de setembro - as atenções centraram-se no acolhimento dos cerca de 500 estudantes internacionais que escolheram a Faculdade de Engenharia como primeira opção para um programa de mobilidade no âmbito dos programas ERASMUS, Ciência sem Fronteiras, Erasmus MUNDUS e ainda alguns acordos com outras universidades estrangeiras, nomeadamente dos EUA. Foi a maior participação de estudantes internacionais de sempre, correspondendo a 30% do total de candidatos para as áreas de engenharia a nível nacional, no que se refere ao novo programa Ciência sem Fronteiras, um programa do governo brasileiro que visa promover a internacionalização da ciência e tecnologia através do intercâmbio e da mobilidade internacional. Do grupo de atividades organizadas no âmbito dos “Orientation Days”, destaque para as sessões de apresentação da faculdade, bem como dos principais grupos estudantis ligados à FEUP. Do programa fez parte também uma visita ao campus para que os estudantes pudessem conhecer os espaços comuns da faculdade e a participação num snack internacional que funcionou como momento de confraternização intercultural e que contou com a colaboração de todos os estudantes através da partilha de iguarias e pratos típicos dos seus países. O 2.º dia de atividades foi totalmente preenchido com um programa cultural que incluiu uma visita ao centro da cidade do Porto e às emblemáticas caves do vinho do Porto.

Texto: Raquel Pires Fotografias: Filipe Paiva

De acordo com Rosário Trindade, responsável pela Divisão de Cooperação da FEUP, o êxito na campanha deste ano dos programas de mobilidade para estudantes estrangeiros “deve-se, em grande parte, a uma relação de longa data que tem vindo a ser desenvolvida entre a Faculdade de Engenharia e as melhores escolas técnicas do Brasil e à liderança que a U. Porto tem prosseguido na mobilidade internacional”.

TOP 10 Brasil - 345; Polónia - 33; Itália - 25; Espanha - 21; Alemanha - 11; Eslováquia - 9; Turquia - 8; Roménia - 6; Finlândia - 5; França - 5.

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“O programa Erasmus é um dos maiores sucessos da União Europeia” Entrevista: Raquel Pires Fotografias: Filipe Paiva

João Falcão e Cunha é coordenador do Programa Mobile na FEUP, um programa de intercâmbio de estudantes de engenharia destinado às universidades brasileiras. Depois do número de estudantes estrangeiros ter duplicado no início deste ano letivo, fomos saber de que forma a faculdade os recebeu para que se sintam, também eles, membros da comunidade FEUP. O número de estudantes estrangeiros duplicou este ano na FEUP. Surpreendeu-o? Parece-me uma excelente evolução mas relativamente expectável. Deve-se simultaneamente ao crescente prestígio internacional da FEUP, muito em particular no Brasil junto do meio académico, ao novo programa “Ciência sem Fronteiras”- www.cienciasemfronteiras.gov.br - sob o alto patrocínio da presidência do governo brasileiro, que explica especialmente o crescimento muito grande do número de estudantes brasileiros, e aos diversos programas ERASMUS, Ciência sem Fronteiras, Mobile e ERASMUS Mundus em que a U. Porto se tem vindo a envolver. Julgo ainda que a FEUP e a cidade do Porto são atrativas e acolhedores para quem é de fora e que essa “informação” vai passando dos que por cá têm passado. Os números foram particularmente expansivos no que toca aos estudantes brasileiros. A língua será um dos fatores facilitadores destes programas de intercâmbio? Acredito que a língua seja um dos fatores determinantes no caso dos estudantes brasileiros que nos procuram.

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Mas se fosse apenas a língua seria de esperar que a FEUP tivesse uma percentagem dos estudantes de engenharia brasileiros em Portugal idêntica à das outras boas escolas nacionais que recebem candidatos do programa “Ciência sem Fronteiras”. Na realidade, dos cerca de 700 estudantes desse programa em Portugal nas áreas de engenharia, a FEUP acolhe um terço, cerca de 250. Sendo assim, embora a língua seja um elemento facilitador, não foi determinante na escolha da FEUP neste ano letivo de 2012/13. Enquanto coordenador do Programa Mobile na FEUP, que desafios e que logística foi preciso tratar e acautelar de maneira a acolher aqui 500 estudantes estrangeiros? No início de junho de 2012 constatou-se que havia mais de 700 candidaturas, das quais cerca de 250 em primeira opção, e houve necessidade de ajustar a oferta para esse nível de procura. Para além disso, sabia-se que a maioria dos estudantes brasileiros comunicava apenas em português e que a maioria dos outros estudantes estrangeiros não o fazia. Sendo assim havia dois desafios: muito mais estudantes e incompatibilidades na língua de ensino. Visto que a procura por parte de estudantes estrangeiros se concentra sobretudo no 4.º e 5.º anos dos mestrados integrados foi necessário fazer uma alocação nas unidades curriculares, nas turmas e horários levando em consideração as competências linguísticas de estudantes e docentes, com base numa boa gestão de recursos - muito em especial das salas de aulas e laboratórios. De facto, logo na receção aos estudantes e por causa da língua de comunicação houve necessidade de desdobrar as sessões em grupos: uma receção para estudantes brasileiros e outra para os restantes estudantes estrangeiros. Nos cursos com mais estudantes o problema logístico é mais fácil de resolver. Nos cursos mais pequenos o impacto dos estudantes estrangeiros é maior. Em alguns


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casos as turmas têm tantos estudantes portugueses como estrangeiros. Sobretudo nas disciplinas experimentais, também este aumento de estudantes criou problemas, por exemplo, nos casos de laboratórios de ensino já muito utilizados em aulas. Em muitos casos é a primeira vez que os estudantes portugueses da FEUP têm trabalhos de grupo com colegas de outras nacionalidades. Há assim que gerir os processos logísticos internos para garantir a integração de estudantes. Defendeu a criação de parcerias com universidades brasileiras como ponto estratégico, tendo sido um dos pioneiros com a criação do MESG, em 2006, e a divulgação do curso no Brasil. O que esteve na origem desta escolha? Desde há muitos anos que considero realmente de interesse estratégico para a FEUP o bom relacionamento com instituições congéneres no Brasil. Este relacionamento deve ser baseado em princípios de igualdade e reciprocidade, mesmo que nem sempre o nível seja idêntico em todas as áreas. Quando iniciei o meu doutoramento, em 1985, no Imperal College, o departamento tinha um estudante brasileiro a iniciar o doutoramento. Quando o conclui, passados quase quatro anos, havia 10 estudantes brasileiros, só na minha área de Informática. Esses colegas brasileiros com que tive o privilégio de trabalhar deram-me uma imagem muito positiva do Brasil. Desde essa altura estive envolvido em alguns projetos de investigação com colegas brasileiros e encontrava-me com eles em congressos internacionais. Tive assim oportunidade de conhecer um pouco melhor algumas instituições de muito prestígio no Brasil. A FEUP e as instituições congéneres no Brasil, muito em particular os seus estudantes, só teriam a ganhar com um relacionamento estreito. Tive também a sorte de a direção da FEUP e a Reitoria da U.Porto partilharem completamente esta visão e de terem sempre apoiado todas as iniciativas de fortalecimento das relações com o Brasil. O MESG é um exemplo: quando foi criado era um programa pioneiro a nível internacional e foi amplamente divulgado, muito em especial no Brasil. A primeira edição teve quatro estudantes brasileiros (três deles vieram do

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Brasil propositadamente para frequentarem o curso): José Vicente Martins, Guilherme Godoy, Maria Emília Cavalcante e Leandro Lopes de Carvalho. São hoje excelentes profissionais no Brasil e mantenho-me a par dos seus contactos. Ainda recentemente falei com eles procurando ajudar alguns antigos estudantes da FEUP que procuram emprego no Brasil. Foi recentemente divulgado nos média que, face à conjuntura europeia, era muito provável que os financiamentos de programas ERASMUS viessem a sofrer cortes. É um cenário que o preocupa? Acredito que o programa Erasmus é um dos maiores sucessos da União Europeia e que, mesmo com um financiamento menor, continuará a ser um importantíssimo instrumento de educação para todos os estudantes da Europa e de fora. Naturalmente que uma redução de financiamento irá dificultar a muitos estudantes a realização do intercâmbio, em particular num período difícil para muitas famílias portuguesas, pode dificultar tremendamente ou mesmo inviabilizar essa experiência para os seus filhos, mas acredito que as instituições envolvidas irão continuar a trabalhar para assegurar que os recursos existentes sejam canalizados da melhor forma. Um conselho a todos os estudantes que estão a pensar realizar um período de intercâmbio? Eu gostaria que todos os estudantes portugueses na FEUP tivessem a possibilidade de estudar, pelo menos um semestre no estrangeiro. Tal experiência enriquece muito por diversos motivos, incluindo o contacto com uma cultura e cidade diferentes, permitindo muitas vezes a primeira experiência de autonomia pessoal em ambiente fora da zona de conforto familiar. A presença de estudantes estrangeiros na FEUP é um contributo inestimável no processo de educação também dos estudantes nacionais, sobretudo dos que infelizmente não vão poder estudar no estrangeiro durante o seu curso na FEUP. O contacto diário, o trabalho conjunto e mesmo a interação fora do contexto académico permite uma primeira experiência internacional. Considero que para a vida profissional futura com certeza em ambientes internacionais será um valor importante para todos.

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Engenharia da U.Porto continua a subir nos rankings internacionais A Universidade do Porto (U.Porto) voltou a subir no National Taiwan University Ranking que coloca esta universidade no Top-100 Mundial de produção científica em três disciplinas de investigação distintas, todas ligadas à área de engenharia: Mecânica (30.ª posição), Química (60.ª) e Engenharia Civil (67.ª). Globalmente, a U.Porto coloca-se como uma das 318 melhores universidades do mundo e entre as 137 melhores da Europa. Conhecido como um dos mais respeitados rankings de avaliação de produção científica no Ensino Superior, o ranking da National Taiwan University calcula o desempenho das universidades mundiais ao longo dos últimos 11 anos, seguindo três critérios: a produtividade, o impacto e a excelência da pesquisa. Nestes campos, a U.Porto volta a confirmar-se como o maior produtor de ciência nacional ao subir, desde 2007, mais de 140 lugares no Mundo. Da edição 2012 do ranking do National Taiwan University Ranking 2012 há também a destacar o desempenho da U.Porto por disciplinas na Europa. Assinale-se a presença no Top-100 europeu de oito disciplinas pertencentes à U. Porto, das quais se destacam as posições da FEUP em áreas como Engenharia Mecânica (7.ª posição), Engenharia Química (12.ª) e Engenharia Civil (16.ª). Mais informação em http://nturanking.lis.ntu.edu.tw

FEUP ATRAI O MAIOR NÚMERO DE CANDIDATOS A ENGENHARIA À semelhança dos anos anteriores, a FEUP continua a ser a instituição mais atrativa para os jovens candidatos a engenharia, que têm apresentado as classificações mais elevadas do país, tendo preenchido as 880 vagas disponíveis, mantendo-se a taxa de ocupação de 100% na oferta formativa da instituição. Estes resultados foram comprovados no arranque de mais um ano letivo e depois de conhecidos os resultados das candidaturas ao Ensino Superior. A análise dos dados permite ainda apurar que a FEUP continua a registar o maior índice de satisfação de procura (candidatos em 1.ª opção/n.º de vagas) uma vez que, em média, se registam quase dois candidatos em 1.ª opção para cada uma das 880 vagas oferecidas pela instituição. No total, os números apontam para mais de 5 mil candidaturas do regime geral a procurar iniciar o seu percurso académico na FEUP. O elevado prestígio da formação em engenharia da FEUP, ancorado numa investigação e inovação de reconhecimento internacional, justifica o sucesso na atração de novos estudantes para todos os graus de ensino, registando-se cerca de 2 mil novos ingressos todos os anos, acrescido de uma procura em programas de mobilidade que atinge este ano o número recorde de 500 estudantes internacionais (ver página 27).


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Texto: Marina Bertoncello Fotografias: Luís Ferraz

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Investigadores de todo o mundo debatem inovação e tecnologia

A política de inovação, o papel das universidades e da tecnologia enquanto ferramentas catalisadoras da economia e a interação de todos estes atores com o tecido empresarial foram os temas fortes do BIN@Porto, evento que reuniu mais de 350 participantes, oriundos de 28 países diferentes, na FEUP. De 24 a 26 de outubro, a FEUP foi o palco da criação de parcerias internacionais com vista ao desenvolvimento de consórcios de I&DT, à transferência de tecnologias e à partilha de experiências na criação de empresas de base tecnológica. Destinada a promotores de start-ups, investigadores e todos os interessados em inovação e transferência de tecnologia, esta foi uma iniciativa que reuniu alguns dos maiores especialistas em áreas emergentes como as indústrias criativas, as tecnologias aplicadas à medicina, a indústria aeronáutica, a sustentabilidade energética, a bioengenharia e os novos materiais, mobilidade e transportes, o design industrial e as cidades do futuro. Entre as várias atividades integradas no programa do BIN@Porto, o destaque foi para as 12 sessões Action Tanks temáticas, que representaram excelentes plataformas de networking, em conjunto com dez sessões abertas, incluindo um debate sobre o desenvolvimento tecnológico como motor da economia. O evento também contou com um espaço dedicado a business workshop e exposição de tecnologias e um conjunto de eventos complementares que deram continuidade à plataforma estruturada de contactos e de networking no domínio da inovação tecnológica lançada em 2010, na 1.ª edição do BIN@FEUP. www.fe.up.pt/binporto2012

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A série de eventos BIN@™ foi lançada pela FEUP em 2010 e no ano seguinte realizou-se no Reino Unido o BIN@SHEFFIELD, organizado pela Universidade de Sheffield. Os três eventos tiveram, em conjunto, um total de cerca de 1000 delegados inscritos, oriundos de mais de 30 países, representando uma participação internacional superior a 25%. A iniciativa BIN@™ tem como objetivo principal desenvolver uma rede internacional sustentável de inovação que envolva parceiros de toda a indústria,

academia, parques de ciência e tecnologia, incubadoras, investidores, consultores e agências de desenvolvimento económico, entre outros, na partilha de conhecimento e de boas práticas, numa lógica de inovação aberta. Pretende-se desenvolver um fórum de discussão interdisciplinar que integre vários setores tecnológicos por forma a criar oportunidades de colaboração e cooperação e, assim, apoiar o desenvolvimento de parcerias que resultem num impacto real de valor acrescentado. www.businessandinnovation.net

BIN@BRAZIL A próxima edição do BIN vai acontecer em Ribeirão Preto (São Paulo), no Brasil, de 12 a 14 de novembro de 2013. A organização do evento vai estar a cargo da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Instituto Polo Avançado da Saúde de Ribeirão Preto (FIPASE).

De acordo com Vanderlei Bagnato, o Brasil “está hoje profundamente envolvido em usar inovação tecnológica como solução para uma economia crescente. Usar os diversos meios de discussão e de troca de experiências neste sentido, é fundamental para garantirmos a continuidade de nossos programas”.

Vanderlei Bagnato, investigador da USP e responsável pela organização do evento no Brasil, afirma que a edição de 2013 pretende consolidar a ideia de inovação com responsabilidade social. “Queremos ouvir a opinião de todos os participantes e ter exemplos importantes para mostrar. Resolver os nossos problemas mais emergenciais usando tecnologia gerada pela universidade é uma forma de ter dupla compensação: ajudar a economia e a sociedade”.

Para o investigador da USP, o processo de transferência de tecnologia das universidades e polos de investigação para as indústrias e empresas não é uma tarefa fácil, mas que pode resultar quando o envolvimento das empresas acontece desde o início do arranque dos projetos e deve ser uma cooperação cada vez mais frequente. “Ter conhecimento nas prateleiras não ajuda a economia nem o desenvolvimento social do país”, ressalta.

Centro de Inovação do UPTEC No âmbito do programa do BIN@Porto, decorreu no passado dia 26 de outubro a inauguração do novo Centro de Inovação do UPTEC - Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto. O novo espaço reúne as unidades de Inovação e Desenvolvimento de algumas das mais importantes empresas portuguesas que, em parceria com investigadores e cientistas dos centros de investigação da U.Porto, vão trabalhar no desenvolvimento de novos produtos. www.uptec.up.pt


FOTORREPORTAGEM

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FEUP FIRST JOB 2012 Fotografia: Filipe Paiva

Um dos maiores eventos de recrutamento de estudantes à procura do primeiro emprego voltou à Faculdade de Engenharia! Durante três dias - 6, 7 e 8 de novembro - o FEUP First Job proporcionou aos jovens finalistas a oportunidade de conhecer e contactar de perto com a realidade de algumas empresas em busca de novos talentos. De forma a facilitar o contacto entre estudantes e empresas, organizaram-se diversas atividades, que passaram pela participação em palestras, entrevistas rápidas de seleção, workshops de desenvolvimento de soft silks, recrutamento de estudantes e espaços de networking. Esta edição contou com 45 empresas, algumas delas a atuar no mercado europeu e também de uma multinacional do Brasil que veio participar especificamente para esta feira de emprego.

À entrada da Feira de Emprego, o stand da FEUP foi um dos mais requisitados

www.fe.up.pt/firstjob

Estudantes da FEUP em entrevista à RTP

Estudantes visitam um dos stands do Espaço-Empresas

Vista panorâmica da zona do Espaço-Empresas


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INTERPRETAR

FEUP homenageia Prof. Vasco Sá Vasco Sá foi homenageado no dia 22 de novembro, com a inauguração da sala de atos do DEMec que passou a designar-se “Sala Professor Vasco Sá”. Familiares, docentes e amigos de sempre marcaram presença numa merecida homenagem. Paulo Tavares de Castro* e Rui Guimarães**

Em todos os aspetos da sua passagem pela FEUP, os alunos de Engenharia Mecânica cedo se apercebiam do protagonismo do Professor Vasco Sá. Esse valor era percecionado não só na seriedade colocada nas aulas - ai de quem chegasse atrasado… - e na exigência colocada nas avaliações mas também na acessibilidade e abertura para discutir, qualquer assunto que preocupasse os alunos. E também era possível testemunhar o fair play por ele demonstrado quando, ocasionalmente (também sucedia!), era possível convencê-lo do mérito de argumentos contrários às posições que defendia. O curso de Engenharia Mecânica vivia, nesses anos, com grandes dificuldades, cuja ultrapassagem foi um dos objetivos centrais que o Professor Vasco Sá assumiu e cumpriu. Em finais dos anos sessenta, com a chegada deste a uma posição de responsabilidade, chega também a sua visão sobre o que importava fazer e como o fazer. Mas a tarefa tinha muitos obstáculos, desde logo o facto de, nessa altura, o Professor Vasco Sá não ser ainda Professor Catedrático e, portanto, não ter, por direito próprio, assento no Conselho Escolar, órgão que nesse tempo era decisivo no contexto da gestão da FEUP. A defesa dos interesses da Engenharia Mecânica tinha, portanto, dificuldades internas na própria Faculdade, e para os fazer ouvir havia que criar espírito de corpo entre todos, particularmente entre os docentes - um conjunto de muito jovens assistentes complementando um grupo de profissionais da indústria criteriosamente seleccionado pelo Professor Vasco Sá. ‘Vestir a camisola’ com orgulho foi assumido pela maioria dos docentes, em particular pelos mais novos. Para isso contribuía decisivamente a visão clara do Professor Vasco Sá sobre onde se pretendia chegar - basicamente, criar um departamento de Engenharia Mecânica respeitado e credível, proporcionando formação avançada e atualizada, possibilitada pela realização de investigação e estudos de natureza aplicada ou fundamental. E os passos para lá chegar eram discutidos minuciosamente, muitas vezes em casa do Professor em reuniões que se prolongavam noite fora, em geral com base em documentos por ele escritos,

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nos quais fazia o ponto da situação dos problemas em análise e equacionava pistas e alternativas para discussão. O funcionamento do Departamento - ou ‘Grupo’ como na altura era designado - era exemplarmente democrático, com decisões tomadas após discussão por todo o corpo docente, incluindo jovens assistentes ou mesmo monitores. Esse modo de funcionamento levava os nele envolvidos a apreciar, na prática, as vantagens do governo participado - o que foi uma escola sobretudo para os mais novos que, por inexperiência da vida, até eram por vezes levados a imaginar que a forma de governo adoptada ‘na Mecânica’ era ‘a regra’ ou ‘o usual’. Quão involuntariamente cego era não ver nesse modo de funcionamento a originalidade da abordagem do Professor Vasco Sá e que constituía uma das chaves do indiscutível sucesso da progressiva afirmação do seu Departamento... Essa abordagem - envolvendo sucessivamente a preparação minuciosa de discussões, a ampla discussão dos problemas, a assunção das decisões coletivas por cada um dos envolvidos como sendo ‘a sua’ decisão, foi um dos ingredientes essenciais do sucesso das batalhas travadas para criar e modernizar o Departamento. Obviamente, na década de setenta não havia quaisquer condições para a realização de investigação em Engenharia Mecânica na FEUP. Para as criar era necessário fomentar a ida de jovens assistentes para o estrangeiro, com o objetivo de se doutorarem em universidades com tradição na investigação científica, criando-lhes simultaneamente o ‘espírito de missão’ que os convencesse a regressar a Portugal uma vez obtido o desejado grau. Assim surgiu a ação que mudou definitivamente o Departamento e que consistiu num programa intenso e sistemático de formação de docentes universitários em centros avançados em Inglaterra, EUA, França, Bélgica, etc.. Durante a década de setenta, e sobretudo nos anos oitenta, dá-se o regresso de muitos desses jovens docentes. O protagonismo do Professor Vasco Sá continuou nesta fase,


A intervenção do Professor Vasco Sá fez-se sentir em todos estes aspetos, ajudando à concretização de muitos dos passos que levaram à situação que atualmente se conhece na FEUP ou na sua envolvente. Aqui destaca-se a criação de um novo departamento - o Departamento de Engenharia e Gestão Industrial (DEGI) -, que representa o culminar da abertura do DEMec a novas áreas de ensino e de investigação e a criação de novos enquadramentos para a realização de investigação e a ligação ao exterior, como o INEGI - Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial e o IDMEC - Instituto de Engenharia Mecânica (Pólo da FEUP). Em paralelo, o Professor Vasco Sá também encontrou tempo para dinamizar iniciativas fora da FEUP, mas complementares para o desenvolvimento do País e da Região do Norte. Exemplos de tais iniciativas foram a criação do CATIM - Centro de Apoio Tecnológico à Indústria Metalomecânica ou o seu envolvimento no INETI - Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial (então, designado por Laboratório, LNETI). * Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da FEUP ** Professor do Departamento de Engenharia e Gestão Industrial da FEUP

Como este texto evidencia, não teria sido possível ao nosso decano completar a sua obra, da qual se tentaram dar apenas os traços essenciais, sem um conjunto notável de qualidades e valores, que nele coexistiram de uma forma harmoniosa. Entre tais atributos, merecem destaque os seguintes: . A sua visão estratégica, baseada na clareza concetual, na perspetiva de longo prazo e na necessidade de acomodar compromissos. . A sua capacidade de liderança aliada a uma inegável disponibilidade para delegar nos seus colaboradores competentes, características essenciais para a condução do processo de rápida conversão de um pequeno grupo da FEUP de há cinquenta anos num verdadeiro departamento universitário dos dias de hoje (o de Engenharia Mecânica) e na criação de um outro (o de Engenharia e Gestão Industrial). . A sua grande simplicidade e modéstia que o levaram sempre a desejar estar sempre fora do foco das atenções (que era, evidentemente, o seu lugar entre todos nós). . A sua perseverança e capacidade de trabalho. . A capacidade de rever as suas próprias posições (positivas ou negativas) sobre certas iniciativas, em resultado de alterações nas condições externas ou de novas evidências que, na sua interpretação, conduziam a uma revalorização de tais iniciativas. . Os valores éticos que conformaram a sua conduta de seriedade, honestidade intelectual, cidadania, solidariedade e colocação do interesse comum acima dos interesses individuais. Foi pela forma decisiva como participou na vida do DEMec e do DEGI e pelas qualidades e valores com que o fez que o Professor Vasco Sá mereceu o apoio e merece o respeito da geração que o sucedeu e que, em larga medida, ele ajudou a moldar.

Fotografia: Rui A. Cardoso

Se é certo que todas as saídas de assistentes para se doutorarem no estrangeiro correspondiam a preocupações de preencher lacunas na capacidade de intervenção do Departamento, também é verdade que algumas dessas acções foram particularmente ambiciosas pelo número dos envolvidos e pelos aliados que o Professor Vasco Sá conseguiu mobilizar. Neste contexto, o Governo Francês viria a condecorá-lo em reconhecimento do valor destas ações, quer no seu aspeto científico tout court quer pela importante dimensão de fomento das relações luso-francesas que elas representaram e representam.

Fotografia: D.R.

com a procura incessante de condições para que os hábitos de investigação adquiridos no estrangeiro pudessem continuar a florescer na FEUP. Importava criar condições organizacionais e laboratoriais, incluindo encontrar espaços e equipamentos para viabilizar essas atividades e a consequente permanência dos docentes na FEUP. Por esta altura, o envolvimento dos docentes da indústria principiou naturalmente a diminuir, ainda que o Professor tenha sempre defendido que esse tipo de docentes devia continuar sempre a dar a sua participação no curso.


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“Um engenheiro de nível universitário, como os que a FEUP forma, tem de ser bastante mais do que um bom técnico” O Comissariado Cultural da FEUP comemorou 10 anos de atividade. Em 2012 multiplicaram-se os concertos, os projetos teatrais e as iniciativas culturais na faculdade, à semelhança do que já vem sendo habitual. A comunidade adere com bastante entusiasmo aos espetáculos de entrada livre, mostrando assim que nem só de cálculos matemáticos e princípios de engenharia se vive pelos corredores. Entrevista com Luís Melo, professor da FEUP e principal responsável pelo Comissariado Cultural da FEUP.

Qual o balanço que faz destes 10 anos de atividade? Penso que o objetivo principal do Comissariado Cultural foi atingido: ajudar a criar gosto pela fruição cultural e artística na comunidade da FEUP e, simultaneamente, estimulá-la a participar também no ato criativo. A gradual descoberta e conquista de um espaço de interação cultural (nas condições específicas da FEUP) tem sido um dos aspetos mais estimulantes na gestão deste projeto da FEUP. As características de uma comunidade como a nossa e as naturais limitações orçamentais levaram-nos a aprender como articular, de forma realista, os aspetos lúdicos e pedagógicos que a atividade cultural pode proporcionar. Para além dos workshops, dos concertos, teatro, debates, realizados/apresentados por profissionais,

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Entrevista: Marina Bertoncello Fotografia: Susana Neves

conseguiu-se atrair os elementos da comunidade da FEUP (maioritariamente, os estudantes) para serem agentes ativos na criação cultural: desenvolvem-se regularmente projetos teatrais em que os atores são os estudantes e o próprio guião é escrito em conjunto pelo encenador (profissional contratado) e estes atores “improváveis”; criou-se a Oficina de Música, que abrange a orquestra de jazz/ligeira e o grupo vocal, constituídos por estudantes, professores e funcionários da FEUP e dirigidos por músicos profissionais; abriu-se as portas às artes plásticas, através de aulas de pintura orientadas por profissionais (Oficina de Pintura); desenvolveramse atividades dedicadas aos estudantes africanos que estudam na faculdade; lançámos a iniciativa “Músicos da FEUP”, no âmbito da música clássica, entre outras. Como surgiu a oportunidade de integrar o Comissariado Cultural? O Comissariado Cultural foi criado pela direção da FEUP (sendo na altura diretor o Prof. Carlos Costa) que me convidou para dirigir este projeto. Embora sem experiência neste domínio, este tipo de tarefas sempre estimulou a minha curiosidade. Para quem não gosta de sobreviver em estado estacionário, é um risco que vale a pena correr. Passados 1-2 anos do arranque, a entrada de Paulo Vasques como produtor e programador cultural trouxe capacidade de execução e qualidade ao trabalho do Comissariado Cultural que seria impossível obter apenas com a boa vontade dos elementos da casa. Hoje em dia, o Comissariado tem um rosto visível: o Paulo Vasques. Qual é a importância de haver este pelouro numa escola de Engenharia? Marcar pela diferença? Em meu entender, e isto é do senso comum em outros países, os engenheiros de nível universitário, como os


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que a FEUP forma, têm de ser bastante mais do que bons técnicos. Têm de ter uma postura e uma visão global que lhes permita assumir responsabilidades de liderança. Isto passa também por um contacto mais abrangente com as diferentes problemáticas da sociedade, entre as quais a componente cultural/artística. Naturalmente, a existência (rara em Portugal) de um projeto de atividades culturais organizado numa faculdade, com plano de atividades e orçamento anual, contribui também para a projeção da sua imagem no exterior e, no interior, funciona como reforço de um espírito de comunidade que é, deve ser, uma verdadeira Escola. Quais são os projetos culturais que têm mais adesão junto da comunidade FEUP? É a peça de teatro anual escrita e ensaiada com os nossos “atores”, sob a direção de um encenador profissional de experiência reconhecida. A peça baseia-se, em geral, em temas próximos da vida na FEUP e no País, com humor inteligente, o que ajuda a atrair uma enorme audiência (durante 2-3 dias, o Auditório de 500 lugares da FEUP enche). A música jazz também tem vindo a criar público jovem, o que ocorre a par da existência de uma geração de altíssima qualidade de jovens músicos que se estão a formar na ESMAE (com a qual temos mantido protocolos de colaboração mútua). Qual foi o espetáculo que mais gostou de acolher aqui na FEUP e do qual guarda boas memórias? Como sou apreciador de jazz, o espetáculo que mais me entusiasmou foi o concerto do saxofonista inglês Julian Arguelles com o quarteto do pianista Paulo Gomes. Gostei

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muito também do concerto da cantora americana Stacey Kent. Fora dos “palcos”, considero muitíssimo bom um workshop (já repetido) a que assisti sob o título “Isto é arte?”, orientado pela formadora cultural Magda Henriques. Qual a importância das oficinas de Música e Pintura junto da comunidade? A Oficina de Música (dirigida por Paulo Gomes e Fátima Serro, dois grandes profissionais do jazz) e a Oficina de Pintura (dirigida por Paulo Jesus) assumem uma importância crucial, pois, tal como o teatro, aproximam as pessoas na FEUP e fazem-nas sentir que pertencem à comunidade, criando um saudável sentido de cumplicidade. E, de vez em quando, lá se descobre alguém que tem qualidades artísticas acima da média. Há algum espetáculo/artista que gostaria de ver um dia a atuar nos palcos da FEUP? Naturalmente, gostaria de trazer ao palco muitos músicos que o nosso orçamento nunca poderá comportar. Mas como sonhar não gera dívidas, eu diria: dentro do Jazz, o trio do Keith Jarrett ou o trio/quarteto de Pat Metheny; na música clássica, a Maria João Pires. No teatro, o ator Diogo Infante. Na política, o Bill Clinton, porque foi o único (!) presidente americano dos últimos 40 anos que conseguiu que os Estados Unidos tivessem um superavit. Além disso, como ele toca saxofone, aproveitava-se a vinda e punha-se o homem a tocar com a nossa Oficina de Música... Seria uma grande propaganda...

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TravelPlot Porto: caça ao tesouro na cidade Invicta

Texto: Marina Bertoncello Fotografia: Ana Pereira

Se passear pelo Porto já é divertido, imagine conhecer e redescobrir cada canto histórico da cidade invicta através de um jogo de caça ao tesouro. O TravelPlot Porto é um guia turístico interativo que permite aos turistas explorar a história do Porto, os monumentos e personagens históricas, com uma dinâmica de jogo incorporada, que utiliza diversas plataformas de forma a melhorar as experiências dos utilizadores. A ideia surgiu há três anos e ganhou vida nas mãos de Soraia Ferreira, estudante do Programa Doutoral em Media Digitais da FEUP, que afirma que “a caça ao tesouro é um tipo de narrativa com que toda a gente está familiarizada pelo que permite entender a história rapidamente”. A tese intitulada “Location Based Transmedia Storytelling: Enhancing the Tourism Experience” está a ser desenvolvida sob a orientação de Artur Pimenta Alves, professor do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da FEUP e Célia Quico, professora da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. O TravelPlot Porto é composto por nove capítulos e 42 locais para escolha, em que a personagem Peter, um turista inglês, tem a missão de salvar o vinho do Porto. Para o êxito desta tarefa, terá de descobrir a localização da taça de Baco e o restante tesouro escondido pelos Cale, em várias localizações da cidade do Porto ao longo dos séculos. Isto antes que Filipe, um ex-elemento dos Cale, possa fazer o mesmo. Só com a ajuda dos habitantes locais e restantes turistas é que esta missão poderá ser bem-sucedida. Ao mergulhar nesta aventura, os turistas podem optar por visitar os locais mais próximos, sítios que estão incluídos no mesmo capítulo da história, ou visitar os lugares seguindo a ordem cronológica da história.

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O guia utiliza multiplataformas, como uma aplicação para iPhone, um site, um mapa, eventos ao vivo e redes sociais (YouTube, Twitter e Pinterest). Em apenas um mês após o seu lançamento, a caça ao tesouro do TravelPlot Porto tornou-se um evento mundial. Nas várias plataformas deste projeto existem utilizadores de seis continentes, de países como o Reino Unido, Espanha, Noruega, Brasil, Estados Unidos, Canadá, Argentina, Moçambique, Japão, Rússia, entre muitos outros. De forma a alargar o número de plataformas, a aplicação ganhou recentemente uma versão em formato Android disponível gratuitamente para download no Google Play (Android Market). É com base nos novos média que os turistas vão encontrar as possíveis localizações e viver experiências únicas, como fazer um cruzeiro pelo rio Douro e saborear os vinhos e as delícias gastronómicas disponibilizados pelos parceiros associados ao projeto. O TravelPlot Porto associou-se também à iniciativa “Um Lugar Pró Joãozinho”, que pretende ser uma referência para a saúde dos jovens. Assim, os parceiros DouroAzul, Vinhas d’Alho e Porto com Arte, contribuem para esta campanha com a doação de 1 €, apurado nas compras específicas relacionadas com o TravelPlot Porto. De acordo com Soraia Ferreira é difícil escolher apenas um lugar preferido no Porto, embora não hesite muito na altura de escolher alguns dos pontos principais da cidade: a frente marítima (Foz) e a zona da ribeira. E para a autora deste projeto inovador e interativo, o maior tesouro da cidade são “as pessoas”. www.travelplot.com


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