Petrobras1

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Especialistas

discutem soluções em prol do futuro do planeta PATROCÍNIO:

APOIO:


SUMÁRIO

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Fórum: Opiniões sobre o futuro do planeta

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Miguel Milano: Fim aos desmatamentos florestais

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Luiz Fernando Lucho do Valle: Ecologia dentro de casa

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Marcelo Takaoka: Mais verde nas construções

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Fernando Almeida: Corrida contra o tempo

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José Goldemberg: Fatos sobre o aquecimento global

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Rubens Harry Born: Confiança na água

COORDENAÇÃO GERAL Mariella Lazaretti • DIREÇÃO DE ARTE Fábio Santos • ASSISTENTE DE ARTE Eduardo Galdieri • EDITORA Vanya Fernandes • COLABORADORES Thiago Bernardes (Fotos) e Rodrigo Maroja Barata (Revisão)


MÃE TERRA PEDE CARINHO

Conheça algumas soluções para salvar o planeta, segundo especialistas em meio ambiente

xpressões como aquecimento global, efeito estufa e camada de ozônio tornaram-se corriqueiras durante conversas e noticiários desde os anos 90. De fato, cientistas já previam que o aumento da emissão de agentes poluentes na atmosfera, como o gás carbônico, se tornaria um problema capaz de mudar os rumos e hábitos da humanidade. Segundo dados recentes levantados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a temperatura média do planeta subiu de 0,4 a 0,8 graus Celsius nos últimos 150 anos. No mesmo período, a concentração de gás carbônico na atmosfera aumentou 28%. Hoje, encontra-se em torno de 0,036%. Na década de 50, esse fenômeno passou a ocorrer com o dobro da velocidade. Se a emissão prosseguir no ritmo que vemos hoje – milhões de toneladas de poluentes ao ano – o aumento da temperatura média da superfície da Terra deverá subir entre 1,5 e 4,5°C até 2050. Isto não está longe de acontecer. Na verdade, já está acontecendo. Furacões, secas, mudanças nas safras e lavouras,

a elevação do nível do mar não são problemas para ser tratados no futuro, mas agora. A mãe Terra pede um tempo. No entanto, como concedê-lo, mantendo as vantagens tecnológicas adquiridas pelo homem, sua produção industrial, seus bens de consumo? Os especialistas no assunto provam que, sim, é possível balancear as duas necessidades. Para lançar luz sobre problemas e soluções relativas ao meio ambiente, a revista ÉPOCA realizou o Fórum de Desenvolvimento Sustentável, que contou com patrocínio da Petrobras. O evento teve, como apresentadora, a jornalista Mona Dorf, como mediador, o jornalista Luís Nassif e abertura do diretor de redação da revista ÉPOCA, Hélio Gurovitz. Na rodada de debates, que ocorreu no dia 29 de agosto, no fórum, em São Paulo, dois temas foram escolhidos: 1) Aquecimento Global – riscos e oportunidades para as empresas e 2) A questão ambiental alavanca ou limita o desenvolvimento? Nas próximas páginas, você vai saber como foi o fórum e também conhecer um pouco do perfil, da atuação e das opiniões dos profissionais convidados, através de entrevistas exclusivas. São eles: José Goldemberg, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE/USP); Fernando Almeida, presidente-executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS); Miguel Milano, representante da Fundação Avina para o Sul do Brasil e o Pantanal; Marcelo Takaoka, presidente da incorporadora Y. Takaoka Empreendimentos; Luiz Fernando Lucho, presidente da Incorporadora Esfera e Rubens Harry Born, coordenador executivo da Vitae Civilis. Segundo a experiência e trabalho de cada um deles, só há uma trilha a palmilhar na busca da harmonia entre homem e meio ambiente – a da consciência das autoridades, governos e cidadãos. E é preciso tomá-la já.


FÓRUM

OS PENSADORES DOVERDE

Encontro de profissionais ligados à causa ambiental mostrou o quanto nosso planeta está doente

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erca de 100 pessoas estavam presentes no auditório do Hyatt Hotel, quando o diretor de redação de ÉPOCA, Helio Gurovitz, abriu os trabalhos no Fórum de Desenvolvimento Sustentável. “Temos de encontrar formas sustentáveis de continuar gerando empregos e diminuir a miséria”, disse. “Esse objetivo tornou-se uma questão crucial nos últimos anos com as provas concretas do aquecimento global.” Em seguida, chamou ao palco José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras. Gabrielli fez uma extensa reflexão sobre o decadente uso do petróleo no universo dos combustíveis e do papel da Petrobras neste novo cenário mundial. Otimista, declarou que a Petrobras se posicionará como uma das cinco maiores produtoras de energia do mundo. “Até 2020, teremos crescido de forma sustentável, buscando outras fontes de energia.” E adiantou as metas da empresa: “Para 2008, a previsão da Petrobras em relação ao Brasil é de que a gasolina represente apenas 40% das fontes energéticas do mercado, o restante será suprido pelo álcool e pelo gás veicular”, disse. Segundo o presidente da Petrobras, em 2020, o petróleo será substituído como energia, mas terá novas utilidades, como na fabricação do plástico biodegradável – que não é deletério à natureza. No Centro de Pesquisas da Petrobras, há mais de 1.500 projetos nesse sentido a serem executados. “Daremos sustentabilidade na geração de empregos”, afirmou. Para cumprir tais metas, a Petrobras prevê o surgimento de cerca de 1.000 novos postos de trabalho. A seguir, para explanar o tema “Aquecimento Global – riscos e oportunidades para as empresas”, foi chamado o professor José Goldemberg, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE/USP); Fernando Almeida, presidente-executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento


Os debatedores discutem antes da palestra Sustentável (CEBDS) e Rubens Harry Born, coordenador-executivo da Vitae Civilis. Goldemberg mostrou, de forma bastante didática, as alterações naturais provocadas pelo aquecimento global (veja entrevista). “Até 2050, o nível do mar poderá subir em 40 centímetros e acabar com cidades litorâneas.” Fernando Almeida vaticinou sobre os possíveis estragos na agricultura. “Se nada for feito, a quebra de serviços ambientais será tão grande que produtos como café e vinho, desaparecerão do planeta.” Por meio de slides, Rubens Born mostrou aos convidados do fórum as propostas de sua ONG, a Vitae Civilis. “Temos de fazer muitas campanhas educativas. O maior risco para nós é a inação. Só temos um planeta para viver. Precisamos cuidar dele.” O segundo tema do evento foi: “A questão ambiental alavanca ou limita o desenvolvimento?” Para falar sobre o assunto, estiveram reunidos Marcelo Takaoka, presidente da incorporadora Y. Takaoka Empreendimentos; Miguel Milano, representante da Fundação Avina para o Sul do Brasil e o Pantanal; e Luiz Fernando Lucho do Valle, presidente da Incorporadora Esfera. “Mais do que reflorestar, é preciso não desmatar. O meio ambiente dá retorno financeiro. Basta aproveitar a biodiversidade que temos em plantas medicinais para a produção de medicamentos. Mas, em vez disso, estamos destruindo nossas florestas”, disse Miguel Milano. Marcelo Takaoka falou sobre as possibilidades energéticas do Brasil. “Nenhum país tem tanto sol. Precisamos usar esse potencial como energia nas novas construções.” O último a se apresentar entre os seis debatedores foi Lucho do Valle. “Se todos os dias fecharmos a torneira, separarmos o lixo e usarmos ao máximo a luz natural já estaremos contribuindo para um mundo melhor. Esse é o objetivo principal nos meus empreendimentos.” A seguir, nas próximas páginas, saiba mais como pensam os especialistas a respeito da questão ambiental.

Gabrielli, presidente da Petrobras, abre o fórum. Abaixo (à esq.), Milano (à dir.), Helio Gurovitz e abaixo (à esq.), Rubens Harry

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A QUESTÃO AMBIENTAL

Debatedor: Miguel Milano

O guardião da floresta

os tempos de faculdade de Engenharia Florestal, o jovem estudante Miguel Milano, nascido em Palmital, interior do Paraná, ouviu de um professor que ele tinha de entender sobre motosserra, e não de plantas e bichos. Desde esse episódio, Milano tornou-se um ferrenho defensor da natureza, pela qual trabalha há quase 30 anos. Aos 51 anos, ele é representante da Fundação Avina para o sul do Brasil e o Pantanal. A organização apóia líderes da sociedade civil e do empresariado na busca do desenvolvimento sustentável na América Latina. Milano também é conhecido por seu empenho na Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, uma das instituições brasileiras que mais investem em conservação da natureza. Hoje, ele é vice-presidente do conselho de administração da fundação. Além disso, acumula outras funções, como professor visitante regular da Colorado State University, nos Estados Unidos, diretor de Ecossistemas do Ibama e diretor da Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná. “Trabalhar pelo meio ambiente, num país injusto, carente e com tão baixo nível de educação como o Brasil, é tarefa dificílima, mas avalio o saldo como imensamente positivo”, afirma Milano que, sem meias palavras, sempre diz o que pensa, como nesta entrevista.

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Muitos dos processos destrutivos continuam em larga escala, como a colonização de áreas nos Cerrados e na Amazônia

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A QUESTÃO AMBIENTAL

O senhor acha que o tratamento dado à questão ambiental melhorou ou piorou nos últimos anos? Muita coisa melhorou, e outras tantas, ou mais, pioraram. A problemática ambiental está nas escolas, na televisão, nos jornais, no cinema e no teatro, com as mais diversas nuances, muitas delas equivocadas. Mesmo assim, muitos dos mesmos processos destrutivos de antigamente continuam, e em larga escala, como a colonização de áreas naturais remanescentes, das quais os Cerrados e a Amazônia são bons exemplos. O senhor tem outros exemplos de destruições ambientais no Brasil? Há muitos! A degradação ambiental pode ser vista pelo Brasil afora, como no sul do Rio Grande do Sul, no interior de Minas Gerais e do Paraná e no Pará dos desmatamentos. Ela causa pobreza porque destrói os recursos naturais utilizados pelas comunidades para sua subsistência. O economista Carlos Eduardo Young, da UFRJ, em pesquisa recente, mostrou a correlação existente entre o grau de desmatamento e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em municípios da região da Mata Atlântica: quanto mais desmatado e degradado o município, pior o IDH. Mera coincidência? É possível conciliar conservação ambiental com progresso? Claro que é possível! O que parece mais difí-

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cil é o oposto: conciliar o progresso com a conservação. Pelo menos considerando o padrão de comportamento humano dominante, quer no ambiente público como no privado. Lamentavelmente, essa dificuldade se faz sentir menos por razões científicas e técnicas que por razões políticas, além de, também, devido a muita ganância e muita ignorância. A isto se soma o tamanho da população humana, seu contínuo crescimento e as conseqüentes necessidades de recursos associadas com a continuidade das injustiças sociais contra as quais lutamos hoje. Há países em que essa parceria já é bem-sucedida? Sim, na maioria do mundo desenvolvido, particularmente entre os anglo-saxões e escandinavos. Lá, a relação entre o desenvolvimento humano e a natureza se dá em outro nível. Alguns desses países destruíram muito, é certo, mas recuperaram também quase tudo, porque, pelo menos em termos de biodiversidade, sempre foram pobres e, portanto, perderam pouco. Este não é o caso da maioria dos países megadiversos, e também ainda em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, onde as perdas são irreversíveis, e suas conseqüências ainda são desconhecidas.

Milano chama a atenção para a biodiversidade brasileira durante o Fórum de Desenvolvimento Sustentável


A QUESTÃO AMBIENTAL

Debatedor: Luiz Fernando Lucho do Valle

Os edifícios As pessoas estão despertando da antiga inércia para mudanças importantes numa visão global e, principalmente, nas suas atitudes domésticas do dia-a-dia

verdes s chamados “edifícios verdes” começam a ganhar mais espaço em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. O engenheiro civil Luiz Fernando Lucho do Valle, 52 anos, presidente da Incorporadora Esfera, é responsável por alguns desses empreendimentos. Entenda-se por “edifícios verdes”, o conceito Green Building, concedido pelo United States Green Building Council – entidade norte-americana que atesta a excelência na construção sustentável. A incorporadora de Lucho do Valle já conquistou essa certificação em projetos como o Ecolife, com unidades no Rio de Janeiro e em São Paulo. São apartamentos cujas instalações estão voltadas para a causa ambiental em cada detalhe da construção. Aquecimento prévio da água com luz solar, torneiras acionadas por botões e descargas sanitárias liberando quantidade de água diferenciada. “É importante frisar que os empreendimentos Ecolife são planejados para os recursos naturais serem otimizados, refletindo, até mesmo, na redução da taxa de condomínio em até 30%”, diz Lucho do Valle. Um estudo publicado pela Unicamp afirma que, para cada dólar investido na construção de um prédio verde, há um retorno de US$ 3 no futuro. Para Lucho do Valle, a linha Ecolife é uma prova de que a construção civil consegue se ajustar aos novos tempos. Nesta entrevista, ele faz um balanço das mudanças na construção civil e o quanto isso vai beneficiar o meio ambiente.

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a Questão ambiental

Qual o futuro da construção civil no mundo? A tendência é de que todos os empreendimentos se tornem sustentáveis. Nos Estados Unidos, a preocupação com o tema tem valorizado os imóveis considerados sustentáveis em torno de 20% na sua revenda. Acredito que, em 2008, esse fenômeno ocorrerá no Brasil. Como a construção civil pode se adequar para preservar o meio ambiente? O primeiro passo é conscientizar empresários, incorporadores, construtores e fabricantes dos materiais a uma nova visão dos seus papéis dentro desse novo cenário. Seremos nós que vamos despertar a consciência nos futuros compradores. O segundo passo é se adequar em pré-requisitos como o reaproveitamento de energia, o uso eficiente da água. a manutenção da biodiversidade local, como árvores típicas, infra-estrutura de transporte público local suficiente para evitar o uso excessivo dos automóveis, e o uso de materiais ecologicamente corretos na construção. Da fundação da Esfera até hoje, há uma mudança na atitude dos clientes? Há vinte anos, a humanidade discute sua responsabilidade no aquecimento global, porém, ainda há um enorme descompasso entre o que percebemos como necessário

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para a proteção do meio ambiente e o realizado até agora. Hoje, 32% dos futuros moradores de um Ecolife compram seus apartamentos baseados na preocupação com o futuro de suas famílias e a preservação do meio ambiente. As pessoas estão despertando rapidamente da antiga inércia para mudanças importantes numa visão global e, principalmente, nas suas atitudes domésticas do dia-a-dia. Como seus empreendimentos preservam o meio ambiente? Nosso processo construtivo praticamente não utiliza madeira. Produz o mínimo de entulho e resíduos – não chega a 1% – e economiza matéria-prima. A madeira só é utilizada em acabamentos e, mesmo assim, deve ser de reflorestamento. Os recursos naturais, água e energia elétrica, têm programas de controle e redução do seu uso. Após a entrega do empreendimento, foram desenvolvidos vários diferenciais, como coleta de lixo seletiva, sensores de presença, captação e reutilização da água de chuva, água filtrada em todos os pontos de consumo, uso de chuveiros a gás e preaquecimento dessa água com energia solar, churrasqueiras ecológicas que não utilizam carvão vegetal, entre outros.


A água utilizada pelos moradores do Ecolife passa por um preaquecimento solar, o que economiza energia durante o banho. Os apartamentos têm churrasqueira ecológica que utiliza gás e rochas vulcânicas em vez de carvão vegetal

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A QUESTÃO AMBIENTAL

Debatedor: Marcelo Takaoka

Mata Atlântica no quintal

Portaria do condomínio Gênesis, lançado em 2002: preservação de árvores nativas e recomposição da Mata Atlântica

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É preciso repensar o nosso modo de vida. A sociedade sustentável só será possível a partir do esforço de cada ser humano

setor de construção civil é responsável por 15% do produto interno bruto (PIB) do país, e é o maior gerador de empregos diretos e indiretos. Porém, ele consome 75% dos recursos naturais extraídos, gera 80 milhões de toneladas de resíduos por ano e, devido à queima de combustíveis fósseis, contribui para a emissão de gases de efeito estufa, como o gás carbônico. A fim de buscar soluções para essa delicada questão, existe o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS). Uma organização sem fins lucrativos, que conta com representantes de empresas, entidades e profissionais envolvidos com construção civil. Entre os membros do Conselho do CBCS, está o engenheiro civil paulistano Marcelo Takaoka, 49 anos. Presidente da incorporadora Y. Takaoka Empreendimentos desde 2002, Takaoka constrói obras sustentáveis. Ele, que também faz parte do conselho do Greenpeace Brasil, vem se destacando no mercado imobiliário com empreendimentos que preservam o meio ambiente. Neles, a área verde é sempre maior do que a construída. “O desenvolvimento sustentável é um caminho sem volta. As mudanças climáticas estão forçando as pessoas a ficar mais atentas aos problemas ambientais”, afirma o engenheiro. Aqui, ele mostra como é possível aliar a preservação do meio ambiente ao desenvolvimento econômico. Como surgiu o primeiro projeto sustentável da Y. Takaoka? É preciso voltar um pouco no tempo para entender como chegamos ao nosso primeiro projeto. Na década de 70, todo mundo achava que a natureza seria para sempre. Nos anos 80, começamos a perceber que não era bem assim. A partir dos 90, começou a mobilização. Veio a Rio 92, e a ecologia tornou-se assunto mundial. Por isso, em 1998, começamos a pesquisar o que levava os clientes a comprar um imóvel. O verde apareceu como fator determinante. Então começamos o projeto do primeiro Gênesis. Um conjunto de 1.060 lotes residenciais, localizado em um trecho da Mata Atlântica entre Tamboré e Alphaville, na Grande São Paulo. A principal característica desse empreendimento, lançado em 2002, foi a distribuição da construção. Geralmente os empreendimentos são 84% loteamento e só 16% de área verde. Nesse projeto, dedicamos 84% ao verde e apenas 16% à área construída. Quem orientou vocês no desenvolvimento da obra? Tivemos a ajuda de agrônomos e ambientalistas para preservar espécies nativas e recompor a floresta e também de organizações, como SOS Mata Atlântica, da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável e da Amigos da Terra. No terreno, há uma

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A QUESTÃO AMBIENTAL

mata atlântica com mais de 150 mil árvores. Além disso, nossa construtora ficou responsável por plantar mais 80 espécies de vegetação e também criar um viveiro com sementes, mudas e árvores frutíferas. Essas plantas ajudaram a melhorar o solo da região e trouxeram sombra para o terreno. Construímos uma ponte sem precisar desmatar a floresta e fizemos uma estação terciária de tratamento de esgoto. O Gênesis nos ensinou que é possível realizar um projeto sustentável com poucos esforços. Mas um projeto como esse é bem mais caro do que uma construção convencional. Sim, às vezes até 30% mais caro. Mas o custo compensa no futuro. Hoje, as pessoas não têm opção. Elas não podem ficar indiferentes à causa ambiental. Esse fator alavanca qualquer projeto que vise qualidade de vida e meio ambiente. Com o

Gênesis I, vendemos todas as unidades no primeiro mês. Foi um sucesso. Quem comprou sabia que, além das trilhas na mata, teria acesso ao uso racional da água e energia. Que a água da chuva seria reutilizada para irrigar os jardins e lavar as calçadas. Isso acaba diminuindo o valor do condomínio. Empreendimentos sustentáveis são uma tendência de mercado? Sim. Tem muita gente que está construindo assim e nem faz idéia. Alguns já fazem o uso racional da água e, sem perceber, tornam suas construções sustentáveis. Temos outros projetos na linha Gênesis em andamento em Alphaville, e outro em Porto Alegre, que acabou de ser aprovado. É preciso repensar nosso modo de vida. A sociedade sustentável só será possível a partir do esforço de cada ser humano.

NESSE PROJETO, DEDICAMOS 84% DO TERRENO AO VERDE E APENAS 16% À ÁREA CONSTRUÍDA Takaoka mostra como gerar lucros sustentáveis

Terreno entre Alphaville e Tamboré: Mata Atlântica com mais de 150 mil árvores

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AQUECIMENTO GLOBAL

Debatedor: Fernando Almeida

Dos 24 serviços ambientais considerados essenciais para a nossa vida, 15 estão desaparecendo ou perdendo gradativamente a função

Paladino

da natureza simples ato de ver a Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro, iluminar-se todas as manhãs é uma de minhas motivações para lutar pela causa ambiental”, diz Fernando Almeida, presidente-executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Autor do livro Os Desafios Urgente, publicado da Sustentabilidade: uma Ruptura Urgente pela Editora Campus Elsevier (ver box), engenheiro ambiental com mestrado em Engenharia do Meio Ambiente pelo Manhattan College, em Nova York, esse carioca de 54 anos define-se uma pessoa sintonizada com a natureza. A inspiração lhe rendeu cargos, como a presidência da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema/RJ), membro do Conselho Diretor do Millennium Ecosystem Assessment (Avaliação Sistêmica do Milênio), do Conselho de Administração e Sustentabilidade da Alcoa e do Comitê Holcim (Brasil) para o Desenvolvimento Sustentável. Almeida traz, nesta entrevista, dados recentes colhidos em congressos e pesquisas sobre a situação ambiental no mundo.

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AQUECIMENTO GLOBAL

Em sua opinião, as pessoas estão mais inteiradas com problemas como o aquecimento global? Há dez anos, essa preocupação já estava no debate científico, mas seria impensável ouvir um motorista de táxi conversando sobre aquecimento global com seu passageiro, como acontece hoje. O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) ajudou a ampliar a conscientização da população. Além de anular definitivamente a tese de que o aquecimento global é decorrente de um fenômeno natural, ou de que as inovações tecnológicas, isoladamente, encontrariam a saída para o dilema. Como está a situação dos serviços ambientais em todo o mundo? Dos 24 serviços ambientais considerados essenciais para a nossa vida – entre eles a água

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OS DESAFIOS DA SUSTENTABILIDADE: UMA RUPTURA URGENTE Na obra, Almeida situa os leitores sobre qual a situação de nossos serviços ambientais e a urgência em salvá-los

Nesse segundo livro – o primeiro foi O Bom Negócio da Sustentabilidade em 2002 – o autor Fernando Almeida aborda os desafios da sustentabilidade como um dilema urgente de todas as pessoas. Dividido em três partes, na primeira, Almeida atualiza os leitores sobre o estado dos serviços ambientais, as razões da urgência e o comportamento dos sistemas naturais. Na seguinte, ele mostra como implantar as mudanças pela via da ruptura estruturada como forma de desviar nosso futuro da rota da tragédia social e ambiental. Para encerrar, revela quem vai operar essas mudanças, apontando para a formação de líderes da sustentabilidade. A obra relata também histórias de grandes empresas que já estão se ajustando a essas mudanças.


1000

FONTE: INSTITUTO DE ELETROTÉCNICA E ENERGIA / USP

2000

861

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4000

1200

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1660

2960

6000

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MAIORES EMISSORES DE GASES CAUSADORES DO EFEITO ESTUFA

EMISSÕES DE GÁS CARBÔNICO (MILHÕES DE T)

ESTADOS UNIDOS

e o ar limpos, a regulagem do clima e a produção de alimentos, fibras e energia – 15 estão desaparecendo ou perdendo gradativamente a função. A conclusão é da Avaliação Ecossistêmica do Milênio (AEM), estudo que envolveu 1.360 especialistas de 95 países. Qual é a questão ambiental mais urgente? É reverter o processo de aquecimento global por meio da reconstrução da matriz energética. Precisamos produzir mais energia, inclusive para combater a pobreza, mas teremos de reduzir o ritmo de emissão de gases de efeito estufa – em especial, o gás carbônico (ver gráfico). Temos de chegar a 2050 com uma concentração na atmosfera inferior a 550 ppm de gás carbônico. O efeito do aquecimento global, que já se sente, é avassalador. Durante a World Water Week (a conferência mundial sobre água

CHINA

RÚSSIA

JAPÃO

BRASIL

ÍNDIA

realizada em agosto na Suécia), foi divulgado que, no decorrer de 2007, 117 milhões de pessoas em todo o mundo foram vítimas de cerca de 300 desastres naturais, gerando um prejuízo total de US$ 15 bilhões. Ainda há tempo para salvar nosso planeta? Estamos correndo contra o tempo. O atual modelo de crescimento econômico global é insustentável. Está provocando a falência dos serviços ambientais e o esgarçamento do tecido social, com o aumento da pobreza, da violência e do terrorismo. O fator determinante para atender o senso de urgência e implantar as mudanças que apregoamos estará na nossa capacidade de entendimento para os três principais atores – governos, empresas e sociedade civil organizada. Eles deverão atuar de forma articulada e integrada.

Almeida diz: “Estamos correndo contra o tempo. O atual modelo de crescimento econômico global é insustentável”

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AQUECIMENTO GLOBAL

Debatedor: José Goldemberg

Energia e Meio Ambiente A ação do homem transformou-se numa força de proporções geológicas. Ele move tanto material quanto a força dos ventos, erupções vulcânicas e terremotos 20


físico e professor José Goldemberg, 79 anos, preocupa-se com o meio ambiente muito antes da palavra ecologia chegar à mídia. Durante a ditadura militar, opôs-se ao Programa Nuclear Brasileiro e se indispôs com o governo do general Ernesto Geisel. Naquela época, Goldemberg já percebia os estragos que a natureza poderia sofrer com o progresso. Começou suas pesquisas sobre as alternativas de energia que o Brasil oferecia e acabou tornando-se uma referência no assunto. Foi secretário do Meio Ambiente da Presidência da República, presidiu a Companhia Energética de São Paulo (Cesp) e conduziu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente – Rio-92. Hoje, Goldemberg é professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE/ USP). Ele é autor de inúmeros trabalhos técnicos e vários livros sobre Física Nuclear, Energia e Meio Ambiente. O mais importante deles é o livro Energy for a Sustainable World, publicado em 1988, e que teve uma influência fundamental nessa área de pesquisa. Nesta entrevista, Goldemberg explica os impactos ambientais que o planeta Terra está sofrendo.

Atualmente, há cerca de 6 bilhões de pessoas no mundo e cada uma consome, em média, por ano, 8 toneladas de recursos minerais. Qual o impacto desses números no meio ambiente? Há um século, a população do planeta Terra era de 1,5 bilhão, e o consumo era menor do que 2 toneladas per capita. O impacto total, hoje, é 16 vezes maior – 48 bilhões de toneladas. A ação do homem transformou-se numa força de proporções geológicas. Ele move tanto material quanto a força dos ventos, erupções vulcânicas e terremotos. Das 8 toneladas que cada ser humano movimenta, 1 tonelada é carbono lançado na atmosfera sob a forma de gás carbônico, que é o resultado da combustão de combustíveis fósseis. Essa emissão é responsável pela elevação da temperatura – o aquecimento global (veja gráfico 1). Quais as conseqüências do aquecimento global no planeta? Em primeiro lugar, o aumento da temperatura global que subiu em média entre 0,4ºC e 0,8ºC a partir de 1860 (veja gráfico 2). A década de 1990 foi a mais quente do século

CONTRIBUIÇÃO DOS GASES DO EFEITO ESTUFA PARA O AQUECIMENTO GLOBAL, EM 2000

Transportes

Processos industriais

17% Agricultura

13% Produção e distribuição de combustíveis fósseis

11%

Uso residencial, comercial e serviços

10%

Geração de eletricidade

21% Tratamento e disposição de resíduos

4% Desmatamento

10% FONTE: INSTITUTO DE ELETROTÉCNICA E ENERGIA / USP

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AQUECIMENTO GLOBAL

0.8

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-0.4

-0.8

1860

1880

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1920

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2000

FONTE: INSTITUTO DE ELETROTÉCNICA E ENERGIA / USP

20, e o ano de 1998, o mais quente do século. A segunda conseqüência do aquecimento global é o aumento do nível dos oceanos. No século 20, ele aumentou de 10 a 20 centímetros. A terceira é a redução crescente da cobertura de neve. Como as empresas e o governo podem atenuar esses impactos? De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), algumas medidas que podem ajudar, são a redução de consumo de combustíveis fósseis e o desmatamento da Amazônia, que representa 75% das emissões brasileiras de gases de “efeito estufa”. Na produção de energia, é preciso procurar novas tecnologias, como captura de carbono, e busca de energias renováveis. No transporte, são necessários veículos mais eficientes, trabalhar com veículos híbridos e melhorar o transporte público. Nas construções, procurar maior eficiência em ar condicionado, iluminação e aparelhos domésticos. Na indústria, máquinas mais eficientes e, na agricultura, melhores práticas agrícolas.

Em sua opinião, como o governo brasileiro lida com a causa ambientalista? De maneira precária. O governo tem necessidade de promover o desenvolvimento e não consegue lidar bem com os problemas sociais e ambientais que o desenvolvimento gera.

VEJA OS IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO BRASIL Amazônia: savanização da floresta. Cobertura florestal cairá de 85%, em 2005, para 53%, em 2050. Nordeste: clima mais seco devido à savanização da Amazônia. Zona Costeira: aumento de 40 centímetros do nível do mar. Sistemas de esgoto em colapso. Construções à beira-mar e portos serão afetados. Sudeste: tendência de aumento de chuvas. Região Sul: aumento de chuvas e de temperatura. Agricultura: culturas perenes migrarão para o Sul. Recursos hídricos: diminuição da vazão dos rios devido à evaporação, exceto no Sul. Grandes cidades: mais chuvas e inundações. Saúde: doenças infecciosas transmissíveis, como dengue, tendem a se alastrar. FONTE: INPE

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AQUECIMENTO GLOBAL

Debatedor: Rubens Harry Born

Sou especialista em uso e gestão de água. Sempre bebi direto da torneira. Confio 100% na qualidade da água que recebo em minha casa

A força da água os 21 anos, o paulistano descendente de alemães, Rubens Harry Born, criou sua primeira ONG em parceria com alguns amigos. O ano era 1977, e a organização chamava-se Grupo de Ecologia e Sobrevivência. Sobre a experiência, esse engenheiro civil, com especialização em engenharia ambiental, diz: “O grupo não sobreviveu, mas a causa continua”. Há 18 anos, Born dirige a Vitae Civilis, uma ONG sediada no município de São Lourenço da Serra, onde, aliás, Born vive há sete anos. Lá, adaptou sua casa dentro dos padrões ambientais ideais com muitas reformas hidráulicas. Criou um sistema de calhas nos telhados de maneira a captar a água das chuvas e usa lâmpadas econômicas e cestos para a coleta seletiva de lixo. “Não adianta pregar a mudança de atitudes para diminuir o impacto ambiental e não agir assim em casa”, afirma Born, 52

anos. “Sou especialista em uso e gestão de água. Bebo água direto da torneira, porque confio 100% na qualidade que recebo em minha casa.”Sempre presente em grandes conferências, como a Rio-92 e a Rio + 10, e representante do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais em Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (FBOMS), Born avalia, nesta entrevista, o trabalho realizado pelas ONGs, entre elas a Vitae Civilis. Em sua opinião, o que deve ser feito para diminuir o impacto do aquecimento global? Chegamos a um ponto em que não temos mais como reverter o processo. A situação é tão grave que se, por um milagre, todos os países parassem de emitir definitivamente gases de combustíveis fósseis no ar, como o gás carbônico, mesmo assim, o planeta ainda continuaria aquecendo por mais uma década. Mas isso não significa que devemos ter uma

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AQUECIMENTO GLOBAL

NÃO REVE REVERTER O AQUECIMENTO GLOBAL VAI GERAR

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atitude passiva e deixar para lá. É preciso repensar a arquitetura das novas construções, fabricar automóveis mais eficientes, otimizar o uso da energia solar e da água, diminuir, sim, a emissão de gases poluentes e o desmatamento das florestas, entre outras medidas urgentes. Um estudo realizado pelo governo britânico em 2006 concluiu que não tomar nenhuma atitude para reverter o aquecimento global vai gerar um prejuízo de 20% no PIB mundial (Produto Interno Bruto). Porém, mudar algumas atitudes na indústria, além de gerar emprego e renda, custará apenas 1% do PIB mundial.

cutido somente por grupos ambientais. O tema popularizou-se e foi vinculado ao desenvolvimento econômico. Ela nos trouxe a Agenda 21, a Convenção de Mudanças Climáticas e de Biodiversidade. Já a Rio + 10, que ocorreu em 2002, foi um fracasso anunciado. Não reuniu a quantidade de chefes de Estado que teve na Rio 92. O mundo mudou muito em 10 anos com o 11 de Setembro, o terrorismo crescente e as guerras. A discussão ambiental perdeu espaço. Porém, acho que esses encontros sempre são válidos para tentar buscar um diálogo.

Como o senhor avalia conferências como a Rio-92 e Rio + 10 em 2002? Nas duas conferências, fui coordenador da delegação das ONGs brasileiras. A Rio92 foi a primeira de um ciclo de conferências na década de 90. Depois dela, o meio ambiente deixou de ser um assunto dis-

Como é a relação do governo federal brasileiro com as ONGs? É baseada em diálogos bastante francos. O governo brasileiro é um dos poucos no mundo que leva em sua delegação representantes de ONGs em viagens internacionais, a fim de acompanharem as discussões com

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UM PREJUÍZO DE 20%NO PIB MUNDIAL

No alto, o centro de conservação ambiental Paiol Maria, em São Lourenço da Serra. Acima, Born em conferências pelo mundo e alunos dos cursos da Vitae Civilis outros países. Esse é um grande diferencial. Nosso ponto de divergência é que o governo brasileiro ainda insiste em não querer discutir ou assumir metas para diminuir a emissão de gases na atmosfera. Como define o trabalho desenvolvido pela Vitae Civilis? São 18 anos de luta. Temos vários projetos de ecoturismo, entre eles, um em parceria

com a Petrobras na cidade de São Lourenço da Serra, município a 52 quilômetros da cidade de São Paulo. O projeto gera renda e promove a conservação da Mata Atlântica. Também desenvolvemos trabalhos para a criação de cidades solares, onde a energia solar seja cada vez mais otimizada. Tentamos trabalhar o tempo todo em conjunto com outras ONGs numa grande rede para unir forças a favor da natureza.

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