Baleação em São Miguel

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CorreiodNorte DIRECTOR: ROBERT DA CAMARA - ANO VII - Nº 160- EDIÇÃO ESPECIAL- QUINZENÁRIO - PREÇO: 0,50 €

Listas de espera para cirurgia com redução de 30 por cento no Hospital de Ponta Delgada

Baleação em São Miguel Direitos Reservados

Social: Friends Place, nas Capelas, acolhe desfile de moda “Fashion Verão 2008”

Social: Escola Básica Integrada de Capelas promove festa em honra do Espírito Santo

- Enquadramento histórico: São Miguel teve dezasseis botes baleeiros - Presidente da Junta de Freguesia de Capelas: “Processo de preservação do património baleeiro em São Miguel foi um “completo falhanço” - Museu Carlos Machado recuperou o mítico “Santa Joana”, em exposição permanente no centro comercial

Ferreira Moreno Igor Pestana João-Luís Medeiros Mariana Matos Ricardo Farias

- Testemunho de João Luís Mariano e José Maria Cabral Revoredo, antigos baleeiros - Terra Azul quer recuperar e preservar património histórico baleeiro da ilha de São Miguel


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02 NOTA DE ABERTURA

Para memória futura A presente edição é dedicada à actividade baleeira na ilha de São Miguel, que terminou em na década de 70, ditada por factores económicos e ambientais; no entanto, para trás ficou um vasto património constituído por um conjunto de saberes, associado às embarcações, artefactos e fábrica. Apresentamos alguns dados históricos relativos à actividade, fazemos o levantamento do espólio baleeiro da Vila das Capelas e do Museu Carlos Machado e damos voz aos homens do mar. Expomos ainda o projecto da empresa Terra Azul “150 Milhas de História”, que visa recuperar e preservar o património histórico baleeiro da ilha de São Miguel. Está projectada a recuperação do bote “Senhora de Fátima”, construído nas Capelas, a realização de um documentário e a travessia entre o Pico e São Miguel; todavia, a concretização do sonho está dependente de apoios públicos. Edilidade, baleeiros e população mostram alguma indignação pelo facto de o património ter sido menosprezado. Canoas, vigias e fábricas foram deixadas ao abandono. Ademais, a poucos foi dada a oportunidade de viver este capítulo da história do mar e, hoje, estas vozes não têm eco. Importa enaltecer a coragem dos baleeiros e preservar o que resta do património, atendendo ao impacto que a actividade teve no sustento das famílias e na sua maneira de ser e de estar.

A entidade micaelense está intrinsecamente associada à actividade baleeira. Basta olharmos as nossas festas e expressões artísticas. Podemos, igualmente, falar do whalewatching como herança da baleação açoriana. Profundamente marcados pela actividade baleeira, os micaelenses sentem-se duplamente discriminados. No Faial e Pico existe um maior trabalho feito nesta área, ao contrário da ilha de São Miguel onde há ainda muito a fazer. Por outro lado, na ilha verde tem se investido na recuperação de outro património e a baleação ficou para trás. A demolição da antiga fábrica da baleia, situada em São Vicente Ferreira, suscitou indignação. Mas, convém salientar que, no estado de degradação em que se encontrava, não haveria muito a fazer naquele espaço. Neste momento impõese aguardar uma resolução por parte do grupo BANIF, que teve a preocupação de deixar os elementos principais da memória da fábrica: a chaminé e o forno. Tudo indica que, naquele espaço, vai nascer um empreendimento turístico, criando riqueza nessa zona da costa norte; no entanto, é fundamental integrar a memória dos baleeiros no futuro empreendimento. Boa leitura! Carmen Costa

“Pela importância sócio-económica que teve na vida das populações e pelo carácter épico-dramático de que se revestiu, a baleação deixou marcas profundas na memória colectiva de muitas localidades açorianas.” Manuel Francisco Costa Jr., Director do Museu do Pico

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EDIÇÃO ESPECIAL ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

São Miguel teve dezasseis botes baleeiros Em 1970, existiam dezasseis botes em São Miguel, sendo que sete eram das Capelas, entre os quais o Santa Joana. Nessa época, trabalhavam na actividade sessenta e quatro homens POR CARMEN COSTA correionorte@yahoo.com.br

Na ilha de São Miguel, a caça ao cachalote, Physeter macrocephalus, realizava-se durante todo o ano, embora o Verão se apresentasse como a época de maior rentabilidade. Nesse período, era frequente caçar dez, doze e até dezassete cachalotes por bote. Quanto mais elevado fosse o número, maior o prestígio e reconhecimento social do oficial da embarcação. Os botes baleeiros eram construídos na ilha, normalmente por mestres locais, sendo os nomes das embarcações atribuídos pelos proprietários. Em 1970, existiam dezasseis botes em São Miguel, sendo que sete eram das Capelas, entre os quais o Santa Joana. Nessa época, trabalhavam na actividade sessenta e quatro homens: quarenta e nove nos botes, dez em cinco lanchas e cinco na

Direitos Reservados

“vedeta”. Em terra encontravamse nove vigias: Santo António, Ajuda da Bretanha, Várzea, Feteiras, Água de Pau, Faial da Terra, Algarvia (Marquesa), Fenais da Ajuda e Ribeirinha (Cintrão), para além de uma vigia móvel, que funcionava no Morro das Capelas. Os trabalhadores da actividade baleeira distribuíamse pelas funções de oficiais, arpoadores, remadores, vigias e tripulação das lanchas. Os baleeiros, além de irem para o mar, ajudavam a esquartejar os cachalotes. Dos instrumentos manuais mais utilizados, destacam-se a lança e o arpão, para ferir o cachalote, e o espeiro, para o esquartejar. A partir da carne, sangue e ossos, produziam-se três tipos de farinha, utilizada nas rações para animais, algumas das quais eram exportadas. A gordura, derretida

e transformada em óleo, era utilizada localmente como combustível para iluminação e exportada para exploração industrial. Muito valorizados eram os dentes de cachalote, de marfim, exportados ou utilizados localmente na produção de valiosas peças de artesanato e de scrimshaw. O espermacete, óleo que se encontra alojado no interior da cabeça destes cetáceos, era utilizado no fabrico de diversos produtos farmacêuticos e cosméticos e na produção de velas, que tinham a particularidade de não produzir fumo. Outro produto importante, embora raro, era o âmbar, proveniente dos intestinos de alguns cachalotes, que, pelas suas características, era utilizado em perfumaria. No concelho de Ponta Delgada, a Fábrica da Baleia de Capelas/São Vicente Ferreira foi construída no início dos anos 40. Em 1970, a União das Armações Baleeiras de São Miguel, representada por Pedro Cymbron, transferiu a propriedade da fábrica para a Sociedade Corretora. Actualmente é propriedade do BANIF. Recorde-se que, para além da fábrica, existiam na Ajuda da Bretanha, Porto Formoso, Ponta Garça e Faial da Terra panelas de ferro que, esporadicamente, derretiam a gordura do cachalote. Em 1984, foram capturados os dois últimos cachalotes na Região Autónoma dos Açores, sendo os testemunhos dos baleeiros e da sua actividade um marco na história económica do Arquipélago.


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EDIÇÃO ESPECIAL

Animais do alto mar, os cachalotes quando se aproximam da terra procuram as costas abruptas e as águas profundas e, por isso, visitam frequentemente os mares dos Açores, vindos do sul, em rebanhos

“Pesca da Baleia” O que os baleeiros dos Açores caçavam era o cachalote macrocephalo e não a baleia; no entanto, continua a dizer-se “pesca da baleia” por uma questão de hábito. Ambos pertencem à classe dos mamíferos e aproximam-se dos peixes pela sua conformação e género de existência aquática. Os cetáceos, embora possuam respiração aérea e sangue quente, não só têm o corpo comprido, como habitam constantemente no mar, onde se movem com extrema facilidade, apesar da massa enorme do seu corpo, e realizam as suas funções de nutrição e de reprodução. Entre o cachalote e a baleia existem, contudo, dissemelhanças anatómicas fundamentais. Basta notar que a numerosa fiada de enormes dentes cónicos que reveste a queixada inferior dos cachalotes e lhes serve para filar as grandes presas de que se alimentam é substituída nas baleias pelas barbas de natureza córnea que guarnecem a sua queixada superior. Ademais, enquanto o cachalote habita as águas temperadas, aparecendo ao norte e ao sul no Atlântico e no Pacifico à latitude de 30º dos dois lados do Equador, a baleia encontra-se, de preferência, nas águas frias das regiões circumpolares. O cachalote, outrora objecto da pesca nas ilhas, é o gigante dos mares, atingindo algumas vezes 30 metros de comprimento. O seu corpo apresenta uma forma estranha, especialmente pela singularidade da sua imensa cabeça. Animais do alto mar, os cachalotes quando se aproximam da terra procuram as costas abruptas e as águas profundas e, por isso, visitam frequentemente os mares dos Açores, vindos do sul, em rebanhos. Logo que o vigia avistava a coluna de água vaporizada de algum cetáceo, prevenia as companhas baleeiras que estavam em terra, tirando fortes sons de uma buzina pneumática e, imediatamente, as canoas eram lançadas com presteza ao mar. Os barcos, que respeitavam um modelo persistente desde a antiguidade, eram construídos tendo em vista as condições de velocidade: duas proas e um só mastro, ao qual se amarrava uma grande vela quadrangular. Deslizavam sobre a água como gaivotas, rápida e silenciosamente, e, assim que se aproximavam do cachalote os quatro remadores substituíam por pás os remos, para que o animal não se apercebesse da aproximação da canoa. O trancador, firme no seu lugar à proa, com o arpão empunhado, conservava-se pronto para o despedir ao primeiro sinal, dado pelo oficial que governa a embarcação. A esse sinal a arma partia pelo ar, semelhante a uma flecha, e

O porto das Capelas foi um dos mais afamados para a cetologia penetrava no corpo do cetáceo. Irritado pela dor da ferida, o cachalote mergulhava, descendo como um raio através das camadas de água e voltando à superfície para respirar.

Nesse momento, os remadores puxavam o cabo do arpão, até fazer aproximar o barco a cerca de quatro braças do animal ferido, sendo-lhe, então, arremessada a lança, que

vai cravar-se até meio metro de ferro, numa parte vital. A fúria do monstro exacerbava-se, e, principalmente, quando se tratava de um velho macho, o

perigo tornava-se grave, porque o seu choque com a canoa podia esmagá-la e precipitar a tripulação no abismo. Era um espectáculo extraordinário e épico, de uma intensa comoção. O cachalote batia pancadas formidáveis com a cauda, esvaía-se em sangue e ia enfraquecendo, acabando por morrer. Na agonia trágica, vomitava restos de cephalopodes gigantescos e estranhos, que constituíam para a ciência novidades sensacionais e corporizavam para a imaginação popular os grandes fabulosos de que subsistem tantas lendas. Morto, o cachalote é rebocado para terra e encalhado no areal, para se proceder ao seu espostejamento. Um cachalote produz em regra 11 mil litros de azeite, mas pode render até 20 mil. In Revista “Ilustração Portuguesa” III volume 18 de Março de 1907


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EDIÇÃO ESPECIAL PATRIMÓNIO

Protecção do património baleeiro foi um “completo falhanço” O processo de preservação do património baleeiro em São Miguel foi um “completo falhanço”, considera o autarca André Viveiros, que defende a criação de um núcleo museológico no interior das edificações que vierem a ser construídas no terreno da fábrica da baleiA POR CARMEN COSTA correionorte@yahoo.com.br

Correio do Norte - A actividade baleeira apresenta-se como um facto incontornável na história da Vila das Capelas. A freguesia possui objectos alusivos à actividade? André Viveiros - Os poucos artefactos relacionados com a actividade baleeira nas Capelas encontram-se hoje na sua maioria na posse de particulares, que os detêm por herança de familiares, gosto ou puro simbolismo cultural. Lembramos que as principais causas a determinar o fim da caça à baleia nas Capelas foram as dificuldades económicas e financeiras da empresa que detinha a Fábrica, situação que deu lugar a um contencioso processo de falência que se arrastou no tempo, permitindo a vandalização das instalações industriais e a desvalorização material de todos os meios náuticos e industriais relacionados com aquela actividade. Como nota informativa importa dizer que a actividade baleeira começou nas Capelas na década de oitenta do século XIX e vai estar activa até 1973, portanto, desenvolveu-se nas Capelas e em São Miguel durante cerca de 90 anos, sendo certo que noutras ilhas, designadamente no Faial e Pico, perdurou mais tempo. CN - Onde estão os barcos e materiais utilizados? AV - Acerca dos barcos, podemos dizer que a lancha a motor que acompanhava e dava apoio às canoas, a comummente designada de “vedeta”, há muito que foi desmantelada. Relativamente às canoas baleeiras, a Junta de Freguesia é proprietária de duas que estão guardadas em armazém, encontrando-se presentemente em avançado estado de degradação, ou seja, praticamente irrecuperáveis, podendo, contudo, ser reconstruídas em termos de desenho.

A única canoa baleeira que temos em razoável estado material é a Santa Joana, que está em permanente exposição no Centro Comercial Parque Atlântico, sendo propriedade da Direcção Regional da Cultura, contudo, impossibilitada de qualquer navegação. Outros materiais relacionados com a caça à baleia encontram-se dispersos e na posse de pessoas que os referem com valor afectivo. CN - O que é que pode ser feito, pela Junta e outras entidades, no sentido de preservar a memória dos baleeiros micaelenses, sendo que existe um monumento na Vila das Capelas? AV - Nesta fase, em que praticamente já não existe espólio material, penso que pouco há a fazer. A actividade baleeira tem hoje nas Capelas o seu valor cultural e identitário salvaguardado pela presença na Igreja Matriz da imagem da Senhora de Lurdes, consagrada como padroeira do baleeiros e que é homenageada anualmente com cortejo processional no último domingo de Julho. Em frente à Igreja Matriz foi edificado um Monumento em honra do baleeiro.

As Capelas também têm uma rua e um bairro com toponímica a memoriar a actividade baleeira e a heráldica da Vila, designadamente a sua bandeira, estampa elementos a simbolizar essa actividade que nos identifica e que até delineia quadros de mentalidade nas pessoas que mais de perto viveram a actividade. CN - Acha que faz sentido criar um museu dos baleeiros em São Miguel, à semelhança do que acontece no Pico? AV - Na fase em que estamos, de depauperamento de artefactos, penso que já não faz qualquer sentido pensarmos na criação de um museu alusivo, tanto mais que a fábrica acaba de ser demolida. O que penso que ainda pode ser feito, é, eventualmente, criar um pequeno núcleo museológico no interior das edificações que vierem a ser construídas no terreno da fábrica, simbolizando ou referenciando a actividade ali desenvolvida. CN - Seria uma boa forma de atrair o turismo para esta zona da costa norte? AV - Os museus baleeiros no Faial e Pico,

Carmen Costa

Monumento em honra do baleeiro, situado em frente à Igreja Matriz, nas Capelas. A iniciativa foi da anterior Junta de Freguesia, presidida por José Botelho do Rego Duarte, em conjunto com o Governo Regional

particularmente, os existentes nas vilas das Lajes e São Roque são pontos interessantes de atracção turística. Em São Miguel, como já se disse, é praticamente impossível a criação de um museu. Neste processo de preservação do património baleeiro em São Miguel, todos temos de assumir responsabilidades pelo completo falhanço do seu processo de salvaguarda, pois, desde o seu início a questão financeira acabou por falar mais alto e a determinar as opções, veja-se a inesperada demolição da fábrica. CN - No seu entender,

o que deve ser feito na antiga fábrica da baleia, onde só resta a chaminé? AV - Naturalmente, estamos a falar de um terreno privado e aí o princípio terá de ser o de respeitar os investimentos a realizar; no entanto, veríamos com satisfação que o que lá fosse edificado integrasse um pequeno núcleo museológico dedicado à caça à baleia que permitiria recolher o espólio ainda existente. Penso que o terreno tem potencialidades turísticas, esperamos que os investimentos a realizar sejam dessa natureza.


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EDIÇÃO ESPECIAL PATRIMÓNIO

Museu Carlos Machado recupera “Santa Joana” Museu Carlos Machado recuperou o mítico “Santa Joana”, em exposição centro comercial, e alguns artefactos da actividade baleeira na ilha de São Miguel

permanente

no

POR CARMEN COSTA correionorte@yahoo.com.br

A história da canoa baleeira Santa Joana, que integra o espólio do Museu Carlos Machado, remonta a meados do século XX. Começou a ser construída a 13 de Maio de 1952, por encomenda da União das Armações Baleeiras de São Miguel, Lda., efectuando-se o seu registo em Janeiro do ano seguinte, na Capitania do Porto de Ponta Delgada. Tem uma lotação máxima de oito pessoas e como meios de propulsão duas velas e seis remos. Foi utilizada durante vários anos na costa da ilha de São Miguel na caça ao cachalote. Em 1962, a sua tripulação capturou 39 cetáceos.

Do espólio do Museu Carlos Machado também fazem parte o arpão, lança/fisga e espeiro, utilizados na caça à baleia em São Miguel.

Carmen Costa

Recorde-se que antiga fábrica começou a ser construída no início da década de 40, sendo que a chaminé data de 1944. Pertencia à União das Armações Baleeiras, que, em 1970, a vendeu à Sociedade Corretora. Actualmente, é propriedade do grupo Banif.


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EDIÇÃO ESPECIAL

TESTEMUNHO

“Santa Joana era o melhor” É com orgulho que José Maria Revoredo e a intensa azáfama no porto das Capelas

recorda

a

baleação

a

bordo

POR CARMEN COSTA correionorte@yahoo.com.br

Correio do Norte - Esteve na baleação dez anos. Qual era a sua especialidade? José Maria Revoredo - No inicio remador e, depois, trancador por conta da União das Armações Baleeiras. Quando a actividade acabou, fui trabalhar nas estufas. Entretanto, a Corretora comprou a fábrica mas não fui, porque não quis deixar o meu trabalho. Foi bom assim porque pouco depois a fábrica fechou. Mas, a gente não podia viver só da baleia. Trabalhava no campo e no mar como pescador. CN - Em que bote operava? JMR - “Santa Joana” (risos). Houve um ano em que matamos trinta e oito baleias. A nossa companha era muito esperta! Matávamos sempre mais do que os outros. A canoa também era boa. Era pesada, mas quando ganhava embalagem era como uma bala. O meu pai foi mestre da “Vedeta”, a maior lancha que tínhamos. CN - O que sentia

quando caçava? JMR - A gente quando ia para o mar, nunca sabia a força do animal. Íamos sempre com medo, pois de repente o anima dava com o rabo, ou virava a canoa e podia pisar alguém. Quando a gente trancava, ficava mais leve. CN - Pelo contrário, qual a sensação de não caçar? JMR - A gente ficava ruim. Nada satisfeitos. Queríamos era matar para ganhar mais alguma coisa no fim do ano, a fortuna. Foi uma vida dura, mas tenho saudades. O nosso governo fez mal em deixar perder um património como o baleeiro, que era das Capelas. Na freguesia existiam seis botes e na cidade mais seis. Foi-se embora tudo. A fábrica, deitaram-na abaixo, mas dava para fazer ali um museu que era uma coisa linda. CN - O que poderia ter sido feito para preservar a memória dos baleeiros da ilha de São Miguel? JMR - A baleia acabou ainda no tempo de Salazar,

CorreiodNorte PROPRIEDADE Filipe e Camara - Média, Lda CONT.: 512 097 496 NÚMERO DE REGISTO: 123857

TELEFONE 296 989 470

Joana”

Carmen Costa

“Quando rejeitava o bombão - sinal de que tinha aparecido uma baleia – ele ia buscar a comida, que estava em casa do meu pai. Tinha sempre a comida numa caixa de madeira pronta a levar para o mar, pois, às vezes, eles demoravam. Ficava numa aflição quando eles iam para o mar, às vezes até anoitecer!”

altura em que não se podia fazer nada. Mas, agora podiam fazer. Deviam ter feito ali um museu como no Pico. Às vezes falo da baleação e as pessoas gostam de ouvir. Mas, isso vai acabar por esquecer. Temos o monumento, ao pé da igreja, mas aquilo foi uma coisa muito mal feita. O meu pai chamava àquilo um monstro e o sítio não é o melhor: devia ter sido feito no Cruzeiro, pois os baleeiros eram quase todos da zona. Esta zona, era o porto das canoas, dos botes e das lanchas; para desmanchar as baleias era nos Poços.

SEDE: Rua dos Vinháticos, n.º 15 C 9545 - 145 Capelas

do “Santa

FAX 296 989 467

E-MAIL: Redação: correionorte@yahoo.com.br

DIRECTOR: Robert DaCamara EDITOR: Duarte Nuno Filipe REDACÇÃO: Carmen Costa CP- 7851

A zona do porto era muito movimentada. Baleeiros, pescadores, consolava a ver! Agora é uma tristeza. Está tudo morto. Era uma companhia que dava muito que fazer. CN - O que faziam com a baleia? JMR - Era desmanchada e cortada às tiras: o toucinho era para derreter, a carne para fazer farinha e os ossos também para farinha. Aproveita-se tudo, menos as tripas. Por último, começaram a aproveitar alguma coisa das tripas. Se estávamos a derreter muitas baleias dava um

cheirinho na freguesia. Às vezes levávamos 2, 3 dias a desmanchar treze, quinze baleias. CN - Tem 69 anos, o que faz no seu dia-a-dia? JMR - Costumo estar a olhar o mar e, às vezes, vou matar as saudades aí para baixo. Vou pescar: sargos, polvo, carapau e garoupa. CN - Costuma falar com os seus colegas de baleação? JMR - Às vezes. Aqui tem o Luís Toca e o João Melão, o João Luís Mariano e pouco mais. Na minha família, o meu pai e dois tios dedicaram-se à baleia.

COLABORADORES: Ferreira Moreno; Igor Pestana; João-lúis de Medeiros; Lélia Pereira da Silva Nunes; Manuel S. M. Leal; Mariana Matos; Ricardo Farias; Rui Ponte FOTOGRAFIA E PAGINAÇÃO: Carmen Costa TIRAGEM: 1000 exemplares IMPRESSÃO: Coingra - Parque Industrial da Ribeira Grande, Lt 33 - Ribeira Seca, tel.: 296473786


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EDIÇÃO ESPECIAL TESTEMUNHO

“Milagrosamente estou vivo”

João Luís Mariano, baleeiro, caiu no decurso de uma perseguição e o seu braço esquerdo partiu-se em três partes. A 28 de Julho de 1965, perdeu o companheiro Agostinho Serrilha, que mergulhou nas águas para nunca mais aparecer. A baleia também levou o ti Henrique Rabeiro, enrolado na linha. Apesar das lesões, das mortes e do baixo salário, é com enorme emoção que João Luís Mariano nos relata como era o seu dia-a-dia na caça à baleia POR CARMEN COSTA correionorte@yahoo.com.br

Correio do Norte - João Luís Mariano, foi baleeiro durante vários anos, uma actividade que recorda com emoção. O que fazia a bordo? João Luís Mariano - O meu pai foi oficial da baleia e eu um polivalente: fui remador, arpoador e maquinista da famosa lancha “Vedeta”. Comecei com dezasseis anos. Cada bote levava sete homens: seis remadores, um dos quais arpoador, e o oficial, que dava as ordens. O oficial era o único que ia com a cara para a frente, pois os restantes iam a remar. Estive na caça à baleia de 1959 a 1965, altura em que fui para a tropa. Quando regressei da tropa, a actividade tinha cessado e fui trabalhar, como motorista, com o senhor Luciano do Rego. Entretanto, em 1970, a Sociedade Corretora comprou as Armações Baleeiras e a actividade renasceu. Nem pensei duas vezes: deixei o Luciano e voltei para a baleia, onde trabalhei até 74, data em que a caça à baleia na ilha de São Miguel terminou. Parte da minha infância foi passada na Terceira porque o meu pai também foi oficial da companhia de Cristóvão Mota Soares, natural das Capelas, que operava nas ilhas Terceira e Graciosa. Depois ele voltou para São Miguel e, em 1973, foi para a Graciosa balear com o meu tio Manuel. Fui fazer-lhe uma visita, em 74 ou 75, e matamos uma baleia grande e duas de cardume, no mesmo dia. CN Era uma actividade rentável? JLM - Apenas a União das Armações Baleeiras, do Dr. Pedro Cymbron, tinha baleeiros assalariados. Tínhamos o nosso salário mensal e, no fim do ano, os lucros eram divididos pelos baleeiros: chamávamos a fortuna.

Carmen Costa

“Por muitos anos que o baleeiro tenha de actividade e por muito esperto que

seja cada baleia tem a sua maneira de morrer: algumas levam com o arpão e ficam em cima da água num tremor; outras enrolam-se à linha com o rabo no ar; outras vão pelo mar fora que parecem um torpedo. “ Nessa altura, pagavase as dívidas das lojas, ao senhor Guilherme e ao senhor Fernando. Nas outras ilhas, era à soldada, ao quinhão. CN - Em escudos, o que ganhava? JLM - Um oficial ganhava 110 escudos mensais, tal como os maquinistas, trancadores, mestres e vigias. O remador ganhava 70 escudos mensais. No fim do ano, recebíamos cerca de 2 contos. CN - Era possível viver apenas da caça à baleia? JLM - Não. Todo o baleeiro ia para o mar à noite e

trabalhava na terra. O morro das Capelas era dividido em quartas e meias quartas. Quando não tinha baleia, a gente estava na terra a trabalhar no forno da cal, ou no campo, nomeadamente nas vinhas. Quando aparecia a baleia, ia toda a gente para o porto. CN - Como é que o vigia anunciava aos baleeiros a presença de baleias? JLM - Com um bombão. Quando apareciam baleias, íamos na corrida pelo porto abaixo. Seguíamos o rumo que o

vigia dava, via rádio: mais para a direita, mais para a esquerda. Quando a gente chegava lá fora e via a baleia, não precisava de ajuda. CN - Como é que se caça um cachalote? JLM - Por muitos anos que o baleeiro tenha de actividade e por muito esperto que seja cada baleia tem a sua maneira de morrer: algumas levam com o arpão e ficam em cima da água num tremor; outras enrolam-se à linha com o rabo no ar; outras vão pelo mar fora que parecem um torpedo. CN - A luta com o animal pode levar quanto tempo?

JLM - Meia hora, uma hora, cinco horas, depende. CN - Era frequente perdê-los? JLM - Às vezes rebentava a linha e iam embora. Lembro uma vez em que se arpoou uma baleia de manhã, ela foi retrancada e à noite tivemos de cortar a linha para ela se ir embora. Estivemos ali como escravos todo o dia e acabamos por desistir. CN Era uma actividade de sentimentos extremos… JLM - Muitas vezes, viemos para terra esmorecidos. Lembro-me que quando


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EDIÇÃO ESPECIAL “A gente apanhava aquele susto e, quando chegava a terra, não se lembrava se passou mal.

Havia adeptos da baleia, como acontece hoje no futebol, e faziam-se apostas nas tabernas, aquelas apostas de quartis de vinho… E cada companha tinha gosto em caçar não pelo dinheiro, pois ganhávamos o mesmo, mas porque no final do ano, quando recebíamos a fortuna, estava discriminado quem caçou. Tenho imensas saudades. Tenho 63 anos e tive um enfarte do miocárdio em Janeiro; no entanto, se a actividade recomeçasse ia.” o meu pai não caçava, não se podia falar com ele. Só no abrir a porta de casa, percebíamos que ele não matou. Ele entrava, pedíamos a bênção e ele dizia “Deus te abençoe e a vocês todos” e mais ninguém falava. CN - Ao invés, quando caçavam era dia de festa? JLM - A gente apanhava aquele susto e, quando chegava a terra, não se lembrava se passou mal. Havia adeptos da baleia, como acontece hoje no futebol, e faziam-se apostas nas tabernas, aquelas apostas de quartis de vinho… E cada companha tinha gosto em caçar não pelo dinheiro, pois ganhávamos o mesmo, mas porque no final do ano, quando recebíamos a fortuna, estava discriminado quem caçou. Tenho imensas saudades. Tenho 63 anos e tive um enfarte do miocárdio em Janeiro; no entanto, se a actividade recomeçasse ia. O salário que a gente auferia tinha sangue, suor e lágrimas. O baleeiro nunca sabe como a baleia vai reagir e sabe que pode ir e não voltar. Houve grandes baleeiros nos Açores, oficiais e arpoadores, mas estavam sempre a aprender. Se o baleeiro vivesse mil anos e arriasse todos os dias uma baleia, estava sempre a aprender. Nenhuma vez é igual. CN - Alguma vez viu a vida por um fio? JLM - Milagrosamente estou vivo. Cai e o meu braço esquerdo foi partido em três partes. No dia 28 de Julho de 1965, morreu o nosso Agostinho Serrilha, como era conhecido. Nesse dia, matamos duas baleias grandes e o Agostinho até hoje nunca mais apareceu. Há 58 anos, morreu o ti Henrique rabeiro que foi enrolado na linha e quando puxaram a linha já estava morto. CN - No período em que esteve na caça à baleia, quantos baleeiros e embarcações existiam? JLM - Seis botes nas

Capelas e seis em Ponta Delgada, mas com os mesmos baleeiros. Aparecia uma baleia nas Feteiras ou em Água de Pau e éramos, três companhas, transportados no camião da fábrica para a cidade. Tinha na cidade duas lanchas, “Capelas” e “Senhora dos Anjos”. Nas Capelas, tínhamos a “Vedeta”, embarcação maior e mais potente, a “Mosteira” e a “Maria Teresa”. CN - Quantas vigias existiam e onde? JLM - No Cinturão da Ribeirinha, Fenais da Ajuda, Algarvia, Marquesa, Faial da Terra, Água de Pau, Feteiras, Várzea, Ajuda da Bretanha e Santo António. Eram 10 vigias. CN - Material usado? JLM - Arpão, lança e linhas. Quando faltava linha, levantávamos uma bandeira para que outro bote desse a sua linha. CN - Quando a Corretora adquiriu a União das Armações Baleeiras manteve o mesmo número de trabalhadores, embarcações e vigias? JLM - Pegaram em tudo o que havia; no entanto, só pagava oficiais, arpoadores, maquinistas e mestres. Quanto aos remadores, o pessoal que arriava ganhava, se não arriava não ganhava. No mar, trabalhavam cinquenta e cinco homens. Também tinha os funcionários da fábrica, os vigias e o pessoal de escritório, sedeado na Rua do Melo. CN - Como era a fábrica? JLM Muito movimentada. Empregava quinze, dezasseis trabalhadores na época mais forte, que era o Verão. A fábrica começou a ser construída no início dos anos 40. Diz na chaminé que foi inaugurada 1941. CN - Caçavam a baleia e em terra, o que faziam? JLM - No meu tempo, a baleia ia para a fábrica. Antes, era aberta no calhau miúdo. Também derretiam na Ajuda da Bretanha

e na Ponta Garça em panelas. No Faial da Terra ainda existe algumas panelas e um guincho. Quando fui baleeiro, quem desmanchava as baleias eram os baleeiros: matavam a baleia hoje e amanhã esquartejavam a baleia. Às vezes era tudo no mesmo dia. Se estavam a desmanchar e aparecia uma baleia, ficavam três companhas na fábrica e as outras iam para o mar. CN - O que era feito a partir da baleia? JLM - Óleo e três tipos de farinha: de primeira classe a partir da carne; de segunda que era o osso misturado com a carne; e de terceira com osso. Lembro-me de trabalhar na fábrica, na década de 50, e os buchos e as tripas eram arrastados para a água. Depois, começou-se a cozer tudo e a fazer farinha. A farinha ia quase toda para a fábrica das rações e o óleo ia para o estrangeiro. CN - Quem construía e recuperava os botes? JLM - Havia uns curiosos, como o ti Henrique Limão, o mestre Alberto Limão e o mestre José de Castro. O Leonardo Rocha, que está no Canadá, era um artista e foi ele quem fez o último bote na fábrica. Trata-se do São João Evangelista, construído em 1962/3. Os nossos botes têm uma construção diferente dos das outras ilhas. Os nossos têm casco duplo e a colocação das madeiras é diferente. Os nossos são mais flexíveis, não deixam entrar tanta água e são mais rápidos. CN - Zonas da ilha com

mais baleias? JLM - Bretanha e Várzea. CN - Quando acabou a actividade baleeira, voltou a motorista? JLM - Sim e, depois, fui bombeiro profissional e nas folgas condutor de autocarros. CN - O que sentiu quando deu conta de que tinham demolido a fábrica de São Vicente Ferreira? JLM - É inexplicável! Não sei como é que não se respeitou o património micaelense. No Pico as fábricas estão todas arranjadas, as lanchas novas, com motores mais potentes, botes novos com nomes dos antigos, fazem as regatas todo o ano e em São Miguel não houve verba para aguentar o nosso património, incluindo a fábrica que mais baleias matou nos Açores: houve um ano em que só o “Santa Joana” matou 39 baleias. Tínhamos oito panelas, caldeiras e guinchos (tem um no Parque Atlântico e outro na fábrica para apodrecer). Deixaram apenas a chaminé! Onde está o nosso património? O que é que a nossa Junta e a Câmara fizeram para que não se desmanchasse aquilo! O orgulho que eu tenho é o bote, “Santa Joana”, do meu pai estar no parque atlântico todo equipado. Fiquei com o bote porque era do meu pai, o bote onde cacei baleias e passei muito. Entretanto, o antigo director do Museu Carlos Machado veio ter comigo

e propôs ficar com o barco. Ofereceu dois mil contos por ele e fechei o negócio. Toda a vez que o vejo, vejo o meu pai! CN - No seu entender, o que deveria ter sido feito na fábrica? JLM - Não deixar desmanchar. Disse a alguém do nosso governo que restauravam a fábrica sem gastar um escudo. Vejo entrar para a Escola Profissional de Capelas camiões de cimento e de madeira para ensinar a trabalhar, fazem e desmancham. Esse pessoal ia para a fábrica com os instrutores e picavam, guarneciam. Disseram-me que não era possível. Como é que deixaram desmanchar um património? Não posso modificar a fachada da minha casa sem autorização e desmancham aquilo que é património baleeiro. CN - Está indignado? JLM - Todos deviam ficar indignados porque é do nosso património que estamos a falar. Infelizmente, em São Miguel não há ninguém que se interesse por ele. Tem ali muita terra, que dava para aproveitar e fazer bengalows e piscina, sem mexer na fábrica. CN - Acha que tem sido dada pouca atenção aos baleeiros de São Miguel? JLM - Temos um monumento, mas este devia estar na zona do Cruzeiro. Para além disso, aquela baleia não se compara a um animal e o baleeiro não ia para o mar de botas de cano. As botas não têm nada a ver com o baleeiro. CN - O que poderia ter sido feito para homenagear os baleeiros? JLM - Manter o nosso património: os botes, as lanchas e a fábrica. Podiam ter arranjado a baixa dos Poços e fazer o melhor cais dos Açores. Ando sempre com os binóculos. Tive uma lancha e às vezes andava perto das baleias e chorava como uma criança. Tenho em casa uma lança e algumas fotografias.


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EDIÇÃO ESPECIAL PATRIMÓNIO

Terra Azul quer recuperar bote baleeiro Empresa de Luís Miguel Cravinho pretende recuperar “Senhora de Fátima”, construído nas Capelas, e utilizado na baleação na ilha Graciosa. Está ainda projectada a realização de um documentário e a travessia entre o Pico, onde poderá ser recuperada a embarcação, e São Miguel. Contudo, concretização do sonho está dependente de apoios públicos POR CARMEN COSTA correionorte@yahoo.com.br

“150 MILHAS DE HISTÓRIA” é o nome do mais recente projecto da empresa Terra Azul, sedeada em Vila Franca do Campo. Tem como principal objectivo a recuperação e

preservação do património histórico baleeiro da ilha de São Miguel. Os responsáveis pela empresa lamentam o facto de, em São Miguel, não existir nenhum bote em condições de navegar, quando, outrora,

existiram dezassete destas embarcações na caça à baleia. Ademais, as cerca de dez vigias foram completamente abandonadas e a Fábrica das Capelas recentemente demolida. Direitos Reservados

O projecto, apresentado ao Governo Regional dos Açores para ser enquadrado no âmbito do Programa de Preservação do Património Baleeiro Açoriano, divide-se em três partes: recuperação do bote “Senhora de Fátima”, produção de um documentário e um sailing challange, que pretende fazer a travessia

de regata para participação em provas do Campeonato Regional de Botes Baleeiros), educação ambiental (integração da embarcação no âmbito do Programa de Educação Ambiental, que visam a promoção dos valores ambientais e culturais junto dos jovens e crianças) e lazer e turismo (proporcionar

“Os Açores são um grupo de ilhas onde a baleação constitui, do ponto de vista histórico, um modo de vida essencial. Para dar caça à baleia, velhos e jovens arriscavam a vida, arriando da costa, em botes de boca aberta esta actividade. Esta actividade sublimou a alma da história e da tradição açorianas” In “Duas voltas do Logaiéte”. Lance R. Lee e Bruce Halabisky, Star Lake Media, LLC. Em associação com a Leete’s Island Books (tradução de Fernando Jorge Faria da Silva) das Lajes do Pico para Vila Franca do Campo, no bote baleeiro. Recuperação do bote Com a recuperação do bote, a Terra Azul pretende preservar o património baleeiro da ilha de São Miguel, dando um contributo para a dimensão arquipelágica do fenómeno da baleação, uma vez que a caça à baleia envolveu todas as ilhas dos Açores. Ao abrigo da proposta apresentada à Direcção Regional da Cultura, o bote vai ser utilizado para fins culturais (preservação e divulgação da memória e tradição baleeira da ilha de São Miguel), desportivos (formação de uma equipa

aos turistas a vivência da “tradição baleeira de São Miguel”, procurando divulgar a história e património local e regional). A Terra Azul obteve a classificação do “Senhora de Fátima” como património baleeiro dos Açores. No entanto, ainda não assegurou os apoios necessários para a recuperação do bote, cerca de 35 000 euros. Caso consiga os apoios necessários, a Terra Azul espera iniciar a recuperação do bote em Maio do próximo ano e terminá-la em Agosto. Registo audiovisual Esta fase compreende a gravação em vídeo e som de todo o processo reconstrutivo


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Norte

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EDIÇÃO ESPECIAL

“Há dois erros comuns no que diz respeito ao Património. O primeiro é pensar que é sobre edifícios – é sobre as pessoas e o que elas investem nos “tijolos”. O segundo é pensar que é sobre o passado – é sobre o futuro, o que ficará depois de nós desaparecermos”. Simon Thurley, presidente do English Heritage, em entrevista ao Jornal Público a 28 de Março 2008 do bote, nas Lajes do Pico, com a filmagem das técnicas de construção naval e materiais utilizados, passando também pela realização de entrevistas técnicas. O objectivo é a utilização destas imagens na produção de um documentário televisivo (que inclui ainda a elaboração do guião do documentário, o recurso a imagens de arquivo da RTP Açores e a captação de imagens das regatas de botes, envolvendo as ilhas da Graciosa, do Pico e Faial), que será apresentado nos canais de distribuição da RTP. Pretende-se ainda a produção de uma versão em DVD e a produção de conteúdos didácticos e pedagógicos diversos. Travessia oceânica A terceira e última fase prevê que o bote largue, em Agosto, das Lajes do Pico com destino a Vila Franca do

Campo. Ao consumar-se, o evento pretende atingir uma larga cobertura dos media, não apenas para efeitos do documentário, enquanto promoção sobre os Açores no exterior, mas também despertar no público açoriano em geral a necessidade de olhar para a sua história e património com uma atitude mais intensa. No entender dos promotores do projecto, a derradeira fase constitui um elemento crucial para o sucesso global do projecto, na medida em que será um símbolo de ligação histórica e cultural entre as ilhas dos Açores, conferindo uma dimensão regional/açoriana ao projecto e, por outro lado, permite atrair a atenção dos media para o evento, amplificando o retorno do investimento público e privado. Na candidatura, a

empresa menciona diversos parceiros institucionais, com destaque para o Governo Regional dos Açores (Direcção Regional da Cultura) e privados, com os quais está a desenvolver contactos, procurando motivar o interesse e despertar-lhes a sua responsabilidade social na preservação e conservação do património e história das ilhas açorianas. Trata-se, em síntese, de um projecto abrangente que estabelecer “uma ponte entre o passado, presente e futuro e evidenciar o fenómeno da caça à baleia como um fenómeno transversal a todo o arquipélago dos Açores. No entender de Miguel Cravinho, trata-se de preservar “a riqueza de uma cultura única e genuína, que constitui o expoente máximo da identidade açoriana, cuja essência reside numa vivência intensa com a Natureza e com o Mar ”.

Canoa baleeira Réplica em osso de canoa utilizada tradicionalmente na caça à baleia no arquipélago dos Açores. Peça do artesão açoriano C. Cruz, pertencente à Fundação Mário Soares. (52 x 10 x 42 cm)

“Senhora de Fátima” O bote “Senhora de Fátima” PD-320-B foi construído em 1945, na Vila das Capelas, tendo obtido registo definitivo na Capitania de Ponta Delgada a 13 de Junho de 1946. Segundo o documento oficial, era uma embarcação de tipo “canoa” e possuía um aparelho “Vela e Remos”. Propriedade do armador Cristóvão Mota Soares, residente na Vila das Capelas, foi lançado ao mar a 14 de Junho de 1946. No mesmo ano, o bote foi enviado para Santa Cruz da Graciosa, mais propriamente para o lugar da Praia, onde Cristóvão Mota Soares tinha uma armação baleeira. Mais tarde, o “Senhora de Fátima”, passou a balear no lugar da Barra, ilha Graciosa. A companhia de Cristóvão Mota Soares chegou a balear com duas lanchas e seis botes. Na altura, estava registado na Delegação Marítima de Santa Cruz da Graciosa, tendo-lhe sido atribuído o registo SG – 98 – B, que data de 25 de Julho de 1946. No auge do período da caça à baleia, o “Senhora de Fátima” foi cedido pelo armador ao mestre João Baptista, que com ele baleou na Praia da Graciosa até ao ano de 1960. A companhia baleeira de Cristóvão Mota Soares, após a sua morte, foi adquirida por José Cristiano de Sousa, prestigiado armador da ilha do Pico, mais tarde integrada nas Armações Baleeiras Reunidas Limitada, com sede em São Roque do Pico. Sabe-se que o “Senhora de Fátima” baleou desde a década de 40 até à interdição da caça à baleia no início dos anos 80, permanecendo depois no cais de Santa Cruz ao mais completo abandono. A 18 de Janeiro de 1989, Rufino Cordeiro Dias Pereira, natural da Graciosa, adquire o bote “Senhora de Fátima” às Armações Baleeiras Reunidas. As razões que levaram à aquisição deste bote são emocionais. Mestre João Baptista, seu pai, baleou neste bote os melhores anos da sua vida. Foi, então, convertido em embarcação de pesca em Maio de 1993, tendo mantido a mesma denominação, mudando o registo para SG – 222 – L. Em Março de 1998, passou para a categoria de recreio, tendo sofrido modificações na sua estrutura. Mais tarde, foi cedido ao Clube Naval de Santa Cruz da Graciosa, que o converteu em balcão de bar, numa das suas dependências. Em 30 de Novembro de 2007, o que resta da embarcação “Senhora de Fátima” foi adquirido pela Terra Azul com vista à sua total reparação, no âmbito do Programa de Preservação do Património Baleeiro Açoriano, promovido pelo Governo Regional dos Açores. A reconstrução do bote tem como objectivo devolver da sua dignidade e esplendor de tempos passados e possibilitar que volte a navegar, para que as gerações actuais e futuras não percam as referências da sua memória colectiva. O próprio percurso atribulado desta embarcação reflecte a dinâmica dos sucessos e dos insucessos do património baleeiros dos Açores.


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BREVES NORDESTE

RIBEIRA GRANDE

UHF, Fingertips e Vengaboys no Nordeste Music Fest

César elogia dinamismo do sector agrícola

O Nordeste Music Fest realiza-se entre 18 e 21 de Julho e conta com a presença da banda portuguesa UHF, Fingertips e Vengaboys. Após os concertos, haverá tenda electrónica no recinto das festas. A banda holandesa Vengaboys, conhecida por reunir músicos de vários países, conta com um reportório recheado de sucessos musicais, entre o quais “We’re going to Ibiza”, “Boom Boom Boom Boom” e “We Like to Party”.

O cartaz musical, promovido pela Associação Nordeste Jovem com o apoio de entidades institucionais, entre estas a Câmara Municipal do Nordeste e a Direcção Regional da Juventude, integra as grandes festas do concelho do Nordeste. A 18 de Julho têm lugar as comemorações do aniversário do Município, a assinalar com uma sessão solene na Praça da República e a actuação de vários grupos folclóricos, incluindo Coros

y Danzas de Ingenio, da Gran Canária, e Rancho da Casa de Povo de São Vicente, da ilha da Madeira. O sábado será dedicado às filarmónicas e à actividade desportiva: torneio de pesca de alto mar e jogos tradicionais. O domingo será de cariz religioso e a segundafeira contemplará a música tradicional e, novamente, o folclore. A encerrar as festas do Nordeste , a banda Vengaboys. CC

PONTA DELGADA

Listas de espera para cirurgia com redução de 30 por cento no Hospital Divino Espírito Santo Direitos Reservados

O número de intervenções cirúrgicas em lista de espera no Hospital Divino Espírito Santo de Ponta Delgada registou uma redução de 30 por cento desde Outubro, devido ao programa de recuperação de listas de espera em aplicação na maior unidade de saúde dos Açores. A informação foi avançada pelo secretário regional dos Assuntos Sociais. O referido programa em execução no Divino Espírito Santo, que termina em Dezembro de 2008, destina-se a doentes que se encontram em lista de espera para cirurgia há mais de dois anos nas especialidades de cirurgia vascular, ortopedia,

urologia, otorrinolaringologia, neurocirurgia, cirurgia plástica e geral. Até agora, o maior número de intervenções cirúrgicas foi realizado nas áreas da cirurgia vascular, urologia e ortopedia. Domingos Cunha assegurou que não há em lista de espera situações urgentes ou cujo diagnóstico clínico exija uma intervenção a curto prazo. Questionado sobre uma possível convenção com o sector privado para a recuperação de listas de espera em cirurgia nos três hospitais da Região, referiu que caso exista necessidade e o sector privado tenha capacidade de resposta

o Executivo poderá vir a equacionar essa possibilidade. Adiantou, no entanto, que o levantamento do número de casos em espera nos três hospitais está feito e que um programa semelhante ao do Hospital Divino Espírito Santo poderá ser aplicado nos hospitais de Angra do Heroísmo e Horta. Quanto ao programa de recuperação da lista de espera em imagiologia que está a ser desenvolvido no hospital da Horta registou-se uma redução de 40% em mamografias, 78% em ecografias e 70% em Tac’s. Este programa termina no próximo mês de Junho de 2008. CC

Direitos Reservados

O presidente do Governo dos Açores não poupou elogios aos agricultores açorianos na inauguração da “Feira Agrícola–Açores 2008”, no campo de Santana, em S. Miguel. Carlos César disse prestar-lhes “homenagem pelo seu contributo, reforçado e continuado, para o desenvolvimento da nossa Região. Graças à sua capacidade de regeneração, de modernização e de adaptação permanentes, os empresários e os trabalhadores agrícolas, bem como as suas associações, têm assegurado a integração dinâmica do sector nos factores de crescimento da nossa economia, a qual, como é sabido, tem crescido a níveis superiores aos das médias do País e da União Europeia”. Salientou que o percurso destes últimos anos não deixa dúvidas – sobretudo se comparado com o que tem acontecido no País e em outras regiões europeias – exemplificando, entre outros, com “a criação de unidades produtivas e de transformação, ou a sua recuperação e modernização em todas as ilhas; o expressivo investimento no ordenamento agrário, que terá de prosseguir para continuarmos a melhorar as redes viárias agrícolas, florestais e rurais, ou as redes de distribuição de água e luz às explorações; a evolução constantemente positiva dos indicadores da estrutura fundiária, da qual tem resultado o aumento da competitividade das explorações; o rejuvenescimento sem paralelo no nosso País, e até na Europa, dos activos agrícolas; a capacidade que demonstrámos quando ganhámos confrontos políticos como o do reembolso das multas, os travados pelo crescimento da quota leiteira regional, dos direitos de vacas aleitantes ou mesmo pela redução dos impostos sobre

rendimentos agrícolas”. O presidente do Governo frisou, por outro lado, que em termos de sanidade animal os Açores têm hoje os melhores indicadores de sempre. A forma como tem sido feito o aproveitamento dos recursos regionais e europeus colocados ao dispor foi elogiada por Carlos César, que exemplificou com o aumento de 37 por cento da produção leiteira, mesmo tendo diminuído o número de produtores. A propósito, referiu que pela primeira vez, nos últimos dois anos, a produção açoriana esteve coberta pela quota leiteira regional, um esforço que “deve ser melhor valorizado na remuneração ao produtor, tendo especialmente em conta o que recebem os seus parceiros no mercado nacional”. Salientando o crescimento dos indicadores da juventude e da mecanização, o que contraria vaticínios sobre o fim da ocupação na agricultura, revelou que a taxa de jovens na agricultura açoriana é a mais alta do País – 6 vezes maior que a da Madeira e 3 vezes maior que a do Continente – e a mecanização já atinge o índice de 2,55. Garantindo a permanente atenção do seu executivo às questões do sector, Carlos César anunciou que sairão, brevemente, medidas de majoração dos apoios aos fertilizantes específicos ou amigos do ambiente, um novo apoio aos correctivos dos solos, bem como a criação de apoios simplificados do Governo Regional a investimentos até aos três mil euros, mais conhecidos por micro-projectos. “Estamos no caminho certo. No caminho que devemos continuar a percorrer e que a todos interessa. Saúdo, por isso, os agricultores açorianos, porque são eles os primeiros e os principais obreiros desta caminhada”, concluiu o presidente do Governo. CC


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OPINIÃO POR

JOÃO-LUÍS DE MEDEIROS

“... Olha por quantos caminhos vãos andamos”

Quando Antero Tarquínio de Quental veio ao mundo, a sua ilha de São Miguel já tinha sido descoberta há mais de quatro séculos e os Açores estavam emancipados da coroa castelhana há cerca de 200 anos. Como filho de morgado, não admira que o menino Antero tivesse sido poupado aos golpes cruéis da pobreza involuntária imposta à esmagadora maioria dos seus contemporâneos. Apesar dessa circunstância, o temperamento do jovem Antero não se vergou ao imperativo da ociosidade fidalga. Para os que nunca tiveram a oportunidade de conhecer as raízes anterianas, relembro que o futuro poetafilósofo nasceu em Ponta Delgada (Açores), aos 18 de Abril de 1842, na casa que seus pais, o morgado Fernando de Quental e D. Ana Guilhermina da Maia, possuíam na Rua do Lameiro, depois chamada Rua do Visconde de Castilho. Com cerca de 10 anos foi internado no Colégio do Pórtico, fundado e dirigido por António Feliciano de Castilho. Em 1858, com apenas 16 anos, foi admitido na Universidade de Coimbra, onde se demorou cerca de 6 anos. Foi nesse período de intensa actividade estudantil que Antero de Quental, na qualidade de presidente da Sociedade do Raio, dirigiu a famosa saudação ao príncipe Humberto, depois rei da Itália, e que na altura escutou com aparente interesse as palavras do jovem poeta micaelense: “... a mocidade liberal portuguesa saúda,

Amar! Mas dum amor que tenha vida... Não sejam sempre tímidos harpejos, Não sejam só delírios e desejos Duma doida cabeça escandecida... em nome da liberdade do mundo católico, o filho do amigo de Garibaldi, o filho de Victor Manuel (...) aos votos da Europa inteligente, aos votos da Europa popular, aos votos dos que trabalham pela grande causa dos povos, unimos os nossos... para que a pátria de Garibaldi possa rever o sagrado património da sua nacionalidade...” Segundo os relatos do tempo, não tardou muito (1865-66) para ver Antero de Quental na defesa do seu folheto “Bom senso e bom gosto” – peça redigida numa linguagem arrojada e cortante, como reacção à carta-prefácio assinada por Castilho, e referente ao Poema da Mocidade, da autoria de Pinheiro Chagas. Aconteceu que, na época, os ânimos atingiram uma fervura emocional de proporções espectaculares. Sim, aquele jovem açoriano “endiabrado” tivera a ousadia de “sacudir” o marasmo da sua época e apresentar-se como agente da mudança. Mas logo se viu que Antero teve de enfrentar o conservadorismo reumático dum patriarcado literário muito cioso da ancestralidade dos seus engomados pergaminhos. O famigerado duelo com Ramalho Ortigão foi apenas um dos episódios mais salientes da lamentável

refrega... Entretanto, o rectângulo lusitano começava a ficar estreito para agasalhar o irrequietismo juvenil e o crescente universalismo intelectual anteriano. É talvez por isso que o poeta resolve “assentar praça” como emigrante: primeiro, em França, como operário tipógrafo (experiência que redunda em falhanço); depois, em finais da Primavera de 1869, aproveitando a desistência de João de Deus, embarca para a América do Norte, a bordo do patacho Carolina, comandado pelo seu amigo Joaquim Almeida Negrão, numa viagem muito atormentada, segundo o credível relato do doutor António Arroio. Uma vez regressado a Portugal, porventura revigorado pela experiência, Antero continua fiel ao pensamento Michelet e ao testamento socializante de Pierre Proudhon, e estabelece (de parceria com José Fontana, militante afecto ao pensamento marxista) a sucursal portuguesa da Associação Internacional dos Trabalhadores. Logo a seguir, começa a organizar as Conferências do Casino, com a cooperação estreita de Adolfo Coelho, Eça de Queiroz, Germano Meireles, Jaime Batalha Reis, Oliveira

Junta de Freguesia da Vila das Capelas Horário de funcionamento: Segunda a Sexta-feira das 09h00 às 13h00 Terças e Quintas - atendimento pelos membros da Junta das 19h00 às 22h00 Rua Nossa Senhora da Apresentação, 9545 - 149 Capelas Telefone - 296 298 194 Fax - 296 296 624

Martins, Manuel de Arriaga, Salomão Saragga, Teófilo Braga, e mais alguns... Em 27 de Maio de 1871, na sala do Casino Lisbonense, Antero de Quental apresenta a sua famosa conferência “Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos três Séculos”. Resta lembrar que as “Conferências do Casino” foram repentinamente encerradas, mercê do despacho ministerial assinado pelo Marquês de Ávila e Bolama. O atletismo das ideias contagia as multidões... Vamos apenas transcrever algumas das palavras corajosas proferidas pelo então jovem poeta: “... não pretendemos impor as nossas opiniões, mas simplesmente expô-las; não pedimos a adesão das pessoas que nos escutam; pedimos só a discussão: essa discussão, longe de nos assustar, é o que mais desejamos; porque ainda que dela resultasse a condenação das nossas ideias, contando que essa condenação fosse justa e inteligente, ficaríamos contentes, tendo contribuído, posto que indirectamente, para a publicação de algumas verdades (...) há em todos nós, por mais modernos que queiramos ser, há lá oculto, dissimulado, mas não inteiramente morto, um beato,

um fanático ou um jesuíta! Esse moribundo que se ergue dentro de nós é o inimigo, é o passado...” Ainda no desejo de ir ao encontro da curiosidade dos interessados, talvez valha a pena lembrar que, em Janeiro de 1875, Antero de Quental foi um dos fundadores do I Partido Socialista Português (juntamente com os sindicalistas José Fontana e Azedo Gneco). Mais tarde, foi convidado a integrar a lista de candidatos a deputados socialistas pelo círculo eleitoral portuense. O seu abnegado concurso à Liga Patriótica do Norte foi, porventura, o seu derradeiro gesto de militância política. Entretanto, cerca de 20 anos antes de morrer (1871), Antero de Quental chegou a ser contactado para exercer funções docentes no liceu de Ponta Delgada, sugestão que afinal não foi concretizada... E para terminar a conversa, não desisto da alegria de aproximar o autor garibaldino das “Odes Modernas” do entusiasmo laical, mas saudavelmente trepidante do nosso humanismo global. É que Antero de Quental sofreu de amor até ao fim, porque para ele (e para alguns de nós) “... nem foi de mais o desengano e a dor.”


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OPINIÃO POR

FERREIRA MORENO

Ramiro Dutra (Claremont, CA.), no seu magnífico livro “Maré-cheia” publicado em 1991, conquistounos inteiramente a atenção com a emocionante Carta do Mar, endereçada aos seus Queridos Afilhados e assinada pelo Velho Padrinho Oceano Atlântico. O mar, ora sereno ora agitado como o coração humano, tem servido adequadamente a muitas imagens e diversos termos de comparação, emprestando-lhes as nossas paixões e fases da nossa vida. É deveras impressionante o contraste entre o recife negro e a sua espuma branca da vaga, abraçando o mar, de parceria com os poentes em que o sol mergulha desfalecido nas entranhas desse mar, cujo horizonte se perde na distância e em castelos de nuvens. Esse mar que é a projecção da alma açoriana e que, no Tempo e no Espaço, teve o condão de moldar a nossa açorianidade, transcendendo o silêncio dos mortos e a dispersão geográfica dos vivos. Enfim, esse mar, que no dizer de Ramiro Dutra, “reza ao anoitecer, quando as gaivotas repousam as asas fatigadas e o vento cala reverente o seu queixume, e todos, em profundo recolhimento, ajoelham para ver o Criador acender as estrelas”. Acerca do mar, o Padre Júlio da Rosa recordou: “Só o mar sabe dos passos e dos

O mar, a senhora e as ilhas Direitos Reservados

Nasci nas praias do mar, Nas areias me criei, Dormi à bulha das ondas, Sobre as vagas me embalei. Nas ondas dos teus cabelos Hei-de me deitar a afogar, Quero que o mundo saiba, Que há ondas sem ser no mar.

anseios do ilhéu. Só o mar conhece o seu drama pela existência, escuta os seus desabafos, compreende a alma do açoriano. O mar foi tudo para o açoriano: caminho e atalho, mercado e feira, estaleiro e oficina, festa e tragédia, alegria e lágrimas, pão e conduto, vida e morte” (A Cidade da Horta, Tomo I, Páginas 343-352, Edição 1989). De facto, não podemos estudar a história das ilhas açorianas, nem penetrar na alma do seu povo sem contar com o mar, pois foi ele o principal elemento da natureza e o companheiro inseparável de todas as horas, ora alegres ora tristes. Foi o mar quem diminuiu e aumentou as distâncias entre as ilhas. Foi ele quem agravou a saudade e curtiu as mágoas da gente açoriana. Foi ele quem amparou a felicidade e estimulou sempre a fé em

Deus, bem como o renascer da confiança na protecção da Virgem Maria Nossa Senhora. Nas ilhas açorianas, antecedendo a chegada do avião, ao longo dos seus primeiros cinco séculos de trabalho pela subsistência e de luta pelo intercâmbio e convívio social, a vida do dia-a-dia decorreu quase totalmente no mar, e mais no mar do que em terra. A este propósito, Júlio da Rosa escreveu: “No mar vimos sempre o poder, a força e a providência de Deus. Nele e por ele fomos sempre ao trono da Virgem Maria pedir-lhe o amparo e a ajuda. Foi Nossa Senhora a estrela no escuro das tempestades, vela remendada e cabo amarrado nas nossas mãos, mastro com meio pano e vigia no cesto da gávea a ver terra, remo e tábua de salvação a servir de leito e de esperança dos náufragos ao darem à costa”.

Foi o mar que, frequentemente, serviu de porta por onde entraram, nas nossas ilhas, as maiores calamidades e temporais, ondas e ventos ciclónicos, corsários e tropas militares, barcos e navios armados a fogo de artilharia e baioneta, epidemias e doenças mortais, traficantes e ladrões vestidos de pele e cordeiros. Para aviar esses males e afugentar esses perigos, o povo açoriano ergueu, ao longo das costas de todas as ilhas, minúsculas ermidas de Nossa Senhora, “como sentinelas de vigia, castelos do sobrenatural e muralhas intransponíveis do braço de Deus”. Como acentuou Júlio da Rosa: “Ei-las aí em todas as encostas, vales e montes destes rochedos atlânticos. São votos de agradecimento reconhecido de tantos que se salvaram das tormentas e dos naufrágios do mar. São faróis

para brilhar nas noites de tempestades, sobre as ondas furiosas, a todos aqueles que andam sobre as águas salgadas. São porto feliz e abraço aberto a todos os que chegam. São estrela de esperança para os que partem para outras terras. São casas de Nossa Senhora de porta aberta para dar abrigo às almas desamparadas e aflitas. São descanso eterno para os corpos que tombam no sono da morte”. A esta excelsas Senhora, rivalizando com as areias da praia e as estrelas no firmamento, pertencem as invocações que o povo lhe há ofertado: Senhora do Mar e do Ar, da Paz e da Guia, da Luz e da Saúde, da Vida e do Livramento, da Estrela e da Piedade, da Alegria e da Consolação, da Ajuda e da Esperança, do Amparo e do Socorro, do Bom Sucesso e do Bom Despacho, da Boa Viagem e da Boa Morte.


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OPINIÃO POR

MARIANA MATOS

José escrevia homens e mulheres sentados. Sentados e incomodados com a presença dos outros. Sentados e muito calados. Sentados e muito direitos. Sentados com as pernas muito direitas e muito sentadas nas cadeiras estofadas. Sentados com casacos pendurados e cachecóis nos pescoços. Sentados com muito frio. Sentados e de braços muito levantados, como se fossem manifestar-se calados, de olhos fechados e punhos cerrados. José escrevia assim. Já João, não. João escrevia asas e sabores. Noites pequenas e grandes. Estrelas cadentes, almofadas brilhantes, bocados de mares, barcos, algas, saudades. João era escritor. José não se assumia. Ainda não descobrira porque é que gostava tanto de brincar com as palavras e de, por isso, virá-las e revirá-las em cima das folhas brancas ou com linhas. Não escrevia em quadriculado, nem em guardanapos de papel, mas aqueles blocos pretos, que João lhe oferecia, sempre que ia visitá-lo, eram uma POR

IGOR PESTANA

Meti a mão ao bolso e lá encontrei um papel amarrotado e uma esferográfica. Sentei-me numa esplanada e comecei a divagar no papel. Segundo os humanist asantropocentristas da altura da Renascença, o homem foi, nem mais nem menos, do que a criação de Deus dotada de razão com o poder de ser e ter liberdade e de a utilizar na interpretação da arquitectura divina, ou seja, para a possibilidade de compreensão da máquina suprema, que,

José & João maravilha. José gostava de ver passar gente nas linhas do que escrevia, de ver os cabelos loiros das senhoras, que entre uma vírgula e um ponto se erguiam. Gostava de pensar que os homens e as mulheres calados e sentados nas linhas do que ia ditando ao papel podiam um dia cruzar-se com ele num corredor da mercearia, na missa ao domingo ou na rua principal da freguesia, onde pessoas caladas e sentadas esperavam, todos os dias, pela chegada do autocarro. José preferia descobrir pessoas fora de casa. João vivia quase dentro dos livros, mergulhava dentro das páginas procurando descobrir nos parágrafos e nas linhas que os compunham mais palavras mágicas para inventar. José gostava de se perder nos hipermercados. João de adormecer na cadeira da livraria e sonhar com escritores e com diálogos. José gostava de escrever contos. João gostava muito de escrever poesia. Nenhum tinha livros publicados. João, porque não tinha paciência. José, porque não tinha coragem. João sabia de cor as datas de nascimento

dos seus poetas preferidos. José não sabia nada de cor, a não ser o som do apito do carro da fruta, que passava todos os dias à sua porta, para lhe deixar bananas e peras. José gostava de metáforas. João de analepses. José tinha palavras preferidas. João tinha palavras odiadas. José gostava de subida, descalça, Neptuno

Direitos Reservados

e oftalmologista. João odiava arrecadação, escadote, tronco e passadeira. João não conduzia. José andava de bicicleta. João usava gravata em algumas ocasiões, José nunca usava gravata ou sapatos abotinados. João dançava, José pulava. João ria muito. José sorria. Pode ser que João goste

desta crónica de hoje; já José, não vai achar piada nenhuma, mas conto com Jacinto para convencê-los; com Maria Armanda para distraí-los e com Filomena para me contar tudo. Maria Armanda gostava de peixe frito. Filomena de arroz de cenoura. Já Jacinto, só entra nesta história, a meu favor.

Crónicas de bolso afinal de contas, é o universo. E para estes esta será a prova irrefutável da existência de um ser superior e racional, o tal Deus. Facto é que ainda nos nossos dias esta linha de pensamento permanece quase intocável. Numa breve pesquisa na Internet ou em qualquer biblioteca irá facilmente encontrar inúmeros intelectuais e filósofos que corroboram esta teoria. Lembro, por exemplo, Descartes, autor da célebre frase

“Penso logo existo”, que na sua obra Discurso do Método se baseia no poder da razão para explicar inúmeros fenómenos e, neste caso, a própria existência de uma divindade. Contudo, sem querer desacreditar o poder virtualmente ilimitado da razão, estou reticente em reconhecer a veracidade destas teorias e aceitá-las pacificamente, talvez porque assuntos do domínio do metafísico careçam de provas para os que ainda teimam e resistem e são cépticos convictos de que esperam por

provas com substância mais cientifica e lógica. Mas, da mesma forma que a meu ver não se provou a existência de nada além do cosmos, também não se conseguir provar efectivamente a não existência de algo para além dele. Por isso, aqui vai a minha versão dos factos acerca da existência do divino. O ser humano é sem duvida um ser racional, provavelmente, devido ao grande desenvolvimento do seu cérebro; no entanto, o que nos

rodeia não reflecte intervenção divina, pois a inteligência está somente naquele que interpreta o fenómeno e o raciocínio é a forma que possuímos de englobar o que nos rodeia e ter uma percepção do mundo. Sob o meu ponto de vista, no universo não existem marcas ou sinais de um suposto ser superior, o que acontece é a nossa projecção da razão sobre as coisas. O mito do divino deverá ser uma explicação fácil para sossegar o homem enquanto a razão não lhe der resposta.


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SOCIAL No dia 29 de Maio, a Escola Básica Integrada de Capelas promoveu uma festa em honra do Divino Espírito Santo. Teve lugar a coroação, cortejo e almoço Carmen Costa


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SOCIAL No dia 17 de Maio, o Bar Friends Place acolheu o desfile de 2008”, uma iniciativa da organização representativa de um grupo Capelas com o intuito de promover o comércio local, dinamizar da Vila e desmistificar algumas ideias sobre o comércio local

moda “Fashion Verão de comerciantes das a actividade cultural Carmen Costa


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Aventuras em Alta Fidelidade

RICARDO FARIAS

Clinic – Do It! (Domino, 2008) Os Clinic foram aquando da sua estreia com o álbum Internal Wrangler em 2000, uma das mais entusiasmantes propostas a surgirem em terras de sua majestade, com a sua sonoridade pop-rock retro muito própria. Numa fórmula que não tem sofrido grandes evoluções ou abanões, os Clinic orientam a sua criação musical dentro de uns parâmetros predefinidos, libertando a sua criatividade em canções que denunciam influências do Krautrock, do garage-rock, de alguma electrónica, de rasgos punk e do rock psicadélico. O recurso a utensílios musicais pouco convencionais no rock como a melodica, a voz estranha e muitas vezes imperceptível do vocalista Ade Blackburn e o uso de instrumentos analógicos, completam uma identidade musical que se reconhece sem grande esforço. Em momentos de grande inspiração, essa por vezes, invulgar mistura sonora gera canções de alto calibre como “Distortions”, “The Second Line” ou “Come Into Our Room” – temas dos primeiros dois discos – e nos menos inspirados sente-se o cheiro a repetição e a um

entretimento enfadonho e irritante que não vai a lado nenhum. O som dos Clinic começou, ao terceiro álbum (Do It! é o quinto), a dar sinais de um respirar afogado que necessitava de liberdade e espaço para continuar a crescer e não se auto-asfixiar, com a banda a tentar dar-lhe essa liberdade em momentos dispersos nos dois últimos discos, incorporando novos elementos na sua música, sem no entanto perder a sua identidade. Do It!, não traz de volta a veia inspirada de Internal Wrangler ou Walking With Thee, mas revela novas cores e paisagens oferecidas nas mesmas ambiências de sempre e com bons resultados em alguns temas principalmente “The Witch”. Não há por aqui grandes novidades, mas é melhor do que os anteriores e isto pode significar esperança para uma banda que ameaça esgotar-se na sua própria fórmula. Death Cab For Cutie - Narrow Stairs (Atlantic, 2008) Formados em 1997, nos arredores de Washington, os Death Cab For Cutie, eram essencialmente um projecto imaginado e vivido

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por Ben Gibbard, que foi ao longo dos anos recrutando e substituindo parceiros de escrita e estrada. A edição de vários álbuns pela Barsuk, foram bem acolhidos pela crítica e valeu-lhes em 2004 um contracto com a Atlantic, que no ano seguinte lançalhes Plans, o disco mais bem sucedido da banda, que atingiu o galardão de platina nos EUA, muito por culpa do single “Soul Meets Body”, um portentoso monumento

pop de inspiração divina. Dois anos antes, em 2003, Gibbard juntouse a Jimmy Tamborello dos DNTEL (de quem é colaborador oficial nos discos) para formar os The Postal Service e editaram Give Up, um admirável manifesto electro-pop feito de grandes canções. Tornaram-se no projecto mais bem sucedido da Sub Pop a seguir aos inevitáveis Nirvana. Narrow Stairs o novo álbum e sexto da carreira dos Death Cab For Cutie, trazia a promessa de Gibbard de que seria um álbum diferente de tudo o que a banda havia feito anteriormente e influenciado por sonoridades que habitualmente não frequentam a esfera musical da banda como o heavymetal. Falsa promessa. Nem se nota tal corte radical com o passado nem se reconhece (felizmente!) as tais influências. Há, apesar de tudo, um respirar solarengo em alguns temas, que apesar de não ser novidade na banda, solta este disco em alguns momentos de uma toada morna e melancólica, que ameaça por vezes se tornar maçadora. Só no tema inicial

“Bixby Canyon Bridge” é que se vislumbra mudança, com as guitarras a soarem diferentes, mais potentes. “I Will Possess Your Heart” o inusitado primeiro single, é um longo exercício pop que ultrapassa os oito minutos, na linha do melhor que a banda tem feito, pecando apenas pela sua excessiva duração, já que os primeiros quatro minutos são instrumentais e só a partir dai começa a ganhar corpo e voz. É uma canção de linhagem clássica da banda tal como o são “No Sunlight” e “Long Division”, dois deliciosos raios de sol. Já “Grapevine Fires” é paz em dia de confusão, uma bonita balada, um single em potência e “Your New Twin Size Bed” é um doce tradicional de marca registada. Os restantes temas alinham pelo que a banda tem oferecido ao longo dos anos: canções bem feitas, melancólicas e honestas. Sem ser a mudança que Gibbard apregoava, Narrow Stairs é uma aventura feita em terrenos que lhe são familiares. E isso só por si já é bom. aventuras_em_hi_ fi@yahoo.com


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LAZER Previsões para a 1.ª quinzena de Junho

Carneiro Carta Dominante: Valete de Espadas, que significa que deve estar Vigilante e Atento; Amor: Não se deixar abater por uma discussão. Que o seu sorriso ilumine todos em seu redor; Saúde: Seja mais optimista; Dinheiro: Procure terminar um projecto dentro do prazo estabelecido; Número da Sorte: 61. Touro Carta Dominante: 3 de Copas, que significa Conclusão; Amor: Esclareça com o seu par tudo o que possa prejudicar a harmonia da sua relação; Saúde: Durante este período é possível que venha a ter alguns problemas musculares; Dinheiro: Nunca desista dos seus sonhos; Número da Sorte: 39. Gémeos Carta Dominante: O Mágico, que significa Habilidade; Amor: Liberte toda a criatividade que existe dentro de si e aprenda a contemplar o Belo; Saúde: É possível que se sinta fisicamente enfraquecido; Dinheiro: Seja firme mas justo com as pessoas quem trabalha; Número da Sorte: 1. Caranguejo Carta Dominante: 2 de Ouros, que significa Dificuldade/ Indolência; Amor: Mantenha a calma. Que a sabedoria seja a sua melhor conselheira; Saúde: Não estão previstas grandes dificuldades, no entanto procure não cometer excessos; Dinheiro: Faça um esforço redobrado por manter a concentração; Número da Sorte: 66. Leão Carta Dominante: 7 de Paus, que significa Discussão; Amor: Alguns momentos menos agradáveis poderão assombrar a sua vida amorosa. Não se deixe dominar por maus presságios; Saúde: Tendência para algum mau humor e irritabilidade; Dinheiro: Finalmente, poderá conseguir um aumento pelo qual esperava; Número da Sorte: 29. Virgem Carta Dominante: Ás de Espadas, que significa Sucesso; Amor: Procure passar mais tempo com a sua família. Olhe em frente e verá que existe uma luz ao fundo do túnel; Saúde: Durante este período poderá ser incomodado por fortes dores de cabeça; Dinheiro: O bom ambiente profissional ajuda a aumentar a qualidade do trabalho; Número da Sorte: 51. Balança Carta Dominante: A Papisa, que significa Estabilidade, Estudo e Mistério; Amor: Faça os possíveis por estar perto de um amigo muito querido. Aprenda a trazer para a luz o melhor do seu ser; Saúde: O seu organismo vai agradecer-lhe o contacto com o ar puro; Dinheiro: Momento favorável ao estudo; Número da Sorte: 2. Escorpião Carta Dominante: 4 de Ouros, que significa Projectos; Amor: O seu par poderá estar demasiado exigente; Saúde: Faça desporto mas opte por modalidades que exijam pouca resistência física; Dinheiro: Aprenda a ser um bom gestor das suas poupanças. Aos poucos irá ver a diferença na sua conta; Número da Sorte: 68. Sagitário Carta Dominante: 6 de Espadas, que significa Viagem Inesperada; Amor: Trabalhe mais o seu lado espiritual. Descubra a imensa força e coragem que traz dentro de si; Saúde: Tenha em atenção o seu peso; Dinheiro: É possível que receba um convite de trabalho muito aliciante; Número da Sorte: 56. Capricórnio Carta Dominante: O Julgamento, que significa Novo Ciclo de Vida; Amor: Esteja atento aos sinais do Cupido, pois é possível que venha a conhecer o amor da sua vida; Saúde: As tensões acumuladas podem fazer com que se sinta cansado; Dinheiro: Esforce-se por conseguir atingir os seus objectivos profissionais. Tenha a ousadia de sonhar; Número da Sorte: 20. Aquário Carta Dominante: Rainha de Copas, que significa Amiga Sincera; Amor: Aposte nos seus sentimentos. Saúde: Evite pegar em pesos e adopte uma postura correcta, pois a humidade poderá fazer com que sinta fortes dores na coluna; Dinheiro: Aproveite as suas energias para se concentrar ao máximo nas suas tarefas profissionais. Que o sucesso esteja sempre consigo; Número da Sorte: 49. Peixes Carta Dominante: Cavaleiro de Ouros, que significa Maturidade;Amor: Proteja as suas emoções tornando-se cada dia que passa num ser humano mais forte e então sim, será feliz; Saúde: Consulte um dentista antes que seja tarde de mais; Dinheiro: Evite fazer gastos desnecessários. Compre apenas aquilo que realmente necessita; Número da Sorte: 76.

CULINÁRIA

Bavaroise de Hortelã com Natas Ingredientes: 400 ml de Nata Levíssima Parmalat 120 g de açúcar 4 dl de leite gordo 10 hastes de hortelã pimenta 4 folhas de gelatina incolor 50 g de manteiga açúcar para polvilhar q.b. 1 pau de canela 1 pitada de sal Para a decoração 200 ml de Nata Levíssima Parmalat 3 colheres de sopa de açúcar em pó folhas de hortelã q.b. Preparação: Lave e seque a hortelã. Ponha a gelatina num pouco de água fria por 5 minutos. Bata na liquidificadora, as folhas de hortelã juntamente com o açúcar. Junte o leite e misture. Deite o preparado numa caçarola, leve ao lume médio mexendo sempre até começar a ferver. Junte a gelatina escorrida, misture bem até que esteja dissolvida. Coe o preparado e deixe arrefecer. Bata as Nata Levíssima em chantilly e envolva delicadamente ao preparado anterior. Deite o preparado numa forma, ou em forminhas individuais e leve ao frigorífico cerca de 6 horas ou de um dia para o outro. Na hora de servir, mergulhe a forma em água quente e desenforme. Bata as Nata Levíssima com o açúcar em chantilly. Decore a bavaroise com folhas de hortelã e rosetas em chantilly.

SUDOKU O OBJECTIVO É PREENCHER UM QUADRADO 9X9 COM NÚMEROS DE 1 A 9, SEM REPETIR NÚMEROS EM CADA LINHA E CADA COLUNA. TAMBÉM NÃO SE PODEM REPETIR NÚMEROS EM CADA QUADRADO DE 3X3.

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ANEDOTAS Era uma vez um homem tão feio, tão feio, que quando jogava às escondidas ninguém o queria encontrar! Num dia de chuva e vendaval o carteiro lá da terra, o Sr.Raul, andou uns Kms para entregar uma carta ao Sr.Joaquim do filho que estava na tropa. Diz o carteiro: - Sr. Joaquim tome a carta do seu filho António que está na tropa, que estou todo molhado de andar à sua procura. Responde o Sr. Joaquim:

- Sr. Raul leia-me lá a carta que eu não sei ler. O carteiro lendo a carta: “Queridos pais, o dinheiro que mandaram acabou-se, vejam se não se esquecem e mandam mais algum na volta do correio: O Sr. Joaquim: - Então isso são modos de falar com um pai ... já não levas nenhum ... O Sr. Joaquim chega a casa, olha para a mulher e diz: - Maria, toma a carta do teu filho e vê bem o que quer e como diz as coisas.

A mulher com aquela ternura de mãe que define as mulheres portuguesas começa a ler: “ Queridos paizinhos. O dinheirito que mandaram acabou-se, se for possível mandar mais algum, eu agradecia, se não for paciência.” Responde o pai: - Já estás a falar doutra maneira ... P: Como é que fazes uma loira sorrir na segundafeira de manhã ? R: Conta-lhe uma piada na sexta-feira à noite.


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CHAPELADAS Carmen Costa

Atenção à correcção ortográfica ... ás!?!

QUADRO DA MEMÓRIA Direitos Reservados


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Rua dos Vinháticos, 15 C - 9545 Capelas São Miguel - Açores Tel.: 296 989 470 - Fax: 296 989 467 - E-mail: correionorte@yahoo.com.br

SEMPRE NA

DESPORTIVA


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