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Artigo de Divulgação

Sistema R.O.C.A.: Um Método de Diagnóstico e Terapia Oclusal System R.O.C.A.: a Method of Diagnostic and Occlusal Therapy

Resumo

José Mondelli

A dificuldade no correto registro da posição de relação cêntrica opõe-se ao fato de que o cirurgião-dentista necessita realizar a maioria dos seus trabalhos nessa posição craniomandibular. O sistema R.O.C.A. (Relacion Oclusal Centrica Armonica) é proposto para ser utilizado pelo clínico, para obter o registro preciso da relação cêntrica. Propriamente empregado, o paciente é capaz de fechar a mandíbula em relação cêntrica sem auxílio, eliminando a possibilidade do erro operatório durante as manobras de manipulação mandibular. Seu uso clínico é simples e eficiente, facilitando o trabalho do profissional. INTRODUÇÃO

A falta de oclusão habitual em pacientes desdentados, com perdas de dentes e superfícies oclusais, ou mesmo mobilidade dental aumentada, deixa o profissional com apenas uma alternativa e por isso se usa a relação cêntrica como posição de referência para procedimentos de análise, diagnóstico e plano de tratamento oclusal. O registro da relação cêntrica é

fundamental para os procedimentos de análise, diagnóstico, planejamento e tratamento que visam o restabelecimento das relações interoclusais coordenadas e estáveis. A relação cêntrica possibilita o emprego de um procedimento de registro que permite a obtenção de relações interoclusais ideais com o conjunto côndilo-disco assentado contra a parede posterior da eminência articular revestida por tecido fibroso. No passado não havia um método clínico padronizado, fácil de aprender e realizar e que possibilitasse reprodutibilidade de resultados. Atualmente, existem vários procedimentos distintos para registro e um considerável número de publicações e debates a respeito das contravertidas técnicas e sua precisão no registro da relação cêntrica. Cada técnica necessita ser dominada pelo profissional a fim de serem obtidos os melhores resultados1,2. Justifica-se desse modo a necessidade do desenvolvimento de materiais e técnicas de manipulação e registro independentes da habilidade de cada indivíduo que possibilite resultados precisos e confiáveis. Por esta razão é aconselhável, justificável e

José Mondelli* Rafael G. Roca Hillmann** Adriano Lia Mondelli*** Alexandre Yudy Nakamura****

Palavras-chave: Relação Cêntrica. Oclusão Dentária.

* Professor Titular do Departamento de Dentística, Endodontia e Materiais Dentários pela Faculdade de Odontologia de Bauru – Universidade de São Paulo. ** Cirurgião-Dentista em Santa Cruz de la Sierra – Bolívia. *** Pós-graduando em Ortodontia (doutorado) pela Faculdade de Odontologia de Bauru – USP. **** Pós-graduando em Ortodontia (Mestrado) pela Faculdade de Odontologia de Bauru - USP.

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racional o uso de uma técnica de registro que possibilite maior rapidez e facilidade, com menor dispêndio de tempo, sem significativa diferença de resultados entre operadores diferentes. Uma variedade de dispositivos e métodos clínicos são utilizados para a determinação da relação cêntrica, como as tiras calibradoras de Long5, o “jig” de Lucia6 (Fig.1), manipulação unilateral, bilateral de Dawson3, técnica da deglutição14, etc. Também podem ser feitas associações, como o emprego dos testes fonéticos de Pound12 e Silverman15 associado ao “jig”, às tiras de Long e aos fios do Sistema R.O.C.A.13 Os métodos de manipulação devem ser aprendidos e aperfeiçoados como qualquer outra habilidade que exija destreza. As técnicas unilaterais com uma só mão e o polegar colocado sobre a região do mento6 ou dos incisivos inferiores a partir da abertura máxima raramente registram uma relação cêntrica ou posição de oclusão em relação cêntrica precisa. A manipulação bilateral de Dawson3 é um método que apresenta resultados confiáveis e possibilidade de reprodução precisa. Possibilita guiar a mandíbula em relação cêntrica sem forçá-la e procedimentos precisos de equilíbrio (exame oclusal, eliminação de contatos prematuros, registro de oclusão e etc.), porém exige habilidade, treinamento especializado, cooperação do paciente e muita experiência. Além disso, para marcar os contatos interferentes que foram localizados pela manipulação ou efetuar o registro em cêntrica com qualquer uma das

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três técnicas é necessário dispor de ajuda e sincronismo de equipe o que resulta em maior demanda de tempo. A manipulação imprópria da mandíbula é a responsável pela maioria dos fracassos no registro e nos equilíbrios oclusais. Não se pode forçar a mandíbula para a relação cêntrica. Forçá-la, geralmente vai ativar a contração do reflexo de alongamento das fibras inferiores dos músculos pterigóideos laterais, levando-os a manter os côndilos à frente da relação cêntrica. A pressão exagerada exercida sobre o queixo ou sobre a região dos incisivos inferiores, após o relaxamento neuromuscular, pode forçar os côndilos para baixo e para trás da relação cêntrica4. O contato manual ou digital pode provocar ao paciente reações reflexas musculares de contração ou distensão que dificultam a manipulação, análise, detecção de contatos prematuros com papel celofane, demarcações com carbono e até o procedimento de registro. O procedimento ideal para o registro clínico da relação cêntrica ainda não foi exatamente determinado. A total negação de atividade muscular adversa do paciente induzida pelas mãos do profissional durante o registro é impossível e a ausência de interferência manual de outras técnicas não implica em ausência de controle. No estágio de conhecimento atual, deve-se destacar que o objetivo do registro clínico da relação cêntrica e a aplicação nos procedimentos restauradores, protéticos e de ajustes não é uma relação oclusal coordenada com a posição específica do côndilo,

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FIGURA 1 - Dispositivos usualmente empregados para a obtenção da relação cêntrica, funcionando como ponto de parada anterior. A) Jig de Lucia. B) Tiras de Long. 74

mas sim a busca da estabilidade oclusal. Tem sido afirmado que seu registro clínico deve resultar de um fechamento mandibular repetitivo, não forçado e não manipulado. McNeill7, Mosteller10, Long5, Roca Hillmann13, McHorris8 e Okeson11 enfatizaram que o registro em relação cêntrica é melhor atingido com a mandíbula em função. Durante esse procedimento de registro, a atividade muscular aparentemente posiciona o conjunto côndilo-disco na posição mais ântero-superior da fossa, um fato de evidente interesse clínico. Pode-se forçar a mandíbula para a posição mais retruída que a máxima intercuspidação habitual a fim de se obter coincidência entre elas nos procedimentos restauradores. Da mesma forma, pode-se dobrar o braço de uma pessoa por trás de suas costas até que sinta dor. Consegue-se a posição limite em retrusão da articulação do ombro, mas não a posição funcional de trabalho dos braços e mãos realizada na frente das pessoas10. Assim, a dentição natural funciona melhor na maioria dos pacientes quando restaurada ou ajustada com liberdade em cêntrica, a partir dessa posição de referência não funcional, ou seja, em oclusão habitual, que é a posição funcional de mastigação, localizada ligeiramente à frente da posição de relação cêntrica. Os métodos de manipulação devem ser aprendidos e aperfeiçoados da mesma maneira como se aprende qualquer habilidade que exige destreza1. As técnicas das guias de ponta do mento com uma só mão raramente registram uma relação cêntrica precisa9. Além disso, para marcar os contatos interferentes que foram localizados pela manipulação, é necessário dispor de ajuda, resultando em maior demanda de tempo. A manipulação bilateral de Dawson é um método que apresenta resultados confiáveis e facilidade de reprodução. Possibilita guiar a

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mandíbula em relação cêntrica e procedimentos precisos de equilíbrio (exame oclusal, eliminação de contatos prematuros, registro da oclusão, etc.) podem ser executados com ótimos resultados. O “jig” de Lucia6 e as tiras de Long5 (Leaf-gauge) funcionam como ponto de parada anterior, prevenindo contatos dentários que possam desviar a posição mandibular correta. Interposto entre os incisivos antagônicos, evitam a oclusão dos dentes e modificam a memória proprioceptiva. Dentre esses, as folhas calibradoras permitem redução do tempo de trabalho pela simplificação da técnica, podendo ser usada para registro da relação cêntrica. As tiras consistem em 15 a 20 tiras de acetato, vinil ou qualquer outro material plástico que possa ser unido por um rebite ou argola de metal. A sobreposição das folhas calibradoras permite ao profissional aumentar a distância entre os incisivos em pequenos incrementos para a desoclusão dos dentes posteriores. Os fios do sistema R.O.C.A.13 funcionam também como um dispositivo de interceptação oclusal anterior, prevenindo contatos dentários posteriores que possam desviar a posição mandibular correta (Fig. 2). O sistema constitui-se de fios cilíndricos de plástico calibrados em diferentes diâmetros que podem ser utilizados na região anterior e na altura de caninos e pré-molares. Posicionado na região anterior,

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pode-se obter a relação cêntrica relacionamento ântero-posterior ou reposicionamento sagital da mandíbula; o posicionamento na altura de caninos e pré-molares permite a detecção e eliminação das interferências em lateralidade e corrigir as guias-caninos desgastadas. Os fios apresentam a vantagem de terem secção cilíndrico-circular provendo contatos puntiformes, o que evita um apertamento excessivo e induz o deslizamento mandibular, facilitando a obtenção do posicionamento muscular e esquelético mais rapidamente (Fig. 2B). O comprimento dos fios permite: 1) ampla visualização da desoclusão ou não dos dentes posteriores pela guia-canino ou guia anterior; 2) da linha média com desvio ou não; 3) dos movimentos da mandíbula em protrusão e lateralidade, para determinar a trajetória e altura das guias, o que permitirá que os músculos trabalhem dentro das características e direções de suas forças, evitando provocar descoordenação ou até colapso da oclusão posterior. O dispositivo consiste de 7 a 10 fios de náilon, vinil ou qualquer outro material plástico que possam ser presos por uma das extremidades em argolas de metal ou plástico à semelhança de um chaveiro (Fig. 2B). O fio é colocado entre os dentes anteriores e o paciente é orientado para fechar a boca em uma posição retruída. O espaço interoclusal é observado e os diâmetros dos fios são diminuídos ou

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aumentados para assegurar a relação vertical desejada para obtenção do registro (Fig. 2C) ou demarcação de contatos interferentes durante o ajuste oclusal. TÉCNICA DE REGISTRO EM CÊNTRICA EMPREGANDO OS FIOS DO SISTEMA R.O.C.A.

O primeiro passo consiste em colocar um dos fios de maior diâmetro entre os incisivos separando os dentes posteriores por um período de 10 a 30 minutos8 a fim de relaxar ou desprogramar a musculatura mastigatória. Depois que ocorre o reposicionamento mandibular com o uso do fio de maior diâmetro que elimina os efeitos de contato dos dentes posteriores sobre a atividade muscular (desprogramação neuro-muscular), os fios de menor diâmetro são testados sucessivamente até conseguir o espaçamento inter-oclusal e a relação cêntrica necessários para o registro desta posição. Em seguida, o registro interoclusal ou de mordida pode ser feito de maneira convencional segura (Fig. 3). Uma lâmina de cera nº 7 separada em duas por um alívio na região anterior é aquecida em água quente e posicionada em cada lado do arco nos dentes posteriores. O fio é posicionado entre os dentes anteriores e o paciente é orientado para morder com pressão moderada o fio, que posiciona a mandíbula em retrusão, até que a cera endureça (Fig. 2C). Somente as pontas das cúspides de-

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FIGURA 2 – A) Fios do sistema Roca. Usados para localizar a posição musculoesquelética estável. B) Fio com maior diâmetro colocado entre os dentes incisivos separando os dentes antagonistas posteriores. À medida que o paciente tenta ocluir os dentes, os côndilos movem-se para a posição de RC. C) Registro do fechamento cêntrico nas superfícies oclusais das lâminas de cera, após o espaçamento inter-oclusal adequado com um fio de menor diâmetro. Notar a faixa espessa de gengiva ceratinizada, característico de quem tem atrito friccional. R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 8, n. 3, p. 73-80, maio/jun. 2003

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FIGURA 3 - A) Eliminação do desvio lateral durante o deslize da relação cêntrica para máxima intercuspidação habitual, com a posição de relação cêntrica guiada pelo fio interposto na região interincisiva. Notar o desvio da linha média dentária inferior para direita em relação à linha média dentária superior e a diferença do espaço interoclusal no fechamento cêntrico, devido a um contato deflectivo posterior; B) Após a eliminação da prematuridade que desviava a mandíbula os dentes passaram a manter relação de coincidência entre as linhas médias dentárias superior e inferior na máxima intercuspidação habitual.

vem marcar a cera. Se as edentações na cera ficarem muito profundas ou rasas, o diâmetro do fio pode ser, respectivamente, aumentado ou reduzido até conseguir-se a relação vertical adequada. A manobra pode ser repetida até se obter o registro na posição e altura desejáveis. O fio entre os dentes anteriores permite o paciente fechar a mandíbula numa posição retruída enquanto a força de mordida ou de fechamento dos músculos elevadores assentam o complexo côndilo-disco contra a vertente posterior da eminência articular ou na posição mais anterior e superior da fossa ou cavidade glenóide8. Isto elimina o erro do operador inexperiente (pela atividade muscular reflexa e adversa do paciente) que ocorre geralmente quando ele tenta manipular a mandíbula do paciente em relação cêntrica. Desde que o paciente está aplicando apenas a pressão de mordida ou de fechamento dos músculos elevadores em retrusão, o assentamento do complexo côndilo-disco não deverá exceder os limites fisiológicos do sistema. Após o registro interoclusal na lâmina de cera procede-se a montagem em articulador. No caso de uma relação do tipo Classe III ou topo-a-topo dos dentes anteriores, pode ocorrer resistência de cima para baixo no fechamento, devendo-se por isso aplicar uma pressão digito-manual na linha média do queixo do paciente, durante a mordida da cera em posição8. 76

TÉCNICA DE AJUSTE OCLUSAL EM RELAÇÃO CÊNTRICA EMPREGANDO O SISTEMA R.O.C.A.

Ajuste oclusal, equilíbrio oclusal ou ajuste da oclusão pode ser definido como sendo uma modalidade de tratamento que realiza desgaste ou acréscimo de material restaurador em elementos dentários, melhorando seu contorno e o padrão de contatos oclusais a fim de eliminar prematuridades distinguidas como: contatos exagerados em oclusão habitual (O.H.) ou máxima intercuspidação habitual (M.I.H.), contatos deflectivos em posição de relação cêntrica (R.C.) e interferências que impeçam a ação das guias anterior, lateral-canino ou lateral em grupo3. O ajuste oclusal por desgaste seletivo ou por acréscimo de material restaurador, quando existem prematuridades em R.C. e O.H. e, interferências durante os movimentos mandibulares está perfeitamente justificado, ao se considerar a freqüência de contatos durante a deglutição, fonação e mastigação (mínima em condições normais) e outras atividades funcionais. Apenas na deglutição ocorrem cerca de 5000 a 6000 contatos diários considerando que uma pessoa deglute 4 a 5 vezes por minuto. Assim é que, em presença de prematuridades, em R.C. tem-se a repetição traumática por mais de 5000 vezes ao dia, resultando numa série de

injúrias ao sistema estomatognático com todas suas conseqüências, especialmente hábitos parafuncionais que provocam: desgaste dos dentes, problemas nas estruturas de suporte, nos ligamentos e músculos da articulação têmporomandibular4. O principal objetivo ou finalidade do desgaste seletivo é colocar em função todos os dentes, para que haja igualdade de incidência de forças em todos os elementos. Os dentes e o periodonto de sustentação deverão receber estímulos funcionais uniformes, propiciando assim as condições necessárias para a saúde do sistema neuromuscular, articulação temporomandibular, periodonto e dentes. O desgaste seletivo pode ainda: 1) Permitir à mandíbula, a partir da relação cêntrica, chegar a uma posição de máxima intercuspidação sem encontrar interferências que provocam desvios ou deflexão; 2) Assegurar uma posição de máxima intercuspidação funcional estável com um máximo de contatos oclusais puntiformes; 3) Permitir todo movimento mandibular a partir da posição de oclusão habitual, sem encontrar obstáculos ou interferências em protrusão e lateralidade. A manipulação da mandíbula para R.C. facilmente conseguida e repetida é um pré-requisito necessário para o ajuste oclusal. Nenhum ajuste pode ser realizado, a menos que se tenha certeza e facilidade de conseguir a posição de R.C. sem causar desconforto. Se causar dor deve-se suspeitar de disfunção crânio-mandibular ou técnica inadequada. A contenção muscular que torna a manipulação para R.C. impossível, “esconde” o primeiro contato dentário real em R.C., e faz com que um ajuste oclusal seja muito dificultado ou até irrealizável. Certos pacientes necessitarão de

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terapia por placa interoclusal, antes do ajuste oclusal, de tal modo a conseguir este pré-requisito. O primeiro passo operatório, à semelhança da técnica de registro, consiste em relaxar a musculatura mastigatória interpondo-se entre os incisivos um dos fios de maior diâmetro que permitirá a desprogramação da musculatura mastigatória dos contatos deflectivos existentes e assim anular o padrão de fechamento adaptado. Este fechamento adquirido ou adaptado ocorre quando as superfícies oclusais dos dentes, em máxima intercuspidação, impedem os côndilos assentarem contra os discos, os quais se acomodam em posição excêntrica. Ao ocorrer a desoclusão dos dentes posteriores pela ação do fio, a força direcional proveniente dos músculos elevadores (temporal, masséter e pterigoideo medial) induzida pelo fio permite o assentamento dos côndilos numa posição ântero-superior dentro da fossa. O contato anterior fornecido pelos fios age como um fulcro, permitindo aos côndilos girarem até uma posição musculoesqueletal estável na fossa, evitando a restringência das superfícies contactantes dos dentes que impedem a mandíbula de fechar na posição de relação cêntrica. O reposicionamento pela ação dos próprios músculos permite a obtenção de uma posição não forçada e em pouco tempo, sem guia de conflito proprioceptivo causado por contatos oclusais deflectivos. Os fios permitem também certa flexibilidade, caso contrário poderiam agir como uma vertente posterior, ocasionando uma deflexão na mandíbula exageradamente para trás (alavanca de Classe I ou II) conforme os músculos elevadores se contraem. Por meio deste método, a mandíbula tende a se posicionar ligeiramente para distal com os côndilos assumindo a posição de assentamento cêntrico,

sem a necessidade de manipulação por parte do operador; Conseguida a desprogramação, a oclusão habitual é marcada primeiro. É melhor obtê-la com o paciente sentado na posição postural com as constas retas, a partir da condição de repouso mandibular a fim de não afetar os trajetos de fechamento em O.H. O papel-carbono deve ser colocado bilateralmente quando se marca a O.H. para evitar que o paciente possa apertar mais um lado que outro. Com o carbono em posição o paciente é instruído para bater várias vezes, com força, seus dentes posteriores. As marcas vermelhas resultantes representam contatos de O.H. e que devem ser evitados durante o ajuste oclusal. Neste momento, o paciente pode ser reclinado na posição supina. Os contatos de R.C. são marcados em seguida, com auxílio dos fios do sistema R.O.C.A. Obviamente, a cor do carbono não é importante. Entretanto, uma cor verde ou azul pode ser usada para R.C. e vermelha para O.H. Qualquer cor pode ser usada nas excursões laterais e anterior; Os fios são colocados entre os incisivos em ordem decrescente de diâmetro, para assegurar a relação vertical necessária; pede-se ao paciente que o pressione moderadamente por 6 segundos com a mesma intensidade exercida na mastigação. Imediatamente se iniciará o reposicionamento mandibular, e o diâmetro dos fios é controlado (vai sendo diminuído) até que ocorra o primeiro contato acusado pelo paciente, geralmente nos dentes posteriores. Após a detecção do primeiro contato, as superfícies oclusais são secas com jatos de ar e, imediatamente são colocados a fita carbono e o fio ao mesmo tempo, para demarcar a superfície interferente, por meio da pressão mastigatória exercida sobre o fio e sobre o carbono. O desgaste é feito com ponta diamantada, girando

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em baixa ou alta velocidade; Os desgastes são realizados nas vertentes mesiais dos dentes superiores e nas distais dos inferiores, no centro das demarcações, sem desgastar as margens mesial e distal da marca de carbono, pois correspondem respectivamente ao contato em máxima intercuspidação habitual (M.I.H.) e a de relação cêntrica (R.C.). A eliminação da parte central das demarcações propicia a obtenção de uma cêntrica longa, e as devidas paradas cêntricas. Os contatos prematuros de R.C. são marcados e desgastados tantas vezes quanto necessário, até que se consiga que a dimensão vertical de oclusão seja igual tanto em R.C. como em O.H.. Pode-se esperar que as marcas mudem de um lado para outro, de um dente para outro, durante estas séries de demarcações e de ajustes. A presença ou a ausência de um deslize involuntário com desvio anterior ou lateral é guia para saber se a dimensão vertical pretendida foi obtida. Quando não houver mais desvio durante o deslize – PARE. É possível um excesso de ajuste, indesejável. Não se deve criar uma situação na qual a dimensão vertical de oclusão na R.C. seja menor do que na O.H. Não é necessário haver um contato de R.C. para cada contato de O.H. ou mesmo para cada dente posterior, mas é desejável ter contato de R.C. bilateral e sem desvio durante o deslize. Os contatos em R.C. não são desejáveis nos dentes anteriores na liberdade em cêntrica e só se tornam possíveis se ocorrer um excesso de desgaste durante o ajuste (Fig. 4). Regra dos terços – a regra dos terços é um pré-requisito anatômico que auxilia e assegura economia e precisão de remoção de estrutura dentária e faz com que as forças de fechamento fiquem mais próximas dos longos eixos dos dentes durante o desgaste para ajuste9. 77


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FIGURA 4 - Técnica de análise e de ajuste oclusal parcial empregando o sistema R.O.C.A., de uma dentição desgastada. A) vista frontal do sorriso de um paciente adulto com 37 anos, do sexo masculino, apresentando desgaste excessivo generalizado (grau 3) das bordas incisais dos dentes anteriores e oclusais dos posteriores devido à erosão química associada ao bruxismo cêntrico e excêntrico, caracterizando um paciente da categoria 2 devido ao padrão de desgaste; B) presença de contatos indevidos nos dentes posteriores durante os movimentos protrusivos-retrusivos; C e D) ocorrência de interferências oclusais excêntricas em ambos os lados de trabalho e balanceio; E) avaliação do espaço interincisal durante a pronúncia do S, onde pode-se notar que a distância entre os dentes anteriores não é maior que 1.5mm. Isto indica que apesar do severo desgaste oclusal e incisal a dimensão vertical de oclusão foi mantida pelo mecanismo de compensação alveolar. A placa inter-oclusal de uso noturno instalada como primeira medida terapêutica; F) fio colocado entre os incisivos para a demarcação das possíveis prematuridades; vistas oclusais dos arcos G) superior e H) inferior com as demarcações das interferências excêntricas bilaterais as quais foram eliminadas por desgaste com ponta diamantada. Notar o padrão de desgaste não carioso das superfícies oclusais e incisais devido à erosão química associada à atrição e apertamento dentário. Após a eliminação das prematuridades conseguiu-se contatos simultâneos e bilaterais no fechamento cêntrico; avaliação em lateralidade, inicialmente com um fio de menor diâmetro; I), o qual vai sendo sucessivamente substituído por outros de maior diâmetro (ao contrário do fechamento em relação cêntrica onde a seqüência é do maior para os de menores diâmetros), até conseguir-se um espaçamento inter-oclusal adequado do lado de trabalho; J) desoclusão no lado de balanceio como visto em K) O calibre do fio que desocluir os dentes em lateralidade serve como referência para a reconstrução das guias-caninos. Dividindo o seu diâmetro por 2 tem-se quanto deverá ser aumentado na vertical em ambos os caninos, superior e inferior de cada lado.

CONCLUSÃO

Com base no que foi exposto, transcrito e tentado demonstrar, o sistema R.O.C.A. pode ser usado clinicamente para as tomadas de relação cêntrica, análises oclusais funcionais, diagnóstico e planeja78

mento de casos clínicos, e exames iniciais de pacientes com dor nas disfunções crânio-mandibulares. A técnica permite a correção da posição condilar e o alinhamento do conjunto côndilo-disco, mantendo a integridade das superfícies articula-

res. O estabelecimento da harmonia dos movimentos e das relações dos músculos e ligamentos do sistema mastigatório é possível pela análise da mandíbula de forma dinâmica, para que se obtenha uma dimensão vertical correta, uma relação ânte-

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FIGURA 5 - Técnica de restauração temporária ou simuladora em uma dentição desgastada, analisada na figura 4, empregando o sistema restaurador adesivo de uso direto: A) a restauração dos dentes ântero-inferiores em primeiro lugar é importante para restabelecer a guia anterior; B) demarcação do sobrepasse vertical necessário a ser conseguido para os dentes ântero-superiores; C) grade bilateral traçada em proporção áurea para orientar as reconstruções vestibulares da composição dentária superior; D) após o posicionamento da mandíbula em relação cêntrica para detectar e depois, juntamente com a fita de carbono, demarcar prematuridades das restaurações, a fim de eliminá-las; E) ajuste das restaurações, nos movimentos protrusivos-retrusivos; F) contato dos vértices cuspídeos na lateralidade direita, promovendo uma desoclusão posterior além do que seria necessário (2 a 3 mm)4; G) o fio de R.O.C.A. colocado nas ameias entre caninos e pré-molares, auxilia no restabelecimento da altura vertical correta das pontas dos caninos; H) Sorriso final do paciente, permitindo verificar a importância de se restaurar estética e funcionalmente uma dentição desgastada e o seu efeito na aparência da composição dento-facial que se apresentava envelhecida. Essa reabilitação simuladora de caráter temporário, durante aproximadamente 6 meses, é imprescindível para estabilizar o caso, observar a eficiência ou não da guia anterior, a resposta dos complexos periodontal e dentino-pulpar e do paciente (familiarização ou não com a possível melhora estética e funcional). As restaurações temporárias, confeccionadas pelo sistema restaurador adesivo de uso direto, determinam o tamanho, comprimento e largura, os perfis emergentes, as curvas parabólicas gengivais (o sistema restaurador adesivo de uso direto funciona como “arquiteto dento-gengival”) das futuras restaurações definitivas, permitindo estabelecer o posicionamento preciso das bordas incisais e o planejamento de uma composição dentária funcional e estética.

ro-posterior estável e uma relação sagital determinada com precisão. Embora tenha muitos aspectos a serem estudados e pesquisados, a técnica possibilita uma conduta operatória segura para o cirurgiãodentista, tendo como vantagens a praticidade, economia e fidelidade de

registro, constituindo-se assim uma alternativa viável para o restabelecimento das características oclusais necessárias numa reabilitação bucal por procedimentos restauradores ou protéticos. Como recomendação final, a mensagem do autor da técnica13:

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“Podemos realizar as restaurações mais belas e estéticas, utilizar os mais requintados materiais e os equipamentos mais sofisticados, mas tudo isso será em vão se o organismo não aceitar nosso tratamento, e para que isso ocorra nossos trabalhos devem ser biomecanicamente ajustados”. 79


Abstract

The difficult in the correct register in the position of centric relation oppose with the fact that the dentist need to make the great part of his works in this craniomandibular position. The system R. O. C. A. (Relacion

Oclusal Centrica Armonica) is proposed to be used by the clinican. Properly executed, the patient is able to close into centric relation unassisted, eliminating the possibility of operator-induced error associated with the commonly ac-

cepted manipulative techniques. The clinical use of this method is simple and efficient, making easy the professional’s work.

v. 29, no. 6, 608-610, June 1973. 6 - LUCIA, V. O. A technique for recording centric relation. J Prothet Dent, St. Louis, v. 14, no. 3, p. 492-505, May/June 1974. 7 - McNEIL, C. Temporomandibular disorders guidelines for classification, assessment and management. Quintessence: Chicago, 1992. 8 - McHORRIS, W. H. Occlusal adjustment via selective cutting of natural teeth. Part I. Int J Period Restor Dent, Chicago, v. 5, p. 8-25, 1985. 9 - MONDELLI, J. et al. Dentística restauradora: tratamentos clínicos integrados. 1. ed. São Paulo: Pancast, 1990. 10 - MOSTELLER, J. H. Occlusion of the natural dentition. Part I. J Am Dent Assoc, Chicago, v. 64, no. 4, p. 36-45, 1980. 11 - OKESON, J. P. Tratamento das desordens temporomandibulares e oclu-

são. 4. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2000. 12 - POUND, E. Let /S/ be your guide. J Prostht Dent, St. Louis, v. 38, no. 5, p. 482-489, Nov. 1987. 13 - ROCA HILLMANN, R. G. Sistema ROCA: relacion oclusal centrica armonica. Santa Cruz de la Sierra: [s. n.], 1990. 14 - SHANAHAN, T. E. J. Physiologic vertical dimension and centric relation. J Prosth Dent, St. Louis, v. 6, no. 6, p. 741-747, Nov. 1956. 15 - SILVERMAN, M. M. Accurate measurement of vertical dimension by phonetics and the speaking centric space. Dent Digest, Pettisburgh, v. 57, p. 261, 1951. 16 - SOLNIT, A.; CURNUTTE, D. C. Occlusal correction principles and practice. Chicago: Quintessence, 1988.

Centric Relation, Dental Occlusion. Key

words:

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Endereço para correspondência José Mondelli Faculdade de Odontologia de Bauru - USP - C.P. 73 Depto de Dentística Al. Dr. Octávio Pinheiro Brizolla, 9-75 Vila Universitária - Bauru, SP Cep: 17043-101 adrianomondelli@uol.com.br 80

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