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Reportagem

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Matéria de capa

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SIPAT 2021

Como a pandemia mudou a forma de se enxergar o autocuidado mental e físico

A Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (Sipat) ocorreu neste mês, de forma online, com o tema “Mente Sã, Corpo São e Trabalho Seguro”. Em um ciclo de três palestras ao longo da semana, o evento convidou profissionais qualificados para falar sobre questões psicológicas durante o período de teletrabalho, como a ansiedade e os hábitos cultivados neste tempo.

A abertura aconteceu no dia 8 de setembro, com a participação do diretor executivo da Fiotec, Hayne Felipe, que ressaltou a importância do cuidado com a saúde do trabalhador, principalmente durante a pandemia. A primeira palestra foi ministrada pela nutricionista Thamires Medeiros, com o tema “Como os fatores externos e internos influenciam na alimentação”. Ao discorrer sobre o conceito de saúde, Thamires afirmou: “saúde não está ligada apenas a ausência de doenças, mas ao bem-estar das pessoas”.

Segundo dados levados pela nutricionista, em 2017, as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) foram responsáveis por cerca de 56,9% das mortes dos adultos de 30 a 69 anos no Brasil. Entre as DCNTs, estão: obesidade, doenças cardiorrespiratórias, diabetes, doenças no fígado, entre outras, que podem ser causadas por fatores internos ou externos. Entre os fatores internos, estão a saúde mental, as condições clínicas e o estilo de vida. E, nos fatores externos, os aspectos culturais, industrialização dos alimentos e a rotina.

Thamires afirmou que, com o consumo desarmônico de agrotóxicos, algumas consequências físicas e mentais podem ser ob-

servadas, como dificuldade para dormir, depressão, problemas respiratórios, alteração no funcionamento do fígado e rins, desordem na produção de hormônios, entre outros. Os químicos são utilizados com o argumento de diminuir os vetores de doenças, entretanto, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil é o maior consumidor destes produtos desde 2008.

Sobre os alimentos ultraprocessados, a nutricionista alertou que “se não nos conscientizarmos, a tendência é piorar”. Isso porque, com o ritmo agitado imposto pelo mercado de trabalho, as pessoas dedicam menos tempo para a alimentação, deixando a atenção de lado e mudando os padrões alimentares para pior. “Do ‘descasque mais’, estamos indo para o ‘desembale mais’”, contou.

Durante a pandemia de Covid-19, essa relação da população com os alimentos piorou. Pode-se observar um aumento no consumo de açúcares e gorduras, redução de alimentos saudáveis, aumento de bebida alcoólica e queda da prática de atividades físicas. Além desses, a deficiência de algumas vitaminas, como a vitamina D que é relacionada à saúde mental, é preocupante.

Problemas de ansiedade e estresse se tornaram mais comuns entre a população brasileira, consequentemente aumentando o consumo de comida não-saudável. Isso acontece porque o indivíduo passa por um estresse, sente a fome hedônica, e como recompensa o consumo desses alimentos gera serotonina e dopamina, oferecendo uma falsa sensação de bem-estar. Acontece um efeito rebote, como explicou Thamires, que resulta em hipoglicemia, gerando uma necessidade energética até voltar para o estado inicial de estresse.

A profissional recomenda o consumo de mais alimentos in natura, para que esse cenário seja revertido. “É necessário procurar frutas e legumes da época, por ter uma rotatividade de nutrientes, uma vez que o solo terá menos agrotóxicos. A higiene do sono também é de suma importância, que pode

ser alcançada com o consumo de alimentos com fontes de triptofano (que irão ajudar no sono), além da redução do consumo de cafeína após as 17h, a proibição do celular antes de dormir e o uso de chá com efeito calmante”.

Os pensamentos como alavancas para suas ações

Na segunda reunião da Sipat, o psicólogo Felipe Soares falou sobre como o pensamento influencia na ação individual. Ao discorrer sobre o pensando positivo e negativo, Felipe afirmou que “somos reflexos do que pensamos e sentimos”, e que é no otimismo que o indivíduo é capaz de achar a cura para diversas causas. Como explica ele, isso é consequência da nova visão da vida, de forma otimista, que faz com que a pessoa lide com ela de forma leve, percebendo que os problemas não são tão complicados assim.

O pensamento negativo, por sua vez, faz com que a pessoa se afunde em um “pântano de emoções”, causando tortura e sofrimento no campo mental e físico. Ele explicou, ainda, que existe o pensamento falsamente positivo, que atrapalha na produção de ações construtivas e cria expectativas vazias em si próprio. “Ele te leva a caminhos diferentes para aquilo que você quer da vida. Reforça a arrogância, dificuldade de aceitar críticas e enfrentar dificuldades, resultando na incapacidade de agir no mundo”, explicou.

Durante a pandemia, a quantidade desses pensamentos ruins aumentou porque a população se encontra com os sofrimentos aflorados durante esse tempo. Alguns desses pensamentos já existiam, mas esses sintomas tendem a vir com mais força por conta da mudança de rotina repentina, em que as relações sociais se distanciaram ou estreitaram em demasiado, causando um choque.

De acordo com o Data SUS de novembro de 2020, a ansiedade está presente em 86,5% dos quase 18 mil indivíduos ouvidos pelo Ministério da Saúde. Isso se dá porque as pessoas passam a conviver com o clima de morte, que é o causador principal da instabilidade emocional e, consequentemente, das doenças psicológicas mais severas. Os pensamentos negativos podem tornar a vida automática, sempre à espera do pior, e acionar gatilhos que serão os agentes desses sintomas.

Para contornar esses sentimentos, Felipe explicou que o caminho é interno, do autoconhecimento, porque “pensar positivo é um trabalho interior” e é uma forma de autocuidado. Nesse caso, o pensamento servirá de semente, pro-

duzindo experiências e influenciando ações. “Ser o protagonista da sua vida é ser o agente transformador”, finalizou.

O poder do hábito

No último dia de palestras, o psicólogo Maximiano Ulmacher falou sobre o poder do hábito, e como ele pode influenciar no dia a dia do teletrabalho. O palestrante iniciou a roda de conversa afirmando que, atualmente, se vive em um regime de desvio de atenção, causado pelos diversos estímulos que as pessoas estão expostas.

Como consequência dessa falta de atenção, os indivíduos passam a ter dificuldade com a criação de hábitos saudáveis. Ele refletiu: “como dividir atenção com vários estímulos e criar um hábito benéfico para nós mesmos?”, explicando que essa pode ser a causa principal das crises de ansiedade, que começam no campo psicológico e podem passar para o físico.

Maximiano afirmou que, para que seja possível criar o hábito, é necessário criar um gatilho. Assim, é possível concretizar uma ação e, após isso, uma compensação. Quando há necessidade de mudar o hábito, esse estímulo precisa também de mudança. Segundo o psicólogo, todo melhor gatilho está ligado ao que é racional e real, ao que existe e não o que é imaginativo.

Durante o teletrabalho, o desafio enfrentado pelas empresas é motivar seus colaboradores à distância. Com a mudança da forma de trabalho, as pessoas estão trabalhando mais horas do que quando presencial, por receberem mais estímulos dentro de casa. “É possível criar uma rotina trabalhando de casa. Não melhor ou pior, apenas diferente”, explicou.

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