´ Diplomatica
Nº16 OUTUBRO 2013 €7 (Cont.)
BUSINESS & DIPLOMACY
David Cameron O poder da tradição DIPLOMÁTICA 16 • OUTUBRO 2013
DOSSIER BUSINESS Entrevistas:
Pedro Reis
Presidente da AICEP Presidentes CÂMARAS COMÉRCIO: Gregor Zemp - Suíça António Comprido - Reino Unido Henrique Santos - Espanha Marcela Caetano - Uruguai
DESTAQUE Gill Gallard Embaixadora do Reino Unido Entrevista
África + MOÇAMBIQUE
With English Texts
Na hora do grande salto
2 • DIPLOMÁTICA - MÊS/MÊS 2012
MÊS/MÊS 2012 - DIPLOMÁTICA • 2
Assuntos Summary
David Cameron - Primeiro-Ministro do Reino Unido David Cameron - Prime Minister of the United Kingdom
5
Entrevista a Jill Gallard - Embaixadora do Reino Unido Interview with Jill Gallard – Ambassator of the United Kingdom
10
Dossier - Business & Diplomacy – Entrevistas: Dossier - Business & Diplomacy – Interviews:
15
Pedro Reis - Presidente da AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo Pedro Reis – Chairman of AICEP - Agency for Investment and Foreign Trade
16
António Patrício Comprido - Presidente da Câmara de Comércio Luso Britânica António Patrício Comprido - President of the British-Portuguese Chamber of Commerce
20
Enrique Santos - Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola Enrique Santos - President of the Spanish-Portuguese Chamber of Commerce
26
Marcela Caetano Popoff - Presidente da Câmara do Comércio e Indústria Luso Uruguaia Marcela Caetano Popoff - Uruguayan-Portuguese Chamber of Commerce
30
Gregor Zemp - Secretário-Geral da Câmara do Comércio e Indústria Suíça em Portugal Gregor Zemp - Secretary-General of Swiss-Portuguese Chamber of Commerce
36
Garland - um exemplo com bem mais de dois séculos Garland - an example with well over two centuries
44
Cavaco Silva a favor das relações económicas e culturais entre Portugal e Colômbia Cavaco Silva in favor of economic and cultural relations between Portugal and Colombia
48
Presidente da República em visita oficial de Estado ao Peru The president of the Portuguese Republic paid a State visit to Peru
50
Visita oficial do Presidente da Turquia, Abdullah Gül a Portugal The President of Turkey Mr. Abdullah Gül paid a State visit to Portugal
52
Ricardo Martinelli, presidente do Panamá em Portugal The President of Panama Mr. Ricardo Martinelli paid a State visit to Portugal
54
Presidente da República recebe Aga Khan The president of the Portuguese Republic hosts Aga Khan
55
Renato Varialle, Embaixador de Itália - Os desafios da Itália Renato Varialle, Ambassador of Italy - The Challenges of Italy
56
Pascal Teixeira da Silva, Embaixador de França em Portugal - Por ocasião da Festa Nacional Pascal Teixeira da Silva, Ambassador of France in Portugal - On the occasion of National Day
58
Allan Katz, Embaixador dos Estados Unidos da América Allan Katz, Ambassador of the United States of America
60
O prémio nobel da economia apela à razão - A crise em Portugal e as políticas monetárias europeias The Nobel Memorial Prize laureate in Economics appeals to reason - The crisis in Portugal and the European monetary
62
Os novos Reis dos Belgas - A coroa que une um país de dois povos The new King and Queen of the Belgians - A crown that unites a country of two peoples
64
Suas Altezas Reais os Reis dos Países Baixos Their Royal Highnesses the King and Queen of the Netherlands
66
A Última Rainha de Portugal - Entrevista com o Dr. José Alberto Ribeiro sobre o seu livro «Rainha D. Amélia» The Last Queen of Portugal - Interview with José Alberto Ribeiro about his book “Queen Amelia”
68
Moçambique na hora do grande salto - Da pujante Mussa Mbiki ao promissor país do futuro Mozambique in time for the big leap - From thriving Mussa Mbiki the promising future of the country
75
Visita da delegação da UCCLA a Luanda UCCLA delegation oficial visit to Luanda
80
Embaixador dos EUA em Portugal, Allan J. Katz assinala o Dia da Independência dos EUA U.S. Ambassador to Portugal Allan J. Katz marks the Independence Day of USA
81
Mala Diplomática. Dia Nacional da Noruega Diplomatic pouch. Norway National Day.
82
Mala Diplomática. Dia Nacional da Geórgia Diplomatic pouch. Georgia National Day.
84
Mala Diplomática. Dia Nacional do Reino Unido - Comemoração do Aniversário Oficial da Rainha Isabel II Diplomatic Pouch. UK National Day - Official Celebration of the Birthday of Queen Elizabeth II
86
Palavras do Embaixador do Luxemburgo no Dia da Festa Nacional celebrando oficialmente o aniversário do soberano Sua Alteza Real o Grão-Duque Words of the Ambassador of Luxembourg on the Day of National Party officially celebrating the birthday of the Sovereign His Royal Highness the Grand Duke
88
Livro. «Porque falham as nações?» - por Daron Acemoglu e James Robinson, Editora Bertrand Book. “Why nations fail?” - By Daron Acemoglu and James Robinson, Bertrand Publisher II Conferência sobre o futuro da língua portuguesa no sistema mundial II Conference on the future of the Portuguese language in the world system
92 94 97
Traduções Translations DIRECTOR: Maria de Bragança PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Rua de São Bernardo, nº27 A – Lisboa. MARKETING & PUBLICIDADE: Gabinete 1 - e-mail:gabinete1@gabinete1.pt Tel.: 21 099 96 74 Fax: 21 096 49 72 IMPRESSÃO: Gabinete 1 DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395
4 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
LIDERES
David Cameron Primeiro-Ministro do Reino Unido
David William Donald Cameron é o primeiro-ministro do Reino Unido, Primeiro Lorde do Tesouro, Ministro da Função Pública e líder do Partido Conservador. Representa igualmente Witney como membro do Parlamento (MP). É um líder conservador com profundas raízes na burguesia mercantil escocesa e na aristocracia inglesa. Jovem e de ideias moderadas, este é o homem que tem nas suas mãos o futuro do Reino Unido. ➤
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 5
David Cameron
David Cameron e sua Mulher, Samantha Gwendoline Sheffield
Cameron, o homem
um oficial do Exército que serviu como Alto Comissário de
As origens
Berkshire e o bisavô materno de Cameron era Sir William
David Cameron, nascido a 9 de Outubro de 1966, é o
Monte, Primeiro Baronet e MP conservador para Newbury
filho mais novo do corretor Ian Donald Cameron e de
entre 1918-1922.
Mary Fleur. O seu pai nasceu em Blairmore House, um solar perto de Huntly , Aberdeenshire, construído pelo seu
A educação
bisavô Alexander Geddes que tinha feito fortuna com o
Cameron tem um percurso académico de excelência,
comércio de grãos em Chicago.
tanto a nível das escolas frequentadas como pelas suas
Ian e Mary casam-se a 20 de Outubro de 1962 e Came-
classificações.
ron nasce 4 anos depois, em Londres. A sua infância é
A sua primeira educação faz-se em dois dos mais pres-
passada em Peasemore, Berkshire. O casal teve mais
tigiados colégios privados ingleses: entra aos sete anos
filhos contando David com 3 irmãos: Allan Alexander e
no colégio Heatherdown e aos treze no Eton College, tal
duas irmãs, Tania Rachel e Clare Louise.
como haviam feito o seu pai e o irmão mais velho. Nesta
Da parte da sua avó paterna, Enid Agnes Maud Levita,
altura era sua ambição seguir estudos artísticos.
Cameron é um descendente directo do rei William IV. É,
Depois de deixar Eton, em 1984, Cameron começou um
contudo, uma linhagem ilegítima que consiste em cinco
ano sabático de nove meses. Trabalhou como pesqui-
gerações de mulheres começando com Elizabeth Hay,
sador para Tim Rathbone, deputado conservador para
condessa de Erroll, até à avó de Cameron (tornando-o
Lewes e seu padrinho. Durante esses três meses de
quinto primo da rainha Elizabeth II). Os seus antepassa-
estágio participa regularmente em debates na Câmara
dos paternos vêm de uma linhagem da Alta Finança. O
dos Comuns. Seguidamente parte para Hong Kong onde
pai Ian era sócio sénior da Stockbrokers Panmure Gordon
aceita um cargo administrativo no Holding Jardine Mathe-
e foi director da agência imobiliária John D. Wood. O seu
son.
tetravô Emile Levita, um financeiro judeu alemão, foi o
Regressa a Inglaterra e começa os seus estudos em Filo-
director do Chartered Bank of Índia, Austrália e China.
sofia , Política e Economia ( PPE ) no Brasenose College,
O avô materno era Sir William Monte, segundo Baronet,
Oxford. O seu tutor, Vernon Bogdanor , descreveu-o como ➤
6 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
"
CAMERON
ANUNCIA QUE PRETENDE «COLOCAR DE LADO AS DIFERENÇAS PARTIDÁRIAS E TRABALHAR DURO PARA O BEM COMUM E PARA O INTERESSE NACIONAL». UMA DAS SUAS PRIMEIRAS MEDIDAS FOI A NOMEAÇÃO DE NICK CLEGG, O LÍDER DOS LIBERAIS DEMOCRATAS, COMO VICE-PRIMEIRO-MINISTRO
"
➤
«um dos mais hábeis» alunos que ensinou, com pontos
Cameron, o político
de vista políticos «conservadores moderados e sensa-
Cameron trabalhou no Departamento de Pesquisa do
tos». Forma-se, cum laude, em 1988.
Partido Conservador ao sair de Oxford, tornando-se assessor do ex-primeiro-ministro conservador John Major.
A família
Durante sete anos, foi chefe de relações públicas da
Samantha Gwendoline Sheffield, filha de Sir Reginald
emissora comercial Carlton, elegendo-se em 2001 para
Sheffield Adrian Berkeley, Oitavo Baronet e Annabel
o assento dos conservadores, por Witney, na Casa dos
Lucy Veronica Jones ( agora Viscondessa Astor ), era
Comuns.
uma amiga de faculdade da irmã de Cameron . Depois
Com uma boa imagem pública, este seria um candidato
de se formar na Bristol School of Creative Arts, Clare
moderado jovem que iria apelar aos eleitores jovens.
convidou Samantha para passar férias com a família
Não foi, por tal, surpresa quando ganha a eleição para a
Cameron na Toscana, na Itália, onde o romance do
liderança conservadora, em 2005. A relativa juventude e
casal começou. Casam-se a 1 de Junho de 1996, na
inexperiência de Cameron, antes de se tornar líder, convi-
Igreja de Santo Agostinho de Cantuária , East Hendred,
daram a uma comparação satírica com Tony Blair.
Oxfordshire, cinco anos antes de se tornar primeiro-
Procurou pôr fim à resistência dos conservadores em
-ministro.
relação à integração total do Reino Unido na União Eu-
O casal Cameron teve quatro filhos. O seu primeiro filho,
ropeia e tentou reposicionar os conservadores como um
Ivan Reginald Ian nasce com uma rara combinação de
partido que se importava com o meio ambiente e com o
paralisia cerebral e uma forma de epilepsia grave chama-
sistema de saúde público britânico. Na medida do pos-
da síndrome Ohtahara falecendo com apenas seis anos.
sível, trouxe mais candidatas e representantes de mino-
Têm duas filhas, Nancy Gwen e Florence Rose Endellion,
rias étnicas. Quis renovar o partido, retirando as velhas
e um filho, Arthur Elwen.
lideranças. Conseguiu, também, capitalizar os últimos
A sua fortuna está estimada em cerca de 3 milhões libras,
escândalos sobre os gastos de deputados que sacudiu o
embora este valor exclua os legados milhões que Came-
governo trabalhista de Gordon Brown, criando a imagem
ron é esperado herdar de ambos os lados de sua família.
de alguém comprometido com a moralidade na política.
➤
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 7
David Cameron
O primeiro-ministro A 11 de Maio de 2010, Gordon Brown renuncia o cargo de primeiro-ministro e recomenda Cameron. A recomendação é aceite e a rainha Elizabeth II convida-o para formar governo. Aos 43 anos, Cameron tornou-se no mais jovem primeiro-ministro britânico desde Lord Liverpool, nomeado em 1812. No seu primeiro discurso anunciou a sua intenção de formar um governo de coligação, o primeiro desde a Segunda Guerra Mundial, com os liberais democratas. Logo no início, Cameron anuncia que pretende «colocar de lado as diferenças partidárias e trabalhar duro para o
Com a Rainha de Inglaterra
bem comum e para o interesse nacional». Uma das suas primeiras medidas foi a nomeação de Nick Clegg, o líder dos Liberais Democratas, como vice-primeiro-ministro. Entre conservadores e liberais democratas tinham 363 assentos na Câmara dos Comuns, com uma maioria de 76 assentos. Optou por uma posição moderna do «Compassionate conservativism». Esta é uma posição política que defende o uso dos meios e métodos conservadores para a melhoria do bem-estar social. A sua política é, sobretudo, de concórdia procurando encontrar soluções mesmo que para tal, tenha que aceitar as propostas da oposição. É um assumido admirador das políticas de Tatcher, mas tem-se mostrado moderado e defensor de soluções que
Com a Barack Obama, Presidente dos E.U.A.
se afastam das da Dama de Ferro. Procurou concentrar-se em questões como o ambiente, o equilíbrio da vida profissional e o desenvolvimento internacional: questões que não se viam como prioridades para o Partido Conservador pós-Thatcher. Em um discurso na conferência anual do partido Conservador, em Outubro de 2006, identificou o conceito de "responsabilidade social" como a essência de sua filosofia política. Quanto à sua política económica parece optar por uma situação de compromisso. Afirmou ser essencial a redução de impostos sobre o rendimento e a criação de riqueza afim de aumentar a competitividade da economia, mas que essa redução teria que ser feita de
Com a Dilma Rousseff, Presidente do Brasil
acordo com o crescimento da própria eonomia. Referiu-se a essa abordagem como "a partilha das receitas do crescimento". Em relação à política externa, Cameron acredita na intervenção humanitária em casos extremos como no genocídio de Darfur, no Sudão. Apoia o multiculturalismo, as uniões de acção conjunta com outras instituições - NATO, ONU, G8, União Europeia, etc – não tendo o Reino Unido que agir sempre isoladamente. É um grande defensor de uma nova abordagem na forma de fazer diplomacia colocando a tónica na economia e nas transacções comerciais.
A passar férias no Algarve em 2013
n
8 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
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DIPLOMACIA NA 1ª PESSOA
Jill Gallard Embaixadora do Reino Unido,
por Maria Bragança, fotos Nuno de Sousa
Com um forte currículo em política internacional, Jill Gallard foi nomeada Embaixadora de Sua Majestade Britânica em Portugal, assumindo o cargo em Julho de 2011. Dedicando cerca de um terço das suas actividades a questões de diplomacia comercial, está feliz por continuar na Europa onde tem feito uma brilhante carreira.
➤
10 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
Comecemos pelo seu percur-
das pela maior parte do Mundo.
Sou uma mulher casada e tenho
so profissional. Como chegou
No ano passado abrimos novas
dois filhos pequenos, de 3 e 5
à diplomacia e como foi o seu
embaixadas em locais diversos
anos respectivamente. Ambos
percurso?
como Madagáscar ou El Salva-
já estão a aprender um pouco
Comecei por trabalhar no Mi-
dor. Mesmo tendo em conta o
a vossa língua e já conseguem
nistério Britânico dos Negócios
nosso programa de austerida-
cantar os Parabéns em portu-
Estrangeiros (Foreign Office -
de estamos a lutar para fazer
guês fluente!
FCO), há quase 20 anos atrás;
uma gestão dos nossos recur-
O Reino Unido é o nosso 4º
e passei grande parte da minha
sos de forma a podermos estar
maior cliente e mantém-se
carreira ligada a assuntos eu-
presentes junto dos mercados
como o 6º fornecedor, tendo o
ropeus. A minha primeira co-
emergentes. Por exemplo, esta-
volume global das trocas atin-
locação no estrangeiro foi em
mos a aumentar o nosso corpo
gido valores superiores a 3 mil
Bruxelas na comissão de ser-
diplomático no Brasil e na China
milhões de libras por ano. De
viço relativa à política regional.
e acabámos de abrir uma nova
forma geral, o comércio bilate-
Seguidamente, nos finais dos
embaixada na Somália. Estamos
ral caracteriza-se por ser mui-
anos ‘90, trabalhei na Embaixa-
muito focados numa visão que
to equilibrado no sector dos
da Britânica em Madrid, durante
tenha em conta o futuro e em
bens. Tendo em conta a actual
5 anos. Retorno ao Reino Uni-
concentrarmo-nos nos países
situação de crise económica e
do onde trabalho durante mais
onde pensamos virá a ser impor-
financeira, pensa haver formas
➤
5 anos: primeiramente como chefe de divisão sobre a Turquia e depois na área de gestão de crises e de política externa e de segurança comum. Isto acontece na altura em que se negociava o tratado de Lisboa sendo dos anos mais fascinantes na minha
de aumentar este volume de
"
CERCA DE UM TERÇO DAS MINHAS ACTIVIDADES PRENDEM-SE COM QUESTÕES DA DIPLOMACIA COMERCIAL
carreira. Em 2004, sou enviada para
"
negócios? E, se sim, estão a ser tomadas medidas nesse sentido? Primeiramente devo dizer que os embaixadores britânicos sempre tiveram responsabilidades na área comercial e económica. Mas há três anos, quando David Cameron tomou poder, essa
Praga como Chefe das secções
tante ter um impacto.
políticas na altura em que a Re-
Depois do meu trabalho no De-
claramente que todos os em-
pública Checa adere à UE. Foi
partamento de Recursos Huma-
baixadores britânicos deveriam
um momento muito interessante
nos candidatei-me a este posto
dedicar mais do seu tempo a
para a Europa Central.
em Portugal.
todos os assuntos destas áreas
Retorno a Inglaterra, em 2007,
Como e porquê a escolha do
e como que cunhou a expressão
para tomar o cargo de chefe de
nosso país para Embaixadora?
«diplomacia comercial». É um
Gabinete do Secretariado Geral
Devo dizer que foi o mais po-
aspecto bastante claro da sua
num momento muito especial em
pular lugar para a candidatura
política e houve uma responsa-
que se dá a transição do Gover-
a embaixador no ano em que
bilização dos embaixadores pelo
no de Tony Blair para o de Gor-
concorri. Houve muitos concor-
garante do aumento e manuten-
don Brown. Depois sou colocada
rentes, inclusive diplomatas que
ção do comércio internacional.
no Departamento de recursos
queriam vir para Portugal.
Enquanto embaixadora, é uma
humanos tendo responsabilida-
É a minha primeira colocação
parte muito importante do meu
des a nível global das nossas
como Embaixadora e estou
trabalho e posso dizer que cerca
embaixadas em todo o Mundo.
muito satisfeita por continuar na
de um terço das minhas activida-
Em que países têm embaixa-
Europa que é onde fiz a minha
des prendem-se com questões
das?
carreira.
da diplomacia comercial.
Temos 140 Embaixadas - ao
Quanto à sua vida fora do
Gostaria de chamar a atenção
todo cerca de 270 missões diplo-
trabalho. Quer-nos falar um
para as duas principais vertentes
máticas e consulares espalha-
pouco?
desta área: a primeira é o nosso
tendência acentuou-se. Ele disse
➤
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 11
Jill Gallard
comércio bilateral: pretende-
mos na Europa a procura está a
cos, houve um momento muito
mos não só atrair investimento
descer, estes mercados ganham
bonito quando surgiram várias
português no Reino Unido como
relevância. Nós pretendemos
enfermeiras com uniformes dos
criar condições de criação de
propor às empresas e aos cida-
anos ‘50 e camas de hospital. Na
empresas inglesas em território
dãos britânicos olharem Portugal
altura as pessoas ficaram sur-
português. Não se trata apenas
como uma plataforma para os
preendidas por não verem uma
de comércio mas também de
países de expressão portuguesa.
imediata relação com os jogos
reforma económica. Todos nós,
Por exemplo, organizámos um
olímpicos. Mas foi, de facto, um
na Europa, sabemos que preci-
seminário em Lisboa, em Maio,
marco e uma prova da capacida-
samos de crescer, tornarmo-nos
com o Ministro da Economia
de de recuperação dos britânicos
mais competitivos e ter menos
Álvaro Santos Pereira e o Lord
após a II grande Guerra Mundial.
burocracia. Este trabalho terá
Green, Ministro Britânico do Co-
Mas, tal como está a acontecer
que ser feito dentro do contexto
mércio. Tivemos 150 empresas
com todo os sistemas públicos,
da UE.
britânicas que vieram cá para
as exigências de eficiência têm
E que tipo de comércio é man-
falar com empresas portuguesas
vindo a crescer tendo em conta
tido entre Portugal e o Reino
e encontrar formas de, junto com
que os recursos estão mais es-
Unido?
empresas portuguesas, introdu-
cassos. Nós, tal como Portugal,
Pese embora a crise económica
zirem-se em Angola ou Moçam-
tivemos que cortar no nosso de-
- e relembro que também esta-
bique. São sobretudo as PMEs
ficit; e, por consequência, houve
mos com um plano de austerida-
que não sabem exactamente
alguns cortes. Temos agora que
de no nosso país - as relações
como chegar a estes mercados
fazer mais por menos e de forma
comerciais estão a manter-se
e que precisam da nossa ajuda
muito bem. No ano passado tive-
para estabelecerem os primeiros
mos 3 mil milhões de libras em
contactos.
comércio bilateral com o vosso
O que pensa sobre o papel da
país. O que mostra que Portugal
AICEP (Agência para o Investi-
é um mercado importante para
mento e Comércio Externo de
o Reino Unido. Existem ainda
Portugal)?
novas empresas portuguesas a
Temos uma muito boa relação
investir no Reino Unido. A nossa
com a AICEP. A equipa da bri-
equipa já ajudou várias empre-
tânica de investimento e comér-
mais eficiente. Mas penso que
sas portuguesas a inserirem-se
cio externo, a UKTI, trabalha
o princípio de um sistema de
ou a expandirem-se dentro do
de forma bastante próxima com
saúde universal é um princípio
Reino Unido.
a AICEP em todos os nossos
democrático fundamental.
Um dos exemplos é a Tech City,
eventos comerciais. A AICEP
Para além das que já falamos,
a nossa versão do Silicon Valley
foca-se bastante no conceito
quais são as outras priorida-
americano que queremos que
de Diplomacia Comercial, o que
des da vossa embaixada?
seja um aglomerado de empre-
é importante. Os modelos de
Temos um grande papel de
sas na área do digital. É um
trabalho são, progressivamente,
consulado para o cidadão inglês
local muito interessante, numa
mais semelhantes.
que reside cá e para os cerca de
parte de Londres que agora foi
Temos uma profunda admi-
2 milhões de visitantes anuais.
renovada. Só no ano passado,
ração pelo sistema de saúde
E os números estão a subir. É
cinco empresas portuguesas de
inglês (NHS), quais são os
um grande investimento para
tecnologias de informação mar-
pontos mais consideráveis da
o turismo Português e um voto
caram presença na Tech City.
excelência deste serviço?
de confiança no vosso país. A
O que mostra como as relações
No Reino Unido temos, igual-
equipa do consulado está sem-
bilaterais estão em boa forma.
mente um grande orgulho no
pre disponível para os turistas
Um outro aspecto positivo de
nosso sistema de saúde. No
britânicos que necessitem de
Portugal será a sua boa relação
ano passado, na cerimónia de
ajuda ou assistência.
com os PALOP. Como sabe-
inauguração dos Jogos Olímpi-
Uma outra vertente será a
➤
12 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
"
TEMOS AGORA QUE FAZER MAIS POR MENOS E DE FORMA MAIS EFICIENTE.
"
➤
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 13
Jill Gallard
política externa. Em muitos
britânicas. Por exemplo organi-
Euro não vai ao encontro dos
casos temos uma política exter-
zámos umas sessões para os re-
interesses nacionais. Tivemos
na concomitante com a portu-
sidentes britânicos com juristas
essa posição muito antes da
guesa. Principalmente devido à
de forma a esclarecer dúvidas
crise do euro e o actual primeiro
presença de Portugal no Conse-
sobre questões de propriedade,
ministro reafirmou esta posição.
lho de Segurança das Nações
impostos, etc. Temos igualmen-
Mas quanto à questão da crise
Unidas nos últimos dois anos
te organizações lideradas por
do euro devo dizer que é igual-
(2011-2012), trabalhámos de
cidadãos britânicos para ajudar
mente bastante claro que é do
forma mais próxima nas grandes
os cidadãos portugueses. Dou-
nosso interesse que se resolva.
questões da política externa, tais
-lhe o caso de uma organização
Estamos a encorajar os parcei-
como a crise do médio oriente.
que já tem dois anos e actua
ros europeus a seguirem com
É curioso notar uma similitude
no Algarve que se chama “Safe
medidas de encontro a uma
entre Portugal e o Reino Unido:
Communities” e funciona como
união bancária e a tomarem as
nós temos a Commonwealth e
um serviço de vigilância entre
medidas necessárias de forma
Portugal tem a CPLP. O que faz
vizinhos das zonas circundantes,
a projectar o Euro para fora da
que Portugal tenha uma maior
com o apoio da policia judiciária,
crise.
influência em certas situações
de forma a reportarem roubos,
A questão do Euro e da própria
assaltos ou comportamentos
União Europeia tem polarizado
suspeitos.
as opiniões com países a querer
Existem também associações
entrar e outros a ameaçar sair.
na área da saúde. «Madragoa»
David Cameron disse há pouco
é uma delas. Actua na zona do
tempo que uma relação à UE,
Algarve e ajuda pessoas com
semelhante à que tem a Norue-
doenças terminais proporcionan-
ga, não é do interesse do Reino
➤
"
TEMOS ORGANIZAÇÕES
LIDERADAS POR CIDADÃOS BRITÂNICOS PARA AJUDAR OS CIDADÃOS PORTUGUESES
"
do um refúgio para passarem os
Unido. Se um país não está na
seus últimos dias junto com os
UE perderá a sua voz aquando
seus mais próximos. A associa-
das negociações de directrizes
ção é mantida maioritariamente
ou de reformas. Assim torna-
por cidadãos britânicos que se fi-
-se claro que é do interesse do
- como a da Guiné Bissau ou
nancia por angariação de fundos
Reino Unido manter-se na UE;
Brasil, por exemplo - onde nós
mas está aberta aos cidadãos
contudo é igualmente necessário
não temos.
portugueses.
que a UE faça reformas estrutu-
Que peso tem a comunidade
Temos ainda acções espontâ-
rais que nos tornem mais com-
inglesa em Portugal? Estamos
neas: um grupo de cidadãos
petitivos de forma a fazermos
a falar de uma pequena comu-
britânicos e irlandeses organizou
frente à crise que é global.
nidade ou de um largo núme-
uma angariação de fundos que
Para terminar, o que diria a al-
ro?
gerou um total de 50.000 euros
guém que está agora a iniciar
Não sabemos o número exacto
para ajudar o Refúgio Aboim
a carreira diplomática?
de cidadãos britânicos a resi-
Assunção, em Faro, para o apoio
É uma profissão maravilho-
direm em Portugal, uma vez
a crianças.
sa onde em cada 2 ou 3 anos
que estes não necessitam de
Mas para além do Algarve temos
se muda de país e de área de
se registar junto à embaixada.
ainda várias outras associações
actuação profissional. Se é al-
Estimamos um número na ordem
deste tipo pelo país.
guém que gosta de falar com as
dos 60.000. É um número signi-
Quanto à questão da moeda, o
pessoas, de comunicar e estar
ficativo e que contribui para as
que nos diz da dicotomia Euro-
no centro dos acontecimen-
comunidades locais. Em Porti-
-Libra?
tos actuais é a profissão ideal.
mão temos um vice consulado
O Governo Britânico sempre teve
Penso que o facto da diplomacia
que implementou um programa
uma posição muito clara quanto
comercial estar cada vez a ter
a que chamamos Out-reach que
à questão da moeda nacional:
mais peso torna-a ainda mais
tenta chegar às comunidades
pensamos que a adopção do
interessante.
14 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
n
Dossier Business & Diplomacy
«A simbólica roda da fortuna gira e o destino das nações muda. Portugal, que outrora esteve no topo, vê-se hoje lutando para, mais uma vez, dar a volta.» Fomos ouvir quem poderá ajudar, junto dos prestigiados Quadros de Business & Diplomacy Entrevistámos Pedro Reis, presidente da AICEP (Portugal)¸ António Comprido (Inglaterra), Henrique Santos (Espanha), Gregor Zemp (Suiça) e Marcela Caetano Popoff (Uruguai).
➤
entrevistas de Maria da Luz de Bragança
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 15
Dossier Business & Diplomacy
Pedro Reis Presidente da AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo
Pedro Reis é, desde Dezembro de 2011, o presidente da AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo , assegura a Secretaria do Conselho Estratégico de Internacionalização da Economia-CEIE, integrando ainda o Conselho Nacional para o Empreendedorismo e a Inovação. Vogal do Conselho de Administração do Instituto Francisco Sá Carneiro e preside também ao Júri do Prémio “Mais Diplomacia Económica”. Licenciado em Gestão e Administração de Empresas pela Universidade Católica e formações na Harvard Business School-EUA e no Insead –França, entre outras formações e especializações em gestão. Vários prémios têm enobrecido a sua carreira entre eles o ”Prémio Gestores do Amanhã”, o “Best Leader Awards”, assim como em 2013 a distinção de “Personalidade do Ano”, atribuído pela Interfranchising em colaboração com a Associação Nacional de Franchising. De destacar também o livro “Voltar a Crescer” publicado em Março de 2011 que traça um diagnóstico da economia portuguesa com base num estudo feito junto de 55 empresários e gestores portugueses.
16 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
➤
A AICEP é actualmente uma
bens e os serviços portugueses, apoio
De que modo este modelo é mais
instituição de referência e grande
à captação de investimento estrangei-
vantajoso para as empresas e para
importância na expansão e interna-
ro e de promoção de Portugal enquan-
o país?
cionalização das empresas portu-
to destino turístico, e ainda a avaliação
Para além dos benefícios decorrentes
guesas. Pode falar-nos do papel
do risco político dos negócios. O
de uma maior coordenação e coope-
diplomático da Agência?
objectivo é gerar e explorar oportuni-
ração entre os actores da promoção
A diplomacia económica, enquanto
dades de negócio para as empresas
económica de Portugal no mundo,
instrumento de execução de par-
e para a economia nacional, através
estima-se que este novo modelo per-
te relevante da política externa de
da sua internacionalização, do aumen-
mitirá atingir uma poupança significa-
Portugal, contribui ativamente para
to das exportações, da atracção de
tiva através da adopção de melhores
um clima de negócios mais favorável
mais e melhor turismo e da captação
práticas internas, da co-localização
e motivador para as empresas portu-
de investimento directo estrangeiro
de instalações e da concentração de
guesas, permitindo-lhes abrir novos
de qualidade. Este é um trabalho
meios. A AICEP ganha uma nova
mercados e novas frentes de negócio,
desempenhado de forma próxima e
dinâmica com esta articulação, pois
e para empresas estrangeiras inves-
colaborativa com os representantes
no âmbito da rede diplomática passa
tirem em Portugal. Este modelo de
da AICEP nos mercados que, por sua
a estar, não em 40 mercados, mas em
actuação permite que a diplomacia e
vez, passaram a ser, formalmente e
cerca de 80, abrangendo todos os paí-
a economia se potenciem mutuamen-
na sua maioria, nomeados como Con-
ses em que existem representações
➤
diplomáticas e consulares. Beneficia
te no sentido da internacionalização das empresas portuguesas, de mais e melhores exportações nacionais e da promoção global das suas marcas, bem como da imagem de Portugal e da excelência do país como destino turístico no sentido da captação de investimento. A integração das representações da AICEP e do Turismo, no
"
PORTUGAL CONSEGUIU RECENTEMENTE VITÓRIAS SIGNIFICATIVAS NA EXPORTAÇÃO DE PRODUTOS PORTUGUESES
"
estrangeiro, na rede diplomática, com
ainda do facto de muitos embaixadores estarem acreditados em mais do que um país. O que é que muda e que parcerias co-existem neste novo modelo de diplomacia económica? O que muda fundamentalmente para melhor é a estratégia de reforço, consolidação e agilização da articulação
a inclusão dos conselheiros comer-
selheiros Económicos e Comerciais
que sempre existiu e existe no terreno
ciais nas embaixadas e consulados,
das Embaixadas de Portugal. Adicio-
entre a rede externa da Agência e as
é um dos pontos fortes deste modelo,
nalmente, é importante referir que as
Embaixadas. Além do mais, o modelo
que propõe a colaboração e o empe-
representações de Portugal no estran-
institucional de promoção externa de
nhamento dos diplomatas na promo-
geiro elaboram actualmente planos
natureza pública está a ser comple-
ção externa da economia portuguesa,
de negócios anuais, onde identificam
mentado e integrado numa óptica de
o que permite desde logo um subs-
as principais acções a desenvolver,
promoção mista, envolvendo vários
tancial alargamento da rede de apoio
como sejam mostras de marcas e
parceiros sociais, entidades empresa-
aos investimentos portugueses, com a
produtos portugueses, realização de
riais representativas e a dinamização
consequente racionalização de custos.
seminários, reuniões sectoriais, etc.
de câmaras de comércio no exterior.
O papel dos Embaixadores era até
Estes planos concorrem, também,
Portugal tem de estar onde estão os
há alguns anos eminentemente
para a avaliação do trabalho desem-
portugueses e as suas empresas,
político. Qual é a actual importância
penhado. Ainda no seminário diplo-
os seus negócios e as suas marcas,
da função económica dos nossos
mático deste ano foi lançado o Prémio
enfim, os seus interesses e oportu-
diplomatas?
“+ Diplomacia Económica” que visa
nidades em matéria de mercados,
No âmbito da diplomacia de negócios,
justamente reconhecer as represen-
exportação e internacionalização.
a AICEP manterá a gestão operacio-
tações diplomáticas e consulares que
Como definiria, em síntese, a fun-
nal desta rede externa em articulação
se tenham distinguido no cumprimento
ção e os objectivos da AICEP?
com os embaixadores. Neste modelo
desses objectivos, que se centram
O core business da AICEP consiste
de diplomacia económica são atribuí-
essencialmente na dinamização das
na promoção das exportações, na
das ao embaixador, entre outras, as
exportações, da internacionalização
captação e acompanhamento de
funções de coordenação do apoio às
de empresas nacionais e na agenda
projectos de investimento e na inter-
empresas portuguesas, promoção dos
da captação de investimento.
nacionalização da economia
➤
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 17
Pedro Reis
portuguesa. Prestamos informa-
do mercado europeu, o que agora
já existentes: Azerbaijão, Botswana e
ções qualificadas sobre sectores
nos obriga ao reforço da estratégia de
Namíbia e Panamá são mercados que
de actividade, sobre mercados,
diversificação de mercados. A par dos
passámos a acompanhar respectiva-
sobre oportunidades de negócios e
mercados consolidados, há que definir
mente a partir da Turquia, da África do
oferecemos às empresas formação
um mapa de novas oportunidades de
Sul e da Venezuela. Alguns mercados
e capacitação tendo em vista a sua
negócio para as empresas. É o que
que, por se encontrarem em fase de
mais adequada preparação para
estamos a fazer.
forte crescimento, são particularmente
abordarem os mercados interna-
Os mercados emergente da Ásia,
atractivos em matéria de negócios e
cionais. Por acção da diplomacia
África e América Latina são merca-
aí podemos referir o Brasil, a China,
económica, liderada pelo Ministério
dos-alvo em que se deve fazer uma
Angola, Moçambique, Marrocos, Argé-
dos Negócios Estrangeiros e apoia-
forte aposta?
lia ou a Tunísia. A América Latina no
da pela rede externa da AICEP,
A diversificação tem que centrar-se
seu conjunto e alguns países da costa
Portugal conseguiu recentemente
na procura de mercados pujantes
ocidental de África podem também
vitórias significativas na exportação
e em que se verifiquem taxas de
vir a tornar-se interessantes para as
de produtos portugueses. A nossa
crescimento elevadas. Nesta medida,
nossas exportadoras.
balança comercial precisa que o
a Agência quer apoiar, com todos os
Por onde passam as principais
país exporte mais e importe menos,
meios ao seu alcance, os empreende-
estratégias, com vista a garantir o
produzindo internamente. O com-
dores e as empresas que se lançam
desenvolvimento internacional das
promisso da AICEP, nesta matéria,
na descoberta de novos mercados. A
empresas portuguesas?
é o de uma empenhada missão no
nossa experiência e o conhecimento
No contexto dos actuais desafios, a
apoio às exportações e à internacio-
que temos deles, são claramente
nível nacional e internacional, Por-
nalização da economia portuguesa.
um valor acrescentado ao serviço da
Angola e os EUA eram até há pou-
exportação e da internacionalização
co mercados fortes para os bens e
das nossas empresas, e tornam-se
serviços das empresas portugue-
essenciais sobretudo para as apostas
sas e são claramente emblemáticos
das pequenas e médias empresas,
nas relações bilaterais de Portugal.
com menores recursos e dimensão.
Além destes, quais são os merca-
Em matéria de diversificação dos
dos de aposta na nova estratégia
mercados, a AICEP anunciou a
da AICEP?
abertura de novas delegações no
Angola ocupa hoje uma importância
exterior. Pode especificar quais são
incontornável no panorama das nos-
os mercados com novas oportuni-
tugal precisa de exportar mais, com
sas relações económicas internacio-
dades de negócio para as empre-
mais valor acrescentado e através
nais, sendo o quarto país de destino
sas portuguesas, em particular para
de mais empresas, vendendo mais e
das nossas exportações de bens.
as PME?
melhores produtos ao exterior, com
Por outro lado, existe um crescente
A Colômbia e o Peru, a Índia e a
uma estratégia de diversificação dos
número de empresas portuguesas
região do Golfo são mercados que,
seus mercados. A aposta em marcas
que procuram estar presentes nes-
pelo seu enorme potencial de ne-
próprias e na diferenciação do serviço
te mercado. Os Estados Unidos da
gócio para as empresas portugue-
prestado ao cliente são indispensá-
América, como cliente de Portugal,
sas, contam desde há um ano com
veis, bem como o marketing, o design
continuam a ser um mercado im-
delegações da AICEP. Seja como
e a implementação de programas de
portante para o destino dos bens e
for, estrategicamente, é necessário
promoção inequivocamente adaptados
serviços portugueses. Contudo, o jogo
crescer no espaço extracomunitário
aos mercados-alvo. E nunca é demais
da internacionalização, dos merca-
sem perder terreno e sustentabilidade
enfatizar que para uma empresa avan-
dos e das oportunidades de negócio
no mercado europeu e nos nossos
çar para um processo de exportação
joga-se cada vez mais no tabuleiro da
mercados tradicionais, pois todos os
sustentável, deve reunir condições de
diferenciação da oferta e dos próprios
mercados são importantes desde que
viabilidade estratégica, económica,
mercados, pois o mundo da exporta-
ofereçam às empresas oportunidades
financeira e técnica que permitam a
ção coloca sempre novos desafios,
de negócio. Seguindo esta lógica,
expansão de negócios bem-sucedidos
tanto mais que as nossas exportações
ainda este ano decidimos cobrir novos
na economia global. Um outro aspec-
estão excessivamente dependentes
mercados a partir de representações
to, que deve ser crescentemente tido ➤
➤
18 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
"
É NECESSÁRIO CRESCER NO ESPAÇO EXTRACOMUNITÁRIO SEM PERDER TERRENO E SUSTENTABILIDADE NO MERCADO EUROPEU
"
em conta pelas empresas portugue-
quer de equilíbrio externo.
produtos, marcas e serviços made in
sas que procuram internacionalizar-
Entendo, contudo, que devemos
Portugal tem uma procura crescente
-se, reside na realização de parcerias
entrar agora numa nova fase, na
nos mercados externos. 2012 con-
locais nos mercados.
qual o primado da economia deve
seguiu superar o ano de 2011 como
Países e economias dos cinco con-
imperar sobre uma fase mais finan-
o melhor ano de sempre para as
tinentes lutam para pôr um ponto
ceira, ou seja, temos que equilibrar
exportações nacionais e atingimos um
final na crise. Que papel pode de-
a austeridade com medidas focadas
feito histórico que foi o de fechar o ano
sempenhar a AICEP para contribuir
e direccionadas para solucionar os
passado com um excedente na nossa
na solução deste problema mundial
problemas que afectam a economia
balança comercial, ou seja, em 2012
e no relacionamento entre países?
real. As reformas estruturais levadas a
exportámos mais do que importamos.
A AICEP tem como princípio que o
cabo nos últimos dois anos – ao nível
A última vez que isto tinha acontecido
bom relacionamento entre países
laboral, do mercado de arrendamento,
foi há cerca de 60 anos.
depende de acções consistentes na
das insolvências, do licenciamento
As nossas empresas, sobretudo as
área diplomática, cultural e comer-
industrial, etc. – permitiram definir, ao
exportadoras, têm sido os pilares do
cial, cujo equilíbrio requer interacção
nível regulamentar, alguns aspectos
crescimento económico em Portugal
constante entre os sectores público
importantes que estão na base de
nos anos mais recentes e têm dado
e privado na formulação de políticas,
qualquer economia que se deseja
um contributo inexcedível para a afir-
cooperações institucionais e visão
competitiva. O que é desejável, daqui
mação da nossa imagem no estran-
estratégica compartilhada. Nesta me-
por diante, se quisermos efectiva-
geiro. Da mesma forma, olhando para
dida, a gestão das relações bilaterais
mente voltar a crescer, é olhar com
o investimento estrangeiro realizado
pauta-se por uma cultura de bom
ainda mais atenção e detalhe para o
em Portugal no último ano, e para o
relacionamento entre países, de modo
nosso tecido económico e empresa-
pipeline que estamos a acompanhar,
a que os mercados sejam não só uma
rial e contribuir para facilitar a vida às
verifico com satisfação que o nosso
oportunidade para celebrar uma boa
empresas e aos agentes económicos.
país continua a ser observado com
oportunidade de negócio, mas tam-
Temos que passar de uma fase macro
muito bons olhos ao nível internacio-
bém um acordo entre parceiros que
da Economia, para uma fase micro.
nal. Temos uma economia que está a
gere benefícios, prosperidade e de-
Diria que precisamos de um Ministério
recuperar competitividade, possuímos
senvolvimento mútuo. Destaco que no
das Empresas, focado na competitivi-
uma localização geo-estratégica que
presente mandato assinámos já mais
dade das mesmas. Estou convencido
recupera centralidade no mapa global
de 20 protocolos de cooperação e
que Portugal tem solução, que não
do comércio internacional a cada dia
memorandos de entendimento, alguns
somos, nem nunca seremos, um caso
que passa, pelas pontes que fazemos
dos quais com entidades homólogas
perdido. Tenho confiança absoluta na
com o mundo lusófono, com África
da AICEP, sobretudo nos mercados
capacidade que temos, como país e
e com a América Latina, possuímos
extracomunitários, tendo em vista criar
como povo, de superar os momentos
infraestruturas logísticas e de comuni-
uma moldura institucional que favo-
difíceis. Estamos a atravessar uma
cação de excelência, recursos huma-
reça a entrada e presença das em-
crise com repercussões sociais muito
nos altamente competentes e qualifi-
presas portuguesas nesses mesmos
graves, mas se formos capazes de,
cados, além de redes de fornecedores
países.
colectivamente e de forma colaborati-
capazes de servir as indústrias mais
Que palavras gostaria de deixar
va – deixando para trás divergências
exigentes, já para não falar de uma
para todos quantos acreditam no
artificiais, como o actual momento exi-
academia crescentemente interligada
desenvolvimento de Portugal. E nas
ge – entendermo-nos sobre o essen-
com o mundo das empresas. Para
relações económicas com Portu-
cial, estou absolutamente certo de que
além de tudo isto, com o impacto po-
gal?
Portugal tem futuro e de que sairemos
sitivo que as reformas estruturais irão
Acredito profundamente que o cami-
desta crise muito mais fortes e com
ter no coração da nossa economia e,
nho de ajustamento financeiro feito
um novo modelo económico que irá
com o pacote atractivo de incentivos
até agora era imprescindível para que
proporcionar às gerações futuras mais
financeiros e benefícios fiscais que
Portugal afirmasse a sua capacidade
riqueza e mais emprego.
temos para oferecer, considero que
de honrar compromissos e fosse ca-
Quanto às relações económicas com
Portugal recupera competitividade e
paz de regressar de forma sustentada
Portugal, os dados das exportações e
atractividade e é olhado positivamente
aos mercados, baseado num modelo
do investimento falam por si e de-
pelos investidores externos. n
saudável quer de finanças públicas,
monstram que a procura externa por
➤
M.B.
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 19
Dossier Business & Diplomacy
António Patrício Comprido Presidente da Câmara de Comércio Luso Britânica
Licenciado em Engenharia Mecânica pelo Instituto Superior Técnico em 1970, e com um percurso profissional de relevo - desde o Laboratório de Física e Energia Nucleares, passando pela Setenave e Siderurgia Nacional - muitos foram os projectos, cuja Direcção e coordenação assumiu em Portugal que lhe permitiram um envolvimento a nível internacional. Em 1997, foi para a BP Oil UK, a maior Associada Europeia da BP, onde exerceu funções semelhantes às que tinha em Portugal. Para além disso, como membro do Conselho de Administração, teve assento em mais de uma dezena de lugares de Administração em empresas subsidiárias ou participadas. O regresso a Portugal ocorreu em 1999, vindo a ocupar o cargo do presidente do conselho da administração da BP Portugal, cargo que ocupou até 2008. Assumiu o lugar de Secretário Geral da Apetro – Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas - em 1 de Setembro de 2009. É membro Sénior da Ordem dos Engenheiros e presidente da Câmara de Comércio Luso-Britânica, onde fomos encontrá-lo para esta entrevista, que concedeu à revista Diplomática.
20 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
➤
➤
A Câmara de Comércio Luso Britâ-
os indicadores financeiros relativos à sua
nica é uma instituição de referência.
atividade. Poderemos apenas adiantar
Quer contar-nos como e quando teve
que o seu Orçamento anual ronda os 250
início em Portugal?
mil euros, tendo uma situação financeira
A fundação da CCLB remonta a 19 de
estável.
Abril de 1911, tratando-se pois de uma
Quanto aos investimentos de Empre-
organização centenária. Há até a convic-
sas: Reino Unido/Portugal- Portugal/
ção que a sua origem é bem mais remota
Reino Unido
e poderá remontar ao século XVII tendo
A CCLB é um facilitador dos encontros
como antecessor a “British Factory”. Na
entre empresas britânicas e portuguesas
sua génese esteve um grupo de empre-
para lhes proporcionar o desenvolvimento
sários britânicos sediados em Portugal
dos seus negócios. Contudo não nos en-
que reuniram naquele dia sob a presidên-
volvemos na fase da sua concretização,
cia de Sir Francis Hyde-Villiers, ministro
pelo que não temos registos dos valores
de Sua Majestade o Rei Jorge V, que
investidos. Mas foram certamente valores
apresentou a proposta de constituição de
significativos ao longo da nossa história.
uma Câmara de Comércio Britânico em
Quantos associados e qual o objectivo
Portugal que foi unanimemente aprovada
da Câmara?
por todos os presentes na reunião. A pri-
Como já referimos temos atualmente
meira AG realizou-se em 31 de janeiro de 1912 e o certificado de registo da mesma, com a denominação “The British Chamber of Commerce in Portugal (Incorporated)”, foi feito em 12 de Abril de 1912. Pode falar-nos da expansão da Câmara, sobretudo no tocante aos Associados?
"
QUERO AQUI REFERIR A
IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE COOPERAÇÃO ENTRE AS EMBAIXADAS E AS CÂMARAS DE COMÉRCIO
Depois da sua fundação houve uma evolução quer no número de Associados,
"
quer no relacionamento com outras Câmaras e Instituições assumindo-se como
cerca de 400 Associados desde os “Cor-
representante em Portugal da Confedera-
porate” aos Individuais. Face à corrente
ção da Indústria Britânica.
situação económica do país o nosso
Em 1947 os seus estatutos foram alte-
principal objetivo é reter o maior núme-
rados de forma a permitir a admissão de
ro possível de Associados, procurando
pessoas e entidades portuguesas, numa
angariar novos que possam compensar
categoria especial criada para o efeito.
os que, por razões várias, vão saindo.
Finalmente em 1 de Janeiro de 1967 foi
Para isso focamos a nossa atividade em
adotada a atual designação “Câmara de
vertentes que possam trazer valor aos
Comércio Luso-Britânica (British-Portu-
nossos membros ajudando-os na criação
guese Chamber of Commerce)e passou a
de condições para concretizarem os seus
admitir em pé de igualdade Portugueses
planos de negócio.
e Britânicos.
O papel dos Embaixadores era até há
O número de Associados foi crescendo e
alguns anos eminentemente político.
situa-se atualmente em cerca de quatro
Fale-nos da crescente importância da
centenas.
função económica dos nossos diplo-
Qual é o histórico dos indicadores fi-
matas.
nanceiros da Câmara, contando desde
O Reino Unido há muito que incute nos
a sua criação?
seus Embaixadores uma forte mentali-
Sendo a CCLB uma instituição sem fins
dade e foco nas atividades económicas.
lucrativos, não me parecem relevantes
Portugal tem também vindo a fazê-lo e
➤
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 21
António Patrício Comprido
➤
parece-me que num mundo de gran-
O papel da Câmara será obviamente
des blocos políticos e económicos, este
modesto. Contudo estamos convictos que
realinhamento dos objetivos da nossa
a nossa atividade de “facilitadores” das
diplomacia são cruciais.
relações bilaterais e da familiarização das
Quero aqui referir a importância do
empresas e dos seus gestores a novos
trabalho de cooperação entre as Embai-
ambientes e desafios, será um contributo
xadas e as Câmaras de Comércio que,
positivo para recriar um clima de confian-
no nosso caso, é excelente e uma preo-
ça indispensável à ultrapassagem deste
cupação permanente das duas partes.
período menos bom.
Numa época de escassez de recursos
A propósito… como encara o desen-
esta cooperação é ainda mais importan-
volvimento de Portugal?
te.
Portugal, embora a atravessar uma crise
Neste mundo tão competitivo do
significativa, não deixa de pertencer
século XXI, marcado por escassez de
ao grupo dos países desenvolvidos. E
empregos, tensões terroristas, e uma
deverá continuar a posicionar-se desse
forte dependência da tecnologia… que
modo. A nossa inclusão na União Eu-
valores defende a CCLB?
ropeia é uma peça fundamental nesse
A CCLB defende o respeito pelas dife-
posicionamento. Mas é importante não esquecermos as nossas raízes atlânticas,
"
PORTUGAL PODERÁ E DEVERÁ
SER UM BOM LUGAR PARA INVESTIR E TAMBÉM UMA PONTE PARA NOVOS MERCADOS.
"
continuando a focar a nossa atenção no mundo da lusofonia tirando partido das nossas ligações históricas e profundas com muitas outras regiões do globo. Compete aos Governos criar as condições para que as empresas, as associações de vários tipos, os indivíduos, o empreendedorismo em suma, assumam o seu papel de motores do desenvolvimento económico. E a CCLB conta-se
renças, a cooperação e a lealdade como
entre aqueles que ajudam a que isso
principais valores a preservar. Sem eles
aconteça.
dificilmente se estabelecem bases sus-
Que palavras gostaria de deixar para
tentáveis para a cooperação e desenvol-
todos, quanto às relações económicas
vimento entre estados, empresas, famí-
com Portugal?
lias e indivíduos.
Portugal é um país estável, com uma
Gostaria que falássemos agora sobre
longa história, um povo aberto e amigá-
algo inevitável. A actual crise económi-
vel, Universidades de grande qualidade
ca e financeira mundial….
e excelentes infraestruturas físicas e de
Eu gosto de ser otimista e lembro
serviços. Ultrapassadas que sejam as
sempre que não há crise que sempre
dificuldades que hoje enfrentamos, Por-
dure. Por isso acredito que saibamos
tugal poderá e deverá ser um bom lugar
ultrapassar os tempos difíceis que
para investir e também uma ponte para
atravessamos. Assim sejamos capazes
novos mercados.
de aprender com os erros do passado
O que mais gostaria de acrescentar?
construindo um futuro em bases mais
Um desejo: que daqui a cem anos, quan-
sólidas e sustentáveis.
do alguém estiver a escrever a história
A América, a Europa, e mais alguns
do 2º centenário da CCLB, o possa fazer
países da Ásia lutam para o fim da
com o mesmo orgulho com que nós cele-
crise. Que papel poderá a Câmara de-
brámos os primeiros cem anos da nossa
sempenhar para contribuir na solução
existência.
deste problema mundial?
22 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
n
M.B.
António Patrício Comprido President of British-Portuguese Chamber of Commerce
A degree in Mechanical Engineering, achieved at the Instituto Superior Técnico in 1970, and a distinguished career – that took him from the Nuclear Energy and Physics Laboratory, through Setenave and Siderurgia Nacional – have allowed him to coordinate and direct several local projects with international exposure. In 1997, he joined BP Oil UK, the largest BP Oil European Associated Company, where he performed a similar role to the one he had in Portugal. Also, as a member of the Board, he sat in over a dozen Board rooms of subsidiary or participated companies. He returned to Portugal in 1999, as Chairman of the Board for BP, a position he held until 2008. In September 2009 he became Secretary-General of Apetro – the Portuguese Oil Companies Association. He is a senior member of the Ordem dos Engenheiros and president of the British-Portuguese Chamber of Commerce, where we met him for the interview with Diplomática magazine.
The British-Portuguese Chamber of
ted category. Finally, on the 1st January
Commerce is a reference as an institu-
1967 we adopted the current denomination
tion. Would you like to tell us how and
of “Câmara de Comércio Luso-Britânica”
when it started operating in Portugal?
(British-Portuguese Chamber of Commer-
The founding of the BPCC goes back to
ce) and both Portuguese and British were
April 1911, which makes it a centennial
admitted alike. The number of Members
institution. There is also a firm belief that
continued to grow and is now about four
its origins go back even further, to the XVII
hundred.
century, evolving out of “British Factory”.
What is the history of the Chamber’s
It originated in a group of British business
finances, ever since its creation?
men, established in Portugal, who met
As a non-profit organisation, I believe the
on that day, presided over by Sir Francis
BPCC’s finances are not important. It’s
Hyde-Villiers, minister of His Majesty King
enough to say that its annual budget is
George V. He presented a proposal to
currently about 250 thousand euros, and its
create a British Chamber of Commerce in
financial situation is quite stable.
Portugal, which was unanimously appro-
What about company investments: UK /
ved. The first AGM took place on the 31st
Portugal – Portugal / UK?
January 1912 and the registry of the Cham-
The BPCC is a meeting facilitator between
ber, under the name “The British Chamber
British and Portuguese companies, aiming
of Commerce in Portugal (Incorporated)”,
to help them to develop their businesses.
was made on the 12th April 1912.
However we are not involved in its conclu-
Could you tell us about the Chamber’s
sion, and therefore do not have a registry
evolution, especially in what concerns
of the values invested. Undeniably the total
its Membership?
amount throughout our history has certainly
After its foundation there was an evolution
been significant.
both in the number of members and in the
How many members are there and what
relationship with other Chambers and insti-
is the Chamber’s main goal?
tutions, as it took on the role of representa-
As previously mentioned currently we have
tive of the British Industry Confederation in
about 400 members, ranging from “
Portugal. In 1947, its statutes were altered
“I would like to mention the importance
to allow the admission of Portuguese citi-
of the cooperation between the Embas-
zens and entities, into an especially crea-
sies and the Chambers of Commerce”
➤
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 23
António Patrício Comprido
➤
Corporate” to Individuals. In view of the
America, Europe, and some Asian coun-
country’s current economic situation our
tries are fighting their way out of the
main goal is to retain the largest number of
crisis. How can the Chamber contribute
members we can, always trying to gain new
to help solve this global problem?
ones that may compensate for the ones
The role of the Chamber will obviously be
who, for a reason or another, may leave.
a modest one. However we are convinced
Therefore we are focused on value-added
that our activities as “facilitators” of bilateral
activities for our members, helping them to
relationships and introducing companies
create the necessary conditions to accom-
and their managers to new surroundings
plish their business plans.
and challenges will be a positive contribute
The role of the Ambassadors was, until
to recreate a climate of confidence, which
some years ago, mostly political. Will
is indispensable to overcome these less
you tell us a bit about the growing eco-
favourable times.
nomical role of our diplomats?
By the way... How to you see Portugal’s
The United Kingdom has been urging its
growth?
Ambassadors to an economy-oriented view
Portugal, although facing a significant
and mindset for a long time now. Portugal
crisis, is still a part of the group of deve-
has been doing it too and it seems to me
loped countries. And it should remain like
that, in a world of large economical and po-
that. Being part of the European Union
litical blocks, this realignment of our diplo-
is a fundamental part of that positioning.
matic objectives is crucial.
But it is also important to remember our
I would like to mention the importance of
Atlantic roots, by continuously focusing
cooperation between the Embassies and
on the Portuguese-speaking world and
the Chambers of Commerce which, in our
taking advantage of our historically deep
case, is excellent and a constant priority for
connections to many other parts of the
both parts.
globe.
In a time where resources are scarce, this
It will be up to the Governments to create
cooperation is increasingly important.
conditions which will allow for companies,
In this competitive 21st century world,
associations of all kinds, individuals - any
with lack of employment, permanent ter-
entrepreneurial efforts really - to take on
rorist threats and a strong dependence
their role as the gears of economical deve-
on technology... which values does the
lopment.
BPCC stand for?
And the BPCC counts itself among those
The BPCC defends the respect for differen-
who make it happen.
ce, cooperation and loyalty as its “Portugal
What message would you like to leave,
can and should be a good place to invest
regarding the economical relationship
and a bridge to new markets.”
with Portugal?
main values. Without them there would
Portugal is a stable country, with an exten-
hardly be any sustainable ground on which
sive history, an open and friendly people.
to build the cooperation between states,
We have high quality universities and exce-
companies, families and individuals.
llent physical and services infra-structures.
I would like us to talk about something ine-
Once we overcome today’s difficulties,
vitable. The current world economical and
Portugal can and should be a good place to
financial crisis...
invest and become a bridge to new ma-
I like to be optimistic and I always say no
rkets.
crisis lasts forever. So I believe we will
What else would you like to add?
know how to overcome the difficult times
A wish: that in a hundred years time, when
we are currently in. Hopefully we will be
someone writes about the BPCC’s second
able to learn from past mistakes and build a
centenary he or she will be able to do it
future that stands on more solid and sustai-
as proudly as we have celebrated the first
nable grounds.
hundred years of our existence.
24 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
n
Dossier Business & Diplomacy
Enrique Santos Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola Enrique Santos, nacionalidade espanhola, tem formação em Gestão Empresarial e é diplomado em Marketing e Relações Públicas. A sua carreira profissional esteve ligada, durante dez anos, à Administração espanhola, tendo ocupado diversos postos no estrangeiro. Presidiu os Conselhos Fiscais e Assembleias Gerais de várias empresas do Grupo Totta/ Banesto e Directivo no Barclays Bank South Africa, no Banesto e no Banco Santander. Actualmente é consultor de investimentos financeiros e administrador de empresas. Foi, igualmente, presidente de várias associações empresariais, sendo hoje Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola, cargo que ocupa desde 1998. Agraciado por sua majestade, o Rei D. Juan Carlos I, com a Comenda de Isabel a Católica, a Comenda de Número da Ordem de Mérito Civil, recebeu ainda a condecoração de Cavaleiro da Ordem de Mérito Civil e a Cruz de Ouro do Agrupamento Espanhol de Fomento Europeu e Fidalga Cortesia Espanhola, entre outras distinções atribuídas, nomeadamente, na África do Sul, país onde viveu mais de 25 anos.
26 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
➤
A C. Comércio é uma ins-
comércio bilateral, a um au-
eleita em 1997, ter introduzi-
tituição de referência. Quer
mento muito significativo do
do uma nova dinâmica e um
contar-nos como e quando
número de associados. Evi-
modelo de gestão empresa-
teve início em Portugal?
dentemente que existem ou-
rial tem permito nestes últi-
Agradeço-lhe a referência
tros factores que têm contri-
mos anos amortecer os fortes
implícita nas suas primeira
buído para captar o interesse
impactos da crise económica.
palavras. A Câmara foi fun-
das empresas em se associar
Quanto aos investimentos
dada em 1970 por um grupo
à Câmara e tem a ver com
de Empresas: Espanha/Por-
de empresários portugueses
a implementação de novos
tugal- Portugal/Espanha.
e espanhóis residentes em
serviços e uma nova dinâmi-
Calcula-se que existam, em
Portugal e contou com o
ca que a Câmara recuperou a
Portugal, cerca de 1.600 em-
entusiasmo e apoio do então
partir de 1997 com a eleição
presas participadas a operar
Conselheiro Comercial da
de novos Corpos Sociais.
com capital espanhol e cerca
Embaixada de Espanha em
Qual é o histórico dos
de 500 empresas, em Espa-
Lisboa.
indicadores financeiros da
nha, participadas por capital
Como qualquer associação
Câmara, contando desde a
português. Em termos de investimento
empresarial iniciou a sua actividade com um número muito limitado de associados, cerca de 100 sócios. Devemos, no entanto, ter em conta que naquela década a presença de empresas e quadros espanhóis em Portugal era muito reduzida e centrada em muitos poucos sectores como o têxtil, a cortiça ou a hotela-
"
FOI POSSÍVEL IDENTIFICAR 1.200
EMPRESAS QUE REPRESENTAM UM VOLUME DE NEGÓCIOS DE MAIS DE 16 MIL MILHÕES DE EUROS
ria, esta última muito ligada à
"
e segundo um levantamento que a Câmara realizou, foi possível identificar 1.200 empresas que representam um volume de negócios de mais de 16 mil milhões de euros, que corresponde a aproximadamente 8% do PIB português, e empregam mais de 82 mil trabalhadores. Quantos associados e qual o objectivo da Câmara?
comunidade galega residente
sua criação?
em Portugal.
A quotização é uma impor-
Qualquer associação empre-
O comércio bilateral também
tante receita da Câmara e
sarial ambiciona incorporar
era relativamente reduzido e
portanto a entrada de novos
um número cada vez maior
amparado no acordo España
sócios é determinante para a
de sócios. No caso desta
– EFTA (anexo P) e os inves-
saúde financeira da Câmara.
Câmara, pelo que represen-
timentos bilaterais também
Outras fontes dignas de refe-
ta nas relação económicas
eram incipientes, se bem que
rencia são as actividades de-
e comerciais pensamos que
nos finais da década de 70 já
senvolvidas pela Câmara cujo
há espaço para a entrada de
começavam a dar sinais de
resultados dependem, em
novos associados e ampliar
algum dinamismo.
certa medida, da conjuntura
a oferta de serviços dirigidos
Pode falar-nos da expan-
económica dos dois países e
aos associados e às empre-
são da Câmara, sobretudo
do dinamismo das suas rela-
sas que operam no mercado
no tocante aos Associa-
ções bilaterais. Outra fonte
ibérico.
dos?
importante refere-se à for-
O papel dos Embaixadores
O número reflecte, de cer-
mação cujos resultados têm
era até há alguns anos emi-
ta forma, o dinamismo das
acompanhado a conjuntura.
nentemente político. Fale-
relações económicas e co-
E por ultimo os subsídios
-nos da crescente impor-
merciais entre os dois países.
concedidos pelo Ministério da
tância da função económica
Por exemplo assistiu-se a
Economia de Espanha, que
dos nossos diplomatas.
partir de 1986, com a entra-
nos últimos anos têm diminuí-
A diplomacia económica é
da dos dois países na União
do radicalmente.
uma ferramenta importantís-
Europeia e a liberalização do
O facto da Junta Directiva,
sima não só para apoiar as
➤
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 27
Enrique Santos
empresas nos seus esfor-
de, justiça e liberdade, mas
vantagens competitivas em
ços de internacionalização
só poderemos ter uma socie-
relação a outras regiões do
mas projectar a imagem do
dade mais justa e equilibrada
globo. Conta com um entor-
pais (mercado) nos mercados
se colocarmos o individuo,
no empresarial e de negó-
internacionais, melhorando a
as pessoas como objectivo e
cios competitivo, moderno e
percepção que, neste caso,
centro das decisões, e por-
aberto e possui activos muito
os espanhóis têm de Portu-
tanto acredito que a valori-
valiosos como a qualificação
gal, por exemplo. Nos últimos
zação do individuo, nas suas
da população espanhola, a
anos todos os governos têm
inúmeras dimensões, permiti-
língua castelhana que é fala-
prestado uma atenção muito
rá criar a tal sociedade mais
da por mais de 450 milhões
especial nas áreas económi-
justa a que todos ansiamos.
de pessoas no mundo, uma
cas, considerando-as como
Gostaria que falássemos
relação histórica e próxima
agora sobre algo inevitável.
com a América Latina e o
A actual crise económica e
Mediterrâneo, etc.
financeira mundial…
A propósito… como enca-
Contrariando os pressupos-
ra o desenvolvimento de
tos da sua pergunta, consi-
Portugal?
dero que a crise económica
Com optimismo. Portugal está
e este ambiente pessimista
a atravessar um ciclo eco-
localiza-se na Europa e com
nómico difícil com medidas
maior intensidade nos países
muito duras de ajustamento,
do sul. O resto do mundo
mas estou certo que come-
está a crescer. Infelizmente a
çarão a dar os seus resulta-
Europa não tem conseguido
dos a curto prazo. Se a este
encontrar soluções para os
ambiente de maior equilíbrio
eixos fundamentais da sua
seus desequilíbrios e assi-
orçamental e acesso ao cré-
política externa, contraria-
metrias internas. É indiscu-
dito juntarmos a capacidade
mente ao que sucedia antiga-
tível que o Euro é um dos
empreendedora dos empre-
mente com a diplomacia mais
projectos mais importantes
sários portugueses o desen-
tradicional que centrava a
a seguir à segunda guerra
volvimento voltará a Portugal
sua actuação em áreas mais
mundial e a unificação eu-
certamente.
ligadas à segurança e manu-
ropeia, mas necessita de
Que palavras gostaria de
tenção da paz ou cooperação
encontrar mecanismos adap-
deixar para todos, quanto
política, etc.
táveis às realidades de cada
às relações económicas
Portugal deve aproveitar a
um dos mercados.
com Portugal?
sua extensa rede de Embai-
A América, a Europa, e mais
Apesar de neste momento as
xadas, Consulados, Dele-
alguns países da Ásia lutam
relações económicas luso-
gações de Turismo ou Dele-
para o fim da crise. Que
-espanholas viverem um ciclo
gações do AICEP para dar
papel a Espanha pode de-
ligeiramente recessivo, na
apoio efectivo às empresas
sempenhar para contribuir
componente comercial não
portuguesas que se interna-
na solução deste problema
deixam de ser relações muito
cionalizar.
mundial?
dinâmicas, com importan-
Neste mundo tão competiti-
A Espanha como potência de
tes volumes de transacções
vo do século XXI, marcado
média dimensão e um impor-
o que manifesta o nível de
por escassez de empregos,
tante país da EU é chamada
maturidade do mercado ibé-
tensões terroristas, e uma
forçosamente a ter um papel
rico que conseguiu uma forte
forte dependência da tecno-
importante na procura de
interdependência e inter-
logia… que valores defen-
soluções. Além do seu inegá-
-relação entre si, ajudando
de?
vel nível de desenvolvimen-
a amortecer o impacto da
Naturalmente que defendo os
to, é uma economia aberta
crise.
valores ligados à solidarieda-
e possui enormes activos e
➤
"
NATURALMENTE QUE DEFENDO
OS VALORES LIGADOS À SOLIDARIEDADE, JUSTIÇA E LIBERDADE
"
28 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
n
M.B.
Dossier Business & Diplomacy
Marcela Caetano Popoff Presidente da Câmara do Comércio e Indústria Luso Uruguaia
“Formada em Literaturas, Ciências da Educação e Humanidades no Uruguai e Brasil, tendo sido membro do Conselho Editorial de revistas de prestígio da Venezuela, Brasil, México e Buenos Aires. Marcela Caetano, com um vasto currículo de estudos literários, é hoje a Presidente da Câmara do Comércio e Indústria Luso Uruguaia, com quem conversámos sobre este país que nos surpreendeu pelas suas enormes capacidades e desenvolvimento.”
➤
30 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
Quer contar-nos como e quando
junto dos serviços governamentais,
Luso Uruguaiana, referimos:
é que a CCILU-Camara do Comér-
entidades públicas ou privadas,
Promoção dos associados junto das
cio e Industria Luso Urugaia teve
quer uruguaias quer portuguesas,
diferentes entidades públicas e priva-
início em Portugal?
podendo as mesmas estender-se ao
das de acordo com os interesses;
A CCILU é fruto de uma necessidade
continente americano. ACCILU está
Organização de missões especiali-
sentida por um grupo cada vez mais
sediada na Avenida da Liberdade nº
zadas de membros que se dediquem
numeroso de empresários de ambos
110, 1º Andar, em Lisboa e pode ser
aos diferentes sectores de actividade,
os lados do Atlântico, numa altura
contactada via E- mail: geral@ccilu.
e que pretendam ser promovidos em
em que, por razões várias, é visível a
pt, Skype: ccilu.pt; Tel: +0351 212
eventos diferenciados – feiras, en-
intensificação das relações culturais,
961 158.; site: www.ccilu.pt.
contros bilaterais e outros que sejam
económicas, industriais e financei-
Pode falar-nos da expansão da
organizados no Uruguai e Portugal;
ras entre os países da comunidade
Câmara, sobretudo no tocante aos
Organização de “Stands” portugue-
Ibero-Americana.
Associados?
ses e uruguaios em feiras e outros
O Uruguai, um dos países mais
A CÂMARA no seu objecto, vasto,
eventos que ocorram no Uruguai
estáveis e promissores da região,
integra entidades diferenciadas que
e Portugal; pesquisa de mercado,
apresenta um crescimento da sua
são associadas e da qual lhes presta
pedidos de avaliação de referências
economia, com captação de in-
serviços. As entidades que dela fa-
indicadas pelos membros, referen-
vestimentos e promoção das suas
zem parte e que poderão fazer parte
ciação de empresas uruguaias e
exportações para o mundo inteiro;
são:
portuguesas; apoio aos membros
uma óptima localização e segurança
Pessoas individuais; empresas dos
na exportação e importação, quanto
➤
interna, favoráveis ao desenvolvimento de negócios no Cono Sur da América Latina; um capital humano disponível aliado aos projectos de desenvolvimento de infra-estruturas públicas; uma estabilidade política e os tratados de livre comércio que o transformaram num dos mercados mais atractivos para o investimento estrangeiro na actualidade. O Uruguai pode ser uma importante porta de entrada no continente americano, assim como Portugal, o
a legislação vigente no Uruguai e
"
POSICIONA-SE EM PRIMEIRO LUGAR, QUANTO AOS DIFERENTES ÍNDICES, ESTABILIDADE POLÍTICA E SOCIAL, DE-
MOCRACIA, TRANSFORMAÇÃO POLÍTICA E ECONÓMICA E QUALIDADE DE VIDA
"
Portugal, contacto com empresas transportadoras, apoio jurídico entre importadores e exportadores; Proporcionar cursos em Língua Espanhola, de acordo com o número de interessados; Realização de traduções e retroversões. Qual é o histórico dos indicadores financeiros da Câmara, contando desde a sua criação? Actualmente a Câmara de Comer-
poderá ser na Europa e em África.
diferentes sectores; associações pro-
cio e Indústria Luso Uruguaiana,
Considerando a dependência cres-
fissionais; associações de sectores
conta com 20 associados efectivos,
cente da internacionalização da sua
económicos; federações de negócios
estando em análise outros possíveis
economia portuguesa para poder
e de empregadores; outras organiza-
candidatos, que para o efeito sub-
ultrapassar a grave crise económi-
ções nacionais e internacionais.
meteram a sua inscrição. Traduz-se
ca e social que atravessa, existem,
Essas mesmas entidades associadas
assim num saldo positivo, conside-
condições favoráveis ao desenvolvi-
da Câmara de Comércio e Indústria
rando o curto espaço de tempo em
mento de parcerias estratégicas entre
Luso Uruguaiana beneficiam de
que opera.
os dois países. Fundada em Feve-
pertencer a um grupo organizado e
Quanto aos investimentos de
reiro de 2013 e tendo como objectivo
disciplinado, que estabelece relações
Empresas: Uruguai/Portugal- Por-
fomentar as relações económicas e
individuais, empresariais, sectoriais
tugal/Uruguai
culturais bilaterais entre o Uruguai e
privilegiadas entre as diferentes
O Uruguai caracteriza-se por uma
Portugal, é uma associação de direito
entidades públicas e privadas de
estabilidade política e social, por uma
privado português, sem fins lucrati-
Portugal e Uruguai, em parceria com
solidez macroeconómica, abertura co-
vos, que visa fomentar e representar
outras organizações internacionais
mercial, localização estratégica e infra
os interesses dos intervenientes
com os mesmos objectivos.
ACCILU que está sediada na Avenida
nas relações culturais, económicas,
Como serviços prestados pela CCI-
da Liberdade nº 110, 1º Andar, em
industriais ou financeiras bilaterais
LU- Câmara de Comércio e Industria
Lisboa e pode ser contactada via
➤
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 31
Marcela Caetano Popoff
E- mail: geral@ccilu.pt, Skype:
-se em Primeiro lugar).
1H a 3H por via área (inclui tempo na
ccilu.pt; Tel: +0351 212 961 158.;
Como principais Origens da IED,
alfândega).
site: www.ccilu.pt. estrutura mo-
Argentina, Espanha, Brasil, Estados
Possui boas conexões fluviais (Hi-
derna, sendo favorável ao clima de
Unidos da América, Inglaterra, Chile,
drovia Paraná-Paraguai-Uruguai),
negócios.
Coreia do Sul, França, Alemanha,
marítimas, terrestres (estradas) e
No contexto da América do Sul, po-
Venezuela,Finlândia, China, Colôm-
aéreas. A sua infraestrutura portuá-
siciona-se em Primeiro lugar, quanto
bia e México. Os principais sectores
ria de primeiro nível já é um “HUB”
aos diferentes índices, Estabilidade
receptores da IED é a da construção
regional por excelência para o Cone
Política e Social, Democracia (Econo-
(24%), pecuária, agricultura e flores-
Sul da América. A rede de estradas
mist Entelligence,2011), Transforma-
tação (23%) manufacturas (11%),
mais densa da América Latina.
ção Política e Económica (Fundação
intermediação Financeira (8%) e
Novo Aeroporto, novo anel perime-
Bertelsmann, 2012)e Qualidade de
hotéis e restaurantes (6%).
tral em Montevideu e novo porto de
Vida (Merecer Quality of Living City
Consideramos que o potencial de
ferries em Colónia.
Ranking, 2011); posiciona-se em
negócio no Uruguai para as empre-
O Uruguai pretende em 2015 ser
Segundo lugar na Baixa Corrupção
sas portuguesas, passa pela sua
o primeiro país do mundo em que
(Transparêncial Internacional, 2011),
fixação no Uruguai, pela constituição
90% da produção de energia eléc-
Liberdade Económica (Heritage
de empresas de direito uruguaio, em
trica que consome seja produzida
Foundation, 2012), Índice Global de
diferentes sectores, de acordo com
por fontes renováveis, o que poderá
as necessidades do seu mercado
significar uma oportunidade para
interno ou pela evolução das ex-
as empresas portuguesas a operar
portações por sector de actividade,
no Uruguai. Considerando o Fórum
podendo ser complementado com a
Económico Mundial, no seu Relatório
fabricação de outros produtos líderes
de Competitividade Global de 2012-
no mercado português e que poderão
2013, o Uruguai a nível de Ranking,
ter por destino o mercado interno
posiciona-se em 37º Lugar, a frente
➤
"
A TAXA MÉDIA DE CRESCIMENTO
ANUAL ENTRE OS ANOS DE 2005 E 2011 FOI DE 6%
"
do Uruguai e todo o MERCOSUL (
de Itália (38º), Chile(53º), Brasil(68º),
Paz (Institute for Economics & Peace,
Ex: Grupo Pestana, Grupo Jerónimo
Argentina(108º) e Portugal(115º).
2012), Índice de Clima Económico
Martins, Galp, Mota-Engil, Portucel,
Também a área das Telecomunica-
(Fundação Getúlio Vargas & IFO,
Sonae, ..).
ções poderá ser um sector de inte-
Abril 2012); posiciona-se em Terceiro
As empresas portuguesas ao ope-
resse para as empresas portugue-
Lugar no Índice de Desenvolvimento
rarem via Uruguai têm acesso ao
sas, considerando a fonte da União
Humano (Programa de Desenvolvi-
seu mercado doméstico, com uma
Internacional de Telecomunicações
mento das Nações Unidas, 2011) .
População de 3,3 Milhões de Habi-
, 2011, que posiciona o Uruguai em
A sua solidez macroeconómica,
tantes, que apresentou em 2011 um
Primeiro lugar na América Latina,
abertura comercial, localização estra-
PIB (USD Milhares de Milhões) de
quer em comunicações móveis, quer
tégica e infra-estrutura moderna, são
46,7 e um PIB per capita de (USD)
em serviços de acesso à Internet.
algumas das características favorá-
14.213, sendo o crescimento do PIB
O Uruguai importa essencialmente
veis ao clima de negócios.
em 2011 de 5,7%; e acesso ao mer-
combustíveis minerais, óleos mine-
A sua Taxa Média de Crescimento
cado do MERCOSUL que apresenta
rais e produtos da sua destilação,
Anual entre os Anos de 2005 e 2011
uma População de 276 Milhões, que
matérias betuminosas, ceras mine-
foi de 6% ( Fonte do Banco Central
apresentou em 2011 um PIB (USD
rais, máquinas diversas, aparelhos e
do Uruguai, Fundo Monetário Interna-
Milhares de Milhões) de 3.307 e um
instrumentos mecânicos, veículos au-
cional, WEO Outubro 2012); Estima-
PIB per capita de (USD) 11.982,
tomóveis, tractores e outros veículos
-se que o PIB per capita (US$,PPC)
sendo o crescimento do PIB em 2011
terrestres, bem como outras partes
em 2015 seja 19.447.
de 3,7%.
e acessórios de diferentes equipa-
No contexto da América do Sul,
O Uruguai usufrui de uma localização
mentos, aparelhos eléctricos, produ-
posiciona-se em Segundo lugar, no
estratégica privilegiada, conside-
tos diversos para indústria química,
que diz a captação de investimento,
rando o trânsito de mercadorias na
fertilizantes, produtos farmacêuticos,
tendo por comparação países como
região MERCOSUL, Chile e Bolívia.
ferro fundido e outros metais, alimen-
Chile, Peru, Brasil, Colômbia, Para-
A distância até às principais cidades
tos preparados para animais, calçado,
guai e Argentina (o Chile posiciona-
é de 12H a 96H por via terrestre e
sabões, mobiliário,…, produtos dos ➤
32 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
quais as Empresas portuguesas
e que se traduzem em mercadorias
futuro, entre todas as preocupações
poderão fazer parte dos países ex-
isentas de todo o tributo e sobrecarga
a que mais assustou e ainda assus-
portadores, tal como o Brasil, Argenti-
aplicável à importação e de todo o
ta é a questão do emprego, visto
na, EUA e Alemanha.
tributo interno (Ex: IVA); Livre trânsito
este ser a fonte directa para renda e
Para uma Empresa Portuguesa
de mercadorias sem exigência de
sustento da maior parte da população
que queira investir no Uruguai,
autorizações nem de trâmites for-
no mundo.
qual é a melhor forma de entrar no
mais; desoneração de impostos ao
O desemprego nos países Indus-
mercado?
património e dos impostos às rendas
trializados surge com a necessidade
Constituir uma Empresa de direito
para as pessoas jurídicas do exterior;
da reestruturação mundial orientado
Uruguaio para operar numas das
desenvolver actividades como arma-
para os grandes Grupos económi-
suas Zonas Francas, em que para
zenamento, reembalagem, remar-
cos, com as mudanças setoriais que
o efeito deverá contar as entidades
cação, classificação, reagrupação,
afetam os padrões existentes desde
competentes para o efeito.
consolidação e desconsolidação,
o início do século XX e que estavam
A CCILU Câmara do Comércio e In-
manipulação e fraccionamento de
direcionados para as economias
dustria Luso Uruguaia, apoiará todos
mercadorias.
nacionais (HARVEY 1993).
os seus Associados na constituição
O papel dos Embaixadores era até
A implementação da Tecnologia em
de Empresas de direito Uruguaio.
há alguns anos eminentemente
larga escala, em diferentes sectores
Há benefícios fiscais para a Fixa-
político. Fale-nos da crescente
de atividade, substituindo as pes-
ção de Empresas Portuguesas? De
importância da função económica
soas, ao dispensarem a intervenção
que tipo?
dos nossos diplomatas.
humana de uma forma constante,
No que diz a promoção do Investi-
Na acção externa os interesses
também tem sido gerador de conflitos
mento, o Uruguai apresenta como
económicos estiveram sempre
(RIFKIN 2002), acrescida da compe-
benefícios Fiscais:
associados aos interesses políticos
titividade natural ou forçada entre os
(1) 100% de desoneração do Imposto
dos países, do período da expansão
mercados mundiais.
ao Património, para obras civis, em
à consolidação dos impérios colo-
Tanta tecnologia e progresso tecno-
que se traduz em 8 anos em Monte-
niais, da Guerra Fria à nova fase da
lógico não trazem benefícios a todos,
videu e 10 anos nas restantes partes
Globalização
cito o exemplo dos países onde a
do país, sendo para toda a vida para
Com o avanço decisivo da globa-
bens de activo fixo;
lização os governos passaram a
(2) 100% de desoneração quanto a
empenhar-se de forma decisiva na
tributos de Importação, para bens
diplomacia económica. Porque os
móveis de activo fixo, bem como
resultados económicos e o bem-estar
novos e usados, sendo excepção os
do país passaram a estar em larga
produzidos no país;
medida mais dependentes da inte-
(3) 100% de desoneração do Imposto
racção entre a economia nacional, as
quanto ao IVA referente a Materiais
economias regionais e a economia
e Serviços de Obra Civil, através de
mundial.
Certificados de Crédito.
A última reunião do G20 ilustra bem
(4) Os utilizadores de Parques Indus-
a extraordinária importância da
triais são elegíveis para os Benefí-
diplomacia económica na procura de
robotização e a constante evolu-
cios compreendidos na Lei Geral de
solução para os problemas econó-
ção tecnológica colocam em risco
Promoção de Investimentos;
micos mundiais desencadeados
milhões de postos de trabalho no
O Uruguai apresenta portos e aero-
pelo comportamento das instituições
mundo. Países como a China, com
portos livres, ou seja os únicos Portos
financeiras dos EUA.
um constante crescimento Industrial
livres da Costa Atlântica da América
Neste mundo tão competitivo do
e económico, podem provocar uma
do Sul (Lei Interna Nº 16.246).
século XXI, marcado por escassez
exclusão gigantesca, considerando é
A Lei Interna Nº 17.555 declara o
de empregos, tensões terroristas,
o país mais populoso do mundo.
Aeroporto Internacional de Carrasco
e uma forte dependência da tecno-
Em alguns países desenvolvidos já
em regime de Aeroporto Livre.
logia… que valores defende
são visíveis os problemas decorren-
Assim sendo o Uruguai apresenta
O final do século XX foi marcado por
tes do desemprego, como o aumento
benefícios para ambos os regimes,
inúmeras preocupações quanto ao
da criminalidade.
➤
"
O URUGUAI PRETENDE EM 2015 SER O PRIMEIRO PAÍS DO MUNDO EM QUE 90% DA PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA QUE CONSOME SEJA PRODUZIDA POR FONTES RENOVÁVEIS
"
➤
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 33
Marcela Caetano Popoff
Considero que os Governos devem
de que desta crise terão de resultar
E os países das economias emer-
encontrar soluções que aliem tec-
reajustamentos muito significativos
gentes, como o Uruguai também não
nologia e empregabilidade, já que
a nível económico, social, político e
deixarão de aproveitar a oportunida-
as pessoas tiram o seu sustento do
geoestratégico.
de para reivindicar uma maior quota
trabalho, em que a não existência de
Ao nível económico, terá de haver,
de participação nessas instâncias
trabalho levará ao comprometimento
pelo menos, um redesenho dos
de governação, sendo um HUB no
dos seus futuros.
incentivos por forma a favorecer mais
MERCOSUL e país de ligação entre
Quanto à tensão terrorista Mundial,
os resultados de longo prazo e a
o MERCOSUL e a ALCA via México.
apesar de não haver acordo sobre
desencorajar comportamentos dema-
Para que desta eventual revisão não
a definição de “terrorismo”, aceita-
siado geradores de direitos de saque,
decorra um sério revés da produ-
-se, de modo geral, que o ataque
líquidos, sobre o futuro.
tividade indispensável ao continuo
ao World Trade Center, em 11 de
A América, a Europa, e mais al-
progresso económico, a educação
setembro de 2001, inaugurou uma
guns países da Ásia lutam para o
deverá ser o principal recurso utiliza-
nova era deste fenómeno.
fim da crise. Que papel a América
do, para aumentar as capacidades
Nesta década que se seguiu, assis-
do Sul/ Uruguai, pode desempe-
dos candidatos à maior participação
tiu-se a uma proliferação de casos
nhar para contribuir na solução
nos recursos do rendimento.
no Afeganistão e no Iraque, inva-
deste problema mundial?
A propósito… como encara o de-
didos pelos EUA em 2001 e 2003,
Os Estados Unidos, mas sobretudo
senvolvimento de Portugal?
mas também mantiveram-se outros
a Europa, continuam a não conse-
O Uruguai pode ser uma importante
➤
focos de atividades desta natureza, como a ingerência chechena na
porta de entrada no continente ameri-
"
Questiono se por vezes os atentados
ESPERA-SE QUE O AGRAVAR DA CRISE NÃO VENHA A DESENCADEAR COMPORTAMENTOS DEMASIADOS AUTOCENTRADOS, ENTRE OS MEMBROS
terroristas , dando como o exemplo o
DA UE
Rússia ou movimentos separatistas na Índia. Cléricos cristãos, islâmicos, budistas e de outras religiões são veementemente contrários à expansão da religião por meio da guerra ou de outros meios terroristas.
cano, assim como Portugal, o poderá ser na Europa e em África. Considerando a dependência crescente da internacionalização da sua economia portuguesa para poder ultrapassar a grave crise económica e social que atravessa, existem, condições favoráveis ao desenvolvimento de parcerias estratégicas entre os dois países.
outras as motivações, embora não
"
Portugal está a meio caminho entre
Espera-se, que o agravar da crise
O Atlântico é, hoje, uma ponte entre
anule o carácter criminoso de tão ab-
não venha a desencadear compor-
uma região em processo de afirma-
surdo e irracional acto de agressão!
tamentos demasiado autocentrados,
ção (América Latina) e o continente
Gostaria que falássemos agora so-
entre os membros da UE, ao esva-
do século XXI (África). E Portugal tem
bre algo inevitável. A actual crise
ziar-se do princípio da solidariedade
potencialidades a explorar nas duas
económica e financeira mundial...
essencial à sua existência, acabem
margens: desde logo, o Brasil e An-
Esta crise, que começou por ser
por conduzir à sua implosão.
gola, países de língua portuguesa em
financeira, mas que presentemente já
A China, por exemplo, se souber
franco crescimento económico, mas
é económica, acabará por funcionar
jogar a oportunidade que tem de
também as comunidades lusófonas
como um catalisador para uma refor-
se constituir um importante motor
na Venezuela e na África do Sul, por
ma do sistema de regulação eco-
da retoma mundial, revalorizando
exemplo, países de grande importân-
nómica internacional, que muitos já
a sua moeda e utilizando as vastas
cia económica para Portugal.
vinham reclamando, desde há algum
reservas acumuladas para dinamizar
Que palavras gostaria de deixar
tempo, visando ajustá-lo à dimensão
a procura – doméstica e mundial –
para todos, quanto às relações
da nova globalização.
poderá obter como contrapartida uma
económicas com Portugal?
O actual modelo económico continua
importante posição nas instâncias,
Uruguai um Pais para Investir, Traba-
a ser essencial para o bem-estar
formais e informais, da governação
lhar e morar.
da Humanidade, estou convencida
mundial.
atentado terrorista de 11/09 em NY,
a Europa, América e África, que o
EUA, sejam gerados somente por
guir apresentar-se como uma frente
Atlântico pode tirar o país da periferia
motivações políticas / religiosas e não
unida, falando a uma só voz.
europeia.
34 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
n
M.B.
MÊS/MÊS 2011 - DIPLOMÁTICA • 35
Dossier Business & Diplomacy
Gregor Zemp Secretário-Geral da Câmara do Comércio e Indústria Suíça em Portugal Opiniões sinceras de quem conhece profundamente as diferenças e similitudes entre Portugal e a Suíça
Fundada em 1987, a CCISP tem como Secretário-Geral Gregor Zemp, com quem tivemos uma conversa muito interessante e construtiva, acerca do momento político europeu e da cooperação comercial entre a Suíça e Portugal. Gregor Zemp, que vive em Portugal já há 12 anos, assumiu a liderança da CCISP há três anos, é casado com uma portuguesa e tem dois filhos. Com uma licenciatura em Direito pela Universidade de Zurique e um Doutoramento em Direito Comparado e Direito Internacional Privado em Lucerna, foi quadro de uma Sociedade de Advogados em Zurique e de uma empresa de consultadoria para empresas estrangeiras em Lisboa.
36 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
➤
Dada a sua experiência sobre
os USA ou o Reino Unido têm
gestão cria um equilíbrio entre
a realidade portuguesa e suí-
uma política de crescimento
uma contabilidade rigorosa e um
ça, gostaria que me desse a
e não de restrição. A Europa
bom marketing baseado numa
sua opinião sobre as políticas
está a ter essa política restriti-
visão de estratégia de posicio-
restritivas da Europa versus
va para com os países de mais
namento para o futuro. No caso
crescimento
fraca economia que enrique-
de Portugal, este equilíbrio não
Posso dar-lhe a minha opinião
cem os países mais fortes
existiu. Primeiro, Portugal tinha
pessoal. A CCISP não tem qual-
A raiz do problema da restrição
muita mensagem de futuro, e
quer atividade política, sendo
está nos que pediram o emprés-
agora só tem a preocupação com
importante frisar que não é uma
timo. Quem pediu foi Portugal…
os números, cálculos e poupan-
posição oficial da Câmara, que
portanto a meu ver parece um
ças, implementados por pessoas
trata de assuntos económicos e
bocado infantil as opiniões que
que sabem muito sobre a ma-
não políticos. Vejo diariamente
dizem “A culpa é da Troika”, em-
croeconomia, mas pouco sobre
empresas portuguesas de grande
bora a mesma já tenha admitido
a economia real portuguesa. E o
qualidade e parece-me que, com
erros de procedimento.
resultado disso está à vista. Na
as atuais restrições, se tem ultra-
Penso que o governo anterior
minha função, trabalho todos os
passado o ponto de uma limpeza
implementou um regime virado
dias com diferentes empresas,
do tecido empresarial, sendo
para o marketing, com uma boa
sobretudo com PME’s, de todos
➤
os setores, o que me permite
natural que numa mudança estrutural da economia, empresas menos competitivas fechem as portas. Julgo que neste momento se estão a destruir valores, ou seja, com a austeridade extrema destroem-se empresas que teriam uma justificação para
ouvir os empresários e ver as
"
MUITAS EMPRESAS COM BONS PRODUTOS OU SERVIÇOS NÃO ESTÃO A SOBREVIVER
"
sobreviver se tivessem a liquidez de que necessitam, tais como
divergências entre o que é dito por políticos e o que se passa no terreno. À gestão contabilística falta o elemento da visão para o futuro e a esperança, e as pessoas precisam de sentir que o sacrifício traz algo de positivo. Portanto, penso que tivemos os
as que têm credibilidade e enco-
aparência externa e com alguns
dois extremos. Mas se tivésse-
mendas. Os fornecedores, hoje
programas bons e novas medi-
mos uma média, uma boa estra-
em dia, pedem os pagamentos à
das, algumas delas muito boas,
tégia, um bom planeamento de
cabeça e, sem liquidez na caixa
como o programa Simplex, que
futuro, juntamente com uma boa
e muitos impostos a pagar, mui-
facilitaram o dia-a-dia das empre-
e eficaz gestão financeira, seria
tas empresas com bons produtos
sas. Mas outras terão sido maus
o caminho certo.
ou serviços não estão a sobre-
investimentos, sobretudo em
O papel dos Embaixadores
viver. Quanto às empresas que
infraestruturas sobredimensio-
que, até há alguns anos, era
estão mal, porque não acompa-
nadas que os portugueses agora
apenas político, passou, há al-
nharam as tendências do merca-
pagam. Neste momento temos o
guns anos, a ser também eco-
do, é natural que fechem.
contrário: Não há investimentos,
nómico. Poderá falar-me das
Devia pensar-se mais em cultivar
nem se reconhece uma visão
virtudes da função económica
feijões do em contar feijões, ou
para o futuro, e os procedimen-
dos Embaixadores? Aumenta-
seja, em vez de gastar todas as
tos e a burocracia complicaram,
ram os negócios desde que os
energias para que consiga pou-
muitas vezes excessivamente,
Embaixadores se dedicaram
par dez cêntimos, devia pensar-
por causa da fiscalização mais
também à área económica?
-se como se poderia aplicar os
apertada. Passaram de um
Hoje em dia é uma função im-
recursos para ganhar um euro. A
governo de marketeers para um
portante e quando se representa
aposta deve ir para o crescimen-
governo de contabilistas. Penso
um país, obviamente interessa
to e não apenas para a austeri-
que nem uma nem outra vertente
também a área económica. Mas
dade.
deverão ser dominantes. Qual-
de certa forma é tradição os Em-
Grandes países como a China,
quer organização com uma boa
baixadores suíços estarem
➤
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 37
Gregor Zemp
em contacto com os empre-
negócios entre países, para além
partes significativas dos seus
sários e gestores de empresas
de ter informações sobre o mer-
membros.
suíças aqui em Portugal. E esta-
cado de destino, este trabalho é
Como encara o desenvolvimen-
mos também em contacto com o
crucial, porque dá a confiança à
to de Portugal?
Embaixador português na Suíça.
outra parte no momento chave
Estou aqui há 12 anos e pude
A AICEP terá como priorida-
na conquista de novos mercados.
assistir a um bom desenvolvi-
de captar investimento para
Penso que esta parte só nós con-
mento. Ir a um notário há anos
Portugal. Qual a diferença em
seguimos, embora sejamos muito
e hoje em dia em nada se com-
relação à Câmara? A Câmara
mais pequenos do que a AICEP.
para! Vi muita coisa positiva que
também tenta captar investi-
Por isso acho que somos com-
foi feita e posso dizer que tudo
mento português na Suíça ou
plementares: A AICEP apoia a
o que é online é muito bom, mas
facilita o investimento?
empresa com informação e talvez
os problemas começam quando
Na minha perspectiva somos, de
listagens de contactos, a CCISP
temos que nos dirigir a um bal-
certa forma, complementares. A
com a proximidade e a confiança
cão e os assuntos empatam. Nos
que criamos com os potenciais
últimos dois anos, as Finanças
clientes. E isso só consegue
apertaram a fiscalização, e no
alguém que nasceu e cresceu na
fundo ter uma fiscalidade eficaz
Suíça, que fala fluentemente a
é uma coisa boa, mas houve um
língua, quem segue diariamente
excesso e todos podem sofrer
aos acontecimentos políticos e
com isso. Por exemplo, tivemos
económicos daquele país, quem
recentemente um caso em que
até troca as suas opiniões sobre
um suíço, que tem um grande
isso com a “vox populi” (família
projeto com um investimento que
➤
"
OS PROBLEMAS COMEÇAM QUANDO
TEMOS QUE NOS DIRIGIR A UM BALCÃO E OS ASSUNTOS EMPATAM
"
e amigos) e quem faz viagens
pode criar mais do que 150 pos-
AICEP tem coisas que a Câmara
regulares para estar perto dos
tos de trabalho, não conseguia
não tem e a CCISP tem coisas
assuntos.
que lhe dessem o número de
que a AICEP não tem. A meu ver,
Que palavras gostaria de dei-
contribuinte.... Fazemos grandes
a AICEP tem todo um aparelho e
xar sobre as relações económi-
esforços para que venham para
toda uma estrutura, com dados
cas com Portugal. As relações
Portugal e depois, uma coisa tão
económicos, informações sobre
com os emigrantes. A Câmara
simples como a atribuição de um
feiras etc., conseguindo produzir
também trata desse assunto?
número de contribuinte, bloqueou
informações e dados que não
Sim, nós tratamos. É verdade
atrozmente todo o processo, por-
temos. Por outro lado é um facto
que, até 2010, a CCISP era uni-
que uma nova lei, que saiu em
que nós somos o país de lá, ou
lateral e sobretudo dirigida para
Janeiro deste ano, diz que todos
seja, eu cresci na Suíça, conheço
as empresas suíças em Portugal.
os suíços necessitam de um
a Suíça, vivi na Suíça durante
Hoje temos 150 empresas as-
carimbo no passaporte. Trata-se
25 anos e, portanto, quando uma
sociadas. Não somos uma das
de uma exigência que viola os
empresa portuguesa quer entrar
maiores Câmaras de Comércio,
tratados bilaterais entre a Suíça
na Suíça, sei como ela se tem
mas a nossa aposta vai para a
e a UE, pois a Suíça faz parte
de preparar para que seja bem
qualidade do nosso trabalho e
do espaço Schengen. Mas o que
recebida e conseguir as portas
sobretudo para a relação pes-
é certo é que as Finanças não
abertas da melhor forma pos-
soal, algo que nos tempos das
davam o número de contribuinte
sível, para que tenha sucesso.
redes sociais com contactos mui-
sem um carimbo no passaporte
Posso ligar para uma empresa
to superficiais ganha cada vez
(que para um Suíço é impossível
Suíça e falar em suíço-alemão
mais importância. Por isso con-
obter), devido a esta “lei” absur-
dizendo ”olhe temos aqui uma
tamos com uma grande lealdade
da. Estas situações não podem
empresa portuguesa que produz
dos nossos associados, o que se
acontecer. Fiz uma reclamação
isto ou aquilo muito bem” tudo
mostrou na atual crise. Tivemos
nas Finanças e informei um re-
dito em bom suíço-alemão, o que
um crescimento, enquanto muitas
presentante da Troika, para que
pode abrir portas. Quando se faz
outras organizações perderam
entendam melhor com um caso
38 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
➤
concreto porque Portugal não
carimbo no passaporte, e para
é natural que não alcance tudo.
consegue atrair mais investimen-
ver se resolvia o problema, pedi
Deverá existir uma estrutura –
to.
ao investidor suíço para que,
que inclui a consulta das pessoas
Muitas vezes as ideias de quem
quando voltasse, pedisse o
no terreno – que lhe permita
toma medidas até são boas, mas
carimbo no aeroporto. Ligou-me
tomar conhecimento de todas as
é a concretização no terreno que
então do aeroporto, dizendo que
implicações que a decisão terá.
falha. Por isso é que eu digo que
tinha cinco pessoas à sua volta
Os problemas deste país serão
há falta de coordenação entre
e ninguém sabia de nada. Creio
então estruturais?
diferentes secções da função
que, se tivesse ido logo à AICEP,
Penso que são de coordenação
pública e falta de comunicação
poderia ter tudo mais facilitado,
da parte da função pública, aí
horizontal dentro da própria sec-
mas não deveria ser assim.
acho que existem problemas.
ção. Problemas absurdos como
Qualquer cidadão, independen-
Também é preciso reduzir o peso
este exemplo estragam todo o
temente se cria 150 postos de
do Estado. Ter menos funcioná-
processo para atrair investidores.
trabalho ou só 10, deverá rece-
rios públicos e pagá-los melhor
Seja como for, se Portugal quer
ber um tratamento simpático e
(em vez de pior como atual-
mudar esta situação, será neces-
adequado, porque mesmo os 10
mente), para que tenham mais
sário que os governantes saibam
postos deverão ser aproveitados.
responsabilidades e que fiquem
ouvir para identificar onde se
Claro que muitos dez postos…
mais motivados. Estruturalmente,
encontram os problemas, e isso
Exactamente. As coisas devem
Portugal já se desenvolveu mui-
só pode mostrar quem acompa-
funcionar, não através de pedi-
to, desde que estou aqui. O setor
nha, no dia-a-dia, as empresas
dos a ministros, grandes chefes
primário, o secundário e o ter-
no terreno.
e conhecidos. Esta é a parte
ciário desenvolveram-se. Agora
Penso que tudo seria tratado
negativa desta fiscalização, que
voltou-se ao setor primário, com
imediatamente se fossem ao
é feito por pessoas que criam
a agricultura, mas de uma forma
Ministério dos Negócios Es-
este tipo de leis e circulares sem
mais moderna, o que é muito
trangeiros…
conhecerem a realidade, nem
interessante e também a moder-
Mas não deveria ser assim. O
refletirem o suficiente nas im-
nização tecnológica da indústria
problema é que os ministros são
plicações que, algumas regras
pessoas bem formadas e sabem
que criam, podem ter no terreno,
como as coisas deveriam funcio-
portanto acho que é aí que falha.
nar, não é necessário convencer
Quando é feita uma regra deve-
nenhum deles. O problema é
-se pensar em tudo. Diz-se que
na coordenação e na informa-
as leis aqui são tricotadas com
ção; representantes da Troika
agulhas quentes: tem-se uma
confirmaram-me que muitas
ideia, faz-se uma lei e está feita.
vezes a informação só funciona
Na Suíça é ao contrário, demo-
de forma vertical. Vai do ministro
ram muito mais tempo, porque to-
para o chefe mas nunca vai de
das as partes implicadas devem
forma horizontal; vai talvez para
ser consultadas. Recebem-se
é de referir.
o chefe de Repartição e este
os comentários da praça pública
Quando acha que Portugal
talvez não distribua nem explique
para corrigir os erros que a lei
poderá alcançar o equilíbrio e a
a informação aos funcionários
possa ter e assim evitar impli-
retoma como país economica-
que nos atendem, e aí temos o
cações negativas que a mesma
mente independente?
problema. Os gestores de topo
possa ter. Quem está realmente
É difícil prever-se, mas penso
sabem como as coisas deveriam
interessado no assunto vai pro-
que em cinco, dez anos. Se
funcionar, o que falta é depois
nunciar-se e vai lutar, e na Suíça
Portugal aproveitasse o potencial
passar bem a mensagem, porque
– ao contrário de Portugal – o
que existe, podia crescer muito,
toda a máquina deverá funcionar
povo têm os instrumentos demo-
mas a verdade é que primeiro as
com coerência. Por exemplo:
cráticos para o fazer. Um gabi-
coisas têm que funcionar. Depois,
depois das Finanças exigirem o
nete que crie um ofício/circular,
outra lacuna que eu vejo aqui, é
➤
"
SE PORTUGAL APROVEITASSE
O POTENCIAL QUE EXISTE, PODIA CRESCER MUITO
" ➤
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 39
Gregor Zemp
que não há informações sobre
nhecem. Uma pequena estrutura
tivos estáveis que funcionem, o
Portugal na Suíça. Não há qual-
como uma Câmara de Comércio
que resulta em que nada incomo-
quer publicidade. Oito milhões de
- uma organização privada e auto
de e retire o estímulo ao investi-
suíços, com uma grande classe
financiada pelos associados,
dor.
média com poder de compra, são
patrocinadores e parcerias – não
Gostaria de acrescentar mais
completamente ignorantes sobre
pode fazer este trabalho sozinho.
alguma coisa?
Portugal. Conhecem, obviamen-
Porém, para contrariar esta situa-
Gostaria de dizer que acredito
te, a comunidade portuguesa,
ção de falta de branding de Por-
fortemente no futuro deste país e
mas uma coisa são os emigran-
tugal, fizemos um evento no ano
é por isso que me sinto motivado
tes e outra coisa é o país em
passado, levando o espetáculo
todos os dias. Neste momento
si. É realmente uma pena que
do Cavalo Lusitano, em 5 apre-
tudo parece ter batido no fundo
Portugal não se “venda” mais
sentações, e terminando com um
mas, na verdade, quem se po-
na Suíça. Sei que os recursos
jantar de gala, música portugue-
siciona agora pode aproveitar
são limitados e que não se pode
sa, prova de vinhos e um filme
da chegada da retoma. Quando
apostar em tudo e que talvez,
do Turismo de Portugal, que está
Portugal já estiver em cima nova-
neste momento, poderá ser inte-
muito bem conseguido. Tivemos
mente, só tem a ganhar.
ressante a África e a Ásia, com
muito trabalho em conseguir pa-
Tem toda a fé em Portugal?
países emergentes com muito
trocinadores, mas conseguimos
Sim. Pela seguinte razão: Na mi-
➤
maior dimensão. Contudo, penso
nha avaliação de um país, cos-
que, sobretudo num tempo com
tumo distinguir entre coisas que
recursos escassos, é preciso não esquecer de apanhar os frutos que estão mais perto (low hanging fruits) e não procurar só em cima da árvore, quando, em baixo, os frutos já estão prontos a ser apanhados. Se estes
não se podem mudar e coisas
"
É PRECISO NÃO ESQUECER DE APANHAR OS FRUTOS QUE ESTÃO MAIS PERTO
"
8 milhões de suíços soubessem da beleza e das oportunidades
que se podem mudar. As coisas que não se podem mudar são, entre outras: o clima, a natureza do país, uma mentalidade com um povo com uma grande simpatia, um sentimento de segurança, o bem-estar que destes fatores resulta, a luz que dá um espírito
de Portugal, acho que haveria
levar a cabo este evento. Portu-
mais alegre, etc. Todos estes
muito e mais investimento e troca
gal não pode tentar os suíços a
fatores que são importantíssimos
comercial. No meu dia-a-dia, vejo
investir devido a baixos impostos,
para ter uma boa qualidade de
portugueses altamente capazes
pois a Suíça, a nível de impos-
vida e tudo isso não se conse-
e ótimos profissionais, empre-
tos, está muito mais interessante.
gue comprar, nem com a maior
sas super bem organizadas em
Por conseguinte adotamos uma
fortuna do mundo. Por outro
muitos setores da indústria, com
estratégia que vai por via então
lado, as coisas que se podem
inovação e produtos de grande
mais emocional do que racional.
mudar são: a burocracia, a eficá-
qualidade.
Imagens deste evento podem ser
cia de procedimentos e organiza-
O turismo tem muita importân-
consultadas na internet: www.
ções, etc. Esta parte já foi muito
cia, porque é um door opener
lusitano-galadinner.com.
melhorada e ainda o vai ser,
ao investimento, mas os suíços
Portugal refere a necessidade de
para que daqui em 5 ou 10 anos
não se lembram de vir cá passar
investimento, mas pelo menos
já não tenhamos os mesmos
férias, porque aparece lá muita
duas coisas têm que funcionar:
problemas. Por isso, se tiver que
comunicação sobre a Espanha,
primeiro, as pessoas têm que
escolher, quais são os critérios
Turquia etc… Só Lisboa e Por-
conhecer o país, porque eu tam-
que são realmente importantes
to ultimamente se têm tornado
bém não investiria num país que
na decisão das melhores con-
bastante trendy para os chama-
não conheço. É tão simples como
dições de vida, chega-se auto-
dos city breaks, e talvez ainda o
isso. Depois, há que dar confian-
maticamente a uma conclusão:
Algarve para férias de praia, mas
ça, com clareza na política fiscal,
Portugal tem tudo o que precisa
tudo o resto os suíços desco-
com procedimentos administra-
para vencer.
40 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
n
M.B.
PRESTÍGIO
Em Portugal e no mundo Um portefólio de excelência
Jardins Verticais, projeto de arquitetura portuguesa finalista do prémio «Edifício do ano 2012», integra o portefólio da Engel & Völkers. Jardins Verticais, a Portuguese architectural project, finalist of the «Building of the Year 2012» award, is part of Engel & Völkers portfolio
42 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
De passagem pela Rua do Patrocínio, na Lapa, em Lisboa, ninguém fica indiferente ao jardim que se ergue da estrutura de uma moradia particular. Um lugar para ser feliz, projetado pelos arquitetos portugueses Luís Rebelo de Andrade, Tiago Rebelo de Andrade e Manuel Cachão Tojal e promovido no mercado residencial pela Engel & Völkers. Este imóvel é um dos muitos exemplos de peculiaridade
Curiosidade: Uma das aquisições mais recentes do portefólio internacional
que caracterizam o portefólio desta
da Engel & Völkers é a Ilha privada Ballast Key, cenário do filme 007 Licença
Companhia de referência no setor
para Matar. Está à venda por 12,2 milhões de euros
imobiliário de luxo.
Curiosity: One of the latest acquisitions to the Engel & Völkers international
Desde residências históricas a modernos projetos de arquitetura,
portfolio is Ballast Key, a private island where the movie 007 License to Kill was set in. It is for sale for EUR 12.2 million.
a Engel & Völkers disponibiliza um conjunto de imóveis de prestígio e até uma certa excentricidade, de que são exemplo alguns dos castelos mais bonitos da Europa, ao dispor de quem queira proclamar o seu reinado. A localização dos imóveis, a excelência e a riqueza patrimonial das propriedades são fatores de diferenciação do portefólio da Engel & Völkers. Especializada em serviços de venda e arrendamento de propriedades residenciais premium, imóveis comerciais e iates, a Engel & Völkers é um dos líderes mundiais do setor. Presente em 37
In Portugal and all over the world A portfolio of excellence Passing by Rua do Patrocínio, in Lapa, Lisbon, no one is indifferent to the garden that rises above the structure of a private house. A place to be happy, projected by the Portuguese architects Luís Rebelo de Andrade, Tiago Rebelo de Andrade and Manuel Cachão Tojal and promoted in the residential market by Engel & Völkers. This is one of the many examples of singularity that characterize the portfolio of this reference company in the luxury real estate sector. From historical houses to modern architectural projects, Engel & Völkers offers a number of prestige and even eccentric real estates, of which some of the most beautiful castles in Europe, available to those who want to claim their reign. The location, excellence and patrimonial richness of the
países, em todos os continentes, e
proprieties are factors that differentiate Engel & Völkers portfolio.
com mais de 500 lojas, a chancela
Specialised in the sale and leasehold of premium residential
Engel & Völkers agrega uma
property, commercial real estate and yachts, Engel & Völkers is
estrutura sólida a nível internacional.
one of the world’s is one of the world’s leading service companies
A qualidade do serviço prestado
in the sector. Operating in 37 countries on five continents, and
pelo Grupo, o acompanhamento
with over 500 shops, the brand Engel & Völkers aggregates an
profissional qualificado e a extensa
international solid structure.
rede internacional conferem à marca
The quality of the service provided by the Group, the qualified
uma posição de destaque também
professional support and its wide international network also give
no mercado português, onde está
the company an outstanding position in the Portuguese market,
desde 2006.
where it has been present since 2006.
■
■
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 43
EMPRESAS INTERNACIONAIS
Garland um exemplo com bem mais de dois séculos Percurso da empresa e sua filosofia.
autorizada pelo Governo português a imprimir notas de
A Garland foi fundada em 1776 e pode dizer-se que a
banco.
sua História começa com um imprevisto. Nesse ano,
Durante a II Guerra Mundial, representou os interesses
Thomas Garland estava num navio que fazia Canadá-
do Ministério da Marinha Britânico e do Secretariado
-Inglaterra e esse foi desviado para o porto de Lisboa,
Naval Americano, sendo também a representante oficial
devido a uma tempestade. Como transportava baca-
do Ministério Britânico do Abastecimento e Agricultura e
lhau, vendeu-o todo na Capital portuguesa. O negócio
da Secretaria de Estado Suíça dos Transportes. Nessa
correu tão bem e gostou tanto da cidade, que logo
altura, iniciou também as operações de Transitários
enviou o filho Joseph para inaugurar um escritório de
que, em 2005, compra o negócio da CONTIR, o que
importação e venda de bens alimentares.
complementou os outros serviços da companhia dando
Sendo a quarta empresa mais antiga de Portugal, o
uma cobertura terrestre de toda a Europa de Oeste a
negócio da navegação - continua a ser um dos negócios
Leste. Nessa altura, dá-se também o desenvolvimento
base do Grupo -, começou em 1855 com embarques
dos serviços de Carga Aérea e Marítima com a Ásia e
de vinho do Porto da região do Douro, mas ao longo
a China, e a formação do departamento de cargas Bulk
da sua existência foi diversificando e expandindo a sua
(Líquidos e Sólidos). Especialistas no atendimento de
esfera de atuação. Por exemplo, em 1848, a Garland foi
navios de granéis sólidos e líquidos. Uma palavra
44 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
➤
➤
também para o Tramping, onde tem uma equipa em
Garland no mundo e parcerias
cada porto para contactar as entidades e tratar de uma
O Grupo Garland é constituído por 11 empresas e tem
movimentação rápida e eficaz da carga, oferece agen-
redes de parceiros em todos os pontos do mundo e
ciamento de pacotes de atendimento que vão desde a
investimentos em Inglaterra, Chile e Colômbia. Preci-
simples receção do navio à operação mais complexa,
samente sob a assinatura All in one world, a Garland
fretamento dos navios mais modernos do mercado em
fornece serviços de transporte e logística nos quatro
associação com uma rede mundial de brokers e siste-
cantos do mundo, com uma fácil adaptação aos requisi-
mas informáticos sempre atualizados.
tos dos clientes e uma resposta rápida às suas neces-
No que toca a pneus, o início de relações entre o Grupo
sidades, ao qual se junta um serviço personalizado de
e a Dunlop Limited, em 1964, culminou com a nomeação
apoio ao cliente. Arranjamos todas as soluções, desde
da Garland Laidley, quatro anos depois, como distribuidor
a importação até à exportação, onde fazemos recolha
exclusivo dos pneus Dunlop para o mercado português.
nas fábricas, armazenagem e distribuição dos produtos
Cerca de 20 anos mais tarde, a Garland Laidley atingiu a
pelo mundo inteiro. Por exemplo, na Europa temos rotas
posição de maior distribuidor europeu de pneus Dunlop.
terrestres diárias para as principais capitais europeias.
Depois, em 2004, é criada a Garland Pneus, represen-
No que toca ao modelo escolhido, sempre que neces-
tante em Portugal de diversas marcas incluindo Uniroyal,
sário e vantajoso, fazemos parcerias e dou o exemplo
Sportiva, Kenda, Primewell e Runway.
da Ásia. Em conjunto com os nossos parceiros – que
Em 2006, e para celebrar os 230 anos, mudou-se a
têm a cobiçada licença classe A -, fazemos uma total
imagem da companhia, ficando apenas com o nome
cobertura do território asiático. Oferecemos ainda um
Garland. Um ano mais tarde, é estabelecida a Garland
sistema “tracking & tracing” desde a ordem de compra
Transportes para controlar e gerir a Camionagem Inter-
até à entrega da mercadoria. Por outro lado, operamos
nacional do Grupo.
dentro de uma rede de agentes de carga aérea, que nos
A Garland Navegação aumenta, em 2009, as suas re-
permite oferecer soluções porta-a-porta. Somos sócios
presentações podendo assim cobrir toda a América do
IATA, garantindo assim a melhor qualidade ao melhor
Sul, América Central, Canadá, Mediterrâneo, Norte de
preço.
África, Europa, Médio Oriente e Extremo Oriente.
Basicamente, seja por via terrestre, aérea ou marítima,
Por último, a Garland Logística, que surge em 1999, dá
conseguimos e temos parceiros privilegiados para che-
um salto em 2006 e ainda continua o seu crescimento
gar a todo o mundo.
nos dias de hoje, controlando 30.000 m2 de armazenagem. Neste momento, a perspetiva é continuar a cres-
Estratégia internacional da empresa e paí-
cer, com base numa equipa nova mas com experiência
ses a investir e apostar
na área, onde oferece armazenagem, distribuição e
A Garland continua atenta a todos os bons negócios.
vários produtos de valor acrescido, incluindo picking,
Por exemplo, tem grandes investimentos na K-Line
preparação de encomendas para Portugal e Europa,
Portugal – é uma joint-venture -, PSL Freight Ltd (Reino
etiquetagem e flexibilidade na resposta às necessidades
Unido) e Anacondaweb (Chile), mas continua a investir
dos clientes. Investiu ainda, num WMS (Warehouse
em segmentos de mercado específico. Exemplo disso
Management System), uma das tecnologia mais avan-
é a área de Bulk (transporte de granéis sólidos e líqui-
çadas que existem para continuar a estar à frente do
dos) que tem vindo a registar crescimento ao longo dos
negócio logístico - que neste momento vale mais de
últimos anos. Recentemente, iniciou um serviço sema-
metade das receitas da empresa.
nal especializado em temperatura controlada (COLD
Bruce e Peter Dawson, os principais rostos da empresa,
CHAIN) para cargas de grupagem e completas entre
são bisnetos de Errington Dawson, que se tornou sócio
Portugal e a Suíça e vice-versa. Este serviço foi criado
da empresa em meados do século XVIII, e veio a assu-
com o intuito de satisfazer as cada vez mais exigentes
mir a liderança no século seguinte, com o fim da família
necessidades de transportes eficientes no que respeita
Garland. No entanto, são quase 240 anos a ser coman-
ao controle da temperatura das mercadorias transpor-
dada por famílias britânicas. Bruce Dawson, o atual
tadas, permitindo que os clientes tenham informação
presidente, já faz parte da 4ª geração da família e os
sobre esta em qualquer momento da viagem. Serviço
filhos também já trabalham na empresa. Mark Dawson
que visa ir de encontro aos padrões de qualidade ele-
faz parte do Grupo há 20 anos, é administrador e já é a
vados exigidos em diversos setores, nomeadamente na
5ª geração, enquanto o seu irmão Giles, está no Chile,
indústria alimentar e bebidas e no sector farmacêutico.
na Anacondaweb.
Por outro lado, sempre focada na inovação e pesquisa
➤
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 45
Garland
➤
de novos mercados, nomeadamente a intensificação
1
2
da sua presença nos PALOP, a Garland estabeleceu recentemente uma nova parceria em Moçambique que possibilitará garantir aos seus clientes um serviço de grande qualidade quer ao nível de despachos aduaneiros, quer ao nível de transporte e logística. O mesmo acontece com Marrocos, onde já existem algumas parcerias. Por último, é assumido o interessa no mercado sul-americano e, neste momento, está em estudo avançar ou não. 1. Ricardo Sousa Costa com o óscar do Melhor Empreendimento Indus-
O futuro e o combate à crise pelo investimento
trial e Logístico, e Peter Dawson, ambos administradores da Garland 2. Kiyoshi Terashima, Presidente do Conselho de Administração da
A empresa encara o futuro com alguma apreensão mas “K”Line Portugal e CEO da “K”Line Europa e Bruce Dawson, Presidente está sempre atenta aos bons negócios e oportunidades. do Conselho de Administração do Grupo Garland e membro do ConseClaro que tem mais cuidado em todas as decisões ou
lho de Administração da “K”Line Portugal
possíveis decisões mas sempre avançámos para novos investimentos depois de muita ponderação. Tendo em conta a conjuntura económica de Portugal, temos de destacar o investimento recente da Garland na ordem dos 8 milhões de euros, na criação de um novo centro logístico na Maia com tecnologia de ponta, o qual tem 23 cais de carga e descarga e uma área bruta de armazenagem de 13 mil m2 tentando assim ir de encontro às necessidades e expectativas dos seus clientes. A Garland fica assim dotada de todos os meios que lhe permitem efetuar todo o processo logístico dos clientes, desde o transporte e receção das mercadorias, o seu armazenamento, a gestão de stocks, até à preparação das encomendas e respetiva distribuição. Claro que foi um investimento muito refletido mas felizmente os números confirmam o nosso otimismo nesta aposta: o CLM atingiu a lotação máxima e conquistámos a preferência de novos clientes. Por outro lado, continuamos a receber solicitações para realizar novos contratos, o que nos cria um problema antigo: a falta de espaço. No entanto, queremos dar resposta a essa procura e já estamos à procura de alternativas de expansão.
Valores e política da empresa
Por fim, temos de destacar os prémios ganhos por este
Com 315 funcionários, a empresa pretende ir ao en-
empreendimento, que vieram confirmar o reconhecimento
contro dos padrões de qualidade elevados exigidos em
público de que os nossos clientes beneficiam de infraes-
diversos setores. Esta forma de atuar no mercado acaba
truturas de elevada qualidade, e que atestam a enorme
por ser a missão da Garland: manter a competitividade
competitividade da Garland no mercado onde opera. (ex.:
através de um serviço de qualidade, conseguido através
Melhor Empreendimento Industrial do Ano 2012)
de uma relação estreita, honesta e responsável com os seus clientes e fornecedores.
O que distingue a empresa
Encaramos todos os desafios com normalidade e espírito
Segundo Peter Dawson: "A Garland não se preocupa
positivo. Uma das chaves do nosso sucesso passa pela
muito com lideranças. Sabemos que somos líderes em
partilha de informação com os nossos clientes. Uma em-
algumas áreas mas isso é secundário. O que queremos
presa com mais de dois séculos de experiência só conse-
é ser o parceiro ideal para quem nos procura. Isso é
gue estar no topo das preferências dos clientes se fizer do
que é importante para a Garland. Em 2012, faturámos
espírito de melhoria contínua uma das suas bandeiras.
83 milhões e o objetivo é subir este número em 2013."
46 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
n
M.B.
MÊS/MÊS 2011 - DIPLOMÁTICA • 47
VIAGENS DE ESTADO
Cavaco Silva a favor das relações económicas e culturais entre Portugal e Colômbia
O Presidente da República Portuguesa, Aníbal
so relacionamento bilateral nos planos económicos,
Cavaco Silva, realizou uma Visita de Estado, de três
comercial e cultural», afirmou Cavaco Silva numa das
dias, à Colômbia, a convite do seu homólogo colom-
suas intervenções. Como tal, durante a sua visita, foi
biano Juan Manuel Santos. O portal da Presidência
acompanhado por uma comitiva de empresários portu-
Portuguesa informa que a sua chegada a Bogotá foi
gueses de vários ramos empresariais: da distribuição e
aguardada pela Ministra dos Negócios Estrangeiros
dos serviços financeiros e da construção de infraestrutu-
da Colômbia, María Ángela Holguín e que Cavaco
ras; representantes das empresas da produção indus-
Silva «atravessou alas de cortesia constituídas por
trial; do turismo; das novas tecnologias; da agricultura;
soldados, ao som de uma marcha executada por uma
e empresários que actuam na área científica, na con-
banda militar». Na sua visita, o Presidente fez um
sultoria e na arquitectura. Cavaco sublinhou o interesse
apelo aos laços de amizade e políticos estabelecidos
crescente das empresas e dos investidores portugueses
entre os dois países ao nível bilateral e multilateral,
pela Colômbia e vice-versa, dizendo que «a Colômbia
definindo o aprofundamento das relações económicas
está de moda em Portugal e que Portugal está de moda
e de cooperação entre Portugal e Colômbia como
na Colômbia». A este propósito, caracteriza Colômbia
sendo o principal objectivo da sua visita. «Espero que
como um país com uma democracia e uma economia
esta minha visita contribua para aprofundar o nos-
de sucesso da América Latina. Define-a como um
48 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
➤
➤
país «com uma economia pujante e estruturada,
declaração classificou a presença de Portugal na Feira
uma política de abertura ao investimento estrangeiro,
como um privilégio para a nação portuguesa. Conside-
um leque diversificado de relações políticas e econó-
rou tratar-se de «uma participação que "muito honra"
micas com outras nações» e que devido à sua posi-
Portugal. «Será um marco fundamental no reforço das
ção geográfica é «um destino extremamente atractivo
relações culturais entre os nossos dois países, que aliás
e uma excelente plataforma de projecção noutros
conheceram já um outro ponto alto: a instituição, na
mercados da América Latina». Por seu lado, define
Universidade dos Andes, da Cátedra Fernando Pes-
Portugal como um país com uma economia «moderna
soa, um dos maiores poetas portugueses», afirmou.
e aberta» à «iniciativa dos empresários colombia-
Recorde-se que a Cátedra Fernando Pessoa tem como
nos», uma economia com «excelentes infraestruturas
intenção consolidar o elo cultural e linguístico entre os
e capital humano extremamente qualificado».
dois países, e incentivar os estudantes colombianos a
No âmbito da cooperação cultural, teve impacto a par-
interessarem-se pela língua e pela cultura portuguesa.
ticipação de Portugal na Feira Internacional do Livro de
Ainda com esta finalidade, o governo Português decidiu
Bogotá, de 2013, como país convidado. Cavaco Silva
oferecer à população de Bogotá dez colecções de obras
teve a honra de inaugurar o Pavilhão de Portugal, que
da literatura portuguesa.
contou com obras de escritores portugueses e numa
n
Roman Buzut Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 49
VIAGENS DE ESTADO
Presidente da República em visita oficial de Estado ao Peru
Depois da visita de Estado do Presidente peruano Ollanta Humala a Portugal, foi a vez do Presidente Português realizar uma visita oficial de dois dias a Peru. Aníbal Cavaco Silva deslocou-se ao Peru, em Abril de 2013, ao convite do Presidente Humala, acompanhado por uma comitiva de deputados e empresários portugueses. O Chefe de Estado Português foi recebido pelo seu homólogo peruano no Palácio do Governo, com o qual ainda assistiu à assinatura de três acordos entre os governos dos dois países. Cavaco Silva é o primeiro Presidente de um Estado membro da União Europeia a deslocar-se ao Peru desde a formalização do Acordo Comercial entre a União Europeia, o Peru e a Colômbia, centrado na cooperação intercontinental. O presidente referiu-se a cooperação económica como um dos objectivos principais da sua visita ao Peru, pelo que, no seu discurso referente ao encerramento dos trabalhos do Seminário Económico Portugal/Perú, no dia 19 de Abril de 2013 apelou ao aprofundamento da cooperação económica entre Portugal e Peru, considerando benéfico para ambas as partes o incremento dos «laços económicos e comerciais entre os dois países, para que estes possam atingir um nível idêntico ao que caracteriza o dialogo político e a cooperação diplomática entre Portugal e Peru». O Seminário Económico realizou-se em Lima e foi aberto na presença do Ministro
50 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
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➤
de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas. Cavaco Silva, presidiu
à sua sessão de encerramento juntamente com o Primeiro-Ministro peruano, Juan Jiménez Mayor. O presidente salientou que “muitas das empresas portuguesas querem cooperar com o Peru e estão disponíveis para colaborar no seu desenvolvimento, através de parcerias estratégicas em sectores onde detemos uma larga experiência no mercado global, como é o caso das infra-estruturas e obras públicas, dos transportes, da energia e das telecomunicações». Afirmou ainda que «a cooperação entre empresas peruanas e portuguesas tem o potencial de ser uma relação entre iguais, com origem em Estados que partilham uma visão humanista do mundo». Para Cavaco Silva, a relação entre as empresas portuguesas e peruanas abrem a porta das exportações peruanas para a Europa. Ainda a este propósito recorde-se a assinatura da Convenção para Evitar a Dupla Tributação, na altura da visita a Portugal do Presidente Humala, em Novembro de 2012, com a finalidade de dinamizar o comércio e o investimento entre os dois países. O Chefe de Estado Português foi ainda recebido na Alcaldia de Lima, onde recebeu a Medalha da Cidade e no fim da sua visita, encontrou-se com a Comunidade Portuguesa residente no Peru.
n
Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 51
VISITAS DE ESTADO
Visita oficial do Presidente da Turquia, Abdullah Gül a Portugal
O Presidente da Turquia, Abdullah Gül cumpriu uma
tarem em Portugal. «Gostaríamos de convidar os
visita de Estado de dois dias a Portugal, acompanha-
empresários e os investidores turcos a olharem para
do por uma comitiva constituída por empresários, três
Portugal como um Estado membro da União Europeia
ministros (o ministro da Cultura, do Turismo e dos Ne-
que lhes pode oferecer um ambiente favorável aos
gócios Estrangeiros) e oito deputados representantes
seus negócios e excelentes oportunidades de inves-
dos quatro partidos políticos do parlamento turco com a
timento e cuja proximidade linguística e cultural com
sede em Ancara.
países como o Brasil, Angola e Moçambique constitui,
Recebido pelo seu homólogo português, Aníbal Cava-
além disso, um ativo particularmente importante em
co Silva, no Palácio de Belém onde lhe foram pres-
matéria de cooperação triangular», disse. Referiu ain-
tadas honras militares, seguiram-se vários encontros
da que são os sectores como «o turismo, o comércio,
onde o tema principal entre os dois chefes de Estado
a energia, a construção, os transportes e as infra-
centrou-se na cooperação económica bilateral. Numa
-estruturas» que constituem as oportunidades que
das suas intervenções perante o seu homólogo, Ca-
“devem ser aproveitadas em proveito mútuo”. Por sua
vaco Silva desafiou os empresários turcos a apos-
vez, Abdullah Gül afirmou que perante o volume
52 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
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➤
de transacções da Turquia de cerca de “mil milhões de
dente Abdullah Gül abordou ainda o tema da “reciproci-
dólares” o que equivale aproximadamente a 762 milhões
dade” que visa a entrada em Portugal e a circulação dos
de euros, há vários sectores em que Portugal e Turquia
cidadãos turcos no Espaço Europeu. Recorde-se que
podem colaborar em conjunto. Face a este assunto,
Turquia iniciou um processo de diálogo com a UE para
Abdullah Gül elogiou ainda o investimento das empresas
facilitar a circulação dos cidadãos turcos na Europa e que
portuguesas já existente na Turquia. «Já estamos muito
desde 1 de Março 2013, os cidadãos portugueses que
satisfeitos com o investimento português já existente
pretendam ir à Turquia em turismo podem adquirir o visto
na Turquia em vários sectores, incluindo na energia, e
à entrada apresentando o Bilhete de Identidade, Cartão
apoiamos estas actividades comerciais», avançou. A
do Cidadão, e/ou Passaporte (poderão ser apresentados
relação económica entre as empresas portuguesas e
passaportes cuja validade tenha caducado há menos de
turcas foram melhor debatidas no Fórum Económico
cinco anos). O custo do visto à entrada é de 15 euros,
Bilateral, especialmente organizado para o efeito, no qual
enquanto os turcos para viajarem precisam de um visto
estiveram presentes delegações dos dois estados.
aplicado ao espaço Schengen.
Além das questões económicas, na sua visita, o presi-
n
Roman Buzut Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 53
VISITAS DE ESTADO
Ricardo Martinelli, presidente do Panamá em Portugal destaca diplomacia económica
Aníbal Cavaco Silva recebeu com honras de Esta-
bre o alargamento do Canal do Panamá que constitui
do o seu homólogo, o Presidente da República do
a ponte de ligação entre o Pacifico e o Atlântico. Por
Panamá, Ricardo Martinelli, acompanhado pela sua
sua vez, Ricardo Martinelli afirmou que depois da
Mulher, D. Marta Linares de Martinelli e uma comi-
expansão do Canal do Panamá, Portugal «será uma
tiva do seu país. Os dois dias de trabalho da visita
das economias que mais vai beneficiar com o acesso
oficial de Martinelli centraram-se nas oportunidades
directo dos seus portos, a capacidade de ter uma
de negócio e no reforço da cooperação empresarial,
doca com tamanho suficiente para receber os barcos
ao nível económico entre os dois países. Ambos os
Post-Panamax» e reforçou que desta forma será
Chefes de Estado mostraram interesse na criação
«um porto de entrada para uma grande quantidade
de laços de proximidade entre Portugal e o Panamá.
de produtos provenientes do Oriente e da América,
Apesar de se tratar da primeira visita oficial a Por-
com destino ao mercado europeu». Acrescentou
tugal de um Chefe de Estado do Panamá, um país
ainda que o seu país está preparado para receber
com uma das economias com maior crescimento dos
as empresas portuguesas. «Estamos seguros de que,
últimos anos, o presidente português considera os
com a visita de empresários portugueses muitas das
dois estados como «amigos e com uma relação só-
empresas portuguesas que pretendem fazer negócios
lida» que data «há muitos anos» considerando que
na América Central, no Caribe e na América Latina,
os empresários portugueses olham com “interesse”
poderiam estabelecer a sede das suas empresas no
para as perspectivas que o Panamá tem para lhes
Panamá, uma vez que o Panamá possui alguns dos
oferecer. Cavaco sublinhou ainda a importância da
maiores portos da América Latina», frisou.
posição geográfica do Panamá, e pronunciou-se so-
54 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
n
Roman Buzut Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.
Presidente da República recebe Aga Khan
O Presidente da República Portuguesa, Aníbal
projectos vitoriosos. A escolha dos vencedores
Cavaco Silva recebeu o Aga Khan, no Palácio de
prende-se com vários critérios, sendo os mais
Belém, que se deslocou a Portugal por ocasião
importantes a contribuição dos projectos con-
da cerimónia de entrega do Prémio Aga Khan
correntes para o património histórico, e para a
para a arquitectura. Ambos presidiram à ceri-
arquitectura paisagista. Numa declaração oficial
mónia de entrega do Prémio, que decorreu no
Cavaco Silva elogiou o papel dos arquitectos
Castelo de São Jorge em Lisboa. A capital portu-
portugueses por contribuírem para a promoção
guesa foi escolhida como anfitriã do 12º ciclo da
do património cultural nacional fora de Portugal
cerimónia. Foram nomeados 20 projectos, dois
e também o papel da Fundação Aga Khan na
quais 5 vencedores: o projecto da construção de
preservação do património mundial. Sublinhou
um «Cemitério Islâmico» em Altach, na Áustria; o
ainda que o «Prémio de Arquitectura constitui
projecto de «reabilitação do Bazar de Tabriz» no
um eloquente exemplo do compromisso da Rede
Irão; o projecto referente ao «Centro de Cirurgia
Aga Khan para com o desenvolvimento humano,
Cardíaca Salam» na capital do Sudão, Cartum; e
nas suas diversas vertentes». E recordou que
o projecto de «Infra-estrutura urbana Rabat-Sa-
é desde 1977 que promove «o valor cultural e
lé», em Marrocos. De acordo com a informação
artístico da concepção arquitectónica, tendo já
divulgada o prémio atribuído consiste num valor
reconhecido mais de 100 obras em diversos paí-
de um milhão de dólares a ser dividido entre os
ses e continentes».
■
Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 55
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Renato Varialle, Embaixador de Itália Os desafios da Itália
"
A CONSCIÊNCIA DE TERMOS NO NOSSO “ADN” A DITA CAPACIDADE SOCIAL DE CRESCIMENTO DEVE INDUZIR-NOS A TER CONFIANÇA NO FUTURO
"
Como já aconteceu noutros Países
tas públicas – sobre as quais incide
encontrar o justo equílibrio entre a
da Zona Euro, também em Itália o
um total anual de juros da dívida
exigência de tornar sustentáveis as
ano de 2012 foi marcado por uma
pública de 85 mil milhões de euros
contas públicas e a de identificar e
nítida contracção do Produto Interno
– tornou necessário um recurso a
actuar os instrumentos necessários
Bruto (-2,2%), causada pela quebra
pesados aumentos da carga tributá-
para o arranque do crescimento
da procura interna, só parcialmente
ria. Simultaneamente foram levadas
económico. Se por um lado se torna
compensada pelo andamento positi-
a cabo importantes medidas para
necessário prosseguir com a tarefa
vo das exportações, que cresceram
a contenção estrutural da despesa
da consolidação orçamental, por
mais de 5% atingindo-se um valor
pública. Todavia, como aliás parece
outro não se pode deixar de criar
global de 470 mil milhões de euros.
cada vez mais evidente, sem uma
as condições para um crescimento
As escolhas do Governo ditadas
acção eficaz de estímulo do cresci-
duradouro, actuando com medidas
pela necessidade de reduzir o déficit
mento, a consolidação das contas
reformadoras em sectores funda-
e o stock acumulado da dívida públi-
públicas por si só não é susceptível
mentais como a concorrência, o
ca impuseram aos cidadãos sacrifí-
de produzir os esperados efeitos
mercado de trabalho e a justiça civil
cios dolorosos. Um efeito recessivo
benéficos.
relançando de forma selectiva os
afectou inevitavelmente a economia
O Parlamento e o Governo que
investimentos públicos e privados
e os niveis de emprego.
tomaram posse nos meses passa-
na formação do capital humano e na
A urgência do reequílibrio das con-
dos são portanto chamados para
modernização das infra-estruturas
56 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
➤
materiais e imateriais. Só deste
ficou no activo, com um excedente
nascimento do pacto constitucional.
modo se poderão garantir as condi-
de cerca de 10 mil milhões. É graças
Nos anos Setenta e nos primeiros
ções para uma redução progressiva
à dinâmica das exportações que
anos Noventa, a sociedade italiana
da pressão fiscal que pesa no sis-
a Itália beneficia de uma posição
teve novamente a força para enfren-
tema productivo e uma distribuição
financeira com o exterior mais sólida
tar com relativo sucesso momentos
mais equitativa da carga fiscal entre
do que a de muitos partners euro-
de crise. Em ambos os casos a
os cidadãos: objectivos a financiar
peus. Em Itália existem cerca de 200
sociedade italiana mostrou “capa-
também com as maiores receitas
mil empresas exportadoras. Mas as
cidade social de crescimento” onde
provenientes da própria “spending
empresas que participam na projec-
residiu a força para sair de dificulda-
review” assim como dum intensifica-
ção internacional do nosso País são
des à primeira vista intransponíveis
do combate à evasão.
muito mais porque atrás do exporta-
reinventando um projecto de desen-
Além disso, as medidas realizadas
dor real opera um “induzido” e uma
volvimento económico e social.
no decurso dos últimos anos condu-
“domestic value chain” de considerá-
Existe agora uma imperiosa neces-
ziram as finanças públicas italianas
veis dimensões. Apesar das nume-
sidade de enfrentar e resolver os
ao longo dum caminho de maior
rosas desvantagens competitivas
problemas estruturais que determi-
sustentabilidade que garantiram um
que pesam no nosso sistema pro-
naram a fraca “performance” da nos-
retorno da confiança dos mercados
dutivo (custos energéticos elevados,
sa economia na última decada, mas
na Itália. Tiveram sucesso as novas
burocracia complexa, investimentos
a consciência de termos no nosso
emissões de Obrigações do Tesouro
em R&D ainda inadequados, redu-
“ADN” a dita capacidade social de
e reduziu-se o “spread” nos Títulos
zida dimensão de empresa), a Itália
crescimento deve induzir-nos a ter
do Estado. Este esforço de consoli-
é o sétimo exportador mundial e o
confiança no futuro. Para além dis-
dação orçamental produziu mais um
terceiro da Zona Euro.
so, estamos convencidos do contri-
importante efeito: no passado més
Portanto, as nossas empresas
buto que a Itália e os italianos pode-
de Maio, a Comissão Europeia sos-
estiveram em condições de reagir
rão dar para a solução do momento
pendeu o procedimento de infração
eficazmente à deslocação progres-
difícil que também o nosso continen-
para deficit excessivo aberto contra
siva do centro de gravidade da
te está a atravessar. Trata-se de dar
a Itália em 2010, reconhecendo
procura mundial para as economias
à Europa um impulso mais forte e
a capacidade das forças politicas
emergentes, iniciando uma estraté-
propostas credíveis para uma maior
italianas de identificar e atuar as
gia de maior diversificação geográfi-
integração, corresponsabilidade e
medidas necessarias para conduzir
ca: no período de três anos a quota
solidariedade. A Itália está entre
o decifit abaixo do limite do 3% do
da exportação directa italiana para
os países que fundaram e cons-
PIB, tal como previsto pelos Trata-
os Países extra-europeus passou
truiram as instituições europeias e
dos Europeus.
de 41% para o actual 44%. Por meio
tem portanto a responsabilidade de
O sistema das empresas nacionais
do “made in Italy” as empresas que
formular – juntamente com os outros
beneficiou concretamente com a
operam nos mercados internacionais
parceiros europeus – as propostas
renovada confiança internacional.
estão a contribuir para o reforço dos
políticas capazes de promover, em
De facto, a Itália se encontra entre
nossos elementos de reconheci-
termos concretos, duradouros e
as primeiras potências industriais
mento no mundo: cultura, qualidade,
com bases sustentáveis, desenvolvi-
globais e é rica de empresas que
design e estilo de vida, aspectos
mento, trabalho e justiça em todo o
também no ano passado souberam
onde investir estrategicamente para
nosso continente.
manifestar a sua elevada competiti-
consolidar o “appeal” do produto
Neste sentido é importante subli-
vidade nos mercados internacionais,
italiano no mundo.
nhar a maior atenção que, também
sobretudo em sectores-chave asso-
Não é a primeira vez que a Itália, ao
graças ao esforço diplomático do
ciados desde sempre ao brand-Ita-
longo da sua existência, se encontra
Governo italiano, os últimos Conse-
lia: a automatização e a mecânica; o
perante desafios cruciais. No pós-
lhos Europeus tem vindo a prestar
vestuário e a moda; a decoração e
-guerra, saimos das ruínas mate-
ao tema do desemprego jovem e
os produtos para a casa; os géneros
riais, morais e políticas graças à
as medidas mais eficazes para pôr
agro-alimentares e os produtos far-
visão duma elite política que soube
termo urgentemente a um problema
macêuticos. Portanto em 2012, de-
pôr os interesses do País à frente
que está a afectar de forma grave
pois de anos consecutivos de déficit,
dos da própria parte política furjan-
as novas gerações dos cidadãos
o saldo da balança comercial italiana
do um compromisso que permitiu o
europeus.
➤
n
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 57
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Pascal Teixeira da Silva, Embaixador de França em Portugal Por ocasião da Festa Nacional
"
A VENCER E DE OPORTUNIDADES PARA APROVEITAR. NA RELAÇÃO ENTRE A FRANÇA E PORTUGAL, OS ÚLTIMOS DOZE MESES FORAM TESTEMUNHAS DISSO
"
A minha mulher, eu próprio e o
que trabalham para dar a conhecer
que se aplicariam a todos – quer se
pessoal da Embaixada de Fran-
a França, sob todos os seus aspec-
trate da economia, da política ou
ça, estamos muito felizes por vos
tos, em Portugal.
da cultura. É verdade, mas só em
receber no Palácio de Santos para
Há dois anos, falava-vos da per-
parte.
a comemoração da nossa Festa Na-
tinência da nossa divisa nacional
Primeiro, não há necessariamente
cional que foi antecipada, uma vez
para ultrapassar os desafios com
uma contradição entre abertura aos
que este ano o 14 de Julho calha
que a Europa se defronta; há um
outros e a sua própria identidade
num domingo.
ano, o fio condutor era a união da
e ainda menos para a França que
As minhas primeiras palavras são,
nação e a união das nações.
considera os seus valores como
antes de mais, para todos vós, inter-
Este ano, deixo algumas breves
sendo universais.
locutores e parceiros da Embaixada
reflexões sobre o que significa a
Depois, a grandeza do ideal euro-
em especial, e da França em geral,
festa nacional. A globalização e a
peu foi – e continua a ser – de que-
para agradecer o trabalho conjunto
integração europeia podem dar a
rer concretizar a unidade do nosso
em prol da relação entre os nossos
impressão de que as fronteiras de-
continente dentro da diversidade
dois países.
saparecem, que as especificidades
dos seus componentes. Nestes
Saúdo também todos os nossos
nacionais se diluem em benefício
tempos de crise, para conjurar as
compatriotas e agradeço a todos os
de normas e de comportamentos
tentações de “repli”, de egoísmo e
58 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
➤
de exclusão que surgem por aqui
mento no século XXI para a França
Lisboa, Essilor, Etic, France 24,
e ali, precisamos, antes de mais,
e para Portugal.
Gazon, Zoysia, GDF Suez, GDF
de nos rever nos fundamentos do
Durante os últimos meses come-
Suez International Power, Inter-
que é a nossa convivência nacio-
morámos o 60° aniversário do liceu
marché Jean-Louis David, Lacoste,
nal – que para nós, são os valores
francês de Lisboa e o 50° aniversá-
Lactalis, Loja das Meias, L’Oréal,
da República (liberdade, igualda-
rio do liceu francês do Porto. São
Mumm, Nespresso, Pernod-Ricard,
de, fraternidade), a democracia e
dois estabelecimentos de ensino de
Peugeot, Président, Ramos-Pinto,
a solidariedade, ancoradas numa
referência que preenchem de forma
Rougié, Sanofi, Securitas, Sopexa,
história, numa cultura, numa língua
notável a dupla missão de instruir
Thales, Unicer, Valrhona, Vinhos de
partilhadas.
os alunos Franceses, mas também
Lisboa.
Acontece o mesmo com Portugal
de permitir aos alunos Portugueses
Agradeço a todos os que partici-
e outros países. Não poderemos
frequentarem uma escolaridade à
param na organização desta Festa
ultrapassar as dificuldades de hoje
francesa – alunos que, depois, são
Nacional com menção especial ao
e não construiremos nada com os
pontes duradouras entre os nos-
José dos Santos e à equipa da resi-
outros se não tivermos o orgulho
sos dois países, as nossas duas
dência e à Margarida Gama.
– o “santo orgulho” – por aquilo
culturas. É um bem precioso que é
Agradeço à Marie-France Carrondo
que somos e se não acreditarmos
necessário preservar e contamos
e à sua equipa, assim como aos
na nossa capacidade colectiva de
com os nossos amigos portugueses
seus patrocinadores pelo número
mobilizar as nossas energias e os
para nos ajudarem.
especial da revista “Quem sabe”
nossos talentos.
O colóquio que organizámos em
consagrada ao 14 de Julho, que vos
Qualquer crise é feita de desafios
Março, mais uma vez com parceiros
será oferecida.
a vencer e de oportunidades para
portugueses, sobre o tema: “Fran-
Agradeço ao Coro Juvenil de Lisboa
aproveitar. Na relação entre a
cofonia, lusofonia, o mesmo desa-
que vos vai cantar os hinos nacio-
França e Portugal, os últimos doze
fio?” constitui igualmente uma dupla
nais francês e português.
meses foram testemunhas disso.
ilustração, por um lado, do diálogo
Uma última palavra sobre a Festa
Lembro as várias visitas de respon-
franco-português e, por outro, do
Nacional que, este ano, é apre-
sáveis governamentais a Paris e a
desafio da diversidade na globaliza-
sentada sob o signo da “pop’art” –
Lisboa ou a intensidade das activi-
ção.
como vêem, identidade e abertura
dades e da cooperação no âmbito
Este ano comemoramos, com
fazem um bom par!
da defesa e da polícia.
numerosas manifestações culturais,
Com o apoio da Alliance Fran-
No domínio económico, a conferên-
em Paris, na Primavera e, a seguir,
çaise, organizámos um concurso
cia organizada no passado dia 20
em Lisboa, no próximo Outono,
de pintura sobre o tema do 14 de
de Novembro pela equipa de Fran-
os 15 anos do Tratado de amiza-
Julho. Podem apreciar os quadros
ça, com o apoio dos parceiros por-
de entre as duas capitais, entre a
suspensos nas paredes. Felicito o
tugueses, a quem agradeço nova-
cidade-luz e a cidade da luz – como
vencedor do concurso, Francisco
mente, sobre o investimento francês
podemos admirar hoje.
Ponto, que fez uma interpretação de
em Portugal, mostrou a importância,
Uma breve nota de autopublicidade
um personagem do célebre quadro
a antiguidade e a diversidade do
para vos informar que a embaixada
de Delacroix “La liberté guidant le
tecido empresarial francês. É uma
tem uma página no Facebook des-
peuple”, sobre um fundo azul, cor
realidade em movimento, como o
de 1 de Julho.
da paz e da concórdia. Entrego-lhe
demonstram vários investimentos
Não posso terminar sem exprimir
o prémio – uma viagem a Paris.
recentes nos sectores industriais e
toda a minha gratidão.
Felicito também a vencedora do 2°
de serviços, assim como a aquisi-
Em primeiro lugar, aos patrocinado-
prémio, Catarina Soalheiro, que fez
ção da ANA pelo grupo VINCI, que
res e parceiros cuja contribuição é
uma interpretação do “Génie de la
prova o reconhecimento da compe-
essencial para que uma recepção
liberté” que se encontra no cimo da
tência portuguesa e a confiança no
possa realizar-se nestas condi-
coluna de Julho, Praça da Bastilha.
futuro do país. Já estamos a traba-
ções: Air France, Alliance française,
Não foi certamente por acaso que
lhar para organizar um novo evento,
Alstom, Ana Calheiros, Axa, Chez
o júri se deixou seduzir por duas
em Novembro próximo, sobre o
vous immobilier, Citroën, Cofely,
interpretações do tema da liberdade
tema da inovação como factor de
Cofidis, Dalkia, Degrémont, Edisoft,
que está no coração do nosso ideal
competitividade, chave do cresci-
Eric Kayser, Escola de Turismo de
republicano.
➤
n
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 59
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Allan Katz, Embaixador dos Estados Unidos da América
"
O QUE FAZ DE PORTUGAL UM GRANDE PAÍS É O SEU POVO. ASSIM COMO ESTE POVO SUPEROU DESAFIOS
DO PASSADO, NÃO HÁ DÚVIDA DE QUE FARÁ O MESMO COM OS DESAFIOS DE HOJE.
É com um sentimento misto de
união sempre mais próxima de
alegria e tristeza que escrevo a
mútuo respeito e amizade.
que será a minha última men-
Esta amizade é um legado, com
sagem na newsletter, enquanto
raízes em 1791, ano em qual o
embaixador dos EUA em Portu-
Presidente George Washington
gal. É com saudade que deixo
nomeou David Humphreys -
este magnífico país que foi o
primeiro embaixador Americano
meu lar durante os últimos três
em Portugal. Durante o meu
anos. No entanto, estou orgu-
tempo em Portugal percorri o
lhoso de tudo o que realizamos
país de norte a sul, e atraves-
e dos passos positivos que te-
sei o mar Atlântico várias vezes
mos dado para ajudar Portugal
para visitar a Madeira e os
e os EUA a desenvolverem uma
Açores. Fico constantemente
60 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
➤
"
➤
impressionado pelo carinho e
hospitalidade sincera do povo português ao receber-me nos
It is with bittersweet sentiment that I pen what will
escritórios, escolas e em casa.
be my final Ambassador’s remarks here in Portugal.
O que faz de Portugal um
Saddened by the thought of leaving this beautiful
grande país é o seu povo.
country that has been my home for the past three
Assim como este povo su-
years, I am nonetheless proud of all that we have
perou desafios do passado,
accomplished and of the positive strides that we have
não há dúvida de que fará o
made in bringing Portugal and the United States into
mesmo com os desafios de
an even-closer bond of mutual respect and friendship.
hoje. A juventude deste país
This friendship is a legacy, with roots in 1791, the
representa a primeira geração
year when President George Washington appointed
nascida numa democracia, um
David Humphreys as our first Ambassador to Portu-
facto singular que traz consigo
gal. During my tenure in Portugal, I have traversed
não apenas grandes oportu-
the country from the north to the south, and have
nidades, mas também gran-
crossed the sea many times to visit both Madeira and
des responsabilidades. Recai
the Azores as well. I have been constantly impres-
sobre a juventude de Portugal
sed by the warmth, resilience, and sincere hospitality
a necessidade de garantir que
of the Portuguese people as they welcomed me into
a democracia portuguesa se
their offices, their schools, their institutions, and their
mantém estável e segura. Com
homes. What makes Portugal a great country is its
base nas minhas interacções
people, and just as they have risen above challenges
com jovens em escolas e uni-
in the past, I have no doubt that they will do the same
versidades, posso comprovar
when faced with today’s particular challenges. The
que eles estão prontos para
youth of this country represent the first generation to
enfrentar este desafio.
be born into a democracy, a singular fact which car-
Certamente, a minha estadia
ries with it not only great opportunities, but also great
não teria sido a mesma sem o
responsibilities. It is upon the shoulders of Portugal’s
apoio, os conselhos, a sabedo-
youth to ensure that Portugal remains the stable, safe,
ria e, mais importante ainda, a
and welcoming democracy that it is. From my interac-
amizade dos funcionários ame-
tions with youth in schools and universities across the
ricanos e portugueses da Em-
country, I can attest that they are more than ready for
baixada dos EUA em Lisboa.
this challenge. Of course, my time in Lisbon would
Para eles, e para os leitores,
not have been the same without the support, counsel,
gostaria de transmitir os meus
wisdom, and most importantly the friendship of the
sinceros agradecimentos. E,
American and Portuguese staff at the U.S. Embassy in
como se aproxima a data da
Lisbon. To them, and to all of you, I would like to issue
minha partida, posso prometer
a heartfelt obrigado.
que esta mensagem não se
And so now, as the time draws near for me to take lea-
trata de um ‘’adeus,’’ mas sim
ve of Lisbon, I can only promise that this is not adeus
de um ‘’até logo’’.
but rather até logo.
n
n
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 61
ECONOMIA & FINANÇAS
O prémio nobel da economia apela à razão A crise em Portugal e as políticas monetárias europeias
Pelos finais de Maio, Paul Krugman, o economista lau-
enfrenta, como é sabido há várias décadas, está na
reado com o prémio Nobel, escreve sobre Portugal e a
implementação de políticas fiscais e económicas
crise que nos afecta no seu blog alojado no site do NY
expansionistas. Mas Portugal não conseguirá fazer
Times. Não quisemos deixar de partilhar o texto que
estas políticas por si só uma vez que já não tem a
aqui transcrevemos:
sua própria moeda. Assim, ou o euro deve terminar
«O Financial Times faz um longo e profundamente
ou algo deve ser feito para que resulte, porque o que
deprimente retrato das condições em Portugal,
vemos (e Portugal experiencia) é inaceitável.
focando-se na situação das empresas familiares[PME]
Como poderemos ajudar? Por uma expansão mais
- que em tempos foram o centro da sociedade e
forte no global da zona euro e maior inflação na
da economia nacional e que agora estão a falir em
Europa. Uma política monetária menos controlada
massa.
poderá alcançar estes objectivos, mas há que ter
É esta a situação. E quem quer que tenha algum
em conta que o BCE, tal como o Fed, é basicamente
papel no actual debate económico, seja um actor
contra o limite inferior zero. Pode e deve forçar
político ou um analista periférico, deve focar-se, acima
políticas não convencionais, mas necessita,
de tudo, no como e porquê se está a deixar que este
igualmente, de uma maior ajuda da política fiscal e
pesadelo aconteça passadas apenas três gerações
não uma situação onde a austeridade na periferia é
depois da Grande Depressão.
reforçada pela austeridade nos países maiores.
Não me venham dizer que Portugal tem tido más
O que aconteceu contudo foram três anos nos quais
políticas no passado e que tem profundos problemas
a política europeia se tem focado quase inteiramente
estruturais. É claro que tem; tal como todos os demais
nos supostos perigos da dívida pública. Penso que
mas, enquanto é discutível se as de Portugal são pio-
é um desperdício de tempo discutir como aconteceu
res que a de alguns outros países, como pode fazer
essa má orientação, incluindo o infeliz papel de alguns
sentido "resolver" esses problemas condenando um
economistas que fizeram um mau serviço no passado
vasto número de trabalhadores válidos ao desempre-
e que, provavelmente, o farão no futuro. Mas o mais
go?
importante aqui será pensar agora em como mudar
A resposta aos problemas que agora Portugal
estas políticas que estão a criar este pesadelo.»■
62 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
SS.AS. - OS REIS
Os novos Reis dos Belgas A coroa que une um país de dois povos
Depois da recente abdicação oficial perante o Parlamento do Rei Alberto II, a Bélgica tem agora novos soberanos, herdeiros de pesadas coroas que devem manter firmes a bem da união do povo belga.
64 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
➤
➤
O novo rei nasceu Príncipe Filipe Leopol-
Entre 2001 e 2008, o casal é abençoado com
do Louis Marie da Bélgica a 15 de Abril de
quatro filhos: a Princesa Elisabete Teresa, o
1960 filho do futuro Rei Alberto II e da futura
Príncipe Gabriel Baudouin, o Príncipe Leo-
Rainha Paola. O seus padrinhos foram o Rei
pold Emmanuel e a Princesa Eleonore.
Leopoldo III e Luisa Princesa Ruffo de Ca-
Depois da abdicação oficial perante o Parla-
lábria. É curioso notar que Filipe ainda tem
mento, Alberto e Paola deixaram de ostentar
laços de família com o Duque de Bragança,
o título de Suas Majestades o Rei e a Rainha
Dom Duarte Pio: é trineto de Dona Maria José
dos Belgas e passaram a ser apenas o Rei
de Bragança, filha do Rei Dom Miguel de Por-
Alberto II da Bélgica e a Rainha Paola da
tugal, por parte de Elisabete da Baviera que
Bélgica. Filipe e Matilde receberam os títulos
casou com Alberto I, terceiro Rei dos belgas.
de Suas Majestades o Rei e a Rainha dos
Teve uma educação rigorosa e exigente pas-
Belgas, e a sua filha mais velha, Elisabete,
sando pela Academia Real Militar Belga, pelo
passou a ser a herdeira do trono, sendo-
Trinity College em Oxford e obteve um mes-
-lhe atribuído o título de Sua Alteza Real a
trado em ciência política na Universidade de
Duquesa de Brabante. Mas caberá a Filipe
Stanford, na Califórnia. Ao retornar à Bélgica,
manter a Monarquia vigente nas próximas
teve treino militar de comando e pára-quedis-
décadas de forma a deixar um trono para
ta e tornou-se um piloto certificado, chegando
Elisabete.
ao posto de coronel da Força Aérea Real da
Teme-se que as alterações possam perturbar
Bélgica. Mais tarde foi promovido a major-ge-
a delicada unidade do Estado belga que tenta
neral do exército e da força aérea, bem como
resolver as eternas questões entre valões e
contra-almirante da Marinha, em preparação
francófonos. A família real tem sido percebi-
para o seu futuro papel como Comandante
da como o cimento que mantém Bélgica uni-
Supremo das Forças Armadas. A sua forma-
da. A proposta de lei para o estabelecimento
ção militar terá moldado a sua personalidade,
de um código de conduta para a família real,
sendo um homem muito reservado e sereno.
foi recentemente aprovada. A partir de agora,
Quando o Rei Balduíno faleceu e o rei Alberto
e com excepção do Rei, a família real ver-se-
II sobe ao trono em 1993, ao príncipe Filipe
-á obrigada a ter as suas deslocações para
foi dado o título de Duque de Brabante. As
fora da UE e as suas reuniões com autorida-
suas aparições públicas e oficiais tornam-se
des estrangeiras aprovadas pelo Ministro dos
mais frequentes pelas exigências conferidas
Negócios Estrangeiros.
pelo seu novo título. O Duque vai cumprindo
A Bélgica não poderia pedir uma melhor
com rigor e sobriedade os seus deveres até
Família Real com os seus sólidos princípios
que, pelos finais da década de 90, conhece
de devoção, bondade, inteligência e firmeza,
aquela que viria a ser a sua companheira:
contudo não será fácil o reinado de Filipe.
n
Mathilde Marie Christiane Ghislaine d’Udekem d’Acoz. Filha de um Conde e neta de um Barão, Matilde nasce a 20 de Janeiro de 1973, em Uccle, e torna-se na primeira Rainha consorte de naturalidade belga. A sua juventude é passada em Bastogne e estuda para se tornar numa Terapeuta da fala, profissão que virá a exercer em Bruxelas antes de obter o seu Mestrado em Psicologia. É uma excelente aluna graduando-se sempre com louvores e exibe uma personalidade envolvente e carinhosa. A união é oficializada a 4 de Dezembro de 1999 em Bruxelas, pelo civil na Câmara Municipal de Bruxelas e, religiosamente, na Catedral de Saint Michel e Gudula Santo.
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 65
SS.AS. - OS REIS
Suas Altezas Reais os Reis dos Países Baixos
O Reino dos Países Baixos foi estabelecido
primeira é uma cerimónia laica, enquanto a
em 1815, depois de uma complexa histó-
segunda tem uma natureza religiosa. A co-
ria de uniões e separações, conquistas e
roa, o ceptro e o pomo real são colocados
perdas de soberania. Tem como primeiro
na chamada mesa da credibilidade junto a
governante SAR o Rei Guilherme I dos
uma cópia da Constituição. Os represen-
Países Baixos, filho do último rei, Guilherme
tantes do povo, unidos nos Estados Gerais,
V, Príncipe de Orange, que volta para os
juram lealdade ao monarca e o mesmo jura
Países Baixos em 1813 após a derrota de
lealdade à Constituição. Porém, mesmo
Napoleão na famosa Batalha de Waterloo.
sem uma investidura, o monarca teria o
É a Casa de Orange-Nassau que se torna
direito de exercer o poder real, pois o trono
o centro e alma deste país e dá origem
não pode ficar sem representante: o rei
ao lema da Holanda, Je maintiendrai (“eu
Guilherme-Alexandre e a rainha Máxima.
manterei”). A dinastia mantém-se e a coroa
Antes de ser investido, Guilherme-Alexan-
vai sendo passada de pai para filho até que,
dre era já príncipe e teve, naturalmente,
em 1890, se dá início a uma regência femi-
que passar pelo serviço militar obrigatório
nina, que se manteve até à recente abdica-
na Marinha Real Holandesa e, depois, o es-
ção da Rainha Beatriz.
tudo de História na Universidade de Leiden,
Foi a 30 de Abril de 2013, que o príncipe
onde conclui o mestrado em 1993. O actual
Guilherme-Alexandre sucedeu à sua mãe,
rei dos Países Baixos teve também cursos
a rainha Beatriz, como novo monarca do
adicionais no Colégio de Defesa, tendo tido
Reino da Holanda. A cerimónia é chamada
acesso a um programa introdutório criado
de investidura e não de coroação, porque a
propositadamente para lhe dar mais ➤
66 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
➤
informações sobre a sociedade holande-
na sociedade. Está obrigado a uma impar-
sa, a sua forma de governo e o seu sistema
cialidade e a contribuir para a estabilida-
legal.
de na sociedade e para a continuidade e
Foi a 2 de Fevereiro de 2002 que casou
progresso do país. É, na sua figura, que se
com Máxima Zorreguieta tendo já garanti-
refletem os sentimentos nacionais entre os cidadãos, nos bons e nos maus momentos. É o rei que representa o Reino dos Países
"
O PRÍNCIPE GUILHERME-ALEXANDRE
Baixos no exterior e, dentro do país, em conferências, reuniões, comemorações e outros eventos oficiais.
SUCEDEU A SUA MÃE, A RAINHA BEATRIZ, COMO NOVO MONARCA DO REINO DA HOLANDA
Enquanto casal, o rei Guilherme Alexandre e a rainha Máxima têm uma importante função social através da Fundação Oranje
"
da a sucessão. A primogénita, a princesa
Fonds. Estabelecida em 2002 como um presente de casamento nacional, a fundação apoia iniciativas sociais na Holanda. O rei também atua em várias áreas, como contro-
Catarina Amália, é a primeira na linha de
le de água, infraestrutura e ICT, Desporto e
sucessão ao trono holandês, seguindo-se a
no Ministério da Defesa. n
princesa Alexia e a princesa Ariane. Os deveres e funções dos novos Monarcas: Como monarca constitucional, o soberano dos Países Baixos tem o seu papel e posição definidos e limitados pela Constituição. É a magna carta holandesa que determina a ordem de sucessão, os mecanismos de ascensão e abdicação ao trono, as funções e as responsabilidades do monarca, bem como as formalidades a serem cumpridas na sua comunicação com os Estados Gerais dos Países Baixos e na criação das leis. A Constituição garante, igualmente, a inimputabilidade do Rei, atestando que apenas os ministros são responsáveis, perante o Parlamento, pelas políticas do Governo. Os ministros são, da mesma forma, politicamente responsáveis pelas declarações e comportamentos do rei. A posição do rei é parcialmente refletida nas leis a referendar e contribui para a formação do governo. Além disso, o rei é, cumulativamente, presidente do Conselho de Estado e cabe-lhe a ele fazer o discurso anual do trono. Além dos deveres formais como Chefe de Estado, o rei está comprometido com o povo do Reino dos Países Baixos. O rei assume um papel coeso, representativo e de suporte. Deverá ser a pedra de toque da sociedade holandesa, ligando as pessoas e grupos e apoiando o trabalho de pessoas e organizações que têm um papel unificador
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 67
HISTÓRIA
A Última Rainha de Portugal Entrevista com o Dr. José Alberto Ribeiro sobre o seu livro «Rainha D. Amélia - uma biografia» por Nuno Vaz de Moura
O recente director do Palácio Nacional da Ajuda, José Alberto Ribeiro acaba de lançar uma biografia sobre a Rainha D. Amélia figura sobre a qual está prestes a concluir o seu Doutoramento. Licenciado e mestre em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, este prestigiado académico concedeu uma entrevista à Diplomática para falarmos da sua obra e daquela que foi a última Rainha de Portugal.
68 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
➤
Antes de mais, porquê a es-
vem de uma família muito ligada
nacionais. Foi necessário uma
colha da Rainha D. Amélia?
à protecção das Artes. O seu
longa demarche até chegar ao
O tema da Rainha D. Amélia
bisavô, o Rei D. Filipe, foi quem
objectivo final.
surgiu inicialmente num âmbito
abriu Versalhes ao público e
É verdade que D. Amélia é tam-
académico, na preparação da mi-
o seu tioavô, Duque de Auma-
bém uma princesa de França,
nha tese de Doutoramento sobre
le, D. Henrique de Orleães foi
mas o Estado Português não
a ligação da Rainha na protecção
quem criou a grande Pinacoteca
tem uma palavra nisso?
do património artístico, arquitec-
do Chatêau de Chantilly. E é a
Não tem pela seguinte razão: a
tónico e arqueológico português,
Rainha D. Amélia quem, ao se
Rainha antes de morrer faz vários
que é uma faceta menos conhe-
perceber da importância e mag-
pedidos - sendo que alguns não
cida da D. Amélia. Sobre o tema
nitude da colecção de coches
são cumpridos: não queimaram
dou apenas algumas indicações
da casa real portuguesa, decide
a sua cama, com as armas de
no livro, uma vez que não faria
criar um museu para albergá-los.
Portugal e França nem os diários
sentido debruçar-me sobre o
Acompanhará todas as
conforme era sua vontade. Dos
tema numa biografia.
obras, escolhe as peças, acom-
diários foram feitos dois lotes.
Mas acaba por mencionar
panha os artistas que fazem as
O lote mais pequeno ficou como
alguns exemplos como o caso
pinturas; enfim há um desejo de
propriedade do último mordomo
da tentativa de impedimento
intervir e acompanhar todos os
da Rainha que nos anos de 1980
de construção de uma fábrica
trabalhos.
falece e os herdeiros colocam-
junto à Torre de Belém.
Diz na nota introdutória que é
-nos em leilão e o coleccionador
Sim. Há alguns exemplos sobre-
uma das poucas pessoas que
Fenerol que é um grande apai-
tudo para testemunhar que era
teve acesso aos Diários da
xonado pela figura da Rainha
uma mulher bastante culta e com
Rainha D. Amélia - que aliás
D. Amélia os licita. O outro lote,
uma grande consciência patri-
deveriam ter sido queimados,
maior, caiu em herança ao sobri-
monial. Isso ficou expresso em
conforme desejo da Rainha.
nho da Rainha, o Conde de Paris
alguns dos seus trabalhos como
Como se deu esse acesso?
e pretendente ao trono de Fran-
por exemplo do restauro da Sé
Como chegou lá?
ça. Em determinada altura, os
catedral de Coimbra que é pago
Foi um processo moroso de anos,
diários passam para os Archives
pelo bolso da própria Rainha
de conhecimentos, de pedidos de
Nationales, que são o equivalen-
pedindo que não seja divulgada
autorização. Houve apenas dois
te francês da Torre do Tombo.
essa notícia ou, o que poderá ser
biógrafos - ambos franceses e já
Mas a família Orleães tem hoje
novidade para muitas pessoas,
falecidos - que tiveram acesso
uma ligação a Portugal, nomea-
o facto de os primeiros trabalhos
aos ditos diários. Um deles Ca-
damente pelo Duque de Anjou, D.
arqueológicos em Conimbriga
tinot-Crost, que teve acesso aos
Carlos Filipe de Orleães, marido
terem sido também financiados
diários em posse do colecciona-
da Duquesa de Cadaval, D. Dia-
pela D. Amélia.
dor Rémi Fenerol e faz a sua bio-
na Álvares Pereira de Melo.
Procurei dar nesta biografia uma
grafia recorrendo a documenta-
Essa ligação a Portugal é já
visão alargada desta figura, des-
ção paralela; e o jornalista Lucien
anterior, entre os Braganças e os
de o plano pessoal, emocional e
Coperchot com a colaboração da
Orleães. Uma irmã de D. Pedro
das suas relações com aqueles
própria Rainha D. Amélia. E a do
II, D. Francisca de Bragança ca-
que lhe são mais próximos, até
Stephen Bern, que produz uma
sou com o Príncipe de Joinville,
ao seu quotidiano enquanto so-
biografia romanceada adulteran-
D. Francisco Fernando de Or-
berana e enquanto mulher e mãe.
do alguns factos. No âmbito da
leães. Mais tarde, no ramo bra-
E depois no seu exílio, nunca se
minha pesquisa académica era
sileiro dos Bragança, a Princesa
esquecendo que era Rainha de
imperioso consultar esses diários
Imperial D. Isabel de Bragança
Portugal, a sua actividade mais
para saber o que a Rainha escre-
e Bourbon casa com o Conde de
ligada à casa real francesa uma
veu acerca das suas preocupa-
Eu, D. Gastão de Orleães, dando
vez que era uma Princesa de
ções patrimoniais.
origem à Dinastia Orleães-Bra-
França.
Os diários que estão em Paris
gança do lado brasileiro. Quanto
Também se faz referência à
são propriedade da casa Real
ao casamento que acabou de
sua formação cultural. Ela que
de França e estão nos arquivos
referir há que ver que a Casa
➤
➤
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 69
A Última Rainha de Portugal
➤
de Cadaval é um ramo da Casa
de Bragança com um sobrinho neto da Rainha D. Amélia e que anteriormente ainda houve o casamento a mãe de D. Duarte Pio, actual Duque de Bragança que era uma princesa Orleães- Bragança do lado do Brasil. Há uma ligação sempre muito próxima entre as duas famílias. Essa ligação poderá explicar a escolha do futuro Rei de uma princesa francesa sem coroa? Tendo em conta que se vivia um momento em que a Monarquia começava a estar posta em causa e que uma princesa inglesa ou espanhola poderiam ser mais benéficas em termos políticos. Como é referido no meu livro, D. Luís e D. Maria Pia ainda tentaram uma ligação com a Infanta D. Eulália numa altura em que se falava também de um Iberismo. Mas a Princesa não aceitou sob nenhuma hipótese o casamento. Porque, como leio na sua obra, era uma espécie de feminista avant-la-lettre. Sim, de facto. Por outro lado sendo D. Carlos de um país extremamente católico teria que casar com uma católica. A maior parte das princesas alemãs disponíveis não o eram e em Inglaterra não havia nenhuma princesa disponível. Houve cartas a de D. Luís à Rainha Victória para ver se poderia haver alguma pretendente, contudo Victória não autorizava que nenhuma neta se casasse com um Rei católico. O facto da Rainha D. Amélia, que era a filha mais velha do Conde de Paris, não ser coroada não foi de grande importância. A família Orleães ainda tem uma grande importância no séc. XIX francês. Estamos a falar de uma família que tinha a herança de uma das maiores monarquias e que
70 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
➤
marcou em termos de tradição
Reinar - estando sempre muito
cês. E há mesmo uma frase que
e em termos culturais toda a
por detrás do Rei D. Manuel -
a Rainha usa muito e que resume
Europa. E, igualmente, uma das
rodeada de um grupo de amigos
este comportamento: « Não sei
famílias mais ricas da Europa
formando uma camarilha que pro-
estar parada, é preciso seguir em
➤
do Séc. XIX. Essa influência fez que, por várias vezes, a França estivesse quase a retornar à Monarquia; e isso era muito possível que viesse a acontecer mas a História veio a mostrar que as coisas seguiram noutro sentido. E dou-lhe um exemplo: a prima da Rainha D. Amélia, Marie d'Orleães, casa com o filho do Rei da Dinamarca. Portanto, os Orleães continuam a fazer muito bons casamentos entre os
frente.»
"
Para além dessas acções mais
A RAI N H A VA I S ER S EM P R E AC U S AD A
institucionais, e que já são
PO R U M A PA R T E D E INTELECTUAIS E UMA
AL A M AI S L I BERAL D O P O N TO D E VI S TA P OLÍTICO DE SER UMA M U L H ER U LT R A-C O NS ERVAD O RA, M U I TO L I G AD A À I G REJ A.
seus descendentes porque é uma família com uma grande tradição
"
muitas, como ocupa a Rainha o seu tempo? Em Portugal, há um contacto muito permanente com o povo. A Rainha anda a cavalo pela zona das avenidas novas e pelo Campo Grande; passeia na Avenida da Liberdade, que tinha poucos anos, e era um local onde as pessoas se passeavam e se mostravam. Na altura da Páscoa visita as Igrejas do Chiado.
e importância política.
voca a existência de dois grupos
Estamos a falar de uma situação
Voltando à Rainha D. Amélia.
no paço: um mais próximo do Rei
que seria impensável numa Mo-
Esta foi uma Rainha que dividiu
D. Carlos e outro mais próximo
narquia inglesa, esta proximidade
opiniões tendo, como escreve,
da Rainha. É, igualmente, criti-
com o povo e incutindo a Rainha,
existido uma lenda áurea e uma
cada pelas várias iniciativas que
inclusivamente, aos filhos a ne-
lenda negra. Poderia nos di-
tem como ânsia de protagonismo.
cessidade de cumprimentarem as
zer quais as características da
A criação da assistência nacional
pessoas e de se aproximarem.
Rainha que determinaram estas
aos tuberculosos, dos institutos
E fruiu resultado junto do
duas lendas?
de protecção aos órfãos, às viú-
povo?
A Rainha vai ser sempre acusada
vas e aos militares, do instituto
Foram muito populares sem-
por uma parte de intelectuais e
de socorro a náufragos são vistos
pre. Aliás tive a preocupação
uma ala mais liberal do ponto de
como estruturas paralelas de po-
no livro de, além das visitas que
vista político de ser uma mulher
der e gera mal estar na corte.
faz desde Portugal continental à
ultra-conservadora, muito ligada
Era vista como uma mulher
primeira viagem dos Monarcas
à Igreja. Sendo que a referên-
demasiado activa, digamos
à Madeira e Açores de pôr um
cia, quando a D. Amélia chega a
assim.
pouco, por zonas geográficas
Portugal, era a Rainha D. Maria
Eu acho que é algo que os auto-
algumas impressões da Rainha.
Pia. Esta última, que chega ao
res vão perceber no livro: é que
Esta fica sempre impressionada
nosso país com quinze anos, mas
ela nunca estava parada. Está
com o fenómeno da Monarquia,
era filha do homem que veio a
sempre ligada a causas quer em
com a magia dos soberanos em
fazer a unificação de Itália. Para
Portugal, enquanto Rainha, quer
determinados locais. E sobretudo
os liberais a Rainha D. Maria
no exílio. A I Guerra Mundial
maravilhada com o desenvolver
Pia é sempre vista como filha do
foram quatro anos muito intensos
das obras que manda fazer: nos
Rei liberal unificador enquanto a
na vida de D. Amélia alistando-se
sanatórios onde sabe que já há
Rainha D. Amélia vai ser sempre
como enfermeira na cruz ver-
crianças que estão para chegar;
encarada um pouco como estan-
melha inglesa e depois na cruz
nas enfermarias novas do Hospi-
do ligada a um meio mais conser-
vermelha francesa sendo conde-
tal de S. José que frequentemen-
vador. Por outro lado, a própria
corada pelo Rei Jorge V. Na II
te visita; nos bairros pobres que
historiografia que se foi fazendo,
Guerra Mundial, devido à avan-
frequenta oferecendo ajuda. Não
sobretudo após a implantação da
çada idade isso já não lhe foi
estamos a falar de uma soberana
República, cria a imagem de uma
possível mas está sempre ligada
que estivessem sempre dentro do
mãe que quase não deixa o filho
à protecção do património fran-
palácio das Necessidades,
➤
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 71
A Última Rainha de Portugal
de uma figura de Estado só
que esta será como que uma Rai-
isso num texto e será comentado
protocolar.
nha malfadada. Quase tudo o que
mais tarde pela D. Amélia. E a
A Rainha visitava o povo e
poderia acontecer, aconteceu. No
própria Rainha e o D. Carlos não
estava junto o povo; talvez
sentido pior do termo.
morrem devido a esse gesto. O
por isso escreve «Sinto no ar
A Rainha tem a noção disso.
gesto desesperado de uma mãe
qualquer coisa de desprezível.»
Tem a noção que há sempre uma
que se levanta, no landau aberto,
Ela sentia que estava algo para
sombra que a acompanha. Vou-
e tenta defender com um bouquet
acontecer? D. Amélia tinha a
-lhe dar um exemplo: A Rainha
de flores que lhe tinha sido ofe-
noção de estar a viver sob uma
faz uma viagem a Viena para
recido quando chegou à estação
espada de Dâmocles?
procurar noivo e um dos possí-
fluvial da Praça do Comércio. Foi
Toda a família real tem a no-
veis pretendentes seria Francisco
D. Carlos que quis que o lan-
ção de que, os últimos anos
Fernado, um sobrinho do Impe-
dau fosse aberto, o que foi um
da Monarquia e ainda antes do
rador Francisco José. Quando
erro uma vez que circulava em
regicídio a degradação política
o Imperador morre sucede este
Lisboa, onde se preparava um
era muito grande. Não se conse-
sobrinho, uma vez que o seu
atentado real. É no momento em
guiam fazer as reformas neces-
filho Rudolfo foi assassinado. E
que um dos regícidas se debruça
sárias no Estado e o próprio do
é este sobrinho Francisco Fer-
sobre o landau com uma carabi-
Rei D. Carlos muito próximo do
nando, que em 1914 vem a ser
na que a Rainha lhe bate com as
seu atentado comenta com o seu
juntamente assassinado com a
flores e que o consegue afastar,
médico, Tomás de Mello Breyner
sua mulher em Sarajevo e dá
enquanto a guarda não chega,
que sentia que havia uma hosti-
início à I Guerra Mundial. Depois
e com isso salva D. Manuel que
lidade crescente contra a família
deste atentado a própria Rainha
ainda é ferido num braço. E aí
real. Aliás, o Reinado começou
comenta que há sem algo negro
grita «Infames! Infames!».
logo com o Ultimato inglês e um
que a acompanha. Depois há o
Na biografia, que o Stephen
ataque cerrado à família real
episódio que marcará esta fi-
Berg escreveu, põe a Rainha a
apontando-os como responsá-
gura e que ficará no imaginário
escrever no dia 1 de Fevereiro
veis. Hoje sabe-se que tal não é
que são as tragédias pessoais.
relatando o desgosto, o que para
correcto uma vez que se alguns
Ela vê o marido e o filho serem
mim nunca fez muito sentido, em
dos territórios não ficaram total-
assassinados à sua frente a 1 de
termos de psicologia humana.
Fevereiro de 1908 e o único filho
Depois da consulta dos diários,
que lhe restava, D. Manuel, vem
atesto que a Rainha no dia 1 de
a morrer quando está em exílio
Fevereiro não consegue escre-
em 1932.
ver e apenas coloca uma cruz
Depois, todos os familiares e os
demorando dias até voltar a
que lhe são mais próximos vão
escrever. Escreve mais tarde que
morrendo. Na própria família Or-
nunca perceberá o porquê do que
leães a D. Amélia passa a ser um
aconteceu no Terreiro do Paço:
monumento da família.
porque é que foi necessário
Em 1908 aconteceu o pior: a
matarem-lhe o marido e o filho.
morte do filho e do marido. Não
Não lhe parece, ao mesmo
encontramos nada escrito nos
tempo, que é estranho que
seus diários sobre o aconte-
grite «Infames!» e não «Guar-
cimento e a Rainha só volta a
da!», «Acudam!» ou «Aqui d'el
mente ocupados pelos ingleses
escrever a 25 de Março. Como
Rei!»? E pergunto isto também
deve-se às acções diplomáticas
profundo conhecedor da Rai-
porque ao se ler a sua biografia
do Rei D. Carlos e da família real
nha D. Amélia como descreve-
e mesmo as transcrições que
inglesa. Mas sentem, de facto,
ria esse momento? A versão
faz do diário parece que a D.
que havia uma degradação poli-
oficial de gritar «Infame! In-
Amélia, como mulher do seu
tica e que se caminhava para um
fame!» enquanto bate com as
tempo, estava um pouco imbuí-
desaire que viria a acontecer.
flores, corresponde à verdade?
da naquela literatura românti-
Ao se ler a biografia percebemos
É verdade. D. Manuel descreve
ca. Há certas alturas em que
➤
"
A O S E L E R A B I O-
G R A F I A P E R C E B EMOS Q U E E S TA S E R Á COMO QUE UMA R A INH A M A L FA D A D A. QUASE TUDO O QUE P OD E R I A A C O N T EC E R, A C O N T E C E U. NO SENTIDO PIOR D O T E R M O.
"
72 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
➤
me parece uma mistificação e
Mas entretanto, em 1910, dá-se
Convém referir, também, que
um romanceamento; não tan-
a implementação da República
Salazar tem sempre uma política
to de forma propositada, mas
e em 1911 morre Eduardo VII e
de meio-termo dizendo sempre
como vítima do seu tempo, aca-
essa possibilidade passou a ser
que o momento não era oportu-
bando por escrever de acordo
mais remota.
no [para restaurar a Monarquia]
com o estilo em voga na época.
Eu vou, propositadamente
mas procurando sempre cativar
O que é que dos escritos é um
deixar de parte o período de
os monárquicos. A partir de 1945
romancear de si própria e a
exílio da Rainha e passo a uma
a saúde da Rainha deteriora-se
verdade?
pergunta algo difícil sobre um
rapidamente vindo a falecer em
Obviamente que num diário se
assunto que irá sempre gerar
1951.
escreve apenas o que se quer
polémica: Que opinião consi-
Para terminar e de uma for-
deixar. Há uma tendência um
dera que D. Amélia tinha de
ma sucinta, qual a verdadeira
pouco melancólica em D. Amé-
Salazar?
diferença desta biografia em
➤
lia: a Rainha vai-se abaixo com frequência. E isso transparece. Mas por vezes os seus escritos são apontamentos telegráficos. Por outro lado, respondendo à sua pergunta há que ter em conta que o momento foi muito rápido: entre a chegada ao cais e a entrada no arsenal são três minutos. Acontecem os tiros, o cocheiro vira a carruagem para a Rua do Arsenal e entram dentro
"
relação às outras? O que é que
ESCREVE MAIS TARDE QUE NUNCA PERCEBERÁ O PORQUÊ DO QUE ACONTECEU NO TERREIRO DO PAÇO: PORQUE É QUE FOI NECESSÁRIO MATAREM-LHE O MARIDO E O FILHO.
"
traz de novo? Em primeiro lugar procurei usar só fontes primárias, documentos originais. A maior parte das vezes é a Rainha que fala e que dá a sua opinião sobre determinados assuntos. Em alguns assuntos não se sabia se se tinham passado ou não, por exemplo, em relação à ligação ao ramo Miguelista (pacto de Dover e pacto de Pa-
do túnel e é o único momento em
Tinha uma opinião favorável.
ris), e agora confirmamos o que
que a Rainha, a sair da carrua-
Temos que enquadrar o que foi a
a Rainha escreveu sobre esses
gem tem um momento em que
I República, de uma grande ins-
assuntos e atestamos a vontade
desmaia. Ela que era uma mulher
tabilidade e de grandes dificulda-
constante dessa ligação. Há uma
muito forte logo se tenta levantar
des para o país e nas relações
grande novidade que o livro traz:
até por uma questão de com-
com a família real em exílio. A
perante o último pacto de Paris,
postura. Há um lado prático da
comunicação era pouca e difícil
em que mais uma vez falhou
Rainha. Inclusivé pouco depois
com as sucessivas mudanças de
a ligação com o outro ramo da
do incidente a Rainha continua a
governo. Quando D. Manuel mor-
família desavindo do lado Migue-
trabalhar e é ela, que prepara os
re, em 1932, estávamos no início
lista a ideia de D. Manuel II de
funerais e toda a logística para
do Estado Novo e Salazar man-
procurar no ramo brasileiro dos
receber as famílias reais que vi-
da fazer um funeral de Estado
Orleães-Bragança, um preten-
riam para as exéquias. E também
para o Rei deposto. Obviamente,
dente para a coroa portuguesa.
a atender à recuperação do filho
D.Amélia aprecia essa atitu-
O que não veio a acontecer em
sobre vindo.
de. Nos anos que se seguem,
tempo de vida de D. Manuel II.
A partir daí será essa ocupação
na década de 40 a Rainha não
Curiosamente isso virá a aconte-
com o filho a sua principal preo-
interfere havendo apenas a troca
cer porque é uma irmã do preten-
cupação. Nomeadamente na
de cartas protocolares. Duran-
dente à coroa imperial do Brasil,
procura de um bom casamento.
te a guerra a Rainha recusa vir
a Princesa D. Maria Francisca
Sim de facto, e agora procura-
para Portugal e mantém-se em
de Orleães Bragança que casa-
-se uma princesa inglesa e o
França, no Palácio de Belle-
rá com D. Duarte Nuno, pai do
Rei Eduardo VII, ao contrário de
vue com a bandeira portuguesa
actual pretende. O que nenhum
Vitória, estaria muito empenha-
hasteada bem alto. No fim da
pacto conseguiu resolver, a liga-
do em ter uma sobrinha ou neta
Guerra, em 1945, Salazar con-
ção das duas famílias acabou por
casada com um Rei português
vida a Rainha a vir a Portugal e
resolver e a Rainha ainda vem a
para garantir a aliança inglesa.
as relações mantém-se cordiais.
saber e fica satisfeita.
n
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 73
Moçambique na hora do grande salto Da pujante Mussa Mbiki ao promissor país do futuro
Lenta, mas inexoravelmente, o País desperta das longas trevas de um continente marcado pela ocupação colonial, os conflitos étnicos e as guerras civis. Moçambique é tempo presente dessa África nova que desponta como desafiando o velho mundo dos antigos colonizadores e afirmando-se como terra de esperança.
´ Africa +
➤
MÊS/MÊS 2013 2012 - DIPLOMÁTICA • 75 OUTUBRO
Moçambique na hora do grande salto
Maputo
➤
Localizada na costa oriental da África Austral, a
Pelo Canal de Moçambique as fronteiras marítimas
República de Moçambique está num meio tempo en-
beijam as Comores, Madagáscar, Mayotte e as ilhas
tre a rica história de um passado sinuoso - e durante
Juan de Nova, Ilha Europa e Bassas da Índia. Uma
séculos infeliz para o seu povo - e os desígnios da
multiplicidade de influências, de culturas e de trajec-
modernidade que fazem do país uma séria aposta
tos, bem visível aliás nas organizações internacionais
com futuro, num continente que, aos poucos, vai des-
onde marca presença: a SADC, a Commonwealth, a
pertando dos coletes de forças do colonialismo e da
Organização da Conferência Islâmica e naturalmente,
exploração das contradições tribais sempre aproveita-
a CPLP e as Nações Unidas. E a capital, Maputo, é
das por quem rema contra o progresso e a libertação.
o espelho e epicentro de todas essas influências que
Moçambique, cujo desenho territorial é decorrente
fazem de Moçambique uma fantástica manta de reta-
da partilha geoestratégica dos velhos impérios, faz
lhos com laços de afecto por quase todo o mundo.
fronteira a norte pela Tanzânia, tendo a noroeste o
O nome do país, inicialmente circunscrito àquela que
Malawi e a Zâmbia, a oeste o Zimbabwe, a sul e su-
hoje é conhecida por Ilha de Moçambique – e primei-
doeste pela África do Sul e a Suazilândia e a leste ba-
ra capital da colónia portuguesa – terá origem no pró-
nhado pelo canal do mesmo nome e o Oceano Índico.
prio nome de um comerciante árabe que ali viveu,
76 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO MÊS/MÊS 2012 2013
➤
século XX é que o território conhece uma genuína administração colonial, segundo o desenho tradicional das ocupações europeias no continente africano. O fim do império… Atalhando caminho, galgando séculos e décadas sem nos perdermos em preciosismos históricos, Moçambique moderno está marcado por três acontecimentos centrais: a luta de libertação nacional e a independência; a guerra civil e o processo de estabilização democrática que se seguiu ao conflito armado, que se prolongou por 16 longos anos, opondo a Frente de Libertação de Moçambique, FRELIMO, legitimada pelos acordos com a ex-potência colonial, e a Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO. ...e o início de um tempo novo Independente a 25 de junho de 1975, na sequência de vários acontecimentos históricos como o golpe de Estado militar de 25 de Abril de 1974 e a revolução que se lhe seguiu, e os acordos de Luzaka que reconheceram a FRELIMO como legítima representante daquele povo africano, Moçambique foi antecedido de uma dura guerra de libertação contra o ocupante, que se estendeu por duas décadas, tendo como nomes referenciais Eduardo Mondelane (o primeiro líder e um alto funcionário das Nações Unidas) e Samora Moisés Machel (o primeiro Presidente da então denominada República Popular de Moçambique). Durante 19 anos dirigido em regime de partido único, Moçambique tornou-se num Estado democrático pluripartidário a partir das eleições gerais de 1994, e a FRELIMO nunca abandonou a liderança do Estado, legitimada agora pelo voto popular e, diga-se de passagem, pela inconsistência larvar da oposição política que nunca conseguiu espaço próprio e património de credibilidade que lhe permitisse lugar sentado à mesa do poder. Com cerca de 21 milhões de habitantes, e com 30 ➤
mas opiniões dividem-se, ademais pelo facto de os
por cento de população urbana, Moçambique é um gi-
primeiros registos históricos conhecidos remontarem
gante adormecido que, nos últimos anos, tem vindo a
ao século X. O mercador, a fazer fé na nebulosa que
despertar como centro de negócios e oportunidades,
medeia entre a lenda e o conhecimento cientifico,
apesar de manter ainda níveis de pobreza preocupan-
seria Ben Mussa Mbiki de sua graça.
tes e condições climatéricas adversas causadoras de
A incursão portuguesa pela região que hoje é conhe-
efeitos catastróficos.
cida por Moçambique e tem as actuais fronteiras dá-
O turismo, a agricultura, as pescas, o gás natural
-se a partir do século XV, mas com rigor só a partir da
e a indústria de extracção mineira, particularmente
Conferência de Berlim de 1885 – onde as potências
o carvão metalúrgico e térmico (com as jazidas de
europeias gizaram a partilha dos territórios africa-
Tete consideradas como as maiores do mundo), são
nos – é que se assiste a uma verdadeira ocupação
as grandes mais-valias de um país que, aos poucos,
colonial e militar, submetendo pela força os diversos
mas com passos seguros, vai encontrando o seu
Estados bantus que imperavam, pelo menos desde o
lugar neste mundo e é, inquestionavelmente, um dos
século X, particularmente o império dos Mwenemu-
pilares da África moderna que, inexorável, desponta
tapas. Mas, de facto, só a partir dos primórdios do
como desafiando o velho mundo dos antigos colonos.
´ Africa +
➤
MÊS/MÊS 2013 2012 - DIPLOMÁTICA • 77 OUTUBRO
Moçambique na hora do grande salto
Armando Guebuza
A marca Guebuza
Um ano depois, o jovem revolucionário parte para a Ucrânia onde frequenta a escola militar de Pere-
Um tempo novo que deixará a marca de Armando
valny. Depois é o regresso ao país, mergulhando na
Guebuza, um homem que bem cedo se juntou à luta
luta armada e na actividade clandestina.
de libertação nacional e esteve sempre no centro
Por emergência do 25 de Abril de 1974 em Portugal
das grandes decisões de Moçambique independen-
e do sequente processo negocial para a indepen-
te.
dência de Moçambique, Armando Guebuza integra
Nascido em 20 de Janeiro de 1942, Guebuza juntou-
o Governo de Transição ocupando a pasta da Admi-
-se à FRELIMO em 1963, corriam os tempos de
nistração Interna, uma área em que é reconduzido
fogo da luta contra a ocupação colonial portuguesa.
no primeiro executivo do pós-independência, desta
78 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO MÊS/MÊS 2012 2013
➤
Parque Nacional da Gorongosa
"
UM TEMPO NOVO QUE DEIXARÁ A MARCA DE ARMANDO GUEBUZA, UM HOMEM QUE BEM CEDO SE JUNTOU À LUTA DE LIBERTAÇÃO
NACIONAL E ESTEVE SEMPRE NO CENTRO DAS GRANDES DECISÕES DE MOÇAMBIQUE INDEPENDENTE
"
Cahora Bassa
➤
feita como ministro do Interior. E, daí para a frente,
O partido chama-o, de novo para um alto cargo,
esteve sempre nos postos cimeiros do partido e do
elegendo-o secretário-geral em 2002 e tornando-o
Governo.
no candidato oficial da FRELIMO nas presidências
Pelo meio, após a grande abertura política opera-
de 2004. Em fevereiro do ano seguinte é eleito como
da por Joaquim Chissano - que sucedeu a Samora
terceiro Presidente da República de Moçambique
Machel na Presidência da República depois da sua
e, de então para cá, tem-se mantido no comando e
morte -, cortando com a economia planificada socia-
projectado o seu nome na cena internacional, onde
lista, Armando Guebuza torna-se um empresário de
já é reconhecido pela sua habilidade política, capa-
sucesso, com interesses nos sectores da indústria
cidade de persuasão e capacidade inata para gerar
de construção, exportação e pescas.
empatias.
´ Africa +
n
MÊS/MÊS 2013 2012 - DIPLOMÁTICA • 79 OUTUBRO
Visita da delegação da UCCLA a Luanda
Entre os dias 22 e 26 de julho, uma representação da
1
UCCLA (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa), coordenada e dirigida pelo Secretário-Geral, Vitor Ramalho, e com o assessor para a área de Angola, José Bastos, deslocou-se a Luanda, para realizar reuniões com os mais altos responsáveis do Governo Provincial de Luanda, com o presidente da Comissão Administrativa de Luanda e com os Administradores dos Municípios do Cazenga e Belas, entidades associadas da UCCLA. A finalidade da visita consistia no encetamento de diligências e ações integradas em projetos que envolvam as referidas entidades e para os quais a UCCLA se associou. Os objetivos iniciais da visita foram, largamente, ultrapassados tendo os representantes da UCCLA tido oportunidade de realizarem reuniões de trabalho, envol-
2
vendo todos os Municípios de Luanda, para além do Governo Provincial, reunindo ainda com os presidentes das duas maiores instituições bancárias angolanas Banco de Poupança e Crédito e Banco de Negócios Internacional -, e do mundo empresarial. A visita foi concluída com uma audiência com o Vice-Presidente da República, Dr. Manuel Vicente, a que se seguiu uma conferência de imprensa a que a comunicação social deu relevo significativo. Para além das razões que motivaram a visita, foi possível consensualizarem-se propósitos de iniciativas futuras, propostas pela UCCLA e acarinhadas ao mais alto nível pelas autoridades angolanas, envolvendo uma homenagem aos jovens, de ambos os sexos, origi-
3
nários de ex-colónias portuguesas e que, sob o regime anterior, contribuíram, nos anos sessenta do século passado, de forma muito determinante, em Lisboa, para a luta da libertação dos povos colonizados, em solidariedade com os estudantes portugueses. Este objetivo, de salvaguarda da memória coletiva, será acompanhado de outras iniciativas que, seguramente, aproveitarão, em reciprocidade às PME’s (pequenas e Médias Empresas), em articulação com as ações projetadas para os municípios associados da UCCLA. De salientar que a delegação da UCCLA visitou o monumento erguido em memória dos “Heróis que na manhã de
1. Reunião com o Governador Provincial de Luanda
4 de Fevereiro (1961) quebraram as algemas”, o Com-
2. Reunião com o Administrador do Município de Cazenga
plexo Escolar 329 do Cazenga, os estaleiros das obras
3. Reunião com o Presidente da Comissão Administrativa de
integradas no Gabinete de Reconversão do Cazenga.
Luanda
Regista-se o acolhimento que a delegação da UCCLA teve em Angola, com uma cuidada programação e uma muito eficaz organização. ■
80 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO MÊS/MÊS 2012 2013
MALA DIPLOMÁTICA
Embaixador dos EUA em Portugal, Allan J. Katz assinala o Dia da Independência dos EUA criar novas oportunidades para o desenvolvimento económico, através de missões comerciais entre os dois países, assim como cooperação na área do empreendedorismo. Tenho tido a oportunidade de encontrar muitos jovens empreendedores. Para mim são uma inspiração e tenho grande confiança que o futuro da economia de Portugal com eles está em boas mãos. É importante terem oportunidades aqui em Portugal. Temos muita admiração pelo espírito e humanidade das pessoas de Portugal. Num mundo que é muito perigoso e com muitas mudanças é importante saber quem são os nossos amigos verdadeiros. Temos a certeza que Portugal vai continuar a trabalhar com os Estados Unidos na luta contra o terrorismo. Sabemos que a liberdade e Nancy e eu desejamos a todos mui-
te Cavaco Silva na reunião com o
o futuro dos nossos filhos são tão
to boas vindas para esta celebração
Presidente Obama na Casa Branca.
importantes para os portugueses
do dia da Independência dos Esta-
Os nossos dois países trabalharam
como para nós.
dos Unidos.
juntos durante o período em que
Queria que Portugal soubesse que
Estamos muito felizes de ter muitos
Portugal foi membro do Conselho de
os Estados Unidos estão prontos a
amigos aqui connosco. Para nós
Segurança das Nações Unidas.
ajudar na medida do possível.
isto é muito gratificante mas também
Juntos defendemos os direitos dos
Por fim, gostaria de dizer que vou
um pouco triste.
povos da Líbia, da Síria, assim
sempre lembrar que há trinta e nove
Esta é a quarta vez que tenho a
como de outras partes do mundo,
anos Portugal teve uma revolução
honra de discursar nesta ocasião
porque os nossos valores humanos
evitando o comunismo, uma guerra
como Embaixador dos Estados Uni-
são os mesmos.
civil, acolhendo quase um milhão
dos em Portugal.
Compreendo que a situação eco-
de pessoas e criando uma grande
Contudo, será a última vez que o
nómica em Portugal tem sido muito
democracia.
farei como embaixador.
difícil. Os portugueses estão a fazer
É esse espírito que hoje vejo nos
Queria agradecer a todos por toda a
muitos sacrifícios e as suas vidas
portugueses e acho que o futuro
simpatia que demonstraram a Nancy
não são normais neste momento.
de Portugal vai ser melhor. Juntos
e a mim durante o nosso tempo
Gostaria que soubessem que os
iremos fazer um mundo melhor.
aqui. Por isto, parte dos nossos
americanos compreendem esta
Durante a Revolução Americana,
corações vai sempre pertencer a
situação.
Thomas Payne disse: “A causa
Portugal.
Como nossos mais antigos aliados
americana é a causa da humani-
Durante a nossa estadia aqui, de
vamos continuar a procurar oportu-
dade.” Hoje, juntos, podemos dizer
mais de três anos, recebemos o
nidades para ajudar.
que a causa da humanidade é a
Presidente Obama para a Cimeira
Os Estados Unidos continuam a
causa dos Estados Unidos e de
de Lisboa e acompanhei o Presiden-
trabalhar com os portugueses para
Portugal.
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OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 81
MALA DIPLOMÁTICA
Dia Nacional da Noruega
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Noruega, oficialmente conhecida como o Reino da Noruega, devido ao seu estatuto de monarquia constitucional, é um país nórdico da Europa que ocupa a parte ocidental da Península Escandinava. Com uma população de 5 milhões e com uma história marcante, mais recentemente celebrou o seu Dia Nacional. Por ocasião desta data, os embaixadores da Noruega em Portugal receberam em Lisboa personalidades e membros do corpo diplomático acreditados no território
1. Embaixador da Noruega 2. Maria da Luz de Bragança a cumpri-
português para comemorarem a
mentar os Embaixadores da Noruega 3. Embaixatrizes da Alema-
implementação da Constituição
nhã, Noruega e França
Norueguesa, de 1814. Para
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82 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
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➤
assinalar este marco histórico,
as ruas do país enchem-se de desfiles e ocorrem diversos eventos desportivos. Neste dia os no9
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ruegueses usam trajes nacionais, sendo comum para as mulheres as saias de lã com bordados e coletes; os xailes e os aventais brancos enquanto para os homens: o uso de camisas, calças até ao joelho, meias e jaquetas pretas. O dia da independência, ou o Dia da Constituição é celebrado em todo o país, embora
4. Embaixador da Moldávia, Valeriu Turea e Maria da Luz de Bragança 5. Pascale Teixeira da Silva e Nadine Schmit-Konsbruck 6. Christina Gillies e Maria
com maior destaque em Oslo, na Avenida Karl Johann, onde a
da Luz de Bragança 7. Embaixador da Irlanda, Declan O Donovan 8. Youssef
família real assiste aos cortejos
Louzir, Bernard Pierre, Manuel Ferreira Enes, Embaixador da Palestina e Mirko
que passam pela cidade.
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Stefanovic 9. Embaixatriz da Alemanhã com Per Sjöström e Lenia Lopes 10. Embaixador da Tunísia e Maria da Luz de Bragança
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 83
MALA DIPLOMÁTICA
Dia Nacional da Geórgia
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Todos os anos a Geórgia celebra um dos seus mais emblemáticos feriados nacionais, o Dia Nacional que comemora a declaração da independência do país. Por ocasião desta data, o Embaixador da Geórgia em Portugal, Giorgi Gorgiladze e a embaixatriz Irina Gorgikadze, organizaram uma recepção que reuniu inúmeros convidados do corpo diplomático acreditados em Portugal. Geórgia é uma das 15 repúblicas soviéticas que deu os primeiros passos
1. Embaixador da Geórgia Giorgia Gorgiladze 2. Paula Paz, Salomé Gorgiladze e
em direção a independência.
a Embaixatriz da Geórgia, Irina Sarashidze-Gorgiladze 3. Embaixatriz de Sérvia,
Segundo conta a história, o país declarou-se independente ainda em 1918, um ano depois da Revolução Russa. No entanto, a sua independência fracassou devido a um conjunto de conflitos que ocorreram entre 1918 e 1918
84 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
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Ljiljana Stefanovic; Embaixatriz de Israel, Sharon Gol; Embaixatriz de Suiça, Nicoleta Schnyder; Embaixatriz da Geórgia, Irina Sharashidze Gorgiladze e Embaixatriz da Alemanha, Ursula Elfenkämper
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aos quais se juntou a conquista
da Capital Tbilisi, pelas tropas vermelhas em Fevereiro de 1921. 8
O país voltou a recuperar a sua liberdade apenas no início dos anos 1990, após a dissolução da URSS, ocorrendo os primeiros indícios mais relevantes em1991: a aprovação de um referendo sobre a restauração da independência do país em 31 de Março; a implementação da declaração sobre a Independência da Geórgia pelo
3. Liisa Piitulainen-Numminen, ex-embaixatriz da Finlándia; Lenia Lopes; Persjortrom e
Supremo Conselho no dia 9 de
ex-embaixador da Finlándia Asko Numminen 4. Beatriz Heemskeik e Paulus Heemskerk.
Abril; e por fim a realização das
5. Embaixadores da Geórgia 6. Maria da Luz de Bragança, Teresa Calado e Ana Linda Ferreira 7. Paulus Heemskerk 8. Embaixatriz de Itália, Risaria Forgione Varriale; Embaixatriz da Geórgia, Irina Sarashidze-Gorgiladze eAnnabelle Kkause Schilling
primeiras eleições presidenciais que tiveram lugar no mesmo ano. Actualmente o país estende-se numa área de 69,700 sq. Km e tem como países vizinhos a Rússia, o Azerbaijão, a Arménia e a Turquia.
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OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 85
MALA DIPLOMÁTICA
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Dia Nacional do Reino Unido Comemoração do Aniversário Oficial da Rainha Isabel II Realizou-se na Residência ofi-
britânicas que operam em Portugal.
cial da Embaixadora Britânica em
Estiveram presentes várias cente-
Lisboa a recepção comemorativa
nas de convidados representantes
do Aniversário oficial da Rainha
de diversos sectores da sociedade
Isabel II (que corresponde ao Dia
portuguesa – politico, económico,
Nacional do Reino Unido).
segurança e defesa, sociedade civil
Esta
foi mais uma ocasião de grande re-
e académico – bem como represen-
levo social em que a Embaixadora
tes do corpo diplomatico acreditado
Britânica e os seus colaboradores
em Portugal.
se juntaram a amigos e contac-
No seu discurso, a Embaixadora Jill
tos portugueses, e a membros da
Gallard fez referência aos pontos al-
1. Embaixadora Britânica e a sua equipa
comunidade britânica, para celebrar
tos do ano que passou no que res-
de colaboradores 2. Conselheira Joanna
e renovar os históricos laços bila-
peita ao Reino Unido, com especial
terais que unem o Reino Unido e
relevo para os Jogos Olimpicos e
Portugal. Tendo em vista a actual
Paralimpicos de Londres que foram
xadora do Reino Unido 4. Embaixadora
conjuntura económica no Reino
um enorme sucesso e mostraram o
Jill Gallard a proferir o seu discurso,
Unido e em Portugal, houve uma
que há de melhor no Reino Unido e
ladeada pelas bandeiras de Portugal e
tónica especial na parceria de co-
na sua sociedade multicultural. Por
do Reino Unido
mércio e investimento entre os dois
outro lado ocorreram as comemora-
países, traduzida nos patrocínios de
ções dos 60 anos de reinado da
algumas das principais empresas
Rainha Isabel II, tendo a
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O'Sulliivan e Consul Honorário Britânico nos Açores, Antonio Castro Freire 3. Embaixador da Alemanha e a Embai-
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Embaixadora afirmando que a sua
de britânicos que deverão visitar
energia representa uma inspiração
Portugal este ano seja superior a 2
para todos.
milhões, o que na sua perspectiva
Seguidamente a Embaixadora
representa um voto de confiança
Gallard salientou a forma como a
em Portugal e uma contribuição
economia, o comércio e o investi-
significativa para a economia local.
mento têm dominado a actividade
A recepção teve uma vez mais
da sua Embaixada aos longos
este ano o patrocinio das principais
dos últimos meses, enaltecendo
empresas britânicas que operam
Conselheira, Adido Miltar e Consul
o trabalho desenvolvido pela sua
em Portugal – nomeadamente a
6. A Embaixadora com Bruno de
equipa de comércio e investimento
Agusta Westland, BP Portugal,
Carvalho, Artur Torres Pererira, e
no sentido de promover Portugal
Easyjet, Ernst & Young, Eurest,
equipada da Secção Poítica 7. Em-
como plataforma para empresas
Linklaters, Barclays e Sage – e o
britânicas investirem Angola, Brasil
apoio da Quinta de Sant’Ana e da
e Moçambique, estabelecendo
Central de Cervejas.
9. Embaixador de Moçambique e Jill
parcerias com as suas congéneres
tradição, a recepção comemorativa
Gallard 10. Embaixador da Índia e a
portuguesas.
do Dia Nacional do Reino Unido em
Embaixadora do Reino Unido
Outra área prioritária da actividade
Portugal foi uma vez mais este ano
da diplomacia britânica referida pela
animada pela música gentilmente
Embaixadora é o trabalho consu-
proporcionada pela Banda da Mari-
lar, estimando-se que o número
nha Portuguesa.
5. Embaixadora e seu marido com a
baixadora da Lituania com Jill Gallard 8. Deputado Miranda Calha, Carlos Monjardino e D. Duarte de Bragança
Como já é
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OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 87
MALA DIPLOMÁTICA
Palavras do Embaixador do Luxemburgo no Dia da Festa Nacional celebrando oficialmente o aniversário do soberano Sua Alteza Real o Grão-Duque Recebemos nesta casa tantos ami-
metade do século XIX (dezanove),
Estrangeiros Paulo Portas ao seu
gos, colegas e compatriotas, e onde,
especialmente no que diz respeito a
homólogo no Luxemburgo, a 22 (vinte
após 8 meses de ausência e 6 de
certos espaços, tal como a cavalariça
e dois) de fevereiro deste ano, na qual
renovação a Embaixada do Grão-
na cave, que agora serve de sala de
se pode comprovar as excelentes
-Ducado do Luxemburgo em Portugal,
recepção do consulado e pela qual
relações bilaterais, tanto no domínio
também com acreditação em Cabo
também é possível passar para sair
politico e económico, como comercial.
Verde, regressa às suas instalações
para a rua.
Já mais recentemente, a 2 (dois) e 3
originais, na Rua das Janelas Verdes.
Os vários eventos marcantes que
(três) de Maio, tivemos a visita do Pri-
Este edifício histórico, que abriga há
tivemos ao longo deste último ano
meiro Ministro Jean-Claude Juncker
quase um quarto de século a Em-
demonstram bem as excelentes rela-
a Lisboa e ao Porto. Em Lisboa, foi
baixada, o Consulado e a residência
ções existentes entre os nossos dois
recebido pelo Presidente da Repúbli-
oficial e privada, foi inteiramente
países.
ca e teve encontros com o Primeiro
renovado pela empresa Portuguesa
Entre eles gostaria de referir a trans-
Ministro Pedro Passos Coelho, com o
‘HCI’ sob a supervisão da arquitecta
missão, em directo, no dia 20 de ou-
Ministro dos Negócios Estrangeiros,
Sandra Pereira, da empresa «Team-
tubro do ano passado, do casamento
Paulo Portas e com o Ministro das
box», que viveu parte da sua adoles-
de Sua Alteza Real o Grão Duque
Finanças, Vítor Gaspar.
cência no Luxemburgo. Para além
herdeiro Guillaume de Luxemburgo
No dia 3 de Maio, recebeu, na Univer-
da criação de uma entrada separada
com a Condessa Stéphanie de Lan-
sidade do Porto, o grau de Doutor Ho-
para o consulado, o trabalho consistiu
noy onde contámos com a presença
noris Causa. No seu discurso, Jean-
principalmente na modernização dos
de muitos amigos que connosco
-Claude Juncker fez questão de frisar
equipamentos técnicos. As obras rea-
assistiram a esta cerimónia numa
a importante amizade existente entre
lizadas foram feitas de forma a pre-
recepção na York House.
os dois países e, a nível pessoal, a
servar o caráter histórico do edifício,
Também quero mencionar a visita
sua enorme amizade por Portugal e
cuja construção remonta à primeira
de trabalho do Ministro dos Negócios
pelos portugueses. n
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Diplomacia & Glamour uma tarde glamurosa O Lisboa Marriott Hotel pertencendo a uma cadeia internacional com 3.900 hotéis ,em mais de 70 Países celebrou esta data com a presença de 102 Embaixadoras, Embaixatrizes radicadas em Portugal e outras individualidades conhecidas da nossa sociedade num evento intitulado “Diplomacia & Glamour”, que se realizou na Sala Mediterrâneo, no dia 30 de Maio, às 15h00. “Diplomacia & Glamour” um glamoroso evento levado a efeito pela nossa conhecida Ana Caetano, Public Relations Manager do Lisboa Marriott, para o qual reuniu pelo 14º ano consecutivo, as embaixadoras e embaixatrizes residentes em Portugal e senhoras
1. O grupo das embaixatrizes e empresárias convidadas 2. Manuela Durão, Elmar Derkitsch, Ana Caetano 3. Embaixatriz Erika Grinberg
da sociedade portuguesa, para uma tarde memorável na na Companhia do Quorum
➤
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 89
Diplomacia & Glamour
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4. Embaixadora África do Sul, Keitumetse Matthews, Ana Caetano, Celina da Piedade e Musicos com Embaixadora da Argelia Fatiha Selmane e Embaixadora do Paquistão Humaira Hasan 5. Rosalina Machado 6. Embaixatriz México Evelyn de Andion, Helena Ramos e Eduarda Poença Carvalho 7. Patricia Cruz, Isabel Kraus, Maria Dolores, Ana de Brito, Ana Caetano, Maria Lurdes Ferreira e Marina Cruz 8. Filomena Leite Castro, Jô caneças e Maria Lurdes Ferreira 9. Embaixatriz do Paraguai Patricia Romero Diaz (Vencedora de uma peça de designer do MAAJ Joalheiro) 10. Embaixatriz de Italia, Rosaria Varriale; Ana Caetano com Embaixatriz do Iraque, Emel Sinjari
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Ballet com o Lago dos Cisnes e
do Concerto de Celina da Piedade com composições de sua autoria. Durante o evento tiveram ainda o habitual sorteio de ofertas 40 marcas de prestígio que inclui fins-de-semana nos Hotéis Marriott com Lexus,marcas de cosmética, 11. Embaixatriz México, Evelyn de Andion; Ana Caetano, Embaixatriz do Paraguai, Patricia Romero Diaz com Karina Montorfano 12. Maria Alves 13. Maria José Galvão Sousa 14. Embaixatriz Austria Joana Wrabetz e o Estilista Carlos Gil 15. Ana Palmeira, Isabel Mereilles e Ana Laia 16. Embaixatriz da Georgia,
produtos de beleza, massagens, jóias de designers portugueses e obras de arte de conceituados ar-
Irina Gorgiladze; Embaixadora do Chipre, Thalia Petrides 17. Ana de Brito com
tistas plásticos da Galeria Espaço
a Embaixatriz da Servia, Ljiljana Stefanovic 18. Helena Ramos 19. Embaixatriz
Arte Livre.
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de India, Smeeta Tyagi 20. Abimbola Wonosikou e Rosarinho Cruz
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 91
LIVROS
Porque falham as nações? por Daron Acemoglu e James Robinson, Editora Bertrand
Finalmente chega a Portugal a obra conjunta do economista Daron Acemoglu e do especialista em Ciências Políticas James Robinson que propõe, de forma clara, uma explicação para as origens do poder, da prosperidade e da pobreza. A premissa é simples: Porque é que umas nações prosperam e outras falham? A partir daqui outras questões surgem: O que faz que alguns países nunca saiam da pobreza? Porque é que a América do Sul é tão menos rica que a do Norte? O que é mais determinante: o clima, a geografia, a cultura ou a responsabilidade dos líderes? Os autores apresentam uma argumentação pormenorizada atestando que o sucesso económico de uma nação é predominantemente determinado pelas suas instituições políticas. Os Estados inclusivos não têm um centro de poder único; o seu sucesso e prosperidade advêm das pressões entre os diferentes interesses em competição agindo de acordo com a lei e com os seus direitos de propriedade garantidos. Apenas com um sistema judicial independente e forte podem as demo-
por elites ensimesmadas acabam por
cracias representativas prosperar. Os
falhar e permanecer na miséria. Esta-
autores defendem que a importância
dos autoritários e não representativos
da política é muito maior que a da
mantêm-se num ciclo vicioso de plu-
geografia, da cultura ou dos recursos
tocracia e de supressão da inovação
disponíveis. A pedra de toque será
tecnológica, da livre iniciativa e das
a liberdade. Ainda de acordo com os
liberdades pessoais.
autores, os países anglo-saxões terão
Assentes em quinze anos de investi-
enriquecido porque os seus cidadãos
gação, Acemoglu e Robinson reuniram
lutaram contra as elites que controla-
dados de um largo espectro tempo-
vam o poder e criaram uma sociedade
ral e geográfico - que vai do Império
com direitos políticos mais amplamen-
Romano à actual Serra Leoa - para
te distribuídos e um Governo que tem
elaborarem a sua teoria que preten-
que responder perante o seu povo.
de desenhar os contornos gerais do
Surgiu, assim, a possibilidade das
desenvolvimento político e económico
massas acederem às oportunidades
das nações através de uma lógica
económicas.
causa-efeito. O desenvolvimento eco-
Em oposição, as Nações dominadas
nómico depende de novas invenções
92 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
➤
➤
e as invenções necessitam de ser
chinesa está hoje mais inclusiva que
investigadas, desenvolvidas e distri-
há trinta anos mas que, ainda assim,
buídas globalmente. Estas actividades
por preservar um núcleo autocrático
acontecem apenas quando os inven-
irá fatalmente acabar por ver esse
tores/investigadores podem esperar
crescimento ameaçado por instabilida-
colher proveitos económicos das suas
des internas pela conquista do poder.
invenções. O principal obstáculo a
Sendo que o processo liberalização de
este processo serão os poderes auto-
mercados e instituição de democracia
cráticos que não desejam a formação
é muito lento, a China verá - vatici-
de uma classe média instruída e prós-
nam - os seus recursos exaurirem-se
pera que possa pôr em causa o poder
antes de adoptarem um sistema mais
instituído; e os donos das tecnologias
inclusivo.
existentes, que pretendem manter o
Estando esta obra bem documentada
seus negócios.
e a teoria bem explicada parece-nos
Veja-se, a título de exemplo, o caso
contudo que algo falta. Há uma certa
da energia a vapor. Em 1705, Diony-
"inocência" na visão que os autores
sius Papin constrói o primeiro barco
têm do mundo. Cremos que os au-
a vapor; porém como estava a viver
tores caíram na mesma falácia que
no estado alemão de Kassel, onde
Fukuyama; ou seja, estão de tal forma
uma poderosa guilda de barqueiros
imersos numa cultura ocidental anglo-
controlava o tráfego fluvial da região,
-saxónica que não conseguem pensar
o barco foi destruído, a tecnologia
em nada que não se encaixe nesse
esquecida e o inventor morre na mi-
sistema mesmo quando olham para o
séria. Quando Scotsman James Watt
passado ou para outras civilizações.
recupera e aperfeiçoa a tecnologia do
Um dos exemplos é a colagem exces-
motor a vapor, fá-lo já num meio que
siva dos conceitos de liberdade indivi-
lhe permitiu ver garantida a patente
dual/livre iniciativa/mercado livre muito
e a consequente venda a um grande
recorrente no pensamento anglo-
mercado. Tal possibilita a eclosão da
-saxão e sobretudo americano. Outra
Revolução Industrial Britânica trazen-
foi o "esquecimento" da influência e
do enormes dividendos à nação.
poder das instituições supra-nacionais
Segundo os autores o rompimento do
- FMI, NATO,Bancos Centrais,etc
ciclo vicioso das sociedades autocrá-
- no processo de desenvolvimento
ticas e a emergência das democracias
das nações. E, se quisermos ir mais
e dos mercados livres acontecem de
longe, da omissão dos efeitos que o
forma lenta, em pequenos passos,
Colonialismo Europeu e o Imperialis-
pontuados por conjunturas críticas
mo Britânico e Americano tiveram no
que podem acelerar ou atrasar o pro-
estabelecimento das regras do jogo
cesso. O caso chinês contemporâneo
que determina o sucesso ou fracasso
parece desafiar esta teoria. A China
económico.
continua fortemente não-democrática,
É, contudo, uma obra de leitura obri-
com pouca ou nenhuma regulamen-
gatória para perceber os mecanismo
tação dos direitos de autor e das
de crescimento económico e procu-
patentes e, no entanto, está com um
rar entender o que nós portugueses,
crescimento económico galopante.
enquanto nação, fizemos para ganhar
Os autores contra-argumentam afir-
ou falhar.
mando que a sociedade comunista
n
Nuno Vaz de Moura
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 93
CULTURA
II Conferência sobre o futuro da língua portuguesa no sistema mundial
Em março de 2010, Brasília acolheu a I
A língua portuguesa, a sexta mais falada
Conferência Internacional sobre o Futuro
em todo o mundo, é oficial em cerca de
da Língua Portuguesa no Sistema Mun-
20 organizações internacionais, nomeada-
dial. Três anos e meio depois, a II Con-
mente de cariz continental, como a União
ferência Internacional sobre o Futuro da
Africana, a União Europeia, a União das
Língua Portuguesa no Sistema Mundial,
Nações Sul-americanas, mas os Estados
agora subtitulada Língua Portuguesa Glo-
membros da CPLP pretendem há muito
bal Internacionalização, Ciência e Ino-
ocupar um lugar de maior relevo, em par-
vação, terá lugar de 29 a 30 de outubro
ticular no sistema das Nações Unidas.
de 2013 na Reitoria da Universidade de
O documento de 2010, dividido em seis
Lisboa e na Faculdade de Letras, daquela
partes, elencou também um conjunto vas-
universidade.
to e detalhado de medidas para o ensino
A reunião de Brasília que reuniu especia-
da língua portuguesa, tanto no espaço da
listas de língua
própria comuni-
e comunicação,
dade, como em
dos países de
países terceiro
língua portu-
(o denomina-
guesa, antece-
do português
deu e preparou
língua
uma sessão
estrangeira ), e
extraordinária
abriu caminho
do conselho
à elaboração
de ministros
sob os auspí-
dos Negócios
cios do Instituto
Estrangeiros da
Internacional de
Comunidade de
Língua Portu-
Países de Lín-
guesa (IILP) de
gua Portuguesa
«um Vocabulário
(CPLP) que
Ortográfico Comum de Língua
aprovou o ‘Plano de Ação de Brasília’, depois ratificado
Portuguesa, que consolide tanto o léxico
na cimeira da CPLP realizada em Luanda
comum quanto as especificidades de cada
nesse mesmo ano, dotando a organiza-
país».
ção de um programa para a promoção da
No tema da difusão pública da língua
língua portuguesa.
portuguesa, o ‘Plano de Ação de Brasília’
O Plano de Ação de Brasília para a Pro-
apoiou os esforços do secretariado execu-
moção, a Difusão e a Projeção da Língua
tivo da CPLP para desenvolver um projeto
Portuguesa’ previu uma série de medidas
de televisão da comunidade e incentivar
para a introdução da língua portuguesa
a formação de uma agência para difusão
como idioma de trabalho no plano inter-
de informação e conteúdos e sublinhou
nacional, quer nas Nações Unidas, com
a importância da língua portuguesa nas
a publicação em português de documen-
diásporas, tema em que advogou a oferta
tos da Assembleia-geral e do Conselho
curricular da língua portuguesa nos siste-
de Segurança, quer noutros organismos
mas de ensino dos países e regiões onde
internacionais, tanto multilaterais como
existem comunidades de cidadãos prove-
regionais.
nientes dos Estados membros da CPLP.
94 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013
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➤
Reflexão
científica e do ensino da ciência.
A II conferência, que acolherá académicos
Os outros eixos temáticos da conferência,
dos países de língua portuguesa, e não só
cujo programa provisório já foi divulgado,
constitui, tal como em 2010, o «segmento
são Internacionalização e Indústrias Cul-
inicial» de uma reunião de ministros da
turais (tema II), Ensino e Formação (tema
CPLP, destinada a avaliar, entre outros
III), Diversidade Linguística: Políticas (tema
assuntos, o estado de execução do Plano
IV) e Estado de Implementação do Acordo
de Ação de Brasília .
Ortográfico (tema V), e Educação e Desen-
O foco no tema Língua Portuguesa Global
volvimento (tema VI) – relativamente aos
Internacionalização, Ciência e Inovação,
quais foi lançado um apelo à produção de
pretende dar a «conhecer perspetivas e
comunicações pelos especialistas.
projetar ações atinentes à relação entre a Língua Portuguesa e a divulgação do
Balanço
conhecimento e da inovação por todo o
Segundo o programa provisório, após a
mundo», segundo se lê no sítio da confe-
cerimónia de abertura da II conferência,
rência em http://www.conferencialp.org/.
os participantes assistirão à apresentação
Nesse sentido, e no que respeita ao Acor-
do relatório sobre a execução do Plano
do Ortográfico da Língua Portuguesa, não
de Ação de Brasília e das conclusões dos
estava inicialmente prevista a elaboração
colóquios organizados nos últimos anos
de um Vocabulário Ortográfico Comum,
pelo IILP, com sede em Cabo Verde, res-
mas apenas de um vocabulário comum
petivamente, sobre a diversidade linguís-
das terminologias científicas e técnicas.
tica dos países da CPLP (Maputo, 2011),
Só posteriormente se colocou a perti-
a língua portuguesa e as diásporas (Praia,
nência da construção de um vocabulário
2011), a língua portuguesa na Internet e
ortográfico comum da língua portuguesa a
no mundo digital (Guaramiranga, Brasil,
partir dos trabalhos nacionais feitos nesse
2012) e a língua portuguesa nas organiza-
campo.
ções internacionais (Luanda, 2012). Nas
No texto que introduz o tema da relação
sessões paralelas que se seguirão duran-
da língua portuguesa com a ciência e a
te dois dias, serão abordados e desenvol-
inovação, declara-se que, sem contestar
vidos os eixos temáticos definidos para a
o papel do inglês como o principal idioma
conferência.
da ciência, se pretende «desenvolver uma
A conferência «terá ainda a participação
reflexão sobre se, no atual contexto mun-
alargada da sociedade civil, através de
dial, as línguas de cultura devem pres-
eventos paralelos, de natureza política,
cindir de se afirmar, igualmente, como
cultural, económica ou mediática, emana-
línguas de ciência e de inovação» e, em
dos de várias organizações, associações
caso afirmativo, em que domínios, para
e ordens profissionais».
que públicos e com que recursos e instru-
A conferência é organizada pelo Camões,
mentos. «É viável um acordo internacio-
IP, pela CPLP (através das suas Repre-
nal, a celebrar entre os países de língua
sentações Permanentes e do IILP) e pelas
portuguesa, com vista à harmonização e
Faculdades de Letras da Universidades
à criação de terminologias científicas e
de Lisboa, de Coimbra, do Porto e Univer-
técnicas comuns?», perguntam também
sidade Nova de Lisboa, todas representa-
os organizadores da conferência, que
das na Comissão Organizadora, de modo
querem abordar igualmente neste campo
a conferir à sua preparação uma base
as questões da comunicação da cultura
académica de nível nacional.
n
I.C. I.P.
OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 95
English and french texts
David William Donald Cameron Is the Prime Minister of the United Kingdom, First Lord of the Treasury, Minister for the Civil Service and Leader of the Conservative Party. He represents Witney as its Member of Parliament (MP). He is a conservative leader with deep roots in the Scottish mercantile bourgeoisie and English aristocracy. Young and moderate, this is the man who holds in his hands the future of the UK. We present his political and personal profile.
n
David William Donald Cameron Est le Premier ministre du Royaume-Uni, Premier Lord du Trésor, ministre de la Fonction publique et leader du Parti conservateur. Il représente Witney comme membre du Parlement (MP). Il est un leader conservateur avec des racines profondes dans la bourgeoisie mercantile écossaise et aristocratie anglaise. Jeunes et modérée, c'est l'homme qui tient dans ses mains l'avenir du Royaume-Uni. Nous présentons son profil politique et personnel.
n
Interview with Jill Gallard, Ambassador of the United Kingdom. With a strong curriculum in international politics, Jill Gallard took office in July 2011 as ambassador. Devoting about a third of her activities to issues of trade diplomacy, is happy to continue in Europe where it has made a brilliant career.
n
Entretien avec Jill Gallard, l'ambassadeur du Royaume-Uni. Avec un fort curriculum dans la politique internationale, Jill Gallard a pris ses fonctions en Juillet 2011 en tant qu'ambassadeur. Consacre environ un tiers de leurs activités à des questions de diplomatie commerciale y est heureuse de poursuivre en Europe, où a fait une brillante carrière.
n
Pedro Reis Since December 2011 is the President of the Agency for Investment and Foreign Trade, ensures the Council Secretariat and Strategic Internationalization of Economics and is also part of the National Council for Entrepreneurship and Innovation. Chairs the jury for the "More Economic Diplomacy' award. He states that Portugal recently achieved significant victories in the export of Portuguese products but it must grow in other foreign markets without losing ground and Community sustainability in the European market.
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Pedro Reis Depuis Décembre 2011 est le président de l'Agence pour l'Investissement et du Commerce extérieur, assure le secrétariat du Conseil et à l'internationalisation stratégique de l'économie et fait également partie du Conseil national pour l'entrepreneuriat et l'innovation. Préside le jury du prix "diplomatie plus économique». Portugal déclare que récemment remporté des victoires importantes dans l'exportation de produits portugais, mais vous devez grandir dans l'espace sans perdre du terrain et de la durabilité communautaire sur le marché européen.
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Enrique Santos Is the President of the Chamber of the Portuguese-Spanish Commerce and Industry. He is a consultant for financial investments as well as administrator of various companies. States that there are over 1,200 Spanish companies in Portugal that represent a turnover of over 16 billion euros. Sees the development of these relations with much optimism.
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Enrique Santos Est le président de la Chambre de Commerce et d'Industrie Luso-espagnol. Il est consultant pour les placements financiers ainsi que l'administrateur de diverses sociétés. Déclare qu'il y a plus de 1.200 entreprises espagnoles au Portugal qui représentent un chiffre d'affaires de plus de 16 milliards d'euros. Voit au développement de ces relations avec beaucoup d'optimisme.
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Marcela Caetano Popoff Is the president of the Chamber of Commerce and Industry Uruguayan-Portuguese. Presents Uruguay as a country with an average annual growth of about 6% in the last five years.
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OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 97
English and french texts
Marcela Caetano Popoff Est la présidente de la Chambre de commerce et d'industrie uruguayenne-portugais. Affiche Uruguay comme un pays avec une croissance annuelle moyenne d'environ 6% au cours des cinq dernières années.
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Gregor Zemp Is the Secretary General of the Swiss Chamber of Commerce and Industry in Portugal. He thinks that Portugal could grow more would by taking advantage of the existing potential. Points to the excessive Portuguese bureaucracy and its impact on the economy and the introduction of foreign companies in the country.
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Gregor Zemp Est le secrétaire général de la Chambre de Commerce et d'Industrie Suisse au Portugal. Il pense que le Portugal pourrait croître plus en profitent du potentiel qui existe. Points la excessive bureaucratie portugais et leur impact sur l'économie et l'introduction de sociétés étrangères dans le pays.
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Crown Prince Philippe Has been sworn in as the new Belgian king after the emotional abdication of his father Albert II. The Oxford- and Stanford-educated, trained air force pilot took the oath as the country's seventh king in a ceremony in parliament. King Philippe promised to uphold the constitution. Belgium has a constitutional monarchy in which the king plays a largely ceremonial role. One of the duties the monarch does have is trying to resolve constitutional crises. Phillipe heirs a heavy crown that he must keep firm for the good of the union of the Belgian people.
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Le prince héritier Philippe A prêté serment en tant que nouveau roi des Belges après l'abdication émotionnel de son père Albert II. Avec formation en Oxford et Stanford, formée pilote de l'armée de l'air, Philippe a prêté serment en tant que septième roi du pays lors d'une cérémonie au Parlement. Le roi Philippe avait promis de respecter la Constitution. Belgique est une monarchie constitutionnelle où le roi joue un rôle essentiellement honorifique. L'e monarque doit essayer de résoudre les crises constitutionnelles. Phillipe héritiers de la couronne lourde qu'il doit tenir ferme pour le bien de l'union du peuple belge.
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Slowly but inexorably, Mozambique awakening from a long dark period marked by colonial occupation, ethnic conflicts and civil wars. Under the leadership of Armando Guebuza, the country has emerged as a great hope for the African economy. The Mozambican economy grows apace. Foreign investment doubled in 2012, but the global crisis will be an obstacle to consider.
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Lentement mais inexorablement Le Mozambique éveil d'une longue période sombre marquée par l'occupation coloniale, les conflits ethniques et les guerres civiles. Sous la direction d’Armando Guebuza, le pays a émergé comme un grand espoir pour l'économie africaine. L'économie mozambicaine se développe rapidement. L’investissement étranger a doublé en 2012, mais la crise mondiale sera un obstacle à considérer.
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The Director of the National Palace of Ajuda José Alberto Ribeiro released a biography on the queen D. Amelia. Master in Art History, this prestigious academic is completing her PhD on the last Queen of Portugal. Tell us a strong woman who saw her husband and son died, and who shared her heart between Portugal and France. Le Directeur du Palais national d'Ajuda
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José Alberto Ribeiro a publié une biographie sur la reine D. Amelia. Master en histoire de l'art, ce prestigieux intellectuel achève son doctorat sur la dernière reine du Portugal. Il nous raconte l’histoire d’une femme forte qui a vu son mari et son fils sont morts, et qui partageaient son cœur entre le Portugal et la France.
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98 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013