´ Diplomatica
Nº17 MARÇO 2014 €7 (Cont.)
BUSINESS & DIPLOMACY
DIPLOMÁTICA 17 • MARÇO/MAIO 2014
Entrevistas Embaixadores: Bronislaw Misztal – Polónia Renato Varriale – Itália Ebru Gokdenizler – Turquia Tzipora Rimon – Israel
África +
Destaque! António de Almeida Santos Política versus Economia
Que Futuro?
Dia Nacional de Angola Vitor Ramalho - UCCLA Moçambique Evento Cultural
Cavaco Silva e Juan Carlos Re-industrialização da União Europeia
With English & French Texts
1 • DIPLOMÁTICA - JUNHO/JULHO 2008
Assuntos Summary
A urgência da re-industrialização do sul da Europa. The urgency of re-industrialization of southern Europe.
6
Dossier - Business & Diplomacy – Entrevistas: Renato Varriale, Embaixador da Itália em Portugal; Bronislaw Misztal, Embaixador da República da Polónia em Portuga; Ebru Barutçu Gokdenizler, Embaixadora da Turquia em Portugal e Tzipora Rimon, Embaixadora de Israel em Portugal. Dossier - Business & Diplomacy – Interviews: Renato Varriale, Ambassador of Italy in Portugal; Bronislaw Misztal, Ambassador of the Republic of Poland in Portugal; Ebru Barutçu Gokdenizler, Ambassador of Turkey in Portugal e Tzipora Rimon, Ambassador of Israel in Portugal.
11
Espaço diplomático Andres Rundu, Embaixador da Estónia em Portugal. Benito Andion, Embaixador do México em Portugal. Jaime Duran, Embaixador da República Dominicana - Re-pensar as relações ibero-americanas. Edmond Trako, Embaixador da Albânia em Portugal – O único estado natural da Albânia é a Europa. Andres Rundu, Ambassador of Estonia in Portugal. Benito Andion, Ambassador of Mexico in Portugal. Jaime Duran, Ambassador of the Dominican Republic in Portugal – Re-think the Ibero-American relations. Edmond Trako, Ambassador of Albany in Portugal - The only one natural state of Albania is Europe.
30
O Presidente da República na XXIII Cimeira Ibero-Americana no Panamá. President of Portugal at the XXIII Iberon-american summit in Panama.
38
Presidente da República Portuguesa destaca o potencial da cooperação económica e tecnológica luso-sueca em visita de Estado à Suécia. President of Portugal highlights the potential of Luso-economic and technological cooperation in Swedish State Visit to Sweden.
40
O último grande libertador do século XX, fundador da nação democrática da África do Sul, Nelson Mandela. The last great liberator of the twentieth century, founder of the democratic nation of South Africa, Nelson Mandela.
42
António de Almeida Santos, Um homem de esquerda às direitas. António de Almeida Santos, the right man from the left wing.
44
Evento cultural de tributo a Moçambique. Cultural event in tribute to Mozambique.
52
Aniversário da Independência Nacional de Angola. Anniversary of the National Independence of Angola.
56
Vítor Ramalho, Secretário Geral da UCCLA - União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa. Victor Ramalho, Secretary General of UCCLA - Union of Capital Cities of Portuguese Language.
60
Dia comemoração da independencia da Nigéria. Celebration of the Independence Day of Nigeria.
64
"Xanana Gusmão e os primeiros 10 anos da construção do Estado Timorense" na sede da CPLP em Lisboa. "Xanana Gusmão and the first 10 years of building the Timorese State" CPLP headquarters in Lisbon.
66
Mala Diplomática. Dia Nacional da Espanha. Diplomatic pouch. Spain National Day.
69
Mala Diplomática. Turquia celebra 90 anos da implantação da República. Diplomatic pouch. Turkey celebrates 90th anniversary of the establishment of the Republic.
70
Mala Diplomática. Dia Nacional da Chipre. Diplomatic pouch. Cyprus National Day.
72
Mala Diplomática. Dia Nacional dos Emirados Árabes Unidos. Diplomatic pouch. Emirates National Day.
74
Mala Diplomática. Dia Nacional da Qatar. Diplomatic pouch. Catar National Day.
76
Mala Diplomática. Dia Nacional da Roménia. Diplomatic pouch. Romenia National Day.
78
Mala Diplomática. Dia Nacional da Alemanha Diplomatic pouch. Germany National Day.
80
Mala Diplomática. Dia Nacional da Andorra. Diplomatic pouch. Andorra National Day.
82
Mala Diplomática. Dia Nacional da Polónia. Diplomatic pouch. Polony National Day.
83
Embaixada do Grão-Ducado do Luxemburgo em Portugal. Apresenta documentário “Léif Letzebuerger” (“Queridos luxemburgueses”). Embassy of the Grand Duchy of Luxembourg in Portugal. Presents documentary "Leif Letzebuerger" ("Dear Luxembourg people").
84
O Presidente da República Portuguesa recebe cartas credenciais de novos Embaixadores em Portugal. The President of the Portuguese Republic receives credentials of new ambassadors in Portugal.
86
A Educação na Agenda para o Desenvolvimento pós-2015. The Education Development Agenda post-2015.
87
DIRECTOR: Maria de Bragança PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Rua de São Bernardo, nº27 A – Lisboa. MARKETING & PUBLICIDADE: Gabinete 1 - e-mail:gabinete1@gabinete1.pt Tel.: 21 099 96 74 Fax: 21 096 49 72 IMPRESSÃO: Gabinete 1 DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395
4 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
CAPA
A urgência da re-industrialização do sul da Europa
A COTEC – Associação Empresarial para a Inovação – realizou o seu nono encontro, em Lisboa, sob o premente tema da «Re-industrialização» da União Europeia, em geral, e dos países do sul (Portugal, Espanha e Itália), em particular. Para o encontro juntaram-se vários ministros, técnicos e empresários europeus para discutir uma nova industria para o Sul da Europa. O encontro contou com a presença, no encerramento, dos Chefes de Estado dos três países, SAR Juan Carlos, Rei de Espanha, Giorgio Napolitano, Presidente da República Italiana, e Cavaco Silva, de Portugal.
Portugal, Espanha, Itália e Comissão
perda de significado ocorre, na UE, a um
Europeia defendem uma “agenda indus-
ritmo mais rápido do que o observado em
trial mais eficaz e ambiciosa” com vista
outras regiões do mundo, incluindo os
à re-industrialização da Europa, propon-
países mais desenvolvidos.
do políticas públicas de âmbito regional,
Para Portugal, Espanha e Itália torna-se
nacional e europeu que a fomente. A
urgente combater este desinvestimento na
Indústria - produção de bens, por contras-
indústria com o aumento da produção de
te com a produção de serviços - tem vindo
bens industriais. Por um lado, é necessá-
a diminuir em importância na União Euro-
rio para recuperar as posições perdidas;
peia, com uma pesada queda da produção
por outro lado , temos que criar uma nova
industrial no PIB da UE e do emprego
indústria, uma vez que a produção indus-
industrial no emprego total na UE. Esta
trial precisamos intensificar é totalmente
➤
SAR Juan Carlos, Rei de Espanha; Cavaco Silva, de Portugal e Giorgio Napolitano, Presidente da República Italiana
6 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
diferente das produções industriais
Portugal os piores resultados. A União
do passado, que têm um peso diminuto,
Europeia é um líder global no desenvolvi-
tanto na União Europeia e nas áreas mais
mento das KET e tem todos os atributos
desenvolvidas do mundo.
necessários para permanecer nesta po-
Há que estabelecer como objectivo uma
sição: é a única região a dominar todas
nova Re-industrialização com uma visão e
as seis tecnologias. O problema existente
estratégias bem definidas. O assunto tem
encontra-se mais na aplicação do que no
sido discutido por vários órgãos da União
desenvolvimento de tais tecnologias.
Europeia que ajudaram a esclarecer essa
No que concerne os nossos três países, o
visão que passa por um melhor equilíbrio
maior dinamismo da actividade encontra-
entre os objectivos da produção de bens e
-se na Itália, seguida da Espanha e por úl-
produção de serviços, contribuindo, igual-
timo Portugal. Mas os resultados dos três
mente, para a consecução do objectivo
países são muito ténues e em várias das
maior de aumentar a mão de obra qualifi-
KET, a balança comercial encontra-se ne-
cada. Seguir este caminho permitirá à UE
gativa. As quotas de exportação de KET,
para aproveitar as oportunidades globais ,
em Portugal, são muito pequenas com a
ao mesmo tempo, oferecer oportunidades
excepção de Materiais Avançados e Micro/
de emprego sustentáveis com trabalho de
nanoelectrónica que chegou a atingir cerca
alta qualidade.
de 2% das exportações. Para as restantes
Uma parte significativa dos bens e ser-
KET, a balança comercial encontra-se em
viços que estarão disponíveis no merca-
negativo.
do em 2020 ainda são desconhecidas ,
A União Europeia está relativamente sa-
mas a principal força motriz por trás de
tisfeita com o seu desempenho nas seis
seu desenvolvimento será a implantação
KET, tanto em termos de tecnologia e
de Tecnologias Facilitadoras Essenciais
desenvolvimento tecnológico. O problema
(KET). Depois de encontrar o início de
e insatisfação residem nos resultados em
uma resposta para o problema que esta-
relação à aplicação industrial - produtos,
mos a enfrentar, a União Europeia, lide-
exportações e emprego como nos casos
rada pela Comissão Europeia, tem vindo
da Itália, Portugal e Espanha. A grande
a desenvolver, desde 2009, uma linha de
fraqueza da UE encontra-se em traduzir a
intenso de trabalho sobre o tema das KET,
sua base de conhecimento em bens e ser-
tanto em termos de estudo como de polí-
viços. O fabrico de produtos relacionados
ticas e programas de acção. Com base na
com as TFE está a diminuir e as patentes
pesquisa actual , as análises económicas
da UE são, cada vez mais, exploradas fora
de tendências de mercado e sua contribui-
da UE. Os concorrentes asiáticos, no-
ção para a resolução de desafios socioló-
meadamente a China (incluindo Taiwan) e
gicos , a UE passou a identificar seis KET
Coreia estão a ganhar vantagem.
"transversais": a Micro/nanoelectrónica;
Esta falta de produção relacionada com as
a nanotecnologia ; a biotecnologia indus-
TFE é ainda mais prejudicial para a UE por
trial; a Photonics (pesquisa das origens e
duas razões. Em primeiro lugar, no curto
controlo da luz); a Indústria de materiais
prazo, as oportunidades de crescimento
avançados; e as tecnologias avançadas de
e de criação de emprego serão perdidas;
manufactura.
em segundo lugar, a longo prazo, também
Em relação ao desenvolvimento e imple-
pode haver uma perda de geração de
mentação das KET existe uma discrepân-
conhecimento. Já ocorrem, porém, esfor-
cia acentuada entre a UE e os três países
ços de colaboração em particular com a
do Sul: Itália, Espanha e Portugal. Tendo
indústria no âmbito das parcerias
➤
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 7
A urgência da re-industrialização do sul da Europa
➤
público-privadas (PPPs) e do Plano
Nesses sectores de bens de consumo,
SET. Mas o carácter interdisciplinar das
enquanto o design e a funcionalidade
TFE individuais ao longo da cadeia de va-
são fatores-chave para o sucesso, vários
lor tem de ser reforçado e uma abordagem
desafios de pesquisa e tecnologia são,
integrada para apoiar TFE é, portanto,
igualmente, motores essenciais para o ne-
necessária
gócio. Os quatro principais temas estraté-
O potencial da Itália, Espanha e Portugal
gicos definidos como pedra angular para a
e suas complementaridades nesta área de
investigação e desenvolvimento tecnológi-
produtos , bem como as características
co serão: (multi ) funcionalidade avançada
de seus sistemas produtivos deverá ser
de produtos para aplicações finais especí-
explorado e aumentado a nível europeu.
ficos e cenários de uso; fabrico e cadeia
8 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
➤
de valor inteligentes; novo design e con-
identificadas as razões para essa situação
ceito de ciclo de vida de produtos; direitos
actual, e variam de competência na falta
dos consumidores e interacção avançada
de consórcios de projectos, na divulgação
do consumidor no processo de criação de
ineficiente e demonstração dos resultados
valor.
do projecto, ou na falta de recursos finan-
Apesar do esforço e investimento em I & D
ceiros para cobrir a última milha no pro-
tecnológico já feito, é comumente reconhe-
cesso de inovação e acesso ao mercado.
cido que a Europa precisa de melhorar a
Consequentemente, podem e devem ser
sua eficiência quando se trata de traduzir
tomadas medidas para resolver ou minimi-
o conhecimento científico em valor eco-
zar esses desafios, a começar pela melho-
nómico e de liderança industrial. Foram
raria da divulgação e demonstração
➤
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 9
A urgência da re-industrialização do sul da Europa
Sofia da Grécia e SAR Juan Carlos, Maria Cavaco Silva e Aníbal Cavaco Silva com Clio Maria Bittoni e Giorgio Napolitano
de conhecimento do projecto e dos re-
só durante a fase de P & D, mas também
sultados, levando a novas oportunidades de
durante a divulgação, demonstração e ex-
exploração e, portanto, permitindo a criação
ploração , a fim de melhorar a eficácia e os
de valor económico esperado. Sob a égide
resultados dessas actividades.
dos bens de consumo, com base em pro-
O desenvolvimento e integração de novos
jecto, vários sectores estão incluídos com a
materiais, modelos de negócios inovadores
sua própria diversidade. No entanto, tam-
e integração do consumidor (co- criação ,
bém compartilham muitos desafios e neces-
etc ) e interacção são apenas alguns exem-
sidades que podem, em grande parte, serem
plos complementares de áreas com um forte
respondidas e satisfeitas por tecnologias de
interesse horizontal e impacto. Também é
produção. Além disso, os responsáveis pelo
relevante para se referir a existência de ini-
desenvolvimento de tecnologias de produ-
ciativas de clusters a nível nacional e regio-
ção são muitas vezes eles próprios induto-
nal, muitos deles parte ou alinhados com as
res de inovações nos sectores de usuários,
plataformas europeias relacionadas, portan-
devido ao seu conhecimento de produção
to , com um potencial para criar uma forte
horizontal. Devem, naturalmente, ser con-
rede de operação para a implementação.
➤
siderados como parceiros estratégicos, não
10 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
n
Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.
Dossier Bussiness & Diplomacy
A globalização mundial continua a caminhar a passos largos e a Europa une-se atraindo os países do continente para o projecto sonhado. Fomos ouvir os altos representantes em Portugal da Polónia e da Itália que acreditam firmemente no fortalecimento e vantagens desta união europeia. Fomos também ouvir a Embaixadora da Turquia cujo país mantém o seu forte desejo de aderir à União e Israel cujo mapa mundo não lhe permite sonhar com esta associação.
➤
entrevistas de Maria da Luz de Bragança
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 11
DIPLOMACIA NA 1ª PESSOA
Renato Varriale Embaixador de Itália Comendador da Ordem de Mérito da República Italiana, o Embaixador Renato Varriale, subiu todos os degraus da carreira diplomática. Brasil, Cuba, Irão e Áustria foram países onde serviu o seu país, sendo Portugal o seu primeiro posto como Embaixador.
“Não pode haver Europa sem Portugal, nem vice versa”
12 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
Senhor embaixador, pode fazer-
posto - para mim, privilegiado - que
uma capacidade de acção autónoma
-nos uma breve descrição do seu
foi o de Embaixador em Portugal. Já
mas precisam de um elemento de
percurso?
falava português por ter estado no
ligação - o diplomata - entre elas e o
Eu escolhi a carreira diplomática por-
Brasil.
Ministério. Porém quem mais precisa
que basicamente falava inglês desde
E quando chega a Portugal?
da nossa actividade e atendimento
criança. Vim de uma família que não
Estou cá já há dois anos. Cheguei
(tanto em termos burocráticos, como
tinha outros diplomatas mas era uma
em Outubro de 2011. Devo dizer
de apoio e consultadoria) são, de
criança um pouco especial. Somos
que desejava muito esta missão em
facto, as PME. Evidentemente, que
napolitanos mas mantínhamos mui-
Portugal. Já cá tinha estado anos
os recursos que o Ministério possui,
tos contactos com gente da NATO
antes, durante uma semana, no
nesta fase de grandes cortes de or-
que tem base em Nápoles. Aprendi
Porto, aquando da Cimeira da OSCE
çamento, não são muito vastos. Mas
o inglês a brincar com meninos de
em 2002. Tive a impressão de um
procuramos sempre dar prioridade
expressão inglesa. A partir daí surgiu
país que era uma variante da Itália,
ao atendimento aos empresários.
uma grande paixão pela carreira
como que um irmão que vive longe.
Seja no serviço consular, seja no ser-
diplomática. Fiz o concurso nacional,
Aparentemente os espanhóis são
viço de acompanhamento.
ganhei com a idade de 25 anos.
mais semelhantes aos italianos, mas
Falamos de um apoio à exporta-
Fez algum curso especial para
há alguma coisa no povo português
ção?
seguir a carreira diplomática?
que se revê no italiano. Um italiano
Em princípio a prioridade seria as
A carreira diplomática não obriga
adapta-se a Portugal imediatamente.
exportações italianas para o exterior.
a um curso específico. A formação
Continuo a gostar muito do Porto,
Mas quando se trata de fazer o opos-
faz-se lá dentro, depois do concurso.
mas a minha paixão agora é Lisboa.
Antes fiz Direito com especial aten-
Quanto à sua vida pessoal e fami-
ção ao Direito Internacional.
liar, o que nos pode contar?
E como foram os primeiros pas-
Sou casado, a minha mulher está
sos na Diplomacia?
cá comigo; e um filho que acabou
Comecei em 1984 e fiquei dois anos
de ir para Inglaterra onde está na
em Roma. Depois fui nomeado côn-
Universidade a estudar para vir a ser
sul no Brasil e estive em Belo Hori-
jornalista.
zonte. De seguida fui colocado num
Falemos agora das relações co-
to, as exportações de Portugal para
lugar muito interessante, Cuba. Tive
merciais entre Itália e Portugal. Em
Itália, a Embaixada tentará dar todo
uma experiência muito valiosa para a
que ponto se encontram?
o apoio possível. Mas fará mais sen-
minha carreira durante esses quatro
Antes de mais gostaria de dizer, com
tido, para uma empresa portuguesa
anos. Voltei a Roma para o Ministé-
um certo orgulho, que o Ministério
que queira exportar para Itália, dirigir-
rio dos Negócios Estrangeiros onde
dos Negócios Estrangeiros de Itália,
-se ao meu homólogo português em
permaneci 3 anos. A seguir escolhi
percebeu, logo na década de 1980,
Roma. Ou então à AICEP.
um país que em termos diplomáticos
que um Embaixador tem que ser algo
A vossa acção é sobretudo nas
seria bastante desafiador: o Irão.
mais que um representante político
acções comerciais?
Finda a missão, fui para Viena, para
do país. Tem que se preocupar, cada
Não fazemos só a promoção das
a OSCE (Organization for Securi-
vez mais, com a parte comercial. A
trocas comerciais mas também do in-
ty and Co-operation in Europe) na
diplomacia económica tornou-se uma
vestimento. Nesta fase Portugal está
representação permanente de Itália.
realidade na década de 1990. Há
a precisar de investimentos estran-
É um organismo político multilateral
diplomatas italianos que exercem as
geiros. Dentro do possível fazemos
com grandes desafios. Regressei a
suas funções não só junto dos Minis-
essa promoção. Passamos informa-
Roma onde fiquei 7 anos na Direc-
tros do Governo, mas também junto
ção a sectores que estão receptivos
ção-Geral de Pessoal no Ministério,
das grandes empresas. A Itália está
a capital estrangeiro. Nomeadamen-
chefiei a atribuição de nomeações
convicta de que um diplomata deve
te os sectores que estão em vias de
para o exterior e fui Director-Geral
conviver lado a lado com os homens
serem privatizados. Até agora não
adjunto do departamento de recur-
de negócios. Na embaixada dedica-
aconteceu nada de verdadeiramen-
sos humanos e administração. Foi
mos muita atenção também às ne-
te importante. E isto porque a Itália
um trabalho duro mas que me deu a
cessidades das pequenas e médias
também está numa fase que precisa
possibilidade de me candidatar a um
empresas. As grandes empresas têm
de investimentos estrangeiros. A
➤
"
UM EMBAIXADOR TEM QUE SER ALGO MAIS QUE UM REPRESENTANTE POLÍTICO DO PAÍS
"
➤
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 13
Renato Varriale
economia ficou parada 10 anos e
têm estado mais dinâmicas que as
ainda do interesse estratégico da
agora o Governo está a inaugurar
italianas. Num momento de crise,
Europa. Já a Itália está no Mediter-
uma fase de renovação do sistema
para ambos os países, o facto de
râneo e é uma porta para o mundo
legal e burocrático para facilitar a
estarmos em quarto lugar nas trocas
árabe. Os países dos Balcãs são
chegada de capital estrangeiro.
comerciais é um bom resultado.
uma porta para a Rússia. No fundo,
Em que países está a apostar a
Qual a dimensão da comunidade
cada país da Europa pode trazer
Itália? Estão a focar-se nas econo-
italiana em Portugal?
uma mais valia à União Europeia
mias emergentes?
Não é uma comunidade muito visí-
em termos geoestratégicos. O mun-
No que se refere aos nossos inves-
vel. Em Lisboa são cerca de 2500 e
do tornou-se mais pequeno, mais
timentos, estamos a dirigir-nos aos
em todo o Portugal cerca de 5500.
póximo. Portugal, neste aspecto, é
países emergentes. Mas há vários
Na sua maioria, os italianos estão tão
privilegiado porque tem um grande
países que procuram a Itália como
bem inseridos na sociedade portu-
leque de opções: África, América
país para investimento. A nossa
guesa que até passam despercebi-
Latina, o mundo lusófono,... Portu-
prioridade agora é facilitar a entra-
dos enquanto estrangeiros.
gal tem a esperança de um futuro
da desse investimento. Estamos
Como vê, o senhor Embaixador, a
mais próspero que o actual. Mas
a simplificar as regras e a definir o
actual crise que Portugal atraves-
será um processo demorado e é
quadro de uma forma mais rigorosa
sa?
preciso investir, programar, ter uma
de forma a dar certezas ao investidor
A situação de Portugal não é uma
ideia precisa para o longo prazo.
estrangeiro.
situação isolada. É uma questão
E o que acabei de dizer é válido
➤
Mas há também que pensar nos países dentro da Europa. É preciso que haja equilíbro nos investimentos. É verdade que há mercados mais abertos e mais interessantes com muitas necessidades
também para a Itália. Mas não me
"
É PRECISO DAR UM NOVO ALENTO AO ASPECTO ÉTICO DA DIPLOMACIA.
de empresas e com muita procura, mas não podemos esquecer que a
"
cabe a mim dizer qual a estratégia que Portugal deverá tomar. Que recado daria aos futuros diplomatas? Depois de tantos anos em que se deu valor mais às questões técnicas, eu diria que o grande valor
Europa não pode correr o risco da
europeia. E não pode haver Europa
que o Diplomata tem que redes-
desindustrialização. Um dos temas
sem Portugal nem vice versa. Não
cobrir é o valor moral da própria
mais tratados agora a nível europeu
vejo a possibilidade de se fazer uma
actividade: a promoção dos di-
é, justamente, a necessidade de
marcha atrás e dissolver a União.
reitos humanos e dos valores da
reindustrialização da Europa. Aqui
Portugal vai ter de escolher o seu
democracia. Um embaixador tem
em Portugal é também um assunto
rumo em concordância com o que
que ter uma visão analítica ou até
premente que os Ministros da Eco-
for decidido pela União Europeia.
mesmo fria do Mundo, mas isso
nomia tratam com grande atenção.
Temos que caminhar todos juntos
não quer dizer que tenha que ter
E actualmente o vice-presidente da
na mesma direcção. Se assim não
uma visão cínica. Acredito que o
comissão europeia, também o faz.
for corremos o risco de surgirem
diplomata pode ter uma função de
Como está a balança de paga-
duas situações negativas: a saída do
promoção ética destes valores mo-
mentos entre Portugal e a Itália?
euro ou o fim da União. Não consigo
rais. Com realismo, claro está. Não
Em 2012, a Itália continuava a ser
sequer imaginar uma Europa sem
podemos impor a democracia com
o quarto parceiro de Portugal em
União.
a guerra ou impor, de um dia para
termos de intercâmbio comercial. As
Como vê o futuro de Portugal?
outro, os nossos valores a povos
trocas comerciais atingiram um valor
Portugal tem a grande vantagem
que não se adaptariam. É preciso
aproximadamente de 4500 milhões
de ter uma História e uma posição
ver e compreender e depois falar
de euros. Desta importância cerca de
geográfica que facilitam os contac-
e convencer. Sempre com a ideia
2 terços são exportações italianas e
tos da Europa com o mundo lusófo-
que um país não pode ser feliz se
o restante terço, exportações portu-
no. Tem também a mais valia de um
os países que o rodeiam também
guesas. A balança comercial pende
conhecimento da África, em geral,
não o são. É preciso dar um novo
para o lado italiano. Mas nota-se que
que nem todos os países europeus
alento ao aspecto ético da diplo-
há uma tendência para o equilíbrio
possuem. Portugal está à porta
macia.
porque as exportações portuguesas
do Atlântico sul, um território que é
14 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
n
Fotos: Luís Costa
MÊS/MÊS 2013 - DIPLOMÁTICA • 15
DIPLOMACIA NA 1ª PESSOA
Bronislaw Misztal –
Embaixador da República da Polónia em Portugal
“Portugal é um dos países mais interessantes do mundo!” Tendo sido Director Executivo da Comunidade das Democracias que revitalizou, este catedrático é hoje o alto representante do seu país em Portugal. Académico activo com uma extensa carreira na Polónia, Estados Unidos, França, Bélgica e Itália, tem contribuido para o avanço do discurso democrático e para as alterações políticas em quase todo o mundo, e é ainda hoje o conselheiro de vários governos e políticos, dando conferências internacionais sobre estratégias democráticas, educação superior, movimentos sociais e capital social. Foi Professor e Presidente do Departamento de Sociologia da Universidade Católica dos Estados Unidos da América em Washington e Decano da Faculdade de Relações Internacionais da Universidade de Vistula, na Polónia. Tem vários livros publicados e uma centena de ensaios e artigos.
16 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
Senhor Embaixador, como
governos para estabelecer pro-
União Soviética, o que produzia
chegou a Embaixador em Por-
cessos democráticos à volta do
muita confusão mental entre os
tugal?
mundo.
cidadãos.
Sou um catedrático, um intelec-
Continua a trabalhar com essas
Mas na vida política e na vida
tual e trabalhei sempre em vários
questões tão importantes?
social tudo nasce e morre. Paí-
países. Somente há cerca de 8
Sim. E continuo também a via-
ses nascem e morrem também.
anos (desde 2007/09) fui chama-
jar. Há dois meses fui à Polónia
Impérios que nascem e morrem.
do a Chefe de Gabinete Político
falar com a Madame Aung San
Das cinzas de um país, nasce um
no Ministério dos Negócios Es-
Suu Kyi,que foi laureada com
outro.
trangeiros do meu país tendo-me
um Nobel da Paz e que foi uma
E a União Europeia? Depois da
tornado Embaixador Titular. Ante-
das minhas alunas que tirou, há
união económica estão a pen-
riormente fui conselheiro político
dois anos, um curso organizado
sar também na união militar,
➤
de diversas entidades políticas
política, da justiça?
como por exemplo o Presidente
Penso que todos temos sonhos
da Câmara de Chicago, entre ou-
e todos temos medos e todos
tros. Sempre trabalhei em análise política e agora como diplomata continuo a fazer o mesmo. A minha vida mudou, mas mantenho o meu posto académico e universitário e o meu trabalho intelectual, sou o que se chama na Europa um “intellectuel publi-
"
temos visões. Na Europa o povo
PORTUGAL FOI O PAÍS DOS
sempre teve medo de conflitos, por exemplo: conflitos entre a
DESCOBRIMENTOS PARA O MUNDO E AGORA FAZ
DESCOBERTAS PARA DENTRO
"
que” que quer dizer: uma pessoa que fala com uma voz que os outros escutam, que publica e que guarda certos valores morais,
Alemanha e a França, entre a Alemanha e a Polónia, entre a Alemanha e a Rússia, Áustria… tudo isso. Depois da II Guerra Mundial, a ideia de Jean Monet era a de trabalhar para que os europeus não tivessem mais medos e então era necessária uma união económica entre a Fran-
éticos e políticos. Antes de ser
por mim e obteve o meu Diploma
ça e a Alemanha. Entre os seis
Embaixador em Portugal era Di-
próprio.
primeiros países foi apenas para
rector Executivo da Comunidade
Enquanto que a União Soviéti-
evitar medos e perigos. Mas a
das Democracias, um Organismo
ca (URSS) se desfez e a Russia
Europa é um projecto não só para
Internacional, intergovernamen-
se separou dos seus satélites,
evitar medos mas também para
tal, com mais de uma centena de
à União Europeia estão cada
viver uma vida melhor. Os pro-
países membros; foi constituído
vez a juntar-se mais países.
jectos são autónomos. A Europa
no ano 2000 em Varsóvia e teve
O senhor Embaixador passou
de hoje não é a Europa de 1945,
os Governos da Polónia, Portugal
pelo processo de separação da
nem a Europa de 1957, nem a de
e dos Estados Unidos entre os
URSS. Como foi esse desmem-
1978 e mesmo a de 1980. Primei-
fundadores. Mais de quatro anos
bramento?
ro porque hoje a União Europeia
estive a liderar esse Organismo
Foi muito interessante e mui-
é um organismo económico, um
fazendo diplomacia multilateral
to curioso. Eu na altura estava
dos maiores organismos econó-
e, quando outros Diplomatas me
nos Estados Unidos e tinha uma
micos do mundo. Os europeus
perguntam onde servi anterior-
colega da URSS que veio tra-
perceberam que juntos têm mais
mente, eu respondo que prestei
balhar comigo em Dezembro de
possibilidades do que cada país
serviço em praticamente todas
1990 e que me disse: “eu sou
por si. Então o projecto europeu
as capitais de todos os países do
uma cidadã de um país que já
é hoje mais um projecto de sonho
mundo democrático. Era um pos-
não existe. Tenho um passaporte
do que um projecto para evitar o
to totalmente diferente, porque
da União Soviética que já não é
medo. Por isso a ideia ou a con-
viajava muito, cinco ou seis dias
União Soviética”. De um dia para
cepção da Europa muda quase a
por semana, trabalhando com os
o outro, de repente, já não existia
cada ano, quase a cada
➤
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 17
Bronislaw Misztal
mês. Os europeus estão sem-
ras; era uma espécie de multicul-
Para países tal como a Alemanha
pre em fase de busca, de pesqui-
turalismo. Com a União Europeia,
ou França, a União Europeia tem
sa sobre esta sua nova identida-
na nova Europa que hoje existe,
o papel de acertar e prestar con-
de e isso oferece oportunidades
não temos que viver em países
tas, enquanto que para países
que não existiam como por exem-
multiculturais, pois toda a Euro-
como Portugal será uma autoes-
plo a oportunidade de trabalhar
pa está aberta, sendo suficiente
trada para a modernidade ou uma
em diferentes países e de conhe-
viajar, mudarmo-nos de um país
forma de sair da pobreza, para a
cer diferentes culturas. Anterior-
para outro, porque gostamos da
Polónia, a República Checa ou
mente a Europa funcionava como
outra cultura. É um projecto mais
Eslováquia, a U.E. será um meca-
um mosaico de países e cada
aberto, com menos separações,
nismo de mudar a tradição geo-
país era um mosaico de culturas.
com maior oportunidade para
política de mil anos. É a oportuni-
A Holanda tinha uma concepção
cuidar das culturas nacionais e
dade de se juntar ao Continente
de cultura do seu país como uma
com menos perigo de guerras
europeu. Para cada país a Europa
combinação de diferentes cultu-
culturais.
oferece uma oportunidade
➤
18 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
uma ditadura dos mais fortes
educação em que possamos
fazem uma soma positiva! Mesmo
sobre os mais fracos. Já estou
tomar a escolaridade em vários
para a Croácia (o último membro
a ver algumas ditaduras. Para
países europeus e que os estu-
da da União Europeia) ou países
os portugueses são as dita-
dos tenham equivalência. Esse é
como a Eslovénia. Isso resulta
duras das troikas, etc… Como
um projecto muito, muito bom.
de mecanismos económicos, os
estou aqui com um perito em
Por isso a Europa está sempre
países da U.E. podem produzir,
movimentos democráticos, per-
em pesquisa de novas ideias,
vender ou exportar para toda a
gunto: não haverá o perigo de
acções e novos mecanismos.
Europa. Estamos num dos maio-
que esta União caia na mão de
A palavra inveja não é apenas
res mercados do mundo, com
um grande patrão podendo vir
uma palavra, é um sentimento.
quase 300 milhões de pessoas.
a tornar-se numa ditadura?
Os Lusíadas, de Camões, co-
Maior do que os Estados Uni-
Penso que o sistema da União
meça com a frase “Às armas“
dos. Para cada país a Europa é
não vai permitir dirigentes do
e termina com a palavra “inve-
uma oportunidade. Por exemplo:
tipo de Salazar, do tipo auto-
ja”. Julgo que isso define um
➤
diferente. Mas todos juntos
para a Ucrania ou outros países,
pouco os portugueses. Somos
juntar-se à Europa pode significar
valentes, mas inveja haverá
aumentar o produto nacional em
aqui e em outras partes do
40%. Para cada país a Europa é um projecto de sonho, um projecto de abertura. Notou diferença na Polónia para melhor após pertencer à União Europeia?
"
A CHEGADA DA POLÓNIA À UNIÃO EUROPEIA MUDOU A UNIÃO EUROPEIA PROFUNDAMENTE.
Muito melhor, muito, muito melhor. Os polacos são uma nação
mundo… Diz-se que hoje muitos estados norte-americanos são mais independentes do que os países que fazem parte da União Europeia. O que me diz
"
sobre isso? Os Estados Unidos têm um orçamento conjunto e também têm or-
muito inteligente que gosta de
crático. A Europa tem muitos
inovar e que sempre apostou em
mecanismos para corrigir atitu-
ma muito federalista e na Europa
novas experiências. No final do
des populistas. A constituição
não estamos nesse ponto, mas é
seculo XVIII éramos o país com a
europeia permite mecanismos de
possível que os futuros europeus,
constituição cívica mais avança-
correcção da vida política e da
das gerações vindouras, daqui a
da do mundo, e estamos sempre
vida social.
10 ou 20 anos, venham a desejar
em pesquisa de melhores solu-
Temos um sistema de centralis-
um sistema mais federalista. É
ções. O Presidente Lech Walesa
mo económico, mesmo os países
também possível que em dife-
diz que os polacos têm a capa-
de Leste tinham um sistema de
rentes pontos da história alguns
cidade de mudar muitas coisas
racionalização de decisões eco-
países venham a ter menos
no mundo. Tal como Sto. António
nómicas. A Europa quer raciona-
confiança na União Europeia. É
temos a capacidade de trocar
lizar a sua produção económica,
possível que no futuro possamos
para melhores problemas. Quan-
o que resulta num centralismo
ter quase 30% de eurodeputados
do vivíamos no sistema totalitá-
económico. Não temos uma fe-
que venham a ser eurocépticos,
rio da União Soviética ninguém
deração em termos jurídicos, não
no entanto penso que o perigo
imaginava que podíamos mudar
temos uma união de pagamentos
poderá ser uma guerra fora da
e não só mudámos a nossa vida
sociais em que as contribuições
Europa e não um conflito entre
como mudámos o sistema sovié-
possam viajar com os europeus
países europeus.
tico e também o sistema europeu.
num sistema de transferências
O que me diz sobre as relações
A chegada da Polónia à União
de pagamentos sociais, a União
económicas entre a Polónia e
Europeia mudou a União Euro-
Europeia está também com esse
Portugal?
peia profundamente.
projecto de sonho.
Penso que são muito boas. Portugal
Esta União Europeia tão vasta
Queremos ter também um pro-
e a Polónia não são países iguais,
dá-me receio da chegada de
jecto de sonho em serviços de
são países complementares.
çamentos regionais. É um siste-
➤
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 19
Bronislaw Misztal
de condições para as crianças,
é perfeita. A solução política é
não tem e o que tem Portugal
de qualidade na educação e nos
um compromisso entre dois ex-
falta à Polónia. Os portugueses
serviços médicos… Tudo o que
tremos.
que vão para a Polónia com
fará a diferença entre a Europa e
Temos duas maneiras de fazer
empresas e negócios encontram
o resto do mundo.
política. Podemos deixar a marca
condições económicas que não
É muito importante que tenha-
da nossa mão numa parede para
têm no seu país. Eu digo que a
mos em conta que a vida noutros
mostrar que estivemos aqui. Des-
Polónia oferece a realidade do
países é muito pior e que, para
de Platão até hoje, em cada gera-
conto do João Pé de Feijão: Se
o futuro sustentável da Europa,
ção, cada intelectual, e também
plantar um feijão, irá crescer uma
temos que ajudar os outros paí-
para cada político, o seu destino
árvore enorme!
ses, tais como a Tunísia, Jordâ-
é deixar a forma da sua mão
Cada negócio que os portu-
nia, países do Norte de África,
marcada na parede. Mas também
gueses levam para a Polónia,
etc… Será necessário uma bolsa
podemos melhorar a situação
funciona tão bem que dá sem-
para ajudar os países com ne-
para que quando sairmos a vida
➤
O que tem a Polónia, Portugal
pre lucros, mas a economia da
esteja melhor do que quando en-
Polónia cresce a 2,4% por ano.
trámos. Para quando comparar-
Os polacos que trabalham para negócios portugueses encontram condições que não encontram em negócios polacos. O Jerónimo
"
mos possamos ver, à saída, que
PORTUGAL NECESSITA DA
a vida está melhor. Tem alguma coisa a dizer sobre
necessita da Polónia para desen-
POLÓNIA PARA DESENVOLVER A SUA ECONOMIA E PRODUZIR LUCROS E A POLÓNIA NECESSITA DE PORTUGAL PARA ABRIR MAIS PORTAS AO
volver a sua economia e produzir
MUNDO.
Martins é o maior empregador não governamental na Polónia e emprega quase sessenta mil polacos. A economia polaca é bem maior do que a portuguesa. Portugal
lucros e a Polónia necessita de Portugal para abrir mais portas ao mundo.
"
a Sua estadia em Portugal? Estou encantado. Cada minuto, cada dia, estou cada vez mais encantado. Gosto do povo, da cultura portuguesa, do país. Penso que Portugal é um dos lugares mais interessantes da Europa de hoje. Mais interessante do que a Alemanha, a Holanda ou a Suécia. Os portugueses também são inventivos, fazem experiências, procuram sempre novas soluções
Se fosse convidado a dirigir a
cessidades. Sem isso iremos ter
para resolver os seus proble-
União Europeia, e na verdade
sempre vagas de migrações e de
mas. Estão entre as primeiras
tem todas as condições para
refugiados que não podemos nem
nações que têm que viver uma
ocupar esse posto, o que iria
devemos suportar.
crise. Tudo o que faz o Governo,
fazer?
A Europa precisa de paz, segu-
a sociedade civil, as diferentes
Queria abrir mais portas econó-
rança e produtividade nos próxi-
forças sociais, os sindicatos, igre-
micas e sociais, abrindo mais
mos 80 anos.
ja, universidades, segmentos da
“autoestradas” como que grandes
Para si o que é política? Fazer
população tais como jovens ou
avenidas de caminhos para um
política?
pessoas idosas, são coisas novas
avanço social. Queria também
Política é a forma de resolver
para eles e para a Europa. Quan-
dar uma vida mais segura aos
dilemas e dilemas são proble-
do estou aqui, estou a aprender
europeus para uma certeza de
mas que não podemos resolver.
como os portugueses tentam e
que o nível de vida fosse me-
Nenhuma forma é absolutamente
tratam de descobrir como resol-
lhor do que nos outros países,
boa e a política é uma maneira
ver problemas. Portugal foi o país
não só criando oportunidades
de escolher direcções e decidir
dos descobrimentos para o mun-
para um futuro de qualidade de
em que direcção iremos. A po-
do e agora faz descobertas para
vida, como garantias urgentes
lítica nunca é perfeita. Quando
dentro. Por isso é também muito,
de trabalho, de segurança social,
temos dilemas, nenhuma solução
muito interessante!
20 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
Carlos. Como era domingo e não
ao reparar na matrícula do carro,
e passo muito tempo entre os
tinha motorista deixei a famí-
perguntou: É Embaixador da
portugueses, falo com muitas
lia no teatro, e como não havia
Roménia? Respondi: Não, sou da
pessoas na rua, pessoas nor-
lugares para estacionar encon-
Polónia. Ele deixou-me então es-
mais que me dizem mais coisas
tro finalmente um lugar à frente
tacionar ali. Acabei por não ir ao
do que as comunicações diplo-
do Hospital da Ordem Terceira.
concerto, indo apenas a minha
máticas. Por exemplo: Fui ver
Podendo ser proibido, pergunto
mulher e os meus filhos. Quando
um espectáculo com a minha
ao porteiro se posso deixar ali
eles regressaram, eu continuava
mulher e filhos no Teatro São
o carro. Ele disse que não mas,
à conversa com esse senhor…
➤
Eu costumo passear pelas ruas
n➤
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 21
Bronislaw Misztal
22 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
Bronislaw e Anna encantados com Portugal Conheceram-se em Varsóvia, no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Estavam ambos envolvidos num dos projectos relacionados com a agenda da democratização da Europa. Enquanto Anna tinha a experiência dos projectos de integração europeia para a Polónia e países de Leste, Bronislaw trazia a abordagem ocidental. Descobriram que se amavam e que se completavam também a nível profissional. A Embaixatriz Anna Kostrzewa-Misztal, Doutorada em Economia na Faculdade de Varsóvia, com Mestrado na Faculdade de Direito Administrativo e na Faculdade de Relações Internacionais de Varsóvia, é Conselheira da Embaixada da República da Polónia para as questões económicas e Vice-Directora do Departamento de Leste no Ministério dos Negócios Estrangeiros do seu país. Tal como o seu marido Anna acha que Portugal é um país maravilhoso para se viver. Ao perguntarmos o que pensa de ser Embaixatriz diz-nos : “Para dizer a verdade, nunca pensei ser Embaixatriz, até porque a minha carreira tem sido assente em questões de burocracia e representação. No entanto, gosto realmente de encontrar-me com outras Embaixatrizes já que os membros de uma comunidade diplomática são pessoas interessantes, sempre criativas e amigáveis. Com o meu marido, operamos mais como uma parceria intelectual e diplomática, algo que se tornou uma experiência realmente emocionante para os dois. Cada dia é, portanto, um desafio para nós, e cada recepção ou jantar acaba por ser, de uma forma ou de outra, uma reunião de negócios. Quando o dia é longo, ainda temos de ter tempo para analisá-lo, para relaxar, e discutir logística e metas antes que o dia seguinte comece. E Lisboa oferece uma agenda política em constante mutação. Tenho orgulho em ser diplomata da nova Polónia e eu sei ver a distância que percorremos, como país, desde que demos o primeiro passo da integração na UE. Os nossos dois filhos Nadia (3,5 anos) e Marcel (2 anos) gostam de viver em Portugal, tanto quanto nós. O nosso passatempo favorito é ir comer um gelado ao Santini e ver os nossos filhos comparar notas sobre gostos e cores. Juntos, vamos descobrindo as praias do Guincho, Pego (Comporta) ou Alvor; subimos as ruas íngremes do Chiado e Alfama ou vamos passear pela Avenida da Liberdade. Achamos a forma como os portugueses cuidam dos seus filhos absolutamente excepcional e o design das roupas infantis é esteticamente muito atraente. Aos domingos à tarde adoramos dar um passeio ao longo do Tejo e misturar-nos com os lisboetas . Portugal é mesmo um país maravilhoso para se viver, trabalhar e se desenvolver. Tem sido um sonho para nós estar aqui.”
n
Fotos: Maria Inês
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 23
DIPLOMACIA NA 1ª PESSOA
Ebru Barutçu Gokdenizler Embaixadora da Turquia A Alta Representante da Turquia em Portugal desde Setembro de 2013, teve um percurso assinalável em relações internacionais. Formada em Ankara e com um BA na Universidade Americana em Paris, entrou no Ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia em 1983, tendo servido na Missão Turca para as Nações Unidas em Nova Iorque e no México. Ao voltar à Turquia, foi membro do gabinete do Conselheiro Especial do Ministro dos Negócios Estrangeiros, e exerceu diversos cargos nos Departamentos das Relações Económicas Multilaterais, União Europeia, Planeamento Político, Médio Oriente e da América, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Ankara.
24 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
sacrifício tudo se compôs para
mum, e haverá mais uma, quan-
Geral para as Américas cobrin-
melhor e agora somos um país
do a Turquia entrar na União
do as relações económicas e
económicamente muito forte.
Europeia e, tal como Portugal,
políticas num total de 35 países
Fale-me então da Sua missão e
fizer parte dessa grande família.
da América do norte, centro e
dos laços de amizade entre os
É muito importante para ambas
sul. Casada com o Embaixador
nossos países
as partes, a Turquia ser incluída
Vakur Gökdenizler, actualmente
As nossas relações diplomáticas
na União Europeia. Ambas,
Director Geral no Ministério em
têm uma longa tradição. Tiveram
Europa e Turquia, irão beneficiar
Ankara. Portugal é o seu primeiro
início há bem mais de um século
muito desta adesão. Para além
posto como Embaixadora.
(em 1843), e têm sido sempre
do facto de sermos europeus, o
Senhora Embaixadora, gostou
muito boas, com uma agenda
Império Otomano foi um Império
de ser colocada em Portugal?
muito positiva. Portugal e Tur-
europeu e uma parte integrante
Iniciei em 1983 a minha carreira
quia têm uma história gloriosa e
da Europa. A Turquia sempre foi
nos Negócios Estrangeiros, e foi
ambos são pontes para diversos
um actor europeu e ao mesmo
até hoje um longo caminho. O
países e diversas culturas por
tempo Asiático e do Médio Orien-
meu ideal era um dia ser Embai-
exemplo:
te. E porque a Turquia tem um
xadora mas não fazia ideia de
Enquanto a Turquia é uma ponte
papel importante na Ásia e no
quando e onde seria. E ao ser
entre civilizações e continentes
Médio Oriente, será bom para a
nomeada para Portugal, não ti-
como Europa e Ásia, Portugal
Europa enquanto se torna num
nha ideia de quão afortunada era
será com o Brasil e África. Há
actor do mundo.
ao vir para este lindo e amigável
realmente muitas semelhanças
Para a Turquia é igualmente im-
país até ter chegado cá. E não
entre os nossos países, somos
portante e representa um objec-
digo isto como cliché, adopto a
aliados na OTAN, partilhamos
tivo estratégico, porque deseja-
expressão inglesa “the people
uma herança Mediterrânica co-
mos pertencer a todas as
➤
Até 2012, foi a Directora
➤
that make the place” porque não só o tempo é bom e a luz é especial como as pessoas são muito acolhedoras e simpáticas. Será certamente muito difícil encontrar pessoas tão agradáveis noutras partes do mundo. É verdade, são como uma nossa nova família e digo isto com toda a sinceridade. É realmente muita sorte para uma Embaixadora, ter sido colocada aqui. A minha missão é de promover o meu país e as boas relações entre os nossos países e quando encontro pessoas amigas e tão aderentes a este objectivo é realmente muito bom. A Senhora Embaixadora está aqui há mais de um ano, o que tem a dizer sobre a crise que tem assolado este país? Penso que esta crise e estes problemas irão eventualmente terminar. Na Turquia tivemos, em tempos, há uns dez anos, uma grave crise económica, mas com as reformas estruturais e algum
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 25
Ebru Barutçu Gokdenizler
instituições europeias, exacta-
Penso que também com mais
homens de negócios. Durante a
mente por sermos europeus.
turismo as coisas irão mudar. Se
visita de estado tivemos um fo-
Quando cheguei a Portugal, tive-
Mais empresários Turcos vierem
rum empresarial no qual o nosso
mos a visita do Ministro dos As-
e virem Portugal podem desejar
Presidente pediu aos empresá-
suntos Europeus, Egemen Bagis,
investir. Agora temos a Turkish
rios para se darem a conhecer
que foi recebido pelo Dr. Paulo
Airlines, com vôos diários da
uns aos outros e explorar as
Portas, que na altura era Minis-
Turquia para Portugal, mas en-
muitas oportunidades de investi-
tro dos Negócios Estrangeiros, e
quanto a Turquia facilita muito a
mento e comércio.
apreciámos o facto de Portugal
ida de Turistas portugueses pois,
O que gostaria de acrescentar?
apoiar a Turquia na UE.
desde Março de 2013, podem
E que conselhos daria aos es-
Em Dezembro de 2012, o Primei-
viajar apenas com o BI e tirar
tudantes de Relações interna-
ro Ministro Passos Coelho tam-
o visto electrónico (www.evisa.
cionais, futuros diplomatas?
bém visitou a Turquia, que há
gov.tr), é, pelo contrário, bas-
Aos jovens que escolhem a mi-
muito tempo não era visitada por
tante complicado visitar Portugal
nha profissão creio que diria que
um 1º Ministro português.
devido a procedimentos muito
a devem exercer com paixão. A
Durante a visita assinámos o “Do-
restrictos para emissão de vistos.
➤
minha filosofia é que quando se
cumento de Estratégia Sobre o
deseja fazer alguma coisa bem,
Reforço das Relações Bilaterais
o que quer que seja, deve fazê-
Entre Portugal e a Turquia”, um documento que reflecte a vontade de fortalecer as relações entre os nossos países. A partir de agora, todos os anos, e pelo menos uma vez por ano, haverá a visita de um 1º Ministro Turco em Portugal e reciprocamente.
-la com o coração, e que esse
"
É MUITO IMPORTANTE PARA
AMBAS AS PARTES A TURQUIA SER INCLUÍDA NA UNIÃO EUROPEIA
"
Todos os anos os 1ºs Ministros irão visitar-se, acompanhados de vários Ministros e empresários
trabalho não será bem feito se não colocar nele todo o empenho e dedicação. É uma profissão difícil. Vista de fora não parece: Não deixem que as recepções, festas, drinks, etc… os iludam, não é nada assim. É uma profissão muito exigente que não nos deixa muito tempo para as nossas vidas pessoais. Sou também
pois desejamos promover cada
Portugal iniciou um novo progra-
um pouco artista como hobby, e
vez mais as relações económicas
ma, o Golden Visa, que sei ter
há um ano não consigo dedicar
e políticas entre os nossos paí-
gerado interesse na Turquia e em
um único dia aos meus hobbies
ses.
cidadãos Turcos, estando entre
artísticos.
No ano passado, assinámos 7
os primeiros 10 países para obter
Adoro a minha profissão, gos-
acordos , no campo político,
o Golden Visa. É mesmo muito
tei de ter trabalhado em Nova
militar e cultural, e um desses
importante facilitar o turismo; os
Iorque, no México, gostei de ter
acordos é o JETCO – Economic
lucros com o Turismo rendem à
estado a trabalhar no meu país
and Trade Comission que tem o
Turquia cerca de 25 mil milhões
11 anos antes de ser nomeada
objectivo de promover os inves-
de dólares.
para Portugal e apesar das evo-
timentos e o comércio entre os
Eu pessoalmente não conhecia
luções nas tecnologias de infor-
dois países.
Portugal, nunca cá tinha vindo,
mação, a idade da informação,
Como está a balança de paga-
e ao conhecê-lo fiquei encanta-
tudo assenta em pessoas: duas
mentos com Portugal?
da! Agora entendo porque tantos
pessoas. É do contacto entre
O nosso volüme de comércio bi-
Embaixadores escolhem ficar em
pessoas que nasce o contacto
lateral está acima de mil milhões
Portugal no fim das suas carrei-
entre países.
de Dólares Americanos. Temos
ras. Há certamente uma razão.
Aqueles que desejam ser di-
mais investimentos de Portugal
Os portugueses e os turcos têm
plomatas devem gostar do seu
na Turquia do que da Turquia em
de se conhecer melhor. Recente-
trabalho e exercê-lo com paixão,
Portugal. Actualmente estão cer-
mente o nosso Presidente esteve
fazendo sacrifícios pessoais. São
ca de 300 turcos aqui em Portu-
em Portugal em Maio com uma
24 horas de trabalho por dia.
gal, mas temos que mudar isso.
grande delegação de cerca de 60
26 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
n
Fotos: Orlando Sousa
DIPLOMACIA NA 1ª PESSOA
Embaixadora de Israel, Tzipora Rimon O seu primeiro posto como Chefe de Missão foi o de Cônsul Geral em Chicago (1997-2001) e, em seguida, de Embaixadora no Brasil (2004-2008), tendo regressado depois ao seu país onde, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, assumiu a direcção das Instituições Multilaterais Europeias. Em Agosto de 2013 chega a Lisboa, iniciando funções como Embaixadora de Israel em Portugal.
➤
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 27
Tzipora Rimon
Senhora Embaixadora, diga-nos
respeitado pelos seus conheci-
Em Israel existem mais imigrantes
como e porque é que abraçou a
mentos, pesquisas e descobertas
do que em 100 outros Estados do
vida diplomática. No seu país,
na área da medicina.
mundo. A fusão destas culturas,
existe algum curso específico
Exactamente. No entanto, hoje a
desde o Médio Oriente à Europa
para Diplomacia ou Relações
tecnologia de informação e start-ups
Central e de Leste, desde os Esta-
Internacionais?
está cada vez mais em foco, situan-
dos Unidos da América à América
Nasci em Israel, cumpri o serviço
do-se Israel nos lugares de topo,
do Sul, deram origem a uma cultura
militar e licenciei-me em Economia
no campo das novas empresas de
israelita típica, que faz com que
pela Universidade Hebraica de
alta tecnologia de software. Israel
o design, a música, a dança e os
Jerusalém, onde me especializei em
tem muitos contactos em diversos
espectáculos, sejam reflexo de uma
Comércio Internacional. Na altura,
países que têm grande interesse
mistura cultural super criativa.
em Israel não existia nenhum curso
nessas áreas, entre os quais Por-
Soube que, entre 1985 e 1987, a
especializado na área diplomática.
tugal, com quem temos ligações e
Senhora Embaixadora esteve a
Quando terminei os estudos nunca
cooperação.
prestar funções em Lisboa. O que
tinha pensado em diplomacia e, ao
A nível da balança comercial,
achou do Portugal de hoje?
tentar encontrar trabalho na área
qual é a posição de Israel e Por-
Foi com imensa alegria que vol-
económica, vi um anúncio para o
tugal?
tei, mas Portugal mudou, mudou
concurso de cadetes do Ministério
Têm aproximadamente o mesmo
mesmo bastante. Passaram-se
dos Negócios Estrangeiros, que
balanço, exportando Israel um
muitos anos até ao meu regresso
procurava também trabalhadores
pouco mais para Portugal. Mas o
e vejo muito mais modernidade.
na área de assuntos económicos
nosso desejo é alargar as relações
Portugal mudou no sentido positivo.
e comércio. Após várias etapas e
económicas e ampliar o intercâm-
Sinto claramente a possibilidade de
entrevistas, fui admitida no Ministé-
bio comercial entre os dois países.
melhorar, ampliar e reforçar laços
rio dos Negócios Estrangeiros, que
O potencial é enorme, e já manti-
nos planos económico, cultural e
mostrou um grande interesse em
vemos encontros com a AICEP –
político. Quero acompanhar a fundo
que eu trabalhasse nas relações
Agência Internacional de Comércio
o desenvolvimento da cultura por-
económicas entre Israel e vários
Externo, no sentido de encorajar
tuguesa, seja na pintura, na dança,
países da Europa, Estados Unidos
projectos nas áreas da medicina e
na música, na literatura ou até no
➤
da América e Médio Oriente. Estávamos em finais dos anos 70, a União Europeia era mais pequena e tínhamos assinado em 1975 um acordo de comércio livre. Alguma vez Israel mostrou intenção de pertencer à União Euro-
desporto. Tive o prazer de assistir
"
já a alguns jogos de futebol entre
É MUITO
Portugal e Israel e entre Portugal e
IMPORTANTE PARA NÓS ALCANÇAR O
outros países. Nos Estados Unidos, em Chicago,
ACORDO DE PAZ COM OS PALESTINIANOS
"
peia? Não creio, até porque não estamos
onde fui Cônsul Geral, enfrentei um grande desafio em termos de trabalho, mas ao mesmo tempo tive a satisfação de conhecer melhor o povo
situados na Europa, mas assinámos
farmácia, alta tecnologia, software,
americano e a sua cultura. Também
esse acordo em 1975 e tivemos
tecnologias de informação, biotec-
gostei muito de trabalhar no Brasil,
sempre relações económicas e polí-
nologia, nanotecnologia, tratamento
como Embaixadora, onde tentei de-
ticas ao mais alto nível com a União
de águas e, inclusivamente, agricul-
senvolver uma acção intensiva junto
Europeia. Quando, em 2000, entrou
tura.
dos counterparts brasileiros para
em vigor um acordo mais amplo
Nos últimos anos, Israel também
ampliação de relações. Ainda no
entre Israel e a União Europeia, que
fez importantes progressos na área
Brasil, apreciei igualmente: a músi-
se estendeu para além do comércio
do Design. Temos relações econó-
ca brasileira, a comida, o artesanato
livre, Israel entrou no programa qua-
micas neste domínio com diversos
e... lá vem de novo, o futebol.
dro da UE, participando no entanto
países, entre os quais o Japão, os
Sente que Portugal vai vencer a
desde 1996 em programas de pes-
Estados Unidos e vários países eu-
crise?
quisa, de desenvolvimento industrial
ropeus. Consideramos que em Por-
Sou economista, mas não sou espe-
e muitas outras áreas.
tugal há grandes potencialidades de
cialista para avaliar de quanto tempo
Israel sempre foi um país muito
cooperação também nesta área.
Portugal precisa para vencer
28 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
a crise, mas já se podem presen-
universais.
outros lugares que recomendo
ciar indicadores positivos.
Como está o turismo entre Portu-
visitar.
No entanto, será oportuno dizer
gal e Israel?
Gostaria muito que me falasse do
que Israel atravessou um período
Cresceu muito o interesse dos
conflito israelo-palestiniano.
económico complicado nos anos 80
turistas israelitas por Portugal e
É fundamental para nós alcançar
e tivemos uma taxa de inflacção das
houve um grande impulso nos
um acordo de paz com os palesti-
mais elevadas em todo o mundo.
últimos anos, principalmente a partir
nianos, tal como temos vindo a ten-
Com as reformas que implementá-
de 2012. Os israelitas gostam das
tar desde 1993. Já demos passos
mos e a austeridade que impusé-
cidades portuguesas, da gastrono-
importantes nesse sentido, e fize-
mos, o país reformou-se com muita
mia e das praias. Nos últimos anos
mos alguns avanços, mas o pro-
rapidez, renovando totalmente a
já existem voos directos no verão,
cesso é muito difícil, arrastando-se
sua economia. Estamos a colher
entre os meses de Maio e Outubro,
há demasiado tempo sem que uma
os frutos dessas reformas desde
Tel Aviv – Lisboa e Lisboa – Tel
solução seja encontrada. Ambas as
os anos 90 até hoje. Muitos lugares
Aviv. Visitar Israel é uma experiên-
partes se devem esforçar cada vez
do mundo passam por crises. É um
cia única, em especial Jerusalém
mais para alcançar a paz. O final
processo mundial que tem um forte
e todos os seus lugares sagrados.
do conflito é tanto do interesse dos
impacto sobre várias economias.
Gostaria de mencionar que este
israelitas como dos palestinianos.
Falando do Governo de Israel. É
ano, em Maio, está programada
Senhora Embaixadora, deseja
um estado laico?
a visita do Papa Francisco à Ter-
acrescentar mais alguma coisa?
Coexistem no país judeus, cristãos,
ra Santa. Israel é palco de uma
Sim. Gostaria de encorajar os por-
muçulmanos e outras minorias.
mistura das histórias de todas as
tugueses, incluindo os mais jovens,
Cada uma pode praticar a sua
religiões. Tel Aviv também é hoje
a visitar Israel e a conhecer o país e
religião em plena liberdade e todos
uma cidade moderna e mediterrâni-
as reais possibilidades de coopera-
usufruem dos mesmos direitos civis.
ca, que vale a pena visitar. Galileia,
ção que existem nas mais diversas
Praticamos os valores democráticos
Neguev, Masada e Eilat são ainda
áreas.
➤
n
Fotos: Maria Inês
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 29
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Andres Rundu, Embaixador da Estónia
In a world with a fast growth
people’s access to electricity. But
in energy consumption, how
let’s be accurate, this does not
do you see the importance of
concern only developing countries.
international diplomatic relations
Even in developed countries there
Energy supply continuity, energy
are people who have difficulties
security and energy policy have
paying for energy consumption.
an important role in the national
I believe that through effective
agenda of countries. Adequate
international cooperation which
energy availability is one of the
would help shift the energy flows,
pillars of our economy. Besides
many of these issues could be
industry and transport, energy
resolved.
supply continuity is important
If we look at the trends that
and vital from the perspective of
reflect the future energy needs of
every individual. It is a subject that
our planet, we get the following
actually concerns every citizen
division. According to forecasts,
very closely. Even the term energy
energy consumption of European
poverty has started to circulate
countries and North America in
within the UN, which assesses
the year 2035 will be comparable
30 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
➤
to current levels. A huge
it be useful if, for instance, solar
increase is anticipated in the
energy produced in Portugal
growing Asian markets. It is
would reach Northern Europe in
estimated that China’s energy
the winter and wind energy in the
demand will increase by 60% by
summer! Estonia is also developing
the year 2035 and India’s by up to
wind parks – in 2012 wind turbines
100% compared to their current
covered 5.5% of our electricity
demand. These developments
consumption. However, consumers
affect energy trade in the whole
would certainly like a larger range
world. Speaking of the EU, the
of options, competition, and
union is both currently and will be
concomitant lower prices.
in the future in need of energy,
It is very important for Estonia
and will have to import 90% of
to develop cooperation between
its oil and 70% of its gas from
the Nordic-Baltic region, build
outside the union. I think these
new connections and get rid of
figures show how great is the
its “energy island” status. In 2009
need for international diplomacy,
eight countries bordering the
cooperation and exchange of
Baltic Sea signed a memorandum
global information in the field of
of cooperation “Baltic Energy
energy policy. Two years ago
Markets Interconnection Plan”
the EU launched a debate about
under which we develop electricity
the external dimension of energy
and gas connections between
policy. Lithuania, the current EU
neighboring countries. Estonia
Presiding Country has made this
is making efforts to grant new
one of its priorities. My homeland
suppliers access to its gas market
Estonia fully supports the
so as not to be dependent on a
principles of the Presiding Country
single source. We are currently
of strengthening the energy
involved in the projects of the
foreign policy of the EU, especially
regional gas infrastructure
considering the fact that the EU
package agreed in the BEMIP.
is still not sufficiently using its
One of the most important
facilities as a major importer. The
projects is the Baltic regional LNG
role of energy policy has to be
(Liquefied Natural Gas) terminal
increased in the EU foreign policy.
which could be used to supply the
It is in the interest of all Member
three Baltic States and Finland
States that we work on the better
with liquefied gas. Estonia is a
coordination of energy issues
candidate country for the terminal
inside the EU. The goal is for the
location, since we meet all the
EU to reach good agreements on
agreed requirements and our ports
energy issues, and to speak with
are easily accessible. The final
one voice when discussing energy
decision regarding the location of
issues with third countries.
the terminal will be made by the
But let’s not forget the homework
European Commission. Portugal
that the EU has to do in addition to
has long-term experience in
its international activity. We need
managing LNG terminals and LNG
more energy links between the
suppliers and manufacturers. LNG
EU Member States, allowing the
is a good example of how sea
establishment of the EU internal
routes provide new transportation
energy market. Connections need
options and help change energy
to be added especially on the
policy into a global issue between
north-south direction. Wouldn´t
different continents.
"
LET’S NOT FORGET THE HOMEWORK
THAT THE EU HAS TO DO IN ADDITION TO ITS INTERNATIONAL ACTIVITY. WE NEED MORE ENERGY LINKS BETWEEN THE EU MEMBER STATES, ALLOWING THE ESTABLISHMENT OF THE EU INTERNAL ENERGY MARKET.
"
n
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 31
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Benito Andion, Embaixador do México
Num mundo de crescente consu-
coordenada a longo prazo, com a
mo de energias, como vê a ques-
finalidade de prevenir um deterioro
tão das relações internacionais?
galopante do nosso ecossistema, e
A tendência do consumo de ener-
inclusivamente, a extinção da nossa
gias a nível global, é em efeito,
espécie.
crescente. Porém, as implicações
Por sorte, graças ao movimento
que este patrão tem para o nosso
internacional que procura reduzir
planeta são cada vez mais óbvias
as emissões de gases de efeito
e em consequência, quantificáveis.
invernadouro e aumentar o uso de
Daí a importância de chegar a um
energias renováveis (ER), têm-se
consenso internacional para encon-
implementado uma gama significa-
trar um ponto de equilíbrio que per-
tiva de políticas públicas e convé-
mita salvaguardar o meio ambiente
nios. Em 2012, pelo menos 127
em que vivemos.
países implementaram algum tipo
As alterações climáticas são uma
de política pública neste sentido.
realidade que afeta o mundo in-
Por outra parte, derivado da redu-
teiro, pelo que se torna imperativo
ção dos custos de produção resul-
encontrar uma resposta global e
tante do progresso tecnológico e
32 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
Também se impulsiona com maior
Dinamarca, França, Rússia e Israel,
equipamento verde, espera-se que
força a energia solar. O México for-
e concentrou-se nos estados de Oa-
o sector de ER continue a crescer
ma parte da “faixa solar” com uma
xaca e Baja California.
nos próximos anos, particularmen-
radiação maior a 5KWH/M2 por dia.
Cabe destacar que a presença de
te no que se refere à indústria de
Está posicionado entre os princi-
empresas portuguesas no México
➤
do crescimento da manufatura de
equipamento solar e eólico. Estima-
pais cinco países mais atrativos do
neste campo é cada vez mais reco-
-se que em 2050, a percentagem de
mundo para investir em projetos de
nhecida. Basta mencionar a cons-
geração de eletricidade com fontes
energia solar fotovoltaica, estando
trução de um parque fotovoltaico
renováveis alcançará 57% a nível
somente atrás da China e de Singa-
em la Paz, Baja California, o maior
global.
pura.
na América Latina, por parte da
No caso do México, é prioritário for-
Contamos igualmente, com um po-
firma lusa Martifer Solar, como um
talecer a nossa agenda verde para
tencial geotérmico de 40.000 MW.
exemplo do potencial de intercâm-
enfrentar os desafios das alterações
Em termos de produção desta últi-
bios entre ambos países no desen-
climáticas e do desenvolvimento
ma, o México situa-se nos primeiros
volvimento partilhado de energias
sustentável. Neste sentido, o Presi-
cinco lugares do mundo.
sustentáveis. Recentemente, os primeiros man-
dente Enrique Peña Nieto, pôs em marcha a Estratégia Nacional de Alterações Climáticas, articulada em 8 eixos de ação, que prevê medidas de adaptação e de mitigação dos efeitos deste fenómeno. Do mesmo modo, contamos com uma nova Lei Geral de Alterações Climáticas, considerada uma legislação de vanguarda; este ano instalou-se a Comissão Interminis-
"
datários do México e Portugal
O MERCADO MEXICANO É AMPLO E
concordaram em impulsionar a cooperação nos sectores público
ATRATIVO. POSSUI
e privado a favor de um desenvol-
UM EXTENSO POTENCIAL EM RECURSOS DO VENTO, SOL, GEOTERMIA, HÍDRICOS E BIOMASSA.
vimento sustentável. A subscrição
terial para fazer frente às Alterações Climáticas; e criou-se o Sistema
"
de um Memorando de Entendimento sobre Cooperação na área de Eficiência Energética, Mobilidade Elétrica Energias Renováveis assinado em outubro deste ano no âmbito da visita oficial ao México do Primeiro-ministro Pedro Passos
Nacional de Alterações Climáticas,
O mercado mexicano é amplo
onde se destaca um Conselho
e atrativo. Possui um extenso
constituído por peritos, presidido
potencial em recursos do vento,
pelo nosso Prémio Nobel, o Doutor
sol, geotermia, hídricos e biomas-
no nosso país tanto com projetos de
Mario Molina.
sa. Existem igualmente grandes
investimento como de cooperação.
Cabe sublinhar que com a ade-
oportunidades de negócios no
Deve ser enfatizado, que uma das
quação do quadro regulamentar,
campo da manufatura de equipa-
cinco grandes metas nacionais é
juntamente com o apoio outorgado
mento para o sector, aproveitando a
fazer do México um ator com res-
à investigação e ao desenvolvi-
experiência do país na indústria de
ponsabilidade global. E é precisa-
mento de novas tecnologias do
equipamento e geração e distribui-
mente neste âmbito, que a amplia-
sector, pretendemos promover o
ção de eletricidade.
ção da cooperação internacional
investimento em energias limpas,
O registo em 2012 da capacidade
constitui um dos quatro pilares da
que favoreça o seu uso e em conse-
instalada de ER no México para
Política Exterior do Governo que
quência, prevenir a dependência
gerar de eletricidade foi de 14.501
represento.
energética relacionada com os
MW. Estima-se que esta duplicará
Em suma, ante uma problemática
combustíveis fósseis.
em 2026.
global como o são as alterações cli-
O sector de ER, se bem é uma in-
Em matéria de investimento es-
máticas, é imperativa uma interação
dústria recente no México, tem cres-
trangeiro direto (IED), no período
estreita e ordenada entre as nações
cido nos últimos anos de maneira
de 2003 a 2012 o México recebeu
para que juntos enfrentemos os
favorável, principalmente no que se
aproximadamente 7.343 milhões
efeitos nocivos ocasionados pelo
refere à energia eólica. Contamos
de dólares americanos na indústria
alto consumo de energia e encon-
com um potencial eólico de 40.000
de ER, procedentes principalmen-
tremos uma solução viável e benéfi-
MW.
te de Espanha, Estados Unidos,
ca para a humanidade.
Coelho, constitui um detonador para ampliar e/ou consolidar a presença de reconhecidos corporativos lusos
n
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 33
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Jaime Duran, Embaixador da República Dominicana Re-pensar as relações ibero-americanas
A Península Ibérica está situada
Reino de Espanha.
no sudoeste da Europa. É
A conquista de Ceuta por
formada por quatro países,
Portugal, em 1415, marca o início
Portugal e Espanha, que ocupam
da Era dos descobrimentos que
quase a totalidade do território,
durou até ao século XVII. Nos
França e Andorra que ocupam
primeiros anos de 1500, Portugal
menos do 2%, e Gibraltar,
criou na América a sua maior
apenas 7 quilómetros quadrados,
e mais importante colónia, o
sob domínio da Grã-Bretanha.
Brasil, hoje um imenso país com
Ibéria é o nome pelo qual os
quase 9 milhões de quilómetros
Gregos conheciam a região.
quadrados e mais de duzentos
Hispânia é o nome pelo qual a
milhões de habitantes, que falam
conheciam os Romanos.
português, a sua língua oficial.
O Reino de Portugal foi
Em 1492, Espanha fundou a sua
estabelecido em 1139. É o
primeira colónia na América na
mais antigo Estado-Nação da
Ilha de Espanhola, Quisqueya
Europa. Em 1492 a conquista
ou Haiti para os nativos, dando
de Granada, levou à criação do
início à colonização de quase
34 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
➤
todo o continente.
origem a uma nova organização
A independência das colónias
Ibero-Americana, a Secretaria
produziu-se três séculos
de Cooperação Ibero-Americana
depois, fundamentalmente entre
(SECIB). Desde 1991 até 2013
1810 e 1826, dando origem à
realizaram-se 23 conferências,
comunidade ou região cultural,
uma por ano. As últimas
Hispanoamérica, formada por 20
duas foram as de Espanha e
países com uma povoação total
Panamá – Cádiz e Cidade de
de 375 milhões de habitantes,
Panamá – em 2012 e 2013
que falam espanhol.
respectivamente.
Iberoamérica é Hispanoamérica
Em 2003 foi criada a Secretaria
mais Brasil; mais Haiti, que
Geral Ibero-Americana (SEGIB)
fala francês, é Latinoamérica.
uma organização internacional
O termo Ibero-América, com
de carácter permanente para
hífen, designa colectivamente
apoiar administrativamente a
a Iberoamérica mais Espanha
Conferência Iberoamericana,
e Portugal. As línguas
em substituição da SECIB. Há
iberoamericanas são espanhol e
Estados participantes: 19 países
português.
latinoamericanos mais Espanha,
Em 1949, mais de um século
Portugal e Andorra. A Sede
depois das independências
encontra-se em Madrid, Espanha.
iberoamericanas, foi fundada
Enrique V. Iglesias é o actual
a Organização dos Estados
Secretário Geral.
Iberoamericanos (OEI), então
As relações Ibero-Americanas
uma agência internacional,
foram estabelecidas, em 1949,
como consequência do Primeiro
há 64 anos. Os seus objectivos
Congresso Latinoamericano de
sempre foram limitados, e
Educação, celebrado em Madrid.
os seus sucessos não foram
No 2º Congresso realizado
maiores, parece que as
em Quito, Equador, em
expectativas se têm reduzido,
1954, decidiu-se transformar
segundo se depreende das
a OEI numa organização
últimas Conferências.
intergovernamental, integrada por
Durante os anos desta relação,
Estados soberanos, constituída
têm tido lugar eventos de
em 1957 durante o 3º Congresso,
grande importância para Ibero-
celebrado em Santo Domingo,
América: A conformação da UE,
República Dominicana.
da qual são membros Espanha
No ano de 1979 celebrou-se em
e Portugal. A crise mundial do
Madrid o 4º Congresso; em 1983
petróleo na década dos 70.
o 5º, em Lima, Perú; em 1985,
Em Latinoamérica a grande
uma Reunião Extraordinária
crise financeira que determinou
do Congresso, em Bogotá,
chamar aos anos 80 ‘a década
Colômbia, que mudou o nome
perdida’, e a crise financeira e
anterior pelo actual, Organização
económica da União Europeia,
dos Estados Ibero-Americanos
afectando severamente Espanha
para Educação, Ciência e
e Portugal.
Cultura.
A ameaça permanente de crise
Em 1991 realizou-se em
deveria conduzir a ampliar as
Guadalajara a 1ª Conferência
relações Iberoamericanas sobre
Ibero-Americana de Governos
novas e mais equilibradas bases
e Chefes de Estado, dando
e não a diminuí-las.
"
A AMEAÇA PERMANENTE DE
CRISE DEVERIA CONDUZIR A AMPLIAR AS RELAÇÕES IBEROAMERICANAS SOBRE NOVAS E MAIS EQUILIBRADAS BASES E NÃO A DIMINUÍ-LAS.
"
n
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 35
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Edmond Trako, Embaixador da Albânia The only one natural state of albania is europe Albania´s optimistic road towards integration in the European Union
Time ago, maybe at the beginning
that it seemed a tectonic rift had
of the existence of the new Albanian
taken place. In fact, the Balkans
state (after the independence day
Peninsula did not move anywhere;
in 1912) or even sometime later,
so much less Europe.
when an Albanian had to travel
However, the internal mental and
abroad or taking for example, a boat
spiritual distance was such that led
towards the West, he used to say “I
to the creation of the paradox we
am going to Europe”, like if Albania
just mentioned about that Albanian
was not in Europe. This expression
traveler. As if the old distance was
was also used in Greece time
not enough, communism created
ago. The formation of an Albanian
a new removal for Albania in the
national consciousness dates to
20th century. Europe became
the later 19th century and is part of
“imperialistic”, a prohibited land, twice
the larger phenomenon of the rise
distant, multiply hostile. We now use
of nationalism under the Ottoman
most naturally the expression return
Empire. Historically speaking, for
to Europe, as if talking of a reverse
many centuries, Europe became so
journey toward the continent we left
stranger to the Balkans Peninsula,
behind and that is waiting for us.
36 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
➤
Albania belongs to Europe, not only
of Europe, World Trade Organization,
geographically, but as a living entity
and is one of the founding members
on many aspects.
of the Union for the Mediterranean.
Therefore when talking about
After Prime Minister Edi Rama took
integration and return to Europe,
office, the new coalition government
there is no doubt that this reversed
(Socialist Party & Socialist Movement
process shall take place exactly
for Integration) is on the way forward
where the evil happened. In other
with the aim to accelerate the
words, right where we were and still
accession process of Albania and the
are. In this aspect, Europe represent
necessary reforms. In this context,
for Albania, the only natural state. On
the Albanian Parliament, headed
the other hand, in this context, a key
by Mr. Ilir Meta (ex-Prime Minister
question is raised: how far away is
and ex-Minister of Foreign Affairs)
Albania from the European Family,
voted by consensus on a “package
from the European Union member
of integration,” a month ahead of
states?
the election. The EU emphasized
The European Union (EU) plays a
that a positive assessment of the
major role in promoting economic
election was critical for progress on
development and stability for the
Albania’s EU accession path. Last
member states and it is the final goal
week, a report on the election by the
for the other developing non-member
Office for Security and Co-operation
states, like Albania. However, the
in Europe’s Office for Democratic
journey to reach the destination is
Institutions and Human Rights also
in the EU is so much desired by the
not quite simple.
noted the positive electoral progress
entire Albanian society. But, what
Albania’s integration into the EU
in Albania.
can be done to accomplish this
has to be understood as a process,
In a joint statement, EU
dream?
evolving step-by-step. Each step
commissioners Catherine Ashton
First, it is significantly important
has to be implemented properly.
and Stefan Fule said, “the
to insure the independence,
Progress achieved on the first step
electoral process was fair and the
transparency and efficiency of judicial
will enable the country to better
new government should begin to
institutions.
perform in fulfilling the requirements
work on Albania’s EU integration.
Second, considerable efforts are
of the second step and so on. In
The Albanian government has
needed to establish an independent,
the course of the process, Albania
fulfilled the obligations and the
effective, impartial and merit-based
will have to implement fundamental
European Commission has
civil service.
and far-reaching reforms. This
appreciated the technical criteria.
Third, clarifying the legal framework
would enable the country to fully
We are optimistic that Albania has
on minority protection is another
participate in European integration,
met all obligations to obtain EU
important task that must be satisfied.
including rights and obligations.
candidate status”.
Finally, strengthening regional
Such reforms are not only required
That’s why, the European
collaboration in combating organized
by the European Union, but urgently
Commission in its last report
crime and drug trafficking, and
needed for Albania as well. Reforms
(October 2013) recognizes Albania’s
deepening economic cooperation
will enhance trust in the Albanian
progress in its efforts to meet the
with neighbors will be another real
economy and the political system.
European integration reforms and
route to national, as well as regional
Albania has been a potential
suggested granting official EU
stability and growth.
candidate for accession to the
candidate status to Albania.
Now the question is on how can
European Union since January
However, Albania needs to take to
these goals be accomplished?
2003 and it formally applied for
move further on its path towards EU
The key to success is building the
EU membership on 28 April 2009.
integration, by reaching out to all the
political will to support institutional
Albania is a member of the UN,
stakeholders – inside the country, in
development and to protect the
NATO, the Organization for Security
the region and also to the member
public’s interest instead of the
and Co-operation in Europe, Council
States. The Albanian membership
interest of the politicians.
"
ALBANIA IS A MEMBER OF THE UN, NATO, THE ORGANIZATION FOR SECURITY AND CO-OPERATION IN EUROPE, COUNCIL OF EUROPE, WORLD
TRADE ORGANIZATION, AND IS ONE OF THE FOUNDING MEMBERS OF THE UNION FOR THE MEDITERRANEAN.
"
n
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 37
VIAGENS DE ESTADO
O Presidente da República na XXIII Cimeira Ibero-Americana no Panamá
O presidente da República Portuguesa
abertura da Cimeira Ibero-Americana e,
foi um dos chefes de Estados que par-
apos uma visita ao Centro de Visitantes
ticiparam na XXIII Cimeira Ibero-Ameri-
do Canal do Panamá para tomar conhe-
cana. Realizada na cidade do Panamá,
cimento sobre a actividade da Eclusa de
entre os dias 18 e 19 de Outubro de
Miraflores por onde passam navios que
2013, centrou-se no “papel do desen-
fazem a travessia entre o Atlântico e o
volvimento político, económico, social e
Pacífico, fez uma intervenção sobre a
cultural da Comunidade da América La-
importância da conclusão das obras de
tina no novo contexto global”. A abertura
alargamento do Canal para as relações
da Cimeira foi marcada pela apresen-
económicas mundiais, e especialmente
tação de um programa cultural e pelas
para as relações empresariais entre
intervenções do Presidente do Panamá,
Portugal e Panamá. «Não posso deixar
Ricardo Martinelli, do Presidente do
de destacar a importância estratégica
Governo espanhol, Mariano Rajoy, e do
que a conclusão das obras de alarga-
Secretário-Geral Ibero-Americano, En-
mento do Canal do Panamá assume
rique Iglesias. Cavaco Silva esteve pre-
também para a Europa e, em particular,
sente nas cerimónias que assinalaram a
para Portugal. O Panamá,
38 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
➤
mas também a América Latina, ao
11 por cento do produto mundial,» pelo
reforçar a sua centralidade nas rotas do
que «um relacionamento mais forte
comércio internacional, potenciará a sua
entre os países da Comunidade Ibero-
posição face à Europa e ao Mundo. Por-
-Americana deve constituir uma priorida-
tugal, e em particular o excelente porto
de, com vista a tirar o melhor partido do
de águas profundas de Sines, reforçará
potencial que, ao nível do comércio e do
a sua posição de plataforma logística
investimento, está ainda desaproveita-
de aceso aos mercados europeus,»
do,» adiantou. O Presidente português
afirmou na sua intervenção por ocasião
marcou ainda presença no almoço de
da Cimeira. Recorde-se que o porto de
encerramento do Encontro de Empre-
Sines geograficamente é o mais pró-
sários Ibero-Americanos e portugueses,
ximo do canal. Cavaco abordou ainda
no âmbito da XVIII Cimeira de Chefes
o papel económico da comunidade no
de Estado e de Governo da Comunida-
mundo e a utilidade do desenvolvimento
de constituída pelos países da América
dos acordos comerciais. «Juntos, os
Latina, Portugal, Espanha e Andorra,
países que compõem a comunidade
a convite do seu homólogo, Ricardo
ibero-americana representam cerca de
Martinelli.
n
Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 39
VIAGENS DE ESTADO
Presidente da República Portuguesa destaca o potencial da cooperação económica e tecnológica luso-sueca em visita de Estado à Suécia O Presidente Português realizou uma Visita de Estado de três dias à Suécia, a convite da Sua Majestade o Rei Carlos XVI Gustavo. Realizada em Outubro de 2013, a visita, centrou-se na cooperação mútua em vários sectores da economia e da área empresarial. «O intenso programa desta Visita na esfera económica e empresarial é bem demonstrativo do nosso potencial de cooperação. É o caso, em particular, das áreas da inovação e da investigação científica e tecnológica, das energias renováveis e das indústrias de alta tecnologia. Mas também de sectores mais tradicionais, como os têxteis e o calçado», afirmou Aníbal Cavaco Silva, numa intervenção durante a recepção, organizada em sua honra, pelos reis da Suécia no Palácio Real de Estocolmo. Já no Seminário Económico Suécia-Portugal, incentivou as empresas suecas a desenvolverem parcerias com os «seus homólogos portugueses na identificação e na montagem de projectos partilhados,» referindo-se a Portugal como um país que oferece vantagens “competitivas” e “únicas” e que o tornam numa «Localização Prioritária em muitos empreendimentos para o mercado europeu.» «Portugal detém uma presença comercial importante nos países de língua portuguesa situados em África e na América Latina, com profundas raízes nas nossas ligações históricas e culturais de longa data. Tal permite-nos ser uma plataforma privilegiada de contacto com estes países, uma plataforma com uma rede já estabelecida
➤
40 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
e 'know-how' operacional,
aberta a empresas suecas interessadas em trabalhar com esses mercados,» disse ainda. Na sua estadia na Suécia, o Presidente português, visitou várias empresas tecnológicas locais. Em Kista visitou a Ericsson, enquanto em Lund tomou contacto com projectos como o Laboratório MAX IV e a Fonte de Fragmentação Europeia (European Spallation Source - ESS), apresentados no Edifício Verde - Ideon Gateway, no Parque de Ciência Ideon; e em Malmö conheceu o edifício “Turning Torso.”
n
Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 41
EXÉQUIAS
O último grande libertador do século XX, fundador da nação democrática da África do Sul, Nelson Mandela por Roman Buzut
Em última homenagem a Nelson Mandela no Estádio FNB, mais conhecido como Soccer City
Nelson Mandela deixou-nos aos 95 anos de idade. A partida deste libertador do povo Sul-Africano reuniu em Joanesburgo, dezenas de Líderes de Organizações Internacionais, Chefes de Estado e de Governo, entre os quais o Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva que lhe prestaram homenagem. Palavras de louvor de um último Adeus ao Último grande libertador do século XX ficam nas páginas da história! O actual Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, refere-se a Mandela como o «presidente fundador da nossa nação democrática» que «perdeu o seu maior filho. Os nossos cidadãos perderam um pai,» disse. O sonho de Mandela de pôr fim à segregação racial de seu país, recebeu o apoio de muitas personalidades e organismos da comunidade internacional. Ideais estes, que antes de se tornarem realidade, entre 1964 e 1990, valeram-lhe anos na prisão. A este propósito é de citar as palavras de Cavaco Silva «Em 1987, eu tinha escrito uma carta ao Presidente da República da África do Sul, o Senhor Pieter Botha, pedindo a libertação
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➤
de Nelson Mandela (...). O Presidente da República da África do Sul
reagiu muito mal a essa minha carta. Houve uma certa tensão entre os dois governos. Não foi nada simpático na sua resposta. Depois, em 1988, Pieter Botha veio a Lisboa, para uma reunião comigo (…). Foi uma reunião de uma grande tensão, precisamente porque Portugal insistia muito sobre a libertação de Nelson Mandela e de outros presos políticos. Mas o homem que faz a viragem que permite a libertação de Mandela e o fim do apartheid foi Frederik De Klerk. Eu penso que fui o primeiro líder europeu que recebeu De Klerk depois de ele anunciar a sua candidatura a Presidente do Partido Nacionalista e a Presidente da República da África do Sul. Em 1989, veio a Lisboa falar comigo. Não era ainda Presidente da República, era apenas Ministro da Educação. E, aí, disse-me: Se eu for eleito, eu libertarei Nelson Mandela. E cumpriu.» Mandela é libertado da prisão a 11 de Fevereiro de 1990, na altura da presidência de Frederik De Klerk. No dia 27 de Abril de 1994 é eleito primeiro Presidente negro da África do Sul, tomando a posse do cargo a 10 de Maio, do mesmo ano, e ocupando-o até 1999. «Lutei contra a dominação branca, e lutei contra a dominação negra. Eu defendi o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal para o qual espero viver e conseguir realizar. Mas, se preciso for, é um ideal para o qual estou disposto a morrer,» afirmou Nelson Mandela num discurso em sua defesa na altura do julgamento de Rivonia. E assim foi! A forma como agiu enquanto “Líder rebelde” e como governou o país enquanto Presidente da República trouxe-lhe vários reconhecimentos a nível internacional, entre os quais o Prémio Nobel da Paz 1993 que dividiu com Frederik Willem de Klerk e que lhes foi atribuído pelos seus esforços para o fim do apartheid, e por terem estabelecido as bases para uma “nova e democrática África do Sul”.
n
Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.
Mari Alkatiri, Cavaco Silva e Xanana Gusmão
Cavaco Silva e Bill Clinton
´ Africa +
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 43
GRANDE ENTREVISTA
António de Almeida Santos,
por Maria de Bragança, fotos Maria Inês
Um homem de esquerda às direitas Primeiro queria dizer-lhe que
Eu nunca cultivei muito a idolatria.
zes… Ele casou com a ex-esposa
tenho muita honra em estar aqui a
Normalmente os ídolos são de
do Presidente Machel, de quem fui
conversar com um Homem com os
origem religiosa e eu deixei de ser
advogado e grande amigo. E, numa
conhecimentos, a importância e a
religioso aos 18 anos. Mas se tenho
das muitas cerimónias oficiais em
enorme experiência do Dr. Almei-
ídolos, o meu principal ídolo é, neste
que estive, em Moçambique, ela
da Santos. E contando com a sua
momento, Nelson Mandela. Tenho
apresentou-me o Mandela e, na
longa estadia em Moçambique,
outros: o Gandhi, por exemplo, e
primeira vez que estive a falar com
gostava muito de que, no início
mesmo em Portugal há figuras que
ele tive a impressão de que estava
da nossa conversa, me falasse de
sinceramente venero. Mas devo
a falar com um santo. Aquilo que
Nelson Mandela, figura que o mun-
dizer-lhe que o Mandela me tocou
nós consideramos a figura de um
do não deverá nunca esquecer.
bastante. Estive com ele três ve-
santo. Sereno, sorridente, um falar ➤
44 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤ sereno
e doce. Estive a falar com
O 1.º líder que recebeu Mandela foi
Como foi relativamente fácil aos
ele bastante tempo.
um dos mais desumanos de todos:
brancos tomarem essas atitudes,
Por outro lado eu conheci bem
Pieter Botha, que eu conheci na
admitindo que começaram por
a África do Sul e acompanhei a
cerimónia da assinatura do Acordo
ser poucos?
sua luta e a sua prisão. Durante
de Incomati, que eu ajudei a tornar
Quando vieram, a África do Sul
27 anos esteve preso e foi preso
possível, e que selou a paz entre
estava quase deserta. Além disso,
quando estava a liderar o terrorismo
a África do Sul do “apartheid” e
os pretos não tinham armas e os
do seu partido (o ANC). Procurava
Moçambique, numa altura em que
brancos chegavam armados.
não matar e não ferir pessoas mas
já tinham começado aflorações de
Houve lutas entre ingleses e boers,
destruía edifícios militares, etc. A
hostilidades bélicas.
e entre brancos e pretos na chama-
serenidade, a suavidade, o sorri-
Machel, inteligente, compreendeu a
da guerra “anglo-boer”. Os ingleses
so, a voz, a bondade, foi o que me
recíproca necessidade desse acor-
tentando humanizar o tratamen-
mais me impressionou. Isso e a sua
do, e ele foi negociado e assinado.
to dos pretos, os boers reagindo
capacidade para compreender os
Os dois países continuaram hostis,
porque queriam trabalho de graça,
outros.
mas em paz.
trabalho escravo!
Preso durante 27 anos! 27 anos em
Esse acordo funcionou sempre
Mas há mais. Os boers proibiram
que as suas esperanças começa-
bem, mesmo durante o “apartheid”,
as relações sexuais entre brancos
ram por ruir! O apartheid tornava-se
e depois dele, até hoje, nunca mais
e pretos. Uma das atracções de
cada vez mais violento e desumano.
houve qualquer conflito militar entre
Moçambique, em especial de Lou-
Nos primeiros 12 anos, punido com
a África do Sul e Moçambique. O
renço Marques, nessa época, para
trabalhos forçados de uma violência
“apartheid” foi a nódoa civilizacional
os turistas sul-africanos, era o facto
sádica que suportou sem um quei-
mais repugnante da era moderna.
de as relações sexuais entre raças
xume. Acabaria por se tornar líder
Tudo separado. A única coisa que
serem completamente livres. Havia
dos prisioneiros que reconheciam
não era separada, eram as lojas
ser respeitado até pelos seus inimigos. Os próprios carcereiros acabaram, não raro, por reconhecer nele um ser de excepção. Formado em direito chegou a ser advogado de numerosos africanos, aos quais, por regra, não cobrava honorários. Bom orador, tinha sempre resposta
três coisas que em particular os seduziam: os casinos (na África do Sul
nele um chefe natural. Começou a
"
não havia casinos), livres relações
A PRIMEIRA VEZ QUE ESTIVE A FALAR COM O MANDELA TIVE A IMPRESSÃO DE QUE ESTAVA A FALAR COM UM SANTO
pronta e justa para tudo. Perto do fim da pena começou a escrever um
"
sexuais e livre aquisição de bebidas. Na África do Sul o comércio de bebidas era condicionado pela Lei Seca. Acabei por ter uma relação com a África do Sul um pouco estranha. O magnata Sir Oppenheimer, que dominava o comércio de pedras preciosas, às tantas leu um contrato
livro sobre a história da sua vida,
comerciais, porque os brancos que-
que eu tinha redigido, e perguntou:
que mais tarde completou e publi-
riam que os pretos gastassem lá o
– quem é que fez este contrato? Ao
cou, e no qual eu me baseei para
seu dinheirinho. Fora disso era tudo
responderem-lhe que tinha sido eu,
escrever as 100 páginas com que
separado: escolas separadas, hos-
determinou: – a partir de agora esse
o homenageei no meu livro “Nova
pitais separados, bairros habitacio-
rapaz é que vai fazer os nossos
Galeria de Quase Retratos”. En-
nais separados, hotéis, autocarros,
contratos. Existia uma razão: os ad-
tretanto, o ANC continuava a lutar,
bancos de jardim, tudo separado!
vogados sul-africanos, diversamente
cada vez com mais violência, pelos
De tal maneira que a primeira vez
dos moçambicanos, faziam contra-
seus próprios direitos, e a popula-
que visitei a África do Sul, integrado
tos demasiado prolixos porque eram
ção branca, também cada vez mais
no Orfeão Académico de Coimbra,
pagos pelo número de páginas.
apreensiva com aquela luta de bran-
ainda estudante de Direito, uma das
A partir desse momento, passei a
cos contra pretos e pretos contra
coisas que mais me chocaram foi ver
redigir, não todos, mas numerosos
brancos, à qual não se vislumbrava
os bancos de jardim com uma placa
contratos para a Anglo-American do
um futuro não violento. Por fim,
que dizia “Europeans only”. Os pre-
Sr. Oppenheimer.
Mandela começou a ser respeitado
tos tinham de se sentar no chão! Vim
Talvez não saiba que o meu bisa-
pelos líderes dos próprios brancos.
de lá indignado e chocadíssimo!
vô foi Director Financeiro do
´ Africa +
➤
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 45
António de Almeida Santos
➤ magnata
Oppenheimer, e agora
Já na Inglaterra, quando chegámos
que premonição aquela! Como é
nas arrumações de papelada, em
ao Hotel onde eu e o Oppenheimer
que aquele homem me haveria de
casa de meus pais, encontrei um
nos íamos encontrar com Machel,
perguntar quem é que havia de lhe
papel assinado pelo Oppenheimer
esperámos cerca de dez minutos e,
suceder?.
com referências óptimas sobre
quando o Machel apareceu, abriu
Fui ao seu enterro e, em conversa
o pai do meu pai, que trabalhou
os braços e disse: – Oh! Oppenhei-
com Chissano, que veio de facto a
muitos anos com ele em Paris.
mer! Oh! Capital! Dá cá um abraço!.
suceder-lhe e a ser um bom presi-
O Oppenheimer também me aju-
Conquistou-o. Depois, na conversa,
dente, ambos pudemos retomar a
dou na concretização do Acordo de
o Oppenheimer pediu a Machel que
surpresa da premonição de Machel.
Incomati, depondo favoravelmente
lhe desse em breve resumo a sua
Mas voltando ao Mandela. O Man-
sobre o Presidente Machel, que
opinião sobre a política da África
dela foi um herói. Na cadeia e
para o efeito lhe apresentei em
Austral. Machel fez-lhe um resumo
depois dela. O Pieter Botha foi o
Londres, tendo dele recolhido uma
que eu próprio achei fabuloso. No
primeiro a recebê-lo, mas sem con-
muito favorável impressão. Depôs, e
fim, Oppeheimer, verdadeiramente
sequências, além do facto de o ter
a sua opinião sobre Machel facilitou
impressionado, disse-me: – Mas
recebido. Mas, pouco depois, era re-
o posterior acordo.
este tipo é notável! Era o que eu
cebido pelo seu sucessor, Frederik
Antes do encontro com Oppenhei-
queria que soubesse – respondi-lhe.
de Klerk, que teve a lucidez de com-
mer, Machel visitou Portugal e foi
– Agora convença o governo da
preender que era o diálogo, e não o
muito bem recebido. Almoçámos em
África do Sul de que deve entender-
ódio, que convinha à África do Sul
casa do Mário Soares, em Nafar-
-se com ele. E foi assim que, num
toda ela. Recebeu Mandela, e o diá-
ros, e quando acabou o almoço
magnífico dia de sol, eu pude ter as-
logo entre ambos nunca mais parou,
sistido, sentado ao lado da Senhora
até que foi possível o acordo sobre
Botha, à assinatura do verdadeiro
eleições o mais possível sem ódio.
acordo de paz entre a África do Sul
Não há na história do Mundo, outro
e Moçambique.
exemplo de um acordo em que a
No jantar desse dia, de novo em
democracia tenha triunfado assim
Maputo, com a presença do Go-
sobre tanto ódio! Dois homens
verno, todo ele, Machel e eu, não
excepcionais tornaram esse milagre
houve hiatos para o silêncio. Machel
possível. A brancos e pretos fugia o
esteve particularmente falador. Às
pé para a bravata. Mas dois homens
tantas, imprevistamente, faz-me
excepcionais lograram fazer aceitar
uma pergunta singular.
a sua substituição por um acordo de
– Oh! Almeida! Tu sabes quem é
entendimento democrático e de paz
"
O OPENHEIMER TAMBÉM ME AJUDOU A CONSEGUIR A PAZ E O ENCONTRO DE INCOMATI
"
que me vai suceder?
cívica e política. Essa paz já durou
tínhamos de ir para o Parlamento,
Respondi-lhe, é claro, que sendo
o tempo de dois mandatos presi-
de que eu era Presidente, e onde
ele um jovem, o problema não se
denciais e parte de um terceiro. Não
Machel iria discursar. Findo o al-
punha.
foram mandatos iguais. O primeiro e
moço Machel deu-se conta de que
– Põe-se sempre, corrigiu. E acres-
mais difícil coube a Mandela presidir
tinha perdido o discurso. Procurei
centou:
a ele. O segundo foi ainda, em certo
tranquilizá-lo lembrando-lhe que os
– É o Chissano!
sentido, a continuação do primeiro.
seus improvisos eram melhores do
– Um político sensato e experien-
O terceiro já não está sendo tão
que os textos escritos por colabora-
te – acrescentei. Mas Machel não
exaltante. Mas a morte de Mandela
dores seus.
aceitou a justificação. E corrigiu:
veio renovar o penhor de continui-
Na hora e meia de que ainda
– Não é nada disso! Vocês, eu-
dade da paz e do bom entendimento
dispunha, Machel no meu carro,
ropeus, não percebem nada de
de que a África do Sul tem gozado.
fechou os olhos e mentalizou um
política africana! O Chissano vai-me
Até quando é cedo para sabermos.
dos melhores e mais ovacionados
suceder porque descende de reis. E
Esperemos que até sempre.
discursos que a Sala do Senado
o poder político, em África, é monár-
Fale-me agora de Si. Acha que
ouviu. Raras vezes tantas e tão
quico!
terá valido a pena o seu esforço e
vibrantes palmas. Machel era um
Pouco tempo depois, caía o avião
o seu trabalho, o currículo fantás-
orador espontâneo.
e Machel morria. Pensei: Mas
tico que teve e ainda tem, sempre ➤
46 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤ com
a responsabilidade de tudo
D. João III, de que fui sempre um
Orfeão queria que eu dedicasse o
o que diz e que faz porque é uma
dos melhores alunos (no 7.º ano
livro a Salazar. E como me recusei,
das referências e exemplos deste
o melhor do País, com direito a
dedicaram-lho eles. Pouco depois,
país? Valeu a pena o esforço e o
prémio nacional) uma cultura geral
recebi de Salazar uma carta, na mi-
trabalho?
e política invulgar para a minha
nha República de Coimbra, redigida
É evidente que valeu. O meu passa-
idade. Comecei assim, cedo e bem
nos seguintes termos: “Recebi, com
do teve duas vertentes: até Abril a
preparado, a lutar contra a política
gentil dedicatória da Direcção do Or-
vertente profissional e a luta política
da ditadura. E no meu 4.º ano de
feão Académico (não deixou passar
contra o regime ditatorial. Depois
Direito, nas eleições a que se can-
a falta da minha) o seu livro “Coim-
de Abril a contribuição para o novo
didatou o General Norton de Matos,
bra em África”. Gostei muito de o
Portugal democrático e livre.
já fiz parte da Comissão eleitoral
ler, está muito bem escrito e, embo-
Comecei muito novo a ter ideias
de Coimbra, e discursei por tudo
ra não possa concordar com tudo o
políticas e cultura política. Um irmão
quanto era sítio. E parece que me
que nele diz (referia-se às minhas
de minha mãe, como ela profes-
não saí mal de todo. Depois fui com
críticas ao regime colonial), também
sor primário, e além disso militante
o Orfeão Académico de Coimbra,
não pude deixar de registar algumas
comunista, ia todos os anos passar
na qualidade de cantor, guitarrista e
justas alusões, como por exemplo
o mês de Agosto, com a esposa e
orador oficial, a S. Tomé e Príncipe,
a da tão bela descrição da cerimó-
as filhas, a uma quinta de meu pai,
Angola, Moçambique e África do
nia de transferência do Caminho
numa aldeia da Serra da Estrela,
Sul. Nunca fiz tantos discursos por
de Ferro da Beira para a soberania
trazendo sempre uma mala cheia
unidade de tempo. Regressado a
portuguesa. Com os cumprimentos
de livros proibidos. E eu devorava-
Coimbra, publiquei o meu primeiro
do António de Oliveira Salazar. Era
-os com avidez cultural. Depois de
livro sobre a viagem, e já sobre o
sábado, tínhamos acabado de almo-
lê-los, discutia-os com ele. Adquiri
regime colonial, que deu azo a uma
çar, tínhamos a tarde livre, e seguiu-
assim, à margem do curso do Liceu
história engraçada. A Direcção do
-se um comício improvisado
´ Africa +
➤
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 47
António de Almeida Santos
que durou até tarde. Na confu-
Talvez o Salazar não tivesse ape-
jeito de interrogação-afirmação:
são, a carta acabou por sofrer uma
nas facetas negativas. Mas foi um
– Tem consciência de que não re-
espécie de auto-de-fé. Hoje gostava
ditador feroz. Fez coisas muito feias.
gressa a Moçambique?!..
de possuí-la. Mas a juventude tem
Ele soube da morte do General Del-
– Porquê? – obviei. Cometi algum
as loucuras que tem. Vim depois
gado e certamente soube quem o
crime?
a ter razões para convencer-me
matou. Apesar disso culpou da sua
– Não cometeu nenhum crime – ob-
de que Salazar, não só por causa
morte os resistentes da oposição
viou o Coronel Saqueti, que eu tinha
deste episódio, mas de outros de
que conviveram com Delgado em
conhecido em Coimbra na qualidade
igual significado que, quando tinha
Argel. Teve muitas outras atitudes
de Comandante da G.N.R. – Mas
conhecimento de textos meus de
negativas. Mas escrevia bem. Uma
acha que, com estas respostas, vão
crítica ao regime em geral e à polí-
das razões que me fez chegar à
deixá-lo embarcar de novo?
tica ultramarina em particular, que a
conclusão de que o Salazar teria
– E quem vai deixar ou não deixar?
Pide impedia de circular, sanciona-
algum apreço por mim, foi a de que,
– quis eu saber.
va a apreensão, mas determinava
depois de ter representado o Del-
– Quando eu tiver despacho com o
que se ficasse por aí. A própria
gado em Moçambique, eu quis ir ao
Sr. Presidente do Conselho, telefo-
Pide viria a revelar-me que me tinha
Brasil para patrocinar um processo
no-lhe para o seu hotel.
movido treze processos-crime e que
de inventário de maiores, o que
Vi assim confirmado que o Presi-
nenhum deles tinha passado da
me obrigou a ir ao Banco Nacional
➤
dente do Conselho despachava
autuação inicial, insinuando que por
directamente com a Pide, o que
ordem de cima. Não oculto que esta
também não enaltecia o seu cadas-
estranha simpatia, se é que existiu, não reforçou o meu orgulho de mim próprio. Sempre retirei alguma satisfação de ter sido um coerente adversário político do Presidente do Conselho e da sua maneira ditatorial de fazer política. Dá-me a ideia de que o Salazar, que eu combati sempre que pude,
"
PARA MIM AS LEIS FORAM SEMPRE URGENTES, FIZ DEZENAS, CENTENAS DE LEIS NO PRÓPRIO CONCELHO DE MINISTROS
terá estado sempre na origem de eu nunca ter sido perseguido além
"
tro. Uma semana depois Saqueti telefonou dizendo: – Com surpresa minha, o Senhor Presidente do Conselho gostou das suas respostas. Pode seguir para Moçambique. E lá fui para continuar a combater o regime, até que os capitães de Abril me dispensaram de insistir nesse trato.
de um certo ponto. Embora me
Ultramarino, a fim de trocar dinhei-
Pouco depois, o General Costa
tivessem apreendido três livros, e
ro português em moeda do Brasil.
Gomes visitava Moçambique, sendo
praticamente todos os papéis que
A Pide, que me seguia por todo o
portador de um convite do General
fiz com assinaturas de numerosas
lado, convencida de que seria di-
Spínola, o novo Chefe de Estado,
pessoas e a partir de certa altura me
nheiro para o Delgado, que eu tinha
para que eu integrasse, como Minis-
tivessem proibido de sair do país. O
representado em Moçambique como
tro da Coordenação Interterritorial, o
próprio ex-director da Pide, 20 anos
candidato à presidência da Repú-
novo Governo da República. Disse
depois do 25 de Abril, em conversa
blica, impediu o meu embarque, e
adeus à advocacia e abri o longo
casual me disse: – O Salazar devia
notificou-me para me apresentar
dossier da política activa. Só os
gostar de si, porque eu movi-lhe 13
na sua sede, a fim de responder a
anos viriam a distanciar-me dela.
processos-crime e nenhum deles
perguntas.
Pensa que não haverá perigo de
passou da casca. Havia instru-
Respondi durante três dias, e pra-
voltar uma ditadura? Ou nascida
ções para não prosseguir. E essas
ticamente ditei um livro. Fi-lo com
em Portugal, ou uma ditadura da
instruções só podiam vir dele. O Dr.
insuperável verticalidade, explanan-
Europa e das troikas sobre Portu-
Manuel Nazaré, moçambicano e
do o que pensava sobre o presente
gal?
meu grande amigo, médico analista
e o futuro do ultramar português.
A Europa, para além de nunca
do Presidente do Conselho, e que
No fim, quando acabei de assinar
poder ser uma ditadura, antes o
veio a ser deputado, chegou a dizer-
as minhas respostas, o meu inter-
contrário disso, protege-nos contra
-me: – Olha que o Salazar, quando
locutor, aliás presidente da funesta
o risco de qualquer outra. A Europa
me fala de ti é com algum apreço.
instituição, disse-me o seguinte, em
quer ajudar-nos a endireitar as
48 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
➤ nossas
contas. Amontoámos uma
Hoje, a CPLP já dispõe de instala-
Este governo tem condições para
dívida que não é fácil de pagar e
ções com o prestígio e a dimensão
poder ir até ao fim do seu mandato,
que vai demorar muito a saldar,
necessários à indução de mais essa
e é pena que tenha, porque está
dando de barato que alguma vez o
nova e importantíssima dimensão.
prisioneiro de ultrapassadas con-
seja.
Falta só complementar adequada-
cepções neo-liberais em matéria de
Não seremos mais brasileiros,
mente o texto instituidor.
economia e julga que é seu dever
angolanos e moçambicanos do
E as lições que a vida lhe tem
reforçar o sector privado e matar o
que europeus?
dado?
público. Já se foram os Correios.
Acho sinceramente que não. Temos
Precisava de uma resposta que
Irá a água? Irá a TAP? Qualquer
com o Brasil – a nossa obra-prima –
duraria um mês. A vida ensinou-me
dia não haverá sector público. E o
e com Angola e Moçambique, uma
muito e eu posso gabar-me de que
sector privado que o governo quer
relação inestimável e carregada
tive uma experiência tão rica, que
reforçar até à exclusividade é o sec-
de futuro. Mas o projecto da União
raras vezes terá havido outra me-
tor neo-liberal, com todos os seus
Europeia nasceu para ser o próprio
lhor. Tive uma muito bem-sucedida
comprovados defeitos.
futuro. A unificação europeia limita-
formação escolar e académica. A
No pós-guerra, como se sabe, ocor-
-se a preceder uma qualquer forma
advocacia foi uma profissão que
reu uma explosão tecnológica em
de união do próprio Mundo. Em
me ensinou a conhecer o Mundo, a
resultado da qual o poder económi-
Moçambique, aliás, propus, em livro
saber trabalhar e a saber viver. Foi
co se globalizou. Após isso apro-
que publiquei, uma comunidade de
uma experiência única porque me
priou o poder tecnológico e o poder
países de língua portuguesa, uma
facultou uma preparação excepcio-
comunicacional. Esses três poderes,
CPLP “avant la lettre”. Mas o livro
nal para ser Ministro e sobretudo
funcionando como um só, travaram
foi apreendido e proibido. Mais um
legislador. Fui talvez o ministro
a globalização política. Esta trava-
dos que o foram.
português de sempre que mais leis
gem está na origem dos grandes
E que dizer da actual Comunidade
redigiu. Sobre a qualidade delas
problemas ecológicos e outros,
dos Países de Língua Portugue-
não me pergunte a mim.
que se globalizaram sem solução.
sa?
O Presidente da Câmara Luso
Os correspondentes desequilíbrios
A CPLP, quanto a mim, foi uma
Suíça que entrevistei no número
estão na origem dos mais graves
maneira algo errada de se ter feito
passado da Diplomática, disse-
problemas que afectam e desequili-
o que devia tê-lo sido de forma
-me que os portugueses fazem
bram o Mundo. Entre esses proble-
mais adequada às conveniências
leis com as agulhas ainda quen-
mas estão a explosão demográfica,
e aos interesses em jogo. Nasceu
tes…
reduzida à sua precária dimensão
Para mim as leis foram sempre
política, sem qualquer dimensão
urgentes. Hoje uma lei demora
económica, parlamentar e judicial.
meses, quando não anos, a fazer.
Espero que esse lapso possa ser
E eu fiz inúmeras leis nos próprios
corrigido, como já em certo sentido
Conselhos de Ministros. Os outros
o foi a carência de uma dimensão
ministros discutiam e eu fazia a lei
parlamentar. Falta um instrumento
urgente que tínhamos de anunciar
judicial de resolução de conflitos. E
no fim da reunião do Conselho. Fiz
sobretudo – nisso residindo o prin-
muitas das principais leis do pós
cipal – uma dimensão organizativa
25 de Abril. E sempre sem lugar a
de formas de cooperação económi-
grandes razões de queixa.
ca. Até hoje. Portugal, e os demais
O que pensa que poderá ser feito
países da Comunidade têm coope-
e será mais urgente fazer, para
a implosão ecológica, a explosão do
rado economicamente à base de
que a maioria da população seja
desemprego, da fome e da violên-
iniciativas bilaterais sem significativo
mais feliz? Não estou a dizer mais
cia. Todos estes problemas conti-
relevo. Impõe-se a criação de uma
rica, digo mais feliz. Mudar as
nuam a ser enfrentados a nível na-
dimensão promocional económica,
mentalidades?
cional, quando não local, isto é, sem
de cima para baixo, que reforce o
Resta saber se é possível fazer, no
efectiva solução, e a agravar-se em
volume e o significado da coopera-
curto prazo, aquilo que eu acho que
cada dia que passa. E o Mundo do
ção económica possível.
é necessário fazer.
presente continua à espera de uma
´ Africa +
"
O MUNDO
PRECISA DA GLOBALIZAÇÃO DO
PODER POLÍTICO PORQUE ENTRETANTO GLOBALIZARAM-SE PROBLEMAS
"
➤
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 49
António de Almeida Santos
dade é termos de assistir a sucessivas crises do nosso precioso habitat sem sermos capazes de evitá-las. Queremos mesmo que ele acresça ao número dos planetas mortos? Por mais que isso nos doa, parece ser essa a ordem natural das coisas. Que solução? Sabe-se o que é preciso fazer. Sabe-se que a vida do nosso precioso “habitat” se globaliza, queiramos isso ou não. A velocidade das comunicações e dos transportes vai tornando o nosso planeta cada vez mais devassado e comunicante. E a recebermos todos os dias as mesmas notícias; a lermos em tradução os mesmos livros; a vermos os mesmos filmes: a visitarmos, como turistas, os mesmos longes; a procurarmos emprego nos mesmos mercados; a copiarmos as mesmas modas; e a digerirmos os mesmos alimentos, que futuro para as identidades nacionais ou mesmo locais? Sem consciência disso, estamos a ficar todos iguais. No longo tempo – e talvez não tão longo! – uma progressiva globalização identitária tornará irrecusável a até hoje economicamente recusada globalização política. Espero eu que antes disso, o poder económico, financeiro, tecnológico e comunicacional globalizado, que se apossou do governo do Mundo, acabe por reconhecer que só pode recuperar os equilíbrios perdidos destravando a globalização do ➤ autoridade
política tão global como
balizado continuará a traduzir-se em
poder político que, na ânsia de
esses problemas. Entretanto, o neo-
crises económicas cada vez mais in-
globalizar sem travão o seu próprio
-liberalismo económico grassante
solúveis e mais graves, continuando
poder, intencionalmente travou e
travou a globalização política de
a ocultar que surgiram no seu seio
tem mantido travado.
que o Mundo urgentemente precisa,
e por causa da sua lógica exclusi-
Resultado entre outros: os gravíssi-
para procurar respostas para os
vamente lucrativa e concorrencial.
mos problemas que como tais adre-
referidos problemas que se globa-
Precisamos de controlar a explosão
garam globalizar-se, deixaram de ter
lizaram e provocam desequilíbrios
demográfica, a fome, a violência,
as respostas políticas globais que
sistémicos cada vez mais graves e
os desequilíbrios ecológicos e os
sem isso poderiam ter tido, e conti-
insolúveis. Entregue exclusivamente
desequilíbrios económicos. E não
nuam a ter as respostas nacionais,
a si próprio, o poder económico glo-
controlamos. O preço dessa passivi-
quando não regionais ou mesmo
50 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
Europeia, hoje o mais dilatado
O Mundo precisa, ele próprio, de
riais tiveram, e que a partir da sua
espaço continental política e econo-
progressivamente se federar. E só
universalização são não respostas.
micamente unificado. Um executivo
pode concretizar essa forma única
Durante quanto tempo podere-
europeu, um legislativo europeu, um
de combater os graves problemas
mos sem grave risco vital, assistir
tribunal europeu, uma moeda única
que se globalizaram criando, tam-
sem nada fazer à destruição da
europeia, uma segunda nacionali-
bém a nível global, órgãos políticos
nossa preciosa biodiversidade?
dade única europeia, um presidente
com competência para esse efeito.
Ou ao progressivo aquecimento
europeu.
Se assim é para problemas tão
da atmosfera? Ou à escassez de
Foi a primeira vez que uma tão
preocupantes e tão graves, por
oxigénio e de ar respirável? Ou
vasta e significativa experiência fe-
maioria de razão deve também sê-lo
à subida do nível do mar? Ou ao
deralista aglutinando cerca de duas
para a gestão da normalidade da
agravamento do chamado efeito
dezenas de nações foi tentada.
vida do globo toda ela.
de estufa?
Sem nenhum significado global?
Está em formação uma identidade
Em resumo: assistir ao preço da
É claro que não. A velha utopia de
global. As diversidades identitárias
nossa passividade ecológica, por
um Mundo Só, saltou para a reali-
tendem a dissolver-se na referida
incapacidade de pôr um travão po-
dade. E é com essa realidade que,
comunhão de comportamentos.
lítico global e eficaz ao desmedido
em meu entender, mais se identifi-
Quem não vê isto, está distraído.
espírito de lucro que rege a vontade
ca o futuro do Mundo, sob a pres-
Tenho-me esforçado por estar
económica universal contra salvífi-
são crescente dos problemas que
atento.
cas regras ecológicas de defesa da
se têm globalizado e vão continuar
Pode deixar-nos uma última men-
salvação da vida?
a globalizar-se. Desconhecer este
sagem para as gerações vindou-
Repare que já referi cinco ou seis
facto é mais do que andar distraído.
ras?
problemas e podia somar muitos
É ser pouco inteligente. E sobretu-
Que nunca percam a esperança, e
outros. Precisamos de Órgãos
do pouco sério.
sobretudo que lutem por ela!
➤
locais, que desde tempos imemo-
n
Políticos também globais. Não vejo outra solução! Porquê, então, uma tão forte re-
Nasceu em Portugal, licenciou-se em Coimbra onde foi sem-
sistência à globalização política?
pre bom aluno. Foi, e ainda é, intérprete de lindíssimos fados
Porque a globalização política, de
de Coimbra. Em 1953 fixou-se em Moçambique onde exerceu
passo que resolve problemas de
advocacia durante mais de 20 anos, tendo sido por duas vezes
outro modo insolúveis, impede que
candidato às eleições para a Assembleia Nacional em listas da
o poder económico globalizado
Oposição Democrática. Mas essas candidaturas foram anu-
continue a privilegiar o máximo
ladas por acto discriminatório do poder político. Regressou a
lucro e o livre esmagamento do
Portugal após o 25 de Abril tendo tido até hoje uma carreira
competidor, sem nenhuma espécie
política importante e sido, em vários Governos: Ministro da
de entrave, nomeadamente o de
Coordenação Interterritorial; Ministro da Comunicação Social;
poder continuar a desencadear as
Ministro da Justiça; Ministro-Adjunto do 1.º Ministro; Ministro
crises económicas globais mais
de Estado e dos Assuntos Parlamentares; Candidato a 1.º
graves sem ser responsabilizado
Ministro; Membro do Conselho de Estado e Presidente da As-
por isso. Não devemos esquecer
sembleia da República de 1985 a 2002; Presidente do Partido
que uma qualquer forma de globali-
Socialista até 2011 e hoje seu Presidente Honorário. Escritor
zação política foi julgada necessária
e autor de trinta livros, três dos quais proibidos pela ditadura,
em vários momentos da história
e político muito respeitado. Assinalamos a importância do livro
da civilização, que por isso con-
escrito em 2009 “Que Nova Ordem Mundial?” uma lição de
vém relembrar. Depois da primeira
política para o equilíbrio do futuro mundial. Foi condecorado
grande guerra do século passado,
com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, a Grã-Cruz da Ordem
foi criada a Sociedade das Nações.
Militar de Cristo e o Prémio Norte-Sul para os direitos Huma-
Depois da Segunda Grande Guerra,
nos, atribuído pelo Conselho da Europa. Isto apesar de, até
foi criada a ONU. E mais recente-
ter recebido esta condecoração que teve por irrecusável, ter
mente, a União Europeia entendeu
recusado sempre receber condecorações. Volta a recusar.
n
dever criar uma União Política
´ Africa +
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 51
MALA DIPLOMÁTICA
Evento cultural de tributo a Moçambique
1
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3
A comunidade moçambicana em Portugal levou a cabo, no salão preto e prata do Casino do Estoril, uma iniciativa de caracter cultural em homenagem ao contributo da mulher para o desenvolvimento de Moçambique. O evento concidiu com o término da missão do Embaixador Jacob Nyambir, que se fez presente, acompanhado pela Embaixatriz. Na ocasião, proferiu sentidas palavras de amizade por Portugal. Estiveram presentes, o Representante Permanente de Moçambique na CPLP, o Embaixador Faisal Cassam e esposa; os Primeiros Secretá-
1. Embaixador Jacob Nyambir 2. Os Embaixadores aplaudem a assistência
rios, Judite Justino e Jaiem Teixeria; os adi-
3. Embaixadores de Moçambique com o representante de Moçambique na
dos Consular e Cultural, Hélio Nhamtumbe e Assane Saide, entre outros membros
52 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
C.P.L.P., Embaixador Faizal Cassam e Celma Cassam
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4. Apresentação das miss 5. Carlos Moreira e Regina Moreira com Manuela e Hélder Ramalho 6. Mia Couto, Judite Justino e Hélio Nhatumbo
´ Africa +
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 53
Evento cultural de tributo a Moçambique
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➤
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14
do corpo diplomático. O evento prestou ho-
menagem ao prémio Camões da Literatura de Lingua Portuguesa, Mia Couto que foi, nesta sessão, agraciado com o galardão Accenture. O evento testemunhou o desfile do manancial cultural em forma de música onde ritmos tradiconais, como marrabenta e pandza interpreta-
7. Prémio Nobel da Literatura Mia Couto 8. Mesa do júri da
dos pelos músicos populares Neyma e Zico se
miss Moçambique 9. José Rodrigues dos Santos e sua Mulher
misturam de forma requintada com jazz tropical
10. Moreira Chunguiça 11. Hélder Stramota rodeado pelas
interpretado pelo expoente de Jazz em Moçam-
vencedoras 12. Neyma 13. Fernando Pereira 14. Zico
bique Moreira Chonguiça.
n
54 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
MALA DIPLOMÁTICA
Aniversário da Independência Nacional de Angola
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3
1. Embaixadores de Angola 2. Embaixador José Marcos Barrica a ser cumprimentado pela nossa directora 3. A Embaixatriz com Maria de Bragança 4. Embaixador Hungria ladeado pelos Embaixadores da Polónia
Discurso do Embaixador José Marcos Barrica
"Gratos pela honra da vossa
anos do seu “Renascimento”
ticas ingerências externas; as
presença nesta singela cerimó-
com a conquista da Paz efectiva.
instituições da República não se
nia de mais um aniversário da
Durante este percurso caracteri-
desmoronaram e o Povo unido
Independência de Angola.
zado por momentos altos e bai-
não foi vencido.
Cumprem-se hoje 38 anos desde
xos, o país soube adaptar-se às
Ultrapassados os tempos mais
que Angola se tornou uma Nação
circunstâncias de cada momento
difíceis e conturbados, hoje o
independente, livre e soberana,
concreto; enfrentou os maiores
Governo continua firme e empe-
neste ano em que completa 11
desafios internos e as sistemá-
nhado na concretização dos
56 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
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5. Os Embaixadores com um grupo de diplomatas 6. Embaixadores do Iraque e da Indonésia com Maria de Bragança 7. Embaixador António Monteiro
➤
grandes objectivos que visam
Numa conjuntura interna e in-
Nova Angola. Como resultado
consolidar a paz, reforçar e aper-
ternacional marcada ainda por
visível, dos esforços empreendi-
feiçoar a democracia, preservar
diversos constrangimentos, o
dos, o país vive um clima de paz
a unidade nacional, promover a
Executivo liderado pelo Presi-
e de estabilidade político-consti-
justiça social e o desenvolvimen-
dente José Eduardo dos Santos
tucional; o processo democrático
to, elevar continuamente o nível
tem sido perspicaz, coerente e
consolida-se; a economia conti-
da educação e melhorar a quali-
prudente na condução do com-
nua a crescer apesar de alguns re-
dade de vida dos cidadãos.
plexo processo de construção da
vezes; as reservas internacionais
´ Africa +
➤
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 57
Aniversário da Independência Nacional de Angola
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8. Carlos Macedo de Coutinho, Maria do Céu Ferreira e Maria Alves 9. Alfredo Afonso e Isabel Lima 10. Embaixador da CPLP, Isaac Murargy com o Embaixador da Georgia
líquidas incrementam-se; os
caminho e, por vontade própria,
activa, consciente e cívica da
investimentos directos internos
prosseguirá o seu rumo para se
sociedade, especialmente da
e externos multiplicam-se e a
tornar numa Nação forte, com-
juventude; com a vontade políti-
confiança na construção de um
petitiva e próspera de que todos
ca, audácia e serenidade da sua
futuro melhor para todos renova-
os seus filhos se possam orgu-
liderança, com a graça e bênção
-se todos os dias.
lhar.
de Deus, o país cumprirá com
Inspirando-se nos belos exem-
Este propósito representa para
as metas e objectivos definidos
plos e lições da sua rica História
todas as forças vivas nacionais
na sua Estratégia de Desenvolvi-
de lutas e de vitórias, Ango-
um desafio de extraordinária
mento de Longo Prazo, “Angola
la está a seguir o seu próprio
dimensão. Com a participação
2025”.
➤
58 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
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14
11. RTP África presente 12. Embaixadores da Ordem de Malta 13. Elas estavam a receber-nos... 14. Isabel Bastos e Fátima Garnacho
➤O
Estado angolano sempre
dependência e soberania nacio-
prosperidade dos vossos países
conduziu as relações com os
nais, o Povo angolano está grato
que vos peço, Senhoras e Se-
seus parceiros de cooperação
à cooperação internacional e ao
nhores, uma salva de palmas e
internacional na base de igual-
apoio solidário que tem recebido
um brinde.
dade soberana, respeito mútuo
ao longo dos anos, dos diferen-
A Portugal e aos portugueses
e não ingerência; e, em home-
tes países (aqui representados
que tão afectuosamnte nos aco-
nagem acrescida à ética e aos
pelos ilustres Embaixadores e
lhem no seu espaço territorial,
bons costumes, não vai abdicar
membros do corpo diplomático).
um especial Bem-Haja!
destes princípios.
E é em saudação à amizade e
A todos muito obrigado pela
Na defesa e preservação da In-
solidariedade entre os Povos e à
atenção dispensada."
´ Africa +
n
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 59
CONVIDADO DE HONRA
Vítor Ramalho Secretário Geral da UCCLA - União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa
“Desejo ver publicado o livro de homenagem aos alunos da Casa dos Estudantes do Império” É um verdadeiro conhecedor da realidade dos países de expressão portuguesa. Para além de Presidente de várias Associações Lusófonas, foi o co-organizador do 1.º Congresso dos Quadros Angolanos no Exterior, sendo também uma das 5 personalidades de Reconhecido Mérito do Conselho Económico e Social-CES. No seu importante percurso assinalamos os cargos de Secretário de Estado do Trabalho, Consultor da Casa Civil do Presidente da República, Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Economia, Presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Angola, Presidente da 11.ª Comissão da Assembleia da República e Presidente do Fórum dos Parlamentares de Língua Portuguesa.
60 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
➤ Pode
fui sempre advogado aqui mas
Bicesse pois o desenvolvimento
um pequeno Flash-Back da
nunca deixei de estar ligado a
deste importante acontecimento
sua vida?
África. Fui membro do Gover-
deu início ao acordo, mais tarde
Nasci em Angola, mais pro-
no duas vezes de 1983 a 1985
assinado por Durão Barroso.
priamente numa terra perto do
- Sec. de Estado do Trabalho
Como vê a minha ligação ao
Huambo. Nessa terra que é
PS/PSD, depois Sec. de Esta-
mundo lusófono, não é de agora
muito pequenina e muito soli-
do da Economia com Guterres,
como Secretário-Geral da UC-
dária, nasceram ou viveram lá
de 1997 a 2000, e antes tinha
CLA, é uma coisa muito antiga.
muitas personalidades conhe-
sido durante 10 anos, de 1986 a
Fale-nos da UCCLA – União
cidas, por exemplo, o Victor de
1996, assessor de Mário Soares
das Cidades Capitais de
Sá Machado, que foi presidente
quando foi Presidente da Repú-
Língua Portuguesa um pouco
da Gulbenkian; o Raul Indipo; o
blica, para além de ser Deputado
do seu passado e projectos
António França, mais conhecido
durante muitos anos, de 2000 a
futuros
pelo Ndalu porque entretanto en-
2008.
A UCCLA é uma instituição
trou na guerrilha com o Xipenda
Disse que nunca deixou de
criada e impulsionada há 28
que foi jogador da Académica;
estar ligado a Angola. Pode
anos por um homem de grande
toda a família Fonseca e Costa
falar-nos sobre isso?
visão, o Eng.º Nuno Cruz Abe-
- José, o realizador de cinema,
Por exemplo: em 1990, depois
casis, ex- Presidente da Câmara
o seu irmão Tóna, treinador de
da queda do mundo bipolar, eu e
de Lisboa, que inclusivamente
atletismo, sua irmã encenadora
mais quatro amigos organizámos
desenvolveu projectos e iniciati-
e atriz Cucha Carvalheiro; a Ana
o 1.º Congresso dos Quadros
vas para o futuro. Terá sido uma
Maria Vieira de Almeida; a Judite
Angolanos no Exterior que
predecessora da CPLP.
fazer à DIPLOMÁTICA
Correia, correctora da Bolsa; e
Hoje são 40 cidades com re-
esse Empresário que tem feito
ferências históricas, de cujos
grandes investimentos em Por-
trabalhos desenvolvidos pode-
tugal na Comunicação Social e não só: o António Mosquito que viveu sempre lá… Há uma serie de pessoas conhecidas que pertencem a essa terra: Caala! Eu sou de lá, nasci lá e estu-
"
A UCCLA TENTA SER UMA MAIS VALIA IMPORTANTE PARA AS CAPITAIS DE LÍNGUA PORTUGUESA
dei no Liceu do Huambo até ao antigo 7º ano, que hoje é o 12º. Vim para Portugal em 1965 para estudar Direito porque não havia
"
rei salientar: a recuperação do Palácio, Liceu e Escola de Timor Leste; na Cidade da Praia, em Cabo Verde, trabalhos que vão da área urbanística à educação e saúde; em São Tomé e Príncipe, o saneamento básico; o projecto Praia–Bissau que estamos a desenvolver com o abastecimento de água ao domicílio. A
Universidade em Angola. Termi-
juntou na Feira das Indústrias
UCCLA tem técnicos excelentes
nei o curso e fiquei em Lisboa
mais de duas mil pessoas e
que a Câmara fez deslocar desta
a exercer advocacia, também
onde estiveram representadas
instituição para a UCCLA para
porque o regime da altura, du-
delegações fortes e ao mais alto
realizar projectos urbanísticos e
rante um tempo, não me deixava
nível do MPLA, da UNITA e da
de toponímia - placas de identifi-
regressar a Angola; Eu era um
FNLA, das Igrejas Angolanas –
cação das ruas, por exemplo. E
pouco rebelde na altura e fui
Católica e Protestante - o próprio
também outro projecto a concluir
dirigente associativo. Naquele
Cardeal Alexandre Nascimento,
na Guiné, dando incentivo em-
tempo, na década de 60, quase
estando sempre presente o Mi-
presarial e formação a 200 api-
todos nós os jovens, éramos um
nistro dos Negócios Estrangeiros
cultores e criação de uma marca
pouco incendiários. E eu não
de Angola. Esse Congresso foi o
de mel; Nas diferentes candida-
fugi à regra… Nestas andanças
pano de fundo para o acordo de
turas apresentadas
´ Africa +
➤
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 61
Vítor Ramalho
➤à
União Europeia. Resumindo,
Andrade que me falavam da CEI,
a luta comum entre os nossos
a UCCLA tenta ser uma mais
dando-me conta da importância
povos. Tive sempre a ideia que
valia importante para as cidades
da Casa e desses jovens que
jovens portugueses que também
de Língua Portuguesa.
ergueram a bandeira da auto-
frequentavam a casa como João
Nessa mais valia incluo uma
determinação e do direito dos
Cravinho ou Jorge Sampaio,
iniciativa de homenagem aos
povos à independência. Estava
tiveram um papel importante pois
antigos associados da Casa dos
em marcha a descolonização dos
esta juventude estava irmanada
Estudantes do Império - CEI,
povos africanos, que começou
nos mesmos objectivos, fossem
que existiu na cidade de Lis-
com o Gana, em 1957. A Casa
Africanos, Timorenses, de Goa
boa, entre 1943 e 1965 e que
dos Estudantes do Império,
ou até Brasileiros!
merecem reconhecimento, tais
fundada pelo Estado Novo, era
Já me dirigi ao Presidente da
como Amílcar Cabral (Dirigente
um espaço de convívio para os
República sobre este desígnio
do PAIGC), Pedro Pires (ex-Pre-
jovens provenientes dos territó-
Nacional e gostaria de convi-
sidente de Cabo Verde), Lúcio
rios colonizados por Portugal.
dar todos os Embaixadores dos
Lara (Comandante das FAPLA),
Os jovens provenientes de todos
países de língua portuguesa a
Pepetela (Escritor Angolano),
esses territórios ao levantar a
abraçarem este projecto, reedi-
Manuel Pinto da Costa (Presi-
bandeira, publicaram escritos
tando as obras e escrever sobre
dente de São Tomé), Joaquim
inclusive de poesia que marca-
a Casa dos Estudantes do Impé-
Chissano (ex-Presidente de
ram a identidade e dos territórios
rio, numa visão de futuro. Não
de que eram originários da Casa,
há futuro sem memória e é bom
tal como Amílcar Cabral grande
que os jovens repesquem esta
dinamizador, pois podiam ser as-
memória.
sociados depois de licenciados,
Este mundo com uma visão
ou Agostinho Neto que mesmo
economicista muito forte deve
durante a prisão recebia mensa-
perceber que a economia é
gens de Amílcar e da Associação
instrumento da política e não
próxima, “Os Marítimos”, Pedro
um fim dela. Hoje o que vemos
Pires, também era outra per-
é a subversão disto. Não temos
sonalidade, de referir o Manuel
razão para ter complexos.
Lima, professor catedrático e
Há uma frase de Amilcar Cabral
historiador, que foi o primeiro
que dizia:” mais do que falarmos
comandante militar do MPLA,
em português, todos nós pensa-
também esteve na Casa. Houve
mos em português!”. Ele fazia
Moçambique), Francisco José
grandes poetas tais como a Alda
notar que não era o povo que
Tenreiro (Poeta e intelectual de
Lara, branca de Angola, irmã de
oprimia, era o regime.
São Tomé e Príncipe), Alda Lara
Ernesto Lara outro grande poe-
Os jovens têm que saber isso.
(Poetisa Angolana) e muitos
ta… Alda com o poema “A mãe
Gostaria de acrescentar mais
outros.
Preta” cantada por Paulo de Car-
alguma coisa?
Como e porquê surgiu esse
valho ou “O Testamento ”poema
Para finalizar gostaria de ape-
projecto-UCCLA de preserva-
cantada por Teresa Tarouca;
lar a todos os que passaram
ção da memória comum dos
Pepetela que marcou a literatura
pela Casa dos Estudantes do
povos de língua portuguesa?
da língua portuguesa que lhe va-
Império para que se dirijam ou
Sucede que tive o privilégio de
leu o Prémio Camões. O próprio
à UCCLA ou escrevam ao seu
ter privado com personalidades
Romance ”A Geração da Utopia”,
Secretário-Geral, uma vez que é
de invulgar qualidade, entre os
um livro fantástico de aproxi-
nosso desejo conseguir o máxi-
quais Mário de Andrade, Gen-
mação entre os nossos povos,
mo de informações para a home-
til Viana ou Joaquim Pinto de
com a particularidade de reflectir
nagem a realizar.
"
GOSTARIA DE CONVIDAR TODOS OS EMBAIXADORES DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA A ABRAÇAREM ESTE PROJECTO
"
62 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
n
MALA DIPLOMÁTICA
Dia da comemoração da independencia da Nigéria
Ijeoma Bristol, Embaixadora da Nigéria dirigindo umas palavras à assistência
My staff and I welcome you
the Portuguese. Whatever be
on economic diplomacy, Nigerian
with great delight to the 53rd
the case, by the seventeenth
and Portuguese entrepreneurs are
anniversary celebration of
century, the Portuguese and
exploring many areas of possible
Nigeria’s independence as a
Benin Kingdom were exchanging
collaboration. The visit of Nigeria’s
nation. As many of you already
envoys and trading. Some of the
Foreign Minister to Portugal earlier
know, Nigeria is one of the fastest
vestiges of Portuguese presence
this year is also testimony to the
growing economies today, with
in Nigeria include the naming
strengthening of Nigeria-Portugal
recorded growth rates in the past
of the Nigeria’s former capital
ties.
few years between 6-8 percent.
city and current economic nerve
It is also important to mention
A little known fact is the contact
centre with a population of over
that it is envisaged that in the
and relationship between Portugal
12 million, Lagos after Lagos in
not-too-distant future, discussions
and Nigeria that dates back
the Algarve, and a sprinkling of
and renegotiations of the
to 1472. It is said that the first
Portuguese words in Bini and
moribund bilateral Agreements
Portuguese sailor to attempt to
Yoruba languages.
between Nigeria and Portugal will
sail to the Benin Kingdom from
The relationship between Nigeria
commence. These will include the
Lagos was Rui de Sequeira who
and Portugal has remained
Bilateral Air Services Agreement,
was however, refused permission
cordial over the centuries, and in
BASA, which will usher in an
to berth by the Oba of Benin. The
an increasingly globalised world
era of direct air links between
next Portuguese sailor that was
where new and more robust
both countries; the Agreement
allowed to set foot on Nigerian
economic partnerships are being
on Investment Promotion and
soil was Joao Affonso d’Aveiro
formed, our two countries are at
Protection, IPPA, as the private
in 1485. There is speculation
the crossroad of new and more
sector operatives of both countries
that the Binis may have acquired
exciting interaction. In furtherance
become more engaged and the
their skill in brass work and wood
of our President’s Transformation
Agreement on the Avoidance of
carvings from their contact with
agenda and his increasing focus
Double taxation and Fiscal
64 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
➤
➤ Evasion.
We look forward to
This burgeoning relationship was
artists from within and outside
concluding in the shortest time
also highlighted during Nigeria
Portugal could be here today to
possible negotiations on these
Day at AICEP on 9 April this year.
display our rich cultural heritage.
agreements as a way of further
Nigeria Day in Lisbon thus brought
Nigeria’s heritage is portrayed
enhancing our bilateral relations.
together many Nigerian and
this evening through the music,
I will also use this opportunity to
Portuguese entrepreneurs from
fashion, food and dance. The
welcome Nigerian bankers from
various sectors to network and
cultural tone of this celebration is
various banks here in Lisbon to
hopefully enter mutually beneficial
deliberate so as to underscore the
understudy SIBS International
partnerships focusing on areas of
importance of building people-to-
who is also celebrating our 53rd
interest and expertise.
people relationships even as our
Independence Day with us.
In recognition of these growing
governments strive to strengthen
You are all welcome. There is
ties some of the active players in
our bilateral diplomatic ties. Thus
increasing interaction between
building this relationship have co-
the music played and dances
entrepreneurs from both countries
sponsored some of the activities
performed are by Nigerians who
specifically the cashless interbank
of the evening. I thus wish to
have for now made Portugal
payment systems of both
use this opportunity to thank
their home. People-to-people
countries, Nigeria’s Inter Bank
our Nigerian and Portuguese
relationships are important
Settlement System (NIBSS) and
sponsors especially Nigeria´s
because for diplomacy to be seen
Portugal’s SIBS International
Ondo State ably represented by
as successful it has to have a
which has led to the formation of
Senator Akinyelure, NIBSS, SIBS,
human dimension.
the Nigeria Portugal Friendship
EDP, Geoffield, Fracol Group,
Today we celebrate Nigeria’s 53rd
and Business Association built
Amtrol, Juntra, Ezeugo Interbiz,
Independence Day in Portugal and
on the foundation of the growing
Quintessence, and Rasouo Oil
invite you to join with us hereafter
relationship between the Nigerian
and Gas who all partnered with the
as we herald in a New Dawn in
and Portuguese finance sectors.
Embassy to ensure that Nigerian
Nigeria Portugal relations.
n
Fotos: Telmo Miller
´ Africa +
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 65
VISITA CULTURAL
"Xanana Gusmão e os primeiros 10 anos da construção do Estado Timorense" na sede da CPLP em Lisboa por Roman Buzut, fotos Maria Inês
Xanana Gusmão, Primeiro-Ministro da República de Timor-Leste, apresentou o seu livro «Xanana Gusmão e os primeiros 10 anos da construção do Estado Timorense». O lançamento do livro constituído por uma colecção de discursos do autor, de uma vida dedicada à causa timorense, reuniu na plateia da sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Lisboa, várias figuras de relevo da sociedade portuguesa e lusófona. Entre as personalidades que marcaram presença, destacamos, entre Embaixadores e governantes, o ex-Presidente da República Portuguesa, António Ramalho Eanes, e o Nobel da Paz, o Bispo Católico D. Ximenes Belo. No discurso de apresentação do livro de Xanana Gusmão, Ximenes Belo referiu-se ao autor como o grande herói da liberdade e da reconciliação. Xanana é «o primeiro dos fundadores da Pátria Timorense» que «liderou a luta da libertação de Timor-Leste, e com a sua intervenção a Pátria foi libertada.» Discursou e afirmou que «dentro de vinte, trinta ou cinquenta anos, quando
riografia timorense». Recorde-
os historiadores de Timor-Leste
-se que Xanana entrou para a
entabularem o estudo e a es-
história timorense como líder da
crita da história de Timor-Leste
resistência de Timor-Leste face
nos seus primeiros 10 anos,
à ocupação e invasão militar
não poderão ignorar este livro.
indonésia em 1975. Organizou a
De facto, “Xanana Gusmão e os
luta pela independência e liderou
primeiros 10 anos da construção
as forças de libertação nacional
do Estado Timorense” representa
desde 1981 até 1992, altura em
um acervo documental na histo-
que foi capturado pelas Forças
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Assinatura do livro de honra
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Armadas indonésias em Díli, e
posteriormente preso. Mesmo na prisão continuou a desenvolver estratégias para a resistência, até que, em Abril de 1998 foi reafirmado por aclamação como Líder e Presidente do Conselho Nacional da Resistência Timorense. Depois de sair em liberdade, a 7 de Setembro de 1999, após um referendo apoiado pela ONU, a 30 de Agosto de 1999, que assinalou o fim da ocupação Indonésia de Timor-Leste e no seguimento de pressões
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Miguel Martins, Xanana Gusmão, Secretário Executivo da CPLP, D. Ximenes Belo e Rui Marques
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 67
Xanana Gusmão
internacionais, no dia 20 de
saído mais cedo se não fosse a
«se não houver uma liderança
Maio de 2002, Kay Rala Xana-
responsabilidade de organizar a
já a preparar-se para ser um
na Gusmão é eleito Presidente
Cimeira. Depois da Cimeira da
novo «think tank» e defender
da República Democrática de
CPLP, bye bye,» afirmou. Note-
os interesses do país, podemos
Timor-Leste, permanecendo na
-se que Timor-Leste irá assumir
afundar-nos,» sublinhando que
Chefia do Estado até ao final do
a próxima presidência rotativa
cabe à sua geração, a geração
mandato, em Maio de 2007. Foi o
da Comunidade dos Países de
de 75, preparar os mais novos
primeiro Presidente desta Jovem
Língua Portuguesa.
de modo a «evitar que todos os
Nação Independente! Findo o
Xanana Gusmão defendeu a
pequenos sucessos alcança-
mandato presidencial, a 8 de
importância da aposta na prepa-
dos possam ser destruídos pela
Agosto de 2007, é eleito Primei-
ração de novos líderes e mos-
ganância, pelo individualismo
ro-Ministro. A propósito deste
trou o desejo de unir forças para
e pelo divisionismo.» Durante
cargo, Xanana Gusmão reiterou,
defender a soberania do país
a sua estadia em Portugal, o
na altura do lançamento do livro
face às «ameaças latentes».
Primeiro-Ministro timorense foi
em Lisboa, que vai renunciar ao
«Queremos unir forças como an-
ainda condecorado com o Grau
mesmo depois da realização da
tes unimos; unir o pensamento;
de Doutor Honoris Causa, pelo
próxima Cimeira da CPLP pre-
unir as acções para defender a
Instituto Superior de Ciências
vista para Julho de 2014. «Teria
soberania do país.» Disse ainda
Sociais e Políticas (ISCSP).
➤
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MALA DIPLOMÁTICA
Dia Nacional de Espanha
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1. Embaixador de Espanha, Eduardo Junco 2. A nossa directora a dar os cumprimentos na embaixada 3. Pina Moura e Henrique Santos 4. Emidio e Manuela Herrera com Maria de Bragança 5. Embaixatriz de Espanha e Maria de Bragança 6. Embaixador da Noruega 7. Embaixatriz da Noruega, Embaixadores da Sérvia e Embaixatriz Isabel Monteiro 8. António de Almeida Santos e Maria de Bragança
O Exmo. Sr. Embaixador Eduardo
dade então rural da família Cunha,
diversos retoques e modificações
Junco, convidou, a propósito do Dia
conhecida como o Marquesado de
ao largo dos séculos, algumas com
Nacional de Espanha, um grupo
Palhavã, e passou posteriormen-
fortes influências dos estilos im-
seleccionado de figuras de relevo
te a outras famílias nobres, como
perantes, até à sua aquisição pelo
nacional e internacional para uma
os condes de Sarzedas e os de
Estado espanhol, em 1918. Durante
recepção que teve lugar no Palácio
Azambuja. O arquitecto original foi
o evento assinalamos as palavras
de Palhavã. Situado no que hoje é
João Nunes Tinoco, autor de outros
do Senhor Embaixador sobre a
a Praça de Espanha de Lisboa, foi
palácios destacados da época,
forte amizade e boas relações entre
construído em 1660 numa proprie-
ainda que a sua obra tenha sofrido
Espanha e Portugal.
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MALA DIPLOMÁTICA
Turquia celebra 90 anos da implantação da República
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1. Maria da Luz de Bragança com a Embaixadora da Turquia 2. Embaixadores do Japão, Paquistão e Indonésia 3. Cristina Tavares da Costa e António Ferreira de Carvalho 4. Anabela Baptista e Fernando Correia Lopes 5. Embaixatriz de Marrocos com os Embaixadores do México e o Chefe do Protocolo, Embaixador António Almeida Lima 6. Maria da Luz de Bragança, Manuel Pinto Ribeiro, Embaixadores da Noruega, Maria Saldanha Pinto Ribeiro e Manuel Pourtales
A Turquia comemorou os 90 anos
Constituição, Turquia passou a ser
lista turco e desencadeou a Guerra
desde a fundação da sua Repúbli-
«um estado democrático, secular
da Independência turca (1919-
ca em 1923. Para assinalar esta
e social, governado pelo Estado
1923), que envolveu um conjunto
data, a Embaixadora da Turquia
de Direito visando os conceitos de
de actividades políticas e militares
em Portugal, Ebru Barutçu Gökde-
paz pública, solidariedade nacional
que levaram a abolição do sultana-
nizler, organizou uma recepção na
e justiça; respeitando os direitos
to e a criação da Turquia Moderna.
qual estiveram presentes repre-
humanos e fiel ao nacionalismo
No processo de independência do
sentantes do corpo diplomático
de Atatürk,» e às suas reformas e
país foi fulcral o "Tratado de Lau-
acreditados em Portugal. O dia da
seus princípios. Recorde-se que
sanne". Assinado em Lausanne,
República, também conhecido por
Mustafa Kemal Atatürk é o fun-
na Suíça em 24 de Julho de 1923,
"Cumhuriyet Bayramı”, é um marco
dador e primeiro Presidente da
formalizou os termos de paz entre
relevante para a história do país! A
República da Turquia. Esteve na
a Turquia e as Forças Aliadas que
partir desta data, de acordo com a
liderança do movimento naciona-
combateram na Primeira Guerra
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7. O Presidente da Câmara de Oeiras, Paulo Vistas e sua Mulher Paula e Rui Rocha 8. Embaixadores da Suiça e Paraguai 9. Maria da Luz de Bragança e o Embaixador do Iraque 10. A nossa directora com Elisabeth Freire e Benedita Lucena 11. Embaixadoras da Argélia, Marrocos e África do Sul com Luís Brites Pereira 12. Maria da Luz de Bragança e Cristina Malhão Pereira 13. Embaixatriz da Índia
Mundial e na Guerra de Indepen-
longo do tempo tem vindo a desen-
para a sua política externa. Com
dência Turca; redefiniu as frontei-
volver relações externas com vá-
uma grande política económica
ras do país; reconheceu a Turquia
rios países do Ocidente e também
emergente é membro da NATO, do
como um Estado soberano e mar-
com Portugal. As relações políticas
G20, e tem vindo a mostrar inte-
cou o fim do Imperio Otomano que
entre Portugal e Turquia datam
resse na adesão à União Europeia.
durou cerca de 600 anos. Turquia
desde a altura do período otomano,
Foi reconhecida oficialmente como
é hoje um país democrático e com
época em que o Visconde de Sei-
candidata à UE em 1999, pelo Con-
uma história rica em cidades como:
xal foi nomeado Embaixador para
selho Europeu de Helsínquia, com
Istambul que em tempos serviu de
representar Portugal em Istambul
base nos mesmos critérios aplica-
capital para os Impérios Romano,
(1843). O seu posicionamento
dos aos outros países candidatos,
Bizantino e Otomano; e Capadócia
geográfico estratégico, enquanto
sendo as negociações relativas a
com as suas cidades subterrâneas
ponte natural entre Europa e Ásia,
adesão iniciadas a 3 de Outubro
e igrejas cavadas em rochas. Ao
tem sido uma influência relevante
de 2005.
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Texto: Roman Buzut
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MALA DIPLOMÁTICA
Dia Nacional do Chipre
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A Embaixadora de Chipre, Thalia
núcleo de prestigiadas personalida-
Petrides, organizou um encon-
des que honram a amizade entre os
tro para os amigos de Chipre em
dois países e querem a transformar
Portugal como um agradecimento
numa fonte de cooperação tangível.
mínimo e também uma renovação
A Embaixadora na sua mensagem
de amizade e dos laços entre os
de boas vindas, salientou que a cria-
dois países. Entre os inumeráveis
tividade artística é um característico
amigos de Chipre em Portugal,
comum dos dois povos e será poten-
este grupo reunido é considerado o
cialmente uma fonte de criação
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1. Embaixadora do Chipre proferindo o discurso 2. Embaixadora Thalia Petrides com a nossa Directora 3. Embaixador Panos Kalogeropoulos, Emabixatriz Alexandra Barbosa e Manuel Ferreira Enes 4. Carlos Moedas e Embaixadora Thalia Petrides 5. Helena e António Fonseca, Thalia Petrides, Panos Kalogeropoulos com Margarethe Duarte Ferraz 6. Jorge Silva Lopes 7. Jorge Burnay e Maria Bragança 8. Embaixadores António Santana Carlos, João Silva Leitão e Francisco Seixas da Costa com Guilherme d'Oliveira Martins 9. Margareth Ferraz e Maria de Bragança
➤
de riqueza que merece ser enco-
cultural ainda encontra umas solu-
rajada e promovida. A crise econó-
ções, muitas vezes inovadoras.
mica que Chipre e Portugal estão
Neste encontro, os amigos de
atravessar neste momento, tem
Chipre também tiveram uma opor-
infelizmente um impacto negativo no
tunidade única de desfrutar sabores
sector da cultura em geral, que por
típicos da cozinha cipriota, porque,
norma é um dos primeiros que sofre
como diz um ditado cipriota: "a ami-
o corte dos fundos estatais. Apesar
zade se fortalece em torno de uma
disso, a iniciativa privada no sector
boa mesa".
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MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 73
MALA DIPLOMÁTICA
42º Dia Nacional dos Emirados Árabes Unidos
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1. Sheikh Jassim Hamad AlThani e os Embaixadores do Iraque, Palestina, Marrocos, Emirados Árabes Unidos, Egito, Embaixador António Almeida Lima e Embaixadores do Kuwait, Arábia Saudita e do Qatar
Em celebração do quadragésimo
confederação de sete monarquias
segundo ano da independência, Sua
árabes com grande autonomia cha-
Excelência Saqer Nasser Alraisi,
madas Emirados (equivalentes a prin-
Embaixador dos Emirados Árabes
cipados) e estão situados no sudeste
Unidos (EAU), recebeu várias en-
da Península Arábica e fazem frontei-
tidades nas instalações do Hotel
ra com Omã e com a Arábia Saudi-
Sana Epic. O evento constou de um
ta. Fazem parte Abu Dhabi, Dubai,
convívio entre as figuras de relevo
Sharjah, Ajman, Umm al-Quwain, Ras
nacionais e estrangeiras. Entre outros
al-Khaimah e Fujairah. Abu Dhabi, é a
manjares, foi servido um bolo de
capital e centro de actividades políti-
aniversário marcando a ocasião. É de
cas, industriais e culturais.
referir a presença de falcões, símbolo
Antes de 1971, os EAU eram conhe-
nacional.
cidos como Estados da Trégua, em
Os Emirados Árabes Unidos são uma
referência a uma trégua do século
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2. Embaixador dos Emirados Árabes Unidos, Embaixador da Arábia Saudita e o Cônsul Saleh Alhemeiri 3. Renato Varriale, Embaixador de Itália com Saqer Nasser Alraisi, Embaixador dos Emirados Árabes Unidos 4. Embaixador dos Emirados Árabes Unidos com a Embaixadora de Marrocos e o Cônsul Saleh Alhemeiri 5. Saqer Nasser Alraisi e Angêlo Correia 6. Embaixador dos Emirados Árabe Unidos e Embaixadores do Iraque 7. Embaixador dos Emirados Árabes Unidos com o Embaixador do Irão 8. Saqer Nasser Aiuraisi e Luis Amado
➤
XIX entre o Reino Unido e vários
de câmbio de mercado do mundo e é
Sheikhs árabes. O sistema político
um dos países mais ricos do mundo
dos Emirados Árabes Unidos, basea-
por produto interno bruto (PIB) per
do na Constituição de 1971, dispõe
capita.
de vários órgãos ligados intrinse-
O clima liberal dos Emirados Árabes
camente. O islamismo é a religião
Unidos para a cooperação estran-
oficial sendo o idioma árabe, a língua
geira, os investimentos e a moderni-
oficial.
zação provocaram amplas relações
Os Emirados Árabes Unidos têm a
diplomáticas e comerciais com outros
sexta maior reserva de petróleo do
países. O país desempenha um papel
mundo e possuem uma das mais
significativo na OPEP e nas Nações
desenvolvidas economias do Oriente
Unidas, sendo um dos membros fun-
Médio. O país tem, actualmente, a tri-
dadores do Conselho de Cooperação
gésima sexta maior economia a taxas
do Golfo (GCC).
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MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 75
MALA DIPLOMÁTICA
Celebração do Dia Nacional do Qatar
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The Celebration of the National
Socrates on the 16th-17th of
Day of the State of Qatar on
January 2011.
Thursday the 12th of December
On the 10th of January 2012,
2013:
H.E. The President of the
The Celebration of the National
Republic of Portugal Prof. Dr.
Day of the State of Qatar took
Aníbal Cavaco Silva received
place on Thursday the 12th of
the credentials of H.E. Mr. Adel
December in the Ritz Hotel,
Ali Al Khal, as the first Resident
with the presence of various
Ambassador Extraordinary and
diplomats and important
Plenipotentiary of the State of
figures. The National Day is on
Qatar in Portugal. Ever since
December the 18th every year
the Embassy’s opening, it has
to commemorate Sheikh Jassim
been trying to enhance the
Bin Mohammad Al-Thani, the
economical, cultural, political
founder of the State of Qatar.
relations and investment
The Embassy of the State of
between the two countries.
Qatar in Portugal, and the
Moreover, the relationship
Embassy of Portugal in the
between the State of Qatar
State of Qatar are results of
and Portugal goes long back
the mutual visits of H.H. Father
in history, which can be seen
Emir Hamad Bin Khalifa Al
in the presence of Portuguese
Thani on the 20th-21st of April
monuments in the State of
AlKhal; Sheikh Jassim Hamad AlThani e Sr.
2009 to Portugal, and the Ex-
Qatar and in the GCC (Gulf
Ali AlQoaz. 2. Embaixadores de Espanha
Prime Minister H.E. Mr. Jose
Cooperation Council).
3. Embaixadores da Moldávia 4. Embaixa-
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Fotos: Maria Inês
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1. Maria da Luz de Bragança com S.E. o Embaixador do Estado do Qatar, Adel Ali
dor da Hungria e Maria Bragança
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5. Ana Paula Molina e Rita Araújo 6. António Santos Morgado e António Ferreira de Carvalho com a nossa directora 7. Abdool Vakil e sua Mulher 8. Jorge Fonseca e Tomaz Metello 9. António Santos Morgado, António Ferreira de Lemos e Mario Lobo 10. Embaixadores do Iraque e Árabes Unidos com Maria de Bragança 11. Bruno Mascarenhas, Bruno Carvalho com Embaixador da Ordem de Malta 12. Embaixadores da Índia
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MALA DIPLOMÁTICA
Dia Nacional da Roménia
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A 1 de Dezembro de 1918 todas
ções, mesmo se a história do terrível
1. Embaixadores da Roménia
as províncias que desde tempos
século XX – o século das ideologias
2. Embaixador de Itãlia, Renato Varria-
imemoriais eram habitadas maiorita-
criminal, comunista e nazista – alte-
riamente por romenos unificaram-se
rará para mais um período de tempo,
sob a coroa real da Roménia. É a
a vontade popular através do terror e
data em que a Transilvânia, seguin-
deportações. Também a 1 de De-
do o exemplo irresistível da Moldá-
zembro a Roménia assumiu respeitar
via, da Bessarábia e da Bucovina,
os direitos de todos os cidadãos
concluiu um processo de unificação
minoritários que habitam no seu
em passos, que começou em mea-
território. A liberdade de todos os ro-
dos do século XIX. A 1 de Dezembro
menos podia-se construir apenas em
7. Jordi Xandri Casino
de 1918 a Roménia sai da época dos
conjunto com a liberdade de todos os
8. Monsenhor Rino Passigato com os
Impérios e entra na época das Na-
cidadãos romenos. O significado
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le com o Embaixador da Roménia 3. Embaixador do Iraque, Hussain Sinjari com Vasile Popovici 4. Encarregado de Negócios, John Olson com os Embaixadores da Roménia 5. Embaixador João Rosa Lã com os Embaixadores da Roménia
➤
6. Embaixadora Ana Martinho e Vasile Popovici
Embaixadores
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do Dia Nacional da Roménia trans-
cende o quadro étnico e linguístico
13
Cultural de Belém e Casa da Música do Porto, apresentou por ocasião
puro romeno: o primeiro de Dezem-
do Dia Nacional da Roménia, dois
bro deve ser um dia da cidadania
concertos de gala com o quarteto
romena, com todas as liberdades e
romeno Cellissimo, que teve lugar
garantias constitucionais para todos
no Pequeno Auditório do CCB e
os detentores de cidadania romena.
na Casa da Música, no Porto. Um
Eis o que celebrámos no Museu
quarteto de violoncelos representa
do Oriente, sob a luz de um outono
um conjunto raríssimo, os quatro
lusitano como sem fim, multiplicada
membros são os melhores violon-
pelas vastas águas do Tejo.
celistas da Roménia e o programa é
O Instituto Cultural Romeno de
constituído por peças atractivas e de
Lisboa, em parceria com o Centro
grande virtuosidade.
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9. O quarteto romeno Cellissimo com os Embaixadores da Roménia 10. Adriano Jordao, Marin Cazacu e o Embaixador Vasile Popovici 11. Rosa Vieira da Cruz, Embaixatriz Isabel Monteiro e o Embaixador Vasile Popovici 12. Os Embaixadores de Itália e da Roménia 13. Andres Rundu, Embaixador da Estónia 14. Embaixatriz da Roménia e Marin Cazacu
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Dia da Alemanha
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Na recepção na Residência da Embaixada da República Federal da Alemanha comemoramos o vigésimo-terceiro dia da Unidade Alemã. Tal como nos anos passados, o nosso maior desafio continua a ser a superação da crise na Europa, para a qual é fundamental um esforço comum de todos os parceiros europeus. As forças políticas, que, após as eleições de 22 de Setembro, formarão o próximo governo federal alemão, têm consciência da sua responsabilidade para com a Europa. Na nossa cooperação com Portugal continuaremos a concentrar-nos em contribuir construtivamente para que Portugal possa voltar a fortalecer-se do ponto de vista económico. Decisivo para o sucesso continua a ser o empenho de investidores e empresários. Esta recepção foi para minha esposa e para mim também um momento de despedida de Portugal e da nossa vida profissional. Agradecemos toda a boa colaboração de todos os parceiros e intervenientes ao longo dos passados quatro anos, inclusive de todos os elementos do corpo diplomático em Lisboa.
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Helmut Elfenkämper, Embaixador da República Federal da Alemanha
1. O Embaixador da Alemanhã a discursar 2. Maria da Luz de Bragança com os Embaixadores da Alemanha
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3. Maria da Luz de Bragança com a Segunda Secretária da Embaixada da Alemanha, Andrea Mano 4. Presidente da Empresa Filkemp, Wolfgang Kemper 5. Maria da Luz de Bragança e Maria Barroso 6. Renato Varriale, Embaixador de Itália 7. Embaixatriz Isabel Monteiro 8. Vera Jardim e Luís Amado 9. Directora da Escola Alemã de Lisboa, Renate Matthias e seu marido 10. Maria da Luz de Bragança e Embaixador do Iraque 11. Embaixadores do Luxemburgo
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 81
MALA DIPLOMÁTICA
Festa Nacional de Andorra
A Embaixada de Andorra em Portugal celebrou a Festa Nacional de Andorra – Dia Nacional de Nossa Senhora de Meritxell (Santa Padroeira do país), com a realização de um concerto protagonizado pelos Solistas da JONCA (Jovem Orquestra Nacional de Câmara de Andorra). O quarteto de solistas da JONCA, formado por Francesc Planella e Josep Martínez (violinos), Sílvia Garcia (viola) e Mireia Planas (violoncelo), actuou na emblemática Sala dos Espelhos do Palácio Foz, em Lisboa. Os jovens solistas interpretaram peças de Georg Philipp Telemann, Luigi Boccherini, Eduard Toldrà e Pau Casals, num recital aberto ao público e dirigido também aos convidados da Embaixada. Posteriormente, a Embaixada de Andorra em Portugal ofereceu uma recepção oficial aos seus convidados representantes do Governo português, do corpo diplomático e organismos internacionais acreditados em Portugal, e de outras instituições económicas, comerciais e culturais estabelecidas na capital lusa.
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A Embaixadora de Andora, Maria Fonte e seus convidados
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Dia da República da Polónia
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1. Embaixadores da Polónia 2. Anabela Baptista, Fernando Correia Lopes e Maria de Bragança 3. Embaidores da Índia e do Japão 4. Adam Makowicz 5. Maria de Bragança com o Embaixador da Polónia 6. Embaixatriz da Índia com os Embaixadores da Roménia
Para celebrar o dia da Indepen-
sociedade portuguesa e estrangei-
vezes antes da Segunda Guerra
dência da República da Polónia,
ra assim como vários elementos
Mundial. Após a Guerra, as au-
o Embaixador Brosnislaw, acom-
do corpo diplomático.
toridades da República Popular
panhado da Embaixatriz Anna
O processo de restauração da
removeram o Dia da Independên-
Kostrzewa-Misztal, organizou um
independência da Polónia foi
cia do calendário, mas a recupera-
concerto do conceituado pianista
gradual, a data escolhida é aquela
ção da independência continuou a
polaco de Jazz, Adam Makowicz.
em que Józef Pilsudski assumiu
ser comemorada geralmente a 11
O evento teve lugar no magnífico
o controlo da Polónia. O Dia da
de Novembro. Em 1989, no nono
Palácio Foz, tendo estado presen-
Independência foi constituído em
termo da Sejm, o feriado oficial foi
tes figuras de grande relevo da
1937 e foi celebrado apenas duas
restaurado.
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MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 83
LIVROS
Embaixada do Grão-Ducado do Luxemburgo em Portugal Apresenta documentário “Léif Letzebuerger” (“Queridos luxemburgueses”)
A Embaixada do Luxemburgo organizou, nos dias 19 e 20 de Novembro a projecção do documentário «Léif Letzebuerger – S.A.R a Grã-Duquesa no exílio entre 1940-1945», do realizador Ray Tostevin, realizado em 2008. O filme « Leif Letzebuerger » pode ser encomendado em versão francesa, inglesa ou alemã, mas sem legendas em português, no link seguinte: http://eshop.cna.public.lu/ Na primeira sessão, no dia 19 de Novembro, estiveram presentes SS.AA.RR. os Duques de Bragança e outros membos da família de Bragança, para além de representantes do Corpo Diplomático, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Gabinete de S.E. o Presidente da República. Esta iniciativa suscitou um grande interesse, os convidados eram em número tão elevado que foi necessário transmitir o fime/ documentário uma segunda vez, no dia 20 de Novembro. Ao todo, uma centena de pessoas, repartidas pelos dois dias, visionaram o documentário, após o qual foi servido um jantar/cocktail muito agradável. A história da família Grão-Ducal do Luxemburgo e a história da
penhará esta função até 18 de
Löwenstein-Wertheim-Rosenberg
família real de Bragança estão
junho de 1912, data na qual a sua
(1831-1909).
ligadas entre si desde o casa-
filha mais velha, a Grã-Duquesa
O documentário “Léif Letzebuerger
mento, em 1893, do Grão-Duque
Marie-Adélaïde é proclamada
- Queridos luxemburgueses”, retra-
herdeiro Guillaume (1852-1912),
Grã-Duquesa do Luxemburgo.
ta, com base em testemunhos reais
futuro Grão-Duque Guillaume IV,
Corre portanto sangue português
e imagens de arquivo, o período
com a Princesa Maria Ana de
nas veias do atual soberano
entre 1940-1945, durante o qual o
Bragança, infanta de Portugal
luxemburguês, na medida em que
Luxemburgo foi invadido e ocupa-
(1861-1942). Em 1908, a Grã-
duas das suas bisavós e uma das
do pelas tropas alemãs, forçando
-Duquesa Maria Ana assume
suas trisavós eram princesas de
S.A.R. a Grã-Duquesa do Luxem-
o cargo de lugar-tenente e oito
Bragança, filhas de D. Miguel I
burgo a um exílio, numa primeira
meses depois, na sequência da
(1802-1866), rei de Portugal de
fase em Londres e posteriormente
morte do seu marido, o cargo de
1828 a 1834, e de sua esposa,
nos Estados-Unidos, com uma bre-
regente do Luxemburgo. Desem-
nascida Princesa Adelheid de
ve passagem por Lisboa.
84 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
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Tendo tomado a “decisão difícil
comuns. Os autores do filme
ra Mundial, numerosos membros
mas necessária” de, perante o avan-
encontraram correspondência
de famílias reais no exílio entre
ço das tropas nazis, deixar o seu
pessoal, trocada entre ambos,
as quais a família Grã-Ducal do
País, a Grã-Duquesa e o seu gover-
que revela a existência de uma
Luxemburgo) e ao Município de
no foram acusados pelos luxembur-
verdadeira amizade entre F.D.
Cascais por toda a ajuda prestada
gueses de os abandonar numa hora
Roosevelt e a Grã-Duquesa.
durante aquele período dificil, ten-
tão dificil. Mas, ao optar por ficar
Segundo o historiador Curtis
do oferecido às autoridades locais
no Luxemburgo, a Grã-Duquesa
Roosevelt, neto do Presidente, a
um busto de S.A.R. a Grã-Duque-
ter-se-ia tornado prisioneira no seu
colecção de cartas trocadas entre
sa Charlotte. Este busto encontra-
próprio país – e teria cometido o
ambos demonstra que o Presidente
-se agora exposto na Casa Santa
mesmo erro que a sua irmã mais ve-
norte-americano levava muito a
Maria que, atualmente, alberga um
lha, a Grã-Duquesa Marie-Adelaide,
sério a sua promessa de “devolver”
museu.
25 anos antes.
o Luxemburgo à sua soberana
No livro “Flight through Hell”,
Charlotte sabia que a única
legítima.
publicado em 1951 e reeditado em
esperança de libertação e de
Durante a visita de Estado a Por-
1968, entre outros testemunhos
sobrevivência, para o Luxemburgo
tugal em Setembro de 2010, no
de refugiados encontramos o de
e para os luxemburgueses, eram as
discurso pronunciado por ocasião
S.A.R. a Grã-Duquesa Charlotte
forças aliadas. Ao optar pelo exílio,
do jantar de gala oferecido pelos
“Quero expressar a minha profun-
a Grã-Duquesa e os seus ministros
Grão-Duques no Palácio Nacional
da gratidão pela assistência sem
puderam solicitar auxílio aos amigos
da Ajuda, S.A.R. o Grão-Duque
preço que, na sua qualidade de
poderosos em Londres e do outro
lembrou o facto de a sua avó, a Grã-
cônsul-geral em Bordéus, (Aristi-
lado do Atlântico.
-Duquesa Charlotte, a sua família e
des de Sousa Mendes) prestou em
A notícia do seu primeiro discurso,
vários membros do governo terem
1940 a refugiados luxemburgue-
proferido na BBC no Outono de
sido acolhidos em Portugal em
ses.Teremos sempre presentes,
1940, espalhou-se rapidamente no
Junho de 1940, depois da sua fuga
no nosso espírito reconhecido, os
Luxemburgo, pelo passa a palavra.
do Luxemburgo, invadido e ocupa-
eminentes serviços prestados ao
Aqueles que tinham ouvido a sua in-
do pela Alemanha Nazi. Sublinhou
nosso país pelo Dr. Mendes duran-
tervenção repetiam-no, dizendo que
igualmente o papel exemplar e
te os seus doze anos de exercício
ela não os tinha esquecido e que
extremamente corajoso desempe-
como cônsul-geral no Grão-Du-
lutava pela libertação do seu país
nhado pelo cônsul-geral de Portugal
cado do Luxemburgo. Mas o seu
e do seu povo...estas mensagens
em Bordéus, Aristides de Sousa
mérito, num tempo de tragédia e
revigoraram o espírito de resistência
Mendes (o discurso integral em
de pânico, será sobretudo lembra-
dos luxemburgueses.
francês encontra-se no site www.
do pelos refugiados luxemburgue-
Após ordenar que um navio de
gouvernement.lu).
ses, dos quais numerosos eram de
guerra levasse os filhos do casal
No decorrer do verão de 1940, e
confissão judaica, pelos membros
Grão-Ducal de Portugal para os
antes de embarcar para Londres
do governo luxemburguês e pe-
Estados Unidos, o Presidente
e posteriormente para os Estados
los da minha própria família, que
Roosevelt apoiaria a tournée de
Unidos, a família Grão-Ducal re-
por sua iniciativa foram salvos de
propaganda da Grã-Duquesa,
sidiu durante várias semanas em
uma perseguição certa e puderam
usando a sua presença para
Cascais, na Casa Santa Maria que
assim chegar aos países livres. A
reforçar os seus próprios esforços
pertencia à família Espírito Santo.
sua ação humanitária será para
de uma intervenção americana na
Por ocasião da visita de Estado
sempre um exemplo da abnega-
Guerra. A Grã-Duquesa tornava-
em 2010 e na sua deslocação a
ção com a qual ele se consagrou
se assim um sîmbolo e uma
Cascais, os Grão-Duques presta-
à causa da liberdade e da com-
testemunha do que se passava
ram homenagem à família Espírito
preensão entre todas as nações e
na Europa e, ao mesmo tempo,
Santo (Manuel Ribeiro Espírito
todas as raças.”
um apelo à América para ajudar a
Santo Silva, à época Consul hono-
Europa.
rário do Luxemburgo em Portugal,
A relação entre o Presidente
e o seu irmão, Ricardo Ribeiro
Roosevelt e a Grã-Duquesa não
Espírito Santo Silva, acolheram
Dias Vaz, Éditions Confluences – Comité
era apenas guiada pelos interesses
durante e após a Segunda Guer-
Aristides de Sousa Mendes).
n
(Fonte: Aristides de Sousa Mendes, héros « rebelle », juin 1940. Souvenirs et témoignages, sob a direção de Manuel
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 85
PROTOCOLO
O Presidente da República Portuguesa recebe cartas credenciais de novos Embaixadores em Portugal
1
2
3
4
1. Embaixador da França 2. Embaixador do Perú 3. Embaixador do Japão 4. Embaixadora de Cuba
O Presidente da República,
residentes de França, Jean-
Anibal Cavaco Silva recebeu
-François Blarel, do Peru, En-
as cartas credenciais de novos
rique Armando Román-Morey,
Embaixadores acreditados em
do Japão, Hiroshi Azuma, e de
Portugal. Entregaram as suas
Cuba, Johana Ruth Tablada de
credenciais os Embaixadores
la Torre.
86 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
■
CULTURA
A Educação na Agenda para o Desenvolvimento pós-2015
Agora que os Objetivos de Desenvolvi-
integral da primeira infância, a garantia
mento do Milénio (ODM) se aproximam do
do acesso de todas as crianças ao en-
seu termo temporal – 2015 –, os doadores
sino primário, gratuito e de qualidade, a
estão a refletir sobre as implicações da
ampliação das oportunidades de aprendi-
Agenda para a Educação Pós-2015 nas
zagem para jovens e adultos, o aumento
políticas de ajuda pública aos países em
do número de adultos alfabetizados, a
desenvolvimento.
supressão das disparidades de género na
O tema dominou a reunião L’éducation
educação e a melhoria de todos os aspe-
dans l’agenda pour le développement
tos qualitativos da educação.
post-2015, que teve lugar em Paris, em
Entre os objetivos da consulta esteve uma
dezembro passado, na UNESCO (Or-
troca de informações sobre os desafios e
ganização das Nações Unidas para a
as principais realizações identificadas no
Educação, a Ciência e a Cultura), com
campo da educação, nomeadamente no
a participação de 27 países doadores,
que respeita aos ODM e à Educação para
quase todos membros do Comité de Ajuda
Todos; a identificação das prioridades da
o Desenvolvimento (CAD) da OCDE. O
educação a incluir na agenda para a edu-
Camões – Instituto da Cooperação e da
cação pós-2015 numa perspetiva regional;
Língua fez-se representar através da sua
o exame da melhor forma de articular e
Presidente, a professora universitária Ana
posicionar a educação como componente
Paula Laborinho.
essencial da agenda global de desenvol-
A dimensão humana do desenvolvimento
vimento pós-2015; o estudo das modali-
integra os novos princípios orientadores
dades de aplicação e acompanhamento
da futura agenda do desenvolvimento. E
da agenda para a educação após 2015 a
a UNESCO – pela sua ação estratégia na
nível nacional, regional e mundial do pon-
área da educação, ciência, cultura, co-
to de vista dos países Europa ocidental e
municação e informação – tem um papel
da América do norte; e ainda o exame do
fundamental a desempenhar nessa inte-
papel destes países, o chamado Grupo
gração.
I, enquanto doadores na agenda para a
A sessão de Paris inseriu-se na consulta a
educação pós-2015, nomeadamente como
nível mundial que tem vindo a ser conduzi-
melhorar o aspeto estratégico e a eficá-
da, para além da UNESCO, pelo UNDG –
cia da ajuda e quais as novas parcerias
United Nations Development Group e pela
a estabelecer para ajudar os países em
UNICEF (Fundo das Nações Unidas para
desenvolvimento.
a Infância), no quadro do processo Educação para Todos, iniciado em Jomtien
PISA
(Finlândia), reafirmado em Dakar (2000) e
Enquanto doadores, os membros do CAD
refletido na Declaração do Milénio.
da OCDE têm particulares responsabili-
No domínio da educação, este último
dades na cooperação para o desenvolvi-
documento resultou num compromisso em
mento no domínio da educação, designa-
torno de 6 objetivos, a saber, a extensão
damente, por via do apoio a programas e
e melhoria da proteção e da educação
projetos de organizações da sociedade
➤
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 87
A Educação na Agenda para o Desenvolvimento pós-2015
➤
civil (OSC), e através da adoção de
homens jovens e adultos com capacida-
quadros estratégicos e do apoio a ações
des/formação técnica e vocacional para o
de sensibilização para o desenvolvimento,
trabalho.
Educação para o Desenvolvimento e de
Para uma abordagem mais qualitativa, a
Educação para a Cidadania Global nos
aplicação do programa PISA de avaliação
respetivos territórios.
dos sistemas de ensino aos países em
É esse o caso da Cooperação Portu-
desenvolvimento poderá dar um contributo
guesa, que vai continuar especialmente focada na promoção do desenvolvimento da educação nos países em desenvolvimento, como fator essencial na promoção do desenvolvimento humano. A educação dá poder às populações ao conferir-lhes conhecimentos e capacidades, contribuindo para a sua melhoria de vida. Nesse sentido, o acesso universal à educação de qualidade, particularmente das mulheres e das raparigas, é um investimento e uma necessidade fundamental e, como tal, uma das áreas prioritárias no quadro da agenda para o desenvolvimento pós 2015. A discussão em curso sobre a definição de uma agenda para o desenvolvimento pós-2015 aponta claramente para necessidade de abordar os futuros ODM e respetivas metas numa perspetiva mais qualitativa do que até agora, incluindo na área da educação. O Relatório do Painel de Alto Nível sobre a agenda pós-2015 instituído pelo secretário-geral das Nações Unidas, de maio de 2013, aponta para a manutenção de um objetivo específico para a educação, mas mais centrado na questão da qualidade e da formação ao longo da vida. Pretende-se assegurar que aumente a percentagem de crianças que ingressa e termina a educação pré-primária; que
importante. A possibilidade de alargar a
todas as crianças completem a educação
aplicação do PISA aos países em desen-
primária e sejam capazes de ler, escrever
volvimento, nomeadamente na perspetiva
e contar de forma suficiente a cumprir os
da mediação dos compromissos a serem
padrões mínimos de aprendizagem; que
estabelecidos no quadro da agenda para
todas as crianças tenham acesso ao en-
o desenvolvimento pós-2015, está ser
sino básico secundário (lower secondary
debatida em vários comités da OCDE.
education); que aumente a proporção de
Portugal tem vindo a apoiar a proposta de
adolescentes com resultados de aprendi-
aplicação do PISA aos países em desen-
zagem reconhecíveis e mensuráveis; que
volvimento que manifestem interesse em
aumente a percentagem de mulheres e
participar.
n
I.C. I.P.
88 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
English and french texts
The urgency of re-industrialization of Southern Europe. COTEC - Business Association for Innovation - held its ninth meeting in Lisbon, under the pressing issue of ‘reindustrialization’ of the European Union in general and the southern countries (Portugal, Spain and Italy), in particular . For the meeting joined several ministers, technicians and European businessmen to discuss a new industry to the South of Europe. The meeting was attended, in closing, the heads of state of the three countries, HRH Juan Carlos, King of Spain, Giorgio Napolitano, President of Italy, and Cavaco Silva of Portugal. L’urgence de ré-industrialisation de l’Europe du Sud. COTEC - Business Association pour l’innovation - a tenu sa neuvième réunion à Lisbonne, sous la question urgente de la «réindustrialisation» de l’Union européenne en général et les pays du Sud (Portugal, Espagne et Italie), en particulier . Pour la réunion rejoint plusieurs ministres, des techniciens et des hommes d’affaires européens pour discuter d’une nouvelle industrie dans le Sud de l’Europe. La réunion a été suivie, en terminant, les chefs d’Etat des trois pays, SAR Juan Carlos, roi d’Espagne, Giorgio Napolitano, Président de l’Italie, et Cavaco Silva du Portugal. Interview with Ambassador of Poland, Brosnilaw Mistzal Informs us that the arrival of Poland to the European Union has changed the EU profoundly and that Portugal needs Poland to develop its economy and produce profits and Poland Portugal needs to open more doors to the world. Entretien avec l’ambassadeur de Polonie, Brosnilaw Mistzal. L’ambassadeur a defendu que la Polonie a cmodifié profoundement l’Union Européene. A soligné que Portugal a besoin de la Polonie pour développer son économie e la Polonie besoin du Portugal pour ouvrier noveaux marchés au monde. Interview with Ambassador of Israel, Tzipora Rimon. Ambassador speaks of the importance of start-up companies in their country in the areas of high technology software. still speaks of the importance of reaching a peace agreement with the Palestinians and commercial relations with the EU. Entretien avec l’ambassadeur d’Israël, Tzipora Rimon. Ambassadeur parle de l’importance de la start-up dans leur pays dans les domaines des logiciels de haute technologie. Nous parle encore de l’importance de parvenir à un accord de paix avec les Palestiniens et les relations commerciales avec l’UE. Interview with Ambassador of Turkey, Ebru Gokdenizler. The ambassador stated the importance of Turkey become an EU member. Its accession will benefit both Turkey and the EU. In 2013, Turkey signed 7 agreements with Portugal in the political, military and cultural field. Entretien avec l’ambassadeur de Turquie, Ebru Gokdenizler. L’ambassadeur a souligné l’importance de la Turquie devienne membre de l’UE. Son adhésion profitera à la fois la Turquie et l’UE. En 2013, la Turquie a signé 7 accords avec le Portugal dans le domaine politique, militaire et culturel. Interview with Ambassador of Italy, Renato Varriale. The ambassador informs us that the promotion of trade but also investment exchanges must be done. The role of the ambassador changed. The ambassador should be more than a political representative of his country and we should re-enforce the emphasis on the ethical side of diplomacy. Entretien avec l’ambassadeur d’Italie, Renato Varriale. L’ambassadeur nous informe que la promotion du commerce, mais aussi les échanges d’investissement doivent être effectuées. Le rôle de l’ambassadeur changé. L’ambassadeur devrait être plus qu’un représentant politique de son pays et nous devons remplacer l’accent pour le côté éthique de la diplomatie. Cultural event in tribute to Mozambique. The Mozambican community in Portugal made a cultural initiative at the Estoril Casino. Attended several figures from Mozambique, Portugal and foreign countries. Manifestation culturelle en hommage au Mozambique. La communauté mozambicaine au Portugal a fait une initiative culturelle au Casino d’Estoril. A participé plusieurs membres de la société mozambicaine, portugaise et étrangère.. Interview with António Almeida Santos. Political concluded talks about his long career, the state of the nation and their views on Africa and Nelson Mandela. Entretien avec António Almeida Santos. Politique conclu parle de sa longue carrière, l’état de la nation et leurs points de vue sur l’Afrique et Nelson Mandela. Interview with Victor Ramalho, secretary general of UCCLA. Connoisseur of the reality of Portuguese-speaking countries, Vitor Ramalho speaks of the importance of UCCLA as added
MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 89
English and french texts
value to the capital of the Portuguese language. Invites all ambassadors to participate in the project of building the ‘House of the Students of the Empire’. Entretien avec Victor Ramalho, secrétaire général de UCCLA. Connaisseur de la réalité des pays de langue portugaise, Vitor Ramalho parle de l’importance de UCCLA comme une valeur ajoutée à la capitale de la langue portugaise. Invite tous les ambassadeurs de participer au projet de construction de la «Maison des Étudiants de l’Empire». The President of the Portuguese Republic in the XXIII Latin American Summit in Panama. The summit focused on the role of political, economic, social and cultural development of the Community of Latin America in the new global context. Le Président de la République portugaise au Sommet XXIII latino-américain au Panama. Le sommet a porté sur le rôle du développement politique, économique, sociale et culturelle de la Communauté de l’Amérique latine dans le nouveau contexte mondial. Turkey celebrates 90 years of the establishment of the Republic. To mark the date Ebru Gokdenizler ambassador gave a reception attended by representatives of the diplomatic corps accredited in Portugal. Turquie célèbre ses 90 ans d’implantation de la République. Pour marquer la date Ebru Gokdenizler ambassadeur a donné une réception en présence des représentants des corps diplomatiques accrédités au Portugal. Article by the Ambassador of the Dominican Republic, Jaime Duran. According to the ambassador is necessary to re-think the Ibero-American relations. The ongoing threat of crisis must lead to the expansion of the bases of the Ibero-American relations on a more balanced scale and not its decline. Entretien avec l’ambassadeur de la République dominicaine, Jaime Duran. Selon l’ambassadeur est nécessaire de repenser les relations ibéro-américains. La menace permanente de crise doit conduire à l’expansion des relations ibéro-américains sur un plus équilibrées et non ses bases de déclin. Article by the Ambassador of Estonia, Andres Rundu. The ambassador reminds us of the importance of the work that has to be done by the EU in addition to its international activity. More energy links between the EU member states must be done in order to establish an international energy market. Article de l’ambassadeur d’Estonie, Andres Rundu. L’ambassadeur nous rappelle l’importance du travail qui doit être fait par l’UE en plus de son activité internationale. Plus de liens énergétiques entre les Etats membres de l’UE doivent être effectués afin d’établir un marché international de l’énergie. Article by the Ambassador of Mexico, Benito Andion. The Mexican market is large and attractive. Has a large potential for wind resources, solar, geothermal, hydro and biomass, fundamental to the resolution of the increase in energy consumption. Article de l’Ambassadeur du Mexique, Benito Andion. Le marché mexicain est grand et attrayant. Méxique a un grand potentiel pour les ressources éoliennes, solaire, géothermique, hydroélectrique et biomasse, fondamentaux pour la résolution de l’augmentation de la consommation d’énergie. Article by the Ambassador of Albania, Edmond Trako. Ablania shows it’s optimistic path towards integration in the European Union that must be taken by reaching out to all the stakeholders inside the country. Article de l’ambassadeur d’Albanie, Edmond Trako. Albania montre son chemin optimiste vers l’intégration dans l’Union européenne qui doit être pris en tendant la main à toutes les parties prenantes à l’intérieur du pays. Official visit of President of the Portuguese Republic to Sweden. At the meeting, the President advocated Portuguese and Swedish teconomic and technological cooperation. A common exploration of Interests between the two countries has to be taken. Visite officielle du Président de la République portugaise à la Suède. Lors de la réunion, le président a préconisé la coopération économique et technologique portugais et suédois. Une exploration en commun d’intérêts entre les deux pays doit être prendre.
90 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014
MÊS/MÊS 2013 - DIPLOMÁTICA • 92