Diplomatica 17

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´ Diplomatica

Nº17 MARÇO 2014 €7 (Cont.)

BUSINESS & DIPLOMACY

DIPLOMÁTICA 17 • MARÇO/MAIO 2014

Entrevistas Embaixadores: Bronislaw Misztal – Polónia Renato Varriale – Itália Ebru Gokdenizler – Turquia Tzipora Rimon – Israel

África +

Destaque! António de Almeida Santos Política versus Economia

Que Futuro?

Dia Nacional de Angola Vitor Ramalho - UCCLA Moçambique Evento Cultural

Cavaco Silva e Juan Carlos Re-industrialização da União Europeia

With English & French Texts

1 • DIPLOMÁTICA - JUNHO/JULHO 2008




Assuntos Summary

A urgência da re-industrialização do sul da Europa. The urgency of re-industrialization of southern Europe.

6

Dossier - Business & Diplomacy – Entrevistas: Renato Varriale, Embaixador da Itália em Portugal; Bronislaw Misztal, Embaixador da República da Polónia em Portuga; Ebru Barutçu Gokdenizler, Embaixadora da Turquia em Portugal e Tzipora Rimon, Embaixadora de Israel em Portugal. Dossier - Business & Diplomacy – Interviews: Renato Varriale, Ambassador of Italy in Portugal; Bronislaw Misztal, Ambassador of the Republic of Poland in Portugal; Ebru Barutçu Gokdenizler, Ambassador of Turkey in Portugal e Tzipora Rimon, Ambassador of Israel in Portugal.

11

Espaço diplomático Andres Rundu, Embaixador da Estónia em Portugal. Benito Andion, Embaixador do México em Portugal. Jaime Duran, Embaixador da República Dominicana - Re-pensar as relações ibero-americanas. Edmond Trako, Embaixador da Albânia em Portugal – O único estado natural da Albânia é a Europa. Andres Rundu, Ambassador of Estonia in Portugal. Benito Andion, Ambassador of Mexico in Portugal. Jaime Duran, Ambassador of the Dominican Republic in Portugal – Re-think the Ibero-American relations. Edmond Trako, Ambassador of Albany in Portugal - The only one natural state of Albania is Europe.

30

O Presidente da República na XXIII Cimeira Ibero-Americana no Panamá. President of Portugal at the XXIII Iberon-american summit in Panama.

38

Presidente da República Portuguesa destaca o potencial da cooperação económica e tecnológica luso-sueca em visita de Estado à Suécia. President of Portugal highlights the potential of Luso-economic and technological cooperation in Swedish State Visit to Sweden.

40

O último grande libertador do século XX, fundador da nação democrática da África do Sul, Nelson Mandela. The last great liberator of the twentieth century, founder of the democratic nation of South Africa, Nelson Mandela.

42

António de Almeida Santos, Um homem de esquerda às direitas. António de Almeida Santos, the right man from the left wing.

44

Evento cultural de tributo a Moçambique. Cultural event in tribute to Mozambique.

52

Aniversário da Independência Nacional de Angola. Anniversary of the National Independence of Angola.

56

Vítor Ramalho, Secretário Geral da UCCLA - União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa. Victor Ramalho, Secretary General of UCCLA - Union of Capital Cities of Portuguese Language.

60

Dia comemoração da independencia da Nigéria. Celebration of the Independence Day of Nigeria.

64

"Xanana Gusmão e os primeiros 10 anos da construção do Estado Timorense" na sede da CPLP em Lisboa. "Xanana Gusmão and the first 10 years of building the Timorese State" CPLP headquarters in Lisbon.

66

Mala Diplomática. Dia Nacional da Espanha. Diplomatic pouch. Spain National Day.

69

Mala Diplomática. Turquia celebra 90 anos da implantação da República. Diplomatic pouch. Turkey celebrates 90th anniversary of the establishment of the Republic.

70

Mala Diplomática. Dia Nacional da Chipre. Diplomatic pouch. Cyprus National Day.

72

Mala Diplomática. Dia Nacional dos Emirados Árabes Unidos. Diplomatic pouch. Emirates National Day.

74

Mala Diplomática. Dia Nacional da Qatar. Diplomatic pouch. Catar National Day.

76

Mala Diplomática. Dia Nacional da Roménia. Diplomatic pouch. Romenia National Day.

78

Mala Diplomática. Dia Nacional da Alemanha Diplomatic pouch. Germany National Day.

80

Mala Diplomática. Dia Nacional da Andorra. Diplomatic pouch. Andorra National Day.

82

Mala Diplomática. Dia Nacional da Polónia. Diplomatic pouch. Polony National Day.

83

Embaixada do Grão-Ducado do Luxemburgo em Portugal. Apresenta documentário “Léif Letzebuerger” (“Queridos luxemburgueses”). Embassy of the Grand Duchy of Luxembourg in Portugal. Presents documentary "Leif Letzebuerger" ("Dear Luxembourg people").

84

O Presidente da República Portuguesa recebe cartas credenciais de novos Embaixadores em Portugal. The President of the Portuguese Republic receives credentials of new ambassadors in Portugal.

86

A Educação na Agenda para o Desenvolvimento pós-2015. The Education Development Agenda post-2015.

87

DIRECTOR: Maria de Bragança PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Rua de São Bernardo, nº27 A – Lisboa. MARKETING & PUBLICIDADE: Gabinete 1 - e-mail:gabinete1@gabinete1.pt Tel.: 21 099 96 74 Fax: 21 096 49 72 IMPRESSÃO: Gabinete 1 DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395

4 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014



CAPA

A urgência da re-industrialização do sul da Europa

A COTEC – Associação Empresarial para a Inovação – realizou o seu nono encontro, em Lisboa, sob o premente tema da «Re-industrialização» da União Europeia, em geral, e dos países do sul (Portugal, Espanha e Itália), em particular. Para o encontro juntaram-se vários ministros, técnicos e empresários europeus para discutir uma nova industria para o Sul da Europa. O encontro contou com a presença, no encerramento, dos Chefes de Estado dos três países, SAR Juan Carlos, Rei de Espanha, Giorgio Napolitano, Presidente da República Italiana, e Cavaco Silva, de Portugal.

Portugal, Espanha, Itália e Comissão

perda de significado ocorre, na UE, a um

Europeia defendem uma “agenda indus-

ritmo mais rápido do que o observado em

trial mais eficaz e ambiciosa” com vista

outras regiões do mundo, incluindo os

à re-industrialização da Europa, propon-

países mais desenvolvidos.

do políticas públicas de âmbito regional,

Para Portugal, Espanha e Itália torna-se

nacional e europeu que a fomente. A

urgente combater este desinvestimento na

Indústria - produção de bens, por contras-

indústria com o aumento da produção de

te com a produção de serviços - tem vindo

bens industriais. Por um lado, é necessá-

a diminuir em importância na União Euro-

rio para recuperar as posições perdidas;

peia, com uma pesada queda da produção

por outro lado , temos que criar uma nova

industrial no PIB da UE e do emprego

indústria, uma vez que a produção indus-

industrial no emprego total na UE. Esta

trial precisamos intensificar é totalmente

SAR Juan Carlos, Rei de Espanha; Cavaco Silva, de Portugal e Giorgio Napolitano, Presidente da República Italiana

6 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


diferente das produções industriais

Portugal os piores resultados. A União

do passado, que têm um peso diminuto,

Europeia é um líder global no desenvolvi-

tanto na União Europeia e nas áreas mais

mento das KET e tem todos os atributos

desenvolvidas do mundo.

necessários para permanecer nesta po-

Há que estabelecer como objectivo uma

sição: é a única região a dominar todas

nova Re-industrialização com uma visão e

as seis tecnologias. O problema existente

estratégias bem definidas. O assunto tem

encontra-se mais na aplicação do que no

sido discutido por vários órgãos da União

desenvolvimento de tais tecnologias.

Europeia que ajudaram a esclarecer essa

No que concerne os nossos três países, o

visão que passa por um melhor equilíbrio

maior dinamismo da actividade encontra-

entre os objectivos da produção de bens e

-se na Itália, seguida da Espanha e por úl-

produção de serviços, contribuindo, igual-

timo Portugal. Mas os resultados dos três

mente, para a consecução do objectivo

países são muito ténues e em várias das

maior de aumentar a mão de obra qualifi-

KET, a balança comercial encontra-se ne-

cada. Seguir este caminho permitirá à UE

gativa. As quotas de exportação de KET,

para aproveitar as oportunidades globais ,

em Portugal, são muito pequenas com a

ao mesmo tempo, oferecer oportunidades

excepção de Materiais Avançados e Micro/

de emprego sustentáveis com trabalho de

nanoelectrónica que chegou a atingir cerca

alta qualidade.

de 2% das exportações. Para as restantes

Uma parte significativa dos bens e ser-

KET, a balança comercial encontra-se em

viços que estarão disponíveis no merca-

negativo.

do em 2020 ainda são desconhecidas ,

A União Europeia está relativamente sa-

mas a principal força motriz por trás de

tisfeita com o seu desempenho nas seis

seu desenvolvimento será a implantação

KET, tanto em termos de tecnologia e

de Tecnologias Facilitadoras Essenciais

desenvolvimento tecnológico. O problema

(KET). Depois de encontrar o início de

e insatisfação residem nos resultados em

uma resposta para o problema que esta-

relação à aplicação industrial - produtos,

mos a enfrentar, a União Europeia, lide-

exportações e emprego como nos casos

rada pela Comissão Europeia, tem vindo

da Itália, Portugal e Espanha. A grande

a desenvolver, desde 2009, uma linha de

fraqueza da UE encontra-se em traduzir a

intenso de trabalho sobre o tema das KET,

sua base de conhecimento em bens e ser-

tanto em termos de estudo como de polí-

viços. O fabrico de produtos relacionados

ticas e programas de acção. Com base na

com as TFE está a diminuir e as patentes

pesquisa actual , as análises económicas

da UE são, cada vez mais, exploradas fora

de tendências de mercado e sua contribui-

da UE. Os concorrentes asiáticos, no-

ção para a resolução de desafios socioló-

meadamente a China (incluindo Taiwan) e

gicos , a UE passou a identificar seis KET

Coreia estão a ganhar vantagem.

"transversais": a Micro/nanoelectrónica;

Esta falta de produção relacionada com as

a nanotecnologia ; a biotecnologia indus-

TFE é ainda mais prejudicial para a UE por

trial; a Photonics (pesquisa das origens e

duas razões. Em primeiro lugar, no curto

controlo da luz); a Indústria de materiais

prazo, as oportunidades de crescimento

avançados; e as tecnologias avançadas de

e de criação de emprego serão perdidas;

manufactura.

em segundo lugar, a longo prazo, também

Em relação ao desenvolvimento e imple-

pode haver uma perda de geração de

mentação das KET existe uma discrepân-

conhecimento. Já ocorrem, porém, esfor-

cia acentuada entre a UE e os três países

ços de colaboração em particular com a

do Sul: Itália, Espanha e Portugal. Tendo

indústria no âmbito das parcerias

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 7


A urgência da re-industrialização do sul da Europa

público-privadas (PPPs) e do Plano

Nesses sectores de bens de consumo,

SET. Mas o carácter interdisciplinar das

enquanto o design e a funcionalidade

TFE individuais ao longo da cadeia de va-

são fatores-chave para o sucesso, vários

lor tem de ser reforçado e uma abordagem

desafios de pesquisa e tecnologia são,

integrada para apoiar TFE é, portanto,

igualmente, motores essenciais para o ne-

necessária

gócio. Os quatro principais temas estraté-

O potencial da Itália, Espanha e Portugal

gicos definidos como pedra angular para a

e suas complementaridades nesta área de

investigação e desenvolvimento tecnológi-

produtos , bem como as características

co serão: (multi ) funcionalidade avançada

de seus sistemas produtivos deverá ser

de produtos para aplicações finais especí-

explorado e aumentado a nível europeu.

ficos e cenários de uso; fabrico e cadeia

8 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


de valor inteligentes; novo design e con-

identificadas as razões para essa situação

ceito de ciclo de vida de produtos; direitos

actual, e variam de competência na falta

dos consumidores e interacção avançada

de consórcios de projectos, na divulgação

do consumidor no processo de criação de

ineficiente e demonstração dos resultados

valor.

do projecto, ou na falta de recursos finan-

Apesar do esforço e investimento em I & D

ceiros para cobrir a última milha no pro-

tecnológico já feito, é comumente reconhe-

cesso de inovação e acesso ao mercado.

cido que a Europa precisa de melhorar a

Consequentemente, podem e devem ser

sua eficiência quando se trata de traduzir

tomadas medidas para resolver ou minimi-

o conhecimento científico em valor eco-

zar esses desafios, a começar pela melho-

nómico e de liderança industrial. Foram

raria da divulgação e demonstração

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 9


A urgência da re-industrialização do sul da Europa

Sofia da Grécia e SAR Juan Carlos, Maria Cavaco Silva e Aníbal Cavaco Silva com Clio Maria Bittoni e Giorgio Napolitano

de conhecimento do projecto e dos re-

só durante a fase de P & D, mas também

sultados, levando a novas oportunidades de

durante a divulgação, demonstração e ex-

exploração e, portanto, permitindo a criação

ploração , a fim de melhorar a eficácia e os

de valor económico esperado. Sob a égide

resultados dessas actividades.

dos bens de consumo, com base em pro-

O desenvolvimento e integração de novos

jecto, vários sectores estão incluídos com a

materiais, modelos de negócios inovadores

sua própria diversidade. No entanto, tam-

e integração do consumidor (co- criação ,

bém compartilham muitos desafios e neces-

etc ) e interacção são apenas alguns exem-

sidades que podem, em grande parte, serem

plos complementares de áreas com um forte

respondidas e satisfeitas por tecnologias de

interesse horizontal e impacto. Também é

produção. Além disso, os responsáveis pelo

relevante para se referir a existência de ini-

desenvolvimento de tecnologias de produ-

ciativas de clusters a nível nacional e regio-

ção são muitas vezes eles próprios induto-

nal, muitos deles parte ou alinhados com as

res de inovações nos sectores de usuários,

plataformas europeias relacionadas, portan-

devido ao seu conhecimento de produção

to , com um potencial para criar uma forte

horizontal. Devem, naturalmente, ser con-

rede de operação para a implementação.

siderados como parceiros estratégicos, não

10 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014

n

Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.


Dossier Bussiness & Diplomacy

A globalização mundial continua a caminhar a passos largos e a Europa une-se atraindo os países do continente para o projecto sonhado. Fomos ouvir os altos representantes em Portugal da Polónia e da Itália que acreditam firmemente no fortalecimento e vantagens desta união europeia. Fomos também ouvir a Embaixadora da Turquia cujo país mantém o seu forte desejo de aderir à União e Israel cujo mapa mundo não lhe permite sonhar com esta associação.

entrevistas de Maria da Luz de Bragança

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 11


DIPLOMACIA NA 1ª PESSOA

Renato Varriale Embaixador de Itália Comendador da Ordem de Mérito da República Italiana, o Embaixador Renato Varriale, subiu todos os degraus da carreira diplomática. Brasil, Cuba, Irão e Áustria foram países onde serviu o seu país, sendo Portugal o seu primeiro posto como Embaixador.

“Não pode haver Europa sem Portugal, nem vice versa”

12 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


Senhor embaixador, pode fazer-

posto - para mim, privilegiado - que

uma capacidade de acção autónoma

-nos uma breve descrição do seu

foi o de Embaixador em Portugal. Já

mas precisam de um elemento de

percurso?

falava português por ter estado no

ligação - o diplomata - entre elas e o

Eu escolhi a carreira diplomática por-

Brasil.

Ministério. Porém quem mais precisa

que basicamente falava inglês desde

E quando chega a Portugal?

da nossa actividade e atendimento

criança. Vim de uma família que não

Estou cá já há dois anos. Cheguei

(tanto em termos burocráticos, como

tinha outros diplomatas mas era uma

em Outubro de 2011. Devo dizer

de apoio e consultadoria) são, de

criança um pouco especial. Somos

que desejava muito esta missão em

facto, as PME. Evidentemente, que

napolitanos mas mantínhamos mui-

Portugal. Já cá tinha estado anos

os recursos que o Ministério possui,

tos contactos com gente da NATO

antes, durante uma semana, no

nesta fase de grandes cortes de or-

que tem base em Nápoles. Aprendi

Porto, aquando da Cimeira da OSCE

çamento, não são muito vastos. Mas

o inglês a brincar com meninos de

em 2002. Tive a impressão de um

procuramos sempre dar prioridade

expressão inglesa. A partir daí surgiu

país que era uma variante da Itália,

ao atendimento aos empresários.

uma grande paixão pela carreira

como que um irmão que vive longe.

Seja no serviço consular, seja no ser-

diplomática. Fiz o concurso nacional,

Aparentemente os espanhóis são

viço de acompanhamento.

ganhei com a idade de 25 anos.

mais semelhantes aos italianos, mas

Falamos de um apoio à exporta-

Fez algum curso especial para

há alguma coisa no povo português

ção?

seguir a carreira diplomática?

que se revê no italiano. Um italiano

Em princípio a prioridade seria as

A carreira diplomática não obriga

adapta-se a Portugal imediatamente.

exportações italianas para o exterior.

a um curso específico. A formação

Continuo a gostar muito do Porto,

Mas quando se trata de fazer o opos-

faz-se lá dentro, depois do concurso.

mas a minha paixão agora é Lisboa.

Antes fiz Direito com especial aten-

Quanto à sua vida pessoal e fami-

ção ao Direito Internacional.

liar, o que nos pode contar?

E como foram os primeiros pas-

Sou casado, a minha mulher está

sos na Diplomacia?

cá comigo; e um filho que acabou

Comecei em 1984 e fiquei dois anos

de ir para Inglaterra onde está na

em Roma. Depois fui nomeado côn-

Universidade a estudar para vir a ser

sul no Brasil e estive em Belo Hori-

jornalista.

zonte. De seguida fui colocado num

Falemos agora das relações co-

to, as exportações de Portugal para

lugar muito interessante, Cuba. Tive

merciais entre Itália e Portugal. Em

Itália, a Embaixada tentará dar todo

uma experiência muito valiosa para a

que ponto se encontram?

o apoio possível. Mas fará mais sen-

minha carreira durante esses quatro

Antes de mais gostaria de dizer, com

tido, para uma empresa portuguesa

anos. Voltei a Roma para o Ministé-

um certo orgulho, que o Ministério

que queira exportar para Itália, dirigir-

rio dos Negócios Estrangeiros onde

dos Negócios Estrangeiros de Itália,

-se ao meu homólogo português em

permaneci 3 anos. A seguir escolhi

percebeu, logo na década de 1980,

Roma. Ou então à AICEP.

um país que em termos diplomáticos

que um Embaixador tem que ser algo

A vossa acção é sobretudo nas

seria bastante desafiador: o Irão.

mais que um representante político

acções comerciais?

Finda a missão, fui para Viena, para

do país. Tem que se preocupar, cada

Não fazemos só a promoção das

a OSCE (Organization for Securi-

vez mais, com a parte comercial. A

trocas comerciais mas também do in-

ty and Co-operation in Europe) na

diplomacia económica tornou-se uma

vestimento. Nesta fase Portugal está

representação permanente de Itália.

realidade na década de 1990. Há

a precisar de investimentos estran-

É um organismo político multilateral

diplomatas italianos que exercem as

geiros. Dentro do possível fazemos

com grandes desafios. Regressei a

suas funções não só junto dos Minis-

essa promoção. Passamos informa-

Roma onde fiquei 7 anos na Direc-

tros do Governo, mas também junto

ção a sectores que estão receptivos

ção-Geral de Pessoal no Ministério,

das grandes empresas. A Itália está

a capital estrangeiro. Nomeadamen-

chefiei a atribuição de nomeações

convicta de que um diplomata deve

te os sectores que estão em vias de

para o exterior e fui Director-Geral

conviver lado a lado com os homens

serem privatizados. Até agora não

adjunto do departamento de recur-

de negócios. Na embaixada dedica-

aconteceu nada de verdadeiramen-

sos humanos e administração. Foi

mos muita atenção também às ne-

te importante. E isto porque a Itália

um trabalho duro mas que me deu a

cessidades das pequenas e médias

também está numa fase que precisa

possibilidade de me candidatar a um

empresas. As grandes empresas têm

de investimentos estrangeiros. A

"

UM EMBAIXADOR TEM QUE SER ALGO MAIS QUE UM REPRESENTANTE POLÍTICO DO PAÍS

"

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 13


Renato Varriale

economia ficou parada 10 anos e

têm estado mais dinâmicas que as

ainda do interesse estratégico da

agora o Governo está a inaugurar

italianas. Num momento de crise,

Europa. Já a Itália está no Mediter-

uma fase de renovação do sistema

para ambos os países, o facto de

râneo e é uma porta para o mundo

legal e burocrático para facilitar a

estarmos em quarto lugar nas trocas

árabe. Os países dos Balcãs são

chegada de capital estrangeiro.

comerciais é um bom resultado.

uma porta para a Rússia. No fundo,

Em que países está a apostar a

Qual a dimensão da comunidade

cada país da Europa pode trazer

Itália? Estão a focar-se nas econo-

italiana em Portugal?

uma mais valia à União Europeia

mias emergentes?

Não é uma comunidade muito visí-

em termos geoestratégicos. O mun-

No que se refere aos nossos inves-

vel. Em Lisboa são cerca de 2500 e

do tornou-se mais pequeno, mais

timentos, estamos a dirigir-nos aos

em todo o Portugal cerca de 5500.

póximo. Portugal, neste aspecto, é

países emergentes. Mas há vários

Na sua maioria, os italianos estão tão

privilegiado porque tem um grande

países que procuram a Itália como

bem inseridos na sociedade portu-

leque de opções: África, América

país para investimento. A nossa

guesa que até passam despercebi-

Latina, o mundo lusófono,... Portu-

prioridade agora é facilitar a entra-

dos enquanto estrangeiros.

gal tem a esperança de um futuro

da desse investimento. Estamos

Como vê, o senhor Embaixador, a

mais próspero que o actual. Mas

a simplificar as regras e a definir o

actual crise que Portugal atraves-

será um processo demorado e é

quadro de uma forma mais rigorosa

sa?

preciso investir, programar, ter uma

de forma a dar certezas ao investidor

A situação de Portugal não é uma

ideia precisa para o longo prazo.

estrangeiro.

situação isolada. É uma questão

E o que acabei de dizer é válido

Mas há também que pensar nos países dentro da Europa. É preciso que haja equilíbro nos investimentos. É verdade que há mercados mais abertos e mais interessantes com muitas necessidades

também para a Itália. Mas não me

"

É PRECISO DAR UM NOVO ALENTO AO ASPECTO ÉTICO DA DIPLOMACIA.

de empresas e com muita procura, mas não podemos esquecer que a

"

cabe a mim dizer qual a estratégia que Portugal deverá tomar. Que recado daria aos futuros diplomatas? Depois de tantos anos em que se deu valor mais às questões técnicas, eu diria que o grande valor

Europa não pode correr o risco da

europeia. E não pode haver Europa

que o Diplomata tem que redes-

desindustrialização. Um dos temas

sem Portugal nem vice versa. Não

cobrir é o valor moral da própria

mais tratados agora a nível europeu

vejo a possibilidade de se fazer uma

actividade: a promoção dos di-

é, justamente, a necessidade de

marcha atrás e dissolver a União.

reitos humanos e dos valores da

reindustrialização da Europa. Aqui

Portugal vai ter de escolher o seu

democracia. Um embaixador tem

em Portugal é também um assunto

rumo em concordância com o que

que ter uma visão analítica ou até

premente que os Ministros da Eco-

for decidido pela União Europeia.

mesmo fria do Mundo, mas isso

nomia tratam com grande atenção.

Temos que caminhar todos juntos

não quer dizer que tenha que ter

E actualmente o vice-presidente da

na mesma direcção. Se assim não

uma visão cínica. Acredito que o

comissão europeia, também o faz.

for corremos o risco de surgirem

diplomata pode ter uma função de

Como está a balança de paga-

duas situações negativas: a saída do

promoção ética destes valores mo-

mentos entre Portugal e a Itália?

euro ou o fim da União. Não consigo

rais. Com realismo, claro está. Não

Em 2012, a Itália continuava a ser

sequer imaginar uma Europa sem

podemos impor a democracia com

o quarto parceiro de Portugal em

União.

a guerra ou impor, de um dia para

termos de intercâmbio comercial. As

Como vê o futuro de Portugal?

outro, os nossos valores a povos

trocas comerciais atingiram um valor

Portugal tem a grande vantagem

que não se adaptariam. É preciso

aproximadamente de 4500 milhões

de ter uma História e uma posição

ver e compreender e depois falar

de euros. Desta importância cerca de

geográfica que facilitam os contac-

e convencer. Sempre com a ideia

2 terços são exportações italianas e

tos da Europa com o mundo lusófo-

que um país não pode ser feliz se

o restante terço, exportações portu-

no. Tem também a mais valia de um

os países que o rodeiam também

guesas. A balança comercial pende

conhecimento da África, em geral,

não o são. É preciso dar um novo

para o lado italiano. Mas nota-se que

que nem todos os países europeus

alento ao aspecto ético da diplo-

há uma tendência para o equilíbrio

possuem. Portugal está à porta

macia.

porque as exportações portuguesas

do Atlântico sul, um território que é

14 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014

n

Fotos: Luís Costa


MÊS/MÊS 2013 - DIPLOMÁTICA • 15


DIPLOMACIA NA 1ª PESSOA

Bronislaw Misztal –

Embaixador da República da Polónia em Portugal

“Portugal é um dos países mais interessantes do mundo!” Tendo sido Director Executivo da Comunidade das Democracias que revitalizou, este catedrático é hoje o alto representante do seu país em Portugal. Académico activo com uma extensa carreira na Polónia, Estados Unidos, França, Bélgica e Itália, tem contribuido para o avanço do discurso democrático e para as alterações políticas em quase todo o mundo, e é ainda hoje o conselheiro de vários governos e políticos, dando conferências internacionais sobre estratégias democráticas, educação superior, movimentos sociais e capital social. Foi Professor e Presidente do Departamento de Sociologia da Universidade Católica dos Estados Unidos da América em Washington e Decano da Faculdade de Relações Internacionais da Universidade de Vistula, na Polónia. Tem vários livros publicados e uma centena de ensaios e artigos.

16 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


Senhor Embaixador, como

governos para estabelecer pro-

União Soviética, o que produzia

chegou a Embaixador em Por-

cessos democráticos à volta do

muita confusão mental entre os

tugal?

mundo.

cidadãos.

Sou um catedrático, um intelec-

Continua a trabalhar com essas

Mas na vida política e na vida

tual e trabalhei sempre em vários

questões tão importantes?

social tudo nasce e morre. Paí-

países. Somente há cerca de 8

Sim. E continuo também a via-

ses nascem e morrem também.

anos (desde 2007/09) fui chama-

jar. Há dois meses fui à Polónia

Impérios que nascem e morrem.

do a Chefe de Gabinete Político

falar com a Madame Aung San

Das cinzas de um país, nasce um

no Ministério dos Negócios Es-

Suu Kyi,que foi laureada com

outro.

trangeiros do meu país tendo-me

um Nobel da Paz e que foi uma

E a União Europeia? Depois da

tornado Embaixador Titular. Ante-

das minhas alunas que tirou, há

união económica estão a pen-

riormente fui conselheiro político

dois anos, um curso organizado

sar também na união militar,

de diversas entidades políticas

política, da justiça?

como por exemplo o Presidente

Penso que todos temos sonhos

da Câmara de Chicago, entre ou-

e todos temos medos e todos

tros. Sempre trabalhei em análise política e agora como diplomata continuo a fazer o mesmo. A minha vida mudou, mas mantenho o meu posto académico e universitário e o meu trabalho intelectual, sou o que se chama na Europa um “intellectuel publi-

"

temos visões. Na Europa o povo

PORTUGAL FOI O PAÍS DOS

sempre teve medo de conflitos, por exemplo: conflitos entre a

DESCOBRIMENTOS PARA O MUNDO E AGORA FAZ

DESCOBERTAS PARA DENTRO

"

que” que quer dizer: uma pessoa que fala com uma voz que os outros escutam, que publica e que guarda certos valores morais,

Alemanha e a França, entre a Alemanha e a Polónia, entre a Alemanha e a Rússia, Áustria… tudo isso. Depois da II Guerra Mundial, a ideia de Jean Monet era a de trabalhar para que os europeus não tivessem mais medos e então era necessária uma união económica entre a Fran-

éticos e políticos. Antes de ser

por mim e obteve o meu Diploma

ça e a Alemanha. Entre os seis

Embaixador em Portugal era Di-

próprio.

primeiros países foi apenas para

rector Executivo da Comunidade

Enquanto que a União Soviéti-

evitar medos e perigos. Mas a

das Democracias, um Organismo

ca (URSS) se desfez e a Russia

Europa é um projecto não só para

Internacional, intergovernamen-

se separou dos seus satélites,

evitar medos mas também para

tal, com mais de uma centena de

à União Europeia estão cada

viver uma vida melhor. Os pro-

países membros; foi constituído

vez a juntar-se mais países.

jectos são autónomos. A Europa

no ano 2000 em Varsóvia e teve

O senhor Embaixador passou

de hoje não é a Europa de 1945,

os Governos da Polónia, Portugal

pelo processo de separação da

nem a Europa de 1957, nem a de

e dos Estados Unidos entre os

URSS. Como foi esse desmem-

1978 e mesmo a de 1980. Primei-

fundadores. Mais de quatro anos

bramento?

ro porque hoje a União Europeia

estive a liderar esse Organismo

Foi muito interessante e mui-

é um organismo económico, um

fazendo diplomacia multilateral

to curioso. Eu na altura estava

dos maiores organismos econó-

e, quando outros Diplomatas me

nos Estados Unidos e tinha uma

micos do mundo. Os europeus

perguntam onde servi anterior-

colega da URSS que veio tra-

perceberam que juntos têm mais

mente, eu respondo que prestei

balhar comigo em Dezembro de

possibilidades do que cada país

serviço em praticamente todas

1990 e que me disse: “eu sou

por si. Então o projecto europeu

as capitais de todos os países do

uma cidadã de um país que já

é hoje mais um projecto de sonho

mundo democrático. Era um pos-

não existe. Tenho um passaporte

do que um projecto para evitar o

to totalmente diferente, porque

da União Soviética que já não é

medo. Por isso a ideia ou a con-

viajava muito, cinco ou seis dias

União Soviética”. De um dia para

cepção da Europa muda quase a

por semana, trabalhando com os

o outro, de repente, já não existia

cada ano, quase a cada

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 17


Bronislaw Misztal

mês. Os europeus estão sem-

ras; era uma espécie de multicul-

Para países tal como a Alemanha

pre em fase de busca, de pesqui-

turalismo. Com a União Europeia,

ou França, a União Europeia tem

sa sobre esta sua nova identida-

na nova Europa que hoje existe,

o papel de acertar e prestar con-

de e isso oferece oportunidades

não temos que viver em países

tas, enquanto que para países

que não existiam como por exem-

multiculturais, pois toda a Euro-

como Portugal será uma autoes-

plo a oportunidade de trabalhar

pa está aberta, sendo suficiente

trada para a modernidade ou uma

em diferentes países e de conhe-

viajar, mudarmo-nos de um país

forma de sair da pobreza, para a

cer diferentes culturas. Anterior-

para outro, porque gostamos da

Polónia, a República Checa ou

mente a Europa funcionava como

outra cultura. É um projecto mais

Eslováquia, a U.E. será um meca-

um mosaico de países e cada

aberto, com menos separações,

nismo de mudar a tradição geo-

país era um mosaico de culturas.

com maior oportunidade para

política de mil anos. É a oportuni-

A Holanda tinha uma concepção

cuidar das culturas nacionais e

dade de se juntar ao Continente

de cultura do seu país como uma

com menos perigo de guerras

europeu. Para cada país a Europa

combinação de diferentes cultu-

culturais.

oferece uma oportunidade

18 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


uma ditadura dos mais fortes

educação em que possamos

fazem uma soma positiva! Mesmo

sobre os mais fracos. Já estou

tomar a escolaridade em vários

para a Croácia (o último membro

a ver algumas ditaduras. Para

países europeus e que os estu-

da da União Europeia) ou países

os portugueses são as dita-

dos tenham equivalência. Esse é

como a Eslovénia. Isso resulta

duras das troikas, etc… Como

um projecto muito, muito bom.

de mecanismos económicos, os

estou aqui com um perito em

Por isso a Europa está sempre

países da U.E. podem produzir,

movimentos democráticos, per-

em pesquisa de novas ideias,

vender ou exportar para toda a

gunto: não haverá o perigo de

acções e novos mecanismos.

Europa. Estamos num dos maio-

que esta União caia na mão de

A palavra inveja não é apenas

res mercados do mundo, com

um grande patrão podendo vir

uma palavra, é um sentimento.

quase 300 milhões de pessoas.

a tornar-se numa ditadura?

Os Lusíadas, de Camões, co-

Maior do que os Estados Uni-

Penso que o sistema da União

meça com a frase “Às armas“

dos. Para cada país a Europa é

não vai permitir dirigentes do

e termina com a palavra “inve-

uma oportunidade. Por exemplo:

tipo de Salazar, do tipo auto-

ja”. Julgo que isso define um

diferente. Mas todos juntos

para a Ucrania ou outros países,

pouco os portugueses. Somos

juntar-se à Europa pode significar

valentes, mas inveja haverá

aumentar o produto nacional em

aqui e em outras partes do

40%. Para cada país a Europa é um projecto de sonho, um projecto de abertura. Notou diferença na Polónia para melhor após pertencer à União Europeia?

"

A CHEGADA DA POLÓNIA À UNIÃO EUROPEIA MUDOU A UNIÃO EUROPEIA PROFUNDAMENTE.

Muito melhor, muito, muito melhor. Os polacos são uma nação

mundo… Diz-se que hoje muitos estados norte-americanos são mais independentes do que os países que fazem parte da União Europeia. O que me diz

"

sobre isso? Os Estados Unidos têm um orçamento conjunto e também têm or-

muito inteligente que gosta de

crático. A Europa tem muitos

inovar e que sempre apostou em

mecanismos para corrigir atitu-

ma muito federalista e na Europa

novas experiências. No final do

des populistas. A constituição

não estamos nesse ponto, mas é

seculo XVIII éramos o país com a

europeia permite mecanismos de

possível que os futuros europeus,

constituição cívica mais avança-

correcção da vida política e da

das gerações vindouras, daqui a

da do mundo, e estamos sempre

vida social.

10 ou 20 anos, venham a desejar

em pesquisa de melhores solu-

Temos um sistema de centralis-

um sistema mais federalista. É

ções. O Presidente Lech Walesa

mo económico, mesmo os países

também possível que em dife-

diz que os polacos têm a capa-

de Leste tinham um sistema de

rentes pontos da história alguns

cidade de mudar muitas coisas

racionalização de decisões eco-

países venham a ter menos

no mundo. Tal como Sto. António

nómicas. A Europa quer raciona-

confiança na União Europeia. É

temos a capacidade de trocar

lizar a sua produção económica,

possível que no futuro possamos

para melhores problemas. Quan-

o que resulta num centralismo

ter quase 30% de eurodeputados

do vivíamos no sistema totalitá-

económico. Não temos uma fe-

que venham a ser eurocépticos,

rio da União Soviética ninguém

deração em termos jurídicos, não

no entanto penso que o perigo

imaginava que podíamos mudar

temos uma união de pagamentos

poderá ser uma guerra fora da

e não só mudámos a nossa vida

sociais em que as contribuições

Europa e não um conflito entre

como mudámos o sistema sovié-

possam viajar com os europeus

países europeus.

tico e também o sistema europeu.

num sistema de transferências

O que me diz sobre as relações

A chegada da Polónia à União

de pagamentos sociais, a União

económicas entre a Polónia e

Europeia mudou a União Euro-

Europeia está também com esse

Portugal?

peia profundamente.

projecto de sonho.

Penso que são muito boas. Portugal

Esta União Europeia tão vasta

Queremos ter também um pro-

e a Polónia não são países iguais,

dá-me receio da chegada de

jecto de sonho em serviços de

são países complementares.

çamentos regionais. É um siste-

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 19


Bronislaw Misztal

de condições para as crianças,

é perfeita. A solução política é

não tem e o que tem Portugal

de qualidade na educação e nos

um compromisso entre dois ex-

falta à Polónia. Os portugueses

serviços médicos… Tudo o que

tremos.

que vão para a Polónia com

fará a diferença entre a Europa e

Temos duas maneiras de fazer

empresas e negócios encontram

o resto do mundo.

política. Podemos deixar a marca

condições económicas que não

É muito importante que tenha-

da nossa mão numa parede para

têm no seu país. Eu digo que a

mos em conta que a vida noutros

mostrar que estivemos aqui. Des-

Polónia oferece a realidade do

países é muito pior e que, para

de Platão até hoje, em cada gera-

conto do João Pé de Feijão: Se

o futuro sustentável da Europa,

ção, cada intelectual, e também

plantar um feijão, irá crescer uma

temos que ajudar os outros paí-

para cada político, o seu destino

árvore enorme!

ses, tais como a Tunísia, Jordâ-

é deixar a forma da sua mão

Cada negócio que os portu-

nia, países do Norte de África,

marcada na parede. Mas também

gueses levam para a Polónia,

etc… Será necessário uma bolsa

podemos melhorar a situação

funciona tão bem que dá sem-

para ajudar os países com ne-

para que quando sairmos a vida

O que tem a Polónia, Portugal

pre lucros, mas a economia da

esteja melhor do que quando en-

Polónia cresce a 2,4% por ano.

trámos. Para quando comparar-

Os polacos que trabalham para negócios portugueses encontram condições que não encontram em negócios polacos. O Jerónimo

"

mos possamos ver, à saída, que

PORTUGAL NECESSITA DA

a vida está melhor. Tem alguma coisa a dizer sobre

necessita da Polónia para desen-

POLÓNIA PARA DESENVOLVER A SUA ECONOMIA E PRODUZIR LUCROS E A POLÓNIA NECESSITA DE PORTUGAL PARA ABRIR MAIS PORTAS AO

volver a sua economia e produzir

MUNDO.

Martins é o maior empregador não governamental na Polónia e emprega quase sessenta mil polacos. A economia polaca é bem maior do que a portuguesa. Portugal

lucros e a Polónia necessita de Portugal para abrir mais portas ao mundo.

"

a Sua estadia em Portugal? Estou encantado. Cada minuto, cada dia, estou cada vez mais encantado. Gosto do povo, da cultura portuguesa, do país. Penso que Portugal é um dos lugares mais interessantes da Europa de hoje. Mais interessante do que a Alemanha, a Holanda ou a Suécia. Os portugueses também são inventivos, fazem experiências, procuram sempre novas soluções

Se fosse convidado a dirigir a

cessidades. Sem isso iremos ter

para resolver os seus proble-

União Europeia, e na verdade

sempre vagas de migrações e de

mas. Estão entre as primeiras

tem todas as condições para

refugiados que não podemos nem

nações que têm que viver uma

ocupar esse posto, o que iria

devemos suportar.

crise. Tudo o que faz o Governo,

fazer?

A Europa precisa de paz, segu-

a sociedade civil, as diferentes

Queria abrir mais portas econó-

rança e produtividade nos próxi-

forças sociais, os sindicatos, igre-

micas e sociais, abrindo mais

mos 80 anos.

ja, universidades, segmentos da

“autoestradas” como que grandes

Para si o que é política? Fazer

população tais como jovens ou

avenidas de caminhos para um

política?

pessoas idosas, são coisas novas

avanço social. Queria também

Política é a forma de resolver

para eles e para a Europa. Quan-

dar uma vida mais segura aos

dilemas e dilemas são proble-

do estou aqui, estou a aprender

europeus para uma certeza de

mas que não podemos resolver.

como os portugueses tentam e

que o nível de vida fosse me-

Nenhuma forma é absolutamente

tratam de descobrir como resol-

lhor do que nos outros países,

boa e a política é uma maneira

ver problemas. Portugal foi o país

não só criando oportunidades

de escolher direcções e decidir

dos descobrimentos para o mun-

para um futuro de qualidade de

em que direcção iremos. A po-

do e agora faz descobertas para

vida, como garantias urgentes

lítica nunca é perfeita. Quando

dentro. Por isso é também muito,

de trabalho, de segurança social,

temos dilemas, nenhuma solução

muito interessante!

20 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


Carlos. Como era domingo e não

ao reparar na matrícula do carro,

e passo muito tempo entre os

tinha motorista deixei a famí-

perguntou: É Embaixador da

portugueses, falo com muitas

lia no teatro, e como não havia

Roménia? Respondi: Não, sou da

pessoas na rua, pessoas nor-

lugares para estacionar encon-

Polónia. Ele deixou-me então es-

mais que me dizem mais coisas

tro finalmente um lugar à frente

tacionar ali. Acabei por não ir ao

do que as comunicações diplo-

do Hospital da Ordem Terceira.

concerto, indo apenas a minha

máticas. Por exemplo: Fui ver

Podendo ser proibido, pergunto

mulher e os meus filhos. Quando

um espectáculo com a minha

ao porteiro se posso deixar ali

eles regressaram, eu continuava

mulher e filhos no Teatro São

o carro. Ele disse que não mas,

à conversa com esse senhor…

Eu costumo passear pelas ruas

n➤

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 21


Bronislaw Misztal

22 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


Bronislaw e Anna encantados com Portugal Conheceram-se em Varsóvia, no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Estavam ambos envolvidos num dos projectos relacionados com a agenda da democratização da Europa. Enquanto Anna tinha a experiência dos projectos de integração europeia para a Polónia e países de Leste, Bronislaw trazia a abordagem ocidental. Descobriram que se amavam e que se completavam também a nível profissional. A Embaixatriz Anna Kostrzewa-Misztal, Doutorada em Economia na Faculdade de Varsóvia, com Mestrado na Faculdade de Direito Administrativo e na Faculdade de Relações Internacionais de Varsóvia, é Conselheira da Embaixada da República da Polónia para as questões económicas e Vice-Directora do Departamento de Leste no Ministério dos Negócios Estrangeiros do seu país. Tal como o seu marido Anna acha que Portugal é um país maravilhoso para se viver. Ao perguntarmos o que pensa de ser Embaixatriz diz-nos : “Para dizer a verdade, nunca pensei ser Embaixatriz, até porque a minha carreira tem sido assente em questões de burocracia e representação. No entanto, gosto realmente de encontrar-me com outras Embaixatrizes já que os membros de uma comunidade diplomática são pessoas interessantes, sempre criativas e amigáveis. Com o meu marido, operamos mais como uma parceria intelectual e diplomática, algo que se tornou uma experiência realmente emocionante para os dois. Cada dia é, portanto, um desafio para nós, e cada recepção ou jantar acaba por ser, de uma forma ou de outra, uma reunião de negócios. Quando o dia é longo, ainda temos de ter tempo para analisá-lo, para relaxar, e discutir logística e metas antes que o dia seguinte comece. E Lisboa oferece uma agenda política em constante mutação. Tenho orgulho em ser diplomata da nova Polónia e eu sei ver a distância que percorremos, como país, desde que demos o primeiro passo da integração na UE. Os nossos dois filhos Nadia (3,5 anos) e Marcel (2 anos) gostam de viver em Portugal, tanto quanto nós. O nosso passatempo favorito é ir comer um gelado ao Santini e ver os nossos filhos comparar notas sobre gostos e cores. Juntos, vamos descobrindo as praias do Guincho, Pego (Comporta) ou Alvor; subimos as ruas íngremes do Chiado e Alfama ou vamos passear pela Avenida da Liberdade. Achamos a forma como os portugueses cuidam dos seus filhos absolutamente excepcional e o design das roupas infantis é esteticamente muito atraente. Aos domingos à tarde adoramos dar um passeio ao longo do Tejo e misturar-nos com os lisboetas . Portugal é mesmo um país maravilhoso para se viver, trabalhar e se desenvolver. Tem sido um sonho para nós estar aqui.”

n

Fotos: Maria Inês

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 23


DIPLOMACIA NA 1ª PESSOA

Ebru Barutçu Gokdenizler Embaixadora da Turquia A Alta Representante da Turquia em Portugal desde Setembro de 2013, teve um percurso assinalável em relações internacionais. Formada em Ankara e com um BA na Universidade Americana em Paris, entrou no Ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia em 1983, tendo servido na Missão Turca para as Nações Unidas em Nova Iorque e no México. Ao voltar à Turquia, foi membro do gabinete do Conselheiro Especial do Ministro dos Negócios Estrangeiros, e exerceu diversos cargos nos Departamentos das Relações Económicas Multilaterais, União Europeia, Planeamento Político, Médio Oriente e da América, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Ankara.

24 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


sacrifício tudo se compôs para

mum, e haverá mais uma, quan-

Geral para as Américas cobrin-

melhor e agora somos um país

do a Turquia entrar na União

do as relações económicas e

económicamente muito forte.

Europeia e, tal como Portugal,

políticas num total de 35 países

Fale-me então da Sua missão e

fizer parte dessa grande família.

da América do norte, centro e

dos laços de amizade entre os

É muito importante para ambas

sul. Casada com o Embaixador

nossos países

as partes, a Turquia ser incluída

Vakur Gökdenizler, actualmente

As nossas relações diplomáticas

na União Europeia. Ambas,

Director Geral no Ministério em

têm uma longa tradição. Tiveram

Europa e Turquia, irão beneficiar

Ankara. Portugal é o seu primeiro

início há bem mais de um século

muito desta adesão. Para além

posto como Embaixadora.

(em 1843), e têm sido sempre

do facto de sermos europeus, o

Senhora Embaixadora, gostou

muito boas, com uma agenda

Império Otomano foi um Império

de ser colocada em Portugal?

muito positiva. Portugal e Tur-

europeu e uma parte integrante

Iniciei em 1983 a minha carreira

quia têm uma história gloriosa e

da Europa. A Turquia sempre foi

nos Negócios Estrangeiros, e foi

ambos são pontes para diversos

um actor europeu e ao mesmo

até hoje um longo caminho. O

países e diversas culturas por

tempo Asiático e do Médio Orien-

meu ideal era um dia ser Embai-

exemplo:

te. E porque a Turquia tem um

xadora mas não fazia ideia de

Enquanto a Turquia é uma ponte

papel importante na Ásia e no

quando e onde seria. E ao ser

entre civilizações e continentes

Médio Oriente, será bom para a

nomeada para Portugal, não ti-

como Europa e Ásia, Portugal

Europa enquanto se torna num

nha ideia de quão afortunada era

será com o Brasil e África. Há

actor do mundo.

ao vir para este lindo e amigável

realmente muitas semelhanças

Para a Turquia é igualmente im-

país até ter chegado cá. E não

entre os nossos países, somos

portante e representa um objec-

digo isto como cliché, adopto a

aliados na OTAN, partilhamos

tivo estratégico, porque deseja-

expressão inglesa “the people

uma herança Mediterrânica co-

mos pertencer a todas as

Até 2012, foi a Directora

that make the place” porque não só o tempo é bom e a luz é especial como as pessoas são muito acolhedoras e simpáticas. Será certamente muito difícil encontrar pessoas tão agradáveis noutras partes do mundo. É verdade, são como uma nossa nova família e digo isto com toda a sinceridade. É realmente muita sorte para uma Embaixadora, ter sido colocada aqui. A minha missão é de promover o meu país e as boas relações entre os nossos países e quando encontro pessoas amigas e tão aderentes a este objectivo é realmente muito bom. A Senhora Embaixadora está aqui há mais de um ano, o que tem a dizer sobre a crise que tem assolado este país? Penso que esta crise e estes problemas irão eventualmente terminar. Na Turquia tivemos, em tempos, há uns dez anos, uma grave crise económica, mas com as reformas estruturais e algum

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 25


Ebru Barutçu Gokdenizler

instituições europeias, exacta-

Penso que também com mais

homens de negócios. Durante a

mente por sermos europeus.

turismo as coisas irão mudar. Se

visita de estado tivemos um fo-

Quando cheguei a Portugal, tive-

Mais empresários Turcos vierem

rum empresarial no qual o nosso

mos a visita do Ministro dos As-

e virem Portugal podem desejar

Presidente pediu aos empresá-

suntos Europeus, Egemen Bagis,

investir. Agora temos a Turkish

rios para se darem a conhecer

que foi recebido pelo Dr. Paulo

Airlines, com vôos diários da

uns aos outros e explorar as

Portas, que na altura era Minis-

Turquia para Portugal, mas en-

muitas oportunidades de investi-

tro dos Negócios Estrangeiros, e

quanto a Turquia facilita muito a

mento e comércio.

apreciámos o facto de Portugal

ida de Turistas portugueses pois,

O que gostaria de acrescentar?

apoiar a Turquia na UE.

desde Março de 2013, podem

E que conselhos daria aos es-

Em Dezembro de 2012, o Primei-

viajar apenas com o BI e tirar

tudantes de Relações interna-

ro Ministro Passos Coelho tam-

o visto electrónico (www.evisa.

cionais, futuros diplomatas?

bém visitou a Turquia, que há

gov.tr), é, pelo contrário, bas-

Aos jovens que escolhem a mi-

muito tempo não era visitada por

tante complicado visitar Portugal

nha profissão creio que diria que

um 1º Ministro português.

devido a procedimentos muito

a devem exercer com paixão. A

Durante a visita assinámos o “Do-

restrictos para emissão de vistos.

minha filosofia é que quando se

cumento de Estratégia Sobre o

deseja fazer alguma coisa bem,

Reforço das Relações Bilaterais

o que quer que seja, deve fazê-

Entre Portugal e a Turquia”, um documento que reflecte a vontade de fortalecer as relações entre os nossos países. A partir de agora, todos os anos, e pelo menos uma vez por ano, haverá a visita de um 1º Ministro Turco em Portugal e reciprocamente.

-la com o coração, e que esse

"

É MUITO IMPORTANTE PARA

AMBAS AS PARTES A TURQUIA SER INCLUÍDA NA UNIÃO EUROPEIA

"

Todos os anos os 1ºs Ministros irão visitar-se, acompanhados de vários Ministros e empresários

trabalho não será bem feito se não colocar nele todo o empenho e dedicação. É uma profissão difícil. Vista de fora não parece: Não deixem que as recepções, festas, drinks, etc… os iludam, não é nada assim. É uma profissão muito exigente que não nos deixa muito tempo para as nossas vidas pessoais. Sou também

pois desejamos promover cada

Portugal iniciou um novo progra-

um pouco artista como hobby, e

vez mais as relações económicas

ma, o Golden Visa, que sei ter

há um ano não consigo dedicar

e políticas entre os nossos paí-

gerado interesse na Turquia e em

um único dia aos meus hobbies

ses.

cidadãos Turcos, estando entre

artísticos.

No ano passado, assinámos 7

os primeiros 10 países para obter

Adoro a minha profissão, gos-

acordos , no campo político,

o Golden Visa. É mesmo muito

tei de ter trabalhado em Nova

militar e cultural, e um desses

importante facilitar o turismo; os

Iorque, no México, gostei de ter

acordos é o JETCO – Economic

lucros com o Turismo rendem à

estado a trabalhar no meu país

and Trade Comission que tem o

Turquia cerca de 25 mil milhões

11 anos antes de ser nomeada

objectivo de promover os inves-

de dólares.

para Portugal e apesar das evo-

timentos e o comércio entre os

Eu pessoalmente não conhecia

luções nas tecnologias de infor-

dois países.

Portugal, nunca cá tinha vindo,

mação, a idade da informação,

Como está a balança de paga-

e ao conhecê-lo fiquei encanta-

tudo assenta em pessoas: duas

mentos com Portugal?

da! Agora entendo porque tantos

pessoas. É do contacto entre

O nosso volüme de comércio bi-

Embaixadores escolhem ficar em

pessoas que nasce o contacto

lateral está acima de mil milhões

Portugal no fim das suas carrei-

entre países.

de Dólares Americanos. Temos

ras. Há certamente uma razão.

Aqueles que desejam ser di-

mais investimentos de Portugal

Os portugueses e os turcos têm

plomatas devem gostar do seu

na Turquia do que da Turquia em

de se conhecer melhor. Recente-

trabalho e exercê-lo com paixão,

Portugal. Actualmente estão cer-

mente o nosso Presidente esteve

fazendo sacrifícios pessoais. São

ca de 300 turcos aqui em Portu-

em Portugal em Maio com uma

24 horas de trabalho por dia.

gal, mas temos que mudar isso.

grande delegação de cerca de 60

26 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014

n

Fotos: Orlando Sousa


DIPLOMACIA NA 1ª PESSOA

Embaixadora de Israel, Tzipora Rimon O seu primeiro posto como Chefe de Missão foi o de Cônsul Geral em Chicago (1997-2001) e, em seguida, de Embaixadora no Brasil (2004-2008), tendo regressado depois ao seu país onde, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, assumiu a direcção das Instituições Multilaterais Europeias. Em Agosto de 2013 chega a Lisboa, iniciando funções como Embaixadora de Israel em Portugal.

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 27


Tzipora Rimon

Senhora Embaixadora, diga-nos

respeitado pelos seus conheci-

Em Israel existem mais imigrantes

como e porque é que abraçou a

mentos, pesquisas e descobertas

do que em 100 outros Estados do

vida diplomática. No seu país,

na área da medicina.

mundo. A fusão destas culturas,

existe algum curso específico

Exactamente. No entanto, hoje a

desde o Médio Oriente à Europa

para Diplomacia ou Relações

tecnologia de informação e start-ups

Central e de Leste, desde os Esta-

Internacionais?

está cada vez mais em foco, situan-

dos Unidos da América à América

Nasci em Israel, cumpri o serviço

do-se Israel nos lugares de topo,

do Sul, deram origem a uma cultura

militar e licenciei-me em Economia

no campo das novas empresas de

israelita típica, que faz com que

pela Universidade Hebraica de

alta tecnologia de software. Israel

o design, a música, a dança e os

Jerusalém, onde me especializei em

tem muitos contactos em diversos

espectáculos, sejam reflexo de uma

Comércio Internacional. Na altura,

países que têm grande interesse

mistura cultural super criativa.

em Israel não existia nenhum curso

nessas áreas, entre os quais Por-

Soube que, entre 1985 e 1987, a

especializado na área diplomática.

tugal, com quem temos ligações e

Senhora Embaixadora esteve a

Quando terminei os estudos nunca

cooperação.

prestar funções em Lisboa. O que

tinha pensado em diplomacia e, ao

A nível da balança comercial,

achou do Portugal de hoje?

tentar encontrar trabalho na área

qual é a posição de Israel e Por-

Foi com imensa alegria que vol-

económica, vi um anúncio para o

tugal?

tei, mas Portugal mudou, mudou

concurso de cadetes do Ministério

Têm aproximadamente o mesmo

mesmo bastante. Passaram-se

dos Negócios Estrangeiros, que

balanço, exportando Israel um

muitos anos até ao meu regresso

procurava também trabalhadores

pouco mais para Portugal. Mas o

e vejo muito mais modernidade.

na área de assuntos económicos

nosso desejo é alargar as relações

Portugal mudou no sentido positivo.

e comércio. Após várias etapas e

económicas e ampliar o intercâm-

Sinto claramente a possibilidade de

entrevistas, fui admitida no Ministé-

bio comercial entre os dois países.

melhorar, ampliar e reforçar laços

rio dos Negócios Estrangeiros, que

O potencial é enorme, e já manti-

nos planos económico, cultural e

mostrou um grande interesse em

vemos encontros com a AICEP –

político. Quero acompanhar a fundo

que eu trabalhasse nas relações

Agência Internacional de Comércio

o desenvolvimento da cultura por-

económicas entre Israel e vários

Externo, no sentido de encorajar

tuguesa, seja na pintura, na dança,

países da Europa, Estados Unidos

projectos nas áreas da medicina e

na música, na literatura ou até no

da América e Médio Oriente. Estávamos em finais dos anos 70, a União Europeia era mais pequena e tínhamos assinado em 1975 um acordo de comércio livre. Alguma vez Israel mostrou intenção de pertencer à União Euro-

desporto. Tive o prazer de assistir

"

já a alguns jogos de futebol entre

É MUITO

Portugal e Israel e entre Portugal e

IMPORTANTE PARA NÓS ALCANÇAR O

outros países. Nos Estados Unidos, em Chicago,

ACORDO DE PAZ COM OS PALESTINIANOS

"

peia? Não creio, até porque não estamos

onde fui Cônsul Geral, enfrentei um grande desafio em termos de trabalho, mas ao mesmo tempo tive a satisfação de conhecer melhor o povo

situados na Europa, mas assinámos

farmácia, alta tecnologia, software,

americano e a sua cultura. Também

esse acordo em 1975 e tivemos

tecnologias de informação, biotec-

gostei muito de trabalhar no Brasil,

sempre relações económicas e polí-

nologia, nanotecnologia, tratamento

como Embaixadora, onde tentei de-

ticas ao mais alto nível com a União

de águas e, inclusivamente, agricul-

senvolver uma acção intensiva junto

Europeia. Quando, em 2000, entrou

tura.

dos counterparts brasileiros para

em vigor um acordo mais amplo

Nos últimos anos, Israel também

ampliação de relações. Ainda no

entre Israel e a União Europeia, que

fez importantes progressos na área

Brasil, apreciei igualmente: a músi-

se estendeu para além do comércio

do Design. Temos relações econó-

ca brasileira, a comida, o artesanato

livre, Israel entrou no programa qua-

micas neste domínio com diversos

e... lá vem de novo, o futebol.

dro da UE, participando no entanto

países, entre os quais o Japão, os

Sente que Portugal vai vencer a

desde 1996 em programas de pes-

Estados Unidos e vários países eu-

crise?

quisa, de desenvolvimento industrial

ropeus. Consideramos que em Por-

Sou economista, mas não sou espe-

e muitas outras áreas.

tugal há grandes potencialidades de

cialista para avaliar de quanto tempo

Israel sempre foi um país muito

cooperação também nesta área.

Portugal precisa para vencer

28 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


a crise, mas já se podem presen-

universais.

outros lugares que recomendo

ciar indicadores positivos.

Como está o turismo entre Portu-

visitar.

No entanto, será oportuno dizer

gal e Israel?

Gostaria muito que me falasse do

que Israel atravessou um período

Cresceu muito o interesse dos

conflito israelo-palestiniano.

económico complicado nos anos 80

turistas israelitas por Portugal e

É fundamental para nós alcançar

e tivemos uma taxa de inflacção das

houve um grande impulso nos

um acordo de paz com os palesti-

mais elevadas em todo o mundo.

últimos anos, principalmente a partir

nianos, tal como temos vindo a ten-

Com as reformas que implementá-

de 2012. Os israelitas gostam das

tar desde 1993. Já demos passos

mos e a austeridade que impusé-

cidades portuguesas, da gastrono-

importantes nesse sentido, e fize-

mos, o país reformou-se com muita

mia e das praias. Nos últimos anos

mos alguns avanços, mas o pro-

rapidez, renovando totalmente a

já existem voos directos no verão,

cesso é muito difícil, arrastando-se

sua economia. Estamos a colher

entre os meses de Maio e Outubro,

há demasiado tempo sem que uma

os frutos dessas reformas desde

Tel Aviv – Lisboa e Lisboa – Tel

solução seja encontrada. Ambas as

os anos 90 até hoje. Muitos lugares

Aviv. Visitar Israel é uma experiên-

partes se devem esforçar cada vez

do mundo passam por crises. É um

cia única, em especial Jerusalém

mais para alcançar a paz. O final

processo mundial que tem um forte

e todos os seus lugares sagrados.

do conflito é tanto do interesse dos

impacto sobre várias economias.

Gostaria de mencionar que este

israelitas como dos palestinianos.

Falando do Governo de Israel. É

ano, em Maio, está programada

Senhora Embaixadora, deseja

um estado laico?

a visita do Papa Francisco à Ter-

acrescentar mais alguma coisa?

Coexistem no país judeus, cristãos,

ra Santa. Israel é palco de uma

Sim. Gostaria de encorajar os por-

muçulmanos e outras minorias.

mistura das histórias de todas as

tugueses, incluindo os mais jovens,

Cada uma pode praticar a sua

religiões. Tel Aviv também é hoje

a visitar Israel e a conhecer o país e

religião em plena liberdade e todos

uma cidade moderna e mediterrâni-

as reais possibilidades de coopera-

usufruem dos mesmos direitos civis.

ca, que vale a pena visitar. Galileia,

ção que existem nas mais diversas

Praticamos os valores democráticos

Neguev, Masada e Eilat são ainda

áreas.

n

Fotos: Maria Inês

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 29


ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Andres Rundu, Embaixador da Estónia

In a world with a fast growth

people’s access to electricity. But

in energy consumption, how

let’s be accurate, this does not

do you see the importance of

concern only developing countries.

international diplomatic relations

Even in developed countries there

Energy supply continuity, energy

are people who have difficulties

security and energy policy have

paying for energy consumption.

an important role in the national

I believe that through effective

agenda of countries. Adequate

international cooperation which

energy availability is one of the

would help shift the energy flows,

pillars of our economy. Besides

many of these issues could be

industry and transport, energy

resolved.

supply continuity is important

If we look at the trends that

and vital from the perspective of

reflect the future energy needs of

every individual. It is a subject that

our planet, we get the following

actually concerns every citizen

division. According to forecasts,

very closely. Even the term energy

energy consumption of European

poverty has started to circulate

countries and North America in

within the UN, which assesses

the year 2035 will be comparable

30 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


to current levels. A huge

it be useful if, for instance, solar

increase is anticipated in the

energy produced in Portugal

growing Asian markets. It is

would reach Northern Europe in

estimated that China’s energy

the winter and wind energy in the

demand will increase by 60% by

summer! Estonia is also developing

the year 2035 and India’s by up to

wind parks – in 2012 wind turbines

100% compared to their current

covered 5.5% of our electricity

demand. These developments

consumption. However, consumers

affect energy trade in the whole

would certainly like a larger range

world. Speaking of the EU, the

of options, competition, and

union is both currently and will be

concomitant lower prices.

in the future in need of energy,

It is very important for Estonia

and will have to import 90% of

to develop cooperation between

its oil and 70% of its gas from

the Nordic-Baltic region, build

outside the union. I think these

new connections and get rid of

figures show how great is the

its “energy island” status. In 2009

need for international diplomacy,

eight countries bordering the

cooperation and exchange of

Baltic Sea signed a memorandum

global information in the field of

of cooperation “Baltic Energy

energy policy. Two years ago

Markets Interconnection Plan”

the EU launched a debate about

under which we develop electricity

the external dimension of energy

and gas connections between

policy. Lithuania, the current EU

neighboring countries. Estonia

Presiding Country has made this

is making efforts to grant new

one of its priorities. My homeland

suppliers access to its gas market

Estonia fully supports the

so as not to be dependent on a

principles of the Presiding Country

single source. We are currently

of strengthening the energy

involved in the projects of the

foreign policy of the EU, especially

regional gas infrastructure

considering the fact that the EU

package agreed in the BEMIP.

is still not sufficiently using its

One of the most important

facilities as a major importer. The

projects is the Baltic regional LNG

role of energy policy has to be

(Liquefied Natural Gas) terminal

increased in the EU foreign policy.

which could be used to supply the

It is in the interest of all Member

three Baltic States and Finland

States that we work on the better

with liquefied gas. Estonia is a

coordination of energy issues

candidate country for the terminal

inside the EU. The goal is for the

location, since we meet all the

EU to reach good agreements on

agreed requirements and our ports

energy issues, and to speak with

are easily accessible. The final

one voice when discussing energy

decision regarding the location of

issues with third countries.

the terminal will be made by the

But let’s not forget the homework

European Commission. Portugal

that the EU has to do in addition to

has long-term experience in

its international activity. We need

managing LNG terminals and LNG

more energy links between the

suppliers and manufacturers. LNG

EU Member States, allowing the

is a good example of how sea

establishment of the EU internal

routes provide new transportation

energy market. Connections need

options and help change energy

to be added especially on the

policy into a global issue between

north-south direction. Wouldn´t

different continents.

"

LET’S NOT FORGET THE HOMEWORK

THAT THE EU HAS TO DO IN ADDITION TO ITS INTERNATIONAL ACTIVITY. WE NEED MORE ENERGY LINKS BETWEEN THE EU MEMBER STATES, ALLOWING THE ESTABLISHMENT OF THE EU INTERNAL ENERGY MARKET.

"

n

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 31


ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Benito Andion, Embaixador do México

Num mundo de crescente consu-

coordenada a longo prazo, com a

mo de energias, como vê a ques-

finalidade de prevenir um deterioro

tão das relações internacionais?

galopante do nosso ecossistema, e

A tendência do consumo de ener-

inclusivamente, a extinção da nossa

gias a nível global, é em efeito,

espécie.

crescente. Porém, as implicações

Por sorte, graças ao movimento

que este patrão tem para o nosso

internacional que procura reduzir

planeta são cada vez mais óbvias

as emissões de gases de efeito

e em consequência, quantificáveis.

invernadouro e aumentar o uso de

Daí a importância de chegar a um

energias renováveis (ER), têm-se

consenso internacional para encon-

implementado uma gama significa-

trar um ponto de equilíbrio que per-

tiva de políticas públicas e convé-

mita salvaguardar o meio ambiente

nios. Em 2012, pelo menos 127

em que vivemos.

países implementaram algum tipo

As alterações climáticas são uma

de política pública neste sentido.

realidade que afeta o mundo in-

Por outra parte, derivado da redu-

teiro, pelo que se torna imperativo

ção dos custos de produção resul-

encontrar uma resposta global e

tante do progresso tecnológico e

32 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


Também se impulsiona com maior

Dinamarca, França, Rússia e Israel,

equipamento verde, espera-se que

força a energia solar. O México for-

e concentrou-se nos estados de Oa-

o sector de ER continue a crescer

ma parte da “faixa solar” com uma

xaca e Baja California.

nos próximos anos, particularmen-

radiação maior a 5KWH/M2 por dia.

Cabe destacar que a presença de

te no que se refere à indústria de

Está posicionado entre os princi-

empresas portuguesas no México

do crescimento da manufatura de

equipamento solar e eólico. Estima-

pais cinco países mais atrativos do

neste campo é cada vez mais reco-

-se que em 2050, a percentagem de

mundo para investir em projetos de

nhecida. Basta mencionar a cons-

geração de eletricidade com fontes

energia solar fotovoltaica, estando

trução de um parque fotovoltaico

renováveis alcançará 57% a nível

somente atrás da China e de Singa-

em la Paz, Baja California, o maior

global.

pura.

na América Latina, por parte da

No caso do México, é prioritário for-

Contamos igualmente, com um po-

firma lusa Martifer Solar, como um

talecer a nossa agenda verde para

tencial geotérmico de 40.000 MW.

exemplo do potencial de intercâm-

enfrentar os desafios das alterações

Em termos de produção desta últi-

bios entre ambos países no desen-

climáticas e do desenvolvimento

ma, o México situa-se nos primeiros

volvimento partilhado de energias

sustentável. Neste sentido, o Presi-

cinco lugares do mundo.

sustentáveis. Recentemente, os primeiros man-

dente Enrique Peña Nieto, pôs em marcha a Estratégia Nacional de Alterações Climáticas, articulada em 8 eixos de ação, que prevê medidas de adaptação e de mitigação dos efeitos deste fenómeno. Do mesmo modo, contamos com uma nova Lei Geral de Alterações Climáticas, considerada uma legislação de vanguarda; este ano instalou-se a Comissão Interminis-

"

datários do México e Portugal

O MERCADO MEXICANO É AMPLO E

concordaram em impulsionar a cooperação nos sectores público

ATRATIVO. POSSUI

e privado a favor de um desenvol-

UM EXTENSO POTENCIAL EM RECURSOS DO VENTO, SOL, GEOTERMIA, HÍDRICOS E BIOMASSA.

vimento sustentável. A subscrição

terial para fazer frente às Alterações Climáticas; e criou-se o Sistema

"

de um Memorando de Entendimento sobre Cooperação na área de Eficiência Energética, Mobilidade Elétrica Energias Renováveis assinado em outubro deste ano no âmbito da visita oficial ao México do Primeiro-ministro Pedro Passos

Nacional de Alterações Climáticas,

O mercado mexicano é amplo

onde se destaca um Conselho

e atrativo. Possui um extenso

constituído por peritos, presidido

potencial em recursos do vento,

pelo nosso Prémio Nobel, o Doutor

sol, geotermia, hídricos e biomas-

no nosso país tanto com projetos de

Mario Molina.

sa. Existem igualmente grandes

investimento como de cooperação.

Cabe sublinhar que com a ade-

oportunidades de negócios no

Deve ser enfatizado, que uma das

quação do quadro regulamentar,

campo da manufatura de equipa-

cinco grandes metas nacionais é

juntamente com o apoio outorgado

mento para o sector, aproveitando a

fazer do México um ator com res-

à investigação e ao desenvolvi-

experiência do país na indústria de

ponsabilidade global. E é precisa-

mento de novas tecnologias do

equipamento e geração e distribui-

mente neste âmbito, que a amplia-

sector, pretendemos promover o

ção de eletricidade.

ção da cooperação internacional

investimento em energias limpas,

O registo em 2012 da capacidade

constitui um dos quatro pilares da

que favoreça o seu uso e em conse-

instalada de ER no México para

Política Exterior do Governo que

quência, prevenir a dependência

gerar de eletricidade foi de 14.501

represento.

energética relacionada com os

MW. Estima-se que esta duplicará

Em suma, ante uma problemática

combustíveis fósseis.

em 2026.

global como o são as alterações cli-

O sector de ER, se bem é uma in-

Em matéria de investimento es-

máticas, é imperativa uma interação

dústria recente no México, tem cres-

trangeiro direto (IED), no período

estreita e ordenada entre as nações

cido nos últimos anos de maneira

de 2003 a 2012 o México recebeu

para que juntos enfrentemos os

favorável, principalmente no que se

aproximadamente 7.343 milhões

efeitos nocivos ocasionados pelo

refere à energia eólica. Contamos

de dólares americanos na indústria

alto consumo de energia e encon-

com um potencial eólico de 40.000

de ER, procedentes principalmen-

tremos uma solução viável e benéfi-

MW.

te de Espanha, Estados Unidos,

ca para a humanidade.

Coelho, constitui um detonador para ampliar e/ou consolidar a presença de reconhecidos corporativos lusos

n

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 33


ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Jaime Duran, Embaixador da República Dominicana Re-pensar as relações ibero-americanas

A Península Ibérica está situada

Reino de Espanha.

no sudoeste da Europa. É

A conquista de Ceuta por

formada por quatro países,

Portugal, em 1415, marca o início

Portugal e Espanha, que ocupam

da Era dos descobrimentos que

quase a totalidade do território,

durou até ao século XVII. Nos

França e Andorra que ocupam

primeiros anos de 1500, Portugal

menos do 2%, e Gibraltar,

criou na América a sua maior

apenas 7 quilómetros quadrados,

e mais importante colónia, o

sob domínio da Grã-Bretanha.

Brasil, hoje um imenso país com

Ibéria é o nome pelo qual os

quase 9 milhões de quilómetros

Gregos conheciam a região.

quadrados e mais de duzentos

Hispânia é o nome pelo qual a

milhões de habitantes, que falam

conheciam os Romanos.

português, a sua língua oficial.

O Reino de Portugal foi

Em 1492, Espanha fundou a sua

estabelecido em 1139. É o

primeira colónia na América na

mais antigo Estado-Nação da

Ilha de Espanhola, Quisqueya

Europa. Em 1492 a conquista

ou Haiti para os nativos, dando

de Granada, levou à criação do

início à colonização de quase

34 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


todo o continente.

origem a uma nova organização

A independência das colónias

Ibero-Americana, a Secretaria

produziu-se três séculos

de Cooperação Ibero-Americana

depois, fundamentalmente entre

(SECIB). Desde 1991 até 2013

1810 e 1826, dando origem à

realizaram-se 23 conferências,

comunidade ou região cultural,

uma por ano. As últimas

Hispanoamérica, formada por 20

duas foram as de Espanha e

países com uma povoação total

Panamá – Cádiz e Cidade de

de 375 milhões de habitantes,

Panamá – em 2012 e 2013

que falam espanhol.

respectivamente.

Iberoamérica é Hispanoamérica

Em 2003 foi criada a Secretaria

mais Brasil; mais Haiti, que

Geral Ibero-Americana (SEGIB)

fala francês, é Latinoamérica.

uma organização internacional

O termo Ibero-América, com

de carácter permanente para

hífen, designa colectivamente

apoiar administrativamente a

a Iberoamérica mais Espanha

Conferência Iberoamericana,

e Portugal. As línguas

em substituição da SECIB. Há

iberoamericanas são espanhol e

Estados participantes: 19 países

português.

latinoamericanos mais Espanha,

Em 1949, mais de um século

Portugal e Andorra. A Sede

depois das independências

encontra-se em Madrid, Espanha.

iberoamericanas, foi fundada

Enrique V. Iglesias é o actual

a Organização dos Estados

Secretário Geral.

Iberoamericanos (OEI), então

As relações Ibero-Americanas

uma agência internacional,

foram estabelecidas, em 1949,

como consequência do Primeiro

há 64 anos. Os seus objectivos

Congresso Latinoamericano de

sempre foram limitados, e

Educação, celebrado em Madrid.

os seus sucessos não foram

No 2º Congresso realizado

maiores, parece que as

em Quito, Equador, em

expectativas se têm reduzido,

1954, decidiu-se transformar

segundo se depreende das

a OEI numa organização

últimas Conferências.

intergovernamental, integrada por

Durante os anos desta relação,

Estados soberanos, constituída

têm tido lugar eventos de

em 1957 durante o 3º Congresso,

grande importância para Ibero-

celebrado em Santo Domingo,

América: A conformação da UE,

República Dominicana.

da qual são membros Espanha

No ano de 1979 celebrou-se em

e Portugal. A crise mundial do

Madrid o 4º Congresso; em 1983

petróleo na década dos 70.

o 5º, em Lima, Perú; em 1985,

Em Latinoamérica a grande

uma Reunião Extraordinária

crise financeira que determinou

do Congresso, em Bogotá,

chamar aos anos 80 ‘a década

Colômbia, que mudou o nome

perdida’, e a crise financeira e

anterior pelo actual, Organização

económica da União Europeia,

dos Estados Ibero-Americanos

afectando severamente Espanha

para Educação, Ciência e

e Portugal.

Cultura.

A ameaça permanente de crise

Em 1991 realizou-se em

deveria conduzir a ampliar as

Guadalajara a 1ª Conferência

relações Iberoamericanas sobre

Ibero-Americana de Governos

novas e mais equilibradas bases

e Chefes de Estado, dando

e não a diminuí-las.

"

A AMEAÇA PERMANENTE DE

CRISE DEVERIA CONDUZIR A AMPLIAR AS RELAÇÕES IBEROAMERICANAS SOBRE NOVAS E MAIS EQUILIBRADAS BASES E NÃO A DIMINUÍ-LAS.

"

n

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 35


ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Edmond Trako, Embaixador da Albânia The only one natural state of albania is europe Albania´s optimistic road towards integration in the European Union

Time ago, maybe at the beginning

that it seemed a tectonic rift had

of the existence of the new Albanian

taken place. In fact, the Balkans

state (after the independence day

Peninsula did not move anywhere;

in 1912) or even sometime later,

so much less Europe.

when an Albanian had to travel

However, the internal mental and

abroad or taking for example, a boat

spiritual distance was such that led

towards the West, he used to say “I

to the creation of the paradox we

am going to Europe”, like if Albania

just mentioned about that Albanian

was not in Europe. This expression

traveler. As if the old distance was

was also used in Greece time

not enough, communism created

ago. The formation of an Albanian

a new removal for Albania in the

national consciousness dates to

20th century. Europe became

the later 19th century and is part of

“imperialistic”, a prohibited land, twice

the larger phenomenon of the rise

distant, multiply hostile. We now use

of nationalism under the Ottoman

most naturally the expression return

Empire. Historically speaking, for

to Europe, as if talking of a reverse

many centuries, Europe became so

journey toward the continent we left

stranger to the Balkans Peninsula,

behind and that is waiting for us.

36 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


Albania belongs to Europe, not only

of Europe, World Trade Organization,

geographically, but as a living entity

and is one of the founding members

on many aspects.

of the Union for the Mediterranean.

Therefore when talking about

After Prime Minister Edi Rama took

integration and return to Europe,

office, the new coalition government

there is no doubt that this reversed

(Socialist Party & Socialist Movement

process shall take place exactly

for Integration) is on the way forward

where the evil happened. In other

with the aim to accelerate the

words, right where we were and still

accession process of Albania and the

are. In this aspect, Europe represent

necessary reforms. In this context,

for Albania, the only natural state. On

the Albanian Parliament, headed

the other hand, in this context, a key

by Mr. Ilir Meta (ex-Prime Minister

question is raised: how far away is

and ex-Minister of Foreign Affairs)

Albania from the European Family,

voted by consensus on a “package

from the European Union member

of integration,” a month ahead of

states?

the election. The EU emphasized

The European Union (EU) plays a

that a positive assessment of the

major role in promoting economic

election was critical for progress on

development and stability for the

Albania’s EU accession path. Last

member states and it is the final goal

week, a report on the election by the

for the other developing non-member

Office for Security and Co-operation

states, like Albania. However, the

in Europe’s Office for Democratic

journey to reach the destination is

Institutions and Human Rights also

in the EU is so much desired by the

not quite simple.

noted the positive electoral progress

entire Albanian society. But, what

Albania’s integration into the EU

in Albania.

can be done to accomplish this

has to be understood as a process,

In a joint statement, EU

dream?

evolving step-by-step. Each step

commissioners Catherine Ashton

First, it is significantly important

has to be implemented properly.

and Stefan Fule said, “the

to insure the independence,

Progress achieved on the first step

electoral process was fair and the

transparency and efficiency of judicial

will enable the country to better

new government should begin to

institutions.

perform in fulfilling the requirements

work on Albania’s EU integration.

Second, considerable efforts are

of the second step and so on. In

The Albanian government has

needed to establish an independent,

the course of the process, Albania

fulfilled the obligations and the

effective, impartial and merit-based

will have to implement fundamental

European Commission has

civil service.

and far-reaching reforms. This

appreciated the technical criteria.

Third, clarifying the legal framework

would enable the country to fully

We are optimistic that Albania has

on minority protection is another

participate in European integration,

met all obligations to obtain EU

important task that must be satisfied.

including rights and obligations.

candidate status”.

Finally, strengthening regional

Such reforms are not only required

That’s why, the European

collaboration in combating organized

by the European Union, but urgently

Commission in its last report

crime and drug trafficking, and

needed for Albania as well. Reforms

(October 2013) recognizes Albania’s

deepening economic cooperation

will enhance trust in the Albanian

progress in its efforts to meet the

with neighbors will be another real

economy and the political system.

European integration reforms and

route to national, as well as regional

Albania has been a potential

suggested granting official EU

stability and growth.

candidate for accession to the

candidate status to Albania.

Now the question is on how can

European Union since January

However, Albania needs to take to

these goals be accomplished?

2003 and it formally applied for

move further on its path towards EU

The key to success is building the

EU membership on 28 April 2009.

integration, by reaching out to all the

political will to support institutional

Albania is a member of the UN,

stakeholders – inside the country, in

development and to protect the

NATO, the Organization for Security

the region and also to the member

public’s interest instead of the

and Co-operation in Europe, Council

States. The Albanian membership

interest of the politicians.

"

ALBANIA IS A MEMBER OF THE UN, NATO, THE ORGANIZATION FOR SECURITY AND CO-OPERATION IN EUROPE, COUNCIL OF EUROPE, WORLD

TRADE ORGANIZATION, AND IS ONE OF THE FOUNDING MEMBERS OF THE UNION FOR THE MEDITERRANEAN.

"

n

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 37


VIAGENS DE ESTADO

O Presidente da República na XXIII Cimeira Ibero-Americana no Panamá

O presidente da República Portuguesa

abertura da Cimeira Ibero-Americana e,

foi um dos chefes de Estados que par-

apos uma visita ao Centro de Visitantes

ticiparam na XXIII Cimeira Ibero-Ameri-

do Canal do Panamá para tomar conhe-

cana. Realizada na cidade do Panamá,

cimento sobre a actividade da Eclusa de

entre os dias 18 e 19 de Outubro de

Miraflores por onde passam navios que

2013, centrou-se no “papel do desen-

fazem a travessia entre o Atlântico e o

volvimento político, económico, social e

Pacífico, fez uma intervenção sobre a

cultural da Comunidade da América La-

importância da conclusão das obras de

tina no novo contexto global”. A abertura

alargamento do Canal para as relações

da Cimeira foi marcada pela apresen-

económicas mundiais, e especialmente

tação de um programa cultural e pelas

para as relações empresariais entre

intervenções do Presidente do Panamá,

Portugal e Panamá. «Não posso deixar

Ricardo Martinelli, do Presidente do

de destacar a importância estratégica

Governo espanhol, Mariano Rajoy, e do

que a conclusão das obras de alarga-

Secretário-Geral Ibero-Americano, En-

mento do Canal do Panamá assume

rique Iglesias. Cavaco Silva esteve pre-

também para a Europa e, em particular,

sente nas cerimónias que assinalaram a

para Portugal. O Panamá,

38 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


mas também a América Latina, ao

11 por cento do produto mundial,» pelo

reforçar a sua centralidade nas rotas do

que «um relacionamento mais forte

comércio internacional, potenciará a sua

entre os países da Comunidade Ibero-

posição face à Europa e ao Mundo. Por-

-Americana deve constituir uma priorida-

tugal, e em particular o excelente porto

de, com vista a tirar o melhor partido do

de águas profundas de Sines, reforçará

potencial que, ao nível do comércio e do

a sua posição de plataforma logística

investimento, está ainda desaproveita-

de aceso aos mercados europeus,»

do,» adiantou. O Presidente português

afirmou na sua intervenção por ocasião

marcou ainda presença no almoço de

da Cimeira. Recorde-se que o porto de

encerramento do Encontro de Empre-

Sines geograficamente é o mais pró-

sários Ibero-Americanos e portugueses,

ximo do canal. Cavaco abordou ainda

no âmbito da XVIII Cimeira de Chefes

o papel económico da comunidade no

de Estado e de Governo da Comunida-

mundo e a utilidade do desenvolvimento

de constituída pelos países da América

dos acordos comerciais. «Juntos, os

Latina, Portugal, Espanha e Andorra,

países que compõem a comunidade

a convite do seu homólogo, Ricardo

ibero-americana representam cerca de

Martinelli.

n

Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 39


VIAGENS DE ESTADO

Presidente da República Portuguesa destaca o potencial da cooperação económica e tecnológica luso-sueca em visita de Estado à Suécia O Presidente Português realizou uma Visita de Estado de três dias à Suécia, a convite da Sua Majestade o Rei Carlos XVI Gustavo. Realizada em Outubro de 2013, a visita, centrou-se na cooperação mútua em vários sectores da economia e da área empresarial. «O intenso programa desta Visita na esfera económica e empresarial é bem demonstrativo do nosso potencial de cooperação. É o caso, em particular, das áreas da inovação e da investigação científica e tecnológica, das energias renováveis e das indústrias de alta tecnologia. Mas também de sectores mais tradicionais, como os têxteis e o calçado», afirmou Aníbal Cavaco Silva, numa intervenção durante a recepção, organizada em sua honra, pelos reis da Suécia no Palácio Real de Estocolmo. Já no Seminário Económico Suécia-Portugal, incentivou as empresas suecas a desenvolverem parcerias com os «seus homólogos portugueses na identificação e na montagem de projectos partilhados,» referindo-se a Portugal como um país que oferece vantagens “competitivas” e “únicas” e que o tornam numa «Localização Prioritária em muitos empreendimentos para o mercado europeu.» «Portugal detém uma presença comercial importante nos países de língua portuguesa situados em África e na América Latina, com profundas raízes nas nossas ligações históricas e culturais de longa data. Tal permite-nos ser uma plataforma privilegiada de contacto com estes países, uma plataforma com uma rede já estabelecida

40 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


e 'know-how' operacional,

aberta a empresas suecas interessadas em trabalhar com esses mercados,» disse ainda. Na sua estadia na Suécia, o Presidente português, visitou várias empresas tecnológicas locais. Em Kista visitou a Ericsson, enquanto em Lund tomou contacto com projectos como o Laboratório MAX IV e a Fonte de Fragmentação Europeia (European Spallation Source - ESS), apresentados no Edifício Verde - Ideon Gateway, no Parque de Ciência Ideon; e em Malmö conheceu o edifício “Turning Torso.”

n

Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 41


EXÉQUIAS

O último grande libertador do século XX, fundador da nação democrática da África do Sul, Nelson Mandela por Roman Buzut

Em última homenagem a Nelson Mandela no Estádio FNB, mais conhecido como Soccer City

Nelson Mandela deixou-nos aos 95 anos de idade. A partida deste libertador do povo Sul-Africano reuniu em Joanesburgo, dezenas de Líderes de Organizações Internacionais, Chefes de Estado e de Governo, entre os quais o Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva que lhe prestaram homenagem. Palavras de louvor de um último Adeus ao Último grande libertador do século XX ficam nas páginas da história! O actual Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, refere-se a Mandela como o «presidente fundador da nossa nação democrática» que «perdeu o seu maior filho. Os nossos cidadãos perderam um pai,» disse. O sonho de Mandela de pôr fim à segregação racial de seu país, recebeu o apoio de muitas personalidades e organismos da comunidade internacional. Ideais estes, que antes de se tornarem realidade, entre 1964 e 1990, valeram-lhe anos na prisão. A este propósito é de citar as palavras de Cavaco Silva «Em 1987, eu tinha escrito uma carta ao Presidente da República da África do Sul, o Senhor Pieter Botha, pedindo a libertação

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de Nelson Mandela (...). O Presidente da República da África do Sul

reagiu muito mal a essa minha carta. Houve uma certa tensão entre os dois governos. Não foi nada simpático na sua resposta. Depois, em 1988, Pieter Botha veio a Lisboa, para uma reunião comigo (…). Foi uma reunião de uma grande tensão, precisamente porque Portugal insistia muito sobre a libertação de Nelson Mandela e de outros presos políticos. Mas o homem que faz a viragem que permite a libertação de Mandela e o fim do apartheid foi Frederik De Klerk. Eu penso que fui o primeiro líder europeu que recebeu De Klerk depois de ele anunciar a sua candidatura a Presidente do Partido Nacionalista e a Presidente da República da África do Sul. Em 1989, veio a Lisboa falar comigo. Não era ainda Presidente da República, era apenas Ministro da Educação. E, aí, disse-me: Se eu for eleito, eu libertarei Nelson Mandela. E cumpriu.» Mandela é libertado da prisão a 11 de Fevereiro de 1990, na altura da presidência de Frederik De Klerk. No dia 27 de Abril de 1994 é eleito primeiro Presidente negro da África do Sul, tomando a posse do cargo a 10 de Maio, do mesmo ano, e ocupando-o até 1999. «Lutei contra a dominação branca, e lutei contra a dominação negra. Eu defendi o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal para o qual espero viver e conseguir realizar. Mas, se preciso for, é um ideal para o qual estou disposto a morrer,» afirmou Nelson Mandela num discurso em sua defesa na altura do julgamento de Rivonia. E assim foi! A forma como agiu enquanto “Líder rebelde” e como governou o país enquanto Presidente da República trouxe-lhe vários reconhecimentos a nível internacional, entre os quais o Prémio Nobel da Paz 1993 que dividiu com Frederik Willem de Klerk e que lhes foi atribuído pelos seus esforços para o fim do apartheid, e por terem estabelecido as bases para uma “nova e democrática África do Sul”.

n

Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.

Mari Alkatiri, Cavaco Silva e Xanana Gusmão

Cavaco Silva e Bill Clinton

´ Africa +

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 43


GRANDE ENTREVISTA

António de Almeida Santos,

por Maria de Bragança, fotos Maria Inês

Um homem de esquerda às direitas Primeiro queria dizer-lhe que

Eu nunca cultivei muito a idolatria.

zes… Ele casou com a ex-esposa

tenho muita honra em estar aqui a

Normalmente os ídolos são de

do Presidente Machel, de quem fui

conversar com um Homem com os

origem religiosa e eu deixei de ser

advogado e grande amigo. E, numa

conhecimentos, a importância e a

religioso aos 18 anos. Mas se tenho

das muitas cerimónias oficiais em

enorme experiência do Dr. Almei-

ídolos, o meu principal ídolo é, neste

que estive, em Moçambique, ela

da Santos. E contando com a sua

momento, Nelson Mandela. Tenho

apresentou-me o Mandela e, na

longa estadia em Moçambique,

outros: o Gandhi, por exemplo, e

primeira vez que estive a falar com

gostava muito de que, no início

mesmo em Portugal há figuras que

ele tive a impressão de que estava

da nossa conversa, me falasse de

sinceramente venero. Mas devo

a falar com um santo. Aquilo que

Nelson Mandela, figura que o mun-

dizer-lhe que o Mandela me tocou

nós consideramos a figura de um

do não deverá nunca esquecer.

bastante. Estive com ele três ve-

santo. Sereno, sorridente, um falar ➤

44 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


➤ sereno

e doce. Estive a falar com

O 1.º líder que recebeu Mandela foi

Como foi relativamente fácil aos

ele bastante tempo.

um dos mais desumanos de todos:

brancos tomarem essas atitudes,

Por outro lado eu conheci bem

Pieter Botha, que eu conheci na

admitindo que começaram por

a África do Sul e acompanhei a

cerimónia da assinatura do Acordo

ser poucos?

sua luta e a sua prisão. Durante

de Incomati, que eu ajudei a tornar

Quando vieram, a África do Sul

27 anos esteve preso e foi preso

possível, e que selou a paz entre

estava quase deserta. Além disso,

quando estava a liderar o terrorismo

a África do Sul do “apartheid” e

os pretos não tinham armas e os

do seu partido (o ANC). Procurava

Moçambique, numa altura em que

brancos chegavam armados.

não matar e não ferir pessoas mas

já tinham começado aflorações de

Houve lutas entre ingleses e boers,

destruía edifícios militares, etc. A

hostilidades bélicas.

e entre brancos e pretos na chama-

serenidade, a suavidade, o sorri-

Machel, inteligente, compreendeu a

da guerra “anglo-boer”. Os ingleses

so, a voz, a bondade, foi o que me

recíproca necessidade desse acor-

tentando humanizar o tratamen-

mais me impressionou. Isso e a sua

do, e ele foi negociado e assinado.

to dos pretos, os boers reagindo

capacidade para compreender os

Os dois países continuaram hostis,

porque queriam trabalho de graça,

outros.

mas em paz.

trabalho escravo!

Preso durante 27 anos! 27 anos em

Esse acordo funcionou sempre

Mas há mais. Os boers proibiram

que as suas esperanças começa-

bem, mesmo durante o “apartheid”,

as relações sexuais entre brancos

ram por ruir! O apartheid tornava-se

e depois dele, até hoje, nunca mais

e pretos. Uma das atracções de

cada vez mais violento e desumano.

houve qualquer conflito militar entre

Moçambique, em especial de Lou-

Nos primeiros 12 anos, punido com

a África do Sul e Moçambique. O

renço Marques, nessa época, para

trabalhos forçados de uma violência

“apartheid” foi a nódoa civilizacional

os turistas sul-africanos, era o facto

sádica que suportou sem um quei-

mais repugnante da era moderna.

de as relações sexuais entre raças

xume. Acabaria por se tornar líder

Tudo separado. A única coisa que

serem completamente livres. Havia

dos prisioneiros que reconheciam

não era separada, eram as lojas

ser respeitado até pelos seus inimigos. Os próprios carcereiros acabaram, não raro, por reconhecer nele um ser de excepção. Formado em direito chegou a ser advogado de numerosos africanos, aos quais, por regra, não cobrava honorários. Bom orador, tinha sempre resposta

três coisas que em particular os seduziam: os casinos (na África do Sul

nele um chefe natural. Começou a

"

não havia casinos), livres relações

A PRIMEIRA VEZ QUE ESTIVE A FALAR COM O MANDELA TIVE A IMPRESSÃO DE QUE ESTAVA A FALAR COM UM SANTO

pronta e justa para tudo. Perto do fim da pena começou a escrever um

"

sexuais e livre aquisição de bebidas. Na África do Sul o comércio de bebidas era condicionado pela Lei Seca. Acabei por ter uma relação com a África do Sul um pouco estranha. O magnata Sir Oppenheimer, que dominava o comércio de pedras preciosas, às tantas leu um contrato

livro sobre a história da sua vida,

comerciais, porque os brancos que-

que eu tinha redigido, e perguntou:

que mais tarde completou e publi-

riam que os pretos gastassem lá o

– quem é que fez este contrato? Ao

cou, e no qual eu me baseei para

seu dinheirinho. Fora disso era tudo

responderem-lhe que tinha sido eu,

escrever as 100 páginas com que

separado: escolas separadas, hos-

determinou: – a partir de agora esse

o homenageei no meu livro “Nova

pitais separados, bairros habitacio-

rapaz é que vai fazer os nossos

Galeria de Quase Retratos”. En-

nais separados, hotéis, autocarros,

contratos. Existia uma razão: os ad-

tretanto, o ANC continuava a lutar,

bancos de jardim, tudo separado!

vogados sul-africanos, diversamente

cada vez com mais violência, pelos

De tal maneira que a primeira vez

dos moçambicanos, faziam contra-

seus próprios direitos, e a popula-

que visitei a África do Sul, integrado

tos demasiado prolixos porque eram

ção branca, também cada vez mais

no Orfeão Académico de Coimbra,

pagos pelo número de páginas.

apreensiva com aquela luta de bran-

ainda estudante de Direito, uma das

A partir desse momento, passei a

cos contra pretos e pretos contra

coisas que mais me chocaram foi ver

redigir, não todos, mas numerosos

brancos, à qual não se vislumbrava

os bancos de jardim com uma placa

contratos para a Anglo-American do

um futuro não violento. Por fim,

que dizia “Europeans only”. Os pre-

Sr. Oppenheimer.

Mandela começou a ser respeitado

tos tinham de se sentar no chão! Vim

Talvez não saiba que o meu bisa-

pelos líderes dos próprios brancos.

de lá indignado e chocadíssimo!

vô foi Director Financeiro do

´ Africa +

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 45


António de Almeida Santos

➤ magnata

Oppenheimer, e agora

Já na Inglaterra, quando chegámos

que premonição aquela! Como é

nas arrumações de papelada, em

ao Hotel onde eu e o Oppenheimer

que aquele homem me haveria de

casa de meus pais, encontrei um

nos íamos encontrar com Machel,

perguntar quem é que havia de lhe

papel assinado pelo Oppenheimer

esperámos cerca de dez minutos e,

suceder?.

com referências óptimas sobre

quando o Machel apareceu, abriu

Fui ao seu enterro e, em conversa

o pai do meu pai, que trabalhou

os braços e disse: – Oh! Oppenhei-

com Chissano, que veio de facto a

muitos anos com ele em Paris.

mer! Oh! Capital! Dá cá um abraço!.

suceder-lhe e a ser um bom presi-

O Oppenheimer também me aju-

Conquistou-o. Depois, na conversa,

dente, ambos pudemos retomar a

dou na concretização do Acordo de

o Oppenheimer pediu a Machel que

surpresa da premonição de Machel.

Incomati, depondo favoravelmente

lhe desse em breve resumo a sua

Mas voltando ao Mandela. O Man-

sobre o Presidente Machel, que

opinião sobre a política da África

dela foi um herói. Na cadeia e

para o efeito lhe apresentei em

Austral. Machel fez-lhe um resumo

depois dela. O Pieter Botha foi o

Londres, tendo dele recolhido uma

que eu próprio achei fabuloso. No

primeiro a recebê-lo, mas sem con-

muito favorável impressão. Depôs, e

fim, Oppeheimer, verdadeiramente

sequências, além do facto de o ter

a sua opinião sobre Machel facilitou

impressionado, disse-me: – Mas

recebido. Mas, pouco depois, era re-

o posterior acordo.

este tipo é notável! Era o que eu

cebido pelo seu sucessor, Frederik

Antes do encontro com Oppenhei-

queria que soubesse – respondi-lhe.

de Klerk, que teve a lucidez de com-

mer, Machel visitou Portugal e foi

– Agora convença o governo da

preender que era o diálogo, e não o

muito bem recebido. Almoçámos em

África do Sul de que deve entender-

ódio, que convinha à África do Sul

casa do Mário Soares, em Nafar-

-se com ele. E foi assim que, num

toda ela. Recebeu Mandela, e o diá-

ros, e quando acabou o almoço

magnífico dia de sol, eu pude ter as-

logo entre ambos nunca mais parou,

sistido, sentado ao lado da Senhora

até que foi possível o acordo sobre

Botha, à assinatura do verdadeiro

eleições o mais possível sem ódio.

acordo de paz entre a África do Sul

Não há na história do Mundo, outro

e Moçambique.

exemplo de um acordo em que a

No jantar desse dia, de novo em

democracia tenha triunfado assim

Maputo, com a presença do Go-

sobre tanto ódio! Dois homens

verno, todo ele, Machel e eu, não

excepcionais tornaram esse milagre

houve hiatos para o silêncio. Machel

possível. A brancos e pretos fugia o

esteve particularmente falador. Às

pé para a bravata. Mas dois homens

tantas, imprevistamente, faz-me

excepcionais lograram fazer aceitar

uma pergunta singular.

a sua substituição por um acordo de

– Oh! Almeida! Tu sabes quem é

entendimento democrático e de paz

"

O OPENHEIMER TAMBÉM ME AJUDOU A CONSEGUIR A PAZ E O ENCONTRO DE INCOMATI

"

que me vai suceder?

cívica e política. Essa paz já durou

tínhamos de ir para o Parlamento,

Respondi-lhe, é claro, que sendo

o tempo de dois mandatos presi-

de que eu era Presidente, e onde

ele um jovem, o problema não se

denciais e parte de um terceiro. Não

Machel iria discursar. Findo o al-

punha.

foram mandatos iguais. O primeiro e

moço Machel deu-se conta de que

– Põe-se sempre, corrigiu. E acres-

mais difícil coube a Mandela presidir

tinha perdido o discurso. Procurei

centou:

a ele. O segundo foi ainda, em certo

tranquilizá-lo lembrando-lhe que os

– É o Chissano!

sentido, a continuação do primeiro.

seus improvisos eram melhores do

– Um político sensato e experien-

O terceiro já não está sendo tão

que os textos escritos por colabora-

te – acrescentei. Mas Machel não

exaltante. Mas a morte de Mandela

dores seus.

aceitou a justificação. E corrigiu:

veio renovar o penhor de continui-

Na hora e meia de que ainda

– Não é nada disso! Vocês, eu-

dade da paz e do bom entendimento

dispunha, Machel no meu carro,

ropeus, não percebem nada de

de que a África do Sul tem gozado.

fechou os olhos e mentalizou um

política africana! O Chissano vai-me

Até quando é cedo para sabermos.

dos melhores e mais ovacionados

suceder porque descende de reis. E

Esperemos que até sempre.

discursos que a Sala do Senado

o poder político, em África, é monár-

Fale-me agora de Si. Acha que

ouviu. Raras vezes tantas e tão

quico!

terá valido a pena o seu esforço e

vibrantes palmas. Machel era um

Pouco tempo depois, caía o avião

o seu trabalho, o currículo fantás-

orador espontâneo.

e Machel morria. Pensei: Mas

tico que teve e ainda tem, sempre ➤

46 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


➤ com

a responsabilidade de tudo

D. João III, de que fui sempre um

Orfeão queria que eu dedicasse o

o que diz e que faz porque é uma

dos melhores alunos (no 7.º ano

livro a Salazar. E como me recusei,

das referências e exemplos deste

o melhor do País, com direito a

dedicaram-lho eles. Pouco depois,

país? Valeu a pena o esforço e o

prémio nacional) uma cultura geral

recebi de Salazar uma carta, na mi-

trabalho?

e política invulgar para a minha

nha República de Coimbra, redigida

É evidente que valeu. O meu passa-

idade. Comecei assim, cedo e bem

nos seguintes termos: “Recebi, com

do teve duas vertentes: até Abril a

preparado, a lutar contra a política

gentil dedicatória da Direcção do Or-

vertente profissional e a luta política

da ditadura. E no meu 4.º ano de

feão Académico (não deixou passar

contra o regime ditatorial. Depois

Direito, nas eleições a que se can-

a falta da minha) o seu livro “Coim-

de Abril a contribuição para o novo

didatou o General Norton de Matos,

bra em África”. Gostei muito de o

Portugal democrático e livre.

já fiz parte da Comissão eleitoral

ler, está muito bem escrito e, embo-

Comecei muito novo a ter ideias

de Coimbra, e discursei por tudo

ra não possa concordar com tudo o

políticas e cultura política. Um irmão

quanto era sítio. E parece que me

que nele diz (referia-se às minhas

de minha mãe, como ela profes-

não saí mal de todo. Depois fui com

críticas ao regime colonial), também

sor primário, e além disso militante

o Orfeão Académico de Coimbra,

não pude deixar de registar algumas

comunista, ia todos os anos passar

na qualidade de cantor, guitarrista e

justas alusões, como por exemplo

o mês de Agosto, com a esposa e

orador oficial, a S. Tomé e Príncipe,

a da tão bela descrição da cerimó-

as filhas, a uma quinta de meu pai,

Angola, Moçambique e África do

nia de transferência do Caminho

numa aldeia da Serra da Estrela,

Sul. Nunca fiz tantos discursos por

de Ferro da Beira para a soberania

trazendo sempre uma mala cheia

unidade de tempo. Regressado a

portuguesa. Com os cumprimentos

de livros proibidos. E eu devorava-

Coimbra, publiquei o meu primeiro

do António de Oliveira Salazar. Era

-os com avidez cultural. Depois de

livro sobre a viagem, e já sobre o

sábado, tínhamos acabado de almo-

lê-los, discutia-os com ele. Adquiri

regime colonial, que deu azo a uma

çar, tínhamos a tarde livre, e seguiu-

assim, à margem do curso do Liceu

história engraçada. A Direcção do

-se um comício improvisado

´ Africa +

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 47


António de Almeida Santos

que durou até tarde. Na confu-

Talvez o Salazar não tivesse ape-

jeito de interrogação-afirmação:

são, a carta acabou por sofrer uma

nas facetas negativas. Mas foi um

– Tem consciência de que não re-

espécie de auto-de-fé. Hoje gostava

ditador feroz. Fez coisas muito feias.

gressa a Moçambique?!..

de possuí-la. Mas a juventude tem

Ele soube da morte do General Del-

– Porquê? – obviei. Cometi algum

as loucuras que tem. Vim depois

gado e certamente soube quem o

crime?

a ter razões para convencer-me

matou. Apesar disso culpou da sua

– Não cometeu nenhum crime – ob-

de que Salazar, não só por causa

morte os resistentes da oposição

viou o Coronel Saqueti, que eu tinha

deste episódio, mas de outros de

que conviveram com Delgado em

conhecido em Coimbra na qualidade

igual significado que, quando tinha

Argel. Teve muitas outras atitudes

de Comandante da G.N.R. – Mas

conhecimento de textos meus de

negativas. Mas escrevia bem. Uma

acha que, com estas respostas, vão

crítica ao regime em geral e à polí-

das razões que me fez chegar à

deixá-lo embarcar de novo?

tica ultramarina em particular, que a

conclusão de que o Salazar teria

– E quem vai deixar ou não deixar?

Pide impedia de circular, sanciona-

algum apreço por mim, foi a de que,

– quis eu saber.

va a apreensão, mas determinava

depois de ter representado o Del-

– Quando eu tiver despacho com o

que se ficasse por aí. A própria

gado em Moçambique, eu quis ir ao

Sr. Presidente do Conselho, telefo-

Pide viria a revelar-me que me tinha

Brasil para patrocinar um processo

no-lhe para o seu hotel.

movido treze processos-crime e que

de inventário de maiores, o que

Vi assim confirmado que o Presi-

nenhum deles tinha passado da

me obrigou a ir ao Banco Nacional

dente do Conselho despachava

autuação inicial, insinuando que por

directamente com a Pide, o que

ordem de cima. Não oculto que esta

também não enaltecia o seu cadas-

estranha simpatia, se é que existiu, não reforçou o meu orgulho de mim próprio. Sempre retirei alguma satisfação de ter sido um coerente adversário político do Presidente do Conselho e da sua maneira ditatorial de fazer política. Dá-me a ideia de que o Salazar, que eu combati sempre que pude,

"

PARA MIM AS LEIS FORAM SEMPRE URGENTES, FIZ DEZENAS, CENTENAS DE LEIS NO PRÓPRIO CONCELHO DE MINISTROS

terá estado sempre na origem de eu nunca ter sido perseguido além

"

tro. Uma semana depois Saqueti telefonou dizendo: – Com surpresa minha, o Senhor Presidente do Conselho gostou das suas respostas. Pode seguir para Moçambique. E lá fui para continuar a combater o regime, até que os capitães de Abril me dispensaram de insistir nesse trato.

de um certo ponto. Embora me

Ultramarino, a fim de trocar dinhei-

Pouco depois, o General Costa

tivessem apreendido três livros, e

ro português em moeda do Brasil.

Gomes visitava Moçambique, sendo

praticamente todos os papéis que

A Pide, que me seguia por todo o

portador de um convite do General

fiz com assinaturas de numerosas

lado, convencida de que seria di-

Spínola, o novo Chefe de Estado,

pessoas e a partir de certa altura me

nheiro para o Delgado, que eu tinha

para que eu integrasse, como Minis-

tivessem proibido de sair do país. O

representado em Moçambique como

tro da Coordenação Interterritorial, o

próprio ex-director da Pide, 20 anos

candidato à presidência da Repú-

novo Governo da República. Disse

depois do 25 de Abril, em conversa

blica, impediu o meu embarque, e

adeus à advocacia e abri o longo

casual me disse: – O Salazar devia

notificou-me para me apresentar

dossier da política activa. Só os

gostar de si, porque eu movi-lhe 13

na sua sede, a fim de responder a

anos viriam a distanciar-me dela.

processos-crime e nenhum deles

perguntas.

Pensa que não haverá perigo de

passou da casca. Havia instru-

Respondi durante três dias, e pra-

voltar uma ditadura? Ou nascida

ções para não prosseguir. E essas

ticamente ditei um livro. Fi-lo com

em Portugal, ou uma ditadura da

instruções só podiam vir dele. O Dr.

insuperável verticalidade, explanan-

Europa e das troikas sobre Portu-

Manuel Nazaré, moçambicano e

do o que pensava sobre o presente

gal?

meu grande amigo, médico analista

e o futuro do ultramar português.

A Europa, para além de nunca

do Presidente do Conselho, e que

No fim, quando acabei de assinar

poder ser uma ditadura, antes o

veio a ser deputado, chegou a dizer-

as minhas respostas, o meu inter-

contrário disso, protege-nos contra

-me: – Olha que o Salazar, quando

locutor, aliás presidente da funesta

o risco de qualquer outra. A Europa

me fala de ti é com algum apreço.

instituição, disse-me o seguinte, em

quer ajudar-nos a endireitar as

48 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


➤ nossas

contas. Amontoámos uma

Hoje, a CPLP já dispõe de instala-

Este governo tem condições para

dívida que não é fácil de pagar e

ções com o prestígio e a dimensão

poder ir até ao fim do seu mandato,

que vai demorar muito a saldar,

necessários à indução de mais essa

e é pena que tenha, porque está

dando de barato que alguma vez o

nova e importantíssima dimensão.

prisioneiro de ultrapassadas con-

seja.

Falta só complementar adequada-

cepções neo-liberais em matéria de

Não seremos mais brasileiros,

mente o texto instituidor.

economia e julga que é seu dever

angolanos e moçambicanos do

E as lições que a vida lhe tem

reforçar o sector privado e matar o

que europeus?

dado?

público. Já se foram os Correios.

Acho sinceramente que não. Temos

Precisava de uma resposta que

Irá a água? Irá a TAP? Qualquer

com o Brasil – a nossa obra-prima –

duraria um mês. A vida ensinou-me

dia não haverá sector público. E o

e com Angola e Moçambique, uma

muito e eu posso gabar-me de que

sector privado que o governo quer

relação inestimável e carregada

tive uma experiência tão rica, que

reforçar até à exclusividade é o sec-

de futuro. Mas o projecto da União

raras vezes terá havido outra me-

tor neo-liberal, com todos os seus

Europeia nasceu para ser o próprio

lhor. Tive uma muito bem-sucedida

comprovados defeitos.

futuro. A unificação europeia limita-

formação escolar e académica. A

No pós-guerra, como se sabe, ocor-

-se a preceder uma qualquer forma

advocacia foi uma profissão que

reu uma explosão tecnológica em

de união do próprio Mundo. Em

me ensinou a conhecer o Mundo, a

resultado da qual o poder económi-

Moçambique, aliás, propus, em livro

saber trabalhar e a saber viver. Foi

co se globalizou. Após isso apro-

que publiquei, uma comunidade de

uma experiência única porque me

priou o poder tecnológico e o poder

países de língua portuguesa, uma

facultou uma preparação excepcio-

comunicacional. Esses três poderes,

CPLP “avant la lettre”. Mas o livro

nal para ser Ministro e sobretudo

funcionando como um só, travaram

foi apreendido e proibido. Mais um

legislador. Fui talvez o ministro

a globalização política. Esta trava-

dos que o foram.

português de sempre que mais leis

gem está na origem dos grandes

E que dizer da actual Comunidade

redigiu. Sobre a qualidade delas

problemas ecológicos e outros,

dos Países de Língua Portugue-

não me pergunte a mim.

que se globalizaram sem solução.

sa?

O Presidente da Câmara Luso

Os correspondentes desequilíbrios

A CPLP, quanto a mim, foi uma

Suíça que entrevistei no número

estão na origem dos mais graves

maneira algo errada de se ter feito

passado da Diplomática, disse-

problemas que afectam e desequili-

o que devia tê-lo sido de forma

-me que os portugueses fazem

bram o Mundo. Entre esses proble-

mais adequada às conveniências

leis com as agulhas ainda quen-

mas estão a explosão demográfica,

e aos interesses em jogo. Nasceu

tes…

reduzida à sua precária dimensão

Para mim as leis foram sempre

política, sem qualquer dimensão

urgentes. Hoje uma lei demora

económica, parlamentar e judicial.

meses, quando não anos, a fazer.

Espero que esse lapso possa ser

E eu fiz inúmeras leis nos próprios

corrigido, como já em certo sentido

Conselhos de Ministros. Os outros

o foi a carência de uma dimensão

ministros discutiam e eu fazia a lei

parlamentar. Falta um instrumento

urgente que tínhamos de anunciar

judicial de resolução de conflitos. E

no fim da reunião do Conselho. Fiz

sobretudo – nisso residindo o prin-

muitas das principais leis do pós

cipal – uma dimensão organizativa

25 de Abril. E sempre sem lugar a

de formas de cooperação económi-

grandes razões de queixa.

ca. Até hoje. Portugal, e os demais

O que pensa que poderá ser feito

países da Comunidade têm coope-

e será mais urgente fazer, para

a implosão ecológica, a explosão do

rado economicamente à base de

que a maioria da população seja

desemprego, da fome e da violên-

iniciativas bilaterais sem significativo

mais feliz? Não estou a dizer mais

cia. Todos estes problemas conti-

relevo. Impõe-se a criação de uma

rica, digo mais feliz. Mudar as

nuam a ser enfrentados a nível na-

dimensão promocional económica,

mentalidades?

cional, quando não local, isto é, sem

de cima para baixo, que reforce o

Resta saber se é possível fazer, no

efectiva solução, e a agravar-se em

volume e o significado da coopera-

curto prazo, aquilo que eu acho que

cada dia que passa. E o Mundo do

ção económica possível.

é necessário fazer.

presente continua à espera de uma

´ Africa +

"

O MUNDO

PRECISA DA GLOBALIZAÇÃO DO

PODER POLÍTICO PORQUE ENTRETANTO GLOBALIZARAM-SE PROBLEMAS

"

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 49


António de Almeida Santos

dade é termos de assistir a sucessivas crises do nosso precioso habitat sem sermos capazes de evitá-las. Queremos mesmo que ele acresça ao número dos planetas mortos? Por mais que isso nos doa, parece ser essa a ordem natural das coisas. Que solução? Sabe-se o que é preciso fazer. Sabe-se que a vida do nosso precioso “habitat” se globaliza, queiramos isso ou não. A velocidade das comunicações e dos transportes vai tornando o nosso planeta cada vez mais devassado e comunicante. E a recebermos todos os dias as mesmas notícias; a lermos em tradução os mesmos livros; a vermos os mesmos filmes: a visitarmos, como turistas, os mesmos longes; a procurarmos emprego nos mesmos mercados; a copiarmos as mesmas modas; e a digerirmos os mesmos alimentos, que futuro para as identidades nacionais ou mesmo locais? Sem consciência disso, estamos a ficar todos iguais. No longo tempo – e talvez não tão longo! – uma progressiva globalização identitária tornará irrecusável a até hoje economicamente recusada globalização política. Espero eu que antes disso, o poder económico, financeiro, tecnológico e comunicacional globalizado, que se apossou do governo do Mundo, acabe por reconhecer que só pode recuperar os equilíbrios perdidos destravando a globalização do ➤ autoridade

política tão global como

balizado continuará a traduzir-se em

poder político que, na ânsia de

esses problemas. Entretanto, o neo-

crises económicas cada vez mais in-

globalizar sem travão o seu próprio

-liberalismo económico grassante

solúveis e mais graves, continuando

poder, intencionalmente travou e

travou a globalização política de

a ocultar que surgiram no seu seio

tem mantido travado.

que o Mundo urgentemente precisa,

e por causa da sua lógica exclusi-

Resultado entre outros: os gravíssi-

para procurar respostas para os

vamente lucrativa e concorrencial.

mos problemas que como tais adre-

referidos problemas que se globa-

Precisamos de controlar a explosão

garam globalizar-se, deixaram de ter

lizaram e provocam desequilíbrios

demográfica, a fome, a violência,

as respostas políticas globais que

sistémicos cada vez mais graves e

os desequilíbrios ecológicos e os

sem isso poderiam ter tido, e conti-

insolúveis. Entregue exclusivamente

desequilíbrios económicos. E não

nuam a ter as respostas nacionais,

a si próprio, o poder económico glo-

controlamos. O preço dessa passivi-

quando não regionais ou mesmo

50 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


Europeia, hoje o mais dilatado

O Mundo precisa, ele próprio, de

riais tiveram, e que a partir da sua

espaço continental política e econo-

progressivamente se federar. E só

universalização são não respostas.

micamente unificado. Um executivo

pode concretizar essa forma única

Durante quanto tempo podere-

europeu, um legislativo europeu, um

de combater os graves problemas

mos sem grave risco vital, assistir

tribunal europeu, uma moeda única

que se globalizaram criando, tam-

sem nada fazer à destruição da

europeia, uma segunda nacionali-

bém a nível global, órgãos políticos

nossa preciosa biodiversidade?

dade única europeia, um presidente

com competência para esse efeito.

Ou ao progressivo aquecimento

europeu.

Se assim é para problemas tão

da atmosfera? Ou à escassez de

Foi a primeira vez que uma tão

preocupantes e tão graves, por

oxigénio e de ar respirável? Ou

vasta e significativa experiência fe-

maioria de razão deve também sê-lo

à subida do nível do mar? Ou ao

deralista aglutinando cerca de duas

para a gestão da normalidade da

agravamento do chamado efeito

dezenas de nações foi tentada.

vida do globo toda ela.

de estufa?

Sem nenhum significado global?

Está em formação uma identidade

Em resumo: assistir ao preço da

É claro que não. A velha utopia de

global. As diversidades identitárias

nossa passividade ecológica, por

um Mundo Só, saltou para a reali-

tendem a dissolver-se na referida

incapacidade de pôr um travão po-

dade. E é com essa realidade que,

comunhão de comportamentos.

lítico global e eficaz ao desmedido

em meu entender, mais se identifi-

Quem não vê isto, está distraído.

espírito de lucro que rege a vontade

ca o futuro do Mundo, sob a pres-

Tenho-me esforçado por estar

económica universal contra salvífi-

são crescente dos problemas que

atento.

cas regras ecológicas de defesa da

se têm globalizado e vão continuar

Pode deixar-nos uma última men-

salvação da vida?

a globalizar-se. Desconhecer este

sagem para as gerações vindou-

Repare que já referi cinco ou seis

facto é mais do que andar distraído.

ras?

problemas e podia somar muitos

É ser pouco inteligente. E sobretu-

Que nunca percam a esperança, e

outros. Precisamos de Órgãos

do pouco sério.

sobretudo que lutem por ela!

locais, que desde tempos imemo-

n

Políticos também globais. Não vejo outra solução! Porquê, então, uma tão forte re-

Nasceu em Portugal, licenciou-se em Coimbra onde foi sem-

sistência à globalização política?

pre bom aluno. Foi, e ainda é, intérprete de lindíssimos fados

Porque a globalização política, de

de Coimbra. Em 1953 fixou-se em Moçambique onde exerceu

passo que resolve problemas de

advocacia durante mais de 20 anos, tendo sido por duas vezes

outro modo insolúveis, impede que

candidato às eleições para a Assembleia Nacional em listas da

o poder económico globalizado

Oposição Democrática. Mas essas candidaturas foram anu-

continue a privilegiar o máximo

ladas por acto discriminatório do poder político. Regressou a

lucro e o livre esmagamento do

Portugal após o 25 de Abril tendo tido até hoje uma carreira

competidor, sem nenhuma espécie

política importante e sido, em vários Governos: Ministro da

de entrave, nomeadamente o de

Coordenação Interterritorial; Ministro da Comunicação Social;

poder continuar a desencadear as

Ministro da Justiça; Ministro-Adjunto do 1.º Ministro; Ministro

crises económicas globais mais

de Estado e dos Assuntos Parlamentares; Candidato a 1.º

graves sem ser responsabilizado

Ministro; Membro do Conselho de Estado e Presidente da As-

por isso. Não devemos esquecer

sembleia da República de 1985 a 2002; Presidente do Partido

que uma qualquer forma de globali-

Socialista até 2011 e hoje seu Presidente Honorário. Escritor

zação política foi julgada necessária

e autor de trinta livros, três dos quais proibidos pela ditadura,

em vários momentos da história

e político muito respeitado. Assinalamos a importância do livro

da civilização, que por isso con-

escrito em 2009 “Que Nova Ordem Mundial?” uma lição de

vém relembrar. Depois da primeira

política para o equilíbrio do futuro mundial. Foi condecorado

grande guerra do século passado,

com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, a Grã-Cruz da Ordem

foi criada a Sociedade das Nações.

Militar de Cristo e o Prémio Norte-Sul para os direitos Huma-

Depois da Segunda Grande Guerra,

nos, atribuído pelo Conselho da Europa. Isto apesar de, até

foi criada a ONU. E mais recente-

ter recebido esta condecoração que teve por irrecusável, ter

mente, a União Europeia entendeu

recusado sempre receber condecorações. Volta a recusar.

n

dever criar uma União Política

´ Africa +

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 51


MALA DIPLOMÁTICA

Evento cultural de tributo a Moçambique

1

2

3

A comunidade moçambicana em Portugal levou a cabo, no salão preto e prata do Casino do Estoril, uma iniciativa de caracter cultural em homenagem ao contributo da mulher para o desenvolvimento de Moçambique. O evento concidiu com o término da missão do Embaixador Jacob Nyambir, que se fez presente, acompanhado pela Embaixatriz. Na ocasião, proferiu sentidas palavras de amizade por Portugal. Estiveram presentes, o Representante Permanente de Moçambique na CPLP, o Embaixador Faisal Cassam e esposa; os Primeiros Secretá-

1. Embaixador Jacob Nyambir 2. Os Embaixadores aplaudem a assistência

rios, Judite Justino e Jaiem Teixeria; os adi-

3. Embaixadores de Moçambique com o representante de Moçambique na

dos Consular e Cultural, Hélio Nhamtumbe e Assane Saide, entre outros membros

52 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014

C.P.L.P., Embaixador Faizal Cassam e Celma Cassam


4

5

6

4. Apresentação das miss 5. Carlos Moreira e Regina Moreira com Manuela e Hélder Ramalho 6. Mia Couto, Judite Justino e Hélio Nhatumbo

´ Africa +

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 53


Evento cultural de tributo a Moçambique

8

7

7

9

11

10

9

12

13

14

do corpo diplomático. O evento prestou ho-

menagem ao prémio Camões da Literatura de Lingua Portuguesa, Mia Couto que foi, nesta sessão, agraciado com o galardão Accenture. O evento testemunhou o desfile do manancial cultural em forma de música onde ritmos tradiconais, como marrabenta e pandza interpreta-

7. Prémio Nobel da Literatura Mia Couto 8. Mesa do júri da

dos pelos músicos populares Neyma e Zico se

miss Moçambique 9. José Rodrigues dos Santos e sua Mulher

misturam de forma requintada com jazz tropical

10. Moreira Chunguiça 11. Hélder Stramota rodeado pelas

interpretado pelo expoente de Jazz em Moçam-

vencedoras 12. Neyma 13. Fernando Pereira 14. Zico

bique Moreira Chonguiça.

n

54 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014



MALA DIPLOMÁTICA

Aniversário da Independência Nacional de Angola

1

2

4

3

1. Embaixadores de Angola 2. Embaixador José Marcos Barrica a ser cumprimentado pela nossa directora 3. A Embaixatriz com Maria de Bragança 4. Embaixador Hungria ladeado pelos Embaixadores da Polónia

Discurso do Embaixador José Marcos Barrica

"Gratos pela honra da vossa

anos do seu “Renascimento”

ticas ingerências externas; as

presença nesta singela cerimó-

com a conquista da Paz efectiva.

instituições da República não se

nia de mais um aniversário da

Durante este percurso caracteri-

desmoronaram e o Povo unido

Independência de Angola.

zado por momentos altos e bai-

não foi vencido.

Cumprem-se hoje 38 anos desde

xos, o país soube adaptar-se às

Ultrapassados os tempos mais

que Angola se tornou uma Nação

circunstâncias de cada momento

difíceis e conturbados, hoje o

independente, livre e soberana,

concreto; enfrentou os maiores

Governo continua firme e empe-

neste ano em que completa 11

desafios internos e as sistemá-

nhado na concretização dos

56 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


5

6

7

5. Os Embaixadores com um grupo de diplomatas 6. Embaixadores do Iraque e da Indonésia com Maria de Bragança 7. Embaixador António Monteiro

grandes objectivos que visam

Numa conjuntura interna e in-

Nova Angola. Como resultado

consolidar a paz, reforçar e aper-

ternacional marcada ainda por

visível, dos esforços empreendi-

feiçoar a democracia, preservar

diversos constrangimentos, o

dos, o país vive um clima de paz

a unidade nacional, promover a

Executivo liderado pelo Presi-

e de estabilidade político-consti-

justiça social e o desenvolvimen-

dente José Eduardo dos Santos

tucional; o processo democrático

to, elevar continuamente o nível

tem sido perspicaz, coerente e

consolida-se; a economia conti-

da educação e melhorar a quali-

prudente na condução do com-

nua a crescer apesar de alguns re-

dade de vida dos cidadãos.

plexo processo de construção da

vezes; as reservas internacionais

´ Africa +

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 57


Aniversário da Independência Nacional de Angola

8

10

8

9

8. Carlos Macedo de Coutinho, Maria do Céu Ferreira e Maria Alves 9. Alfredo Afonso e Isabel Lima 10. Embaixador da CPLP, Isaac Murargy com o Embaixador da Georgia

líquidas incrementam-se; os

caminho e, por vontade própria,

activa, consciente e cívica da

investimentos directos internos

prosseguirá o seu rumo para se

sociedade, especialmente da

e externos multiplicam-se e a

tornar numa Nação forte, com-

juventude; com a vontade políti-

confiança na construção de um

petitiva e próspera de que todos

ca, audácia e serenidade da sua

futuro melhor para todos renova-

os seus filhos se possam orgu-

liderança, com a graça e bênção

-se todos os dias.

lhar.

de Deus, o país cumprirá com

Inspirando-se nos belos exem-

Este propósito representa para

as metas e objectivos definidos

plos e lições da sua rica História

todas as forças vivas nacionais

na sua Estratégia de Desenvolvi-

de lutas e de vitórias, Ango-

um desafio de extraordinária

mento de Longo Prazo, “Angola

la está a seguir o seu próprio

dimensão. Com a participação

2025”.

58 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


11

12

13

14

11. RTP África presente 12. Embaixadores da Ordem de Malta 13. Elas estavam a receber-nos... 14. Isabel Bastos e Fátima Garnacho

➤O

Estado angolano sempre

dependência e soberania nacio-

prosperidade dos vossos países

conduziu as relações com os

nais, o Povo angolano está grato

que vos peço, Senhoras e Se-

seus parceiros de cooperação

à cooperação internacional e ao

nhores, uma salva de palmas e

internacional na base de igual-

apoio solidário que tem recebido

um brinde.

dade soberana, respeito mútuo

ao longo dos anos, dos diferen-

A Portugal e aos portugueses

e não ingerência; e, em home-

tes países (aqui representados

que tão afectuosamnte nos aco-

nagem acrescida à ética e aos

pelos ilustres Embaixadores e

lhem no seu espaço territorial,

bons costumes, não vai abdicar

membros do corpo diplomático).

um especial Bem-Haja!

destes princípios.

E é em saudação à amizade e

A todos muito obrigado pela

Na defesa e preservação da In-

solidariedade entre os Povos e à

atenção dispensada."

´ Africa +

n

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 59


CONVIDADO DE HONRA

Vítor Ramalho Secretário Geral da UCCLA - União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa

“Desejo ver publicado o livro de homenagem aos alunos da Casa dos Estudantes do Império” É um verdadeiro conhecedor da realidade dos países de expressão portuguesa. Para além de Presidente de várias Associações Lusófonas, foi o co-organizador do 1.º Congresso dos Quadros Angolanos no Exterior, sendo também uma das 5 personalidades de Reconhecido Mérito do Conselho Económico e Social-CES. No seu importante percurso assinalamos os cargos de Secretário de Estado do Trabalho, Consultor da Casa Civil do Presidente da República, Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Economia, Presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Angola, Presidente da 11.ª Comissão da Assembleia da República e Presidente do Fórum dos Parlamentares de Língua Portuguesa.

60 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


➤ Pode

fui sempre advogado aqui mas

Bicesse pois o desenvolvimento

um pequeno Flash-Back da

nunca deixei de estar ligado a

deste importante acontecimento

sua vida?

África. Fui membro do Gover-

deu início ao acordo, mais tarde

Nasci em Angola, mais pro-

no duas vezes de 1983 a 1985

assinado por Durão Barroso.

priamente numa terra perto do

- Sec. de Estado do Trabalho

Como vê a minha ligação ao

Huambo. Nessa terra que é

PS/PSD, depois Sec. de Esta-

mundo lusófono, não é de agora

muito pequenina e muito soli-

do da Economia com Guterres,

como Secretário-Geral da UC-

dária, nasceram ou viveram lá

de 1997 a 2000, e antes tinha

CLA, é uma coisa muito antiga.

muitas personalidades conhe-

sido durante 10 anos, de 1986 a

Fale-nos da UCCLA – União

cidas, por exemplo, o Victor de

1996, assessor de Mário Soares

das Cidades Capitais de

Sá Machado, que foi presidente

quando foi Presidente da Repú-

Língua Portuguesa um pouco

da Gulbenkian; o Raul Indipo; o

blica, para além de ser Deputado

do seu passado e projectos

António França, mais conhecido

durante muitos anos, de 2000 a

futuros

pelo Ndalu porque entretanto en-

2008.

A UCCLA é uma instituição

trou na guerrilha com o Xipenda

Disse que nunca deixou de

criada e impulsionada há 28

que foi jogador da Académica;

estar ligado a Angola. Pode

anos por um homem de grande

toda a família Fonseca e Costa

falar-nos sobre isso?

visão, o Eng.º Nuno Cruz Abe-

- José, o realizador de cinema,

Por exemplo: em 1990, depois

casis, ex- Presidente da Câmara

o seu irmão Tóna, treinador de

da queda do mundo bipolar, eu e

de Lisboa, que inclusivamente

atletismo, sua irmã encenadora

mais quatro amigos organizámos

desenvolveu projectos e iniciati-

e atriz Cucha Carvalheiro; a Ana

o 1.º Congresso dos Quadros

vas para o futuro. Terá sido uma

Maria Vieira de Almeida; a Judite

Angolanos no Exterior que

predecessora da CPLP.

fazer à DIPLOMÁTICA

Correia, correctora da Bolsa; e

Hoje são 40 cidades com re-

esse Empresário que tem feito

ferências históricas, de cujos

grandes investimentos em Por-

trabalhos desenvolvidos pode-

tugal na Comunicação Social e não só: o António Mosquito que viveu sempre lá… Há uma serie de pessoas conhecidas que pertencem a essa terra: Caala! Eu sou de lá, nasci lá e estu-

"

A UCCLA TENTA SER UMA MAIS VALIA IMPORTANTE PARA AS CAPITAIS DE LÍNGUA PORTUGUESA

dei no Liceu do Huambo até ao antigo 7º ano, que hoje é o 12º. Vim para Portugal em 1965 para estudar Direito porque não havia

"

rei salientar: a recuperação do Palácio, Liceu e Escola de Timor Leste; na Cidade da Praia, em Cabo Verde, trabalhos que vão da área urbanística à educação e saúde; em São Tomé e Príncipe, o saneamento básico; o projecto Praia–Bissau que estamos a desenvolver com o abastecimento de água ao domicílio. A

Universidade em Angola. Termi-

juntou na Feira das Indústrias

UCCLA tem técnicos excelentes

nei o curso e fiquei em Lisboa

mais de duas mil pessoas e

que a Câmara fez deslocar desta

a exercer advocacia, também

onde estiveram representadas

instituição para a UCCLA para

porque o regime da altura, du-

delegações fortes e ao mais alto

realizar projectos urbanísticos e

rante um tempo, não me deixava

nível do MPLA, da UNITA e da

de toponímia - placas de identifi-

regressar a Angola; Eu era um

FNLA, das Igrejas Angolanas –

cação das ruas, por exemplo. E

pouco rebelde na altura e fui

Católica e Protestante - o próprio

também outro projecto a concluir

dirigente associativo. Naquele

Cardeal Alexandre Nascimento,

na Guiné, dando incentivo em-

tempo, na década de 60, quase

estando sempre presente o Mi-

presarial e formação a 200 api-

todos nós os jovens, éramos um

nistro dos Negócios Estrangeiros

cultores e criação de uma marca

pouco incendiários. E eu não

de Angola. Esse Congresso foi o

de mel; Nas diferentes candida-

fugi à regra… Nestas andanças

pano de fundo para o acordo de

turas apresentadas

´ Africa +

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 61


Vítor Ramalho

➤à

União Europeia. Resumindo,

Andrade que me falavam da CEI,

a luta comum entre os nossos

a UCCLA tenta ser uma mais

dando-me conta da importância

povos. Tive sempre a ideia que

valia importante para as cidades

da Casa e desses jovens que

jovens portugueses que também

de Língua Portuguesa.

ergueram a bandeira da auto-

frequentavam a casa como João

Nessa mais valia incluo uma

determinação e do direito dos

Cravinho ou Jorge Sampaio,

iniciativa de homenagem aos

povos à independência. Estava

tiveram um papel importante pois

antigos associados da Casa dos

em marcha a descolonização dos

esta juventude estava irmanada

Estudantes do Império - CEI,

povos africanos, que começou

nos mesmos objectivos, fossem

que existiu na cidade de Lis-

com o Gana, em 1957. A Casa

Africanos, Timorenses, de Goa

boa, entre 1943 e 1965 e que

dos Estudantes do Império,

ou até Brasileiros!

merecem reconhecimento, tais

fundada pelo Estado Novo, era

Já me dirigi ao Presidente da

como Amílcar Cabral (Dirigente

um espaço de convívio para os

República sobre este desígnio

do PAIGC), Pedro Pires (ex-Pre-

jovens provenientes dos territó-

Nacional e gostaria de convi-

sidente de Cabo Verde), Lúcio

rios colonizados por Portugal.

dar todos os Embaixadores dos

Lara (Comandante das FAPLA),

Os jovens provenientes de todos

países de língua portuguesa a

Pepetela (Escritor Angolano),

esses territórios ao levantar a

abraçarem este projecto, reedi-

Manuel Pinto da Costa (Presi-

bandeira, publicaram escritos

tando as obras e escrever sobre

dente de São Tomé), Joaquim

inclusive de poesia que marca-

a Casa dos Estudantes do Impé-

Chissano (ex-Presidente de

ram a identidade e dos territórios

rio, numa visão de futuro. Não

de que eram originários da Casa,

há futuro sem memória e é bom

tal como Amílcar Cabral grande

que os jovens repesquem esta

dinamizador, pois podiam ser as-

memória.

sociados depois de licenciados,

Este mundo com uma visão

ou Agostinho Neto que mesmo

economicista muito forte deve

durante a prisão recebia mensa-

perceber que a economia é

gens de Amílcar e da Associação

instrumento da política e não

próxima, “Os Marítimos”, Pedro

um fim dela. Hoje o que vemos

Pires, também era outra per-

é a subversão disto. Não temos

sonalidade, de referir o Manuel

razão para ter complexos.

Lima, professor catedrático e

Há uma frase de Amilcar Cabral

historiador, que foi o primeiro

que dizia:” mais do que falarmos

comandante militar do MPLA,

em português, todos nós pensa-

também esteve na Casa. Houve

mos em português!”. Ele fazia

Moçambique), Francisco José

grandes poetas tais como a Alda

notar que não era o povo que

Tenreiro (Poeta e intelectual de

Lara, branca de Angola, irmã de

oprimia, era o regime.

São Tomé e Príncipe), Alda Lara

Ernesto Lara outro grande poe-

Os jovens têm que saber isso.

(Poetisa Angolana) e muitos

ta… Alda com o poema “A mãe

Gostaria de acrescentar mais

outros.

Preta” cantada por Paulo de Car-

alguma coisa?

Como e porquê surgiu esse

valho ou “O Testamento ”poema

Para finalizar gostaria de ape-

projecto-UCCLA de preserva-

cantada por Teresa Tarouca;

lar a todos os que passaram

ção da memória comum dos

Pepetela que marcou a literatura

pela Casa dos Estudantes do

povos de língua portuguesa?

da língua portuguesa que lhe va-

Império para que se dirijam ou

Sucede que tive o privilégio de

leu o Prémio Camões. O próprio

à UCCLA ou escrevam ao seu

ter privado com personalidades

Romance ”A Geração da Utopia”,

Secretário-Geral, uma vez que é

de invulgar qualidade, entre os

um livro fantástico de aproxi-

nosso desejo conseguir o máxi-

quais Mário de Andrade, Gen-

mação entre os nossos povos,

mo de informações para a home-

til Viana ou Joaquim Pinto de

com a particularidade de reflectir

nagem a realizar.

"

GOSTARIA DE CONVIDAR TODOS OS EMBAIXADORES DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA A ABRAÇAREM ESTE PROJECTO

"

62 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014

n



MALA DIPLOMÁTICA

Dia da comemoração da independencia da Nigéria

Ijeoma Bristol, Embaixadora da Nigéria dirigindo umas palavras à assistência

My staff and I welcome you

the Portuguese. Whatever be

on economic diplomacy, Nigerian

with great delight to the 53rd

the case, by the seventeenth

and Portuguese entrepreneurs are

anniversary celebration of

century, the Portuguese and

exploring many areas of possible

Nigeria’s independence as a

Benin Kingdom were exchanging

collaboration. The visit of Nigeria’s

nation. As many of you already

envoys and trading. Some of the

Foreign Minister to Portugal earlier

know, Nigeria is one of the fastest

vestiges of Portuguese presence

this year is also testimony to the

growing economies today, with

in Nigeria include the naming

strengthening of Nigeria-Portugal

recorded growth rates in the past

of the Nigeria’s former capital

ties.

few years between 6-8 percent.

city and current economic nerve

It is also important to mention

A little known fact is the contact

centre with a population of over

that it is envisaged that in the

and relationship between Portugal

12 million, Lagos after Lagos in

not-too-distant future, discussions

and Nigeria that dates back

the Algarve, and a sprinkling of

and renegotiations of the

to 1472. It is said that the first

Portuguese words in Bini and

moribund bilateral Agreements

Portuguese sailor to attempt to

Yoruba languages.

between Nigeria and Portugal will

sail to the Benin Kingdom from

The relationship between Nigeria

commence. These will include the

Lagos was Rui de Sequeira who

and Portugal has remained

Bilateral Air Services Agreement,

was however, refused permission

cordial over the centuries, and in

BASA, which will usher in an

to berth by the Oba of Benin. The

an increasingly globalised world

era of direct air links between

next Portuguese sailor that was

where new and more robust

both countries; the Agreement

allowed to set foot on Nigerian

economic partnerships are being

on Investment Promotion and

soil was Joao Affonso d’Aveiro

formed, our two countries are at

Protection, IPPA, as the private

in 1485. There is speculation

the crossroad of new and more

sector operatives of both countries

that the Binis may have acquired

exciting interaction. In furtherance

become more engaged and the

their skill in brass work and wood

of our President’s Transformation

Agreement on the Avoidance of

carvings from their contact with

agenda and his increasing focus

Double taxation and Fiscal

64 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


➤ Evasion.

We look forward to

This burgeoning relationship was

artists from within and outside

concluding in the shortest time

also highlighted during Nigeria

Portugal could be here today to

possible negotiations on these

Day at AICEP on 9 April this year.

display our rich cultural heritage.

agreements as a way of further

Nigeria Day in Lisbon thus brought

Nigeria’s heritage is portrayed

enhancing our bilateral relations.

together many Nigerian and

this evening through the music,

I will also use this opportunity to

Portuguese entrepreneurs from

fashion, food and dance. The

welcome Nigerian bankers from

various sectors to network and

cultural tone of this celebration is

various banks here in Lisbon to

hopefully enter mutually beneficial

deliberate so as to underscore the

understudy SIBS International

partnerships focusing on areas of

importance of building people-to-

who is also celebrating our 53rd

interest and expertise.

people relationships even as our

Independence Day with us.

In recognition of these growing

governments strive to strengthen

You are all welcome. There is

ties some of the active players in

our bilateral diplomatic ties. Thus

increasing interaction between

building this relationship have co-

the music played and dances

entrepreneurs from both countries

sponsored some of the activities

performed are by Nigerians who

specifically the cashless interbank

of the evening. I thus wish to

have for now made Portugal

payment systems of both

use this opportunity to thank

their home. People-to-people

countries, Nigeria’s Inter Bank

our Nigerian and Portuguese

relationships are important

Settlement System (NIBSS) and

sponsors especially Nigeria´s

because for diplomacy to be seen

Portugal’s SIBS International

Ondo State ably represented by

as successful it has to have a

which has led to the formation of

Senator Akinyelure, NIBSS, SIBS,

human dimension.

the Nigeria Portugal Friendship

EDP, Geoffield, Fracol Group,

Today we celebrate Nigeria’s 53rd

and Business Association built

Amtrol, Juntra, Ezeugo Interbiz,

Independence Day in Portugal and

on the foundation of the growing

Quintessence, and Rasouo Oil

invite you to join with us hereafter

relationship between the Nigerian

and Gas who all partnered with the

as we herald in a New Dawn in

and Portuguese finance sectors.

Embassy to ensure that Nigerian

Nigeria Portugal relations.

n

Fotos: Telmo Miller

´ Africa +

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 65


VISITA CULTURAL

"Xanana Gusmão e os primeiros 10 anos da construção do Estado Timorense" na sede da CPLP em Lisboa por Roman Buzut, fotos Maria Inês

Xanana Gusmão, Primeiro-Ministro da República de Timor-Leste, apresentou o seu livro «Xanana Gusmão e os primeiros 10 anos da construção do Estado Timorense». O lançamento do livro constituído por uma colecção de discursos do autor, de uma vida dedicada à causa timorense, reuniu na plateia da sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Lisboa, várias figuras de relevo da sociedade portuguesa e lusófona. Entre as personalidades que marcaram presença, destacamos, entre Embaixadores e governantes, o ex-Presidente da República Portuguesa, António Ramalho Eanes, e o Nobel da Paz, o Bispo Católico D. Ximenes Belo. No discurso de apresentação do livro de Xanana Gusmão, Ximenes Belo referiu-se ao autor como o grande herói da liberdade e da reconciliação. Xanana é «o primeiro dos fundadores da Pátria Timorense» que «liderou a luta da libertação de Timor-Leste, e com a sua intervenção a Pátria foi libertada.» Discursou e afirmou que «dentro de vinte, trinta ou cinquenta anos, quando

riografia timorense». Recorde-

os historiadores de Timor-Leste

-se que Xanana entrou para a

entabularem o estudo e a es-

história timorense como líder da

crita da história de Timor-Leste

resistência de Timor-Leste face

nos seus primeiros 10 anos,

à ocupação e invasão militar

não poderão ignorar este livro.

indonésia em 1975. Organizou a

De facto, “Xanana Gusmão e os

luta pela independência e liderou

primeiros 10 anos da construção

as forças de libertação nacional

do Estado Timorense” representa

desde 1981 até 1992, altura em

um acervo documental na histo-

que foi capturado pelas Forças

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Assinatura do livro de honra

Armadas indonésias em Díli, e

posteriormente preso. Mesmo na prisão continuou a desenvolver estratégias para a resistência, até que, em Abril de 1998 foi reafirmado por aclamação como Líder e Presidente do Conselho Nacional da Resistência Timorense. Depois de sair em liberdade, a 7 de Setembro de 1999, após um referendo apoiado pela ONU, a 30 de Agosto de 1999, que assinalou o fim da ocupação Indonésia de Timor-Leste e no seguimento de pressões

Miguel Martins, Xanana Gusmão, Secretário Executivo da CPLP, D. Ximenes Belo e Rui Marques

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 67


Xanana Gusmão

internacionais, no dia 20 de

saído mais cedo se não fosse a

«se não houver uma liderança

Maio de 2002, Kay Rala Xana-

responsabilidade de organizar a

já a preparar-se para ser um

na Gusmão é eleito Presidente

Cimeira. Depois da Cimeira da

novo «think tank» e defender

da República Democrática de

CPLP, bye bye,» afirmou. Note-

os interesses do país, podemos

Timor-Leste, permanecendo na

-se que Timor-Leste irá assumir

afundar-nos,» sublinhando que

Chefia do Estado até ao final do

a próxima presidência rotativa

cabe à sua geração, a geração

mandato, em Maio de 2007. Foi o

da Comunidade dos Países de

de 75, preparar os mais novos

primeiro Presidente desta Jovem

Língua Portuguesa.

de modo a «evitar que todos os

Nação Independente! Findo o

Xanana Gusmão defendeu a

pequenos sucessos alcança-

mandato presidencial, a 8 de

importância da aposta na prepa-

dos possam ser destruídos pela

Agosto de 2007, é eleito Primei-

ração de novos líderes e mos-

ganância, pelo individualismo

ro-Ministro. A propósito deste

trou o desejo de unir forças para

e pelo divisionismo.» Durante

cargo, Xanana Gusmão reiterou,

defender a soberania do país

a sua estadia em Portugal, o

na altura do lançamento do livro

face às «ameaças latentes».

Primeiro-Ministro timorense foi

em Lisboa, que vai renunciar ao

«Queremos unir forças como an-

ainda condecorado com o Grau

mesmo depois da realização da

tes unimos; unir o pensamento;

de Doutor Honoris Causa, pelo

próxima Cimeira da CPLP pre-

unir as acções para defender a

Instituto Superior de Ciências

vista para Julho de 2014. «Teria

soberania do país.» Disse ainda

Sociais e Políticas (ISCSP).

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MALA DIPLOMÁTICA

Dia Nacional de Espanha

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1. Embaixador de Espanha, Eduardo Junco 2. A nossa directora a dar os cumprimentos na embaixada 3. Pina Moura e Henrique Santos 4. Emidio e Manuela Herrera com Maria de Bragança 5. Embaixatriz de Espanha e Maria de Bragança 6. Embaixador da Noruega 7. Embaixatriz da Noruega, Embaixadores da Sérvia e Embaixatriz Isabel Monteiro 8. António de Almeida Santos e Maria de Bragança

O Exmo. Sr. Embaixador Eduardo

dade então rural da família Cunha,

diversos retoques e modificações

Junco, convidou, a propósito do Dia

conhecida como o Marquesado de

ao largo dos séculos, algumas com

Nacional de Espanha, um grupo

Palhavã, e passou posteriormen-

fortes influências dos estilos im-

seleccionado de figuras de relevo

te a outras famílias nobres, como

perantes, até à sua aquisição pelo

nacional e internacional para uma

os condes de Sarzedas e os de

Estado espanhol, em 1918. Durante

recepção que teve lugar no Palácio

Azambuja. O arquitecto original foi

o evento assinalamos as palavras

de Palhavã. Situado no que hoje é

João Nunes Tinoco, autor de outros

do Senhor Embaixador sobre a

a Praça de Espanha de Lisboa, foi

palácios destacados da época,

forte amizade e boas relações entre

construído em 1660 numa proprie-

ainda que a sua obra tenha sofrido

Espanha e Portugal.

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MALA DIPLOMÁTICA

Turquia celebra 90 anos da implantação da República

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1. Maria da Luz de Bragança com a Embaixadora da Turquia 2. Embaixadores do Japão, Paquistão e Indonésia 3. Cristina Tavares da Costa e António Ferreira de Carvalho 4. Anabela Baptista e Fernando Correia Lopes 5. Embaixatriz de Marrocos com os Embaixadores do México e o Chefe do Protocolo, Embaixador António Almeida Lima 6. Maria da Luz de Bragança, Manuel Pinto Ribeiro, Embaixadores da Noruega, Maria Saldanha Pinto Ribeiro e Manuel Pourtales

A Turquia comemorou os 90 anos

Constituição, Turquia passou a ser

lista turco e desencadeou a Guerra

desde a fundação da sua Repúbli-

«um estado democrático, secular

da Independência turca (1919-

ca em 1923. Para assinalar esta

e social, governado pelo Estado

1923), que envolveu um conjunto

data, a Embaixadora da Turquia

de Direito visando os conceitos de

de actividades políticas e militares

em Portugal, Ebru Barutçu Gökde-

paz pública, solidariedade nacional

que levaram a abolição do sultana-

nizler, organizou uma recepção na

e justiça; respeitando os direitos

to e a criação da Turquia Moderna.

qual estiveram presentes repre-

humanos e fiel ao nacionalismo

No processo de independência do

sentantes do corpo diplomático

de Atatürk,» e às suas reformas e

país foi fulcral o "Tratado de Lau-

acreditados em Portugal. O dia da

seus princípios. Recorde-se que

sanne". Assinado em Lausanne,

República, também conhecido por

Mustafa Kemal Atatürk é o fun-

na Suíça em 24 de Julho de 1923,

"Cumhuriyet Bayramı”, é um marco

dador e primeiro Presidente da

formalizou os termos de paz entre

relevante para a história do país! A

República da Turquia. Esteve na

a Turquia e as Forças Aliadas que

partir desta data, de acordo com a

liderança do movimento naciona-

combateram na Primeira Guerra

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7. O Presidente da Câmara de Oeiras, Paulo Vistas e sua Mulher Paula e Rui Rocha 8. Embaixadores da Suiça e Paraguai 9. Maria da Luz de Bragança e o Embaixador do Iraque 10. A nossa directora com Elisabeth Freire e Benedita Lucena 11. Embaixadoras da Argélia, Marrocos e África do Sul com Luís Brites Pereira 12. Maria da Luz de Bragança e Cristina Malhão Pereira 13. Embaixatriz da Índia

Mundial e na Guerra de Indepen-

longo do tempo tem vindo a desen-

para a sua política externa. Com

dência Turca; redefiniu as frontei-

volver relações externas com vá-

uma grande política económica

ras do país; reconheceu a Turquia

rios países do Ocidente e também

emergente é membro da NATO, do

como um Estado soberano e mar-

com Portugal. As relações políticas

G20, e tem vindo a mostrar inte-

cou o fim do Imperio Otomano que

entre Portugal e Turquia datam

resse na adesão à União Europeia.

durou cerca de 600 anos. Turquia

desde a altura do período otomano,

Foi reconhecida oficialmente como

é hoje um país democrático e com

época em que o Visconde de Sei-

candidata à UE em 1999, pelo Con-

uma história rica em cidades como:

xal foi nomeado Embaixador para

selho Europeu de Helsínquia, com

Istambul que em tempos serviu de

representar Portugal em Istambul

base nos mesmos critérios aplica-

capital para os Impérios Romano,

(1843). O seu posicionamento

dos aos outros países candidatos,

Bizantino e Otomano; e Capadócia

geográfico estratégico, enquanto

sendo as negociações relativas a

com as suas cidades subterrâneas

ponte natural entre Europa e Ásia,

adesão iniciadas a 3 de Outubro

e igrejas cavadas em rochas. Ao

tem sido uma influência relevante

de 2005.

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Texto: Roman Buzut

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MALA DIPLOMÁTICA

Dia Nacional do Chipre

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A Embaixadora de Chipre, Thalia

núcleo de prestigiadas personalida-

Petrides, organizou um encon-

des que honram a amizade entre os

tro para os amigos de Chipre em

dois países e querem a transformar

Portugal como um agradecimento

numa fonte de cooperação tangível.

mínimo e também uma renovação

A Embaixadora na sua mensagem

de amizade e dos laços entre os

de boas vindas, salientou que a cria-

dois países. Entre os inumeráveis

tividade artística é um característico

amigos de Chipre em Portugal,

comum dos dois povos e será poten-

este grupo reunido é considerado o

cialmente uma fonte de criação

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1. Embaixadora do Chipre proferindo o discurso 2. Embaixadora Thalia Petrides com a nossa Directora 3. Embaixador Panos Kalogeropoulos, Emabixatriz Alexandra Barbosa e Manuel Ferreira Enes 4. Carlos Moedas e Embaixadora Thalia Petrides 5. Helena e António Fonseca, Thalia Petrides, Panos Kalogeropoulos com Margarethe Duarte Ferraz 6. Jorge Silva Lopes 7. Jorge Burnay e Maria Bragança 8. Embaixadores António Santana Carlos, João Silva Leitão e Francisco Seixas da Costa com Guilherme d'Oliveira Martins 9. Margareth Ferraz e Maria de Bragança

de riqueza que merece ser enco-

cultural ainda encontra umas solu-

rajada e promovida. A crise econó-

ções, muitas vezes inovadoras.

mica que Chipre e Portugal estão

Neste encontro, os amigos de

atravessar neste momento, tem

Chipre também tiveram uma opor-

infelizmente um impacto negativo no

tunidade única de desfrutar sabores

sector da cultura em geral, que por

típicos da cozinha cipriota, porque,

norma é um dos primeiros que sofre

como diz um ditado cipriota: "a ami-

o corte dos fundos estatais. Apesar

zade se fortalece em torno de uma

disso, a iniciativa privada no sector

boa mesa".

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MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 73


MALA DIPLOMÁTICA

42º Dia Nacional dos Emirados Árabes Unidos

1

1. Sheikh Jassim Hamad AlThani e os Embaixadores do Iraque, Palestina, Marrocos, Emirados Árabes Unidos, Egito, Embaixador António Almeida Lima e Embaixadores do Kuwait, Arábia Saudita e do Qatar

Em celebração do quadragésimo

confederação de sete monarquias

segundo ano da independência, Sua

árabes com grande autonomia cha-

Excelência Saqer Nasser Alraisi,

madas Emirados (equivalentes a prin-

Embaixador dos Emirados Árabes

cipados) e estão situados no sudeste

Unidos (EAU), recebeu várias en-

da Península Arábica e fazem frontei-

tidades nas instalações do Hotel

ra com Omã e com a Arábia Saudi-

Sana Epic. O evento constou de um

ta. Fazem parte Abu Dhabi, Dubai,

convívio entre as figuras de relevo

Sharjah, Ajman, Umm al-Quwain, Ras

nacionais e estrangeiras. Entre outros

al-Khaimah e Fujairah. Abu Dhabi, é a

manjares, foi servido um bolo de

capital e centro de actividades políti-

aniversário marcando a ocasião. É de

cas, industriais e culturais.

referir a presença de falcões, símbolo

Antes de 1971, os EAU eram conhe-

nacional.

cidos como Estados da Trégua, em

Os Emirados Árabes Unidos são uma

referência a uma trégua do século

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2. Embaixador dos Emirados Árabes Unidos, Embaixador da Arábia Saudita e o Cônsul Saleh Alhemeiri 3. Renato Varriale, Embaixador de Itália com Saqer Nasser Alraisi, Embaixador dos Emirados Árabes Unidos 4. Embaixador dos Emirados Árabes Unidos com a Embaixadora de Marrocos e o Cônsul Saleh Alhemeiri 5. Saqer Nasser Alraisi e Angêlo Correia 6. Embaixador dos Emirados Árabe Unidos e Embaixadores do Iraque 7. Embaixador dos Emirados Árabes Unidos com o Embaixador do Irão 8. Saqer Nasser Aiuraisi e Luis Amado

XIX entre o Reino Unido e vários

de câmbio de mercado do mundo e é

Sheikhs árabes. O sistema político

um dos países mais ricos do mundo

dos Emirados Árabes Unidos, basea-

por produto interno bruto (PIB) per

do na Constituição de 1971, dispõe

capita.

de vários órgãos ligados intrinse-

O clima liberal dos Emirados Árabes

camente. O islamismo é a religião

Unidos para a cooperação estran-

oficial sendo o idioma árabe, a língua

geira, os investimentos e a moderni-

oficial.

zação provocaram amplas relações

Os Emirados Árabes Unidos têm a

diplomáticas e comerciais com outros

sexta maior reserva de petróleo do

países. O país desempenha um papel

mundo e possuem uma das mais

significativo na OPEP e nas Nações

desenvolvidas economias do Oriente

Unidas, sendo um dos membros fun-

Médio. O país tem, actualmente, a tri-

dadores do Conselho de Cooperação

gésima sexta maior economia a taxas

do Golfo (GCC).

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 75


MALA DIPLOMÁTICA

Celebração do Dia Nacional do Qatar

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The Celebration of the National

Socrates on the 16th-17th of

Day of the State of Qatar on

January 2011.

Thursday the 12th of December

On the 10th of January 2012,

2013:

H.E. The President of the

The Celebration of the National

Republic of Portugal Prof. Dr.

Day of the State of Qatar took

Aníbal Cavaco Silva received

place on Thursday the 12th of

the credentials of H.E. Mr. Adel

December in the Ritz Hotel,

Ali Al Khal, as the first Resident

with the presence of various

Ambassador Extraordinary and

diplomats and important

Plenipotentiary of the State of

figures. The National Day is on

Qatar in Portugal. Ever since

December the 18th every year

the Embassy’s opening, it has

to commemorate Sheikh Jassim

been trying to enhance the

Bin Mohammad Al-Thani, the

economical, cultural, political

founder of the State of Qatar.

relations and investment

The Embassy of the State of

between the two countries.

Qatar in Portugal, and the

Moreover, the relationship

Embassy of Portugal in the

between the State of Qatar

State of Qatar are results of

and Portugal goes long back

the mutual visits of H.H. Father

in history, which can be seen

Emir Hamad Bin Khalifa Al

in the presence of Portuguese

Thani on the 20th-21st of April

monuments in the State of

AlKhal; Sheikh Jassim Hamad AlThani e Sr.

2009 to Portugal, and the Ex-

Qatar and in the GCC (Gulf

Ali AlQoaz. 2. Embaixadores de Espanha

Prime Minister H.E. Mr. Jose

Cooperation Council).

3. Embaixadores da Moldávia 4. Embaixa-

■ ➤

Fotos: Maria Inês

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1. Maria da Luz de Bragança com S.E. o Embaixador do Estado do Qatar, Adel Ali

dor da Hungria e Maria Bragança


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5. Ana Paula Molina e Rita Araújo 6. António Santos Morgado e António Ferreira de Carvalho com a nossa directora 7. Abdool Vakil e sua Mulher 8. Jorge Fonseca e Tomaz Metello 9. António Santos Morgado, António Ferreira de Lemos e Mario Lobo 10. Embaixadores do Iraque e Árabes Unidos com Maria de Bragança 11. Bruno Mascarenhas, Bruno Carvalho com Embaixador da Ordem de Malta 12. Embaixadores da Índia

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MALA DIPLOMÁTICA

Dia Nacional da Roménia

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A 1 de Dezembro de 1918 todas

ções, mesmo se a história do terrível

1. Embaixadores da Roménia

as províncias que desde tempos

século XX – o século das ideologias

2. Embaixador de Itãlia, Renato Varria-

imemoriais eram habitadas maiorita-

criminal, comunista e nazista – alte-

riamente por romenos unificaram-se

rará para mais um período de tempo,

sob a coroa real da Roménia. É a

a vontade popular através do terror e

data em que a Transilvânia, seguin-

deportações. Também a 1 de De-

do o exemplo irresistível da Moldá-

zembro a Roménia assumiu respeitar

via, da Bessarábia e da Bucovina,

os direitos de todos os cidadãos

concluiu um processo de unificação

minoritários que habitam no seu

em passos, que começou em mea-

território. A liberdade de todos os ro-

dos do século XIX. A 1 de Dezembro

menos podia-se construir apenas em

7. Jordi Xandri Casino

de 1918 a Roménia sai da época dos

conjunto com a liberdade de todos os

8. Monsenhor Rino Passigato com os

Impérios e entra na época das Na-

cidadãos romenos. O significado

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le com o Embaixador da Roménia 3. Embaixador do Iraque, Hussain Sinjari com Vasile Popovici 4. Encarregado de Negócios, John Olson com os Embaixadores da Roménia 5. Embaixador João Rosa Lã com os Embaixadores da Roménia

6. Embaixadora Ana Martinho e Vasile Popovici

Embaixadores


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do Dia Nacional da Roménia trans-

cende o quadro étnico e linguístico

13

Cultural de Belém e Casa da Música do Porto, apresentou por ocasião

puro romeno: o primeiro de Dezem-

do Dia Nacional da Roménia, dois

bro deve ser um dia da cidadania

concertos de gala com o quarteto

romena, com todas as liberdades e

romeno Cellissimo, que teve lugar

garantias constitucionais para todos

no Pequeno Auditório do CCB e

os detentores de cidadania romena.

na Casa da Música, no Porto. Um

Eis o que celebrámos no Museu

quarteto de violoncelos representa

do Oriente, sob a luz de um outono

um conjunto raríssimo, os quatro

lusitano como sem fim, multiplicada

membros são os melhores violon-

pelas vastas águas do Tejo.

celistas da Roménia e o programa é

O Instituto Cultural Romeno de

constituído por peças atractivas e de

Lisboa, em parceria com o Centro

grande virtuosidade.

14

9. O quarteto romeno Cellissimo com os Embaixadores da Roménia 10. Adriano Jordao, Marin Cazacu e o Embaixador Vasile Popovici 11. Rosa Vieira da Cruz, Embaixatriz Isabel Monteiro e o Embaixador Vasile Popovici 12. Os Embaixadores de Itália e da Roménia 13. Andres Rundu, Embaixador da Estónia 14. Embaixatriz da Roménia e Marin Cazacu

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MALA DIPLOMÁTICO

Dia da Alemanha

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Na recepção na Residência da Embaixada da República Federal da Alemanha comemoramos o vigésimo-terceiro dia da Unidade Alemã. Tal como nos anos passados, o nosso maior desafio continua a ser a superação da crise na Europa, para a qual é fundamental um esforço comum de todos os parceiros europeus. As forças políticas, que, após as eleições de 22 de Setembro, formarão o próximo governo federal alemão, têm consciência da sua responsabilidade para com a Europa. Na nossa cooperação com Portugal continuaremos a concentrar-nos em contribuir construtivamente para que Portugal possa voltar a fortalecer-se do ponto de vista económico. Decisivo para o sucesso continua a ser o empenho de investidores e empresários. Esta recepção foi para minha esposa e para mim também um momento de despedida de Portugal e da nossa vida profissional. Agradecemos toda a boa colaboração de todos os parceiros e intervenientes ao longo dos passados quatro anos, inclusive de todos os elementos do corpo diplomático em Lisboa.

■ ➤

Helmut Elfenkämper, Embaixador da República Federal da Alemanha

1. O Embaixador da Alemanhã a discursar 2. Maria da Luz de Bragança com os Embaixadores da Alemanha

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3. Maria da Luz de Bragança com a Segunda Secretária da Embaixada da Alemanha, Andrea Mano 4. Presidente da Empresa Filkemp, Wolfgang Kemper 5. Maria da Luz de Bragança e Maria Barroso 6. Renato Varriale, Embaixador de Itália 7. Embaixatriz Isabel Monteiro 8. Vera Jardim e Luís Amado 9. Directora da Escola Alemã de Lisboa, Renate Matthias e seu marido 10. Maria da Luz de Bragança e Embaixador do Iraque 11. Embaixadores do Luxemburgo

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MALA DIPLOMÁTICA

Festa Nacional de Andorra

A Embaixada de Andorra em Portugal celebrou a Festa Nacional de Andorra – Dia Nacional de Nossa Senhora de Meritxell (Santa Padroeira do país), com a realização de um concerto protagonizado pelos Solistas da JONCA (Jovem Orquestra Nacional de Câmara de Andorra). O quarteto de solistas da JONCA, formado por Francesc Planella e Josep Martínez (violinos), Sílvia Garcia (viola) e Mireia Planas (violoncelo), actuou na emblemática Sala dos Espelhos do Palácio Foz, em Lisboa. Os jovens solistas interpretaram peças de Georg Philipp Telemann, Luigi Boccherini, Eduard Toldrà e Pau Casals, num recital aberto ao público e dirigido também aos convidados da Embaixada. Posteriormente, a Embaixada de Andorra em Portugal ofereceu uma recepção oficial aos seus convidados representantes do Governo português, do corpo diplomático e organismos internacionais acreditados em Portugal, e de outras instituições económicas, comerciais e culturais estabelecidas na capital lusa.

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A Embaixadora de Andora, Maria Fonte e seus convidados


MALA DIPLOMÁTICA

Dia da República da Polónia

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1. Embaixadores da Polónia 2. Anabela Baptista, Fernando Correia Lopes e Maria de Bragança 3. Embaidores da Índia e do Japão 4. Adam Makowicz 5. Maria de Bragança com o Embaixador da Polónia 6. Embaixatriz da Índia com os Embaixadores da Roménia

Para celebrar o dia da Indepen-

sociedade portuguesa e estrangei-

vezes antes da Segunda Guerra

dência da República da Polónia,

ra assim como vários elementos

Mundial. Após a Guerra, as au-

o Embaixador Brosnislaw, acom-

do corpo diplomático.

toridades da República Popular

panhado da Embaixatriz Anna

O processo de restauração da

removeram o Dia da Independên-

Kostrzewa-Misztal, organizou um

independência da Polónia foi

cia do calendário, mas a recupera-

concerto do conceituado pianista

gradual, a data escolhida é aquela

ção da independência continuou a

polaco de Jazz, Adam Makowicz.

em que Józef Pilsudski assumiu

ser comemorada geralmente a 11

O evento teve lugar no magnífico

o controlo da Polónia. O Dia da

de Novembro. Em 1989, no nono

Palácio Foz, tendo estado presen-

Independência foi constituído em

termo da Sejm, o feriado oficial foi

tes figuras de grande relevo da

1937 e foi celebrado apenas duas

restaurado.

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 83


LIVROS

Embaixada do Grão-Ducado do Luxemburgo em Portugal Apresenta documentário “Léif Letzebuerger” (“Queridos luxemburgueses”)

A Embaixada do Luxemburgo organizou, nos dias 19 e 20 de Novembro a projecção do documentário «Léif Letzebuerger – S.A.R a Grã-Duquesa no exílio entre 1940-1945», do realizador Ray Tostevin, realizado em 2008. O filme « Leif Letzebuerger » pode ser encomendado em versão francesa, inglesa ou alemã, mas sem legendas em português, no link seguinte: http://eshop.cna.public.lu/ Na primeira sessão, no dia 19 de Novembro, estiveram presentes SS.AA.RR. os Duques de Bragança e outros membos da família de Bragança, para além de representantes do Corpo Diplomático, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Gabinete de S.E. o Presidente da República. Esta iniciativa suscitou um grande interesse, os convidados eram em número tão elevado que foi necessário transmitir o fime/ documentário uma segunda vez, no dia 20 de Novembro. Ao todo, uma centena de pessoas, repartidas pelos dois dias, visionaram o documentário, após o qual foi servido um jantar/cocktail muito agradável. A história da família Grão-Ducal do Luxemburgo e a história da

penhará esta função até 18 de

Löwenstein-Wertheim-Rosenberg

família real de Bragança estão

junho de 1912, data na qual a sua

(1831-1909).

ligadas entre si desde o casa-

filha mais velha, a Grã-Duquesa

O documentário “Léif Letzebuerger

mento, em 1893, do Grão-Duque

Marie-Adélaïde é proclamada

- Queridos luxemburgueses”, retra-

herdeiro Guillaume (1852-1912),

Grã-Duquesa do Luxemburgo.

ta, com base em testemunhos reais

futuro Grão-Duque Guillaume IV,

Corre portanto sangue português

e imagens de arquivo, o período

com a Princesa Maria Ana de

nas veias do atual soberano

entre 1940-1945, durante o qual o

Bragança, infanta de Portugal

luxemburguês, na medida em que

Luxemburgo foi invadido e ocupa-

(1861-1942). Em 1908, a Grã-

duas das suas bisavós e uma das

do pelas tropas alemãs, forçando

-Duquesa Maria Ana assume

suas trisavós eram princesas de

S.A.R. a Grã-Duquesa do Luxem-

o cargo de lugar-tenente e oito

Bragança, filhas de D. Miguel I

burgo a um exílio, numa primeira

meses depois, na sequência da

(1802-1866), rei de Portugal de

fase em Londres e posteriormente

morte do seu marido, o cargo de

1828 a 1834, e de sua esposa,

nos Estados-Unidos, com uma bre-

regente do Luxemburgo. Desem-

nascida Princesa Adelheid de

ve passagem por Lisboa.

84 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


Tendo tomado a “decisão difícil

comuns. Os autores do filme

ra Mundial, numerosos membros

mas necessária” de, perante o avan-

encontraram correspondência

de famílias reais no exílio entre

ço das tropas nazis, deixar o seu

pessoal, trocada entre ambos,

as quais a família Grã-Ducal do

País, a Grã-Duquesa e o seu gover-

que revela a existência de uma

Luxemburgo) e ao Município de

no foram acusados pelos luxembur-

verdadeira amizade entre F.D.

Cascais por toda a ajuda prestada

gueses de os abandonar numa hora

Roosevelt e a Grã-Duquesa.

durante aquele período dificil, ten-

tão dificil. Mas, ao optar por ficar

Segundo o historiador Curtis

do oferecido às autoridades locais

no Luxemburgo, a Grã-Duquesa

Roosevelt, neto do Presidente, a

um busto de S.A.R. a Grã-Duque-

ter-se-ia tornado prisioneira no seu

colecção de cartas trocadas entre

sa Charlotte. Este busto encontra-

próprio país – e teria cometido o

ambos demonstra que o Presidente

-se agora exposto na Casa Santa

mesmo erro que a sua irmã mais ve-

norte-americano levava muito a

Maria que, atualmente, alberga um

lha, a Grã-Duquesa Marie-Adelaide,

sério a sua promessa de “devolver”

museu.

25 anos antes.

o Luxemburgo à sua soberana

No livro “Flight through Hell”,

Charlotte sabia que a única

legítima.

publicado em 1951 e reeditado em

esperança de libertação e de

Durante a visita de Estado a Por-

1968, entre outros testemunhos

sobrevivência, para o Luxemburgo

tugal em Setembro de 2010, no

de refugiados encontramos o de

e para os luxemburgueses, eram as

discurso pronunciado por ocasião

S.A.R. a Grã-Duquesa Charlotte

forças aliadas. Ao optar pelo exílio,

do jantar de gala oferecido pelos

“Quero expressar a minha profun-

a Grã-Duquesa e os seus ministros

Grão-Duques no Palácio Nacional

da gratidão pela assistência sem

puderam solicitar auxílio aos amigos

da Ajuda, S.A.R. o Grão-Duque

preço que, na sua qualidade de

poderosos em Londres e do outro

lembrou o facto de a sua avó, a Grã-

cônsul-geral em Bordéus, (Aristi-

lado do Atlântico.

-Duquesa Charlotte, a sua família e

des de Sousa Mendes) prestou em

A notícia do seu primeiro discurso,

vários membros do governo terem

1940 a refugiados luxemburgue-

proferido na BBC no Outono de

sido acolhidos em Portugal em

ses.Teremos sempre presentes,

1940, espalhou-se rapidamente no

Junho de 1940, depois da sua fuga

no nosso espírito reconhecido, os

Luxemburgo, pelo passa a palavra.

do Luxemburgo, invadido e ocupa-

eminentes serviços prestados ao

Aqueles que tinham ouvido a sua in-

do pela Alemanha Nazi. Sublinhou

nosso país pelo Dr. Mendes duran-

tervenção repetiam-no, dizendo que

igualmente o papel exemplar e

te os seus doze anos de exercício

ela não os tinha esquecido e que

extremamente corajoso desempe-

como cônsul-geral no Grão-Du-

lutava pela libertação do seu país

nhado pelo cônsul-geral de Portugal

cado do Luxemburgo. Mas o seu

e do seu povo...estas mensagens

em Bordéus, Aristides de Sousa

mérito, num tempo de tragédia e

revigoraram o espírito de resistência

Mendes (o discurso integral em

de pânico, será sobretudo lembra-

dos luxemburgueses.

francês encontra-se no site www.

do pelos refugiados luxemburgue-

Após ordenar que um navio de

gouvernement.lu).

ses, dos quais numerosos eram de

guerra levasse os filhos do casal

No decorrer do verão de 1940, e

confissão judaica, pelos membros

Grão-Ducal de Portugal para os

antes de embarcar para Londres

do governo luxemburguês e pe-

Estados Unidos, o Presidente

e posteriormente para os Estados

los da minha própria família, que

Roosevelt apoiaria a tournée de

Unidos, a família Grão-Ducal re-

por sua iniciativa foram salvos de

propaganda da Grã-Duquesa,

sidiu durante várias semanas em

uma perseguição certa e puderam

usando a sua presença para

Cascais, na Casa Santa Maria que

assim chegar aos países livres. A

reforçar os seus próprios esforços

pertencia à família Espírito Santo.

sua ação humanitária será para

de uma intervenção americana na

Por ocasião da visita de Estado

sempre um exemplo da abnega-

Guerra. A Grã-Duquesa tornava-

em 2010 e na sua deslocação a

ção com a qual ele se consagrou

se assim um sîmbolo e uma

Cascais, os Grão-Duques presta-

à causa da liberdade e da com-

testemunha do que se passava

ram homenagem à família Espírito

preensão entre todas as nações e

na Europa e, ao mesmo tempo,

Santo (Manuel Ribeiro Espírito

todas as raças.”

um apelo à América para ajudar a

Santo Silva, à época Consul hono-

Europa.

rário do Luxemburgo em Portugal,

A relação entre o Presidente

e o seu irmão, Ricardo Ribeiro

Roosevelt e a Grã-Duquesa não

Espírito Santo Silva, acolheram

Dias Vaz, Éditions Confluences – Comité

era apenas guiada pelos interesses

durante e após a Segunda Guer-

Aristides de Sousa Mendes).

n

(Fonte: Aristides de Sousa Mendes, héros « rebelle », juin 1940. Souvenirs et témoignages, sob a direção de Manuel

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 85


PROTOCOLO

O Presidente da República Portuguesa recebe cartas credenciais de novos Embaixadores em Portugal

1

2

3

4

1. Embaixador da França 2. Embaixador do Perú 3. Embaixador do Japão 4. Embaixadora de Cuba

O Presidente da República,

residentes de França, Jean-

Anibal Cavaco Silva recebeu

-François Blarel, do Peru, En-

as cartas credenciais de novos

rique Armando Román-Morey,

Embaixadores acreditados em

do Japão, Hiroshi Azuma, e de

Portugal. Entregaram as suas

Cuba, Johana Ruth Tablada de

credenciais os Embaixadores

la Torre.

86 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


CULTURA

A Educação na Agenda para o Desenvolvimento pós-2015

Agora que os Objetivos de Desenvolvi-

integral da primeira infância, a garantia

mento do Milénio (ODM) se aproximam do

do acesso de todas as crianças ao en-

seu termo temporal – 2015 –, os doadores

sino primário, gratuito e de qualidade, a

estão a refletir sobre as implicações da

ampliação das oportunidades de aprendi-

Agenda para a Educação Pós-2015 nas

zagem para jovens e adultos, o aumento

políticas de ajuda pública aos países em

do número de adultos alfabetizados, a

desenvolvimento.

supressão das disparidades de género na

O tema dominou a reunião L’éducation

educação e a melhoria de todos os aspe-

dans l’agenda pour le développement

tos qualitativos da educação.

post-2015, que teve lugar em Paris, em

Entre os objetivos da consulta esteve uma

dezembro passado, na UNESCO (Or-

troca de informações sobre os desafios e

ganização das Nações Unidas para a

as principais realizações identificadas no

Educação, a Ciência e a Cultura), com

campo da educação, nomeadamente no

a participação de 27 países doadores,

que respeita aos ODM e à Educação para

quase todos membros do Comité de Ajuda

Todos; a identificação das prioridades da

o Desenvolvimento (CAD) da OCDE. O

educação a incluir na agenda para a edu-

Camões – Instituto da Cooperação e da

cação pós-2015 numa perspetiva regional;

Língua fez-se representar através da sua

o exame da melhor forma de articular e

Presidente, a professora universitária Ana

posicionar a educação como componente

Paula Laborinho.

essencial da agenda global de desenvol-

A dimensão humana do desenvolvimento

vimento pós-2015; o estudo das modali-

integra os novos princípios orientadores

dades de aplicação e acompanhamento

da futura agenda do desenvolvimento. E

da agenda para a educação após 2015 a

a UNESCO – pela sua ação estratégia na

nível nacional, regional e mundial do pon-

área da educação, ciência, cultura, co-

to de vista dos países Europa ocidental e

municação e informação – tem um papel

da América do norte; e ainda o exame do

fundamental a desempenhar nessa inte-

papel destes países, o chamado Grupo

gração.

I, enquanto doadores na agenda para a

A sessão de Paris inseriu-se na consulta a

educação pós-2015, nomeadamente como

nível mundial que tem vindo a ser conduzi-

melhorar o aspeto estratégico e a eficá-

da, para além da UNESCO, pelo UNDG –

cia da ajuda e quais as novas parcerias

United Nations Development Group e pela

a estabelecer para ajudar os países em

UNICEF (Fundo das Nações Unidas para

desenvolvimento.

a Infância), no quadro do processo Educação para Todos, iniciado em Jomtien

PISA

(Finlândia), reafirmado em Dakar (2000) e

Enquanto doadores, os membros do CAD

refletido na Declaração do Milénio.

da OCDE têm particulares responsabili-

No domínio da educação, este último

dades na cooperação para o desenvolvi-

documento resultou num compromisso em

mento no domínio da educação, designa-

torno de 6 objetivos, a saber, a extensão

damente, por via do apoio a programas e

e melhoria da proteção e da educação

projetos de organizações da sociedade

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 87


A Educação na Agenda para o Desenvolvimento pós-2015

civil (OSC), e através da adoção de

homens jovens e adultos com capacida-

quadros estratégicos e do apoio a ações

des/formação técnica e vocacional para o

de sensibilização para o desenvolvimento,

trabalho.

Educação para o Desenvolvimento e de

Para uma abordagem mais qualitativa, a

Educação para a Cidadania Global nos

aplicação do programa PISA de avaliação

respetivos territórios.

dos sistemas de ensino aos países em

É esse o caso da Cooperação Portu-

desenvolvimento poderá dar um contributo

guesa, que vai continuar especialmente focada na promoção do desenvolvimento da educação nos países em desenvolvimento, como fator essencial na promoção do desenvolvimento humano. A educação dá poder às populações ao conferir-lhes conhecimentos e capacidades, contribuindo para a sua melhoria de vida. Nesse sentido, o acesso universal à educação de qualidade, particularmente das mulheres e das raparigas, é um investimento e uma necessidade fundamental e, como tal, uma das áreas prioritárias no quadro da agenda para o desenvolvimento pós 2015. A discussão em curso sobre a definição de uma agenda para o desenvolvimento pós-2015 aponta claramente para necessidade de abordar os futuros ODM e respetivas metas numa perspetiva mais qualitativa do que até agora, incluindo na área da educação. O Relatório do Painel de Alto Nível sobre a agenda pós-2015 instituído pelo secretário-geral das Nações Unidas, de maio de 2013, aponta para a manutenção de um objetivo específico para a educação, mas mais centrado na questão da qualidade e da formação ao longo da vida. Pretende-se assegurar que aumente a percentagem de crianças que ingressa e termina a educação pré-primária; que

importante. A possibilidade de alargar a

todas as crianças completem a educação

aplicação do PISA aos países em desen-

primária e sejam capazes de ler, escrever

volvimento, nomeadamente na perspetiva

e contar de forma suficiente a cumprir os

da mediação dos compromissos a serem

padrões mínimos de aprendizagem; que

estabelecidos no quadro da agenda para

todas as crianças tenham acesso ao en-

o desenvolvimento pós-2015, está ser

sino básico secundário (lower secondary

debatida em vários comités da OCDE.

education); que aumente a proporção de

Portugal tem vindo a apoiar a proposta de

adolescentes com resultados de aprendi-

aplicação do PISA aos países em desen-

zagem reconhecíveis e mensuráveis; que

volvimento que manifestem interesse em

aumente a percentagem de mulheres e

participar.

n

I.C. I.P.

88 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014


English and french texts

The urgency of re-industrialization of Southern Europe. COTEC - Business Association for Innovation - held its ninth meeting in Lisbon, under the pressing issue of ‘reindustrialization’ of the European Union in general and the southern countries (Portugal, Spain and Italy), in particular . For the meeting joined several ministers, technicians and European businessmen to discuss a new industry to the South of Europe. The meeting was attended, in closing, the heads of state of the three countries, HRH Juan Carlos, King of Spain, Giorgio Napolitano, President of Italy, and Cavaco Silva of Portugal. L’urgence de ré-industrialisation de l’Europe du Sud. COTEC - Business Association pour l’innovation - a tenu sa neuvième réunion à Lisbonne, sous la question urgente de la «réindustrialisation» de l’Union européenne en général et les pays du Sud (Portugal, Espagne et Italie), en particulier . Pour la réunion rejoint plusieurs ministres, des techniciens et des hommes d’affaires européens pour discuter d’une nouvelle industrie dans le Sud de l’Europe. La réunion a été suivie, en terminant, les chefs d’Etat des trois pays, SAR Juan Carlos, roi d’Espagne, Giorgio Napolitano, Président de l’Italie, et Cavaco Silva du Portugal. Interview with Ambassador of Poland, Brosnilaw Mistzal Informs us that the arrival of Poland to the European Union has changed the EU profoundly and that Portugal needs Poland to develop its economy and produce profits and Poland Portugal needs to open more doors to the world. Entretien avec l’ambassadeur de Polonie, Brosnilaw Mistzal. L’ambassadeur a defendu que la Polonie a cmodifié profoundement l’Union Européene. A soligné que Portugal a besoin de la Polonie pour développer son économie e la Polonie besoin du Portugal pour ouvrier noveaux marchés au monde. Interview with Ambassador of Israel, Tzipora Rimon. Ambassador speaks of the importance of start-up companies in their country in the areas of high technology software. still speaks of the importance of reaching a peace agreement with the Palestinians and commercial relations with the EU. Entretien avec l’ambassadeur d’Israël, Tzipora Rimon. Ambassadeur parle de l’importance de la start-up dans leur pays dans les domaines des logiciels de haute technologie. Nous parle encore de l’importance de parvenir à un accord de paix avec les Palestiniens et les relations commerciales avec l’UE. Interview with Ambassador of Turkey, Ebru Gokdenizler. The ambassador stated the importance of Turkey become an EU member. Its accession will benefit both Turkey and the EU. In 2013, Turkey signed 7 agreements with Portugal in the political, military and cultural field. Entretien avec l’ambassadeur de Turquie, Ebru Gokdenizler. L’ambassadeur a souligné l’importance de la Turquie devienne membre de l’UE. Son adhésion profitera à la fois la Turquie et l’UE. En 2013, la Turquie a signé 7 accords avec le Portugal dans le domaine politique, militaire et culturel. Interview with Ambassador of Italy, Renato Varriale. The ambassador informs us that the promotion of trade but also investment exchanges must be done. The role of the ambassador changed. The ambassador should be more than a political representative of his country and we should re-enforce the emphasis on the ethical side of diplomacy. Entretien avec l’ambassadeur d’Italie, Renato Varriale. L’ambassadeur nous informe que la promotion du commerce, mais aussi les échanges d’investissement doivent être effectuées. Le rôle de l’ambassadeur changé. L’ambassadeur devrait être plus qu’un représentant politique de son pays et nous devons remplacer l’accent pour le ​​ côté éthique de la diplomatie. Cultural event in tribute to Mozambique. The Mozambican community in Portugal made a ​​ cultural initiative at the Estoril Casino. Attended several figures from Mozambique, Portugal and foreign countries. Manifestation culturelle en hommage au Mozambique. La communauté mozambicaine au Portugal a fait une initiative culturelle au Casino d’Estoril. A participé plusieurs membres de la société mozambicaine, portugaise et étrangère.. Interview with António Almeida Santos. Political concluded talks about his long career, the state of the nation and their views on Africa and Nelson Mandela. Entretien avec António Almeida Santos. Politique conclu parle de sa longue carrière, l’état de la nation et leurs points de vue sur l’Afrique et Nelson Mandela. Interview with Victor Ramalho, secretary general of UCCLA. Connoisseur of the reality of Portuguese-speaking countries, Vitor Ramalho speaks of the importance of UCCLA as added

MARÇO/MAIO 2014 - DIPLOMÁTICA • 89


English and french texts

value to the capital of the Portuguese language. Invites all ambassadors to participate in the project of building the ‘House of the Students of the Empire’. Entretien avec Victor Ramalho, secrétaire général de UCCLA. Connaisseur de la réalité des pays de langue portugaise, Vitor Ramalho parle de l’importance de UCCLA comme une valeur ajoutée à la capitale de la langue portugaise. Invite tous les ambassadeurs de participer au projet de construction de la «Maison des Étudiants de l’Empire». The President of the Portuguese Republic in the XXIII Latin American Summit in Panama. The summit focused on the role of political, economic, social and cultural development of the Community of Latin America in the new global context. Le Président de la République portugaise au Sommet XXIII latino-américain au Panama. Le sommet a porté sur le rôle du développement politique, économique, sociale et culturelle de la Communauté de l’Amérique latine dans le nouveau contexte mondial. Turkey celebrates 90 years of the establishment of the Republic. To mark the date Ebru Gokdenizler ambassador gave a reception attended by representatives of the diplomatic corps accredited in Portugal. Turquie célèbre ses 90 ans d’implantation de la République. Pour marquer la date Ebru Gokdenizler ambassadeur a donné une réception en présence des représentants des corps diplomatiques accrédités au Portugal. Article by the Ambassador of the Dominican Republic, Jaime Duran. According to the ambassador is necessary to re-think the Ibero-American relations. The ongoing threat of crisis must lead to the expansion of the bases of the Ibero-American relations on a more balanced scale and not its decline. Entretien avec l’ambassadeur de la République dominicaine, Jaime Duran. Selon l’ambassadeur est nécessaire de repenser les relations ibéro-américains. La menace permanente de crise doit conduire à l’expansion des relations ibéro-américains sur un plus équilibrées et non ses bases de déclin. Article by the Ambassador of Estonia, Andres Rundu. The ambassador reminds us of the importance of the work that has to be done by the EU in addition to its international activity. More energy links between the EU member states must be done in order to establish an international energy market. Article de l’ambassadeur d’Estonie, Andres Rundu. L’ambassadeur nous rappelle l’importance du travail qui doit être fait par l’UE en plus de son activité internationale. Plus de liens énergétiques entre les Etats membres de l’UE doivent être effectués afin d’établir un marché international de l’énergie. Article by the Ambassador of Mexico, Benito Andion. The Mexican market is large and attractive. Has a large potential for wind resources, solar, geothermal, hydro and biomass, fundamental to the resolution of the increase in energy consumption. Article de l’Ambassadeur du Mexique, Benito Andion. Le marché mexicain est grand et attrayant. Méxique a un grand potentiel pour les ressources éoliennes, solaire, géothermique, hydroélectrique et biomasse, fondamentaux pour la résolution de l’augmentation de la consommation d’énergie. Article by the Ambassador of Albania, Edmond Trako. Ablania shows it’s optimistic path towards integration in the European Union that must be taken by reaching out to all the stakeholders inside the country. Article de l’ambassadeur d’Albanie, Edmond Trako. Albania montre son chemin optimiste vers l’intégration dans l’Union européenne qui doit être pris en tendant la main à toutes les parties prenantes à l’intérieur du pays. Official visit of President of the Portuguese Republic to Sweden. At the meeting, the President advocated Portuguese and Swedish teconomic and technological cooperation. A common exploration of Interests between the two countries has to be taken. Visite officielle du Président de la République portugaise à la Suède. Lors de la réunion, le président a préconisé la coopération économique et technologique portugais et suédois. Une exploration en commun d’intérêts entre les deux pays doit être prendre.

90 • DIPLOMÁTICA - MARÇO/MAIO 2014



MÊS/MÊS 2013 - DIPLOMÁTICA • 92


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