´ Diplomatica Nº20 FEVEREIRO 2014 €7 (Cont.)
BUSINESS & DIPLOMACY
Entrevista Embaixadora de Cuba DIPLOMÁTICA 20 • DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
Uma nova era
Dossier Batalha contra o Ébola Moçambique Filipe Nyusi O novo Presidente
Durão Barroso O adeus à Europa
A queda do BES nas relações com Angola
Tunísia A primavera Árabe
O FENÓMENO
DILMA ROUSSEFF Dias Nacionais: Angola, Brasil, México,
Alemanhã, Aústria, Roménia, Turquia, Andorra, Argélia, Arabia Saudita, China e Coreia
1 • DIPLOMÁTICA - JUNHO/JULHO 2008
With English Texts
UNS APENAS OLHAM, OUTROS VEEM.
Este Natal ofereça algo único em design e protecção para a visão.
Porsche Design Eyewear® é uma marca distribuída pela ESSILOR PORTUGAL e está disponível nas melhores ópticas do país. P8508-C | PVP 240,00€
P8261-A | PVP 355,00€
P8261-A | PVP 355,00€
P8266-C | PVP 355,00€
P8266-B | PVP 355,00€
P8907-B | PVP 290,00€
P8478-B | PVP 350,00€
P8486-A | PVP 350,00€
PVP - Preços recomendados não vinculativos.
Agradecimento: Arboretto
Assuntos Summary
Editorial - Prenúncio de um novo provir Editorial - Harbinger of new stem Espaço Diplomático: Diplomatic Area: Karima Benyaich, Embaixadora do Reino de Marrocos - A segurança e a luta contra o terrorismo, as escolhas de Marrocos Karima Benyaich, Ambassador of the Kingdom of Morocco - The security and the fight against terrorism Paul Schmit, Embaixador de Luxemburgo - As relações entre o Luxemburgo e Portugal Paul Schmit, Ambassador of Luxembourg - Relations between Luxembourg and Portugal Klára Breuer, Embaixadora da Hungria - Europa: a nossa história e destino comum Klára Breuer, Ambassador of Hungary - Europe: our shared history and destiny Ulrich Brandenburg, Embaixador da Alemanha - 2014: Passado e presente nas relações entre a Alemanha e Portugal Ulrich Brandenburg, Ambassador of Germany - 2014: The past and present of Portuguese-german relations Saloua Bahri, Embaixadora da Tunísia - Da transição constitucional à transição democrática Saloua Bahri, Ambassador of Tunisia - From the constitutional transition to the democratic transition Bronisław Misztal, Embaixador da Polónia - Os efeitos buldozzer do século XXI Bronisław Misztal, Ambassador of Poland - The bulldozer effects of the 21st Century Hikmat Ajjuri, Embaixador da Palestina - Sussuros na presença do Mal é uma cultura não-democrática Hikmat Ajjuri, Ambassador of Palestine - Whisper in the Presence of Wrong is a Non-democratic Culture Thalia Petrides, Embaixadora de Chipre - Viver em Portugal, uma experiência maravilhosa Thalia Petrides, Ambassador of Cyprus - Living in Portugal, a wonderful experience
5
6 8 12 14 16 18 20 22
Líderes - Giorgio Napolitano, o Presidente de Itália - a via larga - o papel da Europa e da Itália no Mundo Leaders - President of Italy - The high road - Europe and Italy’s role in the world
24
Ébola - Um tempo de incertezas Ebola - A time of uncertainty
29
Jean-François Blarel, Embaixador de França - Mobilização contra o ébola Jean-François Blarel, Ambassador of France - Mobilization against Ebola
32
Despedida de Durão Barroso faz balanço positivo Durão Barrosos's farewell with positive balance
34
Barroso condecorado pelo Presidente da República Barroso awarded by the President of the Portuguese Republic
42
Brasil a duas vozes - O “fenómeno” Dilma The two sides of Brazil - The Dilma phenomenon
44
Cavaco Silva visita Emirados Árabes Unidos Cavaco Silva visits the United Arab Emirates
50
Cavaco Silva ratifica acordo de livre comércio com Colômbia Cavaco Silva ratifies free trade agreement with Colombia
56
Cavaco Silva e Alberto II do Mónaco - na 5ª Convenção de Negócios da BioMarine Cavaco Silva and Albert II of Monaco in the 5th Biomarine business convention
57
Johana Ruth Tablada de la Torre, Embaixadora de Cuba Johana Ruth Tablada de la Torre, Ambassador of Cuba
59
Angola no caminho do progresso e desenvolvimento Angola on the path of progress and development
64
Opinião - As consequências da queda do BES nas relações económicase políticas Luso-Angolanas Opinion - The consequences of the fall of BES in the Portuguese-angolean economic and political relations
68
Filipe Nyusi - De ilustre desconhecido a presidente de Moçambique Filipe Nyusi - Illustrious unknown to president of Mozambique
72
Mala Diplomática - Dias nacionais: Brasil, México, Alemanha, Austria, Roménia, Turquia, Andorra, Argélia, Arábia Saudita, China, Coreia Diplomatic pouch - National days: Brazil , Mexico, Germany , Austria , Romania, Turkey , Andorra , Algeria, Saudi Arabia, China, Korea
76
Imamat do Príncipe Aga Khan Prince Aga Khan's Imamat
100
Textos em Inglês English textes
105
DIRECTOR: Maria de Bragança PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Rua de São Bernardo, nº27 A – Lisboa. MARKETING & PUBLICIDADE: Gabinete 1 - e-mail:gabinete1@gabinete1.pt Tel.: 21 099 96 74 Fax: 21 096 49 72 IMPRESSÃO: Gabinete 1 DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395
4 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
EDITORIAL
Prenúncio de um novo provir Ao fim de um ano marcado por tristes acontecimentos, não se perdeu contudo a esperança que outros tempos hão-de vir, irreversíveis, perenes, onde um outro mundo se afirme como sementeira nova de esperança, fraternidade e paz, contra estes tempos de cólera e intolerância à solta. Tempos de fundamentalismo supostamente religioso, com o Estado Islâmico a revelar-se a este mundo, num cenário de mortes e tragédia e a trazer ao de cima o que de pior a Humanidade foi acumulando ao logo dos tempos por razão da nossa arrogância e da indesculpável distração colectiva. Tempos de fogo, com o eclodir da guerra aqui mesmo ao lado, na Ucrânia, colocando a velha Europa com um barril de pólvora no seu ventre, de consequências imprevisíveis. Mais adiante, aqui a um abraço de mar, a tragédia que se abateu sobre o povo irmão de Cabo Verde e que sublinha a impotência humana perante a força indomável da natureza, mas que propicia do mesmo modo o reencontrar com os valores maiores da solidariedade. Aqui, mesmo em casa, deparamo-nos com o acentuado empobrecimento da população portuguesa, com o espectro da fome pairando em muitos lares e com a desesperança à solta. No entanto, neste oceano de contratempos e vilanias, uma luz de esperança abriu-se, neste ocaso de ano velho, com a aparente queda do “muro de Cuba” e o retomar das relações diplomáticas entre este país latino-americano e os Estados Unidos da América. 2014 não foi um ano feliz para Portugal e para o mundo. Mas a vida continua, fazendo de cada dificuldade uma alavanca para avançar num mundo melhor, sempre assim foi e sempre assim será. A diplomacia será certamente determinante, como sempre foi. Que o diálogo, o respeito pelas diferenças e a paz possam marcar 2015 como prenúncio de um novo provir.
Harbinger of a new stem After a year marked by sad events, we not yet lost hope that other times are to come, irreversible, perennials, where another world to assert itself as a new seed of hope, fraternity and peace, against these times of wrath and intolerance loose. Times of so-called religious fundamentalism, with the Islamic State to proving to this world a death and tragedy scenario and bringing out the worst that humanity has accumulated through the time by reason of our arrogance and inexcusable legal distraction. Times of fire, with the outbreak of war right beside us, in Ukraine, putting the old Europe with a time bomb in her womb, with unforeseeable consequences. Nearby, to the extent of an embrace, the tragedy that befell our brotherly people of Cape Verde and marking the human impotence before the indomitable force of nature that, at the same time, has shown us the highest values of solidarity. Here, even at home, we are faced with the sharp depletion of the Portuguese population, with the specter of hunger hovering in many homes and hopelessness on the loose. However, in this ocean of setbacks and villainy, a light of hope opened, in the evening of the old year, with the apparent fall of the "wall of Cuba" and the resumption of diplomatic relations between the Latin American country and the United States of America. 2014 was not a happy year for Portugal and the world. But life goes on, making every difficulty a lever to advance to a better world. So always was and always will be. Diplomacy will certainly be decisive, as ever. That dialogue, respect for differences and peace to mark 2015 as harbinger of a new stem.
Os particulares, empresas e instituições que desejem manifestar o seu apoio para com a população afetada pela erupção na Ilha do fogo, em Cabo Verde poderão entregar os seus donativos, em roupas, produtos alimentares não perecíveis, material escolar e outros, na seguinte morada: Regimento de Sapadores Bombeiros, Quartel de Marvila Rua Dr. Espírito Santo – Marvila Resposável: Sub-chefe Principal Antonio Sonim Telemóvel: 916 418 678 Email : antonio.sonim@cm-lisboa.pt Horário: das 09 às 17
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 5
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Karima Benyaich, Embaixadora do Reino de Marrocos A segurança e a luta contra o terrorismo, as escolhas de Marrocos
"
O FANATISMO DO ÓDIO, A EXPLORAÇÃO
DA RELIGIÃO E O DESVIO DOS SEUS PRINCÍ-
PIOS MAIS NOBRES SÃO AS BALIZAS QUE REGEM A IDEOLOGIA DOS EXTREMISTAS
Desde os ataques de 11 de
tamento permanecem inalterados:
Setembro de 2001, a luta contra
cultura de ódio, ostracismo e
o terrorismo está no centro das
rejeição da alteridade são sempre
preocupações da Organização
a base dos seus argumentos.
das Nações Unidas quer no Con-
O fanatismo do ódio, a explora-
selho de Segurança bem como na
ção da religião e o desvio dos
Assembleia Geral.
seus princípios mais nobres são
A actualidade internacional,
as balizas que regem a ideologia
infelizmente lembra-nos todos
dos extremistas. Frustração, igno-
os dias, que já não estamos em
rância e insegurança são ainda o
condições de relaxar os nossos
seu terreno preferido.
esforços contra as ameaças ter-
A Resolução 2178 do Conselho
roristas.
de Segurança das Nações Uni-
Embora os grupos terroristas te-
das, adoptada na Cimeira do
nham evoluído na forma, no modo
Conselho em Setembro passado,
de funcionamento e nas ambi-
sublinha a importância da luta
ções, os seus métodos de recru-
contra a radicalização religiosa e
6 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
"
➤
o extremismo violento. Esta luta
reformas políticas necessárias,
é muitas vezes reduzida à única
que efectivamente luta contra o
dimensão de segurança, esque-
radicalismo violento batalhando
cendo-se, assim, a importância
contra o terrorismo.
dos factores culturais e religiosos.
A abordagem marroquina, é as-
A experiência marroquina na luta
sim consistente, porque as ini-
contra o terrorismo é baseada
ciativas e a lógica desenvolvidas
numa abordagem realista em
internamente são compatíveis e
políticas comprovadas. É parte de
complementares com as acções
uma estratégia política implementada desde que o país foi atingido fortemente pelo terrorismo durante os atentados de Casablanca de 16 de Maio de 2003. A abordagem marroquina é, acima de tudo global, porque é baseada em várias dimensões. Na verdade, Marrocos está convencido de que não pode haver segurança, paz sustentável e estabilidade sem a implementação do tríptico: segurança, desenvolvimento humano sustentável e inclusivo e promoção dos autênticos valores culturais e religiosos. Para atingir estes objectivos, três áreas foram desenvolvidos pelo
"
MARROCOS ESTÁ CONVENCIDO DE
QUE NÃO PODE HAVER SEGURANÇA, PAZ
SUSTENTÁVEL E ESTABILIDADE SEM A IMPLEMENTAÇÃO DO TRÍPTICO: SEGURANÇA, DESENVOLVIMENTO HUMANO SUSTENTÁVEL E INCLUSIVO E PROMOÇÃO DOS AUTÊNTICOS VALORES CULTURAIS E RELIGIOSOS
Reino: – Optimização da governação de segurança e melhoria do quadro
"
jurídico da luta contra o terroris-
de cooperação realizadas com os
mo;
parceiros estrangeiros.
–Luta contra a insegurança e
A contribuição de Marrocos, é
precariedade social promoven-
a expressão da sua crença de
do o desenvolvimento humano
que toda a acção antiterrorista
sustentável, através da Iniciativa
definida globalmente, só é viável
Nacional para o Desenvolvimento
através do compromisso indivi-
Humano (INDH), lançada por Sua
dual e colectivo dos Estados. A
Majestade o Rei Mohammed VI
dimensão regional, como tal, é
em Maio de 2005;
muito importante.
–Reestruturação da área religiosa
São todos estes factores que
preservando os princípios do diá-
determinam o compromisso de
logo, abertura e tolerância, regis-
Marrocos contra o terrorismo bem
tado durante séculos no repositó-
como a sua mobilização contínua
rio sunita e malaquita do Reino.
contribuindo desta forma para os
– É esta combinação destes três
esforços da comunidade interna-
elementos, juntamente com as
cional.
■
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 7
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Paul Schmit, Embaixador de Luxemburgo As relações entre o Luxemburgo e Portugal
"
AS EXCELENTES RELAÇÕES DIPLOMÁ-
TICAS E DE AMIZADE QUE EXISTEM ENTRE O LUXEMBURGO E PORTUGAL SÃO UM BOM PONTO DE PARTIDA
PARA FORTALECER AS TROCAS COMERCIAIS E LOGÍSTICAS
"
As relações mais que centená-
destino, onde foram acolhidos de
valor de 45 milhões de euros (20º
rias entre os dois países foram
braços abertos.
lugar) e importou bens no valor de
fortalecendo-se de forma gradual,
As excelentes relações diplomáticas
30,5 milhões de euros (36º lugar).
entre outros, pelo facto de o actual
e de amizade que existem entre
Estes valores têm permanecido
Chefe de Estado do Luxemburgo ser
o Luxemburgo e Portugal são um
constantes ao longo dos últimos
descendente directo da maioria dos
bom ponto de partida para fortalecer
anos. Mais de metade das expor-
Reis portugueses e, pelo acolhimen-
as trocas comerciais e logísticas.
tações para o Luxemburgo provêm
to em Portugal, no Verão de 1940,
A balança comercial entre os dois
do sector agrícola, enquanto que os
da Família Grão-Ducal e do Governo
países é dominada pelas trocas no
metais são o bem mais importado.
luxemburguês no exílio, graças aos
sector dos serviços, mas existem
Uma das primeiras visitas oficiais
vistos emitidos pelo Consul Geral de
igualmente oportunidades nas áreas
que o Primeiro Ministro do Luxem-
Portugal em Bordéus, Dr. Aristídes
do comércio e da logística. Os dois
burgo, Xavier Bettel, desejou efec-
de Sousa Mendes. E mais recen-
países encontram-se em posições
tuar, no passado mês de Março
temente, nos anos 1960 e 1970 do
relativamente baixas na tabela das
e apenas dois meses após a sua
século passado, devido à emigração
importações e exportações: 20º e
tomada de posse, foi a Portugal, jus-
de milhares de portugueses que
36º lugar. Em 2013, Portugal expor-
tificando: “As relações bilaterais são
escolheram o Luxemburgo como
tou para o Grão-Ducado bens no
excepcionais. Mais de 16% dos
8 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
cidadãos residentes no Luxem-
entre os diferentes actores dos dois
de investigação universitária ou do
burgo são portugueses (cerca de
países no que diz respeito à Educa-
IPN, a formação ao mais alto nível e
90.000 pessoas). A História, a
ção e às Comunidades Portuguesas,
a promoção da Ciência e da Tecno-
cultura e a gastronomia portuguesas
no sentido de se encontrarem as
logia, bem como a colaboração entre
estão muito presentes no Luxembur-
melhores formas de integração das
a Universidade do Luxemburgo e as
go e contribuem para o enriqueci-
várias línguas estrangeiras na forma-
Universidades de Aveiro, Coimbra e
mento da sociedade multicultural do
ção dos jovens e daí tirar o máximo
Universidade Nova de Lisboa, foram
Grão-Ducado. Os laços são fortes
proveito, e de apoiar os imigrantes
temas abordados durante esta visita.
e queremos manter esta relação de
portugueses no que diz respeito ao
No decorrer dos encontros entre os
amizade, diria mesmo familiar, entre
mercado de trabalho e do alojamen-
dois ministros da Educação e das
os dois países”.
to no Luxemburgo.
respectivas equipas, foram tam-
Por seu turno, o Primeiro Ministro
Na área da Educação os contactos
bém discutidos projectos na área
português Pedro Passos Coelho,
têm sido vários, tendo-se efectuado
da aprendizagem multi-lingue para
efectuou uma visita oficial ao Luxem-
visitas bilaterias, do Ministro Nuno
crianças de tenra idade, a avaliação
burgo nos dias 22 e 23 de Outubro,
Crato ao Luxemburgo em Julho e do
de cursos integrados e cursos para-
tendo sido acompanhado pelo Minis-
Ministro Claude Meisch a Portugal
lelos em Português no Luxemburgo
tro da Educação, Nuno Crato, pelo
em Setembro último. A visita do Mi-
e o seu papel na aprendizagem,
➤
Secretário de Estado das Finanças, Manuel Rodrigues, e pelo Secretário de Estado das Comunidades portuguesas, José Cesário. As relações económicas entre o Luxemburgo e Portugal, nomeadamente no domínio das energias renováveis, que ambos desejam desenvolver mais, foi um dos temas abordados pelos dois Primeiros Ministros durante esta visita. Sublinharam a necessidade de reforçar
"
A HISTÓRIA, A CULTURA E A GASTRONOMIA PORTUGUESAS ESTÃO MUITO PRESENTES NO LUXEMBURGO E CONTRIBUEM PARA O ENRIQUECIMENTO DA SOCIEDADE MULTICULTURAL DO GRÃO-DUCADO
"
as relações comerciais, estando
a fim de se encontrar as melhores soluções. Visitas recíprocas continuarão a ser organizadas, para melhor se conhecer as características e as particularidades de funcionamento dos dois países. Numa iniciativa da Câmara de Comércio do Luxemburgo e da Câmara de Comércio Luso-Belgo-Luxemburguesa, teve lugar no passado mês de Julho, uma deslocação a Lisboa de um grupo de agentes económicos
previstas missões económicas dos
nistro da Educação do Luxemburgo
luxemburgueses. Durante o semi-
ministérios da Economia dos dois
a Portugal, teve lugar no contexto de
nário que foi organizado no âmbito
países. Neste contexto, o Primeiro
uma colaboração mais aprofunda-
desta visita, vários especialistas do
Ministro Bettel sublinhou as boas re-
da que os dois ministros decidiram
sector da logística de ambos os paí-
lações ao nível politico, diplomático e
adoptar, nos domínios da educação
ses puderam apresentar as diferen-
de amizade entre o Grão-Ducado e a
e da investigação, e vem no se-
tes oportunidades neste sector, em
República Portuguesa, sublinhando
guimento de um primeiro contacto
franca expansão no Luxemburgo, e
que, a nível económico há ainda um
estabelecido no Luxemburgo, em
trocar experiências e informações
grande potencial por desenvolver.
Julho de 2014. O Ministro Meisch
durante os vários encontros B2B que
Durante a visita do Primeiro Ministro
visitou, entre outros, a Universidade
foram organizados. É intenção dos
português, Xavier Bettel e Pedro
de Coimbra e o Instituto Pedro Nu-
dois países, através dos seus minis-
Passos Coelho também aborda-
nes (IPN, Associação para a Inova-
térios da Economia e das entidades
ram alguns dos desafios bilaterais,
ção e Desenvolvimento em Ciência
responsáveis pelo comércio externo,
nomeadamente o sistema educati-
e Tecnologia). A investigação e o
continuar a desenvolver este tipo de
vo luxemburguês e a situação dos
desenvolvimento tecnológico, a
contactos, numa optica de expansão
imigrantes portugueses no Luxem-
criação de empresas inovadoras –
e crescimento em áreas onde ainda
burgo. Há uma estreita colaboração
incubação baseada em projectos
há muitas oportunidades. ■ ➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 9
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Paul Schmit, Ambassadeur Luxembourg Les relations entre le Luxembourg et le Portugal Les relations plus que centenaires
L’histoire, la culture et la gastronomie
pays, notamment au niveau Éducation
entre les deux pays sont basées sur un
portugaise sont très présentes au
et Communautés portugaises, pour
rapprochement progressif symbolisé
Luxembourg et enrichissent la société
trouver des voies de progression afin
par le fait que l’actuel Chef de l’Etat
multiculturelle du Grand-Duché. Les
de mieux pouvoir tenir compte de la
luxembourgeois descend en ligne
liens sont étroits et il faut maintenir la
richesse des nombreuses langues
directe de la plupart des Rois portugais
relation amicale, voire familiale entre
étrangères dans la formation des
et par l’accueil, en été 1940, de la Fa-
les deux pays».
jeunes ou de soutien aux les immi-
mille grand-ducale et du gouvernement
Pour sa part, le Premier ministre portu-
grants portugais au niveau du marché
luxembourgeois en exil, notamment
gais, Pedro Passos Coelho, a effectué
du travail et du logement au Luxem-
grâce à des visas délivrés à l’époque
les 22 et 23 octobre, une visite officielle
bourg.
par le Consul général du Portugal à
au Luxembourg, accompagné du mi-
Des échanges au niveau de l’éduca-
Bordeaux, Monsieur Aristides de Sou-
nistre de l’Éducation et de la Science,
tion avaient déjà eu lieu en juillet et
sa Mendes.
Nuno Crato, du Secrétaire d’État aux
en septembre, avec respectivement
Les liens entre les deux pays ont
Finances, Manuel Rodrigues, et du
les visites du Ministre Nuno Crato au
connu un développement majeur dans
Secrétaire d’État aux Communautés
Luxembourg et la visite du Ministre
les années 1960 et 1970, grâce à
portugaises, José Cesário.
Claude Meisch au Portugal.
l’émigration souhaitée et favorisée de
Les deux Premiers ministres ont abor-
La visite du Ministre Meisch au Portu-
plusieurs dizaines de milliers de Portu-
dé les relations économiques entre le
gal s’est inscrite dans le contexte d’une
gais vers le Luxembourg.
Luxembourg et le Portugal, notamment
collaboration approfondie que les deux
Les excellentes relations diplomatiques
celles dans le domaine des énergies
ministres ont décidé de poursuivre
et d’amitié qui existent entre le Portugal
renouvelables, qu’ils souhaitent déve-
dans les domaines de l’éducation et
et le Luxembourg sont un bon point
lopper davantage. D’autre part, sont
de la recherche. Elle a fait suite à un
de départ pour renforcer les échanges
prévues des missions économiques
premier échange au Luxembourg en
commerciaux et logistiques. Il est
des ministères luxembourgeois et
juillet 2014. Le Ministre Meisch a, entre
évident que la balance commerciale
portugais de l’Économie, afin d’inten-
autres, visité l’Université de Coimbra et
entre le Luxembourg et le Portugal est
sifier les relations entre les deux pays.
l’Institut Pedro Nunes (IPN, Associa-
dominée par les échanges de services,
Dans ce contexte, le Premier ministre
tion pour l’Innovation et le Développe-
mais il existe également des opportuni-
Bettel a souligné les bonnes relations
ment en Science et Technologie)
tés au niveau du commerce physique
au niveau politique, diplomatique et
La recherche et le développement
et de la logistique.
«familial» entre le Grand-Duché et la
technologique, la création d’entreprises
Les deux pays ne se placent qu’aux
République portugaise, tout en mettant
innovantes - incubation (sur la base
20e et 36e rang en ce qui concerne les
l’accent sur le fait qu’au niveau éco-
d’idées issues de projets de recherche
exports et imports de biens. En 2013,
nomique, il y a encore «du potentiel à
universitaires ou de l’Institut, et la for-
le Portugal a exporté des marchan-
développer». Une mission économique
mation de haut niveau et la promotion
dises pour 45 millions d’euros vers le
organisée par la Chambre de Com-
de la science et de la technologie ont
Grand-Duché (20e rang) et importé
merce du Luxembourg, en collabora-
été des sujets abordés lors de cette vi-
des biens pour 30,5 millions d’eu-
tion avec la Chambre de Commerce
site (collaboration entre l’Université du
ros (36e rang). Ces chiffres restent
Luso-Belgo-Luxembourgeoise, avait
Luxembourg et les Universités d’Avei-
constants depuis des années. Plus
eu lieu au mois de juillet dernier à Lis-
ro, Coimbra ou avec l’Universidade
de la moitié des exportations vers le
bonne. Lors du séminaire, des experts
Nova de Lisboa).
Luxembourg est constituée de produits
dans le domaine de la logistique se
Lors des rencontres entre les deux mi-
alimentaires tandis que les métaux
sont exprimés sur les différentes possi-
nistres et leurs équipes, l’apprentissage
dominent les importations.
bilités d’échanges entre les deux pays,
multilingue en bas âge, l’évaluation des
Une des premières visites offi-
des sociétés portugaises ayant eu l’oc-
cours intégrés et des cours parallèles
cielles que le Premier ministre du
casion de mieux connaître ce domaine,
en portugais au Luxembourg et son
Luxembourg, Xavier Bettel, a sou-
en forte expansion au Luxembourg,
rôle dans l’apprentissage multilingue
haité effectuer, au mois de mars
lors de plusieurs rencontres B2B.
en bas âge ont aussi été discutés,
dernier et quelques mois après son
Aussi des problèmes bilatéraux ont
dans le but de trouver les meilleures
entrée en fonction, a été au Portu-
été abordés, notamment le système
solutions.
gal : «Les relations bilatérales sont
éducatif luxembourgeois et la situation
Des visites réciproques sont orga-
exceptionnelles. Plus de 16% des
des immigrants portugais au Luxem-
nisées afin de mieux connaître les
résidents luxembourgeois (90.000
bourg. Il existe une collaboration étroite
caractéristiques et particularités de
citoyens) sont d’origine portugaise.
entre les différents acteurs des deux
fonctionnement des deux pays. n
10 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Klára Breuer, Embaixadora da Hungria Europa: a nossa história e destino comum
"
O MEU OBJECTIVO É TRAZER A HUNGRIA MAIS PERTO DE PORTUGAL E VICE-VERSA, APROXIMANDO, ASSIM, O POVO HÚNGARO DO
POVO PORTUGUÊS. ASSIM, A NOSSA TAREFA É: APROXIMAR O DISTANTE
"
É uma honra para mim aceitar o
em ser a guerra que acabaria
Outubro não seja apenas uma cau-
convite da Revista Diplomática por
com todas as guerras, originando
sa húngara. Continuamos a lem-
forma a dar o meu contributo à
ainda mais sofrimento ao longo do
brar com gratidão todos aqueles
edição de Dezembro, num ano tão
século 20.
que, de fora da Hungria, ajudaram
importante para o meu país. Este
Todos os anos, entre 23 de Outu-
os nossos revolucionários nesses
ano a Hungria, juntamente com
bro e 4 de Novembro, os húngaros
dias de Outubro e a seguir.
outros países da nossa região,
recordam os heróis da Revolução
Sabemos que a revolução foi
comemora o 25º aniversário das
de 1956 que teve uma duração
brutalmente derrotada em Novem-
alterações democráticas e o 15º
curta mas, a meu ver, foi também
bro de 1956, mas acredito que em
aniversário da sua adesão à NATO
uma importante chamada de aten-
1989 acabou por sair vitoriosa.
e à UE.
ção para o resto do mundo. Foi
Não é uma mera coincidência que
Este ano é igualmente importan-
este levantamento que ajudou mui-
o estado democrático tenha sido
te recordar o início da I Guerra
tas pessoas a entenderem o que o
declarado precisamente no dia 23
Mundial, uma guerra frequente-
comunismo realmente significava
de Outubro de 1989, há 25 anos.
mente referida como a ‘guerra de
para a nossa região. É, por isso,
Nós na Hungria sabemos que há
irmãos’ das nações europeias que,
minha convicção que a preserva-
muitas razões para lembrarmos os
pela forma como terminou, falhou
ção da memória da Revolução de
heróis de 1956, tendo para com
12 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
eles uma dívida de gratidão. O
também, um entendimento forte
ra da Hungria em Portugal, espero
sacrifício deles não foi em vão.
daquilo que queremos alcançar,
poder contribuir para encontrarmos
1956 é, para nós, símbolo da liber-
em conjunto, em prol dos nossos
novas áreas de cooperação entre
dade e de solidariedade.
cidadãos. Temos que restabele-
os nossos países. Estou convenci-
O ano de 1989 trouxe enormes
cer a nossa confiança – o nosso
da de que nas áreas da economia,
mudanças para a nossa Região.
crescimento e competitividade
cultura, ciências e tecnologia e na
Para o mundo inteiro, o símbolo
dependem dela. Os elementos
procura das respostas certas para
mais visível destas mudanças pro-
constitutivos duma Europa forte
as questões sociais preocupantes
vavelmente é a queda do muro de
são as próprias nações.
poderemos reforçar-nos mutua-
Berlim. Para nós, húngaros, é mo-
O Primeiro-Ministro da Hungria,
mente através da cooperação.
tivo de grande orgulho termos con-
Sr. Viktor Orbán recentemente
Gostaríamos de dar a conhecer
tribuído para esse acontecimento
escreveu o seguinte: “Os valores
aos nossos amigos portugueses
com a abertura da nossa fronteira
mais importantes da Europa são
as porcelanas de Herend, o nosso
com a Áustria, através da qual
as suas nações, as nações na sua
vinho de Tokaj, a excelente Aca-
dezenas de milhares de cidadãos
diversidade. (…) Porque existem
demia de Música Ferenc Liszt, os
da Alemanha Oriental deixaram
raízes nacionais de vários milha-
nossos laboratórios de pesquisa,
o Bloco do Leste em direcção ao
res de anos – cortá-las seria igual
bem como as universidades que
Ocidente. Sobre esse acto históri-
ao suicídio. É minha convicção
oferecem programas de formação
co recomendo vivamente o livro de
que as nações deveriam ser mais
completos em inglês, alemão e
Andreas Oplatka, Der erste Riss
envolvidas no trabalho realizado
francês.
in der Maurer (A primeira brecha
na União. (…) A Europa institucio-
Outrora, por razões históricas
no Muro). Note-se que na altura
nalizada não se pode afastar dos
conhecidas, os húngaros chega-
do acontecimento, há 25 anos, as
estados-membros e dos cidadãos.
vam a Portugal em circunstâncias
tropas soviéticas ainda estavam no
(…) Temos que enfrentar com
infelizes. Hoje constatamos que o
território da Hungria.
firmeza os desafios e problemas,
número de húngaros em Portugal
A liberdade e a democracia são,
procurando as respostas certas
cresce de novo, mas desta vez
por tanto, preciosas para os hún-
com uma postura de implacável
graças às liberdades que tanto
garos. Acreditámos e continuamos
rectidão. Mas para isso precisa-
prezamos na União Europeia.
a acreditar que a Europa é a nossa
mos de saber o que queremos.
Os nossos jovens visitam cada
pátria comum – razão pela qual
Precisamos de humildade para al-
vez mais os nossos países, atra-
nós sentíamos aprisionados no
cançar os nossos objectivos, duma
vés, por exemplo, do Programa
Bloco do Leste. Ao recordar esses
visão clara e inequívoca, duma
Erasmus. É, para mim, motivo de
tempos, sinto uma real alegria por
liderança política capaz de definir
grande satisfação poder referir que
‘tudo isso ter acabado’.
e manter um rumo. É desta for-
recentemente foi fundada a asso-
A seguir, o povo húngaro expres-
ma que as nossas preocupações
ciação dos húngaros em Portugal,
sou, através de referendos, a sua
sentidas pela Europa se poderão
a Associação Portugal - Hungria
vontade de apoiar a adesão da
converter no ponto de partida da
para a Cooperação, que convida
Hungria à NATO e a UE. E quando
acção comum.”
todos os interessados a ela se
a Hungria teve a honra de assumir
Hoje, quando estamos a sair da
unirem.
a presidência rotativa do Conselho
crise, a necessidade desta acção
A Hungria, talvez até a Europa
da UE em 2011, o nosso lema foi
comum e a consciência de que
Central, pode parecer um pouco
‘Europa forte’. Acreditamos, de
todos estamos dependentes uns
distante de Portugal. O meu objec-
facto, numa Europa forte, uma as-
dos outros são cada vez mais
tivo é trazer a Hungria mais perto
piração provavelmente mais válida
pertinentes. A cooperação entre os
de Portugal e vice-versa, aproxi-
que nunca. No entanto, para nós,
pequenos e médios países dentro
mando, assim, o povo húngaro do
isto não significa apenas institui-
da União é duma importância fun-
povo português. Assim, a nossa
ções fortes em Bruxelas. Significa,
damental. Como nova Embaixado-
tarefa é: aproximar o distante.
➤
■
(1) Texto original: http://www.miniszterelnok.hu/cikk/orban_viktor_aggodalom_europaert?utm_source=mandiner&utm_medium=link&utm_campaign=mandiner_201411
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 13
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Ulrich Brandenburg, Embaixador da Alemanha 2014: Passado e presente nas relações entre a Alemanha e Portugal
"
NENHUM DOS PAÍSES FICOU A GANHAR
COM A GUERRA. QUER A JOVEM REPÚBLICA
PORTUGUESA, QUER A ALEMANHA, SOFRERAM ABALOS POLÍTICOS E ECONÓMICOS DECORRENTES DA I GUERRA MUNDIAL, O QUE ACABOU POR DITAR O FIM DAS JOVENS DEMOCRACIAS REPUBLICANAS
"
Uma série de eventos em 2014
alemães e portugueses confronta-
do Cônsul-geral de Portugal em
procuram marcar na Europa a recor-
ram-se não só na frente ocidental
Bordéus, Aristides de Sousa Men-
dação coletiva de acontecimentos
de Flandres e do norte de França,
des, que concedeu aproximadamen-
históricos que moldaram o destino
mas também em África. Ambos os
te 30.000 vistos, salvando assim a
do continente no passado século. Há
lados sofreram perdas significativas.
vida destes perseguidos, 10.000 dos
100 anos eclodiu a I Guerra Mundial,
Nenhum dos países ficou a ganhar
quais cidadãos judeus.
a “catástrofe original” do século XX;
com a guerra. Quer a jovem repúbli-
O dia 9 de Novembro de 1989 foi um
há 75 anos a Alemanha nazi invadiu
ca portuguesa, quer a Alemanha, so-
dia de grande alegria, não apenas
a Polónia e despoletou a II Guerra
freram abalos políticos e económicos
para nós na Alemanha. A alegria
Mundial; e há 25 anos o Muro de
decorrentes da I Guerra Mundial, o
pela superação da divisão da Eu-
Berlim caiu, permitindo a reaproxima-
que acabou por ditar o fim das jovens
ropa e pelo fim da Guerra Fria foi
ção entre os povos da Europa.
democracias republicanas. Durante
partilhada por muitos portugueses,
Estas memórias históricas também
a II Guerra Mundial, um Portugal
que somente 15 anos antes tinham
têm um significado para as relações
neutro tornou-se um ponto de passa-
pacificamente lutado pela liberdade e
entre a Alemanha e Portugal. Os
gem seguro para muitos perseguidos
democracia no seu país.
nossos dois países foram adversá-
pelo regime nazi na Alemanha e nos
Contudo, a história coletiva de am-
rios na I Guerra Mundial. Soldados
países ocupados. Sublinho o papel
bos países remonta a um período
14 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
muito anterior. A primeira institui-
perfazendo hoje aproximadamente
Erasmus, seja para a totalidade do
ção de solidariedade social criada
120.000 residentes. São um exemplo
curso. Ambos os países proporcio-
por alemães em Lisboa – a Associa-
de integração bem-sucedida e um
nam condições atrativas. No ano
ção de S. Bartolomeu dos Alemães
elo de ligação importante e estável
letivo 2012/13, mais de 900 estudan-
em Lisboa – foi fundada no séc. XIII
entre os nossos dois países. Por
tes alemães estudavam em univer-
e ainda existe. Posteriormente, os
outro lado, Portugal suscita cada vez
sidades portuguesas, e 1500 portu-
comerciantes das cidades hanseáti-
mais interesse dos cidadãos ale-
gueses – 1000 dos quais, já a viver
cas estabeleceram-se aqui, por for-
mães, também pela maior facilidade
na Alemanha - em universidades
ma a transacionar diretamente com o
em viajar hoje em dia. Chegam a
alemãs. Evidentemente que estes
império português. A criação da CCI-
Portugal para trabalhar, estudar ou
números ainda têm grande margem
LA em 1954 surge assim numa longa
após a reforma. Vários milhares de
para crescer.
tradição cooperante entre os agentes
alemães estão hoje em casa em Por-
Urge, assim, aumentar a oferta de
económicos de ambos países. Em
tugal. O número de turistas alemães
ensino das respetivas línguas no
Junho de 2014 comemoraram-se os
em Portugal tem vindo a crescer
país parceiro, especialmente no
➤
60 anos desta Câmara, na presença dos Presidentes dos dois países. Em Portugal estão representadas cerca de 300 empresas alemãs. Muitas delas usufruem das condições de instalação e desenvolvimento que Portugal tem para oferecer. Não é por acaso que entre o “Top 10” de maiores exportadores de Portugal se encontram três empresas alemãs. Empresários alemães enaltecem a qualificação e a fiabilidade dos colaboradores portugueses, contribuindo para as vantagens de investir em Portugal, que nos últimos anos tem melhorado consideravelmente a sua competitividade a nível internacional.
ensino escolar e universitário para
"
capacitar os jovens com as ferra-
URGE [...] AUMENTAR A OFER-
mentas linguísticas que facilitem a
TA DE ENSINO DAS RESPETIVAS LÍNGUAS NO PAÍS PARCEIRO, ESPECIALMENTE NO ENSINO ESCOLAR E UNIVERSITÁRIO PARA CAPACITAR OS JOVENS COM AS FERRAMENTAS LINGUÍSTICAS QUE FACILITEM A SUA INTEGRAÇÃO
Mas existe outra data que poucas
"
sua integração. Infelizmente o ensino da língua alemã nas escolas portuguesas nem de longe representa a intensidade das relações bilaterais entre os dois países. Ao contrário, o conhecimento da língua portuguesa na Alemanha estaria em pior estado, se lá não existisse a comunidade portuguesa. Outra área em que deveríamos estreitar os laços é a I&D, pois ambos os países têm criado um enquadramento favorável à prossecução dos seus objetivos, que também têm claras repercussões económicas.
vezes é mencionada na comuni-
e em 2013 quase 120.000 turistas
cação social. Há precisamente 50
portugueses visitaram a Alemanha. A
-se no topo da agenda, quer em
anos, o carpinteiro português de 38
Alemanha representa, com 5%, o 6º
Portugal, quer na Alemanha, por
anos, Armando Rodrigues de Sá,
lugar no ranking de destinos estran-
exemplo.
iniciou o seu caminho de Vale de
geiros para os portugueses. Esta
Alemanha ao centro da Europa, Por-
Madeiros para a Alemanha. À sua
rota rumo ao conhecimento mútuo é
tugal no Ocidente: eis um belo exem-
chegada à estação de Colónia-Deutz
extremamente positiva para ambas
plo de aproximação e cooperação na
foi celebrado como o milionésimo
as culturas e países.
UE, onde representamos interesses
trabalhador estrangeiro a chegar
As boas relações entre a Alema-
comuns. Cooperação e interdepen-
à Alemanha. Muitos portugueses
nha e Portugal não são, contudo,
dências económicas, partilha de
chegaram antes e depois dele. Parte
um motivo para complacência. Um
valores, mas também uma melhoria
desta comunidade regressou a Por-
número crescente de estudantes
da aprendizagem mútua, são as
tugal, tal como Armando Rodrigues
alemães inscreve-se em universida-
melhores garantias para evitar uma
de Sá. Muitos outros permanece-
des portuguesas - e vice-versa – seja
repetição das amargas experiências
ram e criaram raízes na Alemanha,
por semestre, através do programa
do século XX.
As energias renováveis encontram-
■
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 15
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Saloua Bahri, Embaixadora da Tunísia De la transition constitutionnelle à la transition démocratique
"
AUJOURD’HUI, ON PEUT DIRE QUE LA TUNISIE A RÉUSSI SA TRANSITION DÉMOCRATIQUE
"
Il y a près de 4 ans, le 14 janvier
culture inapte à la démocratie et à
intensément ce moment, tout en
2011, la Tunisie, petit pays plutôt
la liberté.
s’attachant à rendre hommage à
connu par sa stabilité et sa séré-
Malgré la crise économique et le
ceux qui ont donné leur vie, pour
nité, a donné le signal aux révolu-
contexte sécuritaire, maitrisé tou-
redonner aux tunisiens leur liberté
tions arabes, qui hélas, ont eu des
tefois par l’expertise et la vigilance
et leur dignité et de choisir libre-
suites plutôt préoccupantes.
des forces de l’ordre, les élections
ment respectivement leurs repré-
Le 26 octobre 2014, ce même petit
législatives se sont déroulées dans
sentants à l’Assemblée et leur
pays précurseur, a organisé les
la discipline et la sécurité et le
président (parmi les 27 candidats),
premières élections législatives
peuple tunisien a montré une autre
le 23 novembre 2014.
libres et transparentes.
fois sa maturité, sa clairvoyance
La Communauté internationale a
L’évènement est historique, la
et son adhésion à la gouvernance
aussi salué la manière civique du
Tunisie continue de montrer
la plus proche possible de son
déroulement des élections, qua-
l’exemple et de démontrer que la
identité culturelle et de sa vision
lifiées de « crédibles et transpa-
Démocratie est possible partout
du devenir global de son pays.
rentes » par la mission d’observa-
où des femmes et des hommes
Cet exercice démocratique réus-
tion électorale de l’UE.
prouvent leur détermination pour
si a été enregistré comme une
5,200 millions d’électeurs tuni-
elle. Il n’est pas de peuple ou de
victoire pour la Tunisie qui a vécu
siens dont 311,034 résidents à
16 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
l’étranger, ont élu 217 députés à
gouvernement d’indépendants
velle Démocratie, va aujourd’hui
l’Assemblée des Représentants du
technocrates.
devoir s’attaquer à relever les
peuple parmi les 13.000 candidats
Face à la nouvelle réalité plurielle
défis socio-économiques, et à faire
inscrits sur 1320 listes représen-
qui caractérise actuellement la so-
preuve d’une gouvernance efficace
tant une multitude de partis.
ciété tunisienne, toutes les ques-
et effective, nécessitant toutes
Les résultats ont donné 85 sièges
tions complexes et contradictoires
les énergies et toutes les compé-
au parti séculier hétéroclite, Nida
qu’ont rencontré les tunisiens
tences des tunisiens à tous les
Tounès, 69 sièges au parti isla-
ont été résolues sur la base du
niveaux de responsabilité. Les tu-
miste Enahdha, l’Union patriotique
compromis entre les forces politi-
nisiens doivent retrouver confiance
➤
libre : 16 sièges suivi du front po-
co-sociales du pays, convaincues
dans l’avenir et restaurer l’image
pulaire, (coalition de gauche), 15
en cela que tout passage en force
d’un pays dynamique, vivant, riche
sièges et du parti Afek Tounès : 8
aboutirait à une impasse.
de sa jeunesse éduquée qui doit
sièges. Le taux de participation est
Le texte constitutionnel adop-
avoir sa place dans la construction
de 61,8 % et à l’étranger de 29 %.
té sur la base du consensus en
économique.
Le processus démocratique en
est la meilleure illustration. Son
Tunisie continue son chemin. La
interprétation pour garantir une
L’Etat tunisien légitimé par les
prochaine échéance des élections
démocratie moderne en reste un
élections libres sera à même de
présidentielles prévue le 23 novembre, constitue une nouvelle date historique, la 1 ère entre des concurrents soumis aux règles du pluralisme et de la liberté démocratique, même si un second tour aura lieu fin décembre si aucun candidat ne remporte la majorité absolue des suffrages lors du premier tour. Ces élections constituent la der-
surmonter les débordements et les
"
dérapages sécuritaires.
L’ETAT TUNISIEN LÉGITIMÉ PAR LES ÉLECTIONS LIBRES SERA À MÊME DE SURMONTER LES
Les nouveaux élus de l’Assemblée des Représentants du peuple sont appelés à respecter l’intérêt national et d’être animés d’une volonté politique réelle de restructurer le pays. Les électeurs, concernés par
DÉBORDEMENTS ET LES DÉRAPAGES SÉCURITAIRES
les affaires publiques, ont aussi
"
nière phase d’un long processus de transition démocratique et
une responsabilité pour contribuer à la dynamique socio-économique ; seul fait garant de l’équilibre de la relation entre gouvernés
permettront à la Tunisie de mettre
enjeu dont dépend l’attitude des
et gouvernants et sans occulter la
un terme à 4 ans de situation pro-
acteurs politiques et de la coalition
place centrale de la société civile
visoire de transition et de se doter
au pouvoir.
ainsi que les médias déterminés à
d’institutions pérennes.
Aujourd’hui, on peut dire que
Après avoir fixé les fondements
la Tunisie a réussi sa transition
occuper pleinement leur positionnement de 4 ème pouvoir et qui
constitutionnels de sa Répu-
démocratique. Certaines caracté-
serviront de contrepoids à toute
blique démocratique à travers
ristiques de la Société tunisienne
dérive ou défaillance du pouvoir
l’adoption, le 26 janvier 2013, de
expliquent cette réussite : une
législatif.
sa nouvelle constitution, la Tu-
classe moyenne importante, une
Le processus démocratique en
nisie a mis en œuvre toute une
population éduquée, une armée
Tunisie est irréversible, reste que
feuille de route pour la prépara-
républicaine qui n’a jamais mani-
la réussite de la prochaine étape
tion de ses échéances électo-
festé d’appétit pour le pouvoir, des
demeure aussi tributaire de la re-
rales, convenue dans le cadre du
femmes dotées de droits impor-
lance économique et de la reprise
dialogue national et sur la base
tants et actives et une société
des investissements notamment
d’une approche consensuelle sur
civile dynamique et vigilante.
étrangers.
tous les sujets d’intérêt national,
La nouvelle Tunisie qui édifie une
J’ai bon espoir, les tunisiens sont
notamment la nomination d’un
nouvelle République et une nou-
des faiseurs de miracles!
■
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 17
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Bronisław Misztal, Embaixador da Polónia Os efeitos buldozzer do século XXI
"
A TENTATIVA DAS MASSAS SE MOVEREM DAQUI PARA LÁ TORNOU-SE EMBLEMÁTICA DA NOSSA ERA
"
Basta um olhar superficial pela
escondam e abandonem os seus
cultos de personalidade como
geopolítica mundial para per-
lares); a insegurança (que é um
"putinismo" – num substituto do
ceber que, com 2014 a chegar
sentimento avassalador de um
individualismo pelo coletivismo
ao fim, existem poderosos pro-
futuro incerto e, frequentemente,
normativo); o anti-humanismo em
cessos a afetar grande parte do
uma perspectiva pessimista de
contradição com os direitos hu-
globo. São eles: a diminuição do
que o amanhã será pior do que
manos, anteriormente acordados
papel das fronteiras administra-
hoje); a confusão agregada (o
e legalmente reconhecidos como
tivas (que se tornam porosas,
estado de espírito das popula-
direitos trazidos pela moderni-
penetráveis, pouco protegidas e
ções, independente de fronteiras
dade; vagas de limpezas étnicas
sujeitas a violações); a erosão
territoriais, melhor expresso na
e religiosas; violência contra
do papel regulador dos tratados
ausência do conhecimento dos
populações civis com sequestros,
internacionais (que são negligen-
mecanismos que governam o
assassinatos e estupros utiliza-
ciados, contornados e omissos e
mundo, muitas vezes também na
dos como meio de terrorismo e
não respeitados pelos governos);
forma de aceitação do caos ou
coerção. Em termos de mapa, é
o despovoamento (pelo desen-
da ilegalidade); o retorno e cres-
fácil observar esses processos
raizamento de grandes grupos
cimento de poderosos "ismos"
em curso em toda a África, Médio
ou populações, a transgressão
do século XX – o nacionalismo,
Oriente, no Sudeste da Europa,
das fronteiras nacionais que faz
o fundamentalismo, o imperialis-
mas também na Ásia Oriental.
com que as pessoas fujam, se
mo, o populismo, e também em
Assim, estes processos existem
18 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
em resultado de crescentes
estrutura normativa que abriu o
cessos anteriores de franchising
desigualdades entre nações e
sistema do mundo aos que pro-
dos direitos humanos e sociais,
economias nacionais, com uma
curavam oportunidade e liberda-
que encontraram grande aber-
impressionante pobreza em terri-
de apenas cerca de meio século
tura, os processos buldozzer
➤
tórios cada vez maiores, e riqueza e afluência a encolher até mesmo no Ocidente. O desemprego que atinge os jovens, em alguns países afetando uma em cada três pessoas, é outro processo macro que não poupa sequer as economias ocidentais anteriormente bem desenvolvidos. Todos os pontos acima contribuem para o efeito buldozzer, que é um fenómeno que move, na verdade empurra grandes ondas de pessoas pondo-as em
"
invertem essa mesma abertura
OS PADRÕES
e no imediato as comunidades
DE PARTICIPAÇÃO SEGMENTADOS E
tentam fechar-se. A diminuição do espaço da sociedade civil, a segregação espacial e social,
DESCONTÍNUOS, OS RAMAIS IRREGULARES
a desigualdade, os direitos de cidadania fraturados, os padrões
DE ELEITORES ESTÃO INTERLIGADOS ÀS TENTATIVAS DE IMIGRAÇÃO, AO TRABALHO ILEGAL
de participação segmentados e descontínuos, os ramais irregulares de eleitores estão interligados às tentativas de imigração,
"
ao trabalho ilegal, ao tráfico humano e à violência explícita. A humanidade já provou que é
movimento. Para ser mais preci-
antes, este movimento coincide
capaz de predizer e, de forma
so, os processos buldozzer são
com economias em contratação,
considerável, lidar com grandes
caracterizados por uma capaci-
com a redução dos padrões de
desastres naturais, oferecendo
dade dupla. Por um lado, acumu-
produção, com vôos de refugia-
controlo de danos e compen-
lam questões sociais, geralmente
dos, perseguição religiosa e com
sando os impactos negativos na
sob a forma de capital humano.
a disseminação da pobreza e a
sociedade. Hoje estamos diante
Isso significa que produzem
disfunção urbana pelas maiores
da necessidade de desenvolver
tipos de pessoas, que se tornam
e mais terríveis cidades do mun-
métodos de manipulação, anteci-
potenciais materiais de mobili-
do. Os processos buldozzer são
pando e compensando os resul-
zação. Por outro, os processos
como a erupção de um vulcão,
tados dos principais processos
buldozzer deslocam material
com magma que desce encostas
buldozzer. A diplomacia é um
humano acumulado e mobilizado,
e vales. Ao contrário dos pro-
instrumento que pode ajudar.
■
principalmente, empurrando-o, ou enviando-o para longe, atravessando hemisférios culturais ou fronteiras estaduais. Os vetores de mobilidade, tradicionalmente, vão do Sul para o Norte e do Oriente para o Ocidente do globo. Manifestam-se em centenas de milhares de pessoas deslocadas que se estabelecem na estrada, na margem do rio, que sobem paredes e desmontam medidas de protecção física, a fim de ir daqui até lá. A tentativa das massas se moverem daqui para lá tornou-se emblemática da nossa era. Recorrendo à mesma
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 19
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Hikmat Ajjuri, Embaixador da Palestina Whisper in the Presence of Wrong is a Non- democratic Culture
"
”THE WORST SIN TOWARDS OUR
FELLOW CREATURES IS NOT TO HATE THEM, BUT TO BE INDIFFERENT TO THEM; THAT´S THE ESSENCE OF INHUMANITY”.
"
George Bernard Shaw
No conflict on earth has more
oppressed people, determined to win
International law and international
international attention devoted
their freedom.
humanitarian law, Israel continued to
to it than the Israeli Palestinian
People in Western democracies enjoy
receive unconditional support from
conflict; it is the only question of the
peace, justice and equality in their
Western leaders. This support had
cold war era, which is still waiting
territories. Because the people in
for our misfortune perpetuated the
for an answer. It is all because
these democracies make the system,
Israeli military occupation and pushed
the International Community –
implement it and observe it. In an
a peaceful settlement further. This
represented by the UN and its
utter contradiction, the Palestinians
support had contributed tremendously
security council – against all the
are forced to live under the Israeli
contributed to change negotiations
rules has so far allowed Israel ,the
occupation and endure mental and
from a realistic option to end this
occupying power, to ignore the
physical torture, captivity, bondage,
conflict to a trick by which Israel gains
International Law and meanwhile
political slavery in addition to poverty
time to grab more and more of the
call on the oppressed Palestinians to
and hunger at the hands of the
land which is internationally allotted
forego their internationally recognized
occupying forces. Ironically and in
for the sovereign state of Palestine.
right to resist this Israeli military
spite of these facts and many others
The major Western powers have in
occupation. All in spite of the norm
including total ignorance of Israel
the past, viewed the Apartheid regime
that no power on earth can stop an
to all calls on Israel to comply with
in South Africa as well as Israel, as
20 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
their strategic partners in their cold
In fact, the resurgence of the Taliban
and to ethnically cleanse it of its
war struggle to isolate the Soviet
and the emergence of terror such as
indigenous Palestinian residents
Union and to protect their interest
Al-Qaeda and its new generation,
is a recipe for hatred, anger and
in the Middle East. As soon as the
Islamic state in Iraq and Syria (ISIS)
radicalism. More importantly a recipe
cold war ended, the West toppled
as well as the previous wars in
for a religious war.
the South African Apartheid regime
Iraq and Afghanistan and nuclear
Finally, I find it quite inspiring to
because it became an unbearable
ambitions in the region, are all
realize that this fact has lately been
burden on the West and the Western
collateral to the Israeli occupation of
acknowledged first, by John Kerry, the
humanitarian and democratic values.
the Arab territories, including the state
US secretary of state who suggested
Because Israel and Apartheid South
of Palestine. Israel, the occupying
that a peace agreement between
Africa are two sides of one coin,
power is the only state that ignores
Israel and the Palestinians would
the West is now obliged to follow
the international law and blatantly
help the campaign to defeat the
the same rules with Israel to end its
conducts terror with impunity.
jihadists of the Islamic State (ISIS)
occupation in order to burry once and
The Israeli Film director Shai Carmeli-
in Iraq and Syria. "As I went around
➤
for all the cold war and finally bring peace to our world. Israel is so far the only apartheid state left on the face of our planet. The architect of the South African Apartheid itself, Prime Minister, Dr. Hendrik Verwoerd, said in 1961: "The Jews took Israel from the Arabs after the Arabs had lived there for a thousand years. Israel, like South Africa, is an apartheid state.” Today in the Holy Land: – Palestinians are forced to carry identification cards at all times when travelling from city to city. – Palestinians must apply for a difficult to obtain permit to travel from city to city. – Palestinian Christians and Muslims are not allowed to buy, rent or lease land in 93% of the state of Israel because they are not Jewish. – Israel takes 85% of the Palestinian
"
I FIND IT QUITE INSPIRING TO REALIZE THAT THIS FACT HAS LATELY BEEN ACKNOWLEDGED FIRST, BY JOHN KERRY, THE US SECRETARY OF STATE WHO SUGGESTED THAT A PEACE AGREEMENT BETWEEN ISRAEL AND THE PALESTINIANS
WOULD HELP THE CAMPAIGN TO DEFEAT THE JIHADISTS OF THE ISLAMIC STATE (ISIS) IN IRAQ AND SYRIA
"
and met with people in the course of our discussions about the [antiIslamic State] coalition ... there wasn't a leader I met with in the region who didn't raise with me spontaneously the need to try to get peace between Israel and the Palestinians, because it was a cause of recruitment and of street anger and agitation that they felt they had to respond to," said Mr Kerry, at a state department gathering to mark the Muslim Eid al-Adha festival. Former president Bill Clinton, said on the 21st of Sep. 2010 “solving the Israeli Palestinian conflict would take away much of the motivation for terrorism around the world”. I with these inspiring quotes from strategic allies of Israel, dare to call on the International community, including friends of Israel, first not to let world peace be hijacked by irresponsible Israeli politicians such as Netanyahu
water resources and the remaining
Pollak said in August 2006: “Life under
and his extreme coalition. Second to
15% is divided between Palestinians
occupation is life under permanent
follow the brave steps of the Kingdom
in the West Bank and Gaza.
terrorism”. I, on too many occasions,
of Sweden, to fully recognize the state
– In the West Bank, Palestinians
affirmed the integral relation between
of Palestine as a first and positive
are not allowed to drive on roads
the Israeli occupation, its crimes
step to forcing Israel to end its 47
allocated for Jewish settlers.
against humanity and the emergence
years of occupation of the state of
All attempts by Western powers, in
of the Islamic radicalism or terrorism
Palestine. Indifference as well as
their quest to ensure global safety
but to no avail. The Israeli creation
whispers in the presence of wrong
and security, are unfortunately,
of new facts to Judaize Jerusalem,
is neither a democratic culture nor a
directed towards the wrong targets.
the third holiest place for all Muslims
European value.
■
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 21
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Thalia Petrides, Embaixadora de Chipre Viver em Portugal, uma experiência maravilhosa
"
PORTUGAL, AO MESMO TEMPO
MAJESTOSO E MODESTO, ORGULHOSO E RESERVADO, FELIZ E MELANCÓLICO, CONTEMPORÂNEO E CLÁSSICO
A vida de um diplomata é repleta
co espaço para a interpretação
de experiências enriquecidas pela
racional. Será a beleza do campo
diversidade cultural de muitas
ou a elegância arquitetónica que
partes diferentes do mundo. É
transforma a rotina do quotidiano
um estilo de vida gratificante
numa viagem agradável? Será o
desde que sejamos capazes de
calor das pessoas ou a clemência
nos adaptar rapidamente à vida
do clima que faz com que valha
quotidiana de um novo país a
a pena acordar todas as manhãs
aproximadamente cada quatro
para ir trabalhar? Há alguns anos
anos. É difícil, no entanto, des-
fiquei impressionada quando me
crever de forma disciplinada a
apercebi de que os portugueses
razão pela qual gosto de viver
adoram profundamente animais
em Portugal. As emoções vêm
de companhia. Para mim, este
à tona de uma só vez evocando
é um sinal inequívoco de uma
memórias desvanecidas ou re-
sociedade civilizada avançada. Fiz
centes, encriptadas em imagens,
comparações relutantes com outras
sons e cheiros que deixam pou-
sociedades onde já desempenhei
22 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
"
primeiro lugar, evocando memó-
aproveitei a oportunidade para
plesmente para a imensidão das
rias nostálgicas das minhas ori-
fotografar alguns dos incríveis
secções de produtos para animais
gens mediterrânicas.” Agora, com
lugares da cidade de Braga.
nos supermercados portugueses,
os meus colegas embaixadores,
Eu tiro fotografias todos os dias
ou pelo facto de ter de marcar
planeamos vender as fotografias,
como homenagem à vida. É uma
uma consulta no veterinário com
39 no total, por uma causa de
atividade fácil de executar em
muitos dias de antecedência.
caridade.
Portugal, porque a inspiração che-
Há quase um ano, conversando
Outra experiência mais recente
ga constantemente e o espírito do
com embaixadores de outros
da convidativa beleza de Portugal
país liberta sensibilidades artís-
países sobre as maravilhas de
foi a minha visita profissional a
ticas. Portugal, ao mesmo tempo
Portugal, surgiu a ideia de orga-
Braga no final de setembro, onde
majestoso e modesto, orgulhoso
nizar uma exposição de fotografia
também comemorámos o Dia
e reservado, feliz e melancólico,
com uma seleção das nossas fo-
Nacional de Chipre. Ao darmos
contemporâneo e clássico: Eu
tografias que retratam Cascais. A
início a uma estreita colaboração
amo-o pelo que é, um lugar mara-
ideia tornou-se um projeto que foi
da região do Minho com Chipre,
vilhoso para viver.
➤
o meu cargo, olhando sim-
■
finalmente concretizado no Museu da Presidência da República, com o inestimável apoio do Presidente da Câmara de Cascais Dr. Carlos Carreiras. A participação dos embaixadores de treze países (Angola, Bangladesh, Bulgária, Cabo Verde, Chipre, Emirados Árabes Unidos, França, Itália, Japão, Letónia, Luxemburgo, Marrocos, Sérvia) tornou o projeto uma experiência única para todos nós, como prova de camaradagem e solidariedade. No catálogo
Cascais
impresso da exposição escrevi o que me inspirou mais em Cascais. Repito-o aqui porque descreve em poucas palavras o que eu sinto sobre Portugal de forma geral. “Vejo generosidade na beleza da paisazem, na abundânsia de pinheiros centenários, nas cores do mar em constante mudança, na elegância das casas, nos antigos
Lisboa
armazéns industriais, no mercado do peixe, nas ruas estreitas por onde gatos vadios se passeiam altivamente. Nas minhas fotografias tentei capturar a essência da minha admiração por Cascais. Há muitos aspectos maravilhosos, mas o Guincho fica sempre em Braga
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 23
LÍDERES
Giorgio Napolitano, o Presidente de Itália The high road - Europe and Italy’s role in the world
co- protagonist in a close network of relations, ranging from contacts with the heads of foreign diplomatic missions, whose credentials he accepts, to meetings with the Heads of State, whom he receives in Italy and who, in turn, receive him during State or informal visits abroad. There are therefore a large number of meetings with an international focus – and this has certainly been the case during my term of office. I have had 112 meetings in Italy with foreign Heads of State, plus many more with government and embassy officials; and I have made 75 visits abroad, including some at the invitation of international organizations such as the United Nations, NATO and the European Parliament. The initiatives and events organised to celebrate the 150th anniversary of Italian Unification, culminating in the grand celebrations held in Rome on 2 June 2011, offered a special opportunity for such meetings. Also of special significance were the annual “United for Europe” gatherings of My conversation with Federico
against every challenge and test.
the eight “non-executive” European
Rampini and my answers to his
The Italian President, therefore, has
Presidents, following a tradition
questions and promptings reflect my
no powers of government but does
inaugurated by my predecessor
seven-years (2006-2013) as President
have precise functions sanctioned
Carlo Azeglio Ciampi with his then
of the Italian Republic, an intense
by the Constitution – including that
colleagues.
and intensive experience, both
of representing Italy in international
I mention this institutional framework
domestically and in the international
life but doing so alongside and in
and my own personal experience in
sphere. Under the Italian Constitution,
agreement with the government;
order to clarify that the judgements
drafted between June 1946 and
and with respect for the executive’s
and views expressed in the following
December 1947 in a country newly
powers of decision, underpinned
pages are based on the exchanges
liberated from fascism, the Head of
as they are by the confidence of
and discussions, both public and
State is a “non- executive” President.
Parliament, both in foreign policy and
private, which have been the core of
This principle was confirmed in later
over security and defence.
my international activities between
decades through the analysis and
So, without any confusion
2006 and 2013, and on the detailed
interpretation of the Constitution, by
or duplication of powers and
analysis done both in advance of and
political practice and in the decisions
responsibilities (except for a handful
after each meeting.
of the courts – all of which have
of cases of friction and disagreement
I should add and underline that these
shown Italy’s founding charter to be
in the last few decades), the President
activities have brought me into close
a live constitutional instrument proof
of the Republic is both participant and
contact with many key international
24 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
actors, with whom I was thus
and thinking (about which I wrote in
the shape of a new Europe. A goal
able to develop important personal
2007 in a volume of essays, entitled
which encompassed rapprochement
relationships. It may therefore be
Altiero Spinelli e l'Europa).
and reconciliation between nations
of some interest, if I provide some
So it was with heartfelt emotion that,
and peoples whose mutual hostility
examples and recall some of the
in the clear light of that May morning
had dragged Europe, not once, but
events which have held, for me,
in 2006, I spoke in Ventotene of
twice in the 20th century, into the
a special personal and emotional
Spinelli’s ideals and struggles in
abyss of two increasingly devastating
significance. Take, for example, the
the following terms: “This is the
world wars. A goal, therefore, of
way my first seven-year term began
richest legacy on which our younger
peace and cooperation, above all
and the way it ended.
generations can draw for their
between France and Germany, as
It began – on 21 May 2006, just a
moral development and in their
the essential political framework for
few days after my inauguration at
actions, as they look to the future.”
a process of European integration
the Quirinale – with a visit to the
I still believe that today. Indeed, I
inspired by something more than
island of Ventotene for a ceremony to
am more than ever convinced of
purely economic principles. Europe
commemorate the 20th anniversary
the truth of that statement when I
was not born – and even less today
of the death of Altiero Spinelli. The
witness how diminishing knowledge
can it be confined – within a purely
ceremony was a fitting tribute to a
and understanding of the European
economic dimension.
man from whom I had learnt a most
“project” among large sections of
That is what we felt, my friend and
valuable lesson both in ideals and in
citizens and voters has given rise to
colleague, Gauck, and I, in the hills
behaviour.
a growing lack of trust in politics, in
of Sant’Anna di Stazzema. And that
I am referring here to a distant time
democracy and in a common future.
is why that day seemed to me an
in my own political and cultural
My seven years in office ended on
ideal final point of arrival after those
life, a period (from the end of the
24 March 2013 with a pilgrimage
seven years during which much of my
1960s) described as the “European
to Sant’Anna di Stazzema – the
work, both at home and abroad, had
apprenticeship” of the Italian
scene, towards the end of the
been inspired by European ideals and
Communist Party (PCI). During
Second World War, of one of the
convictions.
those years the PCI shifted from a
worst Nazi atrocities in Italy. I made
I would also like to add that, in
negative and suspicious view of the
that pilgrimage, as President of
watching Germany’s President
nascent European Community to
the Republic, with Joachim Gauck,
pay tribute to the tragic victims of
the realization that the Party should
President of the Federal Republic of
the forces of war and oppression
not cut itself off from the integration
Germany. We paid joint tribute to the
unleashed by Nazism in every corner
process begun by Italy (with Alcide De
memory of the victims – defenceless
of Europe, I was reminded of the
Gasperi) and the other five “founding-
people of all ages, children, entire
unforgettable and exemplary image of
countries”.
families. And in that tribute, as we
Chancellor Willy Brandt when, himself
I took part in that evolution within the
two Presidents embraced and in turn
previously exiled as an opponent of
PCI with wholehearted commitment,
embraced the inhabitants of that small
Nazism, he fell to his knees, deeply
though not as directly as figures
village – the survivors of the massacre
moved, before the monument to the
such as Giorgio Amendola and
and the descendants of the victims,
victims of the Warsaw ghetto.
Nilde Iotti, who experienced it at first
all of them humble and hard-working
Brandt’s life and ideas have always,
hand through their election to the
people – we keenly felt the spirit, and
and increasingly, acted as a beacon
Strasbourg Assembly in 1969. A
the fullest and highest significance, of
for me, from the first time I met
decisive inspiration to me in this was
European unity.
him until the day, much later, when
my personal relationship with Altiero
Overcoming deadly and aggressive
we discussed the Italian left and
Spinelli (who was elected as an
forms of nationalism: that was the
its relations with Europe’s Social
independent Member of Parliament in
goal which Altiero Spinelli had taken
Democrats. That conversation took
the PCI group in 1976) and the insight
to heart when, from the island where
place on 9 November 1989, the day
this gave me into his own experience
he was held prisoner, he envisaged
which, through a strange coincidence ➤
➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 25
Giorgio Napolitano, o Presidente de Itália
and an unexpected acceleration of
generation of pro-Europeans. People
and of our continent’s potential
history, also witnessed the fall of the
like Bronislaw Komorowski, who had
contribution to positive developments
Berlin Wall.
become President of Poland following
in global affairs, starting with the
My mind went back to that magical
the great tradition of Solidarnosć,
search for a peaceful solution to the
moment, that personal conversation
whose most eminent representative,
conflict in the Middle East.
with Willy Brandt, when I was invited
in terms of European sensibility and
Spending time in the Pope’s company
to Berlin’s Humboldt University in
culture, Bronislaw Geremek, I had first
was a new experience for me, made
2013 to open its annual “Willy Brandt
met and admired in the 1980s.
all the more rich and stimulating by
Lectures” with a talk on Europe. At
Or Danilo Turk, President of Slovenia
the cultural breadth and depth of his
the University, I once again met Egon
until 2012 and an expert of the Italian
personality. But our uncommon trust
Bahr, one of the most eminent and
School of international law. Turk
and fellow feeling cannot be explained
faithful of the Ostpolitik Chancellor’s
worked with me and the new Croatian
simply in terms of personal affinities.
pro- European aides.The last time we
President, Ivo Josipović, in paving the
What drew us together was the
had met had been at Brandt’s funeral
way for a new era of reconciliation and
core common backdrop to our lives,
service at the old Reichstag building
cooperation in the Adriatic to ease
both of which had been stamped by
in Berlin in October 1992 – a moving
the terrible tensions inherited from the
the events – events both great and
and emotional occasion for both of us.
events of World War II in the Balkans.
terrible – of the 20th century.
Readers will wonder why I keep going
My meetings – not only at the highest
Events which our two countries,
back to events which occurred in the
institutional levels but also with
Germany and Italy, had, more
➤
distant past when talking about those that took place just a few years or even a few months ago. Well, that past laid the foundations for the way in which I was to fulfil my international responsibilities as President. In performing those duties I of course respected fully and exclusively the tradition and vision of Italy’s role and interests in foreign affairs and the
than any others, experienced in all
"
EUROPE WAS NOT BORN – AND EVEN LESS TODAY CAN IT BE CONFINED – WITHIN A PURELY ECONOMIC DIMENSION.
"
international arena.
their drama and trauma right up to the middle of the last century. As individuals, both Joseph Ratzinger and I had drawn from that common experience a drive and determination to identify with the vision of a new, united Europe; and to continue to cherish and pursue that vision even after we had reached positions of the highest responsibility, as leader of
My many years of experience in
ordinary people – in Trieste in 2010
the Catholic Church and Head of the
international affairs – albeit some of
and in Pula in 2011 were, and are,
Italian State.
them in party-political roles, though
among my most vivid experiences in
This warm and profound relationship
not when I was Speaker of the Italian
the process of European enlargement
between President and Pontiff was
Chamber of Deputies or chair of the
and unification.
also, of course, hugely important in
European Parliament’s Constitutional
The unique relationship which
further strengthening the substantial
Affairs Committee - have meant that
developed between me, as President
and mutually respectful collaboration
I have always felt at ease and was
of the Italian Republic, and Pope
between Church and State in Italy.
never the least uneasy, when finally
Benedict XVI, until his resignation
I mention this relationship here
I came to represent my country,
in February 2013, also had its roots
not so much as an element of the
the entire country, in Europe and
in that European journey towards
international policies which I pursued
throughout the world as President of
unity. Our friendship arose from an
as President but as a core factor
the Republic.
immediate, shared interest in getting
in the cohesion of Italian society, a
I was able in effect to pick up,
to know and understand each other
cohesion which must constantly be
uninterrupted, my friendships and
and in comparing views and opinions
strengthened and renewed. We have
collaboration with people I had first
on issues with which we were both
now embarked on the same path with
met 20 years before, such as the
engaged in our respective roles.
the new Pope, Francis.
Presidents of Austria, Heinz Fischer,
Of those themes, Europe soon
That Europeanism which, since the
and of Israel, Shimon Peres. And
emerged as being of paramount
1950s, has been a key element of
right from the start I found I had
interest. We agreed on the decisive
Italy’s presence in and contribution to
much in common with a far younger
role of integration and unification
international affairs, has at the
26 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
same time always been inseparable
in February 2013 – somewhat to my
wingers in particular, Germans,
from another cardinal feature: our
surprise, I encountered echoes of that
British and Spanish – whom I would
friendship and alliance with the United
interest and memories still live of the
meet later in my career in various
States in the broader framework
role I played in the 1970s and since.
roles and on different occasions.
of transatlantic relations. In my
I have gradually gained a deeper
The many experiences and
experience during my first seven year
and richer understanding of the
influences I have recalled in these
term as President, these two strategic
history and ideals underpinning the
few pages eventually converged in
axes of policy have continued to be
relationship between Europe and
the relationship which developed,
as inseparable as they were for the
the United States, of their common
at the highest level, with the US
previous three decades.
roots and of their shared belonging
leadership: between the President of
In 1978, when I was able to pay my
to the “West”, as the heart of
Italy and the President of the United
first visit to the United States, I did
democracy. Indeed, I can claim a
States. I followed Barack Obama’s
not limit myself just to presenting the
certain coherence and consistency
emergence and election as leader
political situation in Italy, in which the
of understanding, strengthened as it
of the United States closely, with
views of the left were then finding
was by the revisions and changes in
fitting institutional neutrality but with
their rightful place. Speaking in some
the cultural and political landscape
personal enthusiasm and hope.
of the most prestigious American
which I witnessed in the lead-up to
The relationship which has grown
universities and opinion-forming
the historic turning point of 1989.
between us has reached a level
institutions, I acted as standard bearer
That continuity, and other fruitful
of consideration, trust and mutual
for a vision of a European community
experiences, served me well in the
confidence – and, in human terms, of
which was becoming ever more
fulfilment of my duties and in the
real friendship - which I could never
inclusive and assertive; a Europe
contribution I made, during seven
have foreseen. After all, we come
which was also starting to develop
years as President, both on the
from very different generations and
a more autonomous profile on the
European political and institutional
backgrounds. That those differences
international scene but without calling
front and in European-American
were not an obstacle, but rather acted
into question its historic ties with the
relations.
as a stimulus, shows how important
United States. That mission was a far
One such experience which I like to
– in relations between countries and
cry from the kind of anti-Americanism
recall is my participation, in the
between their leaders – are such
which was then still rife among the left
1980s and ’90s, in a series of
affinities of approach and attitude, of
wing opposition in Italy.
twice-yearly events in which the
ways of thought and feeling, of ideals
The vision I set out was perceived
Aspen Institute brought together
and moral background, in addition to
at the time – given my position
a small selection of European
a sense of common political direction
as a senior figure in the Italian
parliamentarians and a larger group
and commitments.
Communist Party – as a kind of
of US representatives and senators to
Both Italy and Europe have benefited
“Eurocommunism”, a movement in
focus on the development of East-
from this climate established
which the more thoughtful and open-
West relations in those crucial years.
between the President of Italy and
minded political and cultural circles
Another truly formative experience
the President of the United States
in the United States showed a keen
was my ten years, from 1984, as a
of America in the exercise of their
interest. Just as they showed a keen
member of NATO’s Parliamentary
respective roles and their common
interest not so much in the day-to-day
Assembly. That role taught me
responsibilities. Italy’s national interest
workings of Italian domestic politics
a great deal about defence and
and the common European interest:
as in the singular reality which was
security issues and brought me
in the end, these have counted, and
the PCI. During my most recent visit
into contact with colleagues –
still count, more for me than anything
to the United States – a State Visit
Europeans, primarily, and left-
else.
➤
■
Enviado pela Embaixada de Itália em Portugal
P.S. - *This book stems from an idea conceived by Federico Rampini and developed – and co-authored – by us as part of the “balance sheet” of my seven year term as President (May 2006 to April 2013); and of the initiatives and international relations, in which I was an active player in my institutional role. But then, in totally unexpected circumstances and in spite of my clear declarations of my opposition to the notion, I was asked to stand for re-election as President. That election took place on 20 April 2013 after a vote showing overwhelming support. So this book went to press soon after the start of my second mandate and cannot, of course, give an account of developments in my international activities which have yet to happen. However, we worked on the text up to the day before the book went to press, paying the fullest possible attention to all developments taking place at that time on the European and world stage.
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 27
Um dos maiores pacotes de doações na história da empresa
A Bayer aumenta a doação de medicamentos para doentes com ébola para um valor total de mais de 3,7 milhões de euros
• Nova doação à “Action Medeor” de antibióticos no valor de 1,15 milhões de euros • Combate infecções secundárias bacterianas em pessoas na Libéria e na Serra Leoa • Doação em dinheiro adicional de EUR 50.000 para vestuário de proteção
Lisboa, 15 de Dezembro de 2014 – A Bayer aumenta
A companhia está também a doar 50.000 euros à
o apoio aos doentes de ébola na Liberia e na Serra
“Action Medeor”, com a finalidade de ajudar à compra
Leoa. A companhia efectua nova entrega do antibiótico
de equipamento de protecção para duas enfermarias
ciprofloxacina, com um valor de 1.150.000 euros. Esta
que foram criadas na Monróvia, nos finais de Outubro
medicação não trata a infecção com o vírus ébola em
de 2014. A companhia já fez também uma doação à
si, mas pode ser usada para as infecções bacteria-
Caritas Internacional, no valor de 25.000 euros, para a
nas secundárias que podem ocorrer na sequência da
compra e distribuição de desinfectante das mãos para
infecção com risco de vida. A distribuição para as duas
a Libéria, como medida preventiva.
clinicas na Monróvia, a capital da Libéria, e em centros de saúde na área circundante à capital, será realizada
Bayer: Ciência para uma Vida Melhor
pela maior organização especializada em ajuda inter-
A Bayer é uma empresa global com competências cen-
nacional e distribuição de medicamentos, com sede
trais nas áreas da saúde, agricultura e materiais de alta
na Alemanha, “Action Medeor - Das Medikamente-
tecnologia. Como empresa de inovação, a Bayer marca
nhilfswerk”. A Bayer já doou ciprofloxacina em várias
a tendência em áreas de investigação intensiva. Os
dosagens e com diferentes formas de administração
produtos e serviços Bayer foram desenvolvidos para o
num valor de cerca de 2,57 milhões de euros para o
benefício das pessoas e contribuírem para a melhoria
tratamento de doentes infectados com o vírus ébola na
da qualidade de vida. Ao mesmo tempo, o Grupo visa
Serra Leoa e na Libéria, através de outra organização,
criar valor através da inovação, crescimento e alta
a norte-americana “Direct Relief”. Esta doação de medi-
rentabilidade. A Bayer assume o compromisso com os
camentos para o tratamento de ébola a doentes africa-
princípios de desenvolvimento sustentável e actua de
nos num valor total de 3,7 milhões de euros é uma das
forma social e eticamente responsável. No exercício de
maiores já feitas pela Bayer.
2013, o Grupo empregou 113.200 funcionários, obteve
“Continuamos a reforçar o nosso compromisso de
uma facturação de cerca de 40.200 milhões de euros,
ajuda às pessoas infectadas e a procurar contribuir
realizou investimentos de mais 2.200 milhões de euros
para controlar a epidemia desta doença” refere Marijin
e destinou mais de 3.200 milhões de euros para investi-
Dekkers, Chairman do Board of Management da Bayer
gação e desenvolvimento.
AG. “Com esta doação, damos continuidade à nossa responsabilidade social enquanto companhia interna-
Para mais informação visite o site www.bayer.pt ou
cional de saúde”.
www.bayer.com
28 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
DOSSIER
Ébola Um tempo de incertezas
Entre dúvidas e certezas relativas, responsáveis políticos e organizações internacionais, clínicos e cientistas concertam esforços para dar resposta a uma epidemia que vem manchando de morte os países pobres do continente africano e já provocou arrepios de medo no velho continente e no gigante norte-americano.
➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 29
Ébola
As previsões da Organização
propagação.
avançadas por Aylward.
Mundial de Saúde (OMS) dão de-
Os números da doença e do
O director-adjunto da OMS tem
molidoras. Entre 5.000 a 10.000
rasto de morte que tem deixado
vindo a acompanhar no terreno
novos casos de ébola deverão
à sua passagem em África são
todas as acções promovidas por
surgir por semana desde De-
incontabilizáveis, não se saben-
esta agência das Nações Uni-
zembro e a taxa de mortalidade
do com rigor a contabilidade
das, o que lhe dá uma autoridade
continua nos 70 por cento dos in-
real de infectados e de mortos,
acrescida para falar do assunto
fectados pela doença em países
mas há números divulgados que
e apelar à comunidade interna-
como a Libéria, Serra Leoa e Gui-
indicam, até hoje, mais de cin-
cional para concertar esforços no
né Conacri. Os números foram
co mil vítimas num universo de
combate à doença, dando “pro-
avançados pelo director-adjunto
mais de dez mil contagiados pela
vas de maior determinação para
da OMS, Bruce Aylward. De tal
doença. O problema é que exis-
responder de forma decisiva". E
forma a epidemia preocupa os
tem muitos casos não registados
o mundo parece querer seguir o
líderes mundiais que em Outubro
principalmente nos países mais
apelo. Para além do Conselho de
último o Conselho de Seguran-
afectados; o que poderá fazer
Segurança, ministros da Saúde
ça das Nações Unidas reuniu
disparar estes números de forma
da União Europeia têm vindo
de emergência para equacionar
surpreendente, particularmente
também a concertar estratégias,
estratégias de combate à sua
se se confirmarem as previsões
principalmente depois de se ter
➤
"
OS NÚMEROS DA DOENÇA E DO RASTO DE MORTE QUE TEM DEIXADO À SUA PASSAGEM EM ÁFRICA SÃO INCONTABILIZÁCEIS, NÃO SE SABENDO COM RIGOR A CONTABILIDADE REAL DE INFECTADOS E DE MORTOS, MAS HÁ NÚMEROS DIVULGADOS QUE INDICAM, ATÉ HOJE, MAIS DE CINCO MIL VÍTIMAS NUM UNIVERSO DE MAIS DE DEZ MIL CONTAGIADOS PELA DOENÇA
"
30 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
➤
percebido que o ocidente rico e
“esterilizado” das misérias africanas não é imune ao problema.
Incertezas dominam Aeroportos, portos e redes ferroviárias estão agora sob rigoroso controlo na Europa, depois do arrepio provocado pelo caso da assistente de enfermagem espanhola. Com as medidas entretanto implementadas, o aumento exponencial da doença pode vir a não atingir as previsões mais catastrofistas, mas as incertezas são bem mais que as certezas. Embora haja razões para um moderado optimismo. No Senegal e na Nigéria, por exemplo, os esforços das autoridades parecem ter sido coroados de êxito afastando este países africanos da lista negra dos afectados. Para já Europa e Estados Unidos parecem livres de problemas de maior. A única morte registada nos EUA e a doente infectada em
"
DE QUALQUER MODO, SE COMPARADO COM OUTRAS EPIDEMIAS, O ÉBOLA ESTÁ BEM AQUÉM DAS MAIS CATASTROFISTAS PROJECÇÕES INICIAIS. POR EXEMPLO, SÓ A MALÁRIA TERÁ CAUSADO QUALQUER COISA COMO 1,2 MILHÕES DE VÍTIMAS
No velho continente há a registar
MORTAIS. ALIÁS, AS POSSIBILIDADES DE CONTRAÇÃO DO VÍRUS DE ÉBOLA SÃO IMENSAMENTE INFERIORES ÀS DA MALÁRIA, JÁ QUE SÓ É POSSÍVEL ATRAVÉS DO
ainda a morte de um funcionário
CONTACTO DIRECTO COM OS INFECTADOS
Espanha, entretanto recuperada, decorreram de quebras nos protocolos de segurança quando lidavam com pessoas infectadas.
"
da ONU, de origem sudanesa, que teve contacto com a doença
do ZMAPP, um anticorpo experi-
causado qualquer coisa como 1,2
na Libéria e acabou por morrer
mental que foi ministrado a dois
milhões de vítimas mortais. Aliás,
em Setembro último em Leipzig,
norte-americanos repatriados da
as possibilidades de contração
na Alemanha.
Libéria para os EUA em Agosto e
do vírus de ébola são imensa-
que receberam tratamento numa
mente inferiores às da malária, já
Vacina em 2015
unidade de saúde de Atlanta.
que só é possível através do con-
A OMS anunciou, entretanto, que
E no Reino Unido o laboratório
tacto directo com os infectados,
espera ter disponível uma vacina
GSK testou, ao que parece com
nomeadamente através de um
para o ébola já a partir de 2015.
êxito, uma vacina que poderá
líquido biológico, como o sangue,
A intenção é erradicar a febre
estar pronta no próximo ano,
as fezes ou o vómito.
hemorrágica provocada por um
confirmando-se as previsões da
O surto verificado em África,
vírus transmitido através do con-
OMS.
segundo especialistas, não teria
tacto directo com sangue, fluidos
De qualquer modo, se compa-
ocorrido de momento que fossem
biológicos ou tecidos de animais
rado com outras epidemias, o
garantidos às populações cuida-
e pessoas infectadas.
ébola está bem aquém das mais
dos médicos de base e higiene,
As experiências com fármacos
catastrofistas projecções iniciais.
boa nutrição e quantidades ade-
têm-se sucedido, como é o caso
Por exemplo, só a malária terá
quadas de vitaminas C e D.
n
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 31
ESPAÇO DIPLOMÁTICO
Jean-François Blarel, Embaixador de França Mobilização contra o ébola
O Presidente da República Fran-
ta luta, logo disponibilizando
çois Hollande, na intervenção
peritos, apoiando a acção do
feita perante os embaixadores
governo guineense e da Cruz
franceses no final do mês de
Vermelha francesa, ao mesmo
Agosto, evocou o ébola como
tempo que agindo no seio das
sendo uma das grandes crises
estruturas internacionais. Peran-
que afectam o planeta. Esta
te o agravamento da epidemia, a
epidemia que atinge o continente
França decidiu aumentar signifi-
africano, onde provocou enormes
cativamente o seu compromisso
danos no passado, já causou
concentrando-se na Guiné Co-
mais de 4.500 vítimas este ano.
nacri, país francófono. A 22 de
O contágio atinge agora vários
Outubro, o Presidente da Repú-
outros continentes, em propor-
blica François Hollande anunciou
ções que estão seguramente
um plano francês de luta contra o
controladas.
ébola neste país, passando pela
Na sequência dos pedidos de
mobilização de financiamentos
ajuda lançados à comunidade
de um montante superior a 100
internacional, felizmente muitos
milhões de euros, para intervir
países se mobilizaram. A União
em três domínios-chave: a for-
Europeia assume inteiramente
mação de profissionais de saúde
a sua quota-parte de trabalho:
(criação de dois centros, um em
SÓ A MOBILIZAÇÃO GLOBAL NA LUTA CONTRA O VÍRUS ÉBOLA PERMITIRÁ IMPEDIR A SUA
as decisões tomadas pelo Con-
França, outro na Guiné), a toma-
PROPAGAÇÃO E
selho Europeu a 24 de Outubro
da a cargo destes profissionais
confirmam o papel primordial
em caso de contaminação (ins-
da Europa na resposta global a
talação na Guiné de uma estru-
esta crise, pelo volume da ajuda
tura hospitalar complementar ao
(mais de 600 milhões de euros),
mecanismo europeu de evacua-
pelo reforço da acção no terreno
ção sanitária, na qual a França
em prol dos cuidados de saúde
também participa), e a criação
prestados às populações, pela
de centros suplementares. Além
implantação de um dispositivo
disso, a França reforça a protec-
europeu destinado a garantir aos
ção civil guineense através de
profissionais de saúde inter-
acções de formação e está im-
nacionais uma tomada a cargo
plicada no reforço dos controlos
adaptada em caso de necessi-
aeroportuários em Conacri. Pelo
dade, pelo reforço das medidas
seu lado, Portugal está também
de precaução e pela nomeação
muito envolvido, concentrando os
de um coordenador europeu que
seus esforços na Guiné-Bissau.
assegure a boa execução destes
Só a mobilização global na luta
dispositivos.
contra o vírus ébola permitirá im-
A França encontra-se entre os
pedir a sua propagação e condu-
países mais empenhados nes-
zirá à sua irradicação.
32 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
■ ➤
"
CONDUZIRÁ À SUA IRRADICAÇÃO
"
Jean-François Blarel, l’ambassadeur de France Mobilisation contre l’Ebola
Le Président de la République
du gouvernement guinéen et de
François Hollande, lors de son
la Croix-Rouge française, et en
intervention devant les ambas-
agissant au sein des structures in-
sadeurs français à la fin du mois
ternationales. Face à l’aggravation
d’août, a évoqué l’Ebola comme
de l’épidémie, la France a décidé
l’une des grandes crises affectant
d’accroître significativement son
la planète. Cette épidémie frap-
engagement en se concentrant
pant le continent africain, où elle
sur la Guinée Conakry, pays
avait provoqué des ravages par
francophone. Le 22 octobre,
le passé, a déjà fait plus de 4500
le Président de la Répu-
victimes cette année. Elle touche
blique François Hollande a
désormais plusieurs autres conti-
annoncé un plan français
nents, dans des proportions qui
pour la lutte contre l’Ebola
restent certes sous contrôle.
dans ce pays, passant par
Suite aux appels à l’aide lancés à
la mobilisation de finance-
la communauté internationale, de
ments d’un montant supé-
nombreux pays se sont heureu-
rieur à 100M€, pour intervenir
sement mobilisés. L’Union euro-
dans trois domaines clés : la
péenne assume toute sa part du
formation des soignants (création
travail : les décisions prises par
de deux centres, l’un en France,
le Conseil européen le 24 octobre
l’autre en Guinée), leur prise en
confirment le rôle de premier
charge en cas de contamination
plan de l’Europe dans la réponse
(mise en place en Guinée d’une
globale à cette crise, par le vo-
structure hospitalière complé-
lume de l’aide (plus de 600M€),
mentaire du mécanisme euro-
le renforcement de l’action sur
péen d’évacuation sanitaire, à
le terrain au profit des soins aux
laquelle la France participe aussi),
populations, la mise en place
et la création de centres de traite-
d’un dispositif européen desti-
ment supplémentaires. La France
né à garantir aux personnels de
renforce par ailleurs la protec-
santé internationaux une prise en
tion civile guinéenne à travers
charge adaptée en cas de besoin,
des actions de formations, et est
le renforcement des mesures de
impliquée dans le renforcement
prévention, et la nomination d’un
des contrôles aéroportuaires à
coordonnateur européen pour as-
Conakry. Le Portugal est lui aussi
surer la bonne mise en œuvre de
très engagé, concentrant ses ef-
ces dispositifs.
forts en Guinée Bissau.
La France figure parmi les pays
Seule la mobilisation globale dans
les plus engagés dans cette lutte,
la lutte contre l’Ebola permettra
pour laquelle elle s’est très tôt
d’empêcher la propagation du
mobilisée, à la fois en déployant
virus, et conduira à son éradica-
des experts, en appuyant l’action
tion.
■
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 33
LÍDERES
Despedida de Durão Barroso faz balanço positivo, apesar da crise
No discurso de despedida, efectuado em sessão plenária do Parlamento Europeu, a 21 de Outubro, José Manuel Durão Barroso revisitou uma década na Presidência da Comissão Europeia, passando em revista os principais acontecimentos que marcaram os seus mandatos
Com a devida vénia, reproduzimos na íntegra a sua
apenas da crise financeira e da dívida soberana - não
intervenção:
esqueçamos que no início do meu primeiro mandato,
«Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados
vivemos uma crise constitucional, quando dois Estados-
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer o convite
-Membros fundadores da União Europeia recusaram,
que me fizeram para, pela última vez, me dirigir a esta
em referendo, o Tratado Constitucional. Atravessámos,
assembleia parlamentar. De facto, estamos a chegar ao
assim, uma crise constitucional, uma crise da dívida
termo do meu segundo mandato enquanto Presidente
soberana e uma crise financeira. E vivemos agora uma
da Comissão Europeia e é com muito agrado que aqui
grave crise geopolítica, em resultado do conflito entre a
estou, juntamente com os meus colegas, para vos apre-
Rússia e a Ucrânia.
sentar um balanço do que foram esses anos. Uma vez
A crise constitucional foi resolvida através do Tratado
que esta é a minha segunda Comissão, permitam-me
Constitucional de Lisboa. A verdade é que, então, mui-
que me reporte igualmente à última década.
tos afirmaram que seria impossível que a União Euro-
Quero aqui partilhar convosco os meus sentimentos, as
peia encontrasse um novo quadro institucional. Foram,
minhas emoções, os meus pensamentos sobre a forma
efetivamente, momentos de ambiguidade e dúvida. Mas,
como a União Europeia respondeu a estes tempos
no essencial, conseguimos manter a maioria do acervo
conturbados e o que considero serem os desafios mais
da União Europeia, incluindo a maior parte dos novos
importantes para o futuro.
elementos do Tratado Constitucional de Lisboa, que foi
Penso que concordam comigo quando afirmo que estes
ratificado por todos os Estados-Membros, mesmo aque-
têm sido anos excecionais e difíceis. Dez anos de crise
les que parecem hoje ter esquecido que o fizeram.
e de resposta da União Europeia a essa crise. Não falo
Mais recentemente - e porque aprendi a deixar para o
34 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
➤
fim os problemas económicos, uma vez que estamos
ou mesmo de muitos dos países dentro ou fora da Eu-
ainda a vivê-los - colocou-se-nos este desafio mui-
ropa, sobre o que poderia acontecer: todos anteciparam
to sério, que constitui uma ameaça à estabilidade da
a saída da Grécia da zona do euro. E, é claro, a saída
Europa, resultante do comportamento inaceitável da
da Grécia da zona do euro teria, de imediato, um efeito
Rússia relativamente à Ucrânia. Assumimos então uma
arrastador noutros países, um efeito de dominó que,
postura de princípio. Propusemos à Ucrânia um acordo
efetivamente, já se fazia sentir em países como a Irlan-
de associação e um acordo de comércio livre e registo
da e Portugal. Mas não esqueçamos que a Espanha e
com agrado que, pese embora todas as dificuldades,
a Itália se encontravam também sob enorme pressão.
a Ucrânia assinou e ratificou o acordo de associação.
Estávamos à beira do abismo. Recordo-me bem das
Neste contexto, gostaria aqui de vos felicitar porque, no
discussões à margem da Cimeira do G20 em Cannes,
mesmo dia e à mesma hora que o parlamento ucraniano
em 2011. Lembro-me bem de os analistas previrem
ratificava aquele acordo, este parlamento ratificava o
quase unanimemente a saída da Grécia e de, pelo
acordo que demonstra à Ucrânia que pode contar com
menos, 50% deles anteciparem a implosão do euro. E o
o nosso apoio enquanto parte da família europeia de
que aconteceu? Não apenas nenhum país abandonou
nações.
o euro, como estamos prestes a acolher o 19.º membro
Neste momento em que vos falo, esta crise não está
da zona do euro, com a adesão da Lituânia em 1 de
ainda resolvida - sabemos que não. Mas, penso que
janeiro de 2015. Não apenas a Grécia não saiu da zona
nos podemos orgulhar de termos mantido uma posição
do euro, como esta se alargou. Tal como a União Eu-
de princípio, de termos condenado, inequivocamente,
ropeia se tem alargado. Este é um aspeto que tem sido
as ações da Rússia e de ter sido ratificado o acordo de
bastante subestimado nas nossas análises.
associação não apenas com a Ucrânia, mas também
Em 2004, ano em que tive o prazer e a honra de as-
com a Geórgia e a Moldávia. Porque acredito que temos
sumir a liderança da Comissão Europeia, éramos 15,
um dever para com aqueles países que olham para a
lembram-se? Hoje, somos 28. Quase duplicámos o
Europa na esperança de partilhar connosco um futuro
número de membros da União Europeia durante a crise.
comum, porque querem comungar dos nossos valores.
Haverá melhor prova da resistência e da capacidade de
Neste momento, a Comissão continua a desempenhar
adaptação da nossa União? Penso que o facto de nos
o papel de mediadora neste processo, nomeadamente
termos conseguido manter unidos e abertos durante a
na reunião que hoje se realiza com os governos russo e
crise confirma a resistência e a força extraordinárias da
ucraniano sobre questões de energia, para tornar possí-
União Europeia, facto que não deve ser subestimado.
vel uma solução política negociada. Um acordo político
Sei que, para alguns, estes feitos não significam muito.
serve o interesse de todas as partes, mas tem de ser
De certa forma, idealizam o passado e sonham prova-
um acordo político que respeite os princípios do direito
velmente com uma Europa fechada. Consideram que a
internacional, que respeite o direito de um país vizinho
Europa era melhor quando metade do continente se en-
decidir o seu próprio futuro e que respeite a soberania
contrava sob o jugo de regimes comunistas totalitários.
e a independência desse país. Como tal, devemo-nos
Eu não penso assim. Considero que a Europa é melhor
orgulhar do que temos feito no contexto desta crise
hoje do que quando metade se encontrava subjugada
geopolítica assaz difícil.
ao comunismo. O facto de a Europa ter sido capaz, du-
Por outro lado, vivemos a crise financeira e da dívida
rante toda a crise, de se abrir, consolidar e unir enquan-
soberana. A verdade é que a crise não nasceu na Eu-
to continente em torno de valores da paz, da liberdade
ropa, mas porque não estávamos preparados, porque
e da justiça é algo que devemos festejar e não algo que
a zona do euro não dispunha ainda dos instrumentos
nos envergonhe, como parece ser o caso de alguns.
adequados, sofremos bastante as suas consequências
Por isso, penso que este é também um motivo de
- não apenas em termos financeiros e económicos, mas
celebração. Muitos previram, como provavelmen-
também em termos sociais e políticos. Considero que
te se lembram todos os que então seguiram estas
esta crise foi provavelmente a mais profunda desde o
questões atentamente, que a Comissão Europeia
início do processo de integração europeia, na década
não seria capaz de funcionar com 25, 27 ou 28
de cinquenta do século passado. Coloquemos, pois, as
membros, que a União Europeia ficaria bloqueada. A
coisas em perspetiva.
verdade é que a União Europeia não ficou bloquea-
Senhoras e Senhores Deputados,
da pelo alargamento. A verdade que estou hoje em
Recordemos a opinião corrente da maioria dos analistas
condições de partilhar convosco é que, por vezes,
dos meios de comunicação económicos e financeiros,
juntar alguns dos países fundadores foi mais difícil
➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 35
Durão Barroso faz balanço positivo
➤
do que reunir os 28 Estados-Membros da UE.
alguns telefonemas de capitais a perguntar-me «Porque
Também disso nos devemos orgulhar coletivamente,
está a falar da união bancária? Essa questão não está
porque a União Europeia conseguiu manter-se unida
nos Tratados.» Ao que eu respondi, «É verdade que
e aberta durante a crise. E quando digo aberta, digo-
não está nos Tratados, mas precisamos dela se quiser-
-o em todos os sentidos da palavra. Com uma atitude
mos concretizar os objetivos dos Tratados, designada-
aberta para o mundo. Abertos ao mundo estivemos, por
mente o objetivo de estabilidade e crescimento.» E hoje
exemplo, quando promovemos uma agenda climática
temos uma união bancária.
proativa após o fracasso da Ronda de Doha para o De-
Senhoras e Senhores Deputados,
senvolvimento e das negociações comerciais de Doha.
Se olharmos para a situação em perspetiva e pensar-
E lideramos agora o caminho nesse sentido, porque
mos onde estávamos há dez anos e onde nos encon-
acredito que o comércio pode ser uma das formas mais
tramos hoje, podemos afirmar com rigor e em completa
eficazes de apoio ao crescimento a nível mundial e na
observância da verdade que a União Europeia, pelo
União Europeia. Abertos ao mundo estivemos também
menos na zona do euro, está agora mais integrada e
quando tomámos a iniciativa de abordar o anterior Pre-
dotada de competências reforçadas, dispondo, através
sidente dos Estados Unidos da América, convencendo-o
do método comunitário, de mais ferramentas para dar
da necessidade de organizar uma primeira reunião do
resposta à crise, nomeadamente na zona do euro. Não
G20 ao nível dos Chefes de Estado ou de Governo porque era uma forma de desenvolver uma abordagem de cooperação global e evitar o regresso à política nefasta de protecionismo. O protecionismo pode ser uma tentação em tempos de crise. Não só conseguimos manter a Europa unida, mas lográmos alargá-la e abri-la ao resto do mundo. Mas agora, estamos mais fortes ou mais fracos? Eu sei que a maioria dos críticos dirá que estamos mais fracos. Mas será mesmo verdade? De facto, quanto a crise eclodiu, quase não dispúnhamos de instrumentos
apenas no sistema de governação
"
PENSO QUE CONCORDAM COMIGO QUANDO AFIRMO QUE ESTES TÊM SIDO ANOS EXCECIONAIS E DIFÍCEIS. DEZ ANOS DE CRISE E DE RESPOSTA DA UNIÃO EUROPEIA A ESSA CRISE. NÃO FALO APENAS DA CRISE FINANCEIRA E DA DÍVIDA SOBERANA
para lhe dar resposta. Tal como foi
"
na união bancária, mas também na legislação em matéria de estabilidade orçamental, regulação financeira e supervisão financeira. Apresentámos cerca de 40 novos diplomas legislativos, todos eles aprovados pelo Parlamento Europeu. E, mais uma vez vos agradeço porque em quase todos esses debates, o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia estiveram em sintonia e preconizaram mais e não menos ambição para a Europa. E, por isso, hoje posso afirmar que estamos mais fortes. Porque temos um sistema de governação mais integrado, porque temos legisla-
dito na altura, estávamos perante uma crise sem prece-
ção em vigor para sancionar os abusos nos mercados
dentes. Não tínhamos mecanismos, por exemplo, para
financeiros, porque temos um sistema de supervisão e
ajudar os países na iminência de incumprimento. Muito
regulação muito mais transparente. Penso que, se uma
foi feito. Coletivamente, a Comissão e os Estados-Mem-
crise como as que temos vivido vier a eclodir no futuro,
bros, sempre com o forte apoio do Parlamento, criá-
estaremos mais bem preparados para a enfrentar.
mos um novo sistema de governação. Temos hoje um
É óbvio que podem dizer que continuam a existir muitas
sistema de governação muito mais reforçado, nomeada-
dificuldades. É verdade, e voltarei a esta questão mais
mente com a atribuição de poderes sem precedentes às
adiante, no que respeita às perspetivas de crescimento,
instituições comunitárias, e tudo fizemos para manter o
mas não esqueçamos a situação em que nos encon-
método comunitário no centro da nossa integração. Por
trávamos. Estivemos muito perto de uma situação de
exemplo, a Comissão tem hoje mais poderes em termos
incumprimento ou, para usar uma palavra menos polida,
de governação da zona do euro do que antes da crise.
de falência de alguns dos nossos Estados-Membros.
O Banco Central Europeu tem hoje a possibilidade de
E vejam onde estamos hoje. Dos países que se viram
fazer a supervisão direta dos bancos na Europa, algo
obrigados a solicitar programas de ajustamento, Portu-
que antes teria sido considerado impossível, impensável
gal e a Irlanda saíram deles com êxito. A Irlanda é hoje
mesmo, antes da crise. Lembro-me, aquando do debate
um dos países com crescimento mais rápido na Europa.
sobre a união bancária, ter afirmado numa entrevista
E todos os outros que se viram confrontados com a
que precisávamos de uma união bancária. Recebi logo
ameaça iminente de rutura, têm agora uma situação
36 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
➤
muito mais estável. A Espanha, que solicitou um pro-
de rigor para corrigir as suas finanças públicas. No
grama para os bancos, melhorou também substancial-
entanto, sempre afirmámos com a mesma veemência,
mente. Assim, apenas dois países desse grupo (e não
embora provavelmente alguns não tenham escutado, a
nos esqueçamos dos países da Europa Central e Orien-
necessidade de reformas estruturais e de competitivida-
tal que recorreram a programas de ajustamento embora
de. Porque a realidade é que, mesmo antes da crise, o
não fizessem ainda parte da zona do euro) estão ainda
nosso crescimento estava aquém das nossas potencia-
a concluir os respetivos programas de ajustamento.
lidades. E alguns países têm problemas graves de falta
Os défices na zona do euro rondam, em média, os
de competitividade, motivo pelo qual as reformas têm de
2,5%. Este valor é muito inferior ao dos Estados Unidos
ser mais ambiciosas.
ou do Japão. Por isso, em termos de estabilidade, es-
Por outro lado, defendemos a necessidade de mais
tamos muito melhor agora do que antes. Sem esquecer
investimento. Sempre disse que precisamos de mais
que a zona do euro regista um excedente comercial. De
investimento, público e privado. O investimento privado
um modo geral, a União Europeia estará agora numa si-
materializar-se-á quando demonstrarmos que dispo-
tuação excedentária no que se refere a produtos, serviços e, pela primeira vez em muitos anos, à agricultura. E refiro este aspeto porque, muitas vezes, a opinião de alguns setores políticos é a de que estamos a perder com a globalização. Ora tal não é o caso. É verdade que alguns países da União não estão a vencer essa batalha, mas, em média, podemos afirmar que a Europa está a tirar dividendos em termos de concorrência, designadamente no que respeita ao comércio e ao investimento. Mas, obviamente, o crescimento é ainda tímido. Penso que não podemos afirmar que a crise está completamente ultrapassada porque persistem ameaças, mas considero que ganhámos a batalha da estabilidade. Hoje, ninguém apostará honesta-
mos de economias competitivas, que
"
SE FORMOS HONESTOS NA ANÁ-
podemos atrair esse investimento. Registo hoje com agrado o facto de a
LISE, OS PAÍSES QUE MAIS SOFRERAM DURANTE A CRISE FINAN-
maioria dos nossos países, se bem que a ritmos diferentes, estar a proceder a reformas estruturais ambiciosas que teriam sido consideradas impossíveis
CEIRA FORAM PRECISAMENTE AQUELES QUE, ANTES DELA, PERDERAM EM TERMOS DE COMPETITIVIDADE DOS CUSTOS. POR EXEMPLO, AS
antes da crise.
REFORMAS QUE FORAM REALIZADAS EM ESPANHA, IRLANDA,
Espanha, Irlanda, Portugal e Grécia
PORTUGAL E GRÉCIA SÃO NOTÁVEIS
estruturais, sempre consideramos ser
mente no fim do euro. O euro mostrou que é uma moeda muito forte,
"
A verdade é que, se formos honestos na análise, os países que mais sofreram durante a crise financeira foram precisamente aqueles que, antes dela, perderam em termos de competitividade dos custos. Por exemplo, as reformas que foram realizadas em são notáveis. Por outro lado, para além da consolidação orçamental e das reformas necessário mais investimento. Não só investimento privado, mas também investimento público. Lembrar-se-ão
credível e estável. A verdade é que o nosso crescimento
do debate em torno do quadro financeiro plurianual.
é ainda modesto e está claramente aquém das expecta-
O Presidente Schultz lembra-se, certamente. Partici-
tivas.
pámos juntos em muitas reuniões em que solicitámos
Então o que podemos fazer pelo crescimento? Esta é a
aos Estados-Membros que fizessem mais em termos
questão importante. E aqui vejo-me obrigado a relem-
de investimento. E o instrumento de investimento mais
brar outra coisa. Estou bem consciente de que, muitas
importante de que dispomos a nível europeu é o quadro
vezes, a política da União Europeia e, designadamente
financeiro plurianual, que ronda um bilião de euros.
a política da Comissão Europeia, tem sido apresentada
Por conseguinte, se não houve investimento mais
como integralmente centrada na austeridade. Eu consi-
ambicioso não foi por falta de ambição desta Comis-
dero esta afirmação caricatural.
são ou deste Parlamento. Foi devido à oposição de
Sempre defendemos pelo menos três linhas de ação
algumas capitais. Esta é a realidade. Defendemos um
importantes, designadamente, a consolidação orçamen-
investimento sólido e orientado para o crescimento. E
tal, é claro, para os países que estão sob pressão dos
não apenas no âmbito do quadro financeiro plurianual.
mercados. Seria completamente irresponsável se não
Recordo, por exemplo, as propostas que aqui vos apre-
estivessem em condições de apresentar um programa
sentei nos discursos sobre o estado da União. O
➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 37
Durão Barroso faz balanço positivo
➤
aumento de capital do BEI, que foi finalmente acor-
tica à da segurança energética. E digo isto porque,
dado. As obrigações para financiamento de projetos
esta semana, terá lugar uma importante discussão em
que os Estados-Membros aceitaram, mas só enquanto
Bruxelas, ao nível dos Chefes de Estado e de Governo,
piloto. O instrumento que criámos para as PME, com
e espero que a União Europeia mantenha o seu papel
empréstimos do BEI e recursos dos Fundos Estruturais,
de liderança. Obviamente não sozinhos, mas com a
do nosso orçamento. Infelizmente, só dois países quise-
cooperação de outros porque todos temos uma respon-
ram seguir essa linha.
sabilidade para com o nosso planeta. E este foi, certa-
Ou, por exemplo, o programa destinado aos jovens,
mente, um dos grandes avanços destes anos. O facto
a Garantia para a Juventude, que propusemos e os
de a União Europeia ter sido capaz de dar os passos
Estados-Membros aceitaram. Mas, agora, com a Inicia-
mais importantes e corajosos na luta contra as altera-
tiva para o Emprego dos Jovens, só dois países aceita-
ções climáticas.
ram prever um programa dedicado especificamente ao
Outro motivo de orgulho é o facto de - apesar de todas
emprego juvenil.
as restrições decorrentes da nossa situação financeira -
Por isso, meus caros colegas, sejamos claros: defen-
ter sido possível afetar no QFP mais 30% de fundos ao
demos o investimento. Desejo à nova Comissão e ao
programa Horizonte 2020 para a investigação e a tecno-
meu amigo e colega Jean-Claude Juncker, que tenham
logia. Considero que esta é uma grande oportunidade
o apoio dos Estados-Membros para um programa de
de fazermos mais neste domínio, bem como na área da
investimento mais ambicioso para os próximos anos.
cultura, através do programa Europa Criativa.
Acredito que isso seja agora possível, que a sensibili-
A verdade é que em algumas áreas foi possível, apesar
zação para esta questão é hoje muito maior. Mas, uma
da crise económica e financeira, aumentar o investimen-
vez mais, este aspeto faz parte de uma estratégia global
to a nível europeu.
que conjuga consolidação orçamental com reformas
Orgulho-me também do facto de, não obstante as
estruturais e investimento e, é claro, com todas as
pressões a que estavam sujeitos os nossos orçamentos,
medidas que tomámos na área da união bancária e de
sempre termos marcado presença em termos de ajuda
regulação financeira em prol da estabilidade.
ao desenvolvimento e da política de vizinhança.
E afirmo isto com veemência porque considero que
Sempre que o mundo viveu uma grande tragédia, do
seria um erro, após tudo o que fizemos, desistir agora,
tsunami na Indonésia à recente crise do Ébola, da crise
vacilar na determinação e abandonar a via das reformas
de refugiados da Síria ao Darfur, estivemos lá, e sem-
estruturais. Penso que fizemos uma parte do trabalho.
pre entre os primeiros. E penso que nós, europeus, nos
De um modo geral, a estabilidade foi conseguida e o
devemos também orgulhar desse facto. Porque somos
crescimento existe, ainda que a um ritmo mais lento do
ainda, juntamente com os nossos Estados-Membros,
que desejaríamos. Necessitamos agora de determina-
o mais importante doador de ajuda ao desenvolvimen-
ção para completar as reformas, de modo a atingirmos
to no mundo. Esta é uma verdade que corresponde
um crescimento sustentável. Não um crescimento
perfeitamente aos nossos valores e estou satisfeito por,
alimentado pela dívida excessiva, pública ou privada,
apesar de todas as crises, não termos abandonado as
porque esse é um crescimento artificial e fictício e,
nossas obrigações em termos de cooperação para o
mais cedo ou mais tarde, pagaríamos o preço. Mas um
desenvolvimento.
crescimento sustentável, que acredito ser possível se
Já aqui mencionei o comércio. Penso que é muito im-
continuarmos o caminho corajoso das reformas e de
portante manter uma agenda comercial ambiciosa, uma
uma governação mais forte para a União Europeia.
Europa aberta ao comércio livre e justo. A Comissão
Não tenho agora tempo de passar em revista todas as
celebrou um número recorde de acordos, não apenas
outras políticas que desenvolvemos ao longo dos anos.
com a Coreia do Sul, Singapura e América Central - a
Mas permitam-me destacar uma ou duas, porque penso
primeira região a conseguir um acordo - mas também
que estão na fase decisiva do processo de decisão e
com o Peru, o Equador e, mais recentemente, com o
porque considero que são importantes.
Canadá, a África Ocidental, o Leste Africano e a África
Orgulho-me imensamente de ter sido a minha Comis-
do Sul. Poderia mencionar alguns outros que estão
são, no seu primeiro mandato em 2007, que apresentou
agora a avançar, como o Japão e os Estados Unidos e
o programa de proteção do clima mais ambicioso do
ainda um acordo de investimento com a China.
mundo. E continuamos a liderar esta agenda a nível
Somos, pois, o mais importante bloco comercial do
mundial.
mundo. Somos a maior economia do mundo.
De facto, fomos capazes de associar a agenda climá-
E digo-o porque sei que hoje está muito na moda o
38 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
➤
pessimismo, o derrotismo sobre a Europa, o que eu
síveis a essa situação. Mas posso dizer-vos, em plena
chamo deglamour intelectual do pessimismo. Mas acre-
consciência, de que tudo fizemos ao nosso alcance,
dito que podemos mostrar bons resultados e que juntos,
com os instrumentos de que dispúnhamos, para evitar a
enquanto coletivo, somos muito mais fortes e podemos
fragmentação do euro ou a divisão da União Europeia.
defender melhor os nossos interesses e proteger os
E frequentemente tive de apelar aos meus colegas do
nossos valores.
Conselho, Chefes de Estado e de Governo, para que
Caros colegas - chamo-vos colegas porque, apesar das
fizessem jus à ética da responsabilidade europeia.
muitas discussões, temos sido colegas nesta grande
Mas uma das lições que retiro de tudo isto é que, mes-
empresa que é o projeto europeu - penso que, politica-
mo tendo sido possível chegar a decisões, é verdade
mente, temos algumas ilações a retirar.
que tal foi, por vezes, extremamente penoso e difícil.
Uma é que demos provas de grande resistência. Acho
Além de moroso. Afirmámos também, e penso que
que podemos afirmar que as forças de integração são
todos concordamos nesse ponto, que a democracia é
mais fortes do que as forças de desintegração. E acre-
mais lenta do que os mercados.
ditei nisso dia e noite, por vezes em momentos muito
A Comissão teria preferido, e estou certo que este
dramáticos, por vezes quando tive de dirigir apelos dra-
Parlamento também, que as decisões tivessem sido
máticos a algumas capitais: aos países mais ricos, para
mais corajosas, mais abrangentes, mais rápidas. Mas
que dessem prova de maior solidariedade; e aos mais
somos uma União de Estados democráticos, não somos
pobres, para que mostrassem maior responsabilidade.
um super Estado. E temos de respeitar sensibilidades
Por vezes, agimos com muita discrição, é certo. A
distintas.
Comissão Europeia é, provavelmente, mais discreta do
Uma das conclusões que retiro destes anos de ex-
que outros. Não quis que a Comissão fizesse parte da
periências é a necessidade de cooperação entre as
cacofonia de vozes diferentes durante os momentos
instituições. Sei que, por vezes, é mais fácil apresentar
mais agudos da crise. Os mercados eram muito sen-
ideias impossíveis e criticar os outros. Mas, acredito
➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 39
Durão Barroso faz balanço positivo
firmemente que temos de interagir com as diferentes
advogar esta ideia de forte cooperação, de pôr o bem
instituições, que não é solução opor os países à União
europeu comum acima de tudo o resto, o meu colega
Europeia. Pelo contrário, mostrámos aos nossos países
e amigo Jean-Claude Juncker e a sua nova Comissão
que somos mais fortes se fizermos parte da União Eu-
serão bem sucedidos. Sucesso esse, é claro, assente
ropeia. Que não se trata de diluir a identidade nacional,
no apoio que, estou certo, todos vocês lhes darão.
mas, pelo contrário, de partilhar soberania para que
Porque a União Europeia é uma união de valores. Nes-
possamos proteger os seus interesses mais eficazmen-
tes últimos dias, vários jornalistas perguntaram-me ‘qual
te em todo o mundo. Esta é a minha convicção inaba-
foi para si o momento mais emotivo? Que momento pre-
lável.
feriu?’ E eu recordo-me de tantos, e de tantos outros tão
E digo-vos o seguinte, no momento de partir: o meu
difíceis, para ser sincero. Mas um dos momentos mais
único interesse é que aprendamos com estas lições para
emocionantes foi quando, em nome da União Europeia,
não repetir os mesmos erros no futuro. Ao mesmo tem-
juntamente com o Presidente Martin Schulz e o Pre-
po, penso que podemos afirmar que não é através da
sidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy,
confrontação, mas sim da cooperação que somos capa-
recebemos o Prémio Nobel da Paz.
➤
zes de atingir os nossos objetivos. No momento em que me preparo para passar este testemunho muito difícil e interessante ao meu amigo Jean-Claude Juncker, quero afirmar aqui, em meu nome e em nome de todos os meus colegas da Comissão, que desejamos as melhores felicidades à nova Comissão, que tem à sua espera enormes desafios, mas que poderá contar com o nosso apoio. E estou certo do apoio que este Parlamento lhe dará. Porque, Senhor Presidente, as relações nem sempre foram perfeitas. Mas estará de acordo comigo quando digo que fomos capazes de estabelecer uma relação frutuosa entre o Parlamento e a Comissão.
Considero que este foi um sinal podero-
"
NA MINHA COMISSÃO, NÃO HAVIA COLEGAS DO PPE, SOCIALISTAS, LIBERAIS.
HAVIA PESSOAS QUE TRABALHAVAM PARA A EUROPA. O MEU PARTIDO É O PPE, DE QUE MUITO ME ORGULHO, MAS ENQUANTO PRESIDENTE DA COMISSÃO, O MEU PARTIDO É A EUROPA E ESSA É UMA MENSAGEM QUE GOSTARIA DE PARTILHAR CONVOSCO
Estive neste Parlamento mais de 100 vezes. Nunca nenhuma
"
so que a comunidade internacional nos enviou de que a nossa ação conta neste mundo e que o que fazemos é muito importante. Que os valores que estiveram na base da criação da nossa União, designadamente o valor da paz, são ainda hoje a nossa essência. E temos de lutar por eles. Penso que esse foi o momento que quero partilhar com todos quanto nas diferentes instituições, incluindo este Parlamento, têm trabalhado por uma Europa unida, aberta e mais forte. E quando deixar este cargo, com todos os meus colegas da Comissão, posso dizer-vos que não conseguimos tudo o que podíamos, ou tudo o que gostaríamos de ter conseguido, mas trabalhámos com a consciência limpa, pondo os interesses globais da União Europeia acima dos interesses específicos. Acredito que estão
Comissão esteve tantas vezes representada no Parla-
agora criadas as condições para continuar a trabalhar
mento como as minhas duas Comissões. A cooperação
em prol de uma Europa unida, aberta e mais forte.
entre nós foi uma realidade e estou grato porque este
Muito obrigado pela vossa atenção.
Parlamento, que formulou, por vezes, exigências muito
Auf wiedersehen, goodbye, au revoir, adeus.
duras, sempre apoiou o método comunitário, sempre
Muito obrigado, thank you very much.»
apoiou as instituições comunitárias. E acredito que tal é
[Na sequência das declarações dos Deputados do
muito importante para o futuro da Europa.
Parlamento, o Presidente Barroso proferiu os seguintes
Meus caros colegas do projeto europeu,
comentários]
a forma de solucionar os problemas que nos assolam na
«Senhor Presidente,
Europa não passa por revoluções, e muito menos por
Gostaria de responder a algumas questões que foram
contrarrevoluções. Passa, sim, pelo compromisso, pelas
evocadas pelos oradores que me precederam. Em
reformas. Evolução e reformas. Temos de proceder a
primeiro lugar, penso que a prova que nós, e refiro-me à
reformas para nos adaptarmos aos novos desafios, mas
Comissão que tive a honra de presidir, estamos no bom
não com novos confrontos entre as instituições, nem
caminho é que as críticas chegam dos dois extremos da
com confrontos com os nosso países. E acredito que ao
sala, muitas vezes no mesmo tom. Quero isto dizer,
40 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
recusando de forma categórica as dificuldades e os
resultado da União Europeia revela falta de rigor inte-
desafios extraordinários que tivemos de enfrentar e não
lectual e desonestidade política. O que temos de fazer
apresentando qualquer resposta coerente.
enquanto europeus é precisamente mostrar que não foi
A verdade é que vivemos talvez a maior crise econó-
a Europa que criou a crise, nem tão pouco as dívidas
mica e financeira, pelo menos desde o início da nossa
públicas dos Estados-Membros. A Europa pouco pode
integração europeia. E é também verdade que não foi a
fazer quando um Estado-Membro falsifica as suas con-
União Europeia, não foi a Europa que provocou a crise.
tas, por exemplo. A Europa teve de fazer face a isso. A
É isso que alguns soberanistas, para usar a expressão
primeira iniciativa da minha segunda Comissão foi pedir
que utilizam, não compreendem ou não querem com-
aos Estados-Membros que nos dessem mais poderes
preender. Não foi a Europa que criou a dívida privada
de supervisão das estatísticas nacionais, porque na
excessiva, a falta de responsabilidade do domínio
primeira Comissão a que presidi tal havia sido recusa-
financeiro, muito pelo contrário. Tudo se passou sob a
do. E não foi recusado pela Grécia. Foi recusado pelos
supervisão ou falta dela a nível nacional. A Europa é
grandes Estados-Membros que não queriam dar mais
a resposta. Agora, dispomos de um dos sistemas de
responsabilidades à União Europeia. Logo, se quere-
➤
regulação e de supervisão mais ambiciosos, se não o mais ambicioso, do mundo. Logo, afirmar que a Europa está pior devido à União Europeia é uma mentira. É uma completa falta de respeito e uma falta de rigor intelectual. Não foi a Europa que criou a crise financeira. A crise nasceu nos Estados Unidos. É certo que existiam vulnerabilidades na Europa, mas o que a União Europeia fez foi dar-lhes resposta. A União Europeia não é a causa e considero que é algo que todos que partilham o ideal europeu, de direita, esquerda ou do centro, devem ter a coragem de dizer. Porque, de outra forma, estaremos a reforçar precisamente os populismos da extrema esquerda ou da extrema
mos mesmo debater esta questão,
"
DESEJO À NOVA COMISSÃO E AO MEU
da honestidade intelectual e do rigor político.
AMIGO E COLEGA JEAN-CLAUDE JUN-
E é por isto, meus caros amigos, que há uma coisa que vos quero dizer
CKER, QUE TENHAM O APOIO DOS ESTADOS-MEMBROS PARA UM PROGRAMA DE INVESTIMENTO MAIS AMBICIOSO PARA OS PRÓXIMOS ANOS. ACREDITO QUE ISSO SEJA AGORA POSSÍVEL, QUE A SENSIBILIZAÇÃO PARA ESTA QUESTÃO É HOJE MUITO MAIOR
direita.
sejamos precisos e rigorosos no plano
"
com grande convicção. A equipa a que tive a honra de presidir trabalhou com grande dedicação, com grande rigor, colocando sempre em primeiro lugar o interesse europeu. Vou-vos dizer uma coisa, porque estamos aqui numa assembleia política com diferentes forças políticas, colocando sempre o interesse comum acima de tudo. Na minha Comissão, não havia colegas do PPE, socialistas, liberais. Havia pessoas que trabalhavam para a Europa. O meu partido é o PPE, de que muito me orgulho, mas enquanto Presidente da Comissão, o
Ouvi com atenção alguns deputados que afirmam que
meu partido é a Europa e essa é uma mensagem que
o populismo é agora mais forte e imputam a respon-
gostaria de partilhar convosco, designadamente para
sabilidade desse facto à União Europeia. Mas, caros
as grandes forças pró-europeias de centro esquerda
amigos, isso não é verdade. O populismo, a xenofobia,
e de centro direita. É claro que é preciso expressar as
existem muito claramente fora da União Europeia.
diferenças, mas há que ter cuidado para que essas di-
Vejam o que se passou na Suíça contra os imigrantes.
ferenças não enfraqueçam o campo dos pró-europeus.
Vejam o que se passou na Noruega, com o terrorista
Há que não dar mais prendas à extrema direita ou à ex-
que matou já não sei quantos jovens porque se opõe a
trema esquerda. É preciso que as forças pró‑europeias
uma Europa multicultural. Vejam o Tea Party nos Esta-
se unam. É preciso que tenham coragem de defender a
dos Unidos. O Tea Party nos Estados Unidos é culpa
Europa. É preciso que o façam também nas capitais e
da Europa?
não apenas aqui, em Estrasburgo. É preciso congregar
O que existe hoje no mundo é um populismo agressivo,
essa grande coligação pela Europa, porque acredito
umas vezes com argumentos de esquerda, outras com
que temos energia suficiente par vencer as batalhas do
argumentos de direita. Por vezes, é difícil saber onde
presente e as que nos esperam no futuro.
está a diferença e, como tal, dizer que esta situação é
Muito obrigado.»
■
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 41
LÍDERES
No rescaldo do mandato na UE
Barroso condecorado pelo Presidente da República
Após uma década a presidir a Comissão Europeia, Durão Barroso foi condecorado por Cavaco Silva com o Grande Colar da Ordem do Infante D. Henrique, por serviços de “extraordinária relevância” para Portugal e União Europeia. Na ocasião, o Presidente da República acentuou o seu “papel decisivo para que a Europa ultrapassasse as crises por que passou na última década”
42 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
➤
José Manuel Barroso foi condecorado pelo Presiden-
te da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, com o Grande Colar da Ordem do Infante D. Henrique, por serviços de “extraordinária relevância” para Portugal e União Europeia. Durão Barroso, que durante 10 anos exerceu o cargo de Presidente da Comissão Europeia, que cessou a 31 de Outubro de 2014, ocupou uma das funções internacionais mais elevadas, nunca exercida por um político português. O Presidente da República destacou o contributo de Durão Barroso, enquanto Presidente da Comissão, na economia e nos planos institucionais e financeiros da União Europeia e definiu-o como um político de grande relevo na arena internacional. “Acompanhei de perto o seu trabalho como Presidente da Comissão, e sei bem que desempenhou um papel decisivo para que a Europa ultrapassasse as crises por que passou na última década. Desde logo, a aprovação do Tratado de
"
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA DESTACOU O
CONTRIBUTO DE DURÃO BARROSO, ENQUANTO PRESIDENTE DA COMISSÃO, NA ECONOMIA E NOS PLANOS INSTITUCIONAIS
E FINANCEIROS DA UNIÃO EUROPEIA E DEFINIU-O COMO UM POLÍTICO DE GRANDE RELEVO NA ARENA INTERNACIONAL
Lisboa, que ultrapassou o impasse político e institucional criado pelo voto negativo do Tratado Constitucional, na França e na Holanda”, disse o Chefe de estado
"
português, frisando que “foi da maior importância o con-
número que, em 2004, não ultrapassava os 15. Enfrentou
tributo dado pelo Dr. Durão Barroso para que a União
os desafios da rejeição, em 2005, do Tratado Constitucional
Europeia ultrapassasse a crise financeira e das dívidas
e as dificuldades da negociação do Tratado de Lisboa, em
soberanas, que pôs à beira da ruptura a Zona do Euro
2007. Atravessou a crise económica e financeira interna-
e pôs mesmo em causa o próprio projecto da integra-
cional, que mais tarde afectaria com especial intensidade
ção europeia”.
sobre a Europa, ameaçando mesmo a integridade da zona
Cavaco Silva acrescentou ainda que Barroso “foi um
Euro”, relembrou Passos Coelho, sublinhando que Barroso
grande impulsionador do novo modelo de governação
“lidou com desafios internacionais, como o agravamento do
económica da Zona do Euro, mais consistente com
terrorismo, a instabilidade na fronteira Leste da União e as
uma verdadeira União Económica e Monetária, tal
mudanças políticas no Norte de África e Médio Oriente”.
como foi o grande impulsionador da criação dos ins-
O Primeiro-Ministro sustentou, ainda, que “a profunda
trumentos de apoio aos países com graves problemas
convicção de que a herança, a coragem e o exemplo do
de desequilíbrios económicos e financeiros, como foi a
Dr. Durão Barroso em muito contribuirão para que os novos
criação do Mecanismo Europeu de Estabilidade.”
altos dignitários da União Europeia prossigam, com sucesso, este esforço permanente de construção de uma Europa
Passos também agradeceu
mais forte, mais igual e mais unida”.
O Primeiro-Ministro português, Pedro Passos Coelho,
Por ser uma distinção reservada a Chefes de Estado
também agradeceu a Durão Barroso pela “forma digna
estrangeiros, o Grande Colar da Ordem do Infante D.
e empenhada como liderou a União, numa década
Henrique é oferecido a personalidades portuguesas em
desafiadora e como honrou e prestigiou Portugal na
ocasiões especiais. José Manuel Barroso é o segundo
Europa e no mundo”. Tal como o Presidente da Re-
português a ser homenageado com a distinção, depois
pública, o Chefe do Governo português relembrou os
do ex-governador português em Macau, Vasco Rocha
principais acontecimentos europeus que ocorreram du-
Vieira, a quem a condecoração foi atribuída em 2001
rante os dois mandados do ex-presidente da Comissão
pelo antigo Presidente da República, Jorge Sampaio.
Europeia. E referiu-se a uma década da presidência
Desde que saiu do Governo para exercer o cargo de
de Durão Barroso como anos de “uma complexidade
Presidente da Comissão Europeia, em 2004, Durão
inesperada”.
Barroso recebeu várias distinções entre quais o “Gran-
“A União Europeia enfrentou crises consecutivas, de natu-
de Colar de Timor-Leste”, em 2010; e a “Grã-Cruz da
reza institucional, económica e geopolítica. Transformou-
Real y Distinguida Orden Española de Carlos III”, de
-se num clube de 28 Estados-membros, partindo de um
Espanha, em 2011.
■
Texto: Roman Buzut Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 43
Brasil a duas vozes
O “fenómeno” Dilma
Renascida das cinzas da contestação social e do jogo baixo dos seus adversários políticos, a “Presidenta”, dada por derrotada pelos principais órgãos de comunicação social, venceu nas urnas Aécio Neves que, num primeiro momento, ainda pensou ser “o senhor que se segue”. O eleitorado trocou as voltas aos analistas… ➤
44 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 45
Brasil a duas vozes O “fenómeno” Dilma
46 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
A ténue diferença que separou Dilma Rou-
mente, a candidata do PT conseguiu mobilizar
sseff de Aécio Neves, no segundo turno das
20.176.579 votos no Nordeste e 26.627.802
eleições brasileiras, colocou o país literal-
no Sul-Sudeste.
mente dividido ao meio. Esta constatação,
No lado oposto, os apoiantes do governo,
extrapolada até ao limite, constitui porém um
procuram dar a entender que a maioria dos
argumento bastante redutor. Historicamente
brasileiros teria apoiado a “Presidenta”, o que
as eleições presidenciais em qualquer país
não deixa também de constituir uma falácia.
traduzem a mesma realidade, embora no caso
Dos 142.822.046 eleitores registados, Dilma
brasileiro a literalidade seja mais consistente
conseguiu 38,16 por cento (%) - 54.501.118
por razão do voto obrigatório.
votos -, contra 35,74% de Aécio (51.041.155
No caso do Brasil, porém, essa divisão do
votos). 21,1% corresponde aos eleitores que
país traduzida nas urnas corresponde, de
se abstiveram (30.137.479 votos), anularam
igual modo, a um compartimento de nature-
o voto 5.219.787 eleitores (3,65%) e votaram
za social. Nos meses que antecederam as
em branco 1.921.819 (1,35%) brasileiros.
eleições, metade do país (não rigorosamente
Contas à parte, Dilma Roussef, tida como der-
a mesma metade que apoiou Aécio nas urnas) saiu à rua em protesto contra a corrupção, o aumento desenfreado dos transportes, o precário sistema de saúde e a realização da muito contestada Copa do Mundo de Futebol. Numa expressão que, em crescendo, pôs em
"
A VITÓRIA DA CANDIDATA DO PARTIDO DOS
vitória nas urnas da candidata do Partido So-
TRABALHADORES (PT) PODERÁ SER ENTENDIDA COMO UM FEITO EXTRAORDINÁRIO, PARA MAIS QUANDO A POUCAS SEMANAS DO PRIMEIRO TURNO DAS ELEIÇÕES INSUSPEITOS OBSERVADORES VATICINAVAM A
cialista Brasileiro (PSB) – um ex-aliado do PT
DERROTA DE DILMA
causa as principais áreas da governação. Num tal contexto, a vitória da candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) poderá ser entendida como um feito extraordinário, para mais quando a poucas semanas do primeiro turno das eleições insuspeitos observadores vaticinavam a derrota de Dilma e a putativa
"
-, Marina Silva, que, ironicamente, não conseguiu chegar à segunda volta. A tangencial diferença entre Dilma Rousseff e Aécio Neves revela, pois, a divisão social e
rotada em grande parte das sondagens pré-
sociológica de uma nação, mas expõe tam-
-eleitorais, e que teve contra si os principais
bém uma outra realidade. Ao contrário dos
órgãos de comunicação social, alguns deles
apoiantes da “Presidenta” e da base política
não se inibindo mesmo de publicar mentiras
que lhe dá suporte no governo e na rua - ca-
a seu respeito, revela-se como um verdadei-
racterizada por uma grande unidade orgânica
ro “animal político” ao conseguir quebrar a
e funcional -, o “outro lado” expõe uma amál-
adversidade e manter as rédeas do poder em
gama de interesses contraditórios, desde logo
Brasília. No entanto, com o sobressalto Aécio
com uma expressão anterior nos protestos de
e as contestações de rua que antecederam
rua.
as eleições, Dilma terá de abrir-se ao diálogo com a sociedade e empreender reformas
Leituras enviesadas
estruturais, caso contrário verá a sua governa-
A suposta divisão do Brasil entre nordesti-
ção permanentemente fustigada à direita e à
nos e sulistas (alardeada pelos opositores
esquerda.
do governo pêtista) - os primeiros, apoiantes de Dilma; os segundos, de Aécio -, não só
O trajecto da “Presidenta”
não se confirmou como constituiu uma das
Nascida em Belo Horizonte a 14 de Dezembro
maiores falácias desta campanha. Efectiva-
de 1947, Dilma Vana Rousseff ocupou
➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 47
Brasil a duas vozes O “fenómeno” Dilma
"
DILMA ROUSSEFF, TIDA COMO DERROTADA EM GRANDE PARTE DAS
SONDAGENS PRÉ-ELEITORAIS, E QUE TEVE CONTRA SI OS PRINCIPAIS ÓRGÃOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, ALGUNS DELES NÃO SE INIBINDO MESMO DE PUBLICAR MENTIRAS A SEU RESPEITO, REVELA-SE COMO UM VERDADEIRO “ANIMAL POLÍTICO”
➤
já elevados cargos políticos antes de ter
e 1972, tendo sido torturada pelo temível
sido eleita Presidente pela primeira vez em
DOPS (Departamento de Ordem Política e
2010. Durante os governos de Luiz Inácio Lula
Social).
da Silva esteve à frente do Ministério de Minas
Após a restauração democrática, no início dos
e Energia, ocupando posteriormente a Chefia
anos 80, Dilma Rousseff foi viver para o Rio
da Casa Civil da Presidência.
Grande do Sul e empenhou-se activamente na
Nascida em “berço de ouro”, no seio de uma
fundação do Partido Democrático Trabalhista
família de classe média alta, Dilma aderiu
(PDT), liderado por Leonel Brizola. Em Por-
aos ideais socialistas na primeira metade
to Alegre, na década de 80 (1985-1988), foi
dos anos sessenta, em plena ditadura militar.
secretária municipal da Fazenda, e, de 1991 a
Determinada, militou no Comando de Liber-
1993, presidente da Fundação de Economia e
tação Nacional (COLINA) e na Vanguarda
Estatística. De 1999 a 2002 ocupou o cargo de
Armada Revolucionária Palmares (VAR-Pal-
secretária estadual de Minas e Energia e adere
mares), organizações de “esquerda radical”
ao PT de Lula da Silva, iniciando-se aí a sua
que defendiam a luta armada, o que lhe
fulgurante carreira política até à Presidência,
valeu quase três anos de prisão, entre 1970
sendo a primeira mulher a ocupar o cargo.
■
António Pinho
48 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
"
VIAGENS DE ESTADO
Encontro com o Príncipe Real e Presidente em Exercício dos Emirados Árabes Unidos, Xeque Mohammad bin Zayed Al Nahyan
Cavaco Silva visita Emirados Árabes Unidos com o propósito de promover o diálogo político e de reforçar as relações económicas entre os dois países
O Presidente da República Portu-
estratégico, de grande importân-
vez mais” e que “há cerca de 600
guesa realizou uma Visita Ofi-
cia nesta região. E um significado
empresas que mantêm negócios
cial, a primeira de um Chefe de
económico porque são um país
com os Emirados”. Frisou ainda
Estado português, aos Emirados
com um crescimento bastante
que “no primeiro semestre de
Árabes Unidos (EAU). A viagem
significativo que realizou pro-
2014 as exportações para esse
com passagem por Abu Dhabi e
gressos notáveis nas últimas
país árabe aumentaram 25%”,
Dubai além da vertente política
décadas”, disse o Presidente da
e que “Portugal não pode igno-
tem também uma forte verten-
República.
rar um mercado em tão grande
te económica e empresarial. A
Em declarações aos jornalistas,
expansão como este”, que tem
deslocação ao país do Golfo
Cavaco Silva lembrou que os
“muitos recursos financeiros dis-
Pérsico, de 26 a 27 de Novembro
“Emirados Árabes Unidos têm
poníveis”.
de 2014,“tem um significado po-
registado um crescimento anual
No início da sua visita, em que foi
lítico porque os Emirados Árabes
que ronda os 5%”, que “é o país
acompanhado por membros do
Unidos, desempenham um papel
para onde Portugal exporta cada
Governo e por uma comitiva
50 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
➤
empresarial, o Chefe de Es-
tado da República Portuguesa encontrou-se, no Abu Dhabi, com o Príncipe Real e Presidente em Exercício dos Emirados Árabes Unidos, o Xeque Mohammad bin Zayed Al Nahyan. Na reunião foram abordadas questões de natureza política, económica e comercial, e de cooperação bilateral entre os dois países. “Tivemos possibilidade de falar muito abertamente sobre a situação geoestratégica desta região, mas acima de tudo falar sobre a cooperação em múltiplas áreas que podemos desenvolver.” Afirmou Cavaco Silva e acrescentou
Visita à Mesquita Xeque Al Zayed
ter encarado o encontro como uma oportunidade para explicar a situação politica e económica de Portugal, “em particular na zona do euro, que suscita bastante interesse nesta parte do mundo”. As “potencialidades” de Portugal enquanto aposta aliciante para o investimento foram também acentuadas numa reunião com o Xeque Ahmed Bin Zayed Al Nahyan. Nesse encontro, em Abu Dhabi, com o Líder de um dos mais importantes fundos dos Emirados, o Fundo Soberano ADIA - Investimentos e ETHIAD Airways, dos EAU, Cavaco Silva destacou a posição de Portugal
Encontro com o Xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum
na União Europeia e as suas “ligações privilegiadas” com África e América Latina. “Discutiram-se
no princípio de 2015 “irá uma
dos, Cavaco Silva encontrou-se
várias possibilidades de investi-
missão técnica visitar Portugal
com empresários e participantes
mento em Portugal”, sendo “os
para contactos a nível político,
na primeira Comissão Mista Por-
sectores financeiro, energético,
mas sobretudo contactos a nível
tugal-Emirados Árabes Unidos. A
do papel e da pasta de papel, do
empresarial”. Acrescentou ainda
data da Comissão Mista coincidiu
turismo e das indústrias farma-
que houve interesse por parte
com o dia da visita do Chefe de
cêuticas” as principais áreas de
dos Emirados Árabes Unidos
Estado aos Emirados e do lado
interesse dos empresários dos
em “conhecer melhor a situação
português foi presidida pelo Vice-
Emirados em Portugal, disse o
económica do país e enquadrá-la
-Primeiro Ministro, Paulo Portas,
Presidente Aníbal Cavaco Sil-
também no quadro da evolução
que também fez parte da comitiva
va. E afirmou que para estudar
económica da União Europeia”.
presidencial. Neste encontro, o
essas possibilidades de inves-
No final do primeiro dia da sua
Presidente da República caracte-
timento ficou acordado que já
presença na capital dos Emira-
rizou o mercado dos Emirados
➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 51
Aníbal Cavaco Silva nos Emirados Árabes Unidos
As comitivas dos dois países no encontro entre o Presidente da República Portuguesa e o Príncipe Real e Presidente em Exercício dos Emirados Árabes Unidos
52 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
como competitivo.”Estamos
perante um mercado muito exigente. Competir aqui não é fácil, uma vez que há um número elevado de países que estão a fazer esforços para fortalecer e penetrar neste mercado,“ disse. E incentivou os empresários portugueses a prestarem uma atenção particular às “potencialidades de desenvolvimento de negócios com empresários do Golfo”, e promover uma “imagem positiva e dinâmica” da economia portuguesa. No último acto da sua presença oficial no Abu Dhabi, o Presidente da República encontrou-se com representantes de fundos soberanos, e grandes investidores e empresários locais. No encontro também participou a comitiva de empresários que o acompanharam na Visita Oficial e os que estiveram na reunião da Comissão Mista. Os empresários portugueses também participaram no encontro do Presidente com empresários e investidores do Dubai e responsáveis da EXPO 2020, que terá lugar neste Emirado. Apresentando Portugal como um dos países mais seguros, estáveis e pacíficos do mundo, o Chefe de Estado disse que “gostaria de contribuir para a intensificação das trocas comerciais e dos investimentos”, entre Portugal e os Emirados Árabes Unidos. “Como Presidente devo chamar a vossa atenção que Portugal é um dos mais seguros, estáveis, pacíficos e acolhedores países do mundo e apresenta um custo de vida muito competitivo,” frisou Aníbal Cavaco Silva na reunião de trabalho em Dubai.
➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 53
Aníbal Cavaco Silva nos Emirados Árabes Unidos
Encontro com o Xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum
Transmitiu ainda a imagem de
Europa, com o alargamento do
Anwar Mohammed Gargash. A
um país com uma “economia de
Canal do Panamá.
propósito da assinatura da Car-
mercado avançada” assente em
No último dia da sua Visita Ofi-
ta, o Chefe de Estado proferiu
dois pilares principais: o turismo
cial, o Presidente da República
que “só se assina um acordo no
e as exportações, convidando
reuniu-se ainda com o Vice-
domínio da defesa quando existe
empresários e investidores dos
-Presidente, Primeiro-Ministro e
uma confiança mutua”. Também,
Emirados investirem em Portu-
Ministro da Defesa dos Emirados
no âmbito da sua Visita Oficial
gal. O Presidente Cavaco Silva
Árabes Unidos e Emir do Dubai,
aos Emirados, Cavaco Silva,
fez uma alusão ao investimento
Xeque Mohammed bin Rashid Al
foi convidado a visitar, no Du-
de multinacionais no território
Maktoum. No final do encontrou,
bai, a Torre Burj Khalifa, a mais
nacional, como a Nokia, a IBM
que decorreu no Palácio Zabill,
alta em todo o mundo, com 822
e a Cisco e às condições favo-
juntamente com o Emir do Du-
metros; e antes, em Abu Dhabi,
ráveis para o desenvolvimento
bai o Presidente Aníbal Cavaco
a Mesquita Xeque Al Zayed, a
de uma economia verde, es-
Silva testemunhou a assinatu-
maior já construída no mundo.
pecificamente em matéria de
ra de uma Carta de Intenções
A concluir a sua Visita Oficial
energias renováveis. Por outro
no domínio da Defesa entre os
aos Emirados Árabes Unidos,
lado, definiu Portugal como uma
dois países, protagonizada pelo
Cavaco Silva encontrou-se com a
“plataforma estratégica” para as
Ministro da Defesa Nacional, Dr.
diáspora portuguesa e referiu-se
rotas comerciais, e sublinhou a
José Pedro Aguiar-Branco, e o
aos seus representantes como
importância do porto de Sines,
Secretário de Estado dos Negó-
“Embaixadores de Portugal” no
como um dos melhores portos da
cios Estrangeiros dos Emirados,
mundo.
➤
■
Texto: Roman Buzut Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.
54 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
VISITAS DE ESTADO
Cavaco Silva ratifica acordo de livre comércio com Colômbia durante visita de trabalho do Presidente da Colômbia a Portugal. Juan Manuel Santos, Presidente da Colômbia, realizou
mento, na área da saúde, da cultura, da segurança e da
uma visita oficial de trabalho a Portugal. O Presidente da
defesa”.
República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, recebeu o
O Presidente da República, referiu o “apoio inequívoco”
seu homólogo colombiano, Juan Manuel Santos, no dia
de Portugal ao processo de paz na Colômbia, aplaudindo
6 de Novembro, no Palácio de Belém, sendo as relações
a forma como o Presidente Colombiano se esforça para
bilaterais entre os dois países e o processo de paz em
“vencer as resistências”. “Portugal apoia de forma ine-
curso na Colômbia os principais pontos do encontro entre
quívoca os esforços do Presidente Santos para alcançar,
os dois Chefes de Estado.
através do diálogo, o fim de uma luta armada que trouxe
Durante a visita de Juan Manuel Santos a Portugal,
sofrimento a tantos colombianos”, disse Cavaco Silva.
Cavaco Silva ratificou o Acordo de Livre Comércio com
De igual modo, o Presidente de República Portuguesa
a Colômbia. “Hoje mesmo ratifiquei o acordo comercial
mostrou-se convencido de que todos os Estados de-
multipartes entre a União Europeia, a Colômbia e Peru,
mocráticos Europeus, sobretudo os da União Europeia
que tinha sido aprovado (…) pelo Parlamento Português.
apoiam as negociações da Colômbia em curso.
Este acordo muito beneficiará as relações económicas e
De acordo com uma nota publicada pela Presidência
comerciais entre os nossos dois países”, afirmou o Chefe
Portuguesa, a visita de Juan Manuel Santos a Portugal
de Estado português. E frisou que se verificou um alar-
insere-se num périplo por diversas capitais europeias que
gamento e uma consolidação das relações entre os dois
o Presidente colombiano iniciou no dia 3 de Novembro,
países nos “mais variados domínios, na área político-
capitais essas de países que a “Colômbia considera ami-
-diplomática, na área económica, comercial e de investi-
gos e parceiros estratégicos”.
■
Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.
56 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
VISITAS DE ESTADO
Cavaco Silva e Alberto II do Mónaco na 5ª Convenção de Negócios da BioMarine O Príncipe Alberto II do Mónaco esteve no dia 29
gia nacional dos oceanos” de Portugal, que procura
de Outubro, em Cascais, na abertura da quinta
explorar os seus recursos marinhos de forma mais
edição da Convenção de Negócios da BioMarine
“sustentável”. Neste sentido, definiu Portugal como
onde se encontrou com o Presidente da Republica
um “‘hot spot’ para a diversidade marinha”. “Temos
Portuguesa, Anibal Cavaco Silva, que por ocasião
vastos bio -recursos e cientistas marinhos altamente
desta data ofereceu uma recepção aos participantes
qualificados e estamos abertos a trabalhar em con-
da reunião internacional. No âmbito da Convenção
junto a fim de apoiar e promover o desenvolvimento
que nos dias seguintes reuniu mais de 300 CEO´s
de um solido sector biotecnológico azul”, sustentou.
e executivos de cerca de 30 países foi debatido o
O Presidente Cavaco Silva afirmou ainda que “a
futuro das indústrias dos bio-recursos marinhos. No
Biomarine Business Convention é acerca do nosso
discurso de boas-vindas Cavaco Silva considerou a
futuro, porque é sobre a criação de um mercado
cooperação entre países e entre empresas no sector
global para a biotecnologia marinha”. Por sua vez, o
da biotecnologia marinha como uma prioridade da
Príncipe Alberto II do Mónaco, a quem Cavaco Silva
União Europeia e também de Portugal. “Estamos
se referiu como “um forte líder na agenda interna-
conscientes que a biotecnologia marinha não é algo
cional dos assuntos dos oceanos”, sublinhou que o
que se possa desenvolver por si própria. Os seus
aproveitamento dos recursos biológicos marinhos
produtos são complexos e exigem tecnologia e co-
é “uma forma de responder aos desafios do pre-
nhecimento científico. É por esse motivo que preci-
sente e uma forma de encontrar respostas para os
samos de cooperar entre países e entre empresas”,
diversos problemas que o mundo enfrenta”. Entre
frisou. E acrescentou que a “biotecnologia marinha
as questões mais problemáticas referiu a alimenta-
é uma das cinco prioridades da agenda azul da
ção, que se tornou num dos maiores desafios deste
União Europeia” e uma das prioridades da “estraté-
século e a escassez dos recursos energéticos.
■
Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 57
24-29_imobiliario:Construir 2011
20-10-2014
21:10
Página 25
PUB
LIR
EPO
RTA
GEM
VIDROS ENERGETICAMENTE EFICIENTES SGG CLIMALIT PLUS É de conhecimento geral que um dos aspectos mais importantes que hoje relacionamos com a sustentabilidade de nossos centros urbanos e com a redução de emissões de gases de efeito estufa é a reabilitação do nosso parque de edificação com critérios de eficiência energética.
U (coeficiente de transmissão térmica) entre 2,6 W/m²K e 1,4 W/m²K. Isto significa uma redução superior a 75% em relação ao vidro monolítico, básico, instalado durante muitos anos de maneira generalizada.
Se considerarmos que cerca de 40% do consumo de energia se deve ao sector da construção e que este se supõe que seja aproximadamente a quarta parte das emissões de gases com efeitos de estufa, estamos diante de uma inequívoca e potencial fonte de poupança em ambos os conceitos.
CONTROLO SOLAR: A instalação de vidros com controlo solar como SGG COOL-LITE incorporados em SGG CLIMALIT PLUS permite controlar os ganhos solares produzidos através de grandes superfícies envidraçadas que encontramos na fachada de alguns edifícios. Os envidraçados SGG CLIMALIT PLUS com controlo solar permitem reduzir estes ganhos sem que com ele se tenha de renunciar à paisagem da janela, nem à luz natural e nem recorrer a elementos de sombreamento externos que requerem maior manutenção.
Por outro lado não podem esquecer que os envidraçados são, com apreço, permeáveis à radiação solar e permitem ganhos energéticos que em época estival pode ocasionar um aquecimento indesejado no interior dos edifícios reduzindo o nível de conforto e aumentando o consumo energético da climatização. Com SGG CLIMALIT PLUS poderá realizar um controlo solar adequado que em equilíbrio com o isolamento térmico reforçado (ITR) proporciona o balanço energético anual, permitindo manter as condições de conforto optimizando os consumos energéticos. O impacto que o vidro duplo tem sobre o comportamento energético do edifico é mais elevado no sector terciário onde encontramos fachadas amplamente envidraçadas e edifícios de elevada inercia térmica. É nestes casos onde os envidraçados com controlo solar e elevada selectividade SGG CLIMALIT PLUS permitem minimizar os custos sem renunciar os benefícios da luz natural e de grandes envidraçados. Os envidraçados existentes hoje em dia, SGG CLIMALIT PLUS, que incorporam vidros com capas de ultima geração, melhoraram as capacidades de isolamento e controlo solar permitindo reduzir as perdas através destes, em muitos casos a níveis desconhecidos. ISOLAMENTO TERMICO: Os vidros de capa denominados de Isolamento térmico reforçado, incorporam uma capa quase imperceptível baixo emissiva sobre a face interna de um dos vidros que compõem o vidro duplo, proporcionando níveis de isolamento muito superiores a de um vidro duplo convencional. A incorporação de vidros de capas baixo emissivo em vidro duplo ITR SGG CLIMALIT PLUS, como os vidros SGG PLANITHERM ou SGG PLANISTAR ONE, reduzem as perdas energéticas de climatização pela diferença de temperatura entre o interior e exterior através do vidro em cerca de 50% de um vidro duplo básico, compreendendo valores de
As capas de óxidos e compostos metálicos depositados sobre os vidros no âmbito da nanotecnologia, interferem com as radiações solares modificando as suas propriedades de transmissão e reflexão tanto luminosa como energética, além da emissividade da sua superfície. Assim obtém-se diferentes estéticas e uma ampla gama de produtos com diferentes níveis de prestações das propriedades energéticas. Hoje em dia é possível encontrar SGG CLIMALIT PLUS, que oferece elevadas prestações de isolamento térmico e factor solar sem renunciar a grandes vãos envidraçados. Os envidraçados realizados hoje em dia na reabilitação de qualquer edifício não deveriam ser superiores a valores de transmitância de 1,5-1,4 W/m²K, considerando os produtos a instalar em função do factor solar desejado para alcançar uma protecção adequada na estação do Verão. Uma reabilitação energética deverá considerar o tratamento dos vãos envidraçados como elemento fundamental da envolvente e através do qual se coloca em jogo os balanços energéticos de ganhos e perdas nas diferentes épocas do ano mediante a instalação de envidraçados SGG CLIMALIT PLUS de isolamento térmico reforçado com o necessário controlo solar segundo as zonas e orientação. Visite o nosso site www.climalit.pt!
Obra “Edifico ZON” agora “NOS”: Atelier CPU Urbanistas e Arquitectos Solução: SGG CLIMALIT PLUS (6mm SGG COOL-LITE XTREME 60/28 II + câmara de 12mm+SGG STADIP PROTECT 44.2)
Faça o download da nossa app GLASS COMPASS. Faça a sua simulação em www.sggclimalitdata.com
DIPLOMACIA NA 1ª PESSOA
Johana Ruth Tablada de la Torre,
por Maria de Bragança, fotos Orlando Sousa
Embaixadora de Cuba em Portugal Johana Ruth Tablada de la Torre, casada, mãe de dois filhos, é a atual Embaixadora de Cuba em Portugal. Com um encanto e alegria de assinalar, começou cedo a sua carreira ocupando um cargo de grande responsabilidade em Washigton, dedicado às relações com os Estados Unidos da América. Após passar por Belize, na América do Sul, a mais alta representante do seu país em Portugal defende a cultura e a justiça social como o caminho certo para a liberdade de um povo e sonha com o fim do boicote norte-americano a Cuba. ➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 59
Johana Ruth Tablada de la Torre Embaixadora de Cuba em Portugal
Comecemos pelas suas origens.
des e uma população universitária
categorias de americanos possam
Fale-nos um pouco de si e da sua
muito grande. Somos o país do Mun-
visitar Cuba com licença do governo
família.
do que tem a maior percentagem do
dos Estados Unidos. Porém, deseja-
Nasci em Havana, em Cuba, no
PIB dedicada à educação: cerca de
mos ter um relacionamento civiliza-
seio de uma família muito carinhosa.
9,6%. Toda a educação é gratuita.
do, conversando de igual para igual
Penso que fui muito afortunada por
Desde a creche à Universidade.
para restabelecer relações diplomá-
isso. Fomos sempre muito próximos
Como inicia a sua carreira?
ticas. Temos já alguns temas onde
e estivemos sempre muito presen-
Terminei o curso em 1992 e, no
cooperamos, com respeito mútuo e
tes. Tive muito daquilo que acho que
ano seguinte, entrei no Ministério
mediante procedimentos e acordos
é o mais importante na vida: carinho
das Relações Interiores. Em Cuba,
bilaterais, tais como: migratório, con-
e amor. A família é grande: somos 4
temos que fazer um ano de serviço
trabando de pessoas, cooperação
irmãos da parte da mãe e mais 2 da
social quando acabamos o curso.
judicial, luta contra o narcotráfico,
parte do pai. Temos uma grande di-
Somos colocados onde o país pre-
derrames de hidrocarbonetos no
ferença de idades: eles são bastante
cisa. As minhas primeiras funções
Golfo do México etc., mas queremos
novos, da idade dos meus filhos. O
no Ministério foram na pasta da
e poderemos fazer mais em benefí-
que é uma benção. É bom ter sem-
Europa, se bem que toda a minha
cio dos nossos povos.
pre crianças ao nosso lado.
vida foi depois dedicada aos Estados
Existe, da parte de Cuba, alguma
E em relação aos estudos?
Unidos. O meu primeiro posto, que
restrição às visitas de cidadãos
Estudei sempre em Havana. Desde
durou 5 anos foi nos EUA. Foi uma
americanos?
a primária até à pré-universitária.
experiência muito interessante. Na
São os EUA que impedem os seus
Chegando a esse momento não
altura estava no poder a Administra-
cidadãos de irem a Cuba. Por nós
➤
sabia o que queria fazer da minha vida. Só sabia que não queria seguir as ciências duras. Entretanto abrem os concursos para Relações Internacionais. Fiz o curso no Instituto Superior de Relações Internacionais, também em Cuba onde sempre vivi. Foi lá que conheci o meu marido. Concorremos os 2 ao mesmo tempo e fizemos os 5 anos de faculdade juntos, mas só no último ano come-
são muito bem vindos. Há alguns
"
SOMOS O PAÍS DO MUNDO QUE TEM A MAIOR PERCENTAGEM DO PIB DEDICADA À EDUCAÇÃO: CERCA DE 9,6%. TODA A EDUCAÇÃO É GRATUITA. DESDE A CRECHE À UNIVERSIDADE
çamos a namorar.
"
que entram por terceiros países. O fim desta restrição seria muito bom para os dois países. Para Cuba seria bom recebermos mais turistas desse país. De momento temos 3 milhões de turistas por ano: 1 milhão vem do Canadá, cerca de 500 000 da Grã-Bretanha e os restantes de toda a Europa. De Portugal tivemos cerca de 9.400 em 2013 e em 2014 já são mais de 12.000, isto ainda sem voos
Como funciona, em Cuba, o siste-
ção Clinton e havia expectativas de
diretos entre os dois países.
ma de ingresso na Universidade?
que tudo iria melhorar.
Será, talvez, um choque de civili-
Agora mudou. Hoje, para se entrar
Foi um grande desafio certamen-
zações, como agora se costuma
na Universidade, todos têm que
te. De todos os países, os EUA
dizer?
fazer testes de admissão. Na altura
parece ser aquele com quem têm
Tudo tem a ver com uma escala de
em que fiz o curso, bastava ter boas
relações mais difíceis.
valores: o que é mais importante, as
classificações para se ter acesso.
Cuba tem relações diplomáticas com
coisas ou as pessoas? A Revolução
Mas, curiosamente, quando chegou
184 países. A política de isolamento
de Cuba pôs sempre as pessoas
o momento de ingressar disseram-
de Cuba foi um fracasso total. Porém
primeiro. Agora estamos a passar
-me que, por ter boas notas poderia
ainda permanece o bloqueio eco-
por um processo muito interessante
ir diretamente para qualquer curso,
nómico e financeiro dos EUA que
de modernização do nosso país e
menos relações internacionais em
continuam a sua política de isola-
de reinserção, após quase 20 anos,
que teria que fazer provas. Achei o
mento, sendo ainda um sistema de
no mercado internacional. Estamos
desafio interessante e por isso esco-
sanções muito longo e muito duro.
a fazer mudanças estruturais muito
lhi esse curso.
Porém algumas coisas mudaram:
grandes que têm a ver a atualização
É fácil o acesso aos estudos su-
O governo de Obama permitiu que
do modelo económico, procurando o
periores no seu país?
os cubanos residentes nos EUA
redimensionamento e descentraliza-
Cuba é um país com 68 universida-
possam visitar o seu país e que 13
ção do estado e abertura a
60 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 61
Johana Ruth Tablada de la Torre Embaixadora de Cuba em Portugal
formas não estatais de proprieda-
timento estrangeiro, estão a ser
há miséria nem crime organizado.
de, aceitando investimento estran-
feitas leis nesse sentido. Porém
Como foi feita essa mudança?
geiro e aumentando a produtividade.
queremos atrair o investimento
Deixamos de ser um país mono-
Mas mesmo com estas mudanças
estrangeiro e isso será feito atra-
-produtor e mono-exportador. Hoje,
continuamos, e continuaremos a
vés de regimes tributários e fiscais
na estrutura do comércio exterior de
➤
manter os princípios da revolução de 59 e a colocar a tónica nas pessoas: o mais importante é o ser humano. E daí a importância da cultura e da educação. Só a cultura pode salvar um povo; separar a civilização da barbárie. Só um povo culto pode ser livre. Mas a par da cultura tem que haver economia sustentável, certo? Hoje estamos a apostar em cons-
"
TUDO TEM A VER COM UMA ESCALA DE VALORES: O QUE É MAIS IMPORTANTE, AS
são o turismo e os serviços. Nos serviços há que notar os serviços médicos, a exportação bio-tecnológica. Isto é o resultado de um país que aposta na investigação científica.
COISAS OU AS PESSOAS? A REVOLUÇÃO DE CUBA PÔS SEMPRE AS PESSOAS PRIMEIRO
truir um país que seja próspero e
Cuba as principais fontes de receita
"
Exportamos mais de 600 Milhões em produtos médicos. Internamente, temos a maior percentagem de médicos per capita do Mundo: 1 médico por cada 137 pessoas. Este grande número de profissionais da
sustentável, em que os recursos
atrativos e a oferta de um capital
saúde permite podermos oferecer
mais estratégicos devem manter-
humano muito bem preparado: um
esses serviços em outros países. De
-se controlados pelo próprio país,
país culto e com um nível de segu-
momento temos 50 000 médicos em
mesmo com a abertura ao inves-
rança social porque em Cuba não
66 países.
62 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
Em termos de trocas com Portu-
4 os projetos pré-aprovados com
exportações de Cuba. Como incenti-
gal, como está a balança?
Portugal para a zona especial de de-
vo para o investimento estrangeiro a
Existe um comércio de cerca de 90
senvolvimento do Mariel, um deles é
zona tem um sistema de janela única
Milhões, com Portugal, que está
o projeto da fábrica de moldes. Esta
e regime especial tributário muito
a crescer. Quanto à balança de
zona especial de desenvolvimento
atrativo. Existe uma altíssima com-
pagamentos nós ainda importamos
económico de Mariel tem um grande
plementaridade entre Cuba e Portu-
mais de Portugal do que exporta-
porto de águas profundas com um
gal. Os sectores que para nós são
mos: exportamos 34 milhões e de
terminal de contentores que já está
estratégicos e importantes para o
➤
Portugal importamos 57 milhões. Exportamos para Portugal produtos tradicionais: charutos, 1 milhão de unidades por ano; açúcar, quase 20 milhões; carvão vegetal; rum; e madeira - que, curiosamente, também importamos de Portugal. Do vosso país importamos muita coisa. Portugal tem muitos produtos de boa qualidade. Importamos ferramentas, vidro, plástico, moldes, material de laboratório, material de construção e vinhos - que começamos agora a importar mas queremos aumentar
nosso crescimento, são sectores nos
"
HOJE ESTAMOS A APOSTAR EM
quais Portugal tem uma experiência confirmada como por exemplo as
CONSTRUIR UM PAÍS QUE SEJA PRÓSPERO E SUSTENTÁVEL, EM QUE
energias renováveis e Portugal foi
OS RECURSOS MAIS ESTRATÉGICOS DEVEM
estar a depender só das energias
MANTER-SE CONTROLADOS PELO PRÓPRIO PAÍS
"
um dos países que mais cedo desenvolveu esta área. Temos produção de petróleo, mas não queremos fósseis. Também temos grande interesse em ter parcerias nas áreas da agroindústria, farmacêutica, infraestrutura e construção. O que mais lhe atrai em Portugal? Tudo! Parece-me que existem várias
as quantidades. Temos um desejo
operacional e que é administrado
similitudes entre o povo cubano e o
de fortalecer as relações comerciais
pela empresa Singapura PSA que
povo português: o gosto pelo mar,
com Portugal ainda mais e este ano
também administra o Porto de Sines.
as tradições familiares, o orgulho no
criámos a Câmara de Comércio
A nossa zona especial do Mariel
património. A própria luz de Lisboa é
Portugal-Cuba presidida pelo Dr.
também procura fomentar no seu pe-
muito parecida com a de Cuba. Gos-
Américo Ferreira de Castro.
rímetro de mais de 400 quilômetros
to da vossa arquitetura, da vossa
Profissionalmente, como faz o
quadrados outras áreas especiais de
comida, das pessoas, do espírito de
balanço da sua atividade neste
inovação tecnológica e de concen-
trabalho do vosso povo. Em Portu-
último ano?
tração industrial, para incrementar as
gal, sinto-me em casa.
n
Estou muito contente com este meu ano de trabalho aqui. Desde 2009 que não ia um alto-funcionário de Portugal a Cuba. E, este ano, o Secretário de Estado, Campos Ferreira visitou o nosso país com uma comitiva muito importante. Estamos a fazer um processo de reforço dos nossos vínculos em todas as áreas. Por exemplo, inaugurámos uma belíssima estátua de Luís de Camões numa praça de Havana velha. Tivemos também, este ano, uma grande delegação empresarial da AICEP, com mais de 30 empresas portuguesas, encabeçada pelo Vice-Primeiro Ministro Paulo Portas. Existem alguns projetos de relevo entre Cuba e Portugal? Em termos de investimentos já são A Embaixadora com os seus dois filhos
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 63
MALA DIPLOMÁTICA
Assinalando o 39º Aniversário Angola no caminho do progresso e desenvolvimento
sob o signo “Unidade e Reforço
1
dos Ideias de Liberdade e Justiça Social”, uma meta sempre presente nos horizontes dos responsáveis políticos de Luanda, traduzindo-se num bom momento, já que, segundo o diplomata, “em Angola sopram bons ventos; o país trilha inexoravelmente a senda do desenvolvimento e progresso, tendo a liberdade e a paz como os maiores bens que a nação preserva”, sendo que “as políticas e medidas de política tomadas em tempo de paz, nos planos político-constitucional, económico, financeiro, social e cultural, repercutem-se hoje no clima 2
de estabilidade política, social e macroeconómica que o país vive” “A par da busca permanente do aperfeiçoamento da sua organização e funcionamento para prestar melhor serviço público aos governados e da consolidação das instituições democráticas, o Governo orienta nestes últimos anos, esforços particulares ao ingente desafio do crescimento e desenvolvimento sustentado e duradoiro que se pretende conseguir por meio da construção, reabilitação e modernização de infraestruturas e equipamentos económicos e sociais, da promoção e realização do investimento
1. Embaixadores de Angola 2. Ricardo Costa e o Conselheiro Estevão Alberto com o Embaixador de Angola
público e privado, da formação, qualificação e gestão adequada dos
A grande meta das autoridades de Luanda passa pela infraestrutura-
recursos humanos, bem como da
ção do país e o combate à pobreza, um desígnio que tem vindo a ser
adopção de uma política laboral
alcançado, bem expresso em lisonjeiros relatórios internacionais,
e remuneratória objectiva”, referiu
conforme acentuou o Embaixador José Marcos Barrica
ainda José Marcos Barrica.
Assinalando o 39º aniversário da
governo, diplomatas e figuras de
Melhorar distribuição da riqueza
Independência Nacional de Angola,
relevo da política, da economia e da
Ainda segundo o Embaixador, no
o Embaixador José Marcos Barrica
cultura.
momento em que se comemoram
organizou uma recepção no Hotel
O Embaixador acreditado em
quase quatro décadas de indepen-
Ritz, em Lisboa, onde marcaram
Lisboa acentuou que a indepen-
dência, “estão em plena execução
presença deputados, membros do
dência do seu país se celebra
mais de uma dezena de projectos
64 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
Discurso proferido pelo Embaixador José Marcos Barrica Sob o signo da “Unidade e Reforço dos Ideias de Liberdade e Justiça Social”, a República de Angola celebra hoje os 39 anos de Independência Nacional. A vossa presença e participação nesta cerimónia comemorativa, confere dignidade especial ao acto e testemunha a amizade e solidariedade que Angola tem colhido dos vossos países e da comunidade internacional em geral, ao longo dos anos de implantação da nossa República. O Povo Angolano reconhece e agradece tão prestável colaboração que contribui para contornar os factores asfixiantes do desenvolvimento e para a afirmação de Angola no concerto das Nações. Em Angola sopram bons ventos; o País trilha inexoravelmente na senda do desenvolvimento e progresso, tendo a Liberdade e a Paz como os maiores bens que a
cular diferentes infra-estruturas e sistemas de transporte
Nação preserva.
em todo território, a instalação de um ambicioso sistema
Livres, soberanos e reconciliados, os angolanos cons-
de telecomunicações que inclui a generalização da fibra
troem dia após dia o seu percurso glorioso, honrando a
óptica ao sistema de cabos submarinos internacionais
memória dos Filhos tombados pela Independência da
até às telecomunicações por satélite com o programa
Pátria.
ANGOSAT (satélite angolano) em fase avançada de
As políticas e medidas de política tomadas em tempo
construção, a edificação e ampliação de mais barragens
de Paz, nos planos político-constitucional, económico,
e centrais eléctricas para aumentar a potência insta-
financeiro, social e cultural, repercutem-se hoje no clima
lada dos dois mil e 162 megawatts actuais para cerca
de estabilidade política, social e macroeconómica que o
de 5.000 megawatts até 2017. Amplia-se o número de
País vive.
salas de aula e centros de formação técnico-profissional
A par da busca permanente do aperfeiçoamento da
para dar resposta a uma necessidade cada vez mais
sua organização e funcionamento para prestar melhor
crescente neste domínio.
serviço público aos governados e da consolidação das
No mesmo período, estão igualmente orientados esfor-
instituições democráticas, o Governo orienta nestes úl-
ços ao apoio do desenvolvimento das zonas rurais, na
timos anos, esforços particulares ao ingente desafio do
perspectiva do combate firme e continuado à pobreza
crescimento e desenvolvimento sustentado e duradoiro
e às assimetrias entre o campo e os focos citadinos,
que se pretende conseguir por meio da construção,
melhorando assim as condições de vida das famílias
reabilitação e modernização de infra-estruturas e equi-
e comunidades. São disso prova, a implementação de
pamentos económicas e sociais, da promoção e reali-
importantes programas que privilegiam as populações
zação do investimento público e privado, da formação,
mais vulneráveis daquelas zonas tendo em vista au-
qualificação e gestão adequada dos recursos humanos,
mentar a renda das famílias e garantir o crescimento
bem como da adopção de uma política laboral e remu-
equilibrado do País.
neratória objectiva.
Com efeito, de acordo com estudos independentes,
No momento em que comemoramos este aniversário,
cerca de metade da população de Angola saiu do limiar
estão em plena execução mais de uma dezena de
da pobreza absoluta. Várias instituições internacionais
projectos estruturantes concebidos para sustentar as
enfatizam os progressos alcançados, revelando que a
condições de uma economia mais competitiva e que
percentagem de angolanos resgatados daquele limiar
possa, a partir do segundo semestre de 2016, produzir
passou de 92 por cento em 2000 para 54 por cento em
mais e melhor diversos bens e serviços e proporcio-
2014. No mesmo sentido, o Fundo das Nações Unidas
nar melhor distribuição da riqueza nacional. Só a título
para a Agricultura e Alimentação (FAO) destacou o
exemplificativo, resultará desses grandes projectos, a
facto de Angola ter reduzido a taxa de desnutrição, que
construção de mais portos e aeroportos, a construção
passou de 78 por cento em 1990 para 18 por cento este
de cerca de dois mil 411 quilómetros de rodovias entre
ano.
rede fundamental, secundária e terciária, a construção
Este ritmo de redução da pobreza, invulgar no continen-
da Rede de Plataforma Logística Nacional que vai arti-
te africano, anima as autoridades e as instituições
´ Africa +
➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 65
Assinalando o 39º Aniversário Angola no caminho do progresso e desenvolvimento
➤
nacionais a prosseguirem no sentido de alcançar
indiferente nenhum Governo dos países do mundo.
a total erradicação deste flagelo, com a promoção e
Por outro lado, Angola regista com grande apreensão a
incentivo do emprego em actividades preferencialmente
multiplicação, no corrente ano, de focos de tensão e de
produtivas exercidas por conta própria ou de outrem, no
ruptura em várias zonas do mundo, tendo surgido novos
sector privado ou público.
conflitos armados com forte impacto na Região onde ela
Os resultados das políticas sociais implementadas
se insere. O alastrar destes conflitos está a dar origem a
pelo Governo de Angola estão também expressos no
confrontos militares, com processos de diálogo e nego-
Relatório de 2014 sobre o Desenvolvimento Humano
ciação complicados.
elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o
A República de Angola que detém a presidência da
Desenvolvimento (PNUD), no qual enfatiza que depois
Comissão Internacional da Região dos Grandes Lagos
de 2002, Angola no conjunto de 187 países analisados,
se tem empenhado na procura de soluções, tanto no
é a terceira taxa mais elevada de crescimento anual do
quadro bilateral como multilateral, como ainda no âmbi-
Índice de Desenvolvimento Humano com 2 por cento,
to do Conselho de Segurança das Nações Unidas e do
apenas sendo ultrapassado pelo Ruanda e a Etiópia.
Conselho de Paz e Segurança da União Africana e tem
Apesar de termos ainda um longo e árduo caminho pela
reafirmado a sua disponibilidade em participar nesses
frente, o País dispõe de condições para ascender den-
processos, apoiando e promovendo o diálogo e a paz,
tro de duas décadas ao grupo de países com Desenvol-
em particular na África Central e na Região dos Gran-
vimento Humano Elevado.
des Lagos. Inscreve-se no esforço de manutenção da
Os alicerces estão a ser erguidos nesse sentido, já que
paz a disponibilidade manifestada pelo Governo angola-
nos últimos 12 anos observam-se assinaláveis progres-
no para integrar as Forças da Paz das Nações Unidas,
sos tanto nas taxas de mortalidade infantil e de espe-
previstas no quadro da MINUSCA (Missão das Nações
rança de vida, como nos níveis educacional e sanitário
Unidas para a República Centro-Africana), satisfazendo
das populações.
assim a solicitação feita pela Presidente da República
As políticas com forte pendor de justiça social vão pros-
desse país.
seguir, agora com maior sustentação graças aos resul-
Esta postura de promoção da paz e da segurança tem
tados do Recenseamento Geral da População e Habi-
conduzido a um reconhecimento a nível internacional
tação realizado no passado mês de Maio – o primeiro
do papel de Angola como um parceiro estratégico para
depois da Independência Nacional. Tais resultados, há
a construção e preservação da paz e a estabilidade em
muito esperados, vão constituir uma base segura para
África.
formular a Política Nacional da População e a Política
Foi por essa forte razão que os países de todo Mundo
Nacional de Ordenamento e Desenvolvimento do Terri-
apoiaram sem reservas e votaram no passado mês
tório.
de Outubro, quase por unanimidade, a candidatura de
Não sendo apenas medidas de política interna, Angola
Angola para Membro Não Permanente do Conselho
muito cedo atendeu aos apelos da comunidade interna-
de Segurança da ONU para o biénio 2015-2016. Esta
cional, interpretando correctamente a imprescindibilida-
eleição que honra o empenho da diplomacia angolana
de da comparticipação de todos os países no combate
e a visão estratégica do Presidente da República o Eng.
à fome e irradicação da pobreza no mundo, particular-
José Eduardo dos Santos, deve também orgulhar todos
mente em África.
os países da CPLP em particular, pois ao assumirem
Angola orgulha-se do facto de, muito recentemente, ter
como sua foram arautos dessa candidatura, influencia-
sido reconhecida pela FAO, como um dos primeiros paí-
do positivamente os respectivos parceiros de coopera-
ses do continente africano a contribuir voluntariamente
ção bilateral e ou multilateral.
com um valor monetário equivalente a dez milhões de
Ao agradecer o apoio percebido dos vossos países,
dólares americanos para o Fundo Fiduciário Africano de
Angola reafirma os objectivos e os compromissos
Solidariedade, destinado a apoiar os países africanos
declarados no Manifesto desta Candidatura e assume
no combate à fome e à pobreza.
cumpri-los com o habitual zelo e responsabilidade, não
Num contexto mundial e regional de crescente instabili-
defraudando as expectativas e a confiança que lhe
dade, quer ao nível político-militar e de segurança, quer
foram depositadas pela Comunidade das Nações.
ao nível económico e de saúde pública, a República
Termino, felicitando a República portuguesa pela
de Angola mostra-se muito preocupada com o apa-
recente eleição deste país a Membro do Conselho dos
recimento e rápida propagação do vírus da Ébola que
Direitos Humanos da ONU cargo que, tal como noutras
tem causado milhares de mortos no nosso continente.
missões, Portugal saberá certamente cumprir com brio
A nível interno foram tomadas medidas adequadas de
e maturidade.
prevenção e controlo desta pandemia cujo combate
Viva Angola! Viva a Amizade e Solidariedade entre os
exigindo esforços conjugados de todos, não pode deixar
Povos!
66 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
n
Redução da pobreza
3
Os esforços das autoridades de Luanda começam a dar os seus frutos, como sublinhou o Embaixador: “de acordo com estudos independentes, cerca de metade da população de Angola saiu do limiar da pobreza absoluta. Várias instituições internacionais enfatizam os progressos alcançados, revelando que a percentagem de angolanos resgatados daquele limiar passou de 92 por cento em 2000 para 54 por cento em 2014. No mesmo sentido, o Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) destacou o fac-
4
to de Angola ter reduzido a taxa de desnutrição, que passou de 78 por cento em 1990 para 18 por cento este ano”. Números que permitem olhar o futuro do país com esperança. “Este ritmo de redução da pobreza, invulgar no continente africano, anima as autoridades e as instituições nacionais a pros-
3. General Mendonça da Luz, Maria Madalena Coelho e
seguirem no sentido de alcançar
Tenente-General Luís Teixeira
a total erradicação deste flagelo,
4. Ministra da Justiça, Paula Teixeira com o Embaixador José Marcos Barrica
com a promoção e incentivo do emprego em actividades preferencialmente produtivas exercidas por conta própria ou de outrem,
estruturantes concebidos para
avançada de construção, a edifica-
no sector privado ou público”,
sustentar as condições de uma
ção e ampliação de mais barragens
disse ainda Marcos Barrica,
economia mais competitiva e que
e centrais eléctricas para aumentar
lembrando que “os resultados das
possa, a partir do segundo semes-
a potência instalada dos dois mil e
políticas sociais implementadas
tre de 2016, por produzir mais e
162 megawatts actuais para cerca de
pelo Governo de Angola estão
melhor diversos bens e serviços e
5.000 megawatts até 2017”, confor-
também expressos no Relatório
proporcionar melhor distribuição da
me sublinhou Marcos Barrica.
de 2014 sobre o Desenvolvimento
riqueza nacional”.
Mas a infraestruturação do país
Humano, elaborado pelo Progra-
Projectos que têm no horizonte a
traduz-se, ainda, no aumento das
ma das Nações Unidas para o
construção de mais portos, aeropor-
salas de aula e dos centros de for-
Desenvolvimento (PNUD), no qual
tos e 2411 quilómetros de rodovias,
mação profissional, bem assim no
se enfatiza que depois de 2002,
mas também “de um ambicioso sis-
“apoio ao desenvolvimento das zo-
Angola no conjunto de 187 países
tema de telecomunicações que inclui
nas rurais, na perspectiva do com-
analisados, é a terceira taxa mais
a generalização da fibra óptica ao
bate firme e continuado à pobreza e
elevada de crescimento anual do
sistema de cabos submarinos inter-
às assimetrias entre o campo e os
Índice de Desenvolvimento Hu-
nacionais até às telecomunicações
focos citadinos, melhorando assim
mano com 2 por cento, apenas
por satélite com o programa AN-
as condições de vida das famílias e
sendo ultrapassado pelo Ruanda
GOSAT (satélite angolano) em fase
comunidades”.
e a Etiópia”.
➤
´ Africa +
■
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 67
OPINIÃO
As consequências da queda do BES nas relações económicase políticas Luso-Angolanas BES/BESA - Um caso de proveito e exemplo por António Palhinha Machado (*) Tudo começou, verdadeiramente, em 1997-98, quando o Euro despontava no horizonte e o mercado interbancário centro-europeu abriu de par em par as suas portas aos maiores Bancos portugueses. E estes, sôfregos, aproveitaram, vendo aí uma fonte inesgotável de financiamento barato e nada exigente. Endividaram-se despreocupadamente no exterior para competirem cá dentro por quota de mercado, dando origem a uma “bolha de dívida”
1. Ex-Colonizador e Ex-Colonizado são dois
de curto prazo; (v) sem Capitais Próprios
países separados por uma memória co-
à altura de todos estes desequilíbrios; e
mum: o que um celebra é o que o outro faz
(vi) vigiados por um Supervisor (o BdP)
por esquecer. E se o bom-senso e a diplo-
demasiado complacente. Se, de imediato,
macia não prevalecerem, novos episódios
não reforçassem substancialmente os seus
só vão avolumar o já muito que os separa.
Capitais Próprios, Portugal não escaparia a
O caso BES/BESA é, sob este ponto de
uma crise bancária severa.
vista, um episódio exemplar.
4. Em tal conjuntura, o BES fez valer a sua
2. Como numa tragédia grega, também
imagem de Banco de Retalho com acesso
nele o destino começou a ser traçado muito
fácil aos mercados de capitais internacio-
tempo antes - e os deuses foram cegan-
nais para rejeitar a entrada de dinheiros
do quem queriam desgraçar. Como numa
públicos no seu capital. Uma análise mais
tragédia grega, dois grupos de actores
atenta e uma informação financeira mais
estiveram em cena: de um lado, o BES e o
esclarecedora não deixariam de revelar,
BdP, com a Banca portuguesa ao fundo; do
porém, quanto ele dependia, já então, de
outro, o BESA e o BNA, rodeados da Banca
algumas grandes empresas portuguesas,
angolana. Atrás de uma cortina, a fazerem
do próprio GES e do BESA para construir
de coro, o BCE e a EBA, quais instrumen-
os seus resultados - e, até, para o seu
tos dos deuses, iam empurrando cada actor
financiamento corrente (como acontecera,
para a sorte que lhe estava destinada.
aliás, logo no final de 2008). O Programa
3. Tudo começou, verdadeiramente, em
de Ajustamento, sob os auspícios da troi-
1997-98, quando o Euro despontava no
ka, apenas acentuou num crescendo estas
horizonte e o mercado interbancário centro-
dependências. E depender do GES (onde,
-europeu abriu de par em par as suas
sabe-se hoje, a proporção de iniciativas
portas aos maiores Bancos portugueses.
bem sucedidas era notoriamente baixa),
E estes, sôfregos, aproveitaram, vendo aí
não deveria deixar ninguém descansado.
uma fonte inesgotável de financiamento
5. A aposta do BES (e do GES) em Angola
barato e nada exigente. Endividaram-se
tinha mais a ver com a vox populi do que
despreocupadamente no exterior para com-
com a realidade no terreno: Angola seria
petirem cá dentro por quota de mercado,
a terra do ganho fácil, rápido e generoso.
dando origem a uma “bolha de dívida” que
Não era (nem é). Acontecia, porém, que
fazia inchar o Sector dos Bens não Tran-
o GES era, apenas, um grupo de base
saccionáveis (construção, distribuição, etc.)
familiar - e o BES, ele próprio, tinha uma
e desequilibrava cada vez mais as contas
gestão superior tipicamente familiar. Nes-
externas. A crise financeira internacional
tas circunstâncias, dificil lhes era resistir
veio encontrá-los: (i) excessivamente en-
ao apelo de familiares e amigos que que-
dividados junto de uma dúzia, se tanto, de
riam colher, também eles, alguns desses
Bancos estrangeiros; (ii) muito expostos ao
sonhados ganhos angolanos - com dinhei-
risco de crédito; (iii) com estruturas exa-
ro emprestado (ora pelo BES, ora pelo
geradas; (iv) perigosamente dependentes
BESA), como é bem de ver. E assim se ia
da contínua renovação dos seus passivos
empilhando o crédito malparado nos
68 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
➤
Balanços destes dois Bancos.
o supervisionava). Surpreende que, nem o
6. Não seria fácil ao BESA dizer não aos
accionista maioritário (o BES), nem o Su-
projectos que lhe chegavam por intermé-
pervisor (o BNA), tenham imposto, a tempo
dio do GES e/ou do BES. Em Angola, fora
e horas, mudanças profundas no estilo de
da Dívida Pública e dos Títulos do Banco
governação do BESA. Porque o problema
Central (que têm por finalidade enxugar o
era, antes de tudo o mais, de governação:
excesso de liquidez no sistema bancário
(i) falhas graves na gestão da liquidez,
angolano), as oportunidades de lucrativas
na avaliação do risco e, até, no registo
operações bancárias escasseavam - e
de simples operações; (ii) peso excessivo
grande parte das que iam surgindo apre-
dos projectos imobiliários residenciais na
sentava riscos manifestamente excessivos.
Carteira de Crédito (em que o risco recaía
A excepção estaria: (i) ou numas, poucas,
praticamente por inteiro no Banco finan-
grandes empresas locais (que tinham, elas
ciador); e, apurou-se mais recentemente,
próprias, outros Bancos na sua órbita); (ii)
(iii) processos de decisão insusceptíveis de
ou numas, poucas, empresas estrangeiras (que se apoiavam nos Bancos das respectivas Casas-mães);
"
(iii) ou no sector imobiliário residencial (que prometia
serem reconstituídos para
mais-valias substanciais); (iv) ou em ocasionais operações de, digamos, Private Banking. E foi por aqui que o BESA enveredou: (i) apoiar as actividades em Angola de empresas portuguesas (e as iniciativas de portugueses) clientes do BES; (ii) financiar projectos imobiliários (para onde, afinal, muitas
COMO NUMA TRAGÉDIA GREGA, DOIS GRUPOS DE ACTORES ESTIVERAM
EM CENA: DE UM LADO, O BES E O BDP, COM A BANCA PORTUGUESA AO FUNDO; DO OUTRO, O BESA E O BNA, RODEADOS DA BANCA ANGOLANA. ATRÁS DE UMA CORTINA, A FAZEREM DE CORO, O BCE E A EBA, QUAIS INSTRU-
não deveria ser motivo de
MENTOS DOS DEUSES, IAM EMPURRANDO CADA ACTOR PARA A SORTE QUE LHE ESTAVA
surpresa para ninguém (foi
DESTINADA
dessas empresas e dessas iniciativas se dirigiam); e (iii) gerir umas fortunas. 7. Se a fragilidade do BES
para o BdP, mas enfim…), não era segredo para
"
atribuição de responsabilidades. Saber porque colapsou o BESA é, por tudo isto, fácil. Agora, difícil é descobrir a razão que terá levado o BES a arriscar 50%, ou talvez mais, dos seus Capitais Próprios só em empréstimos à sua Filial em Angola? Mesmo depois do fiasco que foi a pseudo-venda da ESCOM (uma das “pérolas” do GES). 8. Foi o reconhecimento de que os empréstimos ao BESA estariam praticamente perdidos que tornou o BES insolvente por insuficiência de Capitais Próprios. E é aqui que entram a EBA e o BCE. A EBA, porque tinha acabado de gizar um Plano de Acção (a BRRD) que,
ninguém que as coisas, pelo BESA, não
supostamente, resolveria os problemas
iam nada bem: Não tinha ele falhado, em
causados por um Banco em crise grave
2012, o reembolso de fundos que tomara
sem recorrer ao bolso dos contribuintes - e
de empréstimo no mercado interbancário
queria experimentá-lo. O BCE porque, re-
angolano? Não eram motivo de conversa
cém investido como Supervisor dos Bancos
as dificuldades com que se deparava quem
europeus, não queria perder a oportunidade
quisesse mobilizar os seus depósitos em
de afirmar urbi et orbi a sua autoridade. E
moeda estrangeira? Certamente que tudo
a BRRD lá foi aplicada à letra, cindindo o
isto seria do conhecimento do BES (que
BES em “Banco Bom” e “Banco Mau” - com
assegurava a direcção superior do BESA e
total desrespeito pelo regime legal que
tinha gente sua no terreno) e do BNA (que
vigora em Portugal para
´ Africa +
➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 69
As consequências da queda do BES
➤
a cisão de sociedades comerciais. Mas
sem Capitais Próprios suficientes para
foi já da responsabilidade exclusiva do BdP
inspirar confiança, o BESA será um
a decisão de colocar: (i) no “Banco Mau”,
mais entre os vinte e tal Bancos que
as acções do BESA; e (ii) no “Banco Bom”,
tentam manter-se à tona no exíguo
os empréstimos que o BESA devia.
mercado financeiro de Angola. O mais
9. Aos olhos dos restantes accionistas do
provável é que vá sendo lentamente
BESA (e das próprias autoridades ango-
esvaziado das suas actividades rentá-
lanas), a solução que se desenhava em
veis, transformando-se num Banco
Lisboa só poderia significar que o BES/
zombie, espécie de armazém
credor queria o seu dinheiro de volta - mas
esquecido para uma enorme
que não se poderia contar com o BES/
pilha de créditos incobrá-
accionista maioritário para superar a crise.
veis. O que daí se aprovei-
Quando tudo (e, aqui, “tudo” abrange a
tará para o “Banco Bom”
vertente técnica e a vertente política) re-
não deve ser grande
comendava que o BES e o BESA fossem
coisa.
recuperados em bloco, o BdP, pensando
11. Ao cair do pano,
estar a cumprir as instruções da EBA e a
ouvir-se-á o coro (leia-se:
agradar ao BCE, destruiu todas as pontes
EBA e BCE) psalmodiando
- e, com elas, as vias que poderiam recon-
enquanto se afasta: “Louvo-
duzir o BES intacto ao equilíbrio financeiro.
res à BRRD que funciona na
A decisão do BdP até teria razão de ser se
perfeição! Se as coisas aqui
o objectivo fosse promover a liquidação do
não correram bem, se o con-
BESA na esperança de que a graduação
tribuinte português vai acabar
dos créditos hoje na posse do “Banco Bom”
por ter de desembolsar bom
garantisse um bom quinhão de activos na
dinheiro, é porque o BdP
massa falida. Mas não. O que se viu foi
meteu os pés pelas mãos no
uma das partes (o “Banco Bom”) a nego-
dossier BESA - o qual nem
ciar sem plano nem rumo, só interessada
sequer é um Banco da UE”.
em chegar ao fim depressa - e a outra (o
12. E agora? Agora, nada - ou
BNA) sabendo muito bem o que queria:
quase. O Ex-Colonizado con-
obter um substancial perdão de dívida que
seguiu, sem esforço, tudo o
diminuisse o esforço financeiro para reca-
que queria - foi dele o proveito.
pitalizar o BESA. E foi isto precisamente o
O Ex-Colonizador, esse, não
que aconteceu - o que permite uma curiosa
desperdiçou a oportunidade de
leitura: não, o contribuinte português nada
fazer mais uma triste figura em
vai pagar pela resolução do BES insolven-
África - um exemplo, sim, mas
te; vai pagar, sim, a parte maior da recupe-
a não imitar. Como nos sur-
ração do BESA.
preendermos por Portugal ser
10. Vedado que lhe está o acesso à vasta
um passado distante e nada
rede de Bancos Correspondentes no exte-
motivador para as novas
rior que o BES até há pouco lhe oferecia,
gerações de Angola?
n
Abreviaturas utilizadas: BCE - Banco Central Europeu; BdP - Banco de Portugal; BES - Banco Espírito Santo (Portugal); BESA Banco Espírito Santo de Angola; BNA - Banco Nacional de Angola; BRRD - Directiva sobre a Recuperação e Resolução de Bancos; EBA - Autoridade Bancária Europeia.
(*) António Palhina Machado tem tido um percurso profissional diversificado, que vai das Finanças Públicas (planeamento e controlo na vertente “macro” do Orçamento do Estado) à Indústria (modelos de optimização de complexos industriais; planeamento e controlo de projectos industriais de grande dimensão), passando pelo Turismo (planeamento de hotéis). Na Banca, dedicou-se ao Corporate Banking (que lançou em Portugal), ao Trade Banking (criando Instituições Financeiras especializadas no financiamento de commodities, incluindo cereais, gemas e metais preciosos, crude e produtos petroquímicos), à gestão integrada da liquidez e à medição e mitigação dos riscos financeiros. Nos últimos 15 anos tem-se dedicado, quase exclusivamente, à concepção, organização, montagem e arranque de mercados financeiros (e de Instituições Financeiras que neles operem) - designadamente, em África - que satisfaçam dois requisitos: eficiência e resistência ao risco.
70 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
LÍDERES
"
FILIPE NYUSI, O CANDIDATO PRESI-
DENCIAL DA FRELIMO, CONSEGUIU ALCANÇAR 57,03 POR CENTO (%) DOS VOTOS, DERROTANDO O HISTÓRI-
CO LÍDER DA RENAMO, AFONSO DHLAKAMA, QUE OBTEVE 37%, UMA PERCENTAGEM BEM ACIMA DOS MODESTOS 16% OBTIDOS EM 2009 CONTRA O ANTIGO PRESIDENTE, ARMANDO GUEBUZA
"
Filipe Nyusi De ilustre desconhecido a Presidente de Moçambique
Tido como “benjamim” do Presidente cessante, Armando Guebuza, Nyusi só a partir de 2008 se dedica à política activa, ao integrar o governo com a pasta da Defesa. Engenheiro e gestor de formação, o Presidente eleito esteve à frente de empresas e foi professor universitário. E, com apenas 14 anos, corria o ano de 1973, integrou a guerrilha da FRELIMO na luta contra a ocupação portuguesa e pela independência do país
O resultado das eleições moçam-
da Renamo, Afonso Dhlakama,
mo assinalou uma surpreendente
bicanas de Outubro não constituiu
que obteve 37%, uma percenta-
subida, quer por razão do resulta-
surpresa para ninguém. Mais uma
gem bem acima dos modestos
do do seu candidato presidencial,
vez a FRELINO - o partido históri-
16% obtidos em 2009 contra o
quer pelo número de deputados
co da luta contra o colonialismo e a
antigo presidente, Armando Gue-
eleitos, um capital importante para
independência do país - sagrou-se
buza.
as negociações com o governo frelimista, que acusa de monopolizar
vencedora, tanto nas presidenciais como nas legislativas, benefician-
Oposição em alta
todo o poder e as riquezas do país.
do de folgada maioria absoluta que
A primeira reacção de Dhlakama –
Com 89 lugares no Parlamento, a
lhe permite governar como bem
uma posição já esperada, à ima-
Renamo reforça a sua posição ne-
entender.
gem do que tem ocorrido em todos
gocial e aumenta a sua importân-
Filipe Nyusi, o candidato presi-
os pleitos eleitorais – foi no sentido
cia relativa na vida política moçam-
dencial da FRELINO, conseguiu
de considerar os resultados frau-
bicana. Já a FRELINO, fragilizada
alcançar 57,03 por cento (%) dos
dulentos e garantir a impugnação
pela contestação externa e interna
votos, derrotando o histórico líder
das eleições. No entanto, a Rena-
ao presidente cessante, perdeu
72 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
➤
47 assentos, ficando agora com
Na própria Comissão Nacional de
to de patriotismo e de moçambica-
144 deputados.
Eleições as vozes foram discor-
nidade que demonstraram desde
Assinalável (e previsível) é a cres-
dantes, quase a dividindo ao meio.
o recenseamento eleitoral. Que
cente influência do novel Movimen-
Sete dos 17 membros da CNE
continue esse espírito, porque vai
to Democrático de Moçambique
votaram contra a deliberação do
permitir desenvolver o nosso país”,
(MDM), que passou de oito para
resultado das eleições e apresen-
afirmou Nyusi.
dezassete deputados e registou
taram declarações de voto venci-
6,3% por cento dos votos no seu
do.
O “benjamim” de Guebuza
candidato presidencial (e líder),
Indiferente às polémicas sobre
O surgimento de Filipe Nyusi na
David Simango. O MDM é um par-
eventuais fraudes, Filipe Nyusi
cena política moçambicana cons-
tido do centro-direita, mas que tem
agradeceu a confiança manifes-
tituiu uma surpresa absoluta, já
conseguido mobilizar sectores des-
tada pelos eleitores. Segundo
que o seu nome era pouco conhe-
contentes à esquerda, e está liga-
o escolhido por Guebuza à sua
cido mesmo dentro da FRELINO.
do à Internacional dos Democratas
sucessão, “a paz e a estabilidade
No entanto, o que tem de ser tem
do Centro (IDC), a que pertence o
são condições principais para o
muita força e no preciso momen-
Partido Popular Europeu.
desenvolvimento de Moçambique,
to em que Armando Guebuza o
o grande objectivo do ciclo que
escolheu para o suceder na presi-
Acusações de fraude não provadas As acusações de irregularidades fizeram-se sentir um pouco por todo o país e o atraso no apuramento dos resultados eleitorais suscitou a apreensão de observadores da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos da América (EUA), considerando que a ausência de qualquer explicação pela Comissão Nacional de Eleições “deteriora o que tinha sido um início ordeiro da jornada eleitoral” e manifestando preocupação por “algumas irregularidades” ocorridas durante a votação. No entanto, as queixas levadas pelos partidos da oposição aos diversos tribunais do país foram na sua maioria indeferidas sob a alegação de “insuficiência de provas”. A impugnação das eleições, anunciada logo que se conheceram os resultados pelo mandatário da Renamo, André Majibire, vale o que vale. Tendo em conta o histórico
dência, após ter esgotado o limite de mandatos, o seu destino estava
"
INDIFERENTE ÀS POLÉMICAS SOBRE
traçado: em 1 de Março de 2014, o Comité Central da FRELINO esco-
EVENTUAIS FRAUDES, FILIPE NYUSI AGRADECEU A CONFIANÇA MANIFESTADA PELOS ELEITORES. SEGUNDO O ESCOLHIDO POR GUEBUZA À SUA SUCESSÃO, “A PAZ E A ESTABILIDADE SÃO CONDIÇÕES PRINCI-
lheu Nyusi como candidato presidencial do partido nas eleições de outubro. Antes, porém, o “benjamim” de Guebuza teve de se bater em eleições internas com candidatos bem mais conhecidos que ele, vencendo a primeira volta com os expressivos 46 por cento, muito à frente de Luísa Diogo, a segunda classificada e proeminente figura da oposição interna ao presidente
PAIS PARA O DESENVOLVIMENTO DE MOÇAMBIQUE, O GRANDE
cessante. Na segunda volta Nyusi
OBJECTIVO DO CICLO QUE QUEREMOS LIDE-
Nascido em Namau, no distrito de
RAR É ATINGIR O BEM-ESTAR DO POVO MOÇAMBICANO”
do, Filipe Nyusi juntou-se com a
"
de anteriores eleições, não valerá
venceu sem dificuldades afirmando 68% por cento contra os modestos 31% da histórica adversária. Moeda, província de Cabo Delgaidade de 14 anos à guerrilha da FRELINO, corria o ano de 1973. Com a independência aplicou-se aos estudos, concluindo uma licen-
de nada. No entanto, a suspeição
queremos liderar é atingir o bem-
ciatura em Engenharia Mecânica
está instalada arrastando mesmo
-estar do povo moçambicano”. O
na University of Technology, na
desta vez observadores internacio-
presidente eleito não esqueceu os
ex-Chedoslováquia, a aque se jun-
nais que, não pondo em causa a
seus adversários, estendendo o
tou uma pós-graduação na Victoria
vitória da FRELINO, levantam sus-
“ramo de oliveira”: “Permitam-me
University, em Manchester, Ingla-
peitas sobre alguns procedimentos
do fundo do meu coração saudar
terra, tendo recebido ainda formação
das autoridades eleitorais.
os outros concorrentes pelo espíri-
em Gestão na Índia, África do Sul,
´ Africa +
➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 73
Filipe Nyusi
"
O SURGIMENTO DE FILIPE NYUSI NA CENA POLÍTICA MOÇAMBICANA CONSTITUIU UMA SURPRESA ABSOLUTA, JÁ QUE O SEU NOME ERA POUCO CONHECIDO MESMO DENTRO DA FRELIMO. NO ENTANTO, O QUE TEM DE SER TEM MUITA FORÇA E NO PRECISO MOMENTO EM QUE ARMANDO GUEBUZA O ESCOLHEU PARA O SUCEDER NA PRESIDÊNCIA, APÓS TER ESGOTADO O LIMITE DE MANDATOS
Suazilândia e EUA.
"
integrando ainda a Iniciativa para
truiu 14 mil habitações. Nomeada
Acabados os estudos, Nyusi foi
a Liderança Africana e o Comité
pelo próprio governo de Guebu-
trabalhar para a Companhia de
Nacional dos Combatentes da Luta
za, a comissão de inquérito aos
Portos e Caminhos de Ferro de
de Libertação Nacional.
acontecimentos concluiu ter havido
Moçambique, onde exerceu as
Em 2008, o agora presidente eleito
negligência e a cabeça de Dai
funções de director-executivo
assume a pasta da Defesa, suce-
rolou, abrindo caminho à ascensão
e administrador, antes de vir a
dendo a Tobias Joaquim Dai, mui-
de Filipe Nyusi que, quatro anos
integrar o gabinete de Armando
to chamuscado pelo escândalo da
depois (2012), é eleito para o Co-
Guebuza.
explosão do arsenal de munições
mité Central no 10º Congresso da
Pelo meio, foi presidente do presti-
de Malhazine, em Maputo (ocorri-
FRELINO. Daí até à Presidência
giado Clube Ferroviário de Nampu-
da um ano antes), que provocou
da República decorreram apenas
la, professor na universidade local,
mais de 100 vítimas mortais e des-
dois anos.
➤
74 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
■
A.P.
141121_CC Magazine - anuncio revista DIPLOMATICA_AF.pdf
1
11/21/14
4:48 PM
MALA DIPLOMÁTICA
No Dia Nacional do Brasil Embaixador sublinha relações de excelência com Portugal
1
2
3
4
5 Foram largas as centenas de convidados que passaram pela passadeira vermelha marcando presença por ocasião da comemoração da data nacional brasileira. Num ambiente marcado pelo bom gosto, e após terem ecoado os hinos nacionais dos dois países, o Embaixador Mário Vilalva dirigiu aos presentes o seu discurso alusivo ao Dia Nacional do Brasil, tendo destacado que a data simboliza o processo de construção
1. Embaixadores do Brasil 2. Maria da Luz de Bragança ladeada pelos Embai-
do país, a emancipação do seu
xadores do Brasil 3. Embaixador do Paraguaia e seu filho com o Embaixador
povo, a formação da identidade
do Brasil 4. Embaixadores do Brasil e Maria Barroso 5. Embaixadores do
nacional e a construção da
Brasil com Miguel Horta e Costa
➤
76 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
6
7
9
8
10 ➤
democracia em terras de Vera Cruz.
Mas a intervenção centrou-se nas realizações mais recentes deste país emergente no universo das grandes potências mundiais, nomeadamente, a realização da Copa do Mundo de Futebol, realizada este ano. A cantora portuguesa Wanda Stuart, os beirões “Tuna Sabores da Música” e os brasileiros “Democratas do Samba” foram responsáveis pela animação musical, mas os convi6. Vanda Stuart 7. Carmo Silvestre, Maria de Bragança com a Embaixadora
dados puderam também apreciar a
do Paquistão 8. O Embaixador a cantar num momento descontraido. Viver
curta-metragem sobre o brasil produ-
e não ter a vergonha de ser Feliz 9. Margarida Ruas e Maria da Luz de
zida pela Federação das Indústrias
Bragança 10. Embaixadores do Mexico, Japão e do Chile
do Estado de São Paulo.
■
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 77
Brasil - Coração do Mundo
Discurso do Embaixador do
identidade nacional, a construção
moderna e pujante, mas também
Brasil:
de nossa democracia.
múltipla, democrática e direciona-
“Senhores membros do XIX (19º)
Mas também é circunstância pro-
da à inserção social e à redução
Governo Constitucional da Re-
pícia para que lancemos o olhar
das desigualdades. E creio que
pública Portuguesa, Senhores
sobre o futuro. O encontro perió-
conseguimos.
Parlamentares, membros da
dico que temos marcado com as
A percepção geral é a de que o
Assembleia da República, Se-
urnas em 3 de outubro, encoraja
Brasil organizou com esmero e
nhores Embaixadores e membros
exercício de avaliação do que já
profissionalismo um grande tor-
do Corpo Diplomático, Senhores
conseguimos e, sobretudo, do que
neio, uma festa esportiva emocio-
militares, portugueses e estran-
queremos para os próximos anos.
nante, que centralizou as aten-
geiros acreditados em Portugal,
O ano de 2014 será lembrado, no
ções do planeta em nosso país. E
Membros da comunidade brasilei-
Brasil, como um ano de grandes
tudo indica que fizemos bom uso
ra em Portugal, Senhores Côn-
expectativas e grandes realiza-
dessa atenção: o mundo hoje nos
sules Gerais do Brasil no Porto,
ções. Sediar a Copa do Mundo
conhece melhor.
em Lisboa e em Faro. Senhoras
de Futebol foi uma aventura que
Acolhemos com hospitalidade e
e senhores representantes do
envolveu o país inteiro, em um
grande afeto cerca de 1 milhão de
mundo acadêmico, cultural e
crescendo de entusiasmo e orgu-
turistas estrangeiros, provenientes
empresarial,Representantes da
lho patriótico, que nem mesmo o
de 202 países.
Imprensa, Queridos convidados e
resultado naquele fatídico dia no
Ademais, foram recebidos no País
amigos, Senhoras e Senhores.
Mineirão foi capaz de ofuscar.
Chefes de Estado e de Governo,
Como é do conhecimento de to-
Mais do que um megaevento
membros de Casas Reais, altos
dos, para nós, brasileiros, esta é a
esportivo, a Copa representou
representantes de 33 países.
ocasião mais importante de nosso
para o Brasil uma espécie de rito
Levantamento realizado pela
calendário cívico. É o momento
de passagem, em que a bem-
Fundação Instituto de Pesquisas
em que lembramos e reverencia-
-sucedida projeção de nossa
Econômicas (FIPE) revelou que
mos o longo processo de constru-
imagem para o mundo constituiria
83% dos visitantes consideraram
ção do nosso país, nossa eman-
o atestado fundamental de nos-
que a viagem ao Brasil durante a
cipação, a formação de nossa
sa maturidade como sociedade
Copa do Mundo “atendeu
78 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
➤
plenamente ou superou as
mos longe dela.
Para encerrar, gostaria de con-
expectativas”. Cumprimos, por-
Tudo isso me faz pensar que o
vidá-los a desfrutar de três im-
tanto, com o nosso compromisso
nosso próximo “megaevento”
portantes show musicais. Hoje
e demos uma prova cabal de que
não é esportivo, ainda que todos
termos aqui, pelo segunda vez,
somos capazes de assumir res-
tenhamos bem presente o fato de
Wanda Stuart, uma das mais com-
ponsabilidades internacionais de
que as Olimpíadas estão logo ali,
petentes intérpretes da música
grande envergadura.
ao virar da esquina. Nosso próxi-
brasileira. Além de Wanda, vamos
Mas tenho convicção de que gran-
mo conclave é político: são nos-
ouvir um pouco de música da Bei-
de parcela desse entusiasmo é
sas eleições. Dentro de um mês,
ra, com o conjunto “Tuna Sabores
decorrente da constatação do tipo
os brasileiros teremos a oportuni-
da Música”, que nos visita direita-
de país, do tipo de sociedade, que
dade de investir nossa confiança
mente da Beira. Por fim, teremos
vamos construindo no Brasil.
em alguém, em algum projeto que
os “Democratas do Samba”, sob a
O visitante que chegou ao Brasil
consideremos em melhores con-
liderança do intérprete e composi-
em junho se deparou com um
dições de promover os próximos
tor, maestro Tércio Borges.
país plural, democrático, jovem e
passos de nosso desenvolvimen-
Mas antes disso, quero convidá-
vibrante. Um país que, em menos
to. O momento atual, de grande
-los a assistir um brevíssimo filme
de 30 anos de regimes democrá-
debate cívico, por vezes aguerrido
sobre o Brasil, produzido pela Fe-
ticos, logrou avançar em agendas
e dramático, é, em si, a concre-
deração das Indústrias do Estado
essenciais, como a da estabili-
tização de algo por que lutamos
de São Paulo, a mais importante
dade econômica; a redução da
durante anos. Celebremos, então,
agremiação empresarial brasileira.
pobreza; a inclusão social, a
este momento, e não desperdice-
Viva o Brasil, viva Portugal! Muito
promoção da igualdade racial e
mos a oportunidade.
obrigado.”
de gênero; da proteção do meio-
A nossos parceiros internacionais,
Depois deste discurso memorável
-ambiente; e a da inserção inter-
a começar pelos irmãos portugue-
fomos brindados com a voz da ci-
nacional pacífica e cooperativa,
ses, uma palavra de agradecimen-
tada artista Wanda Stuart que nos
com ênfase no multilateralismo e
to. O mundo, em 2014, acreditou
fez dançar ao som de Elis Regina,
nas iniciativas de integração.
no Brasil. Não prevaleceram as
Maria Rita, Alcione e sem esque-
O Brasil é hoje um país mais jus-
vozes pessimistas que duvidavam
cer a maravilhosa imortal Aquare-
to, com uma sociedade civil mais
da capacidade do país. Nesse
la do Brasil de Ary Barroso.
desenvolvida e mais forte. Nossa
ponto, temos que reconhecer a
Precisamente na mesma altura,
base produtiva é diversificada e
grande importância do apoio dos
no Brasil, saiu o filme “Data Limite
moderna. Vivemos em um Estado
portugueses, que em todos os
- Segundo Chico Xavier” (aquele
de Direito consolidado, com insti-
foros e contextos defendem o
que recentemente foi considerado
tuições vigorosas e ampla segu-
Brasil. E por uma razão simples:
pelo Brasil como “O Maior Brasi-
rança jurídica.
porque são os que melhor conhe-
leiro de Todos os Tempos” segun-
Essas credenciais nos projetam
cem nosso país. E nos conhecem
do um programa televisivo criado
no mundo e traçam os contornos
bem porque fizeram - e continua-
pela BBC e emitido pela SBT).
de nossa inserção internacional.
rão a fazer - parte de cada passo
Sobre o Brasil e seus governantes
Podemos almejar e lutar por um
de nossa história.
terá dito um dia sabiamente e sem
mundo mais livre, seguro e igua-
Não quero finalizar estas palavras
pretensões politicas, “Peçamos
litário porque fazemos isso inter-
sem estender um agradecimento
a Deus que inspire os homens
namente. Nossa voz é crescente-
muito especial a todas as empre-
públicos, atualmente no leme da
mente ouvida porque há respeito
sas que nos ajudaram a realizar a
Pátria do Cruzeiro, e que, nesta
pelos objetivos que nos propomos
festa de hoje.
hora amarga em que se verifica
e pelas conquistas já obtidas.
Por fim, um forte abraço de agra-
a inversão de quase todos os va-
É evidente, porém, que ainda há
decimento a todos os funcionários
lores morais, no seio das oficinas
muito por fazer. Nenhum país
da Embaixada que se dedicaram
humanas, saibam eles colocar
deveria se considerar como tendo
à organização desta comemora-
muito alto a magnitude dos seus
atingido a linha de chegada: a
ção. Eles são a alma de tudo isto.
precípuos deveres.” é caso para
autocrítica honesta conduz à
Sem eles, nada disto teria sido
lembrarmos que um caminho certo
constatação de que ainda esta-
possível.
nunca faz um homem voltar atrás.
■
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 79
MALA DIPLOMÁTICA
Festa nacional do México
Embaixador Benito Andión, Embaixatriz Evelyn de Andión, Conselheiro José
Embaixador Benito Andión
Manuel Castañeda, Maria Eugenia Castañeda, Conselheiro José Manuel Cuevas, Monika Bittner e Abigail Calleja
O Embaixador do México em Por-
integram a relação bilateral.
tugal, Benito Andión e sua esposa
Conforme a tradição desta festa
receberam na residência oficial
nacional, o Embaixador do Mé-
numerosos representantes do
xico ofereceu um emotivo “Grito
corpo diplomático assim como dos
de Independência”, que recorda a
diversos âmbitos que integram as
ação levada a cabo pelos heróis
relações do México com Portugal.
que na noite do dia 15 de setembro
A receção oferecida pela repre-
de 1810, convidaram o povo a lutar
sentação diplomática mexicana
pela sua independência. Este ato
neste ano, teve um especial signi-
foi recebido com respeito e atenção
ficado por, em 2014, se comemo-
por parte de centenas de assisten-
rar o 150 aniversário do estabele-
tes, entre os quais se destacaram
cimento de relações entre os dois
os membros da comunidade mexi-
países.
cana.
Neste enquadramento, a Embaixa-
A celebração esteve acompanhada
da do México preparou para a sua
pelos hinos nacionais de Portugal
apresentação ao longo do ano, um
e México; posteriormente a repre-
amplo programa de atividades no
sentação diplomática ofereceu uma
âmbito das artes cénicas, música,
variedade de petiscos típicos da
cinematografia, artes plásticas,
gastronomia mexicana.
literatura, gastronomia e turismo,
Um agradável ambiente de cor e
cooperação internacional e pro-
harmonia acompanhou a noite de
moção económica; com o objetivo
mais um aniversário da mais impor-
de fortalecer todos os setores que
tante festa nacional do México.
80 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
■
MALA DIPLOMÁTICA
No Dia Nacional da Alemanha Embaixador Ulrich Brandenburg destaca relações com Portugal 1
2
4
3
5
Haydn esteve presente no Dia da Alemanha, através do Hino Nacional daquele país, com os convidados a serem amavelmente recebidos pelo Embaixador Ulrich Brandenburg, que discursou enfatizando o significado da unidade alemã restabelecida 24 anos atrás. Num ambiente de grande informalidade, figuras da sociedade, da política, da cultura e da economia degustaram saberes e sabores da gastronomia alemã no esplêndido jardim da residência oficial dos embaixadores, enquanto no salão,
1. Maria da Luz de Bragança com o Embaixador Ulrich Brandenburg 2. Con-
o exímio músico João Balula Cid
selheiro da Embaixada de Itália, Fábio Messineo com o Embaixador Renato
tocava o concerto nº 21 para piano
Varriale 3. Embaixador de França 4. João Balula Cid 5. Embaixador da Grécia
de Wolfgang Amadeus Mozart.
■➤
82 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
Discurso do Embaixador Ulrich
Posteriormente, os comerciantes das
ranking de destinos estrangeiros para
Brandenburg
cidades hanseáticas estabeleceram-
os portugueses. Esta rota rumo ao
“Uma série de eventos em 2014 procu-
-se aqui, por forma a transacionar
conhecimento mútuo é extremamen-
ram marcar na Europa a recordação
diretamente com o império português.
te positiva para ambas as culturas e
coletiva de acontecimentos históricos
A criação da CCILA em 1954 surge
países.
que moldaram o destino do continen-
assim numa longa tradição coope-
As boas relações entre a Alemanha e
te no passado século. Há 100 anos
rante entre os agentes económicos
Portugal não são, contudo, um motivo
eclodiu a I Guerra Mundial, a “catástro-
de ambos países. Em Junho de 2014
para complacência.
fe original” do século XX; há 75 anos
comemoraram-se os 60 anos desta
Um número crescente de estudantes
a Alemanha nazi invadiu a Polónia e
Câmara, na presença dos Presidentes
alemães inscreve-se em universidades
despoletou a II Guerra Mundial; e há
dos dois países. Em Portugal estão
portuguesas - e vice-versa – seja por
25 anos o Muro de Berlim caiu, permi-
representadas cerca de 300 empresas
semestre, através do programa Eras-
tindo a reaproximação entre os povos
alemãs. Muitas delas usufruem das
mus, seja para a totalidade do curso.
da Europa.
condições de instalação e desenvolvi-
Ambos os países proporcionam condi-
Estas memórias históricas também
mento que Portugal tem para oferecer.
ções atrativas. No ano letivo 2012/13,
têm um significado para as relações
Não é por acaso que entre o “Top 10”
mais de 900 estudantes alemães
entre a Alemanha e Portugal.
de maiores exportadores de Portugal
estudavam em universidades portu-
Os nossos dois países foram adversá-
se encontram três empresas alemãs.
guesas, e 1500 portugueses – 1000
rios na I Guerra Mundial. Soldados ale-
Empresários alemães enaltecem a
dos quais, já a viver na Alemanha - em
mães e portugueses confrontaram-se
qualificação e a fiabilidade dos cola-
universidades alemãs. Evidentemente
não só na frente ocidental de Flandres
boradores portugueses, contribuindo
que estes números ainda têm grande
e do norte de França, mas também em
para as vantagens de investir em
margem para crescer.
África. Ambos os lados sofreram per-
Portugal, que nos últimos anos tem
Urge, assim, aumentar a oferta de
das significativas. Nenhum dos países
melhorado consideravelmente a sua
ensino das respetivas línguas no país
ficou a ganhar com a guerra. Quer a
competitividade a nível internacional.
parceiro, especialmente no ensino es-
jovem república portuguesa, quer a
Mas existe outra data que poucas vezes
colar e universitário para capacitar os
Alemanha, sofreram abalos políticos e
é mencionada na comunicação social.
jovens com as ferramentas linguísticas
económicos decorrentes da I Guerra
Há precisamente 50 anos, o carpin-
que facilitem a sua integração. Infeliz-
Mundial, o que acabou por ditar o fim
teiro português de 38 anos, Armando
mente o ensino da língua alemã nas
das jovens democracias republica-
Rodrigues de Sá, iniciou o seu caminho
escolas portuguesas nem de longe
nas. Durante a II Guerra Mundial, um
de Vale de Madeiros para a Alemanha.
representa a intensidade das relações
Portugal neutro tornou-se um ponto de
À sua chegada à estação de Colónia-
bilaterais entre os dois países. Ao
passagem seguro para muitos perse-
-Deutz foi celebrado como o milionési-
contrário, o conhecimento da língua
guidos pelo regime nazi na Alemanha
mo trabalhador estrangeiro a chegar à
portuguesa na Alemanha estaria em
e nos países ocupados. Sublinho o
Alemanha. Muitos portugueses chega-
pior estado, se lá não existisse a co-
papel do Cônsul-geral de Portugal em
ram antes e depois dele. Parte desta
munidade portuguesa.
Bordéus, Aristides de Sousa Mendes,
comunidade regressou a Portugal, tal
Outra área em que deveríamos estrei-
que concedeu aproximadamente
como Armando Rodrigues de Sá.
tar os laços é a I&D, pois ambos os
30.000 vistos, salvando assim a vida
Muitos outros permaneceram e cria-
países têm criado um enquadramento
destes perseguidos, 10.000 dos quais
ram raízes na Alemanha, perfazendo
favorável à prossecução dos seus
cidadãos judeus.
hoje aproximadamente 120.000 resi-
objetivos, que também têm claras
O dia 9 de Novembro de 1989 foi um
dentes. São um exemplo de integra-
repercussões económicas. As ener-
dia de grande alegria, não apenas
ção bem-sucedida e um elo de ligação
gias renováveis encontram-se no topo
para nós na Alemanha.
importante e estável entre os nossos
da agenda, quer em Portugal, quer na
A alegria pela superação da divisão
dois países. Por outro lado, Portugal
Alemanha, por exemplo.
da Europa e pelo fim da Guerra Fria
suscita cada vez mais interesse dos
Alemanha ao centro da Europa, Portu-
foi partilhada por muitos portugueses,
cidadãos alemães, também pela maior
gal no Ocidente: eis um belo exemplo
que somente 15 anos antes tinham
facilidade em viajar hoje em dia. Che-
de aproximação e cooperação na
pacificamente lutado pela liberdade e
gam a Portugal para trabalhar, estudar
UE, onde representamos interesses
democracia no seu país.
ou após a reforma. Vários milhares
comuns. Cooperação e interdepen-
Contudo, a história coletiva de ambos
de alemães estão hoje em casa em
dências económicas, partilha de
países remonta a um período mui-
Portugal.
valores, mas também uma melhoria da
to anterior. A primeira instituição de
O número de turistas alemães em Por-
aprendizagem mútua, são as melhores
solidariedade social criada por ale-
tugal tem vindo a crescer e em 2013
garantias para evitar uma repetição
mães em Lisboa – a Associação de S.
quase 120.000 turistas portugueses
das amargas experiências do século
Bartolomeu dos Alemães em Lisboa –
visitaram a Alemanha. A Alemanha
XX.” finalizou o embaixador Branden-
foi fundada no séc. XIII e ainda existe.
representa, com 5%, o 6o lugar no
burg.
n
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 83
MALA DIPLOMÁTICA
Dia Nacional da Áustria
3
1
2
4
O Conselho Nacional da Áustria, aprovou a nova Constituição em Vie-
5
na, no dia 26 de Outubro de 1955, na qual o país assumia neutralidade na comunidade internacional. Desde aí o 26 de Outubro passou a ser festejado como Dia Nacional. E a data foi de novo celebrada com uma agradável recepção, oferecida na sua residência oficial no Restelo, pelos Embaixadores da Áustria Thomas e Vanda Stelzer Como sempre estiveram presentes muitos dos embaixadores acreditados em Portugal, que aproveitaram a ocasião para trocar impressões, menos protocolares, com os seus colegas diplomatas, sobre o estado actual do mundo económico e politico… e até da sua estada em Portugal
1. Embaixadores de Austria, Thomas e Vanda Stelzer 2. Embaixadores da Belgica, Bernard e Karin Pierre 3. Embaixadora de Cuba
Lembrando Viena como uma das
4. Embaixadores do Bangladesh
cidades onde a musica, ao longo
5. Embaixadores de Cabo Verde
dos séculos, tem sido uma deliciosa constante, depois de tocados os hinos nacionais dos dois países o
➤
84 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
6
7
9
➤
8
Embaixador austríaco apresentou
o quarteto “Donauwellenreiter” (que em Português quer dizer Surfistas do Danúbio) e que ocasionalmente estando em Portugal para realizar um Concerto no Centro Cultural da Figueira da Foz , não quiseram deixar de estar presentes em “solo pátrio “neste dia nacional do seu país Considerado “o romance alpinista da cena musical austríaca actual”, o grupo formado por Thomas Castañeda, ao piano, Jorg Mikula na percussão, Lukas Lauermann no violoncelo e Maria Graffonara no violino, tocaram para todos os presentes duas músicas invulgares Um
10
som distinto de carisma altamente poético, verdadeira sinergia entre a musica de câmara, pop e jazz Agradecendo a presença de todos os colegas e amigos, ao lado de sua mulher a Embaixatriz Vanda Stelzer e de dois dos seus três filhos, lembrou que paralelamente com o seu trabalho no nosso país, o ter casado com uma portuguesa, tornou a sua ligação com Portugal uma mais-valia, muito agradável e até apaixonante. A recepção terminou no jardim, já passava da hora prescrita, pois a noite quente de um Outono radiante
6. Grupo Musical Austriaco - Donauwellenreiter 7. Teresa Pinto Coelho e Zé Mesquita 8. Jorge Fonseca ,Vera Caseiro e Nazir Madatali 9. Franziska Pfeiffer
apelava à conversa, bem temperada com vinho de boa cepa e acepipes austríacos.
■
A.D.
10. Embaixadoras de Cuba e do Peru com Paulo Neves
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 85
MALA DIPLOMÁTICA
Dia da Roménia
1
2
3
4
1. Embaixadores da Bélgica ladeados pelo Embaixadores da Roménia 2. Sabine Blarel e Nicoleta Popovici 3. Alain Prigent, Violeta Ciurel com os Embaixadores de França 4. Maria Otilia Medina, Mihaela Craciun e Isabel Monteiro
"No dia 1 de Dezembro celebra-se
minorias étnicas que vivem em terri-
xa. O Senhor Iohannis é protestante.
a união de todos os romenos, em
tório nacional se sentem em casa.
Contudo, esta vitória não é um facto
1918, sob a coroa real romena con-
A Roménia acaba de eleger o seu
totalmente inabitual na Roménia
juntamente com a adesão da Tran-
presidente e esta eleição poderá ter
pois, para utilizar o mesmo exemplo,
silvânia ao Reino. Assumia a Ro-
um significado mais amplo, relacio-
o Senhor Iohannis foi eleito Presi-
ménia então respeitar os direitos de
nado – na minha opinião – com o
dente da Câmara Municipal de Sibiu,
todas as minorias do seu território,
próprio sentido da Grande União.
por vários mandatos, sempre com
e este compromisso se constituiu
Após a votação de 16 de Novembro
maiorias esmagadoras. Outro facto
numa garantia democrática obriga-
passado, os romenos elegeram um
significativo é que raramente existiu,
tória para a paz social interna como
presidente, o Senhor Klaus Iohannis,
nos últimos 15 anos, um governo
também para a paz na região. A
cidadão romeno de origem alemã, de
que não cooptasse automaticamente
União de todas as províncias rome-
Sibiu, cidade da Transilvânia, cidade
a minoria húngara na governação.
nas sob a alçada do mesmo Estado,
no coração da Roménia. O grupo ét-
Numa Europa onde se re-despertam
que celebramos no dia 1 de Dezem-
nico alemão representa uma minoria
os antigos demónios do nacionalismo
bro, representa um acto histórico
ínfima na Roménia. A grande maioria
e do antiliberalismo, demónios tenta-
plenamente consolidado quando as
da população romena é cristã-ortodo-
dos por modelos autoritários ou até
86 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
5
6
8
7
9
5. Embaixador do Luxemburg 6. Aili Rundu com os Embaixadores da Roménia 7. Mirko Stefanovic, Embaixador da Servia com Embaixador da Roménia, Vasile Popovici 8. António Almeida Lima e Antonio Machado ladeados pelos Embaixadores 9. Gulbenkian, Consonando Trio
ditatoriais, afigura-se-me importan-
relevante que em 2014 as trocas
O ciclo de eventos consagra-
te realçar que o modelo da Roménia,
comerciais ultrapassam, pela pri-
dos ao Dia Nacional da Ro-
baseado na tolerância e integração
meira vez, meio bilião de euros. Por
ménia continuou na Casa da
de todos os grupos étnicos no acto
último, Portugal representa, por sua
Música do Porto e na Funda-
governamental, merece despertar o
vez, um modelo de integração para
ção Gulbenkian de Lisboa com
optimismo.
todas as comunidades residentes no
um concerto extraordinário do
Acrescentaria também uma men-
seu território. Quero expressar aqui
“Consonando Trio” composto
sagem encorajadora, desta vez no
os meus mais vivos agradecimentos
pelo violoncelista Razvan Suma,
que respeita à cooperação romeno-
pela maneira como a comunidade
violonista Stefan Horvath e
-portuguesa. Celebramos este ano
romena de Portugal, que representa
pianista Toma Popovici o qual,
quatro décadas desde o restabele-
cerca de 30.000 pessoas, foi aju-
perante uma sala cheia, inter-
cimento das relações diplomáticas
dada a integrar-se na sociedade
pretou obras de George Enescu
entre a Roménia e Portugal. Os dois
portuguesa. É um exemplo europeu
e Franz Schubert, sendo longa-
países marcaram devidamente este
digno de ser seguido."
mente ovacionado.
➤
momento festivo, através de visitas bilaterais a alto nível. É também
■
■
Vasile POPOVICI Embaixador da Roménia
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 87
MALA DIPLOMÁTICA
Dia Nacional assinalado em festa Turquia – “Paz no País, Paz no Mundo” 1
2
3
5
4
O país adquiriu nos últimos anos grande importância geoestratégica, sendo um dos principais aliados das potências ocidentais na região. A simpatia da Ebru Gokdenizler não deixou ninguém indiferente na recepção oferecida na sua residência.
Por ocasião do Dia Nacional da
doutrina neutralista que se funda-
Turquia, a Embaixadora Ebru
mentava na máxima “Paz no País,
1. Os Embaixadores da Turquia, Ebru Baratçu e Vakur Gokdenizler 2. Os Embaixadores da Austria, Thomas
Gokdenizler recebeu, nos jardins da
Paz no Mundo”.
sua residência, no Restelo, muitos
Esta doutrina libertou a Turquia de
diplomatas acreditados em Portugal
todo o comprometimento externo,
na e do Mexico Evelyne de Andion
e várias personalidades ligadas à
tendo uma relação com a herança
4. Os embaixadores da Suécia Caroline
política, à cultura e à economia.
otomana, situação que orientou
Fleetwood seu marido Hans Tson
A república, proclamada a 29 de
a política externa do país até à II
Soderstron e Pedro Passos Costa e
Outubro de 1923, por Mustafa
Guerra Mundial.
Kemal Atarürk, foi baseada numa
Só a partir de Setembro de 1980
88 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
e Vanda Stelzer 3. Embaixadoras do Perú, Patricia Medi-
sua Mulher ➤
6
10
7
8
11
9
12
15
13
14
é que os laços se estreitaram de
Turquia) é uma região com uma
6. Conselheiro da Embaixada da Indónesia
➤
Pof Yusuf Arifin e sua mulher, Sheva Yusuf 7. Ana Bela com o Embaixador da Moldavia, Valeriu Turea 8. Alline E Thomas Hall de Beauvink
novo com as potências ocidentais.
vasta história que remonta há mais
Mais tarde, depois dos aconteci-
de 5000 anos.
mentos internacionais mais recen-
Na atualidade a sua economia
9. Embaixadora de Cuba Johana Jablata
tes, em especial o desabar do impé-
constitui um misto entre a indústria
rio soviético, a guerra do Golfo e o
e o comércio modernos e a agricul-
desmembramento da ex-Jugoslávia,
tura tradicional. O seu PIB (Produto
reforçou-se de forma evidente a im-
Interno bruto) está no top 20 do
portância geopolítica da Turquia e
ranking mundial.
as potências ocidentais viram neste
A simpatia com que a Embaixadora
país um trunfo para a estabilidade
recebeu todos os seus convidados
regional.
não deixou ninguém indiferente
A Península da Anatólia (actual
nesta tarde de festa.
de la Torre 10. Embaixadora d e Marrocos -Karima Benyaich 11. Embaixadores da Colômbia, German e Nelly de Santamaria 12. Embaixadora da Turquia com Maria Barroso 13. Milton Moniz e Anne Taylor 14. Bahadir Yalcin e sua mulher, Nihal 15. Embaixadores da Sérvia Mirko e Liliana Stefanovic
■
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 89
MALA DIPLOMÁTICA
Celebração do Dia Nacional de Andorra
A Embaixada de Andorra em Portugal celebrou o Dia Nacional de Andorra no Palácio do Conde d’Óbidos (Palácio da Cruz Vermelha Portuguesa). Ofereceu uma recepção oficial aos seus convidados representantes do Governo português, do corpo diplomático e organismos internacionais acreditados em Portugal, e de outras instituições económicas, comerciais e culturais estabelecidas na capital lusa. Na recepção esteve também presente o Ministro do Turismo e Meio Ambiente de Andorra, Sr. Francesc Camp, que se deslocou a Lisboa para a assinatura de um Memorando de Entendimento entre Portugal e Andorra de colaboração em matéria de Turismo.
■
Embaixadora e o Ministro acompanhados do Conselheiro Adido de Comércio e Turismo da Embaixada de Andorra em Espanha, Jesús Ramírez
90 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
MALA DIPLOMÁTICA
Dia Nacional da Argélia festejado no Hotel Marriott
2
1
5
4 3
Mais uma vez o dia Nacional da
diplomatas estrangeiros, como
Argélia foi comemorado com uma
também muitos amigos portugue-
1. Embaixadores da Argélia, Abdelhak Semane e Fathia Selmane 2. Embaixador do Uruguai, Jose Ignacio
agradável recepção.
ses e vários argelinos residentes
A data escolhida para dia Nacio-
em Portugal. A Embaixadora Fa-
nal prende-se ao 1 de Novembro
tiha Selmane fez questão de re-
3. António Chainho e sua Mulher
de 1962, aquando do triunfo da
lembrar não só o dia histórico da
4. Sousa Cintra e sua Mulher
revolução pela independência da
sua pátria, como também mencio-
5. Presidente da Casa de Espanha Guil-
Argélia, frente à França. No seu
nou no seu discurso a agradável
discurso de boas vindas peran-
boa harmonia que existe entre
te vasta assistência, não só de
Portugal e o seu país e
92 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
Korzeniak, Adriana Drago e o Embaixador do Kuwait Sulaiman Al-Murjan
lermo de Liera e sua mulher, Maria de Jesus com o Embaixador do Uruguai
6
8
7
10
11
9
6. General Artur Pina Monteiro Chefe de
➤
muito especialmente como tem
Estado Maior General das Forças Ar-
sido agradável para si e sua família
madas com a Embaixadora da Argélia
a estadia entre nós. Para gáudio
7. Noemia Tavares, Liliana Brito Barros e Carlota Mendes de Almeida 8. Embaixadores de Itália, Renato Varria9. Gi Milne e Carmo e Francisco Sequeira 10. Virgilio Seco, Gertrudes Evora e
mente da Argélia, não faltando para retemperar e adocicar o paladar do
Encarregado de Negócios da Argélia, 11. Nuncio Apostolico
foram servidas várias especialidades gastronómicas, vindas especial-
lee e da Belgica, Bernard Pierre
Djamel Khalfi
dos apreciadores da boa mesa,
agradável chá de menta, os doces com mel e as tâmaras.
■
A.D.
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 93
MALA DIPLOMÁTICA
Arábia Saudita Glamour e simpatia marcam Dia Nacional
1
1. Embaixador da Arábia Saudita, Mansour Saleh AlSafi
Num ambiente de alegre simpatia, o Embaixador Mansour Bin Saleh al-Safi recebeu os convidados para uma recepção onde marcaram presença figuras destacadas da política, da sociedade e da economia
Por ocasião da celebração do
da zona de Lisboa.
84º Aniversário da Unificação
As declarações oficiais de início
do Reino da Arábia Saudita, dia
transcorreram num ambiente de
Nacional do país, o Embaixador
alegre convívio e simpatia en-
Mansour Bin Saleh al-Safi convi-
volvendo todos os presentes.
dou destacadas personalidades
Seguiu-se um fabuloso jantar que
dos mais diversos meios políticos,
deliciou os convidados, e onde o
sociais e económicos para uma
glamour marcou presença.
recepção num hotel de prestígio
A Arábia Saudita, é o maior país
94 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
2
3
5
4
2. Embaixador da Arábia Saudita, Mansour Saleh AlSafi; Conselheiro da Embaixada, Mohammed AlMadani e o Terceiro Secretario, Mansour Alotaibi 3. Nuncio Apostólico com o Embaixador da Arábia Saudita 4. Nuncio Apostólico; Embaixadora Ana Martinho, do MNE; Embaixador da Arábia Saudita e o Chefe de Protocolo António Lima 5. Embaixador da Arábia Saudita com o Embaixador do Kuwait, ao fundo o Embaixador do Iraque
➤
árabe na Ásia Ocidental, ocu-
decendo aos preceitos do Alcorão.
pando 80 por cento da Península
O soberano do grande reino da
Arábica, e é o segundo maior do
Arábia Saudita é Abdallah bin
mundo árabe.
Abdul Aziz Al-Saud, um firme
É o reino onde fica localizada a
opositor ao terrorismo, que é res-
notável e grandiosa cidade de
ponsável pela “Cultura da Paz”, e
Meca, onde, cinco vezes ao dia,
considerado pelo seu povo o Rei
cerca de 1 bilhão de muçulmanos
“mais caridoso” da história con-
para ela se viram rezando e obe-
temporânea.
■
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 95
MALA DIPLOMÁTICA
Império Milenar China popular assinala aniversário
Segunda maior economia mundial, a República Popular da China é a segunda maior economia mundial e tem uma média de crescimento de 10 por cento ao ano, nos últimos 25 anos
Em 2014 celebra-se o 65º Aniver-
jantar onde se puderam apreciar
existia na Europa uma grande de-
sário da Fundação da Republica
vários pratos das cozinhas chine-
manda de produtos chineses, tais
Popular da China. Para assinalar
sa e portuguesa.
como o chá, a seda e a porcelana.
esse acontecimento, o Embaixa-
A China, é o terceiro maior país do
A 1 de Outubro de 1949, Mao
dor Huang Songfu organizou uma
mundo, ficando atrás da Rússia e
Tsé-Tung proclamava a criação
recepção, num hotel da capital, na
Canadá, e tem mais de 2900 ilhas
da República Popular da China,
qual estiveram presentes entre a
costeiras.
que ficou conhecida no ocidente
comunidade chinesa radicada em
A civilização chinesa possui carac-
como “China comunista” ou “China
Portugal, embaixadores, ministros,
terísticas bem distintas da oci-
Vermelha”.
empresários, gente da Cultura e
dental, principalmente na escrita,
Actualmente a China é a segunda
outras personalidades.
cultos, filosofia e nas artes.
maior economia mundial e a nação
Uma jovem chinesa, acompa-
A partir do século XIII, com a rota
com o maior crescimento econó-
nhada por guitarras portuguesas,
da seda integrada pelas conquis-
mico dos últimos 25 anos, com
deliciou todos os presentes ao
tas mongóis, os europeus entraram
uma média do crescimento do PIB
cantar na perfeição “Uma Casa
em contacto com este país, com
(Produto Interno Bruto) em torno
Portuguesa”, seguindo-se um
certa frequência e no século XIX já
de 10 por cento ao ano.
96 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
Discurso de S.E. o Sr. Emb. Huang Songfu
Em primeiro lugar, gostaria de expressar, em nome
cial da revitalização nacional, em que o povo chinês
da Embaixada da República Popular da China em
está a trabalhar com toda dedicação para realizar o
Portugal e em meu próprio nome, as calorosas
Sonho Chinês, sonho do desenvolvimento e da pros-
boas-vindas e os melhores cumprimentos a todos os
peridade. Para alcançar esta grande meta, sob a
presentes na recepção de hoje. Gostaria de aprovei-
liderança da nova geração dos dirigentes, formulou-
tar esta ocasião para apresentar os meus sinceros
-se um novo plano para aprofundar a reforma, que
agradecimentos a todos os amigos que têm sempre
engloba as áreas política, económica, cultural, social
acompanhado o desenvolvimento da China e se têm
e ambiental. O ponto chave desta reforma é simpli-
dedicado à promoção das relações Sino-Portugue-
ficar o processo de gestão governamental e delegar
sas.
o poder do governo nos assuntos fora da sua jurisdi-
No próximo dia 1 de Outubro, celebra-se o 65º ani-
ção para o mercado, a fim de energizar ainda mais o
versário da República Popular da China. Ao longo
mercado e incentivar a criatividade da sociedade. No
de 65 anos, a China tem embarcado num caminho
ano passado, apesar da crise global, o potencial do
de desenvolvimento que corresponde à sua situação
investimento privado na China foi libertado/incentiva-
nacional, e conseguido transformar um país pobre
do graças a esta política.
e atrasado na segunda maior economia mundial,
Outro ponto essencial é acelerar o ajuste estrutural
melhorando assim a vida de 1,3 mil milhões dos
da economia chinesa. Iremos cultivar o espírito da
seus habitantes. Ao mesmo tempo, sendo um país
inovação de toda a sociedade, a fim de acelerar a
carregado da responsabilidade, a China tem seguido
transformação do modelo de desenvolvimento, me-
o caminho do desenvolvimento pacífico e desempe-
nos dependente dos estímulos do estado, e man-
nhado um papel importante nos assuntos internacio-
ter a economia chinesa numa taxa do crescimento
nais, contribuindo assim para a manutenção da paz
média-alta a longo prazo. Em suma, o objetivo da
e a promoção do desenvolvimento em conjunto com
reforma é libertar/incentivar/promover a criatividade
o interesse comum do mundo.
e entusiasmo do povo chinês e fornecer-lhe uma pla-
Hoje em dia, a China encontra-se num momento cru-
taforma mais ampla para inspirações e iniciativas, ➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 97
Império Milenar China popular assinala aniversário
➤
garantindo assim oportunidades para todos reali-
da amizade entre os dois povos.
zarem os seus sonhos.
As boas relações de cooperação bilateral são ba-
A nova ronda de reformas da China não só servem
seadas numa confiança política mútua e sólida. No
aos interesses do povo chinês como também aos
passado mês de Maio, o Presidente da República
interesses dos outros países do mundo. Porquê? O
Portuguesa, Sr. Prof. Cavaco Silva realizou com
que uma China cada vez mais próspera trará para
grande sucesso uma visita de estado à China. Logo
outros paises do mundo? Na minha opinião, sao
a seguir, em Julho, o Presidente da República Popu-
novas Oportunidades.
lar da China, Sr. Xi Jinping fez uma escala técnica
Vejamos que, no ano passado, o volume total da
na Ilha Terceira durante a sua viagem de volta à
importação e exportação da China atingiu a 624
China. As duas partes tiveram oportunidade para
mil milhões de dólares, com uma exportação que
aprofundar e trocar opiniões sobre temas do inte-
chegou ao primeiro lugar do mundo. Além disso, as
resse comum e concordaram em elevar ainda mais
empresas chinesas estão a tornar-se numa fonte
as nossas cooperações de benefícios mútuos a um
importante do investimento e financiamento interna-
novo patamar. Podemos afirmar, portanto, que a re-
cional. Apenas dentro de 2013, o investimento não
lação sino-portuguesa está no seu melhor momento
financeiro direto da China no exterior superou 90 mil
de sempre e encontra-se num novo ponto de partida.
milhões de dólares. Espera-se que nos próximos 5
No mundo atual, cada país está a enfrentar desafios
anos, a importação chinesa totalize 10 mil bilhões de
diferentes. O Governo e o povo Chinês apreciam os
dólares, o investimento chinês no exterior soma 500
esforços persistentes de toda a sociedade portugusa
mil milhões de dólares, e o mundo recebe 500 mi-
e os sacrifícios do seu povo em especial, no cami-
lhões de turistas chineses. Tenho toda a certeza que
nho da recuperação económica. Lembro-me que na
a nova ronda de reformas e abertura injetará uma
recepção do ano passado, aqui neste mesmo lugar,
enorme vitalidade na economia chinesa e no mundo,
depositei a confiança na economia portuguesa,
e estamos disponíveis para compartilhar estes be-
dizendo que Portugal iria voltar de novo ao cresci-
nefícios com todos os países, promovendo assim o
mento. Estou muito contente ao ver que Portugal
desenvolvimento e prosperidade comum do mundo.
conseguiu neste ano uma saída limpa da “Troika”,
A China atribui grande importância às relações
baseada numa economia recuperada. Hoje, o povo
amistosas com a Europa, nomeadamente, com
chinês está a dedicar-se a realizar o seu sonho de
Portugal. Dedicamo-nos a construir uma nova
revitalização nacional, enquanto o povo português
parceria sino-europeia: parceria da paz, do cres-
está a lutar pelo seu sonho de desenvolvimento
cimento, da reforma e parceria da civilização, em
na época “pós-troika”. Os nossos sonhos são tão
que as relações Sino-Portuguesas servem como um
próximos e coincidentes que abrem uma perspectiva
bom exemplo. Lembramo-nos que este ano marca
brilhante para novos avanços nas nossas relações.
o 35º aniversário do estabelecimento das relações
Neste sentido, todas as ajudas fazem a diferença.
diplomáticas entre a China e Portugal. Como Em-
Por isso, espero poder sempre contar com os apoios
baixador, é com muita satisfação que testemunho
preciosos dos amigos presentes, com os seus esfor-
os grandes avanços alcançados nas nossas coope-
ços incansáveis na exploração das potencialidades
rações ao longo destes anos. Em 2013, o volume
das nossas relações, para um maior desenvolvi-
total do comércio entre a China e Portugal atingiu 4
mento da cooperação, na área política, económica,
mil milhões de dólares. Os investimentos entre os
comercial, cultural, científica e militar, etc, em bene-
dois países não param de crescer, especialmente
fício dos dois países e dos dois povos na realização
o investimento da China em Portugal, que nos últi-
dos seus sonhos.
mos anos teve um aumento enorme, ultrapassando
Para finalizar, gostaria de propor um brinde, pela
7 mil milhões de dólares. No ano passado, a minha
prosperidade da China e do mundo, pela amiza-
Embaixada emitiu 10 mil vistos para portugueses e
de entre o povo chinês e o povo português, e pela
72 mil turistas chineses visitaram Portugal. A cada
saúde de todos os presentes. Permitam-me ainda os
dia que passa, mais chineses ou portugueses co-
amigos portugueses de saudar em chinês os meus
meçam a aprender a outra língua, apreciar a outra
compatriotas aqui presentes.
cultura, construindo uma ponte de comunicação e
Saúde!
98 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
■
MALA DIPLOMÁTICA
Dia Nacional assinalado em Lisboa Coreia – à Direita do Nascer do Sol 1
2
3
Após meio século de ligações diplomáticas, as relações entre Portugal e a Coreia do Sul estão cada vez mais sólidas, num crescendo clima de cooperação e amizade
Os Embaixadores da República
zade entre Portugal e a Coreia do
da Coreia (também conhecida por
Sul estão cada vez mais sólidas e as
Coreia do Sul) receberam os seus
duas nações contam com mais de
2. Embaixatriz da Coreia
convidados para celebrarem o Dia
meio século de ligações diplomáti-
3. Youngnam Roh, Presidente da LG
Nacional daquele país. A festa decor-
cas.
reu em Lisboa e estiveram presentes
Desde remotas eras, a história deste
inúmeras personalidades ligadas por
país tem sido muito conturbada com
laços afectivos, culturais, militares,
numerosas guerras e invasões.
empresariais, económicos e diplomá-
O regime político da República da
ticos.
Coreia do Sul é uma democracia de
O Embaixador Yoo Jung-Hee pro-
inspiração ocidental.
feriu algumas palavras e, seguida-
Há 7 anos, em Outubro, foi firmado
mente, foram oferecidas fotografias
um acordo intitulado “Declaração de
instantâneas a todos os convidados
Paz e Prosperidade” entre os presi-
que quiseram posar em frente de um
dentes da Coreia do Norte (comunis-
biombo coreano feito especialmente
ta) e da Coreia do Sul. Nesse acor-
para a comemoração deste dia.
do, ambos os países expressavam
A história da Coreia remonta a 2333
intenções de superar o clima de con-
a.C., sendo uma das civilizações
frontação, desde a Guerra da Coreia,
mais antigas da nossa orbe.
para finalmente estabelecerem um
As relações de cooperação e ami-
“Regime de Paz Permanente”.
1. Embaixador da Coreia, Yoo Jung-Hee com Maria de Bragança
Electronics Portugal
■
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 99
PREMIÈRE
Imamat do Príncipe Aga Khan celebrou-se em Lisboa
Vitalino Canas; Amirali Bhanji, Presidente do Conselho Nacional da Comunidade Ismaili e sua Mulher; Maître Laurent Chambaz; Conselheiro de Sua Alteza o Aga Khan, Comendador Nazim Ahmad e sua Mulher; Paul Dhalla, Departamento Diplomático de Sua Alteza o Aga Khan Por ocasião das comemorações do dia do Imamat do Príncipe Aga Khan, o seu braço direito, o presidente da “Rede Aga Khan para o Desenvolvimento”, Nazim Ahmad, organizou uma recepção no Centro Ismaili, na qual recebeu diversos representantes estatais e outras personalidades
Foi com os salões repletos de
ao I mamat I smaili.
as responsabilidades do Imam
convidados que o Comendador
O Ismaili Imamat é uma entidade
implicam a interpretação da men-
Nazim proferiu o seu discurso,
supranacional com mais de 1400
sagem divina, bem como a arti-
acentuando as boas relações que
anos, reconhecida pelo Estado
culação dessa mensagem com
a Rede Aga Khan para o Desen-
Português, que representa a
a atualidade. Implica também a
volvimento tem com as autorida-
sucessão de Imams-do-momento
liderança espiritual da Comuni-
des portuguesas:
desde o tempo do Profeta Mao-
dade Ismaili e a responsabilidade
«G o s t ar i a d e a g r a d e c e r a
mé (que a paz esteja com ele).
de desenvolver esforços para
t o d o s aqu i p r e s e n te s p o r s e
Em 1957, Sua Alteza o Aga Khan
a melhoria das condições das
j u n t ar em n e s t a r e c e ç ã o q u e
tornou-se o quadragésimo nono
sociedades em geral.
c el e b r a o a n i v e r s á r i o d a a c e s -
Imam.
O Ismaili Imamat sempre realçou
s ão d e S u a A l t e z a o A g a K h a n
Na tradição muçulmana Ismaili,
a importância de atividades que
100 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
➤
➤
refletem a consciência social
do Islão, i.e. que contribuem para o bem-estar da mais nobre criação de Deus (Allah) – a humanidade, assim como a responsabilidade que o Islão coloca nos mais fortes para apoiar os menos afortunados. Foi nesse sentido que Sua Alteza o Aga Khan fundou a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento. É nos valores éticos e de consciência social do Islão que encontramos os princípios que regem a atividade da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento. Sublinho a promoção da dignidade humana, da compaixão, do pluralismo, da cooperação, da busca do conhecimento e da sustentabilidade. Nos dias de hoje, assistimos infelizmente a um aumento de conflitos e tensão em várias partes do mundo. Muitos desses conflitos têm raiz num choque de ignorâncias e sobretudo em falta de boa governança, educação e de uma sociedade civil forte. Torna-se portanto mais necessária a promoção de uma ética inclusiva e participativa. Em várias ocasiões Sua Alteza o Aga Khan tem defendido a construção de uma ética cosmopolita para um desenvolvimento harmonioso e sustentável. E tem desenvolvido projetos nesse sentido (como nos exemplos expostos nos painéis aqui presentes). A iniciativa conjunta de Sua Alteza o Aga Khan com o Governo do Canadá, o Global Centre Maître Laurent Chambaz, Comendador Nazim Ahmad, Representante e sua Mulher com: Embaixadora da Suécia, Caroline Fleetwood (1); Luis Amado(2) e Paulo Pisco(3)
for Pluralism, visa precisamente promover a investigação e a
➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 101
Imamat do Príncipe Aga Khan
➤
educação na área do pluralis-
mo, em colaboração com governos, académicos e a sociedade civil. Destaco também a recente inauguração do Museu Aga Khan em Toronto, o primeiro museu de Arte Islâmica na América do Norte, com uma variada exposição de arte e artefactos, que oferece aos visitantes uma amostra da diversidade cultural e artística das civilizações islâmicas. Em Portugal, é-me grato notar o trabalho que a AKDN desenvolve com a Igreja Católica e o Patriarcado de Lisboa, assim como a
Mario David, Comendador Nazim Ahmad com o Embaixador António Monteiro
convergência de valores no trabalho que fazemos em conjunto em Portugal. Destaco a luta contra a exclusão social no âmbito da nossa parceria no K’Cidade - Programa de Desenvolvimento Comunitário Urbano, que beneficia diretamente cerca de 40.000 pessoas, com o apoio das Camaras de Cascais, Amadora, Lisboa e Sintra. O programa de Desenvolvimento da Primeira Infância que oferece uma educação direta a cerca de 220 crianças e formação em 7 centros de educação infantil, abrangendo mais cerca de 1000
Embaixador Isaac Murade Murargy, Secretário-geral da CPLP com a Embaixadora da República de Moçambique, Fernanda Lichale
crianças, com o apoio do Instituto da Segurança Social. E a colaboração no ensino superior conforme refletido no Memorandum de Entendimento entre a Universidade Aga Khan e a Universidade Católica que prevê sinergias em áreas de investiga-
"
ção de interesse comum. Também em Portugal temos desenvolvido ainda iniciativas na área da cultura, com exposições, concertos, palestras e uma programação no âmbito da
➤
102 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
O ISMAILI IMAMAT SEMPRE REALÇOU
A IMPORTÂNCIA DE ATIVIDADES QUE REFLETEM A CONSCIÊNCIA SOCIAL DO ISLÃO, I.E. QUE CONTRIBUEM PARA O BEM-ESTAR DA MAIS NOBRE CRIAÇÃO DE
DEUS (ALLAH) – A HUMANIDADE, ASSIM COMO A RESPONSABILIDADE QUE O ISLÃO COLOCA NOS MAIS FORTES PARA APOIAR OS MENOS AFORTUNADOS
"
educativo irá promover membros
linha da cooperação diplomática
Prémio Aga Khan para a Arquitetu-
da sociedade com capacidade
ao nível internacional.
ra no ano passado, que teve lugar
crítica, curiosos, éticos e orienta-
Agradecer às instituições go-
em Lisboa. A cultura para a AKDN
dos para a comunidade, prepara-
vernamentais e municipais em
é tanto um catalisador de desen-
dos para enfrentar os desafios de
Portugal e aos seus atores pelo
volvimento como um facilitador de
um mundo cada vez mais com-
reconhecimento das nossas es-
diálogo e respeito pelo outro.
plexo e interdependente.
truturas e o acolhimento que lhes
Esta convergência de valores
O acesso a estas Academias
têm dado.
estende-se para além fronteiras,
depende do mérito dos alunos in-
Nomeadamente ao Presidente
com particular destaque para os
dependentemente da capacidade
da República, aos membros do
países de língua Portuguesa.
financeira das suas famílias.
Conselho de Ministros, à Presi-
A parceria desde 2001 entre a
A Academia em Moçambique já
dente da Assembleia da Repúbli-
➤
cerimónia do último ciclo do
Fundação Aga Khan Portugal e
ca e membros dos vários grupos
o Camões, Instituto de Coope-
parlamentares da Assembleia da
ração e Língua, no âmbito do programa de desenvolvimento rural de Cabo Delgado, Moçambique, também tem tido um impacto substancial na melhoria da qualidade de vida de cerca de 200.000 moçambicanos. Estamos confiantes que continuaremos a estender o nosso apoio ao desenvolvimento a mais países da CPLP, via Portugal, no âmbito do acordo assinado com a CPLP. Um outro exemplo diz respeito às Academias Aga Khan. Nestas Academias promove-se a excelência académica, e procura-se educar para uma sociedade mais equilibrada, sustentável e cooperativa. Nesse sentido, ao currícu-
"
É NOS VALORES ÉTICOS E DE
República. Agradecer às instituições parcei-
CONSCIÊNCIA SOCIAL DO ISLÃO QUE ENCONTRAMOS OS PRIN-
CÍPIOS QUE REGEM A ATIVIDADE DA REDE AGA KHAN PARA O DESENVOLVIMENTO. SUBLINHO A PROMOÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA, DA COMPAIXÃO, DO PLURALISMO, DA COOPERAÇÃO, DA BUSCA DO CONHECIMENTO E DA SUSTENTABILIDADE
"
lo do Internacional Baccalauréate
ras tanto da sociedade civil ou de outros quadrantes pelo respeito e estima que nos têm demonstrado e pelo diálogo e colaborações que temos desenvolvido. Como por exemplo a Fundação Calouste Gulbenkian, a Santa Casa da Misericórdia, a Associação Criança entre muitas outras. E, finalmente, agradecer o importante contributo dos voluntários da Comunidade Ismaili nas nossas atividades, e em particular pelo apoio na organização desta receção. A comunhão de princípios e valores entre o Imamat Ismaili e Portugal encoraja-nos a continuar as nossas atividades e projetos
seguido pelas Academias, acres-
abriu portas numa primeira fase
em prol do desenvolvimento de
centámos 5 áreas de estudo que
em 2013 e espero em breve dar
Portugal.
consideramos críticas: ética,
notícias sobre o progresso do
Obrigado a todos mais uma vez
pluralismo, economia para o de-
projeto da Academia Aga Khan
pela vossa presença, amizade e
senvolvimento, culturas e gover-
em Portugal, prevista para Cas-
atenção. Bem hajam.»
nança, e sociedade civil.
cais, que Sua Alteza deseja ver
De referir que a Rede Aga Khan
Dada a natureza destas áreas de
avançar a bom ritmo.
para o Desenvolvimento é um
estudo, elas não são disciplinas
Finalmente, gostaria de acabar
grupo de instituições privadas,
adicionais, mas são transversais
a minha intervenção com alguns
internacionais, que trabalham no
a todas as restantes disciplinas.
agradecimentos.
sentido de melhorar as condi-
Mas não só. Estão integradas no
Quero agradecer o excelente diá-
ções de vida e o acesso a novas
funcionamento da escola, nas
logo e trabalho institucional que
oportunidades de populações em
suas políticas e na sua vida diária.
mantemos com as várias Embai-
algumas das regiões mais pobres
Acreditamos que este modelo
xadas e Corpo Diplomático, na
do mundo em desenvolvimento.
n
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 103
Dossier ➤
Tratado de Lisboa
D
o icep, é um bom exemplo de como se podem valorizar expo-
importante papel de instrumen-
nencialmente e com minimiza-
to público são também eles que
ção de custos, conhecimentos e
devem investir em iniciativas
saberes indispensáveis à ca-
geradoras de emprego e de
pacitação dos interesses eco-
riqueza. mas temos que reco-
nómicos de portugal por esse
nhecer que fazê-lo nestas cir-
mundo fora.
cunstâncias é um desafio ainda
a ciep lançou este ano o
mais complexo".
portuguese business link –
o Governo e a aicep não se
pblink, que é uma rede social
têm poupado a esforços para
interactiva e tecnologicamente
promover a captação de in-
desenvolvida que pretende ser
Currículo do
vestimento directo estrangeiro
um instrumento fundamental
Presidente do CIEP
bem como o investimento portu-
de contactos de negócios e de
guês no mundo.
conhecimento de oportunidades
desde a génese da confede-
e de mercados, dos empresá-
ração internacional dos em-
rios e gestores portugueses
presários portugueses - ciep,
espalhados pelos vários conti-
´
iplomatica é licenciado em economia
da União Europeia como a dos EUA em Washington"
Angola acaba de realizar as suas eleições num clima de
Revista
Foto: irina Quintela
com o ministério da economia e
mais: "Sem prejuízo do muito
1948, miguel Horta e costa
anos haja uma capital federal
Embaixador de Malta
2000, pela ciep em parceria
meios aos empresários”.
Nascido a 28 de julho de
"É possível que daqui a muitos
Salv J. Stellini
a apresentação de soluções
que dêem esperança e novos
paz e concórdia e apresenta o mais forte crescimento
económico a nível mundial. Investir neste país que alia o progresso aos recursos naturais é o objectivo dos grandes grupos empresariais
em 1991, que esteve presente
nentes.
pela Universidade técnica de
o conceito de rede, para unir
mi g u e l H o r t a e co s t a r e f e r i u
lisboa, sendo também pós-
e tornar mais profíqua a divul-
no fim da sua intervenção:
-graduado em organização e
gação da importância do papel
" nã o p o s s o d e i x a r d e d i r i g i r
Gestão de empresas, con-
dos muitos milhares de em-
u ma s e n t i d a p a l a v r a d e a g r a -
cluídas nas universidades de
presários portugueses ou luso
d e c i me n t o a t o d o s o s p r e s e n -
birmingham e navarra.
descendentes, que por esse
tes que se dispuseram a vir
na sua experiência profis-
mundo fora têm criado empre-
d e p a r a g e n s ma i s o u me n o s
sional conta com passagens
sas de sucesso. e não tinha
l o n g í n q u a s a li s b o a , c o m s a -
então, como agora tem, signi-
crifício das suas actividades
ficado e reconhecimento; mas
p e s s o a i s e p r o f i s s i o n a i s , ma s
foi-se acentuando a importân-
c o m o h a b i t u a l e n t u s i a s mo e
cia do conceito de rede, com
v o l u n t a r i s mo , p a r a p a r t i c i p a -
a globalização e a interdepen-
rem nestes trabalhos e serem
dência, à medida que o mundo
actores neste projecto. de
se foi tornando mais pequeno.
t o d o s e s p e r a mo s q u e c o mp l e -
do conselho de administra-
desde 2 0 0 4 , a l t u r a e m q u e ,
me n t e m o e s f o r ç o a g o r a f e i t o ,
ção da companhia portugue-
por ini c i a t i v a d a c i e p e c o m
sendo arautos e colaborantes
sa rádio marconi, S.a., e do
a colab o r a ç ã o d a S e c r e t a r i a
na divulgação e sensibilização
por prestigiados cargos
empresariais, tais como, pela
➤
a partilha da língua e a história
produtos farmacêuticos oferecem
comum são as vantagens competiti-
Para Salv J. Stellini, Embaixador de malta, “o objectivo de ter embaixadas em vários
igualmente um grande potencial de
angola e para as relações comerciais entre portugal e angola: o
direcção dos ctt – correios e telecomunicações de
vas mais evidentes para os empre-
investimento.
volume de negócios ultrapassou os
sários portugueses que estão a in-
a aposta de portugal em angola e
400 milhões de euros. portugal foi
vestir num dos mercados de maior
as vantagens das relações econó-
também o país com mais projectos
so. aliás, em relação a recursos humanos, ter diplomatas pressupõe bastante tempo em
crescimento em todo o mundo.
micas entre os dois países foram
de investimento apresentados e
formação e preparação, bem como um alto nível de educação. um pequeno país como
portugal está entre os cinco maio-
debatidas na conferência “investi-
aprovados. para este ano, a previ-
o nosso não dispõe assim de tantos recursos humanos adequados ao desempenho
res investidores do mercado an-
mento público e privado – parce-
são aponta que angola venha a ser
desta função; por isso, temos que racionalizar o número de embaixadas: só em catorze
golano, com especial ênfase nos
rias e Financiamento em angola”,
o primeiro país extracomunitário de
conselho de administração
de est a d o , s e r e u n i r a m p e l a
d o s o u t r o s e mp r e s á r i o s e g e s -
Estados-membros, como a Grã-Bretanha, Dinamarca, itália, alemanha, Grécia... neste
sectores da construção e imobili-
organizada pela câmara de co-
destino das nossas exportações. a
da SibS – Sociedade inter-
1ª vez e m c o n g r e s s o e m li s -
tores, em relação ao prosse-
bancária de Serviços, S.a.;
boa, fo i f e i t o o b a l a n ç o d a s u a
g u i me n t o d e t o d a s a s v e r t e n t e s
pelas administrações da pGa
actuaçã o e o d i a g n ó s t i c o d a s
d o n e t i n v e s t e . Qu e r o , p a r a
necessi d a d e s , s i n t e t i z a d o s
t e r mi n a r , r e i t e r a r a q u i p u b l i c a -
nas co n c l u s õ e s q u e a c i e p f o i
me n t e aAnt o o It a l d i s p o n i b i l i d a d e
manda t a d a p a r a a p r e s e n t a r e
d a c i e p p a200 ra ,8 c o m t o d a s a s 4
defend e r .
partes envolvidas, assegurar a
países da união Europeia tem a ver com proteger ou promover interesses nacionais. no nosso caso não temos embaixadas em todos os países, porque isso é muito dispendio-
momento, Bruxelas, embora não lhe chamemos capital federal, é onde se encontra a
Diploma´ tic a
portugal (director Geral dos
correios); pelas presidências
ário, turismo e banca. No entanto,
mércio e indústria portugal angola
qualidade dos produtos portugue-
outras áreas, como as telecomu-
(ccipa) e pelo banco de Fomento
ses é muito reconhecida, sendo o
nicações e os serviços, também já
angola.
factor diferenciador perante todos
– portugália airlaines, e beS
estão a ser exploradas. as activi-
o presidente da ccipa e repre-
os outros países que também estão
– banco espírito Santo; entre
dades industriais associadas ao
sentante da Galp energia – carlos
a apostar em angola. No entanto, o
dos Eua em Washington com o seu corpo diplomático específico. mas... isso só daqui a
agro-alimentar, à produção de bens
bayan Ferreira – referiu que “o ano
país também tem vontade de produ-
muitos anos!
de consumo, ao equipamento e aos
de 2007 foi muito importante para
zir e de poder vir a exportar para
maioria das instituições da união Europeia”. malta tem cinquenta diplomatas na embaixada em Bruxelas, a maior do ministério dos negócios Estrangeiros, dado que se trata do
centro da uE, onde se debatem assuntos de grande importância para o futuro do país no
seio da Europa. no entanto, para Salv J. Stellini é possível que daqui a muitos anos, se a Europa se transformar em “Estados unidos da Europa”, haja uma capital federal como a
n
outros postos relevantes; é
Vice-presidente executivo do
➤
beS e presidente da ciep.
n
Diplo a1• Junho
Junho/Julho 2008 - Diplomática •
Dossier África/Angola
A Europa dos partidos e a Europa dos cidadãos
n
P
anés . de Esp anh a
Ânge
lo
Corr O Ho dezembro 2008/janeiro eia 2009 - diplomática • 45 mem das Ar ábia s
/Julho
Dossier
E
s u a mi s s ã o d e a p o i a r a i n t e r -
a internacionalização da eco-
Emb
mátic
setembro/outubro 2008 - Diplomática • 23
Junho • Nº1
IBERn a c i o n a l i z a ç ã o d a s e mp r e s a s ISM Enem nomia portuguesa, criada as." riquep o r t u g u e sO a rede de conselheiros para
Fran
ç
2008
a e T Emba urqu ixatriz es co ia nfessa m-se
2
1
Trata
Sul-africanos preparam-se para receber Mundial de 2010 e oferecer turismo de luxo
do d e Lis boa da
O futu ro
s em ba
ixad
as
Quanto à importância da Embaixada do chile em portugal, diz-nos Samuel ossa Dietsch: “as relações chileno-portuguesas alcançaram um nível de exce-
With
lência e entendimento que se destaca pela notável densidade do conjunto dos vínculos, com coincidên-
• Dip lom
cias estratégicas e critérios partilhados que criam
ática
Engli
- Jun ho/
Julho
uma comunidade de interesses, tanto no bilateral
2008
Foto: maria Branco
como no multilateral. o chile, num diálogo político permanente e fluído, está a trabalhar para criar uma
sh & Fren
3
rede de cooperação e aprendizagem recíproca com
4
ch T exts
5
países afins, “like minded countries”, como portugal, que em 20 anos conseguiram o desenvolvimento com o bem-estar para a sua população e alto pres-
Samuel Ossa Dietsch
tígio nos organismos multilaterais, e que hoje cons-
Encarregado de Negócios e 1º Secretário da Embaixada do Chile
tituem uma referência a observar". constata-se uma notória coincidência de posições frente à reforma das nações unidas e um sem-número de apoios em
S
egundo Samuel ossa Dietsch, Encarregado
diversas votações no âmbito multilateral.
de negócios e 1º Secretário da Embaixada
“a ausência de contenciosos e a afinidade existen-
do chile, “portugal tem com a américa latina
te entre ambos os países conduz a que a relação
um vínculo muito especial. não somente está a rela-
bilateral seja fluída e propícia a acordos numa
ção com o Brasil, mas também a relação com outros
ampla gama de assuntos. Destacam-se os esforços
países e especialmente com o meu. na Venezuela e
de ambos os governos por alcançar um alto grau
na argentina há uma numerosa colónia portuguesa
de empatia à volta dos interesses de maior relevo
residente. com respeito ao chile podemos constatar
da contraparte. uma série de importantes acordos
como, desde o regresso à democracia em 1990, os
confirmam a relevância da relação bilateral. Entre
vínculos estreitaram-se de tal maneira que todos
eles, o convénio sobre Segurança Social, que se
os presidentes portugueses efectuaram visitas ao
encontra em vigência desde 1999; o acordo sobre
chile, e os presidentes chilenos também visitaram
protecção Recíproca de investimentos, vigente
portugal. Esperamos que a presidente michelle Ba-
desde 1995; e o convénio para Evitar a Dupla tri-
chellet também o faça num futuro próximo. partilha-
butação internacional, que se encontra em proces-
mos ideais e objectivos. pertencemos à mesma co-
so de ratificação em ambos os países e que fôra
munidade ibero-americana. para nós, portugal tem
assinado por ocasião da visita de Estado do presi-
sido um interlocutor privilegiado na nossa relação
dente Jorge Sampaio ao chile, em Julho de 2005.
com a união Europeia. Esta relação tão estreita não
“nos aspectos comerciais, o facto mais relevante
se pode manobrar desde Bruxelas. São relações
nesta esfera foi a vigência plena do acordo de
bilaterais privilegiadas directas, sem intermediários
associação entre o chile e a união Europeia, que
e daí que esse contacto seja insubstituível e assim
co-ajuda ao esforço".
Arrancou a corrida para o cam-
áreas desportivas, turísticas e de
to da população e da expansão
peonato mundial de Futebol da
exposições. tudo isto com um or-
urbana. a segurança e emergên-
FiFa 2010. a fase de qualificação
çamento a rondar os cerca de 740
cia é outra questão preocupante
começou agora, mas na áfrica
milhões de euros. pela primeira
neste tipo de eventos, mas que o
do sul há muito que o mundial
vez na história da áfrica do sul,
estado assegurará com uma forte
está a ser preparado. Desde a
o país terá estádios especialmen-
cobertura de forças policiais e
escolha deste país africano para
te dedicados ao futebol, já que
paramédicas.
a organização do maior evento
antes, no governo do apartheid,
Não será apenas a diversão mo-
futebolístico do mundo e desde
os estádios eram criados sobre-
mentânea que o mundial prestará
que terminou a última edição
tudo para a prática de râguebi
à população sul-africana. este
desta competição, realizada na
e criquete. claro está que não
investimento do Governo na orga-
alemanha, que os sul- -africanos
poderão apenas ser construídos
nização do campeonato 2010 traz
estádios e complexos desportivos
outros benefícios aos cidadãos,
ros projectos para assegurarem
para a realização de tamanho
assegurando-lhes cerca de 150
a existência de infra-estruturas
evento. a construção de estradas,
mil empregos sustentáveis e uma
necessárias para albergarem o
de acomodamentos e de outras
melhor qualidade de vida.
maior acontecimento desportivo
infra-estruturas são, de igual
o maior evento futebolístico do
em 2010.
modo, importantes, estimando-se
planeta poderá ser também a
localizados em cidades-sede,
que o orçamento total gasto no
grande e a melhor ocasião para
cinco novos estádios estão a
mundial seja de 42 bilhões de eu-
unificar o país e todo o povo da
começaram a encetar os primei-
Assinaturas n
continuará a ser”.
ser construídos e outros tantos,
ros. está, ainda, a ser desenvolvi-
áfrica austral. o campeonato do
já existentes, estão a ser reno-
do um plano piloto para o melho-
mundo está a ser aguardado com
vados. as zonas contíguas aos
ramento da rede de transportes
enorme expectativa e entusiasti-
recintos desportivos estão, tam-
públicos que, simultaneamente,
camente pela comunidade sul-
bém, a ser reconstruídas, com
terá de responder a um aumen-
africana e, como o presidente
6
7
8
1. embaixador da Grécia Spyridon theocharopoulos e mulher 2. embaixatriz de moçambique Glória mkaima, embaixatriz da argélia Sabria boukadoum, paula roque, embaixatriz da tunísia, embaixatriz da Grécia e maria da luz de bragança 3. embaixa-
➤
triz da turquia nurdan turkmen e embaixatriz da argélia Sabria boukadoum 4. embaixatriz do iraque, embaixadora do paquistão Fauzia m. Sana e nadeem malik 5. embaixatriz da china li Feyue 6. embaixatriz da roménia ilena Gafita 7. embaixador do chile Francisco perez-Walker 8. maria da luz de bragança e maria cavaco Silva
30 • Diplomática - setembro/outubro 2008
18 • Diplomática - Junho/Julho 2008
6 Números 35€
dezembro 2008/Janeiro 2009 - diplomática • 71
(ofertaentrevista 1 revista)
Dossier
opinião
12 Números 70€ A Europa dos partidos e a Europa dos cidadãos
(oferta 2 revistas)
Portugal sem Política Externa As consequências do Tratado de Lisboa
por antónio Vasconcelos Graça
envie nomes e moradas para:
Portugal inventou a política ex-
de cada país por si, reflectindo
financeiros ou o casamento de
terna tal como é entendida nos
a natureza e índole própria de
homossexuais, por exemplo?
tempos modernos e no sentido
cada estado. Gostaríamos que
toda a expansão portuguesa,
europeu. o primeiro grande tra-
acontecimentos do passado não
fora da europa, assentou no
balho sobre a matéria chama-se
tivessem ocorrido? sem dúvida.
estabelecimento de pontos de
“os lusíadas”. antes, em tor-
mas isso não é razão para com-
contacto que permitissem o
desilhas, assinámos o primeiro
plexo de culpa, até porque não
comércio e a troca de merca-
tratado de aplicação planetá-
há inocentes.
dorias. para assegurar o bom
ria. Vasco da Gama tinha um
em matéria de comportamen-
funcionamento desse sistema,
destino e estava incumbido de
tos vergonhosos no passado,
houve que conquistar pontos-
uma missão específica onde
é bom não esquecer que, para
-chave, fossem cidades do norte
a componente diplomática era
a mentalidade do tempo, não
de áfrica, o golfo pérsico, locais
primordial. Não foi um viajante
o eram. Que sabemos nós da
estratégicos na Índia ou no
errático como, por exemplo,
forma como vão ser julgados,
extremo oriente. para garantir a
marco polo.
no futuro, muitos dos nossos
segurança desse império a que
Num tempo em que certa “inte-
comportamentos actuais como
o prof. luís Filipe thomaz cha-
ligentzia” lusitana tem vergonha
a falta de valores, o império dos
ma, com lucidez, uma “rede de
de ser portuguesa e tudo faz
interesses materiais, a crise
ligações”. Não é exactamente o
para apagar qualquer vestígio
de autoridade, as calamidades
que se faz hoje? Houve cruelda-
"As 'embaixadas nacionais'
de portugalidade como coisa
desencadeadas pelos negócios
de e barbaridades? claro que
permanecerão e encontrarão
ou
Rua São Bernardo, nº 27 A 1200-823 LISBOA Telefones: 210 999 674 / 210 999 696 ➤
de maneira racional uma
Foto: maria Branco
nefasta, confundindo isso com
diplomatica@gabinete1.pt
“modernidade”, onde só merecem atenção os aspectos negativos do passado (escravatura, inquisição, crueldade, etc.), convém lembrar algumas realidades. porque portugal inven-
forma de cooperação com um serviço diplomático da UE"
Algimantas Rimkunas
tou o comércio global, apontado
Embaixador da Lituânia
hoje como a panaceia para todos os males. e, num planeta cada vez mais apertado para a
Vasco da Gama tinha um
população, o bom entendimento
destino e estava incumbido
entre as nações transforma-se
de uma missão específica
num factor de sobrevivência.
onde a componente
o que conta é o que nos une e
diplomática era primordial.
não o que nos separa. por isso, qualquer política externa tem de ser eficaz, sob o risco de se tornar inútil quer por fora de tempo, quer por inapropriada. por imposição do tratado de lisboa, os países membros da união europeia deixarão de ter
Segundo o Embaixador da lituânia, algimantas Rimkunas, o tratado de
Modo de pagamento: lisboa prevê a criação de uma Europa de Relações Externas, para ac-
ções concretas, que de acordo com o tratado “trabalhará em cooperação com os serviços diplomáticos dos Estados-membros”. pensamos que as “embaixadas nacionais” permanecerão e encontrarão de maneira racio-
• Cheque à ordem de Gabinete1 • Transferência bancária nal uma forma de cooperação com um serviço diplomático da uE.
a Embaixada da lituânia em portugal estabeleceu-se em lisboa há 10
anos – 1998. trata de todo o espectro de relações bilaterais entre os dois
Embaixador Fernando Neves
países: políticas económicas, culturais, etc. no trabalho da Embaixada
face a face com a Embaixatriz Nurdan Türkmen
todas as áreas são igualmente importantes. ambos, lituânia e portugal, são membros da união Europeia e da nato, e este facto prova a im-
É um homem “cool”, como se costuma dizer, “uma
imprescindível leitura unstoppable reading
política externa própria. É complicado, porque aquilo que a
diplomacia europeia foi traçan-
do ao longo dos tempos foi obra
portância do aspecto político do nosso trabalho. a elevada importância
força tranquila”. Muito observador e de espírito fino.
da área económica é evidente: o comércio e os investimentos bilaterais
Parece brincar (e brinca mesmo), estar sempre bem
enriquecem países e nações. por último mas não menos importantes são
disposto e em festa, mas, num traço quase imper-
as relações culturais, que tornam as pessoas da lituânia e portugal mais próximas.
ceptível, deixa escapar algo que diz “O que estarei
n
eu a perder algures, neste momento?”
➤
16 • Diplomática - setembro/outubro 2008
10 • Diplomática - Junho/Julho 2008
10 • Diplomática - Dezembro 2008/Janeiro 2009
www.gabinete1.pt
English texts
Filipe Nyusi From an unknown illustrious to the President of Mozambique Filipe Nyusi, the presidential candidate of Frelimo, has achieved 57.03 percent of the vote, defeating the historical leader of Renamo, Afonso Dhlakama, who obtained 37%. Nyusi is an Engineer and training manager. Before being elected President of Mozambique, he was a university teacher and directed several companies. At the age of 14 Nyusi joined the guerrilla Frelimo in the fight against the Portuguese occupation and the independence of his country.
■
Giorgio Napolitano, o Presidente de Itália Giorgio Napolitano dá a conhecer as funções que os Presidentes italianos desempenham de acordo com a Constituição e recorda as experiencias que viveu durante os sete anos da presidência (20062013) quer ao nível interno, quer ao nível externo. Numa reflexão sobre o papel da Itália no mundo, Napolitano frisa ter realizado, durante o seu mandato presidencial, 112 encontros com funcionários de governos e embaixadas, e que realizou 75 visitas ao exterior, sendo algumas ao convite de organizações internacionais, como as Nações Unidas, da NATO e do Parlamento Europeu.
■
Jean-François Blarel, Ambassador of France Mobilization against Ebola The Ambassador of France, Jean-François Blarel, talks about the commitment of France and the European Union in the fight against Ebola. Blarel describes Ebola as an epidemic case that affects several continents. He reminds that only on the African Continent it made more than 4,500 victims.
■
The Phenomenon Dilma Dilma Rousseff won again the Brazilian Presidential elections. The victory of the candidate of the Workers Party can be understood as an extraordinary effect, when few weeks before the first round of the elections, unsuspected observers predicted the Dilma´s defeat.
■
After the UE mandates Barroso awarded by the President of Portugal After chairing a decade the European Commission, José Manuel Barroso was awarded by Cavaco Silva with the Grand Order of Infante D. Henrique for services of “extraordinary importance” for Portugal and the European Union.
■
Barroso makes a positive balance Despite the crisis In his farewell speech, made at the European Parliament plenary session on 21 October, José Manuel Barroso revisited a decade as a President of the European Commission, by reviewing the major events that marked his mandates.
■
Johana Tablada Ruth de la Torre Ambassador of Cuba in Portugal In an interview, the current Ambassador of Cuba in Portugal defends the culture and social justice as the right way for the freedom of a nation and also dreams of the end of the US boycott on Cuba.
■
Paul Schmit, Ambassador of Luxembourg Relations between Luxembourg and Portugal Paul Schmit, the Ambassador of Luxembourg in Portugal talks about the more than century-old relations
➤
DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 105
English texts
➤
between the two countries and features the current diplomatic relations as relations of friendship and as
a good starting point to the strengthen trade and the logistics exchanges.
■
Karima Benyaich, Ambassador of the Kingdom of Morocco The security and the fight against terrorism, the choices of Morocco. The Ambassador of the Kingdom of Morocco in Portugal, Karima Benyaich explains the Moroccan experience in the fight against terrorism and presents the main areas developed by the Kingdom to ensure security, sustainable peace and stability.
■
Klára Breuer, Ambassador of Hungary Europe: our history and a common destiny Hungary's Ambassador in Portugal, Klára Breuer describe the importance of 2014 for her country. It is the year when the Hungary celebrates the 25th anniversary of the democratic changes and the 15th year of its accession to NATO and the EU.
■
Ulrich Brandenburg, Germany Ambassador 2014: Past and Present in the relations between Germany and Portugal The Ambassador of Germany in Portugal, Ulrich Brandenburg speaks of relations between the two countries that have been achieved over the centuries, referring to institutions like CCILA as one of many links between the economic operators of both countries.
■
Ambassador of Tunisia, Saloua Bahri The Ambassador of Tunisia, Saloua Bahri speaks about the path of her country towards a democracy. Tunisia had their free elections last year and is eager to solve their security uncertainties.
■
Bronislaw Misztal, Ambassador of Poland The bulldozer effects of the XXI Century The Ambassador of Poland in Portugal, Bronislaw Misztal points to the existence of powerful processes affecting the great part of the globe and contribute to the bulldozer effect. Processes such as the diminishing role of the administrative boundaries; the erosion of the regulatory role of international treaties; the insecurity; the violence against civilians with kidnappings and the unemployment. According to the Ambassador these processes are a result of the increasing inequality between nations and national economies.
■
Thalia Petrides, Ambassador of Cyprus Living in Portugal, a wonderful experience The Ambassador of Cyprus, Thalia Petrides gave her impressions about Portugal, its culture and citizens. Petrides spoke about her photographic project, exhibited at the Museum of the Presidency of the Republic, a project which was attended by ambassadors from thirteen countries (Angola, Bangladesh, Bulgaria, Cabo Verde, Cyprus, United Arab Emirates, France, Italy, Japan, Latvia, Luxembourg, Morocco and Serbia).
■
Cavaco Silva visits the United Arab Emirates The President of Portugal, Aníbal Cavaco Silva, visited the UAE in order to promote the political dialogue and to strengthen economic relations between the two countries. Due to the annual growth of the Emirates, which is around 5 per cent, the President believes that Portugal cannot ignore a market in such large expansion.
■
106 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015
PARABÉNS.
ESTES PRÉMIOS TAMBÉM SÃO SEUS. Melhor Banco em Angola EMEA FINANCE Melhor Banco Comercial Global Banking and Finance Review
Melhor Gestão Corporativa World Finance
Melhor Programa de Cartão de Débito Card and Epayment Africa Awards
Prémio de Excelência STP Deutsche Bank
Marca de Excelência Superbrands
O BFA é um Banco de referência em Angola e o seu desempenho tem sido reconhecido com os diversos Prémios Nacionais e Internacionais. O elevado grau de solidez, organização e sustentabilidade do BFA é confirmado pelos prémios de gestão, de inovação e de excelência que tem vindo a receber. Uma consagração que só é possível porque tudo o que fazemos é pelos nossos Clientes, pelos nossos Colaboradores e pelo desenvolvimento do nosso País. Por isso, estes prémios também são seus.
www.facebook.com/PTAudi
Uns atrevem-se, outros não. Chegou o novo Audi TT Coupé
Agora as leis da física são apenas uma sugestão. Com a tecnologia do novo cockpit virtual, todo o planeta é seu para explorar e nem a noite lhe poderá fazer frente com os faróis Audi Matrix LED. Sinta-se pronto a descolar com o motor 2.0 TFSI de 230 cavalos, com todo o controlo proporcionado pela caixa de velocidades Stronic® e tração quattro®. Pode também descobrir o motor 2.0 TDI ultra de 184 cavalos, com tração dianteira e caixa manual de 6 velocidades. Ponha-o à prova. Se é que se atreve.
Consumo misto (l/100km): 4,2 – 6,5. Emissões de CO2 (g/km): 110 – 151.