ESI FLAD Jan/Fev 2016

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Energy Security Insight Janeiro/Fevereiro 1—2016

Arábia Saudita: pico de exportação em 2030 Gazprom foca no GNL e Nord Stream 2 A tendência dos powerships Tecnologia e estatísticas em foco

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Arábia Saudita perde capacidade exportadora em 2030?

U

m recente estudo publicado no Journal of Petroleum Science and Engineering de dois investigadores da Universidade de Bu-Ali Sina, no Irao, antecipa que a OPEP, em especial a Arabia Saudita, atingira o pico na sua produçao de petroleo em 2028, seguido de um acelerado declínio, ou seja, daqui por pouco mais de uma decada.

Estas previsoes embora nao sejam propriamente uma novidade, vem convergir com a do modelo de analise criado pelos investigadores e geologos Jeffrey J. Brown e Sam Foucher, o Export Land Model (ELM). Este modelo nao toma so em conta a produçao de petroleo, mas tambem a capacidade de a traduzir em exportaçoes, tendo em conta o crescimento do consumo domestico. O modelo ELM mostra que o ponto de inflexao concretiza-se no ponto em que um produtor ja nao consegue aumentar a quantidade de exportaçoes petrolíferas devido a necessidade de responder a procura domestica. Segundo os calculos do ELM de Brown-Foucher, as exportaçoes líquidas sauditas começaram a declinar desde 2005. Com efeito, na ultima decada, as estatísticas mostram uma taxa de declínio anual de 1,4%, um valor que se enquadra dentro do que foi previsto pelos investigadores. Por sua vez, um relatorio publicado pela Goldman Sachs em 2012 previu que as exportaçoes sauditas chegariam ao valor zero nos proximos 15 anos. A Arabia Saudita e o maior consumidor energetico regional, nao so devido ao gigantismo da sua industria petrolífera, mas tambem porque a procura interna aumentou em 7,5% nos ultimos 5 anos, propulsionada pelo aumento de populaçao. E esperado que a populaçao saudita cresça em cerca de 8 milhoes de pessoas ate 2030 (de 29 para 37 milhoes de cidadaos). Este ritmo de expansao ira absorver a produçao energetica, contraindo ainda mais a capacidade exportadora do país. Com efeito, a Arabia Saudita atravessa uma intersecçao de eventos e crises que poderao conduzir ao colapso do regime na proxima decada, com repercussoes inauditas na segurança energetica global. O ritmo de delapidaçao das reservas e sem precedentes, cerca de 12 bilioes de dolares/mes, o que significa ate 2018 o montante total podera ficar em 200 bilioes$ (em 2014 o valor estava em 737 bilioes$). Daniel Yergin, um dos especialistas mundiais mais reputados na segurança energetica, em declaraçoes recentes ao Telegraph, mencionou que era impossível a Arabia Saudita e a OPEP destruirem a industria do shale dos EUA, mesmo se houver uma enorme vaga de falencias nos proximos meses. Segundo aquele responsavel, na eventualidade da concretizaçao desse cenario, ira se desenrolar um processo de consolidaçao da industria, com a aquisiçao de ativos por parte de grandes empresas e grupos, que os conservarao e colocarao em funcionamento assim que o ciclo do preço do petroleo se inverta. «Os recursos estao sempre la, nao desaparecem com as falencias», sendo que o grande ponto de incerteza relaciona-se com o grau de velocidade de ressurgimento da industria, refere Yergin. E neste respeito, o negocio do shale esta em vantagem competitiva. E que, segundo os calculos da consultora IHS, enquanto um projeto convencional em aguas profundas demora, em media, 10 anos a montar e 10 mil milhoes de dolares de investimento, um projeto de perfuraçao no shale norteamericano demora, em media, 20 dias e custa 10 milhoes de dolares. Para saber mais: 

Sobre o paper «Forecasting OPEC crude oil production using a variant Multicyclic Hubbert Model»: http:// www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0920410515001539

Sobre o modelo ELM: http://www.resilience.org/stories/2008-01-08/quantitative-assessment-futurenet-oil-exports-top-five-net-oil-exporters


Gazprom aposta em GNL e Nord Stream 2

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as Natural Liquefeito (GNL) e Nord Stream mas cujo ritmo de construçao esta a ser mais lento do que 2: estes sao os dois temas que marcaram o o esperado, devido ao arrefecimento economico do Impeinício de 2016 para a Gazprom. No dia 20 de rio do Meio Janeiro, a Gazprom reuniu com Shahid Kha-

qan Abbasi, o ministro do petroleo e recursos naturais do Paquistao. Um dos pontos mais fortes de potencial cooperaçao e a possibilidade de fornecimento de GNL e a participaçao da Gazprom em projetos de exploraçao e produçao petrolífera naquele país. No dia 18 de Janeiro, a Gazprom reuniu com a Shell, sendo que o enfoque da reuniao foi o projeto Sakhalin II, cuja produçao excedeu em 1,2Mt face ao valor previsto para 2015, o qual totalizou 10,8Mt. Foi discutida a expansao da fabrica de GNL que o suporta.

A derrota do traçado alternativo do South Stream, com a deterioraçao das relaçoes diplomaticas com o potencial novo país-transito, a Turquia, devido a crise do combate ao Daesh Ou seja, a Russia deseja marcar uma presença relevante no cada vez mais importante mercado de GNL. So que este e comercializado por via marítima, dimensao na qual o pivot energetico da Eurasia e fragil, ja que a sua principal fonte de poder provem da força advinda da rigidez infraestrutural infligida aos mercados-clientes «trancados» na sua rede de gasodutos. No que toca ao GNL, a tecnologia

Outro assunto discutido com a gigante anglo-holandesa ainda reside nas companhias ocidentais. E os EUA tem foi o projeto do gasoduto Nord Stream 2, o segundo que realizado inovaçoes incrementais relevantes que irao corligara diretamente a Russia a Alemanha no que toca ao tar custos no processo de liquefaçao, gerando maiores fornecimento de gas. A construçao desta nova infraestru- vantagens competitivas no preço. Portanto, nao sera uma tura foi comunicada por ambas as partes como sendo via facil para a Gazprom. «crucial para responder ao declínio da produçao de gas natural no territorio europeu». Este tambem foi o tema de uma reuniao entre a Gazprom e a austríaca OMV tida a 13 de Janeiro. E de frisar que a Austria alberga um dos principais hubs de distribuiçao de gas natural no centro da Europa, concentrando muitos dos ramais de transporte para os países vizinhos.

E na sua estrategia de reforço da influencia assente em pipelines, no continente europeu, o seu maior mercado, resta-lhe aprofundar o grau de dependencia da Alemanha, com a construçao de um segundo gasoduto, ja que a soluçao turca do South Stream se encontra num impasse. E uma soluçao que esbarrara, mais tarde ou mais cedo, na questao das sançoes relacionadas com a questao ucrania-

Por sua vez, a EDF, a maior empresa francesa de forneci- na. Portanto, se a este quadro, juntarmos o facto da atual mento de eletricidade, reuniu com o CEO da Gazprom em espiral deflacionaria do preço do petroleo (ao qual o do 19 janeiro. Assuntos de debate: cooperaçao industrial e gas esta indexado), verifica-se que o «Urso Russo» esta a «os futuros fornecimentos de gas russo para o mercado ficar encurralado. Uma fera nesta situaçao por demasiado europeu». Conforme se constata, a promoçao do GNL e da tempo tornar-se-a temeraria e desesperada, gerando uma construçao do Nord Stream 2 deverao constar entre as onda destrutiva ao seu redor… principais linhas estrategicas da potencia energetica russa a perseguir neste ano, em resultado das meias-vitorias e das derrotas de 2015: A meia-vitoria na abertura da frente de exportaçao chinesa, com o começo dos trabalhos da construçao do gasoduto que ligara os campos produtores da Siberia a Pequim,

Para saber mais: 

Sobre o pipeline NordStream 2: http://www.nordstream2.com/

Sobre o projeto Sakhallin II: http://www.shell.com/ about-us/major-projects/sakhalin.html


Powerships: segurança energética marítima para economias emergentes

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m dos mais recentes conceitos para reforço da segurança energetica em fase de ressurgimento sao as centrais de produçao de energia eletrica flutuantes. Ou seja, instalaçao de fabricas de produçao de energia em navios.

O conceito de «powership» surgiu na 2ª Guerra Mundial, uma inovaçao norte-americana criada para abastecimento energetico militar em zonas isoladas ou onde a infraestrutura de energia se encontrava inoperacional. Volvidos 50 anos, o conceito volta a ganhar força, em muito devido ao crescimento do consumo energetico em países em vias de desenvolvimento e na necessidade de abastecer regioes isoladas. Alem disso, abre tambem a possibilidade de um mercado marítimo spot de eletricidade com escala global. Por exemplo, o MIT esta a desenvolver uma central nuclear flutuante, instalada num navio, em que pode estar ancorado no mar, com o reator submergido, diminuindo assim os riscos de fusao do nucleo. A empresa China General Nuclear tambem esta a desenvolver uma tecnologia nesta fileira e tem como perspetiva coloca-la a funcionar em 2020. Outras alternativas sao a instalaçao de centrais operadas a gas natural ou a diesel. A título exemplificativo, a empresa alema MAN ganhou um contrato recente para um fornecimento de um navio deste genero para a Turquia. Dadas as suas características, a soluçao «Navio Energetico» podera ser uma linha de política de segurança energetica a ser desenvolvida no ambito da CPLP, como estrategia de diminuiçao da pobreza energetica, sobretudo nos PALOP.

Para saber mais:    

Powership no Lílbano: http://www.theguardian.com/world/2013/apr/11/turkish-power-ship-lights-onlebanon Powership no Ghana: http://www.maritime-executive.com/article/can-power-ships-solve-ghanas-energywoes Central Nuclear flutuante da China: http://www.channelnewsasia.com/news/asiapacific/china-planning-tobuild/2462352.html Central nuclear flutuante do MIT: https://www.asme.org/engineering-topics/articles/nuclear/offshoringnuclear-plants


Tecnologia e Estatísticas em foco Tecnologias térmicas lideram soluções eficientes de armazenamento energético

Fonte: Agência Internacional de Energia, 2014

De acordo com a prospetiva tecnológica da Agência Internacional de Energia, os sistemas de armazenamento de energia térmica são os que estão melhor posicionados para reduzir a quantidade de calor que é atualmente desperdiçada (por exemplo, na produção de electricidade e na geração de resíduos industriais) no sistema de energia. Por exemplo, o Underground Thermal Energy Storage é uma solução que reside na construção de um reservatório subterrâneo equipado com sondas geotérmicas capaz de armazenar o calor gerado em excesso, para posteriormente libertá-lo quando necessário.

Produção de gás natural nos EUA atinge novo máximo

Em novembro de 2015, a produção de gás natural nos EUA foi a mais elevada desde que a Energy Information Administration começou a relatar os dados de produção daquela fonte de energia em 1973. A produção de gás natural em novembro de 2015 foi 2,227 bilhões de pés cúbicos (BCF), ou 74,2 Bcf / dia. Este valor representou um aumento de 1,3 BCF de produção face aos 73,0 BCF / dia verificados em Novembro de 2014.

Fonte: EIA, 2016


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