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À Procura de Pagu
from Flash Vip 103
by Flash Vip
Patrícia Galvão será homenageada neste ano pela Flip, a Festa Literária de Paraty. Hoje, mais do que antes, parece ser o momento para retomar sua obra e conhecer sua vida. Ela que durante muito tempo foi interpretada simplesmente como musa do modernismo brasileiro, tem muito mais o que mostrar além dos olhos moles, descritos por Raul Bopp no poema que, por um equívoco, atribuiria a ela o apelido que a tornaria conhecida: Pagu. Recentemente, tivemos reedições relevantes de suas obras. Em 2020 saiu o Pagu: Autobiografia precoce, escrito em 1940, como carta-confissão para Gustavo Ferraz, seu companheiro, em uma das 23 vezes em que foi presa. O documento já havia se transformado em livro em 2005, editado pela Ediouro, mas em 2020 recebeu versão capa dura pela Companhia das Letras. Além disso, também foi relançado Parque Industrial: romance proletário, publicado por ela com o pseudônimo de Mara Lobo, em 1933, uma ficção sobre a exploração no trabalho fabril inspirada nas experiências da própria autora. Recentemente, li com muito entusiasmo o livro Pagu no Metrô, publicado pela Editora Nós, em 2022. A obra narra o ano que a escritora Adriana Armony passou em Paris em busca dos rastros de Pagu, que viveu na cidade, entre 1934 e 1935. Curiosamente, o livro não é somente sobre Pagu, mas é também sobre a história dessa busca obstinada da autora pelos arquivos e bibliotecas por vestígios da passagem da artista antifascista, militante feminista e libertária pela cidade. Mesmo que Pagu tenha tido uma atuação relativamente discreta, chamou a atenção das autoridades naqueles anos. Lá descobriu que Patrícia usava muitos nomes, informava diferentes nascimentos, recorria a distintas identidades, fazendo uma espécie de jogo nômade para poder se deslocar pelas frestas dos poderes estabelecidos. Como se fosse possível uma identidade ubíqua, Armony percebe que os documentos falam não somente de Pagu, mas revelam também a história de outras mulheres que como ela, foram militantes, operárias, estrangeiras e sonharam com outro mundo sem fronteiras, sem desigualdades e com a derrubada do patriarcado. É por isso que a procura de Adriana Armony não se restringe aos arquivos. Ela compartilha com os leitores, a experiência de seu próprio corpo por Paris. Assim como Pagu, acompanhamos a própria escritora, que narra, mas também vive essa busca. A narradora se revela, não somente como consciência investigativa, mas também como corpo que encontra sua expressão pela dança; que faz amor e se frustra em seus relacionamentos; sofre com o gás lacrimogêneo lançado pela polícia nas manifestações dos Coletes Amarelos em 2018.
Pagu no Metrô é uma biografia desse movimento de busca, dessa procura que leva a outros encontros. É a história de um passado que já não existe, mas também daquilo que permanece, que continua aí.
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