Diário do Nordeste Fortaleza, Ceará Sábado e domingo, 10 e 11 de setembro de 2016
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Num mundo de renovações e reinvenções convulsivas, ainda encontramos ofícios que, há muito, parecem ter encontrado seu estágio de plenitute. Como que a prova do tempo, mantêm seu vigor, utilidade e razão de ser FOTO: THIAGO GADELHA
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scondidos entre as sombras advindas de prédios e poeira de asfalto, ainda se sobressaem consumidores de serviços tradicionais. Ofícios marcados pela teimosia de quem desafia o tempo e as transformações que ele traz. São profissionais que mantêm relevância e vitalidade. Ainda que sejam poucos os engajados. Neste universo é possível identificar barbeiros, marceneiros, merceeiros, artesãos, entre outros mestres responsáveis por um labor pouco afetado pelas novidades tecnológicas. São atividades onde o elemento humano é o centro, insubstituível. Observador atento de todas as demandas e temas relacionados ao mundo trabalhista, Reginaldo Aguiar esmiúça estas manifestações laborais impregnadas de memória e valentia. O supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatísti-
ca e Estudos Socioeconômicos (Dieese-CE) aponta que estas profissões, distantes do frenesi de renovação tecnológica, adquiriram outra relevância. “Com o correr das décadas, estas categorias ficaram no passado e hoje ganharam o significado de arte. São pessoas que encantam mais como artistas do que profissionais. E o mais interessante é que eles souberam sobreviver, apesar dos recursos tecnológicos em constante mutação. Conseguiram até um certo tipo de mercado e com clientes assíduos”, argumenta o economista. Muitas das categorias hoje, distantes ao poderio tecnológico, são comuns ao cotidiano da Capital. Podem ser alfaiates, barbeiros, luthiers. Aguiar, porém, assevera que modificações tendo como ponto de partida a tecnologia, afetam diariamente a todos. Para isso, dá como parti-
da um resgate temporal dos avanços das máquinas. Reginaldo alerta que para destruir um lugar, uma realidade, basta enterrar totalmente a cultura local do povo ali fixado. Assim, o mercado só se encaixa quando consegue eliminar manifestações locais. Para o pesquisador, exemplos como a pintura ou o entalhe, significam assinaturas extremamente reservadas e dificilmente reproduzidas em larga escala. A atuação destes criadores os coloca no território de arte. “São forças criativas que exercem atividades, quase que similares aos processos de fabricação de 70 anos atrás. Entendo que estes profissionais englobam um patrimônio cultural do Estado”, arremata. ASSISTA AO VÍDEO
http://bit.ly/vida-analogica
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Fortaleza, Ceará Sábado e domingo, 10 e 11 de seteembro de 2016
1?&86' ?()?81? 6 1?48)?6). ?a2-' Baixista de bandas locais, Erasmo Lousada jamais se afasta do universo da música. Como luthier, cria peças repletas de paixão e sintonia com os clientes
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No dia a dia, Erasmo Lousada busca conciliar as atividades de luthier com as obrigações de pai FOTOS: THIAGO GADELHA
começo da conversa é franca: “Pode falar, amigão. Não estou olhando, mas estou dando atenção”. As palavras têm razão de ser, afinal a cola que vai na madeira obedece ao quesito do efêmero. Erasmo Lousada é encontrado com o olhar fixo naquilo que será uma guitarra. Demoram alguns minutos para o trabalho ser finalizado e o momento agora é de deixar o corpo do instrumento em descanso. É manhã na oficina situada no Bairro Fátima. Inundado entre ferramentas, utensílios e toda sorte de modelos e formatos de cordas, o luthier bate as mãos ansioso, como se preparasse para mais uma etapa do dia. “Péssimo com datas”, Antonio Erasmo Marques Lousada remonta na mente todo o caminho percorrido naquela oficina, até a segunda de um setembro de 2016. Aos 46 anos de idade, resgata pontos cruciais na trajetória. Tudo é dividido com um sorriso farto, diga-se. Do conservatório, onde dedicou-se aos primeiros estudos das notas musicais, tinha fixa a ideia de um dia poder dividir este conhecimento. “Desde quando eu me entendo em trabalhar nesta área, o ponto de partida foi atuar com projetos sociais”, reflete. Através de um grupo de flautas formado ao lado do amigo Marcos Rocha, dava aulas para crianças de famílias carentes que sobreviviam do antigo Aterro do Jangurussu. A proposta era envolver estes jovens em uma perspectiva distante à do lixão desativado em 1998. Por conta da sala cheia, a opção mais viável era criar (com a ajuda dos alunos) instru-
mentos capazes de driblar a lotação. Por meio da reutilização de materiais facilmente encontrados no aterro, surgiam peças de sopro e percussão. De resíduos como bambu ou lata, nasciam sons e novas possibilidades. Deste resgate memorial, Erasmo aponta os anos trabalhando com um estúdio de ensaio e o pontapé como luthier profissional por meio do apoio de Adauto Soares, um dos mais tradicionais da Capital. “Ele tinha montado alguns instrumentos para a banda Rubber Soul e eu fui observar a demanda. Quando conversei sobre meu interesse veio o convite para aprender e hoje estou aí, há uns 15 anos. Me apaixonei pelo negócio”, resume Erasmo. O dia a dia hoje consiste em conciliar as funções de pai (deixar e pegar os filhos na escola é uma agenda constante), visitar serrarias e atender demandas em geral. Fim de semana, noites, feriados podem ser passados na oficina. É preciso correr com as entregas. A luthieria de Erasmo oferece desde trabalhos mais complexos, como a confecção de um instrumento a partir do zero, a ações mais simples como a troca de trastes ou regulagem. Parte elétrica, reconstrução de componentes danificados e resgate da força sonora dos instrumentos também estão na lista. Na sala ao lado, o suporte para o labor diário chega na atuação do luthier Dangelo Feitosa. Atuante na cena cearense como baterista de projetos distintos como Facada e Transacionais, o parceiro regula ponte e cordas de um brilhoso violão Tagima 12 cordas. Porém, a segunda mente da oficina se reserva apenas a dar atenção ao reparo e atender a demanda que chega. Os clientes são os mais variados possíveis. Estes podem ser divididos entre os que procuram reparo e conserto, aqueles desejosos por um utensílio sonoro exclusivo e os apaixonados por peças acústicas.
O primeiro grupo inclui profissionais aos que se arriscam nos primeiros acordes. Este público é capaz de englobar do senhor ao menino de 12 anos, que vai acompanhado pela mãe. Já o escalão do meio, engloba músicos com atuação definida pelo País e noite de Fortaleza. Finalmente, um terceiro tipo de cliente obedece aos apaixonados por peças totalmente acústicas, como violões e bandolins, onde a assinatura de um luthier é muito procurada.
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Fazeroutra coisana vida?Achoque não, cara.Decidiabrira oficinae correr para isso.Não temmais comoescapar, porque façoumacoisa que eu amoeissofaz toda a diferença” A tecnologia digital já interfere na área de atuação de Erasmo. O que poderia ser uma ameaça, pode simbolizar uma forma de maximizar a produção. Uma máquina de corte em 3D, segundo o profissional, tem a potência de moldar um corpo de guitarra em apenas duas horas. Uma marca produtiva sonhada por qualquer luthier. É possível a intenção futura de adquirir uma máquina dessas. Porém, a proposta do artesão seria apenas usar o recurso para a estrutura. Todo o acabamento, onde pode-se dizer que seria a etapa onde objeto ganha alma e vida, seria confeccionada com as mãos. É onde entra a história do criador, disposta entre curvas e cortes precisos. “É um caminho que não tem como deixar de ser. A população e a procura aumentam cada vez mais e o dia tem o mesmo ‘tanto’ de horas. Mesmo com toda essa outra possível realida-
EXPEDIENTE EDITORA VERDES MARES LTDA Praça da Imprensa Chanceler Edson Queiroz - Dionísio Torres - CEP 60135.690 - Fortaleza - Ceará - Telefone: (85) 32669631 Diretor Editor: Ildefonso Rodrigues | Editor de Área de Cultura e Entretenimento: Dellano Rios | Textos: Roberta Souza | Estagiário: Antônio Laudenir Fotografias: Thiago Gadelha e Cid Barbosa | Edição de Arte/projeto gráfico/design: Flávia Pereira Gurgel | Revisão: Vânia Monte
de, ainda assim, até hoje, utilizamos os mesmos materiais que eram usados para se produzir um alaúde, como é o caso do formão”, aponta com orgulho para a ferramenta. Enquanto a realidade deste maquinário segue restrito a grandes empresas produtoras de guitarras, onde o mercado chinês ocupa espaços cada vez maiores, Erasmo esgarça a complexa rede criativa por trás de um instrumento. Valores, qualidade e desempenho também estão firmemente ligados aos tipos de peças e materiais. Um modelo Jazz Bass, quatro cordas, com partes de ponta que incluem captador, madeira e fiação; pode ter um valor capaz de variar acima dos R$ 3 mil. Os preços são variados e muito dessa matemática depende da relação entre o artesão e comprador. A oficina de Erasmo fornece uma junção harmoniosa de marcenaria, oficina e estúdio. A visita reflete um passeio por pedaços isolados de madeira, instrumentos danificados à espera do reparo necessário e toda sorte de equipamentos capazes de criar melodias a partir do invisível. A labuta do lugar carece do humano e molda-se dessa maneira ao longo dos anos. A dedicação é produzir um objeto entalhado e preciso quanto às medidas. Obras milimetricamente organizadas e coladas com precisão. A ganância aqui, reverbera pela busca contínua da batida perfeita, como extensão das mãos que o tocam. “Fazer outra coisa na vida? Acho que não, cara. Decidi abrir a oficina e correr para isso. Não tem mais como escapar, por que faço uma coisa que eu amo e isso faz toda a diferença”.
)59- Erasmo Lousada Luthier Rua Dr. João de Deus, 613, casa A, Fátima. Tel.: (85) 99620.4117. Aberto de segunda a sexta, de 9h às 12h e de 13h às 18h; e sábado até às 12h.
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13 2,)-5 6 ?* 9 5?( ?7)13 Há três décadas no mesmo endereço, a oficina Relojoeiro Tabajara mantém um corpo de profissionais que herdaram ofício e paixão do velho mestre
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trânsito do fim da tarde na Avenida Antonio Sales não dá trégua. Entre as ruas Carlos Vasconcelos e Monsenhor Bruno, é possível estabelecer uma cartografia baseada por casas que oferecem os mais distintos serviços. Dos almoços modestos “Gaúcho” e no “Skina”, ao posto de gasolina e hospital, o território fincado no Joaquim Távora é farto de narrativas. A pequena fachada amarela, adornada cuidadosamente com uma fonte do tipo cursiva apresenta a Relojoeiro Tabajara. Nada de confundir com a famosa orquestra paraibana, ali a sinfonia diária é tomada pelo atrativo batente de consertar relógios, de oferecer galhardia ao prosseguimento do tempo dos clientes. Atualmente, muitos são os que falam da urgência dos dias. Um sintoma talvez materializado naquele local pelo ensurdecer das buzinas automotivas. Na oficina, parece dar una pausa. Ali, essa variável chamada minutos renova-se. Volta para o campo de batalha. Tabajara já não está entre os viventes. O sobralense aprendeu a ser relojoeiro aos 24 anos e chegou a desbravar a Cidade dita “maravilhosa” com mulher e filhos. Veio para Fortaleza no início dos anos 1980 para fincar uma oficina no Centro. 2008 marcou o fim de sua jornada. O legado de Tabajara continua por meio da doação e esforço de seis mãos. No mesmo local, de segunda a sábado, Gilmar Holanda Melo (filho de Tabajara) e os mecânicos Luiz Carlos Dias do Nascimento (46) e João Batista dos Santos (70) dividem funções, convivência e uma unicidade que se assevera como uma raiz familiar.
Naquele perímetro, a Tabajara levantou sua frente de trabalho há exatos 33 anos. Ao todo, somando o trabalho em outros endereços, são 50 anos de atividade. Certamente, ao leitor, são inúmeros os exemplos de pessoas determinadas no batente. Entre esses casos muitas vezes anônimos, também se enquadram Carlos (28 anos naquela oficina) e Batista, que com meio século de trabalho com relógios, está ali há 26 primaveras. “Aprendi a consertar relógios em 1962. Você já ouviu falar do Instituto Universal?”, desafia. O funcionário cita a atuação do tradicional curso profissionalizante a distância. A partir da década de 1940, era fácil achar no Brasil formulários de inscrição desta iniciativa em todo tipo de publicações como revistas em quadrinhos e magazines de fofoca. Entre as formações oferecidas tinha de tudo: detetive particular, mecânico de carros, idiomas e até jornalista. “Aqui, damos jeito em todo tipo de relógio. Se chegar aqueles com areia dentro, nós resolvemos”, interrompe com contagiante humor o outro integrante do negócio, Carlos. Mesmo assim, resume a cartela de serviços: regulagem e conserto de relógio de pulso e parede, troca de bateria e restauração. Pelas contas dos entrevistados, a média de entregas pode chegar a 30 relógios por dia. Entre as dificuldades do cotidiano da oficina está a disponibilidade de peças no mercado. Batista explica que muitas vezes é possível criar uma peça do zero. Para equipamentos fora do mercado, já foi necessário recorrer a compras pela internet. A logística dos mecânicos é dividida da seguinte maneira: Carlos se responsabiliza por re-
lógios menores e Batista encara o desafio dos aparelhos maiores. Muitos destes, delicadas, e verdadeiras relíquias para colecionadores. Para a dupla é indispensável o uso da pinça e da lente de aumento. O tempo de entrega do serviço depende demais da natureza do produto. Durante a entrevista, cerca de sete aparelhos de pulso chegaram e saíram com seus donos em poucos minutos. Batista garante que a manutenção de um material antigo pode demorar até meses. Relógios com pêndulo precisam de regulagens diárias até possibilitar a contagem correta dos minutos. Carlos chegou até ali por uma aventura ainda iniciada na adolescência. Aos 16, um primo muito prestativo lhe ofereceu uma singela vaga como contínuo. A lida se resumia a percorrer o Centrão entregando peças em oficinas. Numa dessas investidas da jornada esbarrou no Palácio das Canetas, onde Tabajara mantinha uma parceria. Cinco anos depois, o experiente relojoeiro, já estabelecido na garagem de casa recém-comprada, convidou Carlos para o serviço. “Cheguei aqui e praticamente não sabia de nada”, relembra. Com três anos de atividade, Batista foi adicionado ao barco. Todos continuam lá, afinal, a memória do ex-chefe é indissociável da oficina. Na parede da oficina, há um quadro com uma foto do amigo. O resto da imagem é completada por um texto elogioso e emocionante redigido por Batista. A homenagem está lá, para clientes e amigos verem. Reflete o quanto a relação do trio extrapolava as paredes do negócio. Da turma responsável pelo dia a dia do espaço falta citar Gilmar. Um dos cinco filhos de
A oficina deixada pelo relojoeiro Tabajara que, em décadas de atividade, formou novos profissionais em seu ofício FOTOS: THIAGO GADELHA
Tabajara com Evanir Holanda Melo (81) ficou com a grande responsabilidade nas mãos após o falecimento do pai. Fechar a oficina representaria, além da interrupção na trajetória dedicada do pai, um dilema para os dois funcionários que nunca abandonaram o barco. Hoje arquiteto, ele decidiu manter o legado. O herdeiro relembra que o primeiro emprego foi como ajudante do pai. Mas, se diverte ao mencionar que só sabia mesmo era “desmontar” os aparelhos. “São poucos os que sabem consertar esses relógios antigos e não estão surgindo outras gerações de relojoeiros. Então, é fascinante termos os últimos profissionais do ramo”, confessa. Gilmar então conciliou um escritório ao lado da oficina e mantém companhia certa para a mãe que reside no local. Carlos e Batista explicam que dá todo tipo de gente em busca dos serviços. O primeiro lugar no quesito são as simples trocas de bateria. Mas, a marca da atuação da oficina está exposta nas paredes do espaço, cercado até o chão por gigantes relógios dos mais inusitados modelos e anos de fabricação. O sol da tarde vai despencando no horizonte e os três se-
guem cada um o destino escolhido. Tudo ali se harmoniza diante do estabelecimento das tecnologias digitais. A casa, repleta de trabalhos ainda por fazer e ferramentas por todos os lados, segue viva. Tabajara estaria, obviamente, muito feliz.
)59- Relojoeiro Tabajara Av. Antonio Sales, 950, Joaquim Távora. Tel.: (85) 3246.7933. Aberto de segunda a sexta, de 8h às 18h, e sábado, até às 13h.
João Batista, 70 anos, é um dos ponteiros do maquinário da oficina, inscrita há 33 anos no Joaquim Távora
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á?)2*)51)-5 ( 6?& 2)' 6 Maria de Fátima trabalha diariamente no Pronto-socorro das Bonecas, na companhia do esposo, Antônio Sérgio FOTOS: THIAGO GADELHA
Maria de Fátima trabalha há 35 anos em um pronto-socorro. É para dar nova vida a brinquedos infantis que ela emprega seus trabalhos manuais
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Para evitar a poeira, os brinquedos, após consertados, são emplastificados e colocados em fileira, à espera dos donos
uem chega na Rua General Sampaio, 1475, avista por trás de um “balcão cirúrgico” uma profissional dessas que faz várias coisas ao mesmo tempo, sem se perder por um instante. Enquanto te recepciona, Maria de Fátima corta um tecido daqui, passa uma linha acolá, atende o telefone, e ainda recapitula com o esposo alguns serviços deixados do dia anterior. O ambiente de trabalho lhe serve como moldura e, naturalmente, confunde-se com sua própria casa. Ali, ela passa dias inteiros e vara noites e noites para atender as demandas. Lembra mesmo uma plantonista de hospital, e não só pelo tempo dedicado à atividade, mas também pela essência do ofício que desempenha. Algumas diferenças, no entanto, são evidentes. Lá, os enfermos não são de carne e osso, mas de pano e plástico. Enfileirados em prateleiras ou empilhados no chão do Pronto-socorro das Bonecas, brinquedos seminovos e outros até muito antigos estão na fila, e com senha, esperando para serem atendidos. Fátima cuida deles como uma enfermeira. O olhar clínico da experiência é capaz de identificar o problema rapidamente, e de resolvê-lo também, principalmente quando se tratam de bonecas. Restaurar as pequenas companheiras que chegam sem
olhos, sem cabelos, e, na maioria das vezes, sujas e sem roupas, é uma das atividades que ela considera mais prazerosas do ofício. Isso porque, quando criança, moradora do município de Acaraú, mesmo que sonhasse em ter, ela não dispunha desse tipo de brinquedo. “As coisas eram mais difíceis no interior, né?”, lembra. Hoje é diferente. Ao redor da enfermeira são tantas bonecas que ela até perde a conta, sobretudo porque, tão rápido como
quanto suspira na esperança de que ele dê continuidade ao negócio de 35 anos. “Quando a gente morrer, isso aqui vai se acabar”, entristece-se. Mas antes que se deixe levar pela incerteza do futuro, Fátima já organiza a próxima entrega. O tempo presente é vivo e as encomendas são muitas. Só bonecas chegam de seis a oito por dia, e motos elétricas pelo menos umas cinco. Quem vem dificilmente são as crianças, mais apegadas ao
bonecas são consertadas, em média, por mês
motos elétricas são consertadas, em média, por mês
chegam, elas também saem. Ficam ali no máximo uma semana, mas Fátima faz o possível para entregar até no dia seguinte. “É que as crianças ficam tristes quando estão longe delas”. Seus filhos, todos adultos, já chegaram a brincar e até a consertar os próprios brinquedos no espaço. Mas seguiram carreiras diferentes: um é farmacêutico e os outros dois, militares. Os três netos ainda se divertem em meio à oficina, especialmente o mais velho, Pedro Sérgio, de 12 anos. “Ele passa boa parte das férias aqui, e vem sempre aos fins de semana para ajeitar os bonecos”, comenta a avó, en-
objeto-amigo. Pais e avós sempre chegam lá. Vem gente de todo município do Ceará em busca do conserto. “É, nosso trabalho vai para longe”, satisfazse a enfermeira, pronta para assumir a máquina de costura. É sobre a Singer que ela gasta boa parte das horas. “Faço tantos moldes e roupas que nem preciso mais ver o tamanho”. Quando se trata de colocar um novo cabelo nas bonecas, é mais demorado. Fátima põe fio por fio com uma agulha. Para isso, leva pelo menos uma semana. “Não dá para ficar o dia todo, né? Aí vou fazendo entre um intervalo e outro, ou de noite enquanto assisto a televisão”. De sorte, conta com uma as-
sistente para ajudar a lavar e vestir as pequenas amigas. “A gente limpa manualmente, de uma por uma. Depois coloca uma roupa bonita, um laço no cabelo. Fica linda! Nova!”, gaba-se. Desses 35 anos de serviço, a enfermeira de bonecas mal teve a carteira assinada por 12 meses. Trabalhou a vida inteira como autônoma, assim como o marido. Hoje, ela com 54 e ele com 55, contribuem há apenas três anos com a previdência. O trabalho manual, um pouco repetitivo, de vez em quando anuncia dores. “De uns tempos para cá, meus dedos têm endurecido”, desabafa. Mas Fátima não se vê fazendo outra coisa. “Eu trabalho com o que gosto. Quando eu era mais jovem, não pensei que chegaria a essa idade fazendo isso, mas é e sou feliz”, afirma. De tecnologia, ela não sente falta, nem no serviço nem nos brinquedos. “Essas crianças que só brincam com tablet e celular estão perdendo tempo. Isso aqui que é bom”, aponta para os enfermos e restaurados. “E tem mais, viu? Quem brinca de boneca é uma boa mãe. Que eu saiba é”, avalia com a certeza de quem acompanhou gerações.
)59- Pronto-socorro das Bonecas Rua General Sampaio, 1475. Tel.: (85) 3253.0169. Aberto de segunda a sábado, de 8h às 18h. Hospital Geral dos Brinquedos Rua General Sampaio, 1397. Tel.: (85) 3231.5558. Aberto de segunda a sexta, de 8h30 às 17h30, e sábado até as 14h.
á? 57)?( 6 ' 1) 6 Quando Fátima começou a namorar Sérgio, ela tinha 18 anos. Na época, ele já trabalhava consertando brinquedos, ofício em que passou a se especializar desde os 16. Iniciou em uma dessas marcas conhecidas. Aí percebeu que o negócio era rentável e que o mercado local não oferecia opções para quem não estava mais com o produto na garantia. Logo, estabeleceu como objetivo montar a própria oficina. Trabalhou com carteira assinada somente por um ano, consertando máquinas de lavar. Foi o suficiente para juntar o dinheiro necessário para investir no próprio negócio. O casal tratou de dividir todas as tarefas e assim tem se sustentado ao longo de 36 anos de união. A oficina já teve outro endereço, na Rua Liberato Barroso, 712. Por um tempo, funcionou nas duas sedes, até que resolveram ficar só com a atual. Em Fortaleza, eles só têm um concorrente, e que também se localiza na Rua General Sampaio. A muitas pessoas, o casal já transmitiu o conhecimento adquirido com a experiência, mas poucos levaram à frente as técnicas. Sérgio, assim como Fátima, é desses que não se vê em outra atividade. “Nem para médico eu daria. Não aguentaria ver paciente morrendo na minha mão. Aqui a gente dá jeito em tudo”, conclui.
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Maria Evanete trabalha rodeada de memórias do pai, o alfaiate Osmundo Souza FOTOS: CID BARBOSA
á?,)5 2 ?()-; ( ? 3)0 ?9)0, ? 0* - 7) Desde criança, Evanete rondava a alfaiataria do pai. O que não sabia era que, aos 65 anos, caberia a ela a missão de levar à frente o legado de Osmundo Souza
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Entre as ferramentas de trabalho da alfaiataria, estão instrumentos novos e antigos, utilizados antes pelo pai e hoje pela filha
2º andar do Edifício Lobrás, localizado no Centro de Fortaleza, é desses que permite aos visitantes contatos com perfis profissionais muitos específicos – do comprador de ouro ao fabricante de joias. Na sala de número 229, é uma mulher, Maria Evanete Soares de Sousa, quem nos recepciona. Enquanto dá alguns pontos num tecido, ela assiste televisão rodeada das memórias do pai, o velho alfaiate Osmundo Osmon de Souza. Antes, quem lá chegava, dava de cara com a figura imponente de Osmundo. Isso porque, há pelo menos 40 anos, a alfaiataria que carrega seu nome tem funcionado nesse prédio. Desde janeiro de 2015, porém, com seu falecimento, a filha assumiu a administração do legado. As fotos do alfaiate continuam lá, expostas numa estante à primeira vista de quem chega. Junto delas, vários diplomas e homenagens para ele, que viveu até 91 anos. Ainda hoje sua presença é marcante no ambiente. O aspecto “arcaico”, como Evanete gosta de definir, também faz parte da herança. A mesa, o armário, a máquina, a tesoura, e alguns livros – todos muito antigos –, poderiam facilmente compor o acervo de um museu sobre esta profissão tradicional. Até as fichas cadastrais dos clientes são as mesmas que Osmundo utilizava, e a ideia de uma máquina para cartão de crédito, algo muito comum nos
dias atuais, lá é um artigo dispensável. “Ele sempre dizia: Não vou trabalhar com isso. Quero é dinheiro no bolso!”, conta entre risos a filha, enquanto gesticula como o pai. Os contatos iniciais de Evanete com a alfaiataria se deram na infância. Ela recorda com precisão as idas à primeira sede, na Praça dos Leões, quando levava o almoço para Osmundo. “Ele não queria a gente no meio do ambiente, porque era muito homem trabalhando. Daí eu só entregava o almoço e ele dava o
trocadinho do bombom pra eu levar pra escola ou ir pra casa”, lembra. Nem a mãe dos oito filhos do alfaiate, Gerarda, ia ao local. Ela, que era costureira, foi outra que emprestou seus dons a Evanete, única da segunda geração da família que passou a atuar com linhas e tecidos. Atualmente, na mesa-balcão da sala 229, a filha de Osmundo e Gerarda atende os clientes de segunda a sábado. Ela faz acertos e consertos, e encaminha outras demandas para os dois operários que ainda trabalham para a alfaiataria: Fábio – que cuida das blusas –, e Seu Nonato – das calças. As encomendas de paletós, que até julho eram assumidas pelo surdo-mudo Airton Menezes, de 86 anos, não estão sendo mais aceitas. Depois que Airton adoeceu, Maria Evanete ainda não encontrou alguém para ocupar a função de quem se formou com seu pai. Exigente, a filha reconhece que o trabalho é árduo, princi-
palmente pelo fato de ter ganhado uma posição que por muito tempo era ocupada pelo pai. “O pessoal estava muito acostumado com aquele estilo mais tranquilo de papai. Hoje, chega um funcionário com uma peça, eu tenho que olhar, corrigir, vejo defeito. Eles rebatem muito comigo por ser mulher, não me entendem, porque só faz três anos que estou aqui”, observa. A segurança de estar no caminho certo, no entanto, não deixa Evanete se abalar. “Toda vida fui danada pra confecção”,
afirma orgulhosa. Aos 18 anos, ela aprendeu corte e costura com a madrinha, ganhou muito dinheiro com a mãe e chegou até a montar uma miniconfecção quando morou por 12 anos no estado do Piauí. Reconhecer a maestria do pai e a influência dele nessa “arte” também é inevitável. “Papai foi um artesão. Pegava o pano, riscava do nada, sem molde, e ia dando formato aos paletós. O corte dele era perfeito”, lembra. A família guarda até um certo arrependimento em torno disso. “Ele nunca montou uma escola para passar o conhecimento. Apesar disso, muita gente se formou aqui, abriu negócio próprio, e levou até os clientes”, afirma Evanete. Aliás, em relação à clientela, apesar de ter tido uma reduzida considerável, a nova administradora admite que pelo menos duas vezes ao ano, velhos conhecidos passam por lá. Vão também os mais novos, em bus-
ca de uma moda retrô. “Tem muita gente jovem que chega e já conhece a fama. Ano passado foi uma chuva de rapazinho que veio com o pretexto de que alfaiataria era moda. Fizemos paletós bem apertadinhos, mas seu Airton não gostava muito, porque o estilo dele era o clássico”, comenta. A concorrência com as lojas em geral é uma das maiores preocupações no estabelecimento. E isso só aumenta o rigor de Evanete. “Nós estamos num movimento que está aí o comércio tomando de conta. Quem vem procurar roupa aqui, quer coisa boa. Quem manda fazer sob medida, pode pagar, não vai querer qualquer coisa”, salienta. E é essa orientação que ela dá aos operários parceiros. Aposentada, e vendo o movimento ficar cada vez menor, a filha de seu Osmundo questiona-se todos os dias sobre o futuro do local. Não sabe até quando vai ficar lá e nem se cobra tanto por isso, apesar de ser a única dos filhos a estar neste caminho. “As meninas dizem que peguei o dom de papai e mamãe. Nenhuma delas gosta. Tem uma que não sabe fazer nem uma bainha de calça, mas é porque não se interessa. Basta você querer”. O importante é que, enquanto viver, Evanete representará de alguma forma o legado profissional do pai.
)59- Alfaiataria Osmundo Souza Rua Barão do Rio Branco, 1071, Centro. Edifício Lobrás, 2º andar, Sala 229. Tel.: (85) 3226.4003. Aberto de segunda a sábado, de 8h30 às 17h30.
5 & 0, )1?3 5')5- Seu Nonato, ou mais formalmente, Raimundo Nonato Bento, como se apresenta aos desconhecidos seguido de um firme aperto de mão, trabalhou durante 15 anos com Osmundo. Hoje, assume as demandas em parceria com a filha do alfaiate, que, segundo ele, confiou no seu trabalho. As calças são sua especialidade, afinal já são cerca de 59 anos executando o ofício. Até faz blusas também, mas paletó, nem pensar. “Exige paciência demais, preferi ficar com essas outras peças, que a gente faz mais rápido”, comenta. Para fazer uma calça gasta de 2h a 3h, apenas. O reforço da máquina industrial, com a qual trabalha desde os anos 1990, ajudou a otimizar o tempo. “Com a mão agora, eu só prego o botão”, conta. Não foi fácil acompanhar essas mudanças, mas Seu Nonato considerou necessário renovar-se. “Se ficar parado no tempo, ninguém contrata seu serviço”, ressalta. O bom acabamento, para ele, é o que dá segurança ao cliente. Mas nem todos atentam para isso. “Tem gente que não quer saber da qualidade, quer saber do preço. Prefere pagar R$20 na feira do que R$80 com a gente”, avalia. Por essas e outras, a demanda é cada vez menor. Mas, aos 76 anos, não desanima. “Eu gosto do que faço e, mesmo aposentado, continuo aqui”.
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å?9-( ?]? 2 0_+-' Apesar de ocuparem funçþes cujos serviços são recorrentes na sociedade, muitos profissionais sobrevivem na invisibilidade, sem garantia de direitos FOTOS: THIAGO GADELHA
6?75 & 0, ( 5)6? -29-6m9)-6?)?81? -13 66)?,-67_5-' Um fazer que tem muito de arte enfrenta um impasse, tão grande ou maior que o risco da desaparição: a precariedade dos direitos trabalhistas
É
praticamente impossĂvel quantificar trabalhadores como Erasmo, Gilmar, Luiz Carlos, JoĂŁo Batista, Maria de FĂĄtima, AntĂ´nio SĂŠrgio, Maria Evanete e Raimundo Nonato em Fortaleza. Isso porque, apesar de eles ocuparem funçþes cujos serviços sĂŁo recorrentes na sociedade, muitos sobrevivem na invisibilidade, sem nenhum cadastro formal e, consequentemente, sem garantias previdenciĂĄrias ou qualquer outro direito trabalhista previsto na CLT. Para o Coordenador de Estudos e AnĂĄlise de Mercados do
Sine/IDT, Erle Mesquita, a grande dificuldade de encontrar esses profissionais nas bases de dados ĂŠ por que, muitas vezes, eles nĂŁo sĂŁo contratados pela ocupação em si. “AlĂŠm disso, ao longo da histĂłria, eles nĂŁo se enquadraram nas profissĂľes pertencentes ao nĂşcleo assalariadoâ€?, reforça ele. A maioria se cadastra como trabalhador autĂ´nomo e como essa categoria engloba outros perfis, como taxistas, vendedores ambulantes e pedreiros, os dados acabam sendo mais amplos. “Na RegiĂŁo Metropolitana de Fortaleza, a cada 4 ocupados pelo menos 1 ĂŠ autĂ´nomo, e desses 86% nĂŁo tĂŞm qualquer tipo de contribuição previdenciĂĄriaâ€?, especifica Erle, com base em microdados de 2016. A Ăşltima pesquisa sobre trabalho autĂ´nomo e polĂticas pĂşblicas para o mercado de trabalho realizada pelo Sine/IDT foi divulgada em 2014. Dela, saltam alguns dados importantes.
Entre os quase vinte milhĂľes de pessoas que possuĂam alguma ocupação nas ĂĄreas metropolitanas investigadas pelo Sistema PED, em 2012, uma parcela expressiva exercia o trabalho autĂ´nomo. Eram 3,4 milhĂľes de pessoas trabalhavam por conta-prĂłpria, perfazendo nada menos que 17% da população ocupada. NĂŁo tĂŁo curiosamente, destaca-se tambĂŠm nessa pesquisa a maior presença feminina no trabalho autĂ´nomo nas metrĂłpoles nordestinas, com destaque para a capital cearense, Fortaleza (44,4%), seguida de Salvador (42,5%) e Recife (40,3%). Outro dado importante revela que mais da metade dos trabalhadores autĂ´nomos possuem 40 anos ou mais de idade (58,4%), isto ĂŠ, pessoas que nĂŁo somente tem mais idade como tambĂŠm apresentam experiĂŞncias anteriores de trabalho, sobretudo assalariadas.
É preciso reforçar, porÊm, que, mesmo com essas estimativas, inúmeros são os profissionais ainda não cadastrados, e a garantia dos direitos trabalhistas, nesses casos, fica ainda
mais distante de acontecer. A busca por medidas eficientes ĂŠ urgente, tanto para assegurar a visibilidade desses trabalhadores como para propiciĂĄ-los uma vida digna.
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Ainda que conduzam livremente o exercĂcio de suas funçþes, quando chegam a uma certa idade, esses trabalhadores autĂ´nomos acabam se tornando refĂŠns dessa nĂŁo subordinação por nĂŁo contribuĂrem com a PrevidĂŞncia
EmumcenĂĄriodecriseeconĂ´mica, a informalidade tem ganhado mais espaço. Em face disso, o chamado trabalho autĂ´nomo tem se destacado, revelando inclusive profissĂľes que resistem ao tempo, a exemplo de relojoeiros, alfaiates e sapateiros. E o que seria o trabalho autĂ´nomo? Pois bem. O traço marcante do trabalho autĂ´nomo ĂŠ a ausĂŞncia de subordinação. No trabalho autĂ´nomo, o trabalhador livremente conduz o exercĂciodasuaatividade,determinando o lugar, o modo, o tempo e a forma de sua execução. A liberdade norteia o exercĂcio dessas. O grande problema ĂŠ que, aos trabalhadores autĂ´nomos nĂŁo sĂŁo garantidos os direitos trabalhistas previstos na legislação (13Âş salĂĄrio, fĂŠrias, dentre outros). No que se refere Ă Previ-
dĂŞncia Social, o autĂ´nomo deve se inscrever junto a PrevidĂŞncia e passar a efetuar o pagamento das contribuiçþes mensais, a fim de que possa ter acesso a todos osbenefĂciosoferecidospelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). A ausĂŞncia de contribuição inviabiliza o acesso a quaisquer desses benefĂcios. O autĂ´nomo deve inscreverse junto ao INSS na condição de contribuinte individual. O prĂłpriosĂtio eletrĂ´nico daPrevidĂŞncia Social bem define o contribuinteindividualdaseguinteforma: “Todos aqueles que trabalham por conta prĂłpria (de forma autĂ´noma), ou que prestam serviços de natureza eventual a empresas,semvĂnculoempregatĂcio, sĂŁo considerados contribuintes individuais, dentre outros, os sacerdotes, os diretores que recebem remuneração decorrentedeatividadeem empresa urbana ou rural, os sĂndicos
remunerados, os motoristas de tĂĄxi, os vendedores ambulantes, asdiaristas,os pintores,oseletricistas, os associados de cooperativas de trabalho e etcâ€?. Assim, para proceder Ă referida inscrição, o trabalhador autĂ´nomo pode entrar em contato com a Central TelefĂ´nica da PrevidĂŞncia Social (135), ou mesmo atravĂŠs do sĂtio eletrĂ´nico www.previdencia.gov.br. Para as inscriçþes realizadas pela internet ou pelo telefone 135, nĂŁo ĂŠ necessĂĄrio enviar qualquer documento ao INSS. O trabalhador sĂł precisarĂĄ informar os seus dados corretamente apĂłs gerar o nĂşmero respectivo de sua inscrição. A partir daĂ, o trabalhador deve dar inĂcio ao pagamento das contribuiçþes mensais, para que um dia tenha acesso a uma aposentadoria digna. * Advogado especialista em Direito e Processo do Trabalho