&
Frotas Renting ESPECIAL
PUB
ABRIL2021
PRODUZIDO POR
ESTE SUPLEMENTO É DA INTEIRA RESPONSABILIDADE DA FLEET MAGAZINE
Fleet Magazine
WWW.FLEETMAGAZINE.PT
4
6
10
TRIBUTAÇÃO “VERDE” DAS VIATURAS
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA
GREEN DEAL
Soluções para dar este passo com mais confiança
Como o compromisso da União Europeia está a mudar a mobilidade e a gestão de frota
Porque a Mobilidade Verde interessa às empresas
DES CA RBO N I Z A ÇÃ O D O S TRA NSP ORTES
Estabilidade fiscal é essencial Os incentivos à aquisição e uso de viaturas elétricas e híbridas plug-in são necessários, mas as empresas precisam também de legislação fiscal estável para apostar na transição energética. Até porque o seu contributo é fundamental para Portugal respeitar o compromisso assumido de redução gradual de emissões, rumo à neutralidade carbónica
E
ntre as medidas introduzidas com a Reforma da Fiscalidade Verde, com o objetivo de fomentar a eficiência na utilização de recursos e reduzir a dependência energética do exterior, os incentivos fiscais dirigidos aos automóveis elétricos e híbridos plug-in estão entre os que despertam mais interesse às empresas. Estes incentivos (os mais importantes estão mencionados na página 4 deste suplemento) explicam o crescimento contínuo das vendas destes dois tipos de automóveis em Portugal, uma vez que mais de 90% das matrículas de carros elétricos e de híbridos plug-in foram atribuídas a clientes profissionais, nomeadamente empresas privadas, organismos públicos e locadoras. O gráfico ao lado ilustra precisamente isso: desde 2015, ano em que entrou em vigor a Reforma da Fiscalidade Verde, que se constata uma descida contínua da quota de mercado dos automóveis ligeiros de passageiros com motor a gasóleo, predominante na frota de muitas empresas, e uma subida gradual da presença de veículos elétricos e, sobretudo, de modelos híbridos plug-in, nas tabelas elaboradas pela ACAP de
distribuição das matrículas de carros novos por tipo de motor. Os valores referentes a 2021 utilizados no gráfico incidem apenas sobre os números registados até ao
final de março. Por isso, a escassez de dados impede uma conclusão definitiva quanto à confirmação da tendência verificada nos últimos cinco anos. Por outro lado, a queda
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2015
Gasóleo
2016
2017
2018
2019
67,5% 64,5% 60,8% 53,3% 39,9%
2020
2021
32,8% 26,3%
Híbridos 0,3% elétricos plug-in
0,5%
1,1%
1,7%
2,8%
8,2%
11,0%
Elétrico
0,4%
0,7%
1,8%
3,1%
5,4%
5,1%
0,4%
homóloga de 31,5% do comércio de automóveis ligeiros de passageiros, o facto de algumas marcas sentirem atrasos na entrega de alguns modelos novos e a redução expressiva das aquisições de empresas de rent-acar, por razões que são sobejamente conhecidas, podem contribuir para uma análise mais conclusiva da distribuição das matrículas por tipo de energia. Ainda assim, apesar de algumas reticências no horizonte, o resultado parece indicar que o interesse das empresas na mobilidade elétrica não terá sido afetado pelas medidas extemporâneas introduzidas no Orçamento do Estado para 2021, nomeadamente nas limitações impostas aos modelos híbridos e híbridos plug-in elegíveis para efeitos de benefícios fiscais. A explicação é simples, segundo Renato Carreira, partner da Delloite: “a existência de benefícios fiscais específicos e o ónus fiscal agravado que impende sobre a utilização por parte das empresas de veículos movidos exclusivamente a motores de combustão têm dinamizado de forma clara a mobilidade elétrica, tanto do lado da procura, como da oferta disponibilizada pela indústria automóvel.”
A contribuição das empresas “As organizações são parte da solução para o desafio de uma mobilidade mais eficiente, sustentável e descarbonizada”, lembra Nelson Lage, presidente da ADENE, Agência para a Energia, responsável pela avaliação das empresas concorrentes ao Prémio Fleet Magazine na categoria Frota Verde. Há várias explicações que sustentam esta avaliação: a mais visível porque, ao serem responsáveis pela maioria das matrículas anuais de carros novos, as frotas de empresas privadas, do Estado central, das autarquias e das locadoras, de forma muito concreta e objetiva, contribuem para a renovação do parque automóvel nacional, com a entrada de viaturas mais recentes e menos poluentes. Mas também, com a sua utilização, para a divulgação e conhecimento de carros 100% elétricos e para o modelo de funcionamento das viaturas híbridas eletrificadas. Se esta experimentação em condições de trabalho tem permitido que mais condutores descubram e se habituem às particularidades do uso de uma viatura eletrificada, a experiência que daqui advém está também a gerar informação essencial para a evolução de soluções capazes de responder, por
2
&
Frotas Renting ESPECIAL
O Especial Frotas & Renting é produzido e comercializado pela Fleet Magazine e da total
&Renting
Frotas ESPECIAL
exemplo, às naturais necessidades de carregamento dos modelos elétricos e híbridos plug-in. Um conhecimento precioso porque adquirido em condições reais de circulação, particularmente útil para as autarquias que estão a desenvolver novos modelos de mobilidade e logística urbana, mas igualmente rico para operadores privados, para quem estes dados servem para desenvolver soluções assertivas, com respostas concretas dirigidas a estas necessidades. E que acabam afinal por ser as mesmas de muitos utilizadores particulares com este género de veículos. De forma menos evidente, tem pertencido também a muitas organizações públicas e privadas o incentivo à utilização de soluções de mobilidade partilhada, seja através do desenvolvimento de sistemas internos de partilha de viatura ou de viagem, seja com o encorajamento à utilização de transportes públicos ou até de outras formas de locomoção, como o uso da bicicleta ou de trotinetes elétricas.
responsabilidade dessa entidade DIRECÇÃO Hugo Jorge REDACÇÃO David Santos,
Hugo Jorge e Rogério Lopes COMERCIAL Carina Dinis PAGINAÇÃO Pedro Marques
WWW.FLEETMAGAZINE.PT
Decisões exigem segurança Porém, convém lembrar que as opções de compra de viatura são baseadas em cálculos elaborados para ciclos de utilização de vários anos, durante os quais a componente fiscal representa quase sempre o encargo mais elevado. Esta importância justifica a necessidade de tomar decisões ponderadas quanto à seleção das viaturas e quanto ao modelo de financiamento, escolhas geralmente suportadas por estudos prévios (os habituais TCO), nos quais praticamente a única parcela
2021 ABRIL
que a empresa não é capaz de controlar é precisamente aquela que mais pode agravar os custos: a tributação que incide sobre o automóvel. Exemplo disso são duas alterações importantes ocorridas nos últimos anos, ambas com efeitos sobre a Tributação Autónoma: em 2014, a atribuição de novos escalões e taxas aplicadas e a mais recente, introduzida no Orçamento do Estado para 2021, que torna elegível para efeitos de taxas reduzidas de Tributação Autónoma apenas os veículos híbridos plug-in com emissões de CO2 inferiores a 50g/km e autonomia exclusivamente elétrica superior a 50 km. Sendo a Tributação Autónoma aplicada aos encargos efetuados em cada ano com a viatura, a definição da taxa aplicável sobre tais despesas decorre da lei em vigor no ano em que elas são apresentadas; daqui resulta que as despesas que, em 2021, forem atribuídas aos veículos híbridos plug-in presentes na frota e que não cumpram com os novos critérios, deixam de poder beneficiar de taxas mais reduzidas deste imposto extraordinário.
O contributo indireto das empresas Se os benefícios ou incentivos fiscais têm impacto em qualquer decisão da transição energética de uma frota, devem também ser encarados como um investimento público necessário para a progressão da mobilidade elétrica, um estímulo para a mudança de perceção da sociedade em relação a esta e, não menos importante, essenciais para a concretização das metas
de neutralidade carbónica assumidas pelo Estado português. “A aposta em veículos eletrificados é fundamental para o cumprimento dos referidos objetivos de redução de emissões, na próxima década. Adicionalmente, é necessário que todos os estados-membros da União Europeia contribuam de forma harmonizada e holística para atingir estas metas. Por conseguinte, os governos desempenham um papel crucial nesta transição energética, no apoio à mobilidade elétrica e no relançar da economia”, corrobora Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP, Associação do Comércio Automóvel de Portugal, e ainda presidente do Comité de Ligação da ACEA, a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis. O contributo dado pelas empresas à renovação do parque automóvel está a produzir efeito na equipa-
ração dos custos de aquisição e de utilização das viaturas com motor exclusivamente térmico, daquelas que são 100% elétricas ou híbridas plug-in. A evolução técnica, a partilha de componentes e o aumento da produção destes últimos contribui para a redução de custos de fabrico, enquanto a aproximação dos valores residuais de ambas as mecânicas é decisiva para a redução dos custos de financiamento especializado. E, de uma forma absolutamente transversal, para estimular a democratização de soluções complementares, bem evidente no surgimento de cada vez mais fornecedores de equipamento e de operadores de postos públicos de carregamento das baterias de viaturas eletrificadas. Ou ainda para aumentar o desenvolvimento tecnológico nacional e a necessidade de mais formação técnica da componente humana.
•
HÁ FISCALIDADE VERDE PARA OS LIGEIROS DE MERCADORIAS? Em 2021, o incentivo direto à aquisição e uso de viaturas comerciais, ou ligeiros de mercadorias 100% elétricas, triplicou em relação a 2020, passando de dois para seis mil euros em 2021. No entanto, alguns benefícios fiscais considerados na Reforma para a Fiscalidade Verde, que incidem sobre veículos ligeiros de passageiros, não podem ser aplicados a algumas viaturas comerciais ligeiras (uma explicação mais detalhada está na
página 4 deste suplemento). Independentemente disto, a maioria dos ligeiros de mercadorias presente no mercado admite a dedução do IVA ao respetivo custo de aquisição (sempre que este constitua objeto da atividade do sujeito passivo) e está isenta de Tributação Autónoma. É o caso de furgões como o Citroën Berlingo ou Renault Kangoo, por não serem tributados pelas taxas reduzidas, nem pela taxa intermédia do ISV, o Imposto Sobre Veículos.
4
&Renting
Frotas ESPECIAL
2021 ABRIL
FI S CA LIDA D E
A tributação “verde” das viaturas Entenda as razões porque a mobilidade elétrica desperta interesse e motiva muitas empresas a aderirem a este género de solução O IVA E A TRIBUTAÇÃO AUTÓNOMA NOS LIGEIROS DE MERCADORIAS
A
o longo de 2020 foram matriculados em Portugal mais 6.069 automóveis ligeiros de passageiros híbridos plug-in do que em 2019 e mais 947 carros de passageiros movidos exclusivamente a energia elétrica. Isto representou um crescimento de cerca de 105% do volume de matrículas dos primeiros e mais 14% no caso dos 100% elétricos, num ano em que a globalidade do mercado de ligeiros de passageiros sofreu uma queda de 35%. A conjugação destas duas variáveis explica então o aumento significativo da quota de mercado destes dois tipos de viaturas que, juntas, passaram a valer sensivelmente 13,6% do segmento de ligeiros de passageiros, claramente mais do que os 5,9% que valiam em 2019. As empresas foram responsáveis por uma parte muito significativa destas novas matrículas e é fácil perceber o que as motivou: a aplicação de um conjunto de benefícios fiscais em sede do IVA e do IRC (aumento dos limites de depreciação e, sobretudo, redução das taxas de Tributação Autónoma ou a total isenção deste imposto no caso dos elétricos), a que se podem juntar outros fatores que concorrem para reduzir os custos de utilização destes veículos. A edição de março da Fleet Magazine explica graficamente e
como maior detalhe o impacto destes benefícios (o QR CODE presente nesta página encaminha para a versão digital da revista) e inclui um estudo comparativo entre versões a gasóleo e híbridas plug-in do mesmo segmento, que mostra como é possível poupar dez mil euros em quatro anos no caso de a empresa optar pelos segundos. Em concreto, o que motiva esta aposta na mobilidade elétrica?
Dedução do IVA No caso dos automóveis ligeiros de passageiros exclusivamente elétricos, adquiridos no âmbito de uma atividade empresarial, o IVA pode ser dedutível desde que o custo de aquisição considerado para efeitos de IRC não exceda os 62.500 euros. Este limite ao direito à dedução baixa para 50 mil euros no caso dos automóveis ligeiros de passageiros com mecânica plug-in. Nestas viaturas, a dedução do IVA assume redobrada importância, porque reduz o custo de aquisição que é considerado para efeitos de Tributação Autónoma.
IRC: depreciação do veículo e Tributação Autónoma dos encargos 1 Os limites de 62.500 euros e de 50 mil euros referidos anteriormente são
igualmente os limites máximos considerados para efeitos de depreciação fiscal do automóvel. Estes limites são significativamente mais elevados do que os 25 mil euros admitidos para depreciação de automóveis ligeiros de passageiros com motor a gasóleo, por exemplo. Sobre todos os encargos de uma viatura ligeira de passageiros e sobre todos os encargos de uma viatura ligeira de mercadorias que não seja tributada pela taxa reduzida, nem pela taxa intermédia, do Imposto Sobre Veículos, é aplicado um imposto extraordinário, designado Tributação Autónoma. Por “encargos” entenda-se todas as despesas atribuídas contabilisticamente à uma determinada viatura: manutenção, pneus, combustível, lavagens e impostos, incluindo o valor que resulta da depreciação anual atribuída ao automóvel (no limite, 25% do respetivo custo de aquisição). As taxas de Tributação Autónoma aplicadas a estes encargos variam consoante um de três escalões: - 10% para viaturas com custo de aquisição até 27.500 euros; - 17,5% para viaturas com custo de aquisição entre 27.500 e os 35 mil euros; - 35% para viaturas com custo de aquisição superior a 35 mil euros.
A maioria das viaturas ligeiras de mercadorias vendida em Portugal é tributada pela tabela B do Código do Imposto Sobre Veículos (ISV), o que permite às empresas efetuar a dedução do IVA do custo de aquisição, desde que a sua utilização constitua objeto da atividade do sujeito passivo. Estes modelos, genericamente furgões, ficam isentos de Tributação Autónoma, uma vez que o apuramento do ISV não ocorre pelas taxas reduzidas, nem pela taxa intermédia deste imposto.
Os veículos movidos exclusivamente a energia elétrica estão sempre excluídos de tributações autónomas, independentemente da sua classificação como de passageiros ou de mercadorias. Porém, o número 18 do artigo 88.º do Código do IRC, referente à Tributação Autónoma, menciona apenas as “viaturas ligeiras de passageiros híbridas plug-in” como elegíveis para as taxas mais reduzidas de Tributação Autónoma. Por isso ficam de fora todas as restantes viaturas.
As contas de um elétrico ou de um plug-in
No caso de viaturas ligeiras de passageiros híbridas plug-in, as taxas aplicadas em cada um dos escalões anteriores são reduzidas para 5%, 10% e 17,5%, respetivamente. Mas para que as taxas reduzidas possam ser aplicadas, os veículos que delas beneficiam devem estar homologados com emissões de CO2 inferiores a 50 g/km e apresentar autonomia exclusivamente elétrica superior a 50 km. Para efeitos de definição do escalão de Tributação Autónoma é considerado o valor de aquisição sem IVA, uma vez que as empresas podem deduzilo na compra de viaturas híbridas plug-in. Na prática, daqui resulta que modelos cujo preço final é, por exemplo, de 42 mil euros, podem ser incluídos no segundo patamar da Tributação Autónoma, uma vez que a dedução do IVA a este valor resulta num custo considerado para efeitos de TA inferior a 35 mil euros. Ou seja, aos encargos com este veículo é aplicada uma taxa reduzida de TA de 10%, em vez da taxa normal de 17,5%.
Quando uma empresa contabiliza os custos totais de utilização de um automóvel, a Tributação Autónoma é invariavelmente a parcela que tem mais impacto no resultado. Exemplificando: um encargo anual de dez mil euros com uma viatura diesel incluída no terceiro escalão da Tributação Autónoma, será agravado em 35% com a incidência deste imposto extraordinário; ou seja, para uma empresa, o custo total anual com a viatura é, na realidade, de 13.500 euros. Porém, se a opção recair sobre um automóvel elétrico, os seus encargos não são sujeitos a Tributação Autónoma. Considerando um período de quatro anos como prazo estimado para a utilização do automóvel, isto representaria uma poupança total de 14 mil euros, mais do que o investimento necessário para uma solução de carregamento da viatura na empresa e/ou na residência do seu utilizador.
1. Os escalões e as taxas de Tributação Autónoma apresentadas referem-se exclusivamente ao Código do IRC. Empresários em nome individual com contabilidade organizada regem-se pelo Código do IRS, com diferentes escalões e taxas deste imposto.
•
i
Edição digital da Fleet Magazine Março 2021
6
&Renting
Frotas ESPECIAL
2021 ABRIL
SO LUÇ Õ ES
Como aderir à mobilidade elétrica com segurança A decisão de renovar a frota com introdução de carros elétricos ou híbridos com bateria recarregável nem sempre é fácil de tomar e os riscos de rejeição por parte de alguns utilizadores pode fazer hesitar. Eis algumas sugestões para dar este passo com mais confiança quem são atribuídas viaturas híbridas plug-in. E como é natural, tudo isto impõe uma avaliação prévia quanto às condições e necessidades de utilização dos condutores ou dos departamentos a que se destinam estes veículos.
Arriscar sem compromisso
O
atual cenário fiscal e a redução das necessidades de mobilidade impostas pela Covid-19 estão a ser aproveitados por alguns sectores de atividade para dar os primeiros passos na transição da frota para viaturas eletrificadas. Mas a ideia de conduzir um carro elétrico gera ainda alguma relutância e estranheza, principalmente junto de quem nunca teve a oportunidade de experimentar. E ainda porque outros receios subsistem, os mais importantes dos quais relacionados com a autonomia e com o carregamento da bateria. Para ajudar a ultrapassar estes temores e habituar novos utilizadores à condução de um carro elétrico, algumas empresas optaram por começar a introduzir este tipo de veículos no grupo de carros partilhado por
vários colaboradores. É uma ideia válida, uma vez que não existe uma atribuição direta ou um compromisso de longo prazo, além de que estes carros são geralmente utilizados para deslocações mais curtas. Contudo, é aconselhável que se faça uma escolha cuidada destas novas viaturas elétricas, nomeadamente em relação à autonomia, para que não possam justificar situações de ansiedade; garantir que a bateria se encontra sempre carregada, fácil de conseguir, já que a maioria dos modelos ou dos postos de carregamento transmitem essa informação, o que permite o controlo à distância a partir de um desktop ou do smartphone; e ainda que exista, de alguma forma, um acompanhamento das primeiras utilizações. Ou que não sendo possível
fazê-lo, que cada viatura disponha de um “manual” com explicações rápidas e diretas, tão gráficas quanto possíveis, sobre as diferentes possibilidades de condução (em modo eco, regeneração de energia, etc.) e das formas possíveis de carregamento do veículo. Além de que cada viatura deve dispor um cartão de acesso à rede pública de postos de carregamento elétrico, ou deve ser disponibilizado um cartão no momento da atribuição do carro ao seu utilizador. Outra iniciativa que geralmente tem grande sucesso e muita adesão interna são ações periódicas organizadas em conjunto com marcas/ concessionários automóveis e/ou gestoras de frota. Estas ações servem essencialmente para dar aos colaboradores da empresa a possibilidade de
experimentarem viaturas de diferentes tipos, numa utilização absolutamente descomprometida, fora do âmbito laboral. No entanto, como para qualquer decisão nova capaz de afetar a operacionalidade ou a tesouraria de uma empresa, o planeamento é a chave do sucesso. E ainda que os benefícios fiscais pela aquisição e utilização de viaturas híbridas plug-in e, sobretudo, carros 100% elétricos, contribuam bastante para reduzir os custos de operação da frota, os decisores não podem esquecer a necessidade de incluir nas contas os investimentos necessários para a instalação de pontos de carregamento elétrico (na empresa e/ou em casa do utilizador) e na formação dos condutores destas viaturas, sobretudo na sensibilização daqueles a
Se qualquer das sugestões anteriores é complicada de implementar ou não tem viabilidade na sua empresa – ou se simplesmente é um empresário individual ou até mesmo um condutor particular –, mesmo assim é possível experimentar a utilização de uma viatura exclusivamente elétrica ou com motor híbrido plug-in, sem a obrigação de assumir um compromisso de longo prazo. Pode fazê-lo através de uma das várias soluções flexíveis com alugueres de curta duração destes veículos que são disponibilizadas pela maioria das gestoras de frota, e que incluem vários serviços, incluindo de consultadoria, que acompanham e apoiam na tomada de decisões relacionadas com a mobilidade elétrica. Alugar a viatura através de um operador de rent-a-car pode ser também uma opção a considerar. Algumas das empresas que atuam nesta área de atividade estão não só em condições de apoiar os utilizadores destas viaturas (podendo fazê-lo diretamente, sem intervenção do gestor de frota da empresa que contrata o serviço), como algumas disponibilizam também soluções flexíveis que permitem contratar uma viatura por um período curto, com possibilidades de extensão do contrato ou da sua suspensão sem penalização. E, como sucede em algumas gestoras de frota, também algumas empresas com atividade direta no rent-a-car disponibilizam produtos que envolvem a contratação de um veículo elétrico, com a hipótese de poder recorrer a um veículo com motor de combustão interna quando se coloca a necessidade de efetuar deslocações mais longas.
•
8
&Renting
Frotas ESPECIAL
2021 ABRIL
FROTA G RU P O E D P
Aposta na sustentabilidade Com mais de três mil viaturas em parque, a frota automóvel do grupo EDP é uma das maiores a nível nacional. O objetivo é ter todas as viaturas eletrificadas até 2030, um desafio nada fácil porque ainda escasseia a oferta de viaturas operacionais com tais características
A E-REDES é a nova designação da EDP Distribuição e surge por determinação da ERSE, que impôs a separação de imagem entre operadores do mesmo grupo económico
S
e na sua empresa a opção é ter os carros em propriedade da empresa, não se sinta sozinho. O Grupo EDP, com uma das maiores frotas do país, acredita também nesse modelo de gestão para o seu parque automóvel. As viaturas são geridas internamente e o nível de satisfação dos utilizadores é elevado. Mas cada carro é um carro. Gerir três mil unidades requer um grande nível de organização: manutenção, seguros, pagamento de impostos, mudanças de pneus, tudo isto tem que ser gerido diretamente e por todo o território nacional. Além disso, a idade média das viaturas do grupo ronda os seis anos, altura em que a assistência das viaturas exige mais atenção. A EDP criou uma plataforma de pedidos de serviço em 2018, que disponibiliza os serviços de frota ao colaborador em self-service. “Esta forma de aproximar a relação
com o colaborador tem demonstrado resultados muito positivos”, diz Ana Cardoso, a atual responsável da frota do grupo em Portugal. Entre os resultados alcançados contam-se 95% de pedidos da frota em 2020 com um feedback positivo por parte dos colaboradores e uma percentagem idêntica dos pedidos da frota geridos dentro do tempo definido nos níveis de serviço. Este foi, aliás, um dos pontos destacados pelo júri dos Prémios Fleet Magazine para a entrega do troféu “Frota do Ano” ao grupo EDP. Este trabalho está centralizado na EDP Global Solutions, empresa do grupo EDP responsável pelos serviços corporativos e partilhados. Esta área é responsável por adquirir e gerir todas as viaturas do grupo EDP. O modelo de gestão prevê um alinhamento com todas as empresas do grupo, para identificar as necessidades de compra. O ciclo de
vida é gerido de acordo com regras definidas e previstas na política de gestão das viaturas de serviço.
Sistema interno de partilha de veículo Nestes mesmos prémios, outro fator destacado pelo júri foi a eficácia do sistema interno de partilha de veículo. O “Car Fleet Sharing” foi criado com o objetivo de melhorar a experiência dos colaboradores do grupo na reserva de viaturas partilhadas. No entanto, serve também para obter indicadores relativos à utilização das viaturas e promover a partilha da utilização das viaturas entre colaboradores da EDP. Para utilizar, a solução está integrada numa app mobile, assim como na intranet da empresa. “Os resultados apresentados na aplicação mostram que é privilegiada a utilização de viaturas elétricas, assim como a partilha de viagens entre co-
laboradores”, diz Ana Cardoso. Para o incentivar, quando o colaborador pesquisa uma viatura, é apresentada por defeito uma elétrica.
Eletrificação total até 2030 A eletrificação da frota é um ponto importantíssimo para o grupo. O objetivo é ter todas as suas viaturas eletrificadas até 2030. As metas anuais têm sido ultrapassadas e, até 2025, vão ser reduzidos mais de quatro milhões de euros na gestão da frota em comparação com 2018. O próprio caderno de encargos das aquisições segue uma estratégia de sustentabilidade e de promoção de boas práticas ambientais. As viaturas adquiridas têm como requisito um número máximo de emissões de CO2. São também considerados critérios de TCO e um limite mínimo de autonomia, no caso de viaturas elétricas ou híbridas plug-in.
Os utilizadores participam em ações de promoção deste tipo de viaturas e poderão ter, ainda este semestre, um desconto na compra e instalação de “chargers EDP” nas suas casas. Contudo, existem ainda desafios. Um deles é a falta de oferta de viaturas com autonomia superior a 500 quilómetros. “Mas também o preço das viaturas e as opções no segmento técnico, como as pick-up e os furgões grandes”, diz Ana Cardoso. Por outro lado, o facto de a EDP estar a desenvolver soluções de carregamento público e privado fica ligado a este objetivo da gestão da frota. “A utilização de veículos elétricos de forma diária e por colaboradores com funções distintas permite à empresa ter uma visão fundamental no desenvolvimento de novos produtos e soluções: a visão do cliente”, refere a gestora de frota da empresa.
•
10
&Renting
Frotas ESPECIAL
2021 ABRIL
G RE E N D E A L
Revolução na mobilidade e na gestão de frota O compromisso da União Europeia de reduzir emissões já produz efeitos nas frotas de muitas empresas e está a obrigar os atuais modelos de gestão a adaptarem-se e a procurarem mais soluções de mobilidade
O
s termos “transição energética”, “descarbonização”, “sustentabilidade”, “proteção ambiental” ou “pegada de carbono” são utilizados cada vez mais quando se abordam assuntos relativos ao rumo da frota das maiores empresas nacionais. Se questões de natureza fiscal contribuem para o aumento da procura de viaturas elétricas e plug-in por parte de empresas e entidades públicas, outra razão está a condicionar muitas delas a enveredarem por esta decisão: a responsabilidade ambiental. O que está em causa é o dever, ou necessidade, de todas as entidades públicas e privadas, da indústria aos serviços, reduzirem as emissões de que são responsáveis. Que, explicando muito rapidamente, são contabilizadas desde o fornecimento de matériaprima à comercialização, passando pela produção e pela distribuição do produto ou realização do serviço. Esta obrigação faz parte de um pacto ecológico europeu, um “Acordo Verde” (Green Deal), cujo propósito vai além do objetivo final de reduzir a emissão de gases com efeitos de estufa e de outras partículas poluentes para a saúde e para o meio ambiente; porque para atingir este objetivo, este roteiro para a neutralidade carbónica antecipa um conjunto de mudanças profundas para a indústria, para os serviços públicos e para os cidadãos em geral.
Os incentivos à sustentabilidade O compromisso assumido pelos diversos Estados que compõem a União Europeia pretende revolucionar a política económica e industrial, acelerando a reinvenção tecnológica e estrutural da indústria europeia, inevitavelmente através da inovação (que vai gerar a necessidade de quadros cada vez mais especializados) e de métodos de produção mais eficientes, cujos efeitos estão a originar
uma disrupção dos atuais modelos de comércio, serviços e de mobilidade. O que, no que respeita à mobilidade, já começava a fazer-se sentir antes da pandemia, e que, no entender de alguns estudos sobre a mobilidade, como os da consultora McKinsey ou Deloitte, por exemplo, deverá voltar a acelerar com o regresso à normalidade. Concretamente o que está em causa? Em primeiro lugar, o Green Deal impõe a cada Estado da UE o cumprimento de metas de redução de emissões poluentes, de aumento de produção de energia a partir de fontes renováveis e de estímulo à utilização eficiente dos recursos, com a transição para uma economia limpa e circular. Estes estímulos podem ser de diversa espécie, incluindo incentivos diretos ou benefícios fiscais para a modernização da administração pública ou para o reordenamento do território, concretamente na área dos transportes com novos regulamentos; e no que se refere aos agentes económicos privados e aos cidadãos em geral, com incentivos dirigidos quer à produção de energia renovável, como ao seu consumo mais racional e eficiente nas atividades domésticas e nos meios produtivos, entre os quais se incluem, naturalmente, o uso das viaturas.
Pressão sobre a indústria automóvel Paralelamente, a indústria automóvel é pressionada a produzir automóveis com emissões de CO2 cada vez mais reduzidas, além de outros agentes e partículas poluentes como o NOx. O não cumprimento de metas mais apertadas e cada vez mais difíceis de controlar por parte dos construtores automóveis, tem como consequência o pagamento de pesadas multas que todos pretendem evitar, perante as margens apertadas do negócio e a situação financeira em que alguns se encontram. Por isso, além da inevitável con-
centração de marcas automóveis, produção conjunta ou partilha de componentes entre construtores automóveis, a conjuntura obriga a acelerar o desenvolvimento e produção de veículos elétricos – ou tão eletrificados quanto possíveis e rapidamente chegaremos ao ponto de um veículo híbrido plug-in com cem quilómetros de autonomia apresentar o valor de 0 g/km como emissões homologadas de CO2 –, de forma a poderem respeitar os valores exigidos pela União Europeia.1 Junte-se a isto o facto de cada vez mais cidades estarem a repensar o ecossistema dos transportes urbanos (nomeadamente impedindo a circulação de carros com motor de combustão em determinadas áreas), o anúncio de mais países europeus pretenderem restringir a venda de carros novos, não eletrificados ou com emissões acima de determinados valores, já a partir de 2030 e rapidamente se percebe a razão por que alguns construtores estão a abandonar o desenvolvimento e a produção de alguns motores para a Europa.
De que forma isto afeta a mobilidade? A aposta numa Europa mais limpa e mais eficiente é também um propósito geopolítico que visa reduzir a sua dependência dos combustíveis fósseis e desencadear uma transformação tecnológica, económica e social, para torná-la mais dinâmica e competitiva. Se este desafio contém algumas ameaças, ele introduz também muitas novas oportunidades, nomeadamente na área da mobilidade. E elas ocorrem não apenas pela vontade dos cidadãos, mas também pela própria necessidade da continuidade do negócio dos próprios construtores automóveis. Que,
1. Neste contexto está naturalmente prevista a utilização do hidrogénio como fonte de energia limpa.
para isso, estão a alargar a produção à venda direta de viaturas, com o desenvolvimento de soluções internas de financiamento, de gestão da frota, de sistemas de partilha de viatura e até de fornecimento de energia elétrica, fechando, dentro do grupo, um ciclo que se estende da produção do automóvel à sua utilização e recondicionamento em final de vida. Uma alteração ao paradigma de posse do automóvel já vinha sendo observada e a pandemia veio de certa forma estimular: está a aumentar o interesse por soluções de utilização do automóvel em vez da sua posse e a duração temporal dessa vontade de utilização tende a ser bastante variável, em função das necessidades de deslocação, da disponibilidade financeira ou tão simplesmente da ausência de lugar de estacionamento. Abre-se assim espaço para o regresso da indústria da partilha de veículos, estimulada pelos próprios construtores automóveis que veem nesta atividade uma fonte importante de recolha de dados, mas também para o desenvolvimento de transportes públicos mais rápidos e flexíveis. Alguns outros fatores são essenciais para acelerar este processo de transição e contribuir diretamente para o estímulo europeu: uma indústria de comunicações mais rápidas, bem como de serviços de tratamento e utilização de dados que, conjugados, vão permitir encontrar e articular melhores respostas (e mais rápidas) para as necessidades de mobilidade de cidadãos e empresas.
Que papel para a gestão de frota? Neste contexto, qual o papel reservado para a gestão da frota das empresas? Em primeiro lugar é preciso realçar que as empresas vão continuar a sentir a necessidade de utilização de viaturas, nomeadamente para atuarem nas áreas da distribuição, prestação de servi-
ços e atividades comerciais. Com frota própria ou subcontratada, este é um sector em crescimento, continuando a haver necessidade de coordenar e de gerir esta frota, até porque ela expõe habitualmente a imagem da empresa, o que a torna importante do ponto de vista reputacional. No que se refere à chamada frota de função ou às viaturas utilizadas como complemento salarial, composta habitualmente por veículos de passageiros descaracterizados, é possível antecipar vários cenários que devem variar em função da política da empresa perante os custos com o automóvel, da vontade dos seus utilizadores e das suas próprias necessidades de mobilidade. No que aos custos se refere, os benefícios que atualmente são proveitosos para as frotas das empresas tenderão a desaparecer, consoante eles se tornem desnecessários para estimular a transição energética. E também porque não é certa a evolução do modelo de trabalho dentro de um “novo normal”; trabalho híbrido, mais trabalho à distância e reuniões online, mais subcontratação de serviços a trabalhadores individuais, são várias as possibilidades em aberto, que contêm em comum uma redução das necessidades de mobilidade. Por isso, mais empresas desejam e já existem soluções mais flexíveis de aquisição automóvel, que lhes permitam enfrentar com menos riscos e encargos um período de indefinição. E vão certamente querer mais respostas de mobilidade integrada, que conjuguem mais do que uma possibilidade de transporte, que possa ser gerida pelo próprio beneficiário desta solução, à medida das suas necessidades.
•