Fd zumbi issuu menor

Page 1

Ele havia nascido livre. Corria solto pela mata, subia em árvores, lutava capoeira e empinava pipas coloridas.

Um dia, porém, foi capturado. Levado para longe de tudo e de todos,

para um lugar totalmente desconhecido.

No entanto, esse menino nunca se esqueceu de sua gente.

Logo que teve uma chance, ele fugiu.

Por meio da história de Zumbi dos Palmares, acompanhamos a história de

um povo contra a escravidão e sua luta incansável pela liberdade.

Um dia, o menino que nasceu livre, que foi capturado e que

mesmo assim voltou para seu povo, lutando até o fim,

se tornaria o líder pelo respeito ao ser humano

e pela preservação dos valores pessoais.

Janaína Amado Ilustrações de Gilberto Tomé

zumbi,

O menino qUe nascEu e moRreU

livRe

Zumbi_capa05_aluno.indd 1

22/08/2012 19:18:03


Zumbi_capa05_aluno.indd 2

22/08/2012 19:18:22


Zumbi_miolo07.indd 1

22/08/2012 19:03:54


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Amado, Janaína

Zumbi, o menino que nasceu e morreu livre / Janaína Amado ; ilustrações de Gilberto Tomé. – São Paulo : Formato Editorial, 2012. ISBN 978-85-7208-816-9 ISBN 978-85-7208-817-6 (professor)

1. Ficção - Literatura infantojuvenil I. Tomé, Gilberto. II. Título.

12-10119

CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura infantil 028.5 2. Ficção : Literatura infantojuvenil 028.5

Zumbi, o menino que nasceu e morreu livre COPYRIGHT © Janaína Amado, 2012 ILUSTRAÇÃO © Gilberto Tomé, 2012

GERENTE EDITORIAL: Rogério Carlos Gastaldo de Oliveira EDITORA-ASSISTENTE: Erika Alonso

AUXILIAR DE SERVIÇOS EDITORIAIS : Flávia Zambon ESTAGIÁRIA: Gabriela Damico Zarantonello

PROJETO GRÁFICO : Gilberto Tomé | Fonte Design

REVISÃO : Pedro Cunha Jr. e Lilian Semenichin (coords.),

Gabriela Moraes e Roberta Somera

PRODUTOR GRÁFICO : Rogério Strelciuc DIREITOS RESERVADOS À

SARAIVA S.A. Livreiros Editores

Rua Henrique Schaumann, 270 – Pinheiros 05413-010 – São Paulo – SP PABX: (0xx11) 3613-3000

www.editorasaraiva.com.br

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem o consentimento por escrito da editora. 1ª edição

1ª tiragem, 2012

Atendimento ao professor: 0800-0117875 falecom@formatoeditorial.com.br Visite nosso site

www.formatoeditorial.com.br

Zumbi_miolo07.indd 2

22/08/2012 19:03:56


Janaína Amado Ilustrações de Gilberto Tomé

zumbi,

O menino qUe nascEu e moRreU

livRe C O N F O R M E A N O VA O R T O G R A F I A S Ã O PA U L O , 2 0 1 2

Zumbi_miolo07.indd 3

22/08/2012 19:04:00


Para Maria JosĂŠ Almeida da Silva, a Zeza, guerreira como Zumbi.

Zumbi_miolo07.indd 4

22/08/2012 19:04:22


á muitos e muitos anos, quando o mundo era bem diferente – havia poucas cidades e as onças urravam soltas pela mata –, nasceu um menino. Vamos chamálo de Zumbi, como ele ficou conhecido depois que cresceu.

Quando Zumbi nasceu – lá por volta do ano de 1665, em Palmares, que hoje fica no estado de Alagoas –, havia escravos no Brasil. Eram homens, mulheres e crianças, todos negros, trazidos de muito longe, desde a África, sua terra natal. Eles eram caçados como bichos na África, acorrentados e jogados em navios apertados e imundos, os “navios negreiros”, para uma viagem de horror e morte através do Oceano Atlântico.

No Brasil, eram vendidos como se fossem coisas, mercadorias, e obrigados a trabalhar para seus donos, os senhores brancos. Os escravos trabalhavam de graça. Recebiam apenas um lugar para morar, comida e alguma roupa para sobreviver. Se por acaso tentassem fugir, eram acorrentados e chicoteados, às vezes marcados com ferro quente no rosto: a marca, que ficava lá para sempre, era um grande “F”, primeira letra das palavras “fugitivo”, “fujão”.

5

Zumbi_miolo07.indd 5

22/08/2012 19:04:38


Mas Zumbi nasceu livre. Gostava de correr solto pela mata, de subir em árvores, de brincar de esconde-esconde, de lutar capoeira, de empinar pipas coloridas, dessas de rabo bem comprido, de rodar pião, de cantar para os orixás, os deuses que seus antepassados tinham trazido da África e cultuavam no Brasil: Xangô, Ogum, Iansã, Yemanjá... Tudo isso com seus amigos, os meninos de Palmares. Até que um dia…

6

Zumbi_miolo07.indd 6

22/08/2012 19:05:02


quando passeava distraído pela mata, o menino Zumbi foi capturado. Com as pernas e os braços amarrados, a boca tapada e um capuz preto sobre o rosto, sentiu que o jogavam dentro de um carro de boi. Sem poder se mexer, enxergar nem gritar, Zumbi só conseguia chorar.

...

O menino perdeu a conta de quanto tempo andou nesse carro de boi. Quase morreu de fome, de sede, de calor, de cansaço e de medo. Não sabia para onde o estavam levando, sabia apenas que o tinham separado de sua família, de sua gente. O que seria dele?

Quando lhe tiraram o capuz, Zumbi se viu num lugar totalmente estranho. Soube depois que era a casa de um padre, numa cidade desconhecida, muito longe da sua. Nessa casa Zumbi viveu durante anos. Ali aprendeu a ler, a escrever em português e a rezar a missa católica. Foi batizado pelo padre, recebendo um novo nome, um nome cristão, pelo qual passou a ser chamado ali: Francisco. O padre desejava que Zumbi se tornasse também padre, para ensinar a religião católica aos escravos. Zumbi aprendeu a cultura dos brancos, sua religião e como pensavam e agiam.

7

Zumbi_miolo07.indd 7

22/08/2012 19:05:09


Mas Zumbi não se esquecia da mãe nem dos amigos de Palmares. Todas as noites sonhava com sua gente, com suas línguas, religiões e culturas trazidas lá da África, diferentes das dos brancos. Sonhava com os cultos aos orixás, sempre acompanhados de palmas e batidas de pés, ao som dos atabaques. Esses cultos tinham de ser feitos às escondidas, pois eram proibidos pelos padres e senhores brancos. Mas nos sonhos de Zumbi os cultos eram livres, realizados à luz do dia, com todo o povo negro dançando, que era sua forma preferida de rezar. Antes de sonhar, Zumbi sempre pensava, triste:

Eu não sou daqui, eu me sinto sozinho aqui nesta cidade. Nem meu nome verdadeiro eu posso ter! Que saudade de Palmares! Até que um dia…

8

Zumbi_miolo07.indd 8

22/08/2012 19:05:24


aproximadamente aos 15 anos de idade, Zumbi fugiu.

...

Sua viagem de volta a Palmares foi difícil, durou vários dias. Ele se perdeu várias vezes. Com medo de ser capturado novamente, caminhava só à noite, no escuro. De dia, escondia-se nas matas, alimentando-se de frutas, raízes e peixes dos rios. Mas não desanimava.

Ao chegar a Palmares, Zumbi não foi para sua antiga casa. Seguiu direto para uma serra ali ao lado, a Serra da Barriga, lugar afastado, difícil de alcançar. Zumbi ouvira contar que na Serra da Barriga existia um quilombo. Quilombo? Sim, uma comunidade de homens, mulheres e crianças, negros e mulatos, nascidos na África e no Brasil, que, como Zumbi, tinham fugido dos senhores brancos para viver juntos. No Quilombo de Palmares os antigos escravos criaram uma comunidade nova, onde podiam expressar sem medo seus cantos aos orixás, seus costumes, sua cultura; era mesmo um espaço de liberdade, governado por eles mesmos, negros e mulatos que ali viviam livres.

9

Zumbi_miolo07.indd 9

22/08/2012 19:05:35


Havia muitos outros quilombos espalhados pelo Brasil, mas o de Palmares era o maior e mais importante. Zumbi se sentiu em casa, naquele quilombo. Muito bem recebido pelos habitantes de lá, os quilombolas, logo fez amigos. Participava da caça, da pesca e da agricultura, que garantiam a comida. Participava ainda dos cultos aos orixás, cantando e dançando ao som das músicas da África, pedindo proteção divina para o quilombo. Dizem até que logo arranjou uma namorada, uma linda adolescente de trancinhas e dentes muito brancos que só falava nagô, uma das línguas africanas. Zumbi também ajudava a conseguir armas para o quilombo, pois os brancos estavam sempre atacando Palmares. Os senhores queriam escravizar de novo os quilombolas. Queriam também destruir os quilombos, para que nenhum escravo pudesse jamais sonhar com a liberdade. Além de corajoso, Zumbi conhecia bem as armas e as formas de lutar e pensar dos brancos, pois vivera entre eles. Em pouco tempo, tornou-se um dos principais chefes do Quilombo de Palmares. Até que um dia…

10

Zumbi_miolo07.indd 10

22/08/2012 19:05:57


as tropas dos brancos fizeram um ataque terrível, devastador, contra o quilombo. Centenas de quilombolas, entre eles várias crianças, foram mortos. Muitos foram feridos, presos e escravizados. O quilombo transformou-se num espaço de morte. Já não se ouviam mais risadas nem jongos nem maculelês nem maracatus nem batuques; já não se ouviam as músicas de trabalho e as danças dos cultos. Ouviamse somente, espalhados pela mata, os gritos das mulheres que perderam seus filhos e seus homens, e os choros das crianças que ficaram sem pais, crianças agora órfãs. Como durante a luta Zumbi despencou de um morro, muitos acharam que havia morrido, ou se suicidado. Mas ele reapareceu e se curou dos graves ferimentos.

...

Os quilombolas tinham poucas armas e estavam cercados. Desesperados, alguns deles, chefiados por um jovem chamado Ganga Zumba, decidiram aceitar uma oferta dos brancos: caso se entregassem, não seriam escravizados. Mas Zumbi não concordou com essa ideia. Ele não tinha certeza se os brancos cumpririam a promessa. E queria lutar até o fim, até que todos os escravos do Brasil, não apenas os quilombolas de Palmares, fossem libertados. Até que não existisse mais escravidão no Brasil.

11

Zumbi_miolo07.indd 11

22/08/2012 19:06:16


Enquanto Ganga Zumba se entregava aos brancos, Zumbi e seus amigos foram para um lugar bem escondido, um lugar secreto na Serra da Barriga. Lá, eles reconstruíram o Quilombo de Palmares. Durante mais de 15 anos, venceram os combates contra os brancos. As notícias de suas vitórias se espalhavam com o vento. O nome de Zumbi logo se tornou conhecido em todo o país, adorado pelos escravos, odiado pelos senhores. Certa época, o quilombo sofreu uma série de ataques seguidos, de tropas dos senhores e do governo, que se reuniram e se armaram muito bem, atacando ao mesmo tempo diversos pontos de Palmares. Com armas mais simples e em menor quantidade, os quilombolas não conseguiram resistir. Em 20 de novembro de 1695, com cerca de 30 anos de idade, Zumbi foi morto. Sua cabeça foi separada do corpo, espetada em um pau e exibida na cidade do Recife, para amedrontar os escravos. Era como se os brancos dissessem: se vocês, escravos, fugirem e se revoltarem, como fez Zumbi, vocês vão terminar como ele, morto, com a cabeça separada do corpo! Até que um dia…

12

Zumbi_miolo07.indd 12

22/08/2012 19:06:31


13

Zumbi_miolo07.indd 13

22/08/2012 19:06:43


...

a figura de Zumbi renasceu.

Sua história, nunca esquecida de todo, passou a ser contada e recontada cada dia mais, de boca em boca, nas rodas de conversa ao pé do fogo, nos encontros de gente pobre, nas músicas, nos livros, na televisão, no cinema e, finalmente, também nas escolas de todo o Brasil. O dia 20 de novembro, dia da morte de Zumbi, passou a ser celebrado como o Dia da Consciência Negra.

Zumbi se tornou uma inspiração para todos nós, crianças e adultos brasileiros que sonhamos com um país ainda melhor, menos injusto, nós que não desistimos de lutar por nossos sonhos. Vamos cantar agora uma das muitas canções inspiradas por Zumbi, composta pelo músico baiano Caetano Veloso. Batendo palmas e pés: Eu quero ver Eu quero ver Eu quero ver Quando Zumbi chegar O que vai acontecer Eu quero ver…

14

Zumbi_miolo07.indd 14

22/08/2012 19:06:57


Zumbi_miolo07.indd 15

22/08/2012 19:07:06


Janaína Amado

Desde pequena, a baiana Janaína Amado adora ouvir histórias. Ela também gosta de contar e de escrever enredos, para crianças e adultos. Janaína aprecia as boas histórias tanto sobre gente que existe ou existiu na vida real, como Zumbi, quanto sobre gente que existe na nossa imaginação, como o Saci Pererê. Quem contou pela primeira vez a história de Zumbi para Janaína foi sua querida babá, a Mazi. Desde

então, a autora nunca mais se esqueceu de Zumbi, o jovem corajoso que viveu e lutou pela liberdade dos escravos no Brasil, e que hoje é lembrado e homenageado no dia 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra. Janaína sente-se muito feliz por escrever esta história para vocês, para que, se gostarem dela, a contem também para seus amigos. A escritora, que hoje mora em Alagoas, terra de Zumbi, escreveu os seguintes livros para crianças: Quem tem medo de pesadelos? (Editora Atual, sob o pseudônimo de Lídia Savana), Terror na festa (Editora Ática) e A n@ve de Noé (Editora Record, com mais autores).

Gilberto Tomé

Artista gráfico, tem trabalhado com ilustração e design de livros e revistas desde sua formação, quando se graduou arquiteto pela FAU-USP, em 1992. Para conhecer outros de seus trabalhos, acesse www.gilbertotome.art.br.

Zumbi_miolo07.indd 16

22/08/2012 19:07:10


Zumbi_capa05_aluno.indd 2

22/08/2012 19:18:22


Ele havia nascido livre. Corria solto pela mata, subia em árvores, lutava capoeira e empinava pipas coloridas.

Um dia, porém, foi capturado. Levado para longe de tudo e de todos,

para um lugar totalmente desconhecido.

No entanto, esse menino nunca se esqueceu de sua gente.

Logo que teve uma chance, ele fugiu.

Por meio da história de Zumbi dos Palmares, acompanhamos a história de

um povo contra a escravidão e sua luta incansável pela liberdade.

Um dia, o menino que nasceu livre, que foi capturado e que

mesmo assim voltou para seu povo, lutando até o fim,

se tornaria o líder pelo respeito ao ser humano

e pela preservação dos valores pessoais.

Janaína Amado Ilustrações de Gilberto Tomé

zumbi,

O menino qUe nascEu e moRreU

livRe

Zumbi_capa05_aluno.indd 1

22/08/2012 19:18:03


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.