Leonardo da Vinci 1452–1519
«Learning never exhausts the mind» Leonardo da Vinci
Introdução Falar de “Lionardo di ser Piero di Anchiano di Vinci”, ou simplesmente Leonardo da Vinci, é sem dúvida, falar de alguém que determinou e marcou a história da inteligência e da criatividade humana. Foi um dos grandes polímatas da humanidade e “era tamanha e de tal índole a sua virtude, que todas as dificuldades para as quais ele voltasse sua atenção se tornavam facilidades absolutas.”1 Apesar de ter sido como artista (pintor) que conseguiu o reconhecimento e o prestígio dos seus contemporâneos, destacou-se também como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. Frequentemente considerado como homem típico do Renascimento pela genialidade dos projetos em que se empenhou e pela diversidade das suas áreas de interesse, tinha uma personalidade multifacetada e uma curiosidade insaciável ao ponto de levá-lo, sem restrições, para horizontes impensáveis para o seu tempo. Para este multi-homem que conquistou o mundo “nada existia na natureza que não despertasse a sua curiosidade e não desafiasse o seu engenho.”2 Foi um dos primeiros no estudo da anatomia, a investigar o desenvolvimento dos fetos no útero e a explorar os segredos do corpo humano através da dissecação de cadáveres. Observou e analisou o voo de insetos e pássaros, o crescimento das plantas, o movimento da água, as formas, sons e cores da natureza que, por sua vez, dariam base à sua arte. Da Vinci foi um cientista-artista tão fascinado pelos mistérios do universo e pelos enigmas do corpo humano quanto pelas possibilidades de aplicar esses conhecimentos em suas obras. Ao alicerçar os conhecimentos da sua exploração sobre o mundo visível na arte da pintura, Leonardo acreditava que poderia colocá-la numa base científica e transformá-la numa atividade nobre e prestigiosa (Gombrich, 1979, p. 222). Foi o inventor da técnica artística sfumato, usada para gerar suaves gradações entre tonalidades e que Leonardo descre-
1 Vasari, Giorgio, Vida dos artistas. São Paulo: Martins Fontes, 2011. p. 443. 2 Gombrich, E.H., História da arte. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979. p. 222.
veu-a como “sem linhas ou fronteiras, na forma de fumaça ou para além do plano de foco.”3 Através do seu primeiro biógrafo, Giorgio Vasari (1511–1574), sabemos que Leonardo “começou muitas coisas e não terminou nenhuma, parecendo-lhe que a mão não conseguiria atingir a perfeição das coisas na arte.”4 Além da personalidade irrequieta que o caracteriza, da sua “ânsia do novo” que o faz mudar continuamente de projetos, a sua exigência e obsessão pela perfeição levam-no muitas vezes a deixar inacabadas as obras que lhe encomendavam. Como inventor, criou centenas de projetos de hidráulica, mecânica, geologia, cosmologia, música, arquitetura, e audaciosos projetos de engenharia. Na década de 1960, descobriu-se mais de 700 páginas de desenhos sobre aviação, arquitetura e engenharia mecânica datadas entre 1491 e 1495. Não obstante a maioria dos seus projectos nunca tenham saído do papel, é inegável a sua contribuição para as ciências. Era requisitado por Príncipes e chefes militares para a construção de fortificações e canais, novas armas e dispositivos bélicos e, em tempos de paz, era admirado como um grande artista bem como os divertia com brinquedos mecânicos que ele próprio inventava ou com projetos para representações teatrais e faustosos cortejos, ou ainda, requisitado como um esplêndido músico. 500 anos se passaram desde a morte de Leonardo da Vinci e o que se escreve sobre ele ainda continua a elevar a aura de mistério que cerca sua vida e sua obra. O génio universal, cujo intelecto poderoso será para sempre objeto de pasmo e admiração para os mortais comuns, como afirmou Vasari, “o céu às vezes nos manda algumas pessoas que não representam apenas a humanidade, mas a própria divindade”.
3 Da Vinci, Leonardo Trattato della pittura. In Bologna: Nell’ Instituto della Scienze, 1786. p. 105. Disponível em: < https:// archive.org/details/trattatodellapit00leon/page/n3> 4
Vasari, Giorgio, Idem, p. 444.
Os Manuscritos de Leonardo Da Vinci Dos múltiplos talentos de Leonardo da Vinci, que abrangeram variados ramos das artes e do conhecimento do seu tempo, o último a ser conhecido foi precisamente o de escritor. Animado por uma curiosidade constante, escreveu muito em todas as formas e estilos e a sua escrita é, sem dúvida, mais um dos muitos mistérios que rodeiam a história de Leonardo da Vinci. Não tendo recebido uma educação convencional, passando antes por academias que ensinavam sobretudo ofícios e não conhecimentos intelectuais, o próprio Leonardo se assumia ironicamente como um homo sanza lettere, ou seja, sem formação académica e desprovido da linguagem necessária para discutir ciência e cultura no mundo académico do seu tempo. No entanto, este extraordinário autodidata, para compensar, dá vazão ao seu talento inato: curiosidade e observação. É essa a grande lição que Leonardo dá à humanidade. O que o torna verdadeiramente diferente não é o seu intelecto ou o seu talento inato, é sim, a sua curiosidade quase sobre-humana. Ao longo da sua vida escreveu e ilustrou tudo que viu, deixando de certa maneira uma mensagem incutida em tudo que fazia e essa sua incansável busca pelo saber científico, pela perfeição, pelo belo dá-nos a ferramenta para compreender e apreciar a sua produção artística e científica. Falar de Da Vinci como escritor, inevitavelmente temos de falar da sua peculiar escrita considerada por muitos dos seus contemporâneos como “estranha”, ou mesmo, “a mão do diabo”. Após a sua morte, foram minuciosamente examinados os inúmeros escritos que Leonardo ciosamente guardava dos olhos curiosos, e numa primeira análise constataram que não passavam de folhas manuscritas em caracteres completamente ilegíveis. Por esse motivo, inicialmente pensou-se que Leonardo inventara uma escrita só por ele percetível, porém, verificou-se que escrevera a maioria das suas anotações em “escrita espelhar” ou “especular”, isto é, da direita para a esquerda, que combinava com o uso de siglas e abreviaturas. Giorgio Vasari afirma que “quem não é acostumado a ler textos assim não consegue entendê-los,
pois só podem ser lidos com um espelho.”5 A própria assinatura autenticada de Leonardo vem comprovar a sua ambidestria e o uso da escrita invertida. Leonardo não foi reconhecido como filho legítimo, nunca pôde usar o sobrenome da família e presume-se que por esse motivo assinava os seus trabalhos simplesmente como “Leonardo” ou “Io Leonardo” (Eu, Leonardo). Segundo alguns entendidos, ao iniciar o nome com letra minúscula traduzia um certo sentimento de inadaptação de Leonardo ligado às suas origens como filho ilegítimo e por essa razão procurava destacar a sua identidade e valorizar o seu ego, adicionando a palavra “eu” antes do nome.6 Por não assinar grande parte dos trabalhos que realizou, muitas obras de Da Vinci estão perdidas e apenas pouco mais de 20 pinturas chegaram até nós identificadas como sendo da sua autoria, entre elas algumas das mais famosas pinturas de todos os tempos, como a Mona Lisa e A Última Ceia. Na tentativa de decifrar o mistério da sua escrita foram elaboradas algumas teorias sobre as razões que o levaram a criar a sua própria linguagem em código. Para alguns estudiosos, Leonardo escrevia com a mão esquerda e de forma inversa devido a um acidente que comprometera boa parte da funcionalidade da sua mão direita, ou ainda para que a tinta não esborratasse enquanto escrevia. Na opinião de outros, o mestre florentino deixou os seus escritos “à maneira especular” por secretismo numa tentativa de proteger as suas ideias para que não fossem roubadas pelos seus concorrentes ou com o intuito de as esconder da Igreja Católica com as quais muitas vezes colidiam com os seus dogmas, sem esquecer do facto de Leonardo ter vivido numa época onde a Igreja era o principal cliente das pinturas e esculturas dos artistas. Todavia, esta teoria é considerada por muitos sem sentido, uma vez que os seus manuscritos podiam facilmente ser lidos com o auxílio de um espelho. Uma outra teoria defendida por neurologistas, é a de que Leonardo 5 Experimente a escrita especular de Leonardo! Disponível na página web do Museum of Science, Boston:< https://www.mos.org/ leonardo/activities/mirror-writing >. 6 Evi Crotti e Alberto Magni. Arquivos do Estado de Milão, 2015. Disponível em:< http://www.archiviodistatomilano.beniculturali.it/ iolionardodavinci/en/expertise.php?lang=en>.
teria aprendido a escrever sozinho, e sendo uma tendência natural para uma criança escrever da direita para a esquerda, ele terá sido levado a fazê-lo muito naturalmente. Porém, a verdade sobre esta questão continua a ser um mistério e não é menos verdade que, mesmo passados 500 anos, por mais que se escreva sobre Leonardo, “apesar das muitas interpretações a que a sua vida e obra dêem margem, ainda haverá espaço e material suficientes para se formularem muitas outras teorias sobre ele”, como referiu o historiador de arte e ex-curador do Museu Britânico Kenneth Clark (1903–1983).7 Conforme escreveu no seu primeiro Caderno de Anatomia, Leonardo produziu ao longo da sua vida cerca de 120 volumes de anotações e desenhos, equivalentes a mais de 10.000 páginas, das quais se acredita que apenas metade tenha chegado aos dias de hoje, espalhadas por diversas coleções públicas e privadas em todo o mundo. O conjunto de manuscritos vincinianos passou a designar-se códigos: o Código Atlântico e o Código do Voo dos Pássaros que se destacam quer pela sua dimensão quer pelo seu conteúdo; o Código Trivulziano, o Código Windsor, os Códigos Madri I e II, os Manuscritos da França (designados pelas letras de A a M e que totalizam 964 folhas), o Código de Leicester ou Hammer e diversos outros. O valioso legado de manuscritos deixados por Da Vinci e que oferecem uma viagem fascinante pelo processo criativo do artista, sofreu muitas vicissitudes após o seu desaparecimento a 2 de maio de 1519. A forma como atualmente se encontra dividido não corresponde à sua forma original quando era vivo ou quando os deixou em testamento ao seu fiel discípulo Francesco Melzi (1491–1570) que os guardou e conservou como uma verdadeira relíquia. Na verdade, foram os herdeiros deste que após a sua morte, em 1570, deram início à dispersão daquele imensurável material. Pouco conscientes da valiosa colecção que herdaram, os manuscritos inicialmente ficam esquecidos e descuidados num sótão por um bom tempo, no entanto, o perceptor da família Melzi, Lelio Gavardi, conhecedor do seu valor, furtou 13 volumes de anotações e desenhos com a intenção de vendê-los ao Grão-Duque da Toscana, Francesco 7
Clark, Kenneth, Leonardo da Vinci. London: Penguin, 1993.
di Medici (1541–1587). Porém, em 1587 Francesco Medici morre e obriga Gavardi a pedir ajuda ao seu parente Aldo Manuzio para vendê-los em Pisa. Giovanni Mazenta (1565–1635), um arquiteto pertencente a uma ilustre família milanesa, ao tomar conhecimento das intenções de Gavardi, age e obriga-o a devolver o material roubado à família Melzi. Orazio Melzi surpreendido com a honestidade do arquiteto, decide presenteá-lo com os 13 volumes devolvidos, juntamente com outros desenhos de Leonardo.
mesmo sistema, Leoni compõe pelo menos outros quatro arquivos.
Contudo, um dos principais responsáveis pelo desmembramento dos manuscritos vincinianos foi Pompeo Leoni (1533–1608), o escultor predileto de Felipe II (1527–1598), rei de Espanha. Propondo a Orazio Melzi dignificações junto do senado espanhol, Pompeo Leoni convenceu Melzi a solicitar que Mazenta lhe devolvesse os manuscritos que lhe havia presenteado, prometendo que seriam doados à corte espanhola, promessa essa que jamais cumpriu. Assim, dos 13 volumes que estavam nas mãos de Mazenta, 7 retornaram a Melzi que os entregou a Pompeo Leoni. Quanto aos 6 manuscritos que permaneceram com Mazenta, um foi doado em 1603 ao Cardeal Federico Borromeo (1564–1631) que fundou a Biblioteca Ambrosiana em 1609. Outro, passou para as mãos do pintor Giovanni Ambrogio Figino (1540–1608) (e após a sua morte para o seu herdeiro Ercole Bianchi) e outro, ainda, para o Duque Carlos Emanuel I de Saboia (1562–1630). Os restantes 3 volumes permaneceram com o irmão de Mazenta até à sua morte, após a qual uniram-se aos demais que estavam com Pompeo Leoni.8
Desde 1637 até 1796, parte dos manuscritos estiveram alojados na Biblioteca Ambrosiana de Milão, porém, com a entrada das tropas francesas de Napoleão Bonaparte (1769–1821) em Itália, este sabendo exactamente quais eram os tesouros que deveriam ser transferidos para Paris, apropria-se de alguns dos manuscritos, entre os quais o Código Atlântico. Em menos de uma semana após a sua entrada na cidade milanesa, deixavam a Biblioteca Ambrosiana com destino a França, algumas caixas contendo as várias obras de Leonardo tomadas pelo governo de Bonaparte, como um verdadeiro espólio de guerra. Uma das caixas, identificada como contendo Papéis com obras de Leonardo da Vinci, foi destinada à Biblioteca Nacional de Paris, enquanto outra, contendo Doze pequenos manuscritos de Leonardo da Vinci, entre os quais, o Código do Vôo e os Manuscritos A a M, foi destinada ao Instituto da França. Esta separação acabaria por ser a causa da incompleta restituição dessas obras à Biblioteca Ambrosiana, aquando do término das guerras napoleónicas, em 1815.
Em 1590, Pompeo Leoni percebendo que os manuscritos não seguiam uma ordem particular, inicia um trabalho de desmembramento de todas as suas páginas com o intuito de separar os projetos artísticos dos projetos tecnológicos e unificar as páginas científicas. Desta divisão foram formadas duas grandes coleções: o Código Windsor, formado por 600 desenhos montados em 234 folhas, atualmente conservado na Biblioteca Real de Londres, bem como o Código Atlântico, guardado na Biblioteca Ambrosiana, em Milão. Seguindo o
Terminada a era de Napoleão, dirigiram-se a Paris os plenipotenciários das várias nações europeias com a função de identificar e repatriar as obras de arte tomadas dos seus respetivos países como espólio de guerra. Após a era Bonaparte, Milão voltou ao domínio austríaco e a Casa de Habsburgo para recuperar os bens artísticos tomados da cidade milanesa encarregou Ottenfels, um barão provavelmente aposentado depois de ter participado nas campanhas militares. Foi alguém que demonstrou ser pouco entendido em arte, pois ao ver os escritos de Leonardo e não
Quando o Código do Voo entrou no Instituto de França pelas mãos dos representantes de Napoleão, possuía algumas folhas a mais, folhas essas que hoje compõem o chamado Manuscrito B. A desintegração do Código do Voo em duas partes, tendo como seu principal responsável Guglielmo Libri (1803–1869), conde e matemático italiano, ocorre entre 1841 e 1844 e foi definido por muitos como um dos mais terríveis acidentes da história dos códigos de Da Vinci. Para além de um exímio matemático, Libri, foi também um antiquário de renome que, aproveitando-se da posição que gozava, furtou importantes peças de diversas bibliotecas para depois revendê-las no mercado da arte. Pelas mãos de Guglielmo Libri o Código do Vôo deixa o Instituto da França, juntamente com outros importantes documentos, entre os quais, algumas páginas dos Manuscritos A e B.
8 Forcellino, Antonio, Leonardo: a restless genius. Cambridge: Polity Press, 2018.
9 Pooler, Richard Shaw, Leonardo Da Vinci Treatise of painting. Wilmington: Vermont Ptress, 2014. p. 124–125.
Os Manuscritos A e B foram vendidos na Inglaterra ao bibliófilo Bertram Ashburnham (1797–1878),
Com a morte de Pompeo Leoni, em 1610 o Código Atlântico é herdado pelo marido da filha de Leoni, Polidoro Calchi, que posteriormente o vende ao Conde Galeazzo Arconati (c. 1580–1649), ficando na sua posse até 1637, quando é doado à Biblioteca Ambrosiana juntamente com o Código do Vôo, conforme especificado no documento de doação assinado por Arconati.9
conseguindo ler a sua famosa escrita inversa, identificou os textos como sendo uma relíquia chinesa. Felizmente nessa ocasião estava presente a delegação do Papa e, entre eles, o famoso escultor Antonio Canova (1757–1822) que, ao contrário de Ottenfels, era alguém que entendia muito de arte e logo percebeu que não se tratava de uma coletânea de escritos chineses, mas o famoso Código Atlântico de Leonardo, convencendo-o a levar para Milão o que é o tesouro mais importante da Biblioteca Ambrosiana. Também levou consigo cópias tomadas como verdadeiras, de 3 dos 12 volumes que se encontravam no Instituto da França, tendo assinado um recibo no qual se comunicava que todos os manuscritos vincinianos levados da Biblioteca Ambrosiana haviam sido recuperados, com a exceção de 9 pequenos manuscritos, que não haviam sido encontrados na Biblioteca Real de Paris. Já em pleno séc. 20, em 1968, houve um novo episódio de desintegração do Código Atlântico de Leonardo, quando um funcionário da Biblioteca Ambrosiana roubou uma folha dupla do manuscrito para vendê-la no mercado de antiguidades. Felizmente, não obteve sucesso. Por tratar-se de uma obra muito conhecida, rapidamente foi detetado e acabou por devolvê-la nesse mesmo ano. Atualmente, o Código Atlântico é conservado na sala dos Tesouros da Biblioteca Ambrosiana, de onde praticamente não sai.
conhecido como um dos grandes colecionadores do séc. 19, porém, após a descoberta dos furtos de Libri, em 1890 o seu filho devolve-os ao Instituto de França.10 Quanto ao Código do Voo, desmembrado e mutilado por Libri, 5 dos seus fólios (1, 2, 10, 17 e 18) foram vendidos em Londres ao pintor e colecionador de arte Charles Fairfax Murray (1849–1919) entre 1859 e 1864. Os demais 13 fólios foram vendidos em 1868 ao Conde de Lugo, Giacomo Manzoni (1816–1889), ficando na sua posse até à sua morte. Em 1892, o Príncipe russo Theodore Sabachnikoff (1869–1927), um estudioso do Renascimento, compra as 13 folhas aos herdeiros de Manzoni. Fascinado pela personalidade e pela obra de Leonardo, Sabachnikoff juntamente com Giovanni Piumati (1850–1915), um pintor de paisagem formado em direito, literatura e filosofia e a única pessoa capaz de ler a escrita invertida de Leonardo, tentaram reunir tudo o que existia sobre o mestre florentino adquirindo muitas obras no mercado de antiguidades. No ano que Sabachnikoff comprou a Murray um dos 5 fólios (fólio 18) que possuía, publica a primeira edição fac-simile do Código do Voo, editado pela Casa Hoepli, mas ainda sem os quatro fólios que haviam sido retirados e vendidos a outros compradores. Em dezembro de 1893, Sabachnikoff decide doar as suas 14 folhas do Código do Vôo à Rainha Margarida de Saboia (1851–1926) que as deposita na Biblioteca Real de Turim. Dez anos mais tarde, em 1903, o fólio 17 une-se às demais em Turim. Muitos anos depois, Enrico Fatio, um colecionador de Genebra, que havia adquirido as 3 folhas que ainda faltavam (1, 2 e 10), ofereceu-as ao Rei Vitor Emanuel II (1820–1878) que, por sua vez, as uniu ao restante da obra.11 Atualmente, a Biblioteca Real de Turim está na posse de todas folhas que integram o Código do Vôo, com a exceção das que compõem o Manuscrito B, depositado no Instituto da França. Os outros manuscritos leonardianos levados por Pompeo Leoni para Espanha, de igual modo sofreram as contingências dos diferentes proprietários que possuíram e dispersados por vários
países. Entre 1630 e 1640, o Conde de Arundel Thomas Howard (1585–1646), conseguindo adquirir o segundo grande volume compilado por Leoni que continha os manuscritos de cariz artístico, designado por Código de Windsor, leva-o para Inglaterra onde foi integrado na Coleção Real britânica. Juntamente com este código, adquiriu também o Código Arundel 263 que no ano de 1667 foi doado por um dos seus herdeiros à Royal Society, que mais tarde vendeu ao British Museum em 1834, e atualmente encontra-se depositada na British Library. Por sua vez, já no séc. 19, as bibliotecas britânicas em 1876 ficam enriquecidas com novos manuscritos de Leonardo, quando após a morte de John Forster (1812 a 1876) recebem o seu espólio bibliográfico, no qual constava 3 manuscritos do mestre florentino e que passaram a ser designados por Códigos de Forster. Os Códigos de Forster que, originalmente era composto por 5 manuscritos, foram adquiridos por volta de 1863 em Viena pelo Lord Edward Lytton (1803–1873) e mais tarde oferecidos a Forster que, por sua vez, após a sua morte, os doou ao Victoria and Albert Museum.12 Outros dois manuscritos da coleção de Pompeo Leoni designados por Códigos de Madrid I e II estão atualmente depositados na Biblioteca Nacional de Espanha. Trazidos para Espanha em 1590 por Leoni, os dois volumes foram guardados na Biblioteca Real de Felipe II, e sem que tenham sido adquiridos por este, Polidoro Calchi em 1608, torna-se herdeiro de toda a coleção de Pompeo Leoni quando este morre. Parte da colecção, Calchi vende ao Conde Galeazzo Arconati e é transferida para Itália, mas estes dois volumes permanecem em Espanha e são vendidos a Juan de Espina (1568–1642), um clérigo da Cantábria e famoso colecionador, os quais depois da sua morte oferece ao Rei Felipe IV (1605–1665) ficando arquivados na Biblioteca Real do Mosteiro de El Escorial até cerca 1830. Depois são transferidos para a Biblioteca Nacional, em Madrid, e devido a um erro de catalogação no registo de inventário permaneceram perdidos por muitos anos até serem redescobertos em 1964.13 Um dos mais antigos manuscritos, produzido por Leonardo entre 1487 e 1490, é composto por
10 Palmer, Allison Lee, Leonardo da Vinci: a reference guide to his life and works. Lanham: Rowman & Littlefield, cop. 2019. pp. 43.
12
Pooler, Richard Shaw, Idem, p. 134–135.
11
13
Pooler, Richard Shaw, Idem, p. 129–131.
Pooler, Richard Shaw, Idem, p. 139.
55 fólios, mas originalmente compreendia 62 folhas, das quais 5 estão perdidas. Foi deixado por herança ao seu aluno Francesco Melzi que o identificou por Manuscrito F. Mais tarde, tornou-se seu proprietário o escultor Pompeo Leoni e, em 1632, foi comprado por Galeazzo Arconati que o doou à Biblioteca Ambrosiana em 1637, mas foi retomado em troca do Manuscrito D quando a doação foi oficialmente efectivada em 1648. Os vestígios deste manuscrito permaneceram perdidos até meados do séc. 18, quando reaparece na posse do nobre milanês Don Carlo Trivulzio (1715–1789) que o comprou a troco de um relógio de prata ao Cavaleiro Don Gaetano Caccia de Novara em 1750. O Município de Milão adquiriu em 1935 a maior parte da coleção artística e de livros de Trivulzio, incluindo o manuscrito de Leonardo que atualmente se encontra alojado na Biblioteca Trivulziana do Museu do Castelo de Sforzesco.14 Finalmente, o manuscrito mais valioso escrito por Leonardo da Vinci encontra-se atualmente nos Estados Unidos da América e foi adquirido pelo milionário e fundador da Microsoft, Bill Gates (1955). O Código de Leicester, também conhecido como o Código Hammer, foi compilado entre 1508 e 1510, durante um período que Leonardo dividia o seu tempo entre curtas estadias em Florença e Milão que, ao contrário de outros manuscritos, é quase totalmente dedicado a um estudo aprofundado de um único tema: o estudo da água. A história deste manuscrito não é totalmente conhecida. É quase certo que o Código de Leicester não fazia parte da coleção de manuscritos herdados por Francesco Melzi, uma vez que não foi encontrado em nenhuma das suas anotações e abreviações, tão frequentes nos outros códigos, a informação de que este manuscrito fizesse parte do legado que Da Vinci o havia deixado. Parece ter sido oferecido ao escultor Giovanni Giacomo Della Porta (1485–1555) e herdado pelo seu filho, também escultor e aluno de Michelangelo, Guglielmo Della Porta (1516–1577) que o possuía desde 1537, quando se mudou para Roma. Mais tarde, foi vendido pelos herdeiros de Della Porta ao pintor italiano Giuseppe Ghezzi (1634–1721). Por sua vez, o Conde de Leicester, Thomas Coke (1697–1759) numa longa viagem que realizou entre 1713 e 1718 pela Europa, comprou o manuscrito a Giuseppe 14
Pooler, Richard Shaw, Idem, p. 138.
em 1717 e permaneceu na família Leicester, na Biblioteca em Holkham Hall, por 263 anos. Leiloado em 1980, o manuscrito foi comprado pelo magnata norte-americano Armand Hammer (1898–1990) bem como levou a cabo o projeto de traduzir o documento para inglês, contratando o historiador e um estudioso especialista de Leonardo da Vinci, Carlo Pedretti (1928–2018), que precisou de sete anos para finalizá-lo.15 Em 1994, o documento foi novamente colocado à venda em leilão, atingindo a quantia de mais de 30 milhões de dólares e tornando-se, assim, o manuscrito mais caro da história. Três anos após ter comprado, Bill Gates digitalizou o documento e tornou-o acessível ao público. Estas são as razões e as causas da grande desintegração e dispersão dos escritos de Leonardo Da Vinci, agora divididos em dez códigos e espalhados pelo mundo.
15
Palmer, Allison Lee, Idem, p. 45.
Codex Arundel (1478–1518) O Codex Arundel é uma coleção encadernada resultante de folhas desmembradas, composta por 285 fólios de diferentes tamanhos, montados em 570 páginas (28x18), que datam principalmente entre 1480–1518.
2.017, permitindo os visitantes ver os visionários cadernos com animações e anotações explicando os diferentes aspetos escritos nas páginas, bem como apreciar com detalhe os esboços escritos por Leonardo.
O conteúdo deste caderno visionário é uma mescla de materiais que Da Vinci descreve como sendo “uma coleção sem ordem, tirada de muitos papéis que copiei na esperança de organizá-los mais tarde de acordo com os assuntos que eles tratam.” O Códice Arundel 263 é uma coletânea de textos escritos por Leonardo ao longo da sua vida profissional, no qual utilizou a sua escrita inversa que só se revela diante de um espelho, abordando uma ampla gama de tópicos em ciência e arte e incluindo igualmente notas pessoais. Podemos ver representados nesta compilação pequenos tratados, diagramas e esboços, estudos em física e mecânica, em ótica e geometria euclidiana, estudos de peso, de hidráulica e arquitectura, como é exemplo os estudos realizados para o Duque Ludovico Sforza em 1480 ou estudos patrocinados pelo rei de França, Francisco I em 1518).16 A designação do códice tem origem no nome do Conde de Arundel, Thomas Howard (1586–1646), um nobre inglês e colecionador de arte, que o comprou em Espanha na década 30 do século 17. Em 1667, o seu neto Henry Howard (1628–1684), doou o manuscrito à Royal Society e em 1681, foi catalogado pela primeira vez pelo bibliotecário William Perry como um caderno científico e matemático. Posteriormente, em 1831, foi comprado pelo Museu Britânico à Royal Society juntamente com 549 outros manuscritos do Conde de Arundel. Atualmente, está em Londres na Brtish Library e foi publicado em 1998 o fac-simile do Codex Arundel. A partir de 2007, a British Library disponibilizou online a versão digitalizada do códice graças a uma colaboração com a Microsoft, no âmbito do projeto designado Turning the Pages
16
Palmer, Allison Lee, Idem, p. 41.
17 Turning the Pages. Disponível em: <http://ttp. onlineculture.co.uk/ >.
Codex Atlanticus (1478–1519) O Codex Atlanticus18 é uma compilação de manuscritos de Leonardo da Vinci constituído por doze volumes que agregam 1.119 páginas. A folha de maior dimensão no século 17 era a de formato atlântico, ou seja, a que era usada para imprimir e confecionar os chamados atlas. O nome atribuído ao código mais completo de Leonardo advém do tamanho das páginas (65x44), semelhantes às páginas de um atlas. Trata-se de documento que cobre um longo período da vida do mestre florentino: desde 1478 (os folhetos nos quais cita o seu tio, Francesco d’Antonio) até 1519 (os seus projetos na construção de um palácio real de Romorantin, França). O seu conteúdo aborda uma grande variedade de assuntos: desde estudos que envolvem desenhos sobre anatomia, astronomia, botânica, química, geografia, matemática, mecânica, projetos tecnológicos, estudos sobre o voo, assim como projetos arquitetónicos e de engenharia de que é exemplo a cúpula da Catedral de Milão. Também representam estudos relacionados com a pintura e a escultura, como é o caso o retábulo da Adoração dos Magos ou o monumento equestre Sforza. Este códice foi reunido pelo escultor e colecionador italiano Pompeo Leoni19 (1533–1608) que, procurando organizar os cadernos de Leonardo de acordo com as suas temáticas, desmembrou todas as suas páginas, cortando e mudando a sua ordem. Deste trabalho resultou o Código Windsor, formado por 600 desenhos montados em 234 folhas e o Código Atlântico. Por outro lado, este trabalho de desmembramento também teve o objetivo de melhor conservar o manuscrito e facilitar o seu manuseamento. De facto, Leonardo não utilizou papel de tamanho padronizado e Leoni decidiu colar as folhas de Leonardo de diferentes tamanhos em folhas de um 18 Biblioteca Ambrosiana. Disponível em: <https://www. ambrosiana.it/scopri/collezioni/?tag=codice-atlantico >. 19 A Regia Accademia del Lincei, em 1880, publicou a versão criada por Pompeo Leoni, sendo a edição mais exclusiva e valiosa deste código. Após a digitalização das 1770 páginas que compõem este códice, em 2008 Mario Taddei realizou a reconstrução desta edição onde registou fotograficamente todos os passos do projeto e disponibilizou na Internet em: http://www.mariotaddei. net/Mario_Taddei_2008%20Leonardo%20da%20Vinci%20 -%20Unique%20edition%20of%20the%20Da%20Vinci%20 Codex%20Atlanticus.htm#foto >.
único formato. Aliás, utilizou o maior formato possível, cortando janelas para os casos de manuscritos com anotações na frente e no verso, por forma a se poder ler sem tocar os originais e apenas as folhas de suporte. Todavia, um episódio ocorrido no século passado levou a tomar medidas para a conservação, preservação e segurança deste documento. Em 1968, um funcionário da Biblioteca Ambrosiana furtou uma folha dupla do Código Atlântico para vendê-la no mercado de antiguidades, porém, felizmente não obteve sucesso dado tratar-se de um documento bastante conhecido no meio, tendo sido denunciado e a folha devolvida nesse mesmo ano à Biblioteca Ambrosiana. Por esse motivo, entre 1968 e 1972, o código foi submetido a um laborioso trabalho de restauração realizado em Grottaferrata20 (região do Lácio, província de Roma) pelo professor Barnieri, pelo seu pai Josafá Kurelo e supervisionado pelo Estado italiano de modo a permitir tutelar com maior cuidado o manuscrito e as folhas não poderem ser removidas, já que estão encadernadas em volumes. O restauro não consistiu somente na encadernação das folhas, mas também da substituição das folhas de suporte que, atualmente, são todas novas, feitas com papel especial, de acidez específica e tendo um cuidado especial no ponto de contacto entre o original e a folha de suporte, por forma a poder tutelar da melhor maneira possível os manuscritos. Atualmente, o Codex Atlanticus é conservado na sala dos Tesouros da Biblioteca Ambrosiana21 de Milão, de onde praticamente não sai. Além do manuscrito, habitam a Biblioteca Ambrosiana outras obras de Leonardo: 27 desenhos, 4 incisões com os chamados “nós vincinianos”, o famoso livro de Luca Pacioli (1447–1517) intitulado “ A Divina Proporção”22, contendo ilustrações de Leonardo (entre as quais a do famoso Homem Vitruviano) e o óleo sobre madeira com o retrato do músico, provavelmente pintado em 1485. 20 Falconne, Giovana; Serangeli, Alfredo, The Exarchic Monastery of St. Mary of Grottaferrata. Disponível em: http://www. abbaziagreca.it/en/activities/restoration.asp >. 21 Biblioteca Ambrosiana. The Mysteries of the Codex Atlanticus. Disponível em: <https://www.ambrosiana.it/en/partecipa/mostre-einiziative/the-mysteries-of-the-codex-atlanticus-leonardo-at-theambrosiana/ >. 22 Biblioteca Ambrosiana. The Ambrosiana’s Collection. Disponível em: <https://www.ambrosiana.it/en/opere/de-divinaproportione/ >.
Codex de Windsor (1478–1518) O Codex Windsor23 consiste numa coleção que integra 606 desenhos de vários tamanhos, não encadernados, catalogados individualmente, os quais foram produzidos em diferentes períodos da vida de Leonardo, desde 1478 até 1518. O Código de Windsor é uma compilação de manuscritos que agrega desenhos artísticos e estudos sobre anatomia e geografia, estudos de pessoas, animais, plantas e paisagens, caricaturas, mecânica, tecnologia de armas e um grupo de mapas, cujas anotações e comentários foram escritos por Da Vinci em escrita “espelhar”. Estão depositados na Biblioteca Real do Castelo de Windsor, em Inglaterra, e fazem parte da Coleção Real desde o século 17. Os 153 fólios com desenhos sobre anatomia foram previamente coletados em três volumes: o manuscrito anatómico A24, composto por 18 folhas, o B25 por 42 folhas e o C26, por 93 folhas. O Manuscrito Anatómico C foi novamente subdividido em seis cadernos, os quais foram designados por Quaderni di anatomia I-VI. Leonardo da Vinci, com particular interesse no sistema musculosquelético e órgãos internos do corpo humano. Leonardo inicia os seus estudos sobre anatomia do corpo em finais da década 70 do século 15, sendo provável que tenha frequentado as primeiras secções27 na Universidade de Pádua. Através dos próprios escritos de Leonardo tomamos conhecimento que começou a fazer secções a partir de 1505 e por volta do ano de 1518, afirmou ter dissecado um total de trinta cadáveres em toda a 23 É possível visualizar online a maioria dos desenhos desta coleção na Royal Collection Online, disponível em: < https://www.rct.uk/collection/search#/page/1#who >. De igual modo poderão ser consultados na página web do Museo Galileo do Instituto de Storia della Scienza de Florença em: < https://brunelleschi.imss.fi.it/genscheda. asp?appl=LIR&xsl=manoscritto&lingua=ENG&chiave=100777 >. 24 I Manoscritti di Leonardo da Vinci della Reale biblioteca di Windsor: dell’ anatomia, fogli A. Ed. facsimile. Parigi: E. Rouveyre Editori, 1898. Disponível em: < https://archive.org/details/ imanoscrittidile00leon_0/page/n8 >.
sua vida. Nos seus desenhos, Leonardo descreve membros e órgãos individualmente, bem como descreve representações do corpo inteiro em diferentes fases da secção (dissecação). Os seus estudos anatómicos, muitas vezes representam partes do corpo por cortes, razão pela qual é frequentemente citado como o fundador histórico da representação tomográfica na medicina. Francesco Melzi (1491–1570), aluno e fiel amigo de Leonardo, herdou a maioria dos manuscritos do seu Mestre. Após a sua morte, em 1590 o seu filho Orazio Melzi vendeu mais de 2.500 folhas ao escultor e colecionador de arte, Pompeo Leoni (1533–1608). Com o intuito de organizar tematicamente os manuscritos separou os desenhos artísticos dos desenhos técnicos e científicos, cortando folhas e colando outras que originalmente não faziam parte do núcleo adquirido. No final, resultaram vários volumes com os desenhos anatómicos de Leonardo onde, mais tarde, recebem o nome de Codex de Windsor juntamente com outros manuscritos que abordavam temáticas diferentes. Até aos nossos dias, não foi possível clarificar com precisão o percurso que estes manuscritos fizeram até chegarem a Inglaterra e serem integrados na Royal Collection. Tendo a sua origem na coleção de Pompeo Leoni, foram adquiridos a Juan de Espina (1568–1642) e trazidos para Inglaterra pelo Conde de Arundel, Thomas Howard (1586–1646) entre 1625 e 1630 e, após a sua morte, provavelmente foi adquirido pelo Rei Carlos I (1600–1649) ou Carlos II (1630–1685) de Inglaterra e integrados na Coleção Real. Porém, o primeiro facto histórico que comprova a existência deste código na Coleção Real britânica foi em 1690, quando a Rainha Maria II de Inglaterra expõe os manuscritos no Palácio de Kensignton para o estadista holandês Constantijn Huygens (1628–1697).28
25 I Manoscritti di Leonardo da Vinci della Reale biblioteca di Windsor: dell’ anatomia, fogli B. Ed. facsimile. Torino: Roux e Viarengo Editori, 1901. Disponível em: < https://archive.org/details/ imanoscrittidile00leon/page/4 >. 26 Leonard da Vinci, Fragments: étude anatomiques (recueil C). Paris: É. Rouveyre, 1898. Disponível em: < https://archive.org/ details/fragmentsetudesa00leon/page/n5 >. 27 As secções anatómicas consistem na dissecação de cadáveres para fins de estudo e aprendizagem de profissionais de medicina.
28
Pooler, Richard Shaw, Idem, p. 132–133.
Códices Institut de France (1478–1518) Os Códices do Institut de France29, são compostos por doze volumes que, a partir do final do século 18, são designados pelas letras A a M e foram produzidos entre 1478 e 1518 aproximadamente. Permanecem conservados exatamente como apareceram quando foram compilados e, por esse motivo, constituem um documento excecional para estudar a vida e as obras de Leonardo. Os doze cadernos contêm um total de 964 folhas, onde alguns deles são encadernados à mão em pergaminho, outros em couro ou em papelão e têm formatos diferentes: o de menor dimensão é o Manuscrito D (10x7cm) e o maior é o Manuscrito C (31,5x22cm). O conteúdo destes cadernos é mais científico e técnico do que artístico, contendo notas, esboços e rascunhos de tratados sobre várias temáticas, desde tratados geométricos, explicações de problemas mecânicos, experiências científicas, mas também reflexões sobre obras de arte e literatura e permeado com comentários autobiográficos. Tudo isto ilustrado com desenhos magistrais de esboços rápidos e observações detalhadas.30 Manuscrito A Manuscrito encadernado (22x15), originalmente composto por 144 fólios, mas devido a várias mutilações apenas restam 63 folhas. Produzido por Leonardo por volta de 1490, contém um esboço do Tratado de Pintura. Manuscrito B É o volume mais antigo de todos, data de 1487 a 1489. É sabido com certeza que Leonardo começou a escrever estes manuscritos em 1487, quando tinha 35 anos. Neste caderno Da Vinci mostra interesse por arquitetura civil e militar e máquinas voadoras. Manuscrito C Caderno produzido entre 1490–1491 e é dedicado
29 Os cadernos e notas de Leonardo da Vinci podem ser consultados no site da Réunion des Musées Nationaux em: <http:// www.bibliotheque-institutdefrance.fr/content/les-carnets-deleonard-de-vinci >. 30 Les Manuscrits de Leonard de Vinci: les 14 manuscrits de l’Institut de France. Paris: Sansot, 1910. Disponível e. <https:// archive.org/details/lesmanuscritsdel00leonuoft/page/n5 >.
à “sombra e luz” e apresenta várias observações ópticas aplicados à pintura. Manuscrito D Volume compilado entre 1508 e 1509 onde dedica o seu estudo ao olho e à ciência da visão, para o qual Da Vinci foi inspirado pelos autores antigos, mas também pela sua própria experiência. Manuscrito E O seu conteúdo trata principalmente de pesos, mas outros temas como a geometria, pintura, movimento, tecnologia e água são aqui abordados. Manuscrito F Volume com as folhas completas (total de 96 fólios) e aborda várias temáticas: água, movimentos e domesticação, bombas hidráulicas, óptica e geometria. Manuscrito G Neste volume, a primeira parte contém um grupo desenhos e notas de plantas e o seu crescimento e, na segunda parte, trata da geometria, do vôo dos pássaros, tecnologia, água, óptica, movimento. Manuscrito H Manuscrito produzido entre 1493 e 1494, onde o tema da água é predominante no aspeto da sua força e na violência das correntes. Por outro lado, encontramos também notas de gramática latina porque Leonardo, aos 40 anos, decidiu aprender latim para ter acesso a trabalhos científicos. Manuscrito I Contém estudos da água e mecânica, geometria euclidiana e estudos no sangue. Manuscrito K Neste volume são representados estudos de geometria, anatomia, canalização da água e arquitetura, com referências ao período em que trabalhou para Charles d’Amboise, governador francês de Milão. Manuscrito L Contém esboços de fortificações e arquitetura militar datados de 1502, quando Leonardo ser-
viu Cesare Borgia como Arquiteto e Engenheiro Geral em 1504.
no de 18 folhas, conhecido desde então como o Código do Voo dos Pássaros.31
Manuscrito M Volume dedicado à geometria e à física, contendo também notas botânicas, desenho de emblemas e estudos de pontes.
Em 1850, um julgamento condenou à revelia Libri dez anos de prisão, mas este nunca mais retornou a França e morreu no exílio. No ano de 1890 o filho do Conde Ashburnham devolve as folhas roubadas por Libri ao Institut de France, onde presentemente têm a identificação Ms 2184–2185 e são consideradas como suplementos dos Manuscritos A e B. Quanto ao Código do Võo dos Pássaros, está depositado na Biblioteca Real de Turim.
Os Códices do Institut de France desde 1637 e 1796 habitaram a Biblioteca Ambrosiana de Milão, mas com a invasão e ocupação do exército francês em Itália, Napoleão (1769–1821) impôs à Lombardia um tributo de guerra e confiscou grandes obras científicas e artísticas. Várias caixas rumaram com destino a Paris e, de entre os tesouros apropriados por Napoleão, estavam os manuscritos de Leonardo da Vinci. Assim, a caixa contendo Papeis com obras de Leonardo da Vinci foi destinada à Biblioteca Nacional de França, e a caixa contendo o Código do Voo e os Manuscritos A a M, foi destinada ao Instituto da França. Esta separação acabaria por causar a incompleta restituição dessas obras à Biblioteca Ambrosiana, após o término do domínio napoleónico. Em 1815, o Barão Ottenfels, encarregado de repatriar as obras de arte tomadas por Napoleão, para além das cópias tomadas como verdadeiras de 3 volumes dos 12 que se encontravam no Institut de France, comunicou que todos os manuscritos vincinianos levados da Biblioteca Ambrosiana haviam sido recuperados, com a exceção de 9 volumes pequenos que não haviam sido encontrados na Biblioteca Real de Paris. Assim, os pequenos manuscritos que estavam no Instituto de France, não foram identificados nem reivindicados e acabaram simplesmente por serem esquecidos. Porém, Guglielmo Libri (1803–1869), matemático e antiquário de renome, foi o responsável de um dos episódios mais terríveis da história destes manuscritos que levou à desintegração do Código do Võo e de outros manuscritos de Leonardo. Entre 1841 e 1844, Libri furtou 34 folhas do Manuscrito A e 10 folhas do Manuscrito B, para depois vendê-las em Inglaterra ao Conde Bertram Ashburnham (1797–1878) em 1847. Essas folhas passam a ter o nome do proprietário e dão origem ao Código Ashburnham. Para além das folhas roubadas do Manuscrito B, havia mutilado também um cader-
31
Pooler, Richard Shaw, Idem, p. 125–126.
Codex Trivulzianus (1487–1490) O Codex Trivulzianus32, produzido entre 1487 e 1490, é um dos mais antigos manuscritos que, originalmente continha 62 folhas, mas atualmente restam apenas 55. Neste códice Leonardo, que era tudo menos um omo sanza lettere (um homem iletrado), expressa uma vontade de dominar a linguagem utilizada pelos académicos do seu tempo, onde o latim era língua obrigatória, e elabora listas lexicais de forma organizada de todas as palavras relacionadas com a ciência, a filosofia e os assuntos humanísticos em geral. Muitas palavras foram reinterpretadas por Leonardo, que lhes deu novos significados e são utilizadas em diferentes contextos, fornecendo-nos assim um documento valioso para a história da linguagem durante esse período. Além das listas de palavras, o códice inclui uma importante série de desenhos de caricatura que exploram diferentes tipos de fisionomia, originando uma curiosa galeria de retratos reais e imaginários. Contém igualmente estudos de arquitetura religiosa, como o desenho do tiburium da Catedral de Milão, e uma série de projetos relacionados com a arquitetura militar. O Códice Trivulziano é mantido no Castelo Sforza, em Milão, onde por norma não está disponível ao público, porém, poderá ser visto e folheado digitalmente na Biblioteca Trivulziana. Numa das salas do museu principal do castelo podemos igualmente apreciar afrescos pintados pelo grande Mestre.
32 Archivo Storico Civico di Milano e Biblioteca Trivulziana. Disponível em: <http://graficheincomune.comune.milano.it/ GraficheInComune/immagine/Cod.+Triv.+2162+piatto+anteriore >.
Codex Forster I, II, III (1487–1505) Coletivamente conhecidos como Codex Forster, é um dos manuscritos de Leonardo da Vinci compilado no período de 1487 a 1505. Os três manuscritos desta coleção correspondem a cinco cadernos, com um total de 354 folhas, provavelmente encadernados em Espanha enquanto eram da propriedade do escultor Pompeo Leoni (1533–1608). Estes códigos, escritos “à maneira especular”, refletem a mente mais inquisitiva de Leonardo e o seu conteúdo versa as mais variadas matérias, desde a engenharia hidráulica até um tratado sobre a medição de sólidos.
e que, mais tarde os passou para John Forster (1812 a 1876), crítico literário. Em 1876, o South Kensington Museum (chamado Victoria and Albert Museum desde 1899), após a morte de John Forster, recebe a sua preciosa coleção de manuscritos, incluindo as cópias originais dos romances de Charles Dickens, juntamente com os seus livros e imagens, bem como os três manuscritos de Leonardo da Vinci.34
O Codex Forster I33 é composto por dois manuscritos de 101 folhas no formato 10x15 cm e que compreende um período entre 1487 a 1490, no qual está representado estudos sobre a geometria euclidiana, provavelmente sob a orientação do matemático Luca Pacioli (1447–1517). Já o segundo manuscrito, datado de 1505, retrata predominantemente estudos sobre hidráulica, como o parafuso de Arquimedes, e ainda várias formulações químicas. O Codex Forster II integra igualmente dois manuscritos com um total de 159 folhas no formato de 7x10 cm e é datado por volta de 1497. O primeiro manuscrito contém esboços sobre arquitetura, estudos sobre nós e tranças ornamentais e mostra tratados sobre mecânica. O segundo, por sua vez, apresenta notas sobre investigações sobre física e mecânica, como força, massa e movimento. Quanto ao Codex Forster III, composto por 94 folhas e com um formato de 6x9 cm, contém anotações e esboços espontâneos e quotidianos, revelando uma grande diversidade de interesses de Leonardo. Além disso, apresenta outros projetos de fábulas e parábolas e estudos para a estátua equestre de Francesco Sforza, bem como mapas da cidade. Pouco se sabe sobre a história destes manuscritos, apenas que foram adquiridos em Viena, por volta de 1863, por Lord Edward Lytton (1803–1873) 33 Victoria and Albert Museum. Disponível em: < https://www. vam.ac.uk/articles/explore-leonardo-da-vinci-codex-forsteri#?c=&m=&s=&cv=&xywh=-888%2C-111%2C3250%2C2211 >.
34
Pooler, Richard Shaw, Idem, p. 134–135.
Codex de Ashburnham (1489–1492) O Codex de Ashburnham inclui dois manuscritos em papel (Codex de Ashburnham I e II) com um total de 44 folhas, contendo estudos para a arquitetura, arte e pintura que Leonardo realizou entre 1489 e 1492. O volume I consiste em 34 folhas com cerca 15 cm x 22 cm e o volume II em 10 folhas no formato de cerca de 16 cm x 23 cm, sendo este último dedicado exclusivamente à pintura. Este códice eram parte original dos Codex A e B, mas em meados do século 19 alguns desenhos foram arrancados dos conjuntos originais e converteram-se neste códice. Como é sabido, após a morte de Leonardo da Vinci, a maioria dos seus desenhos e manuscritos foram mantidos pelo seu fiel discípulo Francesco Melzi (1491–1570). Por volta de 1590, o escultor Pompeo Leoni (1531–1608) adquire uma grande parte da coleção dos documentos herdados por Orazio Melzi e, posteriormente, é vendida ao Conde Galeazzo Arconati que, por sua vez, decide doar à Biblioteca Ambrosiana em 1637. Com a invasão napoleónica em Itália no ano de 1795, 12 manuscritos de Leonardo, designado como Manuscrito A a M e o Codex Atlanticus, foram transferidos para a Biblioteca do Institut de France, em Paris, como espólio de guerra de Napoleão (1769–1821). Após a sua queda, em 1815, apenas o Codex Atlanticus retorna à Biblioteca Ambrosiana. Na década 40 do século 19, o matemático italiano e ladrão de livros, Guglielmo Libri (1803–1869) com o propósito de criar “dois novos arquivos”, cortou as páginas 81 a 114 do manuscrito A e as páginas 91 a 100 do manuscrito B e roubou-as para vendê-las ao colecionador e bibliófilo britânico Bertram Ashburnham (1797–1878), que deu o nome a este códice. Em 1890, os manuscritos são devolvidos pelo filho de Ashburnham ao Intitut de France e até à atualidade permanecem em Paris, convencionalmente identificados com dois números: 2037 (o antigo códice B) e 2038 (antigo códice A) mantendo-se separados dos manuscritos originais e formando o Codex Ashburnham I e II.
Codex de Madrid I e II (1490–1505) Os Códices de Madrid35 são compostos por oito volumes encadernados em couro azul, contendo 540 páginas e abarcam um período que vai desde 1490 a 1505. Estão escritos em italiano e representam um conjunto inigualável de anotações e pensamentos de Leonardo sobre estudos e experimentos no campo da arte, da mecânica, geometria, hidráulica, anatomia, meteorologia, arquitetura, poliorcética e o voo dos pássaros. Os códices incluem ainda, uma lista de livros que Leonardo usou na época em que os escreveu, bem como algumas gramáticas básicas de latim. O Codex de Madrid I é excecionalmente muito homogéneo quanto ao seu conteúdo e é dedicado essencialmente à mecânica, enquanto que o Codex de Madrid II aborda uma diversidade de temas, nomeadamente relacionados com a arte.36 Originalmente estes códigos foram trazidos para Espanha pelas mãos do escultor Pompeo Leoni (1533–1608) que os havia adquirido juntamente com muitos outros a Orazio Melzi, filho e herdeiro de Francesco Melzi (1491–1570) a quem Leonardo da Vinci deixou todo o seu legado. Após a morte de Leoni, Polidoro Calchi, marido de sua filha, herda toda a sua coleção, a qual parte dela vende ao Conde Galeazzo Arconati, enquanto estes dois volumes permanecem em Espanha e são vendidos a Juan de Espina (1568–1642) em 1633. Após a morte de Espina, os dois volumes são doados a Felipe IV (1605–1642), rei de Espanha, ficando arquivados na Biblioteca Real do Mosteiro de El Escorial até cerca 1830. Posteriormente, são transferidos para a Biblioteca Nacional, em Madrid, onde devido a um erro de catalogação no registo de inventário levou que os manuscritos ficassem perdidos por 150 anos até serem novamente redescobertos em 1964.37
35 Espanha. Biblioteca Nacional, Codice de Madrid. Disponível: http://leonardo.bne.es/index.html >. 36 Brizio, Anna Maria, Los Codices de Madrid. In: El Correo de la UNESCO: una ventana abierta sobre el mundo, XXVII, 10, p. 8–5. Disponível: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/ pf0000074877_spa >. 37
Pooler, Richard Shaw, Idem, p. 129.
Codex do Voo dos Pássaros (1505–1506) O Codice sul volo degli uccelli ou Codex do Voo dos Pássaros38, composto por 18 páginas (21x15), foi produzido pelo mestre da Renascença entre 1505 e 1506 (época em que também pintou a “Mona Lisa”) e é considerado um dos livros mais valiosos do mundo. O códice está na invulgar escrita espelhada que Da Vinci utilizava e a maioria das suas páginas estão repletas de anotações e desenhos detalhados sobre o voo dos pássaros, descrevendo com precisão a forma como esses animais manejavam o ar para ganhar os céus. Com a intenção de dar aos homens o mesmo talento dos pássaros, através das suas observações da natureza, segundo o historiador de arte, Martin Kemp (1942), Da Vinci procurava perceber as causas naturais que fundamentam o voo e descobrir as causas matemáticas ou geométricas por trás de como as coisas naturais funcionam. Também observou o comportamento do vento para compreender como recriar, em máquinas, os movimentos desses animais e, para além dos numerosos desenhos que ilustravam as suas teorias sobre o voo, ao mesmo tempo produzia desenhos mecânicos que explicavam as leis naturais que desvendava, tendo construído algumas dessas máquinas e tentado lança-las de uma colina perto de Florença. O ornitóptero foi uma das suas mais famosas invenções. Apesar do visionário renascentista não ter sido capaz de reproduzir o movimento dos pássaros através dos mecanismos que projetou, da observação dos pássaros resultaram conceitos rudimentares de aerodinâmica que tiveram um importante papel no desenvolvimento e produção do avião muitos séculos depois. Aliás, este códice ilustra a extraordinária maestria de um génio sobre um amplo leque de conhecimentos, teorias e ideias em todo o âmbito da arte e da ciência.
(1816–1889) compraram a maior parte do códice em 1867 para depois venderem a Theodore Sabachnikoff (1869–1927), um estudioso russo do Renascimento, que também chegou a possuir um dos fólios vendidos em Londres. Em 1892, ano que comprou o fólio ao pintor e colecionador de arte Charles Fairfax Murray (1849–1919), Sabachnikoff publicou a primeira edição impressa do códice, com o fólio 18 (adquirido em Londres) adicionado como apêndice, mas ainda sem os quatro fólios que haviam sido retirados e vendidos a outros compradores. Em 31 de dezembro de 1893, Sabachnikoff ofereceu a obra à Rainha Margarida de Saboia (1851–1926) que a depositou na Biblioteca Reale de Turim. O fólio 17 foi adicionado ao códice em 1913. Enrico Fatio, um colecionador de Genebra, comprou os três fólios que faltavam (1, 2 e 10), e muitos anos depois ofereceu-os ao Rei Vitor Emanuel II (1820–1878), que por sua vez os uniu ao restante da obra. O códice foi encadernado em 1967 e permaneceu sem catalogação e armazenado num cofre até 1970, quando então recebeu a marcação “Varia 95”, que pertencia a um Livro de Horas iluminado, não encontrado durante uma inspeção em 1936. O códice foi exibido no Museu Nacional do Ar e do Espaço do Instituto Smithsonian em Washington, D.C., em 2013.39
Localizado atualmente na Biblioteca Reale de Turim, em Itália, a história inicial deste manuscrito é complexa. Cinco fólios foram retirados do códice e vendidos em Londres em meados do século 19. Os herdeiros de Giacomo Manzoni di Lugo 38 Smithsonian National Ai rand Space Museum, Leonardo Da Vinci’s: Codex on the Flight of Birds. Disponível em: < https:// airandspace.si.edu/exhibitions/codex/codex.cfm#page-1 >.
39 Biblioteca Digital Mundial, Códice sobre o voo dos pássaros. Disponível em: < https://www.wdl.org/pt/item/19477/ >.
Codex de Leicester (1508–1510) O Codex de Leicester, também conhecido por Codex de Hammer, é um manuscrito que se apresenta na forma de 18 folhas duplas ou em 72 páginas no formato 22x30 cm, onde contém mais de 300 ilustrações. Foi elaborado por Da Vinci entre 1506 e 1508, dividido nas suas viagens entre Florença e Milão, com alguns incrementos em 1510. Este código trata-se de uma compilação de textos e desenhos com ideias originais e muito avançadas para o seu tempo onde inclui estudos essencialmente de hidrodinâmica, mas também sobre astronomia, geologia, geografia, meteorologia, cosmologia, paleontologia, astronomia e mecânica. É uma extraordinária representação da relação entre arte e ciência, bem como da criatividade no processo científico. Alguns manuscritos apresentam textos autobiográficos e histórias de viagens apoiados por excelentes ilustrações. Sabe-se pouco da história deste código. É provável que este manuscrito não fazia parte da coleção herdada por Francesco Melzi (1491–1570), após a morte do seu mestre. De acordo com os registos existentes, parece que o Codex de Leicester estava na posse do escultor Guglielmo Della Porta (1516–1577) desde 1537, quando se mudou para Roma. Por um longo período nada se sabe sobre ele, até que por volta de 1690 o pintor Giuseppe Ghezzi (1634–1721) compra o manuscrito aos herdeiros de Della Porta e permanece com ele por um longo tempo. Numa longa viagem pela Europa realizada entre 1713 e 1718 pelo Conde de Leicester, Thomas Coke (1697–1759), que aproveita para adquirir inúmeros manuscritos, em 1717 compra também o manuscrito de Leonardo ao pintor Giuseppe Ghezzi. Leva-o para Inglaterra e mantém-no na família, na Biblioteca em Holkham Hall por 263 anos. Em 1980, o magnata norte-americano Armand Hammer (1898–1990) adquire o manuscrito num leilão e leva a cabo o projeto de traduzir o documento para inglês, contratando o historiador e um estudioso especialista de Leonardo da Vinci, Carlo Pedretti (1928–2018), que precisou de sete anos para finalizá-lo. Após a sua morte, foi doado ao Museu de Arte e Centro Cultural Armand Hammer da Universidade da Califórnia. Ao fim
de alguns anos, foi colocado novamente a leilão e foi comprado pelo milionário e fundador da Microsoft, Bill Gates (1955), atingindo uma quantia que torna o manuscrito mais caro da história. Passados três anos, Bill Gates procede à digitalização do documento e torna-o acessível ao público. Atualmente, encontra-se conservado no Museu Britânico, em Londres.
Bibliografia Brizio, Anna Maria — Los Codices de Madrid. In: El Correo de la UNESCO: una ventana abierta sobre el mundo, XXVII, 10, 1974, p. 8–15. Clark, Kenneth — Leonardo da Vinci. London: Penguin, 1993. Da Vinci, Leonardo — Trattato della pittura. In Bologna: Nell’ Instituto della Scienze, 1786. Disponível em: <https://archive.org/details/ trattatodellapit00leon/page/n3 >. Forcellino, Antonio — Leonardo: a restless genius. Cambridge: Polity Press, 2018. ISBN 978–1-5095–1855–5. Gombrich, E.H., História da arte. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979. Palmer, Allison Lee — Leonardo da Vinci: a reference guide to his life and works. Lanham: Rowman & Littlefield, cop. 2019. ISBN 978–5381–1977–8. Pooler, Ricahrd Shaw — Leonardo da Vinci Treatise of Painting: the story of the world’s greatest on painting, it origins, history, contente, and influence. Wilmington: Vermon Press, 2014. ISBN 978–1-62273–017–9. Vasari, Giorgio — Vida dos artistas. 1ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011. ISBN 978–85–7827–428–3.
Publicação produzida no âmbito da exposição “Leonardo da Vinci: o multifacetado génio renascentista no acervo bibliográfico da Universidade do Porto”, organizada pela Biblioteca da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.