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Ex-combatentes recordam experiências Pág.s 04-07

As miniaturas de Filipe Primitivo

V O Z da

Serra

ABRIL/MAIO 2005

ANO 2

Nº 31

Esta revista é um suplemento local que integra a edição n.º 3555, de 6 de Maio de 2005, do Semanário REGIÃO DE LEIRIA e não pode ser vendida separadamente.

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Ex-Capelão de Vale Sumo e Vale Tacão

“Temos” bispo Pág.s 10-13



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Serra FÓRUM FICHA TÉCNICA DIRECTOR Francisco Rebelo dos Santos DIRECTOR-EXECUTIVO Pedro Costa Conselho dinamizador David Vieira Fausto Neves Jaime Silva Joaquim Rodrigues Jorge Primitivo José Augusto Antunes José Carlos Rodrigues TEXTOS Amândio Santos e Sónia gomes FOTOGRAFIA Arquivo do REGIÃO DE LEIRIA, Amândio Santos, Sónia Gomes, Fotobrinde, Foto Antunes, Santuário de Fátima PAGINAÇÃO Departamento Gráfico do Região de Leiria PUBLICIDADE Lídia Órfão Tereso PATROCINADORES PERMANENTES LubriFátima Maia – A. Ferreira das Neves Herdeiros, Lda. Lena Construções JRP J. Primitivo Madeiras, S.A. Manuel da Costa e Silva, Lda. Construções J.J.R. & Filhos, S.A.

IMPRESSÃO Mirandela SA TIRAGEM 2.500 exemplares

Esta revista é suplemento local que integra a edição n.º 3555, de 6 de Maio de 2005, do Semanário REGIÃO DE LEIRIA e não pode ser vendida separadamente.

ÍNDICE Histórias de ex-combatentes ..................p.4-7 Conhecer o Papa e a Irmão Lúcia ................ p. 8-9 Novo bispo ...................... p.10-13 Artesão mostra a sua arte... p.14 Dinâmica em Vale Tacão ..... p.16 Autarcas em encontro ......... p.17 Bombeiros aceleram ............ p.19 Opinião do leitor .................p.20 Festas na freguesia ............. p.21 Ensino ............................p.22-23

Participe A sua opinião conta. A VOZ DA SERRA tem em funcionamento um Ponto de Apoio ao Leitor na Papelaria Bemposta, no centro da vila de Santa Catarina da Serra. Porque a participação activa dos nossos leitores é essencial, agora existe um local onde pode deixar as sugestões de assuntos que gostaria de ver abordados, textos para publicação, pagamento de assinaturas e entrega de publicidade. A interactividade com o leitor é uma das nossas preocupações. Ajude-nos participando. Dependendo da disponibilidade gráfica ou da pertinência noticiosa, a sua participação encontrará eco na VOZ DA SERRA e/ou Região de Leiria.

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Alegrias adpotivas No dia 24 de Abril, em cerimónia que decorreu no Santuário de Fátima, foi ordenado como Bispo, D. Anacleto Oliveira. Este novo Bispo é natural das Cortes, onde nasceu no dia 17 de Julho de 1946, mas há mais de uma década que servia a nossa paróquia, como capelão nos ramos de Vale Sumo e Vale Tacão. É desta forma que tem início o extenso trabalho que é publicado nesta edição sobre alguém que, embora não seja natural da freguesia, mas antes seu “vizinho”, dedicou alguns anos da sua vida também à freguesia de Santa Catarina da Serra. Por isso mesmo, é também, sentido como nosso. Isto é, sendo certo que a sua vivência na freguesia o terá feito sentir-se mais ligado a Santa Catarina, também por cá ele é visto como um dos nossos. É por essa razão que não podemos deixar de dar o devido destaque às suas novas missões no seio da Igreja Católica. De igual forma, destaque para as memórias, em jeito de artigo desta revista, expostas por quem viveu um relativamente recente episódio da nossa história colectiva. A passagem lusa por terras africanas escreveuse também com adjectivos de dor e de dificuldade. Longe de se poder esquecer esse património de memória colectiva, há que tê-lo em conta, mais não seja, para nos servir de lição para o futuro. Por último, nota para os bombeiros da freguesia que não se deixam derrotar pelas dificuldades, mas antes encontram criatividade q.b. para a elas fazer face. Exemplo disso mesmo é o passeio que realizaram e que se espera ajude a fazer face às dificuldades.

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Serra ABERTURA

Militares de guerra Após a segunda Guerra Mundial, a maioria dos países europeus cedeu a independência às suas colónias. Contudo, o mesmo não aconteceu com Portugal que quis manter sob a sua alçada as então chamadas “províncias ultramarinas”. Mas os sinais de descontentamento dessas colónias começaram a tornar-se evidentes, pois queriam a independência da metrópole. Em 1961 inicia-se um cenário de revolta. E para preservar as “províncias ultramarinas” foi necessário enviar alguns homens para assegurar o território no domínio de Portugal. De entre esses homens, enviados para o ultramar, também tiveram que responder à chamada “moços” de Santa Catarina que na flor da sua juventude partiram para uma situação completamente desconhecida, sem perceberem bem quais as razões. A poucos dias de se ter celebrado mais um 25 de Abril, a Voz da Serra foi conhecer três histórias. Diferentes entre si, mas iguais no final.

Guerra em Moçambique Amílcar Domingos tem 54 anos e nasceu e cresceu no lugar de Barreiria (Santa Catarina da Serra). Contudo, dois anos da sua vida foram passados em Moçambique com o objectivo de “preservar as colónias”. Esta foi, pelo menos, a explicação que lhe deram antes de partir. Estávamos no ano de 1972 e Amílcar partiu de Lisboa de avião para chegar no outro dia a Moçambique e tal como o próprio explica “foi tudo muito rápido. Saímos num dia à noite de Lisboa e chegámos no outro a Moçambique. Mas íamos sem saber muito bem o que fazer.

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Amílcar Domingos esteve em Moçambique Tínhamos sido minimamente preparados para uma guerrilha e para preservar as colónias”, explica. Mas a chegada foi marcada pela surpresa e pela novidade, pois tudo à volta era completamente novo e desconhecido. Daí que não seja de admirar a dificuldade e o medo que estes militares sentiam “A incerteza pairava pois nunca sabíamos o dia de amanhã”. Na verdade a informação era escassa e “só chegava o que mais interessava vindo da metrópole”. Com a família correspondia-se através de aerograma pois “era gratuito”. Na verdade, o próprio assume que não era “o confronto com o inimigo o mais perigoso, mas sim as minas”, e o resultado foi terem perdido 12 colegas incluindo um da sua companhia. E as marcas negativas não se ficam por aqui. Amílcar Domingos confessa que

“o que mais nos marcou foi quando uma mina rebentou a cerca de 30 Km do quartel e apercebemonos da gravidade situação. Isso afectou-nos, também, psicologicamente”. Por isso, não será de admirar que cada vez mais se fale no stress pós traumático em indivíduos que viveram (com) estas situações. Este ex-militar refere inclusivamente que “não me sinto minimamente afectado por isso, agora. Mas há colegas que ficaram. Quer se queira ou não, ficamos sempre sensibilizados pois não somos indiferentes a estas situações”. Amílcar Domingos reconhece, inclusivamente, que há colegas que tiveram uma vivência de guerra mais complicada pois para além de ter sido mais duro, a comunicação com a família era difícil sobretudo durante a viagem o que complicava mais a situação.


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Guerra estúpida Guerra diferente foi a que viveu José Vieira, de 55 anos, nascido e residente em Santa Catarina da Serra. Esteve em Moçambique (Cabo Delgado), entre 1972 e 1974. Contudo, como o próprio explicou, passou muito tempo na selva o que tornou a guerra bem mais dura, para além de ter sofrido na pele consequências desta guerra “estúpida”, como ele lhe chama. A sua história de guerra começa no dia da embarcação “tive o azar de ir de barco e era um carregueiro. Fomos muito mal alimentados, nunca passei tanta fome na minha vida!”, e prossegue as lamentações afirmando que “para além da viagem ser dura também não sabíamos o que nos esperava. Não tínhamos a noção”. E assim começou. “Lembro-me do primeiro dia de guerra: estávamos ansiosos por chegar. Explicaram-nos que havia três frentes de guerra: minas anti-carro, minas anti-pessoais e embuscadas do inimigo. Iam, então, outros colegas (mais experientes) a picar o caminho e já nos tinham avisado por onde tínhamos de passar, mas nós não ligávamos. Até que ouvimos um estrondo e eu até disse «é pá, parece uma bomba atómica!» e passados alguns minutos disseram-nos que tinha morrido um colega nosso. Coube-me a mim e a alguns colegas ir procurar o corpo e só encontrámos alguns bocados”. Contudo, esta primeira experiência não é a única no vasto currículo de guerra de José Vieira. “A nossa batalha foi dura!. O lema era: mata se não queres morrer.” E este ex-militar afirma até que “vi muitas vezes a morte à frente dos olhos e cheguei a pensar não voltar a ver a minha família.” José Vieira recorda inclusivamente o destino menos feliz do

José Vieira permaneceu 27 meses no mato seu companheiro de quarto que acabou por morrer numa embuscada. Por isso, lamenta que esta guerra tenha sido “muito estúpida”, justificando que “era injusto porque aquilo (território) era deles”. Mas contra esta ideia todos tiveram que lutar e, no caso deste ex-militar, sob duras condições: “nós tínhamos que ir para a selva porque o inimigo estava lá - os turras, como lhe chamavam. Nós tentávamos destruir o acampamento deles, mas para isso havia sempre muitos mortos e feridos. Numa dessas vezes perdemos o nosso comandante que ficou ferido”. O capitão que José Vieira recorda como “alguém que para além de comandar, sabia comandar homens e tivemos a infelicidade de o perder no mato”. Daí que a guerra destes militares se tenha tornado ainda mais dura, pois tiveram que aguentar 27 meses no mato.

“As companhias, normalmente, iam 15 ou 16 meses para zonas 100 por cento (ou seja de guerra) e depois iam para zonas de 50 por cento (vilas, aldeamento), mas nós como não tínhamos comando tivemos que aguentar 27 meses no mato”. E com o passar do tempo “adquirimos experiência e maturidade”. Experiência para sobreviver às duras condições, “a comida era muito má. Comíamos enlatados ou a nossa caça: carne de leão, gazela, gato… é que era difícil fazer os mantimentos chegar onde estávamos. Para isso teria que haver muitos mortos e feridos. Em 27 meses fomos abastecidos duas vezes.” Recorda prosseguindo: “lembro-me, por exemplo, que fizemos uma coluna para abastecer uma companhia e destruíram-se oito Berliers e houve um morto”.

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Serra ABERTURA Embarcar no dia da revolução José Vieira acabou por ser ferido em Março de 1974. Por esse motivo programaram-lhe o embarque para o dia 25 de Abril. Contudo, nesse dia, longe de imaginar o que se passava na metrópole, apenas sabia que o barco não chegava. Comunicaram-lhe, então que tinha havido um golpe de estado em Portugal. “Eu só acho que deveria ter sido 10 anos antes”, diz em tom de revolta. Acabou então por regressar a casa no dia 28 de Abril “no dia da feira dos 28 e das Festas em Santa

Catarina. A minha mãe arranjoume uma chouriça e uma cerveja e entretanto rebentou um foguete e eu assustei-me, até deixei cair a cerveja”, recorda. Já Arman do Teotónio, da Cova Alta, esteve no Ultramar por outros motivos – para assegurar a estabilidade do país no pós 25 de Abril. Esteve em Angola entre 1974 e 1975 e o seu principal objectivo era “render outros colegas”. A sua função era de condutor. A sua guerra era uma guerra de cidade “fomos para a cidade e para os ataques da cidade, acompanhamos a saída dos retornados”.

Este ex-militar explica então que “estive na cidade e penso que a guerra na cidade é pior porque eles atacavam nos prédios, nos civis, tivemos até um ataque ao nosso quartel.” Contudo, Armando Teotónio conta que apenas “por uma vez vi-me aflito porque fomos buscar umas pessoas que estavam a ser atacadas e atacaram o carro do meu colega.”

25 de Abril, dia de Liberdade Para estes ex-combatentes o 25 de Abril significou “a libertação

Ex-militares em convívio

Cinquenta e nove ex-militares, do Regimento de Artilharia Ligeiro n.º4 – corporação de 1958, estiveram reunidos num almoço-convívio que se realizou no passado dia 9 de Abril, no restaurante Califórnia, em Santa Catarina da Serra. Este é o vigésimo segundo encontro que este Regimento de Artilharia organiza, sendo que este ano foi a freguesia de Santa Catarina da Serra o palco escolhido para o encontro, uma vez que os organizadores são residentes na freguesia e em freguesias limítrofes. Ou seja, este ano coube a José Jesus Rodrigues da Quinta da Sardinha (Santa Catarina da Serra), Luís Carvalho Costa Brites

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da Martinela (Arrabal), Manuel Carmo Oliveira das Cortes e Adriano Gameiro do Casal da Cruz (Caranguejeira) a organização deste encontro. Segundo a organização, o principal objectivo deste encontro passa “pelo convívio e confraternização entre colegas”, afirmando também que “o convívio serviu também para avivar as memórias daquele tempo. No total fomos 693, dos quais muitos participaram até na guerra do ultramar.” E porque nestas alturas se recordam os bons e os maus momentos este grupo guardou um minuto de silêncio, antes de iniciar o almoço, em memória dos colegas já falecidos.


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Serra ABERTURA da sociedade”, como afirma José Vieira. Para Amílcar Domingos o 25 de Abril foi “vivido com um pouco de cautela pois não sabíamos para que lado ia virar”. Essa mensagem foi divulgada de forma “quase subtil” para os que estavam nas províncias ultramarinas – “disseram-nos que tinha havido qualquer coisa em Portugal, mas eu só soube quando vim cá em Agosto de 1974, pelas festas grandes”, refere Armando Teotónio. Talvez por isso, para estes homens e tantos mais que por esta situação passaram a liberdade tenha um sabor especial “extraordinário”, como lhe chama José Vieira.

Armando Teotónio viveu a guerra de “cidade”

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Fernando Alves esteve com o “Papa de Fátim

João Paulo II é considerado, por alguns católicos portugueses, como o Papa de Fátima. Isto devido à grande ligação que manteve com Nossa Senhora de Fátima. A sua devoção ao Santuário de Fátima começou, diz-se, com o atentado que sofreu na Praça de São Pedro a 13 de Maio de 1981, dia em que, coincidentemente, se celebrava mais um aniversário das aparições Marianas aos três Pastorinhos. “Então, na cama do hospital, o Papa leu pela primeira vez a terceira parte do segredo de Fáti-

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ma, que indicava «um bispo caído morto» pelas setas e balas de soldados, uma imagem que relacionou com esse incidente. «Ele disse: ‘Sou eu’»”. Depois disto, João Paulo II visitou o Santuário de Fátima por três vezes e obedeceu às recomendações da irmã Lúcia, a última vidente que faleceu também em Fevereiro e com que o Papa mantinha uma forte ligação.

Perto do Papa A Voz da Serra foi conhecer

alguém que, bem perto de nós, esteve também, bem perto de João Paulo II e da Irmã Lúcia. Fernando Alves, natural de Donairia, Santa Catarina da Serra, trabalha há 26 anos no Santuário de Fátima e pode considerar-se um privilegiado pois acompanhou de perto as visitas que o Santo Padre e a Irmã Lúcia fizeram ao Santuário de Fátima, guardando dessas visitas recordações que o irão “marcar para toda a vida”, como o próprio refere. Foi no sentido de conhecer melhor a vivência de Fernando


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ma” Alves com duas importantes figuras no que diz respeito à Religião Católica e sobretudo ao Santuário de Fátima, que a Voz da Serra foi ouvir algumas das suas experiências, por sinal “muito gratificantes” para o próprio. O encontro com a Irmã Lúcia aconteceu em 1991. Encontrouse pessoalmente com ela durante a procissão do Adeus, e recorda: “pedi-lhe se podia tirar uma foto com ela. Ela cedeu gentilmente o que me deixou muito satisfeito”. Relativamente ao que a vidente lhe transmitiu Fernando Alves conta que a Irmã lhe perguntou qual a função que assumia no Santuário de Fátima, ao que ele respondeu que era encarregado-geral. “Desejou-me boa sorte no desempenho das minhas funções e que mantivesse o Santuário sempre bonito”. Das palavras, Fernando Alves ainda se recorda. E a foto, guardaa religiosamente. Contudo, esta não é a única lembrança que guarda. Do Santo Padre, Fernando Alves recebeu um terço e guardou, também, o momento em fotos. “O Santo Padre ofereceu-me um terço nesta última visita que fez a Fátima, quando veio beatificar os videntes”, explica. “É que o Santuário de Fátima ofereceu-lhe um presépio em prata e fomos quatro funcionários oferecer-lho, e ele ofereceunos um terço”. Confrontado com o que tinha sentido no momento, Fernando Alves responde que “foi muito rápido. Uma pessoa fica de tal maneira emocionada, quase sem reflexos… são momentos únicos na vida”. Isto quer em relação ao encontro que teve com o Papa João Paulo II, quer ao encontro com a Irmã Lúcia que no seu entender era “uma pessoa muito simples mas com uma linguagem muito fina.” Daí que quando os dois faleceram isso tenha significado para Fernando Alves duas

perdas “pois nunca mais vou ter o privilégio de os encontrar”, refere. Quando a Voz da Serra questionou Fernando se concordava com a denominação de “Papa de Fátima” ou “Papa de Portugal” para João Paulo II, não hesita em responder “acho que foi um grande amigo de Portugal e de Fátima. Uma das razões foi ter recorrido a N.ª Sr.ª de Fátima no atentado

de 1981 e a partir daí nunca mais esqueceu Fátima.” Agora que Bento XVI assumiu o lugar de novo Papa Fernando Alves disse-nos, em jeito de conclusão que “acredito que o novo Papa dará seguimento ao “trabalho” de João Paulo II”.

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Novo Bispo Auxiliar de Lisboa

Dom Anacleto foi um Dom à nossa terra No dia 24 de Abril, em cerimónia que decorreu no Santuário de Fátima, foi ordenado como Bispo, D. Anacleto Oliveira. Este novo Bispo é natural das Cortes, onde nasceu no dia 17 de Julho de 1946, mas há mais de uma década que servia a nossa paróquia, como capelão nos ramos de Vale Sumo e Vale Tacão. Sacerdote há quase 35 anos (foi ordenado no dia 15 de Agosto de 1946), recebeu esta nomeação papal, ainda durante o papado de João Paulo II, e representa uma mudança enorme na sua vida, deixando os vários cargos que exercia na Diocese de Leiria-Fátima, entre eles, as capelanias de Vale Sumo e Vale Tacão. Estas duas aldeias, em consonância com a paróquia, e com dois familiares residentes na nossa paróquia, uniram-se para organizar uma festa de agradecimento pelo espírito de serviço e dedicação gratuitos, que sempre caracterizaram o até agora, Padre Anacleto. Esta festa decorreu no passado dia 10 de Abril, iniciandose com uma Eucaristia na Igreja e seguida de uma confraternização no Salão Paroquial. Auto denominando-se “servo de todos”, o novo Bispo ficará responsável no imediato, por servir a zona Oeste da Diocese de Lisboa. Numa extensa entrevista, a Voz da Serra procura conhecer melhor aquele que, a um novo chamamento, respondeu com o mesmo sim imediato com que aceitou responder às nossas perguntas.

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“Foram horas que não mais esquecerei!”

Nas suas homilias costuma muitas vezes explicar os conceitos bíblicos pela sua origem linguística! Anacleto vem do grego e significa invocado, escolhido, ou chamado de novo. Esta nomeação para bispo foi um novo chamamento? Sem dúvida. E que chamamento! Mas, no fundo, é mais um numa cadeia iniciada desde que nasci. A vida é feita de desafios contínuos em que, numa perspectiva cristã, é Deus quem nos fala, para nos fazer viver. Na sua nomeação, foi-lhe atribuído um título. O que significa ser Bispo titular de Aquae Flaviae? Cada bispo tem de ter a sua

diocese. Não sendo residencial, como é o meu caso, é-lhe atribuída uma diocese que deixou de o ser. A de Aquae Flaviae ficava sediada na actual cidade de Chaves, que hoje pertence à Diocese de Vila Real. Na prática, nomeadamente jurídica, o título não tem portanto quaisquer implicações para mim. Esta nomeação implica a mudança de diocese, depois de ter dedicado 35 anos da sua vida, como sacerdote, à diocese onde nasceu e onde se formou, e onde exercia até à data da nomeação, vários cargos. Em que é que a nomeação já mudou e ainda vai mudar a sua vida? Tive que deixar a maior parte das minhas actividades académicas e pastorais, nomeadamente em

Coimbra e Leiria. Irei entretanto continuar a leccionar na Faculdade de Teologia da UCP em Lisboa e, pastoralmente, irei animar

Perguntas rápidas

Qual o seu … favorito? Filme? “O Grande Ditador” de Charlie Chaplin. Livro? A “Bíblia Sagrada”. Prato? Cozido à Portuguesa (de carne) e Caldeirada (de peixe). Clube? O mais fraco. Carro? O que tenho. Cidade? Jerusalém. País? Israel e Palestina.

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Serra ENTREVISTA sobretudo a zona do Oeste do Patriarcado de Lisboa. E irei evidentemente estar à disposição do Senhor Patriarca para tudo o que for necessário.

mais fidedignas, mais de 7.000 pessoas. De qualquer modo muito participantes e num ambiente arrebatador. Foram horas que não mais esquecerei.

Durante mais de uma década, foi capelão no Vale Tacão e no Vale Sumo. A Paróquia de Santa Catarina da Serra uniu-se para lhe prestar uma homenagem e agradecer a sua dedicação. Como recordará estas comunidades e o serviço que lhes prestou?

Na cerimónia da sua ordenação episcopal, salientou quatro pessoas que foram preponderantes na sua vida: os seus pais, o anterior Papa (João Paulo II) e o actual (Bento XVI). Teve oportunidade de conhecer pessoalmente João Paulo II?

De certeza que com muita saudade. De parte a parte. É humano... e um bom sinal. O que se sente quando se é ordenado bispo perante dezenas de milhares de pessoas, entre elas 19 bispos e quase duas centenas de sacerdotes, em pleno “altar do Mundo”? Senti-me muito bem. Senti-me nas mãos de Deus, que se manifesta e actua através dos que nele acreditam. Embora, no caso, não tenham sido, segundo estimativas

Não. Só em audiências na companhia de outras pessoas. E o actual, Bento XVI? Cruzei-me com ele, quando esteve em Fátima em 1996, mas não tive a coragem de o abordar. No seu percurso já completou 3 licenciaturas (Roma-1971; Roma-1974; Coimbra-1977) e um doutoramento (Munster-1987). Espera ou gostaria de obter mais algum grau académico? A licenciatura de 1977 está a

mais. Nesse ano apenas interrompi dois anos de estudo de História na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, mas sem obter qualquer grau. De resto, o que conta, para mim, não são os títulos académicos, mas a competência. Os graus apenas nos dão a oportunidade de mostrar se somos ou não competentes. E oportunidades dessas não me irão faltar. Novamente relacionado com o seu nome, ao que sei, o terceiro Papa da Igreja chamava-se (ou tomou o nome) de Anacleto. Poderemos um dia vê-lo também a si como Papa? Talvez “Papá”, como tenho sido e desejo continuar a ser: padre... pela vida que tanto gosto de dar aos outros. “A Igreja só tem que ser fiel a Jesus Cristo” Tem trabalhado directamente com seminaristas. Como encara a diminuição do número de vocações religiosas?

Texto lido na missa de despedida do Padre Anacleto Vale Tacão. (17-04-2005) “Sempre me contaram que nasceu, no Vale Tacão, há muitos anos, um menino que terminou como Bispo de uma diocese Brasileira. Passados mais de 100 anos nasce outro bispo no Vale Tacão. Não é só no Vale Tacão é claro, até porque o Padre Anacleto não é natural de cá mas, nestes anos em que ofereceu o seu trabalho a esta aldeia, esta aldeia o adoptou como seu. A falar em tom baixo, a queixar-se do frio ou a enviar-nos para o sol, a ensinar um novo cântico, a atender os pedidos de ficar a confessar depois da missa terminar, a orientar missas para crianças, o Padre Anacleto marcou a vida do Vale Tacão. Sempre tivemos muita pena quando víamos que nas festas do Vale Tacão não tínhamos a companhia do Padre Anacleto. E quis o destino que a

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festa em que ele está presente seja uma festa em sua homenagem, pelo seu trabalho, pela sua disponibilidade, pela sua dedicação e pela amizade que demonstra pelo lugar. Quantos de nós não guardamos e guardaremos para sempre uma das tantas histórias que o nosso padre nos contou? E foram muitas mesmo. Era sempre interessante em cada missa perceber como é que se poderia fazer a ligação entre a história com que se começava a homilia e o Evangelho que tínhamos acabado de ouvir. E essa ligação acabava sempre por ficar clara… Senhor Padre Anacleto, o Vale Tacão está-lhe muito grato. Está um pouco triste porque esta é a última missa aqui do padre Anacleto, mas está muito feliz porque conta, um dia ter aqui uma missa do Bispo Dom Anacleto. …“


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Serra ENTREVISTA Todas as vocações na Igreja são religiosas. E se cada cristão responder à sua, teremos o suficiente. De resto, se é o Espírito que anima a Igreja, como acredito, não faltarão pessoas sensíveis à sua acção... talvez por caminhos inesperados. A história do cristianismo está cheia disso: as fases mais críticas acabaram por se tornar as mais fecundas. As suas homilias são muitas vezes dirigidas para crianças. Foi também um dos responsáveis pela Peregrinação Anual das Crianças a Fátima, e colaborou na elaboração dos catecismos da Catequese Infantil. Na sua opinião, a educação cristã nas nossas crianças é muito importante para o futuro da Igreja? Claro que sim. O problema é como está a ser feita. Isto é, penso que tanto ou mais do que as crianças, quem hoje está a precisar mais de ser educado, não só cristãmente, são os seus educadores: a começar evidentemente pelos pais. Leu o livro “O Código da Vinci” de Dan Brown? Que comentário lhe merece? Li, no original e bem perto do lugar onde termina o enredo. No fundo é um romance policial, de sabor bem americano, que usa e abusa de temas religiosos. Daí o sucesso comercial. Mas, ao contrário de outros romances do género (p. ex., “O Nome da Rosa” de Umberto Eco), mistura demasiado história e ficção. Daí a confusão que cria em tantas cabeças. Nasceu em Portugal, mas conhece a realidade dos cristãos em outros países da Europa. Sente que a Europa está descristianizada?

Nas estruturas, sobretudo culturais, ainda não. No sentido e na prática de vida, tanto pessoal como social, penso que sim. Com riscos graves no que diz respeito à sua sobrevivência. Para os cristãos o desafio é muito sério. Por vezes, a Igreja é criticada e acusada por alguns sectores da sociedade, de ser retrograda e conservadora. Deverá a Igreja acompanhar ou abrir-se à sociedade cedendo aos dilemas actuais? Como imagina a Igreja no ano 2020? A Igreja só tem de ser fiel a Jesus Cristo. Caso contrário, perde a sua identidade e não rea-

liza a sua missão. A dificuldade está em fazer chegar a mensagem cristã ao mundo de hoje. É o velho problema da inculturação, fundamental para que as pessoas de cada tempo de lugar façam a experiência fascinante e vivificante do Deus de Jesus Cristo. Que foi sempre incómoda e para todos os poderes: políticos, económicos e religiosos. Por isso, a Igreja não se deve deixar incomodar por críticas que ponham em causa a sua fidelidade ao depósito da fé que herdou. O que não significa que se feche ao diálogo com não crentes. Pelo contrário, sobretudo se está em jogo o bem da humanidade... que possivelmente não mudará muito em apenas 15 anos.

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Do original à miniatura

A Arte do Ti’ Filipe

Na sua última edição, a Voz da Serra deu a conhecer a última junta de gado de trabalho, num artigo intitulado “Quando os motores mugiam”. Nesta edição, dá a conhecer as artes e um homem que durante a maior parte da vida fabricou carros e carroças de bois, e que agora se dedica,nos tempos

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livres, a construir miniaturas. É Filipe Pereira Primitivo e vive na Quinta da Sardinha. Toda a sua vida foi dedicada ao trabalho da madeira, tal como outros elementos da sua família. Em tempos, foi emigrante. Regressou e abriu uma carpintaria, e a sua mestria haveria ainda de influen-

ciar o oficio dos filhos que lhe seguiram as passadas. Hoje, com perto de 80 anos, afirma que apenas faz as miniaturas para “passar o tempo” e que o fabrico das mesmas nem chega a ser negócio. Apesar disso, afirma com vaidade que todas as peças que constituem cada miniatura são feitas por si, e que já vendeu algumas carroças e carros para o estrangeiro. Admite que os preços são altos, mas lembra que as suas obras são um luxo, e como são feitas à mão, e exigem muito tempo e arte no seu fabrico, e por isso, o preço não é tão alto assim. “Outros carpinteiros tentam fazer o mesmo que eu, mas vêm cá comprar algumas peças mais difíceis de fazer, como as rodas” afirma, lembrando também que os trabalhos, apesar de miniaturas, são tão minuciosos que “não há carro sem travão, ou carroça sem descanso.” As referidas miniaturas encontram-se em exposição e podem ser vistas e adquiridas na Quinta da Sardinha, ao lado da casa do Ti’ Filipe, no local exacto onde ele cria as suas obras de arte.


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Formação na Loureira A Universus, Consultores de Gestão SA (entidade acreditada pelo INOFOR, actual IQF) em parceria com a Associação de Desenvolvimento Social da Loureira (ADSL), promoveu uma acção de Formação Profissional relacionada com a Qualidade e a Higiene e Segurança no Trabalho e outra de Informática na Óptica do Utilizador. Estas acções decorreram num clima muito profícuo de relações interpessoais, tendo atingido um nível de realização muito próximo dos 100% e um elevado nível de satisfação dos seus participantes. Após o L eva nt a mento das Necessidades de Formação para esta região, a ADSL, através do

seu Presidente, Jorge Gameiro, com o apoio da Universus, através do seu Delegado em Leiria, Ley Garcia, candidatou-se ao Programa Operacional de Emprego, Formação e Desenvolvimento Social (POEFDS), por forma a conseguir promover alguns cursos de Formação Profissional gratuitos para os seus associados. Foram aprovados quatro cursos, a realizar durante o corrente ano, que facilitam o desenvolvimento pessoal, profissional e social dos formandos que os frequentem, no seguimento da política de desenvolvimento social preconizado pela ADSL. Os cursos aprovados foram: Animador Cultural (121 horas)

(início em 22/05/2005), Ajudantes de Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário (174 horas), Boas Práticas de Higiene e Segurança Alimentar (54 horas) e Primeiros Socorros (72 horas). (Inscrições no local). Estas acções de formação são co-financiadas pelo Fundo Social Europeu e pelo Estado Português, pelo que são absolutamente gratuitas para os formandos que as frequentem. Os que tiverem aproveitamento recebem um subsídio de alimentação por cada dia de formação efectiva e um Certificado de Formação Profissional. Associação de Desenvolvimento Social da Loureira

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Tempos movimentados na aldeia

O Vale Tacão não pára Cada aldeia tem a sua dinâmica e o seu ritmo. O Vale Tacão tem conhecido dias de grande azáfama, não só pela nomeação do seu capelão para Bispo (como se descreve no outro artigo) mas principalmente pelas actividades do Centro Cultural e Recreativo desta aldeia. Depois de em meados do ano passado se ter alargado e melhorado o acesso à rua de S. João de Deus, e de no principio deste ano se terem feito os arranjos do jardim e parque de estacionamento no centro do lugar, ambas obras a cargo da Junta de Freguesia, o Clube começou as obras para o polidesportivo de ar livre também no centro do lugar, mesmo em frente à antiga escola primária. As obras para este campo continuam, e por decisão da direcção do clube, têm decorrido aos sábados, pois, como afirma Nelson Santos, presidente desta Associação, “temos sentido que as pessoas estão dispostas a ajudar e todos querem dar a sua contribuição, e como tal, quase todos os sábados temos tido ofertas de ajuda.” E as ajudas vêm de vários quadrantes, até porque por exemplo, “a Câmara Municipal tem estado atenta aos nossos projectos e ao facto de sermos uma direcção muito jovem. No passado mês de Fevereiro, atribuiu uma verba que muito vai ajudar à conclusão da obra.” Ainda relacionado com as obras do polidesportivo, realizou-se no passado dia 1 de Maio um almoço de angariação de fundos na sede do clube que contou com a presença de mais de uma centena de pessoas. Segundo os responsáveis, foi um grande sucesso, não só pelas receitas mas também pelo convívio que se proporcionou. Além disso, têm decorrido com a animação já típica, as aulas de ginástica de manutenção, no edifício sede da colectividade. Nelson salienta o facto de participarem nestas aulas senhoras das aldeias vizinhas, Siróis e Sobral, o que muito satisfaz a direcção da associação pois “esse é um dos objectivos, unir as

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aldeias em vez de as separar.” Já para Setembro, estão a ser planeadas com a devida antecedência, aulas de introdução aos computadores e à Internet. “Estas aulas já existem noutras associações da freguesia e por darem a conhecer algo tão fundamental nos dias de hoje como os computadores, e por serem gratuitas, ou melhor, por os alunos serem pagos para se desenvolverem, só há razões para que sejam um sucesso” afirma em jeito de convite, Nelson Santos, lembrando que quem se quiser inscrever já o pode fazer junto de alguém da direcção do cube. Como se tudo isto não bastasse, tem sido noticiada, pela Junta de Freguesia, a melhoria e pavimentação com alcatrão, da estrada que dá acesso directo entre o Vale Tacão e Sobral e que pode tornar mais unidas duas aldeias próximas mas separadas pela acidentada geografia. Meses muito movimentados, sem dúvida. E segundo alguns habitantes, abrandar não faz parte dos planos…


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Serra ACTUALIDADE

Autarcas encontram-se em Santa Catarina da Serra A freguesia de Santa Catarina da Serra recebeu no passado dia 17 de Abril, um encontro de autarcas do concelho de Leiria. “Estiverem presentes quase todos os presidentes de Junta, dois faltaram e avisaram que não podiam vir. Um outro presidente não veio porque não aderiu a estes encontros”, explica o presidente de Junta, Domingos Neves. Acresce ainda que participaram no encontro os vereadores da Câmara de Leiria, eleitos pelo PSD, bem como a presidente da autarquia, Isabel Damasceno. Os vereadores da oposição, apesar de terem sido convidados a título individual em carta entregue em mão – explica o presidente de junta de Santa Catarina –, não marcaram presença. O encontro consistiu na concentração dos participantes na sede da Junta de freguesia de Santa Catarina da Serra, seguindo-se a visita às instalações. “Visitaram os gabinetes, as salas e o arquivo. Uma visita que incluiu a passagem pela sala dedicada ao PDM onde temos as cartas do PDM para as pessoas consultarem quando pretendem negociar um terreno ou fazer as partilhas”, acrescenta o autarca. Aos participantes foi feita ainda uma apresentação dos diversos locais que fariam parte do roteiro da visita. Assim, o centro de dia, o

lar de idosos, a igreja e o conjunto urbano da vila, bem como diversos estabelecimentos de ensino, colectividades e a zona desportiva da União Desportiva da Serra foram apresentados. A visita terminou com um almoço. “Penso que as pessoas iam bem impressionadas com a freguesia”, refere o presidente de Junta. O encontro decorre de um conjunto de vistas às freguesias do concelho, aprovadas em

Assembleia Municipal. Inicialmente, prevista para Agosto último, a visita a Santa Catarina da Serra não decorreu naquela altura pelo facto de ser um período de férias. Domigues Neves acrescenta que as colectividades foram avisadas com antecedência da visita. Mas algumas não responderam ao convite para serem visitadas, razão pela qual não foram integradas no roteiro da iniciativa.

Exposição de bordados e artes decorativas No dia 15 de Maio, realiza-se no Salão Paroquial de Santa Catarina da Serra a já habitual exposição. Este ano, esta exposição é o resultado dos trabalhos realizados em Santa Catarina da Serra, Cova Alta, Sobral e Ulmeiro, ministra-

dos pela formadora Preciosa da Conceição do Pedrome. Esta iniciativa está integrada nos festejos religiosos do Espírito Santo, também conhecidos como “Festa do Pão” que decorrem a 15 de Maio. Este ano da responsabili-

dade da organização da festa está a cargo dos moradores dos ramos de Santa Catarina da Serra. Habitualmente, a comissão de festas manda cozer entre oito a dez mil pães.

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Serra ACTUALIDADE

Bombeiros promovem II Passeio de Motociclos

Os Bombeiros Voluntários de Santa Catarina da Serra foram responsáveis pela organização do II Passeio de Motociclos que se realizou no dia 9 de Abril. O principal objectivo deste passeio foi a angariação de fundos que servem para a manutenção da secção de Bombeiros de Santa Catarina da Serra, afirma o seu actual Presidente, Virgílio Gordo. Isto porque segundo o próprio “estamos a falar de mais

de 4000 euros mensais de custos em manutenção”. Até porque tal como Virgílio Gordo já referiu, aquando da entrevista publicada na edição n.º29 da Voz da Serra, a situação financeira dos Bombeiros é “difícil”. Esta foi, então, uma forma de angariar verbas, quer através das inscrições para participar no passeio, quer através da publicidade (patrocínios), quer através do bar. O passeio passou, então, pelo

chamado “cruto da biqueira”, seguindo-se uma volta à freguesia da Caranguejeira e terminou no circuito fechado, construído para a situação pelos Bombeiros. O almoço realizou-se no parque de merendas do Vale Maior. Virgílio Gordo referiu ainda que para que esta prova se tornasse realidade contou com “um grande apoio dos amantes do motociclismo de Santa Catarina da Serra, concluindo que “o saldo é positivo”.

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Serra OPINIÃO

Carta aberta ao Deniz Costa Caro Deniz: Começo por te saudar publicamente. Sendo teu vizinho de nascimento e da mesma geração, como tu, tenho orgulho em ser natural de Santa Catarina da Serra, mas sobretudo, por teres sido o vencedor do campeonato da Língua Portuguesa, (classe de adultos), entre 16382 concorrentes. Tive recentemente, o prazer de contactar contigo, pois deixámos de nos ver desde que tivemos que seguir outros rumos, à procura de melhores condições de vida. Por isso, como atrás referi, senti, como outros conterrâneos,

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um enorme orgulho e alegria, por ouvir falar de ti pelos melhores motivos. Dizes amar a língua portuguesa e que te consideras um autodidacta. Sim, só amando a língua de Camões, (que já quase querem fazer esquecer), foi possível chegares ao pódio. Quando diariamente vejo a nossa televisão, ouço a rádio, ou leio os jornais, fico confrangido com tanta barbaridade. O nível a que o nosso ensino chegou, é preocupante e há que tomar medidas urgentes para que a nossa juventude, onde se inclui quem ensina, alterem a situação. No nosso tempo o ensino e o seu acesso eram bem diferentes.

Embora também anote certas “calinadas”, serás sempre para este teu admirador uma referência e muito gostaria de ver um dia publicada a tua peça de artesanato linguístico, intitulada «Língua Lixada». A partir de agora, a Vila de Santa Catarina da Serra tem uma dívida para contigo, por teres sabido honrar o seu nome. Obrigado. Até breve. Um abraço do Silvino Domingos Santarém


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Serra ACTUALIDADE

Santa Catarina em festa A Festa em honra de Santa Catarina realizou-se, como é hábito, no primeiro fim-de-semana de Maio, ou seja a 1 de Maio. Esta festa, em honra da padroeira da freguesia, é organizada pelos Santa-Catarinenses que completam 50 anos no ano da festa. Este ano coube aos nascidos em 1955 a organização dos festejos. Deixamos aqui alguns registos fotográficos que marcam a forma como os festejos foram vividos na freguesia.

Festa em Vale Maior A População residente e/ou nascida no lugar de Vale Maior, Santa Catarina da Serra, está a organizar uma festa em prol da beneficiação do Parque de Merendas. A Festa terá lugar no próximo dia 12 de Junho e tem como principal objectivo a angariação de

verbas que permitam melhorar as actuais condições do Parque de Merendas. Como habitualmente os festeiros irão “oferecer” um lanche convívio e durante a tarde será também realizado um sorteio de rifas. Este e o sétimo ano consecutivo em que a população se reúne

organizando a festa de forma como forma de dinamizar o local. Neste sentido já foi construído um nicho a S. Francisco, um fontanário e um parque de merendas, que embora ainda incompleto, já vem sendo utilizado quer por moradores quer por visitantes que pretendam desfrutar da compa-

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Serra ENSINO

Magia Mundial do Livro

«Eu sou parte de tudo aquilo que li.» Jonh Kieran Com os objectivos de estimular o gosto pela leitura, contactar com textos variados da literatura nacional e universal e reconhecer a leitura como um veículo transmissor de conhecimentos, a Biblioteca Escolar/CRE da Escola Básica Integrada de Santa Catarina da Serra dinamizou a Feira do Livro, com o apoio da Livraria Arquivo, de Leiria, na semana de 18 a 22 de Abril. A Feira esteve aberta a toda a comunidade, durante o horário lectivo da escola e no dia 21 de Abril, à noite, das 21.00h às 23.30h, dando assim, a oportunidade de pais/encarregados de educação acompanharem os seus educandos à feira. Os leitores mais dedicados puderam, desta modo, adquirir os seus livros preferidos com um desconto especial. Por outro lado, ainda durante esta semana, foram dinamizadas algumas actividades, nomeadamente o encontro com a escritora Margarida Fonseca Santos, autora que tem registado uma enorme aceitação entre os jovens, com os livros da colecção Clube das Amigas (3 já publicados) e outros como O Peixe Azul e O Livro Misterioso. O encontro, que ocorreu na Biblioteca, permitiu a aproximação entre leitores, livros e a sua autora, uma vez que numa linguagem muito acessível, esta falou das histórias escritas, satisfazendo a curiosidade dos alunos, os quais também puderam colocar-lhe questões pertinentes. Para o os alunos dos 3º e 4º anos das escolas do agrupamento e da escola sede, foi preparada uma sessão de Hora do Conto, no dia 22 de Abril. Os alunos deslocaram-se à Biblioteca para ouvirem a história Uma prenda muito especial, (da autora Margarida Fonseca Santos) pela voz da contadora de histórias

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Liliana Gonçalves. Fixados na contadora de histórias, os alunos ouviram Era uma vez... e, a partir de então, entraram no mundo da fantasia, do fantástico, onde tudo é possível. Maravilhados com a história deliciosamente narrada, participaram depois nas actividades de reconto e escrita. Estas actividades, realizadas no âmbito das comemorações do Dia Mundial do Livro, proporcionaram a todos, uma aproxi-

mação ao livro e à sua magia e, consequentemente, o desenvolvimento da expressão escrita, da oralidade e da criatividade. Tendo em conta o número de visitantes, a venda de livros e o interesse dos alunos, as actividades de toda a semana alcançaram os objectivos enunciados com sucesso.. Rita Agrela


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Serra ENSINO

Feira da Ladra No passado dia 10 de Abril, realizou-se na Escola Básica Integrada de Santa Catarina da Serra uma actividade inédita na região – uma Feira da Ladra. Desde objectos novos a usados, porcelanas, velharias, mobiliário, quase tudo foi possível comprar nesta feira, a preços quase simbólicos. A Feira teve muita adesão popular, sobretudo, pelos encarregados de educação que não quiseram deixar de assistir às actuações musicais dos alunos. Graças à colaboração de toda a população escolar e de algumas empresas de cerâmica da região, foi possível angariar uma quantia significativa de fundos para a realização do desfile «Encontro de Culturas», com data prevista para 24 de Junho, na mesma escola. Este desfile, também novidade na região, contará com fatos de todo o mundo, bem como actuações

musicais alusivas a vários países. Outro acontecimento a não perder. Cláudia Tomás

Dois sentimentos contraditórios

Professor António Oliveira (Membro do Conselho Executivo)

No pretérito dia 17 de Abril, os presidentes de Junta do Concelho de Leiria, acompanhados de todos os vereadores com pelouro na Câmara e da Senhora Presidente da edilidade, além dos presidentes e responsáveis pelas colectividades da Freguesia de Santa Catarina da Serra, visitaram a Escola Básica Integrada. Esta visita inseriu-se num programa, pioneiro, que consiste num encontro mensal entre os

autarcas num sistema rotativo em cada Freguesia, tendo desta vez, a freguesia de Santa Catarina servido de anfitriã. Nestes encontros, cumprem uma vasta agenda onde parte do programa passa pela visita às colectividades, ao património local e aos estabelecimentos de ensino. No que à EBI diz respeito, a juntar à honra que nos mereceu a presença de tão ilustres visitantes, pretendo realçar os elogios, que nos pareceram sinceros, dado que não foram inseridos em discursos oficiais mas antes nos bastidores da visita, quanto à qualidade das instalações, ao seu estado de conservação, mas sobretudo aos recursos pedagógicos existentes e ao leque de actividades de enriquecimento que a escola oferece de modo a proporcionar aos alunos um complemento adequado e ajustado à sua formação integral – currículo integrado. Estes elogios, porque justos, provocaram-me dois sentimentos antagónicos: o primeiro, naturalmente de satisfação e orgulho, porque todo o trabalho e esforço hercúleo efectuado por este Con-

selho Executivo e pelos professores responsáveis de projectos e clubes, em comunhão com toda a comunidade educativa, mereceram reparo positivo; o segundo, de tristeza porque apesar de toda esta evidência, alguns Pais e Encarregados de Educação, com certeza desatentos, preferem os Colégios de Fátima para a educação dos seus filhos, à Escola Básica Integrada, que deveria constituir para si, como residentes e naturais das freguesias do Agrupamento (Santa Catarina e Chainça), um motivo de orgulho e de referência dado o valor patrimonial e pedagógico que constitui para as respectivas freguesias a existência de um estabelecimento de ensino oficial. Penso que nem o argumento apresentado, muitas vezes, que os levam para Fátima não porque o Ensino é melhor, mas antes, porque é o local de trabalho do Encarregado de Educação, justifica a escolha.

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