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Serra ABRIL 2006

ANO 3

Nº 39

Bombeiros promovem actividades Págs.4 e 5

Automóveis antigos em exposição

Esta revista é um suplemento local que integra a edição nº 3605, de 21 de Abril de 2006, do Semanário REGIÃO DE LEIRIA e não pode ser vendida separadamente.

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Dr Correia Alexandre

“As pessoas de Santa Catarina nunca me esqueceram”

Págs.10 e 11



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Serra FÓRUM FICHA TÉCNICA DIRECTOR Francisco Rebelo dos Santos

ÍNDICE Bombeiros realizam actividades ..............................................................4 e 5

DIRECTOR-EXECUTIVO Pedro Costa

Clube de automóveis antigos em aniversário................................................6

CONSELHO DINAMIZADOR David Vieira Fausto Neves Jaime Silva Joaquim Rodrigues Jorge Primitivo José Augusto Antunes José Carlos Rodrigues

Tradição sobrevive na Loureira ........7

TEXTOS Amândio Santos FOTOGRAFIA Arquivo do REGIÃO DE LEIRIA, Amândio Santos e Foto Antunes

Rostos comuns

Agricultores em festa .........................8 Loureira com tasquinhas..................9 O médico de Santa Catarina ..........................................................10 e 11 Educação .................................12 a 15 Made in Serra ......................... 16 e 17 Avós da Serra...............................18 a 20 Agenda...............................................21 Académicos ...................................... 22 Site do mês....................................... 23

Mais uma vez, a VOZ DA SERRA procura dar a conhecer as figuras que marcam a realidade local. São caras mais ou menos conhecidas de todos, que acabam por constituir marcas identitárias de quem vive a freguesia. Não importa apontar um ou outro exemplo, as indi-

PAGINAÇÃO Departamento Gráfico do REGIÃO DE LEIRIA PUBLICIDADE Lídia Órfão Tereso PATROCINADORES PERMANENTES LubriFátima Maia – A. Ferreira das Neves Herdeiros, Lda. Lena Construções JRP Jorge Gameiro Fluxoterm Clinifátima Soalho’s Construções J.J.R. & Filhos, S.A. IMPRESSÃO Mirandela SA TIRAGEM 2.500 exemplares Esta revista é um suplemento local que integra a edição n.º 3605, de 21 de Abril de 2006, do Semanário REGIÃO DE LEIRIA e não pode ser vendida separadamente.

vidualidades que trazemos

Participe A sua opinião conta. Agora a VOZ DA SERRA disponibiliza um endereço de correio electrónico que pode usar para nos fazer chegar as suas opiniões, notícias e impressões. Use o endereço vozdaserra@regiaod eleiria.pt e entre em contacto connosco. Mantemos ainda em funcionamento um Ponto de Apoio ao Leitor na Papelaria Bemposta, no centro da vila de Santa Catarina da Serra. Porque a participação activa dos nossos leitores é essencial, tem duas plataformas possíveis de colaboração. Queremos ouvi-lo sobre os assuntos que gostaria de ver abordados, para enriquecer esta publicação, podendo ainda abordar outras questões que considere pertinentes.

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para as páginas desta que é a sua revista, são sempre uma forma de sublinhar a sua importância e para nos recordar dos laços que nos unem à freguesia. As figuras que mês após mês vimos destacando, são-no por mérito próprio, é certo. Mas também, confessamos, porque nos permitem tornar públicas as memórias que são comuns à freguesia de Santa Catarina da Serra. É por essa razão que este tipo de trabalhos terá sempre continuidade nesta sua revista. E quem sabe se um destes dias, a forma como se tem destacado na comunidade local não encontra eco nestas páginas.

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Serra ACTUALIDADE

Bombeiros da Serra sempre em acção

Rali, Tasquinhas, Fado e Futebol…

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Serra ACTUALIDADE A A ssoc i aç ão de Bombeiros da Serra continua a realizar eventos para combater as dificuldades económicas que se vão sentindo. Tal como anunciado na revista de Março, estavam agendas algumas iniciativas para este mês. Todas elas se realizaram e em todas a Associação obteve “muitos e bons resultados”. É o que nos diz Virgílio Gordo, presidente desta associação. “Nós já esperávamos dois meses muito trabalhosos, e foramno de facto, mas a tesouraria da Secção Destacada precisava e pusemos mãos à obra, contando felizmente com muitas ajudas de empresas e particulares”. O evento de maior (e por vezes literal) impacto foi o Passeio Todoo-Terreno realizado no dia 1 de Abril. Com início e concentração marcada para as 08h 30, na actual sede dos Bombeiros, e com início do passeio para meia hora depois, as cerca de seis dezenas de motas e os dezanove jipes partiram à aventura para uma prova que só terminou com o jantar noite dentro. A adrenalina subiu a pontos bem altos, sobretudo na tarde de Trial, realizado perto da Quinta da Sardinha, junto à EN 113, em terreno muito propício aos desafios, e que foi gentilmente cedido para este efeito pela Empresa JJR. A chuva

que caiu nos dias antes ajudou ao ambiente ideal para este desporto, e a lama tratou de dar cor às viaturas e respectivos passageiros. O local foi ponto de encontro de muitas pessoas também de freguesias vizinhas, em espírito de animação, convívio e muita adrenalina. Virgílio Gordo agradece o grande apoio dos amantes do Todo-o-Terreno e expressa a satisfação pelo sucesso deste evento, sobretudo porque não se registou qualquer incidente de danos maiores, e porque o objectivo de angariar fundos foi alcançado, saldando-se esta iniciativa em perto de 5 mil euros. Outra iniciativa realizada foi uma Noite de Fados, realizada nas instalações da UDS, em que participaram 63 pessoas. “Muitos dos participantes já me disseram que estarão presentes em próximas noites de fados. Nesta iniciativa entre outras entidades, o Restaurante O

Tó deu uma preciosa ajuda”. Por último, a convite do Clube de Automóveis Antigos, os Bombeiros da Serra organizaram e exploraram dura nte dois dias uma tasca de comes e bebes. Na tarde de Domingo os soldados da paz da nossa freg uesia disputaram um torneiro triangular, competindo com os Bombeiros das Secções de Monte Redondo e Leiria (sede), que se saldou num “glorioso” lugar no pódio, na segunda posição, com o troféu a ser arrebatado pelos soldados de Monte Redondo. Para o futuro próximo, a direcção dos Bombeiros planeia a realização de um cortejo de oferendas, com realização provável para o mês de Junho, em mais uma iniciativa de angariação de fundos para fazer face às necessidades. “Necessidades que são muitas, visto que a associação tem encargos mensais fixos superiores a cinco mil euros, e sabemos que não podemos parar”. Quem também não pára e acompanha sempre os trabalhos desta direcção são os nossos bombeiros voluntários “incansáveis a ajudar, e as empresas da freguesia que são fundamentais para tudo o que temos conseguido para esta secção que é imprescindível na nossa freguesia”.

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Serra ACTUALIDADE ABERTURA

Clube de Automóveis Antigos festeja 3º aniversário

1ª Exposição de Automóveis Antigos O Clube de Automóveis Antigos de Santa Catarina da Serra festejou no fim-de-semana 8 e 9 de Abril o seu terceiro aniversário, realizando a primeira Exposição de Automóveis Antigos. Fundado no dia 7 de Abril de 2003, este clube é o mais novo da freguesia mas tem demonstrado uma enorme dinâmica na organização de eventos. As viaturas antigas foram naturalmente o centro de todas as atenções para as cerca de quatrocentas pessoas que visitaram a exposição. Estiveram expostos no pavilhão duas dezenas de viaturas, representativas de todas as décadas do século XX, dando uma ideia da história e evolução da indústria automóvel. Um Ford T de 1913 era o carro mais antigo em exposição, e o que mais curiosidade criava junto dos visitantes. No pólo oposto, o carro “menos antigo” era um Citroen 2 Cv, de 1982, propriedade do clube, que será sorteado no mês de Novembro em jantar comemorativo do clube. Das outras relíquias expostas salientam-se algumas motas antigas, um Mercedes “Asa de Gaivota”, dois Jaguares, um Porche e uma pick-up Chevrolet de 1933. Do programa da exposição, a mpla mente div ulgado pelos meios de comunicação da nossa região, constava também um passeio turístico para a tarde de domingo que não se realizou devido ao mau tempo que se fez sentir ao início da tarde. A tasquinha dos Bombeiros da Serra que funcionou durante os dois dias, conjugada com a realização de jogos tradicionais, e disputa de um torneio triangular realizado no relvado sintético do parque desportivo animaram e

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deram ainda mais vida a este evento. O clube prepara já a sua próxima iniciativa, um passeio de dois dias ao norte do país, com dor-

mida na cidade de Espinho, mais um passeio a fazer jus ao lema do clube: “Desfrutar o Presente ao Volante do Passado.”


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Serra ACTUALIDADE

Manter a tradição com toda a religiosidade

Cantar para as Almas na Loureira Durante esta Quaresma, cerca de 20 homens mantêm viva uma tradição bastante antiga na nossa região: Cantar para as Almas. É uma tradição que teima em perdurar nas aldeias da nossa freguesia. O Rancho Folclórico de São Guilherme tem mantido a tradição em algumas das aldeias mais próximas. Na Loureira a tradição cumprese há vários anos ininterruptamente. Francisco Ribeiro, um dos impulsionadores do reaparecimento desta tradição, e uma das vozes, salienta que ninguém, em nenhuma casa, recebe mal este grupo, e

com mais ou menos, todos contribuem. “Este ano correu tudo muito bem, apareceram mais vozes do que era costume, e tivemos a sorte de só ter chovido uma noite.” O dinheiro amealhado este ano atingiu um valor recorde de 2.355 euros que servirá para pagar as missas dominicais realizadas na Loureira durante o ano, e todas as missas semanais, duas por semana, também durante o ano inteiro, “e ainda pagamos o oficio das almas que se realiza no inicio de Novembro”. Esta tradição decorreu durante cerca de uma dúzia de noites, duas

horas por noite, cantando e rezando, num ambiente misto de religiosidade e convívio, intervalado com alguns pequenos petiscos regados que os donos de algumas casas fazem questão em oferecer “para ajudar a afinar as vozes”. Depois de terem dado a volta a todas as casas, “juntamo-nos em frente à capela, cantamos e rezamos uma última vez e depois, vamos cumprir outra tradição que é comer um petisco em casa do José Alfaiate.” Por tudo isto, Francisco Ribeiro afirma que para o ano que vem, por esta altura “esta tradição vai voltar a realizar-se”.

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Serra ACTUALIDADE

“Foi um bom ano de caça” A festa do agricultor que se realizou na tarde do passado dia 26 de Março encerrou mais um ano de caça na nossa freguesia. Fernando Reis, presidente da Associação de Caçadores da Serra salienta o facto muito positivo de a freguesia ter permanecido quase imaculada dos incêndios do último Verão, sobretudo “porque o vento nos ajudou quando o fogo estava quase a entrar nos pinhais da freguesia”. Este facto terá sido decisivo para que “tenhamos assistido a um bom ano de caça, às várias espécies. Sobretudo na caça ao coelho, ao tordo e à rola. Tivemos caçadores que nunca na vida deles viram tanta rola, mas a associação também trabalhou muito para isso, já que semeámos

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1500 kg de trigo e 600 kg de veia, e este ano vamos semear novamente esta quantidade”. Fernando Reis recorda que esta associação tem cerca de 320 caçadores inscritos, sendo que destes, estima-se que apenas uma centena sejam caçadores regulares na nossa freguesia. “No primeiro dia de caça a associação ofereceu o almoço aos caçadores que quiseram participar e juntaram-se quase quarenta caçadores”. Quanto à Festa do Agricultor, Fernando Reis ficou bastante agradado com a grande adesão das pessoas, que puderam conviver, beber o vinho cá da terra e provar uma tira de porco espeto. “Convidámos todas as associações e representantes das

instituições da nossa freguesia, e a adesão foi tal que em certa altura cheguei a pensar que tinha que ir buscar mais carne”. Este ano não se realizou a batida às raposas porque todas as associações de caçadores das freguesias vizinhas marcaram realizaram batida e não haveria caçadores para tanta batida no mesmo dia. Montaria ao javali também não se realizou por opção, por se estimar que o número de javalis na nossa terra não justifica a realização da montaria. Quanto ao próximo ano, Fernando Reis anuncia que o calendário cinegético será oportunamente divulgado e que o campo de tiro está aberto aos sábados de tarde e domingos de manhã “para os que quiserem treinar e praticar”.


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Serra OPINIÃO

As Tasquinhas na Loureira

A Associação para o Desenvolvimento Social da Loureira está a programar o “dia das tasquinhas” que terão lugar nos dias 21, 22 e 23 de Abril. Trata-se de uma tradição já antiga e que promove e fomenta o convívio entre os conterrâneos, servindo de elo e de cartaz de aproximação com outros moradores e amigos das povoações vizinhas e ainda outros visitantes desta terra. As tasquinhas servem também para a valiosa angariação de fundos financeiros para a amortização dos investimentos já realizados e para a ampliação e desenvolvimento de novos melhoramentos que a actual Direcção se propõe a realizar. A Loureira não pára e os seus moradores estão interessados no desenvolvimento da sua terra. Hoje estão com a Associação e amanhã estarão com a Comissão

da Capela e, se caso disso, estarão com a Comissão dos caminhos do Casal da Cabeça, dos Casais Ferreiros e da Charneca, como aconteceu no passado e já se aprontam para reiniciar a iniciativa, visto ao estado lastimoso a que chegaram. A povoação de Loureira é um lugar grande, sendo o maior da freguesia, onde residem cerca de 1.200 pessoas, das quais cerca de 850 são eleitores. Este número corresponde a cerca de 27% dos universos de eleitores de Santa Catarina da Serra. A nível do Estado e da Câmara Municipal as verbas distribuídas à freguesia são também em função do número de eleitores, o que significa que cada milhar de euros entrados nos cofres da Junta, duzentos e setenta pertencem à Loureira (valor estatístico). Por razões históricas e culturais, esta povoação está dividida

por “cantos” e cada “canto” com muito carinho faz a sua tasquinha. Assim teremos, como de costume a tasquinha do “canto dos Santos”, do “canto dos Caetanos”, do “canto da Valada”, do “canto do Termolaria” (Termo de Leiria). Também haverá certamente, como de costume a “tasca do Lagar” explorada por um grupo de homens e mulheres, que não representando qualquer “canto” fazem desta tasca um bar de franco convívio, muito bairrista e pitoresca. As tasquinhas fornecem friginadas, grelhados de vários tipos, o tradicional chícharo com broa e bacalhau assado na brasa, moelas e a sopa grossa de feijão, couve e muita carne, carneiro guisado à moda da terra e o vinho dos melhores provadores. COMPAREÇA. Domar

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Serra ENTREVISTA

A Voz da Serra entrevistou o médico da Caranguejeira que também foi…

O médico de Santa Catarina

António Manuel Correia Alexandre nasceu em Coimbra há precisamente 86 anos. Cedo demonstrou grande aptidão para os estudos, capacidades que lhe permitiram contornar as dificuldades económicas da sua família. Perdeu o seu pai quando tinha apenas 17 anos, o que o obrigou a ganhar “alguns vinténs” dando explicações em Matemática e Português. Enquanto o mundo assistia à II grande Guerra, frequentou a licenciatura em Medicina. Já como médico, esteve seis anos a trabalhar em Góis, mas o destino encarregou-se de o trazer para a Caranguejeira. Foi médico durante tempos muito difíceis. Coincidência ou não, a Voz da Serra foi entrevistar o Doutor no dia em que comemora 86 anos de idade. Parabéns Doutor Correia Alexandre.

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Dr. Correia Alexandre, como foram os primeiros anos da sua vida? Eu nasci em Santa Clara, em 12 de Abril de 1920. Ali frequentei a instrução primária, e, como pelos vistos, eu era um garoto que não era nada burro, um professor dessa escola, sabendo das dificuldades económicas da minha família, levou-me para um colégio particular, onde ele leccionava, de graça. Depois do quinto ano, como tinha tido boas classificações, passei para o liceu estatal com bolsa de estudo. Éramos uma família pequena mas com dificuldades porque era só o meu pai a ganhar para a nossa casa. A situação piorou, quando eu, com apenas 17 anos perdi o meu pai, que morreu de pneumonia em apenas 4 dias. Nessa altura, devido às dificuldades, comecei a dar explicações de Português e Matemática. Foi uma altura muito difícil, e tudo parecia desmoronarse debaixo dos meus pés…

A entrada em Medicina aconteceu por essa altura? Sim, apesar dessas dificuldades, pouco tempo depois entrei para a Faculdade de Medicina na Universidade de Coimbra. Nunca tive que pagar nada pelos estudos, e só no fim do curso deram-me uma bolsa de estudo. Ainda me lembro, foi com esse dinheiro que paguei o diploma do curso. Quando acabei o curso, estive seis meses como assistente, de forma voluntária gratuita, do Dr. Bissaya Barreto, médico muito conceituado em Coimbra naquele tempo, e que ainda hoje é muito recordado naquela cidade. Só aguentei lá seis meses porque era um trabalho em que não recebia nada… Foi o início da sua vida profissional… O meu primeiro emprego remunerado foi num pequenino e novo hospital que abriu em Góis. Fui convidado por outro médico e fui


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Serra ENTREVISTA trabalhar para lá. Como já ganhava alguma coisa casei. A minha mulher que era professora também arranjou emprego lá e por lá estivemos cerca de seis anos, até aparecer a hipótese de me mudar… Naquela altura eram abertos concursos para médicos municipais, que serviam em áreas onde havia muitas pessoas necessitadas. Como a minha mulher era natural de Leiria, e como abriu um concurso para médico municipal nesta zona, ela convenceu-me porque os pais dela viviam em Leiria, eu concorri e vim viver para cá… E veio instalar-se mesmo aqui na Caranguejeira? Sim, vim logo viver para a Caranguejeira. A minha única filha já nasceu cá, muito pouco tempo depois. Fiquei logo a ser o médico de umas poucas freguesias. Além da Caranguejeira, era médico de Santa Catarina da Serra e de uma parte de Espite. Estávamos em 1950 e esta era uma zona muito necessitada. Cheguei cá na altura em que começou a emigração para França. Era a altura em que uma sardinha era para dois irmãos, e jogavam ao soco para ver quem é que ficava com o rabo… Você não faz ideia disso, mas é verdade… passava-se muita fome e trabalhava-se muito de borla… hoje tudo é diferente e por exemplo, hoje toda a gente tem um Mercedes, toda a gente tem a preocupação em apresentar bons automóveis… Exercer medicina em tempos tão complicados não deve ter sido fácil? Era muito complicado. Naquela altura não havia médicos, hoje há médicos por todos os lados, mas naquele tempo, em todo o Concelho de Leiria devia haver só uns 5 médicos. Havia um nas Colmeias, outro em Leiria, outro na Maceira… Eram médicos municipais como eu, sendo que eu fui o último médico municipal, porque os outros já todos faleceram. Havia uma farmácia e um farmacêutico

aqui na Caranguejeira que ajudou muitos e muitos doentes. Eu em certas alturas trabalhava de sol a sol. Era muitas vezes chamado de urgência a casa dos doentes e passava noites sem dormir a acompanhar os doentes… Ali em Santa Catarina o médico que estava antes de mim era o Dr. Júlio Constantino. Este médico recebia uma pensão anual, as avenças, das pessoas e eu ao princípio herdei este método. Eu era o único médico, mas havia muita gente curiosa a exercer uma espécie de medicina. Na altura chamávamos-lhe Barbeiros. Havia alguns aqui na zona que até eram muito estudiosos e conscienciosos, que só faziam o que sabiam, não se metiam em aventuras e não prejudicavam ninguém. Havia também algumas parteiras, mas que não me lembro os nomes… também havia barbeiros que não percebiam nada do assunto, e lembro-me de um homem que andava sempre com os bolsos cheios de pequenos frascos de penicilina, queria curar tudo com penicilina… Ainda conhece muita gente da freguesia de Santa Catarina? Conheço muita, muita gente de Santa Catarina, e essas pessoas também nunca me esqueceram. Aliás, presentemente, se eu hoje ainda de vez em quando, tenho um doente particular, não são daqui da Caranguejeira, são de lá. Esta zona periférica continua a vir cá. São os familiares daqueles que foram os meus doentes, e que ainda hoje me procuram, quando têm alguma atrapalhação, ainda hoje me vêm cá procurar. O que já não acontece com os doentes daqui, por uma dispersão de vontades que já não me engloba. Em Santa Catarina da Serra tive muitos amigos, mas não me lembro de nenhum amigo em especial. As consultas eram todas das em casa dos doentes? Eram quase todas, mas em certas alturas eu dei consultas em casas arrendadas, mas só me

lembro de uma que aluguei na Loureira. Dei também consultas, durante muitos anos no Cercal de Espite em casa do Francisco Russo. Naquele tempo a educação do povo era muito inferior à actual, e havia por vezes alguns descuidos… E hoje, com 86 anos, como passa os seus dias? Levanto-me às 7 horas da manhã, trato da minha higiene e da minha alimentação. A seguir vou trabalhar para o Posto Médico aqui da Caranguejeira, das 8:15 até ao meio-dia. Almoço, e durante a tarde faço inspecções em higiene e segurança em empresas aqui da zona. Das 17 às 19 preencho os relatórios das empresas e dou consultas a pacientes aqui no meu consultório, na minha casa. Depois, sento-me a ver os telejornais e está o dia passado. Não leio porque me canso muito, já não tenho idade para isso. Aos fins-desemana, nos meus tempos livres, além das visitas dos meus familiares, tenho um grupo de amigos que não me deixam estar só, são filhos cá da terra, embora alguns não vivam aqui, e que me fazem muito boa companhia. Aos 86 anos, qual a melhor homenagem que lhe poderia ser feita? Já fui homenageado quando puseram o meu nome na Escola Secundária da Caranguejeira. Guardo essa homenagem aqui no meu coração. Mas não havia nenhuma razão especial para colocarem o meu nome numa escola. Faria mais sentido que o meu nome ficasse associado a um Posto médico, ou centro de saúde, já que sou médico há tantos anos, e por exemplo, o Serviço Nacional de Saúde na Caranguejeira começou a funcionar aqui no meu gabinete. Pediram-me e eu permiti que o posto médico funcionasse aqui na minha casa, de maneira que ficaria honrado se um dia, o posto médico tivesse o meu nome…

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Serra EDUCAÇÃO

3º Lugar no Corta Mato Nacional e 1º no BTT Distrital

Alunos da EBI Vitoriosos No dia 18 de Março, a equipa de Iniciados Masculinos da Escola EBI participou no Corta Mato Nacional, realizado na bonita Vila da Sertã, após ter sido apurada na prova no corta mato distrital, realizado em Pombal, com a classificação de 1º lugar por equipas. Os alunos chegaram à Sertã na sexta-feira por volta das 18.30h, jantaram e, de seguida, juntaramse aos mais de 1300 participantes, oriundos de todo o país, num convívio organizado numa discoteca local. No dia da prova, os participantes chegaram ao local das provas por volta das 10.00h da manhã. Fizeram o reconhecimento do percurso e esperaram pacientemente pela sua vez para competirem. A pista do corta mato, localizada junto ao rio, estava totalmente

“alagada”, fruto da chuva intensa que se fez sentir durante a noite. No entanto, e apesar das dificuldades, a nossa Escola conseguiu a difícil proeza de se classificar em 3º lugar, entre todas as escolas de Portugal e Ilhas. A manhã tinha terminado da

Campeões Todo-o-Terreno Dois dias antes do Corta-Mato Nacional, decorreu na Escola Básica Integrada de Santa Catarina da Serra, a 4ª etapa de concentração de multiactividades, organizada pelo Departamento de Educação Física, no âmbito das actividades do desporto escolar. Participaram cerca de 50 alunos, vindos das escolas: Dr. Correia Alexandre, Secundária de Porto de Mós, EBI de Santa Catarina da Serra e Colégio João de Barros. Durante a manhã realizou-se a prova de BTT, num percurso de 10 a 20 quilómetros, ao redor da escola. Obtiveram boas classificações os seguintes alunos: Tiago Vicente, Carlos Oliveira, Carlos Sfalsini, Carla Roque, Soraia Pastagem, (escalão infantis), Paulo Alves,

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Ricardo Cruz, João Carvalho, Pedro Marques, Edgar Pereira, Cecília Neto, Nélia Carreira (escalão iniciados) e João Ferreira (escalão juniores masculinos). Todos irão estar presentes no campeonato de multiactividades que se realizará em Soure, nos dias 26 e 27 de Abril. A escola está, portanto, de parabéns. Durante a tarde, os alunos realizaram ainda o “My school challenge” que integrou as actividades de orientação, escalada, tiro com arco e jogos de “team building”. Dada o interesse demonstrado pelos alunos, o departamento está a organizar mais uma concentração de multiactividades, a realizar no final do ano lectivo.

melhor maneira e os alunos, esses não se continham nos festejos. Certamente não voltarão a viver tais emoções. E os heróis desta proeza são o Rogério Alves, o Joel Pereira, o Filipe Oliveira, o Ricardo Faria e o Fábio Pereira.


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Serra EDUCAÇÃO

Carnaval e Dia do Pai no Jardim-de-infância da Loureira

Sexta-feira, dia 24 de Fevereiro de 2006, festejámos o Carnaval vestidos de Eco Pontos. Fizemos um desfile com os meninos da creche, os alunos do 1º Ciclo da Loureira e da EBI de Sta Catarina da Serra. Com os nossos fatos quisemos sensibilizar a comunidade para a selecção do lixo. A nossa frase era:

«Para o Mundo melhorar, vamos todos reciclar.»

Foi divertido!

Fizemos o desenho do pai com o filho numa pasta para oferecer ao Pai. O pai é mais alto que o filho. Colamos um poema num postal com o retrato do Pai e pintámos os corações com a técnica da lixívia. Nas pastas os pais vão arquivar os papéis para o IRS. Escondemos a prenda em casa, debaixo da cama… e só a oferecemos no Domingo, dia 19 de Março. As pastas ficaram muito giras! Os Pais gostaram muito! Crianças de 4 e 5 anos da sala B.

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Serra EDUCAÇÃO

Agrupamento de Escolas e Jardins da Serra

Do Agrupamento de Escola e Jardins da Serra fazem parte os Jardins-de-infância de Santa Catarina da Serra n.ºs 1 e 2, Olivais, Loureira e Quinta da Sardinha. Este ano lectivo usufruem do ensino Pré-escolar, 120 crianças, de idades compreendidas entre os 3 e os 5 anos. Além das actividades lectivas funciona em todos os estabelecimentos a componente de apoio à família que compreende o almoço e as actividades de animação educativa. Esta componente está a ser gerida pelas Associações de Pais em articulação com a Escola Sede e as Educadoras de Infância.

Jardins de Infância 1 e 2 de Santa Catarina da Serra Funcionam nas instalações da antiga escola do 1º Ciclo do ensino Básico da Pinheiria e foi recentemente reconstruído. O espaço interior é composto por duas salas de actividades, cada uma com um pequeno hall e um W.C. para as crianças. Aquando da sua reconstrução foi construída em anexo uma sala polivalente, uma cozinha, uma dispensa e um W.C., para adultos, para dar resposta à componente de apoio à família que inclui o almoço e as actividades de animação sócioeducativa. Todos estes espaços se encontram em bom estado de conservação e possuem uma boa iluminação natural e aquecimento. No espaço exterior encontra-se uma caia de areia equipada com balouços e pequenos espaços ajardinados. No presente ano lectivo frequentam o Jardim de Santa Catarina 1, 17 crianças, e o de Santa Catarina 2, 22 crianças.

Crianças e Educadoras do Jardim de Infância de Santa catarina da Serra 1

Crianças e Educadoras do Jardim de Infância de Santa catarina da Serra 2

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Serra Jardim-de-infância da Loureira Localiza-se na rua do Outeiro e foi construída em 1991.O espaço interior é composto por duas salas de actividades, bem iluminadas e em bom estado de conservação. Deste espaço fazem parte ainda 1 pequeno gabinete, 2 W.C. para crianças, 1 W.C. para adultos, 1 hall e dois espaços para arrumação. Neste Jardim funciona ainda a componente de Apoio às famílias que inclui o almoço e as actividades de animação sócio-educativa, para cujo funcionamento foi construído, recentemente, um anexo composto por uma sala polivalente, cozinha, WC e dispensa. O espaço exterior possui uma caixa de areia com balouços e um espaço de jardim.

EDUCAÇÃO

No presente ano lectivo 40 crianças frequentam o Jardim de Infância da Loureira

Jardim-de-infância dos Olivais Funciona num edifício muito antigo na Rua da Escola. Em 1981/82 foi alvo de algumas alterações e iniciou a sua actividade como Jardim de Infãncia. Apesar de ter sofrido, ao longo do tempo, sucessivas reparações o seu estado de conservação não é o ideal. É constituído por uma sala de actividades, ampla, um pequeno gabinete, e uma sala de entrada, utilizada como vestiário. Nas traseiras do edifício existe um grande telheiro coberto, em mau estado de conservação. Numa parte deste espaço foi construída uma cozinha, uma sala polivalente e os WC’s. O espaço exterior é muito reduzido, tem uma pequena caixa de areia e um escorrega. No presente ano lectivo a componente de apoio à família desenvolve-se em dois espaços diferentes, sendo que, o almoço é feito no Jardim e as actividades de animação sócio educativa, na escola do 1º Ciclo do Vale Sumo.

No presente ano lectivo 19 crianças frequentam o Jardim de Infância dos Olivais

Jardim-de-infância da Quinta da Sardinha Localiza-se na Rua de Tomar, num edifício de construção antiga (1908), que funcionou como escola do primeiro ciclo. O espaço interior é composto por duas salas de actividades, uma das quais é utilizada para recreio e actividades da componente de apoio à família. Existe ainda um pequeno WC. Num anexo adaptado, funciona uma cozinha e refeitório, de tamanho exíguo e com condições pouco aceitáveis. O exterior limita-se a um pequeno espaço, com duas escadarias e um portão que dá para uma estrada de tráfego intenso.

No presente ano lectivo 21 crianças frequentam o Jardim de Infância da Quinta da Sardinha

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Serra MADE IN SERRA

José Marques, empresário em Leiria há mais de duas décadas

“Não tive sorte, mas também não tive azar… trabalhei” José dos Santos Marques nasceu no Casal da Estortiga há quase meio século. Cedo deixou a sua terra para estudar nos Maristas, e só mais tarde voltou aqui para a região, radicandose em Leiria. Nesta cidade trabalhou com um táxi do seu pai, e mais tarde criou o seu próprio negócio “num vão de escada”. Ali trabalhava o dia inteiro, e ao fim da noite, passava a esfregão toda a loja, durante anos a fio. Hoje compete com as grandes superfícies comerciais na venda de material electrónico. A licenciatura em Recursos Humanos está a meio, mas não sabe quando a vai terminar. Recordações e confissões de quem teve o mérito de quem tem estado um pequeno passo à frente da evolução das coisas.

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gos meus da minha idade. Não sei se é por estar ligado à venda de material de som, mas da minha infância recordo sobretudo a diferença dos sons em relação a hoje. Nós no Casal da Estortiga ouvíamos o comboio a apitar em Caxarias, ouvíamos a zoada e os pregões da feira dos 28, parecia um enxame. Tenho boas recordações da minha infância, sobretudo porque o meu pai emigrou e por isso não passámos pelas dificuldades que as famílias daquela altura sentiam. Saí muito cedo para estudar, para um colégio interno, os Maristas, depois de ter estudado até à quarta classe nos Olivais. Íamos a pé para os Olivais, para lá demorávamos meia hora, no regresso a casa demorávamos duas horas, sempre na brincadeira…

O Sr. José Marques tem os sobrenomes do Mons. Manuel Marques dos Santos. Quais as origens da sua família? Sim, o Padre Marcolino era irmão da minha avó do Vale Tacão. O meu pai (Joaquim “da Cruz”) nasceu lá e herdou o primeiro nome do meu avô. Casou no Casal da Estortiga com a minha mãe, depois de esta ter ficado viúva. Ela era uns anos mais velha do que ele e por isso os dois só tiveram dois filhos, se bem que a minha mãe já tinha filhos do outro casamento. A minha infância foi passada por ali no Casal da Estortiga… E que recordações guarda da sua infância? Tenho muitas recordações, mas recordo mais quando falo com ami-

E como começou o seu negócio? No início comecei com o meu irmão, mas não estava a correr muito bem e a loja esteve quase a fechar. Acabámos a sociedade quando o meu irmão foi para o Canadá, e eu fui para uma loja mais pequena junto ao antigo hospital de Leiria. Comecei no negócio da electrónica tinha eu zero escudos. Não tinha dinheiro nenhum para investir… A primeira compra que eu fiz foi de 150 contos e esse dinheiro foi todo emprestado por um homem do Sobral, por isso eu, apesar de ter pago todo o dinheiro que me foi emprestado e juros, naquele tempo a 30 %, não esqueço a importância que aquele dinheiro emprestado, pedido pelo meu pai aqueles vizinhos, dinheiro que estava escondido nos buracos das paredes… tenho a agradecer ao


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Serra MADE IN SERRA meu pai porque foi à sombra dele que me emprestaram o dinheiro, e às pessoas que me emprestaram o dinheiro. Nos primeiros 3 anos, trabalhava sozinho, começava às 6 da manhã, até à meia-noite, uma hora e ao fim da noite era eu que passava a loja a pano. Como analisa esses tempos quase meio século depois? Nessa as pessoas eram mais pobres, tínhamos menos conforto, mas as pessoas nessa altura riam muito mais, conversavam muito mais e cantavam muito mais. As pessoas eram mais felizes, não tenho dúvida. Havia um maior sacrifício físico com os trabalhos do campo… Não sou um defensor de que dantes é que era bom, mas na diferença com os dias de hoje, havia coisas melhores. A

tecnologia conseguiu avançar a uma velocidade que a sociedade não acompanhou, e esse desfasamento por vezes deixa as pessoas mais infelizes. Está mais ou menos provado que as sociedades quanto mais ricas são, mais infelizes são… e por isso parece-me que alguma coisa tem que estar errada. E como se sente hoje em Santa Catarina da Serra? Como saí tão cedo, em tempos eu sentia-me como os emigrantes, lá eram considerados estrangeiros e aqui éramos emigrantes. Na minha geração quase todos saíamos para fora. Ultimamente, e até foi quando preparávamos a festa dos quarenta anos em Santa Catarina da Serra eu e outro habitante do Casal, o Augusto, da

minha idade tivemos a ideia de construir uma capela na nossa aldeia natal, e estive logo na organização da primeira missa campal do Casal que foi uma missa mítica que juntou tantas pessoas. Desde essa festa dos meus quarenta anos que me tenho ligado mais à minha terra natal. Hoje, além de muitos clientes, tenho grandes amigos na freguesia de Santa Catarina, e ultimamente até me desloco aqui com mais frequência. Sou associado do Clube de Automóveis Antigos, e isso leva-me a conviver ainda mais com muitas pessoas desta freguesia. Este ano já vou participar da festa dos 50 anos e espero poder participar da organização desta festa. E quem sabe um dia, voltar a viver na casa onde nasci, de preferência com os meus irmãos.

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Serra AVÓS DA SERRA

Foto Sidónio, Mister Sidónio…

Fátima, Fotografia e Futebol

Sidónio treinando os seus jogadores no Canadá O meu nome é Sidónio da Purificação Inácio e nasci no dia 30 de Agosto de 1921, junto a uma Igreja velha que havia no Bombarral. Fui baptizado em Carnaxide, concelho de Oeiras, e fiquei a ser de Oeiras, mesmo no Bilhete de Identidade. O meu pai era do Norte, e viajava por todo o país, quase sempre a pé. Eu era um de 21 irmãos, todos filhos de meu pai, mas de dois casamentos que ele teve. Desses 21, eu hoje sou o mais velho dos 6 estamos vivos, espalhados por todo o país e estrangeiro. A minha mãe era aleijadinha de pés e mãos, e teve 12 filhos. Lembro-me perfeitamente de os acompanhar por todo o país a vender roupa, eram vendedores ambulantes… Quando o meu pai foi viver para Alcanena, depois do segundo casamento, eu tinha uns 10 anos, e foi por ali que comecei com os meus ofícios, no futebol e na fotografia. Aprendi ali a dar uns pontapés na bola, e com dezoito anos convidaram-me a jogar no Rio Maior, depois de ter acompanhado

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nova mente o meu pai para aquela cidade. Ali joguei vários anos, e ali comecei o t raba l ho a sério com a fotog rafia, puxado por um irmão meu que trabalhava com fotografia à “la minuta”. Comecei logo a jogar na 3ª divisão nacional. Nesse tempo os nossos ídolos eram os 5 violinos do Sporting e os 11 diabos vermelhos do Benfica, que eram grandes equipas, até me parece, melhores que agora… Passado um tempo, os mineiros de Rio Maior decidiram formar uma equipa para o campeonato, mas como tinham maiores aspirações no campeonato, convidaramme a ir jogar para lá. Informei os dirigentes e depois segui para a equipa dos Mineiros de Rio Maior.

Joguei lá uns poucos anos, até que me começaram a convencer a vir jogar para Porto de Mós, onde já jogava um sobrinho meu. Nessa altura a Mira d’Aire também andou atrás de mim, e ofereciam-me um estúdio de fotografia em Mira d’Aire, mas mesmo assim fui para o Porto de Mós. Já na altura as contratações de jogadores eram renhidas, e cada equipa oferecia muitas coisas, e hoje acho que fiz uma asneira grande não ter vindo para a Mira d’Aire.


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Serra AVÓS DA SERRA

Sidónio nos tempos de futebol

Tínhamos em Porto de Mós uma equipa fortíssima e não havia nenhuma equipa aqui na região que nos ganhasse. Jogávamos com os Marrazes, com o Ateneu de Leiria, com o Alcobaça, com o Vieira de Leiria, a própria Mira d’Aire, nunca nos ganharam… Eu jogava normalmente a defesa central mas joguei a todas as posições dentro do campo, menos extremo direito, defesa direito e guarda-redes, mas adaptavame bem a quase todas as posições. Tive um treinador brasileiro que me ensinou a jogar com o pé esquerdo à custa de muito treino com este pé, sem poder usar o direito. Quando cheguei ao fim da carreira tinha melhor pé esquerdo que direito. Fui o primeiro bombeiro a inscrever-me e o primeiro a ser inspeccionado. Trabalhei muito pela corporação, a organizar bailaricos, festas… dei muito dinheiro a ganhar com o meu trabalho. Era bombeiro voluntário, e ser voluntário é isso, trabalhar o mais que se pode, sem esperar qualquer recompensa. Um dia, vivia em Porto de Mós mas tive que ir a Tomar, e de viagem parei à sombra de uma árvore na avenida em frente ao Santuário. Virei-me para a minha mulher e disse-lhe que gostava de morar num sítio assim… Passado cerca de um mês já estava a viver numa casa em Fátima, arrendada pelo Sr. Quim Gomes, dono da Leitaria Gomes. Era uma pessoa muito boa e algum tempo depois já me estava a convidar para treinar uma equipa de malta aqui de Fátima. Compusemos o campo do Estoril, onde são agora os parques do Santuário. O campo era estreito e fizemos o campo mais largo, e até ficou um campo jeitoso. Começámos então a equipa do Paroquial de Fátima, impulsionados pelo Padre Henriques. Mas na altura só jogávamos com equipas aqui da zona, a Loureira, o São Mamede, e assim, mas eu queria jogar com equipas boas. Eu exigi que jogássemos contra equipas boas, e os dirigentes formaram uma direcção. Começámos a jogar com o Pombal, com o Leiria, o Rio Maior, o Porto de Mós, o Ourém… o primeiro jogo que jogámos no campeonato a sério ganhámos ao Ourém 4-0. Ao fim do primeiro ano, subimos logo para a 3ª Nacional. Tínhamos jogadores muito jeitosos, o padre Pereira, o Mendes, o Carriço, jogadores que vinham de Santa Catarina e que ainda eram juniores nessa altura. Por vezes íamos buscar mais alguns jogadores aos seminários, escolhidos por mim. Tomaria o Desportivo de Fátima ter hoje uma equipa como tínhamos nessa altura. Em nossa casa nunca nos ganhavam. Ainda joguei uns jogos quando não tínhamos jogadores que chegassem. O último jogo que joguei foi contra o Pombal quando já tinha mais de 45 anos. Os adversários nem queriam acreditar que eu tinha aquela idade, porque eu ainda corria e muito. Eu nos treinos treinava os jogadores e treinava-me a mim mesmo. Sempre fiz ginástica em casa a mais que os treinos, e ainda hoje faço. Os meus

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Serra AVÓS DA SERRA jogadores tinham que dar trinta voltas ao campo sem se cansarem, que era para aguentarem um jogo inteiro… Deixei de jogar, e pouco tempo depois deixei de treinar também para me dedicar à fotografia. Foi o pior que eu fiz, porque fui treinador quando não se ganhava quase nada, e se tenho continuado hoje estaria riquíssimo. Um jogador que tenha tido bons treinadores tem mais facilidade em tornar-se um bom treinador, mas não é obrigatório ter sido jogador para ser bom treinador. Nas duas coisas é preciso jogar com cabeça, e para ser bom treinador também é preciso muita cabeça, ser muito inteligente. Ainda treinei um ano em Santa Catarina da Serra, numa época em que treinava a UDS, o Fátima e a equipa de Vilar dos Prazeres. A União da Serra tinha poucos meios para me pagar e eu tinha pouco tempo para tanta equipa e tive que deixar. Só treinei uma época a UDS, e parece-me que fui o primeiro treinador do clube, há perto de 30 anos. O presidente, o Marcelino disse-me que não me podiam pagar e eu depois tive que deixar… Depois saí para o Canadá para ganhar dinheiro. Tinha lá família e fiquei por lá 6 anos. Trabalhei lá em fotografia, e, mais uma vez, fui treinador de uma equipa de portugueses chamada o Académico de Vancouver. Cheguei a jogar à Califórnia, e contra a equipa de Vitória, treinado pelo Matateu, que nesse jogo também jogou. Adapteime muito bem lá no Canadá e fiz lá muito bons amigos, entre eles o Cônsul de Portugal no Canadá. Mas passado um tempo voltei para cá… e foi então que vim construir a minha casa na Loureira. Na fotografia, fiz milhares e milhares de casamentos. Aprendi praticamente tudo em fotografia pela minha cabeça, ninguém me ensinou. Fotografei casamentos no Santuário de Fátima quando todo o país se vinha casar ao Santuário. Aos Sábados em certa

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altura chegava a haver 10 casamentos no Santuário e outros 10 na Igreja Paroquial. Em muitos dias, eu só conseguia almoçar às 5 da tarde, porque tinha que fazer provas, vender as fotografias… o meu pai dizia assim muitas vezes “guarda que comer não guardes que fazer” e eu enquanto houvesse trabalho não parava. Fui padrinho de muitos casamentos, até de noivos brasileiros. Também fui a França fotografar casa-

mentos a Paris, como fotografo convidado. Primeiro fotografei casamentos de

netos meus, depois viam o trabalho que eu tinha feito, e casais que eu não conhecia pagavam-me a viagem de propósito para ser eu o fotógrafo. Fotografei em Fátima, na Basílica, no Verbo Divino, em São Mamede, em Santa Catarina, Caranguejeira, Leiria, Coimbra, um pouco por todo o país. Tenho a certeza que há fotografia tiradas por mim espalhadas por todo o país e também todo o mundo, porque era eu quem mais fotografava em Fátima. Trabalhava em fotografia a preto e branco. Tinha o meu estúdio de revelação e dei cabo da minha vista em frente ao ampliador. Deixei a fotografia aos 70 anos, há 15 anos, porque pensava que tinha um problema grave na vista, mas afinal eram cataratas e depois de ser operado ainda poderia ter continuado na fotografia… ainda hoje podia trabalhar na fotografia. Casei com a minha esposa há quase 50 anos e temos 6 filhos. Nenhum seguiu a bola nem a fotografia, apesar de até terem muito jeito, mas não seguiram. Felizmente estão todos bem, nas suas profissões. Estou em Sa nt a Catarina da Serra há 38 anos. Primeiro numa casa e depois de vir no Canadá numa casa que fizemos. Aqui na freguesia são poucos os que não me conhecem. No futebol toda a gente me conhece aqui na região de Santarém. Aos 85 anos penso que há muita gente que fala nesta questão de vida mas não conhecem nada da vida. Eu corri o país umas poucas vezes, quando nem uma estrada havia, só haviam caminhos. Pouca gente conhece o país como eu, e posso estar enganado mas também poucos conhecem tanto da vida como eu… Eu conheci Portugal quando neste país se trabalhava a sério… quando as pessoas não tinham medo de sair à rua a qualquer hora… quando as pessoas se respeitavam umas às outras.


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Serra AGENDA

Agenda Abril/Maio Abril - Fim-de-semana dias 21, 22, 23 Tasquinhas na Associação da Loureira - Domingo dia 30 Excursão do Vale Tacão a Lisboa (inscrições abertas)

Maio - Segunda-feira dia 1 Feriado Nacional – dia do Trabalhador - Semana de 2 a 6 Semana Cultural na EBI - Sábado dia 6 Largada de Perdizes e Pombos pela Associação de Caçadores da Serra (inscrições abertas) - Fim-de-semana dias 6 e 7 Festa Paroquial em Honra de Santa Catarina da Serra - Sábado dia 13 Campanha Limpar a Serra do Agrupamento de

Escuteiros 1211 - Domingo dia 14 Passeio pedestre da Casa do Povo pelos caminhos da freguesia - Domingo dia 21 Encontro de Coros na Casa do Povo - Domingo dia 28 77ª Peregrinação paroquial a Fátima (Festa da Ascensão)

Anuncie os eventos culturais aqui enviandonos os dados para:

vozdaserra@regiaodeleiria.pt Na revista de Maio será publicado um trabalho sobre a torre da Capela da Loureira. Qualquer informação ou foto relevante é favor contactar através deste email.

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Serra ACADÉMICOS

A Páscoa na sociedade actual Por Renato Rosa*

Nada mais normal do que escrever e ler artigos sobre a Páscoa, nesta altura do ano. É uma data que se repete todos os anos, mais ou menos cedo, e que sempre representa alguma coisa na nossa sociedade. Quanto mais não seja uns dias de férias (para os estudantes), um feriado, uma reunião familiar, a consciência de que esta é uma quadra festiva e que deve ser vivida como tal. Mas o que representa esta festa? O que é que, para a maior parte das pessoas, torna esta data festiva? Há muito tempo que a Páscoa, enquanto festa, para a nossa sociedade, foi suplantada pelo Natal. Basta ver na televisão, nas lojas, nas ruas. Contudo, todo esse aparato que torna o Natal tão visível é de natureza comercial. É o comércio, o consumo, que dão ao Natal esse carácter de festa maior, de festa por excelência. O Natal celebra o nascimento de Jesus Cristo, ou seja, o facto inédito e original dum Deus que se torna homem, que deixa de estar distante para se tornar um de nós. Mas este sentido mais profundo deixou de estar presente para a maior parte das pessoas. Comemora-se o nascimento dum homem marcante, talvez objecto de admiração para muitos. Mas, sobretudo, o Natal é tido como a festa da família, uma quadra em que se juntam os familiares, em que se vivem sentimentos que em muitos casos são passageiros e fruto do ambiente circundante, umas vezes autênticos, outras vezes mais ou menos lamechas. Mas se do Natal há a consciência clara do facto histórico que é celebrado, para a Páscoa essa consciência é muito mais difusa. Muitos saberão que tem a ver com a ressurreição de Cristo, mas sem perceberem qual o verdadeiro significado desse facto, qual a sua importância. Na verdade, a ressurreição de Cristo é muito importante para os cristãos, trata-se do fundamento da fé cristã. Aqueles que de algum modo estão algo afastados da fé cristã, perdendo esta refe-

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rência, perdem também o sentido original da Páscoa. A Páscoa continua a existir como festa, é referenciada na comunicação social, mas o que a vai sustentando como referência para a cultura actual é mais uma vez o seu aproveitamento comercial. Mesmo assim, parece-me que está a diminuir progressivamente de importância na nossa sociedade. Só os ambientes cristãos a podem manter, e com o seu sentido original. O mesmo não se passa com o Natal, que se vai mantendo, apesar de desvirtuado: além de ser uma tradição muito mais arreigada, funda-se num acontecimento mais compreensível e, digamos, acessível a todos, mesmo aos não crentes: pode sempre comemorar-se o nascimento de Cristo como do de qualquer herói. A ressurreição de Cristo só interessa aos cristãos. Os agentes económicos procuram aproveitar todas as oportunidades de fomentar o consumo. Na Páscoa, promovem-se muitos produtos (amêndoas, ovos, etc.) que têm, ou tiveram, ligação com as festas pascais, mas cuja ligação ao mistério celebrado, a Ressurreição, se vai tornando progressivamente pouco clara. As crianças sabem muito bem que a Páscoa significa chocolates, presentes, mas muitas vezes não têm meio de saber qual a razão da festa, justamente porque isso é cada vez mais esquecido. O que vemos nisto tudo é um paradoxo presente na nossa sociedade ocidental: mantêm-se referências cristãs, dias festivos, etc., mas por aquilo que significam de festa, de lazer, de convívio, não por causa do seu sentido primordial. Para os que mantêm, contudo, uma fé cristã presente na vida, isso não ameaça a vivência autêntica destas festas como momentos privilegiados de celebração da sua fé. *Estudante de Teologia no Instituto de Teologia de Coimbra, residente na Loureira


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Serra SITE

Leiritrónica, Comércio de Material Electrónico, Lda

WWW.leiritronica.com O seu espaço físico localiza-se fora da nossa freguesia, mas como pudemos constatar pela entrevista ao seu proprietário, a Leiritrónica mantém uma forte relação com Santa Catarina da Serra. Empresa especialista no comércio de componentes electrónicos, equipamentos de telecomunicações, aparelhos de controlo e medida, áudio profissional e material de informática, a empresa está disponível também na Internet no sitio www.leiritronica. com. Além de importante na divulgação dos dados e historial da empresa, segundo os seus responsáveis, este site recebe diariamente uma média de 180 encomendas, o que visto de forma anual representa uma grande considerável percentagem das vendas da empresa. O sitio é actualizado com a regularidade que o comércio em áreas tão dinâmicas obriga. Os clientes cibernéticos são oriundos de todo o país. Se ainda não conhece a loja em Leiria, visite e

conheça os produtos e preços desta loja virtual, e certamente perceberá porque esta loja tem mais de duas décadas de sucesso e crescimento.

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