vozdaserra2006.08

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V O Z da

Serra

AGOSTO 2006

ANO 4

Festa do Sagrado Coração de Jesus

Nº 43

Américo Vieira em entrevista Págs. 26 a 28

Festival de Folclore Págs. 32 e 33

Esta revista é um suplemento local que integra a edição nº 3621, de 11 de Agosto de 2006, do Semanário REGIÃO DE LEIRIA e não pode ser vendida separadamente.

Especial de 7 paginas dedicado aos festeiros

Santa Catarina da Serra Especial de 8 páginas



Especial

Santa Catarina da Serra A Vila de Santa Catarina da Serra está de festa. Está de festa porque vivem nesta terra pessoas capazes de se darem voluntáriamente por causas admiráveis... A este nível podemos alegrar-nos com a disponibilidade Rita que vai ser missionária um mês em Angola, ou do João que ofereceu, e continua a oferecer o seu olhar atento de jovem, em protecção das florestas durante um Verão inteiro. Dá gosto escrever que um pic-nic organizado por um clube de automóveis antigos, movimenta mais de 70 pessoas para uma tarde de convivio e jogos tradicionais, numa mata à beira-mar. E o que dizer da história de vida de Joaquim Vieira Alves, O “esquim d’avó”, que pela honestidade e dedicação ao seu trabalho que demonstrou em toda a sua vida, é considerado um exemplo para todos. E por falar em dedicação, quem diria que Américo Vieira, perto de completar 60 anos de idade, ainda sonha em ser campeão do mundo de ciclismo, na sua classe, e que a sua filha trabalha todos os dias para estar presente nos próximos Jogos Olimpicos, e que ambos podem perfeitamente conseguir realizar os seus sonhos... E em especial nesta revista, que dizer de um grupo de mais de 60 pessoas que, tendo em comum o facto de terem nascido no mesmo ano, (1966) avivam a tradição religiosa, recordam o seu próprio passado, e festejam a alegria e a ternura dos seus quarenta anos de idade... e mais que isso, convidam-nos a todos a participar da sua festa? Dá gosto escrever notícias boas, e esta revista está cheia de boas notícias...


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Serra ESPECIAL

Por Domingos M. Neves

Santa Catarina da Serra ao longo dos tempos No ano de 1527 el Rei D. João III ordenou aos juízes e escrivão da Câmara que o informassem de tudo o que existia no termo de Leiria. Os seus homens vieram por aí abaixo e não encontraram Santa Catarina da Serra, mas encontraram a aldeia do Ninho d’Águia com o casal da Lagoa e casal de Santarém dos Tojos, aldeia da Barrrocaria e dos Vales, aldeia da Loureira e Pedrome, casal da Pinheiria e Gordaria, aldeia da Barreiria, aldeia do Arrabal e Casal do Vale Maior. O espaço que hoje referenciamos como Santa Catarina da Serra, por não ter vizinhos, não foi indicado na informação prestada ao Rei apesar de existir ali uma igreja da evocação de Santa Catarina. Depois da vila de Leiria ter sido elevada à categoria de cidade, no ano de 1543, temos a informação que “junto à vintena das Pinheirias, num sítio descampado e sem árvores, existia uma capela da evocação de Santa Catarina, virgem e mártir. O Couseiro, ou Memórias do Bispado de Leiria, também lhe faz referência afirmando que” a igreja está longe do povoado”. De igual modo, no ano de 1758, o Cura João Pedro, escrevia nas suas memórias: A Igreja Paroquial desta freguesia está situada em um monte, descampado de todas as partes, sem árvores que lhe faça abrigo, donde se vê grande parte deste Bispado de Leiria e para as bandas de Abrantes, mesmo que se não vejam povoações e também se descobre para os campos de Leiria, da freguesia de Carvide e de Monte Real, alguma parte da freguesia das Colmeias, mais a povoação junto ao Senhor dos Milagres; também se descobrem muitos lugares pequenos que vem a ser o lugar do Souto, da freguesia da Caranguejeira, mesmo o lugar da Caranguejeira e o lugar de Caldelas, o lugar da Barrocaria e a povoação da vila de Ourém. Desde sempre a iniciativa privada, a Igreja e a Junta de Freguesia, embora numa forma desconcertada,

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têm desenvolvido esforços no sentido de tornar este cabeço despovoado, num centro atractivo e de boa qualidade de vida, construindo habitações, casas de comércio, espaços públicos, espaços religiosos destinados ao culto católico, que tem o seu início na rua de acesso ao cemitério e termina junto à cabine de electricidade em frente da rua dos Moinhos a que chamamos Santa Catarina da Serra (toponímia local).

De ermida a Igreja

No ano de 1549 o Bispo D. Brás de Barros, juntou alguns pequenos povoados dispersos na serra e fez deles a freguesia da Serra, da evocação de Santa Catarina, virgem mártir e elevou a ermida existente à categoria de Igreja e nomeou-lhe um Cura. A igreja era pequena, o altar não tinha retábulo e só um nicho de pedra, dourado, onde estava a imagem da Santa, estando no mesmo altar as imagens do Espírito Santo e de S. Francisco. Fora da capela, do lado da epístola, tinha as imagens da Senhora do Rosário, S. Sebastião e Santo Amaro e da parte do Evangelho tinha as imagens da Senhora da Purificação, de S. Silvestre e ainda

Santo António metido, na parede. Havia sacristia, capela da pia de baptizar, abóbada e um sino. No ano de 1883 entrou para pároco o P.e Francisco Gama Reis que, em colaboração com a Junta de Freguesia (dizia-se de Paróquia) por volta de 1890 encarregaram o arquitecto Hernest Korrodi de executar o projecto de ampliação e modificação da igreja, trabalho que não agradou a muitos paroquianos por ser oneroso e inclinavam-se para o projecto do conterrâneo Manuel Inácio Vicente por ser menos dispendioso. Este diferendo fez parar a obra e voltou tudo à estaca zero. Entretanto faleceu o pároco (15 de Setembro de 1902), sucedendo-lhe o P.e António dos Santos Alves, apoiado pelo Barão do Salgueiro, mas contra a vontade do povo que gostaria de ver na sua freguesia o P.e Joaquim Ferreira Gonçalves das Neves, natural do Ulmeiro, o que veio acontecer, tomando posse como pároco colado, no dia 1 de Março de 1903 que, com a nova Junta, constituída por Manuel da Costa do Vale Sumo, Luís Marques da Magueigia, António Francisco Gordo do Vale Maior e Manuel Alves Vieira da Quinta da Sardinha, aceitaram o projecto do Korrodi, ficando o Manuel Inácio Vicente director da obra, iniciando-a no dia 19 de Abril imediato. A obra de alvenaria, foi adjudicada a Francisco de Oliveira, vulgo Fragoso, do Vale de Pinheiros, freguesia do Arrabal; as cantarias a António Vieira, da Pinheiria; os arranjos de pedreiro da capela-mor foram adjudicados ao referido António Vieira e José dos Santos (Zé do Lagar) do Ulmeiro. As obras da torre foram adjudicadas a Bento Ferreira Filipe da Loureira que, por falta de perícia e de saber abandonou a obra sucedendo-lhe António de Oliveira da Cova Alta que, pelos idênticos motivos, também abandonou a obra. A Junta viu-se obrigada a dar-lhe continuidade por administração directa, concluindo-a em Março de 1906 e, nesse mesmo ano se iniciaram os trabalhos


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Serra ESPECIAL do forro da nave central com as três portas e as portas da sacristia, adjudicados a António Ferreira da Pinheiria. O empreiteiro dos estuques da capela-mor foi Manuel Maria Pires Martins da freguesia de Afife, concelho de Viana do Castelo. A igreja depois de restaurada foi benzida no dia 20 de Setembro de 1906 ( para o próximo mês de Setembro faz 100 anos) e no dia 23 imediato teve lugar a grandiosa festa em honra do Sagrado Coração de Jesus.

Cemitério Por volta do ano de 1869 a Junta da Paróquia construiu junto à Igreja o cemitério público, em virtude de uma determinação régia que proibia os enterros dentro das igrejas. Este cemitério deixou de receber corpos no ano de 1919 e foi substituído por um novo cemitério localizado no cabeço entre o Vale de Leiria e o Vale Moleiros em terrenos adquiridos no ano de 1913 a José de Oliveira da Covinha e Manuel Carreira Alfaiate de Santa Catarina, pela quantia de 116 escudos, referentes a 2.800 m2

a $04,2/m2. No ano de 1921, foi adquirido ao Sr. José Simão de Oliveira uma faixa de terreno com 5 metros de largura ao preço de 4 escudos/m2 para o caminho de acesso directo ao cemitério. Houve necessidade da sua ampliação que foi concluída no ano de 1990 em terrenos adquiridos em 1987 aos herdeiros dos antigos proprietários e a José Henriques Gordo da Bemposta. No ano de 1992, foi igualmente adquirido ao referido José Henriques Gordo, os espaço da frontaria do cemitério onde mais tarde foram construídas, pela Junta de Freguesia, duas arrecadações. Por falta de espaço, nesta ampliação, para novos enterros, no ano de 2005, foram adquiridas quatro parcelas de terrenos com a área aproximada de 8.800 m2 aos herdeiros dos antigos proprietários, respect iva mente, Ja i me Ma r ia Simões de Oliveira e Eulália Carreira Gonçalves Rodrigues, pela quantia de 13.237,55 euros e que se destinam a futuras ampliações do cemitério, previstas para 150 anos se devidamente projectadas e sem

desperdícios de terreno, recorrendo, se necessário, à construção de um ou mais planos inferiores.

Poço da Igreja Junto à Igreja, existia um charco de água que os moradores utilizavam para gastos de casa, dos animais e lavagem de roupa. Os peregrinos e visitantes também usavam a água deste charco para beber. No ano de 1929, a Junta de Freguesia, no sentido de melhorar a qualidade da água resolveu, num extenso ofício, solicitar à Câmara o apoio económico para resolver este assunto, alegando que o poço ali existente não foi feito com as precauções higiénicas necessárias e a água que aí existe torna-se imprópria para beber, até “repugna” à simples vista e atendendo a que este sítio tem sido procurado por pessoas estranhas à freguesia, vindo para aqui residir temporariamente, a conselho do médico e ainda pelos peregrinos que se dirigem a Fátima que, na ânsia de mitigarem a sede bebem em qualquer parte, com prejuízo para a saúde e ainda os residentes locais que são

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Serra ESPECIAL obrigados a pedir água às cisternas vizinhas e atendendo que a Junta não tem qualquer verba para que possa custear as despesas necessárias, devido à sobrecarga com a construção da estrada da Quinta da Sardinha a Santa Catarina e ainda a construção do cemitério do Vale Sumo e da escola da Quinta da Sardinha e atendendo ainda que esta freguesia está sobrecarregada com o imposto do braçal, pelo que vem esta Junta solicitar à Digníssima Comissão Administrativa se digne conceder-lhe uma verba para a construção de um depósito de água na sede da freguesia. A ajuda foi concedida. As tábuas velhas do antigo depósito foram vendidas em hasta pública; a serragem da madeira destinada aos andaimes e cofragem foi adjudicada ao Sr. José Rodrigues dos Santos (José Toquiano), o ferro para placa veio do molho destinado à ponte que liga os Sete Rios aos Canais a executar pela Junta de Freguesia. Foi colocada uma pia junto à estrada para o aproveitamento dos desperdícios e se destinava para os animais beberem.

Escola A construção da escola primária foi uma das grandes obras, para a época, construída pela Junta de Freguesia, no ano de 1930 com projecto aprovado pela Câmara Municipal de Leiria e inaugurado no dia 15 de Outubro de 1933. A obra foi adjudicada à comissão constituída por José Francisco Alves, António Ferreira Ezequiel e Francisco Vieira. Como o espaço existente era pequeno para o edifício escolar, foi adquirido a Ema Vicência Ribeiro, uma parcela de terreno, quando o marido estava emigrado no Brasil. Uma parte dessa parcela de terreno foi utilizado no edifício e o restante é a faixa de terreno que está junto ao poço, em frente do Sr. Carlos Marcelino. Todos aqueles espaços eram da família “Bentos”. No ano de 2004, a escola passou para a posse da Freguesia, através de escritura pública e foi adaptada para auditório.

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Edífico-sede da Junta

O actual edifício da Junta de Freguesia foi construído no ano de 1964 nos terrenos do Sr. José Marcelino, onde funcionou inicialmente o Posto Médico, que o abandonaram para ocuparem as novas instalações da Casa do Povo. O edifício da Junta foi posteriormente ampliado com mais um piso destinado a reuniões de Associações e Assembleias de Freguesia. O rés-do-chão é utilizado para o atendimento de “serviços de correio” em todas as valências, com obras de adaptação executadas através de uma candidatura de “Modernização Administrativa”.

Outros edíficos e espaços Um pouco mais abaixo, em frente ao Centro de Dia, temos o Jardim do Brasão, construído em terrenos adquiridos a António Marques Pereira pela quantia de 5.000,00 euros, sendo os trabalhos de arranjo da responsabilidade da Junta de Freguesia. O prédio onde se encontra a Farmácia e duas lojas contíguas, i nc lu i ndo u m apartamento e c ave foi construído sob a responsabilidade da autarquia local, num terreno adquirido ao Sr. José Vieira por 10.000,00 eu ros ( 2.0 0 0 contos), mas a obra foi executada em parceria com um particular, donde veio a

loja que foi vendida à Caixa Agrícola onde esta instalou o “banco da terra” como havia sido combinado.Com o produto da venda desta loja se construiu a Casa Mortuária, benzida pelo Sr. Bispo D. Serafim nas cerimónias dos 450 anos de Freguesia. As despesas resultantes com o embelezamento do antigo cemitério e construção do jardim anexo, foram suportadas pela Junta de Freguesia através de uma candidatura da ADLEI. Junto à ponte de auto-estrada, na rua do Jardim, existia um terreno com vinha, árvores e pousio também adquirido pela autarquia local, estando a ser utilizado como parque de viaturas de particulares e estacionamento do equipamento dos bombeiros e ainda para a construção de um jardim de apoio aos moradores, com projecto aprovado pela Câmara Municipal de Leiria e financiado através da referida Câmara com uma verba de um industrial da terra. Os citados terrenos pertenceram a Bonifácio Repolho, à sua irmã Catarina e Boaventura Domingos. No largo Prior Neves, com gaveto para a rua do Jardim, existe um barracão e terrenos de cultura que foram propriedade de José Vieira, mas adquiridos ao seu filho, ausente no Brasil, pela quantia de 55.000,00 euros que se destina à construção de um Centro de Saúde. A Igreja local também foi responsável por algumas obras realizadas nesta povoação de Santa Catarina da Serra, nomeadamente o antigo salão paroquial, da iniciativa do pároco


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Serra ESPECIAL P.e Joaquim Ferreira Gonçalves das Neves com o apoio do Sr. cónego Júlio, demolido por volta de 1991 para dar lugar a um outro salão paroquial, mais moderno, cuja construção foi da responsabilidade do pároco P.e Joaquim Carreira Faria. O Centro de Dia e o Lar de Idosos da responsabilidade do direcção do Centro Social e Paroquial com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Leiria; a Casa Paroquial, que veio dar lugar a uma outra casa de idêntico estilo doada à paróquia (é esta a informação que possuo) pelo Sr. Prior Neves da responsabilidade da Fábrica da Igreja. Não tenho outros elementos sobre estas obras que me permitam dar o meu contributo para o seu cabal esclarecimento. Porém, todos os espaços exteriores a elas foram preparados e suportadas as despesas de construção e arranjo pela Junta de Freguesia, que lhe confere bom aspecto de embelezamento, asseio e muito apreciado pelos visitantes. No dia 6 de Junho de 1998 se lavrou a escritura pública para a criação de “Bombeiros da Serra – Associação de Bombeiros Voluntários de Santa Catarina da Serra” que, para o efeito,

se deslocou a esta povoação a Notária do 1.º Cartório Notarial de Leiria, Dr.ª Maria da Conceição Malheiro Vilar Vieira. Participaram na escritura 24 pessoas naturais e residentes nesta freguesia. Àquela data, a Junta já possuía uma ambulância para o transporte de doentes. Há ainda a destacar o edifício da Casa do Povo onde funciona o Centro de Saúde, a sede de Bombeiros da Serra e o aquartelamento da secção dos Bombeiros Voluntários de Leiria. A iniciativa dos particulares também foi bastante eficaz para o desenvolvimento desta terra, nomeadamente dos Sr. Augusto do Carmo Marques, Paulo Primitivo, David Bento Vieira, Alfredo Gameiro, José Faustino, Rui Manuel, Ana Maria Domingos, José Vieira, David M. Simão e a família Marcelino.

Elevação a Vila Com o culminar destas iniciativas estava m cr iadas as cond ições para que o antigo

descampado e povoação de Santa Catarina da Serra fosse elevado à categoria de Vila. Todo o Relatório de caracterização foi organizado pelo presidente da Junta de Freguesia, Domingos Marques, que, com o apoio do Deputado da Nação da bancada do PSD Sr. Dr. José António Silva que o depositou na Comissão de Administração e Ordenamento do Território, Poder Local e Ambiente da Assembleia da República e depois dos pareceres favoráveis da Assembleia de Freguesia, da Câmara Municipal e Assembleia Municipal de Leiria, elaborou o projecto de Lei n.º 97/VIII que foi votado na sessão da Assembleia da República no dia 19 de Abril de 2001 e aprovado por unanimidade em que a povoação de Santa Catarina da Serra foi elevada à categoria de VILA. Do referido acontecimento surgiu a Lei n.º 65/2001, publicada no D. da República I série-A n.º 160, de 12 de Julho de 2001. Ficam aqui relatados os acontecimentos de maior importância que contribuíram para o engrandecimento desta terra, a que todos chamamos SANTA CATARINA DA SERRA.

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Serra ESPECIAL

Era certamente a mais antiga imagem da Igreja Paroquial

Zincogravura da década de 30 A nossa igreja tem sido muit fotografada ao longo dos anos, e é natural que em todas as casas da nossa vila existam fotos do exterior, ou do interior da nossa Igreja. Ora esta Igreja não foi sempre igual e por isso as fotografias que demonstrem o passado deste templo religioso assumem uma importância extrema para documentar a sua história. E qual será a mais antiga imagem da nossa Igreja? Após uma pesquisa junto de algumas pessoas e do “vasculhar” de alguns arquivos de jornais antigos, a imagem mais antiga encontrada estava presente no jornal Voz do Domingo do longínquo dia 28/08/1942. Ora, segundo se sabe, todas as imagens que aparecem nos jornais na primeira metade do século XX,

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não resultam como hoje da digitalização de fotografias, ou do uso da fotografia digital, mas sim da utilização de zincogravuras. Ou seja, provavelmente a primeira imagem da nossa Igreja, terá sido “esculpida” (utilizando a técnica do encavo) numa pequena chapa de zinco, para depois ser incorporada nas “chapas” de litografia, humedecida de tinta e depois gravar os seus relevos no papel de jonal. Essa peça já não existe. Foi destruída ou vendida, ou deitada ao lixo quando as oficinas da Gráfica de Leiria, deixaram o seu edificio, atrás da antiga casa do Bispo, para se

localizarem nos terrenos junto ao Seminá r io Diocesano, onde agora se encontram. Seg undo funcionários da G r á f ic a , a i nd a existem algumas zincograv uras, mas esta de Santa Catarina da Serra e a de muitas outras ig rejas da reg ião perderam-se ou já n ã o existem... Resta-nos digitalizar do jornal e apreciar a Igreja, ainda sem o Arco da Independência, que foi construído em 1940, sob as ordens do “arquitecto” António Vicente.



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Por Vasco Rosa da Silva*

A Ciência nos moinhos de Santa Catarina A energia eólica é uma das mais antigas energias utilizadas pelo Homem. Usada, em outros tempos, para fazer andar embarcações à vela, este tipo de energia foi também aplicada, no passado, a um conjunto diversificado de outros tipos de máquinas, tais como os moinhos de vento. Todavia, os moinhos hidráulicos, a água, existiam no actual território português pelo menos desde o século X. Estes podem ter roda horizontal, o rodízio, ou vertical, a azenha. A partir destas rodas, o designado movimento circular era transmitido às engrenagens sitas no interior do engenho. Santa Catarina da Serra não era, no entanto, propícia à implantação destes tipos de moinhos, uma vez que a freguesia é parca em recursos hídricos. Por outro lado, a existência de fortes ventos potenciou a instalação na nossa terra de dezenas de moinhos eólicos em lugares como a Loureira, a Pinheiria e o Pedrome, entre outros. Tendo como função esmagar, “moer”, os grãos, diversos eram os cereais transformados em farinha, nomeadamente, o trigo e o milho,

cultivado nos vales. Nos moinhos eólicos, em alvenaria ou em madeira, o movimento é efectuado pelo vento, que aplica uma força no velame da máquina. A disposição deste faz com que haja um movimento de rotação por parte de um veio apropriado para a transmissão desse movimento às engrenagens internas. Assim, depressa se deduz que a velocidade de rotação é tanto maior quanto maior for a força aplicada pelo ar em movimento. A transição do movimento circular para os casais de mós, englobando uma mó fixa, inferior, e outra móvel, superior, podia ser feita directamente através do veio do velame, por uma engrenagem situada na base deste, caso o moinho possuísse apenas um casal de mós. Um espigão em ferro, Fe, transmitia, então, esse movimento para a mó móvel. Na Loureira laborou um moinho provido apenas de um casal de mós, como se pode verificar na figura que se segue. Por conseguinte, a maioria dois moinhos possuíam dois ou mais casais de mós. Estes, por sua vez, tinham de estar em locais onde a intensidade da força aplicada pelo

Fotografia da década de 70 dos moinhos da Loureira (Fazarga), na qual se pode observar o eixo e as varas do velame.

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vento fosse maior. Nestes casos, a transição do movimento do veio do velame era feito por intermédio de um eixo vertical que, com um sistema de volante e polia, ou dobadoura, distribuía, então, o movimento por duas ou mais engrenagens, ligadas às mós móveis, fazendoas moverem-se, tal como se pode observar no esquema. Nos moinhos eólicos de Santa Catarina da Serra, um catavento permita ao moleiro posicionar o velame na direcção do vento, por forma a obter mais movimento. Se em alguns moinhos portugueses, a cúpula, ou o próprio moinho eram rodados por meio de uma vara que se projectava em direcção ao solo, nos moinhos da nossa terra, a cúpula, com o veio do velame, era rodada através de um sistema de sarilho com correntes em ferro. A cúpula estava, assim, provida de pequenas rodas em madeira, para tornar a operação mais fácil, reduzindo o atrito. A rotação da mó móvel, movente, sobre a fixa fazia com que, através de um sistema adequado, os grãos dos cereais deslizassem para o centro daquela mó, onde eram esmagados. A farinha era, então, armazenada em sacas apropriadas e transportada em animais. No que diz respeito à Física, todas as engrenagens executavam um movimento circular, isto é, sobre o seu próprio eixo. Este podia ser acelerado ou retardado, consoante a força aplicada pelo vento fosse maior ou menor. Aquilo que vulgarmente se designa por “aceleração” ou “desaceleração”. Como a intensidade e a direcção do vento estava frequentemente a alterar-se, o movimento circular, não sendo constante, não podia ser também uniforme. Variava, portanto, com o decorrer do tempo. Por vezes, as velocidades das mós podiam atingir, no sistema métrico, os 100 quilómetros por hora. Ao número de voltas por segundo, dá-se o nome de


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Serra ESPECIAL velocidade angular, sendo possível, através da fórmula 2 R, calcular o perímetro da circunferência e, a partir daqui, a velocidade das mó, com maior ou menor precisão, como é evidente. Tendo sido introduzidos em Portugal por volta do século XII, os moinhos eólicos da nossa terra fazem parte de um inegável património tecnológico que pouco evoluiu ao longo dos séculos, recebendo, assim, o nome de “tecnologia tradicional”. A observação detalhada dos moinhos de Santa Catarina da Serra e o estudo dos mesmos, permitirá um contacto não só com um património histórico a preservar, não descurando o respectivo impacto económico, mas também a aprendizagem, in loco, de conceitos básicos da Física, Mecânica Clássica, através do auxílio da Matemática. Uma forma de incentivar nos estudantes o gosto pela Ciência. Curiosamente, em

muitos dos locais onde se situavam antigos moinhos eólicos, hoje constata-se, como no caso do Alqueidão da Serra, a instalação de aerogeradores para a produção de energia eléctrica. Vasco J. R. Silva Doutorando em História das Ciências, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Engrenagens internas de um moinho eólico. A letra (a) representa o movimento no sentido dos ponteiros do relógio, enquanto que a letra (b) representa o movimento contrário ao dos ponteiros do relógio. Assim se verifica o funcionamento, através do movimento circular, das mós.

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Serra AVÓS DA SERRA

Joaquim Vieira Alves

A vida do “Esquim d’Avó” O meu nome é Joaquim Vieira Alves, mas aqui, na nossa terra, todos me chamam por Joaquim d’Avó. Ganhei este nome por ter sido levado pela minha avó para viver com ela, e com duas tias minhas s olt e i r a s, q u a ndo eu tinha apenas 18 meses. A minha avó já era viúva quando me foi buscar. Chamava-se Rosária e era dos Matos do Ninho d’Águia, e as suas filhas, minhas tias, chamavam-se Maria e Faustina. A minha mãe chamava-se Maria Teresa e o meu pai chamava-se Emílio Alves. Eles eram vizinhos, namo-

raram-se e depois casaramse. Passados poucos anos já tinham uma dúzia de filhos, e chegaram aos 18 filhos, se bem que alguns morreram no parto outros na infância. Chegaram a ter dois filhos no mesmo ano… de quinze em quinze dias nascia um… e eu fui o segundo mais velho, nasci com outro no mesmo ano, sem sermos gémeos. A minha avó viu que éramos tantos, e veio buscar-me a minha casa, e assim fui criado por ela e por duas senhoras tias avós minhas, e elas ali me criaram, numa casa para onde fui quando

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Serra AVÓS DA SERRA casei era muito antiga. Contava-se que os invasores franceses passaram aqui e puseram os cavalos a comer nas arcas da casa. Nesse dia tinha morrido alguém que vivia na casa e quando os franceses chegaram viram o corpo morto debaixo do lençol. Essa casa é mais ou menos aqui onde está o Café Alves. Já era uma casa tão velha quando eu a conheci… Era a casa dos meus avós, mas já devia ser a dos avós deles… Com meia dúzia de anos fui para a Escola Primária em frente à igreja e ali estudei até à terceira classe. A professora chamava-se Lucrécia e era esposa do médico Dr. Júlio Constantino. Uma vez esta professora não gostou de um ditado que eu fiz muito borrado, e obrigou-me a estar umas horas ajoelhado num canto da sala com o ditado atado à volta da cabeça, com o borrão à frente dos olhos… Essa Lucrécia morreu ainda há poucos anos. Eu não era dos melhores na escola. Tenho irmãos que eram melhores a resolver os problemas. O meu pai sempre mandou os filhos estudar, e à noite, quando vinha do trabalho, ele ensinava os filhos, porque ele tinha a quarta classe que tinha tirado já em adulto. Às vezes, estava ali à luz da candeia do azeite a ensinar, e quando via que a gente se estava a enganar dava uma lambada à gente, entornava-se a candeia… Na infância eu era muito brincalhão com uns carros, e também gostava muito de armar umas ratoeiras aos pássaros, apanhava-os com umas lajes. Cheguei a apanhar dois

de uma vez, e chegaram a roubar-me muito pintassilgo e tentilhão. Os que não me roubavam, as tias depenavam e comiam-se… Depois dessas brincadeiras comecei a ganhar gosto em trabalhar e ainda rapaz comecei a ganhar a jorna, a cortar mato e mesmo a cavar para bacelo… Em casa dos meus pais a fartura nunca foi minha, mas na casa onde eu vivia como éramos menos, eu era muito bem tratado. Às vezes nem queriam que eu fosse trabalhar, porque eu também chegava a ir ganhar a jorna sozinho, com tanto calor… Mais tarde fui para a tropa para Leiria. No quartel de Infantaria 7. Ali fiz o juramento de bandeira e a minha mulher já nessa altura me lá foi ver a fazer o juramento, mas ainda nem namorávamos. Eu e ela éramos vizinhos, e primos direitos. Passados poucos anos casei com ela, Nunca fui muito namoradeiro, gostava de paródias, mas o que gostava mesmo era de trabalhar. Em dez anos tivemos 6 filhos, a Maria, a Lucinda, a Belmira, o Lúcio, a São e a Mílica, e hoje tenho 9 netos. Comecei a ver que cavar toda a vida era muito duro, e decidi ir aprender outro ofício, e fui aprender a ferreiro com o mestre Luiz do Escandarão. Ainda andei lá uns meses

Foto de caderneta militar mas vi que ali não aprendia nada… Combinei com ele e saí a meio do contrato, paguei-lhe os direitos, e vim instalar-me aqui, comprei carvão e uma forja, e comecei, quase do nada, a concertar enxadas e outras peças. Mas o trabalho era pouco, e quando ouvi dizer que no Soutocico havia falta de ferreiros fui trabalhar para lá e mesmo a trabalhar mal “como raio” arranjei lá muita freguesia e foi lá que criei a minha casa.

Joaquim Vieira Alves com seus pais e irmãos

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Serra AVÓS DA SERRA Uma vez disse ao meu pai que ainda viria um dia em que não era preciso cavar para viver, e ele não gostou nada na conversa, mas eu sem saber, acertei, hoje ninguém precisa cavar e as enxadas levam boa vida quanto querem… Mas já na altura, arranjar as enxadas me parecia pouco trabalho e então comecei a fazê-las e mais tarde virei-me mais para os portões e para os gradeamentos. Eu vendia as minhas peças nas feiras da região. Não havia nada que eu não “focasse” para vender a minhas enxadas. Saía de bicicleta, com o “ceirão” cheio e ía vender. Depois com o dinheiro que ganhei comprei uma mota, uma BMW antiga, e já conseguia transportar peças mais compridas. Eu era lixado para aprender. Trouxeram-me dois serras-juntas na França e eu aprendi logo a fazêlos. Naquela altura, os serra-juntas eram muito mal feitos… O Maia da Loureira sempre foi muito amigo, e ele era muito aperfeiçoado, e eu não, eu queria era o trabalho feito… A primeira luz que houve na nossa freguesia foi na minha oficina. Também fui eu que ganhei o contrato para abrir os buracos para os postes

eléctricos de toda a freguesia. Sempre toquei muitos negócios. Arranquei e vendi muita carrada de pedra, transportei resina, fiz sempre muita agricultura, e sempre a investir. A minha mulher chateou-se muitas vezes comigo por estar sempre a pedir dinheiro emprestado a este e àquele, ela queria ver era tudo pago, e mas se não fosse assim eu nunca avançava nada… e assim pouco… Uma altura, eu via todos os homens a ir para França, e também quis ir. Vendi umas coisicas, e consegui ir para França com tudo pago a quem me tinha emprestado. A minha mulher ficou toda contente por causa disso. Lá em França a minha vida ainda era pior que aqui, tinha que cozinhar, e por isso todo o tempo que

lá estive comi sempre arroz, e parte das vezes mal cozido. Aquilo não era vida e passados 29 dias, voltei para cá. Cheguei a casa, a minha mulher ficou admirada e perguntou: Vens aí? Expliquei-lhe que havia coisas mais importantes que o dinheiro, e é verdade: era melhor comer aqui couves com feijões do que comer lá carne. Fui criado e vivi em tempo “d’um raio”. Havia de ter nascido 20 anos mais tarde. Dantes era vida miserável demais… Uma altura fiz uma estrutura metálica para a Marinha Grande e tive problemas com o pagamento. Foi uma altura muito difícil e então deu-me o esgotamento cerebral… Tive que ir um tempo para uma casa de recuperação. Mas recuperei bem, só

Foto de Família na Festa do Centenário do avô do Esquim d’Avó, Emilio Alves, realizada no dia em 16-05-1999. Ele que também faleceu neste dia, mas em 1968.

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Serra AVÓS DA SERRA que quando voltei quis dedicar-me mais à agricultura que é um trabalho um bocado mais calmo. Comprei terrenos, e plantei umas poucas de vinhas todas novas. Andava farto de plantar bacelo nas pedras, e decidime a ir plantar vinha onde não houvesse pedras. Procurei e fui parar a Abrantes e Torres Novas. Ali pus uns bons hectares de vinha e a minha adega foi crescendo. Cheguei a trazer 35 pessoas a vindimar durante quase um mês, em anos de produzir 20 mil almudes de vinho. A minha adega chegou a ser a maior do distrito, tirando as adegas cooperativas. Aqui há poucos anos, no dia da feira das candeias, deu-me uma trombose. Um dia antes eu tinha estado a ver mais uma fazenda para comprar. Não comprei naquele dia e já não a compro. Em 16 de Maio de 1999 juntámos a minha família toda, porque fazia anos de nascimento e da morte do meu pai, que morreu no dia em que fazia 69 anos. Foi uma festa bem boa, realizada aqui nos meus pavilhões. Outra festa que fiz foi a dos meus 50 anos de casado, uma festa pequena porque nunca fui de comemorar datas... Toda a vida dormi a sesta, mesmo em tempos difíceis, com os empregados a trabalhar para mim, eu tive que descansar a seguir ao almoço, e ainda hoje durmo a sesta todos os dias... Na minha família dão-se bem uns com os outros… Quis Deus que tudo assim fosse... e estou contente com a minha vida…

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Testemunhos de quem bem o conhece

Quem é para nós o Esquim d’Avó? Há 76 anos veio ao mundo na Freguesia de Santa Catarina da Serra, Joaquim Vieira Alves um dos seus grandes HOMENS. Dotado de uma enorme vontade de vencer na vida e um espírito de empresário, que sempre o norteou. A tempera que dava ás enxadas era comparável á sua própria tempera, e com o seu espírito empreendedor moldou todos os que com ele privaram, tal como moldou o ferro, transmitiu os seus conhecimentos e conselhos aos seus seguidores, que por ele foram lançados no desenvolvimento das suas actividades, que teve infelizmente que deixar, já que uma arreliadora doença o incapacitou para prosseguir. Mas já deixara obra feita. Homem bom, a migo, culto, temente a Deus, com quem tem uma grande proximidade espiritual, muito bem humorado, dotado de uma memória extraordinária é aquele tipo de pessoa com quem dá gosto privar e conversar longamente sem nunca nos faltar assunto. Os seus sábios concelhos, ainda hoje são fonte de inspiração na área dos negócios para alguns dos seus familiares, que não dispensam a sua opinião quase diariamente. É pois, da mais elementar justiça, que lhe seja prestada homenagem, no sentido de ser dado em vida, o seu nome a uma rua da freguesia,

perpetuando-o como sendo um exemplo a seguir pelas gerações vindouras. Um colaborador e admirador O Joaquim d’avó depois de ir à tropa foi aprender o ofício de ferreiro, para o Escandarão, aprender a fazer enxadas, gadanhos, trempes, tenazes, podoas, etc… Ali aprendeu a trabalhar e a ser “homem prá vida” como se dizia antigamente. Depois de aprender a fazer alguma coisa fez uma pequena forja dentro de umas paredes velhas, onde trabalhava sem férias, nem fins de semana… Os trabalhos que fazia levava-os dentro de um “seirão” na bicicleta e ía vendê-los às feiras. Depois comprou uma mota e a seguir foi comprando carros e fazendo obras até que chegou a firma Construções Vieira Alves. Comprou também vários terrenos onde fez grandes plantações de vinha e chegou a ser um dos maiores produtores de vinho da freguesia. Mas ao lado dele houve sempre a sua mulher que o ajudou quanto ela pode. Ainda hoje é a sua companheira dedicada e a que lhe vale na sua doença. Maria Teresa, irmã do Esquim d’Avó


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“Meus amigos, importante é o sorriso”

A ternura dos quarenta Todas as idades pressupõe experiências, emoções, descobertas especiais. Todas têm um encanto especial e uma ternura própria. É ternurenta a infância, e pode dizer-se que foi ternurenta a infância dos nascidos em 66. Nascidos em famílias com dificuldades de subsistência, essas crianças nasceram normalmente em famílias numerosas, rodeadas de irmãos com quem criavam laços fortes, alicerçados nos trabalhos forçados, mas também nas brincadeiras ao ar livre que por essa altura eram permitidos. Era uma infância com muito pouca televisão, e já parece justo lembrá-lo, sem playstation, telemóvel, computador, muito pouca imprensa... Só a formação cristã era abundante. Com pouco mais de meia dúzia de anos dirigiram-se à Igreja para se prepararem para a, Primeira Comunhão, Confirmação e Comunhão Solene. Foram momentos altos de formação cristã, mas também de formação pessoal, com a criação de laços fortes de camaradagem. O Luz da Serra de Setembro de 1976 relata assim uma cerimónia da primeira comunhão desse ano: “No dia 15 fizeram a primeira comunhão 100 crianças (...) Foi uma festa muito linda e depois da missa as crianças tiveram no salão bolos, doces e guloseimas até mais não, trazidos pelos pais. Crianças e pais mostraram-se contentes”. Contentes e alegres, uns dias mais que outros, os adolescentes de 66 foram crescendo. Por esta altura, faleceu o Victor Manuel Manso Vieira, jovem da Chaínça, até ao momento é o único falecido, nascido em 66 na paróquia (a sua campa será visitada por todos na segunda feira das festas, como é tradição). Poucos anos mais tarde, alguns estudavam, outros estavam casados, outros estavam recrutados para serviços militares, outros já trabalhavam, quando todos celebraram a festa de São Sebastião, a Festa dos 20.

Depois disso, o destino de cada um levou muitos a sair da freguesia e outros a virem de fora para cá. Na vida de cada dia, cada um seguiu o seu caminho, mantendo contactos pontuais entre si. A ternura dos quarenta é reencontrar aqueles que conhecemos na idade da ternura, e saber que cada um transmite hoje a vida e a ternura aos seus filhos e/ou familiares. A ternura destes quarenta é a vida de cada um, a união de todos visível na preparação das festas, e ternura das ternuras, cinco das crianças nascidas em 66 são pais de gémeos. E como o importante é o sorriso, aqui fica uma brincadeira que por vezes se diz, e que não acarreta maldade de maior: costuma a dizer-se que tudo muda quando se começa a contar os anos pelo “qu”, quarenta, quarenta e um, quarenta e dois...

TERNURA DOS 40 Foram tantas as idades Da vida que atrás deixei, Não quero sentir saudades, Vou em outras amizades, Amar o que não amei. Os copos que não bebi, Os discos que não toquei, Os poemas que não li, Os filmes que nunca vi, As canções que não cantei. Meus amigos, Importante é o sorriso, Para seguir viagem, Com a coragem, que é preciso. Não adianta, Deitar contas à vida, A ternura dos quarenta Não tem conta nem medida. Paco Bandeira

Damien e Jonathan Carvalho filhos de Teresa C. e Victor Carvalho, da Chainça.

Familía de Armando Vieira, com 2 gémeos

Tiago e André quando bebés, filhos de Martine e José Luis Oliveira

Familía de Graça Neves, com 2 gémeos, residentes na Loureira.

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A minha homenagem à catequista Marta

Recordando a nossa Comunhão Solene porque foram marcantes As cerca de 60 crianças nos seus ensinamentos que nasceram na nossa e testemunho. A Maria freg uesia no a no 1966 Primitivo da Magueigia; começaram a conhecerD. M a r i a B e nt o d o se melhor talvez pelo ano Sobral; da Loureira era de 1976, com dez anos a Isabel Maria, Ilda Caede idade, quando a nossa tano, Fátima Gameiro idade já indicava novos pase as saudosas Purificasos na vida cristã. ção Gonçalves e Marta A prepa ração pa ra a Mendes. Comunhão Solene acontecia A minha catequista nas férias grandes e o ponto foi a Marta Mendes. de encontro era a Igreja de Era muito boa, nunca Santa Catarina da Serra, a ouvi levantar a voz ou local onde se juntavam os ser áspera com alguém. meninos de todos os lugaEstava ali porque gostares da paróquia. Vinham va do que fazia, sempre todos a pé, à hora do calor, muito preocupada em mas ninguém se queixava ensinar, era muito clara porque era hábito. a explicar, nós é que por A catequese começava vezes nos distraíamos. por volta da 15 horas. O Sr. Eu gostava muito da Padre Faria, de batina preta Marta. No dia da minha e cabeção, surgia da sacrisComunhão Solene pedi tia muito vivo, sorridente, ao meu pai que nos decidido e solícito, porque tirasse uma foto conjunlíamos-lhe no rosto o intetamente com a minha resse pelo nosso aproveicompa n hei ra, a São tamento. Dirigia-se para a (Parente). Hoje recordo frente do altar-mor e batia 3 esses momentos com vezes as palmas, sinal indimuita saudade. cativo para fazer silêncio, Marta Mendes, com duas catequisandas, a Conceição Oliveira Marta, não posso calar juntar todos à frente dele, da Pinheiria, e a Conceição Carreira da Loureira o teu testemunho de inclusivé as catequistas. sofrimento em família, apesar disso, exemplo os Mandamentos da Lei de Aqui começava o momento da este não perturbava o teu sorriso e Deus, Pecados e Frutos do Espírito catequese, o Sr. Prior indicava um o teu coração de mulher delicada e Santo, as Obras da Misericórdia, e menino mais irrequieto para rezar com capacidade de amar. O amor mais que não me ocorre agora. a Ave-Maria ou o Pai-Nosso, e ai levou-te ao matrimónio, desejosa Ao terminar, cantava-se: dele se não soubesse…!!! O Sr. Prior de ser mãe. Sabias que a tua saúde virava-se para as catequistas e não era favorável à maternidade, Um dia uma criança me falou dizia: “Se ele não aprender não vai à apesar disso deste a vida para ter Olhou-me nos meus olhos a sorrir, comunhão Solene este ano”. um filho que pudesse continuar o Caneta e papel na sua mão, A sessão de catequese dividia-se teu sangue. Tenho a certeza que ele Tarefa escolar para cumprir em duas partes com um intervalo. A crescerá generoso como tu. E perguntou no meio de um sorriso, primeira parte era mais teórica, liaAtende lá no Céu, onde creio que O que é Preciso para ser feliz: se e explicava-se textos da bíblia, estarás e apresenta a Deus a missão tanto do Antigo como do Novo Tesdas catequistas actuais. Amar como Jesus Amou tamento. A segunda parte era mais Sonhar como Jesus Sonhou prática, faziam-se perguntas, um Muito obrigada Marta. Pensar como Jesus pensou desenho elucidativo ao tema da Sorrir como Jesus sorriu… lição dada. Alguma doutrina era Maria da Conceição. aprendida de cor, e ainda hoje a Lembro-me de várias catequistas, sei toda, nunca mais esqueci, por

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Um dos muitos casos de sucesso da “colheita” de 66

A “Milica” do Esquim d’Avó

Reviver a minha terra Maria Emília Vieira Alves “A Milica”, é sócia gerente das Construções Vieira Alves e pode dizer-se que é o protótipo das pessoas que alcançaram sucesso na vida empresarial. Filha mais nova do Sr. Joaquim da Avó, não querendo estudar mais, aos 14 anos começou a trabalhar na ferramentaria da oficina de estruturas metálicas propriedade do pai Aos 18 anos, e na sequência de um afastamento progressivo do pai, que começou a dedicar-se mais à agricultura, toma praticamente nas suas mãos a condução dos negócios da oficina. No início da década de 90 passou por várias dificuldades, mas foi aí que demonstrou a sua invulgar capacidade de trabalho e organização conseguindo ultrapassar com sucesso todos os problemas. Herdou do pai, que ainda hoje continua a ser o seu grande modelo, e cujos passos sempre seguiu, o espírito empreendedor... que refinou, na área empresarial, renovando e modernizando a empresa, com novos equipamentos e máquinas tornando-a numa empresa moderna, referência em estruturas metálicas. Sem meios físicos para poder expandir a fábrica, lança-se na construção de uma outra também na área da metalomecânica, esta direccionada para o fabrico de tor-

res eólicas. Mulher moderna e sem preconceitos, diz aquilo que pensa no lugar e na hora que juga certa sem se preocupar em ferir susceptibilidades, quando está convencida que está a defender os interesses das suas empresas e dos seus colaboradores. Casada com Aires Ribeiro, também empresário, com um filho de onze anos, para além da vida empresarial e dos negócios que lhe ocupam 14 horas em média por dia, e da vida familiar, a inda dedica algum do seu tempo a ajudar os mais de s f av or e c i dos, como é o caso de um deficiente de origem caboverdiana que f r e q ue nt a a sua casa aos fins de semana e nas férias, funcionando como família de acolhimento.

Nasci no Sobral há quarenta anos e hoje olho para esta aldeia e esta freguesia de forma diferente de quando vivia lá. As histórias vividas foram mais do que muitas, as amizades que nasceram, cresceram e ali se cimentaram, a família, o espaço que me viu pela primeira vez, onde aprendi parte do que sei e cumpri as minhas obrigações cristãs. As mudanças levaram-me para fora da minha terra aos 19 anos, e de lá acompanho as movimentações que aqui acontecem. Na correria constante da vida, revejo nesta terra o local onde estão os amigos de berço, todas as brincadeiras suspensas no tempo, e uma infância feliz de quem gosta de voltar às origens. Contudo, bem sei que, hoje, as ligações são cada vez menores, mas nem por isso poderia ausentar-me desta celebração tão importante para reencontrar todos aqueles que de alguma forma marcaram quem eu sou. Finalizando, concluo, apesar do curso da minha vida me ter levado a mudar de freguesia, a de Santa Catarina da Serra não deixa de ter um lugar relevante nas minhas memórias de sempre. Preciosa Francisco Manso

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Ano de acontecimentos históricos

Efemérides do ano 1966 O ano 1966 fica registado na história com grandes acontecimentos na vida de todos os países a vários níveis. Desportivamente falando, o ano 1966, ficou marcado pela excelente prestação da selecção portuguesa na primeira fase final em que participou. Em Inglaterra, Portugal só perdeu uma vez, logo com a selecção anfitriã, no jogo das meias finais. Este ano e este campeonato projectou o aparecimento de uma lenda no futebol mundial, Eusébio da Silva Ferreira, considerado desde então um dos melhores jogadores de futebol de todos os tempos. Ao nível interno, coube ao Sporting conquistar o título de vencedor do Campeonato Nacional da Primeira Divisão, logo seguido do Benfica, em segundo lugar. Na Taça de Portugal, a vitória sorriu ao Sporting de Braga. Regionalmente há que referir que 1966 foi o ano da fundação do União Desportiva de Leiria, curiosamente no dia 6 do mês 6 do ano 66. Musicalmente, viviam-se os ritmos da década de 60, e eram músicas de top “California Dreamin” dos The Mamas & The Papas, “When a Man Loves a Woman” de Percy Sledge e “Good Vibrations” dos Beach Boys. Além destas, foi também neste ano que John Lennon, durante uma entrevista de rádio, afirmou que os Beatles eram provavelmente mais

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conhecidos do que Jesus Cristo o que levou a que os discos do grupo fossem consequentemente excluídos em muitos estados norte-americanos e na África do Sul. Este ano foi exactamente o do último concerto ao vivo dos Beatles, no Candlestick Park, em São Francisco. Em Portugal, no ano 1966, realizou-se o 3º Festival RTP da Canção, verdadeiro acontecimento social dessa época, que reunia em volta das poucas televisões da freguesia, verdadeiras multidões. Madalena Iglésias foi a vencedora desse festival com a música “Ele sem ela não é ninguém…”. Ao nível dos avanços cientificos, foi neste ano que se efectuou a primeira aterragem assistida, na Lua, da sonda soviética Luna IX, e nesse ano também, a nave espacial soviética Vénus aterra em Vénus. Em Portugal, viviam-se tempos de guerra colonial em África. O país vivia ainda sob o comando de António Salazar, e este ano ficou marcado pela inauguração de uma obra com o seu nome, a ponte sobre o rio Tejo, ligando Lisboa a Almada, a actual ponte 25 de Abril. A inauguração

decorreu no dia 6 de Agosto. Nesse ano também foi publicado em Portugal, um decreto-lei que estabelece igualdade de remuneração entre mão-de-obra masculina e feminina para trabalho igual. Neste ano nasceram várias pessoas famosas a nível mundial. Entre estas pessoas destacam-se uma mulher pela beleza, e um homem pela força: Cindy Crawford e Mike Tison. Também neste ano, e também com atributos de beleza e de força, nasceram em Santa Catarina da Serra 60 bebés que, houveram de ser, 40 anos depois, Homens e Mulheres, festeiros da Festa do Sagrado Coração de Jesus...


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“É claro, gostávamos que todos participassem nesta festa”

Todos à festa do Sagrado Coração de Jesus A festa em Honra do Sagrado Coração de Jesus é tradicionalmente organizada pelos jovens de 40 anos. Apesar de alguns estarem a fazer a festa ainda com 39 anos, este grupo dos 40 é composto mais ou menos por 60 pessoas que assim se transformam em festeiros. Pesquisar quem são e onde estão estes festeiros não é fácil e por isso há que recorrer aos registos de baptismos, às memória da infância, e aos meios de comunicação possíveis para transmitir a mensagem. Ainda assim, por vezes um convite pessoal “fica muito bem”. Foi o que aconteceu a Jacinta Roque, que foi visitada em sua casa, no Casal da Fartaria, por cinco outros festeiros, para ser convidada pessoalmente para participar da festa. A Jacinta agradeceu o convite, e recordou que “o Casal da Fartaria é uma aldeia da nossa freguesia e que terá todo

o gosto em participar. Até porque aquando da festa dos 20 não foi convidada e por isso não participou. Essa omissão foi agora “muito bem compensada com esta visita em sua casa”. A verdade é que segundo alguns festeiros, no ano 1966 não nasceram tantas crianças como em outros anos, e por isso os festeiros também são em menor número. Mas, o que ao principio chegou a parecer um problema, deixou de o ser. Apareceram muitos para ajudar, e nalgum a s r eu n iõ es chegaram a ser mais de trinta. Tudo pa rece correr bem, e todos continuam a ser bem-vindos à festa.

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Alterações nos estabelecimentos de ensino

“Dar resposta a uma necessidade evidente” Durante este período de férias escolares estão a ser preparadas algumas alterações, nos estabelecimentos de ensino da freguesia. Segundo o executivo da Junta, a freguesia estava a assistir a um “défice democrático no acesso à educação, já que tinhamos crianças a estudar em condições excelentes, ao mesmo tempo que outras crianças, na nossa terra, não tinham, a nosso ver, condições mínimas para continuar nos mesmos estabelecimentos de ensino. Sempre mostrámos vontade em alterar esta situação e agora, com o apoio da Câmara, conseguímos realizar os nossos intentos”. Em termos práticos, as alterações passaram pelo fecho do jardim de

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infância da Quinta da Sardinha, com os alunos a transitarem para o edifício onde até agora funcionou a escola primária da Magueigia. Os alunos desta escola primária transitarão para a EBI de Santa Catarina da Serra. Outra alteração é o fecho do jardim de infância dos Olivais, que funcionava num edifício de moradia familiar, ainda com a agravante de esta “moradia estar em muito más condições”. As crianças desta escola transitarão para um edifício modular “bem epetrechado com todas as comodidades”, que será instalado no recinto do recreio da escola primária dos Olivais-Vale Sumo. A instalação dos módulos será

da responsabilidade da Câmara, ao passo que as obras na escola da Magueigia são da responsabilidade da Junta e já estão a decorrer, estando prevista a sua conclusão para a primeira quinzena de Setembro, antes do ínicio do ano escolar. Quanto aos edíficios agora “desabitados”, o executivo da Junta lembra que ambos são propriedade da Câmara, mas que estão certamente à disposição das pessoas e das aldeias onde se encontram localizados. Além destas alterações, também a escola primária da Loureira será alvo de uma recuperação ao nível do telhado, ainda antes das aulas. No próximo mês daremos nova cobertura a estas alterações.


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Já está a decorrer a campanha de angariação de sócios

“Faça-se sócio dos Bombeiros” A Associação dos Bombeiros da Serra está a promover uma campanha de angariação de novos associados. Segundo Vírgilio Gordo, presidente desta associação, esta campanha vem no seguimento da alteração do estatuto de associado, aprovada na Assembleia-geral, no início do ano. Com os novos estatutos, os associados tornam-se sócios individuais, não podendo os seus familiares (se maiores de idade) usufruir das suas regalias, como até agora vinha acontecendo. Esta campanha já se encontra a decorrer há algum tempo e com resultados já bem visíveis. Segundo os responsáveis, a “campanha está a decorrer da melhor forma, e o número de associados já ultrapassa os 1100 sócios pagantes”. Com o novo estatuto, cada associado, além de contribuir para o crescimento desta associação, ainda usufruirá de vantagens e benefícios ao nível de serviços, com isenção

da taxa de saída, com redução em 35% do preço por km do serviço de ambulâncias, com redução em 30% nos restantes serviços (transporte e abastecimento de água e limpeza de pavimentos), desconto de 10% na Clinifátima e desconto de 10% na Clínica Dentária Medicis, em frente à Igreja de Santa Catarina da Serra. De modo a facilitar o acesso e divulgar esta campanha a Associação dos Bombeiros conta com a colaboração da Junta de Freguesia. Deste modo, quem se quiser inscrever como associado, pagar quotas deste ano ou de anos anteriores, poderá fazê-lo na Junta, durante o respectivo horário de funcionamento. Além disso, quem não tem facilidade em deslocar-se à actual sede dos Bombeiros ou à Junta, poderá inscrever-se junto dos bombeiros que fazem os exames do Projecto TAG, nas capelas de cada ramo. E fazem um apelo à compreen-

são dos santacatarinenses, de que “o novo modelo de sócio, aprovado em Assembleia-geral continue a ser alvo da maior compreensão, para que o número de associados, atinja um número que permita um maior desafogo financeiro, permitindo assim uma gestão equilibrada de uma associação que tem neste momento mais de cinco mil (5000) euros mensais de despesas”. E que número de associados permitiria tal desafogo? Os responsáveis respondem que “dois milhares de associados seria um número bem interessante...”

Incêndios florestais Em relação ao trabalho dos bombeiros, felizmente o mês de Julho “foi exemplar”, praticamente imaculado no que a incêndios diz respeito. Virgilio Gordo salienta que, “se todos os meses de Verão fossem como foi o mês de Julho, fácil seria gerir os destinos de uma Associação que permanentemente vive com dificuldades. Pelo menos no que a fogos diz respeito, vive-se um período bastante calmo”. Porém, no dia 1 de Agosto def lagrou o primeiro foco de incêndio na freguesia, na zona dos Olivais, encostado à EN 113. Vigílio Gordo recorda que não podemos estar menos alerta já que “falta passar quase todo o mês de Agosto, que no ano passado trouxe verdadeiros tormentos para todos os que habitámos esta Serra coberta por uma mancha verde”.

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A reforma como desportista pode esperar.. e até lá, lutar pelo sonho...

“Gostava de ser Campeão do Mundo” Chama-se Américo Vieira e já ganhou uma etapa da volta a Portugal. Ainda é ainda é actual campeão da Europa da sua classe. Na infância estudou dois anos no seminário da Consolata. Ficou a ser o “esquema” quando explicava a maneira como ía consertar um tractor. Andou no rancho folclórico da Loureira e ali era o homem da bandeira. Viveu em Angola e hoje tem saudades desse país, onde gostava de um dia voltar. Conheceu de perto os grandes do ciclismo, do boxe e do atletismo nacional. Anda envolvido com o ciclismo há mais de 40 anos. Foi o ciclismo que lhe deu a conhecer a sua esposa e é no ciclismo que, dia após dia, apoia e ensina a sua filha, Célia Vieira, a seguir as suas pedaladas, alcançando resultados muito promissores. Sempre bem disposto e a rir, Américo Vieira diverte-se quando revisita o seu passado. O maior desportista de sempre da nossa terra está em forma e vai tentar ser campeão do mundo. Aos 58 anos, é esse o seu próximo... esquema!

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Américo Vieira vestido com a camisola de Campeão Europeu de Ciclismo, título conquistado em 2004. Para este ano, Américo Vieira tenta enriquecer o seu guarda roupa com a camisola de campeão do mundo. A prova decorre em finais deste mês.


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Pai e filha pousaram para a fotografia nas escadarias do Santuário de Fátima, vestidos de amarelo, à campeão. De onde nasceu o gosto pelo ciclismo nesta família? Eu fui daqui para Angola com 16 anos e nesse tempo jogava à bola. Um dia à saída dos treinos começaram a gozar-me por ser pequeno. Passei por uns ciclistas e perguntei se precisavam de um ciclista. Disseram-me que sim, e juntei-me a eles com a minha bicicleta de alavanca. Eles já tinham bicicletas boas. Desde aí nunca mais larguei o ciclismo. Logo na primeira prova já os consegui acompanhar em toda a prova. Mas eu já em criança roubava as bicicletas aos namorados das minhas irmãs para dar umas voltas… A primeira bicicleta de alavanca que comprei custou 20 escudos. A minha mãe não me deixava andar porque dizia que me fazia marreco… E a seguir começou a competir? Comecei a competir lá em Angola e

fui logo campeão. Depois fiz a tropa, e durante a tropa já vim cá fazer uma volta a Portugal. A seguir voltei para Portugal e entrei para a equipa de ciclismo Coelima. Nessa altura tive um ano inteiro a correr como profissional em Espanha só vim correr a Volta a Portugal e mais uma ou duas provas. Depois com o 25 de Abril o ciclismo desorganizou-se e não havia provas cá. Deixei de correr nessa altura e durante dez anos deixei as bicicletas. E depois regressou… Foi em 1985 que regressei. Tive 10 anos em vinho de alhos… E logo nesse ano, ganhei uma etapa da Volta a Portugal. Eu pesava 83 quilos, e depois com treinos rigorosos, todos os dias, banhos de imersão, em sete meses abati 23 quilos. Prepareime para ir à volta, e ganhei a etapa que dediquei aos meus dois filhos. Um estava a fazer a primeira comu-

nhão e o outro a comunhão solene na Igreja de Santa Catarina… Conheceu a sua esposa por essa altura, graças ao ciclismo? Sim, ela era do norte. Eu andava a treinar na Coelima e ela já era costureira nessa altura e estava à porta de casa. Eu conhecia um ciclista vizinho dela e um dia começou a chover e abriguei-me em casa dela. A mãe dela queixava-se que eu comecei a parar sempre lá todos os dias e que a costura se estava a atrasar. Ela não sabe andar de bicicleta mas já lhe comprei uma e vou ensiná-la a andar. Aqueles 10 anos em que parou poderiam ter sido de grandes vitórias… Nessa altura tive grandes propostas de contratos para ir para França, mas eu via lá o Joaquim Agostinho

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Serra DESPORTO e aquilo não era vida, com a família cá… Eu estava casado de fresco e aproveitei foi a vida de casado… Agora já todos pararam e eu ainda cá ando… Em quarenta anos de ciclismo corri com os maiores… com o Joaquim Agostinho, Eddy Merks, É um caso invulgar de longevidade no ciclismo? Voltei à forma ao fim de 10 anos e na altura fizeram-me todos os exames possíveis à procura do doping. Ainda sou do tempo em que qualquer um ia à farmácia comprar o que queria, ninguém ligava, mas eu nunca acusei nada, andava sempre limpo… Agora andam na barriga da mãe já andam a tomar estimulantes. O meu segredo não é outro senão o treino. Alimentação?! Como o que apanho… Se a gente se habituar a um estilo de vida… se a gente se habituar a beber anda sempre bêbado… se nos habituarmos a treinar andamos sempre a treinar. A alimentação às vezes é fome… Lesões que tive, até hoje só esfarrapados em quedas. É por isso que fazemos a depilação. Ciclista que não faz a depilação é pato bravo. É gozado por todos. Facilita a cicatrização e a aplicação dos cremes… Mas teve sempre outra profissão?

A par do ciclismo sempre tive a minha serralharia. O desporto não dá rendimento nenhum e ganho a vida é a trabalhar a fazer peças na serralharia. Já fiz trabalhos para ministros espanhóis, museus e para muitos outros lados. Peças feitas por mim já ganharam prémios mas não foi com o meu nome, foi com o nome de quem ma comprou. Tenho que ganhar na serralharia para gastar no ciclismo. Vou aos campeonatos do mundo teso, mas vou como posso, interessa é competir… Como observa o estado do ciclismo hoje? Está mal. Falam no regresso da equipa do Benfica ao ciclismo e isso é muito bom porque trás gente para ver as provas. A organização em Portugal não é muito boa, porque por exemplo em certas provas pequenas não se justifica haver carros de apoio, porque isso só leva à máfia e a atletas com braços maiores que vão à boleia… Quem tem dedo é que toca viola… Há pouca divulgação e poucos patrocínios. Só dá prejuízo a quem corre. E objectivos para o futuro? Já estou inscrito nos campeonatos do mundo que vão ser no dia 26

Vício hereditário Américo Vieira competiu durante alguns anos na mais importante competição mundial de ciclismo: o Tour de França. Curiosamente, o seu pai, de nome Manuel Vieira, (ao centro na foto) foi um dos primeiros homens da Loureira a emigrar para França. Foram seus companheiros nesta aventura gaulesa dois vizinhos seus: José Vieira (na foto, à esquerda) e António Ribeiro (à direita). Ironia do destino, a foto que enviaram para as suas familias, foi com todos os três agarrados às suas bicicletas. Nem imaginavam que por aquelas terras Américo Vieira haveria um dia de ombrear com os maiores de todos os tempos.

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de Agosto. Aí vou fazer três provas numa semana, escalada, contrarelógio e a prova de fundo que é a prova que eu gostava de ganhar. Corro pela equipa da União Ciclista de Leiria que é patrocinada por uma empresa cá da terra que a JJR. que muito apoia a nossa equipa… Hoje ainda treina todos os dias? Por mês falho um dia ou dois. Saio por volta das duas da tarde. Tenho tudo apontado numa agenda. Já este ano fiz mais de 10 mil quilómetros a treinar. Treino mais agora do que dantes quando era novo. Antes era quase só bebedeira. Os treinadores passavam um martírio comigo porque uma hora antes da prova andavam à procura de mim à porta dos cabarés de Luanda. Eles precisavam de mim para ganhar mas passavam um sacrifício comigo. Nos primeiros 30 ou 40 quilómetros eu ia todo “azedo”, sem comer nenhum no estômago, só bebida… Depois aquilo passava-me e ninguém mais me apanhava… Aquilo não era vida de jeito mas eu andava lá sozinho sem família, era um rapaz novo… Mas se fosse agora tinha desgosto de ser assim ou de ter alguém assim…


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Filha de peixe sabe... pedalar

“Honra o teu pai” Chama-se Célia e é a filha mais nova de Américo Vieira. Desde sempre gostou de acompanhar o seu pai nas provas, até ao dia em que se decidiu trocar e pôr o pai a acompanhá-la a ela. Seguiu as pisadas… ou melhor as pedalas do pai e iniciou-se nas provas há quase 5 anos. No dia em que falámos com ela, o seu nome figurava numa das páginas do jornal Record, num 5º lugar nos campeonatos nacionais realizados no dia anterior. Quase todos os dias, sai de casa para treinar, muito cedo, pouco depois das 6 da manhã para fazer cerca de 20 quilómetros. Aos 28 anos sonha ir a Pequim competir nos próximos Jogos Olímpicos. Como começaste neste desporto? A primeira prova em que participei foi em Santa Catarina da Serra num dia de festa. Depois fiz cicloturismo e só mais tarde, a convite do treinador do meu pai, Carlos Vieira na União Ciclistica de Leiria. O meu pai apoiou sempre e depois comecei a competir. É difícil ser atleta num desporto masculino? Não é fácil, não. Temos poucas provas, e temos normalmente que

participar nas provas dos homens veteranos, tudo misturado. Às vezes sou a única mulher no pelotão. É pena que sejamos tão poucas. E são quase todas do norte. Gostarias de ver outras colegas a pedalar contigo aqui na região? Sim, claro que gostava. Ainda que não competissem, é pena que as mulheres façam tão pouco desporto, até porque o desporto faz sempre bem à saúde, e por exemplo, eu hoje peso menos 10 quilos do que antes de ser ciclista… O teu irmão também gosta de pedalar? Sim gosta, e por isso anda no grupo do Teimosos. Gosta de pedalar mas sem ser em competição, mais para fazer desporto e descomprimir.

E a tua mãe, que acha ela deste desporto? Acompanha vocês nas provas? Sim, ela tenta acompanhar-nos sempre que pode. mas sofre muito porque as coisas às vezes podem correr mal. Quando os resultados e as classificações são boas ela fica contente, fora isso está sempre preocupada que eu ou o meu pai tenhamos uma queda e nos magoemos. E até onde esperas chegar no clismo? Qual o teu maior sonho? O meu maior objectivo é conseguir fazer resultados que me permitam chegar aos Jogos Olimpicos de Pequim em 2008. Depende de muitas coisas mas no que depender de mim, vou dar o máximo...

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Adolescente da Bemposta recorda o seu trabalho de vigia aos incêndios

“O que eu queria era sentir-me útil” Um adolescente da nossa terra ofereceu gratuitamente todo o Verão do ano passado para vigiar os focos de incêndio, no cimo da torre da Igreja Paroquial de Santa Catarina da Serra. Chama-se João Gonçalves Batista e tem apenas 15 anos. Vive na Bemposta e estuda no Colégio de São Miguel, em Fátima. É escuteiro há já alguns anos e nesta altura encontrase na secção dos pioneiros. E foi justamente pelo gosto que tem no escutismo e pelos valores que ali aprende que aceitou a proposta de ser vigia de colunas de fumo. O facto de viver perto da Igreja facilitou, e permitiu fazer um horário bastante alargado. Durante três meses, vigiou das 9 da manhã às 19h30, com apenas um pequeno intervalo para almoçar em casa. “Eu no ano passado estava de férias da escola e comecei a ganhar gosto naquele serviço e passei lá o Verão todo, quase o tempo todo sozinho, só com o rádio transmissor, o meu telemóvel, uns binóculos de longo alcance e uma bússola para indicar as localizações nas transmissões para o posto de vigia do Castelo de Leiria”. O jovem João lembra que por vezes as horas custavam a passar. Apesar disso, o barulho dos sinos da nossa torre era o que mais lhe

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custava a ouvir. Outra dificuldade que encontrou era tentar regular a bússola já que o metal dos sinos influenciava a direcção da bússola e tornava-se muito dificil identificar o azimute correcto. Em certos dias não deu pelo aparecimento de nenhuma coluna de fogo, mas outras vezes havia mais trabalho. “Houve uma vez um dia em que transmiti 17 colunas de fumo”. Este voluntarismo do João acabou por ser reconhecido pelos organizadores destes postos de vigia, os responsáveis do escutismo de Leiria, o IPJ e o Governo Civil Distrital. Este reconhecimento foi oficializado com a entrega de uma insígnia de mérito ao jovem João pela dedicação demonstrada a esta causa. Ainda assim, João diz que “nem sequer sabia que existia este prémio, e nem fico mais contente por recebê-lo. O que me deixa mais contente é ver que o que fiz foi muito útil e que possivelmente consegui evitar que os incêndios alastrassem ainda mais”. Este ano procedeu-se a uma alteração de idades mínimas exigidas para este serviço “só querem lá pessoas com mais de 18 anos, ou mais” e o João não pode ficar responsável por nenhum tur no. A lém de que, este ano, os vigias são remunerados. É por causa disso, e pelo gosto que tem em ajudar, que quando não está a ajudar os seus pais, continua por vezes a ac ompa n h a r os turnos de outros sempre de forma gratuita.

João recebeu de um chefe escutista, o nó de mérito.

Nó de mérito, insígnia escutista recebida pelo João pela sua dedicação enquanto vigia de incêndios, na torre da nossa Igreja.


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Rita Neves vai dedicar um mês aos mais desfavorecidos de Angola

Partir para a aventura, em missão... Uma jovem da nossa terra, a Rita Neves, do Vale Tacão, vai viver uma experiência de missão, durante um mês em Angola. Segundo esta jovem de 28 anos, o sonho de ir um dia em missão sempre a acompanhou, pelo que, há cerca de um ano atrás, foi convidada a entrar na Teresa de Saldanha “As Irmãs já têm lá um colégio, e lá que ficaremos a viver, eu e mais duas colegas que vão comigo. No nosso dia a dia lá,está previsto que ajudemos no projecto de darmos duas refeições às crianças que acompanhamos, além de que vamos dar formação aos professores de lá”. Para viajar para estes países são

precisos alguns cuidados médicos prévios, vacinas, etc.. Rita salienta que practicamente todas as despesas que daí vêm, saem do bolso, incluindo o bilhete de avião que ultrapassa os 1.000 euros, numa viagem Lisboa-Luanda de 9 horas. Além da ansiedade natural nestas situações, a Rita admite alguma preocupação pela sua adaptação sobretudo pelos cuidados que é preciso ter com a água, com os mosquitos, etc... “ Foi por isso que quiz experimentar só um mês, mas é claro, se me adaptar bem como espero hei-de um dia voltar à missão, de preferência em Timor, país que muito admiro e que espero um dia conhecer”.

A saída para Luanda aconteceu no passado dia 4 de Agosto e o regresso está marcado para 3 de Setembro. Boa sorte...

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Este ano com a presença e os ritmos de uma grupo de folclore vindo da Polónia

XXI Festival Nacional de Folclore

Foi no passado dia 16 de Julho que decorreu o mais importante evento cultural realizado na nossa Vila de Santa Catarina da Serra, o Festival de Folclore organizado pelo Rancho Folclórico de S. Guilherme, um dos ex-libris da nossa terra. Foi o XXI Festival Nacional de Folclore, I Luso-Polaco, pois contámos

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com a presença de um grupo vindo da Polónia. Este grupo Polaco, esteve presente entre nós cinco dias, de 13 a 17 de Julho. O Rancho de S. Guilherme ofereceu a estadia e as refeições. Devido à elevada despesa resultante desta estadia, recorremos a algumas empresas da nossa terra af im de obtermos alguma ajuda financeira para fazer face a essas mesmas despesas, por isso queremos agradecer muito em especial às empresas Manuel da Costa e Silva, Lda., Comertin, Lda., Plastisserra, L da., Cardovi, Lda., Irial, Lda., TPB, S.A., e Mansauto, Lda. Aproveitamos também para agradecer à Junta de Freguesia

de Santa Catarina da Serra e ao Agrupamento de Escuteiros 1121 de Santa Catarina da Serra, pela colaboração prestada e a todos quantos contribuíram para realização deste evento, com as mais diversas ofertas. Como já referido, o grupo vindo da Polónia esteve connosco desde o dia 13, tendo sido recebido por alguns dos elementos do nosso Rancho por volta das 13 horas, para o almoço sendo depois encaminhados para o local de alojamento, as antigas instalações do CRIF, cedidas pelo Santuário de Fátima, na pessoa do Sr. José Jorge, a quem agradecemos reconhecidamente. Ao final da tarde, o grupo foi recebido oficialmente no auditório da Junta de Freguesia de Santa Catarina da Serra pelo executivo, tendo sido dadas as boas vindas. Houve uma colaboração com o Rancho Folclórico dos Soutos, Caranguejeira, este grupo foi tam-


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Serra ENSINO NOTÍCIAS bém actuar ao Festival Luso-Polaco “Vila da Caranguejeira” no dia 15 do mesmo mês. O nosso Festival, realizado debaixo de um calor quase insuportável, decorreu como o esperado, apenas lamentamos o facto das gentes de Santa Catarina da Serra não terem aparecido em maior número, apesar de mesmo assim estar muita gente. Mas tendo o Rancho de S. Guilherme feito tanto esforço para trazer à nossa Vila um grupo estrangeiro, para que todos podessemos ficar a conhecer os usos e costumes de outro país, e enriquecermos culturalmente o nosso festival, achamos que a nossa gente não correspondeu e não valorizou esse esforço. O festival contou com a presença de seis grupos folclóricos, o anfitrião, Rancho Folclórico de S. Guilherme, Rancho Folclórico da Casa do Povo de Godim, Grupo Etnográfico Danças e Cantares da Nazaré, Grupo Folclórico “As Tricanas de Ovar”, Grupo Folclórico de S. Cosme de Gondomar, e o Grupo Folclórico Zespól Piesni Tánca “Walbrzych”. A vinda do Grupo Polaco, foi uma experiência única, gratificante, e de grande interesse sócio-cultural, para todos os que com eles partilharam e conviveram os cinco dias que estiveram connosco. Partiram com uma excelente imagem do nosso grupo, da nossa capacidade de organização, e da nossa hospitalidade, e isso ficou demonstrado com os gestos de agradecimento por parte deles, e pelo convite que formalizaram ao Rancho Folclórico de S. Guilherme, para que se desloque à Polónia no próximo ano de 2007. Queremos ainda fazer um agradecimento a todos os elementos do nosso Rancho pelo seu esforço e dedicação na realização deste evento, especialmente ao seu Presidente, Bruno Lains, à Bia e à Fernanda pela confecção das refeições, ao Betico, ao Sandro, à Sofia e à Rita pelo seu acompanhamento ao grupo Polaco e pela ajuda no servir das refeições. A todos um muito obrigado! Rancho Folclórico de São Guilherme

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30 automóveis antigos passearam até às praias

Passear, descontrair e conviver... O Clube de Automóveis Antigos de Santa Catarina da Serra realizou o seu 7º Passeio no Domingo, dia 23. O espirito e a dinâmica deste passeio foi diferente de todos os anteriores já que todos os associados, e não só, foram desafiados a participar num pic-nic, numa mata à beira mar. Assim, as cerca de 70 pessoas que aceitaram este convite, saíram do clube às 09h30, a bordo de 31 automóveis antigos. A viagem decorreu muito bem, e teve direito a uma paragem para abastecer os “depósitos” com aperitivos e um cálice de Vinho do Porto. À chegada ao destino, Mata do Samouco, já o espaço estava mais que preparado para os receber. Organizouse e comeu-se o pic-nic, e depois foi por ali que todos permaneceram até

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ao fim da tarde, divertindo-se com os jogos tradicionais, comendo e bebendo ou a dormir uma reconfortante sesta, aproveitando a arejada sombra que esta mata proporciona. Ainda houve quem fosse passear a pé até à praia, que ficava a pouco mais de 200 metros do parque. No final, era geral a satisfação pela forma como este passeio decorreu. Sem stress, sem horários rígidos, com muita comida e muito gosto, tanto pelos carros a nt igos, como pelo con-

vivio que sempre se cria nestes passeios. Em relação às avarias, este passeio saldou-se positivamente, com apenas um carro a não completar o percurso, a contas com uma avaria mecânica.


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Conhecer melhor a Encarnação Alves do Centro de Saúde

“Gosto muito do meu trabalho, apesar de...” A Encarnação Alves é uma das pessoas mais conhecidas da nossa vila, não fosse ela funcionária do Posto Médico de Santa Catarina da Serra há mais de 30 anos. Recordando o seu percurso de vida, a Encarnação lembra que começou a trabalhar cedo, aos 14 anos, no Santuário de Fátima, em tempos em que “não havia direito a feriados, a folgas, e por vezes, nem a parar aos fins de semana”. Depois desse e de outros empregos em Fatima, casou, mudou-se da Donairia para a Pinheiria, e teve os seus dois filhos, gémeos. Depois entrou para o posto médico quando este ainda funcionava na sede da Junta de Freguesia. “Foi no dia 2 de Janeiro de 1976”, recorda. “Entrei como auxiliar de limpeza, funções que exerci até Setembro de 1992. Depois fui convidada para auxiliar administrativa, e aceitei”. Hoje afirma que gosta do seu trabalho, mas lembra que é um trabalho muito ingrato porque “tentamos resolver tudo sempre pelo melhor, com a máxima rapidez, mas há muita coisa que não depende de nós,

funcionárias administrativas. Além disso, trabalhar na saúde é muito ingrato porque vimos as pessoas a envelhecer, e por vezes a sofrer. E depois como o Centro de Saúde fica virado para o Cemitério por vezes comovemo-nos com algumas pessoas que sofrem aqui a recordar os que já lá estão”. Tirando isto, a parte mais gratificante de aqui trabalhar “é ver que bebés que vieram aqui com as suas mães há quase trinta anos, agora vêm com os seus com os seus filhos, alguns já com idade de andar na escola...” Analisando o seu desempenho nestas funções, Encarnação Alves reconhece que tem facilidade em falar com qualquer paciente, mas que “por vezes o falar demais também acaba por ser o meu maior defeito...” Quanto a objectivos, “o meu agora é continuar a trabalhar, desde que vá tendo saúde, já não espero outra coisa... o que espero é que a minha neta nasça bem, com muita saúde. Saúde para ela, para mim, para toda a minha família, e para todos... muita saúde para todos”.

Cartão Único Nome: Maria da Encarnação Jorge Alves Idade: 53 anos (54 lá para o fim do ano) Altura: 1 metro e 63 Data de Nascimento: 31/10/1952 Estado Cívil: Casada há 31 anos Prato favorito: Qualquer um bem cozinhado Filme favorito: Nenhum em especial Livro Favorito: Infelizmente não costumo ler livros Clube Favorito: Gosto de ver os jogos da selecção Desporto Favorito: Ginástica Objectivo imediato: Que a minha neta nasça saudável Objectivo a médio prazo: Continuar a viver com saúde Objectivo a longo prazo: Estrear e trabalhar num Centro de Saúde novo aqui em Santa Catarina da Serra. Nome próprio da neta: Maria João

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Serra ACADÉMICOS

Por Marco Santos*

Cuidado Com o Peso dos Jovens! São muitos os países que estão a perder a batalha contra a obesidade. Trata-se de uma conclusão ainda mais evidente no campo das crianças. Sabe-se, hoje, que uma em cada cinco crianças e jovens tem excesso de peso, ou é obesa, sendo igualmente conhecido que muitos deles integram o movimento desportivo, vivendo muito do seu tempo nos recintos desportivos. É essencial que os pais, professores, parentes e treinadores estejam conscientes acerca da forma como agir no sentido de conseguir que os jovens tenham um peso saudável, não hesitando em pedir a ajuda dos pais, sempre que for detectado um problema mais complicado na matéria. As pessoas têm diferentes formas e dimensões corporais. As crianças crescem a ritmos diferenciados. Seja como for, os elementos genéticos que herdam dos pais, quando combinados com as condicionantes do meio em que a criança vive, influenciam o seu processo de crescimento. O peso ideal de uma criança saudável é determinado em função da sua idade e da sua altura (IMC). A maioria dos jovens e muitos dos pais sabem pouco acerca da forma como gerir correctamente o peso. Os jovens precisam de um significativo apoio nestes assuntos, por parte dos adultos que os rodeiam diariamente. A longo prazo, as crianças são mais bem sucedidas do que os adultos nos resultados que conseguem alcançar, principalmente quando se consegue que toda a família consiga adoptar hábitos de vida mais saudáveis. As crianças e os jovens não devem ser submetidos a dietas rigorosas, nem devem ser incentivados a seguir programas intensivos destinados a uma perda imediata de peso. Pelo contrário, deverão ser encaminhados para um desenvolvimento de hábitos saudáveis de alimentação que perdurem para toda a vida. Uma alimentação saudável é um objectivo comum

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tanto para as crianças com excesso de peso, como para crianças com peso adequado, embora as quantidades aconselhadas de alimentos sejam naturalmente diferentes. As crianças que atravessam a sua face de crescimento e que praticam desporto, têm elevadas necessidades de nutrientes essenciais, tais como nutrientes, vitaminas e minerais. Se as necessidades de energia não forem colmatadas, o crescimento pode ser posto em causa e a puberdade pode sofrer algum atraso. Nos praticantes desportivos podem ainda ser associadas a um aumento de incidência de fracturas. Quando se estiver a discutir com os jovens as escolhas alimentares que eles devem fazer deve-se evitar classificar os alimentos de bons e maus, mas deve-se sim recorrer aos conceitos de “todos os dias” e “às vezes”. Tentem não incentivar os jovens a ser excessivamente restritivos com os alimentos considerados nutricionalmente indesejáveis, uma

vez que isso pode levar a um aumento da vontade de os comer, de consumir precisamente os alimentos que são proibidos. Proibir alimentos, ou classificá-los negativamente, poderá criar sentimentos de culpa nos dias que sejam consumidos. Na abordagem dos assuntos relativos à procura de um peso saudável é necessário apresentar uma série de capacidades: elogio, apoio, encorajamento e flexibilidade. É preciso evitar a todo o custo que o jovem com excesso de peso fique chocado com aquilo que lhe dizem, ou se sinta deprimido. Deveremos recorrer a exemplos de praticantes desportivos como meio de incentivar os jovens a cuidar dos seus próprios corpos. É uma oportunidade para levar as famílias a criar hábitos saudáveis para toda a vida. *Estudante da Licenciatura em Treino Desportivo na ESD Rio Maior, e residente na Magueigia

A prática de desporto e a busca por um estilo de vida saudável devem ser adquiridas e desenvolvidas logo na infância. Fotografia da equipa das Escolas da UDS


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Serra NOTÍCIAS SITE

Empresa de transformação e reciclagem de plásticos

www.plastisserra.com Apesar de ter a sua unidade industrial em Caxarias, a plastisserra é uma empresa de Santa Catarina, não só pelo nome (Serra) mas também pelo facto de ter iniciado e desenvolvido aqui a sua actividade, os seus proprietários e uma parte dos trabalhadores serem, residentes na nossa terra. O site já existe há 6 anos, e por isso está um pouco desactualizado quanto aos artigos produzidos pela empresa, e irá ser remodelado até ao fim deste ano. Esta empresa foi das pioneiras da nossa terra, a entrar na rede, investindo logo num site bem completo, simples, funcional, dinâmico e internacional, como comprova a opção pelo domínio .com. É que, sendo uma empresa de transformação e

reciclagem de plásticos, são inúmeros os produtos e artigos que produz e por isso, é fundamental ter um catálogo dísponível para os quatro cantos do mundo. Sim, porque desde que a empresa tem um site on-line, as suas vendas dispersaram-se pelos vários continentes do globo, sobretudo para países como Angola, Espanha, Congo, França e América, além claro, do nosso país. No site pode ainda conhecer uma pouco melhor a empresa, através da página de apresentação, obter os contactos e fazer o pedido de envio de um catálogo. Nesse catálogo poderá enocntrar ecopontos, baldes, poceiros, buchas, gamelas, talochas, regadores, e muitos outros artigos... Um site que merece a sua visita.

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Serra AGENDA

Agosto e Setembro

FICHA TÉCNICA

Calor, férias e vindimas Agosto

Setembro

Fim de semana dias 13, 14 e 15 Festa em Honra do Sagrado Coração de Jesus na Igreja Paroquial de Santa Catarina da Serra. Uma festa organizada pelos conterrâneos nascidos em 1966, que festejam este ano os 40 anos de idade.

Fim de semana dias 9, 10 e 11 Festas tradicionais em Honra de São Guilherme e São Silvestre na Magueigia.

Domingo dia 20 Comemoração do 16º aniversário da fundação da ADS Loureira.

Fim de semana dias 16 e 17 Concentração Nacional de Vespas no Complexo Desportivo da União Desportiva da Serra. Uma organização do Clube Vespinga. Para mais informações: www.vespinga.com.

Fim de semana dias 27 e 28 Festa em Honra de São Miguel no Vale Sumo.

Fim de semana dias 16 e 17 8º Passeio do Clube de Automóveis Antigos desta vez à região do Oeste

DIRECTOR Francisco Rebelo dos Santos DIRECTOR-EXECUTIVO Pedro Costa TEXTOS e PAGINAÇÃO Amândio Santos FOTOGRAFIA Amândio Santos PUBLICIDADE Alda Moreira IMPRESSÃO Mirandela SA TIRAGEM 3 500 exemplares PATROCINADORES PERMANENTES Construções J.J.R. & Filhos, S.A. LubriFátima MaiaPerfil - Matalomecânica, Lda. Lena Construções JRP/TPB Casa Costa Clinifátima Iriamédica Esta revista é um suplemento local que integra a edição n.º 3621, de 11 de Agosto de 2006, do Semanário REGIÃO DE LEIRIA e não pode ser vendida separadamente.

Participe A sua opinião conta. Agora a VOZ DA SERRA disponibiliza um endereço de correio electrónico que pode usar para nos fazer chegar as suas opiniões, notícias e impressões. O endereço é: vozdaserra@regiaodeleiria.pt Mantemos ainda em funcionamento um Ponto de Apoio ao Leitor na Papelaria Bemposta, no centro da vila de Santa Catarina da Serra. Porque a participação activa dos nossos leitores é essencial, tem duas plataformas possíveis de colaboração. Queremos ouvi-lo sobre os assuntos que gostaria de ver abordados, para enriquecer esta publicação, podendo ainda abordar outras questões que considere pertinentes.

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