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Esta revista é um suplemento local que integra a edição nº 3632, de 27 de Outubro de 2006, do Semanário REGIÃO DE LEIRIA e não pode ser vendida separadamente.

V O Z da

Serra

OUTUBRO 2006 ANO 4

Nº 45

30 anos Especial Educação Págs. 4 a 20

Dia da Freguesia Festival do Chícharo Pág. 27

27/10/1976 - 27/10/2006

Parabéns!!!



Educação e Aniversários O tempo passa rápido e longe vai o ano 1976. Desse esse ano até hoje, por trinta vezes a Terra rodeou o Sol, e esse mesmo sol que há tinta anos iluminou as mentes de alguns conterrâneos, ilumina hoje uma realidade invejável, à vista de todos, à disposição de todos... A União Desportiva da Serra comemora hoje, dia 27 de Outubro, 30 anos de existência. A sua história está por escrever mas não está esquecida. É a história de uma associação com trinta anos de estórias, por onde passaram tantos conterrâneos, onde tantos se fizeram homens, e onde tantos procuraram o prazer da diversão e do convívio. A UDS é sigla da união desportiva, da união cultural, e tem sido sigla da União Dos Santacatarinenses: união entre pessoas, entre amigos e entre amantes do desporto, sobretudo, do desporto rei. O jantar de comemoração de hoje é mais um momento feliz dos muitos que este clube tem vivido, tanto ao nível desportivo, como e sobretudo, ao nível da estrutura do clube, do património e da capacidade de mobilizar crianças e jovens. Enquanto na freguesia se celebra um aniversário, prepara-se já outro para ser celebrado no fim de Novembro. Refiro-me aos 457 anos da criação da freguesia e paróquia. É mais uma iniciativa da junta de freguesia que conta com o apoio precioso e empenhado das associaçãos locais das nossas aldeias. Esta forma de actuar e de mobilizar, unindo e promovendo, lembra-nos outro aniversário que por estes dias se cumpre e que convém não esquecer. É que no próximo dia 3 de Novembro, faz exactamente um ano que os actuais elementos da Junta de Freguesia tomaram posse. Um quarto da sua legislatura está cumprida e os motivos para festejar começam a surgir. Quem também está de parabéns por estes dias é a professora Celeste. Nesta revista, apresentamos a sua vida através de uma extensa entrevista, e aproveitamos o ínicio do ano escolar para apresentar um especial dedicado à Educação. Tema fundamental nos dias de hoje, a Voz da Serra convidou algumas pessoas ligadas ao tema a opinarem e darem um contributo para expôr problemas pontos de vista que, na sua matriz, interessam a todos. Aprofunde-se a reflexão, discuta-se, mudemse mentalidades, e depois... venham as velas, o bolo e o champanhe, e siga a festa... Amândio Santos


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Serra ENTREVISTA

A professora Celeste deu mais uma lição... de vida!

“Santa Catarina da Serra foi onde mais me senti realizada como professora”

O seu nome é Celeste do Rosário Brites Soares Pinto e faz precisamente no próximo domingo (dia 29) 81 anos de idade. Vive numa casa de comércio que fora construída para os seus avós há quase 130 anos. O seu avô, Paulino, teve ali cinco filhas e a partir daí, o local ficou a ser conhecido como as Paulinas, da Martinela. Casou aos 19 anos e o seu marido faleceu com tifo apenas 38 dias depois. Voltou a casar 11 anos passados, e deste casamento nasceram os seus 4 filhos; um deles, o mais velho, é professor na EBI há dois anos. A professora Celeste aceitou conversar com Voz da Serra e falou da sua vida e dos anos que deu aulas na nossa terra, e deu mais uma lição… de trabalho e de humildade: uma lição de vida.

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Serra ENTREVISTA Qual foi o seu percurso como professora? Leccionei em Santa Catarina da Serra durante 15 anos. Comecei por trabalhar aí em 1964, na escola dos Olivais, quando ainda não era professora oficial, mas apenas regente escolar. Depois voltei para mais perto de casa e fui dar aulas na Martinela, durante oito anos. Nesses anos estudei e consegui tirar o 5º ano do liceu, que me custou muito: Ia a pé para Leiria, quase 8 Km todos os dias, depois de dar aulas. Num ano, tirei o 1º e o 2º, nos três anos seguintes tirei o 5º ano. Seguidamente, fiz exame de admissão à Escola do Magistério Primário de Coimbra, mas fiquei mal, e, como nessa altura só admitiam entrada até aos 28 anos e eu estava quase a fazê-los, não pude tentar de novo. Sete anos depois a lei mudou o limite de idade para 35 anos e novamente voltei a não conseguir. Dois anos mais tarde, um novo decreto admitia que todas as regentes escolares com 5 anos de bom serviço e o curso do liceu, 5º ano, obtivessem o curso do Magistério Primário. Assim fiz, mas vi a situação novamente complicada, pois o meu filho mais novo ia nascer na altura de fazer esse exame. Graças a Deus o menino nasceu 20 dias antes da data do exame. Assim completei os estudos, indo exercer o primeiro ano, como professora oficial, na escola da Pinheiria.

8 anos, o mais novo com 20 meses, desde a Chaínça à Loureira e seguir no autocarro que me levava a minha casa, na Martinela, onde ia orientar o café e mercearia de meu marido, que então, por necessidade urgente de fazer obras na centenária casa, emigrara para a Alemanha em busca de meios. Terminado esse ano, fui dar aulas 4 anos e 4 meses, na Loureira, mas no entanto adquirira carta de condução e um pequenino Fiat 650, que me

permitia ir para casa todos os dias. A meio do último ano que ali estive, voltei para Santa Catarina, para dar aulas à 5ª e 6ª classe, na escola que fica perto da igreja paroquial.

A jovem Celeste do Rosário quando tinha 18 anos de idade.

A Professora Celeste quando teria cerca de 45 anos de idade.

E como era o ensino nesse tempo? O ensino de então obrigava o aluno a decorar muito e desenvolvia-lhe pouco o raciocínio, num programa extenso, esgotante e sem meios para

Foi para a Pinheiria dar aulas? Fui dar aulas e mudei-me para lá. Vivi um ano na Pinheiria, com os meus quatro filhos, então crianças. Habitei numa casa perto da casa da costureira Dona Catarina e da casa do sapateiro Sr. Agostinho, marido da D. Deolinda. Estas senhoras, Dona Catarina e D. Deolinda, foram muito boas para mim. Em frente destas casas, do outro lado da rua, havia uma família de lavradores que ainda moía os cereais com um burro à volta, a pisar. Da Pinheiria fui para a Chainça, onde dei aulas um ano e passei muitas dificuldades. Como ainda não possuía carta de condução, tinha de ir a pé, com 4 filhos, o mais velho com

Professora Celeste com as suas crianças em dia de visita ao Jardim Zoológico.

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Serra ENTREVISTA

Senhora do Nicho A Virgem Maria, Dos filhos saudosa, À beira da Estrada Se pôs, cuidadosa: Ao pobre que passa, Sem pão nem dinheiro, A Virgem informa: O Céu é celeiro… Ao rico soberbo, Que aspira ao poder, A Senhora afirma: Tu hás-de morrer!... À moça formosa, Dos sonhos em flor, Proclama A Sem Mácula: O Céu é amor. Ao velho que treme, Em último Inverno, A Virgem confirma: O Céu é eterno… Aos ternos meninos De meigo sorriso, Segreda a Mãe Santa: Sois do paraíso. Ao homem que luta, Sem tréguas da vida, Comenta a Senhora: O Céu é guarida… E a todos a Virgem Com graças ajuda; No dia mais triste, Na dor mais aguda… Do sol que sai fora, À lua que chora No nicho pobrinho Que está no caminho. Esta alunos Santa frente no dia 1965.

poesia foi declamada por da Escola Primária de Catarina da Serra, em do Nicho da Bemposta, da sua inauguração, em A Professora: Celeste do Rosário Brites Soares Pinto

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Canção da Bíblia Certo dia, nos reinos divinais, Pensou Deus em criar a humanidade; Seres de amor, de paz, felicidade, Supremo gozo e vidas imortais. Então criou a Terra; e, num jardim Magnifico, com plantas ideais. E um rio de águas sãs, celestiais, Pondo o homem que formou, disse-lhe assim: «Cresce, pois, multiplica-te, domina; Faz da Terra real mansão divina» 7/2/93 A primeira estância do primeiro volume da “Canção da Bíblia”, relativo à criação do mundo, narrada nos Génesis


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Serra ENTREVISTA ter sucesso. Apesar disso, alunos e professores faziam milagres, em escolas onde cada professor tinha mais de trinta alunos. A instrução e a educação eram exercidas com mais facilidade, porque as crianças eram humildes, obedientes e respeitadoras e os seus pais consideravam e estimavam os professores. Agora os professores não podem dar uma bofetada a um aluno; nesse tempo tínhamos direito estatal para castigar, maternalmente, os alunos. O Estado protegia os professores. Ainda hoje o Estado é patrão; deve defender os professores, seus servos, dos insultos e ataques de alunos e encarregados de educação. Não está a fazer isso. Deixei de dar aulas há 19 anos e não lido com as crianças de hoje, mas, pelo que me dizem, são indisciplinadas e malcriadas, embora haja excepções; isso é muito mau, porque a má educação impossibilita a boa aprendizagem e torna as aulas tristes. No meu tempo de professora, não tínhamos possibilidade de organizar actividades escolares extras, contudo, havia harmonia, conseguia organizar festas de Natal e outras, com peças teatrais criadas e ensaiadas por mim e representadas pelos alunos, com muita graça e alegria. Lembro-me da inauguração do Nicho a N. Senhora, que está na Bemposta, onde um grupo de alunos declamou um poema meu. Durante 15 anos terá vivido muitas experiências que não esquece… Não esqueço não. Nos finais de ano eu fazia sempre um pequeno boletim com a classificação das crianças, a dizer se passavam de ano, ou não. Num dos anos em que estive na Loureira, numa sexta-feira, eu disse às crianças que todos tinham passado, e disse-lhes que lhes entregaria o boletim na segunda-feira seguinte. Depois, durante o recreio, uma menina chegou até mim e pediu-me se eu lhe podia entregar o boletim logo nesse dia. Eu respondi que não, porque ainda não os tinha feitos. Quando cheguei, na segunda-feira, disseram-me que aquela menina

Fotografias tiradas na escola da Loureira, por um casal sueco, da turma feminina, da professora Celeste. Na foto é possivel ver a data 28 de Junho de 1969 tinha falecido, depois de atropelada, naquele domingo. Foi uma tristeza que não esqueço. Podia ter-lhe dado aquela alegria, que ela me pediu, mas quem adivinharia? Chamava-se Fátima, e nunca me esqueci dela... Vivi lá muitas histórias! Não esqueço os meus alunos, e vejo que muitos deles também não me esqueceram. Lembra-se de quem era o seu melhor aluno? Dos alunos que tive, o que se destacava por ser mais inteligente era um menino da Chaínça, filho

único de uma senhora que tinha, na altura, fama de santa. Eu conheci a senhora e era realmente uma pessoa muito bondosa, uma santa. E filho de uma mulher assim, o menino tinha mesmo de ser muito bom, e era. Há poucos anos, esse menino, já homem, visitou-me aqui na minha casa. Perguntei-lhe qual era a sua profissão e ele disse-me que era médico. Fiquei contente e não me admirei, porque ele era uma criança muito inteligente, dedicada e correcta. Chama-se José Augusto e lembro-me dele pois crianças assim consolam os professores. Além deste tive outros alunos muito

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Serra ENTREVISTA bons, mas o que eu tinha gosto era de empenhar-me em fazer melhorar os que tinham menos capacidades mentais, e fazia tudo o que podia a prepará-los para poderem enfrentar a vida… tive sempre muito amor às crianças, e muito gosto que elas progredissem… Os seus alunos gostavam de si? Penso que gostavam. Alguns ainda param aqui para me visitarem. Ainda há pouco tempo uma antiga aluna veio buscar-me para eu ir passar uma tarde em Santa Catarina da Serra na casa dela. Naquele tempo o ambiente em Santa Catarina da Serra era muito bom. Era um povo muito humilde, muito trabalhador, uma sociedade rústica mas delicada. Os alunos eram respeitadores e os pais eram meus amigos; era gente de bons valores. De todas as escolas por onde passei, Santa Catarina da Serra foi a escola onde gostei mais de estar… Foi onde me senti realizada como professora. Guarda então muitas recordações? Tenho muitas e boas recordações. Uma vez eu estava com as minhas crianças na sala de aula da Loureira, e estávamos a cantar uma lengalenga qualquer. Passou um casal sueco na estrada que ouviu e gostou, e pediu-me se podia tirar umas fotografias. Aceitei, e passado um tempo, recebi as fotografias, as quais ainda guardo, pois são boas fotografias das minhas crianças de Santa Catarina, no caso, da Loureira. Também me lembro do Padre Faria, muito boa pessoa, que um dia me veio pedir que alguns alunos o fossem ajudar a embrulhar o jornal Luz da Serra. Eu, naturalmente, deixei e no mês seguinte esses alunos fizeram um artigo que foi publicado, e onde estão os nomes desses alunos. Lembro-me também das outras minhas colegas, professoras, que viviam aí em Santa Catarina, a Dona Guilhermina, da Quinta da Sardinha, a Dona Jacinta do Vale Tacão, e outras pessoas e coisas que não esqueço, nem nunca vou esquecer.

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Ao longo de 10 anos escreveu a Bíblia em verso

“Artista não, trabalhadora sim” Além da vocação para ensinar, a Professora Celeste desenvolveu ao longo da vida uma interessante capacidade de escrever poesia e hoje tem uma admirável obra publicada, a que chamou “Canção da Bíblia” onde expressou toda a sua arte, transformando versículos em versos. Ainda assim a poetisa Rosário Brites não gosta que lhe chamem artista: “Artista não, trabalhadora sim…” Como nasceu o gosto pela poesia? A poesia é uma vocação que nasce com as pessoas. Eu já no tempo em que tirei a quarta classe, aqui na Martinela, gostava muito de escrever. A minha professora era de Leiria e chamava-se Maria Luísa e ainda hoje sou muito amiga de uma filha dela. A seguir deixei de estudar e custou-me muito ver as outras crianças a ir à escola e eu já não ia. Casei cedo, aos 19 anos e passados apenas 36 dias, fiquei viúva. Foi um choque muito grande; foi um flagelo que me fez sofrer muito. Foi com essa morte que eu me prendi à Bíblia, porque aquele desgosto era inexplicável. Estive viúva 11 anos e não esquecia aquele amor. Depois comecei a exercer como regente escolar, e, quando fui estudar, a primeira lição de português que tive foi sobre os Lusíadas. Li o livro, analisei-o, gostei muito e comecei a lembrar-me: “Quem escrevesse a Bíblia em verso?” Não me achava com capacidades

para tal, mas um dia estava no meu quarto e pensei: “A Bíblia! Vou tentar”. E nesse dia escrevi a primeira estância. De seguida li o que tinha escrito e achei bem. Depois fui escrevendo, escrevendo e foram dez anos a escrever… E escreveu a Bíblia em verso? Escrevi o Antigo Testamento que é o que está publicado, em 3 volumes, pela Junta de Freguesia do Arrabal. Também escrevi o Novo Testamento em verso, mas ainda não foi publicado. Eles têm lá tudo para publicar há 4 anos mas ainda não o fizeram, e nem me explicaram o porquê de tal demora. Estou muito sentida com esta atitude deles… Quando saíram os primeiros volumes, fui ao programa “Praça da Alegria” apresentar os livros. Agora estou a escrever outra obra poética, mas ainda não está concluído e prefiro não divulgar sobre o que trata este trabalho. Além disso, fiz uma pequena publicação de alguns poemas sobre temas diversos, onde tenho vários que escrevi em Santa Catarina sobre situações e acontecimentos que se lá passaram… Considera-se uma artista? Artista não, trabalhadora sim. Tem que haver uma veia de artista, mas o escrever hoje é mais um entretém, para mim é mais uma realização espiritual, uma consolação e um esquecer a vida… Na minha idade há uma grande saudade da vida… saudade do tempo em que eu tinha força para reagir a tudo… Hoje tenho dificuldade em andar, em ouvir, mas vejo menos mal… A morte do meu primeiro marido, e muitas outras situações pelas quais passei, ensinaram-me que nesta vida não há certezas de nada…


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Serra ESPECIAL

Por Domingos Marques

Breve nota sobre as escolas da freguesia

Foi no ano de 1867 que se deu o primeiro passo para a existência do ensino escolar na freguesia de Santa Catarina da Serra. Com efeito, a então Junta de Paróquia da Freguesia deliberou em reunião que se fizesse uma petição ao Rei D. Luís I para a concessão de uma Cadeira Régia do Ensino Primário para os meninos desta freguesia e das povoações das Matas, Cercalinho, Vale Feto e do Ninho d’Águia da freguesia de Espite e também do Casal dos Lobos da freguesia do Reguengo do Fetal por ser mais perto e com melhores caminhos e que disponibilizavam casa para a escola. Após a aprovação do pedido foi disponibilizada a casa em Santa Catarina da Serra, como prometido, com quatro quartos, destinada apenas a meninos e aí funcionou durante alguns anos.

Antiga Escola Primária de Santa Catarina da Serra. Este edifício foi remodelado e actualmente serve as funções de auditório.

Escola Pré-Primária da Pinheiria

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Serra ESPECIAL Mas tarde foi solicitado ao mesmo monarca que o Ensino Escolar fosse extensivo para as meninas e que se responsabilizariam com a ampliação da casa da escola. A proposta não foi aceite e ampliação da casa da escola não foi concretizada. Tivemos um posto móvel na povoação dos Cardosos que abrangia as três freguesias vizinhas e um outro posto escolar na Gordaria. Solicitou-se ainda um outro posto escolar para o lugar da Barreiria mas este nunca foi autorizado. Davam-se assim os primeiros passos no ensino escolar desta terra e sempre da iniciativa da Junta de Freguesia No ano de 1905 o Sr. José Carreira, de profissão sangrador, do Vale Sumo, construiu nos Olivais uma casa destinada a escola porque a sua filha Maria de Jesus Carreira se tinha matriculado na Escola do Ensino Normal de Leiria para ser professora e que a casa se destinava a ser utilizada pela filha logo que terminasse o curso. A senhora professora Maria Carreira concluiu o curso e nunca chegou a exercer a sua profissão na referida casa/ escola. Mas foi utilizada por outras professoras. No ano de 1962, por escritura de doação, entregou à Câmara Municipal de Leiria o referido edifício, seus anexos e terreno, passando a ser propriedade da citada CML. No ano de 1921 foi solicitado à Comissão Administrativa da Câmara de Leiria o apoio económico para reconstruir o velho edifício escolar em Quinta da Sardinha, que nunca chegou a vir. Mas a Junta em colaboração com a população local entregou na Câmara um projecto para a construção de uma escola para ambos os sexos e só no ano de 1928 é que a Câmara informou que o citado projecto tinha sido aprovado, dispensando o pagamento devido pela aprovação. O edifício foi construído nos terrenos doados para aquele fim por Faustino Alves Vieira, ali residente, que teve a sua inauguração no ano de 1929. No ano de 1930 iniciou-se a reconstrução e ampliação do antigo edifício escolar em Santa Catarina

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Serra ESPECIAL da Serra, ocupando o espaço da antiga escola e uma parcela de terreno adquirida a um particular e os habituais e imprescindíveis apoios da população Na Chaínça (hoje freguesia) existia uma velha escola e as populações descontentes quotizaram-se e procederam às obras de restauro e após o trabalho concluído entregaram-na à Junta de Freguesia e esta aceitou-a considerando-a como património da freguesia. O lugar do Vale Tacão teve a sua primeira escola com a categoria de posto escolar, em instalações provisórias e uma vez mais, o povo e a Junta construíram um edifício escolar misto e uma moradora garantiu o ensino até à aposentação. Na povoação da Loureira foi também o povo que construiu a sua primeira escola e passados alguns anos a Câmara vendeu o edifício a um particular. De uma maneira geral, o parque escolar foi sempre da responsabilidade das populações interessadas e da Junta de Freguesia. A partir do ano de 1940 é que o Governo da Nação, através do Plano dos Centenários, se interessou com o referido parque escolar mandando construir as escolas primárias dos Olivais/Vale Sumo, do Sobral, da Magueigia, da Pinheiria e da Loureira para substituir os velhos edifícios que, mais uma vez pelas populações e autarquias foram adaptados para Jardins de Infância, com a excepção do Jardim de Infância de Loureira que foi construído de raiz pela Câmara Municipal de Leiria em terreno adquirido pela autarquia local pela quantia de 1.750 contos. No ano de 1993 iniciou-se a construção da Escola Básica Integrada, da responsabilidade da Câmara Municipal de Leiria e da Junta de Freguesia, que iniciou as suas actividades no ano lectivo de 1995/96. Foi inaugurada oficialmente no dia 17 de Fevereiro de 1996 pelo então Presidente da República Dr. Mário Soares. Este edifício escolar foi implantado em terrenos adquiridos pela autarquia local a três moradores

Escola Pré-primária da Loureira

Escola da Magueigia, onde durante décadas foi ministrado o ensino primário. Este ano, após profundas obras de melhoramento, este estabelecimento de ensino funciona como Jardim de Infância.

Escola primária de Olivais e Vale Sumo

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Serra ESPECIAL da Loureira e encontra-se junto ao complexo desportivo da União Desportiva da Serra. No mandato do Eng. Lemos Proença e muito em especial no mandato da Dr.ª Isabel Damasceno é que a Câmara de Leiria se mostrou verdadeiramente interessada com o problema da educação a nível escolar. E foi nesta perspectiva que se fizeram obras de grande vulto na escola primária da Pinheiria, adaptando-a para Jardim-de-infância e recentemente com as alterações introduzidas na escola primária da Magueigia adaptando-a também para Jardim-de-infância e a construção, como já se referiu do Jardim de Infância da Loureira. As antigas escolas do Vale Tacão, do Sobral e de Santa Catarina da Serra tiveram outros destinos.

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Estatísticas O Agrupamento de escolas e Jardins da Serra, neste ano lectivo, é responsável por 604 alunos, distribuídos da seguinte forma: 110 - Pré escolar 60 - Primeiro ano 66 - Segundo ano 69 - Terceiro ano 59 - Quarto ano 49 - Quinto ano 42 - Sexto ano 53 - Sétimo ano 43 - Oitavo ano 26 - Nono ano 14 - Curso de electricidade de instalações.


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Serra ESPECIAL

EBI Santa Catarina da Serra combate insucesso com imaginação

A Matemática é “cool” A Escola EBI de Santa Catarina da Serra dispõe de mais um espaço para os alunos dos 2º e 3º ciclos. Este, denominado “Espaço Matcool” está apetrechado com vários computadores, materiais manipuláveis, jogos didácticos e lúdicos e livros. Aguarda-se, a curto prazo, um quadro interactivo, máquinas de calcular gráficas e mais software matemático. Esta sala tem duas vertentes; uma, onde decorrem actividades lectivas de Matemática, permitindo assim dinamizar aulas recorrendo a materiais manipuláveis e às novas tecnologias da informação. A outra vertente, que funciona todos os dias das 12:25h às 13.50h (horário de almoço), é um espaço onde os alunos podem realizar actividades que permitam de uma forma lúdica desenvolver o raciocínio lógico/abs-

tracto, a formulação e resolução de problemas, a comunicação, a capacidade de memorização/concentração e a concepção de estratégias. É ainda um espaço onde os alunos podem realizar os trabalhos de casa de Matemática, trabalhos de investigação no âmbito da disciplina, esclarecer dúvidas, estudar, participar em concursos e outros eventos. Todas estas actividades serão sempre planificadas e dinamizadas pelos docentes do Dep. de Matemática. A criação desta sala insere-se no âmbito do projecto “Plano de Acção para a Matemática” apresentado ao Ministério da Educação por esta Escola, tendo sido aprovado. Pretende-se, com a dinamização desta sala e a aplicação de um vasto conjunto de estratégias que fazem parte do referido projecto, tais como,

utilização das novas tecnologias de informação, o desenvolvimento nos alunos, de hábitos de trabalho, curiosidade matemática, gosto de aprender, autonomia, espírito crítico, raciocínio lógico e abstracto, capacidade de comunicação matemática e de resolver problemas, contribuindo assim para que os alunos melhorem a relação afectiva com a Matemática e como consequência melhorem os resultados. Para a consecução destes objectivos estão envolvidos directamente os Encarregados de Educação, e foram estabelecidas parcerias com o Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e com o Centro de Formação da Batalha. Ana Paula Costa - Coordenadora do Departamento de Matemática

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Serra ESPECIAL

Educação na Infância: Por Rita Reis*

Hoje no Jardim de Infância… brinquei! É frequente obtermos esta resposta quando interrogamos as crianças sobre as suas actividades no Jardim de Infância. Muitas vezes não passaram o dia inteiro “a brincar”, contudo esta actividade foi sem dúvida a mais importante, uma verdadeira fonte de descobertas, de imaginação e de múltiplas aprendizagens. A Educação pré-escolar é a primeira etapa da educação básica no processo de educação ao longo da vida. Sendo complementar da acção educativa da família, favorecendo a formação e o desenvolvimento equilibrado das crianças. Os anos anteriores à entrada no ensino básico são estruturantes na formação do pensamento das crianças, é uma etapa decisiva na formação individual e social, daí a importância do brincar no Jardim de Infância. As crianças em idade pré-escolar aprendem fazendo, manipulando e vivenciando. Cada dia de Jardim de Infância é diferente do outro, de entre uma variedade de áreas de aprendizagem as crianças vão escolhendo uma ou outra mais de acordo com os seus interesses: jogos, puzzles, livros, pintura, desenho, dança, jogos dramáticos… Individualmente ou em pequenos grupos passam grande parte do tempo a descobrir e a explorar activamente os materiais. Estas são experiências que vão ao encontro das suas necessidades. A tarefa de brincar é um grande estimulador à aprendizagem em todas as áreas do desenvolvimento: físico, social, emocional e intelectual. Com as suas brincadeiras as crianças vão aprendendo também a cooperar, ajudar, conversar e até negociar, aprendendo a resolver os seus próprios problemas, ultrapassando muitas das suas dificuldades. À medida que as crianças crescem adquirem novas competên-

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cias e novas experiências que lhe facilitam o processo de aprendizagem, deste modo o brincar é uma interacção lúdica com objectos e pessoas, em que as crianças estão motivadas pelo seu próprio desejo, assumindo assim o papel de uma actividade importantíssima. Não podemos nunca esquecer que cada criança é um ser único com um padrão e um tempo de

desenvolvimento e crescimento individual diferente do outro. Cabe então ao educado e aos pais criar condições necessárias para que as crianças explorem o meio em que se inserem, que “brinquem”, certamente estão a aprender e a crescer saudavelmente. *Educadora de Infância, residente em Siróis.


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Serra ESPECIAL

Educação para adultos - Por Cristiana Pereira*

Certificar o que se aprendeu ao longo da vida? velho, normalmente, mais é a experiência de vida, e isso é valorizado, contrariando a ideia de que possuir mais idade pode ser prejudicial. Este é um sistema de Certificação que se baseia essencialmente nas histórias de vida pessoais e competências adquiridas. Mas afinal o que é um Centro de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências? Um CRVCC é um local onde existe uma equipa de profissionais que actua no sentido de Reconhecer, Validar e Certificar os saberes e competências que os adultos (jovens e adultos com idade igual ou superior a 18 anos) foram adquirindo em diversos contextos e ao longo do seu percurso de vida pessoal, social e profissional, de modo a que seja obtida uma equivalência desses saberes e competências aos níveis do 9º, 6º e 4º anos de escolaridade. Ou seja, para todos aqueles que não tiveram a possibilidade de terminar ou continuar os seus estudos, independentemente dos motivos que os levaram a deixar a escola, o processo RVCC constitui uma nova oportunidade para obter certificação escolar equivalente ao 9º, 6º ou 4º anos. Para além desta certificação escolar, existe ainda a opção de proceder a uma Certificação Profissional, que permite obter, pelo mesmo processo de RVCC, o Certificado de Aptidão Profissional pa ra d iversas profissões, como por exemplo, nas áreas de electricidade, soldaAs competências encontram-se definidas num Referencial de dura, mecânica, Competências-Chave que englobam 4 áreas fundamentais: Linguagem e Comunicação; Cidadania e Empregabilidade; Matemáti- etc. (Para quem estiver interesca para a vida e Tecnologias de Informação e Comunicação. Certamente que nos últimos tempos têm ouvido falar de um novo sistema de Certificação Nacional para adultos, denominado de RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências), o que para muitos é mais facilmente chamado de “tirar o 9º ano”. Poderão pensar… “então agora, depois de velho, é que vou voltar para a escola?!...”. A verdade é que este novo meio para obter uma Certificação Escolar foge ao modelo tradicional de ensino: primeiro porque não se trata de ensinar algo, mas sim de identificar e reconhecer as aprendizagens, conhecimentos e competências que se foram adquirindo ao longo da vida no trabalho, na aldeia, com a família, etc.; segundo, para isso não é necessário voltar à escola. Na nossa freguesia aconteceram já alguns processos desta natureza, nomeadamente, na Associação de Desenvolvimento Social da Loureira (ADSL) por itinerância da Associação de Desenvolvimento da Alta Estremadura (ADAE), onde já se formaram 3 grupos; por fim, a idade é algo que neste caso pode ser uma ajuda, uma vez que, quanto mais

sado sobre este assunto poderá consultar a página do IEFP que se encontra disponível no site www.iefp. pt. Aí poderá tomar conhecimento de quais as profissões que estão a ser certificadas e onde esse processo está a decorrer). Baseado num processo simples de identificação e reconhecimento de várias competências-chave, através de uma reflexão sobre a sua experiência de vida, é construído por cada utente, um Dossier Pessoal que reunirá toda a informação necessária para que as 4 áreas de competências possam ser validadas perante um júri e resultando posteriormente na emissão de um Certificado equivalente ao 1º, 2º ou 3º ciclo do ensino básico. Esta certificação permite, não só a valorização pessoal, social e profissional, mas pode também constituir um incentivo à continuação de estudos e/ou formação nesta ou outras áreas. Neste campo, importa ainda referir que para quem já partilhou desta experiência ou para todos aqueles que possam estar interessados, este Sistema de Certificação será, brevemente, alargado para o nível secundário de Educação, isto é, para equivalência ao 12ºano. Sendo este um tema cheio de conceitos novos e que, por isso, poderá suscitar algumas dúvidas ou curiosidades, deixo aqui desde já, enquanto profissional de RVCC, a minha disponibilidade para responder a algumas questões ou satisfazer alguma curiosidade. Não se esqueça que o que aprendeu na vida já pode ser certificado. É um direito reconhecido dos cidadãos adultos, pelo que todo o processo que conduz à certificação é flexível permitindo a quem trabalha ajustar o processo em função da sua disponibilidade. Se está interessado, dirija-se ao CRVCC mais próximo da sua área de residência! *Licenciada em Ciências da Educação, residente no Vale Tacão

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Serra ESPECIAL

Pelo Professor António Oliveira

Desigualdades sociais e abandono escolar Convidado a pronunciar-me sobre a temática “Educação Escolar” e, dado que sobre esta matéria tenho dissertado nas anteriores publicações de “Voz da Serra” abrangendo múltiplos assuntos, decidi abordar o tema “Desigualdades Sociais e Abandono Escolar na Escola Obrigatória”. O objecto deste estudo daria motivo para produção de um livro e longos debates, pelo que este artigo mais não pretende do que sensibilizar o leitor para a problemática dado que o abandono na escolaridade obrigatória constitui, sem dúvida, um fenómeno de exclusão. É um artigo cujo espaço ultrapassa o âmbito local remetendo, no entanto, para este, algumas linhas. O princípio da escolaridade obrigatória decretado em 1836, deu origem a uma escola para quatro anos não existindo, no entanto, fórmulas de controlo, nomeadamente até à década de sessenta do século agora findo. Em 1964 foi prolongada para seis anos e em 1986 para nove. Após a revolução de Abril de 1974, a massificação permitiu ultrapassar

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as desigualdades sociais de acesso através de medidas políticas, como o subsídio para os transportes, para a alimentação e para os manuais escolares, além da descentralização das instituições de ensino, porém, esta, não conseguiu evitar as desigualdades de sucesso. As assimetrias regionais, a mobilidade social e a democratização do ensino são alguns dos factores indicados como construtores de desigualdades sociais. Também a ligação entre os resultados escolares e a origem social são indicadores se bem que de difícil explicação, pelo que os estudos se encaminham mais para as desigualdades dos resultados escolares como indicadores de desigualdade e aí, as dimensões pessoais, sócio-culturais e institucionais são postos em evidência na análise do insucesso, do desinteresse e do abandono escolar. Tendo já abordando “as causas de insucesso” focarei o abandono escolar como criador de desigualdades sociais. Os estudos das causas do abandono escolar em Portugal

apontam para alunos cujo perfil se caracteriza pelo atraso escolar motivado por causas múltiplas: falta de interesse, o desfasamento entre a idade cronológica e a académica, o interesse por outras actividades, os maus resultados e a falta de empatia entre alguns docentes e alunos, causas que entram no campo do relacional; a responsabilidade e problemas familiares, problemas financeiros e necessidades de começar a trabalhar, factor de grupo, são outras razões que contribuem para o abandono escolar, causas que poderemos reputar de âmbito pessoal e familiar. Como consequência do abandono escolar os jovens tornam-se dependentes, desinformados, frágeis e iletrados. Nas zonas urbanas a falta de instrução alimenta a pobreza e a marginalidade. Em Santa Catarina da Serra, nomeadamente na Escola Básica Integrada, as desigualdades sócioeconómicas não constituem o factor primeiro do insucesso escolar. Também o abandono da escola no percurso da escolaridade obrigatória é quase nulo, registando-se, no entanto, situações de não continuidade de estudos após o insucesso no nono ano de escolaridade. As causas, já estudadas, do abandono escolar, na EBI, apontam para o desfasamento entre a idade cronológica e a académica, as dificuldades económicas das famílias que levam a que o aluno tenha necessidade de trabalhar, o desejo pessoal de posse e independência, e as dificuldades naturais de aprendizagem, não ultrapassáveis com medidas diversas de apoio individual. O insucesso no primeiro e segundo ciclos, nos últimos cinco anos situase nos 2,6%, nitidamente abaixo do insucesso nacional. O 3.º ciclo, com 8,9% situa-se também abaixo da média nacional que é de 15%. Dado que as desigualdades dos resultados mais do que as desigual-


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Serra ESPECIAL dades sociais são uma das causas do abandono escolar, a política educativa do Agrupamento de Escolas e Jardins da Serra visa combater as desigualdades dos resultados através de práticas institucionais e pedagógicas com medidas de apoio económico estudadas e aplicadas de forma rigorosa, para o auxílio da compra de manuais escolares, aquisição de materiais escolares e das refeições e, medidas do foro pedagógico para alunos com dificuldades de aprendizagem que usufruem de Aulas de Compensação e ou de Apoio Pedagógico Acrescido de forma totalmente gratuita. Nesta política global de integração são chamados a intervir todos os interlocutores do processo de ensino-aprendizagem: professores, alunos, pais e encarregados de educação e ainda os parceiros sociais.

Quatro alunas que completaram a escolaridade obrigatória na EBI, prosseguindo os seus estudos, num dia em que voltaram à sua escola para matar saudades.

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Por Prof. Dr. Joaquim Neves Vicente*

À Família, o que é da Família; À Escola, o que é da Escola Não existe ninguém, minimamente informado e com um mínimo de seriedade intelectual, que não se ache perplexo diante de uma comunidade de professores ou de uma assembleia de pais para aí pronunciar algumas palavras sobre educação familiar ou sobre educação escolar. Vivemos seguramente uma das mais profundas crises de identidade tanto da instituição família como da instituição escola. Até os mais bem sucedidos pais e professores de há algumas décadas se sentiriam hoje intrigados com o que se está a passar nas nossas casas e nas nossas salas de aulas.

1. No princípio está a família... Falar da família é falar de uma realidade de extrema sensibilidade, quer porque nela ocorrem as experiências inaugurais de todo o ser humano, porventura as mais marcantes, libertadoras umas, traumatizantes outras, quer porque nela acontece, entre os dois seres humanos que a encetam, o vínculo porventura mais profundo, feliz nuns casos, dramático noutros. O poder dos pais, o mais “absoluto” de todos os poderes, frente à dependência da criança, a mais frágil de todas as dependências, é tal que o simples pensamento da possibilidade de uma criança ter o seu destino nas mãos de seres brutais ou sádicos, tiranos ou frouxos, nos faz estremecer. Embora os pais não tenham o direito de vida ou de morte, é por eles e só por eles que o recém-nascido vive e escapa à morte; é também por eles e quase só por eles que passa a formação dos sentimentos mais nobres e a aquisição dos hábitos mais virtuosos. É à família, mais do que a quaisquer outras instituições, que compete ser educadora dos afectos, escola dos valores e pedagoga das virtudes. Atribua-se, pois, à família o que é da família. É com os pais que a criança aprende, ou não, a receber amor e a tornar-se amável, a obter respeito e a

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tornar-se respeitosa, a merecer atenção e a tornar-se atenciosa, a obter perdão e a pedir desculpa, a querer passar e a dizer com licença, a receber prioridade e a facilitar a passagem, a pedir por favor e a alcançar com gratidão, a receber com generosidade e a dar generosamente, a ser-lhe feita justiça e a apreciar a justiça, a ser compreendida e a dispensar compreensão, a ser obsequiada e a dizer muito obrigado, a ver as promessas satisfeitas e a cumprir as suas promessas, a ser bem tratada e a não maltratar, a ser repreendida (porque não?) mas sem brados e a defender-se com dignidade. Apesar das diferenças que separam o psicanalista S. Freud e o sociólogo A. Comte, ambos convêm numa posição comum: o papel da família consiste em transformar o que há de mais animal mas também de mais sólido nos seres humanos: os instintos. É indispensável a acção da família para transformar as pulsões animais em sentimentos genuinamente humanos. Na ordem social actual não se conhece outra instituição capaz de o assegurar adequadamente. É aqui que, não obstante as dificuldades reais da vida contemporânea (urbanização, aumento do tempo de trabalho, sobre-ocupação nos empregos, etc.), a família é insubstituível. Não há não educação. A ocupação da casa vazia far-se-á: com os pais ou com outros (com a TV, com os jogos, com a rua...). Os milhões de crianças vítimas da falta de uma família à altura das suas necessidades sentam-nos a todos no banco dos réus, clamando elas por justiça, por não lhes proporcionarmos a satisfação de um dos seus direitos inalienáveis. As sociedades actuais, através dos seus dirigentes, têm procurado alguma solução junto das instituições existentes ou têm criado elas mesmas instituições específicas. Também a instituição escolar tem sido convocada para colaborar em tão urgente tarefa. O problema é que a educação dos afectos, transformando

as pulsões em sentimentos, é coisa que a escola não está em condições de proporcionar, nem de direito nem de facto, de forma ajustada e suficiente. Equivocam-se, pois, aqueles pais (são cada vez em maior número) que crêem na possibilidade de a escola (creche, jardim ou escola do 1.º Ciclo) poder assumir a responsabilidade específica da educação dos sentimentos, dos afectos ou dos bons hábitos dos seus filhos. Por dever de justiça façamos uma distinção: há os que, infelizmente, por razões objectivas, não podem dispensar o tempo e a disponibilidade requeridos; mas há também aqueles outros (e são muitos) que não querem, não estão para isso, descansando as suas más consciências na hipotética melhor das escolas: aquela que os eduque e os instrua; no mínimo, que os guarde; e, já agora, que os passe com boas notas.

2. ... depois, vem a escola... De facto, à falta de outras instituições capazes de satisfazer necessidades e funções sociais relevantes como a ocupação dos tempos livres ou a animação cultural e recreativa, assim como os novos pedidos de educação que nunca fizeram parte dos currículos tradicionais tais como a educação ambiental, a educação anti-droga, a educação anti-tabágica, a educação sexual, a educação anti-racista, a educação para a televisão, a educação nutricional, etc., a escola actual experiencia uma grande crise de identidade, correndo o risco de estar a tornar-se uma caixa de ressonância dos problemas sociais, cuja função seria a de terapeuta ou ortopedista social. Muitos, descrentes da possibilidade de a escola poder desempenhar correctamente tantas funções, receosos da sua descaracterização pela diminuição grave daquela que foi sempre a sua primordial função, retomam o velho discurso, unilateral também, da escola como lugar tão-só de instrução. Não são, por isso, surpresa alguma tomadas de posição como aquela que


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Serra NOTÍCIAS ESPECIAL se pôde ler, já em 1990, na revista Perspectivas da UNESCO: “A escola tem por missão ensinar, transmitir a posse dos signos através dos quais se comunica, em toda a sua diversidade: signos alfabéticos, numéricos, gráficos, informáticos. Retirar-lhe estas obrigações essenciais e indispensáveis, subordinando-a aos «imperativos do momento», é correr o risco de a privar do seu sentido e da sua razão de ser. Sobrecarregar os programas com conteúdos pedidos de empréstimo à quotidianeidade relativa, mesmo socialmente importante, é correr o risco de reduzir a instituição escolar ao papel de uma simples associação em que são restringidas as actividades e os tempos consagrados a dotar o indivíduo dos instrumentos de análise e de expressão, técnicos e científicos, de reflexão e de criação de que tem necessidade. E uma vez que só os grupos sociais mais favorecidos podem adquirir algures (em explicações ou escolas privadas) os instrumentos em questão, é evidente que o abuso das actividades ditas «educativas» acaba por penalizar sobretudo os que não encontram senão na escola a ocasião e a possibilidade de se dotarem de instrumentos intelectuais e cognitivos de base.” Nos já longínquos anos 40, Alain tinha-se oposto à ideia, cara à “educação nova”, segundo a qual a escola deveria ser um prolongamento da família. Contra esta ideia defendera ele que a escola é a antítese necessária da família. “A escola é um meio à parte”, dizia Alain. Ao afirmá-lo assim tão enfaticamente, pretendia demarcar-se de um erro que, em sua opinião, tanto tem de apetecível como de funesto: o erro que vê na escola uma grande família. Família e escola são duas instituições complementares, reconhecia ele, mas a sua complementaridade reside justamente na antítese das suas funções. A tarefa da escola começa justamente onde acaba, por se tornar insuficiente, a tarefa da família. Os limites educacionais da família, têm a possibilidade de ser superados por um “meio termo” entre família e indivíduo. Esse meio termo, pelo menos na nossa ordem actual (e não se vê outra) é a escola. Aqui a autoridade paternal tem de

dar lugar à igualdade, o sentimento ao pensamento. A escola tem de proporcionar ao aluno a experiência de que nela nada se consegue com as lágrimas, de que aos professores não se agrada ou desagrada, de que deles só se pode esperar justiça, ignorada da família; o que exige, do lado dos professores, que não queiram jamais substituir-se aos pais, porque o amor arruinaria a justiça. Liberta do peso de ter de amar e agradar, a criança ficaria disponível para pensar. À escola do sentimento teria de suceder a escola tout court, a do saber, da razão e da justiça. A frieza destas ideias, porventura exageradas, tem pelo menos uma vantagem: a de nos obrigar a repensar a escola, para darmos à escola o que é da escola.

3. ... falta, no entanto, um terceiro meio educativo. Não obstante a sua radicalidade, também a crítica de Ivan Illich nos anos 60 à escolarização da sociedade, propondo uma sociedade sem escolas, tem alguns méritos, o maior dos quais é seguramente a crítica ao monopólio da escola em matéria de ensino. A escola não deve monopolizar o ensino, como a família não pode monopolizar a educação. É iníquo e escandaloso, comentava o filósofo Olivier Reboul, que o povo não tenha senão a escola para se instruir e a família para receber educação. Faz falta um terceiro meio educativo que desescolarize a existência das nossas cr ia nças e dos nossos jovens. Tal como a família precisa

da escola para completar a educação dos seus filhos, também a escola tem necessidade de um terceiro meio que liberte a escola para as suas funções específicas. O reduzido número de movimentos juvenis, de casas culturais, de associações desportivas, de clubes de amadores, etc. faz com que a sociedade relegue para a escola a responsabilidade por toda a educação. Reboul não poderia ser mais veemente na condenação do monopólio da escola. “A nossa filosofia da escola não tem valor se a não completarmos por uma filosofia do terceiro meio educativo. (...) É iníquo que o povo não tenha senão a escola para se instruir. O monopólio da escola, aí onde ele tende a impor-se, é patológico; prova que a sociedade se tornou anti-educativa. E é a juventude do povo que tem mais necessidade deste terceiro meio, muito mais do que a juventude privilegiada.” *Professor universitário na FLUC, residente na Loureira jnevesvicente@net.sapo.pt

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Por Leonor Célia*

Aprender é uma Arte, Educar um desafio A abertura de mais um ano lectivo representa para todos os pais, alunos, professores, funcionários, autarquias e restantes membros da comunidade educativa um período de manifesta ansiedade e preocupação. De facto a maioria dos problemas que se colocam neste período tem a ver com a gestão dos horários, o funcionamento – ou não – das cantinas, os transportes e a articulação das actividades de apoio à família designados de enriquecimento curricular entre questões. Considero, no entanto que essas situações com maior ou menor brevidade, acabam por ser contornadas. Sublinhe-se não estou a subestimar estas questões, pelo contrário, reconheço-as como o ponto de partida para outras problemáticas, que em minha opinião, têm contribuído para um certo desencantamento da escola. O processo de evolução e de complexificação da sociedade reflectese nas instituções escolares. Em algumas décadas a escola deixou se ser exclusivamente, um espaço de aprendizagem da leitura e da escrita para ser considerado um espaço de socialização. Actualmente é mais do que isso. É um espaço privilegiado de socializações variadas. As crianças e jovens estão cada vez mais tempo na escola, lá aprendem de tudo, do mais elementar até à criação de mecanismos de defesa, de crítica de renúncia, de afectos e sentimentos. Neste sentido a escola dá um contributo incalculável na construção da identidade pessoal dos alunos. A interacção social a que estão sujeitos imprime-lhes novos conceitos, modelos de actuação, padrões de avaliação e de comportamento. A competição desencadeia desejos, ambições mas também frustrações. Nem sempre se consegue “ter zero erros no ditado”, ou aquela nota no teste, ou a média para entrar na faculdade. A escola premeia os bons, incentiva

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os que têm dificuldades e ensina a perder. Nem sempre se aprende a perder e estar na escola entristece, desencanta. Cria-lhes alternativas mas estas nem sempre correspondem às suas expectativas. Por vezes é difícil estar na escola, parafraseando os seus discursos ”isto não é fácil – vida de estudante é dura” – dizem alguns. É na escola que tudo acontece! Assim, reconhecendo a importância da escola no crescimento global das crianças e jovens deve-se aferir constantemente e conscientemente os aspectos pedagógico-científico que estão na base desta estrutura social. Por exemplo: reequacionamento dos conteúdos, definição de metodologias de ensino e dos mecanismos de avaliação. Deve rever e definir medidas que permitam a gestão da disciplina e respectivo modelo da punição da indisciplina entre outras. Reforço, no entanto que estes pressupostos não existem apenas como garantia do bom funcionamento burocrático da escola, são fundamentais para a integração e sucesso escolar dos alunos. Por outro lado, esta multiplicidade de impactos que a escola tem na c r i a nç a e no j o v e m r e q ue r por parte das famílias/encarregados de educação uma maior vigilância e atenção. Isto é, apesar dos vossos filhos estarem na escola mu ito tempo não deixem que esta vos substitua. Continua a ser importante que pais /e n c a r r e -

gados de educação perguntem como foi o dia na escola, o que fizeram, o que correu bem ou menos bem. A insistência, a preocupação e a exigência responsabiliza-os. O enquadramento familiar que estimula a aprendizagem, que valoriza o trabalho e esforço realizado, está a colaborar de forma eficaz para o encantamento da escola. Concluo afirmando convictamente que a escola é um mundo a que ninguém fica indiferente e do qual ninguém se deve excluir. Porquê? Porque a escola constrói identidades. Para todos os professores, alunos, funcionários e encarregados de educação votos de um excelente ano lectivo. *Professora no Centro de Estudos de Fátima (CEF), natural da Quinta da Sardinha


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Data assinalada com jantar de sócios e simpatizantes do clube

UDS comemora 30 anos de existência A União Desportiva da Serra assinala hoje, dia 27 de Outubro, o seu 30º aniversário. Há precisamente três décadas um grupo de jovens e adultos da freguesia, empolgados pelo entusiasmo associativista do pós 25 de Abril de 1974, decidiu criar um clube que fosse ponto de encontro dos jovens de toda as aldeias da freguesia. Também por isso, a sede do clube ficou instalada na sede da freguesia, perto de uma zona onde já há muitos anos os jovens se encontravam para praticar futebol. É consensual a influência do Sr. Prior dessa altura, Padre Joaquim Carreira Faria, que sempre apoiou o clube e se mostrou disponível para participar nas actividades para quer era convidado. Foi essa mesma influência que referenciou o Ti’ António Gonçalves no artigo biográfico que publicámos na revista de Outubro do ano passado. Este habitante do Ulmeiro, à época,

presidente da junta de freguesia, foi quem liderou o processo de aquisição do terreno onde se começou a desenhar o campo da Portela, onde a UDS viveu, e continua a viver momentos de grande glória. Nos últimos anos o clube tem investido num reforço do património, prescindindo dos resultados desportivos, que diga-se em abono da verdade, mantêm o clube sempre nos primeiros lugares da Divisão de Honra do campeonato distrital de Leiria, além de vitoriosas e honrosas prestações nas taça distrital, e, já nesta época, na Taça de Portugal. O clube conta hoje com um palmarés invejável, tendo conquistado tudo o que um clube pode conquistar ao nível distrital. E por falar em distrito, a presidente da Câmara de Leiria já por várias vezes salientou, que não há, no concelho, e provavelmente no distrito, um clube que tenha um parque

desportivo com tanta qualidade como tem a UDS. Está por escrever a história do clube; desde a estórias ligadas sua fundação, ao logótipo, às peripécias de balneário, ao “cromos da bola” que por aqui passaram, aos históricos dias de inaugurações de infraestruturas, etc.… Os jantares de aniversário têm sido momentos altos de amor ao clube, expressado pelos seus fundadores e pelos seus servidores. Hoje vai viver-se com toda a certeza mais um desses momentos, e o clube convidou todos os sócios e patrocinadores para a comemoração deste aniversário. Uma festa que aviva o passado e que dá vida ao futuro do clube que tem escrito páginas importantes da história da nossa vila.

A par da história do clube vem toda a história do desporto na freguesia, do tempo em que as traves da baliza eram travadas a prego, em que os jogadores jogavam de cinto e calças vincadas, do tempo em que as bolas eram de “cautchú”, do tempo em que a camisa se mantinha durante todo o jogo abotoada até ao colarinho. Esta foto terá mais de 40 anos e será o mais antigo artigo da história do desporto em Santa Catarina da Serra.

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Um cacho de uvas com medidas invulgares

O cacho gigante do “Chaparrico” O José de Oliveira Vieira “chaparrico” e a sua esposa Ilda dos Santos Alves Vieira, encontraram na colheita deste ano um cacho com dimensões bem acima da média: tinha 48 centímetros de altura e pesava 1,350 Kg. “Este cacho foi criado na vinha que temos em Torres Novas, e é de uvas de mesa cardinal, uma casta de uvas que vem muito cedo e que é muito procurada, por ser muito doce”. O Cacho foi oferecido para a Festa do Sagrado Coração de Jesus, nos leilões que se realizaram na Pinheiria e foi comprado por 14 euros. “Todos querem saber de onde vêm uvas daquela qualidade, e quando vimos um cacho desta altura, tirámos uma fotografia para recordar, pegámos nele pusemos em exposição aqui na nossa tasca, na Pinheiria”. As parreiras de uvas de mesa estão inseridas numa vinha de uvas de outras castas, onde o produtor consegue normalmente produzir 600 medidas de almude. “Apesar do cacho gigante, o ano foi um pouco seco e não fundiu tanto em vinho”. E o casal promete que “se no próximo ano tiver lá outro cacho igual ou maior volto a oferecê-lo para a Festa do Coração de Jesus”.

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“O Especial da Voz da Serra deu frutos”

Notícias do C. C. R. Vale Tacão O Centro Cultural e Recreativo do Vale Tacão realizou, no passado dia 5 de Outubro, uma Assembleia-geral com vista à eleição de novos órgãos directivos para esta associação. As três dezenas de pessoas que participaram nesta reunião elegeram Nelson Santos como presidente para o próximo triénio, encabeçando uma lista sensivelmente igual à que dirigiu a associação nos últimos 6 anos. Além da continuidade no estilo de gestão, Nelson Santos, em nome da sua direcção, prometeu fazer mais, apresentado algumas intenções a projectos a realizar no próximo triénio. Entre estes, destaque natural para a construção de um parque de merendas e lazer, tal como foi votado por unanimidade na reunião da Junta de Freguesia, realizada no mesmo local duas semanas antes. Alem deste projecto, segundo Nelson Santos, este clube irá apresentar algumas novidades no próximo ano, onde espera envolver pessoas de toda a freguesia. Uma dessas surpresas terá novamente a ver com a história do lugar, no seguimento do trabalho que tem sido feito com as fotografias antigas. A este propósito, a direcção informa que o Especial Vale Tacão, publicado na Voz da Serra de Julho, onde foram pedidas fotografias antigas dos habitantes Francisco Rafael e Joaquim Serralheiro, já deu bons frutos, com a descoberta da fotografia do Ti’Francisco Rafael. Junto com esta foram descobertas mais duas fotografias antigas onde estão pessoas que ninguém até agora reconheceu: “talvez sejam pessoas do Vale Tacão, mas também podem ser do Sobral ou de outra aldeia vizinha. Uma delas tem uma inscrição no verso que diz “Post card Junho 1942”. A Voz da Serra publica aqui as fotografias desconhecidas, e pede a quem reconheça os fotografados, que faça chegar a indicação a algum

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habitante desta aldeia que o fará chegar aos elementos da direcção do clube, de modo a catalogar mais estas fotos.

Ti’ Francisco Rafael (ao lado) Foto antiga com homem não identificado (em cima) Foto antiga “Postcard Junho 1942” com 3 mulheres não identificadas (em baixo)


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O último passeio da época levou 50 pessoas a Mafra

Automóveis antigos na rota do Oeste Decorreu no fim-de-semana de 23 e 24 de Setembro mais um passeio de automóveis antigos, desta vez, com destino à zona do Oeste. Com meia centena de participantes inscritos, o quarteirão de clássicos fez-se à estrada na manhã de sábado, com destino ao Fun Park, em Boleiros, onde decorreu uma prova de perícia no circuito deste parque. Fazer toda a gincana, desviando o veículo dos obstáculos, tendo a particularidade do co-piloto segurar durante todo o percurso um copo cheio de água. De seguida, e com um percurso muito rico de cruzamentos e placas indicativas, os automobilistas percorreram o asfalto até à Quinta da Cortiçada, à entrada de Rio Maior, onde os participantes puderam almoçar, conviver e conhecer a quinta e os edifícios que a compõem. Depois todos seguiram para a bonita vila da Ericeira, onde o convívio se prolongou, primeiro no jantar, e mais tarde, envolvidos em actividades recreativas. Na manhã do domingo, os parti-

cipantes seguiram para uma visita orientada ao Palácio Nacional de Mafra. Visita rápida para sair a tempo de fazer os quilómetros necessários para estar em Peniche à hora do almoço. E porque a zona do Oeste é extremamente rica em locais a visitar, este passeio fez percurso na direcção de Óbidos, onde as bebidas típicas foram motivo para dar de beber à camaradagem entre os participan-

tes. De regresso a “casa”, que neste caso, é a sede do clube, no parque desportivo da União Desportiva da Serra, os participantes ficaram a saber da passagem da UDS à terceira eliminatória da Taça de Portugal enquanto saboreavam o passeio, entre as filhós d’avó e uma taça de café quente. Recorde-se que este foi o último passeio desta época do Clube de Automóveis Antigos.

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Equipa entrou bem

Foto Monumental inaugurou a loja em Santa Catarina

UDS sem derrotas

Servir bem, para crescer!

É um início de época praticamente imaculado. A União da Serra, ao fim de quatro jogos na divisão de Honra distrital e uma partida na Taça de Portugal, ainda não perdeu. A equipa de Francisco Mota ocupa o segundo lugar da classificação no campeonato, mas tem menos um jogo realizado que o líder, o Beneditense. Na Taça de Portugal, o conjunto de Santa Catarina da Serra também está a realizar uma boa prova. Depois de ter folgado na primeira eliminatória, a União da Serra bateu o Bidoeirense por 7-6, após grandes penalidades. Na Taça Distrito de Leiria, apesar da derrota na primeira ronda, a União da Serra foi repescada para a segunda eliminatória. Com 12 pontos, ao fim de quatro partidas, a equipa de Francisco Mota é a segunda classificada da divisão de Honra distrital. Tem 13 golos marcados - uma média de 3.25 por jogo, o que a torna a formação mais goleadora da prova – e três sofridos (0.75 por encontro). Nas quatro partidas do campeonato, só por uma vez a União da Serra marcou menos de três golos. Aconteceu na terceira jornada, frente ao Pedroguense, com o encontro a terminar com um 2-0 favorável ao conjunto de Santa Catarina da Serra. De resto, a União da Serra venceu por 4-0 (Juncalense), 4-1 (Meirinhas) e 3-2 (Ansião). Na Taça, a União da Serra beneficiou da folga na primeira eliminatória. Mas na segunda ronda, apesar das dificuldades de jogar com um conjunto de um escalão superior, conseguiu seguir em frente na prova, passando pela primeira vez na história à terceira eliminatória. Já na Taça Distrito de Leiria, a formação de Santa Catarina da Serra perdeu (2-3) na primeira eliminatória, com o Ramalhais, mas foi repesacada. Na próxima ronda, agendada para dia 1 de Novembro, joga com o Guiense.

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A Foto Monumental inaugurou no passado dia 15 de Outubro, a sua nova loja de fotografia, bem no centro de Santa Catarina da Serra. Muitas pessoas acorreram ao convívio e bênção deste novo espaço, de tal forma que, Bruno Coutinho ficou “muito agradado pela adesão de tantas pessoas a este evento”. Instado a explicar as razões deste investimento em Santa Catarina da Serra, este responsável considerou o recente progresso da vila, e a inexistência de outra loja do tipo num raio de quase oito quilómetros, como factores determinantes; “Além disso, fomos convidados pelo proprietário da loja, Sr. Hermínio, para investir, e como o espaço e localização foram do nosso agrado

decidimos avançar”. O espaço está preparado para responder a todas as necessidades dos clientes relacionadas com fotografia (todo o tipo de fotografia, consumíveis, books, reportagens, etc.) além de ser também um ponto de venda de produtos informáticos da marca Epson, e de comercializar pequenos objectos de decoração e brindes. Bruno Coutinho recorda que a Foto Monumental já existe há quase um quarto de século, quando foi criada pelo seu pai, João Coutinho, em Leiria, na Rua Direita, e actualmente está presente na Rua Capitão Mouzinho de Albuquerque e na Batalha. Em Santa Catarina está a terceira loja, um espaço onde se promete “servir bem… para crescer!.


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Festival do Chícharo em Santa Catarina da Serra sob o lema:

“Cultura e Gastronomia da Serra” A Junta de Freguesia de Santa Catarina da Serra esta a organizar uma grande festa para toda a freguesia. Esta festa vai realizar-se no parque desportivo da União Desportiva da Serra nos dias 24, 25 e 26 de Novembro. Organizada sob a forma de Festival do Chícharo, este evento pretende sobretudo dar resposta a dois objectivos dos seus impulsionadores: “Criar e aprofundar a identidade de ser santacatarinense e assinalar de modo oficial e festivo o dia da freguesia: 25 de Novembro. Gostávamos que a freguesia não mais voltasse a esquecer este dia e esperamos que esta festa seja o início de uma tradição bairrista e popular”. Segundo os organizadores, espera-se e deseja-se “uma festa com muita qualidade e variedade, na animação, na gastronomia, nas manifestações culturais, e até nas surpresas que estão a ser preparadas”. Ao que a Voz da Serra conseguiu apurar, uma das surpresas deste evento será a apresentação de um

filme sobre a história e actualidade da vila, pelo que, a equipa de conterrâneos responsável pela produção deste trabalho apela: “as pessoas que guardam algum material que possa ser interessante para este trabalho, manuscritos, fotografias antigas, documentos antigos, filmagens antigas, etc. é favor fazer chegar esse material à Junta de Freguesia para que se faça o melhor trabalho possível”. Contando com a colaboração empenhada da maioria das associações locais da freguesia na preparação de tasquinhas, a organização confia que neste festival o visitante poderá encontrar muita qualidade, e para isso, lançou um desafio às associações: “Aquela que conseguir ser mais original, mais genuína, mais típica e tradicional, receberá um considerável prémio monetário”. E como vieram os chícharos parar a esta festa? “Pensou-se em fazer um festival do chícharo devido aos laços

históricos e culturais que a nossa região tem com essa leguminosa. A planta do chícharo adapta-se bem aos nossos solos, e os chícharos fazem parte da história da alimentação dos nossos antepassados e queremos que essa seja uma forma de regressar às origens, saboreando os vários pratos tradicionais que se podem confeccionar com chícharos”. De realçar que a Junta de Freguesia pretende divulgar o festival em larga escala, pelo este evento levará o nome da nossa vila aos meios de comunicação regionais, e está certa de que “as gentes de valores da freguesia irão demonstrar a sua capacidade de receber bem, com qualidade, com brio, com identidade e com a boa disposição, com um copo de vinho da região, com a broa caseira, e claro está… com um valente prato de chícharos, acompanhados com uma valente posta de bacalhau, e tudo, bem untado com o azeite das oliveiras da nossa serra…”

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Serra ACADÉMICOS

Por Sónia Santos*

E amanhã? É verdade quando se diz que os “tempos de escola” são o melhor que podemos ter, assumimos alguma responsabilidade sobre nós próprios aprendendo a gerir a independência e crescendo muito com ela. É sem dúvida uma boa fase da vida, mas quando se chega ao último ano começa a perder algum encanto pois a realidade que se avizinha é desejável mas pode não ser tão boa. Afloram sobre nós outros pensamentos: o que abarcámos ao longo de tanto tempo de estudo e consequentemente o que se ambiciona fazer no futuro mais que próximo. Mas a realidade é amarga, o desespero na procura de um emprego é grande e quando algo aparece nem sempre é o que ambicionamos fazer. Chamar-me-ia ingénua se não

tivesse a noção de realidade bem presente, capaz de dissuadir a minha escolha profissional. O que aprendemos no ensino superior não nos prepara inteiramente para o “mundo do trabalho”; é entrando nele que se complementam saberes amestrando profissionais. É verdade… eu, nós, podemos aparentar inexperiência, mas temos novas capacidades e conceitos capazes de – sem grande dificuldade justificar um emprego. Posso proferir com mais certeza na área a que estou ligada: o Design. Sinónimo de inovação, qualidade e conhecimento vasto, trazendo benefícios quando integrado na vida social / empresarial. O Design em Portugal é uma “disciplina recente” - só após a revolução

Banur - bancos de rua - Trabalho colectivo desenvolvido em parceria com a empresa Larus-Design Urbano.

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de Abril de 1974, foram criados os primeiros cursos superiores de design nas escolas de Lisboa e Porto. Para muitas pessoas é algo desconhecido, para outras algo curioso, para grandes empresas uma necessidade, mas para pequenas e médias empresas um “esbanjar dinheiro” pois ainda desperta dúvidas e desconfiança. Subsiste uma vincada falta de convicção por parte da vida empresarial quanto ao trabalho que o Design pode elaborar e as vantagens que pode oferecer, tanto a nível de gestão empresarial detectando falhas e sugerindo soluções, como em relação ao factor inovação. O qual vai contribuir para trazer melhorias com vista à conquista de vantagens competitivas. Neste campo, a inovação consiste na procura de novas ideias através de fontes internas e externas e métodos de criatividade… só que “inovar fica caro”e por isso melhores recursos e desenvolvimento não acontecem no seio de muitas empresas. Apesar de tudo, é uma má forma de pensar - o Design traz mais custos para empresa/organização e por isso os produtos terão de sair com mais esse valor acrescentado – que reflecte uma mentalidade desactualizada pois mesmo que ele possa aumentar o custo dos produtos aumenta também o seu valor, pois todos os produtos nascem do trabalho conjunto de várias áreas que o Design também acompanha. Ele não é uma disciplina isolada, é uma disciplina que se cruza com muitas outras, o que vai conferir aos produtos uma maior fiabilidade, satisfação e confiança por parte do receptor – o alvo. A todos os que podem necessitar deste tipo de serviço, não hesitem. Uma boa imagem e qualidade dos produtos garantem o sucesso de uma empresa. *Estudante finalista da Licenciatura de Design na Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha, residente na Pinheiria.


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Empresa da terra e das terraplanagens, “aterrou” na internet

www.aterrodovale.pt A empresa Aterro do Vale Transportes e Terraplanagens Lda, sediada na Quinta do Salgueiro, criou hà bem pouco tempo o seu espaço na internet. Este site, com dominio em www.aterrodovale.pt, encontra-se dividido em oito secções, e prima sobretudo por ser simples, funcional, directo e eficaz, um pouco à imagem da empresa. Conhecer os trabalhos, ver fotografias dos mesmos, conhecer a localização da empresa, a frota, os serviços prestados, os contactos, a simbologia do logotipo, e a história da empresa, tudo isto está disponível neste site. A fachada frontal da nova sede da empresa, dá imagem ao fundo de todas as páginas, num misto de cor e de azul e vermelho, cores da empresa, bem expressas no logotipo.

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Serra AGENDA

“Em Novembro, prova o vinho e planta o cebolinho”

Agenda de Novembro Domingo, dia 29 (Outubro) Divisão de Honra A.F.Leiria Alq. Serra - U.D.S.

Domingo, dia 12 Divisão de Honra A.F.Leiria Guiense - U.D.S.

Domingo, dia 5 Divisão de Honra A.F.Leiria U.D.S. - Beneditense Almoço de Angariação de fundos para apoio aos Bombeiros, na sede da Associação Social do Ulmeiro.

Domingo, dia 19 Divisão de Honra A.F.Leiria U.D.S. - Marrazes

Sábado, dia 11 Festa de aniversário e comemoração do São Martinho na Associação Cultural e Recreativa do Sobral. Festão de S. Martinho também na sede da Associação da Casa do Povo.

Sexta, Sábado e Domingo, dias 24, 25 e 26 Comemoração do dia da Freguesia com a realização do Festival do Chícharo, no Parque Desportivo da União Desportiva da Serra. Domingo, dia 26 Divisão de Honra A.F.Leiria Fig. Vinhos - U.D.S.

O Mar

IMPRESSÃO Mirandela SA TIRAGEM 2 500 exemplares PATROCINADORES PERMANENTES Construções J.J.R. & Filhos, S.A. LubriFátima MaiaPerfil - Matalomecânica, Lda. Lena Construções JRP/TPB Casa Costa Clinifátima Iriamédica

A sua opinião conta. Agora a VOZ DA SERRA disponibiliza um endereço de correio electrónico que pode usar para nos fazer chegar as suas opiniões, notícias e impressões. O endereço é: vozdaserra@regiaodeleiria.pt

Rasguei os laços Que me prendia ao mar Virei-lhe as costas E fiquei comigo a chorar

Atravessei as dunas E fui mergulhar Ouvi meus ecos E brinquei com o mar Atravessei a ponte A nadar Olhei para trás Era o mar a ralhar Leonel Jorge Pedrome

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PUBLICIDADE Alda Moreira

Participe

Pisei a areia ressequida E temi pela vida Ouvi o mar E não lhe dei despedida

Nas ondas do mar Ouvi seu marulhar Entrei dentro de mim E só ele me fez sonhar

TEXTOS, FOTOGRAFIA e PAGINAÇÃO Amândio Santos

Esta revista é um suplemento local que integra a edição n.º 3632, de 27 de Outubro de 2006, do Semanário REGIÃO DE LEIRIA e não pode ser vendida separadamente.

No marulho das ondas Ouvi meu mar Ser onda a derramar-se Na afluente do meu senhor

Ô nobre mar De agua salgada Que és fontes de poesia Por poetas declamada

FICHA TÉCNICA DIRECTOR Francisco Rebelo dos Santos DIRECTOR-EXECUTIVO Pedro Costa

Mantemos ainda em funcionamento um Ponto de Apoio ao Leitor na Papelaria Bemposta, no centro da vila de Santa Catarina da Serra. Porque a participação activa dos nossos leitores é essencial, tem duas plataformas possíveis de colaboração. Queremos ouvi-lo sobre os assuntos que gostaria de ver abordados, para enriquecer esta publicação, podendo ainda abordar outras questões que considere pertinentes.

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