
14 minute read
Livros Romances protagonizados por estudantes
romances em que estudantes são protagonistas
Já pensaste alguma vez “a minha vida de estudante dava um livro”? A Forum Estudante traz-te uma lista de romances onde os estudantes são as personagens principais
Advertisement
A literatura tem muitos propósitos. Pode levar-nos a viajar para mundos mágicos ou pode ajudar-nos a compreender quem nos rodeia. Pode servir para nos avisar de um perigo, mostrando-nos uma possibilidade que não antevimos. Pode oferecer-nos empatia por situações que nunca atravessaríamos ou pode mostrar-nos uma sensibilidade que estava ainda por descobrir. Quando as personagens principais são estudantes como tu e também têm trabalhos de casa para fazer, fica mais fácil compreender alguns porquês e algumas situações. Bom, na verdade, para contar uma boa história, nem é preciso que essas personagens estejam na escola, mas só por serem estudantes já têm um bom elo de ligação contigo. Deixamos-te aqui sete romances em que as personagens principais são estudantes. Com qual te identificas mais? E qual é a que te é mais distante?
#1 À Espera no Centeio, J.D. Salinger (1951)
Holden Caulfield poderá não ser um excelente aluno, mas tem sido uma leitura obrigatória para qualquer adolescente desde a publicação de À Espera no Centeio, principalmente devido às temáticas da angústia e da alienação, bem como a sua crítica à superficialidade da sociedade. Expulso da sua escola, Holden passeia-se por Nova Iorque durante três dias, explorando os meandros da pequenez humana, e a sua odisseia acaba por tornar-se a nossa.
#2 Retrato do Artista quando Jovem, James Joyce (1916)
Esta obra segue a vida de Stephen Dedalus enquanto cresce e se vai desenvolvendo, culminando no seu despontar enquanto artista. Como seria de esperar, há um grande enfoque na vida escolar de Stephen, desde um colégio de jesuítas até à vida universitária. O próprio estilo da escrita evolui com a idade da personagem, procurando assim refletir o seu estado de espírito e as suas inquietações.
#3 O Jovem Törless, Robert Musil (1906)
Na verdade, o título em alemão poderia ser traduzido como As Confusões do Jovem Törless, o que ganha relevância quando constatamos que é precisamente do que esta obra trata: as confusões interiores de um jovem aluno de um colégio interno austríaco. O jovem Törless procura compreender os valores morais da sociedade e o seu significado, nesta história desinibida, que não se poupa a retratar o bullying entre colegas.
#4 Crime e Castigo, Fiódor Dostoievski (1866)
Um dos “romances psicológicos” mais famosos de Dostoyevsky, Crime e Castigo centra-se na angústia mental e nos dilemas morais de Raskolnikov, um estudante pobre em São Petersburgo, que engendra um plano para cometer um crime “justificado”. A culpa e a Paranóia que se seguem conduzem o leitor por uma viagem voraz pela cidade decadente e pelas profundezas do abismo humano.
#5 O Senhor das Moscas, William Golding (1954)
Um bando de alunos ingleses são os únicos sobreviventes de um desastre de avião, que os deixa sozinhos e abandonados numa ilha deserta. Se, a princípio, ficam maravilhados com o facto de não terem qualquer supervisão e procuram forjar a sua própria sociedade, a realidade depressa toma conta deles e traz à tona o seu lado mais primitivo. As tensões entre as dinâmicas de grupo e a individualidade de cada um, entre as reações emocionais e racionais e entre a moralidade e imoralidade asseguram que esta é uma leitura recheada de ação e de matéria para reflexão.
#6 Sinais de Fogo, Jorge de Sena (1979)
Uma das melhores obras alguma vez escritas na língua de Camões, Sinais de Fogo conta a história do estudante Jorge e a maior parte da ação decorre no verão de 1936, na Figueira da Foz, para onde vai passar férias em casa de um tio. Aí se apaixona por Mercedes, desperta para a política e se descobre como poeta. História de iniciação e romance inacabado, Sinais de Fogo é um marco na literatura portuguesa pelos seus excessos e transgressões, bem como pela capacidade de mostrar a vida tal como ela é: contraditória e paradoxal, sagrada e profana, superior e mesquinha.
#7 O Sétimo Herói, João Aguiar (2004)
Para quem sonha viajar para mundos fantásticos e repletos de magia, O Sétimo Herói de João Aguiar é a agência de viagens certa. Jorge tem 18 anos e, em bom rigor, é uma excelente definição do que é um nerd: usa óculos, é apaixonado pela leitura e sofre de uma timidez crónica junto das raparigas. As suas aventuras no mundo mágico de Lysitaya são uma reviravolta inesperada, onde encontrará elfos, monstros, princesas e dragões (nomeadamente um dragão que adora fazer palavras cruzadas!), sempre descritas com um sentido de humor muito característico.

Depois do sucesso de “Mundu Nôbu” (2018), Dino d’Santiago não perdeu tempo e, 18 meses depois, lançou o novo álbum “Kriola” que, durante o último mês, foi lançado em formato físico. Pelo meio, lançou ainda o EP “Sotavento”, numa intensidade produtiva que diz ter sido uma das suas grandes aprendizagens recentes. Em conversa com a FORUM, o músico natural de Quarteira explica a importância da redescoberta das suas raízes, sublinhando como o seu trabalho procura afirmar a crioulidade como uma riqueza partilhada.


Em entrevistas passadas, já descreveste o “Kriola” como o teu “álbum mais ativista de sempre”. Pensando nos leitores da Forum, que são estudantes do secundário e superior, quais são as mensagens que gostarias de ver associadas a este trabalho?
A comunidade estudantil pode resolver muitos dos problemas de hoje, nomeadamente no que toca à falta de informação. Quando se ouve a expressão “crioulo” ou “crioula” associa-se logo ao negro, a Cabo-Verde ou à Guiné. E gostaria de deixar bem claro que o disco tem o nome de “Kriola” porque é, precisamente, a representação de uma geração de mistura. Crioulo não é mais do que isso – é uma mistura entre o ocidente e, neste caso, a África dos Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa (PALOP). Mas a base lexical do crioulo é 70% português. Há muito mais que nos une do que aquilo que, muitas vezes, pensamos. Nesse sentido, o “Kriola” começa por desmistificar o que é a crioulidade, ao acreditar nessa “gerason di oru” que veio para fazer a mudança. Atualmente, vais no metro e ouves os miúdos a cantar os temas do Julinho [KSD] e sentes que a linha de Sintra é – como destacamos no disco – uma linha onde se fala a língua da Cesária. A mensagem é não ver isto como algo menor, como se fez durante muito tempo, quando se sentia que era menor por vir dos subúrbios. Recentemente, tive oportunidade de fazer parte de uma ação, na prisão do Linhó, onde houve uma formação de crioulo. É proibido falar-se crioulo nas prisões, pelo facto dos guardas não perceberem a língua. Nessa formação em que participei, guardas e reclusos puderam aprender um pouco de crioulo. Penso que é esse o futuro: através da educação, conseguir desmistificar. O crioulo é tão português como cabo-verdiano, como guineense, como são-tomense ou como moçambicano. Esse é um dos princípios base que eu espero que as pessoas possam sentir quando escutam o Kriola: Entrem na roda, fazemos todos parte da mesma cachupa.
Afirmaste também sentir que a tua geração é uma “geração que se une pela igualdade”. Olhando a geração seguinte, a dos nossos leitores, como é que achas que os estudantes do secundário ou do superior vivem esta dimensão da mudança?
A manifestação Black Lives Matter já se tornou o maior movimento da história da humanidade, ou seja, aquele em que mais países se juntaram em prol de uma causa. A beleza dessa manifestação foi que nela não se encontravam apenas negros. Várias culturas uniram-se em prol de uma justiça, de abordar uma questão que já é antiga e que é, finalmente, falada pelo mundo, com mais verdade. Isto independentemente de existirem opiniões contrárias. É possível encontrar essa vontade de sentir um mundo mais justo, em várias causas – LGBTQI+, feminismo, racismo… Sinto que todas essas manifestações e movimentos estão cada vez mais claros e presentes nas nossas bocas. Já não é um tempo como o dos meus pais, em que se dizia para não se falar de política, por exemplo. Hoje em dia, vejo que nós, jovens, falamos sem esse medo e acho que será isso a fazer a diferença no futuro. Ao sentires que, nas escolas e universidades, há uma vontade de reescrever a História, de tocar na ferida sem receio, para que ela sare com dignidade. Tocar nesses tópicos, tanto nas salas de aula como fora delas, vai fazer toda a diferença. E acho que não precisamos de esperar que as universidades e escolas metam esses assuntos nos sumários. Podemos tomar nós a iniciativa, através dos nossos fóruns, dos nossos encontros de jovens, debatendo estes assuntos que são, cada vez mais, de todos nós.
Ainda sobre o “Kriola”, face ao teu trajeto até aqui, o que é que sentes que este trabalho significa do ponto de vista da tua criação musical?
Musicalmente, este álbum é o realizar de uma grande mudança. Durante muito tempo, na minha vida, fui um daqueles que dizia “preciso que a inspiração chegue” ou “preciso de me inspirar”. Aprendi que tens de dar lugar e preparar o cenário para que a inspiração aconteça. Tens de ter a disciplina de criar um horário, para trabalhar em estúdio, todos os dias, independentemente de sair uma rima ou um som inteiro. No fundo, aprendi que tens de criar oportunidade para que a inspiração aconteça com a integridade que ela merece. E não ficar à espera que caia do céu. Para mim, foi essa a grande lição que o “Kriola” me deu e que tenho mantido desde então – continuo a criar diariamente, a fazer colaborações... É um disco que vive do que eu sinto, mas que respira muito através daquilo que os produtores sentem também – o Seiji, o Nosa Apollo, em Inglaterra, o Kalaf, em Berlim, o Branko e o Pedro [da Linha], aqui em Lisboa. E de músicos de Cabo-Verde como o Djodje, que fazem parte desta receita. Faço sempre questão de frisar que esta é a minha história, mas narrada por várias mãos.
Ao longo da tua carreira, passaste por vários projetos musicais. Consegues identificar o momento em que sentiste que tinhas encontrado uma voz? Em específico, o contacto com as tuas raízes teve algum papel especial nesse caminho?
Eu sinto que Cabo-Verde me deu, finalmente, a minha voz. Visitei Cabo-Verde com o objetivo de sentir a sua energia, de perceber porque é que meu pai queria viver a sua reforma lá. Ele saiu de Cabo-Verde [para Portugal] em busca de uma vida melhor. E eu tinha aquelas questões: “Pai, será que valeu a pena?”. Ao que o meu pai respondia: “Vocês, meus filhos, são o resultado e a resposta positiva ao sacrifício que fiz ao sair da minha terra, do meu chão”. Eu quis perceber
o porquê de ele querer voltar. Já como adulto, percebi que, em Cabo-Verde, o tempo pára. As pessoas têm tempo para conversar, as casas estão sempre abertas, prontas a receber mais uma pessoa. As crianças são educadas também por todos os vizinhos, porque os vizinhos são família. Isso fez com
que me sentisse parte do que encontrei, ao entender aquela dinâmica. Senti que não sou diferente. Eu nem me apercebia o quão diferente me sentia, em Portugal. Cada vez que entrava numa loja ou num supermercado e tinha os seguranças a seguir-me. Eu achava que aquilo era por ser um “puto do bairro”. Mas não, quando cresces, percebes que a tua tez cria uma dinâmica ao teu redor. E essa dinâmica fez com que, quando cheguei a Cabo-Verde, sentisse: “Eu posso ter duas pátrias”. Eu posso ter duas raízes e honrá-las. Honro muito a minha raiz portuguesa, que me deu a língua que falo, e a minha raiz cabo-verdiana, que me deu a alma para me exprimir sem receio. Esse casamento enriqueceu-me e tento passar isso para todos.
Ainda sobre o teu percurso, consegues identificar o momento em que soubeste que a música era a tua vocação?
Durante muito tempo, sobretudo durante a minha adolescência, segui muito mais a área das artes plásticas. A música esteve sempre presente, como participava na Igreja e cantava nos coros… Mas a pintura e ilustração também. Sempre fui um grande fã de Salvador Dalí e de Magritte, vivi muito o surrealismo. E, depois, a fase em que a Anime e a Manga entraram em Portugal. Muito do dinheiro que ganhava durante o ciclo era fazendo desenhos do Dragonball que vendia aos meus colegas (risos). Também participei em vários concursos estudantis na área da ilustração e cheguei mesmo a vencer alguns. Sempre tive essa ligação. Mas isso mudaria, a partir de 2003, quando entrei na Operação Triunfo. Algo que aconteceu muito por acaso, porque ia acompanhar uma amiga de infância, a Carla de Sousa. Depois de entrar no programa, tive professores inacreditáveis que me disseram para aproveitar aquela oportunidade ao máximo. E foi aí que me apercebi: abriu-se um novo caminho que não estava à espera. Eu tinha pensado ir para belas-artes, mas decidi aprofundar o caminho da música e esse esforço refletiu-se no ano seguinte, ao ir para os Expensive Soul, onde fiquei 11 anos. A música entrou desta forma e tive de adiar um pouco o sonho das belas-artes. Mas o que é certo é que tudo o que escrevo tem imagem. E no Mundu Nôbu pude usar essa minha arte, ilustrando todas as canções e juntando esses dois mundos, numa coleção de vídeos que está disponível no YouTube. Procuro sempre isso.
O teu ano de 2019 foi feito na estrada, com muitos concertos. 2020 acabou por ser um corte bastante grande com todos os condicionamentos que existiram. Como foi viver essa diferença?
Eu tenho visto o quão este ano tem sido difícil para muitas famílias, para várias indústrias… Tem sido difícil para toda a gente. Mas a verdade é que, a título pessoal, este foi o ano em que me senti mais realizado. É o ano em que finalmente vou ser pai, vou realizar esse sonho maior, o ano em que pude descansar, refletir, pensar e sentir a mú-
sica com a minha família. Onde pude responder a tempo e horas a todas as questões que me eram colocadas. Onde senti o reconhecimento a chegar, a levar-nos a sítios como o “Colors”, onde fomos os primeiros portugueses a pisar um palco tão desejado como o dessa plataforma. Esse era um dos grandes propósitos, desde o início desta caminhada.
Sendo um ano com tantas condicionantes na área da Cultura, conseguiste dar concertos com bastante público, como no Campo Pequeno, no Festival dos Canais ou na Festa do Avante!, por exemplo. O que é que sentiste nesses momentos?
No Campo Pequeno, foi uma sensação muito difícil. Pela primeira vez, dei um concerto com o público sentado, como se fosse cinema. Vi o pessoal a inventar novos toques com os braços, na cadeira, para tentar, estando sentados, dançar. Ao mesmo tempo, vi a esperança no olhar das pessoas, vi pessoas que choraram com aquele momento. Eu próprio chorei… Depois, no Avante, pude ver aquelas pessoas resilientes e uma produção irrepreensível – entrámos com a carrinha, subimos para o palco, demos o concerto, voltámos para carrinha e fomos embora, sem nos cruzarmos com ninguém. Foi uma produção difícil, porque eles foram muito criticados. Mas o que é certo é que não deixaram a Cultura morrer. Eu vi os técnicos que puderam trabalhar naquele dia, como vieram ter connosco e nos abraçaram sem nos abraçar. Sofremos tantas críticas online, quando se percebe que têm mais a ver com política do que com a preocupação com a vida dos artistas ou dos técnicos. Num sítio para cento e tal mil pessoas, estavam apenas 6 mil, bem separadas, para podermos celebrar a cultura. Foi bonito ver que, quando terminou, nada aconteceu de mal. E isso deu força a outros. Fez com que, por exemplo, chegasse ao Super Bock Arena e encontrasse pessoas bem seguras, sabendo que estavam a viver um momento de Cultura mas com toda a segurança possível. E isso não tem preço.
Há alguma mensagem que gostarias de deixar aos estudantes portugueses?
Recebo muitas mensagens de estudantes universitários e do secundário, que entram em contacto comigo para perceber o que eu digo, para entender coisas em crioulo. Gostaria de agradecer muito os vossos olhares e dizer-vos que, realmente, comunicar com os estudantes dá-me um prazer maior. Porque sinto que, depois, quando transcrevem o que digo, noto paixão no que está escrito. Contem comigo para o que precisarem e quando precisarem.