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Entrevista Presidente da FNAJ fala sobre jovens e política
7 | Forum Estudante | nov’21 /Entrevista
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Numa altura em que se aproxima do final do seu mandato enquanto presidente da Federação Nacional das Associações Juvenis, Tiago Manuel Rego, fala à FORUM sobre os “25 Objetivos da Juventude Portuguesa” criados em 2021 e reflete sobre a ação política da atual geração de jovens e a sua ligação ao associativismo juvenil: “Uma das grandes riquezas do movimento associativo é oferecer-nos horizontes mais amplos”.
Em junho deste ano, uma iniciativa da FNAJ resultou em “25 Objetivos da Juventude Portuguesa” que foram inclusivamente partilhados com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. O que é que nos podes contar sobre este projeto?
Tal como a Forum, a FNAJ também celebra em 2021 uma data redonda – neste caso, 25 anos de existência (risos). Foi essa razão pela qual escolhemos apresentar 25 medidas. Este projeto surge no seguimento de outras agendas internacionais, como os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)
ou os European Youth Goals. Quisemos perceber se, no caso dos jovens portugueses, o mapeamento de objetivos era semelhante ou muito desfasado dessas agendas. Estes objetivos foram criados através de um longo processo de maturação, com cimeiras e fóruns online, em que, no total, foram envolvidos mais de 1000 jovens. No final, foram selecionados 25 jovens, de todos os distritos e regiões autónomas, que deram a cara pelos 25 objetivos a propor.
Sobre a ação política dos jovens de hoje, pensas que os jovens estão especialmente despertos para questões como o ativismo digital? E que impacto tem essa ligação no associativismo juvenil?
Há muito que percebemos que as formas de participação da minha geração e das próximas que virão serão muito diferentes das que já cá estão há mais tempo. Não só porque hoje temos o ativismo digital, mas também porque temos formas de estar e comunicar diferentes. Hoje em dia, vemos cada vez mais a arte como
E pensas que estas novas formas de participação têm implicações nas ações políticas dos governantes?
Creio que não têm ainda na medida certa. Se esta participação digital não passar de uma indignação que não resulta em mudanças políticas, aí nós, jovens, tempos de perceber se teremos de adotar formas diferentes de participar e reivindicar os nossos direitos. Isto sob pena de essa reivindicação não se traduzir na melhoria da qualidade de vida dos jovens.
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O associativismo juvenil pode ser um caminho para encontrar essa representação mais eficaz?
Não tenho dúvidas nenhumas. O associativismo é a forma mais genuína e espontânea de Podes conhecer os 25 Objetivos uma sociedade se expressar. Seja através da da Juventude participação Portuguesa aqui: de jovens ou não jovens. É uma expressão objetiva, porque estamos a falar de organizações formais, constituídas, e que não representam um só indivíduo, mas também um coletivo. Portanto, têm uma força de expressão e reivindicação muito superior ao que pode ser a nossa inquietação pessoal numa rede social. É nesta medida que queremos que as associações juvenis e estudantis sejam determinantes na forma de participar na sociedade.
Quais são as vantagens que um jovem pode retirar ao participar no movimento associativo?
O primeiro ponto é que participar no associativismo juvenil aumenta o seu núcleo de amigos. É possível encontrar amigos que pensam de forma idêntica e de forma diferente. Em segundo lugar, existe o desenvolvimento pessoal, as competências pessoais adquiridas, em áreas como gestão de projeto, gestão de equipas ou falar em público, por exemplo. Há ainda um vetor
forma de crítica social e intervenção política, seja através da música ou das artes plásticas, por exemplo. Vemos jovens que também fazem isso com a partilha de memes, que pode ser vista como uma forma de participação política. A questão que se coloca sempre – e esta deve ser uma preocupação dos jovens – é se estas novas formas de participação têm implicações nas ações políticas dos governantes.
muito importante que é a diferença que fazemos na sociedade. No associativismo, estamos a colocar parte do nosso tempo ao dispor de uma comunidade, seja numa associação ambientalista, cultural ou de voluntariado, por exemplo. Uma das grandes riquezas do movimento associativo é oferecer-nos horizontes mais amplos. Não tenho duvidas que marca quem por lá passa.
Referiste que esta é uma geração marcadamente solidária. O que te leva a afirmá-lo?
Eu penso que as causas que os jovens abraçam mostram isso. Atualmente, os jovens batem-se muito pelo ambiente. O ambiente não é uma causa individualista, estamos a falar da proteção da casa de todos nos que é o planeta. De igual forma, os jovens têm-se insurgido permanentemente contra abusos de direitos humanos, injustiças ou desigualdades. Os movimentos Black Lives Matter, nos Estados Unidos, bem como outros, noutros países, mostram isso. Esta é uma geração que tem procurado um mundo mais justo e igual, que tem procurado estar na linha da frente destas batalhas e levar a sociedade a reboque. Outro exemplo é visível no papel dos jovens durante o confinamento resultante da pandemia da Covid-19, disponibilizando-se para apoiar as po-
pulações mais fragilizadas. Só espero e desejo que este ímpeto dos jovens seja um fator transformador da nossa sociedade. Eu acredito que seremos capazes de fazer isso mesmo.
O associativismo é a forma mais genuína e espontânea de uma sociedade se expressar
Acreditas que a pandemia pode ser uma oportunidade para levar os jovens a redescobrir a ação comunitária, associativa e de impacto direto na comunidade?
Não tenho dúvidas disso. Penso que as nossas associações podem tirar partido disso e já estão a tirar, envolvendo uma nova geração que tem procurado ser uma nova solução para quando o país atravessa um problema. Apenas esperamos que esta veia solidária tenha um reverso da medalha, que a sociedade olhe para nós e tenha consciência de que precisamos de oportunidades para nos afirmarmos. Não estamos de mão estendida, não pedimos nada dado, nada que não seja justo. Só esperamos é que sejam geradas oportunidades para mostrarmos as nossas competências e potencialidades. Estamos cansados de ser uma geração de rótulos, como a “geração mais bem preparada” e “mais bem qualificada”, sem que isso se traduza em melhor qualidade de vida, melhores empregos e, acima de tudo, num futuro melhor. Basta de rótulos, queremos apenas concretizar os nossos sonhos e ser felizes. Se a sociedade não conseguir perceber isso, caberá a nós, jovens, ocupar lugares de decisão para que consigamos mudar essa realidade, sendo os agentes e protagonistas desta mudança, através de uma postura política ativa e de participação cidadã.
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Há alguma mensagem que queiras deixar aos estudantes portugueses?
Sim. Acima de tudo, que nunca deixem de expressar as suas ideias e opiniões. Mesmo que pareçam disruptivas, pois é uma caraterística fundamental da juventude ter ideias fora do nosso tempo. É essa a missão que nós, jovens,
temos: desassossegar quem cá está. E apresentar sempre visões diferentes sobre a sociedade. A participação em associações de estudantes e em associações juvenis é um veículo fundamental para afirmarmos a nossa voz. A minha mensagem é essa. Não percam a vossa voz, pelo contrário, partilhem-na sempre. Há sempre espaço para as ideias, sejam elas mais disruptivas ou mais utópicas.
Entrevista a São Martinho:
«Não gosto de castanhas. Prefiro um bom faisão»
São Martinho de Tours, antigo soldado romano, é hoje santo padroeiro de várias profissões e figura indissociável de uma das épocas altas do outono. A FORUM encontrou um bem-disposto São Martinho, inevitavelmente, num magusto, e teve oportunidade de lhe colocar algumas perguntas.
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Pode explicar-nos a lenda associada ao seu nome?
Claro que sim. No ano de 337, fazia-se sentir um outono duro e frio. Eu, que era cavaleiro à época, estava de regresso a casa quando encontrei um pedinte no caminho. Uma tempestade de neve fazia-se sentir à nossa volta. Foi então que, com a minha espada, cortei em dois o meu manto, oferecendo metade ao mendigo. Reza a lenda, lá está, que nesse momento um sol radioso começou a brilhar. Uma espécie de verão de São Martinho, modéstia à parte (risos).
E o que é que isso tem a ver com castanhas?
Bem, isso é uma excelente questão. É preciso ver que o Dia de São Martinho é festejado um pouco por toda a Europa e que as celebrações variam de país para país. Na Suécia, por exemplo, come-se ganso assado, imaginem (risos). De facto, em Portugal, há a tradição da jeropiga, da água-pé e das castanhas – uma tradição que penso que já existia nas comemorações do Dia de Todos os Santos. Eu nem gosto muito de castanhas. Prefiro um bom faisão. É um gosto que ficou dos meus tempos de caçador, quando era soldado do império romano, antes de ter escolhido a vida eclesiástica.
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Há também vários ditados com o seu nome, em Portugal. Um deles tem a ver com vinho…
Ah, sim. “No dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho”, não é? É um provérbio bastante ligado às características de Portugal, um país com muitas adegas, como sabemos. Aliás, entre provar o vinho, beber jeropiga e água-pé, o Dia de São Martinho em Portugal pode ser uma coisa perigosa (risos). É melhor comer mais qualquer coisa do que só castanhas. Um faisão, por exemplo. Mas a verdade é que sou também santo padroeiro dos produtores de vinho, entre outras profissões. Portanto, faz sentido a associação.
Entre outras profissões? De quantos ofícios é padroeiro?
[entusiasmado] Ui! Portanto, sou padroeiro dos mendigos, por razões óbvias. Também por razões claras sou padroeiro dos cavaleiros e soldados. Não deixa de ser curioso que sou padroeiro dos curtidores, peleteiros e alfaiates. E esta? A verdade é que cortei o manto ao meio com uma técnica irrepreensível, devo dizer! E efetivamente vesti alguém (risos).
Outra das lendas associadas é o verão de São Martinho…
[interrompe] Deixem-me interromper para dizer que estou algo farto de ser responsabilizado pelas ocasiões em que esse verão não se concretiza. Quer dizer, estamos em novembro, estão à espera de quê? E países como Portugal e Itália nem têm muitas razões de queixa. No Reino Unido, a expressão “verão de São Martinho” também existe. Agora tentem fazer com que não chova durante três dias em Londres. [silêncio] Pois, acho que está tudo dito.