Segundo andar ThaĂs Pimenta
O segundo piso da Antiga Rodoviária de Campo Grande está sendo ocupado por lojistas alternativos, uns vendem LP’s e livros, outros, camisetas e acessórios de artesãos do Estado. Alguns constroem estúdios de música e fotografia que funcionam 24 horas todos os dias da semana.
O prédio é privado e está parcialmente desativado desde janeiro de 2010. Muitos comerciantes do Terminal Rodoviário Heitor Eduardo Laburu só esperam pela revitalização. Porém, os que ocupam o segundo andar tem outra ideia: transformar o espaço em uma espécie de Galeria do Rock.
Um local independente que valorize e fomente a arte e cultura, sem influências políticas. O primeiro andar continua com as mesmas características que tinha quando o terminal ainda funcionava como uma Rodoviária, lojas tradicionais de roupas são maioria. Alguns lotes de lojas contin-
uam fechados ou abandonados, cenário que percorre todos os pisos do prédio, Recentemente a assessoria da Prefeitura de Campo Grande afirmou ter a intenção de transferir três secretarias, a Fundac (Fundação Municipal de Cultura), a Emha (Empresa Municipal de Habitação) e a Funsat (Fundação Social do Trabalho). A decisão, se aplicada, pode afetar os lojistas do segundo piso, obrigandoos a sairem de suas lojas. O movimento no local é baixo. Esse cenário só muda em dias de eventos realizados pelos empresários.
Lojas do primeiro andar do Terminal Heitor Eduardo Laburu
O prĂŠdio conta com mais de 216 salas e continua parcialmente desativado
A Maloca Querida é uma das lojas do segundo piso do antigo terminal. Ela tem um ideal, fomentar a Cultura hip hop e o urbano. O rap feito por Mc´s e grupos locais, o grafitti e o artesanato de rua. Idealizada por duas mulheres, Suzamar Rodrigues e Lidiane Lima, o espaço procura valorizar os artistas de Campo Grande, seja promovendo shows e batalhas de rap, seja vendendo camisetas criadas por estilistas da cidade. “O ponto é histórico. E a gente nota, infelizmente, que muitas pessoas tem medo de entrarem aqui por causa do abandono do prédio, da marginalização”. Ela con-
tinua, “quem vem aqui sem torcer o nariz é o pessoal da arte e cultura. Eles dão valor a cada detalhe do local, ao cinema, que tem uma capacidade gigantesca, vão perceber que o ladrilho daquela parede é histórico, esses detalhes”. Lidiane enfatiza o seguinte, “A gente que é do hip hop, uma cultura ainda marginalizada, não podemos nos envolver com a política. Aconteceu de fazermos um evento de rap e um dos meninos criticou a polícia e o ex-prefeito de Campo Grande, os policiais invadiram o evento e levaram todos pra delegacia. Por que? Porque era um evento que estava sendo apoiado pela Prefeitura”.
A empresária, que era otimista em relação ao destino do prédio, reclama da intervenção da portaria nos hórarios de encerramento do comércio no local. “Agora temos horário para fechar e não conseguimos mais realizar nossos eventos”. Suzamar comunicou que a Maloca Querida seria fechada por conta de alguns problemas com o prédio. “Notamos muito preconceito por parte dos gestores do prédio e com isso não conseguimos funcionar direito, pagar nossas contas”, disse. Os responsáveis pelo prédio não quiseram se manifestar sobre o assunto.
Produtos em exposição na loja, são camistas, bonés e até LP’s.
Subcultura Records
Difícil é definir a Subcultura Records. O espaço abriga um sebo de livros novos e usados, CDs de todos os tipos, DVD de filmes e séries, vinis e até camisetas atraem a atenção dos visitantes que passam pelo prédio. Pietro Luigi e Yasmin Santiago são sócios e alugam a loja de um amigo conhecido. “Meu sonho de construir esse espaço só se tornou possível por conta do aluguel, que é mais barato do que no centro da cidade. Mas esse preço baixo é fruto de pouca movimentação no local e tempo determinado para a loja abir e fechar”, diz Pietro. Esse é uns dos problemas que os lojistas se depararam.
A portaria, responsável pela segurança interna, está fechando os portões de entrada ás 18 horas, obrigando que os comerciantes encerrem suas atividades no mesmo horário. Entretanto, Pietro afirma, “temos um público certo, que costuma nos visitar semanalmente atrás de novidades” Parte dos artigos da loja vi-
eram do acervo pessoal do próprio proprietário, que sempre foi colecionador de LP’s e discos. “Trabalhei por muito tempo em sebos da cidade e em livrarias, isso me ajudou a entender esse mercado e também a montar meu estoque da loja”, explica ele.
Alguns produtos Ă venda na SubCultura
Artigos disponíveis na loja, são camisetas, vinis e DV’s
CD’s de todos os estilos estão à venda por um preço mais baixo que de mercado
Idealizado por João Alves Ribeiro, o estúdio Back Line existe desde outubro de 2013. No espaço funcionam dois tipos de estúdios, um de fotografia, com fundo branco infinito, e outro de música, todo equipado. Para alugar o espaço basta ligar para o empresário -- o estúdio
funciona de segunda a domingo, o dia inteiro. João garante que não encontra problemas com a portaria. “O estúdio funciona somente com agendamento e os porteiros são informados com antecedência sobre esses horários”, explica. O sonho de montar o
comércio em uma área central existia há tempos. “Tinha montado o Backline em casa, mas procurava um local na área central, aí vi a dona Heloisa, que é proprietária de algumas lojas, divulgando e fui atrás”, finaliza.
Paredes históricas A Estação Rodoviária Heitor Eduardo Laburu foi um terminal rodoviário que funcionou no bairro Amambaí, região central da cidade. Na época que foi inaugurado, no dia 16 de outubro de 1976, o imóvel possuía características de arquitetura moderna,. Com suas duas salas de cinema (Cine Center e Cine Plaza), moderníssimas à época, a rodoviária se transformou logo em um dos principais pontos de encontro da cidade. A construção da rodoviária foi marcada por três momentos importantes antes de sua
inauguração. O primeiro deles ocorreu em 14 de janeiro de 1973 quando o então prefeito Antônio Mendes Canale autorizou o funcionamento da plataforma interurbana, embora menos de um terço de toda a obra tivesse sido concluída. O segundo momento aconteceu em 15 de maio de 1975 quando foi inaugurada a plataforma urbana, na administração do prefeito Levy Dias, a terceira e última fase foi marcada pela entrega dos terminais e condomínio. A construção de todo o complexo durou quase nove anos -- de dezembro de 1967 a outubro de 1976 - e
foi então avaliada em aproximadamente 1,5 milhões de cruzeiros (moeda da época). Projeto do arquiteto Adyr de Moura Ferreira, professor da Faculdade de Lins, teve como base construções feitas em São Paulo e Rio de Janeiro e, na ocasião, foi considerado arrojado e moderno. Os administradores dizem que somente do período de 1994 a 2008, mais de 11,5 milhões de passageiros utilizaram o serviço de transporte. Diariamente, cerca de 500 ônibus passaram pela rodoviária e o fluxo de pessoas fica em torno de duas mil.