Caroline Carvalho
HOJE TEM FEIRA!
Prática de Reportagem Fotográfica Orientação: Silvio Pereira Campo Grande - MS
UFMS - Unviersidade Federal de Mato Grosso do Sul Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo Disciplina de Prática em Reportagem Fotográfica Orientador: Silvio Pereira Fotos e tratamento de imagens: Caroline Carvalho Texto e diagramação: Caroline Carvalho
Introdução Com a construção de shoppings-centers, supermercados e a facilidade de se realizar compras online, as antes tão populares feiras livre perdem espaço no cenário urbano. Entre elas, muitos conhecem só a Central. Outros, até passam apenas para comprar algum produto, mas não as veem mais como espaço de lazer. Mesmo assim, as feiras de bairro carregam uma energia que só elas têm, de acolhimento e amizade, contra a impessoalidade e frieza de grandes estabelecimentos comerciais. Barracas cobertas por lonas azuis e amarelas, os produtos variados, que vão desde as frutas e verduras, até roupas, brinquedos e produtos de limpeza, e o som dos ambulantes anunciando os seus produtos e das conversas de todo tipo de gente que frequenta a feira confundem-se com os últimos hits do sertanejo universitário, marcam o cenário inconfundível das feiras livres. Em Campo Grande, são mais de 50 registradas, que funcionam de terça-feira a domingo. Os feirantes não oferecem produtos de marca, mas por outro lado, mantém uma verdadeira relação de amizade com os freguezes. Segundo o casal de feirantes Valcir José de Almeida e Edna Gomes, a cumplicidade é tamanha que, mesmo quando os dois mudaram de feira, os clientes continuaram os procurando semanalmente. “A gente manda as fotos das mercadorias (peças íntimas) para os clientes, e na onde a gente estiver, eles vêm!”, diz Valcir. No geral, os feirantes trabalham de 1 a até 14 feiras por semana, sendo que a maioria deles está no ramo desde criança, seguindo a tradição de gerações na família. Outros, apenas foram atraídos pela liberdade de se trabalhar por conta própria. Nesta reportagem fotográfica, visitei as feiras dos bairros Santa Luzia, Tijuca II, Vila Carvalho e Guanandy para ilustrar a situação atual destas feiras e recontar as histórias de vida de seus comerciantes.
AS FEIRAS Elas funcionam de terça a domingo, de manhã ou à tarde. Logo cedo, os feirantes montam suas barracas que podem ter estrutura de madeira ou ferro. As kombis são usadas para transportar os produtos.
PĂšBLICO Somando aos cenĂĄrios das feiras, encontram-se pessoas de todas as idades, que vestem roupas simples de quem veio de perto, e procuram produtos variados.
ESTRATÉGIAS Com medo da concorrência, os feirantes apostam em novas maneiras para atrair clientela, como barracas mais modernas, promoções e possibilidade de pagamento com cartões de débito ou crédito
FEIRANTES Grande parte dos feirante fazem várias feiras por semana, as vezes chegando a mais de 10. Eles estão no ramo motivados por familiares, ou por preferirem trabalhar por conta própria. Por este motivo, não é incomum ver menores de idade trabalhando.
FERMINIO MENDONÇA Seu Fermínio começou a trabalhar na feira após sofrer um acidente no emprego de Engenheiro Civil, e ser afastado. Desde pequeno, ele cresceu longe da realidade dos consultórios médicos e farmácias, e só teve contato com os remédios na-
turais. Por isso ele os vende agora. Questionado sobre onde compra os produtos, ele diz: “Aqui tem remédio até da Bahia, de Mato Grosso, Goiás. Remédio é igual gente, o baiano, o paraiabano. Cada um tem seu lugar”.
FLAVIO SOARES Flávio Renato Soares trabalha há 22 anos em feiras e já é a terceira geração de sua família nesta profissão. Começou trabalhando com a vó e o pai, e agora tem a própria barraca. Ele conta que o movimento começou a diminuir bastante há cerca de
três anos atrás, e atribui isso principalmente à situação econômica desfavorável: “É a crise, o povo aí não está tendo mais dinheiro na praça hoje não. Está difícil, o dinheiro que o povo ganha, é só para pagar conta!”, diz.
MARIA TEREZA CONCEIÇÃO “Gosto [de trabalhar aqui], mas é forçado. Você gostando ou não, é forçado. Ou você trabalha ou então você perece”. As palavras são de Dona Maria, que começou a trabalhar nas feiras atacadistas em Taveirópolis do Rio de janeiro, após a
aposentadoria do marido. Após seis anos, ela veio para Campo Grande e buscou alternativas vendendo roupas em diversas feiras livres. Segundo ela, o melhor de se trabalhar em feira é que “você conhece muita gente”
NIVERCINO VIEIRA Seu Nivercino é um dos poucos feirantes que produzem as próprias mercadorias. Ele sempre trabalhou em chácaras. Mas, após um tempo, decidiu que queria trabalhar por conta própria. Segundo ele, com 28 anos de feira,
ele tem o privilégio de ter clientes antigos com quem desenvolveu amizade e compram mesmo estando caro, e completa: “Se eu fosse entrar na feira hoje, eu já iria levar pancada, ia entrar, como já vi muitos entrar, entra hoje e sai amanhã”.