Fotografia e arte pública: uma primeira análise Ricardo Mendes Palestra apresentada na UNESPInstituto de Artes em 28.09.1998. Ricardo Mendes é pesquisador em história da fotografia, coordenador da Equipe Técnica de Pesquisas em Fotografia e mestrando pela ECA-USP na linha de pesquisa Ação Cultural, em que desenvolve o projeto Vilém Flusser no Brasil, um programa de difusão da obra do filósofo.
Ao convite para falar sobre o tema arte pública e fotografia, duas reações se sucedem. Uma, de recusa, ao considerar que a fotografia, ao menos no quadro local, não participa do intenso debate sobre arte pública em andamento ao longo dos últimos cinco anos. O impulso contrário, o de aceitar, responde à oportunidade de reflexão, de uma primeira avaliação histórica sobre o tema e, a partir daí, pensar formas de atuação como agente cultural. No entanto, a aproximação destes termos – arte pública e fotografia – implica em alguns paradoxos que merecem algum comentário. Por um lado, o qualifiticativo pública parece ironizar com uma condição que a fotografia inaugura e que é característica das imagens técnicas: a condição de reprodutibilidade. A fotografia torna público, permite a circulação de imagens e a implantação de um sistema de comunicação baseado nas imagens, que desde seu início tem exigido permanente análise. De outro lado, a noção arte impõe a atenção no debate, considerando a relação, por vezes turbulenta, por vezes indiferente, entre arte e fotografia, em suas diferentes configurações nestes quase dois séculos desta mídia. Arte em espaço público Aqui tomaremos como parâmetros para este painel, considerando o breve comentário inicial, o foco sobre a arte pública entendida como arte em espaço público aberto e a análise da fotografia como um todo, propondo assim uma suspensão temporária do conceito de arte, relegando para um segundo momento o debate sobre arte e fotografia. O conceito espaço público merece igual atenção. Dele deriva as noções de livre acesso, associado à idéia de público, e de espaço aberto, em oposição ao espaço da galeria, do circuito de arte convencional. Em decorrência, a aproximação arte + pública visa a promoção do contato casual e eventual com a obra de arte, em nova situação. Uma dúvida poderia ser levantada sobre a inclusão nesta abordagem da “decoração” de espaços públicos como bancos ou exposições nestes locais e outros como shopping centers. Por essa razão fica em xeque a idéia de que o conceito espaço público aberto seja uma definição adequada, uma definição suficiente. Na verdade, o conceito é estritamente operacional para o desenvolvimento deste painel. É necessário confessar a indisposição pessoal perante o tema, considerando o quadro da fotografia no Brasil, em que outras questões parecem impor-se. Entre elas a necessidade premente de pensar o sistema de informação artística como um todo. Desde a relação com a imprensa (crítica especializada) e as instituições de memória (museus) ao mercado de arte (galerias) e o ensino. É neste terreno que a questão do público e do livre acesso deveria ter lugar.1 Além disso, a questão de inserção da fotografia no sistema de arte (e dos estudos sociais) acrescenta certas particularidades ao processo. Entre elas, a luta por espaços próprios em relação a 1
Veja adiante o bloco Arte pública para quê? 1