O conhecimento pessoal: introdução e prefacios

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MICHAEL POLANYI

CONHECIMENTO PESSOAL

Tradução de EDUARDO BEIRA



CONHECIMENTO PESSOAL MICHAEL POLANYI

Tradução e notas

Eduardo Beira IN+ Center for Innovation, Technology and Policy Research, IST (Lisboa)

Inovatec (Portugal) 2013


EQUIPA DO PROJETO

EDUARDO BEIRA

(www.dsi.uminho.pt/ebeira) Senior Research Fellow, IN+ Center for Innovation, Technology and Public Policy (IST, Lisboa). Professor associado (convidado) da Escola de Engenharia da Universidade do Minho (2000-2012) e Professor EDAM (Engineering Design and Advanced Manufacturing) do programa MIT Portugal (2008- 2012). Engenheiro químico (1974, FEUP), foi gestor e administrador de empresas industriais e de serviços durante mais de vinte anos, depois de uma primeira carreira académica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Interesses académicos pelas questões de inovação, desenvolvimento de regiões periféricas, engenharia e tecnologia, indústrias “tradicionais”. ANA PRUDENTE

Designer de comunicação (Escola Supeiror de Arte e Design, 1999)

MAFALDA MARTINS

Designer de comunicação (Escola Supeiror de Arte e Design, 2010).

setembro 2013, edição académica ISBN:

© Eduardo Beira, 2013. All rights. © University of Chicago Press, 1958


AGRADECIMENTOS

TRADUZIR MICHAEL POLANYI: UMA AVENTURA INTELECTUAL E UMA DESCOBERTA PESSOAL Eduardo Beira

1. PORQUÊ MICHAEL POLANYI? Descobri Michael Polanyi quando voltei às lides académicas, no início deste milénio, desta vez na Universidade do Minho, depois de vinte cinco anos envolvido na gestão e administração de empresas, na sequência de uma primeira carreira académica na Universiadde do Porto (1972 a 1982). Tropecei então na obra de Polanyi, ao ler um livro que abriu novas linhas de pensamento e discussão na economia moderna (Nelson e Winter, 1982), em especial a inspiração que estes autores encontraram na obra de Polanyi acerca de competências hábeis, rotinas e aprendizagem, conceitos fundamentais da sua aproximação evolutiva à economia (ver em especial os capítulos 4 e 5 dessa obra). Quase em simultâneo também me deparei com referências a Polanyi noutros autores, em especial Karl-Erik Sveiby (1997), um nórdico importante percursor da corrente atual de “Knowledge Management”, o qual, por sua vez, colheu forte inspiração em Polanyi para a escrita da sua obra e depois para a sua prática de consultadoria. Mandei então vir os primeiros livros, em segunda mão. Fui lendo alguma coisa deles, esporádicamente. No Verão de 2005 comecei a ler Personal Knowledge, durante as habituais férias no Alto Douro e por entre os banhos diários nas termas de Carlão - terei lido então as duas primeiras partes do livro. Mas descobri que Polanyi não se “lê”: antes, descobre-se - e que isso não é assim tão fácil. Exatamente como Polanyi teorizou sobre o processo de intimação para a descoberta, fui descobrindo a intimação do pensamento depois de um processo de descoberta. Também este trabalho de tradução e descoberta nos transformou.

2. TRADUZIR E DESCOBRIR POLANYI Traduzir Polanyi foi uma intimação pessoal decorrente da vontade de compreender e conhecer o homem e o seu pensamento. Como escrevi na nota de introdução para a minha tradução de The Tacit Dimension, “traduzir um pensador como Polanyi passa por um processo íntimo de partilha de ideais e de vivências, de interiorização (indwelling) dos pro-

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CONHECIMENTO PESSOAL

cessos de exploração de ideias e competências associadas”, uma interpelação pessoal, uma “vocação” a que se procurou responder. Depois de traduzir The Tacit Dimension e The Study of Man, envolvemo-nos com a tradução de outras obras e ensaios de Polanyi, em especial da sua fase economista (anos 30), trabalhos que oportunamente serão publicados. Mas um projeto deste tipo Personal Knowledge. Um incentivo importante para traduzir Personal Knowledge veio da atividade docente. Entre 1998 e 2012 ensinei uma cadeira sobre Inovação aos alunos dos vários programas doutorais da Escola de Engenharia da Universidade do Minho. Compreender a inovação passa por compreender os mecanismos sociais e pessoais da descoberta em ciência e na tecnologia - a inovação não é uma questão tecnológica, mas sim uma questão social com grandes implicações económicas. Esta é a mensagem fundamental que procuramos passar nessa cadeira, e por isso não admira que os contributos de Michael Polanyi para compreender os processos de descoberta e de inovação fossem relevantes e tivessem despertado interesse. Motivação que nos levou a preparar uma colectânea de ensaios de M. Polanyi sobre ciência e tecnologia (cuja tradução está em vias de publicação) e que depois contribuiu para nos convencer a meter mãos a esta obra: traduzir a obra mais importante de Polanyi. Foi a isso que nos decidimos abalançar em Novembro de 2012, e a que dedicamos esforços nos meses seguintes. Um ano depois estamos a publicar a tradução. Traduzir Personal Knowledge terá sido um dos empreendimentos mais arriscados a que nos abalançamos na nossa vida académica. Terá também sido um dos mais complexos, estimulantes e recompensadores sob o ponto de vista intelectual. pre consideramos o trabalho de tradução como um trabalho inovador de descoberta e convivialidade intelectual (usando uma expressão poliniana), exigente, mas muitas vezes pouco considerado e valorizado, especialmente entre a comunidade académica das passado tive algumas experiências de tradução técnica, que foram processos de aprendizagem e descoberta, e que me convenceram da importância dessa atividade para o processo de aprendizagem de competências que carateriza a carreira de investigador e de académico. Considerado por alguns (iluminados) como um trabalho “não inovador” e de segunda categoria sob o ponto de vista académico, o trabalho de tradução técnica tem sido infelizmente menosprezado e ignorado nesses meios. Não ignoramos que nos tempos atuais se dá uma importância fundamental ao domídémica em geral) - objetivo que aliás até partilhamos, tanto assim que nos últimos anos leccionamos em língua inglesa quase todas as cadeiras de que fomos responsável. Mas julgamos que essa não é um via de sentido único e que inclusive a tradução técnica pode fazer parte do ciclo virtuoso do domínio de várias linguagens em simultâneo. Há muitas razões para se traduzir uma obra importante do pensamento para língua portuguesa. No caso de uma obra sobre o papel dos compromissos e exigências pessoais na construção do conhecimento, invocamos em primeiro lugar o apelo intelectual e

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PREFÁCIOS

pessoal, de paixão intelectual, com o risco associado que todo o processo de descoberta envolve - e que Polanyi escalpeliza de forma notável nesta obra. Tal como um artista que expõe a sua obra, tomamos a liberdade de ousar propor esta tradução. Esperamos com isso dar um contributo para o estudo do pensamento de Polanyi entre as comunidades de língua portuguesa - um mundo lusófono.

3. TAMBÉM UMA PAIXÃO INTELECTUAL Nascemos em 1952. Tenho ainda viva a memória de episódios do pós-guerra, em que as questões dos perigos atómicos e nucleares eram centrais. Já como jovem vivi a Revolução do 25 de Abril. Mas antes acompanhara com surpresa o Maio de 1968 em França e o período doloroso de guerra colonial em Portugal. Mais tarde veria, com alguma estupefação e grande esperança, cair o Muro de Berlim e desabar a dura arquitetura sóciogerações que tinham acreditado e colocado a esperança de uma sociedade nova numa das maiores experiências sociais e políticas empreendidas pela humanidade, em nome da ciência, da igualdade e da liberdade. Experiência que, como se sabe, acabou destruíPor isso o fascínio pelos anos 50 e pelo período entre as duas guerras. O fascínio pela luta intelectual, política e social entre os fascismos, o comunismo e o capitalismo, a luta pela liberdade democrática, percursora da construção europeia, ao mesmo tempo que o mundo assistia a uma explosão do papel e implicações da ciência e da tecnologia, com as enormes esperanças e expectativas que tal permitia para o futuro da humanidaTudo isso é essencial em Polanyi, na sua trajetória intelectual, nas suas lutas pessoais, na construção do seu pensamento. Michael Polanyi é uma personagem fascinante do século XX europeu, onde se mistura o homem e o académico, e se cruzam os grandes dramas da humanidade no século XX, inclusive ao nível pessoal. Acrescente-se a isso a simpatia simples e amigável que a sua personalidade desperta, algo que se sente ao consultar os seus papéis pessoais (na Regenstein Library, Universidade de Chicago). ciais, foi um renascentista genuíno por entre as tragédias dilacerantes do século XX, um que as décadas vão passando, não só em intensidade como também na variedade das áreas do conhecimento contemporâneo (Beira, 2010, 2010b).

4. NOTAS DE TRADUÇÃO Incluímos algumas notas curtas para melhor esclarecer o sentido original do texto ou para acrescentar alguma informação de contexto. Optamos agora por um formato alternativo para essas notas, incluindo-as no próprio texto, mas dentro de parêntesis retos e disrupção mínima da leitura. da obra original, preparado por Marjorie Grene. É curioso assinalar que algumas entra-

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CONHECIMENTO PESSOAL

das assinaladas no índice não aparecem no texto, o que sugere que esse índice terá sido escritor francês Gustave Flaubert, que remete para uma passagem da secção 13 (A tentação dos intelectuais) do capítulo 7 (Convivialidade) onde se referem Sartre e Camus, entre outros, mas onde não aparece qualquer referência a Flaubert - embora se possa do niilismo moderno. 5. AGRADECIMENTOS não (IN+, IST, Lisboa) e de Mª Leonor Fernandes, cujos contributos muito se agradecem. Claro que a responsabilidade por todos os erros apenas pode ser minha. Agradeço ainda o incitamento que tive de várias pessoas, em particular do ProfessPolanyi e gestor dos seus direitos editoriais. Dedico este trabalho à minha neta, Ema: espero que o possa vir a apreciar criticamente, em liberdade e com responsabilidade pessoal pelos seus compromissos. Areias (Carrazeda de Ansiães) e Candal (Vila Nova de Gaia), Setembro de 2013

REFERÊNCIAS: Beira, E., Google Scholar, Working paper WP102, U. Minho, 2010 Beira, E., ao Google Scholar, Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Edição especial “Investigação em sistemas de inormação”, 2º semestre 2010 Nelson, R. e S. Winter, University Press, 1982

, The Belknap Press of Harvard

Polanyi, M., Press, 1958

, The University of Chicago

Polanyi, M., The tacit dimension, Doubleday, 1966 Polanyi, M., The study of man, Routledge and K. Paul, 1959 Sveiby, K., The new organizational wealth, Berrett-Koehler Publishers Inc, S. Francisco, 1997

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Índice

ÍNDICE PAG.

TRADUZIR MICHAEL POLANYI: UMA AVENTURA INTELECTUAL E UMA DESCOBERTA PESSOAL PREFÁCIO (EDIÇÃO ORIGINAL, 1957) PREFÁCIO (EDIÇÃO TORCHBOK, 1964) AGRADECIMENTOS

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PARTE UM: A ARTE DE CONHECER CAPÍTULOS

1.

2.

OBJETIVIDADE 1. A lição da revolução Copernicana 2. A construção do mecanismo 3. Relatividade 4. Objetividade e física moderna PROBABILIDADE 1. Programa

19 19 21 25 28 32 33

6. Máximas

3.

3 6 10 16

ORDEM 1. Acaso e ordem

35 39 42 45

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Índice

4.

COMPETÊNCIAS HÁBEIS 1. A prática de competências hábeis 2. Análise destrutiva 3. Tradição 4. Conhecimento prático da arte 5. Dois tipos de apreensão

8. Compromisso 10. Sumário

51 52 55 56 57 60 61 62 64 66

PARTE DOIS: A COMPONENTE TÁCITA 5.

ARTICULAÇÃO 1. Introdução 2. Inteligência não articulada 3. Princípios operacionais da linguagem 4. Os poderes do pensamento articulado 6. Formas de aprovação tácita 8. A mente educada 9. A reinterpretação da linguagem 11. Introdução à resolução de problemas 12. Heurísticas matemáticas

6.

PAIXÕES INTELECTUAIS 1. Sinalização 3. Paixão heurística 4. Elegância e beleza

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71 73 79 84 89 97 102 105 107 121 123 128

135 137 146 149 153


Índice

6. As premissas da ciência 8. Ciência e tecnologia 9. Matemáticas 11. Axiomatização da matemática 12. As artes abstratas 13. Interiorizar e irromper 7.

CONVIVIALIDADE 1. Introdução 2. Comunicação 3. Transmissão do saber social 4. Pura convivialidade 5. A organização da sociedade 6. Dois tipos de cultura 7. Administração da cultura individual 8. Administração da cultura cívica 9. O puro poder 10. Políticas do poder 11. A mágica do Marxismo 13. A tentação dos intelectuais 14. Epistemologia marxista leninista

163 176 179 188 191 194 197 199

207 208 211 214 216 219 221 227 229 231 233 238 240 243 245 249

PARTE TRÊS: A JUSTIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO PESSOAL 8.

A LÓGICA DA AFIRMAÇÃO 1. Introdução

4. Precisão

ix

255 255 256 257 258


Índice

7. Por uma epistemologia do Conhecimento Pessoal 8. Inferência 9. Automação em geral 10. Neurologia e psicologia 11. Sobre a crítica

9.

A CRÍTICA DA DÚVIDA

4. Ceticismo dentro das ciências naturais

9. Três aspetos da estabilidade

10.

260 262 263 268 269 271 272

277 280 282 283 285 286 288 296 298 301 303

COMPROMISSOS 2. O subjetivo, o pessoal e o universal 3. A coerência do compromisso 4. Evasão do compromisso 5. A estrutura do compromisso: I 6. A estrutura do compromisso: II 8. Aspetos existenciais do compromisso 9. Variedades de compromissos 10. Aceitação da vocação

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309 310 313 317 318 323 327 328 331 332


Índice

PARTE QUATRO: CONHECER E SER 11.

12

13

A LÓGICA DO SUCESSO 1. Introdução 2. Regras de retidão 3. Causas e razões 4. Lógica e psicologia 5. Originalidade nos animais 6. Explicações da equipotencialidade 7. Níveis lógicos CONHECER A VIDA 1. Introdução 2. A verdade do modelo 3. Morfogénese 4. Maquinaria viva 5. Ação e perceção 6. Aprendizagem 7. Aprendizagem e indução 8. Conhecimento humano 9. Conhecimento superior

339 340 344 345 347 351 354

359 360 366 370 372 376 380 384 386 391

O APARECIMENTO DO HOMEM 1. Introdução 2. A evolução é uma conquista?

5. Conceito de campo generalizado

NOTAS ÍNDICE DE NOMES

393 394 402 405 410 413 415

419 461

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PREFÁCIO (EDIÇÃO ORIGINAL, 1957)

E este falso ideal é porventura inócuo, pois, na realidade, aí é ignorado pelos ciennhecimento. Daí o âmbito muito amplo deste livro, e daí também ter cunhado o novo termo que usei para título: conhecimento pessoal. As duas palavras podem parecer contraditórias: o verdadeiro conhecimento deveria ser impessoal, universalmente estabelecido, objetivo. Mas essa aparente contradição pode-se resolver com uma Usei as descobertas da psicologia das formas [gestalt] como as primeiras pistas para a minha reforma conceptual. Os cientistas afastaram-se das implicações conhecimento como uma compreensão ativa das coisas conhecidas, uma ação que -se pela subordinação de um conjunto de particulares, como indícios ou como hábil, seja ela teórica ou prática. Podemos, então, dizer que nos tornamos “subsida entidade coerente a que atendemos. Índícios e ferramentas são coisas usadas como tal, e não observadas por si próprias. Funcionam como extensões do nosso equipamento corporal, o que envolve uma certa mudança do nosso próprio ser. Nessa medida, os atos de compreensão são não só irreversíveis, como também Tal é a participação pessoal de quem conhece, em todos os atos de compreender. Mas isso não torna o nosso conhecimento subjetivo. Compreender não é, nem um


CONHECIMENTO PESSOAL

reclama uma validade universal. Tal ato de conhecer é, na realidade, objetivo, no sentido de estabelecer contacto com uma realidade oculta; um contacto que é deverdadeiras, mas ainda desconhecidas (e talvez mesmo ainda inconcebíveis). Parece razoável descrever esta fusão do pessoal e do objetivo como conhecimento pessoal. O conhecimento pessoal é um compromisso intelectual, e como tal, tem perimam isto, e não mais do que isto, por si próprias. Ao longo deste livro procurei evidenciar essa situação. Mostrei que em todo ato de conhecer entra uma contribuição apaixonada da pessoa que conhece aquimas sim uma componente vital do conhecimento. E à volta deste facto central tentei construir um sistema de convicções, em que sinceramente acredito, e relatiprópria submissão que assegura essas convicções, e é apenas com essas garantias que elas podem reclamar a atenção dos leitores. M.P. Manchester, agosto 1957

xiv


PREFÁCIO (EDIÇÃO TORCHBOK, 1964)

A

inquirição, de que este volume faz parte, começou em 1939 com um artigo de revisão do livro The Social Functions of Science, por J. D. Bernal. Opus-me à sua visão, derivada do marxismo soviético, segundo a qual a prossecução da

verdade deve ser aceite como o nosso guia, mais do que a sua sujeição ao serviço dos interesses materiais. Uma defesa da liberdade intelectual, com base em tais -

em cada uma das suas etapas. Não há regras que possam dizer como é que se encontra uma boa ideia para iniciar uma inquirição, assim como não há regras

teorias selecionam os factos para o seu próprio apoio, mas mesmo assim chegam a conclusões universalmente válidas. As teorias partem de suposições, que os dogmática são feitas descobertas que se revelam revolucionárias. em assegurar, ao mesmo tempo, a sua contínua renovação. Uma sociedade livre e dinâmica vive, desta maneira, como um todo. Cultiva um sistema de ideias ponto em “Science, Faith and Society” (1946), e outros escritos meus desse tempo. A ideia de um crescimento autónomo do pensamento na sociedade começava a ganhar forma. No presente volume (publicado pela primeira vez em 1958) encontrei-me pe-


CONHECIMENTO PESSOAL

são intrínsecos à vida intelectual e social do homem moderno. Relativamente ao

todas elas podem mesmo ser eventualmente falsas. Mas algumas das crenças desse conjunto são claramente indispensáveis: o ideal do objetivismo estrito é absurdo.

-

mais do que um tal conhecimento pessoal responsável. Seguindo esta minha declaração, esboço uma teoria da biologia dentro da lógica do conhecimento pessoal, e uma demonstração de que a vida, uma vez concebida, nos oferece o espetáculo do homem, detentor de conhecimento pessoal, a emergir no processo de evolução orgânica. Mas há uma linha paralela de argumento no livro, que vai mais fundo, e que mostrou grandes potencialidades para desenvolvimentos futuros. Revendo as situações em que o conhecimento humano se baseia em convicções, deparei-me conhecimento. Aparecem aqui duas distinções: a distinção entre conhecimento tácito e conhecimento explícito focal e subsidiária.

a estrutura do conhecer tácito. Agora, uma nota sobre a diferença entre conhecimento tácito e conhecimento cadas de forma explícita. Mas nenhum conhecimento se pode tornar totalmente explícito componente tácita; por outro lado, o uso da linguagem envolve ações do nosso conhecimento tácito é mais fundamental do que o conhecimento explícito: podemos conhecer mais do que conseguimos dizer, e não conseguimos dizer nada sem recorrer à nossa consciência de coisas que não somos capazes de dizer.

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PREFÁCIOS

Coisas que conseguimos dizer, conhecemo-las pela sua observação; mas é vivendo nelas, ou habitando-as, que conhecemos as coisas que não conseguimos dizer. Toda a compreensão baseia-se em vivermos nos particulares daquilo que quilo que compreendemos – é o “ser-no-mundo” de Heidegger. Interiorizar, ou habitar interiormente, é também o instrumento pelo qual conhecemos as entidades compreensivas do mundo. Foi a partir da lógica da interiorização [indwelling] panorama evolutivo, que leva ao aparecimento do homem, equipado com a lógica da compreensão. Os meus escritos posteriores, incluindo um novo livro em publicação, ocupamantes sobre as operações do conhecer tácito. Uma vez que vemos o conhecer por interiorização [indwelling] a operar em todas as situações, e uma vez que vemos a resolução dos problemas antigos através da compreensão da sua lógica particular; e uma vez que a lógica do conhecer tácito se expande por uma teoria do evolutiva; então a nossa familiaridade com a interiorização ubíqua leva-nos à inquestionável aceitação do paradoxo segundo o qual todo o conhecimento é, em ultima instância, pessoal. dividual, estabelece-se, portanto, dentro de uma perspetiva cósmica com um da natureza, une-se suavemente com as humanidades, que se debruçam sobre o conhecimento do homem e da grandeza humana. Vislumbram-se os ideais do homem, que se revelam na ação (esbocei pela primeira vez essa visão em The study of man). Interiorizar [indwelling] é ser-no-mundo. Todo o ato de conhecer tácito muda a existencialismo e a fenomenologia estudaram esses processos, sob outros nomes. Precisamos agora de reinterpretar tais observações em termos da estrutura mais concreta do conhecer tácito. M.P. Oxford, 22 junho 1964

xvii



AGRADECIMENTOS

E

Aberdeen. Desejo agradecer à Universidade esta oportunidade para desenvolver os meus pensamentos. O trabalho posterior pouco alterou das minhas ideias, reconsiderada, retirada ou aumentada. A Universidade de Manchester tornou-me possível aceitar o convite de Aberdeen e passar nove anos quase que exclusivamente na preparação deste livro. A generosidade do Senado e do Conselho, ao permitirem a troca da minha cátedra de Química Física com um lugar de professor sem cargas letivas, deixou-me profundamente em dívida. Quero agradecer muito, em particular a Sir John S. B. Stopford, então vice-chanceler, e Lord Simon of Wythenshawe, então presidente do Conselho. Muitos dos meus colegas na Universidade ajudaram-me nas minhas investivez mais. Recordo também com gratidão as semanas passadas, em duas ocasiões, no “Committee on Social Thought”, em Chicago, onde ensinei sobre estes temas. Este trabalho deve muito à Drª. Marjorie Grene. Desde o momento em que falamos pela primeira vez, em Chicago durante 1950, parece que ela adivinhou todo o meu propósito e, desde então, nunca deixou de me ajudar neste empreenanos ao serviço desta inquirição. As nossas discussões catalisaram cada passo do seu criticismo. Ela tem uma sua parte em tudo o que eu tenha aqui conseguido. Os Dr. J. H. Oldham, Mr. Irving Kristol, Miss Elizabeth Sewell e Professor Edward Shils leram o manuscrito completo; Mr. W. Haas, Dr. W. Mays, Professor M. S. Bartlett e Dr. C. Lejewski leram partes. Todos sugeriram melhorias, pelas quais lhes estou grato. Miss Olive Davies aguentou durante dez anos o peso do trabalho

desta investigação foram cobertos por bolsas da Rockefeller Foundation, Volker Fund e Congress for Cultural Freedom.


CONHECIMENTO PESSOAL

Finalmente, pretendo exprimir a minha admiração por uma pessoa que, sem hesitações, partilhou comigo os riscos desta iniciativa pouco habitual, e me centro desta atividade menos trivial; quero referir-me à minha mulher. Durante o período 1952-8 publiquei os seguintes artigos acerca do tema deste

“The Hypothesis of Cybernetics”, The British Journal for the Philosophy of Science, 2, (1951-2) (Capítulo 8, pp. 261-3.). “Stability of Beliefs”, The British Journal for the Philosophy of Science, novembro, 1952 (Capítulo 9, pp. 286-94). “Skills and Connoisseurship”, Atti dei Congresso di Metodologia, Torino, dezembro 17-20, 1952 (Capítulo 4, pp. 49-57). “On the Introduction of Science into Moral Subjects”, The Cambridge Journal, No. 4, janeiro, 1954 (revisão de um aspeto do argumento). “Words, Conceptions and Science”, The Twentieth Century, setembro, 1955 (Capítulo 5, passim.). “From Copernicus to Einstein”, Encounter, setembro, 1955 (Capítulo 1, pp. 3-18). “Pure and Applied Science and their appropriate forms of Organization”, Dialética, 10, No. 3, 1956 (Capítulo 6, pp. 174-84). “Passion and Controversy in Science”, The Lancet, junho 16, 1956 (Capítulo 6, pp. 134-60). “The Magic of Marxism”, Encounter, dezembro, 1956 (Capítulo 7, pp. 226-48). Science, 125, março 15, 1957 (um breve sumário do argumento principal). “Beauty, Elegance and Reality in Science”, Symposium on Observation and Interpretation, Bristol, abril 1, 1957 (sumário dos capítulos 5 e 6). “Problem Solving”, The British Journal for the Philosophy of Science, agosto, 1957 (Capítulo 5, pp. 120-31). “On Biassed Coins and Related Problems”, Zs. f Phys. Chem, 1958 (Capítulo 3, pp. 37-40; Capítulo 13, pp. 390-402).

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