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Confraria da Fogaça da Feira 19

Dizem, que no castelo da Feira Em tempos que já lá vão, Os nobres comiam fogaça E o povo comia pão, Sofrendo vida amargada Com tão vil situação.

Conta a lenda e o povo crê Que na aldeia de Fornos Que do castelo se vê Vivia uma linda fogaceira Que em noites de luar Ao castelo ia levar Fogaças e frescos queijos Que misturados com beijos Satisfaziam desejos De quem morria de amar... … e que o rei, enamorado Com tais prendas enfeitiçado Com ela veio a casar.

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No dia do casamento Houve um banquete real, E o povo, mui animado Com os nobres misturado Veio prá rua bailar. Comeu-se fogaça com queijo Bem regados com sangria, Dançaram-se loucos folguedos Do raiar ao fim do dia. Mas o rei partiu prá guerra A moirama combater, Pra não mais voltar à terra Sem ninguém o ver morrer. A rainha, entristecida Numa gruta se isolava, Rezando pelo seu amado Pedia a Deus…e chorava!

Em noites de nevoeiro Sonhava alucinada Ver o rei a combater Temendo que o seu amado Por muitos mouros cercado Por uma lança envenenada Pudesse vir a morrer! Mas em noites de lua cheia Quentes do luar de Agosto, Quando o desejo apertava, Pelo castelo vagueava Com um cesto de fogaças e queijos Sonhando matar desejos Que a saudade despertava. ... e cantarolava ... Meu amor partiu prá guerra Deus o salve, Deus o guarde Deus mo traga com saúde Ai meu Deus, que se faz tarde! Entretanto, uma voz cansada a seu lado respondeu: Fui prá guerra combater Da guerra venho cansado Agora quero viver Para sempre a teu lado! ... e os dois, abraçados e felizes Seguiam cantando … O amor que tu me tens É tão forte como o meu Um amor assim tão grande Vai connosco até ao céu…

Esta lenda, tão bonita Inda hoje é verdadeira, Pois o povo inda acredita Que no castelo da Feira Há uma moira encantada Numa gruta escondida, Onde pares de namorados Fazem juras, enlaçados De amor pra toda a vida.

Francisco Pinho Confraria da Fogaça Fornos-Feira 2020

CONFRARIA DOS GASTRÓNOMOS DA REGIÃO DE LAFÕES um quarto de século de memórias gastronómicas

Foi no já distante ano de 1996 que um punhado de arreigados lafonenses, com motivação acrescida de um dos maiores Chefes Cozinheiros da nossa praça, o saudoso Chefe Silva, se decidiu fundar uma irmandade gastronómica, sediada em Vouzela, norteada pelos princípios da defesa, preservação e promoção das memórias dos sabores e do receituário de toda uma região, o território de Lafões. A confraria é constituída por confrades dos três concelhos (S. Pedro do Sul, Vouzela e Oliveira de Frades), tendo atualmente cerca de 80 confrades, distribuídos pelas seguintes categorias: fundadores, efetivos, honorários e de mérito.

O traje é constituído por capa em fundo azul, com gola e punhos bordeaux, chapéu azul-escuro com fita bordeaux e o medalhão, que tem num dos lados os brasões dos 3 concelhos da região e do outro lado o brasão do antigo concelho de Lafões. Em 2016, ano em que a Confraria comemorou 20 anos, publicou a Carta Gastronómica da Região de Lafões. Esta obra é mais que um livro de receitas, uma vez que, inclui a história da alimentação da região e é um registo autêntico dos produtos que constituem a base da alimentação das nossas gentes, a forma de os confecionar, os segredos que lhes conferem um paladar especial, a vasta doçaria que possuímos e os petiscos de criar água na boca. Das inúmeras receitas que constituem a Carta Gastronómica, destacamos a Vitela de Lafões, a Sopa Seca de Alcofra e os Pasteis de Vouzela, produtos de grande qualidade e que já foram apresentados nas 7 Maravilhas da Gastronomia e nas 7 Maravilhas dos Doces. Já em 2018, a Confraria publicou “Aromas da Terra – Ervas Aromáticas do Vale de Lafões”, uma obra que eleva o “poder” das ervas aromáticas para fins medicinais, mas também a capacidade de transformar cozinhados ou alimentos crus, conferindo-lhes mais aroma, sabor e valor nutritivo.

E é assim que a Confraria dos Gastrónomos da Região de Lafões faz e vai continuar a fazer para valorizar Lafões, a sua gastronomia e as suas gentes.

Receitas:

Beijinhos de Vouzela

Os Beijinhos comem-se numa só dentada e satisfazem os paladares mais gulosos. São uns bolinhos redondos, secos e ocos, cobertos com uma rica calda de açúcar, que nos lembram as Cavacas. Acompanham o chá ou o café e embelezam as mesas festivas do Natal e da Páscoa. Os Beijinhos de Vouzela integram-se na categoria gastronómica da “doçaria de feira”, bolos que, até aos finais do século XX, eram abundantemente vendidos nas festas e romarias da região de Lafões, à unidade ou ao quilo. Em regra, a doçaria de feira tinha por base uma receita simples, a utilização de ingredientes comuns e baratos e costumavam ter grande prazo de validade. Sabe-se que a receita original incluía a utilização de banha de porco (gordura de origem animal) que depressa foi substituída por gordura vegetal porque os Beijinhos com banha “rançavam” rapidamente. O segredo dos pequenos Beijinhos está na massa (que, ao assar, deve ficar leve e oca), no cozimento em forno de lenha e no ponto da calda de açúcar. Ingredientes: Ovos, gordura vegetal e farinha de trigo sem fermento. Modo de preparação: Bater os ingredientes até a massa ficar sem caroços. Untar um tabuleiro e, com a ajuda de uma colher de sopa, dispor a massa em montinhos. Levar ao forno (de lenha). Depois de cozidos e arrefecidos, os Beijinhos de Vouzela são pincelados com uma calda e pasta de açúcar. Antes do embalamento são colocados a secar até ficarem duros e sem humidade. O produto final é um bolinho arredondado, irregular e duro, de o interior oco e com o diâmetro de 4cm.

Fontes: Pastel de Vouzela em livro, Município de Vouzela, edição 2017. Receituário particular de Maria Graciete Cardoso, doceira, Fataunços, Vouzela. Receituário de Vougazela Fábrica de Pastelaria e Confeitaria Lda, Vouzela.

“ Não há no mundo um vinho assim”

Vinhos de Lafões: Paixão pelo néctar supremo

Vinhos, há muitos. Qualidade, felizmente há imensa. Mas há regiões únicas no mundo em que por vezes temos de nos perder para as encontrar. A procura pelo primor e requinte cada vez tem mais seguidores e realmente está na génese do ser humano: A procura do paladar sensorial da arte e paixão que inebrie os sentidos. Essa busca será premiada ao aventurar-se por uma das regiões mais belas de Portugal. Com uma paisagem estonteante e serras de perder de vista com tonalidades sublimes, que variam consoante as estações do ano, sobressaindo a aguarela de cores predominando na primavera com o amarelo da carqueja e das giestas contrastando com o roxeado da urze. Cortada por cursos de água luxuriantemente convidativas a uma refrescadela no verão. Aldeias típicas encravadas nos vales cujas populações aguardam uma visita e mostrar como bem sabem receber os viajantes e aventureiros. Essa região tem um nome: Lafões. Um território intimamente ligado à gastronomia que prima pela qualidade da oferta. Destaca-se a Confraria dos Gastrónomos da Região de Lafões, muito dinâmica e fiel depositária do manter de tradições. Zeladora e divulgadora das boas práticas gastronómicas da região.

O palco dos vinhos únicos

A Quinta da Moitinha, em Vila Maior, concelho de S. Pedro do Sul, foi o palco escolhido para o “desfile” do precioso néctar que todos os produtores de vinhos da região tiveram o ensejo de dar a provar. As suas criações foram passando de palato em palato e foi possível distinguir a particularidade de cada um dos vinhos, havendo também lugar a explicações por parte de cada um dos produtores. Foram vários os vinhos que estiveram à prova, e entre os diversos produtores houve também degustação de colheitas de anos diferentes, demonstrando assim a evolução qualitativa que tiveram. Mas o intuito era, mormente, dar a conhecer as colheitas mais recentes e interagirem, criando um sentido de união! Pois só assim o sector poderá continuar a crescer cada vez mais e evitar o esmorecimento que sucedeu no passado, levando a um indesejado declínio. 25 de Julho de 2020, fica assinalado como uma data em que a necessária união saiu reforçada e continuando o bom caminho que estão a percorrer. Quer pela prática já comum da interação entre os poucos produtores de Lafões, quer pela mentalidade empreendedora, e ainda terem a consciência de saber que têm nas suas mãos algo único no mundo: Um vinho que marca pela diferença.

Das palavras à degustação …

Oito vinhos distintos foram à prova dos presentes. Nos brancos: Quinta da Moitinha, Chão do Vale Vinhas Velhas, Contestado, Encostas de Lafões, e São Frei Gil. A Quinta da Comenda apresentou o seu “Reserva” branco e o Rosé. Os tintos estiveram representados pelo Encostas de Mosteirinho. Não se pode deixar de assinalar que em Fevereiro passado acompanhamos de perto uma revelação e anunciávamos ao mundo a distinção do 1º vinho com a menção “Reserva” da Região de Lafões. E dávamos conta que aos poucos e poucos os produtores locais cada vez mais se esmeravam e uniam-se numa acção concertada com vista a que o produto final, o precioso encanto enológico da região, atinja um patamar de excelência. Prova disso mesmo ficou demonstrada neste evento.

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